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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ
ROGÉRIO EDSON KRÜGER
ACUMULAÇÃO DE RECURSOS RELACIONAIS NA LÓGICA DA RESOURCE-
BASED VIEW (RBV):
Um estudo das companhias abertas brasileiras.
BIGUAÇU
2007
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1
ROGÉRIO EDSON KRÜGER
ACUMULAÇÃO DE RECURSOS RELACIONAIS NA LÓGICA DA RESOURCE-
BASED VIEW (RBV):
Um estudo das companhias abertas brasileiras.
Dissertação submetida como requisito
parcial para obtenção do título de Mestre
em Administração pela Universidade do
Vale do Itajaí.
Orientador: Prof. Dr. Rodrigo Bandeira
de Mello
BIGUAÇU
2007
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2
Krüger, Rogério Edson
Kru 196 Acumulação de recursos na lógica da Resource-Based
2007 View (RBV): um estudo das companhias brasileiras /
Rogério Edson Krüger ; orientador Rodrigo Bandeira de
Mello. - Biguaçu : Universidade do Vale do Itajaí, 2007.
79 f. : il. ; 30 cm.
Dissertação (mestrado) – Universidade do Vale do Itajaí,
Departamento de Administração.
Inclui bibliografia
1. Administração. 2. Logística empresarial. I. Mello,
Rodrigo Bandeira de. II. Universidade do Vale do Itajaí. III.
Título.
CDD 658
CDU 658
3
ROGÉRIO EDSON KRÜGER
Acumulação de recursos relacionais na lógica da Resource-Based View (RBV):
Um estudo das companhias abertas brasileiras.
Essa dissertação foi julgada adequada para a obtenção do título de Mestre em
Administração e aprovada pelo Programa de Mestrado em Administração da
Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Educação de Biguaçu.
Área de concentração: Organização e Sociedade
Biguaçu, 30 de julho de 2007.
_____________________________________________
Profº Dr. Rodrigo Bandeira de Mello - Orientador
UNIVALI – CE de Biguaçu
________________________________________________
Profº Dr. Miguel Verdinelli - Avaliador
UNIVALI – CE de Biguaçu
_________________________________________________
Professora Dra. Rosilene Marcon - Avaliadora
UNIVALI – CE de Biguaçu
__________________________________________________________
Profº Dr. Newton Carneiro Affonso da Costa Junior - Avaliador convidado
UFSC – Centro Sócio-Econômico – Depto. de Ciências Econômicas - SC
4
Dedico esse trabalho a Deus, meu Criador
Salvador e Pai. Onipotente, Onipresente e
digno de toda Honra e Glória pelo ânimo e
determinação que tem me dado na execução e
concretização de mais este projeto em minha
vida.
Dedico também à minha esposa Cleusa
Schmidt Krüger e a minha filha Cristina Krüger,
pela compreensão nos momentos de ausência
e pelo apoio e incentivo para enfrentar as
dificuldades dessa caminhada.
À minha mãe, que durante vários anos,
incentivou e, não mediu esforços para a
concretização dos meus estudos.
5
AGRADECIMENTOS
Ao Dr. Rodrigo Bandeira de Mello, pelo desafio lançado e pelas orientações
significativas na estruturação desta pesquisa.
À Dra Rosilene Marcon pelo apoio e incentivo.
Ao Dr. Newton Carneiro Affonso da Costa Junior pelas contribuições e participação
na banca.
À Dra. Anete pelos esclarecimentos quanto à base de dados.
Ao Dr. Miguel Verdinelli pelas incansáveis e preciosas orientações quanto aos
aspectos estatísticos desta pesquisa.
À Cleci Grzebieluckas, Daiane de Mello e José Roberto Altoff, e Anderson Jankus de
Sousa, pelo apoio em algumas etapas deste trabalho.
À Carolina Pedri pelos esclarecimentos da língua inglesa.
Ao Herdman Petter Kopke, pelo apoio nos imprevistos técnicos computacionais.
À Débora Toniolo Rau pelas elaboração da ficha catalográfica.
À UNERJ, e à FAMEG, pelo disponibilidade de espaço físico adequado à elaboração
deste trabalho.
À UNIVALI, pela organização e estruturação brilhante deste programa de Mestrado.
6
“Porque Deus amou o mundo (seres
humanos) de tal maneira que deu
(doou) seu único Filho, para que todo
aquele que Nele crê não pereça, mas
tenha a vida eterna”.
(Evangelho Segundo João 3.16)
7
RESUMO
Esta pesquisa objetiva analisar como as características das empresas e da indústria
estão associadas ao investimento na acumulação de recursos relacionais para com
os stakeholders salientes das companhias abertas brasileiras no período de 2000 a
2004. Duas abordagens teóricas foram contempladas: a teoria instrumental dos
stakeholders e a Resource-Based View RBV ou visão baseada em recursos. A
partir dessas abordagens, recursos relacionais de uma firma são: “o conjunto de
compromissos confiáveis desenvolvidos pela firma para sustentar contratos
relacionais com stakeholders salientes. Diz-se que uma firma possui recursos
relacionais superiores quando compromissos sinérgicos estiverem presentes no
conjunto de contratos que a firma tem com seus stakeholders” (BANDEIRA-DE-
MELLO, 2007). A amostra foi composta de 303 empresas brasileiras que possuíam
informações contábeis no Economática® e informações de seus investimentos em
projetos sociais na Revista Guia Exame de Boa Governança Corporativa e de
informações das doações realizadas pelas empresas em época de campanha
política no ano de 2002 publicadas no sitio ÀS CLARAS. As empresas da amostra
foram classificadas em dois grupos: as doadoras e não-doadoras. Como doadoras,
se a empresa efetuou doações para o Governo durante a campanha política no ano
de 2002, e/ou realizou investimentos em Projetos Sociais para com a Sociedade, em
pelo menos 3 dos 5 anos considerados no estudo. E, não-doadoras, se a empresa
não efetuou doações para nenhum dos dois stakeholders. A técnica estatística
utilizada foi a regressão logística. A variável dependente categórica assumiu valor
“1” para as empresas doadoras e valor “0 em caso contrário. As variáveis
explicativas utilizadas foram: a variável de alavancagem financeira (ALAVAN); A
variável de tamanho da empresa (TAM); A variável de rentabilidade (ROE); A
variável concentração acionária (AÇÕES) e, a variável características da indústria
(SETOR). Um modelo foi gerado a fim de verificar, como as características das
empresas estão associadas ao investimento na acumulação de recursos relacionais
para com os seus stakeholders salientes. Para a regressão logística quatro variáveis
explicativas apresentaram significância para os níveis (p = 0,01; 0,05 e 0,10):
ALAVAN (p = 0,100), TAM (p = 0,000), ROE (p = 0,017), AÇÕES (p = 0,072). A
variável SETOR com p = 0,146, não apresentou significância estatística para os
níveis apresentados. Estes resultados indicaram como as características das
empresas, estão associadas ao investimento na acumulação de recursos relacionais
para com os seus stakeholders salientes. Sendo estas, dispostas em ordem
decrescente de importância: tamanho, rentabilidade, o grau de concentração
acionária, alavancagem financeira, e as características da indústria.
PALAVRAS-CHAVE: GESTÃO DOS STAKEHOLDERS. RECURSO RELACIONAL.
REGRESSÃO LOGÍSTICA.
8
ABSTRACT
The aim of this research is to analyze how characteristics of companies and industry
are associated with the investment in accumulation of relational resources with the
main stakeholders of Brazilian publicly traded companies, in the period 2000-2004.
Two theoretical approaches were used: instrumental stakeholder theory, and the
Resource Based View - RBV. Based on these approaches, we define Relational
Resources “as the set of credible commitments devised to support relational
contracts with its main stakeholders. A company is said to possess superior relational
resources when synergic commitments are present in the set” (BANDEIRA-DE-
MELLO, 2007). The sample consisted of 303 Brazilian companies. The accounting
information for these companies was taken from the Economatica® database;
information on their investments in social projects was derived from the magazine
Guia Exame de Boa Governança Corporativa; and information about donations made
by these companies during the 2002 electoral campaign was taken from the ÀS
CLARAS website. The companies were classified into two groups: donating and non-
donating. The donating companies were those which donated to the government
during the 2002 electoral campaign and/or invested in Social projects in at least 3 of
the 5 years considered in this study. The non-donating companies where those which
did not donate to any of the two stakeholders. The statistical technique used was
logistic regression. The categorical dependent variable assumed a value of “1” for the
donating companies and “0” for the non-donating ones. The observed variables were:
financial leverage (LEV); size of company (SIZE); profitability (ROE); share
ownership (SHARES) and industry characteristics (SECTOR). A model was created,
to determine how the characteristics of the companies are associated with the
investment in accumulation of relational resources with the main stakeholders. For
the logistic regression, four observed variables are significant for the levels (p = 0.01;
0.05 and 0.10): LEV (p = 0.100), SIZE (p = 0.000), ROE (p = 0.017) and SHARES (p
= 0.072). The variable SECTOR, with a p = 0.146, did not present any statistical
significance for the levels presented. These results reveal how the characteristics of
the companies are associated with the investment in accumulation of relational
resources with their main stakeholders. They are, in decreasing order of importance:
size, profitability, ownership concentration, financial leverage, and industry
characteristics.
KEY WORDS: STAKEHOLDER MANAGEMENT. RELATIONAL RESOURCES.
LOGISTIC REGRESSION.
9
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1
Tipologias dos stakeholders salientes: Um, dois, ou três
atributos presentes.…….............……………………...................
27
Figura 2 Definição de Recurso Relacional................................................ 39
Quadro 1 Direção da relação.………………………..................................... 51
Quadro 2 Mensuração e definição da variável dependente........................ 53
Quadro 3 Variáveis utilizadas como independentes................................... 53
Quadro 4 Mensuração e definição das variáveis independentes................
53
Quadro 5 Teste de significância para aceitação do modelo final.............. 60
Quadro 6 Direção da relação ..................................................................... 65
10
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Estatística descritiva das empresas doadoras ............................. 57
Tabela 2 Estatística descritiva das empresas não-doadoras ......................
58
Tabela 3 Matriz de correlação linear de Pearson das variáveis ..................
60
Tabela 4 Coeficientes das variáveis independentes na equação e Teste
de Wald (ALAVAN) .......................................................................
61
Tabela 5 Coeficientes das variáveis independentes na equação e teste
de Wald (EXIGATTO) ...................................................................
62
Tabela 6 Matriz de correlação (EXIGATTO) ............................................... 62
Tabela 7 Empresas doadoras por setor da amostra ................................... 67
11
LISTA DE SIGLAS E SÍMBOLOS
AÇÕES – Grau de concentração acionária da empresa
ALAVAN – Alavancagem financeira da empresa
EXIGATTO – Outro indicador de alavancagem financeira
RBV – Resource-based view
ROE – Rentabilidade média das empresas no período
SETOR – Características da indústria
SOCGOV – Variável dependente – doações
TAM – Tamanho da empresa
®
- Marca Registrada
Σ - Somatória
β
- Coeficiente das variáveis independentes e do valor constante
X
i
– valor da i-ésima variável
e – base de logaritmo neperiano
p - significância dos coeficientes das variáveis e das correlações entre elas
12
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO…………………………………………………………...
13
1.1 TEMA E QUESTÃO DE PESQUISA………………………………….. 13
1.2 OBJETIVOS...................................................................................... 15
1.2.1 Geral................................................................................................. 15
1.2.2 Específicos...................................................................................... 15
1.3 RELEVÂNCIA DA PESQUISA.......................................................... 16
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA....................................................... 18
2.1 RESOURCE-BASED VIEW (RBV)................................................... 18
2.1.1 Definição de empresa – um conjunto de recursos...................... 19
2.1.2 Definição de vantagem competitiva com base nos recursos.....
21
2.2 RECURSO RELACIONAL: DEFINIÇÃO E IMPORTÂNCIA............. 26
2.2.1 Stakeholders salientes................................................................... 26
2.2.2 Importância de manter relacionamentos com stakeholders
salientes no Brasil..........................................................................
30
2.2.3 Teoria instrumental dos stakeholders e a definição de
recursos relacionais .....................................................................
35
2.3 RELAÇÃO ENTRE AS CARACTERÍSTICAS DA EMPRESA E A
ACUMULAÇÃO DE RECURSOS RELACIONAIS ...........................
40
2.3.1 Alavancagem................................................................................... 42
2.3.2 Tamanho da empresa..................................................................... 43
2.3.3 Rentabilidade.................................................................................. 45
2.3.4 Estrutura de propriedade............................................................... 46
2.3.5 Características da indústria........................................................... 47
3 METODOLOGIA............................................................................... 49
3.1 DESIGN DO ESTUDO...................................................................... 49
3.2 POPULAÇÃO, FONTE DE DADOS E AMOSTRA........................... 51
3.3 DEFINIÇÃO OPERACIONAL DAS VARIÁVEIS............................... 52
3.4 MODELO DA PESQUISA................................................................. 54
4 ANÁLISE DOS DADOS................................................................... 57
4.1 DESCRIÇÃO DA AMOSTRA............................................................ 57
4.2 ESTIMAÇÃO DO MODELO LOGIT.................................................. 58
13
4.2.1 Qualidade e ajuste do modelo....................................................... 59
4.2.2 Estimação dos coeficientes........................................................... 61
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................ 69
5.1 CONCLUSÕES................................................................................. 69
5.2 LIMITAÇÕES.................................................................................... 74
5.3 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS................................
75
REFERÊNCIAS................................................................................ 76
13
1 INTRODUÇÃO
1.1 TEMA E QUESTÃO DE PESQUISA
A análise do ambiente no qual, as empresas estão inseridas, pode ser feita a
partir de dois modelos apresentados por Aldrich e Pfeffer (1976): o modelo de
seleção natural, no qual enfatizam que as empresas precisam adaptar-se às ações
provenientes do ambiente; e o modelo de dependência de recursos, em que as
decisões são tomadas dentro das organizações, ou seja, no contexto político interno
das mesmas, e se relacionam com as condições ambientais enfrentadas por elas.
A partir do modelo da dependência de recursos, nota-se que a sobrevivência
da organização está diretamente relacionada à forma como ela interage com o
ambiente em que atua, no sentido de adquirir os recursos que não consegue
desenvolver por si própria.
A respeito da aquisição e/ou desenvolvimento de recursos pela organização,
que podem trazer vantagem competitiva à mesma, é estudado na Resource-Based
View RBV ou visão baseada em recursos, que com seus pressupostos, traz
explicações a respeito da vantagem competitiva que as empresas podem
desenvolver quando implementam uma estratégia de criação de valor através de
seus recursos.
A partir da RBV, nesta pesquisa serão contempladas duas categorias de
recursos: os negociáveis (BARNEY, 1986) e os não-negociáveis (DIERICKX; COOL,
1989). Alguns estudos brasileiros decorrentes da RBV (COUTINHO; BOMTEMPO,
2004; BANDEIRA-DE-MELLO; MARCON, 2004; OMAKI, 2005;) têm se preocupado
tão somente em verificar a importância dos recursos negociáveis (BARNEY, 1986)
adquiridos ou desenvolvidos pela empresa em detrimento da análise das
características que influenciam o investimento na acumulação de recursos não-
negociáveis (DIERICKX; COOL, 1989). Esses por sua vez, podem ser desenvolvidos
e acumulados no ambiente de atuação da organização.
Os recursos não-negociáveis podem ser acumulados através de um fluxo
longitudinal, como proposto pelas autoras Dierickx e Cool (1989) as quais
demonstram que, na medida em que o tempo passa, o recurso acumulado por uma
14
empresa sofre depreciação, seja através da imitação dos recursos pelos
concorrentes ou pelo desgaste natural existente em qualquer relacionamento.
A partir da abordagem dos recursos não-negociáveis, Bandeira-de-Mello
(2007) apresenta uma tipologia desses, ao definir recursos relacionais. Os recursos
relacionais podem ser desenvolvidos na empresa através da intenção em gerenciar
as relações da organização com seus stakeholders salientes, mediante os contratos
relacionais.
Ao interagir com o seu meio, a empresa pode desenvolver recursos através
de contratos relacionais com seus stakeholders salientes (BANDEIRA-DE-MELLO,
2007). Compreende-se por stakeholders salientes aqueles indivíduos ou entidades
que são percebidos pelos gerentes das organizações e que possuem dois ou três
dos seguintes atributos: Poder, Legitimidade e Urgência conforme proposto por
Mitchell, Agle e Wood (1997) e estão direta ou indiretamente relacionados à
empresa e que afetam e/ou são afetados por ela (FREEMAN, 1984).
O relacionamento da empresa com seus stakeholders, a partir da abordagem
instrumental, é estudada por Jones (1995) mediante a metáfora do contrato. A partir
dessa metáfora, o autor apresenta dois tipos de contratos: os explícitos e implícitos.
Para os contratos explícitos as partes envolvidas aceitam as cláusulas formalizadas
por instrumento legal. Já, nos implícitos, as partes comprometem-se através de
acordos fundamentados na confiança de que ambos cumprirão aquilo que foi
proposto. Porém, para Williamson (1983), os indivíduos para entrarem no negócio
exigem e oferecem uma garantia, enquanto que para Jones (1995), os sujeitos
participantes dos contratos são indivíduos que entram no negócio esperando que o
outro coopere. A partir dessas duas visões, caracterizam-se os contratos implícitos
em relacionais. Para esta pesquisa, esses contratos podem ser desenvolvidos
mediante a interação da empresa com seus diversos grupos de stakeholders, de
forma especial, com o Governo e a Sociedade, protagonistas das turbulências
ambientais enfrentadas pela mesma.
A fim de entender como as empresas brasileiras gerenciam essa interação
com stakeholders, Bandeira-de-Mello et al. (2006, p. 1) desenvolveram trabalho
exploratório no Brasil, investigando os efeitos do gerenciamento de stakeholders no
desempenho das empresas.
Com a intenção de verificar se há alguma associação entre as características
das empresas e o seu desenvolvimento de ações voltadas em projetos sociais,
15
alguns autores (ULLMANN, 1985; COWEN; FERRERI; PARKER, 1987; McGUIRE;
SUNDGREN; SCHNEEWEIS, 1988; LENWAY; REHBEIN, 1991; ROBERTS, 1992;
ADAMS; HARDWICK, 1998) em contextos diferentes, ao do brasileiro,
desenvolveram estudos com a finalidade de verificar tão somente, se associação
entre as características das empresas (alavancagem financeira, tamanho,
rentabilidade, concentração acionária, e as características da indústria). Essa
pesquisa vai além verificando o somente se associação, mas também se essa
associação pode estar relacionada à acumulação de recursos relacionais pelas
companhias abertas brasileiras.
Diante desse contexto, surge a seguinte questão de pesquisa: como as
características das empresas e da indústria estão associadas ao investimento na
acumulação de recursos relacionais para com seus stakeholders salientes?
Para avançar a presente pesquisa na tentativa de encontrar resposta à
questão de pesquisa levantada, no tópico seguinte serão apresentados os objetivos
desta pesquisa.
1.2 OBJETIVOS
1.2.1 Geral
Verificar a importância relativa das características da empresa e da indústria
no investimento de acumulação de recursos relacionais.
1.2.2 Específicos
a) Analisar os efeitos das características da empresa em seu investimento
na acumulação de recursos relacionais;
b) analisar os efeitos da característica da indústria no investimento na
acumulação de recursos relacionais das empresas.
16
1.3 RELEVÂNCIA DA PESQUISA
As empresas brasileiras precisam se capacitar para enfrentarem as
turbulências ambientais promovidas, principalmente pelo Governo e a Sociedade.
Dentre todas as capacidades que elas poderão desenvolver, destaca-se o recurso
relacional.
O desenvolvimento deste recurso relacional nas empresas dar-se-á, por
exemplo, através da concretização das intenções de relacionar-se com seus
stakeholders salientes: o Governo e a Sociedade. Essa intencionalidade torna-se
salutar haja vista que os stakeholders, a qualquer momento, podem adotar
comportamentos hostis, para os quais as empresas nem sempre estarão
preparadas.
Uma vez desenvolvido esse recurso, e acumulando-o com o passar do tempo,
talvez a empresa obtenha vantagem competitiva. Vantagem esta que poderá obtida
através do desenvolvimento de um recurso imperfeitamente imitável com seus
stakeholders, caracterizado por uma alta complexidade social, exemplificada pela
reputação da empresa com seus fornecedores e clientes, conforme proposto por
Barney (1991).
Sendo assim, estudos complementares, principalmente no que concerne ao
desenvolvimento de recurso relacional, fazem-se necessários, uma vez que, até
então, pesquisas das capacidades e da RBV têm verificado a importância dos
recursos já adquiridos ou desenvolvidos.
Essa constatação é explicitada por Bandeira-de-Mello e Marcon (2004) ao
desenvolverem estudos complementares, incluindo os “efeitos da política”
decorrentes de um governo fraco e irregular, como forma de medir a
heterogeneidade das firmas nas indústrias nas quais estão inseridas. Concluíram,
entretanto, que os “efeitos da política” o foram significativos, e indicaram que é
preciso desenvolver um modelo que melhor especifique a heterogeneidade das
firmas.
Na tentativa de encontrar um modelo que melhor especifique a
heterogeneidade das empresas, conforme proposto pelos autores, através desta
pesquisa, serão analisadas como as características das empresas estão associadas
ao investimento na acumulação de recursos relacionais que, uma vez desenvolvidos
17
pela empresa, poderão conferir a mesma vantagem competitiva, oferecendo-lhe
indícios de heterogeneidade.
Para tanto, no tópico seguinte serão apresentadas as abordagens teóricas
que fundamentarão a presente pesquisa.
18
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Com a finalidade de apresentar as contribuições teóricas e empíricas
concernentes à questão desta pesquisa, essa seção apresenta os seguintes tópicos:
os pressupostos da Resource-Based View (RBV), a partir dos quais se podem definir
as empresas como sendo um conjunto de Recursos. E, a partir das categorias de
recursos das empresas estudadas na RBV, acrescentaremos a definição de Recurso
Relacional, e, para finalizar, verificamos a Relação das características das empresas
e o seu investimento na acumulação de Recursos Relacionais.
2.1 RESOURCE-BASED VIEW (RBV)
A RBV, em seu contexto histórico,
tem elucidado uma nova perspectiva para a
Teoria da Estratégia das Empresas fundamentada nas idéias originais de Penrose
(1959), ao comentar que lucratividade e crescimento da empresa são provenientes
da utilização produtiva de recursos essenciais, únicos e idiossincráticos.
Na visão de Barney (1986), para que os recursos de uma empresa lhe
ofereçam vantagem competitiva, esses poderiam ser adquiridos por um custo abaixo
do valor de mercado e serem negociados, posteriormente, com valor superior. Dessa
forma, podem-se classificar os recursos como negociáveis. Por outro lado, as
autoras Dierickx e Cool (1989) argumentam que, para oferecerem vantagem
competitiva à empresa, os seus recursos também podem ser desenvolvidos e
acumulados pela mesma, os assim chamados recursos não-negociáveis. As
categorizações de natureza dos recursos, assim como, as vantagens que esses
podem trazer às organizações serão desenvolvidas no transcorrer dos tópicos
seguintes.
19
2.1.1 Definição de empresa – um conjunto de recursos
Penrose (1959, p. 2) define a RBV como sendo “uma organização
administrativa e um conjunto (pool) de recursos produtivos”. A fim de ampliar esta
definição recorremos a Collis e Montgomery (2000, p. 41), que afirmam: “não
existem duas empresas iguais, pois não empresas com o mesmo conjunto de
experiências, com ativos e habilidades iguais e com culturas idênticas”. A partir
dessas definições entendemos empresa como aquela que pode ser concebida como
um conjunto de recursos tangíveis e intangíveis. Sendo que os tangíveis podem ser
denominados de negociáveis, ou seja, adquiridos, conforme fora proposto por
Barney (1986); e como, intangíveis, por o-negociáveis, preconizado por Dierickx e
Cool (1989).
Desta forma, classificam-se por negociáveis os recursos que são usualmente
utilizados pela empresa e que são fáceis de serem mensurados; conseqüentemente,
adquiridos e vendidos.
os recursos não-negociáveis, por sua vez, é uma tipologia de recursos
intangíveis, sendo esses classificados como incomensuráveis e singulares. Essa
singularidade pode ser um importante elemento de diferenciação, conforme
exemplificado por Kayo (2002, p. 1), “demonstrando que a marca Coca-Cola é
propriedade de apenas uma empresa, enquanto as máquinas que fabricam
refrigerantes podem ser compradas por qualquer outra”. De outra forma, Wernerfelt
(1984, p. 172), comenta que “a tecnologia um recurso essencialmente intangível
pode ser um sinal de singularidade de uma empresa na medida em que, incorpora-a
como estratégia para diversificar em novos mercados”.
Para Wernerfelt (1984), essa diversificação acontecerá não somente por meio
da exploração dos recursos existentes, mas também a partir do desenvolvimento de
outros recursos que constituam barreiras que mantenham os resultados de uma
posição vantajosa estabelecida em um determinado mercado.
Em relação ao desenvolvimento de recursos o-negociáveis, Dierickx e Cool
(1989) observam que pode se dar por intermédio de um processo de acumulação.
Esse processo é exemplificando pelas autoras através da metáfora da banheira, a
saber: A entrada de água na banheira seria entendida pelo depósito de recursos que
as empresas efetuam com seus atores ambientais, sejam eles do ambiente interno
20
ou externo da organização. O estoque de água acumulada pode ser ilustrado, pela
boa reputação que a empresa obteve com esses atores. A saída de água pode ser
indicada pelo desgaste e ou depreciação do recurso a partir do momento em que um
dos atores ambientais, com o qual a empresa desenvolveu um recurso, não faz mais
parte desse meio (p. 1506). No caso de recursos acumulados em P&D – (pesquisa e
desenvolvimento de tecnologias), a depreciação pode ocorrer mediante o advento
de outras tecnologias que tornam obsoletas as tecnologias desenvolvidas.
No caso desta pesquisa, esse processo de acumulação de recursos pode ser
entendido da seguinte maneira: a empresa ao efetuar doações ao Governo em
período eleitoral e investir em projetos sociais, acumula recursos relacionais com
esses atores ambientais. Tal acumulação é prevista nessa pesquisa para as
empresas que efetuarem doações em projetos sociais em um período de três dos
cinco anos considerados, no caso da Sociedade. Também, entende-se que ao
efetuar doações em período eleitoral a empresa está acumulando recursos em todo
o período de gestão dos governantes eleitos.
A reputação que a empresa tem perante a Sociedade, e os favores às
informações privilegiadas por parte do Governo, ilustram o estoque dos recursos
acumulados. Já, o processo de depreciação do recurso relacional pode ocorrer em
decorrência da troca de Governantes, ou seja, aquele relacionamento que a
empresa desenvolveu com o Governo, te que desenvolver novamente com os
novos Governantes eleitos para a próxima gestão.
Para ilustrar o que afirmamos acima citamos como exemplo, o caso das
empresas brasileiras do ramo da indústria de Telecomunicações, no período
correspondente às eleições para o Presidente da República, precisamente do então
candidato a presidência o senhor Fernando Henrique Cardoso, que recebeu
investimentos maciços em sua campanha, por parte destas companhias (SAMUELS,
2006).
Tais indústrias fizeram doações visando à possível aprovação de seus
projetos por parte do Governo, projetos estes, que poderiam beneficiar o Setor de
Telecomunicações. Para que houvessem continuidade destes projetos na esfera do
Governo Federal em uma nova gestão governamental, as empresas do ramo da
Indústria ligadas a telecomunicações deveriam continuar efetuando doações, desta
vez, em prol da campanha eleitoral do candidato a sucessão presidencial na pessoa
do senhor Luis Inácio Lula da Silva. O Setor de Telecomunicações tem sinalizado
21
gradativo acréscimo em sua contribuição às campanhas eleitorais presidenciais
(SAMUELS, 2006, p. 142). Acumulando dessa forma privilégios relacionados ao
Governo. Esses privilégios podem ser constatados, no fato de que, a Sociedade
brasileira, ao tentar, através de processos judiciais, fazer com as empresas de
Telecomunicações deixem de cobrar as mensalidades, a famosa taxa de assinatura
básica de telefonia, criada primeiramente com o intuito de expandir cabos de linhas
telefônicas, a então reduzidas e restritas a uma minoria nas grandes cidades,
acabou por ser incorporada a conta telefônica sob a alegação de que haveria
prejuízo às novas linhas, e a manutenção da prestação de serviços, logo, não
consegue, que o Governo tem oferecido proteções na forma de subsídios,
Favorecimento ao setor”, sob a égide da agência reguladora deste setor, no caso, a
ANATEL. Esse “favorecimento” ao setor pode ser compreendido a partir da fala de
Samuels (2006, p. 147), ao afirmar que: “o financiamento de campanhas no Brasil é,
em grande medida, ‘voltado para serviços’, mais do que ‘voltado para política’”.
A fim de compreendermos melhor o que realmente ocorre neste âmbito,
temos que primeiramente desvendar e entender do que trata a chamada vantagem
competitiva com base nos recursos.
2.1.2 Definição de vantagem competitiva com base nos recursos
Poucas empresas irão apresentar diferenças significativas ao longo do tempo.
Entretanto, essas diferenças podem existir e podem ser sustentadas, não apenas
devido às barreiras de posição de recursos, mas também devido aos atributos de
alguns recursos. Por sua vez, as barreiras de posição de recursos referem-se às
ações que as firmas exercem no sentido de potencializarem seus recursos, não
permitindo, dessa forma, que eles sejam imitados. Por outro lado, a existência de
alguns atributos em recursos específicos da empresa pode sustentar diferenças em
sua performance.
Logo, para que uma firma sustente sua vantagem competitiva, em um
mercado, Barney (1991, p. 105) concorda com Wernerfelt (1984) ao propor que os
recursos negociáveis da firma devem ser heterogêneos e de difícil mobilidade. Para
22
sustentar essa potencialidade desses recursos, eles devem apresentar quatro
requisitos: ser valioso, raro, imperfeitamente imitável e insubstituível.
Como um primeiro requisito, o recurso negociável precisa ser valioso, no
sentido de que explore oportunidades e neutralize ameaças, isto é, quando habilita
uma firma para que ela adote, e cumpra estratégias que melhorem sua eficiência e
eficácia, oferecendo-lhe taxas de retorno acima da média apresentada pelo setor,
sustentando, dessa forma, uma “barreira de posição de recurso” (WERNERFELT,
1984). Como condição suficiente para ser essencial, os recursos classificados como
valiosos por Barney (1991, p. 106) e por Peteraf (1993, p. 180) têm que possuir as
seguintes características:
a) mobilidade imperfeita são os recursos difíceis de serem transferíveis
para outras empresas, pois são idiossincráticos e não teriam pouco ou
nenhum outro uso fora da empresa; b) substituição imperfeita uma vez
adquiridos ou acumulados pela empresa, os recursos devem ser difíceis de
serem imitados pelos concorrentes, ou de serem substituídos por outros
mais eficientes; c) ausência de competição ex-ante a corrida da empresa
em assumir uma posição de destaque na indústria, com relação à posse de
recursos superiores, não deve despertar a competição pelos recursos
.
O segundo requisito, para Barney (1991) é que um recurso negociável precisa
ser raro - formado pelo conjunto de capital físico, humano; e os recursos de capitais
organizacionais não serão distribuídos homogeneamente no mercado de fatores de
produção, e/ou não poderão ser adquiridos pelos concorrentes. Corroborando com
Barney, Peteraf (1993, p. 180) argumenta que a posição privilegiada de mercado de
produto de uma firma é, em geral, adquirida ou protegida pelo emprego de recursos
raros ou escassos, no sentido de serem limitados em oferta, ou seja, fatores
produtivos fixos que não podem ser expandidos. Assim, os recursos ditos superiores
são aqueles que, mantendo-se limitados em oferta, podem alcançar níveis
intrinsecamente diferenciais de eficiência e eficácia. Esses recursos podem ser
físicos (tais como uma rede de cabos domésticos de uma companhia de TV por
assinatura, que em combinação com uma companhia telefônica, pode se tornar um
negócio vantajoso no mundo de multimídia interativo), intangíveis (tais como: nome
da marca ou know-how tecnológico) ou uma capacidade organizacional (rotinas,
processos e cultura da companhia).
23
O terceiro requisito apontado por Barney (1991), seria que a empresa precisa
ter um recurso negociável. O autor alega que este é para ser imperfeitamente
imitável, por uma ou pela combinação de três razões descritos da seguinte forma:
[...] a) a habilidade de adquirir e explorar alguns recursos depende do seu
lugar no tempo e no espaço, ou seja, depende de sua condição histórica à
qual não permitirá que este recurso seja imitável; b) quando o elo entre
recursos de uma firma e a sua vantagem competitiva sustentada é mal
entendido pela mesma, ou seja, quando há uma ambigüidade causal nessa
relação, tornará difícil a imitação de suas estratégias por parte de outras
firmas, pois as mesmas, não conseguirão saber quais os recursos que
poderão ser duplicados (imitados); c) e, quando o recurso for um fenômeno
social muito complexo, a exemplo de suas relações com clientes e
fornecedores, ou até mesmo das relações interpessoais de seus gerentes,
tornará o recurso imperfeitamente imitável (BARNEY ,1991, p. 107).
O quarto requisito, que um recurso negociável pode ter é o de ser de difícil
substituição. Ora, se os principais concorrentes o conseguirem adquirir ou
desenvolver, por custos similares, os recursos valiosos, raros e imperfeitamente
imitáveis de outra firma, Barney (1991) sugere que podem implementar as mesmas
estratégias, mas de maneira diferente, usando recursos estrategicamente
equivalentes. Essa implementação caracterizará a substitutibilidade, que, segundo o
autor, pode assumir duas formas: a) substituição por recursos similares; Por
exemplo, desenvolver uma estrutura gerencial própria parecida com a estrutura
gerencial de alta qualidade de outra firma. Sendo isso possível, recursos desse tipo
não podem ser fontes de vantagem competitiva sustentável; b) substituição por
recursos diferentes; por exemplo, duas firmas podem ter a mesma visão clara do
futuro, seja porque uma tem um líder carismático, seja porque a outra adota um
processo de planejamento estratégico formal. De outra forma, a substituição, que
resulta da ausência de manutenção adequada das ações de recurso que ficaram
obsoletos, é uma ameaça maior do que a imitação, porque ações de recurso podem
ser vulneráveis para substituição por ações de recursos diferentes.
Entretanto, se um recurso não puder ser comprado (negociável), ele pode ser
então desenvolvido e acumulado pela empresa, tornando-o não-negociável. E, as
cinco características que o processo de acumulação de recursos não-negociáveis
precisa possuir, que lhes conferem vantagem competitiva, são apresentadas por
Dierickx e Cool (1989, p. 1507) que são: “deseconomias na compressão do tempo;
eficiências acumuladas; estoques de recursos interligados; erosão de recurso;
ambigüidade causal”.
24
No caso da característica, deseconomias na compressão do tempo, por
exemplo, ao se desdobrar esforços em cima de um período pequeno de tempo
produzirá menos sustentação das vantagens competitivas, do que se eles fossem
investidos em períodos mais longos; por exemplo: programas de impacto em
pesquisa e desenvolvimento (onde grandes quantias de recursos são aplicados de
uma vez), que são tipicamente menos efetivos do que programas onde as
quantias anuais em iniciativas de pesquisa e desenvolvimento são mais baixas, mas,
estende-se acima de uma proporcionalmente, em período de tempo mais longo.
a característica, eficiências acumuladas em um recurso é dada pelo
encarecimento de recursos pelo desenvolvimento contínuo de inovações, que
podem adicionalmente realçar o recurso básico da firma, por exemplo, firmas que
têm um estoque importante de pesquisa e desenvolvimento, estão freqüentemente
em uma posição melhor para fazer inovações adicionais e acrescentar conhecimento
ao seu estoque existentes, do que aquelas firmas que estão iniciando-se em
pesquisa e desenvolvimento;
Por sua vez, a característica apresentada pelo estoque de recursos
interligados, destaca-se pela acumulação de um recurso que dependerá não do
estoque existente, mas também do nível de outros estoques interligados, por
exemplo, se a empresa quer investir em desenvolvimento de novos produtos e
possui uma rede extensa de clientes, poderá obter dos mesmos sugestões de idéias
para criação desse produto, logo, uma empresa que não possuir uma rede extensa
de clientes, encontrará maiores dificuldades para desenvolver novos produtos, pois,
dependerá apenas da habilidade interna de desenvolvimento de seus produtos
atuais.
Em se tratando da característica, erosão de recurso, os recursos podem ficar
obsoletos com o passar do tempo. Devido a essa obsolescência dos recursos, eles
devem receber investimentos contínuos, como por exemplo, os recursos aplicados
em Pesquisa e Desenvolvimento, precisam ser constantemente reavaliados devido à
obsolescência tecnológica da qual a pesquisa estará sujeita. Outro exemplo, a
consciência dos clientes em relação à marca de um produto, é depreciada pela
entrada de outras marcas no mercado. Pois, os clientes podem esquecer uma
determinada marca, daí, a necessidade de investimentos em marketing para que
isso não aconteça. A distribuidora do refrigerante Coca-Cola, constantemente, tem
25
realizado investimentos em propaganda para que seus consumidores não esqueçam
a marca.
Por último, mas não menos importante, observa-se a característica da
ambigüidade causal. Muitas empresas investem em pesquisa e desenvolvimento nos
projetos com resultados altamente incertos, e poucas realmente alcançam o prêmio
maior destacando produtos altamente bem sucedidos, ou seja, assim como os
investimentos em P&D, podem gerar retornos altos para a empresa, por outro lado,
correm o risco de não obter o retorno sobre os valores investidos.
Em resumo, Dierickx e Cool (1989) argumentam que, para sustentar
vantagem competitiva, o desenvolvimento ou aquisição de recursos a partir dos
fatores de mercado, assim tratados por Barney (1986), não é suficiente, pois esses
não são completos, exigindo-se dessa forma uma estrutura complementar (no
ambiente interno da organização através do desenvolvimento de recursos
relacionais), baseada na acumulação de recursos não-negociáveis. Uma vez
acumulados esses recursos, por uma companhia, seus concorrentes, serão
constrangidos a desenvolvê-los para serem competitivos (DIERICKX E COOL,
1989).
Analogamente, um recurso não-negociável pode ser um exemplo típico de
recurso que apresente os requisitos de um recurso apresentados nesta seção.
Decorre que, conseqüentemente, um recurso organizacional, pode ser denotado a
partir de um recurso não-negociável, no qual poderá ser detentor de alguns, ou a
quem sabe, de todos os requisitos que um recurso intangível possa ter.
Logo, o argumento central da Teoria dos Recursos, é defendido por Barney
(1991, p. 102) da seguinte maneira:
Que uma empresa possui vantagem competitiva quando está
implementando uma estratégia de criação de valor que não esteja sendo
simultaneamente implementada por seus concorrentes ou concorrentes
potenciais, os quais são incapazes de repetir os benefícios dessa
estratégia.
Com base na argumentação do autor, partiremos para um entendimento mais
esclarecedor deste tópico na próxima seção desta pesquisa.
26
2.2 RECURSO RELACIONAL: DEFINIÇÃO E IMPORTÂNCIA
A partir das considerações apresentadas a respeito das vantagens que as
empresas podem obter por meio de um processo de acumulação de recursos, nessa
seção em particular, refletiremos sobre enfoques pertinentes ao desenvolvimento de
recursos relacionais que as empresas podem acumular com seus stakeholders
salientes. Para tanto, serão apresentados os seguintes tópicos: a definição de
stakeholders salientes; a importância de manter relacionamentos com stakeholders
salientes no Brasil; a definição de recursos relacionais e a sua importância.
2.2.1 Stakeholders salientes
O termo stakeholders é definido por Freeman (1984, p. 46) como “[...]
qualquer grupo ou indivíduo que é afetado ou que afeta o alcance dos objetivos das
organizações”. Esse conceito, entretanto, o oferece subsídios suficientes para a
identificação específica dos stakeholders salientes de uma empresa. Diante dessa
dificuldade, Freeman (1994) preconiza que, para se entender o conceito de
stakeholder salientes, deve-se atentar para o princípio de quem ou o que realmente
importa, no qual surgem duas perguntas pertinentes: a) quem ou o que são os
stakeholders da Firma?; b) para quem ou a que os gerentes oferecem atenção? E,
para se compreender este princípio, é preciso antes verificar sistematicamente se as
relações com este stakeholder, real ou potencial, contemplam a ausência ou
presença de todo ou alguns dos atributos relacionados a: Poder, Legitimidade, e
Urgência conforme mostra a Figura 1.
27
7
2
1
3
4
5
6
Stakeholder
Dormente
Stakeholder
Dominante
Stakeholder
Discricionário
Stakeholder
Definitivo
Stakeholder
Perigoso
Stakeholder
Impacientes
Stakeholder
Dependente
Poder
Legitimidade
Urgência
8 Irrelevante
Figura 1. Tipologias dos stakeholders salientes: Um, dois, ou três atributos presentes.
Fonte: Adaptado de Mitchell, Agle e Wood (1997, p. 872 e 874)
Partindo da análise de alguns dos atributos mais relevantes dos stakeholders,
Mitchell, Agle e Wood (1997) elaboraram uma tipologia de stakeholders salientes
que se apóia no tripé: poder, legitimidade e urgência, para fornecer uma teoria de
identificação que oferece, ao mesmo tempo, parâmetros para tratar de forma
diferenciada cada um dos grupos de interesse, com a prioridade que eventualmente
cada um requer. O primeiro conceito, relacionado ao poder, é empregado com
distinção entre três tipos: a) poder coercitivo, que se apóia no uso da força; b) poder
utilitário, imposto através do controle de bens e serviços, bem como os símbolos que
permitem a aquisição destes; e c) poder normativo, símbolos que promovem
prestígio e estima entre os que possuem, bem como amor e aceitação na sociedade.
Ao possuir um ou mais tipos de poder, um ator se torna capaz de modificar a ação
de outro ator, mesmo contra a vontade deste.
A legitimidade também é um conceito importante, pois, sem ela, o exercício
puro do poder pode provocar uma crise, ou uma revolta naqueles que estão sob o
jugo de tal poder. Mitchell, Agle e Wood (1997) definem legitimidade como sendo a
percepção generalizada ou a convicção de que as ações de uma entidade são
desejáveis, corretas, ou apropriadas dentro de algum sistema socialmente
construído de normas, valores, crenças e definições.
28
Outro conceito importante é o de urgência, que engloba a idéia de que existe
uma sensibilidade ao tempo em que as ações são desempenhadas, bem como, em
relação ao caráter crítico dessas ações. Uma ação urgente é imperativa, e o pode
esperar. Para exemplificar, apresentamos como parâmetro o caso de um vazamento
de produtos químicos, em um porto, no qual, não se pode esperar que este produto
não contamine toda a natureza em sua volta, urge desta forma que a empresa
responsável pelo acidente, tome providências rápidas na solução desse problema.
Mitchel, Agle e Wood (1997) unem esses três elementos acima citados, para
sugerir uma forma através da qual os gerentes poderiam não somente identificar os
grupos de interesse, mas também atender as suas necessidades. O modelo
ilustrado na Figura 1 pode ser explicado da seguinte forma: da união de três círculos
formam-se sete zonas distintas onde, nas três primeiras zonas externas (áreas 1, 2 e
3) os grupos ali representados possuem apenas um dos atributos acima, qual seja,
poder, legitimidade ou urgência. Nas três zonas seguintes (áreas 4, 5 e 6) as que
estão na fronteira entre os círculos, os grupos possuem dois atributos combinados e
apenas na última zona, a zona de intercessão (área 7) os grupos de interesse
possuem os três atributos combinados. Finalmente, indivíduos ou entidades que não
possuem nenhum dos atributos, são representados na área 8, e classificados como
stakeholders irrelevantes.
Assim, os stakeholders ou grupos de interesse presentes na três primeiras
zonas, são denominados latentes, pois possuem apenas um atributo. Daí decorre
que, a probabilidade dos gerentes prestarem atenção e, principalmente, atenderem
as suas demandas, seja muito pequena. Eles são divididos conforme ilustrado na
Figura 1, entre: Dormentes, são os que possuem apenas o atributo poder;
Discricionários, o os que possuem apenas o atributo legitimidade; e Impacientes,
são os que possuem o atributo urgência. A capacidade que esses atores têm de
impor suas reivindicações é pequena, mas deve-se estar atento para o fato de que
eles podem adquirir um ou dois atributos restantes e passar assim para as próximas
zonas, tornando-se mais impositivos aos gerentes.
Na segunda zona estão os stakeholders expectantes que, por possuírem
dois ou mais atributos, são mais facilmente percebidos pelos gerentes. Nessa zona
encontram-se três grupos de interesse: os dominantes, que possuem os atributos
poder e legitimidade e sua capacidade de afetar a empresa ao perseguir seus
interesses é expressiva, os acionistas e credores são normalmente incluídos nessa
29
categoria; os dependentes são possuidores dos atributos, legitimidade e urgência,
mas não possuem poder. Populações afetadas pela poluição provocada pelas
grandes empresas podem se situar nessa zona; e os perigosos por possuírem os
atributos poder (às vezes coercitivo) e urgência, mas não legitimidade, são capazes
de fazer uso da força para impor sua vontade. Ambientalistas radicais ou
guerrilheiros e até mesmo terroristas situam-se nessa área.
Por último, na zona de intersecção dos três círculos situam-se os grupos de
interesse definitivos, que, por sua vez, possuem todos os três atributos. Os grupos
situados nessa zona possuem bastante saliência e são facilmente percebidos pelos
gerentes. Além disso, a capacidade destes stakeholders influenciarem as ações da
empresa é muito grande, portanto, a esses atores, deve-se dar um tratamento
prioritário.
A saliência de um stakeholder em particular, percebida pelos gerentes de uma
empresa, será baixa se apenas um dos atributos estiver presente; se dois estiverem
presentes, será considerada moderada e, se três atributos estiverem presentes, será
considerada alta (MITCHEL; AGLE; WOOD, 1997).
É interessante frisar que a qualquer momento, stakeholders que possuem
saliência baixa, podem adquirir outros atributos e a partir disso, serem classificados
com saliência moderada ou a mesmo alta. A título de ilustração dessa
possibilidade de transição, citamos um caso envolvendo um dono de negócio, seus
funcionários e tribunais, que mostra como um grupo de funcionários que possuem os
atributos Legitimidade e Urgência logo, saliência moderada - pode adquirir um
terceiro atributo, o do Poder - classificando-se com saliência alta - ao associar-se a
um tribunal para forçar com que o seu empregador cumpra com suas obrigações
trabalhistas (MITCHELL; AGLE; WOOD, 1997)
.
Logo, com efeito, nesta pesquisa, os grupos de stakeholders, que podem ser
percebidos pelos gerentes das companhias abertas brasileiras, que podem possuir
saliência moderada, são o Governo e a Sociedade.
O stakeholder Governo, pode possuir dois atributos: Poder pois, através de
coerções políticas, econômicas ou legais, pode afetar o desempenho da empresa.
Urgência ao determinar que em curto prazo de tempo as empresas atendam as
exigências impostas por força de lei. Se, por acaso, o Governo vier a adquirir ações
30
de uma empresa, o atributo legitimidade também será agregado ao Governo, dando
ao mesmo a classificação de stakeholder com saliência alta.
Por sua vez, o stakeholder Sociedade, também pode possuir dois atributos:
Legitimidade pois espera que a empresa cumpra com o seu papel, por exemplo,
mediante ações voltadas à área social e ambiental. Urgência pois tem pressa que
a empresa resolva o “dano ambiental” causado, por exemplo, pelo vazamento de
produtos químicos provocado pela mesma em uma determinada região portuária.
Se, a Sociedade perceber que a empresa não está atenta às suas reivindicações,
poderá associar-se a grupos ambientalistas para pressionar órgãos governamentais
na solução do problema, adquirindo dessa forma, um terceiro atributo, (o Poder),
classificando-se então, como stakeholder com saliência alta.
Para entendermos melhor como se dá esta transição, é preciso que se
adentre na questão da importância das empresas brasileiras de manterem
relacionamentos com seus stakeholders salientes. Este seo norte desta pesquisa
no próximo tópico.
2.2.2 Importância de manter relacionamentos com stakeholders salientes no
Brasil
A importância em manter relacionamentos com seus stakeholders salientes,
relacionada às empresas brasileiras, pode ser compreendida mediante o
entendimento de dois aspectos inerentes ao seu ambiente de atuação: a existência
de turbulências ambientais e, de sua dependência de alguns recursos que estão em
poder de alguns atores ambientais. Dependência essa, devida ao fato de que, nem
todos os recursos necessários à sobrevivência da empresa, podem ser
desenvolvidos no seu contexto interno, sendo necessário adquiri-los ou, até mesmo,
desenvolvê-los no ambiente externo.
Quanto ao aspecto das turbulências ambientais, a freqüência destas é
característica de contextos econômicos emergentes, como no caso brasileiro. Isso é
notório, por exemplo, desde a década de 80, quando vários planos para controle de
inflação e estabilização econômica mudaram: as relações contratuais no meio de
agentes econômicos, as políticas monetárias, o crédito disponível para demanda e
31
produção, e até mesmo a moeda corrente. Desde os resultados obtidos no Plano de
Real em 1994, as condições ambientais não têm sido menos diferentes, ou seja, de
acordo com os autores Brito e Vasconcelos (2003) a cada de 90 foi de reformas
para a economia brasileira. Os autores assinalam eventos relevantes na economia
brasileira de 1998 até 2001, inclusive privatização de companhias controladas pelo
Estado, taxas de juros altas, e a estimativa do Real contra o Dólar americano,
mudanças nas políticas de taxa de juros, permitindo que essa taxa flutuasse
livremente e houvesse uma crise de energia elétrica que causou a emissão de um
plano de racionamento pelo governo federal.
Em contextos turbulentos como esses, as relações das empresas com seus
atores ambientais, tornam-se complexas. Para Bandeira-de-Mello e Marcon (2004),
quando a estrutura e natureza de tais relações se demonstrarem complexas e
irregulares, pode-se compreender que o ambiente é menos estável, ou seja, de
maior caracterização dinâmica. Isso exige que, em ambientes complexos como
esses, as organizações entendam a diversidade dessas relações existentes no meio
de seus atores ambientais.
Para melhor entendimento dessa diversidade nas relações, os autores
agregam ao conceito de turbulência ambiental, caracterizado até aqui, com as
dimensões de complexidade e estabilidade - a dimensão hostil. Em um ambiente
hostil, os atores ambientais poderosos ameaçam a habilidade de sobreviver e
desenvolver das firmas que têm pouco poder de influenciar o ambiente em favor
próprio (BANDEIRA-DE-MELLO; MARCON, 2004).
Esses atores ambientais poderosos podem estar representados pelo Governo
e pela Sociedade. Com relação ao Governo, Pearce (2001 apud BANDEIRA–DE-
MELLO; MARCON, 2004, p. 26), em um estudo longitudinal de quatorze anos nos
países do Leste europeu e na China, apresenta o contexto de hostilidade dos
Governos que não facilitam as transações entre as organizações em três aspectos:
a) governo hostil que, é hostil para as organizações independentes; b) governo
irregular, porque ele não tem sucesso em autorizar a estabilidade necessária para
assegurar direitos de propriedade, e o castigo respectivo àqueles que promovem
brechas de contrato; e c) governo fraco-forte, que é fraco na execução da lei porque
a pechincha política de escritórios do governo seleciona oficiais do governo não por
mérito, mas por patronato.
32
Bandeira-de-Mello e Marcon (2004) comentam que algumas dessas
características hostis, verificadas por Pearce (2001 apud BANDEIRA-DE-MELLO;
MARCON, 2004, p. 26) em sua pesquisa, podem ser notadas no contexto brasileiro,
afetando, de certo modo, o comportamento das empresas.
Bandeira-de-Mello e Marcon (2004) observam que neste ambiente o problema
de lidar com os governos hostil, irregular e fraco é mais relevante para os gerentes
das empresas do que as mudanças tecnológicas e a agressividade de seus
concorrentes. E, debaixo das mesmas condições hostis governamentais, as relações
desenvolvidas em torno das pessoas poderosas, relações essas, que caracterizadas
no modelo da dependência de recursos preconizados por Aldrich e Pfeffer (1976),
são uma das formas de sobrevivência organizacional, desde que elas forneçam
proteção e acesso privilegiado a informações úteis, não disponíveis para todas as
empresas. Assinalando que, outro aspecto importante para explicar a importância de
manter relações com stakeholders salientes é o da dependência de recursos.
Na abordagem da dependência de recursos, as organizações não conseguem
desenvolver todos os recursos necessários à sua sobrevivência, logo, terão que
adquiri-los ou até mesmo desenvolvê-los no ambiente externo de sua atuação.
Assim, Aldrich e Pfeffer (1976), comentam que,
o modelo de dependência de recurso retrata a organização ativa, e capaz
de mudar, oferecendo respostas ao seu ambiente. Os administradores
gerenciam seus ambientes como também suas organizações [...] O objetivo
de tais estratégias é a aquisição de recursos e a sobrevivência da
organização, como também a estabilização de relações com elementos
ambientais.
A estratégia de estabilização de relações no ambiente de atuação das
empresas, pode ser implementada na medida em que elas percebam os elementos
presentes nesse ambiente. Alguns desses elementos (atores ambientais) podem ser
classificados como os stakeholders salientes.
A partir do entendimento destes dois aspectos, o da turbulência ambiental e o
da dependência de recursos, pelas empresas brasileiras, estas podem elaborar
estratégias de adaptação quanto às mudanças ocorridas no seu ambiente externo
de atuação, sejam elas decorrentes das ações que os atores desse ambiente
exercem sobre a organização, ou amesmo, de ações pró-ativas que as empresas
decidem internamente na perspectiva de captação de recursos para a sua
sobrevivência.
33
É nessa tentativa de sobrevivência que as empresas encontram o motivo pelo
qual procuram identificar os seus stakeholders salientes (atores do ambiente), haja
vista que, elas estão sujeitas às condições das turbulências ambientais, e assim,
procuram proteger-se destas, aprimorando o entendimento de suas relações com os
referidos stakeholders.
Para que isto aconteça lembramos que a base de uma relação entre a
empresa e seus stakeholders salientes pode estar, por assim dizer, na metáfora do
contrato. Williamson (1983) e Jones (1995) descrevem suas propostas relativas a
essa metáfora da seguinte forma: Williamson (1983) de um modo geral considera o
sujeito como sendo alguém oportunista nas relações contratuais, assim, para que
haja o cumprimento das relações contratuais entre as partes, os sujeitos entram num
entendimento em prol de objetivos comuns, ou seja, dispensam as formalidades
legais, oferecendo-se garantias recíprocas. No entanto, na visão de Jones (1995)
considera-o como alguém não necessariamente oportunista (cooperativista) e, para
o cumprimento das relações contratuais é esperado que as partes cooperem
mutuamente.
O estabelecimento de contratos relacionais das empresas com seus
stakeholders podem atenuar a possibilidade do uso de comportamentos pelos
mesmos. Por exemplo, se a empresa desenvolver um bom relacionamento com a
Sociedade através de investimentos em projetos sociais, obterá uma boa reputação
atenuando, dessa forma, possíveis comportamentos hostis por parte de grupos
específicos da Sociedade na qual está inserida. Nesse exemplo, estará implícita a
cooperação mútua, ou seja, a empresa estará utilizando a estratégia “ganha-ganha”,
descrita no ‘dilema do prisioneiro’
1
(KAY, 1996).
As ações de cooperação efetivadas pelas empresas podem ser reflexos de
doações como proposto pelos autores Marcon, Bandeira-de-Mello e Alberton (2005)
ao afirmarem que a gestão de stakeholders em ambientes turbulentos como o do
1
No dilema do prisioneiro, é a duração do jogo que faz emergir a cooperação entre atores
sociais que buscam interesses “egoístase específicos, diversos uns dos outros. Caso não coopere o
tempo todo, a estratégia é perdedora: forma-se uma reputação de quem “não coopera” sempre e os
outros não cooperarão também em relação a esse jogador a fim de não perderem tudo e não serem
“feitos de trouxa” ou enganados. Nesse caso, o jogador que sempre é conhecido como não
cooperando tem de pagar multa, pois sempre cai na situação “não cooperação” “não cooperação”.
Algumas estratégias emergem desse jogo em termos de negociação para maximizar ganhos. Esse
jogo, na verdade, representa de modo simplificado a ação estratégica dos atores sociais em
organizações, mas permite lançar a discussão sobre o processo de negociação, ilustrando-o.
34
Brasil, pode ser mensurada por uma proxy formada pelas doações das empresas a
grupos de stakeholders relevantes durante as campanhas políticas e investimentos
em projetos sociais.
Essas doações podem estimular a cooperação tua entre as empresas e o
Governo. Isso pode ser percebido através da intenção das empresas em
estabelecerem um relacionamento com o Governo, na medida em que efetuam
doações a ele, em época de campanha política, como descrito por Samuels (2003,
p. 382)
Inúmeros são os exemplos de aparentes favorecimentos mútuos que dizem
respeito a trocas de financiamento de campanha por influência nas políticas
de governo. Por exemplo, em 1994 Fernando Henrique Cardoso recebeu
apoio substancial das firmas de telecomunicações, que queriam que ele
seguisse adiante com sua promessa de campanha de privatizar o setor.
Tendo em vista esses favorecimentos mútuos, Samuels (2003) ainda comenta
que no Brasil o maior volume do financiamento de campanha política se produz
‘visando a serviços’, trocando o dinheiro por futuros ‘serviços’ governamentais.
De forma semelhante que as empresas desenvolvem cooperação para com o
Governo, elas precisam desenvolver para com a Sociedade na qual estão inseridas,
para também obterem benefícios recíprocos. Isso pode ser constatado na pesquisa
coordenada por Peliano (2005, p. 29) que relata este aspecto da seguinte maneira:
Na percepção dos empresários, sua participação no combate à pobreza traz
resultados positivos tanto para os próprios promotores da ão quanto para
seus beneficiários. Assim, 44% do empresariado do Sudeste e 58% do
Nordeste avaliam que a atuação social aumenta a satisfação espiritual e
pessoal do dono da empresa.
Por intermédio da cooperação da empresa com seus stakeholders, ela poderá
conquistar uma reputação favorável. Logo, entende-se por reputação organizacional
uma representação coletiva das ações e resultados da empresa, através da qual fica
demonstrada sua habilidade em gerar valores para múltiplos stakeholders.
(FOMBRUN; RINDOVA, 1998 apud ALMEIDA; MUNIZ 2005). Neste sentido,
Almeida e Muniz (2005, p. 2) comentam que:
A partir do momento em que se percebeu que a reputação tem impactos
profundos sobre a performance organizacional, tornou-se necessário
entender como se dá o processo de sua construção, como lidar com ela no
35
dia-a-dia da empresa, como sustentá-la durante os anos e como trabalhar
as diversas expectativas de diferentes stakeholders.
Essas constatações apresentadas por Samuels (2003), Marcon, Bandeira-de-
Mello e Alberton (2005), Peliano (2005), Almeida e Muniz (2005) exemplificam, a
forma como as empresas podem operacionalizar a acumulação de um recurso
relacional com seus stakeholders salientes.
Esse tem sido um dos grandes desafios das empresas na atualidade, visto
que, a maioria das empresas dispõe, muitas vezes, de recursos tão similares para
competir entre si, que a decisão, por uma ou outra empresa, poderá ocorrer levando-
se em conta a acumulação de recursos relacionais. A partir desta reflexão rumamos
agora para o esclarecimento da definição de recursos relacionais, e a Teoria
Instrumental dos Stakeholders, matéria esta que será abordada no item seguinte
deste trabalho.
2.2.3 Teoria Instrumental dos Stakeholders e a definição de recursos
relacionais
O entendimento da complexidade dos relacionamentos, das empresas com os
seus stakeholders se possível a partir das considerações concernentes à
gestão dos mesmos. Jones (1995) comenta que trabalhos pioneiros na área de
gerenciamento de stakeholder foi fornecido por Freeman (1984) que esboçou e
desenvolveu as características básicas do conceito em um livro intitulado
Gerenciamento Estratégico: uma abordagem de Stakeholder”. O estudo de
Freeman, embora reconheça formalmente a importância de componentes
corporativos além de acionistas, deixa obscura a condição do conceito da Teoria do
stakeholder.
Assim buscamos complemento elucidativo do conceito de stakeholders em
Freeman (1984, p. 46) que assim diz: “a firma é caracterizada por relações com
muitos grupos e indivíduos, cada qual com o poder para afetar o desempenho da
firma” e que essas relações baseiam-se na metáfora de contrato classificando-o em
formal e informal, ou melhor, em contrato explícito ou implícito conforme (JONES,
1995, p. 407).
36
Estes contratos poderão ser compreendidos a partir da abordagem
instrumental dos stakeholders como proposto por Donaldson e Preston (1995). Com
sua contribuição os autores, desenvolveram uma nova tipologia para a Teoria de
Stakeholders, a qual dividiram em três aspectos classificatórios, à saber: Descritivo,
Instrumental e Normativo.
Sendo que, o primeiro, o aspecto descritivo da Teoria dos Stakeholders
auxilia na compreensão dos comportamentos e características específicas das
empresas perante os seus stakeholders, enquanto que o aspecto instrumental é
usado para identificar a existência ou não de conexões entre o gerenciamento de
stakeholders com o objetivo principal da corporação, por exemplo, rentabilidade e
desenvolvimento. Por sua vez, o aspecto normativo, na corporação, irá identificar as
diretrizes morais e filosóficas que nortearão o gerenciamento de suas operações.
Jones (1995) desenvolveu estudos que propuseram, a partir da abordagem
instrumental, a metáfora contratante da firma, na qual fica evidente o
estabelecimento de contratos explícitos e implícitos.
Alguns destes contratos, digamos entre uma firma e sua comunidade vizinha,
são relativamente vagos e informais, caracterizados pela ausência de documentos
formais entre as partes. Os contratos desse tipo são chamados por Williamson
(1983) de compromissos confiáveis, ao argumentar que um modo alternativo para
proteger os contratos contra a expropriação é expandir a relação contratual e, uma
maneira de concretizar isso é criar uma relação de confiança mútua.
Por outro lado,
estão os contratos formais e específicos. O contrato entre uma firma e seus
obrigacionistas (debenturistas) é um exemplo. A contratação entre a firma e seus
stakeholders também podem variar na freqüência e na regularidade das transações
ou trocas. Num extremo estão relações contínuas e avançadas como aquelas entre
gerentes e empregados. O outro extremo pode ser representado por uma ordem de
partes isoladas para um vendedor com quem a firma normalmente não lida.
Ao tratar de acordos relacionados a custo de transação, Williamson (1983, p.
521) afirma que: “Agentes que contratam-se deste modo, são tomados como
seguros e sujeitos à racionalidade e, onde as circunstâncias permitirem, são dados
ao oportunismo”. Para este autor, os contratos podem ser incompletos, exigindo que
as partes ofereçam garantias para que as cláusulas não sejam quebradas (p. 527).
Essas relações contratuais se estabelecem nas relações de mercado em
equilíbrio como definido por Jones (1995, p. 408):
37
Equilíbrio em mercados insinuaria aqueles mecanismos contratantes
ineficientes e poder diferenciais entre as partes contratantes o poderiam
existir. Mercados eficientes expulsariam contratos ineficientes, enquanto
deixando só aqueles nos quais nenhuma parte tivesse discrição significante.
Se, ao invés, mercados tenderem para o equilíbrio, a pressão para
contrair/contratar eficazmente será menos intensa. Onde a disciplina do
mercado for menos segura e menos rápida, uma difícil escolha/negociação
de contratos eficientes e ineficientes acontecerá, mas somente em períodos
de tempo mais longos. Haverá uma tendência para contratação eficiente,
mas contratos ineficientes podem resistir por períodos significantes de
tempo.
Jones (1995, p. 408) argumenta que “de acordo com a teoria, se certos tipos
de comportamento acontecem, certos resultados (favoráveis) se tornam mais
prováveis; não se presume que os comportamentos desejáveis acontecerão”.
Para exemplificar esses comportamentos, Ruf et al. (2001. p. 145) observam
que “as firmas têm a oportunidade de escolher entre cooperar com seus
stakeholders ou se defenderem”. Logo, para evitar confrontações futuras, as firmas,
antecipadamente, devem procurar desenvolver ações de cooperação que
melhorarão a sua reputação perante os stakeholders. Essa estratégia de
cooperação mútua é ilustrada pelo “jogo do dilema do prisioneiro”, apresentada por
Kay (1996), em que se evidenciam as estruturas de interação entre dois indivíduos,
exemplificando como se estrutura a colaboração entre dois atores sociais “egoístas”,
que perseguem interesses pessoais e específicos.
Essa interação entre indivíduos serve para representar as formas de
intercâmbio entre os indivíduos nas organizações. Essa influência mútua
normalmente é contínua, ou seja, é relação que dura. Portanto, é a duração do jogo
que faz emergir a cooperação entre atores sociais que buscam interesses “egoístas”
e específicos, diversos uns dos outros. Caso não coopere o tempo todo, a estratégia
é perdedora. Forma-se uma reputação de quem “não coopera” sempre; e os outros
não cooperarão também em relação a esse jogador, a fim de não perderem tudo e
não serem “feitos de trouxa” ou enganados. Algumas estratégias emergem desse
jogo em termos de negociação para maximizar ganhos. Esse jogo, na verdade,
representa de modo simplificado a ação estratégica dos atores sociais em
organizações.
Essa análise procura explicar de modo lógico a realidade como se fosse uma
estrutura de jogo de negociação, em que gerir uma organização seria se preocupar
em estruturar relações sociais do tipo “ganha-ganha”, nas quais os jogadores,
indivíduos envolvidos no processo de implementação de nova ferramenta
38
organizacional, tecnologia ou modelo, por exemplo, tivessem ganhos concretos em
adotar na prática o novo modelo ou ferramenta, cooperando de modo contínuo
dentro de uma estrutura de jogo “ganha-ganha”. Nesse caso, resistiriam menos em
colaborar, e a ferramenta ou modelo teria mais possibilidade de ser implementada
na prática, ocorrendo a mudança de hábitos e as práticas sociais que permitiriam
sua implementação de fato.
Neste sentido Andrade e Dias (2002, p. 4) afirmam que:
[...] os atores cooperam no conflito, não porque busquem produzir um
acordo amigável, posto que não é a amizade a condição essencial para a
construção de zonas de cooperação, em meio ao conflito, mas a
consciência da reciprocidade.
Assim, essa consciência de reciprocidade é possível de ser compreendida a
partir do dilema do prisioneiro ilustrado por Jones (1995), no qual, os benefícios de
cooperação mútua para esforços de produção da equipe são prontamente
aparentes. Se os membros da equipe podem ser induzidos para cooperar
completamente em esforços de equipe, sem qualquer monitoramento de seu
comportamento, e os custos de monitoramento da produção de equipe serão
economizados. Outros custos de redução do oportunismo, também podem ser
evitados por meio de comportamento cooperativo por parte de membros da equipe.
Por sua vez, as empresas podem adotar também a estratégia do “ganha-
ganha”, estabelecendo um relacionamento com seus respectivos stakeholders
tornando concreto o estabelecimento de contratos relacionais, como sugerido por
Jones (1995).
Neste caso, a empresa ganhará vantagem competitiva se puder desenvolver
relação, ao longo do tempo, com seu stakeholders baseado em confiança mútua e
cooperação. Nessa teoria está implícita a noção de que os problemas de
oportunismo, falta de confiança e cooperação são problemas reais das relações das
empresas com seus respectivos stakeholder (JONES, 1995).
Por sua vez Bandeira-de-Mello (2007, p. 9) conceitua recursos relacionais da
seguinte forma: “recursos relacionais” de uma firma são:
o conjunto de compromissos confiáveis desenvolvidos pela firma para
sustentar contratos relacionais com stakeholders salientes. Diz-se que uma
firma possui recursos relacionais superiores quando compromissos
39
sinérgicos estiverem presentes no conjunto de contratos que a firma tem
com seus stakeholders.
Essa definição pode ser observada na Figura 2, representada pela área 4,
intersecção comum às três circunferências, no qual cada uma delas representa um
conjunto teórico envolvido na construção dessa definição.
A partir desse conceito, infere-se que, quando a firma intencionalmente
procurar estabelecer relacionamentos com vários grupos de stakeholders, estará
construindo recursos organizacionais, especificamente, o recurso relacional com
seus stakeholders salientes, sustentando, dessa forma, uma vantagem competitiva
devido ao fato de estar acumulando um recurso imperfeitamente imitável.
Barney (1991) enfatiza que um recurso é imperfeitamente imitável porque
representa um fenômeno social muito complexo. Esse fenômeno social pode ser
exemplificado através das relações interpessoais existentes entre os gerentes da
firma, pela reputação da firma com seus fornecedores e clientes. O autor afirma
ainda que, quando vantagens competitivas são baseadas em tais fenômenos sociais
complexos, a habilidade de outras firmas (de imitarem estes recursos) se
significativamente constrangida.
Ora, se o relacionamento com fornecedores e clientes é um fenômeno
social muito complexo, conforme Barney (1991), o qual é baseado em contratos
explícitos, quanto mais o será nos relacionamentos com vários grupos de
1
2
3
4
Contratos
de confiança
RBV -
acumulação
de recursos
Teoria
Instrumental
dos
stakeholders
Recurso
Relacional
Figura 2. Definição de Recurso Relacional.
Fonte: O Autor
40
stakeholders salientes, nos quais predominam os contratos relacionais,
apresentados por Jones (1995, p. 409) ao comentar que:
Alguns contratos, digamos entre uma firma e sua comunidade vizinha, são
relativamente vagos e informais. Certamente, nenhum documento existe
para descrever estes contratos. Os contratos deste tipo são chamados
contratos relacionais.
A fim de entendermos melhor este argumento de Jones (1995), é que nos
debruçamos no próximo foco deste estudo, na perspectiva de analisar como as
características das empresas estão associadas ao investimento das mesmas, na
acumulação de recursos relacionais (contratos relacionais), na modalidade de
doações e investimentos em projetos sociais.
2.3 RELAÇÃO ENTRE AS CARACTERÍSTICAS DA EMPRESA E A ACUMULAÇÃO
DE RECURSOS RELACIONAIS
Na seção 2.2.3 foi apresentada a abordagem instrumental dos stakeholders,
que oferece base teórica para o entendimento das relações das empresas com seus
respectivos stakeholders salientes mediante o estabelecimento de contratos
implícitos com os mesmos. Esses contratos, por sua vez, podem ser concretizados
através das doações discricionárias que as empresas realizam. Nesse sentido,
Marcon, Bandeira-de-Mello e Alberton (2005, p. 3) afirmam que:
A teoria de stakeholder fornece base conceitual sobre as razões pelas quais
as empresas se empenham em atividades de doação. De acordo com
Donaldson e Preston (1995) a teoria dos stakeholders visualiza a firma
como um conjunto de contratos explícitos e implícitos. [...] Se gerentes
devem coordenar tais contratos de modo que a firma se beneficie com
desempenho superior, então, pode-se deduzir, através de uma abordagem
instrumental, a decisão das empresas em engajar-se em doações.
Se o engajamento da empresa em doações tiver como base apenas a
intenção de escapar de um provável comportamento hostil de seus respectivos
stakeholders (abordagem instrumental), então o gerenciamento desse recurso
poderá não ter sucesso. Por outro lado,
41
teria sucesso se a noção instrumental subjacente de comportamento
oportunista pudesse ser deslocada para uma visão mais substantiva de
relacionamento com stakeholders, baseados em valores compartilhados de
justiça (DONALDSON; PRESTON, 1995, p. 80).
Diante disto, é possível perceber que para atingir um relacionamento com
stakeholders, baseado em valores compartilhados de justiça, faz-se necessário que,
primeiramente, as empresas decidam desenvolver e acumular relacionamentos com
seus stakeholders salientes através da cooperação mútua. Essa cooperação pode
ser exemplificada a partir de Adams e Hardwick (1998, p. 644) ao afirmarem que:
[...] a teoria de stakeholders explicitamente reconhece que o governo e o
público em geral contribuem com recursos e instalações (por exemplo, infra-
estrutura, mão-de-obra qualificada) de forma que as companhias possam
operar eficazmente e que, em troca stakeholders externos, pelo menos
implicitamente, esperam um pouco de retorno na forma de apoio financeiro
para causas sociais. Como resultado, nós consideramos que a teoria dos
stakeholders fornece critérios pelos quais as empresas poderiam fazer
doações discricionárias para áreas de caridade e de outras áreas sociais.
Esses critérios poderão ser observados nas empresas a partir de um contexto
histórico no qual Barney (1991) argumenta que, se uma firma obtém recursos
valiosos e raros por causa de sua trajetória histórica, então, será capaz de explorar
aqueles recursos ao implementar valor criando estratégias queo podem ser
duplicadas por outras firmas. Essas estratégias poderão ser efetivadas a partir das
doações e investimentos em projetos sociais que as empresas fizerem para seus
stakeholders salientes Governo e Sociedade.
A verificação da implementação dessa estratégia poderá ser observada a
partir da análise das características econômicas e contábeis que as empresas
possuem, que lhes oferecem motivos para efetuarem as doações e realizarem
investimentos em projetos sociais. Pode-se basear nos resultados do trabalho de
Adams e Hardwick (1998, p. 642) os quais:
[...] indicam que a decisão de contribuir com capitais discricionários para
caridades de outros grupos está positivamente relacionado ao tamanho da
empresa e a rentabilidade, e negativamente relacionado a alavancagem.
Porém, nós não achamos apoio para a visão que exista uma relação
significativa entre doações discricionárias e a estrutura de propriedade da
companhia. Finalmente, nós não encontramos significância estatística a
respeito dos efeitos da indústria.
42
Sendo assim, nas seções seguintes serão abordadas as seguintes
características da empresa: Alavancagem, Tamanho da Empresa, Rentabilidade,
Estrutura de Propriedade, Setor/Indústria, a fim de proporcionar um maior
esclarecimento para o contexto deste trabalho.
2.3.1 Alavancagem
A estrutura de capital de uma empresa é também considerada como uma
preditora para o comportamento social da firma. A maioria dos estudos considera
isso como uma substituição para medidas de risco (CORNELL; SHAPIRO, 1987;
McGUIRE; SUNDGREN; SCHNEEWEIS, 1988; ADAMS; HARDWICK, 1998;
ROBERTS, 1992). Nesse sentido, a Teoria de Stakeholders defende que as
empresas, além de atender às reivindicações explícitas (por exemplo, contratos de
dívidas), devem preocupar-se em atender às reivindicações implícitas relacionadas
ao Governo e à Comunidade local para evitar incorrer em riscos financeiros
(CORNELL; SHAPIRO, 1987).
Essas reivindicações implícitas serão atendidas pelas empresas que
possuírem baixa alavancagem financeira. Em outras palavras, um baixo nível de
alavancagem corporativa (portanto custos contratantes conseqüentemente baixos)
poderia assegurar que os donos e seus gerentes continuassem a satisfazer as
reivindicações implícitas de stakeholders externos por meio de caridade e outras
contribuições (ADAMS; HARDWICK, 1998).
McGuire, Sundgren e Schneeweis (1988) desenvolveram estudo com dados
da empresas Americanas, obtidos na revista Fortune. Ao tratarem da
responsabilidade social corporativa, verificaram que ela está negativamente
associada à medida de risco dada pela razão entre a dívida e o ativo total. Esses
resultados corroboram as conclusões de Cornell e Shapiro (1987) ao afirmarem que
empresas que têm muitos contratos implícitos com stakeholders tendem a ter dívidas
mais baixas em relação às empresas que possuem poucos contratos implícitos. Tais
resultados sugerem que firmas com baixo risco alegam mais tarde ter uma imagem
de responsabilidade social alta. Analogamente, essas proposições podem sustentar
que empresas com baixa alavancagem financeira tendem a desenvolver um
43
comportamento social ao acumularem um recurso relacional com seus stakeholders
salientes (ênfase deste estudo).
Ao verificarem esse comportamento social no contexto brasileiro, Marcon,
Bandeira-de-Mello, e Alberton (2005) constataram que a alavancagem da firma
pareceu não influenciar em suas doações, embora a estrutura de capital seja
geralmente considerada como relevante em predizer o comportamento social da
firma. Essas descobertas diferem dos estudos que foram conduzidos no exterior
(CORNELL; SHAPIRO, 1987; McGUIRE; SUNDGREN; SCHNEEWEIS, 1988;
ADAMS; HARDWICK, 1998; ROBERTS, 1992).
Diante dessas considerações, propõe-se a seguinte hipótese para esta
pesquisa:
H
1
Firmas que têm baixa alavancagem financeira terão maior probabilidade de
desenvolverem recursos relacionais, mediante investimentos em projetos sociais e
doações ao Governo durante a campanha eleitoral (McGUIRE; SUNDGREN;
SCHNEEWEIS, 1988; ADAMS; HARDWICK, 1998).
Já esclarecida a primeira característica, a da alavancagem, partimos para o
entendimento do que seja a característica relacionada ao tamanho da empresa.
2.3.2 Tamanho da empresa
Trabalhos, como os de Cowen, Ferreri e Parker (1987) desenvolvido com
dados das empresas dos Estados Unidos, buscaram estender a compreensão da
relação entre as várias características corporativas e tipos específicos de revelações
de responsabilidade social, baseado em uma amostra de 134 empresas coletadas
de dez indústrias diferentes através de anuais corporativos; nas quais, analisaram as
características de tamanho corporativo, rentabilidade e tipo de indústria. Eles
comprovaram, empiricamente, que a variável independente – tamanho da firma – é a
que tem sido mais associada com os diferentes tipos de responsabilidade social
desenvolvida pelas firmas. Notaram ainda, que firmas grandes tendem a receber
maior atenção do público em geral, e de grupos do governo. Portanto, essas firmas
estão sob pressão maior para exibirem sua responsabilidade social.
44
Nesse sentido, Lenway e Rehbein (1991) ao desenvolverem seu estudo com
dados das empresas dos Estados Unidos constataram que, grandes corporações
foram confrontadas com incerteza política originada na alta regulação de suas
atividades, pelo Legislativo e pelo Governo Federal. Algumas corporações reagiram
a essa incerteza alocando recursos, criando escritórios em Washington, e
contratando lobistas, e formando comitês de ação política. Assim, Lenway e Rehbein
(1991) sugerem que firmas grandes estão mais propensas a aumentar doações
discricionárias para caridades, comunidades locais e outros grupos, a fim de mitigar
o risco de as agências do governo de impor custos adicionais (como por exemplo,
taxação mais alta e complacência de custos regulatórios) se elas assim não agirem
de maneira socialmente responsável. Cowen, Ferreri e Parker (1987) tinham a
mesma posição sobre a associação da variável tamanho da firma com
responsabilidade social. Por sua vez, Roberts (1992) desenvolveu pesquisa nos
Estados Unidos, com 130 maiores empresas nos anos de 1984 a 1986, retirada de
sete indústrias, na qual comprovou que existia uma forte correlação entre o tamanho
da firma e assuntos fora da empresa, implicando em uma postura ativa em direção à
responsabilidade social.
Estudos de Adams e Hardwick (1998) realizado com empresas da Inglaterra
comprovam empiricamente os trabalhos de Cowen, Ferreri e Parker (1987), e
Roberts (1992), ao demonstrar que firmas maiores se comprometem em atividades
mais sociais que firmas pequenas.
Um estudo recente, no contexto brasileiro, realizado por Marcon, Bandeira-de-
Mello e Alberton (2005) revela que: relacionando-o às doações da firma para o
stakeholder Governo e o investimento em projetos sociais para o stakeholder
Sociedade, os autores sustentam empiricamente que o tamanho da firma
(considerado pelo Ln do ativo total médio das empresas, no período de 1999-2002)
possui um domínio sobre as demais variáveis na explicação da variação da doação
da firma. Os resultados dessa pesquisa são consistentes e se assemelham aos
trabalhos desenvolvidos por Cowen, Ferreri e Parker, (1987), Roberts, (1992),
Adams e Hardwick, (1998). Logo, pode-se derivar a seguinte hipótese:
H
2
: A probabilidade de desenvolver recursos relacionais, mediante
investimentos em projetos sociais e doações ao Governo durante a campanha
eleitoral, será maior em firmas de maior porte do que naquelas de menor porte.
45
(COWEN; FERRERI; PARKER, 1987; LENWAY; REHBEIN, 1991; ROBERTS, 1992;
ADAMS; HARDWICK, 1998; MARCON; BANDEIRA-DE-MELLO; ALBERTON, 2005).
Após esclarecimento das duas primeiras características, alavancagem e
tamanho da empresa, partimos para o esclarecimento da terceira característica o da
rentabilidade.
2.3.3 Rentabilidade
A rentabilidade obtida pelas empresas está relacionada ao desempenho
social das mesmas (ULLMANN, 1985; McGUIRE; SUNDGREN; SCHNEEWEIS,
1988; ROBERTS, 1992; ADAMS; HARDWICK, 1998; MARCON; BANDEIRA-DE-
MELLO; ALBERTON, 2005).
Em estudo realizado a partir de dados de empresas dos Estados Unidos,
Ullmann (1985) apresentou uma correlação positiva, porém, não-significativa,
envolvendo o desempenho financeiro da firma com o seu desempenho social
mensurado pelo índice KLD.
McGuire, Sundgren e Schneeweis (1988) por sua vez, estudaram dois
aspectos das relações entre responsabilidade, desempenho social e financeiro das
empresas. Consideraram, primeiramente, medidas baseadas não em valores de
mercado, como também em termos de risco. E examinaram não até que ponto
responsabilidade social prediria desempenho financeiro, mas também se
desempenho financeiro passado prediria responsabilidade social. Em seus estudos,
McGuire, Sundgren e Schneeweis (1988, p. 868) relataram que “o ROA
(desempenho financeiro), é mais bem verificado mediante predições de
responsabilidade social, do que medidas de mercado”.
Roberts (1992) em seu trabalho relativo à relação entre desempenho
econômico, risco sistêmico e desempenho de responsabilidade social, sustenta os
trabalhos empíricos de McGuire, Sundgren e Schneeweis (1988).
De acordo com os resultados dos estudos comprobatórios realizados por
Ullmann (1985); McGuire, Sundgren Schneeweis (1988); Roberts (1992) os autores
Adams e Hardwick (1998) comprovaram que firmas mais lucrativas possuem maior
46
probabilidade (e capacidade) para efetuarem doações, do que empresas com baixa
lucratividade.
Todavia, no contexto brasileiro, devido ao instrumento de medição da
rentabilidade do patrimônio líquido (ROE) ser diferente do instrumento de medição
utilizado por McGuire, Sundgren e Schneeweis (1988) e Adams e Hardwick (1998) o
trabalho desenvolvido por Marcon, Bandeira-de-Mello e Alberton (2005) não deu
suporte às conclusões apresentadas por aqueles autores, no sentido de que
empresas com alta rentabilidade possuem maior capacidade para serem doadoras.
Isto se deve ao fato de que, neste contexto, o índice (ROE) sofre forte influência de
aspectos macroeconômicos, tais como, as altas taxas de juros. Diante dessas
considerações, propõe-se a seguinte hipótese de pesquisa:
H
3
: Firmas que têm experimentado rentabilidades maiores terão maior
probabilidade de desenvolverem recursos relacionais, mediante investimentos em
projetos sociais e doações ao Governo durante a campanha eleitoral. (ULLMANN,
1985; McGUIRE; SUNDGREN; SCHNEEWEIS, 1988; ROBERTS, 1992; ADAMS;
HARDWICK, 1998).
Na seqüência partiremos para a análise e o esclarecimento da característica
de estrutura de propriedade.
2.3.4 Estrutura de propriedade
De acordo com Ullmann (1985, p. 554) “existem consideráveis evidências nos
relatórios anuais das empresas, de que os acionistas influenciados por diversos
distritos eleitorais, tendem a promover uma imagem corporativa socialmente
responsável”. Isso é possível acontecer se houver baixa concentração de
estrutura de propriedade das empresas. No mesmo sentido, Roberts (1992, p. 601)
relata que “quanto mais dispersa for a carteira de ações de uma firma, melhor será a
sua manifestação de responsabilidade social”.
Adams e Hardwick (1998, p. 646) concordam com as conclusões propostas
por Ullmann (1985, p. 554) ao afirmar que “quanto menos concentrada estiver
composta a carteira de ações de uma firma, maior será a probabilidade da mesma
de fazer doações”, haja vista que, ao efetuarem as doações (os acionistas), estarão
47
melhorando a sua imagem, e, conseqüentemente, o desempenho financeiro da
organização.
Marcon, Bandeira-de-Mello e Alberton (2005, p. 11) concluíram que:
[...] uma relação negativa, porém, significativa entre concentração de
propriedade e doação da firma, encontrados nos dados brasileiros, não
convergem com o trabalho de Adams e Hardwick (1998) no qual usaram
dados britânicos, mas é consistente para Ullmann (1985) onde, firmas com
baixo grau de concentração acionária o propensas para lidar com um
número grande de diferente stakeholders.
Propõe-se então, a seguinte hipótese:
H
4
: Firmas com menor concentração acionária terão maior probabilidade de
desenvolverem recursos relacionais, mediante investimentos em projetos sociais e
doações ao Governo durante a campanha eleitoral. (ULLMANN, 1985; ADAMS;
HARDWICK, 1998; MARCON; BANDEIRA-DE-MELLO; ALBERTON, 2005).
Para encerrar, as quatro características inicialmente apontadas nesta
pesquisa, abordaremos a seguir a característica da indústria.
2.3.5 Características da indústria
Características da indústria parecem influenciar ações de responsabilidade
social das empresas que a compõe. Roberts (1992, p. 605) descreve algumas delas:
“intensidade de competição, visibilidade do consumidor, risco regulador”. Cowen,
Ferreri e Parker (1987, p. 113) compartilham a mesma visão, na medida em que,
declaram: “que a natureza de algumas indústrias [...] sentem mais pressões do
governo e dos consumidores, em certas áreas de responsabilidade social”. Como
exemplo podemos citar empresas que com boa reputação podem obter vendas
maiores; e empresas voltadas à extração ambiental percebem, com facilidade, o
quanto prejudicam o meio-ambiente, por isso, tendem a desenvolver programas
através das atividades de responsabilidade social, sejam estas desenvolvidas
espontaneamente, ou por pressão do governo e da sociedade.
48
Marcon, Bandeira-de-Mello e Alberton (2005, p. 11) agregam um novo valor
ao que foi revelado por outros autores anteriormente citados, quando afirmam
que:
As características da indústria têm um papel importante na explicação da
variação de doação. [...] O coeficiente de intensidade de doação da indústria
foi significante. Este resultado indica que a indústria também importa na
explicação dos fenômenos sociais das firmas.
Ainda, com relação à influência da indústria no comportamento de
responsabilidade social da firma, Samuels (2006) revela, no âmbito de doações
políticas, que candidatos a diferentes cargos receberam quantias relativamente
diferenciadas dos setores (indústria). Por exemplo, e especialmente se comparados
aos candidatos a governador, os candidatos a presidente receberam mais do setor
financeiro. Faz sentido, pois o presidente é mais diretamente responsável por
questões de política macroeconômica, como taxas de juros e câmbio, que afetam
diretamente banqueiros e financistas. Diante dessas considerações, propõe-se a
seguinte hipótese:
H
5
: As características da indústria na qual a firma está inserida, estão
associadas a acumulação de recursos relacionais, mediante investimentos em
projetos sociais e doações ao Governo durante a campanha eleitoral. (COWEN,
FERRERI; PARKER, 1987; ROBERTS, 1992; MARCON; BANDEIRA-DE-MELLO;
ALBERTON, 2005; SAMUELS, 2006).
Nesta dissertação serão analisados como as características das empresas e
da indústria, representadas pelas hipóteses, estão associadas ao investimento na
acumulação de recursos relacionais com seus stakeholders salientes, através de
doações e investimentos em projetos sociais.
49
3 METODOLOGIA
A seção anterior apresentou a base teórica que fundamenta a proposta desta
pesquisa, na qual algumas características das empresas estão relacionadas com a
sua capacidade de gerenciar relacionamentos com seus stakeholders salientes, o
Governo e a Sociedade. Na próxima, serão apresentados os aspectos
metodológicos da presente pesquisa, os quais servem de suporte para análise e
interpretação dos dados.
3.1 DESIGN DO ESTUDO
O presente estudo é quantitativo, de cunho preditivo, com objetivos bem
definidos e que trabalhará com grupos determinados, observando, analisando e
correlacionando fenômenos, sem manipulá-los, caracterizando-se em um design ex-
post facto.
Quanto ao delineamento de pesquisa ex-post facto (a partir do fato passado),
Black (1999, p. 47) sustenta uma descrição clara desse design de pesquisa,
afirmando “que é a investigação empírica sistemática na qual o cientista não tem
controle direto de variáveis independentes, porque suas manifestações
aconteceram ou porque não são possíveis de manipulação”.
A ausência de manipulação de dados quantitativos caracteriza um design ex-
post facto, coletados em registros eletrônicos e gráficos, almejando gerar inferências
para a amostra a partir da análise dos dados.
O aspecto quantitativo de uma pesquisa pode ser explicado por Malhotra et
al. (2005, p. 114) como aquele que:
procura quantificar os dados. Ela busca uma evidência conclusiva, que é
baseada em amostras grandes e representativas e, de alguma forma, aplica
análise estatística. Contrastando com a pesquisa qualitativa, as descobertas
da pesquisa quantitativa podem ser tratadas como conclusivas e utilizadas
para recomendar um curso de ação final.
50
Para o caráter preditivo de uma pesquisa, Black (1999, p. 32) comenta que
“[...] não existe necessariamente a intenção de determinar causalidade, mas sim,
identificar a existência de relações entre variáveis”. Nessa pesquisa, seanalisado
se as características das empresas (variáveis independentes) estão associadas ao
investimento na acumulação de recursos relacionais (variável dependente).
A presença de relação entre variáveis é explicada pelos autores Hair et al.
(2006, p. 310) ao argumentarem que:
A presença de relação avalia se existe uma relação sistemática entre duas
ou mais variáveis. [...] Se é encontrada uma significância estatística entre as
variáveis, dizemos que uma relação espresente. Ou seja, dizemos que o
conhecimento do comportamento de uma ou mais variáveis possibilita
prever o comportamento de uma ou outra variável. [...] Com a análise
associativa, a hipótese nula é a de que não nenhuma associação
presente entre as variáveis.
Com base no design apresentado, esta dissertação verifica a existência de
relações estatisticamente significantes entre a variável dependente obtida através do
estabelecimento de um relacionamento da empresa com seus stakeholders salientes
(Governo e/ou Sociedade), e as variáveis independentes, obtidas através de
registros contábeis das companhias abertas brasileiras.
O método escolhido para esta pesquisa foi o hipotético-dedutivo que, segundo
Hair et al. (2005) parte de princípios verdadeiros e indiscutíveis para se chegar a
conclusões formais. Gomes (2007, p. 5) assegura: “podemos dizer que o método
hipotético-dedutivo é aquele pelo qual se constrói uma teoria que elabora hipóteses
a partir das quais as conclusões obtidas podem ser deduzidas, e através das quais
podemos fazer previsões que podem ser refutadas ou aceitas”.
Com relação às hipóteses, segue o conceito apresentado pelos autores Hair
et al. (2006, p. 80) os quais esclarecem que:
Uma hipótese é uma declaração formal de alguma suposição não-
comprovada que tenta explicar certos fatos ou fenômenos. Uma hipótese
freqüentemente descreve alguns eventos sistemáticos (não-aleatórios) que
podem ser testados com o uso de dados. Geralmente, uma hipótese
reafirma uma questão de pesquisa em termos específicos. Por exemplo,
uma questão de pesquisa pode implicar a existência de alguma relação,
mas a hipótese tipicamente vai além, estabelecendo a direção dessa
relação.
51
O Quadro 1, mostra a direção da relação das variáveis independentes com a
variável dependente apresentadas pelos autores relacionados.
Variáveis independentes
Autores ALAVAN TAM ROE AÇÕES SETOR
ULLMANN, 1985
* * (+) (+) *
COWEN; FERRERI; PARKER, 1987
* (+) * * (+)
McGUIRE; SUNDGREN; SCHNEEWEIS, 1988
(-) * (+) * *
LENWAY; REHBEIN, 1991
* (+) * * *
ROBERTS, 1992
* (+) (+) * (+)
ADAMS; HARDWICK, 1998
(-) (+) (+) * *
MARCON; BANDEIRA-DE-MELLO;
ALBERTON, 2005
* (+) * (-) (+)
Quadro 1: Direção da relação. Se for positiva indica-se (+) caso contrário (-).
Nesta pesquisa, a hipótese H
0
seformulada a partir do estabelecimento de
que todos os coeficientes das variáveis independentes assumam valor zero, ou seja,
β
1
=
β
2
=
β
3
=
β
4
=
β
5
= 0, sendo assim, não haverá nenhuma associação entre as
variáveis independentes com a dependente.
3.2 POPULAÇÃO, FONTE DE DADOS E AMOSTRA
A população corresponde a 550 companhias abertas brasileiras, registradas
na Bolsa de Valores de São Paulo BOVESPA no período de 2000 a 2004. O ano
de 2000 foi escolhido como período inicial em função de a primeira publicação da
Revista Exame de Boa Governança Corporativa ter ocorrido nesse ano.
Três fontes de dados foram utilizadas. As informações contábeis tiveram
como fonte o Economática
®
, e a partir destas, foram identificadas as empresas que
haviam realizado investimentos em projetos sociais publicados na Revista Exame de
Boa Governança Corporativa, e as informações referentes às doações para o
Governo em época de campanha política foram obtidas no sitio ÀS CLARAS. Da
base de dados do Economática
®
, foram excluídas: a) instituições financeiras, devido
a suas altas relações de alavancagem; b) as empresas cuja indústria era indicada
por “outros”; e c) empresas que estavam fora do mercado antes de 2004. Optou-se
por eliminar as empresas que apresentaram dados aberrantes, tais como,
rentabilidade superior a 500% e inferior a -500%.
52
Depois de calculado adia e o desvio padrão, a retirada dos outliers (dados
muito distantes da média da amostra) foi feita através do critério de variação entre
(+/-2 desvio padrão), como sugere Hair et al. (2005). Após esses procedimentos,
restaram 303 empresas que compuseram a amostra da pesquisa na qual, os dados
das variáveis independentes exibiram um desvio estatisticamente significativo da
normalidade e para isso, Hair et al. (2005), propõe que as distribuições assimétricas
podem ser transformadas, calculando-se a raiz quadrada, logaritmos, ou mesmo o
inverso da variável. As transformações efetuadas nas variáveis independentes são
descritas no Quadro 4. Hair et al. (2005), afirmam que diversos testes estatísticos
para avaliar a normalidade. Os dois mais comuns usados são o Shapiro-Wilks
(utilizado nessa pesquisa) e o Kolmogorov-Smirnov. Com a base de dados
transformada, e utilizando-se uma regressão linear, através do método dos mínimos
quadrados, no qual, a variável independente TAM, foi considerada dependente e as
demais variáveis independentes, o histograma dos resíduos dessa regressão, os
testes de Shapiro-Wilks e de Levene, mostraram que os pressupostos normalidade e
de homoscedasticidade foram satisfatoriamente atendidos.
3.3 DEFINIÇÃO OPERACIONAL DAS VARIÁVEIS
Considerando que a variável dependente é categórica, foi necessário adotar
variável binária e, nesse caso, a variável dependente assume valor igual a “1” para
as empresas que efetuaram doações para o Governo e/ou para a Sociedade, e,
valor “0”, no caso contrário. Essa categorização é justificada visto que Hair et al.
(2005, p. 232) comentam que a representação da variável dependente binária possui
“o caráter não-métrico [...] fazendo-se previsões de pertinência a grupo”.
Dessa forma, a base de dados contempla duas categorias distintas de
empresas, as doadoras e não doadoras. Essas informações encontram-se
especificadas no Quadro 2.
53
Variável dependente Definição e mensuração
Acumulação de
Recursos Relacionais
SOCGOV
A acumulação de recurso relacional para com o Governo e/ou para com a
Sociedade pelas companhias abertas brasileiras indica se a empresa
efetuou doações para o Governo durante a campanha política no ano de
2002, e/ou realizou investimentos em Projetos Sociais para com a
Sociedade, em pelo menos 3 dos 5 anos considerados no estudo. Neste
caso a variável assumiu valor 1”, se a empresa doou ao governo, ou à
sociedade e ainda para ambos, e valor “0” zero, se a empresa não efetuou
doações para nenhum dos dois stakeholders.
Quadro 2: Mensuração e definição da variável dependente.
As variáveis independentes deste estudo foram utilizadas em diversas
pesquisas, como dependente, independente e de controle. Porém, no presente
estudo, e de acordo com os autores do Quadro 3, elas serviram de variáveis
explicativas.
Variáveis independentes
Autores ALAVAN TAM ROE AÇÕES SETOR
ULLMANN, 1985 X
COWEN; FERRERI; PARKER, 1987 X X X
McGUIRE; SUNDGREN; SCHNEEWEIS,
1988
X ROA
LENWAY; REHBEIN, 1991 X
ROBERTS, 1992 X X
ADAMS; HARDWICK, 1998 X X X X X
MARCON; BANDEIRA-DE-MELLO;
ALBERTON, 2005
X X X
O X indica os autores que utilizaram as variáveis
Quadro 3: Variáveis utilizadas como independentes
No Quadro 4, descreve-se como cada variável dessa pesquisa foi mensurada,
considerando os critérios de mensuração utilizados pelos autores citados no Quadro
3.
Variáveis Definição e mensuração das variáveis
Alavancagem – ALAVAN
()
Média da relação dívida financeira/ patrimônio líquido, período
2000-2004
Tamanho – TAM
(#)
Média do ativo total da empresa no período 2000 - 2004.
Rentabilidade – ROE
()
Média da relação lucro líquido/patrimônio líquido, da empresa no
período 2000-2004
Concentração de ações
AÇÕES
()
Média do percentual de participação dos principais stakeholders
em relação ao total das ações no período 2000 - 2004.
Características da Indústria
SETOR
()
Média das médias (de cada ano) da relação lucro
líquido/patrimônio líquido, da indústria no período 2000-2004.
Quadro 4: Mensuração e definição das variáveis independentes.
() Variável transformada em três etapas: Extração da raiz quadrada dos dados em sua forma
original; 2ª cálculo do seno do valor obtido na 1ª etapa; 3ª inverso do valor obtido na 2ª etapa.
(#) – Variável transformada com base no logaritmo natural.
54
3.4 MODELO DA PESQUISA
Objetivando verificar como as características das empresas, valores de “x”
(variáveis independentes) estão associadas ao investimento na acumulação de
recursos relacionais, valores de “y”, ‘1’ ou ‘0’ (variável dependente), para com seus
stakeholders salientes, foi utilizado o modelo da Regressão Logística, que, devido a
sua robustez de análise, tende minimizar possíveis problemas de fidelidade dos
valores informados no sitio ÀS CLARAS e na Revista Exame de Boa Governança
Corporativa.
Optou-se por utilizar este modelo tendo em vista que Hair et al. (2005, p. 231)
afirmam que:
quando a variável dependente tem apenas dois grupos, a regressão
logística pode ser preferida por diversas razões. Primeiro, a análise
discriminante depende estritamente de se atenderem as suposições de
normalidade multivariada e de iguais matrizes de variância-covariância nos
grupos suposições que não são atendidas em muitas situações. A
regressão logística o depende dessas suposições rígidas e é muito mais
robusta quando tais pressupostos não são satisfeitos, o que torna sua
aplicação apropriada em muito mais situações. Segundo, mesmo quando os
pressupostos são satisfeitos, muitos pesquisadores preferem a regressão
logística por ser similar à regressão múltipla linear.
Já para a estimação de um modelo de regressão logística, Hair et al. (2005, p.
232) argumentam que:
A regressão múltipla emprega o método dos mínimos quadrados, o qual
minimiza a soma das diferenças quadradas entre os valores reais e os
previstos para a variável dependente. A natureza não-linear da
transformação logística demanda que um outro procedimento, o de máxima
verossimilhança, seja usado de forma iterativa para encontrar as estimativas
‘mais prováveis’ para os coeficientes. Isso resulta no uso do valor de
verossimilhança no lugar da soma de quadrados quando se calcula a
medida de ajuste geral do modelo.
O processo de estimar os coeficientes é semelhante em muitos aspectos ao
da regressão linear. Por sua vez, o modelo logit tem a forma específica da curva
logística. Para estimar um modelo de regressão logística, essa curva é ajustada aos
dados reais. Gujarati (2000, p. 561) apresenta a equação para fins de estimativa do
Modelo Logit, como segue:
55
Z
e
P
+
=
1
1
Equação 1
O valor da probabilidade pode variar de 0 (zero) a 1. Para assumir uma
relação entre zero e um, a regressão logística assume uma relação entre as
variáveis independentes e a variável dependente que tem a forma de uma curva em
S” gerada por uma função sigmoidal.
Ao estimar o modelo logístico para cada observação, pode-se determinar um
Escore Z:
i
p
i
i
XbZ *
1
0
=
+=
β
Equação 2
Na Equação 2,
i
X
é o valor da i-ésima variável (isto é, indicador contábil-
financeiro).
Ao discorrer sobre a desproporção amostral em um modelo logit, Maddala
(2003, p. 173) argumenta que:
Em relação à estimação dos coeficientes das variáveis explicativas, se
usarmos o modelo logit, os coeficientes não serão afetados pelas taxas de
amostragem desiguais para os dois grupos. Apenas o termo constante é
afetado.
A partir da equação 1, pode-se escrever o modelo logit desta pesquisa
indicado pela equação 3 retratando o comportamento para a variável dependente
Sociedade e/ou Governo, em função das características das empresas
representadas na equação 4,
( )
SOCGOV
e
SOCGOVP
+
=
1
1
Equação 3
56
em que
1
=
SOCGOV
, se a empresa for doadora para a Sociedade e/ou para o
Governo, no período indicado de mensuração das variáveis dependentes, e 0 (zero)
no caso contrário. E,
SOCGOV
se relacione linearmente com as variáveis
apresentadas abaixo:
εββββββ
++++++= SETORAÇÕESROETAMALAVANSOCGOV
543210
Equação 4
Para prosseguimento desta pesquisa, na seção seguinte serão apresentadas
as análises dos resultados obtidos através da estatística descritiva e, a partir do
modelo Logit, rodado a partir da Equação 4.
57
4 ANÁLISES DOS DADOS
Nesta parte do trabalho, são apresentados os resultados obtidos da aplicação
dos procedimentos descritos na metodologia proposta na seção anterior,
evidenciando análise e interpretação dos dados. Na seção 4.1, apresenta-se a
descrição das variáveis utilizadas. Na seção 4.2, encontra-se a estimação do modelo
Logit.
4.1 DESCRIÇÃO DA AMOSTRA
Das 303 empresas utilizadas na amostra, foram identificados dois grupos de
empresas, doadoras e não-doadoras. O grupo de doadoras ficou composto de 98
empresas, Tabela 1. Entretanto, o grupo de não-doadoras compôs 205 empresas,
Tabela 2. A diferença do número de empresas da amostra verificada nessas tabelas
resulta da falta de informações da variável em questão.
Identifica-se que do total dos dois grupos, 32,3% das empresas são
representadas pelas doadoras e 67,7%, pelas não-doadoras.
As Tabelas 1 e 2 descrevem as características das variáveis independentes.
Tabela 1: Estatística descritiva das empresas doadoras
Número
de
empresas
Variável Média Desvio
Padrão
Máximo Mínimo Primeiro
quartil
Terceiro
quartil
98 ALAVAN 258,84%
483,6710
3.017,26
-1.253,44
90,1563
256,3375
98 TAM 1.418.431
4.255.875
3,9 E+07
4.955,33
131.543,10
1.123.996
99 ROE 8,76%
27,3943
107,90
-96,40
3,3000
20,2400
97 AÇÕES 64,43%
26,4099
100
12,50
40,3900
89,6000
99 SETOR -7,30%
18,2213
21,37
-49,58
-13,0981
3,0725
Ao compararmos os valores contidos na Tabela 1 com os valores da Tabela
2, observa-se uma diferença significativa entre ambas. Por exemplo, a variável
ALAVAN apresenta uma média superior de 43,22% em relação às empresas não-
doadoras. Situação semelhante pode ser percebida com a variável TAM na qual a
média das empresas doadoras é superior em 71,91% em relação ao grupo de o-
58
doadoras, caracterizando, portanto, que empresas maiores tendem a realizar mais
doações do que as menores.
Tabela 2: Estatística descritiva das empresas não-doadoras
Número
de
empresas
Variável Média Desvio
Padrão
Máximo Mínimo Primeiro
quartil
Terceiro
quartil
203 ALAVAN 180,73%
519,2298
3.241,42
-1.756,90
26,45
228,7200
203 TAM 825.087,80
3.209.778
4,2 E+07
528,25
41.719,00
597.990,0
204 ROE -1,39%
25,8347
106,10
-122,70
-3,9183
12,7100
194 AÇÕES 68,50%
23,7885
100
16,10
51,7900
92,7200
204 SETOR -7,54%
15,9300
21,37
-49,58
-11,1017
3,0725
Outra característica é que as empresas doadoras possuem índice de
rentabilidade expressivo (530,22%) em relação às não-doadoras, corroborando
estudos de Marcon, Bandeira-de-Mello e Alberton (2005) que identificaram que
empresas doadoras são mais rentáveis do que as não-doadoras. Pode-se perceber,
também, que a média da variável AÇÕES, para as empresas o doadoras, é maior
em relação às doadoras, indicando que, quanto menor for a concentração acionária
das empresas, maior será a tendência de elas efetuarem doações, essa
consideração é apoiada por Ullmann (1985).
Com relação à variável SETOR, percebe-se que não houve diferenças
expressivas na rentabilidade média do patrimônio líquido, indicando, dessa forma,
que a natureza do Setor, no qual as empresas estão inseridas, parece não
influenciá-las na realização de doações. Percebe-se que a rentabilidade média do
patrimônio líquido (ROE) das empresas doadoras (Tabela 1) é positiva, em
detrimento da do SETOR que é negativa. Esse resultado negativo é influenciado
principalmente pelos setores têxtil e veículos que apresentaram alto índice de
rentabilidade negativa.
4.2 ESTIMAÇÃO DO MODELO LOGIT
A técnica da análise Logit aplica-se à obtenção da probabilidade de que uma
observação pertença a um conjunto determinado, em função do comportamento das
variáveis independentes. Nesse caso, as variáveis independentes são indicadores
59
contábeis das companhias brasileiras de capital aberto, e a variável dependente
pode tomar o valor compreendido entre 0 e 1. O valor 1 (um) significa que a
companhia efetuou doações para o Governo em época de campanha política (2002)
e/ou que realizou investimentos em projetos sociais em pelo menos três dos cinco
anos considerados entre 2000 e 2004; e o valor 0 (zero), que a companhia não
realizou nenhum dos dois tipos de relacionamento com os stakeholders citados.
Nas seções seguintes apresentar-se-ão informações relacionadas à qualidade
e ajuste do modelo Logit; bem como, as estimativas dos coeficientes do mesmo.
4.2.1 Qualidade e ajuste do modelo
Em regressão logística uma série de testes de ajuste, e outras medidas
para assegurar a validade do modelo final. Essas estatísticas permitem identificar as
variáveis que não se ajustam bem, ou que têm forte influência sobre a estimação
dos parâmetros.
De acordo com Hair et al. (2005, p. 234) “A medida geral do quão bem o
modelo se ajusta, semelhante ao valor das somas de quadrados de erros ou
resíduos para regressão múltipla, é dada pelo valor de verossimilhança”. Um modelo
bem ajustado terá um valor pequeno para -2LL (-2Log verossimilhança, ou ainda -2
Log-Likehood), um ajuste perfeito tem uma verossimilhança de 1 e, portanto, -2LL é
zero (0). Assim sendo, o ajuste do modelo geral é dado pelo valor de -2 log
verossimilhança (-2LL) é de 366,029. Após serem incluídas todas as variáveis no
modelo, esse valor foi reduzido para 329,907, indicando dessa forma um bom ajuste
do modelo.
Hair et al. (2005) afirmam que dois testes estatísticos para a significância
do modelo final. O primeiro teste, o qui-quadrado para a variação no valor -2LL em
relação ao modelo base é comparável ao teste F geral em regressão múltipla. O
segundo teste, apresentado por esses autores é a medida Hosmer e Lemeshow de
ajuste geral, que indica se há diferenças estatisticamente significantes entre as
classificações observadas e previstas. Para tanto, comentam que:
60
A medida final de ajuste de modelo é o valor de Hosmer e Lemeshow, o
qual mede a correspondência entre os valores reais e os previstos da
variável dependente. Nesse caso, um melhor ajuste de modelo é apontado
por uma menor diferença entre a classificação observada e a prevista. Um
bom ajuste do modelo é indicado por um valor qui-quadrado não
significante.
Essa medida apresentada no Quadro 5 fornece suporte para a aceitação de
modelo com as variáveis que aparecem nele como um modelo de regressão
logística adequado para futuro exame.
Qui-quadrado Significância
Teste Hosmer e Lemeshow 2,796 0,946*
* Não significativo
Quadro 5: Teste de significância para aceitação do modelo final
Considerando o valor do Qui-quadrado do teste Hosmer e Lemeshow com
valor de 2,796 e nível de significância 0,946, percebe-se que é não significante em
qualquer nível de p, indicando, dessa forma, segundo Hair et al. (2005), um bom
ajuste do modelo.
A Tabela 3 fornece informação de associação entre os estimadores das
variáveis independentes que serão utilizadas no modelo dessa pesquisa. As
variáveis ROE e TAM e assim como, as variáveis TAM e SETOR apresentam uma
associação fraca, porém, muito significativa, caracterizando colineariedade entre
elas, pelo fato de as demais variáveis não apresentarem associações significativas,
o modelo desta pesquisa apresenta pequenos problemas de multicolinearidade.
Tabela 3: Matriz de correlação linear de Pearson das variáveis
ALAVAN TAM ROE AÇÕES SETOR
ALAVAN
TAM
ROE
AÇÕES
SETOR
1,000
0,002
0,003
-0,015
-0,026
1,000
0,172**
-0,035
-0,158**
1,000
-0,027
-0,105
1,000
-0,021
1,000
** Coeficiente de correlação de Pearson significativo ao nível de 1%.
61
4.2.2 Estimação dos coeficientes
Para o teste da significância dos coeficientes em uma regressão logística,
Hair et al. (2005) comentam que a regressão logística usa a estatística Wald, que,
por sua vez, fornece a significância estatística para cada coeficiente estimado, para
que o teste de hipóteses ocorra de modo semelhante ao da regressão múltipla. O
teste de Wald para cada coeficiente do modelo logit dessa pesquisa é apresentado
na Tabela 4. Sendo assim, pode-se analisar se este teste rejeita a hipótese H
0.
.
Observa-se na tabela 4, que a hipótese H
0
, foi rejeitada haja vista que, quase todos
os coeficientes apresentaram valores significativamente diferentes de zero, com
exceção do coeficiente (
β
5
) da variável SETOR.
Tabela 4: Coeficientes das variáveis independentes na equação e Teste de Wald
(ALAVAN)
Variáveis Coeficiente Estimado Teste de Wald
Nível de significância (p)
CONSTANTE
ALAVAN
TAM
ROE
AÇÕES
SETOR
β
0
=
-136,043
β
1
=
3,363
β
2
= 0,289
β
3
=
39,318
β
4
= -0,025
β
5
= 0,002
7,005
2,708
13,015
5,687
3,244
2,116
0,008
a
0,100
c
0,000
a
0,017
b
0,072
c
0,146
a = significativo 1%; b = significativo 5% e, c = significativo 10%
A hipótese H
1
descreve que firmas que têm baixa alavancagem financeira
terão maior probabilidade de desenvolverem recurso relacional, entretanto, o
coeficiente (
β
1
) da variável ALAVAN mostra que uma correlação positiva entre o
grau de alavancagem financeira das empresas da amostra e o investimento na
acumulação de recursos relacionais para com seus stakeholders salientes. Mesmo
sendo significativamente diferente de zero, para o nível p 0,10, este resultado
indica que empresas que apresentam altos índices de endividamento tendem a
desenvolver relacionamentos com stakeholders salientes (contrariando a expectativa
desta pesquisa), talvez para garantir novas fontes de captação de recursos. Dessa
forma, a hipótese H
1
da presente pesquisa, não pode ser suportada. O resultado
contraria os estudos de McGuire, Sundgren e Schneeweis (1988) e de Cornell e
Shapiro (1987) nos quais verificaram que, o comportamento da empresa, para com
62
seus stakeholders está negativamente associada, à medida de risco, dada pela
razão entre dívida e ativo total.
Na tentativa de verificar se outro indicador da Alavancagem das empresas da
amostra poderia ser adicionado no lugar da variável ALAVAN, com a finalidade de
verificar se há correlação negativa com a variável dependente, conforme proposto na
hipótese H
1
, trocou-se a variável ALAVAN pela variável EXIGATTO, que é medida
pela razão entre o Exigível e o Ativo Total de cada empresa. Como se pode observar
na Tabela 5, o coeficiente dessa variável mostra-se ainda positivo, indicando a
mesma correlação apresentada pela variável ALAVAN. Além disso, a variável
EXIGATTO não é significativamente diferente de zero (p = 0,971) para explicar a
relação entre o grau de endividamento da empresa e a sua propensão em
desenvolver um recurso relacional com stakeholder salientes. Sendo assim, nessa
segunda tentativa, H
0
o pode ser rejeitada, logo, a hipótese H
1
da presente
pesquisa, não pode ser aceita.
Tabela 5: Coeficientes das variáveis independentes na equação e Teste de Wald
(EXIGATTO)
Variáveis Coeficiente Estimado Teste de Wald
Nível de significância (p)
CONSTANTE
EXIGATTO TAM
ROE
AÇÕES
SETOR
β
0
= -119,777
β
1
= 0,001
β
2
= 0,287
β
3
= 37,818
β
4
= -0,026
β
5
= 0,002
5,822
0,001
12,597
5,385
3,322
2,141
0,016
b
0,971
0,000
a
0,020
b
0,068
c
0,143
a = significativo 1%; b = significativo 5% e, c = significativo 10%
A Tabela 6 apresenta os coeficientes de correlação de Pearson das variáveis
independentes consideradas a partir da troca da variável ALAVAN pela variável
EXIGATTO. Observa-se que quase todas elas estão significativamente
correlacionadas, indicando dessa forma que o modelo de pesquisa analisado a partir
dessas variáveis pode apresentar problemas de multicolinearidade, razão pela qual,
justifica-se a utilização da variável ALAVAN em vez da variável EXIGATTO.
Tabela 6: Matriz de correlação (EXIGATTO)
EXIGATTO TAM ROE AÇÕES SETOR
EXIGATTO
TAM
ROE
AÇÕES
SETOR
1,000
0,978**
0,184**
-0,031
-0,161**
1,000
0,172**
-0,035
-0,158**
1,000
-0,027
-0,105
1,000
-0,021
1,000
** Correlação significativa ao nível de 1%.
63
Uma das razões de não ser aceita a hipótese H
1
, da presente pesquisa, pode
estar no fato de que, ela foi fundamentada em pesquisas empíricas realizadas em
países com contextos econômicos diferentes ao do Brasil (McGUIRE; SUNDGREN;
SCHNEEWEIS, 1988; ADAMS; HARDWICK, 1998).
O resultado desta pesquisa, dado ao fato de que, a variável independente
(ALAVAN) estar positivamente correlacionada ao investimento na acumulação de
recursos relacionais, vai ao encontro das conclusões de Bandeira-de-Mello (2007, p.
3) ao argumentar que:
[...] empresas comprometidas com a comunidade e o governo podem
acessar recursos financeiros mais eficientemente. Bancos privados podem
positivamente reconhecer investimentos anteriores de empresas em
projetos sociais e ambientais ao calcular os riscos de empréstimos e, a
disponibilidade de financiamento público está sujeita a influência política.
Por exemplo, o caso da empresa WEG Indústrias S.A., mesmo apresentando
alto grau de alavancagem, fez doações para o Governo e/ou à Sociedade,
entretanto a empresa AES elpa, por apresentar baixa alavancagem financeira não
fez doações.
A hipótese H
2
afirma que a probabilidade de desenvolver recurso relacional
com stakeholders semaior em firmas de maior porte do que naquelas de menor
porte. A direção da relação entre a variável dependente e independente apresentada
na hipótese H
2
pode ser verificada através do coeficiente da variável TAM,
apresentado na Tabela 4, o qual mostra correlação positiva. Por ser
significativamente diferente de zero, para o nível p < 0,01, o coeficiente da variável
TAM, rejeita H
0
, logo, a hipótese H
2
da presente pesquisa pode ser aceita e encontra
respaldo nos trabalhos de Ullmann, (1985); Cowen, Ferreri e Parker, (1987); Lenway
e Rehbein, (1991); Roberts, (1992); Adams e Hardwick, (1998); Marcon, Bandeira-
de-Mello e Alberton, (2005) ao afirmarem que quanto maior for o tamanho da
companhia maior será a probabilidade de desenvolverem relações com seus
stakeholders salientes. Essas considerações podem ser verificadas, por exemplo, na
empresa WEG Indústrias S.A., que com um porte significativo, fez doações para o
Governo e/ou para a Sociedade no período indicado nessa pesquisa enquanto que a
empresa Coldex, de porte menor, não fez doações.
A hipótese H
3
prescreve que firmas que têm experimentado rentabilidades
maiores terão maior probabilidade de desenvolverem recurso relacional. O
64
coeficiente da variável ROE denota uma correlação positiva entre a Rentabilidade
das empresas da amostra e o investimento na acumulação de recursos relacionais
para com seus stakeholders salientes. Este coeficiente, apresentando-se
significativamente diferente de zero, com valor de p < 0,05, rejeita H
0
, por
conseguinte, a hipótese H
3
da presente pesquisa pode ser aceita e está de acordo
com as conclusões obtidas por Ullmann, (1985); Mcguire, Sundgren e Schneeweis,
(1988); Roberts, (1992); Adams e Hardwick, (1998). Esses resultados são possíveis
de serem verificados, por exemplo, na empresa WEG que tem tido altas taxas de
rentabilidade no período considerado, o que pode ter contribuído para que ela
efetuasse doações para o Governo e/ou à Sociedade. Entretanto, a empresa
Paranapa, que teve baixa rentabilidade não efetuou doações para o Governo e/ou à
Sociedade.
A hipótese H
4
retrata que firmas com menor concentração acionária terão
maior probabilidade de desenvolverem recurso relacional. Logo, o coeficiente da
variável AÇÕES, mostra que há uma correlação negativa entre a concentração
acionária das empresas desta pesquisa e o investimento na acumulação de recursos
relacionais com seus stakeholders salientes. No sentido de que, quanto maior for a
concentração acionária, menor será a probabilidade da empresa em desenvolver um
recurso relacional. Por outro lado, quanto menor for a concentração acionária ou
seja, um grande número de ações em poder de vários acionistas maior será a
capacidade da empresa em desenvolver um recurso relacional. O fato do coeficiente
da variável AÇÕES ter-se apresentado significativamente diferente de zero, para o
nível p 0,10, rejeita H
0
, por conseguinte, a hipótese H
4
, pode ser aceita,
constatação essa defendida por Ullmann, (1985); Marcon, Bandeira-de-Mello e
Alberton (2005). Sendo assim, o exemplo da empresa Sadia S.A. que, por possuir
baixa concentração acionária, fez doações para o Governo e/ou à Sociedade.
Entretanto, a empresa Varig, que possui alta concentração acionária, não fez
doações.
A hipótese H
5
afirma que as características do setor na qual a firma está
inserida estão associadas ao investimento na acumulação de recursos relacionais
pelas empresas. Assim, o coeficiente da variável SETOR indica que uma
correlação positiva entre as características da Indústria e o investimento na
acumulação de recursos relacionais com seus stakeholders salientes. Porém, por
não ser significativamente diferente de zero, em todos os níveis, com o valor de p =
65
0,146, o coeficiente da variável SETOR, não pode rejeitar H
0
, portanto, a hipótese H
5
da presente pesquisa não pode ser aceita (ao contrário da expectativa dessa
pesquisa), e assim, não corrobora os trabalhos desenvolvidos por Cowen, Ferreri e
Parker (1987); Roberts, (1992); Marcon, Bandeira-de-Mello e Alberton (2005);
Samuels (2006).
O Quadro 6, mostra a direção da relação das variáveis independentes com a
variável dependente apresentadas pelos autores que fundamentaram teoricamente
as hipóteses dessa pesquisa, e é comparado com os resultados encontrados nesta
pesquisa.
Variáveis independentes
Autores ALAVAN TAM ROE AÇÕES SETOR
ULLMANN, 1985
* * (+) (+) *
COWEN; FERRERI; PARKER, 1987
* (+) * * (+)
McGUIRE; SUNDGREN; SCHNEEWEIS, 1988
(-) * (+) * *
LENWAY; REHBEIN, 1991
* (+) * * *
ROBERTS, 1992
* (+) (+) * (+)
ADAMS; HARDWICK, 1998
(-) (+) (+) * *
MARCON; BANDEIRA-DE-MELLO;
ALBERTON, 2005
* (+) * (-) (+)
RESULTADO DESTA PESQUISA
(+) (+) (+) (-) (+)
Quadro 6: Direção da relação. Se for positiva indica-se (+) caso contrário (-).
De um modo geral, se compararmos os valores p” referente aos níveis de
significância dos coeficientes das variáveis independentes apresentados na Tabela
4, pode-se perceber que, em ordem decrescente de importância, a variável TAM,
com valor de p = 0,000, possui maior significância em relação às demais. Isso pode
indicar como o tamanho das empresas está associado ao investimento na
acumulação de recursos relacionais com múltiplos stakeholders. Empresas de maior
porte tendem a receber maior atenção do público em geral, e de grupos do governo,
logo, essas firmas estão sob pressão maior para exibirem sua responsabilidade
social (COWEN, FERRERI e PARKER, 1987). Logo, empresas de porte maior
tenderão a fazer mais doações do que empresas com porte menor.
A segunda característica da empresa, em ordem decrescente de importância,
com valor de p = 0,017, que está associada ao investimento na acumulação de
recursos relacionais é a Rentabilidade. Isso pode indicar que a rentabilidade das
empresas é uma das características que possui importância relativa para explicar o
investimento na acumulação de recursos relacionais com múltiplos stakeholders.
66
Portanto, empresas com altas rentabilidades tenderão a fazer mais doações do que
empresas com rentabilidades baixas.
A terceira característica, com valor de p = 0,072, que está associada ao
investimento na acumulação de recursos relacionais, é a baixa concentração
acionária indicada pela variável AÇÕES. Empresas que possuem ações nas mãos
de vários cios podem ter dificuldades em controlar todas as decisões tomadas
pelos seus acionistas. Decisões essas tomadas a partir da pressão exercida pelos
diversos grupos de interesse das organizações. Adams e Hardwick (1998)
concordam com a proposição de Ullmann (1985) ao concluírem que, quanto menos
concentrada estiver composta a carteira de ações de uma firma, maior será a
probabilidade dela fazer doações.
A quarta característica da empresa, com valor de p = 0,100, que está
associada ao investimento na acumulação de recursos relacionais é o grau de
alavancagem financeira. As empresas que são comprometidas com a comunidade e
o governo podem acessar recursos financeiros mais eficientemente (BANDEIRA-DE-
MELLO, 2007).
Embora o coeficiente da variável SETOR não tenha se apresentado
significativamente diferente de zero, com valor de p = 0,146, obteve correlação
positiva oferecendo indicativos de que algumas indústrias consideradas na amostra
tiveram maior probabilidade em desenvolver um recurso relacional. Isso pode ser
constatado pela porcentagem de empresas do setor que fizeram doações, conforme
é apresentado na Tabela 7.
67
Tabela 7: Empresas doadoras por setor da amostra
SETOR
TOTAL DE
EMPRESAS
EMPRESAS
DOADORAS PORCENTAGEM
RENTABILIDADE
MÉDIA DO SETOR
2000 à 2004
Alimentos e Bebidas 23 12 52% -13.0981
Comércio 20 7 35% 6.6341
Construção 14 4 29% -9.4849
Eletroeletrônicos 12 6 50% -5.2530
Energia Elétrica 43 15 35% -4.4820
Máquinas Industriais 7 3 43% 12.6667
Mineração 11 5 45% -5.7683
Papel e Celulose 10 8 80% 10.6550
Petróleo e Gás. 7 5 71% 21.3704
Química 29 11 38% -11.1017
Siderurgia e Metalurgia 42 18 43% 2.4668
Telecomunicações 51 7 14% 3.0725
Têxtil 25 11 44% -49.5793
Transporte Serviços 12 4 33% -9.8079
Veículos e peças 22 6 27% -34.3131
Observa-se, na Tabela 7, que os setores Papel e Celulose e Petróleo e Gás
foram os que apresentaram percentual maior de empresas que realizaram doações
para com o Governo e/ou para com a Sociedade. Uma das razões que esclarece o
comportamento das indústrias citadas é apresentada por Samuels (2006) ao
comentar que as mesmas são fortemente influenciadas pelas decisões de ordem
política e econômica do país, impulsionando empresas desses setores a
desenvolverem um recurso relacional, situação esta comprovada pela porcentagem
de empresas que fizeram doações, ou seja, 80% das empresas do setor de Papel e
Celulose e 71% do setor Petróleo e Gás. Outra razão para o desenvolvimento desse
Recurso Relacional pode estar no fato de que as atividades de exploração de
recursos naturais praticadas por essas empresas características específicas do
setor em que atuam podem chamar a atenção da comunidade para que esta exija
dessas empresas uma política ecologicamente correta, segundo a visão de Cowen,
Ferreri e Parker (1987, p. 113). Esses autores afirmam que, “[...] a natureza de
algumas indústrias [...] sentem mais pressões do governo e dos consumidores, em
certas áreas de responsabilidade social”.
68
Embora as características da indústria tenham um papel na explicação dos
fenômenos sociais das firmas como, por exemplo, as doações (MARCON;
BANDEIRA–DE-MELLO; ALBERTON, 2005) o trabalho de Adams e Hardwick (1998)
não acharam o efeito de indústria significante em seus dados britânicos. Marcon,
Bandeira-de-Mello e Alberton (2005) argumentam que uma possível explicação seja
as diferenças no número de indústrias analisadas (quatro amplamente agregadas no
estudo estrangeiro contra 15 setores brasileiros).
No Quadro 6 observam-se as hipóteses testadas e os resultados encontrados
no tocante a suas confirmações ou rejeições.
Hipóteses
Descrição das hipóteses Resultados
H
1
Firmas que têm baixa alavancagem financeira terão maior
probabilidade de desenvolverem recurso relacional com os
stakeholders salientes, mediante doações ao governo e em
investimento em projetos sociais.
Não aceita.
H
2
A probabilidade de desenvolver recurso relacional com os
stakeholders salientes será maior em firmas de maior porte do que
nas de menor tamanho, mediante doações ao governo e em
investimento em projetos sociais.
Aceita.
H
3
Firmas que têm experimentado rentabilidades superiores terão
maior probabilidade de desenvolverem recurso relacional com os
seus stakeholders salientes, mediante doações ao governo e em
investimento em projetos sociais.
Aceita.
H
4
Firmas com menor concentração acionária terão maior
probabilidade de desenvolverem recurso relacional com os seus
stakeholders salientes, mediante doações ao governo e em
investimento em projetos sociais.
Aceita.
H
5
A característica do setor na qual a firma está inserida influencia o
desenvolvimento de recurso relacional com os seus stakeholders
salientes, mediante doações ao governo e em investimento em
projetos sociais.
Não aceita.
Quadro 6: Resultado das hipóteses.
Resumidamente, o quadro acima apresentou as hipóteses dessa dissertação
e os seus resultados.
Na seqüência serão apresentadas as considerações finais, as limitações da
pesquisa e as sugestões para estudos futuros.
69
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste tópico são apresentadas as conclusões provenientes dos resultados
deste estudo, confrontadas com as considerações teóricas. Na seqüência, serão
explicitadas as limitações e dificuldades encontradas na coleta e na análise dos
dados; bem como, sugestões para futuros estudos relacionados a temas similares
ao desta dissertação.
5.1 CONCLUSÕES
O objetivo deste trabalho foi analisar como as características das empresas e
da indústria estão associadas com o investimento na acumulação de recursos
relacionais para com os stakeholders salientes das companhias abertas brasileiras.
Para tanto, duas abordagens teóricas fundamentaram esse estudo: a) A teoria
instrumental dos stakeholders apresentada por Donaldson e Preston (1995) a partir
da qual, Jones (1995) desenvolveu estudo que propôs a metáfora contratante da
firma, na qual evidenciou o estabelecimento de contratos explícitos e implícitos com
stakeholders. b) Na RBV visão baseada em recursos, da qual foram apresentadas
duas categorias de recursos, os negociáveis e não-negociáveis.
A partir da categoria dos não-negociáveis destacaram-se os motivos de
acumulação de recursos apresentada por Dierickx e Cool (1989) os quais afirmam
que um recurso pode ser desenvolvido e acumulado na empresa, tornando-se
valioso, raro e difícil de ser imitado pelos concorrentes, trazendo desta forma
vantagem competitiva para as empresas. A partir da perspectiva de acumulação de
recursos não-negociáveis apresentada pelas autoras Dierickx e Coll (1989). Esse
tipo de recurso o-negociável poderá ser desenvolvido na empresa através da
intenção em gerenciar as relações da organização com seus stakeholders salientes
mediante os contratos confiáveis apresentado por Williamson (1983). Esse recurso
poderá ser acumulado através doações ao Governo em época de campanha política
e à Sociedade através de investimentos em projetos sociais mediante um fluxo
longitudinal, conforme proposto pelas autoras Dierickx e Cool (1989).
70
Objetivando analisar a acumulação de recursos relacionais das companhias
abertas brasileiras, através de um fluxo longitudinal abrangendo o período do ano de
2000 até o ano de 2004, a amostra de empresas estudada foi composta de 303
companhias divididas em dois grupos - doadoras e o-doadoras. Três fontes de
dados foram utilizadas, o Economática
®
, a Revista Exame de Boa Governança
Corporativa, e o sítio ÀS CLARAS.
Para analisar como as características da empresa podem estar associadas
com o investimento na acumulação de recurso relacional com seus stakeholders
salientes, utilizou-se a Regressão Logística. Para tanto, criou-se uma variável
dependente categórica (SOCGOV) a qual assumiu valor (1), se a empresa doou
para governo, e/ou à sociedade e ainda para ambos, e valor (0) zero, se a empresa
não efetuou doações para nenhum dos dois stakeholders.
Para analisar, como as características das empresas, estão associadas ao
investimento na acumulação de recursos relacionais, através de doações para o
Governo em época de campanha política, e investimentos em projetos em prol da
Sociedade, foram utilizadas cinco variáveis independentes (ALAVAN, TAM, ROE,
AÇÕES, SETOR), e com base no referencial teórico, cinco hipóteses foram
formuladas e testadas, e que serão analisadas a seguir.
A hipótese H
0
foi formulada partindo do pressuposto que todos os coeficientes
das variáveis independentes assumissem valores iguais a zero (0), ou seja,
β
1
=
β
2
=
β
3
=
β
4
=
β
5
= 0.
A hipótese H
1
previu que as empresas com baixo grau de alavancagem
financeira (ALAVAN), teriam maior probabilidade de desenvolverem recurso
relacional com os stakeholders salientes (correlação negativa). Entretanto, nesta
pesquisa, o coeficiente da variável ALAVAN é significativamente diferente de zero e
possui correlação positiva com a variável dependente (
β
1
= 3,363; p = 0,100). Esta
correlação entre o grau de alavancagem financeira das empresas na amostra, e o
investimento na acumulação de recursos relacionais com seus stakeholders
salientes, pode indicar que, empresas que apresentam altos índices de
endividamento tenderiam a desenvolver relacionamentos com stakeholders salientes
garantindo dessa forma, novas fontes de captação de recursos. Com os valores
encontrados, a hipótese H
0
do presente trabalho, o pode ser rejeitada, logo, a
hipótese H
1
não pode ser aceita no sentido de explicar a correlação negativa
71
existente entre a característica alavancagem financeira, e o investimento na
acumulação de recursos relacionais.
A correlação positiva encontrada difere dos resultados encontrados nos
estudos de McGuire, Sundgren e Schneeweis (1988) e de Adams e Hardwick (1998)
os quais constataram que o relacionamento da empresa para com seus stakeholders
está negativamente associado com a medida de risco, dada pela razão entre dívida
e ativo total. Essa contrariedade pode ser decorrente do fato de que a hipótese em
questão foi fundamentada por autores que desenvolveram pesquisas em contextos
diferentes ao do Brasil.
O contexto econômico brasileiro, caracterizado como emergente, apresenta
turbulências ambientais tais como: instabilidade econômica e política, corrupção,
suborno, etc., pode indicar que a sobrevivência das empresas está diretamente
relacionada à forma como as mesmas interagem com o seu ambiente e o quanto
são afetadas pelo mesmo. Considerando-se que as empresas dependem de
recursos que estão em poder dos agentes ambientais, tais como Governo e
Sociedade, elas precisam desenvolver habilidades para captação de tais recursos.
Nesse sentido, essa pesquisa vai ao encontro do estudo de Bandeira-de-Mello
(2007) que afirma que o lucro e a sobrevivência em economias emergentes tais
como o Brasil, estão relacionados à habilidade de se ter acesso a recursos tangíveis
e intangíveis nas mãos dos stakeholders. Essa habilidade pode ser desenvolvida
desde que a empresa decida pelo investimento na acumulação de recursos
relacionais com seus stakeholders salientes.
Tais constatações apóiam a definição de recurso relacional como sendo o
conjunto de compromissos confiáveis desenvolvidos pela firma para sustentar
contratos confiáveis com stakeholders salientes. Diz-se que uma firma possui
recursos relacionais superiores quando compromissos sinérgicos estiverem
presentes no conjunto de contratos que a firma tem com seus stakeholders
(BANDEIRA-DE-MELLO, 2007, p. 9).
Esses compromissos sinérgicos podem ser percebidos em economias
emergentes, como o Brasil, onde o sistema eleitoral facilita íntimas relações entre
políticos e firmas (BANDEIRA-DE-MELLO, 2007). Nesse sentido, Samuels (2003)
discute, que em grandes distritos eleitorais, os estados brasileiros, dificultam aos
políticos a reivindicação de crédito para suas ações. Nessas condições, os políticos
trocam serviços futuros por dinheiro, a fim de investir em publicidade. Decorre que,
72
quanto mais a empresa precisar de recursos provenientes desse atores, mais ela irá
canalizar investimentos na acumulação de recursos relacionais. Comprovando-se
dessa forma a correlação positiva encontrada no coeficiente da variável ALAVAN
desta pesquisa.
A hipótese H
2
afirma que a probabilidade de desenvolver recurso relacional
com stakeholders semaior em firmas de maior porte do que naquelas de menor
porte. A correlação positiva verificada entre a variável dependente tamanho da
empresa e a independente acumulação de recurso relacional com stakeholders
salientes indica que empresas de maior porte podem ter maior probabilidade de
desenvolverem recurso relacional. Assumindo valor significativamente diferente de
zero, o coeficiente da variável TAM, apresentou os valores de (
β
2
= 0,289; p =
0,000), rejeitando a hipótese H
0
, logo, aceitando a hipótese H
2
dessa pesquisa
admitindo-se que esta está em consonância com os trabalhos de Ullmann, (1985);
Cowen, Ferreri e Parker, (1987); Lenway e Rehbein, (1991); Roberts, (1992); Adams
e Hardwick, (1998); Marcon, Bandeira-de-Mello e Alberton (2005) - ao afirmarem
que, quanto maior for o tamanho da companhia, maior se a probabilidade de
desenvolverem relações com seus stakeholders salientes.
Para a hipótese H
3
estava prevista a condição de que as firmas que possuem
rentabilidades superiores terão maior probabilidade de desenvolverem recurso
relacional com os seus stakeholders salientes. O coeficiente do indicador ROE
apresentou correlação positiva entre a Rentabilidade das empresas da amostra e o
investimento na acumulação de recursos relacionais para com seus stakeholders
salientes. Esse coeficiente apresentou valor significativamente diferente de zero,
com valores de (
β
3
= 39,318; p = 0,017), rejeitando dessa forma, a hipótese H
0.
Nessas condições, a hipótese H
3
da presente pesquisa pode ser aceita e está de
acordo com as conclusões obtidas por Ullmann, (1985); Mcguire, Sundgren e
Schneeweis, (1988); Roberts, (1992); Adams e Hardwick, (1998).
Na hipótese H
4
estava proposto que firmas com menor concentração
acionária terão maior probabilidade de desenvolverem recurso relacional com os
seus stakeholders salientes. O coeficiente da variável AÇÕES retrata que há uma
correlação negativa entre a Concentração Acionária das empresas desta pesquisa, e
o investimento na acumulação de recursos relacionais para com seus stakeholders
salientes. Sendo significativamente diferente de zero, o coeficiente da variável
73
AÇÕES, com valores de (
β
4
= -0,025; p = 0,072), rejeita a hipótese H
0
, sendo assim,
a hipótese H
4
dessa pesquisa pode ser aceita e apoiada por Ullmann, (1985);
Marcon, Bandeira-de-Mello e Alberton (2005).
A hipótese H
5
previu que a característica do setor, no qual a firma está
inserida, influencia o desenvolvimento de recursos relacionais com os seus
stakeholders salientes. O resultado do coeficiente indica que uma correlação
positiva entre as características da Indústria e o investimento na acumulação de
recursos relacionais para com seus stakeholders salientes. O coeficiente da variável
SETOR, por não ser significativamente diferente de zero em todos os níveis usados
neste estudo (p = 0,01; 0,05 e 0,10), apresentando valores de (
β
5
= 0,002; p =
0,146), não pode dessa forma rejeitar a hipótese H
0,
logo, a hipótese H
5
da presente
pesquisa, não pode ser aceita,
e não permite comparar com os trabalhos
desenvolvidos por Cowen, Ferreri e Parker (1987); Roberts, (1992); Marcon,
Bandeira-de-Mello e Alberton (2005); Samuels (2006), haja vista que esses autores
em seus estudos verificaram se associação das características da Indústria, com
a intenção de desenvolverem relacionamentos apenas um grupo de stakeholders
salientes, sejam eles o Governo ou a Sociedade. Além desta, outras especificidades
da indústria podem ter contribuído para este resultado, conforme argumentam
Bandeira-de-Mello e Alberton (2005), ao afirmarem que “[...] as diferenças na
intensidade de doação da indústria/atividade [...] podem ser causada pela natureza
de atividades das indústrias, ou por sua dependência do Governo”.
Em resumo, as variáveis que apresentaram coeficientes significativamente
diferentes de zero, em ordem decrescente de importância são: TAM, ROE, AÇÕES,
ALAVAN. A variável SETOR, por sua vez, não apresentou coeficiente
significativamente diferente de zero.
A partir destes coeficientes pode-se concluir que existe uma relação
estatística importante entre os indicadores contábeis das empresas, e o investimento
dessas na acumulação de recursos relacionais com seus respectivos stakeholders
salientes, o Governo e a Sociedade. Sendo assim, percebe-se que o objetivo dessa
pesquisa, foi o de analisar a importância relativa das características das companhias
abertas brasileiras, que estão associadas ao investimento na acumulação de
recursos relacionais.
74
5.2 LIMITAÇÕES
Uma das limitações dessa pesquisa foi com relação à fidelidade dos dados
coletados para a variável dependente. Muitas das empresas constantes na amostra
podem ter tido algum tipo de relacionamento com a Sociedade, porém, por algum
motivo, não divulgaram essa ação na Revista Exame de Boa Governança
Corporativa no período indicado. Podem também, terem efetuado doações em
épocas de campanha, e não terem divulgado essas informaçoes no sítio ÀS
CLARAS.
Como exemplo, a empresa WEG S.A tem feito doações em projetos sociais
em todos os anos considerados no período dessa pesquisa, porém, na revista
aparece como doadora em 2 dos 5 anos considerados na coleta de dados. Nessa
condição não teria sido enquadrada como doadora. O enquadramento, deu-se pelo
fato de ela ter efetuado doações para o Governo nas eleições de 2002.
No tocante a importância que as características da indústria poderiam ter
sobre a empresa no sentido de acumularem recursos relacionais com seus
stakeholders salientes, percebe-se que algumas indústrias são mais sensíveis às
ações de apenas um dos dois stakeholders (Governo ou Sociedade), logo, o fato de
nesta pesquisa serem considerados, concomitantemente, os dois grupos de
stakeholders anteriormente citados, afetou o resultado do coeficiente da variável
SETOR, tornando-o não significativo na explicação da associação da característica
da indústria na acumulação de recursos relacionais por parte das empresas
estudadas.
Outra limitação pode ser a falta de dados qualitativos, que demonstrem outras
características dessas empresas, além das informações contábeis. Dessa forma, um
novo modelo poderia ser rodado incluindo esses indicadores qualitativos das
companhias estudadas.
Finalmente, somente as companhias de capital aberto fizeram parte dessa
pesquisa. A ausência da categoria de empresa de capital fechado restringiu a
análise para um universo mais amplo de companhias brasileiras.
75
5.3 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS
Empresas dessa amostragem poderiam ser pesquisadas através de estudos
de caso, com o intuito de verificar quais características, não previstas no presente
modelo, poderiam aprimorar a análise dos resultados apresentados nesta pesquisa.
Outros métodos poderiam verificar, como as empresas brasileiras de capital
aberto processam o desenvolvimento de acumulação de recursos relacionais para
com stakeholders salientes.
Outras interações, com stakeholders salientes poderiam ser identificadas nas
companhias, com a finalidade de ampliar a compreensão do conceito de recurso
relacional apresentado na presente pesquisa.
No contexto brasileiro, algumas indústrias podem ser mais sensíveis às ações
de ordem conjuntural. Sendo assim, poderia ser rodado um modelo que
contemplasse apenas algumas das indústrias dessa amostra, para verificar se elas
seriam significativas na explicação de investimentos na acumulação recursos
relacionais pelas companhias brasileiras.
Portanto, as considerações apresentadas não ensejam delimitar os resultados
dessa pesquisa. Outros estudos poderão dar prosseguimento às questões
pertinentes a temática explorada nesta.
76
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