A economia agrícola do Brasil, dependente do mercado externo, penaliza até
os grandes proprietários, que são reféns não apenas das intempéries naturais, mas
principalmente das oscilações do preço e do câmbio internacional e sempre acaba
existindo um motivo para provocar o êxodo rural, expulsando da terra aqueles que
sempre viveram dela.
Com o fim do regime militar, em 1984, surgiu a Nova República, trazendo
consigo novas esperanças. José Sarney assumiu o poder em 1985 como presidente
da República e assinou o decreto 91.766/85, aprovando o plano Nacional de
Reforma Agrária, o que motivou a mobilização dos grandes proprietários de terra,
contrários à democratização da posse da terra, os quais criaram a União
Democrática Ruralista-UDR,
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que passou a articular a ação dos latifundiários no
plano para-militar e no plano político e o Congresso Nacional facilmente se curvou
às suas pressões.
No governo de Fernando Collor de Melo, que foi afastado pelo Congresso
Nacional
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, sendo substituído por seu vice Itamar Franco (1991-1994), deu-se a
- Codeara, do Banco de Crédito Nacional (600 mil hectares) e muitos outros pertencentes a diversos grupos,
como Bradesco, Bamerindus, Tamakavy, Sadi, Camargo Corrêa, Frigorífico Atlas, Drury’s Amazônica.
Georgia Pacific, Tomoyenka etc. (Morissawa, 2001, p. 103).
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A UDR foi criada em 1985 por grandes proprietários agrícolas, em reação ao Decreto 91.766/85.
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Fernando Collor de Mello foi o “primeiro governo civil brasileiro, eleito por voto direto desde 1960. Foi
também o primeiro escolhido dentro das regras da Constituição de 1988, com plena liberdade partidária e
eleição em dois turnos”. O programa de estabilização econômica, lançado por Collor no dia seguinte à sua
posse em 15 de março de 1990, causou um impacto muito grande na população, com o “confisco monetário,
congelamento temporário de preços e salários, reformulação dos índices de correção monetária. Em seguida
tomou medidas duras de enxugamento da máquina estatal, como a demissão em massa de funcionários
públicos e a extinção de autarquias, fundações e empresas públicas. Ao mesmo tempo anunciou providências
para abrir a economia nacional à competição externa, facilitando a entrada de mercadorias e capitais
estrangeiros no país”. No ano seguinte, a frustração do plano Collor começou a minar o governo e
começaram a surgir suspeitas de envolvimento de ministros e altos funcionário em uma grande rede de
corrupção. Com as denúncias feitas pelo próprio irmão do Presidente, Pedro Collor, e novas revelações que
foram surgindo, “o Congresso nacional instalou uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar as
denúncias de irregularidades”. Manifestações populares surgiram em todo país pedindo o impeachment do
Presidente e o afastamento de Fernando Collor de Melo foi resultado principalmente do movimento nacional,
promovido pela classe estudantil, liderado pela UNE, denominado os “caras-pintadas”, por conta das pinturas
que faziam no rosto, exigindo o impeachment do Presidente. Essa mobilização foi instigada e reforçada pela
mídia, que tinha o Presidente em desafeto, aumentando o descontentamento da sociedade civil. O fato do
voto do impeachment ser aberto e transmitido para todo país, pelos meios de comunicação, teve forte
influência na postura dos deputados que se preocupavam com a sua sobrevivência política, de forma que,