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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ
CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS
DEPARTAMENTO DE QUÍMICA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM QUÍMICA
“ESTUDOS DA APLICAÇÃO DO CORANTE AZUL DE
METILENO EM TERAPIA FOTODINÂMICA”
Dissertação apresentada por
Lílian Somenci Peloi ao Programa
de Pós-Graduação em Química do
Departamento de Química do Centro
de Ciências Exatas da Universidade
Estadual de Maringá como parte dos
requisitos para a obtenção do título de
Mestre em Química
MARINGÁ, OUTUBRO/2007
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ
CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS
DEPARTAMENTO DE QUÍMICA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM QUÍMICA
“ Estudos da aplicação do corante azul de metileno
em terapia fotodinâmica”
LILIAN SOMENCI PELOI
Orientador: Prof. Dr. Noboru Hioka
Dissertação apresentada ao programa de Pós-
Graduação em Química do Departamento de Química do
Centro de Ciências Exatas da Universidade Estadual de
Maringá como parte dos requisitos para obtenção do título
de Mestre em Química
MARINGÁ, OUTUBRO/2007
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Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)
(Biblioteca Central - UEM, Maringá – PR., Brasil)
Peloi, Lilian Somenci
P392e Estudos da aplicação do corante azul de metileno
em terapia fotodinâmica. / Lilian Somenci Peloi. –
Maringá, PR : [s.n.], 2007.
67 f. : il. color.
Orientador : Prof. Dr. Noboru Hioka.
Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual de
Maringá. Programa de Pó-graduação em Química, 2007.
1. Azul de metileno - Terapia fotodinâmica -
Microrganismos. 2. Azul de metileno - Terapia
fotodinâmica - Leishmaniose Tegumentar Americana. 3.
Azul de metileno - Terapia fotodinâmica -
Substituição do laser por LED. I. Universidade
Estadual de Maringá. Programa de Pós-graduação em
Química. II. Tíulo.
CDD 21.ed.541.35
AGRADECIMENTOS
Primeiramente à Deus, pois sem sua vontade nada disso seria possível
Aos meus pais, Luiz e Cirlei, e minha irmã, Vivian, pelo apoio e incentivo
durante toda a minha vida
Ao Matheus por tornar minha mais feliz
Ao profº. Noboru Hioka, pela orientação e confiança
A Profª. Thaís Gomes Verzignassi Silveira, pela orientação e paciência com
os experimentos de
Leishmania
A Profª. Elza Kimura, pelo carinho, atenção e paciência, nos trabalhos
desenvolvidos com os microrganismos
A Profª. Maria Valdrinez Campana Lonardoni, pela ajuda nos experimentos
A Profª. Selma Lucy Franco, pela preparação da loção de azul de metileno
A Profª.Terezinha Inez Estivalet Svidzinski, por ter concedido a cepa de
C.albicans
A Profª. Regina Coeli Cunha Dórea, pelo doação dos animais
A Profª. Silvana Marques de Araújo, pelo espaço concedido no biotério
A Paula Honda e Myriam Emiko Takahashi pelo grande auxílio na execução
dos experimentos com
Leishmania
Aos amigos, Carlos Eduardo Guerino Biondo, Adriana Passarella e Amanda
Santana pelo auxílio do desenvolvimento do trabalho e a todos os colegas do
laboratório
SUMÁRIO
ÍNDICE DE FIGURAS..........................................................................................................iv
ÍNDICE DE TABELAS.........................................................................................................vii
LISTA DE ABREVIATURAS.............................................................................................viii
RESUMO..................................................................................................................................ix
ABSTRACT..............................................................................................................................xi
I. INTRODUÇÃO.....................................................................................................................1
I.1. Terapia Fotodinâmica..........................................................................................1
I.1.1. Breve histórico e princípios................................................................1
I.1.2. Mecanismos fotofísicos e fotoquímicos da TFD...........................4
I.1.3. Fármaco Fotossensível – Azul de Metileno................................... 7
I.1.4. Fontes de iluminação usadas em TFD............................................10
I.1.5. Dificuldades da TFD...........................................................................11
I.2. Aplicações – Doenças........................................................................................12
I.2.1. Leishmaniose....................................................................................... 12
I.2.1.1 A TFD no tratamento da Leishmaniose Tegumentar
Americana........................................................................................................14
I.2.2. Microrganismos patogênicos............................................................16
I.2.2.1. Os microrganismos em estudo..........................................18
II. OBJETIVOS...................................................................................................................20
III. PARTE EXPERIMENTAL............................................................................................21
III.1. Materiais e soluções.....................................................................................21
III.2. Equipamentos................................................................................................22
i
III.3. Metodologias.................................................................................................23
III.3.1. Sistema de iluminação..................................................................23
III.3.2. Reações de Foto-branqueamento..............................................23
III.3.3. Teste do Ácido Úrico...................................................................24
III.3.4. Ensaio de toxicidade com
Artemia salina
.................................25
III.3.5. Ensaio
in vitro
em culturas de microrganismos......................26
III.3.6. Ensaio
in vitro
com a espécie
Leishmania (Viannia)
braziliensis
.................................................................................................................27
III.3.6.1. Sobre a forma promastigota.......................................27
III.3.6.2. Sobre a forma amastigota...........................................28
III.3.6.3 Determinação do óxido nítrico....................................30
III.3.7. Ensaio
in vivo
em hamsters infectados com
Leishmania
(Leishmania) amazonensis
.......................................................................................30
III.3.7.1 Quantificação de
Leishmania
no baço e no
linfonodo.........................................................................................................32
III.3.8. Aspectos éticos............................................................................33
III.3.9. Análise estatística.......................................................................33
IV. RESULTADOS E DISCUSSÃO.................................................................................34
IV.1. Espectro do azul de metileno.......................................................................34
IV.2. Sistema de iluminação (LED)........................................................................35
IV.3. Estudo de Foto-decomposição (Foto-branqueamento).........................36
IV.4. Formação de oxigênio singlete....................................................................39
IV.5. Ensaio fotodinâmico com
Artemia salina
..................................................43
IV.6. Ação fotodinâmica
in vitro
sobre culturas de microrganismos...........44
IV.7. Ensaio
in vitro
com
Leishmania (Viannia) braziliensis
............................50
IV.7.1. Sobre a forma promastigota........................................................50
IV.7.2. Sobre formas amastigotas............................................................51
ii
IV.7.3. Óxido nítrico....................................................................................53
IV.8. Aplicação da Terapia Fotodinâmica em hamsters infectados com
Leishmania (Leishmania) amazonesis
...............................................................................54
V. CONCLUSÕES..................................................................................................................61
VI. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.........................................................................62
iii
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1: Diagrama de Jablonski........................................................................................4
Figura 2: Estrutura do Azul de Metileno.........................................................................7
Figura 3: Superposição de um cromóforo fenotiniazino em um par guanina-
citosina......................................................................................................................................8
Figura 4: Esquema da fotoquímica do azul de metileno...............................................9
Figura 5: Representação esquemática da parede celular de bactéria Gram-
positiva (+), Gram-negativa (-) e fungo............................................................................17
Figura 6: Hamsters anestesiados recebendo tratamento com AM/LED...............31
Figura 7: Espectro de absorção do azul de metileno (5x10
-6
mol.L
-1
) em água.....34
Figura 8: Espectro de emissão da fonte de iluminação (LED)..................................35
Figura 9: Fonte de luz constituído de 6 unidades de LED.........................................36
Figura 10: Sobreposição de espectros do azul de metileno (5x10
-6
mol.L
-1
) em
água e etanol em situações de aeração normal, obtidos em intervalos de 5 min em
amostra iluminada.................................................................................................................37
Figura 11: Variação da absorção do azul de metileno (5x10
-6
mol.L
-1
) em função
do tempo de exposição ao LED..........................................................................................38
Figura 12: Potência luminosa absorvida por unidade de comprimento de onda do
azul de metileno 5x10
-6
mol.L
-1
calculado para o LED utilizado..................................41
Figura 13: Variação espectral da solução de azul de metileno 1x10
-6
mol.L
-1
na
presença de AU (10
-4
mol.L
-1
) em etanol, com a irradiação de luz de LED...............42
Figura 14: Morte percentual de
Artemia salina
em diferentes concentrações de
azul de metileno em água.....................................................................................................44
Figura 15: Curva de inibição de crescimento em culturas de microrganismos em
diversas concentrações de azul de metileno com e sem luz.......................................45
iv
Figura 16: Decréscimo do número de colônias em função das condições aplicadas.
Os grupos C1 e C2, controles, são culturas do microrganismo com e sem exposição
ao LED por 30 minutos, respectivamente (sem AM). Nas amostras onde constam
tempos (de iluminação) correspondem a culturas com AM (35,2 μM) submetidas à
luz. As taxas de morte (k) são derivadas da curva, considerando o tempo 0 a 30
minutos de exposição e o valor-D é calculado pela redução de 1 ciclo-logarítimico
da mesma curva.....................................................................................................................48
Figura 17: Curva de crescimento de promastigotas de
Leishmania (Viannia)
braziliensis
em meio 199, a 26
o
C, tratadas ou não com azul de metileno, com ou
sem luz.....................................................................................................................................50
Figura 18: Infectividade de promastigotas de
Leishmania (Viannia) braziliensis
para macrófagos peritoneais de camundongos Balb/c. Promastigotas foram
cultivados sobre monocamadas de macrófagos na proporção 10 parasitos:1
macrófago. As culturas foram tratadas ou não com AM e luz. Os resultados
representam os índices fagocíticos após 24 e 48 horas. Os valores referem-se a
média do experimento realizado em quadruplicata ± erro padrão da média. A:
macrófago infectado (controle); B: macrófago infectado e tratado com 0,53
μmol.L
-1
de AM; C: macrófago infectado e tratado com 0,066 μmol.L
-1
de AM......51
Figura 19: A - Macrófago e
Leishmania
; B - Macrófago, AM (0,53 μmol.L
-1
) e
Luz; C - Macrófago,
Leishmania
, AM (0,066 μmol.L
-1
) e Luz; D - Macrófago,
Leishmania
, AM (0,53 μmol.L
-1
) e Luz..............................................................................53
Figura 20: Produção de óxido nítrico (NO) em macrófagos infectados com
L.(V.)
braziliensis
e tratados com AM e Luz. A: Macrófago e
Leishmania
; B: Macrófago,
Leishmania
e AM 0,53 μmol.L
-1
; C: Macrófago e AM 0,066 μmol.L
-1
.........................54
v
Figura 21: Evolução da infecção avaliada pela espessura da lesão (média ± desvio
padrão) medida pela diferença entre a pata infectada e a pata contralateral não
infectada. Os animais foram inoculados na pata com 5x10
6
formas promastigotas
de
Leishmania (Leishmania) amazonensis
e acompanhados semanalmente. O grupo
controle (n=8), o grupo A (n=14) e o grupo B (n=15).....................................................55
Figura 22: Evolução da infecção avaliada pela espessura da lesão (média ± desvio
padrão). Os animais foram inoculados na pata com 5x10
6
formas promastigotas de
Leishmania (Leishmania) amazonensis
e após o desenvolvimento da lesão, foram
tratados e acompanhados semanalmente. O grupo controle (n=8) não recebeu
tratamento, o grupo A (n=14) foi tratado com AM em loção e o grupo B (n=15) foi
tratado com AM em água....................................................................................................56
Figura 23: Lesão na pata de hamster inoculada com 5x10
6
promastigotas de
L.(L.)
amazonensis
. Animal tratado com AM 0,5% em água. A – antes do tratamento; B
6 semanas com TFD; C – 12 semanas de tratamento; 1 tratado com AM em água e
2 tratado com AM em loção...............................................................................................58
Figura 24: Efeito do tratamento com a TFD sobre o número de parasitos nos
linfonodos poplíteos..............................................................................................................60
vi
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 1: Distribuição eletrônica nos orbitais moleculares (π
*
) do oxigênio
molecular no estado singlete excitado (
1
Σ
g
+
,
1
g
) e no estado fundamental (
3
Σ
g
-
)..6
Tabela 2: Valores de AFQ para o azul de metileno, determinados pelo teste do
ácido úrico...............................................................................................................................42
Tabela 3: Porcentagem de inibição do crescimento de microrganismos................47
Tabela 4: Inibição da infectividade (%) das promastigotas de
L(V) braziliensis
para
macrófagos peritoneais de camundongos...............................................................52
Tabela 5: Características das lesões dos animais infectados experimentalmente
com
L. (L.) amazonensis
, tratados ou não com AM e luz..............................................57
vii
LISTA DE ABREVIATURAS
TFD Terapia Fotodinâmica
PBS Tampão Fosfato Salino
LED Diodo Emissor de Luz
LTA Leishmaniose Tegumentar Americana
CMH Caldo Muller Hinton
UFC Unidade Formadora de Colônia
AM Azul de metileno
NO Óxido Nítrico
IF Índice Fagocítico
AF Atividade Fotodinâmica
AU Ácido úrico
viii
RESUMO
A Terapia Fotodinâmica (TFD) é uma modalidade médica que utiliza a
combinação de luz visível, composto fotossensível e oxigênio. A maior aplicação
da TFD é no tratamento de câncer, entretanto, a técnica está sendo difundida no
tratamento de outras doenças incluindo-se infestações microbianas.
Apesar da larga aplicabilidade da TFD, dois fatores dificultam a
disseminação do tratamento: o alto custo dos medicamentos e da fonte de luz. A
opção de corantes como agentes fotodinâmicos é interessante devido ao custo
reduzido e aplicabilidade, sendo um exemplo o azul de metileno (AM). Este
corante absorve na região de luz vermelha e produz oxigênio singlete. Além
disso, já é bastante utilizado na área médica, por exemplo, para o tratamento de
metahemoglobinemia, e tem sido considerado um fármaco para TFD. No caso dos
equipamentos, a substituição do LASER por dispositivos de LED deve ser
investigada.
Assim estudou-se algumas propriedades do AM como fotossensitizador
bem como o uso de LED como uma alternativa para TFD. Investigou-se a ação
fotodinâmica em culturas de microrganismos e
Artemia salina
e no tratamento da
Leishmaniose Tegumentar Americana.
O azul de metileno tem um máximo de absorção na região de 660 nm (na
janela fototerapêutica para TFD); sofre pouca reação de fotobranqueamente e
exibiu um bom valor de atividade fotodinâmica. Este último parâmetro foi
calculado levando-se em consideração o fato do LED ser uma fonte de luz
policromática, levando nos a modificar a equação tradicionalmente empregada
para sistemas LASER nos cálculos de atividade fotodinâmica. O sistema de LED
desenvolvido foi altamente conveniente para as aplicações propostas com o
corante AM.
ix
O efeito fotodinâmico foi testado sobre
Staphylococcus aureus
,
Escherichia coli
,
Candida albicans
e
Artemia salina
. As cepas estudadas sofreram
efeito inibitório no crescimento e mortandade na presença de azul de metileno
(no escuro), sendo este intensificado com aplicação da luz LED. A resposta
AM/LED foi similar para todos os microrganismos. Igualmente com
Artemia
salina
o percentual de morte foi superior nas amostras irradiadas.
A Leishmaniose Tegumentar Americana (LTA) é uma das doenças
parasitárias de maior incidência no mundo, cujo tratamento convencional emprega
medicamentos caros e com sérios efeitos colaterais. A investigação para LTA
através de LED em associação com AM, foi realizada
in vitro
, em ensaios sobre as
formas promastigotas e amastigotas com
Leishmania (Viannia) braziliensis
e,
in
vivo
com
Leishmania (Leishmania) amazonensis
em hamsters infectados. Os
resultados dos experimentos
in vitro
mostram que o tratamento com AM e luz
inibiu o crescimento de formas promastigotas em cultura e reduziu a capacidade
de infecção das promastigotas em macrófagos. Os resultados
in vivo
mostram que
o sistema AM/LED reduziu a lesão das patas infectadas e a carga parasitária nos
hamsters.
Assim os bons resultados do tratamento aplicado contra microrganismos e
leishmaniose,
in vitro
e
in vivo
com AM/LED, confirma que a TFD é altamente
promissora podendo vir a ser uma alternativa no tratamento clínico de pacientes.
x
ABSTRACT
The Photodynamic Therapy (PDT) is a medical modality that utilizes a
combination of a photosensitizer compound, visible light and oxygen. Its largest
application is in the treatment of cancer, however, this technical is being
diffused far handling other illnesses including microbial infections. Despite of
the wide applicability of the TFD, two factors difficult its dissemination: the
high cost of the medicines and the light source. The option of dyes as the
photodynamic agents is interesting due to the lower cost and possibilities, of
application being an example the Methylene Blue (MB). This dye absorbs in the
red region of the visible absorption spectra and produces high level of singlet
oxygen. Beyond that, it is already utilized in the medical area, for example, to
treat metahemoglobinemia, and has been considered a medication for PDT. In
the case of equipment, the replacement of the LASER by LED units as light
source should be investigated.
In that way the MB was investigated in association with LED light as an
alternative for PDT. It was investigated the photoactivity of MB in cultures of
microorganisms and
Artemia salina
and in the handling of the American
Tegumentar Leishmaniosis. The Methylene Blue has a maximum absorption in
663 nm (inside the phototherapeutic windows for PDT); suffers almost no
photobleaching reaction and exhibits a good value of photodynamic activity (PA).
This last parameter was calculated considering the fact of the LED be a non-
monocromatic light source, leading us to modify the equation traditionally
employed for LASER systems in the calculations of PA. The apparatus of LED
system developed was highly convenient for the proposed application with the
MB dye.
The photoactivity of MB/LED was investigated using the bacteria
Staphylococcus aureus
and
Escherichia coli
, and the fungus
Candida albicans
. A
xi
tiny microcrustaceous
Artemia salina
was also tested. All the microorganisms
studied mesented inhibitory growth activity and killing effect in presence of MB
(in the dark), being this action intensified with the LED light irradiation. The
intensity of effect using MB/LED was similar for all of the microorganisms.
Equally with
Artemia salina
the percentage of death was higher in the irradiated
samples.
To American Tegumentar Leishmaniosis (LTA) is one of the parasitic
disease of largest incidence in the world and in the conventional treatment
employ some costly medicines which show severe colateral effects. The
investigation for LTA through LED in association with MB, was carried out
in
vitro
, in attempt promastigotes and amastigotes forms of
Leishmania (Viannia)
braziliensis
and,
in vivo
with
Leishmania (Leishmania) amazonensis
infected in
hamsters. The results in vitro show that the combination of MB and light
inhibited the growth of forms promastigotes in culture and reduced the capacity
of infection of the promastigotes in macrofhages. The results
in vivo
show that
the system MB/LED reduced the lesion of the infected paw and the parasitic
load in the hamsters.
The good results showed in the treatment applied against microorganisms
and leishmaniosis,
in vitro
and
in vivo
with the MB/LED, pointed out that this
therapy is very interesting and can be a future alternative in the clinical handling
of patients.
xii
I.INTRODUÇÃO
I.1. Terapia Fotodinâmica
I.1.1. Breve histórico e princípios
O uso de luz e compostos fotossensíveis em humanos é antigo, pois há mais
de 4000 anos atrás os egípcios tratavam vitiligo através da ingestão de plantas
(psoralenos) e exposição à luz do sol. Entretanto, a técnica de Terapia
Fotodinâmica (TFD) começou a ser empregada com sistemática científica
somente bem recentemente.
Em 1900, Oscar Raab descreveu a ação do corante acridina sobre o
microrganismo
Paramecio
, demonstrando que no escuro não havia efeito enquanto
que na presença de luz solar observava-se a morte deste protozoário.
Trappeiner, em 1903, empregou uma solução de eosina e exposição à luz para o
tratamento de câncer de pele. Em 1913 Meyer-Bertz injetou em si mesmo 200mg
de hematoporfirina (Hp) e não sentiu nenhum efeito, porém ao se expor à luz
teve fotossensibilidade na pele por vários meses. Policard, em 1925, estudou
porfirinas objetivando a produção de efeitos fototóxicos em tecidos,
principalmente em tumores malignos (Sternberg e col., 1998).
A história da chamada primeira geração de fármacos para TFD, a base de
derivados hematoporfirínicos, começa com Schwartz no início da década de 50.
Ele mostrou que nos experimentos de Meyer-Bertz, o princípio ativo não era a
hematoporfirina, mas uma mistura de diversas substâncias oligoméricas.
Schwartz enriqueceu a mistura de oligômeros (chamou de HpD) e Lipson, sob
orientação de Schwartz na década de 60, investigou o acúmulo deles em tumores
implantados em camundongos e observou que a incidência de luz proporcionava
1
regressão da doença. No final da década de 60, Lipson obteve sucesso no
tratamento de uma mulher que possuía câncer de mama usando o HpD e
irradiação seletiva do tumor, marcando assim, o início da TFD como terapia
clínica para câncer (Machado, 2000; Simplicio e col., 2002).
Na realidade a TFD é uma modalidade médica que utiliza a combinação de
luz visível e composto fotossensível na presença de oxigênio. Sua maior aplicação
é no tratamento de câncer, entretanto, a técnica está sendo difundida no
tratamento de outras doenças tais como degeneração macular da retina, miopia
patológica, psoríase, artrite reumatóide sistêmica, arteriosclerose, AIDS,
infestações bacterianas, etc (Levy, 1995; Machado, 2000; Sternberg e Dolphin,
1996; Sternberg e col., 1998). Adicionalmente o uso da TFD na área
dermatológica tem-se desenvolvido bastante, particularmente no tratamento de
acne e rejuvenescimento cutâneo (www.sbcd.org.br).
O tratamento através da TFD inicia-se com a administração do
fotossentizador de forma sistêmica ou tópica. A seguir é aguardado algumas
horas/minutos para que o fármaco se acumule preferencialmente no tecido
doente que será posteriormente irradiado. O composto fotossensível, excitado
pela luz, transfere energia e/ou elétrons para o oxigênio, gerando espécies
reativas de oxigênio (EROs) que são citotóxicas. Tais espécies geram um
estresse oxidativo local ocasionando a morte do tecido doente.
Para que o medicamento (fotossensitizador) seja comercialmente viável e
eficaz em sua ação terapêutica, é necessário que este atenda a um conjunto de
propriedades favoráveis como: (i) características fotofísicas favoráveis; (ii) alta
afinidade e seletividade ao tecido doente, baixa toxicidade no escuro,
fotossensibilidade não prolongada, simplicidade na formulação, reprodutibilidade,
alta estabilidade, farmacocinética favorável e facilidade de obtenção do fármaco
(Simplicio e col., 2002). Dentre as propriedades fotofísicas importantes cita-se
que os compostos utilizados em TFD, além de cromóforos absorventes em
2
regiões no vermelho, não devem sofrer reações de foto-branqueamento (foto-
degradação), pois daí o cromóforo estaria sofrendo modificações químicas
fazendo com que o processo de absorção de luz fosse alterado e, possivelmente,
diminuindo a efetividade dos processos fotoquímicos subseqüentes. Neste caso
compromete-se a geração de EROs através da diminuição de rendimentos ou
fazendo com que doses elevadas do fotossensitizador sejam necessariamente
administradas para compensar esta perda. Adicionalmente os compostos
normalmente devem possuir longo tempo de vida no estado triplete e levar a alto
rendimento quântico de oxigênio singlete uma vez que esta é a espécie foto-ativa
considerada principal para a TFD (mecanismo tipo II).
Uma outra característica importante dos compostos que estão sendo
aplicados/investigados para TFD é a alta hidrofobicidade, propriedade que
confere a estes maior facilidade de interação com alvos biológicos, dentre
outros, com membranas celulares (Sternberg e col., 1998). Todavia essa
característica confere às moléculas uma alta tendência à auto-agregação em
solução aquosa, veículo usualmente empregado em injeção intravenosa e
componente majoritário de fluídos corpóreos. Subseqüente ao processo de
agregação, estes aglomerados podem levar a formação de precipitados, o que
inviabiliza seu uso clínico devido à dor no momento da injeção, perda de materiais
no recipiente/frasco e mesmo morte do paciente por obstrução de artérias.
Mesmo para o uso tópico a preferência é água uma vez que a maioria dos
solventes orgânicos são tóxicos. Além dos inconvenientes citados, o fármaco no
estado agregado reduz a produção de oxigênio singlete (devido a rápida
desativação de energia de estados excitados pelo fenômeno de auto supressão) e
assim compromete-se a eficiência do tratamento (Sternberg e col., 1998;
Machado, 2000).
3
I.1.2. Mecanismos Fotofísicos e Fotoquímicos da Terapia
Fotodinâmica
No diagrama de Jablonski (figura 1) estão representados os processos
fotofísicos que um fármaco fotossensível pode sofrer após a absorção de
radiação.
Figura 1: Diagrama de Jablonski
Após a iluminação do fármaco no estado fundamental (S
0
) é excitado para
o seu estado singlete excitado (S
1
). Este estado excitado tem um tempo de vida
curto para interagir efetivamente com as moléculas vizinhas (na ordem de
nanosegundos), normalmente perdendo energia rapidamente através de processos
radiativos (emissão de fluorescência, F), e/ou não radiativos (conversão interna,
CI ou cruzamento intersistemas, CIS). Para a TFD, o mais importante destes
processos é o cruzamento intersistemas, caracterizado por uma inversão de spin
eletrônico, levando o fármaco ao seu estado triplete excitado (T
1
). A partir do
estado triplete, o fármaco pode retornar para o estado fundamental pelo
processo de conversão interna ou pelo processo de emissão de fosforescência
(P). Deste estado excitado (T
1
) os processos fotoquímicos que o fármaco pode
sofrer são extremamente importantes.
4
O estado triplete excitado tem um tempo de vida da ordem de
microsegundos (s), que é longo o suficiente para permitir a interação do
fármaco no estado excitado com moléculas vizinhas. Neste estado excitado, pode
por transferência de elétrons com substratos orgânicos (A) produzir um
substrato oxidado (A
-
) e o fármaco reduzido (
1
T
+
) que reage com o oxigênio
molecular (
3
O
2
) gerando uma mistura complexa de espécies reativas de oxigênio
(EROS), tais como o ânion radical superóxido (O
2
-•
), radical hidroxila (OH
) e o
peróxido de hidrogênio (H
2
O
2
), os quais são capazes de induzir irreparáveis
danos oxidativos às células (Machado, 2000). Este mecanismo de
fotossensibilização é conhecido como TFD tipo I.
TFD Tipo I: Reações de formação de radicais livres
T
1
*
+ A
[T---A]* [
.-
T---A
+.
]
[
.-
T---A
+.
] +
3
O
2
S
0
+
.
A
+
+
.
O
2
-
.
O
2
-
+ O
2
H
2
O
2
+ O
2
.
O
2
-
+ H
2
O O
2
+ OH
-
+
·
OH
Adicionalmente, o fármaco em seu estado triplete excitado pode
transferir o seu excesso de energia para o oxigênio molecular (no seu estado
fundamental, 3g
-
,
3
O
2
) com formação de oxigênio singlete (
1
O
2
); ou seja, o
oxigênio no estado fundamental, tem a configuração eletrônica de dois orbitais
* degenerados (orbitais com a mesma energia) ocupados por 1 elétron cada,
sendo estes de spin paralelos (Ronsein e col., 2006). Este oxigênio triplete, ao
receber energia de um fármaco fotossensível no estado triplete excitado, passa
para um estado excitado com inversão de um dos seus spins, caracterizando o
5
estado singlete. Esta reação de transferência de energia caracteriza o
mecanismo do Tipo II de TFD.
TFD Tipo II: Reações de formação de oxigênio singlete
T
1
*
+
3
O
2
S
0
+
1
O
2
Adicionalmente o
1
O
2
pode existir em duas formas distintas conforme
mostrado na tabela 1.
Tabela 1: Distribuição eletrônica nos orbitais moleculares (
*
) do oxigênio molecular no
estado singlete excitado (
1
g
+
,
1
g
) e no estado fundamental (
3
g
-
).
O estado
1
g
+
rapidamente decai para a forma menos energética (
1
g
) pois
este tem um tempo de vida muito curto, da ordem de picosegundos. O oxigênio no
estado excitado de configuração
1
g é a espécie normalmente ativa (TFD tipo
II), sendo esta responsável pelo dano celular foto-induzido. O oxigênio singlete
possui um tempo de vida “relativamente” longo (2 a 4 s em H
2
O) e por isto é um
importante agente oxidante. Em sistemas biológicos, o tempo de vida do
1
O
2
é
muito menor, inferior a 0,04 s, devido à presença de inúmeras biomoléculas com
as quais o oxigênio singlete reage (Machado, 2000). A reação, rápida e
6
indiscriminada, ocorre com os mais variados materiais biológicos ricos em
elétrons como lipídios insaturados (colesterol), aminoácidos (como triptofano,
histidina, metionina), proteínas e ácidos nucléicos, levando danos à membrana
celular, mitocôndrias e lisossomos, comprometendo assim a integridade celular
(Machado, 2000; Ronsein e col., 2006 ).
I.1.3. Fármaco fotossensível - Azul de metileno
O azul de metileno (AM), figura 2, é uma molécula que tem desempenhado
importante papel em microbiologia e farmacologia. É muito conhecido como
corante histológico e usado há muitos anos. Pertence a classe dos compostos
benzofenotiazinios, é amplamente usado clinicamente em organismos vivos para o
tratamento da metahemoglobinemia. Dentre as pesquisas sobre o seu uso inclui-
se a malária e a esquisofrenia, sendo que já em 1891 Ehrlich empregou o AM com
sucesso no tratamento da malária (Wainwright, 2005).
H
3
C
CH
3
CH
3
CH
3
S
N
NN
Figura 2: Estrutura do azul de metileno
A síntese do AM ocorreu em 1876, no período em expansão industrial,
especialmente de tinturas para tecidos. É bem estabelecido que o cátion AM
intercala na estrutura do ácido nucléico (DNA) devido à carga positiva e à
geometria planar do fotossensitizador em questão, especialmente em regiões
ricas em guanina-citosina (Wainwright, 2000; Wainwright, 2002), figura 3.
Adicionalmente, o AM acumula-se preferencialmente na mitocôndria das células,
7
pois estas contém uma variedade de proteínas na sua membrana. A seletividade
deste corante na mitocôndria pode ser determinada pela lipofílicidade e pela
carga, que se for positiva é atraída devido ao ambiente eletroquímico negativo da
matriz mitocondrial (Baptista e col., 2004).
Figura 3: Superposição de um cromóforo fenotiniazino em um par guanina-citosina (G-C)
(
Wainwright, 2000)
O AM em solução aquosa está presente na forma de monômeros (soluções
diluídas), dímeros e agregados maiores (soluções bastante concentradas), sendo
estes distinguíveis pelas suas bandas de absorção, máximos em 664nm, 600nm e
na região de 550 nm, respectivamente (Tardivo e col., 2005). Assim esta classe
de corantes exibe intensa absorção em comprimentos de onda de 600 a 660 nm,
região do espectro vermelho, radiação esta favorável a TFD por estar dentro da
“janela foto-terapêutica” devido a sua eficiência quanto à penetração da luz em
tecidos biológicos (Sternberg e col., 1998; Sternberg e Dolphin, 1996).
O AM, além de barato e absorver na região de luz vermelha, produz
espécies reativas de oxigênio, tais como o ânion superóxido e oxigênio singlete. O
valor de rendimento quântico de oxigênio singlete (
) do AM em água e álcoois é
em torno de 0,52 ± 0,02 (Zhang e Tang, 2004; Fernandez e col., 1997).
Atualmente o AM é empregado em várias agências européias para
desinfecção de plasma sanguíneo, pois é eficaz na inativação de vírus, incluindo
HIV, hepatite B e C (Floyd e col., 2004; Wainwright, 2000). O vírus da dengue
8
também pode ser erradicado por AM e TFD (Huang e col., 2004). Há pouco tempo
começou a ser considerado como um fármaco para a TFD (Tardivo e col, 2005;
Itri, 2002) pois tem mostrado atividade
in vivo
contra vários tipos de tumor
quando injetado localmente e iluminado com laser emitindo no vermelho. Azul de
metileno tem sido usado clinicamente no tratamento de câncer de bexiga e
recentemente contra tumores de esôfago inoperáveis, virulências da pele,
psoríase e adenocarcinomas (Perussi, 2007).
Os princípios fotoquímicos do AM encontram-se na figura 4. O AM é
ativado ao estado singlete excitado (
1
AM*) pela luz. Neste estado, com igual
probabilidade, ele pode retornar ao estado singlete ou ir para o estado triplete.
No estado triplete o AM pode reagir com o O
2
e formar o oxigênio singlete (
1
O
2
)
e voltar ao seu estado normal, ou em um processo muito mais lento formar
superóxido. Alternativamente o
3
AM* pode reagir com substratos gerando
espécies reativas de oxigênio (Floyd e col., 2004).
1
O
2
+ AM
TFD tipo II
1
AM*
3
AM* O
2
-•
+ AM
luz
1
AM H ou transferência de e
-
TFD tipo I
Figura 4: Esquema da fotoquímica do azul de metileno
Devido ao fato do AM ser gerador de espécies ativas de oxigênio, incluindo
o oxigênio singlete e o superóxido, a própria espécie reativa gerada pode atacar
o corante sensitizador, ou seja, produção de reações fotoquímicas (foto-
branqueamento), ex. foto-oxidação do AM. Quanto aos produtos dessas reações,
é proposto inicialmente a desmetilação no grupo amino conduzindo a formação do
9
Azure e depois a Tionina e, por fim, ocorre a quebra da molécula se decompondo
em espécies benzênicas (Wainwright e Giddens, 2003).
I.1.4. Fontes de Iluminação usadas em TFD
No tratamento de doenças, diversas fontes de luz podem ser usadas para
provocar a excitação das moléculas fotossensibilizadoras, como por exemplo, luz
pulsada, luzes incoerentes (projetor de slides), lâmpada de xenônio, entre outras,
todas com filtros específicos que permitem selecionar o comprimento de onda de
maior penetração nos tecidos e de absorção máxima do fármaco. No tratamento
que envolve a TFD, a radiação utilizada geralmente é fornecida por um sistema
LASER que é dirigida ao local do tratamento através de fibras óticas. Os raios
LASERs são preferencialmente empregados por apresentarem três
características que os diferem da luz comum. A luz é monocromática (um só
comprimento de onda), coerente (unifásica) e unidirecional (raio colimado), sendo
que adicionalmente os sistemas LASER podem ser potentes. A intensidade da
radiação em TFD é dada em J/cm
2
. Uma variedade de LASERs podem ser
utilizados dependendo da característica e da fase em que se encontra a lesão,
sendo usualmente três tipos os usados na TFD: Nd YAG (neodymium yttrium-
aluminiumgarnet), argônio e os lasers de diodo. Os lasers de diodo são menos
caros, fornecem luz de potência considerável com precisão sobre o tecido a ser
irradiado; em 2000 foi aprovado pela Food and Drug Adminstration (FDA/EUA) o
uso deste laser para a ativação do Photofrin® visando aplicação em lesões
malignas no esôfago e pulmão (Mang, 2004; Machado, 2000).
Uma alternativa adicional razoável é a utilização de LED (diodo emissor de
luz), disponíveis no mercado em várias regiões espectrais, incluindo-se a do
vermelho (630, 670 e 690 nm) (Mang, 2004).
10
I.1.5. Dificuldades da TFD
Apesar do vasto campo de aplicação da TFD e do grande apelo clínico e
comercial da técnica, dois fatores dificultam a disseminação do tratamento: o
custo dos medicamentos e equipamentos, além da falta de conhecimento da
técnica pela classe médica. Os fármacos utilizados para a TFD, cujos princípios
ativos são sintéticos, são economicamente inacessíveis à maioria da população
devido as dificuldades na produção e alto investimento no desenvolvimento
destes.
No caso de equipamentos, atenção especial é dada ao LASER, que possui
elevado preço e inviabiliza a maior difusão da técnica. O desenvolvimento do
laser de diodo fez com que o custo de aparelhagem fosse diminuído, mas ainda
assim é alto para a realidade brasileira. Uma alternativa possível é o uso do LED,
diodo emissor de luz
(Mang, 2004), dispositivo de luz policromática. As fontes à
base de LED, apesar de apresentarem potência muito inferior aos LASERs, são
muito mais baratas.
Um outro aspecto de interesse neste trabalho é a diversidade de
enfermidades que pode ser tratada com a TFD, doenças muitas vezes
negligenciadas pelas grandes corporações farmacêuticas pelo baixo retorno
financeiro.
11
I.2. Aplicações / Doenças
I.2.1. Leishmaniose
As leishmanioses são zoonoses causadas por protozoários pertencentes à
ordem Kinetoplastida, família Trypanosomatidae e gênero
Leishmania
, cujo ciclo
tem a participação de hospedeiros vertebrados e inverteb rados (Rey, 2001).
Durante seu ciclo biológico, este protozoário apresenta duas formas
evolutivas: amastigota e promastigota. A forma amastigota parasita o fagossoma
das células do sistema monocítico macrofágico dos hospedeiros vertebrados
(homem, animais silvestres e animais domésticos) e é caracterizada pela ausência
de flagelo. A forma promastigota habita o aparelho digestivo do vetor, insetos
(mosquito) da família
Psychodidae,
subfamília
Phlebotominae
, pertencentes aos
gêneros
Lutzomyia
- no Novo Mundo, e
Phlebotomus –
no Velho Mundo e
caracteriza-se por possuir flagelo (Neves, 2000).
Durante a picada de um mosquito flebotomíneo contaminado, formas
promastigotas do parasito são inoculadas no hospedeiro vertebrado, as quais são
fagocitadas por macrófagos. No interior destas células as formas promastigotas
transformam-se em amastigotas e dão início ao processo de multiplicação até o
rompimento da membrana da célula hospedeira, promovendo a liberação de
milhares de parasitos amastigotas que irão infectar novas células (Rey, 2001).
A leishmaniose pode apresentar diferentes formas clínicas, dependendo da
espécie de
Leishmania
envolvida e da relação do parasito com seu hospedeiro: (i)
a leishmaniose visceral (LV) é uma enfermidade infecciosa, generalizada, crônica,
caracterizada por febre irregular e de longa duração, hepatoesplenomegalia,
linfadenopatia, emagrecimento, estado de debilidade progressivo levando à
caquexia e até óbito se o paciente não for submetido a tratamento; (ii) a
leishmaniose tegumentar americana (LTA) pode apresentar-se na forma cutânea
12
localizada caracterizada por lesões ulcerosas, indolores, únicas ou múltiplas; (iii)
a forma cutâneomucosa é caracterizada por lesões mucosas agressivas que
afetam as regiões nasofaríngeas; a forma disseminada apresenta múltiplas
úlceras cutâneas por disseminação hematogênica ou linfática e, finalmente, a
forma difusa apresenta lesões nodulares não ulceradas (Neves, 2000).
A leishmaniose é uma das doenças infecto-parasitárias de maior incidência
no mundo. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (WHO, 2007), mais de
12 milhões de pessoas em 88 países estão infectadas e cerca de 350 milhões
correm o risco de contrair a infecção. A incidência anual é estimada em 1-1,5
milhões de casos de leishmaniose cutânea e 500 mil casos da forma visceral
(WHO, 2007).
Do total de casos de leishmaniose tegumentar já registrados no mundo, 90%
ocorreram em apenas seis países: Irã, Arábia Saudita, Síria e Afeganistão no
Velho Mundo, Brasil e Peru na América do Sul. A LTA ocorre nas Américas desde
o sul dos Estados Unidos até o norte da Argentina. O foco mais importante é o
sul-americano, que compreende quase todos os países, com exceção do Uruguai e
do Chile (WHO, 2007).
A LTA é problema de Saúde Pública não só no Brasil, mas também em
outros países do Novo Mundo. Sua importância se deve não somente a sua alta
incidência e ampla distribuição geográfica, mas também na possibilidade de
assumir formas que podem levar a lesões destrutivas, desfigurantes e também
incapacitantes, com grande repercussão no campo psicossocial do indivíduo
(Gontijo e Carvalho, 2003). No Brasil a LTA tem sido registrada em todos os
Estados sendo que as regiões Norte e Noroeste do Estado do Paraná são
endêmicas para a doença (Silveira e col., 1996; Silveira e col., 1999; Lima e col.,
2002), devido à intensa destruição de matas nativas e também pela presença do
vetor em regiões peridomiciliares (Teodoro e col., 2001; Castro e col, 2002).
13
O tratamento de escolha para LTA, recomendado pelo Ministério da
Saúde, é o antimoniato de N-metil glucamina (Glucantime
®
), na dose de 15mg
Sb
V
/Kg/dia, durante 20 dias e se não houver cicatrização completa após 3 meses
do término do tratamento, o esquema deve ser repetido, agora com duração de
30 dias. Este medicamento tem provocado sérios efeitos colaterais (artralgia,
mialgia, inapetência, náuseas, vômitos entre outros, inchaço e dor no local da
aplicação) (Ministério da Saúde, 2000) além de desconforto para os pacientes, o
que leva ao abandono do tratamento e possibilita a seleção de parasitos
resistentes aos fármacos. Essas preparações de antimônio são empregadas nos
últimos 90 anos. Sua introdução foi baseada em conceitos terapêuticos do
século XIX, onde era significativa a participação terapêutica de sais de metais,
como arsênio e outros. A indústria pouco tem contribuído no desenvolvimento de
novos medicamentos para o tratamento da leishmaniose e, no Brasil, o
medicamento de eleição continua sendo o antimoniato de metilglucamina. A
estrutura e composição deste fármaco ainda não foram totalmente esclarecidas,
e o mecanismo de ação ainda é pouco conhecido. Existem fortes evidências que o
antimônio pentavalente seja reduzido
in vivo
à sua forma trivalente, o que vem a
explicar a toxicidade deste composto, bem como seu efeito terapêutico. Ainda, o
medicamento disponível no Brasil tem apresentado problemas quanto à sua
qualidade (Rath e col., 2003). Por isso, novos tratamentos alternativos devem ser
investigados.
I.2.1.1. A TFD no tratamento da leishmaniose tegumentar
americana
Entre os poucos trabalhos envolvendo
Leishmania
e TFD têm-se um estudo
que mostra a suscetibilidade
in vitro
com as formas promastigotas e amastigotas
de
Leishmania amazonensis
com cloreto de ftalocianina de alumínio e luz de baixa
14
energia (Dutta e col., 2005). Em outro estudo
in vitro
(Akilov, e col., 2006)
investigou-se o impacto da carga molecular e estrutura do fotossensitizador na
resposta fototóxica do parasito. A atividade fotodinâmica dos
fotosenssitizadores com carga positiva (benzofenotiazinios – derivados do azul
de metileno) foi maior do que os com carga negativa (porfirinas aniônicas).
Segundo os autores este fato é devido a carga negativa da superfície da
membrana do parasito, ou seja, os fármacos catiônicos, devido a forte interação,
seriam mais eficientes do que os aniônicos. Esta carga negativa é devido a um
componente da membrana, o lipofosfoglicano (LPG).
Alguns poucos estudos mostram a eficiência da terapia fotodinâmica no
tratamento clínico da leishmaniose cutânea. Gardlo e col., (2003) trataram cinco
lesões de leishmaniose tegumentar com TFD utilizando o fármaco fotossensível
Metvix (Metilaminolevulinato, derivado do ALA) (Photocure, Oslo, Norway), e 75
J.cm
-2
de luz vermelha, duas vezes por semana, durante 12 semanas, seguida de 1
vez por semana por mais 4 semanas. Todas as 5 lesões tratadas com esta terapia
ficaram clinicamente e histologicamente livres de
Leishmania
. Não houve
recorrência da lesão no período observado (10 meses) e o resultado estético foi
excelente.
Outro estudo, envolvendo 20 pacientes num total de 31 lesões, foi
realizado com o ácido aminolevulínico (ALA), 100 J.cm
-2
por sessão, duração de 4
semanas e aplicação 1 vez na semana. Os resultados foram muito promissores
sendo que 29 lesões tiveram 100% de cura e as outras 2 tiveram cura parcial
(Asilian e Davami, 2006).
15
I.2.2. Microrganismos patogênicos
O número de microrganismos (bactérias e fungos) resistentes a
antibióticos cresce no mundo todo. Este fato é preocupante exigindo o
desenvolvimento de novas técnicas antimicrobianas de forma que estas não sejam
capazes de desenvolver resistência. A TFD tem sido apontada como uma terapia
antibacteriana alternativa, podendo ser usada como uma terapia para infecções
localizadas, uma vez que, a morte das células é causada pelo oxigênio singlete e
radicais livres, sendo improvável que adquiram resistência a TFD (O’ Riordan e
col., 2005; Perussi, 2007).
Em relação à inativação de bactéria, diversos trabalhos tem mostrado que
bactérias Gram-positivas (+) são geralmente mais sensíveis à TFD do que as
espécies Gram-negativas (-) que são mais resistentes. Essas diferenças podem
ser explicadas pelas diferenças estruturais na parede celular. As bactérias Gram
(-) tem uma membrana externa à camada de peptídeoglicano, funcionando como
uma barreira física e funcional entre a célula e seu ambiente, o que dificulta a
incorporação de fármacos. As células Gram (+) têm somente uma membrana.
Assim, antibióticos que são eficientes contra bactérias Gram (+) não são
eficientes contra Gram (-) (Phoenix e col., 2003). Já os fungos são ainda mais
resistentes a TFD devido à presença de uma membrana nuclear que pode
representar uma barreira adicional à penetração do fármaco (Perussi, 2007),
figura 5.
Com o crescente número de patógenos fúngicos principalmente em
pacientes imunocomprometidos, causando infecções e micoses (Teichert e col.,
2002; Perussi, 2007), tem aumentado a busca por tratamento fungicidas mais
eficientes. Sabe-se que fármacos seguros e específicos são poucos e caros e a
maioria deles tem ação somente fungistática, ou seja, apenas inibem a
multiplicação, não provocando a morte. Além disso, o uso rotineiro de antibióticos
16
tem levado ao aparecimento de linhagens resistentes, exigindo doses maiores.
Com isso tem havido um interesse crescente no uso da TFD em tratamentos
contra fungos (O’ Riordan e col., 2005)
Figura 5: Representação esquemática da parede celular de bactéria Gram-positiva (+),
Gram-negativa (-) e fungo.
17
I.2.2.1. Os microrganismos em estudo
Os microrganismos escolhidos para os ensaios fotodinâmicos foram
Staphylococcus aureus
(Gram-positivo),
Escherichia coli
(Gram-negativo) e
Candida albicans
(fungo).
S. aureus
é o microrganismo mais comum como patógeno oportunista
humano. É uma bactéria muito presente em infecções hospitalares é uma das
maiores causas de morte. Pode causar infecções em diferentes partes do corpo.
Infecções por esta bactéria são frequentemente agudas e piogênicas. Algumas
das infecções mais comuns envolvem a pele e incluem furúnculos, impetigo e
feridas pós cirúrgicas. Algumas das infecções mais sérias causadas pelo
S.
aureus
são bacteremia, pneumonia, osteomielite, endocardites agudas,
miocardites, meningites, síndrome da pele escaldada, abscessos em músculos e
trato geniturinário. Além disso, sua presença em determinados alimentos causa
intoxicação devido à sua capacidade de produzir toxinas( Livermore, 2000).
A
E. coli
, igualmente uma bactéria, é uma das principais causas de doenças
infecciosas em seres humanos e é o agente etiológico mais freqüente das
infecções do trato urinário, acometendo principalmente mulheres e crianças.
Habitante normal do trato-intestinal em animais de sangue quente, no homem é
responsável por metabolizar uma considerável quantidade de vitaminas e exerce
o importante papel de reprimir a multiplicação de outras bactérias prejudiciais à
saúde. Mas a
E.coli
compreende, na verdade, um grande grupo de
microorganismos, que se subdividem em mais de 160 sorotipos diferentes. Alguns
deles, chamados de
E. coli
enteropatogênicos (EEC), são capazes de provocar
infecções intestinais, algumas de certa gravidade.
a
C. albicans
é uma levedura encontrada em regiões mucocutâneas,
trato digestivo e genital de mamíferos e aves, sendo um patógeno oportunista e
18
produzindo com maior freqüência estomatite e vaginite, mas podendo causar
infecções localizadas na pele, unhas, trato respiratório e levar à septicemia,
dependendo do grau de imunossupressão do indivíduo.
C. albicans
pode afetar a
superfície mucosa da boca, vagina, esôfago e árvore brônquica, e doenças que se
disseminam e acometem múltiplos sistemas orgânicos. O quadro clínico varia,
dependendo do local de infecção. A membrana mucosa da boca, língua e trato
genital são mais comumente envolvidos que a unha e pele.
19
II. OBJETIVOS
O azul de metileno e a possibilidade de usar como fonte de luz dispositivos
de LED, faz do sistema AM/LED interessante para a TFD devido a redução
significativa de custos podendo ser aplicados às populações de baixa renda no
tratamento de diversas doenças. Essa possibilidade nos motivou a desenvolver um
trabalho interdisciplinar no intuito de investigar a atividade fotodinâmica do
AM/LED e efetuar aplicações em algumas áreas da saúde.
Buscando a meta acima, citam-se os objetivos específicos, como: investigar
algumas propriedades fotofísicas do azul de metileno em meios aquosos, visando
sua aplicabilidade. Desenvolver um sistema de iluminação (fonte de luz), para uso
nos estudos biológicos, afim de verificar a ação fotodinâmica do corante.
Investigar a ação fotodinâmica
in vivo
frente ao micro-crustáceo
Artemia salina
e em culturas de microrganismos:
Staphylococcus aureus
,
Escherichia coli
e
Candida albicans.
Avaliar o potencial da terapia fotodinâmica como tratamento alternativo
para a Leishmaniose Tegumentar Americana (LTA)
in vivo
em hamsters
infectados com a espécie
Leishmania (Leishmania) amazonensis
e também
in vitro
da espécie
Leishmania (Viannia) braziliensis.
20
III. PARTE EXPERIMENTAL
III.1. Materiais e soluções
O corante fotossensível investigado como possível fármaco, azul de
metileno, fórmula molecular C
16
H
18
ClN
3
S
.
3H
2
O e massa molar 373,90 g.mol
-1
, é
proveniente da Vetec. Os solventes e demais reagentes utilizados foram de alto
grau de pureza (qualidade PA). A água utilizada foi bidestilada.
Para os ensaios biológicos envolvendo microrganismos, trabalhou-se com as
cepas das bactérias
Staphylococcus aureus
(ATCC 26923),
Escherichia coli
(ATCC 26922) e
Candida albicans
(ATCC 90028). Ágar nutriente, caldo nutriente
(Difco), caldo Muller Hinton (CMH) e solução fisiológica (NaCl 0,9%, m/v)
peptonada (0,1%, m/v) foram os materiais utilizados para a preparação e
padronização das amostras biológicas. Os ovos de
Artemia salina
foram
adquiridos em loja de animais de estimação (lojas PetShop).
A esterilização dos meios de cultura e soluções utilizadas no cultivo e
manutenção das culturas de microrganismos, bem como todo o material
necessário para a realização dos experimentos, foi realizada em autoclave
horizontal. As soluções foram autoclavadas por 20 minutos a 120 ºC. O descarte
dos meios e do material contendo microrganismos foi sempre precedido por
esterilização utilizando-se a autoclave.
Os parasitos de
Leishmania
utilizados foram promastigotas de
Leishmania
(Viannia) braziliensis
cepa MHOM/BR/1987/M11272 e de
Leishmania
(Leishmania) amazonensis
cepa MHOM/BR/73/M2269.
Os meios de cultura utilizados nos ensaios com
Leishmania
foram: (i) Meio
199 completo (Gibco, Invitrogen Corporation) contendo: 10% de soro bovino
fetal, 1% de L-glutamina, 1% de urina humana estéril, antibióticos (penicilina G
21
100 UI/mL e estreptomicina 100 μg/mL) e pó para meio (10,7 g para 1000 mL);
(ii) Meio RPMI 1640 completo, contém: 10% de soro bovino fetal, 1% de L-
glutamina, antibióticos (penicilina G 100 UI/mL e estreptomicina 100 μg/mL) e pó
para meio (10,4 g para 1000 mL). Esses meios foram esterilizados por filtração
com filtro Milipore (0,22μm) e conservados em geladeira a 4ºC.
Nos ensaios com
Leishmania
as soluções de AM foram preparadas em meio
de cultura 199 e RPMI e filtradas em filtro Milipore, em câmara de fluxo
laminar, para não contaminar.
Reagente de Griess: 1% de sulfonilamida, 0,1% de dihidrocloreto de
naftilenodiamina (N-(1-naftil-etil) enodiamina), 2,5% de ácido ortofosfórico em
água milli Q.
III.2. Equipamentos
Espectrofluorômetro - SPEX Fluorolog2, modelo 1680
Microscópio óptico – Olympus
Mesa agitadora – Tecnal, TE - 424
Capela de fluxo laminar
Estufa de incubação Bacteriológica – Fanem, modelo Orion 502
BOD - Logen Scientific - Thermostatic Cabinets
Estufa de CO
2
- Nuaire, modelo NU-5500G
Espectrofotômetro UV-Vis da Varian, modelo Cary 50
Auto clave
Espectrofotômetro para tubos - Spectronic 20 Bausch, para leitura em
tubos de ensaio 13x100 mm
Centrífuga
Handheld Laser Power Meter - Edmund Optics Inc
Medidor de espessura - Mitutoyo
22
III.3. Metodologias
III.3.1. Sistema de iluminação
O sistema de iluminação foi construído para os ensaios fotoquímicos
(verificação de reações de foto-branqueamento e a determinação do rendimento
quântico de oxigênio singlete por métodos químicos) e para os ensaios biológicos.
Cada conjunto de fonte é constituído por 6 dispositivos de LED (EverLight co) de
cor vermelha. O espectro de emissão foi obtido em um espectrofluorômetro
SPEX Fluorolog2 modelo 1680 e a potência individual de cada LED foi obtida
através de um Handheld Laser Power Meter, no comprimento de onda de máxima
emissão da mesma, 663 nm.
III.3.2. Reações de Foto-branqueamento (Foto-decomposição)
Para verificar a existência de reações de foto-branqueamento do azul de
metileno, os estudos foram realizados em meio aquoso e etanólico de soluções
aeradas e desaeradas. Iluminaram-se as soluções por um grande intervalo de
tempo (5 horas), utilizando-se a fonte de luz (LED), a temperatura ambiente.
Registraram-se espectros de absorção UV-Vis a cada 5 minutos de irradiação. A
reação de foto-branqueamento é comprovada por mudanças no espectro
decorrente de reações fotoquímicas.
As soluções desaeradas foram preparadas borbulhando-se gás N
2
(99,99%
de pureza) através da solução por cerca de 30 minutos, previamente a exposição
à luz. Adicionalmente, para garantir a ausência de oxigênio dissolvido, aplicou-se
adicionalmente o método de congelamento (nitrogênio líquido, -196 ºC) – vácuo
(bomba de vácuo por cerca de 5 minutos para retirada de gases acima do
23
congelado) – descongelamento (temperatura ambiente, com agitação), seguida de
novo ciclo, com 3 repetições sequenciais.
III.3.3. Teste do Ácido Úrico – Reações de captação de
oxigênio singlete
A fim de estimar a atividade fotodinâmica do azul de metileno pela sua
habilidade de formação de oxigênio singlete, realizou-se o teste do ácido úrico
(conhecido reativo para oxigênio singlete), com metodologia adaptada da
literatura (Fisher e col., 1998). Uma mistura de 3,0 mL de ácido úrico (10
-4
mol.L
-
1
) e do AM (10
-6
mol.L
-1
) em etanol (ou água), foi colocada em uma cubeta de
quartzo. A solução foi agitada e mantida à temperatura ambiente durante as
medidas. Iluminou-se a solução com a fonte de LED, registrando-se espectros de
absorção (250-800nm) a cada três minutos de irradiação durante 2 horas (36
J.cm
-2
) aproximadamente.
A equação utilizada para o cálculo do índice de atividade
fotodinâmica (AF) foi adaptada daquela utilizada para luz monocromática
(LASER) para luz policromática (LED), Equação 1, levando-se em conta o termo de
potência absorvida.
(Eq. 1)
Onde, ΔAU: variação da absorbância em 293 nm da solução após o tempo total de
irradiação; P
abs
: representa a intensidade de luz absorvida pelo corante em
relação a luz emitida pelo LED; e t: tempo de irradiação.
abs
P x t
AFQ =
10 x ΔAU
5
24
Considerou-se neste trabalho a potência absorvida (P
abs
), ou seja, a
quantidade de luz absorvida pelo corante pela excitação com aquele LED. Com
esta finalidade utilizou-se o espectro de transmitância do composto e o espectro
de emissão do LED, determinando-se a quantidade de fótons absorvida pelo
corante em escala de potência (watts). Detalhes dos cálculos são mostrados no
capítulo Resultados e Discussões.
III.3.4. Ensaio de toxicidade com
Artemia salina
(Meyer, 1982)
Os ovos de
Artemia salina
foram eclodidos em salina (NaCl 3,8 g.L
-1
), no
interior de um recipiente retangular, construído com uma divisão interna (com
orifícios) constituindo dois compartimentos. Os ovos foram adicionados no
compartimento menor, protegido da luz. O compartimento maior foi
externamente iluminado com lâmpada de 60 watts, de modo a atrair os
crustáceos recém eclodidos. Após 48 horas, em temperatura ambiente, foram
transferidos cerca de 20 crustáceos para cada tubo de ensaio, utilizando uma
pipeta Pasteur. Adicionou-se 1,5 mL de solução aquosa de azul de metileno no
tubo e o volume foi completado até 3 mL com salina. Na seqüência constituíram-
se dois grupos de amostras: as submetidas à iluminação com luz vermelha (1 hora,
LED) e as sem iluminação, incluindo-se os controles para evitar resultados falso-
positivos. Realizou-se a contagem dos animais vivos e mortos de cada tubo. Todos
os experimentos foram realizados em triplicata.
25
III.3.5. Ensaio
in vitro
em culturas de microrganismos
As bactérias
Staphylococcus aureus
,
Escherichia coli
e o fungo
Candida
Albicans
foram mantidas no ágar nutriente (Caseína Tryptic e Dextrose
Sabouraud) e conservadas em um refrigerador a -4 ºC. Diante dos experimentos,
os microrganismos foram crescidos em caldo Muller Hinton (CMH) a 37ºC por
aproximadamente 15 horas, em estufa para cultura bacteriológica. A suspensão
de microrganismo foi centrifugada a 3000 rpm por 15 minutos; o sobrenadante
foi descartado e o concentrado de inóculo foi ressuspenso e lavado com soro
fisiológico peptonado, repetindo-se o procedimento por mais duas vezes. O
inóculo foi ressuspendido com solução fisiológica e calibrado em
espectrofotômetro (para leitura em tubos) a 580 nm em transmitância de 25-
30%. Desta suspensão foram realizadas diluições (1:10 para
S.aureus
; 1:20 para
E.coli
; 1:5 para
C.albicans
) em solução fisiológica obtendo-se uma suspensão de
células calibradas na concentração média de (1-2) 10
8
UFC. mL
-1
(unidades
formadoras de colônia por volume).
Todas as experiências foram realizadas com dois grupos: um grupo exposto
à luz e outro mantido no escuro. Os grupos controle foram realizados como: um
misturando 400μL do inoculo e 100μL de salina estéril (controle positivo), e outro
100μL AM + 400μL de CMH, sem microrganismo (controle negativo). Os grupos
testes foram preparados adicionando 100μL do AM, em diferentes
concentrações, com 400μL do inoculo calibrado em 4 poços (15 mm diâmetro) de
placas de poliestireno estéril, obtendo concentrações finais de 7 a 140,8 μmol.L
-1
de AM.
A iluminação foi realizada diretamente sobre as placas com as amostras,
utilizando os LEDs como fonte, em mesa agitadora a 80 rpm e 25 ºC, durante 30
minutos. Após o tempo de iluminação, transferiu-se o conteúdo das placas para
tubos de ensaio, completou-se o volume até 4,0 mL com CMH. As amostras foram
26
incubadas em estufa a 37 ºC. A taxa de crescimento foi quantificada por
espectrofotômetro e a porcentagem de transmitância (%T) em 580 nm foi
medido em 0, 2, 4 e 6 horas até que o crescimento do grupo controle não variasse
mais. Os resultados foram expressos em %T dada pela turbidez do crescimento
das células.
Para calcular a taxa de morte e o valor-D (definido como o tempo em
minutos necessário para reduzir 1 ciclo logaritímico), utilizou-se a concentração
de 35,2 mol L
-1
abaixo da DB
50
, e o tempo de iluminação foi variado em 10, 20 e
30 minutos. Imediatamente depois da exposição, as células foram colhidas e
lavadas em água salina e diluídas 10, 100 e 1000 vezes, e 100 L foi colocado em
placas (Petri) de cultura com agar Caseína Tryptic, incubada por 24 horas a 37ºC
e o número de UFC contados. Todos os experimentos foram realizados em
triplicata.
III.3.6. Ensaio
in vitro
com a espécie
Leishmania (Viannia)
braziliensis
III.3.6.1 Sobre a forma promastigota
Formas promastigotas de
Leishmania (Viannia) braziliensis
foram isoladas a
partir de hamsters experimentalmente infectados, em meio de cultura 199 a
26ºC.
Tubos contendo 2x10
6
promastigotas em 1,0 mL de meio 199 completo
contendo diferentes concentrações de azul de metileno foram irradiados ou não,
com LED por 30 minutos (9 J.cm
-2
). Posteriormente as culturas foram mantidas a
26ºC. Tubos contendo apenas parasito em meio de cultura, tratados ou não com
luz, também foram acompanhados como controles.
27
A avaliação do crescimento dos parasitos foi feita a cada 2 dias durante
10 dias, por contagem em câmara de Neubauer em microscopio. Experimentos
foram realizados em triplicata.
III.3.6.2 Sobre formas amastigotas
Camundongos BALB/c foram inoculados intraperitonealmente com 1 mL
de caldo tioglicolato. Após quatro dias os animais foram anestesiados com uma
combinação de xilazina (10 mg/kg – Rompum
®
) e cloridrato de quetamina (50
mg/kg – Ketamina
®
), via intraperitoneal, sacrificados por aprofundamento da
anestesia e desinfectados com álcool. A cavidade peritoneal foi lavada com 8,0
mL de tampão fosfato salino (PBS) estéril gelado para obtenção dos macrófagos
elicitados. A suspensão celular obtida foi centrifugada por 8 minutos a 1200 rpm
e o sedimento ressuspenso em meio de cultura RPMI. A quantidade de
macrófagos foi estimada pela determinação do número total e diferencial de
células presentes no lavado peritoneal, onde à um volume de 90 μL do lavado
foram adicionados 10 μL de cristal violeta (0,5% em ácido acético 30%, v/v )
(Vieira e col, 1994).
Lamínulas de vidro estéreis de 13 mm de diâmetro foram colocadas em
poços de placas de cultura de células de 24 poços. A cada um destes poços foram
acrescentadas suspensões de células peritoneais ajustadas para conter 5x10
5
macrófagos em 150 μL de meio de cultura RPMI.
As placas foram incubadas durante 1 hora a 25 ºC, para que os macrófagos
pudessem aderir à lamínula. Em seguida, as células não aderentes foram
removidas por lavagem (3 vezes com PBS estéril e 2 vezes com meio de cultura
RPMI).
28
Os macrófagos foram infectados com formas promastigotas de
Leishmania (Viannia) braziliensis
, que foram adicionadas às culturas na proporção
de 10 parasitos para cada macrófago e mantidos durante 4 horas a 37 ºC em
estufa contendo 5% de CO
2
. Na seqüência as lamínulas foram lavadas com RPMI
para a remoção dos parasitos não aderidos.
A cada cavidade foram adicionados 300 μL de meio RPMI com diferentes
concentrações de AM e foram tratados ou não com LED por 30 minutos. Foram
realizados controles de toxicidade da LED e do AM sobre os macrófagos. As
placas foram incubadas durante 24 e 48 horas a 37 ºC em atmosfera contendo
5% de CO
2
. Após, foi retirado 200 μL do sobrenadante, para determinação de
óxido nítrico (NO) e as lamínulas foram retiradas, lavadas em PBS e coradas
utilizando-se os reagentes HEMA 3
®
. Depois de secas, as lamínulas de vidro
foram montadas sobre lâminas de vidro (24x76mm) utilizando-se para isso o
Entellan
®
.
Os experimentos foram realizados em quadruplicata. Para a determinação
do Índice Fagocítico (IF), ou seja, a infectividade dos macrófagos, as lamínulas
coradas foram observadas ao microscópio óptico comum sob aumento de 1000
vezes. Foram examinadas 200 células em cada lamínula, contando-se o número de
macrófagos infectados para obtenção da percentagem de macrófagos infectados.
Adicionalmente foi determinado o número médio de parasitos nos macrófagos
infectados. O cálculo do Índice Fagocítico em cada lamínula foi realizado pela
equação abaixo:
IF = Percentagem de macrófagos
infectados
x número médio de parasitos por
macrófago infectado
29
III.3.6.3 Determinação do óxido nítrico
A produção de óxido nítrico pelos macrófagos infectados
Leishmania
(Viannia) braziliensis
, tratados ou não com AM e luz foi avaliada através da
determinação da concentração de nitritos presentes nos sobrenadantes das
culturas, conforme ensaio descrito por Ding e col, (1988). Para isso, 50 μL do
sobrenadante das culturas foram incubados com igual volume do reagente de
Griess, durante 10 minutos à temperatura ambiente.
A absorbância foi determinada em espectrofotômetro com filtro em 550
nm, contra branco constituído por meio de cultura e reagente de Griess. Os
resultados foram expressos em μmol.L
-1
de NO
2
-
, com base numa curva padrão
com concentrações conhecidas de nitrito de sódio (NaNO
2
) dissolvido em meio de
cultura. Experimento realizado em quadruplicata.
III.3.7. Ensaio
in vivo
em hamsters infectados com
Leishmania
(Leishmania) amazonensis
Primeiramente os hamsters foram experimentalmente infectados com
5x10
6
formas promastigotas de
Leishmania (Leishmania) amazonensis
em 100 μL
de solução salina fisiológica (NaCl 0,9% m/v) na pata posterior direita. Na pata
posterior esquerda foram inoculados 100 μL do diluente, a qual foi utilizada como
controle
.
Trabalhou-se com 38 animais.
A evolução da infecção foi avaliada semanalmente mediante a
determinação da espessura da pata infectada e da não infectada, utilizando-se
um medidor de espessura. Os 38 hamsters infectados foram divididos em 3
grupos: 2 grupos de 15 animais (grupos A e B) e 1 grupo de 8 animais (grupo
controle).
30
Após o desenvolvimento da lesão (aproximadamente 90 dias após a
infecção), os animais dos grupos A e B foram tratados com a terapia
fotodinâmica utilizando o corante azul de metileno (AM) e LED como fonte de
luz. Para receber o tratamento os animais eram sedados com uma combinação de
xilazina (10 mg/kg – Rompum
®
) e quetamina (50 mg/kg – Ketamina
®
). Para os
animais do grupo A foi usado AM (0,5%, m/v) em loção (cera autoemulsionável,
óleo mineral, tensoativo, preparada pelo Departamento de Farmácia e
Farmacologia - UEM, prof. Selma Lucy Franco) e para os do grupo B utilizou-se
AM (0,5%, m/v) em água. O tratamento foi aplicado 3 vezes por semana e o
tempo de exposição à luz foi de 1 hora (18 J.cm
-2
) com duração de 12 semanas (3
meses), figura 6. O grupo controle não recebeu tratamento com a terapia
fotodinâmica, apenas aplicou-se o azul de metileno, nas duas formulações.
A avaliação do tamanho da lesão foi feita semanalmente, onde a pata
infectada e a não infectada eram medidas com um medidor de espessura;
também foram realizados registros fotográficos das mesmas. A espessura da
lesão foi determinada pela diferença da pata infectada e não infectada de cada
animal.
Figura 6: Hamsters anestesiados recebendo tratamento com AM/LED
31
III.3.7.1 Quantificação de
Leishmania
no baço e no linfonodo
A quantificação de
Leishmania
no baço e no linfonodo dos hamsters
infectados com
Leishmania (Leishmania) amazonensis
(utilizados no estudo
anterior) foi realizada segundo a metodologia descrita por Buffet e col (1995),
com algumas modificações.
Após o término do tratamento com a TFD, os animais foram sacrificados
por aprofundamento da anestesia e desinfectados em álcool. Em seguida de cada
um dos animais foi assepticamente retirado o linfonodo poplíteo regional à lesão
e o baço, seguidos de pesagem. Cada órgão foi colocado em meio de cultura 199 e
macerado em placa de Petri estéril com um embolo de seringa; a seguir esta
amostra foi passada por seringa/agulha de insulina por diversas vezes
(aproximadamente 30 vezes) para rompimento total das células. As suspensões
foram seriadamente diluídas, a partir de ¼, na razão 4, em placas de cultura de
células de 96 poços. Para isso, foram distribuídos 225 μL de meio de cultura 199
em todos os poços e 300 μL da suspensão obtida inicialmente no primeiro poço,
realizando-se a seguir as diluições. Experimento realizado em duplicata. As
placas foram vedadas com papel Parafilm
®
e incubadas a 26 ºC durante trinta
(30) dias, quando foram observadas no microscópio de luz invertida. Cada poço
foi examinado microscopicamente à procura de formas promastigotas e foi
considerado positivo quando pelo menos um parasito foi encontrado. As placas
foram mantidas por mais quinze (15) dias em cultivo, quando foram novamente
examinadas. Para a obtenção da carga parasitária em cada órgão foi realizado o
seguinte cálculo:
Carga parasitária: Média geométrica da recíproca dos títulos positivos x 16,7
Massa do órgão (g)
32
Nesta fórmula, 16,7 representa a fração da suspensão de cada órgão
inoculada no primeiro poço da placa de cultura.
III.3.8. Aspectos éticos
Este estudo foi submetido ao Comitê de Conduta Ética no uso de Animais
em Experimentação (CEAE) da Universidade Estadual de Maringá para a sua
realização e aprovado pelo parecer 028/2006 de 11/07/2006.
III.3.9. Análise estatística
Em todos os ensaios biológicos, realizou-se o teste de normalidade (Shapiro
Wilk’S). Sendo normal os valores aplicou-se o teste T de Student. Utilizando o
programa StatSoft®. Foi considerado significativo quando os resultados
apresentavam P < 0,05, ou seja, quando P é acima de 0,05 as diferenças nos
valores são consideradas irrelevantes e assim os resultados são tomados como
estatisticamente iguais.
Os ensaios com microrganismos foram realizados no
Departamento de Farmácia e Farmacologia (DFF/UEM), orientados pela profª
Drª Elza Kimura. Os experimentos com
Leishmania
foram realizados no
Laboratório de Parasitologia Clínica, do Departamento de Análises Clínica
(DAC/UEM) orientados pela profª Drª Thais Gomes Versignassi Silveira.
33
IV. RESULTADOS E DISCUSSÃO
IV.1. Espectro do azul de metileno
O azul de metileno apresenta alta absorção de luz na região do vermelho,
figura 7, característica necessária a compostos eficientes na terapia
fotodinâmica devido a maior penetração dessa radiação através de tecidos
biológicos (janela fototerapêutica).
500 600 700
0.00
0.05
0.10
0.15
0.20
0.25
Absorbância
Comprimento de Onda (nm)
Figura 7: Espectro de absorção do azul de metileno (5x10
-6
mol L
-1
) em água
O espectro obtido (figura 7) é igual ao de AM em soluções de solventes
orgânicos mostrando que nesta situação o composto está presente no estado
monomérico. É conhecido que em concentrações altas de AM em água formam-se
auto-agregados do corante, com a formação de bandas adicionais na região de
600 nm (dímeros) e 550 nm (agregados maiores) (Baptista 2005). O estado
monomérico do corante é a forma desejável do fotossensitizador uma vez que
este no estado agregado pode ter sua energia de excitação mais facilmente
suprimida por auto-supressão levando a decaimento não radiativo (CI) para o
estado fundamental; dessa forma diminui-se as possibilidades de conversão
34
inter-sistema (CIS) ao estado triplete e, conseqüente, reduz o rendimento
quântico de oxigênio singlete (a espécie ativa para a TFD tipo 2).
IV.2. Sistema de iluminação (LED)
Para a realização dos experimentos envolvendo luz investigou-se
dispositivos de LED de cor vermelha (como previamente mencionada em função
da maior penetração da luz em tecidos biológicos). Como conseqüência,
encontrou-se um LED cujo espectro de emissão está apresentado na figura 8.
600 620 640 660 680 700
0
1x10
5
2x10
5
3x10
5
4x10
5
5x10
5
Intensidade de emissão (U.A.)
Comprimento de onda (nm)
Figura 8: Espectro de emissão da fonte de iluminação (LED)
Dos espectros verifica-se que a janela de emissão da fonte (entre 640 a
680 nm) coincide com a região mais intensa de absorção de luz do azul de
metileno (figura 7: absorção e figura 8: emissão). Observa-se que o máximo de
emissão ocorre em 663 nm, mesma região de máximo de absorção do corante no
estado monomérico. O tratamento clássico em TFD utiliza fontes de LASER, luz
monocromática de alta intensidade; no entanto, além de caros, estes
35
equipamentos possuem luz muito focalizada o que dificulta seu uso clínico em
lesões de diâmetros maiores. O baixo custo de um sistema a base de LED,
aproximadamente R$ 1,00 / unidade de LED, permite efetuar vários
experimentos simultâneos; no caso presente o conjunto é constituído de seis (6)
unidades LED, ou seja, no caso 6 ensaios por sistema - fonte. O conjunto com as
seis (6) unidades de LEDs está apresentado na figura 9. A irradiância de cada
unidade LED é de 5 mwatts.cm
-2
.
Figura 9: Fonte de luz constituído de 6 unidades de LED
IV.3. Estudo de Foto-decomposição (Foto-branqueamento)
No escuro, as soluções aquosas de azul de metileno mantém-se inalteradas,
fato constatado pela espectrofotometria de absorção; entretanto ao serem
irradiadas com a luz de LED verifica-se perda da coloração devido ao processo de
fotodegradação do corante. Na figura 10 estão apresentados os espectros de
absorção em soluções com aeração normal.
36
400 500 600 700 800
0.00
0.05
0.10
0.15
0.20
0.25
0.30
0.35
Absorbância
Comprimento de onda (nm)
400 500 600 700 800
0.0
0.1
0.2
0.3
0.4
0.5
Absorbância
Comprimento de onda (nm)
Figura 10: Sobreposição de espectros do azul de metileno (5x10
-6
mol L
-1
) em água (A) e
etanol (B) em situações de aeração normal, obtidos em intervalos de 5 min em amostra
iluminada. As setas indicam a diminuição das bandas com a exposição à luz.
Apesar da existência de reações de branqueamento, observou-se que em
alguns casos a mesma não é intensa. Estes resultados de fotobranqueamento
podem ser mais facilmente visualizados através das curvas de intensidade de
absorção em função do tempo de iluminação, onde inclui-se o estudo em meio
desaerado (sem oxigênio), ilustrados na figura 11. Tratamentos matemáticos dos
dados segundo leis cinéticas de ordem de reação tradicionais não levaram a
ajustes aos pontos experimentais. Tentativas de análise quantitativa através de
tempos de meia-vida foram realizadas uma vez que estes independem da ordem
da reação; entretanto não levaram a resultados coerentes devido a variações de
velocidade e magnitudes de fotodegradação.
Em soluções com aeração normal, tomando a absorbância inicial como
referência, calcula-se que em solução aquosa cerca de 14,2% da intensidade de
absorção decai em 60 minutos; nas mesmas condições em etanol o decréscimo é
de apenas 8,6% em 60 minutos. Adicionalmente nestas condições de aeração
normal, a fotodegradação em meio etanólico aparentemente é limitada,
restringindo-se à 80 minutos de iluminação, com decréscimo de intensidade de
apenas ~13%, enquanto que em água, esse efeito ocorre até aproximadamente 3
horas, com decréscimo de 40%. As velocidades de fotodegradação, visualizadas
37
pela inclinação da curva de intensidade contra tempo (figura 11), apontam que em
meio aquoso a reação é ligeiramente mais rápida, principalmente nas fases iniciais
da reação. Desse modo verifica-se que em meios com aeração normal o
fotobranqueamento do AM/água é mais intenso e um pouco mais rápido que o do
AM/etanol.
0 50 100 150 200 250 300
0.05
0.10
0.15
0.20
0.25
0.30
0.35
0.40
0.45
Absorbância (663 nm)
Tempo (minutos)
etanol aerado
água aerada
etanol desaerado
água desaerada
Figura 11: Variação da absorção do azul de metileno (5x10
-6
mol L
-1
) em função do
tempo de exposição ao LED.
Quanto à questão do nível de oxigênio presente nos meios, observa-se
maior foto-estabilidade do AM em soluções aeradas nos dois solventes
estudados. Na literatura cita-se que o mecanismo de fotobranqueamento do AM
em meios aerados ocorre predominantemente via oxigênio singlete (Zhang e
Tang, 2004), no entanto, o AM no estado triplete também pode ter sua energia
suprimida por colisões com o O
2
normal presente no meio (neste caso sem levar
necessariamente a
1
O
2
) (Valeur, 2001), mecanismo que diminui o
fotobranqueamento. A reatividade do oxigênio é dependente da difusão, ou seja,
a viscosidade do solvente (água 0,8; etanol 1,04 à 25ºC) é importante, e essa
supressão de energia do fotossensitizador pode ocorrer por estes dois caminhos
38
(Arik e col., 2005): (i) por processo não radiativo ou; (ii) pela geração de oxigênio
singlete. Dessa forma a fotodegradação do AM em condições aeradas deve
ocorrer via oxigênio singlete, porém ao mesmo tempo, as intensidades de
fotobranqueamento menores na presença de oxigênio (estado fundamental,
triplete) podem ser justificadas pela supressão de energia realizada pelo próprio
oxigênio – choques colisionais (decaimento não radiativo). Adicionalmente, além
de na presença de oxigênio o fotobranqueamento ser mais lento, a intensidade
deste processo foi menor, principalmente em meio etanólico. As reações em
meios de aeração normal foram mais favoráveis em meio aquoso, neste o
complexo ativado que leva aos produtos deve ser melhor estabilizado, além do
que a viscosidade da água é menor, logo facilita a permeabilidade do oxigênio no
meio, consequentemente a reação é mais rápida.
Já no experimento de fotobranqueamento sem a presença do oxigênio, o
estado excitado do corante não é desativado eficientemente, acarretando em
reações fotoquímicas. No caso outros foto-processos podem ocorrer, por
exemplo fotopolimerização, formando compostos oligoméricos que não absorvem
na região do vermelho.
IV.4. Formação de oxigênio singlete
O ácido úrico (AU), um eficiente captador de oxigênio singlete, apresenta
uma banda com máximo de absorção em 293 nm e não absorve na região do
visível. Este tem sido usado como um reagente para a determinação quantitativa
da ação fotodinâmica de compostos fotossensitizadores em TFD por via química,
nos casos em que a produção de oxigênio singlete está associada ao processo
(Fisher e col., 1998). A reação de foto-oxidação do ácido úrico via
1
O
2
pode levar
à formação de produtos como a triuréia, a alantoxaidina, o íon oxanato e CO
2
39
(Canellakis e Cohen, 1955). O ácido úrico é seletivo e reage com oxigênio singlete
e radicais hidroxilas; não reage com peróxido ou ânion superóxido.
Para o cálculo da atividade fotodinâmica química, usou-se como referência
a metodologia de Maestrin (2004) com algumas modicações, uma vez que neste
trabalho utilizou-se como fonte de luz LEDs, luz policromática, devendo ser
considerados os fótons absorvidos pelo corante em todos os comprimentos de
onda. Assim estabeleceu-se um parâmetro diretamente relacionado à quantidade
de fótons absorvidos pelos FS, através da relação entre luz emitida (LED) e
absorvida (FS), denominado de “potência absorvida” (P
abs
). Essa relação é obtida
a partir da combinação do espectro de transmitância do corante (que fornece a
luz não absorvida pelo cromóforo em termos percentuais) e o espectro de
emissão do LED (em termos de área que corresponde a potência total de luz
emitida pela fonte), através dos quais calcula-se a intensidade de luz realmente
absorvida pelo corante com este LED. Na figura 12 apresentam-se as
intensidades de luz absorvidas pelo azul de metileno para os diferentes sistemas
na forma gráfica. A área de cada sistema é proporcional à quantidade de fótons
absorvidos pelo FS, permitindo efetuar comparações de forma quantitativa com
outros pares FS/LED.
40
600 620 640 660 680 700
0
50
100
150
200
250
300
Potência absorvida (mW)
Comprimento de onda (nm)
AM água
AM etanol
Figura 12: Potência luminosa absorvida por unidade de comprimento de onda do azul de
metileno 5x10
-6
mol L
-1
calculado para o LED utilizado.
A área calculada do espectro de emissão do LED (figura 8) esta
relacionada a potência total medida (5 mwatts, PowerMeter) enquanto a área do
gráfico de potência absorvida (figura 12) é correlacionada a luz realmente
absorvida (P
abs
). Para etanol e água, solventes utilizados nas medidas de
atividade, o P
abs
foi de 2,53 e 2,36 mwatts, respectivamente. Dessa forma a AFQ
foi calculada através da equação 1.
A amostra de azul de metileno irradiada na presença de ácido úrico com a
fonte vermelha de LED, teve seus espectros de absorção obtidos a tempos de
iluminação determinados (figura 13).
41
300 400 500 600 700 800
0.0
0.1
0.2
0.3
0.4
Absorbância
Comprimento de onda (nm)
Figura 13: Variação espectral da solução de azul de metileno 1x10
-6
mol.L
-1
na presença
de AU (10
-4
mol.L
-1
) em etanol, com a irradiação de luz de LED (espectros a cada 3 min).
A seta indica a diminuição da banda do ácido úrico
Observa-se na figura 13 o decaimento da banda característica do ácido
úrico, em 293 nm, indicando que ocorre a reação de decomposição deste ácido
pelo
1
O
2
(formado pelo azul de metileno excitado). A queda inicial é mais forte
devido à presença de maiores quantidades de oxigênio molecular solubilizado no
meio que, por conseguinte, leva a grandes quantidades de oxigênio singlete nesta
etapa.
Na tabela 2 apresentam-se os resultados de AF do AM em água e etanol e
os dados necessários aos cálculos. Para comparação acrescentou-se os valores de
rendimento quântico de oxigênio singlete obtidos da literatura (Zhang e Tang,
2004).
Tabela 2: Valores de AF para o azul de metileno, determinados pela equação 1,
teste do ácido úrico (9 J.cm
-2
)
ΔA
Au
t (min) P
abs
(mw) AF φ
1
O
2
Água 0,694 30 2,36 16,3 0,52
Etanol 0,194 30 2,53 4,3 0,52
A
AU
: variação da absorbância em 293 nm da solução após o tempo total de irradiação; t
: tempo de irradiação; P
abs
: valor de potência luminosa absorvida pelo FS.
42
Conforme verificado na tabela 2, a AFQ resultante em água ou etanol
tiveram valores iguais e estão coerentes com os valores (também iguais) de
rendimentos de oxigênio singlete nesses meios.
Adicionalmente, o resultado da figura 13 (etanol) sugere que no tópico
anterior de fotodegradação do AM (realizado na ausência de AU), o processo em
meios aerados deve realmente ser causado por oxidação via oxigênio singlete
(mecanismo principal). Esta afirmação deve-se ao fato do oxigênio singlete, que
reage com o AU, apresentar na figura 13 o AM foto-estável (pico inalterado),
enquanto que na ausência de AU ocorre a fotodecomposição do AM. Em água e
aeração normal, onde a fotodegradação é mais acentuada que em etanol, a
presença de ácido úrico também inibe a decomposição do AM, confirmando os
resultados em etanol.
IV.5. Ensaio fotodinâmico com
Artemia salina
Neste trabalho a adaptação realizada de ensaio com
Artemia Salina
(Meyer, 1982) para investigar a ação fotodinâmica do AM mostrou-se boa. O
teste padrão, empregado na determinação da qualidade de águas e na avaliação
de atividade tóxica de substâncias, consiste na contagem dos microcrustáceos
vivos em tubo após 24 horas de contato com o meio. No caso com AM no escuro -
controle, verificou-se a morte total dos animais nesse tempo, assim restringiu-se
o contato do AM com os microcrustáceos a duas horas, sendo 1 hora (18 J.cm
-2
)
de irradiação (LED) e a contagem após mais 1 hora. Na figura 14 apresentam-se
os resultados obtidos.
43
0 100 200 300 400 500 600 700
0
10
20
30
40
50
60
70
80
*
*
*
*
% de morte da Artemia salina
AM (µmol.L
-1
)
sem luz
com luz
Figura 14: Morte percentual de
Artemia salina
em diferentes concentrações de azul de
metileno em água
* significante em relação ao AM sem iluminação (P < 0,05) - teste T de Student
Conforme mencionado anteriormente, na figura 14, mostra-se que o azul de
metileno por si só tem ação tóxica para a
Artemia salina
(no escuro), entretanto,
a percentagem de morte foi potencializada pela iluminação demonstrando a ação
fotodinâmica. Para as amostras com concentração de 13.35 μmol.L
-1
com o AM a
percentagem de morte foi de 27,3% e com o LED aumentou para 61%. Contudo
em altas concentrações (668.5 μmol.L
-1
) este efeito foi bem menor, com AM
apenas foi de 68,5% a percentagem e morte e com LED 79,3%.
IV.6 Ação fotodinâmica
in vitro
sobre culturas de microrganismos
Os resultados obtidos com os microrganismos
Staphylococcus aureus
(Gram +)
,
Escherichia coli
(Gram -)
e
Candida albicans
(Fungo), em diversas
concentrações do azul de metileno, encontram-se na figura 15.
44
45
01234
20
40
60
80
100
S. aureus
A
*
*
*
*
controle
7 μmol.L
-1
14.1 μmol.L
-1
28.2 μmol.L
-1
42.2 μmol.L
-1
56.4 μmol.L
-1
70.4 μmol.L
-1
% Transmitância (580 nm)
Tempo (horas)
01234
20
40
60
80
100
controle
7 μmol.L
-1
14.1 μmol.L
-1
28.2 μmol.L
-1
42.2 μmol.L
-1
56.4 μmol.L
-1
70.4 μmol.L
-1
% Transmitância (580nm)
Tempo (horas)
B
S. aureus
0123456
20
40
60
80
100
% Transmitância (580nm)
Tempo (horas)
controle
35.2 μmol.L
-1
70.4 μmol.L
-1
105.6 μmol.L
-1
140.8 μmol.L
-1
C
E. coli
0123456
20
40
60
80
100
D
% Transmitância (580nm)
Tempo (horas)
controle
35.2 μmol.L
-1
70.4 μmol.L
-1
105.6 μmol.L
-1
140.8 μmol.L
-1
E. coli
02468
30
40
50
60
70
80
90
100
E
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
*
% Transmitância (580nm)
Tempo (horas)
controle
17.6 μmol.L
-1
35.2 μmol.L
-1
52.3 μmol.L
-1
70.4 μmol.L
-1
105.6 μmol.L
-1
C. albicans
0246
30
40
50
60
70
80
90
100
8
% Transmitância (580nm)
Tempo (horas)
controle
17.6 μmol.L
-1
35.2 μmol.L
-1
52.3 μmol.L
-1
70.4 μmol.L
-1
105.6 μmol.L
-1
F
C. albicans
Figura 15: Curva de inibição de crescimento em culturas de microrganismos em diversas
concentrações de AM. A, C e E não receberam luz; B, D e F receberam luz por 30
minutos. Cada ponto representa a média ± desvio das medidas em triplicata.
(*) Significante p < 0,05 em relação ao controle
(†) Significante p < 0,05 em relação ao controle em todas as concentrações
No caso da figura 15, à medida que a porcentagem de transmitância
diminui, implica em aumento de taxa de reprodução do microrganismo (ocorre
aumento de espalhamento de luz pela formação de colônias); ou seja, quando a
transmitância aumenta, a taxa de inibição do crescimento aumenta.
Para todos os microrganismos não foi observado inibição de crescimento
com a exposição a luz LED sozinha. No entanto a presença de AM, mesmo
sozinho, inibiu o crescimento das células, sendo este proporcional às
concentrações utilizadas de corante; quanto maior a concentração do AM, maior
o grau de inibição. Inclusive a concentração necessária para inibição de 50 % dos
microrganismos (DB
50
), obtidos da figura 15 e da tabela 3, foi de 43.35 ±
6.75μmol.L
-1
para
S. aureus
, 56.40 ± 11.48μmol.L
-1
para
E. coli
e 63.20 ± 11.30
μmol.L
-1
para
C. albicans
. Assim a DB
50
seguiu aumento na seguinte ordem:
S.
aureus
<
E. coli
<
C. albicans,
confirmando, de certa forma, a ordem de
suscetibilidade dos três diferentes tipos de células, baseado nas diferenças
estruturais da parede celular: as bactérias gram (+), caso da S. aureus, tem
somente material capsular e a camada peptidioglicanos (parede celular)
externamente à membrana citoplasmática (ver figura 5), permitindo o AM de
cruzá-lo fàcilmente (Zeina e col., 2001). Já as bactérias gram (-), tal como a
E.
coli
, apesar de apresentarem uma barreira extra (de lipopolissacarídeos –
membrana externa, figura 5) comparada as gram (+), o AM também não
apresenta dificuldades de interação devido a sua carga positiva, AM
+
, de
interagir com as cargas negativas desta membrana lipopolissacarídica (Livermore,
1990). Por último, a penetração solitária de AM em células de
C. albicans
(fungo)
parece ser mais difícil, pois estudos realizados com porfirinas catiônicas
mostraram que estes podem chegar ao citoplasma somente após danos das
membranas que as revestem (no caso induzidos por luz, Lambrechts e col., 2005).
Essa ação bacteriostática e fungiostática do AM (na ausência de luz) é conhecida
(Wainwright e col., 2002; Calzavara-Pinto e col., 2005).
46
Tabela 3: Porcentagem de inibição do crescimento de microrganismos
Microrganismo
(% inibição)
S.aureus
[AM](μmol.L
-1
)
14,1 28,2 42,2 56,4 70,4
Escuro 7,6 16,5 26,5 41,5 71,2
LED 83,5
90,8 89,1 92,2 100
E.coli
[AM](μmol.L
-1
)
- 35,2 70,4 105,6 140,8
Escuro - 14,8 39,4 56,6 93,1
LED - 94,1 95,6 100 100
C.albicans
[AM](μmol.L
-1
)
17,
6
35,2 52,3 70,4 105,6
Escuro 7,6 24,3 36,2 46,5 57,8
LED 78,9
90,2 90,3 95,2 100
Os microrganismos foram irradiados com LED por 30 minutos. A porcentagem de
inibição de crescimento foi calculada pela diferença da %T do grupo controle
(sem AM) e a %T das diferentes concentrações de AM depois de 4-6 horas de
incubação.
De modo geral, o tratamento AM/LED apresenta eficiências bastante
altas, mas similares nos três microrganismos, não exibindo diferenças em sua
habilidade de inibir bactérias (gram (+ e -)) e fungo. Observe-se que, apesar da
menor interação do AM sozinho com
C. albicans
, a luz em conjunto com o AM
deve ter induzido danos às membranas externas deste fungo, colaborando com a
proposição de Lambrechts e col., 2005.
Adicionalmente foi avaliado o tempo de exposição à luz (dose de energia),
submetendo-se as amostras de culturas a tempos de 10, 20 e 30 minutos (2, 4, 6
J.cm
-2
) de iluminação, calculando a constante de morte (k) e o valor-D. Neste
ensaio verifica-se o efeito bactericida e fungicida, ou seja, a morte dos
microrganismos. Este resultado é apresentado na figura 16.
47
C.albicans
0.9287
0.1891
12.18
S.aureus
0.9800
0.1911
12.05
E.coli
0.9872
0.2001
11.51
r
2
k (h
-1
)
valor-D (minutos)
7
6
5
4
3
2
7
6
5
4
3
2
7
6
5
4
3
2
Log
10
UFC/ml
Figura 16: Decréscimo do número de colônias em função das condições aplicadas. Os
grupos C1 e C2, controles, são culturas do microrganismo com e sem exposição ao LED
por 30 minutos, respectivamente (sem AM). Nas amostras onde constam tempos (de
iluminação) correspondem a culturas com AM (35,2 μmol.L
-1
) submetidas à luz. As taxas
de morte (k) são derivadas da curva, considerando do tempo 0 a 30 minutos de exposição
e o valor-D é calculado pela redução de 1 ciclo-logarítimico da mesma curva. Cada ponto
representa a média das medidas em triplicata.
A figura 16 mostra que os efeitos na morte dos microrganismos seguiram
tendência similar a dos efeitos de inibição no crescimento: pela comparação
entre C1 e C2, tem-se que a luz LED sozinha não afeta a morte dos
microrganismos; o AM sozinho provoca mortandade (t= 0 min); a exposição do AM
à luz provoca aumento da mortandade sendo esta proporcional ao tempo de
irradiação; para todos os microrganismos a concentração utilizada 35,2 μmol.L
-1
,
não foi suficiente para provocar a morte total dentro do tempo máximo utilizado
(30 minutos), apesar da mortandade bastante elevada e a resposta AM/LED,
representada pela constante de morte e pelo valor-D, é similar para todos os
microrganismos.
A investigação do tempo da exposição ao LED indica que o balanço entre a
concentração do AM e o tempo da iluminação pode controlar a eficiência da TFD.
Para tecidos onde a acumulação do azul de metileno é pobre, o tempo de
irradiação deve ser prolongado para permitir eficiência terapêutica similar.
48
Os resultados com LED em
S. aureus, E. coli
e
C. albicans
foram tão
eficazes quanto os usando LASER (Usacheva e col., 2001; Wilson e Mia 1993) ou
a Exal light box (Wainwright e col., 1997). Concentrações de AM de 42μmol.L
-1
irradiadas com LASER de diodo (665nm) com potência de 15 J.cm
-2
(Usacheva e
col., 2001) e AM 0,90μmol.L
-1
exposto a Exal light box com poncia de 6,3 J.cm
-
2
levaram a morte de
S. aureus
(Wainwright e col., 1997), entretanto neste
experimento, AM nas concentrações de 7 e 14μmol.L
-1
exposto ao LED (potencia
de 6 J.cm
-2
) por 30 minutos obteve 79 e 84% de inibição, respectivamente, para
S. aureus.
Para
E. coli
, AM a 180 μmol.L
-1
exposto ao LASER de diodo (665nm)
com potencia de 40 J.cm
-2
(Usacheva e col., 2001) e AM a 90 μmol.L
-1
exposto a
Exal light box, (6,3 J.cm
-2
) (Wainwright e col., 1997), levaram a morte total das
células. No estudo presente, 35,2μmol.L
-1
de AM exposto ao LED com intensidade
de 2 e 4 J.cm
-2
levaram a 88,8 e 93,7% de inibição respectivamente, e AM a
70,4μmol.L
-1
com 6 J cm
-2
induziu 96% de inibição.
Experimentos com
C. albicans
a 130 μmol.L
-1
de AM com: (i) LASER light (685 nm) e 28 J.cm
-2
induziu 88,6% de
inibição (Souza e col., 2006) e (ii) LASER light (660 nm) e 2,04 J.cm
-2
induziu 42
% de inibição (Wilson e Mia 1993). Neste estudo, o LED (6 J.cm
-2
) com 70,4
μmol.L
-1
de
AM induziu 95,14% de inibição.
49
IV.7 Ensaio
in vitro
sobre
Leishmania (Viannia) braziliensis
IV.7.1 Sobre a forma promastigota
O efeito da terapia fotodinâmica sobre o crescimento das formas
promastigotas (culturas), contendo ou não azul de metileno, tratadas ou não com
luz, foi acompanhado durante 10 dias (figura 17).
0246810
0
20
40
60
80
100
120
140
160
Concentração de parasitos (10
6
)
Tempo (dias)
controle
controle + luz
0,51 μmol.L
-1
0,51 μmol.L
-1
+ luz
0,25 μmol.L
-1
0,25μmol.L
-1
+ luz
0,12μmol.L
-1
0,12μmol.L
-1
+ luz
0,06μmol.L
-1
0,06μmol.L
-1
+ luz
*
*
*
*
*
Figura 17: Curva de crescimento de promastigotas de
Leishmania (Viannia) braziliensis
em meio 199, a 26
o
C, tratadas ou não com azul de metileno, com ou sem luz
(*) Não significante p > 0,05 em relação ao controle
() Significante p < 0,05 em relação ao controle e as amostra não iluminadas em todas as
concentrações
Pela análise estatística (teste T de Student) a luz não influenciou de
forma significativa no crescimento do parasito, pois não existe diferença em
nenhum dos dias de crescimento analisados (P > 0,05). Todas as concentrações de
azul de metileno, sem luz, influenciaram o crescimento em todos os dias
analisados (P < 0,05), exceto no segundo dia nas concentrações mais baixas (0,12
e 0,06μmol.L
-1
) e, de modo geral, este efeito é dependente da concentração.
50
Comparando as amostras tratadas com AM que foram iluminadas com as não
iluminadas, em todas as concentrações e em todos os dias, os crescimentos
foram significativamente inferiores nas iluminadas (P < 0,05). A redução do
crescimento do parasito ocorre mesmo nas menores concentrações de AM
utilizadas (0,06μmol.L
-1
).
IV.7.2 Sobre formas amastigotas
O efeito do tratamento com AM e luz sobre a infectividade de formas
promastigotas para macrófagos peritoneais foi avaliado em 24 e 48 horas, efeito
este calculado pelo índice fagocítico (contagem de formas amastigotas na célula –
realizadas por microscopia). Os resultados estão apresentados na figura 18.
ABC
0
50
100
150
200
250
300
48 Horas
Índice Fagocítico
SEM LUZ
COM LUZ
ABC
0
50
100
150
200
250
300
24 horas
Índice Fagocítico
SEM LUZ
COM LUZ
*
*
*
*
Figura 18: Infectividade de promastigotas de
Leishmania (Viannia) braziliensis
para
macrófagos peritoneais de camundongos Balb/c. Promastigotas foram cultivados sobre
monocamadas de macrófagos na proporção 10 parasitos:1 macrófago. As culturas foram
tratadas ou não com AM e luz. Os resultados representam os índices fagocíticos após 24
e 48 horas. Os valores referem-se a média do experimento realizado em quadruplicata ±
desvio padrão da média. A: macrófago infectado (controle); B: macrófago infectado e
tratado com 0,53 μmol.L
-1
de AM; C: macrófago infectado e tratado com 0,066 μmol.L
-1
de AM. Teste T de Student
(*) Significante p < 0,05 em relação ao controle
() Significante p < 0,05 em relação ao controle e as amostra não iluminadas
51
Pode-se observar que a luz por si só não inibiu o índice fagocítico em 24
(P=0,4596) ou em 48 horas (P=0,6088). O azul de metileno sozinho inibe
significativamente a infectividade das promastigotas em cultura de macrófago
em relação ao controle, nas duas concentrações estudadas (0,53 e 0,066μmol.L
-1
),
em 24 horas (P=0,0174 e P=0,0233, respectivamente) e em 48 horas (P=0,0009
e P=0,0027, respectivamente). Os percentuais das inibições de infectividade
para 0,53μmol.L
-1
(sem luz) chegam a 58%, conforme mostrado na tabela 4.
O azul de metileno associado à luz inibiu significativamente a infectividade
das promastigotas em cultura de macrófago em relação ao controle, nas duas
concentrações de AM estudadas (0,53 e 0,066μmol.L
-1
), em 24 horas (P=0,0044 e
P=0,0000945, respectivamente) e em 48 horas (P=0,0035 e P=0,00028,
respectivamente). Com a luz este efeito na capacidade de inibição da infecção
das células é ainda mais acentuado, sendo os percentuais de inibição de 90% em
relação ao controle.
Tabela 4: Inibição da infectividade (%) das promastigotas de
L(V) braziliensis
para
macrófagos peritoneais de camundongos
Controle
versus
24 hora
s
48 hora
s
M + L + AM 0,53 μmol.L
-1
58,2 57,7
M + L + AM 0,53 μmol.L
-1
+ Luz
90,5
90,3
M + L + AM 0,066 μmol.L
-1
47,6 45,1
M + L + AM 0,066 μmol.L
-1
+ Lu
z
91,8
87,7
M: macrófago; L:
Leishmania
Desse modo, mostrou-se que a ação fotodinâmica diminuiu a capacidade
dos parasitos de infectarem macrófagos, ou seja, em uma futura aplicação da
TFD em lesões de leishmania este efeito seria benéfico ao paciente. No intuito
de verificar se os macrófagos (infectados ou não com o parasito) permanecem
52
íntegros com a aplicação de AM e AM/LED, efetuaram-se registros fotográficos
de microscopia (figura 19).
Figura 19: A - Macrófago e
Leishmania
; B - Macrófago, AM (0,53 μmol.L
-1
) e Luz; C -
Macrófago,
Leishmania
, AM (0,066 μmol.L
-1
) e Luz; D - Macrófago,
Leishmania
, AM (0,53
μmol.L
-1
) e Luz.
Na figura 19A mostra-se a célula (macrófago) podendo-se observar o
núcleo (mancha de diâmetro maior), infectada com as amastigotas (manchas de
diâmetro menor localizadas próximas à membrana na imagem central). Na Figura
19B (ausência de parasito), 19C e 19D (parasito/AM/LED) mostra-se que o
tratamento aparentemente não causou danos às células, ou seja, mantém-se a
integridade da membrana sem perda de material celular.
IV.7.3 Óxido nítrico
A proteção do organismo contra uma variedade de agentes envolve, além
de outros mecanismos, a produção de óxido nítrico (NO) por diversos tipos
53
celulares, incluindo os macrófagos ativados (Ignácio et al, 2001). Sendo assim, foi
avaliado se o AM e o LED aumentavam em macrófagos elecitados a produção de
NO (figura 20).
A figura 20 demonstra que o AM sozinho não aumentou a produção de NO
e nas duas concentrações de AM estudadas na presença de luz também não se
observou nenhuma diferença significativa.
Figura 20: Produção de óxido nítrico (NO) em macrófagos infectados com
L.(V.)
braziliensis
e tratados com AM e Luz. A: Macrófago e
Leishmania
; B: Macrófago,
Leishmania
e AM 0,53mol.L
-1
; C: Macrófago e AM 0,066mol.L
-1
Como não houve aumento na produção de NO com o tratamento (AM e luz),
conclui-se que o AM/LED não atuou como um agente ativador de macrófago.
Assim o efeito não é mediado pelo NO.
IV.8 Aplicação da Terapia Fotodinâmica em hamsters infectados com
Leishmania (Leishmania) amazonesis
Afim de avaliar o potencial da Terapia Fotodinâmica como um tratamento
alternativo para leishmaniose tegumentar americana o estudo foi conduzido em
ABC
0.0
0.4
0.8
1.2
1.6
2.0
24 horas
[NO] μmol.L
-1
com luz
sem luz
ABC
0.0
0.4
0.8
1.2
1.6
2.0
48 horas
[NO]μmol.L
-1
sem luz
com luz
54
hamsters experimentalmente infectados com
Leishmania (Leishmania)
amazonesis.
Os animais foram acompanhados semanalmente quanto ao desenvolvimento
da lesão. A figura 21 mostra a espessura média das lesões, dos três grupos de
animais, expressa como a diferença entre a pata infectada e a pata contralateral
não infectada.
024681012
0.0
0.4
0.8
1.2
1.6
2.0
2.4
2.8
Espessura da lesão (mm)
Semanas pós infecção
Controle
Grupo A
Grupo B
Figura 21: Evolução da infecção avaliada pela espessura da lesão (média ± desvio
padrão)
medida pela diferença entre a pata infectada e a pata contralateral não
infectada
. Os animais foram inoculados na pata com 5x10
6
formas promastigotas de
Leishmania (Leishmania) amazonensis
e acompanhados semanalmente. O grupo controle
(n=8), o grupo A (n=14) e o grupo B (n=15)
Após todos os animais terem desenvolvido lesão, decorridos cerca de 90
dias, iniciou-se o tratamento. A figura 22 mostra a média da espessura da lesão
nas patas infectadas dos três grupos de animais: grupo controle, grupo A (AM
0,5%, m/v em loção) e grupo B (AM 0,5%, m/v em água)), acompanhada durante o
tratamento.
55
024681012
0.0
0.4
0.8
1.2
1.6
2.0
2.4
2.8
Espessura da lesão (mm)
Semanas com TFD
Controle
Grupo A - AM 0,5% loção
Grupo B - AM 0,5% água
Figura 22: Evolução da infecção avaliada pela espessura da lesão (média ± desvio
padrão). Os animais foram inoculados na pata com 5x10
6
formas promastigotas de
Leishmania (Leishmania) amazonensis
e após o desenvolvimento da lesão, foram tratados
e acompanhados semanalmente. O grupo controle (n=8) não recebeu tratamento, o grupo
A (n=14) foi tratado com AM em loção e o grupo B (n=15) foi tratado com AM em água.
Na figura 22 podemos observar que no grupo controle, o qual recebeu AM
mas não luz, a lesão continuou se desenvolvendo, mostrando que a aplicação do
corante sozinho aparentemente não afeta o desenvolvimento desta (inclusive não
ocorreu mudança no perfil de crescimento das lesões, antes e após aplicação do
AM). Contudo nos animais que receberam o tratamento, azul de metileno e luz, a
lesão regrediu significativamente (P=0,000131 e P=0,000107 nos grupos A e B,
respectivamente, comparando com o controle). Entre os grupos A e B, formulados
em loção e em água, respectivamente, não houve diferenças significativas
(P=0,470357), o que mostra que mesmo o formulado AM/água permite o contato
do corante com o parasito.
Comparando-se os grupos ao final e no início do tratamento, nota-se que
houve diferenças significativas nas espessuras dos mesmos, sendo para o grupo
A: P=0,000007 e grupo B: P=0,000003, o que comprova a eficácia do tratamento.
56
Em relação a característica física da lesão: no seu início verifica-se o
desenvolvimento de uma inflamação/nódulo dérmico (lesão edemaciada), onde a
epiderme está intacta, apenas com inchaço. Posteriormente ocorre necrose,
resultando na desintegração da pele, formando uma ulcera crostosa (lesão
crostosa) e, em seqüência e decorrente desta, uma ulcera profunda (lesão
ulcerada), (Neves, 2000). Assim o aspecto da lesão na pata dos animais foi
avaliado no período do tratamento. A tabela 5 mostra que antes do tratamento
apresentavam lesões ulceradas 14,3% e 40% dos animais do grupo A e B,
respectivamente. Após 6 semanas de tratamento 13,3% dos animais do grupo B
apresentavam lesões ulceradas enquanto que no grupo A foi de 0%. Ao término do
tratamento (12 semanas) somente animais que não haviam recebido o tratamento
(grupo controle) apresentavam lesões ulceradas, sendo que 40% e 50% dos
animais com lesões do grupo A e B, respectivamente, tiveram cicatrização
completa.
Tabela 5: Características das lesões dos animais infectados experimentalmente
com
L. (L.) amazonensis
, tratados ou não com AM e luz.
Característica da
lesão
Início
6 semanas
Final
Edemaciada 6 5 4
Crosta 2 2 2
Ulcera 0 1 2
Controle
(n=8)
Cicatrizada 0 0 0
Edemaciada 9 9 9
Crosta 3 3 3
Ulcera 2 0 0
Grupo A
(n=14)
Cicatrizada 0 2 2
Edemaciada 5 5 5
Crosta 4 9 5
Ulcera 6 0 0
Grupo B
(n=15)
Cicatrizada 0 1 5
57
Obviamente na discussão anterior de características físicas há um pouco
de subjetividade, inclusive nesta é difícil, em palavras, apontar melhoras de uma
lesão uma vez que a mesma pode ter tido boa recuperação do tecido, mas ainda
assim apresentar aspectos característicos do tipo da lesão. Para fornecer uma
melhor idéia sobre o quadro das lesões e da eficácia do método efetuou-se
registros fotográficos de todas as patas durante a aplicação do tratamento.
A figura 23 mostra a pata de dois animais infectados representativos de
cada grupo em diferentes períodos de tratamento.
1A 1B 1C
2A 2B 2C
Figura 23: Lesão na pata de hamster inoculada com 5x10
6
promastigotas de
L.(L.)
amazonensis
. A – antes do tratamento; B – 6 semanas com TFD; C – 12 semanas de
tratamento; 1 tratado com AM em água e 2 tratado com AM em loção
58
Conforme podemos observar na figura 23-1A, no início tem-se uma lesão
ulcerada, que com o tratamento forma uma crosta e depois cicatriza
completamente; dessa forma vê-se a reepitelização, regressão e cicatrização da
lesão. Segundo o manual de LTA (Ministério da Saúde, 2000) a cicatrização pode
ser utilizada como critério de cura da doença em seres humanos. Entretanto na
figura 23-2A, tem-se uma lesão ulcerada no início, que melhorou com a TFD, mas
mesmo ao final do tratamento ficou uma lesão crostosa.
Para dimensionar a atuação do tratamento avaliou-se o parasito
remanescente através da quantificação deste no baço e no linfonodo poplíteo
regional à lesão. No primeiro órgão não foram encontradas formas do parasito em
nenhum animal, logo não houve disseminação do parasito ao baço tanto em animais
tratados e não tratados.
Quanto a análise no linfonodo, no grupo de controle (8 animais) encontrou-
se parasitos em 7 animais, ou seja, em apenas 1 não encontrou-se parasitos
sugerindo que somente neste a infecção foi controlada pelo sistema imune do
animal. No Grupo A (formulado em água), dos 14 animais (houve morte natural de
1 animal antes do início do tratamento) apenas em 2 foram encontrados formas
promastigotas no linfonodo. No Grupo B (loção) dos 15 animais que receberam
tratamento, em 4 deles foi encontrado o parasito.
Na figura 24 mostra-se o valor médio da carga parasitária encontrado em
cada grupo de estudo. Nos animais que não receberam tratamento, a carga
parasitária foi significativamente maior, enquanto que nos animais tratados a
quantidade remanescente é pequena comparada ao grupo controle, sendo nos
grupos A: P=0,000171 e B: P=0,000702. Em relação às cargas parasitárias dos
animais do grupo A e B, não houve diferença estatística entre ambos
(P=0,529224), sugerindo não haver diferenças de eficiência dos formulados em
loção e em água.
59
controle Grupo B Grupo A
0.0
0.8
1.6
2.4
3.2
4.0
4.8
Log
10
(parasitas/g tecido)
*
*
Figura 24: Efeito do tratamento com a TFD sobre o número de parasitas nos linfonodos
poplíteos. (*) Significante P < 0,05 em relação ao controle – teste T de Student
De todos os animais tratados com a TFD, em 79,3% dos casos não foi
detectado o parasito no linfonodo mostrando a eficácia do tratamento, enquanto
que apenas em 20,7% apresentaram
Leishmania
residual - não resposta plena ao
tratamento. Estes resultados evidenciam a ação fotodinâmica do sistema
AM/LED mostrando que a Terapia Fotodinâmica pode ser uma boa alternativa no
tratamento de leishmaniose tegumentar americana.
60
V. CONCLUSÕES
O azul de metileno tem um máximo de absorção na região entre 600 e 800
nm (na janela fototerapêutica para TFD); sofre pouca reação de
fotobranqueamente e tem um bom valor de atividade fotodinâmica. O sistema de
LED desenvolvido foi altamente conveniente para as aplicações propostas com o
corante AM.
Os ensaios com microrganismos mostram efeitos inibitórios de
crescimento e de mortandade nas cepas estudadas na presença de azul de
metileno, com efeito altamente intensificado pela aplicação de luz, demonstrando
que o sistema AM/LED pode ser uma alternativa para o controle de bactérias e
fungos (este é um dos enfoques futuros do grupo visando-se instalações de
hospitais, indústrias alimentícias e outros). Adicionalmente os ensaios com
Artemia salina
também mostraram efeitos similares aos com microrganismos.
Os resultados
in vitro
obtidos mostram que: o tratamento com AM e luz
inibiu o crescimento de formas promastigotas de
Leishmania (Viannia)
braziliensis
em cultura; reduziu o índice fagocítico de macrófagos infectados
com promastigotas de
Leishmania (Viannia) braziliensis
e não influenciou na
produção de NO pelos macrófagos infectados. Os resultados
in vivo
sobre
hamster mostram que o sistema AM/LED: reduziu a lesão das patas infectadas
com
Leishmania (Leishmania) amazonensis
; reduziu a carga parasitária e
aumentou o percentual de cicatrização. Assim o tratamento, aplicado contra
leishmaniose,
in vitro
e
in vivo
com a TFD, mostra-se altamente promissor
podendo vir a ser uma alternativa no tratamento clínico de pacientes.
61
VI. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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