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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS
PROGRAMA DE PÓS
-
GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO
MARKETING ESPORTIVO NO FUTEBOL: um olhar à
luz do paradigma do marketing de relacionamento
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
Ma
uro Myskiw
Santa Maria, RS, Brasil
2006
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MARKETING ESPORTIVO NO FUTEBOL: um olhar à luz do
paradigma do marketing de relacionamento
por
Mauro Myskiw
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado do Programa de Pós
-
Graduação em Administ
ração, Área de Concentração em Estratégia e
Competitividade, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, RS),
como requisito parcial para obtenção do grau de
Mestre em Administração.
Orientador: Prof. Rudimar Antunes da Rocha
Santa Maria, R
S, Brasil
2006
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© 2006
Todos os direitos autorais reservados a Mauro Myskiw. A reprodução de partes ou
do todo deste trabalho só poderá ser com autorização por escrito do autor.
Endereço: Rua Caramuru, 678, ap. 302, Centro
, Pato Branco, PR, 85501
-
060
Fone (0xx)46 32250616; End.
Universidade Federal de Santa Maria
Centro de Ciências Sociais e Humanas
Programa de Pós
-
Graduação em Administração
A Comissão Examinadora, abaixo assinada,
aprova a
Dissertação de Mestrado
MARKETING ESPORTIVO NO FUTEBOL: um olhar à luz do
paradigma do marketing de relacionamento
elaborada por
Mauro Myskiw
como requisito parcial para obtenção do grau de
Mestre em Administração
COMISSÃO EXAMINADORA:
Rudim
ar Antunes da Rocha, Dr.
(Presidente/Orientador)
Milton Luiz Wittmann, Dr.
(UFSM)
Sérgio Carvalho, Dr.
(UFSM)
Santa Maria, 03 de março de 2006.
Dedico o trabalho à Jociane, minha
esposa.
Dedico a meus pais, Nestor e Leocádia, e
a meu irmão Antonio.
AGRADECIMENTOS
Agradeço ao Professor Rudimar Antunes da Rocha, pela oportunidade e pelas
contribuições no desenvolvimento do trabalho.
Agradeço ao Programa de Pós
-
Graduação em Administração, pela acolhida deste
Professor de Educação Física.
Agradeço à FADEP, aos Coordenadores dos Cursos e a todos os colegas de
trabalho, que entenderam minhas viagens e me ajudaram a coletar os dados.
Agradeço aos Professores do Curso de Mestrado do Programa de Pós-
Graduação
em A
dministração (UFSM), pelos momentos ímpares de aprendizagem.
Agradeço aos Professores Sérgio Carvalho e Milton Luiz Wittmann, pelas
contribuições no momento da qualificação do trabalho e no momento da defesa.
Agradeço a meus pais (Nestor e Leocádia) e me
us sogros (Hélio e Irene), pelo apoio
incondicional na realização do trabalho, mesmo que isso resultasse em
distanciamento da família.
Agradeço aos Colegas do Mestrado, pelas lições mútuas decorrentes das aulas e
confraternizações.
Agradeço a Weber Cláud
io Francisco Nunes da Silva, que cedeu um espaço no
apartamento para que eu pudesse realizar a coleta de dados.
Agradeço à Jociane de Carvalho Myskiw, pelas contribuições na leitura e correções
do trabalho.
RESUMO
Dissertação de Mestrado
Programa de Pó
s-
Graduação em Administração
Universidade Federal de Santa Maria
MARKETING ESPORTIVO NO FUTEBOL: UM OLHAR À LUZ DO
PARADIGMA DO MARKETING DE RELACIONAMENTO
A
UTOR
: M
AURO
M
YSKIW
O
RIENTADOR
: R
UDIMAR
A
NTUNES DA
R
OCHA
Data e Local da Defesa: Santa Maria, 27 d
e fevereiro de 2006.
O marketing de relacionamento está re
-
emergido com potencial para uma nova visão
de marketing. Em grande parte das áreas de negócios essa abordagem vem
sendo pesquisada, mas na área dos negócios esportivos existe uma lacuna no que
se refere a este paradigma de marketing. Diante disso, optou-se pela pesquisa na
modalidade de futebol, por ser esta a maior expressão dos negócios esportivos do
Brasil, cujo espetáculo esportivo atualmente somente é possível na intersecção de
relacionamen
tos entre clubes, entidades de administração, torcedores, veículos de
comunicação e investidores, uma organização imaginária aqui denominada de
“núcleo de produção do produto futebol”. E, sabendo da importância da confiança e
do comprometimento como constructos do marketing de relacionamento, o objetivo
do trabalho foi conhecer os fatores que determinam confiança e comprometimento
nos relacionamentos entre os agentes do núcleo de produção do futebol. A pesquisa
foi do tipo quali-quantitativo, com delineamento exploratório. Os dados do estudo
foram encontrados nas relações estabelecidas pelos agentes do núcleo, por ocasião
da realização do Campeonato Gaúcho de Futebol. A seleção da amostra foi não-
probabilística, de modo intencional, por conveniência.
Partici
param da amostra 22
pessoas, sendo: 7 ligadas aos clubes; 2 à Entidade de Administração do Futebol; 5
às Torcidas Organizadas dos Clubes; 5 à Mídia Esportiva e 3 aos investidores. A
coleta de dados foi realizada por meio de entrevista semi-estruturada. As
entrevistas
foram gravadas e transcritas. As informações foram submetidas à análise de
conteúdo. Num primeiro momento, foram feitos recortes temáticos para compor as
unidades de registro e, posteriormente, estas unidades foram alocadas em
categorias e sub-categorias. Após a apresentação e discussão dos resultados,
concluiu
-se que os fatores determinantes da confiança e comprometimento são
objetivos e funcionais no caso dos relacionamentos entre o Clube e Federação
Gaúcha de Futebol, Mídia Esportiva e Investidores. Nesses relacionamentos, em
função da natureza dos fatores, pode-se inferir que os limites entre as organizações
são mais claros e fixos, o que estaria justificando este tipo de interação. Já, quando
se trata do relacionamento entre o Clube e Torcedores e entre o Clube e os Clubes
Adversários, os fatores estão vinculados a questões subjetivas e afetivas, em torno
do desenvolvimento de projetos futuros. Nesse caso, os limites entre as
organizações e agentes são mais obscuros, pois interpenetram a subjetividade de
ambos, fazendo com que exista maior cumplicidade nas interações.
Palavras
-
chave:
marketing de relacionamento, espetáculo de futebol, confiança e
comprometimento.
ABSTRACT
Master Dissertation
Post Graduation Program in Administration
Federal
University of Santa Catarina
SPORTING MARKETING IN SOCCER: A VIEW TO THE LIGHT OF
THE RELATION MARKETING PARADIGM
A
UTHOR
: M
AURO
M
YSKIW
T
UTOR
: R
UDIMAR
A
NTUNES DA
R
OCHA
Date and Local of Defence: Santa Maria, March 3rd, 2006
The relationship marketing is re-emerged with a potential for a new view of
marketing. In a great part of business areas this approach has been researched, but
in the sporting business there is a lack in which refers to this marketing paradigm.
Because of this, it was decided by the research in soccer modality, for being this the
biggest expression in the sporting business of Brazil, whose sporting spectacle
nowadays is just possible in the intersection of relationship among clubs,
administration entities, cheers, media, and investors, an imaginary organization here
denominated of “production nucleus of soccer product”. And, knowing of the
importance of the trust and the commitment as builders of relationship marketing, the
aim of the work it was to know the factors who determine the commitment in the
relationships between the agents of the soccer production nucleus. The research was
in the kind of quali-quantitative, with an exploratory delineation. The data from the
study were found in the relations established by the agents of the nucleus, by the
occasion of the accomplishment of the Gaúcho Championship of Soccer. The sample
selection was non probabilistic, in an intentional way, by convenience. Twenty two
people took part of the sample, being: seven connected to the clubs, two to the
Soccer Administration Entity, five to the Clubs Organized Cheers, five to the Sporting
Media, and three to the investors. The data collection was done by semi-
structured
interview. The interviews were recorded and transcribed. The information were
submitte
d to a contend analysis. In a first moment, they were done thematic pruning
to compound the register unities and, later, these unities were disposed in categories
and sub-categories. After the presentation and discussion of the results, it is
concluded tha
t the determined factors of the trust and commitment are objectives and
functional in the case of the relationship between the Club and the Gaúcha Soccer
Federation, Sporting Media and Investors. In these relationships, because of the
factors nature, it can infer that the limits among the organizations are clearer and
fixed, what would be justifying this kind of interaction. And, when it is mentioned
about the relationship between the Club and the Cheers and between the Club and
the Adversaries, the factors are linked to subjective and affective questions, on the
development of future projects. In this case, the limits between the organizations and
agents are more obscure, so they interpenetrate the subjectivity of parts, making with
there is more complicity
in the interactions.
Key words:
Relationship marketing, soccer spectacle, trust and commitment.
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1
Esquema de relacionamentos entre os agentes do núcleo de produção
do produto futebol.
................................................................................................
......
57
FIGURA 2
Quadro sinóptico dos fatores determinantes do comprometimento e
confiança no relacionamento entre Clube e Clubes Adversários.
.............................
59
FIGURA 3
Quadro sinóptico dos fatores determinantes do comprometimento e
confiança no relacionamento entre Clube e Entidade de Administração do Desporto.
................................................................................................
..............
64
FIGURA 4
Quadro sinóptico dos fatores determinantes do comprometimento e
confiança no relacionamento entre Clube e torcedores.
................................
...........
71
FIGURA 5
Quadro sinóptico dos fatores determinante
s do comprometimento e
confiança no relacionamento entre Clube e mídia esportiva.
....................................
81
FIGURA 6
Quadro sinóptico dos fatores determinantes do comprometimento e
confiança no relacionamento ent
re Clube e investidores.
................................
.........
90
FIGURA 7
Quadro sinóptico dos fatores determinantes do comprometimento e
confiança nos relacionamentos entre os parceiros do clube.
................................
...
99
FIGURA 8
Mapa axiológico das principais conclusões do estudo.
.....................
114
LISTA DE SIGLAS
CBF
-
Confederação Brasileira de Futebol
CONMEBOL
-
Confederação Sulamericana de Futebol
FGF
-
Federação Gaúcha de Futebol
FIFA
-
Federação Internacional de Futebol Associado
SUMÁRIO
1
INTRODUÇÃO
................................................................................................
12
1.1
Objetivos do estu
do
................................
................................
.........................
14
1.1.1
Objetivo Geral
................................................................................................
..
14
1.1.2
Objetivos Específicos
................................................................
......................
14
2 M
ARKETING DE RELACIONAMENTO: EM DIREÇÃO A UMA MUDANÇA
DE PARADIGMA
........................................................................................................
18
2.1
Do marketing
mix
ao marketing de relacionamento
........................................
18
2.2
Definição e objetivos do marketing de relacionamento
................................
...
20
2.3
Determinantes da manutenção e reforço nas trocas relacionais
....................
22
2.4
Fatores determinantes da confiança e do comprometimento
.........................
25
3
MARKETING DE RELACIONAMENTO EM CLUBES DE FUTEBOL
...........
32
3.1
Evolução do futebol como produto
................................................................
..
32
3.2
Marketing esportivo e o futebol brasileiro
........................................................
34
3.3
Marketing de clubes à luz do marketing de relacio
namento
...........................
36
3.3.1
Relacionamentos do clube
................................................................
..............
38
3.3.2
Relacionamentos do núcleo de produção do espetáculo
...............................
38
3.3.3
Relacionamentos clássicos
................................
................................
.............
39
3.3.4
Relacionamentos especiais
................................
................................
.............
40
3.3.5
Macro
-
rela
cionamentos
................................................................
...................
42
3.4
Papéis e objetivos nas interações do núcleo de produção
.............................
42
3.4.1
Relacionamento entre clube e clubes adversár
ios
................................
.........
42
3.4.2
Relacionamento entre clube e entidade de administração
.............................
44
3.4.3
Relacionamento entre clube e torcedores
................................
.......................
44
3.4.4
Relacionamento entre clube e mídia esportiva
................................
...............
46
3.4.5
Relacionamento entre clube e investidores
....................................................
46
4
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
................................
.......................
48
4.1
Tipo de pesquisa
................................
................................
.............................
48
4.2
Local
................................................................................................................
49
4.3
População e amostra
................................................................
.......................
49
11
4.4
Instrumentos de coleta de dados
....................................................................
52
4.5
Procedimentos de co
leta de dados
................................
................................
.
52
4.6
Procedimentos de análise de dados
................................
...............................
53
4.7
Limitações do estudo
................................................................
.......................
55
5
RESULTADOS E DISCUSSÃO
................................................................
......
56
5.1
Relacionamento entre Clube e Clubes Adversários (R1)
...............................
58
5.2
Relacionamento
entre Clube e a Federação Gaúcha de Futebol (R2)
...........
63
5.3
Relacionamento entre Clube e Torcedores (R3)
................................
.............
70
5.4
Relacionamento entr
e Clube e Mídia Esportiva (R4)
................................
......
80
5.5
Relacionamento entre o Clube e Investidores (R5)
........................................
89
5.6
Relacionamentos entre os parceiros
do núcleo de produção (R6 a R12)
......
98
6
CONSIDERAÇÕES FINAIS
................................................................
..........
107
6.1
Considerações sobre os determinantes da confiança
................................
..
107
6.2
Considerações sobre os determinantes do comprometimento
.....................
110
6.3
Conclusões
................................................................................................
....
113
6.4
Sugestões de estudos complementares
................................
.......................
117
REFERÊNCIAS
................................................................................................
........
118
APÊNDICES
................................................................................................
.............
123
1
INTROD
UÇÃO
O desenvolvimento e disseminação de tecnologias, surgimento da sociedade
do conhecimento, interconexão e interdependências das economias dos países,
crescimento da economia de serviços e foco na cooperação para reter clientes e
competir, são alguns fatores ambientais que têm levado a mudanças significativas
no contexto dos negócios.
O foco no produto, na competição e na transação tem sido crescentemente
substituído pelo foco na cooperação mútua e na interdependência (SHETH;
PARVATIYAR, 1995), na troca relacional (WEBSTER, 1992; MORGAN; HUNT,
1994), na rede de relacionamentos e interações (GUMMESSON, 1994, 1996 e
1999), na manutenção e reforço crescente dos relacionamentos por longo prazo
(DWYER
et al., 1987; ANDERSON; NARUS, 1990; PAYNE, 1994;
TZOKAS;
SAREN, 2004) e no desenvolvimento de um centro de competências
(GUMMESSON, 1991; DOYLE, 1995; GRÖNROOS, 1999).
Essa abordagem emergente, denominada marketing de relacionamento,
não
é nova, pois é a conjunção de contribuições do marketing
mix
, do marketing
industrial, do marketing de serviços, do movimento de administração da qualidade
total e da teoria das organizações. É definido por Grönroos (1997, p. 407), como
o processo de identificar, estabelecer, manter, reforçar e, quando
necessário, terminar relacionamentos com clientes e outros
stakeholders
,
com lucro, mas que o objetivo de todas as partes envolvidas sejam
satisfeitos, isto feito numa troca mútua e atendimento das promessas.
Nesse processo, dois conceitos passaram a ocupar centralidade na
sustenta
ção e nutrição das trocas relacionais (MORGAN; HUNT, 1994): a confiança
e o comprometimento. A confiança está relacionada à crença de que a outra parte
do relacionamento agirá da maneira esperada (SCHURR; OZANE, 1985;
ANDERSON; WEITZ, 1989; ANDERSON; NARUS
, 1990) e o comprometimento trata
da disposição das partes envolvidas no relacionamento para executar esforços
máximos para mantê
-
lo e melhorá
-
lo (DWYER
et al., 1987; MORGAN; HUNT, 1994).
Esses pressupostos do marketing de relacionamento, afirmam Slongo
et
al.
(2004), foram bastante utilizados e testados em diferentes indústrias e países, e
têm sido de grande valia para a prática empresarial. Apesar disso, na área esportiva
esses conceitos ainda não são correntes, bastando verificar as contribuições de
13
autores sobre marketing esportivo, como Melo Neto (1986, 1998 e 2000), Contursi
(1996), Brunoro e Afif (1997), Pozzi (1998), Caballero Lois e Carvalho (1998),
Afif
(2000),
Grelet (2000), Hawilla (2000), Vaz (2000) e Cardia (2004), que
não
demonstram preocupação maior com os relacionamentos, redes e interações nas
organizações esportivas.
Portanto, existe uma lacuna a ser preenchida pelo marketing esportivo, que
está relacionada ao exercício de “olhar para as organizações esportivas com as
lentes do marketing de relacionamento”. Em face disso, neste trabalho, procura-
se
abordar o marketing em clubes de futebol profissional, maior expressão dos
negócios esportivo do país, à luz do paradigma do marketing de relacionamento.
O marketing, em clubes de futebol profissional, talvez mais do que em
qualquer outra área de negócios, necessita ser pensado na lógica das parcerias
estratégicas, do
continuum
de relações em direção às trocas relacionais, tal como
sugeriu Webster (1992). Isso porque, na produção do espetáculo esportivo, os
clubes de futebol historicamente constituíram “inter-relações necessárias” com as
entidades de administração do desporto (Associações, Confederações, Federações,
Ligas), com os torcedores (campo do lazer), com os veículos de comunicação
(campo
midiático) e os investidores (campo da economia/negócios).
A relação de interdependência constituída com estes campos, no processo
de produção-consumo simultâneo do produto esportivo forma uma “
organização
imaginária
”, onde os vínculos são tão importantes que, atualmente, o valor do
espetáculo esportivo somente pode ser desenvolvido na interface de
relacionamentos com estes agentes (clubes, torcedores, veículos de comunicação e
investidores), sendo o futebol um produto de natureza agregada e complementar,
como afirmou Minquet (2001).
Em virtude dessas características, que colocam o desenvolvimento e
entrega de valor do produto futebol em um cleo de produção (constituído pelos
clubes, entidades de administração do desporto, torcedores, veículos de
comunica
ção e investidores), supõe-se que o processo de marketing, em clubes de
futebol profissional, deve dispor de competências e habilidades para combinar seus
recursos com os outros agentes, procurando uma integração vertical possível que
produza benefícios e
atendimento de objetivos mutuamente.
Essa tarefa de marketing esportivo em clubes de futebol profissional, à luz
do marketing de relacionamento, pode ser pensada na lógica de desenvolvimento
14
dos níveis de confiança e comprometimento entre os agentes parcei
ros do núcleo de
produção do espetáculo de futebol. Mas, para tanto, a priori,
deve
-se conhecer os
fatores que determinam um maior ou menor grau de confiança no relacionamento
entre os clubes e demais agentes, produtores-consumidores do espetáculo de
futeb
ol.
Tal dúvida motivou a realização do presente estudo, que tem como propósito
abordar o futebol espetáculo à luz do paradigma do marketing de relacionamento
para desvelar a seguinte questão: Quais fatores determinam a
confiança
e o
comprometimento
nos relacionamentos entre o clube (centro de competências) e os
demais agentes do núcleo de produção do futebol profissional (parceiros
estratégicos) no espetáculo esportivo denominado Campeonato Gaúcho de Futebol
(organização imaginária)?”. Para dar conta de operacionalizar este problema de
pesquisa, foram traçados os seguintes objetivos.
1.1
Objetivos do estudo
Em termos de objetivos, apresenta-se num primeiro momento o objetivo
geral, que indica “onde se deseja chegar” com a pesquisa e, num segundo
momento, os objetivos específicos, que procuram apontar caminhos operacionais do
desenvolvimento do trabalho.
1.1.1
Objetivo Geral
Abordar o futebol espetáculo à luz do paradigma do marketing de
relacionamento para conhecer fatores que determinam a confiança e o
comprometi
mento nos relacionamentos entre o clube e os demais agentes do núcleo
de produção do futebol no espetáculo esportivo denominado Campeonato Gaúcho
de Futebol.
1.1.2
Objetivos Específicos
Identificar os fatores determinantes da confiança e do comprometimento no
relacionamento entre o clube e os clubes adversários.
Verificar os fatores determinantes da confiança e do comprometimento no
relacionamento entre o clube e a Federação Gaúcha de Futebol.
15
Conhecer os fatores determinantes da confiança e do comprometimento
no
relacionamento entre o clube e os torcedores (representados pela Torcida
Organizada).
Averiguar os fatores determinantes da confiança e do comprometimento no
relacionamento entre o clube e a mídia esportiva.
Apurar os fatores determinantes da confiança e do comprometimento no
relacionamento entre o clube e os Investidores.
Apontar os fatores determinantes da confiança e do comprometimento nos
relacionamentos entre os agentes em torno dos relacionamentos com o clube.
Traçados os objetivos necessários a resolução do problema de pesquisa,
apresenta
-se elementos que justificam a importância do estudo, bem como das
escolhas até então definidas na delimitação do contexto e das variáveis de estudo.
1.2
Justificativa
De modo geral, é possível perceber que os fundamentos do marketing
esportivo brasileiro estão baseados nos pressupostos do marketing tradicional,
transacional. E, frente a emergência do marketing de relacionamento, abordagem
que busca seus fundamentos em outros referenciais, justifica-se este trabalho
como
um olhar para o marketing esportivo com “outras lentes”.
Estas lentes são fortemente influenciadas por uma abordagem sistêmica-
estruturalista do marketing. Com base nesse olhar, o estudo procura dar uma
contribuição para a compreensão do marketing em clubes de futebol, prestando
atenção nos relacionamentos empreendidos entre os agentes do núcleo de
produção, especificamente o “sistema de relações”, através dos
constructos
confiança e comprometimento.
O trabalho refere-se a um esforço de continuidade na compreensão do
marketing nos clubes de futebol profissional. Conforme constatações de estudo
anterior (MYSKIW, 2003), a incorporação do composto de marketing tradicional na
administração futebol, por si só, não consegue dar conta de uma série de relações
importantes para o desenvolvimento de uma relação duradoura entre o provedor e o
consumidor dos produtos na área, tamanha é a complexidade dos relacionamentos
16
envolvidos nessa transação, sobretudo entre o clube, clubes adversários, entidade
de administraçã
o, torcedores, mídia esportiva e investidores.
Assim, com o propósito de olhar com mais amplitude a complexidade do
marketing em clubes, propõe-se prestar atenção nos relacionamentos da
“organização imaginária” que desenvolve o valor do produto futebol. A
organização
escolhida para a pesquisa foi o espetáculo futebolístico denominado Campeonato
Gaúcho de Futebol, considerando ser esta competição muito tradicional no cenário
esportivo nacional e estadual, e pela polarização existente entre dois clubes que a
disputam (Grêmio
Foot
-
Ball
Porto
-Alegrense e Sport Club Internacional de Porto
Alegre), além dos esforços da Federação Gaúcha de Futebol em termos de
representatividade dos clubes e da situação de um dos clubes (o Grêmio
Foot
-Ball
Porto
-Alegrense) que, mesmo com grande reputação, no ano de 2004 foi rebaixado
e disputou a Série B do Campeonato Nacional de Futebol. Tais condições, portanto,
formaram um ambiente significativo para o estudo das variáveis confiança e
comprometimento entre os agentes do núcleo de
produção do futebol.
1.3
Apresentação
Além da introdução (primeiro capítulo), o estudo foi composto por outras
cinco partes. No segundo capítulo, foi abordado o marketing de relacionamento
como um fenômeno re-emergente, em contraponto à perspectiva transacional. Para
tanto, foram apresentados fatores que influenciaram nesta mudança, raízes e
origens desta proposta, definições e conceitos (fundamentos) centrais dessa
perspectiva.
O terceiro capítulo tratou do papel do marketing esportivo no
desenvolvimento e entrega de valor do produto futebol, sendo apresentado uma
breve contextualização do produto futebol e do marketing esportivo, na realidade
nacional, e um olhar para o marketing de clubes, através das “lentes” do marketing
de relacionamento, com foco especial para a rede de relacionamentos que compõe
o núcleo de produção do jogo
-
espetáculo.
No quarto capítulo, foram apresentadas as escolhas metodológicas do
processo de pesquisa, descrevendo e justificando aspectos como o tipo de
abordagem ao problema e ao objetivo geral do estudo, os procedimentos e critérios
17
de seleção da população e amostra, o instrumento e passos para a coleta de dados
e os procedimentos de análise dos dados coletados.
O trabalho de apresentação e discussão dos resultados foi apresentado
no
capítulo cinco do trabalho, momento em que os dados organizados, em unidades de
registro, categorias e sub-categorias foram trazidos na forma de quadros sinópticos
e, posteriormente, foram descritos e discutidos com base nos fundamentos do
marketing de
relacionamento.
Por último, no capítulo seis, denominado considerações finais, frente a
demanda dos objetivos do trabalho, foram produzidas argumentações possíveis a
partir dos resultados apresentados e discutidos para resolver o problema de
pesquisa inici
almente elaborado.
2 MARKETING DE RELACIONAMENTO: EM DIREÇÃO A UMA
MUDANÇA DE PARADIGMA
O marketing de relacionamento é um fenômeno emergente, mas não
recente. Sheth e Parvatiyar (1995), no levantamento dos fundamentos da evolução
do marketing de relacionamento, afirmam que a orientação para o relacionamento
dos negócios esteve presente na era pré-industrial e que, com o advento da
produção em massa e a separação da produção e consumidor, na era industrial, o
marketing esteve orientado para a transação. Porém, com o surgimento de novas
tecnologias e um agressivo contexto econômico, a orientação para o relacionamento
volta a ser possível e necessária.
Para compreender e fundamentar essa mudança de paradigma na prática e
pesquisa de marketing, no presente capítulo serão abordados fatores que
influenciaram essa mudança, as raízes e origens dessa proposta emergente, as
definições e conceitos (fundamentos) centrais dessa perspectiva.
2.1
Do marketing
mix
ao marketing de relacionamento
A lógica da mistura de ingredientes (
mix
), muito explorada pelos
profissionais de marketing, foi introduzida no início da década de 1950 por Neil
Borden e desenvolvida mais tarde por McCarthy, com o destaque dos 4 Ps: produto,
preço, promoção e praça (VAN WATERSCHOOT; VAN DEN BULTE, 1992). Na
medida em que estes Ps foram ficando insuficientes, frente às novas características
da economia, outros ingredientes foram sendo acrescentados à lista, como política,
relações públicas, pessoas, processos, entre outras. Porém, no modelo de mark
eting
que foi desenvolvido no período de industrialização, de consumo de bens duráveis e
marketing de massa, por mais que sejam grandes os esforços de expansão das
suas variáveis, não se consegue fundamentar de maneira consistente a prática do
marketing, especialmente nas áreas do
business
-
to
-
business
e de serviços
(GUMMESSON, 1994; GRÖNROOS, 1997).
A questão central é que a facilidade do marketing
mix,
delegado a
especialistas, muitas vezes separados das atividades da empresa, não tem
sustentado adequadamente as necessidades dos clientes, justamente porque sua
19
base fundamental está orientada para a prodão, entrega, serviço cnico,
manuseio de reclamão, faturamento e outras atividades da empresa e não para o
mercado ou consumidor (GRÖNROOS, 1989, 1997).
Para fugir dessa armadilha de transformar consumidores em números e
estatísticas, e para não correr o risco de ficar longe da realidade dos clientes, uma
proposta emergente é o marketing de relacionamento que, para enfrentar a
competição, altera o foco do
mix
de ingredientes para a regulação, cooperação e
trocas relacionais.
Essa mudança de paradigma não emerge por acaso, afirmam Hunt e
Morgan (1994) e Sheth e Parvatiyar (1995), mas em decorrência de alterações
significativas no contexto dos negócios, como o desenvolvimento e disseminação de
tecnologias, especialmente a tecnologia de informação; o surgimento da sociedade
do conhecimento; a interconexão e interdependência das economias dos países; o
crescimento da economia de serviços; o desenvolvimento organizacional de
processos importantes, para autorizar pessoas e equipes (
empowerment
); e
aumento da intensidade da competição, elevando a preocupação para a retenção do
cliente.
Para fazer frente a essas mudanças, com base nesse enfoque emergente, o
marketin
g coloca o relacionamento, rede e interações no centro dos fundamentos
(GUMMESSON, 1994), valorizando processos vinculados ao estabelecimento,
nutrição, desenvolvimento e manutenção de relacionamentos bem sucedidos com
todas as organizações parceiras de tr
oca
as trocas relacionais (HUNT; MORGAN,
1994).
Esse enfoque do marketing, explicam Gummesson (1991, 1994, 1999) e
Grönroos (1989, 1997), soma contribuições do próprio marketing mix (no que se
refere ao relacionamento entre provedor de bens/serviços e consumidor, à
competição entre o provedor atual e o concorrente, as redes de distribuição e a
imagem da marca); do marketing industrial (no que se refere à longevidade e
estabilidade dos relacionamentos, a importância da colaboração, a importância dos
custos
de transação e interrupção dos custos, a participação ativa das partes
envolvidas, a importância do poder e do conhecimento e a importância da
tecnologia, procedimentos e logística); do marketing de serviços (no que se refere à
noção de todos os empregados estarem envolvidos, aos relacionamentos além dos
próprios serviços, a necessidade de haver um relacionamento fechado com os
20
clientes, ao cuidado com o consumidor descontente e sua recuperão, a introdução
da lógica do mercado dentro da própria organização e a interão dos clientes
internos para além da hierarquia da empresa); do movimento de administração da
qualidade total (no que se refere à aproximão da fuão de produção e de
marketing, ao relacionamento com os clientes internos, ao estabelecimento de
colaboração inter-hierarquical e interfuncional, e ao foco na satisfão do
consumidor); e da teoria das organizações (no que se refere a novos modelos
perceão e descrição, sobretudo no olhar de rede e interações
interorganizacionais).
Considerado como rede, o marketing de relacionamento transcende a visão
de compradores e vendedores num mercado, para estabelecer a imagem de uma
organização imaginária que dissolve os limites entre a empresa, consumidor,
parceiros, fornecedores. Nesse caso, afirma Gummesson (1996), o processo de
marketing deve procurar tornar um cliente parte da organização provedora, ao
mesmo tempo em que os empregados devem se aproximar do consumidor.
Esse enfoque faz com que a habilidade de construir e sustentar redes
internas e externas se torne crucial para a administração, pois será o motor para o
desenvolvimento do centro de competências (DOYLE, 1995), cuja tarefa será
combinar seus recursos com outras organizações para o desenvolvimento do valor,
uma vez que o valor desejado pelo cliente não é criado sozinho pela empresa,
demandando da contribuição de outros participantes/colaboradores do negócio.
Essa contribuição, de acordo com Min e Mentzer (2000), Gordon (1998) e Kotler
(2001), surge do compromisso desses participantes/colaboradores e do alinhamento
deles com os propósitos de relacionamento que se está instituindo com o cliente.
2.2
Definição e objetivos do marketing de relacionamento
Com base na mudança de paradigma, pode-se compreender que o
marketing se trata de relacionamento, rede e interações, tal como definiu
Gummesson (1994, 1996 e 1999), onde a rede é o conjunto de relacionamentos e as
interações são o conjunto de atividades desenvolvidas nesta rede de
relacionamentos.
Nessa perspectiva, o marketing torna-se um processo, um canal de
atividades, sendo definido por Grönroos (1997) como “o processo de identificar,
21
estabelecer, manter, reforçar e, quando necessário, terminar relacionamentos com
clientes e outros
stakeholders
, com lucro, mas que o objetivo de todas as partes
envolvidas sejam satisfeitos, isto feito numa troca mútua e atendimento das
promessas” (p. 407).
A ênfase na cooperação, na interdependência, em contraponto à competição
e ao comportamento oportunista, refere-se ao estabelecimento de uma troca
relacional,
definida por Morgan e Hunt (1994) como uma troca que deixa um rastro,
prevendo conformidade e sendo de longa duração, refletindo um processo em
andamento.
Esse tipo de troca tem que ser continuamente motivada para conseguir
manter a vantagem competitiva, afirma Webster (1992), chamando a atenção para
uma nova forma organizacional e o novo papel do marketing. Com base na
abordagem de organização em rede, o autor sugere um
continuum
do
relacionamento que vai da transação entre dois atores econômicos até a e
strutura
de redes organizacionais, que são estruturas corporativas resultantes de múltiplos
relacionamentos, parcerias e alianças estratégicas.
Esse papel do marketing leva a uma outra necessidade, o espalhamento por
toda a empresa e organização imaginária
, nas interseções dos negócios. E, para dar
conta destas questões, Gummesson (1994) determina que os amplos objetivos da
empresa serão: 1) estabelecer o
portfólio
de relacionamentos essencial para o
negócio e manusear habilidosamente para mantê-lo; e 2) calcular os custos e
receitas dos relacionamentos e a contribuição nos lucros do
portfólio
.
A base do marketing de relacionamento é que a atração de novos clientes é
meramente o primeiro estágio do processo (PAYNE, 1994;
TZOKAS; SAREN, 2004
).
Portanto, os objetivos não se restringem a encontrar os mais lucrativos clientes,
sendo necessário desenvolver tais relacionamentos até estes chegarem a ser
parceiros, quando, então, efetivamente se integram à organização provedora.
Somente estabelecer contato com um potencial cliente e atingir as primeiras
vendas, esclarece Grönroos (1989), custa tanto que o retorno tido é mínimo ou a
mesmo negativo. É somente quando o relacionamento é continuado, que os lucros
virão para o provedor.
Payne (1994) aponta várias razões para a lucratividade da retenção dos
clientes: 1) vendas, marketing e custos de ajustes são amortizados ao logo do tempo
de consumo; 2) os gastos dos clientes aumentam com o tempo; 3) clientes que
22
repetem freqüentemente diminuem o custo dos serviços; 4) clientes satisfeitos
proem referência; e 5) consumidores satisfeitos podem ser preparados para pagar
um preço por melhor qualidade.
Feito o levantamento do retorno do relacionamento, quando não existe a
possibilidade de benefícios (econômicos ou o-
econôm
icos) deve-se terminar com
tais relacionamentos. Estrategicamente, salientam Peppers e Rogers (1994 e 1995)
e Gordon (1998), a organização provedora deve saber manter os relacionamentos
que efetivamente forneçam benefícios, “despedindo” os demais, embora esta nem
sempre seja uma tarefa fácil.
Por outro lado, os relacionamentos que trazem benefícios devem ser
continuamente nutridos e reforçados, sendo que o caminho para o compromisso,
para a fidelização da outra parte no relacionamento, perpassa pelo desenvo
lvimento
de esforços que determinem os altos níveis de confiança e comprometimento entre
as partes.
As alterações nos níveis de confiança e comprometimento nos
relacionamentos levam a resultados como: a antecipação da futura integração
(CROSBY
et al., 1990); menor propensão para o oportunismo, isto é, para deixar e
para procurar relacionamento alternativo (MORGAN; HUNT, 1994; BENDAPUDI;
BERRY, 1997; WETZELS et al., 1998); menor assimetria no comprometimento
(GUNDLACH
et al., 1995); mais atitudes em direção ao parceiro e à lealdade
(SCHURR; OZANE, 1985); mais comportamentos distributivos que tornam os
conflitos funcionais e diminuem a vida na tomada de decisão (
ANDERSON;
NARUS, 1990;
MORGAN; HUNT, 1994)
.
2.3
Determinantes da manutenção e reforço nas trocas rel
acionais
Por décadas, a satisfação, o poder, o conflito e o oportunismo foram
constructos centrais dos relacionamentos de troca. Mas, na perspectiva do
marketing de relacionamento, houve a necessidade de ampliar esse foco. Mais
recentemente, confiança (ANDERSON; NARUS, 1990; MOORMAN et al., 1992;
MORGAN; HUNT, 1994) e comprometimento (DWYER et al., 1987; ANDERSON;
WEITZ, 1989; MORGAN; HUNT, 1994; GUNDLACH et at., 1995) passaram a ocupar
lugar central no processo de estabelecimento, manutenção e desenvolvimento das
trocas relacionais.
23
A confiaa e o comprometimento o variáveis chaves do relacionamento
(MORGAN; HUNT, 1994), porque encorajam os profissionais de marketing para: 1)
trabalhar com preservação de investimentos, em relacionamentos de cooperação,
com trocas entre parceiros; 2) resistir frente a atrativas alternativas de curto prazo,
em favor dos benefícios do relacionamento de longo prazo com seus parceiros; e 3)
ver potencialmente ões de alto risco com pruncia, porque a crea de seus
parceir
os não é ato oportunista.
Embora reconheçam que existem muitos outros fatores que contribuem para
o sucesso ou falha dos esforços de marketing de relacionamento, Morgan e Hunt
(1994) salientam que é fundamental e central a presença de relacionamentos
confi
áveis e comprometidos para o sucesso. Comprometimento e confiança, quando
estão presentes nas trocas relacionais, produzem resultados que promovem
eficiência, produtividade e efetividade.
A confiança é a disposição para contar com um parceiro numa relação
de
troca, havendo uma capacidade de aceitar a vulnerabilidade face à incerteza
(MOORMAN
et al., 1992; MORGAN; HUNT, 1994) e mediante a expectativa
generalizada de que outra organização executa ações que resultarão em
resultados positivos para a empresa, bem como não agirá inesperadamente
desencadeando resultados negativos para essa (SCHURR; OZANE, 1985;
ANDERSON; WEITZ, 1989; ANDERSON; NARUS, 1990).
A confiança é necessária para uma empresa entrar no campo de
consideração do parceiro (DONEY; CANNON, 1997), podendo ter duas
características distintas (GEYSKENS et al., 1998): 1) confiança na honestidade do
parceiro, no que se refere à crença que aquele parceiro estará pronto para fazer seu
trabalho, cumprir as obrigações prometidas e com sinceridade (DWYER
et
al., 1987;
ANDERSON; NARUS, 1990); e 2) confiança na benevolência do parceiro, que se
refere a aquele parceiro interessado no bem estar da empresa e nos ganhos a
serem obtidos juntos (CROSBY et al., 1990), e que não fará ações inesperadas que
tenha impact
o negativo na empresa (ANDERSON; NARUS, 1990).
A confiança é a pedra angular da estratégia de parceria. Morgan e Hunt
(1994) acreditam que “a confiança é o maior determinante do relacionamento
comprometido” (p. 24). Por sua vez, o comprometimento é um elemento essencial
para o sucesso do relacionamento de longo prazo (GUNDLACH et al., 1995). Trata-
se de um empenho implícito ou explícito pela continuidade da relação entre
24
parceiros de troca, o que implica numa disposição para fazer sacrifícios de curto
prazo
para obter benefícios de longo prazo (DWYER
et al.
, 1987, p. 19).
O comprometimento é a mais avançada fase de interdependência entre
parceiros (WETZELS et al., 1998), pois se trata de acreditar que um relacionamento
em andamento é muito importante para justificar esforços máximos para mantê-
lo,
acreditando que o relacionamento vale o trabalho para assegurar que ele resista
indefinidamente (MORGAN; HUNT, 1994). Nesse sentido, o comprometimento é
visto como um sentimento de importância crítica no desenvolvimento de
relacionamentos de longo prazo ou para haver uma reação afetiva favorável
(WETZELS
et al.
, 1998).
Gundlach
et al.
(1995) e Wetzels
et al.
(1998) sugerem que o relacionamento
comprometido pode ser dividido em três tipos: 1) comprometimento instrumental ou
calculado; 2) comprometimento atitudinal ou afetivo; e 3) comprometimento por
tempo.
O componente instrumental considera o comportamento como um ato
calculado, uma ação positiva feita por uma parte para criar interesse no
relacionamento e demonstrar algo a outra parte, mais do que uma promessa
(GUNDLACH
et al., 1995). Está baseado na contribuição, como investimentos e
alocação de recursos para relacionamentos específicos entre dois parceiros de
negócio (WETZELS
et al.
, 1998).
Por outro lado, o componente atitudinal significa uma intenção assegurada
pela parte para desenvolver e manter um relacionamento estável de longo prazo.
Tem sido descrito em termos de afetividade, identificação, afiliação, congruência de
valores e apego psicológico (GUNDLACH et a
l.
, 1995). É conduzido por
compartilhamento, identificação com, ou internalização dos valores da organização.
Está baseado no senso de amizade e ligação emocional com o parceiro (WETZELS
et al.
, 1998).
O componente temporal, por sua vez, é um indicador do
comprometimento,
pois aponta a habilidade e consistência contínua de uma parte para manter o
relacionamento por um longo prazo (GUNDLACH et al., 1995). Nesse sentido, a
manifestação temporal pode demonstrar a intenção do parceiro em continuar o
relacioname
nto no futuro (WETZELS
et al.
, 1998).
O comprometimento no
continuum
da construção de relacionamentos, de
acordo com Dwyer
et al.
(1987) é a manifestação de uma relação duradoura, na qual
25
existe uma promessa implícita ou explícita de continuidade relacional entre os
parceiros, representando o mais alto estágio na confiança entre as partes. Esta
promessa de continuidade é representada por fatores determinantes que serão
apresentados no próximo item deste trabalho.
2.4
Fatores determinantes da confiança e do comprometimento
Após considerar as variáveis
confiança
e
comprometimento
como elementos
centrais na determinação do
continuum
das trocas relacionais, foco do marketing de
relacionamento, busca-se neste momento do trabalho apresentar fatores que
determinam os
níveis da confiança e do comprometimento nos relacionamentos.
Para tanto, buscou-se alguns trabalhos que fizeram este levantamento em
diferentes contextos de marketing, como nas relações entre vendedor-
consumidor,
nos canais de suprimentos, nos canais de distribuição e na área de pesquisa. As
variáveis antecedentes encontradas foram:
Interdependência: que se refere a dependência recíproca, mútua, pois ela é mais
ou menos relativa, uma vez que se trata da diferença entre a dependência da
empresa no seu parceiro e a dependência do parceiro na empresa, cuja
conseqüência direta é a influência, o poder (ANDERSON; NARUS, 1990). Essa
estrutura de interdependência presente na díade de relacionamento engloba a
dependência de cada parte, a magnitude da interdependência (soma da
dependência das partes) e o grau de dependência relativa entre as partes (KUMAR
et al.
, 1995b). Para Fontenot e Wilson (1997), trata
-
se da aceitação de uma empresa
no fato que os relacionamentos de troca são mutuamente benéficos. Assim, ela
coo
pera e forma um limite coeso para evitar conflitos duradouros, pois quando as
partes acreditam que existem barreiras altas para ambos os lados, eles rapidamente
colaboram como uma maneira de administrar o fluxo de recursos entre as empresas.
A interdependência, explicam Kumar et al. (1995b), quando se caracteriza por
simetria na dependência mútua, tende a promover o desenvolvimento da confiança e
do comprometimento, diminuindo os conflitos, enquanto que a assimetria da
dependência, determinada por alguma diferença nos níveis de dependência, leva a
uma diminuição da confiança e do comprometimento entre as partes, em vista do
sentimento de vulnerabilidade. A magnitude desta interdependência pode ser
verificada no envolvimento entre as partes, seguindo um processo contínuo que
26
perpassa pela conscientização, exploração e expano, até chegar ao total
comprometimento. Na medida em que há um crescimento contínuo dos benefícios
obtidos pelos parceiros na troca, aumenta a interdependência (DWYER
et al.
, 1987).
Depend
ência
: a dependência pode ser entendida como a necessidade de manter
o relacionamento para atingir os objetivos (KUMAR et al., 1990b; GANESAN, 1994;
WETZELS
et al., 1998), sendo o resultado da comparação do nível das alternativas
(ANDERSON; NARUS, 1990; HOCUTT, 1998). Isso acontece porque os
relacionamentos raramente são simétricos, pois uma parte freqüentemente tem mais
poder que outra, gerando a dependência (ANDERSON; WEITZ, 1989). O poder é
entendido como a capacidade de uma parte (A) para fazer com que outra parte (B)
empreenda uma atividade que normalmente não faz, sendo, no entendimento de
Morgan e Hunt (1994), um conceito fundamental para se entender os
relacionamentos. No entanto, somente a habilidade de condicionar os outros não é
suficiente para entender os relacionamentos duradouros, pois na primeira
oportunidade o parceiro que sofre a ação do poder pode terminar o relacionamento
em busca de alternativas. Esse poder e conseqüente dependência, esclarece Hocutt
(1998), está diretamente ligado ao nível da comparação das alternativas, pois se
existe um amplo conjunto de parceiros com alta qualidade, a dependência será
baixa, mas, se o nível de comparação das alternativas for baixo, o parceiro estará
menos propenso a deixar o relacionamento. A parte dependente, afirmam Gundlach
e Cadotte (1994), tende a ser vista como a menos efetiva na performance dos
negócios, o que acentua o sentimento de vulnerabilidade. Este sentimento, conforme
esclarecem Bendapudi e Berry (1997), é influenciado por dois elementos: 1) a
dependência com base na dedicação, caracterizada pela ausência de exploração; e
2) a dependência com base na coerção, caracterizada pelo impedimento de sair do
relacionamento em virtude dos custos.
Custos do término do relacionamento: estes custos são entendidos como os
gastos relativos às atividades de uma parte que teve o relacionamento encerrado na
procura e estabelecimento de relacionamento alternativo (MORGAN; HUNT, 1994).
Tais gastos, afirma Geyskens et al. (1998), levam a um comprometimento calc
ulado,
pois uma parte percebe que necessita manter o relacionamento, antecipando os
gastos que decorreriam do término da relação. Isso resulta de um cálculo dos custos
e benefícios e da avaliação das alternativas de relacionamento. Quando os gastos
27
do térm
ino do relacionamento são altos, em vista dos benefícios e das alternativas, a
tendência é haver um maior comprometimento entre as partes.
Investimentos Específicos no Relacionamento: um dos principais determinantes
dos custos do término de relacionamento e, conseqüentemente, do
comprometimento, é o investimento específico no relacionamento feito por parceiros
(BENDAPUDI; BERRY, 1997), pois aumenta a qualidade dos relacionamentos.
Para
Dwyer
et al.
(1987), o primeiro critério de comprometimento é que as par
tes provêem
altos níveis de contribuições no relacionamento. Essas contribuições geram
comprometimento, pois são resultado da disposição de uma parte para fazer
investimentos idiossincráticos (DONEY; CANNON, 1997). A percepção do
investimento específico no relacionamento, feito por uma parte, provê sinais a outra
parte, indicando que pode comprometer-se, pois tais investimentos comunicam o
compromisso, ao mesmo tempo em que geram dependência (GANESAN, 1994). Por
isso, esclarece Hocutt (1998), o comprometimento do parceiro necessita pelo menos
de investimento em tempo e energia e, potencialmente, envolve investimentos de
emoções, dinheiro e outros recursos. Bons níveis de investimentos específicos no
relacionamento aumentam o comprometimento do parceiro (ANDERSON; WEITZ,
1989). Exemplo disso é a ação de suporte, operacionalizada pelo provimento de
assistência (treinamento, material promocional, informação), a outra parte da díade,
o que influencia na confiança e comprometimento.
Benefícios do relacionamento: o comprometimento dos parceiros será melhor, na
medida em que, também, forem melhores os benefícios dos relacionamentos
(MORGAN; HUNT, 1994). Esses benefícios devem ser compartilhados, isto é, ao
mesmo tempo em que entregam valor superior aos parceiros, as empresas devem
proporcionar autobenefícios. Por isso, é ponto fundamental e crítico a escolha dos
parceiros, porque o nível de interesse no relacionamento é dado pela importância
das atividades para pelo menos uma das partes (ANDERSON; WEITZ, 1989). Se os
benefícios não são importantes, as partes não estarão interessadas em desenvolver
esforços para manter e reforçar o relacionamento, a não ser que o comprometimento
seja determinado por alto grau de dependência. Isso significa que a performance do
parceiro
afeta o comprometimento da outra parte (GUNDLACH; CADOTTE, 1994),
pois quanto maior a satisfação (estado afetivo positivo baseado no resultado da
avaliação da performance em relação às promessas), maior será o efeito favorável
na atitude relacional, em prol da manutenção do relacionamento por longo prazo
28
(KUMAR
et al., 1995a). Para tanto, esses benefícios requerem qualidade, fator que
está diretamente relacionado à percepção dos parceiros de troca, referindo-se à
comparação (subjetiva) das expectativas com a performance (WETZELS et al.
,
1998). Juntamente com o benefício, a qualidade é um forte elemento determinante
da satisfação (CRONIN; TAYLOR, 1992). Esses resultados de satisfação podem ser
de natureza econômica ou não
-
econômica (GEYSKENS
et al.
, 1999).
Compartilhamento de valores: o compartilhamento de valores revela-se como um
importante determinante do comprometimento e da confiança entre as partes
(MORGAN; HUNT, 1994), qualificando-se como um dos mais difíceis e difusos
problemas dos administradores (ANDERSON; WEITZ, 1989). Trata-se da amplitude
com que as partes acreditam compartilhar comportamentos, metas, políticas, se são
importantes ou não, adequadas ou não, certas ou erradas (ANDERSON; WEITZ,
1989; MORGAN; HUNT, 1994). No processo de interação, isto é, no âmbito da
coordenação propositada numa díade, explicam John e Revê (1982), esses valores
são transferidos entre as partes, como também são criados por elas, num
determinado contexto e tempo. E, quanto maior for o consenso de domínio, que diz
respe
ito ao grau de aceitação mútua numa díade sobre a missão de papéis, tarefas
e funções relevantes ao relacionamento (JOHN; REVÊ, 1982) e a distribuição
equânime, que refere-se a divisão dos benefícios e tarefas (KUMAR et al. 1995a)
maiores serão os níveis de confiança e comprometimento no relacionamento. Isso
acontece pela efetivação de um “comportamento relacional”, como denominaram
Crosby
et al. (1990), tal como a participação na tomada de decisão, uma vez que
envolve idéias, sugestões, opiniões, consultas, apreciações, de ambas as partes,
para cultivar um relacionamento de longo prazo. Esse comportamento, afirma Kumar
et at. (1995b), demanda convergência, sendo melhor onde os parceiros percebem a
oportunidade de ganhar pela cooperação e ação conjunta. Se cada parte do
relacionamento busca benefícios distintos, a convergência e, conseqüentemente, a
confiança e o comprometimento, entre as partes podem diminuir. Por isso, não se
pode abrir mão de procedimentos equânimes, que se referem à percepção de uma
parte
da eqüidade dos procedimentos e processos no relacionamento (KUMAR
et
al.
, 1995a).
Conhecimento especializado: na medida em que uma das partes tenha melhor
domínio de conhecimento ou competência, é possível vislumbrar maior confiança
(CROSBY
et al., 1990; BENDAPUDI; BERRY, 1997). No estudo sobre díades nos
29
canais de suprimento, Anderson e Weitz (1989) afirmam que a competência é um
conceito complexo que inclui conhecimento técnico, com referência a produtos e
todos de produção, conhecimento dos clientes da organização, mercados,
competidores e da indústria. Por isso, ressaltam esses autores, uma grande
estratégia é influenciar a outra parte a perceber a competência das pessoas que
executam as atividades, o que aumentaa credibilidade, isto é, a crença de que
serão produzidos resultados positivos.
Comunicação:
a comunicação, no âmbito das trocas relacionais, é definida como
o formal ou informal compartilhamento de informações significativas e oportunas
entre parceiros (ADERSON; NARUS, 1990; MORGAN; HUNT, 1994), utilizadas para
coordenar ações e resolver conflitos (ANDERSON; WEITZ, 1989). Essa atividade foi
qualificada por Morgan e Hunt (1994) como a maior precursora da confiança nos
relacionamentos entre parceiros, pois tem se constituído como importante
determinante do fluxo de diálogo entre as partes envolvidas no relacionamento
(DWYER
et al., 1987), envolvendo, inclusive, informações confidenciais (DONEY;
CANNON, 1997) no processo de compartilhamento, intencional ou não. O nível de
comunicação, afirmam Anderson e Weitz (1989), é determinado pela participação
(intensidade das partes na relação), similaridade cultural (valores equivalentes),
competência do pessoal (conhecimento especializado) e idade do relacionamento
(conhecimento mútuo).
Reputação:
a reputação refere-se ao resultado dos comportamentos anteriores
das pessoas e organizações nos relacionamentos. Esse resultado é constantemente
comunicado e tem impacto sobre a confiança dos parceiros, pois através deles as
empresas provêem sinais de suas futuras ações (ANDERSON; WEITZ, 1989;
GANESAN, 1994). Isso faz com que uma parte possa antecipar os níveis de
satisfação, isto é prever o resultado de um relacionamento futuro, configurando-
se
como um importante elemento na decisão de ficar-
ou
-deixar o relaci
onamento
(CROSBY
et al., 1990). A confiança e o comprometimento, portanto, têm caráter
histórico, cuja reputação é desenvolvida com o tempo de relacionamento, de
maneira contínua, representando um investimento e ajustamentos de ambas as
partes na díade (DONEY; CANNON, 1997). Na medida em que a experiência do
relacionamento se mantém, é mais provável que ela tenha passado por um período
crítico de terminalidade, determinado pelos comportamentos oportunistas e
relacionamentos alternativos, mas que foram resolvidos num entendimento mútuo
30
(GANESAN, 1994), fazendo com que o tempo de relacionamento também seja um
importante determinante no comprometimento e na confiança.
Tratamento dos conflitos: a resolução dos conflitos pode ser vital para o
relacionamento, permitindo diferentes percepções de objetivos e papéis desejados
(Dwyer
et al., 1987). Esses conflitos podem ser destrutivos, com hostilidade, ou
podem ser funcionais, na medida em que colaboram para a acentuação da
cooperação. O marketing de relacionamento necessita de estabilidade e aceitação
mútua das normas, pois se a hostilidade e a amargura, resultantes do desacordo,
não forem resolvidas amistosamente, podem levar para conseqüências patológicas,
como dissolução do relacionamento. Contudo, quando resolvido amistosamente, o
desacordo pode ser um conflito funcional (MORGAN; HUNT, 1994), o que acontece
na medida em que exista uma avaliação estimativa de resultados dos recentes
esforços para resolver o desacordo (ANDERSON; NARUS, 1990), podendo-
se
afirmar que a interpretação dos eventos e resultados é também um determinante da
confiança. Portanto, pode aumentar produtivamente o marketing de relacionamento
e ser visto como apenas uma parte dos negócios, sendo positivo se levar o parceiro
a perceber que futuros ep
isódios conflituais podem ser funcionais.
Incerteza do ambiente: no tempo de estabelecimento, manutenção e
desenvolvimento dos relacionamentos, estes presenciam um ambiente cada vez
mais incerto, que tem impacto direto ou indireto nas díades. O nível de tensão e a
percepção de conflitos entre as partes aumenta com a incerteza do ambiente
(ACHROL
et al., 1983), havendo menor comprometimento e menor expectativa de
continuidade (DWYER; OH, 1987), pelo desejo de flexibilização frente às mudanças.
Bendapudi e Berry (1997) apontam o dinamismo, a munificência e a complexidade
como variáveis ambientais que têm impacto na dependência. O dinamismo refere-
se
às mudanças imprevisíveis do ambiente, a munificência à capacidade do ambiente
suportar o crescimento sustentado e a complexidade à heterogeneidade e extensão
das atividades em que se está engajado. Nesses casos, prevalece a tomada de
decisão incerta, que é o grau com que uma pessoa ou organização não pode
antecipar ou prever apuradamente fatores ambientais (GANESAN
, 1994), em virtude
de sua volatilidade ou diversidade.
Regulação e formalização: frente a essa realidade instável, a formalização pode
afetar positivamente a confiança (DWYER; OH, 1987), tratando-se do grau com que
papéis e procedimentos fixados governam as atividades da díade (JOHN; REVÊ,
31
1982). Da mesma forma, regulação pode ser um importante elemento de
determinação do comportamento distributivo. No marketing prático, assevera
Gummesson (1996 e 1999), cada vez mais a economia está misturando nos
mercad
os a competição, a colaboração e a regulação. E, para que haja o equilíbrio
de marketing (comportamento integrativo, distributivo e consentimento), são
necessários aspectos de regulação.
Comportamento oportunista: o ambiente incerto é propício para o compo
rtamento
oportunista. Esse tipo de comportamento é comumente entendido numa conotação
negativa, descrevendo uma instância em que alguém renega uma concordância ou
entendimento para tirar vantagem de uma nova oportunidade (GUNDLACH et al.
,
1995). A essência desse tipo de comportamento, esclarecem Morgan e Hunt (1994),
é sua orientação para a desonestidade, violação implícita ou explícita da promessa e
papéis, cujo impacto é negativo na confiança do relacionamento de negócio.
As alterações nos níveis de confiança e comprometimento nos
relacionamentos, por esses fatores determinantes, levam a resultados. Quando os
fatores alimentam altos níveis dessas variáveis, é provável que o relacionamento
seja mantido e reforçado.
3
MARKETING DE RELACIO
NAMENTO EM CLUBE
S DE FUTEBOL
O futebol profissional é, sem dúvida, um excelente produto. Porém, nos
últimos anos, tem se deparado com um ambiente cada vez mais competitivo,
determinado por diversas mudanças do setor, tais como o surgimento de novas
formas de entretenimento, novas ferramentas de comunicação, alterações do
panorama legal, melhor qualidade dos rivais.
Atualmente, somente ter uma equipe competitiva nos gramados não garante
sucesso empresarial embora esta seja uma exigência, cabendo aos dirigentes
tornarem
os clubes de futebol profissional como centros de competência para o
desenvolvimento do valor que os múltiplos clientes e
stakeholders
desejam.
Neste capítulo, o abordados temas que, juntamente com a emergente
perspectiva do marketing de relacionamento, esclarecem e fundamentam o papel do
marketing na gestão dos clubes de futebol profissional. Primeiramente, apresenta-
se
uma contextualização do produto futebol e do marketing esportivo na realidade
nacional. Em seguida, é apresentada uma estrutura que procura contribuir para a
sistematização do marketing de clubes, à luz do marketing de relacionamento, com
foco especial para a rede de relacionamentos que compõe o núcleo de produção do
jogo
-
espetáculo.
3.1
Evolução do futebol como produto
A essência do jogo d
e futebol, isto é, sua natureza de invasão de um terreno
adversário para atingir uma meta mediante esforços colaborativos de um time (ou
uma equipe) e o uso/posse de uma bola no jogo, surgiu muito antes dos Ingleses
terem estabelecido as primeiras regras.
Essa essência, explica Gerhardt (2005), vem
de jogos ligados à guerra e eventos religiosos como o “Tsu'Chu” (Chineses), o
“Kemari” (Japoneses), o “Episkyros” (Gregos), o “Harpastum” (Romanos) e “Cálcio”
(Italianos).
Entretanto, com o advento da modernidade e do pensamento científico,
“novas” formas de relações sociais, econômicas e culturais, houve o surgimento do
esporte desvinculado de questões ritualísticas, sobretudo na Inglaterra do século
XIX, quando o futebol absorve os fundamentos da “nova civilização”, do “mundo
33
moderno”, em especial nos educandários que difundiram novas formas de jogar
futebol com as regulamentações da civilidade
1
.
O futebol surge no momento em que se fortalece um campo
2
de oferta e
demanda esportiva na Europa. Um fato que representa esse surgimento aconteceu
no ano de 1863, quando a maneira de jogar com as mãos (
Rugby
) e de jogar com os
pés (
Football
) foram separadas, seguindo diferentes cursos, o que deu origem a
primeira Associação de Futebol fundada na Inglaterra.
A partir desse momento, o futebol começa a apresentar traços de um
esporte institucionalizado, somando mais elementos do que a prática eminentemente
lúdica centrada no jogo. A criação das Associações, Equipes e Campeonatos no
final do século XIX indicava a atração deste novo produto da modernidade para a
sociedade européia.
Essas equipes e entidades de administração, mediante lógicas sociais,
econômicas e simbólicas da Europa do final do século XIX, produziram a primeira
versão do espetáculo, pois o futebol extrapolou os limites do campo, isto é, dos
jogadores e organizadores, surgindo a demanda dos torcedores, quando se
estabelece inter
-
relação com o campo do lazer.
Nesse momento, equipes, associações e clubes passam a representar
pessoas que não estão propriamente envolvidas com o jogo em campo, formando
uma comunidade de sentidos em torno da representatividade da equipe. Esse
encanto do torcedor, que se identifica com sua equipe e a assiste, acompanha,
começa a consolidar as bases do futebol profissional.
Ao passo que se espalha para o mundo, num período de expansão da
mercantilização, da produção e sociedade de massa, a produção do espetáculo
começa a atender demandas dos veículos de comunicação de massa. Esta inter-
relação com o campo midiático, a partir das primeiras décadas do século XX,
1
A civilidade, conforme afirmaram Elias e Dunning (1992), caracteriza uma distinção clara das
condutas e requisitos primordiais para a padronização dos membros da classe. Esta caracterização
leva a uma melhor definição da individualidade do sujeito perante os “outros”.
2
O “campo” a que se refere tem suas condições explicadas por Bourdieu (1983), que o descreve
como “[...] um estado da relação de força entre os agentes ou as instituições engajadas na luta ou, se
preferirmos, da distribuição do capital específico que, acumulado no curso das lutas anterior
es,
orienta as estratégias ulteriores. Esta estrutura, que está na origem das estratégias destinadas a
transformá
-la, também está sempre em jogo: as lutas cujo espaço é o campo têm por objetivo o
monopólio da violência legítima (autoridade específica) que é característica do campo considerado,
isto é, em definitivo, a conservação ou a subversão da estrutura da distribuição do capital específico.
(Falar em capital específico é dizer que o capital vale em relação a um certo campo, portanto dentro
dos limites desse campo, e que ele só é convertível em outra espécie de capital sob certas
condições)” (p. 90).
34
potencializa a consolidação do profissionalismo e do futebol espetáculo
(McPHERSON; CURTIS; LOY, 1989).
Após a Segunda Guerra Mundial, com o advento de novas gicas sociais,
econômicas, dimensões simbólicas e desenvolvimento tecnológico, o espetáculo de
futebol, conforme Proni (1998), por suas ligações com o campo do lazer e o campo
dos meios de comunicação, começa a se consolidar como produto para a demanda
do campo dos negócios, principalmente como ferramenta de marketing.
Essa inter-relação com o campo dos negócios, no Brasil, se acentua após a
década de 1970, quando os clubes passam por grandes dificuldades, decorrentes do
aumento dos salários de jogadores, dos custos de produção do espetáculo e da
inadimplência dos associados (BRUNORO; AFIF, 1997). Nesse momento, o
patrimônio dos clubes deixa de ser somente o valor do passe dos jogadores e a
capacidade do estádio, passando a vislumbrar o valor da marca e a visibilidade.
Em virtude dessas inter-relações historicamente constituídas, é possível
pensar que o produto futebol, na sua forma de espetáculo esportivo, atualmente só é
produzido com viabilidade na interface de relacionamentos e tensões entre estes
quatro campos (o esportivo, o de lazer, o midiático e o de negócios), uma vez que
todos são agentes na elaboração, consumindo o produto ao mesmo tempo em que o
produzem.
Nessa realidade, é cada vez mais imprescindível aos clubes de futebol
profissional, envolvidos com espetáculos esportivos, buscarem conhecimentos de
gestão para conseguirem dar conta de produzir esse complexo produto esportivo. No
próximo momento do trabalho, serão dedicados esforços para estabelecer alguns
critérios para a prática do marketing nos clubes de futebol profissional.
3.2
Marketing esportivo e o futebol brasil
eiro
Pode
-se afirmar que a história da relação entre o marketing e o futebol
começou após a Segunda Guerra Mundial, com as iniciativas exógenas nos clubes.
Empresas começaram a perceber a atração e visibilidade desse espetáculo
esportivo e, rapidamente, v
islumbraram a possibilidade de associar ou simplesmente
expor suas marcas e produtos.
Essa história é, sem dúvida, muito rica, mas no presente momento do
trabalho serão explorados apenas a produção de obras que tematizaram o
35
marketing esportivo no cenário nacional, para tentar compreender os fundamentos
que circularam/circulam e que provavelmente representaram/representam as
atividades de marketing dos clubes.
O marketing nos clubes de futebol brasileiros surge no final da década de
1970. Melo Neto (1986) afirma que ele foi introduzido no futebol em 1977, quando o
Conselho Nacional de Desportos (CND) resolve permitir a publicidade nos uniformes
dos jogadores. A partir dessa iniciativa, foram surgindo outros esforços de marketing
no futebol, como o patrocínio de grandes empresas, comercialização do espaço
publicitário, licenciamento de marca, venda dos direitos de transmissão para a TV.
Nesse momento de surgimento e primeiros passos, a noção de marketing
esportivo no ambiente do futebol profissional esteve fortemente vinculada a 2 (dois)
fatores: 1) no fato de que o futebol tornou
-
se uma excelente ferramenta de marketing
para empresas interessadas em retorno institucional; e 2) trata-se de uma maneira
de buscar receitas alternativas para os clubes.
A crise pela qual os clubes passavam, com o crescimento dos custos de
produção, inadimplência dos sócios, evasão dos jogadores e diminuição do número
de torcedores nos estádios, foi em parte amenizada pelo aumento da cobertura da
mídia esportiva na década de 1980. Isso fez com que os dirigentes e empresários
rapidamente percebessem no futebol uma forma de promoção, uma mídia
alternativa, isto é, “um sistema de marketing que promove o produto sem a
necessidade de anúncios institucionais”, como definiu Melo Neto (1986, p. 17), com
melhor relação custo
-
benefício em comparação com a mídia tradicional.
Ainda na década de 1980, com o fortalecimento do movimento pela
profissionalização do futebol brasileiro (clube-empresa), os dirigentes dos clubes
perceberam a importância de valorizar a outra face do marketing (o marketing do
esporte), voltando-se também para as atividades do clube e da competição em
atenção a seus múltiplos clientes, especialmente em investimentos no valor da
marca, venda de produtos esportivos, franquias, preocupação com a organização e
oferta (calendários) do produto esportivo.
Na década de 1990, o marketing esportivo efetivamente se consolida como
importante elemento na gestão dos clubes de futebol. Exemplo claro foi a parceria
de co-gestão entre Palmeiras e a empresa Parmalat, iniciada em 1992, que rendeu
bons frutos ao clube e ao investidor.
36
Ao compilar contribuições de autores sobre marketing esportivo brasileiro,
com obras desde meados da década de 1980, como Melo Neto (1986, 1998 e 2000),
Contursi (1996), Brunoro e Afif (1997), Pozzi (1998), Caballero Lois e Carvalho
(1998),
Afif (2000), Grelet (2000), Hawilla (2000), Vaz (2000) e Cardia (2004), pode-
se perceber que os fundamentos do marketing esportivo brasileiro estão centrados
no desenvolvimento de atividades com a finalidade de atender os desejos e
necessidades dos consumidores do produto esportivo ou das empresas, através das
organizações ou eventos esportivos.
De modo geral, não se vislumbra no texto dos autores que abordaram o
marketing esportivo, uma preocupação maior com a manutenção dos
relacionamentos por longo prazo, com o reforço dos relacionamentos, com a
cooperação/colaboração interorganizacional. Nesse ponto, parece haver uma lacuna
a ser desenvolvida pelo marketing de clubes.
Para colaborar com o desenvolvimento desse aspecto, o presente estudo
procura avançar na abordagem do marketing à luz do marketing de relacionamento,
frente ao aumento da importância da cooperação, regulação/instituição, valorização
afetiva e continuidade nas trocas entre os clubes, seus clientes e
stakeholders
. Não
se trata de negar todas as práticas e conhecimentos historicamente constituídos
pelos gestores do futebol, mas de pensá-las a partir de outro referencial o do
marketing de relacionamento.
3.3
Marketing de clubes à luz do marketing de relacionamento
Neste momento do trabalho, o objetivo é traçar o papel do marketing de
clubes olhando da perspectiva da troca relacional, frente a uma tendência de
interdependência e colaboração mútua, em contraste com o foco na competição e
comportamento oportunista do marketing tradicional. Nessa perspectiva, sustenta-
se
que o marketing dos clubes deve estabelecer um centro de competências,
espalhado dentro e fora da organização, constituído pelas habilidades e recursos
disponív
eis.
Esse centro de competências deve estabelecer trocas relacionais com
clientes e demais
stakeholders
, determinando altos níveis de confiança e
comprometimento num
continuum
progressivo entre as partes, focando as atividades
de marketing nas interações dentro de uma organização imaginária (rede de
37
relacionamentos dinâmica), onde o clube deve ser competente no processo de
identificar, estabelecer, manter, nutrir, alinhar e, quando necessário, terminar
relacionamentos com lucro para ambas as partes, numa t
roca mútua.
Para sistematizar essa posição sobre o marketing de clubes apresenta-se a
seguir uma proposta preliminar na tentativa de oferecer critérios para o processo de
análise, planejamento, execução e avaliação das atividades. Trata-se de visualizar o
papel do marketing de clubes pelo estabelecimento de uma estrutura dinâmica
(sistêmica) dos relacionamentos presentes no cotidiano de desenvolvimento de valor
do produto futebol.
O primeiro ponto fundamental na estrutura é perceber que cada interação
entre
duas partes (seja relação interpessoal ou interorganizacional) ocorre dentro de
um sistema mais amplo. Nesse caso, concebe-se o produto futebol como uma
totalidade integrada cujas propriedades não podem ser reduzidas às partes que
estão envolvidas na sua produção. Suas propriedades essenciais, ou “sistêmicas”,
são propriedades do todo, que nenhuma das partes possui. Elas surgem de uma
configuração de relações ordenadas que é característica dessa produção.
Essa configuração tem como elemento chave a capacid
ade de interagir com
uma ou outra parte ou com outros níveis sistêmicos. E, na interação, ao mesmo
tempo em que influencia, é influenciada pelo contexto que se estabelece, como
também tem caráter histórico, isto é, os resultados ocorridos no ciclo de vida
do
relacionamento deixam rastros que indicarão comportamentos futuros.
As interações, no caso do marketing de clubes, foram classificadas em 5
(cinco) níveis: 1) nível dos relacionamentos do clube; 2) nível dos relacionamentos
do núcleo de produção do espetáculo; 3) nível dos relacionamentos clássicos; 4)
nível dos relacionamentos especiais; 6) nível dos macro-relacionamentos. Esses
níveis de interações podem ocorrer em 4 (quatro) setores distintos: 1) setor de
fornecedores; 2) setor de competidores; 3) setor de clientes; 4) setor de agentes
externos.
A tese central refere-se a condição de que, no marketing de clubes, não se
pode pensar em função de partes envolvidas na produção do espetáculo-
esportivo
(produto futebol), pois não existem partes em absoluto, mas um padrão de
interações, relacionamentos entre as partes. Assim, as propriedades do produto
futebol são propriedades do todo, mas em níveis e setores classificáveis, como
apresenta
-
se a seguir.
38
3.3.1
Relacionamentos do clube
O nível de relacionamento do cl
ube
3
compreende as interações que se
estabelecem nas atividades econômicas, políticas, sociais e culturais internas dos
clubes na produção do valor superior do produto futebol, englobando empregados e
voluntários (clientes e/ou provedores internos), departamentos funcionais (técnico,
marketing, administrativo, recursos humanos, entre outros) e unidades estratégicas
de negócio (lazer, negociação de jogadores, direitos de imagem, informação
esportiva, ferramenta de marketing, franquias).
Essas interações do clube, na rede de relacionamentos que compreende a
produção e consumo do produto futebol, forma o centro de competências a ser
disposto nas ações de marketing. Essas interações do clube podem estar dentro ou
fora da organização nas interseções dos seus negó
cios.
O papel do marketing de clubes nesse nível é estabelecer, desenvolver e
manter os relacionamentos com as pessoas envolvidas nas atividades de formação,
treinamento, reabilitação e jogos em uma equipe, tendo em vista a formação de uma
equipe competitiva e condições para os espectadores assistirem ao jogo (pacote de
benefícios em torno do jogo).
3.3.2
Relacionamentos do núcleo de produção do espetáculo
O nível de relacionamentos do núcleo de produção do espetáculo
4
está
relacionado às interações entre agentes (organizações e pessoas) de diferentes
campos, que são indispensáveis na produção do futebol, pelo fato de serem
fundamentais à própria existência do produto e que, de uma forma ou de outra, por
processos de trocas relacionais, complementam a produção o
u agregam valor.
3
Este nível de relacionamentos foi elaborado com base nos conceitos de estrutura e processos
econômicos
-políticos internos de Stern e Revê (1980), marketing de empregados de Kotler (1992),
parceiros internos de Morgan e Hunt (1994) e Doyle (1995), nano-relacionamentos de Gummesson
(1999), mercado interno e de recrutamento de Peck et al. (1999) e centro de competências de
Gummesson (1994).
4
Este nível de relacionamentos foi elaborado com base nos conceitos de alianças estratégicas de
Webster (1992), produção agregada e complementar de Minquet (2001), lado administrativo de
Brooks (1994), ramificações do produto esportivo de Mullin et al. (1995), co-gestão esportiva no
futebol de Cabalero Lois e Carvalho (1998) e produtores e intermediários do esporte de Shank
(2002).
39
Essas organizações e pessoas são representadas por 6 (seis) agentes: 1)
clubes que formam, treinam e reabilitam jogadores de uma equipe; 2) clubes
adverrios que estabelecem o confronto; 3) entidade de administrão do desporto
(confedera
ção, federação ou liga); 4) torcedores (individuais, pequenos grupos ou
torcida organizada); 5) veículos de comunicação (jornais, rádios, televisões,
internet); e 6) investidores (co-gestores, patrocinadores,
merchandising
,
licenciamento).
Trata
-se de uma “organização imaginária”, denominada de núcleo de
produção porque apresenta característica de co-produção assumida por agentes
(organizações e pessoas) que o beneficiárias do produto que co-
produzem,
formando uma rede multifacetada que deve ser pensada pelo marketing em termos
de alianças estratégicas.
Os relacionamentos do clube (centro de competência) com os demais
agentes do núcleo de produção são seus verdadeiros bens. Portanto, é tarefa do
marketing de clubes constituir condições para estabelecer, manter, reforçar e alinhar
(verticalizar) esses relacionamentos com foco no desenvolvimento, comunicação e
entrega de valor superior aos clientes.
A característica básica do marketing, nesse nível de relacionamentos, é
criar uma livre e flexível aliança guiada por um centro de interesses onde a função
chave inclui desenvolvimento e administração das próprias alianças, coordenação
dos recursos financeiros e tecnológicos, definição e administração dos centros de
competências e administração das informações que
ligam a rede.
3.3.3
Relacionamentos clássicos
O nível de relacionamentos clássicos
5
do clube compreende as interações
com fornecedores, clientes, competidores e agentes externos. Algumas dessas
interações podem ser as mesmas da organização imaginária que compõe o núcleo
de produção.
Os fornecedores provêem recursos necessários às atividades dos clubes.
São agrupados em: 1) fornecedores de serviços (saúde, segurança, alimentação,
5
Esta categorização surge a partir dos conceitos de ambiente primário de marketing de Achrol et al.
(1983), ambiente de tarefas imediatas de Kotler (1992), estrutura integrada de negócios do futebol de
Aidar e Leoncini (2000), relacionamentos clássicos de marketing e organização imaginária de
Gummesson (1999) e mercado de suprimento e alianças de Peck et al. (1999).
40
hospedagem, transporte, seguridade, publicidade, propaganda, entre outros); 2)
forn
ecedores de bens (materiais esportivos, materiais de manutenção, limpeza, entre
outros); e 3) fornecedores das regras e condições do jogo (Confederação,
Federação, Ligas).
Os concorrentes do clube são os agentes que competem pelo
estabelecimento de relacionamentos num mesmo mercado, como outras
modalidades esportivas (voleibol, handebol, basquetebol, tênis, esportes radicais, de
aventura), outras formas de lazer (teatro,
shopping
, programas de TV, aparelhos
eletrônicos), outros eventos (música, recreação) e outros clubes (pelo
estabelecimento de relações com torcedores, patrocinadores, venda de jogadores).
Os clientes são as pessoas ou organizações que estabelecem trocas com o
clube. Podem ser classificados em 5 grupos: 1) clientes espectadores (torcedores,
torcida organizada); 2) clientes de ferramenta de marketing (merchandising,
patrocínio); 3) clientes de intermediação/revenda (agências de marketing, empresas
de comunicação, licenciamento, franquias); 4) clientes indiretos (são os clientes dos
clientes, como os telespectadores, consumidores dos produtos licenciados); e 5)
clientes de jogadores (agentes, clubes e federações esportivas).
Os agentes externos que se relacionam diretamente com o clube são
considerados agregadores de interesses, influenciando, de uma forma ou de outra,
no desenvolvimento de valor do produto. São formados por Governos Municipais e
Estaduais, Federações Estaduais de Futebol, Confederação de Futebol, Entidades
Locais e Regionais (Sociais, Ambientais, Educacionais, Religiosas), Associações de
Classe, Familiares e Amigos.
Nesse ambiente de relacionamentos clássicos, o papel do marketing de
clubes é buscar relacionamentos mutuamente lucrativos, de longo prazo,
desenvolvendo esforços que aumentem os níveis de confiança e comprometimento
entre as partes.
3.3.4
Relacionamentos especiais
O nível de relacionamentos especiais
6
do clube é composto pelas
organizações que se relacionam indiretamente com este, cujas ações podem
6
O fundamento deste nível foi inspirado no conceito de ambiente secundário de marketing de Achrol
et al. (1983), jogadores chaves do macroambiente de marketing de Kotler (1992), relacionamentos
41
determinar algum impacto no desenvolvimento do produto futebol, como o cliente do
cliente, fornecedor do fornecedor, potenciais concorrentes ou outros agentes
externos.
Essa abordagem aos relacionamentos mais distantes é também tarefa do
marketing de clubes, pois as condições presentes ou eventos ocorridos nos
ambientes mais remotos são capazes de potencializar, permitir ou mesmo inibir a
elaboração, comunicação e entrega do valor superior ao cliente, pela organização do
jogo
-espetáculo no ambiente mais imediato de relacionamentos, como também o
inverso pode ocorrer.
Exemplo disso são as ações do Poder Legislativo da União. Políticas, leis e
normas podem influenciar diretamente o desenvolvimento do jogo-espetáculo de
futebol, como foi o caso do sancionamento da Lei 9.615/98 (Lei Pelé), pelo então
presidente Fernando Henrique Cardoso que, entre outras coisas, decretou data para
o fim do vínculo esportivo dos atletas com os clubes (passe), com impacto
significativo nos ambientes de relacionamentos mais imediatos do clube (e
organização do jogo
-espetáculo).
Por outro lado, as ações da organização do jogo-espetáculo nos ambientes
mais imediatos também pode ter impacto significativo nos ambientes mais remotos,
como por exemplo, a morte do jogador Serginho do Esporte Clube São Caetano, de
São Caetano do Sul, São Paulo. Em torno desse evento, o resultado de
relacionamentos mais imediatos do clube (com clínica dica, familiares,
Federações e Confederações de Futebol) levou órgãos e entidades mais distantes a
refletirem sobre essas situações.
Assim, é papel do marketing de clubes, a partir do paradigma da rede de
relacionamentos e dinamicidade inerente, estabelecer, nutrir e alinhar
relacionamentos nos ambientes mais imediatos, considerando também os ambientes
mais remotos, sabendo que é, ao mesmo tempo, capaz de ser influenciado pelos
ambien
tes mais remotos, como também determinar que mudanças neles ocorram.
especiais de marketing e mega-relacionamentos de Gummesson (1999) e mercados de referência e
influência de Peck et al. (1999).
42
3.3.5
Macro
-
relacionamentos
O nível de macro-
relacionamentos
7
do clube é composto pela sociedade em
geral, sua economia, política, cultura, ciência, tecnologia, religião. Estes elementos
in
fluenciam interações nos relacionamentos do clube, do núcleo de produção, os
clássicos e os especiais, como também simultaneamente são influenciados numa
relação de mão dupla.
Esse macro-ambiente constitui um padrão externo de todos os outros níveis
de relacionamentos do clube apresentados. Todas as interações e a dinâmica delas
em todos os ambientes e setores (fornecedores, competidores, clientes e agentes
externos) são, ao mesmo tempo, determinadas e determinantes de fatores
econômicos, culturais, religi
osos, políticos, e tecnológicos.
A tarefa do marketing de clubes em relação a esse nível de relacionamentos
é perceber padrões, características, configurações do contexto de relações. Por
exemplo, é muito diferente administrar um Clube de Futebol no Brasil em relação a
um Clube de Futebol na Espanha, pois são contextos diferentes. Por isso, o papel
do marketing é também analisar esse macro
-
ambiente.
3.4
Papéis e objetivos nas interações do núcleo de produção
Como o objetivo do trabalho é entender os fatores determinantes da
confiança e comprometimento nos relacionamentos do núcleo de produção do
futebol, neste momento apresentam-se os
papéis
e
objetivos
presentes nas
interações entre o clube (centro de competências da organização imaginária) e (1)
clubes adversários, (2) entidade de administração do desporto, (3) torcedores, (4)
mídia esportiva e (5) investidores.
3.4.1
Relacionamento entre clube e clubes adversários
Os clubes têm o papel principal de criar a competição o produto primário
(BROOKS, 1994). Em rela
ção ao futebol profissional brasileiro, os responsáveis pela
criação do produto primário são legalmente denominados Entidades de Prática
7
A estrutura dos macro-relacionamentos foi inspirada a partir do conceito de processos econômicos-
políticos externos de Stern e Reve (1980), macro-ambiente de marketing de Achrol et al. (1983) e
mega
-
relacionamentos de G
ummesson (1999).
43
Desportiva. Essas entidades são pessoas jurídicas de direito privado, com
organização e funcionamento autônomo, tendo suas competências definidas em
seus estatutos, conforme reza o art. 16 da Lei 9.615/98.
Essas Entidades de Prática Esportiva, ou simplesmente Clubes, no
desenvolvimento do produto futebol, buscam atingir dois objetivos centrais:
competitividade e equilíbri
o/lucro financeiro. A competitividade que significa a chance
de alcançar vitórias é um importante critério de produtividade e qualidade dos
serviços prestados pelos clubes, determinando diretamente o potencial financeiro da
organização.
Essa competitividade é avaliada no “interior” de uma competição
(campeonato ou torneio), onde não menos importante são as organizações
adversárias (SUTHERLAND; HAWORTH, 1986), representadas pelas entidades de
prática desportiva que disputam a mesma competição, pois um clube não produz o
espetáculo de maneira independente. Ao contrário, o clube elabora o produto de
maneira conjunta, através da realização dos jogos com os rivais.
Verifica
-se que o desenvolvimento de valor do produto futebol se num
ambiente imprevisível, impregnado de elementos ligados ao jogo entre os diversos
rivais na competição, entre eles o acaso e a sorte. Contudo, essas condições não
devem ser tomadas como negativas, mas como características que fundamentam o
valor econômico do produto.
Ao mesmo tempo em que a competição necessita de clubes e equipes com
prestação de serviço de qualidade, necessita de um certo grau de incerteza nos
planos dos resultados do espetáculo (MINQUET, 2001). Por isso, uma premissa que
afeta o valor do produto futebol está vinculada à necessidade de equilíbrio
competitivo entre os rivais, numa determinada competição, onde a qualidade
(competitividade) o é apenas um diferencial competitivo, mas o preço para entrar
e permanecer.
Observa
-se, portanto, que o relacionamento entre os clubes e seus
adversários numa competição, por ocasião da produção-consumo do produto
futebol, está pautado simultaneamente pela lógica da competição-
cooperação.
Sutherland e Haworth (1986) afirmam que, em contraste com o relacionamento
competitivo comum entre organizações comerciais, o relacionamento existente entre
um clube de futebol profissional e seus rivais é caracterizado por maiores
implicações às várias organizações constituintes das competições.
44
3.4.2
Relacionamento entre clube e entidade de administra
ção
As Federações Estaduais de Futebol são entidades responsáveis pelo
futebol nos Estados. São pessoas jurídicas, de direito privado, com organização e
funcionamento autônomo, tendo suas competências definidas em estatuto próprio
(art. 16 da Lei 9.615/98). Cada uma tem liberdade para promover e administrar os
campeonatos da maneira que julgar mais adequada, em acordo com os ideais da
Federação Internacional de Futebol Associado (FIFA), da Confederação Sul-
Americana de Futebol (CONMEBOL) e da Confederação Brasileira de Futebol
(CBF).
As Entidades de Administração do Desporto, de acordo com seus estatutos
e com a legislação esportiva vigente, organizam os campeonatos estaduais,
elaboram e organizam o cumprimento das tabelas, formam e determinam os árbitros
(conforme o Estatuto do Torcedor), vendem os direitos de transmissão para a
televisão, registram os clubes e jogadores, emitem transferências e certidões, julgam
ações relativas à disciplina e às competições esportivas nas Comissões e Tribunais
de Justiça D
esportiva.
Para participar de Campeonatos organizados pela Federação Estadual, os
Clubes devem estar devidamente filiados a Entidade de Administração do Desporto,
e os atletas que participarão da competição devem estar registrados e devem pagar
as taxas e
outras obrigações como seguro.
As normas e regulamentos das competições são decididos pela Federação
Estadual, juntamente com os Clubes que têm o direito conquistado de participar do
campeonato/torneio, atendendo as especificações da FIFA, CONMEBOL e CBF.
Após a decisão do formato da competição e dos moldes da tabela, a Entidade de
Administração encarrega-se de organizar e operacionalizar esforços para que a
competição ocorra, e os clubes procuram desenvolver os confrontos com as
melhores condições de compe
titividade possíveis.
3.4.3
Relacionamento entre clube e torcedores
O relacionamento entre o clube e o torcedor ocupa certamente centralidade
no que se refere ao futebol profissional esporte-espetáculo, pois é desta relação
45
que se determina o potencial de negociação do clube. O mero e atitudes dos
espectadores são condicionantes diretos do potencial de geração de recursos para
os clubes.
Mídia, loterias esportivas, empresários, empresas de marketing,
patrocinadores, aparecem do relacionamento clube-
torcedor
, formando uma extensa
e complexa indústria de bens e serviços relacionados à modalidade, convertendo-
a
(entre outros fatores), em um objeto de investimento em busca de repercussões
positivas para o torcedor, num processo complexo.
Os fundamentos do consumo desse produto pelos torcedores
(consumidores primários) estão relacionados, por um lado, às suas qualidades mais
concretas (fatores tangíveis) e, por outro, as suas qualidades mais subjetivas
(fatores intangíveis), sendo o produto esportivo final, por si mesmo, um composto
inter
-relacionado dessas qualidades (BROOKS, 1994; PITTS; STOTLAR, 2002).
Em grande parte, o futebol como produto é um bem, um serviço, ou
qualquer combinação dos dois, projetado para prover benefícios ao torcedor, cujos
desejos e necessidades, apontam Mullin et al. (1995) podem estar relacionados a
três aspectos: os anseios de saúde, diversão e socialização.
Para ofertar um produto/serviço que atenda a esses anseios dos torcedores,
os clubes de futebol profissional desenvolvem esforços na formação de uma equipe
vitoriosa em campo, onde a competência dos jogadores e dos membros da
comissão técnica, no confronto com as equipes rivais da competição, representa o
valor central do produto.
Significa que, em grande parte, o papel do clube, dia
nte das expectativas do
torcedor, está ligado ao jogo, à competitividade da equipe em campo. Assim, os
atletas e comissão técnica exercem suas atividades “em campo” em favor dos
objetivos do clube, representando uma massa de torcedores ávidos pela conquist
a
de vitórias, de superioridade, de beleza.
Não se pode esquecer que, no entorno desse jogo, estão outros elementos
periféricos que também garantem a satisfação dos torcedores, como a arena, o
material esportivo utilizado, a segurança, a praça de alimentação, a organização de
entrada e cadeiras,
boutiques
, entre outros elementos, que representam o cultivo de
um ambiente agradável/excitante para o encontro de serviço-produção do
espetáculo esportivo.
46
Atualmente, oferecer um produto esportivo o se limita a favorecer a
realização do jogo, isto é, o caráter auto-suficiente tem diminuído, havendo a
necessidade de saber responder às dimensões mais subjetivas da demanda, em
relação aos seus desejos e necessidades (DESBORDES,
et al.,
2001).
3.4.4
Relacionamento entre c
lube e mídia esportiva
A mídia esportiva é aqui entendida como os veículos de comunicação que
se envolvem no papel de mediação das informações esportivas. Por um lado, esses
meios de comunicação utilizam-se do acontecimento esportivo para realizar suas
ma
térias, preencher suas pautas e, por outro, a entidade esportiva tem a garantia de
estar na mídia, sempre em maior ou menor grau de intensidade e exposição.
Isso acontece porque existe uma grande demanda de matérias esportivas
por parte do blico, fazendo com que os meios de comunicação social passem a
dedicar um espaço cada vez maior a estas matérias. O esporte foi convertido em um
bom produto porque representa uma maneira de conseguir elevados níveis de
audiência, elemento que determina o potencial de ge
ração de receitas das empresas
da área da comunicação.
A mídia esportiva, na sua lógica de produção, registra crescente importância
para o esporte. Esse mecanismo de mediação, por processos pragmáticos, postos
em funcionamento através de inúmeras operações midiáticas, produz a exposição e
uma “falação” em torno dos fatos e acontecimentos esportivos.
Essa ação da mídia esportiva, sobretudo da televisão, é muito significativa,
a ponto de ser praticamente impossível pensar o esporte profissional, o esporte-
es
petáculo, sem a presença desse mecanismo de mediação. É uma relação de
interdependência e, conforme Nuzman (1996), os esportes que não se adaptarem à
TV estarão fadados ao desaparecimento, assim como as televisões que não
souberem buscar o acesso aos programas esportivos jamais conseguirão sucesso
financeiro e público.
3.4.5
Relacionamento entre clube e investidores
Os investidores são as organizações que, de uma forma ou de outra,
investem dinheiro ou outros esforços (serviços, conhecimento especializado, etc.
)
47
nos clubes, tendo em vista algum tipo de retorno de tal investimento, seja na forma
de retorno financeiro e/ou não-financeiro (relacionamento,
goodwill
, exposição,
segmentação de mercado, institucionalização).
Esses investidores podem ser organizações patrocinadoras (principais,
secundárias e técnicas), organizações de intermediação/revenda (transmissão de
jogos, franquias, licenciamentos), organizações que investem em
merchandising
(publicidade estática, direito de arena), entre outras oportunidades de n
egócio.
De modo geral, essas organizações consomem o produto para estabelecer,
manter, desenvolver ou reforçar os relacionamentos com seus clientes através da
ligação com o produto futebol, tratando-se de esforços do marketing através do
esporte, isto é, para outros consumidores, produtos ou serviços industriais através
do evento (MULLIN
et al.
, 1995; SHANK, 2002).
Mas o se pode, atualmente, entender os investidores como aqueles que
se utilizam do esporte como uma ferramenta. Na lógica do
business
-
to
-
busi
ness
e da
organização imaginária em rede, é possível compreender esses investidores,
também, como produtores do espetáculo esportivo, isto é, da mesma forma que os
clubes adversários, torcedores e mídia esportiva, os investidores são consumidores-
produtore
s do evento.
Essa afirmação é tanto mais cabível quando, no contexto brasileiro atual, se
tenta imaginar o esporte-espetáculo, o esporte profissional, sem a presença dos
patrocinadores. Por isso, compreende-se que, na lógica da rede de relacionamentos
e organização imaginária, os investidores façam parte do núcleo de produção do
produto futebol.
O papel dos clubes, nesse relacionamento com os investidores, é ter
equipes competitivas, conquistar vitórias, ganhar títulos, participar de competições
importante
s e, conseqüentemente, ter grande nível de exposição e identificação com
o maior número de torcedores/consumidores.
4
PROCEDIMENTOS METODO
LÓGICOS
Neste capítulo são apresentados aspectos metodológicos que fizeram parte
da pesquisa, especificamente o tipo de abordagem ao problema e objetivo geral do
estudo, os procedimentos e critérios de seleção da população e amostra,
instrumento e passos para a coleta de dados, os procedimentos de análise dos
dados coletados e limitações do estudo.
4.1
Tipo de pesquisa
O problema de pesquisa foi abordado segundo a proposta estruturalista-
sistêmica, uma vez que se buscou compreender mais os aspectos referentes aos
relacionamentos (confiança e comprometimento) do que propriamente o estudo dos
agentes envolvidos no “sistema” de relacionamentos do núcleo de produção do
futebol. Os esforços de pesquisa estiveram voltados para condições geradoras da
manutenção e reforço dos relacionamentos.
Nessa abordagem, optou-se pela trabalhar simultaneamente com a
qualidade e quantidade de aspectos determinantes da confiança e
comprometimento, portanto, o estudo foi de natureza quali-quantitativa. A qualitativa
caracterizou
-se pela determinação de padrões, seleção e categorização de valores,
crenças, atitudes que estariam determinando confiança e comprometimento nos
relacionamentos entre o clube e demais agentes do núcleo de produção do futebol.
A abordagem quantitativa foi utilizada como suporte de interpretação da qualidade,
pois os fatores categorizados foram quantificados, para que se pudesse medir,
comparar os resultados.
Para atingir o objetivo geral do trabalho, optou-se pelo tipo de pesquisa
denominada exploratória, uma vez que o trabalho foi desenvolvido com a finalidade
de obter maior compreensão do problema estudado. Mediante a amplitude de
fatores, que poderiam determinar os níveis de confiança e comprometimento nos
relacionamentos entre clubes e agentes do núcleo de produção, optou-se pela
exploração dos dados para definir com mais precisão o problema de pesquisa.
Diante disso, com base nessa exploração inicial, foram construídas várias hipóteses
em torno do problema de pesquisa.
49
4.2
Local
Os dados do estudo foram encontrados nas relações interorganizacionais,
estabelecidas por ocasião da realização do Campeonato Gaúcho de Futebol,
especificamente entre Clubes e a Federação Gaúcha de Futebol, Torcidas
Organizadas dos Clubes estudados, Veículos de Comunicação e Investidores
(patrocinadores).
4.3
População e amostra
O universo do estudo foi composto pelas pessoas que representam e/ou
dese
nvolvem atividades profissionais nos clubes e outras organizações/agentes do
núcleo de produção espetáculo de futebol denominado Campeonato Gaúcho de
Futebol. O procedimento de amostragem da pesquisa foi do tipo não-
probabilístico,
pois os sujeitos do estudo foram selecionados de maneira intencional, por critério de
conveniência aos objetivos geral e específicos do trabalho.
As organizações que compõem o estudo foram selecionadas segundo os
seguintes critérios de conveniência:
Produto-Espetáculo de Futebol: o produto-espetáculo de futebol selecionado foi o
Campeonato Gaúcho de Futebol, por 4 (quatro) motivos: 1) em vista da sua tradição
no cenário esportivo nacional e estadual, tratando-se de uma competição que
acontece desde 1919; 2) pela polarização presente da rivalidade entre dois
importantes clubes brasileiros, o Grêmio
Foot
-Ball
Porto
-Alegrense e Sport Club
Internacional de Porto Alegre; 3) pelos avanços da Federação Gaúcha de Futebol
em termos de representatividade dos clubes, referente a negociação dos direitos de
televisionamento e a venda de pacotes de publicidade para todos os estádios; e 4)
pela presença do Grêmio
Foot
-Ball
Porto
-Alegrense, um clube de muita reputação
no cenário esportivo nacional (1º no ranking de clubes da CBF), mas que, no ano
de
2005, foi rebaixado e disputou a Série B do Campeonato Nacional de Futebol.
Entidade de Administração do Futebol: a entidade de administração selecionada
foi a Federação Gaúcha de Futebol, pelo seu papel federativo, de organização e
gestão do Campeonato Gaúcho de Futebol, prezando pelos interesses dos Clubes,
50
da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e Federação Internacional de Futebol
Associado (FIFA) e seus objetivos.
Clubes de Futebol: do Campeonato Gaúcho de Futebol e dos filiados da
Federação Gaúcha de Futebol foram selecionados 3 (três) clubes: o Grêmio
Foot
-
Ball
Porto
-Alegrense, o Sport Club Internacional de Porto Alegre e o Esporte Clube
Juventude, de Caxias do Sul. O critério de conveniência para a seleção desses
clubes foi a sua importância no cenário esportivo Nacional e do Estado do Rio
Grande do Sul, conforme segue: O Grêmio
Foot
-
Ball
Porto
-
Alegrense, clube fundado
em 15 de setembro de 1903, ocupa o 1º lugar no ranking de clubes da Confederação
Brasileira de Futebol (CBF), tendo sido: Campeão Mundial de Clubes (1983),
Campeão da Copa Libertadores da América (1983 e 1995), Campeão da Recopa
Sul
-Americana (1996), Campeão Brasileiro Série A (1981 e 1996), Campeão da
Copa do Brasil (1989, 1994, 1997 e 2001), Campeão da Copa Sul (1999), Campeã
o
Estadual 33 vezes. O Sport Club Internacional de Porto Alegre, fundado em 4 de
abril de 1909, ocupa a posição no ranking de clubes da Confederação Brasileira
de Futebol (CBF): Campeão Brasileiro (1975, 1976 e 1979), Campeão da Copa do
Brasil (1992) e Campeão do Estado por 37 vezes. O Esporte Clube Juventude, de
Caxias do Sul, fundado em 29 de junho de 1913, ocupa a 27ª posição no ranking de
clubes da Confederação Brasileira de Futebol (CBF): Campeão da Copa do Brasil
(1999), Campeão Brasileiro –
Série B (1994), Campeão Estadual (1998).
Torcedores:
as organizações selecionadas, em termos de torcedores, foram as
seguintes torcidas organizadas: Torcidas Organizadas Garra Tricolor
e
Super Raça
do Grêmio
Foot
-
Ball
Porto-Alegrense, Torcidas Organizadas
Camisa
12
e
F.I.C.O
.
do
Sport Club Internacional de Porto Alegre e Torcida Organizada
Papada
do
Esporte Clube Juventude. Optou-se pela seleção de Torcidas Organizadas como
amostra pelo alto grau de comprometimento dos membros destas organizações nas
trocas com o
s clubes.
Mídia esportiva: os veículos de comunicação selecionados para o estudo foram:
os Jornais Zero Hora e Correio do Povo, as dios Gaúcha e Guaíba e a Emissora
de TV RBSTV/TVCom todas do Rio Grande do Sul. O critério de seleção desses
veículos de comunicação foi a circulação/audiência deles, como também a
quantidade de informações esportivas veiculadas por eles, diariamente, sobre o
Campeonato Gaúcho de Futebol (durante a temporada) e sobre os clubes
selecionados.
51
Investidores:
os investidores selecionados foram aqueles que estabelecem
relacionamentos de negócio com os clubes em diferentes categorias. São eles:
Banco Banrisul, empresa do setor financeiro, patrocinador oficial do Grêmio e do
Internacional;
DalPonte, empresa de materiais esportivos, patrocinadora técnica
(materiais esportivos) do Juventude; e a
Unimed
, empresa do setor de saúde,
patrocinadora secundária do Grêmio e do Internacional.
Dessas organizações selecionadas, participaram da amostra 22 (vinte e
duas) pessoas, sendo 7 (sete) ligadas aos clubes, 2 (duas) à Entidade de
Administração do Futebol, 5 (cinco) às Torcidas Organizadas dos Clubes, 5 (cinco) à
mídia esportiva e 3 (três) aos investidores. A escolha desses sujeitos da amostra foi
pautada nos seguintes critérios:
Sujeitos dos Clubes:
o
Dirigente 1
8
, do Conselho de Administração do clube, foi
selecionado pela sua participação na tomada de decisões estratégicas do clube; os
Dirigentes 2
,
3 e 4, da área de marketing dos clube, foram selecionados pela suas
funções diretamente vinc
uladas às atividades de marketing dos clubes; o
Dirigente 5
,
da área de administração do clube, foi selecionado pela sua ligação com processos
internos e questões financeiras; o Dirigente 6, da área do futebol profissional do
clube, foi selecionado pelas suas atividades ligadas à equipe de futebol, elemento
central do produto; e o Dirigente 7, da área de assessoria de imprensa, foi
selecionado em virtude da sua função na relação com a mídia esportiva.
Sujeitos da Federação:
o
Dirigente 8 e o Dirigente 9, membros da diretoria da
Entidade de Administração do Futebol, foram selecionados pelo impacto de suas
funções e decisões nas relações com os clubes, mídia esportiva e investidores
(agentes do núcleo de produção).
Sujeitos das Torcidas Organizadas:
os
Dirigen
tes 10
,
11
,
12
,
13
, e
14
, presidentes
das Torcidas Organizadas, foram selecionados pela representatividade que têm
frente aos demais torcedores, como também pela possibilidade de falar sobre o
relacionamento com o clube em vista do comprometimento existent
e na relação.
Sujeitos da Mídia Esportiva:
os
Dirigentes 15
,
16
,
17
,
18
e
19
,
coordenadores/diretores da editoria de esportes dos veículos de comunicação, foram
8
Para preservar a identidade dos entrevistados, no momento de apresentar e discutir os resultados,
será utilizada a denominação
Dirigente para todos, diferenciando
-
os pela numeração.
52
selecionados pela importância que suas funções têm no relacionamento com os
clubes, entidade de
administração, torcedores e investidores.
Sujeitos dos Investidores: os Dirigentes 20
,
21
e
22
, membros da direção das
empresas patrocinadoras, foram selecionados pela importância de seus cargos e o
impacto de suas decisões nos relacionamentos empreendidos com os clubes.
4.4
Instrumentos de coleta de dados
A coleta de dados junto aos sujeitos da amostra foi realizada por meio de
entrevista semi-estruturada. Nesse procedimento, o entrevistado, num período de
tempo que variou entre 10 e 50 minutos (dependendo do cargo/função do sujeito),
respondeu a questões de maneira espontânea, mas seguindo um roteiro
previamente elaborado e apresentado (Apêndice 1).
Esse roteiro foi o mesmo para todos os sujeitos da amostra, contendo 2
(duas) questões relacionadas aos
const
ructos
da troca relacional: 1) o que determina
a confiança entre as partes; e 2) o que determina o comprometimento entre as
partes. Para que os entrevistados se mantivessem no foco da pesquisa, foram
utilizadas como suporte a entrevista, também na forma de roteirizar, um rol de
palavras
-chave relacionadas a aspectos determinantes da confiança e
comprometimento nos relacionamentos. As questões e as palavras
-
chave podem ser
visualizadas no Apêndice 2.
4.5
Procedimentos de coleta de dados
Após a definição das organizações, sujeitos da amostra e instrumento de
coleta de dados, fez-se os contatos com as pessoas selecionadas. Este contato foi
feito pessoalmente, por telefone e por e-mail, sendo inicialmente apresentado os
objetivos da pesquisa e as condições da entrevista (forma de registro e tempo de
duração).
A solicitação de colaboração dos sujeitos da amostra foi formalmente
apresentada por documento que apresentava a procedência do pesquisador, o
orientador do trabalho, os objetivos da pesquisa e as condições de realização da
entrevista (Apêndice 2).
53
No local e horário marcado, apresentou-se o roteiro aos entrevistados (que
havia sido enviado via e-mail) e realizou-se a entrevista, seguindo-se os pontos
desejados. O conteúdo das entrevistas foi registrado em aparelho de gravação
digital marca Panasonic, modelo RR-US360, e posteriormente transferido para o
microcomputador. O tempo total de gravação obtido foi de 8 horas, 7 minutos e 45
segundos.
Com a utilização do
software
Voice Studio Ver. 2.03, da Matsushita
Electric
Industrial, as entrevistas foram degravadas. Por ocasião da transcrição, foram feitas
melhorias no texto visando corrigir erros gramaticais, vícios de linguagem e palavras
repetidas, sem, contudo, interferir no sentido da frase, oração ou sentença
produzida
pelo entrevistado.
4.6
Procedimentos de análise de dados
Com os dados coletados em mãos, as informações foram submetidas à
análise de conteúdo. O primeiro passo para a análise foi a realização de leitura
flutuante, que consistiu em estabelecer contato com as entrevistas deixando-
se
envolver por impressões e orientações do próprio texto.
Após essa primeira etapa foi decidido como o material coletado nas
entrevistas seria explorado, decomposto para depois recompor, a fim de fazer surgir
uma significação necessária à solução do problema de pesquisa. Optou-se pela
organização dos dados de acordo com os objetivos específicos do trabalho, que se
referem à abordagem a cada relacionamento interorganizacional.
Para compor essas categorias (cada relacionamento interorganizacional),
foram realizados os recortes dos conteúdos. Cada recorte realizado representou o
agrupamento de elementos em função da sua significação em relação às intenções
da pesquisa. Esses recortes foram denominados Unidades de Registro.
As
unidades de registro foram compostas pela delimitação de temas, isto é,
fragmentos que correspondiam cada um a um valor, uma crença, uma atitude dos
sujeitos da pesquisa em torno dos relacionamentos interorganizacionais.
Simultaneamente, o significado dos temas para organização foi produzido à luz dos
fundamentos teóricos do estudo, isto é, do marketing de relacionamento, marketing
esportivo e marketing de clubes.
54
Com as unidades de registro organizadas, num total de 975 (novecentas e
setenta e cinco), pass
ou
-se a agrupá-las em categorias e subcategorias, que não
haviam sido definidas a priori. A definição dessas categorias foi feita na intersecção
entre o significado da unidade de registro e os fundamentos teóricos do trabalho,
com vistas ao atendimento do objetivo geral, ou seja, conhecer os
fatores
determinantes
da confiança e comprometimento nos relacionamentos.
Na elaboração das categorias foi tomado o cuidado (no sentido de tentativa)
de englobar o ximo de conteúdo possível, desenvolvendo categorias precisas, de
maneira que ficasse claro onde colocar cada uma das unidades de registro e que
estas categorias fossem mutuamente exclusivas. Apesar dos esforços, alguns
conteúdos não foram utilizados pela falta de relação com o interesse da pesquisa.
Com as unidades de registro organizadas em categorias e subcategorias
(que representavam os fatores determinantes), o próximo passo foi a disposição
delas no que refere ao impacto na determinação de maiores ou menores níveis de
confiança e comprometimento nos rela
cionamentos interorganizacionais estudados.
Essa disposição foi apresentada em quadros sinópticos que representaram
um mapeamento dos fatores e o impacto na confiança e comprometimento. Nesse
mapeamento, foi ilustrado o sentido do impacto e sua caracterização positiva ou
negativa nos níveis de confiança e comprometimento, como também a quantidade
de unidades de registro observadas em cada categoria e subcategoria.
A interpretação do impacto das categorias e subcategorias (fatores), na
determinação da confiança e comprometimento, seguiu, em primeiro plano, um
caminho qualitativo, explorando efetivamente a qualidade do significado e do
impacto. Dessa interpretação, considerando o perfil exploratório da pesquisa, as
considerações foram sendo apresentadas no decorrer da discussão através de
hipóteses.
Como suporte (em segundo plano) foi utilizado um caminho quantitativo,
pela verificação da freqüência com que as categorias e subcategorias apareceram,
tendo em vista a constatação de tendências. Através destas ten
dências, procurou
-
se
conhecer os fatores mais enfatizados, mais salientes no conteúdo das entrevistas e,
portanto, nos relacionamentos.
Essa interpretação quali-quantitativa dos conteúdos categorizados e
mapeados sobre cada relacionamento interorganizacional foi, por último, feita em
termos gerais para as considerações finais, enfatizando, nesse momento, os fatores
55
mais salientes na determinação da confiança e comprometimento nos
relacionamentos do núcleo de produção do futebol.
4.7
Limitações do estudo
A lim
itação do trabalho está na sua autoridade e legitimação para determinar
a intensidade do impacto dos fatores conhecidos, nos níveis de confiança e
comprometimento, nos relacionamentos entre os agentes do núcleo de produção do
futebol. Em vista das escolhas metodológicas, o estudo não tem condições de
apontar maior ou menor nível de impacto na determinação da confiança e
comprometimento.
Em vez disso, o trabalho tem autoridade e legitimidade para apontar,
sobretudo para categorizar, em caráter exploratório, a existência deste ou daquele
fator que, hipoteticamente, tem impacto positivo ou negativo nos níveis de confiança
e comprometimento no relacionamento entre os agentes. O propósito disso foi
produzir um primeiro “olhar para núcleo de produção do futebol com as lentes do
marketing de relacionamento”.
A partir dessas contribuições, é que poderão ser desenvolvidas outras
pesquisas que possam ter condições de determinar com maior autoridade e
legitimidade a qualidade e quantidade do impacto dos fatores no grau
de confiança e
comprometimento.
5
RESULTADOS E DISCUSS
ÃO
Para dar conta de conhecer os fatores determinantes da confiança e do
comprometimento, nos relacionamentos do núcleo de produção do futebol, a
apresentação e discussão dos resultados foi orga
nizada em acordo com os objetivos
específicos do trabalho.
Assim, os dados serão apresentados e discutidos conforme ilustra a Figura
1 (na próxima página). Em primeiro plano (traços contínuos), estão os
relacionamentos do Clube com: Clubes Adversários (R1); Federação Gaúcha de
Futebol (R2); Torcedores (R3); Mídia Esportiva (R4); e Investidores (R5). E, em
segundo plano, estão os relacionamentos em torno do clube: Torcedores e
Federação Gaúcha de Futebol (R6); Torcedores e Clubes Adversários (R7);
Torcedores
e Investidores (R8); Torcedores e Mídia Esportiva (R9); Mídia Esportiva
e Federação Gaúcha de Futebol; Mídia Esportiva e Investidores; e Investidores e
Federação Gaúcha de Futebol. Em segundo plano (traços pontilhados) estão os
relacionamentos entre os agentes em torno dos relacionamentos com o clube (R6 a
R12).
Nesse esquema de relacionamento, apresentado pela Figura 1, o clube
ocupa centralidade porque é entendido como o centro de competências que deve
dispor de recursos e habilidades para sustentar a rede de relacionamentos formada
pelo núcleo de produção do espetáculo de futebol (produto de natureza agregada e
complementar).
O papel desse centro de competências é estabelecer, manter, nutrir trocas
relacionais com as organizações/pessoas, num
continuum
crescente, procurando
alinhar, verticalizar os esforços de todos com o objetivo de desenvolver, distribuir,
entregar o melhor valor do produto futebol.
Para produzir e alimentar essa troca relacional é necessário aos clubes
produzir esforços para configurar da melhor maneira possível os níveis de confiança
e o comprometimento nos relacionamentos com as organizações/pessoas do cleo
de produção, bem como prestar atenção nas relações entre essas organizações.
A partir deste momento, portanto, são apresentados os fatores que
determinam os níveis de confiança e comprometimento nos relacionamentos do
núcleo de produção.
57
FIGURA
1
Esquema de relacionamentos entre os agentes do núcleo de produção do produto futebol.
58
5.1
Relacionamento en
tre Clube e Clubes Adversários (R1)
Sobre o relacionamento entre os clubes e seus adversários (R1) foram
extraídas das entrevistas 58 (cinqüenta e oito) unidades de registro. Conforme se
pode vislumbrar na Figura 2 (na próxima página), os resultados indicam que são 4
(quatro) os fatores geradores de confiança e comprometimento entre os clubes: 1)
investimentos específicos; 2) interdependência; 3) compartilhamento de valores; e 4)
comunicação.
A interdependência, representada por 35 (trinta e cinco) unidades de
registro, refere-se a dependência recíproca, isto é, a condição de que para atingir
seus objetivos organizacionais (competitividade e equilíbrio/lucro financeiro) os
clubes necessitam manter os relacionamentos entre eles no exercício da
competição
-
co
operação, pois o nível de comparação de alternativas de
relacionamento é limitado, em vista das características de realização das
competições. No caso do Campeonato Gaúcho de Futebol, são 18 associações
determinadas pela classificação em competições anteriores, não havendo também a
possibilidade de escolha dos adversários, pois os confrontos do espetáculo são
determinados por sorteio, entre outras ações, visando o equilíbrio técnico da
competição (FGF, 2005).
Se a competição é bem equilibrada em termos de nível técnico dos clubes,
maior será a interdependência e o comprometimento nos relacionamentos
empreendidos entre eles. Portanto, o grau de interdependência pode ser
estabelecido por condições simétricas e assimétricas de dependência. Ao mesmo
tempo em que uma associação procura ser melhor que a outra deve haver
semelhança no nível de competitividade das duas para garantir a “incerteza do
resultado”, um dos mais importantes ingredientes do produto futebol.
Mas, por mais que exista a necessidade do relacionamento equilibrado, nem
sempre as partes estão dispostas a fazerem esforços máximos para mantê-
lo
equilibrado, procurando ganhar a todo custo. Isso é caracterizado pela busca
constante do desequilíbrio, mesmo que o equilíbrio seja importante. Essa
ambigüida
de foi categorizada no presente estudo como simetria e assimetria na
dependência.
59
FIGURA
2 –
Quadro sinóptico dos fatores determinantes do comprometimento e confiança no relacionamento entre Clube e Clubes Adversários.
A dependência simétrica, representada por 9 (nove) unidades de registro,
significa a necessidade de manter o relacionamento para atingir os objetivos
organizacionais e a existência de esforços para manter esse relacionamento. Nesse
caso, dois são os fatores constatados que determinam a dependência: 1)
importância dos confrontos (4 unidades de registro) e 2) reputação dos clubes (5
unidades de registro).
Sobre a importância dos confrontos foi possível perceber que, na medida em
que os confrontos são mais importantes e decisivos dentro de uma competição,
aumenta
-
se a interdependência entre os clubes. Um exemplo disso é a afirmação do
Dirigente 4, para quem o primordial, “[...] é se manter, se enquadrar, se desenvolver
na elite do futebol brasileiro, isso é o que visam
os, nosso foco hoje para fazer futebol
é se manter na Série A [...]”.
Da mesma forma, pode haver um crescimento da interdependência pela
reputação (histórico de conquistas e massa de torcedores) das equipes envolvidas
na competição. Essa condição também se reflete na afirmação do Dirigente 4, ao
afirmar que ou tu vinga na Série A e na rie B ou tu está fora do resto, então este
é o nosso objetivo principal
”.
Por outro lado, a interdependência constatada no relacionamento entre os
clubes, “dentro” da competição, também sofre o impacto de um fator negativo, a
Assimetria na Dependência, com a ocorrência de 26 (vinte e seis) unidades de
registro. Essa assimetria na dependência se refere ao fato de que, mesmo havendo
a necessidade de manutenção do relacionamento para atingir objetivos tuos, isto
é, a dependência, não se observa uma disposição equilibrada nos relacionamentos
entre os clubes, o que leva a uma diminuição do comprometimento entre as partes.
Essa questão trata-se de uma relação de ambigüidade, pois ao mesmo
tempo em que tal desequilíbrio leva a um menor comprometimento entre os clubes,
podendo prejudicar a produção do espetáculo, está claro que a assimetria da
dependência é um fator que agrega valor ao produto.
A assimetria, conforme apontam os dados apresentados, é determinada por
2 (dois) fatores: 1) conflitos de interesses (15 unidades de registro); e 2) rivalidade
(11 unidades de registro). Os conflitos de interesses estão relacionados a ações
tomadas por um Clube, mesmo sabendo da relação de dependência existente com
outros Clubes, conforme se percebe na afirmação do Dirigente 3:
61
[...] a competição não atrapalha, o que atrapalha o estas relações porque
elas poderiam no conjunto beneficiar uma comunidade, beneficiar a
sociedade, mas isto o ocorre, cada um quer disputar para ganhar mais e
mais a sua posição de liderança no mercado.
a rivalidade tem vínculo com a história dos relacionamentos entre os
clubes. Quanto maior for a rivalidade historicamente constituída entre as equipes,
possivelme
nte maior será a assimetria na dependência. Por exemplo, a rivalidade
entre o Internacional e o Juventude, salientada pelo Dirigente 3, ao afirmar que
o
[clube] não tem interesse nenhum em sentar com ninguém para conversar, eles se
acham auto-
suficientes
eu acho e não querem nem conversa sobre isto, mas não
problema nenhum [...]
”.
Com base nesses dados, acerca da interdependência, foi possível propor as
seguintes hipóteses:
H1
Quanto mais importante for o confronto dentro da competição,
maior será o c
omprometimento nos relacionamentos entre os clubes.
H2
Quanto maior for a reputação das equipes dentro da competição,
maior o comprometimento nos relacionamentos entre os clubes.
H3
Quanto maiores e mais constantes forem os conflitos de
interesses, menor será o comprometimento no relacionamento entre
os clubes.
H4
– Quanto maior for a rivalidade entre os clubes, menor será o
comprometimento no relacionamento entre eles.
O compartilhamento de valores entre os clubes também se caracterizou
como um fator determinante da confiança e do comprometimento nos
relacionamentos, com 16 (dezesseis) unidades de registro observadas. Esse
compartilhamento de valores refere-se ao grau com que os clubes compartilham
ações, metas, políticas, para o atendimento de seus objetivos (competitividade e
equilíbrio/lucro financeiro).
De acordo com os dados encontrados, 2 (dois) são os principais
determinantes de maior ou menor compartilhamento de valores entre os clubes por
ocasião do desenvolvimento do produto futebol (competição): 1) a cooperação entre
os clubes; e 2) a convergência entre os clubes.
A cooperação significa ações conjuntas dos clubes para atingir determinados
objetivos organizacionais mútuos, como foi o exemplo citado pelo Dirigente 9:
Existe
uma disputa em campo, ali são inimigos, são adversários, mas negocialmente, a
cada negócio, [...], conversam o tempo todo, olha o [Clube] precisa disso, não pode
ceder naquilo, há então está bom, para mim serve.
62
Assim como a cooperação, a convergência tamm pode ter impacto n
o
compartilhamento de valores. Essa convergência é definida como a similaridade e
compatibilidade de metas, mesmo que não haja a operacionalização conjunta delas.
Um exemplo disso, é a situação descrita pelo Dirigente 4 ao dizer que
o futebol é a paixão nacional, e o que tem mais hegemonia é o futebol em
relação aos outros esportes, mas o futebol não sabe utilizar isto ao seu
favor, não pressiona Congresso, não pressiona o Executivo de forma
unânime, ou seja, vai às vezes um clube defender os seus inter
esses,
outros grupos para defender os interesses [...].
Esses fatores, relacionados ao compartilhamento de valores entre os clubes,
sugerem que:
H5
– Quanto maior o grau de cooperação entre os clubes, maior será a
confiança e o comprometimento entre eles.
H6
– Quanto maior o grau de convergência entre os clubes, maior será
o grau de confiança e comprometimento entre eles.
Ainda, a comunicação foi verificada como determinante da confiança entre
os clubes, com 2 (duas) unidades de registro. Essa categoria representou o
compartilhamento de informações oportunas entre os clubes para o benefício de
ambas ou uma das partes. Em sua entrevista, o Dirigente 9 mencionou um fato que
caracteriza essa categoria. Segundo ele,
[...] as pessoas, às vezes, isto acontece to
dos os meses, batem num [Clube]
e dizem eu fechei no [Clube] por 10 mil por mês, eu digo somente um
instante e ligo para o diretor de marketing do [Clube] e confirmei que esta
pessoa fechou na verdade por 15 mil por mês. As pessoas ficam surpresas
vendo qu
e os departamentos se falam, claro, isto acontece o tempo todo.
Fatos como esses podem indicar que:
H7
Quanto melhor for o fluxo de informações, isto é, a comunicação
entre os clubes, maior será a confiança entre eles.
A discussão dos dados parece indicar que os clubes estão voltados
(assimetricamente) para relacionamentos ou outro clube, sem visualizarem a
relevância desta simetria para a competição. Os clubes, no ímpeto de conquistarem
vitórias pela performance técnica/tática da equipe dentro do campo, em grande
medida, acabam valorizando a rivalização, mesmo sabendo da importância do
adversário na produção do espetáculo.
Essa competição tem razão de ser, pois os clubes competem pelos mesmos
mercados de torcedores, de patrocinadores e pelos mesmos espaços na mídia
esportiva. Nesse contexto, a vitória é realmente um grande indicador de resultado
63
positivo que gera mais resultados positivos. Contudo, como lembra Brook (2005), é
necessário entender que a rivalidade está presente dentro de uma competição, qu
e
os clubes não podem deixar de pensar no resultado da competição.
Quanto mais equilíbrio da competição, melhor será o produto e maior será a
incerteza. Esta incerteza, no entanto, deve ser valorizada pelos clubes como fator de
simetria da dependência em vista do valor da competição, não somente como
diferenças entre os clubes, algo que também é importante de ser cultivada em outro
nível, no de jogadores e torcedores.
5.2
Relacionamento entre Clube e a Federação Gaúcha de Futebol (R2)
Sobre o relacionamento entre Clubes e a Federação Gaúcha de Futebol
(R2) foram encontradas 104 (cento e quatro) unidades de registro. Estas unidades,
conforme ilustra a Figura 03 (na próxima página), foram organizadas em 5 (cinco)
categorias que representam fatores precursores d
a confiança e do comprometimento
(Figura 3, abaixo). As categorias são: 1) benefícios do relacionamento; 2)
interdependência; 3) conhecimento especializado; 4) investimentos específicos; e 5)
comunicação.
Com 60 (sessenta) unidades de registro, a categoria benefícios obtidos
pelas partes na interação entre Clubes e a Federação Gaúcha de Futebol representa
um fator relevante como precursor do comprometimento no relacionamento. Estes
benefícios são entendidos como a qualidade do produto/serviço e a satisfação do
consumidor em relação às promessas. No caso desta relação (R2), os benefícios
são determinados por 4 (quatro) fatores antecedentes ou subcategorias: 1)
consenso de domínio; 2) convergência de clubes; 3) distribuição equânime; e 4)
regulação.
O consenso de domínio, que teve a freqüência de 6 (seis) unidades de
registro, está relacionado com a capacidade de aceitação mútua dos Clubes e
Federação Estadual sobre papéis, tarefas e funções relevantes ao relacionamento.
A hipótese é que, quanto maior for o consenso de domínio constituído nas relações
entre os Clubes e a Federação, maiores serão os benefícios e, por conseqüência
disso, o comprometimento nos relacionamentos.
64
FIGURA
3 Quadro sinóptico dos fatores determinantes do comprometimento e confiança no relacionamento entre Clube e Entidade de Administração do
Desporto.
65
A Federação Gaúcha de Futebol procura desenvolver este consenso
fomentando a discussão, como descreve o Dirigente 8:
[...] a organização nunca é imposta a forma de disputa de campeonato pela
federação, a federação obviamente vai levar uma proposta para a
organização, normalmente eu levo, principalmente para a segunda divisão
2, 3 propostas, formas de campeonato justamente para colocar a discussão.
Apesar disso, o consenso de domínio nos relacionamentos nem sempre
representa um sentimento de equilíbrio. O Dirigente 9 lembra que
[...] no momento em que se chega a uma fórmula, no mínimo, meia dúzia
fica descontente, mas neste quesito tem que cumprir, pois a fórmula do
campeonato está assinada por todos, mas sempre vai ter alguém que vai
achar que o patrocinador não é o que ele gostaria ou que o valor não é o
que ele gostaria de receber.
Do mesmo modo que o consenso de domínio, a convergência de clubes
também foi observada como um aspecto determinante na obtenção de benefícios no
relacionamento entre Clubes e Federação, com a freqüência de 5 (cinco) unidades
de registro. Trata-se da similaridade de valores organizacionais e da compatibilidade
das metas entre as organizações envolvidas no relacionamento, sendo que quanto
maior for esta similaridade e compatibilidade, maiores serão também os benefícios.
Um exemplo dessa categoria foi apresentado pelo Dirigente 3, que
corrobora essa hipótese afirmando que
[...] tem que
ser assim, se não, não existe um campeonato sem que haja um
grupo que organize ele, que busque um patrocínio, que consiga com a força
de vários clubes poder conseguir o televisionamento, enfim que tenha uma
força política pela representatividade de muitos
clubes de futebol [...].
Mas, pela quantidade de unidades de registro (27) que foram alocadas na
categoria distribuição equânime, parece ser esta uma significativa representação de
benefícios. Essa distribuição refere-se à divisão e distribuição dos benefícios e
tarefas entre os Clubes em vista do melhor equilíbrio da competição, sendo que
quanto mais equilibrado for a divisão entre as partes, melhor será o sentimento de
satisfação dos Clubes e da própria Federação.
Mas esse equilíbrio é realmente complicado de se obter pela Federação
Gaúcha de Futebol. O Dirigente 1 justifica essa dificuldade ao se reportar à falta de
equilíbrio no campeonato:
[...] a realidade hoje é outra, hoje você ir jogar uma partida, vamos ser
francos, tirando algumas praças excepcionais, jogar uma partida em
Cachoeira, com todo o respeito, com um vestiário que é a metade desta
sala, que tem um chuveiro frio, uma tampa de vaso sanitário imunda, um
campo cheio de caroço e buraco e você pagar 50, 60 mil, em média, para
66
atletas disputarem uma partida lá, com um campo que, por mais que ele
venha a lotar, vai dar 3 mil pessoas, 4 mil pessoas, você vem de com um
prejuízo estupendo
.
Para dar conta desse equilíbrio, quanto melhor for a organização produzida
pela Federação Gaúcha de Futebol, melhores serão os benefícios. As 22 (vinte e
duas) unidades de registro que se reportaram a esta questão de organização foram
colocadas na categoria regulação, que se refere à materialização de condições para
que haja a convergência e o equilíbrio nos relacionamentos entre clubes, através do
estabelecimento de normas e regulamentações específicas.
Exemplo dessa regulação é apresentado pelo Dirigente 5 ao comentar
sobre as mudanças do calendário de jogos. Para este administrador, a questão de
regulação
[...
] depende da legislação e depende de um agente que é a Federação
Gaúcha e a CBF, principalmente a CBF que estabeleça condições, regras
mais duradouras, calendários mais conhecidos em um tempo maior, hoje
ainda, apesar que a lei ter que sair um ano antes, ainda temos mudança de
calendário durante o andar do campeonato
.
Então, sobre os benefícios do relacionamento como fator determinante do
comprometimento, com base nos dados apresentados, pode
-
se propor que:
H8
Quanto maior for a habilidade de cultivar o consenso de domínio
entre clubes, maior será o comprometimento entre Clubes e
Federação.
H9
Quanto maior for a habilidade de fomentar a convergência dos
clubes dentro da competição, maior será o comprometimento entre
Clubes e Federação.
H10
Quanto mais equilibrada for a distribuição de benefícios e
tarefas pela Federação, maior será o comprometimento entre Clubes e
Federação.
H11
Quanto mais fortes e duradouras forem as normas e
regulamentações da Federação, maior será o comprometimento entre
Clubes e
Federação.
Esse comprometimento também pode ser “alimentado” pela
interdependência entre Clube e Federação. A interdependência verificada em 24
(vinte e quatro) unidades de registro está relacionada a dependência entre as duas
partes, pois ambas necessitam do relacionamento para desenvolver suas atividades
e atender seus objetivos. Esta interdependência pode ser determinada por 3 (três)
fatores antecedentes: 1) necessidade de filiação; 2) atendimento às normas; e 3)
reputação.
Quanto à necessidade de filiação foram constatadas 9 (nove) unidades de
registro que dão conta da obrigatoriedade de vínculo à Federação Estadual para
67
participar do mercado. O Dirigente 2, sobre este assunto, afirma que uma
necessidade de estar vinculado, porque
[...] é difícil porque tu não entra no mercado, não entra, "os caras" não
deixam tu entrar, "os caras" te boicotam, é como esta acontecendo hoje
com o Basquete, não sei se tu tem acompanhado, tem a Liga do Oscar
agora, quem joga a Liga não pode participar da Seleção Brasileira, o
clube que disputar pela Liga não vai participar de competições
internacionais. Então tem uma série de coisas que vão te vetando, te
boicotando, é complicado. Este é o esporte no Brasil.
Essa necessidade de vinculação, conforme 7 (sete) unidades de registro
constatadas, pode ser por questões legais, de normatização, como assevera o
Dirigente 3, ao dizer que a relação com a Federação e com os Clubes é uma
relação normal, necessária, para que se cumpram as leis”, cuja questão é também
confirmada pelo Dirigente 4, ao afirmar que para você funcionar, para você
operacionalizar, você tem que estar cumprindo o que eles determinam, as normas
deles, mas você não tem uma relação muito fechada, você tem uma dependência
naquilo que é legal [...]
”.
Ainda, a reputação pode determinar a dependência no relacionamento entre
o clube e a Federação (8 unidades de registro verificadas nesta categoria). Nesse
caso, por exemplo, a reputação de um Clube pode fazer com que a Federação fique
dependente da relação para atingir seus objetivos, como é o caso das equipes do
Grêmio e do Internacional, citado pelo Dirigente 9, ao afirmar que [...] um
campeonato sem Grêmio e Inter não interessa para ninguém, não tem televisão, não
tem patrocinador”. O mesmo, certamente, pode ocorrer inversamente se, por
exemplo, uma Federação estiver administrando uma competição muito importante,
da qual os clubes dependam.
Em que pese essa interdependência, considerando os dados apresentados,
pode
-
se sugerir as seguintes hipóteses:
H12
Quanto maior for a necessidade de filiação, maior será o
comprometimento dos clubes no relacionamento com a Federação.
H13
Quanto mais limitado o direito de associação pelas normas das
entidades de administração do desporto, maior será o
comprometimento dos clube
s no relacionamento com a Federação.
H14
Quanto maior for a reputação dos clubes e/ou das competições
administradas pelas Federações, maior será o comprometimento no
relacionamento entre Clubes e Federações Estaduais.
Ainda, como determinante do comprometimento no relacionamento entre
Clube e a Federação, observa-se a categoria de Investimentos Específicos que teve
68
freqüência de 7 (sete) unidades de registro e significa a apresentação de sinais
(calculados ou afetivos) de que existe um compromisso da parte que investe no
relacionamento.
Nesse sentido, pode-se propor que, quanto maiores e/ou mais constantes
forem os investimentos, maior será o comprometimento. O Dirigente 2 apresenta um
exemplo dessa categoria ao afirmar que
[...] estamos jogando a Copa RS com o time B do [Clube], com o time de
Juniores, desculpa, para atender uma solicitação da Federação que seria a
participação do clube neste campeonato, não teria como participar com o
profissional, porque nós estamos voltando para a Série A com a equipe
profissional.
Por parte da Federação, o mesmo pode ocorrer. Um exemplo é a
qualificação dos árbitros, descrita pelo Dirigente 9. Segundo este diretor, a
Federação está
[...] atuando fortemente neste aspecto. Começou nesta semana um novo
curso de formação de árbitros que não tem igual no Brasil, o curso de
formação de árbitros no Rio Grande do Sul é completamente diferente, hoje
tem 1/3 dos árbitros gaúchos que estão impedidos de apitar, porque a
Comissão de Arbitragem não quer que eles apitem porque não t
êm
condições de apitar, não passou no teste físico, não passou no teste de
conhecimento [...].
Por isso, é plausível considerar que:
H15
Quanto mais investimentos específicos no relacionamento,
maior será o comprometimento nos relacionamentos entre os Clubes e
a Federação.
a confiança no relacionamento entre Clubes e Federação é determinada
pelo conhecimento especializado (12 unidades de registro) e pela comunicação (1
unidade de registro). O conhecimento especializado trata-se do conhecimento,
habili
dade e competência das partes para desenvolver as atividades e cumprir os
papéis adequadamente.
O conhecimento especializado, no caso do relacionamento entre Clubes e
Federações, é determinado por duas variáveis antecedentes: 1) o amadorismo
(significa a p
articipação de pessoas que se dedicam por prazer, paixão aos Clubes e
Federação, sem fazer deste conhecimento um meio); e 2) o profissionalismo
(significa a participação de pessoas que se dedicam aos meios para desenvolver as
atividades dos Clubes e Federa
ções).
De acordo com os dados levantados no estudo, quanto mais ligado ao
amadorismo, menor será a confiança. Um exemplo dessa categoria foi apresentado
69
pelo Dirigente 9 sobre a atuação amadora dos dirigentes de clubes, no que se refere
a venda de espaços
de publicidade:
[...] tu não consegue colocar o Itaú porque o cara conseguiu vender para a
agência local do Banrisul por 500 reais uma placa para o Banrisul, porque a
agência tinha 500 reais de verba local para fazer publicidade, isso faz
com que um grande negócio deixe de acontecer porque o cara teima em ter
sua placa do Banrisul.
Por outro lado, está a subcategoria profissionalismo como determinante da
confiança, que pode ser representada pela informação do Dirigente 9 sobre a
mudança no Campeonato que ampliou a exposição e o número de transferências
dos jogadores do Estado:
[...] uma medida simples, complicada de fazer, mas isto faz parte de uma
estratégia empresarial e não de um ato impensado de vamos jogar bola,
não é jogar bola, isto é um negócio e cada vez mais é um negócio, também
uma mente empresarial, negocial por trás disso, senão não funciona.
Esses dados indicam que:
H16
Quanto maior for o envolvimento amador, menor será a
confiança no relacionamento entre Clubes e Federação.
H17
– Quanto maior for o envolvimento profissional, maior será a
confiança no relacionamento entre Clubes e Federação.
Por último, como determinante da confiança no relacionamento entre Clubes
e Federação, observa-se a comunicação, isto é, o compartilhamento de inform
ações
oportunas entre os Clubes e Federação. Houve apenas 1 (uma) unidade de registro
sobre essa categoria, quando o Dirigente 4 esclarece que a comunicação entre o
Clube e a Federação é mais na área de futebol, é uma comunicação mais
burocrática, isso aí
é com a área de futebol, feito direto de diretoria para diretoria, é o
presidente que faz, o vice-
de
-futebol que faz, mas isso pouca influência tem para
nós
”.
Em vista do papel da Federação Gaúcha de Futebol e da comunicação na
determinação da confianç
a, é possível levantar a hipótese de que:
H18
- Quanto mais burocrática for a comunicação entre Clubes e
Federação, melhor será a confiança entre as partes.
Os resultados apresentados indicam que os clubes esperam bastante da
Federação Gaúcha de Futebol, especialmente os benefícios relacionados a
distribuição equânime das competições e ao estabelecimento de um “terreno”
normativo sólido, consistente. Essas normas, ao mesmo tempo em que geram
dependência dos clubes na necessidade de filiação e registro de j
ogadores,
70
determinam algum vel de segurança, pois se refere a tentativa de lidar contra a
divergência de valores dos vários clubes que participam da competição.
Foi possível perceber, com base nos resultados apresentados, que o
conhecimento especializado e a habilidade da Federação Gaúcha de Futebol em
gerar aceitação mútua (consenso de domínio) entre os clubes, produzir
convergência, distribuir de maneira equânime tarefas e benefícios e normatizar estas
questões de maneira forte, é o ponto mais saliente no comprometimento dos clubes
para com a entidade.
Já, no caso do comprometimento da Federação Gaúcha de Futebol para
com os clubes, parece que é fortemente determinado pela reputação do clube, isto
é, da história de conquistas, do número e perfil de torcedores, entre outros
acontecimentos que determinam o “poder” de atração da associação de futebol.
Relacionamentos com clubes de grande reputação são muito importantes para as
Competições da Federação, sobretudo em vista dos benefícios obtidos desta
relação.
5.3
Relacionamento entre Clube e Torcedores (R3)
O relacionamento entre clube e torcedor é o bem mais valioso dos clubes,
por isso os gestores devem estar atentos aos fatores que possam aumentar o grau
de confiança e de comprometimento. Os dados organizados em categorias e
subcategorias, apresentados na Figura 4 (na próxima página), demonstram que há 6
(seis) fatores na determinação dos níveis de comprometimento e confiança entre
clube e torcedor: 1) compartilhamento de valores; 2) benefícios do relacioname
nto;
3) conhecimento especializado; 4) investimentos específicos; 5) reputação; e 6)
comunicação.
Quanto ao comprometimento entre clube e torcedor, observa-se que um
fator determinante é representado pela categoria Benefícios do Relacionamento,
com a ocorrência de 67 (sessenta e sete) unidades de registro. Esta variável tem
ligação direta com a satisfação das partes ao pesarem a experiência de consumo
em relação às promessas, sendo determinada por outros 5 (cinco) fatores
constituintes das seguintes subcategorias: 1) incentivo à equipe; 2) ambiente do
espetáculo; 3) suporte e parceria; 4) competitividade da equipe; e 5)
identificação/pertencimento.
71
FIGURA
4 –
Quadro sinóptico dos fatores determinantes do comprometimento e confiança
no relacionamento entre Clube e Torcedores.
72
A subcategoria Incentivo à Equipe teve 16 (dezesseis) unidades de registro
observadas e representa um grande benefício para os clubes no relacionamento
com o torcedor, pois quanto maiores e freqüentes forem os incentivos da torcida,
melhores serão as condições de trabalho, o que certamente aumenta o
comprometimento para com os incentivadores (torcedores). Este é o desejo dos
dirigentes, como aponta o Dirigente 10, ao descrever que
[...] o principal motivo seria este, incentivar o [Clube] nos momentos difíceis
também, poder levantar a torcida que fica meio acanhada quando está num
momento difícil, quando o time esta jogando mau, ver se consegue levantar
o ânimo do time, dos jogadores, um visual, aparecer, incentivar mais
pessoas a torcerem, por que tem muita torcida, ainda mais aqui no [Clube],
a torcida é muito quieta [...].
Esse incentivo nas arquibancadas do estádio, juntamente com outros tipos
de manifestações como, por exemplo, vaias ao time adversário, são elementos que
compõem outra subcategoria do estudo, o Ambiente do Espetáculo, que teve a
freqüência de 11 (onze) unidades de registro. A produção deste ambiente pela
torcida se configura como benefícios aos clubes, pois quanto mais vibrante for o
espetáculo, melhor será o produto e, por conseqüência, maior será o
comprometimento dos clubes com o torcedor.
O fato ocorrido com a torcida do Grêmio, relatado pelo Dirigente 11,
exemplifica muito bem esse fator ambiente do espetáculo. Segundo esse dirigente,
num determinado jogo, após um desentendimento com um dirigente do clube,
decidiu
-
se não entrar no estádio. Em decorrência disso,
[...] o pessoal da Rádio falava que o estádio estava morto, e quando nós
entramos no segundo tempo [...]. Nós entramos no estádio e
estavam
aplaudindo, tem gente que critica, mas estavam aplaudindo porque nós
estávamos entrando no segundo tempo, aí o estádio não fica morto [...].
Existem esforços, no entanto, em que o torcedor vai além de incentivar ou
contribuir para o desenvolvimento do ambiente do espetáculo. São os esforços de
Suporte e de Parceria dos torcedores no relacionamento com o clube (39 unidades
de registro). Esses momentos são impregnados pelo sentimento de assistência do
torcedor para com o clube, assistência esta que p
ode vir com a contribuição de sócio
em momentos difíceis, viagens longas para apoiar o time, auxiliar na segurança do
estádio, entre outras.
O fato é que esse sentimento de assistência, que leva ao suporte e/ou
parceria com o clube, aumenta tanto o comprometimento do torcedor (que se sente
73
envolvido por aquele ambiente associativo) como também o comprometimento do
clube (que verifica sinais comunicantes do compromisso do torcedor), o que pode
ser constatado com a descrição do Dirigente 4, quando afirma que [...] votem o
dinheiro do seu sócio que mensalmente lhe ajuda e ele não paga para ver os jogos
nossos.
Essa questão também foi descrita pelo Dirigente 1, quando relata os
problemas de estar na segunda divisão do Campeonato Nacional:
[...] esta dificuldade que se teve de conquistar e reconquistar torcedores
para o quadro social foi, não te digo facilitada, mas o ambiente estava
propício para isso, o torcedor compreendeu o drama do Clube, o drama do
time e o socorreu, e socorreu bem, esta é a realidade, tanto é que o Grêmio
durante estes 2 ou 3 ou 4 últimos anos tinha uma média de público
paupérrima de 5 mil, 6 mil, o Grêmio faz 3 jogos que coloca 42 mil pessoas
dentro do Estádio Olímpico, os associados no começo do ano eram 2.500
em dia, hoje nós estamo
s na base de 18,19 mil em dia [...].
Esse exemplo indica, claramente, que o suporte Parceria do Torcedor gera
benefícios para ambas as partes do relacionamento. Para o clube, é importante pela
captação de recursos na fase ruim que se encontrava e, para o torcedor foi
expressivo por estar dando assistência para um grupo ao qual pertence e é
significativo para sua vida social.
Dessa forma, é possível entender que a atividade de suporte/parceria gera
benefícios mútuos (e comprometimento), como também é um fato
r ligado à categoria
Compartilhamento de Valores (que teve 75 unidades de registro). Esta categoria,
como o próprio nome diz, refere
-
se ao compartilhamento de valores entre o clube e o
torcedor.
Os valores entre clube e torcedores parecem ser muito similares, conforme
pode ser constatado na descrição do Dirigente 4:
[...] se começa a perder diminui, mas se neste perder o clube chega num
ponto que começa a correr o risco de cair ele volta, então você que tem
assim aquele momento dele do clube ir mal ele abandona o clube, ele não
fica junto, mas se ele sente que esse mal pode trazer um prejuízo maior ele
volta correndo [...].
Isso indica que o torcedor, ao pesar seus valores e a situação do clube que
faz parte sentimentalmente, desenvolve esforços de suporte/parceria para gerar
resultados positivos. Isso certamente ocorre porque existe um forte
compartilhamento de valores em relação às atividades, metas, princípios, entre clube
e torcedores, até porque se trata de uma organização com fortes raízes
associacion
istas.
74
Os valores compartilhados indicam que os dados são nutridos por 2 (duas)
subcategorias: 1) Identificação/Pertencimento; e 2) Competitividade da Equipe. Das
75 (setenta e cinco) unidades de registro, 26 (vinte e seis) foram alocadas na
subcategoria
Identificação/Pertencimento que representa a atração do torcedor pelo
clube e o pertencimento dele a comunidade de sentido dos torcedores.
Na medida em que tal sentimento de identificação e pertencimento
aumenta, aumentam-se os benefícios do relacionamento para ambas as partes,
como também o compartilhamento de valores comuns a elas. O resultado disso é o
aumento do comprometimento e da confiança no relacionamento entre clube e
torcedor. Um exemplo dessa subcategoria é a afirmação do Dirigente 14:
Olha, para mim poderia ter jogo de futebol todos os dias aqui no estádio, de
tão bom que é estar aqui no campo, independente do time perder ou
ganhar, pelo espetáculo, por tudo o que é, pela fantasia, pela magia que
tem o futebol, acho que tem que ter muito.
Em termos de benefícios mútuos e valores compartilhados, no entanto, a
subcategoria que, tendencialmente, parece ser a mais importante no
estabelecimento da confiança e do comprometimento entre torcedor e clube, é a
Competitividade da Equipe (com freqüência de
49 unidades de registro). Ela engloba
questões como a qualidade dos jogadores e comissão técnica na disputa da
competição com os rivais e o seu potencial para conseguir vitórias e conquistar o
título.
Se a equipe não vai bem em campo, certamente o comprometimento e a
confiança dos torcedores serão abalados, pois os benefícios não são os esperados
(insatisfação) e os valores compartilhados não estarão em equilíbrio. A
competitividade da equipe trata-se de um dos principais fatores antecedentes e que,
por estar dependente da incerteza do jogo, é bastante instável, mas representa
muito na percepção de qualidade do torcedor.
Essa categoria pode ser exemplificada pelo relato do Dirigente 10 sobre a
diminuição do número de componentes da torcida, no ano que o clube caiu para a
segunda divisão do campeonato nacional:
[...] no momento em que o [Clube] estourar, ganhar, vamos supor que
participe no ano que vem da primeira divisão, ganhe um título, enche de
componentes novamente, porque vêm os que vêm pela moda, e tem os
componentes que são fiéis, é muito difícil ter os componentes fiéis, mais é a
moda, tem muita moda no estádio. Esta é a dificuldade na torcida, manter
os componentes.
75
Assim, é possível formular a hipótese de que, quanto maior for a
competitividade
da equipe, maiores serão os benefícios e o equilíbrio nos valores
compartilhados. Conseqüentemente, maiores serão os níveis de comprometimento e
confiança. Por outro lado, para os torcedores que não se sentem tão envolvidos com
o clube a ponto de dar suporte, uma equipe de menor competitividade pode diminuir
os níveis de comprometimento e confiança.
Esses resultados, sobre as categorias Benefícios do Relacionamento e
Compartilhamento de Valores, permitem formular as seguintes hipóteses:
H19
– Quanto maiores e mais freqüentes forem os incentivos à equipe,
pelos torcedores, maior será o comprometimento do clube no
relacionamento com estes torcedores.
H20
Quanto melhor for o ambiente do espetáculo produzido pelos
torcedores, maior será o comprometimento do clube no
relacionamento com estes torcedores.
H21
Quanto maiores forem as ações de suporte e de parceria dos
torcedores, maior será a confiança e o comprometimento no
relacionamento entre torcedores e clube.
H22
Quanto maior for o sentimento de identificação e pertencimento
dos torcedores, maior será a confiança e o comprometimento no
relacionamento entre torcedores e clube.
H23
Quanto maior for a competitividade da equipe, na competição,
maior será a confiança e o comprometimento do torcedor no
relacio
namento com o clube.
Além dos benefícios e compartilhamento de valores, também foi constatado
que o Conhecimento Especializado nas atividades do clube pode determinar
diferentes níveis de confiança do torcedor. Nessa categoria foram encontradas 54
unidade
s de registro, que abordaram questões sobre a formação dos gestores e
jogadores, reorganização da hierarquia de administração, mudanças de processos
internos,
expertise
de funcionários e jogadores, entre outros aspectos que
demonstraram a busca de aprofundamento sobre a gestão do clube, o treinamento
da equipe e realização dos jogos.
Os dados coletados apontam para o fato de que quanto mais conhecimento
especializado for utilizado para o desenvolvimento das atividades dos clubes, maior
será a confiança do torcedor. Exemplo disso é a afirmação do Dirigente 6 sobre a
realidade do futebol:
[...] hoje o futebol é muito mais competitivo porque as técnicas de
preparação física são mais avançadas, então, daqui a pouco você tem um
jogador de menos qualidade, mas com muita força, com muita velocidade e
ele pode equilibrar com um jogador de muita técnica. Então se tu monta
uma equipe desta forma, de um bom preparo físico, de uma boa condição
física com jogadores de um nível médio, tu pode fazer um bom papel e tu
pode atrapalhar as equipes de maior investimento, vamos dizer assim, na
qualidade de jogadores.
76
Portanto, sobre o conhecimento especializado nos clubes de futebol, pode-
se propor que:
H24
Quanto mais conhecimento especializado for disponibilizado e
otimizado nas atividades dos clubes, maior será a confiança dos
torcedores no relacionamento com estes clubes.
Isso significa que os Clubes devem investir no desenvolvimento de
competências. Os investimentos, aliás, representam outro fator determinante do
comprometi
mento no relacionamento entre torcedores e clube. Com 30 (trinta)
unidades de registro, a categoria Investimentos Específicos engloba os esforços
feitos pelos clubes e que comunicam o compromisso com os torcedores, sinalizando
o comprometimento.
Quando um
clube investe em atividades que têm impacto no relacionamento
com o torcedor, possivelmente serão gerados maiores níveis de comprometimento.
No presente estudo, foram 3 (três) os esforços verificados que os clubes
desenvolvem para estabelecer, manter, nutrir, reforçar o relacionamento com os
torcedores. As 3 (três) subcategorias são: 1) acesso aos jogos; 2) periferia do jogo; e
3) ações sociais.
Quanto à subcategoria Acesso ao Jogo, foram apuradas 12 (doze) unidades
de registro cujo conteúdo tratava de ações do clube para facilitar o acesso dos
torcedores e seus materiais nos jogos “em casa” e nos jogos “fora de casa”,
sobretudo pelo fornecimento de ingressos e subvenção de viagens. Esses
investimentos são comuns. De acordo com o Dirigente 12: [...] nos libera o acesso
ao estádio e, na maioria das excursões algum apoio financeiro. Este é o grande
apoio, é a entrada franca para nós que somos sócios da torcida e esse apoio em
viagens para fora do Estado”
.
Investimentos desse tipo no relacionamento com os torcedores e, neste
caso, com a torcida organizada, certamente aumenta o grau de comprometimento
para com o clube, pois se trata de acreditar que este relacionamento é muito
importante para justificar tais esforços para nutri
-
lo, reforçá
-
lo.
O mesmo acontece com melhorias no estádio, na segurança, na entrada
dos torcedores, categorizadas como investimentos na Periferia do Jogo (com
freqüência de 14 unidades de registro). Ao perceber esse tipo de ação, o torcedor
passa a acreditar que existe a preocupação com o relacionamento. Os clubes estão
cientes disso, como relata a preocupação do Dirigente 5:
77
[...] os outros estádios brasileiros não foram construídos para isso, então
precisam ser reformados, ir melhorando. O Inter fez boas reformas, nós
também estamos trabalhando neste formato, com as dificuldades nós
vamos avançando. Então o objetivo da entidade em relação à produção do
jogo
-espetáculo é isso, nós precisamos dar segurança, tirar estas grades,
veja bem se você vai a um espetáculo, se você vai a um cinema, vai a um
teatro, o local é agradável, aqui são grades, são telas, um aparato de guerra
e não um local de espetáculo.
Assim, além de representar melhor conforto para o torcedor no estádio de
futebol, tais investimentos têm um valor simbólico de preocupação dos gestores
esportivos para com o clube, fatores estes que determinam o aumento do
comprometimento dos torcedores.
Também tem valor simbólico o investimento feito pelos clubes em ações
sociais, subcategoria com 4 (quatro) unidades de registro. O objetivo deste tipo de
ação, esclarece o Dirigente 3,
[...] é agregar valores à marca, ao objeto que é o futebol. Na medida em que
eu faço uma ação e a comunidade se fideliza com o clube ela vem ao
estádio. Vindo ao estádio ela paga ingresso, pagando o ingresso nós t
emos
recursos para manter a instituição, para manter os jogadores em dia, pagos,
para poder atingir o fim que é ganhar, ter resultados.
As ações sociais, portanto, são vistas como investimentos específicos que
podem aumentar o comprometimento do torcedor. Nesse sentido, são esforços
calculados pelos gestores do clube, são ações positivas feitas pelos clubes para
criar interesse no relacionamento, para demonstrar algo.
Em vista dessas constatações, relacionadas aos investimentos específicos
realizados pelos
clubes, foram formuladas as seguintes hipóteses:
H25
Quanto maior for o acesso livre/subvenção proporcionado pelo
clube aos torcedores, maior será o comprometimento destes
torcedores.
H26
Quanto maiores forem os investimentos em aspectos da
periferia do jogo (estádio, segurança, entrada, etc.), maior será o
comprometimento dos torcedores no relacionamento com o clube.
H27
– Quanto mais significativas forem as ações sociais desenvolvidas
pelos clubes, maior será o comprometimento dos torcedores no
relaci
onamento com o clube.
Os dados coletados nas entrevistas apontam ainda para a Reputação do
Clube como um determinante da confiança nos relacionamentos entre clubes e
torcedores (21 unidades de registro). Essa reputação é a comunicação de aspectos
concretizados/materializados do clube que provêem sinais de suas futuras ações,
podendo ser determinada por 3 (três) fatores antecedentes ou subcategorias: 1)
reputação da competição; 2) número de torcedores; e 3) histórico de conquistas.
78
Sobre a subcategoria Reputação da Competição, o Dirigente 14 afirma que
[...] a quantidade de torcedores num esdio realmente muda muito de um
campeonato para o outro, pela proporção de um campeonato regional para um
nacional, muda bastante. Isto significa que, quanto maior for a reputação da
competição que o clube participa ou participou, maior se também o vel de
reputação do clube, fator este que tem impacto direto no relacionamento com os
torcedores.
Assim, o Número de Torcedores do clube comunica sua reputação,
antec
ipando níveis de satisfação dos torcedores. Sobre isso, o Dirigente 5 explica
que:
[...] o Flamengo é um clube quebrado, o passivo é centenas de vezes maior
que o ativo, uma empresa qualquer estaria quebrada, não quebra porque
tem uma marca e atrás desta marca existem 35 milhões de torcedores, este
é um patrimônio do Flamengo, um patrimônio imensurável, de um valor
muito grande”. Este patrimônio muito grande, apesar das dificuldades
financeiras, determina o grau de confiança dos torcedores.
Não menos relevante na determinação da reputação é o Histórico de
Conquistas dos clubes. Este histórico representa a quantidade e freqüência de
conquistas no passado do clube, cujo fator é fundamental na confiança do torcedor,
como esclarece o Dirigente 9 ao relatar a importância de ter os grandes clubes
disputando a fase final do Campeonato Gaúcho:
[...] para todos os participantes isso seria o ideal, é claro que quando tem a
participação do Novo Hamburgo, para a comunidade de Novo Hamburgo, é
ótimo, se tiver o Brasil de Pelotas é fantástico para o Brasil de Pelotas, isto
dignifica o futebol do interior, mas como estes clubes têm altos e baixos
muito fortes, num ano eles podem ser campeão e no ano seguinte podem
não disputar o quadrangular final, isto tira o prestígio do
campeonato.
Entretanto, quando a reputação do torcedor também é grande, parece haver
também maior confiança e comprometimento do clube. É o que descreve o Dirigente
4, quando afirma que o compromisso dele com o torcedor é o compromisso de
manter 92 anos de história, aqui tem muita tradição de família, o avô, o bisavô era
juventudista, o filho é juventudista, o neto é juventudista, então é uma tradição que
se mantém
”.
Por estas questões, sobre o papel da reputação na confiança, propõem-
se
as seguintes hipót
eses:
H28
Quanto maior for a reputação da competição que o clube
disputa, maior será a confiança e o comprometimento do torcedor no
relacionamento com o clube.
79
H29
– Quanto maior for o número de torcedores do clube, maior será a
confiança e o comprometimento do torcedor no relacionamento com o
clube.
H30
– Quanto mais significativo for o histórico de conquistas do clube,
maior será a confiança e o comprometimento do torcedor no
relacionamento com o clube.
Por último, verificou-se como variável determinante da confiança nos
relacionamentos entre o Clube e os Torcedores, a Comunicação, com 19 (dezenove)
unidades de registro. Esta categoria refere-se à troca de informações relevantes
entre as partes, em vista da transparência das atividades, sobretudo do clu
be, já que
se trata de uma entidade de princípios associativos.
A transparência através da comunicação, por exemplo, é o desejo do
Dirigente 14. Para ele, as atividades do clube
[...] têm que ter transparência, se tu vende um jogador, a torcida tem que
sa
ber onde é investido, até porque nós contribuímos e temos que ter uma
prestação de contas. Acho que é isso que todo o torcedor quer, é
fundamental isso na confiança”
Na medida em que aumenta a comunicação entre o clube e os torcedores,
certamente aumentam os níveis de confiança no relacionamento. Assim, no que se
refere à comunicação, propõe
-
se que:
H31
Quanto melhor for a comunicação entre torcedores e clubes,
maior será a confiança no relacionamento entre eles.
Em termos de confiança (disposição para contar com um parceiro numa
relação de troca), no que se refere ao relacionamento entre torcedores e clubes, os
indicativos numéricos dos resultados parecem apontar para duas direções. Numa
delas, a confiança do torcedor no clube é fortemente determinada pe
lo
conhecimento especializado que dispõe o clube para realizar suas atividades.
Isso se refere à existência de atletas, membros da comissão técnica,
dirigentes e demais funcionários com competência para desenvolver, da melhor
maneira, o potencial de competitividade do clube. Se o Clube demonstra dispor de
expertise
, criatividade, conhecimento e habilidade para resolver problemas de forma
coletiva e dinâmica, certamente que a confiança do torcedor será aumentada.
Na outra direção, a confiança do clube no torcedor é medida, sobretudo,
pelo comportamento de suporte/parceria. O clube deseja que o torcedor tenha o
sentimento de assistência e, quanto mais saliente for a reputação do torcedor, no
que se refere a este sentimento, maior será a confiança do clube.
80
A
reputação, aliás, é também um fator relevante na determinação da
confiança do torcedor. Na hora de escolher para qual time irá torcer, no momento de
decidir assistir o time no estádio numa determinada competição, o fator reputação do
clube parece ser um elemento decisivo, sendo alimentado pelas histórias de
conquistas, número de torcedores e importância da competição que disputa.
Em que pese o comprometimento do torcedor para com o clube, trata-se de
uma questão passível de ser discutida apenas no grau dest
e comprometimento, pois
uma vez realizada a escolha do time para o qual irá torcer e notificada a
comunidade, esta decisão não pode ser alterada facilmente. Trocar de time,
esclarece Damo (2001), é uma falta gravíssima, podendo gerar suspeitas sobre a
homb
ridade do sujeito, o mesmo podendo ocorrer para quem omite, encobre a
opção clubística.
O empenho pela continuidade da relação pelo torcedor (comprometimento)
sempre vai existir a partir do momento da escolha. A questão é saber o grau deste
comprometimento
e, neste caso, quanto mais parte do clube ele se tornar (defensor
ou parceiro) mais explícito será o compromisso. Isso foi o que os dados apontaram
ao indicarem o sentimento de suporte/parceria, incentivo à equipe e produção do
ambiente do espetáculo como
fatores determinantes.
Esse compromisso do torcedor pode ser alimentado por dois grandes
fatores: 1) a competitividade da equipe, que representa o equilíbrio entre o desejo de
vencer do torcedor e a representatividade do que a associação está produzindo;
e 2)
os investimentos específicos em elementos na periferia do jogo, como segurança,
conforto e bem-estar no estádio, que o caráter de auto-suficiência do jogo tem
diminuído, porque o torcedor pode ter acesso a este em casa.
5.4
Relacionamento entre Clube
e Mídia Esportiva (R4)
Relacionados à interação entre Clube e Mídia Esportiva foram extraídas 248
(duzentas e quarenta e oito) unidades de registro das entrevistas. Estas unidades
foram alocadas em 4 (quatro) categorias que representam os fatores determi
nantes
da confiança e do comprometimento no relacionamento (Figura 5, na próxima
página). As categorias são: 1) interdependência (com 150 unidades de registro); 2)
reputação (com 38 unidades de registro); 3) investimentos específicos (com 28
unidades de registro); e 4) credibilidade (com 32 unidades de registro).
81
FIGURA
5 –
Quadro sinóptico dos fatores determinantes do comprometimento e confiança no relacionamento entre clube e mídia esportiva.
82
A interdependência foi a categoria que mais teve ocorrência de unidades de
registro. Isso aponta para a existência de dependência tua entre os clubes e a
mídia esportiva, isto é, ambos necessitam manter este relacionamento para atingir
seus objetivos. Mas essa dependência o é constantemente equilibrada, co-
existindo ao mesmo tempo fatores que determinam sua simetria e sua assimetria.
A simetria, na dependência, significa um equilíbrio e convergência no
relacionamento. Trata-se de uma subcategoria que teve a freqüência de 56
(cinqüenta e seis) unidades de registro e determinada por dois fatores que são a
base do relacionamento, a troca de produtos/serviços. De um lado, com 36 (trinta e
seis) unidades de registro, o Interesse do Público pelo futebol representa uma rica
fonte de informações que gera audiência e, por conseqüência, uma fonte de
receitas.
Isso foi enfatizado pelo Dirigente 17, ao afirmar, sobre a relação com os
clubes de futebol, que [...] é uma questão um pouco mais complicada, porque boa
parte do faturamento da Rádio Gaúcha vem do departamento de esportese,
[...]
com os clubes, talvez por ser o foco de interesse principal, nós somos obrigados a
aceitar o que tem [...]
”.
De outro lado, com 20 (vinte) unidades de registro, a subcategoria
Visibilidade/Distribuição, garantida pela mídia esportiva, potencializa a exposição
dos clubes o que aumenta o potencial de captação de recursos. Trata-se de um
importante relacionamento, conforme ressalta o Dirigente 5, ao afirmar que se deve
[...] dar valor a esta imprensa de uma forma geral, entram os jornais e as
rádios principalmente, que fazem uma cobertura globalizada desta paixão
que é o futebol, levam para todos os recantos, no domingo não tem quem
ou local que não tenha acesso a um jogo de futebol, pela televisão, pelo
rádio, faz uma capilarização muito grande, muito interessante, neste quesito
a imprensa tem um papel muito interessante, este papel de divulgação, o
papel de reportagem é muito bom e é salutar para o futebol.
No entanto, essa inter-relação em torno da troca de benefícios não é
tranqüila, havendo fatores que determinam uma Assimetria na Dependência (76
unidades de registro). Esses fatores foram organizados em 2 (duas) subcategorias:
1) Oportunidade Oficialista (33 unidades de registro); e 2) Oportunidade Jornalística
(43 unidades de registro).
Por um lado, os clubes desejam que a pauta da mídia tenha convergência
com as informações oficiais, emitidas pelo clube via dirigentes, assessoria de
imprensa ou
site
institucional, quando a mídia esportiva seria, neste caso, uma
83
parceira do clube. Trata-se de aproveitar a oportunidade no espaço midiático para
prover informações benéficas ao clube.
Sobre essa questão, o Dirigente 19 relata um fato ocorrido com os
dirigentes do Grêmio e a Mídia Esportiva:
Elas passaram a semana inteira dizendo que o jogador Sandro do Gmio
iria tomar de 120 a 540 jogos de suspensão se nós víamos na imagem que
o jogador o tinha agredido o outro, no máximo foi uma jogada mais forte
dele, mas agressão não tinha, a imagem estava mostrando, mas daí o
pessoal do esporte, [...] pautam a imprensa esportiva, e esta não reflete
sobre os fatos, o jurídico do Grêmio criou, na segunda-feira, que seria um
julgamento muito difícil e toda a imprensa esportiva deu, ontem tem uma
página da Zero Hora que dizia isso, que teriam que tirar no Tribunal
Superior de Justiça Desportiva, leite de pedra, e que para comar aquilo
não existia porque a imagem mostrava que não tinha agredido e, além
disso, tinha erro de súmula, porque o árbitro o poderia ter colocado
agressão
e outro erro porque ele colocou que tinha agredido um jogador
que nem estava no lance. Então, tinha 2 erros de súmula de juiz, mas a
imprensa esportiva até ontem às 7 da noite, se tu escutou o noticiário da
rádio Gaúcha ontem às 7 da noite era entrevistando os advogados do
Grêmio que pautaram a imprensa gaúcha e ela não percebeu, por isso que
eu digo que ela é ruim. Criaram uma dificuldade, criaram uma situação que
não existia, que, no máximo, o jogador levaria 2, 4 jogos, mas não 120 a
540, criaram algo para valorizar o trabalho deles, somente aqui não passou
nenhum VT, nem entrou no ar para falar estas bobagens, agora ganhou
página na Zero Hora, as Rádios entrevistaram.
Mas, do lado da mídia esportiva, pode-se constatar o mesmo
comportamento oportunista, certamente pelo fato de que o foco desta não é o clube,
mas os leitores, ouvintes, espectadores e os cotistas. Nesse caso, esse mecanismo
de mediação opera pelas Oportunidades Jornalísticas, decidindo os conteúdos e
discursos das matérias com critérios muitas vezes distantes da informação oficial, o
que gera grande parte da assimetria na interdependência.
Em dados momentos, como lembra o Dirigente 16, um momento de
confronto, às vezes de enfrentamento, quando o jornal revela fatos que para o clube
não são interessantes, eu não vou falar em denúncias, embora isto tenha
acontecido
”.
Embora haja esta tensão constante entre clube e mídia esportiva, o
relacionamento se mantém por haver elevados custos relacionados a um término
(subcategoria com 18 unidades de registro)
.
Significa que haveria perdas e gastos
adicionais na procura e estabelecimento de relacionamentos alternativos. A respeito
disso, o Dirigente 17 formula a hipótese de que
se, de repente, deixa de ter uma relação com a dupla Grenal, uma coisa
pouco provável de acontecer, tu deixa de ter este nível de audiência, esta
audiência vai passar para outra Rádio segmentada para o esporte e o valor
do patrocínio, o faturamento da empresa certamente será abalado.
84
Os mesmos custos de término do relacionamento podem incidir sobre os
clubes, caso encerrem relacionamento com um veículo de comunicação significativo,
algo difícil de acontecer pela natureza das duas organizações envolvidas neste
relacionamento. Por isso, com base nos resultados sobre a interdependência, é
possível propor as seguintes hipóteses:
H32
Quanto maior for o interesse do público pelo futebol, maior será
o comprometimento do veículo de comunicação no relacionamento
com o clube.
H33
Quanto maior for a visibilidade/distribuição proporcionada pelo
veículo de comunicação, maior será o comprometimento do clube no
relacionamento com este veículo.
H34
Quanto mais convergentes forem os discursos do veículo de
comunicação com a informação oficial dos clubes, maior será o
comprometimento no r
elacionamento entre as partes.
H35
Quanto maior comportamento oportunista apresentar o veículo
de comunicação nas matérias, menor será o comprometimento do
clube no relacionamento com o veículo.
A interdependência está diretamente relacionada com outro
fator
determinante do comprometimento e confiança no relacionamento entre a mídia
esportiva. Trata-se da
Reputação
, uma categoria que teve 38 (trinta e oito) unidades
de registro e significa a representação dos comportamentos adotados pelos clubes e
veícul
os de comunicação anteriormente e o resultados destes, cujo indicador
comunica sinais que permitem a antecipação da satisfação.
Em se tratando do relacionamento entre clube e mídia esportiva, a
reputação sofre o impacto de 3 (três) fatores antecedentes: 1) o histórico do clube e
seu número de torcedores (19 unidades de registro); 2) a reputação da competição
(8 unidades de registro); 3) a performance na competição (7 unidades de registro); e
4) reputação do veículo de comunicação (4 unidades de registro).
O histórico do clube e número de torcedores inclui as conquistas, rivais,
entre outros acontecimentos que compõem estrutura material e simbólica do clube.
Esse histórico é muito importante no relacionamento com a mídia esportiva, pois
possibilita uma antecipação dos resultados e, conseqüentemente, gera
comprometimento. Um fato relatado pelo Dirigente 18 representa muito bem a
relevância desse histórico na relação entre clubes e mídia esportiva:
[...] alguns anos, por falta de atividade da dupla Grenal no final de semana,
fizemos cobertura do Campeonato Gaúcho em jogos do interior, e ao medir
isso no Ibope eu diria que não rendia, pois o número de ouvintes por
número por hora era muito pequeno, então resolvemos que é mais negócio,
mesmo que não tenha o futebol, fazer entrevistas com pessoas
relacionadas à dupla Grenal, do que fazer o futebol no interior.
85
Essa reputação determinada pelo histórico do clube e número de torcedores
pode, ainda, ser ampliada quando os clubes participam de competições importantes.
A reputação da competição agrega valor e contribui para a determinação do
comprometimento da mídia esportiva, como esclarece Dirigente 15: É claro, é
evidente que, se o Grêmio está disputando o campeonato mundial ou o Inter, que o
destaque vai ser muito maio
r do nosso trabalho [...]
”.
Uma outra característica da reputação específica da relação com a mídia
esportiva é a reputação mais imediata. Os dados apontaram a performance na
competição (a posição ocupada na tabela ou a fase da competição que está
disputan
do) como um fator significante no comprometimento da mídia esportiva para
com o clube.
Quanto melhor for a performance, maior valor será agregado à reputação e,
por conseqüência, haverá maior comprometimento da mídia esportiva no
relacionamento com o clube
. É o que esclarece o Dirigente 18 ao lembrar do caso do
Novo Hamburgo: O Novo Hamburgo chegou nas finais da série C, então estamos
passando a transmitir os jogos do Novo Hamburgo porque passou a interessar, mas
enquanto isso não ocorre não temos este tip
o de comprometimento [...]”
.
Entretanto, não é a reputação dos clubes que determinam o
comprometimento nesse relacionamento. De outro lado, a reputação dos veículos de
comunicação (com 4 unidades de registro) também tem impacto no grau de
compromisso, c
omo relata o Dirigente 18:
[...] logicamente quando chega um repórter novo no clube, a informação
talvez para ele não chegue tão rapidamente, não flua tão rapidamente
quanto para outro que está mais tempo, mas no momento em que ele
diz que trabalha na Rádio Guaíba as coisas acontecem de maneira mais
fácil do que acontece com uma Rádio que nunca está por aí ou não faz uma
cobertura diária.
Esses resultados, acerca da reputação, permitem a formulação das
seguintes hipóteses sobre o relacionamento entre
clubes e mídia esportiva:
H36
Quanto mais significativa no cenário esportivo for a história do
clube e maior o número de torcedores, maior será o comprometimento
dos veículos de comunicação no relacionamento.
H37
Quanto mais importante for a competição que disputa o clube,
maior será o comprometimento dos veículos de comunicação no
relacionamento.
H38
Quanto melhor for a performance do clube na competição que
está disputando, maior será o comprometimento dos veículos de
comunicação no relacionamento.
86
H39
Quanto mais significativo no cenário jornalístico for a história do
veículo de comunicação, maior será o comprometimento do clube no
relacionamento com este veículo.
O comprometimento no relacionamento entre clubes e mídia esportiva,
conforme os dados obtidos, pode, ainda, ser determinado pela categoria
investimentos específicos no relacionamento. Essa categoria teve 28 (vinte e oito)
unidades de registro e comunicam o desejo da parte que investe em manter o
relacionamento.
Entre clubes e mídia esportiva constatou-se dois tipos de investimentos
específicos no relacionamento: 1) assessorias de imprensa (16 unidades de
registro); e 2) setoristas (12 unidades de registro). As assessorias de imprensa são
esforços dos clubes para distribuir, organizar o fluxo, facilitar o acesso às
informações sobre a entidade. O Dirigente 7 descreve o papel da assessoria:
Nós da assessoria de imprensa fazemos, vamos dizer, o intercâmbio, o
meio campo popularmente falando, entre a imprensa e o clube,
organizamos entrevistas, facilitamos, informamos os horários dos treinos,
procuramos facilitar ao máximo o trabalho do pessoal da reportagem.
Por parte da mídia esportiva, o investimento específico no relacionamento é
representado pelos repórteres-setoristas que diariamente estão em contato com o
clube, conforme relata o Dirigente 19: “Diariamente temos repórteres dentro do
Grêmio, Internacional e Juventude, temos de manhã, de tarde, de noite, inclusive
cria uma dificuldade para nós, como nós temos muitos jogos para transmitir [
...]
”.
Esses dois investimentos certamente comunicam o compromisso da parte
que investe, aumentando o sentimento de comprometimento da outra parte
beneficiada. Por isso, é possível levantar as seguintes hipóteses sobre tais
investimentos:
H40
Quanto maiores forem os investimentos do clube na assessoria
de imprensa, maior será o vel de comprometimento comunicado à
mídia esportiva.
H41
Quanto maiores forem os investimentos dos veículos de
comunicação em repórteres-setoristas, maior será o nível de
compr
ometimento comunicado aos clubes.
Ao contrário do comprometimento que tem vários fatores como
determinantes, a confiança (que representa a disposição para contar com um
parceiro numa relação de troca) teve apenas um fator determinante constatado (a
credib
ilidade). Pode-se entender que existe uma dificuldade em se alcançar
87
elevados níveis de confiança pelos comportamentos oportunistas verificados na
relação, tanto pelo clube, quanto pela mídia esportiva.
Assim, nesse ambiente de desconfiança, a categoria credibilidade aparece
como o único fator determinante da confiança, referindo-se ao grau com que se
pode acreditar numa das partes. Esse grau, conforme os dados indicam, é
antecedido por 2 (dois) fatores: 1) relacionamento interpessoal (8 unidades de
registr
o); e 2) profissionalismo (24 unidades de registro).
A subcategoria Relacionamento Interpessoal, como antecedente da
credibilidade, faz referência ao histórico do relacionamento entre os
jornalistas/repórteres e dirigentes/funcionários dos clubes. Nesse caso, quanto
melhor for o relacionamento entre eles, maior será o potencial para crer nas
informações.
Um relacionamento que representa essa categoria é a do Dirigente 16 com
o Presidente de um clube, descrito ao comentar seu papel de colunista. Para este
di
retor, a posição de colunista
[...] é quando tu te aproxima do clube, o colunista é a pessoa que liga para o
presidente, dizendo presidente isso é assim, não é [Dirigente 16], isto é
assim, se puder não isso, não dá aquilo, porque isso aqui compromete,
mas isto aqui tu pode dar, tu aquilo, nessa hora que ele fica espantado,
nessa hora que ele abre o coração.
Esse relacionamento interpessoal é de “mão dupla”, pois tanto o jornalista-
repórter se beneficia, como também o dirigente-funcionário do clube. No entanto, ao
mesmo tempo em que se tem esta aproximação, deve co-existir o fator
profissionalismo, com alerta o Dirigente 15:
[...] comportamento jornalístico, o comportamento sempre inflexivelmente
jornalístico, sempre tendo que contar a verdade, contar o que está
acontecendo, sem escamotear nada, sem exagerar, sem diminuir, tentar dar
a importância exata, isso é difícil [...]
O mesmo ocorre em relação às pessoas do clube. O profissionalismo dos
dirigentes
-funcionários dos clubes que também sinais de que se pode ou não
confiar.
Sobre isso, o Dirigente 2 afirma que esta profissionalização, eu acho que
traz confiança para o torcedor e até mesmo para a imprensa, para os parceiros,
principalmente para os investidores.
Esses resultados, relacionados à credibilidade no relacionamento entre
clube e mídia esportiva, permitem a formulação das seguintes hipóteses:
88
H42
Quanto melhor for o relacionamento entre
dirigentes/funcionários e jornalistas/repórteres, maior será a confiança
no relacionamento entre clu
bes e a mídia esportiva.
H43
Quanto maior o nível de profissionalização dos
dirigentes/funcionários e jornalistas/repórteres, maior será a confiança
no relacionamento entre clubes e a mídia esportiva.
De maneira geral, pode
-
se perceber nos resultados ap
resentados que existe
uma interdependência clara entre o clube e a mídia esportiva, mas existe um
constante jogo de dependências, para um lado e para outro, um tensionamento
muito grande entre as partes, em vista da maximização de benefícios individuais e
não mútuos.
Por um lado, isso acontece porque a mídia, ou o campo dos
media
9
, é
aquela cuja legitimidade expressiva e pragmática é por natureza uma legitimidade
delegada do restante dos outros campos sociais e que, por conseguinte, está
estruturada e funciona segundo os princípios da estratégia de composição dos
objetivos e dos interesses dos diferentes campos, quer essa composição prossiga
modalidade de cooperação ou modalidade conflitual (RODRIGUES, 1997).
Como a mídia esportiva existe na confluência de outros campos,
especialmente o campo social, econômico e esportivo, é derivativo a impossibilidade
de comprometer-se com o clube no sentido de fazer parte da associação esportiva
como um torcedor (a ponto de ser defensor, parceiro). Esse comportamento emer
ge
em poucos momentos, quando existe um equilíbrio com as informações oficiais do
clube, mas em grande parte o comprometimento é determinado pela reputação e
pelo interesse público (relativo ao campo social) e a conseqüência disso na
sustentação financeira do veículo de comunicação (campo econômico).
E esse relacionamento é central para o clube, porque a opinião pública
torna
-se cada vez mais dependente da máquina discursiva dos
media
, campo cada
vez mais autônomo dos restantes campos sociais como esfera obrigatória da
visibilidade e da notoriedade (RODRIGUES, 1997).
Na nossa sociedade, afirma Gastaldo (2003), esse poder de definição da
realidade presente no ato de enunciação está, em grande parte, localizado no
discurso da mídia. O discurso jornalístico tem características que fazem dele uma
das maiores fontes de definição de realidade em nossa sociedade. Mesmo no
estádio de futebol, lembra este autor (p. 10),
9
O termo
media
é aqui entendido como mais do que
mass
media
, isto é, mais do que o conjunto de
meios de comunicação.
89
é bastante freqüente que os torcedores que presenciam pessoalmente os
fatos do jogo acompanhem os lances com um radinho de pilha colado ao
ouvido, acrescentando à própria experiência a autoridade do discurso do
locutor e dos comentaristas, “dizendo” (definindo) o que, afinal de contas, o
espectador está vendo, ou seja, definindo a realidade.
Mesmo que a mídia esportiva tenha este grande “poder”, de definir a
realidade do clube de futebol, do ponto de vista funcional (econômico) a visibilidade
e a distribuição que ela possibilita são enormes benefícios para os clubes. Tanto
que a programação é, muitas vezes, elaborada em função da mídia, às vezes a
equipes, em vista do maior comprometimento no relacionamento com o clube,
comprometimento este que, apesar das tensões, não pode se encerrar em virtude
dos altos custos do término, especialmente pelo nível
de alternativas.
5.5
Relacionamento entre o Clube e Investidores (R5)
Sobre o relacionamento entre clubes e investidores, nas 186 (cento e
oitenta e seis) unidades de registro observadas, foi possível constatar 5 (cinco)
fatores determinantes do grau de confiança e comprometimento. As categorias
representativas destes fatores, como se pode observar na Figura 6 (na próxima
página), são: 1) benefícios do relacionamento; 2) reputação; 3) conhecimento
especializado; 4) similaridade de valores; e 5) comunicação.
As unidades de registro relacionadas aos benefícios do relacionamento
foram as que mais tiveram ocorrência (105). Essa categoria engloba os registros que
significavam a experiência das partes no relacionamento e a satisfação destas
partes em relação àquilo que se esperava ou que fora prometido. Dessa forma,
quanto maior for o nível de satisfação (por benefícios econômicos e/ou não-
econômicos) das partes, maior será o comprometimento entre elas.
Os aspectos encontrados que determinam esse nível de satisfação, no caso
do relacionamento entre clubes e investidores, foram 5 (cinco), representados pelas
seguintes subcategorias: 1) exposição da marca (44 unidades de registro); 2)
marketing institucional (20 unidades de registro); 3) segmentação de mercado (3
unid
ades de registro); 4) índice de audiência (14 unidades de registro); e 5) captação
de recursos (24 unidades de registro).
90
FIGURA
6 –
Quadro sinóptico dos fatores determinantes do comprometimento e confiança no relacionamento ent
re clube e investidores.
91
A exposição da marca foi a subcategoria que mais teve registros em relação
aos benefícios do relacionamento. O benefício que trata essa subcategoria refere-
se
aos índices de exposição da marca do investidor, isto é, quanto mais exposição tem
o clube diante dos torcedores, direta ou indiretamente, (por veículos de
comunicação), maior será o grau de satisfação do investidor.
A respeito desse relacionamento com clubes de futebol, o Dirigente 20
afirma que [...] é um retorno muito forte da exposição da marca que nós,
certamente, se o [empresa] fosse comprar essa mídia o [empresa] não compraria,
porque seria um valor muito grande
”.
E, além de expor a marca, no relacionamento com os clubes os
investidores, especialmente os patrocinadores, têm retorno de institucionalização da
marca, isto é, melhorar a imagem, conceito público, apresentar o produto/marca,
ampliar a lembrança da marca, posicionar, reposicionar a marca na mente dos
consumidores, aumentar a popularidade.
Esses benefícios também podem ser percebidos na declaração do Dirigente
20, quando afirma que esta parceria traz o retorno à marca e este é o importante,
não somente a exposição da marca, mas também trazer a simpatia do torcedor, do
público, junto ao [empresa], à marca”. Sobre isso, o Dirigente 21 complementa
afirmando o seguinte: “
Quando nós entramos numa ação de relações esportivas com
um clube, com uma entidade, é especialmente para conceituar a marca.
Tais dados dão conta de que quanto maior for o retorno de
instituciona
lização da marca, maior será o nível de satisfação do relacionamento,
sendo que nesta relação o investidor pode ter também benefícios da segmentação
de mercado proporcionada pelo futebol, conforme relata o Dirigente 22, ao descrever
a relação com os clubes
:
São os tomadores de decisão que estão por trás dos bastidores, mas na
realidade são eles que nos ligam, são eles que nos pedem um apoio
quando tem alguma dificuldade. O cara aparece, estou falando como
conselheiro, sou fulano de tal de tal empresa.
Além
dos patrocinadores, se tornou fundamental para os clubes
estabelecer, manter e nutrir relacionamentos com as empresas de televisão. Estas
empresas de comunicação adquirem os direitos de imagem dos jogos da competição
em vista do interesse do público, obte
ndo por isso, grandes índices de audiência.
Esses índices de audiência apareceram nos resultados como benefícios do
relacionamento com os clubes, cujo índice de satisfação tem impacto no nível de
92
comprometimento. Por exemplo, ao comentar o relacionamento entre a empresa de
televisão e os clubes de futebol, o Dirigente 19 afirma que
ele [o futebol] é um grande veículo de audiência, de Ibope, de leitura de
telespectadores e a RBS como uma empresa de comunicação "linkada" aos
seus telespectadores, aos seus leitores aos seus ouvintes, tem que
acompanhar isto que é uma manifestação esportiva, social, então a RBS
toda a atenção para o esporte.
Obviamente que, tendo altos índices de audiência, a empresa de
comunicação tem seu potencial de negociação e de geração de receitas ampliado.
Assim, quanto maior o índice de audiência nas transmissões de futebol, maior será a
satisfação e, por conseqüência, maior será o comprometimento do investidor no
relacionamento com os clubes.
Já, para os clubes, os benefícios do relacionamento com os investidores
estão centrados na captação de recursos, embora no relacionamento com a
televisão existam outros tipos de benefícios, conforme foi apresentado no item que
trata do relacionamento entre clubes e mídia esportiva.
A captação de recursos, como relata o Dirigente 4, tem papel fundamental
no clube:
O papel dos investidores no clube é fundamental, porque hoje os
patrocinadores que nós temos, todos eles, representam praticamente 40%
da receita ordinária do clube. [...] no estádio,
se vem 6 mil pessoas ou 30 mil
pessoas, muda pouco, porque tem o dinheiro da televisão que lhe sustenta,
você tem o dinheiro das placas no estádio que lhe sustenta [...].
A partir dessas considerações, é possível estabelecer sobre os benefícios do
relacion
amento entre clubes e investidores que:
H44
– Quanto maior for a exposição da marca do patrocinador, direta e
indiretamente, maior será o comprometimento deste investidor com o
clube.
H45
Quanto mais significativa for a institucionalização da marca do
pa
trocinador no público-alvo, maior será o comprometimento deste
investidor com o clube.
H46
Quanto melhor for a segmentação de mercado produzida pela
ligação com o clube, maior será o comprometimento do patrocinador
com este clube.
H47
Quanto maior for a audiência da empresa televisão na
transmissão de jogos do clube, maior será o comprometimento da
empresa investidora com o clube.
H48
Quanto maior for a contribuição de recursos do investidor, maior
será o grau de comprometimento do clube com este inve
stidor.
O potencial de captação desses recursos é, em grande medida, determinado
pela reputação do clube, sobre a qual foram constatadas 36 (trinta e seis) unidades
de registro. Essa reputação, compreendida como os comportamentos e resultados
93
anteriores obtidos pelo clube, tem grande impacto no comprometimento e na
confiaa dos investidores, pois possibilita a condição de antecipação dos
resultados a serem conseguidos com este relacionamento.
Assim, quanto maior for a reputação, mais fácil será renovar um contrato,
abrir caminhos para outros investidores, ou seja, maior será o nível de alternativas e
menor a dependência de um ou outro investidor. Sobre essa reputação, os dados
coletados apontam para a existência de dois fatores antecedentes ou subcategoria
s:
1) histórico do clube; e 2) importância da competição.
A subcategoria Histórico do Clube (com 24 unidades de registro) envolve
todas as conquistas obtidas, as vitórias em clássicos, o número de torcedores, a
paixão destes torcedores, entre outros elementos concretos e simbólicos que sejam
significativos para contexto social.
Se o histórico do clube for muito significativo no contexto social, maior será o
comprometimento e a confiança do investidor no relacionamento com este clube. A
proposição desta hipótese é reforçada pela descrição do Dirigente 20 sobre o caso
do relacionamento com o Grêmio e o Internacional:
Quando nós fizemos o contrato com o Grêmio e o Internacional, veja só, o
Grêmio caiu para a segunda divisão, reduziu recursos em relação à CBF, é
uma situação financeira ruim, nós também não gostaríamos que estivesse
acontecido isso com o Grêmio, mas de maneira nenhuma, nós não
reduzimos o nosso patrocínio com eles, nós mantivemos a palavra com o
clube, a mesma verba que nós estávamos dando para o Grêmio na primeira
e trabalhando em conjunto para que o Grêmio retorne.
Além do histórico do clube, a reputação é também determinada pela
importância da competição que o clube participa, subcategoria com 7 (sete)
unidades de registro. O valor agregado da reputação da competição é significativo,
sendo maior o comprometimento e a confiança do investidor nas competições de
maior expressão, dependendo, é claro, dos objetivos que este investidor deseja
alcançar.
Foi o que ocorreu com a queda do Grêmio para a segunda divisão do
campeonato nacional. Apesar da reputação do clube, o valor agregado da Série B é
menor que o da Série A do Campeonato Nacional. Por isso, lembra o Dirigente 22,
[...] no uniforme, por exemplo, manga era 10 mil, o calção era 50 mil por
s. Então, tem valores estipulados a nível nacional, por exemplo, o
Grêmio está disputando um Campeonato da Série B, os valores todos de
patrocínio deles eram bem menores, porque não tinha exposição na Globo,
isto tudo reduz.
94
Como se pode perceber, trata-se de um rculo. Se a competição tem
importância no contexto social, existe o investimento dos patrocinadores e das
empresas de televisão no evento, pois este gera exposição e audiência em vista do
histórico dos clubes. Quanto maior for a exposição e a audiência do evento, maior
valor ela irá agregar à reputação dos clubes, que terão maiores benefícios.
Então, no caso dos investidores, quanto mais significativos forem os
investimentos feitos, maiores serão os benefícios aos clubes e aos próprios
investido
res. Obviamente que isso tudo tem origem no histórico dos clubes e na
importância da competição no contexto social, mas o fato é que a reputação dos
investidores também agrega valor à reputação, aumentando o comprometimento e a
confiança.
Essa reputação dos investidores, ou histórico dos investidores, subcategoria
com 5 (cinco) unidades de registro, se refere a força da marca e a capacidade
financeira da empresa que investe. Esse histórico, juntamente com o do clube e a
importância da competição, determina a variável Reputação que, por sua vez, tem
impacto no comprometimento e confiança no relacionamento entre clubes e
investidores.
Quando a DalPonte se propôs a investir em um clube, em busca de
exposição e conceituação da marca, conforme afirmou o Dirigente 21, ela trouxe
consigo toda a sua história de investidora no futsal brasileiro, como ressalta este
diretor: Nós temos que ser inovadores dentro disso e, dentro do futsal, a DalPonte
tem realmente, nos últimos 4 anos, se destacado como uma das, e a princi
pal marca
do futsal. Quando nós falamos de futsal você fala logo de DalPonte, você associa as
duas.
Esse histórico do investidor aumenta o comprometimento e a confiança do
clube no relacionamento empreendido. Somado com a importância da competição, o
hist
órico do investidor compõe a reputação do clube perante outras organizações
(clubes adversários, outros investidores, veículos de comunicação) e torcedores.
Portanto, é possível pensar que os investidores não o apenas
consumidores do produto futebol, mas são, também, simultaneamente, produtores
dele. Ademais, vale lembrar que é pela injeção de dinheiro dos investidores que os
clubes formam equipes competitivas para disputar a competição.
Portanto, em face dessas considerações, torna-se possível propor as
seguintes hipóteses:
95
H49
Quanto mais significativo for o histórico do clube no contexto
social, maior será o comprometimento e a confiança dos investidores
no relacionamento com este clube.
H50
Quanto mais importante for a competição que o clube parti
cipa
no cenário esportivo, maior será o comprometimento e a confiança dos
investidores no relacionamento com este clube.
H51
– Quanto mais significativo for o histórico do investidor no cenário
dos negócios, maior será o comprometimento e a confiança do cl
ube
no relacionamento com este investidor.
Outro fator constatado no estudo, que determina a confiança nos
relacionamentos entre clube e investidor, é o Conhecimento Especializado
disponível para o desenvolvimento das atividades das partes, cuja categoria teve 35
(trinta e cinco) unidades de registro. Essa categoria provê indícios de
comportamentos futuros, sendo possível prever que serão executadas ações que
resultarão em resultados positivos.
Os dados coletados apontaram para 2 (dois) fatores que determinam o
conhecimento especializado: 1) profissionalismo (com 31 unidades de registro); 2)
mensuração do retorno (com 4 unidades de registro). O profissionalismo se refere ao
conhecimento, habilidades e competências disponíveis nas organizações para a
execuçã
o das atividades, sendo que o nível destes elementos tem impacto na
confiança da outra parte no relacionamento.
Mesmo sem ter relação com o Campeonato Gaúcho, um fato relatado pelo
Dirigente 9 demonstra esse impacto:
[...] na semana passada eu tive uma reunião na Rede Globo e eles têm um
grande problema porque eles colocam milhões, o maior pagador, maior
subvencionador dos clubes é a Rede Globo, e ao mesmo tempo em que
eles colocam mais de 300 milhões de reais por ano nos clubes da primeira
divisão, eles não conseguem que estes clubes cumpram alguns itens
básicos do contrato, por exemplo, as placas no gramado, a limpeza da
publicidade estática na linha do gramado.
O conhecimento dos resultados do investimento é também um fator
determinante na confiança entre clubes e investidores. Essa questão foi observada
nos dados e as 4 (quatro) unidades de registro foram alocadas na subcategoria
Mensuração do Retorno. Esta, segundo afirma o Dirigente 2, tem grande importância
no relacionamento, pois [...] se o patrocinador esta acostumado a investir em
grandes ações como é o [clube] ele já sabe como medir isso, ele já está acostumado
com as ferramentas que existem no mercado para medir isto.
Esses resultados sobre o conhecimento especializado indicam que:
96
H52
Quanto maior o nível de profissionalismo de uma parte, maior
será a confiança da outra parte no relacionamento entre clubes e
investidores.
H53
Quanto mais conhecimento do resultado do investimento, maior
será a confiança do investidor no relacionamento com
o clube.
Os resultados do investimento devem ser constantemente comunicados aos
investidores, assim como outras informações. Essa troca de informação entre clube
e investidor, também se apresenta como variável antecedente da confiança no
relacionamento. As 3 (três) unidades de registro relacionadas a esse fator foram
colocadas na categoria Comunicação.
A hipótese é que,se existe uma troca de informação, formal ou
informalmente, entre o clube e os investidores, os níveis de confiança serão
ampliados em virtude da transparência do processo. Um exemplo disso, é a relação
de um clube com seu investidor descrita pelo Dirigente 4: “[...] tudo o que nós
fazemos, tudo o que fazemos aqui eles recebem, inclusive estes spots. fizemos
materiais que aparecem bem os patrocinadores e que se manda para eles, isso s
estamos diariamente conversando.
Conversas como essas contribuem para o investidor perceber que as
atividades realizadas pelo clube terminarão em resultados positivos para a empresa,
assim como transparece que o parceiro está produzindo esforços para cumprir os
objetivos. Portanto, é possível desenvolver a seguinte hipótese:
H54
Quanto maior for a comunicação entre o clube e o investidor,
maior será a confiança entre as partes no relacionamento.
Essa comunicação pode ser facilitada por outro fator, que também incide
sobre o nível de confiança, a Similaridade de Valores entre clube e investidor,
categoria com 7 (sete) unidades de registro, que significa o grau com que as partes
são semelhantes em termos de valores. Isso aconteceu no relacionamento entre
uma empresa e um clube, como descreveu o Dirigente 4: A nossa identidade como
empresa, nossos objetivos como empresa, a nossa missão com a empresa, e o
[clube] casou eu diria com a nossa filosofia, com os valores que s temos.Desse
modo, é razoável pensar que:
H55
Quanto maior o grau de similaridade entre os valores do
investidor e do clube, maior será a confiança no relacionamento.
Os resultados apresentados mostram que o relacionamento entre o clube e
o investidor é bastante significativo na produção do espetáculo de futebol. Percebe-
97
se que o futebol o é meramente um produto ofertado pelo clube e consumido
pelos investidores como ferramenta de marketing ou informação esportiva. A
discussão dos dados realizada aponta para a existência de outra lógica, onde clube
e investidor tornam-se parceiros na produção do espetáculo esportivo, ambos
colhendo benefícios desta parceria.
A confiança e o comprometimento do investidor estão fortemente vinculados
à reputação do clube e da competição que este participa. Se estes elementos
comunicam, antecipam a realização de um campeonato equilibrado e/ou uma
razoável “chance de vitória”, está consolidado um terreno fértil para estabelecimento
do relacionamento.
No momento em que o investidor dispõe de sua reputação e injeta recursos
no clube, esta entidade tem condições de formar equipes competitivas para somar a
sua capacidade demonstrada na reputação. Na medida em que os clubes
contratam jogadores e comissão técnica de qualidade e produzem a performance no
campeonato existe o interesse da mídia esportiva que potencializa a visibilidade e os
retornos de marketing.
Portanto, estabelecido o relacionamento, os fatores que possibilitam a
manutenção e o reforço deste relacionamento, num
continuum
crescimento de
confiança e comprometimento, estão diretamente ligados aos benefícios
determinados pela troca. São os benefícios que sustentam o relacionamento. Se os
recursos ofertados pelos investidores não forem os desejados pelos clubes, se o
retorno de exposição ou institucionalização da marca não são os esperados ou
foram atingidos, torna
-se difícil sustentar o relacionamento.
Trata
-se, em grande parte, de um comprometimento instrumental, calculado.
Entretanto, não se deve descartar a hipótese de um relacionamento com caráter
mais afetivo entre investidor e clubes. Isso acontece quando a reputação do clube é
muito importante para o estabelecimento do relacionamento. Assim, pode-
se
entender duas vias de comprometimento: uma determinada por fatores calculados,
relacionados aos benefícios; e outra determinada por fatores valorativos,
relacionados à reputação.
a crença mútua de que o clube e investidor executarão ações que
resultarão em resultados positivos, que não agirão inespe
radamente
(comportamento oportunista) é grandemente alimentada pelo profissionalismo
envolvido na relação. Este profissionalismo comunica condições das partes em
98
realizarem as atividades e conseguirem o retorno prometido, gerando por isso a
confiança.
5.6
Rel
acionamentos entre os parceiros do núcleo de produção (R6 a R12)
Uma das questões centrais do trabalho é não abordar o futebol como um
mero instrumento a ser consumido numa perspectiva transacional, mas um
espetáculo esportivo que agrega esforços de várias organizações que
simultaneamente produzem e consomem, onde se faz necessário alguma
verticalização entre os parceiros por esforços do centro de competências (clube).
Neste momento do trabalho, procura-se entender os relacionamentos em
torno do centro de competências pelas organizações que estabelecem interações
com este centro na produção do espetáculo de futebol. Essa abordagem se faz
necessária para compreender com mais profundidade os relacionamentos
apresentados até o momento (R1 a R5), procurando desvendar outros fatores
determinantes dos níveis de confiança e comprometimento.
Dessa forma, são descritos, ainda que de modo mais superficial, alguns
fatores determinantes do comprometimento e confiança nos relacionamentos entre
os parceiros do clube no núcleo de produção (R6 a R12). Sobre esses
relacionamentos, foram observadas nas entrevistas 114 (cento e quatorze) unidades
de registro, através das quais procurou-se estabelecer alguma caracterização dos
fatores determinantes, conforme ilustra a Figura 7 (
na próxima página).
O relacionamento entre Torcedores e Federação (R6) é indireto, por isso, no
quadro sinóptico as linhas de ligação são pontilhadas. Como informaram os
dirigentes da entidade e torcedores, existe uma intermediação dos clubes, até
porque,
como afirma o Dirigente 9, [...] o torcedor não é um torcedor da Federação,
o torcedor é o torcedor do clube [...]”
.
Não havendo um relacionamento direto, não também o
comprometimento, mas foi possível constatar a presença de fatores que determinam
a confiança dos torcedores na federação. Esses dados (7 unidades de registro) dão
conta de que, na função de regulação, quanto maiores forem os esforços da
Federação para garantir condições de torcer (acesso, segurança, calendário,
horários), maior será a confiança do torcedor na entidade.
99
FIGURA
7 –
Quadro sinóptico dos fatores determinantes do comprometimento e confiança nos relacionamentos entre os parceiros do clube.
100
Essa confiança do torcedor na Federação também pode ser deter
minada
pelo favorecimento ao clube que torce (5 unidades de registro). Por exemplo, se o
clube não for favorecido por alguma ação da Entidade, a confiança do torcedor pode
diminuir, como relata o Dirigente 9, ao citar o caso do cancelamento de jogos no
Cam
peonato Brasileiro: Olha a credibilidade do Campeonato Brasileiro quando
houve aquela Copa João Avelange e agora com o problema do Sveiter, a
credibilidade do campeonato vai por água abaixo.
Por isso, é possível compreender que:
H56
Quanto melhores forem as condições de torcer, determinadas
pela Federação, maior será a confiança do torcedor na entidade.
H57
Quanto maiores forem os esforços da Federação em prol do
clube, maior será a confiança do torcedor deste clube na entidade.
No relacionamento entre Torcedores e Clube Adversários, incluindo seus
torcedores (
R7
), as variáveis comprometimento e confiança são enormemente
afetadas pelo histórico de rivalidade entre os clubes, sobre o qual foram observadas
7 (sete) unidades de registro. Este histórico de rivalidade, segundo o Dirigente 14, é
construído nas disputas feitas, citando o seguinte exemplo: [...] se o Juventude
decidiu um campeonato num ano com tal clube e não foi muito legal a decisão,
então fica para a história aquilo ali, eles nunca vão se fechar muito bem, tanto os
clubes como a torcida.
Quanto maior for o histórico de rivalidade entre os clubes/torcedores, menor
será o comprometimento e a confiança entre eles, sobressaindo outros tipos de
comportamentos relacionados à disputa, como o comportamento oportunista, a
desconfiança e até mesmo o repúdio. Porém, vale salientar que essa condição de
rivalidade também é um forte determinante de valor do produto futebol, cujo
comportamento decorre da essência do próprio jogo, por isso é tão importante sua
valorização, especialmente no nível das torcidas. Portanto, é possível estabelecer a
seguinte hipótese:
H58
Quanto maior o histórico de rivalidade entre clubes/torcedores,
menor será o comprometimento e a confiança no relacionamento entre
eles e
maior será o valor agregado ao espetáculo.
No que se refere ao relacionamento entre torcedores e os investidores, no
entanto, percebe-se que a ligação desses investidores com os clubes serve
justamente para melhorar os níveis de comprometimento e a confiança com os
101
Torcedores (
R8
). Nessa relação, os determinantes sicos são: 1) suporte ao clube;
e 2) encantar com o produto/serviço.
A categoria denominada Suporte ao Clube (com 9 unidades de registro)
refere
-se a disposição de algum tipo de recurso para as atividades da agremiação
esportiva, gerando um sentimento positivo dos torcedores perante o investidor.
Portanto, quanto maior for o suporte, maior será o comprometimento do torcedor no
relacionamento entre torcedor e investidor. A respeito disso, salienta
o Dirigente 14,
[...] com tudo o que tu gasta para fazer o espetáculo, tu depende de um
patrocínio de alguma forma, então, para nós é realmente muito difícil o
negócio, a torcida com os veículos que são patrocinadores, até da imprensa
mesmo.
Mas, além do suporte, ao investir no clube, a empresa procura “encantar”
com o produto/serviço, categoria com 2 (duas) unidades de registro. Essa categoria
refere
-se à contextualização, institucionalização da marca e agregação de valores
próprios do futebol ao produto, serviço, marca, empresa. Trata-se de produzir um
retorno de marketing cultivando valores positivos, pois o esporte é o ambiente que
tenta estabelecer um conjunto específico de discursos com a finalidade de “somar”
atributos. É o que afirma o Dirigente 21, quando relata o objetivo da empresa frente
ao consumidor: [...] com relação ao consumidor final nós temos que oferecer o
melhor produto, nós temos que encantar com o produto [...]
”.
Essas constatações permitem propor que:
H59
Quanto maior for o suporte efetuado, pelo investidor, ao clube,
maior será o comprometimento e a confiança no relacionamento entre
investidor e torcedores.
H60
Quanto maior for o encantamento produzido pelo investidor,
pela relação com o clube, maior será o comprometimento no
r
elacionamento com os torcedores.
Quanto ao relacionamento entre Torcedores e a Mídia Esportiva (
R9
),
verificou
-se que o foco dos veículos de comunicação é a sua operação como
mecanismo de mediação e oferecedor de significados ao futebol em vista da
demand
a por este tipo de informação, isto é, [...] analisar, interpretar às vezes, mas
fundamentalmente contar o que está acontecendo jornalisticamente [...]”, explicou o
Dirigente 15.
A quantidade de mediação tem um impacto ambíguo nos níveis de
comprometiment
o e confiança do torcedor para com o veículo de comunicação. Se
por um lado, os níveis destas variáveis aumentam diante dos esforços de
102
divulgação/distribuição da informação sobre o clube, de outro, pode haver o
sentimento de esforços que afastam o torcedo
r dos estádios.
Isso acontece especialmente com a televisão, no seu papel de
intermediação/revenda do produto. Relativamente a este aspecto, o Dirigente 14
assim se manifestou:
Pelo que eu conheço a opinião de vários torcedores pelo menos daqui da
gente, sabemos a mídia acaba afastando muitas pessoas do estádio. Claro,
pela facilidade de tu ver pela televisão um jogo de futebol, pelo ingresso, por
causa da televisão que o ingresso no futebol é tão caro, então a pessoa que
não quer pagar 20 Reais ela prefere ficar em casa. Eu acho que a mídia
acaba atrapalhando um pouco também, para esse negócio de lotar o
estádio de futebol.
Da mesma forma que a quantidade, a qualidade da mediação indica também
determinar os níveis de comprometimento e confiança. Como o comp
romisso central
dos veículos de comunicação é o relacionamento com seus leitores, ouvintes,
telespectadores, os esforços destas organizações se voltam para a produção de
discursos em torno do que acontece nos clubes de modo mais institucional possível.
É o
que salienta o Dirigente 15, ao afirmar que o veículo
[...] tem que se preocupar com o seu trabalho, ver o que está acontecendo,
trabalhar com isenção, com distanciamento, dentro é claro, vendo tudo,
mas no seu canto, com o compromisso de contar para o seu leitor aquilo
que esta acontecendo. O compromisso do jornal é com o leitor.
Semelhante ao que acontece com a quantidade, a qualidade do discurso
operado pelos veículos de comunicação, em torno dos acontecimentos do clube,
pode ter também impacto ambíguo no comprometimento do torcedor para com o
veículo. Uma vez que o significado se define, em última instância, na esfera do
receptor, isto é, do torcedor, cabe ao veículo de comunicação selecionar estratégias,
linhas editoriais para atender seus clientes.
Portanto, considerando as 31 (trinta e uma) unidades de registro verificadas,
constata
-se que quantidade e qualidade da mediação produzida pelos veículos de
comunicação são fatores determinantes do comprometimento e da confiança no
relacionamento com o torcedor. Dessa forma, cabe ao veículo buscar o melhor
equilíbrio em vista das suas estratégias e do estabelecimento, manutenção e reforço
do relacionamento com os clientes.
Um exemplo dessa busca é o equilíbrio de quantidade no que se refere a
dois clubes c
om muita tradição e rivalidade, descrito pelo Dirigente 19:
103
[...] há, no Rio Grande do Sul, esta divisão entre o Grêmio e o Internacional,
que nós atuamos nesta faixa, nesta corda intermediária, se nós fazemos
uma coisa apoiando um, por exemplo, neste momento estamos fazendo
todas as finais do Grêmio na segunda divisão, porque adquirimos o direito
para fazer esta transmissão, e a torcida do Internacional está indignada com
isso, questionando porque não fazemos os jogos do Inter [...].
Em virtude das características dessa relação, a hipótese sobre o fator que
determina o comprometimento e a confiança entre torcedor e mídia esportiva, está
relacionada ao quanto os veículos conhecem os consumidores/clientes e como
equilibram quantidade/qualidade. O clube, nesse sentido, configura-se como
“matéria
-prima” das matérias/transmissões, mas, vale lembrar que existem outros
aspectos a serem considerados. A hipótese é a seguinte:
H61
Quanto maior for o conhecimento sobre os torcedores, maior
será a capacidade dos veículos de comunicação produzirem um
determinado equilíbrio de quantidade e qualidade com vistas ao
aumento de comprometimento e confiança no relacionamento.
No relacionamento dos Veículos de Comunicação com a Federação (
R10
),
foi observado que o comprometimento é determinado pelos (1) benefícios da troca
entre as partes (com 8 unidades de registro) e (2) pelo poder de representatividade
dos clubes que tem a Federação (7 unidades de registro).
No que se refere aos Benefícios do Relacionamento, por um lado, os
veículos estarão tanto mais comprometidos em decorrência da
importância/relevância da notícia esportiva gerada pela Federação no cenário
esportivo. A descrição feita pelo Dirigente 19 retrata bem esta questão:
Quando
surge algum assunto interessante, nós vamos atrás da informação com o contato na
Federação Gaúcha, é uma relação não diária como acontece com o Grêmio e Inter,
mas é uma relação que se mantém, que é necessária.
Por outro um lado, o Comprometimento da Federação com os Veículos de
Comunicação
será maior quanto maior for a exposição/divulgação desta entidade e
do campeonato proporcionada pelo veículo de comunicação. Exemplo disso é a
relação com uma rádio descrita pelo Dirigente 18:
Vai um repórter para lá, às vezes vai até mais de um repórter para se fazer
esta cobertura, se mantém este relacionamento, pelo menos uma vez por
mês se abre espaço para o Presidente da Federação falar na Rádio, alguma
coisa deste tipo assim [...].
Quanto maior for a abertura de espaço, possivelmente maior o
comprome
timento da Federação para com o veículo de comunicação, enquanto que
104
o comprometimento do veículo para com a entidade de administração depende mais
importância das informações, que está diretamente ligada ao poder de
representatividade dos clubes. Se a Federação tem o poder de estar negociando
transmissões, patrocínios, propriedades de arena, suas ações serão mais
importantes e, portanto, mais interessantes, aumentando o comprometimento da
mídia esportiva no relacionamento.
A confiança, por sua vez, é determinada pelo conhecimento especializado
disposto pelos membros da Federação e da Mídia esportiva para executar suas
atividades. Isto, segundo o Dirigente 9,
[...] gera credibilidade, facilita o trabalho da imprensa. A disposição dos
dirigentes da Federação em atenderem a imprensa e com informações mais
precisas e menos fanfarrônicas, estamos para dar informação, não para
fazer fanfarronice ou para ficar aparecendo num jornal [...].
Sobre o relacionamento entre a Mídia Esportiva e a Federação, com base
no
s resultados obtidos, é possível propor as seguintes hipóteses:
H62
Quanto mais o veículo de comunicação divulgar/expor as ações
da Federação, maior será o comprometimento desta entidade no
relacionamento.
H63
– Quanto mais significativas forem as ações da Federação no
cenário esportivo, maior será o comprometimento dos Veículos de
Comunicação para com a entidade de administração.
H64
Quanto mais conhecimento especializado houver na realização
das atividades da Federação, maior será a confiança dos Veículos de
Comunicação.
Entre a mídia esportiva e os investidores, essencialmente os patrocinadores
dos clubes (
R11
), o comprometimento é determinado pelo envolvimento daquela no
composto promocional desenvolvido pelo investidor. O composto promocional
englo
ba esforços de mídia a partir do relacionamento de patrocínio, estabelecido por
um investidor.
Se existe essa ligação da mídia esportiva com o patrocinador, em torno dos
discursos do futebol, o comprometimento no relacionamento será maior. Mas, se
existe uma rivalização entre os “cotistas” de patrocínio do clube e dos espaços de
publicidade da mídia esportiva, o comprometimento no relacionamento será menor.
Como os veículos de comunicação têm grande parte de suas receitas
oriundas dos espaços de publicidade, o comprometimento maior será com “cotista”
deste veículo em virtude do benefício. Não significa, porém, que o veículo não
transmitirá jogos ou não fará reportagens, mas que o comprometimento com o
105
investidor será maior quando a rivalização for menor. O Dirigente 19 descreveu uma
situação como esta:
Não nenhuma vinculação, tanto é que o Banrisul patrocina Grêmio e
Inter e não tem nenhuma cota de patrocínio nossa, a Tramontina patrocina
Grêmio e Inter e não tem nenhuma cota aqui de patrocínio, a Unimed
patrocina Grêmio e Inter e quem é nosso patrocinador do esporte é a
Goldencross, não se faz nada casado com os clubes, eles têm a vida deles
de marketing lá e nós temos a nossa programação.
Esta relação afeta o comprometimento da mídia esportiva com o clube
,
cabendo ressaltar que não significa o encerramento do relacionamento, mas que na
medida em que os veículos de comunicação estão mais envolvidos com os
patrocinadores, haverá também maior grau de comprometimento com os clubes.
Portanto, é possível concebe
r que:
H65
Quanto maior o envolvimento da mídia esportiva nas ações de
marketing do patrocinador, em torno do futebol, e menor a rivalização
de “cotistas”, maior será o comprometimento no relacionamento entre
veículos de comunicação e investidores dos cl
ubes.
Por último, no relacionamento entre Investidores e Federação (R12), foi
possível constatar que a variável comprometimento sofre o impacto do grau de
satisfação da troca entre as partes e a confiança pode ser determinada pelo
conhecimento especializa
do envolvido nas atividades da Federação.
Em relação à satisfação, do lado do investidor, tem impacto o potencial de
exposição e institucionalização da marca/produto/empresa da competição, em
relação aos propósitos do investidor. Isso fica claro na entrevista do Dirigente 21,
quando justifica porque o investir mais no Campeonato Gaúcho como tem
investido em outra competição nacional:
[...] nós tratamos diversas vezes deste assunto, mas até hoje nós
entendemos que é uma competição muito curta, não que ela não seja
importante, ela é importante, mas é uma competição muito curta, de 3 ou 4
meses, que te dá pouca visibilidade e é uma situação regional, nós já temos
um conceito muito bom regional [...].
Isso significa que quanto melhor for o potencial de exposição e
institucionalização em relação aos propósitos do investidor, maior será o
comprometimento do investidor. Esse potencial ainda pode ser aumentado pela
representatividade que a Federação tem dos clubes, isto é, quanto mais poder tiver
a entidade de administração na inter-relação com os clubes, maior será o
comprometimento do investidor dos clubes. Por exemplo, segundo o Dirigente 22,
106
[...] se a Federação tivesse, a camiseta de todos os jogadores é da
Federação, a Federação vende este espaço, é uma forma de tu fazer uma
negociação com a Federação, colocar na mídia, aparecer em todos os
clubes, mas não existe isso hoje, é indireto [...].
A respeito da confiança no relacionamento entre a Federação e os
Investidores dos Clubes, foi observado como elemen
to determinante o conhecimento
especializado dos membros da Federação Gaúcha de Futebol. Se o nível de
conhecimento especializado nas atividades da Federação é alto, maior será a
confiança dos investidores dos clubes neste relacionamento.
Esses resultados sobre o relacionamento entre os Investidores e a
Federação, permitem propor que:
H66
Quanto melhor o potencial de exposição e institucionalização,
em relação aos propósitos do investidor do clube/competição, maior
será o comprometimento deste investidor.
H67
- Quanto mais poder tiver a entidade de administração na inter-
relação com os clubes, maior será o comprometimento do investidor
dos clubes/competição.
H68
Se o nível de conhecimento especializado nas atividades da
Federação é alto, maior será a confiança dos investidores dos
clubes/competição neste relacionamento.
De modo geral, foi possível constatar que, dentre as organizações e pessoas
que compõem o núcleo de produção, somente os Torcedores e a Federação
Gaúcha de Futebol é que mantém em foco um comprometimento com o Clube de
Futebol (centro de competências). A mídia esportiva e investidores o
comprometidos em primeiro plano com os seus clientes, os quais potencialmente
fazem parte os torcedores dos clubes, razão esta que justifica o relacionam
ento com
a associação esportiva. E, o Clube Adversário compromete
-se em primeiro nível com
a Federação Gaúcha de Futebol.
Os torcedores parecem ser um “núcleo alvo” nesta rede de relacionamentos
em torno da produção do espetáculo esportivo, pois se configura como foco dos
Clubes, da Mídia Esportiva e dos Investidores. Em virtude disso, nesse núcleo de
produção do espetáculo do futebol, não é nenhum pouco falsa a afirmação de que “a
razão de existir do clube é a sua torcida”.
6
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após
abordar os relacionamentos entre os agentes do núcleo de produção
do espetáculo de futebol com as lentes do marketing de relacionamento” o que foi
visto? Quais foram os fatores determinantes da confiança e do comprometimento
nesta rede de relacionamentos
em torno da produção
-
consumo do espetáculo?
Os dados apresentados e discutidos no capítulo anterior levaram a algumas
conclusões sobre os fatores determinantes. Para facilitar a compreensão, antes de
concluir, foram apresentadas considerações em duas parte
s: 1) considerações sobre
os determinantes da confiança; e 2) considerações sobre os determinantes do
comprometimento.
6.1
Considerações sobre os determinantes da confiança
A confiança é o sentimento de crença no parceiro de relacionamento.
Significa acreditar que a outra parte do relacionamento irá realizar aquilo que havia
sido acordado, que irá cumprir o papel previamente previsto e não agirá de maneira
inesperada com resultados negativos. A respeito dos fatores determinantes dessa
variável nos relacionamentos entre os agentes do núcleo de produção do futebol,
com fundamento nos resultados apresentados e discutidos, foi possível concluir que:
No relacionamento entre o Clube e Clubes Adversários, a confiança é pequena,
se for considerado o número de hipóteses geradas acerca deste relacionamento
(apenas 3 de 23). Esta confiança existente parece ser gerada pela cooperação e
convergência que acontece entre as partes para desenvolver uma atividade em
conjunto (possivelmente relacionada ao confronto, jogo na compe
tição). Nesse caso,
o clube acredita na honestidade, crendo que a outra parte vai dispor de sua melhor
equipe (jogadores e comissão técnica), da sua melhor infra-estrutura, dirigentes e
demais funcionários para participar de um projeto coletivo representado pelo
Campeonato Gaúcho de Futebol, um produto de natureza subjetiva, incerta, instável.
Assim, pode
-
se propor a seguinte hipótese:
H69
A confiança entre os clubes é determinada pela crença de que a
outra parte tem competência
10
e interesse para cumprir com as
10
A competência é entendida neste trabalho como a capacidade e habilidade de uma parte para
mobilizar recursos a fim de atender as demandas contingenciais.
108
obrigações prometidas em relação ao projeto (Campeonato) e não em
relação ao outro clube.
No relacionamento entre o Clube e a Federação Gaúcha de Futebol, ao pesar o
número de hipóteses geradas, apenas 3 (três) de 23 (vinte e três), também pode-
se
crer que a confiança é pequena entre as partes. Para ambas as partes, o que gera
confiança é o conhecimento especializado disponível para a execução das
atividades, especificamente o profissionalismo envolvido. Esse profissionalismo faz
com que exista um sentimento de que a outra parte vai cumprir com honestidade o
seu papel, aporque tem condições para isso. Mas, como o nível de confiança é
pequeno, a formalização (representado pela comunicação burocrática) tem papel
importante na confiança, isto é, conf
ia
-se no que está “no papel”, sendo possível
propor que:
H70
A confiança do Clube na Federação Gaúcha de Futebol é
determinada pela crença de que a Federação tem competência para
cumprir com as obrigações (formalizadas) que tenha reflexo positivo
para o
Clube.
No relacionamento entre o Clube e os Torcedores,
percebe
-se a existência de
maior grau de confiança, com 8 (oito) das 23 (vinte e três) hipóteses propostas. Do
lado dos torcedores, esta confiança é determinada, em grande medida, pela
identificação
e pertencimento à reputação do clube (histórico de conquistas, número
de torcedores, competições que participa), como também pelo conhecimento
especializado disposto por esta organização para executar suas atividades, incluindo
jogadores, comissão técnica, dirigentes e demais funcionários. De modo afetivo, por
se sentirem parte do clube em decorrência do fenômeno da
identificação/pertencimento, os torcedores acreditam, crêem que essas pessoas
estão dispostas a trabalhar pelo bem-estar do clube, em especial
pela
“competitividade do clube” nas competições que disputa. Por outro lado, o do clube,
a confiança está mais relacionada com a honestidade, isto é, que o torcedor
cumprirá o seu papel, sobretudo quando manifesta o comportamento de
suporte/parceria em assistência ao clube. Se os torcedores têm essa reputação o
clube confiará, o que permite formular a seguinte hipótese:
H71
A confiança entre o Clube e os Torcedores é determinada pela
crença de que a outra parte tem vontade e interesse de cumprir com as
ob
rigações prometidas.
109
No relacionamento entre o Clube e a Mídia Esportiva,
ao contrário dos torcedores,
o número de hipóteses geradas para a categoria confiança foi apenas 2 (dois),
indicando uma tendência de desconfiança entre estes dois agentes do núcleo de
produção do futebol. Essa pequena confiança parece ser determinada pela
credibilidade das partes, isto é, pela confiabilidade e proximidade das pessoas que
se relacionam no contato entre as duas organizações, o que os faz crer na
honestidade, ou seja, de que a outra parte vai cumprir o que prometeu com
sinceridade. Como a confiança é pequena presume-se a existência da desconfiança
gerada, por um lado, pelo papel da mídia esportiva enquanto veículo de
comunicação, a qual se guia pelo oportunismo jornalístico e, por outro lado, pelo
comportamento oportunista dos clubes em fazer valer as informações oficiais como
suficientes para a pauta da mídia esportiva, tanto em transações que envolvem o
pagamento pecuniário como nas que não envolvem. Em face disso, com
preende
-
se
que:
H72
A confiança entre o Clube e a Mídia Esportiva é muito reduzida,
sendo determinada pela credibilidade das partes (pessoas que se
relacionam) e pelo alto grau de incidência de comportamento
oportunista no relacionamento.
No relacionamento entre o Clube e os Investidores, o número de hipóteses
produzidas, num total de 8 (oito) de 23 (vinte e três), indica a existência de
confiança. Para o investidor, o que determina esta confiança é, sobretudo, a
reputação do clube, isto é, da “chance de
vitória” comunicada pelos comportamentos
anteriores. Se o clube tem boa reputação no cenário esportivo e participa de uma
competição importante, a confiança de que os resultados do relacionamento virão e
que serão positivos certamente existirá. Essa confiança pode ser aumentada pelo
profissionalismo envolvido e pela mensuração e comunicação dos resultados aos
investidores. Já, para o Clube, a confiança no investidor está na sua reputação com
este tipo de investimento, como também na ciência deste investidor sobre os tipos
de retorno que a relação com os clubes oferece. De ambos os lados, a confiança
está relacionada com a honestidade de que o parceiro está pronto para fazer o
trabalho e o fará conforme combinado, sendo possível sugerir que:
H72
A confiança entre o Clube e o Investidor é determinada pela
crença de que a outra parte tem competência para cumprir as
obrigações prometidas.
110
6.2
Considerações sobre os determinantes do comprometimento
O comprometimento é compreendido, neste trabalho, como o empenho
das
partes para manter o relacionamento em andamento, acreditando que ele é
importante para atingir os objetivos, o que justificaria esforços máximos para
desenvolvê
-lo. Os dados apresentados e discutidos sobre este elemento central da
troca relacional, no
núcleo de produção do espetáculo de futebol, permitiram concluir
que:
No relacionamento entre o Clube e os Clubes Adversários, o comprometimento é
determinado pela interdependência existente entre os clubes dentro da competição,
isto é, um depende do outro para desenvolver projeto coletivo (Campeonato). Essa
dependência mútua é gerada pela reputação, pela rivalidade constituída e pela
importância do confronto na competição, sendo que, quanto mais relevantes forem
estes elementos, maior será a interdependência. Esses elementos, pela sua
natureza ligada ao jogo, ao confronto, geram simultaneamente a assimetria na
dependência, isto é, ao mesmo tempo em que um clube depende da reputação do
outro, eles são adversários, o que o faz adotar comportamentos oportunis
tas,
mesmo nessa relação de interdependência, cujo resultado tem impacto direto no
relacionamento entre as torcidas. Essa relação ambígua é natural e, de modo geral,
faz com que os esforços dos clubes sejam direcionados para a competição (projeto
coletivo)
e não para os adversários, ficando claro isto no número de hipóteses
geradas sobre o comprometimento entre estes dois agentes. Diante disso,
considerando
-
se que das 55 (cinqüenta e cinco) hipóteses, apenas 6 (seis) versaram
sobre o comprometimento entre clubes e clubes adversários, formulou-se a seguinte
hipótese:
H74
O comprometimento entre Clube e Clubes Adversários é
determinado pela participação coletiva em um projeto incerto
(relacionado ao jogo), denominado Campeonato Gaúcho de Futebol.
No relacionamento entre Clube e a Federação Gaúcha de Futebol, os fatores que
determinam o comprometimento são diferentes para cada parte. Para o Clube, o que
gera o comprometimento no relacionamento com a Federação Gaúcha de Futebol é
a “necessidade” de filiação pe
lo vínculo com o
Football Association
, a capacidade de
distribuição equilibrada e a composição de normatizações fortes e duradouras a
respeito deste equilíbrio nas competições. Isso acontece porque os clubes são
111
adversários, havendo muita possibilidade de comportamento oportunista, sendo a
Federação o órgão regulador necessário para estabelecer o equilíbrio nas relações e
minimizar a ocorrência do comportamento oportunista, fora dos gramados, que
prejudique o projeto coletivo. Nesse aspecto, quanto maior for a capacidade da
Federação em fomentar o consenso, a convergência, cooperação entre os clubes,
em face do equilíbrio de benefícios e tarefas proporcionais a reputação de cada
associação, melhor será o comprometimento dos clubes. Já, para a Federação
Gaúch
a de Futebol, o fator que determina maior ou menor comprometimento é a
amplitude da reputação dos clubes, pois quanto maior for esta reputação, maiores
serão os benefícios para a entidade de administração. Em ambos os lados se
percebe que o comprometimento é instrumental (calculado), podendo-se entender
que:
H75
O comprometimento do Clube no relacionamento com a
Federação Gaúcha de Futebol é determinado pelo empenho feito pela
Federação para produzir efeitos concretos na organização do
Campeonato Gaúcho d
e Futebol.
H76
O comprometimento da Federação Gaúcha de Futebol no
relacionamento com o Clube é determinado pelo empenho deste clube
na participação em um projeto coletivo incerto (relacionado ao jogo,
emocional), denominado Campeonato Gaúcho de Futebol.
No relacionamento entre o Clube e os Torcedores, houve a formulação do maior
número de hipóteses (11 de um total de 43), o que indica maior comprometimento
entre as partes. O mesmo ocorreu em relação à confiança, o que permite concluir
que onde há maior confiança também maior comprometimento. Por parte dos
Torcedores, o comprometimento é afetivo, estando ligado à identificação, afiliação,
convergência de valores e apego ao clube, a sua reputação. Não menos importante
para os torcedores é a competitivid
ade da equipe e a importância da competição que
o clube disputa. Se o clube participa de algo importante no contexto esportivo/social,
certamente o torcedor, pela sua ligação afetiva, acompanhará a equipe. Mas, esse
comprometimento pode ser melhorado com investimentos do clube, como por
exemplo, em acesso dos torcedores aos jogos e melhoria nas condições do estádio.
Por outro lado, o comprometimento do Clube para com o Torcedor tem caráter mais
instrumental, calculado, porque os fatores determinantes encontrados foram o
incentivo à equipe/jogadores, a produção do ambiente do espetáculo e o suporte no
sentido de assistência ao clube. Na medida em que os torcedores consigam ofertar
112
esses elementos, o comprometimento do clube terá maior grau. Portanto, foi
poss
ível formular as seguintes hipóteses:
H77
– O comprometimento do Torcedor, no relacionamento com o
Clube, é determinado pelo empenho individual na participação de um
projeto coletivo, denominado associação esportiva ou clube de
futebol.
H78
O comprometimento do Clube, no relacionamento com o
Torcedor, é determinado pelo empenho coletivo desta torcida em vista
de efeitos concretos para o clube (comportamentos de defesa, suporte,
parceria).
No relacionamento entre o Clube e a Mídia Esportiva, o comprometimento é de
natureza instrumental. Tem este aspecto porque a interdependência entre estes dois
agentes se compromete no relacionamento pelos seus benefícios, meramente para
atingir seus objetivos. A mídia, para cumprir o objetivo de audiência/circulação e
en
tão captar recursos, estabelece e mantém o relacionamento com os clubes que
são de interesse do público. Nesse caso, quanto maior for a reputação do clube (que
engloba seu histórico de conquistas, importância da competição que disputa e a
performance atual na competição), maior será o interesse do público e o
comprometimento da mídia esportiva para atender seus objetivos. O mesmo ocorre
com o comprometimento do clube, porque também está pautado pelos benefícios
obtidos da interdependência. Para atender seus objetivos de captação de recursos
com investidores, venda de jogadores, conquista de novos torcedores o clube em
maior ou menor grau depende da visibilidade e distribuição das informações feitas
pela mídia esportiva. Esse comprometimento será maior tanto quanto houver
convergência entre a informação oficial do clube e a informação com que a mídia
trabalha, o que pode ocorrer em momentos de muita valorização da afetividade,
identificação e pertencimento no contexto, como o caso de um Clube estar
representan
do o país numa competição internacional. Ainda, a reputação do veículo
de comunicação pode ser determinante no comprometimento do clube. Se o veículo
é muito importante em termos de credibilidade e de clientes, o compromisso do
clube para com este veículo será maior. Diante dessas considerações, propõem-
se
as seguintes hipóteses:
H79
O comprometimento do Clube, no relacionamento com a Mídia
Esportiva, é determinado pelo empenho do veículo de comunicação
em produzir benefícios concretos para o clube (visibilidade e
distribuição).
H80
O comprometimento da Mídia Esportiva, no relacionamento com
o Clube, é determinado pelo empenho do Clube em produzir concretos
de interesse do público (reputação, performance).
113
No relacionamento entre Clube e Investidores, também se manifesta um
comprometimento instrumental, baseado nos benefícios oriundos do relacionamento.
O investidor (no presente estudo somente foram entrevistados patrocinadores)
estabelece e mantém o relacionamento com os clubes em vista dos retornos de
marketing, enquanto que os clubes, para formarem as equipes e desenvolverem
outras tarefas em termos de serviços, estabelecem e mantêm relacionamentos com
os investidores em vista do fornecimento de recursos (financeiro ou outro tipo de
contribuição). No c
aso desse relacionamento, vale a pena desenvolver esforços para
manter o relacionamento em andamento pelos benefícios decorrentes dele. Nesses
benefícios, a reputação (tanto do clube como do investidor) representa um motor
gerador, pois é a partir dela que
se potencializa a disposição para fazer sacrifícios de
curto prazo para obter benefícios de longo prazo. Por isso, sugere
-
se que:
H81
O comprometimento do Clube, no relacionamento com o
Investidor, é determinado pelo empenho deste Investidor em produzir
benefícios concretos para o Clube (traduzidos em recursos financeiros
ou de outra natureza).
H82
O comprometimento do Investidor, no relacionamento com o
clube, é determinado pelo empenho do Clube em esforços que gerem
benefícios concretos para este investidor (em especial o retorno de
marketing).
6.3
Conclusões
As considerações e hipóteses produzidas permitem a apresentação de
algumas conclusões em torno do objetivo geral inicialmente traçado - conhecer os
fatores que determinam os níveis de confiança e comprometimento nos
relacionamentos entre o clube e os demais agentes do núcleo de produção do
futebol. Em face dessas considerações e hipóteses, até então formuladas, foi
elaborado um mapa axiológico que compreende as principais conclusões do estudo
(Figu
ra 8, na próxima página).
Ocupa a centralidade, nesse mapa, o fator reputação, isto é, elementos
sócio
-históricos anteriores ligados aos agentes do núcleo de produção do futebol,
que ofertam sinais das futuras ações, antecipando os níveis de confiança e
co
mprometimento que poderá haver entre as partes.
A reputação é um fator transversal ligado tanto a questões objetivas como
também a subjetivas, a relações instrumentais ou afetivas. Em todos os
114
relacionamentos estudados (R1 a R5), esse fator revelou-se como importante na
geração de maior confiança e comprometimento entre as partes, por isso ocupa o
centro das conclusões do trabalho.
FIGURA
8 –
Mapa axiológico das principais conclusões do estudo.
Mas, além da reputação foram identificadas outras categorias de fatores.
Estes são de diversos tipos, mas foram classificados em 4 (quatro) quadrantes, que
suscitaram as seguintes conclusões:
O primeiro quadrante engloba fatores SUBJETIVOS numa relação FUNCIONAL,
indicando que existe um empenho coletivo para o desenvolvimento de um projeto, o
Campeonato Gaúcho de Futebol, num ambiente que se exigem competência das
115
partes. Isso acontece mesmo em relações caracterizadas pela subjetividade das
contribuições das partes (emotividade, paixão, classes, rivalidade, divergência,
confronto, disputa), existindo uma vontade de transcender, colaborar, convergir para
buscar melhores resultados técnicos. Esse quadrante engloba os fatores
determinantes da confiança e comprometimento nos relacionamentos do Clube com
os Clubes Adversários e da Federação com os Clubes. Isso significa que:
H83
Os níveis de confiança e o comprometimento, no relacionamento
entre os clubes, são determinados por fatores subjetivos, incertos e
instáveis (relacionados ao jogo), numa relação instrumental (de
cooperação, convergência, rivalidade).
H84
– Os níveis de confiança e o comprometimento da Federação
Gaúcha de Futebol, no relacionamento com os Clubes, são
determinados por fatores subjetivos, incertos e instáveis (relacionados
ao jogo), numa relação funcional (de performance, cooperação,
convergência e rivalidade).
O segundo quadrante compreende fatores SUBJETIVOS numa relação AFETIVA,
significando a existência de conotações subjetivas, individuais na participação de um
projet
o comum (neste caso do Clube), que descansam sobre a crença de que
vontade, interesse da outra parte em contribuir para o bem
-
estar do projeto. Significa
que uma parte se afilia, identifica-se com a outra parte a ponto de envolver-se num
projeto coletivo futuro de natureza incerta. Esse quadrante caracteriza os fatores
determinantes da confiança e do comprometimento do Torcedor no relacionamento
com o Clube, permeado por questões subjetivas e emocionais como a identificação,
filiação, pertencimento e com
petitividade. Em vista disso, pode
-
se conceber que:
H85
Os níveis de confiança e de comprometimento do Torcedor, no
relacionamento com o Clube, são determinados por fatores
relacionados ao empenho na participação de um projeto futuro (o
clube), acreditando que existe, neste clube, vontade e interesse afetivo
no desenvolvimento do projeto.
No terceiro quadrante estão os fatores OBJETIVOS numa relação AFETIVA,
referindo
-se à busca de resultados concretos, acreditando na benevolência da outra
parte, isto é, que esta parte tem vontade e interesse no bem-estar do projeto. As
características desse quadrante englobam os fatores determinantes da confiança e
do comprometimento do Clube no relacionamento com os Torcedores, sendo
possível definir que:
H86
Os níveis de confiança e comprometimento do Clube, no
relacionamento com os Torcedores, são determinados pelo empenho
concreto para com o clube, acreditando que existem vontade e
interesse, destes torcedores, em produzir efeitos benéficos à
associação esportiva.
116
No quarto quadrante se localizam os fatores OBJETIVOS numa relação
FUNCIONAL, indicando que a confiança e o comprometimento o determinados
pelo empenho, em vista de uma finalidade concreta (benefícios), e pela crença de
que haverá competência para cumprir com os propósitos. Isso quer dizer que o
estabelecimento e a manutenção do relacionamento dependem dos resultados
obtidos ou antecipados pela reputação, como também dos sinais que dizem haver
competência para desempenhar os papéis esperados. São fatores
racionais,
utilitaristas, instrumentais que determinam a confiança e o comprometimento nos
relacionamentos do Clube para com a Mídia Esportiva, da Mídia esportiva para com
o Clube, do Clube para com o Investidor, do Investidor para com o Clube, e do Clube
para com a Federação Gaúcha de Futebol. Em face disso, é possível estabelecer
que:
H87
Os níveis de confiança e comprometimento da Mídia Esportiva,
no relacionamento com o Clube, são determinados pelo empenho
deste clube em produzir retorno concreto, como também de fazer
acreditar que tem competência para produzir os resultados esperados
pelos veículos de comunicação.
H88
Os níveis de confiança e comprometimento do Clube, no
relacionamento com a Mídia Esportiva, são determinados pelo
empenho dos veículos de comunicação em produzir resultados
concretos, como também de fazer acreditar que têm competência para
produzir os resultados esperados pelos clubes.
H89
Os níveis de confiança e comprometimento do Clube, no
relacionamento com a Federação Gaúcha de Futebol, são
determinados pelo empenho da entidade de administração do desporto
em produzir resultados concretos na organização do Campeonato
Gaúcho de Futebol, e de fazer acreditar que tem competência para
produzir os resultados esperados pelos clubes.
H90
Os veis de confiança e comprometimento do Clube, no
relacionamento com o Investidor, são determinados pelo empenho
destes investidores em efetivamente produzir os resultados esperados
pelos clubes, como também em fazer acreditar que têm competência
pa
ra produzir os resultados esperados pelos clubes.
H91
Os níveis de confiança e comprometimento do Investidor, no
relacionamento com o Clube, são determinados pelo empenho dos
Clubes em efetivamente produzir os benefícios esperados pelos
Investidores, com
o também em fazê
-
los acreditar que têm competência
para produzir os resultados esperados pelos clubes.
Conhecidos os fatores que determinam a confiança e o comprometimento
nos relacionamentos entre os clubes e os agentes do núcleo de produção do
espetácul
o de futebol, conclui
-
se que são fatores mais objetivos e funcionais no caso
dos relacionamentos entre o Clube e Federação Gaúcha de Futebol, Mídia Esportiva
e Investidores. Nesses relacionamentos, em função da natureza dos fatores
determinantes, pode-se inferir que os limites entre as organizações são mais claros
e fixos, o que estaria justificando interações funcionais.
117
Já, quando se trata do relacionamento entre o Clube e Torcedores e entre o
Clube e os Clubes Adversários, os fatores estão vinculados a questões subjetivas e
afetivas, em torno do desenvolvimento de projetos futuros (o Clube e o Campeonato
Gaúcho de Futebol). Nesse caso, os limites entre as organizações e agentes são
mais obscuros, pois interpenetram a subjetividade das partes, fazendo com
que
exista maior cumplicidade nas interações.
6.4
Sugestões de estudos complementares
Após este “olhar” para os relacionamentos do núcleo de produção do futebol
espetáculo com as “lentes” do marketing de relacionamento, considerando as
limitações apontadas,
sugere
-
se a realização de estudos complementares no sentido
de:
confirmar ou refutar as hipóteses/conjecturas produzidas em caráter exploratório,
utilizando pesquisas de natureza explicativa e explicativa, numa gica hipotético-
dedutiva. Pesquisas com estas características terão maior condição de analisar
“grau” de determinação das variáveis que antecedem a confiança e o
comprometimento;
abordar outras competições (regionais, nacionais, internacionais), buscando
compreender o impacto do contexto na determinação de fatores antecedentes da
confiança e do comprometimento na produção do futebol espetáculo;
estudar diferentes categorias de clubes de futebol (pequeno, médio e grande
porte) e demais agentes relacionados a estes (torcedores, entidades de
administra
ção, mídia esportiva e investidores), procurando estabelecer correlações
entre os fatores determinantes da confiança e comprometimento nos diferentes
níveis; e
pesquisar em outras modalidades esportivas que produzem espetáculos
esportivos (como o futsal, voleibol, handebol, tênis, entre outras), com o objetivo de
verificar diferenças e semelhanças determinadas pelas particularidades de cada
modalidade esportiva.
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423, 1998.
APÊNDICES
124
APÊNDICE 1
Roteiro de Entrevista
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS
PROGRAMA DE PÓS-
GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇ
ÃO (MESTRADO)
ACADÊMICO: MAURO MYSKIW
ORIENTADOR: PROF. DR. RUDIMAR ANTUNES DA ROCHA
ROTEIRO DE ENTREVISTA
OBJETIVO DO ESTUDO: Analisar os fatores que determinam a “confiança” e o
“comprometimento” nos relacionamentos entre as organizações que compõem o
núcleo de produção do jogo-espetáculo de futebol (Entidades de Prática do
Desporto, Entidades de Administração do Desporto, Torcedores, Meios de
Comunicação e Investidores).
QUESTÕES DE PESQUISA:
O que determina
CONFIANÇA
no relacionamento entre est
a
ORGANIZAÇÃO
e as
demais organizações que participam da produção do espetáculo de futebol?
Interdependência
Investimentos Específicos no Relacionamento
Benefícios do Relacionamento
Compartilhamento de Valores
Conhecimento Especializado
Comunicação
Reputação
Tratamentos dos Conflitos
Incerteza do ambiente
Regulação e formalização
Comportamento Oportunista
O que determina
COMPROMETIMENTO
no relacionamento entre esta
ORGANIZAÇÃO e as demais organizações que participam da produção do
espetáculo de
futebol?
Confiança
Dependência
Sentimento de vulnerabilidade
Custos do Término do Relacionamento
Investimentos Específicos no Relacionamento
Credibilidade da Contribuição
Proporcionalidade da Contribuição
Benefícios do Relacionamento
Conhecimento E
specializado
Reputação
125
APÊNDICE 2
Roteiro de Entrevista
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS
PROGRAMA DE PÓS-
GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO
MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO
Prezado Senhor:
Eu,
Mauro Myskiw, acadêmico do curso de mestrado em Administração da
Universidade Federal de Santa Maria, matrícula 2460534, respeitosamente
solicito vossa colaboração na realização de estudo sobre marketing de
relacionamento na gestão do futebol profissional.
O estudo é orientado pelo Prof. Dr. Rudimar Antunes da Rocha, e tem como
objetivo
analisar os fatores que determinam a “confiança” e o “comprometimento”
nos relacionamentos entre as organizações que compõem o núcleo de produção do
jogo
-espetáculo de futebol (Entidades de Prática do Desporto, Entidades de
Administração do Desporto, Torcedores, Meios de Comunicação e Investidores).
O jogo-espetáculo, ora objeto de estudo, refere-se ao Campeonato Gaúcho
de Futebol. Assim, fazem parte da amostra do estudo os 3 clubes com melhor
rendime
nto nesta competição, como também as Entidades de Administração do
Desporto, Torcedores, Meios de Comunicação e Investidores.
Neste estudo, vossa colaboração refere-se à participação em entrevista
pessoal a ser gravada, com duração de aproximadamente 20 minutos. Em anexo,
segue um roteiro das questões que pautarão a referida entrevista.
Desde agradeço vossa colaboração. Aguardo retorno sobre uma possível
data e horário da entrevista.
Mauro Myskiw
UFSM
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