141
Os participantes revelam não somente os prejuízos materiais que sofreram, mas
também a perda da credibilidade no meio social, e até mesmo o comprometimento do nome
em operadoras de crédito, bancos e outras entidades, em razão dos compromissos financeiros
não cumpridos. Além disso, como se observa no trecho a seguir, o envolvimento com o jogo
chega a ocasionar até mesmo perda de amizades, demonstrando mais uma vez que os
prejuízos decorrentes da jogatina englobam muito mais do que perdas financeiras.
Vixxi, pedi dinheiro pra meio mundo! Eu já peguei dinheiro, não só
da minha esposa. Eu já peguei o vídeo- game do meu filho, já peguei
panela, já peguei roupa né, já peguei roupa minha, já peguei dinheiro
da menina que trabalhava lá dentro de casa. Vendi carro, vendi moto,
vendi bicicleta, vendi televisão, objetos pequenos. Eu perdi uma
amizade de dez anos, com um senhor por causa de dez reais pra mim
jogar na maquininha [...] A gente mente pra gente mesmo, e a gente
acaba fazendo com que as pessoas acredite naquilo que você tá
falando. Os cinco últimos anos foi onde eu não tinha mais
credibilidade nenhuma, ninguém acreditava em mim. (P5)
Os relatos também demonstram que o jogador, diante do desespero, disponibiliza não
apenas bens de grande valor econômico, mas até mesmo simples objetos, desde que possam
servir de fonte para angariar o jogo. O trecho a seguir mostra de maneira detalhada como o
jogador se desfaz rapidamente de bens, não só dele, mas de outras pessoas, durante o
momento de jogo, demonstrando um total descontrole sobre si, numa atitude desesperada para
recuperar o que perdeu.
[...] eu falei assim: “Eu quero vender aquela bicicleta lá”. O cara
falou: “Ó, comprar eu não compro, mas se você quiser jogar, nós
joga, vamos apostar”. Eu falei: “Então tá bom, então vamos jogar”.
Foi, e perdi a bicicleta do meu filho. E eu tinha que ir fazer almoço
pros meus filhos, e o meu filho caçula ligando: “Pai, o senhor não vai
vir fazer almoço?” (e ele): “Ó, eu tou virando aí, eu tou virando a
curva, eu tou chegando. Espera aí, mais um pouco. Furou o pneu da
bicicleta, mas eu já tou chegando”. Aí quando eu perdi a bicicleta, eu
desliguei o celular. Aí eu falei assim: “E agora o quê que eu faço?”
Eu fiquei com o celular na mão. O celular era da minha mulher, na
época dela, pra vender pra terceiro, valia uns R$ 350,00 reais. Aí o
cara falou assim: “Ó, eu tenho um cheque aqui, de R$ 80,00 reais. Se
você quiser apostar no celular”. Eu falei: “Não, eu quero R$ 100,00
reais no celular”. Falou: “Ah, tudo bem, então eu te dou vinte em
dinheiro, e te dou esse cheque”. Falei: “Tá legal”. Aí eu comecei a
jogar com ele, daí eu perdi os vinte reais. Aí eu falei: “Sabe de uma
coisa, é porque eu não tou tomando uma! Eu não tou bebendo. Por