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Caracterização e Estudo de Fluido Magnético
Baseado em Nitreto de Ferro
Tese apresentada
por
Cimei Borges Teixeira
ao
Instituto de Física
como requisito para a obtenção
do grau de
Doutor
em
Física
Universidade de Brasília
Brasília - DF
[Março] [2007]
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Resumo
Medidas de magnetização, ressonância magnética do elétron e outras técni-
cas acessórias foram utilizadas no presente estudo para investigar uma amostra de
uido magnético não aquoso baseado em nitreto de ferro contendo cerca de 2×10
16
partículas/cm
3
. Dados de microscopia eletrônica de transmissão indicam um for-
mato esférico para as partículas, possuindo estas um diâmetro médio de 12,2 nm,
com dispersão de 0,14. O espectro Mössbauer da amostra, a 77 K, indica a pre-
sença de 95% da fase γ’-Fe
4
N na amostra, com um resíduo de 5% da fase ε-Fe
3
N.
A dependência com a temperatura da magnetização foi investigada sob a condição
da amostra congelada inicialmente na ausência de campo (ZFC), no intervalo de
temperaturas de 4 a 165K. Os dados ZFC foram ajustados usando-se uma abor-
dagem que leva em consideração a dependência da anisotropia magnetocristalina
com a temperatura, tornando a descrição da situação experimental mais realística.
Espectros de ressonância do elétron foram ajustados, sugerindo informações sobre
formação de aglomerados na amostra.
ii
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Abstract
Magnetization measurements, electron magnetic resonance and other acces-
sories techniques were used in the present study to investigate a non-aqueous iron-
nitride-based magnetic uid (MF) sample containig about 2×10
16
particles/cm
3
.
The TEM micrographs indicated spherical-shaped iron nitride nanoparticles with
an average diameter of 12.2 nm and diameter dispersity of 0.14. The 77K Mös-
sbauer spectrum of the frozen MF sample indicated the presence of about 95%
of the γ’-Fe
4
N phase, with a residual 5% of the ε-Fe
3
N phase. The temperature
dependence of the magnetization was investigated under zero-eld-cooled (ZFC)
condition, in the temperature range of 4to165K.TheZFC-datawerecurve-tted
using a new approach that takes into account the particle size distribution and the
temperature dependence of the magnetocrystalline anisotropy, making the descrip-
tion of the experimental situation more realistic. Electron magnetic resonance was
tted, providing some information about de clusters formation on the sample.
iii
Agradecimentos
À minha esposa Valéria e minha lha Bruna pelo apoio, compreensão e amor
constantes.
Aos meus pais, Valdenor e Aristéia, dentre muitas coisas, pela maior herança:
educação.
Ao meu orientador, Prof. Paulo César, pela longa data de orientação e amizade.
Ao colega Olavo, por impagáveis auxílios e extrema boa vontade.
Ao Prof. Kalil, pela paciência e auxílio da condução das experiências e pelo
aconselhamento.
AoInstitutodeFísicadaUFG,principalmenteaoProf.PelegrinieaDr.Ana
Rita, que muito auxiliaram no levantamento de dados.
Aos Professores Andris, Gargano e Magela, fontes de apoio e consultoria.
Ao Dr. Buske, que sintetizou e cedeu a amostra para estudo.
À Comissão de Pós-Graduação do Instituto de Física da UnB, pela compreen-
são e suporte.
À Profa. Elisa Saitovitch pela disposição e eciência, sem a qual não poderia
apresentar esta tese a contento.
À Célia e demais funcionários da Secretaria de Pós, sempre atenciosos.
Ao amigo Marcelo que ajudou muito na parte laboratorial.
iv
Agradecimentos v
AosváriosamigosdoBRBeCNPq,pelaformidávelcamaradagem.
Aos inúmeros colegas, aos quais peço desculpas por não citá-los um a um,
por simples falta de espaço.
Sumário
Pr efácio...........................................................................1
1 A Questão das unidades
.....................................................3
2 Princípios da teoria do magnetismo
..................................... 11
2.1 Omomentoangular ........................................................11
2.2 Momentosmagnéticosdoelétron ...........................................13
2.3 Omomentomagnéticodeumátomo ........................................14
2.4 SusceptibilidadeParamagnética.............................................23
2.5 Ferromagnetismonomodelodecampolocal.................................25
2.6 Superparamagnetismo[2] ...................................................32
3 Princípios da técnica de EPR ............................................. 38
3.1 Oátomoeocampomagnético(fenômenodaressonância)....................38
3.2 EquaçõesdeBloch .........................................................42
4 A amostra de estudo ....................................................... 48
4.1 Sobrecompostosdenitretodeferro .........................................48
4.2 Preparaçãodaamostra......................................................55
4.3 DadosdeMicroscopiaEletrônicadeTransmissão(MET).....................56
4.4 DadosdeEspectroscopiaMossbauer ........................................59
vi
Sumário vii
5 Medidas de magnetização ................................................. 61
5.1 Introdução .................................................................61
5.2 IdenticaçãodoProblema ..................................................63
5.2.1 Papusoi .............................................................63
5.2.2 MamiyaeNakatani..................................................71
5.2.3 CreggeBessais .....................................................72
5.2.4 ModeloProposto ....................................................75
5.3 Osmodeloseseusresultados ...............................................78
6 Estudando uidos magnéticos via técnica de EPR ..................... 91
6.1 AnálisedosEspectros ......................................................91
6.2 CálculodaAnisotropia ....................................................105
7 Conclusão .................................................................. 111
Bibliograa
...................................................................114
Prefácio
A síntese de uidosmagnéticoseoestudosistematizadodesuaspropriedadesteve
início em meados da década de 1960, através dos trabalhos de Rosensweig e seu grupo de
pesquisas. O termo ”ferrouido”, que hoje não é considerado muito apropriado para rotular
um uido magnético, também foi cunhado nesta época. Uma longa e interessante discussão
sobre os primeiros métodos de preparação, bem como os problemas de estabilidade de
colóides magnéticos, é apresentada em [40].
De uma forma simplicada, pode-se dizer que um uido magnético é uma suspensão
coloidal de nanopartículas magnéticas. A estabilidade do uido, ou seja, a não aglomeração
das partículas, seja por sedimentação, ou pela atração magnética entre as partículas, ou por
interações de Wan der Walls, pode ser obtida por duas maneiras diferentes, de forma que
estas caracterizam os uidos magnéticos em dois grandes grupos: iônicos e surfactados.
Nos uidos iônicos, as partículas possuem uma carga elétrica superfícial de sinal
oposto ao da carga atribuída ao meio em que estão suspensas. Este procedimento torna o
uido eletricamente neutro e evita que, em função da repulsão eletrostática, as partículas
formem grandes aglomerados. Esta distribuição de cargas pode ser controlada pelo pH da
solução.
A estabilidade dos uidos surfactados é garantida por uma barreira física que reveste
cada partícula magnética. A espessura desta barreira, ou da cobertura das partículas, de-
termina uma distância mínima entre os centros magnéticos das partículas, impedindo a
aglomeração.
1
Prefácio 2
O tipo de solvente utilizado também serve como tipicação do uido magnético, em
que a água ou solventes de petróleo são os mais comuns. Têm-se então os uidos aquosos
eosnão-aquosos.
Um melhor entendimento das propriedades destes materiais, com aplicações nas mais
diversareasdetecnologiaepesquisa,desteaeroespacialatéabiologiaemedicina,justi-
ca a crescente pesquisa neste campo.
No presente trabalho, através das técnicas experimentais disponíveis, a saber: ressonân-
cia paramagnética eletrônica (EPR, de ”Electron Paramagnetic Resonance”), medidas de
magnetização, microscopia eletrônica de transmissão (MET) e espectroscopia Mössbauer,
procura-se apresentar um estudo sobre um uido magnético não-aquoso baseado em partícu-
las de nitreto de ferro. Compostos de nitreto de ferro possuem várias fases cristalinas e
propriedades magnéticas que variam entre as fases. Algumas destas fases, como será dis-
cutido no capítulo que trata da amostra de estudo, surgem como promissoras para o uso em
uidos magnéticos.
Este trabalho está organizado de forma a apresentar aspectos básicos do magnetismo
e das técnicas experimentais utilizadas, tratando inicialmente do problema dos sistemas de
unidades utilizados em magnetismo.Quantoaotrabalhoexperimental em si, informações
sobre a amostra de estudo, os dados obtidos experimentalmente e os ajustes e modelos
utilizados para descrever estes dados, aparecem em sequência. Um maior destaque é dado
aos ajustes dos espectros de EPR e no modelo que foi criado para descrever as curvas de
magnetização com a amostra congelada na ausência de campo magnético (ZFC).
1
A Questão das unidades
O estudo das propriedades magnéticas dos materiais, dada a sua grande variedade, é
bem complexo. Tal característica é evidenciada logo de início, quando se observa que
o sistema de unidades a ser utilizado tem íntima relação com as primeiras denições. Isto
acaba se reetindo nos conceitos e expressões utilizados na teoria, ao ponto de se ter para
uma mesma grandeza, expressões aparentemente não semelhantes.
Em face das diculdades que a questão das unidades apresenta, seguindo o exemplo
dos livros texto utilizados na confecção deste material ([8] e [11]), é interessante que se
destine o primeiro capítulo para a discussão, mesmo que de forma simples, das origens e
peculiaridades dos sistemas de unidades mais comuns e para que queclaroqueaescolha
de um ou outro sistema para estudos na área do magnetismo tem se justicado, atualmente,
na especialidade que se pretende estudar e no material de estudo e pesquisa que se encontra
sedimentado.
A discussão básica está no uso do sistema internacional (SI), também chamado de
sistema MKS, ou do sistema CGS. O SI apresenta inúmeras vantagens em relação aos de-
mais sistemas, ele é de uso corrente na maioria dos cursos acadêmicos, é padrão na maioria
dos países do mundo e representa um conjunto completamente coerente de unidades.
No magnetismo, o sistema CGS também é conhecido como emu (de eletromag-
netic units” ), contudo, em problemas de eletricidade, um conjunto de unidades chamado
de esu (de eletrostatic units” ) pode também ser utilizado. Toda vez que estes sistemas
3
1 A Questão das unidades 4
são utilizados em um mesmo problema, a velocidade da luz ( c ) aparece nas equações,
basicamente pelo fato de que se a carga do elétron é medida em esu, o correspondente
valor em emu é obtido dividindo-se esta carga pela velocidade da luz ( e/c ). Como exem-
plos: O momento magnético µ devido a uma corrente i que percorre um loop” de área
A deve ser escrito como µ(emu)=i(esu)A/c. No SI este problema não ocorre, pois
µ = iA, invariavelmente. O magneton de Bohr (µ
B
), é denido, em unidades eletro-
magnéticas, como µ
B
= eh/4πmc =[(4, 80 × 10
10
esu)(6, 62 × 10
27
ergs)/4π(9, 11 ×
10
28
g)(3, 00 × 10
10
cm/s)] = 9, 27 × 10
21
erg/Oe;peloSI,tem-seµ
B
= eh/4πm =
[(1, 60 × 10
19
C)(6, 63 × 10
34
Js)/4π(9, 11 × 10
31
)] = 9, 27 × 10
24
J/T.
Não obstante as vantagens do SI sobre o CGS, o uso deste no magnetismo, levando-
se em conta a enormidade de informação que foi estabelecida por base no sistema CGS,
pode ser contraditório e confuso. Acredita-se que o sistema CGS (emu) torna as equações
mais simples que as equivalentes no SI, o que, provavelmente, é uma das razões para o uso
deste sistema na grande maioria dos trabalhos e artigos sobre magnetismo.
Diferentemente de áreas de estudo onde o SI e o CGS podem conviver em harmonia,
pois as grandezas se diferenciam somente na questão do tamanho das unidades, quando se
fala de magnetismo, a diferença começa a surgir de acordo com o tratamento que é utilizado
quando das denições. No SI, dene-se o campo B, em função da força existente entre dois
os condutores, e depois se dene o campo H, sendo que uma diferenciação entre B
e H no vácuo. A magnetização é tratada em termos de correntes elétricas atômicas no
interior da matéria. No CGS, H édenido primeiro e a magnetização é tratada em termos
de pólos magnéticos. Em princípio, não diferença entre B e H, no vácuo. Isto torna
1 A Questão das unidades 5
a forma de muitas equações diferentes, dependendo do sistema, ou conjunto de unidades,
utilizado.
Como ilustração, a tabela 1 mostra uma comparação entre as expressões obtidas no
tratamento teórico via unidades CGS e as equivalentes, neste mesmo tratamento, se fosse
utilizado o sistema SI. Deve-se atentar para o fato de que este comparativo não segue o
procedimento normalmente utilizado para o desenvolvimento da teoria quando a premissa é
a utilização do SI. A tabela 1, não é portanto umatabeladeconversão.Nateoriaconstruída
porbasenoSI,começa-secomadenição de B, na expressão
~
F = q~v ×
~
B,enãopela
denição de H,comonoCGS.
O problema da não denição única do SI surge quando se tem que levar em considera-
ção o meio polarizável. Neste caso, o CGS, por o ser racionalizado, é alto-consistente e
satisfatório. Isto reforça ainda mais a insistência por muitos do uso do CGS e a relutância
em se trocar para o SI.
De qualquer forma, o SI é utilizado na grande maioria das demais áreas do conheci-
mento e se percebe uma tendência para o uso deste também no magnetismo. Para tal, muita
atenção e cuidado devem ser garantidos para que a transição seja simples, direta e não am-
bígua. Na medida do possível, o uso de fatores de conversão que envolvam múltiplos de
4π, devem ser evitados. A denição da susceptibilidade magnética, no SI, requer cuidados
especiais.
Nesta ligação, podemos revisar e estabelecer as principais diferenças entre o CGS e
oSI,nasdenições e nomeclaturas, quandosefalademagnetismo.
1 A Questão das unidades 6
Descrição CGS SI
Lei de Coulomb da
força entre dois polos
F =
p
1
p
2
d
2
dinas
(1)
F =
p
1
p
2
4πµ
0
d
2
newtons
(2)
Forçaemumpólo F = pH dinas
(3)
F = pH newtons
Campodevidoao
pólo
H =
p
d
2
Oe H =
p
4πµ
0
d
2
ampère-voltas/metro
Momento magnético m = pl ergs/Oe m = pl weber-metro
Energia potencial E
p
= mHcosθ ergs E
p
= mHcosθ joules
Magnetização M =
m
V
=
p
A
ergs/Oe cm
3(4)
M =
m
V
=
p
A
weber/metro
2
Campodevidoaum
condutor retilíneo
H =
2i
10r
Oe
H =
i
2πr
ampère/metro
Campo de um ”loop” H =
2πi
10R
Oe
H =
i
2R
ampère/metro
Momento magnético
de um ”loop”
m =
Ai
10
ergs/Oe
m = µ
0
Ai weber-metro
Campo de um
solenóide
H =
4πni
10L
Oe
H =
ni
L
ampère-voltas/metro
Momento magnético
de um solenóide
m =
nAi
10
ergs/Oe
m = µ
0
nAi weber-metro
BeHnovácuo B = H B = µ
0
H
Relação entre B, H e
M
B = H +4πM B = µ
0
H + M
(5)
;
B = µ
0
H + µ
0
M
(6)
Susceptibilidade por
volume
χ =
M
H
emu/cm
3
Oe
χ =
M
H
weber/ampère metro
Permeabilidade
absoluta
µ =
B
H
emu/cm
3
Oe
µ =
B
H
weber/ampère metro
Permeabilidade rela-
tiva
µ
r
=
µ
µ
0
=
B
µ
0
H
weber/ampère metro
Relação entre perme-
abilidade e suscepti-
bilidade
µ =1+4πχ µ = µ
0
+χ
Tab. 1.1. Grandezas magnéticas no CGS e SI. Nesta tabela, para o momento magnético é
atribuido a letra m, para não haver confusão com o µ da permeabilidade. (1) A unidade
de pólo magnético é denida como sendo aquela que exerce em outra unidade de pólo
magnético a força de 1 dina quando os polos estão separados por 1 cm. (2) A unidade
de pólo magnético é denida como sendo aquela que exerce em outra unidade de pólo
magnético a força de 1 N quando os polos estão separados por 1 m. (3) Esta equação dene
H como a intensidade de campo que, tendo o valor de 1 Oe, exerce uma força de 1 dina em
uma unidade de pólo. (4) também aparece nas unidade emu/cm
3
, ou simplesmente, emu.
(5) Kennely. (6) Sommerfeld.
1 A Questão das unidades 7
No sistema SI, as fórmulas que tratam de força, energia, momento magnético, etc. são
em termos da indução B.Aforça magnética H, raramente é utilizada sozinha, surgindo
somente quando se calcula o efeito magnético de uma corrente elétrica, ou casos similares.
Quando H se relaciona com qualquer outra quantidade, a permeabilidade do vácuo µ
0
,
deve ser introduzida, por exemplo, no vácuo B
0
= µ
0
H.Ovalordeµ
0
é 4π × 10
7
T·m/A.
No sistema CGS, toda a formulação é em termos da intensidade de campo H,medidaem
oersteds. A permeabilidade do vácuo corresponde a unidade, tornando a indução, medida
em Gauss, no vácuo, numericamente igual a intensidade de campo. Aqui, as unidades
Gauss e oersteds são equivalentes, representando nomes diferentes para maxwell/cm
2
.Para
a magnetização M, utiliza-se emu/cm
3
, quando esta aparece multiplicada por 4π, utiliza-se
Gauss.Omaxwell corresponde quantitativamente a uma linha de força.
Duas alternativas podem ser utilizadas na aplicação do SI ao magnetismo, sendo de
escolha arbitrária, pois não apresentam contradição entre si. a opção da versão Kennelly
(1936),primeiramenteaceitapelosengenheiroseletricistaseaversãoSommerfeld(1948),
preferida pelos físicos.
Na versão Sommerfeld do SI, a indução em um meio polarizável é dada por B =
µ
0
(H + M)=B
0
+ µ
0
M, onde M é a magnetização por unidade de volume. Na versão
Kennelly, B = µ
0
H + J, onde J corresponde a polarização magnética. Percebe-se aqui
somente uma divergência de nomeclatura. No CGS, tem-se que B = H +4πM (algumas
vezes M é substituído por I ou J, mas todos correspondem a magnetização por volume).
A aplicação do SI ao magnetismo enfrenta uma diculdade no que tange a neces-
sidade de se distinguir entre dois tipos de indução. A indução que estaria presente no
1 A Questão das unidades 8
espaço vazio quando o objeto de estudo estivesse ausente e a que realmente está no ob-
jeto. Geralmente, no SI, à indução no vácuo é atribuída o símbolo B
0
(= µ
0
H), é chamada
simplesmente de campo e é medida em Te slas (T), H émedidoemampère/metro enão
costuma ser muito útil.
No CGS, B
0
e H podem ser utilizados simultaneamente, desde que que claro que
B
0
corresponde a indução no vácuo. A indução em qualquer outro meio, em ambos os
sistemas é chamada de B.
As condições de contorno, ou melhor, de continuidade nas fronteiras, devem ser
claramente especicadas. Não há, em princípio, diferenças entre o CGS e o SI, pois as
componentes normais de B e as componentes tangenciais de H e B
0
, respectivamente aos
sistemas, são contínuas na fronteira entre dois meios diferentes.
Partindo da idéia que é mais fácil se medir acuradamente massa do que volume,
também se costuma preferir medições relacionadas a unidade de massa do que unidade de
volume, por exemplo, a magnetização por unidade de massa σ édadaporM/ρ, onde ρ éa
densidade.
Outra fonte de confusão é a denição da susceptibilidade magnética por volume no
SI, pois diferentes autores denem susceptibilidade de forma diferente. Na versão Sommer-
feld, a susceptibilidadeporvolumeédenida como a magnetização dividida pelo campo
enquanto que na versão Kennelly, é a polarização dividida pelo campo. O problema é como
se dene o campo. Parece mais lógico, e preferível, se denir, no SI, pelo esquema Som-
merfeld, a susceptibilidade por volume como sendo a razão entre a magnetização e o campo
1 A Questão das unidades 9
B
0
que a produziu (χ = M/B
0
= M/µ
0
H). O que torna, inclusive, a conversão para o
CGS mais fácil.
Quanto ao torque que atua em um dipolo magnético, quando este está sob a presença
de um campo, o tratamento dado pelas versões Sommerfeld e Kennelly são um pouco dife-
rentes,umavezqueadenição de momento magnético é diferente. O dipolo magnético,
no esquema Sommerfeld (magnetização), é µ
s
= VM, onde V é o volume da amostra, o
torque é T = µ
s
× (µ
0
H)=µ
s
× B
0
= VM× B
0
. Já no esquema Kennelly (polarização),
o momento magnético é µ
k
= VJ,otorquT = µ
k
× H = VJ× H =
0
M × B
0
0
,
pois J = µ
0
M e B
0
= µ
0
H. Os resultados são os mesmos, contudo a versão Sommerfeld,
pelo menos para os físicos, é mais conveniente, pois não se faz uso do H.
A tabela 2 apresenta as conversões de unidade mais comuns entre o SI e o CGS.
1 A Questão das unidades 10
Grandeza SI CGS
Permeabilidade no vácuo µ
0
=4π × 10
7
H/m
1
Força magnética (campo) HA/m H oersted (Oe)
1 A/m = 1,257×10
2
Oe 1 Oe = 79,58 A/m
Indução no vácuo (campo) B
0
tesla (T)
B gauss (G)
1T=10
4
G
B
0
=
µ
0
H B = H
Indução em um meio B = B
0
+µ
0
M B = H +4πM
Magnetização por unidade de
volume
MJ/Tm
3
ou A/m M erg/Oe cm
3
1J/Tm
3
=10
3
erg/Oe cm
3
1 erg/Oe cm
3
=10
3
J/Tm
3
Magnetização por unidade de
massa
σ=
M
ρ
TKg σ=
M
ρ
erg/Oe g
1 J/T Kg = 1 erg/Oe g
Polarização magnética
(denida por)
J(T) 4πM(G)
B=B0+J B=H+4πM
Momento de dipolo de magne-
tização (Sommerfeld)
µ
s
=VM
Momento de dipolo de polar-
ização (Kennelly)
µ
k
=VJ
Susceptibilidade por unidade
de volume
χ
V
=
M
B
0
J/T
2
m
3
χ
V
=
M
H
erg/Oe
2
cm
3
10 J/T
2
m
3
=10
6
erg/Oe
2
cm
3
Susceptibilidade por unidade
de massa
χ
m
=
χ
V
ρ
J/T
2
Kg
χ
m
=
χ
V
ρ
erg/Oe
2
g
10
2
J/T
2
Kg = 10
6
erg/Oe
2
g
Susceptibilidade por mol (
χ
M
)
10
5
J/T
2
mol = 10
6
erg/Oe
2
mol
Força em uma amostra ferro-
magnética sujeita a um gradi-
ente de campo
F
z
= mσ
dB
0
dz
F
z
= mσ
dH
dz
Força em uma amostra para-
magnética
F
z
= mχB
0
dB
0
dz
F
z
= mχH
dH
dz
Magneton de Bohr µ
B
=
eh
4πm
= 9,2732 x 10
24
J/T µ
B
=
eh
4πmc
= 9,2732 x 10
21
erg/Oe
Permeabilidade relativa µ =
B
B
0
=1+µ
0
χ
V
µ =
B
H
=1+4πχ
V
Torque T = VM × B
0
(Sommerfeld)
T = VM × H
T = VJ× H (Kennelly)
Campo de Desmagnetização (B
0
)
D
= DM (H)
D
= NM
D =
µ
0
N
4π
Tab. 1.2. Conversões SI e CGS
2
Princípios da teoria do magnetismo
2.1 O momento angular
Pode-se dizer, de maneira geral, que campos magnéticosseoriginamdecargaselétricasem
movimento. Pode-se então concluir, sob uma visão clássica, que um elétron, ou qualquer
outra partícula, esteja sozinha ou em grupo,desdequepossuacargaelétricaemomento
angular, apresenta propriedades magnéticas.
Sob a visão quântica, somente é possível calcular, ou conhecer, simultaneamente o
quadrado do momento angular total e uma de suas componentes (relações de comutação).
Por simplicidade, preferência em se trabalhar com a componente no eixo z e utiliza-se
o termo ”spin” para descrever a propriedade de momento angular das partículas no nível
atômico e/ou nuclear.
A mecânica quântica também mostra que o valor máximo, observável experimental-
mente, de uma componente do momento angular de uma partícula é um múltiplo, inteiro
ou semi-inteiro, de h/2π, onde h é a constante de Plank. Para um átomo, o momento angu-
lar eletrônico total, descrito pelo número quântico J, depende do momento angular de spin
e do momento angular orbital. Desta forma, tem-se para a magnitude do momento angular
L, a expressão:
L = ~ [J (J +1)]
1
2
, (2.1)
11
2 Princípios da teoria do magnetismo 12
onde ~ corresponde a h/2π.
Os estados do átomo são caracterizados por somente um valor de J e este determina,
de certa forma, o valor do momento magnético deste. Quando J éigualazero,oátomo
não tem momento magnético associado, pois, conforme a expressão 2.1, não tem momento
angular. Nos demais casos ele possui um momento magnético µ cuja direção é paralela ao
vetor momento angular.
No cálculo da componente do momento angular atômico (a componente z é a preferida)
surge outro número quântico, chamado de número quântico magnético (M
J
). Os 2J +1
possíveis valores de M
J
denem estados orientacionais para o átomo. Caso J seja igual a
1
2
,tem-separaM
J
ovalor
1
2
,ou
1
2
.CasoJ seja igual a 1, tem-se como possíveis valores
de M
J
: 1, 0, 1. E assim por diante.
A componente de L na direção z obedece então à expressão:
L
z
= ~M
J
. (2.2)
A degenerescência dos estados caracterizados por um J e múltiplos M
J
é quebrada
ao se colocar o átomo na presença de um campo magnético uniforme, pois de acordo com
as orientações dos momentos magnéticos, descritos por M
J
, o átomo possuirá diferentes
valores de energia potencial. Como exemplo simples, para J =
1
2
, dois estados energéticos
diferentes surgem quando µ está orientado na direções paralela e anti-paralela ao campo,
pois M
J
=
1
2
ou
1
2
.
2.2 Momentos magnéticos do elétron 13
2.2 Momentos magnéticos do elétron
Retornando ao fato de que corrente elétrica gera campo magnético, pode-se associar um
momento (de dipolo) magnético a um loop de corrente. O valor deste momento é encon-
trado multiplicando-se o valor da corrente pela área do loop ( iA ). Entendendo-se que as
propriedades magnéticas do elétron surgem em função do seu movimento, de forma simpli-
cada, pode-se comparar os movimentos do elétron a loops de corrente, isto então permite
associar momentos magnéticos tanto para o movimento orbital do elétron, como para o seu
spin.
Supondo que o elétron, de carga e emassam, executa uma órbita circular de raio r,
com velocidade angular ω, uma corrente elétrica, em direção oposta, de valor i = eωÁ2π
é gerada. O cálculo do módulo do momento magnético orbital ca da seguinte forma:
µ = iA = e
ω
2π
πr
2
=
1
2
eωr
2
. (2.3)
Esta grandeza é o módulo de um vetor cuja direção é perpendicular ao plano orbital.
O módulo do momentum angular deste elétron,devidoaoseumovimentoorbita:
L = mr
2
ω, (2.4)
onde mr
2
corresponde ao momento de inércia.
Combinando estas duas últimas expressões:
µ =
e
2m
L. (2.5)
2.3 O momento magnético de um átomo 14
Uma vez que L é quantizado em unidades de h/2π, onde h é a constante de Plank,
deduz-se que o menor valor não nulo permitido para o momento magnético é:
µ
B
=
eh
4πm
, (2.6)
que é conhecido como o magneton de Bohr e serve de unidade para se medir os momentos
magnéticos relativos ao elétron. Com as devidas substituições, tem-se para este o valor de
9,2732 x 10
24
J/T (SI) ou 9,2732 x 10
21
erg/Oe (CGS).
De maneira mais geral, o momento magnético do elétron é dado por µ = γL,ondeγ
é chamado de razão magnetomecânica (ou giromagnética) e assume o valor e/2m para o
movimento orbital e e/m para o spin.
2.3 O momento magnético de um átomo
Com o estudo feito para o elétron, pode-se concluir que as propriedades magnéticas deste
estão intimamente relacionadas com o seu momento angular, que, sob o tratamento quân-
tico, envolve os números quânticos associados a esta grandeza. Para um átomo, intui-se que
a existência de um momento magnético atômico dependerá da contribuição de cada mo-
mento magnético associado a cada elétron que este possui. De fato, esta análise se baseia
nos estados dos elétrons dentro do átomo. Pela teoria quântica, estes estados são descritos
pelos números quânticos (n, l, m
l
,s). O estado do átomo dependerá então da combinação
destes estados eletrônicos, onde a premissaéquesetenhaumestadoestáveledemais
baixa energia.
2.3 O momento magnético de um átomo 15
Na denição do momento magnético atômico não se leva em conta uma possível con-
tribuição do núcleo. A justicativa está no fato de que os momentos magnéticos associados
ao núcleo são muito menores que os associados aos elétrons. Enquanto se tem para o mag-
netondeBohrovalor9,2732x10
21
erg/Oe, tem-se para o magneton nuclear, denido de
forma semelhante, o valor 0,505 x 10
23
erg/Oe, cerca de 1840 vezes menor.
No que diz respeito ao magnetismo, as interações entre os momentos angulares or-
bital e de spin determinarão o estado magnético do átomo. Para o átomo, as combinações
entre os momentos angulares orbital e de spin se traduzem nas grandezas momento de spin
total (S) e momentum orbital total (L). A combinação destas duas resulta no momento an-
gular total (J). Os respectivos números quânticos são S, L,eJ. A projeção de J na direção
de quantização, M
J
, também é quantizada. Desta forma:
J = |L S|, |L S +1| , ...., |L S 1| , |L + S| e(2.7)
M
J
= J, J +1, ...., J 1,J. (2.8)
A determinação dos valores de S e L para cada átomo é feita pela aplicação das regras
de Hund.
A conexão entre as grandezas de momento angular e seus respectivos números quân-
ticos são expressas pelas expressões:
2.3 O momento magnético de um átomo 16
|L|
2
= L (L +1)
µ
h
2π
2
; (2.9)
|S|
2
= S (S +1)
µ
h
2π
2
; (2.10)
|J|
2
= J (J +1)
µ
h
2π
2
, (2.11)
em que a projeção de J no eixo de quantização é dada por:
|M
J
| = M
J
µ
h
2π
. (2.12)
Os momentos magnéticos correspondentes ao movimento orbital e ao spin são:
|µ
L
| = µ
B
[L (L +1)]
1
2
e(2.13)
|µ
S
| =2µ
B
[S (S +1)]
1
2
. (2.14)
Pela teoria quântica, as grandezas L e S podem variar com o tempo, enquanto que
J não, esta informação se traduz na precessão de L e S em torno da sua soma J.Tal
entendimento poderia ser utilizado para os momentos magnéticos associados, contudo o
fator 2 na expressão (2.14), inexistente na expressão para o momento angular, traz certa
complicação.
O momento magnético total µ = µ
L
+ µ
S
precessa então em torno de J.Outra
forma de descrevê-lo é considerá-lo composto de uma parte independente do tempo µ
J
,
paralela a direção de J, e uma parte de “alta freqüência” µ
0
, perpendicular a direção de J e
dependente do tempo, cuja média temporal vale zero, ou seja, µ = µ
J
+ µ
0
.
2.3 O momento magnético de um átomo 17
Os fatores µ
J
e µ
0
podem ser comparados, simplicadamente, a um momento de
dipolo em uma direção xaeumefeitodepolarização.Aquiserádemonstradosomenteo
cálculo da parte não dependente do tempo, que é o de maior interesse.
Desta forma, µ
J
corresponde a projeção de µ na direção de J, que equivale à soma
das projeções de µ
L
e µ
S
nesta mesma direção. Daí:
µ
2
J
=
µ
µ
L
· J
|J|
+
µ
S
· J
|J|
2
=
·
µ
B
µ
2π
h
L · J
|J|
+2µ
B
µ
2π
h
S · J
|J|
¸
2
=
µ
2π
h
µ
B
2
µ
L · J
|J|
+2
S · J
|J|
2
, (2.15)
como
J =(L + S) , (2.16)
tem-se
S
2
=(J L)
2
= J
2
+ L
2
2L · J, (2.17)
e
L · J =
1
2
¡
J
2
+ L
2
S
2
¢
, (2.18)
da mesma forma:
S · J =
1
2
¡
J
2
+ S
2
L
2
¢
. (2.19)
2.3 O momento magnético de um átomo 18
Com as devidas substituições:
µ
2
J
=
µ
2π
h
µ
B
2
µ
J
2
+ L
2
S
2
2 |J|
+2
J
2
+ S
2
L
2
2 |J|
2
=
µ
2π
h
µ
B
2
µ
3J
2
+ S
2
L
2
2 |J|
2
2
J
2
= µ
2
B
µ
3J (J +1)+S (S +1) L (L +1)
2J (J +1)
2
J (J +1), (2.20)
daí,
µ
J
= µ
B
µ
3J (J +1)+S (S +1) L (L +1)
2J (J +1)
[J (J +1)]
1
2
=
µ
1+
J (J +1)+S (S +1) L (L +1)
2J (J +1)
µ
B
[J (J +1)]
1
2
, (2.21)
ou,
µ
J
=
B
[J (J +1)]
1
2
, (2.22)
onde
g =1+
J (J +1)+S (S +1) L (L +1)
2J (J +1)
. (2.23)
Este último é chamado de fator g de Landé, ou simplesmente, fator g.Observa-se
que quando S =0(sem contribuição de spin) na expressão (2.23), J = L e g =1, de outra
forma, quando L =0(sem contribuição orbital), J = S e g =2.
A expressão (2.22) representa o momento magnético de um único átomo.
2.3 O momento magnético de um átomo 19
Considerando agora que o átomo está sujeito a um campo magnético (H
0
), a energia
potencial magnética deste dependerá de qual das possíveis orientações, representadas pelos
2J +1valores de M
J
, este tomou. O valor desta energia é então dado por:
E
M
= µ
J
· H
0
= gM
J
µ
B
H
0
. (2.24)
Na expressão (2.22), sendo a energiadependentedaprojeçãodeµ
J
na direção de H
0
,
ou seja, de gM
J
µ
B
, tem-se que, dados os valores possíveis de M
J
, o valor máximo desta
projeção é gJµ
B
.
Como os níveis magnéticos estão sujeitos a excitação térmica, pela estatística de
Boltzmann, a probabilidade de um átomo ter uma energia E
M
é proporcional a e
E
M
kT
.Para
um conjunto de átomos, pode-se, seguindo esta estatística, calcular o momento magnético
médio na direção de H
0
:
hµ
JH
0
i =
P
M
J
gM
J
µ
B
e
E
M
kT
P
M
J
e
E
M
kT
=
B
P
M
J
M
J
e
gM
J
µ
B
H
0
kT
P
M
J
e
gM
J
µ
B
H
0
kT
. (2.25)
Para se calcular esta expressão, alguma manipulação é necessária.
Introduzindo o fator
u =ln
Ã
X
M
J
e
M
J
y
J
!
=ln(v) , (2.26)
onde
2.3 O momento magnético de um átomo 20
y =
gJ µ
B
H
0
kT
(2.27)
e
v =
X
M
J
e
M
J
y
J
, (2.28)
tem-se que
du
dy
=
du
dv
dv
dy
=
P
M
J
M
J
J
e
M
J
y
J
P
M
J
e
M
J
y
J
=
1
J
hµ
JH
0
i
B
. (2.29)
A questão agora é calcular a soma denida por v em (2.28), para tal, que se faça
z = e
y
J
de maneira que e
M
J
y
J
= z
M
J
, obtém-se:
v =
X
M
J
z
M
J
= z
J
¡
1+z + z
2
+ ... + z
2J
¢
, (2.30)
que, da forma como está, representa uma progressão geométrica simples, onde M
J
varia
de J a +J. Continuando,
v =
z
J
¡
z
2J+1
1
¢
z 1
=
z
J+1
z
J
z 1
=
z
J+
1
2
z
1
2
z
J
1
2
z
1
2
z
1
2
z
1
2
z
1
2
z
1
2
=
z
(
J+
1
2
)
z
(
J+
1
2
)
z
1
2
z
1
2
. (2.31)
Retornando o valor de z
v =
e
(
1+
1
2J
)
y
e
(
1+
1
2J
)
y
e
y
2J
e
y
2J
. (2.32)
Usando-seadenição do seno hiperbólico, obtém-se para v:
2.3 O momento magnético de um átomo 21
v =
senh
£¡
1+
1
2J
¢
y
¤
senh
¡
y
2J
¢
, (2.33)
então,
dv
dy
=
senh
¡
y
2J
¢¡
1+
1
2J
¢
cosh
£¡
1+
1
2J
¢
y
¤
senh
£¡
1+
1
2J
¢
y
¤¡
1
2J
¢
cosh
¡
y
2J
¢
£
senh
¡
y
2J
¢¤
2
(2.34)
e
du
dv
=
1
v
=
senh
¡
y
2J
¢
senh
£¡
1+
1
2J
¢
y
¤
. (2.35)
Através do produto das expressões (2.34) e (2.35), obtêm-se:
du
dy
=
senh
¡
y
2J
¢¡
1+
1
2J
¢
cosh
£¡
1+
1
2J
¢
y
¤
senh
£¡
1+
1
2J
¢
y
¤¡
1
2J
¢
cosh
¡
y
2J
¢
senh
¡
y
2J
¢
senh
£¡
1+
1
2J
¢
y
¤
=
µ
1+
1
2J
cotagh
·µ
1+
1
2J
y
¸
µ
1
2J
cotagh
³
y
2J
´
. (2.36)
Chamando o resultado da expressão (2.36) de F (J, y), tem-se (ver expressão (2.29))
nalmente, para o momento magnético médio de cada átomo:
hµ
JH
0
i = Jgµ
B
F (J, y). (2.37)
F (J, y) tem por nome “função de Brillouin” . O termo Jgµ
B
, como visto anterior-
mente, corresponde ao valor máximo do momento magnético, na direção de quantização.
O caso especial, onde J =1/2 é bastante comum:
2.3 O momento magnético de um átomo 22
F
1
2
,y =2cotagh (2y) cotah (y)
= tagh (y) . (2.38)
Outro caso interessante acontece quanto se faz J , o que corresponde a uma
distribuição clássica, pois a função de Brillouin se reduz à função de Langevin:
F (J, y)=cotagh (y)
1
y
. (2.39)
A aplicação do resultado obtido na expressão (2.37) permitirá o desenvolvimento da
teoria para a magnetização e susceptibilidade magnéticas nos materiais para- e ferromag-
néticos.
A Figura 1 ilustra o comportamento da função de Brillouin em função de y,para
alguns valores de J.
Fig. 2.1.Função de Brillouin para: 1) J =1/2;2)J =3/2;3)J =5/2 e4)J
2.4 Susceptibilidade Paramagnética 23
2.4 Susceptibilidade Paramagnética
No desenvolvimento anterior, ca evidente a importância da função de Brillouin. O estudo
do seu comportamento permite a associação de propriedades intrínsecas do átomo com a
determinação de certas grandezas magnéticas relativas à matéria. Observa-se, por exemplo,
que a saturação, ou seja, a situação onde todos os momentos magnéticos atômicos estão
alinhados com o campo aplicado, ocorre quando F (J, y)=1.
O comportamento paramagnético, fora da região de saturação, corresponde ao início
da função de Brillouin, ou seja, a valores pequenos de y. Neste caso, pode-se aproximar a
função cotagh pelos primeiros termos de sua expansão, ou seja, sendo
cotagh (ξ)=
1
ξ
+
ξ
3
ξ
3
45
+
2ξ
5
945
+ ..., (2.40)
para valores pequenos de ξ , a cotagh pode ser escrita como
cotagh (ξ)=
1
ξ
+
ξ
3
. (2.41)
A função de Brillouin ca então:
F (J, y)=
µ
1+
1
2J
"
1
¡
1+
1
2J
¢
y
+
¡
1+
1
2J
¢
y
3
#
µ
1
2J
¶·
1
y
2J
+
y
2J
3
¸
=
1
y
+
¡
1+
1
2J
¢
2
y
3
1
y
¡
1
2J
¢
2
y
3
=
y
¡
1+
1
J
¢
3
=
y (J +1)
3J
, (2.42)
correspondendo às partes iniciais dos grácosdaFigura1.
2.4 Susceptibilidade Paramagnética 24
Para um conjunto de átomos, o momento magnético molar pode ser calculado com
o produto do número de átomos por mol (N) e o momento magnético médio (expressão
(2.37)):
Nhµ
JH
0
i = NJgµ
B
F (J, y)
=
Ng
2
µ
2
B
J (J +1)H
0
3kT
, (2.43)
nesta, utilizou-se o resultado da expressão (2.42).
Dividindo-se a expressão (2.43) pelo campo aplicado, tem-se a susceptibilidade mo-
lar:
χ
m
=
Ng
2
µ
2
B
J (J +1)
3kT
= µ
2
eff
N
3kT
, (2.44)
onde µ
eff
= g [J (J +1)]
1
2
µ
B
é chamado de “magneton de Bohr paramagnético efetivo”
(tradução literal) por razões históricas e representa uma grandeza característica do mate-
rial. Esta quantidade é o análogo quântico ao momento magnético líquido, µ,doátomo
proveniente da teoria clássica.
Para os materiais onde a lei de Curie é obedecida, pode-se obter uma expressão entre
aconstantedeCurie(molar)eµ
eff
:
C
m
T
= µ
2
eff
N
3kT
,ou (2.45)
µ
2
eff
=
3k
N
C
m
. (2.46)
Em um tratamento mais completo, a susceptibilidade molar deve ser escrita como:
2.5 Ferromagnetismo no modelo de campo local 25
χ
m
= µ
2
eff
N
3kT
+ α
J
, (2.47)
sendootermoα
J
oriundo da parte dependente do tempo (µ
0
) do momento magnético do
átomo. Estenãodependedatemperaturaeénormalmentemuitopequenocomparadoao
termo principal, tanto que seus efeitos não são normalmente observados. Quando a sepa-
ração dos multipletos não é grande comparada a kT, α
J
apresenta alguma contribuição.
2.5 Ferromagnetismo no modelo de campo local
Um material ferromagnético, conforme Weiss, em 1906, pode ser descrito como um agre-
gado de domínios magnéticos que se encontram espontaneamente magnetizados em valo-
res, se não iguais, muito próximos da magnetização de saturação do material. A aplicação
de um campo externo tem inuência na direção da magnetizaçãodentrododomínio,agindo
pouco, ou nada, na magnitude desta. Tal comportamento também pode ser interpretado,
quando da aplicação de um campo externo, como o movimento das paredes dos domínios
magnéticos que compõe o material.
A teoria de Weiss, também chamada de teoria do campo molecular, é baseada em dois
postulados básicos: a magnetização espontânea e a existência dos domínios magnéticos. O
primeiro, devido à existência de um campo molecular, relativamente intenso, proporcional
a magnetização.
Quanto à magnetização do domínio magnético, é necessário se estabelecer algumas
diferenciações: A magnetização dentro do domínio, sendo função do campo aplicado e
da temperatura, é chamada de magnetização intrínseca ( σ
H,T
). Quando não campo
2.5 Ferromagnetismo no modelo de campo local 26
aplicado, esta é chamada de magnetização espontânea ( σ
0,T
), e, nesta mesma situação,
quando se torna a temperatura igual a zero, tem-se a magnetização de saturação ( σ
0,0
).
Desta forma, para N
s
átomos por quilograma do material de estudo, a magnetização
intrínseca será dada por:
σ
B,T
= N
s
hµ
JH
0
i, (2.48)
a magnetização de saturação por:
σ
0,0
= N
s
gJ µ
B
, (2.49)
e, para o campo molecular, sendo este proporcional à magnetização, tem-se a expressão:
(H
0
)
i
= γ
m
σ
B,T
= N
s
γ
m
hµ
JH
0
i. (2.50)
O caminho natural para o desenvolvimento de uma teoria para o ferromagnetismo
parece ser a adição deste campo molecular ao campo ( H
0
) utilizado no desenvolvimento
da teoria do paramagnetismo. A grandeza y,denida anteriormente, chamada agora de y
0
,
se torna então:
y
0
=
gJ µ
B
¡
H
0
+ N
s
γ
m
hµ
JH
0
i
¢
kT
, (2.51)
e, da mesma forma que anteriormente, tem-separaaomomentomagnéticomédiodos
átomos:
hµ
JH
0
i = Jgµ
B
F (J, y
0
), (2.52)
2.5 Ferromagnetismo no modelo de campo local 27
ou,
F (J, y
0
)=
hµ
JH
0
i
Jgµ
B
=
σ
H,T
σ
0,0
, (2.53)
entretanto, a solução para hµ
JH
0
i não é mais tão simples, pois esta quantidade aparece
também dentro da função de Brillouin.
Para o caso em que não há campo externo ( H
0
=0):
y
0
=
gJ µ
B
N
s
γ
m
hµ
JH
0
i
kT
, (2.54)
ou,
hµ
JH
0
i =
kT
gJµ
B
N
s
γ
m
y
0
, (2.55)
que pode ser escrito como:
hµ
JH
0
i
Jgµ
B
=
σ
0,T
σ
0,0
=
kT
(gJµ
B
)
2
N
s
γ
m
y
0
. (2.56)
Observa-se que, apesar das expressões (2.53) e (2.56) dependerem de y0,somentea
expressão (2.56) depende de T explicitamente, em verdade, esta representa uma reta cuja
inclinação é proporcional a T .
Uma forma de se encontrar a solução para a magnetização espontânea do material é
traçar os grácos das duas funções descritas por (2.53) e (2.56) (ver Figura 2, curvas 1 e 4):
a interseção das duas funções representará, no eixo vertical, a magnetização reduzida, pois
é quando os dois valores se igualam que o campo molecular, que depende da magnetização,
não aumentará (ou diminuirá) a magnetização para uma dada temperatura.
2.5 Ferromagnetismo no modelo de campo local 28
Analisando de outra forma, escolhe-se um valor de y aesquerdadainterseçãoe
fora da origem, neste ponto, a reta representa a contribuição devida ao campo molecular,
como ele depende da magnetização, que é representada pela curva e cujo valor é superior,
a própria magnetização deverá aumentar, isto desloca o ponto em questão para a direita
do ponto escolhido. Isto se prossegue até que o ponto comum, que é a interseção, seja
atingido.
Fig. 2.2.Função de Brillouin e efeito da temperatura na magnetização espontânea.
A temperatura na qual a inclinação da reta descrita pela expressão (2.56) coincide
com a inclinação da parte inicial da função de Brillouin corresponde a temperatura fer-
romagnética de Curie (T
C
), pois é a temperatura em que a magnetização se torna igual a
zero (Figura 2, situação 3). Diante deste fato, pode-se calcular T
C
igualando a função de
Brillouin, para y pequeno, com a expressão (2.56), obtendo-se:
2.5 Ferromagnetismo no modelo de campo local 29
(J +1)
3J
y
0
=
kT
C
(gJ µ
B
)
2
N
s
γ
m
y
0
, (2.57)
então,
T
C
=
g
2
J (J +1)µ
2
B
N
s
γ
m
3k
. (2.58)
Esta expressão também é útil quando, tendo o valor de T
C
, se deseja calcular o valor
do coeciente do campo molecular γ
m
.
Quando se leva em consideração a existência do campo aplicado H
0
, tem-se, ajus-
tando a expressão (2.56), para a dependência entre a magnetização intrínseca e a tempe-
ratura, a expressão:
hµ
JH
0
i
Jgµ
B
=
σ
H,T
σ
0,0
=
kT
(gJ µ
B
)
2
N
s
γ
m
y
0
+
H
0
gJµ
B
N
s
γ
m
, (2.59)
que corresponde, em um gráco semelhante ao da Figura (2), às linhas paralelas denidas
pela expressão (2.56), deslocadas por um valor igual a
H
0
gJ µ
B
N
s
γ
m
, que é proporcional ao
campo aplicado.
Considerando-se uma temperaturalogoacimadatemperaturadeCurie,T
C
, em que o
valor da magnetização é pequeno, pode-se usar,paraafunçãodeBrillouin,aaproximação
utilizada anteriormente, ver expressão (2.42). Esta situação, próxima a origem da função
de Brillouin, permite o cálculo da susceptibilidade magnética para valores de temperatura
acima de T
C
:
σ
H,T
σ
0,0
=
hµ
JH
0
i
Jgµ
B
=
(J +1)
3J
y
0
, (2.60)
2.5 Ferromagnetismo no modelo de campo local 30
substituindo-se o valor de y0,
σ
H,T
σ
0,0
=
(J +1)
B
¡
H
0
+ N
s
γ
m
hµ
JH
0
i
¢
3kT
. (2.61)
Para a susceptibilidade:
χ =
σ
H,T
H
0
=
Jgµ
B
N
s
hµ
JH
0
i
H
0
=
N
s
J (J +1)g
2
µ
2
B
¡
H
0
+ N
s
γ
m
hµ
JH
0
i
¢
3kTH
0
=
N
s
µ
2
eff
¡
H
0
+ N
s
γ
m
hµ
JH
0
i
¢
3kTH
0
. (2.62)
Com alguma manipulação algébrica, pode-se escrever a expressão para a susceptibi-
lidade na forma da lei de Curie-Weiss:
χ =
C
T θ
p
, (2.63)
desde que:
C =
N
s
µ
2
eff
3k
; θ
p
=
N
s
γ
m
µ
2
eff
3k
; µ
2
eff
= J (J +1)g
2
µ
2
B
. (2.64)
Observa-se que o valor de θ
p
é idêntico ao valor de T
C
, calculado pela expressão
(2.58), ou seja, nesta teoria, a temperatura em que a susceptibilidade se torna innita é idên-
tica à temperatura em que a magnetização espontânea se torna igual a zero. Em verdade,
experimentalmente, θ
p
é normalmente um pouco maior que T
C
, sugerindo que a transição
do estado ferromagnético para o paramagnético não é bem denida. Tal indenição, ou
2.5 Ferromagnetismo no modelo de campo local 31
imprecisão, poderia ser atribuída a agrupamentos (“clusters”) de spins, que representariam
ordenamentos de curto alcance, dos domínios característicos da fase ferromagnética.
A teoria do campo molecular apresenta discrepância quanto aos valores de µ
J
na
região próxima à temperatura de Curie em relação a valores obtidos experimentalmente.
Uma outra abordagem, relativa a teoria de banda, trata desta diferença.
Mesmo sendo um postulado nesta teoria, não se pode evitar questionar a origem do
campo molecular. A dependência deste campo com a própria magnetização sugere um
efeito coletivo, ou cooperativo: quanto maior o grau dos alinhamentos dos spins em uma
certa região do cristal, maior é a “força coletiva” para alinhar os próprios spins desta região.
A agitação térmica, relacionada à temperatura, trabalha no sentido contrário, reduzindo esta
“força”, o que explica a desordem magnética no ponto de Curie.
Atribuir este efeito cooperativo a simples contribuição, referente ao campo de dipolo,
que o momento magnético de cada átomo faria em um ponto do cristal não pode ser feita.
Tal campo resultante seria igual, em módulo, ao campo desmagnetizante, cujo valor é cerca
de 1000 vezes menor que o esperado para o campo molecular.
A teoria quântica oferece uma outra força, dependente da orientação relativa dos spins
de dois elétrons, que pode explicar a origem do campo molecular: a força de troca. Esta
força surge como conseqüência do princípio de exclusão de Pauli e tem este nome devido a
“troca” de elétrons entre átomos que estão unidos formando uma molécula. “Troca” entre
aspas, pois os elétrons são indistinguíveis, o que não permite dizer a que átomo o elétron
originalmente pertence.
2.6 Superparamagnetismo[2] 32
A energia associada (”energia de troca”) pode ser calculada, para dois átomos i e j,
com respectivos momentum angular S
i
h/2π e S
j
h/2π, da seguinte forma:
E
tr
= 2J
tr
S
i
· S
j
= 2J
tr
S
i
S
j
cos φ. (2.65)
J
tr
é a chamada integral de troca e φ o ângulo entre os dois spins. Para o ferromagnetismo
é necessário que a integral de troca seja positiva (não muito comum) o que estabelece uma
condição de mínimo da energia quanto os spins estão paralelos e de máximo quanto estão
antiparalelos.
A questão é que o cálculo desta energia é relativamente simples para uma molécula
de hidrogênio, mas o grau de complexidade do cálculo para um cristal de ferro, por exem-
plo, é tão grande que o problema ainda não foi resolvido. Tal fato permite dizer até que,
utilizando-se de princípios básicos, é impossível de se prever que o ferro é ferromagnético.
2.6 Superparamagnetismo[2]
O termo superparamagnetismo começou a ser cunhado quando, em 1930, Frenkel e Dorf-
man foram capazes de prever que uma partícula de material ferromagnético, menor do que
um certo tamanho crítico, consistiria de um domínio magnético único. Em 1946, Kittel
e outros, puderam estimar este tamanho crítico, sendo, paraumapartículaesféricadeum
material ferromagnético comum, na casa dos 150Å.
Para melhor construir este conceito, considera-se uma destas partículas cujo mo-
mento magnético µ está orientado com um certo ângulo θ em relação ao campo aplicado
H (Figura 3).
2.6 Superparamagnetismo[2] 33
Fig. 2.3.Partícula como monodomímio magnético em um campo externo.
A energia desta partícula é então expressa por µH cos θ. Um conjunto destas
partículas em uma temperatura T , depois de alcançado o equilíbrio térmico, apresentará
uma distribução de Boltzmann das orientações de cada partícula em relação ao campo apli-
cado. Nesta distribuição, calcular o valor médio de cos θ é a forma de se obter a magne-
tização do conjunto na direção do campo que, como visto anteriormente, leva a função de
Langevin (2.39).
Percebe-sequeestetratamentodadoaoconjuntodepartículasésemelhanteaotrata-
mentodadoaoparamagnetismoatômico,fora o fato dos momentos magnéticos conside-
rados serem de monodomínios magnéticos (partículas da ordem de 10
5
átomos) no lugar
de momentos magnéticos atômicos, ou seja, momentos magnéticos muito maiores e altas
susceptibilidades estão envolvidos. Entende-se a razão do surgimento do termo Superpara-
magnetismo.
2.6 Superparamagnetismo[2] 34
Ao se considerar o caráter não isotrópico das partículas, o que está mais relacionado
com a realidade, deve-se considerar a contribuição da anisotropia, que pode ser devida à
forma, ao stress, à estrutura cristalina e, dentre outros, à energia do sistema. No caso de
umaanisotropiadesimetriauniaxial,emumaforma mais simples, a contribuição à energia
édaforma:
E
K
= KV sen
2
φ, (2.66)
onde φ é o ângulo entre o momento magnético da partícula e seu eixo de simetria, ou fácil
magnetização, V é o volume da partícula e K é a energia de anisotropia por unidade de
volume ou, simplesmente, a constante de anisotropia. Se agora o eixo de anisotropia está
na mesma direção do campo aplicado H,aenergiadapartículapodeserescritadaseguinte
forma:
E = KV sen
2
θ µH cos θ. (2.67)
Esta alteração muda a distribuição de Boltzmann para o sistema e a função de Langevin
nãomaisdescreveacurvademagnetização.
Considerando agora o processo que leva o sistema ao equilíbrio térmico, supondo que
o sistema atinja este equilíbrio em um tempo relativamente curto, verica-se que ele pode
acontecerdeduasformasdiferentes: pelarotação física das partículas, que seria o caso
delas estarem imersas em um uido, neste caso a viscosidade do meio seria determinante
no processo; ou, se as partículas estiverem presas a uma matriz sólida, como colocado
2.6 Superparamagnetismo[2] 35
por Néel em 1949, por algo semelhante a uma rotação Browniana causada por utuações
térmicas. Nesta segunda situação, algumas condições devem ser satisfeitas.
Em um sistema totalmente magnetizado, o que seria o caso de um conjunto de
partículas monodomínios magnéticos de simetria uniaxial alinhadas com o campo externo,
a magnetização remanente decairá com o tempo da seguinte forma:
M
r
= M
s
e
t
τ
, (2.68)
onde M
s
é a magnetização de saturação (máxima), t é o tempo decorrido após a remoção
do campo e τ é o tempo de relaxação do processo, dado por:
1
τ
= f
0
e
KV
k
B
T
, (2.69)
f
0
é um fator de frequência da ordem de 10
9
s
1
. Naausênciadecampo,oequilíbrio
térmico é alcançado quando a remanência atinge o zero e isto acontece quanto um certo
número de partículas termicamente revertem sua direção sobre a barreira KV, a probabili-
dade com que isto ocorre é proporcional a e
KV
k
B
T
.
O caráter exponencial de τ indica que o tamanho da partícula, representado pelo seu
volume, será determinante no tempo necessário para se alcançar o equilíbrio térmico em
uma determinada temperatura. Como exemplo, no caso de uma partícula de ferro, esférica,
de 115Å de raio terá um tempo de relaxação de 10
2
s, ou seja, quase que instantaneamente.
uma partícula do mesmo material, com 150Å de raio, terá um tempo de relaxação de
10
9
s, sendo altamente estável.
2.6 Superparamagnetismo[2] 36
Como forma de caracterizar o tamanho que diferencia uma partícula transitória de
uma estável, toma-se o tamanho em que tempo de relaxação seja de 10
2
s. Isto ocorre
quantoabarreiradeenergia(KV )éiguala25k
B
T . Para uma dada partícula, a temperatura
correspondente é chamada de temperatura de bloqueio.
Analisando a situação em que se aplica um campo reverso H
0
, a barreira de energia
se torna menor. Para valores pequenos deste campo, esta barreira é da ordem de KV µH
0
(uma expressão mais acurada para esta barreira seria KV µH
0
+ µ
2
H
02
/4KV ). Se o
campo for sucientemente grande, de forma que a barreira seja da ordem de 25k
B
T ,o
processo é termicamente ativado, em um tempo pequeno. A partir deste critério, a força
coerciva (2KV [1 5(k
B
T/KV )
1/2
])vaide2KV /µ quanto T =0,a0 quanto T =
KV/25k
B
, que é o caso do superparamagnetismo ideal.
Em termos do volume da partícula, para uma temperatura xa, tem-se que V =
25k
B
V/K como o volume determinante entre o regime estável e o superparamagnético.
Para partículas esféricas, a partir deste volume, pode-se determinar um diâmetro limite. A
Figura 4 ilustra esta divisão.
2.6 Superparamagnetismo[2] 37
M-D = multidomínio
S-D = monodomínio
SP = superparamagnético
S-D
SP
Instável
Estável
M-D
D
p
D
s
0
H
ci
Diâmetro da partícula D
Fig. 2.4.Diagrama esquemático para a variação da coercividade intrínseca Hci com o
diâmetro da partícula. Destacam-se os regimes instável e estável, sendo o primeiro cor-
respondente ao superparamagnetismo [11].
3
Princípios da técnica de EPR
3.1 O átomo e o campo magnético (fenômeno da ressonância)
Colocando um átomo, com seu respectivo J, sob os efeitos de um campo magnético uni-
forme (H
0
) que, convenientemente, será aplicado na direção z.Os2J +1estados ante-
riormente degenerados possuirão agora energias diferentes, pois a cada direção do mo-
mento magnético, denida pelo número quântico magnético M
J
, em relação ao campo
aplicado corresponderá a um valor diferente da energia potencial.
Tomando a expressão clássica para a energia:
U = µ · H
0
= µ
z
H
0
(3.70)
e, utilizando-se a expressão do momento magnético quântico, tem-se a forma
U = γ~M
J
H
0
(3.71)
Estes estados não-degenerados podem ser entendidos como níveis de energia separa-
dos entre si por um valor de |γ~H
0
|. A Figura (5) representa pictoricamente este esquema
paraocasoondeJ =1:
38
3 Princípios da técnica de EPR 39
J = 1
M
J
= 1
M
J
= 0
M
J
= -1
0
Hh
γ
H0
0
Hh
γ
Fig. 3.5.Níveis energéticos (magnéticos) do átomo com J =1.
Em tese, transições entre estes níveis são possíveis desde que se forneça ao sistema
o valor apropriado de energia, que seria simplesmente o valor correspondente ao inter-
valo entre dois níveis. Segundo Bohr, esta energia de transição pode ser calculada pela
expressão:
hν = |γ~H
0
M
J
| , (3.72)
onde ν corresponde a freqüência da radiação utilizada para forçar uma transição.
Contudo há uma regra de seleção que diz que para transições deste tipo é necessário
que M
J
= ±1, o que estabelece determinados valores para a freqüência ν:
ν =
¯
¯
¯
γ
2π
¯
¯
¯
H
0
. (3.73)
O fenômeno da ressonância, no qual se baseia a técnica de EPR, pode ser obtido
trabalhando-se ou com a freqüência do campo oscilante aplicado, ou com o valor do campo
H
0
. Por razões técnicas, que vão desde questões de homogeneidade do campo à diminuição
de ruídos, é preferível um campo H
0
alto e constante. Nos equipamentos utilizados nos
3 Princípios da técnica de EPR 40
experimentos de EPR, as freqüências de ressonância se situam na região dos 10 GHz (banda
X)enaregiãodos35GHz(bandaQ).
Outra forma de se compreender o fenômeno de EPR, é se estabelecer uma analogia
ao movimento clássico de um momento magnético (µ), submetido a um campo magnético
uniforme (H
0
), sob a condição da energia total ser constante.
Nesta situação, o campo magnético atuará no momento µ, tentando alinhá-lo con-
sigo. Um torque surgirá no momento µ, mutuamente perpendicular a direção de µ ede
H
0
. Deve-se lembrar que relacionado ao momento magnético considerado também o
momento angular. Na verdade um existe em função do outro. O torque, atuando no plano
perpendicular a H
0
, causará a variação da componente do momento angular que está neste
plano, reetindo-se no movimento de precessão de µ em torno de H
0
(Figura 6). Este
movimento é chamado de precessão de Larmor.
µ
H
0
Fig. 3.6.Precessão de µ em torno de H
0
.
A velocidade angular deste movimento depende do campo magnético H
0
,deforma
que
3 Princípios da técnica de EPR 41
ω
0
= γH
0
, (3.74)
o que fornece para a freqüência de Larmor:
ν
0
=
γ
2π
H
0
. (3.75)
Quanto maior a magnitude do campo H
0
, maior é a freqüência de Larmor ν
0
.
Se além de H
0
, ao sistema for aplicado um campo magnético H
1
, perpendicular
ao primeiro, outro torque aparecerá no momento magnético, forçando uma alteração no
ângulo θ existente entre µ e H
0
. Contudo, se a direção de H
1
for xa, conforme µ precessa
em torno de H
0
, o efeito será hora para aumentar θ, hora para diminuí-lo. Se o valor de
H
1
for pequeno, comparado a H
0
, o efeito líquido seria uma ondulação no movimento
precessional de µ. Este novo movimento é chamado de nutação.
Considerando agora que H
1
não permanece em uma direção xa a H
0
,masqueele
gira no plano perpendicular a H
0
, com a mesma velocidade angular do movimento de
precessão original e com uma fase tal que ele também que perpendicular a µ.Otorque
devido a H
1
atuaria sempre para aumentar (ou diminuir) o ângulo θ (Figura 7).
3.2 Equações de Bloch 42
µ
H
0
θ
H
1
Fig. 3.7.Efeito de H
1
sobre o movimento de µ.
Retornando ao átomo, podemos associar o angulo θ às possíveis orientações do spin
em relação ao campo H
0
. Pois nesta analogia, cos θ = M
J
/ [J (J +1)]
1
2
,oquerestringeθ
a 2J +1cones de precessão, denindo 2J +1estados energéticos não-degenerados. Uma
alteração em θ corresponde a mudança de energia do sistema.
Quando a freqüência de H
1
éigualafreqüênciadeprecessão o sistema absorverá
energia, mudando o angulo θ, ocasionando o fenômeno de ressonância. Comparando esta
análise a anterior, via visão quântica, tal situação é equivalente à mudança dos níveis de
energia por radiação de freqüência apropriada.
3.2 Equações de Bloch
Apesar de restrito aos casos de espectros mais simples, os estudos de Bloch para o com-
portamento da magnetização atômica são úteis para um melhor entendimento do processo
de detecção da ressonância na experiência de EPR.
3.2 Equações de Bloch 43
Em uma amostra composta por moléculas idênticas, cada uma possuindo um mo-
mento magnético (J diferente de zero), pode-se dizer que a magnetização total da amostra
é o resultado da combinação dos momentos magnéticos individuais (µ) dos referidos áto-
mos. Estes estão relacionados aos valores esperados do momentos angulares ~hJi,de
forma que
M =
X
j
µ
j
= γ~
X
j
hJ
j
i, (3.76)
em termos do momento angular total de spin, tem-se
M = γL. (3.77)
O torque provocado no sistema devido a interação de um campo magnético aplicado
H e o momento magnético, provoca uma variação do momento angular, descrita por
d
dt
L = H × M, (3.78)
que, devido a relação entre L e M,
d
dt
M = γH × M. (3.79)
A solução deste problema, conforme visto antes, se traduz no movimento de pre-
cessão do momento magnético em torno do campo H. Chamada de precessão de Larmor,
esta tem a velocidade angular ω édadaporγH, e freqüência ν igual a γH/2π.
Voltando à experiência de EPR, quando a amostra é submetida ao campo H
0
,sua
magnetização cresce do zero ao valor M
0
,queéovalordeequilíbrio. M
0
depende de
3.2 Equações de Bloch 44
H
0
edatemperaturaT . NocasodtomoscomJ =
1
2
, utilizando-se a distribuição de
Boltzmann para o cálculo da diferença de população entre os dois níveis, n
α
n
β
,eofato
de que as direções de H
0
e M
0
são assumidas as mesmas (z), temos que
M
0
=
N (γ~)
2
kT
H
0
, (3.80)
onde N corresponde ao número total de spins. A aproximação para altas temperaturas
(kT À|γ~H
0
|) foi utilizada.
A equação de movimento do momento magnético da amostra deve levar em consi-
deração, além da precessão de Larmor, a condição de equilíbrio térmico. Block assumiu
que as componentes da magnetização M variam exponencialmente até que se atinja M
0
,
com constantes de tempo diferentes. Sendo t
1
para a componente paralela a M
0
e t
2
para
as componentes perpendiculares a M
0
,ouseja,
d
dt
M
z
=
M
z
M
0
t
1
, (3.81)
d
dt
M
x
=
M
x
t
2
,
d
dt
M
y
=
M
y
t
2
.
Tem-se então um comportamento de relaxação caracterizado pelas constantes de
tempo t
1
e t
2
.
A relaxação de M
z
, determinada por t
1
, é chamada de relaxação longitudinal ou
relaxação spin-rede, o primeiro nome enfatiza a relação com a direção de H
0
e o segundo
é devido ao fato de que mudanças em M
z
corresponderem a transferências de energia entre
3.2 Equações de Bloch 45
os spins e os demais graus de liberdade do sistema, ou melhor, entre a rede. Quanto as
relaxações determinadas por t
2
, estas são chamadas de relaxações transversais ou relaxa-
ções spin-spin, pois as interações diretas entres os spins podem causar a relaxação sem
transferência de energia para a rede.
Ajusticativa para as diferentes relaxações das componentes da magnetização é que
a energia do sistema de spins depende de M
z
.
Com a introdução do campo oscilante H
1
, que pode ser descrito da forma H
1
=
H
1
(cos ωti +senωtj). O campo magnético atuante na amostra se torna então
H = H
1
(cos ωti +senωtj)+H
0
k (3.82)
Combinando a expressão3.79 com as expressões 3.81, que é justamente a precessão
de Larmor combinada com a relaxação,tem-seasequaçõesdeBlock:
d
dt
M
z
= γ [H
1
M
y
cos ωt + H
1
M
x
sen ωt]
M
z
M
0
t
1
, (3.83)
d
dt
M
x
= γ [H
1
M
z
sen ωt + H
0
M
y
]
M
x
t
2
,
d
dt
M
y
= γ [H
0
M
x
H
1
M
z
cos ωt]
M
y
t
2
.
Adotando-se um sistema de coordenadas girante (x0,y0,z), cujo movimento acom-
panha o campo H
1
, ou seja, o sistema gira com velocidade ω emtornodoeixoz,es-
tando x0 alinhado com H
1
,obtém-seumaformamaissimplicada para este conjunto de
equações. A componente da magnetização na direção de x0 será chamada de u eacompo-
nente na direção y0 será chamada de v (Figura 8).
3.2 Equações de Bloch 46
u
M
y
ω
t
v
M
x
Fig. 3.8.Sistema estático e sistema girante.
Desta forma:
u = M
x
cos ωt M
y
sen ωt, (3.84)
v = M
x
sen ωt M
y
cos ωt. (3.85)
Tem-se então as equações de Block no sistema girante:
d
dt
M
z
= γH
1
v
M
z
M
0
t
1
, (3.86)
d
dt
u =(ω
0
ω) v
u
t
2
,
d
dt
v = (ω
0
ω) u + γH
1
M
z
v
t
2
.
Onde ω
0
= γH
0
.
A primeira das expressões 3.86 mostra que variações em M
z
dependem de v,qu
a componente “fora de fase” do momento magnético macroscópico, daí, em geral o sinal
3.2 Equações de Bloch 47
de saída vem da detecção da mudança da magnetização M
y
,ouseja,éosinalforadefase
com o campo oscilante é que é observado.
Comparando-se as expressões 3.81 e 3.83, os termos das equações do sistema gi-
rante têm o mesmo efeito no movimento precessional do sistema estático se imaginarmos
que neste está atuando um campo magnético efetivo (H
ef
), cujas componentes são H
1
na
direção x0 e H
0
³
1
ω
ω
0
´
na direção z.
Apesar do campo H
0
ser muito maior que H
1
, o momento magnético macroscópico
precessa em torno de H
ef
, que por sua vez depende de ω.Ficamaisfácildeentenderque
ocampoH
1
só terá efeito signicativo no sistema quando ω estiver próximo de ω
0
.
4
A amostra de estudo
4.1 Sobr e compostos de nitreto de ferro
Sobre os compostos de nitreto de ferro, mais especicamente, em relação às nanopartículas
baseadas em ligas de ferro e nitrogênio, a literatura apresenta várias técnicas para a pro-
dução: crescimento epitaxial via feixe molecular, evaporação reativa, implantação iônica de
nitrogênio, bombardeamento magnético de radio freqüência, nitridação de citrato de ferro
via uxo de amônia (rota de precursor citrato), condensação de gás inerte, reação química
vapor-líquido entre carbonila de ferro e amônia e outras que basicamente envolvem o uxo
controlado de nitrogênio e/ou amônia, podendo envolver hidrogênio, sobre algum conteúdo
de ferro dentro de fornos ([6], [20], [24], [32], [45], [46] e [47]).
Mesmo não detalhando o processo utilizado em cada técnica, observa-se que a maio-
ria dos casos está relacionada à produção de nanopartículas em substratos para a produção
de lmes nos. Comparativamente, não se encontra muito material sobre a produção de
uidos magnéticos baseados em nitretos de ferro.
Aliadas a cada técnica de produção, existe um rol ainda maior de experiências uti-
lizadas para a caracterização dos materiais ou amostras obtidos. Análise química; difração
de raios-X, eletrônica, de nêutrons; espectroscopia Mössbauer e medidas de magnetiza-
ção são de uso bastante comum [31]. Outras menos conhecidas, ou menos utilizadas,
envolvem RBS (Rutherford backscattering spectra), para medidas de concentração de ni-
48
4 Aamostradeestudo 49
trogênio ([20], [37] e [46]) RNRA (Resonant Nuclear Reaction Analysis), para deter-
minação de estequiometrias e espessura de camadas ([20] e [37]) e TOF-ERDA (Time-
Of-Flight Elastic Recoil Detection), para determinação da composição do material [37].
Encontra-se também o uso de microscopias diversas: transmissão eletrônica (TEM), tunela-
mento, força magnética (MFM) e força atômica (AFM) [25].
A variedade de técnicas de preparação e caracterização parece se justicar nas in-
teressantes propriedades que os compostos de nitreto de ferro apresentam. A resistência à
corrosão e ao desgaste [45] explica o estudo intensivo das aplicações em lmes nos,
onde o objetivo principal está voltado para o armazenamento de informações. Quanto às
características magnéticas, as partículas de alguns compostos de nitreto de ferro, identica-
dos por determinadas fases cristalinas e estequiometrias, apresentam momentos magnéticos
maiores que das partículas de óxidos de ferro, sendo, em certos casos, comparáveis ao mo-
mento magnético do ferro metálico [47]. Altos valores para a magnetização de saturação
também são reportados [16].
Outras aplicações para nanopartículas de nitreto de ferro estão relacionadas a catálise,
blindagem eletromagnética e refrigeração [32]. As excelentes propriedades magnéticas [4]
aumentam ainda mais o interesse em aplicações relacionadas à produção de lmes nos.
Não envolvendo as características magnéticas, mas para exemplicar o largo campo
de aplicações tecnológicas dos nitretos de ferro, técnicas de nitridação são utilizadas para
aumentar a resistência ao desgaste de materiais e ferramentas de aço de uso industrial [26].
Os compostos de nitreto de ferro apresentam uma certa variedade de estruturas e, em
função destas, diferentes propriedades magnéticas. Normalmente, quando estes compostos
4 Aamostradeestudo 50
possuem uma grande quantidade de nitrogênio eles são o-magnéticos, mostrando um
momento magnético acentuado quando esta quantidade é pequena. Para FeN
y
, quando y
é aumentado para algo em torno de 0, 5, o momento magnético decresce, saído do estado
ferromagnético para o antiferromagnético, aumentando-se mais o conteúdo de nitrogênio,
onde 0, 5 <y 1, este se torna não-magnético [18].
Todososnitretosdeferrosãocondutoresmetálicos e metaestáveis quanto a decom-
posição em Fe + N
2
. A decomposição é limitada por barreiras cinéticas [4].
As características dos nitretos de ferro dependem não somente da estequiometria do
nitreto, como também da fase considerada. As várias fases são identicadas pelas letras
gregas α, α’, α”, γ, γ’, γ>, ε, ζ e ξ.Adiculdade de caracterizar cada fase está rela-
cionada com a capacidade de obtenção das fases isoladamente [20].
As guras 9 e 10 mostram diagramas de fases dos compostos Fe-N onde se pode
observar a maioria das fases conhecidas. A relação entre o conteúdo de nitrogênio e as
diferentes fases, de forma geral, se da seguinte forma: A solubilidade de nitrogênio
em α-Fe é muito baixa e atinge cerca de 0,4% a 865 K. Para maiores concentrações de
nitrogênio, a estrutura bcc do ferro sofre uma distorção tetragonal, esta fase é chamada α
epodeconteraté12%denitrogênioeaocupação dos sítios intersticiais é aleatória. A
fase α tem uma estequiometria denida (α-Fe
16
N
2
), tendo a mesma estrutura da fase α0
comotomosdenitrogênioossítiosintersticiais de maneira ordenada. Aumentando as
concentrações nitrogênio, a subrede do ferro se transforma de corpo centrado para cúbica de
face centrada, cando os átomos de nitrogênio localizados na posição de corpo centrado da
subrededeferro(fcc). Para concentrações ainda maiores de nitrogênio, a subrede do ferro
4 A amostra de estudo 51
se transforma em uma fase hexagonal chamada de ε, nesta a concentração de nitrogênio
ca entra 25 e 33%. A fase cúbica FeN, com quantidades iguais de ferro e nitrogênio, pode
apresentar dois tipos de estrutura: tipo NaCl ou tipo ZnS [17].
Fig. 4.9.Diagrama de fases Fe-N [17].
4 A amostra de estudo 52
Fig. 4.10.Diagrama de fases Fe-N onde o limite de 1200 K foi extrapolado através de l-
culos. Este também apresenta concentrações acima de 40% [ 36].
Foram relatados indícios da extensão do diagrama de fases dos nitretos de ferro, mais
especicamente do lado das fases ricas em nitrogênio. Os compostos γ’-Fe
4
N, ζ-Fe
2
N
e α”-Fe
16
N
2
são considerados pertencentes ao lado pobre em nitrogênio deste diagrama.
SãoduasasnovasfasesdeFeN:γ”-FeN com estrutura cúbica do tipo ZnS e γ”’-FeN com
estrutura cúbica do tipo NaCl. Dados de difração de raios X mostram a existência de duas
constantes de rede, indicando duas subredes para estes nitretos [37].
Onitretoε-Fe
x
N possui estrutura hexagonal e existe com uma estequiometria vari-
ada, 2 <x<4, sendo, à temperatura ambiente, ferromagnético para na maior parte deste
4 Aamostradeestudo 53
intervalo e não magnético (paramagnético) para x =2[20]. Para esta fase, tanto a magneti-
zação de saturação, σ
s
, como a temperatura de Curie, T
C
, decrescem rapidamente conforme
x diminui. As fases ε-Fe
2
Neζ-Fe
2
N são essencialmente não magnéticas [6].
Dados de raio X mostram que na fase ε os átomos de Fe estão arranjados como hcp,
comotomosdeNocupandoosinterstíciosoctaédricosentreascamadasdeFe. Paraa
fase γ’, os átomos de Fe estão em um arranjo fccub com os átomos de nitrogênio ocupando
o interstício octaédrico no corpo centrado. Na fase ζ,otomosdeFeaindapossuem
a estrutura hexagonal de pacote fechado, mas um rearranjo do átomos de N produz uma
estrutura cristalina orthorrombica [6].
O nitreto γ’-Fe
4
N apresenta uma estrutura do tipo perovskite (cúbica) com os átomos
de ferro ocupando as posições dos cantos e faces centradas enquanto que os átomos de ni-
trogênio se localizam nas posições de corpo centrado ([6], [7] e [31]) . As duas posições
diferentes ocupadas pelos átomos de ferro estão associadas a duas diferentes espécies de
ferro, chamadas de FeI e FeII, com momentos magnéticos diferenciados, 2,98 µ
B
e2,01
µ
B
, respectivamente. A temperatura de Curie está em torno de 495
C ([7] e [31]). Este
possui propriedades magnéticas signicativas e, comparativamente ao ferro puro, é alta-
mente resistente à corrosão e ao desgaste. O momento magnético molecular é de 8,8 µ
B
e a magnetização de saturação é igual a 208 emu/g a 0 K, muito próxima a do ferro puro
(α-Fe) que é de 218 emu/g e superior aos valores encontrados nos óxidos metálicos [21].
A substituição parcial do ferro por níquel, formando uma estrutura do tipo (Fe
1x
Ni
x
)
4
N,
melhora as características físicas e magnéticas e também a estabilidade química [21].
4 Aamostradeestudo 54
Partículas nanométricas de γ’-Fe
4
Neε-Fe
3
Nproduzidasatravésdatécnicaderota
de citrato, que, basicamente, consiste do fruto do resfriamento rápido da nitridação de
partículas de α-Fe
2
O
3
, provenientes da decomposição a 723 K de citrato férrico, pelo uxo
de NH
3
em um forno tubular de quartzo, mostram, respectivamente, tamanhos de 22 nm e
15-18 nm. Quanto agrupadas, em forma de pó, as partículas de γ’-Fe
4
N (22 nm) formam
clusters de 70 nm, quanto as de ε-Fe
3
N,quandootamanhde15nm,formam-seclusters
de 250 nm e as de 18 nm, clusters de 180 nm [32].
Medidas de magnetização mostram que as partículas de γ’-Fe
4
N apresentam um
comportamento ferromagnético, com magnetização de saturação em torno de 183,5 emu/g
a 298 K, próximo aos 208 emu/g (0 K) [21] do material na forma “bulk”. Contudo, as
partículas de ε-Fe
3
N, não apresentando saturação num campomáximoaplicadode11KG,
têm um comportamento superparamagnético, já esperado pela análise Mössbauer [32].
A temperatura de Curie para as partículas de γ’-Fe
4
N é teoricamente prevista para
490 K, mas sua determinação experimental é dicultada pelo fato destas se decomporem
em α-Fe e N antes deste valor de temperatura. No caso das partículas de ε-Fe
3
N, a tem-
peratura de Curie é de 428 K para as partículas de 15 nm e 443 K para as de 18 nm,
signicativamente menores do valor de 553 K do estado “bulk” [32].
Para aplicações que envolvem o crescimento em camadas (lmes), percebe-se uma
preferência às fases α”eγ’, em detrimento à fase ε. Os compostos α”-Fe
16
N
2
e γ’-Fe
4
N, a
temperatura ambiente, saturam a, respectivamente, 24 KG e 18 KG. O primeiro está acima
do ferro puro, ao qual é atribuído o valor de 21,5 KG, mas o segundo é quimicamente mais
estável que o primeiro. Compostos do tipo ε-Fe
x
N, onde x está compreendido entre 2 e
4.2 Preparação da amostra 55
3,5, tem a temperatura de Curie dependente da composição, o que não é muito interessante
para aplicações em lmes [16].
Sobreaquestãodasexcelentespropriedadesmagnéticasquealgumasfasesdenitreto
de ferro apresentam, deve-se tomar um certo cuidado para não se incorrer em exageros.
Uma interessante discussão é levantada por Weber e outros, onde a existência de um mo-
mento magnético “gigante”, atribuída a compostos de α”-Fe
16
N
2
, é questionada. Estes
armam que o momento de 3,2 µ
B
por átomo de ferro que Sugita e outros atribuem às suas
amostras é impossível de ser reproduzido [46].
Dentre os poucos trabalhos sobre uidos magnéticos baseados em nitretos de ferro,
Mamiya e Nakatani mostram um estudo sobrecurvasdemagnetizaçãodeumuido mag-
nético baseado em ε-Fe
3
N diluído em querosene. Este trabalho especíco não traz muitas
informações sobre as características físicas e magnéticas da amostra em questão, ou seja,
não se trata de uma caracterização do material e sim de uma discussão sobre os fatores
envolvidos, mais especicamente, no caráter randômico da anisotropia das partículas, que
denem as curvas de magnetização. Não obstante, cabe-se mencionar o caráter isotrópico
deste tipo de partícula, com cerca de 3 nm de raio e uma temperatura de bloqueio média em
torno dos 25 K. Os dados ainda mostram a inexistência de histerese acima dos 50 K [22].
4.2 Pr eparação da amostra
As partículas nanométricas que compõe o uido magnético aqui estudado foram sinteti-
zadaspelatermólisedapentacarboniladeferroque,paraaproduçãodouido magnético,
foram peptizadas em um meio derivado de petróleo.
4.3 Dados de Microscopia Eletrônica de Transmissão (MET) 56
Resumidamente, a síntese das nanopartículas foi efetuada em um frasco de 500 cm
3
,
limpo e seco (preenchido com nitrogênio), sendo agitado a uma frequência de 400 min
1
.
Colocou-se no frasco 60 g de petróleo (195
Cb.p.) e10gdepoliisobulileno de succn-
imida(1300m.w.). Gásamôniafoiinjetadonomeiodereaçãoàtaxade400cm
3
/min,
enquanto a pentacarbonila de ferro era acrescentada gota a gota. A temperatura da reação
foi aumentada para 90
C e mantida por 1 hora. Nesta primeira hora de reação, partícu-
las não-magnéticas, intermediárias, foram produzidas. A mistura foi aquecida a 180
Cpor
mais 1 hora, depois da qual uma suspensão coloidal negra e magnética foi obtida.
No processo de caracterização da amostra, as duas primeiras técnicas utilizadas foram
a microscopia eletrônica de transmissão, útil para uma determinação do formato e do
tamanho das partículas, e a espectroscopia Mossbauer, com a qual se pôde descobrir quais
fases cristalinas do nitreto de ferro se encontram na amostra.
4.3 Dados de Microscopia Eletrônica de Transmissão (MET)
A gura 11 mostra uma imagem da amostra de uido magnético via microscopia eletrônica
de transmissão.
4.3 Dados de Microscopia Eletrônica de Transmissão (MET) 57
Fig. 4.11.Imagem da amostra de uído magnético via TEM. A barra horizontal possui 50
nm de comprimento.
Relacionando-se as 699 partículas contadas na imagem com seus respectivos diâme-
tros, montou-se a seguinte tabela:
Diâmetro (nm) Número de ocorrências
8,5 6
9,5 23
10,5 116
11,5 120
12,5 184
13,5 107
14,5 83
15,5 33
16,5 17
17,5 8
18,5 1
19,5 1
Tab. 4.3. Contagem das particulas na imagem de MET
4.3 Dados de Microscopia Eletrônica de Transmissão (MET) 58
Ao colocar estes dados em um gráco (Figura 12 ), ca evidente que a distribuição
apresentada é melhor descrita por umafunçãodotipolog-normal[13]:
P (D )=
e
2σ
2
2πσD
m
e
ln
2
D
D
m
2σ
2
(4.87)
onde D éodiâmetro,D
m
odiâmetromaisprováveleσ odesviopadrão.
8 101214161820
0
50
100
150
200
D
m
= 12,2
σ = 0,14
N= 699
Ocorrências
Diâmetro (nm)
Fig. 4.12.Distribuição log-normal aplicada aos dados fornecidos pela MET.
Ajustando os dados pela expressão 4.87 obtêm-seosseguintesvaloresparaosparâme-
tros:
4.4 Dados de Espectroscopia Mossbauer 59
D
m
=12, 17nm ± 0, 14 (4.88)
σ =0, 14 ± 0, 01 (4.89)
Os valores obtidos indicam que a amostra é praticamente monodispersa, uma vez que
σ 0, 2 corresponde a esta característica.
Considerando as partículas esféricas, pode-se calcular os volumes em função dos
diâmetros medidos e ajustar uma função de distribuição de volumes também com uma
função do tipo log-normal. Esta distribuição fornece os seguintes valores para o volume
médio e respectivo desvio padrão:
V
m
=1, 13 × 10
18
cm
3
(4.90)
σ =0, 42 (4.91)
De fato, uma função de distribuição de volumes será mais útil nos desenvolvimentos
posteriores deste trabalho.
4.4 Dados de Espectroscopia Mossbauer
O espectro de Mössbauer da amostra (Figura 13) pôde ser ajustado com 4 sextetos. Destes,
3 correspondem a 95% da amostra e se identicam com a fase γ’-Fe
4
N (perovskite). O
quarto sexteto corresponde aos 5% restantes e se identica com a faze ε-Fe
3
N (hexagonal)
[13].
4.4 Dados de Espectroscopia Mossbauer 60
A existência deste pequeno percentual da fase ε-Fe
3
N é entendida como fruto da
oxidação parcial da fase perovskite, gerando a fase hexagonal, em função do processo de
criação do uido magnético a partir do pó de nitreto de ferro original, uma vez que este era
totalmente composto da fase γ’-Fe
4
N[13].
-10 -5 0 5 10
26,5
26,6
26,7
26,8
26,9
Contagem (×10
6
)
Velocidade (mm/s)
dados
ajuste
Fig. 4.13.Espectro Mössbauer da amostra de uido magnético a 77K [13].
5
Medidas de magnetização
5.1 Introdução
Curvas de magnetização de uidos magnéticos em função da temperatura podem ser obti-
das através dos processos FC (”Field Cooled”) e ZFC (”Zero Field Cooled”). No primeiro,
a amostra, à temperatura ambiente, é submetida a um campo magnético e depois congelada.
Mede-se então o momento magnético da amostra com o aumento progressivo da tempera-
tura. No caso ZFC, a amostra é congelada na ausência de campo magnético. Aplica-se
um campo à amostra e obtém-se as medidas do momento magnético com o aumento da
temperatura.
Estas curvas são úteis na caracterização das propriedades do uido magnético, con-
tudo não existe uma análise única para descrevê-las. A literatura apresenta descrições
basedas no caráter superparamagnético das amostras e também análises basedas em ca-
racterísticas semelhantes às dos vidros de spin.
Um empecilho que se percebe ao se associar características de uidos magnéticos
com propriedades dos vidros de spin surge logo no que se entende por um vidro de spin.
Basicamenteumvidrodespinéumsistemamagnéticoondeosmomentosmagnéticossão
impurezas diluídas em matrizes, geralmente metálicas e não magnéticas, que interagem
sem que seja possível estabelecer um ordenamento de longo alcance do tipo ferro- ou an-
tiferromagnético, contudo o sistema apresenta uma transição de fase onde surge um outro
61
5 Medidas de magnetização 62
tipo de ordenamento magnético no qual os spins se alinham em orientações aleatórias. A
baseparaoestudodestetipodecomportamentoestánasinteraçõesdelongoalcanceentre
suas partículas, mais precisamente interações do tipo RKKY ([3] e [19]).
Uma interação RKKY (”Ruderman-Kittel-Kasuya-Yosida”) é produzida pelo espa-
lhamento dos elétrons de condução nos spins, é então uma interação de troca indireta [3].
Devido à distribuição aleatória das impurezas magnéticas, o sinal e intensidade da in-
teração dependem fortemente da distância entre as impurezas. Como consequência, ocor-
rem ordenamentos contraditórios entre dois momentos magnéticos dependendo de dois
diferentes caminhos. Este fenômeno é denominado de Frustração, e esta competição entre
alinhamentos positivos e negativos é essencial para a formação do estado de vidro de spin
[19].
Outra característica básica de um vidro de spin, considerada até como uma forma
de identicar uma liga como sendo um vidro de spin é a existência de um pico agudo na
susceptibilidade magnética em função da temperatura, χ(T ) [19].
Ao se imaginar um uido magnético composto de nanopartículas de natureza cristalina
imersas em um uido carregador congelado, percebe-se semelhança a um sistema tipo
vidro de spin, pois têm-se um conjunto de spins magnéticos (monodomínios magnéticos)
distribuidos aleatoriamente em uma matriz sólida, contudo ca difícil identicar uma in-
teração de natureza RKKY entre estes spins quando, muitas das vezes, sendo a matriz não
metálica e não condutora, não há elétrons de condução para tal.
A opção por analisar curvas de magnetização através de um modelo superparamag-
nético parece ser então a mais apropriada e mais simples de se seguir.
5.2 Identicação do Problema 63
5.2 Identicação do Problema
Imagina-se um sistema composto de monodomínios magnéticos de momento µ (nanopartícu-
las de volume V ), não interagentes, cada partícula com anisotropia uniaxial K(T ).Ao
se aplicar um campo externo H ao sistema, cada partícula terá uma energia livre depen-
dente, basicamente, de dois fatores: um devido ao campo aplicado µH e outro devido à
anisotropia efetiva KV . Procura-se então um modelo que consiga descrever as curvas de
magnetização obtidas experimentalmente, tomando por base esta conguração de energia.
Esta idéia havia sido trabalhada anteriormente [43], contudo não levava em conta
fatores importantes como a distribuição de volumes das partículas do uido magnético e a
distribuição dos eixos de anisotropia. Ao se considerar estes fatores, o estudo do problema
se torma mais complexo, o que limitou a análise e modelagem de curvas do tipo ZFC.
5.2.1 Papusoi
Como o objetivo de calcular curvas de magnetização (FC e ZFC) em função da temperatura,
C. Papusoi et al. [33] desenvolveram um modelo a partir de três hipóteses: a orientação do
momento magnético da partícula é calculado com o modelo Stoner-Wohlfarth de rotações
coerentes; a energia livre apresenta dois nimos; leva-se em consideração a interação
entre as partículas através de um termo de interação de Lorentz.
Os resultados apresentados em [33] guardam semelhança com os da amostra de es-
tudo. A utilização deste modelo pareceu ser promissora.
De forma geral, este modelo é denido da seguinte forma:
Cada partícula do sistema proposto assume a conguração descrita na Figura 14.
5.2 Identicação do Problema 64
θ
ψ
µ
e.a
.
H
Fig. 5.14.Orientações da partícula no modelo Papusoi.
Onde θ éoânguloentreomomentomagnéticodapartículaeoseueixodefácilmag-
netização e ψ, o ângulo entre o eixo de fácil magnetização e o campo magnético aplicado.
A energia de uma partícula deste sistema toma então a seguinte forma:
E = E
0
£
sen
2
θ 2h cos (ψ θ)
¤
. (5.92)
Onde
E
0
= KV ; (5.93)
h =
H
H
a
; (5.94)
Ha =
2K
M
nr
. (5.95)
M
nr
é denominado como “magnetização da partícula fora de qualquer efeito de re-
laxação” e que será considerado simplesmente a magnetização de saturação.
5.2 Identicação do Problema 65
Como função de θ, a hamiltoniana pode apresentar um ou dois mínimos, de acordo
com os parâmetros envolvidos no problema. Como forma de identicarasduaspossíveis
situações, dene-seocampocríticohc:
h
c
=
h
(senψ)
2/3
+(cosψ)
2/3
i
3/2
. (5.96)
Para |h| <h
c
há dois mínimos e no caso contrário, somente um.
Considerando o caso em que as barreiras de energia são grandes comparadas a agi-
tação térmica, representada por k
B
T , onde k
B
é a constante de Boltzmann, no equilíbrio tér-
mico, a maioria das partículas terá seus momentos magnéticos orientados nas vizinhanças
dos mínimos de energia.
OmodelodeC.Papusoietal. se desenvolve sobre a base de uma hamiltoniana
com dois mínimos. Dene-se P
1
e P
2
como sendo as probabilidades de ocupação dos dois
mínimos da energia e estas obedecem à condição de normalização P
1
+P
2
=1eàequação
mestre:
dP
1
dt
= W
12
P
1
+ W
21
P
2
, (5.97)
onde W
12
e W
21
são as taxas de transição dos mínimos 1 e 2.
A solução desta equação mestre e a condição de bloqueio superparamagnético per-
mitem a construção de um algoritmo para a modelagem de curvas de magnetização do tipo
ZFC.
5.2 Identicação do Problema 66
No processo de implementação e ajuste do modelo para as curvas obtidas da amostra
de nitreto de ferro, percebeu-se uma questão que inviabiliza a aplicação deste para todos os
dados.
Ao se analisar a função que dene h
c
em um gráco (Figura 15), percebe-se que esta
tem domínio {0, π/2}, dentro do qual assume valores entre 0, 5 e 1.
Fig. 5.15.h
c
em função de ψ
Ou seja, se |h| <h
c
, tem-se que:
|h| < 1
¯
¯
¯
¯
H
H
a
¯
¯
¯
¯
< 1 H<H
a
H<
2K
M
nr
HM
nr
< 2K (5.98)
A título de exemplo, para K =10
5
erg/cm
3
, Mnr =300emu/cm
3
, um campo
maior do que 700Oe já viola o critério de dois mínimos para a energia, inviabilizando o
modelo da forma como está proposto. Deve-se observar que na concepção do modelo,
estava previsto o seu uso para campos magnéticos baixos.
5.2 Identicação do Problema 67
Fig. 5.16.Energias para h =0, 5;1 e 1, 5; respectivamente.
Como exemplo, a Figura 16 mostra como ca a energia para diferentes valores de h
que foram calculados da seguinte forma forma:
1 K =10
5
erg/cm
3
, M
nr
=300emu/cm
3
, H =333, 3Oe,parah =0, 5.
2 K =10
5
erg/cm
3
, M
nr
=300emu/cm
3
, H =666, 7Oe,parah =1.
3 K =10
5
erg/cm
3
, M
nr
=300emu/cm
3
, H =1000Oe,parah =1, 5.
Observa-se então a validade do critério e a limitação apresentada pelo modelo.
Denidas as funções de distribuição dos volumes das partículas, F
1
(V ),ededis-
tribuição dos eixos de fácil magnetização, F
2
(ψ), o algoritmo para o modelo de dois níveis
obedece a seguinte seqüência ([33] e [34]):
1. Para cada orientação se calcula as orientações para os dois mínimos e o máximo da
energia: θ
min
1
, θ
min
2
, θ
max
.
2. Calculam-se as magnetizações, normalizadas a M
nr
, correspondentes aos dois míni-
mos e as barreiras de energia:
5.2 Identicação do Problema 68
µ
1
=cos
¡
ψ θ
min
1
¢
;
µ
2
=cos
¡
ψ θ
min
2
¢
;
g
1
=
E(θ
mx
) E(θ
min
1
)
E
0
; (5.99)
g
2
=
E(θ
mx
) E(θ
min
2
)
E
0
.
3. A partir do tempo de relaxação:
1
τ
= f
0
³
e
KV
cr
k
B
T
g
1
+ e
KV
cr
k
B
T
g
2
´
, (5.100)
edacondiçãodebloqueio
dτ(V
cr
)
dT
¯
¯
¯
¯
T
=
1
|dT/dt|
. (5.101)
Calcula-se o volume crítico, V
cr
, através da expressão:
C τ
T
|dT/dt|
=0. (5.102)
4. Calcula-se o momento magnético das partículas superparamagnéticas, integrando-se
em relação a V (0..V
cr
), as magnetizações reduzidas e correspondentes probabilidades:
dm
SP
= dψM
nr
Z
V
cr
0
[µ
1
P
eq
1
+ µ
2
P
eq
2
] VF
1
(V )dV, (5.103)
5.2 Identicação do Problema 69
m
SP
= M
nr
Z
π/2
0
dm
SP
F
2
(ψ)dψ, (5.104)
onde
P
eq
1
=
1
1+e
βg
; P
eq
2
=1 P
eq
1
; g = g
2
g
1
. (5.105)
5. Considerando-se que as partículas bloqueadas mantém seu estado inicial da tempera-
tura mais baixa, tem-se que P
1
= P
2
=
1
2
. Calcula-se então o momento magnético das
partículas bloqueadas:
m
B,ZF C
=
M
nr
2
Z
π/2
0
·
Z
V
cr
(µ
1
+ µ
2
)VF
1
(V )dV
¸
F
2
(ψ)dψ. (5.106)
6. O momento total da amostra, para cada temperatura pode ser calculado:
m
ZF C
= m
SP
+ m
B,ZF C
. (5.107)
No processo de implementação do algoritmo, um detalhe em especial deve ser obser-
vado:As integrais nos passos 4 e 5 que calculam m
SP
e m
B,ZF C
, uma vez que os integran-
dos são calculados discretamente para cada , devem ser desenvolvida através de somatórios
do tipo:
m
SP
= M
nr
ψ
X
n
dm
SP
F
2
(ψ
n
) (5.108)
5.2 Identicação do Problema 70
e
m
B,ZF C
=
M
nr
2
ψ
X
n
·
Z
V
cr
(µ
1
+ µ
2
)VF
1
(V )dV
¸
F
2
(ψ
n
). (5.109)
Curvas de magnetização a 300Oe, 600Oe, 800Oe, 1000Oe e 2000Oe, todas da mesma
amostra, compõem a massa de dados que se pretende modelar. A amostra em questão, se-
gundo análise de espectroscopia Mössbauer [13], é composta quase que inteiramente pela
fase γ’-Fe
4
N, tendo uma parte residual de cerca de 5% composta de ε-Fe
3
N. Encontra-se
na literatura [44] valores para a magnetização de saturação de 1350emu/cm
3
para a fase
γ’-Fe
4
Ne1100emu/cm
3
para a fase ε-Fe
3
N.
Ao se considerar um valor aproximado de 1300emu/cm
3
para a amostra em questão,
observa-se que para o campo aplicado de 600Oe é necessária uma anisotropia efetiva acima
de 3, 9 × 10
5
erg/cm
3
para que a condição de dois mínimos do modelo seja satisfeita.
Este valor está próximo dos valores encontrados para a anistropia da amostra na faixa
de temperaturas entre 100 e 150K, obtidos pelo estudo da variação angular de medidas
de ressonância magnética e apresentados no capítuloquetratadoestudodomaterialvia
técnica de EPR.
Para os valores maiores de campo aplicado, uma vez que se deseja utilizar no mode-
lo valores de anisotropia que guardem coerência com o obtido do estudo de ressonância
magnética, a condição de dois mínimos é violada.
Duas opções surgem para a solução deste problema. Pode-se vericar a possibilidade
de ajustar o modelo atual para que trabalhe com um mínimo na hamiltoniana, para isto a
5.2 Identicação do Problema 71
estatística utilizada deve ser revisada, ou utilizar outro modelo para estes casos, algo como
o modelo utilizado por H. Mamiya e I. Nakatani para curvas de magnetização em função
do campo [23].
Ajustar o modelo é, em uma primeira análise, inviável, pois este se baseia em uma
equação mestre que somente tem sentido com a existência dos dois mínimos da hamiltoni-
ana.
5.2.2 Mamiya e Nakatani
A idéia apresentada neste outro modelo é semelhante a abordagem utilizada para mode-
lagemdecurvasZFCparaamostradeNiFe
2
O
4
[43]. Dentre outras, a diferença mais
importanteéquenolugardeseminimizaraenergia para encontrar uma relação entre
as direções do momento magnético de cada partícula em relação ao seu eixo de anisotropia
e em relação ao campo aplicado, assume-se uma distribuição aleatória para as direções
de fácil magnetização em relação ao campo. Destaformanolugardesecalcularuma
magnetização média das partículas, se calcula a magnetização, ou momento, de cada uma
em separado.
Basicamente, o cálculo da magnetização da amostra neste modelo consiste do seguinte:
M =
X
i
µ
i
R
cos θ
i
e
E
i
/k
B
T
d
i
R
e
E
i
/k
B
T
d
i
(5.110)
onde,
E
i
= µ
i
H cos θ
i
+ KV
i
sen
2
φ
i
(5.111)
5.2 Identicação do Problema 72
Os ângulos, neste caso, são denidos conforme a Figura 17.
φ
θ
µ
e.a
.
H
α
Fig. 5.17.Orientações da partícula no modelo Mamiya e Nakatani.
Observa-se contudo que este modelo não apresenta explicitamente a utilização de
funções de distribuição de volumes e de orientações dos eixos de anisotropia. Tal imple-
mentação poderia ser feita imbutindo-se estas distribuições nos valores de V
i
e α
i
,contudo
ao se vericar que uma amostra típica tem em torno de 10
15
partículas, o próprio somatório
se torna um problema em separado.
Ao se tentar testar o modelo para um número reduzido de partículas, os valores dos
parâmetros envolvidos mostraram não ser promissor o uso deste, pois os valores dos inte-
grandos, em especial os expoentes E
i
/k
B
T tornam o processo numérico de integração
praticamente inviável.
5.2.3 Cregg e Bessais
A questão da diculdadeemsecalcularasintregaisdeBoltzmannéatônicadotrabalho
([9] e [10]). Procura-se simplicar o problema das integrais envolvidas utilizando séries
em termos das funções especiais de Bessel.
5.2 Identicação do Problema 73
Nesta abordagem, adota-se o sistema de coordenadas descrito na Figura 18.
H
µ
ψ
ω
ξ
ϑ
e.a
Fig. 5.18.Orientações da partícula no modelo de Cregg e Bessais.
A magnetização de um sistema superparamagnético é descrita da seguinte forma:
M(β, α, ψ)=M
s
< cos ω >= M
s
Z/∂β
Z
, (5.112)
onde α = KV /k
B
T , β = HM
s
V/k
B
T , K é a constante de anisotropia, H é o campo
aplicado, M
s
é a magnetização de saturação e V é o volume da partícula. A função partição
édadapor:
Z =
1
4π
Z
2π
0
Z
π
0
e
α sen
2
ϑ+β cos ω
sen ϑdϑdξ. (5.113)
Após alguma manipulação, a função partição pode ser escrita em termos de uma
integral, como:
Z =
1
4π
Z
π/2
0
e
α sen
2
ϑ
cosh (β cos ϑ cos ψ) I
0
(β sen ϑ sen ψ)senϑdϑ, (5.114)
em que I
0
éfunçãomodicada de Bessel de ordem 0.
5.2 Identicação do Problema 74
Então, Z/∂β pode então ser calculado:
Z
∂β
=
Z
π/2
0
e
α sen
2
ϑ
·
cosh (β cos ϑ cos ψ) I
1
(β sen ϑ sen ψ)+
senh (β cos ϑ cos ψ) I
0
(β sen ϑ sen ψ)cosϑ cos ψ
¸
sen ϑdϑ.
(5.115)
O integrando de Z é composto das funções exponencial, Bessel modicada de ordem
0 e cosseno hiperbólico. As duas primeiras serão expandidas em séries innitaseaintegral
restante pode ser reduzida a uma função conhecida:
Z(β, α, ψ)=f
0
(β)+
X
n=1
µ
2α
β cos ψ
n
f
n
(β cos ψ)+ (5.116)
X
n=1
(α)
n
n!
X
k=1
(n + k)!
(k!)
2
µ
β
2
kn
sen
2k
ψ
cos
n+k
ψ
f
n+k
(β cos ψ) ,
por sua vez Z/∂β éreescrita:
Z(β, α, ψ)
∂β
= f
1
(β)+
X
n=1
µ
2α
β cos ψ
n
cos ψf
n+1
(β cos ψ) (5.117)
+
X
n=1
(α)
n
n!
X
k=1
(n + k)!
(k!)
2
µ
β
2
kn
sen
2k
ψ
cos
n+k
ψ
×
·
cos ψf
n+k+1
(β cos ψ)+
2k
β
f
n+k
(β cos ψ)
¸
.
As funções f vêm da seguinte notação:
f
n
(z)=
r
π
2z
I
n+1/2
(z) . (5.118)
Todo este desenvolvimento é bastante interessante, pois apresenta duas escolhas para
o calculo da magnetização. Pode-se optar por calcular as integrais das expressões 5.114 e
5.2 Identicação do Problema 75
5.115, ou pode-se utilizar as expressões 5.116 e5.117,oqueevitaoprocessodeintegração
numérica. A decisão de qual opção seguir será norteada pela convergência das séries, pois
caso se necessite de muitos termos, preferir as integrais se torna uma melhor escolha.
Outro detalhe está no próprio cálculo das funções de Bessel. Para se evitar as repetições
nos cálculos destas funções, uma relação de recorrência poderá ser utilizada:
f
n1
(z) f
n+1
(z)=
2n +1
z
f
n
(z) , (5.119)
onde após o cálculo de f
0
e f
1
os demais termos podem ser utilizados.
5.2.4 Modelo Proposto
Nosesquemasanteriores,aforaasdiculdades dos cálculos das integrais, o nível de com-
plexidade aumenta a medida que se tenta implementar os aspectos mais realistas da amostra,
que são a distribuição de volume e a textura, ou distribuição dos eixos de anisotropia.
Partindo do mesmo hamiltoniano superparamagnético, uma expressão para o cálculo
da magnetização da amostra com estes fatores pode ser construida.
O hamiltoniano é:
E = µ (V ) H cos θ + KV sen
2
(α θ) . (5.120)
No qual são utilizados os ângulos denidos na Figura 17.
A expressão para a magnetização toma a seguinte forma:
5.2 Identicação do Problema 76
M =
Z
µ (V ) F
V
(V ) F
α
(α)
R
e
µ(V )H cos θKV sen
2
(αθ)
k
B
T
cos θ sen θdθ
R
e
µ(V )H cos θKV sen
2
(αθ)
k
B
T
sen θdθ
dV dα, (5.121)
onde F
V
(V ) e F
α
(α) sãoasfunçõesdedistribuiçãodosvolumesdaspartículasededis-
tribuição das direções dos eixos de anisotropia, respectivamente.
No caso de uma distribuição homogênea dos eixos de anisotropia, que seria o caso
ZFC, tem-se que:
F
α
(α)=1/2π. (5.122)
A função de distribuição dos volumes foi obtida dos dados de microscopia eletrônica.
Estes dados foram ajustados por uma função do tipo log-normal, cujos detalhes são melhor
discutidos no capítulo que trata da microscopia:
F
V
(V )=
A
2πwV
e
ln
2
(V/V
c
)
2w
2
. (5.123)
Calcular a expressão 5.123 para os parâmetros envolvidos, mesmo que computa-
cionalmente, se mostrou inecaz pelos métodos tradicionais utilizados nos pacotes matemáti-
cos. Surgiu então a oportunidade de se efetuar estes cálculos através de um método de
Monte Carlo.
Para tal, algumas mudanças de parâmetros e variáveis tiveram que ser realizadas:
V = V
s
x; β =
M
s
HV
s
k
B
T
; ξ =
K
M
s
H
. (5.124)
Desta forma, acrescentando-se a função de distribuição de volumes, a expressão
5.121 se torna:
5.2 Identicação do Problema 77
M =
M
s
V
s
2π
3/2
ω
0
Z
V
m
/V
s
0
Z
π
0
e
ln
2
x
2w
2
0
R
e
βx cos θβxξ sen
2
(αθ)
cos θ sen θdθ
R
e
βx cos θβxξ sen
2
(αθ)
θ sen θdθ
dxdα. (5.125)
correspondendo a uma integral em duas dimensões, possuindo como integrando, integrais
emumadimensão.ArotinadeMonteCarloéconsideravelmente efetiva para as integrações
em duas dimensões e as integrais em uma dimensão podem ser calculadas de forma rápida
por métodos usuais de integração numérica.
Para o cálculo do valor do momento de magnético, em uma temperatura T e campo
externo H, se utiliza uma rotina de Monte Carlo que escolhe valores aceitáveis de x e α
na expressão 5.125; com estes valores, os parâmetros ξ e β são xados e as integrais de
uma dimensão são calculadas via métodos tradicionais (foi utilizado um método de inte-
gração da ordem h
7
, onde h é o tamanho dos subintervalos). A rotina de Monte Carlo
continua o processo iterativo, escolhendo outros valores aceitáveis para x e α.Normal-
mente, o número de pontos necessários na rotina de Monte Carlo é pequeno, representando
um esforço computacional relativamente baixo: poucos minutos são necessários para gerar
cada uma das curvas de magnetização aqui estudadas.
Outro aspecto interessante do método de Monte Carlo utilizado é que ele fornece as
barras de erro do processo computacional. O número de pontos utilizados na integração
gera barras de erro menores que 10
3
.
5.3 Osmodeloseseusresultados 78
5.3 Os modelos e seus resultados
Antes de se tentar ajustar cada modelo aos dados experimentais, fez-se necessário tes-
tar cada um com parâmetros compatíveis aos envolvidos no problema. Este teste permi-
tiu avaliar a aplicabilidade de cada modelo neste caso especíco. A aplicabilidade aqui
está relacionada com a capacidade do modelo implementado gerar dados passíveis de
ajuste em um tempo de processamento razoável conforme os recursos de cálculo numérico
disponíveis.
As próximas guras mostram testes com os dois modelos que, segundo a premissa
anterior, não se mostraram promissores.
No caso de Mamiya e Nakatani, os valores dos integrandos, devido às exponenciais,
e a soma para cada partícula inviabilizaram sua aplicação. No teste, em que se conseguiu
gerar resultados, não se utilizou a distribuição de volumes (Figura 19).
5.3 Osmodeloseseusresultados 79
0 40 80 120 160
0,990
0,993
0,996
0,999
1,002
Momento. (unid. arb.)
Temperatura (K)
K = 4x10
5
erg/cm
3
H = 2000 Oe
M
s
= 1300 emu/cm
3
Fig. 5.19.Teste do Modelo Mamiya e Nagatani
No caso de Gregg e Bessais, tentar calcular a magnetização diretamente, usando as
integrais, não foi viável, contudo a substituição das integrais por séries auxiliou muito o
cálculo para limites pequenos nas somas (abaixo de 7), mas os resultados gerados para
estes casos não permitiram denir qual seria a melhor escolha. Mesmo assim, como forma
de validar o teste, foram utilizadas duas versões deste modelo, uma com o cálculo direto
das funções de Bessel (Figura 20) e outra com a utilização da relação de recorrência, onde
as funções de Bessel são descritas em termos de funções hiperbólicas (Figura 21). Com
parâmetros compatíveis com os da amostra, não se obteve curvas com as características
esperadas.
5.3 Osmodeloseseusresultados 80
0 40 80 120 160
0,6
0,7
0,8
0,9
1,0
0 40 80 120 160
0,997
0,998
0,999
1,000
0 40 80 120 160
0,85
0,90
0,95
1,00
1,05
Momento (unid. arb.)
Tempetatura (K)
Momento (unid. arb.)
Limite da soma = 3
Limite da soma = 2
Limite da soma = 1
Momento (unid. arb.)
K = 4x10
5
erg/cm
3
; H = 2 KOe; M
s
= 1300 emu/cm
3
Fig. 5.20.Teste do Modelo Cregg e Bessais, comcálculodiretodasfunçõesdeBessel.
5.3 Osmodeloseseusresultados 81
0 40 80 120 160
0,85
0,90
0,95
1,00
1,05
04080120160
0,985
0,990
0,995
1,000
0 40 80 120 160
0,996
0,997
0,998
0,999
1,000
04080120160
0,85
0,90
0,95
1,00
1,05
0 40 80 120 160
0,6
0,7
0,8
0,9
1,0
Momento (unid. arb.)
K = 4x10
5
erg/cm
3
; H = 2 KOe; M
s
= 1300 emu/cm
3
Limite da soma = 4
Limite da soma = 2
Limite da soma = 3
Limite da soma = 1
Momento (unid. arb.)
Limite da soma = 5
Momento (unid. arb.)
Temperatura (K)
04080120160
0,980
0,985
0,990
0,995
1,000
Limite da soma = 6
Tempetatura (K)
Fig. 5.21.Teste do Modelo Cregg e Bessais, utilizando relação de recorrência.
5.3 Osmodeloseseusresultados 82
Para o caso dos modelos que apresentaram as caracaterísticas necessárias ao ajuste,
é feita a superposição do que foi calculado com o que foi medido e o ajuste em si, consiste
da procura de valores para a anisotropia K que proporcionam em cada conjunto de dados
uma melhor descrição do momento magnético da amostra.
Como discutido anteriormente, o modelo Papusoi só pôde ser aplicado ao caso com
campo aplicado igual a 300Oe, devido a necessidade de dois mínimos na energia. A Figura
22mostraoajusteparaestecaso.
5.3 Osmodeloseseusresultados 83
0 40 80 120 160
4
5
6
7
8
0 40 80 120 160
0,000
0,005
0,010
0,015
0,020
0,025
K = A2 + (A1-A2)/(1 + exp((T-T0)/dT))
K (erg/cm
3
x 10
5
)
Temperatura (K)
do modelo
ajuste 1
ajuste 2
from EPR
ZFC (H = 300 Oe)
Momento (emu)
Temperatura (K)
Dados
K do ajuste 1
K do ajuste 2
Fig. 5.22.Ajuste dos dados ZFC a 300G com o modelo Papusoi. O gráco na parte infe-
rior mostra os valores necessários de K para o melhor ajuste do modelo e os triângulos
representa os valore de K obtivos via EPR.
5.3 Osmodeloseseusresultados 84
O mesmo procedimento foi utilizado para o modelo proposto, em que para cada valor
de temperatura, encontra-se o melhor valor da anisotropia que ajuste o modelo aos dados
experimentais. Constroe-se então a função de anisotropia em termos da temperatura que, de
certa forma, é predita pelo modelo proposto. Uma das características deste modelo é pre-
cisamente a tentativa de se encontrar uma função que descreva adequadamente a anisotropia
para o intervalo de temperatura ao qual a amostra foi submetida. Isto signica que ao se
encontrar tal função, a amostra é descrita em termos bem mais realisticos. O único modelo
que parece utilizar uma função especíca para a anisotropia é o modelo de Papusoi [34].
As Figuras de 23 a 27 mostram os ajustes aos dados experimentais para H =300Oe,
600Oe, 800Oe, 1000Oe e 2000Oe.
Um bom ajuste ca limitado à possibilidade de se encontrar uma função que descreva
bem os valores da anisotropia para o intervalo de temperatura considerado. A anisotropia
se comporta de tal maneira que não foi possível encotrar uma função pré-denida simples
que a bem descreva para todo o intervalo de temperaturas. A superposição do modelo aos
dados experimentais demonstra esta diculdade.
Um teste, utilizando o método de Polinômio de Lagrange para a anisotropia a H =
300Oe, mostra que, mesmo garantida pelo polinômio a interpolação dos valores preditos
de K, o caráter ondulatório deste aliado a sensibilidade do modelo aos valores de K,não
fornecem um bom ajuste para os valores mais altos de temperatura (valores em que o mo-
mento magnético começa a declinar). Não obstante as diculdades de se ajustar os valores
de anisotropia, um teste forte para o modelo seria a investigação experimental, via EPR por
5.3 Osmodeloseseusresultados 85
exemplo, da anisotropia da amostra em um interlalo de temperaturas compatível com os
utilizados nas medidas de magnetização.
Paravaloresmaisaltosdocampoaplicado,oajuste da função de anisotropia se torna
mais fácil, o que resulta em um bom ajuste do modelo aos dados experimentais, contudo o
valor alto de campo torna os expoentes das funções exponenciais muito grandes, o que faz
com que o modelo cesse de gerar dados numéricos para as temperaturas mais baixas. Uma
solução para este problema ainda está sob investigação.
O modelo proposto, apesar das deciências apresentadas, demonstra vantagens em
relação aos outros métodos descritos na literatura, pois usa uma função mais completa
para representar a magnetização da amostra, sendo ainda computacionalmente rápido. De
fato, o modelo também gera uma descrição da dependência funcional da anisotropia com a
temperatura.
5.3 Osmodeloseseusresultados 86
0 50 100 150 200
0,0
0,4
0,8
0 50 100 150 200
0
5
10
15
20
25
K (x 10
8
erg/cm
3
)
Temperatura (K)
do modelo
ajuste 1
ajuste 2
ajuste 3
polinômio
de Lagrange
dados
aduste 1
aduste 2
aduste 3
ajuste via
polinômio de
Lagrange
ZFC (H = 300 Oe)
Mom. (emu x 10
-3
)
Temperatura (K)
Fig. 5.23.Ajuste utilizando o modelo proposto para H=300Oe.
5.3 Osmodeloseseusresultados 87
0 50 100 150 200
0
10
20
30
dados
ajuste
ZFC (H = 600 Oe)
Mom. (emu x 10
-3
)
Temperatura (K)
0 50 100 150 200
0
20
40
60
do modelo
ajuste
K (x 10
6
erg/cm
3
)
Temperatura (K)
Fig. 5.24.Ajuste utilizando o modelo proposto para H=600Oe.
5.3 Osmodeloseseusresultados 88
0 50 100 150 200
0
10
20
30
dados
ajuste
ZFC (H = 800 Oe)
Mom. (emu x 10
-3
)
Temperatura (K)
0 50 100 150 200
0
15
30
45
do modelo
ajuste
K (x 10
6
erg/cm
3
)
Temperatura (K)
Fig. 5.25.Ajuste utilizando o modelo proposto para H=800Oe.
5.3 Osmodeloseseusresultados 89
0 50 100 150 200
0
10
20
30
dados
ajuste 1
ajuste 2
ZFC (H = 1000 Oe)
Mom. (emu x 10
-3
)
Temperatura (K)
0 50 100 150 200
0
10
20
30
do modelo
ajuste 1
ajuste 2
K (x 10
6
erg/cm
3
)
Temperatura (K)
Fig. 5.26.Ajuste utilizando o modelo proposto para H=1000Oe.
5.3 Osmodeloseseusresultados 90
0 50 100 150 200
0
1
2
3
0 50 100 150 200
0
10
20
30
40
do modelo
ajuste
K (x 10
6
erg/cm
3
)
Temperatura (K)
dados
ajuste
ZFC (H = 2000 Oe)
Mom. (emu x 10
-3
)
Temperatura (K)
Fig. 5.27.Ajuste utilizando o modelo proposto para H=2000Oe.
6
Estudando uidos magnéticos via técnica de
EPR
6.1 Análise dos Espectros
No estudo do uído magnético via técnica de EPR, o momento magnético da nanopartícula
corresponde, em princípio, à unidade ressonante do sistema, é usual considerá-la então
com uma sonda através da qual informações, tanto sobre o sistema, como da partícula
em si podem ser analisadas. Informações sobre o tamanho da partícula e sua interação
dipolar com as vizinhas próximas podem ser obtidas pela dependência com a temperatura
da largura de linha dos espectros de ressonância. A dependência com a temperatura do
campo de ressonância, bem como a multiplicidade de linhas do espectro de ressonância
podem indicar a formação de cadeias (”clusters”) de partículas [27]. A assimetria dos es-
pectros é também um indicativo da presença de estruturasmagnéticasdiferentesnaamostra
(monômeros e aglomerados) [29].
Com o intuito de se realizar a ressonância magnética da amostra em diferentes tem-
peraturas e concentrações, foram separadas três porções desta nas diliuções 1:5, 1:20 e
1:100. Os dados preliminares obtidos com a diluição 1:100 não foram satisfatórios: o
ruído apresentado descaracterizava o sinal.
Para as demais diluições, a experiência foi realizada dos 130 K aos 300 K, em inter-
valosde10K.
91
6 Estudando uidosmagnéticosviatécnicadeEPR 92
Na análise dos espectros, tendo em vista a multiplicidade de linhas, conseguiu-se um
ajuste satisfatório das curvas de ressonância com a soma de funções Lorentzianas, Gaus-
sianas e Log-Normais. Na verdade foram necessárias2doprimeirotipo,1dosegundoe1
do terceiro, num total de 4 funções.
Nas funções utilizadas, a saber,
Lorentziana:
F
lorentz
(H)=A
w
2
w
2
(H H
c
)
(6.126)
Gaussiana:
F
gauss
(H)=Ae
(HH
c
)
w
2
(6.127)
Log-Normal:
F
log normal
(H)=Ae
1
2
ln
(
H
H
c
)
2
w
2
(6.128)
os parâmetros A, w e H
c
, trazem informações sobre a amplitude, largura de linha e
posição do pico, respectivamente.
Apesar de todos os espectros terem sido ajustados conforme descrito, apresentam-se
aqui somente as Figuras 28 e 29, correspondentes as diluições 1:5 e 1:20, em temperaturas
escolhidas ao acaso, por serem sucientes para ilustrar o processo.
6 Estudando uidosmagnéticosviatécnicadeEPR 93
012345678
-15
-10
-5
0
5
10
15
1:5 - 150 K
Intensidade (unid. arb.)
H (10
3
Oe)
medido
ajuste
Lorentz 1
Lorentz 2
Gauss
Log Normal
Fig. 6.28.Espectro ajustado com 4 linhas. Amostra a 150 K, na diluição 1:5.
6 Estudando uidosmagnéticosviatécnicadeEPR 94
012345678
-10
-5
0
5
10
1:20 - 150 K
Intensidade (unid. arb.)
H (10
3
Oe)
medido
ajuste
Lorentz 1
Lorentz 2
Gauss
Log Normal
Fig.6.29.Espectroajustadocom4linhas. Amostra a 150 K, na diluição 1:20.
Mesmo sem apresentar todos os espectros ajustados, as Figuras 30, 31, 32 e 33
mostram os valores máximos (campos de ressonância) e larguras de linha, correspondendo
aos parâmetros utlizados no ajuste dos espectrosderessonâncianastemperaturasemque
foram obtidos.
6 Estudando uidosmagnéticosviatécnicadeEPR 95
120 160 200 240 280
1,0
1,5
2,0
2,5
3,0
3,5
1:5
lorentz 1
log-normal
gauss
lorentz 2
Campo de Ressonância (KOe)
Temperatura (K)
Fig. 6.30.Máximos das 4 componentes utilizadas para a deconvolução dos espectros da
amostranadiluição1:5.
6 Estudando uidosmagnéticosviatécnicadeEPR 96
120 160 200 240 280
1,0
1,5
2,0
2,5
3,0
3,5
1:20
lorentz 1
log-normal
gauss
lorentz 2
Campo de Ressonância (KOe)
Temperatura (K)
Fig. 6.31.Máximos das 4 componentes utilizadas para a deconvolução dos espectros da
amostranadiluição1:20.
6 Estudando uidosmagnéticosviatécnicadeEPR 97
120 160 200 240 280
0,0
0,2
0,4
0,6
0,8
1,0
1:5
lorentz 1
lorentz 2
gauss
log-normal
Largura de Linha (KOe)
Temperatura (K)
Fig. 6.32.Larguras de linha das 4 componentes utilizadas para a deconvolução dos espec-
tros da amostra na diluição 1:5.
6 Estudando uidosmagnéticosviatécnicadeEPR 98
120 160 200 240 280
0,0
0,2
0,4
0,6
0,8
1,0
1:20
lorentz 1
lorentz 2
gauss
log-normal
Largura de Linha (KOe)
Temperatura (K)
Fig. 6.33.Larguras de linha das 4 componentes utilizadas para a deconvolução dos espec-
tros da amostra na diluição 1:20.
Extraindo-se dos espectros originais, também chamados de ”envelopes”, os valores
do campo de ressonância (H
r
)emfunçãodatemperatura,obtêm-seosgrácosdaFigura
34.
6 Estudando uidosmagnéticosviatécnicadeEPR 99
120 160 200 240 280 320
2,8
2,9
3,0
3,1
3,2
líquida
congelada
1:5
1:20
H
r
(KOe)
Temperatura (K)
Fig. 6.34.Dependência com a temperatura dos campos de ressonância dos espectros de EPR
para a amostra em duas diluições, 1:5 e 1:20.
Na Figura 34 está indicada a temperatura de solidicação do solvente. A amostra
passadoestadosólidoparaolíquidoemumaregiãopróximaaestevalordurantearealiza-
ção da experiência. Percebe-se, principalmente no gráco de H
r
× T , que na fase líquida
há uma certa independência em relação a diluição da amostra, enquanto que na fase sólida
dois comportamentos distintos são observados.
A descrição da dependência com a temperatura do campo de ressonância é baseada no
fato de que a frequência de ressonância ω
R
, também chamada de frequência de precessão de
6 Estudando uidos magnéticos via técnica de EPR 100
Larmor, do momento magnético da partícula na presença de um campo magnético efetivo
(H
EF
),édadapor:
ω
R
= γH
EF
, (6.129)
onde γ é a razão giromagnética. O campo efetivo, em uma primeira análise, pode ser
descrito como a soma de três componentes: o campo externo DC (H
E
), o campo des-
magnetizante (H
D
) e o campo de anisotropia (H
A
). Considerando-se quenasituaçãode
ressonância, H
E
coincide com o campo ressonânte H
R
,tem-separaestltimoaseguinte
expressão:
H
r
=
ω
R
γ
H
D
H
A
. (6.130)
Na expressão 6.130, percebe-se que a dependência com a temperatura reside na com-
ponente H
A
, ou seja, no campo de anisotropia. Uma vez que uma descrição simples deste
campo (nanopartículas esféricas) [29] é dada por:
H
A
=
2K
EF
M
S
, (6.131)
onde K
EF
é a anisotropia magnetocristalina efetiva e M
S
é a magnetização de saturação.
Estes dois termos, em geral, são dependentes da temperatura, contudo, no intervalo de
temperaturas aqui estudado, a dependência de K
EF
com a temperatura é mais signicativa.
Alguns trabalhos sobre ressonância magnética em uidos magnéticos ([15], [27],
[39], [41] e [42]), indicam uma relação linear para H
r
× T , que consequentemente indica
umarelaçãolinearentreaanisotropiaeatemperatura.Osdadosaquiapresentadosnãoper-
6 Estudando uidos magnéticos via técnica de EPR 101
mitem este tipo de análise para todo o intervalo de temperaturas, pois existe uma transição
do estado sólido para o líquido durante a realização do experimento.
Observando-se separadamente as duas fases, o comportamento linear é visível na fase
líquida, nas temperaturas acima de 240 K, não sendo característico na fase congelada. A
modelagemutilizadaparaascurvasdemagnetização desta mesma amostra, indicam um
comportamento não linear da anisotropia em relação à temperatura, principalmente para a
fase sólida. Uma análise quantitativa da possível relação entre a anisotropia efetiva e os
valores previstos pelo modelo para curvas de magnetização está pendente.
Quanto à dependência das larguras de linha com a temperatura, de acordo com [30],
pode ser descrita por:
H
R
=
A
D
3
tanh
µ
E
2k
B
T
, (6.132)
onde D é o diâmetro da partícula, E = K
EF
V éabarreiradeenergiaatravésdaqualo
momento magnético relaxa (basicamente relacionada a anisotropia) e A =5gβSn.Nestes
últimos, V é o volume da partícula, g ofatorg,β o magneton de Bohr, S ospinassociado
ao centro magnético no interior da partícula e n o número de centros magnéticos dentro da
partícula. Para simplicar o argumento da função tanh,oquemelhoraaanálisequalitativa,
costuma-se fazer o gráco desta dependência em termos da variável X = 1000/T ,ver
Figura 35.
6 Estudando uidos magnéticos via técnica de EPR 102
345678
0,4
0,6
0,8
1,0
1,2
1,4
líquida
congelada
Largura de Linha (KOe)
1000/Temperatura (1/K)
1:5
1:20
Fig. 6.35.Dependência em rela ção a 1000/T das larguras de linha dos espectros de EPR
para a amostra em duas diluições, 1:5 e 1:20.
Cabe observar que a expressão 6.132 é montada sob a premissa de que o processo
de relaxação dos momentos magnéticos é do tipo el, ou seja, é considerada a amostra
no estado sólido, onde a partícula ca imóvel na matriz. Para se estudar o caso líquido,
seria necessário cosiderar relaxação do tipo browniana, onde o movimento termicamente
induzido vai contra a viscosidade do meio.
Percebe-se pela Figura 35 não ser possível ajustar os dados da fase líquida através da
expressão 6.132.
6 Estudando uidos magnéticos via técnica de EPR 103
De maneira geral, analisando os dados de ressonância e seus ajustes, pode-se fazer as
seguintes observações:
1. Classicando as linha de ressonância por valor do campo ressonante, do menor para
o maior, obtêm-se a seguinte sequência: lorentz 2 (l2), gauss (g), log-normal (ln) e
lorentz 1(l1);
2. O melhor ajuste obtido através de quatro linhas de ressonância é coerente com as
informaçõesobtidasdaanálisedosdadosdeBirrefringênciaMagnetoEstática(BME)
feitos para a amostra em questão [12], as quais indicam a presença de dois tipos de
aglomerados, ou arranjos, magnéticos: monómeros e trímeros;
3. A linha l2, de menor campo, representa, com grande chance, a contribuição
ao envelope de ressonância, de monômeros. Esta conclusão é coerente com as
observações de BME, uma vez que esta linha também é a de menor intensidade
em toda a faixa de temperatura sob investigação. O comportamento desta linha,
na dependência de H
r
× T (Figuras 30 e 31) indica uma descontinuidade mínima,
em torno da temperatura de descongelamento da amostra (acima de 180 K). Esta
observação vale também para a dependência de H × T (Figuras 32 e 33).
Normalmente, na transição do estado sólido para o líquido, as estruturas magnéticas
presentes na amostra passam por um reordenamento, decorrente da liberação dos
graus de liberdade rotacionais e translacionais, acarretando descontinuidades nas
propriedades físicas do sistema. No caso de monômeros, congelados na matriz em
ausência de campo externo, espera-se um mínimo de reordenamento. Acrescenta-se
6 Estudando uidos magnéticos via técnica de EPR 104
ofatodequeaobservaçãodelinhasderessonância de monômeros com campos de
ressonância menores, comparados aos campos de ressonância correspondentes às
linhas atribuidas às estruturas mais complexas têm sido relatados na literatura ([14],
[15] e [28]). Finalmente, a inclinação da curva H
r
× T , para a componente l2, é a
maior em comparação com as demais componentes, reetindoapresençadaestrutura
de menor diâmetro efetivo ([14], [15] e [35]);
4. As linhas de ressonância em campos maiores (g, ln e l1) representam mais
provavelmente, as possíveis estruturas ”trímeros”. Esta conclusão é também
coerente com observações de BME [12], uma vez que as componentes, adicionadas,
representam a maior parte do sinal de ressonância em toda a faixa de temperaturas
investigada. A presença de descontinuidade nas curvas H
r
× T e H × T ,
acima da temperatura de congelamento do líquido carreador, indica a ocorrência de
reordenamento de estruturas magnéticasmaiscomplexas,aexemplodedímeros,
trímeros, tetrâmeros etc. O reordenamento resulta, por exemplo, da liberação de graus
de liberdade translacionais e rotacionais, estes últimos em relação à direção do campo
externoaplicadopeloequipamentoderessonância. O fato dos campos ressonantes
desta linhas serem mais altos, ao se comparar com l2, pode ser atribuido a existência
de campo desmagnetizante maior neste tipo de estrutura, comparado ao de uma
simples partícula esférica.
6.2 Cálculo da Anisotropia 105
6.2 Cálculo da Anisotr opia
A anisotropia é um parâmetro muito importante no estudo dos uidos magnéticos. Tipi-
camente, a anisotropia deste tipo de sistema é uniaxial, determinada ou pela estrutura
cristalina das partículas ou pelo formato delas, o que permite descrevê-la unicamente pela
constante K
1
, ou simplesmente, K. Contudo, o valor exato desta constante depende da
técnica que se utiliza para medí-la [5].
Uma técnica relativamente simples de se determinar a anisotropia efetiva de uma
amostra de uido magnético, envolvendo a ressonância magnética, foi desenvolvida por
Bakuzis e outros [1]. Esta técnica foi aprimorada posteriormente, com o acréscimo de
fatores de correção nos parâmetros envolvidos [38].
O procedimento adotado consiste de se realizar a experiência de EPR usual, sendo
que a amostra, previamente congelada na presença de um campo magnético horizontal de
1, 5 T, pode ser girada em torno do eixo vertical (perpendicular ao campo aplicado).
No presente caso, a amostra foi girada em intervalos de cerca de 10
( 0, 17 rad).
A cada nova posição angular θ, em uma determinada temperatura, levantou-se o espectro
de ressonância magnética da amostra.
Por razões técnicas, não foi possível realizar o experimento em um intervalo de tem-
peraturas o grande quanto o desejado, que seria entre 4 e 200 K, correspondendo ao que
foi utilizado nas medidas de magnetização. Foram obtidos três conjuntos de dados nas
temperaturas 103, 125 e 150 K.
Como exemplo, as Figuras 36, 37 e 38 mostram alguns destes espectros, especica-
mente para 0, π/2 e π rad, nas três temperaturas citadas.
6.2 Cálculo da Anisotropia 106
01234567
-30
-15
0
15
30
103 K
0 rad
π/2 rad
π rad
Intensidade (unid. arb.)
H (KOe)
Fig. 6.36.Três espectros, em difrentes ângulos da amostra à 103 K.
6.2 Cálculo da Anisotropia 107
01234567
-16
-8
0
8
16
125 K
0 rad
π/2 rad
π rad
Intensidade (unid. arb.)
H (KOe)
Fig. 6.37.Três espectros, em difrentes ângulos da amostra à 125 K.
6.2 Cálculo da Anisotropia 108
0123456
-4
-2
0
2
4
150 K
0 rad
π/2 rad
π rad
Intensidade (unid. arb.)
H (KOe)
Fig. 6.38.Três espectros, em difrentes ângulos da amostra à 150 K.
O modelo teórico que prevê a dependência angular do campo ressonante, permite se
extrair os valores de K da amostra, nas temperaturas desejadas [38].
A dependência angular do campo ressonante é assim descrita:
H
r
= A B
¡
3cos
2
θ 1
¢
. (6.133)
6.2 Cálculo da Anisotropia 109
Os valores aqui utilizados para os parâmetros A e B são:
A =
ω
r
γ
(6.134)
e
B = J(T )
K
I
s
, (6.135)
onde ω
r
é a frequência de ressonância, γ é a razão giromagnética, K é a constante de
anisotropia, I
s
a magnetização de saturação e J(T) éocoeenciente de textura que serve
como um fator de correção para a anisotropia, pois acrescenta os efeitos térmicos no cál-
culo. Este último é descrito por:
J (T )=
L (b)
b
·
3L (b)
b
1
¸·
e
a
aI (a)
1
2a
¸
, (6.136)
onde a = KV /k
B
T , b = µH/k
B
T , L (b)=cotagh b 1/b e I (a)=
R
+1
1
e
ax
2
dx.
Obtidas as curvas de H
r
em função de θ,ajustam-seosparâmetrosenvolvidospara
que o modelo possa descrever os dados experimentais nas diversas temperaturas em que se
realizou o experimento.
Estes dados e a correspondente superposição ao modelo teórico estão na Figura 39.
6.2 Cálculo da Anisotropia 110
01234
1,6
2,0
2,4
2,8
3,2
T = 150 K
K = 102230,7
T = 103 K
K = 110322,5
T = 125 K
K = 114135,5
H
r
( x 10
3
G)
Ângulo θ (rad)
H
r
= A - J(K/Is)(3cos
2
(θ)-1)
(JMR 134,180-3 (1998))
Fig. 6.39.Dependência angular do campo de ressonância em três diferentes temperaturas.
As linhas s ólidas representam o melhor ajuste do modelo.
Comoresultadodoprocessodeajuste,osvalores da anisotropia magnética de 1, 10×
10
5
, 1, 14 × 10
5
e 1, 02 × 10
5
erg/cm
3
, correspondentes às temperaturas de 103, 125 e 150
K. Estes valores, como dito anteriormente, foram úteis como uma primeira estimativa da
anisotropia, quando da construção do modelo para curvas de magnetização.
7
Conclusão
Várias técnicas foram aqui utilizadas para, além de caracterizar a amostra de estudo,
permitir, através da análise e modelagem dos dados obtidos, um melhor entendimento de
um material promissor para aplicação em uidos magnéticos.
As curvas de magnetização, principalmente no regime FC, indicam um comporta-
mento atípico do comumente encontrado para uidos magnéticos. Normalmente as curvas
FC não apresentam um valor máximo em uma temperatura superior àtemperaturamais
baixa a qual a amostra é submetida no início do experimento, a exemplo das curvas ZFC.
Ao se imaginar que a amostra é congelada na presença de um campo magnético, o com-
portamento usual corresponderia à maior magnetização na menor temperatura. Fatores
relacionados com a interação entre partículas podem estar relacionados com este compor-
tamento.
Adiculdade de se obter um modelo mais completo e funcional para os dados das
medidas de magnetização, dentre outras possíveis, encontra certa justicativa na análise
dos dados de ressonância magnética. A determinação de uma boa função que descreva a
anisotropiaefetivadeverialevaremcontaamultiplicidadedeentesmagnéticosnouido,
caracterizada pelos dados de EPR, presente mesmo em um uido considerado monodis-
perso.
Sob o ponto de vista epistemológico, entende-se que o presente trabalho apresentou
mérito ao propor um modelo para descrever curvas de magnetização onde a anisotropia,
111
7 Conclusão 112
além de ser encarada como uma função dependente da temperatura, é, de certa forma,
predita pelo modelo. As implicações desta abordagem elevam a discussão para um nível
no qual a incitação à busca do melhor entendimento do comportamento da anisotropia
é mais importante do que o simples questionamento quanto à validade física da função
apresentada.
Outra característica marcante é a busca de conformidade entre os dados gerados pelas
várias técnicas experimentais, salientando-se o caso em que dados de BME permitiram
inclusive uma melhor análise dos dados de EPR.
Aarmação, corroborada pelos dados de BME, de que a amostra é composta de
monômeros e trímeros, forçou a relação entre as linhas utilizadas na deconvolução dos
espectros de EPR e estes dois tipos de estrutura.
A atribuição de uma linha do tipo lorentz para a menor estrutura (monômero) encon-
trou um bom embasamento, pois ela possui um campo de ressonância menor e surge com
menor intensidade nos ajustes.
Um melhor entendimento de como as três linhas restantes (lorentz, gauss e log-
normal) representam três possíveis tipos de trímeros, merece melhor análise. Como idéia
inicial, ao se tomar uma sequência de três partículas, as orientações relativas dos momentos
magnéticos de cada uma, podem se encaixar em três tipos diferentes: totalmente coerente,
totalmente incoerente (”fanning”), ou uma mistura destes dois casos.
Contando-se as várias possibilidades de ordenamento, verica-se que o ordenamento
misto tem maior probabilidade de ocorrer. A estecasoinfere-seaassociaçãocomalinha
descrita por uma log-normal, uma vez que este tipo de função não é comum no ajuste de
7 Conclusão 113
espectrosdeEPR.Paraosdoiscasosrestantes,atribui-seumlinhadotipolorentzeuma
do tipo gauss.
Considera-se entretando que muito ainda para se investigar nesta amostra, seja
aprofundando a análise dos dados apresentados ou realizando novos experimentos, algo
que, dependendo das possibilidades, se pretende realizar em tempo apropriado.
Como perspectiva maior, pretende-se aprimorar o modelo para curvas de magneti-
zação. Inicialmente submetendo-o aos dados de outros tipos de uido magnético, onde a
interação entre partículas é notadamente desprezível. Isto permitiria um estudo de como
diferentes funções para a anisotropia poderiam afetar o comportamento das curvas de mag-
netização geradas pelo modelo e quais fatores seriam preponderantes no ajuste aos dados
experimentais.
Ver icar a possibilidade de incluir no modelo um fator que descrevesse a interação
entre partículas é algo que merece estudo fututo.
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