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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ANTROPOLOGIA
Flávia Ferreira Fernandes
A Praia de Copacabana:
Uma reflexão sobre algumas das estratégias de construção e manutenção da imagem
de um espaço de consumo e lazer da cidade do Rio de Janeiro.
Niterói
2007
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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ANTROPOLOGIA
Flávia Ferreira Fernandes
A Praia de Copacabana:
Uma reflexão sobre algumas das estratégias de construção e manutenção da imagem
de um espaço de consumo e lazer da cidade do Rio de Janeiro.
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Antropologia da Universidade Federal
Fluminense, como requisito parcial para obtenção do
Grau de Mestre.
Vínculos temáticos
Linha de Pesquisa do orientador: Antropologia e Imagem, Antropologia do Consumo
Niterói
2007
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Banca Examinadora
_________________________________________
Prof. Orientador – Dr. Laura Graziela Gomes
Universidade Federal Fluminense
_________________________________________
Prof. Dr. Ana Maria Mauad Andrade Essus
Universidade Federal Fluminense
_________________________________________
Prof. Dr. Bianca Freire-Medeiros
Fundação Getúlio Vargas - CPDOC
_________________________________________
Prof. Dr. Lygia Segalla
Universidade Federal Fluminense
Aos meus queridos pais e irmã
com muito amor.
Agradecimentos
Agradeço primeiramente a DEUS por ter nos concedido à vida. Aos meus pais pelo apoio. As
minhas crianças queridas e amadas que sigam os bons exemplos que pude transmitir. A minha
irmã pessoa que amo, confio plenamente. Aos meus avós (in memorian). Aos professores
Milton Roberto e Rosilene Alvin, primeiros a desempenharem uma orientação para tal exercício
que deu fruto a um exercício de graduação e ao meu trabalho final de Pós-Graduação em
Fotografia como Instrumento de Pesquisa nas Ciências Sociais. Aos amigos do IFCS. Aos
amigos fotógrafos e jornalistas, incentivadores e interlocutores nessa pesquisa. Ao meu eterno
“Piu Piu”, amigo que sempre amarei. Aos colegas do mestrado, em especial, Shirley, Fabio e
Lênin pelo apoio e estímulo. A Débora pelos puxões de orelha. Aos meus alunos pela
compreensão e carinho. A Ilma por ser ela mesma. A todos os professores que passaram pela
minha vida , em especial Vilma, Mônica, Glória, Fernanda, Magda, José, Charles, Wanderley,
Mirian Goldenberg, Peter Fry, Flávio Gomes, Maria Helena, Pedro Vasquez, José Mauro,
Renata, Michel, Lygia, Lívia e Simone. Ao meu grande amor pelos raros momentos de troca. E
por último e em especial a minha orientadora, Laura Graziela por existir e ter aceitado a
conduzir essa árdua tarefa, ter acreditado em minha proposta e estimulado a sua realização.
Pelos deliciosos almoços e constantes empréstimos de livros.
“...Não me venha falar da malícia de toda mulher.
Cada um sabe a dor e delícia de ser o que é...”
(Caetano Veloso, 1982)
Resumo
A cidade do Rio de Janeiro possui o título de "Cidade Maravilhosa" a qual Copacabana está
intimamente relacionada como a "Princesinha do Mar", um dos principais cartões postais do Brasil.
Neste estudo que conjugou a pesquisa documental, bibliográfica e a utilização do método da
observação, com o apoio da fotografia como instrumento de pesquisa identificou-se que a praia foi um
grande motivador para a ocupação do bairro, que em menos de 50 anos ganhou o status de um bairro-
cidade, título conferido pela revista O Cruzeiro. Copacabana foi destacada na mídia internacional como
um bairro "Flashiest " tendo seu foco a Praia, a Av. Atlântica e os acontecimentos do Copacabana
Palace Hotel, as atividades nas areias e as belas mulheres. Atualmente, o bairro agrega 24% da
hotelaria do Estado. A ocupação do espaço da praia é intenso devido às atividades que nele se
realizam e cresce em função da alta temporada e das formas de congraçamento coletivo promovidas
por órgãos governamentais, iniciativa privada e organizações não governamentais no seu espaço,
assumindo-se como templo do sagrado e palco do profano. A praia que é de todos”, nas palavras do
prefeito da cidade, vive uma dicotomia entre o espaço da diversão e da violência, da ordem da família e
da transgressão social. A Praia de Copacabana é um meeting point por conjugar esforços da
população por meio da associação de moradores, comerciantes, iniciativa privada, prefeitura e da mídia
no sentido de resgatar a imagem positiva que desfrutava em um passado recente.
Abstract
The Rio de Janeiro city has the title of “Cidade Maravilhosa” (Wonderful City) to which is closely related
as “Princesinha do Mar” (The little princess of the sea), one of the most important Brazil post card. In
this study that put together the documental research, bibliography and the utilization of the observation
methode supported by photography as a research instrument, it was identified that the beach was a
enormous factor of motivation to in less than 50 years, get the status of a city inside the city. This title
was given by the “O Cruzeiro”. Copacabana spotted the international midia as the Flashiest
neighborhood where the focus were the beach, Av. Atlânica” and the Copacabana Palace Hotel, the
sand beach activities and the wonderful ladies. Nowadays, in its neighborhood we can find 24% of the
hotels from the State of Rio de Janeiro. The occupation of the sand beach space is intensive owing to
the activities that take place on it, increasing during the high seasons, and the amount of enlightenment
collective events sponsored by governmental departments, private companies and ONGs. This space is
known as the shrine of the sacred and the stage of the profane. The beach “that is a space which
belongs to everyone” as said by the Mayor of the Rio de Janeiro City lives a dichotomy between the
space for entertainment and for violence as well as the family rules and the social transgression. The
Copacabana beach is a meeting point where we can find, together, the population effort, supported by
the community association, commerce, private initiative, government and midia in order to rebuild the
positive image enlightened for it in a recent past.
palavras-chave
Copacabana, Consumo, Imagem, Praia
keywords
Copacabana, Consumption, Image, Beach
Sumário
Introdução 10
Capítulo I
Referencial Teórico Metodológico 14
Capítulo II
A Praia de Copacabana de ontem: Imagens em verso e prosa. 36
Capítulo III
Um breve retrato da Praia de Copacabana de Hoje 65
Capítulo IV
A Praia como Templo do Sagrado e Palco do Profano 98
Considerações Finais 127
Bibliografia 132
Introdução
Cidade maravilhosa/Cheia de encantos mil/Cidade
maravilhosa/Coração do meu Brasil/Cidade
maravilhosa/Cheia de encantos mil/Cidade
maravilhosa/Coração do meu Brasil/Berço do samba e
das lindas canções/Que vivem n’alma da gente/És o
altar dos nossos corações/Que cantam
alegremente/Jardim florido de amor e saudade/Terra
que a todos seduz/Que Deus te cubra de
felicidade/Ninho de sonho e de luz. (Cidade
Maravilhosa – Aurora Miranda e André Filho, 1934)
A Praia de Copacabana é um importante ponto turístico da cidade do Rio de Janeiro,
com repercussão turística nacional e internacional. Em pesquisa realizada pela Embratur no
início do ano de 2007 e publicada no jornal O Globo em 21 de Janeiro, constatou-se que o Rio
de Janeiro recebe 40% dos turistas que chegam ao Brasil. Uma outra pesquisa realizada no
Sambódromo durante o Carnaval, e publicada no Jornal do Brasil em 17 de Março de 2007,
revelou que 68% dos turistas que estavam no Rio de Janeiro tiveram a Praia de Copacabana
como primeiro ponto turístico para ser visitado, conhecido. É uma praia localizada em um
importante bairro da cidade do Rio de Janeiro, que nos primeiros anos de sua existência teve um
alto crescimento populacional e passou a ser considerado um bairro-cidade pela mídia do
período, como pude constatar em reportagem da revista O Cruzeiro, de Janeiro de 1953. De-
acordo com informantes, a importância estratégica da Praia de Copacabana foi tão grande que
na segunda guerra mundial o bairro prevenia-se de ataques, pelo mar, por meio de corte de
energia elétrica comandados pelo governo. Temia-se que a praia fosse bombardeada pelos
navios alemães. Em matérias da revista Times, as manchetes sobre o Rio de Janeiro eram
geralmente voltadas para a excentricidade, diversão, política e mazelas econômicas e sociais.
Na seção denominada “Miscellany”, em 20 de Dezembro de 1943, fez uma “divertida”
referência ao uso da praia como um espaço para as relações amorosas e sexuais unida à tentativa
do governo em moralizá-la em meio ao corte de luz a revista noticia:
Lone Wolf. In Rio de Janeiro, the police reported the number of loving couples
arrested on blacked-out Copacabana Beach: 33½. (Times: 20 de Dezembro de
1943)
A notícia traz um tom de brincadeira ao fato de a polícia ter achado um indivíduo,
sozinho, apenas além do número de casais o que dá dupla interpretação no leitor de que um
tenha fugido ou até mesmo na possibilidade de ter um trio de amantes nas areias da praia que
viria se tornar a mais famosa do mundo.
Até os dias de hoje a praia é a grande atração do bairro e uma das principais da cidade,
que junto com o Pão de Açúcar e com o Cristo Redentor são apresentadas nos guias turísticos
em forma de folhetos e catálogos, distribuídos pela cidade e em meio eletrônico. A imagem da
Praia de Copacabana veiculada na mídia está intimamente relacionada ao desenho do mosaico
de pedras portuguesas, que formam ondas, obra concebida pelo paisagista Burle Marx. O
mosaico é utilizado como elemento visual, tal como uma logomarca, um símbolo que divulga a
cidade a partir da referencia do calçadão da praia de Copacabana, sendo citada em divulgação
para o turismo como:
“...uma síntese da cidade do Rio de Janeiro.”
“...continua sendo a mais perfeita tradução do Rio”(Encontradas em folheteria de
hotéis e agências de viagens recolhidas entre 1998 e 2004)
Intitulada de “Cidade Maravilhosa”, o Rio de Janeiro já abrigou a Corte do Império, no
antigo Estado da Guanabara e a capital federal até a sua transferência para Brasília, em 21 de
abril de 1960. Destacando-se como ambiente de efervescência política e cultural, além de berço
da boemia e do samba, sendo palco do Carnaval. Inserida nesse espaço, a Praia de Copacabana
oferece uma festa tão popular e reconhecida, que é o Reveillon. Eleito por nós e por parte da
dia internacional, como um dos mais famosos do mundo ao lado do de Nova York, Paris e
Sidney.
O presente trabalho tem como objetivo conhecer os elementos que constituem a Praia de
Copacabana como um espaço de consumo e de lazer representativo da Cidade do Rio de
Janeiro. Conhecer alguns dos mecanismos que a levaram a alcançar esse status, de forma a
perceber como essa imagem é mantida e negociada até os dias de hoje. Desde o início da
faculdade em 1998 dividi o meu tempo de aulas pelas manhãs e trabalho à noite com
observação à tarde na Orla de Copacabana. Algumas vezes que entrava mais tarde na faculdade,
amanhecia o dia observando a rotina dos pescadores os que realmente “abrem” as atividades
na praia. A praia é famosa para os turistas e muito comentada por eles em local que eu
trabalhava na Zona Oeste da Cidade, o parque temático Terra Encantada. De início foi
observação participante, onde pude interagir no espaço da praia, mas sem fazer uso do banho de
mar, o que já me tornava uma estranha ao local. No final da Graduação, na licenciatura e já
assistindo aula na Pós-Graduação foi que iniciei a pesquisa usando a fotografia como suporte
metodológico e desde então fiz consultas esporádicas a acervos iconográficos para checar
informações que recebi no campo, principalmente dos informantes mais idosos, da categoria
terceira idade.
O trabalho de campo também se constituiu pela realização de entrevistas, sendo a
maioria informais, sessenta e oito formais, com o uso de gravador, sendo apenas cinqüenta e
seis ouvidas para a realização desse trabalho (e após a revisão mais seis foram ouvidas). Muitos
foram os interlocutores: comerciantes, turistas, moradores especialmente os idosos, muitos
dos quais entrevistados já faleceram, freqüentadores de shows e eventos na praia. Para
alcançarmos esse objetivo dividimos esse trabalho em quatro capítulos:
No primeiro capítulo fizemos uma discussão teórico-metodológica do tema proposto.
Para tentar dar conta da diversidade de relações encontradas no campo empírico de observação
e para alcançar o objetivo buscamos suporte na teoria da imagem, especialmente na fotografia,
norteadora da discussão em torno de como se deu a construção da imagem da Praia de
Copacabana na primeira metade do século XX. No mesmo capítulo buscou-se suporte também
na teoria do consumo, por considerarmos a Praia de Copacabana, em um primeiro momento,
como um produto turístico, que na literatura de mercado pode ser entendido como um lugar,
ambiente ou região cuja atividade destina-se à prática do turismo interno ou externo. Ainda no
mesmo capítulo informamos como foi realizada a pesquisa como um todo, desde a
documentação em acervo até a captação das imagens no local.
O segundo capítulo ficou destinado ao conhecimento dos mecanismos que levaram a
Praia de Copacabana a alcançar o status de um ambiente “Flashiest” - espaço onde as
novidades eram lançadas, um ambiente de efervescência política e social, sendo o foco das
lentes dos mais importantes veículos de comunicação. Para tal buscamos referências na revista
O Cruzeiro, que muito foi citada, pelos informantes mais velhos, como a revista que informava
sobre os acontecimentos mais pertinentes do período e dos arquivos do Grupo Time e Life de
representatividade no cenário internacional. O mesmo capítulo apresenta informações de como
as reformas urbanas, unidas à produção musical e a mídia foram importantes elementos da
construção desse ambiente.
O terceiro capítulo expõe um breve retrato do que é a Praia de Copacabana hoje, como
se configura e as atividades que abriga. Neste capítulo também poderemos ver como o espaço é
apropriado pelos moradores, tornando-se extensão de suas casas. Concomitantemente, esse
espaço transforma-se em local de batalha para os ambulantes que se deslocam cotidianamente
de outros municípios, ou por temporada de outros estados para ganhar a vida na famosa praia do
Rio de Janeiro. O capítulo também aborda as reformas urbanas e suas conseqüências para a
configuração do espaço, além de apresentar as características próprias e o modo de fruição do
lugar.
No quarto capítulo buscamos compreender como as diferentes formas de congraçamento
coletivo auxiliam na manutenção da imagem do espaço como um lugar destinado à festas, no
qual o modo de expressão do ser carioca é praticado e exercido pelos moradores da cidade e os
turistas da região. Para isso procurou-se acompanhar diferentes eventos na praia, desde o
famoso Reveillon até os menores, que buscam o lugar por ter uma grande circulação de pessoas,
dando destaque ao modo como a praia vivencia a dicotomia de templo do sagrado e palco do
profano.
As considerações finais apontam para a reflexão sobre como a Praia de Copacabana, que
é considerada a praia que reflete as características do Rio de Janeiro, é um meeting point, onde
diferentes, agentes, organismos atuam de forma a moldar suas características para manter viva a
imagem de um ambiente, moderno, alegre, saudável e festivo construída na primeira metade do
século XX tendo foco nas mulheres e hoje pelos eventos realizados pela sua orla.
Capítulo I
Referencial Teórico Metodológico
Vento do Mar no meu rosto/E o sol a queimar,
queimar/Calçada cheia de gente/A passar e a me ver
passar/Rio de Janeiro, gosto de você/Gosto de quem
gosta/Deste céu, desse mar, dessa gente feliz/Bem que eu
quis escrever/Um poema de amor e o amor/Estava em tudo
que eu quis/Em tudo quanto eu amei/E no poema que eu
fiz/Tinha alguém mais feliz que eu/O meu amor/Que não me
quis/Em tudo o quanto eu amei/E no poema que eu
fiz/Tinha alguém mais feliz que eu/O meu amor/Que não me
quis. (Valsa de uma cidade – Ismael Neto e Antônio Maria)
A Praia de Copacabana é um importante lugar no termos de AUGÈ (1994) e como lugar
é também propagada como um importante ponto turístico, onde a sua principal qualidade é
expressa como uma tradução do Rio de Janeiro. Embora, seja o espaço da praia reconhecido
com um ambiente turístico ele assume a dicotomia de lugar e não lugar nos termos de AUGÈ
(1994). É um ambiente onde existe a convivência de grupos humanos articulados, com uma
cultura(s) própria, com existência de sociabilidade, ao mesmo tempo que, também exerce a
função de passagem, caminho, tráfego para uma expressiva quantidade de pessoas que transitam
pelo calçadão exercendo o que DAMATTA(1987,2000) classifica como o esqueleto da rotina
diária trabalho para casa e da casa para o trabalho, um movimento que os brasileiros
exercem no dia a dia, no cotidiano.
A Praia de Copacabana vive a função de um importante cartão-postal da cidade do Rio
de Janeiro e até mesmo do Brasil onde a sua ocupação se dá a partir de reformas urbanas como
foi à abertura do Túnel conhecido como Velho. Desde então, vem recebendo investimentos
como foi à abertura do Túnel do Leme, a construção da Av: Atlântica, e mais tarde, já na década
de 70, com a duplicação da mesma avenida, a construção dos postos de salvamentos, a
implantação de quiosques para a venda de alimentos e a reforma dos mesmos com um novo
conceito arquitetônico iniciada em 2005. BOTELHO(2006:48) nos ensina que a revitalização
urbana ocorre em função de um discurso que trata a cidade como imagem e para tal é necessário
recuperar o histórico e criar o novo, possuindo muitas vezes caráter monumental. Para
HUYSSEN(2000:100) em um contexto de competitividade global a imagem da cidade é o foco
central para a conquista do sucesso. A Praia de Copacabana passa de ambiente-paisagem, que
serviu de inspiração para os versos, para a música, especialmente a MPB, para palco onde,
recebe os maiores artistas da música brasileira e internacional. Ganha caráter de monumental
para a recepção de diferentes tipos de eventos, principalmente os esportivos e os musicais. O
mesmo autor nos é importante para pensar como essa imagem da cidade é importante e
elaborada pelos seus agentes ao nos ensinar que:
A noção de cidade como um signo, contudo parece tão pertinente quanto antes,
mesmo que agora num sentido mais pictórico e mais relacionado à imagem do que
num sentido textual. Mas essa mudança da escrita para à imagem traz uma
significativa inversão. Para ser bem claro: o discurso da cidade como texto, nos anos
de 1970, era sobretudo um discurso que envolvia arquitetos, críticos literários,
teóricos e filósofos determinados a explorar e criar novos vocabulários para o espaço
urbano depois do modernismo. O discurso atual da cidade como imagem é dos “pais
da cidade”, empreendedores, políticos que tentam aumentar a receita com turismo de
massa, convenções e aluguel de espaços comerciais. O que é central para esse novo
tipo de política urbana são os espaço estéticos para consumo cultural, megastores e
megaeventos músicos, festivais e espetáculos de todo tipo, todos tentando atrair
novos tipos de turista desde o visitante de feriado até o incansável caminhador
metropolitano, que vieram substituir o velho modelo ocioso flâneur. O flâneur,
mesmo sendo um outsider em sua própria cidade, sempre figurou como um
habitante, em vez de um viajante semrpe em movimento. Mas, hoje em dia é o
turista, mais que ao flâneur, que a nova cultura da cidade quer apelar, ao mesmo
tempo em que teme o indesejável duplo do turista: o migrante expatriado.
(HUYSSEN, 2000:91)
Devido ao status de local turístico, de repercussão nacional e internacional utilizamos os
autores BERGER & LUCKMANN(1973) para pensar o papel das instituições no espaço, já que
sua base conceitual nos informa que as mesmas exercem o controle social, funcionam como
mecanismo de regulação da sociedade, e como num movimento cíclico, também elaboram
construções sociais, e é nessa elaboração de construções sociais que a mídia constrói a imagem
de uma praia onde seus freqüentadores são dotados de aptidões para a prática esportiva, as
opções de lazer no espaço estimuladas pelos clubes e associações presentes desde a década de
30. Como não é possível voltar no tempo para realizar um trabalho de campo, o ponto de partida
foram as fotorreportagens da época, especialmente da Revista O Cruzeiro, importante veículo
de comunicação do país como poderemos ver no próximo capítulo, que conjugadas com
entrevistas formais e informais com idosos que freqüentaram o ambiente nos anos 40, 50 e .60
auxiliaram a resgatar os elementos importantes na construção desse lugar. A pesquisa
bibliográfica em livros científicos e de memória foram importantes vias de acesso para tais
elementos que nortearam a construção da imagem desse lugar, como foi apresentado no segundo
Capítulo.
No presente trabalho a fotografia foi utilizada tanto como uma antropologia da imagem,
onde nos foi possível analisar como se deu a construção social da imagem do lugar, como
também o meio para se realizar uma antropologia em imagens(ACHUTTI apud ECKERT et all,
2004:84) na tentativa de contar em imagens o que é a Praia de Copacabana de hoje com seus
personagens e práticas, que asseguram a imagem do local.
A representatividade da fotografia na construção da imagem desse lugar, na primeira
metade do século XX ocorreu devido ao fato de que para o período, a mesma ser um suporte
que possui um caráter transformador, como enfatiza FREUND(1976). A fotografia possibilitou a
alteração no ponto de vista das massas. A autora destaca que o homem, antes do surgimento e
disseminação do uso da fotografia pela imprensa, tinha o conhecimento visual limitado à sua
volta, a área que fosse possível estar presente apenas fisicamente. Já FLUSSER(2002) nos
esclarece que o fascínio e a influência que a fotografia exerce no leitor de uma publicação,
defende que com o advento da fotografia os artigos passaram a ser lidos por meio delas:
“Não é o artigo que “explica” a fotografia, mas é a fotografia que “ilustra” o artigo.
FLUSSER (2002:55)
O que nos ensina FLUSSER(2002) vai de encontro com o ditado popular, de autoria
desconhecida, que enfatiza o caráter informativo da fotografia ao afirmar que uma imagem
vale por mil palavras”. Mil palavras é uma hipérbole ao afirmar que o documento gerado pela
ação da luz possui um conteúdo rico em informação e pode ser interpretado com múltiplas
variações em função de quem o vê, com que olhos vê e como é visto.
Porém, o mesmo autor argumenta que a fotografia passa a assumir o papel central em
uma publicação remitificando o texto. Possui também um caráter manipulador, permitindo
modelar os seus receptores, por apresentar componentes que são relacionados
significativamente de forma que:
“O receptor pode recorrer ao artigo do jornal que acompanha a fotografia para dar
nome ao que está vendo. Mas, ao ler o artigo, está sob a influência do fascínio
mágico da fotografia. Não quer explicação sobre o que viu, apenas a confirmação.
Está farto de explicações de todo tipo. Explicações nada adiantam se comparadas
com o que se vê. Não quer saber sobre causas ou efeitos da cena, porque é esta e
não o artigo que transmite realidade. E como tal realidade é mágica, a fotografia
não a transmite; é ela a própria realidade...E assim a fotografia vai modelando seus
receptores. FLUSSER(2002:57)
SONTAG(2004:32) nos esclarece que a fotografia é apreciada pela sua capacidade de
transmitir a informação ao receptor. É um elementos capaz de interpretar e representar o mundo
tal como a pintura e os desenhos (SONTAG 2004:17), um instrumento de poder (SONTAG
2004:19) capaz de:
“ensinar um novo código visual, as fotos modificam e ampliam nossas idéias,
sobre o que vale a pena olhar e sobre o que temos direito de observar.”
SONTAG(2004:13)
Foi fornecendo os códigos para os novos usos do espaço da praia que a fotografia
modelou seus receptores na primeira metade do século, de forma que: idéias, valores e conduta
moral são estabelecidas nas fotorreportagens do período, para a mesma autora:
“Fotos não podem criar uma posição moral, mas podem reforçá-la e podem ajudar
a desenvolver uma posição moral ainda embrionária.” SONTAG(2004:28)
Para o professor Ricardo Hollanda a fotografia é uma quina registrando a máquina
urbana, em palestra afirma que “somente a fotografia pode mantê-la viva- sendo um registro
sistemático de imagens, as quais o substituídas freentemente pelo processo de urbanização
inerente à modernidade dos nossos tempos. Já, o autor BARTHES (1979) enfatiza que:
A fotografia é um testemunho contundente do ter estado ali... uma evidência
intensificada, carregada, como se caricaturizasse”, não a figura do que ela
representa (é exatamente o contrário), mas sua própria existência. A imagem, diz a
fenomenologia, é um nada de objeto. Ora, na fotografia, o que coloco não é
somente a ausência do objeto; é também, de um mesmo movimento, no mesmo
nível, que esse objeto realmente existiu e que ele esteve onde eu o vejo. BARTHES
(1979:168).
Tendo existido da onde é visto, a fotografia trás de volta, à memória, fatos,
acontecimentos, “habitus”, e possibilita resgatar da memória valores e normas que podem estar
guardados em função do tempo. A visualização, de uma imagem do passado, possibilita à
memória resgatar o que se está relacionado com o que é visível na fotografia.
Para KOURY(1998) a fotografia como técnica é a perpetuação da impressão da realidade
sua história social se confunde com a história social do capitalismo. A fotografia possui o duplo
caráter de posse simbólica sobre o real, ao mesmo tempo em que, é o fundamento, a expreso
do real. Ainda o mesmo autor afirma que ela (a fotografia) possui a capacidade de fazer com
que o sujeito passe a vivenciar o mundo por meio da visibilidade permitida pela apreensão
fotográfica e afirma que:
“O mundo burguês, através da fotografia, logra conseguir fundar um padrão de
semelhança e objetividade capaz de apreender uma linearidade espaço-temporal que
caracteriza a sociedade ocidental.” KOURY(1998:74)
O mesmo autor vai buscar suporte em BOURDIEU (1978: 111-113) para enfatizar que ao
atribuir um caráter de realidade na fotografia, o homem ocidental passa a se representar na
fotografia. Isso vai de encontro ao que no afirma GURAN(2000) sobre a natureza “emique” da
fotografia por ser produzida e assumida pelo grupo como representativa do real, compondo aa
sua identidade.
A fotografia se faz possível como um objeto de estudo antropológico quando possui,
como embasamento do todo, um contexto histórico e cultural. Para que a mesma seja analisada
devemos ter o conhecimento dos fatos no âmbito da política, dos movimentos culturais,
econômicos e sociais possibilitando uma análise para muito além de um referencial plástico,
semiótico. A tentativa desse exercício se deu no segundo capítulo do presente texto, ao
tomarmos por base as fotorreportagens das revistas ilustradas e dos álbuns de família de
informantes que vivenciaram o período glamouroso da Praia de Copacabana na década de 50.
o seria a fotografia formada pelo conjunto de bens/pessoas, símbolos e lugares onde
o reunidos e imortalizados pela ação da luz? Como foi pensada a questão da dupla função de
apreender o real e construí-lo socialmente? Para quem a imagem ensina, e de quem ela é a
expressão de uma realidade? Como é possível um conjunto de fotografias unidas a outros
elementos construir socialmente a imagem de um lugar? Que outros elementos foram capazes
de solidificar a imagem de um local? Qual é a imagem que persistia do local?
Como pensar a antropologia e imagem e a antropologia do consumo? Como essas duas
correntes teóricas podem ser utilizadas para analisar a construção social de um lugar? Não seria
esse lugar um reconhecido espo de consumo e de lazer de diferentes camadas da sociedade
brasileira em períodos distintos? Não seria esse lugar um reconhecidamente turístico tanto para
de dentro do Brasil quanto para os de fora? Poderíamos pensar a imagem como um elemento
que apreende e elabora o status desse local?
Cabe aqui diferenciar que a palavra imagem remete tanto ao que é captado pelo sentido
da visão quanto ao referencial que se toma de um lugar, indivíduo ou bem. A imagem que se vê
diferenciando da imagem que se tem de alguma coisa ou de alguém. A fotografia apreende a
imagem que vai ser vista, imortalizando o que se e o que virá a ser visto, sendo capaz de
construir uma imagem que venha a se tornar um referencial que não está livre de julgamentos de
valor pela sociedade. A imagem é capaz de construir um imaginário que pode ser representativo
do real ou o. Hoje com recursos cnicos, a montagem de imagens o acontece de forma
primitiva onde se posicionam as pessoas em lugares, poses para clicar, captar a imagem, mas
tamm por meio de recursos tecnológico por meio de softwares como o Photo Shop, programa
que é capaz de alterar uma imagem, montar cenas, reconstruir cenários, pessoas, lugares, entre
outros...
A imagem da fotografia é capaz de construir, elaborar um imaginário. Aqui tomamos a
noção de imagem de LAPLATINE(1996), onde a ele assume que a mesma (a imagem) é
construída conforme as experiências visuais anteriores”, o homem recebe informões de
natureza perceptiva de forma que vai reorganizando as informações e elaborando a imagem que
tem de um lugar, indivíduo ou bem. O autor descreve que:
“Imagens não são coisas concretas mas são criadas como parte do ato de
pensar. Assim imagem que temos de um objeto não é o próprio objeto, mas
uma faceta do que nós sabemos sobre esse objeto externo.LAPLATINE(1996:
10)
A representação está ligada ao processo de abstração e a idéia é uma
representação mental que se configura em imagens que temos de uma coisa
concreta ou abstrata. Assim, a imagem se constitui como representação
configurativa da idéia traduzida em conceitos sobre a coisa exterior dada.
LAPLATINE(1996: 77)
“O imaginário possui um compromisso com o real e não com a realidade. A
realidade consiste nas coisas, na natureza, e em si mesmo o real é
interpretação, é a representação que os homens atribuem às coisas, e à
natureza. Seria, portanto, a participação ou a intenção com as quais os homens
de maneira subjetiva ou objetiva se relacionam com a realidade, atribuindo-lhe
significados. Se o imaginário recria e reordena a realidade, encontra-se no
campo da interpretação e da representação, ou seja do real.”
LAPLATINE(1996: 79)
O autor SANTOS(1998) vai nos esclarecer que:
“Cada sociedade, portanto, possui o seu imaginário embora o limite entre o
real e o imaginário seja tênue e variado nos diversos momentos históricos.
(SANTOS,1998:11)
E é em função desse contexto que a Praia de Copacabana vai sendo elaborada no
imaginário de diferentes formas mesmo que ainda haja uma centralidade na figura da mulher, na
diversão, e no lazer o que contou também com a importante influência da música, que se
mostrou como um outro elemento essencial para a construção do imaginário de Copacabana, na
fala dos informantes que são ou não do lugar e que, para PINTO (2001):
A inserção da música nas várias atividades sociais e os significados múltiplos que
decorrem desta interação constituem importante plano de análise na antropologia da
música. A relação entre som, imagem e movimento é enfocada de forma primordial
neste tipo de pesquisa. Aqui música não é entendida apenas a partir de seus
elementos estéticos mas, em primeiro lugar, como uma forma de comunicação que
possui, semelhante a qualquer tipo de linguagem, seus próprios códigos. Música é
manifestação de crenças, de identidades, é universal quanto à sua existência e
importância em qualquer que seja a sociedade. Ao mesmo tempo é singular e de
difícil tradução, quando apresentada fora de seu contexto ou de seu meio
cultural.”PINTO (2001)
Segundo Frith, “se a sica à letra sua vitalidade lingüística, a letra à música
seu uso social” (Frith,1988:123). O uso social da música inspirada na paisagem de
Copacabana, nos brotinhos de Copacabana unida a fotografia criou referencial de lugar no
imaginário de quem nunca esteve lá. Seria primitivo pensar que a construção desse lugar fosse
tão somente obra dessas manifestações artísticas e da mídia do período, principalmente da rádio
e das revistas ilustradas. As reformas urbanas, as edificações modernas tiveram importante
participação nessa elaboração.
Levando em consideração esses fatores a autora GASTAL(2005) auxilia na discussão
sobre imaginário ligado ao turismo, lugar de turismo aos nos informar que:
A imagem de um local é a soma das crenças, das idéias e das impressões
que as pessoas têm dele. As imagens apresentam-se como uma simplificação
de várias associações e informações ligadas ao local. Elas são produto de
uma mente que tenta processar e tirar a essência” de uma série de dados
sobre o local. GASTAL(2005:53)
È interessante que a mesma autora recorre tamm a Maffesoli em seu texto no
fragmento que ele explica a influência do imaginário na composição da imagem conforme a
seguir:
Não é a imagem que produz o imaginário, mas o contrário. A existência de
um imaginário determina a existência de um conjunto de imagens. A imagem
não é suporte, mas resultado. Refeiro-me a todo tipo de imagem:
cinematográfica, pictóricas, esculturais, tecnológicas e por aí afora. Há um
imaginário parisiense que gera uma forma particular de pensar a arquitetura,
os jardins públicos, a decoração das casas, a arrumação dos restaurantes, etc.
O imaginário de Paris, faz Paris ser o que é. Isso é uma construção histórica,
mas também o resultado de uma atmosfera e, por isso mesmo, uma aura que
continua a produzir novas imagens” (Silva, J.M. Michel Maffesoli: o
imaginário é uma realidade. In: Revista Famecos. P.76.)
O que nos leva a concluir que a imagem tanto constrói imaginários como é construída a
partir de imaginários que temos de um lugar. O fografo, o cineasta, o pintor são sujeitos que
passivos na recepção das influências que os fazem construírem imaginários e serem ativos na
transmissão, retransmissão desse imaginário por meio dos produtos culturais, imagens
concretas. Para fecharmos essa parte tomo como minha as palavras de GASTAL(2005) ao
defender que:
“O bom fotógrafo também será aquele que procura transmitir, antes do que
uma imagem, um sentimento. Ao olharmos uma foto podemos nos sentir
tristes, alegres, entusiasmados, românticos, ou até com raiva. E, em geral,
não são os objetos dispostos nas imagens que nos levam a tais reações, mas
algo que está além: um clima, uma cor, uma luz...uma aura”. GASTAL(2005:
36)
Voltando um pouco a relações mais concretas devemos lembrar que essa construção só é
possível em função da relação de reciprocidade entre os atores sociais, entre estes e as
organizações presentes no espaço que elaboram a sua construção e para tal buscamos aporte em
MAUSS(1974), nos seus conceitos de Dom e Contra dom, pois como nos ensina GODELIER
(2001:155) a noção de solidariedade está vinculada à troca social em diferentes formas. A
reciprocidade entre os diversos atores sociais pode ser um elemento propiciador da construção e
da manutenção da imagem, do espaço como referência de lazer e de consumo, bem como um
elemento que assegure o uso do mesmo. Como os atores sociais podem levar em consideração
as instituições públicas e privadas, que interagiram no espaço, de forma a elaborar uma imagem
representativa do local em um contexto que abrange características inerentes ao local em
contraste com as demais praias do estado, do país e do mundo.
Para compreender a forma como o espaço da Praia é construído utiliza-se como base o
conceito de regiões morais de PARK (1967:70). O conhecimento das diferentes posições de
classes, estilos de vida, valores, práticas e os signos distintos auxiliam na identificação de como
os diferentes grupos, tipos vocacionais presentes no espaço, estabeleceram as suas regiões
morais, se organizaram e ainda se organizam no mesmo espaço. Na atual reforma dos quiosques
encontramos agentes que, pertencentes a diferentes organismos tal como a iniciativa privada,
prefeitura, Orla Rio, mídia de forma que a relação de reciprocidade ocorre conjuntamente com
a noção de trabalho integrado (BECKER1997) o que vai nos auxiliar a pensar a dinâmica entre
as instituições e os sujeitos sociais que atuam no espaço para que o mesmo seja reconhecido
como uma área de lazer e entretenimento representativa da cidade.
O conceito de lazer foi muito bem pensado por DUMAZEDIER(2004) onde o autor nos
esclarece que nos últimos cinqüenta anos o lazer além de ser uma possibilidade atraente
também passou a ser um valor, embora enfatize que ainda se faz necessário que a academia dê
maior ênfase em seus estudos e não deixe de lado a noção de lazer. A defesa de idéia de lazer
para o autor está intimamente relacionada ao fato de que “ Nos dias de hoje o lazer funda uma
nova moral de felicidade. (DUMAZEDIER,2004:25). Conceitualmente o lazer para o autor é:
“...um conjunto de ocupações às quais o indivíduo pode entregar-se de livre vontade,
seja para divertir-se, recrear-se e entreter-se ou ainda para desenvolver sua
informação ou formação desinteressada, sua participaç ão social voluntária ou sua
livre capacidade criadora após livrar-se ou desembaraçar-se das obrigações
profissionais, familiares e sociais...O lazer não é somente o tempo da distração,
recreação e entretenimento, mas também aquele no qual se obtém uma informação
desinteressada...O lazer despertou, também, novas formas de sociabilidade e de
agrupamento, desconhecidas no século passado...O lazer é uma criação da
civilização industrial.” (DUMAZEDIER,2004:34 -52)
Para que o lazer aconteça é necessário que seja assegurada a condição de lugar seguro,
livre da violência, do medo e da opressão. Para pensar na questão da segurança na orla
buscamos o suporte teórico na autora JACOBS (2001), sob a perspectiva da autora as calçadas
são junto às ruas os órgãos mais vitais da cidade, de forma que se não apresentarem perigo,
falta de segurança, a cidade também estará “segura”. A ordem pública do espaço urbano é
mantida pela rede intrincada pelas atividades que a rua oferece como também pela vizinhança
que abriga. Uma grande movimentação de pessoas em um espaço possibilita uma maior
segurança devido à variedade e quantidade de olhos presentes ligados a uma rede de
solidariedade que gera a manutenção da segurança do local freqüentado. Quanto menor o fluxo
de pessoas em um espaço público mais inseguro este se torna e o imaginário toma uma
referência negativa do lugar, impuro, proibido e vulnerável.
A autora destaca três características principais para a manutenção da segurança em
espaços que se propõem a receber desconhecidos de forma sistemática: Faz-se necessário,
primeiramente, a separação entre espaço público e privado. A existência de olhos voltados para
a rua, olhos de indivíduos pertencentes à vizinhança, para a autora, que fazem a função de
proprietários da rua; as calçadas devem ter um fluxo constante, variedade de atrativos para
garantir um maior número de olhos possíveis voltados para a mesma, por um maior espaço de
tempo possível.
JACOBS (2001) aponta para o funcionamento de estabelecimentos comerciais no
período noturno, pois estes també m garantem uma maior utilização das calçadas, seja por parte
da vizinhança ou de visitantes ao local, de forma que os seus proprietários tornam-se potenciais
vigilantes das calçadas, quando em grande número, garante o funcionamento regular de seus
estabelecimentos, a manutenção de um fluxo de clientes almejados de forma que não sejam
afugentados por conta da possibilidade de perigo no caminho para os estabelecimentos.
Moradores e comerciantes em geral tornam-se co-proprietários do espaço urbano e põem-se em
posição de vigília das calçadas. Isso acontece em Copacabana, porém não neutraliza os efeitos
da violência no espaço.
Afirma a autora, que o divertimento de um espaço público está garantido quando possuir
condições de receber estranhos sem interferir nas dependências privadas da vizinhança, embora
algumas vizinhanças atribuírem aos estranhos os problemas de segurança dos espaços. As
calçadas de uma cidade reúnem indivíduos desconhecidos entre si e que não possuem a intenção
de se conhecerem, porém um elo de confiança se forma em função de constantes contatos
obtidos em um determinado espaço público. Os variados tipos de “favores gerados entre
comerciantes, membros da vizinhança e visitantes não podem ser realizados de forma que
invadam a privacidade do favorecido. A segurança do mesmo se dá por não precisar expor com
inventários de bens e seguros. Segundo JACOBS(2001) a formalização de um serviço dessa
natureza não garante a segurança do que antes era favorecido. Atribuindo também ao
personagem das calçadas, o qual denomina como figura pública, a função de divulgar e articular
uma rede de relações entre os demais transeuntes de modo a assegurar uma vida social nos
espaços públicos.
Para a mesma autora a manutenção da segurança das crianças está garantida se tiverem à
possibilidade de usufruir espaço compartilhado com indivíduos de outras faixas etárias, de
forma a estarem vigiadas por diversos olhos e não restritas a áreas onde ficam apenas crianças.
Trata a restrição das crianças ao playground como a construção de uma ilusão no que concerne
em ser uma tentativa de estabelecer um progresso na educação infantil. Por serem mais
vulneráveis aos perigos que os adultos ela destaca que as crianças necessitam estar rodeadas de
adultos, personagens da vizinhança, tipos vocacionais do espaço para que seja assegurada
medida educativa por parte dos mesmos. Sendo o convívio com os adultos a garantia de
inclusão social dos jovens e crianças. As calçadas proporcionam liberdade de executar
atividades ao ar livre sem muros das áreas de lazer dos condomínios.
No mesmo ensaio JACOBS(2001) defende que os parques não são elementos de
estabilização de bens ou da vizinhança, de manutenção da segurança e do valor imobiliário. A
inserção de um parque, área de lazer em um espaço urbano e a conseqüência social e ecomica
dessa inserção varia quanto à freqüência de indiduos no mesmo. Um espaço sem transeuntes,
sem utilização pode ser um grande causador de transtornos sociais e de desvalorização
imobiliária de uma rego. As atividades exercidas em uma vizinhança e o tipo de
estabelecimentos comerciais que ela abriga influenciarão nas formas de utilização das áreas
blicas, sejam elas: parques, praias, calçadões planejados ou calçadas convencionais. A
variedade de estabelecimentos e o horário de funcionamento dos mesmos são elementos
estimulantes de um uso contínuo do espaço. Quanto maior a variedade, diversidade de usos que
o espaço possua, mais garantido será o seu uso contínuo e a intensidade no fluxo da vizinhaa
e visitantes. A integração entre moradores, comerciantes, tipos vocacionais diversos em uma rua
e a sua autogestão é indispensável para mantê-las com um fluxo seguro de indivíduos. Para a
autora, os isolamentos das ruas as fazem ter uma cultura própria, diferente das demais.
Apesar de a autora afirmar que a vizinhaa possui o hábito de não ver com bons olhos
os estranhos à ela, o mesmo o ocorre em Copacabana, pois a insegurança se frente aos
conhecidos as gangues de garotos do morro, que descem para o asfalto com a intenção de
atacar turistas e membros da vizinhaa. Dentro de toda a teoria apresentada anteriormente
vemos que a Praia de Copacabana possui todas as prerrogativas para ser considerada um espaço
seguro, livre dos males da vioncia. Ela possui olhos voltados para diversas áreas em diferentes
períodos do dia. Possui atividades que se iniciam às seis da mane se prolongam até à noite.
Possui comércio, ambulante, fixo em diferentes horários. Uma grande quantidade de circulação
de pessoas praticando esporte, caminhando, conversando em diferentes períodos do dia. Apesar
da intensidade de pessoas que transitam por toda a Orla de Copacabana, ela não está totalmente
livre do medo e a nossa cidade muito menos. Muitas vezes em algumas regiões o espaço é
vigiado por monitoramento eletrônico o que inibe a realização de crimes, mas nem sempre esse
os equipamentos de segurança estão em funcionamento.
O espaço da praia assume seu caráter relativo ao grupo que fala entre o conceito de
casa e de rua de DA MATTA(1987) para o autor a casa é definida como morada sagrada,
tranqüila, onde semeia o amor, a fraternidade, o respeito e a consideração dos familiares, lugar
onde se reside e reproduzem-se as “tradições de família”. Onde se estabelecem os “valores”, as
“normas de conduta, da “honra”, o ”respeito”. A casa é protegida da rua, tanto dos agentes
da natureza, como o frio, o vento e a chuva como de uma possível intervenção moral e social.
Dentro dela ocorre uma divisão de sexo e idade, mas aonde os indivíduos são partes
insubstituíveis, são únicos, singulares na teia de relações. Não somente os filhos e os pais
possuem essa relação na teia familiar, mas também os que freqüentam e se alimentam na casa
como os amigos. A vida privada de cada grupo tem sua particularidade, a identidade dos que a
habitam. Para o autor o trabalho está no espaço da rua, e é tido como um horror e exemplifica o
fato de nossos heróis serem o malandro ou o santo, renunciador.
Sabendo que a praia é um destino turístico, um ambiente dotado de uma paisagem
exuberante e é “vendido” para ser vivenciado tanto para turistas locais, como nacionais e
internacionais ela pode ser considerada um “produto pelo turismo usando as ferramentas do
marketing. E para podermos pensar na sua relevância por esse aspecto, buscamos suporte na
teoria da antropologia do consumo que para BARBOSA(2006) é capaz de dar conta da questão
da fruição estética ao afirmar que:
“...na sociedade contemporânea, consumo é ao mesmo tempo um processo social
que diz respeito a múltiplas formas de provisão de bens e serviços e a diferentes
formas de acesso a esses mesmos bens e serviços; um mecanismo social percebido
pelas ciências sociais como produtor de sentido e de identidades,
independentemente da aquisição de um bem; uma estratégia utilizada no cotidiano
pelos mais diferentes grupos sociais para definir diversas situações em termos de
direitos, estilo de vida e identidades; e uma categoria central na definição da
sociedade contemporânea. BARBOSA (2006:26)
Podemos então assumir aqui a postura de que o espaço da praia de Copacabana é
consumido pelos seus freqüentadores de diversas formas, e MCCRACKEN(2003) nos ensina
que um bem tem o seu significado comunicado quando é complementado por outros que
possuem a mesma significação, partilham da mesma propriedade simbólica. Para o autor os
bens andam juntos” por terem significados absolutos de suas propriedades simbólica Não
sendo possível o consumo isolado de um bem ou serviço sem que este venha conjugado,
agregado com outros. Baseado nessas defesas é que a teoria do consumo vai no auxiliar a
compreender como se dá a construção desse ambiente e como os bens presentes no espaço
auxiliam na elaboração e construção dessa imagem.
Se vamos tomar por base a antropologia do consumo, não podemos perder de vista que o
estudo do consumo se faz recente nas Ciências Sociais, e vem recebendo reconhecimento ao
longo dos anos. A disciplina antropologia cada vez mais vem empenhando esforços para
sistematizar o conhecimento sobre esse fenômeno, que está intimamente relacionado com a
modernidade. Obras sobre a produção, como as dos teóricos Marx e Weber, foram privilegiadas
durante a maior parte do tempo, pela maioria dos cientistas sociais, de forma que constituiu-se
um verdadeiro bias produtivista. BARBOSA(2006) nos ensina que para esses teóricos o
consumo se dá como uma prática vista como impura, confundindo com o consumismo,
apresentando um discurso negativo permeado por uma indignação moral ao ato de consumir.
Os esforços para compreender o consumo, que antes eram empreendidos apenas pelos
economistas, passam a ser objeto de estudo da antropologia no final da década de 70, tendo
como marco o livro “O Mundo dos Bens – Para uma Antropologia do consumo”, de autoria de
Mary Douglas e Baron Isherwood, uma antropóloga e um economista. A obra, que de acordo
com BARBOSA(2006) é considerada um clássico, destina-se a um público pertencente ao
campo da economia. Apresentando o estudo da cultura material, que até então estivera na
periferia dos temas da antropologia, num contraponto com pressuposições de que o campo da
economia faz para tecer uma teoria sobre o consumidor e o consumo. O objetivo dos autores é
compreender o estabelecimento das mercadorias como marcadores de relações sociais, conhecer
como os bens são utilizados para criar e estabelecer as fronteiras das relações sociais. Para os
autores a teoria do consumo deve ser uma teoria sobre a cultura, uma teoria sobre a vida social.
DOUGLAS & ISHERWOOD(2004) informam que os bens são acessórios para as
práticas rituais, imbuídos de capitais tais como capital social e simbólico. O uso dos bens se dá
para propiciar ao consumo uma forma de classificar pessoas e eventos, eles são integrantes de
um sistema vivo de informações e, embora sejam neutros, possuem usos sociais. Por serem
investidos de valores sociais podem servir as necessidades físicas e as psíquicas do indivíduo de
forma que expressam categorias, princípios e sustentam estilos de vida. Os autores citam que:
“ A função essencial do consumo é a sua capacidade de dar sentido... as mercadorias
são boas para pensar: tratemo-las como um meio não verbal para a faculdade
humana de criar.” DOUGLAS & ISHERWOOD (2004:108).
“O homem é um ser social... precisa de bens para comunicar-se com os outros e para
entender o que se passa a sua volta. As duas necessidades são uma só, pois a
comunicação pode ser construída em um sistema estruturado de significados. Seu
objetivo dominante como consumidor, colocado nos termos mais gerais, é à busca de
informação sobre a cena cultural em constante mudança..., mas não se limita à busca
de informação; tem de haver a preocupação de controlá-la”. DOUGLAS &
ISHERWOOD (2004:149)
Utilizando-se da narrativa de Evans-Pritchard sobre o lugar do gado na vida dos Nuers
para ilustrar, os autores informam que é axiomático na antropologia que os bens são provedor de
subsistência, como também possuem a função de estabelecer as fronteiras das relações sociais.
Possuem a capacidade de dar sentido a um fluxo incompleto de acontecimentos. Enfatizam que
as mercadorias são utilizadas como forma de estabelecer distinção social de forma que o uso
utilitário e como mecanismo de obtenção do prazer é apenas umas das formas para que se dê o
consumo dos bens. À medida que o indivíduo ascende na escala social ele faz um uso maior das
mercadorias como elementos que possuem a capacidade de comunicar o pertencimento ao
extrato social. Da mesma forma que os bens são utilizados para cumprir prazerosamente as
obrigações sociais eles também são utilizados como mecanismos para distinguir grupos de
status, alto ou baixo. Em alguns lugares da sociedade ocidental quando os bens que são
inicialmente considerados de prestígio, que marcam o pertencimento a classes sociais mais
elevadas, vão sendo adquiridos pelas classes inferiores ocorrem uma busca simultânea de novos
elementos para promoverem a distinção social e se diferenciarem das classes inferiores. É a
ambigüidade entre pertencimento e exclusão por meio do consumo de produtos, bens ou
serviços. O objeto é uma dimensão material da cultura, parte visível da cultura, e promove por
meio de seus usos informações, acerca das práticas e das formas de consumo de diferentes
segmentos sociais, expressando identidades e formando habitus. Vale enfatizar que os autores
alertam que em algumas culturas ocorre a valorização do consumo, enquanto em outras há a
reprovação para prática do consumo, é eminentemente cultural, depende do contexto social.
O consumo para os mesmo autores é um sistema que realiza a troca e permite o controle
de informação. É uma área das relações sociais onde as trocas são exercidas em função das
vontades dos parceiros, com liberdade e sem coerções, de acordo com as percepções e
intenções. Informam que além do livre arbítrio dos indivíduos a lei e o comércio também são
reguladores do consumo. Defendem que é íntima a relação entre produção e consumo. Fazem
uso da disciplina antropologia para ter um embasamento que possibilitou descartar o caráter
utilitarista do consumo que não é suficiente para solucionar a questão. As mercadorias são as
formas de demarcar as relações sociais, não apenas objetos de desejo, mas como mediadores da
necessidade que o homem tem de relacionar-se com os outros. Possuem a capacidade de
integrar, excluir e classificar os indivíduos por meio das escolhas que realizam ao consumir.
O aspecto simbólico do consumo é privilegiado pelos autores em detrimento do aspecto
utilitarista pelo fato de as trocas serem constituídas, na essência, por conteúdos e informações,
elaborando significados, promovendo sociabilidade e são dotados de aspectos subjetivos.
DOUGLAS & ISHERWOOD (2004) afirmam que se faz necessário que a antropologia
aprofunde seus estudos sobre a teoria da demanda levando em consideração a dimensão social
das necessidades. A reciprocidade para os autores é encontrada quase que em uma escala
universal e por ser baseado em trocas por bens semelhantes dentro de um determinado
segmento, por ser uma necessidade de retribuição, é também uma forma de praticar a exclusão
social. Argumentam que é necessário dar um enfoque aos propósitos sociais dos usos dos bens
para identificar e compreender os padrões de consumo da sociedade industrial moderna.
No mesmo período o antropólogo/sociólogo francês Pierre Bourdieu publica a obra “La
Distincion” o que seria uma busca para abordar de forma inovadora o estudo das relações
sociais constituindo uma teoria do consumo. O autor disserta sobre como as práticas de
consumo possuem a habilidade de criar e estabelecer relações sociais entre indivíduos
pertencentes ao mesmo extrato social da mesma forma que são capazes de delimitar as
fronteiras de relações sociais criando e estabelecendo relações de dominação por parte das
classes dominantes, altas, e de submissão pelas classes populares. Para o autor o monopólio de
bens e práticas, a aquisição e o domínio de certos tipos de capitais como o escolar são
marcadores de distinção social.
O espaço social para o autor é constituído por diferentes posições que são os estilos de
vida que vem a ser o resultado do habitus, que vem a ser para o autor um:
“... sistema de disposições adquiridas pela aprendizagem implícita ou explícita que
funciona como um sistema de esquemas geradores... é aquilo que se adquiriu, mas
se encarnou no corpo de forma durável sob forma de disposições permanentes... se
refere a algo histórico, que é ligado à história individual,... é um produto dos
condicionamentos introduzindo neles uma transformação; é uma espécie de máquina
transformadora que faz com que nós “reproduzamos” as condições sociais de nossa
própria produção,... é gerador de práticas e de esquemas de percepção das práticas...
o habitus define a percepção da situação que o determina”. BOURDIEU(1983)
O autor trabalha com a noção do gosto, o bom o mau, e do estilo de vida como fatores
principais para estabelecer a hierarquia das classes sociais por serem possíveis de discernirem
semelhanças e diferenças entre os indivíduos compondo as classes sociais. As diferenças sociais
para o autor são possíveis de serem reveladas por meio de elementos que constituem os
aparelhos simlicos. Enfatiza a diferença existente entre os habitus entre as classes sociais.
Para o autor a classe operária está limitada a consumir bens que são considerados de primeiras
necessidades, não são investidores na aquisição de bens da moda optam, por exemplo, no
vestuário por modelos clássicos de corte reto para suprir a necessidade de vestimenta. os
grupos dominantes buscam a diferenciação por meio de consumo dos bens considerados
distintivos e à medida que se tornam acessíveis às classes inferiores são substituídos por outros.
A classe média, pequeno burguesa, usufrui o que o autor define como uma cultura
briquebraque, utiliza-se de bens que não estão mais no ápice da moda e possuem um
ecletismo de estilos que foram legitimados pela classe dominante. Possuem um capital cultural
autodidata de forma que valorizam as artes médias e produzem uma estilização da vida tendo
como referência pelas coisas boas da vida que são expressas pela classe dominante. O autor
busca explicitar como os aspectos simbólicos são desenvolvidos pelas classes sociais de forma
expressão uma distinção social resultante do gosto. A estilizão da vida se ao expressar
que o estilo de vida possui variações tanto mais esteja afastado do simples satisfação das
necessidades básicas. As preferências, os gostoso varveis em função da idade e dos
diversos capitais como os de origem, social, cultural, econômico e outros.
Os indivíduos pertencentes à classe dominante são capazes de usufruírem os objetos
pelo seu aspecto distintivo, pelo valor simbólico, sem estarem preocupados com as funções, sem
fins utilitaristas em contraposição a forma de relação utilitarista a que os indivíduos das classes
operárias, populares fazem das mercadorias. A forma de apreciação das artes é objeto de
analisado pelo autor para conhecer como os valores são atribuídos pelas diferentes classes
sociais. Mesmo preconizando rígidas diferenças entre as classes o autor admite a mobilidade
social dos agentes em função da sua capacidade para aquisição de capital cultural, social,
escolar e em função das suas práticas e relações sociais.
A tese apresentada pelo autor não dá conta para a analisarmos uma sociedade de
consumo como a sociedade brasileira por não aceitar uma relação de práticas, usos e costumes
comuns a todas as camadas sociais. O uso das mercadorias na sociedade brasileira e a produção
de bens culturais se dão também na forma que a referência do que é legítimo também se dá pela
influência que é exercida pelas classes populares e que são reproduzidas pelas classes
dominantes. Pensando na música brasileira, o samba é um bom exemplo para ilustrar essa
inversão na formação do gosto, não considerada por BOURDIEU(1979 e 1983) em seus ensaios,
e que é caracterizado pelo autor DA MATTA(1987) como um entrecruzamento que sociedade
brasileira possui entre as classes sociais que possibilita variações nas formas de classificação da
sociedade brasileira.
No livro A Ética Romântica e o Espírito do Consumismo Moderno”,
CAMPBELL(2001) critica a tese de Weber por não explicar o consumo. O autor defende que
não é possível explicar a produção sem considerar o consumo como o cerne da questão da
mesma forma que não é possível compreender o consumo sem levar em consideração a
produção. Elabora a sua teoria sobre o consumo e a sociedade de consumo assumindo não ser
possível fazer uma reflexão acerca do consumo como uma prática essencialmente utilitarista tal
como o mesmo é analisado pelos teóricos da ciência econômica. A teoria da utilidade marginal
das mercadorias não dá conta de explicar a origem tanto das necessidades quanto do gosto
muito menos para conhecer como se dá a alteração dos mesmos.
Para o autor a insaciabilidade do consumo é o que caracteriza a sociedade de consumo
moderna, por ocorrer uma insaciabilidade das necessidades e desejos. Essa insaciabilidade
surgiu ao se dar a passagem do que o autor denomina ser a forma de hedonismo tradicional para
a forma de hedonismo moderno, datada do século XVII para o século XVIII. A forma de
hedonismo tradicional é a que recria artificialmente o ciclo de satisfação e carência tendo seu
foco nos prazeres vivenciados, está no plano dos cinco sentidos. Já a passagem do plano das
sensações para o das emoções de forma que o prazer possa ser adquirido por meio de todo o
tipo de emoção a qual é submetido ao indivíduo para ser desfrutado é o que caracteriza o
hedonismo moderno. A forma de hedonismo moderno é quando os prazeres são obtidos por
meio de estímulos emocionais, pela imaginação do indivíduo, por meio da capacidade de
devanear.
O fenômeno da moda é para o autor a instituição mais relevante de todas do consumismo
moderno. Para explicar a busca e acompanhar esse fenômeno o autor baseia-se no suporte, na
importância e no caráter universal do devaneio para explicar que os indivíduos não
acompanham as tendências por serem manipulados ou induzidos ao consumo, nem mesmo para
estabelecerem uma obstinada diferenciação social, mas como uma tentativa de realizar a
concretização do devaneio, de saciar os desejos.
Segundo o autor, o gosto da sociedade se dava na forma de emulação social da
aristocracia, mas também era elaborado pelas inovações que foram inseridas pela classe média
tal como: a leitura de obras literárias oriundas do movimento romântico, os romances. A classe
média também promoveu a exaltação e a instauração do amor romântico como o legítimo para
se estabelecer laços matrimoniais que foram estimulados pelo romance. O movimento
romântico foi à mola propulsora, o elemento catalisador da forma de consumo moderna onde o
foco está na busca pela obtenção de prazer. O gosto para o autor:
“... como um conceito ético e estético é indispensável ao comportamento do
consumidor, tanto por facilitar a escolha como para assegurar a geração de novas
necessidades...” CAMPBELL(2001:222).
CAMPBELL(2001) defende que o espírito do consumismo se dá por uma motivação de
vivenciar, experimentar na vida real, as sensações que viveram no plano da imaginação. O
lugar que a emoção e o desejo ocupam na subjetividade do indivíduo moderno é superior à
satisfação das necessidades, que podem ser estabelecidas de forma objetiva enquanto o desejo se
dá de forma subjetiva. O individualismo possibilita ao indivíduo a optar livremente pela
aquisição de bens e serviços.
O autor chama a atenção para o fato da propaganda e da publicidade utilizarem
elementos românticos para captar a atenção do consumidor, que possui a capacidade de escolha
dos produtos sem que haja elementos coercitivos para o ato de consumir. Não considera, como
outros teóricos das ciências sociais, que a propaganda possua elementos maniqueístas, de
manipulação, que submetem o indivíduo à compra, à aquisição de produtos. Os produtos e
serviços oferecidos, na visão do autor, possibilitam ao indivíduo o auto-conhecimento por meio
das sensações que os produtos despertam e da possibilidade de interação com os mesmos. O
consumo para o autor possibilita alcançar a identidade, uma busca pelo significado. O consumo
não é uma perda de identidade, mas sim uma prática, um mecanismo que propicia ao indivíduo
moderno a identificação, a um pertencimento de forma que estabelece identidade.
Os autores CAMPBELL(2001), DOUGLAS & ISHERWOOD(2004) elaboram uma
crítica a obra de Weber, a Ética Romântica e o Espírito do Capitalismo, ao defenderem que
não é possível compreender o produção sem que haja uma investigação sobre o consumo. O
consumo e a produção não são considerados como pares de oposição, mas como elementos que
compõem um ciclo não sendo possível pensar apenas um sem analisar o outro, sem levar o outro
em consideração. Os mesmos autores também enfatizam que o racionalismo, o utilitarismo
econômico é insuficiente para compreender o consumo e a dinâmica social que é estabelecida
por ele na sociedade de consumo moderna, não é capaz de explicar a origem e nem a alteração
do gosto e da necessidade.
BOURDIEU(1979 e 1983), DOUGLAS & ISHERWOOD(2004) concordam que os
bens, as mercadorias constituem marcadores sociais, seus usos criam e determinam fronteiras
sociais, a sua posse os constituem de verdadeiros elementos de diferenciação social. Para os
autores as mercadorias além de estabelecerem uma comunicação, permitem que as práticas e as
estratégias de consumo sejam diferenciadas socialmente. Analisando a teoria de ambos
podemos perceber que a aquisição de produtos da moda e o descarte, ao ser disponibilizado
para as camadas populares baixa, seria o mecanismo de uma busca incessante para estabelecer a
diferenciação social. Já CAMPBELL(2001) não atribui ao fenômeno da moda como a busca
obstinada por diferenciação social, aquisição de status, mas como a forma de concretização dos
devaneios, de satisfação dos desejos.
As obras analisadas concordam que as escolhas dos indivíduos e conseqüentemente a
identidade dos mesmos são expressas por meio de variáveis tais como classe social, gosto, e
práticas. Todos buscam compreender o consumo sem estabelecerem valores morais que
condenam a sua prática tal como é realizado nas obras que possuem um bias produtivista”.
Enfatizam que o consumo não é a ausência do significado, mas sim um mecanismo que formam
habitus, criam identidades e estabelecem diferenciações.
Um maior conjunto de bens, mercadorias é comercializado no período de festas e para
pensarmos na importância das festas no espaço usamos o conceito de ritual das sociedades
complexas trabalhado por DA MATTA(1975:24) o qual é um importante mecanismo de
promover a identidade social do grupo formando o seu caráter. Retomamos esse autor aqui
devido a sua representatividade nos estudos de festas e rituais na sociedade brasileira e o mesmo
informa que:
“... a ideologia da festa que é a sua vivência e concepção como algo duradouro,
perene e constante como a própria sociedade brasileira... DA MATTA(1975:24).
Esclarece que em nossa sociedade há oscilações entre rotina e festas, trabalho e feriado,
chateações e despreocupações. Para o mesmo autor o ritual se torna um elemento importante
por ser o transmissor e reprodutor de valores, nos ritos encontramos um ponto focal, um centro
controlado por alguém do alto da hierarquia. O carnaval para o autor, embora seja um rito sem
dono, é possível identificar quem está mais próximo do foco da forma de expressão seja ela a
música, os desfiles de escolas de samba ou de blocos. O autor nos ensina que:
“... tudo pode ser colocado em ritualização porque tudo faz parte do mundo pode
ser personificado, colocado em foco e reificado. Menos que um problema de
substância, o rito nos coloca um problema de contrastes; daí a necessidade absoluta
de se estudar o mundo social tomando como ponte de partida... as relações entre os
seus momentos mais importantes: o mundo quotidiano e as festas, a rotina e o ritual,
a vida e o sonho, a personagem real e a paradigmática.” DA MATTA (1975:30).
O autor também considera como rito os momentos particulares elaborados pela
sociedade, que surgem a partir da sua égide de forma que é por ela programado e exerce o
controle do sistema social. O mesmo autor classifica o carnaval como um ritual nacional onde
toda a coletividade muda as suas atividades em função da festa. Tomo aqui o Reveillon de
Copacabana também como um ritual nacional em função da representatividade econômica,
cultural e simbólica tanto para os brasileiros como para estrangeiros, turista ou não. É nas
festas, nos rituais que as regiões morais de PARK(1967) se misturam e ao mesmo tempo que se
segregam em uma nova configuração, pois existe a tomada de diferentes grupos que
freqüentam diferentes espaços da praia na área de concentração do evento que se divide em
uma segregação sócio espacial entre convidados VIP e não VIP, pessoas do povo, anônimos da
mídia.
Finalizando a discussão em torno da teoria que deu base a reflexão, buscando o conceito
de meeting point de DI NALLO(1999), pois, segundo a autora, é possível ilustrar o consumo
como se fossem “bolhas” ou “esferas”, que expressam estilos de consumo de caráter transitório
e vulnerável, não estando ligado ao estilo de vida. Ao consumidor é possível transitar por essas
esferas que são diferentes entre si. E aos produtos, serviços é possível pertencer a mais que uma
bolha. Os pontos de contato de consumidores, bens, serviços e de fluxos comunicativos são
denominados meeting points. O que está disposto para ser consumido, usufruído, pode, durar
mais tempo do que o período de interesse do seu consumidor, e dessa forma podem vir a
interessar a novos consumidores, sendo possível resgatar o interesse dos primeiros
consumidores por meio de ações que resgatem o seu valor inicial, a sua imagem inicial. Essa
transferência de nível, tipo e modelo de consumidor não impede que os anteriores, depois de um
certo tempo, voltem a se interessar e se corresponder à cultura, pois eles retornam ao meeting
point. DI NALLO(1999) propõe um método de investigação do meeting point que não foi
adotado nesse trabalho.
A metodologia utilizada, em um primeiro momento, foi à observação participante do
espaço da orla de Copacabana para fazer um mapeamento de como os grupos se organizavam
no espaço, em dias comuns e em festas. Para GODELIER(1993) sendo a antropologia uma
“atividade do conhecimento” é fundamentalmente constituída pelo método da:
“observação participante, ou seja da imersão prolongada de um observador...em um
meio observado... uma atividade de conhecimento que se mostrou necessária e útil
cada vez que o Ocidente quis saber mais um pouco acerca do funcionamento de
outras sociedades ou sobre aspectos de si mesmo. “ GODELIER(1993:6,7)
No caso de Copacabana foram aproveitadas as experiências de pesquisas anteriores no
local. A presença no local se deu nos períodos de alta e baixa temporada, bem como nos dias
de semana, feriados e finais de semana e nos eventos em geral.
Paralelamente, à observação participante, foram feitas pesquisas nos acervos de
material impresso e iconográfico da cidade do Rio de Janeiro, para reconhecer como o espaço
da orla foi representado pela mídia de massa ao longo dos anos e fazer uma análise comparativa
com a narrativa dos informantes em entrevistas formais e informais. Foi dada a prioridade às
fotorreportagens sobre a Praia de Copacabana e seus usos pela Revista O Cruzeiro, para
fazermos um apanhado histórico para o reconhecimento dos mecanismos que propiciaram a
construção do espaço como uma área de lazer e consumo. Para viabilizar a busca, demos
prioridade aos microfilmes da Biblioteca Nacional e aos periódicos catalogados como
Copacabana e Praia de Copacabana do Arquivo público da Cidade do Rio de Janeiro. Foram
consultadas também as imagens de Copacabana do fotógrafo da Prefeitura Augusto Malta, do
arquivo do Museu da Imagem e do Som com objetivo de conhecer melhor o ambiente que não
foi publicado pelas revistas ilustradas. Para pensar a imagem da praia de hoje foram utilizadas as
reportagens dos Jornais: O Globo e Jornal do Brasil, dois veículos representativos da cidade. O
discurso desses jornais também foi analisado de forma a contribuir para uma reflexão sobre o
espaço.
A fotografia também será utilizada como suporte metodológico, assegurando fidelidade
ao observado, depurando informações que sejam representativas do cotidiano do campo
empírico de observação. As imagens a serem apreendidas e as captadas anteriormente foram
utilizadas em uma primeira pesquisa no local, que deu origem um Trabalho de Conclusão de
Curso de Pós-Graduação em Fotografia como instrumento de pesquisa nas Ciências Sociais, em
entrevistas objetivando interagir com os informantes para a discussão da problemática proposta,
como também foram utilizadas para pensar a ocupação dos diferentes grupos no espaço.
De acordo com GURAN(2.000:160), o registro fotográfico em uma dimensão
documental auxilia no resgate de fatos e acontecimentos a serem discutidos com os informantes,
como também, detalhar situações complexas e de ações rápidas. As entrevistas abertas, com o
uso da fotografia foram realizadas com pescadores, comerciantes fixos, ambulantes, habitues e
esportistas, com um caráter de interlocução que para OLIVEIRA(1998):
ao trocarem idéias e informações entre si, etnólogo e nativo, ambos igualmente
guindador a interlocutores, abrem-se a um diálogo em tudo e por tudo superior,
metodologicamente falando, à antiga relação pesquisador/informante. O ouvir
ganha em qualidade e altera uma relação, a qual entrada de mão dupla, portanto,
uma verdadeira interação” (OLIVEIRA, 1998, p.24)
As cópias das fotografias foram feitas em máquinas automáticas, tipo “minilabs” o que
garante um menor custo para a produção do material e a fidelidade da imagem captada por
meio do negativo, uma vez que a máquina utilizada ainda não é a digital.
A internet também foi um outro meio de busca de dados e informação. Os sites de
empresas de turismos, hotéis, veículos de comunicação foram constantemente consultados nas
madrugadas para sabermos as notícias do local. Devido à impossibilidade de uma imersão
prolongada no local a internet foi um bom instrumento de coleta de dados nos sites já
mencionados anteriormente como também em sites de relacionamento como o Orkut, e de
vídeo amadores e profissionais como o Youtub. Diferentes blogs, sites e portais foram
consultados, dentre eles foram: Copacabanatoledo, Jornalista, G1, Jornal do Brasil, Estado de
São Paulo, Folha de São Paulo, Copacabana.com, entre outros...A utilização desse meio de
informação propiciou o conhecimento de como a Praia é percebida hoje por formadores de
opinião e pessoas comuns que divulgam suas impressões e conhecimentos nesses espaços que
não estão livres de barreiras, como a necessidade de pertencimento para ter acesso à rede, ser
convidado ou cadastrado, também são recheados de barreiras simbólicas e de idioma, acessível
ainda apenas para uma elite privilegiada que possui acesso a microcomputador, laptop e ao
sistema de comunicação por cabo, rádio ou telefone.
Capítulo II
A Praia de Copacabana de ontem:
Imagens em verso e prosa.
Existem praias tão lindas/Cheias de luz/Nenhuma tem o
encanto/ Que tu possuis/Tuas areias/Teu céu tão lindo/Tuas
sereias/Sempre sorrindo/Copacabana princesinha do
mar/Pelas manhãs tu és da vida a cantar/E à tardinha o sol
poente/Deixa sempre uma saudade na gente/Copacabana o
mar eterno cantor/Ao te beijar fico perdido de amor/E hoje
vivo a murmurar/Só a ti Copacabana eu hei de amar
(Copacabana Princesinha do mar Alberto Ribeiro
Braguinha)
O Rio de Janeiro possui sua identidade de “Cidade Maravilhosa a qual, a Copacabana
A Princesinha do Mar” está intimamente relacionada, sendo um dos principais cartões postais
do País. O Bairro de Copacabana com sua praia possui grande representatividade no cenário
carioca. Falar dos usos da fotografia na primeira metade do século XX, tendo como recorte à
praia de Copacabana, tornou-se um grande desafio. Inúmeros são os fotógrafos amadores e
profissionais que com suas lentes registraram os hábitos, o cotidiano, as mazelas e o glamour
das calçadas, das areias e os hotéis de uma das praias mais famosas do mundo. O campo é tão
abrangente que requer um esforço sistemático de recolhimento de material bem como de uma
análise do mesmo, capaz de constituir variado corpis, com uma variedade de temas, sobre
diferentes ângulos. Neste presente Capítulo vou me ater a uma análise de como a imagem da
Praia de Copacabana foi socialmente construída pelas lentes dos fotógrafos da revista O
Cruzeiro no período final da década de 20, mais precisamente de 28 - até os anos 60.
Com o intuito de obter uma unidade para a análise dos registros do período proposto
foram selecionadas imagens publicadas na revista O Cruzeiro e disponíveis para consulta no
Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro e na Biblioteca Nacional. Para dar suporte as
imagens encontradas nos arquivos foram selecionadas algumas reportagens da mesma revista
proposta que contextualizam o objeto no período e embasam a proposta de cada profissional ao
fotografar a praia de Copacabana.
2.1 Precursores de um projeto turístico:
O projeto de vender o Brasil fora, iniciado ainda no período Monárquico, é
encampado por Dom Pedro II, que promoveu incentivos aos álbuns ilustrados de viajantes,
fotógrafos alemães, estava dando certo. O Rio de janeiro que viria a ser Capital Federal na
República tornava-se o também o centro cultural do país. A cidade encontrava-se infestada de
epidemias. O crescimento urbano ocasionou a aglomeração de habitações, gerando um ambiente
insalubre. O avanço da cidade para as regiões litorâneas permitiu que a mesma fosse
conquistando mais tarde o status de um balneário moderno em meio urbano.
A formação dos novos bairros, ao longo da orla, foi possibilitada por meio de reformas
urbanas nas áreas de difícil acesso, como foi o caso do bairro de Copacabana. Para ligar a
cidade às praias longínquas de Copacabana e do Leme foi aberto, em 1892, o túnel denominado
Real Grandeza, que ligava o bairro aristocrático de Botafogo ao de Copacabana, por meio da
Companhia Jardim Botânico de Bondes. Hoje o túnel é conhecido como túnel Velho.
O bairro de Copacabana era um ambiente livre dos males da cidade, inclusive o mau
cheiro, por ser pouco habitado, ocupado apenas por pescadores e algumas chácaras. De acordo
com o jornalista Ricardo Boechat
1
, a propaganda realizada pela companhia de bondes em seus
bilhetes, por meio de versos, visava estimular incursões ao bairro exaltando a brisa fresca do
oceano, o clima ameno, devido à vegetação e principalmente a salubridade do local. As
qualidades citadas faziam com que o bairro fosse considerado um paraíso em meio a uma
cidade infectada de epidemias. Um ambiente salutar, de lazer, especialmente para a prática de
pic-nics”, onde a vocação para um ambiente propiciador a paquera já era estimulada nos
1
Jornalista Ricardo Boechat é considerado aqui como um informante qualificado por ter realizado um
relevante trabalho de publicação do livro “Copacabana Palace - um hotel e sua história” com uma abrangente
quantidade de dados relevantes sobre o hotel, o ambiente, as atividades políticas e culturais do local.
BOECHAT, Ricardo . Copacabana Palace - um hotel e sua história. São Paulo, 1998. 190p.
verbetes impressos nos bilhetes da companhia de bondes.
A mesma companhia para conseguir atrair público para as praias então longínquas de
Copacabana e ter retorno do seu alto investimento no local utilizou-se da propaganda que no
período era em sua grande maioria composta por versos que abordava diversos aspectos dessa
Praia ainda longínqua que nas palavras de Jornalista Boechat eram quase mágicos” para se
estimular a:
Promão de saúde:
“Pedem vossos pulmões ar salitrado?
Correi antes que a phtissica vos algeme
Dexai do Rio o Centro infeccionado,
Tomae um bond que vai dar ao Leme”
O lugar para contemplação:
Teve em Copcabana a natureza,
Ao fazê-la , tais mimos, tais riqueza,
Que nada nos deixou a desejar
Entediados, deixae teatros e ceias,
Ide fitar-lhes as rochas e as areias
E ouvir o Oceano em noites de Luar!”
Ambiente de lazer:
Graciosas Senhoritas, moças Chics,
Fugi das Ruas, da Poeira Insana,
Não há logares para Pic-nics,
Como em Copacabana!”
Espo para conquistas:
“Elegante moçaime de alto amor!
Dandys de fina luva e bom havana!
Para um “flirt” não há melhor
Do que em Copacabana”
Tudo isso para gerar tráfego nos bondes e compensar o alto investimento para a
realizão do empreendimento que contou com a reprovação de metade do corpo de investidores
devido à distância que o bairro tinha do centro da cidade. Observe que os diferentes tipos de
versos evidenciam um ambiente voltado para atrair indivíduos com diferentes anseios, mas
que fossem potenciais clientes para a empresa atraídos por um ambiente diferente do cotidiano
percebido no centro da cidade.
As obras, para a abertura do túnel do Leme, acesso que se dava também pelo bairro de
Botafogo, e a construção da Avenida Atlântica, foram realizadas na gestão do prefeito Pereira
Passos, contribuíram muito para o crescimento do bairro de Copacabana, que anteriormente era
ocupado apenas por pescadores e algumas chácaras. Parte de um projeto urbanístico que visava
impor um estilo moderno, salubre e sofisticado à cidade. Com base nos relatos de VELHO
(1973:21-27), o crescimento do bairro, após a abertura do segundo túnel, foi muito rápido. Em
1920 a população era de apenas 17.832 habitantes, já em 1940 pulou para 74.133. No início da
década de 60 esse número aumentou para 163.986 apresentando um crescimento de mais ou
menos 1.500%. De acordo com o IBGE, Hoje o bairro possui uma média de 161.178 habitantes
no asfalto e contando com as favelas que o cercam esse número chega a ser superior a 400.000.
A orla de Copacabana recebeu muitas reformas urbanas desde a construção da Avenida
Atlântica em 1906. Muitas foram às ressacas que destruíram em parte o calçamento do local. No
ano de 1919 a pista foi duplicada e foi instalada iluminação no canteiro central. Em 1920, a orla
teve que ser novamente reconstruída devido a uma forte ressaca. Muitos foram os reparos e
aterros realizados na orla de Copacabana. De acordo com informante em meio a um projeto de
deslocamento da Capital para Brasília o então presidente em exercício Juscelino Kubitschek de
Oliveira acompanhou pessoalmente as obras no calçamento depois de uma grande ressaca que
destruiu o calçadão, tamanha era a importância do bairro para os interesses políticos de vender
uma imagem de desenvolvimento do país.
De acordo com informante as reforma do calçadão devido a uma forte ressaca foi tão
importante no Governo de Juscelino que o mesmo acompanhou as obras pessoalmente e foi
quando uma informante teve a oportunidade de apertar a mão do presidente, o que faz com
quem a mesma, hoje com 84 anos e fora emigrante no bairro nos anos 40, sinta grande emoção
ao lembrar do fato. Em artigo publicado na revistaO Cruzeiro”, em 13 de novembro de 1969,
foi anunciada a grande obra que afirmava:
“Dentro de dois anos o bairro mais famoso do Rio estará remoçado”
(O Cruzeiro, 13/11/69: 98-101)
A obra, que foi concluída no início da década de 70, constou de um alargamento da
avenida, demarcação de área com capacidade para estacionar três mil veículos, centro de
recreação, alargamento das calçadas e manutenção da faixa de areia. Desde então, novas
reformas no calçadão foram implantadas, compondo-o com um mobiliário urbano como os
quiosques, bicicletários, cuca fresca e outros, como podemos observar nos dias de hoje.
O jornalista Ricardo Boechat informa, ainda, que o bairro no seu início foi sendo
ocupado por uma elite contendo governantes e políticos, o que viria a ser um facilitador para
abrir, em 1906, uma segunda área de acesso ao bairro: o túnel do Leme. Informa sobre a
paisagem exuberante do bairro, que, junto às qualidades de um ambiente saudável e de lazer,
deu ânimo aos cariocas, sendo tema de um samba intitulado “Cidade Maravilhosa”:
“Sintetizando um sentimento geral, um sucesso de carnaval de 1904 proclamava o
Rio de Janeiro a “Cidade Maravilhosa”, Onde então aportavam os primeiros vapores
que traziam turistas Europeus” (Ricardo Boechat – Copacabana Palace.)
O samba seria a fonte de inspiração para o compositor André Filho, em 1934, para a
marcha carnavalesca “Cidade Maravilhosa cantada pela jovem Aurora Miranda, irmã de
Carmem Miranda, gravada originalmente pela companhia Odeon. A atriz Carmem Miranda
objetivava lançar a irmã mais nova no campo artístico, especialmente no meio radiofônico,
vendo na canção uma boa oportunidade.
O Dicionário Universal de Curiosidades, publicado em 1966, informa que a marcha foi
lançada na “Festa da Mocidade” em 1934, mas só virou sucesso ao ganhar o prêmio de segunda
colocada no concurso promovido pela prefeitura da cidade, tornando-se o “Hino Oficial do
Estado da Guanabara”, em 1935. A marcha é até os dias de hoje tocada, ritualisticamente, nos
encerramentos de festejos de carnaval no Rio de Janeiro e pelas bandas, blocos carnavalescos
que se deslocam pela cidade no período do Carnaval. O mesmo dicionário informa uma
segunda versão sobre a fonte de inspiração para a composição da marcha carnavalesca. Em
1908, o escritor Coelho Neto, em artigo publicado no jornal A Notícia”, enaltecia a cidade, a
beleza dos seus contornos, o encontro da montanha com o mar de forma que na construção do
seu texto a intitulou como a “Cidade Maravilhosa”. O artigo citado viria a ser fonte inspiradora
do compositor André Filho. A canção como a principal responsável, pelo título de Cidade
Maravilhosa” para a cidade do Rio de Janeiro. O título foi apropriado por moradores,
formadores de opinião e turistas ao longo dos anos. Foi utilizado como uma espécie de
sobrenome, um slogan, para enaltecer as qualidades da cidade e como elemento propagador da
mesma no mercado turístico local e internacional. Nas palavras do historiador
BARRICKMAN(2006):
Além do mais, talvez não haja outra metrópole no mundo tão associada à praia e à
prática de freqüentar a praia como o Rio.” BARRICKMAN(2006).
O autor mencionado considera o Rio de Janeiro como o lugar das praias onde de forma
recíproca a praia exerce influência na cidade e em seu modus operanti e a cidade exerce
influência na praia. A Praia é dotada de uma paisagem que foi construída como bela na tradição
ocidental por conjugar o mar e a montanha, tendo o paredão de prédios como o símbolo de uma
ambiente civilizado. Mas para divulgar essa praia um outro elemento foi incorporado para que
ganhasse um destaque no cenário internacional, esse elemento foi à mulher, uma expressão de
beleza e sensualidade, com um toque de romantismo e liberdade em diferentes momentos e
meios.
2.2 Imagem e imaginário na imprensa ilustrada
No início da década de trinta a mídia passou a exibir imagens do Rio de Janeiro como
um ambiente tropical onde a juventude do país era conjugada com a beleza, alegria e
sensualidade. FARIAS(2001:195) menciona artigo da revista O Cruzeiro de 1 de Agosto de
1931, onde uma bela mulher está bem vestida e deliciando-se entre árvores incluindo palmeiras
cujo título é “Rio: Cidade de Turismo” para o autor o texto defendia a vocação da Capital para a
atividade turística e evocando o potencial de Copacabana para exercer a atração turística
quando fala ao final do texto jornalístico indaga: “O que se espera para fazer de Copacabana o
bairro de prazer e luxo da América do Sul?” O projeto de construção de uma Copacabana
voltada para a atração do que vem de fora, como um ambiente propiciador de prazer já estava
em andamento pela elite intelectual do país, governo e iniciativa privada.
Em artigo na revista ilustrada O Cruzeiro” em 21 de Novembro de 1936 a Praia de
Copacabana é exaltada como a síntese da Cidade Maravilhosa:
Copacabana é um synonimo de deslumbramento. A primeira impressão daquelle
que depara pela primeira vez , depois de sair dos túnneis que a defendem , é
interjectiva . Maravilha da Cidade Maravilhosa , Copacabana é também uma praia
civilizada , com sua orla de grandes edifícios que não a enfeiam, e pelo contrário ,
aumentam sua grandiosidade incomparável” (O Cruzeiro, 21/11/1936)
O título de “Cidade Maravilhosa” foi sendo apropriado por jornalistas, intelectuais e
obras de divulgação da cidade como a publicação “Cidade Maravilhosa - Rio de Janeiro e seus
arredores” da Livraria Editora Kosmos, de data aproximada de 1948 a 1950, a qual foi parte de
uma coletânea de divulgação das principais capitais brasileiras. A publicação referente ao Rio
de Janeiro é ilustrada com 128 imagens, além da imagem da capa, tendo texto principal em
português com versão em três idiomas: inglês, francês e alemão. Na capa o cenário é o
deslumbrante encontro do mar com a cidade, é a praia de Copacabana vista do posto seis,
colônia de pescadores, com as amendoeiras e as suas sombras, a rede de pesca. O barco de
pesca, em primeiro plano, tem como fundo a muralha de prédios em meio ao azul do mar, com a
sua extensa faixa de areia e a cadeia de montanhas, algo bem parecido como é focada a curva de
Copacabana até os dias de hoje em informes turísticos e até mesmo nos cartões postais já
preparados para os jogos Pan- Americanos de 2007. Desde então sintetiza um balneário em
meio urbano. A publicação da Kosmos divulga a praia com um total de nove imagens
conjugando a tradição com a modernidade. O cosmopolitismo, o banho de sol, as mulheres, a
paisagem, a pesca artesanal, o mosaico de pedras portuguesas da calçada, são retratados dando
uma importante dimensão a Praia de Copacabana frente aos demais pontos turísticos da cidade.
O referido catálogo já promove um certo deslocamento da propagação da cidade, tomando como
centralidade as áreas do Centro do Rio de Janeiro para os bairros litorâneos como Copacabana e
Ipanema.
De acordo com VELHO(1973:21-27) desde a década de 20 o bairro abrigava 1,5 da
população carioca e em 1930 já existia a presença de favela. O bairro abrigava edifícios
conhecidos como “Cabeça de Porco”, com apartamentos conjugados. Os moradores mais ricos
situavam - se próximo à orla, nas mediações das Avenidas Nossa Senhora de Copacabana e
Barata Ribeiro.
O caráter revolucionário de Copacabana já ganhara notícia nos maiores periódicos do
mundo devido ao conhecido movimento dos 18 do Forte, em 1922, no qual oficiais do exército
não se renderam às tropas que os cercavam em Copacabana. Essa espécie de.“ investida
suicida”(ENDERS:2004,234), que deixou vivos apenas dois rebeldes da fuzilaria, ensangüentou
a praia que viria mais tarde ser um referencial turístico da cidade. A praia já no período ganhava
destaque como um ambiente que era o reverso da rotina de uma cidade que se pretendia ser
turística e que galgava espaço no cenário Internacional como uma estação balneária como nos
informa FARIAS(2001). Pesquisando imagem no acervo digital do Grupo Time & Life tive
acesso a textos de reportagens do fato acontecido na bela praia brasileira que movimentava o
cenário político do país.
Um dos ilustres moradores de Copacabana foi um dos maiores proprietários de maior
número de veículos de comunicação do país, que nas palavras de Renato Sérgio era “o Roberto
Marinho do período”, proprietário da maior conglomerado de meio impresso do país, era o
Assis Chateaubriand já no livro de Danusa Leão, ela informa que:
“Chatô, como o chamávamos não dava a menor bola para nenhuma de nós, nem
para as mais bonitas ele tinha uma paixão, conhecida por todo mundo. Era Aimée
Sotto Mayor, mulher linda e cheia de charme que se casou com um americano
riquíssimo e ainda hoje vive em Nova York...Além dela interessava a Chatô os
ricos e poderosos. Se alguém quisesse encontrá-lo , bastava procurar aonde eles
estavam. Ele não perdia um minuto dos eu tempo com quem não tinha poder.”
DANAUSA (2004:29)
Um outro livro importante para essa pesquisa foi o Chatô de Fernando Moraes que
devido a sua expertise na biografia do ambicioso e ansioso por poder, podemos tomar como
fonte segura de informação. O que nos interessa é que Assis Chateaubriand, um articulista e
lobista do período que mantinha relacionamento com políticos e empresários. Nos anos de 1927
foi morar em Copacabana, sendo que essa já era a sua praia favorita, para seus banhos desde a
compra de seu automóvel. O seu lugar de moradia com a esposa e filho era bem em frente a
praia, em uma ampla casa, que para os seus adversários tinha cheiro de hipoteca devido as
constantes dívidas que este empresário adquiria para a construção do seu império da
comunicação. Copacabana era o lugar favorito desse empresário e lobista o que facilitou e muito
a sua divulgação em seus periódicos.
CASTRO(1999) destaca que a construção do Hotel Copacabana Palace, em 1923, foi um
marco para o turismo brasileiro bem como a criação da Sociedade Brasileira de Turismo (hoje
Touring Club do Brasil, que data de 1928). O reconhecimento turístico de um ambiente se dá
pela construção cultural a qual se faz possível por meio a um:
“sistema integrado de significado através dos quais a realidade turística de um lugar
é estabelecida, mantida e negociada ... A experiência turística muda,
acompanhando, em linhas gerais, mudanças urbanísticas e culturais da cidade...As
narrativas e imagens associadas ao turismo são, portanto, uma importante via de
acesso à história e à geografia culturais de uma cidade.” CASTRO (1999)
O Hotel Copacabana Palace se encaixa no conceito de edifício personagem de ARGAN
1992:114 que para a autora GASTAL (2006:134) é aquele que ao mesmo tempo é expressivo, de
forma que vem a ser carregado de significantes por ser histórico e ideais. A importância do
Copacabana Palace unida à Rádio Nacional foi importante para a construção de uma imagem de
um ambiente glamouroso para Copacabana do período. Era no movimentado Golden Room que
era transmitido ao vivo noite de músicas românticas, sucessos nacionais e internacionais. A
música orquestrada e na voz do locutor anunciava “direto do Golden Room do Copacabana
Palace” com transmissão em rede nacional pela então emblemática Rádio Nacional.
No período a cidade passava por transtornos urbanos Danusa Leão
2
em seu Livro de
memórias que foi moradora do bairro e que circulou pelas rodas da sociedade carioca conta que
no período faltava luz com hora marcada além da falta de água:
Nessa época faltava luz no Rio, com hora marcada. Quem morava em prédio ficava
pela rua, esperando voltar a energia. Faltava também água vivíamos com a
2
Danusa Leão foi uma ilustre moradora no bairro, também emigrante filha de médico, circulou pela sociedade
carioca, morou com o colunista Antônio Maria e foi tomada aqui também como informante qualificada por
ter vivenciado o período e imortalizado em seu livro de memórias alguns aspectos relevantes do bairro no
período.
banheira, panelas e baldes cheios – e, nas poucas horas em que havia água, abríamos
a torneira, molhávamos a escova de dente, fechávamos a torneira, escovávamos os
dentes e depois abríamos de novo a torneira para enxaguar a boca DANUSA
(2004:29)
A expansão da cidade e a urbanização era uma necessidade crescente que veio ser
atendida em função da camada privilegia de moradores que pertenciam à elite intelectual e
política da então ainda capital federal. De acordo com os informantes mais velhos o bairro
abrigava os mais ilustres jornalistas, políticos, militares de alta patente e industriais. Por abrigar
esses ilustres moradores ganhou força para que as necessidades de saneamento, iluminação e
reconstrução do espaço tivessem os olhares das autoridades competentes voltados para atendê-
los, pois era parte das necessidades dessa elite que o bairro abrigava.
Como era a expressão de uma ambiente que abrigava uma elite, que pretendia ser
luxuoso e moderno em meio a uma necessidade criação de uma identidade nacional, um ethos
de brasilidade unido a condição de civilidade é que esse ambiente encontra a sua aptidão para
ser elaborado e divulgado pela mesma elite que pretendia habitá-lo.
As fotografias de O Cruzeiro utilizadas nesse trabalho, em um primeiro momento,
podem ser consideradas de natureza emique, que de acordo com GURAM(2000), por ser a
fotografia produzida e assumida pela comunidade, representativa do grupo podendo ser
expressa como sua identidade social. Sendo a expressão da identidade social essas imagens são
uma via de mão dupla o mesmo tempo produzem e reproduzem significados que vão construir
socialmente a imagem do local.
Para Carlos Alberto Messeder Pereira, em prefácio a PEREGRINO(1991), a revista O
Cruzeiro, foi um importante instrumento voltado para consolidar uma imagem de um Brasil
“moderno”, com a sua primeira publicação em 1928 proporcionou a inserção do uso freqüente
de imagens que foram sendo encadeadas em séries de forma que a fotografia foi incorporada
como elemento narrativo. Essa incorporação das imagens na narrativa proporcionou aleitura”
por um público iletrado, aumentando a penetração da revista na sociedade brasileira.
O primeiro número da O Cruzeiro datou de 10 de Novembro de 1928, PREGRINO
(1991) informa que contou com uma forte propaganda e com uma logística sem precedentes
para o período. Foram arremessados papéis com a seguinte mensagem “Compre amanhã O
Cruzeiro, a revista contemporânea dos arranha-céus” e no dia seguinte a esta promoção
realizada no centro do Rio de Janeiro com papéis voando do alto dos prédios a revista estava
presente em todas as bancas.
A revista teve um crescimento extraordinário para o período de forma que começou a ser
comercializada fora do País, em um espanhol interamericano, com uma tiragem de 300.000
exemplares, que somados a tiragem nacional alcança um total de 1.000.000 de exemplares. A
mesma autora nos informa que a revista transformava matérias pagas em jornalismo verdadeiro
e sério. PEREGRINO(1991:48) nos informa que:
“Em O Cruzeiro a busca do acontecimento reproduzido pelas imagens nas diversas
reportagens enfatiza frequentemente o ineditismo e a novidade, com o uso de
formas verbais adjetivadas que valorizam a fotografia...O apelo ao novo, ao
incomum e ao original enfatiza a novidade ao oferecer para o leitor acontecimentos
comuns de forma surpreendente. O novo sustenta também a qualidade do ser
diferente e inscreve-se com naturalidade na manifestação de um fato único, distinto
de todos os outros.” PEREGRINO(1991:48-49)
As fotorreportagens da O Cruzeiro tinham qualidade técnica que lhes conferiram o
caráter de um testemunho fidedigno, transparente, representativo do real. Sua base era a do
instante decisivo, do flagrante
3
, capaz de construir por meio da imagem apreendida e divulgada
para o leitor uma imagem que se tem de alguma coisa, pessoa, ou lugar. O seu caráter de
realidade confere legitimidade ao fotografado de forma que consegue transformar opiniões
sobre um determinado tema. O texto era elaborado em função das imagens captadas, a
fotografia era a matéria-prima para a composição da matéria.
A Equipe da Revista era composta por fotógrafos que, a partir de 1946, buscavam
imagem sob diferentes ângulos e os repórteres estimulados a desenvolver um texto próprio. A
busca pelo avanço no editorial da revista se dava em função da concorrência estrangeira e da
cobrança feita pelo exigente Assis Chateaubriand e pela figura do redator chefe Antonio
Acciolly Neto;
Jean Manson e Cartier-Bresson, tinham estilo de fotografar espontâneo, sem
truques. Foi à escola de Cartier-Bresson, a da imagem captada sem a interferência
do fotógrafo, que empolgou fotógrafos como Luciano Carneiro , Flávio Damm, José
Medeiros e Luiz Carlos Barreto. Mas havia aqueles que adotavam a linha de Jean
Manson, como ED Keffel e Indalécio Wanderley. Eles gostavam de elaborar a
fotografia artificialmente . Evidentemente existiam os que se destacaram, que eram
chamados de “esquadrão de ouro” e fotografavam com Leica: José Medeiros
(mestre de todos), Luciano Carneiro, Flávio Damm, George Torok, Henri Ballott,
Eugênio Silva e eu
4
Anteriormente a equipe da revista era composta também por Elias Nasser o qual era
considerado um fotógrafo hábil para todo o tipo de serviço. Já o Walter Luiz denominado por
seus colegas de “o fantasminha era um tipo esbelto, sendo reconhecido como um competente e
corajoso fotógrafo que trabalhou ao lado de Rubens Américo, que além de ser leal ao editorial
3
De acordo com PEREGRINO(1991:56) a noção do instante decisivo e do flagrante foram as bases da criação do foto jornalismo.
4
Luiz Carlos Barreto - em entrevista para “Os Cadernos da Comunicação” no ano de 2002.
possuía um o espírito audacioso, sendo o predileto das mulheres de forma que o objeto a ser
fotografado era, e muitas vezes, amado. Também tendo foco nas mulheres o então Geraldo
Viola possuía um estilo tal como os britânicos, sendo um destemido cavalheiro de porte, um
fotógrafo com um estilo próprio contradizendo o estereotipo que a atividade conferia frente a
seus pares, era o fotógrafo do cotidiano das praias cariocas.
Grande número das capas da revista eram de atrizes do cinema como Marilyn Monroe,
Ava Gardaner, Rhonda Hepburn e de acordo com PEREGRINO(1991:68) as fotografias dessas
atrizes vinham de fora, eram imagens captados por profissionais dos estúdios de Hollywood. A
mulher da capa segundo a autora vinha descontextualizada do conteúdo da reportagem como
um elemento decorativo. Se formos analisar a função do feminino nessas capas temos a
informação de que a mulher para o período era a expressão do ser feminino, de um glamour de
forma que as mulheres leitoras vislumbravam ser como elas e os homens leitores eram atraídos
por elas.
A combinação da alegria com a elegância era expressa pelo modo de vida
copacabanense registrado pela revista. Um padrão de comportamento para quem era e de quem
não era do lugar, de locais e de turistas que conviviam no espaço com as crises, salvo nos casos
de violência urbana que intensifica com o passar dos anos.
BARRICKMAM(2006) em seu ensaio sobre o banho de mar dá ênfase a grande
extensão de areia que a praia de Copacabana possuía nos anos 20 em comparação com as praias
do centro. Ele também menciona ainda na década de 20 a ocupação da praia de Ipanema,
entretanto pouco se falava da mesma praia na imprensa ilustrada, especialmente no caso da
revista O Cruzeiro. Por todo o texto nos é informado a grandeza da Praia de Copacabana e a sua
vocação para receber atividades nas areias, informando-nos sobre a origem das mais diversas
formas de uso da mesma.
A juventude do local estava associada ao saudável lazer da praia por meio das atividades
esportivas, o banho de sol como também a existência de turmas rivais que desde o início dos
anos 40 eram também relacionadas à boemia, festas, futebol e paquera. Já na década de 50 com
a difusão das artes marciais tal como o jiu jitsu” a praia foi palco de rivalidade e eventuais
conflitos entre as turmas.
No período de 30 a 45, no Governo Vargas toda a concentração da produção cultural
brasileira foi concentrada na então Capital Federal, no Rio de Janeiro. Para os visitantes dos
anos 40 e 50, ficavam hospedados no hotel mais tradicional do espaço, o Copacabana Palace,
com “hóspedes ilustres” e suas opções de lazer tornou –se o ambiente do cenário carioca com
a maior concentração de opções de lazer, sendo constantemente objeto presente na mídia. O
autor Silvio Romero já em sua época argumentava que a cultura brasileira é uma mestiçagem
definida pela mistura, sendo os habitantes das cidades litorâneas avessos às práticas comuns,
tendendo aos esportes e não são dado ao trabalho. O hotel agrupava ordens de rapazes e moças
bem nascidos” que praticavam esportes e toda a gama de lazer proporcionada pelo hotel à elite
brasileira e internacional.
A construção do Copacabana Palace foi parte de um projeto de Epitácio Pessoa que
visava modernizar o Brasil, considerado um progressista contou com o apoio de Octávio
Guinle e o Barão de Savaedra para a realização do empreendimento. De acordo com o Jornalista
Ricardo Boechat, o hotel inaugurou a tradição de fachadas voltadas para o mar propiciando a
valorização das áreas litorâneas. Ter hábitos ditos como saudáveis tal como a prática de esporte,
a educação física na política educacional do Estado Novo, também foi incorporada pelo hotel
em função da cultura familiar esportiva da família Guinle. A primeira escola de natação do país
foi inaugurada no hotel, em 1942, com sua piscina de padrões olímpicos tendo como alunos à
maioria dos filhos de uma elite como as de políticos.
Durante a Guerra, Copacabana precisou adotar algumas medidas preventiva tais como
manter luzes apagadas e pôr cortinas escuras nas janelas, e apesar de Copacabana ter similitudes
com as metrópoles americanas no pós-guerra mundial, já na década de 50 o mesmo bairro
realizou uma apropriação lúdica do espaço urbano tornando-se um dos lugares mais animados,
com personalidades que se destacavam pelo modo de vida copacabanense com uma peculiar
forma de sociabilidade. O Centro cultural da elite do bairro era o Copacabana Palace, já com
seu prédio anexo acompanhando uma tendência da época motivada pela necessidade de manter-
se “atual”- tal como era a Copacabana pós-guerra.
A imagem também é a de uma Copacabana que ser traduz como balneário de
personalidades do esporte, políticas e estrelas do cinema que desfrutavam de dias de descanso
nas areias de Copacabana ou na piscina do Hotel Copacabana Palace.
Para a autora HEILBORN (1999) a cidade do Rio de Janeiro:
“Desponta no turismo internacional como cidade propiciadora de uma sexualidade
desabrida e voltada para a sedução. A história do desenvolvimento urbano da
cidade a partir dos anos 40 altera os lugares valorizados de moradia. Os bairros,
mais do que divisões administrativas, são suportes de estilos de vida diferenciados.
A Zona Sul da cidade foi associada à modernidade, a riqueza, a cosmopolitismo.
Ainda a mesma autora destaca que os meios de transportes e comunicação de massa
estreitaram as relações sociais de forma que possibilitaram aos moradores da periferia o uso
comum das praias, os diferentes formas de uso da praia, as formas de sociabilidade grupal
causaram estranhamento e discriminação pelos segmentos que se consideravam proprietários do
espaço da orla de Copacabana.
Para MAUAD (1999) o segundo período no foto jornalismo brasileiro teve o seu início
com O Cruzeiro e se prolonga até a década de 1960 acompanhando as evoluções técnicas e no
estilo editorial. As notícias eram editadas com fotografias em grandes formatos e a interpretação
dos fatos ficava a cargo do leitor. A mídia no período é um importante elemento propiciador da
formação do gosto da classe média, exercendo forte influência na interpretação e na elaboração
dos fatos sociais. As revistas ficavam a cargo de depurar os fatos para a educação do leitor. Na
década de 1940 a revista já contava com uma tiragem de 120 mil exemplares, buscando um
padrão de qualidade das publicações internacionais, nos moldes das revistas Life, Look, Paris
Match”, entre outras.
A autora MAUAD(2005) destaca que:
As opções estéticas, as formas de consumo, os lugares da cidade que deveriam ser
freqüentados, como signo de distinção e pertencimento social, enfim, toda uma
codificação em torno da noção de “bom gosto”( identificado com o gosto burguês),
era estabelecida pelas imagens fotográficas e padrão gráfico das revistas
ilustradas...o trabalho do fotógrafo foi valorizado mais pela sua dimensão criativa
do que informativa...A zona sul da cidade sempre foi associada a códigos de
comportamentos relacionados aos grupos dominantes, emblemas de sua distinção
social, tais como: lanches na varanda do hotel Copacabana Palace, tendo como
ornamentação a bela avenida Atlântica, reformada e cheia de automóveis
importados, entre outros exemplos.” (MAUAD,2005)
Ainda a mesma autora menciona que a posse de bens se dá como uma marca de
distinção social pautada pela exclusão. Os homens são retratados, em sua grande maioria, tendo
como foco principal seus corpos atléticos, de esportistas. A imagem feminina está intimamente
vinculada à alta sociedade internacional, atenta à moda vigente,conhecedora das novidades
internacionais com incomparável elegância e sensualidade.
Na edição de 3 de fevereiro 1943, a capa da revista tinha como título o “Verão
Carioca” em meio a Segunda – Guerra Mundial o editorial do cruzeiro desabafa:
“Na praia larga há lugar para todos. Há espaço para tudo . Peteca, ginástica,
corridas , gritos, gente que procura as formas mais diversas de gozar a fonte
comum do prazer: o sol. A praia aqui é larga , mais vai se comprimindo lá embaixo
se afunilando ao olhar. Ao olhar apenas . Temos a sensação que ela se estica ,
torna-se infinita , atravessa montanha, serpenteia pelos vales e circunda a terra num
amplexo quente, até vir , cansada da volta ao mundo, junta-se a outra parte da praia
que fica às nossas costas. Se isso fosse verdade , se houvesse uma Copacabana
circundando a terra , os homens não se digladiariam. Todos teriam direito a
felicidade. Haveriam de chamá-los a paz , a razão , as águas verdes da Copacabana
Universal, acariciando-lhes os nervos exaustos quando eles mergulhassem no
líquido transparente e,cercados por eles , sentissem que nisso estaria maior fortuna
do que a maior que se pudesse reunir em moedas que nada exprimem...”
Em meio a retratos de belas mulheres com seus corpos despojados ao sol, sozinhas e em
grupo o redator continua;
“Copacabana! O Sol! Podem os homens lançar-se uns aos outros, lutando
ferozmente , destruindo os edifícios e reduzindo-os as ruínas , podem as terras
ricas aniquilando as plantações... podem exterminar o perfume das flores com o
acre odor dos seus gases que , enquanto resta-nos a possibilidade de ver formas,
mesmo que essas formas sejam a de casas destruídas de terras escorchadas, de
flores ressequidas e principalmente a essas formas um corpo moreno, praia branca
de Copacabana, sob o sol da primavera do Brasil , não podemos nos queixar da
natureza. . isso pagará com juros tudo que possamos sofrer.”
No período do racionamento de gasolina, em função da guerra, a revista problematiza o
fato ao mesmo tempo em que apresenta uma solução, constrói assim,.com seu caráter didático,
mais um saudável hábito a ser praticado na Avenida Atlântica. No artigo:
O que será de Copacabana com sua maravilhosa Av. Atlântica? Copacabana sem
gasolina ! Desapareceram os automóveis, mas surgiram de uma hora para a outra,
as bicicletas. A princípio velhas máquinas como recurso de emergência para suprir
as dificuldades da condução. Mas depois pilotadas por lindas garotas”, deram
entrada na pista centenas de modelos luxuosos, em cores vivas e providas de
assessórios magníficos ,impecavelmente cromados.
O texto percorre entremeado a imagens de grande e médio formato de belas mulheres
pedalando pela orla. O redator ainda completa que:
“Nos automóveis, tinha-se apenas a visão de figuras femininas sepultadas dentro de
grandes carrocerias, enquanto que nas bicicletas, elas surgem ao ar livre , exibindo
maravilhosos shorts da última moda , modelando os corpos esculturais,
maravilhosamente bronzeados pelo sol tropical”
As bicicletas tomaram parte do cotidiano da praia de forma que gerou a necessidade de
criar uma ciclovia na tentativa de eliminar os inconvenientes, tais como atropelamentos,
causados no trânsito da AV: Atlântica e no calçadão. O estilo de vida estava sendo calcado no
consumo de massa, a orla passava a ser de forma cada vez mais expressiva na mídia uma local
que dita a moda, regras e padrões de comportamento.
A fotografia nacional, em grande parte, produzia as suas imagens mantendo o foco
central nas mulheres. As mulheres nas areias, nas calçadas, os mais modernos modelos de maiôs
para o período - e as práticas esportivas com o jogo de vôlei como também a da peteca eram
práticas associadas ao feminino, às mulheres de Copacabana. Entretanto o Apogeu de do bairro
de Copacabana foi nos anos 50, quando a praia já se encontrava suja, ficando imprópria para o
banho. Na edição de O Cruzeiro de 31 de Janeiro de 1953 uma reportagem de Copacabana
alterava o ângulo de visão convencional da Praia com o título que anunciava um Ângulo
inédito de Copacabana para os leitores de O Cruzeiro”.
As Fotos eram de Indalécio Vanderley e focalizavam a Cidade de Copacabana em meio
à cidade do Rio de Janeiro. A visão era do Leme para o Posto seis com um ângulo mais frontal
do paredão de prédios. O redator exclama sua perplexidade frente ao fenômeno urbano.
“ O que acontece num domingo de sol, na mais bela( e mais suja ) praia do mundo –
alguns dados impressionante sobre a terceira cidade do Brasil, onde o amor é mais
livre , as garotas são mais bronzeadas , os automóveis mais luxuosos Divagações
sobre temas mais ou menos vagos , enquanto o mar verde ruge e milhares de
brotos , coroas e balzaquianas libertam gritinhos esquisitos...Uma garota da Tijuca ,
se fizesse a metade das travessuras que faz um brotinho do Posto 5, seria banida do
lar...As mulheres é permitido andar de slack e fumar na rua... É ainda em
Copacabana que moram os donos de algumas grandes fortunas do R J - gente que
está trocando a austeridade dos solares de Botafogo e Laranjeiras pela amplitude
agradável dos apartamentos de andar inteiro”
Na poética do texto o redator dá ênfase ao bom, ao belo, a mulher como o elemento que
neutraliza o ruim, o feio, o sujo, o impuro (DOUGLAS)
5
. Para o jornalista é em Copacabana
onde o amor acontecia de forma livre onde jovens casais podiam andar agarradinhos sem que
ninguém se voltasse com olhares de repúdio ao fato, é como se nesta praia não existisse uma
conduta moral que reprimisse a liberdade para o namoro. O bairro poderia ser considerado a
terceira maior cidade do Brasil com seus 5000 prédios e com o trânsito no primeiro semestre de
1952 com cerca de 57.830.046 pessoas que viajaram de bonde e 7.874.725 que viajaram de
ônibus. A orla abrigando ainda diversas atividades tais como os Jogos Peteca, o Tênis de praia,
o Frescobol e o Voleibol, que era o esporte mais recente do período.
Já em meados da década de 50, a Copacabana conta com a rivalidade da ascensão da
praia do Arpoador que pelas lentes de José Medeiros e Indalécio Vanderley já é de acordo com
a revista, O Cruzeiro, a praia mais fotografada do mundo, sendo parte da estratégia de
mobilidade a população em função da alta densidade na ocupação de Copacabana.Com o
crescimento da prática de freqüentar a praia para o lazer, e não apenas para fins medicinais
como defendem alguns autores como GASPAR(2004) e FARIAS(2001), começou a ser
incorporado, na nossa sociedade, o uso da praia se deu de forma intensa, pela população
carioca. No final da década de 20, a praia do Flamengo, já possui uma ocupação muito densa, é
então que a mídia começou um movimento para estimular os freqüentadores ao uso das praias
5
Para a autora: “impureza é essencialmente desordem...é uma ofensa contra a ordem. Eliminado-a, não
fazemos um gesto negativo; pelo contra´rio, esforçamo-nos positivamente por organizar o nosso meio”
(DOUGLAS: 1970:14)
oceânicas. A revista ilustrada “O Cruzeiro”, junto com toda a imprensa carioca, impulsionaram
a movimentação das praias desde a ocupação plena da Praia do Flamengo, até a década de 20,
passando pela praia de Copacabana chegando até o Arpoador Ipanema, já na década de 50,
tendo seu apogeu apenas nos anos 70/80. A mídia especificava em qual ambiente que o
indivíduo, atualizado, na moda, deveria freqüentar.
A Copacabana vista pelas lentes de O Cruzeiro, até o final da segunda guerra mundial, é
focada nas mulheres e o uso das areias de práticas esportivas, de forma que o calçadão e a
Avenida Atlântica ficam em segundo plano, salvo em casos de acontecimentos sociais e
políticos nos mesmos. O modernismo da cidade, o cosmopolitismo e as calçadas aparecem com
menos freqüência ou muitas das vezes em segundo plano, diferente do enfoque que a mesma
revista dava na década de 30. A praia serve como referência de práticas e costumes saudáveis,
ditando moda, normas e padrão de comportamento na época. As mulheres de Copacabana
vestem maillots” da moda, são atualizadas, realizam as saudáveis atividades esportivas nas
areias, do pedalar bicicletas, no caminhar nas calçadas e namorar livremente sem a reprovação
dos olhares alheiros. Estão sempre em maior número que os homens, são despojadas, alegres e
geralmente encontram-se em poses bem sedutoras para o período. As pernas, as cinturas finas e
todo o corpo feminino despojado nas areis e exposto ao sol confere a Copacabana o visual de
um balneário com um visual” eminentemente feminino que foi construído e cultivado pela
mídia. O Cruzeiro com toda a mídia carioca impulsionou a movimentação das praias desde a
ocupação plena da Praia do Flamengo até o Arpoador – Ipanema, com o seu caráter “didático”
detalhava a qual ambiente o indivíduo atualizado, na moda deveria freqüentar.
As revistas adotaram a política das classes dominantes que objetivavam manter a
unidade nacional identificando o país com a sua Capital. Fotógrafos de O Cruzeiro registravam
o cotidiano brasileiro e o seu caráter moderno fazendo referencia ao o cosmopolitismo de
Copacabana, a sua capacidade de atração de ilustres turistas pertencentes a uma elite artística
política e empresarial dos Estados Unidos e Europa, das belas mulheres nativas e as estrelas de
cinema, da dança, do esporte e da música que estiveram presentes nas fotografias. A fotografia
como expressão do real transita pela expressão pessoal dos fotógrafos. O recorte do fotógrafo
unido pauta com os interesses políticos e sociais na construção simbólica de um balneário em
meio urbano, moderno e atento às necessidades de um crescente mercado turístico
internacional. Balneário que se pretendeu ser de luxo, mas que não teria alcançado esse status,
salvo o ambiente em torno do Copacabana Palace.
A fotografia se dá como o elemento constitutivo e de construção simbólica da Praia de
Copacabana. Ela reflete o modo de vida de uma elite social e informa com seu caráter didático
como, onde e de que maneira e por que grupos o espaço da Orla de Copacabana deve ser
consumido. As práticas, os bens são apresentados nos fotografias sendo legitimados pela revista
como socialmente aceitos para serem realizados e consumidos no espaço da praia.
A imagem também é a de uma Copacabana que ser traduz como balneário em meio
urbano que recebe personalidades do esporte, políticas e estrelas do cinema que desfrutavam
de dias de descanso nas areias de Copacabana ou na piscina do Hotel Copacabana Palace a qual
possui uma privilegiada vista do espaço da Praia, sendo possível acompanhar visualmente toda
a curva que forma a Praia de Copacabana.
No original este espo es destinado a página dupla da revista O Cruzeiro de 28 de
Agosto de 1937 do Fografo H. P. Lange
A mulher, o feminino é utilizado nas fotografias e com a sua ambigüidade para a atração
da atenção dos dois gêneros é um importante elemento para a construção social desse espaço. A
mulher que é o foco central das fotografias atrai a atenção das leitoras mulheres pela questão da
emulação social e estética enquanto que ao homem a sua atração se dá pelo desejo emanado
pelo devaneio da conquista sexual. Os brotinhos de Copacabana”, como frequentemente se
referia a revista O Cruzeiro, são mais livres, possuem um estilo de vida diferente das meninas
dos outros bairros aqui se fala em espacial ao bairro da Tijuca, são bonitas e estão de acordo
com a moda vinda dos balneários de fora, Estados Unidos e Europa.
A mulher está sempre em evidência nas imagens da revista O Cruzeiro, e de acordo com
historiador Bert Barrickman “essa é uma tendência de toda a imprensa carioca ao fotografar a
Praia de Copacabana”. Os homens são secundários e suas aparições se dão de corpos atléticos
e na prática esportiva. De acordo com informantes o número de ambulantes era muito pequeno,
eram raros e os restaurantes da orla, que também eram em menor número eram muito caros para
o dia a dia de um freqüentador de praia – um habitué. Embora na década de trinta a quarenta já
existisse a presença de vendedores ambulantes, tais como os sorveteiros como podemos
observar na imagem da revista acima levar alimentos para a praia não era considerado uma
atividade de “farofeiro” mas sim uma necessidade frente à falta de comércio de comida no
local.
As novidades da vida moderna como os grandes edifícios de apartamentos e os carros
também estavam presentes, e muitas vezes em primeiro plano das imagens de fotógrafos
internacionais do grupo Time e Life, como John Phillips que esteve fotografando no Brasil na
década de trinta, Hart Preston, na década de 40, Thomas D. Mcavoy que documentou a praia,
seus tipos e aspectos também na década de 40, Leonard Mccombe na década de 50. A
documentarista Genevieve Naylor estudada por MAUAD(2004) como uma importante fotógrafa
do período que documentava o país também fez imagens da Copacabana dos anos 40 onde o
footing no calçadão, o encontro de homem com belas mulheres usando maiôs da moda,
ambulantes e pescadores tiveram lugar na documentação da autora.
Na documentação dos fotógrafos que vem de fora o trabalhador também faz parte do
cenário, está integrada a paisagem. Nos catálogos de turismo, tal como o da Livraria Kosmos
do mesmo período, nas imagens dos fotógrafos que vem de fora ocorre uma valorização da
pesca artesanal no ambiente urbano e cosmopolita de Copacabana. No material analisado da
revista O Cruzeiro a pesca quase some ou serve apenas de cenário, pano de fundo para divulgar
pessoas e produtos como podemos ver na ilustração a seguir:
No original este espaço está destinado a página simples da revista O Cruzeiro - Data: 31 de
Janeiro de 1953 do Fotógrafo Indalécio Wanderley
Analisando o álbum de família de uma informante de 84 anos da classe trabalhadora,
especificamente do comércio do bairro, que foi morar em Copacabana na década de 50 pude
observar a forte influência das imagens das revistas na formação do próprio álbum de família.
No álbum encontrei poses semelhantes às das revistas ilustradas, inclusive com a posição
adotada pelo guarda-sol especialmente para tirar fotos como podemos notar a seguir:
O Cruzeiro de 21/NOV/1936
Fotografias sem créditos do autor
A influência das revistas ilustradas no fazer do álbum de
família. Anos 50. Foto de arquivo pessoal de informante,
emigrante nos anos 40 e hoje com 84 anos.
A informante menciona que nessa foto o guarda-sol foi apoiado na areia apenas para
tirar foto, embora não assuma que é uma produção que tem a referência nas revistas ilustradas
ela como outras informantes da mesma faixa etária informam que era pelas revistas que elas
selecionavam o que era adequado para usar na praia. A praia para as informantes era uma
privilegiado ambiente para construir o álbum de família, o cenário para imortalizar a reunião de
parentes vindo de fora ou de indumentárias de carnaval como podemos ver a seguir:
Informante com a filha única.
Acervo particular
Informante e amiga
Acervo particular
Informante com as anteriores e
respectivos namorados.
Acervo particular
No caso dessa informante mesmo o carnaval não sendo na praia, ela é escolhida como
cenário para registrar a fantasia e a reunião do grupo, aonde parte vem de fora de Minas
Gerais. No seu discurso a mesma informa que embora fosse membro da classe trabalhadora era
vista como uma privilegiada por seus amigos por morar e trabalhar em Copacabana, sem
precisar se deslocar do bairro e podendo desfrutar dos domingos de sol na praia com suas
amigas.
No discurso dos informantes podemos notar que freqüentador de praia mesmo é aquele
que está lá quase todo dia, que mora perto ou trabalha perto de forma que pode desfrutar do
ambiente cotidianamente. Os que vão apenas nos domingos e feriados não são considerados
freqüentadores, se colocam como que freqüentavam apenas uma vez ou outra aos domingos. A
possibilidade de freqüentar a praia no seu cotidiano era exclusiva de membros da elite, jovens
ou de vagabundos que não possuíam trabalho.
No caso das imagens selecionadas elas foram à expressão da realidade da classe
dominante e didaticamente ensinou as camadas médias da sociedade carioca a usufruir a praia
de Copacabana os bens que nela foram legitimados pela mesma imprensa para serem utilizados
tais como os guarda-sóis, os maiôs, biquínis, o desfrutar dos banhos de sol, das práticas
esportivas e do banho de mar.
A fruição do ambiente, o uso e a forma de ocupação desse espaço foram elaborados
pelas revistas ilustradas e inserido em um projeto de construção de um balneário que tinha a
pretensão de ser de luxo, capaz de abrigar influentes personalidades do cenário cultural e
político nacional e internacional. As revistas ilustradas, mídia do período era só exaltação ao
ambiente até a década de 50 quando então começou a ser considerado impróprio devido aos
detritos encontrados nas águas de Copacabana e quando o bairro já é considerado uma cidade
dentro do Rio de Janeiro em função da alta densidade populacional. A rotina de Copacabana é
alterada a partir da década de 60 quando o bairro deixa de ser predominantemente residencial e
passa a brigar além dos hotéis, que já vinham se instalando desde a década de trinta, um grande
número de estabelecimentos comerciais.
2.3 A música e o imaginário de uma praia
Falar em Copacabana neste período remete a geração de composições, que viria ser a
atual MPB, e que junto com o seu bairro vizinho de Ipanema abrigaram a sua produção e
divulgação. De acordo com o jornalista Ruy Castro A “Sinfonia do Rio de Janeiro foi
composta quando no trajeto para Ipanema, o então autor Billy Blanco, passando pela Avenida
Atlântica e inspirado pela beleza da paisagem, apesar de ser um trajeto o qual fazia parte do seu
cotidiano, como que em meio a uma revelação divina caiu-lhe e uma frase musical “Rio de
Janeiro que eu sempre hei de amar/ Rio de Janeiro, a montanha, o sol , o mar”. Devido à
inexistência de telefones públicos nas ruas do Rio , o compositor precisou descer do ônibus e
solicitar ao proprietário de um “Botequim na Rua República do Peru para telefonar para seu
parceiro, Antônio Carlos Jobim, o Tom Jobim . O jornalista enfatiza que o compositor estava
afoito para não esquecer o verso, ao ser atendido bruscamente solicitou ao parceiro que anotasse
o verso que viria então compor a famosa Sinfonia do Rio de Janeiro.
Copacabana também foi palco que reuniu as cantoras Dolores , Maysa e Silvinha três
personagens da MPB que com diferentes classes sociais se encontravam na noite de
Copacabana . O bairro, neste período já abrigava 41 estabelecimentos entre bares ,boates ,
restaurantes os quais recebiam constantemente artistas da MPB para compor ou simplesmente
boemia. A repercussão da imagem de Copacabana também se reflete no contexto em que a
composição musical “Copacabana foi criada. Em 1946 o empresário americano Wallace
Downey encomendou aos compositores João de Barros e Altinos Ribeiro uma música que fosse
capaz de identificar e difundir o seu empreendimento que seria inaugurado em Nova York, o
que viria a ser o “Night Club Copacabana os compositores não conseguiram cumprir o prazo
e a composição foi difundida pela voz do cantor Dick Farney que aos seus 25 anos partiu para a
América como cantor tendo um contrato com a NBC de apenas 52 semanas. O período era
agitado e negativo para os músicos e crooners brasileiros com o Governo de Eurico Gaspar
Dutra que fechou os cassinos e tomou severas medidas repressoras inclusive no uso da praia.
Com a partida do cantor a gravadora foi lançando as então modernas cações Copacabana” ,
“ Ser ou não ser “ , “ Marina”e “Esquece”, no Brasil em 1947 e 1948 com intuito de manter
o cantor vivo no imaginário da população brasileira, garantindo a sua popularidade ao retornar
ao país.
A cidade do Rio de Janeiro já contava com os desfiles coletivos das escolas de samba,
que se iniciaram em 1932. No referido hotel fora inaugurado, em 1938, o Golden Room uma das
maiores casas de espetáculo do Rio de Janeiro que recebeu artistas consagrados pela mídia
internacional como cantores, bailarinos, músicos e atores, Já em 1944 inicia-se o teatro
musicado com requintada produção. Abrigou, também, o Clube dos Cafajestes, ilustres
organizadores de transgressões sociais na zona sul, que contestavam a moral e os bons
costumes. Um dos maiores movimentos realizados pelo grupo, e de forte destaque na mídia de
1949, foi, uma carreata contra a decisão da chefatura de polícia que proibia em Copacabana a
presença de banhistas trajando apenas calção ou maiô sem blusa. Percorreram toda a Avenida.
Atlântica, desfilando ao lado de prostitutas de biquínis, que no período era chamado de maillot
de duas peças, e casacos de pele. Nos interstícios da década de 40 a 50 a Danusa Leão informa
que:
“Era muito bom morar no Rio: as praias quase vazias, poucos carro nas ruas. O supra
sumo do luxo eram as festas no Goldem Room do Copacabana Palace. Lá
aconteciam os desfiles de moda, lá se escolhiam a Glamour Girl e a Charm Girl, lá
se apresentavam os grandes nomes da música internacional. No Copa eu vi Edith
Piaf, Yves Montand, Dany Dauberson, e, detalhe: em todas as festas e estréias,o traje
era black-tie. Para isso eu tinha uma saia preta bem rodada (feita por mim, claro)
trocava de top, inventava uma flor no decote, botava laço colorido na cintura, e
estava pronta.” ( Quase Tudo – Danusa Leão 2005:27)
É bom lembrar que Danusa fala, de hoje, de um passado nostálgico de Copacabana e
seus referenciais se dão em contraposição ao hoje. Mas em sua fala podemos pegar elementos
que se entrecruzam com as informações de Ricardo Boechat, Renato Sérgio e de interlocutores
sobre a representatividade do Golden Room no cenário internacional, das estrelas consagradas
que ele recebia nas artes de uma maneira em geral, especialmente na música que embalou e
embala Copacabana.
Muitas foram as letras de músicas que homenagearam a Praia de Copacabana as mais
citadas por informantes das mais românticas podemos destacar a Copacabana, Princesinha do
mar e Sábado em Copacabana
6
, que hoje é tema musical da novela Paraíso Tropical da Rede
Globo de Televisão. Na década de trinta a canção que ganhou maior popularidade enaltecendo
as qualidades do bairro foi a também intitulada Copacabana, que tem seus versos escritos por
6
Sábado em Copacabana
(Dorival Caymmi e Carlos Guinle) Letra Gal Costa 1952. e hoje é também inter pretada por Zélia Duncan.
Depois de trabalhar toda semana/Meu sábado não vou desperdiçar/Já fiz o meu programa pra essa noite/E já sei por onde começar
Um bom lugar pra se encontrar, Copacabana/Pra passear, à beira-mar, Copacabana/Depois um bar à meia-luz, Copacabana/Eu esperei
por essa noite uma semana
Um bom jantar, depois dançar, Copacabana/Pra se amar, um só lugar, Copacabana/A noite passa tão depressa/Mas vou voltar lá pra
semana/Se eu encontrar um novo amor, Copacabana.
Domingos Barbosa e com a música de Gastão Lamounier, De acordo com Ana Toledo a mesma
música a seguir foi gravada pelo cantor Jayme Vogler em 1931:
“Que prazer quando o sol nos queima e escalda
E andam chispas de fogo pelo ar
Ir-se ao banho, no mar cor de esmeralda
Alma e corpo, nadando, avigorar!
O barulho do mar, feito dos beijos
Que se trocam Sereias e Tritões
Põe nos peitos uns soffregos desejos
Esperanças de amor nos corações!
Sobre a praia sem par: Copacabana,
Vendo o mar retrair-se, o mar crescer,
Docemente penetra n'alma humana
Uma imensa alegria de viver”.
De versos breves e românticos a música vai de encontro às qualidades exaltadas e
manifestas pelos bilhetes de bonde do início do século. O ambiente romântico do local vai ser
expresso de diferentes formas de modo que no carnaval a praia também era enaltecida e dentre
elas as citadas pelos informantes e disponíveis no blog da moradora e admiradora de
Copacabana - Ana Toledo - estão as Pirata
7
, que é uma marchinha de autoria de João de Barro
(O Braguinha) e Alberto Ribeiro, tendo como intérprete a Dircinha Batista em 1936 no filme
"Alô Alô Carnaval", de grande repercussão na mídia do período.
O compositor Billy Blanco, conhecido como o compositor que veio de fora, pois viera
do Pará, e soube cantar as belezas do Rio de Janeiro em suas composições, não deixou de fora a
Copacabana em algumas de suas letras. Na sua bibliografia o autor menciona O Beco das
Garrafas, situado em Copacabana, como o templo da Bossa Nova, onde os intérpretes do
período apresentavam as canções que saíam naquele momento. Sendo local de inspiração, e
elaboração de suas obras. Além da Sinfonia do Rio de Janeiro”, inspirada na paisagem da
Praia de Copacabana, o autor em meio à revolta dos funcionários públicos durante a mudança
da Capital para Brasília no Governo de Juscelino, em 1957, compôs uma música, que na sua
percepção representava o sentimento desses funcionários, cuja letra dizia que além de não irem
para Brasília com suas famílias mesmo que seja para ficar cheio da grana/a vida não se
7
Pirata
Pirata, pirata da areia/Que não rouba embarcações/Que fica nas praias serenas/Avançando nas pequenas
E assaltando corações/Pirata você não me engana/Pirata da areia de Copacabana
Cuidado linda sereia/E apanhar não se deixe/E ele diz de boca cheia/Que quem cai na rede/É peixe!
A procurar casamento/Passa noite passa o dia/E até hoje não sabe/Onde fica a pretoria
compara mesmo difícil, tão cara/quero ser pobre, sem deixar Copacabana... Em outra letra
“Rio do meu amor” o autor exalta as belezas da cidade e ainda faz menção a mesma praia com
as demais que estavam sendo impulsionadas a freqüência e tendo também a representação da
transgressão social ao mencionar a “...boneca dourada de passo, que engana, enfeitando a
calçada de Copacabana, Ipanema, Leblon e Arpoador... . A Copacabana do período das duas
canções de Billy Blanco já estava em processo ocupação pelas camadas baixa da população e a
transgressão social por meio das “bonecas” que almejam ser mulheres e fazem ponto no espaço
até os dias de hoje.
As bandas da região também foram importantes para que e mais tarde já na década de
70 uma outra marcha carnavalesca enaltece mesma praia:
“Raia o sol na Avenida Atlântica
É dia em Copacabana
Na passarela de areia branquinha
Desfila a jóia mulher queimadinha
Tem mais vida
A vida em Copacabana
Do Leme ao Posto Seis:
Quem é bom
Em Copacabana tem vez
A festa continua
Na noite branca do calçadão
Onde o mar é tema
Em todo o coração
Tudo se faz poema
Em forma de canção
Do Leme ao Posto Seis:
Quem é bom
Em Copacabana tem vez”
Luiz Bandeira(1971)
De acordo com a proprietária e redatora do Blog disponível na internet:
A participação sempre ativa, alegre e badalada da Banda do Leme, ficou
caracterizada na gravação da marcha Copacabana (do Leme ao Posto Seis), para o
carnaval de 1971. Seu autor, Luiz Bandeira, pernambucano e um dos mais férteis
compositores brasileiros, vê a praia carioca com a mesma veia poética que lhe
inspira a sua praia da Boa Viagem.” COPABANATOLEDO(2007)
A autora JACOBINA(1998) lembra que a “imagem da mulher no período pela música
era vista também com os preconceitos de Noel, a amargura de Lupicínio ou a ironia de Ary
barroso e Alcyr Pires Vermelho.
“Será você a tal Suzana
A casta (...) Suzana do Posto 6
Coitada, como está mudada, fez apendicite e ficou it
Quando eu conheci a casta Susana
Nas areias de Copacabana
Ela namorava um chinês
E piscava assim para um japonês
Daí deu-se a confusão
Estourou a Guerra China com Japão.
JACOBINA(1998:138-139)
É principalmente no período das guerras que a praia vai ser apresentada como a praia
das mulheres bonitas e livres. E vindo do Golden Roon do Copacabana Palace a vinheta de
todas as noite sintonizada de norte a sul do país:
“Nós somos as cantoras do rádio
Levamos a vida a cantar
De noite embalamos teus sonhos
De manhã nos vamos te acordar.
Nós somos as cantoras do rádio
Sobrevoando o espaço azul
Nós reunimos num grande abraço
O Brasil de norte a sul”
Cantoras do Rádio, João de Barros e Lamartine Babo, Por Carmen e Aurora Miranda.
Cantada por mulheres com alegria, irreverência e descontração para o período reforçando ainda
mais a imagem de um ambiente com mulheres modernas, alegres e festivas.
Devemos lembrar aqui que a Rádio Nacional também foi um veículo de comunicação
que teve uma grande importância histórica. Sua audiência era ampla e agradava as mulheres
das camadas médias e mais tarde perto do advento da televisão das camadas populares
brasileiras. O ato de ouvir rádio não era um ato corriqueiro integrada ao cotidiano como nos
dias de hoje. O ritual para ouvir o rádio era firmado por um momento de reunião nas salas de
estar das casas, onde atentamente se escutavam as notícias, as músicas como também as
novelas. Os ídolos da época eram os locutores, cantores, atores das rádio novelas que inspiravam
as mulheres e homens de seu tempo. Ouvir rádio era um lazer das famílias que dispunham de
capital para adquirir esse artigo da modernidade como também dispunham de tempo para ouvi-
lo.
Sendo a música um importante elemento relacionado à noção do gosto de classe e estilo
de vida como nos ensina BOURDIEU(1983) conseguimos identificar que as letras dos
diferentes estilos musicais que cantam a Praia de Copacabana fazendo alusão a um ambiente
romântico, alegre, festivo e não devemos esquecer que é também na música dotado de belas
mulheres e não deixam de notar a presença dos travestis que “enganan”. A música que faz
referência a Copacabana junto com a música orquestrada diretamente dos estúdios da Rádio
Nacional, especialmente do Golden Room do hotel Copacabana Palace foram também um
importante meio de propagar a imagem lúdica, romântica, ao mesmo tempo que alegre e festiva
do local.
No período que nos referimos o governo americano, de Frankling Roosevelt, visava
criar uma estrutura de mercado consumidor com os Latinos Americanos, de acordo com
MAUAD(2005) esses pilares eram galgados por meio do sonho de democracia e Liberdade
buscando uma homogeneização cultural. A campanha ideológica do American way of life
visava demonstrar aos americanos que os brasileiros eram inofensivos amantes do samba, das
mulatas e possuidores das mais belas praias do mundo. Ao final da década de 30, mais
precisamente em 1939, a atriz Carmem Miranda já era uma representação do Brasil no EUA, a
pequena notável brasileira teve a sua imagem utilizada estrategicamente para alcançar parte dos
objetivos da política da boa vizinhança . Já em 1940 a atriz foi contratada pela 20th Century
Fox onde em 1941 atuou em “Uma Noite no Rio” e em 1947 no filme “Copacabana e outros .
No Brasil, imagem da artista era vista como exagerada com efeitos caricatos, o que não era bem
visto no país e a rejeição dessa caricatura seria em certa medida, rejeitar a imagem do Brasil
que “dava certo lá fora” (MAUAD,2005). Por ser uma imagem que foi socialmente construída
sobre o Brasil autora completa que:
“Uma Carmem sem balangandãs era a redenção de um pais que se imaginava alegre,
mas também elegante, social e distinto”(MAUAD,2005)
Uma imagem de uma cantora irreverente, atiradinha e moderna para quem é de fora. A
praia era fonte de inspiração para os compositores do período em função da sua paisagem,
intensa sociabilidade como também do imaginá rio que já permeava aquele ambiente desde o
investimento da Cia de bondes como lugar para lazer, paquera, brisa fresca. Nas letras
selecionadas cabe verificar que ela transita do lugar desconhecido, suscetível ao ataque de
piratas (das areias), vazio mas com perspectivas de boas paqueras ao ambiente que já estava
integrado, incorporado a cidade, mas que se torna inigualável frente aos demais. Cidade
Maravilhosa, que foi em uma versão apresentada ou em outra, inspirado na mesma praia é ainda
hoje junto com Copacabana Princesinha do mar, sistematicamente associado a esse espaço
pelos informantes mantendo viva a imagem de beleza e exuberância do espaço.
2.4 O imaginário de um balneário em Meio Urbano
As reformas urbanas que inicialmente deram origem ao local e foram apoiadas pelas
empresas que investiram conjuntamente como a Cia de Bondes e da construção civil, incluindo
a hotelaria passaram a ser uma crescente necessidade em função do alto crescimento do bairro e
do uso do espaço da praia para fins turísticos. Investir na Praia de Copacabana era investir para
o crescimento do turismo da cidade, e até mesmo do País. A música, em seus diferentes estilos,
transmitida majoritariamente pela Rádio Nacional, que gozava de valioso prestígio em âmbito
nacional durante o período, unida às fotorreportagens das revistas ilustradas, foram um
importante mecanismo de propagação da exuberante beleza, alegria e sociabilidade intensa
oferecido pelo local, além da forte referência à presença da beleza feminina no espaço.
As reformas urbanas junto à produção musical e a informação gerada pela mídia,
principalmente das fotorrreportagens construíram uma imagem de ambiente da moda,
romântico e ao mesmo tempo alegre e festivo, onde a centralidade na produção das imagens,
que as revistas ilustradas imortalizaram no ambiente, era no feminino, na mulher, na garota da
Praia de Copacabana. A praia transitou nesses 50 anos de lugar para o lazer e propício para
escoar a aglomeração que vivia a Capital para a centralidade simbólica e econômica do mercado
turístico brasileiro. Em menos de 40 anos, tornou-se uma das praias mais famosas do mundo ao
lado de Biarritz, motivada pelos agentes citados anteriormente unido ao tradicional cartão
postal e o cinema, que contou com a participação de Jorge Guinle para cuidar da imagem que
seria transmitida para fora.
A praia ganhou tornou-se glamourosa, alcançou a uma condição mítica no imaginário de
quem é de dentro e de fora do país. Para quem era do rio ou de outros estados o chic”, era
morar em Copacabana mesmo que fosse em edifício tipo cabeça de porco, conjugados. A
aglomeração, a grande densidade demográfica gerou transtornos no bairro e na praia. A
poluição das águas e das areias iniciou ainda em 50 o deslocamento de grupo de elite para a
praia de Ipanema, que terá o seu apogeu na década de 60/70.
A imagem do brotinho, seria, musa, deusa ou libertina tomou parte desse lugar o que
veio a se tornar cada vez mais sexualizada no pós 50 até os dias de hoje sendo materializada nos
postais que vieram a ser censurados em 2005. E é essa representação da praia cuja centralidade
está no gênero feminino que vai passar pela degradação por meio da prostituição que vai ficar
intensa em alguns pontos da praia. A santidade da mulher de Copacabana unida à alegria se
perde e dá lugar ao estereotipo da mulher esperta, que ganha a vida fácil por meio da
prostituição.
Mas cabe aqui finalizar enfatizando que para o turista de classe média o imaginário
ainda é da Praia de Copacabana dos anos 40, do glamour, da beleza e da pureza de um espaço
de exuberante beleza e requinte. O mesmo turista fica desapontado com as impurezas do
espaço, mas crédulo quanto a reestruturação, que o ambiente está em momento de transição.
Essa imagem tende a ser neutralizada, reformulada com a realização de eventos na orla nas
principais datas comemorativas em parceria com a iniciativa privada, gerando a possibilidade de
uma nova reformulação na imagem, eliminado o imaginário de impurezas que o ambiente
passou entre as décadas de 50 até os anos 2000, e que hoje está em estado de transformação
como veremos no capítulo IV.
Capítulo III
Um breve retrato da Praia de Copacabana de Hoje
Ela passou/Deixando um sorriso no chão/Deu um banho de
beleza nos meus olhos/E aí começou o verão/Mil cores
pintando o painel/Copacabana.../Ela parou,/Na loja de discos e
escutou/A canção que eu fiz pra ela/A minha mensagem de
amor/É tudo que eu tenho pra dar/Chorei de amor,/Eu sei,
chorei de amor/E um chopp pra distrair.../Um chopp pra
distrair,/Um chopp,chopp, pra distrair...(Um Chopp Pra Distrair
– Paulo Diniz)
O Bairro de Copacabana para VELHO (1999) no teve seu caráter modificado por meio
do uso da praia e as práticas por ela abrigadas de forma que alterou a sua rotina. O autor destaca
que a praia é:
“...um importante espaço de sociabilidade, culto à beleza física e às relações sexuais
e amorosas...cada vez mais atrai pessoas dos mais variados estilos de vida,
produzindo, em função dessa heterogeneidade, uma organização do espaço e do
tempo com áreas e domínios delimitáveis. O famoso espaço democrático da praia
tem suas regras e convenções... não está livre de conflitos...” VELHO (1999).
O mesmo autor, VELHO (1973:21-27), destaca que o bairro, nos anos 70, possuía um
estilo de vida
8
sofisticado e moderno sem ser um bairro exclusivamente de elite
9
, mas que
possuía uma atmosfera de aristocracia. A determinação geográfica do bairro ocorre por meio
8
BOURDIEU, Pierre Gostos de classe e estilo de vida. In: Ortiz, Renato Sociologia. São Paulo,
Ática,1983.
9
Elitizado Elite, em sua significação mais geral, denota uma grupo de pessoas que, numa sociedade
qualquer, ocupam posições eminentes. Mas especificamente, designa um grupo de pessoas eminentes em um
determinado campo. ____________, 1986Dicionário de Ciências Sociais. Rio de Janeiro, FGV,.
dos Postos, marcos divisórios da praia, os quais são em um total de seis
10
. Ainda informa que
existem algumas diferenças entre as diversas áreas de Copacabana, formando subáreas, as quais,
considera de grande importância devido a remeterem a uma hierarquização na classe social dos
indivíduos que residem no bairro. O Posto 6 é considerado uma área “residencial”, apesar do
grande número de estabelecimentos comerciais que abriga. Entretanto, o que mais valoriza esta
área é a posição geográfica que ocupa uma espécie de zona de transição, entre os Bairros de
Copacabana e Ipanema, considerado um bairro de elite desde a década de 70. O autor
acrescenta no mesmo ensaio que:
Hoje (no final da década de 90) o quadro sociocultural de Copacabana é bastante
complexo e diversificado em função de variáveis que atuaram ao longo de sua
histórias e de outras mais recentes. O bairro tem uma imagem muito marcante, com
repercussão nacional e internacional. Livros, músicas, filmes, fotografias são
algumas das formas de expressão que registram, comentam e elaboram todo um
conjunto de símbolos a ele associados. Copacabana apresenta, portanto, uma
dimensão cosmopolita. Desde a sua formação, há forte presença estrangeira. A sua
condição de bairro emblemático do Rio, capital do país até 1960, atrai visitantes e
novos moradores oriundos de todo o Brasil e do exterior. Durante décadas não tem
concorrente quanto a fama . Só a partir dos anos 60, Ipanema passa a disputar a
primazia, embalada, por sua vez, por manifestações artísticas, produção cultural e
novos tipos de marketing.” (VELHO, 1999:15)
Sendo a praia um espaço de sociabilidade inédito devido aos esportes, pelo culto a
beleza física e liberdade para às relações sexuais e amorosas, cabe lembrar que: “o turismo
interno e internacional estimula o setor hoteleiro, os serviços e a vida noturna. VELHO
(1999:16) O turismo para o autor foi um propulsor econômico e social do bairro e o agente
mediador nos limites das práticas legais e ilegais.
Copacabana recebe um grande numero de turistas na região devido a sua tradição em
bairro turístico de forma que abriga 24% das unidades habitacionais da Rede Hoteleira do
Estado do Rio de Janeiro, são em um total de 6.140 oficiais dentre os hotéis associados à ABH
RJ (Associação Brasileira de Hotéis), com capacidade para atender um número superior a
12.280 turistas/dia*, sendo que um número superior a 84 mil turistas/ano ficam hospedados em
hotéis cadastrados em Copacabana. Esse números não levam em consideração grande número
de imóveis comercializados por temporada em Copacabana. Os edifícios tipo cabeça de porco
10
Os postos de Copacabana foram inaugurados em 1918 , onde eram apenas postes de madeira com lugar para o
salva-vidas ficar no alto utilizando-se binóculos. Os postos modernos com escada e á rea de banho para a
população foram inaugurados apenas em 1935.
como cita VELHO(1973) ainda são em grande número na região e seus apartamentos são
alugados, muitas vezes, para temporadas. Não podemos restringir apenas os prédios populares
como ambientes alugados para temporadas, os luxuosos em frente à Praia, na Avenida Atlântica,
como também outros espaçosos com endereço na Rua Barata Ribeiro, e na Avenida Nossa
Senhora de Copacabana também são alugados para temporada, geralmente são anunciados em
sites estrangeiros, de imobiliárias ou por indicação de amigos. Um proprietário de apartamento
na região informa que “alugar para gringo não tem problema, não roubam e nem depredam o
ambiente e ainda rende mais financeiramente”.(homem 45 anos proprietário de apartamento
para aluguel por temporada.
A praia ainda hoje é objeto de constante presença na mídia do Rio de Janeiro. O
ambiente da praia está relacionado à cultura do corpo, a forma de hedonismo moderno nos
termos de CAMPBELL(2001), ao lazer, como uma forma de sociabilidade acessível a todas as
camadas da população, como também para diferentes faixas etárias. O ambiente da praia
proporciona atividades para bebês, crianças, adolescentes, adultos e idosos. O espaço da orla de
Copacabana foi construído pela interação de diversas atividades, é um elemento do meio urbano
carioca que possui representatividade internacional do cenário carioca. Parte das imagens
obtidas no local possibilitam identificar que o bairro de Copacabana possuía diversidade de
tipos sociais transitando por toda a orla incluindo, artistas, intelectuais, políticos e formadores
de opinião da sociedade carioca.
Um dos grandes erros que os pesquisadores comentem ao estudar praia e principalmente
a de Copacabana é levar em consideração apenas o período do verão. O clima do Rio de Janeiro
e as atividades que esse grande “clube a céu aberto” - nas palavras de uma moradora da região
(40 anos) - proporciona a seus moradores e visitantes, faz com que, a Praia de Copacabana
tenha vida todos os meses do ano e por mais horas diárias que as demais praias, mesmo fora do
horário de verão, quando adianta uma hora do horário normal, uma mudança no fuso horário
tornando os dias mais longos. Muitas são as entidades, organizações que contribuem para essa
tomada do espaço. A existência de marcos, que delimitam os espaços físicos da praia, também
formam uma fronteira simbólica que delimitam as áreas de maior freqüência por tipos sociais
em um determinado ponto da praia. Essas regiões morais (PARK, 1967) que tiveram diferentes
origens integram-se na totalidade do espaço.
Existe uma variação no fluxo de pessoas na orla de Copacabana sendo maior aos
Domingos e feriados que nos dias de semana. Com base na experiência de campo, no mesmo
local, identificou-se que a variação no fluxo também acontece em função de eventos esportivos,
culturais, manifestações várias e reveillon aumentando a circulação de pessoas no espaço da
praia independente de ser dia útil, ou feriado. Quando acontecem os eventos aumenta o número
de vendedores, ambulantes e barraqueiros, que fixam barracas ao longo do espaço da orla. Nas
areias também ocorre o aumento do número de barracas e de ambulantes de comidas, bebidas e
de bens de diversos tipos desde bonés, camisetas, cangas, infláveis, artesanato em geral,
bijuterias, artigos luminosos e muitos outros. Essa disposição do ambiente para receber
eventos e festas é parte de um calendário prodigioso de eventos como veremos no próximo
capítulo.
Em experiências de campo anteriores, onde a fotografia foi utilizada como instrumento
de pesquisa, uma considerável quantidade de imagens, obtidas para documentar o cotidiano do
espaço da praia e do calçadão, exibem a presença de bens
11
, de uso freqüente no espaço, com os
nomes, marcas de diversos tipos de produtos. Devido à expressiva presença, do que inicialmente
foi considerado como uma interferência visual, na documentação anteriormente proposta,
originou-se um novo objeto de estudo que deu razão de ser ao trabalho: A apropriação do
espaço público da praia por bens privados. No referido texto é apresentado como a praia
recebe aparatos promocionais de empresas privadas que patrocinam as diferentes atividades no
espaço. Esses bens, variam de redes, cadeiras, guarda-sol, tendas, mesas, banners, palcos, entre
outros, que delimitam áreas, espaços na praia.
No mesmo texto, menciona a coexistência entre marcas vivas e marcas mortas no
mesmo espaço, antes da medida da prefeitura que solicitou da retirada das marcas dos
mobiliários. Entende-se como marcas mortas, as marcas de empresas que não estão mais no
mercado, e marcas vivas as que ainda estão ativas. Como exemplo de um desses espaços não
raros na praia temos a rede de vôleis, que variam de patrocinadores, entre bancos, refrescos,
sucos, refrigerantes, e chás como podemos ver na imagem a seguir:
11
Para DOUGLAS “os bens são acessórios rituais”. DOUGLAS, Mary,ISHERWOOD, Baron, 2004 O mundo
dos bens: para uma antropologia do consumo; Tradução de Plínio Dentizien. Rio de Janeiro, Editora
UFRJ.
Redes quase que particulares para as escolinhas, exibindo marca de
tradicional bebida comercializada na praia “MATE LEÃO”.
Abril de 2003. Por Flávia Fernandes
O fato do bairro de Copacabana agregar uma variedade de estabelecimentos comerciais
por toda a orla, especialmente os gastronômicos, e uma diversidade de atividades, incluindo as
transgressões sociais, como a prostituição de mulheres e travestis, faz com que o uso do
calçadão e da calçada da Av. Atlântica sejam ininterruptos, assegurando o status de “um bairro
que tem vida 24 horas por dia”. O perfil de transeuntes no espaço muda em função do horário,
embora garanta a manutenção do fluxo de pessoas. A extensão de Copacabana, que se torna o
bairro do Leme, embora possua o menor fluxo de todos os três espaços, conta com o reforço
militar do forte mesmo durante a noite, diferente do Posto 6. Porém, a praia possui duas
realidade distintas: a segurança do dia e do início da noite, próxima a beira do calçadão, dá
lugar a insegurança da noite principalmente nas áreas onde as areias possuem maior extensão.
Para VELHO:
“Embora ir a Copacabana não mantenha o mesmo quase e que universal glamour de
um passado recente, ainda é programa de lazer e consumo para diversos grupos e
categorias de brasileiros e estrangeiros.” VELHO(1999:20)
Nos diferentes momentos que realizei o meu trabalho de campo pude identificar as
seguintes categorias: habitué idoso, habitué adulto, habitué jovem, habitué criança, trabalhador
ambulante, pescador proprietário, pescador funcionário, suburbano jovem, suburbano adulto,
freqüentador de domingos e feriados jovem, freqüentador de domingos e feriados adulto,
prostitutas ou na categoria nativa “princesas das areias”, travestis, comerciantes das areias,
quiosqueiros, trabalhadores do bairro, turistas do Rio, turistas de fora do Rio e turistas
estrangeiros, bombeiros/salva vidas, policiais militares e policiais da guarda - municipal e
pivetes. O habitué geralmente está na praia de segunda a segunda, ou apenas nos dias de
semana como no caso do habitué jovem que nos finais de semana migra para Ipanema,
especialmente o posto 9 onde ficam os universitários. Os trabalhadores (quiosqueiros e
comerciantes das barracas das areias), ambulantes, pescadores estão presentes no espaço de
segunda a segunda.
O lado da calçada da Avenida Atlântica é ocupado por: hotéis, bares, restaurantes de
diversos tipos, condomínios residenciais, ambulantes, artistas plásticos, clube de jogos posto
6, casas noturnas, danceterias, escola, consulados, entre outros espaços privados e abertos à
visitação. A calçada possui um fluxo de pessoas constante com uma maior intensidade no final
da tarde para a noite, principalmente, nos finais de semanas e véspera de feriados. Devido à
diversidade de opções de lazer, gastronomia que o espaço disponibiliza, independente do
período do ano, o fluxo de pessoas pertencentes à vizinhança e visitantes em geral, na região, é
constante, tornando-se ainda mais numeroso no período de dezembro a fevereiro, devido a
grande quantidade de turistas que são atraídos para a cidade e ocupam não só os hotéis da
região, mas como também os apartamentos alugados para temporadas. O espaço público da
calçada não é utilizado para expor marcas em mobiliários ou por meio de outros bens, mas é
possível a visualização dessas marcas, impressas em bens dispostos nas extensões dos
restaurantes, as quais são consideradas como espaço privado quando estão sendo utilizadas, já
incorporadas à paisagem das calçadas.
O espaço do calçadão, que beira toda a praia, possui uma ciclovia utilizada também para
a patinão. O espaço é destinado à prática de exercícios para atletas amadores, sendo possível
encontrarmos atletas profissionais treinando logo nas primeiras horas das manhãs. Entre a
ciclovia e a areia da praia encontra-se a área interna do calçadão, um espaço utilizado para
caminhadas, para o lazer, passeio, e ou como prática esportiva de condicionamento físico. É no
calçadão que estão os postos de salvamento; construções com a finalidade de prover uma
visualização do espaço da areia e da água de forma a garantir a segurança do local. Os postos
o ocupados por salva-vidas, membros do Corpo de Bombeiros. Possuem também uma infra-
estrutura de sanitários e duchas de água doce a qual é cobrado o valor de Um Real para o
acesso. Na extremidade mais alta dos Postos estão afixadas placas luminosas denominadas
front light”, onde imagens da cidade são expostas, e em algumas ocasiões são comercializadas
para expor material de divulgação de empresas privadas. Algumas das imagens do local são de
autoria de um conceituado fotógrafo de um grande jornal carioca, com alto índice de leitores.
Os quiosques também estão dispostos no calçadão e comercializam produtos naturais
como à água de coco, suco de frutas, e produtos industrializados: cervejas, refrigerantes,
bebidas energéticas, alimentos em geral: como biscoitos industrializados, peixes, hamrguer,
cachorro quente, salgadinhos em porções, salgados grandes, misto quente, batata frita, enfim
uma variedade de cardápio em função da localização e do tipo de quiosque. São espaços
utilizados por indivíduos pertencentes à vizinhança e visitantes para comer e beber, para o
descanso e encontros sociais, incluindo os jogos de carta, e muitas outras atividades. Cada
quiosque possui uma identidade própria, entretanto apenas uma minoria possui um mobiliário
composto por cadeiras, mesas e guarda-sol, com o nome do seu comércio, os demais possuem
um mobiliário cedido por empresas interessadas em divulgar, no espaço da orla de Copacabana,
o seu nome, a sua identidade por meio da marca. o empresas de diferentes tipos: desde
produtos comercializados pelos quiosques até empresas de telefonia fixa e vel. Ainda no
calçadão encontramos ambulantes comercializando diversos produtos, escultores de areias,
pintores, artistas de rua representando personalidades da cultura brasileira como sósias da
artista Carmem Miranda e outros. Desde 2005 a prefeitura em parceria com a Orla Rio,
iniciativa privada e proprietários dos quiosques vêem transformando a organização espacial
dessa área com a construção dos novos quiosques que levam o nome de restaurantes famosos e
tradicionais do Rio como o Bar Luiz e o Caroline Café. Alguns proprietários antigos como o
Raibow que era conhecido por ser uma ambiente GLS ganhou novo espaço e passa tamm por
transformações do seu público freqüentador agora é Pizzaria Raibow. Um dos primeiros a ser
inaugurado foi a Cafeteria Nescaconforme imagens a seguir:
Quiosque antigo, exibindo o material promocional
que as empresas que ofereciam sem um padrão.
Maio de 2004. Por Flávia Fernandes
Novo Quiosque da Praia de Copacabana.
Fevereiro de 2006. Por Flávia Fernandes
Área de atendimento com telefone e computador.
Fevereiro de 2006. Por Flávia Fernandes
Subterrâneo com banheiros, cozinha e guarda volume.
Fevereiro de 2006. Por Flávia Fernandes
No primeiro quadro temos o modelo de quiosque antigo, exibindo marca de empresas
que ofereciam o material promocional sem a autorização da Orla Rio ou da prefeitura. Nos
demais quadros são das dependências dos novos quiosques que tiveram a suas obras iniciadas
em 2005 e com a inauguração sendo feita em partes desde 2006.
As extremidades do Calçadão de Copacabana contam com dois Fortes Militares, os
quais possuem vistas panorâmicas. Construído em 1914, com o objetivo de reforçar a defesa da
Baía de Guanabara, o Forte de Copacabana possui muitos atrativos tais como museu, café,
administrado pela tradicional Confeitaria Colombo, e uma área interna aberta à visitação onde
acontecem eventos organizados por uma grande rede de comunicação de massa um jornal.
Recentemente recebeu o troféu Copa do Mundo em um evento promovido por uma forte marca
de refrigerante. O Forte exerce uma forte vigilância sob as imediações do “Posto 6” durante o
dia, e no período da noite es voltada apenas para as depenncias do mesmo, não contribuindo
muito com a vigilância do espaço do calçadão onde encontra-se a Colônia de Pescadores. A
proximidade da casa de jogos gera um maior fluxo no local à noite, mas que se limita apenas à
calçada da Avenida Atlântica.
A área da Colônia de Pescadores, do Posto 6, que durante o início da manhã até o final
da tarde possui uma grande intensidade de indivíduos transitando, torna-se muito vazia no
período da noite quando é usada como abrigo para ambulantes e moradores de rua. É comum
encontrarmos indiduos dormindo em baixo das bancadas, de concretos, onde durante o dia são
expostas às mercadorias originárias da pesca para a comercialização. No interior da Colônia de
pescadores não encontramos bens com marcas impressas de empresas públicas ou privadas. Um
empresário da pesca e reformado nas forças armadas declara que “somos primitivos em meio ao
moderno, e por isso os turistas, moradores gostam de ficar por aqui, na sobra dessa
amendoeira” (entrevista com seu Nono, em fevereiro de 2003).
A Colônia é um expressivo espo de sociabilidade da praia. Recebe diariamente a visita
de indivíduos que interagem no espaço para a compra de mercadorias e para os jogos de carta.
As sombras proporcionadas pelas amendoeiras abrigam freqüentadores antigos e assíduos para
as conversas informais, jogos de carta e churrascos, especialmente aos domingos. O espaço por
ser coberto por amendoeiras proporciona um longo período de sombra e, é também, ponto de
descanso para idosos, crianças, atletas, ambulantes. È um espaço privado, reservado dentro do
espaço público da praia, que tem como atividade principal o comércio de peixe, e conjuga como
o espaço para o lazer, ócio, o descanso de seus freqüentadores. A interação entre membros da
colônia e freqüentadores da praia é grande, de forma que gera uma intensa sociabilidade em seu
espaço e serve como ponte de refencia para turistas conhecerem um pouco da Copacabana do
passado.
Quem chega a Colônia é sempre bem recebido pelos seus proprietários, trabalhadores,
pescadores e freqüentadores assíduo do espaço, como muitos aposentados do ercito e
marinha. A cordialidade no espo com quem é de fora, com os turistas e com quem vai para
apenas descansar é grande. O barulho da manhã, do entra e sai de pesca e de compradores é
grande. à tarde o espaço é muito sossegado tranqüilo e fica restrito a presea de alguns
trabalhadores e de transeuntes que m desfrutar do espaço para o descanso ou fruição da
paisagem.
Balcão de exposição do pescado que
chega na hora. Fevereiro/Março de
2003. Por Flávia Fernandes
Pai Preto – de Motorista de Caminhão
que transportava cimento a Pescador
na Aposentadoria. Fevereiro/Março
de 2003. Por Flávia Fernandes
Senhoras descansam após
caminhada diária.
Fevereiro/Março de 2003.
Por Flávia Fernandes
Pescadores - Pausa para descanso e
posar para a fotos após a chegada dos
barcos. Fevereiro/Março de 2003.
Por Flávia Fernandes
Na área interna da Colônia espaço
para a mesa de biriba com jogadores a
espera da rodada subseqüente.
Fevereiro/Março de 2003. Por Flávia
Fernandes
Babá e menino de 4 anos repousam a
sombra das amendoeiras em uma
tarde de domingo na Colônia de
Pescadores. Fevereiro/Março de
2003. Por Flávia Fernandes
Entrada da área reservada para guarda
material, ao fundo da peixaria.
Fevereiro/Março de 2003.
Por Flávia Fernandes
Pescadores e comerciantes da Orla de
Copacabana em churrasco de domingo
à tarde. Fevereiro/Março de 2003.
Por Flávia Fernandes
Cavaquinha e carne que de acordo
com informante é uma combinação
exclusiva de jantares nos mais
luxuosos transatlânticos.
Fevereiro/Março de 2003. Por Flávia
Fernandes
Aos domingos depois da pesca e da venda do que é pescado é comum a reunião de
alguns dos pescadores com seus amigos, militares, comerciantes, proprietários de barracas ou
ambulantes, para um “churrasco” que possui características peculiares ao grupo como a
preparação da cavaquinha – que sobra, vem presa na rede de pesca, e é jogada viva na brasa até
ficar no ponto para ser servida. No churrasco da Conia de pescadores vê-se a carne misturada
ao crusceo, ao peixe e à liniça.
Na colônia sempre se é bem vindo para fazer pesquisa, mas os próprios pescadores mais
antigos aconselham para estarmos atentos às mentiras que contam para melhorar a sua
entrevista. Atenta a esse conselho não fiz entrevista formal com nenhum deles, apenas conversas
informais e retorno das imagens obtidas no local que deu origem ao trabalho.
As Relões de Sociabilidade na Colônia de Pescadores.
As outras partes do calçadão, depois da Colônia de pescadores, até antes a quadra do
Hotel Lê Meridiem - que no momento está em reforma e virá a ser Iberostar Copacabana,
devido à diversidade de tipos sociais, da variedade de atividades que abriga e de também ser
passagem obrigatória para a praia – areia, possuem um fluxo constante de transeuntes, durante o
dia como também à noite, devido à vizinhança e visitantes de uma maneira em geral. O espaço
que assume dicotomicamente a noção de lugar e não lugar nos termos de AUGÉ(1994). A
extensão do calçadão, pós o hotel, que pertence ao bairro do Leme não possui um fluxo tão
intenso quanto às demais áreas. Na área da colônia de pescadores, à noite, o fluxo de pessoas é
muito raro. Tanto a praia, bem como o calçadão, referente ao bairro do Leme, possui um fluxo
muito inferior ao de Copacabana durante a semana e nos finais de semana. A diferença de tipos
sociais transitando nos três espaços é muito grande. A praia do Leme é ocupada,
predominantemente, por moradores dos morros do Leme, o calçadão apesar de ter um fluxo
menor acompanha a diversidade do calçadão como um todo e a calçada da quadra do antigo
hotel Meridiem, é ocupada por uma elite que transita para suas casas e para o comércio que
abriga.
A praia é ocupada por banhistas de uma maneira geral, ambulantes, pescadores de anzol,
rede/tarrafa, barraqueiros de bebidas e comidas, banhistas de diferentes tribos. Na visão dos
nativos é possível identificar as diferenças nas diversas áreas da praia, a do Leme é ocupada por
minoria de moradores e maioria de moradores dos morros dos arredores. Já na região do Posto
2, principalmente na área conhecida como dois e meio - que fica nos limites do Copacabana
Palace - existe um grande fluxo de homossexuais e de turistas, e também de travestis tal como
nas proximidades da danceteria “Help”. Os grupos GLS tem como ponto ou point para os
mais velhos - nas imediações do antigo e do novo quiosque Raibown, embora com o novo
quiosque tenha aumentado em número os freqüentadores hetorosexuais. A maior freqüência nas
imediações da Rua Bolívar, é de dos idosos e de moradores acompanhados de crianças e
deficientes físicos como também nas imediações do Posto seis que conjuga o espaço com
moradores dos morros daquela região e com a tradicional colônia de pescadores. Os grupos de
jovens denominados playboys ficam na região nas imediações do Posto 4 como também nos
limites da Rua Figueiredo Magalhães.
Em frente aos hotéis como Othon, Marriot, existe uma grande concentração de turistas
em função do espaço que os hotéis reserva para eles em tendas e cadeiras. Sendo área de
turistas as prostitutas são atraídas para os mesmos espaços, embora em frente ao Othon tenha
uma grande concentração de crianças devido a água do mar ser mais calma e das atrações que
os barraqueiros oferecem como brinquedos. Turistas hospedados em hotéis de luxo da orla
possuem espaços em tendas com um mobiliário composto por cadeiras, toalhas e guarda-sóis
que delimitam dentro do espaço público da praia um espaço privado para os hóspedes do hotel
sob a vigilância de seguranças.
Para que seja possível tal limitação no espaço é utilizado o discurso da falta de
segurança para o turista que é constantemente reforçado pela mídia de massa. A segurança dos
hóspedes, mesmo fora das dependências dos hotéis, agrega valor ao serviço de hospedagem. As
áreas demarcadas e o mobiliário são para o uso restrito dos hóspedes e possuem serviço de
massagistas. Entretanto o “jeitinho brasileiro se torna expressivo em períodos de baixa
temporada no turismo, quando membros da vizinhança e tipos vocacionais que possuem
relações, menos superficiais, com os seguranças desfrutam dos espaços apropriados pelos
hotéis.
Aqui deveríamos discorrer sobre o discurso de hospitalidade que os hotéis possuem no
tocante a essa delimitação do espaço. A intenção dos hotéis é proporcionar conforto, segurança,
privacidade livre de pedintes, e praticidade aos sues hóspedes para que não seja necessário
levar para a praia todo um aparato de cadeira, tolhas e guarda-sol.
Barraca com mobiliásrio do Othon Palace.
Fevereiro de 2006. Por Flávia Fernandes
Conforto de cadeiras e toalhas para os hóspedes.
Fevereiro/Março de 2003. Por Flávia Fernandes
O hotel mais tradicional do espaço, o Copacabana Palace não possui nenhuma barraca
montada e é rara a identificação de hóspedes nos arredores do mesmo tomando banho de sol nas
areias. São personalidades brasileiras e estrangeiras que se hospedam no hotel mais tradicional
do cenário carioca e usam a piscina do hotel por ser mais segura, livre da violência da cidade.
Cabe aqui ressaltar o que vimos no primeiro capítulo a respeito de quem freqüentava as
imediações do Copacabana Palace, eram os seus hóspedes que geralmente eram personalidades
do cinema, da música, da política incluindo realezas de diversos países como se pode conferir
no livro de ouro do mesmo e amplamente divulgado pelas revistas ilustradas e jornais em
circulação na época. É possível que os hóspedes do início do século fossem mais ricos e mais
importantes que os atuais freqüentadores do hotel, salvo personalidade como o vocalista dos
Rolling Stones, que ganhou as páginas dos principais jornais do país. O que nos é importante
refletir é a diferença na freqüência desse posto, conhecido como dois e meio e que hoje abriga
grupos de rapazes e moças que vêem do subúrbio do Rio de Janeiro e de Municípios vizinhos
pela integração do metrô com o trem ou do metrô com o ônibus e se estabelecem nas
imediações do Copacabana Palace para fazer praia.
No período das fotografias analisadas anteriormente o local dispunha de grupo de
sicos transitando pelo espaço da calçada, a beira dos hotéis com instrumentos de corda como
o violino, violão cello, cavaquinho, violão. Esse dado foi obtido por meio de fotografias
analisadas do grupo Time e Life do fotógrafo Thomas D. Macavoy de 1 de Janeiro de 1943.
Hoje, também temos quartetos/quintetos de sica, que com instrumentos diferentes, são: o
bumbo, pandeiro, tamborim, tambor e as sicas variam entre pagode e o samba. Os grupos
circulam por entre os quiosques e restaurantes tocando para os turistas e freqüentadores em
troca de alguns trocados. Das observões que fiz no local tanto em quiosque quanto em
restaurantes pude observar que eles atraem mais a atenção dos turistas nacionais e estrangeiros
ao mesmo tempo em que são motivo de incômodo e desconforto para os locais, os moradores
da região que não agüentam mais escutar as mesma músicas.
Por toda a praia, a beira do calçadão, encontra-se uma grande quantidade de quadras
esportivas que abrigam atividades até o período da noite. Essas quadras são importantes
mecanismo de atração da vizinhança, de freqüentadores do bairro e de visitantes para a
manutenção de pessoas transitando pelo local para a prática de esporte ou até mesmo como
expectadores. Tanto as quadras quanto às atividades do calçadão garantem que os olhos da
vizinhança que reside nos prédios da orla sejam constantemente atraídos para esses espaços. As
quadras destinadas à formação de atletas de futebol ou vôlei de praia possuem as marcas das
instituições que as patrocinam.
Os instrutores dessas quadras argumentam que os investimentos financeiros, que as
empresas destinam para terem as suas marcas impressas, possibilitam o acesso às práticas
esportivas, orientadas, aos indivíduos das camadas populares. Entretanto, os mesmos instrutores
declaram que os freqüentadores são indivíduos da vizinhança, que residem em prédios próximos
às quadras. Um instrutor em entrevista no ano de 2003 informou que “as crianças de um
mesmo prédio acabam se conhecendo aqui, na rede, sem nunca antes terem se visto, fazem
amizade e começam a se relacionar” . Em função das quadras muitas crianças criam elos de
fraternidade que se estende para outras atividades e para datas festivas como aniversários, Natal,
Ano Novo, dia das crianças. Independente da modalidade, as quadras são importantes
mecanismos geradores de sociabilidade no espaço entre moradores, comerciantes, favelados,
filhos de comerciantes, trabalhadores ambulantes, trabalhadores das areias, quiosqueiros,
pescadores.
Mesmo sendo as quadras importantes mecanismos de inclusão social é possível perceber
os diferentes grupos que as ocupam. Diferenças nos usos, costumes, práticas, estilo de vida,
vestimenta, consumo de alimentos bem como de horário.
Aquecimento para o Jogo. Fevereiro/Março de 2003.
Por Flávia Fernandes
Roda de um toque – crianças treinando recepção e
condução da bola de vôlei. Fevereiro/Março de 2003.
Por Flávia Fernandes
Pequeninos e maiores no jogo pra valer.
Fevereiro/Março de 2003.
Por Flávia Fernandes
O grupo da escolinha treinado passagem da bola de
vôlei pela rede. Fevereiro/Março de 2003.
Por Flávia Fernandes
Como podemos observar no quadro do Vôlei infanto-juvenil a rotina se dá de
aquecimento, roda de um toque, e depois o jogo entre as equipes. Os integrantes dos grupos
que praticam atividades nas areias possuem uma relação de posse com a sua quadra. Não é raro
encontrar alguém chateado porque pessoas de fora estavam ocupando as quadras quando
chegaram. Mesmo quando a quadra não é de nenhuma ONG , mas sim alugada por grupos de
amigos dentro de uma rotina específica que varia de duas vezes por semana, uma vez por
semana, três vezes por semana, aos domingo. A quadra é uma área privada dentro do espaço
público da praia. Mesmo nas diferentes modalidades esportivas que encontramos na praia. As
quadras, redes podem ser alugadas com barraqueiros, quiosqueiros, escultores de areia, pelo
turistas ou freqüentador que vem de fora e não possui a uma quadra com grupos de amigos
alugada de forma permanente, anualmente com a prefeitura.
As regras de comercialização da quadra variam conforme os fregueses. Quem detém a
quadra paga uma taxa anual para a prefeitura. Um escultor de areia estrangeiro que está situado
no posto 5 de Copacabana e possui uma quadra informou que os valores de sua quadra variam
de totalmente de graça para os meninos do morro do Pavão, Pavãozinho, favelas próxima ao
local a até R$ 15,00 ou R$ 20,00 para turistas de fora do país por apenas uma hora de jogo. Não
existe uma tabela fixa, mas há um consenso entre os proprietários das quadras para terem
flexibilidade nos valores a serem cobrados em função de quem é o seu cliente, da onde é o seu
cliente, como também com que freqüência usa o espaço. O grau de familiaridade, amizade que
possui com o “proprietário da quadra” é o fator determinante para que seja estabelecido o valor
de comercialização entre as partes. Cabe aqui ressaltar que as quadras com as suas variadas
práticas integram a paisagem natural da praia compondo um ambiente voltado para o lazer
esportivo.
Por toda a Orla, beirando o calçadão é possível encontrar os tradicionais escultores de
areia. Cada uma com seu estilo próprio os temas variam de “castelos encantados” as “princesas
das areias”. Em fotos de arquivo verifiquei que desde a década de trinta os artista de areia
marcavam presença em Copacabana.
Escultura na areia em andamento Fevereiro/Março de
2004. Por Flávia Fernandes
Os artistas das areias - de doação em troca de
fotografias vivem e ganham os seus dias.
Fevereiro/Março de 2004. Por Flávia Fernandes
A dinâmica se dá de tal forma que eles se apropriam do espaço, que muitos já possuem
há mais de 10 anos ou herdaram de quem aprenderam a produzir e elaboram com a areia da
praia, as mais variadas esculturas as suas forma de expressão conforme o que está acontecendo
no momento. Os temas variam de mulheres a castelos. Aos turistas, moradores, transeuntes, é
cobrado o valor de R$ 2,00 por uma foto. O artista estrangeiro em entrevista afirmou que tal
como o aluguel da rede o valor cobrado para obter a fotografia também é relativo à qualidade da
máquina fotográfica, mas é possível vermos cartazes feitos à mão em português, inglês
cobrando uma doação por cada foto tirada da escultura.
No caso do calçadão, e da praia, a presteza dos comerciantes no guardar os pertences
dos transeuntes gera uma relação de reciprocidade entre ambos – dom e contra dom, garantindo
a segurança do favorecido em ter os seus pertences guardados. Durante o dia a questão da
segurança na praia para os freqüentadores possui a contribuição dos comerciantes das areias -
barracas de areia e ambulantes em geral que auxiliam na manutenção da ordem do local
evitando o ataque de gangues de garotos nas proximidades de seus comércios e de seus
fregueses. Os comerciantes oferecem segurança em troca de que os freqüentadores façam
consumo em sua barraca, quiosque, ou simplesmente indique amigos a freqüentar.
O espaço é parcialmente ocupado por artigos de uso freqüente no espaço das areias, tais
como: guarda-sol, cadeiras, toalhas, e material esportivo que a vizinhança, visitantes e turistas
trazem para serem utilizados no espaço. O espaço da praia por possuir um caráter informal, de
acordo com os informantes, possibilita o uso de elementos os quais os indivíduos não os
utilizariam em outros espaços sociais, inclusive no espaço da casa. A utilidade do material,
unida à praticidade para o transporte, facilita a exposição dos mesmos nos espaços públicos. A
prefeitura do Rio Junto com a Orla Rio e Associação dos Comerciantes das areias estão
mudando aos poucos o visual do espaço oferecendo cadeiras e guarda-sol padronizados, mas
dos modelos mais simples, não chegam a ser os “ombrelones” tal como são oferecidos na Praia
do Forte em Cabo Frio ou os quiosques de palha das praias do Nordeste do país. São os
tradicionais guarda-sol, só que com a programação visual padronizada pela Orla Rio.
Intelectuais, artistas visuais e formadores de opinião, de uma maneira geral, abordados
na orla de Copacabana consideram que a intensa exposição de marcas unidas às atividades de
promoção das marcas, com demonstrações e lançamentos de produtos e serviços nas areias e no
calçadão, causam uma interferência visual, “poluindo por não seguirem um padrão estético,
uma unidade no mobiliário como é na praia de Cabo Frio, Na Região dos Lagos no litoral do
Estado. Os grupos mencionados anteriormente também usufruem dos bens dispostos tanto no
cotidiano quanto em períodos de festas. A maioria dos interlocutores não pareciam estar
incomodados com as marcas expostas, nem mesmo pareciam percebê-las de forma que gerasse
reclamações. Eram comuns as brincadeiras do tipo, “só sento se for da marca X (geralmente de
cerveja)”, mas passaram a expor uma certo desconforto quando o material passou a ser pintado
de preto no local das marcas de forma que o preto exposto no colorido do guarda-sol causou
uma impressão de sujeira.
A regra, norma estabelecida pela prefeitura para higienizar o espaço, limpar o espaço
tornando-o puro, acabou sendo um elemento a mais de poluição, pois a tinta preta que os
comerciantes utilizaram para jogar em cima das logomarcas e para aproveitar o material já
existente, transmite a quem é do local e quem não é do local, a sensação de sujeira, de que o
material está sujo de graxa, carvão, poeira. Tal medida acabou piorando a condição anterior que
mesmo causando poluição visual em função da variedade de marcas ainda era um colorido mais
adequado ao ambiente da praia.
Guarda- Sol com as logomarcas escondidas –
determinação da Prefeitura e fiscalizado pelo
Xerife da Praia. Janeiro de 2006.
Por Flávia Fernandes
Os ambulantes cadastrados que usam acessórios com as marcas e imagens dos produtos
como uma forma de informar aos clientes que possuem a permissão da instituição, que
consideram ter credibilidade, para a comercialização dos produtos. Informam que alguns bens,
tais como os uniformes, amenizam a formar marcas, cicatrizes devido ao excesso de peso que
transportam diariamente sem o auxílio de um veículo condutor nas areias ou em outros locais.
Os “uniformes”, isopores, garrafas e outros tipos de bens são adquiridos quando os ambulantes
conseguem comprar um volume de produto considerado adequado para receber o “benefício”.
Tais volumes são estipulados pelas indústrias ou pelos atacadistas variando conforme o produto
e marca comercializada. Após a reforma de 2005 proposta pela prefeitura os mesmo passaram a
usar um colete cinza com a marca da prefeitura em laranja. O cinza embora seja uma cor neutra
é associado ao sujo, impuro, triste, sóbrio, aspectos que não se integram, e não correspondem ao
ambiente alegre, descontraído e festivo que é a Praia de Copacabana.
Personagens das areias mais famosas do mundo.
Fevereiro/Março de 2003. Por Flávia F Fernandes
Ambulante em seu primeiro dia – Grande expectativa
de venda. Fevereiro de 2006. Por Flávia Fernandes
Descanso merecido – Vendedores de cangas, vestidos
e saídas de praia. Fevereiro de 2006.
Por Flávia Fernandes
NO compasso do passo - Bronzeadores sem fator de
proteção solar ainda são comercializados. Fevereiro de
2006. Por Flávia Fernandes
Ao longo toda a praia, durante o dia e parte da noite, é comercializado de tudo um
pouco, desde alimentos, tal como camarão frito, empadinha, queijo coalho, pizza, biscoito
polvilho, picolés de diversas procedências, bebidas a base de chá gelado, refrigerantes, cervejas,
batas, vestidos, bolsas, bijuterias, artesanato, bronzeadores, infláveis com motivos de desenhos
animados, presilhas para cabelo, bonés, viseiras entre outros.
Tal como na teoria de MCCRAKEN(2003) os bens na praia de Copacabana também
andam juntos na sua comercialização, uso, fruição ou consumo. Independente a que grupo
pertença o freqüentador, se é habituémorador, habitué suburbano, turista ou outras categorias
o consumo se dá em geral acompanhado e os mais evidentes a observação e citados
informalmente por informantes foram: Biscoito O Globo mais Matte Leão; A empadinha com
Cerveja, O picolé com água mineral, A pizza com o refrigerante, bronzeador para os
“suburbanose óculos de sol, protetor solar e óculos de sol, canga com biquíni, bermudão com
sunga em baixo, cadeira de praia com guarda sol, peixe frito com cerveja, bicicleta com água de
coco. De acordo com informantes o consumo de um item já está intimamente relacionado ao
outro, são em grande maioria interdependentes. Consumir um leva a consumir o outro conforme
algumas falas de freqüentadores:
“Vir a praia é sinônimo de pegar sol, comer biscoito e tomar Mate”
“Trago canga/toalha e havaianas, o biquíni/sunga vem no corpo”
“Pago pela cadeira o guarda sol, assim não preciso trazer nada”
“Tem que ter a empadinha com cerveja para a praia ser completa”
“Nesse sol, só com água de coco e guarda-sol para ficar hidratado”
(Fragmentos que se repetem em entrevistas formais e informais realizadas
com homens e mulheres entre 2003 e 2006 no espaço da praia)
Os duzentos barraqueiros das areias de Copacabana possuem uma legislação de uso do
espaço que limita o número de cadeiras a serem dispostas para a direita e para a esquerda como
também da obrigatoriedade de estar presente no espaço no horário estipulado tal como uma loja
em um shopping center obedece à regra da administração do shopping. Isso não é rigidamente
fiscalizado como nos shoppings e o fator que regula a manutenção da barraca montada ou se vai
montar ou não é o tempo, se está sol ou não, bem como o volume de pessoas na praia. Em dias
de festa, mesmo com o tempo ruim muitos montam as suas barracas para atender ao grande
público que freqüentam os eventos promovidos no espaço.
Os comerciantes das areias, fixados em barracas, além de possuírem uma relação de
reciprocidade com os freqüentadores da praia no auxílio da manutenção da segurança e na
garantia do consumo de seus produtos, alugam bens do tipo guarda-sol e de cadeiras, em menor
número, para os freqüentadores que não possuem o costume de carregar o próprio guarda-sol
como também para visitantes e turistas. O aluguel por dia custa uma média de R$ 3,00/U$1,00 e
de acordo com os mesmos auxilia na identificação dos clientes, por serem numerados e
identificados por meio de inscrições manuais. Especificamente o guarda-sol, delimita a área de
atuação dos comerciantes evitando que outros fixos das areias ofereçam seus produtos. Esses
bens são utilizados como fonte de renda no seu aluguel e como forma de marcar território, para
a comercialização de seus produtos. Os comerciantes das areias não inutilizavam os bens que
possuíam marcas “mortasimpressas, ainda que estivessem conflitando com marcas existentes,
mesmo no caso específico de uma marca ter sido comprada por outra, ambas coexistiam no
espaço das areias de Copacabana garantindo que as mantivessem vivas no imaginário coletivo
dos freqüentadores do espaço.
Barracas das areias. Imediações do Hotel Marriot.
Fevereiro de 2006. Por Flávia Fernandes
As barracas possuem o número da posição, a indicação se é do lado direito ou esquerdo
e o os apelidos dos seus proprietários.Os comerciantes dos quiosques utilizam-se dos bens, do
mobiliário composto por mesas, cadeiras e guarda-sol, tal como os ambulantes. São elementos
que fazem parte do ofício de comercializar alimentos e bebidas. O ato de comer e beber leva à
necessidade de um aparato proporcionando o conforto adequado, para legitimar a qualidade do
serviço prestado pelos comerciantes dos quiosques. Esses bens são adquiridos de diversas
formas, desde doações de empresas que possuem o interesse de divulgar a marca no espaço do
objeto de estudo, até o estabelecimento de um volume de consumo do produto, no próprio
quiosque, para receberem como premiação o mobiliário completo ou apenas uma parte.
A ideologia para o uso de tais elementos no espaço público da praia era estabelecida
para os comerciantes dos quiosques, das areias e ambulantes, na necessidade de propagar
marcas de produtos e serviços, que possuem vínculo com os tipos vocacionais mencionados
anteriormente, que usufruem os bens para a obtenção de êxito nas vendas. As marcas impressas
nos bens de uso cotidiano do espaço, em grande maioria, são possíveis de serem consumidos no
mesmo espaço. O grande sonho desses comerciantes é dispor de cadeiras de plástico, tais como
são oferecidas pelos hotéis para os seus clientes, proporcionando maior conforto, prolongando o
tempo de praia e aumentando o consumo de produtos.
Entre os comerciantes e freqüentadores, ou até mesmo turistas existe uma relação de
reciprocidade entre o consumo e a garantia de segurança tendo os pertences guardados pelos
comerciantes enquanto se dá um mergulho no mar, ou pratica algum esporte. São os favores
entre comerciantes, freqüentadores e turistas nos termos de JACOBS(2001). Os habitues, de
maneira em geral, deixam os seus pertences, incluindo carteiras, celulares, chaves, bolsas,
sandálias, bicicletas, prancha, canga, roupas com os barraqueiros das areias em troca do
consumo de seus produtos. Não fiz nenhuma pesquisa no acervo da Polícia Municipal nem na
Guarda Municipal para verificar se há desagrado, discórdias em relação a essa troca, mas no
período que fiz observação no local e as pessoas que entrevistei não percebi nenhuma forma de
desagrado de ambas as partes, mesmo quando os pertences guardados são de jovens que não
fazem consumo de artigos comercializados pelas barracas. Os barraqueiros não cobram pelo
“serviço” que faz parte da relação de reciprocidade entre eles e a vizinhança.
No espaço da orla e da praia, as relações entre os indivíduos e os grupos também são
distintas, com diferentes técnicas corporais
12
,
predominando um estilo mais informal, com um
grau de familiaridade entre os indivíduos, restrito aos tipos vocacionais entre si e aos
freqüentadores de regiões menos densa, postos mais afastados das áreas de recepção de
visitantes, que ocorrem, em grande número, por meio do metrô
13
. Isso acontece, principalmente,
nas regiões do Leme e do Posto 6, devido a menor concentração de pessoas, causando relações
menos superficiais que em outros espaços de Copacabana.
12
MAUSS a define como “as maneiras como os homens, sociedade, por sociedade, e de maneira tradicional,
sabem servir-se de seus corpos” O domínio da técnica corporal em um sociedade conota par ao mesmo autor
um situação de prestígio, sendo o corpo é o primeiro e o mais natural instrumento do homem. MAUSS,
Marcel. 1974 As técnicas corporais”. In Sociologia e Antropologia (2 vols.). Tradução de Mauro W.B de
Almeida . São Paulo, Edusp,.V.2, cap 1, p. 211 – 218.
13
No Bairro de Copacabana até 2006 eram duas as estações de metrô A Arcoverde que foi a primeira
inaugurada fica nos limites do hotel Copacabana Palace e a segunda inaugurada é a estação Siqueira Campos,
com duas saídas uma para a Rua Siqueira Campos que sai na praia e outra na Barata Ribeiro próximo a Rua
Figueiredo Magalhães. Hoje em 2007 Já existe mais uma estação inaugurada – Cantagalo.
Embora tenha problemas de violência constante no espaço a praia é ainda usada como
um ambiente de reestruturação “um mergulho no mar cura tudo, das doenças às maiores
aflições” - Danuza Leão referindo-se aos ensinamentos de seus pai. Um empresário e músico
morador de Copacabana afirma que ir a praia para ele é um programa solitário que visa a sua
reestruturação, contemplação e descanso. Não que ele não faça uso das atividades oferecidas e
dos quiosques para uma água de coco, mas que é fundamentalmente um espaço para estar com
ele mesmo, estar sozinho longe dos problemas do dia a dia.
Já uma outra informante professora universitária e ex-moradora de Copacabana com 30
anos diz que a sua época de praia em Copacabana era na adolescência com os amigos do bairro,
que freqüentavam o mesmo ponto. Hoje a sua praia é Ipanema, longe da “muvuca vinda dos
subúrbios e da violência de Copacabana.
Pode nos parecer difícil, a primeira vista, pensar em solidão, contemplação em um
ambiente efervescente como a Praia de Copacabana, mas não é raro vermos pessoas flanando
solitariamente na beira da água ou no calçadão que embora sejam espaços distintos na geografia
da praia integram-se em sua totalidade.
O ofício da pesca solitária e contemplativa também ainda encontra lugar em
Copacabana. Aposentado há anos fixa no mesmo ponto todos os dias, no mesmo horário, para
tentar nas águas poluídas de Copacabana algum peixe. Por duas ou três vezes tive a impressão
do anzol estar batendo e o aposentado retirando peixe, mas nunca tiver coragem de entrevistá-lo.
As informações que tive dele foram de ambulantes que circulam no espaço e de observações
realizadas nas imediações do Posto 6.
Caminhadas, frescobol, jogos de carta, um toque, vôlei, futebol de areia, handbol
conversas/bate papo, beber, comer, dormir, ler, estão no mesmo espaço que o lugar para o banho
de sol, mar, bola e jogar peteca às vezes já é raro encontrar alguém jogando esse tipo de
brinquedo tipicamente brasileiro. São muitas as atividades que acontecem na nas areias de
Copacabana. Nas imagens ilustradas pelas revistas na década de 50 a peteca aparecia junto à
bola como um dos bens mais utilizados nas areias da praia, além do guarda-sol. Altinho sempre
em todos os lados e cantos e em diversas tribos, vôlei de Praia já levou duplas a
campeonatos mundiais, ou até mesmo gerou essa modalidade de esporte, futebol de areia de
todos as categorias, idades, classes e misturado também.
Crianças e adultos a beira da água no posto 4.
Fevereiro de 2006. Por Flávia Fernandes
“Um toque”, Dupla de amigos brincam todos os
sábados. Fevereiro de 2006. Por Flávia Fernandes
Saudações da dupla de Vôlei de Praia.
Fevereiro de 2006. Por Flávia Fernandes
Posto 6 o cantinho onde as crianças brincam
livremente na beira da água. Fevereiro de 2003. Por
Flávia Fernandes
Água de coco, chopp e agora até cafeteria, com direito a Capuccino Mocatino, Mate. O
mate é tradicional, principalmente o feito pelo também tradicional Bruno do Matte. Ele percorre
as areias de Copacabana com um peso enorme, com simpatia e prazer em atender seus
fregueses, sejam novos ou antigos. O seu nome é tão popular nas areias de Copacabana que
seus fregueses fizeram uma homenagem com uma comunidade no orkut com um fórum que
entra também a discussão tão familiar e presente aos freqüentadores da praia habitues ou
turistas tem larva ou não no Matte do Bruno? Não sei mais eu já tomei e muito o mate do
Bruno e nada aconteceu. Principalmente nos períodos longos de observação que fiz no local.
Acompanhar o Bruno em uma caminhada é uma aventura que eu nunca me aventurei, a pouca
distância que andei ao seu lado teve que driblar diversas pernas, cangas e cadeiras uma
agilidade inacreditável como ele perpassa os obstáculos das areias repletas de Copacabana no
verão.
Aos domingos, os limites dessa praia se prolonga para a área de lazer que se torna a Av:
Atlântica, nas três pistas que beiram a praia, destinadas à prática de diferentes formas de
atividades. Nas outras três pista o sentido do fluxo dos carros é alterado para evitar transtornos
de deslocamento para o Centro da Cidade. Nesses dias as ruas internas de Copacabana ficam
com um trânsito intenso, chegando a ocorrer engarrafamentos em vários pontos do bairro. As
pistas da Av: Atlântica ficam reservadas para o lazer ficam movimentadas por diferentes grupos,
que exercem atividades distintas. O comércio ambulante ganha as pistas como área de atuação.
Bicicletas, tricíclos, quadricíclos, pipas, patins, patinetes, pogobol, tomam a área dos carros
com muita alegria e descontração.
Alugel de quadricíclo carrinhos
para todas as idades. Fevereiro de
2006. Por Flávia Fernandes
A bicicleta, patins, patinetes
também estão presentes. Março de
2003. Por Flávia Fernandes
Embora adultos percorram o espaço
os pequeninos também usufruem.
Março de 2003. Por FláviaFernandes
O ambiente da praia toma contornos onde tudo é permitido, onde diferentes nações se
encontram, os jovens interagem com as crianças, as prostitutas buscam seus clientes, travestis
exibem seus corpos sem serem agredidos, de dia ou de noite encontramos pessoas caminhando,
se exercitando, se divertindo comendo e bebendo, ou apenas circulando como uma passagem
por seu bairro. É um ambiente de sociabilidade que agrega a diversidade tão presente em nosso
país torna-se ainda mais em destaque na Paia de Copacabana. Entretanto esse lugar assume
também a posição de não lugar no movimento do que DaMATTA(1987) classifica como
esqueleto da rotina diária, do trabalho para casa e da casa para o trabalho. Um local de
passagem, com grupos humanos desarticulados.
Casal de idosos que caminhavam diariamente pelo
calçadão. Março de 2003. Por Flávia Fernandes
Passagem obrigatória pelo calçadão no esqueleto da
rotina diária (DaMatta) Março de 2003.
Por Flávia Fernandes
Turistas Canadenses aproveitam o verão na Orla.
Fevereiro de 2003. Por Flávia Fernandes
Turistas de Nova York aproveitam o verão na Orla.
Fevereiro de 2003. Por Flávia Fernandes
Travesti Mineiro passa o verão no Rio para curtir os
shows e aproveitam o verão. Fevereiro de 2005.
Por Flávia Fernandes
Dançar Funk com crianças no calçadão não é “Pagar
Mico”. Fevereiro de 2003. Por Flávia Fernandes
A questão da segurança nas praias é objeto de constante presença na mídia do Rio de
Janeiro e no discurso dos informantes. O estado possui um grande problema de segurança
pública que se agrava na cidade no Rio de Janeiro por diversos fatores tais como desigualdade
social, má administração pública e outros. Especialistas na área muito nos têm a contribuir para
pensar essa questão. A praia de Copacabana possui monitoramento com câmeras de segurança
que muitas vezes estão desligadas conforme nos foi noticiado pela imprensa no caso do
assassinato do jovem turista português. Será que apenas em Copacabana que acontecem
assaltos a turistas e moradores? Nas outras praias não acontece nada? Ou será que é em função
da imagem de Copacabana de outros tempos, da sua importância simbólica que a imprensa
ainda a tem como foco principal? Ou será em função da grande rede hoteleira que o bairro
abriga, da importância econômica que ela ainda dá notícia constante na imprensa?
Embora a praia tenha sub-áreas, regiões morais elas não são estruturas rígidas e a
circulação de diferentes grupos é permitida e comercializada pelas empresas de turismo como o
lugar que oferece lazer para todo mundo, dos mais apaixonados por praia aos menos
apaixonados. Não que a praia seja secundária, mas ela não é sozinha, ela integra um grande
espaço destinado ao lazer ao ócio para uns e negócios para outros. A Praia tinha uma
configuração muito própria em função das zonas internas demarcadas pelos postos. Desde
quando VELHO escreveu “Utopia Urbana” já era possível reconhecer essas dimensões internas
da praia. Quando BOTELHO(2004) realizou sua etnografia no local pode observar que as
aéreas eram diferentemente ocupadas por grupos, tribos. Hoje ainda persiste essa diferença
embora com a reforma dos quiosques isso esteja sendo reconfigurado e ainda não permite uma
caracterização tal como fora possível anteriormente.
Copacabana está em crise, um distúrbio no habitus dos freqüentadores da praia em
função das obras. Os espaços na areia que beira o calçadão estão sendo ocupados pelos
quiosques que antes estavam limitados ao calçadão e não interferiam na ocupação dessa mesma
beira pelas quadras esportivas. Com as obras e a inauguração dos novos quiosques pude
observar que as quadras foram transportadas mais para dentro do espaço da areia, ficando mais
distantes do calçadão. Nos jornais podemos identificar as diferentes posições em função da
mesma reforma. O GLOBO embora esteja constantemente apontando as mazelas do bairro,
como a violência mudou de postura quanto à reforma e aos eventos que acontecem no local.
Inicialmente o jornal deu voz a seus moradores, as reclamações queixas, as polêmicas e ações
na justiça contra os eventos e reforma urbana. Hoje ele retoma seus projetos no espaço e
ameniza as críticas em uma tentativa de elevar a imagem do bairro já tão desgastada em função
da violência.
Hoje o espaço, do calçadão e das areias, faz parte de mais uma grande reforma urbana
proposta pela Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro para a realização dos jogos Pan
Americanos de 2007. O projeto que visa uma reforma estrutural no espaço da orla com
transformações urbanísticas e de fiscalização para assegurar a obediência à regulamentação do
uso do espaço das praias cariocas teve seu início na Praia de Copacabana. A reforma também
compreende o estabelecimento de novos quiosques, com uma nova estrutura arquitetônica,
incluindo o uso de subsolo para armazenar os produtos comercializados por toda a orla e
banheiros para os freqüentadores em geral. Inicialmente foram inaugurados dois Quiosques, do
novo modelo, em frente ao Hotel Copacabana Palace. São eles a Cafeteria Nescafé e a uma filial
do tradicional Bar Luiz que tem a sua matriz localizada no Centro da cidade do Rio de Janeiro,
na Rua da Carioca. Na outra dupla encontramos o Caroline Café também filial de outro
restaurante badalado em Ipanema e o Rainbow, antigo point de grupso GLS no modelo antigo,
hoje recebe um público mais variado.
As atividades dos comerciantes das areias, fixos, também fazem parte da reforma e em
2005/2006 estiveram sob a fiscalização do “xerife da praia, nomeado pelo prefeito da cidade,
que junto à guarda municipal fiscalizam para que todo o material promocional antes livremente
exposto seja recolhido, salvo nos casos onde as logomarcas estejam cobertas por pinturas. Os
guarda-sóis, as cadeiras, que antes eram livremente expostas são hoje controlados precisam
estar com as marcas pintadas, adulteradas ou ser do modelo proposto e distribuído pelos órgãos
de competência. As atividades dos ambulantes das areias e do calçadão também estão sob a
vigilância do mesmo “xerife” da praia. Os jornais cariocas enfatizam o processo de fiscalização
nas areias de todas as praias para a proibição da comercialização de produtos alimentares
preparados no espaço como o queijo coalho, a pizza, e quaisquer tipos de salgados que sejam
preparados nas areias para a comercializão. Entretanto, apenas na praia de Copacabana foi
iniciado o processo de reforma como um todo, mas sendo possível ainda encontrarmos a
comercialização dos produtos supostamente proibidos. Hoje, 2007 e próximo aos jogos Pan-
Americanos a operação é mais ampla e inclui a retirada de moradores de Rua e ambulantes não
legalizados na chamada operação COPABACANA.
A reforma dos quiosques foi um cuidadoso e longo processo que incluiu pesquisa com
os moradores de Copacabana para estabelecerem um perfil adequado de Quiosque. Um morador
do bairro que usa a praia para caminhar ou como passagem para migrar para outras áreas do
bairro informou que participou de uma pesquisa realizada pela prefeitura que vislumbrava a
colocação de Quiosque num modelo ainda mais sofisticado dos que estão sendo inaugurados. A
proposta inicial contemplava área de estacionamento com manobrista em um ambiente de
extremo luxo e requinte.
O JB tem uma postura mais crítica quanto à obra dos quiosques e condena a demora
para sua inauguração. O jornal também questiona a apropriação do espaço e do uso
desregulado das areias pelos ambulantes e freqüentadores. Já o Jornal o Globo possui uma
postura mais imparcial frente a demora dos quiosques mas está sempre buscando tornar notícia
o que causa mal estar e desconforto nos moradores e turistas da região como mendicância,
violência, desgastes do equipamento urbano entre outros.
A queso da segurança na da praia de Copacabana é percebida em função da sua forma
de ocupação do espaço da calçada, calçao e praia. A segurança da areia durante o dia e a
inseguraa do calçadão muda no período da noite, quando a beira da água é insegura sendo
possível o ataque de pivetes e o calçadão é mais seguro em função do grande fluxo de pessoas
como também do grande mercado que ali se estrutura com os ambulantes do dia expondo seus
produtos durante a noite ao lado de artesãos/artistas plásticos. A questão da segurança na Orla
das duas praias, no esqueleto da rotina diária, nos finais de semana, e em período de festas é
distinto.
Nas diferentes tribos que ocupam a Praia de Copacabana não existe a preocupação com
o biquíni, se é novo ou velho se é da moda do ano ou não. A preocupação maior é a das turistas
jovens que não querem parecer com turistas usando biquínis grandes e buscam a moda local
para integrar-se a quem é do Rio nas areias. No grupo de idosas, também não há preocupação
em esconder o corpo por meio do uso de maiôs. As gordinhas, fora do peso ou obesas também
são usuárias de biquínis em Copacabana, o que não se vê em Ipanema. A questão da
preocupação com o que vai ser usado, como vai ser usado e por quem vai ser usado na praia está
relacionado à relação que os diferentes grupos possuem com o espaço. Para os moradores do
bairro de uma maneira em geral a Praia funciona como uma extensão da casa, onde é possível
encontrar os amigos que possuem relações mais informais e cotidianas, é uma espécie de
playground onde você possui diferentes tipos de atividades sendo oferecidas e aonde encontram
os seus vizinhos.
Para os jogadores de carta a reunião o encontro na praia é sagrado o jeitinho entra em
cena e ela se prolonga para o calçadão onde os freqüentadores armam o seu espaço de forma
que não tem a sua rotina de jogo interferida apenas por causa de uma ressaca como podemos ver
nas fotografias abaixo:
O jogo de carta dos domingos dos habitues.
Janeiro de 2003. Por Flávia Fernandes
Quando tem ressaca o jogo vai para o calçadão.
Janeiro de 2003. Por Flávia Fernandes
Além dos eventuais grupos que vão para o calçadão quando tem ressaca, tem também os
grupos que se encontram nos quiosques de modelo antigo pelas manhãs e no final da tarde para
jogar. Geralmente são os habitues idosos, aposentados que possuem tempo para freqüentar a
praia durante a semana. O seu consumo varia de cerveja, água de coco, mates, biscoito e água, o
refrigerante quase não fica presente nas mesas de jogos.
Um barraqueiro da orla diz saber quem pode ou não pode consumir mais em função do
biquíni que esteja usando, principalmente se não for habitué da praia. Ele consegue identificar
se o biquíni é comercializado em uma Rua do Bairro conhecida como Santa Clara, onde há
lojas de ponta de estoque e vendas a atacado para sacoleiras, revendedoras, ou se é de loja de
Shopping, ou seja se são confeccionados por marcas de valor pela elite que freqüenta a praia.
Embora o biquíni não seja a preocupação principal de quem freqüenta a praia de Copacabana
ele ainda é uma marca de distinção social, de estilo e potencial de consumo.
A comida marca a centralidade do comércio da Orla. Hoje a moda dos restaurantes da
Av: Atlântica, dos mais novos aos mais tradicionais como o Alcazar é servir depois das seis da
tarde o rodízio de petisco, onde o valor varia de R$ 10,00 a R$ 12,00 por pessoa e na maioria
dos restaurantes. Já realizei algumas entrevistas em profundidade degustando os petiscos de um
tradicional restaurante da Orla, como também nos Girafas na Barata Ribeiro ou no Manuel e
Joaquim do meio, sendo que a rede possui três no local. Os petiscos servidos são: bolinho de
bacalhau, camarão frito, bolinha de queijo, coxinha de galinha, cebola frita, carne seca, aipim
frito, caldinho de feijão, bolinho de aipim, lingüiça frita, batata frita, batata calabresa
(temperada), queijos, salaminho entre outros. A maior freqüência nesses restaurantes ocorre
depois das seis horas tanto nos dias de semana como nos finais de semana. O tradicional chopp
em Copacabana que vem acompanhado de petiscos já foi objeto de música de Paulo Diniz,
cantor bem popular nas classes mais baixas da população cuja a letra também inicia fazendo
referência a figura feminina, “Um chopp para distrair”...
A variedade de produtos comercializados no local é grande. Desde alimentos a
artesanato de todo o país até produtos chineses são vendidos no espaço. Nesse sentido a
Copacabana reflete um retrato de uma globalização. Um espo onde conjuga a diversidade de
grupos tipos sociais que adquirem variados tipos de produtos em sua orla. Os ambulantes que
durante o dia percorrem a praia de Copacabana no final da tarde e início da noite quando as
quadras esportivas começam a ganhar vida se deslocam para o calçadão da avenida Atlântica e
estende seus produtos em pequenas aramados ou em cima de cangas formando o que
BORGES(2006) também chama de shopping a céu aberto.
A Praia de Copacabana e tudo o conjunto que ela abriga continua sendo uma importante
marca da Cidade do Rio de Janeiro. A sua diversidade de tipos sociais, a variedade de atividades
que abriga, e os constantes investimentos realizados para manter vivo no imaginário o balneário
em meio urbano garantem uma atualização da Copacabana que foi no início do século XX. A
Praia de Copacabana, eminentemente moderna, um balneário em meio urbano e o símbolo de
modernidade para os seus precisa continuar moderna e por isso na opinião das autoridades não
cabe mais o modelo já arcaico de quiosques que estão sendo trocados pela Rio Orla em parceria
com a iniciativa privada.
Sendo a cultura um objeto em via de transformação como nos ensina SHALLINS (1997)
a transformação mais uma vez está se dando no uso da Orla de Copacabana em função das obras
realizadas. Alguns possuem repúdio as obras afirmando que estão querendo elitizar o espaço.
Outros defendem que a região precisa de melhorias e que os modelos de quiosque antigos não
possuem infra-estrutura necessária para as melhorias necessárias. O que nos interessa aqui é
que com a mudança nos produtos oferecidos e na configuração do espaço haverá também uma
alteração de quem freqüenta, como também o seu uso desse espaço que conseqüentemente
resultará numa alteração da Imagem física (paisagem) e simbólica.
As obras realizadas para a colocação dos quiosques já ultrapassaram o tempo estipulado
pelos seus mentores. Mesmo sendo realizada em partes o alto investimento está contribuindo
para o acontecimento de crises no espaço onde elas estão sendo realizadas. Mapeamentos
realizados anteriormente na orla de Copacabana identificaram que cada posto possui uma
cultura própria, um modo de usar a praia e de abrigar diferentes grupos. Essas divisões vão
além dos postos elas são em função das ruas transversais cortam a Av: Atlântica. Quando
entrevistamos trabalhadores dos diferentes regiões a tônica do discurso é que a região é muito
familiar, embora esteja explícito o arranjo de prostituição no local. Botelho realizou bem o
mapeamento da região identificando essas subáreas que já fora anteriormente informada por
VELHO(1973).
Copacabana não é só banho de mar e de sol. É uma praia dinâmica, que muitas vezes,
embora esteja no centro do Rio de Janeiro e nos anos 2.000 não possui suas normas, regimento
de uso do espaço respeitado. No ano de 2005 o governo do estado e a prefeitura do Rio
estabeleceram ações mais efetivas no espaço e instituíram o xerife da praia com o objetivo de
fiscalizar, regulamentar o uso do espaço. Desde então, muitas foram às mudanças. Uma reforma
nos quiosques da orla foi iniciada especialmente em Copacabana e logo em frente ao seu ponto
máximo do turismo em Copacabana o então famoso hotel Copacabana Palace que já tivemos a
oportunidade de citar a sua relevância histórica no local. Tal reforma foi fonte de inspiração
para um empreendimento de pesquisa realizado Pela Escola Superior de Propaganda e
Marketing de SP cuja o objetivo era conhecer ambientes do Rio de São Paulo que fossem
encaixados na categoria de meeting point da autora DI NALLO(1999). Para tanto foram
selecionados dois Shoppings e a Praia de Copacabana para a realização desta pesquisa.
Levando em consideração que a pesquisa foi realizada entre Rio e São Paulo e principalmente
em função do ditado popular, Shopping é praia de Paulista, a pesquisa contribuiu para
identificar que sendo um meeting point muitos são os agentes responsáveis pela dinâmica do
espaço. BORGES et alli(2006) conclui que a Praia de Copacabana é um meeting point tal como
um Shopping Center, mas sua análise sobre o ambiente se restringe a Copacabana de hoje, sem
o resgate dos fatores que contribuíram por uma imagem de Glamour do ambiente que é presente
na mente dos turistas e dos freqüentadores da praia que moram em outras áreas do Rio de
Janeiro, Cidade e Estado.
O presidente em exercício e candidato a reeleição Luiz Inácio Lula da Silva em debate
na TV Globo no dia 27 de outubro de 2006 às 23:56 da noite aos e despedir declara: “Não
deixem de ir a praia antes de irem embora, porque nem sempre é que se pode estar em
Copacabana. Na fala do presidente podemos verificar a importância dessa praia no contexto
político do país, ainda é um importante lugar do país. Embora a praia não tenha entrado no
ranking das 10 melhores praias do mundo no concurso promovido pelo canal de televisão
“Travel and Living a sua vizinha Ipanema alcançou o segundo lugar e sendo caracterizada
como a praia dos belos biquínis.
A imagem de Copacabana de hoje é relativa ao grupo ao qual pertence. Para os
ambulantes de maneira em geral a Praia apresenta os perigos da grande cidade, mas ainda é o
local ideal para ganhar o sustento da família. Eles ficam sempre aguardando o período de alta
temporada do turismo para terem maiores ganhos, lucros por peça, produto comercializado. O
turista paga melhor, ou seja, paga mais pelo que é comercializado pelos ambulantes que não
possuem tabela de preço como nos quiosques, principalmente os novos que ainda estão em
parte para serem inaugurados.
O turista quanto mais idoso é maior é a sua decepção, ele chega com uma imagem
construída pelas fotografias, música, como também pelo cinema que não foi analisado nesse
texto. A sua expectativa é de encontrar um ambiente romântico, bucólico, mas que ofereça
entretenimento lazer. Não gosta de ser abordado por tantas pessoas para vender ou pedir
dinheiro. Fica assustado com a pobreza e a mendicância. O turista mais novo vê em Copacabana
como um lugar para saciar seus desejos de veranear com praia, esporte e mulheres. Esse tipo de
turista está sendo cada vez mais deslocado para Ipanema, lugar da moda e dos jovens. Os dois
grupos, no entanto concordam com a beleza “natural” com a paisagem, e não se decepcionam
com isso. O sol, ter dias de sol também é uma fator primordial para a satisfação do turista,
principalmente do Norte Americano e o Europeu que vem para o Rio de Janeiro em busca de
dias de sol. Uma discussão sobre a vinda de soldados Norte Americanos para tirar férias no Rio
de Janeiro tomou recentemente centralidade na mídia. É fato que os homens que viajam sozinho
para o Rio de Janeiro, que não seja a trabalho vêm em busca de mulheres e nesse ponto parecem
não se decepcionar. A prostituição, as Cinderelas das areias, princesas das areias estão por toda
a parte em Copacabana, na Praia como também nas Boates. Para os que não procuram pagar por
sexo dizem que mesmo assim conseguem arranjar namoradas sem muita dificuldade, sem muita
demora.
Para os entre os habitues suburbanos ou dos morros a Praia de Copacabana é a
possibilidade de estar mesmo ambiente que é quem vem de cima da camada social. É a
possibilidade de desfrutar do que é ambicionado pelo turista rico que vem de fora, é estar aonde
outros pagam caro para poder usufruir e eles possuem de forma barata aos olhos das camadas
médias, por apenas precisar comprar bilhetes de integração trem metrô, ou trem ônibus. A
imagem é de um lugar que lhes proporciona prazer, diversão e que para suas possibilidades não
é tão barato assim, de modo que para que o programa seja possível muitas vezes é necessário
catar latinha para conseguir o dinheiro da volta para casa. È preciso ser “farofeiro” e levar
comida, biscoito, água- que saiu de casa congelada. A preocupação com o que está vestindo
existe – diferente de quem mora no bairro, mas as possibilidades de estar com o novo, com o da
moda são escassas.
O morador possui diferentes formas de ver, uns são mais empolgados e acreditam nas
melhorias, outros, principalmente os mais velhos vivem a nostalgia do que foi o ambiente nos
anos 40, 50, livres da miséria e da violência exposta nas ruas.
Capítulo IV
A Praia como Templo do Sagrado e Palco do Profano
Depois de trabalhar toda semana/Meu sábado não
vou desperdiçar/Já fiz o meu programa pra essa noite/E já
sei por onde começar/Um bom lugar pra se encontrar,
Copacabana/Pra passear, à beira-mar,
Copacabana/Depois um bar à meia-luz, Copacabana/Eu
esperei por essa noite uma semana/Um bom jantar, depois
dançar, Copacabana/Pra se amar, um só lugar
Copacabana/A noite passa tão depressa/Mas vou voltar lá
pra semana/Se eu encontrar um novo amor,
Copacabana.(Sábado em Copacabana Dorival Caymmi e
Carlos Guinle - Letra Gal Costa 1952)
A praia hoje vive uma experiência dicotômica em especial nos seus dias de festa não
tão raros na Praia de Copacabana. O Brasil possui um calendário prodigioso de datas
comemorativas. Temos datas comemorativas para tudo e todos os fins. Essas datas são
apropriadas pelos comércio para movimentar, esquentar as vendas e não podia ser diferente em
Copacabana, principalmente em sua Orla.
Uma questão que permeia este capítulo é: Para quem se destina as festas realizadas na
Praia de Copacabana? São para os moradores do Bairro apenas? Para os turistas que o bairro
abriga? Para os que estão na cidade do Rio de Janeiro? Para atrair quem está fora do Rio?
O presente capítulo se propõe a uma breve reflexão sobre o uso das areias de
Copacabana para formas de congraçamento coletivo nos termos de DA MATTA (1979). Muitas
o as festas, eventos e usos das areias de uma das praias mais famosas do mundo. O espaço da
praia está ligado a um consumo de imagens, de marcas que são exibidas em suas areias nos
eventos e se estendem ao calçadão. Enquanto que no período da década de 20 a 60 o espaço
gozava de presgio para o que era da moda hoje é palco de empresas que buscam públicos
diferenciados para divulgar suas marcas ofertando entretenimento, lazer e educação.
Para BARRICKMAN(2006) a praia carioca tinha vocação para os eventos e
realizão de festas com o uso de bebidas desde os anos 20 em seu texto o autor nos informa
que:
...antes e depois do banho, juntavam-se famílias, “grupos numerosos e alacres de
rapazes e moças” e círculos de amigos, que palestravam, tomavam cocktails”,
entregavam-se a flirtse trocavam “maledicências” tudo na areia. Agrupamentos
maiores reuniam-se ao redor das grandes barracas que o Praia Club, do Posto 4, e o
Atlântico Club, do Posto 6, mandavam armar na areia a partir de meados da década
de 1920. Outros clubes logo seguiriam o exemplo: o Copacabana Tennis, também no
Posto 4; o Colomy, o Leme e o Botafogo, todos no Leme; e o Arpoador e o Leblon.
Desses clubes, o Praia e o Atlântico destacaram-se por promover, na segunda metade
dos anos 20 e no início da década de 1930, toda uma série de eventos na praia que
receberam ampla cobertura na imprensa e que marcaram a vida mundana da cidade
na época: não só competições atléticas, como também festas de ventarolas e de
sorvete, concursos de pijama de praia e de sombrinhas e banhos de mar a fantasia.
Copacabana, enfim, apresentava, como observou o cronista social Peregrino Júnior
em 1928, “um espectáculo de elegância”; era “o panorama civilizado” do Rio no
verão. Barrickman(2006)
No texto acima nos informa que o uso das areias vai para muito além do banho de sol e
das práticas esportivas preconizadas pelo Estado Novo e divulgadas como vimos no capítulo
anterior na revista O Cruzeiro como um hábito saudável da Juventude de Copacabana. A
vocão da praia de Copacabana como palco para os mais variados tipos de eventos remonta da
década de vinte e desde então promovem o nome da praia na mídia carioca e mais tarde nos
anos 80 até os dias de hoje para a mídia internacional. Devemos lembrar que tal repercussão
acontece em função das facilidades que os meios de comunicação encontram para transmitir
dados, facilitado pela invenção e disseminação do uso da internet e via satélite. Embora
BARRICKMAN(2006) afirme com razão que o uso da praia não seja eminentemente ligado ao
turismo e a vocão turística da cidade o mesmo não podemos afirmar para a queso da
construção da imagem do bairro de Copacabana que está intrinsecamente ligado a praia que o
abriga e que até os dias de hoje é comercializado como um produto turístico da cidade do Rio
de Janeiro.
O uso de eventos é hoje uma poderosa ferramenta mercadológica utilizada pelas
empresas e governos como garantia de manutenção de fluxo de pessoas circulando e
consumindo em um espo, tal como na Orla de Copacabana. Como exemplo podemos tomar
uma grande Associação que está presente na orla de Copacabana cotidianamente oferecendo
atividades esportivas para seus associados e com isso conta com uma grande representatividade
de público em suas atividades que possuem caráter educativo/preventivo. Suas atividades dão
dinâmica ao espo que ela ocupa e são grandes atrativos de público local e não possuem muito
destaque na mídia como os mega-eventos produzidos pelo governo em parceria com a iniciativa
privada. Essa tal associão que representas comerciantes do bairro e da região oferece esportes
e uma infra-estrutura de hotel-escola com um centro cultural no bairro e tem grande
representatividade na dia local da região, tal como jornal de bairro e por meio de
panfletagem. Seu objetivo é estar presente nas áreas de maior circulação de pessoas para
alcançar o objetivo de obter o maior mero posvel de indivíduos que recebam a mensagem
com suas ações educativas seja na saúde com medidas preventivas, na cultura e outros.
O volume de público é tem importante para justificar as ações dessa organização que ao
realizar um evento eles contam não apenas o público circulante durante a programação, mas o
total de expectadores multiplicado pelo total de atividades contidas na programação. Ora dessa
forma se tem três apresentação para serem realizadas e o público de cerca de cem expectadores,
a estatística da organização processa trezentos contemplados como o entretenimento/educação,
depende do tipo de evento que esteja realizando. Certas vezes participei de eventos com uma
filial dessa instituição em outra localidade e tive a certeza de que se o evento não tem apelo de
atração e público eles o levam para aonde tem público, o objetivo é alcançar o público com a
mensagem. Sendo ela ativa na praia, no cotidiano, ela também promove festas no mesmo
espaço, na sua área, domínio de atuação no espaço. Mostra de dança, programa de prevenção à
saúde para o verão, teatro infantil, aulas públicas de atividades físicas, atividades para terceira
idade, são umas das atividades exercidas no espaço pela organização que se caracteriza também
como festa, forma de congraçamento coletivo e que busca o público circulante já disposto no
local, principalmente nos períodos de alta temporada.
A economia da Praia está intimamente relacionada, integrada a uma economia de o
lúdico brasileiro no termos de FARIAS(2001) para o autor a “pujança dessa economia do
lúdico ganha maior relevo nas festas regionais FARIAS(2001:98) o autor acrescenta que os
fatores responsáveis pela intensificação do consumo estão atuando na modulação das festas
como espetáculos FARIAS(2001:104) A essa espetacularização o autor atribui como uma
forma de buscar a felicidade do aqui e do agora para fomentar o consumo. O mesmo autor
enfatiza que para tal faz-se necessário cada vez mais uma profissionalização dos agentes, no
caso dos produtores, organizadores. Ele informa no caso do carnaval:
“configurados pelo sentido da festa espetáculo, os significados que valoram o
carnaval como brincadeira são incorporados a prioridades do bem-estar, conforto e
segurança, na contrapartida da excitação, e se conformam no equilíbrio entre
controle institucional, autocontrole e descarga de impulsos afetivos”
FARIAS(2001:115)
A profissionalização e a regulamentação dessas atividades é fundamental para o sucesso
do empreendimento de forma que para alcançar o objetivo de ter atrativos para um público
circulando pela orla fora do horário do banho de mar ou apenas para entreter os que ali estão
presentes faz-se necessário todo um aparato de segurança, banheiros químicos, bombeiros,
posto médico, juizado de menores, entre outros para assegurar o divertimento e reduzir a
possibilidade de conflitos. Para o mesmo autor o turismo se dá quando ocorre um
entrecruzamento das dependências de agentes e instituições, de forma que não possui um núcleo
irradiador. De forma que para que o ócio seja comercializado é necessário que ele se
complemente e se oponha ao mundo do trabalho.
O Forte de Copacabana que está integrado a paisagem também recebeu o troféu Copa do
Mundo em um evento promovido por uma forte marca de refrigerante de forma que possibilitou
ser visto pela praia a divulgação do produto patrocinador.
O inflável gigante do produto pode ser visualizado por toda a extensão da praia por estar oferecendo a
oportunidade a quem participasse da promoção de vendas do produto a visualizar a Copa do Mundo exposta no
Forte de Copacabana . Janeiro de 2006. Por Flávia Fernandes
Os shows de conjuntos locais apresentam uma característica que é a de ter uma
diversidade de artistas e de estilos musicais em uma só noite. A produção se preocupa em
agradar as diversas tribos existentes no espaço e não consegue agradar a nenhuma delas em
função da pouca quantidade de música que tocam para cada uma a que se destina. A parceria
com uma rádio é fundamental para a divulgação e para a recepção do público antes da atração
principal começar a tocar, como no caso dos shows de verão.
A gratuidade dos eventoso assegura a mesma condição de participão no evento para
todos, dos mais simples Shows em homenagem a dia Santo, Dia do trabalhador aos mega
eventos oferecidos ocorre uma segregão do espaço, delimitado fisicamente e moralmente. É
nas festas que as regiões morais sofrem crises Nos eventos como shows, mega-shows e em
alguns esportivos a hierarquia é expressa na delimitação do espaço para os convidados VIP’S,
que variam de políticos, artistas, funcionários empresa patrocinadora ou promotora do evento. A
área vip se estende em uma delimitação nas imediões do palco além da área de entrada para
confraternização que se apresenta atrás do palco – conforme ilustração a seguir:
Área VIP do aniversário de 10 anos das Casas Bahia.
Novembro de 2005. Por Flávia Fernandes
Todo o material promocional disposto no espaço serve para divulgar marcas das
empresas, realizadora, patrocinados, co-produtoras e apoiadores dos eventos. Como também são
utilmente referenciados como marcos, para encontro de grupos de amigos que se comunicam
por meio do telefone celular, especialmente os que são de fora que não conhecem os marcos do
bairro como os hotéis.
Para os jovens ou adultos moradores e trabalhadores de Copacabana os shows são
motivo de reunião, um prolongamento do horário de fazer praia. Quando tem show os jovens
que trabalham na região vão direto com seus grupos de trabalho, grupo da praia ou família.
Ambiente de namoro, conversar, beber, comer e dançar. Liberar do estresse da vida diária,
relaxar.
Nos cultos afro-brasileiros, nos rituais individuais, a praia é utilizada para recarregar
energias, descarregar as negatividades, reestruturação, revigoramento e reconstrução. A
senhoras dos mares, deusas dos mares ou rainha dos mares para outros é reverenciada duas
vezes ao ano, na virada do dia 31 para primeiro de janeiro e no dia dois de fevereiro, que de
acordo com uma informante praticante do candomblé: “Iemanjá é a mãe de todos os santos.
Nessas datas citadas as praias são tomadas por praticantes de umbanda, candomblé ou devotos
do orixá que não é reconhecida pela Igreja católica como santa tal como São Jorge é
reconhecido. Em função da grande concentração de público em Copacabana a festa Oficial que
sai da procissão do Mercadão de Madureira, no subúrbio do Rio de janeiro e termina na Praia de
Copacabana foi transferida para o dia 30 e dia 29 nos dois últimos anos respectivamente para
não tumultuar a organização do reveillon no espaço.
O espaço da praia está ligado a um consumo de imagens, de marcas que são exibidas em
suas areias nos eventos que são realizados nas areias e no calçadão. . Enquanto que no período
da década de 20 a 60 o espaço gozava de prestígio para o que era da moda agora goza de
prestígio para o quem que divulgar a sua marca. No ano de 2005 a grande rede de varejo Casas
Bahia fez a sua festa de aniversário no local. Já no ano de 2006 a festa realizada no local foi do
concorrente direto as lojas Ponto Frio. Os eventos são vistos pela literatura mercadológica como
uma boa oportunidade de mercado para aumentar o volume de vendas - alavancar vendas e
elevar o valor de marca junto ao público alvo e para a sociedade de uma maneira em geral. Os
eventos musicais realizados no espaço da praia durante o ano e a festa de Reveillon o os
eventos que agrupam uma grande quantidade de pessoas de forma que os megaeventos
alcançam cifras superiores a um milhão de pessoas.
A exposição de bens varia conforme o período do ano como também pelas atividades
exercidas nas areias e no calçadão de Copacabana. Quando acontecem eventos esportivos e
culturais ocorre uma maior exposição de bens e diversos modelos nas areias da praia. Não é rara
a distribuição de materiais, denominados brindes, também para os transeuntes. A iniciativa
privada e organizações não governamentais produzem eventos de diferentes tipos, conforme a
finalidade de suas organizações edificando espaços, que variam entre as convencionais redes de
vôlei, passando por arenas de esportes com arquibancadas, chegando até aos mais sofisticados
“lounges” com refrigeração, música e áreas restritas para convidados. Os conflitos para o acesso
as áreas restritas a convidados são inibidos pelo uso de seguranças como também pelo ambiente
da praia.
Nas observões feitas no local devo levar em consideração os diferentes tipos de
eventos realizados no espaço. Shows, mostra de Cinema, festa de reveillon, feira, mostra de
dança, maratonas tradicional e temáticas como as corridas de camas e garçons promovida no
local com apoio da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Rio de Janeiro e com os
ativa participação dos hotéis
A questão dos eventos serem supérfluos as necessidades da populão carioca é uma
tônica no discurso de informantes mais politizados, especialmente quando tem vel superior
completo ou é funcionário de serviço público, saúde e educação. Não são raros os comentários,
especialmente para o show dos Rollings Stones do tipo “César Maia gasta dois milhões com o
Stones e a saúde fica do jeito que está O mesmo homem com idade superior a 28 anos
presente no show dos Stones na praia exerceu uma performance extraordinária durante o show,
expressando corporalmente e verbalmente o seu entusiasmo por estar no ambiente que conforme
podemos ver nas imagens abaixo e acompanhamos pela dia de massa está repleto de
indivíduos.
Um verdadeiro mercado a céu aberto. A cada tipo de evento que acontece no espaço são
comercializados produtos temáticos, nos show dos Rollings Stones muitos eram os produtos
com o tema. Bandanas, placas imitando de carros, chaveiros, adesivos, e outros que eram
comercializados por pessoas de diferentes lugares do país, principalmente do interior de São
Paulo onde existem muitas empresas de brindes que confeccionam tais materiais chamados de
merchandising na literatura de mercado.
Tal como uma vitrine, expondo os produtos
temáticos da banda Rolling Stones.
Fevereiro de 2006. Por Flávia Fernandes
Esquentam as negociações na feira dos Stones.
Fevereiro de 2006. Por Flávia Fernandes
De grade protetora a vitrine/display, ao fundo
o palco do show dos Rolling Stones. Fevereiro
de 2006. Por Flávia Fernandes
Diferentes modelos de placas foram
comercializados antes, na montagem
do palco e durante o show. Fevereiro
de 2006. Por Flávia Fernandes
Dupla função- Vendedor e Expectador.
Fevereiro de 2006. Por Flávia Fernandes
De lixeira a display de camisas temáticas.
Fevereiro de 2006. Por Flávia Fernandes
A configuração do espaço muda em função dos eventos. A montagem dos palco que em
grande número ficam em frente ao hotel Copacabana Palace nos eventos mais voltados para a
Elite ou em frente a Escola Municipal quando as atrações são mais voltadas para as camadas
baixas da população.
Nos eventos de grande porte, especialmente nos shows a Av: Atlântica se transforma em
uma grande praça de alimentação com barracas de diversos tipos de alimentos sendo
comercializados, cozido, frito assado, da bebida industrializada ao tipo suco ou coquetéis. Os
barraqueiros ambulantes, que em grande número não dise de autorização para estar no
espaço, ficam dispostos ao longo do calçao e do asfalto – quando este esinterditado para o
tráfego de veículos.
Nos shows não é a música o elemento principal para se estar lá, a questão da ingestão de
bebida alclica para os jovens é muito relevante e pertinente para marcar presença no espaço.
As formas de abordagens dos ambulantes cames são diversas. Se o show não tem uma
multidão assistindo, com é o que geralmente acontece em Copacabana eles realizam promoções
cobrando R$ 5,00 por três latinhas de cerveja. As bebidas alcoólicas comercializadas variam de
batidas, caipirinha, caipifruta, wisky –servido na bandeja, e até os populares melzinho com
cacha da Lapa. No Show dos Rolling Stones a concorrência era muito grande, embora a
fiscalização para não entrarem na área ambulantes que não estivessem cadastrados pela
prefeitura foi intensa por todo o dia. Um vendedor de melzinho com cachaça divulgava o seu
produto com o seguinte bordão:
“Olha o Melzinho ...Vai ver Rolling Stones e vai ver até os Beatles” Ambulante nos
show dos Rolling Stones na Praia de Copacabana -2006.
Um outro fator importante é a necessidade de participação, pertencimento. De acordo
com informantes nem sempre a motivo da ida aos shows da praia se dá pelo fato se serem fã do
grupo, conjunto ou artista que vai se apresentar. O fato de ter um evento na praia faz com sintam
a necessidade de estar lá, de vivenciar o que vai ser oferecido. Essa possibilidade se estende as
diferentes camadas da população em diferentes faixas etárias em função da gratuidade dos
eventos. Um entrevistado do show dos Rolling Stones morador de Minas Gerais que
acompanhei antes e depois do show declarou não gostar da banda, mas o importante para ele era
ter participado ele fala enfaticamente “eu não gosto da banda, mas eu estava lá!” e completa
informando que quando voltou para a sua cidade foi o centro das ateões por ter estado,
pertencido ao evento no período da sua existência e acrescenta “foi importante ter participado
do que vai ficar para a história”.
As arenas esportivas ficam em diferentes locais sendo que em maior número situado nas
imediações da Rua Prado nior e Belford Roxo, nas imediações do famoso hotel Meridien.
Como foi no campeonato mundial de futebol de areia, Copa do mundo de natação e outros. È
nesse local também que fica posicionado o relógio, cronômetro, contagem de dias para os mais
variados eventos como o reveillon, um mega-show, copas, jogos Pan_ Americanos e outros.
O presente hotel é um grande ator no cenário local por ter sido o precursor a realizar a
famosa e extinta cascata do Meridien, que deu notoriedade aos festejos de reveillon do espaço
que inicialmente era organizado e viabilizado financeiramente pelos comerciantes do bairro e
hoje é uma atribuição do governo do Município, Rio Tur em parceria com o governo do estado,
sociedade civil, empresas estatais e privadas.
O Reveillon em Copacabana é um Rito de Renovação, um misto de pureza e impureza
nos termos de DOUGLAS(1979). Ser sagrado em uma comunidade é ser um motivo de
adoração de forma que é reconhecido por meio das regras que expressam e pela sua forma
contagiosa. Um mesmo espo no reveillon busca abrigar rituais de purificação feitos
individualmente e coletivamente pelos adeptos da umbanda, candomblé ou até mesmo de
católicos, que realizam ao seu modo rituais veiculados na dia de massa, magia por meio das
simpatias para atrair os mais diversos desejos entre sorte, amor, saúde, dinheiro, felicidade.
Oferendas na praia objetivando boa fortuna no ano novo. Dezembro de 2005. Por Flávia Fernandes
Muitas são as simpatias. Pelas ruas movem-se pessoas com garrafas de champagne,
invólucros com uva, folhas de louro, flores (especialmente palmas e rosas em cores
predominantemente, branca, amarela, rosa) como oferendas para Iemanjá, a passagem do ano de
2005 para 2006 o ritual organizados pelos umbandistas e candomblecistas foi transferido para
um outro dia, formando uma festa especial para as oferendas a Ieman Rainha dos mares
orixá de grande relencia nas cidades litorânea e contou com uma grande carreata vindo desde
o subúrbio do Rio, Madureira aCopacabana.
Embora tenha um dia próprio ainda é grande o numero de devotos que jogam oferendas
ao mar ou fazem seus rituais nas areias no dia da festa para todos os credos. Embora uma
moradora de Copacabana tenha reclamado publicamente nos jornais que a maior atração para os
turistas, que é a realização dos rituais não tenha mais. A mesma declara que os fogos não são
atrações para os turistas que possuem melhores efeitos em seus países.
As festas de Reveillon são fatos sociais totais, no sentido atribuído por MAUSS(1974)
por englobarem diferentes setores da sociedade. O reveillon em Copacabana teve seu início com
os rituais de passagem de ano, purificação realizados pelos praticantes de religiões afro-
brasileira. A personagem carioca Danusa Lo em seu livro informa que o início do reveillon se
deu em função do crescente número de praticantes de cultos Afro-brasileiros que se reuniam na
praia para fazer oferendas ao mar a Iemanjá.
Todo dia 31 de Dezembro almoçávamos no apartamento de meus pais, na Avenida
Atlântica, e a partir das quatro da tarde víamos, da janela, chegarem à praia grupos
de homens e mulheres vestidos de branco, elas com roupa de baiana. Faziam rodas,
enfeitavam a praia com flores, acendiam velas, cantavam e dançavam pontos de
macumba. Isso ia até depois da meia-noite, e ninguém se aventurava a descer para
ver de perto o que estava se passando. Foi assim que começou o mais famoso
reveillon do mundo, o da praia de Copacabana.” Danusa Leão, 2005
De acordo com informante morador do bairro católicos também desciam dos prédios
para fazer oferendas a Iemanjá, pular as primeiras setes ondas do ano. O reveillon inicialmente
era patrocinado pelos comerciantes do bares e restaurantes com queima de fogos pela orla, nas
areias. Os acidentes causados pela queima de fogos foram uma motivador para que o governo
transferisse a queima para as balsas. Um outro Grande ator do reveillon era o hotel Lê Meridien
com sua cascata que teve início no ano de 1976 e cuja última aconteceu em 2003 para 2004 e
ainda pude fotografar.
No primeiro dia de janeiro de 2007 o site das organizões globo anuncia “Público entre
Ipanema e Copacabana”. O início dos preparativos do Reveillon deste ano começou com esse
impasse. A tradição e a notoriedade do reveillon de Copacabana em contraposição as atrações
de alto poder de atração eblico de Ipanema, contando com artistas internacionais. Integrantes
da Comunidade Shows em Copacabana do Orkut abriram um fórum para discutir o
deslocamento para a praia que fica ao lado no fórum podemos destacar as seguintes postagens:
Copacabana a Ipanema a pé??
“Galera, to louca pra assistir BEP em Ipanema, mas quero passar o ano novo em
Copacabana...é muito longe pra ir a pé até Ipanema? podem me dar informações
como eu faço pra ir? Obrigado bjinhuuus e feliz ano novo pra vcs” (Mulher –
homosexual com casamento aberto e declara ter 81 anos de idade no orkut)
As respostas dos locais variam entre gozações do tipo “pega uma lancha e vai pela
água que é rapidinho” de um rapaz local a informações de tempo de caminhada a sugestão de
iniciar o ano em boa forma. Nos jornais a pomica em torno da expectativa de público nos dois
ambientes em uma atmosfera de terror causada pelos ataques a ônibus carros por integrantes do
tráfico.
Casais, famílias, poucos grupos de amigos jovens, grupos idosos nos restaurantes da
orla, ambulantes, barraqueiros, policiais, bombeiros, defesa civil, músicos, cantores,
iluminadores, cinegrafistas, lixeiros, operadores de rádio, fizeram a festa em Copacabana. O
clima não era de tanta euforia como nos anos anteriores. A violência que a cidade passou nos
últimos dias refletiu no clima de alegria do local. Menos eufóricos, mais atentos ao entorno
moradores, turistas e trabalhadores aproveitaram a festa em Copacabana na virada de 2006 para
2007. Dos 5 anos que passei a virada em Copacabana esse foi um dos mais vazios. Nas areias,
nos quiosques e nos restaurantes ainda existiam vagas. Esse ano a praia contou com a
Rivalidade dos Shows em Ipanema, que nos anos anteriores abrigou apenas a festa Rave como
atração principal e neste ano a Rave foi parte de mais uma das atrações.
O metrô mais uma vez foi o principal meio de transporte para a praia de Copacabana.
Com esquema de segurança reforçado o as primeiras horas uso dos bilhetes especial, que iniciou
às 18:00 horas foi tranqüila sem muita aglomeração de pessoas como nos anos anteriores e em
horários mais próximo da virada. Muitas pessoas que passam o ano novo na praia como
itinerantes, sem um ponto fixo para ficaram, fazem a refeição em casa e depois vão para o
destino da festa. A praia conta com uma organização espacial diferenciadas das outras festas.
Nas pistas da Avenida Atntica, principalmente na do lado da praia, ficam barracas de
itinerantes ao longo da pista e do canteiro central. Muitos vendedores de diversos tipos de
produtos tais como: Pizza, cachorro-quente, churrasco grego, frango empanado, salsichão
churrasquinho, cerveja, espumante,vinho, refrigerantes, caipifrutas, drinks especiais, caipirinha.
Os tipos de produtos comercializados na pista não diferenciam muito dos que são vendidos em
dias de shows. O que difere é a venda de espumantes que custam em torno de R$ 7,00 e
possuem embalagem de plástico. No canteiro central ficam instalados postos de salvamento,
atendimento médico, defesa civil, bombeiros, juizado de menores, entre outros
Em entrevista com mulher de 33 anos nascida em Sertanópolis foi moradora em
Bauru/SP e mora no Rio de Janeiro nove anos, foi pela primeira vez ao Reveillon de
Copacabana conosco. A mesma contou que ficou nove anos querendo ir a Copacabana, mas
achava que era muito perigoso, “muita muvuca”. A mesma gostou muito da organização da
festa e da segurança no local, embora tenhamos visto um policial correndo entre os
expectadores da areia atrás de um indivíduo e puxando arma.
Como uma aldeia as areias são divididas partes de núcleos familiares e de amigos que
fazem a demarcação do espaço, privado em meio a uma área pública, por meio de barracas tipo
Iglu ou tipo tenda vendida em uma grande rede de varejo chamada Casa e Vídeo e lojas de
artigos para Camping. Algumas famílias, grupos de amigos ornam suas tendas com bolas, flores
e montam mesas para ceia de reveillon com frutas, tortas, pratos quentes, salgados e bebidas.
Existem diversos veis de preços para ter uma ceia de reveillon em Copacabana. Os
quiosques Novos tipo Bar Luiz, Caroline Café estavam cobrando R$ 100,00 por pessoa com
direito a duas entradas e espumante. os restaurantes da outro lado da orla variavam entre R$
180,00 a R$ 230,00 com diferentes opções, sistemas diferentes entre elas: Buffet com bebida
liberada, consumação mínima com aviso de alcance da quota, cardápio da noite com duas
opções de pratos como foi o caso da tradicional cervejaria Top Bier. A cervejaria abrigou jovens
e idosos nas suas dependências. Teve o seu início marcado para às 21:00 e com termino
programado para às 2:00 horas do primeiro dia do ano seguinte/2007. As reservas foram feitas
antecipadamente onde o cliente recebia um carnê individual e com facilidade para o pagamento
a combinar com o gerente que variavam a cartões de crédito como outras facilidades em função
do relacionamento do cliente com o estabelecimento. O cardápio contou com Antipasto
composto por bolinho de bacalhau, empadinha de camarão e tábua de frios variados com
torradas sortidas; Ceia com duas opções de pratos: Lagosta e camao grelhados com molho de
alcaparras e batata gratinada ou fillet frango/mingnom ao molho bechamel com arroz de
nozes/amêndoas/passas; Para sobremesa era servido um variado buffet com frutas tradicionais e
tropicais, tortas e sorvetes. Além da ceia era servido um prato da sorte, denominado pelo
restaurante de Souvenir Top, as bebidas servidas eram nacionais e além disso com serviço de
café e/ou c.
o dúvida que os eventos realizados nas Areias de Copacabana, especialmente o
reveillon possuem representatividade no cenário carioca e até mesmo internacional. A emissora
de televio Globo apesar de nos dias de hoje dar total cobertura aos festejos realizados em
diferentes partes do país destaque às festas realizadas nas costas, nas cidades banhadas pelo
mar, sendo que especialmente de Copacabana ganha especial destaque na programação de
reveillon. O destaque não é apenas nas emissões da Tv. Os principais jornais do país noticiam a
chegada do ano na praia que abriga uma populão de mais de dois milhões de pessoas em uma
extensão de apenas 4 km e meio. Muitas são as origens etnias presentes em uma mesmo local
para celebrar a passagem do ano.
O breve texto do site do Globo relata que Após queima de fogos, boa parte do blico
deixou Copacabana para assistir shows em Ipanema. Barra da Tijuca ficou sem fogos. Nos
jornais do dia Primeiro, especialmente O Globo evidencia que Ipanema fora a grande festa da
noite em função do recorde de público. Embora informante presentes no local tenham
informado que o maior volume de pessoas em Ipanema se deu após a queima de fogos em
Copacabana, pois não teve fogos, apenas o show. Pelo telefone fui informada que “De
Copacabana para Ipanema vieram um mar de gente, um volume impressionante de pessoas”.
Realmente o que pude notar presente no local é que o fluxo de pessoas no ponto em que
estávamos nas imediações do Hotel Marriot era para a direção do posto seis e o para o met
que fica bem próximo ao hotel. O Marriot nos últimos anos é centralidade na festa em
função do crometro instalado na frente do hotel e de proporções gigantescas sendo possível
de visualizar a grande distância, até nos postos vizinhos
Embora o espaço de forma de congramento coletivo muitos são os atos de violência
que ocorrem como na Copa Mundial de futebol de Areia na partida do dia 23 de novembro de
2006 o fair play foi trocado por uma briga na areia que se estendeu a uma sala do lounge e que
tomou na Av: Atlântica nas imediações do da Arena esportiva na partida entre Uruguaios e
Argentinos sendo os argentinos escoltados pela polícia municipal para deixarem o hotel. De
acordo com o noticiário do Jornal Nacional do mesmo dia um homem foi preso mas, falta a
informação se ou homem preso é brasileiro ou não.
A violência é sofrida por turistas, habitues, transeuntes moradores ou não do bairro.
Geralmente são os assaltos visando dinheiro, equipamento fotográficos ou de filmagem dos
turistas. Em trabalho de campo, muitas foram às vezes que fui abordada por ambulantes me
aconselhando a guardar a câmera fotográfica, principalmente quando estava sozinha. De acordo
com os informantes, os meninos que assaltam o local são moradores de favelas próximas ou da
periferia.
Uma outra forma de violência também presente no caso de grandes shows são as brigas
entre rapazes embriagados, pessoas que passam empurrando em função do acúmulo de gente
nas proximidades dos palcos dos shows. As brigas são proporcionais ao número de pessoas que
estão presentes nos eventos e durante a pesquisa de Campo pude constatar que o show dos
Rollings Stones, em função do grande acúmulo de pessoas nas areias foi o maior deles e junto
ao Reveillon fora recorde de casos de embriaguez.
A situação do Rio de janeiro mais uma vez era de pânico generalizado, em função de
ataques de bandidos a ônibus, carros, delegacias e postos de patrulhamento. lamentável que
isso ocorra, é triste. Os bandidos devem estar querendo justamente isso, criar pânico, ocultar
alguma outra ação", disse Medina. “Estima-se que 550.000 turistas vão visitar a cidade para a
festa, sendo 40% por cento de estrangeiros.” Além dos ataques o problema do sistema aéreo do
período também contribuíram para um declínio no número de turistas na cidade. De acordo com
informação do O Globo o prejuízo para as férias e festas de final de ano devido à redução do
mero de turistas será em torno de 30 milhões de Reais.
Nem de festa vive a praia, como também de protesto em 17 de março houve um
protesto pela paz em Copacabana onde 700 cruzes negras foram cravadas na areia, em uma
área de 25 metros de largura x 60 metros comprimento bem em frente ao Copacabana Palace
comandada pela ONG Rio de Paz em função dos alarmantes números de homicídios e de
violência no estado. O protesto foi notícia nos principais jornais da cidade e do país. Gerando
muitas ginas na internet sobre o mesmo fato. O curioso é que em meio a um protesto a
criança encontra como lugar de divero. A mesma autora da foto que esa seguir fotografou
uma menina brincando entre as cruzes fincadas nas areias. Na Praia de Copacabana o sério vira
lúdico para as crianças.
G1 Foto Márcia Foletto - Ag O Globo. 2007
Um outro protesto toma o calçadão de Copacabana organizado pela mesma ong e
também foi noticiado nos principais jornais, jornais eletrônicos como esse que veremos a seguir
publicado no Estadão no dia 07 de abril de 2007 às 12:33 cujo o título era “Trânsito é
paralisado por protesto de mil pessoas no Rio - Manifestação simbolizava número de
homicídios ocorridos no início de 2007
RIO DE JANEIRO - Um protesto organizado pela ONG Rio de Paz contou neste
sábado, 7, com mil manifestantes vestidos de preto, que simbolizavam o número
homicídios ocorridos nos três primeiros meses de 2007, para interromper o trânsito
de Copacabana ao deitarem na rua por alguns minutos.
"Foi um marco, tiramos mil pessoas de casa para ajudar a sociedade carioca a
dimensionar o que aconteceu em três meses", disse o presidente da ONG, Antonio
Carlos Costa.
"Foi mais fácil assassinarem mil pessoas em 90 dias do que o Romário fazer mil
gols, porque o Romário encontrou defesas interessadas em impedi-lo, já a sociedade
carioca não tem defesa nenhuma", acrescentou Costa.
A mesma organização, há um mês, colocou na areia da praia, em frente ao Hotel
Copacabana Palace, 700 cruzes para lembrar as vítimas da violência até aquela data.
Os pais do menino João Helio Fernandes, arrastado até a morte por assaltantes que
haviam roubado o carro de sua mãe, e os da estudante Gabriela Prado Maia, morta
há quatro anos por uma bala perdida no metrô, participaram do protesto de sábado.
Agora, segundo Costa, a idéia é realizar novas manifestações a cada 500 homicídios
ocorridos na cidade. "Precisamos fazer alguma coisa. Não conseguimos imaginar
um americano, um inglês ou um francês convivendo com a barbárie que o carioca
está vivendo. Queremos despertar a consciência da população", afirmou.
Protesto dos mil em Copacabana –
Foto não creditada. 2007
Protesto dos mil em Copacabana –
Foto - Márcia Folleto. 2007
Protesto dos mil em Copacabana –
Foto – AP. 2007
Fazer protesto em Copacabana, mesmo que em dia de semana, dá notícia como se fosse
no Centro da Cidade. Realizar manifestações na Praia de Copacabana mexe com um dos
principais cartões postais do país, e isso reflete no modo como as pessoas absorvem a
informação dos manifestantes, sendo publicizado em grande escala por ter acontecido na Praia
de Copacabana.
Uma outra foram de protesto e de contestação dos direitos toma lugar na Praia de
Copacabana anualmente e é a Parada do Orgulho Gay a luta pelos mesmos direitos que dos
heterossexuais tais como direito a casamento no civil e no religioso, direito a adoção, punição a
homofobia entre outros ganha contornos coloridos e de animação com um número superior a 12
trios elétricos que foi no ano de 2006. A parada percorre toda a Av: Atlântica e é possível
encontrar diferentes personagens travestidos no lugar. Esse evento chega a alcançar um número
de público superior a 150 mil pessoas. O evento já está incorporado ao calendário “oficial” dos
eventos do local a reportagem do Blog da Globo Ego Notícais publicado no mesmo dia do
evento - Domingo - 30/07/2006 teve seu título “A Parada do Orgulho Gay anima Copacabana”
“Preconceito? Nada disso. A palavra de ordem da “XI parada do Orgulho GLBT-
Rio” foi liberdade. Ao som da música “o bom é beijar”, hino oficial da parada, da
cantora Leila Maria todos os casais que lotaram a praia de Copacabana no domingo,
30, beijaram na boca. Durante todo o evento o beijo rolou solto, mas como protesto
contra o preconceito e a homofobia ás 17h30 foi a hora oficial da beijação.
Nem a chuva que insistia em cair na cidade maravilhosa tirou o brilho da festa que
reuniu mais de 150 mil pessoas, que coloriram a orla com as cores do arco-íris. A
modelo Nana Gouveia levou a filha Daphynie para acompanhar a movimentação.
“Eu venho em todas, mas é a primeira vez que trago minha filha. Temos que dar um
basta contra todo o tipo de preconceito e ela precisa ver isso de perto”, explicou.
A atriz Zezé Barbosa concordou com Nana. “É a primeira vez que participo aqui no
Rio. Em São Paulo já fui em várias paradas. Se é uma luta contra o preconceito
estou dentro porque sou negra e sei muito bem o quanto se sofre”, desabafou.
O casal Carlos Tufvesson e André Piva também sabe muito bem o que é o
preconceito contra o homossexualismo. “Na parada gay de São Paulo foi feita uma
pesquisa e detectou que mais de 60% dos casais homossexuais já sofreram com o
preconceito. Nós estamos nos 40% que não sofreram, mas nem por isso vou fechar
os olhos. Participo da parada desde a primeira quando conseguimos reunir apenas
umas cinqüenta pessoas e hoje se tornou isso aqui. Quanto mais gente participar
melhor será”, disse o estilista Carlos Tufvesson.
Além da luta contra o preconceito, a parada é também um grande carnaval com
direito a bateria de escola de samba, muita gente fantasiada e muito bom humor.
(http://ego.globo.com/Entretenimento/Ego/Noticias/0,,AA1243542-5877,00.html no
G o o g l e obtida em 20 abr. 2007 17:58:46 GMT)
A seriedade da proposta da parada ganha contornos de animação em todos os lugares
que ela percorre, mas em Copacabana, de acordo com participantes ela ganha mais divulgação
além da grande concentração de pessoas de todos os sexos e a aparente adesão da sociedade a
causa como nos declara uma participante:
Crianças, idosos,adultos heterossexuais parecem abraçar a causa quando se está em
Copacabana, aqui a sociedade realmente participa, é diferente dos outros lugares que
vou, como Caxias, São Paulo...” (Travesti, 38 anos morador do subúrbio do Rio de
Janeiro funcionário público)
Em clima de animação e descontração eles expressam as suas necessidades e desejos
lutando para tornarem seus direitos. Os trios elétricos tocavam diferentes ritmos do pop, rock,
metal, timbalada, axé, samba entre outros oferecendo diferentes ritmos para os diferentes estilos
musicais presentes. A atmosfera era de uma grande festa, de um grande carnaval.
O carnaval na praia é para quem quer descansar e quem quer brincar espresente nos
blocos que desfilam pela AV: Atlântica quando fechada. São muitos os blocos que transitam
pela região, organizados por diferentes entidades como moradores, políticos, comércio. Um dia
de campo no espaço acompanhei mais de cinco blocos que se encontra no meio da Av Atlântica.
As organizações dos blocos são de diferentes procedências também, tem associação de
moradores de ruas do bairro, candidatos a política moradores do local, clubes do bairro, grupo
de amigos entre outros. Os grupos se organizam em bandas de carnaval com camisetas
estampadas com o nome do bloco e empresas apoiadoras nas costas. Os blocos com mais
orçamento dispõe de carros de som - que variam de caminhonetas até trios elétricos. Alguns
possuem verdadeiros carros tipo alegóricos como foi o caso do “Bloco das Galinhas” que teve
como personagem em seu abre alas a pomica atriz Dercy Goalves.
Abre Alas do Bloco das Galinhas Com Dercy
Gonçalves . Fevereiro de 2006. Por Flávia Fernandes
Personalidades do bairro na comissão de frente do
Bloco das Galinhas. Fevereiro de 2006. Por Flávia
Fernandes
Saudações aos Turistas no carro de som do Bloco das
Galinhas. Fevereiro de 2006. Por Flávia Fernandes
Pink – Rainha de bateria da tradicional banda da Santa
Clara. Fevereiro de 2006. Por Flávia Fernandes
O Bloco das Galinhas é um dos maiores e dos mais tradicionais da rego. A Banda da
Santa Clara com um número inferior de foliões também é tradição no bairro junto com Clube do
Samba, Banda da Bolívar, Dois do Doze, Meu bem volto Já, Katuca que ela Pula “Bloco da
Perereca Piscando”, Bloco do Peru Pelado, Banda Chopinho destinada às crianças do bairro
com concurso de fantasia.
Embora o local seja frequentemente relacionado à vioncia, a prostituição o carnaval
que acontece na Praia de Copacabana é tranqüilo, calmo sem grandes tumultos e sem chocar os
olhos dos mais moralistas com a oferta de moças para a prostituição. Como é carnaval, torna-se
mais tranqüilo e permitido a exibição do corpo quase nu da “Kitéria” personagem do bairro que
ao entrar como passista na frente da concentração do Bloco Clube do Samba teve um aumento
muito grande de público participante como podemos ver nas fotos a seguir:
Aprendendo o samba. Fevereiro
de 2006. Por Flávia Fernandes
Adultos ao samba e crianças curtindo
os brinquedos artesanais
comercializados na Orla. Fevereiro de
2006. Por Flávia Fernandes
Concentração do Clube do Samba.
Fevereiro de 2006. Por Flávia
Fernandes
Transeunte se surpreende com
mulher sambando. Fevereiro de
2006. Por Flávia Fernandes
Kitéria – A musa do carnaval de
Copacabana. Fevereiro de 2006.
Por Flávia Fernandes
O samba de Kitéria atrai a atenção e
transeuntes e foliões. Fevereiro de
2006. Por Flávia Fernandes
O homem que caminhava pela avenida ao perceber que a passista dos blocos de
Copacabana estava lá, manteve seu olhar atento ao samba da musa e foi quando pude perceber
que rapidamente uma pequena multidão rodeava área de concentração bloco, que antes não
contava com a aglomeração, como podemos ver nas quatro primeiras imagens e contrastar com
a última, após a aparição de Kitéria. Com a entrada da passista em cena o bloco foi se
formando, uma multidão de espectadores e foliões se reuniram e o “Clube Do Samba” pode dar
início ao seu carnaval no ano de 2006. A mulher com seu corpo exposto no evento em queso
foi o motivador para a reunião no local. A banda tentava atrair foliões, mas ao mesmo tempo
estavam acontecendo duas outras bandas uma vinda do Forte, a do Clube dos Marimbais e
outra vindo em direção contrária, que chegou a passar pelo Clube do Samba, O Bloco das
Galinhas.
Os shows enfrentam um outro ator representativo da região e que não concorda com a
sua realização. É a Associação de moradores. Para a associação os shows o causadores de
crises no espaço, da sujeira, agrupamento de desordeiros, da instalação da desordem e do caos.
Informante homem de 35 anos freqüentador diário da praia de Copacabana que tem uma
rotina leve de trabalho de apenas 5 horas diárias e no bairro afirma “ a associação tem velho,
por isso são contra tudo!” Nessas palavras notamos o conflito entre as gerações presentes em
Copacabana. Como pode um bairro onde a maioria da população é de idosos abrigar tantos
eventos para jovens e adultos que em sua ocorrência causam barulhos, transtornos de rotina,
crises no espaço agradar a uma associação de moradores de uma bairro onde a maioria possui
idade superior a 65 anos.
Os conflito entre gerões e interesses permeiam as páginas dos jornais cariocas nas
vésperas das atividades no local. Para que o mesmo fosse realizado foram impostas 21
observões que deveriam ser cumpridas e no geral foram realizadas, embora não com o grau de
satisfão pleno por parte dos moradores. Um outro morador de cerca de 30 anos, nascido e
criado em Copacabana, que mantém intenso relacionamento com os freqüentadores da Praia e
com os moradores da região, por ser taxista, esclareceu que o problema não é ter ou o ter os
shows, mas sim as condições que o local fica após a realização dos mesmos. O que incomoda
aos moradores são as impurezas tais como: assaltos, restos de madeiras, lonas, garrafas
(especialmente no reveillon) que ficam pelas areias e pelas ruas. .
As constantes repetições das atrações ou a insuficiência de suas exibições, número
reduzido de músicas por artistas são fatores que também desagradam tantos aos que são locais
quanto aos de fora. A refencia não é pelo nome do evento dado pela empresa patrocinadora e
sim pela atração principal, no caso de shows os cantores e os grupos que vão se exibir no
espaço. A empresa patrocinadora ou até mesmo a promotora do evento é mera coadjuvante na
percepção dos freqüentadores. Todo o aparato promocional exposto serve como referência para
ponto de encontro dos queo de fora e não conhecem os marcos – tal como os hotéis.
Entre as questões para quem são destinados os eventos na Praia de Copacabana, das
marcas que patrocinam as atividades dos diferentes públicos, é que a praia continua sendo
promovida nas páginas dos jornais locais e nos de fora. É noticiada pelas principais emissoras
de televisão. A repercussão dos shows dos Rolling Stones se deu em função também da
gratuidade do espetáculo, promovido pelo governo local e pela repercussão que a banda possui
no cenário internacional.
A imagem fora, informada pelos turistas, com quem conversei em campo e pela
internet, especialmente pelo programa messenger que possibilita a troca de dados, é de uma
praia que oferece divertimento gratuito com mulheres. Essa imagem entre festas e mulheres é
tipicamente carioca como nos informa FARIAS(2001).
A Copacabana de hoje recebe em suas areias artistas de todos os estilos musicais,
entretanto dentro os eventos realizados o público, as empresas patrocinadoras a mídia ainda
prestigia mais o que vem de fora, alcançando Record de público como foi o caso dos shows dos
Rollings Stones. Os meios de comunicação dão visibilidade aos eventos anunciando meses
antes, as negociações para a atração entre governo, artista, sociedade civil. O pré-evento e o
evento são anunciados pela mídia que no caso dos Rollings Stones rendeu diversos cadernos
extras nos principais jornais do país especialmente o Jornal do Brasil, blogs na internet,
comunidades no Orkut e filmes no Youtub. Que contou com um milhão de pessoas nas areias de
Copacabana e com transmissão ao vivo pela Rede Globo de televisão que teve os direitos de
transmissão para a: Estados Unidos, Europa e Ásia. Diversas televisões estrangeiras ficaram
dispostas ao logo das areias, em pontos não tão estratégicos o com uma infra-estrutura inferior a
da emissora oficial.
No ponto que consegui ficar no show dos Rollings Stones tive acesso a uma dupla de
repórter e o mera de uma TV alemã que não conseguiram credencial para ficar fazendo a
cobertura junto a assessoria de imprensa do Show. A jornalista e o câmera ficaram situados no
meio do público e tentavam circular sem a infra-estrutura que os demais credenciados
dispunham em ambientes estratégicos para a gravação. A jornalista basicamente perguntava ao
blico sobre a sensação de estar em um dos shows dos Rolling Stones em plena Copacabana.
Muito entusiasmada ela direcionava ao entrevistado todo um entusiasmo pela “fantástica
opção de lazer sem custo”. Infelizmente não tive a cesso ao material final da mesma TV. A
comunicão no momento do show era difícil em função do show e do tumulto causado pelo
grandemero de pessoas em uma pequena área.
No Reveillon embora tenha recebido artistas de fora uma valorização do que é de
dentro do país, dos artistas da região, das baterias das escolas de samba, sendo o ponto alto da
noite a queima de fogos realizada por balsas que ficam no mar beirando a orla.
Eventos que seriam locais ganham caráter nacional e repercutem internacionalmente por
ser um bairro turístico da cidade do Rio de Janeiro. Tais manifestações garantem a manuteão
de um bairro com uma imagem ligada ao entretenimento, ao lazer a diversão. Ao que é alimento
do espírito, da alma. Um ambiente ligado aos prazeres que ele oferece a seus freentadores.
Infelizmente não fui capaz de acompanhar todos os eventos em Copacabana como tive a
intenção de fa-lo logo que comecei a pesquisar o tema. São muitos os eventos que acontecem
no local em diversos formatos e para públicos diferenciados. A quantidade de blico dos
eventos, que eu acompanhei, variaram em torno de menos de 300 pessoas como foi o caso da
exibição do filme Vinícius de Moraes no Festival de Cinema do Rio por causa da forte chuva,
até dois milhões de pessoas como no caso do Show dos Rolling Stones. Shows menores, de
datas do calendário de festas da cidade como foi o caso da festa do Padroeiro da Cidade o
blico girou em torno de 70 mil pessoas.
Os eventos esportivos tais como futebol de areia, travessia dos fortes de natação,
corridas, triatlon e outros que acontecem no local o possuem muitas restrições dos
freqüentadores mais velhos, idosos, muito pelo contrário, atraem a atenção e concentram
famílias vindas de todos os lugares do país para torcerem pelos seus atletas. A grande questão
está nos shows musicais que geralmente acontecem até a meia noite em dias de sábado ou
vésperas de feriados de acordo com a legislação. Para os moradores mais idosos o horário do
shows,mesmo sendo restrito não impede que ordem de rapazes e moças fiquem perambulando
pelo bairro bebendo, paquerando, na categoria nativa gritando as músicas que foram tocadas
nos shows
Esse conflito de interesses de gerões ganha as páginas dos jornais e processos na
justiça que auxiliam nas regulamentações dos eventos realizados. Os eventos culturais, as
campanhas de educativas na área da saúde, meio ambiente e outros ganham a simpatia dos
freqüentadores da praia embora não seja difícil encontramos os que acreditem que as ações
sejam mera promões das organizações eo visam a educação do blico.
Em um evento de meio ambiente que acompanhei no local foram distribdas mudas de
plantas, folhetos explicativos e teria uma suposta limpeza da praia que na realidade não
aconteceu. O evento não conseguiu reunir um número suficiente de pessoas para realizar a
limpeza e o que foi veiculado pelo jornal localo condizia com a realidade do evento.
Um fator fundamental para o sucesso ou insucesso dos eventos da praia é o tempo, o
clima. Nos eventos diurnos o dia nublado já causa preocupação aos organizadores em função do
mero de pessoas que se deslocam para o local. Nos noturnos mesmo quando em dias mais
frescos de frio e vento concentram um número significativo de pessoas. Os shows mesmo com
chuva acontecem, salvo quando em tempestade com rajadas de ventos como foi o caso do
projeto Aquarius organizado pelo Jornal O Globo que foi adiado em função do mau tempo, uma
tempestade na cidade que não viabilizava a realização do evento em função do perigo e da
incapacidade de realizar uma sinfonia em meio a tanta chuva devido aos instrumentos musicais
e a infra-estrutura. O público tamm é diferenciado dos que assistem aos shows e nas palavras
de um ambulante “não é guerreiro a ponto de encarar uma chuva para assistir o projeto”, na
visão das classes populares ou louco de ficar em baixo de chuva podendo pegar doenças”, na
visão das camadas médias para alta.
O projeto Aquarius é um projeto voltado para a música clássica e mais uma vez temos
uma visão clara do que nos ensina Bourdieu sobre gosto de classe e estilo de vida. Embora o
evento seja gratuito e muito divulgado de forma massiva pela Rede Globo de televisão e jornal
O Globo. O público presente é bem diferenciado dos que freqüentam os shows de música
popular brasileira no mesmo espaço, sendo o e no mesmo ponto da praia conhecido como
posto 2 e meio . A organização do espaço em termos de lugar ocupado por barraqueiros e
ambulantes, que são em número muito menor que nos shows populares também é diferenciado.
Há uma maior organização do espaço com menos ambulantes, maior policiamento em relação à
quantidade de expectadores. O público presente não circulava muito pelo espaço ficavam em
um aponto fixo em pé ou sentados ouvindo a sinfonia em diferentes bases, areia, cadeiras
avulsas do tipo alugada pelos barraqueiros ou própria. Os novos quiosques os 4 em frente ao
hotel alugaram as mesas para os freqüentadores.
No projeto Aquarius pude acompanhar o entusiasmo de uma menina de apenas 4 anos
ao ouvir a sinfonia e imitando o maestro na regência. Ela é moradora do bairro e foi
acompanhada da mãe e da avó para o espetáculo. A menina não achava nada chato, pelo
contrário curtiu o evento sentada na calçada. Adultos ficavam de olhos atentos ao espetáculo, de
forma que o andar dessa que voz fala ou algum conversar ao pé da orelha era repreendido pelos
olhares do público atento. Os ambulantes não promoviam ruído oferecendo seus produtos, era
quase um cochicho. Muito diferentes dos demais shows. Em menor número, eles transitavam
por entre o público oferecendo seus produtos de forma silenciosa, ou até mesmo sem falar
apenas mostrando aos espectadores.
O Festival de Cinema do Rio também contou com dias de chuva. Com uma gigantesca
tela de cinema montada nas areias de Copacabana, mais um enorme lounge com entrada
restrita aos que pertencem ao meio, tanto empresários como artistas, produtores, atores e
patrocinadores ambiente reservado a negócios de cinema e sociabilidade do grupo, longe dos
olhares e dos ouvidos do grande público que ficava restrito a programação disponibilizada na
grande tela ao ar livre. Os barraqueiros das areias alugaram cadeiras como fazem em todos os
eventos e no cotidiano. Nesse em especial tinha um barraqueiro que se deslocou do seu ponto na
rua Bolívar para as imediações do Copacabana Palace o que não é comum ocorrer no espaço,
que é bem delimitado quanto a sua atuação. Uma mulher que já ocupa a função de barraqueira
nas imediações do posto dois, mais conhecido como dois e meio reclama sempre quando tem
show no espaço. É ter show e me mandam mudar a barraca de lugar”. Mesmo tendo um
aumento no número de público na região aumenta também a concorrência em função dos
ambulantes que percorrem a cidade em busca de eventos. Um rapaz de 29 anos, que foi
entrevistado, fixa ponto também na Lapa como os demais, percorrendo as festas que acontecem
na cidade e nas cidades vizinhas.
Uma outra característica das reportagens do Globo, especialmente quando em períodos
de shows, eventos em geral é não separar a Praia do Bairro. Praia de Copacabana e Bairro de
Copacabana equivalem ao mesmo local, sem diferenças. Das reportagens analisadas sobre a
Praia as Manchetes enfatizam a Copacabana de uma maneira geral, não estabelecendo uma
separação entre o bairro e a praia, como foi priorizado nesse trabalho.
A Parada Iluminada foi um evento produzido na antevéspera do Natal, na orla que
contou com o apoio de diversas instituições como podemos ver na imagem a seguir:
Para alguns dos informantes o evento foi amplamente divulgada pela Rede Globo de
televisão. Embora não tenha estado no local pude observar pela imprensa que:
“O tempo Ruim não impediu que os carros alegóricos da Parada Iluminada
desfilassem pela Avenida Atlântica, em Copacabana. Apesar da chuva, um público
de cerca de 70 mil pessoas, segundo estimativa da Defesa Civil do Município,
prestigiou os 300 bailarinos que ensaiaram para a festa que começou com quase uma
hora de atraso. O desfile durou as três horas conforma previsto pelos organizadores.
O evento ocorreu das 20:40 às 23:40m. A parada teve três atos: o nascimento de
Jesus;os sonhos das crianças;e a noite de Natal. Treze carros alegóricos apresentam
um pouco do universo das histórias infantis. O espetáculo deve se repetir no próximo
Natal.” (O Globo, 24/12/2006- 10:24)
Pelas imagens produzidas por Gustavo Stephan do jornal O Globo a parada iluminada
contou com uma produção de alto nível dos carros alegóricos. Na seqüência de imagens ele abre
com as bailarinas, o feminino ainda presente na retórica do espetáculo. As bailarinas, vestidas
com seu “Tutu” romântico, as integrantes do coral dando a melodia da parada. Pelas lentes do
fotógrafo, na narrativa que o mesmo elaborou, é a mulher quem dá a dinâmica no espaço quem
dá vida ao que é estático.
A Parada Iluminada mesmo com chuva atraiu público de forma que gerou ainda mais
complicação no trânsito na única pista que ficou aberta da Av: Atlântica. Uma moradora do
bairro que não freqüenta os eventos da praia informou que Véspera de Natal já é um desespero
andar de carro em Copacabana, com essa parada então ficou ainda pior”(Mulher, 40 anos,
moradora do bairro há 4 anos).
“São Pedro não tem contribuído muito para os eventos realizados”, diz um informante e
pelo que pude observar a maioria deles com o apoio das organizações Globo na Praia de
Copacabana, principalmente para a divulgação. Embora o futebol de areia ocorreu em um
período de tempo bom, sol de 40 Graus – “que é a cara do Rio. O projeto Aquarius e a Parada
Iluminada, O Festival do Rio não contaram com a mesma sorte de um tempo bom. O reveillon
desse ano também aconteceu em baixo de chuva.
O que torna mais especial a análise da importância dessas atividades que ganham
público mesmo com o tempo ruim. Bem aceito pela comunidade de forma que expressa o velho
ditado popular que diz que para carioca não tem tempo ruim”. Mesmo com chuva, mau
tempo ele se desloca de seu domicílio para participar das festas, eventos que acontecem na
praia. Embora em menor número do que um em dia de sol ou temperatura amena, que para os
nosso padrões gira em torno de 28 e 30 graus.
O recurso de produzir festas e eventos são utilizados em diversas cidades do Mundo. O
carnaval de Veneza já foi um marco no turismo Europeu. As cidades com o intuito de atrair
público promovem festas características, tradicionais. Blumenau tem a famosa festa da Cerveja,
Paty de Alferes e a festa do Tomate. O Rio com toda característica peculiar têm o carnaval e
busca por meio dos Jogos Pan Americanos um maior incremento ao turismo em um período de
baixa temporada que são os meses de junho e julho.
Uma outra característica dos eventos realizados no espaço é a obediência a um
calendário. As datas comemorativas como o dia do trabalho, aniversário da cidade, dia do Santo
padroeiro da cidade, são recheadas por eventos de diferentes tipos. Muitos são os atores que
realizam, empreendem no espaço. Os segmentos que investem na promoção de suas marcas no
espaço variam entre estatais, privadas, locais, multinacionais, transnacionais. Alguns deles são
SESC Copacabana, SESCRIO, Riotur, ABH, Embratur, Petrobrás, Prefeitura do Rio, Governo
do Estado, MetrôRio, TIM, Claro, Skol, OMO, Vale do Rio Doce entre outras.
Algumas redes tal como o SESC, associações, organismos governamentais e
organizações não governamentais em parceria com a Rio Tur, Subprefeitura ou apenas com a
licença ou não para estar no espaço contribuem para a dinâmica do local que conjuga tradição
com modernidade. Mesmo tendo um ethos essencialmente ligado ao prazer, a diversão e
devemos lembrar também, que o bairro abriga a maior percentual de sua população de idosos o
que gera conflitos quanto ao tipo de evento que será realizado.
Os eventos na praia oferecem entretenimento a mais para os moradores do local,
moradores do subúrbio e da baixada fluminense e para os turistas. Dentro dos eventos que
acompanhei nos últimos cinco anos, pude identificar um leve concentração de tipo de público
do evento. Isso não foi determinado por nenhum método quantitativo de pesquisa, essa divisão
se deu em função da divulgação do evento, intensidade, meios e conteúdo, observação no local
e resposta a da mídia no pós - evento.
Os eventos para moradores e habitués: Sesc verão - onde o Sesc é um grande ator, Dia
Mundial de Limpeza das Praias – Marriot.
Os eventos de confraternização dos trabalhadores e entretenimento de turistas- onde a
ABH é um outro grande ator como a corrida de garçons e a de camas, que tem os
trabalhadores da hotelaria como os principais atores.
Os eventos de atração de turistas ou entretenimento para o turista como a parada
iluminada pretende ser e como são os Mega shows tal Como Lenni Kravitz e Rolling Stones,
Festival do Rio de Cinema.
Eventos para datas comemorativas, voltados para moradores da cidade: Dia do Trabalho
(Show do Lenni Kravitz). Dia de São Sebastião Padroeiro da Cidade (Pojeto TIM Show da
Rita Lee) Dia de São Jorge (Show dos Jorges: Jorge Aragão, Jorge Versilo, Seu Jorge, Jorge
Bem Jor)
Eventos para promoção de vendas de empresas privadas, voltados para seus clientes e
para a sociedade carioca em geral: Aniversário, Casas Bahia, Ponto Frio, ProjetoTIM Verão,
Show do Lulu Santos, Projeto Aquarius, 50 anos de OMO, e outros.
Templo do sagrado e palco do profano é nessa ambivalência que vai se desenhado a
praia de Copacabana, sendo que o palco do profano vai se sacralizando em termos de modo de
vida, do que é ser carioca. Nas melhores frases de 2006 selecionadas no Jornal O Globo, O Frei
Clarêncio apreciando a vista do Rio de Janeiro do alto do Convento de Santo Antônio declara
que ser carioca é trabalhar como paulista e se divertir como baiano. Essa frase traduz a
dicotomia vivida pelo carioca entre a identidade de um povo que trabalha e de um povo que é
dado para as festas para o ócio.
Os eventos realizados no espaço aquecem o comércio local e atraem trabalhadores de
fora, como o caso dos ambulantes cadastrados ou não pela prefeitura. O ócio fomentando o
negócio de entretenimento e lazer em um espaço público que foi socialmente construído como
um ambiente com vocação para o lazer de uma classe abastada e que hoje serve de lazer para
diferentes camadas da população, embora esteja sofrendo reformulações em função da reforma
urbana que se estende a uma maior vigilância do espaço coibindo a tomada do espaço em dias
de festas de ambulantes, barraqueiros não cadastrados.
Considerações finais
A Praia de Copacabana deixa de ser a grande expressão do moderno no Brasil ao
longo desses cem anos, inscrevendo-se como o lugar da tradição. Tão polêmica quanto o bairro,
os esportes de areia, as belas mulheres livres, as festas organizadas por associações, clubes, ou
habitues, os grandes acontecimentos – focados pela dia - fazem da Praia de Copacabana uma
referência em termos de um lugar do carioca e do ser carioca. Podemos comparar a Praia de
Copacabana à Lapa, que está sendo revitalizada embora esteja perdendo a caractestica de lugar
da boêmia para o de uma centralidade da night carioca com os novos formatos de casas
noturnas, não perde o seu glamour e a sua história como lugar da malandragem e da vida
boêmia do início do século XX.
A Praia, com os novos modelos de quiosques, está ganhando mais atrativos, fazendo
com que o seu horário de ocupação, em termos de densidade, se prolongue do dia para noite
cotidianamente, o que acontece com as atividades esportivas na areia. é reconhecida a
qualidade dos quiosques e dos produtos que eles oferecem. A crise no espaço não se apenas
em função de se ter ou não freqüentadores, mas sim em função do volume de atendimento e da
mudança dos freqüentadores, da postura com relação ao ambiente, ao uso do espaço. Os
quiosques antigos tinham a sua clientela definida, certa e mais os turistas, que em muitas
vezes mantinham o mesmo perfil, em função do hotel freqüentado, ou apartamento alugado e da
origem, entre outros, embora o refletissem o aspecto visual de uma ambiente de luxo,
glamour e requinte, tal como se baseia a expectativa do turista que chega ao bairro de
Copacabana.
Nas últimas atividades desenvolvidas na orla, como festas, shows e eventos em geral,
observa-se uma mudaa de postura em relão ao que é aprovado para acontecer. Os últimos
dos grandes eventos na Praia de Copacabana foram mais voltados para a família e para uma
população com idade superior a cinqüenta anos. A Parada Iluminada, as Orquestras no Ano
Novo – Cuba Libre e Tabajara atraem falias e pessoas de meia idade. O show da Rita Lee
no dia de São Sebastião, padroeiro da cidade teve um público bem eclético. a música de
jovem, a música eletrônica, o hip hop, vêm sendo deslocados para Ipanema e os de menor porte
para o Leme. Dessa forma podemos perceber que cada vez mais a Praia, que deu contorno ao
Bairro, vem recebendo a influência dos atores do bairro, com atrações cada vez mais voltadas
para atender os seus anseios e desejos. Mesmo tendo grupo de jovens, que fazem praia em
Copacabana, especialmente no cotidiano – é em Ipanema que a classe média jovem encontra seu
point de final de semana. Pelo site de relacionamento Orkut e no discurso dos informantes
podemos perceber que muitos dos moradores de Copacabana freqüentam a praia nos dias de
semana, mais livres, sem “frescuras” e que nos feriados e finais de semana, quando a praia é
invadida” pelos de fora, o point é Ipanema.
o são raros também moradores que nunca freqüentam a praia, como comprova a
informação recolhida durante as entrevistas, de uma família, na qual apenas o pai, comerciante
do bairro, freqüentava a praia com seu grupo de amigos e conhecidos do bairro e da praia.
Existe diferença na classificação de amigo e de amigo de praia, amigo de night. Os dois filhos
jovens, e a esposa também jovem não freqüentavam a praia, nem mesmo em shows ou dia de
festas. A praia deu e uma dinâmica diferente ao bairro, principalmente na formação de um
lugar procio para receber o turista. Algumas áreas, como a do Posto dois, são
reconhecidamente habitadas por descendentes de estrangeiros, formando uma comunidade à
parte dentro de Copacabana, tal como foi o Bairro Peixoto, e, também, por meninas que vem de
outras cidades no período do veo, para ganharem a vida com a prostituição. Seus corpos,
sempre bronzeado de sol, com roupas curtas, semelhantes às do estilo “funqueiro”, tomam as
ruas dessa parte de Copacabana, mostrando uma maneira sempre alegre, despojada e descolada
de “fazer” seus dias na praia.
A praia que atrai o turista por um passado glorioso, atrai as trabalhadoras do sexo
tamm em busca de um futuro glorioso, de arranjar um marido ou de apenas lucrar com o seu
trabalho. Apesar não serem em grande número, a história de algumas marcam as rodas do
bairro, como no caso de uma jovem mulher, com aproximadamente vinte anos, que morava na
Zona Oeste do Rio, na década de oitenta tomava três conduções todos os dias até Copacabana
para desfrutar do ambiente e arranjar um namorado que por passasse. A mulher com ares de
cigana, influência da moda do período, ficava exposta ao sol, observando os turistas. Até que
conheceu seu marido: um suíço que estava a passeio em Copacabana e que se encantou pela
moça. Embora no bairro onde ela morava, na zona oeste, hajam burburinhos sobre um posvel
passado de garota de programa, os amigos mais chegados negam e dizem que o propósito
sempre foi a praia para conhecer e conquistar um marido.
A praia é um ambiente dotado de controvérsias, lugar para se crescer por meio do
próprio esforço por meio das escolinhas de esportes para crianças das favelas e do bairro. Lugar
dos espertos, das espertas, que querem ganhar a vida cil por meio de um casamento com um
estrangeiro. Lugar das crianças do bairro, lugar que os idosos da Associação dos moradores
regulam, ou tentam por mecanismos judiciais, embora nem sempre sejam atendidos. Lugar dos
jovens, extensão da casa, - e não mais o point dessa categoria. Para os idosos a praia também é
uma extensão da casa, embora conjugue para o espaço da rua os lugares como os jogos de carta
que podem ser vistos por toda a orla, mas em especial no posto seis, as paqueras estimuladas
desde o período da abertura do túnel velho para ganhar clientes para os bondes como também
pela música ainda encontra lugar na Praia de Copacabana.
Como pudemos constatar no segundo capítulo desse ensaio a Praia de Copacabana foi
construída socialmente como um lugar dos prazeres, da diversão, da liberdade para o namoro,
para o consumo um ambiente propício para o exercício do hedonismo moderno nos termos de
CAMPBELL(2001) Ela foi à propulsora para a ocupação do bairro, anteriormente como local
de veraneio ou férias. Sua imagem foi elaborada como o local do novo, do moderno, ambiente
da moda e de efervescência cultural. O trabalho integrado de diversas instituições contribuiu
para essa elaboração da imagem do bairro cobiçada por diversas delas e almejada por atores
sociais de importância no cenário político e na formação da opinião pública tal como foi o
proprietário da revista O Cruzeiro, Assis Chateubriand. Em menos de 40 anos a praia passa de
território do vazio para um ambiente permeado de sociabilidade, abrigando diferentes
atividades realizadas ao longo do dia e da noite.
A Praia de Copacabana está no feminino, e no feminino foi construída a sua imagem.
Hoje com a transformação urbana que a orla está passando e com as medidas restritivas ao uso
dos postais exibindo os corpos das mulheres brasileiras a praia es sendo redesenhada. Os
espaços estão sendo reestruturados, desterritorializados e reterritorializados. Ela vive a
dicotomia entre o moderno em que foi edificada e o pós-moderno com novas estruturas e tendo
a sua imagem transformada visando resgatar um passado glorioso que viveu até a década de 50.
Na parte em que elabora um breve retrato da praia, retrato sim por ela ter vida e
personalidades, podemos identificar que em função dos diferentes produtos que são oferecidos,
consumidos, elaborados e ressignificados que a praia é um espaço plural, com uma
multiplicidade de usos e práticas por toda a sua extensão. Lugar para ganhar a vida e de usufruir
dos prazeres por ela proporcionados, ela agrega uma diversidade de tipos sociais em seu espaço,
mas mesmo assim possui uma identidade própria. Copacabana nas palavras do então prefeito,
em exercício, em resposta a Associão de Moradores quando na tentativa de coibir shows no
local foi que:
“Copacabana é de todos”
O sentido é de que o espaço é lugar de todos, espaço de todos, tem lugar para todos, sem
distinção de etnia ou de classe, e é nessa democracia que vai se construindo o cotidiano do
bairro que abriga a maior concentração de rede hoteleira e se estende para a praia. Espaço de
todos com domínios delimitáveis em suas sub-áreas ela tem lugar para tudo e todos. Ambiente
onde o jeitinho brasileiro, nos termos de DA MATTA(2000) impera na vivência do seu
cotidiano, principalmente nas festas. Salvo nos períodos de intervenção das autoridades como é
a operação COPABACANA.
A praia possui um calendário pródigo de eventos. Um final de semana em Copacabana
sem atração é raro. Quando não há nenhuma atividade sendo feita os então quiosques que eso
sendo pouco a pouco substituídos promovem festas com som próprio e aglomeram ao seu redor
consumidores para seus produtos, embora não fosse permitido som alto nos quiosques antigos.
Ela se veste, acompanha o ritmo dos eventos que nela realizam, como foi o caso do show dos
Rolling Stones, Leni Kravitz, ou que eso acontecendo em âmbito Global como a Copa do
Mundo, onde era possível desfrutar de ambiente decorado em torcida para o Brasil e
acompanhar jogos em alguns quiosques, barracas.
Como um produto, a praia é comercialmente, promovida, divulgada e reestruturada em
função da necessidade dos consumidores, que mantém em seu imaginário como o lugar da
modernidade . Numa cidade que se pretende ser sede de Jogos Pan-Americanos, e até mesmo
sediar as Olimpíadas. Que disputa no cenário internacional como lugar do turismo e que possui
problemas graves de violência, transtornos e crises causados por questões sociais encontra nas
reformas urbanas e na realização dos eventos de diferentes modelos e formatos a para manter
viva a imagem de lugar, moderno, belo, dos prazeres, da alegria e do modo de ser carioca. Para
amenizar transtornos no espaço os eventos a serem realizados estão cada vez mais voltados para
um público mais velho, com atrações destinadas a uma faixa etária superior a 40 anos.
A imagem de Copacabana transita entre o lugar do sagrado e do profano, ambiente do
lazer e do trabalho, espaço seguro por ter diversos olhos voltados para ele como na teoria de
JACOBS(2001) e espaço vulnerável a ataque de pivetes. É nesse paradoxo que a Praia de
Copacabana vai passando os seus dias, e recebendo dos órgãos de competências as melhorias
necessárias a manutenção da ordem no espaço para que ela se renove e mantenha a sua imagem
construída na primeira metade do século XX. Ordem o exigida por uns e condenada por
outros. A praia possui seus territórios onde é posvel conviver os diferentes grupos e cabe ser
administrada de forma que sua imagem não envelheça mais.
De ambiente dotado das possibilidades de atender os anseios de modernidade de uma
gerão como podemos ver no segundo capítulo ela se torna o lugar da tradição, do modo de
ser carioca e como o resumo, uma síntese da Cidade Maravilhosa. A iniciativa privada
aproveita o seu espo para promover as suas marcas ao realizar diferentes tipos de eventos. È
nos shows musicais, no Carnaval e no Reveillon, que a Praia ganha as páginas dos principais
jornais do Brasil e é noticiada como o espaço da diversão, do prazer, da alegria. Eventos que
o tão contestados e condenados por parte dos moradores, são ao mesmo tempo responveis
pela manutenção de uma imagem construída na primeira metade do século XX, de um ambiente
moderno, alegre e festivo.
Bibliografia:
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Stones’N’ Rio Satisfaction para 1,2 milhão Rolling Stones fazem maior show de rock de
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Stones’N’ Rio O Esquema de trânsito e segurança do show”. In: Jornal O Globo Rio de
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“Um domingo de corrida pelo Rio”. In: Caderno Esportes Jornal do Brasil Rio de Janeiro
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