Koolhaas
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mostra que, na grande metrópole contemporânea, tal base de
percepção não é mais tão clara, tamanha a pressa e alienação com que se
circula pelo ambiente urbano. Através de uma análise-ficção da cidade de
Manhattan e do relato de suas experiências em torno do desenvolvimento das
cidades asiáticas, ele se aproxima da realidade atual: rápida, desconexa,
obsoleta, manipulada.
No “Manifesto retroativo do empreendimento arquitetônico de Manhattan”
(KOOLHAAS et al., 1995) promove uma crítica evidente ao Movimento
Moderno, um intervalo em que se encontram passado, presente e futuro e em
que um visionário entrevê o invisível, o que não tem contornos — a cidade
contemporânea, “cidade genérica”
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— pensando o excesso e a presença que
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Rem Koolhaas nasceu em 1944, em Rotterdam; mudou-se para Londres para estudar
arquitetura na Architectural Association; deste período datam dois projetos teóricos: The Berlin
wall as architecture (1970) e Exodus, or the voluntary prisoners of architecture (1972). Em 1972
obteve uma bolsa que o permitiu viajar aos Estados Unidos onde, fascinado pela cidade de
Nova York, começou a analisar o impacto da cultura metropolitana sobre a arquitetura,
publicando Delirious New York, a retroactive manifesto for Manhattan. A partir deste momento,
Koolhaas decidou passar da teoria à prática e voltou para a Europa fundando, em 1975, o OMA
— Office for Metropolitan Architecture —, junto a Elia e Zoe Zenghelis e Madelon Vriesendorp;
seus objetivos eram a definição de novos tipos de relações, tanto teóricas como práticas, entre
a arquitetura e a situação cultural contemporânea.
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Koolhaas cria o termo para identificar o conceito de cidade contemporânea que ele acredita
corresponder à realidade atual. Nas palavras do autor, alguns trechos que resumem suas
idéias: “A Cidade Genérica é a cidade liberada da capacidade de centro, do invólucro estreito
de identidade. A Cidade Genérica quebra este ciclo destrutivo de dependência: é nada mais
que uma reflexão da presente necessidade e da presente habilidade. É a cidade sem história.
É grande o suficiente para todo mundo. É fácil. Não precisa de manutenção. Se ficar muito
pequena, simplesmente se expande. Se ficar velha, simplesmente se auto-destrói e se renova.
É igualmente excitante — ou não-excitante — em todo lugar. É “superficial” — como um lote de
estúdio de Hollywood, pode produzir uma nova identidade toda manhã de segunda-feira. [...] A
Cidade Genérica é o que é deixado depois de grandes seções de vida urbana atravessadas
pelo ciberespaço. É um lugar de sensações fracas e distendidas, poucas e afastadas entre
emoções, discretas e misteriosas como um grande espaço iluminado por uma luminária de
cama. Comparada à cidade clássica, a Cidade Genérica é sedada, usualmente percebida
através de uma posição sedentária. Ao invés de concentração — presença simultânea — na
Cidade Genérica “momentos” individuais acontecem bem longe para criar um transe de quase
não noticiáveis experiências estéticas: as variações de cor na iluminação fluorescente de um
prédio de escritórios logo antes do pôr-do-sol, as sutilezas dos brancos levemente diferentes de
um sinal iluminado à noite. Como a comida japonesa, as sensações podem ser reconstituídas e
intensificadas na mente, ou não — elas podem simplesmente ser ignoradas. (Há uma escolha).
Esta falta de urgência e insistência pervasivas age como uma droga potente; ela induz uma
alucinação do normal. [...] Num reverso drástico do que é supostamente a principal
característica da cidade — “negócio” — a sensação dominante da Cidade Genérica é uma
estranha clama: quanto mais calma ela é, mais ela se aproxima do estado puro. A Cidade
Genérica endereça as “maldades” que foram imputadas à cidade tradicional antes de nosso
amor por ela tornar-se incondicional. A serenidade da Cidade Genérica é atingida pela