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estabilidade à instabilidade do mundo; da objetividade à ‘objetividade entre parênteses’ ou
intersubjetividade.” (ESTEVES DE VASCONCELOS, 1995, p.
xiv).
A ciência tradicional, segundo Morin (1997), é a ciência clássica; aquela que,
fundando suas explicações na ordem e na simplificação, reinou até o início do século XX,
encontrando
-se, hoje, em crise. Seguindo essa tradição, o objetivo básico é a busca do
conhecimento fundamental, certo e seguro, de um mundo objetivo existente
independentemente de um sujeito cognoscente. “Por se tratar de um conhecimento
cumulativo, observável, verificável e universal, o discurso filosófico da modernidade é do tipo
unívoco, apoiado em um valor de verdade e estabilidade” (GRANDESSO, 2000, p. 55). Já a
ciência contemporânea traz em seu discurso o
s aspectos da desordem e imprevisibilidade.
Então, ao se deparar com a complexidade, a função do cientista era reduzi-la a leis
simples que terminavam por fragmentar a natureza. Para simplificar o mundo, partia-se para
uma universalidade das idealizações. As mudanças começaram a se dar a partir do momento
em que se percebeu a insuficiência da observação e se partiu, então, para uma prática
experimental.
A realidade, porém, passou a ser mutilada para que fosse possível a
experimentação, a avaliação de hipóte
ses, de verificação e de controle. Assim
,
[...] este foi um legado cartesiano que perpetuou uma dicotomia radical entre um
mundo interno das entidades mentais e um mundo externo dos objetos físicos.
Independentemente do que está sendo observado, descrito ou explicado, o sujeito
cognoscente está sempre separado do seu objeto de conhecimento. Essa tradição de
pensamento, portanto, apóia-se no dualismo sujeito e objeto, tendo o sujeito uma
posição privilegiada de acesso a uma realidade independente, mas tendo a realidade
como contexto de validação de todo conhecimento, a partir de uma espécie de
“tribunal dos fatos”, fora de esfera do “simplesmente humano”. (IBAÑEZ, apud
GRANDESSO, 2000, p. 56).
Entretanto, os limites desta ciência foram sendo verificados, dando espaço à visão
contemporânea emergente, que é a visão sistêmica da complexidade organizada (ESTEVES
DE VASCONCELOS, 1995). No final do século XVIII, Kant propôs que a experiência é
mediada por categorias, não sendo, portanto, uma representação transpa
rente da realidade. Em
Crítica à razão pura, Kant considerou a mente não como um receptáculo das impressões da
natureza, mas criadora de significado. Portanto, a mente estrutura ativamente a experiência,
interferindo sobre ela. (GRANDESSO, 2000).
A partir disso, alguns pressupostos da ciência tradicional vêm sendo revistos, como,
por exemplo, o da simplicidade. Percebeu-se que descrições de sistemas simples não davam
conta de descrever o comportamento de sistemas muito grandes ou muito pequenos
(PRIGOGINE
E STENGERS, 1997). Também, no que se refere à estabilidade do mundo,