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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA – UESB
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ZOOTECNIA
CAMPUS DE ITAPETINGA
COMPORTAMENTO INGESTIVO DE BOVINOS CRIADOS SOB
DIFERENTES CONDIÇÕES
ROBÉRIO RODRIGUES SILVA
ITAPETINGA - BA
FEVEREIRO, 2005
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA – UESB
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ZOOTECNIA
CAMPUS DE ITAPETINGA
COMPORTAMENTO INGESTIVO DE BOVINOS CRIADOS SOB
DIFERENTES CONDIÇÕES
ROBÉRIO RODRIGUES SILVA
Orientador: Fabiano Ferreira da Silva
Co-Orientador(a): Cristina Mattos Veloso e Paulo Bonomo
ITAPETINGA - BA
FEVEREIRO, 2005
Dissertação apresentada à Universidade Estadual do
Sudoeste da Bahia UESB/ Campus de Itapetinga Ba,
para obtenção do tulo de Mestre em Zootecnia Área de
Concentração em Produção de Ruminantes.
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Aos meus amados pais, João e Creusa, razão e alegria de minha existência.
A minha querida namorada Ingryd, pelo apoio, companhia e carinho constantes.
A minhas irmãs, Rosiane e Rosangela, pelo incentivo.
A minhas crianças, Fábio e João Vitor pela descontração nas horas de tensão.
A minhas duas avós (In memorian) Lindaura e Anita, pelos ensinamentos.
Aos meus Avôs Joaquim e Auripedes pelos ensinamentos e pela torcida.
A todos os meus familiares que de alguma forma contribuíram para o meu sucesso.
DEDICO
A DEUS, ser supremo de onde vem todas as forças e direcionamentos;
À Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), minha segunda casa, pela
oportunidade de realização do curso;
À Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB) pela concessão da bolsa
de estudos;
À Fazenda São João na pessoa do veterinário Euller pela cessão dos animais;
Ao amigo Rodrigo Pedral, pela cessão das novilhas;
À Escola Média de Agropecuária Regional da Ceplac (EMARC-IT) que desde 1994
contribui de forma significativa com minha formação pessoal e profissional;
Ao Professor, Coordenador, Orientador e principalmente ao amigo Fabiano Ferreira da
Silva, pela orientação, o apoio e o convívio fraternal (Panguá Mor);
À Professora, Co-Orientadora, Amiga e Panguazinha Cristina Mattos Veloso, por tudo
(Aborrecida, Chaaata, chambeurem);
Ao Co-Orientador, amigo e consultor estatístico Paulo Bonomo (Binômio),
(zzzzzzzzzzzzzz);
Ao amigo e Consultor estatístico adjunto, Professor Modesto Antonio Chaves (Panguá Tipo
Bacon) por sua preciosa contribuição;
Aos demais professores do curso que de alguma maneira contribuíram com a minha
formação;
Ao fraterno amigo Professor Abel Rebouças São José por sua amizade simples e leal;
Ao amigo Panguá N1 (Panguá Tipo Osso), também conhecido como Gleidson Giordano
pelo apoio total e irrestrito a todas as minhas atividades profissionais e pessoais;
Ao meu querido filho Victorio, pelo carinho, respeito e cuidado em todos os momentos
desta trajetória;
Aos queridos amigos conhecidos também como três patetas (Alyson, Danilo e Fabrício),
pelo companheirismo e atenção no convívio profissional e pessoal;
Aos amigos, estagiários e bolsistas, especialmente Roberta Pocotó, So Kreissiu, George a e
Arassono (a que dorme);
Ao meu ex-professor, colega de mestrado e eterno amigo, Beto Bala (Alberti Ferreira
Magalhães), pelo companheirismo e lealdade constantes;
Ao meu ex-professor, hoje colega de mestrado e fiel amigo Antonio e sua esposa Jussara,
amigos fraternos;
Ao colega Walter Pollo (Paulo Valter) pelo apoio nas análises laboratoriais;
A minha Irmã mais velha Socorrito, sua bola Davi e o pai da bola o Alex;
Ao colega de experimento João Gonçalves;
A todos os demais colegas de Mestrado;
A todos os meus eternos e amados professores da EMARC-IT pelo carinho e atenção
dispensados ao longo de todo este tempo (1994...);
Aos professores do curso de Zootecnia da UESB que de alguma maneira contribuíram com
minha formação;
A minha amiga Pangoa (Lobona) pelo companheirismo e amizade;
A, ia esquecendo, aos bezerros Merominho, Robério, PitBull, Ingrydo e todos os outros
que pacientemente nos agüentaram observando-os, as bezerras Atlas, Sibelli, Cristina,
Robério e todas as outras;
Em fim, a todas as pessoas que de alguma maneira contribuíram para mais esta conquista,
sintam-se todos vitoriosos também.
RESUMO
SILVA, R.R. Comportamento ingestivo de bovinos Holandês de diferentes categorias
criados sob diferentes sistemas. Itapetinga – BA: UESB, 2005. 55p. (Dissertação
Mestrado em Zootecnia, Área de Concentração em Produção de Ruminantes)*
Experimento I: Foram estudados os efeitos de diferentes níveis de inclusão do bagaço de
mandioca sobre o comportamento ingestivo de 16 novilhas mestiças Holandês x Zebu, com
peso corporal dio inicial de 150 kg e 12 meses de idade. Os animais foram alojados em
baias individuais e alimentados à vontade com dietas contendo 5, 10, 15 e 20% de inclusão
de bagaço de mandioca à silagem de capim-elefante. Foi utilizado o delineamento
experimental inteiramente casualizado, com quatro tratamentos e quatro repetições. O
experimento teve 70 dias de duração, sendo 14 deles para adaptação às dietas
experimentais. Os tempos gastos em ruminação e alimentação reduziram (P<0,01) e o
tempo de ócio aumentou linearmente (P<0,01), em função do aumento dos níveis de bagaço
de mandioca na dieta. O consumo total de fibra em detergente neutro (FDN) reduziu
linearmente (P<0,01), a eficiência alimentar não sofreu interferência dos tratamentos
(P>0,01) e a eficiência de ruminação da matéria seca (MS) aumentou linearmente (P<0,01)
com a elevação dos níveis de bagaço de mandioca. À medida que se elevou o nível de
inclusão do resíduo de mandioca na dieta, o tempo de mastigação totaL, o tempo de
ruminação/bolo e o número de mastigações/bolo reduziram linearmente (P<0,01), enquanto
a quantidade de MS, FDN e carboidrato não fibroso fibroso, em gramas ruminadas/bolo,
não sofreu interferência (P>0,01). A quantidade total de bolos ruminados durante o dia
apresentou efeito quadrático, sendo o maior número de, aproximadamente, 635 bolos para
6,98% de inclusão do bagaço de mandioca à dieta. Experimento II: Foram estudados os
efeitos dos diferentes níveis de suplementação concentrada sobre o comportamento
ingestivo de 16 novilhas mestiças Holandês x Zebu, com peso corporal médio inicial de
185 kg e 12 meses de idade. Os animais foram mantidos em oito piquetes de Brachiaria
decumbens, com área de 1000
m
2
cada, e sem nenhum sombreamento. O delineamento experimental utilizado foi o
inteiramente casualizado, com quatro tratamentos e quatro repetições. Os tratamentos
consistiram de quatro níveis de suplementação concentrada em função do peso vivo dos
animais, os quais foram: 0,25; 0,50; 0,75 e 1,00% do peso vivo. O experimento teve 20 dias
*Orientador: Fabiano Ferreira da Silva, D.Sc, UESB e Co-Orientadores: Cristina Mattos Veloso e Paulo Bonomo,
D.Sc, UESB
de duração, sendo 12 deles para adaptação às dietas experimentais e oito para coleta de
dados. O tempo gasto em pastejo e ruminação não sofreu efeito (P>0,01) dos tratamentos,
enquanto o tempo de ócio reduziu (P<0,01) e o tempo comendo no cocho aumentou
linearmente (P<0,01), em função do aumento dos níveis de suplementação. Os consumos
totais de matéria seca, fibra em detergente neutro e fibra em detergente ácido sofreram
efeito quadrático (P<0,01). O tempo de mastigação total, o número de bolos ruminados e o
tempo gasto para ruminar cada bolo não apresentaram diferença à medida que elevou-se os
níveis de suplementação. o número de mastigações por bolo sofreu efeito quadrático
(P<0,01). O número de períodos de ruminação, o número de períodos de ócio, o mero de
períodos comendo no cocho, o tempo de duração dos períodos de ruminação e o tempo de
duração dos períodos de ócio não foram afetados (P>0,01) pelos níveis de suplementação
testados. O número de períodos de pastejo e o tempo de duração dos períodos de pastejo
sofreram efeito quadrático (P<0,01), enquanto o tempo de duração dos períodos de cocho
aumentou linearmente (P<0,01). Experimento III: Foram estudados os efeitos das rações
farelada (FAR) e peletizada (PEL) sobre o comportamento ingestivo nas fases de
aleitamento (AL) e pós-aleitamento (PAL) de 12 bezerros Holandeses, puros de origem,
com peso corporal médio inicial de 27,5 kg e idade média de 10 dias. Os animais foram
alojados em baias individuais e alimentados com concentrado à vontade, mais quatro quilos
de sucedâneo da marca comercial Sprayfo, reconstituído na proporção 8:1. Foi utilizado o
delineamento experimental em unidades de medidas repetidas, em arranjo fatorial dois por
dois (dois tipos de ração e duas fases de alimentação). O experimento teve 91 dias de
duração, sendo sete deles para adaptação às dietas experimentais. Não houve efeito de
interação (P>0,01) entre as fases de alimentação e as dietas testadas em nenhuma das
variáveis estudadas. Os tempos de alimentação, ruminação e ócio, não foram afetados pelos
tratamentos (TR) (P>0,01). em relação às fases de alimentação, os resultados foram
significativos (P<0,01). O número de períodos de alimentação, ruminação e ócio foi igual
(P>0,01). A duração dos períodos de alimentação e ócio sofreu efeito de TR e de fase
(P<0,01), sendo maiores os valores da ração FAR em ambas as fases. A duração dos
períodos de ruminação não sofreu efeito de TR (P>0,01), sendo maior (P<0,01) na fase de
PAL. O tempo por bolo ruminado e o número de mastigações por bolo foram maiores
(P<0,01) na ração FAR e na fase de PAL. O mero de bolos ruminados por dia e o tempo
de mastigação total foram maiores (P<0,01) na fase de PAL. Não houve efeito (P>0,01)
para a quantidade de matéria seca (MS) ruminada por bolo. As quantidades de fibra em
detergente neutro (FDN) e fibra em detergente ácido (FDA) ruminadas por bolo sofreram
efeito (P<0,01) da fase de alimentação. As eficiências de alimentação e ruminação (EFAL e
EFRU) da MS foram afetadas (P<0,01) pelo TR e pela fase de alimentação, apresentando
valores maiores para a ração PEL e para a fase de AL. As EFAL e EFRU de FDN e FDA
sofreram efeito de TR (P<0,01) e foram iguais entre as fases de alimentação.
Palavras-chaves: alimentação, etologia, ócio, pastejo, ruminação, suplementação
ABSTRACT
SILVA, R.R. Comportamento ingestivo de bovinos Holandês de diferentes categorias
criados sob diferentes sistemas. Itapetinga – BA: UESB, 2005. 55p. (Dissertação
Mestrado em Zootecnia, Área de Concentração em Produção de Ruminantes)*
I Experiment: The effects of different cassava bagasse inclusion levels on ingestive
behavior were studied using 16 Holstein x Zebu crossbred heifers, with 150 kg mean initial
body weight and 12 months of age. The animals were alloted in individual barns and were
ad libitum fed with diets containing 5, 10, 15 and 20% cassava bagasse inclusion to
elephant grass silage. The experimental design used was the completely randomized, with
four treatments and four repetitions. The experiment last 70 days, 14 of them for adaptation
to experimental diets. The time spent ruminating and eating reduced (P<0.01) and idle time
increased linearly (P<0.01) as function of cassava bagasse increasing levels to the diet.
Total neutral detergent fiber (NDF) intake reduced linearly (P<0.01), feed efficiency did
not had influence of the treatments (P>0.01) and dry matter (DM) rumination efficiency
increased linearly (P<0.01) as cassava bagasse level increased. As cassava residue inclusion
level increased in the diet, total chewing time, the time of rumination/bolus and the number
of chewing/bolus reduced linearly (P<0.01), while the quantity of DM, NDF and non fiber
carbohydrate, in grams ruminated/bolus, was not influenced (P>0.01). Total quantity of
ruminated bolus during the day showed quadratic effect, with the greatest number of,
approximately, 635 bolus for 6.98% cassava bagasse inclusion to the diet. II Experiment:
The effects of different levels of concentrate supplement on ingestive behavior were studied
using 16 Holstein x Zebu crossbred heifers, with 185 kg mean initial body weight and 12
months of age. The animals were kept in eight Brachiaria decumbens pastures, with 1000
m
2
each and without any shadow. The experimental design used was the completely
randomized, with four treatments and four repetitions. The treatments consisted of four
concentrate supplementation levels as functions of the animals live weight, which were:
0.25, 0.50,
*Adviser: Fabiano Ferreira da Silva, D.Sc, UESB and committee members: Cristina Mattos Veloso and Paulo
Bonomo, D.Sc, UESB.
0.75 and 1.00% live weight. The experiment last 20 days, 12 of them for adaptation to
experimental diets and eight for data collection. The time spent grazing and ruminating did
not had effect (P>0.01) of the treatments, while idle time reduced (P<0.01) and the time of
bunk eating increased linearly (P<0.01), as function of the increase of supplementation
levels. Total dry matter, neutral detergent fiber and acid detergent fiber intakes had
quadratic effect (P<0.01). The total chewing time, the number of ruminated bolus and the
time spent ruminating each bolus did not show any difference as the supplementation levels
increased. The chewing number per bolus had quadratic effect (P<0.01). The number of
ruminating periods, the number of idle periods, the number of bunk eating periods, the
duration time of ruminating periods and the duration time of idle periods were not affected
(P>0.01) by the tested supplementation levels. The number of grazing periods and the
duration time of grazing periods had quadratic effect (P<0.01), while the duration time of
bunk periods increased linearly (P<0.01). III Experiment: The effects of powdered
(POW) and pelleted (PEL) rations on ingestive behavior during milking (M) and post-
milking (PM) phases were studied using 12 PO Holstein calves, with 27.5 kg mean initial
body weight and 10 days of age. The animals were alloted in individual barns and were ad
libitum fed with concentrate plus four kilos of Sprayfo
substitute, reconstituted at 8:1
proportion. The experimental design used was the repeated measures units, in a two x two
factorial arrangement (two ration types and two feeding phases). The experiment last 91
days, seven of them for adaptation to experimental diets. There was no interaction effect
(P>0.01) between the feeding phases and the tested diets to none of the studied variables.
The feeding, ruminating and idle times were not affected by the treatments (TR) (P>0.01).
But, in relation to feeding phases, the results were significant (P<0.01). The number of
feeding, ruminating and idle periods was equal (P>0.01). The duration of feeding and idle
periods showed effect of TR and phase (P<0.01), the greatest values for POW ration in both
phases. The duration of rumination periods did not had effect of TR (P>0.01), being greater
(P<0.01) in PM phase. The time per ruminated bolus and the number of chewing per bolus
were greater (P<0.01) for POW ration and PM phase. The number of ruminated bolus per
day and total chewing time were greater (P<0.01) in PM phase. There was no effect
(P>0.01) for ruminated dry matter (DM) quantity per bolus. The quantities of ruminated
neutral detergent fiber (NDF) and acid detergent fiber (ADF) per bolus had effect (P<0.01)
of feeding phase. The DM feed and rumination efficiencies (FEEF and RUEF) were
affected (P<0.01) by TR and feeding phase, showing greater values for PEL ration and M
phase. The NDF and ADF FEEF and RUEF were affected by TR (P<0.01) and were equal
at both feeding phases.
Keywords: Intake, ethology, idle, grazing, ruminating, supplementation
RESUMO
SILVA, R.R. Comportamento ingestivo de bovinos criados sob diferentes condições.
Itapetinga – BA: UESB, 2005. 55p. (Dissertação Mestrado em Zootecnia, Área de
Concentração em Produção de Ruminantes)*
Capítulo I: Foram estudados os efeitos de diferentes níveis de inclusão do bagaço de
mandioca sobre o comportamento ingestivo de 16 novilhas mestiças Holandês x Zebu, com
peso corporal dio inicial de 150 kg e 12 meses de idade. Os animais foram alojados em
baias individuais e alimentados à vontade com dietas contendo 5, 10, 15 e 20% de inclusão
de bagaço de mandioca na ensilagem do capim-elefante. Foi utilizado o delineamento
experimental inteiramente casualizado, com quatro tratamentos e quatro repetições. Os
tempos gastos em ruminação e alimentação reduziram (P<0,01) e o tempo de ócio
aumentou linearmente (P<0,01), em função do aumento dos níveis de bagaço de mandioca.
O consumo total de fibra em detergente neutro (FDN) reduziu linearmente (P<0,01), a
eficiência alimentar não sofreu interferência dos tratamentos (P>0,01) e a eficiência de
ruminação da matéria seca (MS) aumentou linearmente (P<0,01) com a elevação dos níveis
de bagaço de mandioca. À medida que se elevou o nível de inclusão do bagaço de
mandioca na dieta, o tempo de mastigação total, o tempo de ruminação/bolo e o número de
mastigações/bolo reduziram linearmente (P<0,01), enquanto a quantidade de MS, FDN e
carboidrato não fibroso fibroso, em gramas ruminadas/bolo, não sofreu interferência
(P>0,01). A quantidade total de bolos ruminados durante o dia apresentou efeito quadrático,
sendo o valor ximo de, aproximadamente, 635 bolos para 6,98% de inclusão do bagaço
de mandioca à dieta. Capítulo II: Foram estudados os efeitos dos diferentes níveis de
suplementação concentrada sobre o comportamento ingestivo de 16 novilhas mestiças
Holandês x Zebu, com peso corporal médio inicial de 185 kg e 12 meses de idade,
pastejando Brachiaria decumbens.
*Orientador: Fabiano Ferreira da Silva, D.Sc, UESB e Co-Orientadores: Cristina Mattos Veloso e Paulo
Bonomo, D.Sc, UESB
O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado, com quatro
tratamentos e quatro repetições. Os tratamentos consistiram de quatro níveis de
suplementação concentrada em função do peso vivo dos animais, os quais foram: 0,25;
0,50; 0,75 e 1,00% do peso vivo. O experimento teve 20 dias de duração, sendo 12 deles
para adaptação às dietas experimentais e oito para coleta de dados. O tempo gasto em
pastejo e ruminação não sofreu efeito (P>0,01) dos tratamentos, enquanto o tempo de ócio
reduziu (P<0,01) e o tempo comendo no cocho aumentou linearmente (P<0,01), em função
do aumento dos níveis de suplementação. Os consumos totais de matéria seca, fibra em
detergente neutro e fibra em detergente ácido sofreram efeito quadrático (P<0,01). O tempo
de mastigação total, o mero de bolos ruminados e o tempo gasto para ruminar cada bolo
não apresentaram diferença à medida que elevou-se os níveis de suplementação. Já o
número de mastigações por bolo sofreu efeito quadrático (P<0,01). O mero de períodos
de ruminação, o número de períodos de ócio, o número de períodos comendo no cocho, o
tempo de duração dos períodos de ruminação e o tempo de duração dos períodos de ócio
não foram afetados (P>0,01) pelos níveis de suplementação testados. O número de períodos
de pastejo e o tempo de duração dos períodos de pastejo sofreram efeito quadrático
(P<0,01), enquanto o tempo de duração dos períodos de cocho aumentou linearmente
(P<0,01). Capítulo III: Foram estudados os efeitos das rações farelada (FAR) e peletizada
(PEL) sobre o comportamento ingestivo nas fases de aleitamento (AL) e pós-aleitamento
(PAL) de 12 bezerros Holandeses, com peso corporal médio inicial de 27,5 kg e idade
média de 10 dias. Os animais foram alojados em baias individuais e alimentados com
concentrado à vontade, mais quatro quilos de sucedâneo, reconstituído na proporção 8:1.
Foi utilizado o delineamento experimental em unidades de medidas repetidas, em arranjo
fatorial dois por dois (dois tipos de ração e duas fases de alimentação). O experimento teve
91 dias de duração, sendo sete deles para adaptação às dietas experimentais. Não houve
efeito de interação (P>0,01) entre as fases de alimentação e as dietas testadas em nenhuma
das variáveis estudadas. Os tempos de alimentação, ruminação e ócio, não foram afetados
pelos tratamentos (TR) (P>0,01). em relação às fases de alimentação, os resultados
foram significativos (P<0,01). O número de períodos de alimentação, ruminação e ócio foi
igual (P>0,01). A duração dos períodos de alimentação e ócio sofreu efeito de TR e de fase
(P<0,01), sendo maiores os valores da ração FAR em ambas as fases. A duração dos
períodos de ruminação não sofreu efeito de TR (P>0,01), sendo maior (P<0,01) na fase de
PAL. O tempo por bolo ruminado e o número de mastigações por bolo foram maiores
(P<0,01) na ração FAR e na fase de PAL. O mero de bolos ruminados por dia e o tempo
de mastigação total foram maiores (P<0,01) na fase de PAL. Não houve efeito (P>0,01)
para a quantidade de matéria seca (MS) ruminada por bolo. As quantidades de fibra em
detergente neutro (FDN) e fibra em detergente ácido (FDA) ruminadas por bolo sofreram
efeito (P<0,01) da fase de alimentação. As eficiências de alimentação e ruminação (EFAL e
EFRU) da MS foram afetadas (P<0,01) pelo TR e pela fase de alimentação, apresentando
valores maiores para a ração PEL e para a fase de AL. As EFAL e EFRU de FDN e FDA
sofreram efeito de TR (P<0,01) e foram iguais entre as fases de alimentação.
Palavras-chaves: alimentação, etologia, ócio, pastejo, ruminação, suplementação
ABSTRACT
SILVA, R.R. Ingestive behavior of bovines created under different conditions.
Itapetinga BA: UESB, 2005. 55p. (Dissertation Masters Degree in Zootecnia, Area
Concentration Ruminant Production)*
I Chapter: The effects of different cassava bagasse inclusion levels on ingestive behavior
were studied using 16 Holstein x Zebu crossbred heifers, with 150 kg mean initial body
weight and 12 months of age. The animals were alloted in individual barns and were ad
libitum fed with diets containing 5, 10, 15 and 20% cassava bagasse inclusion to elephant
grass silage. The experimental design used was the completely randomized, with four
treatments and four repetitions. The experiment last 70 days, 14 of them for adaptation to
experimental diets. The time spent ruminating and eating reduced (P<0.01) and idle time
increased linearly (P<0.01) as function of cassava bagasse increasing levels to the diet.
Total neutral detergent fiber (NDF) intake reduced linearly (P<0.01), feed efficiency did
not had influence of the treatments (P>0.01) and dry matter (DM) rumination efficiency
increased linearly (P<0.01) as cassava bagasse level increased. As cassava residue inclusion
level increased in the diet, total chewing time, the time of rumination/bolus and the number
of chewing/bolus reduced linearly (P<0.01), while the quantity of DM, NDF and non fiber
carbohydrate, in grams ruminated/bolus, was not influenced (P>0.01). Total quantity of
ruminated bolus during the day showed quadratic effect, with the greatest number of,
approximately, 635 bolus for 6.98% cassava bagasse inclusion to the diet. II Chapter: The
effects of different levels of concentrate supplement on ingestive behavior were studied
using 16 Holstein x Zebu crossbred heifers, with 185 kg mean initial body weight and 12
months of age. The animals were kept in eight Brachiaria decumbens pastures, with 1000
m
2
each and without any shadow. The experimental design used was the completely
randomized, with four treatments and four repetitions. The treatments consisted of four
concentrate supplementation levels as functions of the animals live weight, which were:
0.25, 0.50,
*Adviser: Fabiano Ferreira da Silva, D.Sc, UESB and committee members: Cristina Mattos Veloso and Paulo
Bonomo, D.Sc, UESB.
0.75 and 1.00% live weight. The experiment last 20 days, 12 of them for adaptation to
experimental diets and eight for data collection. The time spent grazing and ruminating did
not had effect (P>0.01) of the treatments, while idle time reduced (P<0.01) and the time of
bunk eating increased linearly (P<0.01), as function of the increase of supplementation
levels. Total dry matter, neutral detergent fiber and acid detergent fiber intakes had
quadratic effect (P<0.01). The total chewing time, the number of ruminated bolus and the
time spent ruminating each bolus did not show any difference as the supplementation levels
increased. The chewing number per bolus had quadratic effect (P<0.01). The number of
ruminating periods, the number of idle periods, the number of bunk eating periods, the
duration time of ruminating periods and the duration time of idle periods were not affected
(P>0.01) by the tested supplementation levels. The number of grazing periods and the
duration time of grazing periods had quadratic effect (P<0.01), while the duration time of
bunk periods increased linearly (P<0.01). III Chapter: The effects of powdered (POW)
and pelleted (PEL) rations on ingestive behavior during milking (M) and post-milking
(PM) phases were studied using 12 PO Holstein calves, with 27.5 kg mean initial body
weight and 10 days of age. The animals were alloted in individual barns and were ad
libitum fed with concentrate plus four kilos of substitute, reconstituted at 8:1 proportion.
The experimental design used was the repeated measures units, in a two x two factorial
arrangement (two ration types and two feeding phases). The experiment last 91 days, seven
of them for adaptation to experimental diets. There was no interaction effect (P>0.01)
between the feeding phases and the tested diets to none of the studied variables. The
feeding, ruminating and idle times were not affected by the treatments (TR) (P>0.01). But,
in relation to feeding phases, the results were significant (P<0.01). The number of feeding,
ruminating and idle periods was equal (P>0.01). The duration of feeding and idle periods
showed effect of TR and phase (P<0.01), the greatest values for POW ration in both phases.
The duration of rumination periods did not had effect of TR (P>0.01), being greater
(P<0.01) in PM phase. The time per ruminated bolus and the number of chewing per bolus
were greater (P<0.01) for POW ration and PM phase. The number of ruminated bolus per
day and total chewing time were greater (P<0.01) in PM phase. There was no effect
(P>0.01) for ruminated dry matter (DM) quantity per bolus. The quantities of ruminated
neutral detergent fiber (NDF) and acid detergent fiber (ADF) per bolus had effect (P<0.01)
of feeding phase. The DM feed and rumination efficiencies (FEEF and RUEF) were
affected (P<0.01) by TR and feeding phase, showing greater values for PEL ration and M
phase. The NDF and ADF FEEF and RUEF were affected by TR (P<0.01) and were equal
at both feeding phases.
Keywords: Intake, ethology, idle, grazing, ruminating, supplementation
CAPÍTULO I
COMPORTAMENTO INGESTIVO DE NOVILHAS MESTIÇAS DE HOLANDÊS
CONFINADAS
INTRODUÇÃO
O estudo do comportamento animal é de grande importância, principalmente para
animais mantidos em regime de confinamento, adotado em várias bacias leiteiras do País
(Damasceno et al., 1999). a necessidade de entendimento do comportamento alimentar
dos bovinos, uma vez que este está intrinsecamente relacionado com a produção. Segundo
Arnold (1985), citado por Van Soest (1994), os ruminantes, como as outras espécies,
ajustam o comportamento alimentar de acordo com suas necessidades nutricionais,
sobretudo de energia. Rações contendo alto teor de fibra em detergente neutro (FDN)
promovem redução do consumo de matéria seca (MS) total, devido à limitação provocada
pela repleção do rúmen-retículo; por outro lado, rações contendo elevados teores de
concentrado e menores níveis de fibra também podem resultar em menor consumo de MS,
uma vez que as exigências energéticas dos ruminantes poderão ser atingidas com menores
níveis de consumo (Gonçalves et al., 2000). Assim, é interessante avaliar a interferência do
nível de fibra da dieta sobre o número e o tempo gasto com as mastigações merícicas por
bolo ruminal.
Miranda et al. (1999), trabalharam com novilhas leiteiras com idade de 15 meses,
encontraram uma média de 11,62 refeições/dia, com duração de 28,70 minutos e média de
15 períodos ruminativos/dia, com duração de 40,29 minutos. Dado & Allen (1994), citados
por Miranda et al. (1999), relataram a importância de se mensurar o comportamento
alimentar e a ruminação, a fim de verificar suas implicações sobre o consumo diário de
alimentos. Segundo Albright (1993), o estudo do comportamento ingestivo dos ruminantes
tem sido usado com os objetivos de: estudar os efeitos do arraçoamento ou quantidade e
qualidade nutritiva de forragens sobre o comportamento ingestivo; estabelecer a relação
entre comportamento ingestivo e consumo voluntário; e verificar o uso potencial do
conhecimento a respeito do comportamento ingestivo para melhorar o desempenho animal.
As principais variáveis comportamentais estudadas em vacas leiteiras têm sido aquelas
relacionadas às atividades de alimentação, ruminação, ócio e, quando criadas a campo,
merece destaque, também, a procura por água e sombra (Camargo, 1988).
Os animais consomem por pequenos espaços de tempo, cada um destes
caracterizando uma refeição, o mero de refeições diárias varia entre espécies e apresenta
distribuição irregular ao longo das 24 horas, havendo preferência das espécies domésticas
pela alimentação diurna (Teixeira, 1998). O padrão de procura de alimento por bovinos
confinados é bem característico, com dois momentos principais: início da mane final da
tarde, sendo que o tempo gasto diariamente nesta atividade, por vacas leiteiras estabuladas,
tem sido de 4,5 horas (Damasceno et al., 1999), podendo variar de uma hora, para
alimentos ricos em energia, até seis horas ou mais, para alimentos de baixo valor energético
(Burger et al., 2000). De acordo com Faria (1982), animais estabulados são estimulados a
procurar o alimento nos momentos da oferta. Damasceno et al. (1999), trabalharam com
vacas holandesas recebendo três refeições diárias, às 6:00, 12:00 e 17:00 horas e
verificaram que os animais aparentemente não apresentaram estímulos de interesse pela
refeição fornecida às 12:00 horas, coincidentemente no período em que a radiação solar é
mais intensa.
A ruminação em animais estabulados consome, normalmente, oito horas por dia
(Camargo, 1988). Nas atividades que não incluem alimentação nem ruminação, o animal
gasta, diariamente, cerca de dez horas (Costa, 1985). Durante as épocas de inverno, os
animais passam mais tempo ruminando em relação às épocas de verão (Shultz, 1983).
Damasceno et al. (1999) verificaram que há uma preferência dos animais em ruminar
deitados, principalmente nos períodos fora das horas mais quentes do dia. Assim, as
maiores freqüências de ruminação ocorrem entre 22:00 e 5:00 horas e as maiores
freqüências de ócio ocorrem normalmente, entre 11:00 e 14:00 horas (60-80%),
estabilizando-se das 22:00 às 7:00 (40-50%).
O teor de FDN afeta o tempo de ingestão e ruminação. Carvalho et al. (2000),
observaram que a redução no conteúdo de fibra diminuiu o tempo de ingestão e ruminação
e elevou o período de ócio.
Este trabalho tem como objetivo determinar o comportamento ingestivo de novilhas
¾ de Holandês X Zebu confinadas e alimentadas com níveis crescentes de bagaço de
mandioca.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido no setor de Bovinocultura de Leite da Universidade
Estadual do Sudoeste da Bahia, campus de Itapetinga, entre os meses de Novembro de 2004
e fevereiro de 2005. Foram utilizadas 16 novilhas ¾ Holandês x Zebu, com idade média de
12 meses e peso médio inicial de 150 kg, distribuídas, ao acaso, em quatro tratamentos,
com quatro animais por tratamento. Os animais foram mantidos confinados em baias
individuais cobertas com área útil 2,5 m
2
e piso cimentado. O período experimental foi de
70 dias, sendo 14 deles destinados à adaptação dos animais ao novo ambiente e às dietas.
As observações foram feitas na semana final do período experimental.
Foi fornecida aos animais uma dieta à base de volumoso e concentrado na
proporção de 60:40, com base na MS. As dietas foram fornecidas ad libitum, sendo a
silagem de capim-elefante o volumoso ao qual foram adicionados os níveis de 5, 10, 15 e
20% de bagaço de mandioca, que corresponderam aos quatro tratamentos, os quais foram
formulados para serem isoprotéicos. O concentrado continha milho, farelo de soja,
uréia+sulfato de amônio e mistura mineral (Tabela 1.1).
Tabela 1.1 – Proporção dos ingredientes nos concentrados (%), na base da matéria natural
Nível de bagaço de mandioca
Ingrediente
5 10 15 20
Fubá de milho 57,0 56,2 55,5 54,7
Farelo de soja 36,9 37,7 38,4 39,2
Uréia 2,0 2,0 2,0 2,0
Sulfato de Amônio 0,3 0,3 0,3 0,3
Calcário calcítico 1,7 1,7 1,7 1,7
Fosfato bicálcico 1,2 1,2 1,1 1,1
Sal mineral
1
1,0 1,0 1,0 1,0
1
Composição: lcio, 18,5%; Fósforo, 9%; Magnésio, 0,4%; Enxofre, 1%; Sódio, 11,7%; Selênio, 30 ppm; Cobre, 1500 ppm; Zinco, 4000 ppm; Manganês, 1200 ppm; Iodo, 150
ppm; Cobalto, 150 ppm.
As avaliações bromatológicas das dietas experimentais e do bagaço de mandioca
foram feitas conforme metodologia descrita por Silva & Queiroz (2002) e estão expostas na
Tabela 1.2. Os parâmetros avaliados foram matéria seca (MS), proteína bruta (PB), fibra
em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA), estrato etéreo (EE), cinzas,
matéria orgânica (MO) e carboidratos não fibrosos (CNF).
O alimento foi distribuído duas vezes ao dia, às 7:00 e às 16:00 horas, com água
disponível todo o tempo. A quantidade de alimento fornecido foi reajustada conforme o
consumo do dia anterior, permitindo uma disponibilidade entre 5 e 10% de sobras como
margem de segurança. Diariamente, foi registrada a quantidade de ração oferecida e as
sobras foram retiradas, individualmente e pesadas. Foram realizadas coletas semanais dos
concentrados oferecidos. Foram coletadas amostras diárias das silagens assim como das
sobras, que foram agrupadas, de forma proporcional, em cada período de sete dias,
constituindo-se amostras compostas semanais. Todas as amostras (silagens, concentrados e
sobras) foram pré-secas em estufa ventilada a 65
o
C e moídas em moinho com peneira de
malha de 1 mm, para posteriores análises laboratoriais.
Tabela 1.2 -
Composição químico-bromatológica (% MS) das dietas experimentais e do
bagaço de mandioca
Nível bagaço de mandioca (%)
Item (%) 5 10 15 20 Bagaço de mandioca
MS 34,92 38,55 41,82 43,36 87,50
PB 13,55 13,88 13,61 14,07 1,91
FDN 48,97 42,94 38,70 36,79 12,02
FDA 27,49 23,59 20,86 19,91 6,73
EE 3,33 3,09 3,08 2,85 0,60
Cinzas 7,67 7,04 6,18 6,33 1,62
MO 92,33 92,96 93,82 93,67 98,38
CNF 26,49 33,05 38,42 39,95 83,85
Os animais foram submetidos a períodos de observação visual para avaliar o seu
comportamento ingestivo durante dois dias na última semana do período experimental
(Fischer, 1996). Foram realizadas observações por três períodos de duas horas cada das
10:00 às 12:00, 14:00 às 16:00 e 18:00 às 20:00 horas, conforme metodologia descrita por
Burger et al. (2000), determinando-se o mero de mastigações merícicas/bolo ruminal e o
tempo gasto para ruminação de cada bolo.
A coleta de dados para saber o tempo gasto em cada atividade foi efetuada com o
uso de cronômetros digitais, manuseados por quatro observadores, que observaram os
animais nos períodos pré-determinados. A cada período, foi escolhido, aleatoriamente, um
animal de cada tratamento para ser observado, com a finalidade de conseguir uma amostra
total que incluísse a presença de todos os animais de cada tratamento.
Foram feitas observações durante 48 horas seguidas, em que todos os animais foram
observados simultaneamente, perfazendo 288 observações diárias a intervalos de 5 minutos
(Gary et al., 1970), a fim de identificar o tempo destinado às atividades de alimentação,
ruminação e ócio. No período noturno o ambiente recebeu iluminação artificial. A coleta de
dados referentes aos fatores comportamentais: eficiência de alimentação e ruminação,
tempo de mastigação total (TMT), número de bolos ruminais, tempo de ruminação/bolo,
além do número de mastigações merícicas/bolo, foi conduzida conforme metodologia
descrita por Burger et al. (2000). O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente
casualizado, com quatro tratamentos e quatro repetições.
Para análise dos dados coletados no experimento, foi utilizado o Sistema de
Análises Estatísticas e Genéticas – SAEG (Universidade Federal de Viçosa – UFV, 2000),
e os resultados foram interpretados estatisticamente por meio de análises de variância e
regressão a 1% de probabilidade.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados referentes aos tempos de alimentação, ruminação e ócio, com suas
respectivas equações de regressão e coeficientes de determinação, encontram-se expostos
na Tabela 1.3.
Tabela 1.3 –
Tempo gasto em alimentação, ruminação e ócio com suas respectivas equações de
regressão e coeficientes de determinação.
Nível de bagaço de mandioca (%)
Atividade (min/dia)
5 10 15 20
Equação de Regressão
Alimentação 268 271 215 203 Ŷ = 302,187 – 5,025x r
2
= 0,84
Ruminação 551 487 451 399 Ŷ = 595,00 – 9,825x r
2
= 0,99
Ócio 621 682 774 838 Ŷ = 542,812 + 14,85x r
2
= 0,99
Os tempos de ruminação e alimentação reduziram linearmente (P<0,01), enquanto,
o ócio aumentou (P<0,01) em função do aumento da inclusão do bagaço de mandioca,
ocasionando, portanto, uma redução do teor de FDN, reduzindo os tempos de alimentação e
de ruminação e aumentando o tempo de ócio.
Burger et al. (2000), que alimentaram bezerros holandeses com idade média inicial
de 5,8±0,7 meses e 107,4±11,0 kg PV médio inicial recebendo cinco níveis diferentes de
concentrado na dieta que variaram de 30 a 90%, relataram tempos de ruminação de 451,2 a
253,8, de alimentação variando de 295,2 a 115,2 e o ócio de 655,2 a 1007,4 minutos/dia
respectivamente.
Traxler et al. (1995) trabalhando com bezerros holandeses de faixa etária e peso
aproximados aos utilizados neste experimento, observaram aumento linear para o ócio e
diminuição da ruminação e da alimentação à medida que reduziu-se os teores de FDN e
eleva-se os de CNF.
Miranda et al. (1999), trabalhando com novilhas mestiças Holandês-Zebu, com
idade dia de 15 meses e peso inicial médio de 247 kg alimentadas com dietas à base de
cana-de-açúcar, tendo uréia ou cama de frango como fonte de nitrogênio para síntese de
proteína microbiana, encontraram tempos diários totais de ruminação, em minutos, que
variaram de 571,2 a 589,2.
Camargo (1988), que afirma que a dia de tempo gasto diariamente com a
ruminação é de aproximadamente oito horas, variando conforme os níveis de FDN da dieta,
dados concordantes aos obtidos no presente trabalho. Os resultados encontrados para os
tempos diários de alimentação estão de acordo, também, com os relatos de Damasceno et
al. (1999), que encontraram um tempo médio de alimentação de 4,5 horas.
Os resultados referentes ao consumo de MS, FDN e CNF a eficiência de
alimentação (quantidades de MS, FDN e CNF consumidas por unidade de tempo) e a
eficiência de ruminação (quantidades de MS, FDN e CNF ruminadas por unidade de
tempo), com suas respectivas equações de regressão e coeficientes de determinação estão
expostos na Tabela 1.4.
O consumo de MS e CNF, em g/dia, não foi afetado pelo aumento da inclusão do
bagaço de mandioca à dieta, ao passo que o consumo de FDN decresceu linearmente
(P<0,01) à medida que se elevaram os níveis do resíduo. Os resultados encontrados para a
FDN estão de acordo com os relatados por Burger et al. (2000).
A eficiência de alimentação expressa em g de MS, FDN e CNF ingeridas/hora, não
foi afetada pelo efeito dos tratamentos (P>0,01). A eficiência de ruminação da FDN e dos
CNF também não foi afetada pelo aumento da inclusão do bagaço de mandioca. Já a
eficiência de ruminação da MS aumentou linearmente (P<0,01) à medida que se elevou a
porcentagem do bagaço de mandioca na dieta. Estes resultados corroboram os relatos de
Dulphy et al. (1980), que afirmaram que a elevação do concentrado na dieta eleva também
a eficiência de ruminação, uma vez que parte do concentrado é regurgitado conjuntamente
com o volumoso para ser ruminado.
Tabela 1.4 – Médias e consumo de matéria seca (CMS), fibra em detergente neutro (CFDN) e
carboidratos não fibrosos (CCNF), eficiência de alimentação e ruminação das mesmas
frações e suas respectivas equações de regressão e coeficientes de determinação
Nível de bagaço de mandioca (%)
Item
5 10 15 20
Equação de Regressão
Consumo
CMS (g/dia) 6158 6073 6523 5257 Ŷ = 6003
CFDN (g/dia) 3016 2608 2524 1934 Ŷ = 3352,65 – 66,816x (r
2
= 0,93)
CCNF (g/dia) 2903 2861 2990 2368 Ŷ = 2780
Eficiência de Alimentação
MS (g de MS/h) 1387,52 1359,39 1786,26 1598,86 Ŷ = 1533,01
FDN (g de FDN/h) 679,47 583,76 691,20 588,18 Ŷ = 635,65
CNF (g de CNF/h) 654,08 640,27 818,82 720,13 Ŷ = 708,33
Eficiência de Ruminação
MS (g de MS/h) 668,54 754,15 901,36 857,81 Ŷ = 616,704 + 14,30x (r
2
= 0,78)
FDN (g de FDN/h) 327,38 323,85 348,78 315,56 Ŷ = 328,89
CNF (g de CNF/h) 315,15 355,20 413,18 386,36 Ŷ = 367,47
As médias do tempo de mastigação total (TMT), em minutos por dia, das
quantidades de MS, FDN e CNF ruminadas por bolo, da quantidade de bolos ruminados
por dia, do tempo gasto para ruminar cada bolo e do número de mastigações/bolo estão
expostas na Tabela 1.5, juntamente com suas respectivas equações de regressão e
coeficientes de determinação.
Tabela 1.5 –
Médias de tempo de mastigação total (TMT), quantidade de matéria seca (MS), fibra
em detergente neutro (FDN) e carboidratos não fibrosos (CNF) ruminados/bolo,
quantidade diária de bolos ruminados, tempo gasto/bolo e número de mastigações/bolo
ruminado e suas respectivas equações de regressão e coeficientes de determinação
Nível de bagaço de mandioca(%)
Item
5% 10% 15% 20%
Equação de Regressão
TMT (min/dia) 819,4 758,1 666,3 602,5 Ŷ = 894,062 – 14,2250x r
2
= 0,99
MS (g/bolo) 10,67 11,57 11,67 12,03 Ŷ = 11,48
FDN (g/bolo) 5,23 4,97 4,52 4,43 Ŷ = 4,78
CNF (g/bolo) 5,03 5,45 5,35 5,42 Ŷ = 5,31
Bolos/dia 577 525 559 437 Ŷ = 533,59 + 9,756x – 0,699x
2
r
2
= 0,75
Tempo/bolo (seg) 53 52 42 39 Ŷ = 62,722 – 0,8667x r
2
= 0,90
Mastigações/bolo 57 56 51 44 Ŷ = 59,944 – 1,073x r
2
= 0,91
O TMT e o número de mastigações/bolo decresceram linearmente (P<0,01) com o
aumento do bagaço de mandioca na dieta, apresentando-se semelhante aos resultados
encontrados por Dulphy et al. (1980) e Burger et al. (2000). Os resultados referentes ao
TMT também são similares aos relatados em uma coletânea de 132 tratamentos, em 32
experimentos realizados por Allen (1997), nos quais as médias variaram de 690 a 607,2
min/dia para os níveis de 45 e 60% de concentrado na dieta, respectivamente.
A quantidade total de bolos ruminados durante o dia apresentou efeito quadrático,
sendo que o maior número de bolos ruminados foi de aproximadamente 635 bolos para o
nível de 6,98% de inclusão do bagaço de mandioca à dieta. Beauchemin & Iwaasa (1993),
trabalhando com novilhas Hereford, relataram 397 a 350 bolos ruminados/dia para animais
em pastejo, o que se aproxima do que foi encontrado para o tratamento com 20% de
inclusão do bagaço de mandioca. Estes mesmos autores também relataram que, para 75%
concentrado na dieta, o animal mastiga 58,1 vezes por bolo, resultados um pouco superiores
às 53 mastigações/bolo encontradas, o que pode ser explicado pela variação da dieta
utilizada e pela diferença de porte dos animais.
Resultados similares, referentes ao mero de bolos/dia, também foram relatados
por Bae et al. (1981), que verificaram uma média de 462 bolos ruminais/dia, valor
intermediário aos encontrados entre os níveis de 15 e 20% de inclusão de bagaço de
mandioca.
Devido à redução do número de mastigações/bolo, ocorreu também uma redução
linear (P<0,01) do tempo gasto para ruminar cada bolo, à medida que foi acrescentado o
bagaço de mandioca. Foram verificados os tempos/bolo de 57 e 44 segundos para os níveis
de 5 e 20% do resíduo, respectivamente. Os valores encontrados foram similares aos relatos
de Burger et al. (2000), porém estes autores encontraram efeito quadrático e não linear
decrescente, como foi encontrado no presente trabalho.
Não houve efeito dos tratamentos sobre as quantidades de MS, FDN e CNF
ruminadas/bolo ruminal, o que se explica pela pequena amplitude entre os níveis de
inclusão do bagaço de mandioca.
CONCLUSÕES
O aumento do nível de CNF e a redução FDN ocasionada pelo nível crescente de
bagaço de mandioca diminuíram os períodos de alimentação e ruminação e elevou o tempo
em ócio.
Quantidades próximas de bagaço de mandioca nas dietas não afetaram a eficiência
de alimentação. A eficiência de ruminação é afetada positivamente à medida que os níveis
de MS aumentaram em decorrência do acréscimo do bagaço de mandioca na dieta.
O tempo de mastigação total reduziu linearmente com o aumento da inclusão do
bagaço de mandioca na dieta.
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CAPÍTULO II
COMPORTAMENTO INGESTIVO DIURNO DE NOVILHAS MESTIÇAS DE
HOLANDÊS RECEBENDO DIFERENTES NÍVEIS DE SUPLEMENTAÇÃO EM
PASTEJO DE Brachiaria decumbens
INTRODUÇÃO
A forma mais econômica de produção de bovinos de corte ou de leite é com a
utilização de pastagens naturais ou cultivadas. Desta forma, um dos objetivos básicos de
todo sistema de produção de bovinos em pastagem é suprir as necessidades nutricionais dos
animais ao longo do ano, mantendo uma oferta permanente de alimento em quantidade e
qualidade suficientes, com a finalidade de obter uma resposta produtiva satisfatória por
parte dos animais (Pardo et al., 2003). Correa (1993) relatou que um dos problemas
existentes na criação de bovinos em pastejo é variação tanto na quantidade como na
qualidade da matéria seca (MS) produzida, afetando negativamente a produtividade animal.
Nas épocas do ano em que a produção de forragem é mais afetada, uma das alternativas é a
suplementação em pastejo, que permite conseguir maiores ganhos de peso por animal por
área (Rocha, 1999).
Segundo Chacon e Stobbs (1976), em pastejo rotativo, sob pressões de pastejo
média e alta, ao longo do período de ocupação do piquete, ocorre redução na
disponibilidade de forragem e mudanças na estrutura das plantas, o que pode afetar de
forma significativa o comportamento ingestivo e, consequentemente, a produção animal.
O sistema de criação de bovinos a pasto é caracterizado por uma série de fatores e
suas interações podem afetar o comportamento ingestivo dos animais, comprometendo o
seu desempenho e, consequentemente, a viabilidade da propriedade (Pardo et al., 2003).
Segundo Forbes (1988), os ruminantes podem modificar um ou mais componentes do seu
comportamento ingestivo com a finalidade de minimizar os efeitos de condições
alimentares desfavoráveis, conseguindo, assim, suprir os seus requisitos nutricionais para
mantença e produção. Os efeitos do suplemento sobre o consumo de MS podem ser
aditivos, quando o consumo de suplemento se agrega ao consumo atual do animal; e
substitutivos, quando o consumo de suplemento diminui o consumo de forragens, sem
melhorar o desempenho animal (Barbosa et al., 2001).
O estudo do comportamento ingestivo dos ruminantes, pode nortear a adequação de
práticas de manejo que venham a aumentar a produtividade e garantir o melhor estado
sanitário e longevidade aos animais (Fischer et al., 2002). Segundo Albright (1993),
podemos citar, como alguns exemplos práticos: a localização de sistemas automáticos de
fornecimento de água e alimentos; o acesso mais fácil à ração; a utilização de dimensões
corretas nas instalações e equipamentos a fim de evitar a competição entre os animais por
espaço; a disponibilidade de sombras e abrigos para garantir aos animais a possibilidade de
procurar ambientes que venham a satisfazer as faixas de conforto térmico mais adequadas
ao seu bem estar; e os horários regulares e freqüências simétricas para distribuição dos
alimentos para animais confinados e da suplementação para animais em pastejo.
Outro fator relevante quanto ao estudo do comportamento alimentar é o auxílio
prestado no entendimento de como os animais ajustam este comportamento em função das
variações observadas no pasto e no ambiente (Brâncio et al., 2003). Conforme Erlinger et
al. (1990), permite, ainda, definir as características dos animais e da pastagem que
interferem no consumo e fornece informações sobre as interações que podem influenciar as
respostas produtivas.
Os resultados encontrados na literatura, referentes às alterações provocadas pela
suplementação a pasto sobre o comportamento ingestivo dos ruminantes, são controversos.
Foram verificadas alterações nas atividades de pastejo de bovinos de corte suplementados
com grãos de milho (Adams, 1985). Barton et al. (1992) relataram que o horário de
fornecimento da suplementação não influenciou os tempos de pastejo e ruminação de
bovinos a pasto. Assim, torna-se imprescindível a realização de pesquisas que venham
esclarecer o efeito da suplementação sobre o comportamento dos animais em pastejo e seus
possíveis reflexos no desempenho animal (Brâncio et al., 2003).
Este trabalho teve como objetivo avaliar o comportamento ingestivo diurno de
novilhas mestiças ¾ Holandês X Zebu em pastagem de Brachiaria decumbens submetidas
a diferentes níveis de suplementação com concentrado.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido no setor de Bovinocultura de Leite da Escola Média
de Agropecuária Regional da CEPLAC - EMARC, no município de Itapetinga, em
fevereiro de 2004. Foram utilizadas 16 novilhas ¾ Holandês x Zebu, com idade média de
12 meses e peso inicial médio de 185 kg em jejum de 12 horas, distribuídas, ao acaso, em
quatro tratamentos, com quatro animais por tratamento. Os animais foram mantidos em oito
piquetes de Brachiaria decumbens com área de 1000 m
2
cada, e sem nenhum
sombreamento. O período experimental foi de 20 dias, sendo 12 deles destinados à
adaptação dos animais ao ambiente e às dietas. As observações foram feitas nos outros oito
dias do período experimental, conforme descrito por Burger et al. (2000), das 6:00 às 18:00
horas.
Os tratamentos consistiram de quatro níveis de suplementação concentrada, os quais
foram: 0,25; 0,50; 0,75 e 1,00% do peso vivo (PV) dos animais. Os percentuais dos
alimentos que compuseram os concentrados utilizados encontram-se expostos na Tabela
2.1. As dietas foram balanceadas para proporcionarem aos animais um ganho dio diário
(GMD) de 700 g. O suplemento foi fornecido diariamente às 10:30 horas, em cochos de
plástico com disponibilidade 50 cm linear por animal, e livre acesso a água.
Tabela 2.1 –
Proporção dos ingredientes nos concentrados (%), na base da matéria seca (MS)
Nível de suplementação (%)
Ingrediente (%)
0,25 0,50 0,75 1,00
Fubá de milho - 26,87 52,07 60,00
Farelo de soja 77,23 65,91 42,96 33,85
Uréia 8,70 - - -
Calcário calcítico 5,57 2,37 1,95 -
Fosfato bicálcico 3,71 2,48 1,45 4,97
Sal mineral
1
4,79 2,37 1,57 1,18
1
Composição: lcio, 18,5%; Fósforo, 9%; Magnésio, 0,4%; Enxofre, 1%; Sódio, 11,7%; Selênio, 30 ppm; Cobre, 1500 ppm; Zinco,
4000 ppm; Manganês, 1200 ppm; Iodo, 150 ppm; Cobalto, 150 ppm.
O comportamento animal foi avaliado visualmente, por um observador para cada
tratamento. As variáveis comportamentais estudadas foram: tempo de pastejo (TP), tempo
de ruminação (TR), tempo de ócio (TO) e tempo comendo no cocho (TCC). As
observações foram feitas com a ajuda de binóculos. As atividades comportamentais foram
consideradas mutuamente excludentes, conforme definição feita por Pardo et al. (2003).
Para o registro do tempo gasto em cada uma das atividades descritas acima, os animais
foram observados visualmente a cada cinco minutos (Johnson & Combs, 1991), por
períodos diurnos de 12 horas cada, conforme Alencar et al. (1995). A média do número de
mastigações merícicas por bolo ruminal, do tempo gasto para ruminação de cada bolo e o
número de bolos ruminados no período diurno foram obtidos em dois períodos de oito
horas, registrando-se, com cronômetros digitais, nove valores por animal, conforme
metodologia descrita por Burger et al. (2000). O tempo de mastigação total (TMT) do
período diurno foi determinado pela soma entre o tempo de pastejo e o tempo de
ruminação.
Foi determinada a quantidade de MS da pastagem em cada piquete, utilizando-se do
método descrito por PARDO et al. (2003), por meio do qual as quantidades de MS foram
mensuradas antes da entrada dos animais e ao final do último dia do período experimental.
Estabeleceram-se escores de 1 a 5, em que 1 correspondeu à área de menor disponibilidade
de forragem e 5 à de maior. Utilizou-se para esta determinação, um quadrado de 0,25 m
2
,
que foi jogado 30 vezes em cada piquete. Todas as amostras coletadas foram pesadas e pré-
secadas em estufa de ventilação forçada de ar a 65
o
C, moídas e devidamente
acondicionadas para posteriores análises de MS, proteína bruta (PB), fibra em detergente
neutro (FDN) e fibra em detergente ácido (FDA), conforme Silva e Queiroz (2002). Os
resultados das análises bromatológicas estão expostos na Tabela 2.2.
O consumo da pastagem foi determinado pela divisão da diferença entre a
quantidade de MS estimada pelo método do quadrado nos piquetes, na entrada e na saída
dos animais em seus respectivos tratamentos, dividida pelo número de dias do período de
ocupação e pela quantidade de animais que ocupava cada piquete. Para a estimativa do
consumo total, acresceu-se a este valor às quantidades de suplemento fornecidas
diretamente no cocho. Cada animal nos tratamentos de 0,25, 0,50, 0,75 e 1,0% do PV
receberam, respectivamente, 463, 925, 1388 e 1850 g de concentrado por dia.
Tabela 2.2-
Composição químico-bromatológica (% MS) dos concentrados e da Brachiaria
decumbens
Concentrados (%)
Item (%)
0,25 0,50 0,75 1,00
Brachiaria decumbens
MS 92,25 93,10 93,15 93,21 28,50
PB 30,50 29,38 21,18 19,23 5,84
FDN 14,38 13,21 14,88 13,35 62,95
FDA 8,64 8,40 7,33 5,85 32,75
A discretização das séries temporais foi feita diretamente nas planilhas de coleta de
dados, com a contagem dos períodos discretos de pastejo, ruminação, ócio e cocho,
conforme descrito por Silva et al. (2003). A duração média de cada um dos períodos
discretos foi obtida pela divisão dos tempos diurnos de cada uma das atividades pelo
número de períodos discretos.
O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado, com quatro
tratamentos e quatro animais por tratamento, sendo cada animal uma repetição.
Para análise dos dados coletados no experimento, foi utilizado o Sistema de
Análises Estatísticas e Genéticas – SAEG (UFV - Universidade Federal de Viçosa 2000), e
os resultados foram interpretados estatisticamente por meio de análises de variância e
regressão a 1% de probabilidade.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados referentes aos tempos de pastejo, ruminação, ócio e cocho com suas
respectivas equações de regressão e coeficientes de determinação, encontram-se expostos
na Tabela 2.3.
Tabela 2.3 –
Tempos (minutos) despendido nas atividades de pastejo, ruminação, ócio e cocho com
suas respectivas equações de regressão e coeficientes de determinação
Nível de suplementação (%)
Atividade (min)
0,25 0,50 0,75 1,00
Equação de Regressão e r
2
Pastejo 450 430 473 458 Ŷ = 452,81
Ruminação 146 181 141 168
Ŷ = 158,91
Ócio 99 90 72 58
Ŷ = 115,312-56,75x r
2
=0,99
Cocho 25 19 34 36
Ŷ = 16,250+19,50x r
2
=0,61
Não houve efeito (P>0,01) sobre os tempos diurnos de pastejo, possivelmente pelo
fato de as observações terem sido efetuadas somente no período diurno. Os resultados
encontrados para os tempos de pastejo destoam dos relatados por Gonçalves (2001), que
encontrou os tempos de 530, 380, 433, 395 e 332 minutos, respectivamente, para os
tratamentos controle, 0,5, 1,0, 1,5 e 2% de farelo de arroz, embora este autor tenha
constatado decréscimo no tempo de pastejo e o atribuído ao efeito substitutivo da pastagem
pelo concentrado. Lima et al. (2000), trabalhando com dois grupos de vacas mestiças em
pastejo de tanzânia e capim-elefante, encontraram médias de 433,8 e 461,4 minutos,
respectivamente. Estes resultados são bastante similares aos encontrados no presente
trabalho, no qual foi verificada uma média de 452,81 minutos. Pardo et al. (2003)
encontraram que os animais pastejavam durante 66, 48 e 44% do tempo diurno, quando
receberam 0, 0,75 e 1,5% do PV em suplemento. No presente trabalho, foram encontrados
62,5, 59,7, 65,7 e 63,6%, respectivamente, para os níveis de 0,25, 0,50, 0,75 e 1,00% do
PV. Apesar de um pouco inferiores em sua média, os resultados são próximos dos
encontrados neste experimento. Porém, no que se refere aos tempos de pastejo, os
resultados vão contra os relatos de Fischer et al. (2002), que verificaram redução linear dos
tempos de pastejo em função do aumento dos níveis de suplementação. Bomfim et al.
(2000) trabalharam com animais de 30 meses de idade observados durante 12 horas (das
05:30 às 17:30) e também não verificaram efeitos dos níveis de suplementação (0,6, 0,9,
1,2 e 1,5% do PV) sobre os tempos de pastejo (386,25, 366,00, 346,25 e 315,00 minutos).
Os tempos de ruminação não sofreram efeito (P>0,01) dos níveis de suplementação
testados. A média de 158,91 minutos aqui encontrada é bastante superior aos valores
relatados por Rodrigues et al. (2000), que observaram bezerros holandeses também por
períodos de 12 horas no pós desmame, suplementados a 0,75% do PV com milho e polpa
cítrica e encontraram tempos de 52,8 e 64,8 minutos de ruminação, respectivamente. Falcão
et al. (1997), trabalhando com novilhas mestiças de holandês em pastagem de capim-
elefante, verificaram que os animais passaram em média 153,29 minutos do período diurno
ruminando, média está próxima aos resultados encontrados no presente experimento. Os
resultados encontrados tanto para pastejo quanto para ruminação, corroboram os relatos de
Barton et al. (1992) que também não verificaram efeitos da suplementação sobre as
referidas variáveis.
Os tempos de ócio do período diurno sofreram redução linear (P<0,01) com o
aumento dos níveis de suplementação e são bastante inferiores aos constatados por
Rodrigues et al. (2000), que encontraram 270,6 e 276,0 minutos para bezerros holandeses
alimentados com pastagem de azevém, recebendo suplementação à base de milho e polpa
cítrica, respectivamente. Os resultados encontrados não estão em consonância com os
relatos de Pardo et al. (2003), que verificaram menores tempos de descanso para animais
não suplementados. Estes mesmos autores deduzem que tal comportamento acontece em
decorrência de um menor tempo de pastejo, devido ao provável menor consumo da
forragem pelos animais suplementados, sobretudo nos níveis mais elevados de
suplementação. Fischer et al. (2002) também encontraram tempos de ócio superiores aos
deste experimento e relataram que animais recebendo 0 e 1% do PV em concentrado
permanecem em ócio em média por 157 e 210 minutos, respectivamente, enquanto que no
presente trabalho o maior tempo de ócio (99 minutos) ocorreu no tratamento que recebeu
0,25% de suplementação.
O tempo que o animal passou comendo no cocho aumentou linearmente (P<0,01)
com a elevação dos níveis de suplementação. Este resultado era previsível, uma vez que ao
se utilizar tratamentos com quantidades crescentes de suplementação, obviamente os
animais permaneceriam por maior tempo no cocho. Estes resultados são discordantes
daqueles verificados por Pardo et al. (2003), que não verificaram diferenças nos tempos
que os animais permaneceram comendo no cocho quando receberam 0,75 e 1,50% do PV
em concentrado. O que se verificou, uma vez que não houve diferenças nos tempos de
pastejo e ruminação, é que ocorreu uma substituição dos tempos de ócio pelos tempos que
os animais permaneceram no cocho. Os resultados encontrados para os animais que
receberam 0,25 e 0,50% de suplementação estão de acordo com as afirmações de Dulphy
& Faverdin (1987). Estes autores relataram que são necessários de 10 a 25 minutos para
que um animal consuma 1 kg de MS.
Os resultados referentes ao consumo de MS, FDN e FDA, com suas respectivas
equações de regressão e coeficientes de determinação, estão expostos na Tabela 2.4.
Tabela 2.4 –
Valores do consumo de MS da pastagem (CMSP), MS total (CMST), FDN da pastagem
(CFDNP), FDN total (CFDNT), FDA da pastagem (CFDAP), FDA total (CFDAT), com
suas respectivas equações de regressão e coeficientes de determinação
Nível de suplementação (% PV)
Item
0,25 0,50 0,75 1,00
Equação de Regressão
CMSP (g/dia) 3664,50
4857,65 2732,45 2079,59 Ŷ = 2746,03+6478,04x-7384,02x
2
r
2
=0,74
CMST (g/dia) 4062,50
5671,65 3962,45 3712,59 Ŷ = 2718,28+8191,44x-7436,02x
2
r
2
=0,52
CMST (% PV) 2,26 3,15 2,20 2,06 Ŷ = 1,5101+4,5508x-4,1311x
2
r
2
=0,52
CFDNP (g/dia) 2328,79
3030,69 1761,88 1276,25 Ŷ = 1721,60+4167,09x-4750,13x
2
r
2
=0,78
CFDNT (g/dia) 2386,03
3138,21 1944,91 1494,20 Ŷ = 1704,43+4466,89x-4811,53x
2
r
2
=0,75
CFDNT (%PV) 1,33 1,74 1,08 0,83 Ŷ = 0,9469+2,4816x-2,6731x
2
r
2
=0,75
CFDAP (g/dia) 1241,17
1605,94 899,25 648,00 Ŷ = 950,11+2085,62x-2464,08x
2
r
2
=0,78
CFDAT (g/dia) 1274,55
1674,32 989,41 743,51 Ŷ = 935,12+2310,93x-2578,68x
2
r
2
=0,76
CFDAT (% PV) 0,71 0,93 0,55 0,41 Ŷ = 0,5183+1,2873x-1,4348x
2
r
2
=0,76
Os consumos totais de MS, FDN e FDA apresentaram a mesma tendência, ou seja,
sofreram efeito quadrático em relação aos níveis de suplementação, tendo como estimativas
dos pontos de máximo consumo os níveis de 0,55, 0,46 e 0,45 % do PV em suplementação
para CMST, CFDNT e CFDAT, respectivamente. O CMST, em g/dia e em % PV,
apresentaram estimativas de valores máximos de 4974,18 e 2,76, respectivamente, para o
nível de suplementação estimado de 0,55 % do PV. Dentre os níveis testados, constata-se
que houve efeito associativo aditivo para o nível de 0,50% de suplementação, pois neste
tratamento o CMST e os demais itens correlacionados (CFDNT e CFDAT) foram mais
elevados, tendo, inclusive, por conseqüência, aumentado o CMSP. Segundo El-Memari
Neto et al. (2003), os possíveis mecanismos para a ação do efeito associativo referem-se à
melhor dinâmica de degradação ruminal, bem como de absorção intestinal, quando ocorre a
utilização da mistura de alimentos. Por outro lado, estes mesmos autores ressaltam que a
elevação do teor de carboidratos não estruturais na dieta fornece mais substrato para os
microrganismos produtores de propionato. Com isto, ocorrerá maior produção total de
ácidos graxos voláteis, bem como maior produção de lactato, o que pode acarretar
diminuição do pH ruminal (Russel, 1998). Este acúmulo de ácidos no rúmen pode causar
danos ao epitélio ruminal e inibir a atividade dos microrganismos celulolíticos (Orskov et
al., 1971 citado por Zeoula & Caldas Neto, 2001), podendo ter como conseqüência a
redução da ingestão de forragem e conseqüente diminuição do CMST pela redução na
digestibilidade da fibra (Grant, 1994). Os resultados referentes aos dados de consumo,
obtidos no presente experimento, corroboram as constatações relatadas na literatura, uma
vez que, a partir do ponto de máximo consumo, encontrado pela equação de regressão do
CMST, houve diminuição do consumo, sendo esta provavelmente resultado das interações
forragem:suplemento:animal, apontando efeitos depressores de consumo relacionados à
elevação do nível de suplementação (El-Memari Neto et al., 2003).
Os valores médios do tempo de mastigação total (TMT) em minutos, da quantidade
de bolos ruminados no período diurno, do tempo gasto para ruminar cada bolo e do número
de mastigações/bolo estão expostos na Tabela 2.5, juntamente com suas respectivas
equações de regressão e coeficientes de determinação.
Tabela 2.5 –
Valores médios do tempo de mastigação total (TMT), quantidade de bolos
ruminados, tempo gasto/bolo, número de mastigações/bolo ruminado e suas
respectivas equações de regressão e coeficientes de determinação
Nível de suplementação (% PV)
Item
0,25 0,50 0,75 1,00
Equação de Regressão
TMT (min/12h) 621 630 648 662 Ŷ = 640
Bolos/12h 242 315 221 309
Ŷ = 272
Tempo/bolo (seg) 38 35 39 32
Ŷ = 36
Mastigações/bolo 44 45 43 37
Ŷ = 39,11+23,66x-25,75x
2
r
2
= 0,85
Não houve efeito (P>0,01) sobre o TMT, o número de bolos ruminados no período
de 12 horas e o tempo gasto para ruminação de cada bolo. Os resultados encontrados no
presente estudo, no que se refere ao TMT, estão em desacordo com a teoria de Dulphy et al.
(1980), que afirmam que, com a elevação dos níveis de concentrado na dieta total e
conseqüente aumento do teor de amido, haveria uma diminuição do TMT. Em uma
coletânea com resultados de 32 experimentos, Allen (1997) encontrou um valor médio
diário para o TMT de 667,80 minutos. Logicamente, por se tratar de um período de 24
horas, estes resultados são bem superiores aos encontrados no presente experimento, uma
vez que, neste, o TMT foi determinado apenas no período diurno. O resultado referente ao
tempo gasto para a ruminação de cada bolo, foi bastante inferior aos relatados por Burger et
al. (2000), que encontraram 57,20; 65,78; 69,35; 55,78 e 50,11 segundos por bolo, para os
níveis de 30, 45, 60, 75 e 90% de concentrado, respectivamente, na dieta total de bezerros
holandeses.
O número de mastigações merícicas por bolo ruminado sofreu efeito quadrático
(P<0,01) com estimativas de valores máximos de 44,54 mastigações por bolo para o nível
de 0,46% de suplementação. Os resultados encontrados confirmam a tendência verificada
por Burger et al. (2000), que também encontraram efeito quadrático para esta mesma
variável. Estes autores encontraram 67,63; 76,14; 73,72; 58,89 e 51,47 mastigações
merícicas por bolo ruminado para os níveis crescentes de concentrado de 30, 45, 60, 75 e
90% respectivamente.
Os resultados com os valores médios do número diurno de períodos de pastejo
(NPP), ruminação (NPR), ócio (NPO) e comendo no cocho (NPCC), juntamente com o
tempo de duração (minutos) dos períodos de pastejo (TDPP), ruminação (TDPR), ócio
(TDPO) e comendo no cocho (TDPCC), com suas respectivas equações de regressão e
coeficientes de determinação, estão expostos na Tabela 2.6.
Não houve efeito (P>0,01) para NPR, NPO, NPCC, TDPR e TDPO. Tanto o NPP
como o TDPP apresentou efeito quadrático (P<0,01). Os resultados encontrados para NPP
são bastante semelhantes ao número de períodos de refeições relatados por Burger et al.
(2000), que encontraram uma média de 14,80 períodos ao dia. Apesar de, no presente
experimento, ter-se trabalhado apenas durante um período de 12 horas, é sabido que os
animais consomem por pequenos espaços de tempo, cada um destes caracterizando uma
refeição, sendo que o número de refeições diárias varia de espécie para espécie e apresenta
distribuição irregular ao longo das 24 horas, havendo preferência das espécies domésticas
pela alimentação diurna (Teixeira, 1998), supondo-se que o NPP total por dia não seria
muito diferente dos resultados apresentados.
Tabela 2.6 –
Valores médios do número diurno de períodos de pastejo (NPP), ruminação (NPR),
ócio (NPO) e comendo no cocho (NPCC), juntamente com o tempo de duração
(minutos) dos períodos de pastejo (TDPP), ruminação (TDPR), ócio (TDPO) e
comendo no cocho (TDPCC), com suas respectivas equações de regressão e
coeficientes de determinação
Nível de suplementação % PV
Item
0,25 0,50 0,75 1,00
Equação de Regressão
NPP 16,25 21,13 16,38 14,13 Ŷ = 10,844+31,175x-28,50x
2
r
2
=0,72
NPR 14,50 17,13 14,00 14,00 Ŷ = 14,91
NPO 8,63 8,88 8,13 6,63
Ŷ = 8,06
NPCC 3,63 2,50 3,00 3,00
Ŷ = 3,03
TDPP (min) 29,03 21,21 29,80 32,79
Ŷ = 36,746-46,081x+43,223x
2
r
2
=0,67
TDPR (min) 9,83 10,46 9,86 11,72
Ŷ = 10,47
TDPO (min) 11,52 10,27 8,77 8,87
Ŷ = 9,86
TDPCC (min) 6,56 9,10 13,79 13,85
Ŷ = 4,18+10,634x r
2
=0,90
O NPP máximo estimado foi de 19,37 para o nível estimado de 0,54% de
suplementação. Em decorrência deste comportamento do NPP, houve um reflexo no TDPP,
que apresentou efeito quadrático (P<0,01) inverso ao apresentado pelo NPP, o qual
alcançou seu menor valor estimado para o nível de 0,53% de suplementação, com duração
estimada de 24,47 minutos. Para o TDPCC, houve efeito linear crescente (P<0,01). Estes
resultados estão de acordo com os de Faria (1982), que afirma a preferência dos animais em
procurar o alimento fornecido no cocho nos momentos da oferta e que, estes animais,
quando recebem no cocho unicamente concentrado, tendem a ingeri-lo rapidamente, em
poucos períodos de permanência no cocho, o que de fato ficou constatado no presente
trabalho. Conseqüentemente, os animais que receberem maior percentual de concentrado
em função do PV, permaneceram por maior tempo comendo no cocho.
CONCLUSÕES
A suplementação de até 1,00% do peso de bezerras holandesas não afeta a atividade
de pastejo e ruminação durante o período diurno.
O consumo total de matéria seca foi reduzido com os níveis elevados de
suplementação, o que, por conseqüência, pode afetar o desempenho animal e a eficiência
econômica da recria de bezerras.
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Palestras.
CAPÍTULO III
COMPORTAMENTO INGESTIVO DE BEZERROS DA RAÇA HOLANDÊS
ALIMENTADOS COM RAÇÃO FARELADA E PELETIZADA NAS FASES DE
ALEITAMENTO E PÓS-ALEITAMENTO
INTRODUÇAO
O estudo do comportamento ingestivo é uma ferramenta de grande importância na
avaliação das dietas, possibilitando assim, ajustar o manejo alimentar dos ruminantes para
obtenção de um melhor desempenho (Mendonça et al., 2004). O conhecimento do
comportamento ingestivo dos bovinos leiteiros pode ser utilizado pelos produtores, de
forma que venha a maximizar a produtividade, garantindo uma melhor saúde e,
conseqüentemente, maior longevidade aos animais. Como exemplos práticos de alguns
desses benefícios, poder-se-ia citar a localização de sistemas automáticos de fornecimento
de água e alimento, a acessibilidade da ração, a redução da competição entre os animais por
espaço, alimento e água, o horário e freqüência de distribuição da ração, entre outros
(Albright, 1993).
Forbes (1995) evidenciou que o comportamento alimentar também tem sido
estudado com relação às características dos alimentos, à motilidade dos pré-estômagos, ao
estado de vigília e ao ambiente climático. Por exemplo, a redução do desempenho animal
em função da menor quantidade de fibra na dieta é descrita através de uma série de eventos
que se iniciam pela redução da atividade mastigatória, com conseqüente menor secreção de
saliva, o que promove redução do pH ruminal, alteração do padrão de fermentação, e
redução da relação acetato:propionato, que, em última análise, altera o metabolismo animal,
com redução do teor de gordura do leite (Van Soest, 1994). Podendo assim, classificar os
fatores que afetam o comportamento ingestivo como sendo ligados ao alimento, ao
ambiente e ao animal (Campbell et al., 1992).
Os parâmetros estudados e selecionados para a descrição do comportamento
ingestivo normalmente são os tempos de alimentação, ruminação e ócio, o número de
períodos discretos de alimentação, ruminação e ócio, as eficiências de alimentação e
ruminação (Forbes, 1995).
Segundo Albright (1993), a ingestão de matéria seca é o principal fator que afeta o
desempenho animal, tornando-se um ponto crítico determinante do mesmo. A concentração
de parede celular tem sido negativamente relacionada à ingestão de alimentos por
ruminantes consumindo dietas com elevados níveis de forragem (Jung & Allen, 1995).
Em contrapartida, os ruminantes adaptam-se às diversas condições de alimentação,
manejo e ambiente e modificam os parâmetros do comportamento ingestivo para alcançar e
manter determinado nível de consumo, compatível com as exigências nutricionais
(Hodgson, 1990). Neste contexto, a composição químico-bromatológica, especialmente o
teor de fibra em detergente neutro (FDN) e o tamanho de partícula, são especialmente
importantes para os ruminantes (Campbell et al., 1992). Dessa forma, torna-se necessária a
inclusão de alimentos concentrados para o atendimento das exigências nutricionais, o que
implica na redução da proporção de volumosos na dieta. Entretanto, quando se aumenta o
teor de concentrados, podem aparecer distúrbios digestivos que comprometem a saúde
animal, levando à redução do desempenho produtivo (Mertens, 1997).
Segundo Thiago et al. (1992), a quantidade de alimento consumida por um
ruminante, em determinado período de tempo, depende do número de refeições nesse
período e da duração e taxa de alimentação de cada refeição. Cada um desses processos é o
resultado da interação do metabolismo do animal e das propriedades físicas e químicas da
dieta, estimulando receptores da saciedade. Além disso, o horário, a freqüência e o
intervalo de tempo entre os arraçoamentos influenciam a distribuição das atividades
ingestivas (ingestão, ruminação e ócio) durante o dia (Deswysen et al., 1993), pois,
segundo Jaster & Murphy (1983), o fornecimento de ração induz o animal a ingerir.
Alimentos concentrados e fenos finamente triturados ou peletizados reduzem o
tempo de ruminação, enquanto volumosos com alto teor de parede celular tendem a
aumentar o tempo de ruminação. O aumento do consumo tende a reduzir o tempo de
ruminação por grama de alimento, fator provavelmente responsável pelo aumento do
tamanho das partículas fecais, quando os consumos são elevados (Carvalho et al. 2004).
O objetivo deste trabalho foi estudar os efeitos das rações farelada e peletizada
sobre o comportamento ingestivo de bezerros holandeses nas fases de aleitamento e pós-
aleitamento.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido no setor de Bovinocultura de Leite da Universidade
Estadual do Sudoeste da Bahia, campus de Itapetinga, entre os meses de novembro de 2004
e fevereiro de 2005. Foram utilizados 12 bezerros PO, da raça Holandês Preto e Branco,
com idade e peso iniciais médios de 10 dias e 27,5 kg, respectivamente, distribuídos ao
acaso, em dois tratamentos, com seis animais por tratamento. Foi utilizado o delineamento
experimental em unidades de medidas repetidas, em arranjo fatorial dois por dois (dois
tipos de ração e duas fases de alimentação). Os animais foram mantidos confinados em
baias individuais cobertas, com 2,5 m
2
de área útil de piso cimentado. O período
experimental foi de 91 dias, dos quais sete dias foram destinados à adaptação dos animais
ao novo ambiente, às dietas e aos métodos experimentais.
Foi fornecida aos animais uma dieta à base de sucedâneo comercial Sprayfo
®
na
diluição 1:8 e concentrado à vontade, na fase de aleitamento. Os concentrados continham a
mesma composição bromatológica, porém, um deles foi fornecido na forma farelada e o
outro na forma peletizada.
A composição do sucedâneo encontra-se na Tabela 3.1 e a do feno e do concentrado
encontra-se na Tabela 3.2.
Tabela 3.1 - Composição química do sucedâneo de leite utilizado na alimentação de bezerros
Item Sucedâneo (%)
Matéria seca (%, máximo) 97,0
Proteína bruta
1
(mínimo) 20,0
Lactose
1
(mínimo) 45,0
Gordura
1
(mínimo) 15,0
Fibra
1
(máximo) 0,4
Cinzas
1
(máximo) 8,5
Cálcio
1
(mínimo) 0,7
Fósforo
1
(mínimo) 0,7
1
% na matéria seca.
O sucedâneo foi distribuído diariamente, às 7:00 horas em baldes de plástico de
cinco litros, e o concentrado fornecido no mesmo horário em baldes plásticos semelhantes,
revestidos por madeira. A água foi fornecida ad libitum, disponível em tempo integral em
bebedouros automáticos tipo concha. Até os 60 dias de vida, cada animal recebeu quatro
quilogramas de sucedâneo por dia, e o concentrado foi fornecido ad libitum.
Tabela 3.2 –
Proporção dos ingredientes (%) e composição química do concentrado e do feno usados na
alimentação dos bezerros
Concentrado
1
% da matéria seca
Milho grão moído 44,08
Farelo de soja 39,23
Farelo de trigo 9,45
Sal mineral
2
4,00
Óleo de palma 2,00
Bicarbonato de sódio 1,00
Calcário calcítico 0,24
Composição Química das Rações
Matéria Seca (MS)
3
91,18
Proteína bruta (PB)
3
23,38
Extrato etéreo (EE)
3
3,10
Fibra em detergente neutro (FDN)
3
15,02
Fibra em detergente ácido (FDA)
3
8,09
Cálcio
3
1,00
Fósforo
3
0,50
Composição Química do Feno
Matéria Seca (MS)
3
92,77
Proteína bruta (PB)
3
6,30
Extrato etéreo (EE)
3
0,35
Fibra em detergente neutro (FDN)
3
81,50
Fibra em detergente ácido (FDA)
3
51,82
1 91,18% na de MS na matéria natural.
2 Incluídos 233 g de Ca/kg, 80 g de P/kg, 5 g de Mg/kg, 48 g de Na/kg, 25 mg de Co/kg, 380 mg de Cu/kg, 25 mg de I/kg, 1080 mg de Mn/kg, 3,75 mg de Se/kg, 1722 mg de Zn/kg,
300.000 U.I de vitamina A/kg, 55.000 U.I de vitamina D/kg, 200 mg de vitamina E/kg.
3 % na matéria seca.
A quantidade de concentrado fornecida era ajustada conforme o consumo do dia
anterior, permitindo uma disponibilidade entre cinco e 10% de sobras como margem de
segurança. Diariamente, foi registrada a quantidade de concentrado oferecida e as sobras
foram mensuradas semanalmente, individualmente por animal, e pesadas. Os animais
foram desaleitados aos 60 dias de idade, passando, a partir daí, a receber dois quilos de
concentrado/dia e feno de capim-elefante picado e pré-seco ao ar, à vontade. O
fornecimento do feno foi monitorado para propiciar uma sobra mínima de cinco a 10%. As
amostras do concentrado foram armazenadas em sacos plásticos e, logo em seguida, moídas
em moinho com peneira de malha de 1 mm, para posteriores análises laboratoriais de MS,
PB, EE, FDN e FDA segundo Silva & Queiroz (2002).
Os animais foram submetidos a quatro períodos integrais de 24 horas de observação
visual, por observadores treinados, para avaliar o seu comportamento ingestivo, totalizando
dois dias de observação por período experimental (período de aleitamento e período de pós-
aleitamento) (Fischer, 1996). A coleta de dados para determinar o tempo gasto em cada
atividade foi efetuada com o uso de planilha apropriada para registro de dados. No período
noturno, o ambiente recebeu iluminação artificial. Os animais foram observados
simultaneamente a intervalos de cinco minutos, perfazendo 288 observações por dia (Gary
et al., 1970), a fim de identificar o tempo destinado às atividades de alimentação,
ruminação e ócio. A coleta e o processamento dos dados referentes aos fatores
comportamentais: eficiência de alimentação e ruminação, tempo de mastigação total,
número de bolos ruminais, tempo de ruminação/bolo, além do número de mastigações
merícicas/bolo, foram feitos conforme metodologia descrita por Burger et al. (2000), com o
uso de cronômetros digitais, manuseados pelos observadores previamente instruídos. A
discretização das séries temporais foi feita diretamente nas planilhas de coleta de dados,
com a contagem dos períodos discretos de alimentação, ruminação e ócio, conforme
metodologia descrita por Silva et al. (2003). A duração média de cada um dos períodos
discretos foi obtida pela divisão dos tempos diurnos de cada uma das atividades pelo
número de períodos discretos.
Para análise dos dados coletados no experimento, foi utilizado o Sistema de
Análises Estatísticas e Genéticas – SAEG (Universidade Federal de Viçosa – UFV, 2000),
e os resultados foram interpretados estatisticamente por meio de análise de variância e teste
de F, a 1% de probabilidade, para comparação das médias entre os dois tratamentos e entre
os dois períodos experimentais testados.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados referentes aos tempos totais diários de alimentação, ruminação e ócio,
nas fases de aleitamento e pós-aleitamento, com seus respectivos coeficientes de variação
(CV, %), encontram-se expostos na Tabela 3.3.
Tabela 3.3 –
Tempo médio, em minutos, das atividades de alimentação, ruminação e ócio, com os
seus respectivos coeficientes de variação (CV, %)
Aleitamento Pós-aleitamento
Item (minutos)
Farelada Peletizada Farelada Peletizada
CV (%)
Alimentação 115b 111b 258a 190a 8,09
Ruminação 202b 194b 404a 424a 9,02
Ócio 1123a 1135a 778b 826b 2,54
Médias seguidas de letras iguais na mesma linha são estatisticamente iguais pelo teste F a 1% de probabilidade.
Não houve efeito de tratamento (P>0,01) para nenhuma das três variáveis testadas.
Não houve interação (P>0,01) entre as fases de alimentação e as dietas testadas. Já para as
fases de vida (aleitamento e pós-aleitamento), os resultados foram significativos (P<0,01),
demonstrando valores superiores na fase de pós-aleitamento em relação à fase de
aleitamento no que se refere às variáveis alimentação (115 e 111 contra 258 e 190 minutos,
respectivamente, para as rações farelada e peletizada) e ruminação (202 e 194 contra 404 e
424 minutos, respectivamente, para as rações farelada e peletizada). Já para a variável ócio,
houve efeito inverso, pois, com a elevação dos tempos totais diários de alimentação e
ruminação, os tempos de ócio reduziram (1123 e 1135 contra 778 e 826 minutos,
respectivamente, para as rações farelada e peletizada). As diferenças verificadas entre as
fases de aleitamento e pós-aleitamento, nas três varáveis testadas, se dá, provavelmente, ao
fato dos animais apresentarem, na fase de pós-desmame, um maior desenvolvimento dos
pré-estômagos, o que lhes garante, portanto, uma maior capacidade de ruminar e, também,
ocorre uma alteração drástica da composição da dieta, aumentando, principalmente, os
teores de matéria seca (MS) e fibra em detergente neutro (FDN).
Os resultados encontrados na fase de aleitamento são próximos aos relatados por
Modesto et al. (2000), que trabalharam com bezerros mestiços de Holandês x Zebu, com
idade entre 30 e 60 dias de vida, e encontraram, para as variáveis ruminação e ócio, 180,5 e
1044,0 minutos, respectivamente. Para a variável alimentação, o tempo relatado por estes
mesmos autores (215,5 minutos) não é semelhante ao encontrado no presente trabalho (115
e 111, respectivamente, para as rações farelada e peletizada). Uma possível explicação para
este fato é que, no experimento relatado, em sua fase de aleitamento, além do leite e do
concentrado, também era fornecido volumoso, o que não ocorreu no presente estudo e que
deve ter contribuído para um maior tempo gasto com esta variável. Burger et al. (2000),
trabalhando com bezerros de 10 meses de idade, recebendo dietas cujas relações
concentrado:volumoso variavam de 30:70 até 90:10, respectivamente, encontraram um
tempo médio para o período total de ruminação próximo dos 400 minutos (396,72),
resultados similares aos constatados na fase de pós-aleitamento do presente trabalho. Os
tempos médios diários de ócio encontrados por estes autores (800 minutos) também foram
bastante semelhantes aos relatados no presente experimento (778 e 826 para ração farelada
e peletizada, respectivamente) na fase de pós-aleitamento. Traxler et al. (1995) trabalharam
com dieta à base de grãos de milho inteiro ou moído na alimentação de bezerros
holandeses, e relataram tempos que variaram de 165,6 a 132,6 minutos para alimentação,
339,6 a 261,6 minutos para ruminação e 934,8 a 1045,8 minutos para ócio. Estes
resultados, apesar de serem de um estudo realizado com animais de 137 kg de peso,
apresentam valores semelhantes aos encontrados no presente estudo.
Os resultados referentes ao número de períodos discretos de alimentação, ruminação
e ócio, nas fases de aleitamento e s-aleitamento, com seus respectivos coeficientes de
variação (CV, %), encontram-se expostos na Tabela 3.4.
Os dados referentes aos números de períodos de alimentação, ruminação e ócio,
expostos na Tabela 3.4, não apresentaram diferença estatística (P>0,01) entre os
tratamentos nem entre as fases de aleitamento e pós-aleitamento. Não houve interação
(P>0,01) entre as fases de alimentação e as dietas testadas. Burger et al. (2000)
encontraram média de 14,80 períodos de alimentação por dia, número próximo da média
encontrada no presente estudo, que foi de 13,50 períodos.
Tabela 3.4 –
Número de períodos discretos das atividades de alimentação, ruminação e ócio com os
seus respectivos coeficientes de variação (CV, %)
Aleitamento Pós-aleitamento
Item
Farelada Peletizada Farelada Peletizada
CV (%)
N
0
de Períodos de Alimentação 13a 14a 13a 14a 9,48
N
0
de Períodos de Ruminação 13a 13a 12a 13a 11,53
1N
0
de Períodos de Ócio 23a 24a 22a 24a 4,73
Médias seguidas de letras iguais na mesma linha são estatisticamente iguais pelo teste F a 1% de probabilidade.
Resultado semelhante também foi relatado por Miranda et al. (1999), que,
trabalhando com novilhas mestiças leiteiras de 15 meses de idade e 247 kg de peso,
alimentadas com dietas à base de cana-de-açúcar, encontraram média de 11,62 refeições
diárias. Salla et al. (2003) trabalharam com vacas Jersey recebendo diferentes fontes de
gordura na dieta e encontraram média de 14,79 períodos de ingestão durante o dia. Fischer
et al. (2002), trabalhando com vacas Holandesas em clima temperado, verificaram um
número médio de 7,75 refeições diárias, sendo, portanto, bastante inferiores aos valores
aqui apresentados.
O número médio de períodos de ruminação encontrado (Tabela 3.4) foi de 12,75.
Este valor é inferior ao relatado por Miranda et al. (1999), que verificaram 15,00 períodos
diários em novilhas mestiças de Holandês x Zebu. Salla et al. (2003) relataram, em vacas
Jersey, 15,62 períodos de ruminação durante o dia; entretanto, vale ressaltar que, apesar de
os valores relatados serem um pouco superiores, provavelmente, isto ocorreu por tratar-se
de animais de peso e desenvolvimento fisiológico mais elevados (vacas e novilhas) do que
os bezerros utilizados neste experimento. Fischer et al. (2002) relataram valores médios
para o mero de períodos de ruminação entre 14,1 e 12,7. Estes resultados são próximos
dos encontrados no presente estudo.
O número médio de períodos de ócio encontrado (Tabela 3.4) foi de 23,25,
semelhante à média constatada por Salla et al. (2003), de 22,52 períodos diários. Em todos
os trabalhos citados, assim como neste, não foram verificados efeitos dos tratamentos sobre
o número diário de períodos de alimentação, ruminação e ócio. Mesmo quando para
categorias animais distintas, não houve grandes disparidades nos valores referentes aos
números de períodos para estas atividades.
Os resultados referentes aos tempos médios de duração (minutos) para os períodos
discretos de alimentação, ruminação e ócio, nas fases de aleitamento e pós-aleitamento,
com seus respectivos coeficientes de variação (CV, %), encontram-se expostos na Tabela
3.5.
Não houve interação (P>0,01) entre as fases de alimentação e as dietas testadas. Os
tempos de duração de cada período de alimentação e ócio (Tabela 3.5) sofreram efeito de
tratamento e de fase (P<0,01), sendo maiores os valores da ração farelada em ambas as
fases. Os tempos de duração dos períodos de alimentação relatados (Tabela 3.5) são
inferiores na fase de aleitamento, o que é normal, uma vez que, quando os animais recebem
alimentação líquida, tendem a consumi-la imediatamente após o fornecimento e em um
único período de curta duração, enquanto que, na fase de pós-aleitamento, os animais
passam a ter feno disponíveis em tempo integral, passando, portanto, a consumir por
períodos mais prolongados, aumentando assim o tempo total de ingestão da dieta sólida,
quando comparada com a fase de aleitamento. A ração peletizada, devido à sua
granulometria, é de mais fácil apreensão por parte do animal, necessitando, portanto, de um
menor tempo para ser consumida quando comparada com a ração farelada, que, além da
pulverulência, que pode prejudicar as vias respiratórias provocando tosse constante, é de
apreensão mais demorada, necessitando, assim, de períodos mais prolongados de ingestão.
Fato constatado nas duas fases testadas.
Tabela 3.5 –
Tempo, em minutos, dos períodos discretos das atividades de alimentação, ruminação e
ócio, com os seus respectivos coeficientes de variação
Aleitamento Pós-aleitamento
Item
Farelada Peletizada
Farelada Peletizada
CV (%)
Tempo (min) por Período de Alimentação
7,59c 6,97d 18,39a 15,71b 11,13
Tempo (min) por Período de Ruminação 14,48b 13,16b 26,63a 30,25a 12,82
Tempo (min) por Período de Ócio 50,93b 56,29a 33,38d 43,36c 10,35
Médias seguidas de letras iguais na mesma linha são estatisticamente iguais pelo teste F a 1% de probabilidade.
Nos tempos de duração dos períodos de ócio (Tabela 3.5), ocorreu efeito inverso ao
verificado com a alimentação. Por necessitar de menos tempo para alimentar-se, na fase de
aleitamento, os animais apresentam maiores períodos de ócio do que na fase de pós-
aleitamento, quando passam a comer alimento volumoso como parte da dieta, em
substituição ao alimento líquido. Os tempos de ócio são mais elevados para a ração
peletizada, por exigir menos tempo para ser consumida, sobrando, portanto, mais tempo
para que o animal fique sem desenvolver nenhuma atividade.
Salla et al. (2003) trabalharam com vacas Jersey e apresentaram valores médios de
25,01 e 26,62 minutos por período de alimentação e ócio, respectivamente. Burger et al.
(2000) relataram valores de períodos de alimentação que variaram de 22,85 a 8,80 minutos.
Estes valores são próximos aos relatados no presente experimento.
O tempo de duração dos períodos de ruminação não sofreu efeito de tratamento
(P>0,01), porém sofreu efeito das fases (P<0,01), aumentando o tempo gasto em cada
período de ruminação. No pós-aleitamento, já com o rúmen-retículo desenvolvido, os
animais passaram a ruminar por períodos prolongados. Salla et al. (2003) relataram, em
vacas Jersey, valores de 26,82 minutos por período ruminativo. Estes valores são similares
aos constatados na fase de pós-aleitamento deste estudo.
Os resultados referentes aos tempos por bolo ruminado (TBR) (segundos), número
de mastigações por bolo (NMB), número de bolos ruminados por dia (NBRD), tempo de
mastigação total (TMT) e quantidade ruminada de matéria seca (MS), fibra em detergente
neutro (FDN) e fibra em detergente ácido (FDA), em gramas, dos dois tratamentos, nas
fases de aleitamento e pós-aleitamento, com seus respectivos coeficientes de variação (CV,
%), encontram-se expostos na Tabela 3.6.
Não houve interação (P>0,01) entre as rações e as fases de aleitamento e pós-
aleitamento. O TBR e o NMB sofreram efeito de tratamento e de fase de alimentação
(P<0,01). Tanto o TBR quanto o NMB foram inferiores com a ração peletizada em relação
à farelada, e maiores na fase de pós-aleitamento do que no período de aleitamento. O TBR
encontrado na fase de pós-aleitamento foi semelhante aos relatados por Burger et al.
(2000), que encontraram valores variando de 69,35 a 50,11 segundos por bolo ruminando.
Fischer et al. (2002) verificaram, valores compreendidos entre 60,5 e 63,1, segundos por
bolo ruminado. Burger et al. (2000) relataram NMB que variou de 76,14 a 51,47, similares
aos encontrados no pós-aleitamento do presente estudo.
Tabela 3.6 –
Tempo por bolo ruminado (TBR), em segundos, número de mastigações por bolo
(NMB), mero de bolos ruminados por dia (NBRD), tempo de mastigação total
(TMT), quantidade (g) de MS, FDN e FDA ruminada por bolo, em minutos, com os
seus respectivos coeficientes de variação (CV, %)
Aleitamento Pós-aleitamento
Item
Farelada Peletizada
Farelada Peletizada
CV (%)
TBR (s) 35c 26d 56a 46b 6,46
NMB (bolo) 43c 29d 73a 58b 6,74
NBRD (dia) 377c 332d 598a 550b 6,09
TMT (min) 343c 266d 783a 720b 4,35
MS/bolo (g) 4,64a 5,82a 4,29a 4,34a 4,93
FDN/bolo (g) 0,71b 0,93b 1,18a 1,22a 8,57
FDA/bolo (g) 0,29b 0,39b 0,58a 0,60a 6,42
Médias seguidas de letras iguais na mesma linha são estatisticamente iguais pelo teste F a 1% de probabilidade.
O NBRD e o TMT apresentaram a mesma tendência, não sofreram efeito de
tratamento (P>0,01), mas sofreram efeito da fase de alimentação (P<0,01). Ambos foram
maiores na fase de pós-aleitamento do que na fase de aleitamento. Isto se deu,
provavelmente, em função da mudança da dieta de uma fase para outra, de forma que os
animais passaram a consumir e ruminar por períodos maiores, aumentando, assim, o
número de bolos ruminados ao longo do dia, em conseqüência do incremento ocasionado
pelo consumo de feno em substituição ao sucedâneo. Assim o TMT, que este
compreende o somatório dos tempos de alimentação e ruminação, foi afetado pela
mudança.
Os valores do NBRD encontrados são próximos aos relatados por Burger et al.
(2000), que verificaram valores entre 308,42 e 482,60. Hafez & Buissou (1975) realizaram
uma coletânea com vários trabalhos e encontraram média de 360,00 bolos ruminais por
período de 24 horas, sendo este valor bastante próximo aos encontrados na fase de
aleitamento deste experimento, 377 e 332 para as rações farelada e peletizada,
respectivamente. Valores similares também foram constatados por Beauchemin & Iwaasa
(1993), que relataram médias variando de 350 a 397 bolos ruminais por dia. Fischer et al.
(2002) relataram valores para o NBRD variando entre 519 e 420. Os valores encontrados
para o TMT estão dentro da amplitude de 368,4 e 746,4 relatados por Burger et al. (2000).
Resultados semelhantes também foram relatados por MacLeod et al. (1994), que
verificaram 603 minutos, resultado próximo do TMT da fase de pós-aleitamento. Uma
revisão com 132 tratamentos em 32 experimentos, feito por Allen (1997), demonstrou um
TMT médio de 667,8 minutos. Entretanto, o TMT do presente experimento foi inferior aos
valores relatados por Miranda et al. (1999), de 919,42 a 867,45 minutos em novilhas
mestiças Holandês x Zebu.
Não houve efeito (P>0,01) para a quantidade de MS por bolo ruminado, nem entre
os tratamentos nem entre as fases de alimentação. Para as quantidades de FDN e FDA por
bolo ruminado houve efeito (P<0,01) da fase de alimentação e não houve efeito de
tratamento (P>0,01). Para estas duas variáveis, houve um incremento na fase de pós-
aleitamento, o que pode ser justificado pela inclusão do feno em substituição ao sucedâneo,
aumentando, assim, de forma significativa os níveis de FDN e FDA da dieta, uma vez que o
sucedâneo só possui 0,5 ou 0,4% de fibra (Tabela 3.1).
Os resultados referentes ao consumo de MS (CMS), FDN (CFDN), e FDA (CFDA),
à eficiência de alimentação da MS (EFALMS), FDN (EFALFDN), e FDA (EFALFDA), e à
eficiência de ruminação da MS (EFRUMS), FDN (EFRUFDN) e FDA (EFRUFDA), em
gramas por hora, nas fases aleitamento e pós-aleitamento, com seus respectivos coeficientes
de variação (CV, %), encontram-se na Tabela 3.7.
Não houve efeito (P>0,01) de interação entre os fatores em nenhuma das variáveis
expostas na Tabela 7. A EFALMS sofreu efeito (P<0,01) para tratamento e para fase de
alimentação, apresentando valores mais elevados na fase de aleitamento e nos animais que
receberam ração peletizada em ambas as fases. A EFALFDN e a EFALFDA, por estarem
altamente correlacionadas (98,98%), apresentaram efeito (P<0,01) semelhante para
tratamento; porém, houve efeito (P<0,01) para fase de alimentação. Assim como na
EFALMS, a EFALFDN e a EFALFDA apresentaram valores superiores para os
tratamentos que receberam ração peletizada.
Estes resultados enfatizam que, devido à maior facilidade de apreensão da ração
peletizada por parte dos animais, estes gastam menos tempo para consumi-la, quando
comparada com a ração farelada. Isso ocorreu em ambas as fases de alimentação e pode ser
explicado pelo fado de que quanto mais concentrada for uma dieta, maior será a sua
eficiência de consumo. Esta pressuposição foi confirmada por Burger et al. (2000), que
Tabela 3.7 –
Consumo de MS (CMS), FDN (CFDN), e FDA (CFDA), à eficiência de alimentação da
MS (EFALMS), FDN (EFALFDN), e FDA (EFALFDA), e à eficiência de ruminação da
MS (EFRUMS), FDN (EFRUFDN) e FDA (EFRUFDA), em gramas por hora, nas fases
aleitamento e pós-aleitamento, com seus respectivos coeficientes de variação (CV, %)
Aleitamento Pós-aleitamento
Item
Farelada Peletizada Farelada Peletizada
CV (%)
CMS (g) 1481,37 2643,11 2023,58 2107,20 -
CFDN (g) 221,30 418,36 558,05 595,90 -
CFDA (g) 92,21 174,70 236,63 292,41 -
EFALMS (g/hora) 772,89b 1428,71a 470,60d 665,43c 3,18
EFALFDN (g/hora) 115,46b 210,14a 129,78b 199,18a 5,03
EFALFDA (g/hora) 48,11b 94,43a 55,03b 92,34a 6,25
EFRUMS (g/hora) 474,94b 827,03a 293,49d 319,18c 5,26
EFRUFDN (g/hora) 71,13b 105,70a 81,22b 91,58a 8,10
EFRUFDA (g/hora) 29,65b 54,57a 35,51b 45,23a 10,23
Médias seguidas de letras iguais na mesma linha são estatisticamente iguais pelo teste F a 1% de probabilidade.
trabalharam com bezerros holandeses e verificaram EFALMS variando de 1.034,91 a
2.988,36 para tratamentos com 30 e 75% de concentrado na dieta, respectivamente. Os
resultados encontrados, com exceção do valor referente à ração peletizada na fase de
aleitamento (1.428,71), são inferiores aos relatados por Fischer et al. (2002), que
encontraram valores entre 1.268,50 a 1.666,67 gramas de MS por hora.
A EFRUMS sofreu efeito (P<0,01) de tratamento e de fase de alimentação,
apresentando valores mais elevados nos animais que receberam ração peletizada. A
EFRUFDN e a EFRUFDA apresentaram efeito de tratamento (P<0,01), porém não
apresentaram efeito para fase de alimentação (P>0,01). A ração peletizada apresentou
melhores EFRUMS, EFRUFDN e EFRUFDA. Em ambos os casos, as eficiências
apresentaram valores mais elevados para a ração peletizada. A EFRUMS apresentou valor
para a ração peletizada na fase de aleitamento (827,03) próximo ao relatado por Burger et
al. (2000), que verificaram 788,88 gramas por hora, para animais recebendo 45% de
concentrado na dieta. As eficiências de ruminação da MS, FDN e FDA apresentaram
tendências semelhantes às relatadas por Burger et al. (2000), que obtiveram valores
variando de 700,65 a 1.456,80 gramas de MS por hora para dietas contendo 30 e 90% de
concentrado, respectivamente. A eficiência de ruminação do animal é inversamente
proporcional ao tempo total de ruminação, ou seja, quanto maior for a quantidade de MS,
FDN ou FDA ruminada por unidade de tempo. Assim este animal necessita de menor
tempo ao longo do dia para ruminar a quantidade de alimento consumida. Este fato deve ser
encarado com algumas ressalvas, pois o tempo total diário de ruminação está diretamente
relacionado à quantidade de agentes tamponantes liberados no rúmen, e estes estão
intrinsecamente ligados às condições ruminais favoráveis para um aproveitamento
satisfatório da fibra consumida, visando uma melhor interação com os microrganismos
ruminais.
CONCLUSÕES
A granulometria da dieta não alterou o comportamento ingestivo dos animais no que
se refere aos tempos diários de alimentação, ruminação e ócio.
A ração peletizada propicia um consumo e uma ruminação mais eficientes do que a
ração farelada.
A fase de alimentação, pelo fato do animal estar em franco desenvolvimento,
interferiu sobre grande parte das variáveis comportamentais testadas.
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