Dentre outros homicídios que Pedro conta, o que lhe trouxe para a
Fundação é classificado por ele como o sexto, pelo qual é privado de liberdade e o
único ato que diz repensar, avaliando hoje o motivo pelo qual matou – por ter sido
‘tirado’ – passado para trás. No entanto, seu relato sobre esse homicídio, o modo
como o planeja, como age, o quê faz, com riqueza de detalhes e com a entonação
de voz e emoção como quem revive o ato:
Eu cometi vários homicídio e hoje eu não... Tem uns que eu páro e penso.
O último cara que eu matei, eu matei ele dia primeiro de agosto. Vai fazê
dois ano. E eu pensei, esses tempo agora, falei: “pô, eu matei o cara,
porque o cara mexeu no que é meu”. E eu falei pra ele: “é o seguinte, isso
aqui é migalha, isso aqui é migalha”. Sabe o que a molecada que trabaiava
pra mim tava fazeno? Vamo supor, dou um quilo de cocaína na mão do
gerente, falo assim: “cê tem que me dá tanto”. “Faz 2400 papel” e tava
fazendo 2800, sendo que o papel é de 20 - vende horrores, e é o seguinte:
tava fazendo 2800, 400 a mais. De 20, vê quanto já não dá. Então é o
seguinte, ele pegava o dinheiro pra ele fingindo que tava me enganando.
Então tá bom. Tá bom, isso memo. “Ninguém vino reclamar já tá bom, mais
num pode hein”. Sempre falava, sempre falava: “Aí, não pode fazê isso, e
tal”. Os moleque que trabaiava, eu falava, era dois policia por dia, que
vinha, cada um é tantos papel que cês tem que dá, que os polícia usa. Tá
bom. Às vezes polícia nem vinha, já desmarcava. Era tantos que eu
contava. Tá bom. Não tô ligando. Aí é o seguinte: pá usá, pega uma
gotinha d’água, usa o que eles tem que usá e faz assim no papel. Aí,
manda po patrão diz que tá emplastrado. Fala assim: “tava emplastrado
isso aqui”. Como se a farinha minha tá ruim. E os outro comprando, de
monte. Tá bom. Só que esse cara aí ele não pediu. Ele foi e robô. Falei: “é
migalha mano”. Aí, certo dia, num domingo, por isso que eu acho que foi
dia primeiro, foi num domingo. Foi em agosto. Eu tava em casa e tal, aí o
seguinte: tava conversando com a minha mãe e tudo, tinha mai alguém lá
em casa, não lembro quem era. Sei que a minha irmã tava lá em casa, meu
cunhado. Aí esse cara aí foi me chamá. Eu já tinha colocado ele no meio
do caminho, falei pra ele exprementá uma droga. Aí o moleque falo: “não,
vou dormir”. Falei: “é, cê é um preguiçoso tamém”. Tirei até uma mula com
ele. Aí falei: “um dia cê vai lá em casa que cê vai exprementá uma droga,
uma droga boa e tal”. Aí num domingo, quatro hora da tarde ele foi. Foi lá
em casa e eu saí. A hora que eu vi que era ele, eu fui lá, tava sem
camiseta, coloquei um revólver pequeno na cueca, aí saí e é o seguinte. Eu
subi com ele, ele falou que ia no bar trocá um dinheiro. Falei: “vai lá”. Catei
a bicicleta, desci lá na casa da Rosana. Catei duas faca. Duas faca ruim
por sinal ainda. Aí o seguinte, enquadrei ele. Falei: “é o seguinte, se cê
corrê eu estoro sua cabeça aqui memo”. Ele falou: “mais ce qué mi matá”.
“Te matá por quê?”, eu falei. Ele: “Porque eu te robei”. Foi só o deixa... Ele
falou que me roubou (rindo). Aí conversa vai, pra baixo de casa é um mato,
coloquei ele sentado em cima de um cupim, conversa vem, ele falou: “eu
catei, tal, mai eu vô te pagá”. Falei: “meu, se você fosse me pagá, cê não ia
catá, cê ia pedí. Eu te dou. Isso aqui eu te dô, isso aqui é migalha. Cê não
mexe no que é meu. Eu só quero o que é meu. Não quero o que é de
ninguém não”. E ele já se complicando, se complicando, dei logo um ‘pipa’.
Dei logo um pipa, cortado, era época de pipa eu lembro... Dei uma facada
aqui nele. Aí ele começou a lutá, falei: “vou matá o cê na bala, se cê num
pará de gritá e tal”. Aí nisso aí eu comecei a dá um monte de facada. E o
moleque que tava comigo correu, foi pá cima do barranco. Eu: “vem qui,
vem qui”. Aí tinha um moleque – Wendel – moleque é crente, tava no meio
da mato. Falei, “aí, cê num viu nada, some daqui, some daqui cê num viu