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JAQUELINE AMORIM GOMES DE MIRANDA
CIRURGIA BARIÁTRICA: DEMANDAS BIO-PSICO-SOCIAIS
Dissertação apresentada ao Programa de Pós
Graduação em Enfermagem da Escola de
Enfermagem da Universidade Federal da Bahia
como requisito para obtenção do grau de Mestra em
Enfermagem, na área de concentração O Cuidar em
Enfermagem.
ORIENTADOR: Prof. Dr. José Lucimar Tavares
Salvador
2007
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M672
Miranda, Jaqueline Amorim Gomes de
Cirurgia bariátrica:demandas bio-psico-sociais. Salvador:Escola de
Enfermagem da UFBA,2007.
169f.
Dissertação (Mestrado em Enfermagem) EEUFBA,2007.
Orientador: Prof. Dr. José Lucimar Tavares
1. Enfermagem médico-cirúrgica 2.Cirurgia bariátrica. 3. Obesidade-
tratamento. I. Título
CDU: 616-083-089
Ao meu marido Cristóvão, meu grande amor, e minhas
filhas queridas Hannah e Lisa. Vocês são meu porto
seguro, amo demais cada um de vocês, que reascendem
todos os dias a esperança, o amor e a coragem em minha
vida.
AGRADECIMENTOS
A Deus, por todos os presentes que tem me ofertado no decorrer da vida. Anjos disfarçados
de gente , que transformam fardos pesados em leves plumas. Sem Ele a vida não teria sentido.
Ao meu grande amor, marido querido, grande incentivador, companheiro de todas as horas,
por seu amor, generosidade, abnegação e pelo apoio ofertado todos os dias de nossas vidas.
Às minhas filhas, todo meu amor, razão de minha vida. Maiores estimuladoras na busca do
auto-conhecimento para me tornar um Ser Humano melhor.Obrigada pelo apoio silencioso e
respeito aos meus sonhos.
Aos meus avós, com quem aprendi o significado do amor, pelas horas de carinho,
dedicação, cuidado, e principalmente pelos valores éticos ensinados, tão importantes em
minha vida, e que abrem hoje, as portas para a conquistas dos desafios.
Aos meus pais, pela VIDA.
À minha querida mãe pelo excesso de confiança, amor e amizade.
À minha irmã Môni, meu colo, seja qual for a viagem, sei que com você sempre terei para
onde ir e aonde chegar. Você é uma pessoa linda! Um presente bem colorido, recheado por
dentro e por fora.
Aos irmãos que pouco vejo, gostaria de lembrar que, na China ou no Japão, estaremos
sempre unidos pelo coração. Os poucos momentos juntos, semeiam a terra para as próximas
colheitas.
A cada membro de minha família, especialmente minha tia querida, Tânia, pelas palavras de
incentivo e apoio emocional, pelas reuniões familiares que reforçam em minhas filhas a
importância da família em nossas vidas.
À minha sogra Lúcia e cunhada Miroca pela ajuda e apoio, principalmente nos momentos do
grito por ajuda. Nunca deixam de responder. Substituem muitas vezes, minha mãe e minha
irmã distantes geograficamente.
À família do marido pelas reuniões familiares aos domingos, amenizando a saudade da
minha própria família espalhada pelo mundo.
À pequena Letícia e Carol por trazerem mais alegria a nossa casa.
À amiga Lenora que me ensinou com sua amizade e exemplo de vida, o melhor caminho para
chegar à Deus. Meu anjinho.
Aos meus amigos, os de perto e os de longe, pelo apoio nos momentos difíceis e pelas horas
de lazer juntos, que me ajudaram a enfrentar os desafios, com leveza e ternura.
À Profa. Drª Dora Sadigursky pessoa querida que abriu as portas do meu sonho de
Mestrado com sua generosidade e competência ao corrigir meu anteprojeto de pesquisa no
período da seleção. Pelo apoio, incentivo e genuína amizade..
À meu (dês) orientador querido José Lucimar Tavares, como me ensinou a chamá-lo
carinhosamente, pela sapiência, competência, pelo excesso de confiança , apoio e amizade.
Desculpe se abusei de sua generosidade invadindo sua intimidade e domicílio.
Às Profas. Drªs Terezinha T. Vieira, Drª Maria Jésia Vieira, Drª Dora Sadigursky pelo carinho
e compromisso ao aceitarem participar deste trabalho com suas valiosas contribuições.
À todos meus queridos mestres do Curso de Mestrado da Escola de Enfermagem da
Universidade Federal da Bahia, pelo auxílio e sabedoria na concretização deste trabalho. À
Profa. Darcy de Oliveira Santa Rosa que não foi esquecida mesmo estando fora do País na
época da conclusão do trabalho.
Aos professores Álvaro Pereira e Profa. Dra. Regina Furegato pela contribuição generosa e
competente durante a qualificação.
Ao Hospital São Rafael na figura da Gerente de Enfermagem D. Lúcia Ferreira pela
oportunidade de realizar esse velho sonho.
Às colegas do HSR, companheiras de todos os dias, que me ajudam a transpor as pedras dos
caminhos diários. Especialmente àquelas que vêem desde o início acompanhando esse
projeto, me acolhendo com amor e carinho.
Ao Serviço de Cirurgia Bariátrica do Hospital São Rafael representado por Dr. Paulo Amaral,
Dr. João Ettinger e Dr. Euler Azaro. As colaboradoras do serviço: Soraia, Salete e Lílian pela
ajuda na coleta dos dados.
Aos sujeitos da pesquisa meu carinhoso obrigado, aprendi muito com vocês.
Às minhas queridas e inesquecíveis colegas do Curso de Mestrado da Escola de Enfermagem
da UFBA, especialmente àquelas que estiveram comigo todas as horas, Jaci Lopes Torres,
Cláudia Geovana e Paula Escorse.
À Profa. Tânia Oliva grande incentivadora e companheira, quem tornou meu projeto viável
inicialmente.
Aos funcionários da Pós - Graduação da EEUFBA, as funcionárias da biblioteca, Cléo e
Edvaldina de Sales, Claudinha com sua alegria e paciência diante das várias dúvidas e de
nossa ansiedade e Ivãn.
Áqueles que direta ou indiretamente acreditaram em mim, me acolheram com amor e carinho,
colaborando de algum modo para a realização desse trabalho.
Meus sinceros agradecimentos.
PESSOAS SÃO PRESENTES
Vou falar de gente, pessoas. Existe, acaso, algo mais espetacular
do que gente?
Pessoas são um presente. Algumas vêm em embrulho bonito,
como os presentes de Natal, Páscoa, aniversário. Outras vêm em
embalagem comum. E há as que ficaram machucadas no correio.
De vez em quando uma registrada, são presentes valiosos.
Algumas pessoas trazem embrulhos fáceis.
De outras, é dificílimo, quase impossível, tirar a embalagem.
É fita durex que não acaba mais. Mas a embalagem não é o
presente.
E tantas pessoas se enganam confundindo a embalagem com o
presente.
Por que será que aqueles presentes são tão complicados para
abrir?
Talvez porque dentro da bonita embalagem haja pouco valor.
É bastante vazio bastante solidão. A decepção é enorme.
Também você, também eu, somos um presente para os outros.
Você pra mim, eu pra você. Triste se fôssemos apenas um
presente-embalagem: muito bem empacotado e sem nada lá
dentro, porém conosco ocorre o inverso, temos conteúdo, e
muito.
Quando existe o verdadeiro ENCONTRO COM ALGUÉM, no
diálogo, na abertura, na fraternidade,
Deixamos de ser mera embalagem e passamos à categoria de
reais presentes.
Nos verdadeiros encontros de fraternidade, acontece alguma
coisa muito comovente, essencial: mutuamente, nos vamos
desembrulhando, desempacotando, revelando. No bom sentido,
é claro. Você já experimentou essa imensa alegria de vida?
A alegria profunda nasce no recôndito de uma alma, quando
duas pessoas se encontram, se comunicam, virando presente
uma para a outra?
A verdadeira alegria, que a gente sente e não consegue
descrever, só nasce no verdadeiro ENCONTRO COM
ALGUÉM especial como você (s).
Carlos Drummond de Andrade
MIRANDA, Jaqueline Amorim Gomes. Cirurgia Bariátrica: demandas bio-psico-sociais.
2007. 170 f. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) – Escola de Enfermagem, Universidade
Federal da Bahia. Salvador, 2007.
RESUMO
Trata-se de uma pesquisa que teve como objeto de estudo as demandas bio-psico-sociais de
pessoas obesas frente a cirurgia bariátrica.O seu objetivo foi conhecer e identificar essas
demandas, no período pré-operatório. Sua natureza qualitativa, descritiva, estando embasado
em pressupostos sobre Imagem Corporal, Necessidades Humanas Básicas e obesidade. O
grupo foi composto por doze sujeitos, nove mulheres e três homens, que estavam na faixa
etária compreendida entre 18 e 71 anos. Foram atendidas em um consultório de cirurgia de
um hospital geral, de grande porte, na cidade de Salvador-Bahia. Tomamos como técnica de
coleta de dados a entrevista semi-estruturada, compreendendo seis questões norteadoras,
referentes aos motivos que levaram essas pessoas a decidirem pela cirurgia da obesidade e
como a obesidade interferiria em sua imagem corporal e, em sua qualidade de vida e as
expectativas em relação a cirurgia . Da análise apreendemos três categorias e nove
subcategorias referentes as demandas bio – psico –sociais . As entrevistas foram gravadas e
transcritas. Fizemos ainda pesquisas em prontuário para identificação dos sujeitos. Tínhamos
o preconceito de que o maior fator motivador para o tratamento era a busca pela estética,
porém constatamos uma grande preocupação com a saúde, sendo este o principal motivo para
realização da cirurgia. Ressaltamos que a obesidade traz alterações importantes, apresentando
grande impacto na imagem corporal, na saúde mental, nas atividades físicas e laborais
cotidianas, no vestuário, na sexualidade, enfim, na qualidade de vida dessas pessoas.
Acreditamos que este estudo traz subsídios para melhor se compreender as dificuldades
dessas pessoas, despertando um olhar mais sensível e menos preconceituoso da enfermagem,
para que se possa prestar um cuidar mais humanizado, integralizado e verdadeiro .
PALAVRAS – CHAVE: Demandas bio-psico-sociais; Cirurgia Bariátrica; Cuidados de
Enfermagem.
Miranda, Jaqueline Amorim Gomes. Bariatric Surgery: Bio- Psycho-social demands. 2007.
170 f. Dissertation (Masters Degree in Nursing) – Nursing School, Federal University of
Bahia. Salvador, 2007.
ABSTRACT
This research had as an objective the bio-psycho-social demands of obese people faced with
bariatric surgery. The purpose is to acknowledge and identify these demands, during the pre-
operating period. The qualitative and descriptive nature of the research was based on
presuppositions on Corporal Images, Basic Human Necessities and obesity. The group was
composed of twelve individuals, nine women and three men, of ages between 18 and 71
years. These patients were attended at a surgery of a large sized general hospital in the city of
Salvador, Bahia. The technique used for collecting information was the semi-structured
interview, encompassing six guiding questions, relating to the reasons which took these
people to decide for the obesity surgery and how obesity interfered in their corporal image
and in the quality of their lives, as well as their expectations in relation to the surgery. From
the analysis we comprised six categories and nine sub-categories relating to the bio-psycho-
social demands. The interviews were recorded and transcribed. We also performed researches
in records to identify our individuals. We had the prejudiced opinion that the greatest
motivating factor for the treatment was the aim for esthetics; nevertheless we verified that a
great health concern was the main motive for performing the surgery. We emphasize that
obesity causes significant alterations, presenting great impact to the corporal image, to mental
health, to physical and work activities, in clothing, in sexuality, in other words, to the quality
of life of these people. We believe that this study offers subsidies to better understand the
difficulties these people face, arousing a more sensitive and less prejudiced attention from
nurse care, in order that the nurses may render a more humanized, integrated and sincere care
PALAVRAS – CHAVE: Bio-psycho-social demands; Bariatric Surgery; Nursing Care.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 10
2 OBESIDADE E CIRURGIA BARIÁTRICA 13
2.1 ASPECTOS PSICOLÓGICOS DA OBESIDADE 20
2.2 OBESIDADE E CIDADANIA 25
2.3 CIRURGIA BARIÁTRICA 27
2.4 O CORPO E A IMAGEM CORPORAL 32
2.4.1 Corpo 32
2.4.2 Imagem corporal 43
2.5 O CUIDAR DE ENFERMAGEM AS PESSOAS OBESAS 50
2.5.1 O sentido do cuidar e a enfermagem 50
2.6 MOTIVAÇÃO E NECESSIDADES HUMANAS BÁSICAS 61
3 METODOLOGIA 65
3.1 TIPO DE ESTUDO 65
3.2 LOCAL DO ESTUDO 66
3.3 OS SUJEITOS DO ESTUDO 69
3.4 A TÉCNICA E PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS 70
3.5 ANÁLISE DOS DADOS 73
3.6 ASPECTOS ÉTICOS DA PESQUISA 75
4 APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 78
4.1 CATEGORIAS DE ANÁLISE 79
4.1.1 Categoria – 1 Demandas físicas/biológicas motivos para a
cirurgia 80
4.1.1.1 Subcategoria comorbidades 87
4.1.1.2 Subcategoria estética, mídia e padrão ideal 91
4.1.1.3 Subcategoria qualidade de vida 98
4.1.2 Categoria – 2 Demandas psicológicas – sentimentos frente
à cirurgia 107
4.1.2.1 Subcategoria medo/ansiedade 108
4.1.2.2 Subcategoria depressão 112
4.1.2.3 Subcategoria baixa auto-estima 117
4.1.2.4 Subcategoria imagem corporal 122
4.1.3 Categoria – 3 Relações sociais frente à cirurgia 128
4.1.3.1 Subcategoria relacionamentos familiar e afetivo 128
4.1.3.2 Subcategoria trabalho 135
4.1.3.3 Subcategoria valores culturais e expectativas 140
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 145
REFERÊNCIAS 149
APÊNDICES 164
ANEXOS 167
1 INTRODUÇÃO
Em nosso País, mais de 3,5 mil pessoas submetem-se à cirurgia bariátrica, por ano,
para tratar da obesidade, a qual é considerada, um dos maiores problemas de Saúde Pública,
atingindo cerca de 1/3 de toda população do mundo.
A obesidade é definida pela OMS (1997) como uma doença crônica, incurável, que
vem aumentando progressivamente, inclusive nos países em desenvolvimento a exemplo do
Brasil, sendo, por isso, chamada de epidemia do 3º milênio (OMS, 1997).
Etmologicamente, o termo obesidade, deriva do latim, obesitas, significando excessiva
corpulência. Patino apud KRAL (2001, p.81) define obesidade como: “enfermidade causada
por excesso de massa corporal”. Savassi; Rocha et al (2003) consideram obesidade na sua
forma mais grave, quando o índice de massa corporal encontra-se acima de 40 Kg/m² sendo
denominada de obesidade mórbida. Esse índice costuma ser calculado dividindo-se o peso
corporal pela altura da pessoa ao quadrado (Kg/m²).
A cirurgia bariátrica (CB) tornou-se então, um fenômeno, que aumenta na proporção
da obesidade mórbida, uma vez que essa cirurgia pode reduzir entre 30 a 50% do peso de uma
pessoa, sendo hoje considerada o melhor recurso para o tratamento desse agravo.
Sobre isso, De Paula (2003) comenta que embora a CB não seja indicada apenas com
objetivo estético, é capaz de oferecer nova perspectiva de vida ao portador de obesidade
mórbida, promovendo, em média, uma redução do excesso de peso em mais de 50%.
Registramos que, o tratamento conservador desse problema, à base de dietas, regimes,
medicações e exercícios, poucas pessoas conseguem sucesso, sendo comum a ocorrência do
denominado “efeito ioiô”, decorrente dos regimes, que conduzem à perda de peso, havendo,
entretanto, sua posterior recuperação. Desse modo, existe um alto índice de fracasso no
tratamento clínico de grandes obesos, associado à redução da expectativa e da qualidade de
vida, levando-os ao reconhecimento da importância do tratamento cirúrgico (DE PAULA,
2003). Nesse sentido, a cirurgia bariátrica, atualmente, tem sido considerada como o melhor
recurso para o tratamento da obesidade.
A partir de 1999, após consultas à Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, o
Ministério da Saúde reconheceu a necessidade do tratamento cirúrgico para pessoas
obesas, incluindo a cirurgia bariátrica entre os procedimentos financeiramente cobertos
pelo Sistema Único de Saúde (SUS). (PAREJA, 2004).
11
No exercício da nossa atividade como enfermeira de uma clínica cirúrgica,
vivenciamos a implantação do serviço de cirurgia bariátrica, quando começamos a
acompanhar pessoas obesas, submetidas a esse tipo de cirurgia. O convívio com elas nos
despertou a necessidade de aprofundar conhecimentos sobre esse processo, emergindo
ansiedade e indagações, que nos motivaram a desenvolver este estudo.
Nossa prática, também, tem mostrado que, geralmente, submeter-se a essa cirurgia
conduz a uma perspectiva assustadora, tanto para as pessoas quanto para a família, que temem
pela integridade corporal e, pela própria vida. Nesse sentido, ressaltamos que a CB leva a uma
série de transformações físicas e psicológicas, o que pode alterar, profundamente, a imagem
corporal da pessoa.
No entanto, temos observado que, freqüentemente, as pessoas demonstram, à
princípio, grande satisfação quando podem realizá-la.
Nesse contexto, alguns questionamentos surgiram-nos, a exemplo de: será que
conviver com discriminação, humilhação e constrangimentos, que diminuem a auto-estima e o
amor pela vida, levam as pessoas obesas a crer que correr qualquer risco vale a pena? São
essas pessoas devidamente orientadas quanto aos benefícios e riscos do procedimento
cirúrgico e das necessidades da sua efetiva colaboração no processo? A estética para as
pessoas será o motivo mais relevante para buscar a cirurgia?
Assim, diante desses questionamentos, apresentamos como objeto / problema deste
estudo: quais as demandas bio-psico-sociais das pessoas obesas frente à cirurgia bariátrica?
Na tentativa de responder a esses questionamentos temos como objetivos: conhecer as
demandas bio-psico-sociais de pessoas obesas frente à cirurgia bariátrica; identificar as
demandas bio-psico-sociais de obesos no período pré-operatório dessa cirurgia bariátrica.
Consideramos relevante o tema proposto neste estudo, por entender que ele pode
contribuir com seus resultados para a construção de uma assistência qualificada, voltada para
as equipes que trabalham com pessoas obesas e o cuidar sem preconceitos, a partir da
compreensão das demandas bio-psico-sociais, bem como da motivação que leva essas pessoas
a se submeterem à cirurgia bariátrica, procurando respeitá-las, cientes de que trazem consigo
uma história de vida, experiências, problemas e expectativas.
Assim, pretendemos, também, que seu resultado, sensibilize gestores da instituição
campo no sentido de buscarem minimizar ou prevenir o desconforto vivenciado por muitas
dessas pessoas no decorrer da internação, relacionados à falta de estrutura física e de recursos
humanos, de modo a garantir um cuidado adequado. Quem sabe, também, despertar o
interesse desses gestores, enfermeiros e outros profissionais que atuam na atenção básica à
12
saúde, a fim de que possam trabalhar no sentido de minimizar ou prevenir a ocorrência da
obesidade, visto que ela tem sido fator de risco de enorme importância, entre as principais
causas de mortalidade, morbidade e incapacitação para muitos brasileiros. Além dos elevados
custos com seu tratamento e complicação.
Registramos, ainda, a escassez de estudos na área, em especial desenvolvidos por
enfermeiras, destacando a importância do papel desses profissionais na equipe de saúde e no
processo de cuidar de pessoas obesas, especialmente no pré-operatório da cirurgia bariátrica.
13
2 OBESIDADE E CIRURGIA BARIÁTRICA
A obesidade é um tema complexo e emergente, que vem assumindo grandes
proporções, em decorrência da sua estimativa mundial, e suas conseqüências tanto para o
sistema de saúde quanto para cada pessoa. No entanto, a obesidade é, de acordo com
evidências históricas, a enfermidade metabólica mais antiga que se conhece. Ela aparece na
história, ha mais de vinte mil anos, em obras nas quais mulheres obesas eram pintadas e
esculpidas (REPETTO, 1998). Nos textos de Hipócrates as complicações com a obesidade já
eram mencionadas e as mortes súbitas eram muito mais freqüentes nessas pessoas.
Segundo Kaplan; Kaplan (1957) há dois tipos de obesidade: (1) exógena, comum,
primária ou nutricional e; (2) endógena, secundária, ou metabólica. Esse segundo tipo, a
obesidade exógena ou nutricional vem sendo estudada com maior interesse nas últimas
décadas, pois se traduz no mais sério transtorno alimentar do mundo desenvolvido, sendo
conceituada como a presença de excesso de tecido adiposo no organismo, provocando grande
desequilíbrio, decorrente de uma entrada de energia no organismo que excede os seus gastos.
(BRAY, 1989).
Dados do Consenso Latino Americano da Obesidade (2002) indicam que essa doença
tem comprometido muito mais os sistemas de saúde do que a desnutrição, os quais
sobrecarregam-se com a crescente demanda de atendimentos a pessoas obesas que,
geralmente, apresentam doenças associadas e dados epidemiológicos indicam que cerca de
200.000 pessoas morrem anualmente em decorrência das suas complicações.
Baltasar (2001, p.3) afirma que “a obesidade mórbida pode desencadear muitos
transtornos, que encurtam a vida (comorbidades) e ocasionam o “gordismo”, que é a
discriminação pessoal, social e médica do enfermo”. As comorbidades mais comuns à
obesidade mórbida são: hipertensão arterial, diabetes mellitus; apnéia do sono, distúrbios
cardiovasculares; problemas ortopédicos; aumento do colesterol; problemas de fígado,
vesícula e respiratório, além de diversas formas de câncer.
Segundo Seidell (1997), do ponto de vista socioeconômico, essa condição interfere na
produtividade da pessoa, além de implicar em gastos indiretos para os setores da saúde. Auler
Junior et al. (2003) e Waddegaard et al. (2002) colocam que assim como na época de
Hipócrates, a obesidade é uma importante causa de complicações orgânicas precoces e de
mortes prematuras.
14
No Brasil, ocorreu um aumento importante da prevalência da obesidade nas últimas
quatro décadas, especialmente nas regiões sul e sudeste, que apresentam valores de
prevalência semelhantes aos encontrados nos EUA. Isso representa grande desafio de conduta
para os profissionais da área da saúde e um desafio psicológico para os pacientes.
(CARNEIRO, 2000).
De acordo com dados coletados de uma Pesquisa sobre Saúde e Nutrição do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), relatado por Monego (1996), cerca de 30% de
adultos brasileiros apresentam algum grau de excesso de peso; O problema é grave em todas
as faixas de renda e em todas as regiões, sendo a situação mais crítica na região sul do País.
Monteiro (1998) comparou três avaliações transversais de base populacional nos anos de
1975, 1989 e 1996 concluindo o contínuo e acelerado crescimento da obesidade. Esse autor
em estudo realizado em 1995, mostrou que em 1974, havia uma proporção de 1,5 desnutridos
para 1 obeso na população adulta brasileira e em 1989, a proporção da obesidade dobrou em
comparação à desnutrição.
Nesse sentido, Faria (2000) contribui, informando através de uma revisão
demográfica, que a prevalência da obesidade mórbida foi registrada em ambos os sexos no
período entre 1975 e 1977, sendo que, na população feminina, a prevalência cresceu de 0,2%
ao ano, no período entre 1975 e 1989, para 0,37% no período entre 1989 e 1996.
Porto et al (2002), por sua vez, mostram que, em nosso País, estima-se que 26,5% das
mulheres e 22% dos homens tenham excesso de peso; 11,2% das mulheres e 4,7% dos
homens têm obesidade leve e moderada e que 0,5% das mulheres e 0,1% dos homens
obesidade severa. Considerando-se que a população brasileira está na ordem de 180.000.000
hab, há cerca de 900.000 mulheres e 180.000 homens com obesidade severa.
Estudos recentes, divulgados por Natalie (2003), afirmam que 70 milhões de
brasileiros, ou seja, 40 % da população brasileira, já apresentam excesso de peso. Ainda,
informações da Organização Pan-americana de Saúde (OPAS) afirmam que nos últimos 20
anos houve um aumento de 240% de obesidade entre crianças e adolescentes brasileiros.
Nesse sentido, o quadro mundial não é diferente. Pleming (2000) comenta que, pela
primeira vez, de acordo com o Relatório do Instituto Worldwatch, intitulado Underfed and
Overfed: The Global Epidemic of Malnutrition, baseado em estatísticas colhidas pela
Organização Mundial da Saúde (OMS) e outros órgãos da Organização das Nações Unidas
(ONU), o número de pessoas obesas igualou-se ao de subnutridos.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), existia no Brasil, em 2000, cerca
de 500 mil obesos, com uma projeção de duplicar no decorrer deste século. Deve ser
15
registrado que 33% são mulheres e apenas 13% são homens. Essa grande diferença nos
números de excesso de gordura entre homens e mulheres que apresentam obesidade é
explicada por Campos (2001), que apresenta dois motivos para que as mulheres tenham maior
predisposição de acumular gordura: Os homens têm mais massa muscular do que as mulheres,
tornando-os metabolicamente mais ativos; as alterações hormonais nas mulheres são mais
drásticas, favorecendo o armazenamento de gordura muito mais do que nos homens. Sendo
assim, afirma o autor, os músculos são metabolicamente mais ativos do que a gordura, e como
os homens possuem mais músculos do que gorduras queimam de 10 a 20% mais calorias do
que as mulheres, mesmo durante em repouso.
Além disso, as mulheres obesas têm equilíbrio hormonal modificado drasticamente e
podem apresentar alterações da fertilidade ou, até mesmo, menopausa precoce. Aquelas que
engravidam, comumente apresentam riscos acentuados. Nas mulheres obesas o câncer de
endométrio aumenta (5,4 vezes), o de colo uterino (2,4 vezes) e o de mama (1,5 vezes). Outro
fator de grande importância, é que a obesidade mórbida diminui a qualidade e a expectativa
de vida. A taxa de mortalidade de mulheres com 50% de sobrepeso é o dobro daquelas com
peso normal, subindo para oito vezes mais se houver diabetes associado. (VILAS-BÔAS,
2000).
Desse modo, os gastos com a obesidade são vultosos. Segundo Buchalla (2003), foi
concluído o primeiro levantamento sobre os custos da obesidade no Brasil: sendo de um
bilhão e cem milhões de reais o custo para o tratamento do excesso de peso e das doenças
ligadas a ele. Nessa época, o Sistema Único de Saúde (SUS) destinava 600 milhões de reais
para internações relativas à obesidade, cujo valor era equivalente a 12% do que o governo
brasileiro desprendia anualmente com todas as outras doenças.
A obesidade, quanto à localização corpórea de tecido adiposo, pode ser classificada
em dois tipos: Conforme explicam Ashwell et al. (1982) obesidade central (andróide), na qual
o tecido adiposo localiza se principalmente na parte superior do corpo; e a obesidade
periférica (ginecóide), onde a distribuição ocorre, predominantemente na parte inferior do
corpo, quadril, nádegas e coxas.
Abraham e Johnson (1980) explicam a importância dessa classificação referindo que
na obesidade andróide há maior dificuldade no acesso de vias aéreas e ventilação, como
também maior incidência de diabetes, hipertensão arterial e doença cardiovascular quando
comparada à obesidade ginecóide.
No entanto, nos últimos anos, o estilo de vida da população na sociedade moderna tem
favorecido uma pandemia de obesidade. A falta de atividade física regular; o estresse do
16
corre-corre diário; a sobrevivência em uma sociedade competitiva e as prolongadas e elevadas
horas diárias de trabalho, são algumas das causas da obesidade. Esses fatores, associados ao
sedentarismo, decorrente das facilidades tecnológicas com os carros, os elevadores, os
controles remotos dos eletrodomésticos e as mudanças dos hábitos alimentares, são
certamente os principais determinantes da obesidade.
Nesse contexto, está o uso do computador por muitas horas o que tem contribuído para
o sedentarismo responsável pela obesidade, assim como de outros aparelhos eletro-
eletrônicos. A televisão por sua vez, representa o principal meio de lazer social, considerado
possível de acordo com a situação econômica do País e da disponibilidade de tempo da
família contemporânea, não exigindo nenhum esforço físico. Além disso, adquiriu-se o hábito
de comer em frente à televisão, o que distrai a atenção dos telespectadores, que deixam de
prestar atenção a quantidade de alimento que estão ingerindo, comendo mais. A mídia, com
suas propagandas enganosas, estimulam o uso inadequado de alimentos, a fome, o prazer de
comer e o exagero na quantidade (DÂMASO; TOCK, 2005).
Outros fatores que, ainda, estão associados a esse evento são mudanças situacionais
comuns em algum momento na vida das pessoas, a exemplo de: casamento, viuvez,
separação, ou situações de violência; alterações psicológicas (como o estresse, a ansiedade, a
depressão e a compulsão alimentar) assim como tratamentos com psicofármacos e corticóides;
suspensão do hábito de fumar; consumo excessivo de álcool e a redução drástica de atividade
física. (GIGANTE, 1977; WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1998; MENDONÇA
2005).
A sociedade contemporânea acompanha a velocidade da globalização; todas as coisas
processam-se cada vez mais rapidamente, influenciando os hábitos cotidianos, as relações
pessoais, de trabalho, a situação econômica e, por fim, os hábitos alimentares. A
intersubjetividade sistêmica está voltada para a, eficiência e rapidez e, isso, traduz-se em
sucesso, status e lucro econômico. “Conforme o dito popular: tempo é dinheiro”. Correr
significa aumentar a produção, conquistar novas pessoas e novos mercados. Perder tempo
significa ficar para trás, ser superado pelos demais. Não se pode perder tempo nem mesmo
para comer, substituindo-se a refeição por lanchonetes e fast – food, que garantem economia
de tempo e aumento de peso corporal.
De acordo com Dâmaso; Tock (2005), esse tipo de alimentação é um dos grandes
problemas nutricionais da população atual, pois além de ser uma refeição extremamente rica
em gorduras saturadas e calorias, deixou de ser um complemento alimentar, para se tornar a
refeição principal de milhares de crianças, jovens e adultos.
17
As autoras comentam, ainda, que a falta de tempo para si mesmo e para o convívio
com as pessoas a quem se estima estimula a adoção de um estilo de vida triste e insalubre,
além de contribuir para uma rotina de “FUGA”, que conceitua como exageros quanto ao uso
de bebidas alcoólicas, excessos alimentares, uso de cigarros e drogas, contribuindo para
causar graves distúrbios psicológicos, físicos e sociais.
È bem verdade que a globalização tem contribuído para a evolução tecnológica, a
informática, a nova automação, a biotecnologia, reestruturações importantes nas relações
entre as nações e nas relações fundamentais. Essa tecnologia radica-se em mecanismos
regulados por computadores, que transformou profundamente, por meio das indústrias da
comunicação, nossas experiências de tempo e espaço e as estruturas das relações entre as
culturas. A nova rede de informação coopera para que os eventos sejam conhecidos e
assimilados quase que instantaneamente pelo mundo todo. Tradições e hábitos culturais
deram lugar a uma nova cultura que é importada, sobretudo, dos Estados Unidos, igualmente,
para todas as nações, massificando as pessoas e as sociedades. Os mesmos bens e estilo de
consumo, os mesmos filmes, os mesmos programas de televisão, as mesmas músicas, as
mesmas roupas e o mesmo tipo de alimento industrializado, espalham se pelo mundo.
(OLIVEIRA, 2001).
Para Popkin; Gordon – Larsen (2004), a obesidade é decorrente de uma transição
nutricional, baseada em dois fatores: 1) transição demográfica, devido a mudança entre
padrão de alta fertilidade e mortalidade para baixa fertilidade e mortalidade, fenômeno típico
das sociedades industrializadas modernas; 2) transição epidemiológica – devido a mudança da
padrão de alta prevalência de doenças infecciosas, associada à má nutrição, períodos de fome
e péssimas condições sanitárias de meio ambiente, para uma alta prevalência de doenças
crônicas degenerativas, associadas com ao estilo de vida da sociedade urbana e
industrializada.
Esses autores atribuem, ainda, à transição nutricional fatores relacionados a recessão
econômica, modificações da dieta e do padrão de atividade física diária, assim como
modificações comportamentais, associadas ao crescimento econômico, à urbanização, à
tecnologia e à cultura.
De acordo com Bouchard (2003), a prevalência de sobrepeso e obesidade varia de
acordo com a idade, o sexo, a raça e classes socioeconômicas, estando associada ao estilo de
vida da população.
Dâmaso; Tock (2005), explicam que nenhuma camada social está livre do risco de
desenvolver a obesidade, uma vez que a população pobre também desenvolve obesidade por
18
não ter alimento adequado disponível, ingerindo alta quantidade de carboidratos e pouca
proteína. Por outro lado, as classes médias e altas, desenvolvem obesidade pelos excessos,
assim como pela escolha inadequada dos alimentos.
Com relação à associação entre obesidade e pobreza, Sawaya (1977) discute algumas
hipóteses: a primeira é a de que as pessoas em situações de carência teriam susceptibilidade
genética para o desenvolvimento da obesidade; a segunda seria de que uma desnutrição
energética – protéica precoce poderia promover obesidade no futuro e a terceira hipótese,
levanta a possibilidade de que a melhoria das condições de vida seria fator preponderante para
o excesso de peso.
No Brasil, com a extrema desigualdade social e a sua correlata estratificação social, os
valores simbólicos que envolvem o alimento são incorporados de diferentes maneiras pelos
distintos grupos sociais. Mesmo provendo cardápios diferenciados entre ricos e pobres, são
diversas as influências culturais de outras sociedades, que repercutem em reorganização dos
modos de conceber o corpo e o alimento. (FREITAS, 1997, p. 46).
Portanto, convém, ao estudarmos a obesidade, considerarmos o hábito alimentar da
nossa população. Na Bahia, a culinária é rica em dendê, óleo de coco e muita gordura animal,
o que colabora para aumentar a estatística da obesidade e das suas comorbidades.
Além disso, pessoas mais velhas e de classes sociais mais pobres associam a magreza
com enfermidades diversas, assim como aos traços da personalidade, conforme afirma Freitas
(2000). As mulheres mais velhas vêem a magreza como uma fragilidade humana, e sobre isso
expressam:
A pessoa que tá magra é da natureza dela ser magra; fulano é magro de ruim;
quem faz regime mesmo são as brancas, esse povo rico que tem pra escolher
e come pouco; regime pra quê? Quem tá magrinha tá fraca. Esse negócio de
ficar magra, é fraqueza [...]fraqueza das carnes[...] doença do pulmão[...],
esse negócio de moda é besteira, as meninas tudo querendo ficar magra de
uma hora pra outra; malucas, vão ficar é tudo doente [...] (FREITAS, 2000b,
p.257-264).
Ainda, de acordo com o autor, as mulheres jovens de certo bairro pobre de Salvador,
apesar das tradições concebidas sobre o corpo, buscam manter uma imagem corporal para
reagir às rejeições sociais de outros grupos sociais, usando o corpo magro como forma de
estandardização social.
Na década de 30, do século passado, era usual atribuir à obesidade a denominação de
distúrbios das glândulas endócrinas, e só a partir das décadas de 40 e 50 desse mesmo século,
19
foi que uma aproximação de natureza psicológica passou a receber ênfase nesse processo.
(HALPERN, 1998).
Dessa maneira, estudos realizados nas décadas de1940 e 1950, como os de Newburgh
(1942) e os de Kaplan; Kaplan (1957), mostraram que a obesidade nunca é diretamente
produzida por uma atividade endócrina. Em geral é decorrente da interação e influência de
vários fatores: constitucionais, ambientais (como falta de atividade física e hábitos
alimentares inadequados), culturais, sociais, familiares, psicológicos e emocionais. Nesses
estudos, alguns enfatizam a influência da hereditariedade, enquanto outros ressaltam os
fatores psicológicos e sociais. No entanto, todos admitem a interação entre eles.
A influência da hereditariedade e dos fatores genéticos são, também, ressaltados em
estudos realizados por (Abranson, 1977; Stunkard, 1988; Bouchard, 1989; Brownell e
Wadden, 1992), onde concordam que é herdada uma vulnerabilidade, uma probabilidade para
desenvolver a obesidade, mas que, no entanto, requer um ambiente adequado a fim dela se
manifestar, conforme expressa Stunkard (1988). Também Seltzer; Mayer (1966) acreditam na
influência dos fatores genéticos, porém, afirmam faltar dados que permitam uma avaliação
acurada dos graus de influência desses fatores e mecanismos de transmissão hereditária.
Halpern (1984), por sua vez, afirma que sem dúvida nenhuma há uma predisposição
genética para a obesidade, mas essa tendência pode, eventualmente, ser atribuída aos hábitos
alimentares da casa, que podem levar ao excesso de peso.
Newburgh (1942) e Kaplan; Kaplan (1957) acreditam que “a constituição do corpo é
herdada, mas a obesidade, não”. Esses últimos referem que a ascendência relativa do
ambiente, comparada à da hereditariedade, é variável em cada pessoa obesa, mas a
importância predominante do ambiente e de outros fatores exógenos parece ser
inquestionável, na maioria dos casos.
Enfim, Tock (2005, p. 9) conceitua obesidade como sendo uma doença crônica com
bases fisiológicas mais definidas, em que ocorre a participação de vários fatores endógenos e
exógenos, causando balanço energético positivo e, conseqüentemente, aumento de tecido
adiposo e do peso corporal. Afirma, também, que por se tratar de uma doença crônica,
multifatorial a terapia preconizada é multidisciplinar; envolvendo tratamentos médico,
nutricional, físico e psicológico.
Assim, a obesidade não é uma doença que não tem causa única, vários são os fatores
que contribuem para que ela ocorra, incluindo não só os ambientais, mas, também, fatores
genéticos, endócrinos, neurológicos, medicamentosos e psicogênicos. Patologias relacionadas
20
ao hipotálamo e deficiência do hormônio do crescimento também podem contribuir para seu
surgimento.
2.1 ASPECTOS PSICOLÓGICOS DA OBESIDADE
Fisberg (1995) considera que entre as alterações do nosso corpo, a obesidade é a mais
complexa e de difícil entendimento, havendo necessidade de uma abordagem disciplinar do
problema.
Desse modo, além de todos os problemas de saúde enfrentados pela pessoa obesa, o
problema psicossocial talvez seja o mais difícil de enfrentar. As pressões sociais em torno
dessas pessoas geram problemas psicológicos, de aceitação e de auto-estima, trazendo ainda
mais, sofrimentos.
Pessoas obesas costumam ser alvo de preconceitos e discriminações. Vários autores
são unânimes em afirmar tal sentença comprovando-a em diferentes estudos realizados. São
pessoas que cursam menor número de anos na escola, posteriormente encontram dificuldades
na disputa de empregos concorridos, têm salários mais baixos e menores chances de estarem
envolvidas em um relacionamento afetivo estável. (LAURENT – JACCARD; VANNOTI,
1993; MOORE et al., 1997).
Estudos similares mostram que os preconceitos foram observados também entre
estudantes universitários, os quais em testes de múltipla escolha relataram preferir casarem-se
com estelionatários, usuários de cocaína, ladrões e até com pessoas cegas do que com obesas
(WADDEN; STUNKARD, 1993 e STUNKARD; SOBAL, 1995). Esse preconceito também
estende-se entre profissionais de saúde, conforme comprovam Wadden; Stunkard (1993), que
em estudo realizado, 80% dos pacientes que realizaram cirurgia bariátrica relataram terem
sido sempre, ou quase sempre, tratados desrespeitosamente pela classe médica, devido ao
peso.
Nesse sentido, a obesidade foi compreendida, por muito tempo, como conseqüência
de um conflito psicológico subjacente. Contudo, à relação entre distúrbios emocionais e a
obesidade hoje é controversa, não sendo mais aceita sem reserva, por muitos estudiosos do
tema.
Por outro lado, Bychowski (1950), que estudou a obesidade em mulheres, afirma que
para a obesa, a comida significa força e serve para fortalecer seu ego fraco. Simbolicamente, a
21
comida significa amor, predominantemente maternal e os seios da mãe, fonte primeira de
desejo e gratificação. Comenta a autora, que o comer pode também significar o resultado
direto da angústia de separação em suas várias formas e diferentes níveis.
Na tentativa de explicar psicologicamente, a hiperfagia, autores enfatizam a
necessidade de discriminar os conceitos de fome e de apetite a exemplo de Hamburger,
(1951); Kathalian, (1992).
Hamburger (1951) assegura que a fome é a expressão fisiológica da necessidade do
corpo por energia (comida) e o apetite é um desejo psicológico de comer, o qual dá um prazer
antecipatório distinto. Segundo ele, a fome produz o apetite, mas o apetite também pode
existir independentemente e pode ser estimulado por outros meios. Ainda, faz relação entre
apetite e as emoções, afirmando que o estado emocional da pessoa reflete-se em seu apetite,
aumentando-o ou diminuindo-o. A raiva também pode afetar o apetite, e nos estados
emocionais mórbidos, como o da depressão, os distúrbios do comer evidenciam-se como
sintomas. Nas pessoas obesas o comer em excesso serve a alguma forte necessidade
emocional.
Em um estudo psiquiátrico realizado com 18 pacientes, Hamburger (1951) detectou o
comer em excesso como resposta a várias situações: comer como resposta a tensões
emocionais não especificadas; comer como uma gratificação substituta para situações de vida
insuportáveis; comer como um sintoma de doença emocional subjacente, especialmente a
depressão e a histeria; comer em excesso como uma adição à comida.
Conrad (1954) afirma que a comida é como um narcótico para a pessoa obesa e que
ela procura no alimento um escape das situações estressantes da vida. Ressalta que a
hostilidade e a agressividade reprimida é uma das mais freqüentes e importantes causas do
comer em excesso. De acordo com a autora, o atendimento a obesidade requer, por parte do
clínico, a compreensão dos problemas psicológicos do indivíduo obeso.
Bruch (1973, 1976, 1977) refere que é impróprio afirmar que todas as pessoas obesas
são emocionalmente perturbadas. Afirma, também, que a maioria das pessoas obesas que
estão “funcionando bem”, não procura ajuda psiquiátrica. Além disso, para aqueles que
procuram a psiquiatria, os problemas psiquiátricos não são uniformes. Outras questões devem
ser levadas em consideração, como diferenciar entre os aspectos psiquiátricos que têm um
papel no desencadeamento da obesidade e aqueles que são criados por ela.
Cormillot (1977), no entanto, descreve que muitos obesos podem ser incluídos dentro
da entidade “psicopatia” em função de sua conduta frente a comida; certas formas de
enfrentamento da realidade; dificuldade de obter idéias reais e a presença de mecanismos
22
especiais de defesa. Nicholson apud AZEVEDO; SPADOTTO (2004), em um estudo que
envolveu 93 pacientes obesos, concluíram que todos eles apresentavam algum tipo de
psiconeurose em graus variáveis.
Rotman e Becker (1970) em uma revisão de casos clínicos de 33 homens e mulheres
extremamente obesas, que tinham sido entrevistados por psicanalistas, encontraram o comer
em excesso como um mecanismo de defesa, utilizado contra sentimentos inconscientes de
abandono e desesperança, originados por situações de perda de objetos.
Mustajoki (1987) contesta essa relação. O autor argumenta que esses estudos são
feitos a partir de sujeitos que estão em tratamento ou que passam por consultas psiquiátricas.
Argumenta, ainda, que quando os estudos são realizados por nutricionistas ou outras
especialidades da medicina, esse quadro modifica-se, e os pacientes não apresentam doenças
mentais nem distúrbios emocionais. Resultados semelhantes foram encontrados em pesquisas
desenvolvidas por Faubel, (1989) e Mc Reynolds, (1982).
Autores como Clarke, (1990); Halpern , (1987); Stuart ; Jacobson, (1990); Abranson;
Wunderlick, (1972)) comprovaram, através de pesquisa realizadas, que a ansiedade é um
problema freqüentemente enfrentado pelas pessoas obesas. De acordo com a Sociedade
Brasileira de Psiquiatria Clínica (1993) a pessoa pode aprender a comer, em resposta à
ansiedade, uma vez que a comida normalmente a diminui.
Aind, Domar (1990) afirma que os distúrbios alimentares são uma forma inadequada
de comer na tentativa de camuflar problemas existenciais ou internos, nem sempre
reconhecidos e, portanto não enfrentados, tornando cada vez mais complicado resolvê-los.
Complementa informando que o estresse, a auto-rejeição, a incidência de depressão, a
ansiedade e outros problemas psiquiátricos entre as mulheres com distúrbios alimentares, são
alto. Define, ainda, quatro tipos de hiperfágicos: Aqueles que se superalimentam em reação a
tensões emocionais inespecíficas (solidão, angústia e insatisfação); Os que comem em
resposta a uma tensão crônica e à frustração, o alimento é substituto do prazer; Aqueles para
quem a superalimentação oculta um problema emocional subjacente, de forma mais freqüente,
a depressão e aqueles que a superalimentação é uma forma de apetite compulsivo e devorador,
não estando relacionado com distúrbios emocionais, mas que se tornou um hábito.
Kahtalian (1992) considera que o ato de comer, para os obesos, é tido como
tranqüilizador, sendo uma forma de localizar a ansiedade e a angústia no corpo,
caracterizando dificuldades de lidar com a frustração e com os limites. Refere o autor que isso
pode significar necessidade de receber amor, medo de sofrer privações, reação a uma
separação ou uma perda e o desejo hostil de eliminar um inimigo.
23
Kathalian (1992) complementa que a obesidade, quando estabelecida, leva a pessoa a
viver em função das dificuldades que o excesso de peso lhe trás. É nessa ocasião que vários
aspectos ligados à gordura começam a incomodar: adinamia, dificuldades de executar o ato
sexual, limitações de se expor em atividades de praia, esportivas ou sociais, sensação de
vergonha, inferioridade, dificuldade de comunicação, entre outras. Comenta, ainda, que outras
investigações têm mostrado ser os distúrbios psicológicos são mais freqüentemente ligados às
conseqüências da obesidade do que às causas, e explica que muitas pessoas com excesso de
peso podem experienciar dificuldades emocionais, não são mensuradas por testes
psicológicos, como o sentimento de solidão, resultante da falta de entendimento do seu
problema por parte dos amigos, ou da frustração pelo excesso de peso. Dentre os aspectos
psicológicos envolvidos na obesidade, alguns são mais comuns e costumam aparecer com
mais ênfase nos estudos realizados, destacando-se os fenômenos de auto-regulação da
alimentação, ansiedade, imagem-corporal, auto-estima e sexualidade.
Kathalian (1992) esclarece afirmando que a fome dita biológica, é desagradável,
dolorosa, desprazerosa e só se encerra através da sua remoção pela comida, enquanto, o
apetite, procura o prazer, a satisfação libidinosa, não obedecendo às reservas calóricas. No
primeiro o corpo pede a comida, no segundo, à mente é quem pede.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Psiquiatria Clínica (1993) a pessoa pode
aprender a comer, em resposta à ansiedade, já que a comida normalmente a diminui.
Campos (1993), identificou as seguintes características psicológicas em adultos
obesos: passividade e submissão, preocupação excessiva com comida, ingestão compulsiva de
alimentos e drogas, dependência, infantilização, primitivismo, não aceitação da imagem
corporal, temor de não ser aceito ou amado, indicadores de dificuldade de adaptação social,
bloqueio de agressividade, dificuldade para absorver frustração, desamparo, insegurança,
intolerância e culpa.
De acordo com Andrade (1995), em um estudo realizado no ambulatório de Obesidade
Infantil da Universidade Federal de São Paulo, onde 134 crianças foram atendidas, verificou
que 76,8% delas apresentavam razões emocionais importantes, associadas ao surgimento e à
evolução da obesidade. Nesse sentido, estudos que busquem entender as características
psicológicas ligadas à obesidade são muito importantes.
No que se refere às alterações psicopatológicas e de personalidade, entre as pessoas
obesas, as mais freqüentes são as perturbações bordeline (BLACK, GOLDSTEIN; MASON,
1992). Quanto às emocionais, as mais freqüentes são do de tipo depressivo, sendo as do tipo
ansioso as segundas mais prevalentes (BLACK, GOLDSTEIN; MASON, 1992; GLINSKI,
24
WETEZLER; GOODMAN, 2001). A compulsão para comer (bringe – eating) é uma das
alterações comportamentais mais perturbadoras e pervasivas, sendo o ritual alimentar
acompanhado por reações emocionais de irritabilidade, desinibição e raiva. (LANG e COL,
2000).
Stunkard; Wadden (1992) reforçam e acrescentam alterações psicológicas, associadas
à obesidade: a distorção da imagem corporal, baixa auto-estima, discriminação/hostilidade
social, sentimentos de rejeição e exclusão social, problemas funcionais e físicos, história de
abuso sexual, perdas parenterais precoces, história familiar de abuso de álcool, ideação
suicida, problemas familiares/conjugais, sentimentos de vergonha e auto-culpabilização,
agressividade/revolta, insatisfação com a vida, isolamento social, absenteísmo,
psicossomatismo, entre outras. Registram ainda, as dificuldades emocionais estão ligadas aos
obstáculos culturais e à preocupação constante com o emagrecimento.
Nesse sentido, o grupo sueco Swedish Obese Subject (SOS), em um estudo
prospectivo, acompanhou pacientes que realizaram cirurgia de redução gástrica por oito anos
e também um grupo controle em tratamento clínico convencional para obesidade. Foram
estudados 346 pacientes e encontrou-se mais ansiedade e sintomas de depressão nos obesos,
assim como uma atitude mental negativa frente às situações da vida diária. O mesmo estudo
demonstrou que a saúde relatada, em relação à qualidade de vida, era pior nos obesos severos
do que em outros grupos de pacientes com doenças crônicas. (WOLF et al, 2000).
Desse modo, estudos têm comprovado que, de um modo geral, as pessoas obesas têm
uma longa história de tentativas de redução de peso, principalmente mórbidos. Apesar de
seguirem orientações de técnicos de saúde, manter dietas e/ou no uso de fármacos, perdem
peso, porém não conseguem manter por muito tempo, recuperando em pouco tempo o peso
perdido chegando a níveis mais altos do que os anteriores (FRANQUES, 2003; GARNER;
WOOLEY, 1991).
Assim, o tratamento da obesidade não pode estar voltado apenas para uma mera perda
de peso. A pessoa obesa, além de ter um corpo acima do peso, tem também sentimentos,
conflitos, ansiedade, baixa auto-estima. Quando esses elementos não são levados em conta, a
pessoa perde a oportunidade de entender que a doença é uma linguagem que o corpo utiliza
para denunciar um desequilíbrio entre ele e a mente, a ausência de autoconhecimento não
permite apropriar-se do próprio corpo.
Certamente, o atendimento psicológico a essas pessoas possibilitará a melhor
compreensão de si mesma e das outras, ajudando-as a olhar para seus conflitos, descobrindo
25
seus limites e possibilidades e descobrindo que o peso dos seus problemas é tão complexo,
quanto o próprio peso corporal.
2.2 OBESIDADE E CIDADANIA
A obesidade carrega consigo uma série de esteriótipos negativos, pré-estabelecidos
socialmente, que contribuem objetivamente para a construção de uma imagem totalmente
negativa, principalmente, para indivíduos que possuem obesidade severa, cuja referência é a
identidade saída do padrão de corpo dominante: o corpo magro.
Nesse contexto, as pessoas obesas costumam ser discriminadas e excluídas
socialmente, apresentando tendência ao isolamento social; relações interpessoais conturbadas;
dificuldade de locomoção; problemas em conseguir emprego por serem consideradas lentas,
além de depressão e ansiedade.
Ressaltamos que costuma não existir, nos locais públicos, mobiliários e equipamentos
adequados ao porte dessas pessoas como: cadeiras de teatros, cinemas e aviões, que são,
freqüentemente, pequenas e estreitas. Mesmo nas unidades de atendimento médico existem
problemas de inadequação, incluindo-se certos aparelhos que suportam até 110 quilos.
Também, dificilmente encontram roupas, mobiliários e aparelhos adequados ao peso ou
mesmo mais confortáveis. Segundo Zottis (2002), obesos encontram dificuldades ainda no
desenvolvimento das tarefas mais simples da vida cotidiana, a exemplo da higiene pessoal e
dos afazeres domésticos.
A obesidade é considerada uma doença que deforma não só o corpo, mas a vida, os
relacionamentos e a dignidade de quem vivem com ela. As pessoas obesas,no entanto, têm o
direito de ter a dignidade preservada, assim como direito à cidadania, garantidas através de
políticas públicas.
Nesse sentido, o princípio da dignidade humana está previsto no Artº. 1, inc.III da
Constituição Federal e os direitos à vida e à saúde, encontram-se previstos nos artigos 5º,
capit e 6º, do mesmo diploma legal, portanto desnecessário seria chamar a atenção para a
relevância destas normas constitucionais para quem vive em sociedade. (BRASIL, 1988).
No entanto, operadoras de planos de saúde e seguradoras, por interesses puramente
financeiros, muitas vezes negam ao cidadão o direito ao tratamento médico hospitalar. As
26
pessoas com obesidade severa, frequentemente, encontram-se desse impasse, tendo que apelar
para recursos jurídicos, que lhes venham garantir seus direitos.
Com a entrada em vigor da lei 9.656, em 03 de junho de 1998, houve uma
reestruturação do mercado de planos e seguros de saúde que antes era regido pelo Decreto Lei
nº 73, de 21 de novembro de 1966, padronizando produtos ofertados pelas diversas empresas
do setor, sendo instituído inclusive, o plano-referência de assistência à saúde, que assegura às
pessoas obesas o direito de atendimento e de realizar a cirurgia bariátrica.
Desse modo, a Medida Provisória nº 2.177-44 de agosto de 2001, em seu art.10º refere
que:
É instituída o plano referência de assistência à saúde, com cobertura médico-
ambulatorial e hospitalar, compreendendo partos e tratamentos realizados
exclusivamente no Brasil, com padrão de enfermaria, centro de terapia
intensiva, ou similar, quando necessária a internação hospitalar, das doenças
listadas na Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas
Relacionados à Saúde, da Organização Mundial de Saúde, respeitadas as
exigências mínimas estabelecidas no art. 12 desta lei. (BRASIL, 1988).
O Código de Defesa do Consumidor muitas vezes tem sido utilizado como um
mecanismo de defesa dos direitos das pessoas obesas. Os planos de saúde costumam oferecer
uma proteção integral a seus beneficiários, através da mídia, de panfletos e outros meios de
comunicação, tais propagandas vinculada ou feita por seus prepostos, acaba por constituir um
vínculo contratual com seus clientes, conforme específica seus artigos do 1º ao 3º:
"Art. 1° O presente código estabelece normas de proteção e defesa do
consumidor, de ordem pública e interesse social, nos termos dos arts. 5°,
inciso XXXII, 170, inciso V, da Constituição Federal e art. 48 de suas
Disposições Transitórias.
Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza
produto ou serviço como destinatário final.
Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda
que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo.
Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada,
nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que
desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção,
transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de
produtos ou prestação de serviços.
§ 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo,
mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de
crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista.”
27
O Conselho Federal de Medicina, por sua vez, expediu a Resolução CFM Nº
1.766/05, publicada no D.O.U. em 11 de julho de 2005, na Seção I, p.114, que estabelece
normas seguras para o tratamento cirúrgico da obesidade mórbida, definindo indicações,
procedimentos aceitos e equipes, sendo sua principal contribuição a estipulação dos critérios
indicativos para tal tratamento (BRASIL, 2005).
Dando seguimento ao objetivo de assegurar o direto das pessoas obesas quanto a
garantia de atendimento, em 2005 foi estabelecido a Portaria GM/MS nº 1.075 de 04 de julho
de 2005, que institui diretrizes para a Atenção ao Paciente Portador de Obesidade.
Nesse contexto, vale registrar que para garantir a dignidade e a cidadania do obeso,
as iniciativas não têm sido apenas de instituições jurídicas. Pessoas obesas que se consideram
socialmente discriminadas têm tomado a iniciativa de criar revistas eletrônicas, manifestando-
se contra o padrão estético considerado ideal pela sociedade. Uma dessas revistas já possui
um nome bem sugestivo: Criaturas GG.
As agências de propagandas também têm demonstrado preocupação com estigma da
obesidade e vêm, utilizando modelos com corpos normais, ou até consideradas gordinhas
pelos padrões atuais em propagandas de produtos cosméticos.
Os artigos dessas revistas são diversificados, contemplando muitos assuntos, porém
sempre enfocados na questão do peso corporal. Tentam estimular as mulheres gordas a se
aceitarem como são, levantando suas auto-estima, e a valorização como uma pessoa bonita e
com muitos atrativos.
Nesse sentido algumas medidas, ainda que incipientes têm sido tomadas para garantir
as pessoas obesas o direito ao tratamento adequado à sua patologia, assim como exercer sua
cidadania, buscando combater as críticas, estigma e preconceitos, comumente dirigidas a
essas pessoas.
2.3 CIRURGIA BARIÁTRICA (CB)
O Brasil é o país da América Latina que possui maior incidência de obesidade, sendo
o segundo do mundo, depois dos Estados Unidos, na realização de cirurgias bariátricas.
De acordo com a definição de De Paula (2003), a cirurgia bariátrica consiste em
reduzir o reservatório gástrico e/ou a absorção intestinal, promovendo a redução do peso. No
caso da restrição alimentar o estômago é reduzido e, dessa forma, a quantidade de alimentos
28
sólidos a ser ingerida passa a ser limitada. A disabsorção é obtida fazendo-se um desvio
intestinal, assim o alimento ingerido percorre um caminho menor no intestino delgado,
diminuindo sua absorção. Essa cirurgia é capaz de reduzir a perda de peso, melhorando a
expectativa de vida; prevenindo outras doenças endócrinas, que possam causar obesidade,
fornecendo estabilidade psicológica ao indivíduo.
No entanto, existem critérios mínimos para indicação desse tratamento, sendo,
freqüentemente, indicado para pessoas que têm obesidade mórbida com o índice de massa
corporal (IMC) igual a 40 Kg/m², ou, ainda, para aqueles que apresentam comorbidades,
associadas ao risco de vida. A Suíça e os Estados Unidos em 1997 e 1998, respectivamente,
adotaram o IMC para classificar os graus de obesidade, o qual é hoje aceito como padrão de
medida internacional (SAVASSI – ROCHA, 2003).
A cirurgia bariátrica compreende diversas técnicas cirúrgicas, as quais variam desde a redução do estômago,
acrescidas de um desvio do intestino, até a colocação de balões, marca-passos ou anéis no aparelho digestivo.
Dessas diferentes técnicas pode ser utilizada apenas uma delas, isoladamente, ou associadas, em graus
variáveis (PAREJA, 2004; DE PAULA, 2003).
Dessa maneira, as denominadas cirurgias restritivas compreendem as gastroplastia
vertical ou horizontal de Mason e a de banda gástrica. Nelas, utiliza-se apenas a restrição
puramente mecânica à ingestão de alimentos, através da diminuição da capacidade do
reservatório gástrico, o qual costuma ser reduzido a um volume de 15 a 30 cm³. Assim, as
pessoas só conseguem ingerir uma quantidade pequena de alimentos, com um volume
calórico menor do que o habitual, e emagrecem. As cirurgias, apenas restritivas, costumam
provocar menores índices de morbidade e mortalidade, no entanto são, também, menos
eficientes, considerando-se uma menor perda de peso.
Nas cirurgias mistas, associa-se o componente restritivo (confecção de um pequeno
reservatório gástrico) ao disabsortivo, com a exclusão de parte do intestino delgado, atingindo
excelentes resultados, são as cirurgias de Bypass gástrico e de Capella.
A impactação alimentar, obstrução intestinal, úlceras, infecções, colelítiase e erosões
das órteses são complicações relacionadas às cirurgias restritivas. A de Bypass gástrico, com
alça longa, está associada a graves complicações metabólicas tardias e são consideradas
disabsortivas, não devendo ser indicada como tratamento primário da obesidade mórbida, em
razão da freqüente incidência dessas complicações. As derivações biliopancreáticas ou
cirurgia de Scopinaro são, essencialmente, disabsortivas, promovendo grande perda de peso,
porém à custa de má-absorção de gorduras, proteínas, ferro, cálcio, vitaminas lipossolúveis
29
(A, D, E, K), além de conduzirem a um alto índice de efeitos colaterais como a Síndrome de
Dumping e a diarréia. Podem, ainda, apresentar encefalopatia de Wernicke, que é uma
complicação metabólica caracterizada por ataxia, coma, perda visual progressiva, paraplegia,
anemia ferropriva, deficiência de tiamina, neutropenia e fraqueza muscular. Conduzem
também à complicações nutricionais como a esteatorréia, flatulência, deficiência de ferro e
cobalamina, desidratação, distúrbios hidroeletrolíticos e alopecia, pela deficiência de ácidos
graxos e zinco. Dentre as complicações psicológicas, podem ser encontradas depressão,
ansiedade, episódios bulímicos, compulsão alimentar, Síndrome do comer noturno, abuso de
álcool ou outras drogas e anorexia nervosa (SAVASSI e ROCHA, 2003).
Assim, apesar da eficácia e da relativa segurança da cirurgia aberta, observa-se
índices significativos de complicações, principalmente daquelas relacionadas à incisão
cirúrgica, tais como hérnias incisionais e infecção do tecido subcutâneo.
A cirurgia laparoscópica (cirurgia por vídeo ou popularmente chamada de cirurgia a
Laser) revolucionou o tratamento cirúrgico, baseando-se no princípio de mínima agressão,
reduzidos índices de complicações, curto tempo de internação hospitalar, rápida recuperação e
melhor estética. Além disso, na maioria das cirurgias, a qualidade do procedimento não é
comprometida pela abordagem laparoscópica.
Dessa maneira, a abordagem por vídeo permite a realização dos mesmos passos da
abordagem aberta com maior segurança, seguindo os mesmos critérios de indicação daquela
com incisão abdominal, considerando-se, entretanto, as mesmas contra indicações para a
cirurgia.
Uma desvantagem da cirurgia bariátrica por vídeo envolve o custo elevado, uma vez
que ela depende do uso de equipamentos especiais e requer maior habilidade do cirurgião. É
importante frisar, também, que durante qualquer cirurgia por vídeo, inclusive para obesidade,
é possível a conversão para cirurgia aberta, sempre com o objetivo de manter a segurança do
paciente, como nos casos de dificuldade técnica, limitação do campo cirúrgico ou a falha de
algum equipamento. Deve ser registrado, ainda, que alguns serviços, realizam somente um
tipo de procedimento, enquanto outros estão aptos a oferecer as diferentes opções técnicas.
Assim, a escolha da técnica cirúrgica não deve se basear apenas na experiência do cirurgião,
mas, também, nas variáveis individuais, considerando os hábitos, aspectos psicológicos e
expectativas da pessoa. Desse modo, o processo de avaliação pré-operatória necessita de ser
bem feito, de modo a assegurar que a pessoa seja bem orientada a respeito do procedimento,
de modo a prevenir complicações pós-operatórias imediatas, que são semelhantes às de
30
qualquer cirurgia abdominal de grande porte, tais como: deiscências ou infecções intra-
abdominais, complicações respiratórias e tromboembolia pulmonar.
As complicações tardias, provenientes da cirurgia bariátrica, variam com as técnicas
utilizadas, se restritivas ou absortivas, sendo comum encontrarmos deficiências nutricionais,
anemias intensas, neuropatias, intolerância à glicose e problemas psicológicos. Essas
complicações estão relacionadas à Síndrome de Dumping, a qual é definida como um
“conjunto de alterações vasomotoras e neuroendócrinas, que geram os sintomas da Síndrome
como: náuseas, cólicas abdominais, diarréia, taquicardia, fraqueza, síncope, que desencoraja o
consumo de alimentos ricos em carboidratos simples” (SAVASSI; ROCHA, 2003 p. 131).
Assim, o sucesso desse tratamento é assegurado ao se conseguir um pós-operatório
isento de complicações, perda de peso esperada, e ausência das afecções associadas,
traduzindo-se em melhora efetiva da qualidade de vida do indivíduo.
No que se refere ao aspecto legal da cirurgia bariátrica, em julho de 2005 o
Secretário de Atenção à Saúde, no uso de suas atribuições, estabeleceu a PORTARIA Nº 390
DE 06 DE JULHO DE 2005, considerando a necessidade de regulamentar a atenção aos
pacientes com indicação de cirurgia bariátrica. Essa Portaria regulamenta a necessidade de
definir as Unidades de Assistência de Alta Complexidade ao Paciente Portador de Obesidade
Grave, bem como determinar seus papéis na atenção à saúde e as qualidades técnicas
necessárias ao bom desempenho das suas funções; a necessidade de auxiliar o gestor no
controle e avaliação da atenção às pessoas portadoras de obesidade grave, estabelecendo um
sistema de fluxo de referência e contra-referência no âmbito do Sistema Único de Saúde.
Define, ainda, as Unidades de Assistência em Alta Complexidade ao Paciente
Portador de Obesidade Grave; quais as características que devem possuir essas Unidades de
Saúde no que se referem aos recursos humanos, materiais e financeiros; instalações físicas,
recursos diagnóstico e terapêutico;
Essa Portaria, no anexo V, normatiza:
“A Unidade de Assistência em Alta Complexidade ao Paciente Portador de
Obesidade Grave constitui-se na referência para o tratamento cirúrgico da
obesidade mórbida, de acordo com as normas descritas nesta portaria e
deverá contar com estrutura física, equipamentos e recursos humanos
especializados, com o objetivo garantir o acesso e assegurar a qualidade do
processo terapêutico clínico-cirúrgico, visando a alcançar impacto positivo
na sobrevida, na menor morbidade e na melhor qualidade de vida do obeso
grave, respeitando a eqüidade na entrada em lista de espera única para a
cirurgia bariátrica, de acordo com a gravidade do doente. Os critérios desta
lista única estão descritos no item "V-B - Critérios de Priorização de Lista
Única para Cirurgia Bariátrica" (BRASIL, 2005).
31
Normatiza, ainda, o credenciamento dessas Unidades de saúde; normatização dos
papéis das Secretarias de Saúde e do Município, além de se reportar aos riscos e complicações
da Cirurgia Bariátrica:
Quanto à mortalidade e morbidade nos primeiros 30 dias pós-operatórios (peri-
operatória), não há parâmetros conclusivos diferenciando as três modalidades operatórias
consideradas, mas os dados são indicadores de serem mais dependentes da capacidade técnica
dos cirurgiões do que do tipo de procedimento.
Já as complicações de curto e longo prazo são dependentes, primariamente, do tipo
de operação realizada. Os procedimentos cirúrgicos podem ter repercussões nutricionais,
sendo necessárias reposições com suplementos vitamínicos, que nem sempre apresentam uma
resposta adequada. Pode haver, também, complicações digestivas como “dumping” e
colelítiase entre outras.
Em relação aos riscos da cirurgia a Portaria relata que “O risco de morte do desvio
gástrico com Y de Roux é de 1%, variando entre 0,5% e 1,5% e as complicações do pós-
operatório são aproximadamente 10%”.
Mesmo com essas medidas Dâmaso (2001) afirma, que os direitos dos cidadãos
obesos ainda não estão bem definidos, porém cita que algumas iniciativas já foram discutidas
pela UNESCO, dando subsídio para a implementação de políticas públicas que assegurem os
direitos do cidadão obeso. Além da UNESCO, estudos da Força Tarefa Para o Estudo da
Obesidade no Brasil, filiada a International Obesity Task Force (IOTF) em parceria com a
Sociedade Brasileira para o Estudo da Obesidade e o Ministério da Saúde, têm implantado e
ampliado estratégias de intervenção em obesidade, assegurando princípios norteadores que
possam garantir de alguma forma os direitos do cidadão obeso.
Atualmente dispõe-se do método Bariatric Analysis and Reporting Outcome System
(BAROS), para avaliar os reais resultados dos tratamentos cirúrgicos em obesos mórbidos,
visando verificar não apenas a redução e manutenção do peso, mas, também, a melhora da
qualidade de vida das pessoas que se submetem a CB.
Esse Método, que analisa a eficiência da cirurgia, tem sido alvo de reavaliação,
apresentando novas versões ou pequenas alterações, que são validadas, a fim de aprimorá-lo e
torná-lo mais eficiente. O Método clássico do BAROS tem se mostrado eficiente e deve
continuar a ser utilizado nas pesquisas de eficiência da cirurgia bariátrica (WOLF et al, 2000).
32
2.4 O CORPO E A IMAGEM CORPORAL
2.4.1 O corpo
O corpo, há muito tempo, tem sido metáfora da cultura, que se manifesta de diversas
maneiras: através de rituais diários, do modo como cuidamos dele, como comemos, nos
vestimos, nossos hábitos de higiene, e normas e práticas que utilizamos, aparentemente
triviais. O corpo é um instrumento fidedigno para aferir a vida de uma sociedade.
O corpo, além de ocupar um espaço no tempo, espelhando a vida social de uma
sociedade em determinada época, ele fala, senão na linguagem que se instituiu “falar”, mas
através de sinais, evocando uma série de marcas implícitas reveladas pelos gestos, posturas,
hábitos, expressões, caracterizando o sujeito como membro de um grupo social. O corpo
permanece em constante comunicação com o mundo, devendo ser entendido, considerando-se
a cultura e a relação com as pessoas, uma vez que não possui uma linguagem única.
Assim, o corpo utiliza-se de várias formas de comunicação, que concretiza a vida e
suas ações, sendo constituído e representado simbolicamente nas relações. Nesse contexto,
corpo é um objeto para qual a sociedade atribui significados, expectativas e sensações,
ditando-lhes normas, seja em relação à estética, à expressão, seja em relação à saúde, à
higiene e à sexualidade (CARVALHO, 2002).
As preocupações com a cultura, incluindo a cultura corporal, surgiram associadas
tanto ao progresso da sociedade e do conhecimento, quanto às novas formas de dominação.
Elas foram institucionalizadas, constituindo-se como parte da própria organização social na
qual estão embutidas (ROMERO, 1995 p.17). Esse autor salienta, ainda, que na antiguidade
clássica, o corpo era valorizado como elemento de glorificação e de interesse do estado, pois,
nas cidades gregas, as atividades corporais contribuíam para o sucesso dos jogos olímpicos,
que, por sua vez, serviam de coesão cultural e status social. A Vênus de Milo, uma escultura
entalhada em madeira no ano 100 a.c., a deusa do amor, cujo quadril, barriga e rosto
arredondados era o protótipo da formosura na época helenística, refletia uma grande beleza .
Mira (2004) comenta que a gordura já foi sinônimo de festa, fartura de comida e de
bebida, um ideal inatingível pelos pobres, cujo cotidiano era marcado pela fome, pelo frio e
pelo abandono.
33
Para Elias (1994), já existia durante a Idade Média uma preocupação da sociedade
com os excessos do corpo e do comportamento perante a mesa, e a comida. Nessa época
foram escritos manuais de boas maneiras, para padronizar o comportamento dos nobres
europeus, orientando-os a evitar “cair vorazmente” sobre os alimentos, ou de pegar os
melhores pedaços no prato e de cortar, sem excessos, os pedaços de pão. Mira (2004) por sua
vez, enfatiza que a nobreza européia do século XVI a XVIII, com a ascensão do conceito de
civilidade, foi a primeira a se afastar de alguns hábitos alimentares comuns na Idade Média.
Desse modo, o que a princípio parecia ser apenas uma mudança de um padrão
estético, na verdade tratava-se de uma transformação mais profunda das relações e
comportamentos sociais. As regras de cortesia, de civilidade e de bom comportamento à
mesa, acarretaram mudanças muito mais importantes do que as normas de convivência em
sociedade: determinaram uma tendência de controle sobre os corpos, sobre as funções
orgânicas e sobre os excessos, o que se refletem até hoje.
Durante o período renascentista aconteceu a redescoberta do corpo, através da arte,
onde o nu corporal foi destacado através das obras de Michelangelo, que expunha a anatomia
humana com a perfeição das suas esculturas.
No entanto mulheres gordas também foram amplamente retratadas em quadros e
esculturas. Em 1552, por exemplo, Veronese pintou A Bela Nani, ideal de beleza feminino
desse período.
O corpo devia ser entre o magro e o gordo, carnudo e cheio de suco, segundo
um literato francês. A “construção” como se dizia-se então, tinha que ser de
boa carnadaura. A metáfora servia para descrever ombros e peitos fortes,
suportes para seios redondos, e costa em que não se visse um sinal de ossos.
(Del Priore, 2000, p.18).
Segundo Fischler (1990), um pouco de adiposidade era sinal de status e de riqueza
no século XIX, e embora não fosse desejada por todos, era mais tolerada, pois estava imbuída
de certo prestígio social. No entanto, o autor também chama atenção para o fato de que, no
passado, era “preciso ser bem mais gordo para ser julgado obeso e bem menos magro para ser
considerado magro”. (FISCHLER, 1995, p.79).
Um exemplo apresentado por Pope Jr.; Phillips; Olivardia (2000), é o quadro “Vênus
e Adônis”, pintado pelo italiano Tiziano Vecellia di Gregório. Nessa obra, o pintor retrata um
Adônis gordo, fora de forma e uma Afrodite que também destacava-se pelo excesso de
gordura.
34
No período da revolução industrial o corpo perdeu sua expressividade e passou a ser
considerado como um objeto, técnico, previsível e controlável por meio de operações e
cálculos, modificando-se também, o estilo de vida das pessoas. A autora utiliza o conceito de
estilo de vida, como sendo a maneira como os indivíduos produziam cotidianamente sua
existência social, os modos de consumo, as formas de organização do lazer e as relações
interpessoais.
Foi a partir do século XVIII, que o excesso de comida começou a ser apontado pela
equipe médica como causador de mortes prematuras. Soares (1994) informa que na Europa do
século XVIII e início do século XIX começou-se a desenvolver, por meio de políticas de
saúde, medidas de concepções da medicina social, que levava ao controle dos corpos dos
indivíduos, passando a ser feito pelo poder do Estado. Era necessário garantir corpos
saudáveis para atender as novas exigências do mundo capitalista e proteger a burguesia das
endemias e doenças infecto-contagiosas. As concepções da medicina social higienista
constituíram-se instrumentos de intervenção na sociedade, impondo hábitos, costumes e
valores. Essas normatizações moralistas e de fundo educativo, experimentados inicialmente
pela Europa, foram importadas para o Brasil, ainda no século XIX.
Desse modo, além de influenciar nas políticas de saúde o projeto burguês de
sociedade, importado pela Europa, foi decisivo para o delineamento de um ideal de beleza
magra no Brasil. Os viajantes criticavam a corpulência das brasileiras e ridicularizavam seus
costumes, tendo como corretos os padrões de beleza e de estética, que já traziam, do corpo
magro, como referência (STENZEL, 2002, p.34). Nos seus relatos mostravam o choque que
vivenciaram com as diferenças culturais, em relação ao padrão estético das brasileiras,
comparando-as com as mulheres inglesas.
(...) Afirma-se que o maior elogio que se podia dirigir a uma dama do país é
dizer que está ficando, a cada dia mais gorda e mais bonita, coisa que cedo
acontece a maioria delas (...) Cheias e arredondadas quando mocinhas, ao
chegarem aos trinta anos já eram matronas corpulentas, incapazes de exercer
qualquer fascínio sobre nossos visitantes (QUINTANEIRO apud STENZEL,
2002, p. 34).
Assim, sob o olhar masculino, a diferença entre a mulher gorda e a mulher magra
atingi o seu comportamento e o seu caráter com sérias desvantagens para as últimas.
O ideal de feminidade do séc. XIX, por exemplo, era a delicadeza, o encanto, a
passividade sexual e um estado emocional instável e caprichoso. Representada pela figura do
tipo “ampulheta”, que realçava os seios e os quadris, contrastando com uma cintura bastante
35
afunilada, possível de ser conseguida através do uso de espartilhos, apertados, semelhantes às
cintas elásticas utilizadas hoje com o objetivo de esconder o excesso de gordura localizado.
Essas características eram produzidas de acordo com as normas que regiam a construção da
feminidade predominante.
Com o invento do cinema e da televisão, as normas estabelecidas da feminidade
estabelecidas passaram, cada vez mais, a serem transmitidas culturalmente, através do desfile
de imagens culturais padronizadas. Passamos a conhecer o ser ideal pela representação
exterior: a imagem. Não determinam como uma dama deve comportar-se, porém, determinam
como deve vestir-se, configurar seu corpo, as expressões faciais e os movimentos. Desse
modo, a feminidade tornou-se uma questão de interpretação, e passamos a conhecer seu ideal
através das representações exteriores.
Rodrigues (1999) ressalta que o mito de uma ascensão progressiva a um corpo
perfeito do futuro, confunde-se com o mito da perfeição da antiguidade. O corpo dos heróis
ou corpo dos deuses mesclavam-se em uma galeria, onde a humanidade teria, finalmente,
atingido o corpo perfeito, a partir do seu grau evolutivo de civilização.
No Brasil, a partir do século XX mudam-se os padrões culturais de corpo, fixando-se
no ideal da magreza, o que vem crescendo, vertiginosamente, atendendo aos vários interesses
capitalistas, aliada a crescente glorificação do corpo está ênfase, cada vez maior, na exibição
pública do corpo, antes tão encoberto. Expostos as críticas e obedecendo aos olhares exigentes
da sociedade os corpos precisam estar cada dia mais magro e obedecendo aos padrões de
beleza pré-estabelecidos, exigindo das pessoas autocontrole da sua aparência física.
De acordo com Goldemberg; Ramos (2002, p. 25) “o decoro que antes, parecia se
limitar a não exposição do corpo nú, se concentra agora, na observância das regras de sua
exposição”.
Nesse contexto, o capitalismo procura captar os desejos dos indivíduos no que se
refere ao trabalho e ao lazer para colocá-las a serviço da economia de lucro. Desse modo, cria
uma massificação cultural, que impõe um estilo de vida padrão, assim como um ideal de
corpo, modelo de civilização. As pessoas acabam incorporando as práticas sociais como um
estilo de vida seu, respondendo aos estímulos que recebem da sociedade e dos meios de
comunicação de massa. Assim, o sistema impõe o seu próprio modelo de corpo através das
propagandas que padronizam os desejos transformando-os em um ideal social para atingir os
consumidores. Nessa perspectiva, busca estruturas que sejam adequadas, colocando-as a
serviço da economia, do lucro, despertando no consumidor uma nova necessidade,
necessidade a qual para ser satisfeita, pode levar alguém a um grande sacrifício, na ilusão de
36
alcançar a felicidade prometida com aquisição dessa mercadoria. Enquanto isso, outras
necessidades estão sendo desenvolvidas, a cada minuto, para buscarmos mais uma forma
efêmera de prazer. Assim, Quanto mais necessidades forem criadas, mais infeliz torna-se o ser
humano. O produtor, por sua vez, alheio aos princípios éticos, esquece-se de ver o outro em
sua singularidade, enxergando-o apenas como um consumidor potencial (ROMERO, 1995).
Sobre isso, Freitas (1987) explica que a indústria cultural é, o mais eficiente
instrumento a serviço do poder capitalista dominante. Através dos diversos meios de
comunicação, encarrega-se de produzir desejos e reforçar imagens de corpos padronizados, e
que, para não perder o seu público, simplifica os temas, esvaziando-os de crítica, tornando-os
atraentes e digeríveis. Corpo e sexualidade são presenças básicas em todo movimento
comercial, seguindo a direção estabelecida pela produção e pelo consumo, ajudando a vender.
Porém, ao mesmo tempo em que é apresentado associado à sexualidade e a beleza, dotado de
liberdade, o corpo é tomado como fonte de ameaça, na medida em que o que se propaga é
diferente da realidade de muitos. Aqueles que não conseguem manter-se nesse fluxo correm o
risco de ser empurrado para a margem da sociedade, sofrendo todo tipo de preconceito.
Sendo assim, a sociedade capitalista torna-se, cada vez mais, uma sociedade de
consumo, onde as pessoas começam a ter acesso a uma grande quantidade de bens, com o
objetivo de satisfazer às necessidades geradas a partir do seu próprio estilo de vida.
Consomem-se bens, gostos e valores e, também, consome-se o corpo.
A sociedade de consumo apresenta, ainda, uma série de possibilidades, antes
reservada aos ricos, estando, hoje, disponíveis a um grande número de indivíduos, associadas
a muitas promessas de felicidades. Por isso, os mergulhos no aprimoramento dos próprios
corpos representam a motivação básica, que impulsiona o comportamento na sociedade
industrial, na atualidade.
Nesse cenário, a velocidade da tecnologia e da comunicação tem contribuído para a
construção de conceitos éticos, assistências e culturais alienantes, onde o indivíduo perde a
autonomia, e a liberdade de determinar pessoalmente a sua vida.
Santos (1990) lembra que o corpo produz sensações, emoções e imagens, e por isso
ele não pode ser pensado sem a determinação do homem no mundo. É a cultura, pois, que vai
determinar a maneira como o corpo se expressa. Por isso, é preciso compreender o sentido, o
significado que têm as práticas corporais para as pessoas que as vivem.
Desse modo, precisamos aprender o que é a sociedade, o que são seus instrumentos,
porém não devemos utilizá-los em detrimento de nossas próprias capacidades de expressão.
Nesse sentido, é necessário que se criem condições para que possamos adquirir meios de
37
expressão, relativamente autônomas e não recuperáveis pela tecnologia das diversas formas
de poder. É preciso que nós, seres humanos, não nos contentemos apenas em adquirir hábitos,
mas nos desvincularmos dos modelos, da culpabilidade, das marcas que a racionalidade
tecnológica têm inscrito em nossos corpos. (GUATTARI, 1987).
A visão fragmentada do homem faz com que o corpo torne-se vitima do próprio
homem. O corpo tornou-se cobaia para experiências científicas, além de máquina para a
produção, totalmente desprovida de emoções e personalidade própria. Pior ainda, a
fragmentação do indivíduo tornou-se meio eficaz para moldá-lo, de acordo com os interesses
da classe dominante.
Nesse contexto, levantamos uma questão ética, pois Kunt (1987) afirma que a ética
deve-se a idéia básica de que o corpo humano, o indivíduo, jamais deve ser usado como um
meio para se chegar a um fim. Essa máxima procurou nortear a ação e a conduta moral do
indivíduo para o reconhecimento da dignidade do outro, que jamais deve ser tratado como um
instrumento para se chegar aonde se quer. O ser humano deve ser tratado sempre como um
fim e jamais como um meio, segundo Kunt, entendendo que a ação moral em relação ao corpo
do outro esteja ligada à capacidade de cada um reconhecer em todos os homens e em todas as
mulheres o seu direito e sua dignidade. Assim, o uso indiscriminado do corpo através da
história, transformando-o em objeto possível de ser manipulado, adequando-se para viver em
sociedade fundamenta-se em princípios antiéticos.
Além disso, as relações interpessoais, que se fundamentam só na permuta de
vantagens, ou apenas na beleza física, tende a ser fulgaz, considerando-se que os valores não
são eternos, e quando deixam de existir, acabam-se com eles, o motivo da união.
As mulheres, por sua vez, em busca de um ideal de feminidade e jovialidade têm sido
o grande foco da sociedade consumista, e busca constantes mudanças na aparência de seus
corpos, algumas insignificantes e outras bastante extravagantes. Nessa cultura da
superficialidade, deslumbrada por imagens, temos dificuldades crescentes em distinguir os
verdadeiros valores interiores.
De acordo com Jaggar; Bordo (1997), induzidas por meio de disciplinas rigorosas e
reguladoras sobre dieta, maquiagem, e o vestuário, as mulheres continuam a guardar em seus
corpos sentimentos e convicção de carência e insuficiência. Citam Foucault, que denomina
esses corpos de “corpos dóceis”, aqueles cujas forças e energias estão habituadas ao controle
externo, à sujeição, a transformação e ao aperfeiçoamento.
Silva (1995, p.112) refere que “as mulheres por sua vez, pelo próprio
condicionamento cultural, são conduzidas a uma concepção de si mesmas em autodepreciação
38
em que avulta a busca da identidade”. Os corpos das mulheres são serializados, colocados em
formas únicas, em que não há lugar para todas. Sufocam o singular, as formas alternativas de
pensar o corpo, a vaidade e a sexualidade. A esbeltez exagerada parece ser a caricatura do
ideal contemporâneo de beleza, tornando o corpo admirável, atraindo a atenção do outro.
Entretanto, a magreza é, também, apenas mais uma caricatura, que exige por si
mesma interpretação. É o sentido que torna o corpo admirável, que atrai a atenção do outro.
Essas normas impõem idéias e diretrizes altamente contraditórias, criando conflitos difíceis de
serem resolvidos. Se por um lado nossa cultura continua a apregoar concepções antigas de
feminidade, defendendo idéias domésticas de dependência ideológicas dos seres masculinos,
por outro, para uma divisão sexual de trabalho, têm a mulher como principal fonte de nutrição
emocional e física.
Jaggar; Bordo (1997) ressaltam que a construção cultural está, naturalmente,
homogenizando e normatizando, tentando fazer com que todas as mulheres busquem alcançar
um ideal padronizado, coercitivo, tentando, até mesmo seguir as diferenças de raças, classes e
outras diferenças culturais.
No que concerne a educação desde pequenos somos ensinadas como devemos fazer
as coisas do jeito que todos fazem: “tire a mão daí, não ponha isso na boca”. Podados em
nossa natural curiosidade, acabamos desaprendendo a usar nosso próprio corpo, para utilizá-lo
da forma como nos é ensinado. Acabamos por limitar nossa criatividade, nossa experiência
corporal e o desenvolvimento de novas experiências. Aprendemos, assim, a imitar os outros.
De acordo com Maurs (1974), a transmissão de hábitos e valores culturais é realizada
por meio de um processo de imitação prestigiosa. A criança copia procedimentos que
obtiveram êxito de pessoas que lhes são importantes. Isso significa, muitas vezes, que a
atitude dos pais tende a ser imitada pelos filhos. Por meio desse processo de imitação é
possível perceber a força da tradição de um determinado valor ou costume cultural e ao se
tentar contrariar tais expectativas, a sociedade nos marginaliza. Não resta dúvida que acaba
sendo mais cômodo cumprir os ditames sociais e, assim, ser valorizado como uma pessoa bem
sucedida. Porém, não devemos esquecer que, embora a cultura influencie o comportamento
humano, somos nós quem produzimos e transformamos a cultura no dia a dia. Por isso, não
devemos simplesmente cumprir as regras sociais, passivamente, nos moldando às regras
ditadas pela cultura.
Giusta (1985, p. 24) afirma que “O comportamento é entendido como produto das
pressões do meio ambiente, significando o conjunto de reações à estímulos, que podem ser
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medidas, previstas e controladas”. Esse comportamento é desvinculado da situação na qual ele
é criado e se manifesta, reduzindo o sujeito a um mero executor de padrões de movimento.
Para Foucault (1987), o poder está em todas as instâncias da sociedade e se produz a
cada instante. Atingindo, assim, vários níveis elementares do ser humano: seu corpo, seus
gestos, comportamentos, atitudes, hábitos, seus desejos e seus discursos. Desse modo, cada
indivíduo interioriza essa constante vigilância e passa a vigiar a si próprio.
Chauí (1990), por sua vez, comenta que a sociedade procura convencer cada
indivíduo de que estará fadado à exclusão social, se cada experiência sua não acompanhar a
cultura pré-estabelecida. Transforma-se a cultura em um guia prático, para viver
corretamente. Orienta-se quanto à alimentação, a sexualidade, o trabalho, o gosto, o lazer,
constituindo-se poderoso elemento de intimidação social. Complementa que, os aspectos da
corporeidade recaem nesse discurso: o que uma sociedade diz e silencia sobre o corpo, não se
sabe qual é a moralidade dessa fala e desse silêncio.
A indústria cultural através dos meios de comunicação modela o imaginário, cria
atitudes, ideais, personagens, impondo-se nas relações entre os indivíduos. O mito da beleza
não admite feiúra, obesidade ou velhice, vende-se um modelo estético que as exclui
socialmente.
Helman (1994) chama a atenção para o fato de que em algumas regiões da África
Ocidental, pais abastados enviavam suas filhas para “clínicas de engorde”, onde passavam a
ser alimentadas com dieta rica em gordura e ficavam privadas de fazer exercícios físicos para
ficarem “rechonchudas” e pálidas. Desse modo, eram aceitas socialmente, pois culturalmente
essas características lhes instituiam sinais de riqueza e fertilidade.
Rodrigues (1986), também, discorre sobre essa prática, comentando que moças, na
época de sua puberdade, utilizavam diversas técnicas capazes de favorecer a obesidade,
prática cultural que representava a beleza à sua época.
Helman (1994) argumenta, ainda, que ao mesmo tempo em que a sociedade elege
determinados padrões estéticos, também cria diferentes maneiras de se enquadrar nesses
padrões. Às vezes, recorrendo a práticas invasivas como as cirurgias, entre elas, as cirurgias
plásticas, ou a colocação de bambus e argolas introduzidos na cavidade nasal, ou
simplesmente recorrendo a pinturas no corpo. Assim, o corpo torna-se objeto de exposição,
que necessita tornar-se estético, conformes padrões culturais, para nos representar, da melhor
maneira possível, aos olhos dos outros.
As desordens alimentares foram características da cultura dos anos 80, do séc. XX
para as quais as mulheres foram particularmente vulneráveis. Essas desordens tiveram um
40
significado simbólico para o gênero feminino, que possui o corpo profundamente marcado por
uma construção ideológica de feminidade, típica de cada momento cultural. Essas
interpretações são, por isso, mais complexas e não envolvem apenas um ideal vago sobre
moda. Envolve gênero, dimensões econômicas e psicossociais, histórias éticas e de classe.
Powdermarker (1997) afirma que o desejo contemporâneo de modificar os corpos e
de cultuá-los, assim como à juventude, aparece mais fortemente entre as mulheres do que
entre os homens. Assim, tem crescido progressivamente a incidência das desordens
alimentares, a crescente insatisfação e a ansiedade entre as meninas e as mulheres em relação
à sua aparência e os regimes compulsivos de aperfeiçoamento corporal. Esse assunto tem
atingido maior destaque, após a mídia veicular casos de óbitos em modelos, ainda meninas,
em face à anorexia.
Deve ser registrado que, mesmo após a revolução feminina e a independência
econômica, que as mulheres vêem alcançando, após entrarem no mercado de trabalho, nossa
cultura continua a apregoar que elas devem aprender a alimentar outras pessoas antes de
alimentar a si próprias. Qualquer desejo de auto-alimentação e cuidado consigo mesma é visto
como um comportamento egoísta.
Por outro lado, ao conquistar o mercado de trabalho, ocupando postos de trabalho
masculino, ensina-se às mulheres que necessitam também adotar comportamentos masculinos,
exigindo jornadas de trabalho dobradas; assumam a responsabilidade econômica pela família;
o cuidado com os filhos e, ainda, que sejam sexualmente atuantes e disponíveis. Exige- se que
aprendam a incorporar linguagem e valores masculinos, como: o autocontrole, a
determinação, a calma, a disciplina e o domínio das situações
De acordo com Bordo (1997), o controle feminino do apetite é apenas uma expressão
mais concreta das normas que regem a construção do feminismo. Complementa afirmando
que a fome feminina é retratada como algo que precisa ser controlada, pois, o comer feminino
é visto como algo vergonhoso e ilícito, uma vez que foge as normas contemporâneas do
modelo de esbeltez. O comer feminino deve ser ensinado, controlado, assim como as demais
virtudes tradicionais e passadas desde tenra infância; a mulher da casa cabe cuidar dos
afazeres domésticos, cuidar dos irmãos e dos pais.
Nesse sentido, essas normas acabam por impor ideais e diretrizes altamente
contraditórias, criando impasses difíceis de serem resolvidos e os corpos femininos acabam
falando desses conflitos, através da configuração corpórea enxuta, do uso de roupas mais
próximas da masculinidade, atualmente também em moda.
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Saborosos alimentos, por sua vez, muitas vezes na forma de um minúsculo pedaço de
chocolate, vêm a ser generosa recompensa por um dia de cuidado dedicado aos outros. No
entanto, deve ser contido e limitado como convém socialmente às mulheres, pois quando
adotamos a ginástica diária, resistimos às nossas fomes e aos nossos desejos de gratificar a
nós mesmos, estamos tentando, mais uma vez, copiar as virtudes masculinas de controle e
autodomínio. Por outro lado, quando comemos demais, estamos reforçando o que nos foi
ensinado sobre feminilidade estar associada a falta de controle emocional e autodomínio.
Assim, pessoas obesas continuam sofrendo o estigma de que são fracas emocionalmente e não
possuem autodomínio.
De acordo com Smith-Rosenberg apud BORDO (1997), as desordens dos corpos
femininos passam a representar, através de uma patologia, um protesto, muitas vezes
inconscientes, sem recorrer à linguagem, à voz, ou à política, mas, sim, pela linguagem do
corpo, exprimindo aquilo que as condições sociais tornam impossível dizer linguisticamente.
As patologias corporais tornam-se um caminho, através do qual podem expressar a
insatisfação de um ou de vários aspectos de suas vidas.
Nesse contexto, muitas mulheres tornam-se envergonhadas de seu apetite e das suas
necessidades, passando a exigir de si mesmas um trabalho constante de transformação do seu
corpo, como modo de acusação a uma cultura que despreza e reprime a fome feminina.
Paradoxalmente, em vez de transformar as condições culturais que as oprimem, acabam
reproduzindo, justamente, aquilo que desencadeia seu protesto, sendo manipuladas para
manter a ordem estabelecida.
Romero (1995), reiterando o discurso de Bordo (1997), afirma que no Brasil começa
a surgir uma explosão de discursos e propagandas que procuram induzir as pessoas a
determinadas práticas corporais e a certos comportamentos em relação a seus corpos, que se
possa compreender o que está por trás da busca de um corpo saudável e bonito, trabalhando
para desmistificar certos modelos produzidos pela sociedade. Deixa claro que o corpo não
pode ser visto, como faz a lógica capitalista, como um simples objeto de produção e consumo,
uma máquina que pode ser reparada.
Almeida (2005) denomina o século XXI a era da lipofobia, uma aversão cultural ao
excesso de gordura ou, ainda, o medo de se afastar do ideal do corpo magro, que afeta tanto os
homens quanto as mulheres, levando-os a tendência crescente ao uso de medicações e
intervenções desenfreadas do corpo. Nem mesmo as pessoas obesas mórbidas, que já
ultrapassaram e muito o peso considerada normal, escapam dessa rígida necessidade de auto-
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controle, pois, mesmo gordas, têm que controlar o aparecimento do excesso de gorduras
localizadas, celulites, flacidez e estrias.
Nesse sentido, Villaça; Góes (1998) afirmam que o corpo apresenta-se como um
importante produtor de identidades, pois é o primeiro a se impor em um contexto de interação
social quando as organizações das identidades e das nações perdem, seu poder aglutinador.
Com o fenômeno da globalização, o corpo e suas expressões passaram a determinar uma nova
identidade social. Afirmam, ainda, que os atuais movimentos de identificação e de
representação dão-se paradoxalmente por meio da transmutação do corpo, através das
cirurgias e outras práticas estéticas. Todo esse processo propiciou o aparecimento de novos
atributos que podem produzir identidade, como, por exemplo, corpo e sexualidade.
Desse modo, o conceito de identidade, segundo Cuche (1999), é o conjunto de suas
vinculações em um sistema social, ou seja, a uma classe de gênero, a uma classe de idade, a
uma classe social ou a uma nação. Afirma que essa identidade não diz respeito unicamente ao
indivíduo; todo grupo também é dotado de uma identidade, que significa ao mesmo tempo
inclusão e exclusão.
De acordo com a concepção de Hall (2001), na atualidade, estamos vivendo a
emergência de um sujeito pós-moderno, onde a identidade unificada e estável está se tornando
fragmentada e descentrada. O sujeito é composto não de uma única, mas de várias
identidades, algumas vezes contraditórias ou não resolvidas. Ele informa que as identidades
são pontos de apegos temporários às posições dos sujeitos, que as práticas discursivas
constroem para nós.
Essa linha de pensamento faz-nos pensar, que na medida em que os sistemas e
representação cultural multiplicam-se, somos confrontados com uma grande variedade de
identidades, com as quais podemos nos identificar e sermos identificados socialmente, mas
que, por sua vez, acabam abalando até a idéia que nós fazemos de nós mesmos, como
indivíduos integrados. Mesmo assim, em todo o contexto social de interação estamos nos
posicionando e sendo posicionados na sociedade, de modo a constituir nossas identidades.
Tal concepção compreende a obesidade severa como um processo que envolve
identificação e categorização no âmbito da sociedade e, portanto se faz necessário
compreendê-la em um contexto muito mais amplo do que simplesmente a realização da
cirurgia para redução do estomago. Conforme afirmam Berger; Luckmann (1978) a realidade
da vida cotidiana é partilhada por todos os indivíduos e não podemos existir sem estar
continuadamente em interação e comunicação com o outro.
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O outro, de acordo com Placer (1998), constitui-se em sua alteridade, em sua
diferença e, dessa forma, em sua identidade, não por algo de sua intrínseca natureza, mas com
um efeito dos tratos que lhe propiciamos, que envolve a forma de fazer, de ver e de dizer,
permitindo-nos construir e implantar, na realidade da vida cotidiana, figuras sociais tão
variadas.
Somos nós quem construímos as imagens para classificar, para excluir e enquadrar o
outro em nossas instituições, portanto somos nós, também, responsáveis nesse processo.
2.4.2 A imagem corporal
A fim de melhor entendermos a relação imagem corporal e obesidade, achamos
necessário discutir alguns termos. A primeira discussão diz respeito dos conceitos de esquema
corporal e imagem corporal. Esses conceitos nem sempre estão claramente definidos, pois,
misturam-se, complementam-se e, com alguma freqüência, substituem um ao outro.
Ao estudarmos a imagem corporal, observamos que alguns autores utilizam os
termos esquema corporal e imagem corporal como sendo sinônimos, e outros que os remetem
a significados diferentes.
Há uma tendência do uso do termo esquema corporal, em Neurologia, enquanto a
Psicologia e a Psiquiatria demonstram preferir o emprego do termo imagem corporal.
Neste estudo, consideramos que o termo imagem corporal é o mais adequado ao que
nos propusemos, em face da sua abrangência, além de enfocar a percepção que o indivíduo
tem de seu corpo e das relações que ele mantém com o ambiente.
Consideramos, também, que o ser humano não se conceitua como um ser puramente
biológico, somos resultado da integração do biológico, espiritual, físico, psíquico, emocional,
social e também cultural. Na sua subjetividade, a pessoa possuí conceitos e valores inatos e
adquiridos e, principalmente, possibilidades de comportamento desconhecidas e, portanto
muito além de qualquer definição limitante.
Como afirma Morais (1992), o corpo humano é um corpo-mistério, sempre a um
passo além daquilo que possamos inferir a seu respeito, a um passo além de todo discurso
explicativo.
Freitas (2004, p. 22) comenta que a escola vienense de neurologia trouxe muitas
contribuições para a conceituação de imagem resumindo que para essa escola, “a imagem do
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corpo compreende as sensações internas e externas da vivência do sujeito, mas, também, as
significações que tal vivência implica”. Complementa informando que a maior contribuição
nesse campo, foi dada por Schilder.
Gorman (1965, p. 52) seguindo essa mesma linha de conceito, registra que “toda
imagem torna-se resultado dinâmico da percepção, associada à concepção e essa integração
percepto-conceito está presente na imagem corporal”.
O Novo Dicionário Aurélio dá à palavra esquema os seguintes significados: Figura
que representa não a forma dos objetos, mas as suas relações e funções; Sinopse, resumo,
esboço; Plano, programa.
O termo Esquema, remete-nos a algo rígido, restringindo a vivência do ser humano a
um planejamento prévio.
Rodrigues (1987, p.3) difere esses dois termos, como sendo:
o esquema corporal é, normalmente conotado como uma estrutura
neuromotora que permite ao indivíduo estar consciente do seu corpo
anatômico, ajustando-o rapidamente às solicitações de situações novas, e
desenvolvendo acções de forma adequada, num quadro de referência
espacio-temporal dominado pela orientação direita-esquerda; A imagem
corporal relaciona-se com a consciência que o indivíduo tem do seu corpo
em termos de julgamentos de valor ao nível afetivo.
Utilizamos o mesmo dicionário, para a conceituação de imagem o qual revela alguns
significados: representação dinâmica, cinematográfica ou televisionada, de pessoa, animal,
objeto, cena, entre outros; Representação exata ou analógica de um ser, de uma coisa; cópia;
Aquilo que evoca uma determinada coisa, por ter com ela semelhança ou relação simbólica;
símbolo; Representação mental de um objeto, de uma impressão,entre outros; lembrança,
recordação; produto da imaginação, consciente ou inconsciente; e manifestação sensível do
abstrato ou do invisível.
No campo da Psicologia, muito foi produzido a respeito de imagem corporal, desde
Freud e Jung. Segundo Jung (1987, p.514) “A imagem será a expressão da situação
momentânea, tanto consciente quanto inconsciente. Não se pode, portanto, tentar a sua
interpretação partindo-se unicamente da consciência, mas baseando-se, outrossim, em suas
relações mútuas”.
Neumann (1990) informa que a união original com o corpo, como propriedade, é a
base do desenvolvimento individual. Isso explica a identificação do homem primitivo com seu
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corpo e com todas as suas partes. Porém, mais adiante com o desenvolvimento, o ego também
começou a se relacionar com o corpo e com o inconsciente, podendo se identificar com o
processo ou não. Quando esse processo de identificação não se faz, ao contrário processa-se
de maneira diferente do que se tem na cabeça, na consciência, o ego entra em conflito com o
corpo, podendo levar a uma dissolução parcial. Mesmo assim, corpo e mente andam juntos,
implicando um no outro, através da somatização do que se passa na mente, expressam-se no
corpo ou da psiquização do corpo, conflitando-se mentalmente, devido a uma insatisfação
com o corpo e com ego, por exemplo.
O autor complementa, afirmando que todo ser humano tem uma representação do
próprio corpo, que o identifica, o situa no tempo e no espaço e fornece a auto-imagem, e a
postura que, por sua vez, envolvem o psiquismo. O psiquismo perpassa o corpo físico do ser
humano e através da autoconsciência, realizando um processo de comunicação por sinais que
partem do corpo. Esses sinais são uma forma de comunicação que exprime uma linguagem
falada.
A imagem corporal, portanto, é formada a partir de sinais corporais emitidos e
recebidos, imitados e reinventados para exprimir as necessidades biológicas fundamentais a
partir do relacionamento com o mundo e com outros indivíduos.
Sendo assim, essa imagem é formada a partir da sensibilidade do eu, que emerge do
relacionamento com outros indivíduos, das percepções e representações sociais. Cada
indivíduo forma, aos poucos, uma imagem do próprio corpo, juntando à ela conotações
emocionais de narcisismo ou de repulsa, compartilhando a imagem cultural que o meio social
transmite a respeito da realidade dos corpos.
Winnicott (1988) menciona que nossas percepções são influenciadas pelas imagens
subjetivas de nosso corpo cultural. Nós utilizamos o corpo como um ponto central de
referência para a construção da nossa própria identidade, por meio dos sinais recebido de
outros sujeitos. Através do outro formamos uma idéia das semelhanças que nos unem aos
outros, e das diferenças, que fazem de cada um de nós, um indivíduo único.
Essas diferenças também influenciam em como as pessoas se auto concebem, qual a
imagem que fazem do próprio corpo, a valorização que fornecemos a ele e a história que
fizemos do próprio corpo. Algumas pessoas identificam-se mais com o espírito, como agente
pensante. Nesses casos, a relação com o corpo não é igual a de todo mundo, essas pessoas,
muitas vezes, preservam o uso da sexualidade como forma de evolução espiritual, de estar
mais próximo de Deus, conforme suas crenças religiosas.
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Dada a relação do corpo com conceitos, valores morais, histórias vividas, outras
pessoas podem valorizar aspectos diferentes de si mesmas, em detrimento de outro, dando
relevo ao que mais serve a elas, ora o corpo, ora o intelecto, ora a sensibilidade. Embora essas
realidades comuniquem-se entre si, mantendo estreita interdependência.
No contexto da psicologia genética, a imagem individual e social do corpo são,
parcialmente, culturais e depende da história individual e de seu contexto restrito ou mais
amplo. Além disso, o corpo é repleto de mecanismos biológicos, que mantém variadas
relações com a mente, tomando consciência, a partir, daí do relacionamento com o espírito
que o anima e o individualiza.
A representação do corpo, por sua vez, evolui com a idade e muda de acordo com as
perturbações mentais, podendo ser desafiadas, também, por acidentes ou por cirurgias, que
modificam o corpo, como exemplo as cirurgias bariátricas e as cirurgias plásticas. Sobre isso,
Schilder (1991, p. 32) afirma que: “o esquema corporal específica o indivíduo segundo sua
natureza humana que é a mesma para todos. Esse esquema corporal pode ser alterado de duas
maneiras: ora por defeitos físicos, lesões, amputações, doenças orgânicas; ora por inibição
operada através de imagens patogênicas de próprio corpo” (SCHILDER, 1991, p. 32).
Luckman apud REIS (1987, p.11) refere que “toda pessoa tem uma representação
mental de seu corpo, a qual chama de “imagem do corpo”. Essa imagem constitui-se parte
integrante de uma concepção individual da própria personalidade, e do seu valor como
indivíduo nas relações com outras pessoas”.
Tratando desse mesmo assunto também Wassner apud REIS (1987), conceitua a
imagem corporal, como sendo a raiz da identidade, da auto – estima e do autovalor, ou seja, as
bases através das quais os homens vivem.
Ainda, Dolto apud LEPARGNEUR (1994) refere que a imagem corporal é a
encarnação simbólica do sujeito e do desejo, sendo suporte do narcisismo e eminentemente
inconsciente.
Nesse sentido, a imagem do corpo resume as vivências emocionais da pessoa. Desse
modo, entramos em contato com o mundo e com os outros, mediante nossa imagem corporal,
de maneira inconsciente. Essa imagem situa o indivíduo como alguém, que busca a satisfação
de um desejo, de uma necessidade humana. Sua formação não costuma ser um processo
simples e pacífico, envolve experiências e recordações do seu passado guardado na memória;
o momento presente e a linguagem, com a qual nos comunicamos com o outro e o futuro,
através dos nossos projetos.
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Para Shilder (1994), que também designa a imagem corporal como esquema corporal
e modelo postural do corpo, é uma construção, que se assenta nos sentidos, especialmente os
visuais e, também táteis e cinestésicos. Considera que a imagem corporal, longe de ser algo
pronto e definitivo, altera-se constantemente e permanece estável apenas o suficiente para
volta a se modificar.
Esse autor amplia o conceito de imagem corporal como sendo: O esquema a priori, a
concha vazia da vida, a simbolização das condições gerais da vida alcança seu significado
completo e final quando a vida não é uma conotação fisiológica geral, mas sim um processo
real de experiências e situações vitais variadas. (SCHILDER, 1994, p.263)
Desse modo, a imagem corporal parece sintetizar o corpo humano, não apenas como
algo apreciado pela razão, ou como um conjunto de estímulos e respostas físicas, mas,
também, como um corpo complexo, imerso nas vivências afetivas, nos juízos de valores,
eternamente reconstruídos a partir das relações com o outro, e com a sociedade na qual se
insere.
A imagem corporal é, ainda, a interiorização personalizada que o indivíduo faz de si
mesmo por sua história, seu itinerário original, suas experiências. Sintetizando, pelas
vivências emocionais de cada sujeito. Essa imagem é geralmente inconsciente e simboliza o
sujeito do desejo.
A humanização da imagem do corpo, por sua vez, se faz por meio do clima afetivo
da primeira fase da vida e da educação, respeitando a realidade. A realidade que a psicologia
afirma, são três: o organismo individual, o psiquismo, que envolve consciência e mecanismos
inconscientes e o meio social que interfere em ambos.
Ainda, segundo Fischer (1978), a imagem do corpo é, pois, uma reconstrução
constante daquilo que o indivíduo percebe de si e das determinações inconscientes trazidas do
seu diálogo com o mundo. Refere, também, que o corpo do indivíduo é tão importante e serve
como base sensorial para definir a identidade da pessoa, além de prover padrões com os quais
se pode julgar as experiências vividas. A imagem corporal comporta o grau de satisfação e/ou
o grau de insatisfação do indivíduo com referência ao seu próprio corpo.
Para Vieira (1976), a imagem corporal é o ponto essencial de referência para o
indivíduo. Esse marco de referência influência as diversas maneiras como as pessoas
percebem a si próprias, e essa percepção é fator preponderante na sua capacidade de criar e de
atuar efetivamente.
De um modo geral, os estudos sobre imagem corporal apontam para prejuízos
relacionados à insatisfação, depreciação, distorção e preocupação com a auto-imagem, todos
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eles afirmando que tais aspectos são fortemente influenciados por fatores sócio-culturais
(CASH, 1993; DEMAREST; LANGER, 1996 E GITTELSON ; COLS, 1996).
A auto-estima é um fator de grande importância para o sucesso pessoal e das
organizações. A capacidade de construir, produzir está intimamente ligada ao conceito que a
pessoa tem de si mesma. Quando este conceito está abalado, por uma auto-imagem negativa,
dificilmente o indivíduo terá confiança suficiente para produzir algo.
Sendo assim, com vistas a imagem do corpo, um dos aspectos do cuidado à pessoa
obesa a ser submetida à cirurgia bariátrica e que mais tem nos preocupado, é aquele referente
ao seu preparo psicológico. Essa cirurgia, tecnicamente, não é considerada simples, sendo
necessários técnica essencial e conhecimentos. Muito se tem discutido e treinado a esse
respeito. Além disso, o cuidado com essas pessoas, do ponto de vista técnico, é semelhante
àquele necessário às grandes cirurgias.
No entanto, ao cuidarmos de uma pessoa que será submetida a uma cirurgia,
observamos que é difícil deixar de perceber demonstrações de influências psico-emocionais.
Ao cuidarmos do aspecto psicológico, há uma grande lacuna para o enfermeiro, que pouca
formação tem a esse respeito, e, nós cuidamos dessas pessoas durante todo o período, desde a
internação até o pós – operatório e a alta.
O psicólogo costuma avaliar a pessoa que vai submeter-se a essa cirurgia antes dela e
ambulatorialmente. Porém, essa não é uma realidade, ainda, em nossas instituições
hospitalares, a presença desse profissional, tão importante. Além disso, quando estão
presentes na equipe interdisciplinar, ficam limitados ao atendimento daqueles que possuem
convênios de saúde, e de acordo com a sua autorização ou ainda àqueles que têm condições de
assumir uma consulta particular.
Assim, o desenvolvimento de habilidade, ou sensibilidade pela enfermeira é
essencial para se prestar esse cuidado. A equipe de enfermagem além de passar mais tempo
com essas pessoas é, geralmente, capaz de descobrir em primeiro lugar sinais de preocupação
e ansiedade, demonstrados pela pessoa a partir do tipo de relação desenvolvida. A onipotência
e o poder, culturalmente atribuídos à equipe médica, costumam inibir manifestações
espontâneas de sentimentos pelos pacientes. Tímidos, perante o médico, costumam utilizar a
equipe de enfermagem para expressar seus sentimentos, medos e insatisfações, relativas ao
processo.
Nesse contexto, as necessidades das pessoas frente a essa cirurgia são sentidas e
expressas diferentemente, e suas reações dependem de experiências prévias, valores culturais,
formação, personalidade e filosofia de vida. Assim sendo, Koizumi (1975) refere que a
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manifestação das necessidades apresentadas pelo paciente, diante de algumas mudanças,
poderá atingir tanto o nível psicológico, como o psicossocial e o espiritual, ou mesmo os três
níveis em maior ou menor grau. Qualquer que seja a cirurgia proposta ou necessária, de curta
ou longa duração, estética ou corretiva sempre representará uma fonte potencial de estresse.
Fischer (1978), tratando desse assunto, comenta que, a maioria dos estudos
realizados, sobre o impacto que a cirurgia causa na pessoa, preocupa-se em analisar a
ansiedade, os sonhos e a fantasia dos pacientes operados. Muitas vezes, falsos conceitos sobre
o procedimento despertam excessivo receio. A cirurgia, também, pode levar a uma crise na
identificação da imagem corporal, caso desencadeie qualquer alteração nela, mesmo que
transitória.
Segundo Schilder (1972) a cirurgia provoca mudanças no indivíduo, que poderá
ocasionar, entre outras, alterações da sua imagem corporal, ou seja, das representações que o
indivíduo tem do seu próprio corpo como elemento ativo do meio. O distúrbio da imagem
corporal pode produzir ansiedade, medo de rejeição, além de sentimentos de inferioridade,
perante o outro.
Essa situação de crise, segundo Vieira (1976), pode ser uma expressão de ameaça
que o indivíduo sente à sua estrutura física – psíquica, decorrente da cirurgia e dos meios que
a envolvem. Daí, a necessidade de incluir no preparo pré – operatório, aspectos referente à
imagem corporal desses pacientes.
Mesmo assim, geralmente não se verifica na assistência de enfermagem uma atenção
específica no que diz respeito a imagem corporal diante de cirurgias. Essa preocupação tem
sido mais freqüente em relação àquelas pessoas submetidas à cirurgia bariátrica, talvez em
função da rápida modificação física que, geralmente, provoca.
Nesse contexto, a contribuição da enfermeira ao se comunicar e ao saber ouvir é de
grande valor. Ela deve utilizar tanto a comunicação verbal quanto a não verbal,
proporcionando meios que estimulem a confiança, fazendo a pessoa falar sobre suas angústias
dúvidas e medos. Por último, buscar meios internos e externos para ajudá-las a lidar com suas
reações emocionais.
Stone apud REIS (1987) complementa que o enfermeiro deve ter em mente as
diferentes reações que o paciente pode apresentar resultantes de uma imagem corporal
alterada, reconhecendo, que dois pacientes não reagem exatamente da mesma forma. As
pessoas devem ser tratadas em sua singularidade, como um indivíduo único, com temores e
reações próprias.
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2.5 O CUIDAR DE ENFERMAGEM AS PESSOAS OBESAS
2.5.1 O sentido do cuidar e a enfermagem
O cuidar sempre foi e sempre será indispensável uma vez que é inerente à
sobrevivência de todo ser vivo, além de necessário para garantir a perenidade de qualquer
grupo social. Nesse sentido, durante muito tempo o cuidar não pertencia a um ofício nem a
uma profissão; dizia respeito a qualquer pessoa que ajudasse a qualquer outra a fim de
garantir o que lhe era necessário para a sua sobrevivência. Essa atividade costumava ser
realizada por mulheres, que acabaram se tornando grandes detentoras de conhecimento do
corpo, da agricultura, da terra e das plantas curativas, o que serviu de base para o que viria a
ser, posteriormente, os cuidados de enfermagem.
O valor econômico dos cuidados costumava estar associado à economia de
subsistência, paralelo a um sistema de trocas de serviços e de reciprocidade. Como essas
atividades eram executadas por mulheres, passou a ser consideradas inatas, e patrimônio
genético delas, que cuidavam por associação do amor maternal, não podendo, portanto, serem
remuneradas. Dessa época em diante, a concepção de cuidar vem sofrendo modificações
estando de acordo com o momento histórico, socioeconômico e cultural, além de sofrer
influências da evolução tecnológica, a qual ocorre dinâmica e velozmente.
Tronto (1995) assegura que cuidar implica em algum tipo de responsabilidade e
compromissos contínuos. O significado original da palavra cuidado em inglês: care significa,
carga. Cuidar é assumir uma carga. A autora coloca que quando uma pessoa, ou um grupo
cuida de alguma coisa ou de alguém, presume-se que estão dispostos a trabalhar, a se
sacrificar, a mostrar envolvimento emocional e a despender energia em relação ao objeto de
cuidado.Continua conceituando o cuidar como um envolvimento, uma resposta às
necessidades individuais, particulares, concretas, físicas, espirituais, intelectuais, psíquicas e
emocionais dos outros.
A figura da enfermeira como auxiliar do médico, surgiu a partir do final do século
XIX, sendo marcada por fatos históricos, tais como: a dessacralização do poder político e a
separação da igreja do Estado, além do domínio da Física, da Química e da Biologia, que
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ampliou os conhecimentos da medicina, favorecendo ao desenvolvimento de tecnologias cada
vez mais complexas, destinadas a diagnosticar e tratar doenças.
Dessa maneira, a concepção do cuidado, a partir desses aspectos, foi modificada e a
enfermeira passou a desenvolver ações profissionais de caráter técnico e, cada vez mais
centradas na doença, sem consciência crítica, afastando-se do verdadeiro sentido do cuidar,
voltando-se para uma assistência curativa, baseada nos moldes bio médicos. Desse modo, a
ilusão de valorizarem-se a partir da imagem de assistente do médico, as enfermeiras
encontrariam na tecnicidade, o que aumentou particular a partir da revolução industrial, a
compensação e a suposta valorização profissional.
No entanto, esse modelo através da tecnologia de precisão, reforçou a separação do
corpo do espírito, dividindo-o em regiões e concentrando o objeto da medicina apenas
naquele corpo portador de doença, cuja mecânica necessitava de ser consertada.
Nesse sentido, a prática da enfermagem copiou, também, esse modelo e a doença
passou a dar sentido às suas ações, os quais se tornaram rotineiras, robotizadas e
desintegradas do contexto de vida da pessoa que recebia o cuidado e da compreensão do que
essa pessoa possuía uma vida própria, uma história particular e exercia diferentes papéis
sociais. Assim, as ações destituídas de sentimentos, de inter-relação do cuidador e daquele
que era cuidado, tornaram-se impostas e sem co-participação.
Com a contribuição das ciências humanas e da psicanálise, originaram-se novas
concepções terapêuticas, baseadas no conhecimento e desenvolvimento das pessoas. Nessas
concepções, o cuidar já não significava apenas manter a saúde e curar as doenças, ampliando
a visão dos cuidadores, que passaram a questionar, também, sua prática e a sua contribuição
social e econômica.
Nesse contexto, a pessoa cuidada passou a ser a própria razão das ações da
enfermagem, utilizando-se de outras bases, além daquelas de compaixão e de tecnicidade,
aprimorando principalmente o conteúdo da relação.
Segundo Waldow (2001, p. 107), o assistir e/ou a assistência não necessariamente
inclui o cuidado. Ao se prestar assistência pode-se não estar cuidando no seu sentido pleno, o
que envolve responsabilidade, interesse e desvelo.
Boff (1999, p. 33) refere que: “o cuidar é mais que um ato; é uma atitude. Representa
uma atitude de ocupação, de preocupação, de responsabilização e envolvimento afetivo com o
outro”.
Ressaltamos que, para o exercício ético da profissão, é fundamental não se perder de
vista o que é o cuidar, pois a enfermagem, assim como outras profissões, sofre influência do
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meio que a cerca, tanto nos aspectos sociais, quanto econômicos, políticos e éticos. Sendo
uma profissão responsável pelo cuidado, não se pode deixar de pensar sobre o que é
importante quando cuidamos, e estarmos sempre vigilantes para manter a nossa proposta de
ser enfermeira cuidadora.
Assim, a enfermeira para exercer sua profissão com dignidade e ética, necessita estar
atualizada e flexível às novas situações e paradigmas. A busca pela atualização e pelo preparo
diferenciado é, também, um modo de se inserir em um mercado de trabalho, cada vez mais
complexo e competitivo.
Nesse sentido, ao cuidarmos de pessoas portadoras de obesidade, precisamos
entender que ela pode ser uma forma de expressão de conflitos profundos, manifestados
através do corpo. Para cuidá-las, portanto, é necessário um acompanhamento terapêutico,
baseado em uma visão de integração, propiciando a busca de questões mais profundas.
De acordo com Silva (1998, p. 131), em seu livro Marcas da Diversidade “é
importante descobrir o ser humano que existe no corpo, um corpo que se relaciona, que cria,
que se expressa, que sofre repressões, que vibra, que se movimenta”. Complementa referindo
que sentir o próprio corpo, nos dá conta dos nossos próprios sentimentos em relação a ele,
com certeza, modifica nossa relação conosco e, consequentemente, com os nossos pacientes.
Em suas reflexões sobre o fator corpo a autora levanta questionamentos importantíssimos para
o exercício da enfermagem, principalmente com as pessoas com desordens alimentares. Como
é que podemos cuidar sem encontrar em nós mesmos o próprio sentido do corpo sexuado, da
interpretação corpo, afeto, pensamento? Não basta apenas exibir um novo discurso sobre o
corpo, enquanto não estivermos atentas ao nosso próprio corpo. Não podemos pretender
auxiliar na correção de falhas fisiológicas e posturas, sem buscar um posicionamento frente à
realidade, nem harmonizar os corpos sem aproximá-los das suas necessidades verdadeiras.
Assim, perceber o corpo, nosso e do outro, no caso o paciente, é o primeiro passo
para prestarmos cuidados de enfermagem, pois a ação do cuidado baseia-se na mobilização de
forças vivas da pessoa e dos que a cercam. Não podemos reduzir o cuidado à aplicação de
normas e modelos culturais pré-estabelecidos, precisamos ser criativas, usar a imaginação e o
autoconhecimento a fim de adaptar-nos às necessidades de quem recebe os cuidados.
Perceber o corpo aqui adquire um significado mais profundo do que simplesmente observar
suas características físicas, ou alterações patológicas; significa tomar consciência do corpo,
perceber que ele existe, o que exige e, também, tomar consciência dos seus desejos e temores.
Como enfermeiros, precisamos nos preparar para exercer essa forma de ajuda, encontrando o
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modo de cuidar, em nós mesmos, nas pessoas e através de variados conhecimentos técnicos e
subjetivos.
O trabalho de Watson apud WALDOW (2001) buscou, através da sua teoria para o
Cuidado Humano, maior profundidade nas relações entre o enfermeiro e o paciente. Nessa
teoria, a enfermeira está engajada como co-participante nas relações de cuidado, propiciando
ao paciente à possibilidade de obter um grau mais elevado de harmonia entre mente-corpo-
alma, gerando autoconhecimento, auto-respeito, autocura e processos de autocuidado.
Reiteramos que, a enfermagem é uma profissão voltada para o cuidar, baseada no
conhecimento das pessoas como seres integrados, tendo como objetivos auxiliar o indivíduo
a promover qualidade de vida, e a atingir o melhor estado de saúde possível. No entanto, para
que isso ocorra é necessária à participação ativa desses indivíduos no processo de
cuidar/cuidado, pois hoje não se concebe mais esse processo sem a participação efetiva dos
sujeitos.
Acreditamos, também, que o cuidar requer conhecimento do outro e para isso, é
necessário entender suas necessidades e responder a elas de forma adequada. Para que o
cuidado ocorra em sua plenitude é necessário considerar o outro como um ser único em sua
plenitude bio-psico-social-espiritual, expressando conhecimento e experiência na execução
das atividades técnicas, prestação de informações e na educação ao paciente e família.
Nesse sentido, para o sucesso de qualquer tratamento, o ser cuidado precisa deixar de
lado o papel passivo, passando a ser responsável, também, pelo próprio cuidado, envolvendo-
se em situações de educação para a saúde, de modo a promover, manter ou recuperar sua
dignidade e totalidade humana, construindo junto com a equipe de saúde, um processo de
transformação de ambos, pelo autoconhecimento tanto dos cuidadores quanto do ser cuidado.
No que se refere à cirurgia bariátrica a participação das pessoas nesse processo é
essencial para o seu sucesso, pois ela exige mudanças de comportamento, de reeducação
alimentar, e de um acompanhamento responsável, envolvendo os diferentes profissionais de
saúde, a exemplo da nutricionista, endocrinologista e, muitas vezes, psiquiatras.
Nesse tratamento, a sonhada perda de peso costuma vir acompanhada de
modificações na vida da pessoa operada, que, dificilmente, conseguirá administrá-las sozinha,
um a vez que a realização do procedimento não determina o fim da necessidade de cuidados,
ao contrário, passa a exigi-los ainda mais.
A obesidade também compromete a relação com o outro: debilita, humilha e isola. A
relação com a família altera-se. Assim, reiteramos que a compreensão dos fatos relacionados
ao paciente é essencial para o processo de cuidar.
54
Nesse sentido, deve ser destacada a importância de buscarmos conhecimentos para
melhor cuidar, assistindo o outro em toda sua singularidade e peculiaridade, tornando
essencial para os profissionais de saúde a compreensão das dificuldades e das experiências
vividas por seus pacientes, para assisti-lo bem.
Desde Nightingale (1954), a enfermagem profissional vem buscando a sedimentação
do seu conhecimento, considerando a pessoa como o centro do seu saber. Nas últimas
décadas, no entanto, o trinômio: pessoa, ambiente e saúde vêm permeando os estudos e a
prática profissional.
Registramos que, em meados da década de 60 e 70, do século passado, iniciou-se a
fase do desenvolvimento da enfermagem como profissão, destacando-se as publicações e dos
estudos empreendidos, e o aparecimento de correntes filosóficas e teóricas do cuidar,
conduzindo, com algum esforço, ao seu crescimento e o aprimoramento.
Assim, diferentes teoristas vêm fazendo revisões das definições conceituais de
cuidados e cuidar em enfermagem, contribuindo para a construção de um corpo da
enfermagem.
Wiedenbach (1964) fornece uma conotação altruísta para a enfermagem, defendendo
que ela é uma atividade que exige habilidades e virtudes por parte de quem a exerce como:
compaixão, compreensão e confiança, defende que a enfermagem oferece cuidado, auxílio e
carinho.
Paterson e Zderad (1976) ressaltam em sua teoria o cuidado e a relação da enfermeira
com a pessoa a ser cuidada, tanto nas situações de doença quanto nas situações de bem-estar.
Coloca o cuidado na enfermagem como o encontro único entre dois seres humanos, que se dá
a partir das trocas de conhecimentos e informações. A análise desse processo proporciona o
estímulo para melhoria da saúde e alcance do bem-estar perdidos.
Leninger (1978) definiu a teoria transcultural do cuidado apontando as diversidades
do cuidado de acordo com as diferenças culturais. Salienta que o conceito de bem-estar
também pode ser diferente em cada cultura. O que é tão importante para determinado grupo
social, pode não ter o menor valor para outro. Portanto, a condução do cuidado também deve
ser diferenciado.
King (1981) analisa que o objetivo da enfermagem é auxiliar as pessoas a se
manterem saudáveis, e que para alcançá-lo, devemos ter como fundamentos básicos conceitos
sobre saúde, sistema social, percepção e relações interpessoais. Juntos, enfermeira e cliente,
compartilham informações e chegam em comum acordo a um plano de cuidados que deveria
favorecer o restabelecimento.
55
Neumam (1989) desenvolvia um modelo de sistema de cuidados à saúde concentrado
no homem, ambiente e no estresse. Sua teoria concentra-se em verificar quais os fatores
estressantes para os indivíduos, e suas reações ao estresse, de modo a planejar a intervenção
de acordo com a capacidade de enfrentamento do indivíduo.
Para Leopardi (1999) o modelo teórico relaciona o homem, a vida e a saúde. Essa
teoria e suas variações relacionam o homem ao meio ambiente e à saúde, colocando-o como
um membro ativo, com direito a livre arbítrio, o que vai influenciar nos resultados das suas
relações com o ambiente e a saúde.
Assim, nos anos 60 e 70 do século XX, acompanhando as transformações de
diferentes momentos históricos da enfermagem, enfermeiras brasileiras, diante das tendências
de outros países, aderiram ao movimento de valorização e reconhecimento profissional,
apontando como principal estratégia para cuidar a sistematização da assistência de
enfermagem. Essa sistematização consistia de um instrumento para assistir de forma
organizada e contínua, a partir do conhecimento do outro, de suas experiências, problemas e
expectativas.
No processo de enfermagem, que compreende uma das fases de sistematização da
assistência, a enfermeira pode explicar os cuidados a ser administrados, esclarecendo dúvidas
sobre o tratamento e a doença, medicações, exames e ocorrências inesperadas. Pode, ainda,
explicar a mecânica do procedimento, dando oportunidade para o paciente fazer perguntas,
deixando-o verbalizar seus sentimentos e ansiedade. Desse modo, estará possibilitando a
ambos identificar os problemas, priorizando resolutividade, com um processo participativo,
estabelecendo vínculo enfermeiro x paciente, o que é essencial para a qualidade da
assistência.
No final da década de 1990 novos aspectos da saúde e do cuidado passaram a ser
estudados, e inúmeros trabalhos desenvolveram-se centrados nos conceitos do cuidar na
enfermagem. Estudos esses que ainda necessitavam de respostas satisfatórias e de mais
pesquisas para chegar a um saber próprio de domínio da enfermagem.
Nesse contexto, Gamboa (1997) refere que o cuidar na enfermagem, compreende
uma perspectiva biológica, que envolve um determinismo tecnicista em que são priorizados
tempos e movimentos, em detrimento de fatores preponderantes, como a emoção e a relação
interpessoal. No entanto, preconiza que cuidar não é um ato único, nem mesmo a soma de
procedimentos técnicos. Defende tratar-se de um processo em que se conjugam sentimentos,
valores, atitudes e princípios científicos, com a finalidade de satisfazer os indivíduos neles
envolvidos.
56
Nos estudos de Rodrigues (1996) e Furegato (1991) apud BISON (2003) o tema das
relações interpessoais toma um sentido terapêutico relacionando a ação de enfermagem a uma
atividade de ajuda profissional humanizada, introduzindo também, um novo conhecimento
sobre o assunto, quando possibilita um movimento trandisciplinar ao conjugar as relações
interpessoais na enfermagem, com a Ètica.
Morse (1995) afirma que muitos dos conhecimentos da enfermagem permanecem
não desenvolvidos,e inadequadamente encaixado no contexto clínico. Salienta, também, a
importância de se desenvolver estudos que elucidem como as pessoas percebem a saúde, o
que fazem e como fazem os profissionais da área.
Nesse sentido,nossa profissão, está condicionada à uma visão de mundo, um estilo de
vida, portanto, não pode ser compreendida e nem ao outro, fora desse contexto, como uma
condição isolada. Precisamos estar inteirados do que se passa no mundo, na saúde e na forma
de cuidar. Uma adequação da prática às novas realidades, não pode estar desvinculada da
produção de pesquisas científicas que nos dêem respaldo às conclusões práticas do exercício
profissional.
Hoje, não se concebe mais pensar a enfermagem isoladamente. Não se concebe mais
pensar no cuidado apenas como cura para uma doença física. Ele deve ser um modo de
conferir humanidade às pessoas, que precisam ser valorizadas em sua totalidade.
Assim, Boff (1999) afirma que o saber cuidar traduz-se pela ética humana. É uma
visão de integralidade, sensibilidade, uma visão ecológica e, tudo que humaniza, segundo ele,
corresponde aos princípios éticos. Vê o cuidado como parte da natureza humana e da
constituição do ser afirmando que o modo de cuidar revela como é o ser humano; se não
receber cuidado desde o nascimento até a morte, o ser humano definha, perde sentido e morre.
Sem o cuidado o homem perde sua natureza humana. Ressalta, ainda, que injetar cuidado em
tudo é imprescindível para desenvolver a dimensão humana, desenvolver a compaixão por
todos aqueles que sofrem, e obedecer a lógica do coração.
Registramos que, embora o novo paradigma esteja voltado para o cuidado holístico,
afirmando a humanidade dos pacientes e dos enfermeiros, ele não se dá apenas com
objetividade e interesse; são necessários, também, conhecimentos, habilidade técnica, e
julgamento crítico.
Desse modo, Roach apud WALDOW (2004) sintetiza os atributos necessários para o
cuidar, que representam os 5 Cs: compaixão, competência, confiança, consciência e
comprometimento.
57
Por compaixão, a autora entende a participação na experiência do outro;
sensibilidade à dor, um relacionamento de solidariedade, e de pura espiritualidade para com o
outro ser. A competência caracteriza-se pelo estado de possuir conhecimento, habilidade,
energia, experiência e motivação necessárias para responder adequadamente às demandas de
nossas responsabilidades profissionais. A confiança é a qualidade que se desenvolve através
de relação de respeito, da segurança e da honestidade. O comprometimento traduz-se pela
qualidade de investir em si mesmo, em sua tarefa, pessoa, escolha ou carreira, de forma que
isso se torne internalizado, um valor.
Sendo assim, acreditamos que a ação sistemática da enfermagem voltada para a
orientação prévia e melhora a terapêutica proposta pela equipe, contribuirá para deixar o
paciente mais seguro, levando-o à colaborar no processo, apresentando menores alterações
físicas e comportamentais, inclusive no que se refere ao período pré-operatório.
Quanto ao processo de avaliação pré-operatória nas cirurgias bariátricas, este, deve
ser realizado para assegurar que o paciente seja bem orientado à respeito do procedimento,
prevenindo possíveis complicações pós-operatórias imediatas, que são semelhantes àquelas de
uma cirurgia abdominal de grande porte como: deiscências ou infecções intra-abdominal,
complicações respiratórias e tromboembolia pulmonar.
Registramos que, se considerarmos a amplitude do cuidar baseada nos paradigmas
atuais, não podemos considerar a enfermagem fora do contexto hospitalar, onde ela mais
atual. Assim, faz-se necessário, segundo Waldow (1998), abordar a questão do cuidado no
ambiente hospitalar, considerando o meio físico, o administrativo e o social, envolvendo a
estrutura física, instalações adequadas, equipamentos e materiais suficientes e em condições
de uso. Além do número de pessoal suficiente, com preparo e atualização técnica, visando à
qualidade do atendimento.
A enfermagem como profissão, tem o ser humano como seu centro de preocupação;
o ato de cuidar, seu marco referencial; a crescente melhoria da qualidade de vida, sua meta de
trabalho; e as áreas do conhecimento que privilegiam o ser humano ecológico, o domínio do
seu saber (BISON, 1998).
Em relação ao ambiente social não se deve considerar apenas as atitudes e
comportamentos da equipe de enfermagem, sendo importante estender as relações com os
demais membros da equipe de saúde e com todos os outros serviços relacionados, bem como
com os membros responsáveis pelo funcionamento da instituição, que, de alguma maneira,
provêm o cuidado.
58
Ashley apud WALDOW (2004) comenta que o poder exercido pela medicina nas
instituições de saúde, com sua autoridade inquestionável, tem levado as instituições a girar em
função das necessidades e exigências desses profissionais em detrimento das dos pacientes e
dos demais profissionais, inclusive da equipe de enfermagem.
Desse modo, a atenção do profissional médico face ao paradigma dominante,
costuma estar voltada para o procedimento cirúrgico em si, para a técnica e para conquista do
objetivo a que se propõe, no caso da cirurgia bariátrica, meramente a redução do peso.
Em contrapartida, a prioridade da enfermagem deve ser o paciente. E, ela pode
influenciar as organizações, sendo uma das lideranças que engloba um dos maiores
contingentes de trabalhadores, podendo sensibilizar as demais lideranças para garantir um
cuidado verdadeiro aos pacientes.
Waldow (2004, p.222), confirma isso comentando que:
para efetuar mudanças no
sistema de prestação de cuidado, que enfermeiras com cargo de liderança têm maior
probabilidade e acesso promovendo novas políticas de cuidado, visibilizando-o ao público e
trazendo maior satisfação e qualidade no trabalho.
As questões levantadas por essa autora adequam-se perfeitamente bem ao que se
refere à realidade dos pacientes obesos. Tradicionalmente, a enfermagem vem utilizando-se
de aparelhos, instrumentos e máquinas para a realização de técnicas ou procedimentos que
auxiliam tratamentos, visando conforto dos pacientes e ajudarem-nos no tratamento ou, até
mesmo, ajudar a equipe de enfermagem na prestação dos cuidados.
Bettinelli (2002) discute essa questão afirmando que o desenvolvimento científico e
tecnológico têm promovido maior conforto, inúmeras possibilidades de viver com mais
esperança. Porém, tem também produzido questionamentos e desafios éticos aos homens.
Assegura que à complexidade do processo das organizações e das relações humanas e
profissionais têm possibilitado o deslocamento da excelência do ser para o fazer, acarretando
um declínio da ética com valores fragmentados. Completa, que a modernidade científica
estimula a exploração, em detrimento da conjunção e da congruência, priorizndo o particular a
favor do geral, valorizando a especialização em prejuízo da integração.
Deve ser ressaltado que, para os indivíduos obesos não existem, nos locais públicos,
mobiliários e equipamentos adequados aos seus pesos. Cadeiras de teatros, cinemas e aviões
são pequenas e estreitas. Mesmo nas unidades de atendimento médico, existem problemas de
inadequação para elas, com aparelhos que só suportam até 110 quilos, sendo difícil também
encontrar roupas, mobiliários e aparelhos que lhes adequadas confortáveis.
59
Nesse cenário, a mobilização do paciente obeso é seriamente prejudicada pela falta
de pessoal suficiente e material adequado, porque, além de ser desconfortável para ele,
sobrecarrega a equipe, impossibilitando a execução de atividades necessárias, comprometendo
a qualidade do serviço, o que pode expor a equipe às questões de ordem ética e penal.
Dessa maneira, considerando que a enfermeira é aquela responsável pelo
planejamento e apoio ao desenvolvimento das atividades de enfermagem na prestação do
cuidado é, também, da sua responsabilidade garantir condições de trabalho para a sua equipe,
como mobiliários ergonômicos, equipamentos de proteção individual e a implementação de
treinamentos, que garantam a integridade física e bem estar, a fim de que possam cuidar
melhor do outro. Cabe, ainda, à enfermeira, como líder da equipe, não só acompanhar,
controlar e supervisionar o trabalho, mas de se fazer presente, ajudando, apoiando e
facilitando o trabalho dos demais membros da equipe.
Vivendo em um País com tantas carências, principalmente na área da saúde, um
profissional comprometido com o que faz, não pode ignorar os dados relacionados ao custo
com a obesidade. Precisamos colaborar para um cuidado preventivo, saindo do modelo
curativo, herdado há tanto tempo, e colaborando para o planejamento e implementação da
assistência e dos custos necessários para esse fim.
Entendemos que em diferentes momentos históricos a trajetória da enfermagem vem
sendo construída, porém muito ainda precisa ser feito. Embora integrada às rápidas mudanças
do mundo, vivenciando novas fronteiras profissionais e um acelerado processo de
crescimento, poucos enfermeiros encontram-se preparados para vivenciar, na prática, o
paradigma pós-moderno. Para que isso possa acontecer efetivamente, é necessário aliar o
senso comum de enfermeiras experientes, ao conhecimento de pesquisadoras, buscando
solução para problemas que ainda nos inquietam.
Nesse cenário, como não há ciência sem saberes, conclui-se que o conhecer melhor
é necessário para o melhor cuidar. Isso não é uma prática fácil de ser exercida, pois, exige dos
enfermeiros que aprimorem o conhecimento e o auto-conhecimento, reconhecendo as
limitações pessoais e profissionais, abrindo mão do individual e produzindo conhecimento
através de uma ação conjunta: enfermeiros docentes e assistenciais, construindo um efetivo
saber da enfermagem, refletindo criticamente, solucionando problemas e contribuindo para o
desenvolvimento e reconhecimento profissional.
Para Bison (2003), o conhecimento não é sinônimo de mera informação ou
engajamento a uma teoria e/ou corrente filosófica. É a atividade de dar sentido ao mundo,
sendo sempre cognitiva e afetiva, implicando no uso de conexões neurais habituais,
60
desenvolvidas tanto pela experiência quanto pelas emoções. No entanto, para que isso ocorra,
é importante mantermos nosso compromisso com o resgate do cuidado humano, a essência da
enfermagem, buscando metodologias que melhor se adequem e respaldem novos
conhecimentos.
A autora complementa que o bem – estar humano é um processo dinâmico,
enfatizado pela filosofia ecológica, que vê o ser humano como um todo, inseparável do
cosmo. Não se pode compreender espírito, mente, emoção e corpo físico isoladamente.
Embora muito desse pressuposto seja encontrado na prática, ainda assim é que
devemos conceber o cuidado humano como na forma de estar no mundo, conforme refere
(WALDOW, 1998); relacionando-se com todos os seres vivos e todas as coisas com
responsabilidade, cumprindo a missão de beneficiar a humanidade, e participando a todo o
momento da construção de um mundo melhor.
Na sua subjetividade o homem é um projeto infinito, que expressa sua complexidade
de diferentes formas. Isso nos obriga a compreender nossa condição de seres humanos e nos
obriga também a nos tornar abertos a novas incorporações e vivências. Deixar de temer,
discriminar e isolar as diferenças. O cuidado permite ao ser humano viver essa singularidade,
viver o valor intrínseco de cada coisa. Pois, é pelo cuidado essencial que o ser humano
expressa sua complexidade e constrói a base de sua existência no mundo e na história.
Nesse sentido, o uso criativo dos conhecimentos faz da enfermagem uma arte
mutante, em evolução, abrindo sempre novos caminhos e possibilidades. Cabe a cada um de
nós, enfermeiros, contribuirmos para a construção desses caminhos, respaldando-nos em
novos conhecimentos provenientes da pesquisa.
Assim, para cuidar não é só necessário unir pensamento, sentimentos, ação, e o saber
fazer. Mas, principalmente, possuir conhecimento técnico e da pessoa no mundo, pois nosso
maior objetivo ao cuidar é garantir a satisfação da pessoa e ela não pode ser alcançada se não
nos adequarmos a um produto profissional que as beneficiem e ao mesmo tempo proteja-nos
de prejuízos de qualquer espécie, principalmente quando nos reportarmos às pessoas obesas,
tão discriminadas e excluídas socialmente .
61
2.6 MOTIVAÇÃO E NECESSIDADES HUMANAS BÁSICAS
Os seres humanos são completamente diferentes entre si no que se refere a
motivação, afirma (SANTOS, 2003).
Segundo Oteros (2004), motivação pode ser entendida como:
O conjunto dos meus motivos, quer dizer, de tudo aquilo que, a partir o meu
interior, me move a fazer (e a pensar e a decidir). Pode expressar também a
ajuda que me presta outra pessoa para reconhecer os meus motivos
dominantes, a ter outros mais elevados, a rectificar motivos torcidos (não
rectos ou correctos), a ordená-los ou hierarquizá-los.
Santos (2003) reforça esse conceito, afirmando que as pessoas agem segundo forças
ativas impulsionadoras traduzidas em palavras como “desejo” e “receio”: desejam status,
receiam o ostracismo e as ameaças à sua auto-estima. Para compreender o comportamento
humano, é fundamental que se conheça a motivação humana.
Desse modo, as necessidades que motivam e que produzem padrões de
comportamento, variam de indivíduo para indivíduo, assim como os valores pessoais, os
sistemas cognitivos, bem como as capacidades para atingir objetivo.
Sprinthal; Sprinthal (1993) explicam que o motivo refere-se a um impulso que
caminha em direção, ou afasta-se de uma meta. A necessidade somada às carências interna
impulsionam uma pessoa para a ação, aproximando-a ou afastando-a de um objetivo
específico. Afirmam, ainda, que a motivação conduz à atitudes dinâmicas, ativas e
persistentes, constatando, que o ser motivado torna-se facilmente mobilizado para intervir,
sentindo-se com forças intrínsecas e valorização para tal, atribuindo menor relevância aos
obstáculos do que à idéia de sucesso.
Os seres humanos, por serem complexos, raramente atuam com base em um motivo
único. Maslow (1998) afirma que o homem é um ser exigente, mal uma das suas necessidades
é satisfeita, aparece outra em seu lugar. Esse processo é interminável indo desde o nascimento
até a morte. Esse mesmo autor, sugeriu que existe uma ordem definida através da qual os
indivíduos buscam satisfazer suas necessidades. Entende que a motivação é resultado dos
estímulos que agem com força sobre os indivíduos, levando-os a ação. Desse modo, para que
haja ação ou reação é preciso que um estímulo seja implementado, decorrente de alguma coisa
62
externa à situação ou internamente ao próprio organismo. Esse pensamento nos dá idéia de
um Ciclo Motivacional.
Ainda, para Maslow (1998), quando o ciclo motivacional não se realiza, sobrevém
frustração no indivíduo, o qual poderá assumir várias atitudes como: comportamentos
ilógicos, agressividade; nervosismo, insônia, distúrbios circulatório-digestivos; falta de
interesse pelas tarefas ou objetivos; passividade, moral baixo, má vontade, pessimismo,
resistência às modificações, insegurança, não colaboração, entre outros.
Dessa maneira, quando a necessidade da pessoa não é satisfeita não significa que ela
permanecerá eternamente frustrada, pois de alguma maneira a necessidade será transferida ou
compensada.
Assim, dizemos que pessoas obesas costumam ser discriminadas diariamente e
excluídos socialmente, que as levam ao isolamento social, tendo relações interpessoais
conturbadas, dificuldade de locomoção, problemas de conseguir emprego, por serem
considerados mais lentos, depressão e ansiedade. Nesse sentido, poderemos considerar que,
grande parte das necessidades requeridas descritas por Maslow estão comprometida.
A Teoria de Maslow apud SERRANO (2003) é conhecida como uma das mais
importantes teorias de motivação. Esse autor explica o comportamento motivacional, através
das necessidades humanas. Apresentou a teoria da motivação, segundo a qual as necessidades
humanas estão organizadas e dispostas em níveis, em uma hierarquia de importância e
influência. Essa pirâmide tem na sua base as necessidades menos complexas (necessidades
fisiológicas) e no topo, as necessidades de maior complexidade (as necessidades de auto
realização).
Ainda, de acordo com Maslow apud SERRANO (2003) as necessidades fisiológicas,
constituem a sobrevivência do indivíduo e a preservação da espécie, e dizem respeito à
alimentação, ao sono, repouso e abrigo. As necessidades de segurança constituem a busca de
proteção contra a ameaça ou privação, a fuga e o perigo. As necessidades sociais incluem a
necessidade de associação, de participação, de aceitação por parte dos companheiros, assim
como da amizade, de afeto e de amor.
A necessidade de estima envolve a auto - apreciação, a autoconfiança, a necessidade
de aprovação social e de respeito, de status, de prestígio e de consideração; além do desejo de
força, de adequação e de confiança perante o mundo; independência e da autonomia. As
necessidades de auto - realização são as mais elevadas, e cada pessoa procura realizar o seu
próprio potencial para se auto–desenvolver continuamente. Parece-nos que nesse caso, a
cirurgia bariátrica busca atender também, uma motivação da pessoa obesa.
63
Daniel apud REIS (1987, p. 7), por sua vez, define as necessidades, como “instintos
inatos, que levam o homem a movimentar-se, repousar, dormir e retirar do meio exterior
recurso próprios e indispensáveis à conservação, restauração psicobiológica, psicossocial e
psicoespiritual com a elevação do nível de vida”.
Nesse sentido, a enfermagem também tem demonstrado, a partir de Horta (1975) a
preocupação com as necessidades humanas básicas, aplicando essa teoria na assistência aos
pacientes. Utilizando a classificação de Mohana (1978) esta, considera as necessidades em
três níveis: psicobiológico, psicossocial e psicoespiritual, que são interligadas, inter-
relacionadas e resultam na sobrevivência, segurança e sensação de bem-estar.
Por outro lado, quando essas necessidades não são satisfeitas, sejam quais forem os
motivos, o indivíduo passa a apresentar sentimentos de insatisfação e insegurança, reduzindo
a auto-estima e refletindo-se em vários outros aspectos de sua vida. No caso de pessoas
obesas, por exemplo, se o seu sentimento para com o corpo for de insatisfação, esta, será
proporcional aos sentimentos de insegurança com relação a si mesma e aos outros.
Desse modo, não é importante apenas a maneira como a pessoa se vê, mas também
como se percebe perante o outro e como se sente aceita ou não pelo outro. Ao ser respeitado,
consegue manter sua auto-estima elevada, porém sob situação de estresse e de tensão
emocional, como diante de uma doença, podem revelar-se de modo diferente e ter a sua auto-
aceitação comprometida.
Jung apud LEPARGNEUR (1994) reitera isso, afirmando que o “EU não é um fato
simples: sua complexidade mergulha na parte somática e na parte psíquica de nosso ser”.
Percebemos nosso EU através do relacionamento com o mundo e com os outros indivíduos. A
partir dessa autoconsciência, passamos a utilizar sinais corporais para nos comunicarmos com
o outro, emitindo, também, sinais que exprimam nossas necessidades biológicas
fundamentais.
Sendo assim, Winnicott apud LEPARGNEUR (1994) afirma que nossas percepções
são influenciadas pelas imagens subjetivas de nosso corpo cultural. O corpo é o centro de
significações que vêm de dentro ou de fora da pessoa. Ele constitui um ponto central de
referência para a construção da própria identidade, por meio de sinais recebidos de outros
sujeitos. Tal afirmação nos faz lembrar a idéia de semelhanças que nos unem uns aos outros e
das diferenças que fazem de cada um de nós, indivíduo único.
Nossa sociedade capitalista, no entanto, interessada nos benefícios econômicos que
isso pode trazer parece ter o propósito de uniformizar as singularidades. Inicialmente, o
Estado preocupa-se com a higienização das cidades e o combate às endemias, necessários à
64
organização e ao desenvolvimento da vida urbana. Hoje, preocupa-se com a comercialização
e vendas de produtos industriais, produzidos em série, e por isso, mais fácil de comercializar;
acabam por ditar as normas e hábitos sociais, implicando no aparecimento de novas verdades,
a exemplo do modelo de beleza divulgado, hoje, de modo ditatorial pela mídia, que oprime e
destrói a auto-estima da pessoa, causando, muitas vezes, uma devastação na saúde psíquica
naquelas, que vivem em busca de um padrão de beleza inatingível, difundido na TV, e capas
de revistas de moda, nos cinemas e comerciais de produtos estéticos.
Muitas mulheres, com o peso normal, já sofrem por não conseguirem atingir o
padrão ideal de beleza, imaginem a discriminação que passam aquelas que são obesas! A
obesidade tornou-se símbolo de defeitos, provocando uma auto – rejeição profunda, e uma
guerra com a imagem no espelho, tirando dessas pessoas, frequentemente o prazer de viver.
Entretanto, a relação com o corpo não é igual para todo mundo. Entre as diferenças
individuais, observamos que certas pessoas se auto-concebem mais em decorrência da
imagem ou da história que possuem do próprio corpo, enquanto outras identificam-se antes
com o espírito pensante, adquirindo algumas experiências instrutivas através dele.
A moda, ao influir sobre o conveniente padrão de magreza ou de gordura, pode gerar
insatisfações com o corpo, manifestando-se através de sinais ou de patologias graves. Nos
Estados Unidos, por exemplo, a obesidade já se tornou um problema de saúde pública, devido
ao grande número de pessoas que se encontram muito acima do peso ideal.
De outro modo, a preocupação pelo peso do corpo tem-se multiplicado, também,
inquietantemente como nos casos de anorexia e bulimia: segundo estatística, a cada ano, 150
mil norte americanos morrem de anorexia Wolf apud LEPARGNEUR (1994, p. 30).
O medo de adquirir o tão grave defeito da obesidade, criticado pelo mundo todo, leva
pessoas a outro extremo, o da magreza excessiva e inconsciente, deixando-se de comer por se
enxergarem sempre obeso, e aquém do padrão estabelecido.
Cury (2005, p.7) afirma que “qualquer imposição de um padrão de beleza
estereotipado para alicerçar a auto-estima e o prazer da auto – imagem produz um desastre no
inconsciente, com um grave adoecimento emocional”. Continua, ainda, afirmando que o culto
ao corpo super magro está gerando uma pressão social e coletiva que assassinam a auto –
estima e a auto – imagem de crianças e adultos, inclusive de homens.
Portanto, a alteração da imagem corporal provoca mecanismos de defesa do ego, de
negação do corpo e isolamento, que são comportamentos freqüentes na pessoa obesa,
associados à baixa auto-estima. Envolve, também, um grau de auto – decepção e distorção da
realidade, tendo como significado a insatisfação consigo mesmo.
65
3 METODOLOGIA
3.1 TIPO DE ESTUDO
Este estudo tem uma abordagem descritiva, qualitativa e exploratória.
Segundo Best (1972) a pesquisa descritiva é aquela que pretende delinear o que é a
pesquisa, envolvendo quatro aspectos: a descrição, o registro, a análise e a interpretação de
fenômenos atuais, objetivando seu funcionamento no presente.
Selltiz et al. (1965), por sua vez, denominam de estudos descritivos, aqueles que
descrevem um fenômeno ou situação, mediante determinado espaço de tempo. Denomina,
também. de estudos exploratórios aqueles que enfatizam a descoberta de idéias e
discernimentos, podendo também serem chamados de estudo diagnóstico.
Richardson (1989) afirma que a abordagem qualitativa de um problema justifica-se,
sobretudo, por ser uma forma adequada para entender a natureza de um fenômeno social.
Comenta, ainda, que estudos que empregam a metodologia qualitativa podem descrever a
complexidade de determinado problema, analisar a interação de certas variáveis, compreender
e classificar processos dinâmicos vividos por grupos sociais, contribuindo para o processo de
mudança de determinado grupo, possibilitando, profundidade o entendimento das
particularidades do comportamento humano.
Para Minayo et al. (1994) a abordagem qualitativa da pesquisa busca trabalhar com o
universo de significados, motivos, aspirações, crenças valores e atitudes, correspondendo a
um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos. Sendo bastante rica
em dados descritivos, focalizando de forma completa e contextualizada o fenômeno em
estudo.
De acordo com Polit; Hungler et al. (2004) a pesquisa exploratória, assim como a
pesquisa descritiva, começa com algum fenômeno de interesse, no entanto, mais do que
simplesmente observar e descrever o fenômeno, investiga sua natureza complexa e outros
fatores com os quais está relacionado. Portanto, a pesquisa qualitativa exploratória objetiva
desvendar as várias maneiras pela qual um fenômeno manifesta-se, assim como seus
processos subjacentes. Essa busca padrões de associação para esclarecer o significado e a
dimensão dos fenômenos de interesse para estudo permite a expressão de grande variedade de
crenças, sentimentos e comportamentos. Para isso, o pesquisador deve conversar ou observar
66
pessoas que têm experiência com o fenômeno. Desse modo, a pesquisa qualitativa é
essencialmente descritiva. Sendo assim, os estudos exploratórios descritivos exigem uma série
de informações sobre o que se quer pesquisar. Além disso, realiza a descrição dos fenômenos
através de uma visão subjetiva, e por isso, descreve todo o significado que o ambiente traz.
Trivinõs (1987) comenta que “o estudo descritivo pretende descrever com exatidão
os fatos e fenômenos de determinada realidade” utilizando-se da coleta, ordenação,
classificação e análise dos dados. Refere, ainda, que a interpretação dos resultados surge de
uma especulação, que tem como base a percepção de um fenômeno em contexto, por isso é
coerente, lógica e consistente. Os resultados são expressos em retratos, em narrativas,
ilustradas com declarações das pessoas, documentos pessoais e fragmentos de entrevistas.
Estudos exploratórios são particularmente realizados para investigar uma nova área
desvendando fenômenos ainda pouco entendidos. Sendo assim os estudos exploratórios
permitem ao investigador aumentar seus conhecimentos e experiências em torno de
determinado problema.
Ainda, Trivinõs (1987) comenta, que o pesquisador planeja um estudo exploratório
com o objetivo de encontrar elementos necessários que lhe permitam, em contato com
determinada população, obter resultados que deseja, ou levantar possíveis problemas de
pesquisa.
3.2 LOCAL DO ESTUDO
O estudo foi realizado em um hospital geral, de grande porte, localizado na cidade de
Salvador. Trata-se de uma sociedade civil, sem fins lucrativos, reconhecida como de utilidade
pública. Tem como missão a assistência, o ensino e a pesquisa, sendo suas atividades apoiadas
em uma visão de futuro. Portanto, as ações estão centradas na visão do paciente como origem
e sentido de todas as suas atividades, cujo objetivo e a racionalização do trabalho e a
prestação de uma assistência de qualidade.
Esse Hospital tem como missão filosófica, o mandamento evangélico “Ide, Ensinai e
Curai”, tendo, também, definida como política da qualidade “Prestar serviço de assistência
médica hospitalar a seus clientes, assegurando confiabilidade técnica, qualidade de
atendimento, facilidade de acesso e conforto, com preços compatíveis”. A partir dessa
filosofia, busca elevar o nível da medicina social; promover a saúde e propor novos modelos,
67
através do exercício da assistência qualificada, da pesquisa e do ensino, mantendo convênio
com a Universidade Federal da Bahia para residência médica e de enfermagem.
É considerada, referência de saúde na Bahia, pela qualidade de seus serviços e
tecnologia moderna, além de ser pioneiro em cirurgias de transplantes e pesquisas de células
tronco, para transplante de fígado.
O hospital possui uma estrutura física ampla, já tendo passado por processos de
ampliação e reforma, desde que foi inaugurado: com vários consultórios, disponibilizando
serviços especializados e, dentre eles, o de cirurgia bariátrica.
O complexo médico ocupa uma área de 40 mil metros quadrados, em um edifício de
10 pavimentos. É constituído por 11 unidades de internação, compreendendo clínica médica e
cirúrgica, atendendo a adultos e, também, a crianças, com 2 (duas) alas destinadas à pediatria;
3 (três) unidades de terapia intensiva (geral, cardiológica e pediátrica); 2 (dois) unidades de
terapia semi-intensiva; 1 (um) centro cirúrgico; 1 (um) hospital dia e 1 (uma) unidade de
emergência, totalizado 290 leitos ativos. Dispõe, ainda, de um centro de diagnóstico por
imagem, laboratórios, anatomia patológica, ambulatório com 40 especialidades clínicas e
cirúrgicas. Recentemente reestruturou o serviço de medicina nuclear, sendo referência no
Estado para esse tipo de serviço, inclusive para pessoas que necessitam realizar iodoterapia, e
radioterapia. O serviço de oncologia além de consultas, realiza tratamentos quimioterápicos
em regime de hospital dia.
Conta com um quadro de 965 profissionais de saúde, sendo 640 da equipe de
enfermagem, além de receber, aproximadamente 50 estudantes de enfermagem por mês. Do
total de pessoal de enfermagem, 27 estão envolvidos com atividades de chefia, coordenação,
ensino e supervisão e, 613, com prestação da assistência direta ao paciente. Além desses
profissionais, fazem parte da estrutura da organização 1.707 colaboradores diretos, entre
técnicos especializados, administração e apoio.
O serviço de cirurgia bariátrica teve início no ano 2000, com uma equipe composta
por cirurgiões gerais, endocrinologista, nutricionista, cardiologista, anestesistas, psiquiatra,
fisioterapeutas, enfermeira e cirurgião plástico. Desde então, profissionais comprometidos,
interessados em proporcionar aos seus pacientes um cuidado competente e com bons
resultados, têm procurado qualificarem-se, buscando conhecer os problemas clínicos,
psicológicos emocionais e sociais dos pacientes obesos para melhor assisti-los.
Destacamos que, essa cirurgia trás importantes benefícios ao paciente obeso, como a
perda de peso, melhoria das condições clínicas e da qualidade de vida, mas, também,
proporciona mudanças radicais em sua vida. As modificações do corpo levam a modificações
68
psicológicas importantes, que poderão e refletir nas relações consigo mesmo e com os outros.
Nesse contexto, nos deparamos com alguns desafios, que começaram com a necessidade de
mudanças na estrutura física, no mobiliário hospitalar, no instrumental cirúrgico e
equipamentos hospitalar, para adequá-los às necessidades dessas pessoas.
Registramos que esse serviço tem como objetivo o tratamento de obesos, pelo
método cirúrgico. Reiteramos que as formas leves e moderadas da obesidade podem ser
passíveis de tratamentos clínicos, utilizando-se dieta, exercícios físicos, acompanhamento
nutricional, endócrino e psicológico. Porém, as pessoas com obesidade mórbida ou
superobesidade, dificilmente conseguem manter a perda de peso por muito tempo, caso não se
submetam à cirurgia bariátrica.
Nesse sentido, o tratamento cirúrugico não deve ser uma opção de escolha por
questões estéticas, é, na verdade, a busca de uma solução definitiva para minimizar as
complicações das morbidades, geralmente associadas à obesidade, os quais podem ser causa
de morte de pessoas obesas ainda muito jovens.
Assim, a cirurgia bariátrica, que tem sido praticada em todo o mundo, tem a
finalidade de promover a perda de peso, impedindo a ingesta de grandes volumes de
alimentos. O objetivo principal desse tratamento é o de reduzir o peso ao nível no qual os
riscos da obesidade tornem-se aceitáveis, atingindo-se uma taxa de mortalidade próxima à da
população não obesa. Esse nível corresponde a um peso máximo de 30% acima do ideal, ou
um IMC inferior a 35 Kg/m².
A equipe profissional que atua no setor de Cirurgia Bariátrica acredita que o sucesso
do tratamento cirúrgico depende da motivação do indivíduo, de uma indicação médica precisa
e também de uma equipe interdisciplinar preparada. É muito importante que a pessoa sinta-se
devidamente esclarecida sobre o ato cirúrgico e deseje alcançar os benefícios oferecidos por
esse tipo de tratamento. Deve, também, aceitar através de documentação legal, por escrito, o
que está sendo proposto. Além disso, necessita compreender as razões da operação, estando
preparada para eventuais desconfortos e mesmo complicações próprias de todo ato cirúrgico.
Desse modo, antes da hospitalização a pessoa obesa passa por uma consulta
ambulatorial com cada um dos profissionais da equipe, definindo a data da cirurgia, quando
realizar a consulta com o anestesista e a de enfermagem. O objetivo dessa consulta é oferecer
o tratamento perioperatório adequado, envolvendo o período pré-operatório, a execução da
cirurgia com habilidade e segurança, além de um acompanhamento pós-operatório tardio
eficiente.
69
3.3 OS SUJEITOS DO ESTUDO
A escolha dos sujeitos do estudo foi fundamentada nos seguintes critérios: pessoas
portadoras de obesidade mórbida, que estiverem no processo de realização de cirurgia
bariátrica no período da realização da pesquisa, no segundo semestre do ano de 2006, após a
liberação do Comitê de Ética para pesquisa, sendo inclusas todas as pessoas que seriam
operadas independente do sexo, idade, e tipo de técnica cirúrgica utilizada.
Dessa maneira, a pesquisa foi realizada com doze pessoas no período pré-operatório,
sendo nove mulheres e três homens. Não estabelecemos o número de pessoas de acordo com
o gênero previamente e o fato de terem sido mais mulheres do que homem deveu-se a maior
demanda desse gênero no período da pesquisa de campo. De certa forma isso reforça a
informação que as mulheres são mais cobradas socialmente em possuir um corpo magro. Pois,
não ignoramos que, em nossa cultura o corpo ideal é representado como esbelto, belo, jovem,
forte, cheio de vida e de saúde, o que é veiculado, diariamente, através dos meios de
comunicação. O número total de pessoas a serem entrevistadas também não foi definido
previamente, continuamos as entrevistas até que os resultados se tornaram representativos,
utilizando o princípio da saturação de dados, quando os temas e as categorias tornaram-se
repetitivas, de forma que nenhuma informação nova era trazida com a coleta de mais dados.
Tais pessoas tiveram o direito de optar se iam ou não participar da pesquisa,
assinando o termo de consentimento livre e esclarecido, conforme a Resolução 156/96 do CN,
que versa sobre as diretrizes e normas regulamentadora de pesquisas envolvendo seres
humanos.
Assim, o grupo foi constituído por (03) três homens e na sua maioria por mulheres
(09) nove, que foram orientados sobre o objetivo do estudo, sendo entrevistados no período
pré-operatório.
Para manter a integridade e o sigilo dos entrevistados, escolhemos, para identificá-
los, por números, cuja numeração foi aleatória.
Registramos a disponibilidade e receptividade dos entrevistados, que demonstraram
gostar de falar sobre o assunto, satisfeitos em contribuírem com o estudo. Conseguimos
estabelecer empatia durante as entrevistas, o que possibilitou a exposição dos sujeitos, de suas
experiências e sentimentos.
70
3.4 A TÉCNICA E PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS
Escolhemos como lócus deste estudo o Setor de Cirurgia Bariátrica do hospital em
estudo, por fazer parte do quadro de funcionários.
Outra situação importante a destacar foi nossa aproximação com os membros da
equipe da cirurgia, com quem trabalhamos há algum tempo, fator facilitador para o acesso às
pessoas obesas, que buscavam esse serviço.
Dessa maneira, o projeto foi encaminhado inicialmente para apreciação pela
Comissão de Ética em Pesquisa do Hospital, em observação os aspectos éticos constantes na
Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (Brasil, 1996).
Após a apreciação pelo Comitê, recebemos o projeto para realizarmos algumas
modificações sugeridas, e melhor esclarecermos quanto a forma de coleta de dados, tendo
posteriormente aprovado.
Também, enviamos uma cópia do projeto à Gerente de Enfermagem da instituição e
ao Coordenador Médico do Serviço de Cirurgia, para autorização dos mesmos. Só após a
autorização de todos, iniciamos a coleta dos dados.
A realização de entrevistas semi-estruturadas, possuindo um roteiro contendo seis
perguntas abertas e baseadas nos objetivos do estudo, constituiu o instrumento de coleta de
dados, assim como a utilização de prontuários para registro dos dados pessoais dos sujeitos
envolvidos, histórico de saúde e outras informações referentes ao processo pré-operatório
(APÊNDICE A).
O instrumento foi testado previamente no mesmo local, com a finalidade de avaliar a
pertinência das questões, de modo a serem modificadas, buscando a sua adequação aos
objetivos do estudo.
Para Trivinõs (1987) a entrevista semi-estruturada é um dos principais meios do
investigador para proceder a coleta de dados. Ela valoriza a presença do investigador,
oferecendo todas as perspectivas possíveis para que o informante alcance a liberdade e a
espontaneidade necessárias, enriquecendo a investigação. O informante segue
espontaneamente sua linha de pensamento e suas experiências dentro do foco de estudo
começa assim a participar na elaboração do conteúdo da pesquisa.
A técnica de entrevista, segundo o conceito de Lakatos e Marconi (1996), é o
encontro entre duas pessoas, a fim de que uma delas obtenha informações a respeito de
71
determinado assunto, deixando asseguradas, pela pesquisadora, as condições éticas
necessárias à sua realização.
Assim, na elaboração da entrevista é importante que o pesquisador atente para o tipo
de perguntas a serem realizadas, as quais devem ser elaboradas a partir das informações que já
recolheu sobre o assunto e que despertou seu interesse, o assunto a ser estudado e, também,
considerar a teoria que alimenta a pesquisa.
As entrevistas foram realizadas no consultório de Cirurgia Geral do hospital onde foi
realizada a pesquisa. Localizado no andar térreo, facilita o acesso das pessoas. O consultório
tem uma área de mais ou menos 60 m², dividido em uma ante – sala ampla onde localiza-se a
recepção e mais (05) cinco salas para consulta e uma (01) para realização de curativos
cirúrgicos e limpos. Também dispõe de um sanitário masculino e outro feminino.
No intuito de formalizar nossa presença no serviço e na tentativa de viabilizar o
encontro com os pacientes, fizemos contato com a recepcionista do Serviço de Cirurgia,
explicando-lhe o projeto e solicitando sua colaboração. Esta, gentilmente nos apresentava aos
pacientes que chegavam para consulta, uma vez que, muitas vezes, ela já havia tido contato
anterior com eles. Desse modo, acabávamos sempre tendo boa receptividade por parte dos
pacientes.
Além disso, acompanhava com a recepcionista a listagem de consulta dos pacientes
para saber os dias que viriam para consulta e programava as entrevistas. Normalmente, os
médicos cirurgiões agendam as consultas para as terças, quartas e quintas-feiras, sendo terça
no período da manhã, o dia de maior movimento. O que dificultou um pouco nosso acesso
pela demanda de trabalho, nesse turno, dentro do hospital. Telefonávamos sempre antes de
descer ao consultório, confirmando se havia ou não pessoas para serem entrevistadas. Caso
positivo, íamos até lá.
Tivemos, durante o período da coleta de dados, alguns contratempos operacionais
que não haviam sido contemplados durante o planejamento e que acabaram por atrasar a
pesquisa. O primeiro foi em relação a liberação pelo Comitê da Pesquisa para iniciar a coleta
de dados. O segundo referiu-se ao centro cirúrgico do hospital, que fechou por quinze dias
para reforma, afugentando as pessoas do ambulatório. A terceira foi em relação ao período de
férias do cirurgião, no mês de janeiro, atrasando ainda mais a coleta de dados. Iniciamos a
coleta no mês de outubro, interrompendo por um período de 45 dias entre a segunda quinzena
de dezembro e o mês de janeiro, pelos motivos acima expostos.
Antes de iniciarmos as entrevistas, fazíamos uma apresentação do estudo, onde
explicávamos sobre a pesquisa, a que se propunha, qual o nosso objetivo, a importância de
72
sua participação e apoio. Questionava se gostariam de participar, esclarecendo o direito de
negar, sem nenhum prejuízo para sua pessoa. Lia o termo de consentimento esclarecido para
elas, ou oferecia para que elas mesmas lessem. Questionávamos se poderíamos gravar as
entrevistas e fazíamos também os agradecimentos de praxe.
Durante as entrevistas procuramos não interromper o colóquio, conduzindo as
perguntas de acordo com o que as pessoas estavam pretendendo nos dizer. Na medida em que
tocavam no assunto referente à nossa pergunta, complementávamos com algum comentário,
introduzindo a pergunta, de maneira que elas nem percebessem que estavam sendo argüidas.
Essa técnica, além de estimular novos comentários por parte das entrevistadas, acabava
deixando-lhes mais à vontade no decorrer da pesquisa. Desse modo, percebemos que
acabavam adquirindo mais confiança, e falavam além do que nos propusemos a perguntar;
comentando sobre suas vidas e experiências, tornando as entrevistas bastante rica em
conteúdo, além de criar um vínculo de respeito e confiança muito forte para o pouco tempo de
contato.
Não fixamos, a priori, um tempo para cada uma das entrevistas, porém procuramos
seguir a determinação de Trivinõs (1987) de que a entrevista não deve se prolongar por mais
de 30 minutos. Assim, o tempo gasto não ultrapassou os 30 minutos, sendo o tempo médio de
20 minutos. Como as entrevistas foram realizadas enquanto aguardavam a consulta médica,
também serviu para atenuar a ansiedade da espera.
Enquanto aguardávamos para abordar as possíveis pessoas entrevistadas,
aproveitávamos para observar a linguagem corporal que comunicavam durante a espera.
Algumas muito ansiosas utilizavam o aparelho celular sem parar. Outras recolhidas em seu
canto, mal olhavam para os lados ou para as outras pessoas próximas. Outras, mais
comunicativas puxavam assunto, principalmente com outras pessoas obesas, procurando se
informar sobre a cirurgia, se iriam fazer, se já tinham feito, como tinha sido suas experiências.
Observamos que as cadeiras da sala de espera, embora confortáveis para as pessoas mais
magras, não eram adequadas às pessoas obesas, principalmente para aquelas mais tímidas ou
com a auto-estima mais baixa. Essas cadeiras são acolchoadas, porém estreitas, acopladas
umas as outras, dificultando o movimento, sendo pouco confortável para elas, que tudo
faziam para não chamar a atenção dos outros. Outro detalhe que nos pareceu importante, é
que o consultório não se destinava apenas às pessoas que irão submeter-se a cirurgia
bariátrica, mas a qualquer cirurgia geral, desse modo algumas vezes observávamos que elas se
sentiam pouco a vontade.
73
Gravamos as entrevistas, após obtermos o consentimento do informante.
Posteriormente, questionamos se gostariam de ouvir a entrevista gravada, o que todos
recusaram, porém, salientamos a possibilidade de eliminação de partes que o mesmo
solicitasse, ou não se sentisse confortável ao repassar seu depoimento.
Para a realização e gravação da entrevista, solicitamos previamente a autorização dos
entrevistados, utilizando o Termo de Consentimento Livre Esclarecido (APÊNDICE B).
Acompanhamos a gravação fazendo anotações gerais sobre atitudes ou até mesmo
comportamento do entrevistado, reações aparentes, manifestações físicas ou emocionais, que
poderiam contribuir para melhor esclarecimento do objeto estudado.
3.5 ANÁLISE DOS DADOS
As informações obtidas das entrevistas foram analisadas utilizando a técnica de
análise de conteúdo de Bardin (1977).
Trivinõs (1987) recomenda o emprego dessa técnica, porque ela se presta para o
estudo das motivações, atitudes, valores, crenças, tendências e para o desvendar de ideologias,
que podem existir nos dispositivos legais, princípios e diretrizes.
Dessa maneira, a análise de conteúdo é uma das formas mais antigas utilizadas de
análise e processamento de conteúdos abertos e pouco estruturados, sendo uma técnica que se
apóia na codificação da informação em categorias para dar sentido ao material estudado.
Segundo Bardin (1977, p. 225), a técnica de análise de conteúdo pode ser definida
como “[...] conjunto de instrumentos metodológicos cada vez mais sutis e em constante
aperfeiçoamento, que se aplicam a discursos (conteúdos e continentes) extremamente
diversificados¨.
Rey (2002, p. 142) conceitua a análise de conteúdo como “uma forma de centrar a
interpretação naqueles aspectos do texto suscetíveis de ser codificados em termos de análise
[...].” Complementa, afirmando que a análise de conteúdo constitui um processo analítico,
orientado para dar sentido ao estudado, por meio de unidades parciais que fragmentam o
objeto, as quais se integram, posteriormente, em um processo de interpretação, condicionado
pelo tipo de unidades objetivas e definidas na análise.
74
Procedemos a organização da análise com base nos períodos cronológicos propostos
pela técnica de Bardin (1977): pré-análise, exploração do material e análise e interpretação
dos dados.
A fase de pré-análise é a fase da organização, que tem por objetivo sistematizar as
idéias iniciais, tornando-as operacionais, de modo a conduzir a um esquema preciso para o
desenvolvimento das ações, em um plano de análise. Nessa fase, fazemos a escolha dos
documentos a serem submetidos à análise, a formulação das hipóteses e dos objetivos e a
elaboração dos indicadores, que fundamentem a interpretação final. Esses três fatores estão
estreitamente interligados. A escolha dos documentos só podem ser feitos após a escolha dos
obejtivos, os indicadores são construídos por sua vez, a partir das hipóteses.
Desse modo, a primeira atividade da fase de pré-análise consiste na escolha dos
documentos a analisar, estabelecendo contato, conhecendo o texto, absorvendo impressões
orientações. Chama-se essa fase de leitura flutuante. Posteriormente, a partir da formulação de
pressupostos e da projeção de referenciais teóricos sobre o material a leitura vai se tornando
mais precisa.
Ainda, na fase de pré-análise, realizamos as operações de recorte do texto em
unidades comparáveis de categorização para análise temática e de modalidade de codificação
para o registro de dados.
A segunda fase da análise de conteúdo de Bardin envolve a exploração do material; a
fase da análise propriamente dita, onde é realizada a administração sistemática das decisões
tomadas. Fazer essa análise consiste em descobrir os dados que compõem a comunicação e
cuja presença ou freqüência em que a aparecem, podem significar alguma coisa para o
objetivo analítico escolhido.
A terceira fase, a análise de conteúdo é a fase de tratamento dos resultados, a
inferência e a interpretação. Apoiada nos materiais de informação da pré-análise a fase de
análise do tratamento dos resultados alcança maior intensidade nessa fase. Baseada na
reflexão e na intuição, com embasamento nos materiais empíricos, aprofunda as conexões das
idéias até atingir os objetivos. Bardin (1997) refere que nessa fase os resultados brutos são
tratados de maneira a se tornarem significativos e válidos. A partir disso, pode–se propor
inferências e adiantar interpretações a respeito dos objetivos previstos, ou que dizem respeito
a outras descobertas inesperadas.
Nessa fase procedemos a realização da análise fazendo a discussão dos dados,
buscando a relação entre os material empírico e o referencial teórico, articulando-os também
com os depoimentos dos diferentes sujeitos.
75
Para conseguir realizar a escolha sobre o gênero do documento sobre o qual se pode
efetuar a análise, Bardin (1977, p. 96) recomenda proceder à “constituição de um corpus”, que
ele define como sendo “o conjunto dos documentos tidos em conta para serem submetidos aos
procedimentos analíticos”. Complementa orientando que para constituir o “corpus” é
necessário realizar escolhas, seleções e seguir algumas regras.
A primeira regra é a da exaustividade, e consiste em que, uma vez definido o campo
no qual os pesquisadores devem fixar sua atenção, é preciso levar em conta todos os
elementos desse corpus, não podendo deixar de fora nenhum deles.
A regra da representatividade consiste em efetuar uma amostra representativa do
universo inicial, que pode ser realizada ao acaso, ou por quotas.
A terceira regra, conhecida como regra da homogeneidade, define que os
documentos selecionados devem ser homogêneos, obedecendo a critérios precisos de escolha.
Estes devem referir-se ao mesmo tema, ter sido obtidos utilizando-se técnicas idênticas e
serem realizadas por indivíduos semelhantes.
A quarta regra, ou regra de pertinência, determina que os documentos coletados
devam ter uma fonte de informação adequada, correspondendo ao objetivo que dará origem a
análise.
Tais aspectos foram considerados neste estudo.
3.6 ASPECTOS ÉTICOS DA PESQUISA
Desde os anos 50, vários códigos de ética foram desenvolvidos para prevenir a
violação dos direitos humanos durante a pesquisa. Um código de ética especialmente
importante foi adotado pela National Comission fot the Protection of Human Subjects of
Biomedical and Behavioral Research (1978). Essa comissão divulgou um relatório em 1978
que serviu como base para os regulamentos que afetam a pesquisa, baseando-se nos seguintes
princípios éticos: a beneficência, o respeito pela dignidade humana e a justiça (POLIT e
HUNGLER, 2004).
Um dos princípios éticos, fundamental na pesquisa com seres humanos, segundo o
Conselho Nacional de Saúde (CNS), é o da beneficência, que dita, para acima de tudo, não
causar danos, garantindo a integridade e interrompendo a pesquisa se houver razão para
76
suspeitar que a continuação do estudo resultasse em lesão, morte, incapacidade, ou sofrimento
indevido aos participantes do estudo.
Os pesquisadores devem, ainda, procurar evitar infringir danos psicológicos,
formulando as questões com tato, fornecendo informações e, permitindo também que os
participantes façam perguntas, ou até queixas. As conseqüências psicológicas resultantes da
participação de uma pesquisa são geralmente muito sutis, exigindo muita atenção e
sensibilidade (POLIT e HUNGLER, 2004).
Nesse sentido, durante as entrevistas pode-se realizar questionamentos pessoais que
envolvem fraquezas, medos ou que podem levar as pessoas a revelar informações delicadas
ou muito íntimas, desencadeando, desse modo, sentimentos de insegurança e até mesmo
outros sentimentos desconhecidos até mesmo para a pessoa, que pode estar encarando-os pela
primeira vez por não ter tido antes oportunidade de deslumbrá-los. Assim, o pesquisador deve
estar atento a essa possibilidade, fazendo o encaminhamento aos serviços de saúde
necessários.
Ainda, segundo o CNS o pesquisador deve garantir aos participantes que seu
envolvimento no estudo não irá colocá-los em desvantagem ou expô-los à situação para as
quais não tenham sido explicitamente preparados. Sua participação ou informação não poderá
ser usada contra eles.
Os participantes do estudo desenvolvem uma relação especial com o pesquisador, de
sensibilidade e confiança, porém este último não pode abusar do vínculo estabelecido durante
a pesquisa, principalmente se já existir um relacionamento terapêutico entre eles.
Nós, enfermeiras, devemos ter um cuidado maior ainda, caso já tenhamos tido algum
tipo de relacionamento profissional com as pessoas entrevistadas.
Polit e Hungler (2004), por sua vez, informam que na pesquisa qualitativa o risco de
exploração pode ser especialmente grave porque a distância psicológica entre o investigador e
o participante declina, tipicamente, à medida que o estudo progride.
Em relação ao risco/benefício o grau de risco assumido pelos participantes na
pesquisa não devem exceder os benefícios humanitários potenciais do conhecimento a ser
obtido.
O princípio do respeito pela dignidade humana é o segundo princípio ético e inclui o
direito à autodeterminação e o direito à revelação total. O princípio da autodeterminação
afirma que os participantes têm o direito de decidir voluntariamente se participam do estudo,
sem o risco de sofrer qualquer penalidade ou tratamento prejudicial. Além disso, garante o
direito ao participante de fazer perguntas, recusar-se a dar informações, ou interrromper a sua
77
participação. Versa, também, sobre a garantia do entrevistado não sofrer qualquer tipo de
coerção, ou seja, ser ameaçado explicita ou implicitamente de penalidade por se recusar em
participar de um estudo.
Quanto ao direito de revelação total o pesquisador deve descrever totalmente a
natureza do estudo, o direito da pessoa de recusar a participar do estudo, as responsabilidades
do pesquisador e os prováveis riscos e benefícios.
Desse modo, os participantes da pesquisa necessitam assinar voluntariamente o
consentimento livre esclarecido, concordando em participar da pesquisa. Esse formulário deve
conter informações sobe a finalidade do estudo, as expectativas específicas relativas à
participação, a natureza voluntária da participação e os riscos e benefícios potenciais.
O consentimento significa que os participantes têm informações adequadas em
relação á pesquisa; compreendem a informação e têm o poder da livre escolha, podendo assim
participar voluntariamente na pesquisa ou declinar dessa participação.
Assim, registramos que buscamos com este estudo respeitar os princípios éticos aqui
constantes.
78
4.0 APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Neste capítulo, apresentamos a análise e a discussão dos resultados do estudo a partir
das categorias encontradas, envolvendo as demandas bio-psico-sociais relativas à cirurgia
bariátrica.
Inicialmente, apresentamos a amostra, através dos dados de identificação referentes
à: idade, sexo, estado civil, profissão ou ocupação, IMC e classificação quanto à obesidade
conforme o quadro abaixo.
SEXO IDADE OCUPAÇÃO ESTADO
CIVIL
IMC
Kg/m
2
CLASSIFICAÇÃO
E1 F 23
Estudante
Solteira 45,0 Obeso mórbido
E2 F 34
Administradora
Desempregada
Casada 39,45 Obeso grave
E3 F 71
Aposentada/
pensionista
Viúva 45,0 Obeso mórbido
E4 F 35
Bancária/
Desempregada
Casada 35,4 Obeso grave
E5 F 42
Desempregada
Casada 40,0 Obeso mórbido
E6 F 25
Operadora /
Desempregada
Casada 40,8 Obeso mórbido
E7 M 27
Operador/
Desempregado
Solteiro 45,0 Obeso mórbido
E8 M 45
Analista de
sistema
Casado 40,12 Obeso mórbido
E9 F 60 Aposentada Casada 43,1 Obeso mórbido
E10 M 45 Agrônomo Casado 41,5 Obeso mórbido
E11 F 38 Médica Solteira 41,5 Obeso mórbido
E12 F 19 Estudante Solteira 35,0 Obeso grave
Fonte: dados do estudo.
QUADRO 1. Caracterização dos sujeitos do estudo. Salvador, 2007.
79
Ao estudarmos o quadro de identificação dos sujeitos, observamos que não houve
durante o estudo uma idade predominante, as idades foram variadas, oscilando dos dezenove
aos setenta e um anos de idade. A maioria foi de obesos mórbidos, com um total de nove,
seguidos por três obesos graves, conforme os critérios de indicação cirúrgica estabelecidos
pela Sociedade de Cirurgia Bariátrica.
Embora não tenhamos nos detido na relação obesidade e desemprego, observamos
que seis das doze pessoas entrevistadas estavam desempregadas, mesmo tendo sido negado
problemas em conseguirem um trabalho, devido a obesidade.
O gênero feminino foi predominante, constituindo-se nove mulheres e três homens
entrevistados, o que pode indicar o aprisionamento feminino com o ideal de beleza
contemporâneo, atingindo as mais diversas idades, da adolescente a mulher madura, a mulher
balzaquiana e a mulher idosa.
4.1 CATEGORIAS DE ANÁLISE
Neste item, procedemos a análise das categorias e subcategorias emergidas do
estudo, as quais se encontram apresentadas no quadro abaixo.
Categorias
Subcategorias
1 Demandas físicas/biológicas
Motivos para a cirurgia
* Comorbidades
* Estética mídia e o padrão ideal
* Qualidade de vida
2 Demandas psicológicas
Sentimentos frente a cirurgia
* Medo/ ansiedade
* Depressão
* Baixa auto-estima
* Imagem corporal
3 Demandas Sociais
Relações sociais frente a cirurgia
* Relacionamentos familiar e afetivo
* Trabalho
* Valores culturais e expectativas
Fonte: dados do estudo.
QUADRO 2 – CATEGORIAS E SUBCATEGORIAS DO ESTUDO – SALVADOR, 2007
80
4.1.1 Categoria 1 – Demandas físicas /biológicas – Motivos para a cirurgia.
Conforme verificado no quadro acima, a primeira categoria refere-se as demandas
físicas e biológicas, denominada de Motivos para a cirurgia. Nessa categoria destacamos as
subcategorias: comorbidades, estética, mídia e o padrão ideal e qualidade de vida, que estão
analisadas e acompanhadas dos respectivos recortes das manifestações dos sujeitos e que
ilustram a análise.
Destacamos que antes de iniciarmos o estudo, tínhamos a idéia preconceituosa de
que as pessoas obesas buscavam a cirurgia bariátrica pelo motivo estético, a fim de
alcançarem o famoso padrão de beleza estabelecido pela sociedade contemporânea. Parecia-
nos a forma mais rápida e definitiva de alcançarem esse objetivo, sem “maiores” esforços,
uma vez que não teriam de se submeter a dietas prolongadas, exercícios físicos rigorosos e
restrições alimentares, pois os cirurgiões fariam a parte mais difícil: a técnica cirúrgica.
Além disso, outras questões nos inquietavam. Estando essas pessoas bem
esclarecidas sobre o procedimento, sabendo do papel que lhes cabiam, dos riscos a que
estavam se submetendo, uma vez que cirurgia desse porte não pode se considerada um
procedimento tão simples e inócuo como pode parecer a princípio, o que realmente
encorajava essas pessoas? Qual o motivo predominante? O que fazia com que elas superassem
possíveis medos? O que se passava com elas, no que se refere aos aspectos biológico,
psicológico e social?
Desse modo, conhecer quais os motivos que levavam estas pessoas a submeterem-se
a cirurgia bariátrica foi uma das nossas preocupações desde o início do trabalho, sendo
importante trazer alguns conceitos sobre motivo e a teoria da motivação de Maslow (capítulo
2, p. 29).
Resumir os conceitos apresentados, Murray (1967) refere que o motivo divide-se em
impulso e recompensa. O impulso diz respeito ao processo interno que incita uma pessoa à
ação. Pode ser influenciado por um estímulo externo, mas é interno em sua existência. E a
recompensa é o fim de um motivo; é um processo interno de redução do impulso. Acrescenta
ainda, que alguns psicólogos também incluem na motivação um desejo consciente de obter
algo.
Na análise dessa subcategoria buscamos trazer o que levou as pessoas obesas a se
decidirem por uma opção radical, como a cirurgia, para resolver seu problema de obesidade.
81
Que estímulo externo pode ter influenciado? De acordo com as necessidades humanas de
Maslow que necessidades estariam afetadas?
Desse modo, quase todos iniciaram a entrevista mencionando alguns fatores, também
encontrados na literatura, como predisponentes para a obesidade, a exemplo da
hereditariedade, gravidez, uso de medicação, hábitos de vida e alimentares e, principalmente,
a presença de obesidade ainda na infância.
Assim, a maioria mencionou o longo tempo de obesidade, relatando que desde
criança já eram obesos, tendo iniciado a luta contra o excesso de peso desde muito pequenos,
conforme relatos abaixo:
[...]desde os 05 anos de idade, que eu já tenho aumento de peso, porque
tinha problema de asma, aí tomei corticóide, engordei e, depois, na
adolescência aí começou realmente por falta de controle mesmo, doces,
essas coisas, aí comecei a engordar.( E1).
[...]Agora eu to com 103 kg né, 103 kg, mas eu já tenho feito muito,já tenho
usado muito medicamento desde criança, desde adolescente ( fala pausado,
lento, demonstrando o tanto tempo que vem lutando contra a obesidade.
[...] (E4).
Eu comecei a engordar, tinha uns 7 anos por aí...Eu era bem magrinha na
escola e tudo.Quando eu tinha 07 anos comecei a engordar, a engordar,
foi aí que já vestia roupa de 10 anos. (E 6).
[...] Já, já, já, eu desde os dezenove anos quando eu me descobri que era
obeso que eu venho fazendo tratamentos [...]O que me levou a fazer a
cirurgia é saúde. Foi quando eu conversei com o cirurgião, aí fui entender
que eu precisava na realidade fazer essa cirurgia, por que eu tenho muitos
problemas de saúde e a cirurgia vai trazer benefícios para mim.[...] Então
tem várias pessoas que eu vi emagrecendo, que era obeso. O que é que
aconteceu com aquela pessoa? Não, fiz cirurgia bariática. Aí foi que eu vi
uma colega minha, uma colega de meu pai. E sempre meu pai ficava
dizendo: Taí, oh! Já fez taí magra. Você tem que fazer. Aí eu peguei,
perguntei o telefone, um dia liguei para aqui (referindo-se ao ambulatório
do hospital) e marquei a consulta e aí foi. (E7).
[...] Porque eu nasci gorda, sempre fui gorda, fiz dieta, tomei vários
remédios pra perder peso, mas não consegui. [...] (E09).
Tenho dificuldades em queimar calorias e perder peso. Eu nasci gordo e a
vida toda tentei fazer e não consegui perder realmente [...] (E10).
Eu fiz desde pequena acompanhamento com endocrinologista, com
nutricionista [...] (E12).
82
Os sujeitos citaram com alguma freqüência o fator hereditariedade, como sendo o
responsável por sua obesidade. Relataram casos de parentes obesos e de patologias que eles
apresentavam, relacionados à obesidade como um exemplo negativo, um exemplo a não ser
seguido. Nesse sentido, vêem a cirurgia como uma tábua de salvação para melhorar a saúde,
alcançando melhor qualidade de vida, uma vez que nada, até então, tem funcionado. Vejamos
os relatos abaixo:
[...] Tenho 25 anos, aí vai ficando mais difícil. Meu pai é hipertenso, minha
avó tem problema de coração, meu pai é diabético [...] Minha avó também
está engordando. Então, é aquela questão, vai viver sempre na dieta, ter o
medo de engordar [...] (E6).
Na minha família tem vários obesos, vários (enfatiza bastante). Parentes
próximos, tios. São três que são obesos mesmo (exagera) [...] (E7).
[...] Meu avô morreu de derrame cerebral, minha avó era diabética, meu
pai e minha mãe têm colesterol alto. Minha mãe tem problema de doença
coronariana. Minha família toda, toda (enfatiza), eu diria que 80 a 90%.
Primos mais jovens do que eu, mais fortes do que eu, minha avó. Minha avó
quando morreu, tinha diminuído, mas pesava 120 kg, uma pessoa que tinha
1,50 cm por aí. Eu tenho uma tia que é médica, que também é a mesma
coisa que minha vó, baixinha e gordinha [...] (E8).
[...] a família de meu pai toda é obeso.(E12)
Acredita-se que fatores genéticos posam estar relacionados à eficiência no
aproveitamento, armazenamento e mobilização dos nutrientes ingeridos; ao gasto energético,
em especial a taxa metabólica basal; ao controle do apetite e ao comportamento alimentar
(FRANCISCHI et al, 2000; SICHIERI, 1998).
Nesse sentido, a associação da ocorrência de obesidade entre membros de uma
mesma família é conhecida, acreditando-se que isso pode ser devido tanto a fatores genéticos
quanto aos hábitos de vida. No entanto, as ocorrências de obesidade dos pais levam a um risco
aumentado de ocorrências de obesidade, nos filhos, chegando a quase duas vezes maior (80%)
para os indivíduos com pai e mãe obesos (GIGANTE, 2004).
Dâmaso (2005) orienta que a obesidade na infância é um forte elemento que
predispõe ao excesso de peso na vida adulta. Além disso, de um modo geral, a criança imita o
modelo materno e paterno. Assim, a família é o principal meio social de suporte ao controle e
prevenção da obesidade na infância.
83
Para os sujeitos do estudo, ao mesmo tempo em que relacionaram, procuraram
associar a causa da sua obesidade ao fator hereditário e à obesidade infantil, acabam sendo
bastantes auto-críticos, assumindo sua parcela de culpa e responsabilidade, quando colocam
os maus hábitos alimentares ou preferências alimentares. Nesse momento, podíamos sentir a
manifestação de vergonha e culpa por sua obesidade.
[...] depois na adolescência, aí começou realmente por falta de controle
mesmo, doces, essas coisas, aí comecei a engordar. [...]. Eu como muito
chocolate, entendeu? Eu sou fã, eu sou chocólatra, então muito biscoito de
chocolate, é chocolate propriamente dito, e assim, beliscando. Eu como
muito biscoito de chocolate, como chocolate demais, coca-cola,
refrigerante, então eu vejo que para mim isso daí foi um fator que foi
fundamental para eu engordar {...}. (Falando com prazer sobre a comida
gostosa, parecia estar saboreando novamente, demonstra prazer ao se
recordar do alimento gostoso). (E1).
[...] e também no início eu tomei hormônio, aqueles hormônios que as vezes
a gente tem que tomar . Eu engordava bastante [...] (E2).
[...] como todo gordinho a gente adora comer, comer bem. Parece que
comer bem é comer muito [...] (E2).
[...] Eu estudava à noite, todo dia de noite quando eu chegava da faculdade
tinha uma sopinha pronta, tinha alguma coisa gostosa [...] Foi mais a
indisciplina mesmo e os maus hábitos [...] (E3).
[...] Tive 03 filhos. Depois do primeiro filho eu ganhei um pesinho, o
segundo mais um pouquinho, o terceiro mais um pouquinho e depois não
consegui mais perder (30 kg)[...]. A primeira, teve um espaço de 5 anos e
meio, mas do 2ª para o 3º foi apenas de 11 meses. Como eu falei com o Dr.
agora, está muito ligada as minhas gestações né?Quase 50 Kg nos últimos
três anos, mais ou menos. Da minha primeira gravidez para cá, foram
quase 50 kg (E5)
[...] Então a proporção que foi passando o tempo, depois que eu casei, tive
filhos, perdi filhos, tomando anticoncepcional, essas coisas, aí eu fui
aumentando a cada ano mais o peso. [...] (E9).
Estudos têm identificado situações e fases da vida em que as pessoas podem ficar
mais vulneráveis à obesidade. Fatores relacionados ao ciclo reprodutivo, como a idade da
menarca, o ganho de peso gestacional, o número de filhos, o intervalo entre os partos e a
duração da amamentação também têm sido relacionados ao aumento da obesidade (SILVA,
84
1995; GIGANTE et al.,1997; COUTINHO, 1998; LINS, 1999; KAC et al., 2001; 2003;
MENDONÇA, 2005).
Deve ser registrado, ainda, que são vários os fatores que têm contribuído para a
obesidade, destacando-se: o novo papel feminino na sociedade e sua inserção no mercado de
trabalho; a concentração da população nos meios urbanos; e a diminuição do esforço físico e,
consequentemente do gasto energético, tanto no trabalho, quanto na rotina diária, assim como
a crescente industrialização dos alimentos (GIGANTE, 2004).
Nesse sentido, o padrão de consumo alimentar atual está baseado na ingestão de
alimentos risco em açucares simples, gordura saturada, sódio, conservantes, sendo pobres em
fibras e nutrientes. Assim, os principais fatores responsáveis pelo aumento acelerado da
obesidade estão relacionados ao ambiente e às mudanças no modo de vida.
Outros fatores que, também, estão associados ao ganho excessivo de peso são as
mudanças em alguns momentos da vida, como casamento, viuvez, e separação, por exemplo.
Determinadas situações de violência, fatores psicológicos como o estresse, a ansiedade e
depressão e a compulsão alimentar são outros fatores que colaboram para esse evento. Além
deles, tratamentos medicamentosos, com pisicofármacos, corticóides e a redução drástica de
atividade física também contribuem para a obesidade. (GIGANTE; 1997, MENDONÇA,
2005).
A literatura revela que, embora os fatores genéticos possam contribuir para a
ocorrência da obesidade, estima-se que somente pequena parcela dos casos de obesidade na
atualidade, possam ser atribuído a esses fatores (WORLD HEALTH ORGANIZATION,
1985).
A transição nutricional não só está fortemente ligada às mudanças nos padrões de
consumo dos alimentos, mas, também, às modificações de ordem político e social. Fatores
econômicos e culturais ainda estão presentes nesse processo.
Os sujeitos, ao iniciarmos as entrevistas, contavam suas trajetórias como pessoas
obesas: quando e como começaram a obesidade, o que já tinham feito para perder peso, tudo
que já haviam passado, pareciam querer enumerar justificativas que, também, nos
convencessem da necessidade de realizar o procedimento cirúrgico. Desse modo, talvez
estivessem querendo reforçar para eles mesmos, a decisão tomada.
Das entrevistas, podemos extrair das falas os motivos para a realização da cirurgia.
Sendo citado como o principal deles: a busca pela saúde e pela qualidade de vida. Percebemos
durante os discursos a demonstração da frustração pelos inúmeros fracassos com os
tratamentos clínicos realizados durante anos. Tratamentos intermináveis, que traziam como
85
resultado a perda de peso, a melhora do humor e da auto-estima, mas só por pouco tempo,
pois além de recuperarem rapidamente o peso perdido, também adquiriam mais alguns quilos,
a cada tratamento fracassado, e nova decepção.
Assim, quando comparado ao sacrifício, os resultados eram efêmeros e acabavam se
tornando negativos, pois a decepção final ia se acumulando, prejudicando a autoconfiança e a
fé em sua própria capacidade de resolver o problema, quando começavam a acreditar que
eram fracos e incapazes de modificar seus hábitos alimentares.
Desse modo, é também através das falas dos entrevistados, que podemos constatar o
profundo pesar, sofrimento e vergonha:
[...] Fui ao vigilante do peso, usei fórmulas, dietas, dieta com nutricionista,
dieta com endócrino, todas as outras formas assim, eu já tentei. O que eu
mais perdi foi com a fórmula, cheguei a perder 25 kg. Também voltei,
engordei mais ainda [...] O período de tratamento da fórmula é tranqüilo,
você emagrece rápido, tudo lindo e maravilhoso, mas depois que você pára,
volta tudo de novo e mais rápido [...] (E1).
[...] Mas, aí eu fiz a opção de emagrecer, e nada, nada. Faço regime,
emagreço um pouquinho e torno a voltar. Desde a idade de 20 anos que eu
comecei a engordar, que eu luto para emagrecer. Faço regime, emagreço.
Não, não, só dieta. Eu emagreço rápido, mas eu não consigo manter muito
tempo. Eu já perdi até 120 kg, eu já cheguei [...] (E3).
Eu tenho usado vários tipos de medicação, entendeu? E quando usava, na
época, na época, eu não tinha assim, orientação... é nutricional (como se
estivesse lembrando o nome correto) para fazer uma coisa correta, então
fazia assim, aqueles regimes, exagerados, aquele regime assim, com fome
de comer. E quando eu terminei de pagar as prestações, eu já tinha
engordado tudo de novo, aí eu, ou seja, eu fiquei sem poder comprar os
medicamentos e engordei tudo de novo. Então, eu tentei de tudo, eu fiz
muitas coisas: vigilante do peso [...] (E4).
[...] Tentei, tomei muitas formulas dietas, aquelas dietas milagrosas né em
que você perde instantâneo e depois volta mais gorda ainda. E ....fiz
academia, caminhada, mas, eu estou sempre notando que eu estou sempre
piorando, voltando mais (fala de modo desanimado). (E5).
[...] Já, já, já, eu desde os dezenove anos quando eu me descobri que era
obeso que eu venho fazendo tratamentos com endocrinologista, dieta.
Cheguei a perder esse peso numa época, perdi muito. Voltei ao peso ideal
que era 70 Kg. Só que, depois, com o tempo, trabalho, estresse, tudo isso
implicou que o peso aumentasse. (E7).
86
Eu não consigo fazer regime, já fiz dois, com duas nutricionistas, uma
inclusive professora lá da UFBA, Prof.ª Solange Viana. Solange, a gente
fez, eu cheguei a perder 25 Kg, mas aí, volta [...] (E8).
Já fiz dietas, tomei herbalife, tomei xenical e outras drogas pra perder peso,
mas não tive sucesso. [...] (E9).
[...]Eu passei pelas medicações, pelas famosas bombas, vigilantes do peso,
exercícios físicos. (E11).
[...] Eu amadureci a idéia e resolvi que ia fazer porque eu já tentei de tudo
e nada deu certo, então... [...] Eu fiz desde pequena acompanhamento com
endocrinologista, com nutricionista, depois mais tarde, eu fiz vigilante do
peso, ah! 2 vezes acompanhamento com a nutricionista junto com o
psicólogo, enfim. Fora aquelas dietas, né, todas aquelas da lua, da proteína
[...] (E12).
A procura por dietas milagrosas tem sido um caminho para uma grande parcela da
população, na esperança de perder peso em pouco tempo. No entanto, muitas vezes, essas
dietas não são toleradas por muito tempo, pois priorizam um nutriente em detrimento de
outros, são muito restritivas, reduzindo severamente o consumo energético, tornando difícil
sua adesão, por um longo período. Na maioria dos casos promovem perda de massa muscular,
água, eletrólitos, minerais e, assim, a perda de peso, porém de pouca gordura.
O pensamento globalizado, de que não é possível perder tempo, leva ao uso
indiscriminado de medicamentos para emagrecer. Porém, muitos desses medicamentos,
depois de alguns meses perdem seu efeito, fazendo com que as pessoas, na maioria das vezes,
voltem a engordar, além de provocar outros efeitos prejudiciais à saúde. Esses tipos de
medicamentos também têm efeitos colaterais desagradáveis podendo provocar insônia,
taquicardia, aumento da pressão arterial, lesão de válvulas cardíacas e até quadros psicóticos.
Além da questão saúde como fator motivador para a cirurgia, observamos nas falas
dos entrevistados grande influência externa, tanto por parte de médicos, quanto por parte de
familiares e até de pessoas que já se submeteram a cirurgia e que estavam satisfeitos com os
resultados. O consenso na fala de vários médicos, mesmo que não cirurgião, apareceu como
um motivo e a indicação médica parece transmitir a segurança que necessitam para se
decidirem a realizar a cirurgia. A experiência positiva de outras pessoas que já realizaram a
cirurgia bariátrica parece sinal positivo, causando grande empolgação pela cirurgia, ao mesmo
tampo que miniminiza a dimensão dos riscos cirúrgicos e os desconfortos advindo desse
procedimento.
87
A falta de condições econômicas apareceu como um fator que impossibilitavam
muitas dessas pessoas fazerem a cirurgia. Com a aprovação da solicitação pelos convênios de
saúde, o que antes era apenas um sonho, passou a ser uma realidade menos distante possível
de ser alcançada, de acordo com a fala de nosso entrevistado.
[...] Por que eu me motivei a cirurgia bariática já explodiu, na verdade era
só entocadinho, na verdade pela dificuldade que era para ter uma
autorização do plano de saúde, tudo isso, era bem entocado. Hoje não, já
explodiu. (E7).
[...] Mas, agora eu tomei a iniciativa. Também já estou de maior. Uma
colega de minha mãe já fez, aí já tem a referência, aí eu resolvi fazer. (E1).
Minha irmã fez a cirurgia há 2 anos e 5 meses que ela fez e ela vive dizendo
que eu deveria fazer e tal, e tal, mas..[...]eu tenho problema de coluna e aí,
o médico agora me pediu para fazer (enfática). Ele entendeu? Indicou-me,
ele foi assim até muito esclarecido para mim. Se você fosse uma filha
minha, uma irmã minha eu lhe diria para fazer devido o problema que vai
ter na coluna. Então, esse foi o maior motivador. (E2).
[...] Ah! Minha irmã está super satisfeita com a cirurgia, não se queixa de
nada (fala mais entusiasmada, mais animada, bem mais descontraída).
Mesmo essas idas e vindas que eu digo que ela faz, pra ela ta tudo bem, ela
adora. Eu conheço várias pessoas que fizeram, me dizem sempre, faça.
Faça, você deveria fazer (imitando os outros). Você deveria fazer é tão bom.
(E3).
[...] Até pessoas que os convênios não cobriam a cirurgia por
videolaparoscopia fizeram aberta (referindo-se a cirurgia convencional,
com técnica aberta), mesmo assim, recomendaram! (surpresa). (E3).
4.1.1.1 Subcategoria comorbidades
Nessa subcategoria, buscamos identificar entre os entrevistados as comorbidades
mais comuns, à obesidade. Saber se tinham conhecimento de suas patologias, quais eram
essas patologias e quais as repercussões que elas trazem ou podem trazer à sua saúde. A
qualidade de vida foi também, contemplada.
As chamadas comorbidades compreendem as doenças sistêmicas, conseqüentes a
obesidade, e que comprometem a saúde do indivíduo como um todo. Algumas vezes, as
88
pessoas ainda nem sabem que as possuem, só descobrindo ocasionalmente, quando
pesquisando algum outro problema ou apenas quando os sintomas se fazem presentes.
A preocupação com essas patologias foi explícita durante o relato das pessoas
entrevistadas. Mesmo aquelas que ainda não tinham a doença desenvolvida, preocupavam em
preveni-las, em virtude das informações recebidas pela equipe médica ou de outras fontes,
veículos de comunicação, ou até mesmo experiências familiares. Algumas mencionaram
comorbidades mais comuns à obesidade, e conforme a literatura e trabalhos de pesquisas já
realizados. Outras sofreram terrivelmente com a doença instalada há algum tempo e pelas
limitações por elas impostas. Os relatos abaixo exemplificam essa subcategoria.
Olha é uma das coisas né? É, é pela saúde, a obesidade geralmente gera
um monte de problemas né? Hipertensão. Eu tenho uma inflamaçãozinha no
joelho que as dores são insuportáveis não é?[...] (E4).
[...] Porque, é o seguinte. Eu adquiri 2 hérnias, porém uma das hérnias
estão estrusas e estas hérnias estão afetando minhas pernas, inclusive eu já
tenho ultimamente, eu tenho 15 dias que estou sentindo muitas dores nas
pernas, dor. Então essas hérnias estão começando a me incomodar. Agora
eu estou com dor frequentemente nas minhas pernas. Então tá ficando
muito difícil [...] (E6).
É uma questão de saúde mesmo, a preocupação. Eu tenho 48 anos e pra...
É e a família que é. Meu avô morreu de derrame cerebral, minha avó era
diabética, meu pai e minha mãe têm colesterol alto. Minha mãe tem
problema de doença coronariana. [...] A família toda é de hipertensos e
está começando a me criar problemas. Por exemplo, até para andar eu
tinha dificuldade, doía muito as pernas. Mas, é em função disso mesmo, e
problemas maiores já estão aparecendo [...] (E8).
[...] Tem um colega que fez a bariátrica com João, mas que colocou acho o
anel, também tá ótima. Então com a evolução, e eu tenho uma coisa na
realidade o que me levou a isso também, um tio meu, ele agora tá dizendo
que eu sou o número 1 da família, eu! Porra, não, o número 1 em termo de
peso. Ah! [...] (E8).
Olha, a cirurgia é principalmente o meu diabetes, né, eu sou diabética.
(E8).
Sou hipertenso e tive uma trombose na perna, tudo causado pela obesidade
(E7).
Profissionalmente pra mim... Eu sou engenheiro agrônomo e tenho que [...]
tomo conta de algumas propriedades rurais e pra eu me locomover estava
muito difícil [...](E10). Eu nasci gordo e a vida toda tentei fazer e não
89
consegui perder realmente, substancialmente e aí vieram as complicações
causadas pela doenças, principalmente pela diabetes[...] (E10).
O que me deixou bem mais transtornada com a obesidade, foi a apnéia do
sono. Então, foi indicação médica mesmo, a apnéia do sono- não foi
estética. Meus colegas lá da pós-graduação em medicina estética me deram
a idéia da cirurgia [...] (E11).
A Organização Mundial da Saúde (OMS), (1997) define a obesidade mórbida ou
obesidade muito grave, aquela cujo, IMC superior a 40 kg/m², o que corresponde,
aproximadamente, a 45 kg acima do peso ideal. Atualmente, utiliza-se o termo superobeso
para designar pessoas com IMC superior a 50 kg/m². Esses indivíduos necessitam de atenção
especial, em função das altas taxas de morbimortalidade, que, especialmente, nesses casos,
assumem caráter de uma doença debilitante, progressiva e grave.
Savassi-Rocha (2003) asseguram que as conseqüências da obesidade grave podem
ser encontradas em praticamente todos os sistemas orgânicos e as complicações mais
freqüentes são as osteoartrites, hipertensão arterial, refluxo gastroesofágico, colecistopatia,
depressão, dislipidemia, Diabetes mellitus, asma, insuficiência cardíaca e apnéia do sono.
Independente da medida do IMC, o risco para a saúde aumenta se o indivíduo
apresentar excesso de gordura abdominal (obesidade visceral); níveis pressóricos elevados;
níveis aumentados de colesterol sérico; doença cardíaca prévia; história familiar positiva para
Diabetes e obesidade antes dos 40 anos de idade.
Outras comorbidades, associadas à obesidade foram relatadas por algumas dessas
pessoas:
[...] E agora que eu também não sabia, que quando eu fiz a US, até então eu
não tinha conhecimento que eu tinha gordura no fígado. Eu não sabia!
(E1).
[...] Dores no fígado. O que é isso, o que é isso, eu nem sabia que era
fígado sabe? Achava que era coluna, aí quando cheguei fui fazer uma US,
estava com o fígado aumentado de tamanho, um excesso de gordura no
fígado, que eu nem imaginava!!!! (E5).
[...] Uma que eu digo a você que me incomoda é uma trombose que eu
tenho na perna esquerda, isso aconteceu quando eu quebrei a perna e a
dificuldade que eu tenho no dia-a dia [...] (E7).
90
[...] Já tinha atingido o fígado, já tá... Mas, gordura o fígado já tava [...] eu
tive problemas de pedra nos rins [...] (E8).
[...] Foi por indicação médica mesmo- a apnéia do sono. (E11).
Eu tenho uma doença no intestino, a minha vai ser só a redução do
estômago porque eu tenho pólipos no duodeno, então não pode excluir [...]
(E11).
Em relação a essas manifestações, a literatura revela que:
De acordo com Tock (2004), as principais implicações da obesidade no trato
gastrointestinal são: hérnia de hiato, cálculos na vesícula biliar e câncer colorretal. No
entanto, a que mais chama atenção é a maior incidência de esteatose hepática (excesso de
gordura no fígado), inclusive em adolescentes obesos. Nesse sentido, estudos recentes
demonstraram que 44% de adolescentes obesas e 60% de adolescentes obesos apresentam
grau (I a III) de esteatose hepática não alcoólica.
Mancini (2001) por sua vez, em pesquisa realizada reforçou que a doença hepática
pode evoluir de esteatose para cirrose, podendo atingir até 74% dos pacientes obesos.
Jung (1977) também afirma que a associação entre a obesidade e a calculose biliar e
renal pode estar associada a dois fatores: aumento do colesterol circulante, e o aumento na
taxa em que o colesterol é excretado na bile. A formação do cálculo na vesícula biliar depende
da precipitação do colesterol na bile saturada. Para cada 01 kg de gordura corporal,
aproximadamente 20 mg/dl de colesterol são sintetizados; consequentemente, em obesos a
bile é muito mais saturada com colesterol, do que em pessoas com peso corporal dentro dos
padrões de normalidade. Ainda, segundo Amaral (1985), a associação de lítiase biliar e
obesidade mórbida ocorrem em até 50% dos pacientes.
Das doenças respiratórias, associada a obesidade, foi citada pela entrevistada
número11, a apnéia do sono. De acordo com a literatura, essa é também a mais importante
doença respiratória associada a obesidade. Chamada de Síndrome de Apnéia Obstrutiva do
Sono (SAOS) leva a ocorrência de pausas respiratórias (apnéia) por redução da passagem do
ar, pelas vias aéreas superiores, com duração mínima de 10 segundos. Essas paradas podem
ocorrer inúmeras vezes durante o sono. A base da língua e o palato mole promovem o
fechamento da oro e hipo-faringe, interrompendo a passagem do ar. Uma vez ocorrida a
obstrução à passagem do ar, verifica-se uma diminuição da saturação de hemoglobina
(hipóxia). Quando chega a esse ponto, o sistema nervoso simpático estimula o centro
respiratório e o indivíduo acorda assustado. Essas pessoas tendem a desenvolver hipertensão
91
arterial, devido ao estímulo exacerbado do sistema nervoso simpático. Esse quadro pode ser
revertido com a redução do peso corporal, quando os casos são de menor gravidade.
Grunstein (1999), em estudo realizado, comenta que foi verificada a ocorrência de
até 5 episódios de apnéia, por hora, em 80% de homens adultos, sofrem desse distúrbio. É
uma doença crônica, progressiva, incapacitante, com graves repercussoões
cardiorrespiratórias e ocorre principalmente em homens obesos (IMC acima de 35 kg/m²) e
entre 40 e 65 anos. Na obesidade mórbida chega a atingir 50% dos homens e 30% das
mulheres.
O autor informa ainda, que os principais sintomas da apnéia do sono são: roncos,
acordar assustado no episódio da apnéia (acompanhada geralmente de taquicardia), sono
irregular, sonolência diurna, irritabilidade, cansaço físico e mental, distúrbios de memória e
dificuldade de raciocínio. Não é raro, também, a ocorrência de depressão e de graves riscos de
acidentes automobilísticos e em manejo de máquinas perigosas.
4.1.1.2 Subcategoria estética, mídia e padrão ideal
Em relação a essa subcategoria, acreditávamos ser este o maior motivo para as
pessoas submeterem-se a cirurgia. Embora, não tenha aparecido nas entrevistas como o
motivo mais importante, a estética é um fator determinante muito forte e está relacionado à
melhora da auto-estima, da sexualidade e da resposta frente a sociedade.
A preocupação com a estética não nos pareceu estar relacionada à aquisição de um
corpo de modelo, mas a um corpo socialmente aceito, menos discriminado e que desperte
menos o olhar crítico das pessoas por onde elas andam. Na verdade, que despertem um
interesse genuíno e não crítico, ainda, que elimine o olhar piedoso ou de escárnio “por alguém
tão fraco”, que não consegue nem mesmo controlar a fome.
Em estudo realizado com mulheres obesas, Mendonça (2005) relata que, para as
mulheres, a percepção da obesidade não passa por mensurações comparáveis a um padrão
pré-estabelecido, mas por comparações de suas medidas ao longo do tempo, tais como: as
mudanças do manequim, na compra de roupas; ou representado pela silhueta; onde se destaca
a cintura como parâmetro ou também pelo valor limite caracterizado pela barreira dos cem
quilos, ou ainda pela manutenção ou impedimento à capacidade de locomoção e de trabalho.
92
Uma de nossas entrevistadas parece confirmar tal sentença, ao manifestar:
Hoje eu tenho cerca de 97 a 99 kg. Está quase nos 03 dígitos já. Então, foi
assim, o empurrão que eu precisava para vir aqui, foi esse negócio, esse
aconselhamento [...] (E2).
Ao trabalharmos com pessoas obesas, entretanto, observamos que a busca por uma
outra estética torna-se ainda mais marcante, mas, também, mais justificada se nos reportarmos
às inúmeras experiências de exclusão e mal-estar social.
Novaes (2006) enfatiza a dimensão de regulação e controle das práticas corporais ao
sublinhar o lugar que a beleza ocupa como valor social. No entanto, nos convém analisar que
essa representação da cultura dominante educa o corpo do homem, porém também, o
aprisiona. Aquelas pessoas, que não correspondem ao protótipo estabelecido pela cultura
dominante são marginalizadas e sofrem todo tipo de preconceito.
Registramos que, desde que o homem aprendeu a viver em sociedade, necessita da
aprovação e aceitação de seus grupos sociais, a exemplo dos adolescentes que buscam suas
tribos”, copiando gestos, hábitos, posturas, vícios, expressões, costumes e vestimentas,
gírias e meios de comunicação, enfim toda uma cartografia corporal.
O corpo perfeito passou, nos dias atuais, a ser o passaporte para a felicidade, bem
estar e realização pessoal, sendo um dos maiores símbolos de inserção social, acolhendo o
sujeito como membro do grupo, o que passa a ser quase um dever, uma obrigação.
Freud (1930), em O Mal Estar da Civilização, caracteriza a busca da beleza como
uma estratégia para a felicidade, referindo-se às mulheres como “o belo sexo”. Ao longo da
história à imagem da beleza e da saúde sempre estiveram associadas à imagem do feminino,
porém, na contemporaneidade, essa imagem passou a ser um atributo moral feminino. Os
homens, hoje, também são atingidos por essa cultura, muito embora de forma distinta a das
mulheres.
A esse respeito, Fischler (1995) define as sociedades modernas como “lipófobas”,
que odeiam gordura. Complementando que a percepção da obesidade em homens e mulheres
também podem ser distintas. Em relação aos homens a obesidade costuma estar associada às
idéias de sucesso econômico, força política e condição social. Em relação as mulheres, ao
contrário, muitas vezes, está associada a um corpo discriminado e sem controle.
93
Atualmente tem vigorado uma nova ética em relação ao corpo: o culto narcisista,
dietético, higiênico e terapêutico (TONIAL, 2001; FELIPE, 2003; FERREIRA, 2003).
Lins (1999) afirma que na sociedade de consumo, para vender a ampliar as vendas,
os comerciantes e profissionais dos cuidados com o corpo vêm contribuindo para difundir
novos hábitos. A preocupação com a saúde do corpo é uma atitude bastante saudável, porém
prender-se a padrões estéticos corporais, e buscar alcançá-los a qualquer preço pode ser uma
grande armadilha. Buscar metas inatingíveis pode gerar grande frustração.
Nesse contexto, o corpo passa a ser o centro do nosso cotidiano, na busca por uma
saúde perfeita, juventude eterna e beleza ideal. Os sujeitos deste estudo, não revelaram a
busca de alcançar o modelo padronizado pela mídia, na verdade, não se sentiam capazes,
embora considerassem isso, como sendo lindo e maravilhoso.
Assim, embora o fator estética não apareça como motivo principal para a realização
da cirurgia, foi também enfatizado e, frequentemente mencionado pelos entrevistados.
Vejamos os relatos abaixo:
Assim, enquanto você está no período de tratamento da fórmula é tranqüilo,
você emagrece rápido, tudo lindo e maravilhoso, mas [...] (E1).
Quero ficar magra, quero voltar a vestir roupa pequenininha! Quero,
porque eu fui magra até os 19 anos. Magra, eu tinha 60 kg. Hoje eu cerca
de 97 a 99 kg. Está quase nos 2 dígitos já [...] depois da gravidez eu fiquei
mais magra né?, e aí não consegui segurar, engordei tudo [...] (E2).
Ah! Eu queria ser elegante,
(rindo, otimista) magrinha, me vestir bem, que
eu gosto. Me acho bastante gorda, feia . Eu quero ficar magrinha. (E3).
[...] E principalmente também o incômodo, por um motivo estético. Se eu
me aceitasse. Eu acho que diminuiria um pouco né?(E4).
Eu espero alcançar os meus 70 Kg pelo menos, me deixou eu ver ( fazendo
jeito de quem está pensando, idealizando) um corpo que não precisa ser
magro, eu não quero ser magra não (risos), mas um corpo principalmente
... a minha plástica que eu quero fazer, né?[...] Roupa... Já estava vestindo
roupa de coroa mesmo, gordona. Tava toda estranha [...] (E5).
Eu vi uma pessoa ali, agora mesmo ali
(aponta para o ambulatório, sala de
espera) espantosamente surpreso, rapaz! Aquilo ali na sala, agora, é um
milagre! Eu fiz assim, olhei assim para a Senhora, a mulé simpática velho,
agora com um rosto bonito, mas o corpo todo parecendo um mutante,
parece um [...] aquilo é triste! E ela já fez a cirurgia! Imagine se não
fizesse! (E7).
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Porque o gordo tem muita dificuldade de comprar roupa. Ah! o pessoal nem
lhe dá atenção porque não tem roupa pra você. Quando você chega numa
loja, as pessoas às vezes nem lhe atende por que. Mesmo que eu não vá
comprar pra mim, que eu vá comprar pra minha filha ou pro meu filho. Ah!
O pessoal nem lhe dá atenção, porque não tem roupa pra você. Às vezes
você chama a atenção por ser gorda, aí todo mundo fica lhe observando. Eu
não quero mais ser esse centro, desse jeito entende?(E9).
Achava que tudo resolveria com lipo, musculação, exercícios físicos.[...]
Depois da depressão, que eu vi! Meu Deus! Eu não to aquela atleta, que eu
era atleta [...] Mas, eu ainda vejo a perna bonita [...] Minha cirurgia não
vai ser drástica quanto o pessoal faz. e também eu não vou emagrecer tanto
quanto o pessoal emagrece, entendeu?(E11).
Os sujeitos demonstraram que após uma grande perda de peso, em pouco tempo, sem
a realização de exercícios físicos condicionados, provavelmente ficarão flácidas e com um
excesso acentuado de pele, que precisarão ser retiradas através de cirurgias plásticas.
Registramos que, após grandes emagrecimentos, proporcionados pela cirurgia bariátrica, o
paciente passa a apresentar, inexoravelmente, excessos de pele na forma de flacidez
localizada, principalmente no abdômen, braço, pernas e mamas. Isso se deve a grande
distensão da pele pela gordura, durante longo período, levando à perda da elasticidade, e
comprometendo a retração adequada após a redução do peso.
Geralmente, após dois anos decorridos da cirurgia bariátrica o paciente entra em
estabilidade de peso, de saúde e de qualidade de vida. Apresentam melhora dos problemas de
saúde anteriores e conseguem realizar muitas das atividades que antes não podiam, devido ao
excesso de peso. Porém, nessa fase a auto-estima e o bem estar social ainda encontram-se
comprometidos pela flacidez da pele, o que pode levar à sensação de fracasso demais sem
tratamento. A correção das deformidades geradas pelo grande emagrecimento, a ressecção da
pele com remodelamento corporal são praticamente obrigatórios para melhorar a estética, a
aceitação social e elevar a auto-estima.
As cirurgias que deixam cicatrizes grandes, e que podem até mesmo ficarem feias ou
ter outros tipos de complicações foi a maior preocupação estética mencionada por eles durante
as entrevistas, como veremos a seguir.
[...] quem faz a cirurgia tem que passar depois por uma cirurgia estética? E
é praticamente obrigatório [...] porque tem certas partes do corpo que fica
assim muito difícil. É feio, exatamente. Eu sei que depois que passar por
95
essa cirurgia obrigatoriamente (risos nervosos) eu vou ter que passar por
outra depois [...] (E2).
Eu mesma quero, quero fazer plástica. Minha intenção também é fazer
plástica, claro, eu vou fazer se eu conseguir emagrecer, tirar a pelanca aí
de baixo (rindo, e apontando para o abdômen). Tem horas que eu fico assim
[...] (E3).
Eu espero alcançar os meus 70 Kg pelo menos, me deixa eu ver, ( fazendo
jeito de quem está pensando, idealizando) um corpo que não precisa ser
magro, eu não quero ser magra não, mas um corpo principalmente [...] a
minha plástica que eu quero fazer,né [...] (E5).
Eu tô com pavor a flacidez, sabe? Com muito pavor, porque assim, todo
mundo fala que eu sou uma gorda durinha, então eu to com medo de ficar
flácida. (E11).
Quanto à mídia e o padrão estético a sociedade contemporânea vive a era das
imagens, através dos meios de comunicação de massa, utilizando um discurso publicitário,
que promete preencher o vazio existencial, através da exposição de modelos femininos
perfeitos e produtos que prometem a eterna juventude e beleza. Utilizam-se para isso de uma
linguagem simplificada, de fácil entendimento para todos, destituindo-nos da necessidade de
um pensamento reflexivo e crítico, do conteúdo veiculado.
Nesse contexto, o ideal de corpo perfeito preconizado por nossa sociedade e
veiculado pela mídia, tem levado muitas mulheres a uma insatisfação crônica com seus
corpos. O lucrativo mercado da indústria da beleza, por sua vez, fomenta no imaginário
feminino a fantasia de que basta querer para adquirir o corpo desejado, utilizando-se de suas
carências e insatisfações, as seduz, o que se tornou necessidade básica, levando-as a consumir
todas as novas tecnologias da beleza. Assim, crêem que a promessa de felicidade e beleza está
diretamente ligada ao consumo dessa indústria.
Na verdade, a expectativa do consumidor é a de que ao adquirir aqueles produtos,
adquira, também, o padrão corporal veiculado na propaganda através de imagens de mulheres
maravilhosas e bem sucedidas. Pois, a mídia também veicula a promessa de satisfação, de
maneira imediata. Com o imediatismo o percurso a ser percorrido para atingir a meta, passa a
ser um obstáculo, uma trajetória longa, porque transforma-na em algo difícil de alcançar.
Nesse sentido, o adiamento da satisfação gera frustração e busca por soluções mais rápidas tão
imediatas quanto a ansiedade pelos resultados (NOVAES, 2006).
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O binômio saúde-beleza nos é apresentado como o caminho legítimo e seguro para a
felicidade individual e vem sendo impostas, principalmente à mulher, como um dever moral.
Por que continuar feia e gorda se existem academias, medicamentos, cirurgias e tantas outras
técnicas capazes de torná-las bonitas? Acabam passando a idéia de que hoje só não é bonita,
quem não quer. Associam-se, ainda, outros adjetivos depreciativos como: pessoa fraca,
desequilibrada, que não tem controle sobre seu próprio corpo e, consequentemente, sobre sua
própria vida. Sendo assim, a gordura configura-se entre o pior desleixo com o corpo, e
concebida como uma transgressão moral, tornando-se uma das formas mais radicais de
exclusão social.
Contraditoriamente, as pessoas obesas estão associadas a estereótipos como
simpáticos e amáveis, como se agissem assim para serem aceitos socialmente, uma vez que
isso não pode ser feito pela apresentação estética. Do mesmo modo, acabam buscando
cuidados com o físico e a estética para enfrentar os julgamentos e as expectativas sociais.
Dessa maneira, pode encontrar a visibilidade social que espera atingir. Aqueles que não
conseguem corresponder a isso acabam por baixar a auto-estima e o amor próprio. Chegam ao
ponto de submeterem-se a inúmeras práticas corporais, mesmo quando colocam em risco suas
próprias vidas.
Segundo Novaes (2006, p. 73), ”o corpo ideal não diz respeito somente ao controle
do peso e das medidas, revela também funções psicológicas e morais“. A obesidade
caracteriza uma ruptura estética e psíquica, da qual decorre a perda da auto-estima, uma má
conduta social e que resultam na exclusão do grupo social. Portanto, mudar seu corpo, é
mudar sua vida.
O nível, cada vez mais elevado de exigência estética torna os ideais de beleza
inatingíveis, algo muito distante da realidade dos simples e pobres mortais. Sim, porque toda a
indústria de cosméticos exige gasto considerável de tempo, energia e dinheiro, que estão bem
distantes da realidade da maioria de nossa população. Nesse cenário, só caberá duas escolhas:
ou encaram o corpo da moda, não podendo mais conviver com seu corpo mortal, ou
desenvolve uma relação de ódio com esse ideal inacessível e consigo mesma (COSTA, 1985).
Vejam os relatos das pessoas entrevistadas sobre isso:
[...] Roupa... já estava vestindo roupa de coroa mesmo, gordona, mas as
outras pessoas ajudam muito, a sociedade em si não é? Contribuem muito
para isso. Então eu quero voltar a ser uma pessoa feliz comigo mesmo. Se
eu chego no ônibus, me dão logo o lugar de grávida para eu sentar. Se eu
97
chego no banco, em qualquer lugar é prioridade. Então eu estou assim já,
envergonhada. Tem aqueles dias que eu até ainda levo na brincadeira, tem
aqueles dias que eu não tô bem. Aí, meu ego fica mesmo ferido [...] a pior
coisa é que todos que me conhecem, que me conheceram e que me vêem
hoje, é aquele espanto! -Menina, o que é isso, o que aconteceu com você?
(E5).
Eu era bem magrinha na escola e tudo [...] Aí tem aquela questão, as
pessoas não são só corpo. Mas, tem a questão da mídia, que faz tudo [...]
(E6).
O que pesa mais é a questão social, por exemplo, o preconceito, a questão
social mesmo, como se fosse uma reabilitação na verdade. Por que na
verdade há um preconceito muito grande em relação ao obeso. Eu peguei
um ônibus agora aqui. Eu peguei um ônibus e a pessoa pegou, bateu na
porta da frente por que não podia passar pelo fundo e eu nem era
deficiente, era obeso ( E7).
[...] uma pessoa fora dos padrões, não é, uma pessoa que não tem aquele
[...] não se encaixa naquele padrão [...] (E10).
[...] Então eu não me vejo tão secóide como o pessoal fica (E11).
Mais uma vez, observamos, nos relatos, a grande carga de preconceito que as pessoas
obesas vivenciam, mas observamos também o preconceito por parte deles mesmos, que,
buscam a magreza como ideal de beleza e felicidade. O peso ideal deixa de ser aquele que faz
com que ele se sinta bem e passa a ser o que está sendo estabelecido pela sociedade, vejamos
a fala abaixo:
Você acredita que eu me vejo e não me vejo horrorosa? Ah! é assim.. eu
vejo assim. Pôxa meu peito cresceu demais, ninguém merece”, mas assim,
eu ainda to me- na forma que eu tô assim, .eu vejo que eu realmente
engordei quando passo na borb. na catraca do ônibus apertada, sabe?
(E11).
Notamos, através dessa fala, um conflito grande entre o seu próprio ideal de beleza e
o que exposto pela mídia e imposto pela sociedade. Ela passa a se sentir feia e inadequada a
partir da crítica do outro que lhe serve de espelho. Pois, desde que o homem aprendeu a viver
em sociedade, necessita da aprovação e aceitação de seu grupo social.
98
A mulher passa a desenvolver uma relação persecutória com seu ego como corpo
onde cada peso a mais levam-na ao desespero. “Este corpo insaciável, não é mais para o ego
objeto que realiza o desejo de prazer. è o objeto que o ego tenta dominar e controlar à vista de
um crescente sentimento de culpa e de uma ansiedade infindável”.(COSTA, 1985, p.187).
Nas sociedades tradicionais, os rituais de passagem que envolvem qualquer tipo de
transformação corporal e simbólica, são tratados de maneiras muito rígidas, não sendo
questão de livre arbítrio. A ressignificação é dada pela comunidade, sendo, portanto de caráter
muito mais grupal do que individual.
Sobre isso, Maisonneuve (1981) manifesta-se comentando que nossos julgamentos
de gosto geralmente não são espontâneos, não são alheios à categoria social que o
determinam. A aparência humana está vinculada a ideologia e preconceitos, por isso produz
enunciados discriminatórios, que se revelam nas apreciações estéticas.
Resumindo, as diferentes opções do cuidado com o corpo, apresentadas como uma
forma de libertação, transformam-se em uma forma de prisão constante. A pessoa obesa, por
exemplo, fica aprisionada a serviço do seu próprio corpo, uma vez que o corpo perfeito
passou a ser o passaporte para a felicidade, bem estar e realização pessoal.
4.1.1.3 Subcategoria qualidade de vida
Nessa subcategoria, buscamos identificar de que maneira a obesidade interfere na
qualidade de vida dessas pessoas e, até que ponto isso também influenciou na decisão para a
realização da cirurgia.
A busca pela saúde, pela melhora da expectativa e qualidade de vida foram fatores
que os sujeitos apresentaram como determinantes na busca pelo procedimento cirúrgico.
O termo qualidade de vida é subjetivo, pois implica em uma inter-relação
harmoniosa de vários fatores que determinam e diferenciam o cotidiano das pessoas e
resultam em uma série de fenômenos e situações individualizadas.
Muitos fatores de natureza biológica, psicológica e sócio-cultural, tais como: saúde
física, mental, longevidade, satisfação no trabalho, dignidade, relações familiares, disposição,
produtividade, dignidade e espiritualidade estão associados ao termo qualidade de vida
(NAHAS, 1996).
99
As pessoas obesas conseguem associar vários desses fatores revelando, que eles os
impedem de viver uma vida com qualidade, principalmente se considerarmos a saúde de
acordo com o conceito da OMS, um completo bem estar físico, mental e social.
Kagan; Kagan (1983) consideram quatro dimensões da qualidade de vida: a
profissional, a sexual, a social e a emocional. Defendem que a qualidade de vida pode ser
medida pela satisfação dos indivíduos no cotidiano, incluindo a satisfação com a família, com
a vida social, a sexual e as satisfações com as atividades físicas e laborais.
Segundo Testa; Simonson (1996) embora os índices que mensuram a qualidade de
vida sejam mais utilizados como suplementos às medidas biológicas ou clínicas da doença,
para avaliar a qualidade do serviço, a necessidade de cuidados de saúde, a eficiência das
intervenções e a análise dos custos benefícios, cada dia mais os fatores relacionados ao bem
estar físico, mental e social tem sido considerados.
Ao se referirem à qualidade de vida apresentaram as seguintes expectativas:
Minha expectativa é vestir coisa que eu nunca vesti, é fazer coisas assim
[...] sabe! Andar de maiô na praia, essas coisas assim, é sair caminhar, não
ter assim [...] andar e poder sentar num lugar e as pessoas não ficarem lhe
observando ( E9).
Tenho pessoas que dependem de mim, eu tenho três filhos que fazem
faculdade, e eu sou o provedor. Eu provenho a minha mãe, uma pessoa que
mora comigo e sofre de Alzeheime, então eu preciso e vamos dizer assim,
me preservar um pouco pra suprir essas pessoas, pra manter essas pessoas
até que elas se encaminhem, até que elas possam fazer por elas. Você tá
entendendo, todas aquelas restrições que a pessoa que tem o sobrepeso tem
e eu acho que serão amenizadas (E10).
Eu tenho boas expectativas em termo de qualidade de vida, é muito bom
(E11).
Eu acho que eu vou ser mais saudável, então eu vou ter mais disposição pra
fazer as coisas, que hoje em dia eu não tenho muito; tipo andar, subir. Eu
moro na ladeira, pra ir ao correio, onde for, é um, pra mim é um sacrifício
agora, entendeu? Acho que depois eu vou ter mais energia. Talvez isso
mude minha vida como um todo, porque talvez eu comece a ter mais
energia pra fazer as coisas simples e aí comece a me empolgar, sabe?
(E12).
100
Gusdorf apud RAMOS (2006, p.30) afirma que “As doenças d’alma podem ser
escritas no organismo sob uma aparência material e, reciprocamente, os distúrbios corporais
podem ter os corolários dentro do espaço mental”.
Sendo assim, o corpo e a psiqué não estão separados, qualquer alteração no
funcionamento do corpo poderá afetar a psique, assim como qualquer alteração dessas pode
afetar aquele. Não é possível, portanto, cuidar do corpo sem cuidar da alma.
No caso da obesidade, por exemplo, ela tanto poderá desencadear uma doença
psíquica, quanto ser resultado de um distúrbio da psiqué, da alma. Esta, se relaciona com o
corpo, com o inconsciente, e com o conjunto do universo material, procurando sua
identificação a partir de todas as partes essenciais e integrantes da personalidade. Quando o
corpo parece não se encontrar em uma relação de identidade e igualdade com a totalidade da
psique, entra em conflito, podendo, desse modo, levar a uma dissolução parcial, implicando
na psiquização do corpo e da somatização da mente.
Os meios de comunicação e a mídia, através da imposição do padrão estético do
corpo magro, têm contribuído para diminuir o auto-respeito e para excluir as pessoas obesas
do convívio social, as quais ao se perceberem diferentes aos olhos dos outros, desenvolvem
insatisfação com sua própria imagem e corpo, refletindo-se na maneira como sentem-se a
respeito de si mesmas. A censura revelada através de olhares constrangedores, os insultos e
agressões sofridos, motivam o indivíduo a buscar uma solução, seja ela qual for, mesmo
aquelas mais radicais como os procedimentos cirúrgicos.
Embora os procedimentos cirúrgicos, hoje, sejam mais seguros, devidos os avanços
tecnológicos, continuam sendo uma ameaça a integridade física e psicológica para o paciente,
que nunca sentem-se totalmente seguros. Revelaram ainda, desconforto emocional, dúvida
quanto à cirurgia, ao pós operatório, ao futuro incerto, demonstrando sentimentos de medo da
morte, da dor, dos desconfortos pós-operatórios, da anestesia e da mudança na sua imagem
corporal, mesmo tratando-se de uma cirurgia eletiva, ansiosamente esperada, para qual todas
as pessoas atribuem a salvação de suas vidas.
Reiteramos que as pessoas obesas além de apresentarem a obesidade como doença,
estão sujeitas as comorbidades e, também, às doenças sociais e psicológicas, afetando a
capacidade de viverem uma vida feliz.
A infelicidade dessas pessoas foi explicitada durante seus relatos, de forma tocante.
Algumas vezes nos sensibilizamos e nos tornamos solidárias, ao que antes nos era
incompreensível. Esse sentimento foi, aos poucos, tornando-se claro, na medida que as
101
pessoas abriram seus corações, descortinando nossos olhos e nos permitindo ver além das
aparências, enxergando um pouco das suas almas.
Fontaine; Barofsky (2001) manifestam-se sobre isso pontuando que embora as
conseqüências médicas da obesidade sejam o centro das preocupações dos pesquisadores e
clínicos, a obesidade também pode afetar adversamente a capacidade do indivíduo viver uma
vida plena e feliz.
De acordo com Lessa (1998), a obesidade é considerada uma doença crônica não
transmissível, de história natural prolongada, com múltiplos fatores de riscos complexos, tem
curso clínico em geral, lento, prolongado e permanente apresentando períodos de remissão, de
exacerbação e evolução para diferentes graus de incapacidades ou para a morte. Em algum
momento durante os depoimentos, essas pessoas pontuavam alguns desses fatores que lhes
traziam sofrimento e dor, a começar pela saúde física.
A saúde física das pessoas obesas geralmente está comprometida por comorbidades
e, além disso, a própria obesidade é um dos fatores de risco mais importantes para doenças
cardiovasculares e diabetes, o que tem sido demonstrado em diversos estudos (FRANCISCHI,
2000; WAITZBERG, 2000; BRASIL, 2001 a;).
Algumas das pessoas entrevistadas, mesmo aquelas que a princípio pareciam não ter
um grau de instrução muito elevado, demonstraram conhecimento sobre o efeito do excesso
de peso para a saúde, ou por experiência própria ou por experiência de pessoas próximas.
Para elas, o excesso de peso está claramente associado ao aumento de morbidade e
mortalidade. Sabem que essas doenças têm expressão clínica após longo tempo de exposição
aos fatores de risco até o momento não tenham se manifestado, mais cedo ou mais tarde o
farão. O sobrepeso pode não ter efeito imediato no desenvolvimento dessas doenças, o que
faz, ainda, muita gente deixar de procurar ajuda, por se considerar uma pessoa saudável.
Vale ressaltar que, mesmo tendo conhecimento sobre as comorbidades, algumas das
pessoas leigas possuiam uma idéia errônea sobre o nível de colesterol, achando que apenas a
sua elevação pode lhes trazer problemas de saúde e que mesmo pessoas obesas, desde que
estejam com taxas normais ou limítrofes de colesterol não precisam se preocupar.
Duarte (2005) esclarece que, embora os indivíduos com excesso de peso possam
apresentar níveis de colesterol mais elevados do que os eutróficos, a principal dislipidemia
associada ao sobrepeso e à obesidade é caracterizada por elevações leves a moderadas dos
triglicérides e diminuição do HDL colesterol. As falas abaixo retratam parte dos nossos
comentários referentes à comorbidades:
102
[...] Agora, não tenho problema de açúcar, não tenho problema de
colesterol, nada dessas coisas eu tenho (E3).
Tenho 25 anos, aí vai ficando mais difícil. Meu pai é hipertenso, minha avó
tem problema de coração, meu pai é diabético [...] (E6).
Na minha família tem vários obesos, vários. Parentes próximos, tios
(enfatiza bastante). São três que são obesos mesmo (exagera). (E7).
Não eu, mas, por exemplo, meu pai e minha mãe são diabéticos né? A
família toda é de hipertensos e está começando a me criar problemas [...]
(E8).
[...] É e a família que é. Meu avô morreu de derrame cerebral, minha avó
era diabética, meu pai e minha mãe têm colesterol alto. Minha mãe tem
problema de doença coronariana [...] Minha família toda, toda, eu diria
que 80 a 90%. Primos mais jovens do que eu, mais fortes do que eu, minha
avó. Minha avó quando morreu, ela tinha diminuído, mas minha vó pesava
120 kg, uma pessoa que tinha 1,50 cm por aí. Eu tenho uma tia que é
médica, que também é a mesma coisa que minha vó, baixinha e gordinha.
(E8).
A Organização Mundial da Saúde (1995) confirma que o aumento da massa corporal
está associado à pressão arterial elevada, e a perda de peso em indivíduos hipertensos é
geralmente acompanhada por redução dessa pressão. De acordo com o resultado de uma
metaanálise, a perda de 1kg de massa corporal está associada à diminuição de 1,2 – 1,6
mmHg na pressão sistólica e, 1,0 – 1,3 na pressão diastólica. Assim, a perda de peso é
recomendada para todas as pessoas hipertensas que apresentem excesso de peso. Os efeitos
benéficos refletem-se, também, no uso de medicação antihipertensiva. Afirma, ainda, que do
mesmo modo, o diabetes mellitus tipo 2 ou a tolerância à glicose diminuída é, hoje,
considerada parte da chamada Síndrome metabólica ou de resistência à insulina.
Reaven (1988) comenta que a Síndrome Metabólica refere-se ao agrupamento de
fatores de riscos cardiovasculares, muitos dos quais compartilham da resistência insulínica,
como característica adicional. Além da resistência insulínica, está associado a intolerância a
glicose, hiperinsulinemia, aumento da VLDL, (colesterol), dos triglicerídeos, hipertensão
arterial e obesidade central. Tivemos dúvidas se a preocupação com saúde, manifestadas pelos
sujeitos, eram provenientes deles próprios ou se apenas repetiam o consenso médico sobre as
conseqüências da obesidade para a saúde, ouvida tantas vezes, durante palestras promovidas
pela equipe de cirurgia bariátrica, ou através de outros meios de comunicação, como a
televisão ou a internet.
103
Essas palestras são dirigidas àquelas pessoas interessadas em realizar a cirurgia e aos
seus familiares, com o objetivo de esclarecer sobre o assunto. Ao tempo em que acaba-se
fazendo um “marketing do serviço”. Assim, as palestras, além de servir para fornecer
esclarecimentos técnicos, podem acabar convencendo-os dos benefícios da cirurgia,
influenciando positivamente as pessoas medrosas, ou que ainda estão inseguras, para se
submeterem ao procedimento.
Para combater esse sentimento, os discursos referentes a categoria comorbidade,
foram bastante ricos, e revelaram experiências pessoais e de entes queridos, nas quais se
incluiram dor, sofrimento, limitações na vida pessoal, no trabalho e até de dependência física
para executarem suas atividades corriqueiras.
Essa preocupação esteve refletida em seus discursos de diversas formas e as falas a
seguir exemplificam nossos comentários:
[...] Por conta da gravidez eu tive, também tive pressão alta, aí eu tive que
fazer uma dietazinha tal [...] (E2).
Está me fazendo mal, o coração não tá agüentando, tem problema, para
voltar de ficar controlado, tô tomando medicamento [...] Aí o médico
passou um remédio para minha pressão, que estava alta e aí eu melhorei.
Agora, não tenho problema de açúcar, não tenho problema de colesterol,
nada dessas coisas eu tenho. (E3).
Eu passei a ter pressão alta, que eu não tinha sentir mal estar que nem
imaginava, dor de cabeça muiiiiiito, muiiiito forte, aí ia para a emergência,
chega-se lá, pressão alta [...] (E5).
[...] o próprio ECO que eu fiz deu uma bobagenzinha, mas já em função da
própria gordura (E8).
Hoje esse peso me causa problemas de saúde, eu tenho hipertensão. (E9).
Olha, a cirurgia é principalmente o meu diabetes, né, eu sou diabético. Sou
hipertenso e tive uma trombose na perna, tudo causado pela obesidade.
(E10)
A inatividade física é considerada hoje um fator de risco primário e independente da
hipertensão, hiperlipidemia e do fumo (AMERICAN HEART ASSOCIATION, 1992).
104
Ainda, no que se refere à subcategoria comorbidade e qualidade de vida, o fator
bastante mencionado pelos entrevistados foram aqueles relativos às limitações fisio-
funcionais e às dores físicas, conseqüentes do excesso de peso e sobrecarga para o corpo, e as
alterações ortopédicas causadas por problemas mecânicos, decorrentes do excesso de peso e,
atingindo principalmente a coluna e os membros inferiores. Costa; Lobo (2003) informam que
é muito comum o comprometimento articular dos joelhos, causando um quadro doloroso
grave que pode resultar em incapacidade de deambulação.
Nesse sentido, parece-nos que as dores articulares aumentam as limitações físicas, o
que acaba agravando a situação da obesidade, gerando um ciclo vicioso. As limitações que o
quadro doloroso provoca, dificulta a mobilização, a deambulação e a realização de atividades
físicas, o que acaba acentuando o ganho de peso. Assim, ainda mais pesado, acaba
aumentando a dor e a limitação. Por outro lado, a redução do peso corporal, ajuda na
diminuição da dor, além de facilitar a deambulação e a conseqüente perda de peso.
Fontaine; Barofsky (2001) afirmam que as limitações fisico- funcionais estão entre
os aspectos mais agravados pela obesidade, confirmando os relatos dos sujeitos, conforme
verificaremos abaixo:
[...} foi o problema da coluna [...] muita dor na coluna, tanto aqui na
lombar[...} [...]uso, como eu sou pesada, eu uso muito salto, então forçava
bem em baixo assim, na planta dos pés. Aí eu tive uma inflamação, assim de
uma hora para outra. Mas, a gente associou ao peso porque era a única
coisa que poderia ter acontecido. (E1).
[...] eu tenho um outro problema, eu tenho problema de coluna; eu tenho é
um deslizamento no final da coluna que está entre coluna lombar 5 e sacra
I, que já está em grau 3, é uma descompressão na ressonância, . Já da pra
ver bastante a compressão que existe [...] (E2).
[...] Sinto muitas dores nas pernas, não guento mais meu corpo, quando ele
dói não, não consigo fazer nada, não sinto coragem pra nada [...] Eu não
estou mais agüentando andar, muitas dores na coluna, o corpo todo
doendo, as nádegas, as pernas [...] (E3).
[...] Uma que eu digo a você que me incomoda é uma trombose que eu
tenho na perna esquerda, isso aconteceu quando eu quebrei a perna e a
dificuldade que eu tenho no dia-a dia. Todo obeso tem dificuldades e muitas
(enfatiza) (E7).
105
Hoje eu estou fazendo acumpultura por causa da coluna (já observado a
presença de agulhas no pavilhão auditivo). È a que, mas sofre com a
obesidade é a minha coluna. (E8).
Eu já to com problema no tornozelo que eu tive uma torção tenho
dificuldades de ficar boa devido ao peso [...] (E9).
A partir da análise desses discursos, podemos evidenciar as queixas físicas referentes
ao sistema músculo esqueléticos, através da expressão de dor e da queixa de difícil
mobilidade. A dor no corpo é relatada como um empecilho para a liberdade de movimento,
que acaba refletindo na vida pessoal e social de cada um de maneira diferenciada. Uma dor
física, que se estende para uma dor emocional e psíquica.
Registramos que todos os entrevistados mencionaram dificuldades com a realização
de atividades físicas, seus diferentes graus de incapacidade, inclusive aquelas que afetam suas
relações afetivas e familiares. Ao ouvir o relato, cheio de dor, de uma mãe que não pode ter o
prazer de carregar seu filho no colo, ou compartilhar de momentos descontraídos e felizes ao
seu lado, convivendo com suas novas descobertas, percebemos o quanto as alterações
emocionais podem afetar a qualidade de vida dessa pessoa, conforme podemos constatar em
seu depoimento:
Aí aconteceu um fato que foi terrível pra mim no dia 06 de setembro. O meu
filho já está na escola e teve uma caminhada, tipo um desfile cívico. Eu não
consegui acompanhar ele, foi horrível! De lembrar da vontade de chorar
[...] foi que pensei sabe? Na qualidade de vida que eu vou ter e para dar
para ele, para acompanhar ele. Ele está crescendo e fica assim: pule
mamãe, pule mamãe. Como é que pula? Como é que você pula? É, é difícil
para acompanhar esse tipo de coisa. Ás vezes, assim, a babá dele sofre, é
complicado pra mim pegar ele no colo e tudo. Muito em decorrência do
problema da coluna, eu sei, mas como eu digo sempre, eu sei que o meu
problema se agrava por causa do peso. (E2).
Reiteramos que nesse relato, percebemos a dificuldade dessa mãe compartilhar do
desenvolvimento do seu filho, de suas brincadeiras, de sua vida social e escolar e até mesmo
de demonstrar seu amor e grande afeto no simples gesto de carregá-lo no colo. Esse foi um
106
dos momentos mais tocantes da entrevista, ficamos extremamente sentidas, com o sofrimento
demonstrado.
A obesidade compromete até mesmo a liberdade do indivíduo, seu direito de ir e vir.
As dificuldades com os mobiliários e espaço físico dos locais públicos, acentuam o
isolamento social da pessoa obesa. Envergonhados perante a sociedade, evitam se expor ao
ridículo de não caber em uma poltrona, não passar na catraca do ônibus. Até a liberdade de
comer é seccionada. Durante o lanche, ficam preocupados com quem está olhando, controlam
a quantidade do que vão comer, ou até mesmo evitam fazê-lo para não serem considerados
gulosos pelas pessoas a sua volta.
O isolamento social dessa pessoa, também está relacionado a vaidade, a dificuldade
de encontrar roupa que lhe fique bem, que lhe deixe com boa aparência, atraente. A roupa
geralmente é outro elemento de desconforto a ser resolvido na rotina, devido a dificuldade de
encontrá-las na maioria das lojas de vestuário. Isso imprime a necessidade do uso de roupas
que não satisfazem o desejo de estar bem vestido e apresentável em qualquer situação de
trabalho ou de lazer.
Também, ficam incomodadas com os modelos das roupas, sempre parecidas e com o
excesso de gordura localizada. O efeito ioiô, de engordar e emagrecer, também dificulta o
vestirem-se: na fase que engordam muitas vezes não encontram uma roupa que dê, pois
acabam ficando apertadas. O manequim menor passa a ser uma forma a mais de coagi-las
para a perda de peso. Comprando um manequim maior para vestir-se, favorece que aumentem
ainda mais o peso, já que não precisarão se esforçar para caber dentro daquele novo
manequim.
As dificuldades sócio-econômicas também colaboram para o isolamento social. O
custo de uma roupa, em tamanho adequado as pessoas obesas, é muito maior do que aquelas
com manequim dentro do padrão de normalidade. As viagens aéreas em classe especial, onde
podem sentar-se com algum conforto, também são muito mais caras.
Desse modo, o receio de ser colocada em uma situação humilhante leva a pessoa a
não sair de casa, a não visitar os amigos e a maior vergonha, na verdade, é o excesso de peso,
a de não conseguir pesar menos.
O acesso as atividades físicas também ficam limitadas às academias pagas, já que
não dispomos de espaços públicos, adequados para a realização das atividades físicas. Sem
considerarmos o fator segurança, em virtude da freqüente onda de violência que assola a
maioria das cidades brasileiras, ao se andar nas ruas, por exemplo.
107
Segundo Edmunds (2002), o grande desejo das pessoas obesas ao realizarem a
cirurgia não é o de se tornarem top-model, ícones da perfeição estética, mas de se tornarem
“invisíveis,” conforme deseja a maioria das pessoas estigmatizadas.
Nesse contexto, a pessoa passa a viver em função das dificuldades que o excesso de
peso trás, e na dependência dos outros para ser feliz, para poder exercer as atividades
corriqueiras mais simples. Cansados da “via-sacra”, que realizam durante suas vidas para
perder peso e não ter conseguido obter o seu objetivo, chegam ao ponto de ingerir mais
alimentos, para ganhar mais peso e poder se submeter a cirurgia bariátrica, segundo relataram
os sujeitos.
Enfim, a pessoa obesa sofre várias agressões, discriminações e insucessos, e esses
fatores em situação cumulativa, ou quando prolongadas, podem estimular ainda mais a
manutenção da obesidade. Infelizes e deprimidas não se sentem capazes de modificar sua
forma de vida. Frequentemente têm sua intimidade invadida, quando dependem de familiares
ou de outras pessoas para realizar cuidados higiênicos pessoais, impossibilitados pelas
limitações do seu peso interferindo, sobremaneira, na sua qualidade de vida.
4.1.2 Categoria 2 – Demandas psicológicas – sentimentos frente à cirurgia
Nessa categoria identificamos os aspectos psicológicos referentes às pessoas que
buscam a cirurgia bariátrica e de que maneira são afetadas psicológica e emocionalmente pela
expectativa da cirurgia.
Nossa intenção não foi a de realizar uma análise psicológica ou psiquiátrica
aprofundada, apenas identificar emoções e sentimentos, que poderiam estar afetando sua
saúde e suas necessidades humanas básicas, que estivesse influenciando na decisão final de se
submeter a cirurgia.
Após a leitura e releitura das entrevistas, emergiram como subcategorias alguns
sentimentos mencionados com maior freqüência, como medo, ansiedade, sinais de depressão
e de baixa auto-estima e como compreendiam sua imagem corporal.
As subcategorias, na verdade, estão bastante inter-relacionadas, aparecendo quase
que simultaneamente. No entanto, resolvemos dividi-las, visando melhor compreensão.
108
4.1.2.1 Subcategoria medo/ansiedade
A ansiedade pode ser considerada um sentimento normal na vida do ser humano,
estando presente durante todo crescimento e desenvolvimento, nas mudanças e frente a
situações inéditas e/ou ameaçadoras.
A explicação que geralmente têm-se para o excesso de peso é a ansiedade.
Realmente, essas pessoas foram aquelas que se mostraram mais ansiosas durante a entrevista,
falando muito rápido, com frases entrecortadas, sem terminar ao menos de verbalizar seu
pensamento completamente, deixando a cargo da entrevistadora a conclusão das frases. Antes
mesmo de começar a entrevista, no consultório, uma delas já se mostrava bastante ansiosa,
inquieta, ligando várias vezes do celular. Parava, perguntava pelo médico, voltava para o
celular. Reclamou do atraso da consulta, até que veio para a entrevista.
Encontramos que embora a ansiedade traga alguns desconfortos, ela tem um lado
construtivo, pois ajuda a evitar danos, alertando as pessoas para se prevenirem e até para
defenderem-se executando certos atos, que possam eliminar o perigo.
Nesse sentido, a cirurgia é um procedimento, muitas vezes, novo para a maioria das
pessoas, além de um procedimento de risco, que pode deixar seqüelas e até mesmo levar a
morte. No caso da cirurgia bariátrica, ainda existem outros fatores relacionados ao período
trans-operatórios, a anestesia, dos riscos cirúrgicos, no que se refere a habilidade médica; a
propensão das pessoas obesas terem complicações respiratórias e cardio-vasculares,
circulatórias. No pós-operatório, há as restrições alimentares, a expectativa dos resultados, o
medo das complicações tardias, de não se alcançar os objetivos desejados, entre muitas outras,
que foram também reveladas por elas mesmas, durante seus relatos. Além disso, essa situação
nova exige uma reestruturação do papel social, o que pode ser considerado como ameaçador,
acarretando o aumento da ansiedade. Vejamos:
Então eu tava super tranqüila até o dia de conversar com [...] chegou e
então colocou a gente a par de uma realidade que até então - Oh! Você
pode morrer você pode ter trombose. Então assim, aquele impacto
entendeu? Até então você não cai na real, você não pensa nisso. Mas,
realmente, você fica com medo., é tomei um choque, mas sabe?É pode
acontecer numa cirurgia bariátrica, como pode acontecer em qualquer
outra cirurgia, porque uma cirurgia é um procedimento de risco. Então,
assim, foi o que me deu mais medo. (E1).
109
[...] eu tenho muito medo, eu tenho muito medo da cirurgia sabe? De
cirurgia de um modo geral e depois eu vejo o seguinte, que não é muito
fácil não, o pós- operatório [...] É meio difícil, mesmo passado esse tempo
ainda tem dias que ela levanta da mesa e tal. Aí foi por conta disso tudo
que eu ficava muito na defensiva nè [...] Que é outra coisa que eu tenho
medo, que é assim, quem faz a cirurgia tem que passar depois por uma
cirurgia estética? E é praticamente obrigatório (enfatiza o ter que passar
por outra cirurgia, reforçando a informação do medo de outro procedimento
cirúrgico. (E 2).
Exatamente, da habilidade dele, da capacidade dele, principalmente agora
que eu já sou mãe, então dá muito medo. [...] Eu acho engraçado, s pessoas
não se preocupam com os anestesistas entendeu?É, é muito importante [...]
Não, o pós – operatório não é. Eu tenho medo é da cirurgia mesmo sabe?
Você chegar, entrar na sala, você é anestesiada, você ta ali, apagou. E a
gente sabe que pode acontecer alguma coisa, independente, como é o
nome?[...] Só quero é fazer, o que eu quero é fazer, só to ansiosa pra fazer
logo [...] Vem cá, essa cirurgia é para me cortar toda? (E3).
[...] Aí Meu Deus, assim, pelo menos, eu tenho certeza, que todo mundo que
faz tem um bom resultado né? Uma das coisas que eu acho é isso. È essa,
vai diminuir o estômago, aí eu sei que eu vou comer menos, e aí eu vou ter a
sensação de prazer com uma quantidade menor, e assim eu vou conseguir
perder peso. E eu perdendo peso sou tudo que eu quero. Tudo. Eu, eu
acho... Que a cirurgia é assim, um tanto [...] Eu fiz de tudo para não chegar
até ela. Não que eu chegasse até ela por não ter condições de fazer, eu
tenho (deixa subentendido que se refere as condições físicas e psicológicas).
Eu não tenho condições de fazer (aqui já se refere a situação financeira), eu
vou lutar para que a prefeitura(E4).
Oh! Medo a gente tem, porque a gente ouve muitas coisas, muita gente, a
gente desconhece aquilo, não é? A cirurgia bariátrica é uma coisa nova. A
cirurgia já é uma coisa que amedronta. Mas, você pede alguma informação
e você vê que vai correr um risco que outras cirurgias correm [...] tento
emagrecer, mas, não consigo, fico ansiosa, nervosa, aí eu não consigo
emagrecer. (E6).
Eu realmente tava insegura, mas depois que eu vim aqui. Assim. ele me
passou assim, eu tive aquela empatia quando eu vim aqui sabe?(E9).
É primeiro eu morria de medo de fazer essa cirurgia achava que tudo
resolveria com a lipo, musculação, exercícios físicos. Eu tô com pavor da
cirurgia, da flacidez, sabe? Eu tô apavorada em relação, é ao pós-cirúrgico
em relação a alimentação, que eu não suporto sopa, eu vou ter que beber
sopa rala. Coada. Heeh! (E11).
[...] É eu não comia demais. Esses últimos dias que eu estou muito ansiosa,
que eu estou comendo muito. Principalmente a noite, ansiosa com a
cirurgia [...] Eu tenho pavor de cirurgia, ainda tem esse detalhe, eu tenho
pavor ( faz expressão de medo). Você vê que eu não gosto, só em ter
110
coragem de encarar a cirurgia, e depois ter coragem ainda de encarar a
cirurgia de abdômen, a plástica, é muita vontade mesmo [...] Isso que eu me
preocupo, o meu psicológico vai ficar [...] Já pensou? Vou pedir muito da
ajuda da equipe para trabalhar muito meu psicológico, porquê eu não sei
trabalhar meu psicológico. E se eu me arrepender posso voltar atrás? (E5).
Quando questionados sobre o procedimento cirúrgico alguns dos entrevistados
referiram não estarem ansiosas, nem sentindo medo, porém durante a fala aparentaram
cansaço e fizeram pausas para continuar a falar. Demonstraram todo tempo sinais de
ansiedade, falando rápido, com frases entrecortadas, muitas vezes sem terminar a frase.
Questionaram sobre a cirurgia, se era dolorosa, e quais as complicações mais freqüentes no
período de pós-operatório imediato. Questionaram também, ao se arrependerem se poderiam
voltar atrás: durante a espera no consultório.
Gilbertoni (1967) assegura que, a cirurgia é um dos acontecimentos mais críticos e
marcantes na vida do indivíduo, e o estresse psicológico por ela acarretado pode causar
complicações pós - operatórias variadas e até fatais.
Na prática, observamos que os profissionais de saúde, principalmente enfermeiras
concordam que o estresse antes da cirurgia influencia grandemente o período pós –
operatório, assim como na recuperação. Alguns cirurgiões já têm deixado de operar pessoas
extremamente ansiosas, uma vez que pessoas com esse perfil não sobreviveram a cirurgia ou
apresentaram importantes complicações.
Desse modo, a cirurgia constitui um momento importante na vida do indivíduo,
despertando reações emotivas como medo e sensação de morte eminente, as quais nem
sempre são expressas. Do ponto de vista psicológico existem muitas reações de conflitos, no
período que antecede a cirurgia, e o temor e a preocupação costumam ser expressos por medo
e ansiedade.
Segundo Moore; Fine (1992), a ansiedade é um estado emocional desprazeroso,
caracterizado por uma sensação de perigo iminente que se traduz no medo. Enquanto para
May (1977), a ansiedade é um estado de tensão de uma pessoa, diante de uma situação
considerada de perigo, causando sensação de estar agarrada, oprimida e uma confusão
generalizada. Esse fato ocorre pela dificuldade em decidir sobre o papel que se deve assumir e
qual atitude se deve tomar frente a situação vivida.
111
Registramos que, a ansiedade também provoca várias reações físicas. Muitas pessoas
referem que quando estão ansiosas, alimentam-se em demasia, conseguindo, assim, reduzir os
sintomas ansiosos, o que acaba resultando em alguns quilos a mais.
Abreu (1998) confirma os relatos de alguns dos entrevistados, comentando que
quando o funcionamento psicológico está comprometido, ocorrerá maior dificuldade para a
adaptação às novas situações. Assim, muitas pessoas encontram no comer a maneira para
aliviar a ansiedade. Esse comportamento pode estar relacionado a relação de prazer com a
alimentação que é culturalmente difundida pela nossa sociedade e nossas famílias.
Assim, desde criança, somos presenteados com alimentos, doces e chocolates, como
uma premiação pela obediência ou bom comportamento. Quando a mulher está deprimida ou
no período de tensão pré- menstrual ingere o chocolate como forma de alívio. No entanto, o
hábito de ingerir grandes quantidades de chocolates pode ser prejudicial à saúde, pois sendo
rico em gordura saturada pode estimular o aparecimento de doenças cardiovasculares, além de
aumentar o grau de obesidade, que, também, causará o mesmo efeito no que se refere ao
coração (ABREU, 1998).
As falas a seguir revelam que a melhora da ansiedade manifesta-se com o tempo:
Ah1 medo, não tenho. Não. Nem tô preocupada. Estou tranqüila, ótima.
Não, não tenho medo. Eu mesma já fui operada não sei quantas vezes, deixe
eu ver quantas vezes já, três vezes, já.[...] Não, nada, tudo em paz. Depois
fiz a outra para tirar uma hérnia. (E3).
A gente teve palestras com o parceiro do cirurgião, e tirou todas as
dúvidas, assim, que eu não tô com um pingo de medo [...] Fui pra equipe
multidisciplinar que me passou mais segurança ainda. Se o médico disser
assim, vamos fazer agora, eu tô pronta. Porque eu tô sentindo muita
segurança, não só na equipe dele, como também a minha vontade de fazer.
[...] Então eu tenho tudo pra dá certo porque eu tô assim, com a cabeça
totalmente tranqüila, entendeu, totalmente preparada e confiante. [...]. Eu
acho que a confiança que o médico passa para a paciente é muito
importante né, pra que as coisas dêem certo. [...] (E9).
Não. Eu realmente tava insegura, mas depois que eu vim aqui [...] Assim,
.ele me passou assim, eu tive aquela empatia quando eu vim aqui
sabe?Olha! Eu não tenho temor nenhu. [...] Eu tenho uma filha que fez essa
cirurgia bariátrica, eu acompanhei, ela perdeu 66 kilos, tava com 136 kg. E
hoje eu vejo que ela é uma pessoa que se modificou. (E10.)
112
Ah! Medo eu não tenho realmente nenhum, porque eu acho que eu escolhi
uma equipes que ta preparada, tem indicação, que faz um trabalho sério,
então é isso. Eu espero que dê tudo certo, não tenho medo não. (E12).
Observamos no discurso dos entrevistados que o medo e a ansiedade foram
atenuados, na medida em que se sentiram mais seguros. A segurança foi adquirida após
contato com o médico cirurgião e a empatia com ele. Também, após contato com pessoas que
já haviam feito a cirurgia, após obterem informações positivas sobre o procedimento cirúrgico
antes e após. Destacaram, ainda, o contato com a equipe multidisciplinar e a participação das
reuniões de grupo. Aqueles que já haviam realizado cirurgias anteriores, mesmo não sendo
bariátrica, mostravam-se mais tranqüilos, assim como aquelas que já possuíam alguém da
família como referência. O conhecimento sobre a habilidade da equipe de cirurgião também
foi mencionados.
4.1.2.2. Subcategoria depressão
A depressão é um transtorno do humor, caracterizado por manifestações afetivas
inadequadas, em relação à intensidade, freqüência e duração. A depressão é considerada uma
desordem quando seus sintomas ou comportamento são tão freqüentes ou severos que causam
dor ou prejuízo da função física e social. (PICCOLOTO, 2000).
Desse modo, é uma doença que pode acometer qualquer pessoa, em qualquer idade,
independente também do sexo. Ela pode ou não estar relacionada a um fato específico, porém,
geralmente, acomete pessoas após situações de perda de entes queridos, situações de luto e
rompimento de laços afetivos. Perda de emprego, de status social, e de situações sócio-
econômicas também colaboram para que isso aconteça. Sendo assim, todas as pessoas estão
sujeitas a sofrerem de depressão em algum momento da vida.
A depressão envolve ainda, uma sintomatologia intensa e complexa, podendo incluir
sentimentos de tristeza, crises de choro, angústia, desesperança, baixa auto-estima,
incapacidade de sentir prazer, idéias de culpa, visões pessimistas do futuro e pensamentos
recorrentes sobre morte, isolamento social, perda de interesse, acompanhados de alterações
somáticas, envolvendo o sono, o apetite, atividade psicomotora e a atividade sexual. (DEL
PORTO,1999).
113
Nesse contexto, a depressão atinge pessoas obesas de diversas maneiras, podendo ser
um fator desencadeante da obesidade, ou conseqüência desta. Nos relatos das pessoas
entrevistadas conseguimos identificar essas duas situações, embora apareça mais como
conseqüência da insatisfação causada pela obesidade. Apenas uma das entrevistadas relatou
ter ficado obesa após um processo depressivo, conforme fala abaixo:
Quando eu tive depressão, depois da depressão que eu vi: Meu Deus, eu
não tô aquela atleta que eu era [...] fiquei uns 3 anos bem mal. É de lá pra
cá que eu aumentei de peso e voltar atrás, voltar sabe? Agora está sendo
muito mais difícil perder peso, agora, 1 kg, 2 kg é um sufoco, porque antes
era muito mais fácil, sabe?[...] Eu não fui a vida inteira gorda, comecei a
engordar de uns 8 anos pra cá.
Os sintomas da depressão, de acordo com Del Porto (1999), aparecem durante
grande parte da vida. As pessoas manifestam tristeza pela qualidade de vida após a obesidade;
crises de choro mesmo durante os relatos; culpa por não conseguirem controlar a compulsão
pelo alimento; angústia pelos tratamentos realizados sem efeito satisfatório; isolamentos,
como já relamos anteriormente; baixa auto-estima e imagem corporal comprometida. Essas
falas estão assinaladas a seguir:
Então, é assim, é muito fácil para você chegar e dizer: Ah pare de fumar.
Eu posso chegar para qualquer pessoa porque eu detesto cigarro. É muito
fácil chegar para mim e dizer: por que você não pára de fumar? Só que eu
não sei ali, o que a pessoa está passando, a gente sabe que tem química ali
dentro, tem todo um processo e que aí as outras pessoas que por pura
ignorância, por não ter conhecimento, não sabe o quanto é difícil. Sabe é
falar .(Risos). (E1).
[...] eu tomei hormônio, aqueles hormônios que às vezes a gente tem que
tomar. Eu engordava bastante. O aumento de peso veio por conta disso
também (E2).
Essa entrevistada logo no início da entrevista demonstra vergonha, começa a
entrevista meio desconfiada, ressabiada, fala baixo, meio tímida, embora no decorrer da
114
entrevista tenha dado uma contribuição valiosa para a pesquisa com seu relato de experiência
e riqueza de detalhes.
Ao falar dos tratamentos realizados para emagrecer volta a demonstrar depressão e
tristeza:
Engordei tudo! Em 2 anos eu consegui ganhar tudo de novo.[...] Mas,
também dá uma fome danada né? Se por um lado você perde, por outro
também come. É faz de conta que a culpa é dá fome. Eu, eu como, como
gorda mesmo, sabe? Aquela ansiedade [...] mas apesar de velha eu ainda
não tive felicidade, na minha infância e juventude eu não tive felicidade [...]
(E3).
Essa senhora relata uma história triste de vida, quando fala de sua relação paternal e
dos seus relacionamentos maritais, demonstrando muita tristeza. Foi casada três vezes, perdeu
seus ex- maridos devido a Diabetes, tendo os três amputado as pernas antes de morrer:
[...] Fui casada 2 vezes, meu marido. Aliás, três vezes casada. Mas,
o que aconteceu? O primeiro casamento foi uma negação. Aí pronto, já vai
ajudando a comer tudo. Comecei a ficar dependente da comida. Comia tudo
de nervoso. Aí já foi o primeiro sofrimento. Trabalhando nas cozinhas dos
outros porque não tinha emprego. Aí fiquei na casa de meu pai, meu pai
não foi bom pra mim. Novo sofrimento. Aí depois desse sofrimento todo
arriei o segundo marido, arriei, não deu pra viver. Ainda criei 3 filhos dele,
sofria muito, não deu pra viver.Aí arriei o terceiro marido.[...]. Aí todos
três com o mesmo problema. Aí eu fiquei, fiquei impressionada com o que
aconteceu. Porque se eu vivesse com eles tinha que suporta eles sem as
pernas. Passei para o outro, sem as pernas, também passei para o último,
sem as pernas também. Aí eu fiquei impressionada, fui engordando: três
maridos, todos três sem as pernas! Ele, não sei direito o que ele tinha, mas
eu acho que ele era diabético, ele era diabético. (E3).
[...] é verdade, eu acho que é assim muito difícil a gente se sentir mal com a
gente. Então, pra você vê como é angustiante. (E4).
Lessa (1998) postula sobre os relatos que realmente existem fatores comportamentais
que podem levar a obesidade, tais como: a subestimação do real valor calórico dos alimentos;
os episódios do comer compulsivo e a presença de sintomas depressivos. A depressão pode
115
estar relacionada ao peso corporal e ao comer desviante. Comenta, ainda, que o comer
compulsivo nas mulheres está associado a experiências negativas como a raiva, a tristeza, a
solidão, a exaustão, favorecendo o quadro de depressão e o aumento de peso.
Sobre isso, Azevedo (2004) informa, que se verifica maior incidência da compulsão
alimentar no horário noturno. Para caracterizar o diagnóstico, esses episódios devem ocorrer
pelo menos dois dias por semana pelos últimos seis meses, associados a algumas
características de perda de controle, e não acompanhados de comportamentos compensatórios
e dirigidos para a perda de peso. Porém, apresenta-se acompanhados de autopunição,
depressão, distúrbios emocionais e psiquiátricos.
Muito interessante foi a experiência relatada por uma das entrevistadas, que por
iniciativa própria resolveu organizar um grupo de vigilantes do peso no interior aonde
morava. Ela estava fazendo o tratamento em Salvador, porém precisou mudar-se para o
interior, onde não havia o grupo de vigilantes. Assim, ela organizou o grupo e estava bastante
entusiasmada, no início, com os resultados. Buscou ajuda das pioneiras sociais para conseguir
local e o mobiliário, conseguindo ajudar bastante pessoas.
No entanto, o que deveria servir como auto-ajuda, acabou se transformando em um
aprisionamento trazendo sentimentos de culpa e muito sofrimento. Culpava-se por ter tido
força de vontade e iniciativa para organizar o grupo, mas não agia da mesma forma no que se
referia a alimentação. Conseguia ajudar os outros, porém só utilizando a técnica dos vigilantes
não estava mais conseguindo manter o peso e começou a fazer uso das fórmulas para não
desestimular os demais.
Durante seu relato percebe-se a culpa, a briga com seus valores éticos e morais,
muita vergonha pela falta de “força de vontade” dor e sofrimento, que acabaram levando ao
isolamento social. Como alternativa resolveu viajar para São Paulo, fugindo do olhar e da
crítica do grupo. Escondia-se em casa para que ninguém visse que ela não estava conseguindo
perder peso. Vejamos seu depoimento:
[...]. Porque era assim sofredor para mim. Eu não passava para o pessoal,
porque eu queria passar sempre o melhor, que tava conseguindo fazer
aquilo, entendeu?Eu nem sempre [...].Eu passava que eles tinham que fazer
aquilo, que era o método era aquele entendeu? Tava sempre estimulando
eles entendeu? Eles conseguiam fazer sem precisar de técnica, só com a
ajuda, e eu não conseguia.[...] E eu pro outro lado, eu fiquei mal, assim,
porque pelo efeito psicológico né? Eu queria ter um motivo, na realidade
mostrar que aquilo funcionava, eu queria aquele grupo, ficou todo mundo
116
me cobrando, as pessoas, inclusive uma amiga minha que fez a cirurgia[...]
Eu não queria sair na rua porque as pessoas iam me ver e perguntar
porque eu estava engordando de novo.e eu não queria que isso
acontecesse.[...] Eu tinha um compromisso com o grupo. Eu fiquei tão mal,
que o que estava acontecendo era que eu não parava de comer. Eu tinha
que passar, comer correto, fazer tudo correto porque eu era a líder, era o
exemplo, a força. Tinha que ajudar o pessoal também, não, ao invés de
ajudar o pessoal comia desesperadamente, entendeu? Em vez disso, com o
que estava acontecendo, eu não parei de comer. Em vez do que estava
acontecendo, eu diminuir, [...] Eu tenho que mostrar as pessoas como
comer correto, como é passado, fazer tudo direitinho como é passado para
o grupo, porque eu tenho que ajudar. (dilema ético sério, como vender um
produto que eu não acredito, não consigo fazer. Acabo utilizando de
medicamentos para burlar o grupo). (Culpa-se terrivelmente por não
conseguir ser a força e o exemplo para o grupo. Não acredita na teoria faça o
que eu digo, mas não faça o que eu faço, pois a filosofia do vigilante
consiste em que um sirva de exemplo e apoio para atingir o objetivo da
perda de peso). (E4).
Matos (2002) afirma que os problemas emocionais podem, por vezes, estimular o
aparecimento de comportamentos compulsivos e mesmo distúrbios da imagem corporal.
Afirma, ainda, que em estudo realizado na Escola Paulista de Medicina 100% dos
adolescentes obesos apresentavam depressão, e, destes, 80% apresentavam depressão grave.
Inúmeros aspectos colaboram para o aumento dessa incidência, mas principalmente os
comportamentos alimentares e práticas inadequadas de controle de peso, que em geral estão
associadas à insatisfação pessoal e à baixa auto-estima.
Makino (2004), também, comenta que a pessoa obesa pode ter a sensação de culpa
em relação ao consumo excessivo de determinados alimentos, principalmente nos períodos
relacionados às tentativas de redução de peso por meio de dietas restritivas; ou ainda comem
além do necessário, como fuga, nos momentos de ansiedade e depressão que acompanham a
obesidade.
Outras entrevistadas conseguiram identificar o processo depressivo relatando
mudança do humor e de comportamento, como conseqüência da obesidade, conforme atestam
os relatos abaixo:
Passei a ficar deprimida. Eu não tinha isso [...] Um problema de depressão
que eu lhe falei, uma tristeza, só querendo ficar no quarto, deitada,
enrolada, chorando [...] Nervosa com os meus filhos, que eu não era assim,
gritando com meus filhos, brigando com meus filhos [...]. O mais forte foi o
117
meu interior, eu não quero ser triste não (fala com tristeza e melancolia). E
depois dessa gordura eu passei a ser triste. (Chorando). Pausa antes de
continuar.
Chega o momento também que o psicológico também fica afetado. É aí você
fica, afeta seu psicológico, seu físico, e as vezes você não tem nem condição
de ser amparado como você queria ser [...] Fiquei em casa, foi que fiquei
pior, em depressão, nesse momento e me sentia pior. (E6 ).
Embora tenhamos encontrado manifestações depressivas na maioria das falas dos
entrevistados, algumas fazem questão de se colocar como pessoas alegres, frisando que a
depressão e a tristeza são passageiras, em um momento de suas vidas e que não estão
associadas a obesidade.
Não, eu não me vejo dessa forma, eu sou muito alegre [...] (E7).
Eu sempre fui uma pessoa muito feliz, fui risonha, brincava muito e depois
foi morrendo por dentro, foi mudando [...] O mais forte foi o meu interior,
eu não quero ser triste não
( fala com tristeza, chorando)[...] Passei a ficar
deprimida. Eu não tinha isso. (E5).
A depressão, na obesidade, é um fator importante no que se refere a qualidade de
vida dessas pessoas, pois segundo Chuí (2000), os indivíduos deprimidos apresentam
diminuição da capacidade de executar tarefas rotineiras e atividades da vida diária, perda do
auto-controle, falta de incentivo para viver, frustração de gratificações e exposições a estresse
de forma contínua.
4.1.2.3. Subcategoria baixa auto-estima
Essa subcategoria revelou um dos maiores problemas enfrentados pelas pessoas
obesas: a baixa auto-estima. Ela foi citada por todos os entrevistados, também referenciada
em vários estudos desse tema.
118
A auto-estima é uma das variáveis mais importantes para o bem estar psicológico e
para uma boa saúde mental por sua amplitude de interferência, pois a sua ausência está
relacionada à depressão, podendo levar, até mesmo, ao suicídio.
Em psicologia, a auto-estima inclui a avaliação subjetiva que uma pessoa faz de si
mesma como sendo intrinsecamente positiva ou negativa em algum grau. A auto-estima é
definida como um sentimento de gostar de si mesmo (SEDIKIDES; GREGG, 2003).
Segundo O’Donnell (2006), a autoconfiança, aliada ao auto-respeito, gera a auto-
estima. O auto-respeito baseia-se na consciência das qualidades intrínsecas do ser, no
reconhecimento da felicidade de estar vivo e de participar da maravilhosa peça da existência e
no sucesso obtido ao se evitar atitudes negativas. O auto-respeito pode ser alcançado pela
capacidade de observar nossos defeitos de maneira desapegada sem desanimar por causa
deles. Nesse sentido, nossos defeitos são indícios constantes de que ainda não chegamos à
perfeição, e, portanto, diante dos defeitos dos outros devemos adotar uma postura mais
humilde. Desse modo, manteremos uma visão elevada das pessoas, apesar dos seus erros ou
das suas imperfeições. Essa atitude respeitosa pode, também, inspirar nelas as mudanças
necessárias para corrigi-los, o que não acontecerá se as julgarmos ou chamarmos sua atenção
para esses defeitos.
O’Donnell (2006) comenta, ainda, que a autoconfiança, por sua vez, é a sólida crença
no que somos capazes de fazer e em nossa habilidade de seguir em frente, assumindo desafios
e enfrentando obstáculos com mais segurança. Quando descobrimos nossas habilidades e
investimos nelas, conquistamos a autoconfiança. É a autoconfiança que nos dá disposição
para acreditar nas outras pessoas e para evitarmos o prejulgamento. O que é decisivo para
uma boa auto-estima é o nosso sentido de valor próprio, que determina a forma de como nos
sentimos independente dos valores predominantes na sociedade. Devemos viver de acordo
com a opinião que tecemos de nós mesmos, e não procurar aprovação dos outros para nos
valorizar.
Assim, a auto-estima é a confiança em nosso modo de pensar e enfrentar os problema
do cotidiano, ou até mesmo aquelas mais graves. É acreditar no nosso direito de ser feliz com
nossas próprias crenças, mesmo que vá de encontro às de outras pessoas. É acreditar que
somos merecedores de desfrutar os resultados de nossos esforços. È conseguir ser feliz,
mesmo, ou até por causa das nossas imperfeições e subjetividades.
Se, ao contrário, um indivíduo sente-se inseguro para enfrentar os problemas da vida,
não tem autoconfiança, podendo desenvolver uma auto-estima baixa, apresentando falta de
respeito próprio, auto- desvalorização, sentindo-se desmerecedor de amor e respeito por parte
119
dos outros e da felicidade. Certamente, poderá ter medo de expor suas idéias, vontades e
necessidades e um grande sentimento de culpa, por não corresponder ao que é determinado
pela sociedade.
Desse modo, a baixa auto-estima inibe a relação com o mundo e com as pessoas, pois
quando estamos deprimidos temos pensamentos negativos, de falta de valor, impedindo de
sentir prazer e gratificação com as experiências da vida. Se a nossa auto-imagem é negativa
tendemos a ter padrões de pensamentos negativos, ver o mundo negativamente, e qualquer
acontecimento passa a ser devido a um defeito pessoal, uma imperfeição, uma inadequação
perante a vida. Tais pensamentos geram tristeza, depressão e pouca percepção do autovalor.
É importante termos em mente que, nem sempre, agradaremos a todos, a
desaprovação, assim como a aprovação, fazem parte da vida e das relações pessoais. Não
podemos passar por cima de nossos sentimentos apenas para procurar agradar o outro, ou para
obter sua aprovação. Quando conhecemos nossas qualidades inatas, é possível desenvolver o
auto-respeito, e a autoconfiança, que não dependem de circunstâncias externas, e o melhor
modo de desenvolvermos tais valores, é através do auto-conhecimento.
Maisonneuve (1981, p.97) demonstra que os sujeitos tendem a julgar o outro,
associando-o a um estereotipo favorável às coisas e às pessoas bonitas, sendo depreciativas,
aquelas consideradas feias. Coloca que, os mais belos, “são vistos como mais amáveis,
sensíveis, flexíveis, mais confiantes neles mesmos”. Serão, também, considerados possuidores
de maior domínio de seus destinos e, finalmente mais conscientes dos seus objetivos. Outros
adjetivos qualitativos ainda são associados ao belo como: força, equilíbrio e modo de vida
bem sucedido.
No caso da obesidade, com o passar do tempo, as vivências mal sucedidas geram um
prejuízo importante de auto-estima e certo desequilíbrio emocional, porque determinam
vulnerabilidade e fragilidade, despontencializando os sujeitos em suas várias dimensões
sociais.
Após viver ouvindo freqüentes comentários negativos e depreciativos, e de conviver
com olhares críticos e uma crítica mordaz, inútil e destrutiva, as pessoas obesas acabam com a
auto-estima. Nas entrevistas os sujeitos confirmam isso:
[... ]eu comia muito [...] eu tenho bem em mente, quando eu ficar magra,
[...]as pessoas ou por falsidade ou por outros atributos, vão chegar até
você. Vão se aproximar mais de você entendeu? (E1).
120
Olhe para você ter uma idéia de como eu sou disciplinada
(análise
autocrítica, irônica), para não dizer o contrário. Em 2004 eu tive meu bêbê,
eu fiquei com 87 kg. Engordei tudo [...] você chega assim, num lugar, eu
acho que é o maior problema do gordo, o vendedor lhe olha assim, (faz um
olhar de desdém, medindo de cima a baixo, como quem diz, você não ta
vendo que aqui não tem roupa pra você?) Eu, eu como, como gorda mesmo,
sabe? Aquela ansiedade ! É faz de conta que a culpa é dá fome (E2).
Se eu me aceitasse.Eu acho que diminuiria um pouco né? A questão é que
não seria tão cruel, eu não me sentiria tão mau (rindo) né? Quando as
pessoas se aceita, as vezes se torna bem mais fácil. Eu não, porque eu sou
pior, além da estética eu não aceito de jeito nenhum, eu, eu quero ser [...] É
para perder, fazia de tudo para tentar perder peso. E o peso, as vezes, até
perdia, mas voltava rapidamente pela compulsão, pela aquela coisa né? De
não conseguir fazer até porque era muito radical né, ninguém consegue
viver radicalmente a vida toda. Eu não consigo, eu a gente consegue por
certo tempo, certo período, mais depois a gene não consegue mais. Nada
satisfaz a esse estômago, aí eu fiz, vamos ver se eu consigo fazer a cirurgia
para tentar resolver. [...] Todos faziam sem precisar da fórmula e eu?
Porém foi ruim por outro lado, eu comecei a me culpar muito. (E4).
Tô com muito excesso de gordura né? Até minha auto estima também ficou
muito em baixa. Passei a ter vergonha do meu esposo né [...] eu passei a
sentir vergonha, principalmente na hora. Ficava no escuro, no escuro para
trocar de roupa. Eu não posso ser assim, por que eu não posso. Primeiro,
porquê eu já perdi minha auto-estima[...] Olhe a prioridade é aqui. Chego
para fazer um exame na clínica ginecológica, olhe a prioridade é aqui
(como se estivesse gestante). Aí atinge né? Meu ego fica mesmo ferido. Fico
envergonhada por que eu não era assim, muita transformação. Foi muito
rápida a transformação. Foi muito rápida meu aumento de peso [...] Um
excessozinho de gordura até que eu suporto, mas a minha barriga não
guento não. Toda roupa que eu coloco desaba tudo! Quando eu tiro a roupa
é pior ainda (E5).
[...] eu queria fazer, perder peso, e queria fazer redução da mama, porque
era um pouco desproporcional para meu corpo, o meu tamanho. (E6).
Eu peguei um ônibus agora aqui. Eu peguei um ônibus e a pessoa pegou,
bateu na porta da frente por que não podia passar pelo fundo e eu nem era
deficiente, era obeso. Então, isso é chato. Por que na verdade há um
preconceito muito grande em relação ao obeso. O que pesa mais é a
questão social, por exemplo, o preconceito, a questão social mesmo, como
se fosse uma reabilitação na verdade. (E7).
Eu não consigo fazer regime, [...] Então, quer dizer, você comer 1300 kg, é
complicado (E8).
É na verdade eu não gosto nem de me olhar no espelho né, porque quando
você[...] A gordura não estava me incomodando, mas a partir do momento
121
em que eu vi que estava me tornando uma pessoa [...] é sem utilidade
[...](E9).
[...] tem alguma, tem algum defeito de fabricação que a gente não sabe o
que é [...] (E10).
Com certeza é assim, baixa de auto-estima, depressão – essa depressão-
Meu Deus! Burrice era muito mais fácil agüentar manter do que a gente
engordar e depois voltar pra cirurgia sabe?(E11).
[...] Porque você sabe as pessoas olham errado, principalmente em ônibus,
assim, quando vai a catraca apertada, assim sabe? Gorda atrapalhando o
caminho e tal ( E12).
Nas falas acima percebemos várias demonstrações de baixa auto-estima. Inicialmente
os entrevistados de número 1, 2, 4, 8 falam da sua compulsão alimentar, de sua culpa por não
ter controle sobre a fome ou para manter as dietas. Eles mesmos acham-se colocam como
gulosos e descontrolados, ainda que “nas entrelinhas”.
Também, observamos freqüentes sinais de desânimo, sentimentos de inferioridade e
de frustração por não conseguirem corresponder às expectativas que a mídia impõe quanto ao
corpo perfeito, mas, também, por não conseguirem controlarem-se frente aos alimentos, e por
quebrar diversos regimes aos quais já se submeteram.
Esses aspectos comprometem as pessoas em vários papéis de suas vidas, até mesmo
no aspecto conjugal e sexual como relata as entrevistadas. De acordo com Wielenska (2000),
é muito comum a pessoa obesa ter a auto-estima e a auto-imagem rebaixadas.
Barbosa (2007), por sua vez, assegura que com a auto-estima abalada, existem duas
tendências sociais angustiantes para pessoas acima do peso ideal; uma é a grosseria e
desumana discriminação estética e a outra é encarar o obeso como uma pessoa que não tem
força de vontade e que ele é assim, porque é preguiçoso.
Coopersmith (1967, p. 4) atentou para o fato de que a ansiedade e a auto-estima estão
proximamente relacionadas: se for a ameaça que libera ansiedade, como aparece
teoricamente, é a estima da pessoa que está sendo ameaçada.
Destacamos o que Pinto (1999) afirma, que obesos tendem a apresentar excesso de
peso desde a infância, o que podemos constatar com algumas das falas das pessoas
entrevistadas. Cerca de 60 a 80% das crianças obesas tornam-se adultos obesos, por força dos
fatores constitucionais, reforçados por problemas psicológicos e maus hábitos alimentares; o
que é ilustrado pelas falas abaixo:
122
[...] desde os 05 anos de idade que eu já tenho aumento de peso, porque eu
tinha problema de asma, aí tomei corticóide [...] (E1).
[...] já tenho usado muito medicamento desde criança, desde adolescente
[...] (E4). (Fala pausado, lento, demonstrando o tempo que vem lutando
contra a obesidade).
[...] Quando eu tinha 07 anos, comecei a engordar, a engordar, foi aí que
eu já vestia roupa de 10 anos [...]( E6).
Parece-nos que, desde crianças, começam a sofrer discriminação social, pois a
sociedade e também a família lhes atribuem a responsabilidade da obesidade como se fossem
os únicos culpados, uma vez que a obesidade é, ainda, erroneamente encarada como sinônimo
de relaxamento, preguiça, falta de determinação, indolência, uma pessoa sem força de vontade
e corrompida pelo pecado da gula.
Assim, rejeitada desde muito cedo pelo mundo ao seu redor, a pessoa obesa é,
frequentemente, vítima de gozações, e sua vida é marcada por episódios de humilhação,
piedade, hostilidade e apelidos jocosos. Esse convívio precoce com discriminações e
preconceitos agem como um perfeito assassino, prejudicando a estruturação de uma auto-
imagem positiva.
Por isso, essas pessoas, algumas vezes, podem parecer alegres e despreocupados no
convívio social, mas, também, podem sofrer com sentimentos de inferioridade, insatisfação e
carência afetiva como vimos através das histórias das pessoas entrevistadas, o que,
certamente, interfere na composição da sua imagem corporal, cuja subcategoria, analisamos a
seguir.
4.1.2.4 Subcategoria imagem corporal
Nosso objetivo na análise desta subcategoria, consistiu em identificar como as
pessoas obesas se percebem, de que forma a obesidade influencia na sua imagem corporal e,
como se denominavam.
123
Conforme já discutido, o drama das pessoas obesas geralmente começa na infância
ou na adolescência, com a famosa guerra da comida detonada pelos pais, que acham seus
pesos corporais não correspondentes aos ideais estéticos. A partir daí, o ato de comer
desvincula-se do prazer, a tensão resultante dessa situação torna a criança que será o adulto de
amanhã, um infeliz.
Assim, vive uma situação conflitiva a vida toda, comer ou não comer é o dilema que
muitas vezes enfrentará pelo resto da vida. Esses conflitos, inicialmente voltados apenas para
à aparência corporal, termina por comprometer também a relação emocional em sua
plenitude. Ao perceber a rejeição de seu corpo pelos seus pais, a criança começa a rejeitá-lo
também. Interpreta a rejeição deles como se seu corpo fosse fruto de alguma deformidade,
muitas vezes, por eles, considerada hedionda (PINTO, 1999).
Nessa situação, a dieta torna-se um tormento para essas pessoas pelo resto da vida, o
que acaba tirando-lhe a paz, chegando a considerarem, a dieta, um castigo injusto e
incompreendido. Por que abdicar de uma forma de prazer tão gostosa pelo resto da vida?
Pinto (1999) define que “a imagem corporal é uma representação condensada da
construção das experiências corporais do passado e do presente, projetadas conjuntamente no
futuro”. Desse modo, é a integração do corpo real com o corpo imaginário, que determina a
elaboração da imagem corporal internalizada, a qual é elaborada de acordo com o
autoconceito da aparência pessoal, desempenho sexual, auto-reflexo do espelho social e
cultural onde se vive, além de comparações com irmãos, colegas e ídolos.
A pessoa obesa, conforme vimos através dos depoimentos, vivenciam a distorção da
imagem corporal, pelo testemunho da balança, quando evidencia os quilos a mais. Se suas
experiências são hostis, principalmente desde a infância, começa a considerar que seu corpo é
grotesco e que os outros olham-no com desprezo e hostilidade.
Algumas das entrevistadas começaram a travar uma batalha contra a obesidade na
infância e, desde muito cedo, o estigma e suas conseqüências ficaram presentes em suas vidas.
Os efeitos negativos do excesso de gordura fizeram com que essas pessoas passassem grande
parte dos seus anos de vida procurando por um tratamento que viabilizasse a transformação
dos seus corpos do gordo para o magro, conforme os recortes das falas, abaixo:
....Eu sei que eu não vou ser magra porque nè, porque eu sempre fui
cheinha, mas pelo menos eu quero ser menos gorda [...] Eu não queria sair
na rua porque as pessoas iam me ver e perguntar por que eu estava
engordando de novo. e eu não queria que isso acontecesse [...] (E4).
124
[...] um tio meu, agora tá dizendo que eu sou o número 1 da família, eu
!!!,[...] ( o mais corajoso?) Pó..., não, o número 1 em termo de peso. Aí eu
olhei para ele, pô, ele me dizer que eu sou o número um, ele é bem pior do
que eu, ele tem mais de 130 kg.[...] meu pai, ele chegou a ter 115 kg, a
família toda gostosinha. (E8).
Melhorar a minha aparência. Ah! Eu me enxergo uma pessoa flácida, uma
pessoa fora dos padrões. (E10).
Fico envergonhada por que eu não era assim, muita transformação. Foi
muito rápida a transformação. Foi muito rápida meu aumento de peso[...].
Um excessozinho de gordura até que eu suporto, mas a minha barriga não
guento não. Toda roupa que eu coloco desaba tudo! Quando eu tiro a roupa
é pior ainda [...] A minha expectativa é essa, de ficar bonita (fala admirada
com ela mesma, com a possibilidade de admitir isso). A voltar a ser o que
eu era, voltar a ser feliz. Pois, a pior coisa é que todos que me conhecem,
que me conheceram e que me vêem hoje, é aquele espanto! -Menina, o que é
isso, o que aconteceu com você?Dr. Isso aqui não me pertence, então eu
quero que saia de minha vida, por que não me pertence. Vou trazer uma
foto par o Sr. ver, e o Sr. vai ver que não me pertence. Se isso entrou vai ter
que sair. (E5).
Demonstraram, conforme pode ser verificado uma visão totalmente preconceituosa
da própria imagem corporal, já tendo internalizado o olhar opressor. Muitas se sentiam feias, e
acreditavam que os outros pensavam o mesmo. Uma delas ao ser questionada sobre sua
imagem corporal devolveu a pergunta e, sem esperar a resposta, comentou sobre o seu corpo
como se já soubesse qual seria a reposta, antes mesmo de ouvi-la.
A entrevistada de número 11 demonstrou todo o conflito de uma imagem corporal
que lhe é própria, aquela que ela vê através dos outros e dos padrões de exigência da
sociedade:
Você acredita que eu me vejo e não me vejo horrorosa?[...] Ah! é assim [...]
Eu vejo assim. Pôxa! meu peito cresceu demais, ninguém merece[...] eu
vejo que eu realmente engordei quando passo na borb.. na catraca do
ônibus apertada, sabe? Mas assim [...] Eu ainda vejo a perna bonita, muita
coisa eu ainda vejo, que é assim, é o modelo que a gente cria, com certeza,
que assim eu fico mais vivendo do passado, sabe?
Quando solicitados a expressar em uma palavra a sua imagem corporal utilizam
palavras como:
125
Gorda. [...] Ah! Fulana é gorda, eu sei que sou [...] (E1).
Sabe aquela massinha que menino brinca aquela coisa disforme, aquela
coisa feia, é mais ou menos por aí. Mas, é , se fosse um animal, só poderia
pensar ser um animal grande, a que todo mundo chamaria de baleia, um
bicho bem, uma ( demonstra desprezo na voz enquanto fala, de modo
pejorativo, desqualificando-se). Aquela coisa gorda mesmo sabe? (E2).
Me acho bastante gorda, feia.[...]Ah! A minha preocupação só é a pele. É
que eu já tô de mais idade né? Eu to velha então eu sei que vou ficar mais
ainda com pele, então minha preocupação mais é isso [...] tirar a pelanca
aí de baixo (rindo, e apontando para o abdômen). Tem horas que eu fico
assim [...] (E3).
Deformada. (Longa pausa antes de continuar). Para o que eu era hoje eu
sou uma imagem deformada. Principalmente meu abdômen, minha barriga
( E5).
Se eu pudesse me definir, se eu pudesse[...] Como é que você me percebe
(devolve a pergunta ao interlocutor)? Ah! Rapaz é horrível!!!Horrível, eu
me acho horrível. Não, eu me acho horrível ta doido?[...] Aquilo ali na
sala, agora, é um milagre! Eu fiz assim, olhei assim para a Senhora, a mulé
simpática velho, agora com um rosto bonito, mas o corpo todo parecendo
um mutante, parece um [...] aquilo é triste! E ela já fez a cirurgia! Imagine
se não fizesse! Pô, eu já estou feliz antes de fazer a cirurgia. (E7).
Ah! Eu me enxergo uma pessoa flácida, enxergo uma pessoa não tenha
dúvida, uma pessoa feia, uma pessoa fora dos padrões, não é, uma pessoa
que não tem aquele [...]Eu to com 52 anos, to ficando flácido, to vendo que
a idade ta chegando e to realmente[...] e vamos dizer, não, não me sinto
bem olhando o meu corpo. (E10).
Sobre isso, alguns autores têm a afirmar que a distorção da imagem corporal pode ser
definida como preocupação exacerbada como excesso de peso, que frequentemente causa a
exclusão de qualquer outra característica pessoal positiva e avaliação do corpo como sendo
grotesco e até repugnante. Consequentemente têm a sensação de que as demais pessoas só
podem olhá-los com horror ou desprezo. (STUNKARD; MENDELSON, 1962).
Apenas duas pessoas entre as entrevistadas manifestaram algum aspecto positivo
quando questionadas em relação ao seu corpo. Uma delas não quis responder sobre o que
pensa em relação a sua imagem corporal, no momento; preferindo responder positivamente
em relação ao que quer alcançar com a cirurgia. Quando não respondeu diretamente como os
demais sobre sua imagem corporal, acreditamos que não o fazia porque não queria se expor,
pois, preferiu esquivar-se sutilmente, referindo-se ao que esperava alcançar posteriormente.
126
Ou talvez tenha sido realmente pela preocupação com a saúde, o motivo que a levou a optar
pela cirurgia. Monossilabicamente respondeu:
“Saúde”. (E6).
Outra, verbalizou falta de preocupação estética, dizendo-se mais incomodada,
preocupada com a apnéia do sono, problema que interfere em sua qualidade de vida e em seu
trabalho. Vejam abaixo:
Não sei, não tenho nenhum trauma em relação a isso (corpo), minha coisa é
mais saúde mesmo, a apnéia do sono. (E11).
A entrevistada de número 4 ao ser questionada sobre sua imagem corporal reagiu de
modo triste, cabisbaixa, permanecendo muito tempo em silêncio antes de responder:
Eu não tenho palavras, eu acho que eu não tenho palavras. Tudo que a
gente conversou agora [...] Eu não tenho palavras. Eu não gosto muito
quando as pessoas.., eu me sinto mal até, eu não gosto não, me sinto mal
até, me sinto mal. Quando eu penso na realidade[...].
A seguir, essa mesma entrevistada continuou revelando um diálogo que teve com
outra pessoa obesa durante a reunião multidisciplinar, onde se dizia que o corpo representa o
que nós somos, embora não gostassem do que viam. Demonstrou, nesse momento, uma crise
de identidade, não se reconhecendo naquele corpo, no corpo de uma pessoa presumidamente
desequilibrada. Na sua concepção, se o físico é a representação do que ela é, para as outras
seria uma pessoa desequilibrada, mesmo não sendo, nem se reconhecendo como tal, pois é
obesa:
[...] O que ele queria dizer é que o físico da gente mostrava o que a gente
era. E eu não gosto do meu peso, do meu físico, meu Deus, então eu sou
uma pessoa desequilibrada?Não, é que eu (dando gargalhadas), mas é bem
assim, na hora que ele falou [...] Eu estou comendo desequilibradamente,
127
será que sou eu? Não, não, não sou. [...] Ah! Eu sou então eu não tenho
nem coragem, palavras para dizer. O que é? O meu aspecto. Mas, é isso,
nem eu, não consigo ser feliz assim. É por esse motivo que eu luto desde
pequena, para que eu venha a não ser gorda, venha conseguir a ser magra
[...] Eu sei, eu não vou dizer que eu como pouquíssimo, não sinto fome
(ironiza). Seria demagogia minha! Jamais. Eu sei que por compulsão, o
obeso come exageradamente, além do que ele precisa comer.( E4).
Faith; Alisson (1996) e Williamson; O’Neil (1998) apresentam outro conceito de
imagem corporal, que nos remete a falas das pessoas entrevistadas, quando afirmam que a
imagem corporal é definida como a interação entre o componente perceptivo, o componente
postural. O primeiro refere-se a avaliação cognitiva do tamanho do corpo, e o segundo
componente refere-se a uma complexa resposta afetivo-cognitivo- comportamental a essa
avaliação
Ainda, no que se refere aos aspectos perceptuais da imagem corporal, os mesmos
autores afirmam que os adultos obesos têm chance até 3 vezes maior do que a população geral
em superestimar seu tamanho. Além disso, no que se refere ao componente postural, não
parece haver uma relação direta entre o IMC e insatisfação ou distorção da imagem corporal.
Essa relação está presente com o sobrepeso percebido e não com o sobrepeso real.
Murray apud REIS (1987) reitera isso, explicando que os distúrbios da imagem
corporal aparecem quando há uma falha em aceitar o corpo como ele é e em adaptá-lo à nova
forma. Há um conflito entre a forma de como o corpo é percebido e a forma de como a pessoa
faz o quadro de seu corpo, mentalmente.
Dessa maneira, de um modo geral, os estudos sobre imagem corporal apontam para
prejuízos relacionados à insatisfação, depreciação, distorção e preocupação com a auto-
imagem, todos eles sendo fortemente influenciados por aspectos sócio-culturais (Demarest;
Langer, 1996 e Gittelson & Cols., 1996).
A imagem corporal é a idéia, o retrato mental que a pessoa faz de sua própria
aparência física, de suas atitudes e seus sentimentos em relação a esta, sendo, por isso,
importante indicador para as pessoas, que pretendem cuidar de pessoas com obesidade,
compreenderem melhor o que se passa com elas.
Vieira apud REIS (1987) resume as ações de enfermagem, junto a pacientes com
distúrbios da imagem corporal, considerando importante: escutar o paciente, procurando
reconhecer seus sentimentos; valorizar suas áreas sadias; incentivar os movimentos; favorecer
128
a integração com outras pessoas; ajudar-lo a aceitar o seu corpo como ele se apresenta, e
envolve-lo em seu auto – cuidado.
3.1.3 Categoria 3 – Relações sociais frente à cirurgia
Nessa categoria, buscamos compreender um pouco das relações sociais das pessoas
obesas, sua interação com outras pessoas, seus relacionamentos mais próximos, trabalho, suas
expectativas em relação à cirurgia e a influência da mídia sobre suas relações sociais.
Encontramos nessa categoria, 03 subcategorias: relacionamentos familiar e afetivo;
trabalho; valores culturais/expectativas em relação a cirurgia.
4.1.3.1 Subcategoria relacionamentos familiar e afetivo
No enquadramento social contemporâneo a beleza física é muito valorizada e está
diretamente ligada ao ideal de corpo magro, firme e esbelto. As pessoas que não se
enquadram nesses padrões, costumam sofrer uma grande pressão social e sensação de
inadequação, que geralmente provocam dificuldades relacionais e isolamento. Esses fatores
associados a um sentimento de menos valia dão origem a fuga social e a sintomas
depressivos, que dificultam, ainda mais, as relações quer de caráter sócio-profissional, quer de
caráter familiar e afetivo.
As pessoas obesas são freqüentemente alvo de vários tipos de preconceitos e
discriminações no seu dia-a-dia, durante a realização das atividades mais corriqueiras. O
problema do convívio social de quem possui esse estigma é grande, não raro sentem-se
rejeitados em seu próprio grupo social e familiar, impedidos de fazerem muitas coisas, por
não se enquadrarem aos padrões esperados.
Tal estigma ocorre quase que inconsciente e manifesta-se comumente sob forma de
uma tentativa de elogio, ou um comentário pouco pensado, além do uso de apelidos. Nesse
cenário, tais aspectos estimulam a realização da cirurgia bariátrica.
Algumas das pessoas entrevistadas relataram a influência de familiares na decisão de
realizar a cirurgia. Algumas tiveram experiências positivas com parentes próximos que já
129
tinham realizado, ou amigos que as incentivaram. Outras, ainda, resolveram devido a
cobrança constante para que emagrecessem, conforme depoimentos abaixo:
Aí, minha avó, ela é bem controlada, ela é a única magra da família porque
ela se controla. Ela faz: Ah! a comida não vai me dominar tal e tal
[...]Minha mãe fez cirurgia de redução de mama. Minha mãe é magrinha.
Fez cirurgia de barriga, lipoescultura, fez tudo. Então assim, lá em casa
sempre teve isso forte, então sempre eu ouvi isso entendeu? Por que você
não emagrece, por que você não emagrece [...] Ah! Você não emagrece
porque você não quer, aí eu olhava assim para a cara de minha mãe (fala
olhando de lado, ironicamente,como quem diz, ta vendo?). Então, assim,
para mim foi essencial porque eu tenho essa consciência entendeu?E elas
não tinham (referindo-se a avó e a mãe). (E1).
Minha irmã fez a cirurgia há 2 anos e 5 meses que ela fez e ela vive dizendo
que eu deveria fazer e tal, e tal[...]( E2).
Meus pais, todo mundo ficou assim (demonstrando dúvida, incerteza),
porque alguém fez e se deu mal, mas alguém fez e se deu bem. (E6).
Aí, foi que eu vi uma colega minha, uma colega de meu pai. E sempre meu
pai ficava dizendo: Taí, oh! Já fez, taí magra. Você tem que fazer. Já, já, já,
já. Existem as dificuldades, existe a própria cirurgia, mas todos alegres.
Todas as pessoas que eu conversei, todo mundo satisfeito. Todos (enfatiza).
(E7).
[...] lá o pessoal da equipe eles fazem reuniões [...] mesmo teve um dia que
fez uma palestra que tinha mais de 60 pessoas no auditório e aí comecei a
ver [...] Tem um colega que fez a bariátrica com João, mas que colocou
acho o anel, também tá ótima. (E8).
[...] eu decidi, enquanto minha mãe, outras pessoas falavam Ah! Você tem
que emagrecer, você tem que fazer isso, tem que fazer aquilo [...](E9).
Eu tenho uma filha que fez essa cirurgia bariátrica, eu acompanhei, ela
perdeu 66 kilos, tava com 136 kg. E hoje eu vejo que ela é uma pessoa que
se modificou, quanto foi [...] quanto concorreu favoravelmente pra
personalidade dela. Ela hoje é uma pessoa que se insere no meio dela, é
uma pessoa que trafega bem no meio, é uma pessoa que namora, uma
criança que faz tudo de uma forma natural, é uma coisa muito boa, muito
boa. (E10).
Meus colegas lá da pós-graduação de medicina estética me deram a idéia
da cirurgia (E11).
130
O discurso sobre o aprisionamento da mulher através da beleza feminina sempre
existiu no decorrer dos anos. No entanto, no que se refere a mulher contemporânea, esta, vê-
se aprisionada face à afirmação que a escolha para ser bela é exclusivamente dela, que ela
pode ser bela se assim o quiser e, esforçar-se.
O desenvolvimento de novas técnicas corporais, e o aparecimento de inúmeras
práticas sociais, técnicas de modelagens físicas e os diversos produtos cosméticos estão
diretamente relacionados a idéia de autonomia e autocontrole dos indivíduos em relação a
seus corpos. Isso, por sua vez, reforça o comportamento depreciativo daqueles que se
desviaram do padrão de beleza dominante, que acabam sendo muito mais cobradas do que o
homem no que se refere ao cuidado com o corpo. A mulher obesa, por exemplo, socialmente é
tida como um corpo discriminado, sem controle. Por isso, acabam transformando-se em seus
próprios algozes, sentindo-se incapazes de conquistar, de despertar o interesse de um homem,
quando seus corpo não correspondem mais ao que está padronizado como belo.
Feldhahn (2006), em pesquisa realizada com mais de mil homens sobre o que pensa,
sente e precisa, chegou a conclusão, que embora os homens dêm importância a aparência das
mulheres, não significa que elas tenham de ter um corpo de modelo; eles apenas têm que
sentir que elas se esforçam para cuidar da aparência.
A autora, também, refere que os homens, ao contrário das mulheres, são
incrivelmente visuais. São estruturados para serem caçadores sexuais, todos os pensamentos e
imagens relacionados à caça vêm associados de poderosas sensações. Muitas vezes, apenas
admiram a beleza feminina, é como admirar um belo quadro, não é necessariamente por
interesse sexual. Afirma, ainda, que os homens não são tão exigentes com as medidas e
proporções, peso, como as mulheres. A maioria dos homens entrevistados colocou que
gostaria que suas mulheres não fossem tão preocupadas com as proporções de seus corpos.
Consideram muito mais prejudiciais para o relacionamento a obsessão delas por esse assunto.
A insatisfação dessas mulheres afeta a capacidade de fazerem coisas, a auto-estima e o seu
tesão. Desse modo, infelizes e insatisfeitas com seus corpos, acabam deprimidas, isolando-se,
deixando de se cuidar, sem disposição para sair, para ter sexo, afetando, assim, seus
companheiros. Os homens entrevistados ainda relataram que a situação torna-se problemática
a partir daí, quando deixam de se sentir importante para elas, destacando que precisam sentir
suas mulheres se esforçando para agradá-los, estando dispostas a cuidar de algo que é
importante para eles: elas mesmas.
Rito (2004), em um estudo realizado com gestantes obesas, identificou que elas
referiam que os comentários com conotações negativas em relação à sua obesidade foram
131
feitos por pessoas que não pertenciam ao círculo familiar nem eram amigos próximos. Com
relação ao cônjuge, a maioria não denotou a exigência da perda de peso, observando a
preferência dos parceiros por corpos arredondados, quadris largos e coxas grossas.
Relatos semelhantes podem ser observados entre as pessoas que entrevistamos:
Não, até porque quando a gente casou eu já estava bem gordinha mesmo
tal, eu não mudei muito depois disso, eu acho que isso não interfere não. De
vez em quando ele fala né? Olhe! Aproveite enquanto você está nova, não
sei o que e tal. Mas, por exemplo, ele não fala, apesar de minha irmã ter
feito a cirurgia, ele nunca me sugeriu fazer, né [...] Agora, quando eu falei,
aí ele falou né? Pode ser uma boa pra você. Nisso até que ele é
compreensivo comigo, ele é legal (E2).
Não, não ele não cobra. Tem uma coisa também porque ele é gordinho, é
barrigudinho. Ele não ajuda com a dieta, ele não ajuda, mas também não
atrapalha [...] quando eu vejo ele já comprou qualquer coisinha para me
ajudar, qualquer coisa assim que eu peço, facilmente (E4).
Graças a Deus, meu marido não deixa eu me sentir assim, ele faz eu me
sentir perfeita, ótima, mas as outras pessoas não ajudam muito, a sociedade
em si não é? Contribuem muito para isso. Eu sempre fui uma pessoa muito
feliz, fui risonha, brincava muito e depois foi morrendo por dentro, foi
mudando (chorando). Muita coisa dentro de mim foi mudando, e eu não
quero. Isso pode afetar meu casamento, pode afetar minha comunhão [...]
Esposo é [...] ele falava muito, hoje ele não fala mais, Graças a Deus, mas
eu passei a sentir vergonha, principalmente na hora. Ficava no escuro, no
escuro para trocar de roupa. Meu marido tem o maior carinho comigo, mas
eu assim, oh! Uma pilha - Você não me ama mais não é?Você deixou de me
amar foi? Ele fica brincando. Mas, eu assim, muito nervosa. Meu marido é
um gato!Eu que não perca peso pra ver! Ele diz que eu estou com um
excesso de fofura (risos) [...] Eu estava me desprezando, meu cabelo eu não
estava cuidando mais, minhas unhas é [...] (E5).
[...] porque é aquela fase que você quer conquistar, então você faz você
corre atrás. Eu queria conquistar, acabava conquistando. Eu tenho futuro.
[...] (E6).
Eu falei pro meu esposo, esse ano eu não quero mais ser gorda, eu quero
fazer a cirurgia. Ele disse: Não, eu lhe apóio. [...] Eu vou ta com a auto-
estima lá em cima, vou me sentir mais mulher, como esposa (E9).
O apoio emocional e social das famílias, de amigos e colegas nos pareceram
essenciais para encorajá-las a decidir pelo procedimento cirúrgico. Mesmo tendo algumas
132
delas colocado o medo e a insegurança de seus familiares em relação à cirurgia. o fato de
estarem juntos, apoiando, informando-se, participando inclusive do processo decisório foram
fundamentais, conforme se verifica nas falas citadas:
Mas, agora eu tomei a iniciativa. Também já estou de maior, tudo. Uma
colega de minha mãe já fez, aí já tem a referência, aí eu resolvi fazer [...] Aí
eu pensei em fazer, só que minha mãe não deixava por que minha mãe
morre de medo. Minha mãe ainda acha que a cirurgia é muito forte [...]
então que poderia estar caminhando para os outros lados. [...] se você já
vai para a sala de cirurgia, sua família já vai ciente do que pode estar
acontecendo. Existe um baque, é claro, mas é um baque mais consciente.
(E1).
Ah! Minha irmã está super satisfeita com a cirurgia, não se queixa de nada.
Eu conheço várias pessoas que fizeram me dizem sempre, faça. Faça, você
deveria fazer. Você deveria fazer é tão bom. Agora, quando eu falei, aí ele
falou né? Pode ser uma boa pra você. Nisso até que ele é compreensivo
comigo, ele é legal (referindo-se ao marido). É tem aquele tipo de
companheiro né, que dá aquela aconselhada vai falando, um dia fala,
devagarzinho é [...] Ele só fala bem assim: Eu acho que ta na hora, você
veja [...] Eu me dou muito bem com as pessoas lá em casa, a babá do meu
filho, secretaria também, entendeu? Então esse tipo de coisa ajuda
bastante, as pessoas ficam mais tolerantes também né? Aquela coisa toda
né? Quando a gente tem o apoio ajuda bastante. (E2).
Todo mundo aceita a cirurgia, quando eu falei todo mundo concordou,
principalmente os filhos, todo mundo. (E3).
Então, eu tenho toda a minha família unida, tenho todos os motivos para
ser feliz. O motivo de minha infelicidade realmente é a obesidade. (E4).
Meus pais, todo mundo ficou assim [...] (demonstrando dúvida, incerteza),
porque alguém fez e se deu mal , mas alguém fez e se deu bem.( E6).
Sem dúvida é importante você falar a verdade a psicóloga. Não é ficar
fingindo para fazer a cirurgia logo. Ai que eu faça a cirurgia e tenha
alguma complicação psicológica (E7).
O médico comentou sabe? Falou que eu tinha indicação por causa do peso
e aí eu realmente pensei: amadureci a idéia e resolvi que ia fazer (E12).
Há evidências que o apoio familiar melhora o prognóstico em relação à mudança no
estilo de vida. Muitas pessoas obesas encontram motivação e estímulo para manter seus
planos de reeducação alimentar por meio do apoio de seus “iguais”. O apoio do grupo é uma
133
das mais potentes e terapêuticas forma de ajuda. Os grupos de convívio tendem a ser
importantes espaços de participação e solidariedade, pois o isolamento adoece (FELIPPE,
2003).
È importante registrar que precisamos nos despir de preconceitos e lembrar que os
seres humanos ao homogenizar-se, acabam com as diferenças entre eles. Aquele que se
mostra diferente externamente do que é padronizado, é um outro que deve ser temido, pois
como refere nosso poeta Caetano Veloso, em sua música Sampa, “ é que Narciso acha feio o
que não é espelho”.
Em relação a sexualidade quase todas as pessoas foram discretas, deixando
subentendido essa questão quando mencionaram a auto-estima , a vergonha em despir-se para
o marido, a expectativa de melhora na qualidade de vida e nas relações sociais, após a
cirurgia com perda de peso .
Passei a ter vergonha do meu esposo nè? (E5).
[...] mas eu passei a sentir vergonha, principalmente na hora. Ficava no
escuro, no escuro para trocar de roupa. (E4).
No entanto, tivemos um relato forte de uma das entrevistadas, demonstrando também
a dificuldade das pessoas obesas em relacionar-se no quesito sexualidade. Muitas vezes
encaradas como aversivas por não serem esteticamente agradáveis. O olhar social
dessexualiza as pessoas obesas, negando-lhes o direito a uma vida sexual, até que emagreçam,
e atinjam o ideal do padrão de beleza. Parece que só as pessoas magras têm o direito a ter vida
amorosa. Observem o que manifestou nossa entrevistada a respeito disso:
[...] E outra coisa também, quem não me co... não me co.. magra . É
verdade, eu fico assim pensando eu tenho bem em mente, quando eu ficar
magra, eu quero, é realmente se você não me pegou quando eu era gorda
por outros motivos, então você não me merece, quando eu for magra e
bonita, entendeu? Porque a pessoa é a mesma, não muda [...] mesmo que
eu não tenha porque eu sei que você muda, mesmo não querendo você
muda, as pessoas ou por falsidade ou por outros atributos, vão chegar até
você. Vão se aproximar mais de você entendeu? (E1).
134
Nesse sentido, a mídia tem um papel importante, vendendo imagens de pessoas
esteticamente perfeitas, tendo relações sexuais apaixonantes e com resultados explosivos, o
que desperta fantasias nas pessoas ditas “normais”. Além disso, também, contribuem para
estender, o nosso preconceito, a sexualidade, uma vez que não estamos acostumados a ver nos
cinemas e ou na televisão, filmes de pessoas gordas, ou esteticamente imperfeitas, tendo
relações sexuais.
No mundo contemporâneo, também o imediatismo é o valor que permeia vários
traços culturais, inclusive no que se refere as relações, e até aos relacionamentos amorosos e
sexuais. O que se veicula é a satisfação imediata, principalmente no que se refere ao uso do
corpo. Na busca da sensação de prazer e auto-estima, recorre-se a soluções milagrosas, cujas
conseqüências em longo prazo não são consideradas.
Foi curioso observarmos no relato de uma das pessoas entrevistadas, que revelou
sentimentos preconceituosos e estigmatizantes a seu próprio respeito, referindo:
Eu vi uma pessoa ali, agora mesmo ali (referindo-se a sala de espera do
consultório), espantosamente surpreso, rapaz! Aquilo ali na sala, agora, é
um milagre! Eu fiz assim, olhei assim para a Senhora, a mulé simpática
velho, agora com um rosto bonito, mas o corpo todo parecendo um mutante,
parece um.... aquilo é triste! E ela já fez a cirurgia! Imagine se não fizesse!
(E7).
Nesse cenário, o excesso de peso termina por atingir mais a alma, o estado emocional
e psicológico do que o físico, embora já sejam comum problemas de saúde a ele relacionados,
quando em conjunto com a obesidade. A verdade é que a obesidade acaba destroçando a
alegria de viver e roubando o entusiasmo pela vida. Nada mais agrada nem propicia prazer,
nem as manifestações afetivas recebidas, nem o lazer, nem o trabalho e muito menos a vida
sexual. Gordo, carente, sente-se abatido em sua auto-estima e passa a considera-se desprovido
de qualquer valor.
135
4.1.3.2 Subcategoria trabalho
O sistema econômico capitalista tem influenciado bastante para mudanças do estilo
de vida das pessoas, em relação ao trabalho e ao consumo, o que acaba em mudanças dos
hábitos alimentares e prática de atividades físicas, conduzindo também para a obesidade.
Desse modo, a situação econômica relacionada ao trabalho, acaba por desenvolver
uma inter-relação com a obesidade, que pode ser direta ou indireta, seja através da falta de
tempo para se alimentar corretamente, seja devido ao estresse e a falta de tempo para a prática
de atividades físicas, o que é associado muitas vezes, ao tipo de trabalho sedentário, a forte
competição no mercado, alta taxa de desemprego e demissões, cada vez mais comuns.
Geralmente, um dos grandes problemas relacionados ao controle de peso é o hábito
de não fazer todas as refeições, ou de substituí-las por lanches rápidos, ricos em carboidratos,
frituras e gorduras transgênicas. Muitas pessoas hoje, devido ao excesso de trabalho, acabam
por adotar esse hábito, favorecendo o ganho de peso.
Gambarini (2003), em relação a esses hábitos alimentares, menciona que os grandes
intervalos entre as refeições estimulam a um padrão inadequado de ingestão alimentar,
ocorrendo, nessas circunstâncias, a ingestão rápida dos alimentos, com pouca mastigação
retardando o processo de digestão e da absorção dos alimentos, sendo adiada a instalação da
saciedade. Assim, o indivíduo continua comendo uma maior quantidade de alimentos, muito
além do que seria necessário para o seu equilíbrio nutricional. Esse jejum prolongado pode
estimular também o aumento compensatório da ingestão alimentar por alterações da regulação
hormonal, que controla a fome. Quanto a isso nossos entrevistados relataram:
[...] por mais que você tente se enquadrar, nessa vida maluca, eu passei 1, 2
anos direito. É e nem eu [...] É aí pronto, quando chegou que liberou para a
manutenção do regime, aí pronto. Você esquece de comer. Por que quando
você tá no regime, você ainda tá naquela fase meia [...] de saborear o seu
regime, mas, fora isso, aí pronto, então a realidade [...] Eu boto uma
garrafa de água em cima da mesa, eu tive problemas de pedra nos rins, eu
boto para beber, com isso eu acabo esquecendo, a gente faz uma merenda
no horário certo e aí vai, quando dá meio dia, uma hora [...](E8).
Nesse sentido, o estresse do cotidiano, provocado pela alta competitividade, o
acúmulo de funções, aumento na qualidade dos serviços a busca pelo sucesso profissional e
136
financeiro e exigências quanto à necessidade de si produzir mais, interferem na forma de
alimentação. O comer compulsivo também surge como um elemento de fuga às tensões
cotidianas, resultando em aumento de peso e obesidade. O estresse prolongado, por sua vez,
pode levar a um estado permanente de ansiedade, de baixa auto-estima e depressão o que
também favorece a obesidade.
Desse modo, os entrevistados relataram:
Olha, se eu respondesse isso a você aqui, você poderia dizer que era um
capricho meu comer demais. Hoje, eu entendo que não foi isso, eu entendo
que foi o estresse, o dia-a-dia, o trabalho, tudo isso implicou que eu
engordasse não que eu comesse muito, por que eu não como muito. Voltei
ao peso ideal que era 70 Kg. Só que, depois, com o tempo, trabalho,
estresse, tudo isso implicou que o peso aumentasse. (E7).
Eu também sou médica, trabalho fora de casa o tempo todo, então eu vou
ter que agora me organizar pra comer de 3 em 3 horas, enfim, o que eu
sempre burlei, né? Sempre boicotei minha alimentação, porque eu também
não era de engordar né?(E11).
Os trabalhos realizados hoje, também assumem características sedentárias, sem
qualquer movimentação física, como uso excessivo da automatização. Elevadores e outros
equipamentos eletrônicos de comunicação reduzem o desgaste físico, favorecendo a
obesidade.
Quando questionamos quais as dificuldades enfrentadas pelo sujeito em relação a
suas atividades laborais, relataram preconceitos e dificuldades físicas, devido ao sobrepeso e
nos surpreendeu o número de desempregados entre essas pessoas. Observamos que as
limitações físicas causadas pela obesidade tomam proporções extremamente elevadas, porque
além de comprometer a vida pessoal, comprometem relações familiares, íntimas, a afetividade
e o trabalho.
Observem os relatos:
Sinto muitas dores nas pernas, não guento mais meu corpo, quando ele dói
não, não consigo fazer nada, não sinto coragem pra nada (E1).
Eu tenho uma inflamaçãozinha no joelho que as dores são insuportáveis
não é?[...] Não está trabalhando. No momento estou desempregada (E4).
137
Eu adquiri 2 hérnias, porém uma das hérnias estão estrusas e estas hérnias
estão afetando minhas pernas,Por que eu não estou trabalhando, vou ver o
que eu vou fazer e fazer o possível para aproveitar agora, meu momento é
agora. [...] Fiquei em casa, foi que fiquei pior, em depressão, nesse
momento e me sentia pior (E6).
Não, não atrapalhava não, eu conseguia fazer, eu não estava de jeito que eu
estou hoje. Eu estava muito menos, uns 20 kg menos. Fiquei em casa, foi
que fiquei pior, em depressão, nesse momento e me sentia pior. Eu trabalho
como operador de empilhadeira. Aí eu cheguei a pesar 105 kg, mas em dois
meses para cá estourou o peso [...] Com certeza, com certeza o obeso hoje
até subir naquela escada ali (aponta a escadinha de 03 degraus do
consultório), se ele subir dez vezes ele ta cansado. Então, tudo que eu faço
no trabalho, que eu fazia, o que mandava fazer eu fazia, mas existiam
algumas dificuldades (E7).
Profissionalmente pra mim [...] Eu sou engenheiro agrônomo e tenho
que...tomo conta de algumas propriedades rurais e pra eu me locomover
estava muito difícil. Realmente pra mim é muito difícil me locomover, eu
fico com muita falta de indisposição, com pouca disposição (E10).
Quando você é gordo você tem uma limitação física assim, seu corpo, ele é
pesado pra você se locomover, é difícil, então você acaba ficando uma
pessoa acomodada, não é porque você é preguiçoso, mas é porque fazer as
coisas exige muito esforço, entendeu ( E12).
Quando questionados em relação ao preconceito e a dificuldade de se empregar,
muitos deles, agora desempregados, relataram que trabalhavam anteriormente em empresas de
parentes, não tendo que enfrentar muitas dificuldades. Embora o fato de trabalhar com
parentes seja sugestivo, não podemos relacionar o fato a dificuldade de arranjar emprego
devido ao preconceito. Os relatos das dificuldades físicas, as comorbidades, a depressão e a
falta de qualificação profissional parecem exercer maior influência para o desemprego do que
o preconceito, segundo o relato dos entrevistados:
Eu trabalhava numa agência de veículos, agora atualmente não estou
trabalhando não. Não, até porque eu trabalhava numa empresa familiar. A
empresa era de meu pai. Então não tive [...] O que eu tive dificuldade lá foi
o seguinte: como a empresa era familiar eu não era colega de ninguém né?
Não chegavam a me isolar, não vou dizer que me isolavam, mas assim,
aqueles eventos que a gente faz fora da empresa, aquele bate papo de fim de
semana, não sei o que, barzinho e tal. Você nunca é convidada né? (E2).
138
[...] Não, eu tava trabalhando, no momento não. Eu trabalhava como caixa
na loja de meu tio (E6).
Embora não haja relato de ter vivenciado o preconceito por ser empresa familiar,
esse último nos remete a outro tipo de preconceito, senão o relacionado à obesidade, aquele
referente a ser parente do dono da empresa, e, portanto “pessoa não grata” nos encontros
sociais.
Como podemos entender a perda de emprego está intimamente associada aos demais
fatores psicológicos que, também, colaboram para o desencadear da obesidade: ansiedade,
depressão,baixa auto-estima e o desânimo,comumente associado a essas patologias.
Apenas uma das doze pessoas entrevistadas, demonstrou estar bem com sua relação
de trabalho; estudante, tem progredido como estagiária de uma empresa, com perspectivas de
contratação. Relatou espírito de liderança, facilidade de comunicação, boa relação
interpessoal, está fazendo um curso superior, demonstrando, mesmo com a obesidade, uma
forte auto-estima. Tais fatores, certamente, contribuem para seu desempenho profissional, ao
contrário do que observamos na fala das demais entrevistadas.
Trabalho na rede Bahia, na área técnica. Na verdade, eu estou estagiando,
é provavelmente minha contratação sairá no final do ano (E1).
Quando menciona seu trabalho o faz demonstrando alegria, sorri, autoconfiante e
orgulhosa de si mesma. Demonstra conhecer suas qualidades e utilizá-las em seu benefício
profissional.
[...] É eu sou uma pessoa muito comunicativa, eu falo com todo mundo, eu
tenho esse espírito de liderança, então sou sempre eu quem organiza tudo,
então eu to sempre dentro de tudo, entendeu? E tomando a frente, então,
assim, eu particularmente nunca assim tive esse problema. (E1).
Essa pessoa demonstrou conhecer os preconceitos para com as pessoas obesas e
sente-se privilegiada, pois “apesar de ser obesa,” de não ter tido nenhum privilégio político,
conseguiu demarcar seu território com competência e respeito. Sente-se orgulhosa também de
139
ter conseguido isso por competência própria, sem precisar utiliza-se de recursos externos,
como a aparência pessoal, para atingir seu objetivo.
No entanto, acaba denunciando a influência da boa aparência para se conseguir
emprego, ou bons cargos, ou o fato disso estar sendo utilizado pelas mulheres no mundo
contemporâneo:
[...] Eu mesmo fico muito feliz com minha trajetória profissional, por que
assim, eu sou mulher, eu era gorda tal. Não tinha outra influência política e
sempre consegui, então, tipo, eu comecei conversando. Aí eu trabalho com
25 homens, só eu de mulher. Então é assim, difícil, você sabe? Segurar a
barra mesmo, falar, não, é assim, impor respeito, olhe, meu trabalho é esse,
e esse e esse. Então, assim, eu fico feliz de ter conseguido isso e não
precisar ser a gostosa ou, então, usar da imagem corporal para conseguir.
Pô! Imagine! Todo mundo diz que gordo tem preconceito (sofre
preconceitos), eu sou gorda e faço isso, quando eu for magra então!Um
arrazo!!!!! Então Graças a Deus! (E1).
Desse modo, ela nos deixa claro a ênfase que vem, cada vez mais, sendo dada às
práticas do culto ao corpo, bem como a aparência corporal e a valorização social ancorada,
exclusivamente, na aparência, que acaba sendo, também, a principal moeda de troco dos
sujeitos.
Nesse sentido, Marchesini (2001) manifesta-se preceituando que a pessoa obesa tem
consigo uma avaliação negativa sobre sua competência, juma vez que falhou, muitas vezes no
que se refere ao comportamento alimentar. O sentimento é de falência e sua avaliação fica
presa nesse ciclo vicioso de perder peso e depois, invalidar todo o sacrifício. Em relação ao
vínculo que mantém com as outras pessoas, a postura assumida, depende muito do que recebe
do outro, sendo, frequentemente, críticas ou piedade. Essa postura faz com que o obeso
perceba-se como um ser disforme, com má apresentação, fora dos padrões físico-sociais
aceitos, afastando-se do convívio social e, consequentemente, gerando mais ansiedade, mais
alimentação e mais gordura.
Desse modo, essa entrevistada pode mesmo considerar-se privilegiada, sendo uma
das poucas exceções na realidade dessas pessoas.
140
4.1.3.3 Subcategoria valores culturais e expectativas
Segundo os entrevistados, o fato de ficarem magros servirá para a sociedade abrir
espaço para que possam a usufruir de todas as facilidades do mundo dos esbeltos. Com o
corpo que se encaixem nas regras básicas da perimétrica corporal, cabendo em qualquer lugar,
podem se permitir a ir a lugares antes evitados, utilizar transportes públicos, ou as Vans, ou
até mesmo ir andando, sem que precisem parar. Para elas, ficando magras, as privações
impostas pela doença e pela sociedade deixarão de existir.
Um aspecto importante, observado, foi o fato da beleza, a magreza e a felicidade
formarem uma tríplice aliança. A exclusão social que lhes é imposta, por serem obesas, acaba
por incapacitá-las de serem felizes e de deslanchar na vida sobre todos os aspectos.
Relembramos que, independente do tipo de motivação para submeterem-se à
cirurgia, destacou-se a vontade incessante de se tornarem magras. Isso não quer dizer
necessariamente que quisessem possuir corpos magros como modelos, mas, corpos aceitáveis
socialmente. O fato da pessoa obesa destoar muito do que é considerado esteticamente
correto, ideal, significa que possui um atributo que atrapalha sua aceitação social, atraindo o
preconceito.
Segal; Fantino (2002) em estudo com pessoas submetidas a cirurgia bariátrica,
colocam que 80% dessas pessoas relataram ter sido tratadas, na maioria das vezes, com
pouco respeito, até mesmo pela classe médica.
Assim, quando foram questionados sobre suas expectativas em relação a cirurgia,
mostraram-se alegres, esperançosos e confiantes de que esse seria o último tratamento que
necessitariam realizar, para perder peso.
Alguns se preocuparam com a questão econômica, como fariam para conseguir
realizar a cirurgia, se os convênios cobririam as despesas e alternativas para captar recursos,
caso necessário.
Acreditavam que a limitação física imposta pela cirurgia, ajudaria na perda de peso,
tão desejada e, sem sentimentos de culpa, por não conseguir controlar a ingestão do alimento.
Entretanto, temiam pelas cirurgias posteriores, que poderão submeter-se, pelo risco de
complicações e pela restrição alimentar no pós-operatório. Mas, sobretudo demonstraram
grande expectativa em relação a melhora das morbidades associadas a obesidade e da
qualidade de vida.
141
Nesse sentido, em relação a cirurgia propriamente dita, e a técnica cirúrgica,
relataram:
Eu sei que depois que passar por essa cirurgia obrigatoriamente eu vou ter
que passar por outra depois. É de todas que eu conheço que fizeram a
cirurgia só 2 tiveram complicações, tiveram que voltar para o hospital.
Tiveram um trabalho maior, tiveram que vir para o endoscopista com
alimento preso. (E2).
Se você está confiante, se você pensa positivo, se você se livra do que lhe
incomoda, que lhe deixa nervosa, que me faz mudar o humor, você quer
arriscar, você quer se livrar daquilo que é horrível. Agora assim, então
escolhi o hospital, escolhi o médico (E6).
Ah! Eu espero que corra tudo bem [...] eu espero que dê tudo certo. (E12).
Quanto aos recursos econômicos, manifestaram:
Eu não tenho condições de fazer, eu vou lutar para a prefeitura. Eu já falei
com o prefeito lá e ele falou que vai conseguir a cirurgia pra mim. E então,
eu estou só esperando em Deus que ele consiga. (E4).
Eu tinha botado um pano frio nessa cirurgia né? Então já tem o plano que
cobre isso, e essa é uma parte que eu ainda vou ver como ainda eu vou
fazer. (E6).
[...] na verdade pela dificuldade que era para ter uma autorização do plano
de saúde, tudo isso, era bem entocado. Hoje não, já explodiu. (E7).
No que diz respeito às expectativas em relação ao pós- operatório imediato
informaram:
Todo mundo diz que é a necessidade de mastigar, aquela coisa que você
não sabe fazer. E o volume também, não é [...], que é muito pouquinho? É
mais o volume é só no visual, né? Porque quando você come, todo mundo
diz que com um pouquinho, já [...] Engraçado! Ontem eu encontrei uma
pessoa, que fez a cirurgia agora, tens uns 15 dias. Eu disse, você já está
assim! Nessa disposição, fazendo compras? Caminhando pelo
142
supermercado? Eu lhe achei com um astral maravilhoso. Eu acho que vou,
até porque eu já estou preparada, já sei o que vou passar. Eu sei que vou
passar por quilo, entendeu? (E2).
Agora, assim, eu não sei o que vai acontecer, agora eu tenho procurado
muita gente que já fé, nova, da minha idade, só tem uma que se deu bem.
Agora, eu não sei. Tem gente, já me disseram que tem gente que tem
depressão, tem isso, tem aquilo. (E3).
No primeiro mês é uma dieta líquida, eu não sei, eu acho que eu vou
conseguir. E acho que eu tô tranqüila. (E4).
[...] estou me preocupando um pouco com o pós- operatório imediato,
porque eu sou uma pessoa que eu como o tempo todo, o tempo todo eu
como, é o tempo todo. Eu gosto de comer. Vou ficar é, é o pós- operatório,
vou ficar o que? Restrita? (E5).
[...] eu sei que eu tenho condição de resolver isso (refere-se a restrição
alimentar). (E8).
Depois vou ter que lembrar que eu não vou poder beber um copo de água
toda vez. Então assim, só em relação a água, líquido, eu sou apaixonada
por líquido e só posso tomar de gole em gole e gole ( E11).
No que se refere às expectativas de melhora da saúde, manifestaram:
A saúde eu penso que vou melhorar né? Porque eu tenho pressão alta, esses
problemas todos. Eu acho que vai melhorar (E3).
[...] como eu tô te falando, meu problema maior hoje é as dores que eu sinto
na minha coluna. E eu acho que com a cirurgia, eu vou perder peso, vou me
sentir melhor, acho vou mês sentir uma nova pessoa né? Vou me sentir
diferente, eu vou aprender a viver melhor, sem remédio, eu pelo menos eu
vou tentar viver melhor (E6).
[...] a cirurgia bariática é um intervenção cirúrgica, a fim de trazer saúde,
a fim de trazer melhorias para a saúde. Eu só estou fazendo a cirurgia para
recuperar minha saúde mesmo. Pois, eu quero mesmo é ficar melhor da
trombose na perna. Tenho 08 anos, 08 anos sofrendo. (E7).
E em termos de resultado de saúde [...] Redução da diabete pode ser, eu,
por exemplo, minha diabetes está no limiar, eu nunca passei de cem [...] A
gordura no fígado, essa né? Ou a sobrecarga da coluna, né? Então eu
acredito que em termos de saúde a tendência é melhorar, então eu acho que
as perspectivas são boas. (E8).
143
Eu acho que, eu acho que com o controle da diabetes, com o controle da
hipertensão também, eu espero alcançar uma sobrevida um pouco maior. É
o meu diabetes também é uma coisa que me preocupa, minha circulação
nas pernas, profissionalmente, a minha aparência melhorar. (E10).
E o que eu vejo em minha expectativa em relação a apnéia do sono e que eu
não agüento mais acordar cansada, sonolenta, irritadiça.( E11).
Quanto às expectativas em relação ao encontro da felicidade:
Muitas pessoas partem para a cirurgia em busca de melhorias do humor, da auto-
imagem e das relações pessoais. Atribuem à obesidade toda a infelicidade de suas vidas, como
se a cirurgia fosse sua tábua de salvação, senão vejamos:
Um pouquinho de resto da minha vida, porque eu já sou velha, mas apesar
de velha eu ainda não tive felicidade, na minha infância e juventude eu não
tive felicidade. Eu quero perder peso, depois de perder peso ficar alegre,
andar, pregar a vontade de Deus [...] Eu não agüento nem ir ao Balbininho,
ir as reuniões por causa das dores nas pernas. (fala como se estivesse
cansada, lembrando da dor naquele momento). Ficar andando, pregando
nas delegacias, levando a palavra de Deus aqueles que estão lá, sofrendo,
doente, pra quem não está, fazer aquele trabalho nas casas das pessoas.
(E3).
Eu me acho que eu vou me sentir bem né? Em tudo que eu emagrecer eu
vou ficar bem, é o que eu acho.. Porque com a cirurgia [...] Eu não tenho
outro motivo de infelicidade. Com a cirurgia eu tenho certeza que tudo vai
se resolver pra mim. (E4).
Imagine quando eu fizer essa cirurgia como é que eu vou ficar? Vou ficar
nas nuvens. Aí eu estou cuidando mais de mim né? Exteriormente eu estou
procurando cuidar mais de mim, quando eu fizer, vou ficar melhor ainda
[...] eu quero voltar a ser uma pessoa feliz comigo mesma (E5).
A minha expectativa é essa, de ficar bonita. A voltar a ser o que eu era,
voltar a ser feliz (E6).
As minhas expectativas são as melhores, e vai mudar a minha auto-estima,
vai mudar a minha vida em si [...] Na verdade, quando a gente vem fazer
essa cirurgia, dizemos que vamos para um milagre. Na verdade, é um
milagre. (E7).
Eu acho que eu vou nascer de novo. Porque eu nunca fui magra. Eu tô na
expectativa assim muito grande, assim, de sabe? Fazer coisas que eu parei
de fazer né? Então agora eu vou renascer e viver a min há vida. Eu vou tá
144
com a auto-estima lá em cima, vou me sentir mais mulher, como esposa,
mas assim na vida social melhor ainda porque eu já tenho uma vida social
boa na cidade em que eu moro, então eu vou me sentir melhor ainda, é ....eu
vou ser outra pessoa.(E9).
Quanto às expectativas em relação a perda de peso, revelaram:
Eu espero alcançar os meus 70 Kg pelo menos, deixa eu ver, ( fazendo jeito
de quem está pensando, idealizando) um corpo que não precisa ser magro,
eu não quero ser magra não (risos), mas um corpo principalmente [...] a
minha plástica que eu quero fazer,né? (E6).
Tem um colega que fez a bariátrica, mas que colocou acho o anel, também
tá ótima. Pelo menos, pelo menos, em função das palestras, das pesquisas e
contato com as pessoas, agora mesmo vendo aquela moça ali, que fez, então
você vê realmente que já tem resultado. E aí é o seguinte, voltar a isso aqui,
eu não volto mais nunca, por que você sai de 2 litros para 50 ml, então você
não consegue, nem que queira. Pode engordar, pode, mas não vai chegar
nunca a isso (E8).
É a minha expectativa, é como eu te falei, é emagrecer né?[...] Eu vou
chegar numa vitrine, olhar uma roupa e falar com a vendedora: Eu quero
experimentar aquela roupa. Então eu acho que é a primeira coisa que eu
vou fazer (E9).
[...] minha cirurgia não vai ser tão drástica quanto o pessoal faz e também
não vou emagrecer tanto quanto o pessoal emagrece, entendeu?(E11).
145
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O preconceito e a discriminação social que as pessoas obesas sofrem, fazem com que
a doença deixe de atingir o corpo para atingir os indivíduos em suas funções biológicas, e
emocionais, alterando sua imagem corporal e auto-estima e, também, um determinado
conjunto de relações sociais.
A escolha do referencial teórico relacionado à imagem corporal, necessidades
humanas básicas e a relação entre cirurgia bariátrica e imagem corporal foi de grande
importância para fundamentar esse estudo.
Dessa maneira, nesse trabalho, propusemos-nos conhecer e identificar as demandas
bio-psico-socias que as pessoas obesas manifestam frente à cirurgia bariátrica e, acreditamos,
após a realização da análise termos alcançado os objetivos propostos.
Nos seus discursos os sujeitos, reportam-se à sua própria obesidade chamando-se de
gorda, aquela coisa feia, aquela massa disforme, vaca, baleia, gordinho, gorda, feia,
pelancuda, massinha, desequilibrada, deformada, isso aqui, horrível, saúde, mutante, obeso,
gostosinha, gorda, feia, fora dos padrões, flácida, horrorosa.
Iniciamos o estudo com a idéia preconcebida, preconceituosa, quanto aos motivos
pelos quais as pessoas obesas buscavam a cirurgia bariátrica. Acreditávamos que essa opção
era uma promessa de mudanças corporais com menor esforço, aliado a otimização do tempo
na obtenção dos resultados. Seria uma maneira mais rápida e definitiva para emagrecer e, por
questões estéticas. No entanto, após a análise percebemos que desconhecíamos o gasto de
energia física, de tempo e principalmente da energia emocional dispendida por essas pessoas,
a dura rotina de exercícios, o grande esforço e disciplina necessários para emagrecer, assim
como as medicações e os inúmeros produtos que costumam ser ingeridos na tentativa de
perder peso. Talvez, o preconceito em relação as pessoas obesas, seja pela falta do
conhecimento do que realmente se passa com elas.
Desse modo, a partir da análise dos depoimentos conseguimos apreender três
categorias, relacionadas as demandas físicas ou biológicas, psicológicas e sociais. Na
categoria demanda física, motivos para a cirurgia, encontramos as subcategorias:
comorbidades, estética, mídia o padrão ideal e qualidade de vida. Na categoria psicológica,
sentimentos frente a cirurgia, apreendemos as subcategorias: medo/ ansiedade; depressão;
baixa auto-estima e a imagem corporal. Na categoria social, relações sociais frente a cirurgia,
146
apreendemos as subcategorias: relacionamentos familiar e afetivo, trabalho, valores culturais
e expectativas.
Nas demandas físicas podemos evidenciar preocupação acentuada com a saúde,
sendo o motivo mais citado na decisão de realizar a cirurgia, associado à expectativa de
melhora das comorbidades, desenvolvidas com a obesidade.
As queixas físicas referentes ao sistema músculo-esquelético, foram especialmente
colocadas, destacando a dor e os sentimentos de incapacidade a elas associadas, que acabam
interferindo na qualidade de vida dessas pessoas. A hipertensão e a diabetes, foram também
destacadas.
Em uma sociedade que valoriza extremamente a aparência corporal é natural que a
questão estética tenha aparecido como motivo em relação a cirurgia, principalmente quando a
aparência fomenta tanta discriminação e sofrimento. Entretanto, o emagrecimento desejado
pelas pessoas entrevistadas está longe do padrão estético imposto pela sociedade, embora
tragam essa imagem como referencia e fantasia, que, na realidade, sabem que não conseguirão
alcançá-lo. Assim, o emagrecimento desejado está muito mais relacionado à busca de um
certo padrão de normalidade, e, a fuga dos olhares críticos, que fazem com que sintam-se
diferentes das demais, o que traz culpa, constrangimentos e sentimentos de inferioridade.
Na categoria demandas psicológicas e suas subcategorias, o que observamos no
estudo e, também, em nossa prática profissional, foi que as cirurgias, geralmente, estão
associadas ao medo, ansiedade, dor, desconfortos físicos, complicações, limitação de
movimentos , período de dependência de familiares para a realização de atividades básicas, e
um esforço grande, inerente as mudanças de hábitos, destacando-se, um esforço enorme,
posterior à cirurgia, para tolerar drenos (tubos), que eliminam líquidos da barriga; mal- estar,
causado pela anestesia; passar fome, conviver com a flacidez, entre outros.
O impacto negativo da obesidade no aspecto psicológico é inquestionável, e a
maioria das pessoas entrevistadas mencionou o preconceito, os constrangimentos,
demonstrando sintomas depressivos e ansiedade. A alteração da imagem corporal proveniente
do aumento de peso, provoca desvalorização da auto-imagem, comprometida pela insatisfação
consigo mesmo e com a aparência dos seus corpos, diminuindo-lhe a auto-estima e
autoconceito. Revelaram, ainda, sinais de timidez como: fala baixinha e insegurança, que
foram melhorando no decorrer da entrevista pela conquista de confiança; desconfiança,
tristeza edepressão (choram emocionadas durante relato de suas dificuldades com a
obesidade); baixa auto-estima (olhares cabisbaixos, termos pejorativos ao mencionar seu
problema), ansiedade (fala rápida, acelerada, frases entrecortadas; uso contínuo do celular na
147
sala de espera, intolerância com o atraso do cirurgião, quanto a hora marcada para o
atendimento, sorrisos nervosos);e também alegria, principalmente quando mencionaram a
realização da cirurgia e das suas expectativas.
Nas demandas sociais a beleza física, ligada a um ideal de corpo magro, firme e
esbelto produziriam na pessoa obesa, pressão social e sensação de inadequação, face aos
padrões sociais vigentes, que provocam o isolamento social, muitas vezes originados por
sintomas depressivos. As dificuldades relacionais estiveram associadas principalmente à
insatisfação consigo mesmas, às limitações físicas do corpo, até durante as manifestação da
afetividade materna, e da sexualidade, sendo que para as pessoas casadas estava à vergonha
de expor seu corpo para os parceiros, e nas solteiras pela dificuldade de atrair por seus valores
internos, não relacionados à aparência externa.
A obesidade apareceu como causa de doenças físicas, psicológicas e de dificuldades
em relação a adaptação social, causando um impacto altamente negativo na qualidade de vida
dos indivíduos. O que observamos durante o estudo, em primeiro lugar, foi a busca
desesperada dessas pessoas por um tratamento que fizesse com que elas voltassem
definitivamente a se sentir pessoas “normais”, com mais saúde e maiores perspectiva de
qualidade de vida.
O peso da obesidade é também político e econômico. Político, porque envolve
interesses das indústrias cosméticas, das indústrias do corpo, das lanchonetes pela manutenção
da obesidade, e necessidade da implantação e manutenção de políticas públicas para resolvê-
las. É também econômico, pois envolve altos custos para a saúde, tanto em relação aos
tratamentos diretos da obesidade, quanto ao tratamento das suas comorbidades.
Assim, conhecer a percepção que a pessoa obesa possui sobre si mesma, nos deu
oportunidade de ampliar horizontes, no que tange não só a própria temática, mas a assistência
de enfermagem, por que a partir do desenvolvimento desta pesquisa, conseguimos ir além dos
cuidados instrumentais e técnicos do ambiente hospitalar. Conseguimos mergulhar no mundo
individual da pessoa obesa, possibilitando-nos percebê-la em sua multidimensionalidade.
Aprendemos bastante com as pessoas obesas entrevistadas, durante a realização do
estudo. Através delas pudemos descortinar nossos próprios preconceitos e, com certeza ,ao
fim deste, podemos nos considerar melhores cuidadores, terapeutas e seres humanos.
Por isso, ao termino dessa caminhada esperamos que este trabalho traga subsídios a
outros profissionais de saúde e a equipe de enfermagem, particularmente, para estimular um
novo olhar para essas pessoas. Um olhar menos preconceituoso, mais humano e sensível.
148
Esperamos, também, que as reflexões aqui desenvolvidas estimulem outras pessoas
aprofundem-se no estudo dessa temática, de modo que possamos compartilhar o
conhecimento gerado e, assim, desenvolvermos melhor forma de cuidar dessas pessoas.
149
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164
APÊNDICE – A – Roteiro de entrevista
ROTEIRO DA ENTREVISTA
1.Dados de identificação:
Nome:
Idade:
Sexo:
Estado civil:
Profissão/atividade:
Data da cirurgia:
Data da alta:
Endereço:
Telefone:
2. Dados do exame físico:
Peso:
Altura:
IMC (Índice de massa corporal): dividi-se o peso (Kg) pela altura ao quadrado (m²).
IMC =
3. Classificação do peso
Obeso moderado 30 a <35 Kg/m²
Obeso grave 35 a < 40 Kg/m²
Obeso mórbido 40 a < 50 Kg/m²
Superobeso 50 a < 60 Kg/m²
Supersuperobeso > 60 Kg/m²
Classificação:
4. Doenças associadas
Sim ( ) Não ( )
Quais?
5. Avaliação pré-operatória
Fez avaliação com :
Endocrinologista Sim ( ) Não ( )
Psiquiatra Sim ( ) Não ( )
165
Fisioterapeuta Sim ( ) Não ( )
Nutricionista Sim ( ) Não ( )
Anestesista Sim ( ) Não ( )
Enfermeira Sim ( ) Não ( )
Exames pré operatórios Sim ( ) Não ( )
Quais?
Foi orientado sobre os riscos e benefícios da cirurgia?
6. Técnica cirúrgica utilizada:
Aberta Vídeo
Derivação gástrica (Cirurgia de Capella) ( ) ( )
Banda gástrica ( Faixa de Kusmak) ( ) ( )
Derivação bílio – pancreática ( cirurgia de Scopinaro) ( ) ( )
Banda gástrica vertical ( Cirurgia de Mason) ( ) ( )
7. Questões norteadoras referentes ao período pré-operatório
7.1 O que o (a) levou a realizar a cirurgia?
7.2 O senhor (a) tentou alguma outra forma de tratamento antes de optar pela cirurgia?
7.3 Que motivos o senhor (a) atribui a seu aumento de peso?
7.4 Defina a imagem que o senhor (a) tem do seu corpo.
7.5 Quais as modificações espera que irão ocorrer em sua vida após a cirurgia? ( bio-psíco-
emocionais e sociais)
7.6 O que espera alcançar com a cirurgia? ( expectativas e temores).
166
APÊNDICE – B – Termo de consentimento livre e esclarecido
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
ESCOLA DE ENFERMAGEM
TÍTULO DO PROJETO: Cirurgia bariátrica: demandas bio-psico-
emocionais
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE ESCLARECIDO
Declaro que fui convidado (a) a participar de um estudo que pretende conhecer as demandas
bio-psico-emocionais de obesos frente a cirurgia bariátrica, em um hospital da rede privada da
cidade de Salvador. Trata-se de um projeto de pesquisa realizado como exigência do Curso de
Mestrado em Enfermagem, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), pela Mestranda
Jaqueline Amorim Gomes de Miranda, que terá como técnica de coleta de dados, a entrevista
semi-estruturada. Nesta entrevista, o pesquisador poderá realizar modificações nas perguntas
com o objetivo de melhor esclarecimento das mesmas, caso haja alguma dúvida por parte do
entrevistado. Estas serão gravadas em fitas cassetes e, posteriormente, transcrita pela autora
do trabalho de pesquisa. Após minha concordância poderei ouvir a gravação, retirar ou
acrescentar qualquer informação. Os pesquisadores não serão remunerados para a realização
do estudo, assim como os entrevistados não receberão benefícios financeiros para a sua
participação. As despesas do projeto estão a cargo da pesquisadora. Conforme determina a
Resolução 196/96, do Conselho Nacional de Saúde, que trata de aspectos éticos da pesquisa
de enfermagem envolvendo seres humanos, o presente estudo requer a participação voluntária
de pessoas que irão submeter-se a cirurgia bariátrica e que já se submeteram a cirurgia.
Assim expresso através desse documento, a minha aceitação em participar como
sujeito dessa pesquisa, autorizando a mestranda Jaqueline Amorim Gomes de Miranda a
utilizar-se do conteúdo das minhas informações para fins científicos e na sua dissertação, sem
contudo desrespeitar meu direito à privacidade, garantindo o meu anonimato e mantendo
sigilo quanto a possíveis informações confidenciais.
Foi-me esclarecido que nesse estudo tenho o direito de me recusar a participar da
mesma ou, tendo aceito e assinado esse termo, retirar o meu consentimento em qualquer de
suas fases, sem que seja submetido a qualquer penalização.
Qualquer dúvida ou problema que venha ocorrer durante a pesquisa, poderei entrar em
contato com a pesquisadora através do programa de Pós Graduação da EEUFBA pelo telefone
(71) 3263-7631.
Diante dos esclarecimentos que me foram feitos, assino este termo de consentimento,
em de de 2006.
Entrevistado (a)
___________________________________________________________________________
Pesquisador (a)
167
ANEXO A – Ofício de encaminhamento ao Comitê de Ética em Pesquisa
168
ANEXO B – Ofício de aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa
169
ANEXO C – Ofício de solicitação de permissão para coleta de dados
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