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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
ESCOLA DE ENFERMAGEM
Alyne Henri dos Santos Motta
COMUNICAÇÃO ENTRE EQUIPE DE ENFERMAGEM
E CLIENTE SUBMETIDO À ENTUBAÇÃO OROTRAQUEAL
SALVADOR
2007
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Alyne Henri dos Santos Motta
COMUNICAÇÃO ENTRE EQUIPE DE ENFERMAGEM
E CLIENTE SUBMETIDO À ENTUBAÇÃO OROTRAQUEAL
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa
de Pós-Graduação da Escola de Enfermagem da
Universidade Federal da Bahia, como requisito para
obtenção do título de Mestre em Enfermagem na
área de concentração Gênero, Cuidado e
Administração em Saúde, linha o Cuidar no Processo
de Desenvolvimento Humano.
Orientador: Prof
o
Dr
o
José Lucimar Tavares
SALVADOR
2007
3
Ficha Catalográfica Biblioteca Central Julieta Carteado
ALYNE HENRI DOS SANTOS MOTTA
Motta, Alyne Henri dos Santos
M873 Comunicação entre equipe de enfermagem e cliente
submetido à entubação orotraqueal / Alyne Henri dos Santos
Motta. Salvador: [s.n.], 2007.
78 f.: il.
Orientador: José Lucimar Tavares
Dissertação (Mestrado em Enfermagem)Escola de
Enfermagem, Universidade Federal da Bahia, 2007.
4
COMUNICAÇÃO ENTRE EQUIPE DE ENFERMAGEM
E CLIENTE SUBMETIDO À ENTUBAÇÃO OROTRAQUEAL
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação, Escola de Enfermagem da Universidade
Federal da Bahia, como requisito para obtenção do grau de mestre, na área de concentração
Gênero, Cuidado e Administração em Saúde, linha o Cuidar no Processo de Desenvolvimento
Humano.
Aprovada em 04 de janeiro de 2007
BANCA EXAMINADORA
José Lucimar Tavares ______________________________________
Doutor em Enfermagem e Professor da Universidade Federal da Bahia
Antônia Regina Ferreira Furegato__________________________________
Doutora em Enfermagem e Professora da Universidade São Paulo
Dora Sadigursky___________________________________________
Doutora em Enfermagem e Professora da Universidade Federal da Bahia
Álvaro Pereira___________________________________________________
Doutor em Enfermagem e Professor da Universidade Federal da Bahia
5
Dedico esse trabalho aos meus pais Pedro Henrique e Tânia Regina, meus grandes amores e
maiores incentivadores para que eu pudesse concretizar mais essa vitória em minha vida.
À minha irmã, Simone Henri, a quem eu tanto amo e quem sempre me ouviu e ajudou no
percurso dessa caminhada.
Á minha avó querida, Maria Dulcinéia, que sempre esteve presente comigo desde o dia da minha
inscrição no mestrado até a sua conclusão.
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AGRADECIMENTOS
A DEUS, ser soberano e absoluto, a quem recorro em todos os momentos pedindo luz, força, paz
e equilíbrio no direcionamento de minha vida.
Ao CNPq, pelo apoio financeiro na concessão da bolsa, que muito contribuiu para a efetivação e
conclusão deste estudo.
À Coordenação do Programa de Pós-graduação da Escola de Enfermagem da Universidade
Federal da Bahia, pelo apoio e condução de mais essa etapa do meu crescimento profissional.
Ao Prof
o
Dr
o
José Lucimar Tavares, por toda ajuda oferecida na construção deste estudo, e por
nossas prazerosas conversas, que muito contribuíram para meu crescimento profissional e
pessoal.
À Profª Drª Dora Sadigursky, uma incentivadora ativa na construção da minha dissertação.
À Prof
a
Dr
a
Regina Furegatto pelas contribuições sugeridas para a construção do estudo.
A Adilson, por sempre receber-me na sala de cópias, alegre, motivado e disponível, mesmo
quando o material para xerocopiar era imenso, até trabalhando fora de seu turno de serviço para
me ajudar.
Às colegas Sílvia Passos, Mônica Cecília, Tânia Moreira, Laura Zatti, hoje amigas, que tornaram
nossas viagens, na BR 324, algo especial e inesquecível, pelos momentos de troca de
experiências, de sorrisos, de lágrimas, que muito contribuíram para o meu crescimento pessoal e
profissional.
Aos colegas do Mestrado, em especial à turma do CUIDAR: Ana Carla, Jaqueline, Sílvia Passos,
Claúdia Pires, Daniela Arruda, Tânia Moreira, Paula e Jucimara
Aos Professores do Programa de Pós Graduação em Enfermagem da EEUFBA, Drª Cristina
Meira de Melo, Drª Norma Carapiá Fagundes, Drª Mirian Santos Paiva, Dr. Álvaro Pereira, Drª
Darci Oliveira Santa Rosa, Drª Sílvia Lúcia Ferreira, Drª Enilda Rosendo do Nascimento, Drª
Regina Lúcia Mendonça Lopes, por acreditarem na docência como caminho para construção dos
cuidadores.
Ás minhas colegas de disciplina na UEFS: Elaine, Lília, Rosângela, Marinalva, Marluce, por
terem me incentivado e me ajudado, colaborando sempre que possível, para que eu pudesse
construir e concretizar esta dissertação.
Aos Enfermeiros e Técnicos de enfermagem da UTI do HGCA, pela disponibilidade e interesse
em participarem do estudo.
7
Aos meus amigos queridos que me ouviram, me ajudaram e acreditaram em mim desde sempre:
Paula, Suênia, Juliana, Mariluce, Lívia, Luciano, Karlla, Flávia, Mariana, Munira.
A Franclin, pelas palavras de incentivo, apoio, além da atenção e carinho que me auxiliaram na
construção e concretização dessa dissertação.
Aos meus alunos queridos, que me inquietaram, estimulando-me e fazendo-me acreditar nesse
projeto desde o início.
À Diretoria Geral e Coordenação de Enfermagem do HGCA, pelas oportunidades criadas.
8
“Não viva nesta terra como um estranho,ou como um turista
na natureza. Viva neste mundo como na casa do seu pai.
Creia no trigo, na terra, no mar mas, antes de tudo, creia no
ser humano. Ame as nuvens, os carros, os livros mas, antes de
tudo, ame o ser humano. Sinta a tristeza do ramo que seca, do
astro que se apaga, do animal ferido que agoniza mas, antes
de tudo, sinta a tristeza e a dor do ser humano. Que lhe dêem
alegria, todos os bens da terra,a sombra e a luz lhe dêem
alegria, as quatro estações lhe dêem alegria mas, sobretudo, as
mãos cheias, lhe dê alegria o ser humano.”
Nazim Hikmet
9
RESUMO
Este é um estudo exploratório, descritivo, com abordagem qualitativa, cujo objetivo foi analisar
como a equipe de enfermagem vivencia a comunicação com o cliente submetido à entubação
orotraqueal na unidade de terapia intensiva, baseado nos pressupostos teóricos de diversos
autores que abordam a comunicação interpessoal. Realizado em uma UTI de adultos, de um
hospital geral de médio porte na cidade de Feira de Santana- Bahia, 2006, sendo entrevistados 11
profissionais de enfermagem, e os resultados obtidos foram submetidos à técnica de análise
temática de Bardin, permitindo o estabelecimento de três categorias: “Vivência da comunicação
entre equipe de enfermagem intensivista e cliente entubado”, permeada por sentimentos de
ansiedade, angústia, frustração e fuga, manifestadas pela dificuldade de expressão verbal do
cliente, aliadas à dificuldade de interpretação da equipe com relação ao que o cliente quer
expressar; “ Meios utilizados pela equipe de enfermagem intensivista e o cliente entubado
para estabelecer comunicação”, sendo utilizado a comunicação verbal através da fala pela
equipe e da escrita pelos clientes entubados, sendo que este também utilizava a comunicação não
verbal, através de expressões faciais, movimentos de cabeça, gestos, para solicitar ajuda,
expressar sentimentos, chamar atenção; Dificuldades do processo de comunicação entre
equipe de enfermagem intensivista e o cliente entubado”, relacionadas ao uso da prótese
ventilatória e associadas a dinâmica de trabalho intensa, que predispõe à falta de tempo para
comunicar-se. Concluímos que a vivência da comunicação, para eles, é permeada de emoções e
sentimentos, que contribuem para ineficiência comunicacional, havendo a dificuldade de
decodificação dos sinais não verbais emitidos pelo cliente, pois a sobrecarga de trabalho impede
que haja tempo suficiente para que se estabeleça a comunicação de maneira adequada.
Palavras chave: Comunicação, Enfermagem, Unidades de Terapia Intensiva
10
ABSTRACT
This is an exploratory and descriptive study, with a qualitative approach, whose objective was to
analyze how the nursing team live the communication with the client under orotracheal intubation
in the Intensive Therapy Unit, based on theoretical presumptions of various authors that deal with
interpersonal communication. Carried out in an ITU for adults, from a medium-sized general
hospital of Feira de Santana Bahia, 2006, the study involved eleven nursing professionals and
the results obtained were subjected to Bardin’s thematic analyses technique, establishing three
categories: “Living of communication between the intensive nursing team and the client
under intubation”, surrounded by feelings like anxiety, anguish, frustration and escape,
manifested by the client’s difficulties to express themselves verbally, allied to the team’s
interpretation difficulties to what the client wants to express; “Means used by the intensive
nursing team and the client to establish communication”, referring to the communication
through speech by the team and written by the clients, who also used non verbal communication,
through facial expressions, head movements and gestures to ask for help, express feelings and
call the attention; “Difficulties in the communication process between the intensive nursing
team and the client under intubation”, related to the use of ventilatory prosthesis and
associated to the intensive work dynamics which leads to the lack of time to communicate. We
came to the conclusion that the living of communication for them is surrounded by emotions and
feelings, which contribute to the communication inefficiency, resulting in problems to decode the
non verbal signals emitted by the client, because the overwork and lack of time impede the
adequate communication.
Key Words: Communication, Nursing, Intensive Therapy Units.
11
SUMÁRIO
1- INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 13
2- PROCESSO DE COMUNICAÇÃO: considerações gerais .................................. 18
2.1 A COMUNICAÇÃO NÃO VERBAL ..................................................................... 21
2.2 A COMUNICAÇÃO E O CUIDAR DO CLIENTE ENTUBADO NA UTI ............ 26
2.3 TEORIA DA COMUNICAÇÃO INTERPESSOAL ................................................. 30
3-METODOLOGIA ....................................................................................................... 35
3.1 TIPO DE PESQUISA ................................................................................................ 35
3.2 SUJEITOS DA PESQUISA ....................................................................................... 36
3.3 LOCUS DA PESQUISA............................................................................................. 36
3.4 APROXIMAÇÃO COM O CAMPO E SUJEITOS DA PESQUISA ........................ 37
3.5 TÉCNICA E INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS ..................................... 38
3.6 ANÁLISE DOS DADOS .......................................................................................... 39
4- APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ................. 41
4.1 CARACTERIZAÇÃO DA CLIENTELA ................................................................... 41
4.2 CATEGORIAS DE ANÁLISE ................................................................................... 42
4.2.1 CATEGORIA 1- VIVÊNCIA DA COMUNICAÇÃO ENTRE EQUIPE DE
ENFERMAGEM INTENSIVISTA E CLIENTE ENTUBADO ...................................... 43
4.2.2 CATEGORIA 2- MEIOS UTILIZADOS PELA EQUIPE DE ENFERMAGEM
INTENSIVISTA E O CLIENTE ENTUBADO PARA ESTABELECEREM COMUNICAÇÃO
............................................................................................................................................. 51
4.2.3 CATEGORIA 3 - DIFICULDADES NO PROCESSO DE COMUNICAÇÃO ENTRE
EQUIPE DE ENFERMAGEM INTENSIVISTA E O CLIENTE ENTUBADO
........................................................................................................................................... 61
12
5- CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 67
REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 71
APÊNDICES ................................................................................................................. 75
ANEXOS .................................................................................................................... 77
13
1-INTRODUÇÃO
O avanço tecnológico e científico próprio da atualidade estimula o ser humano à busca de
adaptações constantes. A agitada vida moderna, a competição excessivamente valorizada, as
dificuldades enfrentadas, diariamente, entre outros fatores, contribuem para que nos
transformemos em ouvintes desatentos, facilmente irritáveis e envolvidos com nossas
próprias motivações. Esses fatores criam e solidificam obstáculos à comunicação, tão
necessária e contínua em nossas vidas.
Para Sinno (1987), se na relação social as dificuldades de comunicação são reais e atuam
como verdadeiros entraves, agrava-se na relação entre o profissional de saúde e o cliente, pois
nesse contato, além do comprometimento da saúde de pelo menos um deles, também ocorrem
as mesmas limitações, comuns, ao uso efetivo desse instrumento de interação social.
Stefanelli (1993) afirma que a comunicação é o processo de compreender, compartilhar
mensagens enviadas e recebidas, onde elas e a maneira como o processo é realizado exercem
influência no comportamento das pessoas envolvidas, tanto a curto, médio, quanto a longo
prazo. A comunicação é, ainda, entendida como um conjunto de sinais verbais e não verbais
emitidos com a intenção de expor idéias e de torná-las comuns.
Para a enfermagem, a comunicação é um dos instrumentos básicos do cuidar, envolvendo
a metodologia da assistência. Através da comunicação é possível, à equipe de enfermagem,
estabelecer relacionamento efetivo com o cliente, identificar e atuar no atendimento das suas
necessidades.
Desse modo, no processo de cuidar e ser cuidado, a comunicação apresenta-se como um
elo entre o cliente e a equipe, sendo indispensável à manutenção da qualidade das relações e
do cuidado, uma vez que pode determinar uma prática humanizada, na qual a troca de
mensagens será efetivamente compartilhada, enviada e recebida.
Na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), que é um setor especializado e dotado de
tecnologia avançada, a equipe de enfermagem vê-se envolvida com um complexo sistema de
aparelhos, que auxiliam no tratamento e monitorização contínua do cliente. A dinâmica de
trabalho é intensa, o que requer da equipe o uso racional dos aparelhos, para evitar, assim,
redução do tempo de permanência próximo ao cliente e o rompimento da relação interpessoal
e do diálogo, tão necessários à concretização do cuidado de enfermagem.
14
Além do mais, o próprio ambiente da UTI é visto pelo cliente como local desconhecido,
impessoal, que promove o afastamento do convívio familiar, e no qual são internados aqueles
que apresentam risco de morte iminente. Tais fatores podem ser estressantes, pois provocam
reações como medo, ansiedade, insegurança e depressão, os quais interferem no processo
relacional e podem diminuir ou mesmo anular os efeitos benéficos do tratamento.
Nesse contexto, é fundamental a formação de um elo de comunicação eficiente. Stefanelli
(1993) informa que é através da comunicação estabelecida pela enfermeira com o paciente,
que se definem metas e objetivos a serem alcançados por ambos, de modo a ajudá-lo a se
sentir um ser humano digno e capaz de encontrar soluções para a promoção, manutenção e
recuperação da sua saúde física e mental.
O cliente internado na UTI e que tem a necessidade fisiológica de oxigenação não
atendida, poderá fazer uso de suporte ventilatório, através do tubo endotraqueal conectado ao
ventilador mecânico artificial, aparelho destinado a promover ventilações em pessoas
incapazes de respirar espontaneamente.
Entretanto, o uso do tubo endotraqueal tem um efeito benéfico que consiste na
preservação da ventilação e oxigenação do cliente, garantindo a manutenção de sua vida.
Mas, acarreta um efeito maléfico, que reside no fato de ser ele um instrumento que impede à
comunicação eficiente, exigindo da pessoa adaptação a essa nova condição e, tendo que
lançar mão de outras estratégias para se comunicar com a equipe, enquanto esta precisará
interpretá-la e entendê-la.
Sobre isso, Silva (2002) ressalta que o cliente impossibilitado de falar encontra-se
fragilizado, vulnerável e altamente perceptivo em relação às pessoas e ao ambiente. A
dependência decorrente do seu estado de saúde, acompanhada de medo e ansiedade, torna-lhe
fragilizado, acentuando-lhe a necessidade de estabelecer uma comunicação efetiva com a
equipe prestadora de cuidado.
Nesse sentido, a maneira comumente utilizada pelo cliente entubado para estabelecer
comunicação é a não verbal, requerendo da equipe de enfermagem observação e permanência
maior ao seu lado, para que esse processo seja efetivado.
No entanto, a dinâmica do trabalho da equipe de enfermagem na UTI costuma afastá-los
do cliente, dificultando o estabelecimento e a manutenção do processo de comunicação
terapêutica. Assim, entendendo que o tubo endotraqueal é uma barreira física à comunicação
15
que se processa entre a equipe de enfermagem e o cliente, e que para atingir a excelência do
cuidado, devemos nos basear no relacionamento terapêutico, destacamos como fundamental,
o uso da comunicação nesse processo.
O crescente interesse de enfermeiros pelo processo de comunicação, aliado ao fato de
haver poucas publicações sobre esse processo com o cliente entubado e os seus efeitos na
execução do cuidado, fez-nos refletir de maneira especial sobre o tema, despertando o
interesse para o desenvolvimento deste estudo, que emergiu da experiência vivenciada no
ambiente de trabalho.
Desde a época da graduação, quando tivemos oportunidade de atuar com o cliente
entubado nos estágios curriculares, nos inquietávamos, ao tentar estabelecer comunicação
com ele e não conseguir. O tempo de permanência na UTI era curto e não nos sentíamos
preparados para atuar. Simplesmente, realizávamos o estágio, priorizando o aprendizado das
técnicas e procedimentos de enfermagem, ao invés de estabelecer relacionamento efetivo com
o cliente.
A UTI causou-nos fascínio desde o primeiro momento em que entramos nessa unidade.
Todos aqueles equipamentos complexos causaram-nos estranheza, e, ao mesmo tempo,
curiosidade em manipulá-los. O primeiro contato com o cliente crítico e entubado na UTI
provocou-nos sensação de medo; tentamos estabelecer comunicação, compreender o que ele
tentava manifestar, porém não conseguíamos entendê-lo. Esse fato causou-nos frustração,
pois não conseguíamos atender nem as nossas, nem as expectativas daquele a quem
prestávamos cuidado. Dessa maneira, por não conseguir comunicarmos, em muitos
momentos, adotávamos a condição de nos afastar do cliente, não efetivando, assim, um
cuidado adequado.
Ao ingressar no Curso de Especialização em Enfermagem sob a Forma de Residência,
com área de concentração em terapia intensiva, deparávamos cotidianamente com a prestação
de cuidados ao cliente em uso de cânula orotraqueal. Porém, na maioria das vezes, envolvia-
nos com a dinâmica de trabalho intensa, limitando o tempo de permanência ao lado dele, o
que não permitia estabelecer um elo de comunicação efetiva.
Concomitantemente, com o término do curso de especialização, ingressamos na carreira
da docência, atuando em uma disciplina que objetiva proporcionar aos estudantes
oportunidades para a construção de conhecimentos e o desenvolvimento de atitudes e
16
habilidades sobre a assistência integral a clientes adultos e idosos hospitalizados, tendo como
um dos campos de atuação a unidade de terapia intensiva. Ao verificar a maneira como os
discentes prestavam os cuidados ao cliente em uso de cânula orotraqueal, pudemos perceber
que era pouca, ou inexistente, a comunicação estabelecida. Tomamos isso como referência,
despertando inquietações, que também serviram para o desenvolvimento desta pesquisa.
Dessa maneira, no caminhar da nossa prática profissional, muitas vezes, sentíamos
limitados e com dificuldades em estabelecer uma comunicação efetiva com a pessoa a quem
prestava cuidado e, em muitos momentos, só percebíamos o que de fato ela queria comunicar
e necessitava, apenas quando se encontrava extubada e exteriorizava verbalmente.
Assim, ao deparar-nos com o cliente extubado e, através de seus relatos, tivemos
oportunidade de conhecer o que representou para ele o momento de estar limitado
verbalmente para comunicar-se com o outro, pois seu discurso revelava que a equipe não
conseguia entender o que ele manifestava, e suas necessidades não eram atendidas. Nesse
contexto, solidificou o nosso interesse em investigar o tema a comunicação entre a equipe
de enfermagem e o cliente submetido à entubação orotraqueal na unidade de terapia
intensiva.
Assim, diante dessas considerações, este estudo tem como questão norteadora: como a
equipe de enfermagem vivencia a comunicação com o cliente submetido à entubação
orotraqueal na UTI?
Seus objetivos consistem em:
GERAL
Analisar como a equipe de enfermagem vivencia a comunicação com o cliente submetido
à entubação orotraqueal na UTI
ESPECIFICOS
- identificar os meios utilizados pela equipe de enfermagem para se comunicar com o
cliente submetido à entubação orotraqueal na UTI.
- descrever as dificuldades e facilidades desse processo de comunicação.
17
Ressaltamos que este estudo poderá contribuir para que novas dimensões da
comunicação com esse tipo de cliente sejam reveladas e, possam ser aplicadas à prática do
cuidar/ cuidado, contribuindo para a qualidade da relação estabelecida entre a equipe de
enfermagem e esse cliente em especial, o que certamente conduzirá a uma assistência
efetiva e qualificada.
18
2- PROCESSO DE COM UNICAÇÃO: considerações gerais
O ato de se comunicar está presente na vida de todos os seres humanos. Assim, nos
primórdios da nossa existência, a comunicação era eminentemente não verbal e realizada através
de gestos, símbolos e manifestações corporais. Com o desenvolvimento humano, passamos a
utilizar os sons, emitir as primeiras palavras e a escrever, surgindo, assim, a comunicação verbal,
cuja linguagem pactuada compartilha idéias, objetivos, sentimentos, entre outros.
Desse modo, a partir do momento em que o ser humano adquiriu habilidade para a
comunicação, passou a utilizá-la amplamente em seu contexto de vida, estabelecendo
relacionamentos e fazendo-se presente no mundo. Stefanelli (1993) enfatiza que o ser humano
utiliza a comunicação para compartilhar com os demais suas experiências, recebendo aprovação
ou desaprovação daquilo que manifesta. Tais julgamentos contribuem para determinar sensação
de segurança ou insegurança e, também, nossa própria inserção no ambiente que nos circunda.
O poder da comunicação é enfatizado por Bordenave (2003) como aquele capaz de
contribuir para modificar o significado que as pessoas atribuem às coisas, tendo como
conseqüência a transformação das crenças, valores e comportamentos.
A comunicação é definida por Silva (2002a) como um processo de transmitir e receber
mensagens por meio de signos, tendo como finalidade básica fazer com que o homem entenda-se
e entenda o mundo, relacionando-se com os outros, transformando a si mesmo e a realidade
Do ponto de vista etmológico, Artur e Silva apud CIANCIARULLO (1996) informam
que a palavra comunicação origina-se do latim comunicare, significando “por em comum”.
Comentam, ainda, que a comunicação assume várias funções, que se modificam quando
consideramos o paradigma dominante e emergente. Informam que, no paradigma dominante as
funções da comunicação são a de informar, persuadir, ensinar ou discutir; já no paradigma
emergente ela tem função de promover o relacionamento entre as pessoas, havendo a co-
participação entre emissor e receptor na busca de soluções.
Para Silveira (1992), esse termo é considerado como informação, aviso, transmissão. Ou
seja, a comunicação é o ato de transmitir algo a alguém, com um conteúdo de mensagem
implícito ou explícito de significado e transmitido com a intenção de obter uma resposta
favorável ao que foi dito e desejado.
19
Desse modo, a comunicação constitui-se em um processo dinâmico, com fluxo contínuo
de energia e em freqüente mudança, envolvendo a interação entre as pessoas. Ainda, segundo
Silva (2002a), para que esse processo seja efetivado necessita de certos elementos como: emissor,
aquele que emite a mensagem; receptor, aquele para quem a mensagem se destina; mensagem, o
que é transmitido e consiste em um estímulo físico, verbal ou não verbal.
Nesse sentido, para haver comunicação é indispensável a interação entre os sujeitos, e esta
para ser efetivada requer competência comunicativa, o que para Silva (2002), é uma habilidade a
ser desenvolvida no processo comunicacional, entendendo que ao se comunicar algo, deseja-se
que a mensagem enviada promova uma resposta no receptor, devendo por isso, haver
identificação do conteúdo das mensagens pelos personagens envolvidos.
Ruesch (1964) define que as características básicas de uma comunicação bem sucedida
são: flexibilidade (conseguida através do estabelecimento de novos objetos para a satisfação de
necessidades emergentes em cada situação, de maneira individual); eficiência (as mensagens
devem ser claras, simples e transmitidas quando o receptor estiver apto para ouvir); propriedade
(as mensagens devem ser relevantes para a situação em que se encontram os comunicadores);
resposta (processo de observação do efeito da mensagem, que tem a função de regulação da
comunicação e informa sobre o impacto desta comunicação).
Existem diversos tipos de comunicação, porém adotaremos a classificação de Silva
(2002a). Assim temos: comunicação verbal, aquela realizada através de palavras expressas por
meio da fala ou da escrita; não verbal, manifestada através de comportamentos não expressos por
palavras, e envolvendo a expressão facial, corporal e manifestações fisiológicas como rubor,
tremores, palidez, sudorese entre outros.
Chamamos a atenção que o tipo de comunicação mais utilizado por nós é a não verbal,
pois continuamente gesticulamos, tocamos, movimentamos o corpo e nos envolvemos com o
outro ao emitirmos uma mensagem. Contudo, esse tipo é pouco valorizado no processo
comunicativo, uma vez que com o avanço e complexidade das sociedades nós, seres humanos,
perdemos a habilidade de observar atentamente o outro quando nos comunicamos.
Considerando os tipos de comunicação, há um outro apresentado por Stefanelli (1993)
que é a comunicação paralinguística ou paraverbal, expressa através do tom de voz e ritmo com
que as palavras são pronunciadas, além do choro, e a pausa, entre outras manifestações.
20
Também existem barreiras que podem impedir a promoção do relacionamento e condução
de um processo de comunicação otimizado. Tem-se como exemplo a falta de capacidade de
concentração, as limitações próprias do receptor/emissor, a ausência de uma linguagem comum,
incompreensibilidade, entre outros.
Na área de saúde, em especial na Enfermagem, a comunicação é uma habilidade que pode
conduzir a uma assistência individualizada, qualificada e efetiva no processo do cuidado
terapêutico. Para o cliente, é através da comunicação que ele transmite o que sente, solicita ajuda
e tem suas necessidades atendidas.
Na UTI, frequentemente, existem barreiras à comunicação eficiente, tendo como exemplo
o uso de prótese ventilatória pelo cliente; ruído excessivo e percepção do ambiente como
estressante. Tais fatores podem dificultar a comunicação do cliente com a equipe e a interação
entre ambos.
Dessa forma, para que o relacionamento entre a equipe de enfermagem e o cliente torne-se
terapêutico é necessário que a comunicação entre esses atores ocorra de maneira adequada, onde
os objetivos possam ser atendidos e a recuperação do cliente possa ser alcançada. Conforme
Stefanelli (1993,p.30):
É portanto, por meio da comunicação vivenciada pela enfermeira e paciente, ao
interagirem, que a enfermeira pode definir metas, objetivos, a serem atingidos, pelo
paciente, por ela própria ou em conjunto, para ajudá-lo a sentir-se como ser humano
digno e pessoa capaz de encontrar soluções para seus problemas, de ser útil a seus
semelhantes e de contribuir para a sociedade em que vive [...]
Assim, a comunicação pode ser compreendida como uma necessidade básica do ser
humano, que faz parte do contexto da vida, e através dela somos capazes de nos expressar e nos
fazer presentes no mundo. Bodernave (2003) reitera que a comunicação confunde-se com a
própria vida, e somente percebemos sua importância quando, por razões diversas, perdemos essa
capacidade. Esta realidade é percebida pelo cliente impossibilitado de falar, que necessita
adaptar-se e utilizar, principalmente, a comunicação não verbal para ter suas carências atendidas.
21
2.1 A COMUNICAÇÃO NÃO VERBAL
A comunicação não verbal é o meio mais comumente utilizado pelo ser humano para
comunicar-se com os demais. Porém, em nossa cultural ocidental, é pouco percebida, e se
percebida, resume-se as expressões refletidas na face, não sendo valorizada a linguagem corporal,
que pode ser emitida por outras parte do corpo.
Pode ser conceituada como o uso de toda e qualquer forma de comunicação, que ocorre
entre duas ou mais pessoas, não expressa por palavras, mas por gestos, toques, escuta, postura
corporal, entre outros. A definição do termo comunicação, segundo Littlejohn (1988), não é uma
tarefa fácil, pois envolve uma vasta gama de fenômenos, sendo definido signo não verbal como
qualquer outro signo que não seja a linguagem falada ou escrita.
Segundo Silva (2002a), esse tipo de comunicação tem como funções complementar,
substituir, contradizer o verbal e demonstrar sentimentos. Para essa autora a classificação dos
sinais não verbais pode ser: paralinguagem- qualquer som produzido pelo aparelho fonador que
não faz parte do sistema sonoro da língua usada ; cinésica- linguagem do corpo, composta por
gestos manuais, movimento dos membros; proxêmica- uso do espaço pelo homem dentro do
processo de comunicação; tacêsica- comunicação tátil; características físicas; fatores ambientais;
disposição dos objetos.
Birdwhistell apud WEIL; TOMPAKOW (1993) registra que, na interação entre duas
pessoas, estima-se a existência de 2500 a 5000 e, às vezes, até 10000 unidades simples, de sinais
informativos, que fluem por segundo.
Estudos da psicologia social, citados por Silva (2002a) revelam que a expressão do
pensamento faz-se 7% com palavras, 38% com sinais paralinguísticos e 55% por meio de sinais
do corpo, o que nos leva concluir que é a expressão não verbal o que efetivamente utilizamos ao
nos comunicar. Nesse sentido, podemos estabelecer uma comunicação não verbal sem utilizar a
verbal, porém, o contrário não é possível de ocorrer.
Desse modo, é por meio da associação da comunicação verbal e não verbal que somos
capazes de demonstrar nosso ser psicossocial e psicobiológico, exteriorizando e manifestando o
que temos de experiências e de cultura adquirida, ou seja, quem e o que somos na sociedade em
que vivemos. Por outro lado, através da comunicação não verbal, exteriorizamos o nosso
individual, aquilo que somos enquanto ser particular.
22
Entretanto, para que possa haver interpretação e atribuição de significado à comunicação
não verbal é fundamental que ela possa ser estudada e adquirir-se habilidade prática para
compreendê-la. Assim, o uso da observação, aliado ao tempo e a paciência são elementos
indispensáveis para aquisição dessa habilidade.
Algumas teorias buscam compreender o significado dos signos não verbais, e Littlejohn
(1988) cita entre outras, as teorias estruturais e funcionais. Entre elas encontram-se as abordagens
antropológicas, compreendendo a teoria cinésica de Birdwhistell e a teoria proxêmica de Hall.
Birdwhistell, considerado o pai da cinésica, enfatiza que existem comportamentos
corporais que se combinam de maneira simples ou complexa com as palavras, realizando, assim,
uma associação entre a atividade corporal e a linguagem. Dentre os pressupostos da sua teoria,
citados por Littlejohn (1988), tem-se que nenhum movimento ou expressão corporal é destituído
de significado no contexto em que se apresenta; comportamentos como a postura corporal,
movimentos e expressão facial costumam ser padronizados e, portanto, sujeitos à análise
sistemática. A atividade corporal visível influencia o comportamento de outras pessoas e o
comportamento passa a ser considerado uma função comunicativa investigável.
Hall (1986), considerado pai da proxêmica, refere-se ao uso do espaço na comunicação e
define sua teoria como o estudo do modo em que o homem estrutura, inconscientemente, o
microespaço que ocupa, influenciado por aspectos culturais.
Quanto às teorias funcionais, citados por Littlejohn (1988), têm-se as investigações
desenvolvidas por Ekman e Freisen, as quais se concentram no comportamento cinésico e
demostram as variadas funções da atividade corporal na comunicação. Concluem que existem
sinais não verbais os quais variam conforme a cultura e a espécie, e quando emitidos, são
embutidos de significado próprio de cada sociedade.
A comunicação não verbal é, também, utilizada para exprimir emoções, e sob esse
aspecto, Littlejohn (1988) cita a teoria Emocional de Ditlman, a qual revela que a depender do
que o emissor esteja manifestando não verbalmente, isto é percebida pelo receptor como uma
expressão emocional. Baseando-se em categoria s como alegria, dor e tristeza, associam esse
comportamento ao que está sendo observado.
Nesse sentido, registramos que a habilidade em conhecer e interpretar a comunicação não
verbal é fundamental para os profissionais da área da saúde, pois realizam cuidado direto ao
23
cliente, os quais buscam, através da comunicação, demonstrar sentimentos e enfatizar que
necessidades precisam ser atendidas. Conforme Silva (2002a, p.45)
[...] o estudo do não verbal pode resgatar a capacidade do profissional de saúde de
perceber com maior precisão os sentimentos do paciente, suas dúvidas e dificuldades de
verbalização. Ajuda ainda a potencializar sua própria comunicação, enquanto elemento
transmissor de mensagens
Desse modo, para que possamos nos relacionar com o cliente e conhecer os sinais não
verbais emitidos por ele, temos que implementar interações de maneira eficaz, o que requer
tempo, paciência e observação, de modo que ela se processe naturalmente, e as relações sejam
construídas de maneira sólida e dinâmica.
Ainda, segundo Silva (2001), é fundamental para o profissional de saúde estar atento ao
que o cliente está sentindo para compreender seu grau de interesse, disponibilidade e
concordância e reconhecer o que o cliente quer expressar e sente, diante do momento que
vivencia, por isso, necessitamos conhecer e interpretar os sinais não-verbais que ele emite.
Entretanto, costuma haver dificuldades entre os profissionais de saúde para estabelecerem
uma comunicação eficiente com o cliente, em especial as relativas à comunicação não verbal,
devido à própria dinâmica de trabalho, em geral vivenciada pela equipe. Nos setores hospitalares
como a UTI, além das características particulares que ele apresenta, tem-se o perfil dos clientes
internados, os fatores ambientais, as barreiras físicas e corpóreas entre outros, que podem
dificultar o processo comunicativo. Porém, apesar de dificultarem, não impossibilitam que a
comunicação seja efetivada.
O cliente entubado que se encontra internado na UTI, portanto com dificuldade de se
expressar verbalmente, passa por um processo de transformação adaptativa para se comunicar
não verbalmente, utilizando, freqüentemente, a linguagem cinésica. Sendo assim, o rosto é usado
para expor sentimentos como emoção, raiva, dor, ansiedade; as mãos podem ser utilizadas para
gesticular e pedir algo, entre outros. Ou seja, enviará suas mensagens através da linguagem
corporal, requerendo da equipe a validade do que está expressando.
Com relação aos gestos, estes são entendidos como meio de comunicação utilizados por
nós, e definidos por Rector e Trinta (1993) como ações corporais visíveis, que transmitem
significados por meio da expressão voluntária. Têm como funções: comunicar, quando não
24
podemos ou não queremos falar; regular o nível de interação; estabelecer e manter a atenção e
enfatizar e apoiar a fala.
Outro aspecto da comunicação não verbal, imprescindível no cuidar, consiste no uso da
comunicação tacêsica, ou seja o uso do toque, pois ele é um dos sinais terapêuticos que traduz
acolhimento, afeto, segurança e valorização do indivíduo enquanto ser humano.
Silva (2002a) cita que na área da saúde foram classificados três tipos de toque: o
instrumental, comumente realizado para desempenhar tarefas específicas como aferição de sinais
vitais; expressivo ou afetivo, com a finalidade de demonstrar carinho, apoio, segurança e o
terapêutico que se caracteriza pelo uso das mãos com o propósito terapêutico. Na prática, a
equipe de enfermagem deve valorizar esses três tipos de toque no seu cotidiano de trabalho, não
devendo sobrepor o toque instrumental sobre os outros, destacando a necessidade de um cuidado
humano.
Deve ser registrado, que os fatores limitantes para a comunicação devem ser conhecidos
pela equipe de enfermagem. Silva (2002) apresenta como exemplo desses fatores as emoções e
expectativas, as quais costumam interferir na interpretação do significado do sinal não verbal.
Sendo assim, o cliente entubado, portanto fragilizado emocionalmente, costuma ter
dificuldade de expressar e identificar sentimentos positivos, ao passo que os sentimentos
negativos, são mais fáceis de serem identificados por ele, tornando-se um fator limitante no
estabelecimento de uma comunicação eficiente.
Outros fatores citados são os esteriótipos; as experiências anteriores; o reconhecimento
dos sinais; o conhecimento prévio do emissor, que requer interação para saber o que o outro
transmite e sente; tempo de estímulo apresentado; limitações físicas e corpóreas, a exemplo de
prótese ventilatória e limitações fisiológicas; além de motivação e ruíd os, os quais estão presentes
na UTI e, se não administrados, predispõem a um ambiente não terapêutico, dificultando o
estabelecimento de uma comunicação eficiente.
O entendimento da comunicação não verbal e, portanto, da leitura dos sinais não emitidos
por palavras ou por escrita, é uma habilidade que, se de domínio do profissional de saúde, e em
especial da equipe de enfermagem, torna-se um instrumento valioso na garantia da manutenção
do cuidado, por ser indispensável à qualidade das relações estabelecid as. Na UTI, a execução do
cuidado ao paciente, limitado verbalmente, deve estar embasado na relação estabelecida entre
profissional e cliente, no encontro e na troca de informações.
25
2.2- A COMUNICAÇÃO E O CUIDAR DO CLIENTE ENTUBADO NA UTI
As ações da Enfermagem são consideradas por Stefanelli (1987), como relacionamento
humano entre um indivíduo que está doente, ou necessita de cuidado de saúde, e a enfermeira, a
qual deve estar preparada para responder a essa necessidade de ajuda.
As necessidades afetadas, a ansiedade e os conflitos decorrentes do processo de
hospitalização devem ser identificados e tratados individualmente, favorecendo o processo de
recuperação e manifestação saudável da personalidade, pois, o indivíduo possui, além de um
desequilíbrio fisiológico, um desequilíbrio emocional. Assim, para o profissional cuidar de
maneira individualizada e estabelecer um relacionamento efetivo com o cliente, necessita
desenvolver habilidade da comunicação.
Nesse sentido, a comunicação é considerada como um dos instrumentos do cuidar em
enfermagem, uma vez que ela é utilizada prioritariamente pelo profissional, constituindo-se elo
condutor da qualidade da relação e no cuidar/cuidado.
Assim, o cuidar para Colierre (1999), é um ato de manter a vida, garantindo a satisfação
de um conjunto de necessidades indispensáveis, porém diversificadas na sua manutenção, com o
objetivo de garantir a sobrevivência.
Boehs e Patrício (1990) comentaram o conceito de cuidado de Watson (1981), como uma
prática de “saudegenia”, que integra conhecimentos humanísticos e científicos a fim de promover
a saúde e prevenir a doença. Esses conhecimentos integram-se através de fatores como:
desenvolvimento do relacionamento de ajuda e confiança, promoção e aceitação das expressões
de sentimentos positivos e negativos, promoção do ensino aprendizagem interpessoal, e a
provisão de ambiente de apoio e proteção mental, física, sócio- cultural e espiritual.
A otimização do processo do cuidar/cuidado requer o uso da comunicação eficiente, com
diálogo pautado no encontro e na inter- relação entre o cuidador e o ser cuidado.Torna-se
necessário para executar esse processo, conhecimento e habilidade da equipe de enfermagem que
o executa, que deve estar atenta não somente para o aspecto verbal mas, principalmente, para o
não verbal, que é manifestado continuamente pelo cliente.
Bachion (1994) caracterizou a comunicação da equipe de enfermagem com o paciente no
cotidiano assistencial, como imprópria, impessoal, diretiva, autoritária e desinteressada, aliada à
desatenção, com a percepção superficial das mensagens transmitidas pelos pacientes. Com
26
relação à comunicação não verbal, identificou que imperam tentativas de acertos e erros, sendo
que o comportamento não verbal, manifestado pelos profissionais, costuma expressar
distanciamento e pouca inclinação para a interação pessoal.
Ainda, na tentativa de justificar a deficiência da enfermeira no ato comunicativo, temos
aspectos relativos ao trabalho, como: excesso de atividades burocráticas e administrativas,
valorizando-se o fazer, alicerçado no cumprimento de normas e rotinas, ao invés do cuidar,
afastando-se do cliente e promovendo um entrave no processo de estabelecimento de uma
comunicação eficiente.
Sobre isso se destaca que, freqüentemente, a formação acadêmica das enfermeiras não
prioriza nem valoriza o ensino da comunicação na grade curricular, conduzindo a dificuldades,
expressas mesmo quando discentes, em comunicar-se com o cliente, desencadeando sentimentos
de limitação e impotência, os quais atravessam os muros da academia e as acompanham na
prática profissional.
Sendo assim, para que a enfermeira e os demais membros da equipe de enfermagem
potencializem sua habilidade a fazerem uso da comunicação não verbal como instrumento do seu
cuidado, é fundamental conheçê-la e aplicá-la ao interagir com o cliente, ampliando a capacidade
de percepção do outro, identificando sentimentos, anseios, dificuldades e contribuindo também
para o crescimento do profissional como ser humano.
A aquisição da habilidade em comunicar-se se justifica pelo fato dos membros da equipe
de enfermagem, devido ao caráter ininterrupto da assistência, serem profissionais que,
comumente, permanecem 24 horas ao lado do cliente, portanto capazes de garantirem um
atendimento individualizado, priorizando os aspectos biológicos e psicoemocionais.
Madeira, Matos e Magalhães (1994) comentam que devido ao fato do relacionamento
enfermeira e cliente ser o principal agente de mudança terapêutica, e a comunicação ser o meio
pelo qual o relacionamento se estabelece, a competência em comunicação deve ser uma função
própria de quem assiste.
Por outro lado, setores hospitalares, como a UTI, caracterizam-se por ser uma unidade
fechada, complexa, de tecnologia avançada, e composta por aparelhos sofisticados, onde a
dinâmica de trabalho é intensa, face ao perfil dos clientes, geralmente, graves e instáveis que se
encontram internados, requerendo vigilância contínua do seu estado de saúde. Sendo assim, suas
características particulares, se não administradas eficazmente, torna-se um entrave para o
27
processo de comunicação e, consequentemente, para o estabelecimento de um relacionamento
eficaz entre o cliente e a equipe.
Knobel (1999, p.1306) ao traçar um panorama das UTI´S relata:
Os pacientes graves são geralmente dependentes e sentem-se fragilizados com a falta de
autonomia. Os familiares ficam deprimidos podendo temporariamente se desestruturar
sob o ponto de vista emocional. A equipe, confrontada com o sofrimento diário,
estrutura mecanismos de defesa que normalmente diminuem sua sensibilidade. As
peculiaridades do ambiente físico de uma CTI- desde a ausência de janelas, o elevado
nível de ruídos, até a invasão de equipamentos- carecem de cuidados especiais no que
diz respeito à qualidade
Desse modo, a qualidade do atendimento na UTI tem como um dos pilares a efetiva
comunicação entre a equipe, cliente e família e que só poderá ser alcançado através da inter-
relação dos sujeitos, definindo metas e objetivos, que tenham como prioridade a garantia da
satisfação plena do cliente.
Nesse sentido, o cliente internado na UTI vivencia uma situação de anormalidade, que se
configura, inicialmente, com a condição de estar doente, associado ao medo da morte. Além do
mais, a privação do contato com os familiares, as barreiras corpóreas e físicas como a entubação
e a traqueostomia, podem desencadear sentimentos de insegurança, dependência, impotência,
dentre outros.
Assim, reiteramos que, para o cliente enfrentar o momento de internação na UTI,
necessita de ajuda e confiança por parte daqueles que o assistem. A enfermeira, em especial,
necessita desenvolver um relacionamento interpessoal efetivo, entendendo, além dos aspectos
relacionados ao processo patológico, questões relacionadas ao âmbito psicoemocional, as quais
interferem no processo de evolução e recuperação do cliente.
Quando assistimos, nas UTI´s, clientes conscientes e orientados, torna-se mais fácil
identificar os sentimentos que manifestam sobre o processo de internação, através do
estabelecimento efetivo da comunicação. No entanto, encontramos, nessas unidades, clientes
impossibilitados de falar, requerendo da equipe de enfermagem o desenvolvimento da habilidade
para interpretar a comunicação não verbal emitida por ele, ajudando-o a expressar o que deseja.
A equipe, também, deverá saber comunicar-se com o cliente entubado, visto que ele
encontra-se altamente perceptivo ao ambiente e às pessoas que o rodeiam, captando com muita
sensibilidade tanto os sinais verbais quanto os não verbais e, a depender de como essa equipe se
comporta, poderá se afastar ou se aproximar da relação.
28
Segundo Perestrelo (1989), os códigos que acompanham a linguagem verbal traduzem o
que de verdade emana do interior da pessoa e, o como se diz, ocupando lugar de 0,destaque na
transcomunicação humana, sendo mais efetivos em relação ao que se fala. Apesar de falarmos
com as cordas vocais, em nossos relacionamentos, comunicamo-nos com o corpo inteiro.
Nesse sentido, associado ao “como se diz”, a equipe deverá apropriar-se de mecanismos
diversos para atingir a eficácia do processo comunicativo, dentre os quais temos a observação.
Perestrelo (1989) afirma, ainda, que por meio da observação nos tornamos capazes de ser com o
outro, e através de uma relação empática, indagar se o que ele demonstra, encerra ou não uma
relação de sentido com o resto de sua existência, pois os dados são integrados de maneira
individualizada no conjunto vivencial da pessoa.
Desse modo, pela observação podemos identificar quais mecanismos são utilizados pelo
cliente entubado para se comunicar e se ele aprova ou desaprova o cuidado oferecido, devendo
ser realizado um planejamento para que possamos estabelecer uma comunicação terapêutica com
ele.
No contexto da UTI, a perda da autonomia comunicativa do cliente portador de prótese
ventilatória, faz com que ele se torne, nesta situação temporária, sujeito passivo no ato de cuidar.
Nesse sentido, a perda do poder de controlar o corpo para realização de atividades simples como
por exemplo tomar banho e vestir-se, pode gerar sensação de impotência, dependência e
incapacidade. Nessa situação, a enfermeira necessita estar atenta a tais sinais, comunicando e
ajudando-o a enfrentar esse período temporário, o que é extremamente importante, uma vez que
se trata de um ser humano que no momento, necessita de cuidados de enfermagem.
Assim, a dificuldade do cliente entubado em se comunicar verbalmente, dificulta sua
interação com a equipe e isto faz com que seu espaço seja invadido, gerando perda da
territorialidade. Essa dificuldade torna-se maior pois o cliente não tendo como expressar a
invasão do seu espaço, desencadeia tensão e ansiedade.
Esse sentimento, também, pode ser desencadeado pela sensação de incompreensibilidade,
percebida pelo cliente naquilo que quer comunicar. Se o nível de ansiedade é elevado costuma
gerar desconforto, dificultando o relacionamento interpessoal e o uso de padrões habituais de
comunicação.
A comunicação terapêutica, segundo Ruesch (1964), traduz a habilidade do profissional
em ajudar às pessoas a enfrentarem a tensão temporária, conviver com outras pessoas, e ajustar-
29
se ao que não pode ser mudado, enfrentando os bloqueios para a auto-realização, o que é
característico dos profissionais da área de saúde.
Dessa maneira, na comunicação terapêutica o profissional utiliza a escuta, a fala, a
percepção e, assim, permite ao cliente expor o que é, sente e necessita, dando-lhe oportunidade de
crescer, amadurecer, equilibrar-se e de ser atendido nas suas necessidades, pois ele deve
encontrar no profissional um elemento de confiança (TAVARES, 1998; VIEIRA, 1978 ).
Deve ser ressaltado que, conforme Silva (2001), os problemas enfrentados pelos clientes e
as expectativas relacionadas à equipe de enfermagem recaem, muito mais, na área expressiva do
que na instrumental. Isto exige da enfermagem sensibilidade, empatia e intuição, para
compreendê-los e, assim, ajudá-los, através do estabelecimento do relacionamento interpessoal.
Para Perestrello (1989), toda relação transpessoal é uma relação viva e, todas as atitudes
do profissional que repercurtir sobre a pessoa terão significados terapêuticos ou anti-terapêuticos,
conforme o impacto que causar no cliente ou no profissional.
Assim, a inter-relação entre enfermeiro e cliente é alcançada quando um vê ao outro como
seres que interagem e que expressam, por meio de seu comportamento, motivações e
necessidades (VIEIRA, 1978)
Desse modo, ao se relacionar e estabelecer comunicação com o cliente entubado, deve-se
aguardar para que ele se expresse, e caso haja dificuldades, auxiliá-lo a comunicar-se validando,
posteriormente, o significado do que ele quis dizer. No entanto, para que o cliente tenha liberdade
de expressar o que sente, é necessário ter confiança naquele que lhe presta cuidado. E, para que
essa confiança seja adquirida, é fundamental a ambos conhecerem-se e manterem um diálogo
pautado no encontro e no relacionamento interpessoal efetivo e afetivo.
Considerando esse aspecto, as primeiras tentativas para se estabelecer comunicação com a
equipe poderão ser difíceis, pois o uso de prótese ventilatória representa mudança significativa na
vida comunicativa do cliente. Ele deverá ser estimulado a continuar tentando se comunicar, tendo
a enfermagem papel fundamental nesse momento de adaptação, orientando-lhe e explicando-lhe a
situação como algo temporário, ensinando estratégias para a comunicação, conduzindo o cliente
a escolher a maneira mais adequada e de conformidade com suas limitações.
Assim, reforçamos ser fundamental o desenvolvimento da habilidade da comunicação
terapêutica, pela enfermeira, para conduzir o processo. Stefanelli (1993) assegura que é através
da comunicação que a enfermeira desempenha suas funções, fazendo com que o paciente mova-
30
se da dependência para uma interdependência saudável, reconhecendo as suas próprias
potencialidades, aceitando as limitações e se tornando participante ativo do seu processo de
cuidar/ cuidado.
2.3 TEORIA DA COMUNICAÇÃO INTERPESSOAL
Nesse item, abordamos a teoria da comunicação interpessoal, no intuito que seus
elementos possam embasar a nossa compreensão sobre o tema comunicação, o qual é
extremamente complexo e diversificado.
Desse modo, apresentamos os fundamentos dessa teoria, a partir dos registros de
Littlejohn (1988), assim como outros autores que abordam o tema comunicação interpessoal a
exemplo de Ruesch (1964), Furegatto (1993).
A comunicação, entendida como ação, é ferramenta fundamental para que possamos
estabelecer relacionamentos, percebermos o mundo, o outro e a nós mesmos e, também, sermos
compreend idos.
No entendimento da importância que a comunicação humana possui para o
desenvolvimento e aperfeiçoamento da profissão de enfermagem, é necessário que possamos ter
conhecimento das etapas desse processo, utilizando esse conhecimento na melhoria e no
estabelecimento da relação com o cliente que necessita de cuidado.
A vertente desse processo comunicacional na efetivação do cuidado de enfermagem ao
cliente impossibilitado de falar, no qual o mais importante do que as palavras são a postura, os
gestos, o toque..., enfim, os componentes não verbais presentes nesse processo, requerem da
equipe prestadora de cuidado, sensibilidade, empatia, intuição e a percepção do que ele deseja e
necessita comunicar.
Nesse sentido, consideramos oportuno abordar a teoria da comunicação interpessoal neste
estudo, por considerá-la adequada para analisar o estabelecimento da comunicação entre a equipe
de enfermagem intensivista e o cliente submetido à entubação orotraqueal na unidade de terapia
intensiva.
Conforme Littlejonh (1988), a comunicação é algo que está presente em nosso
comportamento e que afeta a nossa vida diária. A experiência que obtemos a partir da
31
comunicação que estabelecemos provém, em sua maioria, dos relacionamentos que
cotidianamente estabelecemos com familiares, amigos, colegas de trabalho entre outros e, na área
de saúde, também, no encontro com os clientes que cuidamos.
Para Furegatto (1993), a comunicação é um processo intricado e complexo, pois cada
indivíduo gira em torno de um centro pessoal e privado e, somente a pessoa, reconhecerá com
exatidão a experiência que ela vivencia.
Registramos que para se compreender o fenômeno da comunicação não se pode utilizar
apenas uma teoria, pois ela, por si só, não encerra a verdade por inteiro. Para Littlejohn (1988) a
comunicação não é um ato singular, unificado, mas um processo contínuo e constituído por um
aglomerado de comportamentos. Portanto, somente através de uma visão multiteórica é que esse
fenômeno poderá ser investigado em sua totalidade.
Desse modo, a comunicação interpessoal e as múltiplas teorias que a embasam é realizada
através da interação face a face dos sujeitos envolvidos, com uma permuta recíproca de pistas
verbais e não verbais. Para tanto, requer disponibilidade e reciprocidade dos sujeitos.
A comunicação interpessoal é identificada por Ruesch (1964) pela presença de atos
expressivos de uma ou mais pessoas; pela percepção consciente ou inconsciente desses atos por
outra pessoa, e pela observação de que tais atos foram percebidos. Dessa maneira, o que marca o
estabelecimento da situação interpessoal é a consciência de ser percebida.
Esse processo comunicacional, para que se concretize, deverá estar amparado em critérios
como: proximidade física entre os sujeitos, possibilitando que um perceba o outro;
interdependência comunicativa; troca de mensagens verbais e não verbais; comunicação informal
e flexível, sendo que o comportamento da pessoa é reflexo e conseqüência direta da outra.
Buscando compreender os diferentes aspectos que envolvem o fenômeno da comunicação
interpessoal, Littlejohn (1988) assegura que o relacionamento é um importante aspecto da
comunicação, podendo ser definido como a interação entre duas pessoas, com base em suas
percepções recíprocas.
Desse modo, o comportamento das pessoas é determinado por sua necessidade de
relacionamento. E, nenhuma pessoa pode deixar de se comunicar, pois mesmo no silêncio há
interação.
32
Nos relacionamentos, todo e qualquer comportamento perceptivo é potencialmente
comunicativo, devendo haver simetria, onde os envolvidos comportem-se de maneira semelhante
e as diferenças possam ser minimizadas.
Laing apud LITTLEJOHN (1988) em sua teoria da percepção interpessoal, sustenta que o
comportamento comunicativo de um indivíduo é modelado por sua percepção em relação ao
outro. Como a pessoa se vê, vê o outro e, a realidade que a circunda são utilizados como critérios
para se estabelecer a comunicação ou para dela se afastar.
Considerando esse aspecto da comunicação, para o estabelecimento da relação, entre o
profissional de enfermagem e o cliente entubado na unidade de terapia intensiva, tem-se que para
o desenvolvimento de uma relação saudável, é preciso haver percepção do outro, auxiliando-o a
promover mudanças de comportamentos, de modo a incentivá-lo a aceitar a presença do
profissional como cuidador e, com ele, se comunicar de modo favorável.
Na comunicação interpessoal, conforme Furegatto (1993), a preocupação da enfermeira
deve estar voltada para a mudança de percepção, que surge como resultado de uma elaboração
interior, provocando mudanças comportamentais, que beneficiam o indivíduo.
Nesse sentido, ao entendermos a importância do relacionamento para a qualidade do
processo de comunicação, um outro aspecto a ser analisado são as necessidades interpessoais.
Willian Schutz apud LITTLEJOHN (1988) enfatiza que o ser humano tem necessidade de
relações sociais e elas são tão fundamentais quanto as biológicas.
Desta forma, para que as necessidades interpessoais possam ser atendidas, o ser humano
requer: inclusão, ou seja, estabelecer relações satisfatórias com outros; além de controle e
afeição, expressas por um espectro entre a intimidade e a distância. A maneira como essas
necessidades são atendidas influencia no modo de uma pessoa se comunicar.
Certamente, se o cliente entubado perceber que não está incluído no processo, que suas
decisões não serão atendidas e que não haverá sentimentos saudáveis e recíprocos na relação com
os profissionais de saúde, poderá gerar entre outros sentimentos a ansiedade, dificultando a
manutenção de uma comunicação e de interações efetivas entre ambos.
A auto- apresentação, outro aspecto citado por Littlejohn (1988), relaciona comunicação
interpessoal à maneira de interagir e projetar-se no outro. O indivíduo ao encontrar-se em um
contexto novo, relacional, deve organizar os eventos e perceber o que realmente está presente
nessa situação, buscando assim interagir com o outro para ser entendido.
33
O cliente entubado, inicialmente, ao perceber a prótese ventilatória pode se questionar:
“O que é isso? ou O que significa?”, “Como farei para me comunicar e solicitar o que quero e
ser entendido?”. A partir dessa percepção sobre sua condição, buscará analisá-la para encontrar
respostas. Algumas vezes, a primeira impressão não é verdadeira, havendo necessidade de se
fazer uma nova reflexão acerca da situação vivenciada.
Nesse sentido, é importante que, ao nos comunicarmos com o outro, possamos entender e
ser entendidos e, para que possamos alcançar esse fim, devemos nos revelar, compreendermos e
sermos compreendidos, pois somente através desse relacionamento, com uma comunicação clara,
objetiva e subjetiva, é que esse fim será alcançado.
A revelação e compreensão são outros aspectos abordados por Littlejohn (1988). Com
relação a eles, Luft, criador da Janela de Johari juntamente com Harri, enfatiza a representação da
pessoa em relação as outras, a qual é composta por quatro quadrantes: eu aberto, eu cego, eu
oculto, eu desconhecido.
1
Esse modelo baseia-se em alguns princípios: (1) o comportamento é emocional e não
racional e deve ser abordado de modo holístico; (2) o que acontece a uma pessoa é melhor
entendido subjetivamente, em termos de percepções e sentimentos; (3) os princípios que regem o
comportamento devem ser descobertos pela experiência individual e (4) o comportamento deve
ser entendido em sua complexidade e não em sua simplicidade.
Diante desses princípios, e analisando a Janela de Johari, sob o ponto de vista
comunicacional, temos que, através de uma comunicação expressa e continuada, é possível
maior revelação dos aspectos do eu, onde sentimentos e condutas passam a ser conhecidas tanto
de um quanto de outro. Cria-se, assim, um ambiente recíproco e acolhedor para que o cliente
sinta-se, não apenas acolhido, mas livre e motivado para expressar quem é e o que sente, sem o
risco de ser julgado, mas aceito.
Semelhantes pressupostos são, também, defendidos por Rogers (1974) em sua teoria de
Congruência, na qual enfatiza que a comunicação interpessoal, para ter qualidade, deve permitir
1
A Janela de Johari chama a atenção para aspectos conhecidos da pessoa e os que estão fora de sua percepção
consciente. O importante, do ponto de vista da comunicação, é que enfatiza as mudanças de percepção consciente
que ocorrem com o passar do tempo. Para facilitar o entendimento das regras básicas da comunicação interpessoal,
os autores usam um diagrama ,onde através de apenas quatro retângulos, dispostos em forma de janela, podemos
conceituar todo o processo de percepção de um indivíduo em relação a si mesmo e aos outros. Os autores partiram do
princípio de que cada um de nós tem (ou pode ter) quatro imagens distintas: (1) Imagem aberta onde você sabe quem
é o os outros sabem quem você é; (2) Imagem secreta, você sabe quem é mas os outros não sabem quem você é.
(3) Imagem cega, você não sabe quem é mas os outros sabem quem você é, (4) Imagem desconhecida onde nem
você nem os outros sabem quem você é. (OLIVEIRA; BACHION, CARVALHO, 1996, P.115).
34
que a pessoa expresse seu eu, mantenha sua identidade, e liberte-se da ameaça da avaliação pelo
outro, onde sua experiência seja aceita tal como é manifestada, havendo sempre empatia e tendo
um relacionamento pautado na atitude de afeto e solicitude.
Desse modo, somente em uma comunicação interpessoal embasada na liberdade de ser
quem se é, permite a construção de um relacionamento sólido, com reciprocidade e confiança. O
indivíduo é capaz de ser transparente e autorevelar-se, sentindo-se encorajado para tal.
Outros aspectos abordados por Littlejohn (1988) são a percepção e a atração interpessoal.
Segundo ele, a experiência global e particular interferem na maneira como se percebe o outro e se
estabelecem comportamentos. Para que a pessoa seja capaz de se comunicar e estabelecer um
relacionamento efetivo com o outro, necessita sentir-se atraída, pois só uma pessoa que se sente
atraída, envolve-se com o que lhe agrada e evita o que lhe traz dor e sofrimento.
Dessa maneira, se o cliente entubado visualiza que os membros da equipe de enfermagem
o percebe como ser humano e, está disposta a ajudá-lo, sente-se atraído para se comunicar com o
grupo. Ou seja, encontrará muito mais aspectos positivos do que negativos nessa relação, o que é
importante fator de estímulo para o estabelecimento dessa interação.
Nesse contexto, o último aspecto abordado pelo autor é o conflito social, que pode
impedir ou facilitar à comunicação interpessoal, caso o interesse dos comunicadores se
encontrem em conflito, onde o fator de risco pode, até mesmo, destruir a relação.
Assim, temos que a comunicação interpessoal ocorre na interação face a face e, para ser
efetivada, requer a sua manutenção e estabelecimento através de sinais verbais e não verbais.
Utiliza-se de vários aspectos que se inter-relacionam e se apóiam, mutuamente, exigindo
apresentação, percepção e compreensão do outro para que se efetive.
35
3 -METODOLOGIA
3.1 TIPO DE PESQUISA:
Desenvolvemos uma pesquisa exploratória, descritiva com abordagem qualitativa, com a
qual buscamos analisar: como a equipe de enfermagem vivencia a comunicação com o cliente
submetido à entubação orotraqueal na UTI.
Segundo Gualda (1995), esse tipo de pesquisa produz dados descritivos, oriundos de
manifestações escritas e faladas, assim como de comportamentos observáveis das pessoas.
Afirma, ainda, que a metodologia qualitativa enfatiza a importância de se conhecer, entender e
interpretar acuradamente a natureza das situações e eventos, quer sejam eles passados ou
presentes.
Para Polit; Beck e Hungler (2004), a pesquisa qualitativa baseia-se na premissa de que o
conhecimento sobre os indivíduos só são possíveis com a descrição da experiência humana, tal
como ela é vivida e definida por seus próprios autores.
3.2 SUJEITOS DA PESQUISA
Foram sujeitos do estudo 11 membros da equipe de enfermagem, sendo 6 enfermeiras
assistenciais e 5 técnicas de enfermagem, que trabalham e interagem com o cliente entubado no
cotidiano da terapia intensiva.
A conduta ética na pesquisa tem como três importantes princípios: a beneficência, o
respeito pela dignidade humana e a justiça ( POLIT; BECK; HUNGLER,2004).
Portanto, atendendo aos preceitos éticos e aspectos legais para pesquisa com seres
humanos, os sujeitos foram previamente esclarecidos quanto aos objetivos da pesquisa,
garantindo-lhes a liberdade de participar ou não do estudo, assim como o anonimato e a
confidencialidade das suas opiniões. Para tanto, entregamos previa e individualmente aos sujeitos
o termo de consentimento livre e esclarecido, para que eles pudessem manter-se esclarecidos
acerca da natureza da pesquisa, bem como a garantia do cumprimento dos princípios éticos acima
referenciados. Para garantir o anonimato dos sujeitos, os mesmos foram designados através de
números.
36
Como critério de inclusão, definimos a experiência mínima de um ano de atuação na
unidade de terapia intensiva, possibilitando, dessa maneira, a comunicação e troca de
informações. Essa intencionalidade atende à necessidade de apropriação do objeto pelos sujeitos
inseridos no mesmo contexto
3.3 LOCUS DA PESQUISA
O locus da pesquisa foi a Unidade de Terapia Intensiva de adultos, geral, pertencente ao
Hospital Geral Clériston Andrarde (HGCA), no município de Feira de Santana- BA. Destaco que
a UTI é um setor especializado que presta cuidado a clientes críticos, instáveis e é nesse local
que, rotineiramente, encontram-se clientes entubados e conectados ao ventilador mecânico,
barreira efetiva ao processo de comunicação.
A cidade de Feira de Santana é importante centro regional do Estado da Bahia e localiza-
se a 110 km da capital, Salvador. Possui uma área de 1.363 km2 e população estimada em
527.625 habitantes, a maioria adultos jovens, sendo considerada a segunda cidade mais populosa
do Estado (IBGE, 2005). Sua economia destaca-se por sua atividade comercial e agropecuária.
Encontra -se na Gestão Plena do processo de municipalização da saúde. Sua rede de serviços de
saúde constitui-se de 3 Hospitais Gerais Públicos, 19 Unidades Básicas de Saúde e 83 Unidades
de Saúde da Família, além da rede complementar de serviços privados conveniados ao Sistema
Único de Saúde - SUS.
O (HGCA) é referência em assistência de alta e média complexidade para a cidade de
Feira de Santana e para 121 municípios circunvizinhos. Classificado como hospital geral de
médio porte, presta atendimento de urgência e emergência. Possui 274 leitos distribuídos nas
unidades de Clinica Médica, Clínica Cirúrgica, UTI adulto, neonatal, e pediátrica, além de
pediatria e maternidade. O setor de emergência atende a diversas especialidades como cirurgia
geral, ortopedia, angiologia, pediatria entre outros. Este hospital é utilizado como campo de
prática para as diversas escolas de enfermagem locais e dos municípios vizinhos
O HGCA disponibilizava apenas 5 leitos de terapia intensiva para o atendimento a
clientes adultos, porém, por uma iniciativa do Estado e conforme a portaria ministerial n
o
3432 de
12 de agosto de 1998 que estabelece critérios de classificação entre as diferentes Unidades de
Tratamento Intensivo, houve necessidade de ampliação dos leitos de terapia intensiva buscando
37
atender a demanda. Assim, há cerca de 1 ano, foram ampliados para 10 leitos, sendo um deles
destinado ao cliente que necessita de isolamento. A finalidade da unidade é oferecer suporte
intensivo a clientes clínicos e cirúrgicos, portadores de patologias diversas, oriundos das unidade
de internação hospitalar e do pronto-socorro. Possui um fluxo contínuo e uma equipe
especializada para oferecer o atendimento adequado nas situações de emergências e urgências.
Em seu quadro funcional existem 13 enfermeiras, sendo que uma delas assume a função
de coordenação e as demais atuam na assistência. Os técnicos de enfermagem são em número de
31. As enfermeiras atuam em escala fixas nos turnos matutino, vespertino, matutino- vespertino
ou noturno, e os técnicos atuam em escala fixa matutino- vespertino ou noturno. A escala diária
de serviço é geralmente composta por 2 enfermeiros, sendo que cada um deles assume o cuidado
a 5 leitos, enquanto os técnicos de enfermagem variam de 4 ou 5 por turno de serviço, onde
assumem de 2 a 3 clientes.
Essa unidade, além dos membros da equipe multiprofissional, também possui estudantes
do curso de residência médica, do curso de graduação em enfermagem e de graduação em
fisioterapia. É uma unidade ampla, e sua planta física é de forma circular, de maneira que os
clientes são visualizados continuamente. Possui iluminação e ventilação artificial. Os leitos são
separados por boxes, e possui cama, mesa de cabeceira, monitor multiparamétrico, ventilador
mecânico, rede elétrica e sistema de gases e vácuo.
3.4 APROXIMAÇÃO COM O CAMPO E SUJEITOS DO ESTUDO
Atendendo aos princípios éticos da pesquisa, encaminhamos um ofício elaborado pela
Coordenação do Programa de Pós Graduação da EEUFBA, à direção do HGCA, solicitando
permissão para a realização do estudo. Em seguida o projeto foi apreciado pelo Comitê de Ética
em Pesquisa da Universidade Estadual de Feira de Santana recomendado pelo Conselho Nacional
de Pesquisa (CONEP).
Por questões éticas, antes de realizarmos a coleta dos dados, fornecemos orientações sobre
o projeto e seus objetivos ao (a) profissional entrevistado (a); solicitamos a autorização dos
mesmos para realizar a observação e para gravação das entrevistas. Sendo assim, mediante a
concordância deles, solicitamos a assinatura de duas (2) vias do “Termo de Consentimento
Informado” (Apêndice A), conforme preconiza a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de
38
Saúde. Como garantia do cumprimento do compromisso entre os envolvidos, uma das vias do
referido termo, contendo também assinatura do pesquisador, foi entregue ao entrevistado e a
outra se encontra em poder do pesquisador. (BRASIL, 1996).
3.5 TÉCNICA E INSTRUMENTO DE COLETAS DE DADOS
Os métodos de investigação utilizados foram a observação participante e a entrevista
semi-estruturada.
A coleta de dados foi realizada no período de abril a junho de 2006, após aprovação do
projeto de pesquisa pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Estadual de Feira de
Santana, recomendado pelo Conselho Nacional de Pesquisa (CONEP).
Após o contato prévio com os sujeitos da pesquisa e, buscando compreender como a
equipe de enfermagem vivencia a comunicação com o cliente entubado na terapia intensiva,
realizamos a técnica da observação participante, onde desenvolvemos um roteiro para condução
da observação que constava de questões pertinentes e que atendiam aos objetivos da pesquisa
(Apêndice B). A observação foi realizada nos três turnos de serviço: matutino, vespertino e
noturno, onde pudemos visualizar toda a dinâmica de trabalho da unidade e como foi efetivada a
interação face a face entre os membros da equipe de enfermagem e o cliente entubado.
A técnica de observação participante é definida por Schwartz e Schwartz (1954 apud
MINAYO 1994, p. 135) como:
Processo pelo qual mantém-se a presença do observador numa situação social, com a
finalidade de realizar uma investigação científica. O observador está em relação face a
face com os observados e, ao participar da vida deles, no seu cenário cultural, colhe
dados. Assim, o observador é parte do contexto sob observação, ao mesmo tempo
modificando e sendo modificado por este contexto.
Além da observação, realizamos a entrevista semi-estruturada (Apêndice C) com os
sujeitos da pesquisa. Esta é conceituada por Marconi e Lakatos (2002) como o encontro entre
duas pessoas, a fim de que uma delas obtenha informações a respeito de determinado assunto,
mediante uma conversação de natureza profissional. A modalidade da entrevista que utilizamos
foi a semi estruturada, a qual, segundo essas autoras, o entrevistado tem liberdade para
desenvolver cada situação em qualquer direção que considere adequada, em geral as perguntas
39
são abertas e podem ser respondidas em uma conversa informal, sem entretanto perder de vista os
objetivos e a seriedade do estudo.
Para a realização das entrevistas, agendamos o momento oportuno com os sujeitos da
pesquisa de forma a não interferir na atividade que desenvolvem. As entrevistas efetuadas foram
realizadas na sala de conforto de enfermagem, com a porta fechada, minimizando assim ruídos e
interrupções. Transcorreram-se sem intercorrências, onde os entrevistados sentiram-se à vontade
para falar sobre o tema proposto para o estudo, afinal baseava-se naquilo que eles vivenciam
diariamente no cotidiano do cuidado ao cliente entubado em terapia intensiva. Ao responder a
algumas questões propostas, fizeram comentários de outras questões do dia a dia do trabalho e
alguns relatos enriqueceram o estudo. A duração média das entrevistas foi em torno de 25
minutos.
As entrevistas foram gravadas em gravador digital, após concordância do entrevistado, o
qual tive a oportunidade de solicitar a retirada ou acréscimo de qualquer informação que eles
quizessem. O conteúdo das entrevistas foram salvas em computador e logo em seguida gravadas
num cd room, o qual ficará de posse dos investigadores por um período de cinco anos e, após
esse período será destruído, atendendo ao que determina a resolução 196/96 (BRASIL, 1996).
O conteúdo das falas foram transcritos à medida que iríamos realizando as entrevistas, e,
ao perceber que os discursos tornavam-se repetitivos, encerramos as entrevistas após a décima
primeira.
3.6 ANÁLISE DOS DADOS
Para analisar os dados utilizamos a técnica de análise de conteúdo que segundo Bardin
(2004, p.199):
[...] é um conjunto de técnicas de análise das comunicações, visando, por procedimentos
sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, obter indicadores,
quantitativos ou não, que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições
de produção/recepção das mensagens
Na técnica de análise de conteúdo, adotamos a análise temática, sendo o tema conceituado
por Bardin (2004) como algo amplo, que desprende-se do todo de um texto e possui significado
próprio.
40
Para Minayo (1994) a técnica consiste em descobrir núcleos de sentido que, conforme sua
freqüência e presença significam algo à luz do objetivo proposto.
De posse do material coletado, partimos para a pré- análise, realizando leitura do conteúdo
das falas flutuante, seguida da leitura exaustiva. Logo em seguida organizamos o material e
foram determinados conforme Minayo (1994) as unidades de registro, unidades de contexto,
recortes, modalidade de codificação e os conceitos teóricos acerca da comunicação interpessoal,
que norteou a análise.
Em seguida exploramos o material contido nos discursos dos membros da equipe de
enfermagem que trabalham na UTI, os quais abordaram em seus depoimentos tanto aspectos
partic ulares quanto àqueles observados no cliente entubado impedido de se expressar
verbalmente.
Assim, realizamos a análise e discussão tomando como base o referencial teórico da teoria
da comunicação interpessoal, baseado nos pressupostos teóricos de diversos autores, obtidos na
literatura de Littlejohn (1988), além de outros estudiosos que trabalham com o tema, por entender
que uma única teoria não seria suficiente para dar conta do objeto do estudo. Esses resultados
encontram-se no próximo capítulo.
41
4- APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
Neste capítulo apresentamos, analisamos e discutimos os resultados do estudo
compreendendo dois momentos distintos, no primeiro está a caracterização dos sujeitos, e no
segundo a análise e discussão das categorias e subcategorias do estudo. O quadro abaixo
apresenta a caracterização dos sujeitos.
Quadro 1- Caracterização dos sujeitos da pesquisa, Feira de Santana, 2006
Entrevista Idade Sexo Categoria
profissional
Escolaridade Tempo de serviço
1 46a F Enfermeira Graduação 20a
2 37a F Enfermeira Graduação 10a
3 34a F Técnica de
enfermagem
Nível médio 15a
4 45a F Técnica de
enfermagem
Nível médio 23a
5 28a F Enfermeira Graduação 4a
6 23a F Enfermeira Graduação 2a
7 30a F Técnica de
enfermagem
Nível médio 11a
8 29a F Técnica de
enfermagem
Nível médio 6a
9 46a F Técnica de
enfermagem
Nível médio 16a
10 27a F Enfermeira Graduação 3a
11 26a F Enfermeira Graduação 2a
FONTE: Dados da pesquisa
42
Conforme se observa no quadro apresentado, os sujeitos do estudo constituiram-se de 11
membros da equipe de enfermagem, que atuavam na unidade de terapia intensiva, campo deste
estudo. A idade das entrevistadas variou de 26 a 46 anos, sendo todas do sexo feminino. Com
relação à categoria profissional, 6 das entrevistadas eram enfermeiras e 5 técnicas de
enfermagem, entre as quais o tempo de serviço variou de 2 a 23 anos, tendo, portanto, uma média
de 12,5 anos.
4.2 CATEGORIAS DE ANÁLISE
De posse do material da entrevistas, e após leitura exaustiva, separamos os conteúdos
significativos das falas dos sujeitos, de conformidade com os objetivos do estudo emergiram três
categorias de análise, consideradas relevantes para o estudo, através das quais procedemos a
analise da comunicação estabelecida entre equipe de enfermagem intensivista e o cliente em uso
de cânula orotraqueal, buscando conhecer os meios que utilizam para se comunicar, incluindo
também, as facilidades e dificuldades encontradas nesse processo, conforme pode ser verificada
no decorrer da análise e discussão empreendida.O quadro abaixo apresenta as categorias e
subcategorias de análise.
Quadro 2- Categorias e subcategorias analíticas
CATEGORIAS SUBCATEGORIAS
Categoria 1:Vivência da comunicação entre a
equipe de enfermagem intensivista e o cliente
entubado
1a vivenciando os sentimentos de ansiedade e
angústia
1b vivenciando os sentimentos de frustração e
fuga
Categoria 2: Meios utilizados pela equipe de
enfermagem intensivista e o cliente entubado
para estabelecerem comunicação
2a vivência da comunicação verbal
2b vivência da comunicação não verbal
Categoria 3: Dificuldades do processo de
comunicação entre equipe de enfermagem
3a dificuldades comunicacionais relacionadas
ao cliente
43
intensivista e o cliente entubado 3b dificuldades comunicacionais relacionadas
ao ambiente de terapia intensiva.
Categoria 1- vivência da comunicação entre equipe de enfermagem intensivista e cliente
entubado
O processo de internação hospitalar pode submeter o cliente a vivenciar situações
estressantes. O próprio processo patológico, associado às características do ambiente são fatores
que costumam desencadear emoções, as quais contribuem para uma boa ou má evolução do seu
quadro de saúde.
No contexto hospitalar, as UTI´s são espaços naturalmente mobilizadores de emoções e
sentimentos que se expressam, frequentemente, de maneira muito intensa.
Nesse sentido, Davidoff (1983) conceitua emoções como estados internos, caracterizados
por cognições, sensações, reações fisiológicas e um comportamento expressivo específico.
No processo de comunicação entre equipe de enfermagem intensivista e o cliente em uso
de cânula orotraqueal, emergem emoções e comportamentos expressivos, que denotam a eficácia
ou não desse processo relacional.
Sendo assim, baseando-nos nas entrevistas realizadas, foram destacadas das falas as
principais emoções manifestadas pelos sujeitos da pesquisa, as quais se encontram agrupadas nas
seguintes subcategorias:
? 1a) vivenciando o sentimento de ansiedade e angústia
O contato inicial entre a equipe de enfermagem e o cliente em uso de cânula endotraqueal
costuma ser algo novo e único para ambos. Nesse contato, é comum que lancem mão de
estratégias para se comunicarem e serem entendidos. Desse modo, nessa oportunidade, poderá
haver ineficiência ou dificuldade na comunicação, quando a mensagem enviada não for
interpretada e validada da maneira, em geral, esperada pelo emissor e, também pelo receptor.
44
Nesse contexto, a dificuldade na comunicação poderá desencadear emoções como a
ansiedade e a angústia, tanto na equipe de enfermagem, quanto no cliente entubado, conforme
demonstram as falas a seguir:
“A gente fica assim nervosa, ansiosa, querendo entender sem entender o
que ele fala e acaba ficando um pouco assim muito nervosa”. (E3).
“A gente não entende muito o que o paciente quer, às vezes ele fica
nervoso, ansioso, por que não consegue falar e sente dificuldade da
gente entender o que ele realmente necessita”. (E1).
“Ele fica muito ansioso, agitado, principalmente quando ele está
entubado, sem sedação. Ele está querendo falar, querendo dizer o que
ele está sentindo e sem poder por causa do tubo né... o paciente sem
sedação é pior ainda, é um processo muito doloroso para ele”. (E9).
Tavares (1998) enfatiza que a definição de ansiedade tem sido objeto de discussões, pois
admite-se ser um fenômeno emocional complexo, no qual ocorrem, de forma conjunta, eventos
somáticos e psíquicos.
Para Freud (1998), a ansiedade é um sentimento que possui um caráter muito acentuado
de desprazer, acompanhado de sensações físicas mais ou menos definidas, que podem ser
refletidas em órgãos específicos do corpo.
Ainda, Davidoff (1983) conceitua esse evento como uma emoção, caracterizada por
sentimentos e previsão de perigo, tensão e aflição, com os quais os indivíduos sentem menos
tensão ao estarem sob controle e ou quando os estresses são previsíveis.
Sinno (1987) considera que a ansiedade envolve uma paralisação, em maior ou menor
grau, das atividades produtivas do indivíduo, em várias frentes: sua capacidade de pensar e sentir
assim como a de planejar e agir.
Desse modo, alguns fatores estressantes que podem desencadear um quadro de ansiedade
no cliente entubado na UTI são: presença da cânula orotraqueal, condição de estar doente e
hospitalizado em uma unidade fechada, o que lhe priva de contato com o meio externo e os
familiares.
Sobre isso, Dalossi (1990) descreve como problemas enfrentados pelo cliente em uso de
cânula endotraqueal: o medo de que a máquina pare de funcionar, e em conseqüência disso o leve
à morte; medo da dependência do ventilador; desconforto causado por manobras de manutenção
45
da respiração; falta de informações a respeito da terapêutica adotada, e dificuldade de se
comunicarem, em decorrência da presença da cânula.
Além disso, o cliente sente-se vulnerável em relação ao ambiente de internação, por que
se encontra em uma unidade hospitalar complexa, fechada, cercado por equipamentos
desconhecidos e pessoas que não fazem parte do seu convívio cotidiano. Somam-se a isso a
privação de se expressar verbalmente e ter suas solicitações atendidas e entendidas, reforçando a
condição de estar internado na UTI, que, por si só, desencadeia a sensação de medo no indivíduo.
Sobre esse aspecto, Furegatto (1993) ressalta que a enfermeira deve lançar mão das
estratégias disponíveis para lidar com as diferentes reações e emoções do paciente, devendo ter
maturidade emocional suficiente para falar francamente, ouvir e compreender o ponto de vista
alheio, e estabelecer comunicação com o mínimo de ansiedade.
No entanto, a equipe de enfermagem pode sentir-se ansiosa por vários fatores, a exemplo
da dinâmica de trabalho intensa e ininterrupta desenvolvida na UTI, dificultando um maior tempo
de permanência ao lado do cliente, associado à dificuldade de compreender os sinais não verbais
que, geralmente, são emitidos por ele.
Silva (2002) afirma que a impossibilidade de falar provoca efeitos graves e frustrantes
tanto para o cliente quanto para a equipe e família, podendo ser traduzido por efeitos
devastadores sobre seu estado psicológico e sua auto-imagem, destacando que uma comunicação
adequada deve ser implementada, considerando-se a condição de cada cliente.
Dalossi (1990) informa que o enfermeiro e o cliente podem apresentar, muitas vezes,
comportamento ineficaz, onde o cliente que não se consegue fazer entender pode assumir uma
postura de aparente passividade, e até torna-se aborrecido, ansioso, irritado, agressivo, sendo,
com freqüência, bastante exigente. Nesse contexto, o enfermeiro pode apresentar reações
variadas ao cuidar de pacientes que se encontram sob ventilação mecânica.
Nessa vivência de comunicação, permeada por sentimentos de ansiedade, costuma surgir
como uma das manifestações clínicas a angústia, a qual pode interferir no processo de
comunicação, conforme está enfatizado nas falas a seguir:
“Eu acho mais é angustiante por que ele tenta transmitir o que a gente
não consegue entender”. (E4).
“Agente acaba ficando também um pouco angustiada, por não conseguir
entender realmente o que ele tá falando”. (E2).
46
“Isso que cria a angústia tanto para eles que estão falando, eles estão
sabendo o que eles estão dizendo, já a gente não sabe aí eles ficam
angustiados e a gente também.(E2).
“O fato dele querer saber onde ele está e com quem ele está, quem está
por perto dele, o que é que houve, com aquele tubo na boca agonia
muito, aquilo angustia, aquele lugar diferenciado que é a UTI, então ele
vai entender que aquele meio é um meio completamente diferente e
aquilo dá uma angustia, ele fica tão agoniado, tão agitado, que às vezes
ele quer puxar o tubo”. (E5).
Freud (1998) enfatiza que a angústia costuma surgir como reação a um estado de perigo e
é reproduzida sempre que um estado dessa natureza se repete, caracterizando-se como um sinal
em busca de ajuda.
Desse modo, a angústia é gerada na interação do profissional com o cliente pela
impossibilidade do atendimento ou da verdadeira interação entre ambos. Tem-se como principais
motivos gerados pela angústia o despreparo e a falta de maior conhecimento sobre comunicação
não verbal por parte da equipe (BEZERRA; TRANQUITELLI; MONETTA, 1993).
Assim, o surgimento da angústia e da ansiedade no processo de comunicação com o
cliente entubado, pode desencadear na equipe de enfermagem sensação de incapacidade,
impotência e frustração, as quais conduzem à utilização de mecanismos de defesa, para
minimizar tais sentimentos, a exemplo da fuga, conforme se pode ver na subcategoria abaixo.
? 1b) vivenciando os sentimentos de frustração e fuga
As falas a seguir revelam sentimentos de frustração da equipe ao tentar se comunicar com
o cliente:
”Acaba sendo um pouco frustrante, às vezes eles desistem, por que está
ali, já repetiu a primeira vez aí não entende, repete a segunda, a
terceira, a quarta, chega um momento que ele se cansa”. (E5).
“Principalmente por que a gente fica frustrada, na maioria das vezes a
gente não consegue entender”. (E9).
47
Como se vê, a frustração pode ser entendida como um estado emocional desagradável,
que surge todas às vezes que algum obstáculo interfere na satisfação de um desejo, necessidade,
meta, expectativa ou ação, podendo, até mesmo, ser a frustração o próprio obstáculo.
(DAVIDOFF 1983; ANTHIKAD 2005).
Tal sentimento é identificado e reconhecido tanto pela equipe de enfermagem quanto pelo
cliente, surgindo quando não se atinge a eficácia no processo de comunicação, caracterizando-se
como um fator que dificulta a sua efetivação.
Nesse contexto, uma das principais fontes de frustração dos membros da equipe de
enfermagem reside ainda no excesso de atividades, as quais necessitam ser executadas,
impedindo que eles possam ter maior tempo ao lado do cliente.
Sobre esse aspecto, Silva (2002) afirma que as enfermeiras ao se sentirem incapazes de se
comunicar efetivamente com os clientes impossibilitados de falar, projetam, muitas vezes, sobre
eles sua própria angústia, ansiedade, medo e receios, na tentativa de minimizar o estresse
provocado por essa situação.
Dessa maneira, para os sujeitos do estudo, os clientes também desenvolvem reações de
frustração e sentimentos de inferioridade, conforme a fala a seguir:
“Os pacientes sentem uma frustração tão grande em relação a esse
momento que às vezes ele olha com aquele olhar de sensação de ser
desprezado, ele faz aquele gesto “pchin” com os lábios de que “poxa,
não ta querendo me entender” “fez pouco caso”. (E5).
Anthikad (2005) revela que o sentimento de inferioridade surge quando o aume nto dos
esforços para alcançar um objetivo proposto fracassa, e não há um outro substituto, fazendo com
que o indivíduo reaja, desenvolvendo sentimentos de desamparo e inadequação.
Sendo assim, surge, também, como mecanismo de defesa “ a fuga” para tentar minimizar
os sentimentos desencadeados pela tentativa de comunicação entre equipe de enfermagem e o
cliente entubado, conforme mostram as falas a seguir:
“È muito mais fácil então dizer assim: “não, eu não entendi”, do que
realmente parar até 10-15 min e realmente tentar entender, então é mais
fácil dá as costas e dizer “é, eu não entendi, não, vai fulano”. (E5).
48
“Ele tem a sua comunicação quebrada nos dois lados, uma pelo fato de
está entubado, e outra pelo fato do profissional não dá abertura para
que ele se comunique”. (E11).
“Às vezes não entendem pela primeira vez, e nem dão muita importância
para o que ele quer dizer e dá as costas, vira, sai”. (E5).
“A equipe às vezes não dá a atenção devida a esses pacientes”. (E8).
Deve ser registrado que o ser humano, numa tentativa de ajustamento, lança mão de
estratégias comportamentais, ações para o controle da ansiedade e frus tração. A fuga é uma delas,
que é desencadeada quando as pessoas sentem-se dominadas por tensão, podendo ocorrer o
desvio da atenção a uma ameaça, com a promoção de um meio temporário de fuga”.
Esse mecanismo surge de forma inconsciente para o profissional de enfermagem, como
uma constatação da impossibilidade de atendimento ao cliente, naquele momento, sendo que esse
sentimento funciona como um alimentador do sentimento de angústia. (BEZERRA;
TRANQUITELLI; MONETTA, 1993).
Nesse sentido, os membros da equipe de enfermagem, que não conseguem entender o
cliente entubado em sua comunicação, vivem uma situação conflitiva e podem, simplesmente
fugir da situação e envolver-se em outras atividades. Porém, tal atitude promove ruptura da
relação interpessoal, sem a construção de um elo de confiança e de empatia, que são aspectos
importantes para encorajar o cliente e estimulá-lo a expor seus temores, dificuldades, auxiliando a
superá-los.
Segundo Littlejohn (1988) o comportamento de uma pessoa em relação aos outros é
baseado nas necessidades de inclusão, controle e afeição. Diante desta afirmação, entendemos
que o surgimento da angústia e ansiedade no cliente entubado decorre das suas necessidades não
satisfeitas em um relacionamento ineficaz. O estado de ansiedade é experimentado, pois há
inclusão, controle e afeição de menos no relacionamento.
Sobre esse aspecto Silva (2002b), ressalta que, no processo de comunicação, a empatia é
um elemento essencial, facilitando a compreensão daquilo que o outro expressa. É a partir dessa
empatia que surge a afinidade, a compreensão, o conhecimento do outro e a aceitação entre as
pessoas envolvidas.
O comportamento do indivíduo, segundo Littlejohn (1988), deve ser analisado
holisticamente e, para tanto, requer habilidade de perceber o que o indivíduo sente e estabelecer
49
com ele relação de aceitação e confiança. É através da comunicação que conhecemos o outro e
compreendemo-lo.
Assim, a partir do momento em que há a empatia entre as pessoas que se comunicam
surge a confiança. Se o cliente entubado confia naquele que lhe presta cuidados, torna-se
favorecedor no seu processo de recuperação, pois ele é capaz de comunicar o que lhe é
necessário, solicitando ajuda e minimizando, assim, sentimentos de tensão, ansiedade, angústia.
A fala a seguir ilustra essa afirmação:
“Quando ele começa a ganhar confiança naquela pessoa que está por
perto ele aceita melhor a situação, consegue até se comunicar, entender
o processo. E tudo transcorre tranquilamente, até a extubação desse
paciente.” (E7).
Tavares (1998) comenta que para alcançar o grau de afinidade e empatia capazes de
interpretar dados técnicos, sintomatológicos do indivíduo, fatores como crenças, mitos, hábitos
individuais e a própria comunicação, devem ser considerados.
Assim, a equipe de enfermagem necessita viver a comunicação com o cliente entubado
em sua plenitude, reconhecendo que sentimentos como a ansiedade e a angústia são passíveis de
ocorrerem, devendo utilizar-se de estratégias para identificá-los e minimizá-los.
Através da comunicação interpessoal que ocorre na interação face a face entre os sujeitos,
segundo Littlejohn (1988), é possível estabelecer relacionamento, identificar os comportamentos
emitidos pelo outro, bem como suas necessidades pessoais, através do reconhecimento dos sinais
verbais e não verbais.
Nesse aspecto, conforme afirma Anthikad (2005), é fundamental que os membros da
equipe de enfermagem possam auxiliar o cliente a se sentir acolhido no ambiente prestador de
cuidados, compreendendo seus sentimentos negativos, estimulando os positivos, através do
estabelecimento de relações interpessoais saudáveis, tendo como base a empatia.
As formas de usar os métodos de comunicação podem ajudar um paciente a satisfazer
suas necessidades e aumentar seu sentimento de segurança, comodidade e bem-estar,
desenvolvendo assim uma atitude positiva tanto no cliente quanto no profissional. (SINNO, 1987;
FUREGATO, 1993).
Vemos esta afirmação na seguinte fala:
50
“O paciente precisa saber o que foi que houve com ele, e por que de
todos aqueles aparelhos. Ai sim, com certeza ele vai se acalmar, vai
entender que é necessário o uso do tubo, e vai ficar tranqüilo. A partir
do momento que você ganha tranqüilidade do paciente ele passa de
certa forma a colaborar”. (E10).
Assim, quando eficiência comunicativa entre a equipe de enfermagem e o cliente
entubado isso se torna importante para o cliente e para ela própria, pois o ato comunicativo torna-
se terapêutico e pode beneficiar a recuperação do cliente. As falas a seguir ilustram essa
afirmativa:
“Uma paciente tinha alergia a dipirona, ninguém sabia, nem ninguém
da família sabia e ela quando entubada a gente dava dipirona direto,
por que ela estava tendo febre, e sempre estava tendo broncoespasmo, a
gente não sabia o porque daquele broncoespasmo, Quando ela saiu da
sedação, ela falou que ela tinha alergia a dipirona, ainda entubada, por
que a gente sempre fala: “a gente vai fazer tal medicação agora para
isso e isso e isso”depois que a gente parou de administrar a dipirona,
conseguiu tirar a cliente do broncoespasmo e conseguiu tirar o
ventilador”. (E6).
“Eu percebi que ele estava muito angustiado, e eu estava com um certo
tempo, eu fui lá e perguntei: o sr
o
quer escrever? Aí ele balançou a
cabeça que sim, ele sinalizou que sim. Então eu fui, peguei papel, peguei
caneta, ele disse que queria ver a filha. Por escrito, né. Então foi a única
vez que eu consegui... Depois que eu consegui entender que ele quis ver
a filha, fiz com que a filha viesse vê-lo, pois até então ela não tinha
visitado, todo mundo achou que ele melhorou muito mais rápido, no
mesmo dia a filha dele veio, fora do horário de visita, eu permiti a
entrada dela, e no outro dia ele foi extubado”. (E9).
Desse modo, o sentimento de satisfação surge quando a comunicação verbal ou não verbal
é entendida e o profissional consegue manter interação com o cliente, sendo capaz de atender as
necessidades expressas por ele, revelando a validação do processo. (BEZERRA;
TRANQUITELLI; MONETTA, 1993).
“Me sinto satisfeita e com facilidade em me comunicar quando posso
pegar o que ele ta passando e está melhorando o quadro dele não é”.
(E6).
51
Sendo assim, é fundamental o estabelecimento de um elo efetivo de comunicação com o
cliente, no qual a linguagem verbal e não verbal possam ser verdadeiramente identificadas e
interpretadas, e os comportamentos emitidos pelo cliente sejam compreendidos, conforme está
enfatizado na próxima categoria.
Categoria 2- meios utilizados pela equipe de enfermagem intensivista e o cliente entubado
para estabelecerem comunicação
O cuidado holístico de enfermagem prioriza o atendimento às necessidades bio-psico-
sócio-espiritual do indivíduo, tornando-se fundamental o estabelecimento do elo de comunicação
eficiente, para que haja o atendimento destas necessidades.
Para que o processo ocorra eficazmente, é necessário que o enfermeiro conheça o ser
humano tanto no seu aspecto biológico, quanto psicológico. Ele precisa conhecer as emoções,
sentimentos e motivações do ser humano, tanto no que se refere ao comportamento do paciente,
como também naquilo que tange a sua própria pessoa, pois a intercomunicação ocorre entre dois
seres humanos que agem, reagem e influenciam-se mutuamente (Furegatto, 1993).
A comunicação, como elemento do cuidado, é imprescindível no atendimento de
enfermagem ao cliente, e permite a construção do elo de confiança, empatia que auxiliam no
processo de recuperação do indivíduo hospitalizado. Ória; Moraes e Victor (2004), referem que a
interação estabelecida entre enfermeira e cliente, deve caracterizar-se não por uma relação de
poder, mas por atitudes de sensibilidade, aceitação e empatia entre ambos .
O cliente que se encontra em uso de cânula orotraqueal na UTI, necessita que a equipe de
enfermagem estabeleçam com ele um elo de comunicação eficiente, com troca de sinais verbais e
não verbais.
Segundo Silva (2002b), a comunicação possibilita ao enfermeiro ampliar a percepção do
que o cliente sente, e é um passo anterior ao respeito à privacidade do indivíduo, que tem sua
capacidade de expressão afetada e, para o qual, o enfermeiro quase sempre realiza procedimentos
que invadem a sua individualidade.
A incapacidade de comunicar-se verbalmente com os que estão ao redor determinará uma
exigência de ajuda por parte do cliente que vai além da necessidade de assistência respiratória
(SINNO, 1985).
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Desse modo, o cliente entubado comumente utilizará a comunicação não verbal para se
comunicar, a qual é compreendida por Vieira (1978) como a expressão do espírito e do corpo,
não realizada por meio de palavras, onde para ser efetivada tudo o que é transmitido, deve ser
percebido e interpretado. É efetuada por meio de gestos, toque, postura corporal, mímicas faciais,
disposição dos objetos, dentre outros.
A seguir, destacaremos os meios utilizados, comumente, pela equipe de enfermagem e o
cliente submetido à entubação orotraqueal para comunicarem-se, estabelecidos através das
seguintes subcategorias:
? 2a) vivência da comunicação verbal
Na vivência da comunicação estabelecida entre a equipe de enfermagem e o cliente
entubado, percebemos que a comunicação verbal é um dos meios utilizados por ambos para
estabelecerem contato. Porém, foi utilizada a fala pela equipe e a escrita pelos clientes para
promoverem interação, conforme falas a seguir:
“ Às vezes, quando eles querem alguma coisa, ou procuram saber se vai
demorar com aquele tubo na boca, então a gente tenta conversar”. (E1).
“Eu procuro me comunicar fazendo perguntas, se for dor, a gente vai
perguntando: “você está sentindo dor?”, se é em relação ao tubo a
gente pergunta”. (E2).
Eu falo devagar para que eles compreendam”. (E8).
“Eu procuro falar mesmo com ele, vejo a expressão que ele esta
fazendo, e é basicamente mesmo o uso da comunicação verbal que
utilizo para me comunicar. (E6).
Se ele está consciente a gente vai conversar com ele, explicar a ele o
que foi que ele teve”. (E11).
A comunicação verbal pode ser conceituada por Silva (2002a) como aquela associada às
palavras expressas, através da linguagem escrita ou falada. Para ser efetiva requer clareza, uma
53
vez que ao interagirmos, verbalmente, com alguém estamos tentando nos expressar, clarificar um
fato e validar a compreensão de algo. Na escrita temos o registro de pensamentos, informações,
dúvidas e sentimentos.
A equipe de enfermagem reconheceu como meio de comunicação com o cliente apenas a
linguagem falada, não tendo sido encontrado em nenhum relato o uso da linguagem não verbal.
Associamos a isso o fato de que pode haver dificuldade por parte desses profissionais em
reconhecer que, ao se estabelecer uma comunicação, a oral tem um poder de transmitir o objetivo
do ser humano, já a não verbal, o subjetivo: as emoções e os sentimentos. Destacando-se que, é
através da conjugação dos sinais verbais e não verbais que é possível fornecer significado e
importância à comunicação estabelecida entre ambos.
Assim, a compreensão que os pacientes precisam ter da relação com os profissionais da
área de saúde é a de que ao se comunicarem, não pretendem apenas transmitir um conteúdo, mas
juntamente com isso, um sentimento que perpassa a própria reação quando estão ao seu lado,
diante das informações que desejam transmitir (Silva, 2002b).
Neste estudo, pudemos observar que o cliente entubado utilizou da linguagem escrita para
comunicar-se com os membros da equipe de saúde e solicitar algo que ele necessitava, segundo
falas a seguir:
“Tinha uma cliente na UTI que se comunicava com a gente, e se ela
tivesse muitas dificuldades, ela pedia, com gestos para escrever, e aí
escrevia: “quero falar com a minha mãe...”/ “ quero falar com o meu
pai...”, “estou com frio...”, “quero mudar de posição...”, “estou com
secreção...”. (E3).
“Uma única experiência que eu tive foi com o paciente consciente que,
aliás, já estava em protocolo de extubação. Eu dei para ele uma caneta e
um papel para escrever. Ele conseguiu escrever pouco, pediu para ver a
filha, eu mostrei a filha para ele”. (E9).
“Já tive a experiência de alguns pacientes que conseguem escrever, e
agente coloca a prancheta e ele rabisca o que dê para a gente
entender”. (E2).
“Quando eles conseguem coordenar os movimentos a gente dá papel,
caneta, ele vai escrevendo”. (E4).
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“Tem o caso de um paciente que passou um longo tempo entubado e era
bem consciente, a gente sinalizava com letras, colocava as letras até
formar uma palavra chave”. (E2).
“Eu procuro ver se ele consegue escrever qualquer coisa, ele
escrevendo fica mais fácil”. (E3).
“Quando eu não consigo de forma nenhuma entender, vejo se ele tem
condições de escrever, se tem coordenação motora, para que ele possa
escrever o que ele quer, ou então chamo alguém e fico realmente do lado
do paciente”. (E5).
Desse modo, percebemos que a comunicação escrita é uma das possibilidades que podem
ser utilizadas pelo cliente entubado, porém, requer que disponibilizemos material para sua
efetivação como prancheta, lápis, caneta. Além do mais, o cliente deve está consciente e ser
alfabetizado, para que possa expressar-se com clareza.
Dalossi (1990) enfatiza que, para haver eficácia na escrita o enfermeiro deve lançar mão
da observação e criatividade, de modo a tornar possível o processo de comunicação. Ao oferecer
prancheta, caneta e lápis, deixá-los sempre próximo ao cliente, para que ele utilize quando
precisar, posicionando-o adequadamente e oferecerendo os óculos àqueles que dele fazem uso.
É necessário, também, que os membros da equipe de enfermagem validem o conteúdo das
mensagens escritas pelo cliente, para que possam sentirem-se encorajados e estimulados em fazer
uso desse meio de comunicação.
Durante o período que realizamos a observação na unidade de estudo, não identificamos,
em nenhum momento, o estabelecimento da comunicação escrita entre os sujeitos do estudo.
Percebemos que o cliente em uso de cânula traqueal utilizava exclusivamente a comunicação não
verbal para estabelecer comunicação com a equipe de enfermagem. Além do mais, não
visualizamos presença nessa unidade de cartazes ou letreiros, materiais estes que pudessem
facilitar esse meio de comunicação.
Com relação à comunicação escrita Moreira; Nóbrega e Silva (2003) ressaltam a sua
importância como mecanismo capaz de auxiliar no contexto da assistência, sendo uma das
atividades educativas capazes de promover a saúde, desenvolver habilidades, favorecer a
autonomia do paciente e, capaz de alcançar os objetivos do atendimento às necessidades do
paciente.
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Na maioria das vezes observamos que a comunicação estabelecida entre a equipe de
enfermagem e o cliente caracterizava-se por frases curtas, breves e relacionadas à execução de
procedimentos a exemplo de: “vamos to mar banho?”, “vou dá uma furadinha aqui viu?”, “vamos
limpar isso?”. Geralmente era efetivada com o cliente entubado consciente. Fato este confirmado
por Franco (1999) ao dizer que a comunicação com os pacientes na UTI geralmente objetiva
fornecer informações sobre os procedimentos para obter sua colaboração ou para explicar alguma
coisa relacionada à doença ou tratamento.
Em relação aos inconscientes, percebemos pouca ou nenhuma comunicação. Uma
situação que observamos foi a de realização de controle de dados vitais num cliente que se
encontrava inconsciente, onde a técnica de enfermagem aproximou-se dele, efetivou o controle,
realizou o registro dos dados no impresso específico, e afastou-se do leito, não tendo estabelecido
qualquer tipo de comunicação diretamente com ele. Sabemos que, mesmo inconsciente, o
indivíduo preserva a capacidade auditiva, tornando-se então, fundamental, que seja estabelecida e
mantida a comunicação com esse tipo de cliente.
Entendemos que é através da comunicação verbal que expressamos o que se diz, e
apresentamos seu problemas, queixas e reivindicações. Constatamos ainda, que na unidade não se
constitui prática rotineira oferecer instrumentos que propiciem a efetivação da escrita, limitando
as possibilidade de comunicação do cliente entubado. Porém, nas entrevistas, identificamos
outros meios de comunicação, a exemplo da não verbal, conforme seguem na próxima
subcategoria.
? 2b) vivência da comunicação não verbal
A comunicação não verbal envolve todas as formas de comunicação não manifestas por
palavras, onde o como se diz é avaliado, juntamente ou não, ao que se diz. Silva (2002a)
enfatiza que são os sinais não verbais emitidos e percebidos que contribuem para gerar vínculo de
confiança.
O cliente em uso de cânula orotraqueal utiliza, especialmente, a comunicação não verbal
como um dos meios para substituir a oral, que se encontra temporariamente inviável de ser
utilizada, e demonstrar sentimentos. Diante da dificuldade de ser entendido e, envolvidos em
sentimentos como ansiedade, por não poder comunicar-se verbalmente, e angústia, quando os
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mecanismos utilizados para comunicar-se não são efetivos, eles recorrem aos gestos, exigindo
dos membros da equipe de enfermagem observação e permanência ao seu lado para validação e
decodificação do conteúdo das mensagens.
As falas a seguir ilustram a vivência da comunicação não verbal dos clientes entubados
conforme relato dos profissionais de enfermagem:
Eles utilizam gestos manuais, de chamar. Já teve um cliente que me
pediu manualmente para baixar a grade da cama”. (E9).
Alguns choram, outros fazem aquela face de dor mesmo”. (E6).
Batendo na cama, tossindo, agitando, tentando descer da cama.
Procuram tossir, para vê se a gente chega mais próximo”. (E3).
“Tive uma paciente que ela ficou muito tempo internada, aí a gente já
conseguia entender mais pela boca, a maneira como ela movimentava a
boca, os gestos que ela fazia, a gente conseguia entender alguma coisa”.
(E4).
Eu olho para o rosto do paciente e tento lê os lábios dele, e às vezes,
quando está consciente, ele mostra com gestos”. (E5).
Eu tento primeiramente olhar os lábios, lê os lábios do paciente, e daí
eu tento vê se realmente eu entendi a mensagem que ele quis passar, ou
então eu novamente peço que ele repita pausadamente...”. (E5).
Quando eles estão perto de extubar é mais tranqüilo, eles apertam as
mãos, indicam alguma coisa, fazem mímicas. (E6).
De uma maneira geral, os sinais não verbais emitidos pelos clientes entubados,
comumente percebidos pelos membros da equipe de enfermagem foram aqueles pertencentes à
cinésica, ou seja, a linguagem do corpo, a exemplo das expressões faciais, movimentos de
cabeça, gestos com as mãos. Os gestos manuais emitidos foram interpretados para solicitar
aproximação, ajuda, além de validar algo dito pelos profissionais. As expressões faciais tiveram
como significado a expressão de sentimentos, chamar a atenção e solicitar ajuda.
Birdwhistell, pai da cinésica, citado por Littlejohn (1988), enfatiza que todo
comportamento emitido por alguém é considerado como uma função comunicativa investigável,
e o significado atribuído, dependerá do contexto em que a pessoa se encontra.
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Sobre a linguagem cinésica, Silva (1999) ressalta que é através de movimentos, tanto do
profissional como do paciente, a exemplo de gestos até meneios da cabeça e expressões faciais,
que transmitimos o que estamos sentindo, dando importância à relação e à pessoa com a qual
estamos nos relacionando.
Identificamos que, os sinais não verbais emitidos pelo cliente e percebidos pelos membros
da equipe de saúde, localizavam-se, preferencialmente, no rosto e nas mãos. Sobre esse aspecto,
Silva (2001) ressalta que, em uma interação, em nossa cultura, é comum observarmos mais a face
do que outras partes do corpo, pois dificilmente conversamos com as pessoas olhando para outras
partes.
Assim, para que haja habilidade na identificação de sinais não verbais, é imprescindível
que o profissional sinta-se disponibilizado e com interesse em aprender. O aprendizado da
comunicação não verbal pode elevar a percepção dos profissionais de saúde em relação aos
sentimentos e necessidades reveladas pelo cliente, bem como fortalecer sua própria comunicação.
Silva (2001) comenta que a percepção correta e consciente, da comunicação não verbal,
habilita o profissional na leitura da coerência das mensagens recebidas e, alerta para a coerência
daquelas enviadas. Quanto maior a capacidade do enfermeiro em decodificar corretamente o não
verbal, maiores serão as condições que ele terá de compreender e de emitir, adequadamente, estes
sinais.
Furegato (1993) informa que, no estabelecimento da comunicação interpessoal, o
enfermeiro deve auxiliar o cliente a esclarecer o sentido e a natureza da mensagem que está
transmitindo, concentrando a sua atenção no tema da interação.
A enfermeira necessita ter consciência da importância de se estabelecer uma comunicação
efetiva com o cliente para utilizá-la como instrumento capaz de propiciar um cuidado
individualizado e qualificado. Através da comunicação, o indivíduo será visto como alguém
capaz de enfrentar seus problemas, participar no seu tratamento e ser sensibilizado a ajustar-se ao
que não pode ser mudado, buscando, assim, meios para se adaptar à sua nova condição (SILVA
2002c).
Para se comunicar eficazmente com o cliente impossibilitado de falar, e tornar capaz de
emitir idéias e sentimentos e compreender o que o cliente necessita expressar, a enfermeira
precisa desenvolver habilidades comunicativas que facilitem o processo de comunicação não
verbal. Sob esse aspecto, Silva (2002a) considera que para se tornar eficaz é necessário adquirir
58
habilidades pessoais e técnicas, as quais não devem ser utilizadas isoladamente, pois o
significado da mensagem encontra-se inserido em um contexto maior, fazendo parte de um
processo social, dinâmico e recíproco.
É imprescindível a observação e permanência ao lado do cliente para que ele possa sentir-
se estimulado a se comunicar. Ou seja, é através do estabelecimento do relacionamento
interpessoal, que segundo Littlejonh (1988), os sons, palavras e gestos emitidos comunicam
significado, sendo que o comportamento adquirido em uma relação interpessoal, sofre influencias
da experiência que temos da relação.
Durante o período de observação, percebemos que, apesar do técnico de enfermagem ser
o profissional que mais tempo permanece ao lado do cliente, é pouco o tempo que ele utiliza para
se comunicar. Geralmente, encontra-se sobrecarregado de atividades rotineiras como: controle de
sinais vitais, banho no leito, preparo do cliente para realização de exames e encaminhamento ao
centro cirúrgico, entre outras.
Furegato (1993) ressalta como uma das responsabilidades do enfermeiro preparar o
pessoal auxiliar para atuarem de maneira coerente, orientando-os e supervisionando-os, de modo
compreensivo e responsável, assim, consequentemente, estará ensinando a tratar o cliente com
humanidade.
Na unidade do estudo, observamos que o enfermeiro, além das atividades assistências,
envolve-se com atividades burocráticas e administrativas, tendo seu tempo de permanência ao
lado do cliente bastante reduzido. No campo do estudo, pudemos observar uma cliente que
encontrava-se entubada, em protocolo de desmame ventilatório e, inquieta no leito, quando uma
enfermeira da unidade aproximou-se perguntando: “você está com calor?”. A cliente acenou com
a cabeça que sim, e a enfermeira removeu o cobertor. No entanto permaneceu inquieta no leito,
quando a enfermeira comentou: “cuidado com o tubo!”. Mesmo assim a cliente permaneceu
inquieta e a enfermeira retirou-se para assumir outras atividades da unidade.
Face a essa situação, nos pareceu não ter havido eficácia no processo comunicativo, pois a
enfermeira ao dirigir-se brevemente, e com mensagens curtas, não validou aquilo que de fato a
cliente poderia está expressando, uma vez que ela mesma permaneceu inquieta no leito. Segundo
Silva (2002b), a falta de tempo para manter-se ao lado do cliente e estabelecer comunicação não
deve ser algo, visto como barreira, pois somos capazes de, em apenas trinta segundos, ter
disponibilidade, intenção, capacidade e aproximação para tal.
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Sinno (1985) ao descrever algumas características peculiares ao profissional de
enfermagem que atua em UTI e que prejudicam a efetivação da comunicação tem-se: a
mecanização no desempenho das tarefas, e a natureza do trabalho em UTI, onde a equipe
compete e convive continuamente com a morte, tendo que atuar com rapidez. Tais fatores
promovem o afastamento da equipe do cliente, impedindo os profissionais de permitir a
expressão dos sentimentos do cliente, obtendo deles as respostas desejadas.
Como as mensagens desses pacientes são enviadas por meio de comunicação não verbal,
o enfermeiro deve esforçar-se para aperfeiçoar suas habilidades comunicativas, principalmente no
que se refere à capacidade de observação, devendo ela ser um processo ativo, envolvendo a
visualização e a interpretação (DALOSSI, 1990).
Sinno (1985) enfatiza que o enfermeiro pode auxiliar o cliente a comunicar suas
necessidades através de: perguntas diretas, percepção de sentimentos e oferecimento de múltiplas
escolhas, sendo, sobretudo coerente e sem ambigüidades.
A precisão e recepção da comunicação não verbal pauta-se em fatores como as emoções,
tanto aquelas expressas pelo profissional como pelo cliente, os esteriótipos, o reconhe cimento dos
sinais , limitações físicas e fisiológicas (SILVA,2002).
Entendemos que na UTI, a compreensão por parte de alguns profissionais é a de que o
cliente entubado não se comunica, é difícil de ser entendido, o tempo é curto para se manter ao
lado dele. Tais fatores tornam-se empecilhos para a eficácia do cuidado, e construção de um
relacionamento interpessoal efetivo e afetivo com o cliente.
Ao observamos como o profissional de enfermagem comunicava-se, surpreendeu-nos que,
somente visualizamos o toque do profissional no cliente ao executar procedimentos técnicos,
como banho no leito, controle de dados vitais entre outros. A característica que percebemos do
toque, é que ele era rápido, realizado apenas ao momento da execução da técnica.
O cliente reconhece-se valorizado pelos profissionais, quando é percebido como pessoa,
cabendo ao profissional de enfermagem relacionar-se com o seu lado sadio, tendo como foco de
interesse o cliente em si, reconhecendo-o, e não o soro, dreno ou tubo que o mesmo faz uso
(SILVA 2002b).
Sob esse aspecto, o toque é um dos meios não verbais de que dispomos para
estabelecermos comunicação com o cliente. A depender de como tocamos, o cliente pode
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interpretar nossa atitude como preocupação, importância, e sentir-se dessa forma confiante
naquele profissional que executa o cuidado.
Estudo desenvolvido por Artur e Silva (1992 apud CIANCIARULLO,1996) enfoca que o
toque pode ser o mais importante de todos os comportamentos não verbais realizado por
enfermeiras, sendo essas profissionais de saúde, aquelas que mais tocam. Afirma, também, que
crianças e mulheres jovens costumam ser mais tocadas, enquanto que idosos e clientes mais
graves são menos tocados.
Segundo Littlejonh (1988), no processo de comunicação, fatores como o toque, a
distância e a estimulação sensorial refletem atração interpessoal. Quando há atração e afinidades
é por que houveram comportamentos refletidos que interessaram e, como conseqüência,
predispuseram-se a estabelecer a comunicação.
Dessa maneira, comunicação tátil envolve um aspecto afetivo, que se faz presente a partir
da maneira como nos aproximamos para tocar, da expressão facial quando tocamos o paciente, do
tempo utilizado no contato, do local onde tocamos as pessoas e da pressão que exercemos nos
mesmos (SILVA, 2002a; SILVA,1999).
Assim, através do reconhecimento e identificação da comunicação verbal e não verbal,
ocorre a promoção do relacionamento interpessoal efetivo e afetivo. E, compete ao profissional
de enfermagem, segundo Furegatto (1993), avaliar os resultados da comunicação de ambos e,
compreender a dinâmica do processo interpessoal ocorrido.
Sob esse aspecto, Sinno (1985) ressalta que, a comunicação terapêutica, com o cliente em
uso de ventilação mecânica invasiva, tende a possibilitar um contato interpessoal que
desencadeará um processo de aceitação e confiança mútuos, onde o cliente expressa suas
necessidades, e a equipe entende e atende essas necessidades.
Entretanto, entendemos que o próprio ambiente de terapia intensiva, aliado ao trabalho
exercido pelos membros da equipe de enfermagem e o nível de criticidade do cliente, predispõem
à dificuldades nesse processo de comunicação, o que está evidenciado na próxima categoria.
61
Categoria 3:dificuldades do processo de comunicação entre equipe de enfermagem
intensivista e o cliente entubado
As UTI´s são unidades hospitalares utilizadas para garantir o suporte necessário à
manutenção da vida em pacientes com insuficiências orgânicas reversíveis ou permitir
monitorização contínua de parâmetros de pacientes estáveis, porém graves, com a possibilidade
de que seu estado se torne crítico e que, ocorra a necessidade de rápidas manobras para suporte e
manutenção da vida (BEZERRA; TRANQUITELLI; MONETTA, 1993).
O locus do estudo apresenta características peculiares ao ambiente de terapia intensiva:
dinâmica de trabalho intensa, taxa de ocupação elevada, perfil de criticidade dos clientes, o que
predispõe à sobrecarga de trabalho e, consequentemente, à fragmentação do atendimento ao
cliente, havendo dificuldade no estabelecimento otimizado do processo comunicativo.
Diante desse cenário, e baseado no relato dos depoimentos obtidos, destacamos as
principais dificuldades do processo de comunicação entre os sujeitos da pesquisa, conforme as
seguintes subcategorias:
? 3a) Dificuldades comunicacionais relacionadas ao cliente
O uso da prótese ventilatória por parte dos clientes entubados foi tida como uma das
principais dificuldades manifestadas pelos entrevistados para estabelecer comunicação, conforme
falas a seguir:
“ Para mim, não é muito fácil não, por que já que ele está entubado e
não tem como entrar em contato, fica difícil para a gente saber
realmente o que ele quer”. (E1).
“O tubo dificulta muito a comunicação por que o paciente tenta
balbuciar com aquele tubo engasgado na garganta, e a fixação também
atrapalha um pouco a comunicação. Às vezes, o paciente está muito
secretivo, e até a própria secreção dificulta essa fala, ou melhor, esse
balbucio, que a gente tem como uma comunicação inicial”. (E5).
A presença do tubo orotraqueal é fundamental para o atendimento à necessidade
ventilatória do cliente, que se encontra com quadro de insuficiência respiratória, requerendo o uso
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do aparelho de ventilação mecânica invasiva a fim de manter estabelecida a capacidade
respiratória do cliente.
Os problemas da comunicação na unidade de terapia intensiva podem ser oriundos tanto
do cliente quanto da equipe prestadora de cuidado. Dalossi (1990) comenta que a enfermeira
enfrenta maiores dificuldades no desenvolvimento da comunicação com o paciente crítico,
quando ele encontra-se com a entubação orotraqueal ou a traqueostomia, que constituem
obstáculos para a efetiva relação enfermeira- paciente, pela ruptura da comunicação verbal-vocal,
conforme ilustram as falas a seguir:
“O tubo realmente dificulta um pouco essa fala, por que na hora de
pronunciar as palavras ele vai mastigar né, o tubo, e realmente assim
tem umas poucas palavras que a gente consegue entender”. (E7).
“ É difícil comunicar com o cliente entubado, tudo isso por que ele, além
de ter medo de se comunicar quando ele está utilizando o tubo, acho que
ele também tem um pouco de medo. Então para a gente também é difícil
compreender”. (E9).
Observamos que a equipe, ao oferecer o cuidado ao cliente entubado, preocupava-se,
principalmente, em verificar se a fixação do tubo encontrava-se adequada, se o balonete
encontrava-se íntegro, atentava para os parâmetros ventilatórios, parâmetros hemodinâmicos, ou
seja, o estabelecimento do cuidado técnico, supervalorizando-o, em detrimento do cuidado
humanizado ao cliente.
Certamente a tecnologia na UTI é importante, pois é um setor que cuida de clientes
críticos e tem nela um dos elementos para efetivação do cuidado. Porém, segundo Vargas e
Meyer (2005), não é a tecnologia em si que é desumana, mas quem a manipula que a torna
desumana. A tecnologia em si não pode ser responsável por algum imprevisto causado ao
paciente quando em conexão com a máquina, ao contrário, é a incapacidade ou a desumanização
do humano (profissional) que explica os excessos e o uso indevido da tecnologia inserida no
contexto do intensivismo.
Desse modo, a preocupação centrada na competência técnica limita a dimensão
comunicativa que as ações conjuntas entre os diferentes profissionais podem construir. Sendo
assim, os profissionais devem valorizar a prática da comunicação, para transformar ações
63
técnicas em ações comunicativas, a partir das quais os pacientes podem se expressar e colaborar
com o tratamento (FRANCO, 1999).
A incapacidade de comunicação verbal do cliente entubado não o impede de comunicar-se
com a equipe através da comunicação não verbal, conforme já discutimos. Ainda, Franco (1999)
comenta que o paciente tem na comunicação oportunidade de relacionar-se com o mundo externo
e, sua falta pode acarretar isolamento, repercutindo em sua recuperação.
Dessa forma, o mais adequado seria pensar e fazer enfermagem em terapia intensiva
valorizando-se os aspectos técnicos e emocionais, pois na UTI não tem como se pensar em
efetuar o cuidado sem a tecnologia, uma vez que a conexão enfermeiro- máquina é utilizada,
costumeiramente, para especificar as ações de enfermagem nessa unidade (VARGAS, MEYER,
2005).
Além da presença da cânula orotraqueal identificamos, também, como fator que dificulta
o processo de comunicação na UTI à dinâmica de trabalho, conforme demonstra a subcategoria a
seguir.
? 3b) dificuldades comunicacionais relacionadas ao ambiente de terapia
intensiva
A UTI apresenta inúmeros fatores que distanciam os profissionais do paciente,
fragmentando o seu relacionamento como o tipo de trabalho a que são submetidos e a pressão
exercida pelo confinamento dentro do espaço físico fechado. Além do mais, tem-se as atividades
administrativas, as quais consomem tempo considerável para registro em prontuários, relatórios,
escalas entre outros.
Diante dessa realidade comum aos ambientes de terapia intensiva, a dinâmica de trabalho
foi identificada como um fator que dificulta a comunicação entre a equipe de enfermagem
intensivista e o cliente entubado. Esse fator predispõe à falta de tempo para comunicar-se,
conforme afirmam as falas a seguir:
Nem sempre a gente tá com tempo suficiente para estar junto dele... às
vezes ele fala três, quatro, cinco vezes para poder a gente consegui
entender o que ele quer dizer”. (E5).
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Eu vou te dizer, não é fácil, você está naquele corre corre, com o
paciente grave, e você às vezes se passa, e não lembra né, nem de se
comunicar”. (E11).
A impossibilidade de utilizar a comunicação verbal-vocal faz com que o cliente necessite
utilizar outros meios de comunicação para ser entendido. Porém, requer tempo de permanência da
equipe ao seu lado afim de que haja efetividade. Na UTI, a sobrecarga de atividades torna o
tempo escasso e constitui-se num entrave ao processo de comunicação. Nessa unidade nem
sempre há tempo disponível devido aos inúmeros procedimentos a serem realizados, ao
quantitativo elevado de clientes dependentes e instáveis, o que conduz a um afastamento entre a
enfermeira e o paciente (SILVA , 2002).
Observa mos que, na unidade utilizada para o estudo, apesar dos técnicos de enfermagem
permanecerem a maior parte do tempo ao lado do cliente, estabelecem comunicação mínima e, os
contatos resumem-se a informar sobre a realização dos procedimentos executados e, solicitação
de colaboração do cliente para sua realização.
Como, geralmente, o grau de dependência dos clientes é elevado, a realização dos
procedimentos a exemplo de banho no leito é realizado por dois profissionais técnicos, os quais
dialogam entre si, assuntos de outra natureza, muitas vezes, esquecendo-se do ser humano que
está sob seus cuidados e necessita ser reconhecido como tal. Os enfermeiros, também, utilizam
pouco tempo para estabelecer comunicação com o cliente entubado, uma vez que sua rotina na
unidade é caracterizada por uma sobrecarregada de atividades assistenciais e administrativas.
Entretanto, o enfermeiro, durante a execução de atividades, poderia racionalizar seu
tempo de modo a estabelecer comunicação efetiva com o cliente. Geralmente, as ações são
efetivadas em silêncio, ou estabelecendo comunicação com outros profissionais.
Nesse sentido, Silva (2002), comenta que o dimensionamento de tempo na UTI é
importante na prestação do cuidado. Porém, na prática diária, nem sempre o cálculo desse tempo
pode ser feito de modo a propiciar disponibilidade da enfermeira para um cuidado direto mais
prolongado.
A enfermeira em terapia intensiva exerce, simultaneamente, as funções assistencial e
administrativa, mas tem dificuldade em conciliá-las devido ao tempo consumido em ambas. O
paciente grave requer a atenção exclusiva e ininterrupta da enfermeira nos cuidados, e as
atividades na UTI são inúmeras, dificultando assim o trabalho (FRANCO, 1999).
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Entendemos que os profissionais podem fazer uso do tempo ao lado do cliente de maneira
otimizada, estabelecendo um elo de comunicação eficiente. Segundo Franco (1999) o diálogo é
possível de se estabelecer com o cliente sem dispender tempo, por que isso pode ser realizado
simultaneamente à realização de atividade técnicas, através de expressões faciais, gestos e
palavras de conforto e solidariedade.
Associado ao tempo, identificamos, também, como uma das dificuldades ao processo de
comunicação na UTI o excesso de atividades por parte dos membros da equipe de enfermagem,
conforme enfatizam nas falas a seguir:
“ Quando você tem numa unidade dessa uma série de tarefas que a
gente tem que cumprir, às vezes acaba deixando de lado uma coisa
importante, mas que naquele momento foi tido como acesso negado”.
(E5).
A rotina da enfermagem, a continuidade intensiva de procedimentos,
de técnicas, que não permitem que você se aproxime do cliente, sequer
para tentar entender”. (E9).
Se você está sobrecarregada, sozinha na UTI, tem aquela questão: o
paciente está tentando comunicar algo contigo, você fica sem paciência
pois está com outro quase parando, com o médico solicitando alguns
procedimentos. É realmente, ás vezes, você se passa e diz, eu não to
entendendo, e não procura entender”. (E11).
Procedendo a análise dessas falas, identificamos que a sobrecarga de trabalho na terapia
intensiva constitui-se um entrave ao estabelecimento do processo de comunicação. Durante nossa
observação na unidade, constatamos que o período matutino é aquele em que os profissionais de
enfermagem encontravam-se mais sobrecarregados. No período vespertino e noturno,
costumeiramente, há uma diminuição da realização de procedimentos técnicos, porém a dinâmica
de trabalho intensa continua, pois dificilmente pudemos encontrar os membros da equipe de
enfermagem sem executar nenhuma atividade de caráter assistencial ou administrativo, na
unidade.
As condições ambientais, a dinâmica de trabalho, a tecnologia, o cumprimento de normas
e rotinas, o tempo necessário para a prestação do cuidado, as atividades administrativas, foram
citados por Silva (2002) e Franco (1999) como fatores que interferem e influenciam no nível de
interação com o cliente e, consequentemente, a comunicação que se estabelece entre eles.
66
Entretanto, a necessidade de execução de procedimentos técnicos na terapia intensiva,
predispõem a que não se dê a atenção adequada às relações com o cliente. Os relatos dos sujeitos
trazem referências a: “...uma série de tarefas que a gente tem que cumprir...”/ “...a continuidade
de procedimentos técnicos...”, o que impede que o profissional pare, observe e identifique aquilo
que o cliente entubado realmente quer expressar e comunicar.
As relações do enfermeiro com o cliente na UTI são pouco expressivas e isso pode ser
decorrência da cultura organizacional do hospital, que notadamente privilegia a técnica e a tarefa
em detrimento das relações interpessoais efetivas. Neste setor hospitalar, que utiliza tecnologias
sofisticadas e precisa atingir seu objetivo imediato, o trabalho dos profissionais pode acabar
subordinado as intervenções técnicas (FRANCO, 1999).
O desenvolvimento da comunicação eficiente requer: tempo, paciência, vontade e
interesse para que haja compreensão do que se quer expressar. Na terapia intensiva nem sempre
há tempo disponível devido aos inúmeros procedimentos a serem realizados, ao quantitativo
elevado de clientes dependentes e instáveis, o que conduz a um afastamento entre enfermeira e
paciente (SILVA , 2002).
Como intervenções adequadas na UTI são sugeridas por Franco (1999), Dalossi (1990),
Silva (2002) que os profissionais devem considerar a necessidade de comunicação na ocasião do
planejamento da assistência ao paciente crítico, para transformar ações técnicas em ações
comunicativas, onde os profissionais possam identificar os problemas dos clientes com base nos
significados que eles atribuem aos fatos e, os clientes possam se expressar e colaborar com o
tratamento.
Assim, através do compartilhamento de sinais verbais e não verbais a equipe de
enfermagem poderá executar o cuidado ao cliente entubado na terapia intensiva, reconhecendo
além das suas necessidades fisiológicas, as emocionais, que devem estar em harmonia para
garantir a recuperação plena do cliente.
67
5- CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo buscou analisar como a equipe de enfermagem vivencia a comunicação com o
cliente submetido à entubação orotraqueal na unidade de terapia intensiva.
Desse modo, ao procedermos a análise percebemos que esse processo é permeado por
emoções e sentimentos, como ansiedade e angústia. Esses sentimentos foram manifestados,
especialmente pela dificuldade de expressão verbal do cliente, aliada à dificuldade de
interpretação da equipe de enfermagem em relação ao que o cliente deseja expressar.
Além disso, outros aspectos dificultam o estabelecimento da comunicação por parte de
equipe tais como a dinâmica de trabalho e a sobrecarga de atividade, dentre outros, os quais
contribuem para que a equipe não permaneça ao lado do cliente por tempo satisfatório para
manter uma interação. Para o cliente, foram encontrados aspectos referentes a própria internação,
ao ambiente de terapia intensiva, o medo da morte e de que o ventilador mecânico pare de
funcionar, não garantindo, assim, a sua sobrevivência.
Nesse contexto, em uma tentativa de minimizar os sentimentos de ansiedade e angústia,
ambos, equipe e cliente preferem afastar-se adotando como mecanismo de defesa a fuga. Porém,
o surgimento desse mecanismo impede que o cliente exteriorize o que necessita, sentindo-se,
dessa maneira, frustrado, e a equipe ao fugir do contato com o cliente, não atende as suas
necessidades.
Ao identificarmos os meios utilizados pela equipe de enfermagem com o cliente para
estabelecer comunicação, encontramos que a comunicação verbal foi um dos meios mais
utilizados por ambos, sendo a fala utilizada pela equipe e a escrita pelo cliente.
Nesse processo, a equipe de enfermagem reconheceu apenas como meio de comunicação
com o cliente a linguagem falada. Essa comunicação, caracterizava-se por mensagens curtas,
breves, normalmente efetuada com o cliente consciente, cujo conteúdo das mensagens esteve
voltado, eminentemente, para a execução de procedimentos técnicos, característica comum da
comunicação estabelecida no setor de terapia intensiva.
Ao observarmos como o profissional de enfermagem comunicava-se, constatamos que o
uso do toque, importante instrumento terapêutico, era utilizado apenas na execução dos
procedimentos técnicos, caracterizando por ser rápido e sem envolvimento efetivo com o cliente.
68
Além do mais, apesar da comunicação escrita ter sido citada como meio utilizado pelo
cliente para se comunicar, durante o período em que realizamos a observação, não identificamos
o estabelecimento desse tipo de comunicação. Ainda, identificamos a comunicação não verbal,
sendo que os sinais percebidos pela equipe de enfermagem eram as expressões faciais,
movimentos de cabeça e gestos com as mãos, utilizados para solicitar ajuda, expressar
sentimentos e chamar atenção para algum outro problema.
Observamos, também, que o técnico de enfermagem, apesar de ser o profissional que,
comumente, permanece ao lado do cliente, utiliza pouco do seu tempo para se comunicar com
ele. O enfermeiro, embutido nas atividades burocráticas e administrativas, reserva tempo ainda
mais reduzido, para estabelecer comunicação com o cliente.
No que se refere às dificuldades do processo de comunicação, entre equipe de
enfermagem intensivista e o cliente entubado, destacamos o uso da prótese ventilatória por parte
do cliente como uma das principais dificuldades, o que impedia o entendimento adequado
daquilo que o cliente desejava comunicar verbalmente.
Por outro lado, observamos que a equipe preocupava-se com o cuidado eminentemente
técnico, relacionado à assistência ventilatória, em detrimento de um cuidado humanizado, em que
o processo de comunicação deva estar inserido.
Um outro fator encontrado, que dificultava a comunicação, esteve relacionado ao
ambiente da terapia intensiva, cuja dinâmica de trabalho intensa, predispõe a falta de tempo para
que haja uma comunicação efetiva.
Apesar da falta de tempo constituir-se em um entrave ao processo de comunicação,
observamos na unidade do estudo que, tanto os técnicos de enfermagem quanto os enfermeiros,
no momento em que permaneciam ao lado do cliente para execução de procedimentos,
realizavam-nos ou em silêncio ou dialogando entre si, sem estabelecer nenhum diálogo com o
cliente.
Deve ser registrado que, além da escassez de tempo, existe de fato, a sobrecarga de
trabalho, o que se constitui um entrave no estabelecimento do processo de comunicação. Nos três
períodos: matutino, vespertino e noturno, onde a dinâmica de trabalho, na unidade, era intensa e,
dificilmente, encontrávamos os membros da equipe de enfermagem sem executar nenhuma
atividade de caráter assistencial ou administrativo.
69
Diante da investigação realizada, e, entendendo que o estabelecimento da comunicação
adequada é indispensável para a execução do cuidado otimizado na unidade de terapia intensiva
ao cliente em uso de prótese ventilatória, trazemos algumas sugestões que julgamos adequadas
para essa execução.
Assim, é indispensável que o tempo disponível do profissional de enfermagem ao lado do
cliente seja valorizado para que se estabeleça comunicação entre eles. Durante a execução dos
procedimentos técnicos, a exemplo do controle de dados vitais, balanço hidroeletrolítico, banho
no leito, realização de curativos dentre outros, é necessário ser criada uma atmosfera que estimule
a comunicação com o cliente, para que ele se sinta encorajado e confiante no profissional que
executa o cuidado.
Durante o tempo de permanência ao lado do cliente, a equipe de enfermagem deve
observá-lo , identificar os sentimentos manifestados, a fim de minimizar a sua ansiedade
relacionada ao tubo traqueal e à internação na UTI. Deve esclarecer ao cliente sobre os aparelhos
de assistência ventilatória que ele faz uso bem como de sua importância para a recuperação do
seu estado de saúde, ou seja, reconhecer que além do tubo orotraqueal existe um ser humano que
precisa ser reconhecido como tal.
Caso seja possível, antes da execução do procedimento de canulação endotraqueal, a
enfermeira deve explicar ao cliente e aos familiares os objetivos do suporte ventilatório, e, juntos,
buscarem estratégias para estabelecer comunicação. Quando não for possível, explicar ao cliente,
logo que ele recobre seu nível de consciência. Assim, o cliente desenvolverá um sentimento de
confiança e irá sentir-se um sujeito ativo no processo de cuidado, facilitando, dessa maneira, o
processo de recuperação.
A equipe de enfermagem deverá também receber treinamento relacionado às técnicas de
comunicação com os clientes, principalmente àqueles impossibilitados de falar, uma vez que é
comum nas UTI´s clientes em uso de prótese ventilatória. Através do aprimoramento da
habilidade técnica em se comunicar, os profissionais minimizarão as dificuldades, os anseios e
frustrações, tanto deles quanto dos clientes, na medida em que se tornarão aptos a decodificar os
sinais verbais e não verbais emitidos. Além do mais, valorizar a experiência diária do cuidado ao
cliente em uso de cânula orotraqueal torna os profissionais mais capazes de decodificar os sinais
verbais e não verbais que ele queira transmitir.
70
Sendo assim, é fundamental que o cliente seja estimulado e encorajado a se comunicar. O
profissional de enfermagem necessita incentivar o cliente a utilizar os meios mais adequados para
estabelecer comunicação. Utilizar-se da criatividade, disponibilizando cartazes ilustrativos,
letreiros, papel, caneta, lápis; enfim, dispor de condições que propiciem o estabelecimento de
uma comunicação adequada com o cliente.
Diante dessas considerações, entendemos que, somente através de uma prática
humanizada é que seremos capazes de valorizar a comunicação do e com o cliente, identificando
os sinais verbais e não verbais inseridos no contexto, percebendo o cliente em toda a sua
complexidade, e não somente em seu processo patológico, ou na cânula orotraqueal, conectada ao
ventilador mecânico, que garantirá o suporte ventilatório na UTI.
Assim, entendemos que este estudo, assim como a própria ciência, não encerra uma
verdade, mas acreditamos que ele pode contribuir para auxiliar na efetivação da comunicação
com esse cliente, oferecendo suporte tanto aos profissionais intensivistas, quanto aos graduandos
em enfermagem na execução do cuidado a esse cliente em especial.
71
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revisão técnica Ana Cristina de Sá. São Paulo: Reichmann e Autores Editores, 2005. (p.68-113).
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31. ed. Petrópolis: Vozes, 1993.
75
APÊNDICES
76
APÊNDICE A
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
ESCOLA DE ENFERMAGEM
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO
CURSO DE MESTRADO
TÍTULO DO PROJETO: Comunicação entre equipe de enfermagem e cliente
submetido à entubação orotraqueal
Feira de Santana, _____ de ________________ de 2006
TERMO DE CONSENTIMENTO INFORMADO
Nós, José Lucimar Tavares (orientador) e Alyne Henri dos Santos Motta (pesquisadora)
convidamos você a participar como entrevistado (a) de um estudo, desenvolvido no Curso de Mestrado da
Escola de Enfermagem da Universidade Federal da Bahia, que tem como objetivo analisar a vivência da
comunicação estabelecida entre a equipe de enfermagem e o cliente submetido à entubação orotraqueal na
unidade de Terapia Intensiva.
Conforme determina a Resolução N. 196/96, do Conselho Nacional de Saúde, que trata dos
aspectos éticos da pesquisa envolvendo seres humanos o trabalho requer a participação voluntária dos
profissionais de enfermagem..
Serão observados os profissionais que, durante o período da pesquisa, ofereceremm cuidados às
pessoas em uso de prótese ventilatória. Posteriormente, na tentativa da entrevistadora compreender como a
equipe de enfermagem vivencia a comunicação com o cliente entubado na terapia intensiva, os
profissionais serão entrevistados, tendo seus depoimentos gravados, onde poderão falar livremente sobre o
tema proposto do estudo.
Essa entrevista será gravada em gravador digital, e será realizada em dias e horários previamente
estabelecidos. Após, será possível ouvir as falas gravadas, retirar ou acrescentar qualquer informação. O
material da gravação será arquivado no computador e após cinco anos será destruído (deletado). Nós,
pesquisadores, garantiremos o anonimato, privacidade e a confidencialidade dos dados. Buscaremos
respeitar a integridade intelectual, social e cultural. Será possível desistir ou anular este consentimento em
qualquer fase da pesquisa sem acarretar qualquer prejuízo. Os pesquisadores e entrevistados (as) não serão
remunerados (as) pela participação no estudo. As despesas do projeto ficam a cargo dos pesquisadores.
No momento que houver necessidade de esclarecimento de qualquer dúvida sobre a sua
participação na pesquisa, poderá entrar em contato com os pesquisadores através do telefone (71) 3332-
8224, na Escola de Enfermagem da Universidade Federal da Bahia.
De posse das informações sobre os objetivos da pesquisa, caso concorde em participar do
estudo, você pode autorizar ou não que as informações coletadas sejam utilizadas para construção da
dissertação de mestrado, bem como para a divulgação dos resultados obtidos, somente para fins
científicos. Caso você concorde em participar do estudo voluntariamente, por favor, assine esse termo de
consentimento, ficando com uma cópia em suas mãos.
_______________________ _______________________
Assinatura do(a) profissional Ass.da Pesquisadora
77
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
ESCOLA DE ENFERMAGEM
TÍTULO DO PROJETO: Comunicação entre equipe de enfermagem e cliente
submetido à entubação orotraqueal
APÊNDICE B- ROTEIRO DE OBSERVAÇÃO
1- Ao aproximar-se do cliente portador de prótese ventilatória, a equipe de enfermagem tenta
comunicar-se com o mesmo?
2- Como a equipe de enfermagem tenta comunicar-se com o cliente entubado?
3- Como o cliente entubado tenta comunicar-se com a equipe de enfermagem?
4- Qual o tipo de comunicação que a equipe de enfermagem estabelece com o cliente
entubado?
5- Durante a execução de procedimentos interage com o cliente?
6- A equipe de enfermagem tenta compreender o que o cliente entubado quer comunicar?
78
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
ESCOLA DE ENFERMAGEM
TÍTULO DO PROJETO: Comunicação entre equipe de enfermagem e cliente
submetido à entubação orotraqueal
APÊNDICE C- INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS
ROTEIRO DE ENTREVISTA A SER APLICADO À EQUIPE DE ENFERMAGEM
a) DADOS DE IDENTIFICAÇÃO
NOME (iniciais):
IDADE:
SEXO:
CATEGORIA PROFISSIONAL:
NÍVEL DE ESCOLARIDADE:
TEMPO DE SERVIÇO:
b) DADOS DA ENTREVISTA
1- Como é para o sr
o
(a) vivenciar a experiência de comunicar-se com o cliente entubado?
2- Que meios o sr
o
(a) utiliza para comunicar-se com o cliente entubado?
3- Qual os meios que o cliente entubado utilizou para comunicar-se com o sr
o
(a)?
3- O sr
o
(a) percebe facilidades neste processo de comunicação com o cliente entubado ? Quais?
4- Quais dificuldades o sr
o
(a) percebe neste processo de comunicação?
5- Conseguiu, através do meio utilizado para comunicar-se com o cliente entubado, entender o
que ele queira transmitir e atendê-lo a contento?
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