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UNIVERSIDADE
FEDERAL DE SANTA MARIA
CENTRO
DE TECNOLOGIA
PROGRAMA
DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL
CONTRIBUIÇÃO PARA IDENTIFICAÇÃO DOS
PRINCIPAIS AGENTES E MECANISMOS DE
DEGRADAÇÃO EM EDIFICAÇÕES
DA VILA BELGA
DISSERTAÇÃO
DE MESTRADO
Francisco Queruz
Santa Maria, RS, Brasil
2007
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CONTRIBUIÇÃO PARA IDENTIFICAÇÃO DOS PRINCIPAIS
AGENTES E MECANISMOS DE DEGRADAÇÃO EM
EDIFICAÇÕES DA VILA BELGA
por
Francisco Queruz
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado do Programa de
Pós-Graduação em Engenharia Civil, Área de Concentração em
Construção Civil e Preservação Ambiental, da Universidade Federal de Santa
Maria (UFSM, RS), como requisito parcial para obtenção do grau de
Mestre em Engenharia Civil.
Orientador: Prof. Dr. Denise de Souza Saad
Santa Maria, RS, Brasil
2007
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Universidade Federal de Santa Maria
Centro de Tecnologia
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil
A Comissão Examinadora, abaixo assinada,
aprova a Dissertação de Mestrado
CONTRIBUIÇÃO PARA IDENTIFICAÇÃO DOS PRINCIPAIS
AGENTES E MECANISMOS DE DEGRADAÇÃO
EM EDIFICAÇÕES DA VILA BELGA
elaborada por
Francisco Queruz
como requisito parcial para obtenção do grau de
Mestre em Engenharia Civil
COMISSÃO EXAMINADORA:
Denise de Souza Saad, Dr.
(Presidente/Orientador)
Herbert Martins Gomes, Dr. (UFRGS)
Ricardo de Souza Rocha, Dr. (UFSM)
Santa Maria, 30 de novembro de 2007.
AGRADECIMENTOS
Gostaria de demonstrar o meu pleno agradecimento, ao findar desta longa etapa:
a Deus, que está sempre ao lado, sendo o porto seguro e conduzindo a vida com
maestria;
à Universidade Federal de Santa Maria; que foi, desde a graduação, a base para os
estudos realizados, principalmente no Curso de Arquitetura e Urbanismo, e que ofertou
também a possibilidade da pós-graduação;
ao Centro Universitário Franciscano, na direção, que confiou na minha formação
continuada, e nos colegas do Curso de Arquitetura e Urbanismo, colegas e amigos, que me
apoiaram e com quem divido o feliz exercício da profissão;
à Bianca, namorada, companheira e futura esposa, pelo amor e apoio sempre
demonstrado ao meu lado;
a Jorge e Sílvia, pai e mãe, por não medirem esforços em minha causa, serem o
melhor exemplo que conheço, e Ângela e Fábio, irmãos, por me mostrarem e serem família,
no melhor sentido dessa palavra;
a todos os amigos, próximos e distantes, que sempre souberam o valor da verdadeira
amizade e, em especial, ao Lucas e ao Guilherme;
à Denise, minha orientadora, que esteve sempre engajada à causa patrimonial, e
proporcionou que esse trabalho fosse elaborado;
aos alunos da UNIFRA, que me fazem buscar sempre mais e, em especial, à Juliana
Guma, Letícia Alves, Juliano da Silva e Luciane Herter, que auxiliaram nos levantamentos
das edificações;
e enfim, aos moradores da Vila Belga, em especial à Idalina Mirasso, que
compreenderam a importância do trabalho e permitiram os levantamentos nas edificações.
RESUMO
Dissertação de Mestrado
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil
Universidade Federal de Santa Maria
CONTRIBUIÇÃO PARA IDENTIFICAÇÃO DOS PRINCIPAIS
AGENTES E MECANISMOS DE DEGRADAÇÃO
EM EDIFICAÇÕES DA VILA BELGA
AUTOR: FRANCISCO QUERUZ
ORIENTADOR: DENISE DE SOUZA SAAD
Data e Local da Defesa: Santa Maria, 30 de novembro de 2007.
O desenvolvimento de ações e políticas de preservação patrimonial adquire cada vez
mais importância para as sociedades que buscam preservar as suas heranças, seus bens. Este
trabalho apresenta um estudo de caso múltiplo, elaborado sobre as edificações da Vila Belga,
de Santa Maria, para identificar os principais agentes e mecanismos envolvidos na
deterioração dessas edificações tombadas e importantes para a comunidade. A proposta
apoiou-se na premissa de que somente com o conhecimento dos fatores que incidem sobre as
edificações torna-se possível planejar sua manutenção. Iniciando-se com a revisão dos
conceitos de conservação e restauração do patrimônio cultural, por meio de uma retrospectiva
histórica, chegou-se às atuais definições, plurais e multifacetadas. Também foram estudadas
as características das edificações, a reabilitação e as manifestações patológicas a que
poderiam ser expostas, o que possibilitou elaborar uma classificação própria de agentes e
mecanismos de degradação. Os estudos de caso elaborados por meio de levantamentos de
campo permitiram que se obtivesse um panorama geral dos processos patológicos mais
freqüentes e, assim, que se inferisse sobre as possíveis causas envolvidas nesse processo. Os
resultados alcançados mostraram que existe um grande conjunto de patologias que incidem
sobre as edificações e que são, em sua maioria, atuantes nas camadas superficiais das
elevações. Também se pôde observar que os danos originados pelos condicionantes climáticos
e ambientais não possuem, em sua maioria, dependência com algum tipo específico de
patologia, o que evidencia as ações de negligência, as intervenções indevidas e a falta de
manutenção preventiva nas edificações.
Palavras-chave: conservação; degradação; patologia; Vila Belga.
ABSTRACT
Master’s degree dissertation
Post-graduation in Civil Engineering
Universidade Federal de Santa Maria
CONTRIBUTION ON THE IDENTIFICATION OF THE MAIN AGENTS
AND MECHANISMS OF DEGRADATION IN THE BELGIAN VILLAGE
CONSTRUCTIONS
AUTHOR: FRANCISCO QUERUZ
TEACHER: DENISE DE SOUZA SAAD
Date and Place of Defense: Santa Maria, November 30, 2007.
The development of actions and policies of patrimonial preservation acquires each
time more importance for the societies that are trying to preserve its cultural heritages. This
work presents a multiple case study performed in the buildings of the Belgian Village, in
Saint Maria, in order to identify the most important agents and mechanisms that are involved
in the deterioration of these constructions, which are important for the community. The
proposal was supported by the premise that only with the knowledge of the factors that take
place on the constructions it would be possible to plan its maintenance. This study initiated
with the revision of the concepts of conservation and restoration of the cultural heritage, by a
historical retrospect, and had arrived to the plural and multifaceted definitions of those terms.
Also the pathological characteristics of the constructions, their rehabilitation and problems
had been studied. These made possible to describe a proper classification of agents and
mechanisms of degradation. The elaborated case studies was performed by field inspection
and had allowed a generalized analysis of the more frequent problems and, thus, that would be
inferred about the possible involved causes in this process. The results showed that a great set
of problems that happen on the buildings occur in the superficial layers in its majority. Also it
could be observed that the damages originated by climatic and environmental condition do not
possess dependence with some specific type of problem in its majority, what it evidences the
actions of recklessness, improper interventions and lack of preventive maintenance in the
constructions.
Keywords: conservation; degradation; problems; Belgium Village.
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 – Igreja de Santa Maria Novela, de Florença: possuía projeto de
Giorgio Vasari, e teve sua elevação proposta por Alberti, integrando-se ao
projeto anterior (FLORENCE SANTAMARIANOVELLA20020318.JPG) ............... 21
FIGURA 2 – Vedute (vista) do Arco de Tito, em Roma, de Giovanni Battista
Piranesi, mostrando o ponto de perspectiva e a escala entre os edifícios e as
figuras humanas representadas (EA-296_EST%2057.JPG) ......................................... 23
FIGURAS 3 e 4 – As duas vistas do Coliseu exibem, na finalização das arcadas,
os reforços executados em mármore e tijolos para consolidar a ruína
(EURO28.JPG; EURO29.JPG) ..................................................................................... 24
FIGURA 5 – Vista atual do Arco de Tito, mostrando as reintegrações executadas
por Raffaele Stern e Giuseppe Valadier, a partir de 1820, com o cuidado
tomado para não ocorrer a falsificação com os elementos adicionados (ARCO-
TITO1.JPG) ................................................................................................................... 25
FIGURA 6 – Parte da chamada “Galeria dos Reis”, na elevação oeste da
Notre-Dame de Paris, reconstruída por Viollet-le-Duc (P1.JPG) ................................. 27
FIGURA 7 – Croqui elaborado por Ruskin, no qual pode ser percebida a ação de
vegetações de pequeno porte sobre a edificação, a visão romântica da preexistência
(RUSKIN, 1989) ........................................................................................................... 29
FIGURA 8 – Foto atual da torre do Filarete, no Castelo Sforzesco, em Milão. A
torre foi reconstruída com projeto de Luca Beltrami, baseado em alguns quadros
que haviam sido pintados, anteriores a sua queda
(CASTELLO_SFORZESCO1024X768.JPG) .............................................................. 32
FIGURA 9 – Classificação de bens proposta por Alois Riegl em O Culto
Moderno aos Monumentos (adaptado de RIEGL, 1999) .............................................. 34
FIGURA 10 – Torre reconstruída no século XX, localizada onde ficava o palácio
de Diocleciano. Atual cidade de Split, na Croácia (JOKILEHTO, 1999, p. 219) ........ 36
FIGURA 11 – Vilarejo da Sicília/Itália no momento da chegada as tropas
americanas. A destruição causada pela Segunda Guerra Mundial mudou a forma
de intervir sobre o patrimônio (VILAREJO EM RUINAS.JPG) ................................. 39
FIGURA 12 – Reconstituição em baixo relevo – marcados com círculos,
elaborados em mármore, não competem com a preexistência, em San Lorenzo
Fuori le Mura (JOKILEHTO, 1999, p. 225) ................................................................ 41
FIGURA 13 – No Palazzo dell Orologio, em Pisa, o terceiro nível de esquadrias
exibe uma janela gótica, que destoa da unidade potencial do edifício, clássico
(450PX-PISA. PALAZZO_DELL_OROLOGIO.JPG) ............................................... 43
FIGURA 14 – Minas de cobre em Burra (Austrália), contempladas pelas edições
da Carta de Burra, que aprimoraram os conteúdos da Carta de Veneza (800PX-
BURRA_MINE_WORKS.JPG) ................................................................................... 46
FIGURA 15 – Estátua eqüestre de Marco Aurélio, imperador romano: localizada
na Praça do Capitólio, em Roma, desde o século XVI, no processo de restauração,
foi retirada para o Museu do Capitólio em 1997, pela degradação que vinha
sofrendo. No local do original foi colocada uma réplica, para manter a ambiência
do sítio (450PX-STATUA_MARCO_AURELIO_ MUSEI_CAPITOLINI_
FRONTE2.JPG) ........................................................................................................... 48
FIGURA 16 – Gráfico com fases do desempenho de uma edificação histórica
(LERSCH, 2003, p. 37) ................................................................................................ 53
FIGURA 17 – Quadro de classificação das ações causadoras de danos e
degradações, adaptado de ICOMOS (2001, p. 18–20) ................................................. 57
FIGURA 18 – Quadro de classificação de deteriorações proposto por Fitch
(1981, p. 39) .................................................................................................................. 57
FIGURA 19 – Quadro de classificação de deteriorações proposto por Feilden
(2003, p. 90), [tradução nossa] ...................................................................................... 59
FIGURA 20 – Quadro dos principais agentes de deterioração segundo Lersch
(2003, p. 62-89) ............................................................................................................. 60
FIGURA 21 – Quadro resultante dos principais agentes de deterioração, utilizado
para este estudo ............................................................................................................ 61
FIGURA 22 – Croqui com a indicação dos elementos construtivos em uma
unidade residencial ........................................................................................................ 62
FIGURA 23 – Soco de edificação, exibindo uma gateira (ACERVO DO
AUTOR, 2005) .............................................................................................................. 63
FIGURA 24 – Conjunto de janelas do tipo guilhotina, com os trabalhos em
argamassa ao redor (ACERVO DO AUTOR, 2005) .................................................... 64
FIGURA 25 – Forro do tipo saia e camisa (ACERVO DO AUTOR, 2003) ................ 65
FIGURA 26 – Piso tabuado: assoalho (ACERVO DO AUTOR, 2007) ....................... 66
FIGURA 27 – Adaptação do organograma proposto do processo construtivo
(MESEGUER, 1991, p. 17) ......................................................................................... 67
FIGURA 28 – Quadro explicativo das características intrínsecas à edificação ........... 67
FIGURA 29 – carta solar de Santa Maria, com a indicação do movimento
aparente do sol, e com a indicação dos solstícios e equinócios (PLENTZ;
BEVILACQUA, 1998) ................................................................................................ 69
FIGURA 30 – Espectro eletromagnético, com destaque para os fachos de luz
visível (VAREJÃO-SILVA, 2000) ............................................................................... 79
FIGURA 31 – Gráfico de normais de horas de insolação em Santa Maria
(adaptado de MACHADO, 1950) ................................................................................. 79
FIGURA 32 – Gráfico com as normais das médias mensais das temperaturas
médias, máximas e mínimas (adaptado de MACHADO, 1950) ................................... 81
FIGURA 33 – Gráfico com a composição aproximada do ar (Adaptado de
RECURSOS NATURAIS – AR, 2007) ........................................................................ 83
FIGURA 34 – Gráfico com as normais de precipitação mensal em Santa
Maria (adaptado de MACHADO, 1950) ....................................................................... 87
FIGURA 35 – Gráfico com os três regimes de retenção de umidade: umidade
higroscópica (regiões A-C), umidade capilar (região D) e o regime
supersaturado (região E) (adaptado de STRAUBE, 2004) ........................................... 88
FIGURA 36 – Croqui com elucidação característica de presença de umidade
acidental (KLÜPPEL; SANTANA, 2006) .................................................................... 90
FIGURA 37 – Esquema de biofilme e adesão de microorganismos ao substrato
(SAAD, 2003) ............................................................................................................... 93
FIGURA 38 – Assoalho de edificação da Vila Belga atacado por cupins
(ACERVO DO AUTOR) .............................................................................................. 96
FIGURA 39 – Foto da Vila Belga, em 2004: a pavimentação da via contribui
para a impermeabilização do solo na área (ACERVO DO AUTOR) ......................... 101
FIGURA 40 – Foto da estação férrea de Santa Maria em agosto de 2006:
roubo das telhas da cobertura acelera processo de degradação interna
(ACERVO DO AUTOR) ............................................................................................ 103
FIGURA 41 – Fluxograma de desenvolvimento da pesquisa ..................................... 107
FIGURA 42 – A Vila Belga no início do Século XX (LOPES, 2002, p. 181) ........... 110
FIGURA 43 – Planta de situação da Vila Belga, Estação e Cooperativa dos
Ferroviários. O polígono grifado em laranja mostra o limite da área das
edificações residenciais (RIO GRANDE DO SUL, 2002) ......................................... 112
FIGURA 44 – Vista panorâmica da rua Ernesto Beck: em outubro de 2004,
percebia-se o mau estado de conservação das edificações e do entorno
imediato (ACERVO DO AUTOR) ............................................................................. 113
FIGURA 45 – Edificação no momento do tombamento estadual (IPHAE,
2000; BELTRAMI, 2000 apud PREFEITURA MUNICIPAL DE SANTA
MARIA, 2003) ............................................................................................................ 115
FIGURA 46 – Estado de conservação da edificação em 2003 (PREFEITURA
MUNICIPAL DE SANTA MARIA, 2003; WOLLE, 2003) ...................................... 115
FIGURA 47 – Estado de conservação da edificação em outubro de 2004
(ACERVO DO AUTOR) ............................................................................................ 115
Figura 48 – Mapa de implantação da Vila Belga. As edificações grifadas em
cinza fazem parte do conjunto, enquanto que as grifadas em preto, e numeradas,
foram as levantadas. (Fonte: Adaptado de PREFEITURA MUNICIPAL DE
SANTA MARIA – SEPLAN, UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA
MARIA -CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO, 2002) ............................ 117
FIGURA 49 – Gráfico com a incidência de patologias nas elevações principais
das edificações ............................................................................................................ 119
FIGURA 50 – Gráfico com a incidência de patologias nas elevações principais
voltadas a Norte (N) .................................................................................................... 120
FIGURA 51 – Gráfico com a incidência de patologias nas elevações principais
voltadas a Sul (S) ........................................................................................................ 120
FIGURA 52 – Gráfico com a incidência de patologias nas elevações principais
voltadas a Leste (L) ..................................................................................................... 121
FIGURA 53 – Gráfico com a incidência de patologias nas elevações principais
voltadas a Oeste (O)..................................................................................................... 121
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 – Coeficientes de expansão térmica de materiais ............................................ 81
TABELA 2 – Identificação da orientação principal das edificações levantadas ........ 118
TABELA 3 – Identificação das demais orientações das edificações levantadas ........ 122
TABELA 4 – Patologias identificadas em elevações, exceto as principais,
orientadas a Norte (N) ................................................................................................. 122
TABELA 5 – Patologias identificadas em elevações, exceto as principais,
orientadas a Sul (S) ..................................................................................................... 123
TABELA 6 – Patologias identificadas em elevações, exceto as principais,
orientadas a Leste (L) .................................................................................................. 123
TABELA 7 – Patologias identificadas em elevações, exceto as principais,
orientadas a Oeste (O) ................................................................................................. 123
TABELA 8 – Patologias identificadas em elevações, exceto as principais e
externas, orientadas a Norte (NI) ................................................................................ 124
TABELA 9 – Patologias identificadas em elevações, exceto as principais e
externas, orientadas a Sul (SI) ..................................................................................... 125
TABELA 10 – Patologias identificadas em elevações, exceto as principais e
externas, orientadas a Leste (LI) ................................................................................. 125
TABELA 11 – Patologias identificadas em elevações, exceto as principais e
externas, orientadas a Oeste (OI) ................................................................................ 125
TABELA 12 – Teste exato de Fisher para as patologias das elevações
principais voltadas a Norte .......................................................................................... 127
TABELA 13 – Teste exato de Fisher para as patologias das elevações
principais voltadas a Sul ............................................................................................ 127
TABELA 14 – Teste exato de Fisher para as patologias das elevações
principais voltadas a Leste .......................................................................................... 128
TABELA 15 – Teste exato de Fisher para as patologias das elevações
principais voltadas a Oeste .......................................................................................... 129
TABELA 16 – Degradação do reboco ........................................................................ 131
TABELA 17 – Fissuras no reboco .............................................................................. 131
TABELA 18 – Rachaduras nos tijolos .........................................................................131
TABELA 19 – Fenda na parede ...................................................................................132
TABELA 20 – Material faltante ................................................................................. 132
TABELA 21 – Degradação da pintura por intemperismo prolongado ....................... 132
TABELA 22 – Corrosão química ou galvânica ...........................................................132
TABELA 23 – Umidade de infiltração ....................................................................... 133
TABELA 24 – Vegetação ............................................................................................133
TABELA 25 – Consumo por insetos .......................................................................... 133
TABELA 26 – Biofilme .............................................................................................. 133
TABELA 27 – Descolamento (empolamento) do reboco ........................................... 134
TABELA 28 – Remendos no reboco com argamassa de cimento .............................. 134
TABELA 29 – Manchamento do elemento ou pintura por água ................................ 135
TABELA 30 – Ressecamento/desagregação por radiação solar ................................. 135
TABELA 31 – Apodrecimento por umidade/fungos/algas ......................................... 136
TABELA 32 – Esfoliação por intemperismo prolongado .......................................... 136
LISTA DE ANEXOS
ANEXO A – Edificação 01 ......................................................................................... 150
ANEXO B – Edificação 02 ......................................................................................... 152
ANEXO C – Edificações 03 e 04 ................................................................................ 154
ANEXO D – Edificações 05 e 06 ............................................................................... 157
ANEXO E – Edificação 07 ......................................................................................... 161
ANEXO F – Edificação 08 ......................................................................................... 163
ANEXO G – Edificação 09 ......................................................................................... 165
ANEXO H – Edificação 10 ......................................................................................... 167
ANEXO I – Edificação 11 .......................................................................................... 169
ANEXO J – Edificação 12 .......................................................................................... 171
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 16
2 CONCEITOS ...................................................................................................................... 19
2.1 Conceitos acerca da conservação e restauração do patrimônio cultural .................. 19
2.1.1 Renascimento ................................................................................................................ 19
2.1.2 Itália: meados do século XVIII a início do século XIX ................................................ 22
2.1.3 França: final do século XVIII a meados do século XIX ................................................ 23
2.1.4 Inglaterra: final do século XVIII e século XIX ............................................................. 27
2.1.5 Itália: final do século XIX ............................................................................................. 29
2.1.6 França: final do século XIX .......................................................................................... 31
2.1.7 Países germânicos: final do século XIX ........................................................................ 32
2.1.8 Ascensão das convenções: início do século XX ............................................................ 35
2.1.9 O período do segundo pós-guerra .................................................................................. 38
2.1.10 As recomendações da década de 1960 até o final do século XX ................................ 43
2.1.11 A atualidade ................................................................................................................. 45
2.1.11.1 Conservação .............................................................................................................. 48
2.1.11.2 Reconstituição .......................................................................................................... 48
2.1.11.3 Posturas comumente adotadas .......................................................................................... 50
2.2 As manifestações patológicas e a reabilitação do patrimônio ..................................... 51
2.2.1 Durabilidade e vida útil das edificações ........................................................................ 52
2.2.2 Manutenção e conservação ............................................................................................ 54
3 FATORES DE DEGRADAÇÃO ...................................................................................... 56
3.1 Percepção geral de fatores de degradação ................................................................... 56
3.2 Fatores de degradação aplicados à conservação e restauração do patrimônio
cultural ................................................................................................................................... 56
3.3 Características das edificações ...................................................................................... 62
3.3.1 Caracterização dos materiais e técnicas construtivas utilizadas na Vila Belga ............. 62
3.3.1.1 Alicerces ......................................................................................................................63
3.3.1.2 Paredes externas ......................................................................................................... 63
3.3.1.3 Paredes internas .......................................................................................................... 64
3.3.1.4 Aberturas .................................................................................................................... 64
3.3.1.5 Cobertura .................................................................................................................... 65
3.3.1.6 Pisos ............................................................................................................................ 65
3.3.2 Análise das características intrínsecas às edificações .................................................... 66
3.3.2.1 Ambiente .................................................................................................................... 68
3.3.2.1.1 Sítio .......................................................................................................................... 68
3.3.2.1.2 Entorno .................................................................................................................... 69
3.3.2.2 Materiais ..................................................................................................................... 71
3.3.2.2.1 Cerâmicos ................................................................................................................ 71
3.3.2.2.2 Madeiras .................................................................................................................. 72
3.3.2.2.3 Pedras ...................................................................................................................... 72
3.3.2.2.4 Metais ...................................................................................................................... 73
3.3.2.3 Componentes .............................................................................................................. 73
3.3.2.3.1 Fundações ................................................................................................................ 74
3.3.2.3.2 Paredes externas e medianeiras ............................................................................... 74
3.3.2.3.3 Paredes internas ....................................................................................................... 74
3.3.2.3.4 Pisos e forros ........................................................................................................... 75
3.3.2.3.5 Argamassas .............................................................................................................. 75
3.3.2.3.6 Cobertura ................................................................................................................. 76
3.4 Principais agentes e mecanismos de degradação ......................................................... 77
3.4.1 Agentes ambientais ou climáticos ................................................................................. 78
3.4.1.1 Radiação solar ............................................................................................................ 78
3.4.1.2 Temperatura ................................................................................................................ 80
3.4.1.3 Ar ................................................................................................................................ 82
3.4.1.3.1 Constituintes do ar ................................................................................................... 82
3.4.1.3.2 Vento ....................................................................................................................... 84
3.4.1.4 Água ........................................................................................................................... 85
3.4.1.4.1 Mecanismos de transporte de umidade nos materiais ............................................. 85
3.4.1.4.2 Origem da umidade nos materiais ........................................................................... 86
3.4.1.4.2.1 Umidade de infiltração ......................................................................................... 86
3.4.1.4.2.2 Umidade ascensional ............................................................................................ 87
3.4.1.4.2.3 Umidade por condensação .................................................................................... 89
3.4.1.4.2.4 Umidade de obra ................................................................................................... 89
3.4.1.4.2.5 Umidade acidental ................................................................................................ 90
3.4.1.4.3 Conseqüências da presença de umidade nas edificações ......................................... 90
3.4.2 Agentes biológicos ........................................................................................................ 92
3.4.2.1 Microorganismos ........................................................................................................ 92
3.4.2.1.1 Fungos ..................................................................................................................... 93
3.4.2.1.2 Algas ........................................................................................................................ 93
3.4.2.1.3 Bactérias .................................................................................................................. 94
3.4.2.2 Vegetação ................................................................................................................... 94
3.4.2.3 Insetos ......................................................................................................................... 95
3.4.2.4 Animais de pequeno porte .......................................................................................... 97
3.4.2.5 Uso e ação do homem ................................................................................................. 97
3.4.2.5.1 Falta de manutenção preventiva .............................................................................. 98
3.4.2.5.2 Intervenções indevidas ............................................................................................ 99
3.4.2.5.3 Desenvolvimento urbano ....................................................................................... 100
3.4.2.5.4 Vandalismo ............................................................................................................ 102
3.4.2.5.5 Negligência ............................................................................................................ 103
3.4.3 Fenômenos excepcionais da natureza .......................................................................... 104
3.4.3.1 Inundações ................................................................................................................ 104
3.4.3.2 Ventos de grande intensidade ................................................................................... 105
3.4.3.3. Descargas elétricas atmosféricas ............................................................................. 105
4 METODOLOGIA ............................................................................................................ 107
5 ESTUDO DE CASO MÚLTIPLO: EDIFICAÇÕES DA VILA BELGA .................... 110
5.1 Identificação e histórico da Vila Belga ....................................................................... 110
5.2 Situação atual ................................................................................................................ 114
5.3 Seleção e levantamento das edificações ...................................................................... 116
5.4 Resultados ..................................................................................................................... 118
5.4.1 Análise descritiva ......................................................................................................... 118
5.4.2 Análise de cruzamentos................................................................................................ 126
6 CONCLUSÃO ...................................................................................................................138
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................. 141
ANEXOS ............................................................................................................................. 150
16
1 INTRODUÇÃO
O desenvolvimento de subsídios e políticas de preservação patrimonial apresenta-se
hoje como um processo crescente, merecedor das atenções de sociedades que se preocupam
com suas heranças, seus bens. O objetivo das diversas entidades envolvidas com essa
problemática deve ser agir, dentro das suas possibilidades, de forma a contribuir para que seus
herdeiros ainda possam ter o direito a presenciar bens representativos de suas cidades e,
assim, refletir e projetar seu futuro. Este trabalho iniciou-se com o intuito de auxiliar nesse
processo de conservação da memória, ao analisar os fatores que levaram à degradação da Vila
Belga, um conjunto de edificações tombadas, em 2000, pelo Instituto do Patrimônio Histórico
e Artístico do Estado (IPHAE) e que foi construído no início do século XX, em Santa Maria,
no Rio Grande do Sul.
A compreensão dos processos de degradação de edificações históricas que se
desenvolveram no município parte de uma devida leitura de contexto. Pode-se perceber uma
soma de fatores que levam ao descaso com os remanescentes arquitetônicos, mesmo os já
reconhecidos pela comunidade como de interesse de preservação. A falta de políticas
municipais de reconhecimento e valorização de bens patrimoniais, constatada pela
inexistência de ações eficazes e de corpo técnico capaz de direcionar as ações necessárias,
somada ao desconhecimento do real valor dos bens pela população, são algumas razões para
se reconhecer o presente e o futuro que se desvelam como bastante preocupantes.
Especificamente no caso das edificações analisadas neste trabalho, que compõem parte
da Vila Belga, a situação apresenta ainda mais alguns agravantes. As condições financeiras
dos moradores, oriundos de famílias ferroviárias, de forma geral, permitem poucas
possibilidades de reparos adequados. A forma de aquisição das edificações na segunda metade
da década de 1990, compradas da Rede Ferroviária Federal S.A. (RFFSA), também gerou
dificuldades substanciais.
O reconhecimento da falta de preparo dos diversos agentes diretamente ligados à
preservação de bens históricos em Santa Maria não se constitui, porém, no único entrave a
garantir sua conservação. Não existem estudos que relacionem as variáveis locais ligadas a
clima, sítio e ambiente com as técnicas construtivas que eram utilizadas nas edificações do
início do século XX. Essa constatação é importante devido à grande variação de condições
que podem ser percebidas dentro do Brasil, e mesmo dentro do Rio Grande do Sul, e o seu
17
entrelaçamento com as diversas formas de se edificar nesse período.
O objetivo primeiro deste estudo é, portanto, identificar os principais fatores e
mecanismos de deterioração a que estão submetidas as edificações do referido conjunto, por
meio do estudo de suas patologias. Para tanto, partiu-se de um conseqüente embasamento
teórico sobre os conceitos de conservação e restauração do patrimônio cultural edificado e os
conceitos e classificações ligados aos fatores e mecanismos atuantes e promotores de
degradações. Tornou-se necessária, também, a realização de um levantamento de campo em
parte das edificações para observação das patologias, permitindo, assim, classificar, listar as
suas incidências e reconhecer suas causas.
Os capítulos 2 e 3 compõem a revisão bibliográfica desenvolvida neste trabalho. O
segundo – Conceitos – tem a intenção, no tópico inicial, de definir os termos conservação e
restauração, fazendo uso, para tanto, de uma retrospectiva histórica. Já o tópico subseqüente
introduz a visão técnica acerca do tema, desenvolvendo uma revisão sobre a durabilidade e a
manutenção de edificações.
No capítulo 3, desenvolve-se o estudo sobre fatores de degradação a que bens
edificados estão submetidos. Para tanto, elaborou-se um paralelo entre a degradação em
edificações atuais e mais antigas e uma revisão da metodologia apresentada em bibliografias
diversas que classificam os processos patológicos construtivos. A partir da definição de uma
forma de classificação dos processos, foram listados os materiais e as técnicas construtivas
utilizadas nas edificações foco do estudo e compilados os principais agentes e mecanismos de
degradação.
Após a revisão bibliográfica, apresenta-se, no capítulo 4, a metodologia utilizada para
o desenvolvimento da pesquisa. Nesse sentido, foi elaborado um fluxograma com todas as
etapas desta proposta investigativa, seqüencialmente descritas em seus principais aspectos.
Compreende a revisão, o processo de escolha das amostras no conjunto edificado, os
elementos levantados e os resultados obtidos nos levantamentos, discussões e análises, além
das considerações finais.
No capítulo 5, desenvolve-se a identificação mais precisa a respeito do conjunto em
estudo, a Vila Belga. Apresenta a evolução histórica do conjunto e sua situação atual, com o
objetivo de cercar o tema e captar os indícios que possam ter levado ao estado de conservação
em que se encontram hoje. Também contém os resultados dos levantamentos patológicos
elaborados e as principais inferências acerca das causas que possam ter gerado tais patologias.
Por fim, no capítulo 6, são apresentadas as conclusões que o estudo proporcionou,
ressaltando-se o quanto a Vila Belga sofre com a falta de cuidados dos seus responsáveis
18
privados (proprietários) e públicos (governos). Nessa parte final, apresentam-se, ainda,
sugestões de trabalhos que podem ser elaborados dentro dessa temática, visando-se a
contribuir com o estudo e com a permanência das edificações.
19
2 CONCEITOS
2.1 Conceitos acerca da conservação e restauração do patrimônio cultural
A conservação do patrimônio cultural pode ser entendida pela união das definições de
conservar e de patrimônio cultural. Segundo Ferreira (2004), conservar é resguardar de dano ou
deterioração, ou de acordo com a Carta de Burra, de 1980, mais relacionada ao estudo, como os “[...]
cuidados a serem dispensados a um bem para conservar-lhe as características que apresentarem uma
significação cultural [...]” (apud CURY, 2000, p. 247). A definição de patrimônio cultural, segundo a
Conferência Geral da Unesco – 17ª sessão, de 1972, compreende os monumentos, conjuntos e sítios
“que tenham um valor excepcional do ponto de vista da história, da arte ou da ciência” (CURY, 2000,
p. 178). Já a definição de restauração, conforme essa última fonte bibliográfica, compreende as
intervenções efetuadas com o objetivo de manter e transmitir ao futuro bens móveis e imóveis que
possuam significação.
Os conceitos apresentados, apesar de terem sido elaborados em diferentes momentos das
últimas décadas, mostram o desenvolvimento dos estudos realizados e indicam a importância de
uma análise retrospectiva. Portanto, entende-se como necessário expor, ainda que de forma
sucinta, uma evolução da visão de restauração e de patrimônio cultural, focando esse último nos
bens edificados.
O estudo da perenidade das edificações passa, obrigatoriamente, ao longo da história,
pela visão de uso e de manutenção. Nesse sentido, ressalta-se que a inexistência de uma
consciência histórica do passado, e mesmo da continuidade entre passado e presente, fez com
que, anteriormente ao Renascimento, os únicos bens a conseguirem chegar à atualidade foram
objetos de admiração ou úteis às culturas que os transmitiram. Assim, a visão de utilidade de
uma edificação para determinada civilização passou, também, pela possibilidade de
adequação ao seu novo uso, e vários monumentos adquiriram a feição da cultura que os
acolheu.
20
2.1.1 Renascimento
O Renascimento é apresentado como o início deste estudo de conceituação por ser o
primeiro grande momento da Era Moderna de discussão a respeito da preservação de
monumentos. Caracteriza-se como um novo período na intervenção em edifícios de épocas
precedentes, com a redescoberta de modelos do passado enquanto ícones na busca pela
retomada da cultura clássica da Antigüidade. A respeito da preservação de monumentos e sua
conservação, Riegl (1999, p. 35) afirma:
[...] se pode dizer com toda justiça que a verdadeira conservação de monumentos, no
sentido moderno, começou no Renascimento italiano com o despertar de uma
valorização consciente pelos monumentos clássicos, assim como com o
estabelecimento de disposições legais para sua proteção.
Destacou-se, nesse contexto, a aguçada percepção de Leon Battista Alberti, cujos
esforços teóricos viabilizaram o desenvolvimento de um grande projeto para a restauração de
Roma, com a elaboração de seu primeiro mapa referenciado (KUHL, 1998). A importância
desse humanista, letrado e hábil em diversos campos de atuação, deve-se, entre outros
aspectos, à postura que aponta em De re aedificatória (Sobre a Arte de Edificar), tratado de
sua autoria, concluído em 1452. Esse conjunto de dez livros utilizou como referência o antigo
tratado romano de Marcus Vitruvius Pollio, retomado algum tempo antes, além de várias
outras fontes, antigas e pessoais, e seu valor está nas diversas recomendações, que vão desde a
escala urbana até dados relativos à conservação e preservação de antigas edificações. Ao
tratar das edificações antigas, de épocas precedentes, afirma que eram dignas de
permanecerem preservadas ou em utilização, entretanto, para se atuar nesse contexto, era
necessário um estudo profundo do estilo da edificação precursora, de modo que a nova se
harmonizasse à primeira, sem, porém, falsificá-a (STRÖHER, 2006). Como exemplo desse
estudo, pode ser apresentado o caso de Santa Maria Novela, de Florença, na qual Alberti refez
a fachada de Giorgio Vasari, após longos estudos de sua obra (Figura 1). Em relação às causas
de degradação de edificações antigas, avaliou que a principal era o descuido e negligência
humana (JOKILEHTO, 1999). A citação a seguir mostra claramente a posição defendida por
ele, exposta no tratado (ALBERTI apud KUHL, 1998, p. 180):
[...] é certamente muito impróprio, nesse meio tempo, não ter consideração pelos
trabalhos dos ancestrais, ou pela utilidade que muitos compatrícios encontram
21
nessas habitações paternas, às quais eles longamente se acostumaram; e quanto ao
destruir e demolir, isso está em seu poder em qualquer tempo. Sou, portanto, pela
preservação das velhas estruturas intocadas, até o tempo em que seja absolutamente
necessário removê-las para dar lugar ao novo.
A partir do século XV, surgiram preocupações da Igreja católica, com as atuações de
papas como Martin V, Pio II e Leão X, em preservar o patrimônio eclesiástico. Foi dessa
forma que renomados estudiosos, como Bramante e Rafael, estudaram Roma. Esse último
levantou os monumentos romanos e catalogou-os por meio de um importante conjunto de
obras (KOTHER, 2003). O período foi palco de vários tipos de postura de arquitetos e
governantes que, por várias vezes, demoliram edificações para usar seus materiais em outras,
ou partes ou fundações de ruínas para construir edifícios novos, ou mesmo adequaram
construções em uso para novos estilos vigentes, como foi o caso do próprio Rafael.
Figura 1 – Igreja de Santa Maria Novela, de Florença: possuía projeto de Giorgio
Vasari, e teve sua elevação proposta por Alberti, integrando-se ao projeto anterior
(FLORENCE SANTAMARIANOVELLA20020318.JPG).
O século XVI foi caracterizado por um amadurecimento e melhor compreensão do repertório
clássico. Surgiram, assim, fontes que auxiliaram no desenvolvimento da arquitetura de uma forma
mais didática, por intermédio de guias. São exemplos desses guias As regras das cinco ordens da
Arquitetura, de Jacopo Barozzi Vignola, e Os quatro livros da Arquitetura, de Andrea Palladio
(JOKILEHTO, 1999). Esse último autor, além de demonstrar habilidade na utilização do repertório
formal clássico e de produzir uma arquitetura de grande valor, soube atuar com grande destreza frente
às preexistências, como no caso do Palazzo della Ragione (CENTRO INTERNAZIONALE DI
22
ESTUDI DI ARCHITETTURA ANDREA PALLADIO DI VICENZA, 2001).
A atenção às edificações de épocas precedentes ganhou ainda maior intensidade no século
XVIII. Essa preocupação surgiu em diferentes locais e com ênfases diferenciadas, mas, em comum,
possuíam o respeito pelo patrimônio do passado.
2.1.2 Itália: meados do século XVIII a início do século XIX
Durante o séc. XVIII, a Itália possuía a importância de um grande centro irradiador de
conhecimento. Os estudos realizados em torno de diversas áreas, como arquitetura e
arqueologia, caracterizaram a chamada era da razão, ou Iluminismo, e fizeram com que
grandes estudiosos tivessem Roma como um dos pontos de referência. As grandes viagens
pela Europa tornaram-se viáveis e mais seguras, e diversos nobres passaram a convergir para
lá, assim como para a costa do Mediterrâneo em geral. O interesse estava baseado na busca
por ícones da Antiguidade Clássica, notadamente a romana. Assim, nomes como Giovanni
Battista Piranesi e Johann Joachim Winckelmann auxiliaram em novas descobertas e no
desenvolvimento dos métodos relacionados à análise de obras antigas. O primeiro destacou-se
como um grande gravurista, tendo representado com grande destreza, além da arte clássica, a
arquitetura barroca (Figura 2). Auxiliou também em várias escavações arqueológicas, tendo
representado com propriedade diversas descobertas do período. Winckelmann, por sua vez,
era favorável ao exame profundo acerca do tema antes de qualquer intervenção em algum
monumento. Os densos estudos que realizou sobre a identificação de obras gregas e romanas,
resultaram na elaboração dos conceitos de autenticidade nas restaurações, adiantando posturas
que até hoje são consideradas em intervenções (JOKILEHTO, 1999).
23
Figura 2 – Vedute (vista) do Arco de Tito, em Roma, de Giovanni Battista Piranesi,
mostrando o ponto de perspectiva e a escala entre os edifícios e as figuras humanas
representadas (EA-296_EST%2057.JPG).
Apesar de, desde a Renascença, terem sido feitas escavações em busca de vestígios, por
volta da metade do século XVIII, foram realizadas grandes descobertas arqueológicas. Tratavam-se
das cidades de Herculano, Pompéia e Stabila e as descobertas efetuadas nesses sítios geraram uma
aquisição de conhecimento até então não realizada acerca dos romanos. Esses achados
arqueológicos aumentaram a importância do sítio italiano e impulsionaram o desenvolvimento do
neoclassicismo por todo o mundo (JOKILEHTO,1999).
Durante a administração napoleônica [1798-1814], foi criada a Comissão para o
Embelezamento de Roma, com contribuições de artistas e arquitetos, como Antônio Canova e
Giuseppe Valadier, esse último, professor e referência na época. Todo esse período ficou conhecido,
para a área da restauração, como Restauro Arqueológico, já que as intervenções aconteceram,
principalmente, de forma a remontar elementos descobertos em ruínas ou mesmo por meio de
consolidações de obras instáveis. Bons exemplos de atuações dessa época são as feitas no Coliseu,
de 1807 a 1829 (Figuras 3 e 4), que sofreu processos de liberação e consolidação, e no Arco de Tito,
de 1819 a 1821 (Figura 5), na qual foi feita a reintegração formal. Em ambos os casos, tanto os
materiais utilizados quanto as suas ornamentações diferiam dos originais, o que deixou muito claro
que não se tratava de falsificação dessas obras (KUHL, 1998).
24
Figuras 3 e 4 – As duas vistas do Coliseu exibem, na finalização das arcadas, os reforços
executados em mármore e tijolos para consolidar a ruína (EURO28.JPG;
EURO29.JPG).
2.1.3 França: final do século XVIII a meados do século XIX
O período da Revolução Francesa e o século subseqüente marcaram o início da
preocupação francesa com o seu patrimônio e com a evolução dos conceitos de restauração e
conservação. A Revolução, que marcou o fim do poder das antigas lideranças, se confundiu com a
destruição de marcos do poder dessas facções da sociedade. Assim, obras de arte, edificações e
monumentos franceses foram muito depredados. Nesse contexto, surge a figura do abade
Gregoire, que elaborou relatórios ao Comitê de Instrução Pública, solicitando a criação de
legislações que coibissem o vandalismo. A criação de decretos não impediu que vários
monumentos fossem depredados, mas constituiu uma das primeiras legislações de Estado a
reconhecer os edifícios como bens de interesse público e passíveis de preservação (KUHL, 1998).
25
Figura 5 – Vista atual do Arco de Tito, mostrando as reintegrações executadas por
Raffaele Stern e Giuseppe Valadier, a partir de 1819, com o cuidado tomado para não
ocorrer a falsificação com os elementos adicionados (ARCO-TITO1.JPG).
Também nessa época, iniciou-se a valorização dos bens da Idade Média, tendo como
precursor Arcesse de Caumont que, em 1824, publicou o Essai sur l'Architecture du Moyen
Age, seguido de outras publicações. Considerando essa contribuição e observando o resultado
da Revolução Francesa para a França, e mesmo para a Europa, Choay (2001, p. 122-123)
conclui o seguinte:
Não obstante essas dificuldades, e apesar da renúncia da administração do Estado, o
período compreendido entre 1796 e 1830 não se caracteriza, em matéria de
conservação de monumentos históricos, por um vazio completo, nem por um
retrocesso, como se costuma avaliar [...] Graças a presença, em suas fileiras, de
arquitetos que, tal como A. F. Peyre, eram também antiquários, ele assentou, na
França, os primeiros marcos de uma doutrina da restauração dos edifícios antigos e
pôs-se a serviço da arte gótica.
É válido observar que, nesse período, têm ascensão os museus, inicialmente como uma
forma de guardar os monumentos e obras que foram salvas da destruição na revolução, e
depois, realmente como área de exposição de obras diversas. Sobre esse aspecto, é importante
citar a posição contrária de Quatremére de Quincy, crítico de arte e arqueólogo, que julgava
importante as obras de arte ficarem em sua posição de origem, e não descontextualizadas em
museus. Essa postura vai ser repetida em diversas recomendações patrimoniais do século XX,
26
mostrando a visão vanguardista de Quincy. Entretanto, esse momento é citado como o
primeiro em que a população em geral teve acesso a diversas obras de arte, antes disponíveis
apenas para as classes abastadas, democratizando, assim, a arte (JOKILEHTO, 1999).
Em 1830, foi nomeado o primeiro Inspetor Geral de Monumentos Históricos, cargo
assumido por Ludovic Vitet, historiador de grande renome no meio. Logo após sua nomeação,
ele empreendeu uma grande viagem para catalogação dos bens históricos franceses,
observando e indicando os que estavam em pior estado. Vitet acreditava que as restaurações
não deveriam apresentar o caráter pessoal do restaurador e que as decisões deveriam ser
induzidas pela obra, com o resultado tornando-se imperceptível (KUHL, 1998). Em 1834,
assumiu a carreira política e passou a sucessão de seu cargo para Prosper Mérimée, um dos
grandes teóricos da época. A carreira de Mérimée foi longa e, durante esse tempo, muitas
obras foram catalogadas e restauradas. Essas ações também deram força aos fundamentos de
outro teórico, Viollet-Le-Duc, seu conselheiro, portador de idéias muito claras,
intervencionistas, em relação a procedimentos de restauração do Patrimônio Histórico
(CHOAY, 2001).
Merece destaque a atuação de Eugènne Emmanuel Viollet-Le-Duc. Arquiteto e
escritor, entre outras atribuições, ele elaborou alguns dos conceitos mais importantes que
vigoraram na França e mesmo na Europa durante, principalmente, o século XIX. As
influências que obteve em sua formação pessoal, de uma família burguesa ligada às artes,
propiciaram as condições para o surgimento de um profissional que valorizou muito a cultura
medieval, até então pouco reconhecida (LE DUC, 2000).
Os estudos realizados por Viollet-Le-Duc consideravam a condição do restaurador
como portador de um conhecimento que o arquiteto criador da obra original detinha, pois
assim poderia restaurá-la em suas deficiências, bem como corrigir as possíveis falhas de
composição ou alterações que tivessem tal necessidade, buscando, portanto, um “modelo
perfeito” (LE DUC, 2000). Em uma de suas publicações, o Dictionnaire Raisonné de
l'Architecture Française du XI
e
u XVI
e
siècle, define o termo restauração da seguinte forma:
“A palavra e o assunto são modernos. Restaurar um edifício não é mantê-lo, repará-lo ou
refazê-lo, é restabelecê-lo em um estado completo que pode não ter existido nunca em um
dado momento“ (LE DUC, 2000, p. 29).
Essa postura de adoção da condição de “arquiteto criador da obra”, alterando
edificações de épocas precedentes como se fossem suas, e de eleição de uma unidade de estilo
que desconsiderava outros momentos da edificação, acabou sendo contestada por outras
linhas de atuação frente à preexistência. Apesar disso, os estudos históricos desenvolvidos por
27
ele, complementados por um forte apelo nacionalista francês de valorização da cultura
medieval (KUHL, 1998), tornam seu valor inconteste, tendo retratado e restaurado uma
quantidade muito grande de edifícios, incluindo-se dentre eles as catedrais de Chartres,
Toulouse e Paris (Figura 6).
Alguns de seus seguidores, como Henry Grégoire e Paul Abbadie, utilizaram seus
conceitos como verdadeiras doutrinas, tendo, muitas vezes, executado ações mais radicais que
as do próprio mestre. Talvez essa tenha sido uma das mais negativas faces das intervenções
preconizadas por essa linha de restauradores, já que o próprio Le-Duc defendia, também, o
estudo de intervenção caso a caso, dependendo das circunstâncias. Esse período ficou
conhecido como Restauro Estilístico (KUHL, 1998).
Figura 6 – Parte da chamada “Galeria dos Reis”, na elevação oeste da
Notre-Dame de Paris, reconstruída por Viollet-le-Duc (P1.JPG).
2.1.4 Inglaterra: final do século XVIII e século XIX
A Inglaterra, apesar de coetânea ao Restauro Estilístico, desenvolveu uma postura
dominantemente antagônica a esses princípios. Arquitetos e teóricos, como James Wyatt,
Charles Barry e John Ruskin, se destacaram, em comum, por valorizar as culturas de forma
geral e, em especial, do período antecessor, o medieval. Essa percepção surgiu com a
ascensão da compreensão da consciência histórica com base na diversidade, reconhecendo a
individualidade e a criatividade dos artistas (JOKILEHTO, 1999). O processo de
28
reconhecimento do gótico tornou-se evidente a partir da publicação, em 1742, de Gothic
Architecture Improved, de Batty Langley, seguida de outras obras (KUHL, 1998).
John Ruskin foi o principal expoente teórico nesse contexto. Sua postura foi claramente
antiintervencionista, para o que tinha, também, o apoio de William Morris (CHOAY, 2001). Os
principais estudos que desenvolveu estão contidos em The seven lamps of Architecture (1849) e
The stones of Venice (1851-53), em que pregou a manutenção das modificações feitas em
edificações ao longo do tempo, considerando-as, portanto, dignas de serem preservadas. A sua
crítica à restauração estava assentada na destruição da autenticidade histórica dos edifícios. A
respeito da idéia que possuía de restauração, cita-se um trecho do Capítulo VI, de As Sete
Lâmpadas da Arquitetura, a “Lâmpada da Memória” (RUSKIN, 1880, p. 194, tradução nossa):
Nem pelo público, nem por aqueles que são responsáveis por monumentos públicos,
o verdadeiro sentido da palavra restauração é entendido. Significa a mais total
destruição que um edifício pode sofrer: uma destruição após a qual nenhum
remanescente pode ser reunido; uma destruição acompanhada de uma falsa
descrição do objeto destruído. Não nos deixemos decepcionar nesse assunto
importante; é impossível, tanto quanto ressuscitar os mortos, restaurar qualquer
coisa que tenha sido grande ou bela em arquitetura. O que eu tenho insistido, acima,
e na vida como um todo, é que o espírito, que é dado pelas mãos e olhos do
construtor, nunca pode ser refeito.
Assim, os seguidores desses princípios chamados de Restauro Romântico
(denominação utilizada na Itália) entenderam que a postura mais correta frente às antigas
edificações era, preferencialmente, contemplativa, ou seja, deixar que o tempo de vida natural
dos materiais da edificação fosse responsável pela sua destruição (Figura 7). No último
capítulo do livro encontra-se, nesse sentido, a seguinte afirmação de Ruskin (1880, p. 197,
tradução nossa): “Nós não temos o direito de tocá-los. Eles [os monumentos] não são nossos.
Pertencem em parte àqueles que os edificaram, em parte ao conjunto de gerações humanas
que virão depois de nós”.
29
Figura 7 – Croqui elaborado por Ruskin, no qual pode ser percebida a ação de
vegetações de pequeno porte sobre a edificação, a visão romântica da
preexistência (RUSKIN, 1989).
A forma clara como Ruskin e Morris defenderam a atitude antiintervencionista,
criticando as restaurações que vinham sendo feitas, revela um segundo ponto importante nas
suas doutrinas: a fim de garantir o prolongamento da vida das edificações, aceitavam
providências em prol da conservação das edificações, e mesmo consolidações, contanto que
fossem de resultado imperceptível (CHOAY, 2001). O ideário constante nos textos de Ruskin
foi o ponto fundamental, também, para a criação, em 1877, da SPAB – Society for the
Protetion of Ancient Buildings (Sociedade pela Proteção dos Edifícios Antigos). Ela agrupava
uma série de importantes nomes que defendiam os mesmos ideais e foi a responsável pela
publicação de um texto chamado Manifesto. Esse continha, essencialmente, duas
considerações que fundamentam as políticas utilizadas até hoje na conservação de
monumentos: a proteção não poderia atuar sobre apenas alguns estilos do edifício, e os
edifícios só representariam uma dada época quando mantivessem seus materiais originais e no
seu local de origem (JOKILEHTO, 1999).
Porém, vale lembrar que a postura defendida por esses teóricos não foi aceita
unanimemente na Grã-Bretanha nessa época. Gilbert Scott empreendeu várias atuações
30
bastante profundas em várias igrejas no mesmo período, postura que se prolongou até a
década de 1890, com muita força, e que foi, inclusive, defendida pela Sociedade dos
Eclesiólogos (CHOAY, 2001).
2.1.5 Itália: final do século XIX
O período concomitante e posterior à unificação italiana, chamado de Risorgimento,
foi responsável pela intensificação de movimentos de afirmação dessa nova nação. Assim
como ocorreu na França e na Inglaterra, tais movimentos nacionalistas pregavam a busca de
uma cultura própria, fiel representante do país, e que tiveram na Antiguidade Clássica o seu
norte. Em meio às atribulações políticas, a Itália pôde observar e utilizar características das
escolas inglesa e francesa, desenvolvendo suas linhas de pensamento a respeito da
preservação de monumentos. Assim, o período das últimas décadas do século XIX viu surgir
duas linhas que ficaram conhecidas como Restauro Filológico e Restauro Histórico, e tiveram,
respectivamente, nas figuras de Camilo Boito e Luca Beltrami, seus maiores expoentes
(KUHL, 1998; PAZZINATO; SENISE, 1992).
O arquiteto e professor Camilo Boito desenvolveu grande parte dos estudos de sua
vida em Milão, lecionando na Academia de Belas Artes. A origem do seu trabalho estava na
obra desenvolvida por Tito Vespasiano Paravicini, um historiador oriundo da mesma cidade,
que desenvolveu estudos e artigos para a SPAB inglesa. Ao observar o conjunto da obra de
Boito, constata-se que ele elaborou trabalhos de ênfase principalmente teórica, auxiliando na
criação de políticas de adequação, reconhecimento e respeito pelas estruturas históricas
italianas. Já a postura que adotou frente à preexistência pode ser entendida como de equilíbrio
entre as de Viollet-Le-Duc e de Ruskin (JOKILEHTO, 1999).
Em 1882, os textos e direcionamentos de Boito, ainda arraigados em sua postura
historicista, transformaram-se na postura do governo, que enviou seus estudos a todas as áreas
da Itália, no intento de melhorar a metodologia de intervenção dos diversos sítios. Nesses
textos, ele ainda sugeria, como seguidor de Le-Duc, que o edifício, em caso de restauração,
deveria voltar ao seu “estado normal”, o modo como fora criado. Já em 1884, na Exposição de
Turim, proferiu grande parte dos seus ideais em uma palestra (CESCHI, 1970). Nesse
momento, sua postura já havia mudado em alguns aspectos. Na finalização da conferência,
enfatiza:
31
1º – É necessário fazer o impossível, é necessário fazer milagres para conservar no
monumento o seu velho aspecto artístico e pitoresco;
2º – É necessário que os completamentos, se indispensáveis, e as adições, se não
puderem ser evitadas, demonstrem não ser obras antigas, mas obras de hoje
(BOITO, 2003, p. 60-61).
Esses conceitos obtiveram, com o passar do tempo, grande importância, principalmente
para a escola italiana, e podem ser observados de maneira clara nas redações posteriores das cartas
internacionais relacionadas ao resguardo do patrimônio cultural, como será visto mais adiante.
Ainda em relação à postura de mediador que Boito assumiu, já negando em parte Viollet Le-Duc,
como se observa na citação anterior, transcreve-se mais uma parte do referido discurso:
Existe uma grande escola, já velha, mas não morta, e uma nova. O grande legislador
da velha foi Viollet Le Duc [...] Eis a sua teoria, da qual derivou sua prática:
‘Restaurar um edifício quer dizer reintegrá-lo em seu estado completo, que pode
não ter existido nunca em um dado tempo’. Como fazer? Colocamo-nos no lugar do
arquiteto primitivo e adivinhamos aquilo que ele teria feito se os acontecimentos o
tivessem permitido finalizar a construção. Essa teoria é cheia de perigos. Com ela
não existe doutrina, não existe engenho que sejam capazes de nos salvar dos
arbítrios: e o arbítrio é uma mentira, uma falsificação do antigo, uma armadilha
posta aos vindouros. Quanto mais bem for conduzida a restauração, mais a mentira
vence insidiosa e o engano, triunfante [...]
(BOITO, 2003, p. 58).
As diretrizes que conseguiu estabelecer durante sua vida para a área da restauração de
bens se propagaram por vários meios, tanto que propôs critérios fundamentais, reafirmativos e
complementares aos citados acima no Congresso de Engenheiros e Arquitetos Italianos,
realizado em Roma, em 1883, e que, posteriormente, foram adotados pelo Ministério da
Educação da Itália e mesmo por diversos outros teóricos da área. Boito (2003) enunciou sete
princípios fundamentais a partir de sua obra:
valorizar a dimensão documental dos monumentos, priorizando a sua conservação ao
invés da restauração;
evitar acréscimos e renovações, quando possível, propondo-os diversos, mas não
destoantes, dos originais;
os completamentos arqueológicos ou de partes deterioradas devem ser diferentes dos
originais e conter a marca do seu tempo;
as consolidações devem se ater ao mínimo necessário, evitando a perda de elementos
característicos;
respeitar as diversas épocas do edifício, aceitando a retirada de partes somente
quando forem, comprovadamente, inferiores as do próprio edifício;
32
elaborar registros das obras efetuadas, em suas diversas fases, ou seja, antes, durante
e depois das intervenções, tanto através de fotos quanto de memoriais descritivos e
justificativos;
colocar, junto à obra, registros em forma de lápides ou semelhantes, que apontem as
datas e elementos em que houve intervenção.
Luca Beltrami, conhecido como o primeiro arquiteto restaurador moderno da Itália, teve
como mestre Camilo Boito (BOITO, 2003). Além de sua formação em Milão, viveu alguns anos
na França, sendo bastante influenciado pelas posturas do Restauro Estilístico, que veio a aplicar
em sua volta à Itália. Desenvolveu trabalhos de ordem essencialmente prática, baseados,
supostamente, em estudos comprovados ou documentados, razão pela qual protagoniza o
chamado Restauro Histórico. Os resultados de tais intervenções, porém, não seguiram os
parâmetros que ele mesmo defendeu, já que em situações como o do campanário de São Marcos,
de Veneza, e a da torre do Filarete no Castelo Sforzesco, de Milão (Figura 8), reconstruiu partes
das edificações com base em fontes não claras, portanto, não confiáveis (JOKILEHTO, 1999).
Figura 8 – Foto atual da torre do Filarete, no Castelo Sforzesco, em Milão. A torre foi
reconstruída com projeto de Luca Beltrami, baseado em alguns quadros que haviam sido
pintados, anteriores a sua queda (CASTELLO_SFORZESCO1024X768.JPG).
2.1.6 França: final do século XIX
O final do século XIX foi marcado, em Paris, pela realização da Exposição Mundial de
1889. A época mostrava o vigor e engenho do uso do ferro, tanto em composições
arquitetônicas quanto nas demais áreas do conhecimento. Concomitante à exposição, foi
33
realizado, de 24 a 28 de junho de 1889, o Congresso Internacional sobre a Proteção de Obras
de Arte e dos Monumentos. A importância desse congresso deve-se à reunião e discussão de
profissionais e teóricos de vários países a respeito da causa patrimonial, sendo que foram
tratados temas relativos, por exemplo, às legislações nacionais em vigor e mesmo à evolução
do tema nos mais diversos países. Também foram estabelecidas diversas discussões a respeito
dos monumentos da era do ferro, uma das ênfases da exposição (KUHL, 1998).
A virada para o século XX, na França, igualmente foi marcada por uma leitura mais
madura da questão patrimonial. Nessa época, pouco antes de sua morte (em 1900), Ruskin
visitou igrejas francesas e muitos de seus livros foram traduzidos para o francês. Entretento,
em 1905, a Igreja foi separada do Estado, que tomou para si a responsabilidade sobre as
edificações antigas, alterando a legislação em vigor e a forma como se intervinha nas
edificações. Essa atitude causou, inicialmente, certo desleixo no cuidado com os bens, fato
que foi sendo corrigido pelo próprio Serviço de Monumentos Históricos com o passar do
tempo (JOKILEHTO, 1999).
2.1.7 Países germânicos: final do século XIX
A partir das últimas décadas do século XIX, começa a se destacar o papel de
estudiosos de outros países no desenvolvimento de teorias sobre o restauro de patrimônio,
caso dos italianos e austríacos. Conforme afirma Choay (2001, p. 168), os autores germânicos
souberam avaliar o papel do patrimônio e classificá-lo com surpreendente clareza,
dificilmente alcançada por seus contemporâneos. Observa-se, nesse sentido, a importância da
obra de Camillo Sitte para estudos de conjuntos urbanos. Com formação em arquitetura, Sitte
trabalhou como profissional e diretor da Escola de Salzburg. Em seu livro A Construção das
Cidades Segundo Seus Princípios Artísticos (1889), pode-se reconhecer a importância de seus
estudos voltados, principalmente, para a área urbana. Nele, postulou a defesa das malhas
tradicionais das cidades, criticando o isolamento dos monumentos históricos.
De origem também austríaca, assim como Sitte, Alois Riegl foi um estudioso da área
das artes que desenvolveu importantes estudos sobre patrimônio histórico e a forma como a
população o percebe. A partir de 1884, tornou-se professor e, em 1902, presidente da
Comissão de Monumentos Históricos. À frente desse cargo, escreveu vários artigos
relacionados com o patrimônio, que resultariam na publicação, posterior, de um livro
34
chamado O Culto Moderno aos Monumentos (RIEGL, 1999). A qualidade e a clareza com
que desenvolveu seus estudos estão relacionadas com sua formação tanto de historiador de
arte quanto de jurista e filósofo (CHOAY, 2001). Empreendeu o inventário dos monumentos
austríacos, o que possibilitou que seu livro contivesse uma teoria sobre a valorização de bens
patrimoniais, com uma proposta de classificação que pode ser observada na figura 9.
Figura 9 – Classificação de bens proposta por Alois Riegl em O Culto
Moderno aos Monumentos (adaptado de RIEGL, 1999).
Conforme afirma Kuhl (1998), a análise elaborada por Riegl considerou a influência
das culturas de massa, intensificadas naquele momento com a Revolução Industrial. Já Choay
(2001) afirma que o valor dessa análise não se refere apenas ao ponto de vista patrimonial,
mas também ao social e ao filosófico.
Riegl dividiu os bens em dois grupos iniciais: os valores de rememoração, ligados ao
passado e que se valem da memória, e os valores de contemporaneidade. O primeiro foi
subdividido em três outros tipos: os valores de antigüidade, também chamados por Choay
(2001) de ancianidade, que enfatizam a forma como os monumentos chegaram até a
atualidade. De acordo com Riegl (1999, p. 49, tradução nossa):
O valor de antiguidade de um monumento se descobre, à primeira vista, por sua
aparência não moderna [...]. A oposição ao presente, sobre o que se baseia o valor de
antigüidade, se manifesta melhor em uma imperfeição, em uma carência de caráter
fechado, em uma tendência à erosão de forma e cor, características essas que se
opõem redondamente às obras modernas, quer dizer, recém criadas.
35
Por sua vez, os valores históricos destacam a forma como os monumentos chegaram
ao presente (se assemelhando então ao de antigüidade), devendo ser preservados no momento
atual, mesmo que por meio de intervenções, para manter viva sua memória, o valor do saber
incutido nele. A respeito disso, destaca que “o valor histórico de um monumento será tanto
maior quanto menor seja a alteração sofrida em seu estado original, e que possuiu logo depois
de sua gênese. As deformações e deteriorações parciais são para o valor histórico um fator
assessório molesto e desagradável” (RIEGL, 1999, p. 57). Já o terceiro tipo classificado pelo
autor como valor de rememoração, o intencional, preconiza a manutenção original do bem tal
como fora proposto, ou seja, restaurado.
Os valores de contemporaneidade, que formam o segundo grande grupo de
monumentos, têm como característica comum a propriedade de poderem ser comparados a
obras novas, atuais. Assim, classificou-os inicialmente em instrumentais (ou de uso) e
artísticos. Segundo Riegl (1999, p. 73, tradução nossa):
[...] um edifício antigo, por exemplo, que hoje segue utilizando-se com um fim
prático, deve manter-se em um estado tal que possa abrigar um homem sem que
perigue a segurança se sua vida ou saúde. [...] Em geral, se poderá dizer que ao valor
instrumental em si lhe é absolutamente indiferente o tratamento que se dá a um
monumento, enquanto não afete a sua existência [...].
No momento em que o autor explicou o que, para ele, era o chamado valor artístico,
apresentou também outro conceito importante que ajudou a explicar sua classificação, a
chamada vontade de arte (kunstwollen), entrelaçando os dois: “Todo monumento possui para
nós um valor artístico, segundo a concepção moderna, e responde às exigências da moderna
vontade de arte” (RIEGL, 1999, p. 79). Dividiu-os em relativos, como os que mesmo hoje
conseguem despertar a sensibilidade humana, não tendo, talvez em seu tempo, produzido tal
relação com o público, e de novidade, como os que chamam a atenção pelo seu surgimento.
Essa complexidade conceitual mostra, pela primeira vez com tal clareza, a dificuldade
de classificação dos valores presentes nos monumentos. Assim, percebe-se que os parâmetros
para a classificação são tênues, podendo uma mesma edificação pertencer a mais de uma
classe. Do ponto de vista de Riegl, as obras antigas deveriam ser mantidas a partir de uma
análise caso a caso, corroborando com o que, mais tarde, Choay (2001) chamou de
“pertinência relativa”. Riegl reconheceu também os conflitos que essa forma de classificação
poderia gerar.
Já em relação à postura frente ao patrimônio edificado, o autor de O Culto Moderno
aos Monumentos foi a favor da manutenção do uso útil à sociedade, por meio da contínua
36
utilização, como já citado acima. Jokilehto (1999) observa também que Riegl defendia a
sobreposição de épocas em uma mesma obra, mesmo em complexos resultados de
estratigrafia. Essa postura foi observada quando, após ser chamado a fazer parte de uma
comissão que orientasse a reconstrução de uma torre sineira (Figura 10), propôs a manutenção
de todo o sítio onde se localizam as ruínas do palácio de Diocleciano, mantendo as diversas
etapas de construção pelas quais a cidade passou.
Figura 10 – Torre reconstruída no século XX, localizada onde ficava o palácio de
Diocleciano. Atual cidade de Split, na Croácia (JOKILEHTO, 1999, p. 219).
2.1.8 Ascensão das convenções: início do século XX
O século XX foi marcado por uma evolução exponencial dos conceitos relativos ao
patrimônio histórico. Os estudiosos do tema, antes conhecidos por teorizações individuais,
passaram a se reunir e elaborar tratados com áreas de abrangência e conhecimentos técnicos
mais amplos. Iniciou-se, assim, com a utilização da Carta de Restauro de Atenas (1931) como
elemento demarcatório, uma longa etapa de convivência entre as teorizações individuais e as
discussões coletivas em torno das chamadas cartas patrimoniais (CURY, 2000).
A Carta de Atenas foi o resultado de uma reunião internacional de técnicos realizada
nessa mesma cidade, no referido ano de 1931, com o objetivo de discutir ações de preservação
37
e conservação do patrimônio histórico. O caráter plurinacional da reunião auxiliou na sua
ampla divulgação por todo o mundo, garantindo também a absorção de seus princípios e
aplicação, principalmente em edificações históricas. Entre os importantes postulados
prescritos na carta, publicada pelo Escritório Internacional dos Museus e Sociedade das
Nações (apud CURY, 2000), citam-se os seguintes:
[...] a conferência constatou que nos diversos Estados representados predomina uma
tendência geral para abandonar as reconstituições integrais, evitando assim seus
riscos [...] Nos casos em que uma restauração pareça indispensável devido a
deterioração ou destruição, a conferência recomenda que se respeite a obra histórica
e artística do passado, sem prejudicar o estilo de nenhuma época.
E ainda, no documento, é defendida a evolução e utilização dos monumentos
históricos desde que desde “assegure a continuidade de sua vida, destinando-os sempre a
finalidades que respeitem o seu caráter histórico ou artístico” (CURY, 2000, p. 13).
Contemporânea e entrelaçada à reunião de Atenas, de 1931, a área de abrangência
italiana presenciou o desenvolvimento de uma nova conceituação de restauro. As idéias de
Camilo Boito, já citadas, e os princípios do congresso de engenheiros e arquitetos italianos, de
1883, foram reestudados, aprimorados e defendidos por teóricos, entre os quais se destacou
Gustavo Giovannoni. Essa tendência seria conhecida na Itália como Restauro Científico
(KUHL, 1998).
A trajetória de Giovannoni na área do restauro foi ampla. Em 1910, foi empossado
como presidente da Associazione artística fra i cultori di architettura (ASSOCIAZIONE
ARTISTICA FRA I CULTORI D’ARCHITETTURA, 2001). Desde esse período, defendeu a
significância da “arquitetura menor”, auxiliando na continuidade das malhas urbanas. Essa
postura o levou, posteriormente, ao cargo de planejador de Roma. Também foi diretor da
escola de arquitetura romana e ajudou na criação de uma faculdade independente de
arquitetura, na qual ensinou restauração de monumentos históricos de 1935 a 1947. Seus
estudos preconizavam o profundo exame das fontes de dados documentais, valorizando as
bases críticas e científicas. Os princípios de intervenção baseavam-se, em primeiro lugar, em
atuações de manutenção e consolidação, e, quando necessário, em atuações mais drásticas,
distintas dos originais, com o intento de evitar falsificações, postura que se assemelha tanto
aos postulados de Alberti quanto aos de Boito. Admitia o uso de materiais novos como forma
de manter com mais propriedade a existência do monumento. Assim como Riegl, admitiu e
defendeu a preservação das diversas etapas pelas quais um edifício passara, contemplando,
desse modo, a linha cronológica da construção (JOKILEHTO, 1999).
38
Na Enciclopédia Italiana (v. 28, 1936), citada por Kühl (1998), Giovannoni
classificou as restaurações da seguinte forma:
restauros de consolidação: uso de técnicas avançadas para garantir a solidez a partes
ou edificações ruinosas;
restauros de recomposição: também chamada de anastilose, que permite a inserção
de partes secundárias para garantir que outras, desprendidas do conjunto, sejam
reagrupadas aos seus locais originais;
restauros de liberação: retirada de partes amorfas, internas ou externas,
conhecidamente sem valor, para retomar os valores latentes à edificação;
restauros de completamento e renovação: proposição de partes novas ou acréscimos
para reintegrar a obra ou torná-la útil novamente.
Os estudos realizados não se limitaram às edificações, mas também ao entorno e áreas
urbanas. Os planos propostos para Roma consideravam a retirada de fluxos de veículos
pesados de áreas centrais, bem como a retirada de edificações menos importantes em favor da
salubridade das áreas mais valorizadas. Quanto a isso, afirma Jokilehto (1999, p. 220-221)
que, “como resultado dessas operações, Roma adquiriu um aspecto moderno, mas com a
manutenção do skyline histórico, evitando edifícios de grande altura”. O governo italiano foi
tão influenciado pelos estudos de Giovannoni que solicitou a sua participação na elaboração
da chamada Carta de Restauro, de 1932. Tal influência pode ser percebida na redação desse
documento, no que tange a acréscimos que viessem a ser feitos em obras de restauração:
[...] que nos acréscimos que se considerem necessários, tanto como para garantir a
consolidação, ou para atingir o objetivo de uma reintegração parcial ou total, ou para
a utilização prática do monumento, o critério essencial que se deve seguir deve ser,
além de limitar tais elementos novos ao mínimo possível, o de dar-lhes também um
caráter de simplicidade nua e correspondência com o esquema construtivo; e que só
possa se admitir um estilo similar a continuação [sic] de linhas existentes nos casos
que se trate de expressões geométricas privadas de individualidade decorativa [...]
(CONSEJO SUPERIOR DE ANTIGÜEDADES Y BELLAS ARTES, 1932, p. 2).
O período que se sucedeu, praticamente até o final de década de 1930, foi marcado
pelas tentativas de afirmação dos postulados da Carta de Atenas e da Carta de Restauro
italiana. Outros nomes que se destacaram na época foram Guglielmo De Angelis d’Ossat, que
trabalhou para o Centro Internacional de Estudos da Preservação e Restauração de Bens
Culturais (ICCROM), e Gino Chierici, que foi professor em Nápoles e Milão. Porém, no final
dessa mesma década, a Segunda Guerra Mundial (1938-1945) provocou um grande revés nas
políticas que viriam a ser adotadas no que tangia ao patrimônio e sua manutenção. Verificam-
39
se, então, prejuízos irrecuperáveis, principalmente à Europa ocidental, em relação à
preservação do patrimônio histórico (PAZZINATO; SENISE, 1992).
2.1.9 O período do segundo pós-guerra
As mudanças ocorridas na forma de abordagem da proteção do patrimônio,
principalmente na Europa, e os estudos para comportar essas mudanças, realizados
principalmente na Itália, foram conseqüência da grande devastação de edifícios e de grandes
trechos de centros urbanos causada pela Segunda Grande Guerra (Figura 11). Ao final do
conflito, os pensamentos estavam voltados a salvar a maior quantidade possível de bens,
mesmo que os métodos utilizados para tanto fossem contra os postulados em vigor até então,
considerados muito demorados e custosos. “O grande sentimento de perda gerado pela
destruição de numerosas obras de arte foi o motivo e a justificativa para os esforços e meios
empregados nas tentativas de recuperação do patrimônio histórico” (KUHL, 1998, p.204).
Somadas a essas grandes quantidades de perdas, surgiram, como fatores complementares para
a renovação pós-guerra, a especulação imobiliária e a necessidade de suprir as necessidades
sanitárias (geralmente precárias em antigos centros urbanos).
Figura 11 – Vilarejo da Sicília/Itália no momento da chegada das tropas americanas. A
destruição causada pela Segunda Guerra Mundial mudou a forma de intervir sobre o
patrimônio (VILAREJO EM RUÍNAS.JPG).
O desenvolvimento da moderna restauração italiana deve muito a Benedetto Croce,
40
que foi filósofo, escritor, político, historiador e professor. “Ele enfatizou a qualidade do todo
do objeto sobre a qualidade dos detalhes” (JOKILEHTO,1999, p. 223, tradução nossa). Duas
das grandes razões para a mudança de postura das teorias de preservação do patrimônio foram
justamente a necessidade de recuperação da auto-estima da população, por meio do
restabelecimento das feições que suas cidades possuíam antes da guerra, e os importantes
estudos a respeito da teoria contextualista da filosofia moderna da estética, elaborados por
Croce. Essa teoria influenciou alguns dos grandes teóricos da época, como Giulio Carlo
Argan, Cesare Brandi e Roberto Pane, e se refletiu nas recomendações internacionais e guias
que tratavam do assunto (JOKILEHTO, 1999). Deve-se, igualmente, considerar os estudos
desenvolvidos, nessa época, por Renato Bonelli e Pietro Gazzola, na área do patrimônio. A
valorização das instâncias estética e histórica, defendidas pelos autores referidos, caracterizou
o que se convencionou chamar de Restauro Crítico. Bonelli, tendo elaborado críticas ao
Restauro Científico, dissertou, em 1958, sobre suas convicções:
[...] a necessidade de eliminar as sobreposições e adições, mesmo se notáveis e de
valor como linguagem e testemunho, que possam prejudicar e lesar a integridade
arquitetônico-figurativa, alterando a sua visão; a proibição de reconstruir quando as
destruições tenham causado a perda de unidade figurativa; a legitimidade de
reconstruções, contanto que absolutamente seguras e sobretudo não substanciais,
completando as partes faltantes de modo a dar de novo a visão autêntica, em vez de
assinalar à vista as adições (BONELLI, apud KUHL, 1998, p. 204).
Giulio Carlo Argan foi um dos mais famosos historiadores da arte na Itália. Entre
outros cargos, foi professor e prefeito de Roma. Propôs a criação do Instituto Central de
Restauro (ICR) para fomentar os estudos a respeito do assunto, que teve em Brandi seu
primeiro diretor. Argan defendeu que o restaurador, além de talento artístico, deveria ter
competência histórica e técnica, assim como grande sensibilidade. Segundo sua observação,
dividiu as possíveis ações relacionadas ao patrimônio em duas modalidades: restauração
conservativa – que era executada para consolidar os materiais e evitar a degradação; e
restauração artística – que compreendia operações baseadas na evolução histórico-crítica da
obra de arte e objetivava o restabelecimento de suas qualidades estéticas. Essa segunda
modalidade representou a mudança do tratamento conservativo de uma esfera artística para
crítica. A proximidade de Argan com Brandi possibilitou que, mais tarde, essa mudança fosse
a base das formulações do último, como representante do ICR.
O estado em que as edificações italianas se encontravam era de tamanha perda que
Guglielmo De Angelis d’Ossat, então diretor geral das Antiguidades e Belas Artes, classificou
a situação das edificações da seguinte forma:
41
a) danos limitados, que poderiam ser reparados com razoável esforço;
b) danos maiores;
c) praticamente destruídas.
Os casos de grandes danos causados às edificações, mas com possibilidade de
reabilitação, levou os profissionais e teóricos da época a duas situações distintas: reconstruir
os edifícios em sua forma prévia, ou reconstruir de forma a não repetir, porém conservar o
que havia se mantido. Esse segundo tratamento pode ser visto na figura 12, em que as partes
perdidas foram reconstituídas em baixo relevo, de forma a não falsificar ou competir com o
original (JOKILEHTO, 1999).
Figura 12 – Reconstituição em baixo relevo – marcados com círculos,
elaborados em mármore, não competem com a preexistência, em San
Lorenzo Fuori le Mura (JOKILEHTO, 1999, p. 225).
Os estudos realizados por Roberto Pane, professor na Universidade de Nápoles e
funcionário da UNESCO, seguiram as linhas propostas por Croce, como já citado. A ênfase
de Pane sobre as atuações em preexistências era de ordem estética, não com base no chamado
repristino (reconstrução), mas com fundamentado estudo na própria obra, seguindo, portanto,
as linhas propostas por Giovannoni, o Restauro Estilístico. Afirmou o valor das diversas
épocas pelas quais uma edificação passou, desse modo considerando também sua instância
histórica e artística, entretanto subordinadas à avaliação crítica do arquiteto, que deveria
escolher, assim, os elementos mais significativos a serem mantidos e os desnecessários,
passíveis de retirada. Para Pane, esse é o valor do arquiteto da atualidade: o exercício do senso
crítico em escolher a melhor decisão a tomar para reabilitar um edifício.
42
Já a postura proposta por Renato Bonelli, professor da Universidade de Roma, diferia
das de Pane e de Argan e, por isso, foi duramente criticado pelos demais teóricos da época.
Defendia que a restauração era “um processo crítico, e então um processo criativo, com o
primeiro como uma premissa intrínseca ao outro” (BONELLI apud JOKILEHTO, 1999,
p.227, tradução nossa). Desse enunciado, desenvolveu a idéia de que poderia haver a
aproximação entre a história carregada pelo monumento e a possibilidade de alterar sua forma
presente, para lhe agregar valor por meio da purificação de seu sentido estilístico. Teve
grande destaque na época por defender que cada caso deveria ser analisado dentro de seu
próprio universo, independente de regras preexistentes.
Cesare Brandi foi o crítico e o teórico mais importante da segunda metade do século XX.
Durante o período em que atuou como presidente do ICR, de 1939 a 1960, desenvolveu vários
estudos com o objetivo de equalizar os diversos problemas de ordem prática e teórica, alternando
entre análises de obras de arte propriamente ditas, até sua extensão às artes aplicadas, incluindo-se
aí a arquitetura. Carbonara (BRANDI, 2004), ao contextualizar a obra de Brandi, observa que
seus estudos não se contrapõem aos desenvolvidos por Pane e Bonelli, representantes do Restauro
Crítico, mas somam-se a eles e os aprofundam, na medida em que reconhecem a instância estética
e também por suas diversas observações ao Restauro Científico do início do século XX. Em 1963,
Brandi reuniu boa parte das investigações realizadas até então e lançou a Teoria da Restauração,
livro que, por sua densa carga e clareza de conceitos, tornou-se uma referência obrigatória a todos
os estudiosos coetâneos e posteriores dessa temática.
Em Teoria da Restauração, Brandi entende o processo criativo como a única forma de
se chegar até a especificidade da obra de arte, e que a apreciação dessa mesma obra também é
atingida unicamente pela compreensão de um processo igualmente crítico. Para ele, a partir do
momento que o artista transmite a sua percepção do objeto para uma obra de arte, ele a está
interpretando e refazendo a sua forma, dotando-a então de existência independente. Essa é
uma das razões a contribuir para o entendimento de que, mesmo usando o material similar
para fazer uma cópia fiel das características perdidas, com o intento de restaurar uma obra de
arte, se estaria sempre partindo de uma falsificação, já que a significação seria diferente. Por
essa mesma razão, defende a ambiência de uma obra, recriminando a retirada do local para
onde fora pensada. Jokilehto (1999, p. 230) sintetiza parte dessas idéias da seguinte forma: “A
idéia condutora na teoria de Brandi é a definição do conceito não como uma imitação da
natureza como concebido por séculos, mas como o resultado de um autêntico processo
criativo, com o próprio artista como protagonista”.
A restauração proposta nessa teoria diferencia dois conjuntos de obras, basicamente:
43
as feitas em série, conseqüência da produção industrial, em que o objetivo principal é
reabilitar a funcionalidade, e as obras de arte, para as quais grande parte dos estudos de
Brandi foi referenciada. Nesse caso, o conceito proposto para restauração é o seguinte: “[...] a
restauração constitui o momento metodológico do reconhecimento da abra de arte, na sua
consistência física e na sua dúplice polaridade estética e histórica, com vistas à sua
transmissão para o futuro” (BRANDI, 2004, p. 30). A partir desse conceito, Brandi deriva
dois axiomas que conduzem os processos de restauração: o primeiro, que apenas a obra física
pode ser restaurada, e não o seu reconhecimento histórico e estético; o segundo, que a
intenção de uma restauração é restabelecer a “unidade potencial” de uma obra, desde que isso
não implique em sua falsificação. A figura 13 mostra um exemplo apresentado por Brandi
como uma restauração incorreta. Nela, se percebe a liberação de uma janela gótica, de uma
fase anterior do edifício, que estava em ruínas, em uma fachada predominantemente clássica.
Figura 13 – No Palazzo dell Orologio, em Pisa, o terceiro nível de esquadrias
exibe uma janela gótica, que destoa da unidade potencial do edifício, clássico
(450PX-PISA. PALAZZO_DELL_OROLOGIO.JPG).
As propostas de Brandi referem-se a todos os tipos de restauração, mas, em alguns
momentos, o autor se refere especificamente a intervenções arquitetônicas. Nesses casos,
defendeu que a obra deveria ser lida como um todo, reconhecendo tanto intervenções
44
posteriores, como a pátina, quanto efeitos da passagem do tempo e, portanto, dignas de serem
mantidas. Da mesma forma, entendeu que a própria restauração deveria ser concebida como
parte da vida da obra, sendo, assim, passível de ser reconhecida, porém sem retirar a unidade
já estabelecida.
Os conceitos propostos por Brandi nortearam o desenvolvimento de diversos cursos de
restauro promovidos em grande parte do mundo, além de recomendações mundiais, como a
Carta de Veneza, de 1964, e a Carta de Restauro italiana, de 1972 (JOKILEHTO, 1999).
2.1.10 As recomendações da década de 1960 até o final do século XX
A principal recomendação que surgiu, na década de 1960, foi a carta internacional
sobre conservação e restauração de monumentos e sítios, resultado do II Congresso
Internacional de Arquitetos e Técnicos dos Monumentos Históricos, realizado em Veneza, no
ano de 1964. Esse encontro foi a evolução do primeiro, especialmente voltado à discussão dos
temas da conservação, realizado então em Paris, no ano de 1957. A grande repercussão que a
Carta de Veneza gerou e que a tornou uma referência para todo o mundo deve-se aos
seguintes fatores (ERDER; LENNON, 2004):
foi organizada por entidades influentes, como a UNESCO e o governo italiano;
contou com cerca de 600 participantes, representando 61 países;
foi acompanhada por organizações internacionais, como o International Centre for
the Study of the Preservation and Restoration of Cultural Property (ICCROM), o
Conselho Internacional de Museus (ICOM) e o Conselho da Europa;
serviu como publicação referencial do International Council on Monuments and
Sites (ICOMOS) por algumas décadas, instituição criada no ano de 1965;
impulsionou o ICCROM a criar cursos de conservação do patrimônio arquitetônico
para capacitar profissionais diversos.
Em relação à publicação de Atenas (1931), a Carta de Veneza apresentou maior clareza
nos conceitos expostos, bem como na proposição de métodos para preservação e recuperação de
bens. Suas disposições intentaram ser aplicáveis nos diversos países do mundo, variando seus
detalhes de implementação conforme o sítio em questão. Kuhl (1998) lembra que, por contemplar
tanto a instância estética quanto histórica, a recomendação de 1964 pode ser considerada como
45
uma conseqüência natural da ênfase ao Restauro Crítico. Outro mérito foi enfatizar o sítio, e não
apenas o monumento, e em qualquer escala, abarcando as edificações civis e a chamada
arquitetura menor, vernácula, como se observa no seguinte Artigo:
Art 1º - A noção de patrimônio histórico compreende a criação arquitetônica isolada,
bem como o sítio urbano ou rural que dá testemunho de uma civilização particular,
de uma evolução significativa ou de um acontecimento histórico. Estende-se não só
às grandes criações, mas também às obras modestas, que tenham adquirido, com
o tempo, uma significação cultural (CURY, 2000, p. 92, grifo nosso).
Em relação ao conceito de conservação dos monumentos, a carta reafirmou a necessidade
de manutenção permanente, que é favorecida pela função útil à sociedade, por meio do reuso do
edifício ou monumento (CURY, 2000). A importância observada nesses conceitos está na
afirmação da reutilização das edificações com a manutenção dos elementos de interesse de
preservação, servindo até hoje como base para a requalificação e revitalização de edifícios e de
setores urbanos. Ainda segundo Kuhl (1998), o uso útil à sociedade viria a inserir o monumento
nas esferas social, econômica e cultural.
Já em relação à restauração, a carta a considera como uma operação não corriqueira,
mas excepcional, que visa “[...] conservar e revelar os valores estéticos e históricos do
monumento [...]” (CURY, 2000, p. 92). Quanto aos materiais, nela se afirma que devem se
basear nos originais, respeitando-os e utilizando-os, aceitando-se o uso de materiais novos e
diferenciados se for necessário. Por fim, lembra que as obras de restauração, por necessitarem
de julgamentos de valor estético e histórico, devem ser feitas por mais de um profissional, de
forma que seja dificultada a incursão de algum erro de avaliação.
Anos depois, a multiplicação de diversas outras recomendações viria a mostrar que
a Carta de Veneza fora importante, mas insuficiente para abarcar as dúvidas surgidas na
escala mundial. Podem ser citados, nesse sentido, o caso dos centros históricos, como o
Manifesto de Amsterdã, de 1975, o caso australiano, com suas especificidades quanto ao
ambiente natural, conforme a Carta de Burra, de 1979 (Figura 14); ou, ainda, sobre as
questões relativas à autenticidade, a Conferência de Nara, de 1994. Essas recomendações
tiveram, assim, o papel de focalizar a atenção para problemas mais regionais, incentivando
a discussão e a contribuição mútua entre nações e especialistas. Também auxiliaram na
difusão da cultura patrimonial em escala mundial, pois todos os continentes sediaram
congressos que geraram recomendações.
46
Figura 14 – Minas de cobre em Burra (Austrália), contempladas pelas
edições da Carta de Burra, que aprimoraram os conteúdos da Carta de
Veneza (800PX-BURRA_MINE_WORKS.JPG).
Entretanto, a disseminação das convenções e recomendações internacionais não é
avaliada como positiva para todos os setores ligados ao patrimônio. Ao abordar o tema, Luxen
(2004) observa que alguns profissionais têm utilizado as recomendações de forma
descontextualizada, retirando excertos e chegando a resultados completamente díspares do
que se pretendia ao redigi-las. Também comenta que muitos criticam as cartas por tentarem
generalizar os problemas e especificidades do legado patrimonial.
2.1.11 A atualidade
Os debates estabelecidos na última década, e que são, aqui, o ponto de fechamento dos
estudos relacionados à conceituação de conservação e restauração do patrimônio cultural, têm
tomado um caminho diverso daquele preconizado e equilibrado da década de 1960. Enquanto
Brandi (2004) defendia a “[...] dúplice polaridade estética e histórica [...]”, o que o período
posterior à publicação de Teoria da Restauração viu foi a multiplicação de bens considerados
patrimônio em diversas escalas. Essa grande quantidade de bens compreendeu tanto a
chamada arquitetura menor quanto a industrial e as paisagens naturais, chegando até aos bens
intangíveis. O valor dos bens deixou de estar, necessariamente, ligado à esfera formal, não se
enquadrando, por vezes, às necessidades de consumo da sociedade (CHOAY, 2001; KÜHL,
1998). Porém, de acordo com Jokilehto (1999), um melhor entendimento dessa realidade pode
ser obtido com a compreensão dos seguintes conceitos:
47
a) Valor universal: anteriormente relacionado a um elemento único, divino, digno de
ser copiado, o conceito atual de valor universal vislumbra a busca da especificidade do objeto
e de suas relações com a cultura e o sítio onde se insere. A universalidade passou a ser
buscada em valores próprios das culturas diferenciadas.
b) Autenticidade: tema da Conferência de Nara (1994), a busca pela autenticidade é,
antes de mais nada, uma força contra a globalização e a homogeneização cultural. O estudo da
autenticidade obteve grandes proporções a partir da necessidade de sua comprovação para a
inscrição de bens nas listagens de patrimônio mundial. Contudo, a avaliação desse conceito
varia conforme as áreas de aplicação, como música, artes plásticas e mesmo a arquitetura. No
relatório final dessa conferência, pode-se ler o seguinte (CURY, 2000, p. 321):
A conservação do patrimônio cultural em suas diversas formas e períodos históricos
é fundamentada nos valores atribuídos a este patrimônio [...] Autenticidade,
considerada desta forma e afirmada na Carta de Veneza, aparece como o principal
fator de atribuição de valores. O entendimento de autenticidade é papel fundamental
dos estudos científicos do patrimônio cultural, nos planos de conservação e
restauração, tanto quanto nos procedimentos de inscrição utilizados pela Convenção
do Patrimônio Mundial e outros inventários de patrimônio cultural.
Complementar ao conceito estabelecido pela conferência, Philippot (apud
JOKILEHTO, 1999, p. 296) introduz as variáveis de valorização da criação e da percepção
histórica (Figura 15) da obra em questão: “[...] a autenticidade de uma obra de arte é a medida
de verdade que a unidade interna do processo criativo e da realização física da obra, e o efeito
de sua passagem através do tempo histórico”. Cabe, ainda, observar que as definições de
autenticidade estão diretamente ligadas à exacerbação das posições defendidas, atualmente,
entre conservadores e restauradores, como será visto logo adiante.
c) Integridade: relaciona-se, na atualidade, com os estudos das totalidades dos sítios ou
bens que estão sendo analisados. Apesar de já ter sido observado na Carta de Veneza que os
bens móveis não devem ser separados dos seus locais de origem, para não perderem sua
identidade, esse tema tomou hoje proporções maiores. Além da manutenção de partes ou bens
móveis pertencentes a um determinado sítio, o estudo da integridade relaciona também a
cultura que concebeu tal bem e o ambiente onde ele foi proposto, seu entorno e suas visuais.
A correlação mais delicada, atualmente, da avaliação da integridade se estabelece com as
posturas de intervenção, principalmente nos casos em que há restaurações, reintegrações,
restaurações estilísticas ou mesmo reconstruções mal avaliadas (CURY, 2000).
48
Figura 15 – Estátua eqüestre de Marco Aurélio, imperador romano: localizada na Praça do
Capitólio, em Roma, desde o século XVI, no processo de restauração, foi retirada para o Museu
do Capitólio, em 1997, pela degradação que vinha sofrendo. No local do original foi colocada
uma réplica, para manter a ambiência do sítio (450PX-STATUA_MARCO_AURELIO_
MUSEI_CAPITOLINI_FRONTE2.JPG).
d) Ciência moderna e tecnologia: desde o início das discussões relativas à restauração e à
conservação, a ciência tem ganhado cada vez mais espaço. Os meios desenvolvidos pela ciência e
pela tecnologia de ponta passaram a auxiliar nas descobertas, na conservação e mesmo na
restauração de bens de forma mais eficaz. A partir do final do século XIX, começaram a surgir os
primeiros exemplos de laboratórios de conservação junto a museus e, a partir de então, vários
foram surgindo para oferecer os subsídios necessários a manter, principalmente, os bens móveis
existentes. Incluem-se, nesse caso, o Museu Nacional de Berlim, o Britânico, o Louvre e o de
Harvard. Os laboratórios próximos a sítios históricos também ganharam evidência, criando uma
rede de troca de informações, comparação de dados e resultados que auxiliou grandemente na
conservação patrimonial (JOKILEHTO, 1999).
As formas de atuação frente à preexistência, hoje, partem, desse modo, das diferentes
possibilidades de interpretação dos parâmetros supracitados. Jokilehto (1999) classifica a situação
atual em quatro grupos conceituais: monumentos como memoriais, restauração estilística,
conservação moderna e continuidade tradicional. Já Kühl (1998) e Choay (2001) possuem
opiniões semelhantes, e propõem uma divisão em dois grandes grupos: um a favor da
continuidade dos preceitos de Cesare Brandi e do Restauro Crítico, e que possui em Giovani
49
Carbonara um dos seus atuais defensores, favorável, portanto, à conservação; e outro, com
representantes como Paolo Marconi, defensores de uma postura mais próxima ao Restauro
Estilístico e a reconstituições de forma geral. Nesse último grupo, pode ser incluído o arquiteto
italiano Giorgio Grassi, autor da reconstrução do Teatro Romano de Sagunto, na Espanha. Para
este estudo, optou-se por adotar a classificação observada por Kühl (1998) e Choay (2001), ao se
entender que ela representa melhor a realidade atual.
2.1.11.1 Conservação
Trata-se de postura oriunda da evolução do Restauro Crítico, amplamente dominante
no início da segunda metade do século XX, e que influenciou diretamente a redação da Carta
de Restauro italiana de 1972. Essa forma de atuação se manifestou na observação crítica às
restaurações estilísticas, sobretudo na forma de valorização do original e no reconhecimento
da pátina do tempo. Da mesma forma, exacerbou a autenticidade das diversas épocas, a
sobreposição de camadas e reconheceu no ato crítico da intervenção a presença do valor
universal. Jokilehto descreve esse tipo de postura da seguinte forma (1999, p. 303):
Na prática, a conservação promoveu o avanço nos novos métodos científicos para
descobertas, e as técnicas para a análise e documentação das condições existentes
dos objetos e estruturas, causas de degradação, consolidação de materiais originais,
políticas de manutenção e reparo conservativo. A ênfase ergueu a restauração e
conservação de uma esfera artística para crítica, ao invés de propor modelos a serem
seguidos, estabeleceu um processo crítico de definição do que conservar e como.
2.1.11.2 Reconstituição
Decorrente de uma posição contrária ao puro conservacionismo, essa forma de ação frente à
preexistência teve forte influência em países como França, Inglaterra e Alemanha, a partir do século
XVIII, sob os preceitos lançados por Viollet-le-Duc e Mérimée e pela restauração estilística.
Chegou ao século XX impulsionada pelas ações políticas, religiosas e, atualmente, turísticas, que
percebem na unidade de estilo de um dado bem a força necessária para a atração de capital
financeiro. Também recebeu subsídios a partir da publicação da chamada Carta 1987 della
50
Conservazione e del Restauro, elaborada para atualizar a carta italiana de 1972, tendo flexibilizado
as posições relativas às operações de completamento. Sua elaboração ficou sob a coordenação de
Paolo Marconi, defensor das linhas de reconstituição e de uma maior coerência formal entre os
elementos originais e as novas proposições. Na Itália, essa postura ficou conhecida como ripristino,
termo que possui significado semelhante a restabelecimento.
2.1.11.3 Posturas comumente adotadas
Em relação às duas posturas de intervenção propostas, pode-se dizer que ambas
permanecem em vigor e seus debates têm levado ao acirramento no posicionamento de seus
defensores. Um dos pontos que tem suscitado dúvidas é o chamado pequeno restauro [piccolo
restauro, na Itália], que se constitui na troca de superfícies de poucos milímetros de espessura, feitas
com o objetivo de proteger materiais encobertos, o chamado reboco de sacrifício, como as
alvenarias rebocadas. Enquanto os conservacionistas defendem a reposição apenas dos pontos
necessários, os defensores da reconstituição pregam a troca de todo o material para produzir
uniformidade nas superfícies. As bases que sustentam a opinião dos primeiros são as de que o tempo
deixa marcas também nesse tipo de superfícies, enquanto que os últimos sugerem que a troca dessas
superfícies auxilia na retirada de materiais agressivos que a atmosfera deposita (KÜHL, 1998).
A questão do uso de materiais novos também divide ambas as propostas. A Carta de
Restauro de 1972, seguindo os preceitos do restauro crítico, pregou a diferenciação dos novos
materiais em relação aos originais, o que gerou, por vezes, o uso indiscriminado de novas
técnicas, nem sempre de durabilidade comprovada, nas intervenções. Já o grupo defensor das
reconstituições propunha o uso de materiais tradicionais, ou que se harmonizassem com a
preexistência, mas que poderiam ser confundidos com os últimos.
Em relação à dicotomia existente entre as linhas conceituais, Choay (2004, p. 213) tem
uma posição bastante enfática:
Conservação e restauração: são estes os fundamentos de toda valorização. Há meio
século, apesar da poluição atmosférica, a química, a bioquímica e a biologia deram
uma nova atualidade às teses de Ruskin, permitindo atuar de forma não traumática
sobre a “saúde” dos monumentos [...] Poder-se-ia considerar definitiva a condenação
das reconstituições. Pensava-se que eram universalmente reconhecidas as regras de
restauração formuladas por Boito, em especial aquela que manda indicar de forma
clara todas as intervenções modernas, e de que se encontram magistrais
demonstrações em todo o mundo [...] Todos esses princípios, regras e preceitos,
51
devidamente argumentados e refinados nos últimos cem anos, pareciam estar
plenamente estabelecidos, fora de qualquer questionamento. Mera ilusão.
Reconstituições “históricas” ou fantasiosas, demolições arbitrárias, restaurações
inqualificáveis tornaram-se formas de valorização correntes.
Assim, após contemplar esses dois principais pontos de vista na abordagem da
preexistência na atualidade, percebe-se que a forma mais coerente parece ser a que dá
continuidade aos princípios do conservacionismo. Esse ponto de vista, porém, não pode ser
levado ao extremo de não se considerar algumas questões relevantes defendidas pelos seus
opositores. Marconi (apud KÜHL, 1998) observou, com propriedade, que diversas obras que
passaram por processos de conservação parecem ter sido embalsamadas, congeladas no
tempo, numa atitude que parece querer impedir a continuidade histórica da edificação. Da
mesma forma, afirmou que diversas restaurações mal executadas sob essa insígnia destoam
fortemente do conjunto já feito e não possuem a durabilidade esperada, prejudicando seu
entendimento e necessitando de outros processos restaurativos. Finalmente, o questionamento
da sobrevalorização das instâncias históricas, em detrimento do valor estético é uma constante
em edificações da chamada arquitetura menor, que adquiriram valor nos centros históricos em
geral e que parecem merecer a possibilidade de uma reabilitação mais flexível.
2.2 As manifestações patológicas e a reabilitação do patrimônio
A visão do todo da preservação do patrimônio cultural apresenta uma dualidade clara:
de um lado, pode-se elencar a evolução e os conceitos atuais de caráter doutrinal, ou seja, os
dados apresentados até então (seção 2.1), que definem quais as decisões teóricas guiarão a
manutenção dos bens. De outro, existe a visão da técnica aplicada, dos meios necessários para
prover a manutenção. Esse fenômeno também é reconhecido por Kühl (2004, p. 332), quando
afirma que os últimos anos têm sido responsáveis por uma crescente cisão “entre teoria e
prática, aplicada no tratamento das superfícies externas das edificações Nesse aspecto da
técnica, estão todos os modos que podem retardar, interromper ou recuperar (conforme as
decisões conceituais) os bens das manifestações patológicas. Esse segundo viés do tema será
tratado a seguir.
52
2.2.1 Durabilidade e vida útil das edificações
A utilização de conceitos de durabilidade e de vida útil pode ser considerada intrínseca
às questões de patrimônio. Intrínseca pois, como observado nas definições de conservação e
restauração, a realização de manutenção é necessária, ao mais tardar, no findar do prazo de
durabilidade ou vida útil dos sistemas ou materiais empregados.
A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) reconhece durabilidade como a
“[...]capacidade de um item desempenhar uma função requerida sob dadas condições de uso e
manutenção, até que um estado-limite seja alcançado[...]”, em que estado-limite é
caracterizado “[...] pelo fim da vida útil, inadequação por razões econômicas ou técnicas e
outros.” (ABNT, 1994, p. 2). Já a definição de vida útil está relacionada com o “[...] intervalo
de tempo ao longo do qual a edificação e suas partes constituintes atendem aos requisitos
funcionais para os quais foram projetadas [...]” (ABNT, 1999, p. 2).
Helene e Terzian (1992, p. 27-28) englobam esses conceitos dentro da visão geral de
qualidade. Afirmam que, na indústria da construção civil, é necessário que se tenha qualidade, e
esse conceito pode ser visto como “adequação ao uso”. Enumeram, então, alguns itens que podem
ser as características inerentes para tanto: resistência estrutural adequada, funcionalidade,
existência de condições ideais de habitabilidade, vida útil elevada, bem como baixos custos de
operação, manutenção e aquisição. Ao observar a utilização das edificações, afirmam que é
composta de duas atividades básicas: a “operação” (uso propriamente dito) e a “manutenção”. A
respeito do tempo de utilização da edificação, comentam ainda: “[...] que a etapa final de uso é de
longa duração, pelo menos mais de 30 anos [...]”, e finalizam reforçando o preceito de
manutenção: “[...] o desempenho apresentado no final da construção só é mantido quando
asseguradas uma operação e manutenção adequadas do edifício durante a fase de uso [...]”
(HELENE; TERZIAN, 1992, p. 27-28).
As definições apresentadas acima demonstram conceitos utilizados na construção civil
em geral. Porém, dentro das possibilidades, devem ser transportadas para o campo da
conservação de monumentos históricos. Lersch (2003, p. 35), nesse sentido, afirmou:
[...] partiu-se do princípio de que, a aproximação de áreas distintas, como o
patrimônio arquitetônico e o estudo de manifestações patológicas, através deste
trabalho, fosse exigir a adequação de conceitos e o entendimento destes para ambos
os campos de atuação. Ressalta-se aqui, a importância de uma linguagem em
comum, visto que o objetivo é o mesmo, de sanar os danos ocorridos ao longo do
tempo nas edificações [...]
53
A combinação das variáveis de desempenho e tempo foi utilizada pelo Comitê Euro-
internacional du Beton para montar um gráfico parabólico, que demonstra o tempo de vida
útil de uma edificação, ressaltando de que forma as manutenções atuam para prolongar o
tempo de vida da edificação como um todo. Tendo esse material como base, Lersch propôs o
gráfico abaixo (Figura 16), contemplando o desempenho para uma edificação histórica:
Figura 16 – Gráfico com fases do desempenho de uma edificação
histórica (LERSCH, 2003, p. 37).
A observação do gráfico merece algumas interpretações úteis e reais em relação a
edificações históricas:
a ordenada de desempenho da edificação, que na abscissa zero, ou seja, no início da vida
útil da edificação, teria valor máximo e iria decrescendo com o passar do tempo;
as manutenções e pequenos reparos atuam de forma pontual sobre a vertical de
desempenho, prolongando a vida da edificação;
se a edificação reduzir seu desempenho abaixo do que é considerado o seu
desempenho mínimo (II), ou seja, das condições mínimas que promovam a
habitabilidade do conjunto, possivelmente entrará num processo de abandono, não
atendendo então ao mínimo esperado;
se a parábola decrescente de vida da edificação ultrapassar em muito a marca de
desempenho mínimo, sem reparos ou manutenções, tenderá a chegar ao desempenho
zero, ou seja, estará em ruína (III);
finalmente, se um processo de restauração ou reciclagem, que não precisa partir do
estado crítico de ruína, for feito na edificação, ampliar-se-á o tempo de vida da
54
edificação. Também poderá se chegar a um desempenho superior ao que a
edificação possa ter tido no início de sua vida útil (I), já que os materiais então
utilizados poderão ser de qualidade superior aos existentes anteriormente.
Enfim, a durabilidade de uma edificação considerada patrimônio pode ser mantida a
partir de recursos de manutenção, por um tempo indeterminado, desde que aplicados os atuais
recursos para tanto. Essa afirmação mostra a necessidade de se colocar a visão que as
normativas têm de manutenção.
2.2.2 Manutenção e conservação
O entendimento que se pode ter de manutenção apresenta algumas diferenças desde o
ponto de vista de edificações consideradas patrimônio, até as não consideradas. Os conceitos a
seguir mostram essas discordâncias (ABNT, 1999, p. 3):
A manutenção de edificações visa a preservar ou a recuperar as condições
ambientais adequadas ao uso previsto para as edificações.
A manutenção de edificações inclui todos os serviços realizados para prevenir ou
corrigir a perda de desempenho decorrente da deterioração dos seus componentes,
ou de atualizações nas necessidades dos seus usuários.
A manutenção de edificações não inclui serviços realizados para alterar o uso da
edificação.
Esse ponto de vista considera necessária a preservação ou recuperação de condições
para um dado uso previsto. O uso previsto parte necessariamente da premissa funcional, ou
seja, da reabilitação para ter um uso útil à sociedade. A diferença que se apresenta então aos
monumentos históricos consiste no uso que a manutenção de um dado bem pode propiciar.
Sabe-se que uma parcela importante desses monumentos não possui mais uso funcional, mas
sim contemplativo. Incluem-se nessa lista os patrimônios mundiais da humanidade, como o
Coliseu e a acrópole de Atenas ou, numa escala estadual, as ruínas da igreja de São Miguel
Arcanjo, em São Miguel das Missões/RS.
Nesse momento, torna-se útil relacionar os conceitos de manutenção e conservação,
sendo que as definições para o último variam conforme a bibliografia. O professor James
Fitch (1981), em curso de especialização na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP,
chamou de conservação “[...] a intervenção física na própria matéria de um edifício para
assegurar sua integridade estrutural ou estética” . Essa forma de definição não parece ser
55
bastante clara, pois não limita as intervenções que podem ser realizadas sobre o bem em
questão. O mesmo problema incorre com Moreno (1985, p. 9), quando classifica conservar
como “[...] realizar obras de manutenção necessárias para o funcionamento correto de uma
edificação.” Porém, nesse caso, pode-se ver o claro entrelace entre os conceitos promotores
dessa discussão, mostrando-os ainda mais indissociáveis.
Para Feilden (1982), no entanto, ao classificar os diferentes graus de intervenção pelos
quais uma edificação histórica pode passar, entende que se deve colocar em primeiro lugar o
que chamou de “conservação indireta”, ou prevenção à deterioração. Nesse grupo, o autor
coloca não só as atividades de controle de entorno, de agentes de degradação ou de controle
de negligência, mas também os atos que possam garantir de forma mais eficaz a preservação
da edificação, como criação de planos de combate a incêndios, planos viários que evitem
trepidações excessivas ou mesmo atos de vandalismo. Complementar ao primeiro grupo, o
autor criou o que chamou de “conservação direta”, normalmente conhecida como
consolidação. Considera como consolidação as adições ou aplicações de novos materiais nos
já existentes para garantir a durabilidade ou estabilidade estrutural.
Contrapondo as posições apresentadas nesse último parágrafo com as definições
anteriores, quanto à manutenção e conservação, pode-se observar que existe uma
concordância de idéias com a definição utilizada pela NBR 5647 (ABNT, 1999). Porém, a
definição utilizada por Fitch (1981) aproxima-se mais dos usos amplos que a área de
patrimônio necessita, no momento que não exige uma reabilitação funcional dos bens, mas
apenas “[...] assegurar sua integridade estrutural ou estética [...]”.
56
3 FATORES DE DEGRADAÇÃO
3.1 Percepção geral de fatores de degradação
O estudo das variáveis que atuam sobre a edificação como um todo ou sobre qualquer
um de seus componentes e provocam a sua degradação são tratados a partir de agora de forma
mais detalhada.
Para efeito deste estudo, deve-se compreender, inicialmente, que a patologia
encontrada em uma dada edificação é a conseqüência do processo de um agente qualquer
sobre um determinado componente, sistema ou mesmo sobre o conjunto edificado e que gera
um ou mais danos. Esse pressuposto adquire importância no momento em que se realiza a
verificação dos fatores que atuam sobre a edificação e são obtidos, em sua maioria, de forma
indireta, pois o que pode ser visto in loco é apenas a patologia, geralmente a conseqüência
visível do fator em si.
Lersch (2003), citando Cincotto (1995) e John (1987), faz algumas considerações a
respeito de variáveis que influenciam na classificação de fatores de degradação. Segundo ela,
pode ocorrer variação de exposição de um mesmo material ou componente a agentes como o
clima ou a ação humana. Descreve também que a importância de cada fator depende das
características intrínsecas de cada material e que os agentes costumam interagir entre si,
levando a patologias que podem ter origens diversas.
3.2 Fatores de degradação aplicados à conservação e restauração do patrimônio cultural
A compreensão de que a degradação tanto de edificações atuais quanto das
pertencentes ao patrimônio edificado deve ser vista sob a mesma ótica já foi referida
anteriormente. Porém, passa-se a discorrer, com mais ênfase, a respeito de alguns autores que
tratam especificamente da área de patrimônio. A razão para tal abordagem é perceber algumas
nuances que acabam por evidenciar alguns tipos de comportamento mais comuns às
classificações voltadas a essa área do que à outra.
57
A escolha das fontes bibliográficas consultadas, internacionais, nacionais e mesmo do
Rio Grande do Sul leva em conta as diversas esferas que podem ser consideradas. Procurou-
se, dessa forma, obter dados de diversas escolas que tratam a respeito do assunto. Assim, a
busca pela sistematização dos processos de análise de deteriorações pode ser focada tanto (1)
nas patologias encontradas nos elementos construtivos, como (2) no âmbito de atuação dos
mecanismos de degradação, ou mesmo (3) na origem dos agentes de degradação.
A seção de “medidas corretivas e controles” das Recomendações para análise,
conservação e restauração estrutural do patrimônio arquitetônico, publicada pelo
ICOMOS (2001) indica: “a terapia deve dirigir-se às causas dos problemas e não aos
sintomas”. Essa afirmação, na verdade, é um endosso de várias afirmações anteriores, de
diversas fontes bibliográficas. Tendo-a como referência, avalia-se que a classificação
apenas das patologias é insuficiente, apesar de trazer uma quantificação de dados mais
rápida.
Já a classificação relativa ao âmbito de atuação dos mecanismos de degradação faz
referência à origem química, física ou biológica (ou pequenas variações desse mesmo
tipo) das patologias encontradas na edificação. Essa forma de dispor os fenômenos que
geraram a degradação parece ser a mais utilizada, observada em fontes como ICOMOS
(2001, p. 18-20) e Fitch (1981, p. 39). Porém, ela apresenta a desvantagem de dissociar
fenômenos que envolvam seqüências de fatores físicos, químicos e biológicos, ou da
combinação de dois desses. As figuras seguintes (17 e 18) mostram os exemplos das
classificações acima nominadas e permitem observar seus pontos comuns.
Ações diretas
Ações estáticas Ações indiretas
Ações mecânicas
Ações dinâmicas
Ações
Ações físicas, químicas e biológicas
Figura 17 – Quadro de classificação das ações causadoras de danos e degradações,
adaptado de ICOMOS (2001, p. 18-20).
58
Oxigênio
Ozônio
Gás carbônico
Gás sulfídrico
Químicos Óxido de enxofre
Ácidos, bases e sais em solução
Água de lençóis freáticos
Solventes orgânicos
Luz solar
Energia radiante Luz ultravioleta
Agentes de
deterioração
Infravermelho
Frio
Físicos Fumaça
Abrasivos Partículas do solo
Poeira
Líquida
Água Vapor
Ciclos de umidade relativa
Desgaste mecânico
Matéria em movimento Impacto
Ondas ou vibrações
Mecânicas
Algas
Bactérias
Fungos
Agentes biológicos Vegetação Liquens
Raízes de plantas
Insetos Formigas
Mofo
Cupins
Traças
Roedores
Homens
Figura 18 – Quadro de classificação de deteriorações proposto por Fitch (1981, p. 39).
A terceira forma de classificação de degradações citada divide-as conforme a origem
dos agentes envolvidos. Os resultados obtidos segundo esse tipo de análise são diretamente os
condicionantes que estão agindo sobre a edificação e a prejudicando, o que torna mais direta a
listagem de prioridades a elencar para resolver os problemas detectados. Como exemplo desse
modelo tem-se a classificação proposta por Feilden (2003, p. 90), na figura 19 abaixo:
59
A gravidade causa a queda das edificações
O sol produz luz (raios ultravioleta e energia radiante)
Mudanças de temperatura
Causas climáticas Precipitação de chuva e neve
Gelo e degelo
Águas do solo
Animais
Pássaros
Insetos
Causas biológicas e
botânicas
Árvores e plantas
Fungos, liquens e mofos
Bactérias
Terremotos
Maremotos
Desastres naturais Enchentes
Deslizamentos de terra
Causas das deteriorações Avalanches
Erupções vulcânicas
Ventos fortes
Queimadas
Umidade
Contaminação do ar
Causas internas à
edificação
Negligência
Falta de manutenção preventiva
Falta de precauções ao fogo
Guerras
Alterações propositais
Invasões
Causas geradas pelo
homem
Adaptações
Poluição do entorno
Abstração de água
Vibrações
Vandalismo
Roubos
Negligência com segurança
Figura 19 – Quadro de classificação de deteriorações proposto por
Feilden (2003, p. 90), [tradução nossa].
O quadro acima parece apresentar algumas incoerências em relação a sua divisão.
Inicialmente, separa a luz solar dos demais agentes climáticos ou ambientais. Outro item que
suscita dúvidas é a classificação causas internas: a diferenciação entre as áreas internas à
edificação e as externas não parece a mais acertada, já que os agentes que atacam as primeiras
também o podem fazer nas outras. Contribuindo para isso, se pode observar, igualmente, que
a umidade e os constituintes do ar são elementos indissociáveis das questões climáticas e
ambientais do sítio onde a edificação está inserida, assim como a negligência pode ser
considerada um agente associado à falta de atuação do homem.
A classificação proposta a seguir por Lersch (Figura 20) enquadra-se da mesma forma (2003,
p. 62-89). Porém, ela parece corrigir algumas das incoerências observadas acima. Deve-se ter clara a
diferenciação feita pela autora entre os agentes ambientais ou climáticos dos fenômenos da natureza.
60
Segundo ela, os últimos caracterizam-se pela ocorrência eventual e pelos danos costumeiramente
maiores do que os primeiros. Outros pontos que merecem ser mencionados são a classificação de uso
e ação do homem, que a autora opta por separar dos agentes biológicos, e a separação da chuva dos
agentes climáticos diretamente ligados à água e ao vento, relacionado ao ar e seus constituintes.
Radiação solar
Agentes ambientais ou
climáticos
Temperatura Variação de temperatura
Água Umidade Umidade de infiltração
Umidade ascensional
Umidade por condensação
Umidade de obra
Umidade acidental
Contaminação ambiental
Ação gelo/degelo
Corrosão
Vento
Chuva
Constituintes do ar
Agentes biológicos
Microorganismos Fungos
Algas
Bactérias
Vegetação Microflora
Pequeno porte
Médio porte
PRINCIPAIS
AGENTES E
MECANISMOS DE
DEGRADAÇÃO
Grande porte
Insetos Cupins
Formigas
Animais de pequeno porte Roedores
Morcegos
Aves
Fenômenos da
natureza
Inundações
Ventos excepcionais
Raios (descargas elétricas)
Falta de conservação preventiva
Uso e ação do homem
Intervenções indevidas Material (substituição)
Estrutural (sobrecarga)
Desenvolvimento
urbano
Obras irregulares
Alterações no entorno
Poluição ambiental
Pavimentação impermeabilizada
Tráfego intensificado
Vandalismo Roubos
Pichações
Deturpações
Invasões
Negligência Incêndio
Acidentes
Abandono total
Figura 20 – Quadro dos principais agentes de deterioração segundo Lersch (2003, p. 62-89).
61
Considerando, portanto, a coerência com o objetivo proposto e a adequação dos dados
classificados na última alternativa apresentada, julgou-se procedente utilizá-la como base para
o estudo em questão, alterando os elementos necessários. A Figura 21 mostra a classificação
resultante, utilizada na pesquisa.
Radiação solar
Agentes
ambientais ou
climáticos
Temperatura Variação de temperatura
Ar Constituintes do ar
Vento
Água Umidade Umidade de infiltração
Umidade ascensional
Umidade por condensação
Umidade de obra
Umidade acidental
Ação gelo/degelo
Contaminação ambiental
Corrosão
Chuva
Agentes
biológicos
Microorganismos Fungos
Algas
Bactérias
Vegetação Microflora
Pequeno porte
Médio porte
PRINCIPAIS
AGENTES E
MECANISMOS DE
DEGRADAÇÃO
Grande porte
Insetos Cupins
Formigas
Animais de pequeno porte Roedores
Morcegos
Aves
Uso e ação do homem Falta de conservação preventiva
Intervenções indevidas Material (substituição)
Estrutural (sobrecarga)
Desenvolvimento urbano Obras irregulares
Alterações no entorno
Poluição ambiental
Pavimentação
impermeabilizada
Tráfego intensificado
Vandalismo Roubos
Pichações
Deturpações
Invasões
Negligência Incêndio
Acidentes
Abandono total
Fenômenos
excepcionais da
natureza
Inundações
Ventos excepcionais
Raios (descargas elétricas)
Figura 21 – Quadro resultante dos principais agentes de deterioração, utilizado para este estudo.
62
Assim, a classificação resultante dos principais agentes e mecanismos de degradação
apresenta-se diferenciada por entender-se que, em primeiro lugar, a chuva deve ser considerada
simplesmente um meio para a incidência de umidade sobre a edificação. Em segundo lugar, julgou-
se coerente colocar o uso e as ações do homem agrupados aos agentes biológicos, devido a relação
que guardam com os demais.
A partir dessa definição, passa-se ao estudo das principais características das edificações, em
seus aspectos mais diversos e, após, desenvolve-se uma breve dissertação a respeito dos elementos
citados na classificação acima.
3.3 Características das edificações
3.3.1 Caracterização dos materiais e técnicas construtivas utilizadas na Vila Belga
As edificações da Vila Belga, alvo deste estudo, não foram todas construídas em uma
seqüência única e ininterrupta, porém os materiais construtivos das mesmas são semelhantes.
A partir desse pressuposto, apresenta-se agora uma caracterização geral tanto em relação aos
materiais quanto às técnicas utilizadas no conjunto. A figura 22 mostra o esquema construtivo
de uma unidade habitacional:
Figura 22 – Croqui com a indicação dos elementos construtivos em uma unidade residencial.
Alicerces
(3.3.1.1)
Paredes
Externas
(3.3.1.2)
Aberturas
(3.3.1.4)
Cobertura
(3.3.1.5
)
63
3.3.1.1 Alicerces
A análise local mostra que os alicerces são feitos de pedras cortadas, constituindo uma
espécie de sapata corrida. Projetam-se acima do nível natural do terreno, constituindo a base
para a edificação e ainda, quando o terreno possui inclinação adequada, o porão da edificação.
Externamente, constituem o chamado soco da edificação (Figura 23). A argamassa utilizada
para edificar a alvenaria e para chapiscá-la é constituída de cal e areia, o que pode ser
verificado por análise visual no sítio. As edificações apresentam também pequenas aberturas
criadas para garantir a ventilação entre o piso e o solo, as chamadas gateiras.
Figura 23 – Soco de edificação, exibindo uma gateira (ACERVO DO AUTOR, 2005).
3.3.1.2 Paredes externas
Conforme afirma Lopes (2002, p. 185) “[...] as paredes externas, as medianeiras e as
que dividem os blocos, que formam a residência, são em alvenaria de blocos cerâmicos
maciços unidos com argamassa de cal e areia”. Em relação ao seu acabamento, pode-se dizer
que são rebocadas em argamassa semelhante a do assentamento, conformando um aspecto
rústico.
64
3.3.1.3 Paredes internas
Foram feitas originalmente de madeira, em formato de tábuas simples, de modo que
pudessem ser alteradas sem trazer danos ao piso ou forro. Lopes (2002) observa que a
existência de divisórias internas em madeira facilitava a alteração dos cômodos conforme a
vontade da família usuária, além de possuir um custo menor.
3.3.1.4 Aberturas
São feitas, de maneira geral, de madeira. As portas voltadas para o exterior são maciças e
possuem bandeira também em madeira com vedação em vidro, o que facilita a iluminação
interior. Já as internas mantêm o padrão das paredes em madeira, mais simples. As vergas das
portas são retas, assim como as das janelas. Essas últimas são originalmente de madeira com
vidro, do tipo guilhotina, por fora, e em madeira ripada, por dentro, constituindo duas escuras
(Figura 24). Os limites dos vãos das aberturas são trabalhados com ornamentos em massa,
diferenciados uns dos outros, o que ajuda a conferir identidade a cada edificação. Porém, antes das
políticas de preservação e mesmo hoje, algumas se apresentam alteradas, com a colocação de
venezianas de madeira e mesmo de inversão da vedação à luz para o lado externo.
Figura 24 – Conjunto de janelas do tipo guilhotina, com os trabalhos
em argamassa ao redor (ACERVO DO AUTOR, 2005).
65
3.3.1.5 Cobertura
É composta de telhado, treliças, forros e espelhos externos. O telhado que compunha,
inicialmente, as edificações era de telhas cerâmicas do tipo capa e canal, com as calhas e
rincões de chapas metálicas. As estruturas de sustentação do telhado são de madeira (LOPES,
2002), conformando treliças do tipo tesouras, meias-tesouras ou pontaletes. Os forros das
edificações eram originalmente planos, horizontais e inclinados, feitos de um tabuado do tipo
saia e camisa ou escamado, preso às treliças (Figura 25). A escolha por esse tipo de forro,
provavelmente, foi oriunda da dificuldade ou inexistência de maquinário para fazer um corte
mais aperfeiçoado. Atualmente, parte dos forros das edificações, assim como dos telhados, foi
alterada, sendo que os primeiros ganharam substitutos do tipo macho-fêmea e os outros,
telhas de fibrocimento.
Figura 25 – Forro do tipo saia e camisa (ACERVO DO AUTOR, 2003).
3.3.1.6 Pisos
Originalmente eram do tipo tábua corrida, formando o que se denomina assoalho
(Figura 26). A fixação se dava por meio de pregos que uniam as tábuas aos barrotes, dispostos
a cerca de 40 centímetros uns dos outros. Os barrotes, por sua vez, ficavam elevados no nível
do solo, proporcionando ventilação e prevenindo contra problemas de umidade. O apoio dos
66
barrotes ocorria na diferença de espessura que havia entre as paredes e seu soco. Atualmente,
por problemas de manutenção no madeirame, uma parcela das edificações teve alterado esse
tipo de piso, passando a ser utilizadas peças cerâmicas apoiadas sobre pré-lajes.
Figura 26 – Piso tabuado: assoalho (ACERVO DO AUTOR, 2007).
3.3.2 Análise das características intrínsecas às edificações
Toda edificação, nova ou antiga, possui características que influenciam diretamente na
sua vida útil e mesmo na sua perenidade ao longo do tempo. Esse regramento evidentemente é
válido também para o conjunto de obras edificadas que compõem o patrimônio cultural,
incluindo-se, portanto, as que estão sendo analisadas. Tal conjunto de características faz parte
do que Lersch (2003) chamou de “características da edificação”, e compreende as variáveis
envolvidas nas etapas que vão desde o planejamento anterior ao projeto até a execução do
conjunto. Assim, também poderiam ser nomeadas como características intrínsecas à
edificação.
As características são geradas pelas etapas de planejamento, projeto e execução da
obra. Compreendem, principalmente, três grupos afins: o composto pelas características do
ambiente (ou implantação da edificação), o de composição dos materiais que foram utilizados
para edificá-la e o das características associadas à tecnologia e ao conhecimento das técnicas
pensadas para o projeto e execução. Essa identificação guarda relação com os agentes
67
identificados por Meseguer (1991) ao observar o organograma de elaboração de uma
edificação (Figura 27). Segundo ele, a responsabilidade sobre esses fatores pode ser atribuída
ao gerente geral do projeto e compreende as etapas de planejamento, projeto, aquisição de
materiais e construção.
Figura 27 – Adaptação do organograma proposto do processo
construtivo (MESEGUER, 1991, p. 17).
Apresentam-se, a seguir, algumas considerações a respeito desses grupos de
características que são herdadas pelas construções (conforme Figura 28) e que vão influir, em
instância final, no seu tempo de vida útil.
Ambiente Sítio Orientação
Topografia
Entorno
Características intrínsecas
Materiais Origem
Uso
Componentes Projeto
Execução
Figura 28 – Quadro explicativo das características intrínsecas à edificação.
68
3.3.2.1 Ambiente
Para efeito deste estudo, considera-se ambiente o conjunto formado pela área em que uma
dada edificação está inserida e o seu entorno imediato. Dessa forma, as características do
ambiente que podem influir na formação de processos de degradação vão desde os restritos ao
próprio lote e os de sua implantação, até às relacionadas ao entorno da área e de sua dinâmica.
3.3.2.1.1 Sítio
A forma como se estabelece o diálogo entre o sítio e a edificação, por meio de sua
implantação e das características geotopográficas da área em que está implantada, constitui
um dos importantes fatores que determinam o comportamento que se observa frente ao
aparecimento de degradações (LERSCH, 2003). Neves (1998, p. 73), ao discorrer sobre a
escolha de sítios voltados à elaboração de projetos arquitetônicos, aponta como fatores
técnicos importantes a se considerar: área, localização, relevo, orientação relativa ao sol e
aos ventos, acessibilidade, urbanização do entorno, serviços públicos oferecidos, restrições
normativas à edificação e custos de aquisição (grifo nosso). Contribuindo para esse mesmo
encaminhamento, Ching (2001, p. 1) observa a relação entre sítio e edificação da seguinte
maneira “[...] a topografia, a vegetação, o clima, a orientação solar e a orientação dos ventos
predominantes influenciam as decisões em um estágio inicial do processo de projeto.” As
relações desses fatores com as edificações preexistentes e relacionadas às etapas de projeto,
que são importantes neste momento, mostram que os dados citados pela primeira autora
conferem, ao menos em parte, com os demais.
A orientação relaciona-se com a conservação das edificações constituintes do
patrimônio cultural principalmente por meio dos gradientes de intensidade de insolação,
direção dos ventos e incidência de chuva. Em relação à ação do sol, sua influência decorre da
intensidade de iluminação gerada (luminosidade natural) e de insolação (efeito do calor) sobre
os planos externos e internos (NEVES, 1998). Assim, em regiões de clima mais quente, a
insolação pode atuar como um elemento gerador de desconforto, pelas altas temperaturas
atingidas, enquanto que, em regiões de clima mais frio, pode atuar como amenizador e
promotor de conforto ao ser humano. A variação da forma como a incidência da radiação
69
solar ocorre está associada à latitude em que a edificação está. A sede do município de Santa
Maria está localizada na latitude 29º41'03" Sul (SARTORI, 2000), que gera, em todas as
épocas do ano, incidência de radiação no quadrante norte, além das radiações de orientação
leste e oeste. A figura 29 apresenta a carta solar correspondente, na qual pode ser observada a
angulação com que ocorre a radiação nas diversas épocas do ano, além do número de horas a
que a edificação pode estar exposta.
Figura 29 – Carta solar de Santa Maria, com a indicação do movimento aparente do sol e com a
indicação dos solstícios e equicios (PLENTZ; BEVILACQUA, 1998).
A orientação dos ventos dominantes também influencia de forma direta nas variáveis
relacionadas à habitabilidade do conjunto edificado. De acordo com Neves (1998), esse é o
segundo elemento na escala de importância que permite o controle dos efeitos do clima nas
edificações. Os estudos pormenorizados a esse respeito, no sítio de Santa Maria, serão descritos
mais adiante, ao tratar-se dos principais agentes e mecanismos de degradação de edificações
históricas.
Antes, deve salientar-se que, associada ao vento, deve ser destacada a incidência de
chuvas, já que esses dois fatores normalmente ocorrem associados. Essa ocorrência
simultânea faz com que não só planos inclinados para o zênite ou horizontais recebam a
70
precipitação, mas também os planos verticais, como as paredes, que não são preparados para
tanto. Os índices de incidência de chuvas sobre os planos verticais são medidos por
intermédio do chamado Índice de Chuva Dirigida (ICD), proposto por Lacy (apud
PETRUCCI, 2000), e utilizados como referência inclusive pelas normas britânicas (BSI
5262). Porém, esses elementos considerados, ou sua média anual, o ICDa, são apenas a média
da velocidade dos ventos e da precipitação anual. Assim, o índice apresenta limitações por
não considerar a variação na direção dos ventos e mesmo nos valores absolutos de velocidade
de vento, e sim as suas médias (NEWMAN apud PETRUCCI, 2000). Essa avaliação possui
importância para a análise de degradações em edificações históricas, pois reforça a
singularidade das orientações das edificações nos sítios. Transferindo-se esses pressupostos
para o contexto de Santa Maria, onde a predominância de ventos é de leste, pode-se inferir
que as principais faces atingidas por chuvas também são as dessa orientação.
Já as condições estabelecidas pelas variáveis geotopográficas são, igualmente,
importantes para o desempenho que a edificação possui, pois dizem respeito à sustentação
junto aos extratos rochosos do subsolo e às relações da edificação com as camadas hídricas
subterrâneas (D’OSSAT apud LERSCH, 2003). Os estudos de composição do solo são os
responsáveis pela determinação de sua resistência e, portanto, pela escolha do tipo de
fundação necessária para sustentar as edificações. Da mesma forma, o estudo das condições
hídricas do subsolo é necessário para o estabelecimento dos padrões projetuais que protejam a
edificação de esforços não calculados ou da umidade.
Em relação aos processos patológicos envolvidos com a topografia e a geologia,
Oliveira (1998) comenta que conhecimentos insuficientes a respeito do terreno são
responsáveis por diferentes níveis de rigidez entre solo e fundações e, portanto, por possíveis
recalques diferenciais dentro de um mesmo edifício, gerando patologias diversas. Observa,
ainda, que os conhecimentos sobre a hidrologia do local devem ser monitorados após o início
da obra e mesmo após sua finalização, pois a inserção de um novo elemento naquela dinâmica
pode alterar as características iniciais. É coerente relacionar essa última observação com o
meio urbano edificado, onde edifícios de épocas atuais podem intervir e gerar rebaixamento
ou afloramento de lençol freático junto a construções lindeiras antigas. Segundo Gusmão et al
(apud LERSCH, 2003), além dos chamados componentes passivos, como os
geomorfológicos, os componentes ativos naturais, como a chuva e a erosão, e os ativos
antrópicos, como as alterações de corte e aterro geradas pelo homem, também incidem sobre
o equilíbrio da topografia e exigem atenção.
71
3.3.2.1.2 Entorno
Caracteriza-se por ser o ambiente natural ou criado que existe em volta de um
determinado terreno, criando o chamado sítio de intervenção. Atua como um elemento
dinâmico, pois costuma apresentar alterações constantes, principalmente no meio urbano, que
acabam por modificar a condição da edificação no sítio. Assim, a relação existente entre a
edificação e o entorno pode ser favorável ou desfavorável e manter, auxiliar ou, mais
frequentemente, prejudicar sua evolução (NEVES, 1998). Grandes densidades urbanas que
obstruem a passagem de sol, atividades que lançam substâncias ácidas na atmosfera e tráfegos
intensos em vias próximas são exemplos de como o entorno pode atuar de forma negativa no
desenvolvimento da edificação e no seu tempo de vida útil.
3.3.2.2 Materiais
Esta análise pode ser considerada de alta complexidade, dada a grande diversidade
existente e suas variadas formas de obtenção. A importância do envolvimento da análise dos
materiais está no fato de que a durabilidade de uma edificação liga-se diretamente à qualidade dos
materiais empregados. Nas palavras de Bauer (1995, p.1): “Da qualidade dos materiais
empregados irá depender a solidez, a durabilidade, o custo e o acabamento da obra”. Também
deve ser avaliado que a definição de qualidade está tanto conexa às características de sua
produção ou origem quanto à forma que se dá seu uso.
Os materiais de construção que foram utilizados para a edificação das residências da
Vila Belga guardam coerência com o que já vinha sendo edificado na cidade. Apesar de
alguns autores especularem a possibilidade de parte dos materiais utilizados serem
importados, Lopes (2002) praticamente descarta essa possibilidade ao estudar o tema. O que
realmente parece ter sido bastante influenciado pela origem estrangeira é o próprio projeto das
casas, atribuído a Vauthier, como será referido mais a frente. Essa afirmação pode ser feita ao
observar-se a volumetria destacada das casas, com formato retangular, e pelo uso da cerâmica,
tanto nas coberturas quanto nas alvenarias.
Em relação aos danos provindos da origem dos materiais, pode-se considerar que
72
possuem fontes diversas conforme suas especificidades. Os materiais cerâmicos podem
apresentar problemas relacionados ao tipo de argila utilizada, ao modo como ocorreu a sua
queima ou seu dimensionamento. Já as madeiras podem apresentar falhas relacionadas ao seu
crescimento, como nós e falhas nas fibras, decorrentes da secagem mal feita ou ainda da
produção das peças, como os cortes ou desdobres incorretos. As pedras, por sua vez, podem
apresentar falhas relacionadas à composição do material ou a forma como ocorre seu corte ou
extração (BAUER, 1995; 2001). Do mesmo modo, pode-se observar, considerando todos os
materiais de construção, que o transporte e o armazenamento nos locais de aplicação, assim
como o próprio uso, também são responsáveis por danos nas edificações.
A partir dessas considerações, apresenta-se, subseqüentemente, uma análise
simplificada dos possíveis danos que podem ser percebidos nos principais materiais de
construção utilizados nas edificações que são alvo deste estudo. Análises mais aprofundadas
podem ser encontradas em bibliografia própria (BAUER, 2001; KLÜPPEL, SANTANA,
2006; MONK, 1996; OLIVEIRA, 2002; PETRUCCI, 1998; RESENDE, 2004; THOMAZ,
1989; VERÇOSA, 1991).
3.3.2.2.1 Cerâmicos
Compreendem basicamente as telhas, do tipo capa-canal, e os blocos cerâmicos,
maciços, que constituem as alvenarias. Apresentam como principais danos:
a) desagregação e eflorescências pela ação de sais e umidade;
b) desagregação por queimas incorretas das cerâmicas no processo de produção;
c) desagregação pela ação de altas temperaturas ou ação de gelividade nos poros;
d) rompimento por ação de carga, como excesso de peso ou flexão de elemento;
e) fragilização por contato constante com umidade ou biofilme;
f) desgastes ocasionados pelo uso, como choques mecânicos e atrito.
3.3.2.2.2 Madeiras
Abrangem desde as caixilharias e folhas das aberturas até pisos, forros e
madeiramento dos telhados. Costumam apresentar como danos mais freqüentes:
73
a) desagregação e ressecamento das fibras originados pela ação da radiação solar;
b) apodrecimento originado pela ação de umidade combinada a fungos e bactérias;
c) perda das propriedades e consumo das fibras por insetos e moluscos;
d) deformação ou rompimento das peças por ação de cargas;
e) deformação oriunda de falhas no crescimento, secagem ou processamento incorreto das peças;
f) queima por ação do fogo ou calor intenso;
g) desgastes ocasionados pelo uso prolongado ou abusivo.
3.3.2.2.3 Pedras
Utilizadas nas sapatas contínuas sob as paredes, atuam como fundações. Também são
encontradas como revestimentos dos pisos externos, nas calçadas. O tipo encontrado é a chamada
pedra grês ou arenito (pedra silicosa sedimentar). Podem apresentar como danos mais comuns:
a) eflorescências e criptoflorescências oriundas do transporte de água e sais ou outros
agentes;
b) desgastes por ações mecânicas – uso prolongado ou choques e atritos;
c) fraturas por choques ou retirada e transporte indevidos;
d) desgaste ou esfoliação por exposição ao intemperismo prolongado;
e) degeneração por exposição a agentes agressivos, como ácidos;
f) formação de crosta escura, que reúne a umidade e a sujeira em suspensão no meio
ambiente.
3.3.2.2.4 Metais
Existentes em pequena quantidade nas edificações, podem ser percebidos nas
ferragens das aberturas, nas calhas e rincões. Também se pode perceber o uso, ainda que não
original, de telhas metálicas em substituição às cerâmicas. Apresentam, como danos mais
significativos, os seguintes:
a) corrosão química e galvânica por agentes agressivos, atmosféricos ou presença de água;
b) quebra devido a dobras ou choques mecânicos.
74
3.3.2.3 Componentes
Atuam nas edificações ao agruparem materiais em sistemas distintos com funções
específicas, e sofrem, portanto, a ação de esforços não observados na análise dos
componentes separadamente. No estudo em questão, compreendem as fundações, paredes,
pisos, forros e coberturas. Também será analisado, aqui, o caso das argamassas que, pela
constituição, não são consideradas um material. Os problemas encontrados podem ser
oriundos de falhas no projeto, como subdimensionamentos, alterações de uso ou de função da
edificação ou, ainda, de execução, quando se percebe a aplicação inadequada dos princípios
constantes no projeto ou na correta forma de edificar.
3.3.2.3.1 Fundações
Podem apresentar danos decorrentes de mau dimensionamento da capacidade de
absorção de carga pelo solo ou ainda de alterações de uso ou do meio em que está inserido,
trazendo, como principais conseqüências:
a) fissuras por acomodação dos materiais de construção utilizados;
b) fissuras e recalque por mudança de uso, causando sobrecarga na fundação;
c) fissuras por alterações na lógica estrutural do conjunto, causado pela inserção,
retirada ou falência de elementos da estrutura;
d) recalque por alterações no subsolo do entorno, alterando a saturação do solo;
e) recalque por lixiviação das camadas laterais ou inferiores à fundação;
f) fissuras ocasionadas por trepidações de fluxos de veículos em vias próximas;
g) deslocamento ocasionado por ação de raízes de vegetais.
3.3.2.3.2 Paredes externas e medianeiras
São tratadas aqui de forma diferenciada em relação às internas, pois as primeiras são
de alvenaria de tijolos, enquanto que as últimas, de madeira. Podem vir a apresentar as
75
seguintes patologias:
a) fissuras provocadas por movimentação ou sobrepeso da estrutura da cobertura;
b) fissuras por acomodação de materiais de construção;
c) lesões diversas por transmissão de recalques das fundações;
d) desaprumo, trincas e até mesmo ruína por rotação de parede, causada pro
desaprumo de fundação ou falta de amarração da parede;
e) esmagamento gerando trincas e desprendimento, ocasionado por apoio de elemento
com sobrepeso;
f) desprendimento ou desagregação por degradação de elemento inserido na parede,
como apoio de tesouras ou mesmo blocos cerâmicos, originado por presença de
umidade;
g) esfoliação, eflorescências ou criptoflorescências originadas pelo transporte de sais
junto à umidade.
3.3.2.3.3 Paredes internas
Constituídas de madeira, apresentam como problemas mais freqüentes:
a) empenamento devido à variação da umidade;
b) desgaste das peças de fixação, tornando o plano frouxo;
c) desgaste devido ao tempo de uso e ação mecânica em planos com aberturas.
3.3.2.3.4 Pisos e forros
Estão colocados sob um mesmo item por apresentarem danos geralmente semelhantes.
Ambos são constituídos por tábuas, fixadas em barrotes ou nas tesouras, e podem apresentar
os seguintes danos:
a) empenamento devido à variação de umidade ou encharcamentos;
b) abaulamento devido a poucos pontos de fixação;
c) desgaste pelo uso contínuo;
d) danos por furos de fixação das divisórias internas, em casos de mudanças seguidas
76
de layout;
e) manchamento originado por goteiras ou derramamento de líquidos agressivos, como
urina ou fezes de animais.
3.3.2.3.5 Argamassas
A análise desses materiais poderia ser feita junto da que se desenvolve no item paredes
externas [3.3.2.3.2], no entanto, pretende-se observar com mais propriedade os diversos tipos
de patologias que podem vir a se manifestar nas superfícies das argamassas. Nesse sentido,
ressalta-se que são observadas em conjunto as características das argamassas de assentamento
e revestimento, porém não se consideram as patologias de ordem estrutural, já citadas em
relação às paredes, e que certamente se manifestam também nas argamassas. Assim,
apresentam-se como os danos mais comuns:
a) eflorescências ou criptoflorescências originadas na presença de sais solúveis (cálcio,
potássio, sódio, magnésio e ferro) que, na presença de umidade, migram para a
superfície, ou logo abaixo dela, onde se cristalizam;
b) desagregação do reboco pela presença de sais na argamassa ou no substrato, ou
ainda pela exposição prolongada da argamassa, sem proteção, às intempéries;
c) fungos, bactérias e musgos, instalados em áreas que possuem umidade abundante, e
temperatura adequada ao desenvolvimento;
d) fissuras originadas na interface entre diferentes materiais e que, portanto, se dilatam
de forma diferenciada, gerando as chamadas fissuras por dilatação térmica;
e) fissuras originadas logo após a execução, por retração da argamassa (perda
acelerada de água);
f) descolamento (empolamento) por hidratação posterior da cal, com conseqüente
aumento de volume;
g) descolamento em placas causado pela falta de aderência com o substrato, causado,
geralmente, pela presença de umidade constante ou por camada excessiva de reboco;
h) descolamento ou manchamento das camadas superficiais quando, no substrato, há a
presença de ferro ou aço corroído, que aumentam de volume;
i) vesículas por presença de impurezas na argamassa, como matéria orgânica ou argila;
j) danos diversos causados por choques mecânicos e atrito de mobiliário.
77
3.3.2.3.6 Cobertura
O sistema de cobertura é formado pela estrutura em madeira, pelas telhas, rincões e
calhas e espelhos de fechamento dos beirais. Os danos que costumam ocorrer com mais
freqüência são:
a) arqueamento da estrutura por ataque de insetos xilófagos ou sobrecarga do
conjunto;
b) apodrecimento e goteiras por quebra, escorregamento ou deslocamento de telhas,
por furos nos rincões ou calhas ou, ainda, por falta de argamassa de vedação em
pontos críticos;
c) ninhos de pássaros ou roedores sobre o forro por falta de vedação apropriada nos
espelhos, causando mau cheiro, risco de doenças e desgaste;
d) goteiras oriundas de inclinações impróprias da cobertura;
e) princípio de incêndio decorrente de instalações elétricas defasadas ou impróprias;
f) goteiras decorrentes de entupimentos de calhas e tubos de queda;
g) ação de fungos e mofos sobre o forro, oriundos de alguma fonte de umidade;
h) danificação de telhas e calhas por ação de vegetais.
Após essa descrição sobre os materiais e componentes das edificações da Vila
Belga e do reconhecimento de como as suas características podem influenciar na formação
de patologias, parte-se para a compreensão dos principais agentes e mecanismos de
degradação.
3.4 Principais agentes e mecanismos de degradação
A partir da classificação proposta anteriormente (item 3.2), desenvolve-se a
caracterização das causas ou agentes de degradação, com vistas a compreender os processos
envolvidos, dispostos em três grandes grupos: agentes ambientais ou climáticos; agentes
biológicos; e fenômenos excepcionais da natureza.
78
3.4.1 Agentes ambientais ou climáticos
Compreende o conjunto de ações derivadas de comportamentos do ambiente em que a
edificação está situada, assim como do clima e microclima que caracterizam o local. Com relação
a esse último aspecto, deve-se considerar que o local de implantação das edificações no núcleo
central da cidade comprova que elas sofrem influência de um clima diferenciado do encontrado
em subúrbios ou áreas rurais do município. Missio (2004, p. 1), analisando as variáveis relativas
ao clima em ambientes urbanos, afirma:
O clima constitui-se numa das dimensões do ambiente urbano e seu estudo tem
oferecido importantes contribuições ao equacionamento da questão ambiental das
cidades. O clima dessas áreas, denominado de “clima urbano”, é derivado da
alteração da paisagem natural e da sua substituição por um ambiente construído,
palco de intensas atividades humanas.
Segundo Sartori (apud MISSIO, 2004), a cidade de Santa Maria encontra-se localizada
em uma área deprimida, localizada entre a escarpa da Serra Geral, a norte, e o Escudo Sul-
riograndense, a leste e sudeste, em um compartimento geomorfológico chamado Depressão
Periférica Rio-grandense, caracterizada por coxilhas baixas e tabuleiros areníticos. O
desenvolvimento da malha urbana da cidade, em geral, apresenta-se prejudicado pela
existência de cursos d’água que se desenvolvem a partir do divisor de águas, localizado na
área central. A autora também explica que as condições climáticas de escala local são afetadas
por essa situação topográfica particular, assim como pela evolução e crescimento do espaço
urbanizado. Portanto, é mister que essas condições específicas sejam consideradas nas
análises de degradação. Os principais fatores constituintes das variáveis que influenciam o
clima são explicitados a seguir, assim como as suas implicações.
3.4.1.1 Radiação solar
Segundo afirma Feilden (2003), a radiação solar é a principal causa das condições
climáticas. É composta de três faixas principais: os raios ultravioleta (com comprimento de onda a
partir de 0.2 µm), o espectro de luz visível (com comprimentos de onda entre 0.4 e 0.9 µm) e os
chamados raios infravermelhos (com comprimento de onda até 8 µm), conforme figura 30. O
79
mesmo autor também comenta que “a luz, especialmente o componente ultravioleta, é um agente
destrutivo, particularmente a materiais orgânicos como a madeira, têxteis e pigmentos, e causa
descoloração, fragilidade e perda de massa” (FEILDEN, 2003, p. 93, tradução nossa).
Figura 30 – Espectro eletromagnético, com destaque para os fachos
de luz visível (VAREJÃO-SILVA, 2000).
A partir desses pressupostos, e entendendo que a quantidade de radiação solar é
proporcional ao número de horas de insolação, pode-se lançar mão dos levantamentos feitos por
Machado (1950), que fornecem os dados relativos às normais de horas de insolação mensal, para
mostrar os períodos do ano mais prejudiciais a exposições em geral. Esses dados podem ser
observados no gráfico seguinte (Figura 31), ressaltando-se a diferença entre os meses de verão
(maior número de horas de insolação) e inverno (menor número de horas de insolação).
Normais de Insolação para Santa Maria
155
133
156
157
147
172
232
208
199
196
218
239
0
50
100
150
200
250
Janeiro
Fevereiro
Março
Abril
Maio
Junho
Julho
Agosto
Setembro
Outubro
Novembro
Dezembro
valores em horas de insolão
Figura 31 – Gráfico de normais de horas de insolação em Santa Maria
(adaptado de MACHADO, 1950).
80
3.4.1.2 Temperatura
Grande parte das mudanças de temperatura que ocorrem no ambiente é introduzida
pela radiação solar que direta ou indiretamente incide sobre a superfície terrestre, em edifícios
ou mesmo sobre partículas existentes no ar, aquecendo-as. Como as variações de temperatura,
impreterivelmente, causam alterações dimensionais, como dilatação e contração, podem
surgir tensões nos diferentes materiais. Essa variação dimensional é diferenciada para cada
material e se caracteriza como um fator muito importante de degradação das edificações. Em
climas subtropicais, como é o caso do local das edificações, essas variações podem ser
consideráveis. As amplitudes térmicas podem ocorrer tanto dentro de um mesmo período do
dia quanto ao longo das estações, permitindo ocorrer, assim, entre outras conseqüências, a
fadiga e a trinca dos materiais e interfaces envolvidas. Os fatores que influenciam no
surgimento de tensões nos materiais ou elementos construtivos, citados por Feilden (2003),
são:
alteração dimensional absoluta;
características de elasticidade do material;
capacidade de movimentação sob carregamento;
restrição a movimentação imposta por outros materiais;
mudança de umidade.
Em Santa Maria, a média de temperatura do mês mais frio (junho) fica entre 13°C e
15°C, enquanto que a do mês mais quente (janeiro) é superior a 24°C, com média das
máximas próxima a 32°C (SARTORI, 2000). A média das temperaturas mínimas, constatada
entre 1968 e 1973, por Sartori (1979), fica entre 7,5 e 12 °C. As temperaturas médias anuais
variam entre 18°C e 20°C. Observando tais dados, percebe-se que a amplitude térmica é
bastante significativa. Além disso, as chamadas fases pré-frontais, caracterizadas pela
incidência de ventos do quadrante Norte, fazem com que as temperaturas cheguem à cerca de
30° C no inverno e, abruptamente, caiam próximas a 0° C, produzindo uma variação
dimensional considerável em um período de tempo curto, o que acelera os processos de
degradação. O gráfico abaixo (Figura 32), ajuda a ilustrar as variações de temperatura, por
meio das normais das temperaturas médias, máximas e mínimas (MACHADO, 1950).
81
Normais de Temperatura para Santa Maria
31,5
30,9
29,1
25,6
22,2
19,6
19,4 19,4
22,2
24,2
26,9
30,3
18,7
18,4
17,3
14,5
11,7
9,7
9,3
9,8
11,6
12,8
14,9
17,1
24,8
24,2
22,7
19,6
16,6
14,3
14,1
15,0
16,4
18,4
21,0
23,6
0,0
5,0
10,0
15,0
20,0
25,0
30,0
35,0
Jan
eiro
Feve
r
eiro
Ma
r
ço
Abril
Maio
Junho
Ju
l
ho
A
g
o
s
to
Setemb
r
o
Outubro
N
o
vemb
r
o
De
z
embro
Meses
Temepratura (° C.)
Média das Máximas
Média das Mínimas
Médias
Figura 32 – Gráfico com as normais das médias mensais das temperaturas médias,
máximas e mínimas (adaptado de MACHADO, 1950).
A tabela de coeficientes de dilatação térmica de materiais utilizada pelo ICCROM, e
citada por Feilden (2003, p. 94), mostra o comportamento de diversos materiais utilizados em
edificações. Alguns dados são apresentados na Tabela 1:
Tabela 1 – Coeficientes de expansão térmica de materiais.
MATERIAL COEFICIENTE (UNIDADE M/M°C)
Argamassa de cal 0,8x10
-6
Argamassa de cimento 0,91x10
-6
Tijolo 5x10
-6
Ferro 11.5x10
-6
Madeira de carvalho 3.4x10
-6
(longitudinal às fibras)
Fonte: Adaptado de ICCROM apud Feilden, 2003.
A análise da tabela mostra claramente que materiais justapostos em edificações, como,
por exemplo, uma parede feita de tijolos e rebocada com argamassa de cal, apresentam
coeficientes de expansão diferenciados. Assim, em dias com variação térmica de cerca de
10°C, que ocorrem principalmente no outono e na primavera, pode-se ter uma perda de
aderência entre os dois materiais em questão, levando a patologias, como o descolamento de
placas.
82
Outro fator que combina tanto a radiação solar quanto as mudanças de temperatura é o
choque térmico que as superfícies sofrem em períodos diários, principalmente ao amanhecer.
Com a temperatura do ambiente baixa e a incidência solar próxima à perpendicular, a
amplitude observada nas superfícies voltadas ao quadrante leste é bastante alta, produzindo
uma alteração dimensional brusca, não acompanhada pelas camadas mais profundas, o que
pode gerar patologias. Feilden (2003) também cita que, em edificações tradicionais, é
provável que a maior causa para as degradações de cobertura esteja na fadiga oriunda das
mudanças de temperatura.
3.4.1.3 Ar
Atua como elemento promotor dos processos de degradação por meio dos seus
constituintes, característica que adquire nuances específicas conforme o tipo de gases
emitidos pelo entorno, bem como pela energia aplicada a partículas ou mesmo a elementos
construtivos de edificações a partir dos ventos.
3.4.1.3.1 Constituintes do ar
A observação dos elementos constituintes do ar da atmosfera é importante para o
entendimento de alguns processos que o envolvem e acabam por produzir degradações em
edificações históricas. Conforme mostra o gráfico seguinte (Figura 33), os principais
elementos presentes na composição são o nitrogênio e o oxigênio. Porém, para a análise que
está sendo feita, os outros elementos, em pequenas quantidades, é que possuem maior
importância: vapores de água, ozônio, óxidos, cloretos e pequenas partículas em suspensão
são responsáveis, associados ou não, por reações nas superfícies dos materiais construtivos,
que reduzem a sua vida útil.
83
Constituição aproximada do ar
79%
20%
1%
Nitrogênio
Oxigênio
Outros gases
Figura 33 – Gráfico com a composição aproximada do ar (Adaptado
de RECURSOS NATURAIS – AR, 2007).
Os elementos encontrados em menor quantidade possuem origens diversas, mas, em
geral, são oriundos da ação humana ou de catástrofes de grande escala, como queimadas e
erupções. Em relação à ação humana, podem ser citadas, como produtoras de danos,
principalmente a atuação de grandes complexos industriais com emissões descontroladas de
gases por processamento ou queimas, ou ainda as queimas automotivas, concentradas em
grandes cidades. Segundo Braga et al. (S.d.), o dióxido de enxofre (SO
2
), quando lançado na
atmosfera, e em condições adequadas de temperatura, umidade e luz solar, combina-se com o
oxigênio (O
2
) e forma o ácido sulfúrico (H
2
SO
4
) que, por sua vez, combinado com a chuva,
altera o seu pH, formando a chamada chuva ácida. Essa reação ocorre sob a ação dos
catalisadores à base de nitrogênio (NO e NO
2
), ozônio e outros. Corroborando isso, John (1987)
afirma que os poluentes à base de enxofre atacam metais e até pedras com metais na
composição, corroendo-os. Já Oliveira (2002), citando a ação do dióxido de carbono (CO
2
),
largamente emitido pela própria indústria da construção civil, comenta que esse elemento,
durante as chuvas, pode-se combinar às moléculas de H
2
O e formar o ácido carbônico (H
2
CO
3
),
também prejudicial às superfícies dos materiais edificados.
As atuais áreas urbanas contam com a presença constante de uma grande quantidade
de partículas de areia ou pó em suspensão na sua atmosfera. Também estão inclusas, nesse
grupo, partículas resultantes da queima incompleta de combustíveis desses centros
(FEILDEN, 2003). Esse autor também afirma que essas partículas geralmente tem pH de teor
ácido devido ao SO
2
e aos traços de metais, como o ferro, inclusos em suas composições. A
84
deposição dessas partículas costuma ser percebida nas superfícies, tanto horizontais quanto
verticais das edificações, mas principalmente nas últimas, quando parcialmente protegidas das
chuvas. A deposição caracteriza-se pela aparência cinza-escura ou preta, como uma crosta
negra, relativamente homogênea e de difícil retirada. Costuma ter de 0,5 a 3 mm e fixa-se pela
penetração nos poros. Como conseqüências de sua permanência, além da depreciação na
aparência, podem ser citadas a alteração das características da superfície, como pH e
permeabilidade, bem como a modificação das características de absorção de radiação solar e
conseqüente dilatação ou retração (OLIVEIRA, 2002).
Já as edificações localizadas em regiões próximas aos oceanos sofrem constantemente
com a degradação produzida pelos aerossóis gerados pelo mar, conhecidos como efeitos da
maresia. Os cloretos presentes na água do mar e em suspensão na atmosfera causam grandes
problemas aos metais por meio da corrosão. Neste trabalho, essa análise não será aprofundada, já
que a distância do litoral impede a atuação de tais fatores no sítio em questão.
3.4.1.3.2 Vento
É a resultante de diferentes pressões atmosféricas em um sistema climático, causando
o deslocamento do ar. Como elemento promotor de degradação, o vento pode gerar pressão
sobre os planos ou materiais construtivos, produzindo tensões que levem à deformação, ao
deslocamento ou à ruptura. Esse tipo de situação tem ocorrência mais esporádica, pois implica
em grandes velocidades de incidência. Outro dano que a ação do vento pode produzir nas
edificações é o impacto mecânico não do ar em si, mas de partículas de terra ou areia que com
ele são arrastadas. Esse último tipo de ação é bastante comum em áreas abertas e sem planos
que barrem a incidência direta, como praias e desertos e, portanto, não muito comum para o
estudo em questão.
Em Santa Maria, considerando-se a periodicidade anual, existe a predominância dos
ventos de quadrante leste e sudeste, sendo que o primeiro ocorre de junho a dezembro e, o
outro, de janeiro a maio. A intensificação dos ventos é um fenômeno que ocorre no município
e sua origem está relacionada com as frentes pré-frontais de inverno. Costumeiramente
chamado de “vento norte”, ocorre principalmente nos meses de julho e agosto, e sua direção é
dos quadrantes norte e noroeste (SARTORI apud MISSIO, 2004). Sartori também cita (1979,
p. 97) as influências inter-agentes entre cidade e ventilação, conforme segue:
85
A cidade por si só, com suas edificações e arruamentos, influi na direção e
intensidade do vento, pois o movimento do ar acima, entre os edifícios e
particularmente ao redor deles, se constitui em uma ventilação diferente daquela que
ocorre na região circundante.
A combinação de ventos ocasionais de forte intensidade e a disposição dos arruamentos
e edificações, conforme citado, costuma produzir um fenômeno que Sartori (1979) chamou de
canyons urbanos. Sua ocorrência está relacionada, também, à rugosidade das superfícies em
questão e à presença de ilhas de calor, notadamente existentes em áreas urbanas e muito
pavimentadas (SARTORI, 1979). Esses ventos, pela intensidade com que ocorrem, podem
trazer prejuízo, principalmente, aos elementos mais desabrigados, como a cobertura.
3.4.1.4 Água
Pode ser vista como um agente de degradação ou como meio para a instalação de
outros agentes, mas, certamente, pode-se afirmar que é um dos maiores causadores de
patologias, de forma direta ou indireta, quer se encontre no estado de gelo, no líquido ou
mesmo enquanto vapor de água.
3.4.1.4.1 Mecanismos de transporte de umidade nos materiais
A compreensão dos fenômenos de degradações oriundas da umidade passa pelo
entendimento da forma como ocorre o seu transporte pelos elementos que compõem a
edificação. Nappi (apud POSSER, 2004) expõe que a água, tanto no estado líquido quanto no de
vapor, tem sua entrada, ou movimentação no interior do corpo, condicionada à presença de
poros, trincas ou fissuras nos revestimentos. Polisseni (1985), discorrendo sobre o mesmo tema,
comenta que a umidade presente em alguma parte do material tende a se distribuir
uniformemente em toda a sua massa, chegando ao equilíbrio. O transporte de umidade no
estado gasoso ocorre pelos mecanismos de difusão entre dois fluídos com concentrações
diferentes e pela convecção, por meio do movimento relativo entre partículas (LERSCH, 2003).
86
Já no estado líquido o comportamento difere, e está condicionado à capilaridade, à gravidade e
aos diferentes gradientes de pressão a que os materiais estão submetidos (FREITAS apud
POSSER, 2004). O estudo ampliado de alguns desses mecanismos será feito adiante, quando
houver a necessidade de compreender as formas de degradação de maneira mais específica.
3.4.1.4.2 Origem da umidade nos materiais
A classificação utilizada por Lersch (2003), e que serve de modelo para esta, une as
formas de manifestação da água como agente de degradação e como meio para propagação de
outros agentes. Apesar de entender que a forma de divisão mais clara, para fins de
classificação, passa por separar essas duas áreas, optou-se por mantê-las entrelaçadas, já que
alguns dos itens analisados atuam tanto como fatores de degradação quanto meio para outros
se manifestarem. A abordagem inicia com a forma mais perceptível de observação da água
nas edificações, a umidade, e, posteriormente, são analisadas as demais.
3.4.1.4.2.1 Umidade de infiltração
Os fenômenos de infiltração de água nas edificações podem ser percebidos tanto nas
regiões mais elevadas das paredes quanto nas mais baixas, costumando estar mais presentes
nas últimas. Originadas, geralmente, por falhas no seu estado de conservação ou por falhas
construtivas, a umidade passa das áreas externas às internas por pequenas trincas, pela alta
higrospicidade ou mesmo por falhas na interface entre elementos construtivos, como planos
de parede e portas ou janelas, ou entre calhas e platibandas. Em geral, é oriunda da água da
chuva e, excetuando-se as paredes, a própria cobertura também pode ser considerada um
ponto de insurgência de umidade na edificação, sendo então percebida nas lajes, forros e,
principalmente, nas paredes (KLÜPPEL; SANTANA, 2006).
A chuva, além de atuar como fator preponderante de origem da umidade de infiltração,
pode ocasionar outros tipos de infiltração. Sua combinação com outros fatores, como o vento,
pode agravar uma série de danos, como a pressão de infiltração em planos e mesmo a
percolação pelos elementos de cobertura. Vale lembrar, porém, que se os sistemas
87
construtivos estiverem respondendo de forma esperada, tais problemas não ocorrem e a
edificação deve suportar tal ação. O gráfico seguinte (Figura 34) apresenta as normais de
precipitação nos diversos meses em Santa Maria, e pode-se perceber uma distribuição
relativamente uniforme, o que contribui para a presença constante de umidade no meio
ambiente (MACHADO, 1950, adaptado).
Precipitação normal
144
140
129
163
135
145
121
129
163
152
191
157
0
50
100
150
200
Janeiro
Fevereiro
Março
Abril
Maio
Junho
Julho
Agosto
Setembro
Outubro
Novembro
Dezembro
valores em mm.
Figura 34 – Gráfico com as normais de precipitação mensal em Santa
Maria (adaptado de MACHADO, 1950).
3.4.1.4.2.2 Umidade ascensional
Caracteriza-se pela presença de água originada, geralmente, do solo, tanto por
fenômenos sazonais de aumento de umidade quanto por presença permanente de umidade de
lençóis freáticos superficiais. Independente de sua freqüência, o fenômeno,
impreterivelmente, é conseqüência de falhas na impermeabilização da interface entre as
estruturas de fundação e as áreas superficiais, ou entre o terreno e os planos abaixo da
superfície do terreno (subsolo). A sua ocorrência é percebida principalmente em paredes e
pisos, sendo que, nas primeiras, Verçosa (1991) comenta que não costumam ultrapassar de
0,8m, enquanto que Seele (apud LERSCH, 2003) cita médias de 0,80 m, chegando a até 1,5m.
88
A ascensão da água em paredes e pisos ocorre pela existência do fenômeno de
capilaridade. Os vasos capilares são pequenos canais vazios existentes em materiais diversos,
como os cerâmicos e lenhosos, que permitem a água subir até o momento em que entra em
equilíbrio com a força da gravidade. A altura que a água ascende pelo vaso capilar depende
principalmente do seu diâmetro: quanto menor, maior a altura alcançada e também a taxa de
evaporação da superfície, pois quanto maior a evaporação, menor a altura (FEILDEN, 2003).
Além disso, Fielden (2003) aponta que a altura da umidade capilar aumenta com o tempo, já
que o fluxo contínuo de água pelos poros carrega os elementos internos às estruturas, como
sais, o que acaba por liberar outros poros, e tal carreamento de elementos pode produzir zonas
ou muito carregadas de sal ou dele desprovidas, o que pode gerar outros danos.
A umidade presente nos materiais, tanto com origem na umidade do ar quanto no solo,
pode ser compreendida pelo gráfico (Figura 35) elaborado por Straube (2002) e também citado
por Posser (2004). As regiões A, B e C compreendem a umidade higroscópica, ou seja, possível
de ser obtida unicamente por meio do ambiente (ar). É interessante observar que parte dessa
umidade já constitui o material com o meio em que está inserido. A região D compreende a etapa
em que os poros estão suficientemente saturados e torna-se possível o transporte de água pelos
capilares. O limite entre as regiões D e E representa o ponto em que os capilares apresentam-se
cheios de água. A região E mostra o estado de supersaturação, quando apenas forças externas,
como pressões diferenciadas, conseguem fazer com que o material absorva mais água.
Figura 35 – Gráfico com os três regimes de retenção de umidade: umidade higroscópica
(regiões A-C), umidade capilar (região D) e o regime supersaturado (região E)
(adaptado de STRAUBE, 2004).
89
3.4.1.4.2.3 Umidade por condensação
O aparecimento de umidade condensada nos elementos construtivos é conseqüência da
presença de grande umidade no ar e da existência de superfícies que estejam com temperatura
abaixo da correspondente ao ponto de orvalho. O fenômeno ocorre pela redução de capacidade
de absorção de umidade pelo ar quando é resfriado, na interface da parede, precipitando-se.
Assim, pode-se afirmar que os diferentes materiais, conforme a sua densidade, acabam por se
comportar de forma diferenciada quanto à condensação, em que os mais densos são mais
atacados, enquanto que os de menor densidade sofrem menos. Klüppel e Santana (2006)
consideram que, pela inserção da água se dar pelo ar, esse tipo de agente costuma apresentar-se
de forma superficial, sem penetrar a grandes profundidades nos elementos. Já Feilden (2003)
afirma que o chamado efeito Stefan é muito mais danoso do que a água da chuva,
caracterizando-o como a condensação de uma grande quantidade de umidade provinda do ar em
um plano, fixando, junto ao vapor, todo tipo de partículas em suspensão, como moléculas de
carbono, sulfato de cálcio e óxidos de ferro. Em relação aos materiais que estão em suspensão
no ar e que podem fixar-se por condensação nos materiais edificados, podem-se citar os sais
oriundos das zonas oceânicas, inexistentes na região em análise, e os emitidos por zonas
industriais e urbanas, os quais estão presentes no sítio urbano de Santa Maria.
3.4.1.4.2.4 Umidade de obra
Esta terminologia é utilizada para caracterizar a umidade que ficou interna aos
materiais, por ocasião, em geral, de sua execução, e que acaba por se exteriorizar em
decorrência do equilíbrio que se estabelece entre material e ambiente. O exemplo mais
comum desse tipo de situação é a umidade contida nas argamassas de reboco que, logo após
executadas, transferem o excesso de umidade para a parte interna das alvenarias, necessitando
de um prazo maior do que o da cura do próprio reboco para entrar em equilíbrio com o
ambiente em que está situada. Lersch (2003) lembra que a avaliação da quantidade de
umidade de obra em edificações antigas é imprecisa, mas que toda nova intervenção efetuada
deve considerar a inserção de umidade em um meio estável, possibilitando o ressurgimento
desse tipo de patologia.
90
3.4.1.4.2.5 Umidade acidental
Caracteriza-se por ser oriunda de falhas nos sistemas de tubulações, como águas
pluviais, esgoto e água potável, e acaba por gerar infiltrações. Segundo Klüppel e Santana
(2006), a umidade acidental costuma caracterizar-se pelo surgimento de manchas isoladas nas
paredes, com formato próximo ao circular e com o centro mais úmido, e por gerar
pulverulências na área afetada, conforme a figura 36. A existência de umidade com esse tipo
de origem adquire importância especial quando se trata de edificações que já possuem um
longo período de existência. Tal fato decorre da presença de materiais que podem ter seu
tempo de vida já excedido, como antigas tubulações (dutos de ferro fundido para água potável
ou manilhas cerâmicas para águas servidas), que não costumam ser contempladas em planos
de manutenção predial.
Figura 36 – Croqui com elucidação característica de presença de
umidade acidental (KLÜPPEL; SANTANA, 2006).
3.4.1.4.3 Conseqüências da presença de umidade nas edificações
A forma de atuação da água nos processos de degradação inclui tanto os considerados
diretos, em que ela é o agente causador do dano, como os indiretos, quando proporciona os
elementos necessários para que outros processos patológicos se manifestem.
A principal forma de degradação direta dos elementos da edificação pela água é
percebida nas ações de gelo e degelo, também conhecidas como gelividade (PETRUCCI,
91
1998). Costumam ocorrer em países frios, mas podem ser encontrados na região meridional
do Brasil, como no Rio Grande do Sul. Entende-se pelo fenômeno o congelamento da
umidade que está nos poros, principalmente das alvenarias e das telhas, e acaba por congelar
nos dias em que a temperatura chega próxima a 0°C. A conseqüência disso é uma série de
tensões no poro que, após diversas variações sazonais, acaba por gerar, principalmente, a
desagregação das camadas superficiais (FEILDEN, 2003).
As degradações indiretas, ou decorrentes da água como meio, são variadas. Dentre
essas, os danos causados por sais talvez sejam os mais numerosos. Utilizam a umidade como
meio para transporte, combinação e deposição em poros ou superfícies e produzem diversas
patologias. Podem ser citados o surgimento de eflorescências e criptoflorescências nas
superfícies e logo abaixo dessas, que podem se transformar em cristalizações quando o teor de
umidade se reduz. Os sais também produzem desequilíbrio das concentrações internas das
alvenarias e argamassas. As principais conseqüências dessas deposições salinas, além da
depreciação da aparência, quando superficial e sem acabamento, são o surgimento de
vesículas nas pinturas e o empolamento localizado ou em placas devido à expansão de sais
cristalizados (CINCOTTO, 1988). Segundo Feilden (2003), os sais potencialmente mais
danosos para as superfícies pintadas são os sulfatos de sódio, potássio, magnésio e cálcio,
justamente pela falta de coesão que produzem nos materiais dos quais saíram.
Em ambientes urbanos ou próximos a áreas industriais, também deve-se levar em
conta que a água atua como meio para a entrada de elementos reagentes de teor geralmente
ácido nos elementos da edificação. É o que se costuma chamar de chuva ácida, uma
combinação do dióxido de enxofre, resultante das queimas automotivas, com a água da chuva.
O óxido de nitrogênio e o dióxido de carbono também constituem gases ácidos que podem
gerar degradações quando se precipitam, combinados com a chuva (LERSCH, 2003).
Segundo essa autora, o problema pode ser considerado como uma contaminação ambiental.
Andrade e Dal Molin (1997) analisando a degradação de estruturas de concreto armado no
Rio Grande do Sul, afirmam que as agressões do meio nos elementos são bastante
significativas, e o fenômeno se intensifica ainda mais em grandes centros urbanos, zonas
industriais e atmosferas marinhas. Essas agressões, freqüentemente, traduzem-se em reações
de corrosão, as oxidações. A oxidação de metais podem ser basicamente de dois tipos –
química e eletroquímica – onde a primeira ocorre normalmente do contato direto de materiais
metálicos com o meio ambiente, geralmente úmido, e a segunda, da presença de dois metais
diferentes ligados ou em meio aquoso (OLIVEIRA, 2002).
Conforme observa Saad (2003), o desenvolvimento biológico, tanto de fungos quanto
92
de algas, bactérias e até mesmo de vegetais superiores, também está relacionado com a
existência de umidade nas superfícies dos materiais componentes da edificação. O estudo dos
agentes biológicos sobre as edificações será contemplado logo adiante.
Ainda devem ser citados os processos de expansão e de retração como responsáveis
pela geração de degradações nos elementos construtivos. As variações de temperatura, aliadas
aos diferentes índices de umidade absorvidos ou liberados pelos materiais provocam variações
dimensionais que contribuem para a geração de tensões internas e que, com repetições ao
longo do tempo, podem gerar fadiga.
3.4.2 Agentes biológicos
Compreendem os derivados da ação de quaisquer elementos vivos sobre as partes das
edificações ou sobre seus componentes. Abrangem desde a ação de organismos unicelulares até
animais, incluindo-se aí o homem. Em relação às razões que levam à degradação, observa-se que,
enquanto os seres mais simples utilizam principalmente a edificação como fonte de nutrientes
sintetizáveis para sua vida, os mais complexos, nesta classificação, utilizam-na como habitat para
seu desenvolvimento. A partir de agora será feita a classificação e descrição dos agentes
biológicos que podem estar envolvidos nos processos de degradação das edificações em questão.
3.4.2.1 Microorganismos
São assim chamados por nem sempre serem visíveis a olho nu, e compreendem, no
estudo em questão, os fungos, algas, bactérias e cianobactérias, assim como a combinação
entre eles. Podem atuar de forma a criar uma camada na superfície dos materiais, o chamado
biofilme (SAAD, 2003), responsável por catalisar o processo de degradação. O biofilme
possui, além dos microorganismos, ácidos e polímeros extra-celulares (PEC) que aumentam a
adesão das substâncias ao substrato, conforme representado na figura 37 (GAYLARDE;
MORTON apud SAAD, 2003). Assim, os processos de desagregação das superfícies são
gerados, normalmente, pelos microorganismos para permitir sua subsistência e
desenvolvimento.
93
Figura 37 – Esquema de biofilme e adesão de microorganismos
ao substrato (SAAD, 2003).
3.4.2.1.1 Fungos
Segundo Shirakawa et al. (1995), fungos são organismos nucleados, uni ou
multicelulares que, por não produzirem seu próprio alimento, precisam recorrer ao substrato
para obter compostos orgânicos pré-elaborados. Secretam, assim, enzimas digestivas sobre a
superfície onde se instalaram, auxiliando na sua decomposição (RAVEN et al., 2001). Sua
existência costuma ser observada já em estágios avançados de desenvolvimento e é
conhecida, comumente, como mofo ou emboloramento. Ainda segundo Raven et al., as
manchas oriundas desse tipo de agente, geralmente, têm as tonalidades preta, marrom ou
verde, mas também podem ser esbranquiçadas ou amareladas. Analisando as condições
necessárias para o desenvolvimento, Yazigi (2004, p. 515) comenta que “o desenvolvimento
de bolor nas edificações está associado a existência de água [...]”. Bauer (2001) confirma esse
dado e acrescenta que, em se tratando de madeiras, dificilmente há desenvolvimento de
fungos se não houver também oxigênio atmosférico e temperatura em torno de 20°C.
3.4.2.1.2 Algas
Atuam de forma isolada ou em simbiose com fungos, originando, nesse último caso,
os chamados liquens. São organismos geralmente autótrofos, que produzem, portanto, seus
alimentos. Costumam ser percebidos, sobre as superfícies, por manchas nas cores verde,
vermelha ou marrom (FEILDEN, 2003). Já Saad (2003) observa que um dos grandes papéis
94
das algas é oferecer o substrato necessário para o desenvolvimento de outros organismos mais
complexos sobre elas.
Os liquens compõem-se de algas e de fungos, e sua retirada das superfícies é bastante
difícil, pois costumam desenvolver-se também nas fendas dos materiais. Produzem
deterioração e aumento de porosidade, principalmente pela liberação de ácidos (como o
oxálico), para obter materiais do substrato, necessários à sua sobrevivência.
3.4.2.1.3 Bactérias
São organismos microscópicos existentes em quantidades muito grandes na natureza,
além de terem reprodução bastante rápida (RAVEN et al., 2001). Podem ser autotróficas ou
heterotróficas e, segundo Bauer (2001), costumam produzir menos danos que os fungos. Esse
autor também observa que, em madeiras vivas, as chamadas bactérias parasitas produzem tumores
que hipertrofiam os tecidos, enquanto que nas secas, caso de maior importância por estar ligado
ao uso na construção civil, geram processos de degradação química por oxidação (saprófitas
aeróbias) ou redução (saprófitas anaeróbias). Já em pedras, as bactérias estão relacionadas a
fenômenos de dissolução e formação de pátina superficial. As cianobactérias também estão
relacionadas a processos de degradação do tipo spalling, ou descamação, pois penetram nas
fissuras dos materiais, absorvem água, aumentando sua massa, e geram uma pequena pressão
interna, muitas vezes suficiente para desagregar partes do substrato (SAAD, 2003).
3.4.2.2 Vegetação
A vegetação atua sobre as edificações, conforme Lersch (2003), de forma a reter
umidade sobre as superfícies, deteriorá-las para obtenção de nutrientes, depositar matéria
orgânica ou, como efeito mais danoso, gerar problemas estruturais pelo desenvolvimento de
caules e raízes. A mesma autora também cita que as causas relacionadas ao surgimento desse
tipo de agente degradador são a falta de manutenção nas edificações (comum em prédios
antigos ou abandonados) ou o projeto ou conformação do entorno, que podem permitir
situações prejudiciais.
95
Os tipos de vegetação envolvidos nas possíveis degradações às edificações são
divididos conforme o porte, em pequenas, médias e grandes. As vegetações de pequeno porte
compreendem as briófitas, conhecidas como musgos (RAVEN et al., 2001), além de espécies
herbáceas e arbustivas. O dano relacionado a esse grupo compreende aumento de umidade das
superfícies, com os danos conseqüentes ligados a isso, além de degradações em revestimentos
e argamassas de assentamento, como no desenvolvimento de heras em paredes. As espécies
de médio porte são responsáveis por sombreamentos nas edificações, aumento na umidade e
redução da incidência de ventos, além, é claro, da deposição de matéria orgânica em locais
nem sempre apropriados, como paredes e dutos de escoamento pluvial, podendo, nesse último
caso, gerar entupimentos e danos secundários. Conforme Lersch (2003), esse tipo de
vegetação, assim como a de grande porte, é responsável por criar o ambiente adequado (pouco
sol e grande umidade) para o desenvolvimento de insetos e outros microorganismos. As
vegetações de grande porte são responsáveis, principalmente, por danos de ordem estrutural,
por meio do deslocamento de paredes e fundações, bem como pela deposição de matéria
orgânica (folhas e galhos) sobre os planos de cobertura, produzindo entupimentos nos
sistemas de escoamento pluvial.
3.4.2.3 Insetos
Atuam, principalmente, de forma a obter abrigo e alimentação nos elementos
construtivos das edificações, sendo comumente encontrados cupins, carunchos e formigas. O
elemento construtivo mais atacado certamente é a madeira, pois tem origem orgânica e sua
composição possui celulose, fonte de alimento para várias espécies de insetos. As formigas,
segundo o IPHAN (apud LERSCH, 2003), podem constituir grandes galerias subterrâneas e
provocar problemas de recalques ou mesmo auxiliar na desagregação das argamassas das
alvenarias. Já os insetos xilófagos são de duas ordens: isóptera, na qual estão incluídos os
cupins, e coleóptera, na qual se encontram as brocas e besouros (COSTA-LEONARDO, 2004).
Os cupins, também conhecidos como térmitas ou formigas brancas, são insetos da ordem
isóptera que vivem em sociedades organizadas, divididos em castas e com funções específicas. As
razões para a infestação na madeira são a obtenção de alimento, a celulose, e mesmo a existência
de um meio abrigado para o desenvolvimento (galerias). Existem duas espécies que suscitam a
atenção para este estudo: os chamados cupins de madeira seca, ou cryptotermes brevis, e os
96
cupins subterrâneos, ou cryptotermes havelandi (BARROS, 2003). Em ambas as espécies, a busca
por novos locais de infestação ocorre nos meses quentes, da primavera e do verão, e os
reprodutores desenvolvem asas, produzindo as chamadas revoadas. Esse é um dos momentos em
que se pode ver, com clareza, a infestação no madeiramento das edificações históricas. Os danos
causados pelos cupins são a depreciação visual das peças em questão e a redução progressiva das
seções resistentes, que pode levar ao colapso (Figura 38).
Figura 38 – Assoalho de edificação da Vila Belga atacado por cupins
(ACERVO DO AUTOR).
Os cupins de madeira seca recebem esse nome justamente por atacar principalmente
peças já em processo de secagem ou totalmente secas. Sua ação é restrita às peças já atacadas,
pois não conseguem se descolar em outro meio que não sejam as próprias galerias já feitas na
madeira. O tamanho dos ninhos depende do tamanho das peças atacadas, mas, em geral, essa
espécie costuma ter comunidades pequenas e de reprodução lenta se comparada com as
outras. Já os cupins subterrâneos são bem mais vorazes, possuem comunidades maiores e se
reproduzem mais rapidamente. O maior problema, porém, dessa espécie, é o fato de
possuírem seus ninhos junto ao solo e conseguirem criar galerias de longas extensões para
obter alimentos (BARROS, 2003).
A ordem dos coleópteros é xilófaga essencialmente em fase larval, atacando, porém,
desde árvores vivas, recém abatidas até madeiras secas, e desde o alburno até o cerne das
madeiras. A infestação ocorre quando a fêmea deposita seus ovos na superfície da madeira e,
com a eclosão, quando as larvas penetram e se alimentam, formando as galerias. As famílias
97
responsáveis por ataques são escolitídeos, platipodídeos, bostriquídeos, lictídeos e anobídeos,
sendo as duas últimas as mais freqüentes (COSTA-LEONARDO, 2004; BARROS, 2003).
3.4.2.4 Animais de pequeno porte
Estão incluídos nesse grupo desde aves, como pombos e pequenos pássaros, até
morcegos, gambás e roedores, como ratos. A existência desses animais em edificações
históricas está relacionada, conforme Feilden (2003), com três fatores: localização (perto de
fontes de alimento), uso (conter ou atrair alimentos) e a própria construção (permissiva à
existência de animais). Tais fatores mostram que as razões para a existência de infestações
estão relacionadas com a existência de um abrigo para tais animais, que eventualmente serve
de ninho para os filhotes, e de fontes de alimentação.
Os danos relacionados à existência de pequenos animais em edificações iniciam-se por
soleiras, cornijas e outros elementos atingidos pela ação dos bicos e pés de aves e mesmo por peças
roídas por ratos. Outra conseqüência danosa é a deposição de excrementos, que podem ser ácidos ou
básicos, mas que, normalmente, reagem com a superfície em que estão depositados e acabam por
degradá-la. Situações como essa última podem ser vistas em fachadas e mesmo em forros, como os
de estuque (caso dos morcegos). A deposição de excrementos em forros também pode produzir
sobrecarga, gerando abaulamento ou mesmo recalques, além de facilitar o crescimento microbiano.
Já ninhos de pássaros e mesmo pássaros mortos são tidos como causas comuns de entupimentos de
calhas e tubos de queda pluvial, produzindo infiltrações e danos (KLÜPPEL; SANTANA, 2006).
Até mesmo incêndios e curto-circuitos são atribuídos a roedores, conforme afirma Allsopp (2000).
Considerando-se, ainda, que excrementos de ratos, assim como de outros animais, podem causar
doenças, não devendo, portanto, entrar em contato com o homem.
3.4.2.5 Uso e ação do homem
Segundo a classificação proposta e utilizada por Lersch (2003), os danos gerados pelo
uso e ação do homem podem partir do descaso com as edificações, como a falta de
manutenção preventiva, o vandalismo ou mesmo a negligência, de ações inapropriadas, como
98
usos inadequados ou ações sem apoio técnico, ou ainda de ações decorrentes do
desenvolvimento das áreas em que as edificações estão inseridas (desenvolvimento urbano).
As considerações sobre a importância das ações do homem sobre as edificações assentam-
se em dados díspares, porém todos as destacam como muito relevante, em relação à presente
temática. Enquanto Carmona Filho e Marega (apud VERÇOSA, 1991) apontam que 14% dos
danos em edificações têm como causa o mau uso, Oliveira e Avezedo (apud PERES, 2001), em
estudo realizado em Pelotas (RS), com o objetivo de analisar a causa de patologias em edificações
históricas, observam que 60,34 % dos danos estavam relacionados à falta de manutenção.
3.4.2.5.1 Falta de manutenção preventiva
A manutenção dos sistemas da edificação é a forma mais prática e menos dispendiosa
de se ampliar a vida útil da edificação. Os diversos componentes dos elementos construtivos
possuem expectativas de duração distintas, o que gera a necessidade de se possuir um
programa regular de conferência e reposição dos elementos degradados da edificação,
especialmente da histórica. Klüppel e Santana (2006), na elaboração de um manual acessível
aos proprietários de edificações tombadas, propõem que as manutenções devem ocorrer com
periodicidades que vão desde a diária, como no caso de limpeza de pisos, tijoleiras e
tabuados, até bienais, como no caso de repinturas. Já o Instituto Municipal de Arte e Cultura
do Rio de Janeiro observa que, nas edificações que fazem parte do conjunto chamado de
Corredor Cultural, a má conservação dos telhados e sistemas de queda pluvial e dos rebocos
podem, com freqüência, provocar a degradação (INSTITUTO MUNICIPAL DE ARTE E
CULTURA – RJ, 1985).
Nesse ponto, o estudo aqui desenvolvido difere do de Lersch (2003), pois a autora
separa os fatores oriundos do uso abusivo ou exagerado dos decorrentes da falta de
manutenção preventiva. Optou-se por unir esses dois fatores ao se entender que o próprio uso
exagerado decorre de uma falta de manutenção periódica, constituindo-se então, e em suma,
no mesmo fator.
As atuais linhas de atuação da conservação brasileira ainda não conseguiram colocar em
prática alguns conceitos já há muito tempo presentes e aplicadas pelas escolas européias de
patrimônio, segundo as quais se deve sempre “[...] conhecer muito para intervir pouco e
prevenir para não intervir [...]” (LERSCH, 2003, p. 86). Ainda em relação às atividades de
99
manutenção, Viñas (2003.) assume uma postura mais flexível, e comenta que, por vezes, a
alteração no estado físico do material não pode ser confundida com sua deterioração, já que a
pátina não é tida como deterioração ou aspecto negativo, mas sim uma conseqüência da
passagem do tempo.
3.4.2.5.2 Intervenções indevidas
A reutilização das edificações históricas é entendida, por diversas linhas conceituais,
como uma das mais eficientes formas de garantir a preservação na contemporaneidade
(FROTA, 2004). Porém, isso exige uma postura coerente do responsável, já que a proposição
de elementos novos em substituição aos antigos, e o estudo de cargas, no caso de
refuncionalização dos espaços, faz-se necessária. No primeiro caso, de substituição de
materiais componentes da edificação, há a necessidade de estudos para verificar se não fazem
parte da memória que se pretende preservar. No segundo, de readequação estrutural a um
novo uso, é importante que sejam refeitos os estudos de estabilidade e capacidade de carga,
para não se incorrer em casos de sobrecarga ou retirada de elementos estruturais que possam
levar a edificação ao colapso.
Ao discorrer sobre danos estruturais na reutilização de edificações, o ICOMOS (2001,
p. 17) afirma que os danos das intervenções humanas podem ser causados por diversos
fatores, como:
a redução da capacidade portante devido à execução de aberturas, nichos, etc.;
a criação de forças não equilibradas devido a eliminação de arcos, vigas, paredes,
etc.;
o aumento de peso como resultado do aumento de sobrecargas à estrutura;
a redução da capacidade resistente do solo devido a escavações, galerias, edifícios
vizinhos, etc.
A preocupação com intervenções mal sucedidas e com a falta de preparo, mesmo por
profissionais habilitados a projeto e execução de edificações, levou a que o Conselho Federal
de Engenharia, Arquitetura e Agronomia, órgão responsável pela regulamentação dos
profissionais ligados à área, publicasse, em 2005, uma decisão normativa (n° 075/2005) que
estabelece a responsabilidade e o gerenciamento das atividades em sítios ou edificações
tombados como atribuições dos arquitetos:
100
Considerando que as atividades de restauração e conservação têm por finalidade
preservar o significado cultural de um bem, requerendo medidas de segurança,
manutenção e adaptação que contemplem sua futura destinação;
Considerando que as atividades de conservação e restauração em edifícios,
monumentos e sítios de valor cultural, e em sua vizinhança ou ambiência, exigem
formação específica [...].
Considerando que os arts. 2º e 21 da Resolução n.º 218, de 1973, definem as
competências do Arquiteto e do Urbanista;
Art. 1º - definir os profissionais competentes para executar as atividades de projeto e
execução de serviços e obras de conservação e restauração em edifícios,
monumentos e sítios de valor cultural, e em sua vizinhança ou ambiência [...]
(CONSELHO FEDERAL DE ENGENHARIA, ARQUITETURA E AGRONOMIA
2005, p. 1).
Apesar de ter sido revogada logo depois (decisão normativa n° 078/2005) por má
redação, e ainda não ter sido retificada, tal normativa mostra que a formação recebida pelos
arquitetos torna-os detentores da capacidade de avaliar a coerência das possíveis modificações
a serem realizadas.
3.4.2.5.3 Desenvolvimento urbano
As alterações nos sítios onde estão localizados os bens de interesse de preservação são
seguidamente causas para o surgimento de degradações. Entre os fatores relacionados a isso,
enumerados por Lersch (2003), citam-se, como principais, as alterações do solo do entorno e
as intensificações da poluição ambiental e do tráfego na área. Opinião semelhante é
compartilhada por Feilden (2003), que considera a poluição ambiental, oriunda da geração de
eletricidade, e a vibração, oriunda da movimentação automotiva, como as principais origens
de degradação produzidas pelo homem.
As alterações nas características do solo da área ou do entorno próximo às edificações
de interesse de preservação surgem, normalmente, pela própria dinâmica de evolução das áreas,
principalmente urbanas. São comuns as alterações dos pavimentos, em geral, com mais
impermeabilização dos solos, alterando as características normais de concentração de umidade
(VERÇOSA apud LERSCH, 2003). Essas alterações podem atingir as variáveis de compactação
também do solo e gerar sedimento de fundações (Figura 39). Outro problema relacionado ao
solo provém de cortes e aterros em lotes lindeiros e a possíveis alterações no nível do lençol
freático que irriga a área, produzindo, mais uma vez, aumento ou redução da umidade presente
no solo. Cita-se, como exemplo, o caso de certas áreas centrais do Rio de Janeiro, onde o
aumento na densidade das edificações tem produzido alterações no nível do lençol freático
101
existente sob a cidade, trazendo problemas às antigas fundações (INSTITUTO MUNICIPAL
DE ARTE E CULTURA DO RIO DE JANEIRO, 1985).
Figura 39 – Foto da Vila Belga, em 2004: a pavimentação da via contribui
para a impermeabilização do solo na área (ACERVO DO AUTOR).
A poluição ambiental constitui-se em um fator produtor de uma série de danos
relacionados ao desenvolvimento urbano, como emissão veicular e industrial de gases. Porém,
como suas origens e conseqüências já foram previamente citadas em 3.4.1.3.1 (constituintes
do ar), não serão retomadas.
As vibrações constituem-se em outro grande problema que pode ser relacionado à
intensificação do desenvolvimento urbano. O problema, que não aparece nas bibliografias mais
antigas como forma de degradação é, hoje, visto como um fator de difícil mensuração e controle.
A principal origem desse tipo de dano está na transmissão de esforços, sob a forma de trepidação,
de veículos automotores, principalmente ônibus e caminhões, para a via de tráfego. A transmissão
se dá até a fundação das edificações próximas, que passam a vibrar também.
Feilden (2003, p. 154, tradução nossa), ao comentar o tema, afirma que é muito difícil
distinguir o dano produzido pelo próprio tempo ao edifício dos danos, geralmente de longo
prazo, produzidos pelas vibrações. Segundo esse autor: “É prudente relembrar que o dano
causado pela vibração é geralmente irreversível e irreparável em termos práticos”. Já o
manual utilizado pelo governo da cidade do Rio de Janeiro (INSTITUTO MUNICIPAL DE
ARTE E CULTURA DO RIO DE JANEIRO, 1985), tratando da prevenção contra vibrações,
lembra que não é aconselhável utilizar as máquinas conhecidas como “bate-estacas”,
102
equipamentos utilizados para cravar estacas de fundação, nas áreas com edificações
protegidas. Por sua vez, Klüppel e Santanna (2006) comentam que o tráfego intenso de
veículos pode atuar como catalisador nas demais ações de degradação, contribuindo
decisivamente para a redução da vida útil de uma edificação.
3.4.2.5.4 Vandalismo
Segundo Houaiss e Villar (2001), vandalismo é o “[...] ato ou efeito de produzir
estrago ou destruição de monumentos ou quaisquer bens públicos ou particulares, de atacar
coisas belas ou valiosas, com o propósito de arruína-las”. Essa definição é válida a quaisquer
bens e, nesse sentido, aplica-se ao estudo em questão. Assim, por vandalismo, pode-se
entender quaisquer atos de depredações, pichações e mesmo invasões e roubos de elementos
móveis ou imóveis (no caso de partes destacadas do conjunto edificado).
As pichações e grafites estão hoje entre os danos mais comuns realizados contra o
patrimônio urbano. Edificações e monumentos, freqüentemente, surgem na mídia como alvo
desse tipo de vandalismo. Os danos são causados por tintas aplicadas, geralmente, nas
fachadas, que acabam por destituir a aparência que o bem possui. Quanto aos delinqüentes
que costumam produzir tal tipo de dano, Resende (2004, p. 49), em estudo realizado em São
Paulo, descreve o seguinte:
[...] a pichação [...] é realizada por gangues formadas principalmente [...] por jovens
com idade entre 14 e 20 anos. Esses jovens têm por objetivo sair do anonimato
(assinatura do próprio nome), demonstrar um maior espaço de influência de sua
gangue, mostrar uma maior coragem dos seus integrantes (grafites em condições de
elevado perigo) e estar presente na mídia.
O vandalismo também se manifesta contra as edificações por meio de invasões e
roubos de elementos móveis ou desprendidos. Esse tipo de comportamento é bastante comum
em locais que não estão em uso e não possuem a devida segurança. As invasões ocorrem,
normalmente, com o intuito de obtenção de local para abrigo, no caso de moradores de rua, ou
mesmo para a busca e roubo de possíveis objetos de valor para posterior venda.
Eventualmente, os casos de invasões podem trazer como conseqüência outras depredações,
como incêndios ou vazamentos de água, prejudicando ainda mais a edificação em questão.
103
3.4.2.5.5 Negligência
A falta de cuidados com o patrimônio talvez seja um dos agentes derivados da ação do
homem mais complexos a ser tratado no caminho à preservação. Os atos de negligência,
normalmente, são caracterizados pelo completo descuido com a edificação em questão,
notadamente observados em situações como descaso com redes elétricas antigas, suscetíveis a
incêndios, descaso com redes hidrossanitárias obsoletas e entupidas, sistemas de escoamento
pluvial entupidos ou quebrados, ou ainda com atos imprevistos, que acabam por prejudicar o
conjunto, como choques de veículos contra as edificações. Também deve ser considerado
como negligência o ato de total abandono da edificação, deixando-a à mercê de toda e
qualquer ação que o entorno possa vir a gerar.
Um exemplo claro de negligência com o patrimônio pode ser observado em área
vizinha à analisada e também tombada: a estação férrea de Santa Maria. Conforme pode ser
observado na figura 40, o roubo de telhas e os incêndios ocorridos no edifício não têm
recebido a devida atenção por parte dos órgãos responsáveis, deixando que os remanescentes
desses atos sejam perdidos através da ação das intempéries.
Figura 40 – Foto da estação férrea de Santa Maria em agosto de 2006: roubo das telhas da
cobertura acelera processo de degradação interna (ACERVO DO AUTOR).
O tratamento para os atos de negligência é considerado complexo porque passa pela
necessidade de reconhecimento do edifício ou conjunto pela comunidade como parte da sua
104
história. Esse tipo de processo de reconhecimento normalmente é feito a partir de longos
programas de educação patrimonial, que possam, assim, evitar que a população negligencie os
edifícios. Esses processos também passam pelo oferecimento de condições mínimas para que
os usuários desses edifícios e de seu entorno não os danifiquem.
3.4.3 Fenômenos excepcionais da natureza
A compreensão das degradações causadas pelos chamados fenômenos da natureza
implica, inicialmente, na sua própria definição. Para este estudo, compõem esses fenômenos
as atividades de ordem climática e geomorfológica excepcionais. Estão, entre eles, furacões,
ciclones, maremotos, terremotos, inundações, erupções vulcânicas, deslizamentos de terra,
descargas elétricas e outros (FEILDEN, 2003). Observando a locação do sítio em questão,
bem como o histórico de Santa Maria, optou-se por dar atenção aos eventos de inundações,
ventos de grande intensidade e descargas elétricas atmosféricas.
3.4.3.1 Inundações
A ocorrência de inundações, alagamentos e precipitações com aumento dos fluxos
fluviais, em centros urbanos, é um fenômeno que tem despertado interesse de diversas fontes
bibliográficas ultimamente. A grande freqüência de ocorrência de alagamentos está
relacionada, em centros urbanos, com os altos índices de impermeabilização dos solos e com
a falta de utilização das águas de origem pluvial. Essa falta de políticas que contemplem a
reutilização das águas e a manutenção da permeabilidade do solo urbano foi uma constante
nas legislações urbanas promulgadas até a década de 1980. Hoje, cidades como São Paulo
possuem legislações que obrigam a busca de maior sustentabilidade. A nova legislação de
Santa Maria, referente ao uso do solo urbano, também possui dispositivos que exigem, para o
caso de novos edifícios, a não utilização de 100 % do lote, auxiliando na permeabilidade e
diminuindo a quantidade de água que flui diretamente para os córregos.
O estudo da topografia de Santa Maria, no sítio onde está localizada a Vila Belga,
mostra que algumas edificações são passíveis de inundação decorrente de grandes picos de
105
precipitação, pois existe um curso de água que entremeia fundos de lote e algumas casas,
chegando a cotas de nível próximas das edificações. Apesar disso, não existem dados
bibliográficos que comprovem a ocorrência de alguma enchente ter atingido qualquer uma das
edificações. Tal dado deve estar relacionado a grande declividade local, que permite que o
transcurso da água se dê em pouco tempo.
Em relação às conseqüências que as inundações costumam trazer, registram-se a perda
de materiais sensíveis à água, como mobílias, pinturas, danos em redes elétricas e telefônicas.
Além disso, devem ser lembradas as conseqüências decorrentes da existência de umidade nos
mais diversos elementos construtivos e em ambientes pouco ventilados, como porões. Do
mesmo modo, deve-se observar a possibilidade de que o fluxo de água ou mesmo a alteração
do solo das fundações gerem instabilidade na edificação como um todo.
3.4.3.2 Ventos de grande intensidade
Conforme já citado no 3.4.1.3.2, o vento pode produzir deformações, tensões e
deslocamentos em planos ou elementos constituintes das edificações. Os de grande
intensidade geram tais problemas em razão superlativa, produzindo, por vezes, grandes
catástrofes. Conforme cita Castro (2003), ocorrências de ventos nas escalas 10, 11 e 12, de
acordo com a escala Beaufort, que compreendem ventos a partir de 88 km/h, até superiores a
120 km/h, podem produzir grandes danos, como destelhamentos, quebra de vidraças, queda
de fiações e mesmo tombamento de elementos lindeiros sobre as edificações, como postes e
árvores. Evidentemente, tais fenômenos são muito eventuais e caracterizam eventos como
grandes tempestades, vendavais e ciclones extratropicais, sendo geralmente acompanhados de
fortes chuvas.
3.4.3.3. Descargas elétricas atmosféricas
Podem ocorrer quando existe uma grande diferença de potencial elétrico entre a terra e
a atmosfera. Os danos que tais fenômenos podem causar estão relacionados com a
transmissão da energia até o solo ou o inverso, incluindo-se possíveis sobrecargas em
106
sistemas elétricos e lógicos, e quebra de elementos pelos quais passa a descarga passa, como
trabalhos em massa de alvenarias e estatuárias. Geralmente esses fenômenos conseguem ser
controlados por meio da colocação, em edificações de maior altura, dos chamados pára-raios,
mas, em edificações tombadas ou de cunho histórico, podem trazer depreciações nas visuais
conhecidas.
107
4 METODOLOGIA
Neste capítulo, objetiva-se apresentar as principais etapas que organizaram a
pesquisa, bem como as tomadas de decisão que nortearam o trabalho até a sua formatação
definitiva. Para tanto, elaborou-se o fluxograma abaixo (Figura 41):
Figura 41 – Fluxograma de desenvolvimento da pesquisa.
Identificação do problema
Pesquisa relativa à manutenção e durabilidade de edificações
Revisão bibliográfica
Estudo de caso das edificações
Pesquisa relativa à conservação e restauração do patrimônio cultural
Pesquisa relativa a fatores de degradação em edificações/
trans
p
osi
ç
ão a edifica
ç
ões históricas
Enfoque sobre os principais fatores de degradação e patologias nas
edifica
ç
ões em
q
uestão.
Pesquisa relativa às técnicas construtivas e aos materiais utilizados
nas edifica
ç
ões em estudo
Estudo histórico
Avaliação do atual estado das edificações
Definição dos instrumentos para levantamento de dados
Levantamento
Tabulação
Análise e interpretação
Verificação da atuação das principais patologias e
a
g
entes de de
g
rada
ç
ão
Análise dos principais agentes de degradação
Elaboração das conclusões
108
A fase de identificação do problema foi caracterizada pela constante busca por
informações que pudessem auxiliar na compreensão inicial do tema a ser desenvolvido. Para
tanto, foram realizadas diversas entrevistas com profissionais relacionados à área, de modo a
se estabelecer o foco da pesquisa e reconhecer a sua importância dentro da contextualização
da região. Também foram realizados estudos junto à comunidade para se reconhecer como ela
percebia a questão.
Essa primeira observação possibilitou perceber que havia uma grande carência por
informações locais capazes de subsidiar pesquisas e estudos de recuperação de bens
edificados. Assim, estabeleceu-se o principal objetivo desta pesquisa: identificar quais os
principais agentes e mecanismos que estão relacionados à degradação de edificações. A
delimitação do tema atuou, então, para centrar o estudo na Vila Belga, tradicional conjunto de
Santa Maria, que se enquadrava dentro da proposição.
A segunda fase, de revisão bibliográfica, foi marcada por um desenvolvimento
paralelo a grande parte do trabalho. Em um momento inicial, relacionaram-se aspectos
históricos da conservação e restauração de edifícios e conjuntos e, posteriormente, foram
obtidas as informações necessárias à compreensão da durabilidade e dos fatores de
degradação a que estão submetidos. Essa etapa caracterizou-se pela multidisciplinaridade,
relacionando diferentes pontos de vista, como elementos de teoria da arquitetura e de prática
de materiais de construção civil, em um único conjunto. Também foi necessário, durante a
revisão bibliográfica, buscar quais eram os materiais e técnicas construtivas que haviam sido
utilizadas nas edificações-alvo da pesquisa, a fim de se obter uma análise mais precisa.
A terceira fase, chamada aqui de estudo de caso múltiplo das edificações, foi
elaborada com a intenção de, inicialmente, obter informações sobre a evolução e o estado
atual das edificações. Apesar de ainda possuir parte de referencial bibliográfico, essa fase foi
enquadrada posteriormente para atuar como auxílio direto à análise das edificações, com
vistas aos levantamentos. Esse aspecto deve ser lembrado, pois, de antemão, já se sabia que o
abandono a que as edificações haviam sido submetidas poderia influir no seu atual estado de
conservação.
Esse terceiro momento também compreendeu a escolha dos instrumentos necessários
para o levantamento de dados, como a sistemática de seleção das amostras e a quantidade de
edificações a levantar, os elementos que seriam considerados no estudo, bem como a forma de
transcrevê-los para o meio gráfico. Em complemento, foram realizados os levantamentos de
campo, a tabulação das informações obtidas e, finalmente, a verificação e interpretação dos
dados com vistas a perceber quais são as principais patologias e processos envolvidos na
109
degradação das edificações.
A quarta fase proposta constitui-se na análise dos principais agentes e processos de
degradação. Teve, assim, a intenção de tornar claro, a partir da tabulação e interpretação dos
dados obtidos, as formas como as variáveis atuantes sobre as edificações geraram os danos
percebidos, tanto de forma geral quanto organizadas em grupos afins. Conseqüentemente,
analisando as informações avaliadas como de maior relevância, foram elaboradas as
considerações finais.
110
5 ESTUDO DE CASO MÚLTIPLO: EDIFICAÇÕES DA VILA BELGA
Este capítulo está reservado a apresentar as características das edificações que
compõem o estudo de caso em questão, assim como o levantamento de dados efetuado e os
resultados observados.
5.1 Identificação e histórico da Vila Belga
Segundo Lopes (2001), a Vila Belga é um conjunto de edificações com fins
residenciais, construído pela Compagnie Auxiliaire de Chemins de Fer au Brésil para seus
funcionários a partir do ano de 1907 (Figura 42). O local escolhido para a implantação das
edificações ficava próximo à estação, em gleba comprada em 1905, de Osvaldo Frederico
Beck. A autoria dos projetos foi atribuída a Gustave Vauthier, então diretor da empresa belga,
e era constituído de 83 residências unifamiliares. Vauthier era engenheiro nascido e formado
em Bruxelas e já havia adquirido muita experiência em várias regiões do Brasil.
Figura 42 – A Vila Belga no início do Século XX (LOPES, 2002, p. 181).
111
A Vila foi o segundo conjunto habitacional do Estado voltado à classe operária, fato
que demonstrava a preocupação da empresa com seus funcionários. As edificações
apresentavam-se, na maioria, organizadas de forma geminada. Possuíam boa qualidade
construtiva e, apesar de terem poucas variações de partido, apresentavam resultado formal
muito rico. Sobre essse aspecto, expõe Schlee (1998, p. 4):
Na vila Belga, a diferenciação entre as unidades não ocorre apenas através da
diversidade tipológica, mas também através de um inteligente e expressivo jogo de
detalhes arquitetônicos [...] Trabalhando com apenas os arremates das aberturas
(relevos em massa), com as pilastras [...] e com o soco de cada construção [...] foi
obtida uma diferenciação tal, que é impossível falar em duas residências iguais em
todo o conjunto [...]
Rocha (2000) propõe que os projetos de Vauthier poderiam ter sido apoiados na obra de
Louis Cloquet, chamada Traité d’Architecture (1898-1901). O Traité era formado de um conjunto
de 5 livros, inéditos até então, que continham uma série de princípios inovadores, tanto sanitaristas,
quanto projetuais. A existência de um exemplar daquele conjunto de livros nos arquivos do Liceu de
Artes e Ofícios da Cooperativa dos Ferroviários de Santa Maria (posteriormente doado a
Universidade Federal de Santa Maria), possivelmente oriundo do próprio acervo pessoal de
Vauthier, não pode ser considerada como uma prova de utilização da obra de Luis Cloquet na Vila
Belga, mas Rocha observa que vários dos princípios propostos no livro estão materializados nas
construções. Isso demonstra um distanciamento dos princípios mais difundidos na época, provindos
da Ecole Beaux-Arts, e uma aproximação dos princípios propostos pelo arquiteto belga.
Ainda em relação às técnicas construtivas adotadas na Vila, pode ser observado que os
materiais utilizados eram correntes na região, não se constituindo, portanto, em um marco para a
construção santa-mariense. Contudo, vale lembrar que as edificações não foram construídas para
servir como residência aos funcionários dos mais altos escalões. Eram as moradias de operários com
posição de algum destaque administrativo dentro da empresa, como maquinistas, engenheiros,
capatazes, fiscais e inspetores, entre outros. Após a finalização da primeira etapa da construção, que
durou cerca de um ano, mais residências foram construídas, tendo-se registros de algumas entregues
até o ano de 1954 (Figura 43).
Nos anos seguintes a 1907, a história da Vila Belga esteve sempre entrelaçada à própria
história das estradas de ferro que passavam por Santa Maria. Assim, o apogeu no desenvolvimento e
manutenção das edificações, bem como de seu entorno e, ainda, a situação econômica da parcela da
sociedade dependente desses serviços estavam relacionados diretamente com o crescimento das
ferrovias do Rio Grande do Sul e do Brasil.
112
Figura 43 – Planta de situação da Vila Belga, Estação e Cooperativa dos Ferroviários. O
polígono grifado em laranja mostra o limite da área das edificações residenciais (RIO
GRANDE DO SUL, 2002).
Conforme relata o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da
Secretaria da Cultura do Rio Grande do Sul (2002), durante a Primeira Guerra Mundial,
a busca interna pelas ferrovias como meio de transporte de cargas aumentou muito,
conseqüência da crescente exportação de gêneros dos mais diversos tipos para o
exterior. As empresas de origem belga haviam se endividado e os seus controles
acionários acabaram nas mãos do truste americano Brazil Railway Company, que, no
entanto, não atendem aos interesses da população usuária. Tarifas altas e maus serviços
prestados, entre outros, culminaram na antiga intenção do Governo do Estado de
encampar as ferrovias, e assim foi criada a Viação Férrea do Rio Grande do Sul –
VFRGS, em 1920.
A VFRGS administrou e investiu em novos ramais e mais qualidade de serviços
até o final da década de 1950 (INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E
ARTÍSTICO DO ESTADO DA SECRETARIA DA CULTURA DO RIO GRANDE DO
SUL, 2002), quando o Governo Jucelino Kubitschek criou a Rede Ferroviária Federal
S/A (RFFSA) que, por sua vez, passou a administrar as ferrovias gaúchas. A década de
113
1960 foi marcada pela sucessiva inversão de investimentos das ferrovias para as
rodovias. A partir daí, a situação foi se agravando, reduzindo-se, paulatinamente, a
quantidade de passageiros nos trens.
A década de 1990 foi decisiva para o processo de desmobilização do sistema
ferroviário estatal (Figura 44). O Governo Federal, dentro de um processo de “enxugamento”
de sua infra-estrutura, privatizou uma série de empresas das mais diversas áreas, como
telecomunicações e siderurgia (Companhia Vale do Rio Doce). A malha ferroviária da
RFFSA no Rio Grande do Sul foi cedida, em 1997, e por um prazo de 30 anos, para a empresa
Ferroviária Sul Atlântico (SCHLEE, 1999).
Figura 44 – Vista panorâmica da rua Ernesto Beck: em outubro de 2004,
percebia-se o mau estado de conservação das edificações e do entorno
imediato (ACERVO DO AUTOR).
Desde a sua construção, as moradias serviram aos funcionários da rede ferroviária sem
custos. A partir de dado momento (sem registro na fonte consultada), os moradores passaram
a pagar aluguel para utilizar as residências, mas, segundo suas avaliações, o valor pago era
baixo, e não comprometia os rendimentos familiares (RIO GRANDE DO SUL –
SECRETARIA DA CULTURA – CENTRO DE HISTÓRIA ORAL, 2002).
Em 1988, a Lei Municipal 2983/88 passou a considerar a Vila Belga patrimônio
histórico e cultural de Santa Maria, representando, então, uma conquista da comunidade, que
já percebia o valor do conjunto. Posteriormente, em junho de 1996, foi decretado o
tombamento provisório, e em agosto de 1997, pelo decreto executivo 161/97, o definitivo. A
normativa desse tombamento compreende a manutenção da volumetria das casas, sendo mais
114
restritiva às elevações voltadas para as vias públicas e para as laterais visíveis dos
logradouros. Além disso, restringe a construção ou alteração nos lotes que compreendem o
entorno da área (SCHLEE, 1999).
A responsabilidade sobre a futura trajetória de preservação das edificações tombadas
mudou de caminho ainda em 1997, quando um leilão de venda transferiu os lotes e suas
benfeitorias da RFFSA para, em sua maioria, moradores, que tiveram preferência no momento
da compra, tornado-se então os novos proprietários. Essa situação representou uma vitória
para a comunidade envolvida, que tinha dúvidas sobre a futura ocupação da área (RIO
GRANDE DO SUL, 2002). O pagamento do conjunto leiloado foi feito à vista ou por meio de
financiamento, sendo que boa parte dos compradores, por pertencer a classes econômicas não
muito abastadas, optou pelo pagamento parcelado, fato que se constituiu em uma das causas
que levaram ao atual estado de conservação das edificações.
Em 2000, a Secretaria de Estado da Cultura do RS decretou o tombamento da
chamada Mancha Ferroviária de Santa Maria, composta da Vila Belga, Estação Férrea, seu
largo e a Escola Estadual Manoel Ribas, esta última restaurada pelo governo estadual entre os
anos de 1997 e 1998 (LOPES, 2001).
5.2 Situação atual
O estado de conservação em que o conjunto edificado da Vila Belga se encontra hoje é
precário. Os moradores não conseguem fazer a manutenção adequada, e a degradação começa
a atingir elementos importantes na caracterização do sítio. A partir da época em que as
edificações foram leiloadas, em 1997, seu estado de conservação pouco melhorou (Figuras 45,
46 e 47). Porém, relacionar a degradação atual apenas com a situação de seus moradores é
uma simplificação incorreta. Como causa que levou à situação atual deve ser considerada toda
a fragilidade do sistema em que esses bens tombados se encontram.
115
Figura 45 – Edificação no momento do tombamento estadual
(IPHAE, 2000; BELTRAMI, 2000 apud PREFEITURA
MUNICIPAL DE SANTA MARIA, 2003).
Figura 46 – Estado de conservação da edificação em
2003 (PREFEITURA MUNICIPAL DE SANTA
MARIA, 2003; WOLLE, 2003).
Figura 47 – Estado de conservação da edificação em
outubro de 2004 (ACERVO DO AUTOR).
116
Assim, e iniciando pela esfera mais abrangente, deve-se reconhecer que o Instituto de
Patrimônio Histórico e Artístico do Estado não cumpre suas funções de promotor de
atividades que visem à proteção de seus próprios bens tombados, tanto pela fiscalização
quanto pela busca de incentivos que possam beneficiá-los. O poder público municipal, por
intermédio dos órgãos ligados à Prefeitura Municipal, não possui infra-estrutura suficiente
para oferecer apoio aos moradores e ainda não conseguiu aplicar os benefícios que o novo
plano diretor de desenvolvimento urbano pode trazer. Os moradores, enfim, carentes de
informações que viabilizem a preservação das casas, não possuem recursos para contratar
profissionais que possam estabelecer diretrizes para tanto, assim como não encontram apoio
suficiente nas entidades de classe. Entende-se, desse modo, que os fatores responsáveis pela
falta de manutenção do conjunto da Vila Belga são complexos e multifacetados e que os
esforços necessários para reabilitá-lo devem envolver toda a sociedade com ela identificada.
5.3 Seleção e levantamento das edificações
A identificação dos agentes e mecanismos de degradação mais freqüentes no conjunto,
para fins de quantificação de trabalho, foi feita por meio de levantamento amostral das
patologias encontradas nas elevações. Para tanto, de um total de 79 unidades habitacionais
existentes hoje no local, estipulou-se um levantamento necessário de 12 unidades.
As edificações escolhidas para o desenvolvimento do estudo foram divididas,
inicialmente, em quatro grupos correspondentes às que possuíssem suas elevações frontais
voltadas para as quatro orientações solares. Assim, obteve-se três unidades habitacionais
direcionadas, respectivamente, para Norte, Sul, Leste e Oeste, perfazendo o referido montante de
doze. Buscou-se também edificações que estivessem distribuídas em todos os setores do sítio,
caracterizados pela ruas que compõem o conjunto. O resultado dessa escolha pode ser visto no
mapa a seguir (Figura 48), observando-se que as edificações grifadas em cinza fazem parte do
conjunto da Vila e as grifadas em preto foram as levantadas. As divisões por orientação solar e
pelo sítio tiveram a intenção de se obter um resultado que expressasse a totalidade de variáveis
envolvidas na geração de danos às edificações. Foram chamadas de principais, nesse estudo, as
elevações voltadas para o logradouro público. Os elementos levantados nas edificações foram as
dimensões, para se chegar a um resultado mais confiável, e as degradações nas elevações de cada
unidade habitacional (as informações do interior das edificações – como vistas e planta interna –
117
foram desconsideradas). Essa opção permitiu que os levantamentos fossem efetuados sem
maiores restrições dos moradores envolvidos.
Figura 48 – Mapa de implantação da Vila Belga. As edificações grifadas em cinza fazem
parte do conjunto, enquanto que as grifadas em preto, e numeradas, foram as
levantadas. (Fonte: Adaptado de PREFEITURA MUNICIPAL DE SANTA MARIA –
SEPLAN, UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA -CURSO DE
ARQUITETURA E URBANISMO, 2002).
A partir da definição das edificações que seriam levantadas, buscou-se fontes
bibliográficas que contivessem informações para montagem de um plano preliminar (cópias de
plantas heliográficas das edificações, oriundas do Museu do Trem, de São Leopoldo/RS, e
elevações elaboradas pelo Projeto de Conservação e Revitalização da Mancha Ferroviária de
Santa Maria/RS). Os dados obtidos permitiram iniciar o levantamento com uma base gráfica, o
que auxiliou na atualização das informações e na catalogação das degradações. As degradações
foram então medidas e capturadas em um arquivo fotográfico digital. Por meio dessas
118
informações, obteve-se um método de identificação das patologias basicamente visual,
desconsiderando outras técnicas.
O passo seguinte no desenvolvimento do trabalho foi a transposição dos
levantamentos efetuados para o meio digital, com software tipo C.A.D. (AutoCAD versão
2005), o que permitiu desenhar, com mais clareza, as aferições feitas no sítio. As fichas
resultantes, contendo fotos e desenho técnico (Anexos A a L), permitiram que fosse feita a
tabulação das degradações encontradas, conforme as elevações em que se localizavam.
5.4 Resultados
Os resultados obtidos a partir dos levantamentos das edificações foram organizados de
duas formas: a por análise descritiva, que compreende a leitura mais direta dos dados obtidos;
e pelo cruzamento dos dados, em que se buscou analisar as possíveis relações existentes entre
algumas condições do sítio e os processos patológicos encontrados.
5.4.1 Análise descritiva
A análise descritiva dos resultados obtidos com a tabulação dos dados permitiu
observar a composição de patologias existente nas edificações selecinadas, assim como
perceber pormenorizadamente quais são os processos que incidem sobre cada tipo de
orientação solar. As edificações numeradas na figura 48 e utilizadas na amostragem são
apresentadas na Tabela 2, a seguir:
Tabela 2 – Identificação da orientação principal das edificações levantadas.
ELEVAÇÃO PRINCIPAL RESIDÊNCIA fi %
Norte 2, 7, 8 3 25,00
Sul 1, 5, 6 3 25,00
Leste 9, 10, 12 3 25,00
Oeste 3, 4, 11 3 25,00
TOTAL 12 12 100,00
119
As elevações principais das edificações apresentaram diversos tipos de patologias. O
gráfico a seguir (Figura 49) mostra essas incidências:
ELEVAÇÕES PRINCIPAIS
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
0
2
4
6
8
10
12
PATOLOGIAS
N° DE RESIDÊNCIAS
Legenda:
9 Fenda na parede
1 Desagregação do reboco 10 Material faltante
2 Flexão/ quebra/ choque por ação de carga 11 Degradação da pintura por intemperismo prolongado
3 Ressecamento/ desagregação por radiação solar 12 Pichação ou poluição visual
4 Descolamento (empolamento) do reboco 13 Remendos no reboco com argamassa de cimento
5 Vesículas no reboco 14 Corrosão química ou galvânica
6 Esfoliação por intemperismo prolongado 15 Umidade de infiltração
7 Fissuras no reboco 16 Vegetação
8 Rachaduras nos tijolos 17 Biofilme
Figura 49 – Gráfico com a incidência de patologias nas elevações principais das edificações.
A importância da observação dos dados contidos nesse gráfico está relacionada ao fato
de que tais elevações são as menos alteradas por reformas, devido às legislações de proteção
vigentes há algum tempo, que priorizam a visibilidade do conjunto a partir do logradouro público.
Pode-se perceber que os danos mais encontrados nas amostras foram os seguintes: desagregação
do reboco, fissuração de reboco, rachaduras nos tijolos, degradação das pinturas e presença de
biofilme. Com o objetivo de se observar, em detalhe, as incidências de danos nas elevações,
conforme a sua orientação principal, dispõem-se, a seguir, os gráficos (Figuras 50 a 53) divididos
por orientação:
120
ELEVAÇÃO PRINCIPAL NORTE
1
23
4
56
7
8
9
10
11
12
0
1
2
3
4
PATOLOGIAS
N° DE RESIDÊNCIAS
Legenda:
1 Desagregação do reboco
2 Ressecamento/ desagregação por radiação solar
3 Descolamento (empolamento) do reboco
4 Esfoliação por intemperismo prolongado
5 Fissuras no reboco
6 Rachaduras nos tijolos
7 Fenda na parede
8 Material faltante
9 Degradação da pintura por intemperismo prolongado
10 Remendos no reboco com argamassa de cimento
11 Corrosão química ou galvânica
12 Biofilme
Figura 50 – Gráfico com a incidência de patologias nas elevações principais voltadas a Norte
(N).
ELEVAÇÃO PRINCIPAL SUL
3
2
56
7
8
9
0
1
2
3
4
PATOLOGIAS
N° DE RESIDÊNCIAS
1
4
Legenda:
1 Desagregação do reboco
2 Flexão/ quebra/ choque por ação de carga
3 Descolamento (empolamento) do reboco
4 Fissuras no reboco
5 Rachaduras nos tijolos
6 Material faltante
7 Degradação da pintura por intemperismo prolongado
8 Remendos no reboco com argamassa de cimento
9 Biofilme
Figura 51 – Gráfico com a incidência de patologias nas elevações principais voltadas a Sul (S).
121
ELEVAÇÃO PRINCIPAL LESTE
1
23
4
5
67
8
9
10
0
1
2
3
4
PATOLOGIAS
N° DE RESIDÊNCIAS
Legenda:
1 Desagregação do reboco
2 Descolamento (empolamento) do reboco
3 Vesículas no reboco
4 Fissuras no reboco
5 Rachaduras nos tijolos
6 Degradação da pintura por intemperismo prolongado
7 Remendos no reboco com argamassa de cimento
8 Umidade de infiltração
9 Vegetação
10 Biofilme
Figura 52 – Gráfico com a incidência de patologias nas elevações principais voltadas a Leste (L).
ELEVAÇÃO PRINCIPAL OESTE
1
2
3
4
56
7
8
9
10 11
12
0
1
2
3
4
PATOLOGIAS
N° DE RESIDÊNCIAS
Legenda:
1 Desagregação do reboco
2 Ressecamento/ desagregação por radiação solar
3 Fissuras no reboco
4 Rachaduras nos tijolos
5 Material faltante
6 Degradação da pintura por intemperismo prolongado
7 Pichação ou poluição visual
8 Remendos no reboco com argamassa de cimento
9 Corrosão química ou galvânica
10 Umidade de infiltração
11 Vegetação
12 Biofilme
Figura 53 – Gráfico com a incidência de patologias nas elevações principais voltadas a Oeste (O).
A observação dos gráficos constantes nas figuras 50, 51 52 e 53 permite inferir que
alguns danos se repetem com mais freqüência em determinadas elevações, como é o caso das
fissuras no reboco e da degradação da pintura nas elevações voltadas a Norte, e também as
quebras por ação de cargas e falta de materiais nas voltadas a Sul. Porém, todas as elevações
possuem outros danos significativos, que se repetem em mais de uma orientação, tendendo
122
então a um comportamento mais padronizado.
Já as demais elevações, voltadas para o interior do lote, apresentaram comportamento
expresso na tabela a seguir (Tabela 3). Nela, pode ser vista a classificação geral de elevações
levantadas em cada orientação e a participação no total. Subseqüentemente, as Tabelas 4 a 11
mostram os processos de degradação identificados nas elevações voltadas para as diversas
orientações, levantadas separadamente.
Tabela 3 – Identificação das demais orientações das edificações levantadas.
OUTRAS ELEVAÇÕES RESIDÊNCIA fi %
N 1,3,5,6,10,11 6 15,00
S 2,4,7,8,9,12 6 15,00
L 2,3,4,6,8,11 6 15,00
O 1,5,7,9,10 5 12,50
NI 1,2,5,6,7 5 12,50
SI 2,5,6,7 4 10,00
LI 3,4,10,11,12 5 12,50
OI 10,11,12 3 7,50
TOTAL 40 40 100,00
Tabela 4 – Patologias identificadas em elevações, exceto as principais, orientadas a Norte (N).
PATOLOGIA RESIDÊNCIA
N° DE
RESIDÊNCIAS
%
(n
1
= 6)
%
TOTAL
(n = 12)
Remendos no reboco com argamassa de cimento 3,5,6,10,11 5 83,33 41,67
Biofilme 1,3,6,10,11 5 83,33 41,67
Desagregação do reboco 3,6,10,11 4 66,67 33,33
Flexão/ quebra/ choque por ação de carga 1,6,10,11 4 66,67 33,33
Descolamento (empolamento) do reboco 3,10,11 3 50,00 25,00
Fissuras no reboco 1,10,11 3 50,00 25,00
Rachaduras nos tijolos 3,10,11 3 50,00 25,00
Degradação da pintura por intemperismo
prolongado
3,10,11 3 50,00 25,00
Desgaste por uso prolongado, abuso ou atrito 1 1 16,67 8,33
Ressecamento/ desagregação por radiação solar 11 1 16,67 8,33
Vesículas no reboco 10 1 16,67 8,33
Esfoliação por intemperismo prolongado 3 1 16,67 8,33
Manchamento do elemento ou pintura por água 6 1 16,67 8,33
Material faltante 11 1 16,67 8,33
Pichação ou poluição visual 1 1 16,67 8,33
Manchamento por ácidos/ urina/ fezes 3 1 16,67 8,33
Corrosão química ou galvânica 11 1 16,67 8,33
Umidade acidental 6 1 16,67 8,33
Vegetação 11 1 16,67 8,33
Consumo por insetos 11 1 16,67 8,33
Apodrecimento por umidade/ fungos/ algas 1 1 16,67 8,33
TOTAL 6 6 50,00
123
Tabela 5 – Patologias identificadas em elevações, exceto as principais, orientadas a Sul (S).
PATOLOGIA RESIDÊNCIA
N° DE
RESIDÊNCIAS
%
(n
1
= 6)
%
TOTAL
(n = 12)
Remendos no reboco com argamassa de cimento 2,7,8,9,12 5 83,33 41,67
Biofilme 2,4,7,8,12 5 83,33 41,67
Descolamento (empolamento) do reboco 2,4,8,12 4 66,67 33,33
Fissuras no reboco 2,4,8,12 4 66,67 33,33
Degradação da pintura por intemperismo prolongado 2,4,8,12 4 66,67 33,33
Rachaduras nos tijolos 2,4,8 3 50,00 25,00
Desagregação do reboco 4,7 2 33,33 16,67
Consumo por insetos 8,12 2 33,33 16,67
Flexão/ quebra/ choque por ação de carga 4 1 16,67 8,33
Fenda na parede 8 1 16,67 8,33
Pichação ou poluição visual 4 1 16,67 8,33
Corrosão química ou galvânica 4 1 16,67 8,33
Apodrecimento por umidade/ fungos/ algas 8 1 16,67 8,33
TOTAL 6 6 50,00
Tabela 6 – Patologias identificadas em elevações, exceto as principais, orientadas a Leste (L).
PATOLOGIA RESIDÊNCIA
N° DE
RESIDÊNCIAS
%
(n
1
= 6)
%
TOTAL
(n = 12)
Degradação da pintura por intemperismo prolongado 2,3,4,8,11 5 83,33 41,67
Remendos no reboco com argamassa de cimento 2,6,8,11 4 66,67 33,33
Biofilme 2,6,8,11 4 66,67 33,33
Ressecamento/desagregação por radiação solar 2,6,11 3 50,00 25,00
Descolamento (empolamento) do reboco 6,8,11 3 50,00 25,00
Fissuras no reboco 2,6,8 3 50,00 25,00
Rachaduras nos tijolos 6,8,11 3 50,00 25,00
Corrosão química ou galvânica 2,8,11 3 50,00 25,00
Desagregação do reboco 6,11 2 33,33 16,67
Material faltante 6,8 2 33,33 16,67
Vesículas no reboco 2 1 16,67 8,33
Esfoliação por intemperismo prolongado 2 1 16,67 8,33
Manchamento por ácidos/ urina/ fezes 11 1 16,67 8,33
Consumo por insetos 11 1 16,67 8,33
TOTAL 6 6 50,00
Tabela 7 – Patologias identificadas em elevações, exceto as principais, orientadas a Oeste (O).
PATOLOGIA RESIDÊNCIA
N° DE
RESIDÊNCIAS
%
(n
1
= 5)
% TOTAL
(n = 12)
Desagregação do reboco 1,5,7,10 4 80,00 33,33
Remendos no reboco com argamassa de cimento 1,5,7,9 4 80,00 33,33
Biofilme 1,5,7,9 4 80,00 33,33
Descolamento (empolamento) do reboco 1,7,10 3 60,00 25,00
Rachaduras nos tijolos 1,7,9 3 60,00 25,00
Degradação da pintura por intemperismo prolongado 1,5,7 3 60,00 25,00
Fissuras no reboco 1,7 2 40,00 16,67
124
Tabela 7 – Patologias identificadas em elevações, exceto as principais, orientadas a
Oeste (O). (continuação)
PATOLOGIA RESIDÊNCIA
N° DE
RESIDÊNCIAS
%
(n
1
= 5)
% TOTAL
(n = 12)
Material faltante 1,7 2 40,00 16,67
Vegetação 1,7 2 40,00 16,67
Apodrecimento por umidade/fungos/algas 1,7 2 40,00 16,67
Flexão/quebra/choque por ação de carga 1 1 20,00 8,33
Desgaste por uso prolongado, abuso ou atrito 5 1 20,00 8,33
Ressecamento/desagregação por radiação solar 7 1 20,00 8,33
Pichação ou poluição visual 1 1 20,00 8,33
TOTAL 5 5 41,67
A observação das Tabelas 4 a 7 permite constatar a existência de um conjunto de patologias
que se repetem com mais freqüência, independentemente da orientação que possuem. São elas:
degradação nos rebocos, como as fissuras, a desagregação e também o empolamento;
remendos no reboco com argamassas à base de cimento;
fissuras nos tijolos;
ressecamentos e degradações de pinturas de paredes e elementos em madeira;
biofilme.
Também surgiram, com freqüência, nas elevações voltadas a Norte, a quebra de
elementos por ação de choques mecânicos e, a Leste, a corrosão de peças metálicas.
Tabela 8 – Patologias identificadas em elevações, exceto as principais e externas,
orientadas a Norte (NI).
PATOLOGIA RESIDÊNCIA
N° DE
RESIDÊNCIAS
%
(n
1
= 5)
%
TOTAL
(n = 12)
Remendos no reboco com argamassa de cimento 1,2,5,6,7 5 100,00 41,67
Biofilme 1,2,5,6,7 5 100,00 41,67
Desagregação do reboco 1,5,6,7 4 80,00 33,33
Fissuras no reboco 1,2,6,7 4 80,00 33,33
Degradação da pintura por intemperismo prolongado 1,2,5,7 4 80,00 33,33
Ressecamento/desagregação por radiação solar 2,6,7 3 60,00 25,00
Descolamento (empolamento) do reboco 1,6,7 3 60,00 25,00
Rachaduras nos tijolos 1,6,7 3 60,00 25,00
Material faltante 1,6,7 3 60,00 25,00
Vegetação 1,7 2 40,00 16,67
Apodrecimento por umidade/fungos/algas 1,7 2 40,00 16,67
Flexão/quebra/choque por ação de carga 1 1 20,00 8,33
Desgaste por uso prolongado, abuso ou atrito 5 1 20,00 8,33
Vesículas no reboco 2 1 20,00 8,33
Esfoliação por intemperismo prolongado 2 1 20,00 8,33
Pichação ou poluição visual 1 1 20,00 8,33
Corrosão química ou galvânica 2 1 20,00 8,33
TOTAL 5 5 41,67
125
Tabela 9 – Patologias identificadas em elevações, exceto as principais e externas,
orientadas a Sul (SI).
PATOLOGIA RESIDÊNCIA
N° DE
RESIDÊNCIAS
%
(n
1
= 4)
%
TOTAL
(n = 12)
Remendos no reboco com argamassa de cimento 2,5,6,7 4 100,00 33,33
Biofilme 2,5,6,7 4 100,00 33,33
Ressecamento/desagregação por radiação solar 2,7 2 50,00 16,67
Fissuras no reboco 6,7 2 50,00 16,67
Degradação da pintura por intemperismo prolongado 2,7 2 50,00 16,67
Desagregação do reboco 7 1 25,00 8,33
Descolamento (empolamento) do reboco 7 1 25,00 8,33
Rachaduras nos tijolos 7 1 25,00 8,33
TOTAL 4 4 33,33
Tabela 10 – Patologias identificadas em elevações, exceto as principais e externas,
orientadas a Leste (LI).
PATOLOGIA RESIDÊNCIA
N° DE
RESIDÊNCIAS
%
(n
1
= 5)
%
TOTAL
(n = 12)
Degradação da pintura por intemperismo prolongado 3,4,11,12 4 80,00 33,33
Remendos no reboco com argamassa de cimento 3,4,11,12 4 80,00 33,33
Biofilme 3,4,11,12 4 80,00 33,33
Desagregação do reboco 4,10,11 3 60,00 25,00
Ressecamento/ desagregação por radiação solar 3,4,11 3 60,00 25,00
Descolamento (empolamento) do reboco 3,10,11 3 60,00 25,00
Fissuras no reboco 10,11,12 3 60,00 25,00
Rachaduras nos tijolos 10,11 2 40,00 16,67
Vegetação 11 1 20,00 8,33
Consumo por insetos 11 1 20,00 8,33
TOTAL 5 5 41,67
Tabela 11 – Patologias identificadas em elevações, exceto as principais e externas,
orientadas a Oeste (OI).
PATOLOGIA RESIDÊNCIA
N° DE
RESIDÊNCIAS
%
(n
1
= 3)
%
TOTAL
(n = 12)
Fissuras no reboco 10,11,12 3 100,00 25,00
Degradação da pintura por intemperismo prolongado 10,11,12 3 100,00 25,00
Biofilme 10,11,12 3 100,00 25,00
Desagregação do reboco 10,11 2 66,67 16,67
Ressecamento/ desagregação por radiação solar 10,11 2 66,67 16,67
Descolamento (empolamento) do reboco 10 1 33,33 8,33
Rachaduras nos tijolos 11 1 33,33 8,33
Material faltante 11 1 33,33 8,33
Remendos no reboco com argamassa de cimento 12 1 33,33 8,33
Manchamento por ácidos/ urida/ feses 10 1 33,33 8,33
Umidade de infiltração 10 1 33,33 8,33
Vegetação 11 1 33,33 8,33
TOTAL 3 3 25,00
126
As Tabelas 8 a 11 mostram os processos patológicos observados nas chamadas elevações
internas, pátios criados a partir da volumetria das edificações, e que podem ser percebidos nos anexos,
junto às plantas das edificações. As diferenças que existem entre as chamadas elevações principais e
externas em relação às internas são as condições climático-ambientais a que estão expostas, como o
contato com veículos automotores, insolação e chuvas incidentes. Os resultados obtidos na análise das
elevações internas permitem aferir que os processos que nessas atuam são muito semelhantes às
demais, como a presença de biofilme, degradação das pinturas de paredes e aberturas pela insolação e
chuva e degradações diversas associadas aos rebocos. Entretanto, uma das diferenças que pode ser
percebida é a maior utilização de remendos nos rebocos com argamassas à base de cimento, fato
relacionado à maior liberdade dos moradores em alterar as partes posteriores da edificação.
5.4.2 Análise de cruzamentos
A seguir, foram realizados cruzamentos entre as variáveis “patologias analisadas” e as
“elevações”, a fim de verificar se existiam relações de interdependência entre elas (Tabelas 12
a 15). Esses tipos de cruzamento permitem que se perceba se existem patologias que são
características de alguma elevação.
No caso das elevações principais Norte (N), Sul (S), Leste (L) e Oeste (O), foram
construídas tabelas de contingência com duas linhas e duas colunas (2x2). Como o tamanho
da amostra era pequeno, composto por 12 elementos, e existiam várias freqüências menores
do que cinco (5), não se aplicou o teste Qui-quadrado, e sim o teste exato de Fisher.
As hipóteses testadas foram as seguintes:
H
0 -
as variáveis são independentes;
H
1 -
as variáveis não são independentes, ou seja, elas apresentam algum grau de
associação entre si.
Compararam-se os valores de probabilidade (p) calculados com o nível de
significância (α). Em todos os casos adotou-se α = 5%.
A decisão tomada foi a seguinte:
quando p for maior do que α, aceita-se H
0
, ou seja, as variáveis são independentes;
quando p for menor ou igual a α, rejeita-se H
0
e aceita-se H
1
, ou seja, as variáveis
apresentam algum grau de associação entre si.
127
Tabela 12 – Teste exato de Fisher para as patologias das elevações principais voltadas a Norte.
TIPO DE PATOLOGIA p
α
DECISÃO
Desagregação do reboco 0,5091 > 0,05
aceita-se H
0
Flexão/ quebra/ choque por ação de carga 0,3818 > 0,05
aceita-se H
0
Desgaste por uso prolongado, abuso ou atrito 1,0000 > 0,05
aceita-se H
0
Ressecamento/ desagregação por radiação solar 0,1227 > 0,05
aceita-se H
0
Queima ou desagregação causada por fogo 1,0000 > 0,05
aceita-se H
0
Descolamento (empolamento) do reboco 0,3182 > 0,05
aceita-se H
0
Vesículas no reboco 0,7500 > 0,05
aceita-se H
0
Esfoliação por intemperismo prolongado 0,2500 > 0,05
aceita-se H
0
Fissuras no reboco 0,3818 > 0,05
aceita-se H
0
Rachaduras nos tijolos 0,5455 > 0,05
aceita-se H
0
Fenda na parede 0,2500 > 0,05
aceita-se H
0
Esmagamento de elemento construtivo 1,0000 > 0,05
aceita-se H
0
Empena de componente 1,0000 > 0,05
aceita-se H
0
Manchamento do elemento ou pintura por água 1,0000 > 0,05
aceita-se H
0
Material faltante 0,4773 > 0,05
aceita-se H
0
Degradação da pintura por intemperismo prolongado 0,5455 > 0,05
aceita-se H
0
Pichação ou poluição visual 0,5455 > 0,05
aceita-se H
0
Remendos no reboco com argamassa de cimento 0,4091 > 0,05
aceita-se H
0
Eflorescências ou criptoflorescências 1,0000 > 0,05
aceita-se H
0
Degeneração por ácidos/ urina/ fezes 1,0000 > 0,05
aceita-se H
0
Manchamento por ácidos/ urina/ fezes 1,0000 > 0,05
aceita-se H
0
Corrosão química ou galvânica 0,2182 > 0,05
aceita-se H
0
Umidade de infiltração 0,3818 > 0,05
aceita-se H
0
Umidade ascensional 1,0000 > 0,05
aceita-se H
0
Umidade acidental 1,0000 > 0,05
aceita-se H
0
Entupimento e desgaste por pequenos animais 1,0000 > 0,05
aceita-se H
0
Vegetação 0,5455 > 0,05
aceita-se H
0
Consumo por insetos 1,0000 > 0,05
aceita-se H
0
Apodrecimento por umidade/ fungos/ algas 1,0000 > 0,05
aceita-se H
0
Biofilme 0,7500 > 0,05
aceita-se H
0
Falhas no crescimento/ secagem da madeira 1,0000 > 0,05
aceita-se H
0
Tabela 13 – Teste exato de Fisher para as patologias das elevações principais voltadas a Sul.
TIPO DE PATOLOGIA p
α
DECISÃO
Desagregação do reboco 0,2545 > 0,05
aceita-se H
0
Flexão/ quebra/ choque por ação de carga 0,0045 < 0,05
rejeita-se H
0
Desgaste por uso prolongado, abuso ou atrito 1,0000 > 0,05
aceita-se H
0
Ressecamento/ desagregação por radiação solar 0,3818 > 0,05
aceita-se H
0
Queima ou desagregação causada por fogo 1,0000 > 0,05
aceita-se H
0
Descolamento (empolamento) do reboco 0,3182 > 0,05
aceita-se H
0
Vesículas no reboco 0,7500 > 0,05
aceita-se H
0
Esfoliação por intemperismo prolongado 0,7500 > 0,05
aceita-se H
0
Fissuras no reboco 0,4909 > 0,05
aceita-se H
0
Rachaduras nos tijolos 0,5455 > 0,05
aceita-se H
0
Fenda na parede 0,7500 > 0,05
aceita-se H
0
Esmagamento de elemento construtivo 1,0000 > 0,05
aceita-se H
0
Empena de componente 1,0000 > 0,05
aceita-se H
0
Manchamento do elemento ou pintura por água 1,0000 > 0,05
aceita-se H
0
128
Tabela 13 – Teste exato de Fisher para as patologias das elevações principais
voltadas a Sul. (continuação)
TIPO DE PATOLOGIA p
α
DECISÃO
Material faltante 0,1591 > 0,05
aceita-se H
0
Degradação da pintura por intemperismo prolongado 0,5455 > 0,05
aceita-se H
0
Pichação ou poluição visual 0,5455 > 0,05
aceita-se H
0
Remendos no reboco com argamassa de cimento 0,4091 > 0,05
aceita-se H
0
Eflorescências ou criptoflorescências 1,0000 > 0,05
aceita-se H
0
Degeneração por ácidos/ urina/ fezes 1,0000 > 0,05
aceita-se H
0
Manchamento por ácidos/ urina/ fezes 1,0000 > 0,05
aceita-se H
0
Corrosão química ou galvânica 0,2545 > 0,05
aceita-se H
0
Umidade de infiltração 0,3818 > 0,05
aceita-se H
0
Umidade ascensional 1,0000 > 0,05
aceita-se H
0
Umidade acidental 1,0000 > 0,05
aceita-se H
0
Entupimento e desgaste por pequenos animais 1,0000 > 0,05
aceita-se H
0
Vegetação 0,5455 > 0,05
aceita-se H
0
Consumo por insetos 1,0000 > 0,05
aceita-se H
0
Apodrecimento por umidade/ fungos/ algas 1,0000 > 0,05
aceita-se H
0
Biofilme 0,7500 > 0,05
aceita-se H
0
Falhas no crescimento/ secagem da madeira 1,0000 > 0,05
aceita-se H
0
Tabela 14– Teste exato de Fisher para as patologias das elevações principais voltadas a Leste.
TIPO DE PATOLOGIA p
α
DECISÃO
Desagregação do reboco 0,2182 > 0,05
aceita-se H
0
Flexão/ quebra/ choque por ação de carga 0,3818 > 0,05
aceita-se H
0
Desgaste por uso prolongado, abuso ou atrito 1,0000 > 0,05
aceita-se H
0
Ressecamento/ desagregação por radiação solar 0,3818 > 0,05
aceita-se H
0
Queima ou desagregação causada por fogo 1,0000 > 0,05
aceita-se H
0
Descolamento (empolamento) do reboco 0,4773 > 0,05
aceita-se H
0
Vesículas no reboco 0,2500 > 0,05
aceita-se H
0
Esfoliação por intemperismo prolongado 0,7500 > 0,05
aceita-se H
0
Fissuras no reboco 0,4909 > 0,05
aceita-se H
0
Rachaduras nos tijolos 0,0455 < 0,05
rejeita-se H
0
Fenda na parede 0,7500 > 0,05
aceita-se H
0
Esmagamento de elemento construtivo 1,0000 > 0,05
aceita-se H
0
Empena de componente 1,0000 > 0,05
aceita-se H
0
Manchamento do elemento ou pintura por água 1,0000 > 0,05
aceita-se H
0
Material faltante 0,0455 < 0,05
rejeita-se H
0
Degradação da pintura por intemperismo prolongado 0,4091 > 0,05
aceita-se H
0
Pichação ou poluição visual 0,5455 > 0,05
aceita-se H
0
Remendos no reboco com argamassa de cimento 0,4091 > 0,05
aceita-se H
0
Eflorescências ou criptoflorescências 1,0000 > 0,05
aceita-se H
0
Degeneração por ácidos/ urina/ fezes 1,0000 > 0,05
aceita-se H
0
Manchamento por ácidos/ urina/ fezes 1,0000 > 0,05
aceita-se H
0
Corrosão química ou galvânica 0,2545 > 0,05
aceita-se H
0
Umidade de infiltração 0,1227 > 0,05
aceita-se H
0
Umidade ascensional 1,0000 > 0,05
aceita-se H
0
Umidade acidental 1,0000 > 0,05
aceita-se H
0
Entupimento e desgaste por pequenos animais 1,0000 > 0,05
aceita-se H
0
Vegetação 0,4091 > 0,05
aceita-se H
0
129
Tabela 14 – Teste exato de Fisher para as patologias das elevações principais
voltadas a Leste. (continuação)
TIPO DE PATOLOGIA p
α
DECISÃO
Consumo por insetos 1,0000 > 0,05
aceita-se H
0
Apodrecimento por umidade/ fungos/ algas 1,0000 > 0,05
aceita-se H
0
Biofilme 0,2500 > 0,05
aceita-se H
0
Falhas no crescimento/ secagem da madeira 1,0000 > 0,05
aceita-se H
0
Tabela 15 – Teste exato de Fisher para as patologias das elevações principais voltadas a Oeste.
ELEVAÇÃO PRINCIPAL O p
α
DECISÃO
Desagregação do reboco 0,5091 > 0,05
aceita-se H
0
Flexão/ quebra/ choque por ação de carga 0,3818 > 0,05
aceita-se H
0
Desgaste por uso prolongado, abuso ou atrito 1,0000 > 0,05
aceita-se H
0
Ressecamento/ desagregação por radiação solar 0,1227 > 0,05
aceita-se H
0
Queima ou desagregação causada por fogo 1,0000 > 0,05
aceita-se H
0
Descolamento (empolamento) do reboco 0,1591 > 0,05
aceita-se H
0
Vesículas no reboco 0,7500 > 0,05
aceita-se H
0
Esfoliação por intemperismo prolongado 0,7500 > 0,05
aceita-se H
0
Fissuras no reboco 0,4909 > 0,05
aceita-se H
0
Rachaduras nos tijolos 0,5455 > 0,05
aceita-se H
0
Fenda na parede 0,7500 > 0,05
aceita-se H
0
Esmagamento de elemento construtivo 1,0000 > 0,05
aceita-se H
0
Empena de componente 1,0000 > 0,05
aceita-se H
0
Manchamento do elemento ou pintura por água 1,0000 > 0,05
aceita-se H
0
Material faltante 0,4773 > 0,05
aceita-se H
0
Degradação da pintura por intemperismo prolongado 0,4091 > 0,05
aceita-se H
0
Pichação ou poluição visual 0,0455 < 0,05
rejeita-se H
0
Remendos no reboco com argamassa de cimento 0,4091 > 0,05
aceita-se H
0
Eflorescências ou criptoflorescências 1,0000 > 0,05
aceita-se H
0
Degeneração por ácidos/ urina/ fezes 1,0000 > 0,05
aceita-se H
0
Manchamento por ácidos/ urina/ fezes 1,0000 > 0,05
aceita-se H
0
Corrosão química ou galvânica 0,2182 > 0,05
aceita-se H
0
Umidade de infiltração 0,4909 > 0,05
aceita-se H
0
Umidade ascensional 1,0000 > 0,05
aceita-se H
0
Umidade acidental 1,0000 > 0,05
aceita-se H
0
Entupimento e desgaste por pequenos animais 1,0000 > 0,05
aceita-se H
0
Vegetação 0,4091 > 0,05
aceita-se H
0
Consumo por insetos 1,0000 > 0,05
aceita-se H
0
Apodrecimento por umidade/ fungos/ algas 1,0000 > 0,05
aceita-se H
0
Biofilme 0,7500 > 0,05
aceita-se H
0
Falhas no crescimento/ secagem da madeira 1,0000 > 0,05
aceita-se H
0
Os resultados obtidos em relação às elevações principais mostram que a maioria das
patologias não apresenta relação de dependência entre si (aceita-se H
0
). Esse tipo de
comportamento é observado na totalidade das patologias encontradas das elevações voltadas
para Norte. Nas elevações voltadas para Sul, foi percebida a relação de dependência (rejeita-
130
se H
0,
aceita-se H
1
) apenas nas patologias de quebra de elementos gerada por ação de cargas
mecânicas; nas voltadas a Leste, percebeu-se dependência com as rachaduras de tijolos e com
a falta de materiais; e, nas voltadas a Oeste, percebeu-se dependência com a presença de
depredações do tipo pichações ou poluição visual. Entre essas dependências, a presença de
rachaduras nos tijolos é a única patologia que pode ser relacionada com condições climáticas
e, conseqüentemente, com variações provindas das diferentes elevações.
As elevações restantes, não orientadas para a via pública, foram classificadas segundo
sua orientação solar e em relação aos lotes lindeiros. Dessa forma, obteve-se a divisão em
externas, ou seja, voltadas para os lotes lindeiros, e internas, voltadas para o próprio lote,
como segue:
Norte (N);
Sul (S);
Leste (L);
Oeste (O);
Norte interna (NI);
Sul interna (SI);
Leste interna (LI);
Oeste interna (OI).
Nessas elevações, para a análise das patologias, individualmente, usou-se o teste Qui-
quadrado devido ao total da amostra ser igual a 52 elementos. Construíram-se tabelas de
contingência com duas linhas e duas colunas (2x2).
As hipóteses testadas foram as seguintes:
H
0
: as variáveis são independentes;
H
1
: as variáveis não são independentes, ou seja, elas apresentam algum grau de
associação entre si.
Compararam-se os valores calculados com o valor tabelado. Em todos os casos, o
valor tabelado foi determinado a partir do nível de significância (α) e dos graus de liberdade
(G.L.).
Adotou-se α = 5%.
G.L.= (n° de linhas – 1) . (n° de colunas – 1) = (2 – 1) . (2 – 1) = 1.
Pela tabela, χ
2
= 3,84.
A decisão tomada foi a seguinte:
quando qui-quadrado calculado (χ
2
calc) for menor do que qui-quadrado tabelado
131
(χ
2
tab), aceita-se H
0
, ou seja, as variáveis são independentes (p > α);
quando qui-quadrado calculado (χ
2
calc) for maior ou igual a qui-quadrado tabelado
(χ
2
tab), rejeita-se H
0
e aceita-se H
1
, ou seja, as variáveis apresentam algum grau de
associação entre si (p α).
As tabelas a seguir (Tabelas 16 a 26), mostram a inexistência de dependência entre a
degradação indicada e a elevação em que se encontra.
Tabela 16 – Degradação do reboco.
Residência Elevação
χ
2
calc. χ
2
tab.
p Decisão
2,5,6,7 SI 1,66 3,84 0,1972 aceita-se H
0
10,11,12 OI 0,15 3,84 0,6954 aceita-se H
0
1,2,5,6,7 NI 0,04 3,84 0,8412 aceita-se H
0
1,5,7,9,10 O 1,32 3,84 0,2512 aceita-se H
0
3,4,10,11,12 LI 0,04 3,84 0,8412 aceita-se H
0
1,3,5,6,10,11 N 0,33 3,84 0,5677 aceita-se H
0
2,4,7,8,9,12 S 1,38 3,84 0,2394 aceita-se H
0
2,3,4,6,8,11 L 1,38 3,84 0,2394 aceita-se H
0
Tabela 17 – Fissuras no reboco.
Residência Elevação
χ
2
calc. χ
2
tab.
p Decisão
2,5,6,7 SI 0,06 3,84 0,8089 aceita-se H
0
10,11,12 OI 2,52 3,84 0,1121 aceita-se H
0
1,2,5,6,7 NI 0,71 3,84 0,3996 aceita-se H
0
1,5,7,9,10 O 0,56 3,84 0,4552 aceita-se H
0
3,4,10,11,12 LI 0,04 3,84 0,8412 aceita-se H
0
1,3,5,6,10,11 N 0,09 3,84 0,7623 aceita-se H
0
2,4,7,8,9,12 S 0,33 3,84 0,5677 aceita-se H
0
2,3,4,6,8,11 L 0,09 3,84 0,7623 aceita-se H
0
Tabela 18 – Rachaduras nos tijolos.
Residência Elevação
χ
2
calc. χ
2
tab.
p Decisão
2,5,6,7 SI 1,66 3,84 0,1972 aceita-se H
0
10,11,12 OI 0,65 3,84 0,4202 aceita-se H
0
1,2,5,6,7 NI 0,56 3,84 0,4552 aceita-se H
0
1,5,7,9,10 O 0,04 3,84 0,8412 aceita-se H
0
3,4,10,11,12 LI 0,56 3,84 0,4552 aceita-se H
0
1,3,5,6,10,11 N 0,09 3,84 0,7623 aceita-se H
0
2,4,7,8,9,12 S 0,09 3,84 0,7623 aceita-se H
0
2,3,4,6,8,11 L 0,09 3,84 0,7623 aceita-se H
0
132
Tabela 19 – Fenda na parede.
Residência Elevação
χ
2
calc. χ
2
tab.
p Decisão
2,5,6,7 SI 0,17 3,84 0,6772 aceita-se H
0
10,11,12 OI 0,13 3,84 0,7212 aceita-se H
0
1,2,5,6,7 NI 0,22 3,84 0,6381 aceita-se H
0
1,5,7,9,10 O 0,22 3,84 0,6381 aceita-se H
0
3,4,10,11,12 LI 0,22 3,84 0,6381 aceita-se H
0
1,3,5,6,10,11 N 0,27 3,84 0,6025 aceita-se H
0
2,4,7,8,9,12 S 3,01 3,84 0,0825 aceita-se H
0
2,3,4,6,8,11 L 0,27 3,84 0,6025 aceita-se H
0
Tabela 20 – Material faltante.
Residência Elevação
χ
2
calc. χ
2
tab.
p Decisão
2,5,6,7 SI 1,93 3,84 0,1652 aceita-se H
0
10,11,12 OI 0,01 3,84 0,9210 aceita-se H
0
1,2,5,6,7 NI 0,22 3,84 0,6381 aceita-se H
0
1,5,7,9,10 O 0,22 3,84 0,6381 aceita-se H
0
3,4,10,11,12 LI 2,46 3,84 0,1169 aceita-se H
0
1,3,5,6,10,11 N 0,63 3,84 0,4262 aceita-se H
0
2,4,7,8,9,12 S 3,01 3,84 0,0825 aceita-se H
0
2,3,4,6,8,11 L 0,02 3,84 0,8850 aceita-se H
0
Tabela 21 – Degradação da pintura por intemperismo prolongado.
Residência Elevação
χ
2
calc. χ
2
tab.
p Decisão
2,5,6,7 SI 1,17 3,84 0,2788 aceita-se H
0
10,11,12 OI 1,29 3,84 0,2559 aceita-se H
0
1,2,5,6,7 NI 0,34 3,84 0,5626 aceita-se H
0
1,5,7,9,10 O 0,34 3,84 0,5626 aceita-se H
0
3,4,10,11,12 LI 0,21 3,84 0,6461 aceita-se H
0
1,3,5,6,10,11 N 1,48 3,84 0,2240 aceita-se H
0
2,4,7,8,9,12 S 0,07 3,84 0,7965 aceita-se H
0
2,3,4,6,8,11 L 0,49 3,84 0,4838 aceita-se H
0
Tabela 22 – Corrosão química ou galvânica.
Residência Elevação
χ
2
calc. χ
2
tab.
p Decisão
2,5,6,7 SI 1,16 3,84 0,2809 aceita-se H
0
10,11,12 OI 0,85 3,84 0,3554 aceita-se H
0
1,2,5,6,7 NI 0,03 3,84 0,8636 aceita-se H
0
1,5,7,9,10 O 1,48 3,84 0,2231 aceita-se H
0
3,4,10,11,12 LI 0,00 3,84 0,9470 aceita-se H
0
1,3,5,6,10,11 N 0,08 3,84 0,7748 aceita-se H
0
2,4,7,8,9,12 S 0,08 3,84 0,7748 aceita-se H
0
2,3,4,6,8,11 L 3,38 3,84 0,0658 aceita-se H
0
133
Tabela 23 – Umidade de infiltração.
Residência Elevação
χ
2
calc. χ
2
tab.
p Decisão
2,5,6,7 SI 0,36 3,84 0,5479 aceita-se H
0
10,11,12 OI 2,95 3,84 0,860 aceita-se H
0
1,2,5,6,7 NI 0,46 3,84 0,4972 aceita-se H
0
1,5,7,9,10 O 0,46 3,84 0,4972 aceita-se H
0
3,4,10,11,12 LI 0,46 3,84 0,4972 aceita-se H
0
1,3,5,6,10,11 N 0,57 3,84 0,4522 aceita-se H
0
2,4,7,8,9,12 S 0,57 3,84 0,4522 aceita-se H
0
2,3,4,6,8,11 L 0,57 3,84 0,4522 aceita-se H
0
Tabela 24 – Vegetação.
Residência Elevação
χ
2
calc. χ
2
tab.
p Decisão
2,5,6,7 SI 0,57 3,84 0,4522 aceita-se H
0
10,11,12 OI 1,48 3,84 0,2235 aceita-se H
0
1,2,5,6,7 NI 0,72 3,84 0,3956 aceita-se H
0
1,5,7,9,10 O 0,39 3,84 0,5333 aceita-se H
0
3,4,10,11,12 LI 0,39 3,84 0,5333 aceita-se H
0
1,3,5,6,10,11 N 0,17 3,84 0,6759 aceita-se H
0
2,4,7,8,9,12 S 0,88 3,84 0,3469 aceita-se H
0
2,3,4,6,8,11 L 0,88 3,84 0,3469 aceita-se H
0
Tabela 25 – Consumo por insetos.
Residência Elevação
χ
2
calc. χ
2
tab.
p Decisão
2,5,6,7 SI 0,67 3,84 0,4116 aceita-se H
0
10,11,12 OI 0,50 3,84 0,4816 aceita-se H
0
1,2,5,6,7 NI 0,20 3,84 0,6523 aceita-se H
0
1,5,7,9,10 O 0,20 3,84 0,6523 aceita-se H
0
3,4,10,11,12 LI 0,20 3,84 0,6523 aceita-se H
0
1,3,5,6,10,11 N 0,06 3,84 0,8068 aceita-se H
0
2,4,7,8,9,12 S 2,30 3,84 0,1295 aceita-se H
0
2,3,4,6,8,11 L 0,06 3,84 0,8068 aceita-se H
0
Tabela 26 – Biofilme.
Residência Elevação
χ
2
calc. χ
2
tab.
p Decisão
2,5,6,7 SI 0,67 3,84 0,4116 aceita-se H
0
10,11,12 OI 0,50 3,84 0,4816 aceita-se H
0
1,2,5,6,7 NI 0,86 3,84 0,3536 aceita-se H
0
1,5,7,9,10 O 0,20 3,84 0,6523 aceita-se H
0
3,4,10,11,12 LI 0,20 3,84 0,6523 aceita-se H
0
1,3,5,6,10,11 N 0,16 3,84 0,8068 aceita-se H
0
2,4,7,8,9,12 S 0,16 3,84 0,8068 aceita-se H
0
2,3,4,6,8,11 L 2,30 3,84 0,1295 aceita-se H
0
134
A análise das Tabelas 16 a 26 mostra que as patologias anteriormente designadas não
apresentam qualquer tipo de dependência (aceita-se H
o
) das elevações em que foram
encontradas. Assim, para as elevações não voltadas para o logradouro público, degradação e
fissura nos rebocos, rachaduras nos tijolos, fendas na parede, falta de materiais, degradação na
pintura por intemperismo, corrosão nos metais, umidade de infiltração, vegetações, consumo
por insetos e, ainda, biofilme não parecem estar relacionados com as elevações em que se
encontram. As condições climáticas do lote, expressas na orientação solar e nos vãos de
iluminação e ventilação, não parecem influenciar na formação dessas patologias em um tipo
específico de elevação. Essa conclusão é significativa para os casos de formação de biofilme e
de vegetação, pois as orientações solares eram tidas como importantes meios na manutenção
da umidade e conseqüente desenvolvimento desses processos patológicos. Também é
significativa a observação que a degradação das pinturas e degradação e fissuras nos rebocos
também não estão vinculadas a algum tipo de orientação solar. Já em relação à falta de
materiais nas elevações, o resultado era esperado, já que tal tipo de patologia está mais
relacionada ao abandono e ao vandalismo.
As tabelas apresentadas a seguir mostram patologias que apresentaram algum tipo de
dependência com a elevação em que foram encontradas (Tabelas 27 a 29):
Tabela 27 – Descolamento (empolamento) do reboco.
Residência Elevação
χ
2
calc. χ
2
tab.
p Decisão
2,5,6,7 SI 1,66 3,84 0,1972 aceita-se H
0
10,11,12 OI 0,65 3,84 0,4202 aceita-se H
0
1,2,5,6,7 NI 0,56 3,84 0,4552 aceita-se H
0
1,5,7,9,10 O 0,04 3,84 0,8412 aceita-se H
0
3,4,10,11,12 LI 0,04 3,84 0,8412 aceita-se H
0
1,3,5,6,10,11 N
4,01 3,84
0,0451 rejeita-se H
0
2,4,7,8,9,12 S 0,33 3,84 0,5677 aceita-se H
0
2,3,4,6,8,11 L 0,09 3,84 0,7623 aceita-se H
0
Tabela 28 – Remendos no reboco com argamassa de cimento.
Residência Elevação
χ
2
calc. χ
2
tab.
p Decisão
2,5,6,7 SI
7,53 3,84
0,0061 rejeita-se H
0
10,11,12 OI 0,93 3,84 0,1652 aceita-se H
0
1,2,5,6,7 NI 0,21 3,84 0,6461 aceita-se H
0
1,5,7,9,10 O 0,30 3,84 0,5831 aceita-se H
0
3,4,10,11,12 LI 0,30 3,84 0,5831 aceita-se H
0
1,3,5,6,10,11 N 0,63 3,84 0,4262 aceita-se H
0
2,4,7,8,9,12 S 0,02 3,84 0,8850 aceita-se H
0
2,3,4,6,8,11 L 0,02 3,84 0,8850 aceita-se H
0
135
Tabela 29 – Manchamento do elemento ou pintura por água.
Residência Elevação
χ
2
calc. χ
2
tab.
p Decisão
2,5,6,7 SI 0,17 3,84 0,6772 aceita-se H
0
10,11,12 OI 0,04 3,84 0,7212 aceita-se H
0
1,2,5,6,7 NI
3,90 3,84
0,0482 rejeita-se H
0
1,5,7,9,10 O 0,22 3,84 0,6381 aceita-se H
0
3,4,10,11,12 LI 0,22 3,84 0,6381 aceita-se H
0
1,3,5,6,10,11 N 3,01 3,84 0,0825 aceita-se H
0
2,4,7,8,9,12 S 0,27 3,84 0,6025 aceita-se H
0
2,3,4,6,8,11 L 0,27 3,84 0,6025 aceita-se H
0
Os descolamentos de reboco (Tabela 27) apresentaram relação com as elevações
voltadas a Norte. Esse tipo de comportamento pode ser explicado pela grande incidência de
insolação, aliada à umidade provinda das chuvas com vento que costumam ocorrer na cidade.
Porém, esse tipo de comportamento deveria também ser percebido nas elevações voltadas a Leste,
em que os mesmos condicionantes ocorrem, o que não é percebido nessa tabela.
A Tabela 28 mostra a relação de dependência das elevações voltadas para Sul e com a
presença de remendos do reboco com argamassas de cimento. Apesar dos remendos não se
constituírem em uma patologia, demonstram que os responsáveis pelas edificações efetuaram
consertos nas camadas de reboco danificadas. Essas correções foram possíveis devido ao fato das
elevações estarem voltadas para as faces interiores das edificações, mais suscetíveis às alterações.
Já a Tabela 29 mostra a ação de manchamento de pintura por ação de água, com grifo na
presença de dependência com as elevações voltadas a Norte e internas. Esse tipo de comportamento
parece demonstrar relação com a incidência de chuvas com vento, aliada à deficiência de proteção dos
beirais. Também nesse caso, não se pode afirmar que essa seja a causa de tal resultado, já que o
mesmo comportamento deveria ser esperado nas demais elevações voltadas a Norte.
A seguir, podem-se observar as patologias que apresentaram relações mais freqüentes
com determinadas elevações (Tabelas 30 a 32):
Tabela 30 – Ressecamento/desagregação por radiação solar.
Residência Elevação
χ
2
calc. χ
2
tab.
P Decisão
2,5,6,7 SI 0,11 3,84 0,7459 aceita-se H
0
10,11,12 OI 0,15 3,84 0,6954 aceita-se H
0
1,2,5,6,7 NI 2,87 3,84 0,0903 aceita-se H
0
1,5,7,9,10 O 2,87 3,84 0,0903 aceita-se H
0
3,4,10,11,12 LI 0,04 3,84 0,8412 aceita-se H
0
1,3,5,6,10,11 N
4,20 3,84
0,0403 rejeita-se H
0
2,4,7,8,9,12 S
8,55 3,84
0,0035 rejeita-se H
0
2,3,4,6,8,11 L 0,09 3,84 0,7623 aceita-se H
0
136
Tabela 31 – Apodrecimento por umidade/fungos/algas.
Residência Elevação
χ
2
calc. χ
2
tab.
P Decisão
2,5,6,7 SI 0,57 3,84 0,4522 aceita-se H
0
10,11,12 OI 0,42 3,84 0,5193 aceita-se H
0
1,2,5,6,7 NI
4,39 3,84
0,0362 rejeita-se H
0
1,5,7,9,10 O
4,39 3,84
0,0362 rejeita-se H
0
3,4,10,11,12 LI 0,72 3,84 0,3956 aceita-se H
0
1,3,5,6,10,11 N 0,17 3,84 0,6759 aceita-se H
0
2,4,7,8,9,12 S 0,17 3,84 0,6759 aceita-se H
0
2,3,4,6,8,11 L 0,88 3,84 0,3469 aceita-se H
0
Tabela 32 – Esfoliação por intemperismo prolongado.
Residência Elevação
χ
2
calc. χ
2
tab.
P Decisão
2,5,6,7 SI 1,29 3,84 0,2569 aceita-se H
0
10,11,12 OI
4,01 3,84
0,0451 rejeita-se H
0
1,2,5,6,7 NI 0,71 3,84 0,3996 aceita-se H
0
1,5,7,9,10 O
6,98 3,84
0,0083 rejeita-se H
0
3,4,10,11,12 LI
6,98 3,84
0,0083 rejeita-se H
0
1,3,5,6,10,11 N
4,20 3,84
0,0403 rejeita-se H
0
2,4,7,8,9,12 S
8,55 3,84
0,0035 rejeita-se H
0
2,3,4,6,8,11 L
4,20 3,84
0,0403 rejeita-se H
0
A tabela 30 mostra a relação de dependência nas fachadas Norte e Sul com a radiação
solar sobre planos de madeira. Como a incidência desse tipo de fator a Sul é praticamente nula,
resumido a um curto período no verão, presume-se que tal tipo de dano, nesse caso, possa ter sido
causado também por outros fatores, como as chuvas, por exemplo, associadas à falta de
manutenção. Já a Norte, conclui-se que esse resultado seja proveniente da associação de
intempéries diversas.
A constatação de apodrecimento, causado por algas, fungos e umidade, foi percebida
como dependente das elevações orientadas a Oeste e, internamente, a Norte (Tabela 31). As
razões envolvidas nesses tipos de dano incluem a presença de umidade e temperatura
adequada, ambas encontradas em fachadas com pequena insolação diária. Os elementos mais
danificados por esse tipo de patologia nas edificações foram os espelhos dos beirais, o que
pode ser proveniente de goteiras ou destelhamento.
Em relação aos danos de esfoliação por intemperismo prolongado, analisados na tabela
32, constatou-se dependência em grande parte das elevações. Esses danos são percebidos em
paredes de pedras aparentes ou tijolos rebocados e podem estar relacionados com a ação das
intempéries, bem como com a composição das argamassas utilizadas.
137
As demais patologias que fizeram parte do estudo não foram analisadas em
cruzamentos pela existência de diversas variáveis nulas (o que inviabilizou o teste Qui-
quadrado) ou porque algumas patologias não possuíam relação com os diferentes tipos de
elevações.
138
6 CONCLUSÃO
Ao findar este trabalho, apresentam-se as principais considerações sobre a
identificação de agentes e mecanismos de degradação que atuam sobre as edificações da Vila
Belga e são traçadas algumas conclusões da pesquisa como um todo.
Inicialmente, por meio da tabulação dos dados elaborados nos levantamentos e seu
tratamento estatístico, pode-se aferir que os principais danos encontrados estão nas camadas
superficiais das edificações. São casos de degradação das pinturas das alvenarias, das
aberturas e dos espelhos dos telhados, e da deterioração dos rebocos e mesmo dos tijolos,
originada pela ação prolongada da umidade, alterações de temperatura e insolação sobre os
diversos elementos construtivos. A presença constante de biofilme nas elevações pesquisadas
aponta para a incidência de umidade por tempo prolongado nesses planos, assim como a
existência de componentes que absorvem a água provinda diretamente das chuvas ou de
escoamentos falhos das estruturas de cobertura.
Devido à falta de equipamentos eficazes de reconhecimento, a construção das
edificações sobre fundações rasas e a presença de veículos pesados nas vias que organizam a
Vila, pode-se supor que a transmissão de trepidações das vias para as edificações também está
acelerando os processos de degeneração e desprendimento dos elementos construtivos,
processos esses comuns em diversas cidades históricas, como observado na revisão
bibliográfica. Avalia-se como importante o desenvolvimento de estudos que possam
confirmar essa suspeita e traçar estratégias para conciliar o uso das vias públicas com a
conservação das edificações.
Apesar de menos freqüentes, as rachaduras nos tijolos e as fendas nas paredes também
foram encontradas em algumas edificações levantadas (edificações numeradas como 8, 11 e
12). Nesses casos, é provável que as lesões estejam associadas a algum tipo de alteração no
subsolo que dá sustentação às fundações das edificações. Pôde-se perceber, pelas visitas ao
local, que ao menos em dois dos casos citados (8 e 12), as edificações estão implantadas
muito próximas a um curso d’água, o que pode ter contribuído para o deslocamento de
camadas do solo, tornando o sítio instável.
A manutenção das alvenarias das edificações por meio da utilização de argamassas à
base de cimento, apesar de não ser um dano por si só, foi considerada aqui como uma
alteração indevida, pois não foram levados em conta os precedentes das edificações e, assim,
139
também consta nas listagens de patologias encontradas. As alterações feitas com esse tipo de
argamassa demonstram a necessidade dos atuais moradores de garantirem a habitabilidade das
residências, apesar da inexistência de orientação técnica para tanto. Os principais problemas
que costumam ser encontrados na utilização desse tipo de argamassa estão relacionados com a
incompatibilidade com os substratos, os rebocos e as pinturas que caracterizam as edificações.
Portanto, o estudo dos componentes e traços originais das argamassas de reboco deve ser
feito, de modo a buscar equivalentes atuais que apresentem compatibilidade com os primeiros
e que, mesmo assim, não os falsifique. As alterações feitas pelos moradores são percebidas
com constância nos levantamentos efetuados e, em maior quantidade, nas elevações que não
estão voltadas para o logradouro público, onde a liberdade de modificação é maior.
A correlação elaborada, nos resultados, entre os danos encontrados e as elevações
estudadas mostrou que grande parte dos itens considerados não apresenta dependência entre
si, o que atesta que os agentes climáticos e ambientais que incidem sobre o conjunto não são
determinantes para o desenvolvimento de patologias em elevações específicas. A partir desse
entendimento, pode-se avaliar que os danos encontrados provêm de outras causas, como
negligência, intervenções indevidas e falta de manutenção preventiva. Da mesma forma,
pode-se compreender que as condições impostas pelo entorno, como alteração da ventilação e
da insolação, alteraram a relação de patologias encontradas em determinadas elevações, o que
torna ainda mais importante o estudo do clima urbano e de suas variáveis.
Outra constatação, feita a partir dos levantamentos realizados, é que alguns danos mais
brandos, como a ausência de pintura das elevações, acabam evoluindo para outros mais
graves, como a desagregação ou fissuras no reboco, pela falta de manutenção durante um
grande período de tempo. Esse tipo de comportamento, percebido na Vila Belga, ocorre
possivelmente devido a um grande período de inércia dos diversos agentes envolvidos na sua
preservação, gerando a situação que se tem hoje.
A partir das considerações supracitadas, é válido considerar que, independentemente
de qualquer tipo de postura de intervenção que possa ser adotada, é possível elaborar
estratégias que garantam a conservação e restauração das edificações. Os planos a serem
implantados devem garantir a autenticidade das edificações em seus materiais e, ao mesmo
tempo, promover a sua utilização sustentável, pois os bens são dos moradores e também da
cidade e da comunidade de Santa Maria. Outro ponto imprescindível a considerar é o valor
das edificações enquanto conjunto, íntegro em suas partes e ambientado ao seu entorno.
Partindo-se da premissa que grande parte dos danos estão nas camadas superficiais dos
planos edificados, pode-se considerar válida a possibilidade de reabilitação pela utilização de
140
técnicas de pequeno restauro, ou mesmo da consideração dos rebocos como superfícies de
sacrifício, aptas a serem substituídas. Essa possibilidade ganha mais respaldo ao se considerar
o pequeno valor que o material dos planos rebocados possui para a comunidade se comparado
à manutenção do todo edificado.
Há um longo caminho ainda a ser percorrido, pois existe a possibilidade de que alguns
danos ainda não tenham sido percebidos. Desse modo, torna-se necessário o levantamento de
todas as edificações e a elaboração de um diagnóstico caso a caso é necessário para o
estabelecimento conclusivo dos meios necessários para a reabilitação. Espera-se, porém, ao
término deste trabalho, que os resultados encontrados auxiliem na requalificação do conjunto,
permitindo que ele continue sendo um marco no desenvolvimento da cidade e não se perca
com o passar dos anos.
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