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CAMPUS DE ARARAQUARA
FACULDADE DE CIENCIAS E LETRAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO ESCOLAR
ADOLESCENTE, USO DE ÁLCOOL,
DEPRESSÃO E DESENVOLVIMENTO
COGNITIVO
PATRÍCIA SANTOS TEIXEIRA
Dissertação apresentada à
Universidade Estadual Paulista
“Julio de Mesquita Filho”, Campus
de Araraquara, para obtenção do
título de Mestre em Educação, do
Programa de Pós-Graduação em
Educação.
Araraquara
São Paulo Brasil
Novembro de 2007
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CAMPUS DE ARARAQUARA
FACULDADE DE CIENCIAS E LETRAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO ESCOLAR
ADOLESCENTE, USO DE ÁLCOOL,
DEPRESSÃO E DESENVOLVIMENTO
COGNITIVO
PATRÍCIA SANTOS TEIXEIRA
Orientadora: Prof. Dr. Maria Cristina Bergonzoni Stefanini
Dissertação apresentada à
Universidade Estadual Paulista
“Julio de Mesquita Filho”, Campus
de Araraquara, para obtenção do
título de Mestre em Educação, do
Programa de Pós-Graduação em
Educação.
Marília
Estado de São Paulo Brasil
Novembro de 2007
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Teixeira, Patrícia Santos
Adolescente, uso de álcool, depressão e desenvolvimento
cognitivo / Patrícia Santos Teixeira – 2007
116 f. ; 30 cm
Dissertação (Mestrado em Educação Escolar)
Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências e Letras,
Campus de Araraquara
Orientador: Maria Cristina Bergonzoni Stefanini
l. Educação--Brasil. 2. Psicologia educacional.
3. Adolescência. 4. Adolescentes. 5. Psicologia do adolescente.
6. Alcool e juventude. 7. Depressão na adolescência. I. Título.
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais que com dedicação investiram em meus estudos e sempre acreditaram no
meu potencial, companheiros em todos os momentos.
Em especial ao Rodrigo por sempre compartilhar meus sonhos e me ajudar torná-los
realidade.
Agradeço a prof. Dr. Maria Cistina Stefanini e ao prof. Dr. Raul Aragão Martins, meus
pais intelectuais que não pouparam esforços para educar a filha ansiosa. São meus
grandes mestres que me serviram de inspiração e me deram forças nos momentos em
que mais precisei.
Ao prof. Dr. Jose Luiz Vieira por sua dedicada colaboração nesse trabalho e pela
disposição e sabedoria.
As minhas amigas que estiveram ao meu lado em todos os momentos me auxiliando nas
incertezas e inseguranças, a Ione, amigona tolerante as minhas ansiedades, a Marta
Sene, sempre presente, a Dani Toledo, que me ajudou muito em todos os momentos, a
Sandra Olivier, sempre amiga, Fernanda Musgo, um doce de pessoa, a Elaine, com sua
beleza e sabedoria e ao Valmir, companheiro nas viagens.
Aos amigos que não estão na academia porem ajudaram muito nesse processo, a Juliana
Moreira e a Janaina Moreira, que mesmo distante me apoiaram com carinho e
compressão, ao Marco Antonio, meu afilhado que tolerou meu mau humor, a Luciana
Nogueira e a Rosana Akemi que sempre quando precisei liguei e todos os outros que
felizmente estiveram ao meu lado sempre presente mesmo que distante.
Aos professores da graduação da Unesp de Assis e os da pos graduação de Araraquara
pela sabedoria, o respeito e exemplo.
Quero agradecer a todos que de alguma forma contribuíram para a realização desse
trabalho.
Obrigada.
Para papai:
Ilemar Otaviano Teixeira
Quero que teu nome fique inscrito como marco deste trabalho que viste amadurecer e
não viu nesse plano florescer, ele ficara como um marco significativo em nossas vidas e
recordações dos sonhos que sonhamos juntos...
SUMÁRIO
Página
RESUMO.......................................................................................................................07
ABSTRACT...................................................................................................................08
INTRODUÇÃO.............................................................................................................09
1. CONSUMO DE ÁLCOOL NO BRASIL E AS CONSEQUENCIAS DESSE
USO NO COMPORTAMENTO HUMANO.................................................13
1.1 Definições e classificações sobre o uso de álcool......................................13
1.2 Teorias relativas ao consumo de álcool......................................................15
1.3 Epidemiologia.............................................................................................19
1.4 Problemas....................................................................................................20
2. O ADOLESCENTE, O CONSUMO DE ÁLCOOL E AS
CONSEQUENCIAS PARA SEU DESENVOLVIMENTO COGNITIVO
..........................................................................................................................23
2.1 O adolescente.............................................................................................23
2.2 A depressão na adolescência......................................................................30
2.3 Rendimento escolar....................................................................................32
2.4 O adolescente e o uso de álcool..................................................................34
3. METODOLOGIA...........................................................................................45
3.1 Tipo de pesquisa ......................................................................................45
3.2 Universo de pesquisa ...............................................................................45
3.3 Apresentação dos sujeitos........................................................................46
3.4 Delineamento...........................................................................................47
3.5 Instrumento de coleta de dados................................................................49
3.6 Procedimentos de coleta de dados ..........................................................55
3.5 Procedimento para a aplicação das provas operatórias.............................56
3.6 Procedimento de análise de dados............................................................57
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO......................................................................60
4.1 O consumo de álcool .............................................................................60
4.2 A incidência de depressão .....................................................................61
4.3 Desenvolvimento Cognitivo ..................................................................62
4.4 Entrevista ...............................................................................................63
4.5 Síntese por sujeitos................................................................................64
4.5.1 Grupo 1 .........................................................................................65
4.5.2 Grupo 2. ........................................................................................73
4.5.3 Grupo 3 .........................................................................................81
4.5.4 Grupo 4 .........................................................................................92
5. CONSIDERAÇOES FINAIS...........................................................................101
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................104
ANEXOS...................................................................................................................109
1. Autorização da escola 1.........................................................................................110
2. Autorização da escola 2 .........................................................................................111
3. Termo de consentimento e livre esclarecimento.....................................................112
4. Instrumento A.........................................................................................................114
5. Instrumento B.........................................................................................................115
6. Instrumento C.........................................................................................................118
LISTA DE TABELAS
Páginas
Tabela 1.
Freqüência e porcentagem de alunos por sexo e tipo de escola ...................................47
Tabela 2.
Freqüência e porcentagem das principais características dos participantes .................48
Tabela 3.
Freqüência e porcentagem do nível de instrução dos pais............................................49
Tabela 4.
Resultados do Audit por escola ....................................................................................61
Tabela 5.
Resultado do Beck por escola .......................................................................................62
Tabela 6.
Resultado do cruzamento entre Audit e Beck...............................................................62
Tabela 7.
Resultados das provas piagetianas por sujeitos............................................................63
Tabela 8.
Visualização do desempenho operatório do Grupo 1 ...................................................70
Tabela 9.
Visualização do desempenho operatório do Grupo 2 ...................................................78
Tabela 10.
Visualização do desempenho operatório do Grupo 3 ...................................................87
Tabela 11.
Visualização do desempenho operatório do Grupo 4 ...................................................97
RESUMO
A adolescência é uma fase evolutiva do ser humano e deve ser estudada a partir dos ângulos
biológico, social e psicológico. O adolescente, em sua busca pela identidade adulta, passa
por um processo turbulento de dúvidas e insegurança. Segundo Piaget, o desenvolvimento
do adolescente é uma equilibração progressiva e o sujeito nessa fase busca construir o
pensamento hipotético dedutivo a partir de uma tomada de consciência progressiva. O
comportamento e o uso prematuro de substâncias psicoativas, legais e ilegais, entre o
público adolescente, é uma questão muito discutida na sociedade contemporânea. As
drogas legais, como álcool e tabaco, são as mais usadas entre os adolescentes e seu
consumo pode ter conseqüências tanto legais como sociais, e também relacionadas à saúde.
Levantamentos sobre o uso de álcool mostram que o consumo de drogas começa,
geralmente, no início da adolescência, já havendo número razoável de dependentes nesta
faixa etária. A depressão parece estar presente também e o rendimento escolar acaba sendo
afetado. A presente pesquisa visa identificar e discutir a relação entre o uso abusivo de
álcool em adolescentes escolarizados, a depressão e a conseqüência deste uso no
desenvolvimento cognitivo. Participaram da pesquisa 132 alunos do primeiro ano do
Ensino Médio de duas escolas, sendo uma pública e outra particular de uma cidade de porte
médio do interior do estado de São Paulo. Foram utilizados os seguintes instrumentos:
AUDIT Alcohol Use Disorder Identification Test; Inventário para depressão Beck (BDI
Beck Depression Inventory) e Provas para o Desenvolvimento Operatório (Permutação,
Combinação e Torre de Hanói). Os resultados mostram que o consumo de álcool em
excesso é significativo e que a depressão é existente, sobretudo nas meninas e no grupo
mais pobre, mas nesse momento do desenvolvimento, não observamos uma relação
favorável entre o uso de álcool, depressão e desenvolvimento cognitivo. Isto pode ser
explicado pelo fato de que esse efeito é tardio, com possibilidade de ser agravado
lentamente.
ABSTRACT
Adolescence is a human evolutionary phase which should be studied from different angles:
biological, social, and psychological. The adolescent, seeking for an adult identity, goes
through a turbulent period of doubts and insecurity. According to Piaget, an adolescent’s
development is a progressive balancing together with, at this phase, a search to construct a
hypothetical deductive thinking as from progressive consciousness. Among adolescents,
their behaviour and premature use of psychoactive substances, legal and illegal, is a matter
much discussed in today’s society. Legal drugs, such as alcohol and tobacco, are widely
used among adolescents which can have legal, social, and health consequences. Research
on alcohols has shown that drugs are generally consumed at the beginning of adolescence,
there being a notable quantity of dependents in this age group. Depression seems to be also
present and scholastic work negatively affected. This work intends to identify and discuss
the relationship between school-age adolescent’s abusive usage of alcohol, the depression
and consequences from its usage, and cognitive development. A total of 132 first year
Secondary students from two schools, one public and one private from a medium sized city
in the interior of the State of São Paulo, took part in this work. The following were used:
“AUDIT Alcohol Use Disorder Identification Test”,” BDI Beck Depression Inventory”,
and “Tests for Operational Development (Permutation, Combination and Hanoi’s Tower)”.
Results showed that the excessive consumption of alcoholic drinks is meaningful and that
depression exists, more so in girls and the poor, but that, at this moment of development,
we did not observe a relationship between alcohol usage, depression and cognitive
development. This may be explained by the fact that the effect is slow, possibly worsening
later.
9
INTRODUÇÃO
O consumo do álcool pode ser considerado hoje como um dos mais graves
problemas de saúde pública no Brasil (BRASIL, 2003). Isso pode ser percebido
observando-se as conseqüências decorrentes do seu uso, as quais compreendem
complicações físicas, psíquicas e sociais. Essa situação, segundo Brasil (op cit), não
envolve apenas as pessoas que consomem o álcool em larga escala, mas compromete
indiretamente todo o desenvolvimento de uma sociedade, pois todos têm que pagar e/ou
sofrer com os danos causados pelo uso excessivo da bebida alcoólica, considerada a droga
mais difundida e de mais antigo uso no mundo, além de ser a de maior aceitação social. O
que se observa , na opinião pública, são discursos veementes sobre drogas ilícitas enquanto
a posição em relação ao uso de álcool é condescendente.
A transição do consumo moderado e social para a dependência não é repentina;
acontece com o passar dos anos e em alguns momentos é imperceptível para o sujeito.
Outra informação importante é que, da mesma maneira que o solvente, o álcool pode torna-
se uma droga de estréia e facilitadora do consumo de outras drogas (TAKIUTI, 1994).
A adolescência é uma fase de profundas transformações físicas, psicológicas e
sociais. É um momento de transição que será de maior ou menor risco, dependendo das
garantias físicas, sociais e psicológicas (TAKIUTI, op cit). Nessa fase o adolescente passa
por vários lutos, como a perda do corpo infantil, a perda dos pais da infância, a perda da
identidade e do papel infantil e dessa forma o jovem busca uma identidade adulta, e
desenvolve a tendência de se agrupar, a necessidade de intelectualizar e fantasiar; passa
pelas crises religiosas, a deslocação temporal, a evolução sexual, atitudes sociais
reivindicatórias, condições sucessivas de manifestações de conduta, a separação
10
progressiva dos pais e constantes flutuações de humor e do estado de ânimo (KNOBEL,
1994).
Em nossa pesquisa vamos considerar tais flutuações de humor e de estado de
ânimo como uma forma de depressão adolescente, que para Knobel é a forma de elaboração
dos lutos do jovem, e acreditamos que ela faça parte da tentativa de uma equilibração para
o indivíduo e que o álcool pode ser um agravante desse processo.
Essa pesquisa tem o objetivo de estudar o adolescente que consome álcool e que
pode sofrer uma influência em seu desenvolvimento cognitivo, por conta de tal consumo. O
jovem se encontra em uma situação vulnerável em relação ao uso de álcool, ele está mais
propício a dirigir embriagado, envolver-se em brigas e em atividades sexuais sem usar
preservativo, entre outros problemas que expõem tais indivíduos a perigo para si e para a sociedade
(KERR-CORRÊA et al, 2002).
Em relação ao rendimento escolar, encontramos pesquisas que relacionam o beber
pesado e o mau desempenho (PRESLEY, 1995, TAVARES, 2001) e também que
relacionam baixo rendimento escolar com sintomas depressivos (CRUVINEL, 2004).
Particularmente o tema sempre nos cativou, talvez pela convivência, durante o
ensino médio e a faculdade, com colegas e professores que faziam uso de álcool e,
notadamente, percebemos que algumas dessas pessoas apresentava um desenvolvimento
cognitivo saudável. No entanto em nossa prática clínica, como psicóloga, temos observado
algumas conseqüências na vida das pessoas ligadas ao uso de álcool, desde problemas com
custo no orçamento doméstico até questões comportamentais, como por exemplo o sexo
sem segurança ou acidentes de trânsito.
Não podemos afirmar que o álcool é agente causador de problemas no
desempenho escolar de seus consumidores, porém, acreditamos que em associação com
11
outros fatores, ele pode contribuir para o rendimento cognitivo não satisfatório como
também pode levar ao desenvolvimento de certa depressão, associado com as modificações
que o adolescente sofre, na passagem da infância para a fase adulta.
De modo geral a sociedade parece não reconhecer a importância dos problemas
ocorridos em conseqüência do uso de álcool e drogas por adolescentes. Tavares (2001)
alerta para o padrão de delinqüência apresentado por jovens usuários de drogas.
Delimitamos o nosso objeto de estudo ao uso de álcool na adolescência, pois é nessa fase
que o sujeito inicia o uso de bebida.
O fato é que existe uma permissão social para o uso do álcool, inclusive com
atitudes reforçadas socialmente. Os pais consideram o uso do álcool uma forma de
amadurecimento e uma prova de que os jovens estão se tornando adultos, sobretudo quando
esses jovens são do sexo masculino. Por isso, considera-se uma circunstância natural o
jovem e/ou seu grupo voltar para casa alcoolizado. Todavia, quando a família e a sociedade
percebem que esse jovem pode estar exagerando no uso da substância, ela não sabe como
reagir e por isto, se omite. Da mesma forma os professores não sabem como reagir quando
se deparam com alunos que vão à aula alcoolizados.
Não conhecemos qual a relação entre o consumo de substâncias psicoativas e o
desenvolvimento cognitivo do sujeito. Os profissionais da saúde também não têm uma
conduta definida em relação aos adolescentes que bebem.
Embora existam pesquisas (MINAYO, DESLANDES, 1998; CARLINI,
CARVALHO, GOUVEIA, 2000; GUIMARÃES et all, 2004) mostrando padrões de uso de
álcool e outras drogas em adolescentes, sabemos pouco a respeito do que pode levá-los a
consumir mais álcool e as conseqüências causadas em seu desenvolvimento emocional e
cognitivo.
12
Outra razão, pela qual este estudo também se justifica, é a escassez de pesquisas
científicas relacionadas ao objeto proposto na presente pesquisa. Nas investigações
bibliográficas não foram encontrados trabalhos que relacionassem desenvolvimento
cognitivo com uso de álcool.
Por isso, acreditamos que este estudo possa contribuir com a literatura sobre o
assunto e ajudar os profissionais tanto da educação quanto da saúde a lidarem com essa
problemática. Sublinhamos a necessidade de um trabalho preventivo sobre uso de álcool, de
maneira a utilizarmos as informações para a atuação na perspectiva da redução de danos.
O trabalho está estruturado em quatro capítulos. O primeiro apresenta definições e
classificações sobre uso de álcool, teorias relativas ao consumo, epidemiologia e
problemas.
O segundo apresenta dados sobre o adolescente e seu desenvolvimento cognitivo,
adolescente e depressão, rendimento escolar e adolescente e uso de álcool.
O terceiro apresenta a metodologia utilizada para a coleta de dados.
E o quarto capítulo se refere aos resultados obtidos e as considerações finais.
CAPITULO 1 O CONSUMO DE ÁLCOOL NO BRASIL E AS
CONSEQUÊNCIAS DESSE USO NO COMPORTAMENTO HUMANO
Esse capítulo é dividido em quatro sessões que procuram esclarecer sobre o
consumo do álcool no Brasil, tendo como base pesquisas realizadas por grupos que se
dedicam a investigar as conseqüências desse uso no comportamento humano.
1.1 Definições e classificações sobre o uso de álcool
O problema decorrente do uso de bebidas está classificado no Manual de
Diagnóstico Estatístico de Transtornos Mentais o DSM-IV como “Transtornos
Relacionados a Substâncias”, e para o uso de drogas é englobado nos critérios diagnósticos
dos “Transtornos por Uso de Substâncias Psicoativas”. O sistema classificatório em sua
versão recente está se referindo aos critérios da Síndrome de Dependência do Álcool
(DAS) para a perda do controle, a presença de sintomas de tolerância e abstinência, e
classifica o indivíduo como sendo ou não alcoólatra. A transição do beber moderado ao
beber problemático ocorre de forma lenta , em geral, levando vários anos.
Pesquisadores como Winters (Apud MARTINS, MANZATO e CRUZ, 2005, p.
315) não acreditam que os adolescentes se enquadrem nos critérios médicos para uso de
álcool em excesso. Ele acredita que é necessário uma definição com maior rigor sobre o
uso abusivo, e apresenta uma série de limitações para realizar um diagnóstico de uso
excessivo ou não, quais sejam:
a) os sintomas de diagnóstico de abuso e dependência ignoram os
motivos do uso; b) uma excessiva heterogeneidade é produzida pelo uso
de um único sintoma como critério para um diagnóstico positivo; c)
sintomas de abuso nem sempre precedem a dependência em adolescentes;
d) uma boa percentagem de usuários pesados e regulares não alcança
critérios para desordens causadas pelo uso de drogas.
14
Para os usuários, o álcool é uma droga extremamente sedutora, pois é apresentado
como uma substância estimulante, porém, na verdade, ela é uma substância depressora.
Inicialmente surgem os efeitos estimulantes como euforia, desinibição e loquacidade. Com
o tempo, começam a aparecer os efeitos depressores como falta de coordenação motora,
descontrole e sono. Quando o consumo é muito excessivo, o efeito depressor fica
exacerbado, podendo até mesmo provocar o estado de coma. O consumo de bebidas
alcoólicas também pode desencadear alguns efeitos desagradáveis, como enrubecimento da
face, dor de cabeça e mal estar geral. Esses efeitos são mais intensos para algumas pessoas
cujo organismo tem dificuldade de metabolizar o álcool. Os orientais, em geral, têm uma
maior probabilidade de sentir esses efeitos. (MINAYO, M.C.S, DESLANDES, S.F. 1998 p
37).
Para entendermos melhor a metabolização do álcool temos que definir o nível de
álcool no sangue (NAS) e dose. Esta última “é uma quantidade de líquido que contenha
cerca de 12 gramas de álcool puro” (MARTINS et al, 2005, p305). Essa dose pode ser
encontrada em uma lata de cerveja (350ml), em um copo americano de vinho (150ml), em
uma dose de vinho encorpado, martine ou cinzano (50ml), ou em uma dose de destilado,
pinga, uísque ou conhaque (36ml). Podemos observar que a diferença encontrada nas
bebidas está apenas na quantidade de água, portanto independente do que se bebe, o
usuário não é isento da conseqüência que a bebida alcoólica traz para seu organismo. Desta
forma
A definição de dose padrão auxilia na compreensão do conceito de nível
de álcool no sangue (NAS), que é a concentração de álcool no organismo
após o consumo de bebida alcoólica. Este nível é influenciado por uma
série de fatores, mas os mais importantes são a taxa de metabolismo do
álcool, o peso e o sexo da pessoa.”(MARTINS et. al, 2005, p 303).
15
O metabolismo está relacionado ao tempo gasto pelo corpo para a eliminação de
uma dose de álcool, que em média se aproxima de uma hora, e depende de cada
organismo, do sexo e do peso da pessoa. O que mais contribui para o resultado do
metabolismo é o peso, porque o álcool ingerido é diluído pelo corpo e quanto maior esse
corpo mais espaço para a bebida diluir-se. Um exemplo
[...] é um rapaz, que pese 60kg e beba uma dose em uma hora, ele
alcançará o NAS de 0,025, e caso beba duas doses, passará para 0,050.
Porém, se ele beber cinco doses em três horas, ele atingirá o nível de
0,125, mas se ele pesar 80kg esses valores serão bem menores.
(MARTINS et al, 2005, p.304)
No caso do sexo, que também é um diferencial do metabolismo no momento da
ingestão de álcool, e de acordo com Martins (MARTINS op cit ) as mulheres estão em
desvantagem, pois elas alcançam um NAS mais alto que o homem, ingerindo a mesma
quantidade de bebida. Devemos isso a alguns fatores, tais como: as mulheres pesam em
média 10kg a menos que os homens, ou seja, as mulheres apresentam menor peso, porém
seu corpo tem maior quantidade de gordura que causa a retenção do álcool por mais tempo.
Dessa forma podemos concluir que o sexo faz diferença e tem que ser levado em conta no
consumo de álcool.
1.2 Teorias relativas ao consumo de álcool
Uma teoria sobre a origem das condutas de drogadependência é a de Brickman et
al. (1982). Sua pesquisa sobre as formas de ajuda e administração do problema (Helping
and Coping) tem origem em duas questões: 1) Em que medida uma pessoa pode ser
considerada responsável pelo desenvolvimento inicial do problema? e 2) Em que medida
16
uma pessoa pode ser considerada responsável pela mudança ou resolução do problema? Na
resposta a essas duas questões “Sim” ou “Não” encontramos os quatro modelos
apresentados pela teoria.
O primeiro modelo, denominado pelo autor de Moral, acredita que o sujeito é
responsável pelo problema, pelo desenvolvimento da dependência e pelas mudanças nesse
comportamento de usuário. Dessa forma a pessoa é responsável pelo fracasso na tentativa
de mudança ou nas recaídas, pois a ela não resolve seus problemas moralmente, não tem
força de vontade e não está realmente interessada em mudar. Portanto, o próprio usuário é
o principal responsável por sua adição ao álcool. Este é o modelo utilizado nos Estados
Unidos para as políticas públicas, onde a redução do uso de drogas é realizada utilizando o
aparelho jurídico policial do Estado, sob forma de redução de demanda, processos
policiais, julgamentos e prisões.
O segundo modelo, o da Doença ou modelo Médico, é uma questão de
dependência patológica que faz parte da genética ou fisiologia do sujeito, onde ele não é
responsável nem pelo desenvolvimento nem por qualquer mudança na doença. O indivíduo
passa a não controlar o consumo do álcool e não consegue evitar a situação do beber. A
reincidência , isto é, a volta da doença, é progressiva, fisiológica ou hereditária (DIMEFF,
2002 ).
O terceiro modelo, o Espiritual, diz que o indivíduo é praticamente responsável
por sua dependência, mas a cura não depende do sujeito e sim de uma força que está fora
de seu alcance, um poder superior. Encontramos esse modelo nos programas de Doze
Passos , como os Alcoólicos Anônimos e os Narcóticos Anônimos.
No quarto modelo, o Compensatório ou Biopsicossocial, o autor apresenta como
base o modelo cognitivo comportamental, onde o sujeito não é responsabilizado pelo
17
desenvolvimento do problema - que pode ser causado por fatores orgânicos, psicológicos e
sociais - mas o sujeito é responsável por sua mudança de comportamento e conduta. O
padrão mal adaptado de hábitos adquiridos pode ser modificado por condicionamentos
clássicos, operantes e por observação. A recaída é um erro que pode ser temporário, caso
haja a decisão de mudança.
Esses modelos servem para orientar a atuação do poder civil na resposta à
sociedade sobre os delitos provocados por esse hábito. Podemos citar a existência de duas
maneiras de atuação: a “guerra às drogas” e a redução de danos. Baseada no modelo moral,
os EUA iniciou a “guerra às drogas”, sendo este o modelo utilizado pelo Movimento de
Temperança para a Guerra às Drogas (War on drugs). Para esse movimento, desde o início,
o jovem só tem a opção de dizer não e deve deixar de usar a droga para iniciar o
tratamento.
A outra maneira é a redução de danos, cujo principal objetivo é reduzir os danos
que a droga causa à sociedade e ao usuário. Esse movimento teve início na Europa, mais
precisamente na Holanda em 1960, com usuários de drogas injetáveis, que recebiam
seringas descartáveis com a recomendação de não compartilhá-las com outras pessoas. Foi
usado na época para reduzir os casos de hepatite e, mais recentemente, para controlar o
vírus HIV. O principal objetivo da redução de danos não é a abstinência e sim meios para
melhorar a qualidade da saúde do sujeito. Esta proposta tem como princípio o respeito à
liberdade de escolha.
Redução de danos: Políticas e programas que tentam
principalmente reduzir, para o usuário de drogas, suas famílias e
comunidades, as conseqüências negativas relacionadas à saúde, aspectos
sociais e econômicos decorrentes de substâncias que alteram o
temperamento (BRASIL, 2004).
18
Questionamentos sobre essa forma de atuação são naturais e algumas pessoas
acreditam que há favorecimento ao uso de drogas, mas a atuação do profissional de saúde
que trabalha com esse método adverte que o objetivo é minimizar as conseqüências físicas
no usuário e as conseqüências sociais. Em linhas gerais:
É uma situação alternativa na saúde que pode ser utilizada nos modelos
moral, criminal e de doença por usuários de drogas.
Leva em conta a resistência do usuário em abandonar a droga.
Considera a abstinência ideal, mas trabalha com programas de baixa
exigência para que o usuário o aceite.
Os agentes de saúde vão até o usuário, não é o usuário que tem que ir até
o agente de saúde.
Para reduzir as conseqüências o usuário é estimulado a dar um passo de
cada vez.
É uma abordagem que inicia com o usuário e posteriormente vai para o
tratamento e não o oposto.
A população é convidada e aceita a participar e há tentativa de
estabelecer trocas entre o usuário e a comunidade. (MARTINS et al,
2005, p.319 )
A redução de danos é também associada a uma perspectiva desenvolvimental e
considera o uso de drogas uma seqüência sucessiva, isto é, como um ciclo que se forma e
se inicia com a 1- Abstinência; 2- Uso experimental, acompanhado de atividades de lazer;
3- Abuso Precoce, quando já existe uma freqüência; 4- Abuso, uso regular por um longo
tempo e com varias conseqüências; 5- Dependência, uso continuo e ajuste da acomodação
do padrão de uso; 6- Recuperação, há um retorno à abstinência e um risco de iniciar um
novo ciclo (MARTINS et al, 2005, p. 320) .
Para Winters (2001), devemos levar em conta cinco pontos em relação aos
cuidados com usuários de drogas: primeiro, o emprego de algumas drogas com
necessidade de intervenção urgencial. Segundo, a idade do sujeito quando inicia o uso:
crianças e adolescentes são mais frágeis para continuar usando drogas. Terceiro, o
adolescente já faz uso constante de doses médias (sempre nos finais de semana, por
exemplo) ou uso esporádico de altas doses (datas especificas). Quarto é a bebida unida
19
com momentos inapropriados: beber e ficar agressivo, beber e dirigir, beber e praticar sexo
sem segurança. Quinto é quando há um padrão familiar ou social, que pode definir a
família e a sociedade como fator protetor ou de risco: a família não aceita mas usa e serve
de exemplo, ou ela não usa e o padrão conhecido é o comportamento dos colegas.
Em função dessas questões resolvemos avaliar em que medida o álcool prejudica
o desenvolvimento cognitivo e o desempenho escolar do sujeito, neste caso o adolescente
usuário de álcool e sob situações de estresse.
1.3 Epidemiologia: Brasil / São Paulo / São José do Rio Preto
Um levantamento do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas
Psicotrópicas (CEBRID), realizado nas 108 maiores cidades brasileiras no ano de 2005
(CARLINI et al., 2007), apontou que 52,8% dos meninos e 50,8% das meninas que se
encontram na faixa etária de 12 a 17 anos, já tiveram experiência, pelo menos uma vez,
com álcool. Esse estudo aponta ainda que e o número de dependentes nessa faixa etária
chega a 7,3% para os meninos e 6,0% para as meninas.
Na cidade de Ribeirão Preto no Estado de São Paulo uma pesquisa realizada por
Muza (1997) constatou que 88,9% dos adolescentes fez uso do álcool na vida, o uso no ano
é de 80,7%, o uso no mês é de 56,4% e consomem álcool todos os dias 8,5% dos jovens.
Em São José do Rio Preto, cidade em que nosso trabalho é realizado, encontramos
a pesquisa de Silva (2006). Ele trabalhou com 22 escolas Públicas e 1035 alunos, sendo
56,6% jovens de 16 a 17 anos e 21,5% de 14 e 15 anos, 48,2% eram do sexo feminino e
51,8% do sexo masculino. O álcool é a droga de uso lícito mais consumida na vida desses
20
adolescentes com 77%. O estudo ainda nos mostra que 15,1% dos jovens fazem uso
freqüente do álcool e que 1,4% fazem uso diário.
1.4 Problemas
Estes dados evidenciam a grande probabilidade dos jovens brasileiros ficarem
dependentes do álcool, e como conseqüência deste uso, encontramos (MARTINS, 2006)
em todo país uma concentração de diversos problemas, os quais que podem ser divididos
principalmente em três núcleos: a) problemas sociais, relacionados ao desempenho escolar,
relacionamento familiar e relacionamento social. b) problemas legais, quando ainda não
tem idade para consumir a bebida alcoólica, quando dirige embriagado com amigos ou
sozinho, quando desacata autoridade, quando é agressivo e comete outros delitos. c)
problemas de saúde que são cumulativos e em grande parte não apresentam sintomas
imediatos.
Entre os problemas gerais causados pelo uso de bebidas alcoólicas têm-se os
relacionados à saúde da população, acidentes de trânsito, agressões, gastos hospitalares,
além de ser a segunda causa de internações psiquiátricas (ALMEIDA, COUTINHO, 1993).
É também uma das principais causas de aposentadoria por invalidez, do absenteísmo e dos
acidentes de trabalho.
Gazal-Carvalho (2002) observou, em um hospital de atenção ao trauma na cidade
de São Paulo, durante o período da realização de sua pesquisa, que, na ocorrência de
acidentes de transporte (47,2%) e agressões (25,6%), 28,9% dos sujeitos haviam
consumido álcool.
Pesquisas realizadas em dois grandes hospitais do Rio de Janeiro no ano de 1996
(MINAYO, DESLANDES, 1998), mostram que 33% dos casos de pessoas atendidas na
21
emergência devido a agressões, durante o período de um mês, no hospital Miguel Couto
(HMMC) estavam ligados ao o uso de drogas e, no hospital Salgado Filho (HMSF), a
relação é de 37% envolvendo o uso dessas substâncias. De cada três agressões, uma
envolve o consumo de drogas e dessas o álcool se configura como a mais freqüente, com
88% no HMMC e 90,7% no HMSF. (MINAYO, DESLANDES, 1998).
As evidências indicam que o álcool é a droga que tem maior relação com a
violência, porém sua legalidade o torna socialmente aceito e muito consumido mesmo que
se tente regular seu uso, uma vez que como droga lícita, dificulta o trabalho dos
educadores de evitar o consumo em excesso dessa substância. O álcool além de ser a
droga mais consumida no país (cerca de 70% da população brasileira experimentou
bebidas alcoólicas pelo menos uma vez na vida), é também, a droga de maior custo social
no Brasil. Segundo o DATASUS de 2001, foram efetivadas 84.467 internações de
pacientes para tratamento com problemas relacionados ao uso de álcool no Brasil. O
Sistema Único de Saúde SUS tem um custo anual de 60 milhões de reais com esses
pacientes (BRASIL, 2003, CRUZ no prelo 2006).
Em uma pesquisa realizada na cidade de Cuiabá MT (SOUZA 2005), verificou-se
que a prevalência para o consumo de álcool é de 71,3% e de 13,4% para alcoolismo em
uma amostra total, sendo que para estudantes que trabalham, respectivamente, 81% para
consumo e 14,9% para alcoolismo, e para estudantes que não trabalham é de 65,8% para
consumo e 12,6% para alcoolismo. O uso de álcool e o alcoolismo não estão associados ao
trabalho e sim ao sexo masculino (SOUZA, 2005, p.45).
Pensando nas conseqüências cumulativas do uso abusivo de álcool podemos
observar na pesquisa de Costa (2004), realizada com indivíduos adultos, que a prevalência
do consumo em abuso encontrada foi de 14,3%, sendo 29,2% para os homens e 3,7% para
22
as mulheres. Nesta pesquisa, também foi identificado o grupo que se destaca como maior
consumidor de álcool : homens, idosos, pessoas com pele negra, de baixo nível social,
fumantes pesados e que já apresentam alguma doença crônica.
Portanto existe uma necessidade de cuidado do sujeito adolescente que faz uso
abusivo de álcool, porque ele se torna um indivíduo com um melhor indicador na fase
adulta em relação à dependência de álcool.
Embora na maioria das vezes esse uso seja apenas experimental, é
possível notar padrões que refletem comportamentos observados na vida
adulta e que podem ser indicativos da necessidade de estabelecer medidas
preventivas nessa etapa de desenvolvimento. (TAVARES, 2001, p15).
Com o objetivo de investigar as possíveis relações entre consumo de álcool,
depressão e desempenho escolar de adolescentes escolarizados, empreendemos a presente
pesquisa, visando contribuir para estudos em área tão pouco investigada.
CAPITULO 2 O ADOLESCENTE, O CONSUMO DE ÁLCOOL E AS
CONSEQUÊNCIAS PARA O SEU DESENVOLVIMENTO
Esse capítulo é dividido em quatro sessões que tratam do adolescente e seu
desenvolvimento cognitivo, a depressão na adolescência, rendimento escolar e o
adolescente e sua relação com o consumo de álcool. A conseqüência que mais interessa
para efeito desse trabalho é o comprometimento do desenvolvimento cognitivo, que pode
repercutir na vida escolar do aluno.
2.1 O adolescente
A adolescência é uma etapa de desenvolvimento na qual o sujeito passa por
desequilíbrios e instabilidades internas e externas. Como sua personalidade está em
formação, podemos dizer que ela é uma combinação de várias identidades. É um momento
muito doloroso para o indivíduo pois ele tem que enfrentar o mundo adulto e desprender-
se do infantil. O jovem encontra-se em um processo de luto do seu corpo infantil, do papel
e da identidade infantil, dos pais da infância (quando perde a proteção total dos
progenitores) e da bissexualidade infantil perdida, pois é o momento de escolher sua
sexualidade, de abandonar e renunciar a suas relações com a infância (CARVAJAL, 1988).
Nas palavras de Carvajal (1998)
A necessidade de elaborar os lutos básicos [...] obriga o adolescente a
recorrer normalmente a manejos psicopatológicos de atuação, que
identificam sua conduta [...]. (p.20)
Dessa forma as dificuldades encontradas pelo jovem ficam demonstradas em suas
ações e os mais vulneráveis acabam se encarregando dos conflitos dos outros e por assumir
papéis mais doentios no meio em que vivem. Entende-se que as mudanças psicológicas e
24
corporais levam a uma nova relação com os pais e o mundo, o que pode significar que seu
mundo interno fica caótico.
No entanto, essa fase do desenvolvimento também pode trazer significativas
mudanças qualitativas e quantitativas nas esferas de atividade do sujeito. Como uma maior
autonomia de circulação social, mudanças no campo da autopercepção e auto-imagem,
adoção de novos grupos, adesão de novos papéis na família, conquistas no plano da auto-
regulação de atividade e possibilidade de novas perspectivas quanto ao futuro, são fatos
que contribuem para a resignificação da relação do adolescente com os grupos que o
cercam (OLIVEIRA, 2006).
Esse processo é o que chamamos de crise da adolescência, que se caracteriza por
[...] desinvestimento dos pais, por exemplo, nos explica a desobediência
aos pais, a zombaria aos professores, a oposição às normas adultas e a
apatia na socialização. (CARVAJAL, G. 1998, pág 70).
A crise surge em meio a muito tumulto, situações de ruptura e caos, e de
transformações angustiantes e dolorosas para o sujeito, pois é o momento de criar algo
diferente da criança e do adulto para conseguir romper com a dependência infantil. O
sujeito precisa de liberdade, já se frustrou com seus pais que até então eram perfeitos e que
agora apresentam falhas, ele precisa romper a dependência que existe com esses pais
“falhos”, e por isso começa a se isolar e se vincular mais fortemente aos amigos,
Começa a se sentir vítima de seu ambiente, que vivencia como rejeitador
e absurdo. Seu funcionamento egótico é mínimo, já que o anterior não lhe
serve, e o novo, como sua incipiente capacidade de abstração, ainda não
pode ser usado adequadamente. A confusão de afetos é normal: o medo é
raiva, a inveja é perseguição, o amor é rejeição. Nem mesmo sabe o que
sente. (CARVAJAL, 1998, p. 75)
A sociedade não consegue perceber a condição de fragilidade do adolescente e
situações que deveriam ser compreendidas, apenas são reforçadas pela sociedade.
Incluímos o manejo inadequado da instituição escolar que normalmente desperta no sujeito
25
uma aversão à escola, pois o indivíduo não é suficientemente acolhido (CARVAJAL, 1998).
Nesse momento, o adolescente necessita de um ambiente que o proteja e que lhe mostre
um caminho, de um pai ativo e racional que postule regras e que permita que elas sejam
questionadas e depois destruídas para postulá-las novamente, contribuindo assim com o
desenvolvimento de seu filho, porém essa não é a postura adotada pela maioria das
famílias em sociedade.
Como o adolescente não encontra apoio nem na família nem na escola, sua fuga é
voltada para o grupo de amigos que se transforma no centro de seus interesses. É onde o
indivíduo se sente à vontade para compartilhar tudo, o mesmo acontece com a rivalidade e
a necessidade de buscar a preferência e a liderança, o adolescente não é rejeitado no grupo
e deve participar de todas as suas ações. (CARVAJAL, 1998)
As concepções de Piaget sobre o desenvolvimento cognitivo exploram as
dimensões cognitiva, lúdica, afetiva, social e moral do sujeito, reforçando que todas as
demais estão subordinadas à primeira. Segundo Piaget (1997), a adolescência situa-se no
quarto estágio do desenvolvimento humano, o estágio das operações formais que se situa
entre os 11 anos até aproximadamente os 15/16 anos e suas principais características são:
pensamento abstrato; maturidade intelectual; raciocínio hipotético-dedutivo; definição de
conceitos e valores e egocentrismo intelectual.
Para Piaget é importante definir os processos de desenvolvimento psicogenético e a
formação do sujeito epistemológico. É o momento da potencialização de duas conquistas: a
do pensamento hipotético e a da moral autônoma, sendo o que também percebeu Oliveira.
Para Oliveira (2006, p.429)
É na adolescência que o sujeito pode alcançar a forma mais evoluída de
desempenho cognitivo, dada a capacidade para operações mentais
formais.
26
Dessa forma a descentralização do pensamento é exigida em sua construção e
representação em diferentes linguagens, apresentando como referência a perspectiva do
outro, no entanto a conquista do jovem no campo moral
[...] significa a consolidação da capacidade de subordinar a ação moral ao
julgamento moral, avaliando-a e posicionando-se com base em critérios
independentes da própria situação. (OLIVEIRA. M. C.S. L, 2006, p.429)
Nessa idade, a criança/adolescente já é capaz de efetuar raciocínio sem suporte de
manipulação de objetos. Ele realiza as operações de forma verbal e conceitual, e formula
raciocínios hipotético-dedutivos a partir de hipóteses abstratas, sendo também capaz de
planejar e antecipar as conseqüências das ações, criar explicações e alternativas. O
pensamento passa a realizar a auto reflexão e define conceitos e valores.
Piaget apresentou uma concepção geral da natureza do funcionamento intelectual,
encontrando mais propriedades no aspecto funcional do sujeito do que nos aspectos
estruturais da inteligência. Tais características (funcionais) são as que tornam possível o
aparecimento de estruturas cognitivas que surgem nas interações organismo/ambiente.
(FLAVELL, J. H. 1996).
Em Piaget, a inteligência é como uma extensão de características biológicas
fundamentais, e estas condicionam o que somos capazes de perceber diretamente: “Nossas
percepções constituem apenas um segmento selecionado, a partir de uma totalidade de
percepções concebíveis” (FLAVELL, J. H. 1996, p 42).
Também herdamos o positivo e o construtivo em nosso modo de funcionamento
intelectual, no entanto, nossas estruturas cognitivas passam a existir no decorrer do
desenvolvimento.
“O funcionamento intelectual, em seu aspecto dinâmico,
caracteriza-se também pelos processos invariantes da assimilação e
acomodação. Todo ato inteligente, no qual a assimilação e a acomodação
estão equilibradas, constitui uma adaptação intelectual. A adaptação e a
organização são os dois lados da mesma moeda, já que, de um lado, a
27
adaptação pressupõe uma coerência subjacente, e de outro lado as
organizações são criadas através de adaptações” (FLAVELL, J. H. 1996,
p 47).
Para Piaget (1973) nosso desenvolvimento psíquico, que se inicia no nascimento e
vai até a fase adulta, é semelhante ao crescimento orgânico, orientando-se para o equilíbrio
“O desenvolvimento, portanto, é uma equilibração progressiva,
uma passagem contínua de um estado de menor equilíbrio para um estado
de equilíbrio superior” (PIAGET. J, 1973, p. 11).
“Toda ação inteligente, não importa quão rudimentar e concreta,
pressupõe uma interpretação de alguma coisa da realidade externa, isto é,
uma assimilação deste algo a um tipo de sistema de significado existente
na organização cognitiva do indivíduo” (FLAVELL, J. H. 1996, p 48).
O desenvolvimento se dá, de forma geral, através das necessidades e interesses
comuns a todas as idades:
“ Pode se dizer que toda necessidade tende: 1
a
, a incorporara
as coisas e pessoas à atividade própria do sujeito, isto é, “assimilar”o
mundo exterior as estruturas já construídas, e 2
a
a reajustar estas últimas
em função das transformações ocorridas, ou seja “acomodá-las” aos
objetos externos” (PIAGET. J, 1973, p. 15).
Nesta pesquisa consideramos o desenvolvimento do sujeito seguindo os quatro
estágios sucessivos descritos por Piaget:
1
a
O estágio da inteligência sensório-motora, que compreende os reflexos ou
mecanismos hereditários, o das primeiras tendências instintivas (nutrição) e das primeiras
emoções; corresponde aos dois primeiros anos de vida e caracteriza-se por uma forma de
inteligência empírica, exploratória, não verbal. A criança aprende pela experiência, com os
objetos que estão ao seu alcance, somando conhecimentos.
Esse período pode ser definido por três estágios: o dos reflexos, o da organização
das percepções e hábitos e o da inteligência senso-motora propriamente dita.
“Quatro processos fundamentais caracterizam esta revolução
intelectual realizada durante os dois primeiros anos de existência: são as
construções de categorias do objeto e do espaço, da casualidade e do
tempo, todas quatro naturalmente a título de categorias práticas ou de
ação pura e não ainda como noções do pensamento” (PIAGET. J, 1973,
p. 20).
28
2
a
O estágio da inteligência intuitiva pré operatório (dois aos sete anos).
Os estágios anteriores constituem o período de lactância ( por volta de um ano e
meio a dois anos, anterior ao desenvolvimento da linguagem e do pensamento) e dos
sentimentos interindividuais espontâneos e das relações sociais de submissão ao adulto (de
dois a sete anos, segunda parte da primeira infância), os objetos da percepção ganham a
representação por palavras que as crianças ainda experimentam em sua mente.
3
a
O estágio da inteligência das operações concretas (começo da lógica e dos
sentimentos morais e sociais da cooperação (dos sete aos onze/doze anos), no qual as
primeiras operações lógicas ocorrem e o indivíduo é capaz de classificar objetos conforme
suas semelhanças ou diferenças.
4
a
O estágio da inteligência hipotético-dedutiva, o estágio das operações
intelectuais abstratas, da formação da personalidade e da inserção afetiva e intelectual na
sociedade dos adultos (adolescência).
O adolescente é um ser que constrói sistemas e teorias abstratas, partindo do
pensamento concreto, próprio da segunda infância, e por volta dos 12 anos, toma a direção
da reflexão livre e destacada do real. É a passagem do pensamento concreto para o formal
(hipotético-dedutivo), no qual ele é capaz de deduzir as conclusões de hipóteses.
“A inteligência formal marca, então, a libertação do pensamento
e não é de admirar que este use e abuse, no começo, do poder imprevisto
que lhe é conferido [...] a livre atividade da reflexão espontânea”
(PIAGET. J, 1973, p. 64).
Nos níveis genéticos, a maneira de caracterizar a cognição é definí-la como a
aplicação pelo sujeito de ações reais que o fazem progredir, e tais ações são nesse
momento representativas e internas que gradualmente se conectam e formam sistemas de
ações, cada uma mais complexa que a outra.
29
Nos estágios operatórios, o sujeito caminha para a tomada de consciência no que
se refere às deduções operatórias. Piaget diz que, em um primeiro estágio, o indivíduo não
tem a tomada de consciência das seqüências que foram bem sucedidas.
Há, portanto, nesse nível uma primazia sistemática das ações
exploradoras sobre toda a dedução, e com ausência de tomada de
consciência das combinações frutuosas. O sujeito observa, é bem
verdade, posteriormente [...] mas não compreende por que [...] (PIAGET,
1977, p 174).
No segundo estágio, o sujeito inicia a aplicação da transitividade lógico-
matemática decorrente das experiências cotidianas; há progresso nas antecipações, porém
relatos incompletos, quanto maior é a adequação mais simples é o problema.
Com as regulações mais ativas que supõe, conduz as
tomadas de consciência que se traduzem por meio de antecipações
deliberadas e são elas que, ao que parece, explicam os progressos
na subordinação dos meios aos objetivos (PIAGET, 1977, p 177).
O sujeito no terceiro estágio dá início a certas deduções operatórias, que ocorrem
em conseqüência da tomada de consciência, quando há a intervenção do mecanismo de
regulação.
Nós constatamos sempre, o que desencadeia a tomada de
consciência é o fato de que as regulações automáticas (por
correções parciais, negativas ou positivas, de meios já em atuação)
não são mais suficientes e de que é preciso, então, procurar novos
meios mediante uma regulação mais ativa e, em conseqüência,
fonte de escolhas deliberadas, o que supõe a consciência (PIAGET,
1977, p 198).
O jovem também, nesse momento, experimenta ser diferente e tende a seguir tudo
que o difere do tradicional, é uma fase em que ele é muito manipulável. Os meios de
comunicação se aproveitam da vulnerabilidade própria dessa fase, usando a publicidade
para oferecer modelos identificatórios para o jovem, com o objetivo de promover o
consumo e obter lucro. O mercado do álcool está ciente disso, e encontramos informações
(ALMEIDA, L.M, COUTINHO. E.S.F, 1993) que nos mostram que os jovens apresentam
30
expectativas agradáveis a respeito dos efeitos do álcool, as quais estão altamente
associadas ao consumo elevado, como podemos ver nas informações do próximo tópico.
2.2 A depressão na adolescência
O Manual Diagnóstico e Estatístico de transtornos mentais DSMIV (APA, 1994)
diz que o transtorno depressivo em adolescentes traz sintomas irritáveis e instáveis,
podendo ocorrer crises de explosão e raiva. O adolescente apresenta humor irritado e ainda
perda de energia, apatia e desinteresse importante, retardo psicomotor, sentimentos de
desesperança, culpa, perturbações do sono (principalmente hipersônia), alterações de
apetite e peso, isolamento e dificuldade de concentração. Ele também pode apresentar
prejuízo do desempenho escolar, baixa auto-estima, queixas físicas (dor abdominal, fadiga
e cefaléia), idéias e tentativas de suicídio e graves problemas de comportamento,
especialmente quando há o uso abusivo de álcool e drogas.
Bahls (2002) constatou que a depressão em adolescentes parece estar ocorrendo
cada vez mais cedo e com maior e mais freqüência, havendo uma grande ocorrência da
doença nas meninas do que nos meninos. A taxa de depressão é baixa até os 9 anos ,
aumentando dos 9 aos 19, e após os 15 anos, as meninas são 2 vezes mais afetadas que os
meninos.
De acordo com Bahls (2002), os fatores de risco para depressão são: a ocorrência
dos sintomas em um dos pais (um histórico familiar), o estresse, fatores ambientais, abuso
físico e sexual, perda de alguém próximo, conflito familiar, dúvida quanto à orientação
sexual, presença de comorbidades (patologias associadas), especialmente doenças crônicas,
ser do sexo feminino, imagem corporal ruim, baixa condição sócio-econômica,
identificação com grupos minoritários depois de um fracasso, ou após uma perda
31
significativa, ou pela constatação de uma impossibilidade ou limitação que põe fim a uma
expectativa, falta de suporte familiar e poucas habilidades sociais.
A importância de um suporte na escola é observada quando sabemos que, após a
fase de depressão, é natural que o sujeito permaneça com grau de prejuízo psicossocial e
para se reestabalecer é necessário um suporte. Na pesquisa de Bahls (2002) a questão da
recorrência até a idade adulta vai de 33% a 80%.
Para o referido autor, as comorbidades (patologias associadas) nos quadros
depressivos de adolescentes são: transtorno de ansiedade (30% a 8%), distimia (33%),
transtorno de déficit de atenção com hiperatividade (50%), transtorno de conduta (10% a
80%), e 20% dos adolescentes deprimidos apresentam abuso de álcool e drogas.
Quando um indivíduo apresenta depressão inconscientemente há um rompimento
com sua realidade interna e externa, um mecanismo psíquico de defesa contra um possível
conflito que não está sendo tolerado e tão pouco resolvido. Na depressão, o sujeito
necessita desenvolver a capacidade de tolerar a dor e a frustração, pois quando seu
aparelho psíquico não suporta a frustração, ele projeta e re-introjetará a agressividade
bruta contra o outro mas principalmente contra si mesmo, a partir de pensamentos
destrutivos. Há uma tentativa de livrar-se do mal estar e de aniquilar o alvo frustrante, mas
esse mecanismo não traz êxito na eliminação do problema.
Quando o adolescente com raiva ataca a si mesmo, para destruir o que há de ruim,
ele acaba destruindo também o que possa ter de positivo em si. Quando opta pelo uso de
alguma substância ele está se atacando de forma direta. Junto com a cobrança internas e
externas vindas da adolescência , outras cobranças estão a demandar sentimentos, fantasias
e um aparelho mental talvez não tão equilibrado e seguro, nesse processo de
transformação.
32
A relação entre depressão e rendimento escolar tem sido estudada por alguns
autores. Os trabalhos mostram que a incidência de depressão tem aumentado em crianças e
adolescentes com problemas escolares (TAVARES, BÉRIA, LUMA 2001; BAHLS,
2002), porém os sujeitos não apresentam déficit de inteligência e são capazes
intelectualmente.
2.3 Rendimento Escolar
Cruvinel (2004),em sua pesquisa, encontra indícios significativos entre
rendimento escolar em matemática e sintomas depressivos. Também encontra relação entre
rendimento escolar e repertório de estratégias de aprendizagem dos participantes. Sobre o
desempenho escolar encontramos dados nos quais
[...] os alunos que faltaram nove ou mais dias no mês anterior, ou que
tiveram três ou mais reprovações, apresentaram um risco cerca de duas
vezes maior de serem usuários de drogas, mesmo após o ajuste para
fatores socioeconômicos e demográficos. (TAVARES, 2001, p.158)
Pesquisa realizada no interior do Estado de São Paulo (Guimarães & Kappann,
2004) indica que os alunos que alguma vez fizeram uso de alguma droga faltaram mais à
escola (72,5%) do que os não usuários (58,5%).
Outra pesquisa realizada nos EUA por Presley et al. (1995) apresenta uma
associação entre o beber pesado e o mau desempenho escolar: os alunos com conceito A
apresentam como consumo médio na semana 3,2 doses, enquanto os estudantes com
conceito D apresentam como consumo médio na semana 8,4 doses. Presley et al. (1995)
também demonstram que estudantes que freqüentemente tomam porres têm uma
probabilidade 10 vezes maior de se envolver em atividades sexuais (não planejadas e/ou
não protegidas), de se ferir, de dirigir embriagado, e etc.
33
Dados encontrados no texto de Zanoti-Jeronymo (2005) sobre alcoolismo e sua
repercussão entre crianças e adolescentes indicam que filho de alcoolistas
[...] freqüentemente apresentam problemas acadêmicos e de
comportamento quando comparadas a crianças e adolescentes filhos de
não-alcoolistas. Focalizando o desempenho acadêmico de filhos de
alcoolistas, constatouse que esses, comparativamente a filhos de não-
alcoolistas, apresentam notas mais baixas e exibiam em relação às tarefas
escolares, especialmente matemática, fraca organização e motivação.
(p.4)
Na situação escolar, encontramos junto aos fatores de risco: a indefinição da
importância dos estudos na formação das pessoas, ausência de relações escola-família,
relações preconceituosas, faltas de vínculo professor-aluno. E junto aos fatores protetores
temos:a definição do papel da educação, a integração família-escola, relações democráticas
e amistosas nas escolas e as relações positivas entre professor e aluno.
Assim, em sua pesquisa, Tavares (2001) apresenta dados relativos ao desempenho
escolar, revelando que o uso de álcool está ligado ao turno escolar noturno e que também
os alunos consumidores de substâncias psicoativas apresentam maior número de faltas e de
reprovação escolar, sendo que para os que não consomem essas substâncias a reprovação
chega a 19,9% e para os usuários ela chega a 40,4% (alunos que já sofreram três
reprovações). Porém Tavares não afirma se o desenvolvimento escolar é baixo por usarem
álcool ou se usam álcool por terem um desenvolvimento escolar baixo, ou seja, a
insuficiência de dados não permite uma conclusão.
2.4 O adolescente e o uso de álcool
Atualmente as pessoas parecem não reconhecer o grau de importância dos
problemas gerados em conseqüência do uso de álcool e drogas por adolescentes. Pesquisas
alertam para o alto padrão de conflito social estabelecido por jovens de todas as classes
34
sócio-econômicas que comprovadamente fazem uso dessas substâncias (MINAYO, 1998;
ALMEIDA, 1993; ARAÚJO, GOMES, 1998; BAUS, KUPEK, PIRES, 2002). Um estudo
realizado em Curitiba, indicou que 58,9% dos autores de crimes e 53,6% das vítimas de
130 processos de homicídios ocorridos entre 1990 e 1995 na cidade estavam sob efeito de
bebida alcoólica no momento da ocorrência (DUARTE & CARLINI-COTRIN, 2000).
A delinqüência não está restrita a um único grupo social, e nem apresenta um
padrão de comportamento que possa lhe ser atribuído e nem está ligada à situação de
pobreza ou de riqueza ou mesmo à personalidade do sujeito. Essas condutas são
manifestações da sociedade, fazem parte da cultura e exercem influências nas relações
estabelecidas com o adolescente que constrói sua subjetividade (MUZA, BETTIO,
MUCCILLO, BARBIERI, 1997)
Para Martins, baseado em Schulenberg (MARTINS, MANZATO, CRUZ, 2005,
p.308), é importante compreender as várias situações pelas quais passa o indivíduo no
período da adolescência para entender o uso de drogas nessa fase. O autor organiza essa
situação definindo as várias mudanças que o adolescente passa nesse momento:
a) Mudanças Orgânicas: processos da puberdade que se iniciam por volta dos 12
anos para as meninas e um ano mais tarde para os meninos.
b) Mudanças Cognitivas: a construção do pensamento está em sua etapa máxima
com a capacidade de formação dos sistemas abstratos.
c) Mudanças Afiliativas: ocorre no relacionamento com adultos.
d) Aquisições: essa mudança está diretamente ligada à classe social, pois ela diz
respeito à preparação para o trabalho, podendo ser formal e demorada ou informal e rápida.
Essa mudança também envolve o sistema de escolarização e ao suporte econômico familiar
e) Identidade: para formar uma identidade, o adolescente passa por mudanças
biológicas, por influências ambientais ligadas a amigos, família e hábitos culturais. Essas
35
influências podem contribuir com a formação da identidade de forma positiva ou de forma
negativa, podendo ser de prevenção ou de facilitação. A questão é que as mudanças não
ocorrem de forma separada, um de cada lado, ou seja, não são garantias de que o
adolescente estará protegido do envolvimento com drogas.
Sanches (2004), numa pesquisa que avalia fatores que podem proteger o
adolescente contra o uso de drogas, apresenta quatro fatores de importância na formação
do sujeito, os quais têm evitado seu contato com as drogas, que são : o relacionamento
familiar (não apenas pela imposição de regras, mas também pelo amparo diante das
situações difíceis), a informação (como observação das conseqüências na vida das pessoas
que se envolvem com tais substâncias), a religiosidade (grande parte dos não usuários
pertencem ou já pertenceram ativamente a uma prática religiosa, considerando-a uma
experiência primordial para não consumirem droga), a perspectiva de futuro, a
personalidade/consciência, o amor próprio, o medo e amizades não usuárias.
Em outra pesquisa, Sanchez (2002) diz que a primeira fase do contato que uma
pessoa estabelece com a droga é com as substâncias lícitas (o álcool e o cigarro). A relação
com a família pode comprometer a situação:
O motivo do primeiro consumo sempre está ligado a relação com o
ofertante “era uma maneira de não decepcioná-lo”, garantindo em troca
seu “respeito” e “aceitação”..o comportamento assemelha-se mais a um
rito de passagem em que o “aspirante a adulto” deve executar alguma
tarefa para ser considerado, seja pelo grupo ou pela família. (SANCHES
2002, p.426)
Nessa fase, o sujeito encontra-se vulnerável às mensagens publicitárias sobre que
mostram o álcool como um fator de reconhecimento social, geralmente estreladas por um
usuário que é sexualmente atraente e jovem.
Atualmente existe uma grande necessidade do mercado de conquistar novos
consumidores e a mulher é um de seus alvos. Nas campanhas publicitárias, os atributos
femininos (beleza, sensualidade, graciosidade...) estão associados à bebida e dessa maneira
36
as mulheres são estimuladas a consumir mais. Para os homens, as propagandas mostram
que o álcool é responsável pelo seu sucesso social e sexual, pois nos comerciais
apresentados os homens sempre estão acompanhados por lindas mulheres e vários amigos.
Segundo Tavares (2004), o adolescente sofre influência do grupo familiar na
questão do uso de drogas especialmente quando há ausência de apoio familiar, consumo de
drogas na família e inexistência de práticas religiosas e esportivas.
Também encontramos uma relação referente à religião
[...] aqueles que disseram não crer em Deus referiram um uso 60%
superior em relação aos que afirmaram crer” (TAVARES, 2004 p.791).
As pessoas que começam a fazer uso de drogas psicoativas estão na faixa entre 10
e 20 anos, ou seja, na adolescência, após esse período o início do uso é bem menor .
Culturalmente na ótica dos consumidores, principalmente o adolescente, é útil
apresentar um alto padrão de tolerância aos efeitos do álcool, porque o indivíduo que não
“agüenta” beber tanto ou mais que os outros é criticado e sofre algum tipo de preconceito
que pode levá-lo a não mais fazer parte do grupo. Observamos tais situações até em alguns
ditados populares usados pelos adolescentes como “quem num agüenta bebe leite”. Pois
quem bebe muito e “demora” para ficar bêbado, “agüenta” mais e por isso é o mais
resistente e em muitos casos torna-se o líder da turma, ou seja, quem bebe mais ganha
“prêmio” como em uma competição e é o mais respeitado.
No ano de 1998 foi realizado um estudo com estudantes universitários da
Universidade Estadual Paulista (Unesp) que investigava os fatores de risco que conduzem
o jovem a consumir álcool e outras drogas (KERR-CORRÊA et al, 2001). Foram
encontrados como fatores de risco para o uso de álcool em excesso entre os estudantes:
ter contato com alguma droga, legalizada ou não, antes de entrar na universidade, ter em
37
seu histórico familiar alguém que consome e aprove o uso do álcool e/ou ter aprovação de
amigos (KERR-CORRÊA et al, 2001).
O CEBRID, Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas, que faz parte da
Escola Paulista de Medicina, realiza pesquisas sobre os números do consumo de álcool no
país. Sobre adolescentes, encontramos um levantamento nacional no ano de 2001 realizado
pelo CEBRID, com alunos do ensino fundamental e médio. Os números apresentados
demonstram que a droga de maior consumo no Brasil é o álcool, com 68,7% das pessoas
fazendo uso dessa droga. Entre os adolescentes a situação é de 48,3%, com uma pequena
diferença do consumo dos rapazes (52,2%) para o consumo das moças (44,7%). A
maconha é a droga ilegal mais usada: 6,9% das pessoas fizeram uso dela alguma vez na
vida. Em seguida, vêm os solventes (5,8%) e os remédios para emagrecer (4,3%),
calmantes (3,3%) e a cocaína (2,3%). A informação mais relevante é a de que 5,2% de
adolescentes são dependentes de álcool. Esses dados não são encontrados em populações
específicas, ou seja, não há diferença entre classes sociais.
Em um levantamento realizado pelo CEBRID (1997) para o ensino fundamental e
médio, executado em capitais do Brasil, com instrumento padrão que vem sendo usado em
vários países e que por esse motivo podemos comparar os dados entre as pesquisas
realizadas com tais instrumentos, são apresentadas três situações:
a) ligadas ao o uso de bebida alcoólica na vida: nunca bebeu; bebeu alguma vez na
vida; não bebeu no último ano e bebeu no último ano;
b) freqüência de uso nos últimos 30 dias: não bebi; bebi menos que uma vez por
semana; bebi uma ou mais vezes por semana; diariamente; duas ou três vezes por dia e
quatro ou mais vezes por dia;
c) referente à idade em que a pessoa fez uso da bebida pela primeira vez na vida.
38
O CEBRID comprova que no Brasil, o álcool é a droga mais usada pelos
adolescentes, e que o uso pesado dessa droga (20 ou mais vezes no mês) passou de 3,3%
para 10,1% de 1987 para 1997. Algumas pesquisas demonstram que em diferentes regiões
do país temos distinções específicas, mas o álcool ainda continua sendo a principal
substância usada. O uso na vida está entre 78% a 88%, e a quantidade ingerida no mês está
em cerca de 64%.
Uma pesquisa realizada no México (FACUNDO, 2005), que investigou a
influência sofrida pelos adolescentes com amigos que apresentam condutas problemáticas
mostrou um efeito significativo no consumo de drogas. Sendo assim, podemos considerar
um fator de risco para o adolescente o contato com amigos usuários de álcool.
Tavares (2001) mostra a correspondência entre o uso de drogas e o desempenho
escolar entre adolescentes, apresentando dados em que o álcool sempre prevalece sobre
outras drogas: o uso de álcool no ano chega a 17,8%, o de tabaco 28,1% e a freqüência do
uso é encontrada em 81,8% no sexo masculino, enquanto o sexo feminino consome 16,6%
de outras drogas, 31% de tabaco e 79,8% de álcool. Sobre o uso mensal, os meninos
consomem 68,3% de álcool, 19,6% de tabaco e 10,8% de outras drogas e as meninas
59,8% de álcool, 22,1% de tabaco e 10,6% de outras drogas. Sobre a freqüência de uso de
álcool encontramos para os meninos 22,1% de consumo de álcool, 10,5% de tabaco e 4,7%
de outras drogas. Para as meninas 13,5% para consumo de álcool, 12,8% para tabaco e
3,6% para outras drogas. Para uso pesado, os meninos apresentam 6,9% de consumo de
álcool, 8,1% de uso de tabaco e 2,7% para outras drogas. Para as meninas, 3,8% de
consumo de álcool, 9,3% de uso de tabaco e 2,4% para outras drogas. Nos números que
indicam a experiência de “porres” na vida temos 50,2% para os meninos e 36,6% para as
meninas. A pesquisa mostrou ainda que todas as taxas de uso crescem com a idade, sendo
o consumo maior no sexo masculino, exceto para os medicamentos.
39
Para Martins et al. (2005), reconhecer o consumo de álcool por adolescentes é
admitir que a lei não é cumprida, pois em nossa sociedade a venda dessa substância para
menores de 18 anos de idade é ilegal, porém ela ocorre com freqüência. Deve-se
reconhecer que mesmo assim, ainda temos uma legislação que tenta “controlar” as
propagandas de bebidas, com exceção da cerveja e do chope, ou seja, das bebidas que
apresentam o maior consumo entre os jovens. Em outros países, a ilegalidade quanto à
venda de bebidas para menores também ocorre,
[...] nos EUA por exemplo a idade permitida para a compra de bebidas
alcoólicas é de 21 anos, onde há uma fiscalização real dessa lei e mesmo
assim uma pesquisa mostra que aproximadamente 90% dos jovens norte-
americanos acham que obter bebidas é relativamente fácil (MARTINS
et al, 2005, p.308)
No Brasil não podemos relatar a mesma situação, não há fiscalização estabelecida
e nem horário de funcionamento determinado, os postos de gasolina vendem bebidas
alcoólicas . Mesmo assim, desde 2003 o Conselho Nacional de Auto-Regulação
Publicitária CONAR tenta dar andamento a um movimento de consumo responsável de
álcool, com campanhas que sugerem o beber com moderação. Este processo resultou em
uma resolução, que restringe as propagandas de bebidas objetivando a exclusão de imagens
direcionadas para menores, proibindo a participação de pessoas com menos de 25 anos de
idade em propagandas (CONAR. 2003). Sabemos, porém, da desproporção entre as
imagens exibidas pelos veículos propagandistas e os anúncios governamentais como a
quase “ordem ou obrigatoriedade” que indica o beber moderadamente. Acreditamos que
para o público adolescente é muito difícil não seguir esse tipo de “sugestão” explícita de
consumo.
Nossa sociedade colabora em relação à expectativa social e familiar a respeito da
bebida, quando consideramos uma circunstância eventual o jovem e/ou seu grupo voltar
para casa alcoolizado. Existe uma permissão social para o álcool e suas conseqüências,
40
inclusive com algumas atitudes consideradas importantes e reforçadas socialmente. O
álcool não é como as drogas ilegais, não é considerado uma droga, tem o aval social apesar
de ser causador de problemas de saúde e de vários prejuízos para a sociedade.
A família também deve ser levada em conta e, para Araújo (1998), os pais que não
apresentam regras a respeito do álcool têm maior probabilidade de ter filhos que bebam.
Também acredita que a permissividade ou o interesse dos pais pelo consumo de álcool de
seus filhos influencia os hábitos alcoólicos dos adolescentes. Para esse autor é preciso uma
modificação nas expectativas dos adultos, para modificar seu modelo de uso do álcool e
conseqüentemente o dos adolescentes.
A questão familiar é muito abrangente em relação ao uso de álcool. No campo da
Genética, a influência da hereditariedade sobre o alcoolismo não é bem definida, mas
baseado em Fortes e Cardo (1991) podemos afirmar que a taxa de alcoolismo em parentes
alcoolistas é grande. Não sabemos se são influências hereditárias ou sociais. Uma família
com hábito de beber todos os dias e excessivamente nos fins de semana, certamente exerce
uma influência positiva para o uso do álcool. Em relação à família, ainda em Fortes e
Cardo (1991), encontramos dados que mostram que a taxa de bebedores é maior em
famílias desorganizadas pela ausência de um dos pais, por pais separados e por pessoas que
passam por alguma dificuldade familiar, podemos dizer que essas pessoas reagem à
ausência de uma família. Pensando nessas idéias, observamos algumas conseqüências no
ato do beber adolescente: desorganização da vida econômica e social, maior índice de
acidentes de trânsito e de trabalho, distúrbio de conduta, diminuição do rendimento
escolar, aumento da criminalidade escolar e perda de motivação social.
Na pesquisa de Baús (2002), observamos que o consumo de álcool aparece como
um fator maior de risco entre estudantes pertencentes à classe social melhor favorecida
assim como, o consumo de drogas ilegais, justificado pelo maior poder aquisitivo de tal
41
classe. Os pais são displicentes em relação ao filho, que deve ser controlado também
economicamente. Para Soldera (2004), a maior disponibilidade de dinheiro e alguns
padrões específicos de socialização foram identificados como fatores associados ao uso
pesado de drogas por estudantes.
Para Zanoti-Jeronymo 2005,
[...] entre os dados negativos que o alcoolsimo parental pode ter, no
desenvolvimento da criança e do adolescente, o prognóstico de uso ou
abuso de álcool e outras substâncias psicoativas é, talvez o mais
evidenciado [...](p.6).
No artigo de Soldera et al (2004) os resultados apresentados sobre o uso pesado de
drogas legais e ilegais foram:
[...] álcool (11,9%), tabaco (11,7%), maconha (4,4%), solventes (1,8%),
cocaína (1,4%), medicamentos (1,1%), ecstasy (0,7%). O uso pesado foi
maior entre os estudantes da escola pública central, do período noturno,
que trabalhavam, pertencentes aos níveis socioeconômicos A e B, e cuja
educação religiosa na infância foi pouco intensa. (p. 1)
Baús (2002) fala sobre o ambiente familiar e a separação dos pais:
[...] as condições de um ambiente familiar, tanto na pré-separação como
na pós-separação, podem conter características bastante propicias à
produção de estados emocionais altamente estressantes na criança e no
adolescente que podem, por sua vez ser favoráveis ao uso de drogas. A
natureza, qualidade e quantidade dos efeitos (positivos ou negativos), na
condição pós-separação, dependerão de variáveis altamente complexas.
Natureza, qualidade e duração do vínculo anterior com cada um dos pais
e mudanças afetivas, econômicas e habitacionais após a separação. (p.45)
Alguns resultados de pesquisas (ARAÚJO, L., GOMES,1998) permitiram a
classificação da bebida apenas em três padrões de consumo (comportamentos que
prevalecem no usuário - abstinência, moderado e elevado - e mostraram expectativas
agradáveis dos efeitos do álcool associadas ao consumo elevado. As conseqüências são
encontradas em mudanças no comportamento social: aumento da agressividade; o
adolescente acredita que obtém mais prazer e melhor desempenho sexual alcoolizado;
42
aumento de poder; e redução de tensão. Esses adolescentes tendem a beber mais e a
experimentar mais conseqüências confirmatórias de suas expectativas. Ainda segundo o
autor, no decorrer da vida de cada sujeito se formam expectativas em relação aos efeitos
provocados pelo consumo de álcool, mesmo quando ainda não são consumidores. As
expectativas se aplicam sob os modelos parentais e do grupo de pares, experiências diretas
e indiretas com bebidas, e exposição à mídia. As expectativas exercem influência no início,
na manutenção e na administração do uso de bebidas alcoólicas e os comportamentos
relacionados a ela.
No trabalho citado, podemos encontrar as seguintes porcentagens: o padrão A)
aqueles que não beberam no ultimo mês , englobou 37,2% dos estudantes, o padrão B)
aqueles que beberam de 1 a 5 vezes neste período, apresentou adesão de 41,5% dos
sujeitos e o padrão C) aqueles que beberam seis ou mais vezes, reúne 21,3% dos
estudantes; uma representação importante que só vem demonstrar a necessidade de
abranger os estudos em relação ao uso de álcool e o consumo do adolescente. Observamos
também que em geral os sujeitos classificaram os efeitos do álcool como 42,4%
desagradável e 57,6% de efeitos agradáveis. Sublinhemos que os adolescentes estão se
referindo aos mesmos efeitos. Dessa forma, sentir-se alegre podia ser agradável para um e
desagradável para outro, do mesmo modo ocorre com a desinibição, a sonolência e a
tontura.
A pesquisa (ARAÚJO, L., GOMES,1998) apresentou ainda temas que foram
agrupados em tipologias gerais: 1) Beber com a família e a experimentação; 2) Beber com
os amigos e embriagar-se; 3) Beber para parecer adulto; 4) O álcool como facilitador da
sexualidade; 5) Uso do álcool como medicamento e 6) O álcool ajuda a esquecer
problemas. Esses temas foram classificados de forma diferente por sujeitos de padrões
diferentes.
43
Carlini-Cotrim (2000) efetuou uma pesquisa expressiva sobre comportamento de
saúde entre jovens, realizando coleta de dados com alunos de escolas públicas e escolas
privadas, mostrando que uma das questões que mais reflete a falta de cuidado dos jovens
com seu organismo é o uso excessivo de álcool. Segundo a pesquisa, realizada com 871
alunos de escolas públicas de São Paulo, para 52,6% do sexo feminino e 47,2% do sexo
masculino, com idades entre 12 e 14 anos (43,2%) e 15 a 18 anos (56,8%), a bebida mais
consumida é a cerveja (55,7%), seguida pelo vinho (24,1%), sidra ou champanhe (21,7%) e
destilados, como uísque e tequila (8,1%). Grande parte dos alunos refere ter bebido com
amigos (53,5%), mas uma boa parte deles tem bebido com a família (39,4%). Dentre os
alunos que relataram situação de risco, apresentando alto consumo nos últimos 30 dias,
23,6% dos estudantes envolveram-se em pelo menos uma briga com agressão física nos
últimos 12 meses e reconhecem que normalmente estavam sobre o efeito de bebidas ; 21%
desses estudantes que são sexualmente ativos, relatam que em sua última relação sexual
estavam sob o efeito do álcool, e 20% dos bebedores que sofreram acidentes informam ter
bebido antes do ocorrido. Levando em conta a prevalência encontrada nos mesmos
comportamentos em estudantes que bebem, mas não se encontram no padrão de risco, as
informações são relevantes, 7,2% para briga, 5,2% para sexo e 4,4% para acidentes.
Encontramos nessa pesquisa as informações coletadas sobre alunos de escolas
particulares (804 alunos), sendo 50,9% do sexo feminino e 41,1% do sexo masculino, com
idades entre 12 e 14 anos (30,8%) e 15 a 18 anos (69,2%). Entre eles, a bebida mais
consumida é a cerveja (49,1%), seguida por pinga (27,7%), uísque ou vodka (19,2%) e
licores ou champanhe (14,1%), os vinhos só foram indicados por 5,6% dos alunos. Grande
parte dos estudantes refere ter bebido com amigos (68,1%), mas uma boa parte deles (um
quarto) tem bebido com a família (22,4%). Dentre os alunos que relataram situação de
risco, quem apresentou alto consumo nos últimos 30 dias, 35,3% dos estudantes
44
envolveram-se em pelo menos uma briga com agressão física nos últimos 12 meses e
reconhecem que normalmente estavam sobre o efeito de bebidas alcoólicas, 34,7% desses
estudantes que são sexualmente ativos, relatam que em sua última relação sexual estavam
sob o efeito do álcool, e 15,8% dos bebedores que sofreram acidentes informam ter bebido
antes do ocorrido. Levando em conta a prevalência encontrada nos mesmos
comportamentos em estudantes que bebem, mas não se encontram no padrão de risco, as
informações são relevantes, 3,3% para briga, 12% para sexo e 2,1% para acidentes. Nesse
trabalho, podemos observar que nas duas amostras semelhanças nos comportamentos de
risco relacionados ao uso de álcool em estudantes, apesar da diferença sócio-econômica
entre os participantes dos dois grupos. Para Araújo (1998), alunos do ensino médio
apresentam grande comprometimento com o álcool, e aprofundar o trabalho com essa
parcela da população é a melhor forma de trabalhar com a prevenção, a intervenção e a
redução de danos.
3 - METODOLOGIA
3.1 Tipo de pesquisa:
Para alcançar os objetivos propostos, a presente pesquisa estruturou-se de
maneira qualitativa ao procurar o sentido que as condutas investigadas tem para o
sujeito, embora tivéssemos utilizado instrumentos de coleta de dados de natureza
quantitativa como o Inventário Beck e o teste Audit. Eles foram utilizados para recortar
o universo da amostra que nos interessava como objeto desse trabalho.
3.2 Universo de pesquisa
A pesquisa foi realizada em duas escolas da cidade de São José do Rio Preto,
cidade com cerca de 400.000 habitantes, localizada na região noroeste de São Paulo a
435 km da capital. A primeira escola é uma instituição pública, com cerca de 1419
alunos, desses 632 estudam no ensino fundamental e 787 no ensino médio, localizada
em um bairro de classe média de São José do Rio Preto, os 85 alunos selecionados
representam 36% dos alunos do 1ª Colegial.
A segunda é uma instituição privada (Cooperativa) de educação infantil, ensino
fundamental e médio, localizada em um bairro de classe média alta da cidade, com 311
alunos no total, sendo que 117 são alunos do ensino médio. Os 47 alunos selecionados
são 100% dos alunos do 1
a
colegial.
Num primeiro momento foi realizado contato pessoal com a direção das
escolas, onde foram expostos os objetivos da pesquisa e solicitada a permissão para a
realização da coleta de dados (anexo 1 e 2). Concedida a permissão, foi planejado com a
direção de cada escola os melhores dias e horários para o desenvolvimento da coleta de
46
dados. Também fizemos contato com os pais dos alunos que permitiram a realização da
pesquisa (anexo 3 e 4).
Não encontramos problemas para a realização da pesquisa na escola pública,
porém percorremos várias escolas particulares em busca da permissão para a coleta de
dados. Por fim encontramos uma escola em que fomos autorizados a realizar o
levantamento dos dados e que tem uma importância significativa na cidade, tanto
quanto a escola pública escolhida.
3.3 Apresentação dos sujeitos
A pesquisa, como um todo, constou de duas etapas interdependentes:
levantamento inicial (instrumento A), entrevista (instrumento B) e provas Clínicas de
Piaget (instrumento C). A primeira etapa voltou-se para a identificação dos alunos
quanto ao uso de álcool e a avaliação de seu estado psíquico relativo à depressão. Disto
resultou a organização dos grupos para a segunda etapa os instrumentos B e C.
Participaram do levantamento inicial 47 alunos de uma escola particular
(divididos em 1ª A 25 alunos e 1ª B 22 alunos turmas do período da manhã) e 85 alunos
de uma escola pública (divididos em 1ª B 34 alunos, 1ª E 32 alunos turmas do período
da manhã e uma turma do período da noite, 1ª H com 18 alunos). Todos os alunos
aceitaram participar do estudo, somando o total de 132 estudantes do 1ª ano do ensino
médio. Os dados de cinco questionários foram desconsiderados estavam incompletos.
No total temos 127 sujeitos avaliados. Esse levantamento possibilitou identificar os
participantes que consumiam bebidas alcoólicas em excesso e aqueles que faziam uso
moderado ou eram abstêmios. Também identificamos os participantes que apresentavam
depressão. A partir desses dois grandes grupos, realizou-se um cruzamento das
47
informações formando quatro grupos de participantes classificados da seguinte forma:
alunos que consomem álcool em excesso e não apresentam depressão, alunos que não
consomem álcool e não apresentam depressão, alunos que consomem álcool em excesso
e apresentam depressão e o grupo de alunos que não consomem álcool e apresentam
depressão. Dentro de cada um dos 4 grupos sorteamos 5 participantes para realizarem as
entrevistas.
3.4 Delineamento
Os 127 estudantes das primeiras séries do ensino médio público e privado
foram submetidos no período de abril e maio do ano de 2006 ao instrumento A, com um
total de 33,9% de alunos do ensino privado e 66,1% de alunos do ensino público. Esses
números representam 100% do total de alunos de primeiro ano do ensino médio dessa
escola particular e 36% do total de alunos do primeiro ano do ensino médio da escola
pública participante, no ano em que foi realizada a coleta de dados. Podemos observar
na tabela a seguir a distribuição dos sujeitos quanto ao sexo por escolas
Tabela 1 Freqüência e porcentagem de alunos por sexo e tipo de escola
Feminino Masculino
f
%
f
%
Escola Particular 22 30,6 21 38,2
Escola Pública 50 69,4 34 61,8
Total
72 100 55 100
A amostra teve participação semelhante de ambos os sexos, 43,9% de homens
e 56,1% de mulheres. Essa semelhança possibilitou investigar com maior precisão o
consumo de álcool e a depressão entre os sexos. Com relação à faixa etária, 95,5% deles
48
eram adolescentes, de 14 a 17 anos de idade e 4,5% possuíam idade acima de 18 anos.
O número de alunos matriculados na escola pública é de 235 alunos e foram aplicados
os instrumentos em 89 sujeitos que representam 37,8% do total da escola e o número de
alunos matriculados na escola particular é de 47 alunos sendo que 43 responderam ao
instrumento que corresponde a 91,4% de sujeitos.
Encontramos na tabela 2 a classe sócio econômica dos sujeitos que em sua
maioria na escola pública estão localizados na classe B e para a escola particular sua
maioria encontra-se na classe A. Para religião tanto na escola pública como na particular
a religião católica é composta por sua maior parte, no entanto a segunda religião para a
escola pública é a evangélica enquanto para a escola particular é o espiritismo, como
podemos observar também na tabela 2.
Tabela 2 Freqüência e porcentagem das principais características dos participantes,
por escola.
Escola pública Escola particular
f
%
f
%
Número de alunos matriculados 235 100 47 100
Número de alunos participantes 89 37,8 43 91,4
AUDIT positivos 14 66,7 7 36,3
BECK com depressão 17 15 3 85
Nível sócio-econômico
A 8 20,5 31 79,5
B 46 79,3 16 20,7
C 27 100 0 0
D 3 100 0 0
E
Sexo feminino 50 69,4 22 30,6
Religião
Católico 38 59,4 26 40,6
Evangélico 25 89,3 3 10,7
Espírita 2 18,2 9 81,8
Nenhuma 18 85,7 3 14,3
Outras 1 33,3 2 66,7
49
Encontramos também o grau de instrução do chefe de família na tabela 3, onde
podemos observar que em sua maioria tanto a escola particular quanto a pública a
maioria do chefes de família apresenta nível superior:
Tabela 3 Freqüência e porcentagem do nível de instrução dos pais
Escola Particular Escola Pública
f
%
f
%
analf. ou 1
a
ciclo 0 0 6 100
ens.fund.incom. 0 0 19 100
ens.fund.ou médio.
inc.
2 9,5 19 90,5
ens.médio ou sup.
Incom.
5 20,8 19 79,2
superior 36 63,2 21 36,8
total 43 33,9 84 66,1
A partir dessas informações obtivemos a organização dos grupos para a
segunda etapa a aplicação dos instrumentos B e C.
Participaram da segunda etapa 20 estudantes, sorteados dos quatro grupos
formados na 1ª etapa e foram submetidos no período de agosto e setembro do ano de
2006 aos instrumentos B e C. O grupo foi composto de 65% de estudantes do sexo
masculino e 35% de estudantes do sexo feminino. Tal informação possibilitou
investigar com maior precisão o consumo de álcool, a depressão e o desenvolvimento
cognitivo entre os sexos. Com relação à faixa etária todos os sujeitos eram adolescentes,
de 14 a 16 anos de idade e 60% com 15 anos.
3.5 Instrumentos de Coleta de dados
O Instrumento A consistiu numa avaliação composta de sete partes, formando
um único instrumento, conforme descrição a seguir (Anexo 5):
a) Variáveis sócio-demográficas: nome, telefone, endereço, escola, turma, série,
idade e sexo;
50
b) Avaliação do nível sócio-econômico via critério Brasil (ALMEIDA e
WICKERHAUSER, 1991);
c) Religião;
d) Avaliação da quantidade e freqüência de consumo de álcool Q_F
(DIMEFF et al., 2002): verifica a ocasião em que o indivíduo bebeu mais no
último mês, a freqüência com que bebeu, a quantidade bebida num final de
semana e o número de vezes que bebeu cinco ou mais doses em uma única
ocasião;
e) Identificação dos bebedores excessivos com o instrumento Teste de
Identificação de Desordens Devido ao Uso de Álcool - AUDIT (BABOR et
al, 1992);
f) Duas questões para avaliar o histórico familiar sobre uso abusivo de bebidas
alcoólicas.
g) Identificação de adolescentes com sintomas depressivos nas últimas semanas
utilizando o Inventário para depressão Beck (BDI Beck Depression
Inventory), instrumento de auto preenchimento composto por 21 itens que
avaliam a sintomatologia presente nas ultimas semanas.
O Teste de Identificação de Desordens Devido ao Uso de Álcool - AUDIT
(BABOR et al, 1992), verifica os alunos que consomem mais de cinco doses semanais e
pontuaram um escore igual ou maior que oito pontos sendo classificados como alunos
que fazem uso de álcool em excesso. O AUDIT é um teste que avalia o padrão do beber
entre jovens e adultos, cuja pontuação varia de zero a 40 pontos. Os respondentes que
pontuaram até sete foram chamados de abstêmios ou que bebem moderadamente e
aqueles que atingiram oito ou mais pontos foram os que consomem em excesso, oito ou
51
mais pontos no AUDIT indicam beber de risco ou nocivo, como também a possibilidade
de dependência.
O AUDIT foi escolhido para compor o levantamento inicial pela necessidade
de ter-se um instrumento com sensibilidade alta para alcançar o máximo de sujeitos
passíveis de participar da entrevista referente à segunda etapa da pesquisa. Além disso,
é de preenchimento rápido e já foi utilizado com população de adolescentes e jovens.
Esse instrumento foi desenvolvido por um grupo de pesquisadores, sob os auspícios da
Organização Mundial da Saúde OMS (BABOR et al., 1992) e adaptado para o Brasil
por Méndez (1999).
Também duas questões foram elaboradas e acrescidas com a finalidade de
buscar conhecer o histórico familiar de uso de bebidas alcoólicas.
O Inventário para depressão Beck (BDI Beck Depression Inventory)
(CUNHA J.A. 2001) ), é um instrumento de alto-preenchimento composto por 21 itens
que avaliam a sintomatologia presente nas últimas semanas, foi extensamente validado
em amostras clínicas e populacionais brasileiras por Cunha e colaboradores (2001) e
que encontrou pontos de corte para diferentes intensidades dos sintomas depressivos:
mínimo (0-11), leve (12-19), moderado (20-35) e grave (36 a 63). No presente estudo
utilizamos a nota de corte maior ou igual a 12 para identificação de casos de sujeitos
com sintomas depressivos.
Para a avaliação do desenvolvimento cognitivo dos sujeitos (Anexo 6) foram
escolhidas três provas operatórias para o pensamento formal: Prova de combinação de
fichas duplas para pensamento formal; Permutações possíveis com um conjunto
determinado de fichas ( para o pensamento formal) e Torre de Hanói.
As “provas clássicas” formam os instrumentais elaborados por Piaget em suas
pesquisas com a equipe de Genebra, com o objetivo de determinar o grau de aquisição
52
de algumas noções-chave do desenvolvimento cognitivo, detectando o nível de
pensamento alcançado pela criança ou jovem, ou seja, o nível de estrutura cognoscitiva
com que opera.
A descrição detalhada delas é encontrada em inúmeras obras sobre a teoria
piagetiana e originalmente nos textos de Piaget e colaboradores dentro de seus relatórios
de pesquisas sobre a Epistemologia Genética. Para efeito desta pesquisa utilizar-se-á a
sistematização feita por Weiss (2003) e Piaget (1977).
São elas:
1- Prova de combinação de fichas duplas para pensamento formal
? Material: seis pinos de madeira de cores diferentes
? Desenvolvimento: O examinador pede que o sujeito faça com os seis pinos o
maior número possível de duplas, sem repetí-las. É preciso que se veja se o
sujeito compreendeu bem a atividade que irá fazer. É válido fazer a
demonstração inicial com um par. O examinador deve observar e registrar o
método de trabalho e que critérios usou para chegar ao resultado, assim como
todas as verbalizações. Pode-se permitir que registrem em papel as tentativas.
2- Permutações possíveis com um conjunto determinado de fichas
? Material: pinos de madeira de cores diferentes (os mesmos da prova anterior)
? Desenvolvimento: o examinador pede ao sujeito que faça o maior número de
permutações com as fichas. A pergunta clássica desta prova é “de quantas
maneiras duas pessoas podem se sentar num banco , e três pessoas , e quatro
pessoas” e assim por diante. Como na prova anterior, verificar a
compreensão do pedido e registrar o método de realização e todas as falas do
sujeito.
53
3 - A Torre de Hanói
Como o nome indica, este é um jogo de origem oriental. O material é composto
por uma base, onde estão afixados três pequenos bastões em posição vertical, e cinco ou
mais discos de diâmetros decrescentes, perfurados ao centro, que se encaixam nos
bastões. Ao invés de discos, pode-se também utilizar argolas ou outros materiais. A
torre é formada então pelos discos empilhados no bastão de uma das extremidades, que
será chamada de casa A. O objetivo do jogo é transportar a torre para a casa C, usando a
intermediária B.
As regras são:
? Movimentar uma só peça (disco) de cada vez.
? Uma peça maior não pode ficar acima de uma menor.
? Não é permitido movimentar uma peça que esteja abaixo de outra.
Inicialmente utilize apenas quatro peças.
? Questão 1) Qual o número mínimo de movimentos? (Não desperdiçar
movimentos)
? Questão 2) Quais as peças que mais se movimentam? E as que menos se
movimentam?
Ainda com quatro peças, fazer com que B seja a casa de destino e,
conseqüentemente, C sirva como intermediária.
Após, passar a jogar com cinco peças e responder a questão 1.
Finalmente, jogar com três peças e responder a questão 1.
54
? Questão 3) Qual o segredo que permite jogar bem, sem desperdiçar movimentos,
com três, quatro, cinco, seis, etc. peças ?
? Questão 4) Sem efetuar o jogo, é possível calcular o número mínimo de
movimentos para, por exemplo, nove ou dez peças?
Questões complementares:
? Questão 5) Mudando o destino de C para B, muda alguma coisa? Algo
permanece igual? Especifique.
? Questão 6) Existem movimentos semelhantes para quatro e cinco peças?
Existem diferenças? Quais?
? Questão 7) Qual a relação entre o número de peças e o número mínimo de
movimentos?
A partir dos resultados do Instrumento A os sujeitos foram organizados em 4
grupos: alunos que consomem álcool em excesso e não apresentam depressão, alunos
que não consomem álcool e não apresentam depressão, alunos que consomem álcool em
excesso e apresentam depressão e o grupo de alunos que não consomem álcool e
apresentam depressão.
Foram então submetidos aos instrumentos B e C.
O Instrumento C, entrevista, (Anexo 7) foi composta por um conjunto de
questões, descritas a seguir:
Seis questões elaboradas a fim de conhecer o significado do uso de álcool para
os adolescentes e suas perspectivas em relação ao futuro.
a) Fala-me um pouco como você vê a sua escola?
b) Como é seu rendimento escolar?
c) O que é a bebida pra você?
55
d) Como você tem se sentido ultimamente? (explorei as respostas e
encorajei os participantes a refletirem sobre suas experiências).
e) O que você sentiu ao falar de sua experiência?
f) Quais são suas expectativas para o futuro?
3.5 Procedimentos de coleta de dados
Os procedimentos foram desenvolvidos de acordo com cada fase da pesquisa e
assim são descritos.
Para a primeira fase a pesquisadora entrou nas salas de aula, apresentando-se
para os alunos e professor, durante o horário de aulas, explicou a pesquisa, convidou-os
a participar e em seguida entregou o termo de consentimento livre e esclarecido TCLE
(Apêndice 3 e 4) de acordo com a idade de cada aluno. Aos menores de 18 anos foi
orientado que pedissem autorização aos pais ou responsáveis; caso estes concordassem
com a participação de seus filhos no estudo, deveriam assinar o TCLE (Apêndice 3).
Para os alunos com 18 anos de idade ou mais e aos que eram emancipados foi pedido
que eles mesmos assinassem o TCLE (Apêndice 4), caso concordassem em participar.
Uma semana depois a pesquisadora voltou às escolas para recolhimento dos TCLE que
já estavam com a coordenadora pedagógica da escola, a quem os alunos foram
orientados a entregar os termos. Com os TCLE em mãos deu-se início ao Instrumento
A. A aplicação do questionário foi feita de forma coletiva nas próprias salas de aula.
Todos os alunos presentes aceitaram responder ao instrumento.
O sorteio para os instrumentos B e C deu-se da seguinte forma: primeiramente
todos os dados do levantamento inicial foram digitados numa planilha eletrônica e
exportados para o programa estatístico SPSS 12.0 (SPSS, 2003). Esse programa
possibilitou o sorteio aleatório de 5 sujeitos de cada grupo alunos que consomem
56
álcool em excesso e não apresentam depressão, alunos que não consomem álcool e não
apresentam depressão, alunos que consomem álcool em excesso e apresentam depressão
e o grupo de alunos que não consomem álcool e apresentam depressão de acordo com
os resultados do AUDIT e do BECK.
3.6 Procedimento para a aplicação das provas operatórias (instrumento B) e da
entrevista (instrumento C)
O primeiro passo para essa fase foi pedir à direção da escola que reservasse
uma sala para a realização das entrevistas. Em função da pouca disponibilidade de salas,
na maioria das vezes a direção alocou a biblioteca, o que demandou deslocamento dos
alunos que eram chamados pela pesquisadora de suas salas de aula para acompanhá-la
até o local da entrevista. O espaço usado permitiu privacidade para o trabalho, pois foi
pedido à direção e aos funcionários (inspetores, serventes e bibliotecária) que não
entrassem na sala enquanto estivesse sendo usada para a aplicação das provas.
Os estudantes foram convidados a participar dessa etapa da pesquisa de
maneira similar à primeira etapa: a pesquisadora entrou em sala de aula, apresentou-se,
lembrou os alunos do questionário que tinham respondido anteriormente e explicou que
alguns alunos tinham sido sorteados para a segunda fase do estudo, que constava de
aplicação de provas piagetianas e a entrevista a ser realizada individualmente. Após essa
explicação cada aluno acompanhou a pesquisadora até a sala destinada à aplicação.
Uma vez em sala, a entrevistadora, explicou ao aluno que participaria da
realização de três jogos e responderia a uma pequena entrevista. Os jogos foram
expostos e suas respostas anotadas, assim como as questões da entrevista. Alguns
alunos apresentaram um pouco de dificuldade ao realizar os jogos que são as provas de
57
desenvolvimento cognitivo, porém, outros estavam completamente à vontade nesse
momento lúdico.
Todos os alunos convidados a participar dessa etapa aceitaram. Essa fase da
pesquisa constituiu na aplicação dos 3 jogos e da entrevista.
3.7 Procedimento de análise de dados
Os dados foram analisados conforme seus postulados teóricos.
Para o instrumento Beck e Audit foram usados os escores acima de oito e os dados
foram analisados estatisticamente pelo programa estatístico SPSS 12.0 (SPSS, 2003).
As entrevistas foram descritas e as provas piagetianas tiveram uma avaliação conforme
os protocolos do autor.
Os dados foram coletados de forma coletiva, em sala de aula no levantamento inicial e
individualmente na entrevista juntamente com a pesquisadora. Todos os dados foram
digitados em uma planilha eletrônica e posteriormente exportados para um programa de
análises estatísticas (SPSS, 2003). Nesse programa, foram computadas, em um primeiro
momento, as freqüências de cada questão e inspecionada para a presença de valores não
esperados, para posteriormente serem feitas análises mais detalhadas.
Procedimento avaliativo das Provas Piagetianas:
1- Prova de combinação de fichas duplas para pensamento formal
? Procedimentos avaliativos:
a) Ausência de capacidade operatória Nível 1
58
O sujeito é incapaz de descobrir a possibilidade das diversas
combinações.Não estabelece critérios, faz tentativas aleatórias sem
conseguir obter um mínimo de duplas.
b) Condutas Intermediárias Nível 2
O sujeito faz combinações incompletas, consegue fazer muitas duplas
sem ordem estabelecida, não consegue prever o número total de
combinações (30).
c) Condutas operatórias revelando capacidade combinatória Nível 3
O sujeito antecipa a possibilidade combinatória, mediante um sistema
completo e metódico, chegando a descobrir as 30 duplas. Além disso,
deixa evidente um critério para estabelecer o total de combinações.(
WEISS, 1977, p.170)
2- Permutações possíveis com um conjunto determinado de fichas
? Procedimentos avaliativos:
a) Ausência da capacidade de permuta Nível 1
O sujeito não percebe as possibilidades de permuta. Faz tentativas grosseiras.
b) Condutas Intermediárias Nível 2
O sujeito realiza permutas incompletas, faz aproximações, sem possibilidade de
generalizações.
c) Condutas de realizações de todas as permutações possíveis Nível 3
O sujeito faz as permutações, antecipando as possibilidades de um processo
sistemático, ordenado. Realiza de forma ordenada as permutações. ( WEISS, 1977,
p.171)
59
3 - A Torre de Hanói
? Procedimentos avaliativos:
a) Ausência de capacidade dedutiva Nível 1
O sujeito não percebe as possibilidades do jogo, não atende as regras.
b) Condutas intermediárias Nível 2
O sujeito compreende as possibilidades, tem sucesso para 2 discos , mas não
generaliza para os demais e se confunde nas contagens de movimentos.
c) Condutas de realizações dedutivas e elaboração da lei matemática 2n -1,
tal que n é o número de disco.
O sujeito tem sucesso para 2 discos, generaliza para 3 e quatro e elabora a regra
mesmo que não seja em linguagem matemática. (PIAGET, 1977, p.172-178)
Os resultados serão apresentados no próximo capítulo.
CAPITULO 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados serão apresentados por questões investigadas, isto é, o consumo de
álcool pelos jovens participantes, incidência da depressão entre eles e o desenvolvimento
cognitivo (expectativas e provas).
4.1 O consumo de Álcool
A tabela 4 apresenta os resultados relativos ao uso de álcool na qual podemos
observar que 16,3% dos alunos pontuaram oito ou mais no teste AUDIT. Encontramos na
pesquisa um resultado positivo para álcool, como sendo 16,3% da escola particular e
16,7% da escola pública, resultados com poucas diferenças entre escola pública e
particular. No que se refere ao sexo, encontramos 4,7% de meninas que consomem álcool
em excesso e 11,7% de meninos. Esses participantes passaram a ser considerados
pertencentes ao grupo dos que usam álcool em excesso. Outras pesquisas nos mostram que
os meninos são os maiores consumidores. Cruz (2005) encontrou 66,7% de meninos que
fazem uso do álcool em excesso.
Os dados preocupam, já que a população é adolescente escolar e deveria receber
informações sobre o consumo abusivo. Mais um estudo semelhante, realizado na mesma
região do país, encontrou 17,9% para os alunos que pontuaram oito ou mais no teste
AUDIT, ou seja, uma parcela significativa dos jovens tem consumido álcool em excesso.
61
Alguns estudos nos mostram que existem mais adultos bebendo em excesso do
que adolescentes e que portanto o consumo excessivo aumenta com o passar do tempo, ou
seja, a prevalência do uso cresce linearmente com a idade (CRUZ, 2006, MARTINS,
2006, GUIMARÃES, 2004, TAVARES e BÉRIA, 2001 ).
Tabela 4. Resultados do Audit por escola
Positivos Negativos
f % f %
Escola Particular 7 16,3 36 83,7
Escola Pública 14 16,7 70 83,3
Total de alunos 21 16,5 106 83,5
4.2 A incidência da depressão
A tabela 5 apresenta os resultados relativos à incidência de depressão e
podemos identificar que 84,3% dos sujeitos apresentam depressão mínima, ou seja, apenas
algum comportamento depressivo em algum momento, enquanto 15,8% estão com
depressão, sendo 17% da escola pública e apenas 3% da escola particular, uma diferença
significativa.
Em relação ao sexo foi observada a tendência feminina para a depressão,
enquanto os meninos apresentam 4,3% de comportamento depressivo, as meninas dobram
esse número com 8,7%.
62
Tabela 5. Resultados do Beck por escola
Mínima Com depressão
f % f %
Escola Particular 40 93,0 3 7,0
Escola Pública 67 70,8 17 20,2
Total 107 84,3 20 15,8
No cruzamento das informações sobre álcool e depressão, apresentado na tabela 6,
encontramos que 15 alunos apresentam resultado positivo para depressão e resultado
negativo para uso de álcool, enquanto apenas cinco alunos são positivos para álcool e
depressão. Esse resultado nos auxiliou na escolha do número de sujeitos por grupos na
segunda fase da pesquisa.
Tabela 6. Resultado do cruzamento entre Audit e Beck
Audit
Negativo Positivo
Beck f % f %
Depressão mínima 91 85,0 16 15,0
Depressão 15 75,0 5 25,0
4.3 Desenvolvimento Cognitivo
Esta categoria é composta pela aplicação das provas piagetianas
A avaliação das provas piagetianas permite a classificação em níveis. Através de
cada conduta do aluno podemos encontrar a que nível ele pertence.
Primeira Prova: Prova de combinação das fichas duplas para pensamento formal:
Nessa prova encontramos 3 sujeitos nas condutas intermediárias, no entanto sua
maioria (17 sujeitos) apresentavam capacidade combinatória alcançando o nível 3, que
significa a presença do pensamento abstrato.
63
Segunda Prova: Permutações com um conjunto determinado de fichas
Nessa prova encontramos no total 35% dos sujeitos (7) em condutas
intermediárias e 65% em condutas de realizações de todas as permutações possíveis,
alcançando o nível 3, que significa a presença do pensamento abstrato.
Terceira Prova: A Torre de Hanói
Nessa prova encontramos 1 sujeito no nível 1, 30% dos sujeitos encontram se no
nível intermediário e 65% no nível 3, que significa a presença do pensamento abstrato.
Nesta prova foram encontrados alguns resultados contraditórios. Isto parece
dever-se ao fato de que os sujeitos apresentam êxito empírico sem a demonstração da lei,
ou seja, realizam a atividade, porém não compreendem a regra abstrata capaz de explicar o
resultado obtido na tarefa.
Tabela 7 - resultados das provas piagetianas por sujeitos
Provas
Combinação Permutação Torre de Hanoi
f % f % f %
Nível 1 0 0 0 0 1 5
Nível 2 3 15 7 35 6 30
Nível 3 17 85 13 65 13 65
Total
20 100 20 100 20 100
4.4- Entrevista
Os mesmos 20 estudantes sorteados para participar das provas piagetianas,
participaram também da entrevista sobre expectativas de vida. Com relação ao período em
que estudavam 85% são do período diurno (matutino) e 15% do noturno. Os componentes
de ambos os grupos encontravam-se nas faixas etárias entre 14 e 16 anos, sendo que 20%
tinham 14 anos, 60% tinham 15 anos e 20% estavam com 16 anos.
64
Dos quatro grupos formados em função da pontuação obtida nos testes AUDIT e
BECK do instrumento A, podemos observar a posição de cada sujeito identificado por
número e sexo, sendo masc. para o sexo masculino e fem. para o sexo feminino.
a) Grupo 1 (Positivo álcool e negativo depressão):
Todos os sujeitos desse grupo são do sexo masculino, 20% freqüentava o período
noturno e 60% são adolescentes, com 15 anos.
b)Grupo 2 (negativo álcool e negativo depressão):
Esse grupo apresentou-se com 60% de participantes do sexo masculino; 100%
freqüentadores do período matutino; 60% deles eram adolescentes, com 14 anos.
c) Grupo 3 (negativo álcool e positivo depressão):
Esse grupo apresentou-se com 80% de participantes do sexo feminino; 80%
freqüentadores do período matutino; 60% deles eram adolescentes, com 15 anos, sendo que
20% tinham 14 e 16 anos.
d) Grupo 4 (Positivo álcool e positivo depressão):
Esse grupo foi constituído por 60% de participantes do sexo masculino; 80%
freqüentava o período matutino; a maioria 60% dos componentes do grupo foi de
adolescentes, com 16 anos.
4.5 Síntese por sujeito
Apresentamos a seguir a síntese de cada sujeito por acreditarmos que é a melhor
forma de retratar a situação de cada um dentro de seu grupo e para avaliarmos cada grupo.
65
4.5.1 Grupo 1 (Positivo álcool e negativo depressão):
Sujeito 30 (masc.): Idade: 16 anos; Para o rendimento cognitivo do participante
foram obtidos o nível 3 para as três avaliações indicando que o jovem apresenta capacidade
operatória, realização das permutas possíveis e conduta de realizações dedutivas e
elaboração da lei matemática 2
n
-1. Este participante apresenta relacionamento com a escola
e valorização do ambiente escolar:
É importante, eu vejo a escola assim, por exemplo, aqui você
aprende tudo, mas com minha família aprendi tudo como o
fundamental, gosto da escola, tem os amigos, nas férias até dá
saudade da escola.
Porém não consegue valorizar o conhecimento:
Eu tenho capacidade mas sou meio vagabundo, quando eu estudo
eu vou bem, mas é difícil estudar. Mas eu vou mais ou menos, no
que eu presto a atenção... Mas as notas estão na média.
Em relação à bebida o indivíduo nos mostra a dificuldade do adolescente em seu
momento de transformação e a ilusão de que a bebida lhe dá um aval para a vida adulta:
A bebida eu acho que para muitos você começa a se sentir
independente, é só pra adulto, você se sente mais velho, com
liberdade, depois passa mal e conta pros amigos, eu não penso
mais assim. (?) Agora? Eu sei lá, hoje eu saio mais não bebo mais
com aquela coisa de fazer graça e não bebo nem pra passar mal.
Agora é mais pra se soltar.
Ele também não apresentou ansiedades e dificuldades em relação a suas
experiências de vida, no entanto acredita em seu amadurecimento e está feliz nessa fase de
transformação:
Eu vejo que eu amadureci bastante, o jeito de pensar, o jeito de
fazer as coisas, já vejo tudo de um jeito diferente. Porque eu fui
crescendo mesmo, acho que era fase sabe?.
E apresenta planos para o futuro:
66
Fazer publicidade em uma boa faculdade, estudar mais, ter mais
responsabilidade, essas coisas.
As notas do indivíduo 30 são enquadradas na média com exceção da matemática
(média 4).
Sujeito 130 (masc.): Idade: 15 anos; Para o rendimento cognitivo do participante
foram obtidos o nível 3 para conduta operatória, revelando capacidade operatória, nível 2
para realização das permutas possíveis e nível 3 (sendo que o jovem já conhecia o
instrumento avaliativo) para conduta de realizações dedutivas e elaboração da lei
matemática 2
n
-1. O indivíduo apresenta alguns questionamentos e descontentamentos
voltados a escola, no entanto a instituição é valorizada na medida em que os pais também
estão estudando:
No momento está um regaço, até um tempo atrás, agora tá melhor,
mas o pior, o que eu, minha mãe e meu pai que estudam aqui na
escola também, não estamos concordando com um monte de
substituição, e o pior é que nem são os mesmos professores que
substituem.
O sujeito 130 reconhece que não se empenha para o estudo, no entanto apresenta
perspectivas profissional:
É médio, umas três notas vermelhas por bimestre, porque não
tenho muito empenho pra estudar, eu faço mais coisas nas aulas
que eu gosto. (?) Português, história, filosofia e química. Eu
também trabalho, separo peça de carro e já estou quase passando
para a área de mecânica lá do Furlan.
Em relação à bebida o jovem não demonstra percepção de seu alto consumo, bebe
com os colegas, está socialmente enquadrado:
Não representa nada, eu gosto de beber de vez em quando com os
colegas, quando a gente sai, ou vai para uma chácara... mas eu
não bebo igual beber guaraná, não é todo dia em todo lugar.
O jovem 130 não apresentou transtornos em relação a sua experiência de vida:
67
Bem, ótimo, só preciso melhorar o estudo que eu não pego muito
firme.
O sujeito 130 apresenta planos para o futuro e está confiante
Espero crescer bastante no meu serviço, fazer uma faculdade e
conseguir me sustentar, eu e minha família.
O indivíduo 130 apresenta 3 notas vermelhas e no geral suas notas estão na média
e seu desenvolvimento cognitivo encontra-se no nível 3.
Sujeito 70 (masc.): Idade: 15 anos; Para rendimento cognitivo do participante
foram obtidos o nível 3 para conduta operatória, revelando capacidade operatória, nível 2
para realização das permutas possíveis e nível 2 para conduta de realizações dedutivas e
elaboração da lei matemática 2
n
-1. O indivíduo 70 considera sua escola de boa qualidade,
porém não faz bom uso da instituição.
Eu vejo minha escola boa, o aprendizado é bom e até minha mãe já
quis me tirar daqui e eu disse que ia morar com meu pai (?) Por
causa das companhias, mas isso não tem nada a ver e ela acha que
aqui eu não estudo direito.
O participante não apresenta boas notas;
Não é muito bom não, é mais ou menos, eu não sei nem se eu vou
conseguir passar esse ano, porque minhas notas estão tudo ruim.
Agora nesse ultimo bimestre eu estou tentando mas eu acho que
agora é tarde.
Em relação à bebida o sujeito relata sofrer influencias de familiares e inclusive
fazendo o uso do tabaco.
Eu bebo, não vou falar que é ruim, mas também não faz muito bem,
assim de vez em quando, em uma festa, um churrasco lá em casa
eu bebo. Até quando eu bebo assim eu bebo junto com a minha
mãe, e a hora que eu já estou meio ruim eu paro. Eu fumo também,
mais eu comecei vendo a minha mãe fumar, só que ela sabe, minha
mãe e minha avó fumam.
O jovem é disposto a auxiliar em casa:
68
Bem, ajudo em casa com a minha mãe, ela é cozinheira e meu pai é
gerente de laticínio e mora em Goiás e tenho dois irmãos por parte
do meu pai.Apesar da experiência dolorosa da separação dos pais;
Me sinto mais ou menos, nem muito bom e nem muito mal, porque
pelos meus pais serem separados eu não acho muito bom isso.
No entanto o jovem 70 apresenta perspectivas de uma vida melhor:
Pretendo estudar e me formar para medicina (?) ai eu paro de
fumar, se for preciso eu paro.
Sujeito 21 (masc.): Idade: 15 anos; Para rendimento cognitivo do participante
foram obtidos o nível 3 para conduta operatória, revelando capacidade operatória, nível 2
para realização das permutas possíveis e nível 3 para conduta de realizações dedutivas e
elaboração da lei matemática 2
n
-1. O indivíduo 21 gosta da escola, se adaptou bem a ela e
diz que não gosta é de estudar:
Médio, eu não tenho dificuldades mas não gosto de estudar.
Sobre a bebida o aluno diz que a vê como uma diversão;
Não gosto de beber muito mas é como se fosse uma diversão, ficar
entre os amigos e só, bebo mas pouco.
O sujeito sente-se bem sobre sua vida e observamos perspectivas futuras,
Estou animado, esperando o final do ano para viajar para a Bahia
com meus pais, eu nasci lá e vou ver meus parentes, eu vou todo
ano, eu nasci em Valente que não tem praia, mas Valencia é a
cidade da minha mãe e lá tem.
e os estudos:
Eu gosto de mexer no computador e quero fazer ciências da
computação, quero passar na UNB porque já tenho um AP em
Brasília.
Sujeito 22 (masc.): Idade: 17 anos; Para rendimento cognitivo do participante
foram obtidos o nível 3 para as três avaliações indicando que o jovem apresenta capacidade
operatória, realização das permutas possíveis e conduta de realizações dedutivas e
elaboração da lei matemática 2
n
-1. O indivíduo se adaptou a escola e gosta da instituição:
69
É meu primeiro ano aqui porque eu estudava em outra escola, é
muito melhor estudar de manha, depois eu tenho a tarde toda,
gostei daqui, fiz bastante amigos, aqui é animado.
Seu desempenho acadêmico não é muito bom, por falta de atenção;
Nossa eu não vou muito bem, eu não presto muita atenção,
depende da matéria, história eu vou mal mas tenho dificuldade,
passar de ano eu consigo, eu odeio história, sei lá porque isso
existe, não gosto de ler muito. Vou melhor em geografia e
espanhol.
Quanto ao uso de substâncias psicoativas o sujeito 22 justifica o seu uso fazendo
uma relação com a idade em que pode beber e também acha aceitável porque não é ele
quem gasta o dinheiro com o álcool:
Depende da idade, se eu tiver uns 17 anos em um churrasco é bom,
tem certa idade que não é bom. Você tem que beber quando for
necessário sabe? Não a toa, eu bebo muito raramente, eu dei uma
parada porque uma vez eu bebi e passei muito mal e então fiquei 6
meses sem beber, mas eu não compro, é só em festa que bebo.
O jovem relata necessidade de liberdade nesse momento de sua vida,
Estou tranqüilo, só um pouco preocupado com as notas, com o fim
do ano, agora estou mais livre, meu irmão foi para os EUA e eu
fico sozinho em casa... Eu prefiro ficar sozinho, é mais liberdade.
quanto a família a namorada o ajudou a se relacionar melhor com as pessoas:
Da família está boa, está normal, agora eu cresci e estou me
relacionando melhor com as pessoas, estou namorando também.
Ela é do outro 1ª faz 4 meses.
E suas perspectivas para o futuro o jovem engloba o estudo:
Começar a estudar, mas sei lá, ser mais tranqüilo porque sou meio
nervosinho, sabe? Com a minha mãe principalmente, eu pego
muito no pé dela. Meu pai fica mais na fazenda, vem só no final da
semana e pega no meu pé por causa de nota.
Caracterização do grupo 1 (consomem álcool mas não apresentam depressão)
O grupo 1 é composto 100% pelo sexo masculino, 80% dos sujeitos apresentam
nível 3 para conduta operatória revelando capacidade operatória, 80% apresentaram nível 3
70
para conduta de realizações de todas as permutações possíveis enquanto 40% encontravam
se no nível 2 com permutas intermediárias. E com 80% dos sujeitos apresentaram nível 3
para conduta de realizações dedutivas e elaboração da lei matemática 2
n
-1:
Tabela 8 Visualização do desempenho operatório do Grupo 1
Provas
Combinação Permutação Torre de Hanoi
f % f % f %
Nível 1 0 0 0 0 0 0
Nível 2 1 20 2 40 1 20
Nível 3 4 80 3 60 4 80
Total
5 100 5 100 5 100
De modo geral não foi possível encontrar relação positiva entre uso de álcool e
baixo desempenho cognitivo já que a maioria do grupo apresenta nível 3. Exceção
representada pelo sujeito de número 70 que apresenta condutas intermediárias.
Porém a média de notas de Língua Portuguesa e Matemática é apresentada em sua
maioria como nota intermediária C. Isto pode mostrar que no desempenho escolar , esses
sujeitos não utilizam as habilidades cognitivas de que dispõem, o que pode ser atribuído ao
uso de álcool mas não como fator isolado.
Para o grupo a escola é valorizada, mesmo com algumas queixas administrativas,
ela é um lugar reconhecido como agradável e saudável:
É importante, eu vejo a escola assim, por exemplo aqui você
aprende tudo,... nas férias dá até saudade da escola. (s.30)
...não estamos concordando com um monte de substituição, e o pior
é que nem são os mesmos professores que substituem. (s.130)
Eu vejo minha escola boa, o aprendizado é bom... (s.70)
... gosto dela, ela é espaçosa e diferente das outras escolas... (s.
21)
... gostei daqui, fiz bastantes amigos, aqui é animado... (s.22)
71
Em relação ao rendimento escolar a responsabilidade do baixo rendimento é
reconhecida pelos alunos que não demonstram empenho nas atividades:
Eu tenho capacidade mas sou meio vagabundo, quando eu estudo
eu vou bem, mas é difícil estudar... (s.30)
É médio, umas três notas vermelhas por bimestre, porque não
tenho muito empenho para estudar, eu faço mais coisas nas aulas
que eu gosto. ( s.130)
Não é muito bom não, é mais ou menos, eu não sei nem se eu vou
conseguir passar esse ano, porque minhas notas estão tudo ruim.
Agora ...eu estou tentando mas eu acho que agora é tarde. (s.70)
Médio, eu não tenho dificuldade mas não gosto de estudar.(s.21)
Nossa eu não vou muito bem, não presto muita atenção, depende
da matéria... (s.22)
Sobre o uso de álcool podemos observar que nessa questão as respostas foram as
mais completas e detalhadas, demonstrando com muita clareza as influências impostas
sobre o uso de álcool para os adolescentes desse grupo, como a família, os amigos e
principalmente o relato de sensação de independência:
A bebida eu acho que para muitos, você começa a se sentir
independente, é só pra adulto, você se sente mais velho, com
liberdade, depois passa mal e conta para os amigos... é mais pra se
soltar. (s.30)
... eu gosto de beber de vez em quando com os colegas, quando a
gente sai ou vai para uma chácara. (s.130)
Eu bebo, não vou falar que é ruim, mas também não faz muito bem,
assim de vez em quando, em uma festa, um churrasco lá em casa
eu bebo. Até quando eu bebo assim eu bebo junto com a minha mãe
... eu fumo também mas eu comecei vendo a minha mãe fumar... s.
70)
Não gosto de beber muito, mas é como se fosse uma diversão,
ficar entre os amigos e só... (s.22)
Você tem que beber quando for necessário sabe? Não a toa ... mas
eu não compro, é só em festa que bebo. (s.22)
72
Os sujeitos deste grupo relatam que aparentemente não encontram conflitos em
seu modo de vida e seus relacionamentos são saudáveis. Na questão D em como tem se
sentido ultimamente? Encontramos respostas como:
Muito bem, nada para reclamar. (s.30)
Bem, ótimo... (s.130)
Bem... (s. 70)
Estou animado, esperando o final de ano para viajar para a
Bahia...(s.21)
Estou tranqüilo, só um pouco preocupado com as notas, com o fim
do ano, agora estou mais livre... eu prefiro ficar sozinho, é mais
liberdade. (s.22)
Quando são questionados sobre suas experiências pessoais, uma boa parte dos
sujeitos referem-se a família para responder a questão e relatam satisfação em sua vida:
Eu amadureci bastante... fui crescendo mesmo... (s.30)
Normal, estou bem. (s.130)
Me sinto mais ou menos ... porque pelos meus pais serem separados
eu não acho muito bom isso. (s.70)
Normal, experiências boas. (s.21)
Da família está boa, está normal, agora eu cresci e estou me
relacionando normal com as pessoas...(s.22)
Em relação a expectativas para o futuro os sujeitos são bem estruturados e todos
apresentam projetos de vida como cursar uma faculdade, com possibilidades reais, esse
grupo apresenta projetos intelectuais observamos novamente a importância referente a
educação :
Fazer publicidade em uma boa faculdade, estudar mais... (s.30)
Espero crescer bastante no meu serviço, fazer uma faculdade e
conseguir me sustentar, eu e minha família. (s.130)
Pretendo estudar e me formar para medicina...(s.70)
73
Eu gosto de mexer no computador e quero fazer ciências da
computação, quero passar na UNB... (s.210)
Começar a estudar, ser mais tranqüilo porque sou meio
nervosinho, sabe? Com minha mãe principalmente... (s.21)
4.5.2 Grupo 2 (Negativo álcool e negativo depressão):
Sujeito 111 (masc.): Idade: 15 anos; Para o rendimento cognitivo do participante
foram obtidos o nível 3 para conduta operatória, revelando capacidade operatória, nível 3
para realização das permutas possíveis e nível 2 para conduta de realizações dedutivas e
elaboração da lei matemática 2
n
-1, embora chegue ao resultado correto revela indecisão.
Raciocínio engessado, falta de segurança no resultado e heteronomia.
O indivíduo gosta da escola e diz não ter problemas de relacionamento com
professores, porém cita a experiência dos colegas como falta de chances;
Ótima, gosto muito, o negativo é que os professores dão poucas
chances, eu não tenho problema com professor, mas meus amigos.
Seu desempenho acadêmico é bom e o indivíduo também trabalha, isso não
atrapalha seu rendimento;
Eu gosto de estudar e meu rendimento escolar é bom, e eu trabalho
mas tenho meu futuro garantido. Eu pretendo parar de trabalhar e
fazer o tiro de guerra, pra seguir a carreira militar no exército,
ainda não decidi em que profissão mas quero ajudar na ordem, ao
menos da minha cidade. Eu trabalho em uma sorveteria, sou um
tipo de faz tudo, entro a uma e meia e saio a hora que fecha ás
vezes até onze e meia da noite, mas no verão vai até mais tarde e
não atrapalha muito na escola não.
Sobre a bebida o indivíduo relata não gostar e não fazer uso:
Não vejo graça, é um dinheiro perdido, os amigos consomem mais
não perto de mim.
74
O jovem apresenta expectativa em relação ao futuro;
Acho que estou iniciando ainda, nem comecei, ainda tenho muito
pela frente e tenho bastante pique pra isso.
Ser importante e ser alguém, não ficar parado no tempo, eu quero
melhorar com as coisas, não vou ficar levando a vida.
Sujeito 47 (fem.): Idade: 14 anos; Para rendimento cognitivo do participante
foram obtidos o nível 3 para conduta operatória, revelando capacidade operatória, nível 2
para realização das permutas possíveis e nível 2 para conduta de realizações dedutivas e
elaboração da lei matemática 2
n
-1. O indivíduo gosta da escola e faz críticas sobre a
direção e também faz uma auto-crítica:
A escola é boa, mas a diretora tem um descaso, a gente vai falar
alguma coisa pra ela e ela não presta a atenção, é só aparecer na
sala dela e ela sempre acha que é suspensão. Os professores são
bons e a turma é boa. Ela (diretora) praticamente não vem. Eu
venho, participo, gosto mas sou muito preguiçosa, principalmente
no 1ª semestre, agora estou gostando mais e estou mais
participativa.
Sobre seu desempenho ele relata desempenho médio:
Médio, não vamos dizer muito bom porque também não sou
nenhum gênio.
Em relação à bebida o sujeito sofre influência familiar, no entanto seu consumo
não é em excesso;
Bebo só em dia de domingo, vinho e ainda é meu pai que põe pra
mim, não tem nenhum significado pra mim.
O sujeito está vivenciando uma fase “complicada” em sua vida, teve recentemente
um conflito na escola e no entanto não responsabiliza a instituição:
Cansada, já ta torrando minha paciência ter que vir pra escola
todo dia de manha. Estou entediada porque estou de castigo e não
posso sair de casa. Porque tomei uma suspensão porque eu falei
que a professora estava de TPM, a professora de biologia, e ela
falou que eu só ia entrar na aula se o meu pai viesse e então a
diretora falou, fica já de suspensão.
75
Sobre sua vida relata muitas falhas e a esperança de um recomeço
Ao invés de eu melhorar eu fiz muita cagada, eu não procurei
melhorar. Eu quero melhorar mas está difícil, eu tento mais eu
acabo fazendo as mesmas cagadas de novo.
Apesar da situação complicada com a escola sua expectativa é esperançosa para o
futuro e suas notas encontram-se na média C:
Ao menos para esse ano eu quero passar de ano, é o que eu mais
quero.
Sujeito 49 (fem.): Idade: 15 anos; Para o rendimento cognitivo do participante
foram obtidos o nível 3 para conduta operatória, revelando capacidade operatória, nível 3
para realização das permutas possíveis e nível 2 para conduta de realizações dedutivas e
elaboração da lei matemática 2
n
-1. O Jovem apresenta notas em sua maioria fora da média,
ou seja, notas vermelhas, 5 notas D. O indivíduo relata “concordância” com a instituição
escolar, mas não se encontra estimulado
A escola é uma coisa boa porque sem ela eu não vou ser nada na
vida se eu não estudar.
Esse ano eu não estou muito ligada aos estudos, estou desanimada,
eu só gosto de matemática, mas eu tiro nota, mas não sei ainda o
que quero fazer.
Em relação ao uso do álcool apenas relata experimentação com familiares:
Muito de vez em quando aquele golinho de vinho só, mas cerveja e
o resto eu não gosto. Não tem nenhum significado, às vezes eu
experimento alguma coisa com os meus pais.
Sobre sua vida diz estar satisfeita:
Minha vida está boa, minha família é maravilhosa, meus amigos
também, eu tenho bastante amigos e eu me sinto bem.
Quanto a suas perspectivas para o futuro o indivíduo relata boas expectativas
Ser alguém na vida, ter uma profissão, ter uma família boa e ser
feliz.
76
Sujeito 80 (masc.): Idade: 14 anos; Para o rendimento cognitivo do participante
foram obtidos o nível 2 para conduta operatória, revelando capacidade operatória, nível 2
para realização das permutas possíveis e nível 1 para conduta de realizações dedutivas e
elaboração da lei matemática 2
n
-1. Suas notas encontram-se na média, no entanto ele
apresenta uma nota vermelha (D) em geografia. O sujeito apresenta adaptação à instituição
escolar e um gosto por esportes:
Tem muitos professores chatos, mas também bons, Educação física
eu amo, não largo por nada e só. Também tenho muitos amigos e
só.
O individuo tem bom rendimento escolar, mas não aprendeu a valorizar o
conhecimento:
Mais ou menos porque eu faço muita bagunça mas nas notas estou
bem. Não trabalho, só estudo e jogo bola, eu jogo mais ou menos,
se não der certo como jogador eu vou trabalhar mas ainda não sei
em que.
Em relação ao uso de álcool relata não fazer uso e observar a mau sucedida
experiência de colegas:
Eu não bebo, eu não gosto porque é do mal, nem um pouco, tenho
uns amigos que bebem e exageram mais ou menos.
Sobre sua vida fala apenas de sua experiência com esporte:
Bem, só estou cansado por jogar muita bola. Eu jogo todo dia.
Em relação a sua vida e suas expectativas, são voltadas
totalmente para o esporte
Ser um jogador de futebol, por enquanto e se possível jogar no
santos, sou santista.
Sujeito 12 (masc.): Idade: 15 anos; Para o rendimento cognitivo do participante
foram obtidos o nível 3 para conduta operatória, revelando capacidade operatória, nível 2
77
para realização das permutas possíveis e nível 2 para conduta de realizações dedutivas e
elaboração da lei matemática 2
n
-1, suas notas estão na média. O sujeito apresenta
adaptação na instituição escolar
Um ambiente legal, a gente aprende e tem amigos, a gente passa a
maior parte do dia na escola.
Seu rendimento escolar é bom e sofre a influência familiar positiva:
Ótimo, estudo em casa, presto atenção nas aulas e gosto de ler
bastante, os pais influenciam, minha mãe cobra bastante, desde
pequeno, minha mãe é dona de casa e meu pai tem uma lanchonete
e eu ajudo no final de semana.
Em relação ao uso de bebidas alcoólicas o jovem relata não fazer uso e reforça a
influência familiar:
O meu pai tem bar e ele vende bastante, mas meus avós não bebem
e nem fumam, meu pai também e eu vou para o mesmo caminho, eu
não gosto e nem ligo para bebida.
Sobre sua vida o estudante mostra que tem uma vida saudável, exercendo a
prática do esporte :
Normal, o cotidiano, está bem, pratico esporte, natação e estudo.
O individuo apresenta uma boa qualidade de vida com bons relacionamentos
familiares:
Vivendo em uma família boa que tem boas influencias, sou um
privilegiado, porque não é todo mundo que tem uma família como
a minha.
E sua expectativa de vida é voltada para os estudos
Tipo assim, passar em uma faculdade, se formar, mas eu procuro
pensar mais no agora, no que estou fazendo agora.
O grupo 2 é constituído 60% pelo sexo masculino, 80% dos sujeitos apresentam
nível 3 para conduta operatória revelando capacidade operatória, 60% apresentaram nível 3
78
para conduta de realizações de todas as permutações possíveis enquanto apenas 20%
encontravam se no nível 3 com a elaboração da lei matemática 2
n
-1.
Tabela 9 Visualização do desempenho operatório do Grupo 2
Provas
Combinação Permutação Torre de Hanoi
f % f % f %
Nível 1 0 0 0 0 1 20
Nível 2 1 20 2 40 3 60
Nível 3 4 80 3 60 1 20
Total
5 100 5 100 5 100
O grupo 2 não apresenta resultado positivo para uso de álcool ou depressão, no
entanto, a maioria do grupo apresenta rendimento cognitivo intermediário, embora a média
de notas de Língua Portuguesa e Matemática seja apresentada em sua maioria como uma
nota B.
O grupo revela sujeitos que falam pouco e são críticos em relação aos professores,
porém reconhecem a importância da escola, que é vista como um lugar bom e necessário:
ótima, gosto muito, o negativo é que os professores dão poucas
chances... (s.111)
A escola é uma coisa boa, porque sem ela eu não vou ser nada na
vida se eu não estudar.(s.47)
A escola é boa mas a diretora é um descaso..(s.49)
Tem muitos professores chatos, mas também bons... (s.80)
Um ambiente bom, a gente aprende e tem amigos, a gente passa a
maior parte do dia na escola.(s.12)
Em relação ao ambiente escolar podemos considerar que o grupo 2 apresenta um
rendimento satisfatório. As respostas foram mais extensas e interessadas da turma, os
79
indivíduos têm projetos de vida acadêmicos, como o s.111 que pretende seguir carreira
militar. Um dos sujeitos também reforça a influência familiar em seu rendimento
acadêmico.
Eu gosto de estudar e meu rendimento escolar é bom, e eu
trabalho mas tenho meu futuro garantido. Eu pretendo parar de
trabalhar e fazer o tiro de guerra, pra seguir a carreira militar no
exercito, ainda não decidi em qual profissão mas quero ajudar na
ordem, ao menos na minha cidade...(s.111)
Esse ano eu não estou muito ligada aos estudos, estou desanimada,
eu só gosto de matemática, mas eu tiro nota...(s.47)
Médio, não vamos dizer muito bom porque também não sou
nenhum gênio.(s.49)
Mais ou menos porque eu faço muita bagunça mas nas notas estou
bem...(s.80)
Ótimo, estudo em casa, presto atenção nas aulas e gosto de ler
bastante, os pais influenciam, minha mãe cobra bastante...(s.12)
O relato sobre o uso de álcool para os adolescentes do grupo 2 são referentes a
influência familiar para o não uso e o limite a substância; os amigos respeitam a escolha do
não beber e os sujeitos se sentem bem e não apresentam dificuldades de relacionamento no
grupo. Também podemos observar o comentário sobre o “valor” da bebida e a segurança
do adolescente em demonstrar que bebe ou experimenta bebida com os pais; é uma forma
de dizer que junto com os pais o álcool perde o efeito de uma droga, mas também
encontramos o adolescente que se orgulha de seguir o comportamento familiar de não
beber:
Não vejo graça, é um dinheiro perdido, os amigos consomem mas
não perto de mim.(s.11)
Muito de vez em quando aquele golinho de vinho só, mas cerveja e
o resto eu não gosto. Não tem nenhum significado, as vezes eu
experimento alguma coisa com os meus pais.(s.47)
Bebo só em dia de domingo, vinho e ainda é meu pai que põe, mas
não tem nenhum significado pra mim.(s.49)
80
Eu não bebo, eu não gosto porque é do mal, nem um pouco, tenho
uns amigos que bebem e exageram mais ou menos.(s.80)
O meu pai tem bar e ele vende bastante, mas meus avós não bebem
e não fumam, meu pai também e eu vou pelo mesmo caminho, eu
não gosto e nem ligo para bebida.(s.12)
Os alunos do grupo 2 não apresentam depressão, eles praticam esporte e tem uma
vida relativamente saudável, com bons relacionamento familiares, inclusive com um
individuo que está de castigo por ter levado suspensão:
O trabalho pesou um pouco, trabalho e escola é corrido mas estou
tentando equilibrar isso.(s.111)
Bem.(s.47)
Cansada,... Estou entediada porque estou de castigo e não posso
sair de casa. Porque eu tomei uma suspensão...(s.49)
Bem, só estou cansado por jogar muita bola, eu jogo todo dia.(s.
80)
Normal, o cotidiano, está bem, pratico esporte, natação e
estudo.(s. 12)
Quando questionados sobre a experiência de vida os adolescentes contam que se
metem em algumas enrascadas, mas a situação geral é de muita harmonia familiar:
Acho que estou iniciando ainda, nem comecei, ainda tenho muito
pela frente e tenho bastante pique pra isso.(s.111)
Minha vida está boa, minha família é maravilhosa, meus amigos
também, eu tenho bastante amigos e eu me sinto bem.(s.47)
Ao invés de eu melhorar eu fiz muita cagada, eu não procurei
melhorar. Eu quero melhorar mas está difícil, eu tento mais eu
acabo fazendo as mesmas cagadas de novo.(s.49)
É uma vida boa, mas nem sei o que sinto. (s.80)
Vivendo em uma família boa que tem boas influências, sou um
privilegiado, porque não é todo mundo que tem uma família como
a minha.(s.12)
81
Em relação a expectativas para o futuro os sujeitos são bem estruturados e todos
apresentam projetos de vida, com reais possibilidades:
- Ser importante e ser alguém, não ficar parado no
tempo, eu quero melhorar com as coisas, não vou ficar levando a
vida”. (s.111)
- Ser alguém na vida, ter uma profissão, ter uma família
boa e ser feliz”. (s.47)
- Ao menos pra esse ano eu quero passar de ano é o que
eu mais quero”. (s. 49)
- Ser um jogador de futebol, por enquanto e se possível
jogar no Santos, sou santista”. (s.80)
- Tipo assim passar em uma faculdade, se formar, mas
eu procuro pensar mais no agora, no que estou fazendo agora”. (s.
12)
4.5.3 Grupo 3 (Positivo álcool e positivo depressão):
Sujeito 91 (fem.): Idade: 16 anos; Para o rendimento cognitivo do participante
foram obtidos o nível 3 para conduta operatória, revelando capacidade operatória, nível 2
para realização das permutas possíveis e nível 2 para conduta de realizações dedutivas e
elaboração da lei matemática 2
n
-1. O indivíduo não gosta de estudar, porém sabe a
importância do estudo; ela relata sobrecarga de trabalho:
Gostar de estudar eu não gosto, mas sei que vai me ajudar no
futuro, já tive muita idéia, agora acho que vou prestar para
psicologia, mas eu posso mudar de idéia... Eu tenho pouco tempo,
é que eu trabalho no shoping, na Laura Prado, loja de calçados,
trabalho até domingo, um sim e um não, das 14:00 hs ás 20:00 no
final de semana e durante a semana e das 16:00 hs ás 22:00. Eu
ganho 350,00 reais, acho muito pouco e sempre tenho que estar
alinhada, bem vestida, mas não tenho dinheiro pra isso, eles
exigem mas não pagam.
Seu rendimento escolar é fraco e diz não conseguir acompanhar a turma,
demonstra preocupação com seu rendimento econômico:
Mau, ano passado estudava a noite e agora no período da manhã
tem que estudar muito, mais não consigo estudar, tenho que
terminar o terceiro colegial para ser contratada e ganhar um
82
pouco melhor, ou conseguir um registro. O pessoal da loja é super
certinho, mas ainda estou trabalhando pela FUBEAS, estou
procurando outro emprego. Se eu conseguir um emprego durante o
dia eu mudo de horário na escola. Agora estou muito cansada, saio
do trabalho as 10 da noite e é tipo 1001 utilidades naquela loja.
Sempre trabalhei desde os 10 anos no negocio do meu pai, ele tem
uma madeireira, antes era um deposito de gás. Eu ficava no
deposito cuidando de tudo. Sempre tive iniciativa, mas resolvi sair
para ganhar um pouco melhor.
Em relação ao uso de álcool a jovem relata consumir, no entanto não “compra” a
substância.
Eu bebo, quando eu saio, um pouquinho aqui, um pouquinho ali,
comprar eu não compro, sempre bebo dos amigos, o dinheiro que
eu vou gastar bebendo eu compro uma coisa pra mim, se não
depois vai tudo pro vaso mesmo, eu tenho amigas que já tive que
levar pra casa. Não é uma turma que bebe, mas uma vez ou outra
alguém ultrapassa o limite.
Sobre sua vida o sujeito relata desanimo e situação de conflito:
Não ando muito animada para falar a verdade não, de tudo,
amigo, trabalho, família, escola... mais uma questão psi, amizade
você confia em quem às vezes não dá pra confiar, família é muita
pressão, eu trabalho, todo mundo é melhor e você é pior, na escola
eu não estou dando conta... Na minha família meus pais se
separaram e eu tenho que me dividir em duas casas, tenho que
ajudar a arrumar as duas. (Chorou) Gostaria que as coisas não
fossem tão complicadas assim, tenho que ajudar a minha mãe
financeiramente, ela também trabalha e me cobra muito a
arrumação de casa que eu nunca fui acostumada, quando eu tinha
7 anos meu pai perdeu tudo e minha mãe passou a tomar conta de
tudo e do nada ela acha que eu é que tenho que cuidar da casa e
além disso ela se irrita muito fácil e não dá o braço a torcer e eu
nessa parte sou muito orgulhosa.
Sobre suas expectativas a jovem espera futuramente estar melhor
emocionalmente:
Não vou passar pela minha vida só pra eu sofrer e chorar, tem que
ter um lado positivo e se não der pra eu ir para esse lado positivo
eu choro e tento descobrir esse lado, o negativo eu deixo para trás
que não sou muito de guardar rancor e magoa não.
83
Sujeito 44 (masc.): Idade: 15 anos; Para o rendimento cognitivo do participante
foram obtidos o nível 3 para conduta operatória, revelando capacidade operatória, nível 3
para realização das permutas possíveis e nível 2 para conduta de realizações dedutivas e
elaboração da lei matemática 2
n
-1.O jovem mantém a média, notas C.
Sobre a escola relata satisfação com a instituição, no entanto não consegue
aproveitar o ensino porque está sobrecarregado em seu trabalho:
O ensino da escola é bom e tem que aproveitar mais as coisas,
estou aproveitando, eu só fico quieto e falto um pouco, de vez em
quando é mais problema de saúde, de vez em quando eu não como
e passo mal. No sábado passado chequei a desmaiar porque eu
não como direito, e então eu falto muito na escola. No trabalho
eles não dão nada para comer (Pode levar um lanche?) Pode (Já
pensou em levar) Já (já pensou em achar outro emprego?) De
sacolinha lá no Antunes tem que ter 16 anos ou pegar Arpron,
faltam só três meses pra eu fazer aniversário.
Seu rendimento escolar não é bom mas com a expectativa de realizar o curso de
mecânico tem que terminar o colegial
Tá ruim, mais eu vou melhorar, vou continuar, quero fazer um
curso de mecânico, mas o que eu quero só tem em São Paulo, é de
mecânico só de moto. Aqui não tem curso de moto mais primeiro
tenho que terminar o colegial.
Sobre o uso de álcool diz não realizar consumo freqüentemente e justifica
contando que bebe com a família:
Uma droga, não bebo, só se for em festa, só que não bebo
frequentemente, tento beber pouco, quando bebo é em família, só
meu irmão, minha mãe e meu pai que bebem, só mais em churrasco
de final de semana. Minha mãe trabalha e meu pai fica em casa,
mas meu pai cuida de uma fazenda, minha mãe é professora de
matemática, ela dá aula no Andaló. Lá é bem melhor que aqui
mais minha mãe não deixou eu estudar lá, é que eu moro aqui
perto da escola.
Sobre sua vida relata o esforço que realiza no trabalho:
Bem mais cansado é que eu trabalho né, mais é meio escravo,
porque eu ganho 60,00 reais por mês e é ruim, ainda durmo pouco
84
para vir para a escola, cansa. Fico mais cansado no trabalho do
que na escola.
Em relação a suas expectativas espera ser um mecânico
Ser um profissional e ter a própria oficina.
Sujeito 71 (masc.): Idade: 15 anos; Para o rendimento cognitivo do participante
foram obtidos o nível 3 para as três avaliações indicando que o jovem apresenta capacidade
operatória, realização das permutas possíveis e conduta de realizações dedutivas e
elaboração da lei matemática 2
n
-1. Apresenta nota vermelha (D)em matemática. O sujeito
diz que é um aluno ruim e não sabe porque age dessa forma:
Escola que há uns três meses atrás era meio desorganizada mais
agora as coisas estão melhorando (por quê?) o pessoal está dando
um basta nos alunos ruins como eu (por quê?) porque a gente mata
aula, não faz nada na classe e só estuda pra tentar tirara nota boa
na prova (por quê?) faço isso porque é uma coisa que não tem
resposta, os professores são 70% legais e o resto chatos. Eu gosto
da escola e a vejo como começo de um aprendizado pra eu saber o
que quero da vida e o que vou ser. Eu não trabalho, à tarde estudo,
jogo no computador e ajudo a mãe em casa, tenho um irmão de 17
anos e uma prima de 16 anos morando em casa.
Em relação ao consumo de álcool relata não consumir em excesso e diz que seus
pais consomem álcool e tabaco:
Não fico bebendo não, mais acho que tudo em excesso é
prejudicial, quando estou com um monte de gente bebendo eu bebo
só um pouco, eu não gosto muito de bebida nem de cigarro,
justamente porque meu pai e minha mãe bebem e fumam e eu os
vejo e não quero tomar esse caminho.
O jovem apresenta um sentimento de solidão e desconfiança:
No meio de uma multidão e ao mesmo tempo sozinho, amizades
não são confiáveis, tem muita gente com dupla personalidade por
ai.
Sobre sua vida relata apoio familiar
Minha vida não é ruim, meus pais me dão o que preciso, atenção
tanto sentimental quanto material, apesar dos problemas eu posso
85
contar sempre com eles e pensando nisso agora até que me sinto
bem porque tem muitas pessoas que não tem nem 10% disso que eu
tenho.
Suas expectativas são de constituir uma família e ter uma vida estável:
Casar, ter filhos, um bom emprego, não para dar dinheiro mas
para eu sobreviver, ter uma vida estável, seguir a religião, sou
católico e educar meus filhos.
Sujeito 125 (masc.): Idade: 16 anos; Para o rendimento cognitivo do participante
foram obtidos o nível 3 para as três avaliações indicando que o jovem apresenta capacidade
operatória, realização das permutas possíveis e conduta de realizações dedutivas e
elaboração da lei matemática 2
n
-1. No entanto o indivíduo apresenta em média notas
vermelhas (D), em Língua Portuguesa, Matemática, História e Química. O sujeito diz que a
escola não ensina:
Eu acho que eles não ensinam, não estão nem ai com o que você
faz, você pode ir embora a hora que quer, você não precisa se
empenhar para passar. Eu pretendo sair no final do ano. Eu
trabalho em uma empresa de festas aos finais de semana. Pretendo
estudar de manhã e fazer um curso à tarde (de inglês). Escolhi
estudar a noite porque estou namorando e ela mudou de horário e
eu mudei junto.
Seu rendimento escolar é bom, mas o estudante justifica o bom rendimento com
um ensino muito fraco
Venho em tudo, mais a noite é muito fraco, sempre rende porque é
fraco.
Em relação ao uso de álcool relata não beber mais, decisão tomada como
conseqüência de uma bebedeira
Não bebo, já bebi, com todo mundo, um tanto até não ficar bêbado,
uma vez eu fiquei e minha mãe conversou comigo e eu parei, bebia
mais quando tinha festa de rock no canto livre, meu irmão toca lá,
a gente é assim, cada um com sua vida. Meu pai e minha mãe são
separados.
86
O sujeito não tem se sentido muito bem por conta do término de um namoro e da
briga de seus pais:
Meio diferente, não triste porque vem acontecendo umas coisas e
eu não estou sabendo como lidar, coisas com a minha ex
namorada, porque a gente quer voltar, mais não tem como, nem a
minha mãe e nem a dela gostam e não tem jeito. É que teve muito
conflito no fim do namoro viu a namorada com um amigo e
socou uma garrafa e se machucou (a mão) e depois foi e ficou com
outra menina - Minha mãe está brigando com o meu pai
verdadeiro na justiça, eu não moro com ele mas minha mãe nunca
teve coragem de entrar na justiça antes contra ele, ele é chefe da
minha mãe. Tenho uma boa relação com o padrasto mas ele se
preocupa muito na hora errada briga, pega no pé por causa do
pircing, mas eu sei que vou ter que tirar quando eu for trabalhar.
Com quem eu mais me dou bem é com minha mãe.
.
O indivíduo não está bem:
Estranho com todas as situações, eu não estou completamente bem,
ás vezes eu preciso de alguém pra conversar.
Suas expectativas para o futuro são boas mas se sente desmotivado
Eu queria fazer medicina, meu pai verdadeiro é médico e minha
mãe sempre trabalhou em hospital e eu fui criado ao redor de
muitos médicos, eu me sinto bem nesse ambiente mais ninguém
bota fé em mim.
Sujeito 82 (fem.): Idade: 15 anos; Para o rendimento cognitivo do participante
foram obtidos o nível 3 para as três avaliações indicando que o jovem apresenta capacidade
operatória, realização das permutas possíveis e conduta de realizações dedutivas e
elaboração da lei matemática 2
n
-1. Suas notas estão na média (C) e apresenta uma nota
vermelha em matemática. O sujeito acredita que a instituição não se importa com os alunos
e apresenta desânimo em função de uma mudança de cidade:
Acho que eles não se importam muito com a gente, mas tem
professor que sim, tem pouca aula que é legal, o resto é chato, mas
eu vou sentir saudades porque eu vou embora, vou mudar de
cidade e acho que lá vai ser igual, também não vão se importar
com a gente.
87
Seu rendimento escolar é razoável, o suficiente para passar de ano
Mais ou menos, estou indo, vou passar mas nem me esforço muito
pra isso, também é o mínimo que eu posso fazer, tenho dificuldade
em física e geografia.
Em relação ao consumo de álcool a jovem sofre a influência dos amigos, não
gasta com isso:
É um vicio tem gente que tem, eu não tenho, mas gosto de beber de
vez em quando, mas eu não gasto dinheiro com isso, não compro,
sempre os amigos oferecem nas festas ou nas saídas.
O sujeito relata situação de desconforto com a mudança de cidade
Mais ou menos, porque eu vou mudar e não sei se eu quero,
também aqui não é grande coisa e nem sei se tem lugar bom pra
mim, só fico bem quando estou com amigos, ai eu gosto fico mais a
vontade.
Em relação a suas expectativas futuras a jovem não apresenta planos
Não pensei, quero poder ser alguém na vida.
Esse grupo é composto 60% pelo sexo masculino, 100% dos sujeitos apresentam
nível 3 para conduta operatória revelando capacidade operatória, 80% apresentaram nível 3
para conduta de realizações de todas as permutações possíveis enquanto 40% encontravam
se no nível 2 com permutas intermediárias. E com 60% dos sujeitos apresentaram nível 3
para conduta de realizações dedutivas e elaboração da lei matemática 2
n
-1.
Tabela 9 Visualização do desempenho operatório do Grupo 3
Provas
Combinação Permutação Torre de Hanoi
f % f % f %
Nível 1 0 0 0 0 0 0
Nível 2 0 0 1 20 2 40
Nível 3 5 100 4 80 3 60
Total
5 100 5 100 5 100
88
O grupo 3 é positivo para depressão e uso de álcool, no entanto, a maioria do
grupo 60% apresenta ótimo rendimento cognitivo, porém a média de notas de Língua
Portuguesa e Matemática desse grupo é apresentada em sua maioria como nota
intermediária C.
É o grupo que mais fala, principalmente as meninas, suas entrevistas são as mais
extensas e a necessidade de atenção é muito grande. Para ele a escola é importante, mas
não o suficiente para suprir todas as expectativas do grupo, a maioria trabalha e passa por
algum tipo de dificuldade na vida, as respostas não são relativas apenas as perguntas indo
além delas:
O ensino da escola é bom e tem que aproveitar mas as coisas,
estou aproveitando, eu só fico quieto e falto um pouco, de vez em
quando é mais problema de saúde, de vez em quando eu não como
e passo mal. No sábado passado cheguei a desmaiar porque eu
não como direito, e então eu falto muito na escola. No trabalho
eles não dão nada pra comer...(s.44)
escola que a uns 3 meses atrás era meio desorganizada mas agora
as coisas estão melhorando, o pessoal está dando um basta nos
alunos ruins como eu, porque a gente mata aula, não faz nada na
classe e só estuda para tentar tirar nota boa na prova, faço isso
porque é uma coisa que não tem resposta, os professores são 70%
legais e o resto chatos.Eu gosto da escola e a vejo como começo de
um aprendizado pra eu saber o que quero da vida e o que vou ser.
Eu não trabalho, a tarde estudo, jogo no computador e ajudo a
mãe em casa...(s.71)
Eu acho que eles não ensinam, não estão nem ai com o que você
faz, você pode ir embora a hora que quer, você não precisa se
empenhar para passar. Eu pretendo sair no final de ano. Eu
trabalho em uma empresa de festas aos finais de semana. Pretendo
estudar de manhã e fazer um curso a tarde. Escolhi estudar a noite
porque estou namorando e ela mudou de horário e eu mudei junto.
(s.125)
Acho que eles não se importam muito com a gente, mas tem
professor que sim, tem pouca aula que é legal, o resto é chato, mas
eu vou sentir saudades porque eu vou embora, vou mudar de
cidade e acho que lá vai ser igual, também não vão se importar
com a gente.(s.82)
89
Em relação ao rendimento escolar o grupo é fraco e apresentam preocupações
com outras coisas além da escola, suas expectativas são baixas e aparecem problemas e
preocupações referentes ao turno, tanto à noite como na manhã:
Mau, ano passado estudava a noite e agora no período da manhã
tem que estudar muito, mas não consigo estudar, tenho que
terminar o terceiro colegial para ser contratada e ganhar um
pouco melhor, ou conseguir um registro. (s.91)
Ta ruim, mas eu vou melhorar, vou continuar, quero fazer uma
curso de mecânico, mas o que eu quero só tem em São Paulo, é de
mecânico só de moto. Aqui não tem curso de moto mas primeiro
tenho que terminar o colegial.(s.44)
Razoável, eu penso em ser mecânico.(s.71)
Venho em tudo, mas a noite é muito fraco, sempre rende porque é
fraco (s.125)
Mais ou menos, estou indo , vou passar mas nem me esforço muito
pra isso, também é o mínimo que eu posso fazer, tenho dificuldade
em física e em geografia. (s.82)
Sobre o uso de álcool para os adolescentes do grupo 3, eles não apresentam
limites para beber, sofrem uma influencia familiar para beber grande, as famílias parecem
não ter muita estrutura, os sujeitos não gastam com o consumo, sofrem influencias dos
amigos e não tem percepção da quantidade de substancias que consomem:
Eu bebo quando eu saio, um pouquinho aqui, um pouquinho ali,
comprar eu não compro, sempre bebo dos amigos, o dinheiro que
eu vou gastar bebendo eu compro uma coisa pra mim, se não
depois vai tudo pro vaso mesmo, eu tenho amigas que já tive que
levar pra casa. Não é uma turma que bebe mas uma vez ou outra
alguém ultrapassa o limite.(s.91)
Um a droga, não bebo, só se for em festa, só que não bebo
frequentemente, tento beber pouco, quando bebo é em família, só
meu irmão, minha mãe e meu pai que bebem, só mais em churrasco
de final de semana...(s.44)
Não fico bebendo não mas acho que tudo em excesso é prejudicial,
quando estou com um monte de gente bebendo eu bebo só um
pouco, eu não gosto muito de bebida nem de cigarro, justamente
90
porque meu pai e minha mãe bebem e fumam e eu os vejo e não
quero tomar esse caminho.(s.71)
Não bebo, já bebi, com todo mundo, um tanto até não ficar bêbado,
uma vez eu fiquei e minha mãe conversou comigo e eu parei, bebia
mais quando tinha festa de rock no canto livre, meu irmão toca lá,
a gente é assim, cada um com sua vida. Meu pai e minha mãe são
separados.(s.125)
É um vicio que tem gente que tem, eu não tenho, mas gosto de
beber de vez em quando, mas eu não gasto dinheiro com isso, não
compro, sempre os amigos oferecem nas festas ou nas saídas.
(s.82)
Os alunos do grupo 3 apresentam depressão pois se encontram sobrecarregados,
enfrentando problemas familiares (separação dos pais), de relacionamento com amigos e
sérios conflitos emocionais. Apresentam também uma “solidão” preocupante:
Não ando muito animada pra falar a verdade não. De tudo, amigo,
trabalho, família, escola. Mais uma questão psi, amizade você
confia em quem as vezes não dá pra confiar, família é uma
pressão, eu trabalho, todo mundo é melhor e você é o pior, na
escola eu não estou dando conta. Na minha família meus pais se
separaram e eu tenho que me dividir em duas casas, tenho que
ajudar a arrumar as duas (chorou). Gostaria que as coisas não
fossem tão complicadas assim, tenho que ajudar a minha mãe
financeiramente, ela também trabalha e me cobra muito a
arrumação da casa, coisa que eu nunca fui acostumada...(s.91)
Bem mas cansado, é que eu trabalho né, mas é meio escravo,
porque eu ganho 60,00 reais por mês e é ruim, ainda durmo pouco
pra vir pra escola, cansa. Fico mais cansado no trabalho do que
na escola.(s.44)
No meio de uma multidão e ao mesmo tempo sozinho, amizades
não são confiáveis, tem muita gente com dupla personalidade por
ai.(s.71)
Meio diferente, não triste porque vem acontecendo umas coisas e
eu não estou sabendo como lidar, coisas com a minha ex
namorada....Minha mãe está brigando com o meu pai verdadeiro
na justiça, eu não moro com ele mas minha mãe nunca teve
coragem de entrar na justiça antes contra ele, ele é chefe da minha
mãe... com quem eu mais me dou bem é com minha mãe.(s.125)
Mais ou menos, porque eu vou mudar e não sei se eu quero,
também aqui não é grande coisa e nem sei se tem lugar bom pra
91
mim, só fico bem quando estou com amigos, ai eu gosto, fico mais
a vontade.(s.82)
Sobre as experiências pessoais o grupo 3 apresenta solidão, insatisfação com a atual
situação enfrentada:
Não vou passar pela minha vida só pra eu sofrer e chorar, tem que
ter um lado positivo e se não der pra eu ir pra esse lado positivo eu
choro e tento descobrir esse lado, o negativo eu deixo pra trás que
não sou muito de guardar rancor e magoa não.(s.91)
Eu sinto que daqui 2 ou 3 anos eu vou ser um profissional que faz
parte da minha vida, eu escolhi ser um mecânico pra ter um futuro.
(s.44)
Minha vida não é ruim, meus pais me dão o que preciso, atenção
tanto sentimental quanto material, apesar dos problemas eu posso
contar sempre com eles e pensando nisso agora até que eu me sinto
bem porque tem pessoas que não tem nem 10% disso que eu tenho.
(s. 71)
Estranho com todas as situações, eu não estou completamente bem,
as vezes eu preciso de alguém pra conversar. (s.125)
Sobre as expectativas de vida para o grupo os relatos apresentam uma fragilidade
na situação de cada um:
Arrumar um bom trabalho que eu gosto de fazer, ter minha casa,
poder ajudar minha família, ter uma vida tipo tudo legal, tudo
bom, ter um bom relacionamento com meu marido, com minha
mãe. (s.91)
Ser um profissional e ter a própria oficina. (s. 44)
Casar, ter filhos, um bom emprego, não para dar dinheiro mas
para eu sobreviver, ter uma vida estável, seguir a religião, sou
católico e educar meus filhos.(s.71)
Eu queria fazer medicina, meu pai verdadeiro é médico e minha
mãe sempre trabalhou em hospital e eu fui criado ao redor de
muitos médicos, eu me sinto bem nesse ambiente mais ninguém
bota fé em mim.(s.125)
Não pensei, quero poder ser alguém na vida. (s.82)
92
4.5.4 Grupo 4 (negativo álcool e positivo depressão):
Sujeito 67 (fem.): Idade: 16; Para o rendimento cognitivo do participante foram
obtidos o nível 3 para conduta operatória, revelando capacidade operatória, nível 2 para
realização das permutas possíveis e nível 3 para conduta de realizações dedutivas e
elaboração da lei matemática 2
n
-1. A média de suas notas são C. O sujeito acredita que o
uso da escola depende do aluno
É legal, é bom mais depende dos alunos, tem gente que não
aproveita, não depende da escola, acho que em todas é assim, não
depende da escola e sim do aluno.
Seu rendimento escolar é bom
Bom, tem hora que dá uma caída mais é bom, em física eu já
passei.
Em relação ao uso do álcool a jovem relata não gostar
“Eu não gosto, não sei ficar conversando e bebendo, beber é só formalmente,
nem chego a beber, é muito raro, eu não gosto muito”.
A adolescente estava vivenciando um luto:
Antes eu estava meio deprimida, porque eu perdi um amigo meu,
estava brigando muito em casa, esses tempos eu conversei um
pouco com minha mãe e foi bom. O meu amigo se matou, ele tinha
um monte de problema na família dele, ele conversava só com o
pai dele, ai esse pai morreu e no outro dia ele se matou. Ele já
tinha acabado o colegial e morava aqui perto. Foi o meu primeiro
amigo que morreu. A mãe não conta a história e não sabemos nem
aonde ele foi enterrado. No dia eu sumi... agora eu já estou bem.
O sujeito relata como está sua recuperação
Estou me sentindo bem com a vida que eu tenho, estou fazendo uns
cursos, estou saindo bastante, estou me sentindo bem sim. Toco
viola erudita e canto em 2 bandas e no coral do pólo de Rio Preto.
E sua expectativa de vida é boa, com duas opções saudáveis
93
Eu gostaria de ser veterinária, mais eu também gosto bastante de
música e ensaio bastante e também gostaria de seguir a carreira
de música.
Sujeito 120 (fem.): Idade: 15 anos; Para o rendimento cognitivo do participante
foram obtidos o nível 3 para conduta operatória, revelando capacidade operatória, nível 2
para realização das permutas possíveis e nível 3 para conduta de realizações dedutivas e
elaboração da lei matemática 2
n
-1. O sujeito relata que está trabalhando por dia, por isso
suas notas são médias (C). A jovem gosta da escola e a valoriza:
Eu gosto e é importante porque todo mundo precisa de estudar.
No entanto seu rendimento escolar não é bom
Não é muito bom não, porque sei lá..., é eu me dou bem nas
provas, tudo né?! Mais ai sei lá. Meu boletim está com 5
vermelhos, porque em certas aulas eu não trago caderno e tem vez
que eu não tiro boa nota em prova e ai cai um pouco a média.
Porque tem vez que eu falo e eu não copio. Falto muito porque
estou um pouco cansada e sei lá, mais eu até venho sempre mais eu
pensei que essa semana não teria muitas aulas por causa da
eleição.
Em relação ao uso do álcool a estudante não consome
Não gosto porque acaba com a pessoa né?! E outra que não leva
ninguém a lugar nenhum. Meu padrasto bebia antigamente, só que
tem muito tempo que ele parou, mas ele ficava quieto, não dava
trabalho.
O sujeito apresenta satisfação em sua vida
Ta bom, não queria que tirasse nada da minha vida nem colocasse
nada.
E boa adaptação a separação de seus pais
Eu estou contente, eu tenho o que eu quero, então assim eu não
preciso trabalhar, eu trabalho para comprar minhas coisas e meus
pais são separados e o meu pai me dá uma boa pensão, ele é
empresário, eu tinha 4 anos quando eles se separaram, foi melhor
porque eles brigavam muito.
94
Sua perspectiva de vida é boa e está relacionada à educação
Quero terminar o terceiro colegial e fazer uma faculdade, quero
ser advogada ou engenheira.
Sujeito 52 (masc.): Idade: 16 anos; Para o rendimento cognitivo do participante
foram obtidos o nível 3 para as três avaliações indicando que o jovem apresenta capacidade
operatória, realização das permutas possíveis e conduta de realizações dedutivas e
elaboração da lei matemática 2
n
-1. Jovem de Belo Horizonte mas já morou em vários
lugares, o pai foi transferido. Suas médias são nota C. Acredita que o problema da escola é
a desmotivação de professores e alunos:
Vejo que tem muita gente que não quer nada, os professores estão
desmotivados, ficam estressados muito fácil, e a direção não toma
providencia. Eu tento fazer o máximo que eu puder, os professores
só dão aula pra quem está na frente, então você acaba ficando sem
motivação para estudar.
Seu rendimento escolar é médio
Eu estou na média porque eu não tiro muita nota vermelha.
Em relação ao álcool não faz uso
Eu não bebo, nunca bebi na minha vida e eu lembro que meu pai
bebia de vez em quando e ele exagerava e ficava bêbado e é por
isso que eu não gosto de bebida.
O jovem está preocupado com a situação do pai que está desempregado
Não sei estou meio preocupado com a situação do meu pai que
está desempregado e não tem perspectivas para o futuro.
E apresenta desejo de não ter se mudado tanto
Eu poderia ter ficado em um lugar só porque eu percebo que tem
gente que tem amigos que estudam desde a 1ª série juntos eu nunca
tive isso, sempre mudei de escola, tenho bastante amigos porque
estou aqui desde 2002.
Sua perspectiva de vida é boa e está voltada para os estudos
95
Eu pretendo estudar na faculdade, ter uma profissão e viver a vida
normal.
Sujeito 10 (fem.): Idade: 15 anos; Para o rendimento cognitivo do participante
foram obtidos o nível 3 para as três avaliações indicando que o jovem apresenta capacidade
operatória, realização das permutas possíveis e conduta de realizações dedutivas e
elaboração da lei matemática 2
n
-1. A média de suas notas é C. O sujeito gosta da escola
Gosto daqui vou ficar aqui até o 3ª colegial, eu acho que está
melhorando até, eu sempre estudei aqui, só que acho que tinha que
ter um concurso de bolsa para ter um pouco de desconto..
Seu rendimento escolar está bom, em função da ajuda do namorado
Melhorou até, agora porque eu comecei a namorar e meu
namorado vai prestar vestibular e agora a gente estuda junto.
A jovem não faz uso do álcool
Bom eu não bebo, eu não gosto, acho que fica um gosto muito
horrível na boca, e quem vai cuidar de mim? Já cuidei de muitas
amigas, meu namorado só gosta de tomar uma cervejinha e tal,
mas não bebe não.
A adolescente se queixa de um ciúme fraterno, mas na escola está tudo bem:
Pensei que se eu melhorasse aqui na escola minha mãe ia parar de
pegar no meu pé mas não parou, aqui está tudo legal, é só lá em
casa mesmo que eu sofro um monte por causa disso, ela pega no
meu pé, acho chato lá em casa é que a minha mãe privilegia muito
a minha irmã.
Sua vida está bem e feliz com o namorado
Já estou feliz porque estou namorando e ele dá bastante força pra
mim, é o meu 1ª namorado sério.
Sua expectativa de vida é boa, no entanto sofre a pressão da família por sua
escolha profissional:
Bem, eu queria ser ou estilista ou fazer propaganda, mas meus tios
querem que eu faça outra profissão, eles querem que eu faça
medicina, é que um tio é médico e os outros são engenheiros.
96
Sujeito 64 (fem.): Idade: 16 anos; Para o rendimento cognitivo do participante
foram obtidos o nível 2 para conduta operatória, revelando capacidade operatória, nível 2
para realização das permutas possíveis e nível 3 para conduta de realizações dedutivas e
elaboração da lei matemática 2
n
-1. O sujeito apresenta satisfação com a escola, mas suas
notas são em sua maioria C.
Normal, é melhor do que em algumas escola públicas, ela é bem
concorrida, já acostumei, eu estudo aqui desde a 5ª série.
Seu rendimento é bom, apresentando dificuldades em matemática
Sou muito ruim em matemática, mas minha nota é azul, só não é
azul A. Eu tirei só um vermelho em matemática é o meu problema,
eu não gosto de matemática.
Em relação ao uso do álcool a jovem apresenta baixo consumo nas festas
Depende, se for manerada, toda festa hoje tem bebida, então
depende, se não ficar bêbada, não dar regasso. Eu nunca fiquei
bêbada. Às vezes eu tomo um copo nas festas mas não para ficar
bêbada, só pra ficar na festa mesmo.
O sujeito apresenta tristeza porque vai se mudar de escola e deixar as amigas para
trás
Normal, só estou triste porque esse ano é o meu último, então
minha amigas desde a 5ª série vão ficar (?) é que ano que vem vou
para o Mom Senhor (?) É mais perto de casa e ano que vem tenho
que trabalhar e aqui não é legal para estudar a noite (?) Minha tia
ficou no Japão um tempo e arrumou um emprego pra eu trabalhar
na loja Tókio e não vejo a hora de começar a trabalhar, eu quero
logo.
O sujeito encontra-se em um processo de mudança e está se preparando para o
vestibular
Penso que tenho que evoluir, as coisas vão mudando.
Sua perspectiva é boa, mas precisa se adequar a sua realidade
Ano que vem vou mudar de escola, vou começar a trabalhar e
depois vou fazer um cursinho e depois prestar vestibular, quero
fazer medicina, se não for medicina eu não vou fazer nada.
97
O grupo 4 é composto de 80% do sexo feminino, 80% dos sujeitos apresentam
nível 3 para conduta operatória revelando capacidade operatória, 40% apresentaram nível 2
para conduta de realizações de permutações intermediárias enquanto 60% encontravam se
no nível 3 com permutações possíveis. E com 100% dos sujeitos apresentaram nível 3 para
conduta de realizações dedutivas e elaboração da lei matemática 2
n
-1.
Tabela 10 Visualização do desempenho operatório do Grupo 4
Provas
Combinação Permutação Torre de Hanoi
f % f % f %
Nível 1 0 0 0 0 0 0
Nível 2 1 20 2 40 0 0
Nível 3 4 80 3 60 5 100
Total
5 100 5 100 5 100
O grupo 4 é positivo para depressão e negativo para uso de álcool, no entanto, a
maioria do grupo 60% apresenta ótimo rendimento cognitivo, porém a média de notas em
Língua Portuguesa e Matemática, desse grupo é apresentada em sua maioria como nota
intermediária C.
A escola apresenta algumas situações complexas como a desmotivação dos
professores, mas a responsabilidade dos alunos está presente nas respostas:
É legal, é bom mas depende dos alunos, tem gente que não
aproveita...(s.67)
Eu gosto, é importante porque todo mundo precisa de
estudar.(s.120)
Vejo que tem muita gente que não quer nada, os professores estão
desmotivados, ficam estressados muito fácil... os professores só
dão aula para quem está na frente, então você acaba ficando sem
motivação para estudar.(s.52)
Gosto daqui, vou ficar aqui até o 3ª colegial, eu acho que está
melhorando até...(s.10)
98
Normal, é melhor do que em algumas escolas públicas, ela é bem
concorrida, já acostumei e eu estudo aqui desde a 5ª série. (s.64)
Em relação ao desempenho escolar o grupo apresenta um rendimento acadêmico
médio:
Bom, tem hora que dá uma caída mas é bom...(s.67)
Não é muito bom não, porque sei lá, é eu me dou bem nas provas
tudo né? Mais ai sei lá, meu boletim está com cinco vermelhos,
porque em certas aulas eu não trago caderno e tem vez que eu não
tiro boa nota em prova e ai cai um pouco a média. Porque tem vez
que eu falo e eu não copio. Falto muito porque estou um pouco
cansada e sei lá , mas eu até venho sempre...(s.120)
Eu estou na média porque eu não tiro muita nota vermelha.(s.52)
Melhorou até, agora porque eu comecei a namorar e ele e meu
namorado vai prestar vestibular e agora a gente estuda
junto.(s.10)
sou muito ruim em matemática mas a minha nota é azul, só não é
azul A. Eu tirei só um vermelho em matemática é o meu problema,
eu não gosto de matemática. (s.64)
O grupo 4 consome álcool em baixa quantidade e podemos observar que todos
relatam terem passado por experiências em que pessoas próximas (família e amigos)
consomem álcool em excesso e não refletem uma boa imagem:
Eu não gosto, não sei ficar conversando e bebendo, beber é só
formalmente, nem chego a beber, é muito raro, eu não gosto muito.
(s.67)
Não gosto porque acaba com a pessoa né? E outra que não leva
ninguém a lugar nenhum. Meu padrasto bebia antigamente, só que
tem muito tempo que ele parou, mas ele ficava quieto, não dava
trabalho. (s.120)
Eu não bebo, nunca bebi na minha vida e eu lembro que meu pai
bebia de vez em quando e ele exagerava e ficava bêbado e é por
isso que eu não gosto de bebida. (s.52)
Bom eu não bebo, eu não gosto, acho que fica um gosto muito
horrível na boca, e quem vai cuidar de mim? Já cuidei de muitas
amigas... (s.10)
99
Depende, se for manerada, toda festa hoje tem bebida, então
depende, se não ficar bêbada, não dar regasso. Eu nunca fiquei
bêbada. As vezes eu tomo um copo nas festas, mas não dá pra ficar
bêbada, só pra ficar na festa mesmo. (s.64)
Sobre como tem se sentido podemos observar que essa é a resposta mais extensa
do grupo, que apresenta depressão e percebemos que alguns alunos estão depressivos por
situação de perda (luto), desemprego do pai, conflitos em casa e mudança de escola,
encontramos um reflexo no rendimento escolar de tais alunos:
Antes eu estava meio deprimida, porque eu perdi um amigo meu,
estava brigando muito em casa, esses tempos eu conversei um
pouco com minha mãe e foi bom. O meu amigo se matou, ele tinha
um monte de problema na família dele, ele conversava só com o
pai dele, ai esse pai morreu e no outro dia ele se matou. Ele já
tinha acabado o colegial e morava aqui perto. Foi o meu primeiro
amigo que morreu...No dia eu sumi, agora eu já estou bem. (s.67)
Ta bom, não queria que tirasse nada da minha vida nem colocasse
nada. (s.120)
Não sei estou meio preocupado com a situação do meu pai que
está desempregado e não tem perspectivas para o futuro. (s.52)
Pensei que se eu melhorasse aqui na escola minha mãe ia para de
pegar no meu pé mas não parou, aqui está tudo legal, é só lá em
casa mesmo que eu sofro um monte pro causa disso, ela pega no
meu pé, acho chato lá em casa é que a minha mãe privilegia muito
a minha irmã. (s.10)
Normal, só estou triste porque esse ano é o meu último, então
minha amigas desde a 5ª série vão ficar, é que ano que vem vou
para o Mon Senhor, É mais perto de casa e ano que vem tenho que
trabalhar e aqui não é legal para estudar a noite, minha tia ficou
no Japão um tempo e arrumou um emprego pra eu trabalhar na
loja Tóquio e não vejo a hora de começar a trabalhar, eu quero
logo. (s.64)
Em relação à experiência de vida podemos observar que:
Estou me sentindo bem com a vida que eu tenho...(s.67)
Eu estou contente, eu tenho o que eu quero, então assim eu não
preciso trabalhar, eu trabalho para comprar minhas coisas e meus
pais são separados e meu pai me dá uma boa pensão... (s.120)
100
Eu poderia ter ficado em um lugar só porque eu percebo que tem
gente que tem amigos que estudam desde a 1ª série juntos e eu
nunca tive isso, sempre mudei de escola, tenho bastante amigos
porque estou aqui desde 2002. (s.52)
Já estou feliz porque estou namorando e ele dá bastante força pra
mim, é o meu 1ª namorado sério. (s.10)
Penso que tenho que evoluir, as coisas vão mudando. (s.64)
Sobre as perspectivas para o futuro os sujeitos apresentam projetos mas alguns
sem uma possibilidade real:
Eu gostaria de ser veterinária, mas eu também gosto bastante de
música e ensaio bastante e também gostaria de seguir a carreira
de música. (s.67)
Quero terminar o 3ª colegial e fazer uma faculdade, quero ser
advogada ou engenheira. (s.120)
Eu pretendo estudar na faculdade, ter uma profissão e viver a vida
normal. (s.52)
Bem, eu queria ser ou estilista ou fazer propaganda, mas meus tios
querem que eu faça outra profissão, eles querem que eu faça
medicina, é que um tio é médico e os outros são engenheiros. (s.10)
Ano que vem vou mudar de escola, vou começar a trabalhar e
depois vou fazer um cursinho e depois prestar vestibular, quero
fazer medicina, se não for medicina eu não vou fazer nada. (s.64)
Em síntese, a investigação conduziu-nos a verificar que o desenvolvimento
operatório formal foi atingido por todos os grupos com poucas exceções que mostram que
os sujeitos estão em processo de construção. Os sujeitos mantém o julgamento coerente
com os fatos da vida e têm expectativas para o futuro mesmo em estado depressivo.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A presente pesquisa chegou a resultados que possibilitaram as seguintes
conclusões:
1. Um grande número de estudantes apresenta um beber em excesso. Desta maneira o
jovem aumenta de forma considerável as chances de sofrer algum dano ou ocasioná-lo a
outrem. A dependência acontece após anos de uso descontrolado, mantendo a tolerância
(com uso cada vez maior).
2. O consumo de álcool entre o sexo masculino é significativamente maior do que o no
sexo feminino. Outras pesquisas mostram de forma semelhante esses dados (MUZA et
al., 1997; MINAYO e DESLANDES, 1998; TAVARES, 2001; CARLINI et al., 2002;
COSTA et al., 2004; 2002; CRUZ, 2006). No entanto o consumo entre o sexo feminino
é preocupante já que as propagandas comerciais de bebidas voltam-se cada vez mais
para este público.
3. A depressão entre o sexo feminino é significativamente maior que no sexo masculino.
Outras pesquisas também comprovam esta afirmação (BAHLS, 2002). Encontramos
diferenças significativas sobre depressão nas escolas; podemos afirmar que na escola
pública os adolescentes sofrem de depressão muito mais do que na escola particular.
4. O nível sócio-econômico não é fator relevante quando se trata do uso de álcool, no
entanto o parece ser para depressão . Outros estudos chegaram a resultados semelhantes
para o uso de álcool (MUZA et al., 1997b) e (CRUZ, 2006).
5. Uma parte significativa dos indivíduos declaram que bebem em família e não compram
o produto. Algumas pesquisas constataram que um parente que faz uso excessivo de
álcool é um fator de risco para o adolescente, assim como a complacência da família
para com o uso de bebida (KERR-CORRÊA et al., 2002).
102
6. Não foi observada, para os sujeitos submetidos a segunda parte da pesquisa, uma
relação favorável entre o uso de álcool, depressão e desenvolvimento cognitivo.
Observamos que houve um decréscimo cognitivo na realização das provas, e maior
dificuldade do grupo como um todo na prova mais elaborada (Torre de Hanói) e uma
indicação disso é que nenhum dos sujeitos expressou a fórmula matemática do
exercício.
7. O processo de tomada de consciência das operações cognitivas dedutivas está em
elaboração, mesmo que se trate de jovens de quatorze a dezesseis anos. Sabe-se que os
protocolos de pesquisa piagetiana realizados com sujeitos genebrinos aponta a
elaboração do pensar abstrato em torno dos 11 e 12 anos.
8. Os dados e resultados também nos chamam a atenção para as falas dos indivíduos que
revelam bom relacionamento com a escola. No entanto, também declaram que seus
desempenhos escolares são ruins. O resultado nas provas operativas aponta que esses
sujeitos possuem capacidade cognitiva para um desempenho melhor nas disciplinas
escolares.
Diante desses resultados levantamos alguns questionamentos.
Não observamos uma relação favorável entre o uso de álcool, depressão e
desenvolvimento cognitivo. No entanto, as pesquisas (CRUZ, 2006, MARTINS, 2006)
também apontam que esse efeito é tardio, ou seja, os efeitos do álcool podem ser
futuramente agravados. Só uma pesquisa longitudinal, nesse caso, poderia acompanhar
esses sujeitos e finalmente observar o que acontece em suas vidas.
Encontramos resultados nos quais os sujeitos apresentam rendimento cognitivo
nível 3 e no entanto suas notas são “vermelhas”; sabemos, porém, que o processo de
tomada de consciência das operações cognitivas dedutivas está em elaboração , mesmo
que se trate de sujeitos de quatorze a dezesseis anos; mas como a escola está percebendo
103
esse processo se o rendimento desse alunos não é bom? O resultado nas provas
operativas aponta que esses sujeitos possuem capacidade cognitiva para um melhor
desempenho nas disciplinas escolares.
Isso nos faz questionar o papel da escola como acompanhadora do potencial e
do desempenho cognitivos desses alunos.
Em atenção ao caráter preventivo dessa pesquisa, salientemos ainda duas
informações importantes colhidas das declarações dos próprios usuários: os mesmos
afirmam beber em família, mas afirmam não comprar o produto, recebendo-o, portanto
de outra pessoa.
A partir das informações dessa pesquisa, um programa de redução de danos em
relação ao uso de álcool não pode deixar de considerar os papéis e as ações da escola e
da família, ou seja, qualquer programa não pode desconhecer que o bebedor jovem bebe
em família, e que a escola pode não estar aproveitando e estimulando seu potencial
cognitivo.
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