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Em primeiro lugar, não hesito em dizer que o horizonte para que deve tender todo o caminho
pastoral é a santidade. (...) Terminado o Jubileu, volta-se ao caminho ordinário, mas apontar
a santidade permanece de forma mais evidente uma urgência pastoral. (...) Na verdade,
colocar a programação pastoral sob o signo da santidade é uma opção carregada de
conseqüências. NMI 30-31.
Nos dias de hoje, ainda percebem-se tendências a identificar a santidade com a vida
consagrada; com a prática de certos atos devocionais e ascéticos; em modos alienantes que
isolam os cristãos das realidades terrenas; e na busca de “modelos” para “imitar” que, na
maioria das vezes, não têm nada a ver com a realidade da pessoa, afastando-se, desta maneira,
da possibilidade de viver a santidade no exercício concreto de sua vocação
160
.
O Concílio Vaticano II, celebrado há quarenta anos, já convidava a todos os cristãos
batizados a descobrirem que são chamados à vivência da “Vocação Universal à Santidade””,
a qual acontece na dinâmica existencial de cada vocação específica
161
, inspirada no ““Senhor
160
CF. OLIVEIRA, José Lisboa M. de. Nossa resposta ao amor: teologia das vocações específicas. São Paulo:
Loyola, 2001. p. 45-51.
161
Ao longo da história da Igreja, a temática das vocações específicas nem sempre foi bem compreendida, e por
esse motivo produziram-se simplificações e deformações da comunhão eclesial e vocacional. Num primeiro
momento, ressaltou-se com demasia a vocação dos consagrados e consagradas; após veio uma forte
hierarquização e clericalização da Igreja, com a concentração da missão evangelizadora em suas mãos; e
finalmente, após o Concílio Vaticano II, a acentuação foi colocada na vocação dos leigos e das leigas, com um
desprezo pelas outras vocações que eram vistas como ultrapassadas e anacrônicas. Logicamente estas
polarizações têm conseqüências para a vida eclesial, e quando uma das vocações não está presente ou é
enfraquecida, sofre toda a comunidade (1Cor 12,22-30). Desde esta perspectiva eclesiológica, acentuar ou
valorizar uma vocação em detrimento da outra, ou de duas, é mutilar a riqueza eclesial suscitada pelo Espírito.
Esta realidade nos mostra que a Igreja e a ação pastoral não podem ser pensadas sem a presença destas três
vocações paradigmáticas: os cristãos leigos e leigas, a vida consagrada e os ministérios ordenados. No
magistério universal, nas conferências latino-americanas e nos documentos da CNBB, encontramo-nos com uma
longa tradição que confirma a eclesiologia vocacional do Vaticano II que pensa estas três vocações específicas
como paradigmáticas: PAULO VI. Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi 19.ed. São Paulo: Paulinas, 2006,
68-70.73b; JOÃO PAULO II. Exortação Apostólica Christifideles Laici. 3. ed. São Paulo: Paulinas, 1989, 55a;
JOÃO PAULO II. Exortação Apostólica A Vida Consagrada. São Paulo: Paulus, 1996, 31c; MD 13,23; DP 854;
SD 65-66.97; CNBB. Diretrizes Gerais da ação pastoral da Igreja no Brasil. (Doc. da CNBB 4) p. 38-41; (Doc.
da CNBB 45) 259-286; (Doc. da CNBB 54) 102.304-328; (Doc. da CNBB 61) 309-335. Tudo isto sem
considerar os documentos de estudo da CNBB, os textos base e as conclusões dos congressos vocacionais do
Brasil e o texto do ano vocacional, onde encontramos mais elementos para nossa reflexão. Por outro lado
percebemos que há necessidade de valorizar todas as vocações desde a interação, interdependência e
complementaridade das mesmas. Sobre o tema pode-se consultar: OLIVEIRA, José Lisboa M. de. Nossa
resposta ao amor... Ibidem., p. 11-15; EQUIPO DE ANIMACIÓN SOL. Manual de Orientação Vocacional.
México. Servicios de Animación Sol, 1993. p. 81-153; ZUECO, Vicente. Uma propuesta vocacional para la
pastoral vocacional. Seminários. Madrid, n. 147, p.451-452, (Octubre-Diziembre) 2004.