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UFRRJ
INSTITUTO DE VETERINÁRIA
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM
CIÊNCIAS VETERINÁRIAS
TESE
Aspectos Clínico-patológicos e
Laboratoriais do Envenenamento
Crotálico Experimental em Bovinos
Flávio Augusto Soares Graça
2007
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2
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO
INSTITUTO DE VETERINÁRIA
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM
CIÊNCIAS VETERINÁRIAS
ASPECTOS CLÍNICO-PATOLÓGICOS E
LABORATORIAIS DO ENVENENAMENTO
CROTÁLICO EXPERIMENTAL EM BOVINOS
FLÁVIO AUGUSTO SOARES GRAÇA
Sob a Orientação do Professor
Carlos Hubinger Tokarnia
e Co-orientação do Professor
Paulo Fernando de Vargas Peixoto
Tese submetida como requisito
parcial para obtenção do grau de
Doutor em Ciências, no Curso de
Pós-Graduação em Ciências
Veterinárias, Área de Concentração
em Sanidade Animal
Seropédica, RJ
Abril de 2007
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2
À minha esposa Márcia e
meus filhos Daniel e Luizah. Juntos
formamos a família mais linda do
mundo.
3
AGRADECIMENTOS
A Deus, por toda a força, e proteção que recebi até hoje.
Aos meus pais Rogério e Maria do Carmo, pelo exemplo de honestidade e pelo
incansável apoio em todos os momentos da minha vida. Espero conseguir transmitir aos meus
filhos o exemplo de dedicação, abnegação e caráter que vocês me passaram.
À minha esposa Márcia, grande amor da minha vida, pelo apoio e estímulo afetivo e
profissional.
Aos meus filhos, Daniel e Luizah, frutos de amor e alegria para minha vida. Meu
maior desejo será sempre a felicidade de vocês. Perdoem-me pela ausência nos momentos de
trabalho.
Aos familiares que estão sempre ao meu lado: Pedro, Fabiana, César, Shirley e a todos
os demais que torcem pelo meu sucesso.
Ao Prof. Carlos Hubinger Tokarnia, uma das pessoas mais respeitáveis e íntegras com
quem tive a honra de conviver em toda a minha vida. Obrigado pelo exemplo profissional.
Ao Prof. Paulo Fernando de Vargas Peixoto, agradeço pela confiança, dedicação e
entusiasmo depositados em meu trabalho. Este tempo de doutorado serviu também para ver o
grande amigo que eu tenho em você.
Ao Prof. José Renato Junqueira Borges, pessoa a que devo grande parte de minha
formação profissional.
A colega Cleide Domingues Coelho, pela dedicação na realização dos exames
laboratoriais.
Aos ex-alunos e agora colegas de s-graduação Ana Paula Aragão e Saulo Caldas
pelo apoio incansável para a execução deste trabalho.
Aos colegas de trabalho do Serviço de Medicina Veterinária da Polícia Militar do
Estado do Rio de Janeiro pelo apoio.
Aos colegas Prof
a
. Marilene Brito, Prof
a
. Ticiana França, Prof. Aníbal Armien,
Josilene Seixas, Flávia Jabour, João Luis Bastos, e demais pessoas que contribuíram para
realização deste trabalho.
4
RESUMO
GRAÇA, Flávio Augusto Soares. Aspectos clínico-patológicos e laboratoriais do
envenenamento crotálico experimental em bovinos. 2006. 124p. Tese (Doutorado em
Ciências Veterinárias, Sanidade Animal). Instituto de Veterinária, Universidade Federal Rural
do Rio de Janeiro, Seropédica, RJ, 2007.
Reproduziu-se experimentalmente o envenenamento crotálico, através da inoculação, por via
subcutânea, do veneno de Crotalus durissus terrificus (Cascavel sul-americana) em dez
bovinos mestiços, com peso variando entre os 125 e 449 quilogramas e idade entre 12 e 36
meses. Dois animais na mesma faixa etária e padrão racial foram utilizados como controle. O
animal que recebeu dose de 0,03 mg/kg p.v. foi a óbito 7h40min após a inoculação. A dose de
0,015 mg/kg p.v. induziu o óbito em quatro de sete bovinos inoculados, enquanto os dois
animais que receberam 0,0075 mg/Kg, adoeceram discretamente e se recuperaram. Os
sintomas tiveram início entre 1h30min e 13h45min após a inoculação. A evolução oscilou
entre 5h25min e 44h59min para os animais que morreram e entre 33h15min e 17 dias entre os
animais que se recuperaram. Os principais sinais nervosos observados foram diminuição da
resposta aos estímulos externos, reflexos hipotônicos, arrastar dos cascos no solo, aparente
letargia, paralisia do globo ocular e da língua, decúbito esternal e lateral. Verificou-se também
adipsia constante e petéquias nas mucosas vaginal e conjuntival. Observaram-se discreto a
moderado aumento do tempo de sangramento em seis animais e moderado aumento do tempo
de tromboplastina parcial ativada em sete bovinos. Houve moderada leucocitose com
neutrofilia, linfopenia relativa, eosinopenia, monocitose e discreto aumento do número de
bastões. Foi evidenciado significativo aumento dos níveis séricos de creatinaquinase, da
ordem de dez vezes. Não foram observadas alterações significativas através da urinálise. À
necropsia constataram-se edema quase imperceptível no local da inoculação, discretas
petéquias e sufusões no epicárdio, omento, vesícula biliar e mucosa da bexiga. Os exames
histopatológicos revelaram necrose (hialinização) de grupos de miócitos ou em miócitos
isolados em dez diferentes músculos esqueléticos examinados, próximos ou distantes do local
de inoculação. Diante do quadro clínico-patológico foram feitas observações sobre o
diagnóstico do envenenamento crotálico e sua diferenciação com enfermidades que cursam
com paralisia e necrose muscular em bovinos do Brasil.
Palavras-chave: Envenenamento. Crotalus. Bovino.
5
ABSTRACT
GRAÇA, Flávio Augusto Soares. Clinic-pathological and laboratorial aspects of
experimental crotalus poisoning in bovine. 2006. 124p. Tesis (Doctorate in Veterinary
Sciences, Animal Sanitation). Instituto de Veterinária, Universidade Federal Rural do Rio de
Janeiro, Seropédica, RJ, 2007.
Crotalus poisoning was experimentally reproduced by inoculation of Crotalus durissus
terrificus (South American Rattlesnake) venom by subcutaneous via in ten clinically healthy
mixed breed bovine, weighing between 125 and 449 kg and aged 12 to 36 months. Two
bovine of the same age range and breed standard were used as controls. The bovine that
received a 0.03 mg/kg p.v. dose died 7h40min after inoculation. A 0.015 mg/kg p.v. dose
provoked death in four out of seven inoculated bovine, while two bovine experimentally
poisoned with 0.0075 mg/kg p.v. became mildly sick and recovered. Onset of symptoms
occurred between 1h30min and 13h45min after inoculation. Evolution oscillated between
5h25min and 44h59min for bovine deaths and between 33h15min and 17 days for bovine that
recovered. The principal nervous signs observed were diminished response to external stimuli,
hypotonic reflexes, dragging of hooves along the ground, apparent lethargy, difficulties in
moving around obstacles, ocular globe paralysis, lateral and sternal decubitus and tongue
paralysis. Constant adypsia and petechiae in the conjunctival and vaginal mucosa was also
verified. A discrete to moderate increase in bleeding time was verified in six bovine and a
moderate increase in partial thromboplastin time was activated in seven bovine. Moderate
leukocytosis with neutrophilia, relative lymphopenia, eosinopenia and monocytosis occurred
and a discrete increase in the number of rods. A significant increase in creatine kinase serum
levels was observed, of a ten-fold order. No significant alterations were observed at
urinalysis. At necropsy there were minimal edema at the inoculation site, discrete petechiae
and suffusions in the epicardium, omentum, biliary vesicle and bladder mucosa.
Histopathological examination revealed necrosis (hyalinization) of groups or isolated
myocytes in ten different muscles examined, both close and distant from the inoculation site.
Faced with the clinic-pathological picture, observations were made regarding the diagnosis of
crotalus envenomation and its differentiation from deseases which course with paralysis and
muscular necrosis in cattle in Brazil.
Key words: Poisoning. Crotalus. Bovine.
6
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Distribuição da Crotalus durissus no Brasil.
5
Figura 2. Mapa do Estado do Rio de Janeiro mostrando locais de
existência da Mata Atlântica e a invasão por parte das
Crotalus durissus terrificus na região do Vale do Rio Preto.
5
Figura 3. Serpente Crotalus durissus terrificus no Estado do Rio de
Janeiro.
6
Figura 4. A. Fotomicrografia da presa de um viperídeo neonato; B.
Veja canal central que tem comunicação com a glândula do
veneno.
6
Figura 5. Esquema do mecanismo de ação da acetilcolina na placa
motora e o seu bloqueio pela neurotoxina pré-sináptica
crotoxina.
11
Figura 6. Mecanismo de ação coagulante do veneno crotálico, através
do qual a enzima tipo trombina consome o fibrinogênio e
dificulta a formação de coágulo estável.
11
Figura 7.
Inoculação de veneno crotálico feita no terço superior da
região glútea, por via subcutânea (Bovino 2).
24
Figura 8.
Dispositivo que garante a profundidade de inoculação (seis
milímetros).
24
Figura 9.
Animal agitado com a aproximação humana - minutos antes
da inoculação (Bovino 5).
36
Figura 10. Animal permitindo a aproximação - 13 horas e 45 minutos
após a inoculação (Bovino 5).
36
Figura 11. Dificuldade de mastigação em função da paresia parcial da
língua e masseter - 25 horas e trinta minutos após a
inoculação (Bovino 10).
38
Figura 12. Variação da temperatura retal do tempo “zero” (momento da
inoculação) até 48 horas após a inoculação.
39
Figura 13. Variação da freqüência cardíaca do tempo “zero” até 48 horas
após a inoculação.
40
7
Figura 14. Variação da freqüência respiratória do tempo “zero” até 48
horas após a inoculação.
41
Figura 15. Petéquias na mucosa vaginal - três dias após a inoculação
(Bovino 3).
42
Figura 16. Decúbito lateral, relaxamento do esfíncter anal, paresia de
cauda e leve timpanismo - 16 horas e 15 minutos após a
inoculação (Bovino 9).
42
Figura 17. Hipotonia muscular marcada (flacidez) durante a “prova do
carrinho de mão” - três horas após a inoculação (Bovino 10).
45
Figura 18. Animal em decúbito esternal submetido à prova do tempo de
sangramento - 15 horas e 10 minutos após a inoculação;
paralisia flácida da língua (Bovino 2).
45
Figura 19. Paralisia do globo ocular demonstrada pela rotação da cabeça
- 22 horas e 30 minutos após a inoculação (Bovino 10).
46
Figura 20. Ausência de paralisia do globo ocular - (Bovino 12 -
controle).
46
Figura 21.
Decúbito lateral e facilidade de exposição da língua devido à
perda do tônus muscular - 15 horas após a inoculação (Bovino
2).
47
Figura 22. Leucometria global mensurada no tempo “zero” e o valor
máximo após a inoculação.
50
Figura 23. Níveis séricos de creatinaquinase mensurados no tempo
“zero” e o valor máximo após a inoculação.
52
Figura 24. Coleta da urina com aspecto normal (Bovino 6).
53
Figura 25
“Incoagulabilidade” do sangue do bovino 3 direita); à
esquerda, sangue coagulado do bovino 11- controle - 24 horas
após a inoculação.
53
Figura 26. Tempo de sangramento observado no tempo “zero” e o
máximo após a inoculação.
54
Figura 27. Tempo de ativação da protrombina (TAP) mensurado no
tempo “zero” e o valor máximo após a inoculação.
55
8
Figura 28. Tempo de tromboplastina parcial ativada (TTPA) mensurado
no tempo “zero” e o valor máximo após a inoculação.
56
Figura 29. Hemorragias no epicárdio (Bovino 1).
58
Figura 30. Leve edema hemorrágico no local da inoculação (Bovino 5).
58
Figura 31. Tecido subcutâneo no local da inoculação (Bovino 4).
59
Figura 32. Petéquias no omento (Bovino 7).
59
Figura 33. Petéquias na vesícula biliar (Bovino 7).
60
Figura 34. Necrose caracterizada por intensa acidofilia e hialinização de
fibras musculares esqueléticas, isoladas ou em pequenos
grupos.
60
Figura 35. Necrose coagulativa de fibras musculares esqueléticas
isoladas
61
Figura 36. Necrose coagulativa de fibras musculares esqueléticas
isoladas
61
Figura 37. Necrose coagulativa de fibras musculares esqueléticas
isoladas
62
Figura 38. Necrose coagulativa com fragmento de fibra muscular
acompanhada de reação inflamatória e provável proliferação
de células satélite
62
Figura 39. Necrose coagulativa com fragmento de fibra muscular
acompanhada de reação inflamatória e provável proliferação
de células satélite
63
Figura 40. Necrose coagulativa com fragmento de fibra muscular
acompanhada de reação inflamatória e provável proliferação
de células satélite
63
Figura 41. Necrose coagulativa com fragmento de fibra muscular
acompanhada de reação inflamatória e provável proliferação
de células satélite
64
9
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Características das substâncias de ação tóxica encontradas no
veneno da serpente Crotalus durissus terrificus
9
Tabela 2. Características das substâncias de ação tóxica encontradas no
veneno das serpentes do gênero Crotalus norte-americanas.
12
Tabela 3. Revisão dos trabalhos sobre envenenamento crotálico em bovinos
no Brasil.
14
Tabela 4. Relação entre a quantidade de veneno secretada e possibilidade de
envenenamento fatal por algumas serpentes brasileiras (TOKARNIA;
PEIXOTO, 2006, p. 63)..
18
Tabela 5. Envenenamento crotálico experimental em bovinos. Principais
dados sobre o delineamento experimental e desfecho.
43
Tabela 6. Envenenamento crotálico experimental em bovinos. Aspectos
clínicos relativos ao sistema nervoso.
48
Tabela 7. Envenenamento crotálico experimental em bovinos Achados
histopatológicos.
65
10
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO
1
2 REVISÃO DE LITERATURA
2
2.1 Taxonomia e Distribuição Geográfica da Espécie Crotalus durissus 2
2.2 Características de Morfologia e Comportamento de Serpentes da Espécie
Crotalus durissus terrificus
4
2.3 Incidência dos Acidentes Crotálicos 7
2.3.1 Humanos 7
2.3.2 Animais 7
2.4 O Veneno Crotálico 8
2.4.1 Características do veneno crotálico 8
2.4.2 Doses tóxicas do veneno crotálico 13
2.4.3 Quantidade de veneno inoculada 19
2.5 Quadro Clínico-patológico do Envenenamento Crotálico 19
2.5.1 Humanos 19
2.5.2 Animais de laboratório 20
2.5.3 Caninos 21
2.5.4 Bovinos 21
2.6 Enfermidades com Sintomatologia Semelhante do Envenenamento
Crotálico em Bovinos
22
3 MATERIAL E MÉTODOS
23
3.1 Local o Experimento e Instalações 23
3.2 Animais e Manejo Experimental 23
3.3 Inoculo 23
3.4. Acompanhamento Clínico dos Animais 23
3.4.1.
Exame clínico geral 25
3.4.2 Exame neurológico 27
3.5 Acompanhamento Laboratorial 33
3.5.1.
Hemograma completo 33
3.5.2.
Bioquímica 33
3.5.3.
Coagulograma 33
3.5.4 Urinálise (Elementos anormais e sedimentoscopia) 34
3.6 Eutanásia 34
3.7 Necropsias 34
3.8 Histopatologia 34
4 RESULTADOS
35
4.1 Dose Letal e Evolução Clínica 35
4.2 Aspectos Clínicos 37
4.2.1 Início dos sintomas 37
4.2.2 Quadro clínico geral 37
4.2.3 Quadro neurológico 44
4.3 Patologia Clínica 49
4.3.1 Hemograma, contagem de plaquetas, reticulócitos, proteínas plasmáticas
e fibrinogênio
49
1
4.3.2 Bioquímica sérica 49
4.3.3 Urinálise 51
4.3.4 Avaliação da coagulação sangüínea 51
4.4 Achados de Necropsia 57
4.5 Achados Histopatológicos 57
5 DISCUSSÃO
66
5.1 Aspectos Toxicológicos e de Metodologia 66
5.2 Aspectos Clínicos 67
5.2.1 Início dos sintomas 67
5.2.2 Intensidade dos sintomas e evolução 67
5.2.3 Quadro clínico geral 68
5.2.4 Quadro neurológico 68
5.3 Patologia Clínica 69
5.4 Achados de Necropsia e Histopatológicos 71
5.5 Diagnóstico Diferencial 71
6 CONCLUSÕES
74
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
75
ANEXOS
81
A –
Enfermidades com quadro clínico semelhante ao do envenenamento
crotálico
82
B –
Hemograma, contagem de plaquetas, reticulócitos, proteínas plasmáticas
totais e fibrinogênio dos bovinos submetidos ao envenenamento crotálico
e animais-controle.
84
C –
Dosagens bioquímicas dos bovinos submetidos ao envenenamento
crotálico e animais controle.
97
D –
Exames para avaliação da coagulação sangüínea : tempo de ativação da
protrombina (TAP) e tempo de tromboplastina parcial ativada (TTPA)
dos bovinos submetidos ao envenenamento crotálico e animais-controle.
109
E –
Diagnóstico diferencial entre envenenamento por serpentes Crotalus
durissus terrificus e do gênero Bothrops sp. em ruminantes.
111
1
1 INTRODUÇÃO
Segundo alguns autores, os acidentes ofídicos, seriam muito freqüentes e
determinariam pesadas perdas econômicas aos pecuaristas no Brasil. Fazendeiros, vaqueiros e
também veterinários de campo, de uma maneira geral, acreditam que as picadas-de-cobra
constituem uma causa muito freqüente de morte de animais de fazenda. Em levantamento
recente, Tokarnia e Peixoto (2006) questionaram essa pretensa importância que os
envenenamentos ofídicos teriam como causa de mortes de bovinos no país.
Ademais, uma observação mais cuidadosa da literatura revela diversas contradições e
lacunas nos quadros clínico-patológicos descritos para os envenenamentos por serpentes dos
gêneros Crotalus e Bothrops. Aparentemente, essas discrepâncias podem ter como base a
literatura pertinente, na qual encontram-se referências indistintas à ação dos venenos das
cascavéis norte-americanas e sul-americanas. De fato, a picada de algumas cascavéis norte-
americanas pode determinar um quadro clínico caracterizado por graves lesões local, em
parte, muito semelhante ao verificado no envenenamento botrópico e diferente do quadro
nervoso induzido pela picada de cascavéis sul-americanas. Adicionalmente, significativa
variação dos quadros clínico-patológicos, de acordo com a espécie do animal picado por
Crotalus.
Esse estudo objetiva aprofundar o conhecimento sobre a natureza do envenenamento
crotálico em bovinos, no intuito de melhor caracterizá-lo e de fornecer subsídios para a
diferenciação com quadro clínico-patológico encontrado no envenenamento por Bothrops em
bovinos. Por fim, pretende-se estabelecer os principais diagnósticos diferenciais do acidente
crotálico, mediante comparação com as características clínico-patológicas das principais
enfermidades de bovinos que cursam com sintomatologia semelhante.
2
2 REVISÃO DE LITERATURA
2.1 Taxonomia e Distribuição Geográfica da Espécie Crotalus durissus:
Segundo Vanzolini e Calleffo (2002), existem numerosas divergências
e
incongruências na literatura que aborda as características taxonômicas das cascavéis sul-
americanas. De acordo com a classificação de McDowell (1987), a Superfamília Colubroidea
engloba as famílias Atractaspididae, Elapidae, Colubridae e Viperidae. Esta última
compreende a subfamília Crotalinae que inclui os gêneros Bothrops, Lachesis e Crotalus.
Conforme Hoge e Romano-Hoge (1978/1979) e Vanzolini e Calleffo (2002), o gênero
Crotalus é representado na América do Sul, apenas por uma espécie: Crotalus durissus;
dentro desta espécie existem, até o momento, nove subespécies catalogadas de cascavéis sul-
americanas abaixo relacionadas:
- Crotalus durissus cascavella (“cascavel”, “cascavel-de-quatro ventas”) - encontrada em
regiões semi-áridas do Maranhão, Ceará, Piauí, Pernambuco, Alagoas, Rio Grande do Norte e
extremo nordeste de Minas Gerais.
- Crotalus durissus collilineatus (“cascavel”, “maracabóia”) - existente no sudoeste de Mato
Grosso, Goiás, Distrito Federal, Minas Gerais e nordeste de São Paulo.
- Crotalus durissus marajoensis (“boicininga”, “boiçununga”, “maracá”) - presente na Ilha de
Marajó, Estado do Pará.
- Crotalus durissus ruruima (“boiçununga”, “maracá”) - existe nos Estados do Amapá, Pará,
Amazonas, Roraima e Rondônia.
- Crotalus durissus dryinas - observada no Amapá.
- Crotalus durissus cumanensis, Crotalus durissus vegrandis - restritas a áreas da Venezuela.
- Crotalus durissus trigonicus - descritas como habitantes da Guiana Inglesa e adjacências de
Roraima.
- Crotalus durissus terrificus (“cascavel”, “boiquira”) - distribuída nos Estados de Minas
Gerais, Mato Grosso, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul; pode habitar
pequenas áreas na Amazônia e no Pará (Serra do Cachimbo, Santarém e Campos de
Humaitá).
Em função de sua dificuldade de termorregulação, o gênero Crotalus sp. apresenta um
padrão de distribuição geográfica determinado pela temperatura e a umidade do ambiente
(JIM; SAKATE, 1999). A referida espécie distribui-se irregularmente por todo o território
nacional; maior prevalência na Região Sudeste e menor na Amazônia (Figura 1)
(MARQUES; CUPO; HERING, 1992).
De um modo geral, pode-se dizer que serpentes do nero Crotalus preferem locais
mais secos e pedregosos, enquanto as Bothrops ocorrem, com maior freqüência, em áreas
úmidas como banhados, beiras de rios e lagoas. As cobras do grupo elapídico preferem a vida
subterrânea. Nas áreas preservadas com vegetação nativa encontra-se 80% das cobras não-
venenosas, enquanto que nas áreas destinadas às atividades agropecuárias ocorre uma
inversão, devida à presença de roedores nesses locais, 80% dos ofídios são
venenosos.(BELLUOMINI, 1976).
É importante levar-se em conta que a população dos ofídios não é estanque. Tem-se
verificado uma tendência ao desaparecimento de serpentes do nero Crotalus em Estados
como o Rio Grande do Sul, enquanto em outras regiões aumento da sua prevalência; esse
gênero tem colonizado novos territórios dentro de áreas de destruição da Mata Atlântica,
fenômeno intenso em certas áreas às margens do Rio Preto, sobretudo nos municípios de
Valença, Rio das Flores e Resende, no Estado do Rio de Janeiro (BASTOS; ARAÚJO;
SILVA, 2005).
3
Por exemplo, do total de serpentes recebidas, entre 1901 e 1977, pelo Instituto
Butantan, 31% eram do nero Crotalus e 51% do gênero Bothrops, no período
compreendido entre 1994 e 1995, esse percentual oscilou para 37% de Bothrops e 45% de
Crotalus. Estes números sinalizam claramente a variação da prevalência das serpentes em
função de diversos aspectos relacionados à interferência do homem no ambiente dos animais
(MELGAREJO, 2003).
De fato, a espécie C. durissus terrificus vem sendo apontada como invasora em
municípios da região sul do Estado do Rio de Janeiro, dada a sua considerável capacidade de
adaptação e dispersão; esse fenômeno deve-se ao intenso desmatamento para a implantação
de pastagens (Figura 2) (BASTOS; ARAÚJO; SILVA, 2005).
4
2.2 Características de Morfologia e Comportamento de Serpentes da Espécie Crotalus
durissus terrificus.
As espécies do gênero Crotalus apresentam fosseta loreal, orifício situado entre a
narina e o olho, além do guizo, estrutura composta por diversos segmentos córneos que vão
sendo adicionados a cada muda de pele, ou seja, em torno de quatro vezes ao ano; no entanto,
eles se quebram ao atingir determinado tamanho mantendo-se com aproximadamente dez
segmentos (JIM; SAKATE, 1999). As cascavéis apresentam a cabeça coberta por pequenas
escamas, possuem listas escuras albo-tarjadas para-ventrais, desde o pescoço sobre o corpo
robusto, seguidas, em cada flanco, por manchas deste mesmo tom (Figura 3). As cobras deste
gênero podem atingir um metro de comprimento e são classificadas, de acordo com a sua
dentição, como solenóglifas, uma vez que possuem um par de dentes bem desenvolvidos,
providos de canal central que se comunica com o duto excretor da glândula de veneno (Figura
4) (JIM; SAKATE, 1999; MOSMANN, 2001). Estas serpentes têm hábitos terrestres e
noturnos e não são consideradas agressivas, salvo quando provocadas ou postas em perigo
(MOSMANN, 2001). Quando as cascavéis erguem a cauda e vibram o guizo a uma
freqüência de aproximadamente 50 ciclos por segundo, produzem o som que as caracteriza
(JIM; SAKATE, 1999).
5
Figura 1. Distribuição da Crotalus durissus no Brasil (MELGAREJO, 2003).
Figura 2. Mapa do Estado do Rio de Janeiro mostrando locais de existência da Mata Atlântica e a invasão por
parte das Crotalus durissus terrificus na região do Vale do Rio Preto. As áreas numeradas, demarcadas, mais
claras representam as regiões onde foram coletadas cascavéis Resende (1), Valença (5) e Rio das Flores (6) e
as áreas demarcadas mais escuras onde existem relatos informais da existência das mesmas por parte dos
habitantes Itatiaia (2), Quatis (3), Nordeste de Barra do Piraí (4), Paraíba do Sul (7), Comendador Levy
Gasparian (8) e Três Rios (9) (BASTOS; ARAÚJO; SILVA, 2005).
6
Figura 3. Serpente Crotalus durissus terrificus no Estado do Rio de Janeiro. Foto tirada no Instituto de Biologia
do Exército (TOKARNIA; GRAÇA, 2006).
Figura 4. A. Fotomicrografia da presa de um viperídeo neonato; B. Canal central que tem comunicação com a
glândula do veneno (MELGAREJO, 2003).
7
2.3 Incidência dos Acidentes Crotálicos.
2.3.1 Humanos
Através da análise dos dados do Instituto Vital Brazil, Rosenfeld (1972) determinou o
número de 53,8 envenenamentos ofídicos para cada 100 mil habitantes ao ano (0,053%), com
letalidade de 1,5%; esse autor também relata a predominância de picadas de Bothrops (90,8%)
e, em menor escala, de Crotalus (8,4%) e de Micrurus (0,8%). Dados do Ministério da Saúde
(1998) referentes ao período de 1990 a 1993 revelaram uma incidência de 13,5 casos para
cada 100 mil habitantes com as regiões Centro-Oeste, Norte, Sul, Sudeste e Nordeste,
distribuídas em ordem decrescente de importância (PINHO; PEREIRA, 2001). Em revisão da
epidemiologia dos acidentes ofídicos nos últimos 100 anos concluiu-se que valores próximos
de 85% de acidentes botrópicos e de 10% de acidentes crotálicos têm sido encontrados até os
dias atuais com exceção do Estado de São Paulo, no qual o percentual de acidentes crotálicos
sobe para 20%, enquanto a letalidade diminuiu para 0,45% no geral e 1,87% especificamente
para acidente crotálico, a mais alta dentre os acidentes ofídicos (BOCHNER; STRUCHINER,
2003).
Da mesma forma, segundo Barraviera e Pereira (1999), os acidentes botrópicos (88%
dos casos) são bem mais freqüentes do que os acidentes crotálicos (10% dos casos); os
restantes 2% são atribuídos a picadas por serpentes dos gêneros Micrurus e Lachesis. Durante
o ano de 1988, em todo o Estado de São Paulo, foram verificados 322 casos de acidentes por
serpentes peçonhentas, dos quais 95%, foram causados por Bothrops, 4,4% por Crotalus e
0,6% por Micrurus; não foram registrados óbitos (RIBEIRO; JORGE; IVERSSON, 1995).
Por outro lado, em Minas Gerais, a percentagem de acidentes crotálicos já atingiu 63% dos
casos. Dentre os acidentes causados por Crotalus, 88% ocorreram em áreas rurais, durante os
meses mais quentes do ano e 77% das picadas foram observadas nos membros inferiores e
34,5% nos pés (FRANCO et al., 2001).
De acordo com o Ministério da Saúde (1998), a maior letalidade por envenenamento
ofídico é observada em casos de envenenamento crotálico.
A epidemiologia dos acidentes ofídicos em humanos aponta para um perfil que, em
parte, se mantém inalterado ao longo dos últimos 100 anos: com maior freqüência são
vitimados trabalhadores rurais, do sexo masculino, na faixa etária produtiva; as picadas
atingem principalmente membros inferiores (BOCHNER; STRUCHINER, 2003).
2.3.2 Animais
Segundo Pacheco e Carneiro (1932), o homem do campo tem uma tendência inata e
equivocada a atribuir à intoxicação por plantas e aos envenenamentos ofídicos, a maioria das
“mortes súbitas” em bovinos. Esses autores consideravam que o carbúnculo hemático e o
carbúnculo sintomático constituiriam a causa principal dessas mortes.
Os primeiros registros de envenenamentos ofídicos foram levantados por intermédio
de boletins preenchidos por vaqueiros e proprietários. De 149 acidentes ofídicos registrados
entre 1972 e 1989 no Hospital Veterinário da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia
da UNESP, em Botucatu, Estado de São Paulo, 128 foram atribuídos a serpentes do gênero
Bothrops, 11 a Crotalus e 10 não foram identificados. Desses acidentes, 103 ocorreram em
caninos, 22 em eqüinos, 17 em bovinos, quatro em caprinos, dois em gatos e um em suíno
(BICUDO, 1994).
8
De acordo com Stefanini (1991), citado por Bicudo (1994), entre 1973 e 1991, teriam
morrido 358 bovinos picados por serpentes em sete fazendas no Estado de São Paulo. O autor
não menciona como foram estabelecidos estes diagnósticos”. Este número representava um
índice de mortalidade entre 0,13 %. Levando-se em conta a população, na época em torno de
100 milhões de cabeças, este autor estimou a mortalidade de bovinos por envenenamento
ofídico no Brasil seria de 130 mil cabeças por ano.
Segundo dados divulgados pela Fundação Ezequiel Dias, órgão do governo de Minas
Gerais, morreriam anualmente 75.000 bovinos por picadas-de-cobra no Brasil, embora não
tenha sido divulgada qual a base para tal afirmação (VEJA, 2004). A casuística de
atendimento de animais picados por serpentes no Hospital Veterinário de Botucatu é escassa
(BICUDO, 1999).
2.4 O Veneno Crotálico
2.4.1 Características do veneno crotálico.
a) Cascavéis sul-americanas
Segundo Brazil (1980), o veneno da cascavel sul-americana é muito mais tóxico do
que o das outras viperídias. A peçonha crotálica é um complexo tóxico-enzimático, cujos
efeitos biológicos podem variar em função das diferentes espécies que receberam o veneno
(MARQUES; CUPO; HERING, 1992). O veneno produzido por C. durissus terrificus contém
um grande número de proteínas farmacológica e bioquimicamente ativas e dele se isolam as
toxinas crotoxina, crotamina, giroxina e convulxina (Tabela 1) (VARANDA; GIANNINI
1999, grifo nosso). As concentrações destes componentes tóxicos variam segundo localização
geográfica, estação do ano, sexo e idade da serpente. Esta diferença qualitativa, além das
quantitativas e dos locais de inoculação, determinam respostas biológicas variáveis por parte
do indivíduo (FURTADO; SANTOS; KAMIGUTI, 2003; HUDELSON, S.; HUDELSON, P.,
1995a; MAGRO et al., 2001).
A crotoxina, considerada a principal toxina, corresponde de 50% a 70% do peso do
veneno seco e tem o dobro da potência do veneno integral (BRAZIL, 1980).
O complexo crotoxina isolado do veneno da C. durissus terrificus se divide na
crotapotina e em um complexo enzimático composto de fosfolipases: a exonuclease, capaz de
degradar ácidos nucléicos, as fosfomonoesterases e enzimas proteolíticas, caracterizadas por
provocar hemorragia. A crotapotina quando aplicada isoladamente, é de baixa toxicidade,
porém sua ação, em conjunto com a fosfolipase, produz potentes efeitos neurotóxicos
caracterizados pela interferência na despolarização e conseqüente inibição da liberação de
neurotransmissor. Este complexo de proteínas de peso molecular variável, é ainda responsável
por alterações sistêmicas, porém seletivas nas membranas das fibras musculares esqueléticas
dos tipos I (fibras de contração lenta) e IIA (fibras de contração rápida) (RADOSTITS et al.,
2000; SALVINI et al., 2001; VARANDA; GIANNINI, 1999).
9
Tabela 1 Características das substâncias de ação tóxica encontradas no veneno da serpente Crotalus durissus terrificus.
Toxinas Importância Características físico-químicas Mecanismo de ação Efeito Patogenicidade
Crotoxina
Principal neurotoxina
presente, representa de 50 a
70% do peso seco do veneno.
Não é uma proteína homogênea.
É formada por três tipos de
fosfolipase A
2
(enzima de ação
hidrolítica, estável isolada de
veneno de serpentes, abelhas e
escorpiões fortemente sica) e
uma proteína chamada
crotapotina, além de substâncias
básicas que quando reunidas
apresentam elevada toxicidade.
Neurotoxina pré-sináptica que
atua nas terminações nervosas
das placas motoras inibindo a
liberação do mediador (Ach) e
interrompendo a transmissão
neuromuscular. A fosfolipase
atua sobre a morfologia
mitocondrial e sistema de
transporte de elétrons das
fibras do músculo cardíaco.
Paralisia flácida até morte
por parada respiratória. A
fosfolipase pode levar ao
rompimento da membrana
da célula.
Constituinte mais tóxico
do veneno. O grau de
patogenicidade varia em
função da presença de
substâncias que
exponham os
fosfolipídeos, como o
Fator Lítico Direto
(LCD) e a
fosfatidilcolina.
Crotamina
Está presente apenas no
veneno de C. durissus de
certas regiões (Argentina,
Bolívia, Norte do Paraná e
parte do Estado de São Paulo).
Toxina polipeptídica básica com
peso molecular de 4.9kDa,
composta de 42 aminoácidos e
três pontes de dissulfito.
Atua na membrana das fibras
musculares alterando a sua
permeabilidade ao sódio.
Atua como uma
miotoxina e pode levar a
espasmos musculares e
interage com canais de
sódio das membranas
células musculares.
Não desempenha papel
importante de forma
direta na fisiopatogenia,
porém algumas espécies
apresentam nefrose
mioglobinúrica
secundária.
Convulxina
Pode ser responsável por
alguns dos sintomas
neurológicos observados.
Possui elevado peso molecular
em relação às demais.
* Pode ocasionar, em
camundongos
dependendo da via de
inoculação, convulsões,
perturbações respiratórias
(apnéia) e circulatórias.
*
Giroxina
É considerada toxina não letal. Possui peso molecular de 34kDa
e não é afetada por
congelamento.
* Efeitos labirínticos
encontrados em alguns
experimentos.
Pouca importância na
patogenia.
Enzima
“tipo
trombina”
A “incoagulabilidade do
sangue está envolvida no
quadro clínico do
envenenamento crotálico.
Pode ser extraída e purificada
do veneno com peso molecular
de 34kDa.
Atua sobre a molécula de
fibrinogênio promovendo a
hidrólise e a transformando em
fibrina.
Coágulopatia. Não é a toxina mais
envolvida nos sinais do
envenenamento.
* Estudos inconclusivos na literatura consultada.
Tabela elaborada a partir dos trabalhos de BRAZIL, 1980; DENSON et al., 1972; HUDELSON, S.; HUDELSON, P., 1995a; HUDELSON, S.; HUDELSON, P., 1995b;
KAMIGUTI; SANO-MARTINS, 1995; VARANDA; GIANNINI, 1999.
10
A crotapotina, juntamente com a fosfolipase, também induz a alterações na estrutura
da membrana pré-sináptica, o que resulta em alterações transitórias nos canais de cálcio que
por sua vez altera o influxo ou a liberação de vesículas de acetilcolina (Figura 5) (BRAZIL,
1980; HUDELSON, S.; HUDELSON, P., 1995b).
O veneno crotálico também apresenta atividade pró-coagulativa, ou seja mediante um
de seus constituintes, a enzima “tipo trombina,” converte, através de hidrólise, o fibrinogênio
em fibrina intravascular (HUDELSON, S.; HUDELSON, P., 1995a; SANO-MARTINS;
SANTORO, 2003). O fibrinogênio é então transformado em produtos de degradação da
fibrina (SANO-MARTINS; SANTORO, 2003). A enzima tipo trombina é encontrada em
concentração significativa no veneno da Crotalus sul-americana, e também tem sido
responsabilizada pelo consumo de cálcio, plaquetas e fatores V, VII e XIII da coagulação
(Figura 6) (BRAZIL, 1980; HUDELSON, S.; HUDELSON, P., 1995a; VARANDA;
GIANNINI, 1999).
A crotamina é uma isocrotoxina presente no veneno de C. durissus terrificus de certas
regiões e não reproduz os efeitos neurotóxicos da crotoxina, contudo tem ação tóxica tardia,
caracterizada por miotoxicidade, quando injetada por via intraperitoneal (VARANDA;
GIANNINI, 1999). Schenberg (1959) coletou o veneno de 530 cascavéis e analisou o teor de
crotamina e concluiu que, dentro do Estado de São Paulo, existem serpentes crotamina-
positivas e crotamina-negativas. Esta miotoxina age induzindo a despolarização da membrana
da célula muscular esquelética, além de induzir quadros de paralisia espástica nos membros
posteriores de camundongos, ratos, coelhos e cães (OGUIURA; BONI-MITAKE; RÁDIS-
BAPTISTA, 2005). A girotoxina é uma neurotoxina não-letal, capaz de causar movimentação
anormal, do tipo girar em uma direção, porém estes sintomas desaparecem espontaneamente,
após 20 minutos (VARANDA; GIANNINI, 1999). A convulxina induz a distúrbios
circulatórios, respiratórios e convulsões em gatos e uma breve fase de apnéia em
camundongos (VARANDA; GIANNINI, 1999).
b) Cascavéis norte-americanas
As frações tóxicas encontradas nas serpentes do gênero Crotalus norte-americanas
estão listadas na Tabela 2.
11
Figura 5. Esquema do mecanismo de ação da acetilcolina na placa motora e o seu bloqueio pela neurotoxina
pré-sináptica crotoxina (UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2001).
Figura 6. Mecanismo de ação coagulante do veneno crotálico, através do qual a enzima tipo trombina consome
o fibrinogênio e dificulta a formação de coágulo estável (DENSON et al., 1972; HUDELSON, S.; HUDELSON,
P., 1995a; KAMIGUTI; SANO-MARTINS, 1995).
12
Tabela 2 – Características das substâncias de ação tóxica encontradas no veneno das serpentes do gênero Crotalus Norte-americanas.
Toxinas Importância Características físico-químicas Mecanismo de ação Efeito
Fosfolipase A
2
A fosfolipase A
2
encontrada possui
elevada atividade como as do veneno
Botrópico.
Possui alto grau de similaridade com
as enzimas botrópicas apresentando,
inclusive, alguma reação cruzada.
Atua sobre a morfologia
mitocondrial; atividade variável
sobre taxa relativa de hidrólise em
diferentes fosfatídeos.
Pode levar ao rompimento da
membrana da célula e das
plaquetas.
Enzima “tipo
trombina”
A “incoagulabilidade” do sangue está
envolvida no quadro clínico do
envenenamento Crotálico.
Peso molecular de 34kDa. Atua sobre a molécula de
fibrinogênio promovendo a
hidrólise e transformando em
fibrina.
Coagulopatia.
Exonuclease
Desempenha menor importância que
as demais enzimas.
Peso molecular de 115kDa, pode ser
estocada a 4ºC durante anos.
Hidrolisam nucleotídeos da cadeia e
ligações fosfodiéster. Inicia pelo 3’,
–OH e o AMP cíclico.
Degradação dos ácidos nucléicos
removendo nucleotídeos e
hidrolisando nucleosídeos do RNA
e DNA.
Fosfatase não-
específica
Idem anterior. Podem ser alcalinas ou ácidas
dependendo do pH de ação.
Hidrólise de ligações de
fosfomonoéster.
Fosfatase.
L-aminoácido
oxidase
Tem um papel importante agindo
sobre a agregação plaquetária.
Possui duas subunidades e pode variar
em até 200 vezes na quantidade de
acordo com a espécie da serpente.
Converte aminoácidos livres em α-
cetoácido.
Coagulopatia.
Enzimas
Proteolíticas
Os venenos da família Crotalidae
possuem forte atividade proteolítica,
quando comparados aos outros
membros da família Viperidae.
Podem ser caracterizados como
serinoproteases, metaloproteinases.
Ou ainda denominadas hemorraginas.
Degradam o fibrinogênio. As proteases possuem efeitos anti-
coagulantes graves.
Hialuronidases
Presente nas peçonhas de outras
espécies além das serpentes.
Enzima hidrolítica. Provocam a hidrólise do ácido
hialurônico encontrado na pele,
tecido conectivo e junções ósseas.
Agem facilitando a difusão de
toxinas nos tecidos.
Tabela elaborada a partir dos trabalhos de BRAZIL, 1980; DENSON et al., 1972; HUDELSON, S.; HUDELSON, P., 1995a; HUDELSON, S.; HUDELSON, P., 1995b;
KAMIGUTI; SANO-MARTINS, 1995; VARANDA; GIANNINI, 1999.
13
2.4.2 Doses tóxicas do veneno crotálico
Brazil (1980) coletou dados de diversos trabalhos sobre dose letal de veneno de C.
durissus terrificus e verificou a dose letal mínima (por via intramuscular) de 0,06 mg/kg,
(miligramas por quilograma de peso), para cobaios e 1 mg/kg para coelhos.
Após a aplicação de doses que variaram entre 0,025 e 0,19 mg/kg, pelas vias
subcutânea e intramuscular, aplicadas na coxa ou na bochecha, a dose letal mínima
encontrada (0,05 mg/kg) levou o bovino ao óbito em menos de um dia após a inoculação
(Tabela 3) (ARAÚJO; ROSENFELD; BELLUOMINI, 1963). Esses autores estimaram com
base na quantidade que 75% das serpentes fornecem na primeira extração (50 mg de veneno
seco), uma serpente deste gênero seria capaz de matar um bovino de até 2000 kg. Tokarnia e
Peixoto (2006), porém, refizeram esses cálculos, e verificaram que o exemplar do gênero
Crotalus, que mais produziu veneno, era capaz de levar à morte um hipotético bovino de até
1000 kg; o que na prática faria pouca diferença (Tabela 4). A partir daí foi elaborado um
índice de potência e concluíram que o veneno da C. durissus terrificus é 20 vezes mais
potente do que o da Bothrops jararaca e cinco vezes mais potente que o da Bothrops
alternatus. A marcada resistência dos suínos contra o veneno crotálico está bem caracterizada
(1 mg/kg por via intramuscular e 0,5 mg por via subcutânea), ou seja, dez a vinte vezes mais
resistente que o bovino (ARAÚJO et al., 1963).
A inoculação de 0,05 mg/kg determinou a morte de quatro bovinos que não receberam
qualquer tratamento entre sete e 120 horas de evolução até o óbito e também de nove tratados
com soroterapia específica (evolução entre oito horas e 45 minutos e 156 horas); ainda neste
experimento, três animais foram sacrificados no 18º dia após a inoculação, por não haver
possibilidade de recuperação (Tabela 3) (SALIBA; BELLUOMINI; LEINZ, 1983).
Em quatro bovinos inoculados, por via intramuscular, com a dose de 0,05 mg/kg de
uma mistura da peçonha da C. durissus terrificus e C. durissus collilineatus e não-tratados
com soro específico, o tempo de evolução variou entre sete horas e cinco dias. No grupo
submetido à soroterapia específica por via intramuscular com tempos entre a inoculação e o
tratamento que variaram entre duas e seis horas e relações dose de soro:veneno 1:1, 2:1 e 4:1,
morreram 29 de 48 animais e no grupo cuja aplicação foi por via intravenosa nas mesmas
condições de doses e intervalos, 20 dos 48 animais foram a óbito. Os autores concluem que,
quanto menor o intervalo de tempo decorrido entre a inoculação do veneno e a soroterapia
específica, maior a eficiência deste tratamento, que o soro específico é mais eficaz por via
intravenosa e ainda que a aplicação de doses de soro específico superiores às necessárias para
neutralizar o veneno, não resultam em maior eficácia (Tabela 3) (BELLUOMINI, 1982).
A peçonha crotálica diluída a 1% na dose de 0,03 mg/kg pela via intramuscular foi
inoculada através de um dispositivo de proteção feito de esparadrapo que garantia uma
profundidade de seis milímetros na região glútea. Entre 20 horas e 42 minutos e 39 horas e 24
minutos, esta dose levou ao óbito todos os cinco bovinos (Tabela 3) (LAGO, 1996).
14
Tabela 3. Revisão dos trabalhos sobre envenenamento crotálico em bovinos no Brasil (Continua).
Referência
Características do estudo e
objetivos
Delineamento experimental Quadro clínico Patologia clínica
Achados de necropsia e
histopatológicos
ARAÚJO;
ROSENFELD;
BELLUOMINI,
1963
Caracterização das doses mortais
de venenos ofídicos para bovinos.
Inoculação em 48 bovinos machos e
fêmeas de 14 meses a 3 anos de
idade (de 125 a 288 kg), divididos
em grupos e inoculados com o
veneno de C. d. terrificus diluídos
em solução de 1 ml de NaCl 0,85%
nas doses de 0,125, 0,025, 0,05, 0,10,
0,18 e 0,19 mg/kg pelas vias
subcutânea e intramuscular.
Concluiu que para a
espécie bovina, a potência
do veneno crotálico, é de
20 vezes a da maioria dos
venenos botrópicos.
Não realizada O veneno crotálico não
produziu necrose por via
IM ou SC.
BELLUOMINI,
1972.
Avaliação da resposta a diversos
ensaios soroterápicos, nos quais
variava a dose de soro e o tempo
após o envenenamento para
início do tratamento.
Correlacionar o início da
soroterapia anti-ofídica, o tempo
de evolução e a letalidade.
Foram utilizados 102 bovinos
mestiços de raças, idades e sexo
variados, inoculados com uma
mistura em proporções des-
conhecidas das peçonhas de C. d.
terrificus e C. d. collilineatus na dose
de 0,05 mg/kg via IM no terço
superior da região glútea a 6mm de
profundidade. A soroterapia foi
realizada 2, 3, 4 e 6 horas após a
inoculação. Foram utilizadas várias
relações dose/veneno (1:1, 2:1, 4:1).
Evolução dentre os não
tratados com soro variou
entre 7 horas e cinco dias
Não realizada Não descrito
BELLUOMINI,
1981.
Revisão com observações sobre
os aspectos gerais do ofidismo,
quanto ao diagnóstico
diferencial..
Revisão de literatura O autor descreveu a ação
do veneno da cascavel sul-
americana como produtora
de ação neurotóxica e
hemolítica.
Não descrito Não descrito
C. d. terrificus = Crotalus durissus terrificus, IM = intramuscular, SC = subcutânea, mg/Kg = miligramas por quilograma, CK = creatinoquinase, SNC = Sistema Nervoso
Central
15
Tabela 3..Continuação.
BELLUOMINI,
1981.
Avaliação do quadro sintomático
do envenena-mento crotálico.
92 bovinos mestiços zebu adultos
com peso entre 106 e 610 kg
inoculados via IM pela mistura das
peçonhas de C. d. terrificus e C. d.
collilineatus na dose de 0,05 mg/kg .
e tratados por via IV ou IM com
soroterapia capaz de neutralizar 1 a 4
X a peçonha injetada, de acordo com
o grupo, e observados por 40 dias.
Dificuldade de locomo-
ção, incoordenação,
cambalear, decúbito
esternal e lateral, paralisia
do globo ocular, ausência
de mioglobinúria e
hemoglobinúria, sialor-
réia, timpanismo agudo
em 4 casos. Óbito por
bloqueio pré-sináptico das
junções neuro-musculares.
Não realizada Não descrito
BELLUOMINI et
al., 1982
Discutir o quadro sintomático de
bovinos submetidos ao
envenenamento crotálico e
soroterapia específica
Observação dos animais utilizados
no experimento de Belluomini em
1981.
Fixação e imobilidade do
globo ocular, apatia,
paralisia, Decúbito
abdominal e lateral
Não realizada Não descrita
BIRGEL et al.,
1983.
Avaliação das alterações
encontradas na urina dos bovinos
inoculados no experimento acima
citado. Foi discutido o
diagnóstico diferencial dos
acidentes botrópicos e das
intoxicações por plantas com
princípios hemolíticos.
15 bovinos tiveram a urina coletada
durante a necropsia realizada após a
morte por envenenamento de 12 e a
eutanásia de três animais. Realização
do EAS.
Doze animais vieram a
óbito entre 7 e 156 horas e
três foram sacrificados
com 18 dias pós-
inoculação.
Glicosúria, pro-
teinúria, urina
pouco densa,
microhematúria
em 60 % dos
casos. Não houve
hemólise intra-
vascular. Foi
evidenciada
diminuição pro-
gressiva da re-
absorção tubular.
C. d. terrificus = Crotalus durissus terrificus, IM = intramuscular, SC = subcutânea, mg/Kg = miligramas por quilograma, CK = creatinoquinase, SNC = Sistema Nervoso
Central
16
Tabela 3..Continuação.
SALIBA;
BELLUOMINI;
LEINZ, 1983
.
Inoculação experimental em 16
bovinos dos quais 12 foram
submetidos a fluidoterapia.
Foram necropsiados 16 animais de
um grupo de 52 bovinos mestiços,
adultos, de ambos os sexos e
submetidos ao envenenamento por
C. durissus terrificus e C. durissus
collilineatus e 12 tratados com
soroterapia.
Dos 16 animais enve-
nenados, 3 foram euta-
nasiados e o restante veio
a óbito.
- Petéquias e sufusões nas
serosas e mucosas.
Hematomas subdurais no
SNC. Congestivo-
hemorrágicas em diversos
órgãos. Dege-neração
vascular no fígado e
miocárdio,
Degeneração hidrópica nos
rins. Presença de colindros
hialinos e de hemoglobina.
Glome-rulonefrite focal em
31% dos animais.
LAGO, 1996. Tese de Mestrado. Inoculação
experimental em bovinos com o
objetivo de acompanhar as
alterações clínicas e laboratoriais
Inoculação de 0,03 mg/kg . por via
IM em 5 bovinos mestiços. Exame
clínico e coleta de sangue a cada 2
horas durante 24 horas.
Os achados clínicos em
ordem cronológica foram
apatia, letargia profunda,
mioclonias, diminuição do
tônus muscular,
diminuição dos reflexos
superficiais,
incoordenação motora,
decúbito lateral,
movimentos de
pedalagem, perda de
sensibilidade à dor
profunda, paralisia flá-
cida, dispnéia e morte em
28 + 9 horas após a
inoculação do veneno.
Aumento signi-
ficativo do tempo de
coagulação,
diminuição do
fibrinogênio sem que
houvesse consumo de
plaquetas, aumento
significativo de he-
mácias, hemoglo-
bina corpuscular
média, volume
globular, leucocitose
com neutrofilia,
linfocitose, mo-
nocitose. Uréia e CK.
aumentaram
significativamente.
Pequeno edema
transitório no local da
inoculação, congestão,
hemorragias nos rins,
fígado, pulmões,
coração, músculos,
intestinos durante a
necropsia. Focos de
infiltrado inflamatório e
discretas hemorragias no
exame microscópico
destes órgãos.
-
C. d. terrificus = Crotalus durissus terrificus, IM = intramuscular, SC = subcutânea, mg/Kg = miligramas por quilograma, CK = creatinoquinase, SNC = Sistema Nervoso
Central
17
Tabela 3..Continuação.
LAGO et al., 2000. Descrição do quadro clínico do
envenenamento crotálico.
Foram publicados os dados
referentes aos achados clínicos
observados no estudo anterior.
Os autores verificaram
que a temperatura,
freqüência cardíaca e
movimentos respira-tórios
se mantiveram estáveis
apesar do quadro
neurológico caracterizado
por paralisia progressiva..
LAGO et al., 2001. Alterações hematológicas em
bovinos
Os autores apresentou em separado
os dados referentes as alterações
hematológicas apresentadas no
experimento anterior.
Idem anterior. Hemoconcentração,
leucocitose de até 60000.
Eosinófilos e basófilos
acompanham as respostas
celulares sem apresentarem
desvios significativos.
Não descrito
LAGO et al., 2004. Investigou-se o perfil sorológico
de bovinos inoculados com
veneno crotálico na dose e
0,03mg/kg detoxificado pelo
método de iodação com
encapsulação em lipossomas.
Os animais foram divididos em três
grupos: 5 animais inoculados com
veneno iodado livre; 5 animais com
veneno iodado incorporado com
lipossomas; 1 animal inoculado com
veneno na forma natural para
verificação da letalidade.
Não descrito A iodação e a iodação
seguida de incorporação em
lipossomas do veneno
crotálico suprimem os
efeitos de seus constituintes
sobre o perfil bioquímico
sorológico da concentração
de proteínas totais, uréia,
creatinina e CK de bovinos.
Não descrito
TOKARNIA;
PEIXOTO, 2006.
Os autores investigaram através
da literatura consultada, a real
importância do envenenamento
ofídico em bovinos como fator
determinante de mortalidade.
Revisão de Literatura
C. d. terrificus = Crotalus durissus terrificus, IM = intramuscular, SC = subcutânea, mg/Kg = miligramas por quilograma, CK = creatinoquinase, SNC = Sistema Nervoso
Central
18
Tabela 4. Relação entre a quantidade de veneno secretada e possibilidade de envenenamento fatal por algumas serpentes brasileiras
(TOKARNIA; PEIXOTO, 2006, p. 63).
A B
Araújo, Rosenfeld e Belluomini (1963)
C D
Rosenfeld e Belluomini (1960)
Dose letal de veneno para bovinos
Coxa (intramuscular)
Bochecha (subcutâneo)
Serpente Média da
quantidade
total de
veneno (mg)
fornecido
por 75 % das
serpentes na
primeira
extração
Máximo
extraído
(mg) do
ofídio que
mais
produziu
veneno
mg/kg
dose letal
Para bovino de
400 kg (mg)
mg/kg
dose letal
Para
bovino
de 400
kg (mg)
Peso
hipotético
(em kg)
(75%)
b
Peso
hipotético
(em kg)
(máximo)
c
Bothrops
B. jararacussu
400 830 2,00 800 1,60 640
250 (sc) 581
B. alternatus
130 380 0,45 180 0,25 100
520 (sc) 950
B. moojeni
105 300 2,00 800 0,41 164
255 (sc) 731
B. jararaca
65 160 1,00 400 1,00 400 65 160
B. cotiara
65 120 0,25 100 0,25 100
260 480
B. neuwiedi
45 100 1,00 400 1,00 400
45 100
Crotalus
C. durissus terrificus
50 220 0,05 20 0,05 20
1000 4400
A
Realizada a extração, o veneno das cobras, depois de seco, fica reduzido a 25 % de seu volume original. Todos os dados indicados nesse trabalho se referem ao veneno seco.
B
Doses letais pelas vias subcutânea e intramuscular.
C
Peso hipotético (em kg) de um bovino passível de ser morto em acidente ofídico, considerando-se a quantidade de veneno que 75% das cobras dessa espécie fornecem na primeira extração.
D
Peso hipotético (em kg) (máximo) de um bovino que poderia ser morto em acidente ofídico considerando-se o máximo de veneno produzido pelo exemplar dessa espécie que mais produziu
veneno.
19
2.4.3 Quantidade de veneno inoculada.
É importante estimar-se a quantidade de veneno inoculada em um acidente ofídico a
fim de se determinar o cálculo da dose de soro a ser empregada, entretanto, como não há meio
preciso capaz de estabelecer a quantidade de veneno injetada em cada acidente, foi feita uma
projeção em função da quantidade de veneno seco, das cascavéis brasileiras, encontrado nas
glândulas, sendo que 69% continham menos que 50 mg de veneno seco (BELLUOMINI,
1972). Ao dosar a quantidade de veneno na glândula de uma cobra podemos determinar a
quantidade máxima que poderia ser inoculada por ela, mas isso não significa que todo esse
veneno seria inoculado em uma picada. A expulsão de veneno da glândula é uma ação
voluntária, inteiramente sob controle do ofídio, e não é simplesmente uma questão da
quantidade disponível. Por parte da cobra um instinto de conservar o veneno, porque é
através dele que pode obter o alimento. Uma picada em um animal de grande porte é somente
uma reação de defesa; uma cascavel provavelmente não “considera” um cavalo ou o homem
como um alimento em potencial (CLARKE, E.; CLARKE, M., 1969).
Segundo Mattingly e Bosse (2001), a quantidade de veneno inoculada depende da
idade e do estado de saúde da serpente, já que a capacidade de regular a quantidade de veneno
a ser injetada não é uma habilidade bem desenvolvida nas serpentes jovens. O tamanho de um
humano confunde o estímulo sensorial da serpente e pode ser um fator que contribui para a
alta incidência de bote sem inoculação do veneno (“picada seca”), em torno de 25%; estes
autores afirmam que foi observada uma grande variação nos percentuais de picadas secas
encontrados na literatura. Melgarejo (informação verbal)
1
verificou, experimentalmente, que,
em 10% dos casos, essas serpentes não inoculam veneno em camundongos. Os acidentes com
serpentes venenosas nem sempre resultam em envenenamento e os botes sem inoculação do
veneno prevalecem entre oito e 50% dos acidentes ofídicos no mundo. Um estudo
retrospectivo no Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberaba demonstrou que
entre 33 pessoas atendidas por picada de cobras do gênero Bothrops, dez (30,3%) não
apresentaram sinais clínicos e laboratoriais e três de sete pessoas que tiveram acidente com
Crotalus não apresentaram sinais de envenenamento. Em casos de picada seca, os únicos
sintomas observados em humanos são a dor e a irritação local. Realmente, sabe-se que em
parte dos botes, as serpentes do gênero Crotalus não inoculam veneno (SILVEIRA;
NISHIOKA, 1995).
Em um grupo de 31 crianças atendidas com histórico de picada por C. durissus terrificus,
apenas uma apresentou “picada seca”, sem sintomas de envenenamento, três apresentaram
discretos sintomas, nove apresentaram sintomas moderados e 18 um quadro severo de
envenenamento (BUCARETCHI et al., 2002).
2.5 Quadro Clínico-Patológico do Envenenamento Crotálico
2.5.1 Humanos
O veneno crotálico o produz lesão local evidente e possui apenas três atividades
com importância clínica conhecida: atividade neurotóxica, com ação periférica do tipo
paralisia flácida das musculaturas esquelética e da respiração, atividade anticoagulante e
1
Dado fornecido por Aníbal Rafael Melgarejo (Divisão de Animais Peçonhentos, Instituto Vital Brazil, Niterói,
2005).
20
atividade miotóxica sistêmica, que pode causar a insuficiência renal aguda secundária
(PINHO; PEREIRA, 2001). O exame clínico dos doentes deve ser iniciado pelo local da
picada, que pode variar de um simples arranhão até a marca puntiforme única ou dupla.
Geralmente, não reação local significativa do tipo edema ou dor no local (AMARAL;
MAGALHÃES; RESENDE, 1991). Entretanto um estudo realizado em seis pacientes
comprovou a presença de edema moderado, associado ou não a hemorragia no tecido
subcutâneo e muscular (FONSECA et al., 2002). A miotoxicidade do veneno é evidenciada
pela mialgia generalizada (BARRAVIERA, 1999b; BUCARETCHI et al., 2002). As
manifestações neurológicas ocorrem após algumas horas e podem cursar com ptose palpebral
bilateral, sonolência e obinubilação. Estes sintomas deram origem à expressão denominada
“fácies neurotóxico de Rosenfeld”. Observa-se um aparente comprometimento dos nervos
óptico, oculomotor, troclear e abducente, os quais correspondem respectivamente aos 2
os
, 3
os
,
4
os
e 6
os
pares cranianos responsáveis pela visão, movimentação do globo ocular e reflexo
pupilar. Além disso, pode-se observar nistágmo, cefaléia intensa, febre, alteração da gustação
e perda de olfato (BARRAVIERA, 1999b; BUCARETCHI et al., 2002; PINHO; PEREIRA,
2001). As alterações respiratórias surgem nas primeiras 48 horas e podem variar de uma
dispnéia moderada, taquipnéia, uso da musculatura acessória na respiração até apnéia com
necessidade de intubação e ventilação artificial mecânica às vezes por mais de 30 dias
(AMARAL; MAGALHÃES; RESENDE, 1991). A crotoxina causa mionecrose e hemorragia,
agravadas pelo aumento da permeabilidade capilar. Estes eventos levam a diminuição do
aporte de sangue arterial e subseqüente morte celular. Então, vários constituintes das fibras
musculares são liberados na circulação e resultam em mioglobinemia, hiperfosfatemia,
hipercalemia, uremia, acidose metabólica e hipovolemia. Estas alterações afetam vários
órgãos, em especial os rins (HUDELSON, S.; HUDELSON, P., 1995b). As alterações
urinárias se caracterizam por urina escura ou vermelha após 24 ou 48 horas do acidente,
achados ligados à insuficiência renal aguda e crônica, tais como uremia e anemia, alterações
hematológicas discretas ligadas a “incoagulabilidade sangüínea” com epistaxe e hemorragias
na gengiva em 40% dos pacientes com o prolongamento dos tempos de coagulação,
protrombina e tromboplastina parcial (AMARAL et al., 1986; BARRAVIERA, 1999b;
PINHO; PEREIRA, 2001). O acompanhamento de nove pessoas envenenadas por Crotalus
mostrou, em sete que faleceram, achados histopatológicos compatíveis com um quadro de
nefrose (WAJCHENBERG; SESSO; INAGUE, 1954). Barraviera (1999b) descreveu
discretas alterações hepáticas diagnosticadas pelas análises séricas de aspartato
aminotransferase (AST) e alanina aminotransferase (ALT), comprovadas na histopatologia
pela verificação de degeneração hidrópica dos hepatócitos centrolobulares em um doente
picado por C. durissus terrificus.
2.5.2 Animais de laboratório
Em estudo sobre o comportamento de ratos após a inoculação experimental do veneno
de C. durissus terrificus foram observadas diminuição acentuada da atividade locomotora e da
freqüência de se levantar, além de fáscies miastênico e extensão do membro pélvico
inoculado, 30 minutos após a inoculação (CASTRO, 1999). A inoculação experimental em
ratos Wistar levou a diminuição moderada do fibrinogênio plasmático e lesão hepática
comprovada por aumento em torno de 3 vezes dos níveis séricos de AST e ALT em todos os
animais estudados. Ao exame ultramicroscópico havia de lesões mitocondriais com edema,
desaparecimento de cristas, rarefação e até perda do conteúdo mitocondrial hepático
(BARRAVIERA, 1999b).
A inoculação intramuscular de crotoxina em ratos determina
necrose de fibras de contração rápida dos músculos tibial anterior no local da inoculação,
21
músculo flexor plantar, fibras vermelhas do gastrocnêmio e masseter, porém não foram
encontradas lesões no tibial anterior contralateral, longo dorsal e fibras brancas do
gastrocnêmio (SALVINI et al., 2001).
2.5.3 Caninos
Dentre os achados clínicos mais importantes destacam-se os relacionados ao sistema
nervoso como ataxia, paralisia, tremores, dispnéia, sedação, midríase com paralisia ocular e
ptose palpebral (FERREIRA JÚNIOR; BARRAVIERA, 2004; NOGUEIRA; SAKATE;
BARROS, 2004). Em cães verificam-se acentuada leucocitose com neutrofilia e desvio à
esquerda (NOGUEIRA; SAKATE; BARROS, 2004). Duas horas após a picada por C.
durissus terrificus, uma cadela gestante apresentou todos os achados clínicos descritos acima,
inclusive dificuldade em manter-se em estação, com postura anormal, além de discreto edema
na região da picada, sem evidência de dor. O volume globular, o número de hemácias e a
quantidade de fibrinogênio plasmático aumentaram moderadamente; houve acentuada
leucocitose com desvio à esquerda e o sangue apresentou “incoagulabilidade” por até 24 horas
após; houve aumento de creatinaquinase em mais de 100 vezes e a AST em mais de 20 vezes,
ambas aferidas quatro horas após a picada. Na urina havia sangue oculto, proteínas, hemácias
e leucócitos (COLLICCHIO et al., 2002). O quadro renal no cão pode culminar com
insuficiência renal oligúrica e morte por necrose tubular (NOGUEIRA; SAKATE; BARROS,
2004). Ferreira Júnior e Barraviera (2004), em um estudo sobre a conduta clínica para os
acidentes por picadas-de-cobra em cães e gatos no Brasil, afirmaram que os acidentes
crotálicos podem induzir à falência renal.
2.5.4 Bovinos (Tabela 3)
Não relatos científicos de casos naturais de acidentes por Crotalus em bovinos no
Brasil. Quase tudo que se sabe sobre a ação do veneno de serpentes desse gênero e sobre o
correspondente quadro clínico-patológico do envenenamento crotálico em bovinos, se baseia
na experimentação (TOKARNIA; PEIXOTO, 2006).
Nos bovinos, sob efeito de veneno crotálico, atendidos no Hospital Veterinário da
Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia de Botucatu, verificou-se quando se
rotacionava a cabeça do animal na direção latero-caudal, que a esclera não fica exposta, ou
fica apenas parcialmente exposta porque paralisia dos músculos responsáveis pela
movimentação do globo ocular (BICUDO, 1999).
Após a inoculação de veneno de C. durissus terrificus em 13 bovinos não foram
observados necrose ou lesão local aparente até o óbito (ARAÚJO; ROSENFELD;
BELLUOMINI, 1963).
No mencionado estudo de Belluomini et al. (1982) com 92 bovinos verificou-se um
quadro de dificuldade de locomoção, andar cambaleante e incoordenação motora, entre seis e
21 horas após a inoculação, além de decúbito esternal e abdominal lateral entre seis e 48 horas
acompanhados de fenômenos subjetivos de dor, parestesia local, torpor, obnubilação,
imobilidade do globo ocular com reflexos palpebrais normais, ausência de hemoglobinúria,
micções normais, sialorréia, anorexia, adipsia, timpanismo, dificuldade de eructação por
decúbito e hipotonia ruminal. O envenenamento crotálico induziria um quadro de lesões, não-
patognomônicas, progressivas nos néfrons que diminuem a absorção tubular provocando
proteinúria, glicosúria e microhematúria pela congestão renal e maior permeabilidade ao nível
glomerular (BIRGEL et al., 1983).
22
A necropsia de 16 bovinos inoculados experimentalmente com 0,05 mg/kg de veneno
de C. durissus terrificus, dos quais 12 foram submetidos à soroterapia, mostraram lesões
congestivo-hemorrágicas em todos os órgãos, sob a forma de petéquias e sufusões nas serosas
e mucosas e, às vezes, na região subdural do sistema nervoso central. No ponto de inoculação
não foram observadas alterações ao exame clínico, porém no exame anátomo-patológico
notou-se, na derme e na hipoderme, discreto processo inflamatório do tipo sero-purulento e
musculatura adjacente esbranquiçada. Ao exame microscópico haveria necrose hialina nas
paredes das arteríolas, miocárdio e no fígado. Nos rins ocorreriam alterações proeminentes,
desde degeneração hidrópica até necrose tubular com o aparecimento de cilindros hialinos e
albumina no espaço intra-capsular (SALIBA; BELLUOMINI; LEINZ, 1983).
Lago (1996) inoculou por via intramuscular o veneno de C. durissus terrificus em
cinco bovinos com dois a três anos na dose de 0,03 mg/kg e observou severo quadro
neurológico, caracterizado cronologicamente por apatia, letargia profunda, mioclonias,
diminuição do tônus muscular, diminuição de reflexos superficiais, incoordenação motora,
decúbito lateral, movimentos de pedalagem, perda de sensibilidade à dor “profunda”, paralisia
flácida, dispnéia pela dificuldade de contração dos músculos da respiração e óbito entre 20
horas e 42 minutos a 39 horas e 24 minutos após a inoculação. Pequeno edema transitório foi
observado no local da inoculação. Houve aumento moderado do tempo de coagulação
sangüínea, leucocitose, hipofibrinogenemia e aumento da concentração sérica de uréia em
23% e de creatinaquinase em 66%. As alterações anátomo-histológicas consistiram em leves
hemorragias nos pulmões, intestinos, músculos, e em maior intensidade, no coração. Nos
músculos esquelético e cardíaco havia degeneração hialina, vacúolos e infiltrados celulares.
2.6 Enfermidades com Sintomatologia Semelhante do Envenenamento Crotálico em
Bovinos (Anexo A).
No Brasil, os envenenamentos ofídicos ou por plantas tóxicas sempre foram objetos de
interpretações contraditórias entre criadores e de dúvidas entre médicos veterinários
(BELLUOMINI et al., 1982).
Tokarnia e Peixoto (2006) observaram em viagens de estudo para esclarecimento de
mortalidades de origem obscura que era comum os proprietários, vaqueiros e veterinários
atribuírem a acidentes ofídicos as mortes dos bovinos criados a campo, contudo, em décadas
de trabalho nunca estabeleceram o diagnóstico de envenenamento ofídico em bovinos.
Muitas vezes, o veterinário é chamado para atender o caso de um bovino supostamente
picado por serpente venenosa do gênero Bothrops ou Crotalus e se depara com doenças
infectocontagiosas, tais como carbúnculo sintomático, entre outras (ARAÚJO; ROSENFELD;
BELLUOMINI, 1963). É necessário que o médico veterinário realize o diagnóstico
diferencial com outras enfermidades, como raiva e botulismo, principalmente (LAGO et al.,
2000).
É importante estar atento para os diagnósticos diferenciais, especialmente com
carbúnculo hemático, intoxicação por plantas (sobretudo as que causam “morte súbita” e
necrose muscular, bem como as cianogênicas), botulismo e outras doenças que cursam com
paralisia motora, inclusive raiva. O principal diagnóstico diferencial a ser considerado em
casos de envenenamento crotálico é o botulismo na forma aguda (Anexo 4) (TOKARNIA;
PEIXOTO, 2006).
O exame de urina permitiria facilmente o diagnóstico diferencial do envenenamento
crotálico, daqueles causados por botrópico e das intoxicações por plantas tóxicas com
princípio hemolítico que causam hemoglobinúria (BIRGEL et al., 1983).
23
3 MATERIAL E MÉTODOS
3.1 Local do Experimento e Instalações
O experimento foi realizado entre maio de 2003 e janeiro de 2005 nas instalações do
Projeto Sanidade Animal do Convênio UFRRJ/Embrapa.
3.2 Animais e Manejo Experimental
Foram utilizados 12 bovinos mestiços, clinicamente sadios, sendo quatro fêmeas e sete
machos, com peso variando entre os 125 e 449 quilogramas e idade entre 12 e 36 meses. Os
animais foram tratados 15 dias antes com ivermectina contra endo e ectoparasitas. A dieta era
constituída à base de capim picado, feno e ração concentrada para manutenção, sal mineral e
água à vontade. Todo o projeto foi previamente submetido à comissão de ética do Curso de
Pós Graduação em Ciências Veterinárias da UFRRJ.
3.3 Inóculo
O veneno crotálico utilizado para todo o experimento, proveniente de uma partida
obtida no Centro de Estudos de Animais Peçonhentos (CEVAP), Botucatu, SP, foi colhido
por extração manual, a partir de diversos indivíduos da espécie Crotalus durissus terrificus,
porém de idades, tamanhos, pesos e locais variados. Dessa forma produziu-se um “pool” que
foi dessecado a vácuo e mantido congelado à +s17ºC negativos; no momento da sua utilização
este composto era reconstituído em solução salina a 0,9%, a fim de se obter uma concentração
de 10 mg de peçonha por ml. Uma amostra do veneno foi enviada a Divisão de Animais
peçonhentos do Instituto Vital Brasil para verificação da DL50 em camundongo e o resultado
encontrado foi 2,8 microgramas.
A inoculação do veneno foi feita no terço superior da região glútea, por via subcutânea
(Figura 7); a agulha era protegida por um dispositivo plástico que garantia a inoculação na
profundidade de 6 mm (Figura 8) (modificação da técnica utilizada por BELLUOMONI,
1972).
As doses aplicadas nos animais variaram entre 0,03 e 0,0075 mg/kg. O primeiro
animal foi inoculado com 0,03 mg/kg sete outros, com 0,015 mg/kg e os dois restantes
receberam 0,0075 mg/kg Nos dois animais-controle injetou-se a solução salina pela mesma
via de aplicação.
24
Figura 7. Inoculação de veneno crotálico feita no terço superior da região glútea, por via subcutânea (Bovino 2).
Figura 8. Dispositivo que garante a profundidade de inoculação a seis milímetros (seta).
25
3.4 Acompanhamento Clínico dos Animais.
3.4.1 Exame clínico geral
Os animais foram acompanhados continuamente, do momento da inoculação até a
morte. Aqueles que não vieram a óbito, dentro de 96 horas, eram observados e examinados
duas vezes ao dia por um período de até 17 dias. Os sistemas cardíaco, respiratório e
digestório foram avaliados a cada duas horas, bem como se examinou as mucosas e do grau
de hidratação de acordo com o protocolo de exame clínico elaborado.
Protocolo de Exame Clínico
Identificação:
Data: ______/______/_______ Hora:
Identificação do animal:
Tempo de evolução: __________________ Início / Curso: __________/_________
Exame físico geral:
Score Corporal: 1 2 3 4 5
Atitude: Hiperativo Ativo Apático Letárgico Semicomatoso
Apetite: Aumentado Normal Diminuído Ausente
Sede: Aumentada Normal Diminuída Ausente
Outras alterações à inspeção
Temperatura: _________ºC
Mucosas: pálida ictérica congesta normocorada cianótica
d
Hidratação:
TPC: ____________segundos Turgor cutâneo: __________segundos
Enoftalmia: sim não
26
Exame dos sistemas:
Cardiocirculatório:
FC/min: ________________ Localização choque de ponta: Esp. Intercostal
Ausculta:
Intensidade do pulso: fraco normal aumenta outros:
Edemas: onde?
Respiratório:
Secreção nasal: serosa mucosa purulenta hemorrágica normal
narinas secas e descamadas
FR/min: ____________________
Tipo de dispnéia: Inspiratória Expiratória Mista
Sons anormais:
Digestivo:
Contorno abdominal:
Fossa para lombar esquerda: normal distendida profunda
Fossa para lombar direita: normal distendida profunda
Tensão abdominal: normal aumentada diminuída
Movimentos ruminais/ min: ____________ peristaltismo/min:
Fezes: Normais Escassas Pastosas Diarréicas Com muco Digeridas
Melena Hematoquezia
Percussão Lado esquerdo:
Percussão Lado direito:
Tegumentar:
Pele: Escoriações Feridas Contusões Edema Necrose
Local:
27
Urinário:
Horário das micções: ____________hs _____________hs ____________hs
Micção: Ausente Oligúria Disúria Poliúria
Urina: Normal Amarelada Amarronzada Vermelha
Linfático:
Linfonodos :
Submandibulares:
Retrofaríngeos:
Supraescapulares:
Pré crurais:
Poplíteos:
Retromamários:
Escrotais:
Outros:
Locomotor:
Claudicação: MAE MAD MPE MPD
Tipo: APOIO ELEVAÇÃO MISTA
Descrições das alterações:
3.4.2 Exame neurológico
Foi realizada seguindo um modelo de ficha de exame clínico sugerido pelo Hospital
Veterinário da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia de Botucatu (UNESP) abaixo
apresentado e adaptado para o experimento:
28
Protocolo de Exame Clínico Neurológico
1. C
ABEÇA
:
Nível de consciência: ( ) Atento/Alerta ( ) Delírios ( ) Apático/Deprimido
( ) Semicomatoso/Estupor ( ) Comatoso ( ) Hiperexcitabilidade
Comportamento: ( ) Mugidos ( ) Bocejos ( ) Lamber
( )Manias ( ) Convulsões ( ) Agressividade ( ) Curso errante
( ) Andar compulsivo ( ) Andar em círculo ( ) Balançar a cabeça ( ) Agressividade
( ) Pressão da cabeça contra objetos
Postura: ( ) Desvio lateral da cabeça ( ) Giro ortotônico da cabeça e pescoço
( ) Tremores ( ) Balançar da cabeça ( ) Opistótono ( ) Pleurotótono
2. Nervos cranianos:
N = Normal; A = Ausente; P = Presente; D = Diminuído; AA = Aumentado
Pares de Nervos Direito Esquerdo
I – Olfatório
II – Óptico (Visão)
Reflexo pupilar – direito (II, III)
Reflexo pupilar – consensual
(II, III)
Reflexo pupilar – esquerdo (II,
III)
III – Oculomotor
Reflexo pupilar – consensual
(II, III)
29
III – Oculomotor (Cont.)
Estrabismo lateral
IV – Troclear
Estrabismo dorso medial
Reflexo palpebral
Sens.
Sensibilidade da face
Mastigação
V - Trigêmio
Mot.
Massa muscular
VI - Abducente Estrabismo medial
Ptose auricular
Ptose palpebral
VII – Facial (Motor)
Ptose labial
Audição
Desvio de cabeça
Estrabismo ventro-lateral
Fisiológico
Horizontal
Vertical
Rotacional
Posicional
VIII – Vestíbulococlear
(Sistema Vestibular)
Nistagmo
Fase rápida
IX – Glossofarín-geo
(Motor)
Deglutição
X - Vago Deglutição
Atrofia do m. esternocefálico
trapézio
braquiocefálico
XI – Acessório
omotransverso
30
Protrusão / Desvio de língua
atrofia
XII – Hipoglosso
Apreensão de alimento e água
Direito Esquerdo
Miose
Enoftalmia
Prolapso de 3° - pálpebra
Síndrome de Horner
(SNA – simpático)
Sudorese (face, pescoço)
Exame de fundo de olho:
3. Andar:
( A ) Ausente ( P ) Presente
0 = padrão normal de locomoção;
1 = déficits dificilmente observados durante a locomoção em linha reta, mas
confirmados após a realização de manobras especiais;
2 = déficits facilmente observados durante a locomoção em linha reta e
exarcebados durante a realização de manobras especiais
3 = o animal pode cair quando manobras especiais são realizadas e
geralmente apresentam posturas anormais mesmo quando parado;
4 = quedas expontâneas durante a locomoção;
5 = decúbito permanente
31
Esquerdo Direito
Anterior Posterior Anterior Posterior
Ataxia
Grau
Esquerdo Direito
Anterior Posterior Anterior Posterior
Paresia
Hipermetria
Hipometria
Espasticidade
Flacidez
4. Pescoço, tronco e membros:
N = Normal; A = Ausente; P = Presente; D = Diminuído; AA = Aumentado
Massa muscular ( ) Sudorese ( )
Reflexo cervico-facial ( ) Reflexo músculo-cutâneo ( )
Membros Anteriores
Esquerdo Direito
Cascos (desgastes)
Propriocepção
Tônus
superficial Sensibilidade
profunda
Reflexo biceptal
Reflexo triceptal
Reflexo carpo-radial
Reflexo flexor
32
Membros Posteriores
Esquerdo Direito
Cascos (desgastes)
Propriocepção
Tônus
superficial Sensibilidade
profunda
Reflexo patelar
Reflexo tibial cranial
Reflexo gastrocnêmio
Reflexo ciático
Reflexo flexor
5. Cauda e Ânus:
N = Normal; A = Ausente; P = Presente; D = Diminuído; AA = Aumentado
Cauda Ânus
Atrofia
Tônus
Reflexos
superficial Sensibilidade
profunda
6. Palpação Retal:
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
33
3.5 Acompanhamento Laboratorial
Foram realizadas coletas de sangue dos animais imediatamente antes e depois de seis,
12, 24 e 48 horas após a inoculação. As amostras destinadas à bioquímica sérica foram
acondicionadas em frascos secos, a fim de se obter a retração do coágulo, com exceção
daquelas destinadas ao coagulograma e à dosagem de glicose, as quais foram preservadas em
frascos com citrato de dio e fluoreto de sódio, respectivamente. as amostras destinadas à
realização de hemogramas foram colocadas em fracos com ácido etilenodiamino tetra-acético
(EDTA) a 10%. As amostras de urina, coletadas em frascos estéreis. Todas as amostras foram
mantidas sob refrigeração e enviadas para o laboratório de patologia clínica Lacani, Rio de
Janeiro, RJ, para realização das seguintes análises:
3.5.1 Hemograma completo
- Série Vermelha (Hematimetria, Hematócrito, Hemoglobina, Concentração de hemoglobina
globular média, Hemoglobina globular média e Volume globular médio).
- Série Branca (Leucometria total e específica). - Fibrinogênio
- Contagem de plaquetas - Proteínas plasmáticas totais
- Contagem de reticulócitos
Para realização dos hemogramas utilizou-se a metodologia descrita por Jain (1986) e
contador de células Melet Scholoesing
®
, modelo MS4.
3.5.2 Bioquímica
- Glicose - Cretinina
- Uréia - Proteínas totais séricas
- Albumina - Globulinas
- Cálcio - Fósforo
- Colesterol total - Fosfatase alcalina
- Sódio - Potássio
-AST (Aspartato aminotransferase) - Creatinaquinase (CK)
-Gama GT (Gama glutamiltransferese) - ALT (Alanina aminotransferase)
- Desidrogenase lática (DHL)
Para estas dosagens empregaram-se kits comerciais (Bioclin
®
, Laborlab
®
e Katal
®
) e
as leituras realizadas em espectofotômetro Bioplus
®
, modelo Bio 2000.
3.5.3 Coagulograma
Foram feitas as seguintes análises:
- Tempo de Ativação da Protrombina (TAP).
- Tempo de Tromboplastina Parcial Ativada (TTPA).
- Tempo de Sangramento.
Para a aferição dos TAP e TTPA optou-se pelos Kits comerciais (Wiener Lab
®
) e
seguiu-se a metodologia descrita por Garcia – Navarro e Pachaly (1994).
34
O tempo de sangramento foi realizado de acordo com a técnica descrita por
Rosenberger (1983).
3.5.4 Urinálise (Elementos anormais e sedimentoscopia)
As análises de urina foram realizadas por micção espontânea durante o exame clínico e
por punção vesical durante a necropsia.
Para realização deste exame foi utilizada a metodologia descrita por Garcia Navarro
(1996).
3.6 Eutanásia
Quatro dos seis animais que não vieram a óbito foram eutanasiados com Thiopental
sódico por via intra-venosa na dose de 20 mg/kg.
3.7 Necropsias
Todos os bovinos foram necropsiados imediatamente após a morte ou eutanásia.
Foram coletados fragmentos de fígado, vesícula biliar, rins, baço, tecido subcutâneo e pele do
local da inoculação e área contra-lateral, linfonodos submandibulares, parotídeos,
retrofaríngeos, pré-escapulares, mediastínicos, mesentéricos, inguinais e poplíteos além de
glândulas salivares, pâncreas, adrenal, bexiga, intestinos delgado e grosso, rúmen, retículo,
omaso, abomaso, pulmões, coração, testículo ou ovário, encéfalo, medula, junção
costocondral, tireóide, hipófise, globo ocular, além dos seguintes músculos estriados:
masseter, língua, cervical, longíssimo dorsal, diafragma, intercostal, bíceps, psoas,
semitendináceo e semimembranáceo do membro inoculado e contra-laterais. Os fragmentos
foram colhidos e fixados em formalina 15%, para exames histológicos; o formol foi trocado
oito horas após a primeira fixação e novamente depois de 24 horas. As amostras eram fixadas
imediatamente, com exceção dos fragmentos de músculos, os quais eram fixados três horas
após o óbito ou a eutanásia do animal.
3.8 Histopatologia
Após a fixação em formalina a 15%, os fragmentos, processados manualmente, foram
desidratados em álcool absoluto, tratados com xilol, embebidos e incluídos em parafina,
cortados na espessura 5 micrômetros e corados pela Hematoxilina e Eosina (H&E), para
serem posteriormente analisados em microscópio óptico. Fragmentos de órgão de um bovino
foram fixados em glutaraldeído a 2,5%, incluídos em resina sintética, cortados na espessura
de um micrômetro e corados pelo azul de toluidina.
35
4 RESULTADOS
Os principais dados sobre o delineamento encontram-se na Tabela 5.
4.1 Dose Letal e Evolução Clínica
O bovino que recebeu a dose de 0,03 mg/kg apresentou uma evolução clínica muito
rápida (cinco horas e 25 minutos). A dose de 0,015 mg/kg foi, dentre as que causaram óbito, a
que levou a uma evolução mais longa e possibilitou melhor observação dos achados clínicos,
de necropsia e laboratoriais, porém causou a morte de quatro dos sete animais inoculados.
Os bovinos que receberam esta dose e vieram a óbito, apresentaram uma evolução mínima de
11 horas e 54 minutos e máxima de 44 horas e 59 minutos
1
. O período mínimo de evolução
dentre os animais que se recuperaram após receber a mesma dose, foi de 63 horas e 55
minutos e máximo de 17 dias.
A dose de 0,0075 mg/kg não provocou o óbito, mas os animais inoculados
apresentaram discretas alterações tanto no comportamento (Figuras 09 e 10), como nos
exames de patologia clínica. Dentre esses animais o tempo de evolução foi observado até a
remissão dos sintomas, a qual ocorreu entre 33 horas e 15 minutos e 35 horas e quatro
minutosapós início do quadro clínico.
1
Horário exato da observação.
36
Figura 9. Animal agitado com a aproximação humana - minutos antes da inoculação (Bovino 5).
Figura 10. Animal permitindo a aproximação - 13 horas e 45 minutos após a inoculação (Bovino 5).
37
4.2 Aspectos Clínicos
4.2.1 Início dos sintomas
Nos animais que receberem doses potencialmente letais (0,03 e 0,015 mg/kg), as
primeiras alterações de comportamento foram evidenciadas a partir de uma hora e 30 minutos
após a inoculação e se caracterizaram por desconforto, dor e edema quase imperceptíveis no
local da inoculação, arrastar de pinças ao solo e dificuldade em transpor obstáculos, o que
mimetizava um déficit proprioceptivo. Os dois bovinos que receberam as menores doses
(0,0075 mg/kg) apresentaram edema discreto na região inoculada, além de um quadro discreto
de diminuição da resposta aos estímulos e reflexos hipotônicos evidenciados a partir das sete
horas e 56 minutos e 13 horas e 45 minutos pós-inoculação que desapareceu aos poucos
respectivamente com 33 horas e 15 minutos e 35 horas e quatro minutos.
4.2.2 Quadro clínico geral
Em todos os animais foi observada adipsia após o início dos sintomas, porém o apetite
era mantido, enquanto os movimentos de apreensão e mastigação não estavam
comprometidos. Um animal demonstrou interesse por sal comum mesmo com um quadro de
hipotonia dos músculos da face. Após a paralisia dos músculos da face alguns animais ainda
demonstravam interesse pelo alimento mesmo diante da incapacidade em apreendê-los
(Figura 11) Os animais de número três e dez, cujo quadro clínico evoluiu de forma subaguda,
voltaram a beber água dentro de três a nove dias após a inoculação.
As mensurações da temperatura, freqüências cardíaca e respiratória se mantiveram
dentro dos parâmetros fisiológicos durante toda a evolução clínica (Figuras 12, 13 e 14).
Todos os animais apresentaram ausculta cardíaca normal, mesmo na fase final da evolução
clínica. À ausculta respiratória, verificou-se dispnéia mista, à medida que o quadro se
agravava, porém sem alteração da freqüência.
No exame das mucosas os animais de número dois e três apresentaram algumas
petéquias, respectivamente, nas mucosas conjuntival e vaginal (Figura 15), que
desapareceram no bovino três, com cinco dias após a inoculação. Após o decúbito, a
compressão abdominal gerava uma condição desconfortável para os animais que, além de
apresentarem timpanismo secundário, intensificava a dispnéia mista (Figura 16
).
38
Figura 11. Dificuldade de mastigação em função da paresia parcial da língua e masseter - 25 horas e trinta
minutos após a inoculação (Bovino 10).
39
37
37.5
38
38.5
39
39.5
40
40.5
0
h
4
h
8h
12
h
1
6
h
2
0
h
2
4
h
28h
32
h
3
6
h
4
0
h
4
4
h
48h
bovino 1
bovino 2
bovino 3
bovino 4
bovino 5
bovino 6
bovino 7
bovino 8
bovino 9
bovino 10
bovino 11
controle
bovino 12
controle
Figura 12. Variação da temperatura retal do tempo “zero” (momento da inoculação) até 48 horas após a inoculação.
40
37
47
57
67
77
87
97
107
117
0h
4h
8
h
12h
16h
20h
2
4
h
28h
32h
36h
4
0
h
44h
48h
bovino 1
bovino 2
bovino 3
bovino 4
bovino 5
bovino 6
bovino 7
bovino 8
bovino 9
bovino 10
bovino 11
controle
bovino 12
controle
Figura 13. Variação da freqüência cardíaca do tempo “zero” até 48 horas após a inoculação.
41
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
50
0
h
4
h
8
h
12h
16h
20h
24
h
28h
32h
36
h
40h
44h
48h
bovino 1
bovino 2
bovino 3
bovino 4
bovino 5
bovino 6
bovino 7
bovino 8
bovino 9
bovino 10
bovino 11
controle
bovino 12
controle
Figura 14. Variação da freqüência respiratória do tempo “zero” até 48 horas após a inoculação.
42
Figura 15. Petéquias na mucosa vaginal - três dias após a inoculação (Bovino 3).
Figura 16. Decúbito lateral, relaxamento do esfíncter anal, paresia de cauda e leve timpanismo - 16 horas e 15
minutos após a inoculação (Bovino 9).
43
2
SAP= Serviço de Patologia Animal
Tabela 5. Envenenamento crotálico experimental em bovinos. Principais dados sobre o delineamento experimental e desfecho.
Animal
Protocolo
Peso
Sexo
Dose
Data e hora da
inoculação
Tempo após a inoculação em
que se percebeu o início dos
sintomas
Tempo de evolução
Desfecho
Bovino 1
SAP
24
5701
205 kg Macho 0,03 mg/Kg.
04/11/03
14h40min
2 horas e 15 minutos 5 horas e 25 minutos Óbito
Bovino 2
SAP 5565
147 kg Macho 0,015 mg/Kg. 10/02/04
12h15min
3 horas e 15 minutos 12 horas e 30 minutos Óbito
Bovino 3
SAP 5703
350 kg Fêmea 0,015 mg/Kg. 15/04/04
15h14min
3 horas e 35 minutos 17 dias Adoeceu gravemente,
recuperou-se e foi sacrificado
Bovino 4
SAP 5704
449 kg Fêmea 0,0075 mg/Kg. 15/04/04
15h54min
7 horas e 56 minutos 35 horas e 4 minutos Adoeceu discretamente,
recuperou-se e foi sacrificado
Bovino 5
SAP 5705
389 kg Fêmea 0,0075 mg/Kg. 15/04/04
16h15min
13 horas e 45 minutos 33 horas e 15 minutos Adoeceu discretamente,
recuperou-se e foi sacrificado
Bovino 6
SAP 5706
257 kg Macho 0,015 mg/Kg. 15/06/04
11h48min
2 horas e 15 minutos 11 horas e 54 minutos Óbito
Bovino 7
SAP 5707
253 kg Macho 0,015 mg/Kg. 15/06/04
11h51min
1 hora e 30 minutos 44 horas e 59 minutos Óbito
Bovino 8
SAP 5708
125 kg Macho 0,015 mg/Kg.
18/01/05
00h30min
3 horas e 15 minutos 63 horas e 55 minutos Adoeceu discretamente,
recuperou-se
Bovino 9
SAP 5709
137,5 kg Fêmea 0,015 mg/Kg.
18/01/05
00h38min
2 horas e 29 minutos 15 horas e 54 minutos Óbito
Bovino 10
SAP 5710
127 kg Macho 0,015 mg/Kg.
18/01/05
00h43min
1 hora e 30 minutos 68 horas e 25 minutos Adoeceu gravemente,
recuperou-se
Bovino 11
SAP 5564
167 kg Fêmea 0,2 ml solução salina 18/01/05 - - Sem sintomas
Bovino 12
SAP 5712
187 kg Macho 0,2 ml solução salina 18/01/05 - - Sem sintomas
44
4.2.3 Quadro neurológico
A primeira alteração observada era o arrastar das pinças seguido pela discreta
diminuição da resposta aos estímulos externos, que se evidenciava pela redução do raio de
aproximação e a permissão do contato manual (Figuras 9 e 10). Nos bovinos quatro e cinco
estas alterações foram parciais, caracterizadas apenas por menor resposta à aproximação. Na
fase seguinte foram observadas diminuição gradual do tônus muscular, caracterizada pela
dificuldade em transpor obstáculos ou no teste de apoio com os membros pélvicos (como
por exemplo: “prova do carrinho de mão”) ou ainda, durante a contenção dos animais (Figura
17). Neste período era notada uma hipotonia nos músculos da cabeça, alguns animais com
discreta exposição da ponta da língua entre os lábios e sialorréia (Figura 11). Com o
agravamento da hipotonia muscular, os animais se colocavam em decúbito esternal e não
conseguiam se levantar, mesmo quando estimulados, mas alguns ainda sustentavam a cabeça
e pescoço (Figuras 16 e 18). A resposta à avaliação de sensibilidade cutânea diminuía à
medida que se testavam regiões mais caudais do corpo. Foi observada paralisia do globo
ocular através do exame de rotação da cabeça e exposição parcial ou dificuldade de exposição
da esclera em todos os animais que receberam doses potencialmente letais de 0,03 e 0,015
mg/kg (Figuras 19 e 20). Este achado clínico permanecia durante toda a evolução clínica até a
morte ou por até três dias após início da recuperação. Pouco depois, ou concomitantemente,
os animais apoiavam a cabeça no chão e seguia-se o decúbito lateral (Figura 16). Discreta
mioclonia foi observada em apenas dois animais, e os reflexos biceptal, triceptal, patelar,
gastrocnêmico e interdigital, embora presentes, menos intensos mais evidenciada nos
membros posteriores. Dos oito animais cujo quadro evoluiu até o decúbito lateral (Figura 21),
seis apresentavam acentuada diminuição do tônus da língua, o que facilitava sua
exteriorização e até dificuldade em recolhê-la (Figuras 18 e 21). Com o subseqüente
agravamento do caso havia intensa sialorréia, movimentos de pedalagem, protusão do
esfíncter anal, acentuada paralisia dos músculos da face, episódios de vocalização e óbito. As
principais alterações neurológicas encontradas e sua cronologia estão apresentadas na Tabela
6.
45
Figura 17. Hipotonia muscular marcada (flacidez) durante a “prova do carrinho de mão” - três horas após a
inoculação (Bovino 10).
Figura 18 Animal em decúbito esternal submetido à prova do tempo de sangramento - 15 horas e 10 minutos
após a inoculação; paralisia flácida da língua (Bovino 2).
46
Figura 19. Paralisia do globo ocular demonstrada pela rotação da cabeça - 22 horas e 30 minutos após a
inoculação (Bovino 10).
Figura 20. Ausência de paralisia do globo ocular - (Bovino 12 - controle)
47
Figura 21. Decúbito lateral e facilidade de exposição da ngua devido à perda do nus muscular - 15 horas
após a inoculação (Bovino 2).
48
31
+++ sintomas acentuados, ++ moderados, + leves, (+) discretos, - ausentes
(tempo em que a alteração foi percebida)
4
Permite a aproximação e contato manual.
Tabela
6
– Envenenamento crotálico experimental em bovinos. Aspectos clínicos relativos ao sistema nervoso.
3
1
Animal
Alteração
de
comporta-
mento
Diminuição
da resposta
a estímulos
externos
Arrastar
pinças
no solo
Letargia
aparente
Reflexos
hipotônicos
movimentos
fracos e
lentos
Dificuldade
em
ultrapassar
obstáculos
Paralisia
do globo
ocular
Decúbito
esternal
permanente
Dificuldade
de
sustentação
da cabeça
Perda de
tônus da
língua
Decúbito
lateral
permanente
Bovino 1
+
3h15 min
+
3h15 min
(+)
2h15 min
+++
3h15 min
+++
5h15 min
++
5h15 min
++
5h15 min
+++
5h30 min
+++
6h10 min
+++
6h20 min
+++
6h20 min
Bovino 2 +
4h25 min42
+
4h55 min
++
4h05 min
++
5h45 min
+++
9h30 min
++
4h55 min
++
9h15 min
+++
5h35 min
+++
5h35 min
+++
15 min
+++
9h30 min
Bovino 3 +
3h35 min2
+ ++
14h35 min
+++
5h35 min
+++
18h15 min
++
12h15 min
++ +++
18h15 min
+++
24h15 min
+++ +++
Bovino 4 +
7h50 min2
+
7h50 min
- - +
27h00 min
+
27h00 min
- - - - -
Bovino 5 +
13h45 min
+
13h45 min
- - +
28h15 min
+
30h15 min
- _ _ _ _
Bovino 6 +
2h15 min2
+
2h15 min
+
4h10 min
+++
4h10 min
+++
2h15min
++
4h10 min
++
4h20 min
+++
8h00 min
+++
12h25 min
+++
12h25 min
+++
11h50 min
Bovino 7 +
1h30 min2
+
2h30min
++
4h30 min
+++
8h40 min
+++
6h30 min
+
4h30 min
++
11h30 min
+++
11h45 min
+++
20h30 min
+++
20h30 min
+++
21h40 min
Bovino 8 +
12h15 min2
+
12h15 min
+
24h45 min
+
22h45 min
+
24h45 min
+
24h45 min
++
22h45 min
- - - -
Bovino 9 +
6h25 min2
+
3h15 min
++
3h25 min
+++
5h15 min
+++
6h25 min
++
6h25 min
++
13h20 min
+++
9h20 min
+++
16h25 min
+++
16h15 min
+++
16h15 min
Bovino 10 +
1h30 min2
+
1h50 min
++
2h00 min
++
2h30 min
+
2h15 min
+
1h50 min
++
22h30 min
+
20h30 min
- ++
25h30 min
-
Bovino 11 - - - - - - - - - - -
Bovino 12 - - - - - - - - - - -
49
4.3 Patologia Clínica
4.3.1 Hemograma, contagem de plaquetas, reticulócitos, proteínas plasmáticas e
fibrinogênio (Anexo B)
Na avaliação do eritrograma não foram encontradas alterações acima dos valores de
referência para a espécie bovina, porém verificamos uma discreta hemoconcentação. As
plaquetas e os reticulócitos também mantiveram-se dentro dos parâmetros fisiológicos da
espécie bovina. Com relação às proteínas ricas totais verificamos discreta elevação nos
animais de número quatro e cinco. O leucograma evidenciou um moderado aumento da
leucometria global em nove dos dez animais submetidos à inoculação com veneno crotálico,
caracterizado por neutrofilia, linfopenia relativa, eosinopenia e monocitose. Foi também
verificado aumento significativo da relação neutrófilo linfócito acompanhado de discreto
aumento do número de bastões (Figura 22).
4.3.2 Bioquímica sérica (Anexo C)
Na mensuração dos parâmetros bioquímicos séricos dos animais o animal de 1, que
recebeu a maior dose de veneno crotálico, apresentou um acentuado aumento da concentração
de glicose plasmática, seis horas após a inoculação (241,4 mg/dl). Passadas 12 horas da
inoculação, foi observada acentuada elevação também no animal de número nove (365,8
mg/dl de glicose plasmática). Nos demais o aumento da glicemia foi discreto, com exceção do
número dois. Todos os animais inoculados apresentaram discreto aumento dos níveis de uréia
que variou entre 12,1 e 20,5 mg/dl no tempo zero e apresentaram valores máximos que
variaram entre 36,5 e 39,4 mg/dl no decorrer do experimento. Em um dos animais controle
(bovino 11) também foi observado um aumento da uréia de 14,7 para 31,5 mg/dl seis horas
após a inoculação. Os níveis de creatinina estavam discretamente elevados nos animais de
número três, quatro e cinco. A enzima aspartatoaminotransferase excedeu moderadamente os
valores normais durante o experimento nos animais de número dois, seis e sete. A alanina
aminotransferase ultrapassou os limites normais nos animais de número dois, oito e dez. A
creatinaquinase aumentou acentuadamente em todos os dez animais inoculados e em
discretamente em um dos dois animais controle. Os valores aferidos no momento imediato
que antecedeu a inoculação, denominado de tempo zero, variaram entre 63 e 207 U/L nos
animais inoculados e 44 e 96 U/L nos animais controle. Os valores máximos encontrados em
cada animal durante as 48 horas após a inoculação foram entre 243,6 e 1361 U/L e 103,2 e
235,0 entre os animais do grupo-controle conforme observado na Figura 23. Durante este
estudo foi verificado que os níveis séricos de cálcio total diminuíram discretamente nos
animais de número dois, três, quatro, cinco, seis e sete e mantiveram-se dentro dos limites de
normalidade nos animais de número oito, dez e onze.
Os demais dados sobre o hemograma e as demais análises supracitadas de todos os
animais se encontram nos anexos deste trabalho.
50
0
5000
10000
15000
20000
25000
Bov1 Bov2 Bov3 Bov4 Bov5 Bov6 Bov7 Bov8 Bov9 Bov10Bov11Bov12
Antes
Após
Figura 22. Leucometria global mensurada no tempo “zero” e o valor máximo após a inoculação.
U/L
51
4.3.3 Urinálise
Não foram observadas alterações nas amostras de urina coletadas com exceção do
animal de número seis que apresentou 50 hemácias por campo (Figura 24).
4.3.4 Avaliação da coagulação sangüínea (Anexo D)
O tempo de sangramento observado no tempo zero variou de dois minutos a quatro
minutos e trinta segundos, enquanto seis horas após a inoculação esse tempo foi de no mínimo
dois e no máximo de oito minutos. Doze horas após a inoculação, o sangramento cessou entre
dois e sete minutos e com 24 horas após, entre três e 19 minutos. Quarenta e oito horas após a
inoculação, o tempo de sangramento oscilou entre três e 27 minutos (Figura 18). Durante a
coleta de sangue para obtenção de soro foi evidente, após 24 horas de inoculação, a
dificuldade em se obter o coágulo (Figura 25). À visualização da figura 26 percebem-se as
variações antes e após a inoculação supracitadas.
Observou-se uma discreta diminuição dos níveis de fibrinogênio plasmático nos
animais de número dois, três, sete, oito e dez, enquanto o tempo de ativação da protrombina
(TAP) (Anexo C) não revelou variações dignas de nota (Figura 27).
Havia moderado aumento do tempo de tromboplastina parcial Ativada (TTPA) (Anexo
C), a partir de seis horas após a inoculação nos animais de número um, três, quatro, cinco, seis
e sete. No animal de mero dez, o TTPA aumentou discretamente, 48 horas pós-
inoculaçãoa(Figuraa28).
52
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
Bov1 Bov2 Bov3 Bov4 Bov5 Bov6 Bov7 Bov8 Bov9 Bov10Bov11Bov12
Antes
Após
Figura 23. Níveis séricos de creatinaquinase mensurados no tempo “zero” e o valor máximo após a inoculação.
U/L
53
Figura 24. Coleta da urina com aspecto normal (Bovino 6).
Figura 25.“Incoagulabilidade” do sangue do bovino 3 (à direita); à esquerda, sangue coagulado do bovino 11-
controle - 24 horas após a inoculação.
54
0
5
10
15
20
25
30
Bov1 Bov2 Bov3 Bov4 Bov5 Bov6 Bov7 Bov8 Bov9 Bov10 Bov11 Bov12
Antes
Após
Figura 26. Tempo de sangramento observado no tempo “zero” e o máximo após a inoculação.
Minutos
55
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
50
Bov1 Bov2 Bov3 Bov4 Bov5 Bov6 Bov7 Bov8 Bov9 Bov10Bov11Bov12
Antes
Após
Figura 27. Tempo de ativação da protrombina (TAP) mensurado no tempo “zero” e o valor máximo após a inoculação
.
Seg.
56
0
50
100
150
200
250
300
Bov1 Bov2 Bov3 Bov4 Bov5 Bov6 Bov7 Bov8 Bov9 Bov10Bov11Bov12
Antes
Após
Figura 28. Tempo de tromboplastina parcial ativada (TTPA) mensurado no tempo “zero” e o valor máximo após a inoculação.
Seg.
57
4.4 Achados de Necropsia
O bovino de número um apresentou como única alteração, o edema quase
imperceptível no local da inoculação, além de discreta sufusão no epicárdio (Figura 29). Os
animais de número dois, seis e sete apresentaram leve edema com discretas hemorragias no
local da inoculação além de discretas hemorragias subendocárdicas puntiformes, algumas
petéquias e equimoses na mucosa da bexiga. O bovino três evidenciou pequena quantidade de
líquido no saco pericárdico e gado levemente amarelado. Nos bovinos de número quatro e
cinco havia apenas discreto edema no local da inoculação tingido de vermelho (Figuras 30 e
31). Nos animais de número seis e sete as alterações macroscópicas observadas foram,
petéquias no omento (Figura 32), vesícula biliar (Figura 33), mucosa da bexiga e tecido
subcutâneo no local da inoculação.
4.5 Achados Histopatológicos
O exame microscópico revela miopatia tóxica de fibras musculares esqueléticas. As
lesões, presentes em variáveis graus de intensidade, nos diversos músculos esqueléticos
coletados, restringiam-se a numerosas fibras isoladas ou pequenos grupos, de até 10 ou 15
unidades. As lesões necróticas incluíam as mais diversas manifestações morfológicas
microscópicas, entre as quais marcada hialinização e eosinofilia, (Figuras 34,35,36 e 37)
fibras com degeneração flocular ou discóide. No animal que apresentou evolução mais longa,
17 dias, havia sinais de regeneração repartida com invasão de fibras necróticas por
macrófagos e células satélites, bem como mioblastos multinucleados. (Figura 38, 39, 40 e 41).
Em alguns órgãos foram observadas congestão e algumas hemorragias (Vide tabela 7).
Em fragmentos de vesícula biliar, rins, tecido subcutâneo e pele da área contra-lateral,
glândulas salivares, pâncreas, adrenal, intestinos delgado e grosso, rúmen, retículo, omaso,
abomaso, pulmões, testículo ou ovário, junção costocondral, tireóide, hipófise e globo ocular
não foram verificadas lesões significativas.
58
Figura 29. Hemorragias no epicárdio (Bovino 1).
Figura 30. Leve edema hemorrágico no local da inoculação (Bovino 5).
59
Figura 31. Tecido subcutâneo no local da inoculação (Bovino 4).
Figura 32. Petéquias no omento (Bovino 7).
60
Figura 33. Petéquias na vesícula biliar (Bovino 7).
Figura 34. Necrose caracterizada por intensa acidofilia e hialinização de fibras musculares esqueléticas, isoladas
ou em pequenos grupos. (Bovino 2, bíceps, SAP 30.027) H & E, objetiva 16.
61
Figura 35. Necrose coagulativa de fibras musculares esqueléticas isoladas (Bovino 10, SAP 30.440) H & E,
objetiva 16.
Figura 36. Necrose coagulativa de fibras musculares esqueléticas isoladas (Bovino 10, SAP 30.440) H & E,
objetiva 40.
62
Figura 37. Necrose coagulativa de fibras musculares esqueléticas isoladas (Bovino 10, SAP 30.440) Azul de
Toluidina, objetiva 40.
Figura 38. Necrose coagulativa com fragmento de fibra muscular acompanhada de reação inflamatória e
provável proliferação de células satélite (Bovino 3, Longíssimo dorsal, SAP 30.232) H & E, objetiva 16.
63
Figura 39. Necrose coagulativa com fragmento de fibra muscular acompanhada de reação inflamatória e
provável proliferação de células satélite (Bovino 3, Longíssimo dorsal, SAP 30.232) H & E, objetiva 25.
Figura 40. Necrose coagulativa com fragmento de fibra muscular acompanhada de reação inflamatória e
provável proliferação de células satélite (Bovino 3, Longíssimo dorsal, SAP 30.232) H & E, objetiva 40.
64
Figura 41. Necrose coagulativa com acompanhada de reação inflamatória e provável proliferação de células
satélite (Bovino 3, Longíssimo dorsal, SAP 30.232) objetiva 40.
65
1
+++ lesões acentuadas, ++ moderadas, + leves, (+) discretas, - ausentes.
(horas após a inoculação) * permite à aproximação e contato manual
Tabela
7
. Envenenamento crotálico experimental em bovinos. Achados histopatológicos em alguns orgãos
1
BOVINO
Linfonodos (mesentéricos,
submandibular, supra-escapular,
poplíteos) Congestão
Baço
Congestão
Coração
Hemorragias
entre as fibras
Encéfalo
Hemorragias
perivasculares
Meninge
Congestão
Fígado
Vacuolização
difusa
1
+++ - - + + -
2
++ - ++ + - -
3
+ ++ - + - -
4
- - - + - -
5
- - - - - -
6
- - - - +++ (+)
7
- - + - ++ (+)
9
- + - - ++ +
11
- - - - + -
12
- -
- -
+ -
66
5 DISCUSSÃO
5.1 Aspectos Toxicológicos e de Metodologia
A inoculação de veneno de Crotalus durissus terrificus produziu um quadro
nervoso de paralisia flácida, similar ao observado nos demais estudos experimentais em
bovinos, realizados no Brasil com veneno de serpentes desse gênero (ARAÚJO;
ROSENFELD; BELLUOMINI, 1963; BELLUOMINI, 1972; LAGO, 1996). Acreditamos
que, embora não existam descrições de do quadro clínico-patológico observado em bovinos
naturalmente envenenados por esta espécie de serpente, conseguiu-se reproduzir situação
bastante semelhante à que ocorram a campo. Por outro lado, a literatura em geral não
estabelece, nem menciona as diferenças dos quadros clínico-patológicos observados nos
envenenamentos por Crotalus sul e norte-americanas, o que contribui para tornar o tema ainda
mais confuso (TOKARNIA; PEIXOTO, 2006). A avaliação criteriosa da literatura revela que
sempre houve uma tendência a considerarem-se os sintomas e lesões observados em humanos
como idênticos ou muito semelhantes aos verificados em bovinos ou em outras espécies
animais, isto é, nas discussões dos quadros clínico-patológicos mencionados nas revisões ou
livros que abordam o tema envenenamento ofídico, não havia uma preocupação em separar os
parâmetros de acordo com as espécies, e sim uma simples transposição dos dados de uma
espécie como válidos para as outras. Essa prática, em grande medida, é responsável pelas
diversas controvérsias e incongruências encontradas a respeito do tema.
A via e o local de aplicação utilizados no presente estudo foram iguais às descritas
por Belluomini (1972) e Lago (1996), porém estes autores consideraram essa forma (via) de
inoculação como intramuscular. Levando-se em consideração a espessura da pele do bovino
que varia entre três e seis milímetros (SISSON, 1986), infere-se que essa aplicação foi sobre a
fáscia e pode ser caracterizada como subcutânea.
Optamos por inocular à altura do terço médio do músculo semitendinoso, como forma
de evitar a compressão da região inoculada durante o decúbito, o que poderia comprometer a
observação da lesão.
Pelo fato de, usualmente, realizar-mos experimentos do tipo auto-direcionados, isto é,
os resultados do experimento inicial direcionam os experimentos subseqüentes (com o
objetivo de diminuir ao máximo o de animais experimentais), optamos pela dose-base de
0,03 mg/kg (a mesma utilizada por Lago (1996) e inferior à aplicada por Araújo, Rosenfeld e
Belluomini (1963) (0,05mg/kg). De fato, mesmo com essa dose, evidenciamos um período de
evolução muito curto. Como o objetivo principal do trabalho era caracterizar, com precisão, o
quadro clínico-patológico do envenenamento crotálico em bovinos, diante das inconsistências
da literatura, utilizamos, a partir da dose-base, doses capazes de levar um indivíduo ao óbito
com evolução mais lenta. A dose foi então reduzida à metade (0,015 mg/kg), o que resultou
em quadro mais protraído, embora ainda com letalidade de 57,14% (4/7
1
). Os bovinos
inoculados com a dose de 0,0075 mg/kg manifestaram sintomatologia discreta e se
recuperaram sem graves alterações.
A letalidade da dose de 0,015mg/kg pode ser discutida no que se relaciona à
quantidade de veneno encontrada na glândula de 75% das serpentes do Gênero C. durissus
terrificus, como no quadro produzido por Belluomini (1972) e modificado por Tokarnia e
Peixoto (2006), no qual verificamos que a dose de veneno potencialmente letal seria, em
hipótese, alterada de 1000 para aproximadamente 3333 Kg no caso da serpente injetar todo o
conteúdo existente na glândula em uma picada. Entretanto devemos ressaltar os estudos de
1
Dos sete animais que receberam a referida dose, quatro vieram a óbito.
67
Clarke, E. e Clarke, M. (1969), Mattingly e Bosse (2001) e Melgarejo
1
que relatam a
incidência dos chamados “botes secos” (sem inoculação de veneno), possivelmente quando o
objetivo da serpente for apenas a defesa e não a predação.
Um dos aspectos principais a serem considerados, diz respeito à capacidade que
serpentes do gênero Crotalus podem ter de levar um bovino adulto ao óbito.
Quatro de sete animais que foram inoculados com 0,015 mg/kg morreram, o que, de
início configura uma dose potencialmente letal menor que a descrita por Araújo, Rosenfeld e
Belluomini (1963), Rosenfeld e Belluominni (1960 apud BELLUOMINI, 1976) da ordem de
0,05 mg/kg. Se levarmos em conta essa menor dose letal e a quantidade máxima de veneno
que 75% das serpentes desse gênero fornecem nas extrações, uma cascavel que inoculasse
todo o seu veneno, teoricamente poderia levar a óbito um bovino de 3333 Kg. Portanto, está
fora de dúvida que as cascavéis sul-americanas podem levar a óbito bovinos de qualquer
idade, desde que “desejem” inocular quantidades significativas do seu veneno.
Contudo, é preciso considerar que, há uma significativa incidência dos chamados
“botes secos”, ou seja, as serpentes, muitas vezes, não inoculam veneno algum através da
picada, nesse caso, mera atitude de defesa (MATTINGLY; BOSSE, 2001), uma vez que,
provavelmente, a serpente não deve considerar o bovino como uma presa em potencial. De
outro lado, a inoculação de veneno constitui uma ação voluntária, sob total controle da
vontade do ofídio (CLARKE, E.; CLARKE, M., 1969). A esse respeito é importante levar em
conta que serpentes muitas vezes inoculam apenas pequena quantidade do veneno
armazenado; por exemplo, a Vipera palestinae, em média, inocula apenas 8% do veneno
armazenado nas suas glândulas na picada.
5.2 Aspectos Clínicos
5.2.1 Início dos sintomas
Quanto maior foi a dose inoculada, mais intensa foi a sintomatologia clínica e
mais rápida a evolução.
Da mesma forma que o observado por Lago (1996), para os animais que receberam
doses potencialmente letais, os sinais clínicos se iniciaram entre uma hora e meia e quatro
horas após a inoculação. Com a dose reduzida à metade (não-letal), a sintomatologia teve
início, aproximadamente, entre oito e quatorze horas, isto é, quanto maior a dose, mais rápido
este período.
5.2.2 Intensidade dos sintomas e evolução
Os animais que receberam as doses mais elevadas evidenciaram um quadro muito
mais nítido e grave, representado por acentuada diminuição do tônus muscular com decúbito
esternal ou lateral permanente, do que aqueles que foram inoculados com doses sub-letais, nos
quais clinicamente foram observadas diminuição do raio de aproximação, da resposta aos
estímulos externos e da dificuldade em ultrapassar obstáculos. Um quadro clinico discreto
1
Dado fornecido por Aníbal Rafael Melgarejo (Divisão de Animais Peçonhentos, Instituto Vital Brasil, Niterói,
2005).
68
como esses poderia passar desapercebido a campo ou seria interpretada como uma desordem
de natureza inespecífica com cura espontânea.
Da mesma maneira que o verificado com o início dos sintomas, também o tempo de
evolução foi diretamente proporcional à dose de veneno inoculada ou seja, quanto maior a
dose inoculada mais curta foi a evolução clínica.
5.2.3 Quadro clínico geral
A freqüência respiratória manteve-se constante, porém dispnéia mista caracterizada
por aumento da intensidade dos movimentos inspiratórios e expiratórios foi verificada,
provavelmente, em virtude do decúbito acompanhado de timpanismo e da dificuldade de
contração do diafragma a semelhança das observações de Lago et al. (2000).
Interesse pelos alimentos foi, de início, mantido em certa medida, provavelmente
enquanto havia tônus nos músculos responsáveis pela apreensão e mastigação, com o
agravamento do quadro, o animal passava a interromper a apreensão de alimentos por
incapacidade muscular. A moderada hipotonia ruminal poderia ter contribuído para a
diminuição do apetite, como mencionado por Belluomini (1976). Não encontramos menção
na literatura à ocorrência de adipsia, por nós verificada em todos os animais deste estudo. Esta
abstinência de água constante achado de adipsia não havia sido mencionado adipsia não
tinham sido citados em nenhum dos trabalhos consultados.
Todos esses sintomas, todavia, provavelmente estejam relacionados à causa básica
geral, ou seja, o comprometimento da neurotransmissão na musculatura responsável pela
sucção, mastigação e deglutição.
A temperatura retal não ultrapassou os parâmetros mínimos e máximos da espécie
bovina. A diminuição significativa da temperatura na fase pré-agonizante descrita por Lago
(1996) não foi observada em nossos experimentos.
O fato da freqüência cardíaca permanecer dentro dos parâmetros fisiológicos, durante
a evolução clínica, indica que não ocorreu dor aguda, lesões no músculo cardíaco ou anemia,
conclusões estas corroboradas pelos achados laboratoriais.
O edema quase imperceptível e a ausência de lesões verificados no local da inoculação
é outro fator que contribui para a dificuldade do diagnóstico clínico de acordo com Tokarnia e
Peixoto (2006). Acreditamos que o edema poderia passar desapercebido se o local da
inoculação não fosse previamente tricotomizado. Esta ausência de alterações no local da
picada também foi descrita em humanos (AMARAL; MAGALHÃES; RESENDE, 1991).
O aparecimento de petéquias nas mucosas conjuntival do animal de número dois e
vaginal do bovino três pode ter sido causado por distúrbios da coagulação, todavia, não foram
considerados importantes ou característicos da enfermidade. Esta observação havia sido
feita referente a humanos, por Amaral et al. (1986), Barraviera (1999b), Pinho e Pereira
(2001), que relataram quadros de epistaxe e hemorragia gengival ocorrem apenas em 40% dos
casos.
Achados relativos ao aumento do tempo de coagulação sangüínea, urinálise e à lesão
no local de inoculação, foram pouco significativos, além de não estarem presentes em todos
os animais e serão bordados respectivamente nos segmentos a seguir.
5.2.4 Quadro neurológico
69
Através do acompanhamento clínico e da observação da resposta aos testes
neurológicos verificamos um quadro sintomatológico caracterizado, principalmente, pela
hipotonia muscular generalizada com sintomatologia que, de acordo com a literatura, deve-se
à ação pré-sináptica sobre a junção mioneural a qual resulta em incapacitação muscular difusa
ou, em outras palavras, paralisia flácida. Exames sucessivos demonstraram que os bovinos
desenvolviam, após a inoculação, dificuldade ou incapacidade de produzir resposta aos
estímulos externos, fato esse já explicado pela ação das toxinas encontradas na peçonha
crotálica, especificamente a crotoxina (BRAZIL, 1980; VARANDA; GIANNINI, 1999).
Esta hipotonia muscular acentuada e progressiva, nos casos fatais, pode mimetizar
alterações do sistema nervoso central, como por exemplo, depressão e letargia relacionadas à
região corticocerebral, diminuição de reflexos e déficit proprioceptivo correlacionados ao
tronco encefálico e cerebelo, ou ainda paralisia do globo ocular, língua e demais músculos da
face ligados aos núcleos dos nervos cranianos (RIET-CORREA, F.; RIET-CORREA, G.;
SCHILD, 2002). Estas seriam, entretanto, apenas a forma de manifestação clínica resultante
da ação pré-sináptica da toxina. Barros et al. (2006) afirmam que face à ausência de um
reflexo monossináptico (por ex., reflexo patelar), com comprometimento apenas da porção
motora do sistema nervoso periférico, o bovino não tem reflexo, mas sente dor e, neste caso,
devemos considerar ainda a possibilidade de lesões neuromusculares que podem causar,
também, debilidade severa nos quatro membros, sem ataxia, espasticidade ou alterações de
sistema nervoso central. Por outro lado, há angústia facial frente a estímulos dolorosos.
Durante o exame, observou-se que os animais inoculados com doses potencialmente letais,
diminuíam a sensibilidade e a resposta reflexa à medida que se avaliava regiões mais caudais.
Em algum momento foi levantada a hipótese de correlação com o local da inoculação, porém
as características de ação sistêmica da toxina até agora nos indica o contrário.
A ocorrência de outros sinais clínicos causados por outras toxinas como a crotamina
responsável pela miotoxicidade ou a giroxina pelas movimentações anormais foi
insignificante sob o ponto vista da sintomatologia. Birgel et al. (1983) caracterizou sintomas
discretos como: dificuldade de acomodação visual, e obnubilação e torpor como fenômenos
subjetivos.
Exames seqüenciais para avaliação dos pares cranianos não detectaram, em nosso
experimento, nenhum sinal de acometimento dos seus núcleos, como por exemplo abolição do
reflexo pupilar, “fácies neurotóxico de Rosenfeld” e o nistágmo verificados em humanos
(BARRAVIERA, 1999b; BUCARETCHI et al., 2002; PINHO; PEREIRA, 2001), animais de
laboratório (CASTRO, 1999) e em cães (FERREIRA JÚNIOR; BARRAVIERA, 2004;
NOGUEIRA; SAKATE; BARROS, 2004) ou ainda, a ptose palpebral, verificada em alguns
experimentos com bovinos (BELLUOMINI et al., 1982; LAGO, 1996). Por outro lado,
constatamos a paralisia do globo ocular, em todos os animais que receberam doses de 0,015
ou 0,03 mg/kg, revelada através da não-exposição da esclera durante a rotação da cabeça no
sentido horário e anti-horário, alteração identificada por Bicudo (1999) e Birgel et al. (1983)
Este achado clínico constitui, em nosso entendimento, indicação importante para
estabelecimento do diagnóstico e diagnóstico diferencial do envenenamento crotálico em
bovinos. Birgel et al. (1983) verificou este sintoma em um período compreendido entre seis e
72 horas após a inoculação.
5.3 Patologia Clínica
Com relação aos achados de patologia clínica dos animais submetidos ao
envenenamento crotálico alguns pontos devem ser discutidos. Lago et al. (2001) afirmaram
que a discreta hemoconcentração pode ser explicada pela ação de prostaglandinas que
70
aumentam no soro, consequentemente, a permeabilidade capilar frente à presença de
fosfolipases, porém, acreditamos que a privação de água devido a adipsia apresentada pelos
animais foi o principal fator responsável por este evento. Nesse estudo, a observação de
leucocitose caracterizada por discretas neutrofilia, linfopenia, monocitose e eosinopenia
associadas ao aumento significativo da relação neutrófilo/linfócito e do número de bastões,
pode indicar um desvio nuclear de neutrófilos à esquerda, possivelmente resultado da ação
das fosfolipases (JAIN, 1986). Lago et al. (2001) verificaram resultados diferentes
caracterizados apenas por um leucograma de estresse, determinado pela migração do “pool
marginal para o meio circulante, e concluiram ser induzida pelo aumento da liberação de
cortisol endógeno. Elevação dos níveis de uréia verificada em todos os animais, receberam
veneno, nesse experimento também foi observada também por Lago et al. (2004). É possível
que as condições de adipsia associada ao discreto catabolismo muscular podem ter favorecido
essa alteração. Por outro lado, verificamos, durante nosso experimento, que um bovino
controle também apresentou aumento dos níveis de uréia, talvez induzido pela constante
manipulação do animal e diminuição do consumo de água. Foi observada discreta diminuição
dos níveis plasmáticos de fibrinogênio em cinco bovinos, porém, não tão acentuados quanto a
encontrada por Lago (1996). As dosagens de creatinaquinase excederam em até dez vezes os
valores obtidos no tempo zero, o que está em concordância com as observações de Lago et al.
(2004). Radostits et al. (2000) descreveram a síndrome da vaca caída com aumento dos níveis
séricos de creatinaquinase acima de cento e cinqüenta vezes os valores normais. Graça e
Souza Júnior (2006) submeteram quatro bovinos ao decúbito experimental por seis horas e
verificaram, 18 horas após o início do decúbito, aumentos de creatinaquinase de
aproximadamente 130 vezes os valores obtidos antes do início. Devemos lembrar que além da
ação miotóxica, os animais de nosso experimento foram submetidos à contenção mecânica,
inúmeras punções venosas para coleta de sangue e permaneceram em decúbito por períodos
que variaram entre duas horas e dez minutos e nove dias, ou seja, os resultados obtidos em
estudos ligados ao decúbito permanente em bovinos, indicam que os valores obtidos em nosso
experimento não sugerem um quadro acentuado de necrose muscular, o que é confirmado pela
ação seletiva da miotoxina sobre as fibras musculares, verificada histologicamente
(HUDELSON, S.; HUDELSON, P., 1995b; SALVINI et al., 2001).
Não foram observadas alterações macroscópicas durante a coleta (Figura 28), ou pelos
exames laboratoriais da urina, com exceção do animal de número seis, o qual apresentou uma
quantidade discreta de hemácias na urina possivelmente devido à contaminação da coleta
durante a necropsia ao contrário dos acidentes crotálicos em humanos descritos por Barraviera
(1999b), Pinho e Pereira (2001). Esta ausência de mioglobinúria comprova a diferença de
sensibilidade entre humanos e bovinos do efeito miotóxico do veneno crotálico. Birgel et al.
(1983), por outro lado, verificaram a ocorrência de microhematúria em 60% dos casos,
glicosúria, proteinúria e dificuldade em concentrar a urina.
Foram observadas alterações nos exames que avaliam a coagulação sangüínea. A leve
hipofibrinogenemia foi verificada em cinco dos sete animais que receberam a dose de 0,015
mg/kg O tempo de sangramento aumentou moderadamente em quatro e discretamente em
dois animais submetidos ao envenenamento. A alteração da coagulação apenas em parte dos
animais submetidos ao envenenamento está de acordo com as observações de Amaral et al.
(1986), Pinho e Pereira (2001), Thomazini e Barraviera (1999). De forma diversa ao
observado por Lago (1996) não houve alterações significativas no tempo de ativação da
protrombina. Acreditamos que esse fato deve-se aos elevados níveis de fibrinogênio presentes
no sangue dos bovinos (JAIN, 1986). A enzima tipo trombina não teria sido capaz de
consumir todo o fibrinogênio. O tempo de tromboplastina parcial ativada aumentou
moderadamente, indicando possibilidade de alteração do fator XIII, ativado pela trombina, e
responsável pela estabilização do coágulo de fibrina (HUDELSON, S.; HUDELSON, P.,
71
1995a). Este aumento do tempo de tromboplastina parcial ativada nos indica que apenas a via
intrínseca e não a via comum foi comprometida. A discreta diminuição dos níveis de cálcio
total, observada nos animais de número um, dois, três, cinco e dez, talvez esteja
correlacionada aos distúrbios da coagulação, já que este é um co-fator importante no processo
(SANO-MARTINS; SANTORO, 2003).
5.4 Achados de Necropsia e Histopatológicos
Em nosso estudo, não verificamos, à necropsia, alterações macroscópicas que
pudessem caracterizar o diagnóstico do envenenamento crotálico em bovinos. O discreto
edema hemorrágico encontrado no local da inoculação, provavelmente, passa despercebido ao
exame clínico e mesmo à necropsia. Os animais que apresentaram aumentos significativos no
tempo de sangramento e vieram a óbito durante o experimento, foram os que tiveram uma
quantidade mais acentuada de petéquias e sufusões. Essas hemorragias foram descritas
também por Lago (1996) e Saliba, Belluomini e Leinz (1983).
Com relação a miotoxicidade, ao exame histológico, verificamos necrose coagulativa
de fibras isoladas ou pequenos grupos de fibras em todos os músculos esqueléticos
examinados. Este achado, embora não muito pronunciado, nos parece de grande valor para o
diagnóstico pós-morte deste envenenamento de forma que deve ser enfatizada a necessidade
de coletar diversos fragmentos de músculos estriados durante a necropsia de bovinos com
histórico de paralisia flácida ou ainda a óbitos com evolução rápida, sem lesões
macroscópicas significativas ou de etiologia obscura sem histórico definido. Esta ação
miotóxica em determinadas fibras corrobora as afirmações de Hudelson, S.; Hudelson, P.,
(1995a) e Salvini et al. (2001) sobre a seletividade da ação da crotoxina sobre as fibras
musculares tipo I e IIa. Segundo Banda et al. (2004) e Radostits et al. (2000), os tipos de
fibras musculares esqueléticas I, IIa e IIb possuem distribuição variada e dependem da base
genética, idade e tipo de exercício a que o animal é submetido. É possível que no futuro
métodos histoquímicos possam mapear a distribuição dessas fibras e correlacionar com as
lesões observadas no envenenamento.
Um outro aspecto a ser considerado diz respeito a ausência de diferenças na
intensidade ou na freqüência da necrose coagulativa entre as fibras musculares esqueléticas
próximas e distantes do local da inoculação, o que caracteriza uma ação sistêmica da
crotamina. Não foi observado em nenhum dos músculos examinados lise de miócitos, o que
está de acordo com as observações de Lago (1996). Esta observação poderia explicar a
ausência de mioglobina na urina de bovinos intoxicados com veneno crotálico.
Em nosso experimento não foram observadas quaisquer alterações histopatológicas
nos rins. É difícil precisar qual a causa desta discrepância, mas a leitura atenta do quadro
histológico descrito por Saliba, Belluomini e Leinz (1983), ao nosso ver, não permite a
distinção segura entre lesão e autólise. Por outro lado, o achado de infiltração inflamatória
mononuclear também descrito por esses autores, mais provavelmente é incidental, que essa
lesão é comum em bovinos e, em princípio demanda mais tempo para se instalar.
5.5 Diagnóstico Diferencial
Para o diagnóstico do envenenamento crotálico, o exame clínico deve ser precedido de
uma coleta de informações precisas e detalhadas sobre o histórico, complementada por
exames clínico-patológicos e, em caso de óbito, pela necropsia e histopatologia.
72
Os equívocos observados na literatura consultada, sobretudo decorrentes da
transposição dos resultados da sintomatologia de uma espécie como lidos para outra, em
relação ao envenenamento crotálico, e a semelhança dos achados verificados neste estudo
com outras enfermidades, demonstram a importância da realização do diagnóstico diferencial.
No que se refere aos aspectos epidemiológicos, devemos observar, inicialmente, a
existência ou não de serpentes da espécie Crotalus durissus na região, pois considerando-se a
sua distribuição geográfica, podemos perceber que em determinadas regiões, como por
exemplo, a maior parte da Amazônia ou o norte do Mato Grosso, a sua existência é baixa ou
nula de forma que as mortandades verificadas não podem ser atribuídas à envenenamento
crotálico (MELGAREJO, 2003). Chama atenção que esta é uma das regiões onde os
envenenamentos ofídicos são mais acusados como causa de mortalidade em bovinos.
Tokarnia, Döbereiner e Peixoto (2002) relataram que, na região norte, os numerosos casos de
intoxicação por plantas que causam morte súbita em geral, são atribuídos à “picada-de-cobra”,
o que, obviamente, superestima a ocorrência de acidentes ofídicos, que muitos milhares de
cabeças morrem anualmente vítimas da intoxicação por Palicourea marcgravii. Mesmo
sabendo-se do potencial de letalidade de uma serpente da espécie C. durissus terrificus com
relação a quantidade de veneno existente em sua glândula, devemos recordar os estudos de
Bucaretchi et al. (2002), Clarke, E. e Clarke, M. (1969), Melgarejo (2003), Silveira e
Nishioka (1995) que tratam da relevante ocorrência das chamadas ‘’picadas secas’’ ou quando
apenas parte do veneno é injetada, o que gera incertezas quanto a dose inoculada. A variação
da concentração das toxinas em função de idade, peso, alimentação e distribuição geográfica
da serpente dificulta ainda mais a referida projeção (FURTADO; SANTOS; KAMIGUTI,
2003; MAGRO et al., 2001).
A tentativa de estabelecimento do diagnóstico diferencial do envenenamento crotálico
através do exame clínico é de suma importância e depende da execução adequada do exame
clínico geral e do sistema nervoso. As enfermidades do sistema nervoso central e periférico
em bovinos abrangem um grupo importante que compreende um percentual elevado em nosso
país e ganharam mais visibilidade desde quando as autoridades sanitárias passaram a exigir
dos países exportadores de carne que realizem a identificação das doenças que afetam o
sistema nervoso de bovinos (BARROS et al., 2006). O quadro clínico do envenenamento
crotálico em bovinos pode ser de difícil interpretação, com o agravante que em muitos casos,
é de evolução rápida e não cursa com lesão macroscópica aparente. Doenças que causam
distúrbios neurológicos sem alteração da psique poderiam facilmente ser confundidas com
este tipo de envenenamento, como por exemplo a forma aguda do botulismo. Também os
quadros de envenenamento crotálico, de evolução mais lenta, podem ser muito semelhantes
àqueles verificados em casos subagudos de botulismo em bovinos (TOKARNIA; PEIXOTO,
2006).
A intoxicação pela toxina botulínica pode evoluir nas formas superaguda com
evolução e morte em até 24 horas, aguda (24 a 72 horas), subaguda (72 horas a três semanas)
e crônica (a partir de três semanas). Verificamos evolução clínica entre sete horas e quarenta
minutos e 17 dias em bovinos submetidos ao envenenamento crotálico. Pela observação das
evoluções apresentadas pelos animais desse estudo (Tabela 5), também similaridade entre
estas duas enfermidades. Ainda outras doenças de cunho neurológico como a raiva (LAGO et
al., 2000), síndrome da vaca caída, plantas que causam necrose muscular ou até “morte
súbita” devem ser consideradas no diagnóstico diferencial.
A raiva bovina é uma enfermidade de sintomatologia variável (BARROS et al., 2006;
RADOSTITS et al., 2000), porém na maioria das vezes cursa com um quadro de paralisia
progressiva que pode ser confundido com os achados clínicos por nós observados no presente
estudo. Investigação epidemiológica adequada pode ser de grande valor para o diagnóstico.
Dados como incidência da doença na região, taxa de ataque de morcegos hematófagos ao
73
rebanho, o número de animais doentes na propriedade e histórico de vacinações podem
embasar a suspeita clínica. Na maioria dos casos de raiva, a evolução dos sintomas com o
progressivo comprometimento do sistema nervoso central, por si só, com alterações da
psique, eliminaria a suspeita de envenenamento crotálico (Anexo A).
A analogia equivocada feita entre a patogenia do envenenamento crotálico em
humanos e bovinos indica a necessidade de inclusão de doenças que causam necrose muscular
e mioglobinúria no diagnóstico diferencial. Devemos citar a intoxicação por Senna ocidentalis
(TOKARNIA; DOBËREINER; PEIXOTO, 2000), consumo excessivo de antibióticos
ionóforos (BARROS, 2001) e a síndrome da vaca caída (RADOSTITS et al., 2000). O quadro
sintomático inespecífico marcado pelo estado de consciência alerta acompanhado de apetite
reduzido que estes animais apresentam muitas vezes confundem o veterinário. Conforme
verificado em nossos estudos, a necrose muscular observada determinada pelo
envenenamento crotálico em bovinos é discreta e não cursa com liberação de mioglobina na
urina, nem é observada macroscopicamente. As análises séricas de creatinaquinase e
aspartatoaminotransferase, durante o curso das enfermidades que levam a mionecrose com
mioglobinúria, deverão encerrar valores bastante superiores aos encontrados durante o
envenenamento crotálico em bovinos. A necrose causada durante a intoxicação pela Senna
ocidentalis caracteriza-se macroscopicamente pela presença de áreas pálidas dispostas em
focos múltiplos ou em estrias nos músculos esqueléticos e no cardíaco, em menor escala
(RIET-CORREA et al., 2001). Com relação à necrose por decúbito prolongado são comuns
hemorragias, edema subcutâneo, lesões traumáticas e inflamatórias nos nervos obturador,
isquiático, fibular e radial além de necrose isquêmica dos grandes músculos dos membros
pélvicos (RADOSTITS et al., 2000). Tanto na intoxicação por Senna como na síndrome da
vaca caída, a observação da urina durante a necropsia pode nos mostrar a coloração
amarronzada da urina devido a mioglobinúria. No caso da intoxicação por antibióticos
ionóforos dos bovinos, a necrose é mais marcada no miocárdio. Alguns animais chegam a
desenvolver um quadro de insuficiência cardíaca acompanhado de edema pulmonar,
hidropericárdio, ascite e fígado em noz moscada (BARROS, 2001).
74
6 CONCLUSÕES
1. A inoculação subcutânea de 0,015 mg/kg do veneno da Crotalus durissus terrificus é
potencialmente letal para bovinos.
2. O quadro sintomatológico do envenenamento crotálico em bovinos caracteriza-se
sobretudo por paralisia flácida.
3. O diagnóstico diferencial do envenenamento crotálico deve ser efetuado com doenças
que causam paralisia flácida ou necrose muscular como o botulismo, raiva, síndrome
da vaca caída, além de, intoxicações por antibióticos ionóforos e pela Senna
ocidentalis.
4. O achado microscópico de necrose individual de fibras musculares esqueléticas pode
ser importante para o diagnóstico e diagnóstico diferencial do envenenamento
crotálico.
5. Ao que tudo indica, em bovinos, o envenenamento crotálico não cursa com
mioglobinúria.
6. Nos casos de suspeita de morte por envenenamento crotálico deve-se coletar
fragmentos de diversos músculos esqueléticos para verificação histológica de necrose
coagulativa.
75
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81
ANEXOS
A –
Enfermidades com quadro clínico semelhante ao do envenenamento crotálico
B –
Hemograma, contagem de plaquetas, reticulócitos, proteínas plasmáticas totais e
fibrinogênio dos bovinos submetidos ao envenenamento crotálico e animais-
controle.
C –
Dosagens bioquímicas dos bovinos submetidos ao envenenamento crotálico e
animais controle.
D –
Exames para avaliação da coagulação sangüínea : tempo de ativação da protrombina
(TAP) e tempo de tromboplastina parcial ativada (TTPA) dos bovinos submetidos
ao envenenamento crotálico e animais-controle.
E –
Diagnóstico diferencial entre envenenamento por serpentes Crotalus durissus
terrificus e do gênero Bothrops sp. em ruminantes.
82
Anexo A. Enfermidades com quadro clínico semelhante ao do envenenamento crotálico em bovinos (Continua)
1
.
Enfermidade/
Agente etiológico
Epidemiologia Achados clínicos Achados de necropsia Microscopia e diagnóstico
laboratorial
Picada por cascavel
sul-americana
Envenenamento por serpente
Crotalus durissus terrificus
Preferência da serpente por
locais mais secos e pedregosos.
Distribuição irregular no
território nacional (Figura 1).
Diminuição da resposta aos estímulos
externos, hipotonia muscular
acentuada, diminuição do tônus
muscular da língua até paralisia flácida,
decúbito esternal e lateral. Evolução
entre poucas horas e 17 dias.
Edema quase imperceptível no
local da inoculação. Normal-
mente não são observadas
alte-rações macroscópicas.
Pode ocorrer em alguns casos
petéquias e equimoses nas
mucosas e serosas.
No exame histopatológico verifica-se
necrose (hialinização) de grupos de
miócitos ou em miócitos isolados; leve
tumefação de hepatócitos.
Botulismo
Ingestão da toxina produzida
pelo Clostridium botulinum tipos
C e D.
Principalmente em áreas de solo
deficiente em fósforo devido a
osteofagia, mas pode ocorrer pela
ingestão de águas paradas
contaminadas, milho ou silagem
deteriorados ou ainda pela
ingestão de carcaças de aves na
cama de frango.
Inicialmente observa-se dificuldade de
locomoção seguida de decúbito esternal
e lateral permanente. Paralisia flácida
generalizada, afetando língua, cauda e
mandíbula. A evolução geralmente
varia ente 1 e 7 dias após o decúbito
com a morte do animal. Psique normal.
Não há lesões macroscópicas
de significado.
Não lesões histológicas
significativas.
Detecção da toxina no soro sangüíneo,
intestino e fígado por imunodifusão.
Inoculação em camundongo.
Raiva
Vírus do gênero Lyssavirus da
família Rhabdoviridae.
Transmissão por morcegos
hematófagos (Desmodus
rotundus)
Ataxia, debilidade nos membros,
decúbito permanente, tenesmo retal ou
relaxamento do esfíncter anal, paralisia
da língua, sialorréia.
Não há lesões macroscópicas
de significado.
Encefalite não-purulenta e corpúsculo
de inclusão, imunofluorescência direta,
inoculação em camundongos.
Polioencefalomalácia
(Necrose cerebrocortical)
Acomete principalmente
bezerros entre 8 e 12 meses em
condições de confinamento ou
submetidos a mudanças bruscas
na alimentação. Pode ocorrer
sob a forma de surtos ou casos
isolados.
Andar incoordenado, cambaleante, em
círculos, cegueira total ou parcial em
praticamente 100% dos casos, paralisia
da língua, opistótono e nistagmo.
Decúbito esternal e lateral.
Córtex tumefeito de cor
amarelada da substância
cinzenta até necrose por
liquefação após 8 a 10 dias.
Necrose coagulativa neuronal no córtex
telencefálico, além de edema
perivascular e perineuronal em graus
variáveis tanto no córtex como na
substância branca. Edema de astrócitos.
1
Quadro elaborado a partir das seguintes publicações: BARROS et al., 2006; RADOSTITS et al., 2000; RIET-CORREA et al., 2001; RIET-CORRET, F.; RIET-CORREA,
G.; SCHILD, 2002; TOKARNIA; DOBËREINER; PEIXOTO, 2000.
83
Anexo A. Continuação
1
.
Meningoencefalite por
herpesvírus bovino tipo 5
Esta enfermidade tem sido descrita
com maior freqüência no
hemisfério sul (Brasil e Argentina)
do que no hemisfério norte.
Geralmente ocorre mais de um caso
na propriedade (Morbidade 20-
25%), mas pode ocorrer em casos
isolados.
Febre, depressão profunda. Pode
ocorrer corrimento nasal e ocular,
incapacidade de apreensão de
alimentos ou ingestão de água,
ranger dos dentes, ficit
proprioceptivo, cegueira, perda dos
reflexos auditivos e cutâneos,
tremores, convulsões, decúbito
prolongado esternal e lateral
permanente e óbito.
Hiperemia das leptomeniges,
malácia, áreas tumefeitas,
hemorrágicas, gelatinosas e
acinzentadas. Podem ocorrer
ainda ulcerações na traquéia,
rúmen e abomaso, além de
broncopneumonia fibrino-
purulenta e peritonite
fibrinosa.
Necrose neuronal aguda, edema e
tumefação do endotélio vascular,
intenso infiltrado misto nos espaços
perivasculares. Podem ser observados
em lesões iniciais corpúsculos de
inclusão intranucleares em astrócitos e
neurônios.
Síndrome da vaca caída
Necrose isquêmica dos grandes
grupos musculares dos membros
pélvicos, associada a
hipocalcemia pós-parto ou
quaisquer outras enfermidades
que levem ao decúbito
prolongado.
Mais comum em vacas leiteiras
recém-paridas, mas pode ocorrer
em qualquer categoria de bovinos
adultos.
Decúbito esternal, “status” mental
normal. Sinais vitais estáveis e
apetite normal, mas pode ocorrer
anorexia. Urina de cor marrom.
Necrose nos grandes grupos
musculares (Áreas mais
pálidas). Às vezes urina de cor
marrom.
Aumento dos níveis de CK e AST.
Proteinúria e hemo-globinúria. Grandes
áreas de necrose coagulativa ao exame
histológico.
Intoxicação por
organofosforados e carbamatos
(Neurotoxicidade retardada)
Esta forma manifesta-se entre 8 e
90 dias após intoxicação aguda.
Dificuldade locomotora, paraplegia
(membros posteriores).
Não se observam alterações
macroscópicas.
Edema axonal, cromatólise, necrose de
neurônios do tronco encefálico.
Intoxicação por ionóforos
Antibióticos metabólitos de
fungos usados para controlar o
timpanismo em bovinos.
(monensina, narasina,
salinomicina e lasalocida).
Perigosos quando utilizados em
dosagens acima das recomendadas
nas espécies-alvo ou por espécies
sensíveis.
Anorexia, diarréia, tremores,
incapacitação e fraqueza muscular
até decúbito permanente, taquicardia,
atonia ruminal, mioglobinúria. Nos
casos mais crônicos podemos
encontrar edema no peito, pulso
jugular, ascite, dispnéia, taquicardia,
e morte em semanas ou meses
associada a exercícios.
Em bovinos, as lesões
degenerativas e necróticas são
mais marcadas no coração e
observadas também nos
músculos esqueléticos.
Observa-se edema no peito,
hidropericárdio, ascite e
fígado em noz-moscada.
Necrose coagulativa e lise das
miofobrilas. Análise da ração e de
conteúdo gástrico ou ruminal.
Intoxicação por Senna
ocidentalis (Cassia ocidentalis)
(“fedegoso” ou “manjerioba”)
É amplamente distribuída mas a
intoxicação foi descrita na região
sul do Brasil devido a ingestão de
sementes misturadas ao milho e ao
sorgo em condições de pastoreio.
Diarréia, tremores musculares, andar
incoordenado, relutância em mover-
se, decúbito esternal, mioglobinúria e
morte.
Áreas pálidas nos músculos
esqueléticos, rins vermelhos
escuros, urina cor de café.
Fígado marrom-claro com
aspecto de noz moscada
descritos em animais into-
xicados experimentalmente.
Aumento dos níveis de CK, ALT e
AST. Mioglobinúria. Na histopatologia
observa-se necrose coagulativa. No
fígado vacuolização difusa com morte
individual dos hepatócitos.
1
Quadro elaborado a partir das seguintes publicações: BARROS et al., 2006; RADOSTITS et al., 2000; RIET-CORREA et al., 2001; RIET-CORRET, F.; RIET-CORREA,
G.; SCHILD, 2002; TOKARNIA; DOBËREINER; PEIXOTO, 2000.
84
Anexo B. Hemograma, contagem de plaquetas, reticulócitos, proteínas plasmáticas totais, fibrinogênio e relação
neutrófilo/linfócito dos bovinos submetidos ao envenenamento crotálico e animais controle.
Hemograma, contagem de plaquetas, reticulócitos, proteínas plasmáticas totais e
fibrinogênio. Bovino 1.
Série vermelha
Horas após a inoculação 0 6 12 24 48
Hemoglobina (g/dL) 8,3 10,6
Hemácias (milhões g/dL) 6,17 7,8
Hematócrito (%) 26 35,00
Volume globular médio (fl) 42,10 44,8
Hemoglobina globular média (pg) 13,40 13,5
Concentração de hemoglobina
globular média (%)
31,90 30,2
Contagem de reticulócitos 0 0
Contagem de plaquetas /µL 679.000 185.000
Proteínas plasmáticas totais (g/dL) 8,0 8,0
Fibrinogênio mg % 300 400
Série branca
Leucócitos totais /µL 11.500 18.800
(%) 0 0 Basófilos
(/µL) 0 0
(%) 2 0 Eosinófilos
(/µL) 230 0
(%) 0 0 Mielócitos
(/µL) 0 0
(%) 0 0 Metamielócitos
(/µL) 0 0
(%) 0 3 Bastões
(/µL) 0 564
(%) 25 58 Segmentados
(/µL) 2875 10904
(%) 72 33 Linfócitos
(/µL) 8165 6204
(%) 2 6 Monócitos
(/µL) 230 1128
85
Hemograma, contagem de plaquetas, reticulócitos, proteínas plasmáticas totais e
fibrinogênio. Bovino 2.
Série vermelha
Horas após a inoculação 0 6 12 24 48
Hemoglobina (g/dL) 8,4 8,3 8,0
Hemácias (milhões g/dL) 5,67 6,13 6,01
Hematócrito (%) 25,1 27,6 28,2
Volume globular médio (fl) 44,2 45,0 46,9
Hemoglobina globular média (pg) 14,8 13,5 13,3
Concentração de hemoglobina
globular média (%)
33,4 30,0 28,2
Contagem de reticulócitos 0 0 0
Contagem de plaquetas /µL 246.000 298.000 103.000
Proteínas plasmáticas totais (g/dL) 7,6 7,6 7,6
Fibrinogênio mg % 400 400 200
Série branca
Leucócitos totais /µL 10.200 16.600 17.600
(%) 0 0 0 Basófilos
(/µL) 0 0 0
(%) 03 0 0 Eosinófilos
(/µL) 306 0 0
(%) 0 0 0 Mielócitos
(/µL) 0 0 0
(%) 0 0 0 Metamielócitos
(/µL) 0 0 0
(%) 01 01 04 Bastões
(/µL) 102 166 704
(%) 25 46 56 Segmentados
(/µL) 2550 7636 9856
(%) 66 49 34 Linfócitos
(/µL) 6732 8134 5984
(%) 5 4 06 Monócitos
(/µL) 510 664 1056
86
Hemograma, contagem de plaquetas, reticulócitos, proteínas plasmáticas totais e
fibrinogênio. Bovino 3.
Série vermelha
Horas após a inoculação 0 6 12 24 48
Hemoglobina (g/dL) 10,0 10,9 10,7 10,6 10,7
Hemácias (milhões g/dL) 7,28 8,73 9,09 8,7 8,69
Hematócrito (%) 30,5 36,4 37,7 35,7 35,9
Volume globular médio (fl) 41,9 41,7 41,5 41,1 41,4
Hemoglobina globular média (pg) 13,7 12,4 11,7 12,1 12,3
Concentração de hemoglobina
globular média (%)
32,7 29,9 28,3 29,5 29,8
Contagem de reticulócitos 0 0 0 0 0
Contagem de plaquetas /µL 532.000 211.000 210.000 387.000 338.000
Proteínas plasmáticas totais (g/dL) 7,2 8,0 8,0 8,0 7,6
Fibrinogênio mg % 400 600 200 200 200
Série branca
Leucócitos totais /µL 12.000 20.000 17.300 17.000 14.400
(%) 0 0 0 0 0 Basófilos
(/µL) 0 0 0 0 0
(%) 06 06 0 04 02 Eosinófilos
(/µL) 720 1200 700 680 288
(%) 0 0 0 0 0 Mielócitos
(/µL) 0 0 0 0 0
(%) 0 0 0 0 0 Metamielócitos
(/µL) 0 0 0 0 0
(%) 01 04 04 02 02 Bastões
(/µL) 120 800 692 340 288
(%) 29 54 46 50 36 Segmentados
(/µL) 3480 10800 7958 8500 5184
(%) 62 34 48 42 52 Linfócitos
(/µL) 7440 10800 8304 7140 7488
(%) 02 02 02 02 08 Monócitos
(/µL) 240 400 346 340 1152
87
Hemograma, contagem de plaquetas, reticulócitos, proteínas plasmáticas totais e
fibrinogênio. Bovino 4.
Série vermelha
Horas após a inoculação 0 6 12 24 48
Hemoglobina (g/dL) 10,1 11,3 13,4 11,2 12,1
Hemácias (milhões g/dL) 8,04 8,35 8,6 8,19 8,94
Hematócrito (%) 36,5 38,4 39,9 37,8 40,9
Volume globular médio (fl) 45,3 45,9 45,8 46,2 45,7
Hemoglobina globular média (pg) 12,5 13,5 13,2 13,6 13,5
Concentração de hemoglobina
globular média (%)
27,6 29,4 29,9 29,6 29,5
Contagem de reticulócitos 0 0 0 0 0
Contagem de plaquetas /µL 307.000 537.000 579.000 236.000 538.000
Proteínas plasmáticas totais (g/dL) 8,0 8,0 8,6 8,6 8,8
Fibrinogênio mg % 400 400 400 400 400
Série branca
Leucócitos totais /µL 11.900 11.900 13800 12.100 12.300
(%) 0 0 0 0 0 Basófilos
(/µL) 0 0 0 0 0
(%) 0 0 04 0 04 Eosinófilos
(/µL) 0 0 552 0 492
(%) 0 0 0 0 0 Mielócitos
(/µL) 0 0 0 0 0
(%) 0 0 0 0 0 Metamielócitos
(/µL) 0 0 0 0 0
(%) 02 16 04 02 02 Bastões
(/µL) 230 1904 552 242 246
(%) 36 38 38 52 16 Segmentados
(/µL) 4284 4522 5244 6292 1968
(%) 56 48 52 42 72 Linfócitos
(/µL) 6664 5712 7176 5082 8856
(%) 06 08 02 04 06 Monócitos
(/µL) 714 952 276 484 738
88
Hemograma, contagem de plaquetas, reticulócitos, proteínas plasmáticas totais e
fibrinogênio. Bovino 5.
Série vermelha
Horas após a inoculação 0 6 12 24 48
Hemoglobina (g/dL) 11,2 9,9 9,9 9,4 9,6
Hemácias (milhões g/dL) 7,64 6,76 7,0 6,50 6,64
Hematócrito (%) 38,2 33,8 34,7 32,3 33
Volume globular médio (fl) 50,0 50,1 49,6 49,8 49,8
Hemoglobina globular média (pg) 14,6 14,6 14,1 14,4 14,4
Concentração de hemoglobina
globular média (%)
29,3 33,8 28,5 29,1 29,0
Contagem de reticulócitos 0 0 0 0 0
Contagem de plaquetas /µL 410.000 525.000 398.000 333.000 169.000
Proteínas plasmáticas totais (g/dL) 7,4 8,6 9,6 9,2 9,8
Fibrinogênio mg % 400 400 400 400 600
Série branca
Leucócitos totais /µL 11.200 16.000 16.100 14.700 13.900
(%) 00 0 0 0 0 Basófilos
(/µL) 00 0 0 0 0
(%) 04 0 06 04 10 Eosinófilos
(/µL) 448 0 966 588 1390
(%) 00 0 0 0 0 Mielócitos
(/µL) 00 0 0 0 0
(%) 00 0 0 0 0 Metamielócitos
(/µL) 00 0 0 0 0
(%) 02 16 06 02 02 Bastões
(/µL) 224 2560 966 294 278
(%) 20 36 40 28 26 Segmentados
(/µL) 2240 5760 6440 4116 2614
(%) 72 44 42 64 50 Linfócitos
(/µL) 8064 7040 6762 9408 6950
(%) 02 04 06 02 12 Monócitos
(/µL) 224 640 966 294 1668
89
Hemograma, contagem de plaquetas, reticulócitos, proteínas plasmáticas totais e
fibrinogênio. Bovino 6.
Série vermelha
Horas após a inoculação 0 6 12 24 48
Hemoglobina (g/dL) 10,0 10,0 10,5
Hemácias (milhões g/dL) 7,61 7,41 7,59
Hematócrito (%) 31,1 30,6 31,5
Volume globular médio (fl) 40,8 41,2 41,5
Hemoglobina globular média (pg) 13,1 13,4 13,8
Concentração de hemoglobina
globular média (%)
32,1 32,6 33,3
Contagem de reticulócitos 0 0 0
Contagem de plaquetas /µL 339.000 480.000 450.000
Proteínas plasmáticas totais (g/dL) 6,6 7,6 6,8
Fibrinogênio mg % 400 200 400
Série branca
Leucócitos totais /µL 11.300 16.500 14.700
(%) 0 0 0 Basófilos
(/µL) 0 0 0
(%) 06 0 0 Eosinófilos
(/µL) 678 0 0
(%) 0 0 Mielócitos
(/µL) 0 0 0
(%) 0 0 Metamielócitos
(/µL) 0 0 0
(%) 02 04 02 Bastões
(/µL) 226 660 294
(%) 16 30 52 Segmentados
(/µL) 1808 4950 7644
(%) 70 56 42 Linfócitos
(/µL) 7910 9240 6174
(%) 06 10 04 Monócitos
(/µL) 678 1650 588
90
Hemograma, contagem de plaquetas, reticulócitos, proteínas plasmáticas totais e
fibrinogênio. Bovino 7.
Série vermelha
Horas após a inoculação 0 6 12 24 48
Hemoglobina (g/dL) 12,0 9,4 11,0 9,6 12,0
Hemácias (milhões g/dL) 8,44 7,22 8,20 7,31 8,36
Hematócrito (%) 35,4 29,8 34,0 30,1 35,6
Volume globular médio (fl) 41,9 41,2 41,4 41,1 42,5
Hemoglobina globular média (pg) 14,2 13,0 13,4 13,1 14,3
Concentração de hemoglobina
globular média (%)
33,8 31,5 32,3 31,8 33,7
Contagem de reticulócitos 0 0 0 0 0
Contagem de plaquetas /µL 319.000 126.000 153.000 206.000 172.000
Proteínas plasmáticas totais (g/dL) 6,8 7,0 7,0 7,6 7,0
Fibrinogênio mg % 400 400 400 200 200
Série branca
Leucócitos totais /µL 10.900 13.800 14.200 12.200 16.300
(%) 0 0 0 0 0 Basófilos
(/µL) 0 0 0 0 0
(%) 02 0 0 02 0 Eosinófilos
(/µL) 218 0 0 244 0
(%) 0 0 0 0 0 Mielócitos
(/µL) 0 0 0 0 0
(%) 0 0 0 0 0 Metamielócitos
(/µL) 0 0 0 0 0
(%) 0 04 02 06 08 Bastões
(/µL) 0 552 284 732 1304
(%) 22 36 44 52 56 Segmentados
(/µL) 2398 4968 6248 6344 9128
(%) 69 59 44 38 35 Linfócitos
(/µL) 7521 8142 6248 4636 5705
(%) 07 01 10 02 01 Monócitos
(/µL) 763 138 1420 244 163
91
Hemograma, contagem de plaquetas, reticulócitos, proteínas plasmáticas totais e
fibrinogênio. Bovino 8.
Série vermelha
Horas após a inoculação 0 6 12 24 48
Hemoglobina (g/dL) 9,0 10,4 8,4 8,6 9,6
Hemácias (milhões g/dL) 7,0 8,0 6,22 6,5 7,0
Hematócrito (%) 29,4 33,4 25,9 26,5 28,8
Volume globular médio (fl) 42,0 41,7 41,6 40,7 41,1
Hemoglobina globular média (pg) 12,8 13,0 13,5 13,2 13,7
Concentração de hemoglobina
globular média (%)
30,6 31,1 32,4 32,4 33,3
Contagem de reticulócitos 0 0 0 0 0
Contagem de plaquetas /µL 237.000 378.000 283.000 366.000 454.000
Proteínas plasmáticas totais (g/dL) 7,4 7,6 6,8 7,6 7,2
Fibrinogênio mg % 400 400 400 200 200
Série branca
Leucócitos totais /µL 13.000 19.800 11.100 10.300 10.900
(%) 0 0 0 0 0 Basófilos
(/µL) 0 0 0 0 0
(%) 0 0 0 0 02 Eosinófilos
(/µL) 0 0 0 0 218
(%) 0 0 0 0 0 Mielócitos
(/µL) 0 0 0 0 0
(%) 0 0 0 0 0 Metamielócitos
(/µL) 0 0 0 0 0
(%) 02 0 02 0 02 Bastões
(/µL) 260 0 222 0 218
(%) 22 40 38 44 22 Segmentados
(/µL) 2860 7920 4218 4532 2398
(%) 70 54 58 52 70 Linfócitos
(/µL) 9100 10692 6438 5356 7630
(%) 06 06 02 04 04 Monócitos
(/µL) 780 1188 222 412 436
92
Hemograma, contagem de plaquetas, reticulócitos, proteínas plasmáticas totais e
fibrinogênio. Bovino 9.
Série vermelha
Horas após a inoculação 0 6 12 24 48
Hemoglobina (g/dL) 9,5 10,4 12,0
Hemácias (milhões g/dL) 7 8,0 9,2
Hematócrito (%) 29,5 33,4 39,9
Volume globular médio (fl) 42,1 41,7 43,3
Hemoglobina globular média (pg) 13,5 13,0 13,0
Concentração de hemoglobina
globular média (%)
32,2 31,1 30,0
Contagem de reticulócitos 0 0 0
Contagem de plaquetas /µL 215.000 236.000 466.000
Proteínas plasmáticas totais (g/dL) 7,2 7,6 7,4
Fibrinogênio mg % 400 400 400
Série branca
Leucócitos totais /µL 16.000 19.800 20.800
(%) 0 0 0 Basófilos
(/µL) 0 0 0
(%) 0 0 0 Eosinófilos
(/µL) 0 0 0
(%) 0 0 0 Mielócitos
(/µL) 0 0 0
(%) 0 0 0 Metamielócitos
(/µL) 0 0 0
(%) 02 0 02 Bastões
(/µL) 320 0 416
(%) 30 40 58 Segmentados
(/µL) 4800 7920 12064
(%) 60 54 39 Linfócitos
(/µL) 9600 10692 8112
(%) 08 06 01 Monócitos
(/µL) 1280 1188 208
93
Hemograma, contagem de plaquetas, reticulócitos, proteínas plasmáticas totais e
fibrinogênio. Bovino 10.
Série vermelha
Horas após a inoculação 0 6 12 24 48
Hemoglobina (g/dL) 10,0 8,7 8,9 8,2 8,0
Hemácias (milhões g/dL) 8,0 6,9 6,9 6,29 6,3
Hematócrito (%) 35,1 27,9 27,8 25,0 25,4
Volume globular médio (fl) 43,8 40,4 40,2 41,6 40,3
Hemoglobina globular média (pg) 12,5 12,6 12,8 13,0 12,6
Concentração de hemoglobina
globular média (%)
28,4 31,1 32,0 32,8 31,4
Contagem de reticulócitos 0 0 0 0 0
Contagem de plaquetas /µL 236.000 181.000 278.000 249.000 304.000
Proteínas plasmáticas totais (g/dL) 7,6 7,0 7,0 7,4 7,0
Fibrinogênio mg % 400 400 200 200 200
Série branca
Leucócitos totais /µL 10.000 16.600 12.200 15.200 10.700
(%) 0 0 0 0 0 Basófilos
(/µL) 0 0 0 0 0
(%) 06 0 0 0 0 Eosinófilos
(/µL) 600 0 0 0 0
(%) 0 0 0 0 0 Mielócitos
(/µL) 0 0 0 0 0
(%) 0 0 0 0 0 Metamielócitos
(/µL) 0 0 0 0 0
(%) 0 0 02 04 0 Bastões
(/µL) 0 0 244 608 0
(%) 32 40 66 54 44 Segmentados
(/µL) 3200 6640 8052 8208 4708
(%) 58 52 22 36 55 Linfócitos
(/µL) 5800 8632 2684 5472 5885
(%) 04 08 10 06 01 Monócitos
(/µL) 400 1328 1220 912 107
94
Hemograma, contagem de plaquetas, reticulócitos, proteínas plasmáticas totais e
fibrinogênio. Bovino 11 (controle)
Série vermelha
Horas após a inoculação 0 6 12 24 48
Hemoglobina (g/dL) 8,0 8,0 7,8 7,0 7,2
Hemácias (milhões g/dL) 5,3 5,2 5,29 5,20 5,1
Hematócrito (%) 25,0 24,0 23,0 21,1 21,5
Volume globular médio (fl) 47,1 46,1 43,4 40,5 42,1
Hemoglobina globular média (pg) 15,0 15,3 14,7 13,4 14,1
Concentração de hemoglobina
globular média (%)
32,0 33,3 33,9 33,3 33,4
Contagem de reticulócitos 0 0 0 0 0
Contagem de plaquetas /µL 187.000 121.000 119.000 129.000 105.000
Proteínas plasmáticas totais (g/dL) 7,0 7,0 7,4 7,0 7,4
Fibrinogênio mg % 400 400 200 400 200
Série branca
Leucócitos totais /µL 7.000 7.400 7.000 8.600 8.400
(%) 0 0 0 0 0 Basófilos
(/µL) 0 0 0 0 0
(%) 0 04 06 06 04 Eosinófilos
(/µL) 0 296 420 516 336
(%) 0 0 0 0 0 Mielócitos
(/µL) 0 0 0 0 0
(%) 0 0 0 0 0 Metamielócitos
(/µL) 0 0 0 0 0
(%) 01 0 04 0 0 Bastões
(/µL) 70 0 280 0 0
(%) 22 24 20 24 20 Segmentados
(/µL) 1540 1776 1400 2064 1680
(%) 76 71 68 68 74 Linfócitos
(/µL) 5320 5254 4760 5848 6216
(%) 01 01 02 02 02 Monócitos
(/µL) 70 54 140 172 168
95
Hemograma, contagem de plaquetas, reticulócitos, proteínas plasmáticas totais e
fibrinogênio. Bovino 12 (controle).
Série vermelha
Horas após a inoculação 0 6 12 24 48
Hemoglobina (g/dL) 9,3 9,8 9,4 9,4 9,5
Hemácias (milhões g/dL) 7,00 6,40 6,60 6,60 6,62
Hematócrito (%) 28,0 29,8 29,4 29,0 29,0
Volume globular médio (fl) 40,0 46,5 44,5 43,9 43,8
Hemoglobina globular média (pg) 13,2 15,3 14,2 14,2 14,3
Concentração de hemoglobina
globular média (%)
33,2 32,8 31,9 32,4 32,7
Contagem de reticulócitos 0 0 0 0 0
Contagem de plaquetas /µL 305.000 306.000 280.000 246.000 296.000
Proteínas plasmáticas totais (g/dL) 7,0 7,6 7,2 7.4 7,2
Fibrinogênio mg % 300 300 400 300 300
Série branca
Leucócitos totais /µL 7400 6700 6700 6700 6700
(%) 0 0 0 0 0 Basófilos
(/µL) 0 0 0 0 0
(%) 0 0 0 02 02 Eosinófilos
(/µL) 0 0 0 134 134
(%) 0 0 0 0 0 Mielócitos
(/µL) 0 0 0 0 0
(%) 0 0 0 0 0 Metamielócitos
(/µL) 0 0 0 0 0
(%) 02 0 02 02 02 Bastões
(/µL) 148 0 134 134 134
(%) 30 32 24 26 16 Segmentados
(/µL) 2220 2144 1608 1742 1072
(%) 62 66 70 68 74 Linfócitos
(/µL) 4588 4422 4690 4556 4958
(%) 06 02 04 02 06 Monócitos
(/µL) 444 134 268 134 402
96
Relação Neutrófilo/linfócito dos bovinos submetidos ao envenenamento crotálico e dos
animais controle.
Horas após
inoculação
0 6 12 24 48
Bovino 1
0,34
1,75
-
-
-
Bovino 2 0,37 0,93 1,64 - -
Bovino 3 0,46 1,58 0,96 1,19 0,69
Bovino 4
0,64 0,79 0,73 1,20 0,22
Bovino 5
0,27 0,81 0,95 0,43 0,52
Bovino 6
0,22 0,53 1,23 - -
Bovino 7
0,31 0,61 1,0 1,36 1,6
Bovino 8
0,31 0,74 0,65 0,84 0,31
Bovino 9
0,5 0,74 1,48 - -
Bovino 10
0,55 0,76 3,0 1,5 0,8
Bovino11
(Controle)
0,29 0,33 0,29 0,35 0,27
Bovino12
(Controle)
0,48 0,48 0,34 0,38 0,21
97
Anexo C. Dosagens bioquímicas dos bovinos submetidos ao envenenamento crotálico e animais controle.
Bioquímica. Bovino 1.
Horas após a inoculação 0 6 12 24 48
Glicose (mg/dL) 45 241,40 - -
Uréia (mg/dL) 12,10 39,40 - -
Creatinina (mg/dL) 1,4 1,4 - -
Proteínas séricas totais (mg/dL) 6,06 5,94 - -
Albumina (g/dL) 3,34 3,32 - -
Globulinas (g/dL) 2,74 2,62 - -
Relação Albumina /Globulina 1,22 1,26 - -
Colesterol (mg/dL) 88,2 88,0 - -
Cálcio (mg/dL) 12,2 10,00 - -
Fósforo (mg/dL) 4,7 5,20 - -
Fosfatase alcalina (U/L) 40,10 37,10 - -
AST (TGO) (U/L) 26,0 20,20 - -
ALT (TGP) (U/L) 10,50 9,60 - -
Sódio (mEq/L) 138 134 - -
Potássio (mEq/L) 4,50 4,7 - -
GamaGT (U/L) 25,61 24,8 - -
CK (U/L) 119,2 572 - -
DHL (UI/L) 781 893 - -
98
Bioquímica. Bovino 2.
Horas após a inoculação 0 6 12 24 48
Glicose (mg/dL) 60,8 61,4 47,6 - -
Uréia (mg/dL) 20,0 19,9 17,2 - -
Creatinina (mg/dL) 1,1 1,0 1,0 - -
Proteínas séricas totais (mg/dL) 6,92 6,6 6,3 - -
Albumina (g/dL) 3,53 3,5 3,4 - -
Globulinas (g/dL) 3,39 3,1 2,9 - -
Relação Albumina /Globulina 1,04 1,12 1,17 - -
Colesterol (mg/dL) 113,1 136,7 127,1 - -
Cálcio (mg/dL) 9,6 8,1 7,2 - -
Fósforo (mg/dL) 4,8 3,9 3,2 - -
Fosfatase alcalina (U/L) 28,1 201 204 - -
AST (TGO) (U/L) 31,10 75,9 75,0 - -
ALT (TGP) (U/L) 10,8 36,5 33,0 - -
Sódio (mEq/L) 114 132 133 - -
Potássio (mEq/L) 4,1 3,6 3,8 - -
GamaGT (U/L) 20,0 18,0 17,0 - -
CK (U/L) 82 82 448 - -
DHL (UI/L) 1251 1269 1271 - -
99
Bioquímica. Bovino 3.
Horas após a inoculação 0 6 12 24 48
Glicose (mg/dL) 65,5 70,9 100,3 90,9 85,9
Uréia (mg/dL) 14,9 11 15,9 26,8 31,2
Creatinina (mg/dL) 1,8 1,4 1,9 2,2 2,3
Proteínas séricas totais (mg/dL) 6,8 7,6 7,7 7,3 7,0
Albumina (g/dL) 3,5 3,8 3,4 3,6 3,7
Globulinas (g/dL) 3,3 3,8 4,3 3,7 3,3
Relação Albumina /Globulina 1,0 1,0 0,79 0,97 1,1
Colesterol (mg/dL) 120 120 107,5 108,8 108,8
Cálcio (mg/dL) 9,6 10,8 10,1 7,9 7,5
Fósforo (mg/dL) 4,6 3,5 4,1 3,7 4,5
Fosfatase alcalina (U/L) 38,0 58,9 71,4 78,2 71,3
AST (TGO) (U/L) 26 29,8 28,7 27,0 33,0
ALT (TGP) (U/L) 10,9 14,3 13,1 16,0 7,0
Sódio (mEq/L) 137 132 132 137 140
Potássio (mEq/L) 4,7 4,2 3,7 4,0 3,8
GamaGT (U/L) 24,0 27,0 20,0 22,0 21,0
CK (U/L) 147 469 831 1120 1361
DHL (UI/L) 760 770 771 771 775
100
Bioquímica. Bovino 4.
Horas após a inoculação 0 6 12 24 48
Glicose (mg/dL) 69,6 66,4 71,2 76,8 66
Uréia (mg/dL) 16,4 11,5 16,0 23,6 26,3
Creatinina (mg/dL) 1,0 1,3 1,2 2,5 2,1
Proteínas séricas totais (mg/dL) 6,6 6,7 7,6 7,4 6,6
Albumina (g/dL) 3,4 3,5 3,4 3,4 3,2
Globulinas (g/dL) 3,2 3,2 4,2 4,0 3,4
Relação Albumina /Globulina 1,0 1,0 0,80 0,85 0,94
Colesterol (mg/dL) 92,4 101,8 98,7 100,9 99,0
Cálcio (mg/dL) 10,1 9,9 9,0 10,2 7,8
Fósforo (mg/dL) 4,0 4,5 3,3 3,3 4,2
Fosfatase alcalina (U/L) 33,5 34,6 33,1 37,3 34,8
AST (TGO) (U/L) 28,5 28,7 28,5 27,0 27,0
ALT (TGP) (U/L) 10,4 10,7 10,2 9,0 9,0
Sódio (mEq/L) 132 132 134 140 140
Potássio (mEq/L) 3,9 3,8 3,1 4,0 3,5
GamaGT (U/L) 21,0 20,0 20,0 23,0 22,0
CK (U/L) 116,0 130,2 243,6 209 209
DHL (UI/L) 762 773 774 773 779
101
Bioquímica. Bovino 5.
Horas após a inoculação 0 6 12 24 48
Glicose (mg/dL) 73,5 76,8 84,7 87,0 70,0
Uréia (mg/dL) 19,7 15,2 19,8 27,3 30,2
Creatinina (mg/dL) 1,4 1,3 1,5 2,1 2,2
Proteínas séricas totais (mg/dL) 6,7 7,4 8,4 7,7 8,2
Albumina (g/dL) 3,4 4,3 3,2 3,1 3,4
Globulinas (g/dL) 3,3 3,1 5,2 4,6 4,8
Relação Albumina /Globulina 1,0 1,3 0,61 0,67 0,7
Colesterol (mg/dL) 105,6 94,3 98,7 93,7 100,3
Cálcio (mg/dL) 10,1 9,4 8,2 7,4 6,6
Fósforo (mg/dL) 4,1 4,2 5,1 4,9 5,2
Fosfatase alcalina (U/L) 30,6 42,3 40,6 34,6 37,1
AST (TGO) (U/L) 29 28,5 35,9 28,0 25,0
ALT (TGP) (U/L) 10,1 14,6 15,4 15 12,0
Sódio (mEq/L) 130 139 128 139 124
Potássio (mEq/L) 4,0 4,8 3,6 3,8 3,1
GamaGT (U/L) 22 27 23,0 23 23
CK (U/L) 160 180,6 252 497 551
DHL (UI/L) 765 766 766 767 771
102
Bioquímica. Bovino 6.
Horas após a inoculação 0 6 12 24 48
Glicose (mg/dL) 73,9 76,7 97,5 - -
Uréia (mg/dL) 15,9 17,2 14,8 - -
Creatinina (mg/dL) 2,0 1,6 2,0 - -
Proteínas séricas totais (mg/dL) 6,5 6,6 6,7 - -
Albumina (g/dL) 3,2 3,3 3,3 - -
Globulinas (g/dL) 3,3 3,3 3,4 - -
Relação Albumina /Globulina 0,96 1,0 0,97 - -
Colesterol (mg/dL) 118,1 108,2 105,0 - -
Cálcio (mg/dL) 9,5 8,6 8,4 - -
Fósforo (mg/dL) 4,8 4,1 4,1 - -
Fosfatase alcalina (U/L) 33,8 27,6 26,0 - -
AST (TGO) (U/L) 26,9 50,7 55,7 - -
ALT (TGP) (U/L) 10,6 17,2 19,6 - -
Sódio (mEq/L) 135 129 123 - -
Potássio (mEq/L) 3,9 3,6 3,1 - -
GamaGT (U/L) 22,0 23,0 25,0 - -
CK (U/L) 73,8 1234 964 - -
DHL (UI/L) 700,7 868 888 - -
103
Bioquímica. Bovino 7.
Horas após a inoculação 0 6 12 24 48
Glicose (mg/dL) 74,5 95,5 102,7 107,9 99,2
Uréia (mg/dL) 15,4 16,1 25,3 21,5 28,8
Creatinina (mg/dL) 1,2 1,1 1,5 1,0 1,1
Proteínas séricas totais (mg/dL) 6,4 6,9 6,7 6,9 6,8
Albumina (g/dL) 3,2 3,5 3,4 3,5 3,5
Globulinas (g/dL) 3,2 3,4 3,3 3,4 3,3
Relação Albumina /Globulina 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0
Colesterol (mg/dL) 115,3 107,4 107,4 105,1 100,6
Cálcio (mg/dL) 9,8 8,3 8,7 9,3 8,2
Fósforo (mg/dL) 4,0 3,5 3,0 3,3 5,1
Fosfatase alcalina (U/L) 36,9 54,3 56,1 47,7 52,1
AST (TGO) (U/L) 24,9 35,1 43,1 33,5 36,6
ALT (TGP) (U/L) 10,4 15,6 18,5 19,5 17,2
Sódio (mEq/L) 134 123 121 127 131
Potássio (mEq/L) 3,9 2,8 2,7 3,0 2,9
GamaGT (U/L) 24,0 21,0 25,0 24,0 25,0
CK (U/L) 63,0 207 175 214 292
DHL (UI/L) 723,1 780 764,0 767 786
104
Bioquímica. Bovino 7.
Horas após a inoculação 0 6 12 24 48
Glicose (mg/dL) 75,3 78,7 88,4 77,1 87,6
Uréia (mg/dL) 16,7 27,6 28,6 30,1 29,2
Creatinina (mg/dL) 1,4 1,4 1,4 1,4 1,4
Proteínas séricas totais (mg/dL) 6,8 7,1 7,2 7,1 7,0
Albumina (g/dL) 3,3 3,4 3,5 3,5 3,5
Globulinas (g/dL) 3,5 3,7 3,7 3,6 3,5
Relação Albumina /Globulina 0,94 0,91 0,94 0,97 1,0
Colesterol (mg/dL) 84,9 84,1 89,5 87,5 94,6
Cálcio (mg/dL) 9,3 10,2 8,3 11,2 9,4
Fósforo (mg/dL) 6,7 7,9 7,7 7,8 4,6
Fosfatase alcalina (U/L) 30,7 33,6 46 51,0 36,0
AST (TGO) (U/L) 21,6 22,2 20,1 17,3 19,2
ALT (TGP) (U/L) 18,1 18,1 19,1 19,8 27,7
Sódio (mEq/L) 136 136 131 129 138
Potássio (mEq/L) 4,6 3,9 4,1 3,8 3,8
GamaGT (U/L) 24,0 28,0 30,0 31,0 20,0
CK (U/L) 110 199 529 1106 352
DHL (UI/L) 1437 1403 1376 1599 994,5
105
Bioquímica. Bovino 9.
Horas após a inoculação 0 6 12 24 48
Glicose (mg/dL) 74,6 83,4 365,8 - -
Uréia (mg/dL) 20,5 25,8 25,9 - -
Creatinina (mg/dL) 1,3 1,1 1,3 - -
Proteínas séricas totais (mg/dL) 6,7 6,6 7,2 - -
Albumina (g/dL) 3,4 3,4 3,5 - -
Globulinas (g/dL) 3,3 3,2 3,7 - -
Relação Albumina /Globulina 1,03 1,06 0,94 - -
Colesterol (mg/dL) 75,2 72,1 77,7 - -
Cálcio (mg/dL) 9,2 9,7 8,5 - -
Fósforo (mg/dL) 5,0 7,3 4,1 - -
Fosfatase alcalina (U/L) 36,9 58,0 71,0 - -
AST (TGO) (U/L) 22,8 20,3 20,3 - -
ALT (TGP) (U/L) 15,0 14,5 16,3 - -
Sódio (mEq/L) 138 131 135 - -
Potássio (mEq/L) 4,1 4,4 6,1 - -
GamaGT (U/L) 25,0 24,0 35,0 - -
CK (U/L) 207 282 1211 - -
DHL (UI/L) 1690 1983 1943 - -
106
Bioquímica. Bovino 10.
Horas após a inoculação 0 6 12 24 48
Glicose (mg/dL) 71,0 80,2 114,1 87,0 65,4
Uréia (mg/dL) 14,1 23,0 30,7 30,0 24,5
Creatinina (mg/dL) 1,2 1,3 1,1 1.1 1,1
Proteínas séricas totais (mg/dL) 7,1 6,8 6,8 7,0 6,9
Albumina (g/dL) 3,5 3,5 3,5 3,4 3,5
Globulinas (g/dL) 3,6 3,3 3,3 3,6 3,4
Relação Albumina /Globulina 0,97 1,06 1,06 0,94 1,02
Colesterol (mg/dL) 85,7 67,3 77,2 75,1 79,1
Cálcio (mg/dL) 9,2 9,0 8,4 8,9 9,7
Fósforo (mg/dL) 6,4 6,4 5,4 4,0 4,9
Fosfatase alcalina (U/L) 26,8 22,0 47 41,0 63,0
AST (TGO) (U/L) 24,4 18,3 27,7 38,0 24,3
ALT (TGP) (U/L) 12,8 12,9 23,3 25,8 29,7
Sódio (mEq/L) 136 130 132 134 137
Potássio (mEq/L) 4,7 4,6 4,5 4,0 4,1
GamaGT (U/L) 24,0 23,0 32,0 35,0 21,0
CK (U/L) 121 546 922 1225 982
DHL (UI/L) 1902 1923 1246 2287 3077
107
Bioquímica. Bovino 11 (controle).
Horas após a inoculação 0 6 12 24 48
Glicose (mg/dL) 78,1 78,0 86,7 82,2 76,8
Uréia (mg/dL) 14,7 31,5 23,5 29,9 36,5
Creatinina (mg/dL) 1,7 1,6 1,6 1,7 1,7
Proteínas séricas totais (mg/dL) 6,9 6,5 6,9 6,8 7,0
Albumina (g/dL) 3,5 3,3 3,5 3,5 3,4
Globulinas (g/dL) 3,4 3,2 3,4 3,3 3,6
Relação Albumina /Globulina 1,02 1,03 1,02 1,06 0,94
Colesterol (mg/dL) 108,0 107,2 102,3 102,7 108,0
Cálcio (mg/dL) 9,5 9,5 11 8,6 9,0
Fósforo (mg/dL) 6,4 7,5 5,8 3,9 4,0
Fosfatase alcalina (U/L) 37,1 60,3 87,0 73 50,0
AST (TGO) (U/L) 16,0 23,7 35,9 32,3 20,4
ALT (TGP) (U/L) 13,4 13,3 32,9 35,4 22,1
Sódio (mEq/L) 132 133 141 130 135
Potássio (mEq/L) 4,4 3,5 5,3 3,9 3,6
GamaGT (U/L) 21,0 23,0 29,0 28,0 24,0
CK (U/L) 44,0 91,5 216 220 235,0
DHL (UI/L) 1771 1933 2145 2336 2478
108
Bioquímica. Bovino 12 (controle).
Horas após a inoculação 0 6 12 24 48
Glicose (mg/dL) 70,8 75,0 75,0 74,6 71,9
Uréia (mg/dL) 20,0 20,0 20,0 19,0 20,0
Creatinina (mg/dL) 1,6 1,7 1,8 1,8 1,8
Proteínas séricas totais (mg/dL) 6,8 7,2 7,1 7,2 6,9
Albumina (g/dL) 3,4 3,3 3,5 4,3 3,1
Globulinas (g/dL) 3,4 3,9 3,6 3,8 3,8
Relação Albumina /Globulina 1,0 1,1 0,97 1,13 0,81
Colesterol (mg/dL) 118,5 118,9 120,0 109,9 101,9
Cálcio (mg/dL) 11,6 10,5 9,6 9,6 9,9
Fósforo (mg/dL) 4,5 4,4 4,0 4,6 4,5
Fosfatase alcalina (U/L) 35,5 32,3 30,0 31,1 35,8
AST (TGO) (U/L) 32,7 32,8 32,1 20,7 19,0
ALT (TGP) (U/L) 10,3 10,3 11,0 10,4 9,1
Sódio (mEq/L) 137 138 138 142 150
Potássio (mEq/L) 3,9 4,0 4,2 3,9 4,8
GamaGT (U/L) 23,0 25,0 25,0 24,0 25,0
CK (U/L) 96,0 49,0 59,0 55,2 103,2
DHL (UI/L) 1190 1067,0 1073,0 1079 1049
109
Anexo D. Exames para avaliação da coagulação sangüínea: tempo de ativação da protrombina (TAP) e tempo de
tromboplastina parcial ativada (TTPA) dos bovinos submetidos ao envenenamento crotálico e animais controle.
Tempo de Ativação da Protrombina em segundos.
TAP
BOVINO 0 06 12 24 48
1
30 27,5 - - -
2
26,5 26,9 46,3 - -
3
26,0 15,0 17,0 16,3 15,2
4
22,6 17,6 17,6 16,3 16,4
5
26,0 16,0 17,7 16,7 15,3
6
26,7 15,8 22 - -
7
22,8 18,1 22,0 23 23,9
8
23 22,6 19,9 18,1 17,4
9
25,9 20,1 28,1 - -
10
21,9 25,5 25,4 20,9 16,6
11 (Controle)
24,0 24,5 25,5 23,4 17,3
12 (Controle)
24,0 36,0 24,0 30 37
110
Tempo de Tromboplastina Parcial Ativada em minutos ( ’ ) e segundos ( ” ).
TTPA
BOVINO 0 06 12 24 48
1
19,3’’ 32,2’’ - - -
2
1’17’’ 1’17 1’37’’ - -
3
46,6’’ 4’50’’ 2’20’’ 1’05’’ 2’51’’
4
49,3’’ 1’57” 1’50’’ 58,0’’ 1’42’’
5
46,5’’ 2’ 2’ 30’’ 1’04’’ 1’45’’
6
46,9’’ 2’ 2’ - -
7
46’’ 2’ 20’’ 2 2’ 23’’ 2’10’’
8
50,7’’ 30,2’’ 30,8’’ 28,2’’ 1’01’’
9
48,1’’ 33,5’’ 29,4’’ - -
10
35,9” 31,2’’ 29,5’’ 31,5’’ 1’37’’
11 (Controle)
59,0” 58,3’’ 41,3’’ 50,8’’ 38,4’’
12 (Controle)
52,0’’ 20,0’’ 30,0’’ 21,0’’ 30,0’’
111
Anexo E. Diagnóstico diferencial entre envenenamento por serpentes Crotalus durissus terrificus e do gênero
Bothrops sp. em ruminantes no Brasil.
Etiologia Envenenamento
Crotalus durissus terrificus
Envenenamento botrópico
(B. alternatus em bovinos)
(B. neuwiedi em ovinos)
Epidemiologia
Locais secos e pedregosos ou pastagens. Região
Sudeste, Sul e pequenas áreas da Região Norte.
Região Centro-oeste até o extremo sul do Brasil.
Locais úmidos com vegetação.
Achados clínicos
Início sintomas entre 1h30min e 13h45min.
Evolução entre 5h25min e 17 dias até o óbito ou
recuperação. Diminuição da resposta aos
estímulos externos, reflexos hipotônicos,
arrastar das pinças ao solo, letargia aparente,
dificuldades em ultrapassar obstáculos, paralisia
do globo ocular, decúbito esternal e lateral e
paralisia da língua além de adipsia constante e,
petéquias nas mucosas vaginal e conjuntival em
alguns casos.
Hematoma no local da inoculação, moderada
claudicação somente nos casos cuja inoculação
intramuscular. São encontrados severo “edema”
na cabeça, pescoço e as vezes região peitoral;
em alguns casos o “edema” se estende até o
abdomen ou tórax. Tempo de sangramento e
tempo de preenchimento capilar (TPC)
aumentados, mucosas hipocoradas, diminuição
da resposta aos estímulos externos e fase final
do envenenamento com acentuado aumento das
freqüências cardíaca e respiratória. A evolução
varia entre poucas horas a 66 horas e 12
minutos. Nos animais sobreviventes são
encontrados áreas de necrose de pele.
Patologia clínica
Aumento discreto a moderado do tempo de
sangramento em seis animais, aumento
moderado do tempo de tromboplastina parcial
ativada em alguns casos. Moderada leucocitose
com neutrofilia, linfopenia relativa, eosinopenia
e monocitose e discreto aumento do número de
bastões. Aumento dos níveis séricos de
creatinaquinase na ordem de dez vezes.
O exame laboratorial pode revelar anemia
normocítica normocrômica, variando de discreta
a acentuada, trombocitopenia, discreta
diminuição de fibrinogênio e proteínas
plasmáticas totais, hematócrito e hemoglobina
diminuídos, creatinaquinase e desidrogenase
lática com moderado aumento. Ação coagulante
capaz de ativar os fatores II, VIII e X e ação tipo
trombina.
Achados de
necropsia
Edema quase imperceptível no local da
inoculação. Em alguns animais, discretas
petéquias e sufusões no epicárdio, omento,
vesícula biliar e mucosa da bexiga.
Extenso hematoma e áreas de hemorragia na
superfície e no interior dos músculos e no
subcutâneo, do local de inoculação, em alguns
casos se estendendo até a extremidade do
membro; também pode ocorrer hemorragias na
mucosa do trato digestivo, presença de sangue
não-coagulado no conteúdo do intestino
delgado; endocárdio esquerdo com extensas
hemorragias.
Achados
histopatológicos
Necrose (hialinização) de grupos de miócitos ou
em miócitos isolados em dez diferentes
músculos examinados, próximos ou distantes do
local de inoculação.
Hemorragias mais intensas nas imediações da
inoculação do veneno; necrose muscular,
quando a inoculação é intramuscular.
Tabela elaborada a partir dos trabalhos de BARRAVIERA, 1999a; BERROCAL; GUTIERREZ; ESTRADA,
1998; CALDAS, 2007; FONTEQUE; BARROS FILHO; SAKATE, 2001; MENDEZ; RIET-CORREA, 1995.
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