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UNIVERSIDADE
CATÓLICA
DE GOIÁS
ANA LÚCIA GOMES BORGES
ALTERAÇÕES NA QUALIDADE DE VIDA DOS COOPERADOS: ESTUDO DE
CASO DA COOPERATIVA DE RECICLAGEM DE LIXO
COOPREC – GOIÂNIA – GO.
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
ECOLOGIA E PRODUÇÃO SUSTENTÁVEL
Goiânia, 2007
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ANA LÚCIA GOMES BORGES
ALTERAÇÕES NA QUALIDADE DE VIDA DOS COOPERADOS: ESTUDO DE
CASO DA COOPERATIVA DE RECICLAGEM DE LIXO
COOPREC – GOIÂNIA – GO.
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação do Mestrado de Ecologia e
Produção Sustentável da Universidade
Católica de Goiás para obtenção do título de
Mestre.
Orientador: Prof. Dr. José Paulo Pietrafesa.
Goiânia, 2007
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Ficha Catalográfica:
BORGES, Ana Lúcia Gomes.
Alterações na Qualidade de Vida dos Cooperados: Estudo de caso da Cooperativa de
Reciclagem de Lixo - COOPREC – Goiânia – GO.
104 p. (UCG, Mestre, Ecologia e Produção Sustentável, 2007).
Dissertação de Mestrado – Universidade Católica de Goiás.
1. Resíduos Sólidos 2. Cooperativismo
3. Reciclagem 4. Qualidade de vida
ANA LÚCIA GOMES BORGES
ALTERAÇÕES NA QUALIDADE DE VIDA DOS COOPERADOS: ESTUDO DE
CASO DA COOPERATIVA DE RECICLAGEM DE LIXO
COOPREC – GOIÂNIA – GO.
APROVADA EM:____/____/____
BANCA EXAMINADORA
Prof. Dr. José Paulo Pietrafesa
Universidade Católica de Goiás – UCG
Prof. Dra. Cleonice Rocha
Universidade Católica de Goiás – UCG
Profa. Dra. Genilda D’Arc Bernardes
Centro Universitário de Anápolis - UniEVANGÉLICA
DEDICATÓRIA:
Aos meus avós Orestes e Orades, pelos
exemplos de simplicidade e sabedoria.
Aos meus pais, Alírio e Helenice, pelo apoio e
incentivo em todos os momentos.
AGRADECIMENTOS:
Diversas são as formas de contribuir, de ajudar.
E valiosas as oportunidades de agradecer.
Ás amigas queridas Patrícia, Paula, Chlorys,
Daniela, Lidi, Coraci, Viviane, Tânia e Tereza. Os
sorrisos facilitaram a caminhada.
Ao Sandro, mais do que por ajudar na descoberta de
conhecimentos que concretizaram a idealização de
um projeto, pela dedicação e amizade.
Aos amigos da COOPREC. Mais que colegas, são
bons companheiros.
Ao amigo e orientador José Paulo pelo apoio e pelas
valiosas contribuições.
RESUMO
As usinas de reciclagem de resíduos sólidos e as cooperativas de reciclagem
apresentam-se como uma alternativa para auxiliar na resolução de problemas sócio-
ambientais locais, minimizando a quantidade de resíduos no meio ambiente e
criando melhores expectativas de vida para pessoas que estão à margem do
mercado de trabalho e encontram nesta atividade uma fonte de sobrevivência.
Apesar do gerenciamento e a reciclagem de resíduos sólidos serem objeto de
interesse de pesquisadores, na maioria das vezes os estudos focam apenas
aspectos técnicos de sua gestão em detrimento a questões relacionadas às
mudanças na qualidade de vida de comunidades envolvidas nestes processos.
Assim, o objetivo do trabalho foi estudar mudanças relacionadas à qualidade de vida
de pessoas que integram a Cooperativa de Reciclagem de Lixo (COOPREC) situada
na região leste da cidade de Goiânia. A pesquisa foi realizada por meio de
entrevistas (depoimentos pessoais) gravadas, transcritas e submetidas à análise de
conteúdo. Os resultados indicaram uma forte influência da participação na
COOPREC sobre diversos aspectos da qualidade de vida dos cooperados. As
principais mudanças observadas estão relacionadas à ampliação do poder
aquisitivo, das possibilidades profissionais, da aquisição de conhecimentos, que
refletiu diretamente nas práticas cotidianas relacionadas a questões ambientais e
sociais, e aumento da auto-estima e da valorização pessoal. A inter-relação entre
todos estes aspectos promoveu a formação de indivíduos conscientes de seu papel
frente às questões ambientais contemporâneas, além de proporcionar, de maneira
geral, uma condição de vida com mais dignidade. Constata-se, dessa forma, a
importância das cooperativas de reciclagem para o desenvolvimento social,
econômico, profissional e pessoal de parcelas da população que se encontram
excluídas do mercado de trabalho, seja por falta de experiência profissional, idade
ou sexo.
Palavras chave: reciclagem; sustentabilidade; cooperativismo; qualidade de vida;
resíduos sólidos.
ABSTRACT
The solid waste recycling establishments as well as the Recycling Co-operative
Societies present themselves as an alternative to assist the local social and
environmental issues, decreasing the amount of waste in the surrounding and raising
better life expectation of people that have been living on the margin of the labor
market and have found on this activities a way of living. Despite the management
and recycling of solid waste be the purpose of researchers personal concern, most of
the times the studies have been emphasizing only technical aspects of its
administration, in detriment of matters related to the changes on the life quality of
communities that are wrapped up in these procedures. Therefore, the intent of this
research was to study the changes related to the quality of life of those whom
integrate the Co-operative Society of Garbage Recycling (COOPREC), located at the
east part of Goiania. The research was made throughout interviews (personal
statements) which were recorded, transcribed and submitted, then, to thorough
content analyses. The results out pointed a great influence of the partnership on
COOPREC about several aspects of the co-operativists’ life quality. The main
changes observed concern the enhancement of economical power as well as
professional possibilities and knowledge acquirement. And all of this reflected
straightly on the daily tasks concerned to environmental and social matters and also
increase of self-esteem and personal appreciation. So, the connection among these
aspects as a whole sponsored an upbringing of conscious individuals, conscientious
of their roles facing the environment contemporary issues, besides promoting, on a
general view, a life with better conditions, worthy lives. That is why the importance of
Recycling Co-operative Societies. These Co-operatives matter greatly to the social,
economic, professional and personal development of the portions of a population
which finds itself excluded from the labor force, be it due to the lack of professional
experience or even be it due to age or gender.
Key-words: recycling; sustainable; co-operativism; quality of life; solid waste.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Cooperados separando os resíduos..........................................................12
Figura 2 Ocupação no bairro Jardim Dom Fernando I ............................................20
Figura 3 Ocupação no bairro Jardim Dom Fernando I.............................................22
Figura 4 Apresentação dos alunos na Escola de Circo...........................................23
Figura 5 Cultivo no Horto de Plantas Medicinais.....................................................24
Figura 6 Construção da Usina de Reciclagem.........................................................
25
Figura 7 Produção das mantas de papel.................................................................26
Figura 8 Pátio da Usina, secagem das telhas...........................................................26
Figura 9 Unidade de reciclagem do plástico............................................................27
Figura 10 Caminhão após a coleta..........................................................................28
Figura 11 Cooperados realizando a coleta seletiva no bairro Jd. Dom Fernando I..30
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Categorias de análise criadas a partir dos elementos identificados nas
falas dos cooperados de acordo com a metodologia de Bardin (1977) e Gomes
(1994)........................................................................................................................54
LISTA DE SIGLAS, NOMECLATURAS E ABREVIAÇÕES
ACI Associação Cooperativa Internacional
CEMPRE Compromisso Empresarial para Reciclagem
COMURG Companhia de Urbanização de Goiânia
COOPREC Cooperativa de Reciclagem de Lixo
EA Educação Ambiental
IBGE Instituto Brasileiro e Geografia e Estatística
IDF Instituto Dom Fernando
IPT Instituto de Pesquisas Tecnológicas
MMA Ministério do Meio Ambiente
MPAS Ministério da Previdência e Assistência Social
OIT Organização Internacional do Trabalho
ONU Organização das Nações Unidas
LISTA DE ANEXOS
Quadro 2 – Categoria: Aumento do Poder Aquisitivo.
Quadro 3 – Categoria: Ampliação das Possibilidades Profissionais
Quadro 4 – Categoria: Valorização Pessoal
Quadro 5 – Categoria: Processo Educacional e Mudança nas Práticas Cotidianas
SUMÁRIO
Resumo.......................................................................................................................7
Abstract.....................................................................................................................,8
Lista de Figuras.........................................................................................................9
Lista de Quadros.......................................................................................................9
Lista de Siglas, Nomeclaturas e Abreviações......................................................10
Lista de Anexos.......................................................................................................10
Introdução................................................................................................................13
1 Ocupação da região e constituição da Cooperativa de Reciclagem de Lixo
(COOPREC) .............................................................................................................20
1.1 Ocupação da região e criação do Instituto Dom Fernando (IDF) ....................20
1.2 Usina de Reciclagem........................................................................................24
1.3 Cooperativa de Reciclagem de Lixo (COOPREC)...........................................28
1.4 Cooperativismo.................................................................................................31
1.5 Desenvolvimento sustentável: Resíduos Sólidos e Reciclagem......................37
2 Avanços qualitativos e percepção dos cooperados.........................................49
2. 1 Qualidade de Vida: .........................................................................................49
2.2 A construção da percepção dos cooperados..................................................52
3 Considerações finais............................................................................................75
Referências Bibliográficas......................................................................................77
Anexos......................................................................................................................84
Figura1. Cooperados separando os resíduos
Foto do acervo da COOPREC
As pessoas não dão valor, as pessoas
pensam... lixo... que nada.
A minha vida foi transformada pelo lixo.
Quando eu entro lá na Usina eu sinto
aquilo lá é parte de mim.
(M.L.R.S.)
INTRODUÇÃO
Os problemas ambientais ressaltados nas ultimas décadas tem como uma
de suas fontes a produção e o consumo excessivo de produtos industrializados,
considerados essenciais à sociedade contemporânea, e a conseqüente geração de
resíduos. Entretanto, a produção crescente para satisfação dos consumidores
esbarra em dois aspectos importantes. O primeiro está relacionado à disponibilidade
de fontes energéticas como matéria prima para a produção e o segundo ao destino
final dos resíduos gerados pelo consumo.
Atualmente, a maior parte desses resíduos é depositada a céu aberto em
lixões ou quando muito, em aterros sanitários e a menor parte é destinada aos
processos de reaproveitamento e reciclagem que até o momento, representam os
melhores destinos dados aos resíduos.
Os processos de reciclagem envolvem fatores técnicos, pelo processo de
transformação dos resíduos, e fatores humanos, pelas pessoas envolvidas no
processo de transformação deste material. Deve-se considerar que o processo de
reciclagem, além de possuir vantagens ambientais implícitas, pode também atingir
outra vertente relacionada a vida das pessoas envolvidas, proporcionando melhorias
e alterando as pré-concepções a respeito do lixo
1
, dessa forma lhe atribuindo valor,
tanto econômico, quanto social (GONÇALVES, 2003).
Assim, a transformação do lixo em matéria prima ou novos produtos
envolve além de processos técnicos, a sociedade na gestão desta atividade, com a
geração de fontes de trabalho e renda e mudança de concepções estruturadas
sobre todo o processo de reciclagem. Comumente, essa atividade se desenvolve na
forma de cooperativas que por ter princípios regidos por aspectos sociais como
autonomia e independência, educação, formação e informação, entre outros,
acabam por transpor o simples processo de gestão de uma atividade e repercutir
diretamente na vida dos envolvidos, chamados de cooperados.
1
Considera-se neste contexto a concepção de lixo: “qualquer material, que é considerado inútil,
supérfluo, repugnante ou sem valor, gerado pela atividade humana, e a qual precisa ser eliminada”.
(FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio Século XXI: o dicionário da língua
portuguesa. 3 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999).
Nota-se na literatura acerca do assunto que ao se discutir essa atividade
(transformação do lixo), normalmente, centraliza-se as análises nos processos
técnicos da reciclagem, em detrimento do aspecto social e sua influência na vida das
pessoas que participam das cooperativas. A discussão deste aspecto pode, além de
abranger os conhecimentos a respeito do tema, suscitar novos focos de estudo, que
podem auxiliar na busca por um ambiente estável e que forneça as condições
básicas aos seres-humanos.
Assim, é de fundamental importância conhecer a influência das
cooperativas de reciclagem na vida dos cooperados, focada na melhoria de
qualidade de vida advinda da participação no processo de reciclagem.
Neste contexto e com base na assertiva de que o processo de reciclagem
não pode ser compreendido através de um fenômeno individual, em função da
complexidade que o tema envolve, na presente pesquisa procurou-se analisar as
mudanças sociais advindas da participação em uma cooperativa de reciclagem de
resíduos sólidos.
O local de estudo deste trabalho foi a Usina de Reciclagem, localizada no
bairro Jardim Conquista, região leste de Goiânia, administrada pela Cooperativa de
Reciclagem de Lixo (COOPREC), formada por trinta e dois cooperados. A área de
atuação da Usina abrange dez bairros da região leste da cidade de Goiânia.
Em função da inserção nos princípios do cooperativismo e da participação
nos processos de coleta, separação e reciclagem do lixo, objetivou-se neste estudo
verificar as alterações na qualidade de vida dos cooperados considerando alguns
fatores indicativos como: Alterações nas práticas cotidianas que repercutem em uma
melhor convivência com o meio; Aumento da renda familiar após a integração à
cooperativa; Avanços pessoais psicológicos e sociais; Aumento nas perspectivas
profissionais e Avanços na educação dos cooperados.
Na data da realização da pesquisa, a Cooperativa de Reciclagem de Lixo
(COOPREC), contava com trinta e dois integrantes destes, vinte e quatro foram
entrevistados, o que representa setenta e cinco por cento dos cooperados
2
. Optou-
se por este quantitativo após observar que as informações recolhidas eram
suficientes para o desenvolvimento da pesquisa. Não foram realizados cálculos
2
Encontram-se em anexo quadros com o roteiro das entrevistas e com o conjunto dos fragmentos
dos relatos feitos pelos cooperados, entende-se nesta dissertação que estes fragmentos deveriam
estar presentes no estudo, uma vez que possibilitaram a criação das categorias de análise.
estatísticos para esta definição, pois a opção metodológica de estudo de caso não
exige tal procedimento, além de que a realização de vinte e quatro entrevistas
poderia ser uma amostra muito significativa frente ao universo.
Dos trinta e dois cooperados, vinte e três são mulheres e nove homens.
Esses números são variáveis, visto que devido a fatores como dificuldades
financeiras, conquista de novos trabalhos ou necessidade de mudança de moradia,
alguns cooperados saem da cooperativa, enquanto outros são inseridos.
Em função do conjunto de objetivos propostos e da complexidade do
tema, optou-se por desenvolver o trabalho no campo da percepção. A percepção
que se discute aqui está fundamentada em uma abordagem fenomenológica, na
medida em que busca mais que uma descrição conceitual, o entendimento de como
se configuram as leituras que os sujeitos estabelecem a partir das vivências nos
processos de reciclagem e na cooperativa.
As bases da fenomenologia propõem que “perceber” pressupõe uma
diluição imediata da dicotomia entre sujeito-objeto, um encontro vivencial com as
coisas, com o mundo.
A percepção não é uma ciência do mundo, não é nem mesmo um
ato, uma tomada de posição deliberada; ela é o fundo sobre o qual
todos os atos se destacam e ela é suportada por eles. O mundo não
é um objeto do qual possuo comigo a lei de constituição; ele é o meio
natural e o campo de todos os meus pensamentos [...] (MERLEAU-
PONTY, 1999, p.6).
Segundo Corrêa (2006, p. 61) “falar de percepção é dizer mais que dos
conceitos que o ser humano tem do mundo, mas de como constrói sobre seu
arcabouço um corpo de imagens que povoam a história das comunidades
humanas”. Esta concepção de percepção é identificada com a visão bergsoniana
(BERGSON, 1999), que trata a constituição do fenômeno através da via intuitiva
ancorada na vertente espiritualista.
Realizar este estudo imerso em uma abordagem perceptiva direciona ao
processo de construção do fenômeno estudado, isto é, a construção do processo de
mudança, já que nenhuma mudança é estática e as concepções são construídas
durante as relações com o objeto. Neste contexto, a inserção da subjetividade
inerente a essa construção, traz a tona detalhes que se ligam ao subjetivo humano e
também a construção dos conceitos. Desta forma uma análise perceptiva que não
abarque essa vertente seria insuficiente.
Esta pesquisa adotou a percepção como meio para estudar a visão dos
integrantes da COOPREC em relação à influencia do trabalho com os resíduos em
suas vidas.
Apesar de ser contraposta por vários autores, essa vertente, segundo
Marin (2003, p.18), “[...] continua a corroborar a metafísica e a subsidiar o
pensamento contemporâneo que rompe com a era cartesiana da ciência e busca
novas reflexões livres do materialismo estrito e do intelectualismo”.
O estudo da percepção construída circundando um determinado objeto
insere, necessariamente, uma perspectiva fenomenológica que, diferente da visão
analítica derivada do cientificismo positivista, requer uma imersão nas coisas, livre
de quaisquer pré-conceitos, um resgate de valor da via intuitiva, a partir da qual se
parte para uma descrição detalhada do fenômeno, até que se chegue a uma nova
construção conceitual reveladora da sua essência e não estática. Assim, o fato de
termos como objetivo a compreensão das mudanças na vida dos cooperados nos
remete a indicativos subjetivos que só podem ser atingidos através de uma
descrição da situação revelando o fenômeno. Dessa forma, como explicitado por
Capalbo (1996, p. 18):
[...] a fenomenologia será uma ciência rigorosa, mas não exata, uma
ciência eidética
3
que procede por descrição e não por dedução. Ela
se ocupa de fenômenos, mas com uma atitude diferente das ciências
exatas e empíricas. Os seus fenômenos são vividos pela
consciência, os atos e os correlatos dessa consciência.
O estudo foi desenvolvido por meio de pesquisa participante que surgiu
como uma contraposição à pesquisa tradicional baseada na neutralidade científica
desligada das necessidades de transformação social. Segundo Brandão (1983), a
pesquisa participante foi criada pelo antropólogo Malinowski, quando afirmava no
seu diário de pesquisa: “[...] eu convivo com os nativos, vivo com eles, como com
eles e ando e procuro saber tudo; esse é meu método de trabalho.” No Brasil, Paulo
Freire é considerado o pioneiro da pesquisa participante já que defendia que a
3
.Segundo Edmund Husserl (1859-1938), filósofo alemão, eidética é relativo à essência das coisas e
não à sua existência ou função. (FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio Século
XXI: o dicionário da língua portuguesa. 3 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.
atividade de pesquisa deveria voltar-se para instrumentalização de alternativas de
ação visando a mudança social.
Alguns autores não fazem qualquer distinção entre pesquisa participante
e pesquisa-ação (DEMO, 1995). Outros autores (THIOLLENT, 1987; RICHARDSON
et al, 1985) fazem essa diferenciação. Segundo esses, a pesquisa participante
estaria centrada na preocupação com o papel do investigador dentro da situação
investigada, que estabelece uma relação de confiança com o pesquisado no sentido
de melhorar as condições para captação de informação. Por outro lado, o objetivo na
pesquisa-ação deve ser o próprio agir e supõe uma participação dos interessados na
própria pesquisa organizada em torno de sua ação capaz de gerar mudanças.
Adotou-se na presente pesquisa a diferenciação entre pesquisa
participante e pesquisa-ação, porém assumindo a necessidade dos resultados da
pesquisa oportunizar indicativos de ações e do compromisso do pesquisador
disponibilizar esses dados como fontes de reflexões motivadoras de novas formas
de planejamento para a cooperativa e para a região.
A pesquisa foi desenvolvida utilizando relato oral. Este método, rechaçado
pelo desenvolvimento de técnicas estatísticas e questionários, passou, há pouco
tempo, a ser empregado por vários cientistas sociais como alternativa às técnicas
puramente quantitativas. Segundo Queiroz (1988), as técnicas quantitativas
reduzem a realidade social à aridez dos números enquanto que o relato oral encerra
a vivacidade de sons, a opulência de detalhes, a quase totalidade dos ângulos que
apresenta o fato social. Porém isto não inviabiliza a utilização de dados quantitativos
nas reflexões de caráter qualitativo.
A opção por esta metodologia deve-se a possibilidade dos relatos orais
revelarem o cotidiano, os tipos de relacionamento, as opiniões e valores, as
nostalgias e crenças em relação ao objeto de estudo. Dados que possibilitam a
construção de um rico corpo reflexivo sobre os processos vividos pelo grupo social
estudado. De acordo com Gadamer (1997), o caso individual não serve
simplesmente para confirmar uma legalidade, a partir da qual seja possível, numa
reversão prática, fazer previsões, mas, mais do que isso, seu ideal é compreender o
próprio fenômeno na sua concreção singular e histórica.
Os relatos orais podem ser histórias de vidas ou depoimentos pessoais.
De acordo com diferenciação explicitada por Queiroz (1988), os depoimentos
pessoais permitem pequenas intervenções do pesquisador no sentido de direcionar
as falas para os focos temáticos de seu interesse, enquanto que na história de vida,
é exigida uma total liberdade de condução da fala. Neste estudo optou-se por
depoimentos pessoais pela possibilidade do pesquisador direcionar os relatos para o
foco do estudo.
A observação é um método de investigação que varia de acordo com o
nível de inserção do pesquisador na comunidade. Essa participação, segundo Ludke
e André (1986), pode ir da imersão total na realidade até um completo
distanciamento, podendo inclusive variar durante uma investigação segundo as
necessidades surgidas. Na proposta da pesquisa participante, a observação é
plenamente oportunizada e o pesquisador revela desde o início da pesquisa sua
identidade e os objetivos do estudo. A relação prévia da pesquisadora com o local
de estudo oportunizou a utilização deste instrumento.
A sistematização do trabalho de observação foi feita na forma de diários
de campo. Minayo (1994) cita o uso do diário de campo no registro de dados como
um instrumento a ser utilizado em qualquer momento da rotina de trabalho, para a
captação de angústias, questionamentos e observações não obtidas através de
outras técnicas. Sugere ainda o registro visual (fotografias e filmagens) para
documentar momentos ou situações que ilustram o cotidiano vivenciado.
Ludke e André (1986) consideram como vantagens do uso de
documentos a estabilidade e riqueza da fonte, o baixo custo, a complementaridade
de outras técnicas e a ausência de alterações de comportamento advindas do
contato com os sujeitos da pesquisa.
A análise documental pode representar uma técnica importante na
obtenção ou complementação de dados qualitativos. Na presente pesquisa, a
análise documental foi empregada justamente com a função de complementar o
resgate histórico de apropriação da região estudada e a implementação da
cooperativa, possibilitando um maior entendimento dos relatos. Para esta análise
foram utilizados documentos e elementos fotográficos que registraram o histórico da
região e da cooperativa.
As informações coletadas nos relatos foram transcritas e submetidas à
análise de conteúdo, seguindo as indicações de Bardin (1977) e Gomes (1994). A
análise de conteúdo foi feita a partir da sistematização de fragmentos dos relatos
agrupados em categorias associadas aos elementos.
Para a realização dos trabalhos de campo, como foram aplicadas
entrevistas, o projeto de pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da
Universidade Católica de Goiás, obtendo aprovação conforme processo nº. CAAE
0010.0.168.000-07. CAA E - 0010.0.168.000-0 CAAE - 0010.0.168.000-07
O capitulo 1 traça o perfil da região onde a Cooperativa de Reciclagem
de Lixo (COOPREC) está instalada e de sua ocupação, trata da criação do Instituto
Dom Fernando (IDF), do Projeto Meia Ponte, que deu início às atividades do IDF na
região e da constituição da Usina de Reciclagem e COOPREC. Discute também
aspectos gerais do cooperativismo, destacando as cooperativas de trabalho,
aspectos dos resíduos sólidos, desde sua produção à reciclagem.
O capítulo 2 faz uma reflexão sobre os conceitos formulados por diversos
autores sobre sustentabilidade, crise ambiental e qualidade de vida. Apresenta
também os resultados e discussões da pesquisa, sendo permeado por relatos dos
cooperados.
Os anexos contêm os quadros criados com fragmentos de relatos dos
cooperados e que deram subsídio para a criação das categorias de análise.
1 Ocupação da região e constituição da Cooperativa de Reciclagem
de Lixo (COOPREC)
1.1 Ocupação da região e criação do Instituto Dom Fernando (IDF)
O regate histórico da região e da cooperativa foi embasado nos relatos
dos cooperados, em dados do Projeto Meia Ponte (1996), em documentos da
COOPREC e em estudos realizados por pesquisadores que já estiveram envolvidos
com o projeto.
Em meados de 1987, uma grande área na região Leste de Goiânia, de
propriedade da Arquidiocese, foi ocupada por um grupo de pessoas, goianos e
migrantes, ocorrendo a partir desse fato um rápido aumento do número de famílias
instaladas na área. Este processo de ocupação não difere dos ocorridos em outras
regiões de Goiânia, sempre marcados por grupos que procuraram se organizar na
luta pela moradia. A figura 2 identifica as condições em que as pessoas moravam à
época da ocupação e, também localiza a área em que foi constituído o bairro Jardim
Dom Fernando I.
Figura 2. Ocupação no bairro Jardim Dom Fernando I
Foto do acervo da COOPREC
Segundo o documento intitulado Projeto Meia Ponte (1996, p. 4):
O fenômeno das invasões é comum na periferia de Goiânia, a
exemplo do que acontece na maioria das capitais brasileiras. Decorre
das transformações ocorridas no campo, gerando expropriação dos
trabalhadores rurais e o crescimento das correntes migratórias.
Diante desse quadro, a Arquidiocese de Goiânia fez a opção de realizar a
doação da área para regularização do loteamento. Essa fase marcou o início da
constituição dos bairros, todos formados por moradores de baixa renda, que
passaram a viver na área em condições muito precárias.
Em 1995 a Arquidiocese de Goiânia, por meio da Sociedade Goiana de
Cultura (SGC), e da Universidade Católica de Goiás (UCG), cria o Instituto Dom
Fernando (IDF), com o intuito de dar suporte a essa população, por meio do
desenvolvimento de projetos e parcerias e com a finalidade de fornecer condições
mínimas de sobrevivência às populações que ali se instalaram.
Borges (2004, p. 400), ao discutir esta ocupação, descreve que:
A população que se deslocou para o local configura-se com a
característica de pobreza, como ademais ocorre em todas as áreas
de posse urbana. Percebe-se uma série de expressões da questão
social como desemprego, baixa qualificação, crianças em situação
de risco pessoal e social.
Na justificativa apresentada no Projeto Meia Ponte (1996, p. 4), que deu
suporte para o desenvolvimento de várias atividades na região, foi possível
encontrar uma caracterização da comunidade, o que pode ser confirmado na figura
3, feita na época da invasão.
São comunidades que se encontram assentadas em um espaço
geográfico contínuo, constituídas de cerca de 2.080 famílias, num
total aproximado de dez mil moradores. São pessoas, originárias do
interior goiano e de outros estados, de baixa renda, situando-se
grande parte na faixa de pobreza absoluta, sem ou com baixa
qualificação profissional e prole numerosa.
Figura 3. Ocupação no bairro Jardim Dom Fernando I
Foto do acervo da COOPREC
O referido Projeto Meia Ponte (1996, p. 17) teve, em sua versão original,
como objetivo principal:
[...] prestar assistência social geral às famílias assentadas nas áreas
de abrangência do Projeto, que vivem em precárias condições
sociais, em especial aos menores, aos idosos e aos desvalidos,
oferecendo-lhes os meios apropriados para que possam desenvolver
suas aptidões e potencialidades, de modo a converterem nos
próprios agentes de transformação sócio econômica e cultural das
comunidades em que estão inseridas.
Na época de criação e implantação do Projeto, os bairros já estavam
consolidados, porém os índices de mortalidade infantil eram altos, a população
convivia com a falta de assistência básica à saúde e de saneamento, transporte
coletivo deficitário, altas taxas de violência, alta incidência de adolescentes
envolvidos com drogas, habitações precárias e em áreas de risco.
Neste contexto, o Projeto Meia Ponte foi sendo gradualmente implantado,
pesquisas e reuniões foram realizadas com a comunidade para identificar as suas
necessidades e debater a viabilidade das ações.
Embasados em dados das pesquisas realizadas por técnicos do IDF, no
período de elaboração e implantação do projeto e na análise de experiências de
outras instituições, o IDF optou por instituir seus Núcleos: Escola de Circo, Centro de
Formação Profissional, Horto de Plantas Medicinais, Núcleo de Educação Ambiental
e Usina de Reciclagem.
Na perspectiva de utilizar a arte como elemento mediador para solução de
problemas e com objetivo de contribuir na formação de crianças e jovens, foi criada
a Escola de Circo, constituída como unidade de educação para crianças e
adolescentes. São desenvolvidas atividades como dança, teatro, educação física,
arte circense, entre outras. Paralelo a esta atividade foi realizado o
acompanhamento psicológico e pedagógico das crianças e das famílias. A Escola de
Circo promove periodicamente espetáculos para a comunidade, como retratado na
figura 4.
Figura 4. Apresentação dos alunos na Escola de Circo.
Foto do acervo do IDF
Outro Núcleo constitutivo do IDF foi o Centro de Educação Profissional,
que foi criado na perspectiva de dar resposta ao problema da falta de formação
profissional, o que dificultava a inserção dos moradores no mercado de trabalho, foi
instituído o Centro de Formação Profissional para o desenvolvimento de cursos de
capacitação básica e preparação de jovens e adultos para o mercado de trabalho,
tanto formal quanto informal, a maioria dos cursos objetivou formação de mão de
obra.
O Horto de Plantas Medicinais foi instituído com o objetivo de produzir
medicamentos fitoterápicos, disponibilizando-os à comunidade. Foi construído um
laboratório, dentro das normas de padrão de qualidade exigidos pela vigilância
sanitária, possuindo estrutura semelhante a de uma farmácia de manipulação. A
figura 5 retrata pessoas da comunidade no cultivo das plantas
Figura 5. Cultivo no Horto de Plantas Medicinais
Foto do acervo do IDF
O Núcleo de Educação Ambiental se constituiu em um dos Núcleos do
IDF, com o objetivo de desenvolvimento de projetos ambientais e para dar apoio às
atividades da cooperativa em sua interface com a comunidade e entre os
cooperados
4
.
1.2 Usina de Reciclagem
A Usina de Reciclagem foi criada com a perspectiva de geração de
trabalho e renda associada à preservação ambiental. Foi inaugurada em março de
1998 com capacidade de processamento de vinte toneladas por dia de material
4
Estas informações foram extraídas do acervo de documentos do Instituto Dom Fernando (IDF).
bruto, segundo o projeto inicial. A figura 6 mostra a Usina de Reciclagem na fase de
construção.
Figura 6. Construção da Usina de Reciclagem
Foto do acervo do IDF
A Usina é dividida em unidades de acordo com suas atividades: triagem,
reciclagem do papel, reciclagem do plástico e compostagem. Recebe todo material
coletado pela COOPREC, porém são reciclados o papel, papelão, plástico polietileno
e matéria orgânica. O material coletado que a Usina não recicla, como metais e
outros tipos de plástico, é vendido para empresas de reciclagem.
O papel e o papelão são transformados na telha fibroasfáltica, o plástico
polietileno é transformado em grânulos, matéria prima para fabricação de
mangueiras, por último é reciclada, através do processo de compostagem a matéria
orgânica que dá origem ao húmus.
As figuras 7 e 8 demonstram a unidade de fabricação das telhas. Sendo
que a figura 7 retrata a fase de produção das mantas, futuras telhas.
Figura 7. Produção das mantas de papel.
Foto do acervo da COOPREC
Na figura 8 é possível observar o pátio da Usina e o processo de
secagem das telhas. Após a secagem, elas são refiladas, fase em que são retiradas
as aparas sobressalentes. Em seguida são impermeabilizadas com betume.
Figura 8. Pátio da Usina, secagem das telhas.
Foto de Sílvio Bragato
A unidade de reciclagem do plástico é subdividida em fases, inicialmente
o material é lavado e seco, saindo dessa fase já picado em pequenos pedaços, em
seguida o material é direcionado ao aglutinador (figura 9), equipamento responsável
por aquecer e transformar o material em pequenos pedaços, posteriormente esse
material é colocado na extrusora, quando então o plástico é fundido e transformado
em uma massa plástica, que após ser resfriada em água é picado em pequenos
pedaços, chamados de grânulos, ou seja, o produto final deste processo.
Figura 9. Unidade de reciclagem do plástico
5
.
Foto de Sílvio Bragato
Atualmente a Usina recebe em média cinqüenta mil quilos de resíduos
sólidos por mês. São fabricadas em torno de quatro mil telhas, quatro mil e
quinhentos quilos de grânulo e cinqüenta quilos de húmus no período de um mês. A
figura 10 retrata o caminhão após a coleta, descarregando o material na rampa da
triagem.
5
Em relação a esta foto, foi obversado por uma professora de Química: A utilização da mascara de proteção,
utilizada pela operadora não é segura, uma vez que o vapor apresentado penetra por ela, não dando a segurança
adequada. Este fato poderá colocar em risco a saúde da operadora. Portanto interfere na obtenção de qualidade
de vida.
Figura 10. Caminhão após a coleta, despejando o material na rampa da
triagem. Foto de Sílvio Bragato
É importante ressaltar que a COOPREC ainda mantém o contrato de
comodato com a Universidade Católica de Goiás (UCG), ou seja, equipamentos,
máquinas e veículos que a cooperativa utiliza no desenvolvimento de suas
atividades, pertencem à Usina de Reciclagem / UCG.
1.3 Cooperativa de Reciclagem de Lixo – COOPREC
O processo de formação da Cooperativa de Reciclagem (COOPREC)
iniciou-se em abril de 1997, quando foram organizadas as primeiras reuniões com
grupos de moradores, o objetivo era constituir o grupo que iria integrar a
cooperativa, e posteriormente coordenar a Usina de Reciclagem.
Em abril de 1998 a cooperativa foi fundada, com a participação inicial de
aproximadamente 70 cooperados, denominando-se segundo seu Estatuto no cap. 1,
Art. 1º:
A Cooperativa de Reciclagem de Lixo, sociedade cooperativa com
forma e natureza jurídica própria, de natureza civil, rege-se pelas
disposições legais, lei nº. 5764 de 16/12/1971, pelas diretrizes de
autogestão e por este estatuto, tendo como sigla COOPREC.
O Estatuto da Cooperativa, em seu artigo 36, dispõe a forma como esta
deve ser administrada:
A COOPREC, será administrada por um Conselho de Administração
composto por 7 (sete) cooperados no gozo de seus direitos sociais,
eleitos na assembléia Geral para o mandado de 2 (dois) anos, sendo
que 3 (três) dos eleitos exercerão as funções de Diretor Presidente,
Diretor administrativo financeiro e diretor Técnico Comercial, e os
demais receberão a função de Conselheiros, sendo obrigatório a
renovação de 1/3 (um terço) de seus componentes no final de cada
mandato.
Após o início do funcionamento da cooperativa alguns membros
associados deixaram a COOPREC em função de fatores como dificuldades
financeiras, estrutura da Usina insuficiente para a quantidade de cooperados, entre
outros. O êxodo dos cooperados teve sua base em uma falha no processo
organizacional, já que, durante a primeira fase de consolidação da cooperativa, foi
percebido pelos cooperados que não havia condições de beneficiar o volume de
pessoas ingressadas na estrutura inicial.
Dessa forma a COOPREC deu seqüência a suas atividades com uma
quantidade reduzida de cooperados, com aproximadamente trinta e cinco
associados. Entretanto, este número não é fixo e se altera com freqüência em
função de fatores como a procura por novos trabalhos, mudanças de cidade, entre
outros.
Seus objetivos, também segundo o Estatuto, em seu artigo 2º, são:
a) Promover a melhoria das condições de vida de seus
cooperados, através de projetos.
b) Realizar trabalho operacional quanto à coleta seletiva de lixo,
captação de matéria-prima, separação e seleção de insumos,
fabricação de produtos derivados da reciclagem de lixo.
c) Manter sempre em perfeitas condições de trabalho os
equipamentos consignados à disposição da COOPREC.
d) Desenvolver ações de conscientização ambiental na região
atendida pela COOPREC.
e) Manter a qualidade dos produtos fabricados mediante a
reciclagem de lixo, observando controles de impacto ambiental e as
necessidades dos clientes compradores.
f) Criar novos produtos a partir dos insumos e materiais
g) Prestar, por si ou mediante convênio com outras entidades,
assistência técnica, educacional e social aos seus cooperados e
respectivos familiares, bem como o quadro funcional da COOPREC.
h) Conseguir financiamento para repasse aos Cooperados para
que possam adquirir máquinas e equipamentos necessários ao
desenvolvimento das suas atividades de trabalho. (ESTATUTO
SOCIAL DA COOPERATIVA DE RECICLAGEM DE LIXO, p. 3)
O conjunto destes objetivos podem ser relacionados aos princípios gerais
do cooperativismo, que abaixo serão descritos e relacionados à COOPREC.
Em 1998, a COOPREC, em acordo com a Prefeitura de Goiânia, assumiu
a coleta de lixo dos cinco bairros de abrangência do Projeto Meia Ponte (Jardim
Dom Fernando I e II, Jardim das Aroeiras I e II e Jardim Conquista). Desde então,
realiza a coleta seletiva na região (Figura 11) e desenvolve atividades de Educação
Ambiental nas ruas dos referidos bairros, com intuito de envolver a população na
coleta seletiva.
Figura 11. Cooperados realizando a coleta seletiva no bairro Jd. Dom Fernando I.
Foto Sílvio Bragato
Com o passar dos anos a COOPREC expandiu suas atividades para
outros bairros. Atualmente realiza a coleta em onze bairros de Goiânia: Vila
Pedroso, Vila Concórdia, Bairro Grande Retiro, Vila Matilde, Bairro Sonho Verde e
Setor Jaó, além daqueles já integrados ao projeto desde 1998.
Nos dez anos de constituição do IDF, ocorreram mudanças na
administração da UCG (desde renovação em sua Reitoria, até substituição de
funcionários administrativos) que refletiram na organização das atividades
desenvolvidas pelo IDF. Destaca-se que o papel da UCG foi de fundamental
importância para a concretização das atividades, da Usina e da Cooperativa, desde
a constituição até a estruturação, através de ações como cursos para os
cooperados, apoio e assessoria na administração e no desenvolvimento dos
processos.
As unidades constitutivas do Projeto Meia Ponte foram alteradas
administrativamente. Atualmente a COOPREC está vinculada diretamente à Pró-
Reitoria de Extensão da UCG. Os reflexos dessas mudanças na Usina de
Reciclagem podem ser expressos no fortalecimento da autonomia administrativa e
independência da cooperativa. Crises financeiras, ocasionadas por fatores como
atraso no recebimento de pagamento de convênios, dificuldades na comercialização
dos produtos e a necessidades de sustentabilidade financeira, também contribuíram
na conquista de autonomia da COOPREC.
1.4 Cooperativismo
6
Em função do foco deste estudo ser uma associação cooperativista é
importante discutir a representatividade de uma cooperativa assim como seus
pressupostos e princípios. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) através da
Recomendação nº. 127 define cooperativa:
A cooperativa é uma associação de pessoas que se uniram
voluntariamente para realizar objetivos comuns, através da formação
de uma organização administrada e controlada democraticamente,
realizando contribuições eqüitativas para o capital necessário e
aceitando assumir de forma igualitária os riscos e benefícios do
empreendimento no qual os sócios participam ativamente.
Quanto à importância social das cooperativas e das possibilidades que
oferece, Guimarães (1996) relata que as cooperativas podem ser uma alternativa na
formalização para o chamado setor informal da economia, além de atuar como uma
forma de incorporação de mulheres, idosos e jovens ao mercado de trabalho.
6
Sobre o tema cooperativismo consultar os autores: CRÚZIO (2000), RECH (1995).
Dentre as vertentes abordadas nos princípios e objetivos do
cooperativismo Arruda (1996, apud NASCIUTTI, 2003, p. 94) ressalta que o desafio
do cooperativismo popular é o bem estar sustentável de cada associado e de suas
famílias num processo que visa a conexão das dimensões micro (sujeitos ativos e
conscientes) e macro (globalização da cooperativa) da condição humana.
Vê-se dessa forma uma ampliação na abordagem social subjetiva dos
objetivos da cooperativa, aspecto pouco discutido na literatura e tema central deste
estudo. Nasciutti et al (2003, p. 92) destaca tais aspectos e relata que:
[...] embora as ciências humanas e sociais tenham se dedicado a
análise das questões referentes a sua eficiência, às vantagens e
desvantagens...[...] poucos estudos tem sido realizados no sentido
de se pensar a ressignificação do lugar do sujeito social através da
estrutura cooperativista.
As cooperativas têm se desenvolvido e multiplicado no Brasil desde o
início da década de 1990, num ritmo bastante acelerado, observando-se um forte
crescimento, tanto em quantidade quanto em diversificação de atividades. O número
de empreendimentos deste tipo aumentou significativamente no período de 1990 a
2000 (SILVA, 2006).
Chaves (2002, apud STEFANO e ZAMPIER, 2006, p.14) demonstra os
índices das taxas de crescimento das cooperativas entre 1990 e 1998, destacando
que o aumento do número das cooperativas brasileiras foi de 43,8% e a do
crescimento da quantidade de cooperados atingiu 56,3%.
Nesse sentido Singer (2004, apud Oliveira, 2007, p.75) considera que
houve um “surto” no crescimento das cooperativas, resultante das transformações
da economia mundial e de suas decorrências para a dinâmica dos mercados de
trabalho.
Pinho (1997), afirma que a cooperativa se diferencia de outras sociedades
por apresentar características como ser uma empresa sem fins lucrativos, ser o
cooperado o próprio usuário e empresário e pela igualdade de direitos e obrigações
entre os cooperados, independentemente da participação no capital social.
A Associação Cooperativa Internacional (ACI), em 1995 aprovou os
“Princípios básicos do cooperativismo”, Labaig (2006), cita-os:
1. Adesão Livre e Voluntária: Como organizações voluntárias abertas a
todas as pessoas as cooperativas estão aptas a usar seus serviços e dispostas a
aceitar as responsabilidades de sócios, sem discriminação de classe social, política,
racial, religiosa ou sexual.
2. Gestão Democrática e Livre: Como organizações democráticas as
cooperativas são controladas por seus sócios, os quais devem participar ativamente
no estabelecimento de suas políticas e na tomada de decisões. Homens e mulheres,
quando eleitos como representantes, são responsáveis para com os sócios. Nas
cooperativas singulares, os sócios devem ter igualdade na votação. As cooperativas
de outros graus, formadas pela associação de mais de uma cooperativa, devem ser
também organizadas de maneira democrática.
3. Participação Econômica dos Sócios: Os sócios devem contribuir de
forma igualitária e controlar democraticamente o capital das cooperativas. Parte
desse capital é propriedade comum da cooperativa. Usualmente, os sócios recebem
juros limitados sobre o capital, como condição de sociedade, destinando as sobras
aos seguintes propósitos: desenvolvimento das cooperativas, possibilitando a
formação de reservas, parte dessas podendo ser indivisíveis; retorno aos sócios na
proporção de suas transações com as cooperativas; apoio a quaisquer outras
atividades que forem aprovadas coletivamente pelos sócios.
4. Autonomia e Independência: Como organizações autônomas para
ajuda mútua, as cooperativas são controladas por seus membros. Em acordo
operacional com outras entidades, inclusive governamentais, ou recebendo capital
de origem externa, elas devem fazê-lo em termos que preservem o controle
democrático pelos sócios e mantenham sua autonomia.
5. Educação, treinamento e informação: As cooperativas devem buscar
mecanismos para proporcionar educação e treinamento aos seus sócios, dirigentes
eleitos, administradores e funcionários, de modo a contribuir efetivamente para o seu
desenvolvimento. Estes, por sua vez, deverão informar ao público em geral,
particularmente aos jovens e aos formadores de opinião, sobre a natureza e os
benefícios da cooperação.
6. Cooperação entre as cooperativas: As cooperativas, além de atender
mais efetivamente aos interesses comuns de seus sócios, devem procurar fortalecer
o movimento cooperativista, trabalhando juntas, através de estruturas locais,
nacionais, regionais e internacionais.
7. Interesse pela Comunidade: As cooperativas devem trabalhar para o
desenvolvimento sustentável de suas comunidades através de políticas aprovadas
por seus associados.
É possível estabelecer uma relação dos princípios do cooperativismo com
o Estatuto Social da COOPREC.
O Princípio da Adesão Livre e Voluntária está em consonância com o
artigo 3º:
Art. 3º, Parágrafo Primeiro
Poderão associar-se à COOPREC, salvo se houver impossibilidade
técnica de prestação de serviço, quaisquer pessoas que possam
dispor livremente de si, que estejam em plenitude de sua capacidade
civil, e que dediquem à atividade objeto da entidade, sem prejudicar
os interesses e objetivos dela, nem com eles colidir com os
dispositivos deste Estatuto e do Regimento Interno da COOPREC.
(ESTATUTO SOCIAL DA COOPERATIVA DE RECICLAGEM DE
LIXO, p. 1)
O Princípio da Gestão Democrática e Livre está expresso no artigo 20º:
Art. 20º A Assembléia Geral dos cooperados é o órgão supremo da
COOPREC, tendo poderes dentro dos limites da lei e do Estatuto
para tomar qualquer decisão do interesse social. (ESTATUTO
SOCIAL DA COOPERATIVA DE RECICLAGEM DE LIXO, p. 4)
O Artigo 53º encontra respaldo no Princípio da Participação Econômica
dos Sócios:
Art. 53º Os resultados positivos, apurados por setor de atividade, nos
termos deste artigo, serão distribuídos da seguinte forma:
a) 10% (dez por cento) ao Fundo de Reserva;
b) 5% (cinco por cento) ao Fundo de Assistência Técnica, Educação
e Social;
c) 35% (trinta e cinco por cento) para integralização do capital social;
d) 50% (cinqüenta por cento) permanecerá a disposição da
Assembléia Geral. (ESTATUTO SOCIAL DA COOPERATIVA DE
RECICLAGEM DE LIXO, p.10)
O Artigo Primeiro do Estatuto expressa o Princípio da Autonomia e
Independência:
Ar.t 1º A Cooperativa de Reciclagem de Lixo, sociedade cooperativa
com forma e natureza jurídica própria, de natureza civil, rege-se
pelas disposições legais, lei nº. 5764 de 16/12/1971, pelas diretrizes
de autogestão e por este estatuto, tendo como sigla COOPREC.
(ESTATUTO SOCIAL DA COOPERATIVA DE RECICLAGEM DE
LIXO, p.1)
Em relação ao princípio da Educação, Treinamento e Informação, o artigo
2º dispõe:
Art. 2º A COOPREC objetiva com base na colaboração recíproca de
seus cooperados, desenvolver:
g) Prestar, por si ou mediante convênio com outras entidades,
assistência técnica, educacional e social aos seus cooperados e
respectivos familiares, bem como o quadro funcional da COOPREC.
(ESTATUTO SOCIAL DA COOPERATIVA DE RECICLAGEM DE
LIXO, p. 1)
O Princípio Interesse pela Comunidade está expresso no artigo 56º:
Art. 56º Fica constituído o Fundo de Desenvolvimento
Comunitário, para o qual será destinado mensalmente 2% (dois
por cento) da receita bruta das vendas, cuja utilização será
definida no Regimento Interno. (ESTATUTO SOCIAL DA
COOPERATIVA DE RECICLAGEM DE LIXO, p.11)
Apenas o Princípio da Cooperação entre Cooperativas não é mencionado
no Estatuto.
Além dos Princípios do Cooperativismo, alguns itens são considerados
importantes para o funcionamento de qualquer cooperativa, que neste caso pode-se
incluir a COOPREC, itens que estão vinculados à critérios de burocracia, legislação
e que buscam mostrar, ainda, finalidades e objetivos do cooperativismo. Veiga e
Rech (2006) relacionam os itens:
1. Conceito: Sociedade de pessoas sem fins lucrativos e com
especificidade de atuação na atividade produtiva ou comercial.
2. Finalidade: Viabilizar e desenvolver atividades de consumo, produção,
prestação de serviços, crédito e comercialização, de acordo com os interesses dos
seus associados. Formar e capacitar seus integrantes para o trabalho e a vida em
comunidade.
3. Legislação: Aprovação do estatuto em assembléia geral pelos
associados. Eleição do conselho de administração e do conselho fiscal. Elaboração
da ata de constituição. Registro do estatuto e da ata de constituição na junta
comercial. CNPJ na Receita Federal. Inscrição Estadual. Registro no INSS e no
Ministério do trabalho. Alvará na prefeitura. Lei 5.764/71. Constituição (art. 5° XVII a
XXI e art. 174, par 2°) Código Civil.
4. Constituição: Mínimo 20 pessoas;
5. Patrimônio/Capital: Possui capital social, facilitando financiamentos
junto às instituições financeiras. O capital social é formado por quotas-partes
podendo receber doações, empréstimos e processos de capitalização.
6. Representação: Pode representar os associados em ações coletivas do
seu interesse. Pode constituir federações e confederações para a sua
representação.
7. Forma de gestão: Nas decisões em Assembléia Geral, cada pessoa
tem direito a um voto. As decisões devem sempre ser tomadas com a participação e
o envolvimento dos associados.
8. Abrangência/área de ação: Área de atuação limita-se aos seus
objetivos e possibilidade de reuniões, podendo ter abrangência nacional.
9. Operações: Realiza plena atividade comercial. Realiza operações
financeiras, bancárias e pode candidatar-se a empréstimos aquisições do governo
federal. As cooperativas de produtores rurais são beneficiadas do crédito rural de
repasse.
10. Responsabilidades: Os associados não são responsáveis diretamente
pelas obrigações contraídas pela cooperativa, a não ser no limite de suas quotas-
partes e a não ser também nos casos em que decidem que a sua responsabilidade é
ilimitada. A sua diretoria só pode ser responsabilizada se agir sem o consentimento
dos associados.
11. Remuneração: Os dirigentes podem ser remunerados por retiradas
mensais pró-labore, definidas pela assembléia, além do reembolso de suas
despesas.
12. Contabilidade: A escrituração contábil é mais complexa em função do
volume de negócios e em função da necessidade de ter contabilidades separadas
para as operações com os sócios e com não-sócios.
13. Tributação: Não paga Imposto de Renda sobre suas operações com
seus associados. Deve recolher o Imposto de Renda Pessoa Jurídica sobre
operações com terceiros. Paga as taxas e os impostos decorrentes das ações
comerciais.
14. Fiscalização: Pode ser fiscalizada pela prefeitura, pela Fazenda
Estadual, pelo INSS, pelo Ministério do Trabalho e pela Receita Federal.
15. Dissolução: Definida em assembléia geral e, neste caso ocorre a
dissolução. No caso de intervenção judicial, ocorre a liquidação, não podendo ser
proposta a falência.
16. Resultados Financeiros: Após decisão em assembléia geral, as
sobras são divididas de acordo com o volume de negócios de cada associado.
Destinam-se 10% para o fundo de reserva e 5% para o Fundo Educacional.
A partir destes itens é possível analisar estruturas de cooperativas. A
COOPREC se destaca como uma cooperativa de trabalho, tornado-se importante
uma breve descrição de como se estruturam as cooperativas de trabalho no Brasil.
As cooperativas de trabalho têm crescido, elas estão voltadas para a
prestação de serviços autônomos ou produção de bens. Essas cooperativas se
caracterizam por serem formadas por profissionais que tem como objetivo produção
ou prestação de serviços a terceiros e são constituídas por pessoas ligadas a um
determinado objetivo social, com a finalidade de melhorar a remuneração e as
condições de trabalho, de forma autônoma.
Em um mercado de trabalho competitivo, a união de pessoas em
cooperativas de trabalho representa ampliação das oportunidades como fonte de
produção ou de prestação de serviços, administrada e gerida unicamente por seus
integrantes, técnicos e profissionais, todos com os mesmos direitos e obrigações.
Gonçalves (2003 a) descreve as características das cooperativas de
trabalho:
1. Organizar e disciplinar a prestação de serviços de seus cooperados a
terceiros, de acordo com seu objetivo social;
2. Remunerar os cooperados com base nos serviços prestados, e não em
função do capital subscrito;
3. Seu capital é variável, conforme o número de cooperados;
4. Existe limitação do número de quotas-partes por associado;
5. Não visam lucro. No final do exercício, as sobras líquidas são
distribuídas entre os cooperados proporcionalmente aos serviços prestados
individualmente;
6. Prestar assistência aos cooperados, inclusive em termos de
desenvolvimento profissional.
Gonçalves (2003 a) afirma que os objetivos desta modalidade de
cooperativa podem ser econômicos e sociais. Os econômicos dizem respeito ao
atendimento do Estatuto Social da Cooperativa de Trabalho e estão relacionados
diretamente com a busca de oportunidades de prestação de serviços pelos
cooperados através da cooperativa. Os sociais estão diretamente relacionados com
convênios e benefícios que a Cooperativa coloca à disposição de seus integrantes.
Veiga e Rech (2006) destacam como característica importante das cooperativas de
trabalho a prioridade por beneficiar os próprios cooperados.
A construção de soluções para um novo desenvolvimento com
características de sustentabilidade, pode estar em diferentes modos de produção. A
Cooperativa de Reciclagem de Lixo – COOPREC se configura como uma
cooperativa de trabalho e vislumbra contribuir na construção de novos caminhos
para um desenvolvimento sustentável.
1.5 Desenvolvimento sustentável: resíduos sólidos e reciclagem
Neste item são realizadas algumas reflexões sobre a possibilidade de se
utilizar resíduos sólidos como expressão de um programa de desenvolvimento local
sustentável. O conceito de desenvolvimento sustentável mais comum é aquele
capaz de “satisfazer as necessidades do presente sem comprometer a capacidade
de as futuras gerações satisfazerem suas próprias necessidades” (AGENDA, 21).
Pode-se considerar que as cooperativas de reciclagem atendem alguns pontos
desta visão, entretanto, não abarca sua totalidade. Dentre os pontos atendidos pela
COOPREC, existem dois principais: um diz respeito a economia energética que os
processos de reciclagem trazem aos sistemas de produção pela redução da
exploração de fontes não renováveis, como o petróleo, por exemplo; e, outro a
diminuição do depósito destes matérias no meio ambiente.
De maneira geral, a geração de resíduos tem sido uma das grandes
preocupações ambientais atualmente, por dois motivos principais: o esgotamento
das fontes energéticas disponíveis para a fabricação de produtos, que em curto
espaço de tempo se transformam em resíduos, e a disposição destes resíduos no
ambiente.
A energia disponível no planeta tem sido o ponto de partida das
discussões sobre a problemática ambiental global após a constatação da
impossibilidade do planeta sustentar energeticamente as atividades humanas. Essa
constatação levou a uma re-análise do modelo de desenvolvimento adotado desde o
início da humanidade, pautado no acúmulo de capital e no consumo desmedido
(LEFF, 2006).
Mudanças ocorridas nos últimos séculos direcionam o ser humano a
buscar alternativas para manter a própria existência, e por extensão, dos demais
seres vivos.
Segundo Odum (1988) a história da civilização tem ligação direta com as
fontes energéticas disponíveis. Na medida em que os seres humanos, no decorrer
de sua história, tornaram-se mais hábeis em cultivar plantas, em domesticar animais
e, dessa forma, subsidiar a produção primária comestível a produção de resíduos
sofre significativo aumento em função do aumento da disponibilidade energética.
O aumento populacional associado ao modelo de desenvolvimento
vigente, com o atual padrão de consumo das sociedades e o estímulo ao
consumismo, resulta em um aumento excessivo na geração de resíduos. Soluções
para este problema são propostas por pesquisadores e governantes, entretanto,
ainda esbarram na simples alteração de concepções de nossas necessidades.
Neste contexto Corrêa et al. (2006, p. 5) propõe que:
[...] discutir a problemática ambiental global é, necessariamente,
pensar os diversos aspectos envolvidos no contexto. Criticar o
desmatamento e vangloriar a posição brasileira na balança
comercial, mantida pela monocultura e pecuária é contraditório. Por
isso precisamos ir além dos discursos ambientalistas alarmistas e
repensar a sustentabilidade global de forma real inserindo as
mudanças necessárias no modelo econômico produtivo e a inserção
da problemática ambiental na educação.
A situação atual de degradação do meio em que vive, leva a sociedade
começar a compreender da fragilidade que ameaça sua qualidade de vida, e
estimula a procura por soluções para os problemas relacionados ao seu bem estar e
à sua própria sobrevivência. Porém, apesar dos conhecimentos sobre a
problemática ambiental estarem visíveis, as soluções ainda estão distantes de
serem alcançadas em função da necessidade de mudança que estas soluções
inserem nos padrões de consumo e a revisão das necessidades humanas.
De acordo com Capra (1996, p. 232)
[...] um dos principais desacordos entre a economia e a ecologia
deriva do fato de que a natureza é cíclica, enquanto que nossos
sistemas industriais são lineares. Nossas atividades comerciais
extraem recursos, transformam-nos em produtos e em resíduos, e
vendem os produtos a consumidores, que descartam ainda mais
resíduos depois de ter consumido os produtos. Os padrões
sustentáveis de produção e de consumo precisam ser cíclicos,
imitando os processos cíclicos da natureza. Para conseguir esses
padrões cíclicos, precisamos replanejar num nível fundamental
nossas atividades comerciais e nossa economia.
Entretanto, para falar em ciclicidade, em padrões de produção e consumo
na sociedade contemporânea deve-se considerar o fluxo energético envolvido no
processo. Ao replanejar as atividades comerciais e a economia, como sugerido por
Capra (1996) deve-se considerar que a geração dos resíduos está intimamente
relacionada a energia consumida na produção e no destino dado a energia agregada
a esses produtos que não é consumida, constituída, quase em sua totalidade por
embalagens.
Odum (1988) constata que a exploração de um ecossistema nada mais é
que explorar seu potencial energético. Segundo os pressupostos da física, energia é
definida como a capacidade de realizar trabalho e seu comportamento é descrito por
duas leis: “lei da conservação de energia” que afirma que a energia pode ser
transformada de um nível a outro, mas não pode ser criada nem destruída. E, a “lei
da termodinâmica ou entropia” que postula que como alguma energia sempre se
dispersa em energia térmica não disponível, nenhuma transformação espontânea de
energia em energia potencial é cem por cento eficiente. Os organismos, os
ecossistemas e a biosfera inteira possuem a característica termodinâmica essencial:
conseguem manter um alto grau de ordem interna, isto é, uma baixa entropia.
Quanto mais complexo o ecossistema mais baixa a entropia. Dessa forma, a energia
contida nos resíduos humanos acabam por se acumular e seu retorno ao sistema é
extremamente lento, comparado a sua utilização. Esse acúmulo faz com que haja
um aumento da entropia e os processos de reciclagem, apesar de não promoverem
o retorno dessa energia ao sistema natural (a não ser pelo processo de
compostagem), promove transformação dessa energia pra outro nível (RICKLEFS,
2003).
Antes de aplicar os conceitos de energia aos sistemas de consumo e de
geração de resíduos, vale tecer algumas considerações. Segundo Odum (1988)
certa quantidade de energia tem que ser gasta para se desenvolver e manter um
fluxo de energia aproveitável a partir de uma fonte. Assim, as melhores fontes são
aquelas que prometem uma maior produção liquida de energia, ou seja, uma maior
quantidade de energia disponível para o trabalho, depois de pagos todos os custos
energéticos.
Dessa forma, pode-se considerar que, assim como nos ecossistemas
naturais, os processos atuais de produção passam, necessariamente, por uma
questão energética. A energia gerada no final do processo está concentrada em
vários constituintes, no produto em si (normalmente de origem animal ou vegetal) e
na sua embalagem (energia de veículo). A energia contida no produto (no caso de
um item alimentar) passa a constituir a energia metabólica dos seres humanos, que
posteriormente passa a constituir os esgotos e fossas onde essa energia é perdida,
salvo raros casos de compostagem ou biodigestores (RICKLEFS, 2003).
Para Odum (1988), a energia de veículo, normalmente com base no
petróleo ou fontes minerais não renováveis, passa a constituir um problema sócio-
ambiental, isto é, os principais resíduos que atualmente são uma fonte de
preocupação, nada mais são que uma forma de energia não aproveitada. Isso sem
considerar quando o próprio produto, em um curto intervalo de tempo, também se
transforma em resíduo.
Dessa forma, elaborar um sistema sustentável leva, necessariamente, a
elaboração de um sistema de reaproveitamento dos resíduos, isto é, incorporar a
energia de veículo ao sistema, seja retornando como energia gasta no processo de
produção ou reutilizando essa energia através da transformação física dos materiais
nos quais ela está contida através da reciclagem. Porém, considerando as
dificuldades que estes processos demandam e o fato real de que, atualmente, pela
deficiência na destinação de todo resíduo produzido para usinas de reciclagem,
reciclar 100% desta energia é impossível, deve-se, associado a esse trabalho,
reduzir a quantidade de energia consumida, ou seja, reduzir o consumo. Porém,
para isso necessitamos de uma nova forma de convivência com o ambiente,
pautada em mudanças de atitudes consumistas.
Os fatos expostos conduzem a constatação que “a crise ambiental
remete-nos a uma pergunta sobre o mundo, sobre o ser e o saber que nos leva a
repensar e a reaprender o mundo” (LEFF, 2002, p.196). Nota-se, desta forma, que
repensar um sistema no qual se considere o sistema biológico e energético da Terra,
coloca a população diante de uma complexidade e da iminente necessidade de
mudanças que atinjam vários setores da sociedade e conduzam a uma nova
maneira de se relacionar com o próximo e com o planeta (CORRÊA, et al, 2006).
Esta nova relação, necessária, pauta-se em mudanças de concepções,
atribuindo a importância e a urgência dessa nova vertente, e de atitudes cotidianas
que somadas podem ter reflexos ambientais bastante positivos. Dentre as
concepções em que se insere a necessidade de mudanças, foca-se neste estudo, a
concepção a respeito dos resíduos, conhecidos popularmente como “lixo” e gerados
pelas atividades humanas. Esse material, desvalorizado e descartado, é uma rica
fonte de energia que deve ser reaproveitada em função dos vários benefícios que
pode proporcionar, desde a redução de utilização de energia não renovável e da
contaminação do meio ambiente pelos lixões, a céu aberto, até os aspectos sociais
envolvidos da atividade de reaproveitamento.
Freqüentemente o lixo é associado a tudo aquilo que não presta, ao
que precisa ser afastado de nós. Mas, considerando que o lixo é
constituído por uma parcela de 40% de materiais recicláveis,
podemos considerar que o lixo não é apenas aquilo que não presta.
Que no lixo há valores a serem resgatados através do não
desperdício, da separação na fonte e do fomento à cadeia produtiva
da reciclagem (GONÇALVES, 2003 b, p.19).
A forma com que a comunidade se relaciona com os resíduos das suas
atividades reflete a forma com que percebe o meio ambiente e sua ligação com ele.
Relação que necessita ser repensada e reformulada, com a consciência da
responsabilidade de todos, não a centralizando em âmbito político, econômico ou
social, pois nenhuma solução efetiva será alcançada enquanto a “culpa”, ou a
responsabilidade, ficar atribuída a um ou outro segmento.
Na maioria das cidades brasileiras, o serviço público de coleta ainda é
insuficiente e o destino final dos resíduos, muitas vezes é inadequado. Porém, o
tratamento dos resíduos sólidos precisa ser considerado como uma questão de toda
a sociedade e não um problema exclusivo das administrações públicas.
Segundo dados da Pesquisa Nacional de Saneamento Básico do Instituto
Brasileiro e Geografia e Estatística (PNSB/IBGE, 2000), são produzidas diariamente
no país 228.413 toneladas de lixo, das quais 75% são lançados em lixões a céu
aberto ou em áreas alagadas, 20% são dispostos em aterros controlados, somente
5% são destinados à aterros sanitários, recebendo, do ponto de vista sanitário, o
tratamento adequado.
Pode-se afirmar que o crescimento populacional e a urbanização não
foram acompanhados das medidas necessárias para dar um destino adequado ao
lixo gerado pela população brasileira. Atualmente são dispostos de diversas formas
sendo a comum e inadequada o lixão, ou lançamento a céu aberto, que caracteriza-
se pela simples descarga sobre o solo, sem medidas de proteção ao meio ambiente
ou à saúde pública. Segundo Bidone (2001, p. 138) essa forma de disposição facilita
a proliferação de vetores (moscas, mosquitos, baratas, ratos). E também a geração
de mau odor e a poluição das águas superficiais e subterrâneas pelo lixiviado,
gerado pela degradação da matéria orgânica, com a água da chuva,
comprometendo diretamente o meio ambiente e é sob todos os aspectos, a pior
forma de disposição final de resíduos sólidos (Lixo Municipal - Manual de
Gerenciamento Integrado - CEMPRE).
Já o aterro controlado é outra forma de disposição dos resíduos sólidos
no solo, método que utiliza alguns princípios de engenharia para confinar os
resíduos, cobrindo-os com uma camada de material inerte (Lixo Municipal - Manual
de Gerenciamento Integrado - CEMPRE). Nesta forma de disposição as precauções
tecnológicas adotadas durante o desenvolvimento do aterro, com o recobrimento
dos resíduos com argila, aumentam a segurança do local, minimizando os riscos de
impactos ao meio ambiente e à saúde pública. (BIDONE, 2001, p. 138). Esta técnica
objetiva minimizar estes riscos, porém é inadequada uma vez que não há
impermeabilização do solo, nem tratamento do liquido percolado (mistura do
chorume e água da chuva), ocasionando comprometimento do lençol freático.
A forma mais conveniente, embora longe de ser a melhor, já que
processos de reciclagem são possíveis, são os aterros sanitários. Processo utilizado
para a disposição de resíduos sólidos no solo, particularmente o lixo domiciliar que,
fundamentado em critérios de engenharia e normas operacionais específicas,
permite um confinamento seguro em termos de controle de poluição ambiental e
proteção à saúde pública (Lixo Municipal - Manual de Gerenciamento Integrado -
CEMPRE). Bidone (2001, p.138) conceitua aterros sanitários:
Forma de disposição final de resíduos sólidos urbanos no solo,
considerando critérios de engenharia e normas operacionais
específicas, proporcionando o confinamento seguro dos
resíduos (normalmente recobrimento com argila selecionada e
compactada em níveis satisfatórios), evitando danos ou riscos
à saúde pública e minimizando os impactos ambientais.
Gonçalves (2003 b) considera aterros sanitários fundamentais e
imprescindíveis para o descarte adequado de resíduos, principalmente os que não
encontram destino na cadeia produtiva da reciclagem. Porém, muitas vezes, pela
dificuldade de manejo e alto custo de manutenção, os aterros sanitários se
descaracterizam, acarretando problemas que podem comprometer diretamente solo,
atmosfera, águas superficiais e subterrâneas, prejudicando de forma direta e
imediata as condições sanitárias das comunidades.
Entretanto, antes de tornar-se um problema ambiental pela disposição
inadequada os resíduos já provocam problemas nos locais onde são produzidos.
Este fato deve-se, em parte, ao inchaço das áreas urbanas e a redução de
ocupação das áreas rurais e, quase sempre a população cresce mais rapidamente
do que a infra-estrutura urbana. Essa situação reflete-se na limpeza urbana,
verificando-se alguns problemas típicos na maioria das cidades brasileiras como
ruas sujas e depósitos clandestinos de lixo, que se transformam em focos de
transmissão de doenças.
Embora dispersos em toda a cidade, geralmente esses problemas
concentram-se com muito mais gravidade nas áreas pobres, onde a coleta de lixo
normalmente é mais deficiente, aumentando os riscos à saúde pública. Dados do
IBGE de 2000 mostram que 29% dos domicílios no Brasil, não tem coleta de lixo.
Situação em que as pessoas jogam o lixo em terrenos baldios ou em cursos de
água. Na época das chuvas os problemas aumentam, o lixo aparece por todos os
lugares, sendo um dos responsáveis pelas enchentes nas cidades.
O crescimento das áreas urbanas não levou em consideração a
necessidade de adequação de locais específicos para depósito e
tratamento dos resíduos sólidos. Estima-se que a produção anual de
lixo no Brasil atualmente esteja em torno de 44 milhões de toneladas,
sendo que a maior parte dos resíduos recolhidos nos centros
urbanos é simplesmente jogada sem qualquer cuidado em depósitos
existentes nas periferias das cidades (TEIXEIRA, 2004, p. 84).
Na tentativa de minimizar os problemas provocados pelos resíduos a
Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (BRASIL,
1992) propôs políticas públicas voltadas para treinamento para orientar práticas de
manejo, reutilização e reciclagem de resíduos sólidos, através de algumas
iniciativas: a) incluir nos programas de treinamento em serviços a reutilização e a
reciclagem de resíduos como parte integrante dos programas de cooperação técnica
de manejo urbano e desenvolvimento de infra-estrutura; b) ampliar os programas de
treinamento em abastecimento de água e saneamento para incorporação de
técnicas e políticas de reutilização e reciclagem de resíduos; c) incluir as vantagens
e obrigações cívicas associadas à reutilização e reciclagem de resíduos nos
currículos escolares e nos cursos pertinentes de educação geral; d) estimular as
organizações não governamentais, as organizações comunitárias, os programas de
grupos de mulheres, de jovens e de interesse público, em colaboração com
autoridades municipais locais, a mobilizar o apoio comunitário para a reutilização e
reciclagem de resíduos por meio de campanhas centradas na comunidade.
As iniciativas acima podem, também, ser identificadas no processo de
criação e consolidação da COOPREC (vista no capitulo 1), uma vez que suas
atividades se desenvolvem no sentido de responder à estas propostas, propondo
programas de treinamento aos cooperados, possibilitando e estimulando o acesso
da comunidade e de instituições interessadas nos processos de reciclagem de
materiais.
Apesar do contexto político voltado a gestão dos resíduos,
conhecidamente não realizados, reafirma-se a necessidade das ações não ficarem
centralizadas em um ou outro segmento. A participação social, atingida através da
educação, emerge como um dos pontos fortes na busca de uma nova forma de viver
e conviver neste planeta, na perspectiva de uma nova organização social que leve
em consideração todos os aspectos envolvidos, isto, é, sua complexidade.
[...] a complexidade ambiental implica uma revolução do
pensamento, uma mudança de mentalidade, uma transformação do
conhecimento e das práticas educativas, para se construir um novo
saber, uma nova racionalidade que orientem a construção de um
mundo de sustentabilidade, de equidade, de democracia. (LEFF,
2002, p.196).
O processo de reaproveitamento de resíduos através da reciclagem
abarca uma série de discussões e traz um grande número de benefícios na busca
pela sustentabilidade, apesar de ainda estar aquém do ideal.
Diante desse quadro surge a necessidade de se pesquisar novas
tecnologias para usinas de reciclagem e a partir disso, apresentar propostas de
enfrentamento realista da questão como por exemplo a implantação de usinas de
reciclagem de baixo custo, capazes de absorver a mão-de-obra que se encontra
ociosa ou na informalidade, tornando rentável a atividade e resolvendo questões
ambientais, sociais e econômicas, assim como, o levantamento de dados e
informações aliados ao desenvolvimento de novas tecnologias como subsídios à
reciclagem é fundamental no sentido de propor novas soluções para o problema.
As universidades e institutos de pesquisa podem auxiliar na geração
de tecnologias e na busca de otimização dos processos produtivos
de indústrias recicladoras, principalmente as que não tem condições
de investir em profissionais qualificados e laboratório próprio (ZANIN,
2004, p.33).
Segundo Gonçalves (2003 b, p.19) a humanidade vive em ciclos de
desenvolvimento e neste momento estamos vivendo um ápice de desperdício e
irresponsabilidade na extração dos recursos esgotáveis e na produção de resíduos
que são colocados a céu aberto neste mesmo ambiente.
A intensificação da industrialização e o crescimento populacional
ampliaram a produção dos resíduos sólidos e o tratamento dos resíduos sólidos se
coloca entre os grandes desafios da atualidade, equiparando-se em gravidade a
outros problemas de solução complexa, como a escassez de água potável e o efeito
estufa. Sua produção é inevitável e está intrínseca às atividades humanas.
Neste contexto, a reciclagem de materiais se configura como uma
alternativa para a minimização dos impactos e também como possibilidade de
geração de renda para pessoas que encontram neste segmento uma forma de
sobrevivência.
A reciclagem é um processo industrial que converte o lixo descartado
(matéria-prima secundária) em produto semelhante ao inicial ou outro. A reciclagem
possibilita economizar energia, poupar recursos naturais, trazer de volta ao ciclo
produtivo o que é jogado fora, economizar espaço nos aterros sanitários e geração
de trabalho e renda. Devido a esses fatores é crescente a importância de estudos e
pesquisas de processos produtivos de reciclagem que sejam sustentáveis nos
aspectos econômico, social e ambiental. (GONÇALVES, 2003 b)
Montibeller (2004) considera importante analisar as divergências de
opiniões dos pesquisadores que se debruçam sobre o tema. Segundo este autor,
alguns vêem na reciclagem uma alternativa para a solução do problema da
destinação dos resíduos e a conseqüente poluição causada pelas formas
inadequadas de disposição. Outros pesquisadores consideram a reciclagem como
uma oportunidade para “reciclar o próprio capitalismo”, considerando a solução para
a crise ecológica da disposição de resíduos.
Há necessidade de uma análise profunda dos aspectos que incidem nos
processos de reciclagem de materiais, sob o risco de se abordar apenas a
superficialidade da proposta.
Segundo Montibeller (2004, p. 214), existem aspectos que limitam a
eficiência dos processos de reciclagem relacionados a quantidade de resíduos
reciclados e a comercialização dos produtos finais da reciclagem.
Considera-se o problema de que apenas um pequeno percentual do
total dos descartes pode ser reciclado, enquanto grande parte exige
disposição final (depósitos de lixo). Mesmo a parcela potencialmente
reciclável encontra resistências, sendo uma delas o problema do
mercado de materiais reciclados. (
MONTIBELLER, 2004, p. 214),
Opinião questionável, diante da abordagem feita por Calderoni (apud
GONÇALVES, 2003 b), “o Japão é, destacadamente, o país líder em reciclagem, em
todo o mundo, uma vez que lá a reciclagem atinge 40% e 50% do total do lixo e um
grande número de municípios japoneses desenvolve programas de coleta seletiva”.
É relevante analisar as iniciativas de países que se mobilizam diante da
proposta da reciclagem de materiais.
Na Austrália, diante da enorme produção de resíduos domiciliares
em Sidney, a coleta seletiva teve início em 1990, como iniciativa
governamental, operando com eficiência de 40%. Na Europa foi
principalmente nas situações de crise e de guerra que a recuperação
e a reciclagem de resíduos alcançaram as maiores taxas. Sobretudo
nos anos 1973 e 1974, seguindo-se a Guerra do Yon Kippur, a coleta
seletiva voltou a constituir-se em objeto de atenção e interesse
(CALDERONI, apud GONÇALVES, 2003 b, p.28).
No Brasil as experiências são recentes, segundo Gonçalves (2003 b), o
primeiro programa de coleta seletiva de resíduos sólidos implantado de forma
sistemática foi realizado na cidade de Niterói, em 1985 e ressalta que em função da
crescente consciência da necessidade da reciclagem, um número cada vez maior de
municípios vem desenvolvendo ações voltadas para a implantação de programas de
coleta seletiva. E devido a difusão crescente nos últimos anos, é importante
despender esforços para avaliar a eficiência técnica e gestora destes programas.
Nesse sentido, em 1994, foi realizada uma pesquisa pelo Instituto de
Pesquisas Tecnológicas (IPT), em conjunto com o CEMPRE, na qual foram
identificados 82 programas de coleta seletiva nos municípios do país. Mais recente,
em 2000, o IBGE realizou a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico, e constatou
que 451 municípios no país dispõem de serviços de coleta seletiva.
A eficácia deste processo não se limita ao desenvolvimento de
tecnologias ou o conhecimento dos impactos gerados pelos resíduos, abrange
também os grupos que tem nessa atividade sua fonte de renda. Normalmente
formados por pessoas que se encontram em situação sócio-econômica precária, e
que muitas vezes por não conseguir um trabalho digno que lhe garanta o sustento
mínino, estas pessoas acabam encontrando nessa atividade alternativas de
sobrevivência. Esse grupo, apesar de sua importância social, é marginalizado e
desconsiderado pela esfera política e socialmente excluído. De acordo com Teixeira
(2004) a miséria socioeconômica brasileira faz com que o lixo acabe se
transformando numa fonte de sustento para milhares de pessoas, adultos e
crianças, homens e mulheres.
Diante deste quadro, é possível constatar a urgência na valorização das
pessoas que trabalham com os resíduos e sua participação no processo de
reaproveitamento energético e minimização na exploração de recursos
conhecidamente não renováveis. A participação nesta atividade pode, além de
auxiliar no destino final dado aos resíduos, proporcionar melhores condições de vida
às suas famílias.
Estas colocações se encaixam no escopo do presente estudo, que
buscou a compreensão da relação existente entre a vida das pessoas da
comunidade em estudo, sua participação nos processos de reciclagem e inserção na
cooperativa e principalmente, as mudanças que refletiram na qualidade de vida
destas pessoas.
Neste contexto, é importante tecer algumas considerações sobre
qualidade de vida e contextualizá-las com a participação na cooperativa de
reciclagem foco deste estudo. A visão social deturpada que se tem, em alguns
casos, da participação de pessoas nesta atividade ocorre quando existe uma falta de
organização, porém, no caso de cooperativas esta atividade torna-se um importante
meio de desenvolvimento social regional. Dessa forma torna-se importante, além de
conhecer esse processo participativo, levar à sociedade a verdadeira importância
destas pessoas e de seu trabalho frente às questões ambientais atuais. Entretanto,
o presente estudo focar-se-á na influência desta participação na vida dos
cooperados.
2 Avanços qualitativos e percepção dos cooperados
Partindo do princípio de que a percepção é construída histórica e
socialmente (BRANDÃO, 1983) verificou-se neste estudo que houve grandes
alterações na percepção dos cooperados em relação a vários aspectos como
importância dos resíduos e vantagens ambientais do processo de reciclagem. Essas
mudanças perceptivas, associadas ao aumento do poder aquisitivo dos cooperados,
provocaram alterações em sua qualidade de vida.
Essas alterações puderam ser notadas em várias vertentes consideradas
aqui como categorias de análise, discutidas adiante.
2.1 Qualidade de vida
Partindo das constatações de Jacobi (2003, p. 193), segundo o qual:
A problemática da sustentabilidade assume neste novo século um
papel central na reflexão sobre as dimensões do desenvolvimento e
das alternativas que se configuram. O quadro socioambiental que
caracteriza as sociedades contemporâneas revela que o impacto dos
humanos sobre o meio ambiente tem tido conseqüências cada vez
mais complexas, tanto em termos quantitativos quanto qualitativos.
É possível perceber que os pressupostos para a sustentabilidade, não
estão restritos à questões relativas ao ambiente físico, mas, abrangem também
questões de ordem social, tal como “qualidade de vida”. Nesse sentido faz-se
necessária uma breve reflexão sobre este conceito, como o fator social que pode ser
influenciado pela participação no processo de reciclagem e nos pressupostos
cooperativistas, foco central desta pesquisa.
O conceito de qualidade de vida e seus indicadores vêm sendo estudado
desde a década de 1950, em diversos países, mas somente em meados da década
de 1960 pode ser observado um impulso nas investigações dos cientistas sociais,
líderes sindicais, empresários e governantes sobre as várias vertentes a que o termo
se relaciona. Os indicadores sociais e econômicos e a relação desses indicadores
com as condições de vida das populações resultaram em reflexões amplas sobre o
conceito de qualidade de vida. O avanço do capital, que acabou por romper as
barreiras das nações e dos espaços urbanos e rurais, levaram a estudos, enfoques
e esclarecimentos analíticos para uma nova realidade sobre os aspectos que
compõem o processo (PIETRAFESA, 2003).
Para Vieira (1996), quando se começou a análise do tema, o foco central
sobre a qualidade de vida estava vinculado ao mundo do trabalho e às
transformações ocorridas devido à reestruturação produtiva. Com o avanço do
sistema de produção mundial, na segunda metade do século XX, qualidade de vida
passou a ser analisado como parte das mudanças relativas ao mundo da produção.
Os conceitos de qualidade de vida no decorrer da história estiveram
associados ao desenvolvimento, à comparação e medição entre os países e os
grupos sociais, e também às aspirações desejadas por eles (SILVA, 1997). Lima
(2000) descreve que, após a Segunda Guerra Mundial, nos Estados Unidos, o
conceito de qualidade de vida buscou formatar os indicadores sociais e econômicos.
De maneira geral, segundo Carley (1985), os Indicadores Sociais
representam o início do desenvolvimento dos pressupostos teóricos da qualidade de
vida, idealizando assim, a forma pela qual a sociedade política atenderá aos anseios
da sociedade civil.
A elaboração e a construção dos indicadores de qualidade de vida é uma
tarefa bastante complexa. Os indicadores sociais se dirigem, principalmente, para o
que o cientista pretende analisar, ou seja, para melhor entender a realidade é
necessário observar e priorizar dados estatísticos, índices, taxas, médias e
distribuição percentual (CALSING, 1981).
Nota-se que inicialmente o conceito de qualidade de vida estava
vinculado a aspectos físicos objetivos. Vieira (1996, p. 39) define qualidade de vida
como:
[…] melhoria nas condições de trabalho – com extensão a todas as
funções de qualquer natureza e nível hierárquico, nas variáveis
comportamentais, ambientais e organizacionais que venham,
juntamente com políticas de Recursos Humanos condizentes,
humanizar o emprego, de forma a obter-se um resultado satisfatório,
tanto para o empregado como para a organização. Isto significa
atenuar o conflito existente entre o capital e o trabalho.
Entretanto, uma sociedade, em determinado ponto de seu
desenvolvimento social, econômico e tecnológico, apresenta uma visão sobre
qualidade de vida diferente da mesma sociedade em outra época da sua história. Os
valores e as necessidades são construídos progressivamente pelos povos, sendo
que suas tradições vão sendo reveladas conforme o desenvolvimento desses
valores e dessas necessidades. Os padrões e as concepções de bem-estar são
estratificados, pois a idéia de qualidade de vida está intimamente ligada ao bem-
estar das camadas superiores e à transferência de um estágio para outro (MINAYO;
HARTZ; BUSS, 2000).
Dessa forma não se pode confundir o conceito de qualidade de vida com
ascensão financeira, pois, como bem expressado por Guimarães Silva, (1997 apud
PIETRAFESA, 2003, p. 37), “A questão da qualidade de vida, seja qual for a
comunidade a qual ela se refere, é uma questão complexa e multifacetada”.
Considerando a condição multifacetada do conceito, Minayo et al (2000)
afirmam que qualidade de vida é um termo bastante abrangente, pois trata de uma
representação social criada a partir de aspectos subjetivos como bem-estar,
felicidade, amor, prazer e realização pessoal. E, também de aspectos objetivos
como satisfação das necessidades básicas e das necessidades criadas pelo grau de
desenvolvimento econômico e social de determinada sociedade. Assim sendo,
qualidade de vida é uma construção social com a marca da relatividade cultural.
No conceito de Minayo et al (2000) nota-se que o que se considera uma
boa qualidade de vida é totalmente dependente da condição que se encontra e do
que se almeja. Reafirmando essa idéia de construção de conceito, Martin e Stockler
(1998 apud MINAYO; HARTZ; BUSS, 2000), dizem que a concepção de qualidade
de vida está na distância entre as expectativas individuais e a realidade e quanto
menor a distância entre os dois parâmetros, melhor. Outros autores como Souza e
Carvalho (2003), também atribuem uma visão pluralista para o conceito ”qualidade
de vida” e definem como um termo subjetivo, com definição imprecisa.
Não é simples estabelecer um consenso teórico sobre esta expressão, já
que existe a influência de diversos fatores que se alteram dependendo da posição
geográfica e da sociedade foco da análise. Além disso, o fato de se inserirem fatores
subjetivos torna um tanto quanto complexo quantificar os fatores que se interagem
para reformular o que determina qualidade de vida. No entanto, isto não pode ser
motivo para excluir qualquer um dos fatores. Porém, ainda que sejam utilizados
critérios materiais específicos da experiência cotidiana, a dimensão subjetiva deve
ser considerada, a fim de se obter uma percepção integral desse conceito.
No presente estudo, foram consideradas melhorias na qualidade de vida,
as alterações em aspectos que pautam tanto em fatores objetivos concretos, como
aumento do poder aquisitivo, quanto em fatores subjetivos, como aumento da auto-
estima e valorização pessoal, embora se deva considerar que estes aspectos são
inter-relacionados, isto é, o aumento da auto-estima está muitas vezes ligado
diretamente ao acesso de bens materiais aos filhos e a família. Dentre os diversos
fragmentos de relatos que constatam essa realidade pode-se destacar o seguinte:
“Além de você se conscientizar do meio ambiente, da saúde
você também tem aquela renda pra ajudar em casa, podendo
dar alguma coisa pros seus filhos, por o que comer dentro de
casa. Então ajuda sim e todos que estão no projeto hoje tem
essa gratificação de ter participado”. (M.L.R.S.)
Não se pode generalizar a qualidade de vida, ela precisa ser
compreendida dentro da experiência cotidiana e pessoal de cada um dos envolvidos.
Elementos do contexto social e econômico devem ser incluídos no planejamento e
nas estratégias de ação vinculadas à melhora da qualidade de vida.
É importante a constatação de que em todas as abordagens sobre
qualidade de vida, aspectos não materiais como amor, liberdade, solidariedade e
inserção social, realização pessoal e felicidade, estão presentes.
Tentando sintetizar a complexidade da noção de qualidade de vida e
de sua relatividade às diferentes culturas e realidades sociais,
diversos instrumentos têm sido construídos. Alguns tratam a saúde
como componente de um indicador composto, outros têm, no campo
da saúde, seu objeto propriamente dito (MINAYO; HARTZ; BUSS,
2000, p. 10).
A qualidade de vida como um estado duradouro de condições humanas é
fruto do trabalho e deve ser entendida como condições reais de vida humana,
situadas tanto no ambiente quanto no tempo. Assim, os níveis de qualidade de vida
estão diretamente relacionados a diversos fatores considerados por Minayo, Hartz e
Buss (2000) como subjetivos (como bem-estar, felicidade, amor, prazer e realização
pessoal) e objetivos (satisfação das necessidades básicas e das necessidades
criadas pelo grau de desenvolvimento econômico e social de determinada
sociedade).
Este estudo adota o conceito de qualidade de vida expresso por Minayo,
Hartz e Buss (2000) dividido em seus aspectos objetivos e subjetivos, já que analisar
aspectos objetivos requer uma análise diferenciada considerando a percepção de
cada indivíduo sobre as alterações cotidianas advindas da participação em um
determinado contexto, que neste estudo pauta na participação em uma cooperativa
de reciclagem. Analisar aspectos subjetivos requer o conhecimento dos valores do
grupo estudado, suas perspectivas e aspirações e essa vertente só pode ser
atingida através de uma pesquisa participante e uma análise apurada dos relatos.
Neste contexto, vale ressaltar que quando são analisadas as
necessidades básicas e necessidades criadas de uma determinada sociedade não
se pode deixar de considerar o contexto em que esta sociedade está inserida. Isto
remete a reflexão de que a noção de qualidade de vida deve ser considerada
localmente, pois, a noção de qualidade de vida de um europeu e, de um morador do
Bairro Jardim Conquista, na cidade de Goiânia, local em que se encontra a
COOPREC, obviamente, são diferentes.
Assim, segundo Trevizan (2000, p. 2) é preciso identificar as
necessidades básicas para incorporar internamente os fatores que desencadeiam
melhoria na qualidade de vida. Esta é uma exigência que não revela as imposições
da esfera global, mas que demandam uma postura crítica frente a elas. Dessa
forma, ao se analisar o grupo estudado buscou-se tanto aspectos objetivos quanto
subjetivos, considerando a realidade local.
Não se pretende com este estudo criar novas concepções de qualidade
de vida, mas sim analisar de maneira ampla as mudanças ocorridas em função da
participação em uma cooperativa de reciclagem considerando tanto aspectos
objetivos quanto subjetivos e a interconexão existente entre eles.
2.2 A construção da percepção dos cooperados
A análise dos resultados obtidos neste estudo indicou que a participação
na cooperativa e o trabalho direto nos processos de reciclagem possibilitaram
mudanças, tanto nos aspectos subjetivos como objetivos, na qualidade de vida dos
cooperados. Estas mudanças foram notadas no aumento do poder aquisitivo, na
ampliação das possibilidades profissionais e de trabalho, na valorização pessoal e
no processo educacional que repercutiu diretamente nas práticas cotidianas
relacionadas às questões ambientais. Estes aspectos foram considerados neste
estudo como categorias de análise, criadas a partir das entrevistas dos cooperados
(ver Quadro 1).
Quadro 1 - Categorias de análise criadas a partir dos elementos identificados nas falas dos
cooperados de acordo com a metodologia de Bardin (1977) e Gomes (1994).
CATEGORIAS
OCORRÊNCIAS DE CITAÇÃO
Aumento do Poder Aquisitivo
11 ocorrências
Ampliação das Possibilidades
Profissionais
07 ocorrências
Valorização Pessoal
46 ocorrências
Processo Educacional e Mudanças nas
Práticas Cotidianas
60 ocorrências
Elaborado por Ana Lucia Gomes Borges (2007).
A identificação das categorias foi feita através de análise de conteúdo de
discursos dos vinte e quatro cooperados entrevistados, (entre os trinta e dois que
são associados no momento da realização da pesquisa de campo), segundo a
metodologia de Bardin (1977) e Gomes (1994). Durante a análise dos relatos foi
realizada a separação dos fragmentos indicativos de cada categoria de acordo com
a freqüência que surgiam, e dessa forma identificados os principais aspectos de
mudanças na vida dos cooperados, influenciados pela participação na cooperativa e
no processo de reciclagem.
A categoria “aumento do poder aquisitivo” foi identificada através de
relatos acerca do acesso a moradia, melhoria na alimentação da família,
principalmente, filhos e independência econômica das mulheres. Abaixo seguem
alguns fragmentos indicativos desta categoria.
“Eu vim pra cá, mudei e comecei a participar do projeto, que na
época era o Projeto Meia Ponte, eu ainda morava de aluguel e
com muita dificuldade a gente conseguiu comprar um barraco”.
(M.L.R.S.)
“Aí quando eu mudei pra cá eu construí um barracão no lote do
meu irmão, foi também com o dinheiro daqui, depois eu passei
a morar de aluguel, depois eu já consegui comprar o meu lote,
lógico que junto com meu esposo, e com a renda dele, aí eu já
construí a minha casa, isso tudo depois da Cooprec. Teve uma
mudança financeira e de conquista, até mesmo a construção
da casa.” (L.F.P.)
“Era sempre meu marido que fazia tudo, agora eu ajudo uma
parte porque ele vai sair prá comprá uma coisa e já compra
outra, eu ajudo com o supermercado e ele paga prestação de
lote”. (A.A.B.C.)
“Além de você se conscientizar do meio ambiente, da saúde
você também tem aquela renda pra ajudar em casa, podendo
dar alguma coisa pros seus filhos, por o que comer dentro de
casa. Então ajuda sim e todos que estão no projeto hoje tem
essa gratificação de ter participado”. (M.L.R.S.)
Diretamente associada à categoria anterior (aumento do poder aquisitivo)
foi identificada a “ampliação das possibilidades profissionais” seja pelo acesso ao
primeiro emprego, pela inserção de pessoas no mercado de trabalho que por idade
avançada ou pela falta de oportunidade, se encontravam desempregadas e pela
integração das mulheres que tiveram a possibilidade de aliar o trabalho na
cooperativa aos afazeres domésticos e cuidados dos filhos. Abaixo estão alguns
fragmentos indicativos desta influência.
“Eu vim prá cá primeiro lugar porque eu tava desempregado a
um ano e meio”. (O.S.V.)
“Então foi uma oportunidade de trabalho pra mim, inclusive foi
meu primeiro trabalho depois que eu mudei pra cá e tô até
hoje”. (L.F.P.)
“Eu já tava a muito tempo parado e com a minha idade eu não
conseguia trabalho em lugar nenhum, e já tava desesperado,
pensando: ”que eu faço?”, minha mulher aposentada. Aí surgiu
a oportunidade de ser cooperado aqui, eu falei “eu topo ir prá
lá”. Eu vim prá cá, eu olhei isso aqui, falei: “isso aqui é uma
locura”, já fui vendo a luta, o idealismo das pessoas aqui
dentro”. (G.R.B.)
“Houve mudança na minha vida sim porque a COOPREC foi
meu primeiro trabalho aqui em Goiânia, então eu não sei te
falar sobre a questão se eu tivesse conseguido outro”. (L.F.P.)
A ampliação das possibilidades profissionais, que repercutem diretamente
no aumento do poder aquisitivo dos cooperados, reflete diretamente na “valorização
pessoal”. A possibilidade de oferecer uma melhor condição de vida aos filhos e ter
acesso a bens e serviços básicos desenvolve nos cooperados um sentimento de
pertença à cooperativa o que aumenta sua valorização pessoal e auto estima pela
participação em um processo coletivo e de grande importância atual. Os fragmentos
abaixo indicam essa categoria.
“Então aqui prá nós é como se fosse uma família, eu acho bom
que agente passa a convivê e todo mundo da região gosta do
trabalho da gente, do jeito da gente trabalhar, na rua o pessoal
já conhece a gente, cada dia vai aumentando o número de
amizade”. (G.R.B.)
“Mudou muita coisa, eu tenho mais experiência, aprendi a
trabalhar em grupo, que é uma coisa muito difícil. E agora com
o passar do tempo eu já sei como lidar com vários tipos de
pessoas e de mentalidades diferentes, então acho que isso foi
um grande crescimento, se eu for trabalhar em outro lugar eu já
sei trabalhar melhor com as pessoas”. (M.N.O.S.)
“Mudou na minha vida também a questão do interesse de
querer aprender mais, na cooperativa a gente acaba
descobrindo que pra conseguir alguma coisa tem que ir à luta
mesmo”. (L.S.O.)
“Eu achei bom, achei interessante essa visão de trabalhar
assim, e hoje eu tô aí participando, sô respeitado na onde eu
moro, o pessoal olha com carinho, com respeito o meu
trabalho. Eu me sinto orgulhoso disso”. (G.R.B.)
Dentre as alterações na vida dos cooperados, além das citadas acima e,
totalmente relacionada a elas, estão os avanços no “Processo Educacional e sua
repercussão em mudanças nas práticas cotidianas”. Este processo educacional foi
influenciado pelo trabalho direto com os resíduos e por cursos oferecidos. Porém,
verificou-se uma maior influência do trabalho direto com os resíduos, o que alterou a
percepção das pessoas envolvidas ao deixarem de conceber o lixo como
inaproveitável e passaram a vê-lo como fonte de renda e o processo de reciclagem
como uma forma de buscar a sustentabilidade.
“Mudou muito minha vida, em relação a antes da cooperativa,
hoje tudo que eu vejo tem um valor, se eu vejo papel na rua eu
penso na cooperativa, que aquilo ali é alguma coisa que
poderia ta ajudando”. (L.S.O.)
“Eu não tinha noção do que era reciclagem, mas hoje eu
entendo assim... é pegar um material que já foi utilizado e
transformar numa coisa nova, é muito importante porque em
torno de 90% do nosso resíduo é reciclável, então a partir do
momento que a gente faz o processo da reciclagem agente vai
ta deixando de tirar árvores, de abrir buraco pra tirar bauxita,
de ir pro aterro, e principalmente de ser retirado da natureza”.
(L.F.P.)
“Aqui a gente aproveita tudo, eu nunca imaginava que de
papelão fazia artesanato, fazia telha, que do plástico fazia
grânulo. Faz sacolinha, garrafa novamente, então tudo
aproveita no lixo..... Antigamente tinha várias latinhas jogadas,
agora não, e ele não ta prejudicando o meio ambiente, quando
chove não vai mais pro esgoto, não vê mais pet jogado na rua”.
(M.M.O.S.)
“Antigamente eu falava lixo, hoje eu não falo lixo, é um ganha
pão, uma opção de vida. O pessoal fala lixo, eu não acho que é
lixo. Hoje praticamente não existe lixo, não joga nada fora, tudo
pode reciclar. Eu só falava lixo, mas agora não”.(R.G.C.)
A discussão que segue relaciona-se as mudanças, influenciadas tanto
pela inserção nos princípios do cooperativismo quanto, pela participação no
processo de reciclagem, observadas na qualidade de vida dos cooperados. Na
discussão dos dados podem ser identificados tanto aspectos objetivos, a melhoria
do poder aquisitivo, por exemplo, que resultam em acesso a bens e serviços, quanto
subjetivos, aumento da auto-estima e valorização pessoal conforme relatado por
Minayo, Hartz e Buss (2000). Embora haja uma tentativa de separar os temas para
discussão, por vezes, eles se entrecruzam.
Apesar de muitas vezes tratado, nas discussões que envolvem o tema
reciclagem, como um objetivo secundário do processo, a melhoria na qualidade de
vida, gerada pela participação nesta atividade, engrandece a importância da
reciclagem e aumenta a responsabilidade de todos os segmentos envolvidos, seja
no âmbito público ou privado.
Segundo Trevizan (2000, p. 181) atividades que tenham como objetivo a
qualidade de vida, envolvem compromisso com as condições sociais das maiorias
sociais desassitidas pelos serviços que a sociedade oferece. O autor ainda ressalta
que a manutenção de condições precárias de saúde e educação das maiorias
sociais, compromete não apenas o processo de desenvolvimento, mas também a
possibilidade de sustentabilidade de qualquer projeto de desenvolvimento.
Antes de iniciar a discussão sobre os aspectos observados, vale
considerar que se trata de um grupo de pessoas (cooperados) que se encontravam,
e às vezes ainda se encontram, na linha da pobreza (considerando a relatividade do
termo).
Um primeiro aspecto a ser discutido são as possibilidades profissionais
que são criadas a partir de uma cooperativa de reciclagem. Considerando as taxas
de desemprego no Brasil a constituição de cooperativas torna-se uma importante
forma de geração de postos de trabalho e renda, tanto para pessoas em idade
produtiva como para idosos ou proporcionando o acesso de jovens ao primeiro
emprego.
Pochmann (1999) faz um estudo sobre o perfil do desemprego no Brasil:
Assim como a oferta e a demanda de trabalho apresentaram
mudanças significativas nos últimos anos, o desemprego também
registrou alterações importantes, seja na quantidade, seja no perfil do
desempregado. Não apenas ocorreu um aumento na taxa de
desemprego e, por conseqüência, na quantidade de pessoas
procurando emprego, como também houve uma mudança na
estrutura do desemprego e uma elevação no tempo de procura de
trabalho. Entre 1989 e 1996, o desemprego cresceu relativamente
mais para as pessoas com mais de 11 anos de escolaridade, para
pessoas com idade mais avançada (mais de 40 anos), para os
homens, para os não-chefes de família (cônjuge), para as pessoas
de cor e para os que buscam o primeiro emprego.
Nota-se, nos seguintes fragmentos dos relatos que a inserção na
cooperativa aconteceu na maioria das vezes, impulsionada pela falta de
oportunidade de trabalho, seja por falta de formação ou por outros motivos
excludentes, como idade ou sexo.
”Eu já tava a muito tempo parado e com a minha idade eu não
conseguia trabalho em lugar nenhum, e já tava desesperado,
pensando: ”que que eu faço?”, minha mulher aposentada. Aí
surgiu a oportunidade de ser cooperado aqui, eu falei “eu topo
ir prá lá”. (G.R.B.)
“Mudô bastante o relacionamento lá em casa, agora nóis pára
prá conversar. Antes eu ficava quieto no canto, e a coisa que
mais me doía era quando eu corria atrás de trabalho, eu já
trabalhei em almoxarifado, portaria de prédio, uma série de
trabalho, mas quando eu chegava e as pessoas procurava
minha idade e falava: ”não você tá velho”. (G.R.B.)
Veras et al (1987, p. 230) ao discutir a dificuldade de acesso a postos de
trabalho por pessoas com idade avançada relata que:
Como conseqüência da vida atual mais solitária, o idoso, na maioria
das vezes, tem que arcar com os custos de manutenção de sua
casa. Além disso, a possibilidade de gerar novos recursos a fim de
complementar a renda com outro trabalho remunerado é quase
nenhuma. Ainda que não existam proibições legais ao trabalho do
idoso, o fato é que praticamente inexistem oportunidade de trabalho.
No Brasil, os indivíduos com mais de 65 anos que provarem ter
trabalhado pelo menos cinco anos estão habilitados a uma pensão
vitalícia de meio salário mínimo.
Foi verificado neste estudo que a COOPREC tem atuado como uma
alternativa a pessoas com idade avançada e que por esse fato estavam excluídas do
mercado de trabalho. Além dos aspectos diretos dessa inserção, como aumento do
poder aquisitivo, existe a reestruturação da dignidade e o sentimento de
participação, fatos subjetivos que não podem deixar de serem analisados na
melhoria da qualidade de vida.
“O que mudou na minha vida foi muita vontade de viver
novamente, eu já tinha perdido a vontade, eu ficava em casa
olhando o tempo, o pessoal passando. Eu comentava com a
minha velha, será que agora eu só sirvo prá cuidar do meu
neto? Capinar quintal, lavar cachorro... Mas a minha vida não é
assim, eu gosto de tá assim atuando no meio dos outro, de
trabalhar com as pessoas”. (G.R.B.)
Neste contexto, Galvão e Cifuentes (2005) ao discutir o papel e a
participação social das cooperativas relata que:
A busca por espaços de participação, especialmente no que
concerne às condições de trabalho, está intimamente ligada à
retomada de valores solidários, associativos e cooperativos
expressos nas cooperativas mais recentes. Um breve olhar sobre
elas nos possibilita verificar que o desemprego tem sido sua
principal motivação, pois estas organizações sempre foram
fortemente marcadas por um caráter social, que possibilita
oportunidade de trabalho e algum nível de socialização dos meios
de produção (GALVÂO E CIFUENTES, 2005).
Nota-se, neste contexto, a relação do conceito de qualidade de vida com
diversos aspectos, e que as possibilidades de mudanças na qualidade de vida são
alcançadas quando o indivíduo está inserido em um contexto social participativo, no
qual seu trabalho repercuta de maneira significativa, isto é, um contexto que faça a
inserção deste indivíduo como participante de um processo construtivo e não
simplesmente de subsistência. Embora a relação entre busca por subsistência e
participação em um processo construtivo seja necessária, na maioria das vezes a
procura pela participação no processo de reciclagem ou a integração a uma
cooperativa se dá pela necessidade econômica.
É notória a conexão entre os aspectos trabalho e renda, considerados
neste estudo, já que a partir do momento em que há uma possibilidade de trabalho,
há geração de renda. Entretanto, a influência da inserção na cooperativa não se
limita ao aspecto econômico, mas perpassa essa vertente e vem atingir a vertente
subjetiva voltada a valorização pessoal, que será discutida adiante.
Como relatado anteriormente, os atores deste estudo são pessoas que se
encontravam próximos a linha da pobreza e mesmo que as melhorias na qualidade
de vida propostas nos índices, como acesso a saúde a educação de qualidade etc,
não tenham sido atingidas, as mudanças ocorridas são altamente significativas
considerando a condição que se encontravam. Para se discutir este aspecto é
preciso, necessariamente, remeter a relatividade da noção de qualidade de vida.
Martin e Stockler (1998, apud MINAYO, HARTZ e BUSS, 2000) sugerem que
qualidade de vida seja definida em termos da distância entre expectativas individuais
e a realidade e que quanto mais estreita é essa conexão, mais significativas as
melhorias.
“Pra mim trabalhar na Usina ajudou muito, ajudou
financeiramente, eu tive meu próprio dinheiro, é legal você ter
seu dinheiro, poder ajudar nas despesas e até gastar com o
que quiser, não ficar dependendo do marido”. (M.L.R.S.)
“Minha vida melhorou porque eu tava em casa sem trabalho,
ficar em casa parada é muito ruim, de vez em quando fazia uns
bico, mas não é bom não. Trabalhando aqui é melhor pra mim
porque eu tenho dois filhos pequenos pra cuidar, e agora eu
posso comprar as coisas pra eles, que antes não dava”.
(C.Q.S.R.)
Verifica-se, através dos relatos, que a participação na cooperativa
proporciona melhorias em vários aspectos objetivos da qualidade de vida,
influenciados pela ampliação do poder de compra, como educação, saúde e moradia
não apenas ao próprio cooperado, mas lhe forneceu condições de proporcionar uma
melhoria na qualidade de vida familiar.
“Houve mudança, os meninos ficam no programa social que é
o Peti, e o dinheiro deles eu pegava e fazia compras, agora eu
não preciso, com o dinheiro deles eu compro as coisinhas
deles, roupa, calçado, que agora meu dinheiro dá pra fazer as
compras”. (C.Q.S.R.)
“Eu tava trabalhando pra mim mesma e ganhava muito pouco,
vivia estressada, eu confeccionava, passava pra sacoleiras e
não me pagavam, acabei desistindo e resolvi entrar pra
cooperativa, aqui melhorou muito, agora dá prá ajudar em
casa”. (L.S.O.)
Um aspecto de extrema relevância observado neste estudo foi a
possibilidade de acesso a moradia proporcionado aos cooperados. Apesar de esse
estar previsto na Declaração Universal dos Direitos Humanos, desde 1948, somente
em 2000, por meio de uma emenda, a habitação adequada tornou-se direito do
cidadão no Brasil. (CORREIA, 2006).
O aspecto econômico, isto é, a renda é a principal causa das
desigualdades da moradia no Brasil. De acordo com o IBGE (2000), 83% das
pessoas que não têm casas ou que moram em condições precárias, possuem renda
familiar mensal de até três salários mínimos. Quem tem habitação de qualidade são
os que “pagam por esse direito” (CORREIA, 2006). Este fato ainda é associado a
uma contradição no Brasil, o déficit habitacional é de sete milhões de casas
enquanto que cinco milhões se encontram vazias no país.
Embora um direito de todo cidadão, é possível considerar, neste caso, o
acesso a moradia como uma melhoria na qualidade de vida. Vários relatos dos
atores da pesquisa confirmaram o que foi dito inicialmente, que os índices de
qualidade de vida não podem ser globalizados nem nacionalizados e sim localizados
considerando os anseios e as necessidades de cada grupo social.
“[...] quando eu mudei pra cá eu construí um barracão no lote
do meu irmão, foi também com o dinheiro daqui, depois eu
passei a morar de aluguel, depois eu já consegui comprar o
meu lote, lógico que junto com meu esposo, e com a renda
dele, aí eu já construí a minha casa, isso tudo depois da
COOPREC. Teve uma mudança financeira e de conquista, até
mesmo a construção da casa”. (L.F.P.)
“Eu vim pra Goiânia, mudei e comecei a participar do projeto,
que na época era o Projeto Meia Ponte, eu ainda morava de
aluguel e com muita dificuldade a gente conseguiu comprar um
barraco”. (M.L.R.S.)
“Quando eu vim prá cá eu tava com meu barracão quase
penhorado de dívida de IPTU, talão de luz e de água. Então o
que eu ganhei de lá pá cá ajudou a colocar as contas em dia.
Melhorou porque deu prá fazer isso, mas assim... se eu tivesse
uma condição mais controlada eu poderia tá melhor, mas como
eu tava com muita dificuldade financeira, só consegui
normalizar a minha vida, agora... eu não cresci, não desenvolvi
financeiramente não. A vantagem é que eu conclui alguns
cursos e ganhei mais experiência”. (A.A.B.)
Segundo Trevizan (2000) três aspectos principais devem ser
considerados ao se discutir qualidade de vida, o histórico, o cultural e o social. Cada
comunidade tem parâmetros de qualidade de vida específicos de outras
comunidades separadas historicamente, ou seja, os valores culturais são
construídos e hierarquizados pelos povos.
Assim a desconsideração de peculiaridades locais, principalmente
culturais, faz com que haja uma padronização de valores, o que dificulta a satisfação
das conquistas pessoais.
É preconizado pelo mundo ocidental, urbanizado, rico, polarizado por
certo numero de valores, que poderiam ser assim resumidos: conforto,
prazer, boa mesa, moda, utilidades domésticas, viagens carro,
televisão, telefone, computador, uso de tecnologias que diminuem o
trabalho manual, consumo de arte e cultura, entre outras comodidades
e riquezas” (TREVIZAN, 2000, p.9).
Por vezes a discussão dos resultados deste estudo esbarrou nos
conceitos de qualidade de vida discutidos pelos autores citados. Tornando-se difícil
falar de acesso a educação, a saúde, em aprimoramento da democracia perante
discursos dos cooperados, como:
“Melhorou um pouco, agora não falta mais comida em casa.
Mas agente trabalha só pra comer mesmo“. (L.B.)
“Economicamente, aqui na COOPREC se agente conseguisse
vender tudo, dava pra manter uma situação melhor. Como é
uma cooperativa de reciclagem, os produtos são muito baratos,
então às vezes não dá pra gente manter uma situação boa,
mas com o que eu tiro aqui eu vivo”. (M.N.O.S.)
É importante observar no que se refere aos conceitos de qualidade de
vida (MINAYO; HARTZ e BUSS, 2000) estudados nesta pesquisa e os depoimentos
apresentados pelos cooperados, que estes não atingem as condições básicas no
que diz respeito à moradia, saneamento básico, educação. Não conquistaram as
variáveis elementares de qualidade de vida assumida pelos autores citados e por
esta dissertação. No entanto representam alterações significativas nas vidas destas
pessoas, visto as condições que se encontravam anteriormente.
O que para algumas pessoas significa uma condição biológica básica de
sobrevivência pra outras representa melhoria nas condições de vida. Pequenas
mudanças, que embora pareçam insignificantes aos olhos de muitas pessoas, foram
de extrema importância na vida desta população socialmente marginalizada.
Ficou evidenciada a importante participação da COOPREC na melhoria
da renda e ampliação do poder de compra dos cooperados, embora distante do que
se almeja no Brasil.
Considerando a visão multifacetada e complexa do conceito de qualidade
de vida relatada por Guimarães Silva, (1997 apud PIETRAFESA, 2003) notou-se
que, além do aumento do poder econômico dos cooperados, esse processo de
participação e trabalho acaba por desencadear uma sensação de pertencimento e
consequentemente, um fortalecimento no comprometimento dos cooperados com a
cooperativa. Vê-se dessa forma que existe uma relação estreita entre o aspecto
objetivo e subjetivo de qualidade de vida, isto é, o que teve início com fins apenas
econômicos (objetivo) acaba por desencadear um processo de valorização pessoal
(subjetivo).
A sensação de pertencimento e o comprometimento com a COOPREC e
com os demais cooperados podem ser considerados os pilares que sustentam a
cooperativa. Esse comprometimento nasce a partir da consciência de igualdade
entre os cooperados atingindo o princípio de gestão democrática e livre, como
relatado:
“Mudou minha forma de ver as coisas. [...] a gente acaba se
apegando de uma tal maneira que não acha jeito de sair, pra
você ver, eu terminei meu curso de enfermagem já tem dois
anos e meio e não tenho coragem de sair, quando eu vejo as
dificuldades eu sempre acho que poderia fazer mais pra
ajudar, eu não quero sair da cooperativa e deixar as coisas do
jeito que tão. Quando a gente vê as coisas difíceis, a gente
acaba pensando... poxa eu vou sair e deixar meus colegas, eu
sei que embora eu não faça tanto pela cooperativa mas eu sei
que se eu sair eu vou fazer falta”. (L.S.O.)
O papel do comprometimento e da participação em uma organização
cooperativista foi relatado por Machado (2006) que atribui ao comprometimento o
processo de se sentir responsável pelos resultados pessoais e da coletividade. O
comprometimento de todas as pessoas envolvidas em uma cooperativa seria o ideal,
mas é utópico, pois está numa dimensão a ser alcançado, ainda não realizado. Este
componente comportamental, portanto, tem grande relevância pela influência que
exerce na “[...] alavancagem qualitativa da liderança nas cooperativas.”
(REBOUÇAS DE OLIVEIRA, 2003, p. 244).
Diante desses fatos, entende-se que só a conscientização da importância
do papel de cada um para o desenvolvimento do todo poderá levar ao
comprometimento efetivo dos envolvidos no processo, o que pode ser atingido
através do ”tratamento com ética e equidade, assim como a educação como meio de
conscientização, motiva todas as pessoas envolvidas no processo, gerando
comprometimento e cooperação para alcançar os objetivos organizacionais”
(MACHADO, 2006, p. 63).
“[...] nesse trabalho era uma coisa que favorecia não só a mim,
mas a muitas outras pessoas”. (R.G.C.)
“Cooperativismo é um grupo de pessoas que pensa no ideal de
todos, não no dele só. É isso que eu acho que é
cooperativismo, não existe esse negócio da pessoa ser
egoísta, pensar em si só, tem que pensar no grupo”. (R.G.C.)
“É muito diferente trabalhar em cooperativa, agente tem que
trabalhar vendo o limite da gente e respeitando o do outro, pra
não entrar em choque, sempre procurar participar de tudo,
procurar colaborar com tudo”. (L.I.P.)
“Eu vim prá cá, eu olhei isso aqui, falei: “isso aqui é uma
locura”, já fui vendo a luta, o idealismo das pessoas aqui
dentro”. (G.R.B.)
É comum vincular o conceito qualidade de vida apenas ao acesso a
determinadas facilidades contemporâneas. Porém, reflexos das mudanças ocorridas
na vida dos cooperados atingem outros pontos como melhorias nas condições
pessoais nas relações familiares, psicológicas, auto-estima etc. Neste estudo
verificou-se uma forte influência da participação na cooperativa sobre estes
aspectos.
Embora a literatura analisando alterações nos aspectos subjetivos
(MINAYO, HARTZ e BUSS, 2000) na vida dos cooperados seja restrita, este parece
ser um importante ponto de análise já que, segundo Nasciutti (2003) as propostas de
uma cooperativa apresentam cunho coletivista e solidário que são estranhas ao
modo de produção capitalista por produzirem não só bens, mas subjetividades.
Estes aspectos subjetivos ficaram evidenciados neste estudo em diversos
discursos dos cooperados, sendo o mais comum, o aumento da auto-estima, que
ocorreu em função da valorização direta do trabalho, assim como pela ampliação
das possibilidades de crescimento pessoal através da educação, encontradas após
a inserção na cooperativa. O surgimento de relatos associados a este aspecto foi o
mais freqüente entre os analisados neste estudo, abaixo seguem alguns fragmentos
indicativos desta categoria.
“[...] o pessoal olha com carinho, com respeito o meu trabalho.
Eu me sinto orgulhoso disso”. [...]porque eu acho que a auto
estima da gente, se não fizer nada, a gente perde tudo. Tenho
o carinho do meu neto, da minha filha, o respeito da minha
família, muito é por esse trabalho aqui”. (G. R.B)
“A gente que é mulher, depois que passa a ter
responsabilidade cresce até a auto estima, antes eu não sabia
o que era isso. Aqui eu aprendi a me relacionar melhor com as
pessoas, eu era muito estourada, agora tenho mais paciência
com os outros”. (A.A.B.C.)
“Hoje eu to na faculdade, isso foi graças a participação na
cooperativa, eu fui me conscientizando, eu abri a minha mente,
e vi a importância do estudo, então voltei a estudar, terminei o
primeiro grau, depois fiz o segundo grau, fiz o ENEM e hoje eu
tenho uma bolsa, faço Educação Física, to gostando do curso,
e eu não quero parar por aí não, quero dar continuação”.
(M.L.R.S.)
“Eu participei disso tudo, e vejo hoje o tanto que eu cresci,
como mulher, como esposa, como mãe, eu cresci muito como
pessoa”. (M.L.R.S.)
“[...] participei de todo processo até fundar a cooperativa, de
reuniões, cursos, participei de tudo, então foi muito legal, eu
aprendi muito com isso, eu tava tentando sair de uma
depressão e ao mesmo tempo eu empolguei, eu gostei, me
ajudou bastante, hoje eu sou o que eu sou devido a ter
participado naquela época e com isso eu não parei”. (M.L.R.S.)
“É claro que o dinheiro é importante pra mim, mas se tivesse o
dinheiro e não tivesse esse resgate, eu não taria aqui hoje,
porque o dinheiro eu vou ganhar em outro lugar, com certeza,
mas esse convívio, por exemplo, as vezes a cooperativa ta
com uma dificuldade tão grande, e as pessoas ta sorrindo, ta
brincando, e eu não consigo vê isso em outros lugar de
trabalho”. (N.R.V.)
“O que mudou na minha vida foi muita vontade de viver
novamente, eu já tinha perdido a vontade”. (G. R.B)
“Mas eu acho que assim, o que me segura muito aqui é a
questão da convivência humana, eu acho que eu aprendi a
amar as pessoas, a aceitar elas do jeito que elas são”. (N.R.V.)
“Quando eu comecei a trabalhar na Usina eu tinha apenas a
quarta série, aí como agente sempre tinha que receber gente
de fora, e trabalhar com professores, eu comecei a ver a
necessidade de melhorar um pouco, até mesmo pra conversar,
aí eu voltei pra escola, fiz o supletivo do primeiro grau, terminei,
fiz o do segundo grau, eu já tinha 48 anos quando voltei a
estudar”. (L.I.P.)
“ [...] aprendi a reivindicar meus direitos, que eu não tinha
coragem, eu era muito tímida, aprendi a olhar nos olhos das
pessoas, que às vezes eu não olhava, né? Várias coisas eu
consegui. Humanamente eu to realizada, eu não reclamo de
financeiramente não, de não ter, agora humanamente eu acho
que vale a pena, o ganho pessoal é muito maior do que o
financeiro, nem se compara”. (N.R.)
“É... mudou minha vida. O que eu consegui de positivo é que
eu conclui o segundo grau e fiz alguns cursos”. (A.A.B.)
“Eu achei bom, achei interessante essa visão de trabalhar
assim, e hoje eu tô aí participando, sô respeitado na onde eu
moro” (G.R.B.)
“Hoje eu sei, eu conheço meus direitos, sei questionar eles e
sei correr atrás também, hoje eu to vivendo uma outra vida, pra
mim o que passou, passou, e eu quero dar continuação, quero
crescer, quero olhar pra frente, eu tenho um objetivo, e vou
correr atrás dele. Pra mim foi graças a eu ter entrado pra
cooperativa”. (M.L.R.S.)
De maneira geral, as formas associativistas com participação de atores
sociais em sua gestão têm implícito o objetivo de promover alterações sociais e
segundo Nasciutti et al. (2003) são esses mesmos sujeitos que criam e dão forma a
esses modelos associativos populares, e revela de modo mais evidente o ideal
cooperativista. Os prazeres da apropriação da força de trabalho, da disposição do
tempo, da possibilidade da aprendizagem, da auto-estima recuperada ou descoberta
mesclam-se à satisfação da descoberta do outro como possível cooperador e não
apenas como competidor.
A participação dos atores sociais na gestão faz com que a visão central
das cooperativas seja a própria transformação social o que resulta em um
significativo comprometimento e retorno à sociedade. “Nenhuma ação ou projeto
urbano pode ocorrer isoladamente, sem a participação de diferentes atores. É a
atividade dos habitantes que produz o urbano, que não pode ter sua gestão
centralizada apenas nos poderes públicos” (PAJONI, 1996, p 184, apud NASCIUTTI,
2003).
O papel do cooperado como ator social de transformação fica evidenciado
nos pressupostos associativos cooperativistas observados neste estudo. É
necessário que se considere, além dos fatores físicos objetivos, fatores que
transcendem essa limitação e busquem uma
[...] ressignificação do lugar do sujeito social através de estrutura
cooperativista, que aponta para relações sociais, institucionais e de
trabalho diferentes daquelas cristalizadas no modelo empresarial
tradicional e para o redimensionamento do sentido subjetivo do
trabalho” (NASCIUTTI et al 2003, p 92).
A forma de desenvolvimento do cooperativismo popular aponta para a
busca de desenvolvimento e bem estar para os cooperados e suas famílias e a partir
do momento em que essa vertente é atingida estreitam-se os vínculos com a
cooperativa e entre os cooperados.
As ações coletivas fortalecem o sentimento de "pertença" e
solidificam os vínculos comunitários, permitindo a elaboração e o
engajamento conjunto em projetos locais. Projetos de ação
comunitária podem se revelar como riquíssimos elementos de
construção de cidadania, de resgate da auto-estima, de
conscientização, em última análise, do lugar que cada ator ocupa no
mundo social. Ao vislumbrar a possibilidade da solidariedade e da
ação conjunta em benefício comum, o novo cidadão estará também
mais atento ao que lhe cerca (NASCIUTTI et al , 2003, p 91).
Ao discutir esse processo de participação e integração Eugène Enriquez
(1994) apud Nasciutti et al (2003) afirma que não se trata unicamente de querer
coletivamente; trata-se de sentir coletivamente, de experimentar a mesma
necessidade de transformar um sonho ou uma fantasia em realidade cotidiana e de
se munir dos meios adequados para conseguir isso.
Esta relação com a instituição ficou explicitada no relato de Nasciutti et al
(2003) na qual os autores relatam que a relação individual com as instituições se
enraíza na identidade social, cultural e política, que se “realiza” na prática cotidiana,
mobilizando nos atores sociais investimento e representação, permitindo-lhes assim
se identificarem com o conjunto social. Perceber as dimensões essenciais dos
problemas, dos conflitos, dos processos de idealização e de alienação, dos
investimentos pessoais. Este conjunto de percepção, individual ou coletivo, pode ser
um caminho para a transformação da ação na comunidade, além de criar condições
para inovar e de buscar um conjunto de atividades prazerosas a cada um dos
participantes no processo de sobrevivência (NASCIUTTI et al, 2003).
Outro aspecto evidenciado, e que muitas vezes foi causa ou conseqüência
das alterações subjetivas abordadas acima, refere-se a influência da participação na
cooperativa na educação geral e ambiental. Não se pode negar o papel da educação
institucionalizada nas mudanças de concepção acerca de determinados assuntos
transversalizados, entretanto, devemos considerar que esta não é única.
A inserção de pessoas em cooperativas de reciclagem de lixo torna-se
uma forma eficaz de realizar trabalhos de Educação Ambiental (EA) discutida aqui
não em suas bases conceituais e, nos discursos infundados, que se baseiam em
pequenos manuais, com visão superficial dos problemas ambientais vividos na
atualidade, mas sim em uma mudança de postura perante a sociedade e o meio em
que vive.
A Educação Ambiental vem sendo praticada, na maioria das vezes, de
forma reducionista pautada na simples transmissão de conceitos. Este aspecto, além
de inserir uma visão limitada sobre o assunto não tem conseguido atingir os
pressupostos da EA na formação de indivíduos críticos e conscientes de seu papel
frente a busca da sustentabilidade, uma vez que o trabalho com resíduos, além de
proporcionar elevação do poder aquisitivo dos cooperados, cria uma nova
mentalidade sobre a urgência e importância da preservação ambiental.
A constatação da eficácia do processo de participação na cooperativa
sobre o processo educacional pode ser feita analisando os relatos dos cooperados
sobre as mudanças cotidianas. A partir do momento em que a EA deixa de ser
apenas discursiva e promove verdadeiras mudanças na vida das pessoas é que
passa a ser eficiente e duradoura e avaliar estas mudanças é uma das formas de se
verificar a eficiência dos trabalhos de EA.
“Educação ambiental pra mim, eu identifico como mudança de
hábito, por exemplo antes eu não preocupava com lixo, antes
eu não preocupava com a natureza, eu pensava que uma
árvore era simplesmente uma árvore”. (L.F.P.)
“Eu vejo que aquilo tudo que era lixo, a gente pode transformar,
se quiser transformar, agente pode, aprendi isso trabalhando
aqui, recolhendo o material na rua e ajudando a separar”.
(G.R.B.)
Insere-se, dessa forma, a necessidade de bases conceituais sobre as
quais a Educação Ambiental deve desenvolver-se com base na formação de
indivíduos críticos, emancipados e livres do domínio cultural. A educação deve
objetivar o desenvolvimento ideal da humanidade, com ênfase na autonomia e no
pensamento crítico (SAUVÉ, 1997).
A inserção deste modelo de educação exige alterações educativas
bruscas e profundas que não se limitam em reformas pedagógicas efêmeras na
práxis educativa atual e que busquem desenvolver um comprometimento
despertando no indivíduo uma postura em relação à problemática ambiental.
Nota-se neste estudo que esse papel da educação ambiental na busca
por indivíduos críticos, participantes e conscientes de seu papel, pode ser atingida
com a participação na cooperativa de reciclagem. Obviamente, o número é reduzido,
mas o papel desempenhado pelos cooperados, no conjunto da comunidade onde
moram, e suas ações como multiplicadores de idéias proporcionam uma melhoria na
vida de todos é extremamente significativa.
“A gente trabalha com o lixo e passa a fazer educação
ambiental dentro da casa da gente e na comunidade, é uma
maneira de vida”. (L.F.P.)
Devemos também considerar que o processo educacional com base na
participação cooperativista e no trabalho com resíduos apresenta vertentes que
passam por um processo de conhecimento, conscientização, sensibilização, (bases
de um processo educacional efetivo) e posteriormente a mudança de atitudes.
Abaixo seguem fragmentos dos relatos que respaldam essas colocações.
“Porque assim... por causa de dinheiro, não. Primeiro você tem
que se conscientizar, o que é o lixo, o que é reciclagem? Se
você entender isso você vai trabalhar ali com muito amor, com
carinho, você vai sentir a emoção de ver o lixo chegando e se
transformando, vê o produto final”. (MLRS)
“Eu queria ter o conhecimento a informação que eu tenho hoje
antes, eu fico olhando pra mim antes e hoje, eu não quero
voltar pra trás. A vida como mãe, como dona de casa, como
mulher, eu tenho que dar exemplo, isso influencia na formação
dos meus filhos, eu vejo que eu mudei muito, a minha vida
mudou, meu pensamento, minha consciência, mudei muito em
relação a tudo”. (M.L.R.S.)
Segundo Carvalho (2001) apud Zaneti (2003) é necessário que o fazer
educativo aconteça no sentido de acessar os valores ambientais da sociedade.
Assim, a educação funcionaria como uma “prática interpretativa, que desvela e
produz sentido e contribui para a constituição do horizonte compreensivo das
relações sociedade-natureza e para a invenção de um sujeito ecológico”.
Uma das grandes dificuldades da EA atualmente está no rompimento da
simples transmissão de conhecimentos e na incorporação de atitudes e valores
ambiental e socialmente conscientes. Quando esse processo é atingido é que se
tem as reais transformações na maneira de ver, pensar e agir sobre o ambiente em
que vive.
“Eu não tinha noção do que era reciclagem, mas hoje eu
entendo assim... é pegar um material que já foi utilizado e
transformar numa coisa nova, é muito importante porque em
torno de 90% do nosso resíduo é reciclável, então a partir do
momento que a gente faz o processo da reciclagem agente vai
ta deixando de tirar árvores, de abrir buraco pra tirar bauxita, de
ir pro aterro, e principalmente de ser retirado da natureza”.
(L.F.P.)
“ [...] à partir do momento em que você se conscientiza da
importância de separar o lixo, de você tá preocupado com a
camada de ozônio, então à partir do momento em que você se
conscientiza que eu tenho que cuidar do meio ambiente, aí é
meio caminho andado, aí você vai partir pra ação, não jogar lixo
na rua, fazer de tudo pra não complicar mais do que já ta e
passar isso pra outras pessoas”. (M.L.R.S.)
Nota-se nos fragmentos anteriores que não se trata apenas do “não dever
jogar lixo”, mas sim do contexto em que esta ação se insere como aquecimento
global e conservação dos recursos naturais. Porém, para atingir as mudanças
necessárias é preciso que haja uma transformação nas bases centrais desse
processo instaurado, isto é, uma transformação na forma que o ser humano se vê,
pensa, age e sente o meio no qual está inserido. Os resultados da presente
pesquisa demonstraram que é possível atingir essas mudanças, mas para isso é
necessário um envolvimento das pessoas diretamente no processo de forma que
participem e auxiliem nas mudanças necessárias.
“Eu acho que o trabalho da gente aqui é muito importante,
porque existindo a cooperativa você não vai encontrar na rua
latas, pets, vidro na rua pra cortar o pé, porque esse material é
recolhido pelo caminhão e pelo seu Rosalino na tobatinha”.
(EFSM)
“Hoje eu sinto até mal quando eu saio na rua e vejo lixo jogado,
me incomoda ver lixo jogado no lugar errado, ver que aquele
material vai ficar ali e que vai demorar anos na natureza pra
decompor, incomoda muito”. (L.I.P.)
“Eu sempre falo prá minha velha: “eu me sinto orgulhoso
disso, eu tô fazendo o futuro do meu neto. Eu acho isso bom
porque o meu neto vai usufrui isso, a minha filha menor vai
usufrui isso. Se eu tivesse colaborando em agredi mais e mais
a natureza, daqui a pouco não vai tê mais nada”. (G.R.B.)
Notou-se no presente estudo que essas mudanças com base na
transformação de práticas chamada ambientalmente corretas em práticas cotidianas
necessárias é possível através da inserção em trabalhos de reciclagem em
cooperativas. Esta inserção desenvolveu nos cooperados, atores deste estudo, além
de mudanças nas práticas cotidianas, uma maior sensibilização em relação aos
problemas ambientais.
“Parece que quando você muda dentro, o seu jeito de pensar,
você não consegue mais fazer coisas que fazia antes”.
(M.L.R.S.)
O fragmento do discurso acima demonstra de maneira clara que a
influência do processo participativo educacional ultrapassa a visão única da
reciclagem, abrangendo também questões complexas e indiretas como aquecimento
global e efeito estufa.
Pode-se sugerir que os conhecimentos adquiridos forma interiorizados
pelos cooperados e contribuíram de maneira direta para o desenvolvimento de uma
nova postura realista e profunda.
“Eu queria ter o conhecimento a informação que eu tenho hoje
antes, eu fico olhando pra mim antes e hoje, eu não quero
voltar pra trás. A vida como mãe, como dona de casa, como
mulher, eu tenho que dar exemplo, isso influencia na formação
dos meus filhos, eu vejo que eu mudei muito, a minha vida
mudou, meu pensamento, minha consciência, mudei muito em
relação a tudo”. (M.L.R.S.)
“É a pequena contribuição que agente ta dando pro nosso
planeta, as vezes é uma coisa tão pequenininha, que é o nosso
lixo do dia a dia na nossa casa, mas se milhões de pessoas
contribuir vai dar uma diferença grande”. (L.I.P.)
“O pessoal das casas sente a necessidade de separar esse
material pra ser trazido pra cá. Vê o pessoal recolhendo aí
então eles separam. Porque um caco de vidro na rua vai fazer
o que, vem uma criança e corta o pé, a enxurrada vem e leva o
lixo pra boca de lobo, acontece a inundação, então eu acho
que isso é uma das contribuições que a COOPREC dá”.
(EFSM)
A criação de novas concepções e a sensibilização dos cooperados
(percepção) constituiu neste estudo uma via da “ressignificação”, segundo a visão
de Nasciutti (2003), da problemática ambiental e do papel desempenhado por cada
indivíduo neste contexto ao provocar alterações significativas nas práticas cotidianas
influenciadas pela alteração nas concepções sobre resíduos sólidos. Abaixo seguem
alguns fragmentos indicativos dessas alterações.
“Antes de conhecer a COOPREC eu colocava tudo no lixo,
muita coisa que dá pra reciclar, eu colocava tudo no lixo pro
caminhão levar”. (A.M.P.)
“Agora eu sempre separo lá em casa, vou juntando, me
preocupo em não jogar material fora... Até aquelas latinhas de
cerveja, eu nem importava não. Mas hoje eu junto tudinho”.
(C.Q.S.R.)
“Agora na minha casa eu separo tudo, já sei o que pode
reciclar e o que não pode. Hoje eu sei que são materiais que
podem ser reaproveitados. Antes eu jogava tudo fora, agora eu
separo”. (J.V.C.)
“Há! Juntava o lixo lá em casa e jogava fora pro caminhão da
Comurg passar e levar. Agora mudou tudo, agente separa o
lixo lá em casa e trás pra cá”. (M.M.O.S.)
“Em casa a mulher junta tudo lá e fala eu vou por no lixo, eu
falo não isso aqui não é lixo”. (R.G.C.)
“Quebra um copo na minha casa, eu enrolo num jornal, coloco
em um saquinho mais resistente, e depois eu coloco no saco
de lixo, porque eu sei que tem uma pessoa que vai recolher e
que corre risco, e a vida dele é importante tanto quanto a
minha”. (L.F.P.)
“Lixo pra mim antes de eu vir pra cá... o lixo que eu gerava na
minha casa eu queria só me ver livre dele, mandava tudo pro
aterro. E pensava, agora eu to livre, não me importava”.
(M.N.O.S.)
Ficou explicitado, nestes fragmentos, a importância educacional da
COOPREC em alterações práticas que repercutem diretamente no bem estar de
todos os envolvidos no processo e na sociedade. Provocar estas mudanças tem sido
o grande desafio da EA que por ficar, na maioria das vezes, restrita a discursos sem
integrar a população no processo de mudança, limita-se a transmissão de valores.
Finalizando este capitulo destaca-se que a percepção dos cooperados em
relação a trabalho, moradia, relações na família, auto-estima, a saúde, entre outros,
acontece na execução do conjunto das atividades da COOPREC, nas atividades
com os resíduos sólidos e nas relações entre os cooperados.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao final deste estudo, pode-se perceber a importância da implantação da
cooperativa de reciclagem de resíduos sólidos (COOPREC) na região leste da
cidade Goiânia, como alternativa de formalização do trabalho, aumento da renda
para comunidade local e inserção de pessoas excluídas do mercado de trabalho por
vários motivos, como sexo, idade avançada, ou por serem muito jovens. Estas
observações estão de acordo com as possibilidades oferecidas por cooperativas
relatadas por Guimarães (1996) e Trevizan (2000) quando relatam que estas podem
ser uma alternativa ao trabalho informal fornecendo renda a grupos de trabalhadores
colocados a margem do mercado.
Dessa forma, a COOPREC pode ser ressaltada, não só como um recurso
de trabalho e renda local, mas como um exemplo que atende os pressupostos do
cooperativismo em usinas de reciclagem preconizados pelas diretrizes
cooperativistas.
A inserção nos princípios do cooperativismo, assim como no processo de
reciclagem trouxeram alterações significativas em vários aspectos da vida dos
envolvidos, considerados neste estudo como categorias de análise. Estas alterações
podem ser identificadas: como melhorias educacionais, ampliação da renda familiar
e, melhorias pessoais com a valorização e auto-estima. Estas categorias foram
indicativas de melhoria na qualidade de vida dos cooperados considerando a
abrangência e a relatividade do termo ampliando-o para além do acesso a bens
básicos, atingidos aspectos objetivos, pelo aumento da renda familiar, englobando
aspectos subjetivos como uma maior valorização pessoal, conforme relatado por
Minayo (2000), do grupo de cooperados e do próprio trabalho junto à cooperativa ao
despertar um sentimento de pertencimento de acordo com Nasciutti et al(2003).
Vale ressaltar, ainda, que quanto mais próxima é a relação do cooperado
na estrutura da COOPREC, e maior é o comprometimento com esta instituição,
maiores são as mudanças na qualidade de vida dos integrantes, fator que se pode
comprovar nos fragmentos selecionados e analisados no capitulo dois.
Além da melhoria na vida dos cooperados este processo participativo
atingiu de maneira expressiva a concepção dos cooperados em relação aos
problemas ambientais atuais com a conscientização dos cooperados e a sua própria
participação na solução destes problemas. Estes aspectos ficaram evidenciados em
vários relatos e caminham no mesmo sentido expresso por Zaneti (2003) ao relatar
que o fazer educativo se desenvolva no sentido de atingir os valores ambientais de
uma sociedade.
Os conhecimentos adquiridos pelos participantes da COOPREC, fruto do
trabalho com os resíduos sólidos, foram interiorizados e contribuíram para a
construção e consolidação de uma concepção ambiental realista e profunda,
atingindo o principal objetivo da Educação Ambiental, relacionado ao pensamento
crítico e inovador, buscando a transformação para a construção de uma sociedade
sobre pilares que preconizem o respeito ao meio em que vive. Dessa forma, a
educação sobre a importância, o valor e a necessidade de redução dos resíduos
gerados pelas atividades humanas surge como um aspecto de extrema importância
neste contexto.
Esta nova forma de conceber e lidar com essa problemática provocou
alterações diretas nas práticas cotidianas dos atores da pesquisa que passaram,
também, a atuar como multiplicadores de uma visão ambiental atual e necessária. A
construção de novas concepções condizem com o que Nasciutti et al(2003) vem
chamar de “uma via da “ressignificação” da problemática ambiental” que repercutem
em mudanças práticas cotidianas influenciadas por novas concepções criadas ao
que era vulgarmente denominado lixo.
Estes aspectos demonstram a importância da atividade de reciclagem e
da participação na cooperativa, não só como uma forma de buscar um ambiente
equilibrado, mas também como uma forma de inserção no mercado de trabalho e,
principalmente, valorização humana.
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ANEXOS
Roteiro das Entrevistas
1. O que significava lixo para você antes de integrar a Cooperativa?
2
. O que significa lixo para você hoje?
3
. Houve alguma mudança na sua vida e da sua família depois que passou a integrar
a Cooperativa? Em que aspectos?
4
. Qual era seu entendimento sobre meio ambiente antes de integrar a Cooperativa?
5
. Qual é seu entendimento sobre meio ambiente hoje?
Elaborado por: Ana Lucia Gomes Borges (2007).
Quadro 2 - Categoria de análise Aumento do Poder Aquisitivo, criada a partir dos
elementos identificados nas falas dos cooperados de acordo com a metodologia de
Bardin (1977) e Gomes (1994).
CATEGORIA: Aumento do Poder Aquisitivo
- Teve muita mudança, antes eu dependia só do meu marido, hoje eu não tenho
muito, mas agora eu tenho e posso ajudar na despesa de casa. (A.B.)
- Melhorou um pouco, agora não falta mais comida em casa. Mas agente trabalha só
pra comer mesmo. No começo quando eu vim pra cá era mais difícil, separar as
coisas, Agora eu to gostando de trabalhar aqui, é melhor do que trabalhar pros
outros. Aqui agente sente que faz parte. (L.B.)
- Houve mudança, os meninos tem a pensão do pai deles, eles ficam no programa
social que é o Peti, e o dinheiro deles eu pegava e fazia compras, agora eu não
preciso, com o dinheiro deles eu compro as coisinhas deles, roupa, calçado, que
agora meu dinheiro dá pra fazer as compras. (C.Q.S.R.)
- Era sempre meu marido que fazia tudo, agora eu ajudo uma parte porque ele vai
sair prá comprá uma coisa e já compra outra, eu ajudo com o supermercado e ele
paga prestação de lote. (A.A.B.C.)
- Economicamente, aqui na COOPREC se agente conseguisse vender tudo, dava
pra manter uma situação melhor. Como é uma cooperativa de reciclagem, os
produtos são muito baratos, então às vezes não dá pra gente manter uma situação
boa, mas com o que eu tiro aqui eu vivo. (M.N.O.S.)
- Eu vim pra cá, mudei e comecei a participar do projeto, que na época ara o Projeto
Meia Ponte, eu ainda morava de aluguel e com muita dificuldade a gente conseguiu
comprar um barraco. (M.L.R.S.)
- Aí quando eu mudei pra cá eu construí um barracão no lote do meu irmão, foi
também com o dinheiro daqui, depois eu passei a morar de aluguel, depois eu já
consegui comprar o meu lote, lógico que junto com meu esposo, e com a renda dele,
aí eu já construí a minha casa, isso tudo depois da Cooprec. Teve uma mudança
financeira e de conquista, até mesmo a construção da casa. (L.F.P.)
- Pra mim, eu trabalhei na Usina e me ajudou muito, ajudou financeiramente, eu tive
meu próprio dinheiro, é legal você ter seu dinheiro, poder gastar com o que quiser,
não ficar dependendo do marido. (M.L.R.S.)
- Além de você se conscientizar do meio ambiente, da saúde você também tem
aquela renda pra ajudar em casa, podendo dar alguma coisa pros seus filhos, por o
que comer dentro de casa. Então ajuda sim e todos que estão no projeto hoje tem
essa gratificação de ter participado. (M.L.R.S.)
- Eu quero chegar na minha casa cansado, mas ao mesmo tempo posso falar eu to
cansado, mas o meu dinheiro foi bem ganho. (R.G.C.)
- Quando eu vim prá cá eu tava com meu barracão quase penhorado de dívida de
IPTU, talão de luz e de água. Então o que eu ganhei de lá pá cá foi só prá por a vida
em dia mesmo. Melhorou porque deu prá fazer isso, mas assim... se eu tivesse uma
condição mais controlada eu poderia tá melhor, mas como eu tava com muita
dificuldade financeira, só consegui normalizar a minha vida, agora... eu não cresci,
não desenvolvi financeiramente não. A vantagem é que eu conclui alguns cursos e
ganhei mais experiência. (A.A.B.)
Elaborado por: Ana Lúcia Gomes Borges (2007).
Quadro 3 - Categoria de análise Ampliação das Possibilidades Profissionais, criada a
partir dos elementos identificados nas falas dos cooperados de acordo com a
metodologia de Bardin (1977) e Gomes (1994).
CATEGORIA: Ampliação das Possibilidades Profissionais
- Eu tava sem trabalhar, tinha muito tempo, e tava precisando muito, aí minha amiga
chamou e eu vim. (L.G.S.)
- A cooperativa aqui, eu acho que é o trabalho mais fácil que eu tive durante a minha
vida, ninguém tem que mandar em ninguém, todo mundo é dono, só que tem umas
regras, que tem que presta atenção e cumprir. (A.A.B.C.)
- Eu vim prá cá primeiro lugar porque eu tava desempregado a um ano e meio.
(O.S.V.)
- Eu ficava pensando... eu desempregado, ia juntar o útil ao agradável. O pessoal
falava, não isso não tem futuro não. Eu pensei , tem sim e entrei pro grupo. (R.G.C.)
- Então foi uma oportunidade de trabalho pra mim, inclusive foi meu primeiro trabalho
depois que eu mudei pra cá e tô até hoje. (L.F.P.)
- Eu já tava a muito tempo parado e com a minha idade eu não conseguia trabalho
em lugar nenhum, e já tava desesperado, pensando: ”que eu faço?”, minha mulher
aposentada. Aí surgiu a oportunidade de ser cooperado aqui, eu falei “eu topo ir prá
lá”. Eu vim prá cá, eu olhei isso aqui, falei: “isso aqui é uma locura”, já fui vendo a
luta, o idealismo das pessoas aqui dentro. (G.R.B.)
- Houve mudança na minha vida sim porque a Cooprec foi meu primeiro trabalho
aqui em Goiânia, então eu não sei te falar sobre a questão se eu tivesse conseguido
outro. (L.F.P.)
Elaborado por: Ana Lucia Gomes Borges (2007).
Quadro 4 - Categoria de análise Valorização Pessoal, criada a partir dos elementos
identificados nas falas dos cooperados de acordo com a metodologia de Bardin (1977)
e Gomes (1994).
CATEGORIA: Valorização Pessoal
- A gente que é mulher, depois que passa a ter responsabilidade cresce até a auto
estima, antes eu não sabia o que era isso. Aqui eu aprendi a me relacionar melhor
com as pessoas, eu era muito estourada, agora tenho mais paciência com os outros.
(A.A.B.C.)
- Teve muitas mudanças depois que eu vim pra cá, eu fiz muita amizade na
cooperativa, eu mudei muito meu jeito de ser, eu era muito tímida, e mudou muito
minha vida. (L.G.S.)
- [...] uma coisa que um homem dá conta de fazer, mulher tem que juntar em três prá
fazer, eu acho que o meu trabalho e o trabalho das minha colega tem que ser
bastante reconhecido. Mudou também porque dentro de casa eu ficava muito
estressada, agora não, agora já chego de noite, aí já dô banho nos menino, tomo
banho também, vô jantá , então nem tem jeito de brigar, então fico muito melhor. Eu
já trabalhei de doméstica, aqui é muito melhor porque aqui a gente sente mais à
vontade, agente sente aqui igual se tivesse na casa da gente. (A.A.B.C.)
- Mudou muita coisa, eu tenho mais experiência, aprendi a trabalhar em grupo, que é
uma coisa muito difícil. E agora com o passar do tempo eu já sei como lidar com
vários tipos de pessoas e de mentalidades diferentes, então acho que isso foi um
grande crescimento, se eu for trabalhar em outro lugar eu já sei trabalhar melhor com
as pessoas. (M.N.O.S.)
- Mudou na minha vida também a questão do interesse de querer aprender mais, na
cooperativa a gente acaba descobrindo que pra conseguir alguma coisa tem que ir à
luta mesmo. (L.S.O.)
- No financeiro não mudou muito não, porque a Cooperativa tá sempre passando por
dificuldade. Mas me ajudou muito na questão de relacionamento, eu aprendi muito.
Mudou minha forma de ver as coisas, financeiramente não mudou, mas a gente
acaba se apegando de uma tal maneira que não acha jeito de sair, pra você ver, eu
terminei meu curso de enfermagem já tem dois anos e meio e não tenho coragem de
sair, quando eu vejo as dificuldades eu sempre acho que poderia fazer mais pra
ajudar, eu não quero sair da cooperativa e deixar as coisas do jeito que tão. Quando
a gente vê as coisas difíceis, a gente acaba pensando... poxa eu vou sair e deixar
meus colegas, eu sei que embora eu não faça tanto pela cooperativa mas eu sei que
se eu sair eu vou fazer falta. (L.S.O.)
- Hoje eu to na faculdade, isso foi graças a participação na cooperativa, eu fui me
conscientizando, eu abri a minha mente, e vi a importância do estudo, então voltei a
estudar, terminei o primeiro grau, depois fiz o segundo grau, fiz o ENEM e hoje eu
tenho uma bolsa, faço Educação Física, to gostando do curso, e eu não quero parar
por aí não, quero dar continuação. (M.L.R.S.)
- Acho que a cooperativa é muito importante, eu moro ali na beirada do mato, o lixo
era tudo jogado lá, agora o povo não ta jogando mais não. (G.S.M.)
- Mudou muita coisa, fiz vários cursos, aprendi muita coisa. Me sinto bem aqui, mas
eu vou sair, porque aqui ganha muito mal. (M.M.O.S.)
- Eu acho que é importante o meu trabalho porque tem muita gente aqui que fala que
na área do plástico não fica um homem, em compensação as mulher que trabalha lá
tem nenhuma querendo sair de lá não. (A.A.B.C.)
- Eu participei disso tudo, e vejo hoje o tanto que eu cresci, como mulher, como
esposa, como mãe, eu cresci muito como pessoa. (M.L.R.S.)
- A diferença aqui é que eu me senti mais a vontade, não porque eu queria ficar
enrolando, mas porque eu senti que eu era uma pessoa a mais, subi um grau, me
senti dono aqui, uma coisa que eu não podia imaginar. Eu me sinto dono aqui,
apesar de ter divergência aqui, de às vezes não ter autonomia, mas eu sinto ainda
como dono. (R.G.C.)
- Eu vejo que o meu trabalho é importante, eu não estabeleço horário, eu posso
chegar aqui seis horas, posso sair daqui sete horas, saio satisfeito sabendo que eu
contribui com a minha parte. (R.G.C.)
- [...] participei de todo processo até fundar a cooperativa, de reuniões, cursos,
participei de tudo, então foi muito legal, eu aprendi muito com isso, eu tava tentando
sair de uma depressão e ao mesmo tempo eu empolguei, eu gostei, me ajudou
bastante, hoje eu sou o que eu sou devido a ter participado naquela época e com
isso eu não parei. (M.L.R.S.)
- [...] eu aprendi é que a gente não deve ficar dentro de casa, tem que correr atrás,
porque às vezes a gente reclama muito das coisas mas não procura, eu aprendi isso
e eu continuo assim procurando algum curso, onde tem. (M.L.R.S.)
- Hoje eu sei, eu conheço meus direitos, sei questionar eles e sei correr atrás
também, hoje eu to vivendo uma outra vida, pra mim o que passou, passou, e eu
quero dar continuação, quero crescer, quero olhar pra frente, eu tenho um objetivo, e
vou correr atrás dele. Pra mim foi graças a eu ter entrado pra cooperativa. (M.L.R.S.)
- Aí chegava final de semana eu ia pras bibliotecas fazer pesquisa, me apaixonei
mesmo, porque eu gosto demais da natureza, então tudo que vem da natureza eu
gosto muito. (L.I.P.)
- [...] eu tava vendo um curso tecnológico da Universidade Católica, sobre Gestão
A
mbiental, e eu to querendo participar desse curso. Começou pelo fato de eu ter
voltado a estudar, isso já transformou um pouco a minha vida, eu ter voltado a
estudar parece que vai abrindo mais o horizonte da gente, não fica mais naquela
dependência de achar que os outro é que tem que fazer as coisas pra gente, a gente
já vai em busca. (L.I.P.)
- Eu sou muito apegada com meus filhos até hoje, mas já consegui superar isso, eu
não fazia nada sem comunicar com eles, não viajava nem nada, agora já viajei várias
vezes, já viajei até de avião várias vezes. Então isso melhora muito a vida da gente,
e o fato de ser mais determinada. Hoje eu já sei me impor, hoje eu já procuro as
coisas que eu quero, eu quero eu vou à luta. (L.I.P.)
- Então aqui prá nós é como se fosse uma família, eu acho bom que agente passa a
convivê e todo mundo da região gosta do trabalho da gente, do jeito da gente
trabalhar, na rua o pessoal já conhece a gente, cada dia vai aumentando o número
de amizade. (G.R.B.)
-
É
claro que o dinheiro é importante pra mim, mas se tivesse o dinheiro e não
tivesse esse resgate, eu não taria aqui hoje, porque o dinheiro eu vou ganhar em
outro lugar, com certeza, mas esse convívio, por exemplo, as vezes a cooperativa ta
com uma dificuldade tão grande, e as pessoas ta sorrindo, ta brincando, e eu não
consigo vê isso em outros lugar de trabalho. (N.R.V.)
- Influenciou também na questão de estudo, quando eu comecei na Cooprec eu tinha
5ª série, e após eu começar na Cooprec houve a necessidade de eu passar pra
direção, a partir do momento que eu passei pra direção eu ainda tinha 5ª série, e é
difícil, hoje você tendo uma formação na área de administração não é fácil, imagina
você tendo só 5ª série. Então à partir do momento que eu passei prá direção eu
voltei a estudar, e foi uma necessidade ótima, hoje eu já posso conquistar outros
campos, foi o trabalho aqui que me fez sentir essa necessidade e hoje eu tenho
outras opções de campo de trabalho, por causa do que? Da Cooprec. (L.F.P.)
- O que mudou na minha vida foi muita vontade de viver novamente, eu já tinha
perdido a vontade, eu ficava em casa olhando o tempo, o pessoal passando. Eu
comentava com a minha velha, será que agora eu só sirvo prá cuidar do meu neto?
Capinar quintal, lavar cachorro... Mas a minha vida não é assim, eu gosto de tá
assim atuando no meio dos outro, de trabalhar com as pessoas. (G.R.B.)
- Porque a partir do momento que eu comecei a trabalhar no meu próprio negócio eu
sabia que eu tinha que aprender algo mais, porque só o meu conhecimento era
muito pouco, e pra mim aprender eu teria que voltar pro colégio, que foi o que
aconteceu, e hoje graças a Deus eu terminei o ensino médio, e já to fazendo outro
curso. (L.F.P.)
- Eu achei bom, achei interessante essa visão de trabalhar assim, e hoje eu tô aí
participando, sô respeitado na onde eu moro, o pessoal olha com carinho, com
respeito o meu trabalho. Eu me sinto orgulhoso disso. (G.R.B.)
- Mas eu acho que assim, o que me segura muito aqui é a questão da convivência
humana, eu acho que eu aprendi a amar as pessoas, a aceitar elas do jeito que elas
são. (N.R.V.)
- Porque eu acho que a auto estima da gente, se não fizer nada, agente perde tudo.
Tenho o carinho do meu neto, da minha filha, o respeito do meu genro, muito é por
esse trabalho aqui. (G.R.B.)
- Tem o conhecimento também, a experiência, os cursos que eu fiz, eu fiz muitos
cursos no Sebrae. (N.R.V.)
- Eu sinto assim, orgulhoso mesmo do meu trabalho, e dô força prá esses novato
que entra, eu falo: “ó gente é melhor tá aqui do que tá na rua”, eu não falo que tem
que ficá aqui a vida toda não, se arranjá outra coisa melhor e tiver firme, vai
embora. (G.R.B.)
- É muito diferente trabalhar como cooperada, pra mim trouxe mais responsabilidade,
antes eu trabalhava de empregada, cuidava de criança em uma creche e não tinha
ainda despertado a necessidade de voltar a estudar, é algo que eu adorei ter
conquistado, e isso veio através da Cooprec pra mim. (L.F.P.)
- Quando eu cheguei aqui eu achava esse pessoal tudo doido, eu falei esse povo é
louco, no meio desse lixo aí, todo mundo alegre assim. Aqui é um ambiente muito
bom, o respeito de um pelo outro. (G.R.B.)
- Eu acho que cada pessoa que trabalha aqui é importante, eu acho que meu
trabalho é importante porque eu sempre procurei desenvolver da melhor maneira
possível, e se eu to aqui até hoje é porque as outras pessoas tão satisfeitas. (L.S.O.)
- Mudô bastante o relacionamento lá em casa, agora nóis pára prá conversar. Antes
eu ficava quieto no canto, e a coisa que mais me doía era quando eu corria atrás de
trabalho, eu já trabalhei em almoxarifado, portaria de prédio, uma série de trabalho,
mas quando eu chegava e as pessoas procurava minha idade e falava: ”não você tá
velho”. (G.R.B.)
- Eu acho que é importante o trabalho da equipe, não só o meu trabalho, mas o da
equipe, porque uma pessoa sozinha não vai conseguir fazer muita coisa. (J.V.C.)
- [...] eu tenho consciência que as vezes eu trabalho mais que os outros, mas eu
trabalho satisfeito. (R.G.C.)
- Como cooperado aqui, você ajuda a construir, ajuda muito, e nas empresa de
ônibus você não constrói nada, porque eu trabalhei mais com empresa de ônibus,
né? (O.S.V.)
- E cooperativa você tem que correr atrás, você é dono, você tem que colocar o
cooperativismo na veia. Eu me transformei por causa disso, eu não estudava, voltei a
estudar, eu não tinha curso nenhum, passei a fazer cursos, agente para de ficar
olhando só pra embaixo do nariz e passa a olhar pra frente. (M.L.R.S.)
- Faz diferença a COOPREC aqui também porque agora as pessoas tão olhando
aqui com outros olhos, tem muita gente querendo entrar pra cooperativa. Eu to aqui
até hoje porque eu acredito que vai melhorar. (M.N.O.S.)
- Quando eu comecei a trabalhar na Usina eu tinha apenas a quarta série, aí como
agente sempre tinha que receber gente de fora, e trabalhar com professores, eu
comecei a ver a necessidade de melhorar um pouco, até mesmo pra conversar, aí eu
voltei pra escola, fiz o supletivo do primeiro grau, terminei, fiz o do segundo grau, eu
já tinha 48 anos quando voltei a estudar. (L.I.P.)
- Eu agradeço demais a cooperativa, por eu tá aqui, minha vida melhorô demais. Eu
não aguento ficá em casa não, eu falo lá prá minha velha: “se eu ficasse aqui dentro
eu já tinha adoecido”, eu tava ficano doente mesmo. (G.R.B.)
- [...] aprendi a reivindicar meus direitos, que eu não tinha coragem, eu era muito
tímida, aprendi a olhar nos olhos das pessoas, que às vezes eu não olhava, né?
Várias coisas eu consegui. Humanamente eu to realizada, eu não reclamo de
financeiramente não, de não ter, agora humanamente eu acho que vale a pena, o
ganho pessoa é muito maior do que o financeiro, nem se compara. (N.R.)
- Acho que o importante é não ficá dependendo dos outros, eu gosto de fazê as
coisa e eu tenho que tá participando. (G.R.B.)
- Na hora que você vai trabalhar que você vai lidar com as pessoas, e tem que
aprender a lidar com o diferente, isso que é o difícil e que é o mais interessante que
eu acho, lidar com pessoas diferentes. (L.F.P.)
- Minha vida melhorou porque eu tava em casa sem trabalho, ficar em casa parada é
muito ruim, de vez em quando fazia uns bico, mas não é bom não. Trabalhando aqui
é melhor pra mim porque eu tenho dois filhos pequenos pra cuidar. Aqui também tem
duas horas de almoço, eu posso ir pra casa, que eu moro aqui pertinho. (C.Q.S.R.)
- Porque eu acho assim, que o aprendizado é de acordo com a necessidade, você
necessita, você aprende, é igual por exemplo quando você vai mexer em numa
máquina, você não sabe mexer nela, mas se você tiver que aprender, porque seu
ganha pão é ela, você vai aprender, vai prestar mais atenção e vai aprender. (N.R.)
- É... mudou minha vida. O que eu consegui de positivo é que eu conclui o segundo
grau e fiz alguns cursos. Mas assim... financeiramente a cooperativa não favoreceu
muita coisa não, porque assim... só mesmo o básico, porque a renda na cooperativa
toda vida foi pouca. (A.A.B.)
Elaborado por: Ana Lúcia Gomes Borges (2007).
Quadro 5 - Categoria de análise Processo Educacional e Mudanças nas Práticas
Cotidianas, criada a partir dos elementos identificados nas falas dos cooperados de
acordo com a metodologia de Bardin (1977) e Gomes (1994).
CATEGORIA: Processo Educacional e Mudanças nas Práticas Cotidianas
- Aqui a gente aproveita tudo, eu nunca imaginava que de papelão fazia artesanato,
fazia telha, que do plástico fazia grânulo. Faz sacolinha, garrafa novamente, então
tudo aproveita no lixo..... Antigamente tinha várias latinhas jogadas, agora não, e ele
não ta prejudicando o meio ambiente, quando chove não vai mais pro esgoto, não vê
mais pet jogado na rua. (M.M.O.S.)
- Antigamente eu falava lixo, hoje eu não falo lixo, é um ganha pão, uma opção de
vida. O pessoal fala lixo, eu não acho que é lixo. Hoje praticamente não existe lixo,
não joga nada fora, tudo pode reciclar. Eu só falava lixo, mas agora não.(R.G.C.)
- Eu não tinha noção do que era reciclagem, mas hoje eu entendo assim... é pegar
um material que já foi utilizado e transformar numa coisa nova, é muito importante
porque em torno de 90% do nosso resíduo é reciclável, então a partir do momento
que a gente faz o processo da reciclagem agente vai ta deixando de tirar árvores, de
abrir buraco pra tirar bauxita, de ir pro aterro, e principalmente de ser retirado da
natureza. (L.F.P.)
- Acho que se você recicla, você ajuda a preservar o meio ambiente, tem vários
materiais, por exemplo lata, se você joga fora demora anos pra decompor, e
reciclando não vai jogar na meio ambiente. (J.V.C.)
- [...] à partir do momento em que você se conscientiza da importância de separar o
lixo, de você tá preocupado com a camada de ozônio, então à partir do momento em
que você se conscientiza que eu tenho que cuidar do meio ambiente, aí é meio
caminho andado, aí você vai partir pra ação, não jogar lixo na rua, fazer de tudo pra
não complicar mais do que já ta e passar isso pra outras pessoas. (M.L.R.S.)
- Eu queria ter o conhecimento a informação que eu tenho hoje antes, eu fico
olhando pra mim antes e hoje, eu não quero voltar pra trás. A vida como mãe, como
dona de casa, como mulher, eu tenho que dar exemplo, isso influencia na formação
dos meus filhos, eu vejo que eu mudei muito, a minha vida mudou, meu pensamento,
minha consciência, mudei muito em relação a tudo. (M.L.R.S.)
- Eu penso assim... por causa de dinheiro, não. Primeiro você tem que se
conscientizar, o que é o lixo, o que é reciclagem? Se você entender isso você vai
trabalhar ali com muito amor, com carinho, você vai sentir a emoção de ver o lixo
chegando e se transformando, vê o produto final. (M.L.R.S.)
- Pra trabalhar na reciclagem de lixo você tem que saber o que é lixo, tem que saber
o que é reciclagem e tem que se transformar. Se você não consegue se transformar
você não consegue, e nada vai pra frente. (M.L.R.S.)
- As pessoas não dão valor, as pessoas pensam..ah! lixo!... Que nada. A minha vida
foi transformada pelo lixo. Quando eu entro lá na Usina eu sinto aquilo lá é parte de
mim. (M.L.R.S.)
- Hoje eu sinto até mal quando eu saio na rua e vejo lixo jogado, me incomoda ver
lixo jogado no lugar errado, ver que aquele material vai ficar ali e que vai demorar
anos na natureza pra decompor, incomoda muito. (L.I.P.)
- É a pequena contribuição que agente ta dando pro nosso planeta, as vezes é uma
coisa tão pequenininha, que é o nosso lixo do dia a dia na nossa casa, mas se
milhões de pessoas contribuir vai dar uma diferença grande. (L.I.P.)
- Eu sempre falo prá minha velha: “eu me sinto orgulhoso do meu trabalho, eu tô
fazendo o futuro do meu neto. Eu acho isso bom porque o meu neto vai usufrui isso,
a minha filha menor vai usufrui isso. Se eu tivesse colaborando em agredi mais e
mais a natureza, daqui a pouco não vai tê mais nada. (G.R.B.)
- Agente trabalha com o lixo e passa a fazer educação ambiental dentro da casa da
gente e na comunidade, é uma maneira de vida, e vê que pode ser reaproveitado.
(M.M.O.S.)
- Então até a maneira de armazenar, por exemplo, um copo quebrava a gente
colocava simplesmente na sacola, porque não seria eu que iria pegar, na verdade
nem pensava se ia machucar, não tava preocupada com a vida do próximo, e hoje
não, hoje graças a Deus eu preocupo. (L.F.P.)
- Mudou muito minha vida, em relação a antes da cooperativa, hoje tudo que eu vejo
tem um valor, se eu vejo papel na rua eu penso na cooperativa, que aquilo ali é
alguma coisa que poderia ta ajudando. (L.S.O.)
- Educação ambiental é aquela educação que você adquire a partir do conhecimento
que você tem de preservação do meio ambiente. Eu entendo que é assim, a partir do
momento que eu tenho consciência daquilo que eu to fazendo, do que possa ta
ajudando na preservação, eu acho que isso de certa forma é educação ambiental.
(L.S.O.)
- Meio ambiente é o meio que nós vivemos, independente de ser na minha casa, no
meu trabalho, qualquer lugar que eu esteja, nós né?
É
o meio ambiente. E é
responsabilidade de todos nós, não só de a ou b, se cada um fizer a sua parte com
certeza a gente vai ter um mundo melhor. (L.S.O.)
- Meio ambiente é cuidar da natureza, preservar, não jogar material em qualquer
lugar, colocar na sacolinha para o coletor passar e pegar. Aprendi o que é lixo seco,
lixo orgânico, a separar o material, antes eu não sabia isso. (A.A.B.C.)
- Eu acho importante esse trabalho que a gente faz aqui, porque a gente ajuda a tirar
muito material da rua, que ia tudo pra boca de lobo, entope tudo, depois dá uma
chuvinha e inunda tudo. Se cada um fizesse sua parte melhorava muito. (A.M.P.)
- É muito importante o trabalho que a cooperativa faz. Aqui agente contribui muito
com a natureza, tirando o lixo da rua. Contribui muito com as pessoas. (L.G.S.)
- Eu acho que o trabalho da gente aqui é muito importante, porque existindo a
cooperativa você não vai encontrar na rua latas, pets, vidro na rua pra cortar o pé,
porque esse material é recolhido pelo caminhão e pelo seu Rosalino na tobatinha.
(E.F.S.M.)
- O pessoal das casas sente a necessidade de separar esse material pra ser trazido
pra cá. Vê o pessoal recolhendo aí então eles separam. Porque um caco de vidro na
rua vai fazer o que, vem uma criança e corta o pé, a enxurrada vem e leva o lixo pra
boca de lobo, acontece a inundação, então eu acho que isso é uma das
contribuições que a COOPREC dá. (E.F.S.M.)
- Meio ambiente antes de vir pra cooperativa não significava nada, nem sabia o que
era não. Agora pra mim meio ambiente é tudo, é a rua, a casa da gente, é todo lugar.
Que agente precisa cuidar. (C.Q.S.R.)
- Meio ambiente, eu quase não sabia sobre o meio ambiente, vim sabe aqui. Eu
ouvia fala na televisão, “ah! Não sei o, não sei o que do meio ambiente” , não
entendia o que era não. Agora não, eu vejo que eu tenho que começar a fazer o
meio ambiente prá mim mesma e pros meus filho e prá qualquer uma pessoa. Se eu
não previni que destrói o meio ambiente, e ninguém cuidar, daqui pouco tempo
acaba tudo, e foi agente que destruiu ele. (A.A.B.C.)
- Reciclagem eu não entendia, então não tinha nenhuma importância. Hoje a
reciclagem é mais uma maneira da gente tá despoluindo a natureza, o meio
ambiente, com a reciclagem a gente não joga mais o lixo no lixo, nem na rua, eu
mando pra reciclagem, aqui a gente faz todo o processo e depois comercializamos.
(M.M.O.S.)
- Meio ambiente é o local onde agente convive. Aqui na Cooprec pra nós é o meio
ambiente, na nossa casa que agente tem que manter tudo limpo, a rua não deixar
j
ogar lixo na rua pra não entupir o esgoto, rua é meio ambiente, nós, não poluir os
rios, pra mim é meio ambiente, tudo faz parte do meio ambiente. (M.M.O.S.)
- Meio ambiente pra mim... mudou muito, antes eu não me importava, quando via lixo
na rua eu não ligava, agora, a partir do momento que eu to na cooperativa eu não
posso ver nada na rua, eu vou lá e pego, porque se eu deixar eu vou estar
contribuindo com a poluição. (M.M.O.S.)
- Eu acho que a COOPREC é importante pra comunidade, porque nós somos uma
pequena equipe que está tentando passar para as pessoas a importância da
educação ambiental, também é importante porque tá gerando renda pra própria
comunidade. E fazendo a reciclagem a gente tá evitando esse material jogado no
meio ambiente. (M.M.O.S.)
- Eu acho que faz diferença a COOPREC aqui no bairro, a gente vê que agora o
povo ta separando o lixo, o lixo ta mais fácil de triar. Antes eles não separava, vinha
o lixo molhado, agente tinha que separar, era tudo misturado, era muito mais difícil
separar. Agora ta todo mundo separando direitinho. (M.M.O.S.)
- Meio ambiente pra mim é a natureza em geral, é tudo, é a gente, tudo faz parte do
meio ambiente, o lugar. Principalmente eu que nunca gostei de cidade, sempre
gostei de ta no lugar com verde, de mato. (R.G.C.)
- A COOPREC contribui muito no conhecimento que passa, na importância do
trabalho, do meio ambiente, pra não jogar material no meio ambiente, na natureza,
passa conhecimento sim. (R.G.C.)
- Quando iniciou aqui ninguém sabia nada, era nu e cru, não sabia o que era meio
ambiente, natureza pra ele era só mato, aí o trabalho da COOPREC foi importante
demais na vida de muitos, pra passar pra eles a importância do meio ambiente.
(R.G.C.)
- O comportamento das pessoas mudou muito depois do trabalho da cooperativa, as
vezes tinha pessoa fechada que falava, “que isso, eu vou plantar árvore?”, mas
depois a gente começava a fazer o trabalho, um grupo alegre, entusiasmado, a
pessoa que tava lá dentro parece que sentia envergonhado e saia, saia pra junta a
nós, e ajudar. (R.G.C.)
- Eu acho que o trabalho que a COOPREC tem com a região, ele é importante
porque o seguinte, a pessoa as vezes não tinha noção de nada, e a cooperativa faz
o trabalho de conscientizar eles, e então começava a entrosar e passa a contribuir,
ajudar a separar o lixo e conscientizar outras pessoas. (R.G.C.)
- Muita coisa que eu num sabia, que era reciclável, que eu jogava fora, colocava pro
caminhão da prefeitura levar, hoje eu já não faço mais, mesmo depois que eu mudei
prá cá, eu via os caminhão passando na porta de casa. Mudou isso aí prá mim,
porque coisas que eu não sabia que aproveitava, que reaproveitava no caso, né?
Hoje eu sei. (O.S.V.)
- Reciclar é reconstituir, refazer. Por exemplo o jornal velho, ele vai ser reciclado, vai
voltar a ser uma coisa nova. O plástico por exemplo, uma bacia de plástico, ela tá
quebrada, vai prá reciclagem e volta uma bacia nova novamente. (O.S.V.)
- Eu acho que meio ambiente é o lugar onde agente tá, é o nosso trabalho de
separar o material, cuidar, manter limpo ta ajudando cuidar do meio ambiente.
(C.C.R.)
- [...] com relação à educação ambiental, em relação ao lixo, as pessoas tomaram
consciência, não totalmente, mas eu vejo que melhorou bastante com relação à
separação do lixo, o que é lixo seco, porque houve vários eventos pra conscientizar
essa comunidade da importância do lixo, então mudou muito, precisa melhorar, mas
as pessoas mudaram sim, o bairro ficou mais limpo, precisa dar continuidade, porque
conscientizar o ser humano hoje não é fácil, é aos poucos, mas pelo que teve hoje
as pessoas estão mais conscientizadas. (M.L.R.S.)
- Eu nem sabia o que era meio ambiente antes de participar. Hoje eu vejo a
importância do nosso meio ambiente, eu acho que primeiro tem que começar de
dentro, de dentro da gente, você tem que mudar primeiro seu ambiente, a sua
maneira de pensar, de agir, o seu interior. (M.L.R.S.)
- Quem se reciclou mesmo sente essa emoção, pensa puxa aquela sacolinha que
tava ali jogada virou isso, aquele papel jogado na rua virou telha, é muito bonito.
(M.L.R.S.)
- Antes eu não entendia nada de reciclagem, hoje eu sei que primeiro a reciclagem
ela tem que passa primeiro por dentro da gente, a transformação, reciclagem pra
mim é uma transformação, se você não transforma por dentro, se você não se
recicla, não vai consegui entende nada do que ta aí fora. A reciclagem é isso, é a
transformação interior. (M.L.R.S.)
- Meio ambiente pra mim antes não significava. Eu não pensava, não preocupava
com a rua se tava suja, esse negócio do pessoal falar da água, que ia acabar a
água, que a água ta acabando, que tinha que economizar energia, eu achava que
isso tudo era bobagem. Depois que agente aprende que isso realmente é diferente,
agora com o meio ambiente eu preocupo mais com o que eu posso, não fico
pensando lá na Amazônia ta acontecendo isso, lá no rio São Francisco ta
acontecendo isso, eu quero saber o que eu posso fazer é aqui dentro da minha casa,
porque não adianta eu preocupar lá longe, se eu não preocupo aqui perto. (L.I.P.)
- Eu penso assim, não adianta eu ficar aqui chorando porque a Amazônia ta
acabando, que o rio São Francisco tá sendo poluído, que o nosso Meia Ponte tá
poluído, se na minha casa eu não faço nada. (L.I.P.)
- Eu acho que o que ta faltando, que o precisa é ser mais enérgico com a educação
ambiental nas escolas, tem que começar pela escola, enquanto os meninos são
meninos ainda. Eu acho que a educação ambiental tem que fazer parte da ciência,
da biologia, da geografia, da história, tudo ter a educação ambiental dentro, não
precisava ser uma matéria exclusiva, que já tem tantas, mas incluir ela dentro dessas
outras, arranjar um jeito de colocar ela dentro, pra poder as crianças desde
pequenas já ir tendo consciência do que tem que fazer pra melhorar, pra ir
construindo essa consciência desde pequeno. (L.I.P.)
- Então por exemplo, tá falando muito agora do aquecimento global, isso ta na cara,
ta visível pra todo mundo, só não vê quem não quer, eu acho que isso não tem como
reverter, mas tem como parar, pra não ficar pior do que ta. E se não for desde o
início, desde as pequenas ações, não adianta querer fazer uma grande. Por isso eu
acho que tem que ser com os meninos dentro de sala de aula, educando nossos
filhos, nossos netos desde pequenos. (L.I.P.)
- A administração é um trabalho que qualquer um dá conta de fazer, agora a
educação ambiental é mais difícil, a pessoa pra trabalhar com educação ambiental,
isso tem que ta dentro dela, ou então, não dá conta não. (L.I.P.)
- Meio ambiente pra mim antes deu vir pra Cooprec era coisas bonitas, eu via como
se só a árvore... a árvore é importante, alguma coisa muito simples e quem tinha
que cuidar era o governo, de Ibama... Hoje eu sei que não, que meio ambiente é
responsabilidade de todos. (L.F.P.)
- Hoje meio ambiente pra mim é cuidar do bem estar da natureza e das pessoas,
porque a partir do momento que vem o meio ambiente é que eu posso ter um bem
estar melhor, não só eu e sim todos.
É
obrigação pra mim hoje, obrigação minha,
dos meus filhos, do meu esposo, do meu vizinho e de todos pra quem eu conseguir
repassar a importância. (L.F.P.)
- Quando agente conhece a gente sente obrigação de ensinar os outros. Meio
ambiente pra gente hoje é tudo.
É
tudo porque a partir do meio ambiente é que você
pode ter uma vida saudável. A partir do momento que você conhece, você sabe do
que ta falando e sabe da importância, porque se você não sabe da importância é
uma coisa qualquer. A partir do momento que você sabe da importância você passa
isso pra outras pessoas, e passa muito feliz pro próximo, porque você ta falando de
algo que vai fazer bem pra todos, diretamente e indiretamente pra todo mundo.
(L.F.P.)
- Educação ambiental pra mim, eu identifico como mudança de hábito, por exemplo
antes eu não preocupava com lixo, antes eu não preocupava com a natureza, eu
pensava que uma árvore era simplesmente uma árvore. (L.F.P.)
- Eu vejo que aquilo tudo que era lixo, a gente pode transformar, se quiser
transformar, agente pode, aprendi isso trabalhando aqui, recolhendo o material na
rua e ajudando a separar. (G.R.B.)
- Na verdade eu nem conhecia meio ambiente antes deu entrar, né? Eu pensava
assim, meio ambiente é aquele local onde eu tava, a minha casa, eu limpar e não
deixar juntar sujeira e pronto, quer dizer a rua pra mim não era preocupação minha
não, eu achava, hoje não, hoje por exemplo se eu to no ponto de ônibus, eu to
preocupada com aquele que ta jogando lixo fora, eu to passando na rua já to
preocupada com o lixo que ta jogado e vai entupir as boca de lobo, porque eu sei
que isso vai danificar as coisas, e não é só eu, os outros vão ser prejudicado
também. (N.R.V.)
- Meio ambiente pra mim hoje é o lugar que agente convive, por exemplo se eu to
aqui, eu to no meio ambiente, se eu to lá na escola eu to no meio ambiente, se eu to
na minha casa eu tô, em qualquer lugar que eu tive é meio ambiente. E ele vai
melhorar ou piorar dependendo das pessoas que vive ali. Se cada pessoa em
Goiânia começar a cuidar do seu lugar, plantar uma árvore, cuidar do lugar, nós
vamo ter futuramente um meio ambiente agradável, se cada um começa a destruí o
meio ambiente que tem, vai acaba tudo rapidinho. (N.R.V.)
- Depois que eu comecei a separar as coisas lá em casa, melhorou demais da conta,
agora eu coloco no cestinho e o outro no saco pra levar pra Cooprec. Agora não tem
mais aquela entulheira pra por pra fora. (A.M.P.)
- Antes de conhecer a Cooprec eu colocava tudo no lixo, muita coisa que dá pra
reciclar, eu colocava tudo no lixo pro caminhão levar. (A.M.P.)
- Agora eu sempre separo lá em casa, vou juntando, me preocupo em não jogar
material fora... Até aquelas latinhas de cerveja, eu nem importava não. Mas hoje eu
junto tudinho. (C.Q.S.R.)
- Agora na minha casa eu separo tudo, já sei o que pode reciclar e o que não pode.
Hoje eu sei que são materiais que podem ser reaproveitados. Antes eu jogava tudo
fora, agora eu separo. (J.V.C.)
- Há! Juntava o lixo lá em casa e jogava fora pro caminhão da Comurg passar e
levar. Agora mudou tudo, agente separa o lixo lá em casa e trás pra cá. (M.M.O.S.)
- Quebra um copo na minha casa, eu enrolo num jornal, coloco em um saquinho
mais resistente, e depois eu coloco no saco de lixo, porque eu sei que tem uma
pessoa que vai recolher e que corre risco, e a vida dele é importante tanto quanto a
minha. (L.F.P.)
- Lixo pra mim antes de eu vir pra cá... o lixo que eu gerava na minha casa eu queria
só me ver livre dele, mandava tudo pro aterro. E pensava, agora eu to livre, não me
importava. (M.N.O.S.)
Elaborado por: Ana Lúcia Gomes Borges (2007).
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