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CECÍLIA DE CARVALHO FERREIRA
ELETROCARDIOGRAFIA PRÉ-OPERATÓRIA EM CÃES
ATENDIDOS NO HOSPITAL VETERINÁRIO DA UNIVERSIDADE
FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO
RECIFE
2007
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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO
CECÍLIA DE CARVALHO FERREIRA
ELETROCARDIOGRAFIA PRÉ-OPERATÓRIA EM CÃES
ATENDIDOS NO HOSPITAL VETERINÁRIO DA UNIVERSIDADE
FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-graduação em Ciência Veterinária da
Universidade Federal Rural de
Pernambuco como requisito final para
obtenção do grau de Mestre em Ciência
Veterinária.
Orientação: Prof. Dr. Eduardo Alberto
Tudury
RECIFE
2007
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Ficha catalográfica
Setor de Processos Técnicos da Biblioteca Central – UFRPE
CDD 636. 708 961 2
1. Eletrocardiograma
2. Pré-operatório
3. Arritmias
4. Cães
I. Tudury, Eduardo Alberto
II. Título
F383e Ferreira, Cecília de Carvalho
Eletrocardiografia pré-operatória em cães atendidos no
Hospital Veterinário da Universidade Federal Rural de
Pernambuco / Cecília de Carvalho Ferreira. -- 2007.
53 f. : il.
Orientador : Eduardo Alberto Tudury
Dissertação (Mestrado em Medicina Veterinária) - Uni
versidade Federal Rural de Pernambuco. Departamento de
Medicina Veterinária.
Inclui apêndice e bibliografia.
AGRADECIMENTOS
À minhas famílias pelo incentivo.
À minha mãe Gilda pelo apoio, minha filha linda Giovanna pelo carinho e meu irmão
Vinícius pelos “galhos quebrados”. A Mari pela atenção. À Peter pelos quilos de chocolate.
Ao meu pai Fred, Fátima e irmãos pela participação.
À Cícera pela colaboração.
Ao professor Tudury, pela confiança.
Aos escraviários Thiciane, Isabelle, Magna, Hênio, Michele, Liudimila, Thaíza,
Rosana e Dayse, pela dedicação, aos colegas de orientação Neuza, Ilvio, Durval, Ricardo e
Maíra pelos encaminhamentos e convivência tranqüila.
Aos residentes e funcionários do bloco cirúrgico e de todo o hospital pela
insubstituível ajuda.
À professora Ana Paula Tenório pela credibilidade depositada.
À professora Rute Chamié pela paciência e respostas aos infindáveis “gritos”.
À Ana Katarina funcionária da Biblioteca/UFRPE-COMUT pela prontidão e
empenho.
Aos meus amigos Laurimar, Nara e Bó pelo suporte.
Ao professor Camacho e toda sua equipe (Gláucia, MegaMarlos, Dani, João Paulo,
Tati e Ferrugem) pela disponibilidade.
À eterna NUTRONCO pelo acolhimento.
Aos amigos de confidências Nilza, Alexandre, Alexandre papai, Catarina, Mariana,
Aletéia, Vânia e Carol, por compartilharem.
À todos meus pacientes por terem agüentado a difícil tarefa de ficarem quietos por
alguns minutos!
RESUMO
Título: Eletrocardiografia pré-operatória em cães atendidos no Hospital Veterinário da
Universidade Federal Rural de Pernambuco.
Autor: Cecília de Carvalho Ferreira
Orientador: Professor Doutor Eduardo Alberto Tudury
Tão importante quanto o procedimento cirúrgico em si é a avaliação pré-operatória dos
pacientes, com a finalidade de assegurar o sucesso da anestesia e minimizar os riscos de
complicações potenciais no pós-cirúrgico. Neste contexto, a avaliação eletrocardiográfica pré-
operatória é de suma importância uma vez que certas arritmias conferem riscos anestésicos
aumentados. Objetivou-se com este trabalho avaliar a freqüência de alterações no
eletrocardiograma de caninos atendidos no setor de cirurgia do HV/UFRPE e o tipo dessas
anormalidades, bem como sua relação com a enfermidade cirúrgica, histórico de doença
cardíaca, sinais clínicos de cardiopatia, obesidade, idade, sexo e porte, utilizando para isto,
avaliação clínica e eletrocardiográfica. Foram avaliados 474 cães de raça, idade e porte
variados, machos e fêmeas, encaminhados para procedimentos cirúrgicos diversos. O
eletrocardiograma foi realizado por meio do método convencional ou computadorizado.
Verificou-se que 46% dos cães apresentaram alterações, demonstrando ser alta a freqüência
pré-operatória de alterações eletrocardiográficas, onde os machos foram estatisticamente mais
acometidos que as fêmeas (p<0,05), e o aumento na duração do complexo QRS foi a alteração
mais freqüentemente observada (24,31%), não tendo sido observada predisposição para o
aparecimento de arritmias específicas em relação às enfermidades cirúrgicas avaliadas. Os
cães sem raça definida (SRD) representaram 42,52% da amostra analisada, sendo significativo
(p<0,05) a proporção de obesos SRD que apresentaram alterações comparadas aos não
obesos, associando assim a elevada freqüência de alterações eletrocardiográficas à condição
corpórea. Não houve diferença estatisticamente significativa para a presença de alterações em
pacientes hígidos encaminhados para gonadectomias e em enfermos encaminhados para
cirurgias diversas, levando a crer que é necessária essa avaliação independente da
enfermidade cirúrgica. Nos cães SRD, aqueles com histórico de doença cardíaca foram os que
mais apresentaram alterações (p<0,01), não sendo o mesmo observado para a população geral
e de Poodles, ressaltando a importância da realização desse exame também nos que não
apresentam histórico de cardiopatia, da mesma maneira, os cães que apresentaram sinais
clínicos de doença cardíaca não necessariamente são os que mais apresentam alterações
eletrocardiográficas (p>0,05). Com relação ao peso foi verificado que não diferença
estatisticamente significativa entre os grupos: até 9,9kg (45,1%), 10 a 20,0kg (47,8%) e com
mais de 20,0kg (45,3%), ocorrendo o mesmo na análise da idade de acordo com o porte.
Conclui-se que são freqüentes as alterações eletrocardiográficas no pré-operatório, onde o
aumento na duração do QRS é a alteração mais observada, devendo o eletrocardiograma ser
realizado como exame pré-operatório independente da idade, peso, enfermidade cirúrgica, ou
sinais de cardiopatia ao exame clínico e, em especial nos cães machos, e nos sem raça
definida que apresentem histórico de doença cardíaca ou sejam obesos, a fim de se obter
maior segurança anestésica e menor risco de complicações cardiovasculares.
Palavras-chave: eletrocardiografia, pré-operatório, arritmias, cães.
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA VETERINÁRIA
Dissertação de Mestrado em Ciência Veterinária
Recife, 26 de fevereiro de 2007.
ABSTRACT
Title: Preoperative electrocardiogram evaluation in dogs within Metropolitan Area of Recife
Author: Cecília de Carvalho Ferreira
Advisor: Doctor Professor Eduardo Alberto Tudury
As important as the surgery itself is the preoperative evaluation pointing to assure the success
of anaesthesia and minimize risks of complications in the postoperative period. In this
context, the preoperative electrocardiogram is very important since certain arrhythmias
increases anaesthesical risk. The aim of this research was to evaluate the prevalence and types
of electrocardiographic that should be submitted to some surgery and its relation with the
surgery recommendation, historical of heart disease, clinical signs of cardiopathy, obesity,
age, sex and body size,by clinical and electrocardiographic exams. It was evaluated 474 dogs
of different breeds, age and size, and male and female, recommended to different types of
surgeries. The electrocardiogram was made using the traditional or computerized methods,
were 46% of them presented changes, showing that it is high the changes in preoperative
electrocardiogram. Where males were statically more attacked than females (p<0,05), and left
ventricular enlargement was the most common feature (24,31%), it was not observed
inclination to specifics arrhythmias in the recommended surgeries evaluated. “Mixed breed
dogs” (MBD) represented 42,52% of the analyzed sample, and it was significantly (p<0,05)
the proportion of obese MBD that presented changes compared to the non-obeses, what lead
to conclude the association of high frequency of electrocardiographic changes to the body
condition. There was no statistical significant difference to the presence of change in healthy
patients led to castration and in ills send to varied surgeries, what make lead us to believe that
it is necessary the evaluation independent of surgery indication. MBD that presented historical
of heart disease, were the ones that presented more changes (p<0,01) and the same wasn’t
observed in the population in general and in Poodles, stressing that this exam must be done
even without the historic of heart disease. The same affirmative is truth to the presence of
clinical signs of heart disease, according to what checked in the analyzed population (p>0,05).
Concerning to the weight it was checked that there is no statistical significant difference
between the groups: until 9,9kg (45,1%), 10kg to 20kg (47,8%) and over 20kg (45,3%). The
same occur in the analysis of age in accordance with size, highlighting the importance of
exam independent of weight and age. In conclusion it is often the electrographical changes in
preoperative period, mainly in males, were the left ventricular enlargement is the most
common feature and the electrocardiogram must be done as a preoperative exam, independent
of age, body size, surgery recommendation, or clinical sign of heart disease, and specially in
male dogs, obese MBD and in MBD with historical of cardiopathy aims to minimize the
anesthetic risks and cardiovascular complications.
Keyword: electrocardiogram, pre operative, arrhythmias, dogs.
FEDERAL RURAL UNIVERSITY OF PERNAMBUCO
POSTGRADUATION PROGRAMME IN VETERINARY MEDICAL SCIENCES
Dissertation of Master of Science in Veterinary Medical Sciences
Recife, 16
th
February 2007
LISTA DE FIGURAS
Página
Figura 1.
Aumento na duração do complexo QRS (63ms) verificado em
eletrocardiograma pré-operatório de canino Poodle, macho,
10anos, 3,8kg com fratura de tíbia..................................................
Figura 2.
Aumento na amplitude da onda T verificada em
eletrocardiograma pré-operatório de canino da raça Cocker
spaniel, fêmea, 11anos, 12,0kg, encaminhado para exérese de
neoplasia na orelha..........................................................................
Figura 3.
Complexo QRS de baixa voltagem (0,3mV) verificado em
eletrocardiograma pré-operatório de canino SRD, macho, 2 anos
e 6 meses, 25,0kg, obeso, encaminhado para desobstrução do
ducto nasolacrimal..........................................................................
Figura 4
Freqüência (%) das indicações cirúrgicas analisadas e seu
percentual correspondente de cães que apresentaram alterações
eletrocardiográficas pré-operatórias...............................................
47
Figura 5
Prevalência (%) de raças de pacientes caninos encaminhados
para avaliação eletrocardiográfica pré-operatória...........................
36
Figura 6
Prevalência (%) das raças dos cães encaminhados para avaliação
eletrocardiográfica pré-operatória e seu percentual
correspondente de alterações eletrocardiográficas..........................
36
Figura 7
Percentual (%) de cães encaminhados para avaliação
eletrocardiográfica pré-operatória com alterações no
eletrocardiograma de acordo com a presença de enfermidade
cirúrgica nas populações geral, SRD e de Poodles.........................
37
Figura 8
Percentual (%) de cães machos e fêmeas com alterações
eletrocardiográficas nas populações geral, SRD e de Poodles
encaminhados para eletrocardiograma pré-operatório...................
38
Figura 9
“Sinus arrest” verificado em eletrocardiograma pré-operatório de
canino Pinscher, fêmea, 8anos, 2,9kg com neoplasia mamária................
Figura 10
Percentual (%) da alteração “Sinus arrest” em comparação com
as demais anormalidades eletrocardiográficas verificadas em
machos e fêmeas da população geral..............................................
38
Figura 11
Percentual de alterações eletrocardiográficas verificadas nos cães
obesos e o obesos encaminhados para avaliação
eletrocardiográfica pré-operatória nas populações geral, SRD e
de Poodles.......................................................................................
39
Figura 12
Relação entre a freqüência (%) do complexo QRS de baixa
voltagem e demais alterações observadas em cães obesos e não
obesos da população geral encaminhados para avaliação
eletrocardiográfica pré-operatória..................................................
40
Figura 13
Percentual (%) de cães com alterações eletrocardiográficas pré-
operatórias com e sem histórico de cardiopatia nas populações
geral, SRD e de Poodles.................................................................
40
Figura 14
Percentual (%) de cães com alterações eletrocardiográficas pré-
operatórias com e sem sinais físicos de doença cardíaca ao
exame físico nas populações geral, SRD e de Poodles...................
41
Figura 15
Percentual (%) de alterações eletrocardiográficas no pré-
operatório de cães de acordo com o peso nas populações geral,
SRD e de Poodles...........................................................................
42
Figura 16
Percentual (%) de alterações eletrocardiográficas no exame pré-
operatório de cãe de acordo com a idade e porte na população
geral.................................................................................................
42
LISTA DE TABELAS
Página
Tabela 1
Valores percentuais (%) e numéricos (n) das alterações
eletrocardiográficas verificadas no pré-operatório da população
geral de pacientes caninos atendidos no HV/UFRPE. ....................
43
Tabela 2
Valores percentuais (%) e numéricos (n) da presença de
alterações eletrocardiográficas de acordo com a enfermidade
cirúrgica na população geral de pacientes caninos atendidos no
HV/UFRPE......................................................................................
46
Tabela 3
Valores percentuais (%) e numéricos (n) da presença de
alterações eletrocardiográficas observadas em machos e fêmeas
na população geral de pacientes caninos atendidos no HV/UFRPE
44
Tabela 4
Valores percentuais (%) e numéricos (n) da presença de
alterações eletrocardiográficas em cães obesos e não obesos na
população geral de pacientes caninos atendidos no HV/UFRPE....
45
SUMÁRIO
Página
1. INTRODUÇÃO.............................................................................................
12
2. REVISÃO DE LITERATURA.................................................................... 14
3. REFERÊNCIAS............................................................................................
22
4. EXPERIMENTO.......................................................................................... 27
4.1 RESUMO..................................................................................................... 28
4.2 ABSTRACT.................................................................................................
29
4.3 INTRODUÇÃO...........................................................................................
29
4.4 MATERIAL E MÉTODOS....................................................................... 33
4.5 RESULTADOS E DISCUSSÃO................................................................
35
4.6 CONCLUSÃO............................................................................................. 47
4.7 REFERÊNCIAS..........................................................................................
48
5. APÊNDICE................................................................................................... 53
1. INTRODUÇÃO
Cuidados pré-operatórios são o conjunto de procedimentos e exames realizados no
período que antecede uma cirurgia (HOUAISS, 2001), tendo como objetivo principal diminuir
a mortalidade e morbidade cirúrgica (FUTEMA, 2002; SOUZA et al., 2005).
Tudury et al. (2003) citam que podem ocorrer distúrbios do ritmo, freqüência e/ou
funcionamento cardíaco durante os procedimentos cirúrgicos de cães e gatos em decorrência
do próprio estado orgânico do paciente, acrescido a efeitos provocados pelos fármacos,
administrados para a anestesia. A boa avaliação pode, portanto, minimizar os riscos de
intercorrências cirúrgicas, entretanto, ainda que realizada adequadamente, não garante a
ausência de complicações (PADDLEFORD, 2001).
Rabelo (2004) ressalta a grande importância do exame eletrocardiográfico no pré-
anestésico de cães, por este poder revelar alterações de significância que não sejam aparentes
ao exame clínico ou no cotidiano dos proprietários. Em seu trabalho, no qual realizou a
avaliação eletrocardiográfica como exame pré-operatório em 34 cães, sendo 32 desses
assintomáticos ao exame físico do sistema cardiovascular, observou que 64,7% dos pacientes
apresentaram alterações eletrocardiográficas representadas principalmente pelo aumento na
duração do complexo QRS (45,45%), desvio do eixo de despolarização para esquerda
(36,36%) e padrão SI, SII, SIII e aVF (bloqueio de ramo direito ou sobrecarga ventricular
direita) (27,27%).
Jericó et al. (2006), em avaliação cardiovascular de cães obesos, observaram que
72,4% destes apresentaram alguma forma de alteração no traçado e 50,7% exibiram alterações
de segmento ST com supra ou infradesnivelamento. Os cães obesos também podem
apresentar supressão de milivoltagem do complexo QRS, uma vez que devido acúmulo
excessivo de tecido adiposo desenvolvem aumento da espessura da parede torácica (TILLEY,
1992).
Um coração morfologicamente normal pode desenvolver arritmias letais em uma
variedade de desordens, podendo-se observar eletrocardiogramas anormais em animais com
doença sistêmica, incluindo os desequilíbrios eletrolíticos (hipercalemia, hiponatremia,
hipercalcemia e hipocalcemia), neoplasias (especialmente esplênicas), síndrome dilatação-
vólvulo gástrica e sepse (ATKINS, 1999; GOODWIN, 2002).
Objetivou-se com este trabalho avaliar a prevalência e o tipo de anormalidades
eletrocardiográficas presentes no exame pré-operatório de cães atendidos no HV/ UFRPE,
bem como sua relação com a presença de enfermidade cirúrgica, histórico de doença cardíaca,
sinais físicos de cardiopatia, obesidade, idade, sexo e peso do animal.
2. REVISÃO DE LITERATURA
Por meio de exames pré-operatórios podem-se obter mais informações sobre o
paciente, melhorando sua condição clínica antes do procedimento cirúrgico (MUIR et al.,
2001). O cuidado com esses pacientes no período pré-operatório é tão importante quanto o
procedimento cirúrgico em si, para assegurar o sucesso da cirurgia e minimizar os riscos de
complicações potenciais no período pós-operatório (FRIES, 1993).
Segundo Rogers et al. (1993), os melhores resultados possíveis de uma cirurgia
começam quando o veterinário tece considerações pré-operatórias dos fatores que poderiam
afetar a eficácia e segurança da anestesia e de todas as manipulações cirúrgicas. “A
antecipação das necessidades usuais e incomuns para um determinado procedimento, torna-se
um hábito de trabalho para o veterinário cuidadoso, ciente dos muitos aspectos imprevisíveis
inerentes à prática da clínica cirúrgica”.
A avaliação pré-anestésica deve ser feita para todo o tipo de cirurgia, visando
estratégias de tratamento e prevenção de complicações (ROGERS et al., 1993). De maneira
geral, o eletrocardiograma deve ser realizado nos animais com mais de seis anos, e naqueles
em que o exame físico e o histórico sugiram alguma cardiopatia (FRIES, 1993; FUTEMA,
2002). As informações obtidas orientam a equipe cirúrgica e o anestesista nos cuidados no ato
operatório, para tornar o procedimento o mais seguro possível (PADDLEFORD, 2001).
A importância dos batimentos cardíacos para a circulação sanguínea foi descoberta por
Harvey em 1616, porém posteriormente os fisiologistas descobriram que os batimentos
cardíacos são resultantes de eventos elétricos (TILLEY, 1992), de forma que o exame
eletrocardiográfico no pré-operatório em cães é de suma importância (RABELO, 2004), e
pode também sugerir sobre a necessidade de se realizar uma série de exames mais detalhados,
como o Holter e o ecocardiograma (ROGERS et al., 1993).
O coração age como um sincício funcional, que este é capaz de gerar seus próprios
estímulos elétricos, com uma freqüência e ritmo determinados segundo a espécie, raça, sexo,
idade e condição física. Essa autonomia elétrica cardíaca depende da forma exclusiva das
fibras miocárdicas específicas e do sistema de condução para se espalhar por todo o coração
(DESMARÁS e MUCHA, 2003). O usual trajeto destes impulsos elétricos é constituído pelos
seguintes elementos especializados: o nodo sinusal (habitual marca-passo cardíaco localizado
na parede do átrio direito), nodo atrioventricular, tecido juncional, feixe de His e fibras de
Purkinje (WILKES, 1982).
Devido a atividade mecânica do coração ser precedida de fenômenos elétricos
(GUYTON, 1992), o funcionamento adequado do aparelho contráctil do coração está
relacionado com a correta formação ou geração de impulsos (excitação) e a sua condução
(WILKES, 1982; DARKE et al., 2000), sendo o objetivo do sistema de excitação-condução o
de produzir e coordenar a contração e relaxamento das quatro maras cardíacas, realizando
assim os movimentos de sístole e diástole (GOODWIN, 2002; GABAY, 2003).
Quando são colocados eletrodos na pele em lados opostos do coração, os potenciais
elétricos gerados por essas correntes podem ser então registrados (GUYTON, 1992); a esse
registro do potencial elétrico médio gerado no músculo cardíaco, transcrito em voltagem e
tempo durante o ciclo cardíaco, denomina-se de eletrocardiografia - ECG (GOODWIN, 2002;
GABAY, 2003).
Os eletrodos são especificamente distribuídos na superfície corporal, obtendo-se
derivações eletrocardiográficas padrões. Uma derivação consiste na determinação da
atividade elétrica entre um eletrodo positivo e um negativo. Impulsos elétricos direcionados
para o eletrodo positivo geram ondas ou deflexões positivas. Impulsos elétricos em sentido
oposto ao eletrodo positivo geram ondas ou deflexões negativas. Impulsos elétricos no sentido
perpendicular ao eletrodo positivo não geram ondas ou deflexões (isoelétrico) (TILLEY,
1992).
Durante o eletrocardiograma, o animal deve permanecer calmo ou o mais quieto
possível (DARKE et al., 2000; GOODWIN, 2002), assim como se deve evitar respiração
ofegante a fim de minimizar interferência no traçado eletrocardiográfico. O eletrocardiograma
é usualmente feito com o animal em decúbito lateral direito, membros perpendiculares ao
corpo e paralelos entre si (WILKES, 1982; GOODWIN, 2002). Para o posicionamento dos
eletrodos podem-se utilizar garras tipo jacaré umedecidas com uma solução de álcool para
assegurar o contato elétrico. Não devendo haver contato com pessoas ou materiais condutivos
(GOODWIN, 2002).
A grande variação na conformação corporal e raças dos cães podem alterar as medidas
aceitáveis padronizadas (TILLEY, 1992), devendo-se considerar padrões de peso durante a
leitura e interpretação dos exames eletrocardiográficos, a fim de que a análise dos dados da
atividade elétrica cardíaca seja feita de maneira correta (WOLF et al., 2000).
A ECG permite o registro e a avaliação da freqüência e ritmo cardíacos (MILLER et
al., 1999). Esta técnica assume papel imprescindível quando se fala em diagnóstico de
arritmias (RABELO, 2004) e distúrbios de condução, podendo, freqüentemente, sugerir o
alargamento de câmaras (WILKES, 1982). Além disso, pode ser utilizado para averiguar
mudanças não específicas como, efeitos de distúrbios metabólicos ou eletrolíticos sobre o
miocárdio (EDWARDS, 1987; GOODWIN, 2002), no controle terapêutico de determinados
fármacos (GABAY, 2003), na verificação de hipóxia ou infarto do miocárdio, evolução de
pacientes traumatizados, com epilepsia e presença de toxinas (ATKINS, 1999), assim como
demonstrar indícios de efusão pericárdica (TILLEY, 1992). Representa uma via rápida e
eficiente para se obter dados consideráveis acerca do estado geral e cardiovascular do paciente
(BROURMAN et al., 1996), tornando-o uma ferramenta indispensável na avaliação
cardiológica de rotina (RABELO, 2004).
Em cães, a freqüência cardíaca varia de 60 a 220bpm, dependendo do porte, idade e
grau de estresse do animal. A freqüência e ritmo dependem do impulso do nodo sino atrial
(NSA), o qual é altamente influenciado por alterações no tônus autônomo tônus simpático
incrementado aumenta a freqüência de descarga do NSA; tônus parassimpático (vagal)
elevado reduz a freqüência de descarga desse nodo. Os ritmos normais compreendem o ritmo
sinusal, a arritmia sinusal e o marcapasso migratório (TILLEY, 1992). Bradicardia e
taquicardia sinusais podem representar ritmos fisiológicos (sono ou exercícios) ou distúrbios
patológicos na formação do impulso (DARKE et al, 2000).
As arritmias são definidas como anormalidades de formação, condução, freqüência e
regularidade do impulso cardíaco, onda e intervalo entre elas. (CARR et al., 2002; RAMIREZ
et al., 2003) Outros termos como disritmia e ritmo ectópico também são utilizados para
descrever distúrbios cardíacos eletrofisiológicos. Várias arritmias cardíacas são benignas, sem
significado clínico e não requerem tratamento específico. Outras podem provocar sintomas
graves ou evoluem para arritmias malignas, acarretando parada cardíaca e morte súbita
(CARR et al., 2002).
As alterações eletrocardiográficas mais frequentemente observadas na avaliação pré-
anestésica de cães são o aumento na duração do complexo QRS (45,45%), desvio do eixo de
despolarização para esquerda (36,36%) e padrão SI, SII, SIII e aVF (sobrecarga ventricular
direita ou bloqueio de ramo direito) (27,27%) (RABELO, 2004).
Certas arritmias conferem riscos anestésicos aumentados, especialmente quando
combinada com o efeito depressivo de fármacos anestésicos (GABAY, 2003). Pode-se esperar
aumento das complicações no trans-cirúrgico em pacientes com insuficiência cardíaca
congestiva, miocardiopatia, bloqueio atrioventricular completo, complexos atriais ou
ventriculares prematuros, associados com alterações hemodinâmicas (especialmente com
evidência de ascite), edema pulmonar, intolerância ao exercício, dispnéia e síncope ou tosse
secundária a doença cardíaca (FRIES, 1993; ORTON, 2002).
O conhecimento da provável resposta cardiovascular a drogas ou a combinação de
drogas durante a anestesia é de grande importância para o anestesiologista, uma vez que
alguns anestésicos provocam efeitos diretos no miocárdio, produzindo mudanças na condução
elétrica, ritmo e produção cardíaca (FUTEMA, 2002). Além desse efeito direto dos
anestésicos, as mudanças na ventilação do paciente e as alterações no sistema nervoso
autônomo, também podem levar a mudanças na função cardiovascular (GABAY, 2003).
A presença de doença cardíaca não contra-indica a cirurgia, mas é uma consideração
importante na decisão de realizá-la, na determinação de um protocolo anestésico e na
formulação de planos para fluidoterapia (FRIES, 1993).
Lesões cardíacas nem sempre causam ou estão relacionadas com anormalidades
eletrocardiográficas. O eletrocardiograma pode estar normal mesmo na presença de doença
cardiovascular ou insuficiência cardíaca. Outros fatores podem ocultar evidências
eletrocardiográficas de sobrecarga demara como conformação do corpo, efusão pericárdica
ou pleural, e obesidade (ATKINS, 1999; MILLER et al., 1999).
Eletrocardiogramas anormais podem ser observados em animais com coração
morfologicamente normal, como conseqüência de doença sistêmica (GOODWIN, 2002).
Distúrbios eletrolíticos severos, distúrbios ácido-básicos ou alterações metabólicas podem
afetar o gradiente eletroquímico do miócito, alterando a despolarização ou repolarização
(EDWARDS, 1987; ATKINS, 1999; MILLER et al., 1999).
A doença valvar adquirida resultante de degeneração mixomatosa (endocardiose) é a
cardiopatia mais comum em cães. A insuficiência da valva mitral decorrente de endocardiose
pode provocar dilatação cardíaca progressiva, sendo observadas suas conseqüências clínicas
principalmente em cães idosos de pequeno porte. Nesses animais, essa afecção é importante
causa de cardiopatia e de mortalidade (ABBOTT, 2002). O exame eletrocardiográfico pode
sugerir dilatação atrial e ventricular esquerdas (KITTLESON, 1998; ABBOTT, 2002).
Achados como “P mitrale” são relativamente específicos, ou seja, quando as ondas P são
amplas, o átrio esquerdo normalmente apresenta-se dilatado (TILLEY, 1992; ABBOTT,
2002).
As arritmias podem complicar o quadro de endocardiose da valva mitral (EVM). As
mais frequentemente associadas apresentam-se na forma de taquiarritmias supraventriculares
(refletindo a distensão atrial) e as arritmias ventriculares, que podem ocorrer secundariamente
à dilatação ventricular esquerda ou isquemia relacionada à insuficiência cardíaca congestiva
(ABBOTT, 2002).
A prevalência de cardiomiopatia dilatada (CMD) é relativamente baixa comparada
com a EVM (KITTLESON, 1998). Animais de raças grande e gigante têm risco maior de
desenvolverem a CMD, entretanto, animais menores como o Cocker spaniel também podem
ser afetados (SISSON et al., 1999). Na maioria das vezes, a CMD é identificada em raças
específicas de cães (KITTLESON, 1998), onde o Doberman pinscher é a mais frequentemente
acometida, seguida pelo Boxer (KITTLESON, 1998; CALVERT, 2002). Em um estudo com
1314 cães com diagnóstico de CMD, 90% eram de raça pura (KITTLESON, 1998).
O aumento na amplitude e duração do complexo QRS indicando sobrecarga
ventricular esquerda e o aumento na duração da onda P indicando sobrecarga atrial esquerda
são observados em 1/3 a metade dos cães com CMD. Entretanto, essas alterações não são
visíveis até que a insuficiência miocárdica seja grave a moderada (CALVERT, 2002).
Também podem ser observadas ondas R de baixa voltagem, alterações no segmento ST
(desnivelamento, ST em declive) e na onda T e complexo QRS chanfrado (KITTLESON,
1998; SISSON et al., 1999; CAMACHO, 2003). Distúrbios no ritmo cardíaco são comuns em
todas as raças que desenvolvem CMD, mas a natureza e prevalência das arritmias variam
entre elas (KITTLESON, 1998). Nos Dobermans e Boxers, taquiarritmias ventriculares são
comuns (KITTLESON, 1998; SISSON et al., 1999), assim como fibrilação atrial
(KITTLESON, 1998).
Cor Pulmonale é definida como uma doença do coração direito secundária a
hipertensão pulmonar associada com doença vascular ou do parênquima pulmonar (ALLEN e
MACKIN, 2002). No cão, a dirofilariose é provavelmente a principal causa de cor pulmonale.
Num animal com uma doença respiratória primária (bronquite crônica, colapso de traquéia,
fibrose pulmonar) o aporte de oxigênio nos alvéolos diminui, desencadeando uma série de
fatores que levam a hipertensão pulmonar. Com isso, o ventrículo direito sofre dilatação e
hipertrofia compensatória, ocorrendo a cor pulmonale (ANDRADE, 2004). Para que sejam
detectadas alterações eletrocardiográficas no ventrículo direito, este deve estar notadamente
dilatado. As anormalidades eletrocardiográficas observadas na Cor Pulmonale, quando
presentes, refletem geralmente redução do bito cardíaco, hipóxia miocárdica (apresentada
eletrocardiograficamente na forma de distúrbios de condução e depressão do segmento ST),
dilatação atrial direita (“P pulmonale”) e ventricular direita (onda S identificável em DI, DII,
DIII e aVF, aumento da profundidade da onda S em DI e DII e desvio do eixo elétrico médio
para direita). A diminuição do débito cardíaco pode causar taquicardia compensatória,
reconhecida eletrocardiograficamente como taquicardia sinusal (ALLEN e MACKIN, 2002).
Arritmias cardíacas são comumente observadas em pacientes que sofreram trauma
contuso no tórax, sendo este uma importante causa de morbidade e mortalidade em animais de
companhia (ABBOTT, 1995) decorre, na maioria das vezes, de acidentes automobilísticos
(SNYDER et al., 2001), sendo estes responsáveis por 53% dos casos em es (NICHOLLS e
WATSON, 1995). A forma do tórax e a relativa mobilidade do coração nele predispõem os
cães às injúrias do miocárdio quando do atropelamento (SNYDER et al., 2001).
O trauma torácico contuso pode resultar em vários tipos de lesões cardiovasculares,
dentre elas ruptura do pericárdio, perfuração do septo interventricular, dano valvar, laceração
do átrio e contusão do miocárdio (NEWTON, 1985; ABBOTT e KING, 1993; ABBOTT,
1995; WARE, 2001), sendo esta última a mais comum (RUSH, 1998; CROWE et al., 2005).
Arritmias decorrentes desse tipo de trauma são conhecidas como miocardite traumática (MT)
(ABBOTT, 1995), e parecem ser freqüentes (RUSH, 1998) podendo ser observadas
bradiarritmias, taquiarritmias supraventriculares e arritmias ventriculares, com o complexo
ventricular prematuro (CVP) e a taquicardia ventricular sendo provavelmente as formas mais
comuns (MACINTIRE e SNIDER, 1984; ABBOTT e KING, 1993; ABBOTT, 1995; SISSON
e THOMAS, 1997; BONAGURA e LEHMKUHL, 1998; TILLEY e SMITH, 2000; SNYDER
et al., 2001; WARE, 2001; SMITH et al., 2002; CROWE et al., 2005). Também são
observadas frequentemente alterações no segmento ST e na onda T (JERRAM e HERRON,
1998). O verdadeiro mecanismo etiológico da MT é desconhecido (SMITH et al., 2002), não
havendo necessariamente que ter um trauma direto ao coração. Condições extra-cardíacas têm
importância semelhante ou maior no desenvolvimento dessas arritmias (NEWTON, 1985;
ABBOTT, 1995; RUSH, 1998; TILLEY e SMITH, 2000; WARE, 2001; SMITH et al., 2002).
Desequilíbrio autonômico, isquemia e reperfusão, desequilíbrio eletrolítico, distúrbios
no balanço ácido-básico, hipoxemia, anemia, sepse e danos neurológicos podem todos
contribuir para a presença de arritmias em pacientes traumatizados (ABBOTT, 1995;
NICHOLLS e WATSON, 1995; SMITH et al., 2002), sendo então indicado o
eletrocardiograma pré-operatório para todo tipo de trauma (FRIES, 1993).
O eletrocardiograma no pré-operatório é indicado também para todos pacientes
geriátricos por causa da alta incidência de disritmias assintomáticas e insuficiência valvar
(FRIES, 1993). No coração do o idoso, são observadas alterações na curva do potencial de
ação do átrio e aumento da fibrose, podendo ambos contribuir para a propensão à fibrilação
atrial nessa idade (ANYUKHOVSKY et al., 2002).
Muitos agentes infecciosos podem lesionar o miocárdio e induzir degeneração ou
inflamação. Freqüentemente a infecção ou inflamação generalizada são responsáveis por essa
miocardite (LIU e FOX, 1999), podendo esta também se desenvolver quando ocorre
bacteremia ou endocardite. O dano ao miocárdio desenvolve-se como conseqüência da ação
de toxinas bacterianas ou processos imunomediados (SISSON, et al. 1999). Doenças como
piometra, pancreatite, endotoxemia ou uremia podem causar a miocardite bacteriana
(EDWARDS, 1987), sendo as arritmias a sua principal manifestação clínica, (SISSON et al.,
1999) como o complexo ventricular prematuro, a taquicardia ventricular e anormalidades no
intervalo QT e na onda T (TILLEY, 1992).
Em animais com doenças respiratórias, gastrintestinais e do sistema nervoso central, o
tônus vagal pode estar aumentado podendo levar a arritmia sinusal marcante (GOODWIN,
2002), devendo ser evitado nesses pacientes o uso de fármacos vago tônicos (TILLEY, 1992).
A distância do coração à superfície de registro do ECG é um dos fatores que mais
interfere na amplitude do complexo QRS. Cães obesos podem apresentar supressão de
milivoltagem do complexo QRS uma vez que apresentam aumento da espessura da parede
torácica decorrente do acúmulo excessivo de tecido adiposo. Essa distância pode ser
influenciada por outros fatores como o tamanho do tórax, espessura da parede torácica, e a
presença de enfisema ou pneumotórax (TILLEY, 1992; GOODWIN, 2002), sendo a efusão
pericárdica a doença cardiovascular mais comumente associada a esta alteração (TILLEY,
1992).
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4. EXPERIMENTO
Eletrocardiografia pré-operatória em cães atendidos no Hospital
Veterinário da Universidade Federal Rural de Pernambuco
(Preoperative electrocardiographic in dogs within Veterinary Hospital of Federal Rural
University of Pernambuco)
C. F.Carvalho
1*
, E. A. Tudury
2
, I.V. Neves
3
, T. H. T. Fernandes
4
, L. P. Gonçalves
4
, R. R. C.
L Salvador
4
1
Médico Veterinário, Mestrando - UFRPE
2
Professor Assistente Departamento de Medicina Veterinária – UFRPE
R. Dom Manoel de Medeiros, s/n - Dois Irmãos 52171-900 – Recife/PE
3
Bolsista de Iniciação Científica - UFRPE.
4
Discentes do Curso de Medicina Veterinária - UFRPE
4.1 RESUMO
O exame eletrocardiográfico pré-operatório é de suma importância para assegurar o
sucesso da anestesia e minimizar os riscos de complicações no pós-operatório. Foi realizada
avaliação eletrocardiográfica pré-operatória em 474 cães de raças variadas e de ambos os
sexos, com enfermidades cirúrgicas diversas a fim de analisar a prevalência de alterações
eletrocardiográficas nessa população, e relação entre a presença de alterações e a enfermidade
cirúrgica, sexo, idade, peso, raça, obesidade e histórico ou sinais sicos de doença cardíaca,
bem como a prevalência das alterações observadas. Foram verificadas alterações
eletrocardiográficas em 46% dos cães, com os machos sendo mais acometidos do que as
fêmeas (p<0,05), e o aumento na duração do QRS sendo a alteração mais observada
(24,31%). Conclui-se que são freqüentes as alterações eletrocardiográficas no pré-operatório,
onde o aumento na duração do QRS é a alteração mais observada, devendo o
eletrocardiograma ser realizado como exame pré-operatório independente da idade, peso,
enfermidade cirúrgica, ou sinais de cardiopatia ao exame clínico e, em especial nos cães
machos, e nos sem raça definida que apresentem histórico de doença cardíaca ou sejam
obesos, a fim de se obter maior segurança anestésica e menor risco de complicações
cardiovasculares.
Palavras-chave: eletrocardiograma, pré-anestésico, arritmias, cães.
4.2 ABSTRACT
The preoperative evaluation is important to assure the success of anaesthesia and
minimize risks of complications in the postoperative period. It was evaluated 474 dogs of
different breeds, age and weight, males and females recommended to different types of
surgeries, aims to evaluate the prevalence of electrocardiogram changes, the types of those
abnormalities and its relation with the surgery recommendation, historical of heart disease,
clinical signs of cardiopathy, obesity, age, sex and size. The ECG of 46% of dogs presented
changes, where males were more attacked than females (p<0,05), and the increase in the
duration of QRS is the chance more observed (24,31%). The electrocardiogram must be done
as a preoperative exam, independent of age, size, surgery recommendation, or clinical sign of
heart disease, and specially in male, obese mixed breed and in mixed breed with historical of
cardiopathy, aims to decrease anaesthesical risks.
Keyword: electrocardiograph, preoperative, arrhythmias, dogs.
4.3 INTRODUÇÃO
Em 1887 foi descrito por Augustus D. Waller o primeiro registro das mudanças
elétricas que acompanham o batimento cardíaco (Tilley, 1992). Atualmente, o registro
eletrocardiográfico é uma ferramenta importante no diagnóstico de alterações pré-operatórias.
Tudury et al. (2003) citam que podem ocorrer distúrbios do ritmo, freqüência e/ou
funcionamento cardíaco durante os procedimentos cirúrgicos de cães e gatos, em decorrência
do próprio estado orgânico do paciente, acrescido a efeitos provocados pelos fármacos
administrados para a anestesia, de forma que os riscos anestésicos podem estar aumentados
frente a esses distúrbios do ritmo (Gabay, 2003), tornando o exame eletrocardiográfico pré-
operatório imprescindível (Rabelo, 2004).
As arritmias são definidas como anormalidades de formação, condução, freqüência e
regularidade do impulso cardíaco, onda e intervalo entre elas (Carr et al., 2002; Ramirez et al.,
2003), assumindo o exame eletrocardiográfico papel imprescindível no diagnóstico das
arritmias (Rogers et al., 1993), podendo, freqüentemente, também sugerir o alargamento de
câmaras (Rabelo, 2004; Tilley, 1992) e inferir sobre a necessidade de se realizar uma série de
exames mais detalhados, como o Holter e o ecocardiograma (Rogers et al., 1993).
De maneira geral, o eletrocardiograma pré-operatório deve ser realizado nos animais
com mais de seis anos e naqueles em que o exame físico e o histórico sugiram alguma
cardiopatia (Fries, 1993; Futema, 2002). No coração do cão idoso, são observadas alterações
na curva do potencial de ação do átrio e aumento da fibrose, podendo ambos contribuir para a
grande propensão à fibrilação atrial nessa idade (Anyukhovsky et al., 2002), sendo indicado
dessa forma, para todo paciente geriátrico por causa da alta incidência de arritmias
assintomáticas e insuficiência valvar (Fries, 1993).
São várias as doenças cardíacas que levam ao desenvolvimento de arritmias. A
cardiopatia mais comum em cães é a endocardiose de valva mitral (EVM), que predispõe ao
desenvolvimento de taquiarritmias supraventriculares e arritmias ventriculares (Abbott, 2002),
podendo o eletrocardiograma sugerir também dilatação atrial e ventricular esquerda
(Kittleson, 1998; Abbott, 2002). Comparada com a EVM, a prevalência de cardiomiopatia
dilatada (CMD) é relativamente baixa podendo ser observado aumento na amplitude e
duração do complexo QRS e o aumento na duração da onda P, alterações estas observadas em
1/3 a metade dos cães com CMD. Também podem ser verificadas ondas R de baixa voltagem,
alterações no segmento ST (desnivelamento, ST em declive) e na onda T, e complexo QRS
chanfrado (Kittleson, 1998; Sisson et al., 1999; Camacho, 2003).
Enfermidades respiratórias podem levar à exacerbação da arritmia sinusal respiratória
como resposta a um tônus vagal aumentado (Goodwin, 2002) ou ao desenvolvimento de
cardiopatia como a cor pulmonale, que apesar de pouco diagnosticada, parece ter alta
prevalência (Andrade, 2004) e, quando presentes, as anormalidades eletrocardiográficas
refletem geralmente redução do débito cardíaco, hipóxia miocárdica e aumento cardíaco do
lado direito. A taquicardia compensatória reconhecida eletrocardiograficamente como
taquicardia sinusal também pode ser verificada (Allen e Mackin, 2002).
Arritmia secundária a trauma também é comumente observada (Rush, 1998), sendo
que nos animais que desenvolvem a miocardite traumática (MT) as mais comuns são o
complexo ventricular prematuro (CVP), a taquicardia ventricular e alterações no segmento ST
e na onda T (Jerram e Herron, 1998), podendo ser observadas também bradiarritmias e
taquiarritmias supraventriculares (Macintire e Snider, 1984; Abbott e King, 1993; Abbott,
1995; Sisson e Thomas, 1997; Bonagura e Lehmkuhl, 1998; Tilley e Smith, 2000; Snyder et
al., 2001; Ware, 2001; Smith et al., 2002; Crowe et al., 2005).
O eletrocardiograma também pode ser utilizado no controle terapêutico de
determinados fármacos (Gabay, 2003), na verificação de hipóxia ou infarto do miocárdio, no
acompanhamento de pacientes traumatizados e com epilepsia (Atkins, 1999), assim como
para averiguar mudanças não específicas como efeitos de distúrbios metabólicos ou
eletrolíticos sobre o miocárdio (Kelly, 2000), e demonstrar indícios de efusão pericárdica
(Tilley, 1992). Representando uma via rápida e eficiente para se obter dados consideráveis
acerca do estado geral e cardiovascular do paciente (Brourman et al., 1996), o que o torna
uma ferramenta indispensável na avaliação pré-operatória de rotina (Rabelo, 2004).
A presença de cardiopatia não contra-indica a cirurgia, mas é uma consideração
importante na decisão de realizá-la e na determinação de um protocolo anestésico ideal (Fries,
1993). As informações obtidas orientam a equipe cirúrgica e o anestesista nos cuidados no ato
operatório, a fim de tornar o procedimento o mais seguro possível (Paddleford, 2001). A
avaliação pré-operatória deve ser feita para todo o tipo de cirurgia, visando estratégias de
tratamento e prevenção de complicações (Rogers et al., 1993). Devendo, entretanto, levar em
consideração que nem sempre lesões cardíacas causam ou estão relacionadas com
anormalidades eletrocardiográficas (Atkins, 1999; Miller et al., 1999).
Os distúrbios eletrolíticos severos, alterações ácido-básicas ou metabólicas podem
afetar o gradiente eletroquímico do miócito, alterando a despolarização ou repolarização
(Edwards, 1987; Atkins, 1999; Miller et al., 1999), de forma que, eletrocardiogramas
anormais podem ser observados em animais com coração morfologicamente normal, como
conseqüência de doença sistêmica (Lunney e Ettinger, 1997; Goodwin, 2002). Por vezes,
podem ser observados distúrbios eletrocardiográficos na miocardite bacteriana secundária a
piometra, pancreatite, endotoxemia ou uremia (Edwards, 1987; Sisson et al., 1999), podendo
ser verificado complexo ventricular prematuro, taquicardia ventricular e anormalidades no
intervalo QT e na onda T (Tilley, 1992).
Segundo Rabelo (2004), o exame eletrocardiográfico na avaliação pré-anestésica de
cães pode revelar alterações de significância que não sejam aparentes ao histórico ou exame
físico do paciente, pois observou que no pré-operatório de 34 animais examinados
eletrocardiograficamente, 64,7% apresentaram alterações na atividade elétrica cardíaca
representadas principalmente por aumento na duração do complexo QRS (45,45%), desvio do
eixo de despolarização para esquerda (36,36%) e padrão SI, SII, SIII e aVF (indicativo de
sobrecarga ventricular direita ou bloqueio de ramo direito) (27,27%). Desses 34 cães, 32
(94,1%) eram assintomáticos ao exame clínico do sistema cardiovascular. Jericó et al. (2006)
em avaliação cardiovascular de 69 es obesos, observaram que 72,4% destes apresentaram
alguma forma de alteração no traçado, sendo o supra ou infradesnivelamento do segmento ST
a alteração mais freqüente (50,7%).
Pode-se esperar aumento das complicações no trans-cirúrgico em pacientes com
insuficiência cardíaca congestiva, miocardiopatia, bloqueio atrioventricular completo,
complexos atriais ou ventriculares prematuros, associados com alterações hemodinâmicas
(especialmente com evidência de ascite), edema pulmonar, intolerância ao exercício, dispnéia
e síncope ou tosse secundário a doença cardíaca (Fries, 1993; Orton, 2002).
Objetivou-se com este trabalho avaliar a prevalência e o tipo de anormalidades
eletrocardiográficas presentes no exame pré-operatório de cães atendidos no HV/ UFRPE,
bem como sua relação com a presença de enfermidade cirúrgica, histórico de doença cardíaca,
sinais físicos de cardiopatia, obesidade, idade, sexo e peso do animal.
4.4 MATERIAL E MÉTODOS
Foram avaliados aleatoriamente 474 cães advindos da região metropolitana do Recife
(PE), encaminhados ao setor de cirurgia do Hospital Veterinário do Departamento de
Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural de Pernambuco no período de março de
2005 a agosto de 2006.
Inicialmente, foi registrada a resenha com dados referentes às características físicas do
animal (raça, idade, peso, sexo), seguida de anamnese, visando obter informações a respeito
da função cardiovascular e estado geral do paciente, além da enfermidade cirúrgica, feito isso,
prosseguiu-se com o exame físico geral. A anamnese e exame físico geral foram realizados de
acordo com o que preconizam Nelson e Couto (2001). Os dados obtidos foram transcritos
para fichas individuais (Apêndice).
Posteriormente, foi realizado o eletrocardiograma com o equipamento padronizado
para sensibilidade de 1 cm para cada milivolt (mV) e registro na velocidade de 50 mm/s, nas
derivações bipolares e unipolares aumentadas de membros, com o animal posicionado em
decúbito lateral direito e os membros perpendiculares ao corpo e paralelos entre si. Foi
utilizado o eletrocardiógrafo modelo C10 (Tecnologia Eletrônica Brasileira - TEB), com
capacidade para registro pelos métodos convencional e computadorizado, tendo sido utilizado
o método convencional em 204 animais e o computadorizado em 270. O registro pelo método
convencional foi realizado em papel milimetrado termo reativo próprio para traçados
eletrocardiográficos. Por sua vez, o método informatizado era composto por um circuito
eletrônico ligado externamente a um microcomputador padrão e de um software instalado no
disco rígido do mesmo, que permite gravar o traçado para posterior análise. Registraram-se
três complexos de cada derivação e uma faixa de 50 cm da derivação II no método
convencional (Tilley, 1992), e durante 2 a 5 minutos no método computadorizado.
Os eletrodos tipo jacaré com as molas afrouxadas e dentes limados foram afixados nas
pregas cutâneas, situados acima do olécrano (superfície palmar) nos membros anteriores
esquerdo e direito e dorsalmente aos ligamentos patelares (prega inguinal) nos membros
posteriores esquerdo e direito, sendo então, umedecidos com álcool isopropílico a 70% para
obtenção do registro gráfico (Goodwin, 2002).
Foram verificados em ambos os métodos a freqüência e ritmo cardíacos, duração (em
milissegundos-ms) da onda P, do complexo QRS e dos intervalos PR e QT; amplitudes (mV)
das ondas P, R e T, polaridade da onda T, nivelamento do segmento ST, e eixo elétrico médio
(Goodwin, 2002), cujo laudo foi baseado na avaliação de 3 a 4 complexos. Foi levado em
consideração o peso dos animais para interpretação da duração e amplitude das ondas e da
freqüência cardíaca, bem como a idade para avaliação desta última (Tilley, 1992).
O eletrocardiograma foi considerado com alteração de acordo com a definição de Carr
et al. (2002) e Ramirez et al. (2003) para arritmia, seguindo a análise e os valores de duração
(ms), amplitude (mV) e freqüência cardíaca estabelecidos por Tilley (1992) para o método
convencional, e por Wolf et al. (2000) para a eletrocardiografia computadorizada.
Foram considerados obesos aqueles es nos quais a palpação das costelas era difícil,
havia ausência de reentrância caudal para a última costela, abdome penduloso ou com
projeção para fora da última costela e depósitos de gordura facilmente palpáveis em cada lado
da inserção da cauda, acima do coxal ou na região inguinal (Nelson e Couto, 2001).
No estudo da indicação cirúrgica, a população foi dividida em dois grupos, um com
indicação cirúrgica de gonadectomia, que incluíam procedimentos de
ovariossalpingehisterectomia e orquiectomia em animais clinicamente saudáveis, e outro
grupo com indicações cirúrgicas relacionadas à afecção em algum sistema como neoplasia
mamária, fratura de ossos longos e pelve, hérnia perineal e outras, denominadas aqui de
cirurgias diversas. Para este grupo foi realizado posteriormente avaliação de cada indicação
cirúrgica para a verificação de uma possível predileção ao desenvolvimento de arritmias
correlacionadas as mesmas.
Para a verificação da freqüência das alterações eletrocardiográficas de acordo com o
peso, os animais foram classificados em três categorias: de até 9,9kg, de 10,0 a 20,0kg e
acima de 20 kg seguindo-se o padrão estabelecido por Wolf et al. (2000).
Uma vez que a faixa etária de cães filhotes, adultos e idosos varia de acordo com o
porte do animal, foi feita uma divisão que relaciona as duas variáveis, de forma que o
primeiro grupo incluiu animais de até 10 kg, (pequeno porte), o segundo de 11 a 25 kg (médio
porte) e o último com mais de 25 kg (grande porte), com suas faixas etárias específicas
denominadas filhotes, adultos e idosos de acordo a classificação de Grandjean (2001) para as
duas variáveis envolvidas. Cães com menos de sete meses não fizeram parte da amostra.
A análise estatística (teste do qui-quadrado p<0,05) foi feita relacionando às
diversas variáveis: presença de enfermidade cirúrgica, histórico e sinais físicos de doença
cardíaca, obesidade, idade, sexo e peso do animal com a presença ou ausência de alterações
no eletrocardiograma em dois níveis (p<0,05 e p<0,01) para a população geral, e para as raças
mais freqüentes (SRD e Poodle). Ademais foi verificado na população de cães obesos, o
obesos, machos e fêmeas da população como um todo (população geral), o percentual de cada
alteração eletrocardiográfica em específico e feita igualmente a análise estatística.
4.5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
As alterações eletrocardiográficas mais encontradas neste estudo foram: aumento na
duração do complexo QRS (24,31%) (Figura1), aumento na amplitude da onda T (Figura 2),
complexo QRS de baixa voltagem (8,56%) (Figura 3), desvio do eixo de despolarização para
a esquerda (8,56%), desvio de eixo elétrico para a direita (6,51%) e P “mitrale” (6,16%)
concordando com Rabelo (2004), quanto à alteração mais observada em avaliação
eletrocardiográfica pré-operatória. Uma vez que o aumento na duração do complexo QRS é
indicativo de sobrecarga ventricular esquerda (Tilley, 1992; Kittleson, 1998; Abbott, 2002), é
possível que a alta prevalência de aparecimento dessa alteração possa estar atrelada ao fato da
degeneração mixomatosa da valva mitral ser a cardiopatia mais comum de acordo com Abbott
(2002). Em ordem de menor freqüência foi verificado: Sinus arrest, bloqueio de ramo direito
ou sobrecarga ventricular direita, infradesnivelamento de ST, bloqueio átrio ventricular
(BAV) de primeiro grau, complexo ventricular prematuro (CVP), taquicardia sinusal,
supradesnivelamento de ST, P “pulmonale”, bradicardia sinusal, taquicardia ventricular,
taquicardia atrial, complexo de escape, complexo atrial prematuro (CAP), ritmo
idioventricular, prolongamento do intervalo QT, taquicardia juncional e BAV de segundo
grau (Tabela 1). Podendo essas alterações estarem atreladas a doença cardíaca, enfermidade
sistêmica ou, em alguns casos ser uma variação normal (Tilley, 1992).
DII/N/50 mm/s
FIGURA 1.
Aumento na duração do complexo QRS (63ms)
verificado em eletrocardiograma pré-operatório de
canino Poodle, macho, 10anos, 3,8kg com fratura de
tíbia.
DII/N/50mm/s
FIGURA 2.
Aumento na amplitude da onda T verificada em
eletrocardiograma pré-operatório de canino da raça Cocker
spaniel, fêmea, 11anos, 12,0kg, encaminhado para exérese
de neoplasia na orelha.
DII/N/50 mm/s
FIGURA 3.
Complexo QRS de baixa voltagem (0,3mV) verificado
em eletrocardiograma pré-operatório de canino SRD,
macho, 2 anos e 6 meses, 25,0kg, obeso, encaminhado
para desobstrução do ducto nasolacrimal.
TABELA 1. Valores percentuais (%) e numéricos (n) das alterações eletrocardiográficas verificadas
no pré-operatório da população geral de pacientes caninos atendidos no HV/UFRPE. *
TOTAL Alteração eletrocardiográfica
n
%
Aumento na duração do QRS 71 24,31
T>25% deR 60 20,55
QRS de baixa voltagem 25 8,56
Desvio do eixo para esquerda 25 8,56
Desvio do eixo para direita 19 6,51
P “mitrale” 18 6,16
Sinus arrest 15 5,14
Bloqueio de ramo direito ou
sobrecarga ventricular direita
12 4,11
Infradesnivelamento de ST 8 2,74
BAV de 1º grau 6 2,05
CVP 6 2,05
Taquicardia sinusal 3 1,03
Supradesnivelamento de ST 3 1,03
Taquicardia ventricular 3 1,03
Taquicardia atrial 3 1,03
CAP 3 1,03
P “pulmonale” 2 0,68
Bradicardia sinusal 2 0,68
Fibrilação atrial 1 0,34
Ritmo idioventricular 1 0,34
Prolongamento do “QT” 1 0,34
Complexo de escape ventricular 1 0,34
Complexo de escape juncional 1 0,34
Taquicardia juncional 1 0,34
Complexo prematuro juncional 1 0,34
BAV de 2º grau 1 0,34
TOTAL
292 100
* Alguns animais apresentavam mais de uma alteração
No que diz respeito às diversas enfermidades cirúrgicas (tumor de mama, neoplasia em
sistemas variados, fratura de ossos ou outros procedimentos ortopédicos, tratamento
periodontal, etc.), a afecção mais freqüente foi a neoplasia mamária (18,45%), seguido de
neoplasia em sistemas variados (15,51%), fratura de ossos longos e pelve (13,37%),
procedimentos ortopédicos em geral (10,16%) e tratamento periodontal (8,82%) (Tabela 2).
Não se observou predisposição estatisticamente significativa (p<0,05) para o aparecimento de
arritmias em uma determinada indicação cirúrgica em relação às outras (Figura 4).
TABELA 2. Valores percentuais (%) e numéricos (n) da presença de alterações eletrocardiográficas
de acordo com a enfermidade cirúrgica na população geral de pacientes caninos
atendidos no HV/UFRPE. *
Com alteração
Sem alteração TOTAL Indicação Cirúrgica
n % n % n %
Neoplasia mamária 29 16,57 40 20,1 69 18,45
Neoplasias em sistemas variados 32 18,28 26 13,06 58 15,51
Fratura de ossos longos e pelve 27 15,43 23 11,56 50 13,37
Procedimentos ortopédicos em geral 19 10,86 19 9,56 38 10,16
Tratamento periodontal 15 8,57 18 9,04 33 8,82
Otohematoma 10 5,71 14 7,03 24 6,42
Piometra 7 4 12 6,03 19 5,08
Hérnia Perineal/Inguinal 8 4,57 10 5,02 18 4,81
Cirurgias no sist. repr. masc. e fem. 10 5,71 8 4,02 18 4,81
Cirurgias neurológicas 7 4 9 4,52 16 4,28
Cirurgias Oftálmicas 6 3,43 9 4,52 15 4,01
Procedimentos odontológicos diversos
1 0,57 5 2,51 6 1,06
Outros 4 2,28 6 3,01 10 2,67
TOTAL
175 100 199 100 374
100
*Alguns animais apresentaram mais de uma alteração
18,4
42
15,5
55,2
13,4
54
10,2
50
8,8
45,4
6,4
41,7
5,1
36,8
4,8
44,4
4,8
55,5
4,3
43,7
4
40
1,1
16,7
4,3
31,2
0
10
20
30
40
50
60
70
80
Neop.
mamár.
Neop. Div. Fraturas P. Ortop.
Div.
Trat.
Perio.
Otohem. Piomet. Hérnias Sist. Rep. C. neuro. C. oftál. Odont.
Div.
Outros
Frequência das indicações cirúrgicas Frequência dos animais com alteração
FIGURA 4.
Freqüência (%) das indicações cirúrgicas analisadas e seu percentual
correspondente de cães que apresentaram alterações eletrocardiográficas
pré-operatórias.
Os cães que foram estudados, em ordem decrescente de freqüência foram: SRD
48,52%, Poodle 22,78%, Cocker spaniel 5,27%, Pastor alemão 4,64%, Pinscher 4,43%
Doberman 2,32%, Dachshund 1,9%, Yorkshire 1,69%, Boxer 1,05%, e outras raças que
totalizaram 7%, mas que representaram menos de 1% cada uma (Figura 5). Como os cães
SRD e da raça Poodle representaram mais de 70% dos animais avaliados, demonstrando ter
alta freqüência na nossa região, essas raças também foram analisadas em separado para cada
índice avaliado. Os cães que apresentaram maior percentual de alterações eletrocardiográficas
foram: Doberman, Boxer, Yorkshire, SRD e Poodle (Figura 6). Uma vez que o Doberman e o
Boxer apresentam uma tendência familiar para o desenvolvimento de cardiomiopatia dilatada
(CMD) (Calvert, 2002), pode-se ter verificado uma percentagem maior de alterações
eletrocardiográficas nestas raças com relação às demais devido à predisposição ao
desenvolvimento dessa cardiopatia.
Em nosso estudo, 46,2% dos cães submetidos à avaliação eletrocardiográfica pré-
operatória apresentaram alterações, indicando uma alta freqüência de anormalidades assim
como o verificado por Rabelo (2004) em sua análise com 34 cães, apesar de ter diferido do
percentual de 64,7% observado por este.
49%
23%
7%
5%
5%
4%
2%
2%
2%
1%
SRD
Poodle
Cocker
Pastor Alemão
Pinscher
Doberman
Dachshund
Yorkshire
Boxer
Outras
FIGURA 5.
Prevalência (%) de raças de pacientes caninos
encaminhados para avaliação eletrocardiográfica pré-
operatória.
48,52
47,83
22,78
46,29
5,27
32
4,64
40,9
4,43
38,09
2,32
63,64
1,89
44,44
1,68
50
1,05
60
7,38
45,71
0
20
40
60
80
100
SRD Poodle Cocker P.
Alemão
Pinscher Dober*. Dach. York. Boxer Outras
Frequência das raças Frequência das alterações
FIGURA 6.
Prevalência (%) das raças dos cães encaminhados para avaliação
eletrocardiográfica pré-operatória e seu percentual correspondente
de alterações eletrocardiográficas. * maior percentual de alterações
Quanto à presença de afecção cirúrgica, o grupo de animais que padeciam de alguma
doença e foram encaminhados para cirurgias diversas representaram 79%, e os hígidos,
encaminhados para gonadectomias representaram 21%. Apesar da pequena superioridade para
o grupo padecedor de afecções cirúrgicas (Figura 7), não houve diferença estatisticamente
significativa (p>0,05) quanto à presença de arritmias nas populações analisadas, onde 44%
dos cães encaminhados para gonadectomias, e 46,79% dos encaminhados para cirurgias
diversas (população geral) apresentaram alterações no eletrocardiograma, o que nos indica
independente da presença de afecção cirúrgica é alta a taxa de alterações eletrocardiográficas
tanto para a população geral quanto para a de cães SRD e de Poodles corroborando Rogers et
al. (1993).
44
46,79
44,3
49,66
37,5
47
0
10
20
30
40
50
Geral SRD Poodle
Gonadectomia
s
Cirurgias
diversas
FIGURA 7. Percentual (%) de cães encaminhados para avaliação
eletrocardiográfica pré-operatória com alterações no
eletrocardiograma de acordo com a presença de
enfermidade cirúrgica nas populações geral, SRD e de
Poodles.
De acordo com Tilley (1992) e Gompf (2002) os machos são mais propensos a
desenvolverem doenças cardíacas, o que provavelmente influenciou nos resultados deste
estudo onde, os mesmos que representaram 35% da amostra, apresentaram mais alterações
eletrocardiográficas, estatisticamente comprovadas (p<0,05) que as fêmeas (representando
65%) nas freqüências de 52,7% e 42,7%, respectivamente (população geral) (Figura 8).
Apesar da freqüência ainda elevada, o mesmo não foi observado para a população de cães
SRD e Poodles. Uma vez que foi pequeno o percentual de raças predispostas ao
desenvolvimento de CMD analisadas com relação às demais raças, não podemos afirmar
assim como Ohara (2003a) que os machos predominam nessa enfermidade específica. (Figura
5). A freqüência da alteração Sinus arrest” foi significativamente (p<0,01) superior nas
fêmeas que nos machos (80% e 20% respectivamente) (Figura 9), não tendo sido observada,
entretanto, relevância em relação às demais alterações eletrocardiográficas identificadas
(Tabela 3).
42,7
52,7
45
55
40
56
0
10
20
30
40
50
60
Geral* SRD Poodle
Fêmeas
Machos
FIGURA 8.
Percentual (%) de cães machos e fêmeas com alterações
eletrocardiográficas na população geral, SRD e de Poodles
encaminhados para eletrocardiograma pré-operatório. *p<0,05.
FIGURA 9.
Percentual (%) da alteração "Sinus arrest"
em comparação com as demais
anormalidades eletrocardiográficas
verificadas em machos e fêmeas da
população geral. *p<0,01.
A freqüência de cães obesos e o obesos que apresentaram alterações
eletrocardiográficas foi de 63,88% e 44,84%, respectivamente, na população SRD, que
representa 48,52% do total de animais avaliados, sendo estatisticamente significativa (p<0,05)
a proporção de obesos com anormalidades (Figura 10), corroborando alguns autores da
medicina humana (Atkins, 1999; Wofford e Hall, 2004) e veterinária (Jericó et al., 2006) que
associam à obesidade a presença de arritmias e a elevada freqüência de alterações nos
traçados. Semelhante ao observado por Jericó et al. (2006) que verificou uma freqüência de
72,4% de cães obesos com alterações, ressaltando assim a importância da realização da
avaliação eletrocardiográfica pré-operatória nos cães obesos. Entretanto, variações
20
80
44
56
0 20 40 60 80 100
Machos
Fêmeas*
Sinus Arrest Outras alterações
significativas não foram observadas entre cães obesos e não obesos das populações geral e de
Poodles.
55,69
44,3
63,88
44,84
58,82
43,96
0
20
40
60
80
Geral SRD* Poodle
Obeso
Não-obeso
FIGURA 10. Percentual (%) de alterações eletrocardiográficas verificadas
nos cães obesos e não obesos encaminhados para avaliação
eletrocardiográfica pré-operatória nas populações geral,
SRD e de Poodles.*p<0,05.
De todas as alterações eletrocardiográficas observadas nos cães obesos da população
geral o complexo QRS de baixa voltagem foi a mais freqüente, apresentando-se
estatisticamente relevante (p<0,05) em relação às demais alterações (Figura 11), diferindo do
verificado por Pereira (2005) e Jericó et al. (2006), e, ressaltando a observação feita por Tilley
(1992) sobre a relação entre a distância do coração à superfície de registro do ECG e a
amplitude do complexo QRS que pode estar diminuída pelo depósito de gordura. Isto denota a
necessidade de uma análise mais criteriosa do complexo QRS em cães obesos, uma vez que a
amplitude da onda R na maioria das vezes está subestimada nessa população.
FIGURA 11.
Relação entre a freqüência (%) do complexo
QRS de baixa voltagem e demais alterações
observadas em cães obesos e não obesos da
população geral encaminhados para avaliação
eletrocardiográfica pré-operatória.
64
36
82,02
17,98
0 20 40 60 80 100
Não obesos
Obesos*
QRS baixa voltagem Outras alterações
64
36
82,02
17,98
0 20 40 60 80 100
Não obesos
Obesos*
QRS baixa voltagem Outras alterações
Nos cães que apresentavam histórico de cardiopatia, aqueles SRD foram os que mais
demonstraram alterações, tendo sido comprovado (p<0,01) a alta prevalência de alterações
eletrocardiográficas pré-operatórias nessa população. Enquanto isso, a presença de histórico
de doença cardíaca (Figura 12) não foi determinante (p>0,05) para o aparecimento de
alterações eletrocardiográficas na população geral e de Poodles, ressaltando a importância da
realização desse exame também naqueles animais que não apresentem histórico, o que
discorda de Fries (1993) e Futema (2002), pois as alterações eletrocardiográficas nem sempre
estão atreladas à presença de cardiopatia (Lunney e Ettinger, 1997; Goodwin, 2002).
52,27
43,86
64,44
46,55
51,06
43,96
0
20
40
60
80
Geral SRD* Poodle
Com Histórico
Sem Histórico
FIGURA 12.
Percentual (%) de cães com alterações
eletrocardiográficas pré-operatórias com e
sem histórico de cardiopatia nas
populações geral, SRD e de Poodles.
*p<0,01.
Os resultados obtidos quanto a presença de alterações eletrocardiográficas
relacionadas a existência de sinais clínicos cardiovasculares ao exame físico prévio ao
eletrocardiograma, demonstraram que, independente da presença de sinais a alteração
eletrocardiográfica foi verificada frequentemente nas populações geral, SRD e de Poodles
(p>0,05) (Figura 13), discordando de Fries (1993) e Futema (2002) que recomendam apenas
naqueles pacientes em que o exame físico sugira alguma cardiopatia. Vale ressaltar ainda que,
eletrocardiogramas anormais podem ser observados em animais com corações
morfologicamente normais (Lunney e Ettinger, 1997; Goodwin, 2002) e, de forma contrária,
lesões cardíacas nem sempre estão associadas a anormalidades eletrocardiográficas (Atkins,
1999; Miller et al., 1999; Goodwin,2002).
51,51
44,15
51,61
46,43
54,84
42,86
0
10
20
30
40
50
60
Geral SRD Poodle
Com Sinal Físico
Sem Sinal Físico
FIGURA 13. Percentual (%) de cães com alterações
eletrocardiográficas pré-operatórias com e sem
sinais físicos de doença cardíaca ao exame físico
nas populações geral, SRD e de Poodles.
Como fora considerado que a grande variação na conformação corporal e raças dos
cães podem alterar as medidas aceitáveis padronizadas (Tilley, 1992), foram considerados
padrões de peso (até 9,9kg, 10 a 20,0 kg e acima de 20 kg) durante a interpretação dos
eletrocardiogramas conforme sugerem Wolf et al. (2000), a fim de se analisar a atividade
elétrica cardíaca de uma maneira correta e adequada. Dessa forma pôde-se verificar que os
cães da população geral apresentaram alterações no eletrocardiograma na freqüência de
45,08% para os animais com até 9,9kg, 47,85% para aqueles com peso de 10 a 20,0kg e
45,26% para aqueles com mais de 20kg (Figura 14). Tanto para a população geral quanto para
a de es SRD e Poodles, o foram observadas diferenças estatisticamente significativas
(p>0,05) para a relação peso/alteração, evidenciando, desta maneira, a importância da
realização do ECG em todos os cães encaminhados para cirurgia independente do seu peso.
45,08
47,85
45,26
52,54
48,48
38,46
54,84
42,86
0
10
20
30
40
50
60
Geral SRD Poodle
até 9,9Kg
10 a 20Kg
> 20Kg
FIGURA 14. . Percentual (%) de alterações
eletrocardiográficas no pré-operatório de cães
de acordo com o peso nas populações geral,
SRD e de Poodles.
Na relação presença de alterações e idade, não foi verificada diferença estatística
significativa (p>0,05) para os cães filhotes, adultos e idosos de todos os portes analisados
(pequeno, médio e grande) para a presença de arritmias no pré-operatório (Figura 15) o que
ressalta a importância dessa avaliação em qualquer idade, inclusive em cães jovens, contrário
à indicação de Futema (2002). A maior freqüência de cães jovens com histórico de
atropelamento pode ter influenciado na freqüência similar de arritmias comparadas aos cães
adultos e idosos, uma vez que o acidente automobilístico predispõe ao desenvolvimento de
MT num período de até 96 horas após o trauma (Snyder et al., 2001). Através dessa
classificação (idade relacionada ao porte), observação como a de Ramirez et al. (2003), em
que as doenças degenerativas valvulares apresentam ocorrência maior em cães velhos e
pequeno porte, o interferiram em nossa análise. Uma vez que cães com menos de sete
meses apresentam variações eletrocardiográficas relacionadas com a idade (Bright e
Holmberg, 1990), essa população não fez parte de nossa amostra.
45
43,75
47,06
40
47,2
46,43
52,94
48,48
0
10
20
30
40
50
60
Pequeno Médio Grande
filhote
adulto
idoso
FIGURA 15 Percentual (%) de alterações eletrocardiográficas no exame
pré-operatório de cães de acordo com a idade e porte na
população geral.
Na análise entre a anormalidade eletrocardiográfica observada e o sexo (Tabela 3) o
aumento na duração do complexo QRS representou 22,4% das alterações observadas nos
machos e 25,75% das observadas nas fêmeas, entretanto, no estudo individualizado de cada
alteração, apenas a anormalidade na formação do impulso Sinus arrest apresentou
significância estatística (p<0,01) em relação às outras alterações observadas nas fêmeas em
comparação com os machos, como discutido anteriormente (Figura 9) Para as demais
alterações eletrocardiográficas, não foi observado significância estatística.
TABELA 3. Valores percentuais (%) e numéricos (n) da presença de alterações eletrocardiográficas
observadas em machos e fêmeas na população geral de pacientes caninos atendidos no
HV/UFRPE. *
Macho Fêmea TOTAL Alteração eletrocardiográfica
n % n % n
Aumento na duração do QRS 28 22,4 43 25,75 71
Aumento na amp. de T 27 21,6 33 19,76 60
QRS de baixa voltagem 7 5,6 18 10,78 25
Desvio do eixo para esquerda 10 8,0 15 8,98 25
Desvio do eixo para direita 9 7,2 10 5,99 19
P “mitrale” 11 8,8 7 4,19 18
Sinus arrest 3 2,4 12 7,18** 15
Bloqueio de ramo direito ou
sobrecarga ventricular direita
4 3,2 8 4,79 12
Infradesnivelamento de ST 3 2,4 5 2,99 8
BAV de 1º grau 1 0,8 5 2,99 6
CVP 4 3,2 2 1,2 6
Taquicardia Sinusal 2 1,6 1 0,6 3
Supradesnivelamento de ST 1 0,8 2 1,2 3
Taquicardia ventricular 2 1,6 1 0,6 3
Taquicardia atrial 1 0,8 2 1,2 3
CAP 2 1,6 1 0,6 3
Outras 11 8,8 1 0,6 12
TOTAL
125 100 167 100 292
*Alguns animais apresentavam mais de uma alteração. ** p<0,01.
Na relação alteração eletrocardiográfica e a obesidade (Tabela 4), o aumento na
duração do QRS também foi verificada em 26,3% dos cães obesos e em 23,83% dos não
obesos, diferindo de Jericó et al. (2006), que observaram ser a alteração mais freqüente o
infradesnivelamento ou supradesnivelamento do segmento ST (50,7%). No presente estudo a
percentagem dessas alterações juntas foi de apenas 5,26%. Sendo verificada significância
estatística (p<0,05) apenas para a alteração supressão de milivoltagem do complexo QRS,
como discutida anteriormente (Figura 11).
TABELA 4. Valores percentuais (%) e numéricos (n) da presença de alterações
eletrocardiográficas em cães obesos e não obesos na população geral de pacientes
caninos atendidos no HV/UFRPE. *
Obesos Não obesos TOTAL Alteração eletrocardiográfica
n % n % n
Aumento na duração do QRS 15 26,31 56 23,83 71
Aumento na amp. de T 11 19,3 49 20,85 60
QRS de baixa voltagem 9 15,79** 16 6,81 25
Desvio do eixo para esquerda 5 8,77 20 8,51 25
Desvio do eixo para direita 2 3,51 17 7,23 19
P “mitrale” 3 5,26 15 6,38 18
Sinus arrest 4 7,02 11 4,68 15
Bloqueio de ramo direito ou
sobrecarga ventricular direita
3 5,26 9 3,83 12
Infradesnivelamento de ST 2 3,51 6 2,55 8
BAV de 1º grau - - 6 2,55 6
CVP 1 1,75 5 2,13 6
Taquicardia sinusal - - 3 1,28 3
Supradesnivelamento de ST 1 1,75 2 0,85 3
Taquicardia ventricular 1 1,75 2 0,85 3
Taquicardia atrial - - 3 1,28 3
CAP - - 3 1,28 3
Outras - - 12 5,11 12
TOTAL
57 - 235
100 292
*Alguns animais apresentavam mais de uma alteração. **p<0,05
4.6 CONCLUSÃO
Este estudo permitiu verificar que alterações eletrocardiográficas são freqüentes na
avaliação pré-operatória de caninos atendidos no Hospital Veterinário da Universidade
Federal Rural de Pernambuco, e ocorrem independentemente da idade, porte, afecção
cirúrgica, e presença de alterações cardiovasculares ao exame clínico, onde os machos o
mais acometidos e predomínio do aumento na duração do complexo QRS. Concluiu-se
também que predisposição para o aparecimento de complexo QRS de baixa voltagem nos
obesos e de Sinus arrest nas fêmeas. Dessa forma a eletrocardiografia mostrou ser um método
diagnóstico auxiliar de grande importância no pré-operatório de cães e, em especial nos
machos, e SRD que apresentem histórico de cardiopatia ou sejam obesos, visando maior
segurança anestésica e menor risco de complicações cardiovasculares.
AGRADECIMENTOS
A coordenação de Aperfeiçoamento Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela bolsa de
mestrado e ao CNPq pela bolsa de PIBIC da discente Isabelle Neves.
4.7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Medicina interna de pequenos animais. 2 ed., Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001. p.
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WOLF, R.; CAMACHO, A. A.; SOUZA, R. A. A. Eletrocardiografia computadorizada em
cães. Arquivo. Brasileiro de. Medicina. Veterinária e Zootecnia. v. 52, n.6, p. 610-615, 2000.
0
5. APÊNDICE
UNIVER
SIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO
DEPARTAMENTO DE MEDICINA VETERINÁRIA
HOSPITAL VETERINÁRIO
FICHA DE IDENTIFICAÇÃO E AVALIAÇÃO CLÍNICA DO PACIENTE
ENCAMINHADO PARA PROCEDIMENTO CIRÚRGICO
Ficha Nº __________ Data: _____/_____/_____ convencional computador
Nome: _____________Raça: ___________Idade: _______ Peso: _____kg M F
Proprietário: ______________________________________Fone (s): ___________
Endereço: ______________________________________________________________
Encaminhado por: ____________________________
Histórico Clínico_____________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Alterações recentes no consumo de água ou alimento?_____________________________
Apresentava alguma doença anterior? Qual?______________________________________
__________________________________________________________________________
Tipo de atividade normal _____________________________Cansa-se com facilidade?____
___________________________________________________________________________
Apresentou tosse? (descrever episódios) ________________________________________
__________________________________________________________________________
Cianose?__________________________Desmaios?_______________________________
Respiração difícil, forçada ou ofegante?__________________________________________
Faz uso contínuo de alguma medicação? Dose?___________________________________
__________________________________________________________________________
Tomou algum medicamento hoje?______________________________________________
Indicação cirúrgica: _____________________________
EXAME FÍSICO
FC: ________ FR: ________ TPC: ____ HID:__________ TR:________
Mucosas__________________ Estado Nutricional: ______________________
Olhos_____________________________________________________________________
Cav. Oral_________________________________________________________________
Linfonodos_________________________________________________________________
Abdomen: fígado______________ baço_______________ dor_______________________
Genito-urinário______________________________________________________________
EXAME CARDIOVASCULAR /RESPIRATÓRIO
Pulso arterial: forte fraco hipercinético c/défict alternante paradoxal
Veias jugulares: distensão pulso presente
Acúmulo de líquido: abdomen tórax pericárdio
Précordio:______________________
Auscultação cardíaca: ritmo_________________________sopro_____________________
Padrão de respiração: _______________________________________________________
Narinas__________________Traquéia__________________________________________
Laringe__________________________Faringe____________________________________
Auscultação pulmonar: esq. _________________________dir._______________________
Parede torácica : ____________________________________________________________
EXAMES COMPLEMENTARES
__________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________
AVALIAÇÃO ELETROCARDIOGRÁFICA
Estado comportamental: tranqüilo agitado tremendo tenso
Ritmo_____________________
FC= ______ bpm Valores método convencional (Tilley, 1992)
P = ______s X ______ mv P= 0,04s X 0,4mv
PR = ___________s PR int. =0,06-0,13s
QRS = __________s QRS= 0,05s X 2,5mv (P)
R = _______mv 0,06s X 3,0mv (G)
T = _______mv T <25%R
QT = ___________s QT int. =0,15 - 0,25s
ST = _____________ ST elevação>0,15mv
Depressão >0,2mv
Diagnóstico:
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
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