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São as suas narrativas que “relembram e representam as suas experiências significativas".
118
Para fundamentar essas reflexões sobre o estágio de vida na adolescência e suas referências de
fé, cito Fowler, quando diz:
O jovem começa a projetar o mito em formação do próprio eu para papéis e
relacionamentos futuros. Por um lado, esta projeção representa a fé no eu que a
pessoa está se tornando e confiança de esse eu será recebido e ratificado pelo futuro.
Por outro lado, traz o medo de que o eu possa errar de foco, possa não encontrar
lugar junto a outras pessoas e possa ser ignorado, não descoberto ou relegado à
insignificância pelo futuro.
119
Essas vivências fundamentais da “Fé sintético-convencional”
120
, pesquisadas por
Fowler, têm como base os estudos da psicologia do desenvolvimento de Erikson
121
. Nessa
construção hipotética do adolescente, ele compõe imagens dele próprio, em que, de forma
resumida, o autor diz: “Você se vê conforme eu o vejo: eu vejo o eu que acho que você vê”.
122
Toda complexidade do mundo, nas manifestações humanas, apresenta-se no novo
cenário vivido pelo adolescente. Muitas inquietudes com “namoro”, “risco com gravidez”,
“doenças sexualmente transmissíveis”, “cuidado com a vida sexual”, “sua popularidade”, ou
mesmo, “perder os pais ou pessoas queridas”, denotam a fragilidade com assuntos e vivências
118
FOWLER, 1992, p. 130.
119
Ibid. , p. 131.
120
Para compreender os estudos de James Fowler sobre a fé, Miranda (2003), explica que ele ‘organizou e
sistematizou a dinâmica desenvolvimental da fé, através do que ele chama de estágios da fé. Esses estágios
abarcam várias dimensões inter-relacionadas do conhecimento, valoração, comprometimento e ação humana,
as quais devem ser consideradas em conjunto para o entendimento, a criação e manutenção da busca de
sentido humano. A fé, na concepção desse autor, é compreendida/entendida como fé humana. Significa dizer
que o viver humano é viver pautado e referenciado por perguntas de fé que emergem do pensar, questionar,
experenciar, refletir, viver, buscar na vida e com a vida respostas, caminhos, algum sentido no estar vivo,
vivendo’. [...] Na seqüência, a autora ainda comenta que Fowler (1992) amplia seus estudos com ‘importante
escola da psicologia do desenvolvimento, a dos teóricos psicossociais, na figura de Erikson, destaca o
entendimento da dinâmica envolvida nos demais desafios/crises previsíveis no decorrer do ciclo da vida,
relacionados aos estágios estruturais da fé’. FOWLER, 1992 apud Miranda 2003, p. 81 – 82.
Portanto, entre os diversos estágios, a adolescência se denomina como: Fé sintético-convencional, consiste
no Estágio 3 dos estudos do Desenvolvimento Psicossocial e a Fé, com base em Erikson. “Para o estágio 3,
com seu início na adolescência, a autoridade está localizada externamente à própria pessoa. Ela reside nos
‘eles’ interpessoalmente disponíveis ou em pessoas legalmente incumbidas de papéis de liderança em
instituições. Isto não significa negar que os adolescentes façam escolhas ou que manifestem fortes
sentimentos e compromissos referentes aos seus valores e normas de comportamento. Significa, porém, que,
a despeito de seu genuíno sentimento de ter feito escolhas e assumido compromissos, uma leitura mais
verdadeira nos mostra que seus valores e auto-imagens, mediados pelos outros significativos em suas vidas, é
que, em grande parte, escolheram aos adolescentes. E em suas (dos jovens) escolhas, em geral esclarecem e
ratificam aquelas imagens e valores que os escolheram. FOWLER, 1992, p.132.
FOWLER (1992) ainda explica que ‘no estágio 3, fé sintético-convencional, a experiência de mundo da
pessoa amplia-se além da família. Várias esferas exigem atenção: família, escola ou trabalho, companheiros,
sociedade e mídia, e talvez religião. A fé precisa proporcionar uma orientação coerente em meio a essa gama
mais complexa e diversificada de envolvimentos. Ela precisa sintetizar valores e informações; precisa
fornecer uma base para a identidade e a perspectiva da pessoa’. FOWLER, 1992, p.146.
121
FOWLER, 1992 apud ERIKSON, p. 44.
122
FOWLER, 1992, p. 131.