61
61
objetos (Mukerji, 1983). É que a população inglesa, além desenvolver o hábito do chá, o que
os fez criar a sua própria indústria de porcelana, viu inúmeras vantagens no consumo do
algodão indiano (calicoes). O produto, mais barato do que a seda, proporcionava enorme
variedade de padrões; e se o tecido era inicialmente importado para a confecção de roupas de
casa ou anáguas, tornou-se a base para a confecção de uma moda para as ruas. Para evitar
prejuízos comerciais, os ingleses começaram a desenvolver a própria indústria para a
fabricação do algodão (calicoes). Portanto, a moda, ou o que Campbell chama de Revolução
do Consumo antecedeu os esforços para a industrialização (Campbell, 2001). E a
industrialização, proporcionando a acessibilidade de um maior número de camadas sociais às
novidades do vestuário, desvinculou os conceitos de moda e luxo.
Talvez esta democratização da moda e, cada vez mais, de objetos com marcas de luxo
tenha deslocado o padrão de luxo das classes mais altas para a experiência. A revista Vogue
fez uma lista de 10 itens de luxo: “Veja aqui itens irresistíveis para uma experiência luxuosa”.
Seis entre 10 itens pertenciam à esfera da experiência.
65
Ao falar sobre luxo, e mencionar
exemplos, alguns informantes citaram viagens, gastronomia, particularidades como gravar um
CD num estúdio próprio etc.
“Se eu ganhasse hoje na mega sena, a vida de todo mundo vai virar um
inferno, porque eu vou primeiro alugar uma vila na Toscana, ai nós vamos
comer todas aquelas coisas sensacionais, nós vamos tomar todos os
Brunellos de Mont´altino, todos os vinhos... todos. Aí quando a gente
cansar daquilo, aí eu vou alugar uma casa num pátio cordobés em
Córdoba. E aí nós vamos ficar lá comendo rabada, rabo de toro, vamos
ficar tomando todos aqueles vinhos também. Quando a gente estiver com
cirrose, aí eu vou encontrar outro lugar. Aí a gente vai, sei lá...pra
Barcelona. Mas é tudo sempre ligado a viagem, comida, experiência,
assim...” (informante, 35 anos, moradora do Flamengo).
Vestir-se com ícones do luxo, em formas, tecidos e marcas não se constitui, sozinho,
em estatutos do luxo para esta classe média. Uma hipótese para este comportamento são os
65
1. Perfumes JAR; 2. Party Buddys (serviço vip para baladas em geral) – tratamento de celebridade; 3. Carteirinha
de sócio da Soho House (clube exclusivo) – spa
;
4. Cartão de sócio Celux Club
(dentro da loja Louis Vuitton em
Tóquio – já uma tentativa de a própria marca criar a experiência;
5. Uma equipe técnica para cuidar da sua existência:
no mínimo, um analista, massagista,
personal trainer
, nutricionista, homeopata, acupunturista e dermatologista;
6.
Relógio Cartier modelo Santos;
7.
Um jantar no Restaurante Julio Verne na Torre Eiffel
; 8. Perfume Bar, butique de
perfumes em Nova York, onde um frasco com 97 ml sai mais ou menos a R$ 480; 9. Pintura negra de Valdirlei Dias
Nunes;
10.
Almoço no Restaurante Dal Pescatore em Canneto sull’Oglio, na Itália
. “Múltipla escolha flexível...”,
2005.