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Quero dizer que temos em Santa Cruz do Sul um departamento de pesquisa, de
estatística altamente confiável. É o Nupes (Núcleo de Pesquisa Social) da Unisc.
Não foi a Afubra, não foi uma organização de interesse que fez essa pesquisa, de
que o Sr. Relator vai precisar muito – tenho certeza.Eu gostaria que S. Exª
analisasse. Se não quiser nos consultar, pode consultar quem fez a pesquisa.
Verificamos, então, alguns dados que eu não tinha revelado por considerar este um
momento especial. Hoje, neste ano 2003/2004, 62% dos nossos agricultores
possuem telefone; 98,5% possuem geladeira; 94,5%, freezer; 100%, televisão;
veículos, se somarmos o caminhão, o utilitário, automóvel e bicicleta chega a
1,13% por família, e também para não esquecer de dar uma olhada na renda, porque
nós agricultores que plantamos fumo plantamos também outras culturas.
Os fumicultores têm uma renda – e deve ser olhado para essa pesquisa – de
R$28.996,70. Os não-fumicultores aparecem com R$12.985,00. Como isso é uma
pesquisa isolada, parece, podemos olhar a de 2002. Quero dizer que a de 2002 tem
dados tão interessantes que imaginávamos que precisávamos fazer em 2004, para
ver se realmente o (inaudível) não se enganou. (BRASIL. Senado Federal, 2004b,
p. 12)
Isso foi para nós, os fumicultores, que escutamos, uma coisa muito forte. Pedimos à
Unisc: “Vocês vão lá no Paraná, lá em Santa Catarina, lá no Rio Grande do Sul e
verifiquem como essa gente mora”. Os senhores estão vendo lá: 53, 9% de casas de
alvenaria e 46,1% chalés. Eles têm, em média, mais do que uma casa, porque
muitos têm uma propriedade (inaudível) tem mais de uma casa – 6,3 cômodos – e
me parece que não é tão barato assim. As nossas casas são simples, é verdade.
Temos 97,2% de energia elétrica instalada. Perguntamos: “Mas o que vocês têm
mais?” A Unisc perguntou. Sessenta e dois por cento tem telefone. Estes dados
estão à disposição. Eu posso dar ordem para que a Unisc forneça para todos.
Noventa e oito e meio por cento tem geladeira, 95,4% tem televisão, aliás, freezer,
e 100% tem televisão e até mais de 60% tem antena parabólica e até luz. Sessenta e
três vírgula um por cento tem auto. Não é, Senadores, um carro zero quilômetro,
mas eles têm a sua condução.”
16
(BRASIL. Senado Federal., 2005a, p. 12).
Este trecho, além de demonstrar a utilização de instituições para legitimar o discurso
de entidades permite mais duas aferições: uma diz respeito à questão de dominação da
instituição pela entidade econômica e a outra, à utilização de recursos para mobilizar a
segmento dos agricultores e incitá-los contra as entidades que defendem a ratificação. Isto se
deve pelo fato de que os fumicultores possuem uma forte identidade, que os diferenciariam de
outros agricultores. Job (2003) ressalta em seu trabalho sobre os fumicultores de Santa Cruz
do Sul, RS, dois aspectos que diferenciariam os produtores de fumo: um étnico e outro ligado
à própria produção de tabaco.
Além deste aspecto étnico, no meio rural os pequenos produtores de fumo, nas suas
falas, se diferenciam dos “outros” agricultores, produtores de milho, feijões, etc.
Dizem-se satisfeitos com esta cultura do fumo, por ela ser mais lucrativa e rentável
que qualquer outra, apesar do preço pago pelas fumageiras nunca ser o pretendido.
(JOB, 2003, p. 23)
16
A parte do texto destacada (sublinhada) foi inserida na Ata pelo Senado Federal, em 04/11/2005 (8:53).