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Sandra Márcia de Melo
A Comunicação Social do IBGE e as novas tecnologias para a
integração da informação: o caso da introdução da Internet
Rio de Janeiro
Agosto de 2007
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2
Sandra Márcia de Melo
A Comunicação Social do IBGE e a Internet: as novas tecnologias para a
integração da informação
Fundação Getúlio Vargas
Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea - CPDOC
Programa de Pós-Graduação em História, Política e Bens Culturais - PPHBC
Mestrado Profissionalizante em Bens Culturais e Projetos Sociais
Dissertação de Mestrado
Orientadora: Profª Drª Lúcia Maria Lippi Oliveira
Rio de Janeiro
Agosto de 2007
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3
FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS
CENTRO DE PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO DE HISNTORIA
CONTEMPORÂNEA DO BRASIL - CPDOC
PROGRAMA DE PÓS- GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA, POLÍTICA E
BENS CULTURAIS PPHPBC
MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM BENS CULTURAIS E PROJETOS
SOCIAIS
A COMUNICAÇÃO SOCIAL E A INTERNETDO IBGE: AS NOVAS
TECNOLOGIAS PARA A INTEGRAÇÃO DA INFORMAÇÃO
Banca examinadora:
Profª Lúcia Maria Lippi Oliveira Doutora em Sociologia
Profª Helena Maria Bomeny Garchet Doutora em Sociologia
Prof. Roberto Schmidt de Almeida Doutor em Geografia
Profª Ângela de Castro Gomes Doutora em Ciência Política
(Suplente)
4
AGRADECIMENTOS
Agradeço especialmente à minha orientadora, Lucia Maria Lippi Oliveira, que
com sua paciência conseguiu me fazer terminar este trabalho, pois muitas
vezes me pareceu impossível.
Agradeço a Jorge Luiz Veschi, um dos responsáveis por eu ter chegado até
aqui.
Agradeço aos meus queridos irmãos Carlos Augusto, Silvia Helena e Maria
Cristina, pois souberam respeitar minha ausência.
Agradeço aos amigos que, direta ou indiretamente, colaboraram para o
cumprimento de mais uma etapa da minha vida. Foi um caminho difícil, mas
consegui chegar.
Agradeço o valiosíssimo trabalho da querida amiga e revisora Rosina Bezerra
de Mello Santos Rocha.
Agradeço a Paulo, pelo estímulo e compreensão nos últimos anos.
5
EPÍGRAFE
[Pois] se a informação é a mais poderosa força de transformação do homem, [o] poder da
informação, aliado aos modernos meios de comunicação de massa, tem capacidade ilimitada
de transformar culturalmente o homem, a sociedade e a própria humanidade como um todo.
(ARAÚJO, 1994. p.84).
6
RESUMO
O presente trabalho tenta mostrar a importância da aplicação de novas
tecnologias no mundo globalizado, especialmente a rede Internet, como
ferramenta indispensável na melhoria da qualidade da divulgação dos estudos
produzidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, pela
Coordenação de Comunicação Social do órgão. A pesquisa valeu- se de
documentos administrativos, tais como Decretos, Resoluções, Portarias,
Boletins de Serviço, entre outros materiais disponíveis que pudessem auxiliar
nessa memória institucional. Utilizou como embasamento teórico a literatura
especializada e para a pesquisa qualitativa aplicou a metodologia pertinente à
pesquisa com coleta de dados da História Oral. Com o propósito de resgatar e
percorrer o caminho histórico da criação do site do IBGE na Internet e a
ampliação de seu uso por localidades do Brasil, esta pesquisa priorizou a
importância que a Internet teve para a divulgação e disseminação dos
trabalhos produzidos pelo IBGE. Para poder analisar esse processo foi preciso
recorrer a alguns conceitos capazes de ajudar na reflexão sobre as
transformações em curso, tais como: inovação tecnológica, cultura
comunicacional, globalização, identidade global, identidade nacional, entre
outros.
7
ABSTRACT
The present essay tries to show the importance of the application of new
information’s’ technology in the global world, especially the Internet, as
indispensable tool in the improvement of the quality of the spreading of the
studies produced for the Brazilian Institute of Geography and Statistics -
IBGE, for the Coordination of Social Communication of the agency. The
research was used administrative documents, such as Decrees, Resolutions,
Bulletins of Service, material among others available that could assist in this
institutional memory. Specialized literature used as theoretical basement and
for the qualitative research it applied the pertinent methodology to the
research with collection of data of Verbal History. With the intention to
rescue and to cover the historical way of the creation of the site of the IBGE
in the Internet and the magnifying of its use for localities of Brazil, this term
prioritized the importance that the Internet had for the spreading and
dissemination of the works produced for the IBGE. To be able to analyze this
process it was necessary to appeal to some concepts capable to help in the
reflection on the transformations in course, such as: technological innovation,
comunicacional culture, globalization, global identity, national identity,
among others.
8
SUMÁRIO
1. Introdução.........................................................................................09
2. O processo de globalização e o Brasil.................................................13
2.1 - Globalização: alguns conceitos..................................................14
2.2 - O Brasil na era da globalização.................................................20
3. Memória e Identidade no contexto globalizado...................................24
3.1 - Informação e identidade............................................................27
3.2 - O mundo globalizado e a informação..........................................29
3.3 - Memória identidade e informação..............................................33
4. A Internet e o IBGE...........................................................................40
4.1 Surge a rede mundial de computadores.......................................40
4.2 Um pouco da história do IBGE..................................................42
4.3 A Internet no IBGE..................................................................44
5. A Comunicação Social e a Internet.....................................................53
6. Conclusão..........................................................................................61
Referências............................................................................................63
Anexo 1.................................................................................................67
Anexo 2.................................................................................................68
Anexo 3.................................................................................................85
9
1. INTRODUÇÃO
O mundo globalizado já é realidade. O planeta está em nossas mãos,
bastando um clique no computador. Essa realidade não atinge a totalidade
dos cidadãos, pois poucos têm essa oportunidade, entretanto, as empresas
procuram direcionar a todos tal facilidade e a cada momento elas podem
acompanhar os passos de suas concorrentes, não importando se a empresa é
privada ou pública.
Foi a partir da compreensão da universalidade desse processo de
comunicação em rede que surgiu meu interesse em investigar a globalização e
seus efeitos numa instituição de extrema importância para o País, o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE.
Órgão oficial das estatísticas e demarcações territoriais nacionais
inaugurou sua página na Internet em 1995. Nessa época estava eu retornando
à Coordenação de Comunicação Social do IBGE, onde prestei serviço durante
os últimos 12 anos, e pude acompanhar, bem proximamente, todos os efeitos
que essa ferramenta trouxe à rotina da Coordenação, bem como acompanhar o
processo de inserção do resultado das pesquisas divulgadas pelo IBGE nos
órgãos de imprensa, em todo o território nacional.
Realizei diversas viagens pelo Brasil, especialmente entre os anos de
1997 e 2000, período em que tive a oportunidade de conversar com os colegas
que trabalhavam nas Unidades Estaduais
1
, especialmente com os chefes dessas
unidades, e com os responsáveis dos Setores diretamente ligados ao
atendimento à sociedade, cuja denominação era Setor de Documentação e
Informação SDDI.
2
Dessa experiência profissional nasceu a idéia de
1 Unidade Estadual é o escritório do IBGE localizado em cada unidade da federação, além
do Distrito Federal. São 27 no total.
2 Setor de Documentação e Disseminação de Informações - SDDI hoje chamado
Supervisão de Documentação e Disseminação de Informações - SDI, conforme resolução
do Conselho Diretor n.5 de 03/05/2006 - constitui-se num posto avançado (representante)
do Centro de Documentação e Disseminação de Informações - CDDI, instalado em todas as
26 capitais do país e também no Distrito Federal, que tem como objetivo o atendimento
aos usuários internos e externos, tanto para consulta ao acervo quanto para venda do
material produzido pelo IBGE.
10
acompanhar o trabalho de divulgação do material produzido pelo IBGE e
executado pela Coordenação de Comunicação Social, considerando a
aplicação de novas tecnologias como ferramenta de disseminação de
informações, em especial, a Internet. Ao aprofundar essa observação, este
trabalho desejava contribuir para a melhoria da comunicação entre a
Comunicação Social do IBGE, realizado pela Coordenação de Comunicação
Social, a mídia e os usuários das informações produzidas pela Instituição.
A princípio, a proposta visava a pesquisar a ampliação do uso das
ferramentas tecnológicas, no caso a Internet, como um importante instrumento
de divulgação das pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IBGE, consagrando, definitivamente, o encurtamento das distâncias
geográficas deste país de dimensões continentais.
O levantamento teria o intuito de verificar se localidades longe das
principais capitais do País
3
recebiam a informação com a qualidade e a
eficiência desejadas pela Comunicação Social do IBGE. A cidade escolhida
para laboratório desse estudo foi a capital do estado de Roraima, Boa Vista,
porque dista mais de cinco mil quilômetros do Rio de Janeiro, abriga somente
um escritório responsável pelo levantamento das mais diversas pesquisas,
tanto na área socioeconômica quanto nas geociências, além de ser um
município com 249.655 habitantes
4
, pertencente à região amazônica, local de
uma hibridez cultural especial. Também existia uma curiosidade acerca do
tratamento dispensado às notícias veiculadas através da página do IBGE, na
Internet, que, a princípio, poderiam ser realizadas por meio de entrevistas
orais com editores dos dois principais jornais impressos da capital de
Roraima, Folha de Boa Vista e Brasil Norte.
O trabalho deveria conter inicialmente um breve histórico sobre a
introdução da Internet no IBGE, o lançamento da página na www
5
, além da
inserção da CCS nesse processo. Entretanto, quando dei início à pesquisa,
3 Em especial, observar cidades mais distantes do Rio de Janeiro, onde fica a sede da
Fundação e a Coordenação de Comunicação Social.
4 Dados referentes à projeção da população para 1º de julho de 2006, disponível no site
<www.ibge.gov.br.>
5 World Wide Web serviço disponível para o acesso na Internet que permite o acesso de
forma bastante simples a diversas informações em diferentes sistemas, onde a forma
padrão é o hipertexto, localizados em servidores em várias partes do mundo.
11
percebi uma realidade diferente da imaginada. O IBGE não tinha, de forma
sistematizada, a história da implementação e implantação do seu processo de
integração e conexão à rede mundial de computadores, a Internet, nos
arquivos da Diretoria de Informática DI, do Centro de Documentação e
Disseminação de Informações CDDI, e, muito menos, a Coordenação de
Comunicação Social CCS.
Por essa razão, o propósito de resgatar e percorrer o caminho histórico
da criação do site do IBGE na Internet e a ampliação de seu uso por
localidades do Brasil tornou- se um trabalho hercúleo e de difícil realização
levando em conta o exíguo prazo de tempo da dissertação de mestrado.
Ocorreu, então, um realinhamento no levantamento das informações e a
proposta passou a ser apenas acompanhar e indicar a importância que a
Internet teve para a divulgação e disseminação dos trabalhos produzidos pelo
IBGE.
Definido o novo caminho - relatar a trajetória da implantação da
Internet no IBGE - foram utilizados documentos administrativos, tais como
Decretos, Resoluções, Portarias, Boletins de Serviço, entre outros materiais
disponíveis que pudessem auxiliar nessa memória institucional.
A metodologia pertinente à pesquisa com coleta de dados da História
Oral também foi utilizada. Foram ouvidos a primeira chefe da Comunicação
Social do IBGE, Shirley Soares Dias de Souza, a gerente da Gerência de
Serviços On- Line GEON do Centro de Documentação e Disseminação de
Informações CDDI, Edna Rodrigues Campello, Paulo Cesar Quintslr,
Coordenador de Atendimento COATI, do CDDI, e Luiz Mário Gazzaneo,
Coordenador da Coordenação de Comunicação Social do IBGE desde
setembro de 2000. Também houve algumas tentativas de ouvir Etienne César
Ribeiro Oliveira, Gerente de Sistemas de Informações Diretoria de
Informática, mas imprevistos impediram a realização da entrevista.
Por intermédio da Internet foi feita uma entrevista com Carlos Henrique
Vieira, que ocupou a Comunicação Social do IBGE no período de 1995 e
1999, devido à impossibilidade realizar entrevista ao vivo, já que Carlos
Vieira reside, há alguns anos, na capital paulista.
12
Apesar das dificuldades encontradas, as entrevistas trouxeram uma
contribuição valiosa para o trabalho, na medida em que permitiram, de alguma
forma, acompanhar a evolução ocorrida na forma de se divulgar e disseminar
as informações produzidas pelo IBGE. Elas indicam que profissionais do
IBGE estão buscando um processo de disseminação democrática e equânime
de informações respondendo a uma demanda da sociedade que, em última
instância, financia o Instituto.
O presente estudo traz, em seu desenvolvimento, uma breve análise da
inserção do Brasil no contexto da globalização mundial, seguido de um
capítulo que apresenta alguns conceitos que contribuem para a compreensão
do processo de interdependência entre as nações e sua interferência na noção
de identidade nacional, cultural, e individual, entre outros. O capítulo quatro
faz um relato sucinto da memória do IBGE, desde sua criação até seu
processo de informatização. O quinto e último capítulo pretende refletir sobre
a importância das novas tecnologias de informação como ferramenta
fundamental para garantir a qualidade das divulgações de resultados das
pesquisas realizadas pelo IBGE, para democratização da informação, e para a
construção da memória e identidade nacional diante do mundo globalizado,
ressaltando a atuação da Coordenação de Comunicação Social do IBGE, na
execução dessa tarefa.
13
2. O PROCESSO DE GLOBALIZAÇÃO E O BRASIL
A humanidade, ao longo de seu processo de evolução, mudou sua
organização social. Dos grupos nucleares familiares para formação de tribos,
aldeias, vilas que, posteriormente, passaram a se unir em cidades, estados e
nações. Agora, o mundo chegou a uma condição que se conhece como "aldeia
global”,
6
na qual todas as nações e povos do planeta se tornaram altamente
interdependentes.
O fenômeno da globalização é, portanto, no dizer de Sefidvash,
7
resultado de um processo natural dessa evolução, que caminhou em direção a
uma situação de total interdependência entre os povos. A globalização não é,
assim, uma invenção de alguma nação em particular. Na visão do autor, o
problema do mundo atual não está na globalização em si, mas, sim, em não se
saber como viver dentro dessa nova realidade. A globalização resulta do
rápido desenvolvimento dos sistemas de comunicação e transportes e deve ser
considerada uma valiosa oportunidade para que os povos do planeta possam se
unir e harmonizar seus interesses de modo a se beneficiarem mutuamente com
os recursos materiais e culturais existentes.
Sefidvash destaca que a história da humanidade contém organizações
sociais que ora são centralizadas, ora descentralizadas. Para ele, na
consolidação do vasto império romano, que só podia operar com considerável
descentralização ainda que possuísse excelentes comunicações para sua época,
era fisicamente impossível exercitar um controle centralizado do dia-a-dia.
A queda de Roma levou a uma tentativa da igreja católica de
estabelecer um governo centralizado para o Santo Império Romano. Este foi
temporário. A luta política entre os controles centralizado religioso e
6 Marshall McLuhan, literato canadense, foi quem, em 1964, em seu livro “Para entender
os meios de comunicação”, usou pela primeira vez a expressão “aldeia global”.
7 SEFIDVASH, Farhang. Fala no Seminário da UNESCO do Fórum Social Mundial, 25-30
de Janeiro 2001, em Porto Alegre. In: Artigos publicados no Acervo do Pensamento do
cleo de Pesquisa Sobre Governança Global, 2001. Disponível em: <www.rcgg.ufrgs.br>
acesso em 9/08/2007.
14
descentralizado secular provocou uma matança na Europa, por séculos, na
Idade Média, até que o poder descentralizado vencesse. A revolução da
tecnologia da comunicação causada pelo advento da imprensa desempenhou
um papel crucial nesse desfecho
8
.
O processo de globalização a que chegou a humanidade foi alavancado
no período conhecido como “mercantilista”, isto é, o período das Grandes
Navegações que redimensionou o mundo até então conhecido, propagando o
intercâmbio cultural e comercial pelos cinco
9
continentes do planeta.
2.1 Globalização: alguns conceitos
A definição de globalização não é única. Ela varia conforme a ciência
e seu respectivo objeto de estudo e de acordo com o corte diacrônico feito
pelo pesquisador. Por essa razão, encontra-se na literatura especializada uma
multiplicidade de conceituações para um mesmo fenômeno. Entre as
explicações existentes foram selecionadas aquelas que tinham seu foco na
expansão dos meios de comunicação entre os povos, suas causas e
conseqüências.
8 SEFIDVASH, Farhang. Fala no Seminário da UNESCO do Fórum Social Mundial, 25-30
de Janeiro 2001, em Porto Alegre. In: Artigos publicados no Acervo do Pensamento do
Núcleo de Pesquisa Sobre Governança Global, 2001. Disponível em: <
www.rcgg.ufrgs.br> acesso em 9/08/2007.
9
Oceania, que durante a época das Grandes Navegações foi chamada de Novíssimo Mundo,
é o nome usado para variados grupos de ilhas no Oceano Pacífico. Em seu livro recém-
lançado “Beyond Capricorn” (Além de Capricórnio), o jornalista australiano Peter Trickett
prova que os primeiros europeus a descobrirem a Oceania foram os portugueses, em 1522,
quase um século antes dos holandeses e 250 anos antes do capitão britânico James Cook. O
livro foi baseado em antigos documentos e em cartas náuticas do séc. XVI coletados em
bibliotecas da Europa e dos EUA. De acordo com a obra, quatro navios portugueses,
liderados pelo explorador Christopher de Mendonça (que desenhou os primeiros mapas do
Novíssimo Mundo), saíram de Portugal com a missão de descobrir a “Ilha do Ouro” de
Marco Pólo, ao sul de Java e batizou o continente de “Terra Java”. Segundo os
pesquisadores, o então rei de Portugal Manuel I decidiu manter a descoberta em segredo
de Estado, temendo que seu rival nas Grandes Navegações, a Espanha, desejasse tomar
posse de um pedaço do novo território. A teoria é apoiada por descobertas arqueológicas
realizadas na costa oeste da Austrália, onde foram encontrados artefatos portugueses do
século XVI. In: <www.EastStreetPublications.com> Acesso em: 31/08/2007.
15
Baumann
10
define como sendo no final dos anos 1970 que a
globalização assume um caráter marcadamente microeconômico, auxiliado
pelo advento e difusão de novas tecnologias de informação e pela
globalização dos mercados financeiros. Para ele, a globalização econômica
produz efeitos que abrangem as relações produtivas, financeiras e comerciais,
cujos conceitos formulados são insuficientes, dadas as características sem
precedentes e a magnitude do fenômeno.
O adjetivo “global”, conforme Chesnais,
11
surgiu no princípio dos anos
1980, nas grandes escolas de Administração de Empresas de universidades
norte-americanas, tais como, Harvard, Columbia, Stanford, entre outras, e
posteriormente, popularizada em escala mundial. Para essas escolas de
Administração o termo referia-se à disponibilidade de ferramentas de controle
de atividades e distâncias crescentes proporcionadas pela telemática
12
e pelos
satélites de telecomunicações. Portanto, seria necessária a reformulação de
estratégias internacionais, a partir de uma reorganização produtiva e
comercial, que permitisse a expansão dos mercados.
Na definição de Size,
13
globalização
14
é um termo utilizado por
economistas da atualidade para descrever um processo tido como recente, mas
existente desde o início do século XX. Esse nome surge pelo fato de que esse
processo tomou uma amplitude particular desde os anos 1980, em que o
desenvolvimento dos meios de transporte e telecomunicações suprimiu, um a
um, os obstáculos à deslocalização de centros de produção.
A globalização, segundo Gilberto Giovannetti e Madalena Lacerda, é
um processo acentuado pela aceleração e padronização dos meios técnicos,
pela instantaneidade da informação e da comunicação, e pela mundialização
10 BAUMANN, Renato. Uma visão econômica da globalização. In: ____. O Brasil e a
economia global. Rio de Janeiro: Campus/SOBEET, 1996, p.43
11 CHESNAIS, François. A Mundialização do Capital. São Paulo: Xamã, 1996, p.23.
12 A telemática pode ser definida como a área do conhecimento humano que reúne um
conjunto e o produto da adequada combinação das tecnologias associadas à eletrônica,
informática e telecomunicações, aplicados aos sistemas de comunicação e sistemas
embarcados e que se caracteriza pelo estudo das técnicas para geração, tratamento e
transmissão da informação, na qual estão preservadas as características de ambas, porém
apresentando novos produtos derivados destas. PINHEIRO, José Mauricio Santos.
Disponível em http://www.projetoderedes.com.br/artigos/artigo. Acesso em 20/08/2007
13 SIZE, Pierre. Dicionário da Globalização". Tradução e adaptação de Serge Goulart.
Florianópolis: Obra Jurídica Editora, 1997, p. 55-56.
14 Segundo o Dicionário Houaiss o termo data de 1960.
16
da economia. Esse processo promove a reorganização e reestruturação dos
espaços nacionais e regionais, em escala mundial, a partir do controle e
regulamentação dos centros hegemônicos.
15
André Luís Forti Scherer
16
, em seu estudo, revela três grandes
formulações teóricas sobre a origem, o significado e a representação que o
termo globalização adquiriu na atualidade:
Em sua primeira premissa, o autor destaca que o termo globalização é
comumente utilizado em alusão a diversos fenômenos que, após a década de
1970, provocaram uma redefinição nas relações internacionais em diferentes
áreas da vida social, como a economia, as finanças, a tecnologia, as
comunicações, a cultura, a religião, etc.
A segunda premissa de Scherer diz respeito à definição da origem ou do
início do processo de globalização dos diferentes tipos de relação entre os
povos/ nações.
Por último, o autor versa sobre as conseqüências do processo de
globalização, seu caráter parcial e, até mesmo, a "marca" ideológica embutida
no termo, que têm levado a percepção daquilo que Baumann denominou de
paradoxos da globalização. O conceito de globalização tem estado associado,
de forma muito estreita, ao movimento de redução dos entraves políticos à
movimentação de mercadorias e serviços entre fronteiras
17
.
Para Milton Santos
18
, essa globalização cria um meio técnico científico
e informacional em contraposição ao meio natural; promove a transformação
dos territórios nacionais em espaços recebedores da economia internacional;
intensifica a especialização e a divisão social e territorial do trabalho;
concentra e aumenta a produção em unidades menores; e há, também, o
acirramento da tensão entre o local e o global como fruto do processo de
globalização. O autor reconhece, também, a possibilidade de construção de
um mundo globalizado e humano.
15 GIOVANNETTI, Gilberto. e LACERDA, Madalena. Melhoramentos Dicionário de
Geografia. São Paulo: Melhoramentos, 1996, p.93-94.
16 SCHERER, André Luis Forti. Globalização. In: CATTANI, A. D. (Org.) Trabalho e
Tecnologia: dicionário crítico. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 2000.
17 BAUMANN, Renato. Uma visão econômica da globalização. In: ____. O Brasil e a
economia global. Rio de Janeiro: Campus/SOBEET, 1996, p.44,
18 SANTOS, Milton, apud GIOVANNETTI e LACERDA, op. cit., p. 94.
17
Todavia, podemos pensar na construção de um outro mundo,
mediante uma globalização mais humana. As bases materiais do
período atual são, entre outras, a unicidade da técnica, a
convergência dos momentos e o conhecimento do planeta. (...) Mas,
essas mesmas bases técnicas poderão servir a outros objetivos, se
forem postas a serviço de outros fundamentos sociais e políticos.
(...) O primeiro desses fenômenos é a enorme mistura de povos,
raças, culturas, gostos, em todos os continentes. A isso se
acrescente, graças aos progressos da informação, a mistura de
filosofias, em detrimento do racionalismo europeu. Um outro dado
de nossa era, indicativo da possibilidade de mudanças, é a produção
de uma população aglomerada em áreas cada vez menores, o que
permite um ainda maior dinamismo àquela mistura entre pessoas e
filosofias. (...) Trata-se da existência de uma verdadeira
sociodiversidade, historicamente muito mais significativa que a
própria biodiversidade. (...) A universalidade deixa de ser apenas
uma elaboração abstrata na mente dos filósofos para resultar da
experiência ordinária de cada homem.
19
Outro aspecto controverso do processo de globalização diz respeito à
fragmentação dos mercados e à sua relação com o movimento de
regionalização, concomitantemente, em curso. Esses movimentos tendem a ser
caracterizados como incompatíveis, uma vez que a regionalização sendo
impulsionada pelas facilidades em comunicações e transportes levam à
homogeneização dos mercados, enquanto a preservação dos valores nacionais
induz à fragmentação desses mercados.
20
No entanto, os dois processos não
são necessariamente antagônicos, podendo na realidade, reforçarem-se. Nesse
sentido, cabe ressaltar a posição de Ianni para quem "[...] o local e o global
determinam- se reciprocamente, umas vezes de modo congruente e
conseqüente, outras de modo desigual e desencontrado".
21
Acrescenta-se a
isso o fato da globalização homogeneizar os padrões de demanda por meio das
facilidades de comunicação, uniformização de preferências, entre outros, ao
mesmo tempo em que, sob os aspectos tecnológico, organizacional e
mercadológico, leva à fragmentação produtiva e à diferenciação dos
produtos.
22
19 SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência
universal. 10.ed. Rio de Janeiro: Record, 2003, p. 21-22.
20 BAUMANN, Renato. Uma visão econômica da globalização. In: ____. O Brasil e a
economia global. Rio de Janeiro: Campus/SOBEET, 1996, p.47.
21 IANNI, Octavio. Teorias da Globalização. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1996,
p.192.
22 BAUMANN, op.cit., p.48.
18
No contexto cultural, também aparecem diversas definições
convergentes cujas abordagens sobre a globalização dificilmente buscam uma
compreensão geral e integrativa dos diferentes aspectos desse fenômeno, o
qual exige a elaboração de um arcabouço teórico e conceitual que ainda se
encontra em construção.
Uma delas é a de Featherstone
23
, que salienta a uniformização e a
difusão internacional de hábitos, convenções e informação numa escala
crescente, servindo de base para a existência e o aprofundamento de uma
cultura global.
Robertson
24
reconhece ser o mundo atual culturalmente muito mais uno
atualmente do que há cinqüenta anos, mas ressalta a impossibilidade de
definir a conjuntura atual como sendo uma “aldeia global”, uma vez que essa
união não corresponde a uma integração simples das partes.
Diante dessa grande variedade de pontos de vista sobre a globalização,
não devem ser omitidos mais dois. O primeiro é a visão de Listone, bem
como, sua concepção de globalização para o terceiro milênio. O autor propõe
para o novo século o desafio de criar uma nova forma de entender e
estabelecer as relações entre os povos equilibrando os níveis global e
regional, nacional e local de governo numa forma apropriada à encolhida
aldeia global e à estrutura intensiva de coordenação tornada possível pela
atual revolução baseada na tecnologia da informação.
25
O segundo ponto de vista, representado pela opinião de Farhang
Sefidvash,
26
sinaliza que a meta da sociedade mundial para o terceiro milênio
deve articular a visão de inclusão global e oferecer sugestões concretas sobre
como governos, a Organização das Nações Unidas-ONU e os povos do mundo
23 FEATHERSTONE, Mike. Cultura global: introdução. In:____. Cultura global:
nacionalismo, globalização e modernidade. Petrópolis: Vozes, 1994, p.12
24 ROBERTSON, Rolan. Mapeamento da condição global: globalização como conceito
central. In: FEATHERSTONE, Mike. Cultura global: nacionalismo, globalização e
modernidade. Petrópolis: Vozes, 1994 p.26.
25 LISTONE, Harold. Technology and Governance. In: Artigos publicados no Acervo do
Pensamento do Núcleo de Pesquisa Sobre Governança Global, 2001,02, p. 39. Disponível
em: < www.rcgg.ufrgs.br> acesso em 9/08/2007.
26 SEFIDVASH, Farhang. Fala no Seminário da UNESCO do Fórum Social Mundial, 25-30
de Janeiro 2001 em Porto Alegre. In: Artigos publicados no Acervo do Pensamento do
Núcleo de Pesquisa Sobre Governança Global, 2001. Disponível em: <www.rcgg.ufrgs.br>
acesso em 9/08/2007.
19
podem avançar, neste momento da história, para concretizar tal objetivo. O
autor aponta nessa direção três tendências dominantes, frutos dos esforços
dispendidos, até o presente, para estabelecer uma cultura de paz no planeta:
1) a ascensão da democracia;
2) a expansão do conhecimento humano; e,
3) o reconhecimento da interdependência fundamental da humanidade.
Pela ascensão da democracia, entende-se a completa mudança social,
política e cultural que tem cada vez mais transferido o poder de poucos para
muitos.
A ascensão da democracia pode ser percebida de várias maneiras:
no fim de várias formas de governo autoritário; a preferência
crescente dos Estados por estabelecer governos através de eleições
livres; a ascensão dos movimentos dos povos e da sociedade civil
ao redor do mundo; o comprometimento de governos em envolver o
povo na formulação de políticas; e a ênfase crescente na
transparência, confiabilidade e abertura na tomada de decisões por
parte do governo. Pode ser vista também na proliferação da mídia
de massa, inclusive a Internet, que permite um acesso e
compartilhamento de informação sem precedentes - ambos
componentes essenciais da democracia. Também se manifesta no
respeito e proteção crescentes dos direitos humanos para todos.
27
Por expansão do conhecimento humano, entende-se toda a gama de
avanços científicos, tecnológicos e educacionais que têm acelerado o ritmo de
transformação da sociedade. Essa expansão tem estimulado o acesso a uma
vasta quantidade de informação, e esta associada à sua transmissão por vários
meios, seja através da mídia de massa, do ativismo social, da educação, ou,
mais recentemente, da Internet.
O reconhecimento da interdependência fundamental entre todos os
povos do planeta refere-se à mudança de paradigma no pensamento coletivo
que surge com o entendimento crescente de que a vida de cada pessoa está
inextricavelmente conectada uma a outra, como membros de uma única raça
27 SEFIDVASH Farhang. Fala no Seminário da UNESCO do Fórum Social Mundial, 25-30
de Janeiro 2001 em Porto Alegre. In: Artigos publicados no Acervo do Pensamento do
Núcleo de Pesquisa Sobre Governança Global, 2001. Disponível em: <www.rcgg.ufrgs.br>
acesso em 9/08/2007.
20
humana, dividindo um planeta com recursos naturais limitados
28
.
Independente do nome recebido “a aldeia global”, “a nave Terra”,
“cidadania mundial”, “consciência planetária”, e outros essa interligação
está, efetivamente, no coração das mudanças profundas que ocorrem na vida
ordenada da humanidade alcançada através do processo histórico de evolução,
na qual todas as nações e povos tornaram- se altamente inter- relacionados. O
fenômeno da globalização entendido como o resultado originado pela
crescente mobilidade das pessoas e pela rapidez dos meios de comunicação
envolve todos os aspectos da vida humana, incluindo o social, cultural e
religioso e não apenas o aspecto econômico, que é normalmente discutido.
29
Portanto, o problema enfrentado não é o advento da globalização, mas o
fato de não saber como viver e lidar com os assuntos e fatos sob essa nova
realidade. Assim sendo, as discussões sobre a ordem mundial têm grande
relevância para todos aqueles preocupados com o futuro da humanidade e
desejosos de que essa globalização não se restrinja, simplesmente, a acordos
econômicos beneficiando somente aos poderosos.
30
2.2 O Brasil na era da globalização
Retornando à globalização sob a dimensão cultural, pode- se dizer que
uma de suas principais características é aquilo que Hall
31
chama de
‘compressão espaço-tempo’. A aceleração dos processos globais faz o mundo
parecer menor e as distâncias mais curtas. As formas de comunicação
tornaram- se muito ágeis nas últimas décadas, criando a ilusão de que todo o
espaço está homogeneizado.
28 SEFIDVASH, Farhang. Fala no Seminário da UNESCO do Fórum Social Mundial, 25-30
de Janeiro 2001 em Porto Alegre. In: Artigos publicados no Acervo do Pensamento do
Núcleo de Pesquisa Sobre Governança Global, 2001. Disponível em: <
www.rcgg.ufrgs.br> acesso em 9/08/2007..
29 SEFIDVASH, op. cit.
30 SEFIDVASH, op. cit.
31 HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 2002,
p. 69.
21
A globalização torna mais forte as relações sociais em âmbito mundial,
colocando em contato os lugares mais longínquos de tal modo que um fato
ocorrido aqui pode ser conhecido em todo o mundo num período de tempo
ínfimo. Sob o aspecto do impacto, eventos ocorridos num determinado lugar
podem afetar imediatamente pessoas e lugares situados a uma grande
distância
32
. E essa globalização contemporânea é associada “às formas
transnacionais de produção e consumo, ao crescimento exponencial de novas
indústrias culturais impulsionado pelas tecnologias de informação, bem como,
ao aparecimento da ‘economia do conhecimento’”.
33
Dentro desse processo
globalizante insere-se a Internet, ferramenta de comunicação que torna
acessível a idéia de consumo global de informações e conhecimento.
Uma vertente crítica da globalização aqui também se faz presente. Há
que se concordar com Morin quando ele ressalta que o processo globalizante
teve seu surgimento anterior à era internética, começando com a expansão
européia nas Américas, no século XVI. Esse processo de mundialização é
considerado um movimento unilateral por representar, fundamentalmente, a
conquista européia ocidental, liderado por Portugal, na qual os povos
descobertos foram escravizados ou colonizados com uma visão única, sem
direito ao intercâmbio.
34
Depois vieram as guerras, movimento de
universalização pelo poder das armas e da economia. Realizaram intervenções
e implantaram novos modelos de uniformização e padronização dos povos
dominados, como se essas populações não tivessem suas tradições e línguas
próprias.
35
Esse fenômeno também aconteceu no Brasil, quando cá chegou a
família real portuguesa estabelecendo um dinamismo nas negociações da
Coroa Portuguesa com outras nações. Foi uma comunhão de interesses
comerciais que aproximou este país ao outro continente, fazendo desta nação,
“de outrem”, uma nova extensão de Portugal. Vieram para cá hábitos e
32 GIDDENS, Anthony. As conseqüências da modernidade. São Paulo: UNESP, 1991, p.
69.
33 HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 2002,
p. 58.
34 MORIN, Edgar; SILVA, Juremir Machado da. As duas globalizações: complexidade e
comunicação, uma pedagogia do presente. 2. ed. Porto Alegre, Sulina/EDIPUCRS, 2002,
p. 39.
35 MORIN, Edgar; op.cit., p. 39.
22
costumes europeus, especialmente franceses. Estabeleceu-se uma nova rota de
troca de informações, mesmo antes do surgimento do sistema comunicacional
que revolucionou todo o planeta.
No que se refere à cultura dentro do processo de globalização, Milton
Santos apresenta uma tese bastante adequada:
Um exemplo é a cultura. Um esquema grosseiro, a partir de uma
classificação arbitrária, mostraria, em toda parte, a presença e a
influência de uma cultura de massas buscando homogeneizar e
impor-se sobre a cultura popular. Um primeiro movimento é
resultado do empenho vertical unificador homogeneizador,
conduzido por um mercado cego, indiferente às heranças e às
realidades atuais dos lugares e das sociedades. Sem dúvida, o
mercado vai impondo, com maior ou menor força, aqui e ali,
elementos mais ou menos maciços da cultura de massa,
indispensável, como ela é, ao reino do mercado e a expansão
paralela das formas de globalização econômica, financeira, técnica
e cultural. Essa conquista, mais ou menos eficaz segundo os lugares
e as sociedades, jamais é completa, pois encontra a resistência da
cultura preexistente. Constituem-se, assim, formas mistas
sincréticas, dentre as quais, oferecida como espetáculo, uma cultura
popular domesticada associando um fundo genuíno a formas
exóticas que incluem novas técnicas.
36
O movimento de globalização é semelhante ao pulsar do coração: é
sempre de contração e expulsão. As nações resistem e, ao mesmo tempo,
preenchem no seu movimento de expansão e são preenchidas por outras que se
expandem cuja influência as penetra independentemente da vontade dos povos
que habitam o território delineado por rios e montanhas. O fenômeno da
globalização é uma via de mão dupla, no qual países influenciam e são
influenciados por outros nas diversas áreas de atividades humanas.
O Brasil, dentro do atual contexto de globalização mundial, visto como
uma nação que ocupa uma posição privilegiada, pode ser entendido como um
país que valoriza as conquistas já realizadas e possibilita a analise do que
ainda falta realizar. O Brasil está, de certo modo, como pilar da América
Latina. Esse posicionamento trouxe responsabilidades de líder e, com isso, o
privilégio de discutir questões importantes em relação ao comércio, negócios
e parcerias internacionais. O gerenciamento da cadeia de relações nacionais e
36 SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência
universal. 10. ed. Rio de Janeiro: Record, 2003, p. 143-144.
23
internacionais, de consumo e de produção passa por todos os ciclos e é
preciso estar atento à velocidade dessa informação, com o objetivo de
perpetuar e solidificar a posição nacional no cenário mundial.
37
Essa visão pode ser mais bem compreendida mediante a reflexão de
Friedman
38
na qual ele considera que o mundo atual é plano. Na sua metáfora,
o autor descreve a próxima fase da globalização, como engenhosa: o campo
do jogo econômico mundial está sendo nivelado e hoje um indivíduo ou uma
empresa de qualquer lugar pode colaborar ou competir globalmente, a partir
dos recursos tecnológicos como facilitador desse processo. Empresas de
telecomunicação realizaram planos incrivelmente ambiciosos de "conectar o
mundo" através do ciberespaço. Esse excedente de conectividade significou
que os custos das ligações telefônicas, conexões de Internet e transmissão de
dados caíram drasticamente. A queda nos custos de transmissão de dados
democratizou o acesso à informação e ao conhecimento de qualquer espécie.
Friedman esclarece a importância do desenvolvimento das "plataformas
de fluxo de trabalho", software, possibilitando que os aplicativos de
computador se conectassem e funcionassem, juntos, e, permitissem, assim, a
cooperação entre pessoas trabalhando em qualquer lugar. Sabiamente, o autor
compreende que não há como conter a onda. Não se podem desligar essas
forças, exceto a grande custo para o bem-estar econômico das nações. As
forças básicas que movem o mundo plano são, na verdade, as mudanças de
atitude e política dos governos do mundo todo. Em vista de tudo que foi
exposto até aqui, depreende-se a importância e a dimensão do papel que a
correta e eficiente disponibilização dos dados coletados nas pesquisas
realizadas pelo IBGE possuem para o desenvolvimento do país, para sua
crescente inserção no mercado mundial e para a sociedade brasileira como um
todo.
37 SANTANA, Dalva. O Brasil globalizado. Artigo. Sistema de Apoio à Decisão da FAE.
disponível em : <www.aldeiadesign.com.br/artigos> acesso em 10/08/2007.
38 FRIEDMAN, Thomas L. "The World Is Flat: A Brief History of the Twenty-First
Century" (O mundo é plano: Uma breve história do século 21). Rio de Janeiro: Objetiva,
2005.
24
3. MEMÓRIA E IDENTIDADE NO CONTEXTO GLOBALIZADO
Embora o Brasil seja um país marcado pela exclusão digital
39
, a
utilidade potencial da Internet já se tornou consensual. E o IBGE referência
oficial de estatísticas e outros estudos não se furtou em preparar sua rede de
informações via Internet, rede mundial de computadores.
Para poder analisar esse processo é preciso recorrer a alguns conceitos
capazes de ajudar a pensar as transformações em curso, tais como: inovação
tecnológica, cultura comunicacional, globalização, identidade global,
identidade nacional, entre outros.
Segundo Bauman,
40
a informática desferiu o golpe mortal na
“‘naturalidade’ do entendimento comunitário”. Giddens
41
pergunta, por sua
vez, que efeitos os processos de inovação tecnológica poderão ter sobre o
habitat dos seres humanos. Serão todos os problemas resolvidos com o avanço
da ciência e da tecnologia, como propõe o sistema capitalista?
Algumas questões são consideradas primordiais para a reflexão e o
acompanhamento do aproveitamento da Internet na cultura comunicacional em
geral, e também na relação entre a cultura da sociedade e a mídia.
Para Veschi
42
a modernização tecnológica corresponde ao anseio da
sociedade por proteção, tal qual um acalanto maternal.
Pierre Lévy
43
utiliza- se do termo hipertexto para contextualizar esse
momento de grandes evoluções tecnológicas, na qual as palavras, as imagens,
39 Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2005, apenas 13,7 por
cento dos 142.471 mil domicílios particulares permanentes possuíam microcomputador
com acesso à Internet. Dados atualizados a partir da divulgação da Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios-2005, ocorrida em 15/09/2006.
40 BAUMAN, Zygmunt. Comunidade: a busca por segurança no mundo atual. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar Editores, 2003.
41 GIDDENS, Anthony. As conseqüências da modernidade. São Paulo: UNESP, 1991.
42 VESCHI, Jorge Luiz. Mídia e identidade pessoal. Rio de Janeiro: Eco-Rizhoma, 2003,
p. 27
43 LÉVY, Pierre. As tecnologias da inteligência. 11. ed. São Paulo: Editora 34, 2001.
25
os gráficos, ou parte deles, e até outros documentos, se reúnem para formar
um único produto, resultando na transformação de determinada sociedade.
A respeito do desenvolvimento tecnológico, ElHajji
44
discorre acerca
dos efeitos da globalização sobre o indivíduo, que tende a se tornar a própria
máquina, em vez de apenas usufruir dela. Essa avaliação, é preciso lembrar,
advém de uma visão hegemônica ocidental, em que tudo fora de seus padrões
é inexistente.
Canclini
45
ao analisar a ‘globalização imaginada’ se pergunta o que
haveria de comum entre a globalização e a identidade nacional? O autor evoca
uma produção do imaginário contemporâneo, em que a idéia inicial é do
mundo conectado e interligado em sua totalidade. Percebe-se que o advento
da Internet torna essa concepção um tanto verossímil. Nessa “globalização
imaginada” parece existir a defesa da ausência do Estado nacional. A
influência externa sobre os países, por sua vez, não impede que estes
assumam suas diversas culturas locais.
Entretanto, diante de tais questionamentos há um tema que, mais uma
vez, se sobrepõe: a globalização é uma via de mão dupla, ela promove, acima
de tudo, o intercâmbio entre os povos, o diálogo entre as culturas, as ciências,
os saberes. É uma linguagem, e sendo fundamentalmente uma linguagem, ela
tem como uma de suas funções comunicar, isto é, tornar comum.
Ao trazer o tema para a sociedade brasileira, é importante sinalizar a
necessidade de alterar os paradigmas relacionados ao próprio ponto de vista
que orienta o pensamento quanto ao entendimento do que acontece no mundo.
Isso porque ainda se é apegado a um instrumental teórico construído no final
do século XIX.
46
Faz-se urgente constituir um novo pensar sobre classe,
indivíduo, Estado, nação como forma de redefinição da própria identidade,
agora inserida na concepção de cidadania planetária.
47
44 ELHAJJI, Mohammed. Da simbiose hegemônica ocidental: globalização e convergência.
Rio de Janeiro: Eco-Rizhoma, 2001.
45 CANCLINI, Nestor García. A globalização imaginada. São Paulo: Iluminuras, 2003.
46 ORTIZ, Renato. Mundialização e Cultura. São Paulo: Brasiliense, 1996, p.16.
47 MORIN, Edgard, SILVA, Juremir Machado da. As duas globalizações: complexidade e
comunicação, uma pedagogia do presente. 2. ed. Porto Alegre, Sulina/EDIPUCRS, 2002.
26
O Brasil é um país de forte unidade cultural e grande diversidade de
culturas regionais. Assim, além da influência dos outros países do mundo,
sente-se a presença de expressões regionais distintas. Mas é nos centros
urbanos que esses espaços culturais serão consumidos por públicos
compostos, em sua maioria, pela classe média.
No Brasil, no período 1964-1980, ocorreu uma enorme expansão de
grandes empresas controladoras dos meios de comunicação. A TV Globo e a
Editora Abril, por exemplo, se consolidam nessa fase. A reboque vieram os
jornais impressos.
48
Nesse processo de expansão coube ao Estado canalizar
esforços, no sentido de criar meios para inserção das demais classes excluídas
do processo comunicacional, tanto por conta do poder aquisitivo, quanto por
características regionais. Nesse movimento sem retorno da comunicação
planetária em que se encontram as nações, a tese de que as sociedades
também se transformariam tomando uma forma homogênea não se confirmou
ao longo dos últimos anos. As culturas nacionais continuam atuando como
fonte principal de identidade e contribuem para “unir” as diferenças locais em
uma única identidade. O indivíduo pensa as formas da identidade cultural
como se fizessem parte da nossa natureza essencial, como se estivessem
impressas em nossos genes. A cultura nacional é uma das principais fontes da
identidade cultural, e falar sobre uma significa falar sobre a outra: "As
pessoas não são apenas cidadãos/ãs legais de uma nação; elas participam da
idéia da nação tal como representada em sua cultura nacional".
49
Ao entrar no século XXI fica nítido que a diversidade cultural
permanece, que as narrativas sobre globalização continuarão investindo numa
comunicação que integre todos os continentes, e que isso pode afirmar
identidades distintas. O importante é constatar que quanto mais se
universaliza mais se localiza a sociedade, reforçando os Estados- nação, já que
os poderes globalizantes não são suficientes para abranger a todos.
48 ORTIZ, Renato. Mundialização e Cultura. São Paulo: Brasiliense, 1996, p.82
49 HALL, S. A identidade cultural na pós-modernidade. 2. ed. Rio de Janeiro: DP&A,
1998, p.49.
27
3.1 Informação e identidade
Ao serem analisados os fatores que podem caracterizar uma crise das
identidades no processo de globalização, pode-se perceber que esta se formou
consoante com as concepções de identidade cultural formuladas em torno do
papel que o sujeito social adquiriu nas transformações históricas recentes da
humanidade. Na concepção iluminista, o indivíduo era dotado das capacidades
de razão, de consciência e de ação, sendo o centro essencial do "eu", a
identidade de uma pessoa; na concepção sociológica, a identidade do sujeito é
formada mediante a relação deste com outras pessoas, da interação de valores,
sentidos, símbolos e cultura dos mundos habitados pelo sujeito. A identidade
preenche o espaço entre o interior e o exterior, entre o mundo pessoal e o
mundo público. “A identidade (...) costura (...) o sujeito à estrutura.
Estabiliza tanto os sujeitos quanto os mundos culturais que eles habitam,
tornando ambos reciprocamente mais unificados e predizíveis.”
50
No contexto
da globalização a idéia de identidade unificada e estável tem sido
fragmentada, apresentando- se como uma composição de várias identidades,
algumas vezes contraditórias ou não resolvidas.
Na visão de Ortiz
51
, as identidades que compunham as paisagens sociais
"lá fora" e asseguravam as necessidades objetivas da cultura estão entrando
em colapso diante das mudanças estruturais e institucionais. Mais do que um
processo de transformação social e cultural, a globalização representa a
materialização de um paradigma que assume papel de "fator-chave" no
desenvolvimento das forças produtivas: a informação. A informação, no
contexto atual, torna-se o próprio produto do processo produtivo. A sua "nova
relevância"
52
induz a questões sobre a natureza da informação, sua
conceituação científica e os benefícios que pode trazer ao indivíduo no seu
relacionamento com o mundo em que vive. Essa informação está ligada à
50 HALL, S. A identidade cultural na pós-modernidade. 2. ed. Rio de Janeiro: DP&A,
1998, p.10.
51 ORTIZ, R. Cultura brasileira e identidade nacional. São Paulo: Brasiliense, 1985.
52 FREIRE, Isa. A utopia planetária de Pierre Lévy: uma leitura hipertextual d'a
inteligência coletiva. Perspectivas em Ciência da Informação, v. 10 n. 2, p. 132-139,
jul./dez. 2005.
28
produção de conhecimento no indivíduo, sendo definida “como agente
mediador na produção do conhecimento, em forma e substância, como
estruturas significantes com a competência de gerar conhecimento para o
indivíduo e seu grupo.”
53
Elas são "estruturas significantes"
54
, construídas por meio de ações
políticas e técnico-científicas, no contexto próprio e facilitadoras da produção
do conhecimento. Desse modo, "a informação é qualificada como um
instrumento modificador da consciência do homem e de seu grupo."
55
As
ações dos atores sociais que trabalham com a informação devem atuar de
modo a promover os fluxos de informação nos diferentes planos de integração
(culturais, organizacionais, produtivos, políticos), considerando a
complexidade dos agentes que entrelaçam o local e os mundos externos, em
todas as suas manifestações.
Sarita Albagli ressalta que a relevância da cultura local na globalização
está no seu papel de integração das especificidades:
[...] a partir do potencial integrativo do novo padrão tecnológico, o
local redefine-se, ganhando em densidade comunicacional,
informacional e técnica no âmbito das redes informacionais que se
estabelecem em escala planetária. A dimensão cultural do local atua
na globalidade como um fio invisível que vincula os indivíduos ao
espaço, marcando uma certa idéia de diferença ou de distinção entre
comunidades.
56
A cultura e informação "são conceitos fenômenos interligados pela sua
própria natureza."
57
Ela funciona como uma memória que ao conservar e
reproduzir artefatos simbólicos e materiais de geração em geração, torna-se a
depositária da informação social. Assim, a cultura "torna-se o primeiro
53 BARRETO, A. de A. A questão da informação. São Paulo em Perspectiva, v. 8, n. 4,
out./dez. 1994. p.4.
54 FREIRE, I. M. A utopia planetária de Pierre Lévy: uma leitura hipertextual d'a
inteligência coletiva. Perspectivas em Ciência da Informação, v. 10 n. 2, p. 132-139,
jul./dez. 2005.
55 BARRETO, 1994, op. cit., p.3.
56 ALBAGLI, Sarita. Globalização e espacialidade: o novo do local. In: Globalização &
inovação localizada: experiências de sistemas locais no Mercosul. Brasília: Instituto
Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia/ Ministério da Ciência e Tecnologia,
1999, p.186-87.
57 MARTELETO, R. M. Cultura, educação, distribuição social dos bens simbólicos e
excedente informacional. Informare, v. 1, n. 2, 1995, p.90.
29
momento de construção conceitual da informação, como artefato, ou como
processo que alimenta as maneiras próprias do ser, representar e estar em
sociedade.”
58
A socialização da cultura por meio da linguagem, estética,
visão de mundo, valores e costumes, tem papel relevante para a
democratização do acesso e uso da informação. Pode- se dizer que à medida
que a informação adquire importância para a produção social, cresce a
responsabilidade social do campo científico dedicado ao seu estudo,
organização e transferência.
59
3.2 O mundo globalizado e a informação
As principais transformações que ocorreram a partir da segunda metade
do século XX em diferentes áreas das atividades humanas, vinculam-se,
indubitavelmente, em sua grande maioria, aos progressos observados na
associação de computadores integrados aos sistemas de produção e na
modernização dos setores de telecomunicações e de transporte,
impulsionadores de idéias, bens e pessoas. A velocidade deste processo reduz
a relação espaço-tempo entre pessoas e organizações criando melhores
condições de intercomunicabilidade cada vez mais intensas.
60
.
O conhecimento, o know-how, e a informação são reconhecidos como
fatores essenciais ao desenvolvimento das organizações da atualidade. A
cognição constitui uma grandeza relevante nas estratégias de evolução
organizacional, e a ampliação da velocidade de sua absorção, seja por
cientistas, seja por leigos, deriva em novo pólo de propagação do saber.
61
O
58 MARTELETO, R. M. Cultura, educação, distribuição social dos bens simbólicos e
excedente informacional. Informare, v. 1, n. 2, 1995, p.91.
59 FREIRE, I. M. A responsabilidade social da ciência da informação e/ou o olhar da
consciência possível sobre o campo científico. 2001. Tese (Doutorado em Ciência da
Informação) - CNPq/IBICT - ECO/UFRJ, Rio de Janeiro, 2001.
60 VIRILIO, apud ALMEIDA, Roberto Schmidt de. Padrões tecnológicos e reorganização
espacial no final do milênio. Artigo. In: Revista Brasileira de Geografia. Rio de Janeiro:
IBGE, v. 57, n. 3, jul/set, 1995, p. 6-19.
61 ALMEIDA, op.cit.
30
tempo de treinamento e formação profissional foi significativamente reduzido
por simuladores de situações reais devido ao advento das mídias interativas
que associam imagem, texto e som.
62
Para a gestão da informação, há
programas de gerenciamento de documentação capazes de operar com dados
em textos, imagens, dados alfanuméricos e sons permitindo o manuseio e o
acesso a enormes quantidades de informação, utilizando novos conceitos de
hipertexto e de sistema especialista processados por um sistema denominado
“inteligência artificial”.
63
O hipertexto é um dos paradigmas básicos em que a rede mundial de
computadores se baseia. Ele é uma espécie de texto multidimensional, em que
numa página trechos de texto se intercalam com referências a outras páginas.
Clicando com o mouse numa referência destas a página corrente é substituída
pela página referenciada. A invenção do conceito costuma ser atribuída a
Vannevar Bush que descreve o memex'' num artigo clássico, escrito em
1945
64
, antes mesmo do aparecimento dos primeiros computadores. O
hipertexto é muito apropriado para a representação de informações no
computador por dois motivos: permite subdividir um texto em trechos
coerentes e relativamente curtos, facilitando a sua organização e
compreensão; permite também fácil referência a outras partes do texto ou a
outros textos, totalmente independentes, muitas vezes armazenados em locais
distantes. Isso cria uma característica própria de leitura da informação que,
após um curto processo de adaptação, passa a ser intuitivo para o usuário, que
se refere a esta leitura como navegação''. É muito fácil formar uma idéia
grosseira do que é um hipertexto, pois basta pensar nas edições mais
modernas da Enciclopédia Britânica que se constituem de uma mistura de
informações com apontadores para outros trechos da própria enciclopédia.
62 NAISBITT, 1994; NEGROPONTE, 1995, apud ALMEIDA, Roberto Schmidt de. Padrões
tecnológicos e reorganização espacial no final do milênio. Artigo. In: Revista Brasileira
de Geografia. Rio de Janeiro: IBGE, v. 57, n. 3, jul/set, 1995, p. 6-19.
63 ALMEIDA, op. cit.
64 No artigo "As We May Think", publicado na revista The Atlantic Monthly em 1945,
refere-se a uma visão da gênese da hipermídia. Nele Bush divulgou o MEMEX (o
equipamento seria uma reprodução dos processos mentais humanos de associação de idéias
e da formação do conhecimento, a partir de uma rede de evocações e ligações entre os
assuntos, apresentados em forma de documentos escritos, sonoros ou visuais, indexados
por meio dos mecanismos hierárquicos e conectados de múltiplas formas), o mais antigo
sistema hipertextual conhecido. Vannevar Bush é considerado o pai do computador.
http://www.eca.usp.br
31
Os sistemas especialistas solucionam problemas que são resolvíveis
apenas por pessoas especialistas (que acumularam conhecimento exigido) na
resolução destes problemas. Um Sistema de Inteligência Artificial
65
criado
para resolver problemas em um determinado domínio (área de interesse
específico para as quais podemos desenhar um sistema de IA), cujo
conhecimento utilizado é fornecido por pessoas que são especialistas naquele
domínio é denominado Sistema Especialista. Os Programas de computador que
tentam resolver problemas que os seres humanos resolveriam emulando o
raciocínio de um especialista, aplicando conhecimentos específicos e
inferências são ditos Sistemas Especialistas. O Sistema Convencional é
baseado em um algoritmo, emite um resultado final correto e processa um
volume de dados de maneira repetitiva, enquanto que um Sistema Especialista
é baseado em uma busca heurística e trabalha com problemas para os quais
não existe uma solução convencional organizada de forma algorítmica
disponível ou é muito demorada.
A principal diferença entre um sistema especialista e uma linguagem de
programação clássica, de acordo com Almeida
66
, é o procedimento produtor da
conclusão total, sendo a homogeneidade da representação dos conhecimentos
a principal característica dos sistemas especialistas, seja qual for sua origem:
leis científicas, observações estatísticas ou conhecimentos empíricos de um
perito. O principal objetivo dessa tecnologia é fornecer uma assistência em
tempo real aos profissionais iniciantes ou de pouca qualificação, no menor
espaço de tempo possível. Essas técnicas reduziram de anos para meses ou
dias os ciclos de criação de novos produtos, nas organizações modernas. No
caso da circulação de idéias, o tempo de propagação reduziu- se há duas horas
em média devido às redes do tipo Internet. Simultaneamente às velozes
representações virtuais da realidade, à geração de computadores mais ágeis e
65 As correntes de pensamento que se cristalizaram em torno da IA já estavam em gestação
desde os anos 30. No entanto, oficialmente, a Inteligência Artificial (IA) nasceu em 1956
com uma conferência de verão em Dartmouth College, NH, USA. Na proposta dessa
conferência, escrita por John McCarthy (Dartmouth), Marvin Minsky (Hardward),
Nathaniel Rochester (IBM) e Claude Shannon (Bell Laboratories) e submetida à fundação
Rockfeller, consta a intenção dos autores de realizar um estudo durante dois meses, por
dez homens, sobre o tópico inteligência artificial''. Ao que tudo indica, esta parece ser a
primeira menção oficial à expressão Inteligência Artificial''.
66 ALMEIDA, Roberto Schmidt de. Padrões tecnológicos e reorganização espacial no final
do milênio. Artigo. In: Revista Brasileira de Geografia. Rio de Janeiro: IBGE, v. 57, n. 3,
jul/set, 1995, p. 6-19.
32
potentes, acontece a ampliação e reestruturação dos sistemas de logística,
otimizando a produção, o transporte, e a distribuição de bens em todas as
esferas espaciais.
67
O pioneiro na reestruturação e aceleração na logística foi a fábrica
japonesa da Toyota, que criou o processo denominado de just in time. A partir
daí, outros processos foram desenvolvidos: Manufatura Integrada por
Computador (CIM em inglês); Material Requirement Planning MRP
(Planejamento de Necessidades de Materiais); Manufacturing Resource
Planning MRP II (Planejamento de Recursos de Manufatura); Círculos de
Controle de Qualidade CCQ e Total Quality Management TQM (Gestão da
Qualidade Total). A moderna logística nasceu para superar a antiga concepção
de Frederick W. Taylor rompendo com a noção de fragmentação do processo
de produção na qual os trabalhadores sequer tinham noção da complexidade
total do produto final.
68
Foi esse conjunto de novos processos logísticos que viabilizaram os
fluxos otimizados e rápidos de matérias-primas e bens, facilitados, também,
pela infra-estrutura portuária, marítima e aérea capaz de garanti- los.
“Possibilitaram também a criação de um complexo de decisões apoiado em
redes de telecomunicações cada vez mais livres dos nós da rede física como
os telefones celulares e os sistemas de satélites [...].
69
Paradoxalmente, é a intensificação da competição que abre espaços de
cooperação, em especial, nas áreas de pesquisa básica e de circulação de
idéias e informações.
70
67 BECKER, 1993; SAVY, 1993; COSTA, 1995, apud ALMEIDA, Roberto Schmidt de.
Padrões tecnológicos e reorganização espacial no final do milênio. Artigo. In: Revista
Brasileira de Geografia. Rio de Janeiro: IBGE, v. 57, n. 3, jul/set, 1995, p. 6-19.
68 HIRATA, 1993; COSTA & CAULLIRAUX, 1995, apud ALMEIDA, op. cit., p. 6-19.
69 NEGROPONTE, 1995, apud ALMEIDA, op.cit.
70 ALMEIDA, op. cit.
33
3.3 Memória, identidade e informação
Segundo Andreas Huyssen, o século XX foi marcado por uma crescente
valorização da memória como preocupação das Ciências Sociais e dos homens
de um modo geral. Ainda segundo ele, os cem últimos anos testemunharam
uma intensa criação de mercados da memória, que passaram pela
museificação, pela comercialização do passado via mídia, pela tentativa de
reciclar o tempo em direção à memorialização, entre outras iniciativas de se
recuperar o aroma e o sabor dos tempos, em referência a uma citação
proustiana.
71
A obsessão pelo passado seria própria desta cultura contemporânea
ocidental, que vê, assustada, o presente desaparecer na compressão das
coordenadas tradicionais de tempo e espaço, conseqüência do fenômeno da
globalização.
72
A supervalorização da memória representa a tentativa de
pensar as diversas categorias temporais como uma via de extrema riqueza nas
análises das ciências sociais e no mapeamento da construção das identidades
sociais.
A finalidade social da história exige uma compreensão do passado que
está, direta ou indiretamente, vinculada ao presente. As pessoas comuns
tendem a buscar as explicações para as revoluções e mudanças por que passam
em suas próprias vidas por meio da História. Paul Thompson sinaliza a
possibilidade de utilizar a história para finalidades sociais e pessoais
construtivas por meio da história oral, que é construída em torno das pessoas.
Esse tipo de abordagem trata do individual e, portanto, promove a
aproximação entre memória e identidade.
73
71 HUYSSEN, Andreas. Seduzidos pela memória: arquitetura, monumentos, mídia. 2. ed.
Rio de Janeiro: Aeroplano, 2004.
72 BARROS, Luitgarde Oliveira Cavalcanti. Memória, linguagem e identidade: memória
hoje. Artigo. In: Morpheus Revista Eletrônica em Ciências Humanas. Ano 02, n. 03,
2003 - ISSN 1676-2924. Disponível em: www.unirio.br/morpheusonline. Acesso em:
23/06/2007.
73 THOMPSON, P. A voz do passado. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990.
34
Memória e identidade, ambos de natureza social são constituídos em um
tempo que também é de natureza social. Sendo o sujeito um ser histórico,
recordar é um ato coletivo, que está ligado a um contexto de natureza social e
a um tempo que engloba uma construção pertinente a uma noção
historicamente determinada. A lembrança é a recordação de um tempo
revivido.
74
A memória é um fenômeno construído, consciente ou
inconscientemente, como resultado do trabalho de organização individual ou
social. É um elemento constituinte do sentimento de identidade, tanto
individual como coletiva e, portanto, um fator extremamente importante do
sentimento de continuidade e de coerência de uma pessoa ou de um grupo em
sua reconstrução de si. A identidade é a imagem que a pessoa adquire, ao
longo da vida, referente a ela própria, é a imagem que ela constrói e apresenta
aos outros e a si própria, para acreditar na sua própria representação e
também para ser percebida da maneira que quer por outros.
75
A identidade social ou identidade coletiva é a determinante constitutiva
da noção de nação. A idéia que a Nação projeta dela mesma é projetada pelas
formas políticas e pelas palavras. Há constantemente uma incorporação da
definição de sua cultura no país e a língua é a chave para esta universalidade.
Essa identidade está presente nos documentos criados para a construção da
memória nacional. E o documento, como diz Jacques Le Goff, não é alguma
coisa que fica por conta do passado. É produto da sociedade que o fabricou,
segundo relações de força, onde mais uma vez se apresenta a questão do
poder. Reportando-se a símbolos, sinais sociais, a memória é, então, um
sistema simbólico, expresso na interação da linguagem, como o tempo e o
espaço.
76
Reforçando o aspecto referente à construção da noção de nação por
meio das palavras, é relevante citar o estudo de Lúcia Lippi Oliveira, no qual
a autora identifica na literatura de época o nascimento da noção do
74 BARROS, Luitgarde Oliveira Cavalcanti. Memória, linguagem e identidade: memória
hoje. Artigo. In: Morpheus Revista Eletrônica em Ciências Humanas. Ano 02, n. 03,
2003. Disponível em: <www.unirio.br/morpheusonline.> Acesso em: 23/06/2007.
75 POLLACK, Michael. Memória, esquecimento, silêncio. Estudos Históricos, RJ, v.2, n.3,
p.3-15, 1989.
76 LE GOFF, Jacques. História e memória. Campinas, SP: Unicamp, 1990.
35
sentimento nacionalista, do que é ‘ser brasileiro’, da identidade nacional
desvinculada de Portugal e França, e o modo como esse nacionalismo se
modifica ao longo da história influenciado por fatos exteriores e interiores da
experiência social do brasileiro.
77
Para demonstrar o comprometimento do povo com a república nascente,
a autora cita a carta de Raul Pompéia a Rodrigo Otávio, datada de 24 de
fevereiro de 1893, publicada a título de prefácio, no livro “Festas nacionais”
deste último, em 1938.
Raul Pompéia afirma que o povo brasileiro não contava com classes
conservadoras. Os proprietários rurais, únicos conservadores
possíveis, acabaram por confundir seus interesses com os do
comércio, controlados exclusivamente por estrangeiros. A pátria
brasileira não contou com o patriotismo das classes ricas, com a
vigilância dos que mais têm o que perder. Somos assim, em
economia política, uns miserandos desvertebrados.
78
O livro de Gonzaga Duque, editado em 1897, “Revoluções Brasileiras”,
destaca os fatos que contribuíram para a proclamação da República e exalta,
entre outras, a necessidade de mudanças no padrão das relações econômicas
do Brasil com os estrangeiros.
Em 1889, Gonzaga Duque critica a história do Brasil ensinada até
então, porque baseava-se nos cânones da monarquia e omitia as
sucessivas e sangrentas guerras que vieram conduzindo a nova
nação sul-americana à posse do governo do povo pelo poder. E
adverte: ‘O conhecimento histórico das origens republicanas é um
dever de educação de um povo livre.’
79
De acordo com Oliveira, Afonso Celso escreveu ‘Porque me ufano do
meu país’ para ensinar o patriotismo aos filhos. Na obra o autor aponta os
predicados do caráter nacional como o sentimento de independência, a
hospitalidade, a afeição à ordem, a paciência, a doçura e o desinteresse, o
77
OLIVEIRA, Lúcia Lippi. A questão nacional na primeira república. São Paulo: Brasiliense, 1990, p. 126-158
(cap. 6 e 7).
78
OLIVEIRA, op. cit., p. 128.
79
Ibidem, p. 129.
36
escrúpulo no cumprimento das obrigações, a caridade, a acessibilidade, a
tolerância, a ausência de preconceitos e a honradez.”
80
Editado em 1910, o livro Através do Brasil, de Olavo Bilac e Manuel
Bandeira, foi amplamente utilizado nas escolas primárias. De acordo com a
autora, este parece ter sido um dos mais eficazes instrumentos para a
disseminação da representação ufanista do brasileiro na formação das novas
gerações, pois a obra apresenta o país e o homem brasileiro, ambos com uma
natureza maravilhosa e diversificada, não enfrentando graves problemas. A
adversidade e o sofrimento ocorrem em função do desconhecido e do curso
natural da vida.
81
Após a primeira guerra mundial, Oliveira destaca uma alteração no foco
do sentimento nacionalista, agora voltado para a consolidação da república e
para a construção de um governo direcionado aos interesses específicos do
Brasil, não mais de Portugal. A obra de Álvaro Bomilcar “A política no Brasil
ou o nacionalismo radical”, de 1920, figura como representante dessa
corrente. Para a autora,
Além da demanda pela construção de uma história de cunho
nacionalista, Bomilcar reconhece e assume a interpretação de
Alberto Torres quando este diz que o destino de um país é função
de sua história e sua geografia. A história do Brasil só começará
quando a solidariedade entre os habitantes produzir uma
consciência de unidade moral, algo que a unidade política está
longe de realizar. (...) Álvaro Bomilcar reúne a herança ufanista, o
jacobismo antilusitano e o modelo de sociedade presente em
Alberto Torres. Sua síntese fornece os elementos que comporão o
ideário dos movimentos nacionalistas e do movimento católico dos
anos 20. (...) a nacionalidade enquanto sistema de idéias centrada
na identidade e na autoconsciência necessariamente discute com a
tradição vigente. É preciso reestruturá-la ou construir sua versão
sobre o passado que substitua a interpretação anterior.
82
Oliveira observa que foi construída uma história republicana para
substituir a imperial. A nova narrativa apresentou-se mais organizada em
relação à anterior e, embora dialogasse com a antiga narrativa, estava fundada
sobre valores naturais e de longa duração como a terra e o caráter do ser
80
OLIVEIRA, Lúcia Lippi. A questão nacional na primeira república. São Paulo: Brasiliense, 1990, p. 130.
81
OLIVEIRA, op. cit., p.132.
82
Ibidem, p. 133, 142.
37
humano que a habita. “[...] O ‘triângulo das três raças’ e o ‘homem cordial’
são certamente, construções culturais tributárias desta visão que maximiza as
qualidades imanentes da natureza dos trópicos e do homem que neles vive.”
83
Os fragmentos desse estudo de Oliveira endossam o pensamento de
Halbwachs, para quem o ponto fundamental acerca da memória coletiva, como
fato social, é a sua função de ancoragem para cada indivíduo, servindo de elo
entre o passado e presente e entre as diversas concepções individuais acerca
do passado. A memória coletiva é construída a partir da interligação das
diversas memórias dos indivíduos que fazem parte do grupo identificado como
proprietário daquela memória.
84
Se o ser humano lembra para esquecer, como diz Pollak, ele constrói,
com a memória coletiva, um passado comum com outros grupos e, ao mesmo
tempo, com aquele ao qual está diretamente filiado.
85
Uma das categorias
constituintes da humanidade seria exatamente a idéia da perda de um passado
melhor, uma perda fantasmagórica gerada pela própria História. A cultura da
memória poderia indicar uma atualização contemporânea dessa busca contínua
por esse passado mitificado, por essa cosmogonia.
86
Jean- Pierre Vernant demonstrou ser pela memória que reconstruímos
nosso elo com o mundo, com nossa origem, e sem a preocupação com uma
temporalidade. A memória seria matéria menos de uma cronologia e mais de
uma cosmogonia. Memória e esquecimento seriam fontes nas quais os homens
haveriam de beber, sendo a segunda marcadamente uma entrada para a não
superação, e a primeira uma maneira de garantir o tempo cíclico, um caráter
mítico em relação ao pertencimento ao mundo desde sempre.
87
Portanto, a memória construída no presente, a partir de demandas dadas
por este pode ser pensada como fator fundamental para a construção de
pertencimentos sociais, aos mais diversos níveis associativos. De certa forma,
83
OLIVEIRA, Lúcia Lippi. A questão nacional na primeira república. São Paulo: Brasiliense, 1990, p. 143.
84 HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. São Paulo: Vértice; Editora Revista dos
Tribunais, 1990. 188p.
85 POLLACK, Michael. Memória, esquecimento, silêncio. Estudos Históricos, RJ, v.2, n.3,
p.3-15, 1989.
86 HUYSSEN, Andreas. Seduzidos pela memória: arquitetura, monumentos, mídia. 2.ed.
Rio de Janeiro: Aeroplano, 2004.
87 VERNANT, J. P. “Aspectos míticos da memória e do tempo”. In: Mito e Pensamento
entre os Gregos. São Paulo: Difel/Edusp, 1973.
38
a busca do controle sobre a memória institui uma identidade para o agente
social nela envolvido, no sentido de gerar um lugar dentro de uma rede
específica de circularidade e fluxo.
88
Essa rede pode ser a cidade, a unidade
da federação, o país, o continente, o planeta. Por isso, seria correto aceitar a
hipótese da construção de uma identidade global sem prejuízo da identidade
social local ou individual.
É retendo fatos, transmitindo-os, reelaborando-os, criando-os,
representando-os pela linguagem que a espécie humana produz o que se chama
cultura. Em todo esse processo, a memória é o mecanismo de apoio que evita
à humanidade partir sempre do ponto zero, lançando-se no mecanismo
cumulativo de saber transmitido intra e intergerações. Com origem
desconhecida num tempo sem registro de linguagem perceptível às modernas
gerações, a cultura, essencial à sobrevivência humana, pelo processo de
socialização se torna patrimônio, direito de qualquer nascido em todos os
tempos e espaços particulares da sociedade humana universal.
89
As identidades serão sempre sociais porque provocam processos de
alteridade e podem ser construídas a partir de trajetórias individuais ou
marcos coletivos. Podem demandar, em termos sociais e/ou culturais, o
partilhamento de interesses diversos ou por processos excludentes, nas
chamadas identidades contrastivas, por vezes complementares, noutras
conflitantes. As fronteiras constitutivas das identidades são fluidas, estão em
permanente fluxo de interações sociais, logo, são múltiplas por definição,
independentemente, do tempo ou espaço nos quais estejam inseridas. As
relações “nós” versus “eles” são dinâmicas e processuais.
90
A questão da
identidade precisa ser pensada como um movimento constante de construção e
desconstrução, em que os atores mudarão seus posicionamentos e, portanto,
suas práticas discursivas, dependendo das situações interativas.
91
88 BARROS, Luitgarde Oliveira Cavalcanti. Memória, linguagem e identidade: memória
hoje. Artigo. In: Morpheus Revista Eletrônica em Ciências Humanas. Ano 02, n. 03,
2003. Disponível em: <www.unirio.br/morpheusonline.> Acesso em: 23/06/2007.
89 BARROS, op.cit.
90 BARROS, op. cit.
91 ENNEL, Ana Lucia S. “Lugar, meu amigo, é minha Baixada”: memória, representação
social e identidade. Tese (Doutorado em Antropologia - PPGAS/Museu Nacional/UFRJ).
Rio de Janeiro, 2002. Disponível em: <www.castelobranco.br>. Acesso em: 30/07/2007.
39
Os discursos sociais são construídos e apropriados nas relações de
fronteira, nas situações de interação. As identidades sociais são forjadas, em
larga medida, a partir dos discursos sociais, e a mídia desempenha papel
central. No entanto, as apropriações desses discursos são múltiplas, o que
resulta, em processos de identificação também múltiplos.
92
Nesse processo identitário, os meios de comunicação de massa são
relevantes, pois têm papel fundamental na produção dos acontecimentos
históricos contemporâneos. “Imprensa, rádio, imagens não agem apenas como
meios dos quais os acontecimentos seriam relativamente independentes, mas
como a própria condição de sua existência. A publicidade dá forma à sua
própria produção”.
93
As categorias de memória e de identidade, intrinsecamente relacionadas
nos processos sociais contemporâneos, devem ser entendidas de forma
dinâmica e conjunta, analisadas dentro de fluxos comunicacionais, como uma
tela constantemente tecida por agentes e agências constituintes de redes de
interação social. Os múltiplos entes envolvidos na produção das identidades
sociais são sujeitos que possuem suas demandas determinadas pelas condições
do presente.
94
As memórias são narrativas sociais. São práticas discursivas,
empreendidas, tecidas nas arenas de disputas por saber e poder, são objeto de
razão e paixão, são fronteiras móveis que servem ao presente, quando
reelaboram o passado, mas, também, ao futuro, quando projetam o devir.
95
Nesse jogo, os agentes ligados aos processos midiáticos exercem um
papel fundamental, pela forte penetração de seus discursos e pela
configuração de um senso comum.
96
92 ENNEL, Ana Lucia S. “Lugar, meu amigo, é minha Baixada”: memória, representação
social e identidade. Tese (Doutorado em Antropologia - PPGAS/Museu Nacional/UFRJ).
Rio de Janeiro, 2002. Disponível em: < www.castelobranco.br/>. Acesso em: 30/07/2007.
93 NORA, Pierre. “O retorno do fato”. In: LE GOFF, J. e NORA, P. História: Novos
Problemas. Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1988.
94 ENNEL, op.cit.
95 ENNEL, op.cit.
96 ENNEL, op.cit.
40
4. A INTERNET E O IBGE
Reconhecendo que a potência de comunicação através da Internet
existe, de forma multimídia (texto, imagem, som), essa rede global pode ser
uma ferramenta inclusiva, importante e eficaz como poucas. Considerando
ainda que a comunicação entre os emissores e os receptores é parte
fundamental desse processo, torna-se relevante resgatar a memória da
implantação da Internet no IBGE e sua dinâmica na divulgação e
disseminação das informações.
4.1 Surge a rede mundial de computadores
A Internet revolucionou o mundo dos computadores e das comunicações.
Sua concepção é o resultado da invenção do telégrafo (1837), do telefone
(1876), do rádio (1906), da televisão (1926) e do microcomputador (1975), que
prepararam o terreno para implantação. A Internet é o melhor meio de
divulgação e disseminação de informações em nível mundial, além de
facilitador na interação entre indivíduos e seus computadores,
independentemente de suas localizações geográficas.
Sua origem remonta à primeira metade dos anos 1960, época da Guerra
Fria entre as duas potências mundiais, os EUA e a União Soviética, quando
surgiu a idéia da construção de uma rede de computadores que pudesse trocar
informações. Foi criada, então, a Advanced Research Projects Agency
(ARPA), no Departamento de Defesa dos EUA, em 1962, uma rede que
transmitia informações confidenciais e estratégicas para o governo norte-
americano, com o fim de impedir acessos internacionais.
41
Na década de 1970 surgiram as redes nacionais de comunicação como a
ARPANET (Advanced Research Projects Agency Network). No final dessa
década surgiram as LANs (redes locais).
Em fins da década de 1980, Tim Berners Lee cria a World Wide Web
(WWW), que é a parte multimídia da Internet, possibilitando a exibição de
páginas de hipertexto, ou seja, documentos que podem conter todo o tipo de
informação: textos, fotos, animações, trechos de vídeo e sons e programas e
que permite conexões entre documentos (links) .
No Brasil, até 1990 as universidades brasileiras se conectavam às redes
internacionais de pesquisa através da rede BITNET (Because it's Time
Network),ou rede de correio eletrônico, sob a orientação do. Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico-CNPq. Nessa mesma
época, o órgão coordena a implantação, no país, uma rede de pesquisa que
interliga as principais universidades, órgãos governamentais e não-
governamentais (ONGs) e instituições de pesquisa. Em 1992 essa rede se
concretiza, passando a chamar- se Rede Nacional de Pesquisas- RNP, A RNP,
tinha como objetivo inicial a implantação de uma infra-estrutura de redes
eletrônicas para apoio a atividades de educação e pesquisa no país.
Após a segunda metade da década de 1990 é que a Internet populariza-
se, comercializa-se, e surge o primeiro site jornalístico, o Jornal do Brasil on
line, em 1995.
42
4.2 Um pouco da história do IBGE
O IBGE é o resultado da fusão do Instituto Nacional de Estatística e do
Conselho Nacional de Geografia, criados nos primeiros anos do governo
instalado após o golpe militar de 03 de outubro de 1930, quando Getúlio
Vargas passa a governar o país, ao receber comando das mãos de generais, em
03 de novembro do mesmo ano. Para Vargas era muito importante a
implantação de um órgão que tivesse condições de articular e implantar
pesquisas estatísticas e que realizasse uma atualização geográfica com a
finalidade fornecer informações para ações governamentais. Assim, em 1934
foi criado, através do Decreto no. 24.609, de 06 de julho de 1934, o Instituto
Nacional de Estatística INE, que iniciou suas atividades em 29 de maio de
1936, data em que se oficializou a criação do IBGE. Contudo, o IBGE só foi
instituído em 26 de janeiro de 1938, após a extinção do INE, e composto pelo
Conselho Nacional de Estatística, Conselho Nacional de Geografia e
Comissão Censitária Nacional. Com a criação do IBGE instalou- se um novo
marco de referência de Estado, pois informações técnicas e científicas
passaram a proporcionar tomadas de decisões independentes de intervenções
locais. Era o governo federal representado por competentes técnicos, sem
influências de disputas políticas.
Nesses 70 anos o IBGE passou por algumas diferentes subordinações
junto ao poder federal. Foram três fases. A primeira abrangeu o período
compreendido entre os anos de 1934 e 1967. Neste, a Instituição foi
diretamente ligada ao poder central, com a regência de funcionalismo público.
A partir da divulgação do Decreto- Lei no. 161, de 13 de fevereiro de 1967, o
IBGE assume o status de Fundação, onde é facultado aos servidores que “[...]
estes poderão firmar contrato de trabalho com a Fundação Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística, sob o regime da legislação trabalhista [...]
97
, isto
é, regido pela Consolidação das Leis do Trabalho CLT, com a adoção da
Carteira de Trabalho e Previdência Social CTPS, na qual seus funcionários
97
Decreto-Lei no. 161, de 13/02/1967, Art. 19.
43
passam a ter contratos de trabalho como as empresas privadas, e os que
desejassem poderiam continuar no regime estatutário. Nesse período a
subordinação é a um ministério do governo central (Planejamento ou
Fazenda). Em 1990, o Instituto volta a ser gerido pelo Regime Jurídico Único
RJU, através da Lei 8.112, editada em 11 de dezembro de 1990, quando seu
corpo de servidores passa a se subordinar novamente ao Ministério do
Planejamento, Orçamento e Gestão, dentro da carreira de Ciência &
Tecnologia. O IBGE atravessou todos esses anos de existência com diversos
momentos difíceis, tanto de ordem política quanto orçamentária.
O IBGE é constituído atualmente por 27 Unidades Estaduais, das quais
26 são instaladas nas capitais e uma no Distrito Federal, 533 Agências de
Coleta, distribuídas entre as unidades da federação e a elas subordinadas,
além de uma reserva ecológica Reserva Ecológica do Roncador localizada
a 35 quilômetros de Brasília. O órgão subsidia a sociedade civil e os órgãos
das três esferas de governo do país (federal, estadual e municipal) com as
mais diversas informações, a saber:
Produção e análise de informações estatísticas
Coordenação e consolidação das informações estatísticas
Produção e análise de informações geográficas
Coordenação e consolidação das informações geográfica
Estruturação e implantação de um sistema de informações ambientais
Documentação e disseminação de informações
Coordenação dos sistemas estatístico e cartográfico nacionais
44
4.3 A Internet no IBGE
O IBGE inaugurou sua página na Internet em 1995. Nessa época, a rede
era integrada, basicamente, por universidades e órgão públicos, existindo
muito poucas empresas da iniciativa privada operando conectadas ao sistema
de rede. A página do IBGE foi bastante revolucionária nesse momento. Tanto
assim, que logo no ano seguinte, em 1996, ganhou seu primeiro prêmio (1º.
lugar) no iBest
98
. Além desse primeiro lugar, vieram mais dois. Um em 2001,
outro em 2003. E nesses 12 anos no ar, o layout mudou mais de dez vezes,
sempre bem colocado entre os dez finalistas na categoria governo.
Para que essa ferramenta fosse implantada no IBGE, o órgão transpôs
diversas dificuldades internas, especialmente a sua organização estrutural.
A reformulação, sem dúvida, começou a partir da metade da década de 80,
quando o País retornou ao governo civil democrático, sob os auspícios da
Nova República, e quando pela Instituição passaram presidentes
comprometidos com a necessidade de devolver à sociedade o direito de
acesso às informações produzidas pelo sistema cartográfico e estatístico
nacional. São formadas, então, muitas comissões e grupos de trabalho,
envolvendo todas as áreas do IBGE (áreas distribuídas entre diversas
diretorias Administração, Agropecuária, Recursos Naturais e Geografia,
Economia, Formação e Aperfeiçoamento de Pessoal, Geodesia e
Cartografia, Informática). Em 26 de julho de 1985, é criada a Comissão de
Reforma Administrativa
99
, com o objetivo de implantar a reforma e
modernização do IBGE. Essa comissão deu origem a várias outras
subcomissões, até que, em novembro do ano seguinte, é apresentada a nova
estrutura do IBGE, criando o Centro de Documentação e Disseminação de
Informações - CDDI.
98
iBest prêmio criado há dez anos, com a finalidade de premiar novos talentos ,
constituídos de órgãos e profissionais que fazem a história da Internet.
99
Resolução do Presiente R.PR/33, de 26/07/1985, cria a Comissão de Reforma
Administrativa.
45
Esse Centro só teve sua estrutura instalada num único prédio em
1990, por ocasião da mudança de todas as áreas que o compunham
originalmente para um único prédio, localizado no bairro do Maracanã.
Sua preocupação maior era a melhoria da disseminação de informações com
o apoio das demais áreas do IBGE, somando seus esforços aos da
Comunicação Social do IBGE, que já realizava um trabalho de pró- ação
com o apoio da imprensa desde meados da década anterior.
O CDDI já privilegiava como meta o desenvolvimento de tecnologia
que pudesse atender com rapidez toda a sociedade. Assim, inseria os
Setores de Documentação e Disseminação de Informações-SDDIs,
100
espalhados por todas as capitais do país, além do Distrito Federal, como
parte integrante nessa disseminação ágil das informações.
Paralelamente, a Comunicação Social do IBGE, já realizava o repasse
das informações por ocoasião da divulgação de pesquisas conjunturais, cuja
periodicidade é mensal (Índice Nacional de Preços ao Consumidor- INPC,
Pesquisa Mensal de Emprego- PME, Pesquisa Industrial Mensal- PIM, entre
outras), e pesquisas estruturais, com suas divulgações realizadas uma vez
por ano (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios- PNAD, Pesquisa da
Pecuária Municipal- PAM), além do Recenseamento Geral.
Em parceria com o CDDI, a Comunicação Social avança rumo à
consolidação do atendimento ao público, em geral. Crescia a necessidade
de implantação de novas formas de divulgação e disseminação de
informações para que a defasagem fosse cada vez menor entre sua produção
e sua disponibilização.
De acordo com entrevista concedida por Paulo Cesar Quintslr,
Coordenador de Atendimento Integrado do CDDI, a transformação
tecnológica se deu a partir da segunda metade dos anos 1990:
“Na programação do IBGE, já em 95, com certeza, nós estávamos
fazendo um trabalho de apresentar à direção do IBGE uma proposta
de página do IBGE na Internet. Essa proposta ela foi apresentada,
100
Atualmente o nome é Supervisão de Documentação e Disseminação de Informação
SDI.
46
é... de forma mais organizada ao professor Simon Schwartzman
101
,
quando ele estava assumindo a presidência do IBGE. Na época, o
Ângelo Pavan
102
era o Coordenador, hoje chamado Coordenador
Geral do CDDI, e foi então apresentada uma proposta, uns planos,
que tínhamos um projeto de página para a Internet. Naquele
momento, a estrutura computacional do IBGE ainda era de poucos
microcomputadores para os profissionais da Casa e os que tinham
não estavam, em grande maioria, não estavam ligada em rede, os
computadores, ligados em rede, os microcomputadores, e muito
menos ligados à rede Internet. O primeiro investimento que se fez
foi de colocar os microcomputadores em rede interna e, em seguida,
com ligação à rede Internet. O projeto de publicar uma página do
IBGE na rede Internet seguiu paralelo a esse investimento de
microcomputadores na Casa, até chegar, hoje, quase a um
computador para cada servidor. Ainda não chegamos a essa
relação, mas estamos bem próximos. Naquela época, foram dois
projetos distintos, o de rede de computadores para os funcionários
do IBGE, e o trabalho voltado para publicar uma página na rede
Internet. Esse trabalho de publicar uma página, ele foi
desenvolvido já no tempo do Prof. Simon Schwartzman.”
103
A estrutura computacional do IBGE ainda era insipiente e possuía
poucos microcomputadores para os profissionais do Órgão, e os existentes não
estavam, em grande maioria, ligados em rede, menos ainda à rede Internet. O
primeiro investimento feito conectou os microcomputadores em rede interna,
denominada intranet e, em seguida, ligou-os à rede Internet. O projeto de
publicar uma página do IBGE na rede mundial de computadores seguiu
paralelo a esse investimento na aquisição de microcomputadores no Órgão,
até chegar ao que se tem hoje, quase a proporção de um computador para cada
servidor. Essa meta ainda não foi atingida, mas se está bem próximo. Como
pode ser observado, existiram dois projetos distintos em andamento e
simultâneos: o de rede de computadores para os funcionários do IBGE, cujo
investimento em microcomputadores e a sua ligação em rede foi toda
desenhada junto a Diretoria de Informática, e o trabalho voltado para o
publico, criando uma página do IBGE na rede Internet.
101
Professor Simon Schwartzman foi presidente do IBGE entre 1994 e 1999.
102
Ângelo José Pavan foi Superintendente do Centro de Documentação e Disseminação de
Informações-CDDI, do IBGE, no período de junho de 1994 a julho de 1995.
103
Entrevista concedida por Paulo Cesar Quintslr, em 03 de maio de 2007.
47
Nesse período, surgiram polêmicas a respeito da substituição do
mainframe
104
por apenas microcomputadores, conforme observou Paulo
Quintslr.
[...] Na época até surgiram polêmicas de se substituir (sic) o main
fraime por apenas microcomputadores. Todo o trabalho do IBGE, o
processamento de dados do IBGE, clássica já, deixar de ser
realizada em um computador central, de grande porte, main fraime,
com contrato com a IBM, deixar de ser feito dessa forma para ser
feito com microcomputadores, processados em rede de
microcomputadores. Isso, na época, gerou uma certa polêmica,
afinal, nunca se deixou de o IBGE (sic) ter um computador de
grande porte para processar...Ainda tem. Isso ao final ficou claro.
Que o IBGE... A massa de dados que o IBGE processa exigia ter um
computador de grande porte e esse foi um esforço que foi feito, que
cabia a implantação à DI
105
. Toda a orientação à DI. Isso significou
orientar a compra de equipamentos para a rede de computadores,
passar cabos para fazer essa ligação nesses computadores, e também
a contratação de um acesso à rede Internet, que também é um
contrato feito com provedores.
106
O período em que ocorreu a implantação da rede Internet no IBGE foi o
mais adequado. O Governo Federal vigente havia quebrado a reserva de
mercado em microinformática, facilitando, sobremaneira, o investimento em
equipamentos de informática importados e com preços mais accessíveis. O
IBGE passou a ter condições de desenvolver um sistema operacional que
comportasse uma página, um endereço, na rede Internet para acesso dos
usuários às informações que o IBGE divulgava e continua divulgando.
Essas páginas eram planejadas e desenhadas pelo CDDI, mais
especificamente na Gerência de Serviços on Line, cuja equipe foi criada para
104
Maquinas de grande porte normalmente usam sistema operacional Unix e às vezes outros
simultaneamente (são capazes de rodar vários sistemas operacionais ao mesmo tempo). São
hotswap, tem um grande paralelismo de processadores, e a estabilidade de software e
hardware é enorme com os processos rodando em processadores virtuais e reais que podem
ser distribuídos pela carga dependendo da necessidade. A filosofia de funcionamento MF é
muito diferente do Windows e dos servidores Wintel. A multitarefa e implementada de tal
forma que um processo nunca vai conseguir interferir em outro principalmente que eles
muitas vezes rodam mesmo em memória e processadores diferentes. Outra característica
dos mainframes é que eles suportam violenta carga de IO com facilidade e, por isso, estão
atualmente sendo muito usados como servidores WEB de grande capacidade e
disponibilidade, inclusive é muito difícil um hacker invadir um mainframe.
105
DI Diretoria de Informática, criada pelo decreto 7664, de 24/11/1795.
106
Entrevista concedida por Paulo Cesar Quintslr, em 03 de maio de 2007.
48
atender ao novo projeto, ao estudo de tecnologias e sua implementação no
sítio. E, até hoje, essa Gerência vem acompanhando a evolução tecnológica. O
grupo avalia a viabilidade de cada nova tecnologia, passa a dominá- la e
desenvolve páginas dinâmicas atualizadas.
A página dinâmica corresponde ao acesso que, a partir de um clique,
traz um banco de dados com informações diversas, facilitando a pesquisa
desejada. Esse é o conceito de Portal, criado há mais ou menos cinco anos, e
possui vários canais. A partir da página inicial (http://www.ibge.gov.br), com
formatação clássica de busca de dados por pesquisa, por estudo é possível
escolher um caminho (canal) de navegação o qual permite acesso a um
conjunto de páginas. O Banco Multidimensional de Estatística (BME)
107
e o
Cidades@ são exemplos de canais de navegação existentes na página do
IBGE. Eles têm proposta visual e desenho próprios, uma identidade
correspondente ao tipo de informações que são divulgadas ali. O Cidades@
apresenta uma página em tom escuro e permite o acesso a cada município da
federação a partir da visualização do mapa do Brasil. Nele é oferecida uma
gama de informações que dispensam o consulente da busca em cada assunto
específico. Isto quer dizer que, numa mesma página, o internauta obterá
dados sobre população, área territorial, estrutura empresarial da cidade, entre
outras informações.
Todo esse trabalho é realizado na Gerência de Serviços On-Line, em
conjunto com a Coordenação de Marketing (COMAR) e a Gerência de
Documentação (GEDOC). Antes de ser disponibilizado aos usuários, as
informações passam por um processo de organização, avaliação e discussão da
massa de dados produzidas pelo IBGE, de modo a facilitar o acesso a elas
pelas pessoas que consultam os dados. Esse trabalho é inesgotável, pois, os
usuários nem sempre têm familiaridade com a rede Internet e encontram
algumas dificuldades. De todo modo, o avanço tecnológico permitiu a rapidez
no atendimento à sociedade. Antes da Internet, o acesso às informações
disponíveis no IBGE se dava da seguinte forma: o usuário tinha que se dirigir
a um dos postos de atendimento da Instituição pontos de venda (livrarias)
107
Um banco de dados que o usuário, a partir da Internet tem acesso aos microdados das
pesquisas.
49
para comprar um produto (livro ou cd-rom), Bibliotecas para consultar um
dado, ou, no caso dos demais estados da federação, à Supervisão de
Documentação e Disseminação de Informações (SDI), para obter a informação
desejada. O acesso também ocorria por meio de correspondência
encaminhada pelo correio, ou fax, ou por telefone. Vale destacar que todos
esses serviços ainda são oferecidos ao público. , inclusive, uma central
telefônica de atendimento gratuito, disponível pelo número 0800-721-8181.
Paulo Quintslr acentua a importância dos meios de comunicação nesse
processo:
Como ele fazia isso? Ele fazia isso ao ser comunicado isso para
ele.(sic) E aí entra todo esse trabalho junto aos jornalistas, que era
o nosso grande veículo de fazer chegar até o cidadão essa
informação. O IBGE acaba de divulgar o resultado desse trabalho,
desse estudo, dessa pesquisa. Ao haver essa comunicação(sic), isso
despertava nos usuários a virem consultar esses resultados (sic).
Certamente, eles viam na televisão, assistiam na televisão, liam no
jornal, ouviam no rádio e ao se interessarem em trabalhar com esses
dados, eles procuravam o IBGE. Procurar o IBGE significava vir a
um endereço do IBGE para comprar aquelas informações, um
publicação, um cd-rom, ou ficar na biblioteca consultando esses
dados de forma gratuita. Esses eram os princípios de atendimento
do IBGE. De devolver à sociedade os resultados dos trabalhos que
a própria sociedade que paga seus impostos de forma gratuita. Essa
forma gratuita, naquela época, que não tinha Internet, era
disponibilizar em biblioteca (sic). Ali não precisava ser sócio.
Apenas se dirigia à biblioteca e lá tinha acesso aos resultados, aos
estudos, do IBGE divulgados. Então, essa era a forma. Também
mandavam correspondências, fazendo perguntas “qual o resultado
do desemprego que acabou de ser divulgado?” Mandavam essa
pergunta para o IBGE, o IBGE respondia, como até hoje responde.
108
Hoje essa divulgação continua sendo exercida da mesma forma, através
das mídias existentes, no entanto, com a rede Internet, a maior parte desses
acessos ao IBGE ocorre por meio eletrônico. As perguntas mais constantes,
atualmente, dizem respeito ao modo de acesso à determinado dado na página
do IBGE, e não para solicitar a informação propriamente dita, embora ainda
continue disponível esse tipo de atendimento. Com a entrada da Internet no
elenco de possibilidades de atendimento que o IBGE presta à sociedade é
possível responder com rapidez às solicitações que demandam das instituições
108
Entrevista concedida por Paulo Cesar Quintslr, em 03 de maio de 2007.
50
públicas. No lançamento de um trabalho, todos os passos são planejados.
Quando será divulgado, que produtos serão necessários para a divulgação de
determinado trabalho impressa, banco de dados na rede Internet, cd-rom -,
como será publicado em páginas no Portal do IBGE na rede Internet, quais
peças promocionais serão necessárias cartaz, folder, entre outros. O
cronograma de execução das etapas propostas no plano de divulgação só é
possível graças à tecnologia que encurta o tempo de apuração desse material,
pois sua editoração é realizada em tempo inferior ao processo anterior à
evolução tecnológica. Conseqüentemente, a sociedade tem acesso mais
rapidamente aos resultados das pesquisas.
Nesse encurtamento de tempo entre o levantamento dos dados e sua
divulgação, graças à rede Internet, é importante destacar o papel que as novas
tecnologias tiveram nesse processo. O tempo gasto com a apuração dos dados
coletados sofreu um impacto extremamente benéfico com o uso de
microcoletores de dados, hoje denominados palmtops
109
, facilitando o registro
das informações pelos entrevistadores, especialmente no caso das pesquisas
estatísticas, reduzindo o tempo de trabalho. Atualmente, esse grupo de
pessoas carrega as informações levantadas diretamente em um computador
portátil conectado à rede local do IBGE (da área onde foi realizada a
pesquisa), e esses dados chegam, quase em tempo real, ao escritório onde os
analistas se debruçam sobre eles, com a finalidade de descrevê- los e analisá-
los, transformando-os em gráficos e tabelas que, num segundo, é entregue
para a editoração e divulgação em tempo muito menor do que anteriormente
ocorria.
O processo de divulgação prossegue por dois caminhos,
simultaneamente. Um é o preparo desse material pela equipe da Gerência de
Serviços on line, do CDDI, que confecciona as páginas que irão compor o site
do IBGE na Internet. O outro é o encaminhamento desse material, na forma
ainda de rascunho (boneca) para a Coordenação de Comunicação Social. A
CCS trabalhará essa massa de informações, transformando-a em texto
jornalístico a ser distribuído na mídia.
109
Personal Digital Assistant. Um computador de mão.
51
Com esse encurtamento no processo de levantamento, apuração e
divulgação dos trabalhos da Instituição, por conta da implantação e
aprimoramento constante da página do IBGE, com seu Portal, na rede
Internet, o que se pode entender? Com a máquina do IBGE ligada à rede
Internet, com seu material informativo inserido nela, um significativo
impacto econômico de redução de custos e de esforço empenhado por
analistas técnicos dos trabalhos realizados, em especial dos analistas
temáticos. Hoje, o preenchimento de muitos questionários, especialmente o
das pesquisas econômicas (Pesquisa Industrial Anual-PIA, por exemplo), é
realizado eletronicamente. As pesquisas são direcionadas a estabelecimentos
selecionados que buscam o questionário, preenchem e devolvem via endereço
eletrônico do IBGE. O investimento do IBGE na informatização do Instituto,
retorna sob a forma de redução de custos materiais, financeiros e econômicos
gastos com pesquisas, principalmente com pesquisa estatística. O lucro
aumenta se for levado em conta o valor agregado pelo favorecimento da
comunicação entre Instituição e sociedade, proporcionado pela utilização das
novas tecnologias de informação. O IBGE possui e aplica uma política de
comunicação cuja estratégia é definida, especialmente, pela Coordenação da
Comunicação Social que facilita a disseminação das informações produzidas,
a partir de sua divulgação bem planejada para a imprensa, como por exemplo,
a utilização do embargo para divulgar pesquisas que possam ter grandes
reflexos nas políticas públicas do País.
O embargo é um instrumento bastante utilizado pela Coordenação de
Comunicação Social do IBGE. De posse da boneca da pesquisa, ou trabalho,
que se encontra ainda em fase de editoração, a Coordenação convida os
jornalistas para retirarem uma cópia desse material a fim de que possam
estudá- lo e analisá- lo. Dias depois, esses jornalistas são convidados a
participarem de uma reunião, geralmente nas dependências da própria CCS,
com os técnicos envolvidos no tema da publicação, para que sejam
esclarecidas todas as dúvidas a respeito do assunto. Como resultado tem- se
maior tempo para a mídia explorar informações relevantes para os cidadãos,
considerando que tempo em jornalismo custa muito caro, especialmente na
52
televisão. Essa é uma das razões do espaço obtido pelo IBGE na mídia em
nível nacional.
Esse trabalho conjunto entre o Centro de Documentação e Disseminação
de Informações e a Comunicação Social do IBGE mudou definitivamente a
relação dos usuários das informações produzidas pelo IBGE. Paulo Quintslr
descreve esse fenômeno:
[...] Hoje, já se percebe que está havendo mudanças, que não é da
mesma forma que o jornalista interage com a equipe da
Comunicação Social do IBGE como era antes (sic). Não é da
mesma forma que antes (sic). Da mesma forma que nós aqui (sic).
O impacto, um dos impactos para nós mais visíveis é a redução de
pessoas que chegam aos nossos serviços clássicos... Nós estamos
tendo menos pessoas vindo às Bibliotecas. Elas já estiveram [as
bibliotecas] muito mais cheias com muito mais presença de
pesquisadores, de estudantes, usuários, do que atualmente. Porque
hoje parte desses usuários que já têm maior conhecimento desse
mundo virtual, ele já vai ao endereço virtual na Internet.
110
Nesse sentido, o IBGE tem procurado ficar atento ao avanço
tecnológico para que possa fornecer os meios necessários à melhoria
constante do atendimento a sociedade.
110
Entrevista concedida por Paulo Cesar Quintslr, em 03 de maio de 2007.
53
5. A COMUNICAÇÃO SOCIAL E A INTERNET
O IBGE só passa a ter um órgão de Comunicação Social em sua
estrutura com o decreto nº 93.599, de 21/11/1986. Nessa ocasião foi criada a
Assessoria de Comunicação Social. Antes disso, existia um assessor,
jornalista, encarregado de fazer a comunicação entre a Instituição e a mídia.
Em 1980, havia, de modo informal, a Assessoria de Imprensa e Comunicação
Social, que redigia e enviava os press realeases
111
para a imprensa e era
composta por uma equipe pequena, de três pessoas mais ou menos, que faziam
o clipping com as reportagens dos principais jornais O Globo, Gazeta
Mercantil, Jornal do Brasil, Última Hora, O Dia, Folha de São Paulo, Estado
de São Paulo. Clipping era um serviço manual de recorte e colagem,
reproduzido para todas as diretorias e superintendências.
As divulgações das pesquisas do IBGE, pertinentes a conjunturas
(Índice Nacional de Preços ao Consumidor-INPC, Pesquisa Industrial Mensal-
Produção Física-PIM/PF, Pesquisa Mensal de Emprego-PME, e outras
poucas), além de algumas estruturais (Pesquisa por Amostra de Domicílios-
PNAD, Censo Demográfico), eram realizadas na parte da tarde, sem que
houvesse nenhuma entrevista coletiva. Alguns jornalistas iam até a AICS
para obter mais rapidamente o press release, pois as editorias não podiam
esperar a entrega, e elas precisavam fechar suas matérias.
Foi a partir da Nova República, com a retomada da democracia no País,
que as instituições públicas iniciaram a reaproximação com a sociedade. Com
a restauração do governo civil, a questão de disponibilizar seus arquivos e
informações se tornou presente para o IBGE. Em 1985, foi criada uma
Assessoria de Comunicação Social para fazer essa aproximação. Nesse
período, na gestão de Jessé Montello (1979-1985), os técnicos e funcionários,
111 Press release documento que é distribuído para os meios de comunicação (rádio, tv,
jornal, revista, etc.), cujo conteúdo é redigido por um jornalista, de forma a esclarecer o
que a instituição, ou empresa, deseja informar em detalhes em linguagem técnica. Muitas
vezes, é a partir do press release (ou release) que o jornalista procura as assessorias de
imprensa para detalhar o assunto em questão.
54
entre eles os jornalistas, precisaram aprender e se adaptar a novas formas de
atendimento e de relacionarem- se com a imprensa. Os funcionários da
Assessoria de Comunicação Social ainda possuíam o hábito (antigo) de omitir
algumas informações, principalmente, as relacionadas ao índice de preços. O
treinamento para prestar atendimento aos colegas externos foi bastante
intenso.
Não existindo tecnologia à época para um atendimento eficaz, todo
esse esforço deve ser conferido à Shirley Dias de Souza, que ocupou a
Comunicação Social do IBGE, durante, praticamente, dez anos. Ficou sob sua
responsabilidade a montagem da estrutura organizacional do setor. Estrutura
que, até hoje, é base prevalecente na dinâmica de funcionamento da
Coordenação de Comunicação Social. Ressalte-se que as outras áreas ligadas
à Comunicação Social não têm sido executadas e alguns funcionários que
faziam parte dessa equipe, na ocasião de sua criação, trabalham até hoje no
local, agora denominado Coordenação de Comunicação Social. Esse era um
tempo de telex, máquina de escrever elétrica e fax-símile, este equipamento
bastante raro e moderno, além de muito telefone.
Em entrevista concedida, Shiley Soares lembra:
Não existia a Comunicação Social... Nós tínhamos duas copeiras,
duas secretárias... Duas copeiras, duas secretárias... Foi assim que a
Assessoria, que funcionava com Assessoria de Imprensa começou.
112
Foi então que as primeiras entrevistas coletivas começaram a acontecer
no horário da tarde, ou às dez ou onze horas da manhã, quando a pesquisa era
estrutural, como PNAD e Censo. Isso, de certa forma, continuava não
resolvendo o problema da disseminação das matérias para os veículos de
comunicação, apesar do envio delas por fax-símile. Os press releases
possuíam, e ainda possuem, no mínimo três folhas. Transmiti- los para as
editorias dos jornais da maior parte do país era um trabalho árduo, pois
muitas vezes a conexão era desfeita, obrigando a secretária a repetir a
operação mais de uma vez para um único veículo. Para os órgãos de imprensa
112 Entrevista concedida por Shirley Soares Dias de Souza em 02/09/2006
55
localizados na cidade do Rio de Janeiro, o release era entregue por dois
contínuos. Um fazia o roteiro Centro- Zona Norte, o outro ia para a Zona Sul.
Eles faziam esse percurso de carro, meio de locomoção externo e inadequado
para a natureza do serviço. Na maioria das vezes, o trânsito intenso,
congestionado, impedia que o material chegasse no tempo necessário do
fechamento da edição, favorecendo apenas as emissoras de rádio, que podiam
aproveitar o material no mesmo dia. As agências de notícias também foram
grandes auxiliares nessa disseminação. Existiam muitas no Rio de Janeiro, e
elas se encarregavam de passar as notícias para suas sucursais nos estados.
Não fosse isso, as informações tardariam ainda mais, já que os estados
recebiam esse material por malote. Se a Comunicação Social conseguisse
fechá- lo com alguma antecedência (isso era mais comum para as pesquisas
estruturais) passava-se a fazer uso do embargo, onde os representantes do
IBGE, em todo país, ficavam responsáveis por sua divulgação junto à mídia.
Shirley Soares lembra bem esse período:
Mas eu lembrei os correspondentes porque, na verdade, a gente
chamava os representantes das sucursais. Quer dizer, a Folha de
São Paulo cobria, o Estadão
113
, o O Estado de Minas, enfim, dos
que estavam aqui no Rio. Porque a gente ainda tinha muita sucursal
forte aqui no Rio nessa época...
114
Confeccionar um press release demanda um trabalho especial. O
jornalista do IBGE precisa ler todo o material enviado para ele numa
linguagem técnica. Começa, então, uma negociação com o autor, ou autores,
do texto e suas tabelas, muitas vezes complexas, de modo que se elabore um
texto de fácil entendimento para os jornalistas dos veículos de comunicação
responsáveis pela redação da matéria a ser divulgada. O processo de
montagem de um release era extremamente complexo. Geralmente, esse
técnico, responsável pela pesquisa ou trabalho e que também participava da
entrevista coletiva, vinha para a Assessoria acompanhar a preparação do
release, pois essa era a maneira mais rápida de dirimir as dúvidas. Se a
113 Jornal O Estado de São Paulo.
114 Entrevista concedida por Shirley Soares Dias de Souza em 02/09/2006.
56
minuta fosse enviada por fax aos departamentos, raras não eram as vezes que
os textos chegavam truncados e confusos.
Consertar um texto significava refazê- lo novamente, isto é, datilografá-
lo novamente. Era o tempo da máquina elétrica, não do microcomputador.
Ao término da década de 80 e início dos anos 90, os sistemas de rede
começaram a avançar. Nessa época, a CCS já trabalhava com um sistema
operacional chamado Office Vision (OV)
115
que exigia grande esforço do
digitador de dados, além de ser muito lento. Depois foi utilizado o sistema
Carta-Certa.
116
As secretárias eram as responsáveis pela maior parte da
digitação dos dados, e esse sistema também demandava um tempo enorme
para a elaboração de uma lauda.
Nessa época, o release preparado pelo setor era todo montado
aplicando-se a técnica de recorte e colagem, isto é, tesoura e cola, pois os
textos continham muitas tabelas, quadros demonstrativos e gráficos. Depois
que o técnico selecionado para acompanhar a execução do trabalho aprovasse
o release, ele era reprografado para a distribuição. Uma parte do material
seria entregue aos jornalistas durante a entrevista coletiva e a outra ia para a
rua com os contínuos.
O advento do sistema operacional Windows, acompanhado do programa
Office/Word, específico para textos, trouxe uma melhora substancial à
execução do trabalho de digitação. Contudo, as pessoas ainda não sabiam
como operar esse sistema. Aquele que detinha esse conhecimento ficava
encarregado de ensinar aos demais colegas. Com o Office do Windows era
possível inserir tabelas, gráficas e quadro demonstrativos no corpo do texto
sem grandes dificuldades. A correção dos erros de digitação ou de
informações equivocadas tornou- se mais ágil. Até a ação de cortar e colar
ficou mais fácil, bastando um clique.
No ano de 1995, o IBGE inaugurou sua página na Internet. A navegação
era demorada, a rede era lenta e pesada, e a primeira página continha poucas
115 Office Vision: ferramenta da IBM que à época permitia a troca de mensagens intranet
e não permitia o envio ou recebimento de arquivos anexados, entre outras limitações.
116 Carta Certa: Software nacional voltado para a cultura brasileira. Esse processador de
texto possuía um sistema de correção de fácil operação. Seus aplicativos eram formatados
de acordo com a legislação brasileira para a emissão de documentos e até notas fiscais.
57
informações, mas o press release passou a fazer parte dela em 1996, através
do ícone notícias.
Embora parte da mídia já fizesse uso dos computadores integrados à
rede, muitos profissionais continuaram elaborando suas matérias na máquina
de escrever. A resistência não era gratuita, uma vez que grande parte das
redações não estava conectada à rede. Era o início da expansão da Internet no
Brasil, o acesso a ela deixava de ser exclusividade do meio acadêmico. Nessa
fase a maioria dos jornalistas não possuía um endereço eletrônico sequer.
No primeiro semestre do ano de 1999, com a melhoria da conexão à
Internet do sistema do IBGE, a CCS inovou mais uma vez: decidiu enviar os
press release por meio eletrônico aos jornalistas cadastrados. Essa operação
foi arriscada, pois a resistência, agora, deveu- se à insegurança dos jornalistas
no manuseio do acesso à rede. Os veículos de comunicação ainda não
estavam preparados para receber material informativo em determinados
programas operacionais. Assim, o IBGE confirmou que sempre esteve à
frente, conforme compete a um órgão que tem por finalidade produzir e
distribuir informações.
A distribuição impressa dos releases foi mantida e era realizada com a
ajuda de duas viaturas e do fac-símile, este último, principalmente para as
cidades localizadas fora do Estado do Rio de Janeiro. Do mesmo modo, as
convocações de jornalistas para as entrevistas coletivas também continuaram
a ser feitas por meio de ligação telefônica, embora fosse enviado, também, um
convite por meio eletrônico.
Ao longo do tempo, as empresas de comunicação foram se atualizando e
conectando-se à rede mundial de computadores, o que melhorou
sensivelmente a capacidade de acesso dos jornalistas à Internet, tornando-os
mais confiantes e receptivos às informações enviadas pelo IBGE. Foram
criadas listas com nome e e-mail dos jornalistas, as respectivas redações a
que estavam vinculados e qual a área de interesse/ atuação de cada um. O
envio da convocação para as entrevistas coletivas estava otimizado. No dia da
divulgação da pesquisa ou outro estudo, todos recebem o material ao mesmo
tempo em que os jornalistas presentes à coletiva o recebem.
58
Hoje esses eventos ocorrem no período da manhã, sempre às 9h30min
para as pesquisas conjunturais (inflação, PIB, desemprego e outras) e às 10h
para as demais pesquisas. Raramente ocorre um evento em horário mais
avançado.
A sistemática adotada beneficiou a disseminação das informações
produzidas pelo IBGE. A Internet é inegavelmente o meio mais importante
para que a CCS tenha condições de destacar as informações necessárias para a
tomada de diversas decisões no plano das políticas públicas.
Muitos jornalistas estrangeiros vêm buscando informações sobre o
Brasil no site do IBGE graças à eficiência da estrutura da página que liga o
texto produzido pela CCS (press release) com o banco de dados do IBGE,
permitindo o detalhamento de vários trabalhos.
O serviço de clipping elaborado pela Comunicação Social do IBGE, em
rede, no segundo semestre de 1999, foi disponibilizado on line. Inicialmente
montava- se a matéria por meio de recorte e colagem, depois se utilizava o
scanner
117
para transformá- la em meio digital acessível a Intranet do IBGE.
Nessa fase, seu alcance era limitado à cidade do Rio de Janeiro. Com a
evolução do sistema e a entrada de quase todos os veículos de comunicação
no sistema de rede mundial de computadores, esse serviço passou a copiar as
matérias diretamente das páginas eletrônicas desses veículos e disponibilizá-
las em rede, permitindo o acesso nacional.
No que diz respeito às estratégias de divulgação de matérias com
utilização do embargo, por se tratar de um trabalho que exige atenção
redobrada, os jornalistas são convocados por telefone, em comunicação direta
com os jornalistas da CCS e não pelas secretárias da coordenação. O material
ainda é impresso e encaminhado com a devida antecedência aos jornalistas
que participarão da reunião que antecede à divulgação. Outras informações
complementares são enviadas por meio eletrônico.
117 Um scanner é um aparelho de leitura ótica que permite converter imagens, fotos,
ilustrações e textos em papel, num formato digital que pode ser manipulado em
computador. Por exemplo, é possível "passar" uma capa de revista ou uma fotografia para
a tela de seu PC.
59
As demais unidades do IBGE também recebem o material a ser
divulgado previamente, possibilitando que convoquem a imprensa local e, se
preferirem, trabalhem também com sistema de embargo.
A inserção do IBGE na rede, especialmente, a CCS, proporcionou a
melhoria da qualidade dos dados que são oferecidos à sociedade. A Internet é
uma valiosa ferramenta. Entretanto, situando a Comunicação como um
sistema, ter-se-á uma mensagem emitida por uma fonte que deve chegar ao
seu destino com a menor distorção possível, isto é, sem ruídos”. Nesse
momento as organizações têm muito a refletir sobre sua responsabilidade
nesse percurso existente entre fonte e destino, ou emissor e receptor, pois,
equívocos imprevistos, falhas na comunicação ou, até mesmo, problemas
físicos na rede podem ocorrer eventualmente. Certa vez, o encarregado pelo
envio do release da pesquisa do Produto Interno Bruto (PIB) preparou a
convocação e a remessa do material aos jornalistas com a devida
antecedência, na véspera da coletiva, com o intuito de agilizar o serviço.
Contudo, na hora de clicar a tecla ‘salvar em rascunho’, apertou a tecla
‘enviar’ por engano. A divulgação antecipada dos dados do PIB gerou grande
rebuliço. Essa informação (PIB) é de grande relevância para economia
nacional influenciando, diretamente, o movimento das ações nas bolsas de
valores nacionais e alterando os índices internacionais referentes ao ‘risco
Brasil’. Outro exemplo que merece destaque ocorreu em ocasião da
divulgação dos índices da Pesquisa Mensal de Empregos (PME). Esses dados
‘vazaram’
118
numa sexta- feira à noite, último dia útil que antecedia a
entrevista coletiva para a divulgação dos resultados, na segunda- feira. Uma
jornalista de um grande jornal do Rio de Janeiro, com a intenção de consultar
dados anteriores da PME, acessou a página do IBGE, após 20 horas, e
deparou-se com informações inéditas. Após conversar e analisar a situação
com seu editor, entrou em contato com o chefe da CCS e comunicou que o seu
veículo daria um furo de reportagem
119
, na edição de sábado.
118 Vazar no jargão jornalístico significa que uma informação, que deveria ser mantida em
sigilo por um tempo determinado ou indeterminado, veio a público em hora imprópria.
119 Furo de reportagem ocorre quando só um veículo divulga determinada informação, i.
e., com exclusividade.
60
A rotina de divulgação dos resultados das pesquisas deve seguir um
protocolo pré-estabelecido. Redige- se o release, formata-o, e, depois de
aprovado pela equipe produtora da informação, envia-o para a equipe
responsável pela inserção dos dados na página do IBGE na Internet, para
disponibilizá- lo, ao público, apenas no horário em que a coletiva tem inicio.
Em paralelo, a área que alimenta o banco de dados, de acesso permitido ao
usuário para consulta, recebe um arquivo com todas as tabelas, gráficos e
texto analítico da pesquisa, com o compromisso de só divulgá- lo no horário
da coletiva e no momento em que o release do IBGE entra na rede, permitindo
a leitura e a consulta ao banco de dados. Essas ações devem ser simultâneas.
O incidente comentado acima foi um erro devido ao comando equivocado.
Ilustrando mais um caso em que a tecnologia foi instrumento de lucro
para empresas que vendem notícias, certa vez, uma agência internacional de
notícias divulgou os resultados de uma pesquisa do IBGE, oito segundos antes
da liberação oficial no site do IBGE, causando uma grande confusão para a
Fundação e entre os jornalistas convocados para a coletiva. Conforme as
normas oficiais a liberação do release para os jornalistas deve ocorrer
concomitantemente à liberação das informações no site e no horário já
protocolado. Nesse dia, os relógios do IBGE dessincronizaram- se e o acesso à
Internet ocorreu antes da liberação aos jornalistas presentes.
Mesmo com todos esses episódios, é importante ressaltar que a
melhoria na qualidade do atendimento prestado pelo IBGE à imprensa e à
sociedade deve-se, indubitavelmente, à evolução tecnológica.
61
6. CONCLUSÃO
No momento de significativas transformações no contexto mundial, é
pertinente destacar a importância da inserção do IBGE nesse cenário. A
revolução tecnológica ocorrida, principalmente a partir da década de 1990
permitiu à Instituição uma melhoria nos processos de levantamento, análise,
divulgação e disseminação de seus trabalhos.
Certamente, esse movimento acelerou a rotina de trabalho da
Comunicação Social do IBGE. A realização das tarefas do setor tornou- se
mais ágil e eficiente. A comunicação com a sociedade, com as unidades do
Instituto espalhadas pelo país e com os órgãos da imprensa nacional e
internacional adquiriu velocidade, qualidade e precisão, além de possibilitar a
oferta de condições igualitárias de acesso às informações. A informatização
do Instituto e o correto treinamento de seu pessoal para o uso da nova
ferramenta de trabalho reduziu a distância temporal e espacial em todo
território nacional.
Por essa razão é possível afirmar que o uso da rede Internet foi um
marco para a divulgação das informações produzidas pelo IBGE e divulgadas
pela Coordenação de Comunicação Social. A Internet permitiu que os
esclarecimentos necessários à formação de opinião de um grupo importante da
sociedade, os jornalistas, possam ter, a qualquer instante, acesso praticamente
irrestrito aos assuntos que permeiam os interesses públicos nacionais.
Mas não é só à imprensa que a rede Internet favoreceu. O usuário hoje
não precisa mais se deslocar às unidades do IBGE para obter uma
informação. Ele tem todas as informações até então produzidas, à sua
disposição, na página virtual do IBGE. Nela o cidadão encontra uma
biblioteca e os resultados das pesquisas. Caso queira comprar um produto,
ele pode fazê- lo pela Internet, através da loja virtual. Há uma página
direcionada às crianças e aos jovens em idade escolar, com linguagem
própria, que facilita a pesquisa sobre hidrografia, vegetação, atividade
econômica, densidade demográfica e demais assuntos referentes à vida do
62
país, às regiões, aos estados e aos municípios, colaborando, dessa forma,
com a formação do estudante. O IBGE, por meio virtual, se faz parceiro da
educação, no país.
Não é mais possível imaginar o IBGE desconectado da rede Internet.
Graças a essa tecnologia é possível que o recenseador preencha seu
questionário e o transmita para ao escritório imediatamente o que ele
coletou, encurtando todos os processos de elaboração de resultados de cada
pesquisa; criou um serviço de auto- atendimento à população; democratizou-
se o acesso à informação produzida pelas pesquisas do IBGE; e, beneficiou,
sobremaneira, a qualidade do atendimento oferecido ao cidadão.
63
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66
ANEXOS
67
ANEXO 1
Estatísticas do Site
usuários
Hits
usuários
Hits
usuários
Hits
Totais1996(ago a dez)
211.624
211.624
...
...
Totais1997
320.835
1.873.665
306.666
1.534.449
339.216
Totais1998 520.872 8.443.328
468.073
6.570.437
1.872.891
Totais1999
1.010.404
37.828.265
921.784
35.711.857
2.116.408
Totais2000
2.764.174
155.756.586
2.646.785
154.582.502
117.389
1.174.084
Totais2001
3.147.758
301.491.635
2.954.761
300.409.675
192.997
1.081.960
Totais2002 4.370.038 569.087.320
3.662.759
567.666.624
707.279
1.420.696
Totais2003
5.254.638
570.001.996
4.065.790
568.152.192
1.188.848
1.849.804
Totais2004
7.372.986
625.814.648
5.249.653
622.618.767
2.123.333
3.195.881
Totais2005
10.057.236
835.017.975
8.225.472
835.017.975
1.831.764
...
Totais2006 14.500.133 1.260.554.866
12.203.054
1.260.554.866
2.297.079
...
Totais2007 (até julho)
11.494.174
1.140.689.497
10.086.063
1.140.689.497
1.408.111
...
Ano
Total de acessos Acessos à Home page Acesso ao serviço FTP
Fonte: Centro de Documentação e Disseminação de Informações-
Coordenação de Atendimento ago/2007
Conceituações e as estatísticas do site desde o início do Portal do IBGE.
Os usuários do Portal do IBGE e os hits são definidos da seguinte forma:
- Usuário - é a contagem do número de visitantes ao Portal do IBGE em
busca de informações estatísticas e geográficas;
- Hits - é a contagem do número de acessos dentro do Portal pelo mesmo
visitante.
68
ANEXO 2
Entrevista com Paulo Cesar Quintslr
120
, realizada em 03/05/2006
Local: Centro de Documentação e Disseminação de Informações CDDI
Rua General Canabarro, 706 3º. Andar - Maracanã
SM Bom, então, vamos fazer uma gravação... Hoje é dia três de maio, eu entrevisto
Paulo Cesar Quintslr, que é o Coordenador de Atendimento Integrado do CDDI, do
IBGE, e nós gostaríamos de começar falando dessa entrada do IBGE à rede mundial
de computadores, quando foi que o CDDI entrou na Internet, eu acho que em 94, 95,
isso não fica bem claro na minha cabeça.
PQ - Na programação do IBGE, já em 95, com certeza, nós estávamos fazendo um trabalho
para apresentar à direção do IBGE, uma proposta de página do IBGE na Internet. Essa
proposta ela foi apresentada, é... de forma mais organizada ao professor Simon
Schwartzman
121
, quando ele estava assumindo a presidência do IBGE. Na época, o Ângelo
Pavan
122
era o Coordenador, hoje chamado Coordenador Geral do CDDI, e foi então
apresentada uma proposta, uns planos, que tínhamos um projeto de página para a Internet.
Naquele momento, a estrutura computacional do IBGE ainda era de poucos
microcomputadores para os profissionais da Casa e os que tinham não estavam, em grande
maioria, não estavam ligada em rede, os computadores, ligados em rede, os
microcomputadores, e muito menos ligados à rede Internet. O primeiro investimento que
se fez foi de colocar os microcomputadores em rede interna e, em seguida, com ligação à
rede Internet. O projeto de publicar uma página do IBGE na rede Internet seguiu paralelo
a esse investimento de microcomputadores na Casa, até chegar, hoje, quase a um
computador para cada servidor. Ainda não chegamos a essa relação, mas estamos bem
próximos. Naquela época, foram dois projetos distintos, o de rede de computadores para
os funcionários do IBGE, e o trabalho voltado para publicar uma página na rede Internet.
Esse trabalho de publicar uma página, ele foi desenvolvido já no tempo do Prof. Simon
Schwartzman...
SM Mas isso que fazia parte do CDDI. Esse de implementar a instalação, não...
PQ Não. O investimento em microcomputadores, maior número para o IBGE, e a sua
ligação em rede foi toda desenhada junto com a Diretoria de Informática...
SM Mas o CDDI também estava envolvido?
120 Paulo Cesar Quintslr, que é o Coordenador de Atendimento Integrado do CDDI, do
IBGE.
121 Professor Simon Schwartzman foi presidente do IBGE entre 1994 e 1999.
122 Ângelo José Pavan foi Superintendente do Centro de Documentação e Disseminação de
Informações-CDDI, do IBGE no período de junho de 194 a julho de 1995.
69
PQ Nessa estruturação de redes de computadores não. Isso teve uma forte influência do
Prof. Simon Schwartzman com o, na época, atualmente o Diretor Executivo, esse posto que
atualmente é do Diretor Executivo
123
, tinha uma pessoa que ele trouxe quando veio para o
IBGE, presidir o IBGE, e foi a pessoa que coordenou esse investimento em
microinformática. E...
SM Quem é?
PQ É.. O nome...
SM Homero?
PQ Não, não. Ele não ficou muito tempo no IBGE, não. É... Heraldo?... Acho que
Heraldo...
SM Hum...
PQ O nome era Heraldo.
SM Tá.
PQ Ele foi a pessoa que ficou responsável por dar forma a essa idéia que o Prof. Simon
Schwartzman via como importante, de informatizar a Casa com microcomputadores. Na
época até surgiram polêmicas de se substituir o main fraime por apenas
microcomputadores. Todo o trabalho do IBGE, o processamento de dados do IBGE,
clássica já, deixar de ser realizada em um computador central, de grande porte, main
fraime, com contrato com a IBM, deixar de ser feito dessa forma para ser feito com
microcomputadores, processados em rede de microcomputadores. Isso, na época, gerou
uma certa polêmica, afinal, nunca se deixou de o IBGE ter um computador de grande porte
para processar...
SM Ainda tem...
PQ Ainda tem. Isso ao final ficou claro. Que o IBGE... A massa de dados que o IBGE
processa exigia ter um computador de grande porte e esse foi um esforço que foi feito, que
cabia a implantação à DI
124
. Toda a orientação à DI. Isso significou orientar a compra de
equipamentos para a rede de computadores, passar cabos para fazer essa ligação nesses
computadores, e também a contratação de um acesso à rede Internet, que também é um
contrato feito com provedores.
SM Seria assim uma espécie da parte física?
PQ É.
SM Da implantação...
123 Aqui, ele se refere ao cargo em si, não à pessoa. Antes da denominação de Diretor
Executivo, o IBGE possuía um Diretor de Planejamento e Coordenação.
124 DI Diretoria de Informática, criada pelo decreto 7664, de 24/11/1795.
70
PQ Isso. Então, essa parte toda foi um investimento a partir do Professor Simon
Schwartzman, de 94 em diante, e era realmente época certa, podemos dizer assim, a
informática de fato avançou naquela época, estava avançando naquela época. Saímos da
reserva de mercado de microcomputadores, e isso facilitou muito investir nesses
equipamentos de informática. E o IBGE, então, passou a ter dado o projeto de ter uma
página na rede Internet, fez esse investimento, desenvolveu esse projeto de ter páginas
disponíveis para acesso para a rede Internet, definiu a configuração desse computador,
sistema operacional, que ambiente deveria ser usado. Isso tudo foram decisões tomadas e
quanto a conteúdo também isso tudo foi evoluindo para, afinal, então, o IBGE ter uma
página, um endereço na rede Internet para acesso dos usuários à informação que o IBGE
divulgava. Divulga.
Isso significou, então, ter um computador ligado em rede, ligado à rede Internet, onde lá
se publicavam os resultados das pesquisas do IBGE, as páginas eram todas desenhadas
especificamente para isso, e esse trabalho todo foi desenvolvido pelo CDDI
125
, na unidade
que hoje é... foi constituída na época, ainda é a Gerência de Serviços on Line. Essa
gerência sempre esteve no CDDI. Ela ficou responsável por toda essa parte de estudar
tecnologia e toda a implementação, da complementação desse tipo de serviço. Isso
evoluiu bastante hoje nós chegamos nesse conceito de Portal.
SM É, a Edna
126
falou que quando lançou a Internet tinham 60 páginas só, que elas
não se movimentaram... Enfim, não sei os termos técnicos, ignoro um pouco, mas foi
assim... uma coisa bem incipiente, e eu lembro que quando isso entrou, já os releases
do IBGE, da Comunicação Social, já estavam lá, mas que era só isso, não tinha mais
nada. Era só aquela notícia e acabou...
PQ Bom, mais ou menos evoluiu nos anos setenta. Naquela época, não se podia projetar
nenhuma página ligada à rede Internet, para acesso à rede Internet, que fosse muito
sofisticada. Primeiro, pela própria... por não se ter disponível ferramentas sofisticadas,
por outra, a própria velocidade que a rede Internet tinha, de comunicar. Na verdade, não
possibilitava ao usuário fazer uso, que não adiantava fazer nada muito sofisticado, vamos
falar assim, sofisticado, que iria ser difícil da página entrar. Tinha que ficar esperando
um tempão até que a página aparecesse na sua tela, o que é contra producente. Então,
essas coisas têm que evoluir paralelamente, conforme a tecnologia vai evoluindo, você vai
aumentando a sua riqueza do que você apresenta. Mais facilidades, mais recursos. E é
isso que, de fato, o CDDI, essa Gerência, soube muito bem acompanhar, a evolução de
tecnologia, cada nova oferta a equipe já fazia a avaliação de viabilidade, de estudo de
viabilidade da nova tecnologia, passava a dominar essa nova tecnologia e desenvolvia,
então, páginas para essa já, com essa tecnologia. O que hoje, então, nós temos, as
chamadas páginas dinâmicas, que não são páginas estáticas, que é quando você acessa o
125 CDDI Centro de Documentação e Disseminação de Informações
126 Edna Rodrigues Campello é Gerente da Gerência de Serviços On-Line GEON, do
Centro de Documentação e Disseminação de Informações - CDDI
71
que vem, vem lendo... Está lendo um banco de dados, que eu não posso alterar aquela
informação que vem na página mexendo numa informação lá no banco de dados, eu não
preciso tirar a página do ar e colocar outra página no ar. Mexi no banco de dados e aquela
informação se atualiza naquele instante. Então, tem uma série de facilidades tecnológicas
que foram sendo absorvidas, e hoje nós trabalhos com esse conceito de Portal, que tem
vários canais. A página, ela apresenta as informações principais, as que estão... as mais
atuais, os destaques e mostra diversos itens que você pode acessar mais os chamados
canais, que é o que dá mais sentido a esse conceito de Portal. Você sai da página inicial
do IBGE ao escolher um caminho chamado canais, que são... é um conjunto de páginas,
cada canal tem um conjunto de páginas...
SM BME
127
é um canal?
PQ É um canal, com toda uma proposta visual que a identifique... Por exemplo, o
Cidades@...
SM Isso que eu ia falar, o Cidades@...
PQ O Cidades@ é um dos canais e tem lá, é... a proposta visual, a cor é bem... a página
é em tom escuro, tem todo um desenho próprio para o tipo de informação que se quer
divulgar ali. Então, tem mapa do Brasil, que você acessa informação de cada município,
você tem a visão do mapa do Brasil...
SM Isso é desenvolvido junto com o pessoal de marketing e propaganda (COMAR)
128
ou é tudo com a GEON?
129
PQ Isso é na GEON.
SM Tudo dentro da GEON?
PQ Tudo dentro da GEON. A nossa área de marketing, ela atua, podendo fazer um
pouco de paralelo, um pouco mais próximo do que seria um pouco da Comunicação Social.
Ela se aproxima mais desse tipo de atividade do que da atividade da definição da página,
mais diretamente escolha de tecnologia, linguagem de programação... Isso tudo é com a
Gerência de Serviços on Line. O que... Claro que há interação entre essas áreas, uma
delas, por exemplo, é a área de documentação. Nós temos uma gerência de documentação,
dado que você está apresentando dados e eles precisam estar bem organizados. Então,
quando a gente vê na página inicial do IBGE lá um acesso dentro da barra horizontal
127 Banco Multidimensional de Estatística
128 Coordenação de Marketing, pertencente ao Centro de Documentação e Disseminação de
Informações “CDDI, cujas competências são “I - planejar, organizar e analisar, executar
e acompanhar as atividades mercadológicas, de publicidade e propaganda, bem como as
promoção e divulgação do IBGE, em eventos internos e externos; planejar, elaborar e
implementar as diretrizes do Manual de Identidade Institucional, assim como o Projeto
Editorial e Gráfico do IBGE; e III - elaborar, zelar e manter a identidade visual do IBGE,
a programação visual dos produtos, serviços e das peças promocionais, bem como criar e
implementar os projetos visuais para sites institucionais do IBGE.” (Portaria Nº 215 , de
12 de agosto de 2004,.publicada no D.O.U de 13 de agosto de 2004)
129 Gerência de Serviços on Line, pertencente ao CDDI
72
“população”, “indicadores”, isso tudo tem sentido, discutido, avaliado junto com a
documentação, como é que se deve separar essa massa de informações que o IBGE tem
para facilitar, para facilitar o acesso do usuário. Mesmo assim, não, não...
SM Não se esgota...
PQ É, não se esgota. E, por mais que a gente busque facilitar, organizar, de modo a
facilitar o acesso, dado o volume, ainda tem usuários que ainda têm dificuldade de
encontrar alguma coisa, especialmente os usuários que não estão familiarizados com
páginas Internet.
SM Aí é que vem a... voltando lá, nos SDIs, fazendo um link com a informação...
Aqui eu puxo mais para a Comunicação Social por conta disso. As pessoas ainda têm
muitas dificuldades porque nós temos muitas informações, as pessoas ainda meio que
se perdem. Como era isso lá atrás e com foi esse encaminhamento, essa evolução?
PQ Antes da Internet, o nosso usuário, ele tinha que se dirigir ao IBGE, para um dos
nossos serviços nos endereços de atendimento que são as capitais dos estados brasileiros,
mais aqui no Rio de Janeiro no... CDDI. Então ele se dirigia à Biblioteca para acessar
uma informação. Vinha à livraria para comprar um produto. Como ele fazia isso? Ele
fazia isso ao ser comunicado isso para ele. E aí entra todo esse trabalho junto aos
jornalistas, que era o nosso grande veículo de fazer chegar até o cidadão essa informação.
O IBGE acaba de divulgar o resultado desse trabalho, desse estudo, dessa pesquisa. Ao
haver essa comunicação, isso despertava nos usuários a virem consultar esses resultados.
Certamente, eles viam na televisão, assistiam na televisão, liam no jornal, ouviam no rádio
e ao se interessarem em trabalhar com esses dados, eles procuravam o IBGE. Procurar o
IBGE significava vir a um endereço do IBGE para comprar aquelas informações, um
publicação, um cd-rom, ou ficar na biblioteca consultando esses dados de forma gratuita.
Esses eram os princípios de atendimento do IBGE. De devolver à sociedade os resultados
dos trabalhos que a própria sociedade que paga seus impostos de forma gratuita. Essa
forma gratuita, naquela época, que não tinha Internet, era disponibilizar em biblioteca. Ali
não precisava ser sócio. Apenas se dirigia à biblioteca e lá tinha acesso aos resultados,
aos estudos, do IBGE divulgados. Então, essa era a forma. Também mandavam
correspondências, fazendo perguntas “qual o resultado do desemprego que acabou de ser
divulgado?” Mandavam essa pergunta para o IBGE, o IBGE respondia, como até hoje
responde. Hoje já a grande maioria manda essa correspondência por e-mail, usando a rede
Internet, chega até nós nós temos dois endereços, um endereço que é o IBGE@, que é
para solicitação de informações sobre o País, e tem um endereço que é próprio para quem
está buscando discutir alguma coisa sobre a própria página do IBGE, que é o Webmaster.
Essa figura do Webmaster, que é um endereço eletrônico, Webmaster@, foi criado em
nossas páginas logo que se proliferou o uso da Internet com esse canal, para que a pessoa
pudesse tirar dúvidas sobre como é que acessava a informação na página. Nos sempre
mantivemos um serviço de atendimento que é o “eu quero saber qual á a população do meu
73
estado, do Rio de Janeiro”? Então, esse tipo de serviço nós sempre tivemos que é
responder a essa indagação. Essa nós fazemos por telefone, por correspondência... Isso
completa o elenco de serviços que até a entrada da Internet que se somou a isso, a esse
conjunto de serviços. A gente entende que a Internet é mais um serviço que o IBGE presta
à sociedade. Então, eu tive um atendimento ao usuário voltado a isso. Voltado a
responder ao usuário, com informações sobre o país, aquelas informações que o IBGE
produzia. Isso, então, através de correspondência, através de telefone, indo à biblioteca,
indo à livraria, adquirindo a publicação. Esse tipo de serviço nós instalamos em cada
capital, hoje chamados SDIs. A sigla SDI é Serviço de Disseminação de Informações
130
SM Ah!, é Serviço de Disseminação de Informações...
PQ É. Foi tirado um dos “ds” e ficou Serviço de Disseminação de Informações. Antes
era SDDI. Bom, esse tipo de serviço continua existindo. Nós continuamos com o serviço
de atendimento por telefone, com serviço de correspondência, temos a biblioteca, temos a
livraria. Esses serviços são replicados em cada Unidade Estadual
131
. Com o Portal, o
Portal do IBGE, quando o IBGE passou a publicar na página dele na Internet, os
resultados das pesquisas do IBGE passou-se, então, surgiu, um novo serviço...
SM Espera aí, deixa eu tirar uma dúvida. Quando é que não era Portal?
PQ Bom, o conceito de surgiu... É mais recente.
SM Cinco anos?
PQ Cinco anos, quando começou a se ver isso. O volume de dados é tão grande que o
IBGE produz, a capacidade de levar as informações para uma página web é muito grande, a
nossa capacidade, mas isso ao mesmo tempo trouxe um problema, que é como é reúno isso
tudo isso tudo sem desorientar quem quer acessar a informação. Então, a idéia que surgiu
foi “vamos especializar pedaços que nós vamos chamar de canais, nós vamos especializar
páginas dando uma identidade a elas para chamar a atenção para um determinado enfoque
de busca de informação.
SM Aí surgiu Cidades@, Países@, Site Teen, 12 a... 7 a 12.
PQ Exatamente. Então, esse conceito traz isso. Eu tenho informações que eu as público
de forma clássica na página do IBGE, que eu ... na página inicial, ali eu tenho uma divisão
clássica, por pesquisa, por estudo, por pesquisa, mas eu também tenho esses canais onde
eu saio dessa estrutura básica e entro com toda uma programação visual específica, com
130 Informação incorreta. SDI - Supervisão de Documentação e Disseminação de
Informações - conforme resolução do Conselho Diretor nº.5 de 03/05/2006 - constitui-se
num posto avançado (representante) do Centro de Documentação e Disseminação de
Informações - CDDI, instalado em todas as 26 capitais do país e também no Distrito
Federal, que tem como objetivo o atendimento aos usuários internos e externos, tanto para
consulta ao acervo quanto para venda do material produzido pelo IBGE.
131 Unidade Estadual é o escritório do IBGE localizado em cada unidade da federação,
além do Distrito Federal. São 27 no total.
74
toda uma organização dos dados própria, eu ali ofereço ao usuário um acesso, uma
informação, segundo uma perspectiva particular. O Cidades@ é para aquela pessoa que
está querendo conhecer informações sobre um pedaço do território. Então, eu não preciso,
para saber disso, entrar em “População”, e pegar dado da população do estado do Rio;
depois eu saio dali, pagar outro pedaço, pegar desemprego na região metropolitana do
estado do Rio de Janeiro. Se eu ficar só na página clássica eu teria que ficar saindo de um
lugar, indo para outro, para afinal reunir essa coleção de dados. Nesse canal, Cidades@,
eu já reúno esses dados para num único acesso, ao escolher um município, eu ali eu já
tenho todas as informações desse trabalho já feito, e assim o IBGE Teen, por exemplo, ele
já procura agendar outra proposta, de trazer informações na linguagem dessa faixa etária,
isto é, entrada de informações que são relevantes para essa faixa etária. Isso é o que nos
fez chegar a esse novo conceito de Portal, hoje Portal do IBGE. Com o surgimento, então,
da rede Internet, e o IBGE passando a ter uma página, o IBGE, na verdade, criou um novo
serviço. Esse serviço virtual, um serviço on line que funciona 24 horas por dia, que é uma
máquina que está lá ligada, não é desligada em nenhum momento, a cada nova divulgação
é feita uma publicação.
SM Não falta, não adoece, não é isso? Ela é...
PQ É. Você vai substituindo a máquina quando ela vai ficando cansada, obsoleta, e
passamos, então, a ter mais esse serviço. E aí evoluímos isso para o próprio .. instalado,
podemos dizer assim, hoje o Portal é um pouco de uma biblioteca, nós temos uma
biblioteca lá dentro do Portal, mas na verdade o grande canal de comunicação, esse é um
conceito que está amadurecendo cada vez mais, de poder que se passou a ter com a rede
Internet, publicar na rede Internet, então na verdade você tem um poder de comunicação.
E é isso que a gente vem fazendo. Para que chegue até ao Portal esse conjunto de
informações, nós trabalhamos, vivemos um processo de trabalho que já vivíamos antes
mesmo do Portal. O Portal passou a ser mais um serviço. Então, todo tipo de pesquisa ele
é planejado quanto como vai ser divulgado, que produtos vão divulgar os resultados
daquele trabalho, se vai ser publicação impressa, se vai ser encartado, se vai para um
banco de dados na rede Internet, como vai ser publicado em páginas no nosso Portal, na
rede Internet, se vai ser um cd-rom, as peças promocionais, algumas vezes cartaz...
SM Aí vem a pergunta. Ser humano, quer dizer, aqui dentro do CDDI, com é que
poderá acompanhar, então... assim, agora, com o PDA do Censo vai ser o Censo
Agropecuário vai ser uma demo (demonstração), não é? A demo do Recenseamento
Geral que vai ser muito maior, não é? Como é que vai ser isso, porque todo mundo vai
precisar ficar preparado para acompanhar essa disseminação, que vai ser muito
rápida, essa divulgação vai chegar ali e já vai passando, não é? E GPS
132
, é isso, é
aquilo... Então, cada vez mais as pessoas também vão se adequando, seus
132 Global Positioning System, ou Sistema de Posicionamento Global, é um sistema de
posicionamento por satélite, utilizado para determinação da posição de um receptor na
superfície da Terra ou em órbita.
75
equipamentos também vão melhorando... Seria isso, não é? Até para alterar essa
velocidade... Seria isso?
PQ O que é mais marcante nessa evolução tecnológica que o IBGE vem basicamente
incorporando...
SM Que é pioneiro, não é? No Censo Agro, por exemplo, o uso do PDA?...
PQ Não. O uso de...
SM A Edna
133
me falou que é...
PQ Não, não é. Tem característica que são implantadas agora. Mas o uso de coletar
eletrônico já existe no IBGE há...
SM Sim, a PINTEC
134
, por exemplo...
PQ A Pesquisa de Emprego
135
, por exemplo, ela usa os PDAs já tem vários anos.
SM Mas a PINTEC não foi a primeira? Pesquisa de Inovação tecnológica? Não ...
PQ Não.
SM Não? A PME já usava...
PQ A PME já usava esses microcoletores, como eram chamados...
SM Então, quer dizer que eles estão sendo mais capilarizados, seria isso?
PQ É. No caso da PME foi visto que... Essa escolha da tecnologia, de avanço
tecnológico, ele é marcante em termos de transformações dentro da Casa, muito no
processo de apuração... De coleta e apuração de dados. Então, a partir de pouco menos
esse tipo de transformação tecnológica, muito menos a disseminação e a comunicação.
Menos. A grande revolução de comunicação... Disseminação foi realmente a rede Internet,
nossa tecnologia de publicação em página na rede Internet, foi toda uma linguagem
própria, toda uma tecnologia, equipamentos configurados especialmente para isso, de
acordo com as especificações da rede Internet, contratar um serviço de acesso à rede
Internet, o IBGE tem um contrato, pagar para poder estar ligada à rede Internet. Isso tudo
foi toda uma tecnologia que gerou impacto nas organizações e o IBGE soube assimilar
também esse tipo de tecnologia. É também a tecnologia que gera impactos,
transformações, no processo de apuração da pesquisa. Coleta e apuração. O uso de
alternativa ao papel, coleta, é uma transformação significativa, que traz avanços no tempo
de trabalho, na redução de tempo de trabalho, e esse tipo de experiência já foi vivido, já
vem sendo vivido há muito tempo, já há muito tempo, pela Pesquisa Mensal de Emprego,
133 Edna Campelo Gerente de Serviços on Line do IBGE.
134 Pesquisa de Inovação Tecnológica a primeira pesquisa, ocorrida em 2001, cuja
referência foi o ano de 2000, com divulgação dos resultados realizada em 30/10/2002,teve
sua coletada realizada com palm top.
135 Pesquisa Mensal de Emprego PME, trata-se de pesquisa conjuntural, realizada
mensalmente em seis Regiões Metropolitanas do país, a saber:, Recife, Salvador, Rio de
Janeiro, Belo Horizonte, São Paulo e Porto Alegre.
76
pela equipe da Pesquisa Mensal de Emprego. E no caso da Pesquisa Mensal de Emprego,
são seis regiões metropolitanas, equipes exclusivas que trabalham somente na coleta de
domicílios, em entrevista de domicílio, sobre a Pesquisa Mensal de Emprego, e eles usam
esse equipamento, que eram chamados anteriormente de microcoletores. Agora está sendo
chamado pela sigla PDA.
SM O que é PDA, Palm...
PQ Alguma coisa... Personal Digital Assistant. É um assistente digital pessoal. È uma
tradução que eu faço, mas é uma sigla em inglês. É essa tecnologia que permite que de
fato você já monte seu questionário com os saltos, com inconsistências já programadas no
equipamento eletrônico, e ali você tem menos erros que já evitam um tempo na entrevista.
O profissional, ele vai diretamente...
SM Tem aquela telinha...
PQ Tenta, pensa em fazer um movimento errado e a própria máquina já diz “não, isso
não pode”. Então, isso é um avanço no processo de divulgação. Diminui o tempo de
apuração seguida. É isso que já aconteceu com a PME, já aconteceu dom a POF, a última
Pesquisa de Orçamento Familiar foi toda feita com notebooks...
SM Ah!, é verdade...
PQ O entrevistador ia para o domicílio, selecionava para a entrevista com o notebook e
lá... porque são diversos questionários a serem preenchidos, muitos detalhes já direto... os
dados eram digitados na hora, pelo entrevistador. A PNAD
136
, por exemplo, não. A PNAD
ainda é papel, questionário em papel, e a entrada de dados é feita nas Unidades Estaduais.
Você digita lá. Não existe mais equipe de digitadores, não é?... Então, a própria equipe
que trabalha, que é ligada à PNAD, é que tem um conjunto, um subconjunto seu, da sua
equipe, que realiza a digitação desses dados para chegar até o nosso computador...
SM Dizem que no futuro o pessoal que vai a campo fazer o georreferenciamento vai
usar esse PDA, não é? Eles vão colocar (as informações) no escritório para
descarregar isso (as informações coletadas) para a CCAR
137
.
PQ É. Esses Censos de 2007, Agropecuário mais uma contagem de uma boa parte dos
municípios brasileiros, ele já está indo com esses microcoletores, os PDAs, com...
aclopado a esses equipamentos os GPS. Esse aparelho que consegue registrar a
informação sobre um ponto do terreno, do território, para então poder fazer esse
136 Pesquisa por Amostra de Domicílios - A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
teve início no segundo trimestre de 1967, inicialmente com periodicidade trimestral. A
partir de 1971 os levantamentos passaram a ser anuais com realização no último trimestre,
não sendo realizadas nos anos de recenseamento geral.
137 CCAR Coordenação de Cartografia da Diretoria de Geociências sua competência é
“planejar, organizar, coordenar, supervisionar e executar os trabalhos cartográficos,
visando a produção de mapas e cartas, além de outros documentos de natureza cartográfica
necessários à representação do espaço territorial brasileiro.” Portaria/MPOG/215, de
12/05/2004, que aprova o Regimento Interno do IBGE.
77
georreferenciamento de algumas unidades do município. Então, está previsto para o
pessoal rural então fazer, percorrer o novo setor que ele vai trabalhar... ele ao passar por
uma escola, ele vai registrar no GPS aquele ponto em frente à escola, isso então vai ser
armazenado no IBGE como informações, que aí tem todo um trabalho que é a alteração do
cadastro que está sendo desenvolvido pela Coordenação Operacional do Censo, um projeto
da ANPOC, voltado para recolher essas informações, deixando todas em meio digital.
SM Ah! Que bom...
PQ É um cadastro de domicílios. De endereço de domicílios.
SM Ah! Mas não são nome dos lugares, não é?
PQ O cadastro identifica a rua, o número da rua, o endereço mesmo do que vai
legalmente se constituir naquele local, qual o município, qual distrito. Tem toda essa
divisão territorial brasileira acoplada, associada, àquele endereço. Então, esses são
avanços tecnológicos que ao serem implantados geram impactos de redução de tempo no
processamento dos resultados desses estudos e pesquisas. O que vem na seqüência, no
momento em que os dados estão consistentes, no caso das estatísticas, em especial, esses
dados são entregues, por exemplo, à nossa área de disseminação para que a publicação que
já estava planejada, parte até já foi entregue, a parte de texto... Mas o fato é que você só
consegue pegar esse material para a nossa área de disseminação, ainda editorar, no caso de
publicação impressa, quando os dados estão de fato consistentes, porque aí o analista
temático consegue se debruçar e descrever uma análise, fazer uma análise sobre aqueles
resultados, fechar todas as tabelas que irão compor o plano tabular, aí não tem como
entregar pronto. Fechar rápido a publicação. Então essa fase é uma fase que vai se
somando à outra e não se consegue ter isso ainda na minha mente. Mas o que acontece é
que com essa incorporação de maior tecnologia eu encurto o tempo de apuração. Então, eu
passo a receber antes esse material para eu elaborar a publicação, editorá-la, preparar as
páginas [páginas que irão compor o site do IBGE na Internet]. Eu recebo isso num tempo
anterior ao que vinha recebendo. Conseqüentemente, o que gera ao final de tudo é que a
sociedade recebe esses resultados mais cedo do que vinha recebendo. Mas os tempos de
trabalho nossos, os impactos são totalmente desassociados. O que é tecnologia de
apuração gera um impacto A. No nosso caso o impacto é se a gente investir em novas
tecnologias de processamento para editoração. Aí é outro nível de investimento, um outro
tipo de investimento. Ao mesmo tempo em que esses dados, então, se tornam consistentes,
o analista passa a se debruçar sobre ele, descrever para poder escrever, fechar as tabelas, é
nesse momento que ele começa, então, a entregar esse material para o CDDI e também
para a Comunicação Social. Ele começa a dizer “Olha, já tenho aqui o material. Eu já
percebi que esse dado aqui é relevante, mudou muito em relação a tal.”, é exatamente é
essa a visão, a perspectiva que o jornalista ressalta bastante, são os dados que mais
revelam, de forma mais marcante a realidade.
78
SM Quer dizer, então, essa tecnologia importou também essa informação, não é?
Porque quando volta para o pesquisador, a [pessoa] responsável por essa divulgação,
esses dados, eu diria assim, a análise, então é mais fácil até verificar a consistência,
ou não, desse encurtamento, não é? É melhor para todo mundo, Seria isso, não é?
PQ Exatamente. O que a tente pode dizer é que a rede Internet, o Portal do IBGE deve
ter por estar ligado à rede Internet com sua máquina, com a máquina do IBGE ligada à
rede Internet, com o seu material lá, o que isso trás de impacto para os analistas
temáticos. O que pode ser dito nessa parte é que hoje o preenchimento do questionário,
nós já temos hoje parte dos nossos entrevistados, especialmente no caso exclusivamente
das pesquisas econômicas, as pesquisas são feitas em estabelecimentos selecionados, não
no Censo Agropecuário, ele é um censo mesmo, uma apuração censitária, esses
estabelecimentos que são selecionados, eles buscam o questionário num endereço do
IBGE, nosso endereço de Internet, ele busca o questionário e devolve este questionário
para um endereço do IBGE. Tal qual, fazendo um paralelo, com a Receita Federal.
SM Mas isso não teve agora no Censo Agropecuário, os grandes estabelecimentos
não estão respondendo na Internet?
PQ Não.
SM Ah!, eu entendi isso...
PQ Não. Eu posso estar com essa informação precária...
SM Porque, na minha cabeça, os grandes estabelecimentos agropecuários, neste
Censo, já estão respondendo dessa forma...
PQ Não, com certeza o que nós temos hoje é as pesquisas econômicas do IBGE, a
indústria, já é negociado isso com diversos estabelecimentos. Se ele já tem capacidade de
buscar essa informação, esse questionário, no endereço do IBGE, é aí que nós temos a rede
Internet fazendo esse trabalho... E aí passa pela equipe nossa aqui, que precisou elaborar
páginas para esse tipo de serviço indo lá disponibilizar os questionários, fazendo com que
esses estabelecimentos selecionados, essas pessoas responsáveis por responder esses
questionários, venham até o nosso endereço, busquem e depois devolvam. Então, esse é
um retorno em termos de investimento do IBGE em rede Internet, em página Internet,
voltada para a parte do processo de pesquisa, especialmente pesquisa estatística. Mas de
todo modo, quando os dados estão consistentes, esses profissionais responsáveis pela
pesquisa, eles têm esse diálogo feito com o CDDI, já planejado anteriormente, e com a
CCS, com a Comunicação Social, também já planejado anteriormente. Mas fica finalizado
quando os dados, de fato, ficam consistentes, e aí em definitivo eles já podem escrever as
análises, destacar as tabelas relevantes, para então os jornalistas do IBGE, da CCS,
prepararem esse material jornalístico.
SM Na linguagem...
79
PQ Na linguagem e com os destaques pertinentes à comunicação e aí é todo um trabalho,
uma política de comunicação, que a Casa tem, definida pela CCS, não pelo CDDI, como o
embargo, por exemplo, estão na sua política, com os jornalistas, como que jornalistas que
recebem esse material e deixa-se todos esses textos, é toda uma política, fica... concentra
todos os jornalistas na equipe, isso gera toda uma comunicação, que hoje ela continua
sendo indispensável, que ela alcança uma massa ainda muito maior de cidadãos do que a
Internet, através do jornalista, através do jornalismo, você ouve no rádio um resultado que
o IBGE divulgou, na televisão, num jornal, você está de fato alcançando a grande massa
da população brasileira. Ao mesmo tempo, nós temos a rede Internet, que faz também esse
trabalho de comunicação que aí entra todo esse conceito, que se tem de maior do que a
disseminação, que é a comunicação que a gente tem todo um trabalho de comunicar através
da rede Internet em páginas elaboradas dentro do próprio IBGE. Esse trabalho ainda de
material continua sendo dividido nessa divisão de trabalho. O material que é jornalístico
não é a Gerência de Serviços on Line que elabora, porque o material jornalístico que vai
para a página Internet. Não há um segundo material jornalístico que é desenvolvido,
especificamente desenvolvido para a página. O que é Comunicação é Comunicação. Ela é
centralizada, então, é uma única comunicação com toda uma única visão, com uma única
política do IBGE. E é esse material que alimenta também o Portal do IBGE.
SM Mas uma divulgação a gente já sabe. A gente tem um caminho... A gente não, eu
e você, sabemos que tem um caminho muito grande a ser percorrido para uma
divulgação. É o horário, não é? Nós já tivemos vários problemas por causa de oito
segundos uma agência de notícias brigou com a outra, quase abriu um processo contra
o IBGE por causa de oito segundos. Então, essas duas coisas têm que andar muito
juntas. Elas estão paralelas mas estão muito juntas, não é? Porque... Não adianta
vocês divulgarem se a gente não faz o horário, não adianta a gente fazer se vocês não
fazem... Então, quer dizer, a Internet, eu vejo assim, dentro da Comunicação, ela
perpassa... ela.... Não tem como você dizer “Ah!, o release faz parte ali, sei lá, não sei
se você diria que é mais um Portal, aquele “Notícias” ali...
PQ É uma página...
SM Não sei se é só isso. Não sei se é só isso. Eu acho que não é só isso. Você não
diria que é muito mais que isso? Porque se alguma coisa sai errada, se as duas coisas
não se falam... Entendeu? E a Internet é importante nesse sentido.
PQ A sincronia...
S M Isso, a sincronia.
PQ A sintonização dessas duas áreas é muito, é muito... É fundamental.
SM É uma linha tênue, não é?
PQ Exato. Porque eu tenho que fazer uso. Eu tenho que me adaptar ao formato. Então,
se eu tenho que pensar o que eu vou publicar na Internet tem lá suas certas limitações.
80
Então, isso então exige uma interação muito grande. Como sempre se viveu essa
realidade, que é, por exemplo, diálogo de um analista temático com um profissional de
informática “eu quero isso” [o analista] “mas isso eu não consigo, NÃO posso fazer” [o
profissional de informática]. Então, não existe ferramenta para isso que você pensa ter.
Tem limitações. Muitas vezes isso gerava muitos ruídos. De pessoas inconformadas de
“como é que eu tenho que me submeter”...
S M Como comunicar isso...
PQ É. “Eu tenho que me submeter à ferramenta porque a ferramenta não faz o que eu
peço, não consegue fazer o que eu peço.” Então... Mas, de fato, essa interação é
fundamental. Em tudo há certos limites e aí é fundamental a interação. Essa interação,
ela de fato existe entre os profissionais da área de nossos serviços on line, chamados
serviços on line, com a Comunicação Social, com a área produtora da pesquisa...
SM Porque também não adianta aqui no CDDI estar funcionando, a CCS estar
funcionando, e faltar luz. Mas, aí, sim, falar luz. É uma coisa externa, não é? São
inerentes, não é?
PQ É.
SM São adversidades. Faltou luz e aí, como é que faz?
PQ É. O que a gente pode falar quando olha esse pequeno tempo do passado é que o
IBGE, de fato, ele pôde potencializar muito, no seu trabalho de comunicação, a rede
Internet dá mais alcance, um alcance muito maior do que todos os serviços que nós vimos
até então oferecendo. Em termos estatísticos, o número de acessos aos nossos serviços
clássicos, telefonar, vir ao IBGE para comprar uma publicação, ou vir à Biblioteca, ou
mandar uma correspondência, gira em torno de 250 mil demandas por ano, que vem caindo
a cada ano. Pouco, mas vem caindo. Enquanto na Internet passa de 10 milhões por ano.
Então, é o alcance que o IBGE passou a ter, esses resultados dos trabalhos do IBGE
passaram a ter com a rede Internet.
SM Mesmo num país não digitalizado, não é?
PQ É. Porque aí tem o processo de digitalização, de capacitação, de... Ma já trouxe
uma mudança enorme.
SM Mas aí vem aquela minha pergunta. A pergunta que não quer, não é? Esse
processo, como é que a gente pode entender? Porque o jornalista, eles vão ficar mais
especializados em rebuscar o seu material, em qualificar cada vez mais, não dizendo
que eles não estão qualificados hoje, eles estão qualificados, mas melhorar de forma
que o Portal seja um canal melhor, e aí a Comunicação Social, junto com o CDDI,
através da Gerência de Serviços on line, façam como, por exemplo, acabou de
acontecer há poucos dias, um curso da PIM
138
para a Folha de São Paulo. Quer dizer,
138 PIM Pesquisa Industrial Mensal.
81
não se vai mais, o jornalismo do IBGE não vai mais fazer a divulgação, ou levar um
técnico, um pesquisador para dizer como são aquelas pesquisas. Inverteu, dentro da
tecnologia? Vai um jornalista e, com um especialista em atendimento ao usuário, quer
dizer, dois profissionais que “falam” com a sociedade, seja um direto, outro
indiretamente, porque aqui, esta gerência, fala diretamente com o usuário, a gente
não sabem que é, pode ser até um jornalista que não se identifique, ou aquele que vai
pela CCS, ou aquele que vai pela Coordenação de Comunicação Social. Então, esse
trabalho se inverteu, quer dizer, utilizando-se de uma ferramenta de altíssima
tecnologia. Quer dizer, cada vez mais não que os pesquisadores tenham se afastado do
seu público, mas cada vez mais que esse pesquisador, por sua vez, se qualifique, se
detenha em suas pesquisas e tente atender essa sociedade, que enquanto ele está
debruçado na sua pesquisa, ele está tendo, lendo a resposta do que a sociedade trás
para cá para dentro. Seria isso?
PQ Esse fenômeno eu reconheço. Ou seja, num limite você teria todo o que a gente
algumas vezes chegou a falar, todo um auto-atendimento. O cidadão, seja um jornalista,
um estudante, ele vai a um endereço, nesse caso um endereço virtual, através da rede
Internet, e lá ele recolhe todo o material necessário para ele fazer seu trabalho, seja
elaborar uma matéria para televisão, para rádio, ou para um periódico, um jornal. Então,
ele vai encontrar lá o que ele necessita. E nesse caminho, hoje nós fazemos exatamente
esse trabalho, que é ofertar o que nós chamamos workshops de ferramentas digitais, que é
treinar, capacitar esses profissionais que precisam trabalhar com informação no uso de
ferramentas, três ferramentas atualmente, que é o próprio SIDRA, está no Portal do IBGE,
na rede Internet, o ESTATCART, que já é um serviço que não é on line, na Internet, você
adquire um cd-rom, adquire imagem em cd-rom, adquire o aplicativo que vem no cd-rom
que é o ESTATCART, e adquire base de dados, que são lidos por esses aplicativos. O
ESTATCART você obtém ferramentas poderosas para você também manusear dados e fazer
o seu trabalho. Essa é uma segunda ferramenta e Banco Multidimensional de Estatística,
que é uma ferramenta ainda mais poderosa, que lê diretamente os microdados...
SM- Isso aí é o que eu perguntei. Isso aí é uma casadinha que o CDDI e a DI... Seria a
Diretoria de Informática e o Centro de Documentação e Disseminação de
Informações...
PQ É. Dentro do workshop, que treina esses usuários em ferramentas digitais, o
treinamento do Banco Multidimensional de Estatística é feito pelo profissional que está à
frente, está ligado a esse trabalho, da equipe responsável pela administração do banco.
SM Da DI?
PQ Do SIDRA também já tivemos esse tipo de presença, do pessoal ligado à
administração do SIDRA dando o treinamento. Atualmente, a gente absorveu esse
82
treinamento do SIDRA. O Lessa
139
até, a nossa equipe do CDDI que hoje tem feito esse
treinamento, e o ESTATCART que esse é hoje do CDDI.
SM Só do CDDI?
PQ Sim [com a cabeça]. Esse aplicativo, que é de georreferenciamento, ele é dado por
profissional que é ligado do projeto, lidera o projeto aqui no CDDI. Então, esse tipo de
estatística que reconhece esse fenômeno, que é cada vez mais acontecer essa autonomia do
usuário, do jornalista, do pesquisador, em ir ao encontro da informação e elaboração do
material. Ainda assim, o que a gente registra, o que se entende é isso que é necessário
que a Instituição mantenha esse tipo de atividade, que é gerar material jornalístico.
Porque essa visão, podemos dizer que ela é limite do auto-atendimento, ela nunca vai
prescindir.
SM Não se esgota, não é?
PQ Sim [com a cabeça]. Ela nunca vai prescindir de uma retaguarda que esse usuário, em
algum momento, vai precisar. Então, não dá para pensar em desarticular, não é isso que
nós estamos falando, desarticular toda uma área de Comunicação Social, desarticular toda
uma área de atendimento. É...
SM Mas muda...
PQ É.
SM Muda o foco disso.
PQ É, muda o foco.
SM Eu acho que é isso.
PQ É isso. Essa transformação, ela ainda não está forte, ela ainda não é forte.
SM Não se sabe...
PQ É. Hoje, já se percebe que está havendo mudanças, que não é da mesma forma que o
jornalista interage com a equipe da Comunicação Social do IBGE como era antes. Não é
da mesma forma que antes. Da mesma forma que nós aqui. O impacto, um dos impactos
para nós mais visíveis é a redução de pessoas que chegam aos nossos serviços clássicos.
Como eu falei, as estatísticas revelam isso. Nós estamos tendo menos pessoas vindo às
Bibliotecas. Elas já estiveram [as bibliotecas] muito mais cheias com muito mais presença
de pesquisadores, de estudantes, usuários, do que atualmente. Porque hoje parte desses
usuários que já têm maior conhecimento desse mundo virtual, ele já vai ao endereço
virtual na Internet.
SM Pesquisadores 100% acessam. Acho que podemos dizer 100%...
PQ É, OK, mas o que eu estava falando, isso não significa dizer que eu posso...
139 Carlos José Lessa de Vasconcellos é Gerente da Gerência de Atendimento, subordinada
à Coordenação de Atendimento.
83
SM Extinguir...
PQ Extinguir serviços de atendimento como todo o trabalho de Comunicação Social.
SM Claro...
PQ Agora, que a natureza desse está mudando e que essa mudança vai, cada vez mais, se
tornar mais marcante com o passar ...
SM O modelo, não é?
PQ Do tempo. E esse tempo é realmente muito curto, de mudanças. E isso a gente vai
presenciar muito breve. Mudanças breves.
SM Isso você está falando de um lugar destacado. Você acompanhou, você está aqui
desde 95 [1995], quando o IBGE entrou, lançou esta página. Eu entendo que você é
uma história, é uma história desse tempo. De doze anos..
PQ É, é...
SM Ou eu estou errada?
PQ Certo, certo. Acompanhei isso. Acompanhei o crescimento do atendimento. A nossa
resposta em termos das necessidades dos usuários de atendimento. Quando começamos a
perceber que os usuários viam como a melhor forma de se comunicar com o IBGE, no caso
de correspondência, o e-mail, nós rapidamente nos ajustamos a essa realidade que há
tempos atrás nos estávamos ajustados a outra realidade, que era receber fax. Então,
tínhamos aparelhos de fax, telefones divulgados, para receber correspondência. Hoje é o
e-mail.
SM Essa parte eu acompanhei. Em 90 [1990] era assim. Eram alguns técnicos que
atendiam linhas telefônicas, que foi o pai do “0800”
140
. Aí, em 95 [1995], 96 [1996]
ligou o “0800”, ligou a secretária eletrônica, que veio o webmaster, que aí veio o
IBGE@, que agora eu acho que vem um... vai ser inaugurada outra coisa on line, em
chat, alguma coisa...
PQ É...
SM Então, quer dizer, está acompanhando. A tendência é o “0800” diminuir seu
atendimento e chat...
PQ Exato.
SM Embarcar! É muito rápido!
PQ E é isso que nós, de atendimento, temos que estar atentos. Quais os meios que o
usuário está buscando para fazer contato. Há algum tempo atrás ele fazia contato pegando
140 08007618181 call center implantado para fornecer informações sobre produtos e
serviços disponíveis do IBGE.
84
uma condução e chegando até um endereço do IBGE para, então, poder trabalhar com
algum dado.
SM Ou então mandando uma carta...
PQ É, ou mandando uma carta. Conforme esses meios vão se tornando mais... Vão
facilitando o uso, o comportamento das pessoas também vai mudando. Com o e-mail as
pessoas passaram a escrever mais do que escrever em papel, ir no Correio. Com fax,
passaram também a se corresponder mais porque preparava o papel e passava pelo fax.
Então, isso gerou um crescimento do atendimento. Mas, agora, a gente está vendo o
inverso disso, ou seja, esses clássicos, por conta do fato de rede Internet, do Portal, as
pessoas hoje têm conseguido ir... Ao ir nesse endereço do IBGE, ver suas demandas
atendidas. Então, não precisa mais ainda escrever para pedir, ele já conseguiu se auto-
atender. Não precisa telefonar, não precisa mais vir, Comprar, hoje, ele não precisa mais
vir...
85
ANEXO 3
Entrevista com Shirley Dias de Souza
141
, realizada em 02/09/2006
Local: Cafeteria Cafeína R. Barata Ribeiro, 507 (Copacabana) 2547-4390
SM - Você lembra como era o serviço da Comunicação social?
SS Começou com Sabino. Chamava-se Sabino.
SM Não me lembro Sabino...
SS A Comunicação Social... Não existia a Comunicação Social...
SM Não existia... Eu peguei a Comunicação... É isso que eu quero eu quero
relembrar, Shirley. Existia a AICS
142
, que eu fui fazer recorte de jornal, quando eu
não era formada... Isso em 81, 80, na época do Jessé
143
, existia a AICS. Mas eu não
recuperei na documentação foi que não existia esse cargo e você, quando foi nomeada,
pelo Bacha
144
, eu vi na documentação...
SS eu fui como Assessora, não é?
SM Exatamente. E nessa época, não existia a AICS? Como é que era?
SS Não, era assim. Nós chamávamos de poleiro, não é?, aquele 12º. andar...
SM 11º.
SS Era 11º ?
SM No 166...
145
SS No 166
SM Então, ali era a AICS...
SS A Presidência era assim... Então... tinha uma cozinha... Era muito engraçado porque
na verdade eram duas secretárias, né? Um jornalista, o Sabino, que logo depois saiu (o
Sabino saiu com menos de um mês, se não me engano)...
SM Nunca ouvi falar...
SS É... E tinha uma copeira que ser revezada com outra.
141 Shirley Soares Dias de Souza é jornalista aposentada da Fundação Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística. Ocupou a função de responsável pela Assessoria de
Comunicação Social do IBGE entre 1985 e 1995.
142 AICS Assessoria de Imprensa e Comunicação Social, que era ocupada por um
Assessor do Presidente, não por cargos específico para essa sigla.
143 Jessé Montello Presidente do IBGE no período de 1979 e 1985.
144 Edmar Lisboa Bacha Presidente do IBGE no período março 1985 a novembro de 1986,
primeiro presidente do Instituto pós-abertura política (Nova República).
145 166 endereço do IBGE, localizado na Avenida Franklin Roosevelt, 166, bairro do
Castelo, cidade do Rio de Janeiro, em que essa Assessoria era alocada.
86
SM Dadá...
SS - Dadá e mais uma outra... Nós tínhamos duas copeiras, duas secretárias... Duas
copeiras, duas secretárias... Foi assim que a Assessoria, que funcionava com Assessoria de
Imprensa começou... Porque o Sabino foi embora, e realmente tinha um outro senhor lá
146
,
que foi embora logo que eu entrei
SM Ah! o... o... De cabelo branco,
SS É, isso...
SM - Que era parente do... do...Edson...
SS É, era parente. Então...
SM Era sogro do Renato Pacheco
147
. Você chegou a pegar o Renato?
SS Não. A estrutura era essa: duas secretárias, uma excelente, que eu até falo isso, que é
a Goreth, que eu acho que você podia até conversar com ela para saber se teria ... E... Eu
acho que isso dava a medida do que era a Imprensa para a Casa. O que era? Duas
copeiras. Que dizer, que as pessoas que fossem lá iam ser muito bem recebidas. Eu fiquei
assim, não é?...
148
A gente tinha cafezinho com bandeja e tudo, não sei quê. Uma coisa,
uma visão antiga, não é? Do que pudesse ser um atendimento à Imprensa.
Bom, então, o que eu acho... O que aconteceu. Como eu tinha ido... Eu tinha
entrado no IBGE em 80 (1980)... Eu passei pelo IBGE...
SM Então você já era do IBGE?
SS Já. Passei... Passei... Sei lá. Seis meses, oito meses, não me lembro mais, na
Biblioteca
149
, com a Beatriz
150
. Aí eu conheci a Teresa
151
e conheci outras pessoas lá, mas
na verdade eu não tinha função. Não tinha função assim...
SM Já era jornalista?
SS Eu era jornalista..., mas eu entrei para ir para a Imprensa (AICS), mas na verdade
eu... Nem pensar!
SM Em 80?
SS Em 80... Nem pensar em passar pela Imprensa (AICS).
146 Sr. Éden que era amigo do Assessor anterior e do Chefe do Gabinete do Presidente,
Edson Ribeiro e Aníbal Ribeiro, este último que antes de ocupar a Chefia do Gabinete
havia exercido o cargo de Assessor da AICS.
147 Renato Pacheco funcionário da AICS na época em que eu trabalhei nessa Assessoria,
que dividia comigo, além de mais um ou dois outros, o serviço de clipping.
148 Expressão boqueaberta.
149 Biblioteca Central (BICEN), subordinada à então existente Diretoria de Formação e
Aperfeiçoamento de Pessoal, localizada na sobreloja e segundo andar da Av. Franklin
Roosevelt, 166.
150 Beatriz Pontes de Carvalho, Superintendente da BICEN.
151 Teresa Cristina Millions, servidora que atualmente ocupa o cargo de Gerente de Projeto
da Coordenação de Comunicação Social -CCS
87
SM Mas em 80 tinha o Edson Ribeiro.
SS - Não sei porque...
SM Porque tinha o Edson Ribeiro...
SS É... Então...
SM Já era do Jornal Nacional. Já era o editor do jornal
SS - É... É... Aí o que aconteceu, como eu conhecia as pessoas e tal, não sei que, quando
eu...
SM Você entrou com Ronaldo? Mesquita?
SS Eu entrei para uma diretoria que não tinha nada a ver com a Presidência...
S M Mas com quem? Com Ronaldo Mesquita? Com que foi?
SS A Imprensa eu nem sabia quem era. A gente nem passava por lá. A Imprensa não
funcionava. Na minha cabeça não funcionava. Eu fui fazer imprensa, vamos dizer assim,
numa diretoria que se chamava DF...
SM Desculpe, você está falando 80. Está certo, 80... Não, 80... O... É, o ... Jessé...
SS Existia uma... Nessa época, 80, existia uma disputa interna, não sei quê, pá--pá, e
as pessoas precisavam ta bem é..., é... informadas e tal, não sei quê. Então, eu fiz esse
trabalho para uma diretoria, não fiz para o IBGE. Mas eu tinha uma história com o IBGE,
e eu acho que... Eu passei lá, sei lá, 5 meses, seis meses, e me mandei rapidinho.
SM Pediu demissão?
SS Não. Aí eu fui... Me puxaram para a FUNTV
152
, que é a TVE
153
, onde eu fiquei até
85, não é? Então, lá na FUNTV eu criei a Comunicação Social, entendeu, porque era uma
Casa que tinha outra mentalidade mesmo naquela época, que era uma Casa de
comunicação. Educação, não é?, Mas pela comunicação, só que rádio e TV. Então, estou
aqui, estou tentando... O que aconteceu: a minha experiência com o IBGE, no entanto, vai
lá atrás com Isaac Kerstenetzky
154
. Foi aí que eu aprendi muito com o IBGE. Eu
trabalhava...
SM - Tinha alguma pessoa...
SS Não. Eu trabalhava na JMM, uma agência de propaganda, que era uma agência de
propaganda bem grande e, era 74 [1974], se eu não me engano, e naquela época eu... é até
uma coisa muito engraçada porque eu atendia, eu fui contratada pela JMM para poder
atender o IBGE.
SM E não existia Assessor [de imprensa]?
152 Fundação Nacional de Televisão Instituição de responsabilidade do governo federal,
hoje TVE.
153 Televisão Educativa que existe até o presente momento.
154 Isaac Kerstenetzky.... Presidente do IBGE no período de 1970 a 1979.
88
SS Não.
SM O que eu soube, eu não me lembro quem me falou, mas eu soube de uma coisa,
que na época do Isaac tinha um homem que foi Assessor... Será que não foi esse JMM,
que era o dono da...?
SS JMM.
SM JMM, que é JMM? É o nome do homem...
SS João Medeiros não sei que lá...
SM Deve ser isso. A pessoa que disse isso disse o nome da pessoa que era a empresa,
mas na verdade...
SS Não sei. Aí realmente não sei... Está bom. Era eu e uma secretária. Numa agência
de propaganda, e era muito engraçado...
SM Provavelmente isso.
SS ... Porque a gente atendia... Por exemplo, eu ia a São Paulo, e tinha e tinha reunião
em Recife. Eu tinha que ir para Recife porque era como se agência tivesse montada uma
estrutura, mas era eu e... Bom, isso aí foi uma lição enorme para mim, porque eu estava
é... É... Numa carreira que estava andando bem; Agência de propaganda nessa área de
montar comunicação, etc. e tal, e nessa época, então, quando acabou o ENDEF
155
, que foi...
A divulgação foi fantástica...
SM Parganina
156
, não é?
SS Parganina, isso mesmo! Então, eu... O Isaac Kerstenetzky e outro vice dele, que era
uma pessoa.
SM Borba, Borba.
157
SS Borba. Eurico Borba. Eles me convidaram para ir para o IBGE, e aí eu falei “Deus
me livre!”, eu com minha carreira se eu fosse para uma empresa pública eu me acabo.
Mas acabei indo para lá anos depois e tal. Mas isso aí foi um aprendizado muito grande
para eu pegar a... O IBGE para montar a Assessoria de Imprensa... Eu já conhecia o IBGE
bastante por dentro, em diversos lugares, entendeu? Eu já tinha viajado e tal, não sei quê.
SM Então, você conheceu o IBGE mesmo. Que quando viaja é que a gente conhece...
SS É.. E a gente fazia matérias naquela época em agência de propaganda... Eu, não é?,
com a secretária. A gente fazia matéria dos resultados do ENDEF, ia entrevistar o
Parganina, enfim... E aquela equipe do Parganina era muito boa. Então eu aprendi muito
155 ENDEF Estudo Nacional da Despesa Familiar - ENDEF pesquisa realizada entre
1974 e 1975. Essa pesquisa foi um aprofundamento da Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios-PNAD, pois sua investigação incluiu consumo alimentar e orçamentos
familiares.
156 Luiz Afonso Kults Parganina Coordenou a ENDEF.
157 Eurico Borba foi Diretor Geral na gestão do Prof. Isaac.
89
ali. Muito. Profissionalmente e tal. Foi um desafio, uma coisa de quase não poder
dormir, mas foi XXX, bom... Bom... Aí, voltando à vaca fria, eu acho que a sorte foi ter o
momento da minha volta o Bacha... Eu tenho uma admiração... Eu acho que o IBGE deve
muito ao Bacha.
SM Com certeza...
SS Eu acho que ele emprestou a credibilidade dele à Casa, porque a Casa estava
desgastada, sim...
SM Num momento, não é?
SS Estava desgastada, sim. Ele emprestou a credibilidade realmente. Eu sou a
testemunha de que ele abriu as portas do IBGE mesmo, escancarou. Eu tinha carta branca
para divulgar qualquer coisa, entendeu? E isso aí não é para qualquer um, mesmo é... é...
Com a história, com a seqüência da história do IBGE. Então, é... O Bacha, eu acho que a
abertura política, não é?, Mesmo na época do Sarney
158
, todo mundo fala do Sarney. Eu
digo assim: minha experiência na época do Sarney foi de abertura.
SM É, foi a Nova República.
SS É,
SM É esse o corte que eu estou fazendo...
SS Exatamente. E o Bacha, quer dizer, o perfil do Bacha, da credibilidade que ele tinha,
era uma pessoa respeitada, uma pessoa aberta... O Bacha uma vez me ensinou uma coisa
que não sei outro nome como profissional, que eu entrei esbaforida na sala dele e tal, e ele
perguntou assim: espera , primeiro eu quero saber se você está feliz ele sabia que eu
estava trabalhando demais, sabe. Isso ficou na minha cabeça, uma coisa que eu sempre eu
... de perguntar para as pessoas e... eu acho que muito dos seminários internos que a gente
fazia na CCS também têm a ver com esse dia, esse, essa frase, entendeu? De respeito...
SM Fazia seminário?
SS Fazia seminários internos... Nisso as pessoas, a Teresa, a própria Teresa pode, não é?
Nada se passava na Comunicação Social sem que a equipe soubesse.
SM Ah, entendi...
SS Então, era como se fosse... Como as pessoas eram despreparadas tecnicamente, era
uma forma de repassar a parte técnica para eles. Mesmo que eles não lidassem direto. O
pessoal do Clipping participava, todo mundo participava.
SM Para saber o que estavam recortando? [alusão à Equipe Clipping]
SS É. E para saber o que estava acontecendo, porque que vai divulgar...
SM É isso que eles dizem de você...
158 Presidente José Sarney, que governou o Brasil entre 1985 e 1989
90
SS É...
SM Que você foi a grande escola mesmo. A maioria das pessoas que trabalho lá num
momento, que hoje retornam, falam isso.
SS É... É... Porque a gente fazia isso, a gente abria, a gente perdia, perdia tempo, não.
A gente abria um espaço com toda aquela ‘serviçada’, a gente abria um espaço para dizer
“ó, tá acontecendo isso, isso, isso.... isso; então, nosso caminho vai ser esse por que? que
acha, pá, pá, pá, pá, pá,pá.” Eram seminários... Era muito bom. Era muito bom. Era uma
troca importante, não é? Obviamente, tinha gente... Eu lidei com muita gente que eu não
queria trabalhar. Fui até ameaçada. Na CCS eu fui até ameaçada. Foi um dos motivos de
eu realmente desistir. Fui até ameaçada. Bom... Então, começou, hãa...
SM Aí nessa época, quer dizer, material tecnológico zero, não é? Mas você tinha
duas secretárias, um telefone, não é?
SS É. Um telefone para cada uma tinha. Um telefone... Olha, eu vou te dizer uma coisa:
eu não tinha telefone direto, não... Acho que eu não tinha, não. Acho que só eu tinha
telefone, se eu não me engano... Ahh, eu não sei. E a gente tinha um telefone
vermelho
159
...
SM Humhum...
SS Esse telefone era tão importante naquela época... Não, e era bom para mim porque eu
conseguia acessar as pessoas sem.... Telefone vermelho. Então tinha uma máquina que...
Tinha um corretor... Não sei se você se lembra. Aquele corretor, aquela máquina que a
Goreth
160
sabia consertar. Aquilo quando enguiçava no meio da matéria a única que sabia
consertar era a Goreth. Era uma bolinha, né? Que você volta atrás...
SM Máquina elétrica!
SS Máquina elétrica.
SM Isso!
SS Jurássica...
SM Isso. Tinha um papelzinho que a gente botava...
SS Isso.
SM Batia de novo... Ah!, não! A máquina já tinha o corretor!
SS Tinha uma bolinha.
SM Era mais moderna. Era mais moderna...
159 Sistema que só os diretores e assessores mais diretos possuíam para se comunicarem
entre si, sem a ciência de qualquer pessoa; já existia quando eu ingressei na Instituição
(1980)
160 Maria Goreth Sala, hoje aposentada.
91
SS Uma bolinha. Você retrocedia e consertava ali e fazia o “coisa” desse papelzinho que
antigamente a gente botava.
SS É... É...
SM Isso.
SS Então. E a gente começou a fazer uma coisa importante. eu considero coisas
importantes... Bom, aí o que aconteceu? Eu não podia contratar. Contratação zero.
SM 85... é verdade...
SS Então, eu comecei a treinar pessoas. Foi o caso da Teresa e de muitos outros casos,
não é?, de pessoas que... Hoje em dia, com certeza, estão no final de carreira da, da...
Que agora não é mais técnico de divulgação, não é? Agora...
SM Não. Agora todo mundo é Tecnologista..
SS É todo mundo igual... todo mundo igual...
SM Infelizmente...
SS É, é...
SM Eu tinha muito orgulho.
SS É, eu também. Bom... Aí, duas coisas importantes. Bom, abertura, eu acho que
abertura política da época, não é? O País na abertura política do País. A Nova República.
Começando, não é? O embrião... Então, o IBGE chamou muita atenção isso. Ajudou por
quê? Tinha um livro que tinha sido censurado O lugar do negro na força de trabalho
161
...
SM Capinha vermelha... (concordância de Shirley com a cabeça)
SS Aí, o Bacha um dia me chamou, sei lá... A Teresa vai se lembrar disso também...
Tipo 11 horas da manhã e tal, não sei quê... Às seis horas da tarde, Sarney ia passar, ia
inaugurar a Bienal Internacional do Livro
162
, que foi no Fashion Mall. Me lembro até onde
é que foi, de tanto sufoco. E nós topamos o desafio e montamos um estande para lançar O
lugar do negro na força de trabalho lá na Bienal Internacional do Livro.
SM Isso cabia à Assessoria?
SS Cabia... Tudo. RP (Relações Públicas)... Na verdade... Que era uma forma...
SM Na verdade, quando ela foi criada foi o último ato do Bacha. Quando ele saiu,
em 86 [1986], criou a ACS (Assessoria de Comunicação Social).
163
Isso eu vi aqui... Eu
161 Livro de autoria de Lucia Elena Garcia de Oliveira e Rosa Maria Porcaro, editado em
1983, pelo IBGE.
162 Feira Internacional do Livro, que foi realizada no Shopping Center Fashion Mall nesse
ano de 1985.
163 ACS, Assessoria de Comunicação Social, criada por Resolução do Presidente do IBGE
em novembro de 1986. Este documento é confeccionado para determinar alterações dentro
da Instituição; é um ato normativo.
92
fiz um levantamento para pegar esse fio da meada... E aí foi o último ato dele. Então,
foi mais de um ano trabalhando nessas condições?
SS É.
SM Quer dizer, não existia o CDDI
164
... Disseminação de informação zero. Só essas
ferramentas incipientes, e você fazendo isso?
SS Eu saí da FUNTV, eu saí da FUNTV com o salário muito mais alto. Mas era um
desafio importante para minha carreira e foi. E foi uma coisa importantíssima na minha
carreira.
SM Muito bonito...
SS Aí, o que XXX aconteceu... Eu não me lembro mais quantas pessoas eram, mas você
imagina que era Goreth, a Teresa, eu... Pegamos no pesado, e tal. O que era. O RP, na
verdade, essa coisa de você ir para a Bienal Internacional do Livro era uma forma de que a
gente tinha de chamar a atenção, e a gente chamou muita atenção. Entendeu? Foi o
início... eu dou como o início da abertura mesmo que as pessoas viram de fato. “O IBGE
vai abrir mesmo.” Bom, aí a gente passou a ter encontros com a imprensa. Sistemáticos.
Eu posso te dizer que, com certeza, que o Bacha... O Bacha nunca se recusou a atender...
SM Como eram esses encontros, vocês ligavam?
SS Nós ligávamos para convocar...
SM Não tinha release
165
nessa época, não mandava convite?...
SS Não. O que existia anteriormente? Pelo que me consta, não peguei. Pelo que me
consta, as pessoas mandavam o release e saía o índice, e o índice é tal, sei lá...
SM Isso... Era isso mesmo...
SS Agora, a gente fazia o seguinte. A gente sempre tinha, a partir daí, sempre tinha o
índex de informações básicas para imprensa... Por exemplo, vai fazer o... Vou voltar atrás
um pouquinho. Além do despreparo da equipe, porque eu não podia contratar gente no
mercado, que já tivesse passado por jornais, entre outros veículos... Além do despreparo
da equipe, eu acho... Acho, não. Tinha... Eles tinham o despreparo dos setoristas
166
. De
repente, podiam [os setoristas] cobrir
167
o IBGE. Então, isso aí foi outra coisa que também
estava nos preocupando...
164 Centro de Documentação e Disseminação de Informações do IBGE.
165 Press release documento que é distribuído para os meios de comunicação (rádio, TV,
jornal, revista, etc.), onde o conteúdo é redigido por um jornalista, de forma a esclarecer o
que a instituição, ou empresa, deseja informar em detalhes em linguagem técnica.
166 Jargão jornalístico que identifica o profissional que se encarrega de determinada fonte
de notícias, como sede de governo, delegacia de polícia, economia, entre outras.
167 Cobrir, nesse caso, é outro termo usado no jornalismo. Um jornalista vai fazer
determinada matéria, i.e., vai dar cobertura àquele fato, de modo a redigir os
acontecimentos, ou o que foi comunicado em determinado episódio, nos meios de
comunicação.
93
SM Quer dizer, a mídia também tinha problema?...
SS Estava despreparada...
SM Ninguém cobria governo...
SS Não, não. Em muitos anos...
SM Exatamente, porque o IBGE mandava o release para eles e era aquilo.
SS É... É.
SM Não é isso?
SS Isso. Então, da mesma forma que nós tínhamos seminários internos, nós tínhamos...
Nós começamos pelo “Caminho dos Índices”. Como é que se faz um índice? Então, os
setoristas acompanhavam... Nós fizemos grupos, inclusive Miriam Leitão, e tudo. Todo
mundo que era, é... Todos os jornalistas da área econômica, que se interessassem,
obviamente, aí faziam o Caminho dos Índices O Francisco de Assis
168
nessa época foi
importantíssimo também. Os técnicos foram importantíssimos... Olha, o IBGE tem uma
equipe que... Agora, também deve ser. Mas era uma equipe assim... Motivada. Com a
abertura estavam supermotivados. Gostavam da Casa... Supercompetentes. Então, nós
fizermos o Caminho dos Índices, com o Francisco de Assis, nós fizemos o Caminho do
PIB
169
, com o Cláudio Considera, entendeu? Que o PIB era uma coisa complicada para se
entender... Hoje em dia o PIB é corriqueiro, não é?...
SM Mas ainda é complicado...
SS É... Então, nós fizemos isso. Além disso, de fazer tudo isso, assim, de abrir as
portas para dar aula, vamos dizer entre aspas, né? Para os setoristas e para os jornalistas
que quisessem, foi um trabalho nosso, da Comunicação Social... Que não era Comunicação
Social ainda. É... a gente dava um índex de informações básicas. Por exemplo, a Pnad
170
ia ser lançada. Então, a nossa equipe pegava essa Pnad antes, entedeu? Com os técnicos
nós dissecávamos, entendeu? Quando os jornalistas iam para a coletiva.
171
Para o encontro
com a imprensa... É... Para conversar com os técnicos... Eles já tinham aquilo em mãos,
entendeu? Então, com isso a gente evitava, também, que saísse coisa distorcida e tal,
entendeu? Tentava evitar. Pelo menos que saísse coisa distorcida. Mas ao mesmo tempo
nós fizemos um negócio que foi de preparar os técnicos para atender a imprensa. Então,
tinha um trabalho... Olha, eu falo... Eu falo isso com o maior orgulho, entendeu?
168 Francisco de Assis Moura de Mello técnico do IBGE que ocupava, à época, a chefia do
Departamento de Índices de Preços-DESIP. Departamento responsável pelo levantamento
(coleta), análise e divulgação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor-INPC e Índice
de Preços ao Consumidor Amplo-IPCA.
169 Produto Interno Bruto-PIB é a soma de toda a riqueza do país.
170 Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios-PNAD- representa uma amostra de 25%
do que é pesquisado no Recenseamento Geral-Censo, realizado a cada 10 anos, onde os
dados abrangem o território nacional.
171 Técnica que compreende convidar e reunir jornalistas num local determinado, com
horário e dia marcados, para divulgação de determinada informação
94
Profissional, por que... E assim, com uma... E dando... Dando um depoimento de que
realmente foi uma... O momento mais importante da minha carreira profissional.
SM E é isso que se diz lá mesmo...
SS É. Foi uma coisa importante porque eu acho que a gente cercou. Quer dizer, que a
gente pensou em nós mesmos nas pessoas que trabalhavam na Comunicação Social,
fazendo o seminário interno, nos jornalistas, na... Na... Nós técnicos... A gente dizia até a
roupa que tinha que aparecer na televisão, não sei quê. A gente treinava...
SM - Mas isso, naquela época, ainda era... Assim: fazia o release, mandava os meninos
para rua, um para a zona Sul, outro para a zona Norte...
SS Isso... Isso...
SM De carro...
SS Isso... Isso... Ainda era assim...
SM Entregavam o release, mandava telex, não tinha fax, né?...
SS Não tinha telex também não...
SM Como é que era essa comunicação com os estados? Como é que se fazia?
SS Para os estados, espera aí, que eu vou ter que lembrar... Para os estados... Como é
que era para os estados?...
Solicitada a pausa
SS Depois que a gente se ajeitou no Rio... Porque primeiro eu tinha que ajeitar na Sede,
não é?
SM Ah, ta...
SS Tinha que se ajeitar na Sede... Não... Eu não... Talvez a Teresa se lembre. Pois é...
SM Assim... Saiu o índice hoje. Saiu agora, soltou o release, os meninos vão para a
rua...
SS - Mas tem fax...
SM Já tinha o fax em 85? Eu acho que não. Não lembro... Vou perguntar se a
Teresa lembra...
SS É... Mas já tinha fax, sim... Eram as secretárias que faziam essa parte. E a gente
mandava... Por exemplo, quando era índice e informações básicas para a imprensa a gente
usava o malote.
SM Quer dizer, então, o estado não recebia isso no mesmo momento?...
SS Se a gente pudesse mandar com antecedência, sim... E com embargo.
SM Ah, sim!
95
SS Então, eles podiam atender a imprensa no local...
SM Ah, tá! Por que... Como é que depois...
SS Isso aí foi com o tempo. Eu estou te dizendo. Foi assim... Eu acho que no primeiro
momento a gente nem se preocupou com isso. Eu acho que a gente se preocupou com o
Rio.
SM Claro, né?...
SS É. Então... E depois, a gente começou... Depois, quando a gente já estava mais
azeitada, e tal com o passar dos anos eu fiquei lá dez anos É... A gente começou a
fazer... Por exemplo, o Cláudio [Considera] viajava para... Para fazer lançamento do PIB
em Belo Horizonte, São Paulo... O Francisco era mais... Enfim, o que se divulgava se
podia divulgar é... De outro local que não fosse o Rio, né? Mas de qualquer forma,
também, a gente fazia convocação dos correspondentes... Nós tínhamos encontros com os
correspondentes estrangeiros, que foram importantíssimos para nós... E nesse ponto aí é
uma coisa...
SM Sempre lá na Sede?
SS Na Sede. Correspondente estrangeiro... Mas eu me lembrei dos correspondentes
porque, na verdade, a gente chamava os representantes das sucursais. Quer dizer, a Folha
de São Paulo cobria o Estadão
172
, o O Estado de Minas, enfim, dos que estavam aqui no
Rio. Porque a gente ainda tinha muita sucursal forte aqui no Rio nessa época...
SM Nessa época Estadão e Folha?
SS É.
SM Ah, é verdade...
SS Porto Alegre...
SM Tinha uma moça de... de... não me lembro se era do Amazonas ou do Pará...
SS É. É... Não era tão... Tão incomum, não.
SM Mas que, geralmente, eram pendurados nos estados... E nos governos. Esses
jornais pertenciam aos governos... Àqueles negócios, não é?
SS E eu estou me lembrando também. A outra coisa também é que a gente se utilizava
das agências de notícias, que repassavam isso para toda a... A gente recortava muito
agência de notícia.
SM Esse era o motivo de fazer a integração do Brasil?
SS Isso. Mas veja bem. Depois a gente se importou de fazer lançamento em cada lugar
e tal...
172 Jornal O Estado de São Paulo.
96
SM Sim, mas para passar, já que a gente não tinha meio...
SS É...
SM ...de transmitir isso imediatamente, usava a agência para fazer esse serviço...
Seria isso?
SS É.
SM Aí eu vi aqui que a CCS... você já era Coordenadora... Foi convidada para
organizar a Confest ... Não existia Confege
173
, eu acho... A Confege só veio depois da
Confest... Mas de qualquer forma, era para organizar a Confest. E...
SS Ih!
SM Foi em 87. Como é que era a divulgação dessa Confest?
SS Como é que era o quê?
SM A divulgação? Por exemplo, era a preparação... Como é que a Comunicação
Social entrava nessa... Por exemplo, se estava organizando, tinha Chefe de Gabinete...
SS hã, hã...
SM Tinha aqueles... Aqueles representantes. Como é que a Comunicação Social
entrava nisso? Como é que ela fazia divulgar isso? Já na organização ou não? Isso
era só bastidor por enquanto?
SS Da organização da Confest eu acho que não...
SM É, né?
SS - Eu acho que a gente entrou na divulgação da Confest.
SM Ah! Não. Isso, com certeza...
SS Isso aí foi nosso... Nós tínhamos sala de imprensa, coisas assim,e a mesma coisa...
Índex de informações básicas e...
SM Bom, eu vi os releases e... A gente tinha até organizados...
SS Qualquer coisa... Bom... Aliás, outra coisa que depois de atacar a parte econômica,
porque foi o que eu acho que foi o que deu o impulso, à abertura do IBGE, a gente passou
para a parte de geografia, que também não era fácil, não. Então, a gente teve que fazer a
mesma coisa. De seminários internos para entender geografia, a parte da... Como é que
chamava, hein?
SM Geociências. DGC
174
.
173 O IBGE está encarregado por atribuição legal da realização periódica das Conferências
Nacionais de Estatística-CONFEST e de Geografia e Cartografia-CONFEGE. Tais eventos
objetivam avaliar os processos de produção, disseminação e utilização de informações de
natureza estatística e geográfica, visando revisar e aperfeiçoar o Plano Geral de
Informações Estatísticas e Geográficas-PGIEG.
97
SS É. DGC. A parte da DGC. E... Mas obviamente o carro-chefe sempre foi, em termos
de divulgação... Mas a gente teve um Atlas Histórico que lançou, na época do Collor
175
também...
SM Aquele Atlas Histórico Nimuendaju?
176
SS Menina, uma loucura!... É um desse tamanho assim...
SM Ah! É azul?
SS É verde.
SM Verde. É que tem um com uma capa verde e outro azul...
SS Ah!, é? Enfim... também teve essa parte.
SM Mas aí... A época do Collor é 90...
SS Já estou lá na frente... Bom, eu acho que é importante dizer que tudo isso nós
fazíamos uma memória mensal. Nós tínhamos uma reunião interna mensal... Nós fazíamos
uma memória mensal, em todos os recortes [de jornal (clipping)], comentários, escuta
eletrônica... Com os índices é... É... Com os índices de maior freqüência... Onde é que a
gente tinha conseguido mais espaço... Que assunto...
SM Em todos os estados?
SS Não. Isso tudo a gente estava fazendo tudo Rio. Bom... Depois nós pedíamos... Aí
começou a ter estruturas em outros locais. Eu tenho impressão, não sei. Não sei... Pelo
que estou me lembrando, acho que nunca ninguém respondeu. Porque era muito trabalho.
E isso aí eu tenho que dizer que não era um trabalho meu... A Comunicação Social nunca
foi um trabalho meu, sempre foi um trabalho de equipe, entendeu? Que eu, muitas vezes,
fui até muito dura para poder chamar as pessoas... Não é fácil trabalhar com funcionário
público, não é fácil, entendeu? E eu te digo que eu também tenho orgulho de ter tido uma
equipe motivada, embora muitas pessoas tenham ficado muito zangadas comigo, eu tive
uma equipe motivada.
SM Eles falam...
SS Sabe...
SM Eles falam.
174 Diretoria de Geociências-DGC.
175 Fernando Collor de Mello Presidente da República no período março/1990 a
dezembro/1992.
176 Mapa etno-histórico de Curt Nimuendaju, que inclui Brasil e regiões adjacentes, ,
adaptado do mapa elaborado pelo etnólogo alemão Curt Nimuendaju para o Museu
Nacional em 1944, e textos explicativos sobre os índios no Brasil até aquela data, com
informações sobre localização, distribuição, migração e filiação lingüística dos grupos
indígenas então conhecidos. Inclui índices de tribos, bibliográficos e de autores. Em 2002
foi lançada uma edição fac-similar.
98
SS É, entendeu? E eu acho que eles todos conseguiram ficar bem preparados. Agora,
uma coisa assim...
Pediu para desligar o gravador.
SM Se eu não me engano era às duas horas, ou era uma e meia...
SS Nós tínhamos às 11 horas... Ou era às 11, porque dependia do horário do jornalista,
né?... Ou era às 11... Quando era coisa muito grande, às vezes a gente fazia às dez. Mas
era sempre combinado com... Sempre combinado com jornalista... A gente sempre se
encontrava e combinava “Ah!... Agora, era importante, por exemplo, que tivesse gente
desde cedo porque a Rádio JB quando... Toda hora dava...
SM Notícia?
SS E era importante. Então eles queriam... Eles telefonavam para a gente. Entrava
técnico, muitas vezes, técnico ao vivo, na CBN, Rádio JB, enfim. As rádios...
SM Então você pegou ainda... Porque Internet no IBGE...
SS Eu não peguei...
SM Não pegou?. Porque a Internet foi no segundo semestre de 95, no ano em que
você saiu...
SS Não peguei Internet, eu até escrevi aqui... Então teve um negócio, falando de
equipamento, a gente tinha gravador assim, né? (mostrou o tamanho dos gravadores que
ainda estão lá na Coordenação, antigos e grandes) Não tinha nem isso aqui...
SM Ainda estão lá esses gravadores...
SS E teve um Diretor-Geral, que eu não me lembro... Um moreno, que era da ENCE
177
...
SM Pessoa.
178
Pessoa, não é?
SS Acho que é Pessoa.
SM Sei quem é. É Djalma Pessoa.
SS Ele implantou com o David um tal de PROFIS. Você se lembra disso? Nós tínhamos
aquela máquina do........
SM Ah! o profis(???)... Do office vision, que ......... a rede?
SS Isso. profis, não era profis?
SM Eu me lembro que era OV (office vision), que você...
177 Escola Nacional de Ciências Estatísticas-ENCE, que pertence ao IBGE.
178 Djalma Galvão Carneiro Pessoa trabalhou no IBGE como professor (1987-1992) e
diretor da ENCE (1993-1995), quando reestruturou a escola. Dirigiu, também, a Diretoria
de Planejamento e Coordenação no período de 1992 a 1993.
99
SS Você digitava uma linha e tinha que esperar o computador dar outra linha. A gente
digitava outra... E a matéria estava na cabeça da gente. Então, eu dizia “eu não quero
isso”.
SM Eu não lembro, não...
SS Se eu não me engano se chama profis.
SM Não era o Carta Certa
179
?
SS Era... Era. (muito inseguramente...)
SM Que ficava dentro desse profis, acho que é isso. Não era isso? Foi antes da
Internet. Antes do computador..
SS Foi, foi. Eu odiava aquilo, porque aquilo atrasava as nossas matérias todas. Isso foi
uma forma de chegar aos estados. Porque por ali você conseguia chegar aos estados.
SM Ah!, então era o office vision mesmo, que era o OV. Que era esse profis. Era
isso mesmo.
SS Então era... Do equipamento, eu me lembro disso... Então, eu até anotei aqui, que eu
achei uma máquina elétrica no princípio. Era um rádio de pilha nosso. Eu acho que o
Carlos Cezar
180
, já peguei o Carlos Cezar lá, não? Eu não escolhi o Carlos Cezar...
SM O Carlos Cezar veio do Ministério da Fazenda, eu acho, que a mãe dele, ou pai
dele...
SS Mas eu acho que. Você não trabalhou com o Carlos Cezar não? Na Assessoria, não?
Mas eu acho que o Carlos Cezar... Uma TV ‘quebradésima’ lá, que a gente conseguiu.
Acho que isso aqui eu já falei... Tudo começou como Assessor, que não era nem
Assessoria de Imprensa. Na verdade, a gente já funcionava com clipping, com...
SM Agora, você ...
SS Com tudo... Com RP...
SM Então, mas isso em 86... Teve a estrutura da ACS com RP, com PP
181
, com
atendimento interno, e externo de jornalismo. Com essa forma de comunicação
interna e externa de jornalismo. Com isso não interessa muito agora, no momento
mas, na verdade, depois a gente vai ver isso, que a Silvia
182
ficava com a parte interna
e depois ela ficou externa... Que aí você...
SS A Silvia, eu me lembro da Silvia ficar com externa.
179 Programa de edição de textos que antecedeu a implantação do sistema Windows no
IBGE.
180 Carlos Cezar da Rocha Salgado servidor que trabalhou desde o início da Comunicação
Social e se aposentou no segundo semestre de 2005, por insanidade mental.
181 Propaganda e Publicidade.
182 Silvia Maia Fonseca admitida no cargo em 1987, pelas mãos de Shirley Soares Dias
de Souza. Hoje é a substituta do Gerente de Programa do Presidente, que ocupa a
Coordenação de Comunicação Social do IBGE.
100
SM Então, mas teve uma época que ela ficou com a parte interna...
SS Ah! é?
SM Mas, assim, você criou uma estrutura. E o quê aconteceu? Com essa da sua
saída, em 95, saiu mas não foi imediatamente.
SS Hã, hã. É.
SM Foi mais uma questão burocrática. Mas o que aconteceu? Com essa
modificação, na segunda, de 95, quando o Carlos Vieira
183
assume, eu ainda não achei
isso na documentação, mas acho que nesse momento a CCS se desintegra.
SS Vou te dizer por quê. Por causa de DAS. Porque quando eu sai da Comunicação
Social eu passei para... É... Era Coordenadoria de Comunicação Social, mas era um DAS...
SM Coordenadoria... Não... Era Coordenadoria.
SS Era um DAS abaixo dele... E a minha era uma Coordenadoria Geral, CG...
SM Você pegou a CGC? Aquela CGC...
SS CGC. Mas não era Coordenadoria Geral de Comunicação de Comunicação. Era
Coordenadoria Geral de outra coisa, que eu não me lembro. Mas porque eu não quis
ficar... Eu não quis ficar é... Eu ganhava exatamente 800 reais para trabalhar e me
aborrecia para caramba...
SM Então, na verdade os meios tecnológicos eram incipientes , não é?
SS Ah! Quando chegou o computador. Acho isso engraçado. Quando chegou o
computador, chegou 1 computador.
SM Tinha o tal da Carta Certa?
SS Não, computador mesmo. Aí, chegou o computador. Eu peguei o computador. Não
peguei a Internet, mas peguei o computador Ninguém estava familiarizado com
computador. Você deve se lembrar disso.
SM Claro! Eu imagino.
SS Então, você imagina também, você pegando uma Assessoria de Imprensa, uma
Comunicação Social, que é tudo para ontem, você pegar um negócio... Uma máquina que
briga com você o tempo todo. Bom, e aí eu acho que aconteceu outra coisa bacana em
termos de equipe, sabe? Eu acho que a Comunicação Social foi uma equipe mesmo .
Nesses dez anos, entendeu? Foi uma equipe... Então, a gente fez um treinamento interno.
Nós, por exemplo, eu fui fazer um curso. Aí eu volto, repasso aquilo. Aquele, para quem
183 Carlos Henrique Vieira foi o responsável pela Comunicação Social do IBGE entre
1995 e 1999. Anteriormente, teve uma passagem pela Comunicação Social do IBGE, na
gestão de Shirley Soares, quando foi contratado para o quadro de pessoal em 1987. Pediu
demissão tempos depois, morou em Portugal até retornar para o Brasil e reingressar na
Instituição com somente cargo DAS (Designação de Assessoramento Superior)
101
eu repassei, repassa para o outro, em progressão geométrica, dependendo do computador,
que a gente pegava até emprestado... Ana.
SM Humm...
SS Com a Ana e tal, e foi assim que as pessoas da Comunicação Social todas, sem
exceção, inclusive as do Clipping, foram treinadas em computador. E isso eu acho bacana.
Foi treinamento interno. Nós mesmos treinávamos uns aos outros. Da mesma forma que
teve seminário interno também teve esse momento, que foi... Foi um momento complicado
para nós por causa de tempo.
SM Seminário?
SS Não, computador. A chegada do computador porque era briga [do homem com a
máquina]. Então, tinha um... Vou ficar o nome dele... Osmar? Osmar, um senhor, que
trabalhava na Comunicação Social, ele era professor de computador...
SM Ah! é?
SS É. E... tipo básico, aquela coisa básica, e... Ele ficava até a noite lá. Ele tinha outro
horário lá, e ele ficava em outro horário para fica à noite as pessoas ficavam até à noite
para aprender. Isso eu acho... Isso é uma equipe. Isso é gente motivada. Acho isso muito
legal. E... Essa época do computador, aí a gente já tinha telefone em todas as salas, né?
Aí a gente já tinha melhorado muito. Mas não tinha Internet.
SM Eu acho que a Internet que deu...
SS Eu não peguei a Internet no IBGE...
SM Uma rapidez, não é? Aí foi outra coisa. Exatamente, você cumpriu essa etapa
que, eu acho, foi a pior, não é?
SS Mas é a mais desafiadora, mais legal...
SM Exatamente, foi a pior, por quê? Porque aí você realmente fez a limonada do
limão, não é isso?
SS Quer ver? Eu consegui ter, graças a Deus, foi bater na mão da gente o Chiquinho
184
e
o Ricardo e um... Aquele motorista que... Eles vestiam a camisa do IBGE, da Comunicação
Social...
SM Afrânio?
SS Sr. Afrânio... Eles vestiam, corriam, saíam correndo
SM O Chiquinho ainda está lá.
SS Motivados. Sempre. Por quê? Porque nos seminário internos a gente sabia, é...
Fazia com que eles sentissem a importância do trabalho deles. Porque é verdade. Se a
gente corresse, corresse, corresse, os técnicos dessem entrevistas e eles não entregassem.
184 José Francisco Marinho
102
E tinha um Protocolo. Então, eles tinham que subir com aquela pessoa para assinar, tinha
que estar legível, tinha que ter horário, tinha que ter tudo. É isso que eu acho bacana.
Eles foram muito importantes. Então, quando você fala em Internet, no caso de Internet
você não precisa mais pensar em, em...
SM Talvez isso tenha desmotivado essas pessoas?...
SS Eles perderam um pouco da importância. O trabalho perdeu um pouco da
importância, o trabalho deles. O trabalho deles era muito importante na Comunicação
Social
SM Por que eles eram o canal, não é?
SS É. Se eles falhassem acabou! É bacana isso, né?
SM Então pode ser isso.
SS É bacana isso, não é? Eu nem tinha me lembrado disso...
SM - Então pode ser isso que tenha desmotivado o Chiquinho. Porque... Ele mudou
muito. O Ricardo não é... Você sabe que eles agora não são mais contínuos? Não
existe mais isso
SS Não. Ah tá...
SM Agora a Goreth é a mesma coisa que o Chiquinho.
SS Olha, a Goreti eu nunca... Aliás, eu tive duas secretárias na minha vida inteira, em
Agência de Propaganda... Foi a Cléia, que se equiparava à Goreti. fantástica!
SM Ela é boa, não é?
SS Muito boa. Muito boa.
SM Eu trabalhei com ela, mas assim rapidamente...
SS Leal sabe? Uma pessoa nota mil. Aí, bom, eu tava lembrando o Lugar do negro na
força de trabalho... Ah! A gente abriu também, não sei se você vai lembrar também, das
obras raras. Foi outra coisa fantástica que a gente fez. Na Biblioteca tinha umas obras
raras. Então, tinha Recenseamento, porque a gente fazia Censo também, isso aí não era
só... Nós fazíamos Censo, Pnad, tudo.
SM As estruturais
185
todas...
SS É. Então, saíam as equipes... Saíam as equipes com motorista para poder acompanhar
recenseadores, não é?
SM Em Madureira...
185 Pesquisas estruturais são as que saem com periodicidade maior (anual, qüinqüenais,
decenais); as estruturais acompanham a conjuntura socioeconômica do país como inflação,
desemprego, que são mensais.
103
SS Isso. Para cada um. Bom, aí tem a parte dos estados. Nesse... Nesse... Quando era
coisa maior assim, as pessoas dos estados também recebiam como é que deviam fazer, para
poderem seguir as mesmas coisas do Rio. Então, por exemplo, no Pará se fazia
acompanhamento da mesma forma que os jornalistas faziam aqui no Rio...
SM Então, você. Era como se fosse um manual?
SS Isso. Isso. Isso.
SM E vocês mandavam pelo malote?
SS É, e falávamos por telefone também. Entendeu? Então, quando acontecia aqui,
acontecia...
SM No Pará, em Rondônia e no Rio Grande do Sul...
SS Tudo, tudo. Tudo. Em todos os locais. Todos os locais onde existia IBGE. Caminho
dos índices eu já falei, que isso era uma coisa muito importante E... palestra para os
técnicos, orientando como é que se recebia a imprensa também... Encontros coletivos e
individuais. Ainda tinha isso também...
SM Com os técnicos?
SS Com os técnicos. Os técnicos também. Até a roupa para tv...
SM Não pode ser listrada...
SS É... essas coisas assim. Até o computador o profis... O horror (risada)... Os
primeiros computadores... Como é que se fazia... como é que... Ah! o computador era para
digitar, não é? Na verdade era uma máquina, uma máquina de escrever...
SM Que era o Carta Certa?
SS É. Que dizer que eu não peguei a democratização da informática, realmente eu não
peguei... Inclusive, os computadores... Veio um para mim, depois veio um para a
secretária, depois veio... O Nélio, que foi meu vice, tinha um computador porque o Nélio
fazia alguma coisa que eu não sei mais o que que ele precisava do computador...
SM Tabelas, talvez?
SS Não sei mais o que era não...
SM Diagramação...
SS É... Pesquisa, nós tínhamos relatórios mensais, memória mensal, e depois anuais,
que nós montávamos... Era disputada, então, até pelo Presidente. Até o Presidente queria
ler. E fazíamos pesquisa na Biblioteca, na própria Biblioteca nossa para os setores de
pesquisas de jornais, quer dizer, isso aí, eu escrevi isso para te dizer o seguinte. Agora
você chega na Internet e pesquisa, não é? Então, a gente tinha que se deslocar para...
SM Ou então vocês iam aos livros... Vocês possuíam lá um acervo, não é?
104
SS É. Então, a nossa memória ficou lá. Nossa memória de 10 anos. Com todos os
recortes, comentários, escuta, índices de freqüência... Por assunto, por veículo, por
técnico.
SM Quer dizer, estatística disso aí.
SS É. Bem para a Assessoria, estatística também... Para a Assessoria É interessante
porque a gente trabalhava com cola e tesoura. O clipping, que você sabe bem o que é, hoje
em dia nem existe.
SM Eu acabei em 99 eu acabei com isso...
SS E tinha escuta eletrônica, que quem fazia isso era o Carlos Cezar e fazia bem.
SM O Carlinhos fazia... E a Edma fazia também...
SS É...Edma. Edma era a chefe, ela recebia como chefe. Tinha Iva. Tinha equipe. Tinha
uma equipe só para isso. Eram duas edições diárias, e a equipe estava sempre preparada
para extra. E quando começava o expediente, a primeira edição já estava na Presidência,
na mesa do Presidente. Então, eles tinham horários diferentes.
SM Exatamente...
SS E diretorias próximas. Nós tínhamos motorista que levava Mangueira, e tal, tal, tal,
se, por acaso, não se justificasse o malote, etc. Quando você me falou da... De que era
coisa de equipamento eu me lembrei basicamente. Eu me lembrei disso e acabou que a
gente acabou esticando mais, não é? Do assunto...
SM Eu acho que está de bom tamanho.
A conversa prosseguiu mais um pouco e ela fez novos e interessantes comentários que
se seguem.
SS - Eu acho importante foi o pro... Quando a gente não podia contratar, eu preparei um
monte de gente e tal, não sei quê, que já estava formada, mas em outras funções e depois,
em outro momento, a gente conseguiu que se fizesse um concurso interno. Então, olha só:
isso aí eu acho importantíssimo quase que eu esqueço... eu nem anotei aqui ,eu a
importantíssimo porque no concurso, nesse concurso que houve... Porque você à toda hora
você ficar promovendo pessoas eu promovi muita gente, muita gente mesmo; uma equipe
inteira, porque não tinha ninguém era muito... Era desgastante. Você acaba ......... ‘tá
pedindo muito, tá pedindo muito. Então, esse concurso interno, eles fizeram para, por
exemplo, advogado que estava fora, é... Economista, não sei quê, pá--pá... E olha, a
Comunicação Social entrou.
SM Entrou o Robson...
SS Para o concurso interno, entrou como carreira que se devia... Isso eu acho uma
vitória. Graças à Administração, ao Presidente. Da mesma forma que foi a estrutura, que
foi a reforma administrativa.
105
SM Importantíssimo...
SS Esse concurso interno é importante. Aí entrou o Robson, entrou a..
SM Entrou a Fátima.
SS Entrou a Fátima, o Robson, o Marco, que foi importantíssimo... Que foi... O Marco é
ótimo.
SM Ele (o Marco) trabalha com Nelson Senra...
SS O primeiro lugar foi o Paulo, que chegou a ser chefe da CCS. Paulo... Paulo
Roberto.
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