10
possível, porém, renunciar à interrogação sobre o sentido enquanto permanece a
indagação sobre o sofrimento: “Por que o sofrimento no mundo? A busca de uma
resposta aceitável para essa interrogação nos mostra como ela se identifica com a
questão do sentido: tem sentido o sofrimento? Tem sentido a vida? A luta cotidiana e
o destino universal de morrer têm um significado que torna digna a fadiga de viver?
Da ‘cruz da história’ se levanta a interrogação sobre o ‘sentido da própria história’”.
2
Delimitação
Sem dúvida, o Vaticano II provocou e fomentou o diálogo da fé cristã e da
própria Teologia com as questões atuais, com um mundo em transição e
transformação nos mais diversos níveis. Na esteira da proposta conciliar, a obra
teológica de Bruno Forte
3
quer ser também dialogante com o tempo presente –
carregado de indagações e em busca do sentido –, tendo como pano de fundo o
2
FORTE, B. Teologia della Storia, p. 5.
3
Bruno Forte nasceu em 1949 em Napoli, Itália. Ordenado sacerdote em 1973, doutorou-se em
Teologia no ano de 1974 e em Filosofia no ano de 1977. Atualmente é arcebispo de Chieti (Itália).
Teólogo de renome internacional, Bruno Forte foi professor de Teologia Dogmática na Pontifícia
Faculdade Teológica da Itália Meridional e membro da Pontifícia Comissão Teológica Internacional.
Em relação ao seu pensamento, destacam-se algumas influências: Em primeiro lugar, o
pensamento da Itália meridional. Sendo napolitano, exerce-lhe especial influência a escola
napolitana, que tem em seus pensadores uma ampla valorização da história como fio condutor de
suas elaborações. A isso, soma-se a formação acadêmica realizada na Universidade de Tübingen,
caracterizada, de modo geral, pelo retorno e valorização da história por meio da redescoberta do
dado bíblico e patrístico. Em Tübingen, Forte recebeu a influência de uma teologia eclesial, reflexão
da tradição viva da fé, bem como da exigente abertura teológica aos problemas do próprio tempo e o
diálogo com as culturas. A elaboração teológica de Tübingen é marcada especialmente pela
eclesialidade, cientificidade e abertura aos problemas do tempo. Foi igualmente de grande valia o
diálogo de Bruno Forte com os teólogos evangélicos, especialmente J. Moltmann e E. Jüngel, que
lhe deram percepção de como a forma histórica do pensar teológico não pode realizar-se à margem
da emergente questão ecumênica. Bruno Forte foi também influenciado pelo contato e aproximação
com a Teologia parisiense, com seus grandes precursores da renovação conciliar. O retorno às fontes
bíblicas, patrísticas e litúrgicas empreendidas pela “nova teologia”, que tanto influenciaram e
prepararam a renovação empreendida pelo Vaticano II, vão ter na história a expressão da atualidade
de tal renovação. De fato, o pensamento de teólogos como M. D. Chenu, Y. Congar e H. de Lubac,
são testemunhas de como a memória teológica pode ser inovadora. Para Bruno Forte, o encontro
com este mundo significou um aprofundamento do sentido da história, já presentes no seu
pensamento teológico. A teologia de Bruno Forte é evidentemente uma teologia conciliar enquanto se
coloca em continuidade com a renovação da própria Teologia em seu diálogo ecumênico, bem como
com o mundo plural, cada vez mais desafiador e problemático. “Napoli, Tübingen e Paris, os meus
‘itinerários’ de pensamento, que estão unidos entre si sob o sinal da fé e da história”. (Cf. FORTE, B.
Teologia Viatorum. In: SARTORI, L. Essere Teologi Oggi, p. 71).
Assim, “a teologia de Bruno Forte pode ser caracterizada pelo seu forte acento histórico, na
linha da grande tradição italiana marcada pelo pensamento e reflexão sobre a história, podendo aqui
ser exemplificada por G. B. Vico e, propriamente na área teológica, Joaquim de Fiore, Tomás de
Aquino e Afonso de Ligório”. (MONDIN, B. Dizionario dei Teologi, p. 244).