Download PDF
ads:
CENTRO UNIVERSITÁRIO SENAC
MESTRADO EM MODA, CULTURA E ARTE
Na Linha de Pesquisa Moda, Corpo e Sociedade
MAURO FIORANI
Padrões de Corpo e Moda.
São Paulo,
2007.
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
MAURO FIORANI
Padrões de Corpo e Moda
Dissertação apresentada à comissão
julgadora do Centro Universitário SENAC, Campus
Santo Amaro, como exigência parcial para a
obtenção do título de Mestre em Moda.
Orientadora: Profª. Dr.ª Ana Lúcia de Castro
.
São Paulo,
2007.
3
ads:
Catalogação na Fonte
Fiorani, Mauro
F517f
Padrões de Corpo e Moda / Mauro Fiorani. – São Paulo, 2007
145 f.
Orientadora: Prof. Dra. Ana Lúcia de Castro
Dissertação (Mestre em Moda Cultura e Arte) – Centro Universitário Senac,
Campus Santo Amaro, São Paulo, 2007.
1. Moda 2. Corpo 3. Sociedade 4. Indústria têxtil 5. Antropometria I.
Fiorani, Mauro II. Ana Lúcia de Castro (orient.) III. Título
CDD 391
4
MAURO FIORANI
Padrões de Corpo e Moda
Dissertação apresentada à comissão
julgadora do Centro Universitário SENAC, Campus
Santo Amaro, como exigência parcial para a
obtenção do título de Mestre em Moda.
Orientadora: Profª. Dr.ª Ana Lúcia de Castro
.
A banca examinadora da Dissertação em
sessão pública realizada em 30 de agosto de 2007,
considerou o candidato: ______________________
1) Examinador(a): KATHIA CASTILHO CUNHA
2) Examinador(a) MARIA LÚCIA BUENO
3) Presidente: ANA LÚCIA DE CASTRO
5
AGRADECIMENTOS
Agradeço ao SENAC por acreditar no pioneirismo e arrojo de lançar um curso de
mestrado em Moda, dando oportunidade para todos que amam ao acreditarem que, Moda é
muito mais do que passarelas e holofotes, trazem para dentro da academia os bastidores,
a indústria, e o comprometimento de toda a cadeia têxtil.
À Maria Lúcia Bueno por estar à frente desse trabalho, incentivando e acreditando
sempre que é possível discutir Moda com seriedade e profissionalismo.
Aos professores: Profa. Dra. Eliane Robert Moraes; Profa. Dra. Magnólia Costa;
Prof.ª Dra. Maria Cláudia, que compõem corpo docente do curso de Mestrado em Moda,
pela dedicação, apoio e dicas fundamentais que todos ofereciam, independentemente, se
éramos ou não seus orientandos.
Quero agradecer a Profa. Dra. Ana Lúcia de Castro por me incentivar na busca do
aprimoramento do texto, dentro de meu trajeto intelectual, nas sugestões fundamentais de
teóricos que deram embasamento a essa dissertação, a qual tive o prazer de desenvolver
sob sua orientação .
À Denise Bernuzzi de Sant’Anna, que sempre me estimulou dar voz à experiência
alcançada ao longo dos anos de competência profissional, através de conversas afetivas e
intelectuais, despertando um respeito e amizade mútuos.
À você meu pai, que junto com minha mãe possibilitaram minha vinda ao mundo.
À minha companheira, amiga, mulher e esposa Cida por estar ao meu lado nos
períodos de angústias, aflições e disposta a me erguer quando o cansaço e o desanimo
ousaram aparecer em alguns momentos ao longo dessa dissertação.
À Deus que me criou..
6
“Moda num sentido geral é como cada um vai esculpir
o seu corpo. Inclusive varia ao longo da existência, quer dizer,
a figura que cada um vai construir. É através dessa
figura que ele se representa, se reconhece e
vai ser reconhecido”
Suely Rolnik
RESUMO
Padrões de Corpo e Moda discorre sobre a falta de padrão de modelagem existente
na indústria têxtil e a confusão que os produtores fazem na busca de conquistar os
consumidores. Tomando como base a literatura especializada sobre o tema, foi feito um
breve relato sobre a história do corpo enquanto manifestação simbólica
até culminarmos
na discussão acerca da obsessão
contemporânea por um corpo perfeito. Contextualizou-
se a pesquisa realizando entrevistas com órgãos conceituados no setor. Essa investigação
levou a observar a valorização dada pelo culto de uma imagem esbelta e esguia,
analisando a relação dos indivíduos com seus corpos. Lança um olhar sobre as formas de
construir uma imagem dentro de um contexto social, engessados numa modelagem pré-
estabelecida e aceita pelo senso comum. De modo geral, os exemplos que serão
estudados envolvem não só as obsessões ao fazer parte de uma determinada sociedade,
como também, a falta de interesse da indústria de estabelecer um padrão nacional de
tamanhos para a confecção de peças do vestuário.
8
Palavras Chave : Moda, Corpo, Sociedade, Industria Têxtil, Antropometria.
ABSTRACT
Body and Fashion's patterns show the lack of modeling standards nowadays in the
textile industry and the confusion provided by the producers trying to reach the consumers.
Based on the specialized publications, is presented an abstract of the body's history while
symbolic manifestation. From this theoretical recital, this contemporary obsession for a
perfect body is investigated. The research was organized making interviews with appraised
organs in that segment. This study observed the increased value of the ideal of an elegant
and slim image, considering the connection between the human being and his body.
Realizing the ways of building an image inside the social context plastered in a preset and
accepted model by the groups. Almost always the patterns studied involve not only the
obsessions, as part of a social group, but also the disinteresteness from the industries to
establish a national standard of sizes to produce the clothes.
9
Keywords : Fashion, Body, Society, Textile Industry, Anthropometry
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO - O DESPERTAR DE ESTILOS..........................................................3
CAPÍTULO 1 - ......................................................................8DAS TRIPAS À ILUSÃO
1.1 Eu, meu corpo e o dos outros.......................................................................8
1.2. A linguagem do olhar na Moda ..................................................................27
1.3. A evolução do corpo e da Moda.................................................................32
1.4. Sejam belos! Sejam jovens!.......................................................................36
1.5. O peso da magreza....................................................................................39
1.6. A busca de um corpo perfeito. ...................................................................46
1.7. A imagem da Moda ....................................................................................55
CAPÍTULO 2 - .........................................................58DESENVOLVENDO NORMAS.
2.1 O corpo desejado........................................................................................58
2.2 Isso é o meu corpo ?!..................................................................................63
2.3 A moda e o comportamento.......................................................................71
2.4 A cozinha do coser e a falta de padrões.....................................................79
2.5 Padrões de medidas. ..................................................................................88
CONSIDERAÇÕES FINAIS - ................................100ARREMATE & ACABAMENTO
Bibliografia................................................................................................................103
Bibliografia Comentada............................................................................................106
ANEXOS........................................................................Erro! Indicador não definido.
1
0
1
1
INTRODUÇÃO
O Despertar de
Estilos
“O culto ao corpo
deve ser compreendido
como forma de consumo
cultural e uma das
dimensões dos estilos de
vida dos indivíduos, a qual corresponde a outras
escolhas realizadas no grande shopping de estilos
que marca o mundo contemporâneo.”
Ana Lúcia de Castro
3
INTRODUÇÃO
O DESPERTAR DE ESTILOS
A moda é um mundo regido por constantes alterações de comportamento, de
necessidades e de desejos, num universo que mostra uma incansável evolução na busca
de produtos que justifiquem sua existência, isto é, na reestruturação dos freqüentes
segmentos da indústria da moda. Esse processo é fruto de inúmeras transformações nos
valores e rotinas do homem atual , e apresenta-se até mesmo sob outros padrões estéticos
do vestuário, obrigando a indústria a reformular antigos conceitos e a própria dinâmica do
processo criativo
e produtivo.
A moda e o Design são fundamentais para a sociedade contemporânea, pois
também por essas manifestações expressa-se a modernidade. Hoje os empresários do
setor do vestuário procuram profissionais capazes de decodificar as mensagens que a
sociedade envia através de comportamentos, atitudes e culturas, que determinam os
hábitos de consumo do mundo contemporâneo. Observar as referências estéticas e
interpretá-las
é
a busca de todos os profissionais e pesquisadores do
setor.
Resolvemos elaborar essa dissertação sobre padrões corporais após estudos
iniciados nas pesquisas de Pós-Graduação Lato-Senso, concluída em 2003, na qual
detectou-se que o homem, na busca de um corpo perfeito, está cada vez mais sujeito às
intempéries da moda, mostrando-se ao seu meio social o que gostaria que os outros
vissem, agregando valores e modo de vida. Passou-se a entender moda como extensão de
linguagem que se manifesta sobre o corpo.
No trabalho atual busca-se lançar algumas hipóteses mediante observações feitas
no período de 2003 a 2006, em que percebemos uma inquietação por parte dos
4
consumidores em encontrar a mesma numeração de uma peça do vestuário em griffes
diferentes. Então nos perguntamos: de onde vem essa procura em estar na moda em
relação a tamanhos determinados por uma mídia que, até um certo ponto, é abusiva? O
que estaria levando esses padrões a ocuparem lugares de tanto destaque nas sociedades
contemporâneas?
As hipóteses deste estudo buscam preencher o espaço pertinente dentro das
universidades – uma vez que se intensifica a evolução da moda pelo estudo – abrindo
espaço para perguntarmos se há, de fato, uma indústria da moda aliada à publicidade, é
possível que, juntas, estimulem a obsessão contemporânea pelos corpos perfeitos? Essa é
a justificativa para os indivíduos (que se sentem fora do padrão corporal) buscarem
diuturnamente situar-se no consumo de moda? É este o momento de grande impacto na
cadeia produtiva?.
Este trabalho entende por Padrões de Corpo e Moda como a relação dos indivíduos
com seus corpos com a indústria da moda. Percebe-se a preocupação básica de estarem
inseridos no contexto social, engessados numa modelagem pré-estabelecida pelo senso
aceito pelos pares, a fim de ficar o máximo possível próximo de um padrão de beleza
estabelecido.
De modo geral, os padrões que serão estudados envolvem não só as obsessões ao
fazer parte de uma determinada sociedade, como também, a falta de interesse da indústria
de estabelecer um padrão nacional de tamanhos para a confecção de peças do vestuário.
A mesma indústria, que sempre está atenta às mudanças de comportamento, embasando-
se nos direcionamentos de uma comunicação voraz, cada vez mais especializada no setor,
colocando-se à frente das prováveis tendências daquela estação seguinte – parece focar
principalmente a resposta rápida aos usuários
5
quanto às preocupações estéticas de se ter um corpo bonito e/ou saudável.
Para captar diversas dimensões deste fenômeno partimos de duas instâncias sociais
concretas: a falta de desenvolvimento e aplicabilidade de normas antropométricas do
vestuário e a influência dos meios de comunicação na indústria da beleza/magreza.
A primeira, ainda que discutida pelos meios oficiais, não inclui uma possível
campanha de conscientização do confeccionista sobre a importância do padrão de
tamanhos, ou seja, direcionar para a criação e para a aceitação de normas que não são
seguidas, estabelecendo-se uma espécie de senso comum, confundindo muitas vezes o
consumidor.
Para alcançar esses intentos, esta dissertação estrutura-se em dois capítulos. O
primeiro capítulo discorre sobre a história da magreza como condição primordial para
apresentar-se publicamente; discute os meios de comunicação como agentes difusores do
culto ao corpo como tendência de comportamento, verificando a valorização dada por essa
imagem esbelta e esguia. Analisa-se o comprometimento (a interferência) da mídia na
ditadura da moda, sua influência na hora da decisão de compra. Dedica-se, ainda, ao
estudo dos significados simbólicos corporais, pois, ao contrário dos seres humanos,
nenhum animal transforma voluntariamente o próprio corpo.
Assim é que serão discutidas, também, as motivações para entender e respeitar o
comportamento dos jovens; como eles definem seus corpos, suas atividades e sacrifícios
para manterem-se no “padrão estabelecido” e como e por que compram determinadas
modelagens e quais fatores levam-nos a consumir roupas específicas, discutindo o
conjunto de valores gerais. Alinhava-se essa primeira parte com a avaliação das diferentes
partes do corpo, observando-se as conseqüentes associações entre elas e determinados
atributos – positivos ou negativos.
6
No segundo capítulo, é refletida a existência (ou não) de padrão na indústria têxtil. A
partir disso, foca-se o conflito causado pelos produtores – na busca pela conquista dos
consumidores. Para tanto são utilizados, como base deste estudo, resultados das
pesquisas realizadas junto a órgãos como: Associação Brasileira da Industria Têxtil (ABIT);
Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP); Associação Brasileira de
Normas Técnica (ABNT); entre outros, assim como da nossa sensibilidade vivida ao longo
de mais de quinze anos de vivência profissional no setor têxtil.
Importa refletir sobre esse mercado – produção, comércio ou ensino de moda – no
qual ressalta-se, cada vez mais, a necessidade de mudanças nas formas de se relacionar
com a moda. Eis o fascínio e a motivação desta pesquisa, pois é certo que não há mais
espaço para meias-verdades, corporativismo e atitudes passivas.
Embora a indústria da moda não deva ser tomada como bode expiatório para
problemas sociais de outras dimensões, precisa assumir sua responsabilidade, repensar
padrões e agir efetivamente.
Pretende-se, com Padrões de Corpo e Moda, contribuir com essas transformações.
CAPÍTULO 01
Das Tripas
à Ilusão
“A moda reafirma a
liberdade do homem de
criar a própria pele; não
a primeira, que é dada biologicamente, mas a
segunda gerada por sua imaginação e fantasia e,
tornada real por sua engenhosidade técnica”
Baitello Junior
8
CAPÍTULO 1
DAS TRIPAS À ILUSÃO
Procuraremos explanar nesse capítulo a incansável luta do individuo pela melhor
representação, seja essa, de forma, estilo ou de comportamento, obrigando-nos a ter, tanto
na nossa mente como em nosso próprio organismo, uma imagem que acreditamos que
deverá ser aceita pela sociedade contemporânea. Essa mesma sociedade apresenta
atualmente formas estabelecidas para uma aparência esbelta e, através de nosso corpo,
em especial de nossa corpulência, passam significados sociais muito profundos.
1.1 Eu, meu corpo e o dos outros
O corpo, hoje, coloca-se como um desafio que fascina e toca incondicionalmente o
humano, um desafio dialógico. Mediação de uma tradição antropológica e cultural, situada
entre a objetividade e a subjetividade, entre a ciência e a arte, entre a lógica e a mística. É
uma razão relacional que não estabelece limites e derruba barreiras.
A dimensão imaginária do corpo inaugura a subjetividade humana. Tal ousadia, seja
no reflexo do lago, seja nos olhos da mãe ou no próprio espelho da casa, é essencialmente
mítica, uma metáfora da espécie humana que está sempre em busca de completude,
repetidas vezes. É ilusão na qual o sentido está sempre em falta. O corpo simbólico,
portanto, constitui o código fundamental da linguagem, o lugar onde a cultura conversa, a
voz do grande Outro – a escrita do Outro, o discurso universal, a verdade, a mediação. “O
significante que falta ou o significante da falta. A relação da estrutura simbólica e o sujeito
distinguem-se da relação imaginária do Eu e do Outro”.(LYRA e GARCIA; 2002:97).
9
Clarice Lispector, (1973) em
Água Viva,
reflete sobre os momentos em que "o
corpo não agüenta mais ser corpo", pois
é
ele que dá a garantia de que o sujeito
é
ele
mesmo. O corpo
é
este espaço-tempo que tudo atesta, porque as marcas do que viveu
estão nele inscritas; pode, então, ser pensado como um dos territórios mais visíveis de
conexão entre natureza e cultura. Em sua visibilidade, o corpo permite, alegoricamente
,
ser interpretado e lido como texto escrito pela sociedade
à
qual pertence. Um dos
traços mais marcantes da sensibilidade contemporânea em relação ao corpo
é
a
obsessão pelo apagamento das marcas visíveis do tempo que, com lentidão, nele se
inscrevem e se revelam como traços da experiência.
A obsessão pelo apagamento dessas marcas e o incremento científico e
tecnológico para sua realização permitem pensar na possível escritura de uma história
do indesejado: as rugas, a gordura, a flacidez, os cabelos brancos, a velhice, a
lentidão. A tirania do aspecto impõe uma obsessiva cruzada para que cada indivíduo
se livre das marcas que caracterizam as passagens das idades, marcas que assinalam
as múltiplas histórias individuais e sociais.
Alguns autores falam de uma nova sensibilidade, uma moral intersubjetiva, uma
mudança de época. Sustentam-se, principalmente, nas mudanças sociais e culturais,
expressas no corpo do ser humano contemporâneo. Estas novas realidades : as próteses
tecnológicas, os transplantes, a inseminação artificial, as cirurgias estéticas, a clonagem e
outras múltiplas explorações do corpo assinalam
o futuro das ciências humanas, como
suporte ou canal de uma linguagem intrínseca, uma vez que, nessa relação, torna-se
cada vez mais necessário apostar
na heterogeneidade cultural, racial, ética e sexual.
1
0
Para definir o estatuto do corpo, segundo os parâmetros da psicanálise, dois termos
sobressaem-se: a palavra e o sexo. Existe um corpo gestual (simbólico) e um corpo sexual
(real). Em estudos semióticos, há uma terceira proposição, o corpo imaginário, o corpo
como imagem.
“Não a minha própria imagem no espelho, mas a imagem que o
outro me devolve, meu semelhante. Um outro que não é necessariamente
meu próximo, mas todo o objeto do mundo. Então, antes de mais nada,
percebo a imagem do meu corpo fora do meu corpo. Estes objetos são
imagens, a minha imagem, a condição é que esses objetos, estejam
carregados de um valor afetivo, ou seja, que tenham um sentido para mim.
Assim, o corpo sexual permanece sempre velado, sobre o semblante
imaginário daquilo que capto dentro de mim.” (LACAN; 1998:96).
O corpo passa a ser observado como lugar da construção dos sentidos, espaço de
investigação e criação de novas realidades, em conexão com diferentes meios além de
apresentar-se como aparelho produtor de linguagem. Pensar nesse corpo, que emerge, diz
respeito também a inseri-lo no contexto das formas sensíveis e a conhecer os diversos
perfis que compõem sua identidade, ou melhor, a identidade que advém do imaginário
social.
“Como o corpo é o lugar da ruptura, outorgar-se-lhe o privilégio da
reconciliação. É nele que se há de aplicar o bálsamo. A ação sobre o corpo
traduz-se na vontade de superar a distância entre a carne e a consciência,
de apagar a alteridade inerente à condição humana (...). O imaginário
social converte, então, o corpo no lugar possível da transparência, do
positivo”. (LE BRETON; 1995:81)
Sahlins (1979:202) afirma que toda produção é a realização de um esquema
simbólico, por isso acolhe, sem nenhum estranhamento, a idéia de que a indumentária, em
última instância, demarca o tempo, o lugar e as pessoas constituídos numa ordem cultural -
seja ela qual for. Em outras palavras, que a moda dá conta de uma certa estruturação
simbólica própria de uma determinada cultura.
1
1
A análise do vestuário serve, na verdade, como pretexto para a explicação cultural
da produção. Nesse empenho, ao acionar o sistema do vestuário, Sahlins (1979) confirma e
explicita que a indumentária não reproduz apenas as divisões e subdivisões entre grupos
etários e classes sociais, mas também a distinção entre feminilidade e masculinidade tal
como é conhecida na nossa sociedade atual. Do mesmo modo pode-se reconhecer por
meio do vestuário a demarcação entre cidade e campo; e, dentro da cidade, entre o centro
e os bairros residenciais, assim como também a distinção entre a esfera pública e a
privada.
Além dessa marcação espacial, vê-se uma distinção do próprio tempo — diário,
semanal, sazonal. Têm-se roupas para noite e roupas para o dia, "vestidinhos para fim de
tarde", entre outros. "Cada uma referencia a natureza das atividades determinadas por
aqueles períodos de tempo, da mesma maneira que as roupas de domingo estão para as
roupas de dia de semana como o sagrado está para o profano" (SAHLINS; 1979:202).
Esse tratamento estende-se, da mesma forma, à faixa etária. Nesse sentido, pode-
se dizer que a roupa (esse produto desejado por muitos) é, na verdade, o universo
simbólico de uma categoria social transformado em matéria.
O
discurso dos indivíduos
através da moda é constituído por um complexo sistema de signos, por onde é possível
comunicar os fenômenos culturais de uma sociedade.
Machado (2003:33) alerta que a "cultura significa processamento de informações e,
conseqüentemente, organização em algum sistema de signos ou de códigos culturais".
A moda, essa forma não-verbal
de comunicação, permite a apropriação de uma
série de significados utilizados como expressão. Passa-se a usar o vestuário
para transmitir
informações. Segundo Barnard (2003) a moda, o vestuário
,
as roupas, são artefatos,
práticas e instituições que constituem as crenças, os valores
,
as idéias e as experiências de
1
2
uma sociedade. As informações contidas nas representações de moda mantêm uma
profunda relação com as expectativas, valores
e crenças de uma sociedade. A moda é a
expressão dos costumes de uma época. O vestuário assume diferentes formas de acordo
com diferentes modelos e estilos das respectivas épocas.
Assim, utilizamos o nosso corpo como suporte para dialogarmos com o mundo, por
isso, o vestuário selecionado por um indivíduo serve como uma forma de linguagem.
Conforme Castilho (2004)
, o corpo é suporte material, sensível
,
articulado com diferentes
códigos de linguagem (gestual, sensorial) e com a própria decoração corpórea, que faz da
moda e do design verdadeiros projetos, processos de transformação da aparência, que
objetiva a diferenciação ou a similitude. A roupa é vista como uma segunda pele a
demarcar o papel do ser humano na sociedade. Serve tanto para enquadrar o indivíduo em
um grupo, como para diferenciá-lo dos demais membros da sociedade. A roupa passa a ser
um invólucro, carregado de simbolismos.
Barnard (2003:63), compartilha dessa idéia e afirma que "(...) moda, roupa e
indumentária são meios pelos quais as pessoas comunicam, não só coisas, tais como
sentimentos e humores, mas também valores, esperanças e crenças dos grupos sociais a
que pertencem". Através do vestuário os indivíduos sentem-se capazes de “transformar” o
exterior.
Os produtos consumidos são recursos, que podem assumir ampla gama de
significações, inclusive pontuar diferenças e semelhanças entre os indivíduos dentro de
uma determinada sociedade. Segundo Garcia e Miranda (2005:23), o modo de vestir, como
símbolo social, acompanha as alterações da estrutura e do estado geral da sociedade,
"mas compreender escolhas pessoais diante do guarda-roupa não é tarefa fácil. Afinal,
seres humanos são complexos".
1
3
O homem busca na moda o contexto de se proteger e enfeitar, mesmo sem
perceber. Se, num primeiro momento, a decoração corpórea valia-se de procedimentos
efetuados diretamente sobre a pele; o tecido, enquanto segunda pele, reveste e recobre
esta primeira e ampliará ainda mais as possibilidades de o corpo reestruturar-se espacial e
cromaticamente. Essa nova pele têxtil caracteriza-se por transformações definidas pelo
ritmo das mudanças da moda, mudanças estas em constante aceleração, respaldadas
pelos ritmos auto-impostos da sociedade contemporânea.
E é justamente através da segunda pele, trajes e roupas, cuja natureza se mostra
predominantemente têxtil, que, até nossos dias, permite-se amplamente o jogo da oscilação
e mutação da decoração corpórea. O tecido cumpre a função do elemento facilitador frente
ao mutante jogo de aparência, ampliando, desse modo, as manifestações do ser. Cabe a
ele revestir e decorar – ações facilmente transformáveis, até mesmo descartáveis, segundo
a legislação da moda, que promove rápidas mudanças estéticas. A pele é o maior e mais
visível órgão do corpo humano. A riqueza e a complexidade biológicas só são excedidas
pelas do cérebro e do sistema imunológico.
Jablonski (2006), professora de antropologia na Universidade Estadual da
Pensilvânia, reproduziu essa abrangência em livro, no qual trata de tópicos que vão da
história evolutiva da pele a perspectivas antes impensáveis, tais como peles robóticas ou
eletrônicas
1
. Passa por temas como suor, cor, tato e dermatite. No processo, a autora
demonstra que a pele não só é crucial para a saúde como também é importante veículo de
expressão pessoal. Uma combinação de três atributos torna a pele humana única no reino
animal. Primeiro, ela não é revestida por pêlos e, transpira. Segundo; é produzido
naturalmente em ampla variedade de cores, um fascinante arco-Íris em sépia, que varia de
1
Jablonski, A “Skin - A Natural Histbry”, Pele - Uma História Natural, University of California Press. 2006
1
4
marrom escuro ao branco marfim pálido. Terceiro, ela é uma superfície para decoração, de
maquiagem e outras formas de pintura temporária a cicatrizes e tatuagens.
Os seres humanos suam mais profusamente do que outros animais, e a pele nua
permite que o suor se evapore de forma mais rápida, refrigerando o corpo ao fazê-lo. E o
melhor mecanismo de refrigeração era suar o mais rápido possível em um corpo
desprovido de pêlos. A maioria das pessoas pode produzir um litro de suor por hora num
deserto quente e, em alguns casos, até três litros (a cabeça humana manteve os cabelos
para proteger o couro cabeludo da radiação do sol tropical). Foi o velho, simples e nada
elegante suor que tornou os seres humanos aquilo que hoje são. Assim que os seres
humanos perderam os pêlos, a cor da pele se tornou extremamente importante
Sem uma profusão de glândulas sudoríparas para nos manter
resfriados, por meio de um suor copioso, ainda teríamos o espesso manto
de pêlos de nossos ancestrais e viveríamos vidas semelhantes às dos
macacos" (Jablonski; 2006:65).
Pigmentação é o campo de estudo em que Jablonski (2006) se especializa, e ela
emprega bem os seus conhecimentos para explicar as duas principais forças evolutivas que
estabeleceram o gradiente de cores predominantes da linha do Equador aos pólos. As
pessoas que vivem sob o forte sol dos trópicos precisam de níveis elevados de melanina, o
principal pigmento da pele, a fim de absorver a radiação ultravioleta – que de outra maneira
causaria danos insustentáveis a biomoléculas essenciais, especialmente o DNA e o folato
(substância vital ao sucesso na reprodução). Em latitudes mais altas, no entanto, a
proteção contra os raios ultravioleta é menos importante do que permitir que a pele absorva
luz solar, quando a pele gera vitamina D por meio de fotossíntese, e isso requer uma
coloração menos intensa.
1
5
É a visibilidade do corpo que o torna capaz de revelar sinais: oposições entre
saúde e doença, alegria e tristeza, vida e morte. Essa visibilidade incontestável permite
escrever muitas e múltiplas histórias: dos costumes, da alimentação, da beleza e da
moda, das doenças, das "boas maneiras", das "anormalidades". Permite escrever um
a
história da educação.
Na matéria inscreve-se o lento, intenso, extenso, meticuloso e obstinado
trabalho de constrangimentos, tanto de ordem biológica, quanto de ordem moral. Para
ser exibido, o corpo precisa ser educado, e esta educação percorre caminhos
múltiplos e elabora práticas contraditórias, ambíguas e tensas.
Educá-lo para ser exibido significa prescrever, ditar, aplicar fórmulas e formas de
contenção, tanto de velhos desejos quanto de necessidades fisiológicas – contrariando,
assim, a "natureza”. São distintos atos de conhecimento e não apenas a palavra o que
constitui esta educação diuturna e ininterrupta.
As roupas produzidas para meninos e meninas são um exemplo. Desde cedo,
as crianças do sexo feminino são constrangidas, corporalmente, pela moda
,
pelas
pequenas torturas que devem aprender a suportar para tornarem-se adultas belas,
para tornarem-se mulheres que considerem "natural" e normal se equilibrar-se sobre
um salto de 10 cm de altura e atender
à
moda. As meninas, desde muito cedo, são
educadas a constranger seus corpos para exibi-los com unhas pintadas, saltos altos,
maquiagem, mechas coloridas nos cabelos .São educadas a consumir moda. Seguir
um modelo de beleza torna-se imperativo para a visibilidade do corpo feminino, em
escala muito maior que no caso masculino. O padrão de beleza que deve ser
alcançado resulta de muito esforço, de um auto-controle do corpo, de educação
1
6
cuidadosa, de uma certa predisposição para a tortura. É, segundo CAVIGLIOLI
(2000:12), uma retomada bíblica: "Você ganhará a beleza com o suor do teu corpo
".
A visibilidade do corpo também pode ser analisada a partir de outros aspectos
da vida cotidiana como a comida, as religiões, a mídia, enfim por diferentes práticas
convencionadas como mais ou menos adequadas para "cuidar" do corpo, da
aparência, da "saúde", considerada hoje o lugar da verdade.
Falar de visibilidade do corpo
,
portanto, é falar de um lento processo civilizador
,
da lenta e complexa mudança de sensibilidade, da tolerância ou intolerância por
atitudes e práticas humanas, da consideração cada vez mais eloqüente que confere ao
corpo uma importância sempre mais alargada. Foucault (1985) afirma que parece
adequado pensar a visibilidade do corpo, a partir da idéia
,
de que "cada época elabora
sua retórica corporal". Portanto, todas as marcas, as formas, a eficácia e o
funcionamento do corpo transformam-se, mudam com o tempo, subvertem-se,
substituem-se e representações deslocam-se.
“Vestir-se à moda” implica uma pessoa destacar-se e, simultaneamente, fundir-se na
multidão, reivindicar o exclusivismo, embora siga o rebanho. Considerados numa
perspectiva histórica, os estilos apresentam uma nova realidade. O dinamismo da colisão, a
sede de mudança e as sensações extremas, que caracterizam as sociedades urbanas, em
especial as do sistema capitalista industrial moderno contribuem para essa “modernidade” e
são muito bem expressados por certa histeria e pelos exageros.
A moda vive das imagens do passado, com o objetivo de adivinhar o futuro. Qual
será o look determinante da próxima estação? Perguntam-se os fashionistas. Apesar da
multiplicidade de opções surge nos desfiles, mas algumas se firmam como as
determinantes. A idéia central de alguns estilistas consiste em conceber as peças de
1
7
roupas e as partes (mangas, golas, etc.) como próteses, ressaltando sua artificialidade,
tanto da peça quanto do corpo que a veste. Considerando o corpo feminino, parece que –
para eles a roupa não serve apenas para cobrir ou enfeitar a mulher, mas para recriá-la
fisicamente, no caso, dotando-a de uma imagem de força impressionante. Outros
caminham em direções opostas: buscam a imagem da força por meio de uma “moda pura”,
ou seja, aliada ao corpo natural.
“A moda, conseqüentemente, é essencial para o mundo da
modernidade, o mundo do espetáculo e da comunicação de massas.
Constitui uma espécie de tecido de ligação do nosso organismo cultural. E
apesar de muita gente sentir a moda como uma escravidão, como uma
forma castigadora, compulsiva, de expressar incorretamente uma
individualidade que, pela sua própria ação – ao imitar os outros – se nega
a si própria, a última gota de água nessa contradição que é a moda, é que
ela expressa muitas vezes com sucesso o individual”. (WILSON; 1989:25)
Atualmente dentro da moda, uma de suas principais qualidades é a sexualidade das
roupas. Onde dirigem-se em primeiro lugar ao Eu, e somente depois, ao mundo. As
crianças aprendem, logo cedo, que as roupas lhes dão identidade, introjetando idéias
sobre o próprio corpo, a partir de idéias sobre a sexualidade. No processo contínuo dessa
significação, o vestuário usado em público pelos adultos torna-se afinal um gesto sexual
mútuo, em um mundo geralmente bissexual. Conforme Hollander (1996) a excitação
popular atual com o trans-sexualismo no vestir mostra apenas quão profundamente
acreditamos ainda em separar simbolicamente as roupas dos homens e das mulheres,
mesmo que, em muitas ocasiões ambos se vistam da mesma forma.
O corpo do recém-nascido passa, então, a ser manipulado por aqueles que delegam
a ele noções e padrões determinados, ou seja, por quem os educa. Na medida em que se
desenvolve, a criança adquire gostos e prazeres, acaba por sujeitar-se à moda situada em
seu contexto social.
1
8
Ainda perdura a máxima de que “a primeira impressão é a que fica”. Por ela as
pessoas são rotuladas e classificadas pelo tipo de traje que porta muitas vezes as
transformações políticas e sociais refletem-se no vestuário. Aliás, parafraseando
CASTILHO (2004) o corpo é uma influente instituição política, é a composição primordial da
existência, o canal essencial da materialização do pensamento, conectando o ser ao
mundo habitado por ele. Por meio do corpo revelam-se as situações orgânicas, psíquicas e
sentimentais do indivíduo.
O corpo é a representação de um sujeito em processo que
constrói, por meio de categorias do visível, diferentes textos que declaram
seu modo de ser e estar no mundo. Ele ganha cada vez mais, significados,
quando revestido pelas conjunções de novos valores, sendo esses
dogmas vigentes ou palavras de ordem que se desenvolvem e manifestam
em determinado grupo social”. (CASTILHO, 2004:119)
Por considerar que a estratégica da distinção rege o comportamento dos indivíduos,
por acreditar que o ser humano é alienado pelas marcas e pelos objetos, basta aos
profissionais da moda vislumbrarem a sociedade como uma reprodução em tamanho maior,
do meio que conhecem. Eles constituem, com alguns críticos do capitalismo, os indivíduos
mais obcecados pelo domínio das marcas. Enfim, o mundo fashion destaca-se, por
possibilitar as distinções e, simultaneamente, as misturas de fronteiras entre as classes
sociais.
Os profissionais podem ser entendidos como intermediadores culturais, na medida
em que preenchem um vazio cultural transmitindo informações e conhecimentos que não
foram herdados da família (herança cultural) nem adquiridos na escola (capital escolar).
Entretanto, na visão de Bourdieu, não contribuíram para aumentar a competência cultural
dos desapossados de capital cultural, mas sim para a vulgarização do saber e da arte e do
bom gosto. Segundo o autor, a verdadeira e legítima cultura só pode ser adquirida nos
1
9
espaços legítimos: "O que se aprende no espaço da cultura legítima é como o ar que
respiramos, é um sentido da eleição legítima tão seguro que permite impor-se" (Bourdieu,
1988: 90).
Pelas roupas formam-se as primeiras impressões de nossos semelhantes. A
delicada discriminação dos traços faciais necessita de uma certa aproximação íntima.
Como as roupas possibilitam inspecionar superfície muito maior, podem ser mais
claramente distinguidas de uma distância mais conveniente. Pelas vestes, de forma
indireta, reconhece-se alguém que se aproxima. O movimento conferido às roupas, graças
à movimentação dos membros (mas não propriamente o movimento deles) propicia julgar,
de um só golpe, se o conhecido está zangado, assustado, curioso, apressado ou calmo.
Situar-se nesse horizonte individual, que diz respeito ao modo como a moda pode
traduzir o comportamento psicológico do homem, ser espelho de seus hábitos e gostos,
parece ser ainda redutor. É preciso olhar o fenômeno “moda” de forma mais abrangente.
Arriscar a afirmação de que a indumentária pode ser pensada enquanto indicativo de uma
forma de estar no mundo e, mais, elemento de expressão de grupos, ou mesmo de uma
sociedade, e por que não, de uma época. Por muito tempo esse fenômeno viu-se atrelado
ao refrão da distinção social.
Esse parece ter sido, até então, o papel hegemônico do vestuário assumido por
aqueles que o utilizaram como indumentária ou mesmo como pretexto de pesquisa. De
certo, a roupa assume essa função distintiva. Marca naquilo que há de mais aparente a
diferença entre camadas da sociedade. Descoberta a magia do vestuário como emblema
distintivo, classes sociais usam e abusam desse mecanismo para se sobrepor. E para
garantir a distância social as classes superiores se vêem obrigadas à inovação. A busca
pelo novo passa a ser a matriz reguladora de um movimento circular interminável,
2
0
característico da própria dinâmica do fenômeno. "As classes inferiores correm para imitar
os outros que lhes são superiores, e estes, por sua vez partem em busca de algo novo que
os diferencie" (LIPOVETSKY 1989:34).
É imperativo abrir o horizonte e promover um certo deslocamento de ênfase, sem
privilegiar apenas essa possibilidade distintiva que a moda permite (simbolicamente
constitutiva das relações sociais). Somente assim poder-se-á visualizar outras
possibilidades de abordagem sobre o tema e talvez verificar que, na contemporaneidade,
força e riqueza estão situadas numa esfera mais ampla, em que, inclusive, o caráter
distintivo é tecido: sua dimensão simbólica.
A indumentária tem, nesse sentido, a capacidade de fazer conhecer a
personalidade, o "eu" interior, tão cuidadosamente resguardado lá bem no fundo da alma.
Faria do homem, portanto, um ser transparente, sem mistérios, para o Outro e para o
Mundo. Veste-te, pois direi quem tu és! No entanto, esse é apenas um lado. O seu verso
reserva outras significações. Parafraseando Umberto Eco, o hábito nem sempre fala pelo
monge. Em muitas situações, a indumentária, ao invés de tornar transparente, esconde,
camufla, engana. Transforma-se em escudo, defendendo o homem do Outro. Apropriar-se
de determinados trajes funciona, em vários casos, como "falsificação" do "eu". Não permite
ver o que é, mas sim, o que se gostaria de ser. Fabrica-se, desse modo, pelo vestuário, um
ser ideal, objeto de desejo que supostamente vai ser bem acolhido por todos.
“A felicidade moderna é partilhada pela alternativa entre a prioridade
dos valores afetivos e a prioridade dos valores materiais, a prioridade do
ser e a prioridade do ter, e ao mesmo tempo faz força para superá-la, para
conciliar o ser com o ter. A concepção da felicidade, que é a da cultura de
massa, não pode ser reduzida ao hedonismo do bem-estar, pois, pelo
contrário, leva alimentos para as grandes fomes da alma, mas pode ser
considerada consumidora, no sentido mais amplo do termo”.(MORIN 1987:
127).
2
1
Partindo da idéia de uma tentativa diferente, a moda articula com especialidades de
tendências,por exemplo: as sazonais. Isso pode ser ratificado, quando essas peculiaridades
são assumidas pelas denominadas tribos; seus componentes tornam-se “idênticos”,
precisamente através do movimento à aderência coletiva. Aderência esta realizada através
dos inúmeros meio de comunicação, que cada vez mais se profissionalizam, na divulgação
daquilo que acreditam ser moda. Desta maneira constata-se que a mídia propaga sua
existência, ela, por sua vez, padroniza grupos inteiros, deixando de ser ressaltada a
diferença inicialmente proposta.
Na medida em que o mundo fashion obtém, na escala de valores, um percentual
significativo e, às vezes primordial; desenvolvem-se verdadeiros impérios em todos os
setores; de toda cadeia têxtil até a divulgação do produto no ponto de venda – dos modos e
comportamentos humanos até sua forma corporal – pois “estar na moda”, não se resume
apenas à boa cultura de indumentária, mas sim em estar atento, mediante padrões
preestabelecidos pela força poderosa da mídia, sem a qual não manteria acesa a chama de
seu glamour, nos mais importantes segmentos da nossa época.
É óbvio, portanto, que ao tratar da moda, deve-se considerar não somente os
criadores individuais de roupas, mas todo o circo a sua volta, bem como a mentalidade de
grupo dos que as usam e nela se projetam. Essa mentalidade de grupo oferece alguns
fascinantes problemas para o psicólogo social.
Sustenta-se, muitas vezes que as sucessivas modas expressam de certo 'espírito da
época'. Ao descrever em detalhe como este espírito se manifesta, as explicações
freqüentemente são vagas e desalentadoras. Provavelmente seria necessário um estudo
mais profundo (com a colaboração de historiadores e sociólogos) antes que se pudesse
explicar a total significação social das mudanças detalhadas, de um ano para outro.
2
2
Contudo o significado de certas alterações fundamentais, em longos períodos, parece
bastante claro.
Para criar uma coleção não é suficiente traçar novo desenho. Para o desenho se
tornar moda, deverá ser usado e não somente em um desfile de modelos. É natural,
portanto, que quem os usa deva ter alguma prática do lançamento de novas modas.
No Brasil, contudo, uma influência predominante parece ser exercida por um grupo
relativamente pequeno de indivíduos, apesar de ser um grupo maior, porém menos
homogêneo do que no caso dos produtores. Trata-se dos desejos. Que buscam satisfazer
as necessidades de seu público alvo. Eles levam em conta a importância do aspecto e do
impacto que a coleção causará neste público.
O marketing é, atualmente, um dos mais fortes operadores de controle social, por
meio de u
m “Olimpo” de vedetes domina a cultura de massa, mas se comunica, pela
cultura de massa, com a humanidade corrente. O
s Olimpianos são definidos, por Edgar
Morin (1987), como seres transformados em sobre-humanos pela cultura de massa. Estes
são astros e estrelas de cinema, os campeões esportivos, governantes, pintores e literatos
célebres e atualmente as Top models. Segundo o autor a imprensa seria responsável por
"revesti-los de um caráter mitológico, e, por outro lado, por buscar mergulhar em suas vidas
privadas a fim de extrair delas a substância humana que permite a identificação" (MORIN;
1987:105-110).
O motor da moda é, evidentemente, a necessidade de mudança em si
mesma da lassidão do já visto e da atração pelo novo. Outro estímulo
é
o desejo
de originalidade pessoal por meio da afirmação dos sinais que identificam os
pertencentes
à
elite. Esse desejo de originalidade, desde que a
moda se propagou
,
transforma-se em seu contrário; o único, multiplicando-se vira padrão.
É, nesse
2
3
ponto, que a moda se renova aristocraticamente, enquanto se difunde democraticamente.
Ao
mesmo tempo em que resiste, ela se adapta
à
corrente, na medida que
encontra aí o seu lucro.
A publicidade da grande imprensa estende seu raio de ação; as grandes
marcas obtêm lucro ao expor sua etiqueta em produtos de série ou semi-série
(perfumes,meias). Assim, a cultura de massa efetua uma dialética de
aristocratização e de democratização que funciona em todos os níveis para,
finalmente, padronizar no grande público. Sobre isso, MORIN afirma que: Ao
mesmo tempo, mantém uma obsessão consumidora das roupas, do enfeite, dos
objetos cuja importância como estimulante econômico se torna cada vez mais nas
sociedades ocidentais”
(MORIN; 1987:143)
Veja-se a quantidade de artigos que tratam da saúde da aparência do corpo,
veiculados em periódicos não-especializados de grande circulação, veja-se o seu
conteúdo que, geralmente, apresenta infindável variedade de regimes alimentares,
medicamentos, cosméticos, chás milagrosos, ginásticas rejuvenescedoras, roupas
apropriadas para caminhar, correr, fazer ginástica.
Incluam-se
maneiras de obter mais
prazer no sexo; conselhos de beleza que rompem completamente com aqueles de
outrora e inauguram uma espécie de tribunal, quando apresentam as famosas fotos do
"antes" e "depois" do conselho dado.
Quem não seguir o padrão ficará
feia, gorda, com a pele espinhenta,
entre outros
desconfortos
e,
por conseguinte, não será amada, não conseguirá trabalho, ficará solteira.
E
sse discurso é veiculado diuturnamente, multiplica-se infinitamente a cada dia. Basta
olhar as revistas dedicadas ao público "feminino".
2
4
Essa parece ser a herança da cultura burguesa que concerne à mulher, mais do que
ao homem, alimentar-se de romances, característica condicionada por uma civilização em
que se atenuam os aspectos mais brutais da condição humana (luta pela vida, competição,
violência física), dirigindo-se naturalmente para a promoção dos valores femininos.
“Os dois grandes temas da imprensa feminina, de um lado, a casa,
o bem-estar, de outro lado, a sedução, o amor, são, de fato, os dois
grandes temas identificadores da cultura de massa, mas é na imprensa
feminina que esses temas se comunicam estreitamente com a vida prática:
conselhos, receitas, figurinos-modelos, bons endereços, correio
sentimental orientam e guiam o saber-viver cotidiano. Através das rubricas
práticas da imprensa feminina (e também da imprensa masculino-feminina)
não é só o domínio das artes domésticas, é todo o universo novo do bem-
estar-conforto que se desenvolve sob controle feminino”. (MORIN;
1987:141).
A obsessão pela aparência modelar, veiculada midiaticamente também
interfere, de forma drástica, na vida de comunidades, absorvendo, transformando e
uniformizando o que as singularizava.
Isso pode ser confirmado
pelo modo como as
pessoas se alimentam, vestem-se, amam, divertem-se. Para tudo passa a ser
necessário um "especialista", e tudo se torna pateticamente igual. O que representava
força e vitalidade transforma-se na causa de inúmeras doenças, não é mais parte do
conjunto de elementos que compõem uma cultura, é algo que se comercializa
separadamente quanto origem e funções. Novas sensibilidades constroem-se. Talvez
seja possível pensar que há um empobrecimento na compreensão desse corpo
apartado do sujeito que o habita.
Conforme nos alerta Castro (2003:43) as revistas de comportamento, principalmente
femininas, “desde seus primórdios trazem dicas de beleza – como cuidados com pele e
cabelo – e de boa saúde, imbuídas de um discurso para convencer ,mesclando argumentos
estéticos e técnicos: tornar-se bela e atraente e/ou manter uma vida saudável e sentir-se
2
5
bem”. Featherstone (1995) aponta a noção de estilo de vida, no âmbito da cultura de
consumo contemporânea, como indicativa de individualidade, auto-expressão e uma
consciência estilizada de si, levando à discussão sobre estética para o campo da vida
cotidiana. "O corpo, as roupas, o discurso, os entretenimentos de lazer, as preferências de
comida e bebida, a casa, o carro, a opção de férias, etc. de uma pessoa são vistos corno
indicadores da individualidade, do gosto" (FEATHERSTONE; 1995:198).
E em uma nova abordagem sobre a comunicação de massa, deve-se levar em conta
as mudanças dinâmicas em indústrias e mercados. Essa é uma abordagem que enfatiza a
formação de relações e não a promoção de produtos, a comunicação de conceitos e não a
difusão de informações; a criação de novos mercados e não o compartimento dos antigos.
Essas táticas produzem almas para as marcas.
Na moda, desde a ascensão do prêt-à-porter isso se dá, principalmente, por meio de
pesquisas de comportamento que visam a captar as macro-tendências de consumo de
determinadas épocas. Somadas a essas ‘vontades’, circula a sensibilidade de designers e
criadores que funcionam como filtros-espelhos: absorvem e refletem os fluxos do mundo,
transformando-os em roupas, acessórios, looks para desfile e fotografia, catálogos, e toda a
infinita gama de possibilidades propiciadas pela área.
Criar conceitos nas passarelas, expor mercadorias em outdoor e vitrines, produzir
imagens que reflitam aquilo que está se passando na subjetividade é – para além da
demonstração de talento e sensibilidade de alguns criadores – uma grande estratégia.
No que se refere ao corpo, a proliferação e a divulgação de imagens pela mídia
constitui um novo paradigma visual. Ressalte-se, também, o desenvolvimento de novas
mídias como a Internet, que possibilita a produção e divulgação de imagens diversificadas
em escala muito maior que a dos meios de comunicação tradicionais. O projeto de um
2
6
modelo de corpo digitalizado é um exemplo significativo: trata-se de uma recriação técnico-
médica de um corpo, imagem em terceira dimensão, que representa o corpo humano numa
perspectiva jamais vista. Acrescentem-se a esse quadro de informações de biotecnologia e
de genética chips de DNA e projeto genoma que trazem à luz questões como clonagem de
embrião humano, a cura de determinadas doenças, entre outras que afetam nosso olhar e
entendimento do corpo.Na atualidade o corpo “natural” parece imperfeito demais.
O atual estágio de desenvolvimento tecnológico e de conhecimento científico do
corpo humano possibilita interferências radicais. Nesse sentido, as modificações radicais
podem ser consideradas mecanismos de inserção, pois, se o papel social deixou de ser
referência para construção da identidade e de relações de poder, a aparência do corpo
constitui o último reduto em que o indivíduo pode atuar. Vive-se em uma época na qual o
indivíduo libidinal está de fato atrelado aos imperativos do lucro e, com isso, exprime-se um
momento de dúvida acerca do que ainda pode escapar à força do capitalismo de imagens.
Acontecimentos econômicos, sociais, políticos e culturais são transformados em
imagens, cortados em tecidos, costurados em formas que os traduzem para satisfazer e
produzir desejos de consumo. É no vasto campo da imagem que referenciam o vestuário e
a beleza atuais para manter em funcionamento a máquina, à espera de corpos e,
identidades.
“Não se trata de considerar a Moda como uma máquina monstruosa
e perversa. O campo é minado, porém, potente no sentido de expressar as
paisagens sensíveis do corpo. Também não se trata de negá-la, mas de
empreender ousadias que signifiquem um escuta de si, problematizações
dos fluxos que atravessam o corpo, das inquietações que o perpassam,
dos devires que se produzem na trama subjetiva”. (CASTILHO; 2000:134).
De certo, a roupa assume uma função distintiva. Marca naquilo que há de mais
aparente, a diferença entre camadas da sociedade. Descoberta a magia do vestuário em
2
7
forma de emblema distintivo, classes sociais usam e abusam desse mecanismo para se
sobrepor. E, para garantir a distância social as classes superiores vêem-se obrigadas à
inovação. As classes inferiores correm para imitar os outros que lhes são superiores, e
estes, por sua vez partem em busca de algo novo que os diferencie.
Esse é apenas um dos aspectos da moda. Aceitar, portanto, que o esquema da
distinção social seja a chave soberana da inteligibilidade desse meio é de uma ingenuidade
teórica assustadora. Já é tempo de desmontar o credo comum de que o realce da moda
encontra-se no dispêndio demonstrativo como meio para significar uma posição, para
despertar admiração e expor um certo estatuto status social. A busca pelo novo passa a
ser a matriz reguladora de um movimento circular interminável, característico da própria
dinâmica do fenômeno.
1.2. A linguagem do olhar na Moda
As representações dos novos estilos, produzidas e propagadas pelos meios de
comunicação social, transformam-se rapidamente e, ao mesmo tempo em que a sociedade
as idolatra, renega. Estar “dentro ou fora de moda”, transforma-se em um jogo perverso que
está sempre em mutação nos diferentes grupos sociais e subculturas diversas. Quanto
mais informações visuais contiverem as coleções, mais atraentes serão.
Tomando a analogia do mundo físico, o olhar não seria apenas comparável à luz que
entra pelas pupilas e delas sai como sensação e impressão, mas teria também
propriedades dinâmicas de energia e calor, graças ao enraizamento nos afetos e na
vontade. O olhar não é apenas agudo, ele é intenso e ardente. O olhar não é só
clarividente, é também desejoso, apaixonado. BOSI (1999) fala do olhar que :
“(...) conhece sentido (desejando ou temendo) e sente conhecendo.
Está implantado na sensibilidade, na sexualidade: a sua raiz mais profunda
2
8
é o inconsciente, a sua direção é atraída pelo ímã da intersubjetividade. O
olhar condensa e projeta os estados e movimentos da alma. Às vezes a
expressão do olhar é tão poderosa e concentrada que vale por um ato. Um
ato de acolhimento: dar (ao menos) um olhar, conceder um olhar, pôr os
olhos sobre alguém, deixar-lhe um olhar - tudo vem a ser prestar atenção,
que é um sinal ou uma esperança de favor (ver com bons olhos) se não de
benévola aceitação. Quantas orações e quantas súplicas se abrem com
locuções como essas! O olhar é linguagem da vontade e da força antes de
ser órgão do conhecimento
2
Na busca da imagem, no complemento necessário para se adequar aos padrões, a
sociedade integralmente consome sem parar indumentárias que possam lhe trazer desejos
e satisfações.
“Todas essas aparências do corpo é que constroem a sua imagem
plena de significados e que tornam esse corpo reconstruído
perceptivelmente ao grupo social, já que pode ser visto em sua arquitetura,
como um construtor cultural, uma assinatura no adensamento de peles,
sobreposição de camadas na busca de uma aparência possível, um novo
significado ao próprio corpo, que, por fim, trabalha essencialmente com a
sedução do olhar daquele que o vê”. (CASTILHO; 2004:107)
O corpo é o grande gerador de linguagens. E há casos em que o corpo, enquanto o
objeto, perde a sua funcionalidade física e adquire um valor comunicativo, a tal ponto que
se torna – acima de tudo – um sinal e permanece objeto apenas em segunda instância. A
moda é um desses casos como explica Umberto Eco:
“Compõe-se de um lado de atos de comunicação, de entidades
gestuais ou sonoras que ‘dizem que’ e, por outro de coisas que
‘funcionam’, isto é, que ‘serve para’. Bem, deve dizer-se que a semiologia
é uma disciplina ambiciosa, com veleidades totalitárias. Quer conseguir
explicar todos os fenômenos da cultura, quer demonstrar que toda cultura
pode ser vista como ato de comunicação, e que até as coisa que ‘servem
para’ de certo modo dizem sempre algo.” (ECO; 1989:80)
2
BOSI, Alfredo. Fenomenologia do olhar em O Olhar. São Paulo: Companhia das Letras, 1999
2
9
Assim, como, a própria nudez é vista culturalmente, conforme nos aponta
CASTILHO (2004), ao dizer que o homem nunca está realmente nu, está sempre revestido
de características que a própria cultura pontua ou parcializa sobre o corpo humano. A
nudez que portamos ao nascer é manuseada na procura de novos formatos de
significação, segundo Anne Hollander:
“Na publicidade visual, panteras e gazelas são muitas vezes
comparadas, também, com carros; suas ‘vestimentas’ que se amoldam
facilmente ao corpo, e que dão uma boa silhueta a todos os exemplos,
oferece um ideal para o modo moderno, o de criar um vestuário que
procure imitar a elegância e a eficiência da natureza. A natureza, é claro,
ordena que os seres humanos sejam completados com roupas, e não que
sejam deixados nus com suas peles insuficientes”. (HOLLANDER;
1996:16)
O desejo moderno é subversivo. A moda, agindo como a ilustração dos
descontentes da civilização contemporânea, nunca tenta domar a fantasia coletiva dando-
lhe forma fixa destinada a durar, ao contrário, está sempre instigando-a, obrigando-a a
encontrar novas e estranhas sugestões em vez de repetir as boas e velhas fórmulas.
Um dado que vale a pena ressaltar é o papel cada vez mais determinante das
marcas ou griffes na construção de imaginários. Esse é um empenho que vem sendo
utilizado de forma freqüente pelos especialistas do mundo fashion e que tem surtido um
efeito bastante satisfatório.
Um caso bem significativo do poder que a marca assume na contemporaneidade
pode ser vislumbrado através da griffe United Collors of Benetton. Depois de ter instituído
um imaginário cheio de jovialidade, descontração, esportividade e muita alegria, a marca
obtêm cada vez mais popularidade e conquista o mundo da Moda com campanha
publicitária voltada, toda ela, para a criação de polêmicas sobre questões sociais que dizem
respeito a: poluição ambiental, preconceito social, religião, entre outros. O olhar é
3
0
preenchido pelos outdoors da Benetton que, curiosamente, pouco mostram a roupa
(mercadoria em questão). A moda Benetton não aparece, o que se vê é o nome, o estilo
que corresponde a um imaginário específico.
Zozzoli (1994) retratou a problemática da marca. Em sua dissertação de Mestrado
argumentou sobre o fato de que a marca não é um signo inerte como supunha a maioria
dos economistas, publicitários, comunicadores, e outros profissionais. A marca agrega
valor-símbolo ao produto, seja um bem, um serviço, uma idéia ou uma organização. Na
verdade, a marca formata fatias de "realidade imaginária", próximas ou distantes das
representações do mundo cotidiano, prontas para o consumidor projetar-se e
eventualmente introjetá-las até conscientemente. "Fenômeno próprio da nossa sociedade a
marca comercial, tal como é fabricada, recebida, conhecida e reconhecida hoje em dia, é
produzida pelo homem, mas também produz o homem, o ambiente no qual ambos
vivem"
3
, radicaliza o autor.
O que se assiste, em última instância, é a própria inversão do valor do estatuto
“mercadoria”. O objeto passa a valer muito menos por si só, pela sua funcionalidade ou
qualidade, e mais pela imagem que sugere, traduz. "sempre ao lado da mercadoria,
consome-se um bem cultural, um sistema de hábitos e valores conotativos de uma
sociedade e de seu sistema ideológico".
4
Nessa perspectiva, pode-se arriscar dizer que,
atualmente, a prática do shopping, por exemplo, tornou-se menos uma simples transição
econômica e muito mais uma interação simbólica em que indivíduos trocam e consomem
imagem.
3
Zozzoli J.C. “Da mise en scène da identidade e personalidade da marca: um estudo exploratório do fenômeno
marca, para uma contribuição a seu conhecimento”. UNICAMP: 1994
4
MARANHÃO, Jorge. A arte da publicidade:,estética, crítica e kitsch. Campinas: São Paulo, l988, p.56
3
1
Dessa maneira, constata-se que a mídia propaga a existência de uma "moda". De
um lado, meios modernos de produção em massa e métodos aperfeiçoados de transportes
e distribuição tornaram possível fornecer cópia de todos os modelos novos e exclusivos
rapidamente, em grande número e a preços relativamente baixos, de modo que as pessoas
de posses moderadas, nas pequenas cidades, podem usar roupas de desenhos
praticamente iguais aos introduzidos, semanas antes, pelas líderes da moda, nas grandes
cidades. Há pouca dúvida de que a causa última e essencial resida na competição;
competição de ordem social e sexual, na qual os elementos sociais são mais óbvios e
manifestos; e os sexuais, mais indiretos, ocultos e não confessos, escondendo-se, como
devem, atrás desses.
Alguns temas podem ser prontamente explicados pela alusão consciente da moda a
alguma imagem específica, tal como o jeito de certos atores ou cantores, ou de atletas ou
governantes, ou ainda pessoas que representam um país ou uma causa nos meios de
comunicação. O que dizer a respeito de uma “febre louca” por certo tipo de gola, a
colocação dos bolsos, o modo de amarrar os sapatos ou o estilo dos bonés? O que
poderiam essas coisas ter a ver com as propensões psicológicas atuais? Quem as inicia e
por que outros realmente as amam? Na verdade, por que apenas alguns as adoram? O que
faz as pessoas seguirem determinadas regras de comportamento e de moda?
Espera-se lançar luz sobres esses aspectos no decorrer do próximo capítulo deste
trabalho, quando será abordado o papel da indústria de confecção, no comportamento do
segmento de moda.
O modo através do qual o corpo freqüentou as mídias diversas, nos últimos dez
anos, sofreu mudanças: postura em publicidade, por exemplo, característica de um período
não muito distante, alterou-se, pois os corpos foram contaminados pelos valores da época.
3
2
Esse movimento é pertinente, em todos as manifestações da cultura popular ou erudita: os
corpos "reais" se adaptam ao meio, criam ideais, desejos, ilusões, e esses "sonhos",
depois, são furtados pelas mídias e devolvidos aos sujeitos como objetos de consumo.
“De modo geral, o corpo é midiatizado pelas mídias e ao mesmo
tempo em que isso acontece, ele"publiciza a si mesmo": tanto o corpo já
midiatizado, como os corpos "reais" que somos. Essa publicização de si é
um recurso utilizado para que o sujeito, através de seu corpo, instaure, em
ato, a sua presença no mundo, em tomo do aqui e do agora. As formas de
apresentação desse corpo – inscrito ou não com inserções na endoderme,
na epiderme ou na extraderme – são maneiras de o sujeito manifestar sua
subjetividade, buscando expressar a manifestação de seu eu – sempre
intermediado pelas formas de aparência”. (MESQUITA; 2000:147)
Ao serem estampados de maneira insistente na mídia, os sujeitos assimilam os tipos
de encenação da imagem, de exposição, e freqüentemente os assumem. É difícil, então,
olhar para a própria imagem, pois o “subjetivo” vem relativamente já lapidado. Os sonhos
são, de certa maneira, furtados por ela e devolvidos ao espectador como objetos de valor a
serem consumidos Ao se acostumar e ao seguir essa devolução de sonhos, o homem tem
sua subjetividade construída pelo discurso e pela textualização dos meios de comunicação
social, e transforma-se, então, numa mídia de si mesmo, propagando tais discursos e,
tendo o corpo utilizado como espaço de manifestação desses discursos.
1.3. A evolução do corpo e da Moda.
A ditadura do corpo esbelto, magro, perfeito e saudável que impera hoje, nasceu
junto com século XX, mais precisamente a partir da década de 1920. A entrada no novo
século, sob a égide da Belle Èpoque, era caracterizada pelo uso do espartilho, forçando o
quadril para trás, enquanto o busto era levantado e jogado para frente.
3
3
Em 1910, Paul Poiret liberta o corpo feminino da “prisão” do espartilho trazendo de
volta o corte império, no qual as cinturas eram altas, logo abaixo do busto, e as saias com
volumes mais amplos e afunilados na boca, muitas vezes obrigando as mulheres a darem
passos mais apertados. Se, por um lado, viram-se livres do espartilho, continuaram de certa
forma aprisionadas nas roupas. Somente durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1919),
ocorreu a verdadeira ruptura dos rígidos padrões impostos pela moda.
A mulher vê-se na necessidade de assumir nova postura e partir para os mais
diversos campos de trabalho, não podendo produzir com eficiência se limitada de
movimentos. Após o fim da Guerra, o mundo viveu o período das principais mudanças e a
roupa assume um papel mais masculinizado, tornando-se andrógina.
O corpo começa a ser valorizado. As pessoas passam mais tempo ao ar livre,
praticam esportes, dançam, começam a surgir os Clubes, e boa parte da vida se passa em
lugares públicos, ou seja, o corpo começa de fato a ser mostrado e conseqüentemente
notado pelo outro.
A percepção da estética ganha, então, mais força, quando uma corrente médica faz
discursos sobre a higienização, associando ao par “esbelto e belo” os adjetivos: saudável e
jovem. Tais discursos favoreciam o desenvolvimento do imaginário que identificava a
beleza à aparência saudável. De fato, ser saudável significava, entre outras coisas, ter pele,
barriga e seios firmes, tez rosada, enfim, conservar o máximo possível o aspecto jovem.
Observado pela óptica do vestuário, o século XX foi caracterizado, cada vez mais,
pelo desnudamento e pela flexibilidade. A aparência física passa a estar amarrada
intrinsecamente ao corpo, e cuidar dele torna-se imperativo; afinal, o corpo é para ser
descoberto.
3
4
Os passos para o desvendamento do corpo impuseram constrangimentos, conflitos
e escândalos. Por exemplo, a bermuda dos escoteiros dos anos 1920 foi bastante
censurada, pois mostrar as pernas publicamente era tabu; tanto que – no final da Segunda
Guerra (1945) – as saias ganham volume. É o New Look de Christian Dior, retomando a
feminilidade em uma resposta negativa aos tempos difíceis da guerra.
Os anos 1950 são quase que uma continuação estética do que se viu na década
anterior. Surgem os biquínis, gerando muitos conflitos entre pais e filhas; a mulher tem uma
vida diretamente voltada para a família e a casa, mas sempre mantendo o requinte. Ela
deve estar sempre arrumada, como se tivesse passado horas para conseguir o resultado
desejado. Assistir televisão era a diversão da família no fim do dia.
Com a chegada dos anos 1960, uma série de acontecimentos mundiais influenciaria
a moda e o comportamento de maneira irreversível. A pílula anticoncepcional desencadeia
a revolução sexual; explodem movimentos feministas; disseminam-se experimentos com
drogas; é deflagrada a valorização do negro; inicia-se o movimento futurista; a minissaia
escandalizou, antes de se tornar voga, ou seja, muitas novas informações em pouquíssimo
tempo, o que gera mais diversidade de estilos de vida e comportamento.
A influência do jovem como indivíduo não pode ser mais negada. Ele despreza a
sociedade de consumo e rejeita a estrutura de vida dos pais. Enfim, ganha espaço para
dizer o que pensa e a que veio. A roupa passa efetivamente a ouvir e a suprir suas
necessidades. O jeans ganha cada vez mais espaço. Surge a moda unissex.
“Expressão das aspirações a uma vida privada livre, menos
opressora, mais maleável, o jeans foi a manifestação de uma cultura
hiperindividualista fundada no culto do corpo e na busca de uma
sensualidade menos teatralizada. Longe de ser uniformizante, o jeans
sublinha de perto a forma do corpo, valoriza os quadris, o comprimento das
pernas, as nádegas”. (Lipovestky ;1999:148)
3
5
Os cuidados com a saúde e a prática esportiva continuam sendo incentivados. Os
banhos de sol passam, de fato, a fazer parte da vida das pessoas. Como não poderia
deixar de ser, as roupas para a prática desses esportes começam a ter características
próprias e são mais difundidas, principalmente entre os jovens. Vale ressaltar que, toda
essa busca de saúde e prática esportiva continua diretamente relacionada à vontade de ser
eternamente jovem.
A exposição pública do corpo ganha cada vez mais terreno. Diante desse padrão
elevado de beleza, as mulheres velhas e gordas perdem valor totalmente, são
praticamente excluídas da sociedade.
Os anos 1970 trazem toda a bagagem jovem da década anterior. O movimento
hippie, começado ainda nos anos 1960, ainda perdura. A volta à natureza torna-se uma
corrente importante, as mulheres buscam cada vez mais espaço no mundo dos negócios, o
que impulsiona a indústria do vestuário a investir em novas tecnologias, desenvolver
tecidos que facilitem a vida dessas mulheres, que procuram praticidade sem perder
elegância, tanto para si como para a família, pois começam a viver a correria dos tempos
modernos. É a partir do final dos anos 1970 que surgem as academias e o conceito de
malhação, concretizados nos anos 1980.
“Nos anos 80, a corporiedade ganha vulto nunca antes alcançado,
em termos de visibilidade e espaço na vida social. As práticas físicas
passam a ser mais regulares e cotidianas, expressando-se na proliferação
das academias de ginástica por todos os centros urbanos”. (CASTRO;
2003: 24)
A mulher se integra de vez no mundo masculino – no que diz respeito ao mercado
de trabalho. Em conseqüência disso, a moda volta a ter uma certa androginia. As mulheres
começam a usar elementos de roupas masculinas, como ombreiras e tailleur. Enquanto
isso, os filhos dos contestadores libertos da década de 1960 são chamados “geração
3
6
saúde” e defendem uma vida mais saudável, sem drogas e com sexo seguro, justamente
quando a AIDS desponta e desaponta.
As estrelas do cinema, consideradas ícones de beleza desde os anos 1930, são
substituídas pelo fenômeno das top models. Não que as modelos não fossem sempre
símbolos de beleza, em décadas passadas, a grande diferença veio nos cachês, que
passaram a ser mais elevados.
1.4. Sejam belos! Sejam jovens!
Todo aquele que deseja seguir o
caminho certo deve conhecer, desde a
juventude, as formas belas; e, quando bem
orientado, aprende a amar somente essas
formas – esse amor o levará a criar
pensamentos sensatos, e logo perceberá que
a beleza de uma forma relaciona-se com a
beleza de outra, e que a beleza das formas é
uma só. (Platão; O Banquete: 210 a.C.)
O corpo, essa memória material de muitas e múltiplas inscrições, vitrine móvel
de conquist
as
científicas e tecnológicas, hoje mais do que em outros tempos, o lugar de
exibição do prolongamento temporal de uma suposta "anatomia juvenil"
É consensual a idéia de que o corpo fala. A anatomia masculina é diferente da
feminina. O tom da pele traz noção de ancestralidade. No final do século 18, o peso se
tornou sinal de prosperidade na Europa burguesa. As pinturas da época retratam gordas
exuberantes.
Com o tempo, a silhueta feminina voltou a afinar. Atualmente, além de sermos
magros, temos que ser jovens. Conforme expresso no depoimento concedido em 2003 por
Denise Sant´Anna à revista Cláudia:
3
7
“A obrigação não é ser jovem, e sim parecer jovem. As mulheres
não procuram, como se diz, transformar-se numa Gisele Bündchen. O
principal é a aparência não corresponder à idade. Acredita-se que quem
consegue driblar as marcas do tempo pode driblar qualquer coisa. Isso é
ser bela e poderosa no século XXI”.
Relacionam-se as dificuldades em permanecer jovem e saudável com o fato de
tomar atitudes transformadoras e significativas em relação ao corpo.
A possibilidade de esculpir-se ou de desenhar o próprio corpo é algo que propicia a
cada um estar o mais próximo possível de um padrão de beleza estabelecido globalmente;
afinal, as medidas do mercado da moda são internacionais. Todo esse esforço só faz
sentido se o pensar sobre moda for deslocado e se for verificado que o fútil (ou o que temos
o hábito de chamar assim) mostra-se finalmente bem menos anódino do que parece à
primeira vista.
A aparência pode refletir, traduzir ou simplesmente veicular idéias tão fortes, agudas,
complexas, sutis, espantosas, que expressa ou provoca, em certos casos, revolta radical,
inédita, definitiva, e parece ser mesmo a única a poder fazê-lo.
A Moda consegue, em última instância, circunscrever determinados espaços sócio-
culturais que acabam por constituir o que se reconhece hoje como tribos. Essas instâncias
são territórios de referência em que as pessoas, os grupos são acolhidos. Neles elas
adquirem, nesse sentido, um estatuto de segurança, um certo quê de familiaridade, de
partilha afetiva que torna a vida, de algum modo, mais tolerável. A exterioridade torna-se ,
então, elemento socializante.
O jovem utiliza-se da estética como um meio de experimentar, de sentir em comum
e é, também, um meio de reconhecer-se. Esse aspecto pode ser assistido de forma mais
radical nos mais diversos "movimentos de estilo", por isso sempre existem indivíduos que
se expressam e afirmam pelo estilo, simples pose de traje ou talvez, por um modo de vida
3
8
global em ruptura com as normas, aceitas à época, da "elegância", do "bom gosto", e da
"respeitabilidade".
Homens e mulheres utilizam-se da aparência como atitude de protesto a um estado
de coisas, de valores, de gostos, de hábitos, de comportamentos. Até mesmo uma certa
visão de mundo ou de protesto, tais como são refletidos pelo traje dominante, pelo estilo
obrigatório ou pela referência estética comum da sociedade vigente, são contestados,
criticados por movimentos “antimoda”. “Ases” da beleza cercam-se de jovens, receando a
velhice, e utilizam-se de estimulantes para preservarem o corpo, aplicando-se massagens,
exercícios, cirurgias plásticas, musculação e, não obstante, acompanham a degeneração
física e mental, ansiosos e desventurados.
O
homem – exposto em plena nudez ou escondido por vezes – expressa a
mentalidade de uma época, os valores predominantes em uma cultura. Ao vivo, esculpido,
pintado, fotografado, o corpo é sempre mais que um objeto de arte ou de mero consumo
visual banalizado: desvela a concepção humana.
O que encobre ou despe é
,
antes de qualquer coisa, o valor ou desvalor
que lhe
é
atribuído, a dignidade ou
a
abominação, fragilidade ou força, natureza
pecaminosa ou
virtude.
As formas que o jovem usa para encobrir o corpo estão sempre carregadas de
valores, freqüentemente em conflito. E valores não apenas estéticos, também éticos,
sociais, culturais, políticos e religiosos. Isto é o que chamamos moda, a expressão de
modernidade do mundo contemporâneo. Pode-se, por exemplo, na nudez ou nas diversas
formas de encobri-la, embelezá-la ou disfarçá-la, acompanhar as transformações dos
conceitos de elegância e de pudor, que cada sociedade e que cada momento histórico
estabelecem.
3
9
Transformações. Este mundo regido por constantes alterações de comportamento,
de necessidades, de desejos. O universo fashion mostra uma evolução incansável na
busca de produtos que justifiquem sua existência, ou seja, reestrutura-se o tempo todo, nos
segmentos da indústria. Esse processo é fruto de inúmeras alterações de valores e rotinas
do homem atual e apresenta-se até mesmo sob outros padrões estéticos do vestuário,
obrigando a indústria a reformular antigos conceitos e a própria dinâmica do processo
criativo
e produtivo.
A sensibilidade atual enraíza-se em um rompimento daquilo que se chamou de
"controle-repressão" e na invenção do que se denomina "controle-estimulação". Esse
traço foi assinalado por Foucault (1984:147) em sua célebre afirmação "Fique nu, mas
seja magro, bonito, bronzeado!". Ou apresente sua sexualidade , mas no interior de formas
socialmente fornecidas e codificadas pelo mercado.
1.5. O peso da magreza.
A passagem do século XX para o XXI, ressalta de maneira intensa uma
característica com fortes princípios: a individualidade, revelada na década dos 1990,
valoriza o fato de ser único e fazer diferença. Em função dessa busca constante e
incansável, o indivíduo passa a conhecer e a visitar outras idéias, além daquelas com que
ele tanto se identificava.
Esse movimento, conhecido como “supermercado de estilos”, caracterizou uma
liberdade, até então nunca vista, de se vestir. Nesse período as Top models ganham
prestígio e cachês extremamente valorizados, tornando-se referências de padrões
corporais.
A beleza assume supra importância para as mulheres e, paralelamente, causa
insatisfação tal que gera impacto negativo sobre a auto-estima. Sendo o corpo fundamental
4
0
para a atratividade feminina e como esta é elemento essencial da sua auto-imagem,
depreende-se que o peso e a satisfação com respeito a ele sejam determinantes para a
satisfação integral da mulher. É comum que elas se vejam sempre acima do peso, mesmo
que isso não corresponda à realidade.
Na idade adulta, a distribuição de gordura corporal varia conforme o sexo,
contribuindo para o formato do corpo e também para a avaliação da beleza. A distribuição
de gordura no corpo é mais semelhante entre os sexos durante a velhice. O processo
envolvido na distinção é hormonal.
A partir da puberdade, por influência do estrogênio, as mulheres acumulam gordura
preferencialmente na região das nádegas e das coxas. Uma quantidade crítica de gordura é
necessária para a menarca e a manutenção do ciclo menstrual.
Os homens, de sua parte, por influência da testosterona, acumulam gordura na
região do tronco, nos ombros e na nuca. Com o aumento da idade a produção de
testosterona diminui, causando acúmulo de gordura abdominal, especialmente naqueles de
hábitos sedentários.
Na menopausa, a distribuição de gordura corporal da mulher aproxima-se do padrão
masculino, o que hoje pode ser minimizado por meio de reposição hormonal. O padrão de
distribuição de gordura corporal pode ser determinado calculando-se a razão entre a
medida da circunferência da cintura e da circunferência do quadril (RCQ). A faixa de
variação típica da RCQ é 0,67 a 0,80, para as mulheres, e 0,80 a 0,95, para os homens
5
.
Diversas evidências apontam para uma estreita relação entre a Relação Cintura e
Quadril (RCQ) e a condição de saúde da pessoa
6
.
5
D. Singh, "Fernale judgement of male attractiveness and desirability for relationships: Role of Waist-to-hip
Ratio and financial status" Journal of Personality and Social Psychology, 69,1995, p. 1089
6
Para maiores esclarecimentos sobre avaliações nutricionais ver
Baiocchi de Carvalho, K. M e
CUPPARI, L
4
1
O
culto à magreza e a obsessão pela atividade física orientada, assim como
pela saúde perfeita , talvez possam compor a nova representação do corpo. Tomando
como exemplo o lugar da gordura, que já foi sinônimo de opulência e até de saúde (e ainda
o é em determinados grupos e culturas), percebe-se claramente uma nova sensibilidade e
tolerância em relação à sua existência. A gordura, hoje, converteu-se
no grande mal a ser
combatido, um mal que, aliado ao sedentarismo, outro vilão contemporâneo, torna-se
objeto de combate incessante, desde a mídia até programas e políticas de saúde pública.
Típico de uma sociedade da abundância o modelo de magreza torna-se imperativo e
pressiona de cima para baixo. Nele, gordura e obesidade são consideradas ruins e até
vulgares. Por isso fala-se, hoje, em uma "estética da magreza" – imposta, sobretudo, às
mulheres, mas não somente a elas.
É o sistema midiático, que opera uma espécie de "intimação" aos "santuários do
culto ao corpo", locais que sempre apresentam alguma "novidade", seja ela adequada à
estação do ano, ao que está na "moda" em outros países, ou a um "novo e moderno"
aparelho milagroso para
exercitar-se.
Hoje o corpo gordo indica uma vida pouco saudável. Como é possível
comunicar intenções através de gestos e, também, pela postura e pela vestimenta, o
apresentar-se ao mundo, para o corpo gordo, é ainda mais complicado . O corpo físico já é
operador e dado fundamental da produção da auto-imagem; o corpo confere ao sujeito uma
história a contar. No entanto, desde os primórdios da humanidade sabe-se o quanto é difícil
fazer parte da vida tal como ela se apresenta em cada circunstância. Talvez porque
viver seja o que há de mais natural e de mais difícil. A histórica divisão entre corpo e alma
expressa, em grande medida, esta dificuldade, principalmente a partir da época moderna,
quando o corpo passou a ser visto muito mais como aquilo que se tem do que aquilo que se
4
2
é. Pelo menos nas sociedades ocidentais, essa separação desdobra-se em muitas outras,
sempre afirmando que o pensamento é algo infinito e inteligente, enquanto o corpo é finito e
ignorante.
Como se vê, historicamente sempre houve divergências de padrões corporais. Antes
querido e tido como sinal de saúde, o excesso de peso passou a ser visto como sinal de
relaxo e doença. O que o obeso pode transmitir à coletividade? “O gordo pode restituir seu
débito à sociedade sob forma de espetáculo e de zombaria. Pode também apresentar sua
corpulência no registro cômico.” (FISCHLER; 1995:74)
Assim estereotipa-se a figura singular do gordo que difere da normatização regulada,
colocada cada vez mais intensamente, por uma série de fatores sócio-econômicos. Vide a
quantidade de pessoas que sonham ser magras, mas vivem gordas, embora sempre em
regimes, dietas e/ou freqüentando academias, para deixar seu físico mais adequado a
esses padrões.
Na imagem do rechonchudo simpático, feliz e risonho encontra-se a aparência roliça
e desequilibrada de alguém que não consegue controlar seus instintos. Desta forma como
se pode diferir o gordo bom do ruim? Quando o obeso é bem-sucedido em outras áreas
(profissional, pessoal) desvia-se o olhar e a crítica de sua aparência corporal para seu
sucesso e suas qualidades. Deixa-se para o segundo plano sua corpulência e enaltece-se a
performance no particular.
É preciso, pois, ao que parece, que exista urna certa adequação entre a imagem
social do obeso e sua corpulência, para que ele seja aceito, classificado como "gordo bom".
Mas qual adequação? Em função de que critérios, de qual caráter simbólico subjacente?
No final das contas, persiste a interrogação: os obesos são culpados ou vítimas?
4
3
Atualmente inúmeras campanhas são feitas para combater a obesidade, como se
somente os obesos estivessem sujeitos a doenças como: Colesterol, Hipertensão e
Diabetes. Associa-se, hoje a magreza ao corpo sadio, até a metade do século XX, o magro
era associado à desnutrição e doença e o gordo ao progresso e saúde.
Isso confirma que a percepção social da boa corpulência mudou. O modelo
dominante afastou-se daquele que reinava no século XIX, daquele que impera ainda hoje
em certas culturas e mesmo em certos estratos de nossas sociedades.
Os critérios, as medidas, os limiares variam fortemente. As categorias parecem
relativamente mais estáveis do que o conteúdo que se lhes atribui. Como lembra Bourdieu,
o corpo é a mais irrecusável objetivação do gosto de classe, que se manifesta de diversas
maneiras. Em primeiro lugar, no que tem de mais natural em aparência, isto é, nas
dimensões (volume, estatura, peso) e nas formas (redondas ou quadradas; rígidas e
flexíveis, retas ou curvas,) de sua conformação visível, mas que expressa de mil maneiras
toda uma relação com o corpo, isto é, toda uma maneira de tratar o corpo, de cuidá-lo, de
nutri-lo, de mantê-lo.
Um dos clichês da história da moda é a ‘vitória da mulher magra sobre a mulher
gorda’ o que leva as feministas dos dias atuais partirem do princípio de que a obsessão
feminina do século XX pela magreza e pela perda de peso é mais um testemunho da
opressão social que recai sobre as mulheres.
Parece ser muito mais complicado do que isso. A exigência da mulher magra, como
ideal estético e de elegância, é reflexo de preocupações mais profundas. A magreza é,
certamente, um ideal para as culturas ocidentais. Noutras sociedades, a mulher gorducha
pode ainda ser um ideal estético e erótico.
4
4
No segundo semestre de 2004, a Top model e superstar Gisele Bündchen, em
férias, passou uns dias no Parque Nacional do Araguaia, no Alto Xingu (Tocantins). A
celebridade, e unanimidade internacional, foi considerada pelos índios como extremamente
magra sem ancas largas, ou seja, inadequada ao padrão de mulher da tribo. Esse é só um
exemplo, para demonstrar que a padronização e o rigor de beleza feminina – muitas vezes
impostos por uma mídia abusiva – destoam do que se refere ao que é ou não valorizado
cotidianamente no corpo. No entanto a moda (mudanças nos estilos do vestuário) é algo
específico da cultura ocidental, com tendência a ganhar e, mais, dominar outras culturas.
Pode-se tomar como paralelo a penetração que a rede de fast-food McDonald’s,
símbolo do capitalismo selvagem, obteve ao inaugurar uma loja em Beijin, pólo e marco
cultural do conservadorismo comunista, até então. A partir disso, observa-se a
transformação que as mulheres japonesas fazem em seus próprios corpos, tingindo e
alterando o formato de seus cabelos, mudando o formato dos rostos, abusando de cores e
acessórios em sua indumentária, valorizando seu exterior.
O ideal da mulher esbelta é, conseqüentemente, relevante para todas as culturas.
Além do mais, a existência de ideais diferentes de beleza noutras sociedades não explica a
razão pela qual a magreza se transformou em um ideal da nossa da sociedade brasileira.
“O culto da silhueta esbelta foi publicamente posto em causa nos
últimos anos de uma forma que o culto da beleza convencional nunca o foi.
É fácil para nós partir do princípio de que a preocupação moderna com a
dieta é apenas parte de uma obsessão ocidental pela magreza, e que em
particular a ‘perda de peso’ é apenas um dos aspectos da opressão das
mulheres. As dietas e o fazer dieta têm, no entanto, preocupado as
sociedades ocidentais pelo menos desde o século dezessete. As dietas
eram parte dos regimes tradicionais medicinais, tais como o ascetismo
religioso. George Cheyne (1671-1743), que era um médico praticante
escocês influente do período imediatamente anterior à revolução industrial,
tinha pacientes elegantes em Londres e em Bath. Ele preocupava-se com
a dieta e a saúde dos homens da cidade, sedentários, das classes altas e
da classe média abastada. Os seus regimes eram versões profanas das
4
5
regras de vida impostas aos Protestantes para o bem da sua saúde
espiritual... Uma”. dieta”. racional mantinha os homens calmos e felizes;
comer e beber irrefletidamente inflamava as paixões e levava à violência e
à libertinagem”. (Wilson, 1989: 155)
Convém citar a pesquisa realizada na Universidade de Flinders, na Austrália
envolveu 332 estudantes universitários e teve como tema: diferenças sexuais com respeito
à satisfação com o próprio peso, restrição alimentar e auto-estima
7
. Embora nessa amostra
as mulheres apresentassem proporcionalmente menor peso em relação à sua altura que os
homens, a impressão subjetiva delas não correspondia à realidade: sentiam-se acima do
peso e gostariam de ser mais magras. Quanto mais acima do peso ideal se sentiam, mais
baixa a auto-estima.
Para os homens, peso real e peso subjetivo estavam positivamente correlacionados
com auto-estima. Isso quer dizer que, maiores fossem e assim se sentissem, mais elevada
a auto-estima, enquanto os abaixo do peso apresentavam reduzida auto-estima. Tais
resultados são congruentes com os perfis ideais traçados para a mulher (tipo mignon) e
para o homem (tipo corpulento).
A busca por esse “corpinho mingnon” produziu um distúrbio, característico da vida
pós-moderna: a bulimia. Essa patologia leva a pessoa a ingerir, em uma refeição,
quantidades superiores de alimentos para, logo depois, sentindo-se culpada, vomitar ou
fazer uso de diuréticos ou laxantes, o que resulta em desequilíbrios fisiológicos e pode
conduzir, em alguns casos, até ao óbito. Para que se tenha noção da gravidade desse
problema, estima-se que 30% das estudantes universitárias brasileiras sofrem desse
distúrbio em algum grau.
7
QUEIROZ , R. Estudo de Estética e beleza - ORG – Ed. SENAC – SP 2000
4
6
Patologia igualmente séria é a anorexia nervosa, outro distúrbio alimentar
característico de mulheres, que respondem por 90 a 95% dos casos registrados. O portador
desse distúrbio come tão pouco que a sua sobrevivência é fortemente ameaçada,
apresentando, muitas vezes, aparência esquelética, e mesmo assim não admite estar
realmente magro.
Na busca da imagem, no complemento necessário para se adequar aos padrões, a
sociedade consome, sem parar, indumentárias que possam lhe trazer desejos e
satisfações.
1.6. A busca de um corpo perfeito.
Essa busca é antiga e, paradoxalmente, atual. Hoje ela tem características
gerais e específicas exigências de um corpo mais e mais magro, em aversão à gordura
e ao peso.
Parece que, na época atual, cada momento é portador de uma nova
possibilidade de antecipar-se ao mal, que tanto pode ser uma doença ou numa
suposta aparição dela em algum momento da vida. Pode ser obesidade (hoje
considerada uma doença), como também velhice, este grande mal a ser “combatido
por múltiplas armas" descobertas, enaltecidas e abandonadas com a mesma
velocidade, em uma época na qual a juventude deve estar inscrita no corpo.
A ambição de conhecer e de controlar o corpo, de adentrar sempre mais e mais
nesse território obscuro e que parece sempre reservar algo a ser ainda explorado,
requer uma compreensão predominante. Para falar do corpo, consultam-se os
tratados de anatomia, de fisiologia, de higiene, de bioquímica. Agrega-se a esse
acervo, em um passado recente como no presente, certa dose de convencimento da
necessidade imperiosa de colocar o corpo em movimento, sem o que não há saúde e,
nem felicidade (e ser feliz passa cada dia mais a ser um a obrigação).
4
7
Não se trata, aqui, de negar a existência corpórea. Trata-se, sim, de pensar um
corpo habitado, pois, como nos diz Nietzche"o corpo é uma grande razão, uma
multiplicidade unânime, um estado de guerra e paz, um rebanho e o seu pastor
.”
8
Na contemporaneidade dos estudos inseridos na área de biologia aos estudos na
área das tecnologias da informação, encontra-se a noção de corpo como uma forma viva,
um organismo complexo, um sistema ordenado por circunstâncias relacionadas entre si.
Compartilha-se um momento em que o corpo natural e o corpo artificial confluem e a
ciência torna a comunicação entre o cérebro e o computador uma via de mão dupla. Assim,
as relações com as “coisas do mundo” são, cada vez mais, mediadas, “interfaciadas” pelas
máquinas. O corpo tem uma função híbrida, torna-se um campo de passagens entre
elementos orgânicos e sintéticos, uma estrutura fluída, dinâmica, como uma comunidade
em que todos os elementos acionam intercâmbios, ou mesmo, um ambiente capaz de ser
transformado e modelado.
Algumas normas de padrões de beleza afetam diretamente o comportamento do
consumidor, tanto que, agitaram o mundo fashion.
No final de 2006, entre novembro e dezembro, ocorreu uma série de mortes
envolvendo pessoas do meio, e um boom de anorexia esteve presente em todas as mídias
do país. O primeiro caso a ficar estampado nas páginas dos principais jornais em 14 de
dezembro de 2006 foi a da morte da modelo Ana Carolina Reston Marcan em decorrência
de uma anorexia nervosa, que dividiu opiniões entre as tops brasileiras. Ana Carolina tinha
21 anos, media 1,74 m e pesava 40 Kg. Algumas das tops acreditam que o caso é uma
exceção, outras, que se trata de um desfecho extremo para um problema não tão raro
8
NIETZCHE,F. Assim falava Zaratustra. Lisboa; Guimarães Editores, 1997, pág.38
.
4
8
assim. Mas todas concordam em um ponto: é preciso ter muita responsabilidade e estrutura
emocional.
Em entrevista cedida ao jornal Folha de São Paulo do dia 17 de dezembro de 2006,
no caderno Cotidiano, algumas das principais modelos do país deram suas opiniões sobre
o assunto: "Infelizmente, com a competição que existe no nosso meio, muitas meninas dão
mais importância ao trabalho e a certos ideais de beleza do que à saúde", disse a top
Gisele Bündchen "Não foi uma coisa isolada. Existem muito mais modelos com distúrbios
alimentares sérios do que a gente imagina", afirma Isabella Fiorentino. "Morrer de anorexia
é raro, mas muitas meninas param de menstruar, não conseguem engravidar. Disso
ninguém fala". Para Isabella que atua desde os anos 1990, a competição está cada vez
mais acirrada, o que leva as meninas a tomarem medidas extremas. "Depois dos 20, não
dá mais para ter corpo de adolescente, e muitas não aceitam isso. E tem o mercado e os
estilistas, que procuram mesmo as meninas mais esqueléticas para a passarela", diz.
Já Mariana Weickert, que atualmente divide seu tempo entre os trabalhos como
modelo e a apresentação do programa "Saca- Rolha", na emissora de televisão Band,
observou que a morte de Ana Carolina deve ser tratada como conseqüência de uma
doença que não tem relação direta ,com o universo fashion. "E uma questão de ter ou não
ter estrutura para agüentar as pressões, que existem em todas as profissões. Neste caso
faltou um tratamento mais sério, porque ela estava muito doente” afirmou.
A modelo Giane Albertoni, também defende a tese que a morte de Ana Carolina foi
um caso isolado ao comentar que perde de cinco a seis quilos antes SPFW fazendo de
forma controlada e, diz que casos extremos como, o de Ana Carolina, são mais raros."Já vi
muitas meninas passarem dias sem comer nada, só com água e cigarro. Eu já fiz minhas
dietas malucas", diz a modelo Luciana Curtis completando o assunto em pauta dizendo que
4
9
é preciso ter apoio, principalmente da família. “Esse mundinho está cheio de mães que
incentivam as filhas a ficarem sem comer. Não adianta procurar um único culpado. O
problema é bem mais complexo." Disse a modelo
9
.
Em menos de uma semana depois da morte da modelo Ana Carolina, em 18/ de
dezembro de 2006 a estudante Carla Sobrado Casalle, de 21 anos, que chegou a pesar
48 kg, morreu em Araraquara (273 km de SP) de parada cardíaca, provavelmente
decorrente de anorexia nervosa, doença que a obrigava a se submeter a tratamento
cinco anos. Carla tinha 1,74 m, pesava 55 kg e usava manequim 34. Mas, na infância, era
considerada uma menina gordinha e, segundo parentes, passou a consumir remédios para
emagrecer. Segundo o jornal FSP, Carla morava com os avós maternos e com a mãe e
cursava psicologia no Uniara (Centro Universitário de Araraquara) desde 2005. Mas, desde
junho de 2006, ela não freqüentava mais as aulas e tinha autorização para fazer provas e
trabalhos em casa em razão de sua saúde.
Dez dias depois, em 28 de dezembro de 2006 outra vítima de anorexia virava
notícia jornalística. Parentes e amigas de Beatriz Cristina Ferraz Lopes Bastos de 23 anos
de idade, que morreu em decorrência de diversas paradas cardíacas pesava cerca de 35
kg, parentes relataram que na adolescência, quando a jovem pesava por volta dos 100 kg,
sofria com apelidos pejorativos.
Com o episódio, todas as atenções voltaram-se aos profissionais do meio,
obrigando-os a discutir abertamente questões importantes, ocultadas há anos sob uma
névoa de desinformação e descaso. Entre elas, a grande incidência de casos de distúrbios
9
Entrevistas concedidas ao jornal Folha de São Paulo em 17 de novembro de 2006 no caderno Cotidiano :
C10 .
5
0
alimentares entre as tops e a falta de regulamentação para uma profissão que depende de
mão-de-obra adolescente.
A anorexia não é um mal causado pelo circuito fashion. Trata-se de um sintoma da
crise de valores, vivida por uma sociedade escravizada pelo culto ao consumo e engajada
na busca frustrante e irracional por padrões de beleza inalcançáveis. No entanto:
(...) é impossível negar que esses modelos estéticos são criados e
divulgados pelas indústrias da moda e da beleza, que faturam bilhões com
a venda de roupas, cosméticos e cirurgias plásticas, apesar de a moda não
causar diretamente os transtornos alimentares, ela contribui muito para a
concepção de beleza em nossa sociedade. (Eric van Furth, presidente da
Academy for Eating Disorders (Academia para Transtornos Alimentares),
ONG Internacional com sede nos Estados Unidos.
Esse discurso é endossado pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) que,
junto ao governo federal, prepara ampla campanha de conscientização. “Não dá para
negar, que numa indústria que vive de aparência, o índice de distúrbios alimentares é maior
do que o resto da população”, afirma a psiquiatra Tatiana Moya, membro da ABP e
coordenadora de um núcleo de pesquisa sobre transtorno alimentares, no Rio de Janeiro.
(Folha de S.Paulo, dez.2006)
A repercussão dessa morte chegou às capitais do estilo, como Paris e Milão, e teve
grande impacto na Espanha, que meses antes havia proibido que modelos magras demais
desfilassem na passarela da Semana de Moda de Madri. O parâmetro usado pelo governo
espanhol foi o índice de massa corporal (IMC), que calcula a proporção ideal entre o peso e
a altura. Garotas com o resultado abaixo de 18, número mínimo exigido pela Organização
Mundial de Saúde (OMC), não participaram do evento.
10
10
No anexo 01 dessa dissertação temos maiores informações sobre o assunto.
5
1
No maior evento de Moda do Brasil, a São Paulo Fashion Week (SPFW) de 2007
lançou também seu pacote de medidas preventivas, entre elas ações defendidas pela ABP,
como a proibição de modelos menores de 16 anos no evento. Outra regra que passa a
valer é a exigência de atestados médicos de todas as tops e das novatas. "Nossa intenção
com estas medidas e com um amplo projeto de educação é informar e mobilizar a
sociedade em torno de um tema tão complexo, que vai muito além da moda. As agências
estão totalmente comprometidas com o projeto e serão responsáveis por verificar a
autenticidade dos laudos médicos", afirma Paulo Borges, criador da SPFW. A exigência de
exame médico já havia sido adotada pelas agências de modelos do país, em decisão
tomada dias depois da morte de Ana C. Reston.
A anorexia é um transtorno alimentar no qual a busca implacável por magreza leva a
pessoa a recorrer a estratégias para a perda do peso, ocasionando importante
emagrecimento. Tem cunho psiquiátrico e sua causa não é conhecida. As hipóteses vão
de distúrbios psiquiátricos causados por alterações neuroquímicas cerebrais a até o
conceito atual de moda que determina a magreza como símbolo de beleza e elegância.
A precisão e a natureza desses exames, no entanto, são contestadas pelos
médicos. Segundo eles, a anorexia só é diagnosticada, por exame sangüíneo, em casos já
muito avançados, além de ser uma doença com raízes genéticas, difíceis de descobrir, e
envolver profunda negação da paciente e da família. “Está entre os distúrbios psicológicos
que mais causam mortes no mundo e exige o acompanhamento constante e individual de
médicos especializados", afirma Táki Cordas, psiquiatra e coordenador do Ambulatório de
Bulimia e Transtornos Alimentares da USP.
Cordas é co-autor do livro Do Altar às Passarelas – da Anorexia Santa à Anorexia
Nervosa, escrito em parceria com a psiquiatra Cibelle Weinberg. Nessa obra, os autores
5
2
fazem analogias entre as jovens anoréxicas de hoje, dispostas a enfrentar situações de
privação em busca de um ideal de beleza "superior", e santas medievais que praticavam
jejuns para alcançar a perfeição espiritual. "O corpo virou um produto do capitalismo. As
mulheres nunca estão magras, bonitas ou bem-vestidas o bastante. É um ciclo de falsas
promessas e frustrações, o que pode ser devastador para uma adolescente que busca
aceitação", diz o psiquiatra. Em meio a essa discussão, os estilistas apóiam as medidas
práticas de controle, mas não abrem mão de escolhas estéticas.
A maioria aponta as meninas “naturalmente magras” como alternativa ideal, por
motivos práticos; elas não interferem na forma da roupa. “Um desfile é um show, uma foto é
para surpreender. Então por que contrataríamos pessoas comuns?”, questiona o estilista
Mário Queiroz. “A moda é um sonho. Quando compramos uma roupa queremos acreditar
que ficaremos parecidos com a garota que a está usando”, afirma Clô Orozco, da grife Huis
Clos, que também defende o padrão atual de beleza das modelos. “Há meninas que são
magrinhas e saudáveis, mas o que tem de ficar claro, é que isso é para muito poucas. Não
há dietas nem tratamentos milagrosos para isso. É preciso mais honestidade,
principalmente quando estamos lidando com os sonhos e as ilusões de milhões de
meninas", declara Eli Hadid, dono da agência Mega, umas das maiores do país.
Segundo Décio Rastelli Ribeiro, presidente da Ford Models Brasil, em depoimento
ao jornal Folha de S.Paulo (dez.2006): “Já teve mãe que chegou à agência oferecendo a
filha para ser modelo e, diante do argumento que a altura dela era insuficiente, disse que a
menina poderia implantar prótese nas pernas. O mais comum é o caso das que prometem
emagrecer até 15 quilos para que se encaixe no biótipo de modelo.”, afirmou o empresário.
Maior celeiro de modelos do planeta, ao lado de países da Europa Oriental, o Brasil
reúne os principais pré-requisitos para alguém querer e poder candidatar-se a ser uma top
5
3
model: “DNA e pobreza”. Sobre isso, acrescenta Ribeiro: “O mercado quer modelos com
biótipo europeu – no mínimo 172 centímetros de estatura e magra, bem magra. Mas uma
menina que provém de uma família com posses terá mais dificuldades para encarar a vida
de modelo, com cachês que começam na casa de dezenas de reais” diz o presidente da
Ford.
A indústria, que movimenta milhões e necessita das beldades para divulgar seus
produtos, abusa dessa necessidade de as novas modelos serem inseridas no fechado e
concorrido mercado, no qual padrões e regras bem claras, definidas e defendidas pela
maioria dos envolvidos no processo. No início, são oferecidos valores irrisórios, aceitos
apenas por aquelas que realmente submetem-se a ser “exploradas”, por causa de uma
necessidade e ou vontade. Se a modelo fizer um editorial de moda, ou seja, ficar horas à
disposição de fotógrafos e editores, receberá entre R$ 70,00 e R$ 80,00. A SPFW pagou,
na última edição (jan.2007), em média R$ 400,00 por desfile a essas “new faces” (novatas).
Se determinada marca de roupas ou acessórios quiser fazer desfiles exclusivos para
as clientes, o que se chama de “showroom”, então, a menina receberá de R$ 200,00 a
R$ 400,00 por um dia inteiro de trabalho. Desse montante, a agência fica com 30%. Em
contrapartida o preço a pagar por esse padrão estético é bem alto. Os jejuns e o uso de
laxantes, anfetaminas e inibidores de apetite são práticas constantes entre as tops. "Eu
mesma já passei muitos dias sem comer por causa da cobrança de estar magra", afirma a
top Isabela Fiorentino, que só pôde ganhar alguns quilos depois de diminuir suas
participações nas semanas de moda.
Compreende-se,então, a importância da forma de linguagem/gestualidade da
apresentação corporal nas relações sociais; como afirma Featherstone (1993: 55) "é
culturalmente codificada para operar como um indicador de poder social e prestígio".
5
4
Aqui cabe, mais uma vez, referir Bourdieu que aponta para a linguagem
corporal como mercadoria de distinção social. O consumo alimentar, cultural e a forma de
apresentação (incluindo vestuário, artigos de beleza, higiene e de cuidados e manipulação
do corpo) são as três mais, importantes maneiras de distinguir-se
Chega-se a crer que a moda (e gerações de escritores e milhões de jornais
contribuíram para essa crença) é uma deusa misteriosa, a cujos decretos devemos
obedecer mais do que entender; pois, realmente, está implícito, que esses decretos
transcendem toda compreensão humana ordinária do porquê da moda.
A sociedade passa a nortear-se, consciente ou inconscientemente, pelas tendências
e aplica-as no dia-a-dia, sejam elas no tocante à vestimenta, seja no padrão corporal, pois
a ânsia de pertencer a sociedade está na razão direta de como os indivíduos se
apresentam. Sempre atenta aos acontecimentos que envolvem e articulam a série de
interesses mercadológicos, a indústria cria, em volta desse movimento, toda a infra-
estrutura, objetivando atender aos interesses dessa grande massa de consumidores.
“Com o surgimento primeiro da burguesia e depois da democracia,
a moda se espalhou inevitavelmente de cima para baixo, até que
finalmente toda a comunidade ficou mais ou menos envolvida como no
caso de quase todos os países progressistas de hoje em dia. Entretanto,
surgiu um número de novas influências tendentes a manter a moda. Entre
as mais importantes, figura uma de ordem definidamente econômica, como
a moda se espalhou, de cima para baixo, a todas as classes, grandes e
poderosos interesses, comerciais ficaram envolvidos e grandes indústrias
foram construídas para abastecer o constante fluir dos novos trajes
exigidos pela moda. Também isto cria um estímulo em ambos os extremos
da escala da moda”. (FLÜGEL, 1996 :65)
Há pouca dúvida de que a causa última e essencial reside na competição;
competição de ordem social e sexual, na qual os elementos sociais são mais óbvios e
manifestos; e os sexuais são mais indiretos, ocultos e não confessados, escondendo-se,
como devem, atrás dos sociais. É certo que a ornamentação tem um valor sexual e social e
5
5
que as formas de ornamentação notáveis e atrativas (de acordo com o gosto prevalecente),
são úteis tanto para fins de atração sexual como para símbolos de posição, riqueza ou
poder, pois seguem a convenção de que quanto mais refinado e decorativo o traje, mais
alta a posição social do portador.
Enquanto prevalecer o sistema de traje 'fixo', cada escala social contenta-se em usar
o traje com o qual está associada. Quando as barreiras entre uma escala e outra se tornam
insuperáveis, quando, em ternos psicológicos, uma classe começa a aspirar seriamente à
posição da que está acima dela, é natural que os sinais e símbolos exteriores respectivos
corram perigo.
No grau de desenvolvimento social em questão, os que estão em determinado
estrato social aprenderam não somente a admirar ,mas, como regra, também a invejar
aqueles que lhes estão acima; tendem, portanto, a imitá-los. Nesse aspecto, nada mais
natural e, ao mesmo tempo, mais simbólico do que começar o processo de imitação
copiando as roupas, a própria insígnia das admiradas e invejadas qualidades.
1.7. A imagem da Moda
A moda age tal qual veículo da imaginação. As utopias, tanto de direita como de
esquerda, que eram elas próprias imaginárias, implicavam o fim da imaginação, nesse
mundo perfeito do futuro. Nunca existirá, no entanto, um mundo humano sem imaginação,
que expresse o inconsciente sempre em busca de uma plenitude. Toda a arte estabelece
uma fantasia inconsciente; o espetáculo que é a moda é uma das estradas que levam do
mundo interior ao mundo exterior. Daí a compulsividade, daí a ambivalência, daí o imenso
trabalho psicológico (e material) que entra na produção do Eu social, do qual as roupas são
uma parte indispensável.
5
6
Feito esse passeio investigativo, percebe-se que talvez a maior radicalidade da
aparência esteja justamente na sua futilidade exacerbada, espetacular, pois são esses
elementos que lhe garantem uma certa liberdade e, nesse sentido, sua eficácia como modo
de expressão. Mas ainda assim se pergunta: de onde viria essa força, essa potência?
Os dândis talvez sejam o melhor exemplo de apologia à estética. Vale a pena,
portanto, analisar um pouco como eles se comportam. Voltados para o exterior, para o
olhar do Outro e deles próprios, libertam-se da atração pela profundidade e substituem-na
pela fachada. Celebram o belo e a estética como modo de vida, ética, ideologia, moral. A
tentativa do dândi consiste, em última instância, em exibir a maneira lúdica de viver, em que
a estetização do homem, das coisas e das relações esteja sempre presente. A aparência —
sobretudo bela — como condição de existência – eis o lema do dândi. Para aqueles que
fizeram a opção pelo aspecto, a máscara acaba por se tornar a realidade. Acontece com a
feição o que acontece com a fé, que nasce dos gestos que a mimam: à custa de
representar tal ou tal sonho, a pessoa torna-se o que ela apresenta. Assim, é inútil procurar
o ‘verdadeiro’ dândi atrás da máscara que o ‘Belo’ forja: o dândi está inteiro em sua
aparência.
Desse modo, pode-se arriscar dizer que a feição instaurada pela moda cresce em
importância justamente porque parece só vir a radicalizar a noção de exterioridade
enquanto a própria essência. A essência é ela mesma o que aparece, o que se dá a ver —
a imagem.
5
7
CAPÍTULO 02
Desenvolvendo
Normas
“É a moda do traje,
que mais forte
influência tem sobre o
homem,porque é aquela
que esta mais perto do
seu corpo e o seu corpo
continua sendo a parte do mundo que mais
interessa ao homem”
Flávio de Carvalho
5
8
CAPÍTULO 2
DESENVOLVENDO NORMAS.
2.1 O corpo desejado
Neste capítulo foram formuladas algumas hipóteses sobre a apreensão que temos
com a representação e a forma dos corpos. A primeira questão a ser formulada é por que a
cada dia, a numeração de roupas varia entre as marcas, que não obedecem a um único
padrão, tornando mais difícil encontrarmos em griffes uma peça do vestuário que esteja
com mesma numeração? O tamanho M , por exemplo, pode apresentar medidas diferentes.
Essa falta de padrão nas numerações das roupas confunde o consumidor.
Outra questão refere-se à procura, à preocupação em estar na moda em relação a
tamanhos determinados por uma indústria que, até certo ponto, também busca respostas.
O que estaria levando esses padrões, preestabelecidos, a ocuparem lugares tão
destacados nas sociedades contemporâneas?
Partindo do princípio de que utilizamos nossas formas corporais em um
cotidiano corriqueiro e casual, obtemos um aproveitamento bastante amplo e intenso do
emprego do corpo como forma de expressão. Esclareça-se que raiva, ódio e cólera já foram
sentimentos atribuídos ao fígado, enquanto a inveja já esteve associada ao baço. No falar
coloquial, cultuam-se várias expressões altamente significantes, todas elas relacionando
partes do corpo a algo que se quer dizer ou significar, tais como: "amigo do peito", "coração
mole", "dedo-duro", "olho-grande", "dar com a língua nos dentes", "pé-frio", "sangue
quente", entre outras.
Ante isso, observa-se que poucas vezes o corpo é avaliado integralmente, de forma
homogênea. O mais comum é segmentá-lo; dividir – à luz de critérios simbólicos ou
5
9
classificatórios – suas diferentes partes que, assim, dão margem a representações
variadas.
A região superior é associada às funções mais relevantes. Na cabeça, encontra-se a
face e nela a boca e os olhos, os órgãos mais expressivos para a comunicação humana ,
marca da identidade da pessoa. Ainda na cabeça situa-se o crânio, sede do cérebro e da
razão, justamente a faculdade que mais distingue homens de animais.
A parte inferior do corpo reúne os órgãos considerados mais “animalescos” menos
"dignos", são eles: os reprodutivos,os digestores e os excretores. Estes encontram-se,
geralmente escondidos e dissimulados, assim como as funções a que correspondem, posto
que se aproximam ameaçadoramente da condição animal, da própria natureza. Caberia
apontar aqui o emprego de nomes de animais – “cobra”, “aranha”, entre outros – dadas as
similitudes, quanto à forma ou aparência, estabelecida entre eles e os genitais masculino e
feminino. Tal relação não é de todo arbitrária, uma vez que reforça e exprime essa
associação entre reprodução e animalidade.
Valeria a pena pensar um estudo meticuloso com o objetivo de avaliar as
peculiaridades atribuídas às variadas partes do corpo - superior e inferior, anterior e
posterior - e os órgãos correspondentes, bem como as representações aí envolvidas,
respeitando-se a distinção entre, a dimensão externa, que se oferece à visão e aos outros
sentidos, e aquilo que lhe é interno, portanto fora do alcance da nossa imediata percepção.
Um corpo intocado constitui um mero objeto natural, e, como tal, associado à
animalidade. Assim, parece imperioso alterá-lo, segundo padrões culturalmente
estabelecidos, para a afirmação da identidade grupal específica. Em outras palavras, o
corpo humano é submetido a um processo de humanização, e a sua experiência é sempre
modificada pela cultura.
6
0
A transformação a ele imposta varia de acordo com cada cultura e também conforme
os diferentes segmentos sociais no interior de um mesmo grupo. Dentre essas
transformações, a extração de dentes, amputação de membros, perfuração de órgãos,
deformação de pés e crânios despontam como as mais impressionantes. Respeitados
certos limites, cada cultura define a beleza corporal à sua própria maneira. O mesmo ocorre
com a classificação e com a avaliação das diferentes partes do corpo, além das
decorrentes associações estabelecidas entre tais partes e determinados atributos, positivos
ou negativos.
Hoje o corpo indica a moda, antes era o contrário. Várias das características
femininas, relacionadas à atratividade e à sinalização sexual, têm sido acentuadas pela
moda e cirurgia plástica - implantes de silicone, lipoaspiração, entre outras. Outrora as
mulheres puderam obter a cintura fina com ajuda de corpetes. Em alguns casos, elas se
amarraram tanto que chegavam a produzir compressão de costelas e outras deformidades
internas.
Atualmente, vendem-se meias-calças com enchimento, "a meia do bumbum",
enquanto sutiãs com armação criam a impressão de seios firmes e arredondados, e os
dotados de enchimento, que já estiveram mais em voga, aumentam-lhes o volume. A
cirurgia plástica permite alterações ainda mais drásticas: recria a forma e a firmeza típicas
de seios jovens, provoca aumenta por meio de inserção de silicone ou redução ao remover
o que neles parece excessivo. Deixa de ser paciente, para tornar-se cliente.
Algumas pesquisas empíricas foram realizadas visando esclarecer a relação
entre capacidade de atração e o tamanho dos seios. Gitter (1983)
11
entrevistou vários
11
Gitter, A. "Perception of Female Physique Characteristics by American and isracli students', jounal of Socíal
Psycbology, 121, 7-13, 1983.
6
1
homens e verificou que eles preferiam mulheres dotadas de seios grandes, ao passo que
para as mulheres eram mais favoráveis as modelos com seios pequenos. No entanto, seios
grandes em mulheres obesas não são considerados atraentes pelos homens, como aponta
Low (1979)
12
. Por sua vez, Kleinke & Staneski (1980)
13
verificaram que, segundo o
julgamento de avaliadores de ambos os sexos, mulheres de seios pequenos foram
definidas como competentes, ambiciosas, inteligentes, morais e honestas, atribuindo-se
características opostas àquelas de seios avantajados. As representações dessas imagens
são construídas o tempo todo.
Uma pesquisa antropométrica encomendada há alguns anos, por uma empresa
nacional fabricante de blue jeans, cujos moldes seguiam à risca as medidas adotadas nos
Estados Unidos, revelou que as brasileiras têm em média as pernas mais curtas e o quadril
mais largo que as norte-americanas. Em decorrência desses resultados, a empresa adotou
um novo corte na confecção das calças jeans, que se tornaram assim mais confortáveis.
Restaria encontrar uma boa explicação para essas diferenças anatômicas que parecem
corresponder à preferência dos brasileiros pelas mulheres de nádegas mais salientes. No
Brasil, mulheres de quadris largos são avaliadas como sensuais e "parideiras".
O progressivo desnudamento do corpo, em especial o feminino, está associado ao
que a mídia chama freqüentemente de “culto ao corpo” – nada mais é do que a exaltação
da beleza física em si, independentemente de atributos morais. Hoje, essa busca pela
beleza corporal alcança o mundo dos homens que também procura esculpir seus corpos,
estimulados pelas mulheres.
12
B. S. Low, "Sexual Selection and Human Ornamentation", em N. A. Chagnon & W. irons (orgs.), Evolutionary
Biology and Human Socíal Bebavior (North Seituate, MA: Duxbury, 110, 1979).
13
C. Kleinke e R. Staneski, 'First Impressions of Female Bust Size". Journal of Social Psycbology, 123-
34,1980.
6
2
O remapeamento e a supressão das áreas proibidas não-proibidas, a valorização e
a erotização da topografia do corpo masculino pela mulher quebram tabus e criam uma
espécie espaço de exaltação do físico belo – o culto ao corpo – comum aos dois sexos.
Pelo menos na sociedade brasileira atual, uma das regiões mais valorizadas, na
redefinição da topografia simbólica do corpo, é a bunda, eufemisticamente chamada de
“bumbum”, para tornar a expressão mais deglutível socialmente. No imaginário popular, a
bunda é vista como “preferência nacional”, no plano estético erótico. Já nos Estados
Unidos, a preferência é pelo seio volumoso que, segundo alguns críticos, pode denotar
complexo de mama, a valorização de um dos pontos mais nobres do corpo da fêmea, que
no fundo, associa-se à preservação da vida, via amamentação.
Para usar metáfora de inspiração geográfico-espacial, enquanto a preferência norte-
americana se situa no alto corporal e ao Norte do Equador, a brasileira se localiza no baixo
corporal e ao Sul do Equador. Na caricatura paradisíaca deste hemisfério, o dionisíaco
reina e suplanta o apolíneo.
Preferência nacional ou não, sustentada pela mídia ou não, a verdade é que a bunda
constitui a região mais visada por esse processo de construção escultural do corpo -
feminino e masculino - no Brasil urbano. O rebatizado semântico de nádegas compõe um
artifício simbólico de desanirnalização dessa parte do corpo. "Bunda" é vocábulo que
substitui, no português do Brasil, o termo "rabo", de uso freqüente até hoje em Portugal e
presente na própria mensagem publicitária divulgada pela mídia daquele país. No Brasil
rural e urbano, o termo rabo, como sinônimo de “nádegas", continuar a viver seletivamente
apenas nos domínios da agressão verbal e do erótico grosseiro. Assim, é expressão de
rebaixamento moral do "outro", pois o lança para o plano animalesco.
6
3
Em síntese, esses símbolos se desenham no amplo painel da miscigenação da
população brasileira que, em seus fundamentos, é a permuta de caracteres biológicos entre
corpos raciais distintos. Se essa não altera substancialmente o individuo, que continua,
anatômica e fisiologicamente, dentro dos limites corporais, atribui-lhe novos significados.
Estes podem ser negativos, ou podem ser positivos. Esse processo se torna um dos
dilemas desta sociedade pluriracial como a brasileira, que oscila ambiguamente entre a
pureza racial miscigenação, considerada por Paulo Freire como problema secular do país.
Avaliada positiva ou negativamente, em termos circunstanciais ou não, teorizada ou
apenas percebida superficialmente, a mistura das raças é um dos traços marcantes da
população brasileira. Esse traço se impõe com força no cotidiano do povo e no imaginário
nacional, marca as reflexões científicas e ideológicas e serve de apoio para
pronunciamentos políticos que reafirmam no exterior a imagem de um país onde o convívio
interétnico é tolerante e até harmonioso.
Nesse contexto de criação de símbolos corpóreos de identidade nacional, a loira é
vista com ambigüidade: de um lado, simboliza o valorizado ideal de ocidentalização da
sociedade brasileira, de outro, é algo estranho ao país autêntico e tropical, identificada que
é à paisagem populacional dos estados meridionais do Brasil .
Essa identificação estereotipada entre o tipo físico e a geografia brasileira ,
diretamente ligada aos padrões de distribuição e fixação dos diferentes grupos étnicos pelo
território, torna a loira um tipo estético da autêntica beleza brasileira. Seu reinado pode ser
visto como capricho cíclico, questão de "moda" e, como tal, está se findando, pois chegou o
momento de a morena reassumir o papel histórico do corpo que, com mais autenticidade,
representa ou simboliza a mulher brasileira. Será? Só o tempo dirá, ou melhor, a mídia dirá!
2.2 Isso é o meu corpo ?!
6
4
Como afirmado anteriormente, o corpo intocado é objeto natural, muito próximo à
animalidade. A identidade grupal específica estabelece-se por marcas deixadas por:
escarificações, perfurações, tatuagens e mesmo mutilações (circuncisão, extração de
clitóris). Estes são sinais de pertinência, de identidade social, ao passo que assinalam a
condição tida por autenticamente humana daqueles que as exibem.
O corpo é a evidência que acompanha todo ser humano, do nascimento à morte, e
é, contudo, finito, sujeito a transformações nem sempre desejáveis ou previsíveis. Com o
tempo, mudam-se:formas, peso, funcionamento e ritmo. Talvez. por isso mesmo, não seja
certo que todos estejam completamente habituados e satisfeitos com o seu
desenvolvimento.
O corpo de cada um pode parecer extremamente familiar e concreto em certos
momentos, porém, em outros, bastante desconhecido e abstrato
.
Assim, diferentemente de estruturar uma história do corpo, talvez seja mais
instigante e viável realizar investigações sobre algumas das ambições de governá-lo e
organizá-lo, conforme interesses pessoais ou coletivos. Reitere-se que cada vontade de
manter o corpo sob controle, por exemplo, é constituída por fragilidades e potências,
expressando especificidades e generalidades culturais.
O corpo e sua carnalidade talvez fossem o último lugar onde se aplicaria a idéia de
construção. Pensá-lo como organismo causa estranhamento especialmente pelo fato de
ele, em sua originalidade, ser um aparente reduto do imediatismo: é tudo o que temos e é
através dele que vivemos a realidade. Logo só vai se caracterizar como algo realmente
vivo quando o tomado como desejável. Visto assim, como lugar mesmo do desejo, ele é
fruto de uma construção, pois – ao superar a dicotomia objetivo-subjetiva – inclui em si
todas as topografias do inconsciente em sua complexa relação.
6
5
A verticalidade não é apenas uma postura de humanização que marca a evolução
de uma espécie, considerada singular a partir de outro processo evolutivo paralelo : o da
humanização. Ela está estreitamente associada à vida, que suporta, como ritmo natural,
breves períodos de quebra, expressos na posição escolhida pelo corpo, pelo menos na
cultura ocidental, quando o homem está dormindo ou ortodoxamente, o ato sexual.
A horizontalidade, por sua vez, é a negação do humano e da vida: é anti-humana,
pois o homem ostenta a posição vertical como uma das características que o difere das
outras, e é a negação da vida, porque, além de ser uma posição corporal inerte, esta
impregnada de simbolismo ligado à morte.
O homem, reduzido simbolicamente às proporções biológicas, transforma-se em
"organismo". Os restos mortais, centro do complexo ritual de separação, que é o ritual
funéreo, serão lavados, velados e, finalmente, sepultados. Em certas culturas , a chegada
do cadáver ao velório, onde permanecerá na posição horizontal, faz-se de forma especial:
o enunciador altera a postura e o tom da voz, procurando o tom de reverência que o
homem na vertical deve ter em relação ao homem na horizontal. É o corpo vivo
proclamando e reverenciando o corpo morto. Nessa tradição cultural, estabelece-se uma
ligação metafórica entre a morte biológica e a morte social, conduzida pela horizontalidade.
Entre populações interioranas é corrente a expressão: "estar numa pindaíba
danada". Essa frase indica a horizontalidade do indivíduo no plano social, usada para
afirmar que a pessoa está "sem dinheiro", "com dificuldade financeira", na planície de
miséria, fora do circuito do ganho e do consumo, excluída das instâncias vitais que definem
uma sociedade de classes. Isso porque – antes do uso de caixão – a pindaíba era a
madeira utilizada para sepultamentos, por ser fina, resistente e, ao mesmo tempo, flexível.
6
6
Estendia-se o corpo horizontalmente em um lençol ou rede, sustentado por duas varas de
pindaíba, sobre os ombros dos vivos.
Mudaram-se as formas de conduzir o indivíduo para a sepultura, mas conservou-se,
no vocabulário, talvez até no imaginário popular, a forte união entre a morte biológica e a
morte social, "horizontalizando" o pobre na estrutura social de hierarquias. O pó deve tornar
ao pó, isto é, o corpo deve voltar a terra e desfazer-se na natureza.
O corpo era definido por ser composto dos elementos da natureza, tais como: terra,
água, fogo e ar, para os filósofos da Antiguidade. Entre eles temos há a figura de Platão,
aquele que afirmou a existência de uma alma imortal, contraposto a um corpo que
sucumbe. É nessa alma imortal, segundo Platão, que se encontra acoplada a inteligência
do homem, em movimentos circulares e perfeitos, tal como os executados pelos astros
celestes. Por isso ele considerava que um corpo doente não seria somente um resultado do
desequilíbrio entre os quatros elementos, como era visto antigamente, mas sim
acrescentava a esse desequilíbrio a existência da superioridade da alma, imortal, sobre o
corpo enquanto os elementos (terra, água, fogo e ar) permanecem integrantes dos corpos
e da natureza. Ou seja, para Platão a apropriação entre o cosmo e a vida humana se
modifica mas não é desfeita
14
Encontra-se essa apropriação também, na obra de um outro filósofo da Antiguidade:
Aristóteles (384-322 a.C.). Filho de um médico e considerado o fundador do que mais tarde
se chamará biologia. Aristóteles falava que nos astros e nas pessoas adultas, não existia
algo em potencial a ser atualizado, melhorado, mesmo sabendo que o homem é constituído
de matéria e que esta pode resistir à perfeição.
14
Platão, Diálogos: Banquete, trad. Direta do grego por Jorge Paleikat, 20. ed. RJ. Ediouro, 1996.
6
7
Assim, para ele a vida adulta e perfeita não está associada aos movimentos dos
astros, mas sim em relação aos atos próprios, pois a finalidade já foi atingida, ou seja, a
forma adulta já foi alcançada. Isso significa dizer que, tanto o doente como o imaturo,
precisaria locomover-se para alcançar a saúde ou a perfeição. Ele considerava a doença
como acidente, não encontrando no homem a forma cadáver de Platão, mas dizia que o
homem deveria caminhar em direção à perfeição.
Este sumário texto não se propõe a detalhar o conjunto de tais diferenças (entre
Platão , Aristóteles e até de Hipócrates) mas não poderia deixar de sublinhar a importante
idéia aristotélica de que a alma é a "forma" do corpo, o seu princípio dinâmico. A alma é,
portanto, ligada ao corpo. E este, por sua vez, é composto de alma e matéria. Pode-se
suspeitar que a alma se opõe muito mais à matéria do que ao corpo. Mas, mesmo assim, a
matéria não existe sem a forma e esta não existe em estado puro.
Se para Platão uma mesma alma podia vagar, passando de um corpo a outro, para
Aristóteles, ao contrário, uma alma não existe sem um corpo e não se identifica com
qualquer corpo.
“Enquanto a alma é pensada em termos positivos e dotada de
imortalidade, o corpo permanece mortal, aquilo que impede o homem de
conquistar uma contemplação serena da vida. Considerado seu duplo
vergonhoso, o corpo padece e está fadado a padecer, pois, diferentemente
da alma, está submetido aos ciclos naturais, as flutuações do desejo, aos
perigos da corrupção. Afirma-se uma concepção, que atravessará os
séculos, na qual o humano tem um destino original em relação à natureza,
graças a sua alma imortal: Homem e natureza, tanto quanto alma e corpo,
se afirmam como termos opostos.” (apud SANT’ANNA; 2006:13)
O homem torna-se, assim, um ser que possui uma relativa independência em
relação ao cosmo, uma vez que possui dentro de si a verdade, ou seja, ele é munido de
alma. Seguindo esse raciocínio judaico-cristão, é através da alma, e não do corpo, que o
homem pode ver Deus. Por conseguinte, na medida em que o corpo dificulta essa visão,
6
8
ele tende a ser execrado, considerado um obstáculo à descoberta da verdade e à
salvação.
Ao buscar na raiz do termo Corpus, encontra-se o significado, em latim, que a
matéria faz oposição à alma, por extensão pode-se entender o sentido de “cadáver”. A
maioria das línguas modernas conserva o mesmo significado.Na língua inglesa chama-se o
corpo morto de corpse; em francês, utiliza-se a expressão levée du corps , como sinônimo
de “encomendar o defunto”; na língua portuguesa, toda vez que ouvimos a expressão: “o
corpo está sendo velado" compreendemos sem dificuldade o sentido dessa frase.
Ao utilizar a palavra corpus para passar a indicar objetos materiais, distancia-se do
que se refere a “animado” ou “inanimado” ,isto é, em oposição àquilo que os sentidos
humanos não podem captar. Em sua raiz indo-européia, krp, significa "forma", e em certos
contextos continua nomeando o "cadáver", a matéria e as substâncias dotadas de um
artifício de organicidade, sentido que se mantém, aliás, nas línguas modernas, quando se
fala em "corpo de assistentes, corpo de bombeiros"; "corporação"; em "corporeidade".
Para o Ocidente cristão e herdeiro do pensamento grego, o corpo surge num jogo
semântico com sua sombra - alma, consciência, espírito - instaurando uma obstinada
dicotomia que continua a investir no saber mais espontâneo sobre o mundo, dos mais
remotos tempos até os mais modernos.
Esse percurso filosófico vem dos medievais a Descartes, embora este último tenha
sido a vítima exemplar de uma curiosa ironia: tornou-se ponto de partida de uma cisão
radical. Quando suas Meditações alcançam o momento em que se torna possível enunciar,
enfim, a união estreita entre alma e corpo, o fundador da filosofia do cogito – para a
modernidade – foi o divisor entre a "coisa dotada de extensão" e a "coisa pensante". Aos
discípulos pareceria cada vez mais difícil compreender a união da alma de natureza
6
9
espiritual ao corpo que não passava de algo apenas mundano. E, quando o corpo não é
considerado não mais a sede da alma, nem a morada da subjetividade, mas principalmente
sua expressão mais autêntica e real, é somente por meio dele que se colocam em
evidência as intenções e as forças de cada ser humano.
“Nessa situação, o corpo é escolhido como lugar de explorações e
experiências as mais diversas porque é considerado a "última posse que
resta ao indivíduo, ou o único território no qual o ser humano pode exercer
a sua liberdade de transformação. Numa cultura que reconhece as
pessoas a partir daquilo que elas possuem e daquilo que elas conseguem
acessar, ter um corpo e suas "senhas" de acesso, representa uma riqueza
invejável. Por isso, é preciso ostentar isto que se tem, frisar a posse, para
si e para os outros. É preciso acreditar que o corpo que "se tem" é de fato
totalmente possuído por seu proprietário, completamente disponível diante
de suas vontades e sonhos. Uma das melhores provas de que "se tem
totalmente o corpo que se é" talvez seja exibir uma aparência que
coincide completamente com o que se deseja a cada momento. Nesse
caso, qualquer distância entre o que se quer do corpo e o que ele é torna-
se um grande problema, uma fonte de descontrole e de sofrimento”(
SANT’ANNA; 2006: 19)
É possível questionar, então, se toda manipulação do corpo guarda vínculo com a
idéia primitiva de sacrifício?
Acredita-se que essa forma sacrifical esteja ligada à invasão do corpo pelas
tecnologias recentes, ensejadas e viabilizadas pelas técnicas digitais. Se a estética for
assinalada não como relação com a beleza, mas, sim, como a relação com o mundo dos
objetos, pode-se dizer que há estetização do espaço tecnológico. É no bojo dessa
estetização que ressurge a forma sacrificial.
Na contemporaneidade, desde os estudos, inseridos na Biologia aos da Tecnologia
da Informação, observa-se a noção de matéria como forma viva, organismo complexo,
sistema ordenado por circunstâncias relacionadas entre si. Compartilha-se um momento
em que o corpo natural e o artificial confluem e a ciência torna a comunicação entre o
cérebro e o computador uma via de mão dupla.
7
0
No cotidiano, as relações com os “eventos do mundo” são cada vez mais mediadas,
interfaceadas pelas máquinas. O corpo tem uma função híbrida, torna-se campo de
passagens entre elementos orgânicos e sintéticos, estrutura fluída, dinâmica, como
comunidade em que todos os elementos acionam intercâmbios, ou mesmo como ambiente
capaz de ser transformado e modelado.
Barthes (1998: 65), por acreditar que realmente existem vários corpos, afirma:
(...) na verdade, notamos que várias disciplinas e ciências abordam
um certo corpo humano, e que esses corpos dificilmente se comunicam.
Hoje, o corpo humano parece um objeto científico tão heteróclito como era
a linguagem no início do século passado quando uma grande lingüística
como Saussure conseguiu reunir vários pontos de referência.
Excetuada a clonagem, que seria uma classe especial de manipulação por se
constituir um modelamento do código que dá origem ao corpo, podemos nomear três
categorias de modelamento tecnológico: da ordem funcional, de ordem artística e de ordem
estética. Logo, há vários corpos em um só.
A manipulação de ordem funcional seria caracterizada pelas intervenções cirúrgicas
(também uma forma de remodelamento) e por instalações de próteses operacionais que
visam corrigir, re-educar, reparar ou mesmo efetuar uma manutenção orgânica.
O engendrar de ordem artística assume de forma radical a idéia do corpo como
construção e trabalha na fronteira entre arte, medicina e novas tecnologias; usa-o como
suporte mesmo da expressão, como se não houvesse mais mediação entre o artista e sua
obra.
A manipulação de ordem estética, que pode ser chamada também de ordem
cosmética, compreenderia as intervenções cirúrgicas e os programas de treinamento
(apoiados ou não por substâncias químicas) que, visando a um modelamento da imagem
7
1
da pessoa em função de uma pretensa inclusão sociocultural, terminam por impor a
anulação do sujeito e sua objetificação
15
.
Este modelamento e essas próteses de ordem estética são imposições de forças
externas ao sujeito, ou seja, demandadas pelo outro, quer para obter um modelo de
perfeição imposto pela mídia, quer para atender a conjunção cultural que estabelece
tendências e modismos.
Aparentemente uma resposta ao desejo do próprio sujeito, essa manipulação tem –
em última instância – a pretensão de escapar às tramas lingüísticas nas quais corpo e
desejo se enredam, como se o desejo mesmo pudesse ser fixado e objetivado. Essa
relação mais se aproxima daquele modo sacrifical de viver, sem poder assumi-lo, porque
sem os rituais, sem os mitos, não há mais os meios para tal.
2.3 A moda e o comportamento.
Diante do ser humano multifacetado desse século, surge a necessidade de
compreender o comportamento do consumidor de moda e como este faz suas escolhas
dentro do campo da moda.
O comportamento de compra do consumidor é influenciado por fatores de cunho
cultural, social, pessoal e psicológico. Para Blackwell (1998:7) "o comportamento do
15
Filos. Nas correntes dialéticas contemporâneas, momento em que o homem faz a dissociação entre o
produzir, que lhe é peculiar, e o produto, de forma que o possa conhecer, e torná-lo objeto da sua consciência.
(MICHAELIS, 1998: 1473)
7
2
consumidor é definido como as atividades que as pessoas se ocupam quando obtêm,
consomem e dispõem de produtos e serviços”.
Hoje, com a globalização de mercados, o desafio das empresas é criar uma
vantagem competitiva para diferenciar os produtos uns dos outros e atender nichos
específicos de mercado. Ao vender um produto, vende-se também um conjunto de valores,
expectativas e emoções. Os simbolismos agregados aos produtos estão apoiados tanto em
aspectos funcionais como em aspectos afetivos e subjetivos. Os consumidores buscam
produtos compatíveis com suas expectativas e desejos; e que ao mesmo tempo sejam
congruentes com sua auto-imagem. Deste modo, o caráter simbólico dos produtos
possibilita aos consumidores criarem diferentes significados e utilizar tais produtos como
meio de comunicação.
“De modo geral, o consumidor de moda aprende que diferentes
papéis são acompanhados por produtos e atividades que ajudam a definir
esses papéis. Do mesmo modo que acontece com um ator, ele precisa do
figurino e da locação exata para situar-se no mundo em que vive ou no
qual se projeta. Então tende a comprar um tipo de roupa que reflita seu
papel e posição na sociedade, ou seja, escolhe produtos que demonstrem
seu status: a maneira como cobre seu corpo, enfim, funciona como uma
espécie de escrita que vai registrando que
esse
indivíduo é e como vive sua
vida". (Garcia e Miranda, 2005:26)
Muitas vezes, os produtos passam a ser vistos como extensões dos usuários porque
são percebidos como constituintes da própria identidade desses indivíduos. Munidas de
seus objetos, muitas pessoas sentem que estão preenchidas ou que eles até
complementam partes pouco desenvolvidas de sua personalidade. Elas se apóiam nas
associações simbólicas ao se apoderarem dos produtos. Estes servem como auxiliares
para desempenharmos os diversos papéis exigidos no dia-a-dia. Segundo apontam Garcia
e Miranda (2005: 73):
7
3
“Se os consumidores não são orientados apenas pelo aspecto
funcional de vestimentas e adornos, torna-se evidente que seu
comportamento é significativamente afetado pela identificação entre eles e
os bens que buscam adquirir. Uma vez que os consumidores usam a moda
para representar tipos sociais específicos e formar senso de afiliação ou
desassociação com a construção de identidade por eles idealizada,
podemos concluir que o uso proeminente da moda é desenvolver senso de
identidade pessoal".
Conhecer o cliente nos seus detalhes é uma alternativa para garantir a permanência
num cenário tão competitivo como o atual. As empresas que buscam adequar-se às novas
tendências têm colocado-o como foco.
Para entender o mercado consumidor também é importante compreender os códigos
culturais e os sistemas de signos. O fracasso de alguns produtos deve-se ao fato de não se
levar em consideração as expectativas de uma determinada cultura.
Saber perceber os sinais emitidos pelos clientes pode ser a chave para o sucesso de
uma empresa. Para Castilho e Martins (2005:33), a proposta de criação de qualquer traje
como "discurso” é instaurado com base na percepção do meio circundante que consegue
imprimir nessa criação as qualidades ou problemáticas de seu tempo, que respondem a
uma maneira de o sujeito integrar-se ao universo de valores até então estabelecidos.
Então, as tendências de moda não são construídas no vácuo. Elas vão ao encontro
das expectativas sociais e culturais. Hoje, a moda, além do caráter funcional, agrega valor
aos seus produtos pelos simbolismos incutidos nos itens em voga. Os consumidores
sentem-se impelidos a consumir não pelo produto em si, mas pelo conteúdo que significa.
É
nesse sentido que se pode assinalar a importância do estudo do comportamento do
consumidor no do campo da moda, assim como, do contexto sócio-histórico no qual este
está inserido. Ao buscar conhecer as aspirações dos compradores, as empresas atendem
expectativas, valores e fantasias deles.
7
4
"O conhecimento preciso da evolução do contexto econômico,
social e político de uma determinada sociedade é necessário à
compreensão da distribuição estatística dos diferentes itens de consumo. A
antecipação da evolução das necessidades e desejos, no meio dessa
comunidade, permite o estabelecimento das regras dinâmicas da evolução
desse esquema". (Allerrés; 2000:63)
Logo, os indivíduos utilizam o vestuário como forma de comunicação, de estabelecer
um diálogo com os outros e com o mundo. Encontra-se no corpo uma forma de construir
linguagem, seja através do vestuário ou de outros itens de consumo que incorporamos no
nosso repertório comunicacional.
“O sujeito, por meio do corpo como suporte e meio de expressão,
revela uma necessidade latente de querer significar, de reconstruir-se e
recriar-se por meio de artifícios ‘inéditos’, geradores de novas significações
e desencadeadores de um estado de conjunção e disjunção com os
valores pertinentes a sua cultura”. (CASTILHO;2004:50)
Portanto a moda busca propor novas formas de redesenhar o corpo e de utilizarmos
os simbolismos agregados aos produtos; que se modificam e se atualizam de acordo com o
contexto social, histórico e econômico de cada época.
A moda é composta por um intrincado sistema de códigos que serve como
sustentáculo para as diversas representações da subjetividade do homem moderno. A
relevância da publicidade nesse contexto tem uma razão clara. Na própria estrutura
implicativa do seu discurso encontra-se a imbricação total entre processos de mediação
social e processos de identificação imaginária. A função econômica dsse agente de
mediação entre consumidores e produtores submete-se a uma função social de integração
dos sujeitos e de seus desejos, por meio da criação de sistemas simbólicos de identidades
e diferenças, de onde se segue o caráter eminentemente implicativo da imagem publicitária,
imagem esta de partilha e persuasão do comportamento de consumo que acaba por
influenciar o modo geral de nossas escolhas de objeto.
7
5
Preocupado em denunciar o consumo como o elemento central e redutor das
sociedades capitalistas, Baudrillard (1985 141) considera beleza corporal um signo com
valor de troca. "A ética da beleza, que também é a da moda, pode definir-se como a
redução de todos os valores concretos e dos valores de uso do corpo (energético, gestual e
sexual) , ao único valor de permuta funcional que , na sua abstração, resume por si só a
idéia de corpo glorioso e realizado".
A desordenada preocupação por adquirir, a qualquer preço, equipamentos,
veículos, objetos da propaganda alucinada; a ansiedade para ser bem-visto e acatado no
meio social; o tormento para vestir-se de acordo com a moda exigente; a inquietação para
estar bem informado sobre os temas sem profundidade de cada momento transtorna os
equilíbrios emocionais da criatura, arrojando-a aos abismos da perda da identidade, à
desestruturação pessoal, à confusão de valores.
Aprofundando-se no exame de valores, distingue-os, passando a viver conforme os
padrões que estabelece como indispensáveis às metas que persegue, porquanto pretende
constituir-lhe a felicidade. Gerando instabilidade entre o que demonstram e aquilo que são
realmente, surge o pavor de serem vencidas, deixadas à margem, desconsideradas. O
mecanismo de fuga da luta sem quartel apresenta-se como alternativa saudável, por
poupar esforços que lhes pareçam inúteis, desde que não se sintam inclinadas a usar dos
mesmos métodos de que se crêem vítimas.
É mito dizer que se está à vontade com o corpo. O individuo imagina e sonha
possuir um corpo perfeito, segundo os próprios arquétipos míticos ou romanescos. Ao
constatarmos a realidade, deseja algo mais, logo, idealiza um novo modelo de corpo.
Pode-se perguntar quem
é
esse ser idealizado? Esses homens comuns a todos os
7
6
outros? Talvez, no sentido em que se
trata, d
o homem fantasioso que responde às
imagens pela assimilação.
“Este ideal oferece um invólucro completo para o corpo, que não
obstante é feito de partes separadas, dispostas em camadas e
destacáveis. Os braços, pernas e tronco são visivelmente indicados mas
não firmemente unidos, de modo que os movimentos amplos do tronco ou
dos membros não exercem esforços inconvenientes nas costuras ou nos
colchetes, e as reentrâncias e saliências da superfície do corpo são
harmoniosamente encobertas, e nunca enfaticamente modeladas. Os
elementos separados da roupa recobrem um ou outro em vez de estarem
vinculados; deste modo, uma grande mobilidade física torna-se possível
sem que haja lacunas inconvenientes na composição. Desta maneira, a
roupa toda pode ajustar-se naturalmente quando o corpo pára de
movimentar-se, e sua forma é reassumida sem um arremesso rápido ou
um esforço repentino, contudo, uma posição descontraída, lânguida, fará
com que a indumentária transforme seu ajuste fácil em dobras casuais
atraentes que formam um conjunto fluido gracioso para o corpo relaxado, e
que também obedientemente reassumem uma forma suave se a pessoa
que a está vestindo levantar-se rapidamente e ficar ereta”.
(Hollander;1996:18)
Anne Hollander (1996) acredita que a evolução do traje contemporâneo mostrou
como a forma visual pode ter autonomia, força simbólica e emocional. Essa é a crença
moderna; e o próprio modo como os ternos atuais se apresentam expressa esse raciocínio.
Ele é interpretado por seu caráter formal intrinsecamente abstrato, junto com caráter
evolutivo permanente - a aparência individual, ainda que o estilo se mantenha ligeiramente
mutável. Há uma mensagem de continuidade puramente formal, mesmo com toda a
fragmentação, ainda propicia aparentemente a uma satisfação profunda no mundo
contemporâneo. Pode-se acreditar que isso seja a fantasia da forma moderna como agente
material apropriado da beleza e força da sexualidade positiva.
Para levar em conta todos estes aspectos ao mesmo tempo, as regras modernas do
material do design sugerem que linhas, formas e volumes, quaisquer que sejam suas
7
7
combinações, devem produzir um modelo visual de coerência dinâmica e integridade, e não
um modelo de aparência complexa, ou de força bruta.
Para obter-se um impacto realmente efetivo, todos os adornos deveriam integra a
composição em seu todo; totalidade essa apresentada de modo franco, sem subterfúgios
Muito antes da época da moda industrializada, movimentos estilísticos no vestuário
ocidental estavam desfrutando uma importância emocional profunda, oferecendo um
modelo visual dinamicamente poético para as vidas dos indivíduos, e tornando a moda
ocidental amplamente obrigatória em todo o mundo. Com globalização, ela agora atrai
civilizações que nunca tiveram uma história de ciclos de moda e tinham orgulho disto. O
consumo auxilia o indivíduo a identificar no seu comportamento a diferença entre o
supérfluo e a necessidade.
O esforço psicológico em fazer escolha de acordo com a moda é, para muitos,
repulsivo. A escolha pessoal tem a mesma compreensão limitada para todos, e as
revelações inconscientes são mínimas. Pessoas que se sentem desconfortáveis em
assumir culpa pela própria exterioridade, que temem as exigências puramente visuais da
vida social - "aparência" - ou não confiam na demonstração de seu próprio gosto sentem-se
ameaçadas e manipuladas pela moda, e chamam-na de tirana.
Foi com o incremento de tais mecanismos que o vestuário tornou-se uma arte.
Desde então a roupa tem entrado em acordo com as formas naturais para criar uma
seqüência vital em seu próprio meio. Entretanto, na moda, parte do meio é sempre o
indivíduo sofrendo a experiência da vida. Sendo que, para ser Eu, tenho que possuir. Ter.
Diferentemente de qualquer outra coisa no mundo material, o traje deve lidar com o corpo
de cada indivíduo. As vestes que estão na moda podem fazer com que o corpo se refira a
7
8
partes de si mesmo e a outras versões vestidas e assemelhar outros objetos a essas
partes.
Pode-se desejar usar camisas de gola aberta, ou mesmo sem gola, e abandonar a
gravata, usar o cabelo comprido e deixá-lo fluir ou desmazelar-se, de deixar a barba mal-
escanhoada no queixo, de vestir novas versões mais soltas de peças de vestuário
antigamente bem mais justas, de adotar versões destoantes do que se costumava
combinar. A justificativa, consciente, desses atos é sempre fácil; eles estão associados com
a liberdade individual, honestidade e conforto físico.
Realizados usualmente no espírito permanente de subversão estética - são
movimentos ativos em direção à mudança pelo amor ao novo – e não afastamentos
raivosos das férreas exigências do figurino.
Essa moda – identificada com liberdade e conforto – tão severa em relação à
desenvoltura quanto o é em relação à desordem, e lenços frouxamente amarrados e o grau
exato de barba malfeita é muitas vezes muito mais difícil de administrar do que as gravatas
formais e um rosto bem-barbeado.
Ela foi gradualmente percebida de outra forma, e logo pareceu ser, em sua maior
parte, um domínio fútil das mulheres, que a criavam e a consumiam. Como a moda
feminina consistia, mais e mais, em efeitos efêmeros, havia algo na idéia, embora ninguém
desprezasse os excelentes resultados, obtidos por elas, na confecção de bordados e laços;
não importasse para que sexo fosse confeccionado. Hollander reitera que – para a figura
vestida - simplificações análogas eram imperativas para ambos os sexos.
“Certamente as roupas haviam começado a parecer diferentes ao
acompanhar a modificação inicial sobre o que se acreditava a respeito de
ambos o sexo, mas foi sob a influência de uma nova mudança radical no
estilo visual que o olhar coletivo voltado para a forma foi abruptamente
reeducado”. (Hollander;1996:110)
9
A estrutura fundamental do corpo foi redescoberta. O sistema de membros, cabeças,
músculos, peitos, barrigas e traseiros harmoniosos claramente delineados, aperfeiçoado na
escultura antiga, foi adotado como a mais autêntica visualização do corpo, a verdadeira
realidade da anatomia natural, a forma platônica. O traje, em vez de ignorar a maior parte
do corpo real, como vinha fazendo há muito tempo, seria obrigado a indicar uma nova
compreensão desses fatos anatômicos "naturais" redescobertos. Como sempre, o vestuário
mostrado pela arte tomou a dianteira.
2.4 A cozinha do coser e a falta de padrões.
Pouco se sabe sobre a criação das tabelas de medidas utilizandas como referência
à antropometria do corpo. Um dos primeiros relatos refere-se a H. Guglielmo Campaign, um
alfaiate francês do século XIX, que elaborou um quadro comparativo das transformações do
corpo humano durante a vida, estudando de forma matemática como ocorriam essas
transformações, da infância à velhice.
Partindo do princípio de que a modelagem deveria seguir, então, uma medida
referencial, Guglielmo estabeleceu as medidas de tórax para os homens e de busto para as
mulheres, como padrão referencial para o traçado de uma modelagem, uma vez que essas
medidas eram as que menos alterações sofriam em relação ao número de pessoas
estudadas, mesmo se tratando de pessoas de diferentes regiões.
A continuação desses estudos no mesmo século, trouxe a projeção do que seria a
escala desses tamanhos, assim como a referência de aumento em relação às medidas
circunferenciais que seriam estabelecidas em um aumento padrão de quatro centímetros de
um tamanho para outro. Número esse respeitado até hoje.
Entre o fim do século XIX e início do século XX, já se podia encontrar vendas de
roupas por catálogo, projetando, então, os estudos realizados sobre as tabelas de medidas.
8
0
Somente na década de 1960, com o surgimento do prêt-à-porter, é que foi sentida
a necessidade de estudar mais profundamente o assunto. As tabelas de medidas usadas
até então eram insatisfatórias e percebeu-se que variavam muito de um país para o outro.
Com origem na Suécia, em
1968
16
, foi realizado
um estudo antropométrico mundial,
cuja conclusão foi que as padronizações deveriam ser de país por país, uma vez que a
variação encontrada foi muito significativa. No Brasil, estudos antropométricos começam a
ser desenvolvidos em 1981, assunto esse que será tratado mais adiante.
Ao estudar a evolução da moda através do século XX, na tentativa de compreender
o que acontece com o indivíduo, buscando entender de onde vem o reflexo dos dias atuais
em torno desse corpo, esculpido e transformado, em uma negação do próprio, tal como ele
deveria ser ,identifica-se que uma das maiores problemáticas da área é o tipo de
numeração que se encontra à venda no mercado.
Conforme já foi problematizado anteriormente, o corpo começa a ser valorizado no
início do século XX , quando as pessoas passam mais tempo ao ar livre, praticam esportes,
dançam, começam a surgir os clubes e a vida passa a ser vivida boa parte em lugares
públicos, ou seja, o corpo começa de fato a ser mostrado e conseqüentemente notado pelo
outro. Associa-se ao par: esbelto e belo, os adjetivos saudável e jovem, conforme observa
SCHPUN (1999:100) “(...) discursos higienistas no período favorece o desenvolvimento de
um imaginário que identifica a beleza à aparência saudável. De fato, ser saudável significa ,
entre outras coisas, ter a pele, a barriga e os seios firmes, a tez rosada, enfim, conservar o
máximo possível à forma jovem.”
16
FERREIRA, F. P. Padrões de tamanho do vestuário – porque e como utilizar. SBC: Marco Item
Comunicação, 1996. pág.08
8
1
Os cuidados com a saúde e a pratica esportiva continuam sendo incentivados (as
atividades físicas e cuidados com o corpo só terão uma curva crescente desse período em
diante).
“Durante o século XX, o que tivemos com o padrão de beleza foi
uma continuação do movimento de negação da raça. Por todas as fases
que a história passou daí por diante, o que fizemos foi assimilar os padrões
impostos por vários lugares do mundo e pela mídia, sem querer questioná-
los. Simplesmente o que fizemos foi nos adaptarmos, sem questionar nem
nos respeitar nossos padrões físicos”. (FIGUEIRA;2004:16)
Com a virada do século XX, a modernidade começava, de fato, a se instalar no
mundo e a sociedade brasileira começou a acompanhá-la. Em passos mais lentos sim, por
ser recente.
O fato de sermos uma nação tão jovem não possibilita a força necessária e a auto-
estima elevada o suficiente para acompanhar, ou até mesmo combater de forma menos
dolorida, os avanços exigidos pela sociedade em geral e, no caso específico desse estudo,
dos padrões corporais.
Os mesmos movimentos que aconteciam pelo mundo acabavam de certa forma por
influenciar as brasileiras, mas com uma diferença: os países ditos do Primeiro Mundo
tinham passado, tinham trajetória que servia de base. Esses países tinham cultura,
desenvolvida ao longo de séculos. Seus povos acreditavam que tudo tinha que mudar,
melhorar, evoluir, em decorrência de experiências vividas de fato.
O Brasil aderiu aos movimentos de liberdade sem sequer ter tido tempo para, de
fato, sentir-se preso, injustiçado ou, até mesmo, farto da dominação estrangeira.
A Moda no Brasil acompanhava as tendências vindas do exterior, chegando no
século XXI com uma forte influência sobre o corpo, negando as raízes miscigenadas em
função da busca do físico perfeito imposto pela mídia.
8
2
Nos anos 1980 destacava-se o corpo malhado, com músculos e saúde; e, nos 1990,
ressaltavam-se as top models, o corpo quase raquítico e extrema magreza. Agora, na
primeira década do século XXI, a magreza continua a ser o padrão, com um pouco mais de
curvas. É o modelo Barbie.
O
que não se pode esquecer é que biótipo nacional é de mulheres com curvas
avantajadas. A mulher brasileira sempre foi conhecida no mundo todo pelo "padrão violão",
que é negado a todo custo, negação esta que traz insatisfação constante.
A maioria das mulheres não veste o manequim 38, quem dirá 36 – imposto pela
mídia –e sofre para chegar a ele. Alem disso, os tamanhos parecem ter encolhido, levando
as mais vaidosas ao desespero. Em caminho oposto, algumas confecções colocam
etiqueta 42 numa roupa 44, como estratégia de marketing que massageia o ego feminino.
Na revista “IstoÉ” (junho de 1998) há matéria sobre pesquisa realizada por uma
rede de cosméticos inglesa (The Body Shop), que trata a relação do peso das modelos 25
anos antes (vale lembrar que a matéria data de 1998): as modelos pesavam 8% menos que
a média das mulheres; ao final dos 1990, assustadoramente, 25% menos.
Na edição de outubro de 2004, outra pesquisa encomendada pela Dove, marca de
cosméticos da Unilever, realizada com 3,2 mil mulheres de 10 países, entre 18 e 64 anos,
tratava da satisfação com o corpo. Os dados preocupam: 37% das brasileiras estavam
insatisfeitas com o físico, perdendo apenas para as japonesas, que apresentam um total de
54% de insatisfação.
Apesar de reafirmar que as brasileiras são consideradas um dos grupos de mulheres
mais lindas do mundo, a matéria chama a atenção para um declínio monumental da auto-
estima feminina, combalida diante de padrões de beleza considerados inatingíveis.
8
3
Tão acostumadas com à rapidez com que os fatos acontecem no mundo, as
mulheres, que já têm seu papel fundamental e algumas vezes insubstituível no mercado de
trabalho, e ainda com a casa e filhos sob seus cuidados, têm cada vez mais dificuldades
em conseguir o tempo livre necessário para malhar na academia. Para a mulher
contemporânea, a solução tem de ser tão rápida quanto o cotidiano. Por isso, muitas vezes,
opta por submeter-se a uma cirurgia e “montar” o corpo como quem faz compras em um
supermercado. É a total rejeição aos antepassados mais distantes, e pior, a total falta de
respeito e banalização da própria matéria.
Ao mesmo tempo em que há uma corrente que defende veementemente essas
transformações, em função de um bem estar passageiro (uma vez que amanhã o padrão
pode ser outro e a luta recomeçará), outras, entre as quais renomados médicos, embora
insignificantes diante da massa mundial, estão atentas a essa mudança agressiva, no que
se refere ao comportamento e ao corpo.
Em vez de criar padrões adequados, ao invés de tomar posse do que efetivamente
têm, os indivíduos colocam-se à mercê do que vem de fora, valorizando uma cultura que
não é própria, massacrados por uma dominação cultural iniciada na colonização. Pouco a
pouco, as pessoas transformam-se em verdadeiros Frankenteins: porém magros e
aparentemente felizes.
É importante ressaltar que as tabelas de medidas só começaram a aparecer de
forma mais completa, a partir da década dos 1970, pois como citado anteriormente
somente na década dos 1960 é que se firmou a concepção de roupa prêt-à-porter. Até
então, as tabelas tratavam apenas de um tamanho, não necessariamente o menor.
Contudo a modelagem de ser vista mais do que isso, ela também conta a história revela de
forma matemática toda a evolução cultural de um povo, em toda sua essência.
8
4
A fita métrica dividida em centímetros – impessoais e universais – que podia ser
usada para medir todos e ,assim, permitia a comparação dos resultados, só foi inventada
por volta de 1820 (HOLLANDER, 1996). Utilizada com o propósito explícito de
confeccionar, de uma vez, trajes bem-feitos para muitos homens, sem tirar as medidas
individuais, imprimia regras comuns para as proporções físicas masculinas.
Pela primeira vez a roupa comum foi realmente elevada ao patamar da elegância, e
não condenada a ser uma versão inferior de uma coisa fina e inatingível, ou, antes, algo de
aparência inferior.
A partir de então, elas passaram a rivalizar com as roupas festivas das classes altas.
Essa nova situação, como os inspirados movimentos anteriores da alfaiataria, era um
empreendimento masculino. A moda havia começado entre os que levavam o ócio a sério,
alguns dos quais tinham tempo disponível para ajustar seu comportamento físico ao alto
padrão artístico das roupas feitas sob medida.
Em pouco tempo ficou óbvio que, eram necessárias modificações na alfaiataria para
preservar os mesmos altos padrões simultaneamente, exigir menos contribuição do homem
de modo apropriado, alterando-se o padrão geral para coincidir com as indicações da fita
individual. Partindo desse ponto, obtém-se a tabela de medidas que deve ser coerente com
esse público.
As medidas encontradas poderiam variar, em função do segmento no qual se
pretende atuar: Idade, classe socioeconômica, localização geográfica. Vale ressaltar que as
medidas levantadas do público-alvo devem ser do corpo, ou seja, a tradução mais fiel
possível dele mesmo. Enfrenta-se, aí, um grande problema quanto à utilização; confundem-
se essas tabelas de medidas com as folgas das roupas que são, na verdade, os
alargamentos.
8
5
Assim, uma vez que se têm em mãos a medidas do corpo do público-alvo, a
modelagem deveria ser executada sem o acréscimo dessas folgas, a fim de, aí sim, variar
de acordo com o modelo da roupa que será confeccionada.
Trabalhando dessa forma, é possível modelar qualquer tipo de roupa para um
mesmo público-alvo, acompanhando as variantes de moda e estações, sem mudar o
"formato do corpo" do seu consumidor. Isso gera coerência entre as diferentes peças de
uma confecção em relação ao referido público-alvo. Esse processo traz, além da satisfação
do consumidor, uma fidelização e cumplicidade dele.
Após obter a tabela de medidas, o desenvolvimento das coleções segue um ritmo no
qual, depois de criada a peça pelo estilista, é hora de montar a peça piloto, um protótipo.
Baseado nessa tabela de medidas da confecção, o modelista reproduz de forma planificada
o projeto apresentado pelo estilista, trabalhando as folgas adequadas para o modelo, bem
como a estrutura, que varia de acordo com o tipo de peça a ser produzido. Por sua vez, a
costureira piloteira é quem monta a peça piloto e é a profissional apta a manusear qualquer
máquina necessária para a montagem de uma roupa.
A existência dessa profissional, geralmente mais bem paga que as demais, evita
desestruturar ou quebrar o ritmo da produção, para confeccionar as peças da coleção a ser
vendida naquele momento. Não é rara a confecção ter como funcionária apenas a piloteira
e trabalhar com produção terceirizada. Ou seja, o desenvolvimento de uma coleção
acontece aproximadamente seis meses antes de ela estar nas prateleiras.
Uma vez que o protótipo está concluído,
é
provado por modelo que deve adotar os
padrões físicos da tabela de medidas da confecção em questão.
É
nesse momento que,
muitas vezes, ocorre um outro tipo de problema. Na falta de modelo adequada, é
comum
que as empresas optem por fazer a prova da peça em qualquer outra modelo. Existe
8
6
também, para evitar custos, o uso de funcionária que esteja próxima do manequim ideal ou,
o que
é
mais comum ainda, provar na dona da empresa, que tem o péssimo hábito de
achar que as roupas devem ser produzidas para seu corpo, como se ela representasse
efetivamente o padrão de seu público.
É muito importante realizar essa prova de maneira adequada, pois quando a modelo
escolhida não segue o padrão da empresa e, por se tratar de modelo, muitas vezes suas
medidas são menores que o ideal – toda produção pode ser comprometida pela numeração
muito pequena, uma vez que a partir da peça-piloto que são dados os valores necessários
para a tradução desse modelo nos tamanhos maiores e menores. É o que se chama de
gradação.
São raras as pessoas que têm medidas constantes e que aceitem as variações de
seu corpo no que se refere aos “quilinhos a mais”. Se as roupas forem feitas, única e
exclusivamente, sobre uma pessoa, se no começo do ano ela traduz de fato as medidas de
um tamanho 38, as roupas de invernos serão desenvolvidas sobre elas. Se no inverno, ela
engordar um pouco, as roupas não serão consideradas maiores, serão consideradas do
tamanho 38, pois
é
o seu manequim. Ainda se, na coleção seguinte ela fizer uma
lipoaspiração, idem, Dessa forma, o consumidor nunca saberá, de fato, qual numeração lhe
corresponde naquela confecção.
Outro item muito importante sobre esse processo (tema deste trabalho),
é
a situação
cada vez mais comum de o consumidor não conseguir encaixar-se em nenhuma
numeração compatível entre as várias que consome. Para as "pobres mortais" que não
fazem parte de um número seleto de corpos esculpidos ou ninfetas anoréxicas, o simples
fato de comprar uma roupa transforma-se em martírio, pois as numerações encontradas
disponíveis no mercado estão cada vez menores, e são raras as lojas que possuem em sua
8
7
grade os tamanhos 44, e mais raros ainda os 46. Infelizmente, no Brasil, apesar da
péssima mania de copiar o que vem de fora, a padronização de medidas não existe. E, pior,
copiam-se sim as peças trazidas de lá, mas sem uma adequação de modelagem para a
brasileira que, quer queiram ou não, pressupõe ainda o "padrão violão
".
Para o entendimento da obsessão pelo corpo perfeito há sem duvidas, vários
caminhos a seguir. Entre eles, é possível, por exemplo, refletir sobre o desenvolvimento da
cultura material (aqui apenas esboçada) no espaço da produção têxtil. Existe atualmente a
tendência (entre outras) em dividir o tecido para que o industrial possa conseguir obter mais
peças com menos consumo de tecido, fazendo uma modelagem própria e muitas vezes
fora de padrão.
Interessante observar que no trabalho com o tecido, a matéria-prima é pensada
como algo que, primeiro, deve ser totalmente aproveitado; segundo , prevê a aliança com
padrões de beleza hiper-valorizados globalmente; e, terceiro, prevê retorno à massificação
de valores corporais, buscando adequar a produção à demanda, respondendo aos valores
corporais massificados.
Com a abertura de mercados internacionais, muitas empresas de marcas em
diversos segmentos da moda procuraram o aperfeiçoamento e adaptaram-se às mudanças.
Afinal cada marca tem seu estilo pessoal, embora a abordagem diferente em cada caso e o
conhecimento desse novo consumidor, também muito mais exigente, sejam requisitos
fundamentais para o perfil do novo profissional que não sobrevive apenas com a prática.
O profissional de moda do presente e do futuro deve procurar muita informação,
viajar, ler de tudo, assistir a desfiles. Trabalhar com moda exige conhecimento de relações
humanas, comportamento das pessoas, exige identificar o perfil e estilo de cada um e
oferecer o produto certo no momento correto.
8
8
2.5 Padrões de medidas.
Com o intuito de promover a discussão acerca da padronização de tamanhos para a
confecção do vestuário, realizamos uma visita à Associação Brasileira da Industria Têxtil –
ABIT –, em maio de 2006, onde levantamos informações e realizamos uma entrevista com
o Sr. Sylvio T. Napoli Junior, superintendente do Departamento de Infra-Estrutura e
Capacitação Tecnológica.
A entrevista abordou as mesmas questões anunciada nesta dissertação.
Primeiramente houve preocupação com os aspectos antropométricos. Baseado em estudos
de Ergonomia – Ciência que estuda as medidas do corpo humano – observou-se que, no
Rio de Janeiro, outra pesquisadora, Dr.ª Maria Cristina Zamberlan, desenvolve pesquisa
semelhante, junto ao Instituto Nacional de Tecnologia – INT, sobre as medidas do corpo do
brasileiro com o Projeto Antropométrico Tridimensional da População Brasileira – PATPB.
Todos os estudos que se fizerem a respeito, se pretenderem envolver todos os brasileiros,
demandarão muito tempo e muito dinheiro.
A ABIT apóia essa iniciativa, e o entrevistado vê com bons olhos o fato de
serem desenvolvidas pesquisas como essas. Mostrou-se muito impressionado, por se
tratar de tema novo, importante e vital para a indústria.
Nas palavras de Napoli Junior, a padronização deve ser como uma bandeira a ser
levada adiante pela ABIT:
(...) que estará buscando viabilização financeira junto às indústrias e
órgãos governamentais., pois está mais do que na hora da Indústria ter
uma padronização de sua produção, a fim de estagnar essa grande
‘bagunça’ que se instalou em nossa produção de roupas confundindo o
consumidor, que é quem sai perdendo, por não entender como um mesmo
produto, uma camisa por exemplo, pode lhe servir com tamanhos
diferentes na etiqueta (36 em uma loja, 40 em outra); em relação às
medidas e tamanhos, propostos pelo fabricante; pois existe falta de
ferramentas para padronizar as grades da produção de roupas, sentimos
8
9
que uma norma mais padronizada poderia ajudar, e muito, a se obter uma
modelagem mais igualitária, sem perder a sua originalidade
17
.
Como citado anteriormente o Comitê Brasileiro de Têxtil da Associação Brasileira de
Normas Técnicas
18
- ABNT, iniciou seus estudos antropométricos em 1981, através da
Comissão de Estudos de Tamanho de Artigos Confeccionados. Várias leis foram votadas
em 1985 ,e as aprovadas visavam a fixar a maneira correta de medir o corpo humano nos
segmentos masculino, feminino e infantil.
Esse projeto tornou-se a norma NBR 13.377
19
e teve seu início efetivo em 1992,
com o aval do Departamento Nacional de Proteção e Defesa do Consumidor (DNPDC), e
foi concluída em 1995, executado pela a Associação Brasileira da Indústria do Vestuário -
ABRAVEST, com vários outros órgãos colaboradores, bem como empresas do ramo
(Marisa, C&A, Riachuelo, Americanas entre outras) e consumidores finais. Do resultado
desse trabalho lançou-se em 1996 a publicação sobre o problema na modelagem, pelo
então Presidente do Comitê Brasileiro de Têxteis da ABNT, Sr. Francisco de Paula Ferreira.
Essa publicação trata da normatização feita para os consumidores e não para os
confeccionistas, pois – apesar de se tratar de um estudo antropométrico – as medidas nela
contidas são insuficientes para a construção efetiva de qualquer peça de roupa.
Do ponto de vista do consumidor, trata-se de um ótimo referencial, caso fosse
efetivamente utilizado pelas confecções. O fato de esse estudo ser apresentado de forma
superficial dificulta sua utilização, mantendo então o problema instalado até hoje, para o
produtor.
17
Depoimento de Sylvio Nápoli Jr., conferido para essa pesquisa, em maio de 2006.
18
Sobre ABNT , ver no anexo 02
19
Sobre a NBR 13.377 , ver no anexo 03
9
0
As medidas referenciais são uma base para que o consumidor encontrE seu
tamanho em relação
à
informação numérica ou nominal da roupa. Para se ter uma idéia de
como funciona a padronização, no caso das roupas femininas, (blusas, blazeres, camisetas
vestidos, maiôs, colants e similares) a medida referencial é o busto. Assim, as do busto em
centímetros, 78,82,86,90,94,98,102,106 e 108, equivalem aos tamanhos 36 (PP), 38 e 40
(P), 42 e 44 (M). 46 e 48 (G), 50 e 52 (GG), respectivamente. Para calças, bermudas,
shorts, saias, jardineiras, calcinhas e similares, a medida referencial
é
a cintura. As
medidas de cintura em centímetros, 60, 64, 68, 72, 76,80,84,88 e 92, equivalem aos
tamanhos 36 (PP), 38 e 40 (P), 42 e 44 (M), 46 e 48 (G) e 50 e 52 (GG).
O objetivo básico dessa norma é padronizar os tamanhos de artigos do vestuário,
em função das medidas do corpo. É interessante destacar que as medidas nas tabelas são
referenciais, ou seja, visam orientar o consumidor no ato da compra de um artigo de
vestuário e são mínimos,quer dizer, espera-se que a roupa de um determinado tamanho
apresente medidas iguais ou superiores do que as da pessoa a ser vestida por ela, nunca
inferior.
Nem todos seguem a Norma NBR 13.377 – Medidas do Corpo Humano para
Vestuário, Padrões Referenciais – da ABNT – já que a adesão a ela é voluntária. No
entanto, padrões referenciais mínimos deverão disciplinar os mercados de moda infantil,
feminino, masculino, moda praia e meias. Para Adelina Pereira, técnica de têxteis e
vestuário da ABNT:
“Esse desencontro de medidas causa transtornos e prejuízos ao
consumidor, como a perda de tempo na experimentação das roupas,
insegurança nas compras, por catálogo ou Internet, e até mesmo perda de
dinheiro, nos casos em que a troca da mercadoria é vetada, a exemplo do
lingerie”.
9
1
Embora seja uma norma estabelecida, a qual regulamenta algumas medidas para a
indústria do vestuário, destacando a importância de que a roupa adequar-se ao manequim,
os confeccionistas não seguem, conforme revela Napoli Junior:
“(...) muitos deles (os confeccionistas) deixam-se levar pelo o que a
moda-mídia está dizendo, se hoje estamos vendo um a enxurrada de
calças com cinturas baixas, por exemplo, o consumidor ira vestir, mesmo
que o corpo da maioria das brasileiras não seja adequado para essa
modelagem. A consumidora ,no caso da calça com cintura baixa, que
encontra-se fora do padrão estético e físico, tem ‘a obrigação’ de vestir
uma calça que a incomoda, mas, para ficar na moda acaba consumindo e,
com isso, a indústria produz cada vez mais, portanto, veja como esse
projeto é muito delicado no campo da confecção e dos magazines, que
não respeitam as regras, fazendo de tudo para aumentarem as vendas.
Tendo a mídia, que alimenta essa imagem não real no subconsciente do
consumidor, como seu maior aliado”
O superintendente discorreu um pouco mais sobre os aspectos e influências que a
mídia traz para o setor. Destacou também a importância no campo sociológico e do
psicológico que a industria do vestuário atua. Explicou que:
“A apresentação do projeto que a ABIT está realizando esta dividida
da seguinte maneira. A primeira etapa segmentará os produtores (couro,
tecidos, artefatos). A segunda, mais delicada, será a de conscientizar a
produção da importância do projeto, o que não será nada fácil, mas
necessário o acordo com a indústria, pois não está muito interessada na
proposta. E, na terceira etapa, propor ao INMETRO o estudo levantado.
Demos início, no segundo semestre de 2005, e estimo entre 3 e 4 anos
para que todas as etapas sejam cumpridas”.
Ressaltou a importância que a ABIT dá no processo de normatização, o qual, para a
industria deverá aquecer o mercado inteiro da cadeia têxtil.
Uma nova portaria ABNT NBR 15127
20
- Corpo humano – Definição de medidas, que
estabelece procedimentos para definir medidas do corpo humano, medidas estas que
20
Sobre a NBR 15.127 ver no anexo 04
9
2
podem ser utilizadas como base na elaboração de projetos tecnológicos, está tramitando
em sua fase final para ser apresentada para os fabricantes.
Roberto Chadad, atual presidente da Associação Brasileira de Vestuário –
ABRAVEST–(
outro órgão investigado nesse estudo
), diz que, desde 1995, a entidade
vem lutando pela padronização do vestuário brasileiro. Segundo ele, as empresas tiveram
11 anos para se adequar aos padrões. "A partir
de 2008, com assinatura de uma portaria
do Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade (Inmetro), será
obrigatório o acatamento à Norma por parte de toda a cadeia têxtil, sob pena de
multa
21
A portaria não agrada muito aos estilistas de moda, que a vêem como uma
espécie de repressão, que vetaria a liberdade de criação. Porém
a padronização
proposta pelo projeto não cerceia a liberdade de criação dos designers, afinal a moda
sempre ditará as tendências (as formas) que serão exploradas pelo mercado e pela mídia
para a coleção seguinte. A mudança de comportamento dos consumidores, que aceitam as
regras impostas pelo sistema, acontecerá quando perceberem que uma determinada
modelagem, fora de padrão, pode chegar até a provocar problemas físicos. Por exemplo,
vestir peça do vestuário inadequada ao corpo, comprimindo-o, apenas para adequar-se à
numeração colocada na etiqueta.
Com a experiência de mais de 40 anos no segmento de moda feminina, o
empresário Carlos Magno Gibrail, da grife Maria Vitti, considera importante a padronização,
assim como o conhecimento do público-alvo que se deseja atingir
22
. Para atender ao seu
segmento, de moda clássica e contemporânea, ele mesmo encomendou
à
Universidade de
21
Depoimento de Roberto Chadad., conferido para essa pesquisa, em abril de 2006
22
Em OESP - suplemento Feminino – 29 de abril de 2007
9
3
São Paulo (USP) uma pesquisa com 650 mulheres de 25 a 45 anos. No entender dele,
embora necessária, para disciplinar o setor, a padronização esbarra em três fatores:
problemas operacionais, interesses comerciais e dificuldade de fiscalização.
Sobre a importância da regulamentação o
superintendente
da ABIT
assevera que
três fatores são importantes para iniciarmos um processo de referências:
Padrão de medidas ; etiquetas e simbologia de lavagem
23
(destas 25% vão para o lixo).
“A padronização de uma modelagem passaria a regulamentar a
produção de roupas também através da Lei das Etiquetas , que contém 6
indicações necessárias, entre elas a do tamanho (numeração) do produto
em si. Sendo que o fiscal pode verificar a procedência das outras 5
indicações facilmente (país de origem, CNPJ), mas no que se refere ao
tamanho não existe norma que sustente e com o descaso e despreparo
dos fiscais, a normatização poderá servir de instrumento punitivo para o
fabricante
24
Isso desencorajaria a maioria das indústrias a participarem desse projeto uma vez
que neste país, as taxas tributárias e as extorsões caminham juntas.
Ao passo que, em um país vizinho (Argentina), o governo já decretou um padrão
claro e específico, sob o qual todos os fabricantes devem produzir suas peças seguindo
essas normas preestabelecidas.
Observa-se também que, para o Brasil poder exportar sua produção, deverá estar
dentro das normas daquele país. Sentido essa dificuldade para a exportação, está sendo
realizado um estudo no Mercosul para unificar medidas para os países participantes do
bloco.
Napoli Junior acrescenta que: “(...) a preocupação da nossa associação, que está na
frente desse projeto, é de não intimidar a capacidade criativa das pessoas, mas sim colocar
23
Sobre as indicações obrigatórias nas etiquetas veja no anexo 05
24
Depoimento de Sylvio Nápoli Jr., conferido para essa pesquisa, em maio de 2006.
9
4
uma padronização mais global e eficaz na produção do vestuário”. Todavia, observa: “(...) a
importância de haver pelo menos um aspecto dentro da modelagem (o colarinho para a
modelagem de camisa, por exemplo), que deverá ser respeitado pela indústria.” Assim,
acredita, os designers poderiam desenvolver livremente suas coleções, no que se refere a
comprimento, fechamento, estilo, desde que medida do colarinho fosse aquela acertada
pela indústria. Esses aspectos são os Padrões de Referências.
Para Eva Coutinho, editora do site Revista Sintética e
à
frente da Ecco Consultoria
de Moda, a nação brasileira é resultado de uma grande mistura de povos, por isso são
muitos os biótipos "Hoje em dia, o que se vê nas lojas é, sem dúvida, uma modelagem que
não atende ao corpo de homens e mulheres do Brasil
25
" . Segundo a consultora, a
padronização do vestuário é necessária, mas é preciso fazer um trabalho prévio, levando-
se em consideração alguns fatores importantes.
“Não são apenas as larguras que devem ser padronizadas, mas
também as alturas. Digamos que haja um 36-P e um 36-G. Ou seja, um
tamanho 36 pequeno, mais curto, e um tamanho 36 grande, mais longo.
Dessa forma, haveria uma mesma largura para dois comprimentos
diferentes, porque há muita gente que é magra e alta, mas também há
pessoas magras e baixas
26
Na opinião da consultora Ana Cury, autora do livro Estilo
,
é preciso levar em conta
que cada etiqueta tem a modelagem de acordo com o seu público-alvo. "A cliente da Cori e
Le Lis Blanc, por exemplo, tem a silhueta diferente de quem usa Costume e Les.Filós."
Para ela, outro problema são as diferenças de medidas para mesma numeração. "Eu tenho
duas irmãs que vestem 38, mas com medidas completamente diferentes. Nesses casos,
como fica? Só mesmo experimentando a peça é que observamos também se o
25
Em OESP - suplemento Feminino – 29 de abril de 2007.
26
Idem, Ibidem.
9
5
acabamento é de qualidade”. E questiona : “Como esperar que o padrão mestiço da mulher
brasileira seja, de fato, aceito por ela, se os produtos comercializados em seu próprio país
negam essa realidade tão evidente?
27
"
O
atual presidente da ABRAVEST
, que também apontou a necessidade da
padronização,
afirma que é preciso deixar claro que a Norma 15.127 não enquadra, as
tendências. Diz que as medidas das roupas devem ser iguais ou maiores às dimensões do
corpo humano, sem mencionar outros itens, como altura do quadril, comprimento de
ombros e manga.
As empresas que aderirem ao sistema serão identificadas por um
selo da ABRAVEST. Segundo Chadad, além de nortear o consumidor, o selo tem a
função de
promover a qualidade e o investimento em tecnologia por parte dos
fabricantes nacionais, como meio de enfrentar os produtos vindos da China e Coréia,
que chegam ao mercado com preços menores e qualidade duvidosa.
Após a implantação da padronização de tamanhos, o próximo passo, a exemplo
de países da comunidade européia, será a realização de um levantamento
antropométrico. Trata-se de um raio-X da população
brasileira. Esse levantamento das
medidas populacionais, beneficiaria não só a industria têxtil, mas sim fará uma interface
com outras indústrias, tais como: automobilísticas, de calçados, químicas (Petrolíferas) , do
luto (medidas do caixão), construção civil (num total de nove setores envolvidos) que se
guiam por padronizações estrangeiras, portanto , incompatíveis com o biótipo do brasileiro.
Porém o projeto aguarda definição política e econômica, uma vez que foi orçado em R$
5.000.000,00, conforme nos revelou Napoli Junior.
O
jornal "O Estado de São Paulo" traz matéria sobre o novo censo antropométrico, a
partir do qual se terá idéia da abrangência do projeto: Além de peso e estatura, entram na
27
Em OESP - suplemento Feminino – 29 de abril de 2007.
9
6
lista outras 167 medidas. São detalhes como a altura do cotovelo, da cabeça ou o alcance
do antebraço de uma pessoa, quando está sentada. Só do pé, há 48 variáveis. Da mão,
mais 17; e da cabeça, outras 30
.
(OESP, Geral, 13.01.2002).
A idéia é conhecer as medidas dos pés
à
cabeça de 22 mil pessoas das regiões
Nordeste, Sul e Sudeste, utilizando um aparelho de alta precisão, o body scanner. A
máquina registra a silhueta e a forma de uma pessoa virtualmente, em três dimensões,
revelando mais de 85 medidas em apenas 20 segundos. Esse processo, além de minimizar
o tempo necessário para a execução, minimiza e muito o fator de erro, uma vez que a
utilização de uma forma de medição tradicional poderia sofrer alterações em função de erro
de leitura ou avaliações pessoais, entre outros.
O trabalho de padronização de medidas é acompanhado por vários profissionais,
entre eles, Elaine Radicetti, formada em arquitetura e urbanismo, e também em estilismo
em confecção industrial pelo Senai-Cetiqt, no Rio de Janeiro. Elaine defendeu dissertação
de mestrado sobre o tema, quando levantou as medidas de crianças e adultos no Rio e em
São Paulo, cidades escolhidas por serem os principais pólos de migração do País -
portanto, têm uma significativa amostragem de biótipos diversificados. Nessa pesquisa, ela
detectou que o segmento infantil é o mais defasado em termos de modelagem
X
corpo.
"Hoje vemos uma geração de bebês gigantes, que alcançarão 1,90 m de altura quando
tiverem 16 anos, e de meninas de 13 anos que calçam 40 e não encontram modelos para
seu gosto e idade
28
", comenta
A valorização do profissional da área reflete-se no mercado de trabalho. Hoje, o
setor busca profissionalização, favorecendo quem possui formação superior. As
28
Idem. ibidem.
9
7
oportunidades são muitas em um setor que movimenta R$ 60 milhões , cresce 20% ao ano
e emprega mais de 1,5 milhão de pessoas.
Pode-se perceber como é extensa a área de trabalho na moda, prova crescente
disso foram os dados divulgados, em julho de 2005, pelo Instituto de Estudos e Marketing
Industrial (IEMI) e pela Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (ABIT),
sobre a produção de peças em 2004. Foram confeccionados 5,6 bilhões de peças entre
vestuário, meias e acessórios.
O Brasil consumiu 1 milhão de toneladas de tecidos, gerando US$ 15,9 bilhões e 1,
1
milhão de empregos. O investimento das
1
7,5 mil empresas que atuam no segmento foi da
ordem de US$ 103,6 milhões. A maior parte da produção está no Sul / Sudeste, que juntos
reúnem 86% da produção nacional. A participação do Nordeste
foi
de 12% em 2004.
A cadeia têxtil é a segunda que mais emprega no Brasil. Dentro das 25 mil fábricas ,
97% da mão de obra é feminina, (é o setor que mais emprega mulheres). No campo
acadêmico, mais de 100 cursos sobre o setor são reconhecidos pelo MEC
29
.
Ressalte-se que o processo será longo para utilizar esses padrões tão
importantes para o desenvolvimento da indústria brasileira. Antes disso será necessário
rever até a cultura corporal, pois até hoje, em função de uma série de fatores, entre eles o
número de entidades e profissionais envolvidos, há lentidão para, apenas, definir quais
seriam as medidas a serem tiradas. Espera-se que as ações governamentais possam
aquecer o interesse dos fabricantes na execução de novas portarias, para que possamos
obter um padrão referencial de medidas brasileiras.
29
As informações relativas ao setor têxtil fora apresentadas pelos representantes da ABIT e ABRAVEST em
palestra proferidas no I Fórum de Modelagem SENAC em 12 de abril de 2007.
9
8
Por fim, ressalta-se ainda a ênfase do superintendente
, entrevistado, em
enaltecer
a iniciativa, através desse projeto, de levar para dentro da academia um desafio abraçado
por eles da ABIT e completou:
“Somente com o apoio na base, ou seja, na formação de uma
massa crítica consciente é que conseguiremos avançar em nossas idéias.
Se mostrarmos para os consumidores e futuros designers a importância,
para o país, dos valores referenciais do desenvolvimento de novos
produtos, sem que com isso seus potenciais criativos, que é um dos mais
ricos do planeta, sejam cerceados, certamente estaremos dando um
grande passo para que nosso projeto possa estar concretizado. Só através
do apoio, da instrução e da ação é que conseguimos realizar as mudanças
necessárias para crescermos economicamente.”
9
9
Considerações
Finais
Arremate &
Acabamento
Quando a norma
não é mais fundada
sobre a disciplina e a
culpa, e sim sobre a
responsabilidade e a iniciativa, aqueles que não
conseguem ser responsáveis nem ter iniciativa são
considerados insuficientes
.”
Denise Bernuzzi de Sant’Anna
10
0
CONSIDERAÇÕES FINAIS
ARREMATE & ACABAMENTO
Os apontamentos dessa dissertação procuraram contribuir para uma reflexão
acerca do corpo, como um “objeto” que portamos dia após dia nesse universo das imagens
corporais. O organismo humano, entendido como meio de comunicação social (expondo
quem somos através de um indumentária própria, acolhida e inserida em um determinado
grupo); elemento de diálogo com o mundo utilizando a linguagem não verbal (pois o corpo
fala) é canal de mediação de sentido (responde mediante nosso bem estar ) e de produção
de experiências (inserções extra-corporais), nos dita as ações necessárias para manter um
modo de vida saudável e elegante.
A anatomia de um homem é diferente da anatomia de uma mulher. O tom da pele
nos dá uma noção de ancestralidade.
Relacionamos nossas dificuldades em permanecer jovem e saudável com o fato de
tomarmos atitudes transformadoras e significativas em relação ao nosso corpo. Quando a
norma não é mais fundada sobre a disciplina e a culpa, e sim sobre a responsabilidade e a
iniciativa, aqueles que não conseguem ser responsáveis e ter iniciativa, são considerados
insuficientes.
Nossos corpos nos pertencem muito menos do que acreditamos. Não são nossas
propriedades, eles nos ultrapassam. Eles são falados e incorporados pela ideologia, pelo
mercado, pelas diversas modalidades da microfísica do poder.
Ter um corpo saudável e dentro de um padrão de beleza parece ser hoje uma busca
freqüente, normal e indispensável à vida. Mas, onde começa e termina a vida? Iniciaria ao
nascer do nosso organismo físico e terminaria com seu sepultamento? Possuir um
10
1
envoltório que se articula e se desloca é sinal de estar vivo? Vida e morte, começo e fim. A
carcaça mortal perece e não acompanha o espírito, imortal em sua jornada evolutiva e
eterna. O espírito tem a leveza da transparência e o corpo o peso de sua opacidade.
É preciso que seja feito um estudo direcionado tanto para a modelagem no Brasil
como para quem deverá utilizar essas informações. Por mais que a empresa faça uma
pesquisa entre seu público-alvo, localizado em sua região matriz, se quiser fornecer para
outros estados ou regiões, ou corre o risco e manda as peças da forma que já são
comercializadas, certamente excluindo uma boa fatia de possíveis consumidoras, ou faz
uma nova pesquisa de campo.
Apesar de se tratar de uma norma,
é
preciso que fique claro que a NBR 13.377 não
é
uma lei e, portanto, não é de uso obrigatório, sendo assim, os fabricantes não a seguem
por completo e muitos, por sua vez, desenvolvem suas próprias tabelas de medidas,
confundindo o cliente. Enquanto aguardamos um novo levantamento ergonômico da
população brasileira a inclusão da norma NBR 15.127 vem dar norteamento aos
confeccionistas na elaboração de uma coleção mais direcionada a um público consumidor
mais definido. Esse poderá identificar um produto certificado por um selo desenvolvido
pelos órgãos responsáveis, dando-lhes garantia que estará adquirindo uma mercadoria
dentro dos padrões de qualidade e criatividade nacional.
E já que essas normas visam a atender o consumidor final, seria bem mais prático
para ele saber o referencial de seu tamanho em qualquer região do seu próprio país.
Padrões de Corpo e Moda, pretende contribuir com essas mudanças.
Estamos dando o primeiro passo para fazer parte da construção de uma Indústria da
Moda Brasileira cada vez mais forte, mais produtiva e qualitativa.
Acreditar em um futuro e
fortalecer a tese de que
é
necessário pensar sobre a Indústria da Moda
é
tudo o que nos
10
2
move
.
Somente com o estudo e o aprimoramento do ensino poderemos ser competitivos
num mercado cada vez mais exigente.
Acreditar neste projeto e em nossa competência profissional é tudo o que temos.
Precisamos, cada vez mais, alimentar esta crença, melhorar e divulgar o que estamos
fazendo e a forma como estamos desenvolvendo e fortalecendo o mercado brasileiro.
Sendo assim, a Universidade, que deve ser referência em qualidade, está fazendo o seu
papel: formar profissionais e participar ativamente do processo de desenvolvimento
intelectual e econômico do país.
10
3
Bibliografia
ALCÂNTARA, M. Terapia pela Roupa. São Paulo: Ed. Mandarim, 1996.
ALLÉRÉS, D. Luxo: Estratégicas de Marketing. São Paulo: FGV, 2000.
ANDRÉA, J. Correlações Espírito – Matéria. São Paulo: Ed. Scieto Lorenz ,1992.
BAIOCCHI de CARVALHO, K. M.
Nutrição Clínica no Adulto – Guia de Medicina
Hospitalar. Barueri. UNIFESP/EPM. 2002
BARNARD, M. Moda e Comunicação. Rio de Janeiro: Ed. Rocco, 2003.
BARTHES, R. O Prazer do Texto. São Paulo: Ed. Perspectiva, 1998.
BAUDRILLARD, J. A Sociedade de Consumo. Lisboa: Ed. Edições 70 s/d.
__________. O Sistema dos Objetos. São Paulo: Ed. Perspectiva, 1997.
__________. À sombra das maiores silenciosas: o fim do social e o surgimento
das massas. São Paulo: Ed. Brasiliense, 1985.
BLACKWELL, M. O Comportamento do Consumidor. São Paulo: Ed. Thomson,
1998.
CARVALHO, F. A Moda e o Novo Homem. Coletânea de artigos publicados no
Diário de São Paulo. São Paulo: Ed. Miguel Pelatim, 1992.
CASTILHO, K. e GALVÃO,D (Orgs). A Moda do corpo, o corpo da moda. São
Paulo: Ed. Esfera, 2002.
CASTILHO, K. e MARTINS,M.M. Discursos da Moda. Semiótica, design e corpo.
São Paulo: Ed. Anhembi Morumbi, 2005.
CASTILHO, K. Configuração de uma Plástica: do corpo à moda. Tese de
Mestrado em Comunicação e Semiótica. PUC: São Paulo. 1998.
__________. Do Corpo Perfeito à Ausência do Corpo. Tese de Doutorado em
Comunicação e Semiótica. PUC: São Paulo. 2004.
__________. Moda e Linguagem. São Paulo: Ed. Anhembi Morumbi, 2004
CASTRO, A. L. Culto ao Corpo e a Sociedade: mídia, estilos de vida e cultura de
consumo. São Paulo: Ed. AnanBlume Editoras, 2003.
10
4
__________. “Corpo, consumo e mídia”. In Revista comunicação, mídia e
consumo. São Paulo: Ed. ESPM, 2004.
CASTRO, A. L.; BUENO, M. L. (Orgs). Corpo Território da Cultura. São Paulo: Ed.
AnanBlume Editoras, 2005.
CAVIGLIOLI, F.
La Dictature de la Beuté
. Le nouvel observateur. Les
Collections, n.21. 2000.
CRESPO, J. A História do Corpo. Rio de Janeiro: Ed. Difel, 1990.
CUPPARI, L. Nutrição Clínica no Adulto – Guia de Medicina Hospitalar. Barueri:
UNIFESP/EPM. 2002.
DEL PRIORE, M. Corpo a corpo com a mulher; pequena história das
transformações do corpo feminino no Brasil. São Paulo: Ed. SENAC, 2000 (série Ponto
Futuro; 2.)
DUARTE, S e SAGGESE, S. Modelagem Industrial Brasileira. Rio de Janeiro: Ed.
Letras & Expressões, 1998.
EAGLETON, T. A Ideologia da Estética. Rio de Janeiro: Ed. Jorge Zahar, 1993.
ECO, H. Psicologia do Vestir. Lisboa: Ed. Assirio e Alvin, 1989.
ERNER, G. Vítimas da Moda? Como a criamos por que a seguimos. São Paulo:
Ed. SENAC, 2005.
FEATHERSTONE, M. The Body, social process and cultural theory. London:
Sage, 1992.
__________. Cultura do consumo e pós-modernismo. São Paulo: Ed. Nobel,
1995.
FERREIRA, F. P. Padrões de tamanho do vestuário: porque e como utilizar. São
Bernardo do Campo: Ed. Marco Item Comunicação, 1996.
FIGUEIRA, D. N. Tabelas de medidas e a evolução do corpo da mulher
brasileira. São Paulo: Monografia apresentada ao curso de Pós-Graduação, em moda e
Criação da Faculdade Santa Marcelina – 2004.
FISCHLER, C. Obeso benigno,obeso maligno. In SANT’ANNA, D.B. (org.)
Políticas do corpo. São Paulo: Ed. Estação Liberdade, 1995.
FLÜGEL, J. C. A Psicologia das Roupas. São Paulo: Ed Mestre Jou, 1966.
FOUCAULT, M. Microfísica do Poder. Rio de Janeiro: Ed. Graal,1979.
10
5
__________. O cuidado de si. in História da sexualidade. Rio de Janeiro: Ed. Graal,
1985.
__________. Vigiar e Punir: nascimento da prisão. Petrópolis: Editora Vozes,
1984
GARCIA, C.; MIRANDA, A. A Moda é Comunicação: experiências,memórias e
vínculos. São Paulo: Ed. Anhembi Morumbi, 2005.
HAYE, A. e MENDES, V. A moda do séc. XX. São Paulo: Ed. Martins Fontes, 2003.
HOLF, T. “Publicidade: o corpo modificado”. In Revista comunicação, mídia e
consumo. São Paulo: Ed. ESPM, 2004.
HOLLANDER, A. O Sexo e as Roupas - A evolução do traje moderno. São Paulo:
Ed. Rocco, 1996.
LACAN, J. O estádio do Espelho como fundador da função do eu. Rio de
Janeiro: Ed. Jorge Zahar, 1998.
LE BRETON, D. Antropologia Del Cuerpo y modernidad. B.A.: Nueva Vision,
1995.
LIPOVESTSKY, G. O Império do Efêmero: a moda e seus destinos nas
sociedades modernas. São Paulo: Ed. Companhia das Letras, 1999.
LYRA, B – GARCIA, W. (Organizadores) Corpo & Imagem. São Paulo: Edit. Arte &
ciência, 2002.
MACHADO,I. Escola de semiótica. São Paulo : Ateliê editorial , 2003.
MESQUITA, C. Incômoda Moda – Uma escrita sobre roupas e corpos instáveis.
Dissertação de Mestrado em Psicologia Clínica. PUC – São Paulo. 2000.
MORAES, E. R. O corpo impossível. São Paulo: Ed. Iluminuras, 2003.
MORIN, E. Cultura de Massa do Séc XX – O Espírito do Tempo. Rio de Janeiro :
Ed. Forense Universitária,1987.
NOVAES, Sylvia C. Jogo de Espelhos. São Paulo: Edusp, 1993.
QUEIROZ, Renato da Silva. (Org) O Corpo Brasileiro. Estudos de estética e
beleza. São Paulo: Editora SENAC, 2000.
SAFATLE, V. Destruição e reconfiguração do corpo na publicidade mundial dos anos
90, In Revista comunicação, mídia e consumo. São Paulo: Ed. ESPM, 2004.
10
6
SAHLINS, M. Cultura e Razão Prática. Rio de Janeiro: Ed. Jorge Zahar, 1979
SANT’ANNA, D.B. (Org) Políticas do Corpo. Elementos para uma história das
práticas corporais. São Paulo: Ed. Estação Liberdade, 1995.
__________ . Corpos de passagem: ensaio sobre a subjetividade
contemporânea. São Paulo: Ed. Estação Liberdade, 2001.
__________ . É possível fazer uma história do corpo? In Corpo e História,
coletânea, Campinas: Autores Associados, 2006.
__________ . Corpo e História, in Cadernos de Subjetividade, NEP da
Subjetividade do Programa de Estudos Pós-graduados em Psicologia Clínica da PUC/SP
v.1., nº 2. SP, 1993.
SANTAELLA, L. Semiótica Aplicada. São Paulo: Ed. Thomson, 2002.
__________. Teoria Geral dos Signos. São Paulo: Ed. Thomson, 2000.
SCHPUN, M. R. Beleza em jogo: cultura física e comportamento em São Paulo
nos anos 20. São Paulo: Ed. SENAC, 1999.
SOUZA, Gilda de M. S. O espírito das roupas: a moda do séc. XIX. São Paulo:
Ed. Companhia das Letras, 2001.
TEIXEIRA, M. Z. A Natureza Imaterial do Homem. São Paulo: Ed. Petrus, 2000.
TOBY FISCHER, M. O Código do Vestir. s/d
WILSON, Elizabeth. Enfeitada de Sonhos. São Paulo: Ed. Arte e Comunicação,
1989.
Bibliografia Comentada
BAUDRILLARD, J. A Sociedade de Consumo. Lisboa: Ed. Edições 70 s/d
(Esse grande sociólogo analisa o fenômeno do consumo dos objetos sugerindo o consumo
como um modo ativo de relação e de resposta global. Abordando todas as formas de interação imitidas
pelos <mass mídia> na celebração dos objetos.)
______________ O Sistema dos Objetos. São Paulo: Ed. Perspectiva, 1997.
(Obra inicial que teve continuidade no livro acima, o autor começa a esboçar a importância do
consumo em relação ao comportamento do consumidor e suas influencias.).
10
7
CASTRO, A. L. Culto ao Corpo e a Sociedade: mídia, estilos de vida e cultura de
consumo. São Paulo: AnanBlume Editoras, 2003.
(A autora mostra seu imbricamento no mundo contemporâneo com a industria da cultura ao
analisar revistas de grande circulação, mostrando-nos a preocupação da sociedade em cultuar um corpo
bem torneado. Mapeando um estilo de vida, através das atividades físicas no culto ao corpo.).
____________Corpo, consumo e mídia”. In Revista comunicação, mídia e
consumo. São Paulo: Ed. ESPM, 2004.
(Ao participar desse compêndio de textos relacionados ao tema: Corpo, Consumo e Mídia; a
autora desenvolve sua participação discutindo o culto ao corpo como estilo de vida. Abordando o papel
da mídia em temas como sociabilidade e distinção social.).
CASTRO, A. L.; BUENO, M. L. (Orgs). Corpo Território da Cultura. São Paulo,
AnanBlume Editoras, 2005.
(Essa coletânea de ensaios oferece umas reflexões densas, rigorosas e originais sobre o tema
do título. Demonstrando-nos que a relação entre corpos é repleta de ambigüidades, completando os
espaços ,transformando a história.).
CUNHA, K. Configuração de uma Plástica: do corpo à moda. Tese de Mestrado
em Comunicação e Semiótica. PUC: São Paulo. 1998.
__________. Do Corpo Perfeito à Ausência do Corpo. Tese de Doutorado em
Comunicação e Semiótica. PUC: São Paulo. 2004.
(“O corpo personifica o homem, presentificando-o e o instaurando no mundo”. Desta maneira a
autora trabalha em sua tese a representação do corpo nos dias atuais. Voltando ao seu paradoxo da
padronização e diferenciação; apresentando o corpo como uma poderosa e multifacetada instituição
política. Voltando ao seu paradoxo instaurado: padronização e diferenciação.).
ERNER, G. Vítimas da Moda? Como a criamos por que a seguimos. São Paulo:
Ed. SENAC, 2005.
(O autor revela neste livro como tendências e estilos são definidos, como marcas são criadas,
questionando por que a tudo isso seguimos, analisando os estímulos que levam as pessoas a consumir
desesperadamente regras impostas por determinadas facções do meio.).
LIPOVESTSKY, G. O Império do Efêmero: a moda e seus destinos nas
sociedades modernas. São Paulo: Ed. Companhia das Letras, 1999.
(Marco essencial, literatura quase que obrigatória no meio acadêmico, muito embora
questionado por seus pares, esse texto de Lipovestsks aborda de forma clara o papel da moda
(comandando nossas sociedades) no mundo moderno. Considerando a moda como uma das belas-artes.
Segundo o autor: “A moda consumada vive de paradoxos: sua inconsciência favorece a inconsciência;
suas loucuras, o espírito de tolerância; seu mimetismo, o individualismo; sua frivolidade, o respeito pelos
direitos do homem.).
10
8
MESQUITA, C. Incômoda Moda – Uma escrita sobre roupas e corpos instáveis.
Dissertação de Mestrado em Psicologia Clínica. PUC – São Paulo. 2000.
(A monografia discorre sobre o funcionamento da máquina social estreitamente ligada aos
campos estéticos e mercadológicos que regem a apresentação dos corpos na sociedade
contemporânea.).
SANT’ANNA, D. (Org) Políticas do Corpo. Elementos para uma história das
práticas corporais. São Paulo: Ed. Estação Liberdade, 1995.
(
Ao organizar vários autores de textos que dissertam sobre corporiedade como um
labirinto de máscaras, pele que adere à outra pele, porém, nunca completamente, não apenas
por subtração, mas pelos deslocamentos de suas zonas de sombra e luz. Como ela mesma
termina dizendo que; são corpos inocentes, mas que nos afetam, e, no entanto não nos imitam
nem nos repetem.).
__________ . Corpos de passagem: ensaio sobre a subjetividade
contemporânea. São Paulo: Ed. Estação Liberdade, 2001.
(Corpos de passagem, é um conjunto de ensaios. Os textos que compõem a obra não
aprofundam as discussões teóricas das categorias envolvidas: corpo, subjetividade, indivíduo, por
exemplo. A autora não se preocupou com as relações de gênero, afinal, se a sexualidade passou a ser
objeto de estudo é porque a sociedade contemporânea está preocupada com relações de gênero e está
desconstruindo os conceitos universais de ser homem e de ser mulher.).
WILSON, Elizabeth. Enfeitada de Sonhos. São Paulo: Ed. Arte e Comunicação,
1989.
(
A autora busca através de seu texto contar a trajetória dos costumes e comportamento da
sociedade moderna, enfocando a moda como vetor propulsor. O vestuário constitui a fronteira entre o eu
e o não eu. Suas mudanças de estilos, formando identidade produzida em massa e para as massas.
Onde o capital constrói sonhos e imagens num mundo de amor e ódio. Mostrando a roupa como
distinção sexual.).
10
9
ANEXO 02
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT
O QUE É NORMA?
Documento, estabelecido por consenso e aprovado por uns organismos
reconhecidos, que fornece, para um uso comum e repetitivo, regras, diretrizes ou
características para atividades ou seus resultados, visando à obtenção de um grau
ótimo de ordenação em um dado contexto
REGULAMENTO
Documento que contém regras de caráter obrigatório e que é adotado por uma
autoridade. (ABNT ISO/IEC GUIA 2).
REGULAMENTO TÉCNICO
Regulamento que estabelece requisitos técnicos, seja diretamente, seja pela
referência ou incorporação do conteúdo de uma norma, de uma especificação técnica
ou de um código de prática.
Nota: Um regulamento técnico pode ser complementado por diretrizes técnicas,
estabelecendo alguns meios para obtenção da conformidade com os requisitos do
regulamento, isto é, alguma prescrição julgada satisfatória para obter a conformidade.
(ABNT ISO/IEC GUIA 2)
O QUE É NORMALIZAÇÃO ?
É a maneira de organizar as atividades pela criação e utilização de regras ou
normas, visando contribuir para o desenvolvimento econômico e social.
PRINCIPAIS OBJETIVOS
11
0
Facilitar a comunica: Proporcionar os meios necessários para a adequada troca
de informações entre clientes e fornecedores, com vistas a assegurar a
confiança e um entendimento comum nas relações comerciais.
Simplificação: Reduzir as variedades de produtos e de procedimentos
Proteger Proteção ao consumidor: Assegurar a proteção do consumidor
mediante o estabelecimento de requisitos que permitam aferir a qualidade dos
produtos e serviços.
Segurança: Estabelecer requisitos técnicos destinados a assegurar a proteção
da vida humana, da saúde e do meio ambiente.
Economia: Reduzir o custo de produtos e serviços mediante a sistematização,
racionalização e ordenação dos processos e das atividades produtivas, com a
conseqüente economia para clientes e fornecedores.
Eliminação de barreiras comerciais: Evitar a diversidade de regulamentos,
muitas vezes conflitantes, elaborados para produtos e serviços, pelos diferentes
países.
PADRONIZAÇÃO DE MEDIDAS
ABNT/CB-17 17 - Comitê Brasileiro de Têxteis e do Vestuário Normalização no
campo da indústria têxtil e do vestuário compreendendo fibras, fios, cabos, cordoalhas,
tecidos e outros artigos fabricados em têxteis; artigos confeccionados; matérias-primas;
produtos químicos e auxiliares necessários para os diversos tratamentos, no que
concerne a terminologia, requisitos, métodos de ensaio e generalidades. Excluindo-se a
normalização de máquinas e equipamentos
para indústria têxtil que é de responsabilidade do ABNT/CB-04.
Subcomitê: 17:700 – Confecção
CE-17:700.04 – Medidas de tamanho de artigos confeccionados
Por que normalizar?
Para auxiliar o consumidor na compra de roupas, seja para:
Poupar tempo na prova de roupas;
Evitar problemas em caso de compra de peças sem direito à troca (por exemplo:
roupas íntimas);
Presentes;
11
1
Compras à distância (internet, catálogos etc).
Histórico
1995 – ABNT NBR 13377 - Medidas do corpo humano para vestuário -
Padrões referenciais
Objetivo: Padroniza os tamanhos de artigos do vestuário, em função das
medidas do corpo humano.
2004 – ABNT NBR 15127 - Corpo humano – Definição de medidas
Objetivo: Estabelece procedimentos para definir medidas do corpo humano que
podem ser utilizadas como base na elaboração de projetos tecnológicos;
Elaborada pela ABNT/CEET-00:001.46 – Comissão de Estudo Especial
Temporária de Medições do Corpo Humano;
Participação de diversos setores, tais como: têxtil, de confecção, automobilístico,
móveis etc.
projetos em desenvolvimento
CE-17:700.04 17:700.04 –Medidas de tamanho de artigos confeccionados
Revisão da ABNT NBR 13377 - Medidas do corpo humano para vestuário -
Padrões referenciais
Início de estudo: Outubro /2006
Situação: Em estudo
Projeto 17:700.04-002 - Medidas de tamanho p/ meias
Situação: Em fase final de estudo
- OUTROS PROJETOS
CE-17:700.03 – Artigos confeccionados para vestuário incluindo roupas
profissionais
Projeto 17:700.03-004 – Vestuário infantil – Requisitos de segurança e
desempenho
Projeto 17:700.03-005 – Vestuário feminino – Requisitos de desempenho
11
2
Projeto 17:700.03-006 – Vestuário masculino – Requisitos de desempenho
11
3
ANEXO 05
INFORMAÇÕES OBRIGATÓRIAS NAS ETIQUETAS
ANEXO 06
GRÁFICOS
FABRICAÇÃO DE PRODUTOS TÊXTEIS
Horas Trabalhadas na Produção
2002/01 -1,2 jan/01 95,80 mil
2003/02 5,6 jan/02 94,68 mil
2004/03 5,4 jan/03 100,00 mil
2005/04 10,1 jan/04 105,36 mil
2006/05 0,7 jan/05 116,03 mil
jan/06 116,80 mil
-1,2
5,6
5,4
10,1
0,7
-2,0
0,0
2,0
4,0
6,0
8,0
10,0
12,0
HORAS
2002/01 2003/02 2004/03 2005/04 2006/05
ANO
HORAS TRABALHADAS
11
4
FABRICAÇÃO DE PRODUTOS TÊXTEIS
Total de Pessoal Ocupado
2002/01 -2,9 jan/01 102,58 mil
2003/02 0,4 jan/02 99,51 mil
2004/03 -0,3 jan/03 100,90 mil
2005/04 5,4 jan/04 99,68 mil
2006/05 -1,5 jan/05 105,02 mil
jan/06 103,40 mil
-2,9
0,4
-0,3
5,4
-1,5
-3
-2
-1
0
1
2
3
4
5
6
OCUPAÇÃO
2002/01 2003/02 2004/03 2005/04 2006/05
ANO
PESSOAL OCUPADO
11
5
FABRICAÇÃO DE PRODUTOS TÊXTEIS
Total de Vendas Reais
2002/01 1,4 jan/01 91,12 mil
2003/02 8,3 jan/02 92,36 mil
2004/03 16,4 jan/03 100,00 mil
2005/04 1,4 jan/04 116,44 mil
2006/05 6,6 jan/05 118,11 mil
jan/06 125,86 mil
1,4
8,3
16,4
1,4
6,6
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
VENDAS
2002/01 2003/02 2004/03 2005/04 2006/05
ANO
VENDAS REAIS
11
6
FABRICAÇÃO DE PRODUTOS TÊXTEIS
Total de Salários Reais
2002/01 10,5 jan/01 89,68 mil
2003/02 0,9 jan/02 99,08 mil
2004/03 12,8 jan/03 100 mil
2005/04 6,9 jan/04 112,84 mil
2006/05 8,1 jan/05 120,67 mil
jan/06 130,42 mil
10,5
0,9
12,8
6,9
8,1
0
2
4
6
8
10
12
14
R$
2002/01 2003/02 2004/03 2005/04 2006/05
ANOS
SALÁRIOS REAIS
11
7
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo