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PATRICIA SILVA CORDEIRO
ANÁLISE DO PROGRAMA DE ERGONOMIA PARA PREVENÇÃO
DE LER/DORT EM UMA INDÚSTRIA COM SISTEMA DE GESTÃO
DA SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO
CENTRO UNIVERSITÁRIO SENAC
SÃO PAULO
2007
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PATRICIA SILVA CORDEIRO
ANÁLISE DO PROGRAMA DE ERGONOMIA PARA PREVENÇÃO
DE LER/DORT EM UMA INDÚSTRIA COM SISTEMA DE GESTÃO
DA SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO
Dissertação de mestrado apresentada
ao Centro Universitário Senac para a obtenção do título
de Mestre em Gestão em Saúde no Trabalho e Meio
Ambiente.
Orientador Prof. Dr. Dorival
Barreiros
São Paulo
2007
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AGRADECIMENTOS
Agradeço ao Prof. Dr. Dorival Barreiros, o qual eu admiro imensamente e que me
orientou com paciência e dedicação.
Aos colegas e professores que ao longo de dois anos muito contribuíram para a
formação da profissional que hoje me tornei.
Aos meus pais que sempre me mostraram que nossos sonhos são a fonte da
inspiração de cada dia.
Ao meu marido pelo incentivo e paciência durante os difíceis momentos que
enfrentei durante a realização desse trabalho.
4
RESUMO
Em uma organização que possui sistema de gestão da segurança e saúde no trabalho
espera-se que haja comprometimento e preocupação em prevenir acidentes e doenças no
ambiente de trabalho. O advento das LER/DORT é mais um perigo a ser considerado na
realidade das organizações e deve estar incorporado dentro do sistema de gestão. O
impacto causado por essas doenças nas organizações justifica a adoção de estratégias
específicas para se atuar sobre essa problemática. Atualmente os programas de ergonomia
têm sido implantados como uma ferramenta eficaz na identificação dos possíveis riscos à
saúde do trabalhador e atuação na eliminação desses riscos. Entretanto, as ações que
podem constituir um programa de ergonomia são diversas e há poucas informações sobre a
eficácia dessas ações, de que forma eles vêm sendo implantados, os objetivos estabelecidos
e, principalmente, qual o real impacto na melhoria da qualidade de vida e saúde dos
trabalhadores. A presente pesquisa buscou identificar de que forma uma organização que
possui sistema de gestão da segurança e saúde no trabalho e, que sabidamente apresenta
perigos ergonômicos em suas atividades, trata das questões ergonômicas e em que consiste
o programa de ergonomia implantado. Dentre os doze critérios definidos como necessários
para garantirem a eficácia de um programa de ergonomia, a organização estudada atendeu
a apenas cinco critérios, mostrando como principal ponto fraco a falta de
comprometimento com o programa implantado. Apesar da existência de estratégias na
organização para tratar desses problemas ela não é capaz de garantir a eficácia das ações
implantadas e a prevenção de doenças ocupacionais.
Palavras chaves: LER/DORT, programa de ergonomia, sistema de gestão da segurança e
saúde no trabalho, saúde.
5
ABSTRACT
In an organization that has a safety and health management system it’s expected that the
company worries about preventing accidents and diseases in work. The advent of
musculoskeletal diseases is another risk to be considered in the reality of these
organizations and must be incorporated in the management system. The impact caused by
theses diseases in the organizations justify the adoption of specific strategies to act.
Actually the ergonomic programs have been implemented as an efficient tool in the
identification of the possible risks for the health of workers and elimination of these risks.
However, there are many actions that can be part of an ergonomic program and there are
little information about the effectiveness of these actions, how they’ve been implemented,
the objectives established and mainly, what’s the real impact in the quality of life and
health of workers. The search of this study was to understand how an organization that has
a safety and health management system and that clearly has ergonomics risks in its
activities treat the ergonomic questions and in what consist the program implemented.
Among the twelve criterias defined as necessary to guarantee the effectiveness of an
ergonomic program, the organization studied took care of just five, showing as its principal
weakness the lack of commitment with the program implemented. Above the existence of
strategies in the organization to treat these kinds of problems it is unable to guarantee the
efficiency of the implemented actions and the prevention of occupational diseases.
Key words: musculoskeletal diseases, ergonomic program, safety and health management
system, health
6
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 - Ciclo do PDCA.......................................................................................... 17
Figura 2 - Componentes do sistema de trabalho considerados na ergonomia............ 26
Figura 3 - Interação dos determinantes da atividade de trabalho................................ 27
Figura 4- Pacientes com diagnóstico de LER/DORT por ramo de atividade no 1º
semestre de 2004................................................................................. 55
Figura 5 - Evolução dos acidentes típicos e doenças do trabalho.............................. 56
Quadro 1 - Barreiras de um programa de ergonomia e métodos para superá-los....... 47
Tabela 1 - Quantidade mensal de acidentes do trabalho registrados, por motivo, no
Brasil - 2002/2004.................................................................................... 54
Tabela 2 - Quantidade de acidentes do trabalho registrados, por motivo, na cidade
de São Paulo - 2002/2004......................................................................... 54
7
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABERGO - Associação Brasileira de Ergonomia
BS 8.800 - British Standard 8.800 - Occupational health and safety management
systems – Guide
BSI - British Standard Institution
CAT - Comunicação de Acidente do Trabalho
CEREST - Centro de Referência em Saúde do Trabalhador
CIPA - Comissão Interna de Prevenção de Acidentes
DEPARIS - Método de Diagnóstico Participativo dos Riscos
EPI - Equipamento de Proteção Individual
HSE - Health and Safety Executive
GAO - General Accounting Office
HEHS - Health, Education and Human Services
INSS - Instituto Nacional da Seguridade Social
LER/DORT - Lesões por Esforços Repetitivos/Distúrbio Osteomuscular Relacionado ao
Trabalho
NIOSH - National Institute for Occupational Safety and Health
OIT - Organização Internacional do Trabalho
OSHA - Occupational Safety and Health Administration
OHSAS 18001 – Occupational Health and Safety Assessment Series
PCMSO – Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional
PDCA - Planejar, Executar, Verificar e Atuar
SAC - Solicitação de Ação Corretiva
SESMT - Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina do
Trabalho
SST - Segurança e Saúde no Trabalho
8
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................... 09
1.1 Justificativa.................................................................................................... 11
1.2 Problema da pesquisa.................................................................................... 12
1.3 Objetivos da pesquisa.................................................................................... 13
1.3.1 Objetivo geral............................................................................................. 13
1.3.2 Objetivos específicos.................................................................................. 13
1.4 Organização do texto..................................................................................... 14
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA.............................................................. 15
2.1 Sistemas de gestão da segurança e saúde no trabalho.................................. 15
2.2 A Ergonomia no contexto social................................................................... 24
2.3 A ação ergonômica em organizações............................................................. 30
2.4 Programas de ergonomia................................................................................ 32
2.5 Estrutura dos programas de ergonomia........................................................... 34
2.6 Dificuldades e fatores para o sucesso dos programas de ergonomia.............. 46
2.7 A problemáticas das LER/DORT................................................................... 51
3 METODOLOGIA.................................................................................... 58
3.1 Método da pesquisa..................................................................................... 58
3.2 Procedimentos de coleta de dados................................................................ 60
3.3 Análise dos dados......................................................................................... 61
4 ANÁLISE DOS RESULTADOS........................................................ 62
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................ 76
REFERÊNCIAS........................................................................................... 79
APÊNDICE A – Instrumento de pesquisa qualitativa................................. 85
APÊNDICE B – Transcrição da entrevista realizada................................... 87
9
1 INTRODUÇÃO
A precariedade das condições de trabalho caracterizadas por equipamentos
insuficientes e inadequados, ambiente físico impróprio para a atividade humana e espaços
mal desenhados, práticas gerenciais autocráticas e autoritárias, dentre outros fatores
organizacionais e psicossociais do ambiente de trabalho, tem sido descrita em vários
estudos como determinantes pela alta incidência de LER/DORT (Lesões por Esforços
Repetitivos/Distúrbio Osteomuscular Relacionado ao Trabalho) nas organizações.
Os custos e impactos sociais são alarmantes e os prejuízos abrangem as
organizações, instituições públicas e a sociedade em geral.
A legislação brasileira, por meio da Norma Regulamentadora nº 17, de alguma
forma vem buscando obrigar as organizações a atuar na prevenção dessas doenças e a cada
dia busca alternativas para aumentar os custos daquelas que mais adoecem trabalhadores.
Atualmente diversas organizações têm manifestado a necessidade de demonstrar
junto às suas partes interessadas seu comprometimento em relação à segurança e saúde de
seus colaboradores através da implantação de sistemas de gestão da segurança e saúde no
trabalho, porém pouco há descrito na literatura sobre as formas de abordagem e atuação
dessas empresas sobre a problemática das LER/DORT.
Como o objetivo principal da ergonomia é adaptar o trabalho ao homem,
seguramente os aumentos na incidência de LER/DORT e os enormes custos associados a
esta patologia justificam a adoção de um programa de ações ergonômicas para ajudar a
solucionar esse problema, melhorar a produtividade e a qualidade de vida dos
trabalhadores.
Ao se optar pela implementação de um sistema de gestão da segurança e saúde no
trabalho, espera-se que a atuação para a prevenção de LER/DORT esteja inserida dentro do
contexto do sistema de gestão e que em função das especificidades dessas doenças a
organização possua estratégias diferenciadas para tratá-las.
10
O aumento das estatísticas de diagnóstico dessas doenças sugerem que as
estratégias adotadas não tem sido adequadas para darem conta dessas especificidades e isto
pode ocorrer em função de falta de competências para tratar dessas questões, estrutura
inadequada do programa implantado, falta de comprometimento da organização ou até
mesmo que a organização tenha implantado o sistema de gestão apenas para atender a
demanda de um cliente.
Nesta perspectiva, esse trabalho busca compreender de que forma uma organização,
que possui sistema de gestão da segurança e saúde no trabalho e que possui riscos
ergonômicos em suas atividades, faz a prevenção de LER/DORT e se as estratégias
utilizadas são suficientes para promoverem modificações na situação de trabalho.
11
1.1 Justificativa
Como conseqüência de perigos ergonômicos como manuseio ou levantamento
manual de peso, atividades repetitivas, esforços excessivos, vibrações, posturas
inadequadas, falta de flexibilidade de tempo, ritmo de trabalho excessivo, dentre outros
existentes na atividade de trabalho temos o risco para o desenvolvimento de LER/DORT.
A busca pela excelência em práticas de segurança e saúde no trabalho é contínua, e
o advento das LER/DORT se constituiu como um grande desafio para as organizações que
vêm procurando implantar medidas de controle e prevenção.
Kroemer (1989) ressalta a importância da ergonomia na prevenção das
LER/DORT, uma vez que essa ciência verifica o modo como o trabalho é realizado, as
atividades envolvidas e o papel do empregador. Os conhecimentos da ergonomia são
necessários para se compreender os gestos empregados durante o exercício da atividade
laboral, identificar-se os fatores de risco existentes no trabalho e se perceber no relato do
trabalhador como está organizada a produção da empresa.
Os programas de ergonomia podem ser uma ferramenta/instrumento eficaz para o
gerenciamento da saúde ocupacional nas organizações por meio de uma atuação preventiva
na busca de se identificar os possíveis riscos à saúde do trabalhador e atuar na eliminação
desses riscos.
As ações que podem constituir um programa de ergonomia são diversas, podendo a
atuação ocorrer desde a concepção de novos postos de trabalho a projetos de melhoria e
implantação de ações preventivas de educação e treinamento.
Essas ações deverão ser estruturadas de acordo com a realidade de cada
organização, porém o atendimento de padrões mínimos faz-se necessário para realmente
garantir que o ambiente de trabalho esteja adaptado ao homem e não o contrário e que haja
uma abordagem e atuação específica em função das características das LER/DORT.
12
1.2 Problema da pesquisa
A presente pesquisa busca verificar de que maneira uma indústria metal-mecânica,
que possui sistema de gestão da segurança e saúde no trabalho, lida com as questões
ergonômicas e em que consiste o programa de ergonomia implantado visando a diminuição
dos índices de LER/DORT.
Atualmente diversas ações têm sido amplamente instituídas dentro das empresas,
porém pouco há descrito sobre a eficácia desses programas, de que forma eles vêm sendo
implantados, quais são os objetivos estabelecidos e, principalmente, qual o real impacto na
melhoria da qualidade de vida e saúde dos trabalhadores. A difusão dessas práticas é que
auxiliarão no direcionamento das organizações na busca da excelência no controle das
LER/DORT.
O compartilhamento das ações e dos resultados atingidos com essas ações é
essencial para se promover redução nos índices de doenças ocupacionais existentes
atualmente no país e contribuir para a adoção dessas práticas por outras empresas.
13
1.3 Objetivos da pesquisa
1.3.1 Objetivo geral
Analisar a consistência do programa para prevenção de LER/DORT implantado em
uma indústria metal-mecânica que possui sistema de gestão da segurança e saúde no
trabalho.
1.3.2 Objetivos específicos
a) Analisar em que consiste o programa de ergonomia existente em uma indústria
metal-mecânica que possui sistema de gestão da segurança e saúde no trabalho.
b) Estudar como é a estrutura do programa de ergonomia implantado na
organização estudada em comparação com o proposto pela literatura.
14
1.4 Organização do texto
Esta dissertação está organizada em cinco capítulos. O primeiro capítulo introduz o
assunto dessa dissertação por meio da justificativa, do problema da pesquisa e dos seus
objetivos.
No segundo capítulo é apresentada a revisão bibliográfica onde inicialmente
aborda-se os sistemas de gestão da segurança e saúde no trabalho, definição, objetivos e
estrutura. Em seguida é introduzido o conceito de ergonomia e sua importância para a
prevenção da LER/DORT, seguido de um subitem que trata da ação ergonômica em
organizações.
Ainda no capítulo dois da revisão bibliográfica, o subitem 2.4 fala sobre os
programas de ergonomia e o subitem 2.5 aborda a estrutura necessária para os programas
de ergonomia; também são abordados as dificuldades e fatores para o sucesso dos
programas de ergonomia e, por fim o último subitem trata mais especificamente sobre a
problemáticas das LER/DORT, o que justifica a relevância da implantação do programa de
ergonomia.
No terceiro capítulo, são tratados os procedimentos metodológicos como o método
da pesquisa, os procedimentos de coleta e análise dos dados.
No quarto capítulo, são apresentados os resultados com as discussões a respeito dos
dados obtidos e no quinto as considerações finais.
15
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 Sistemas de gestão da segurança e saúde no trabalho
Atualmente o êxito das organizações está diretamente relacionado à qualidade de
seus produtos, baixos custos, alta produtividade, máxima rentabilidade, responsabilidade
social e, essencialmente, o respeito ao ser humano no que se refere ao bem estar, segurança
e saúde dos seus trabalhadores.
Em função disso, há razões não apenas econômicas assim como éticas e legais para
reduzir os acidentes e doenças relacionadas ao trabalho, uma vez que além de reduzir os
custos, o gerenciamento eficaz da segurança e saúde no trabalho promove a eficiência dos
negócios.
Uma das formas utilizadas pelas organizações para lidar com as questões de
segurança e saúde no trabalho é através de um tratamento sistêmico desenvolvido dentro
de um modelo de sistema de gestão.
O sistema de gestão de segurança e saúde no trabalho é parte de um sistema de
gestão global, que facilita o gerenciamento dos riscos associados aos negócios da
organização, o que inclui a estrutura organizacional, atividades de planejamento,
responsabilidades, práticas, procedimentos, processos e recursos para desenvolver,
implementar, atingir, analisar criticamente e manter a política de segurança e saúde na
organização (GARCIA, 2004).
O sistema de gestão da segurança e saúde no trabalho busca assegurar que os
trabalhadores tenham sua saúde e segurança garantida durante o desempenho de suas
funções estabelecido por um sistema de controle, monitoramento e prevenção, preocupado
com a melhoria contínua.
16
Existem diferentes modelos de sistema de gestão da segurança e saúde no trabalho
disponíveis, as organizações podem decidir por qual utilizar em função de diferentes
critérios como cultura organizacional, tempo de resposta aos resultados, país de origem,
afinidade com a metodologia, questões comerciais, políticas internas e externas, entre
outros (GARCIA, 2004).
O princípio básico de um sistema de gestão deve envolver a determinação de
parâmetros de avaliação que incorporem não só os aspectos operacionais, mas também a
política, o gerenciamento e o comprometimento da alta administração com o processo de
mudança e melhoria contínua das condições de trabalho (ARAÚJO, 2005).
A BSI – British Standard Institution - publicou em 15 de abril de 1999 um modelo
de sistema de gestão bastante utilizado, a OHSAS 18001 – Occupational Health and Safety
Assessment Series - , desenvolvido por um grupo de organismos certificados e entidades
de normalização para servir como um guia de referência a organizações que desejam
sistematizar a gestão da segurança e saúde no trabalho (GARCIA, 2004).
O principal objetivo desse guia é auxiliar na construção de um sistema de gestão da
segurança e saúde no trabalho eficiente capaz de integrar-se a outros sistemas de gestão.
Como objetivos secundários, esse guia visa eliminar ou minimizar os riscos aos quais os
trabalhadores estão expostos; reduzir o número de acidentes e incidentes; reduzir os custos
com acidentes do trabalho; implementar, manter e melhorar continuamente o sistema de
gestão; garantir que a política de segurança e saúde no trabalho seja valor da organização e
os objetivos e metas sejam administradas de forma eficiente; envolver a alta e média
administração na construção e desenvolvimento do sistema de gestão; demonstrar
comprometimento com segurança e saúde no trabalho às partes interessadas; consolidar a
imagem de uma organização responsável e atuante nas questões de segurança e saúde no
trabalho; envolver continuamente os trabalhadores no sistema de gestão de tal forma que
atuem nas discussões desenvolvidas (GARCIA, 2004).
A implantação de um sistema de gestão mostra uma atitude proativa da
administração, que busca identificar os riscos e orientar os trabalhadores em ações de
segurança e saúde e não apenas o simples atendimento das normas regulamentadoras do
Ministério do Trabalho, exigindo um amplo esforço da organização para a quebra de
17
paradigmas que guiam as ações simplórias e pouco eficientes na redução do número de
doenças e acidentes no trabalho (GARCIA, 2004; ARAÚJO, 2005).
O guia conhecido como BS 8800 - Occupational health and safety management
systems – Guide (2004) cita que o bom desempenho em segurança e saúde não é causal e
que as organizações devem dispensar a mesma importância à obtenção de altos padrões de
gerenciamento em segurança e saúde como fazem com os demais aspectos chaves de suas
atividades. Para isso faz-se necessária a adoção de uma abordagem estruturada para
identificação, avaliação e controle dos riscos relacionados com o trabalho.
Os princípios da ferramenta de gestão PDCA (Plan, Do, Check and Act)
traduzindo-se do inglês para Planejar, Executar, Verificar e Atuar são indicados para
nortear a implementação de um sistema de gestão, conforme figura 1 na página 17.
Figura 1: Ciclo do PDCA
Figura 1: Ciclo do PDCA
Fonte: Vilela (2004)
A fase de planejamento envolve a identificação do problema e o reconhecimento de
sua relevância para a organização. O problema deve ter suas características analisadas sob
vários aspectos, as causas fundamentais do problema devem ser descobertas, e um plano de
ação deve ser estabelecido.
18
É na fase de planejamento que se definem os programas e se estabelecem os planos
de ação que farão parte do sistema de gestão. Dentre eles o programa de ergonomia, caso a
organização identifique a existência de perigos ergonômicos em suas atividades. No Brasil
a implantação de um programa de ergonomia visa também atender a Norma
Regulamentadora nº 17, que trata dessas questões e da prevenção de doenças ocupacionais.
A fase de execução envolve a implementação do plano de ação em pequena escala
para bloquear as causas fundamentais do problema.
Na fase de verificação faz-se a análise dos resultados das ações implementadas e da
sua eficácia, identifica-se qual foi o aprendizado e o que não funcionou adequadamente. E,
para saber se o problema inicial foi resolvido, deve-se desenvolver formas de medição para
avaliar o grau de melhoria atingido.
Na fase de ações, verificar se as mesmas foram efetivas para serem implementadas
em larga escala. O que significa tornar as mudanças rotina através da padronização das
ações para garantir que o problema seja adequadamente bloqueado evitando novos casos,
sendo nessa fase o ciclo fechado com conclusão da solução do problema.
Caso as ações do plano de ação não tenham sido eficazes para o bloqueio do
problema, isso deve ser identificado na fase de verificação e todo processo deve ser
reiniciado.
Trazendo esses princípios para o contexto da gestão da segurança e saúde no
trabalho a análise inicial deve identificar as leis, regulamentações, diretrizes, programas e
outras disposições em segurança e saúde no trabalho a qual a organização esteja subscrita
(BARREIROS, 2006).
Em seguida identificar, prever e avaliar os perigos e riscos existentes ou possíveis
em segurança e saúde em relação ao meio ambiente e a organização do trabalho, e
determinar se os controles são adequados (BARREIROS, 2006).
19
Os riscos que devem ser avaliados em segurança e saúde são aqueles com potencial
para causarem acidentes e doenças, sendo essencial um profundo conhecimento das
atividades desenvolvidas pela organização para a partir daí ser feita a identificação dos
perigos e a determinação dos riscos.
Segundo Barreiros (2006), os resultados da análise inicial é que irão nortear a
adoção das decisões para a implementação do sistema de gestão e servir de referência para
avaliar o processo de melhoria contínua do sistema.
A política adotada para a implementação do sistema de gestão deve
essencialmente: ser específica para a organização que a implantou; apropriada ao seu
tamanho e natureza de suas atividade; estar endossada pela pessoa com maior
responsabilidade na organização; ser difundida a todas as pessoas da organização; ser
periodicamente revisada para que continue sendo adequada; e estar disponível às partes
externas para consulta (ARAÚJO, 2005; BARREIROS, 2006).
Após a determinação da política, a organização deve estabelecer e manter
procedimentos para a identificação dos perigos e implementar as medidas de controle
adequadas.
A forma de avaliação de riscos e perigos pode ser estabelecida pela própria
organização utilizando a técnica que ela julgar mais adequada, devendo a abordagem ser
proativa e obrigatoriamente incluir as atividades rotineiras e não rotineiras, as operações
desenvolvidas pelos trabalhadores, contratados e/ou que possam afetar visitantes e a
comunidade (ARAÚJO, 2005; BARREIROS, 2006).
Segundo Barreiros (2006), de acordo com a Organização Internacional do Trabalho
- OIT - a identificação e avaliação dos perigos e riscos em segurança e saúde no trabalho
devem ser feitas sob uma base contínua e as medidas de proteção e controle devem ser
implementadas prioritariamente através da supressão do perigo ou risco. Caso essa medida
não seja possível, faz-se necessário controlar o perigo/risco em sua origem com a adoção
de medicas técnicas de controle; na impossibilidade podem ser adotadas medidas de
controle administrativas.
20
Apenas quando o perigo/risco não puder ser controlado através de medidas
coletivas, o empregador deve oferecer equipamento de proteção apropriado sem ônus e
devem ser aplicadas medidas relativas ao uso e a conservação do referido equipamento
(BARREIROS, 2006).
Todos os membros da organização devem ser qualificados, treinados e
familiarizados com as tarefas que possam impactar no desempenho do sistema de gestão e
os treinamentos devem levar em conta os diferentes níveis de responsabilidade, habilidade,
instrução e risco (ARAÚJO, 2005).
A organização deve garantir que seus colaboradores e contratados estejam
conscientes quanto à importância da conformidade com a política do sistema de gestão e
seus procedimentos; quanto às conseqüências reais e potenciais de suas atividades; de suas
funções e responsabilidades com a política do sistema de gestão e das conseqüências
potenciais do não atendimento a procedimentos operacionais específicos (ARAÚJO,
2005).
Como parte dos controles e padronização das ações faz-se necessário que seja
elaborada e mantida atualizada uma documentação sobre o sistema de gestão que
compreenda a política e objetivos da organização; as principais funções e
responsabilidades para a implementação do sistema de gestão; os perigos e os riscos mais
importantes para a segurança e saúde no trabalho advindos das atividades da organização
bem como as disposições adotadas para a sua prevenção e controle; as disposições,
procedimentos, instruções e outros documentos internos que se utilizem na estrutura do
sistema de gestão (BARREIROS, 2006).
Um dos aspectos mais importantes em um sistema de gestão é monitorar e
acompanhar o desempenho das ações estabelecidas, e a definição de indicadores e formas
de acompanhar a evolução e divulgação de cada um deles faz-se necessária (ARAÚJO,
2005).
Medição é a palavra chave em qualquer processo de gerenciamento constituindo a
base da melhoria contínua. Se a medição não é adequadamente conduzida, a efetividade do
sistema de gerenciamento pode ser subestimada e não haver informações reais para
21
informar aos gestores como está o controle dos riscos para a segurança e saúde (HSE,
2001).
A escolha das medidas necessárias pode ser feita considerando: qual resposta é
desejada; quando ela é desejada; como saber se foi alcançada a resposta desejada; o que se
espera que as pessoas façam; o que elas precisam saber para que façam; o que elas devem
fazer; quais resultados devem ser obtidos; como saber se as pessoas estão fazendo o que
deveriam fazer (HSE, 2001).
Os sistemas de auditorias são uma das formas mais apontadas na literatura para
monitorar e avaliar sistemas de gerenciamento em segurança e saúde, sendo essa uma
forma sistemática de checar se as atividades e resultados estão em conformidade com as
ações planejadas, e se as ações foram implementadas efetivamente (SHAW, 1994;
GARCIA, 2004).
Garcia (2004) considera que a auditoria é uma atividade de verificação e não de
medição e que a utilização de critérios definidos é importante para o estabelecimento de
quais atividades devem ser desenvolvidas para que a organização atinja seus resultados.
Segundo Shaw (1994), a metodologia de auditoria examina as características do
sistema de gerenciamento de acordo com uma lista de prescrições e o avalia em
comparação com os padrões pré-determinados. A autora não considera essa prática
apropriada uma vez que não permite o uso da criatividade ou o desenvolvimento de
padrões específicos para ir de encontro às necessidades individuais das organizações
(SHAW, 1994).
Diferente da abordagem do sistema de auditoria, o processo de gerenciamento para
medição de desempenho em segurança e saúde no trabalho exige a monitorização contínua
de indicadores de desempenho e da melhoria contínua do processo desenvolvimento
(SHAW, 1994).
Informações sobre a medição do desempenho em segurança e saúde são de
interesse de diversas pessoas na hierarquia da organização, sendo que cada um tem
interesse em informações diferenciadas apropriadas às suas posições e responsabilidades.
22
Dessa forma a avaliação do desempenho deve ser estruturada de acordo com os
interesses de cada área da organização, e deve ser do conhecimento e entendimento de
todos os interessados na organização como companhias de seguros, acionistas,
fornecedores, contratantes, sociedade, etc. Isso porque há um crescente interesse em
mostrar que os controles dos riscos à segurança e saúde existem, funcionam
adequadamente e são eficientes (HSE, 2001).
Estabelecida a freqüência da avaliação, o desempenho em segurança e saúde deve
ser avaliado por todos os níveis de gerenciamento da organização que devem ser
responsáveis pelo monitoramento da performance ativa e reativa. Os gestores devem ter
responsabilidade direta pela implementação das ações e monitoramento dos resultados e
objetivos (HSE, 2001).
Dessa forma a responsabilidade pela segurança e saúde não fica apenas sob
responsabilidade e controle do SESMT (Serviço Especializado em Segurança e Medicina
do Trabalho) das empresas, mas se torna item de avaliação de desempenho de todos os
níveis gerenciais.
A próxima etapa é comparar a performance atual com o alvo determinado sendo a
ênfase nas realizações e não nos fracassos, sendo importante a análise das razões da
performance abaixo da estabelecida. A medição da performance deve gerar informações
para serem tomadas decisões sobre quais ações corretivas são necessárias, onde e quando
(HSE, 2001).
As ações corretivas da mesma forma devem ser regularmente avaliadas para
garantir que elas se mantenham apropriadas, úteis e eficientes em relação ao custo (HSE,
2001).
O importante é que o processo de avaliação contribua para a consolidação do
sistema de gestão da segurança e saúde no trabalho e para a elaboração de estratégias para
melhorar o seu desempenho.
A melhora do desempenho deve ser continuamente alvo da organização para que
ela possa garantir seus objetivos. No caso de doenças ocupacionais, qualquer sinal de
23
queixa, falta ao trabalho, indicadores médicos ou de pesquisas no ambiente de trabalho
devem ser investigados dentro dessa mesma estrutura para determinar se há situações
suspeitas que possam causar a doença.
A implantação de um sistema de gestão da segurança e saúde no trabalho deve
tratar de todos os riscos de acidentes e doenças dentro da mesma estrutura e, caso sejam
identificados riscos para o desenvolvimento de LER/DORT dentro de uma organização
que possui esse sistema, ela deve tratá-lo dentro da estrutura buscando as melhores práticas
para atuar sobre essa questão.
24
2.2 A Ergonomia no contexto social
A problemática das LER/DORT tornou-se, já há alguns anos, foco de preocupação
dos gestores de segurança e saúde no trabalho em função dos impactos para as
organizações no que se refere aos custos e déficit de mão de obra.
Porém a preocupação de atuar sobre essa problemática remonta de 1857, quando se
iniciaram as discussões sobre o tema pelo polonês Wojciech Jastrezebowisky, ao publicar
um artigo intitulado "Ensaios de Ergonomia ou Ciência do Trabalho", baseado nas leis
objetivas da ciência sobre a natureza. O tema é retomado quase cem anos depois, quando
em 12 de julho de 1949 um grupo de cientistas e pesquisadores se reúne para discutir e
formalizar a existência desse novo ramo de aplicação interdisciplinar da ciência (IIDA,
2005).
Em 1950, é realizada a segunda reunião deste grupo, sendo proposto o neologismo
"ERGONOMIA", formado pelos termos gregos ergon (trabalho) e nomos (regras). Funda-
se assim no início da década de 50, na Inglaterra, a Ergonomics Research Society (IIDA,
2005; WEB, 2006).
A obra "Análise do Trabalho" de Obredane & Faverge, é publicada em 1955 e se
torna decisiva para a evolução da metodologia ergonômica. Nesta publicação é apresentada
de forma clara a importância da observação das situações reais de trabalho para a melhoria
dos meios, métodos e ambiente do trabalho (WEB, 2006).
No Brasil, o contexto histórico se inicia na década de 60 na Escola Politécnica da
USP, segundo o “site” Ergonomia (WEB, 2006):
A ergonomia no Brasil começou a ser evocada na USP, nos anos 60 pelo Prof.
Sérgio Penna Khel, que encorajou Itiro Lida a desenvolver a primeira tese
brasileira em Ergonomia, a Ergonomia do Manejo. Também na USP, Ribeirão
Preto, Paul Stephaneek introduzia o tema na Psicologia. Nesta época, no Rio
de Janeiro, o Prof. Alberto Mibielli de Carvalho apresentava Ergonomia aos
estudantes de Medicina das duas faculdades mais importantes do Rio, a
Nacional (UFRJ) e a ciências Médicas (UEG, depois UERJ). O Prof. Franco
25
Seminério falava desta disciplina, com seu refinado estilo, aos estudantes de
Psicologia da UFRJ. O maior impulso se deu na COPPE, no início dos anos
70, com a vinda do Prof. Itiro Lida para o Programa de Engenharia de
Produção, com escala na ESDI/RJ. <http://ergonomia.com.br/htm/historico>.
A importância do assunto é discutida na comunidade acadêmica durante 20 anos,
em 08 de julho de 1978 sai a primeira Portaria de nº 3.214 do Ministério do Trabalho
aprovando a Norma Regulamentadora n° 17 que trata especificamente da Ergonomia,
sendo uma nova redação com adequações dada pela Portaria n° 3.751 em 23.11.1990.
O documento caracteriza as condições de trabalho que incluem aspectos
relacionados ao levantamento, transporte e descarga de materiais, ao mobiliário, aos
equipamentos e às condições ambientais do posto de trabalho e à própria organização do
trabalho como sendo agentes ergonômicos de doenças ocupacionais.
A Associação Brasileira de Ergonomia (ABERGO) define ergonomia como o
“estudo das interações das pessoas com a tecnologia, a organização e o ambiente,
objetivando intervenções e projetos que visem melhorar, de forma integrada e não-
dissociada, a segurança, o conforto, o bem-estar e a eficácia das atividades humanas”
(2006).
Segundo Iida (2005), a Ergonomia é o estudo da adaptação do trabalho ao homem,
onde se faz necessário conhecer as características do trabalhador para depois projetar o
trabalho que ele possa executar, preservando sua saúde. Define-se como um conjunto de
conhecimentos científicos relativos ao homem, necessários para a concepção de máquinas,
dispositivos e ferramentas que possam ser utilizados com o máximo de segurança, conforto
e eficiência (WISNER, 1987).
O manual de aplicação da norma regulamentadora nº 17 (2002) cita que o
desempenho eficiente não deve ser encarado como uma otimização do volume da
produção, nesse contexto a eficiência está relacionada à necessidade do trabalhador
permanecer no processo produtivo durante todo o período estipulado socialmente que isso
deva acontecer, sendo isso essencial num momento em que o sistema previdenciário
encontra-se deficitário. Devem ser garantidas as condições para que o trabalho seja
26
executado até a uma idade mais avançada, sendo de interesse de toda a sociedade zelar
para eficiência do sistema de seguridade social.
De acordo com Santos e Fialho (1997), a ergonomia busca promover a máxima
ambientação do trabalhador através da adequação das condições físicas, psíquicas e
emocionais. Medeiros (2002) afirma que a ergonomia propõe preservar o homem da
fadiga, do desgaste físico e mental, colocando-o apto ao trabalho produtivo.
Através do estudo dos diversos fatores que influenciam no desempenho do trabalho,
a ergonomia procura reduzir suas conseqüências nocivas sobre o trabalhador, ou seja,
procura minimizar a fadiga, estresse, erros e acidentes, proporcionando segurança,
satisfação e saúde aos trabalhadores durante o exercício do trabalho (IIDA, 2005).
Stinson e Fraser (1999) mostram a inter-relação entre os vários componentes
considerados no escopo de estudos da ergonomia na figura 2.
Tecnologia Organização
Ambiente
Homem
Tarefa
Figura 2: Componentes do sistema de trabalho considerados na ergonomia
Fonte: Stinson e Fraser (1999).
Nesse contexto o homem participa com o seu nível de performance física,
dimensões corporais (antropometria), saúde, experiência, características motoras,
inteligência e histórico de lesões e adoecimentos (STINSON e FRASER, 1999).
27
As características da tarefa com a configuração da estação de trabalho, design de
equipamentos e ferramentas, forças, repetitividade, posturas exigidas e programação das
pausas. Já o ambiente contempla o ruído, iluminação, vibração, calor/frio, qualidade do ar
e a organização, a saber: as normas de produção, o processo de trabalho, estrutura
hierárquica, conteúdo do trabalho, responsabilidades e estrutura social. A tecnologia
envolve os equipamentos e softwares (STINSON e FRASER, 1999).
Numa outra abordagem Guérin (2004), considera a compreensão da atividade de
trabalho essencial. Para o autor, ela é o elemento central que organiza e estrutura os
componentes da situação de trabalho.
Para a compreensão da atividade de trabalho, conforme a figura 3, deve-se
considerar de um lado o trabalhador com suas características específicas, do outro, a
empresa com as regras para o funcionamento do trabalho e no centro os fatores que
contribuem para a organização desses dois conjuntos que serão: o contrato de trabalho,
salário e objetos de negociação; a tarefa que é o conjunto de objetivos do trabalho
definidos pelo empregador; e a atividade de trabalho, ou seja, a maneira como
efetivamente o trabalhador irá atingir os objetivos designados (GUÉRIN, 2004).
Figura 3: Interação dos determinantes da atividade de trabalho
Fonte: Guérin (2004).
28
Segundo Guérin (2004), os resultados da interação dos determinantes da atividade
de trabalho devem ser relacionados onde, de um lado temos a produção do ponto de vista
qualitativo e quantitativo, e do outro as conseqüências aos trabalhadores que poderão ser
negativas (alteração da saúde física, psíquica e social) ou positivas (aquisição de
conhecimentos e aprendizagens, melhora da qualificação, etc).
De acordo com Montmollin (1990), existem duas ergonomias. A primeira corrente,
a americana e mais antiga, considera a ergonomia como a utilização das ciências para
melhorar as condições do trabalho, coincidindo com os conceitos de ergonomia física de
Vidal (2002), que cita que no âmbito da ergonomia física são abordadas as características
da anatomia, antropometria, fisiologia e biomecânica do corpo humano em relação às
exigências de uma situação de trabalho, preocupando-se com o adequado arranjo das
interfaces existentes entre o homem e o seu trabalho.
A ergonomia física tem sua atuação mais voltada para os postos de trabalho,
problemas antropométricos e posturais; no campo ambiental a ergonomia física se
preocupa com o meio ambiente de trabalho e suas inadequações com recomendações
relativas à higiene voltadas a integridade do organismo e do conforto ambiental (ruído –
temperatura – iluminamento – qualidade do ar – etc) buscando melhores condições
possíveis para o desempenho da atividade de trabalho (VIDAL, 2002).
A segunda corrente, mais recente e européia, considera a ergonomia como o estudo
específico do trabalho humano com a finalidade de melhorá-lo; sem desconsiderar as
características psicofisiológicas do homem, prioriza a análise da atividade, entendendo o
trabalhador como ator no processo de trabalho (MONTMOLLIN, 1990; ABRAHÃO e
PINHO, 1999).
Vidal (2002) comenta sobre a importância da ergonomia cognitiva, que estuda a
carga mental de trabalho, tomada de decisão, performance especializada, interação
homem-computador, estresse e treinamento. Propõe-se uma divisão entre trabalho físico e
mental e através desse aspecto descrever como a cognição humana afeta o processo
laborativo e por ele é afetada (VIDAL, 2002; LIMA, 2003).
29
Segundo Iida (2005), a ergonomia cognitiva ocupa-se dos processos mentais, como
a percepção, a memória, o raciocínio e a resposta motora relacionados com as interações
entre as pessoas e os outros elementos de um sistema.
Montmoullin (1990) cita que nesta perspectiva a fadiga, dor e erros do trabalhador
não podem ser explicados com objetividade apenas com base nos aspectos físicos, sem a
análise específica de como o trabalhador executa suas tarefas, englobando a organização
do trabalho. O autor comenta que as duas correntes da ergonomia que estudam a relação do
homem com o seu trabalho não são contraditórias, mas complementares.
Iida (2005) ainda fala da ergonomia organizacional que trata da otimização dos
sistemas sócio-técnicos, abrangendo as estruturas organizacionais, políticas e processos.
Essa modalidade abrange o projeto de trabalho, a programação de trabalho em grupo,
projeto participativo, trabalho cooperativo, cultura organizacional, organizações em rede,
teletrabalho e a gestão da qualidade.
O desempenho do ser humano na execução de suas atividades de trabalho está
relacionado às condições de trabalho que lhe são impostas, em particular às condições
organizacionais, ambientais, técnicas e físicas. Essas condições irão determinar
respectivamente sua motivação e satisfação no trabalho, e têm influência direta no
processo saúde-doença dos trabalhadores. (SANTOS e FIALHO, 1997).
Para a prática da ergonomia é essencial a abordagem dos aspectos físicos,
ambientais, cognitivos e organizacionais que estão envolvidos com essa ciência. Qualquer
tipo de avaliação que não contemple todos esses aspectos pode estar sendo subjetiva, não
retratando a realidade ergonômica da empresa, o que pode levar a dúvidas na persistência
das queixas e afastamentos apesar da melhora dos aspectos avaliados.
30
2.3 A ação ergonômica em organizações
Alguns autores indicam caminhos utilizados por diversas organizações para
diminuir o nível de doenças ocupacionais que geram um alto índice de absenteísmo,
limitando a saúde de milhões de trabalhadores, principalmente pelas dores adquiridas em
seu próprio ambiente de trabalho. Gemignani (1996) apresenta uma solução que promete,
no mínimo, diminuir os gastos das empresas que é o desenvolvimento de programas que
promovam o bem estar de seus colaboradores.
Crozera (1998) afirma que apesar de alguns especialistas acreditarem que a
prevenção de doenças ocupacionais do tipo osteomusculares é apenas uma questão de
mudar aspectos físicos do trabalho. Evidências apontam que a solução do problema passa
pela organização do trabalho e acaba, de fato, estabelecida com a implantação de um
programa de ergonomia.
Gemignani (1996) relata que diversas companhias americanas como a Cervejaria
Coors, Johnson & Johnson, Cigna, DuPont, Florida Power and Light e Texas Instruments,
tem instituído programas de prevenção a partir da adoção de medidas destinadas à
promoção da segurança e saúde do trabalho nas empresas.
A GAO - General Accounting Office e HEHS - Health, Education and Human
Services dos Estados Unidos, GAO/HEHS (1997), publicaram o Private Sector
Ergonomics Programs com casos de empresas que obtiveram sucessos com programas de
ergonomia. Dentre elas estão: AMP, Electronic Connectors Manufacturing Facility,
Navistar, SOCHS, Lewiston, Defense Systems and Electronics Group Headquarters, e a
AEFA Headquarters.
Num programa de gestão preventiva a ação pode ser conduzida a partir de análises
de diversos reveladores levando-se em consideração as realidades vividas nas
organizações. A melhora tende a repercutir em cascata e de forma consistente nas
condições de trabalho, graças a uma ação integrada com os responsáveis hierárquicos
(VILELA, 2003).
31
A ação ergonômica deve ser entendida como um conjunto de princípios e conceitos
eficazes para viabilizar as mudanças necessárias para a adequação do trabalho às
características, habilidades e limitações dos trabalhadores à luz dos critérios: efetividade
(eficiência, qualidade e custo/benefício), conforto (saúde, bem estar e usabilidade) e
segurança (confiabilidade, usabilidade e prevenção) (VIDAL, 2002).
32
2.4 Programas de ergonomia
A implantação de um programa de ergonomia irá definir e garantir como as coisas
irão mudar no tempo, através de uma seqüência de eventos, modificando e eliminando as
condições de trabalho inadequadas causadoras de lesões ou outras formas de perdas, para
melhores condições de trabalho em que os trabalhadores possam agir com o máximo de
conforto e produtividade. (COUTO, 2002).
Os programas desenvolvidos variam de acordo com a empresa, país, cultura,
legislação diferenciada, política, entre outros. Diversos fatores contribuem para uma linha
metodológica diferenciada, porém, na sua grande maioria encontram-se aspectos
semelhantes como benefícios, definições, problemas e soluções (SANTOS, 2003).
Com relação ao alcance, os programas de ergonomia podem se resumir a um
programa de saúde ocupacional, integrar o delineamento produtivo da empresa atuando
simultaneamente nos produtos e processos, ou até mesmo integrar as decisões estratégicas
de modernização e de atualização tecnológica da organização (VIDAL, 2002).
A opção pelo tipo de alcance do programa é basicamente estratégica ligada ao porte
e relevância dos problemas da empresa, sendo que isso definirá os contornos das ações de
sensibilização das gerências e da conscientização dos funcionários (VIDAL, 2002).
Segundo Vidal (2002), a implantação de um programa de ergonomia pode ocorrer
do ponto de vista reativo em resposta ao acúmulo de problemas gerados pelo descaso
justificado ou não com as questões ergonômicas da empresa; ou proativo que busca
antecipar o estado das coisas e garantir a efetividade em longo prazo, mediante a
integração de outros esforços como as certificações de qualidade e de uma engenharia de
produto avançada.
Tomasini (2001) comenta que um programa de ergonomia deve caracterizar-se por
uma visão sistêmica e uma abordagem multidisciplinar, além de levar em consideração a
produtividade e os aspectos humanos.
33
Os programas devem buscar o atendimento aos objetivos da ergonomia tais como:
prevenção de acidentes e doenças, melhoria das condições de trabalho, aumento da
eficiência e motivação no trabalho, aumento da produtividade, redução do absenteísmo,
diminuição dos gastos com despesas médicas e acidentes, maior segurança no trabalho,
aumento da satisfação dos funcionários e melhora da saúde, bem estar e qualidade de vida.
Além disso, o atendimento à legislação – Norma Regulamentadora nº 17/Ergonomia - e
sanar os problemas ergonômicos existentes (SANTOS, 2005).
A existência de um programa de ergonomia não significa uma outra forma de
trabalhar com ergonomia, mas a criação de condições favoráveis no ambiente e na
formação de uma equipe para o desempenho de boas práticas, bons projetos e bons
registros na área. Em contraposição a um trabalho eventual, pontual e localizado, os
programas de ergonomia têm como objetivo viabilizar a prática ergonômica de forma
perene, progressiva e articulada (VIDAL, 2002).
34
2.5 Estrutura dos programas de ergonomia
As diferentes realidades das organizações não permitem traçar um programa com
critérios para cada condição de trabalho, mas é possível descrever os passos necessários e
as condições mínimas para uma efetiva prevenção. Diversos autores apontam os elementos
essenciais para o desenvolvimento de um programa de prevenção de LER/DORT eficaz.
Segundo Vidal (2002), um programa de ergonomia deve articular os seguintes
elementos: condução pela direção e participação dos trabalhadores, identificação, análise,
prevenção e controle de riscos ergonômicos, informação e comunicação permanente,
treinamentos constantes e avaliação contínua da efetividade do programa.
O relatório da OSHA (Ocuppational Safety and Health Administration) de agosto
de 1997 e o guia para programas de prevenção de Maciel (2000) citam que para garantir
que os riscos ergonômicos sejam identificados e controlados devem fazer parte de um
programa de ergonomia: comprometimento da gerência, envolvimento dos trabalhadores,
identificação dos problemas nos postos de trabalho, treinamento e educação para os
trabalhadores e apropriado gerenciamento médico.
O relatório da OSHA cita ainda que a literatura mostra uma variedade de
alternativas através das quais as empresas podem implementar esses elementos que irão
exigir diferentes graus de envolvimento de empregados e empregadores.
Ao se deparar com problemas de produção, de saúde ou até mesmo exigências
legais que demandem ações ergonômicas é comum a organização contratar uma
consultoria externa para a solução de tais problemas.
Para Duarte et al (1999), através desse tipo de ação se estabelece na empresa uma
política de atuação que focada apenas na solução de tais problemas não desenvolve um
processo de acompanhamento dos resultados obtidos em tais intervenções, nem capitaliza
as experiências adquiridas nessa fase, ou seja, não há aprendizado para situações futuras.
Quando se apresenta uma nova demanda, o processo de intervenção ergonômica é iniciado
nova e isoladamente, como se não houvesse nenhuma experiência anterior.
35
A prática dos programas de ergonomia deve ser contínua, ações isoladas em geral
não são incorporadas pela empresa e novos problemas continuamente serão confrontados.
Outro fator importante é que a prática ergonômica isolada, em que um ergonomista
realiza a análise do trabalho e recomenda as soluções para que posteriormente sejam
implantadas, geralmente não se concretiza, não havendo impacto, portanto, na segurança e
saúde dos trabalhadores.
Um relatório complexo com diversas páginas realizado por um ergonomista pode
não ter suas soluções concretizadas com a mesma facilidade que soluções deduzidas
diretamente pelos trabalhadores e seus encarregados e discutidas em comissões. Malchaire
(2006) considera que a abordagem da ação de prevenção centrada nas pessoas envolvidas
no processo mais facilmente viabilizada do que a intervenção de um consultor.
Para a adequada estruturação de um programa de ergonomia, a participação e
envolvimento dos trabalhadores são essenciais. Campos (1998) comenta que tanto na
gestão quanto em um simples programa de sugestões, o envolvimento dos trabalhadores
pode não somente resultar em aumento de produtividade, mas também na prevenção de
acidentes e doenças ocupacionais.
O manual de aplicabilidade da norma regulamentadora nº 17 (2002) ressalta na
própria definição da ergonomia que o saber do trabalhador encontra-se no mesmo nível do
saber técnico-científico, sendo condição indispensável para o sucesso da ação ergonômica.
Segundo Malchaire (2006), num processo de gestão de riscos a prevenção faz-se
não somente através da compreensão da situação de trabalho, mas do profundo
conhecimento que se tem da mesma, e as pessoas que detêm esse conhecimento são os
trabalhadores.
Os trabalhadores devem ser o centro da ação da prevenção, não apenas para dar
opiniões ou responder questões, mas para discutir os detalhes práticos permitindo a
realização do trabalho em condições ideais para eles e para a empresa. (MALCHAIRE,
2006).
36
Com o envolvimento dos funcionários, a implantação de mudanças tem mais
aceitação, as possibilidades de sucesso são maiores e as melhorias têm continuidade.
Ensinando os princípios básicos de ergonomia aos funcionários, eles passam a ser parte
responsável pelo processo ergonômico na organização (CAMPOS, 1998).
Melchaire (2006) propõe a utilização do método DEPARIS (Método de
Diagnóstico Participativo dos Riscos), uma ferramenta que não se preocupa com a
quantificação dos riscos, mas que objetiva abordar as situações de trabalho em
organizações de diferentes portes de forma rápida, eficaz e de baixo custo que pode ser
utilizada diretamente pelos trabalhadores e seus encarregados técnicos com a assistência de
um ergonomista.
A participação dos trabalhadores é mais efetiva e, em geral soluções concretas são
formuladas. De acordo com Malchaire (2006), em função disso as soluções são
espontaneamente mais aceitas e colocadas em prática. As ações tornam-se parte do
processo de trabalho, e com isso o conceito da prevenção torna-se parte da cultura do dia a
dia dentro da organização.
Vidal (2002) também cita como um requisito importante para o sucesso de um
programa de ergonomia: o conhecimento e perícia dos funcionários num processo
participativo.
Iida (2005) fala da ergonomia de participação onde os usuários do sistema são
envolvidos na busca de soluções para os problemas ergonômicos. Esse princípio é baseado
na crença de que através do conhecimento prático do usuário, os processos de melhorias
podem ser mais ricos em função da análise de diferentes detalhes que somente o usuário
poderá visualizar e informar.
Os trabalhadores podem ser envolvidos através da criação de comitês treinados que
recebem informações sobre problemas ergonômicos nas áreas, analisam os problemas e
fazem recomendações de ações corretivas (OSHA, 1997).
O relatório da OSHA (1997) considera os treinamentos e orientações aos
trabalhadores elemento fundamental do programa de ergonomia, devendo os mesmos
37
garantirem que todos os funcionários possam identificar problemas ergonômicos;
aprendam procedimentos para identificarem e relatarem sintomas de doenças músculo
esqueléticas; que supervisores e gerentes reconheçam precocemente os sinais e sintomas de
doenças; e os engenheiros aprendam como prevenir e corrigir riscos ergonômicos durante o
design, compra e manutenção de equipamentos.
O treinamento dos funcionários também pode auxiliar para que os funcionários
compreendam melhor as tarefas e a empresa, sintam-se parte das soluções realizadas e
inclusive entendam que a ergonomia não deve ser praticada somente no trabalho, mas
também no lar, na comunidade e no dia-a-dia da suas vidas (TOMASINI, 2001).
Stinson e Fraser (1997) realizaram um estudo em dezoito indústrias de gás e óleo de
pequeno, médio e grande porte do Canadá e Estados Unidos. Nesse estudo os autores
identificaram que das dezoito indústrias estudadas, dezesseis possuem comitês de
ergonomia implantados, e que apenas doze promoviam treinamentos de ergonomia aos
seus funcionários; sendo as pequenas empresas, as responsáveis pelo menor índice de
treinamentos realizados.
O papel dos comitês nas indústrias estudadas envolvia o desenvolvimento do
programa de ergonomia em toda organização, intervenção precoce e identificação de
tarefas repetitivas (atuação reativa ao invés de proativa), assessoria ergonômica,
compartilhamento de informações, estabelecimento da política e direcionamento das ações
(STINSON e FRASER, 1997).
Duarte et al. (1999) salientam que a principal limitação para a elaboração dos
programas de ergonomia e para a atuação dos comitês é a precária formação dos seus
integrantes em ergonomia. A constituição de comitês de ergonomia pode ser importante
para a construção social da ação ergonômica, mas não é esse comitê que vai garantir a
construção técnica da ação ergonômica na empresa.
Conforme Wisner (1987), os comitês de ergonomia podem ter uma atuação eficaz
desde que pelo menos um dos seus integrantes seja um especialista ou profissional da área.
O autor também aponta para a existência de ergonomistas em diferentes setores da
empresa.
38
Tomasini (2001) considera que um programa de ergonomia também deve
caracterizar-se por uma visão sistêmica e uma abordagem multidisciplinar, além de levar
em consideração a produtividade e os aspectos humanos. Segundo o autor, a abordagem
multidisciplinar deve ser considerada para a formação do time que irá atuar no processo,
bem como se deve levar em conta as experiências e conhecimentos de cada um de seus
componentes.
A formação dos comitês deve ser constituída por membros do Serviço
Especializado em Segurança e Medicina do Trabalho (SESMT), especialista em
ergonomia, profissionais das áreas de recursos humanos e manutenção, líderes,
supervisores e pelos trabalhadores que devem ter participação ativa nas discussões
(MACIEL, 2000).
Maciel (2000) comenta que se deve ter o cuidado para que as soluções não sejam
impostas de cima para baixo, pois é comum um grupo ser formado por trabalhadores que
apenas avalizam decisões já tomadas por níveis hierárquicos maiores.
Outra forma de envolver os trabalhadores é através da adoção pela empresa de uma
política para encorajar os funcionários a relatarem e apontarem sinais e sintomas de
doenças músculo-esqueléticas de forma que a causa desses sintomas possam ser
identificadas e tratadas, promover campanhas e realizar pesquisas periódicas para que os
funcionários relatem os problemas ergonômicos, falem sobre as situações de trabalho e
dêem sugestões para promover melhorias nas condições de trabalho (OSHA, 1997).
O comprometimento da gerência dentro da estrutura de um programa de ergonomia
envolve o estabelecimento dos objetivos e avaliação dos resultados do programa, garantir a
existência de uma equipe especificamente para o programa, e tempo durante a jornada de
trabalho para que essa equipe possa atuar.
Além disso, é papel da alta gestão comunicar a todos os funcionários a importância
do programa garantindo o comprometimento de todos, o que mostra que a empresa acredita
que as ações ergonômicas são essenciais para um ambiente de trabalho seguro e saudável
(OSHA, 1997; MACIEL, 2000).
39
Segundo Maciel (2000), o comprometimento da gerência também envolve a
cobrança dos altos níveis hierárquicos para os gerentes médios e supervisores com relação
às questões de segurança e saúde. A avaliação dos resultados e metas de produção deve
merecer a mesma relevância dos resultados e metas em segurança e saúde no trabalho, com
relação ao aparecimento de doenças e abertura de CAT (Comunicado de Acidente do
Trabalho) nos diversos setores da empresa.
Alguns indicadores da existência de comprometimento da gerência são: o
tratamento dos programas de prevenção como um dos objetivos da empresa como os
demais programas; busca da preservação de um ambiente seguro e saudável; formação de
trabalhadores nas questões de segurança e saúde; equipes internas de implantação de
programas de prevenção; fornecimento de recursos humanos, informações e materiais para
a implantação dos programas; e avaliação e divulgação das ações implantadas (MACIEL,
2000).
Um outro elemento essencial para os programas de ergonomia é a identificação dos
problemas ergonômicos, que pode ser realizada através de um mapeamento dos riscos, do
acompanhamento de trabalhadores com sinais e sintomas de desconforto músculo-
esquelético, queixas de fadiga e estresse, e através de entrevistas e exames periódicos,
gerando diagnósticos de incidência por área. (OSHA 1997; MACIEL, 2000).
De acordo com Stinson e Fraser (1999) o método mais fácil para determinar onde
os perigos ergonômicos existem é usar as informações que já estão disponíveis na empresa,
como as reclamações trabalhistas, informações de acidentes, auditorias do ambiente de
trabalho e de segurança, reclamações dos trabalhadores e dados de produção.
Para que sejam identificadas as inadequações que podem comprometer o equilíbrio
da relação entre a capacidade e as demandas do trabalho, faz-se necessária uma avaliação
dos agentes que desencadeiam sintomas, lesões e doenças para que sejam realizadas
melhorias nas condições de trabalho (BELUSCCI e FISCHER, 1999).
O instrumento adequado para essa avaliação é a análise ergonômica do trabalho,
que através de estudos sobre o ambiente, da influência da organização e dos aspectos
40
físicos no trabalho, mostra a contribuição de cada variável desses fatores na realidade do
trabalho (BELUSCCI e FISCHER, 1999).
As condições existentes no ambiente de trabalho que contribuem para o
desenvolvimento de LER/DORT como já foi citado são: movimentos repetitivos, uso de
força, levantamento e transporte de peso, ferramentas inadequadas, vibração, má postura,
temperatura, estresse, fatores psicossociais e organizacionais devem ser avaliados
correlacionando a exposição dos trabalhadores a essas condições. O aparecimento de
afecções está relacionado à correlação entre a intensidade, freqüência e duração à
exposição e a capacidade individual de lidar com as demandas de trabalho (OSHA, 1997;
MACIEL, 2000).
Maciel (2000) afirma que condições de trabalho inadequadas se combinam gerando
um efeito sinérgico sobre a saúde do trabalhador, e a determinação dos fatores que podem
gerar doenças não pode ser realizada isoladamente. A autora considera necessária uma
análise completa do posto, do ambiente e da organização do trabalho para determinar
indicadores de problemas de LER/DORT nos locais de trabalho.
Stinson e Fraser (1999) comentam ainda que os limites de exposição aos fatores de
risco dificilmente podem ser determinados, uma vez que os fatores de risco em geral se
combinam de várias formas e porque são dependentes das características físicas
individuais.
O mapeamento das condições de trabalho e identificação de riscos ergonômicos
podem ser feitos através de observações, fotos e filmagens dos trabalhadores realizando
suas tarefas, medição de ferramentas e postos de trabalho, e cálculos biomecânicos para
que sejam identificados os fatores de risco presentes. Em seguida deve ser feita uma
priorização dos postos que deverão receber atenção imediata, em geral daqueles nos quais
já houve relatos de queixas e afastamentos (OSHA, 1997).
Após a identificação das situações com potencial de risco para o desenvolvimento
de LER/DORT devem ser discutidas e desenvolvidas formas para reduzir ou eliminá-las,
são as chamadas medidas de controle.
41
Há três níveis de medidas de controle amplamente aceitas como estratégias de
intervenção para o controle dos perigos ergonômicos no ambiente de trabalho que são: as
medidas de controle de engenharia que podem reduzir ou eliminar potencialmente as
condições perigosas; mudanças nas práticas de trabalho e políticas de gerenciamento
chamadas de medidas administrativas, e o uso de equipamentos de proteção (COHEN ET
AL, 1997).
De acordo com Cohen et al (1997) o melhor tipo de medida de controle para a
prevenção e controle de LER/DORT está no design do trabalho – incluindo o layout do
posto de trabalho, seleção e uso de ferramentas e métodos de trabalho – levando-se em
consideração as capacidades e limitações da força de trabalho.
Segundo Stinson e Fraser (1999), as medidas de controle de engenharia são aquelas
relacionadas às mudanças físicas que são realizadas no posto de trabalho, ferramentas,
equipamentos, ambiente, ou alterações na forma em que o trabalho é realizado (STINSON
e FRASER, 1999).
As medidas de engenharia mais comuns para reduzirem os fatores de risco
ergonômicos são: mudanças no sistema de transporte de cargas através da mecanização;
redução da necessidade de aplicação de força manual; adequações na apresentação dos
produtos no que se refere a peso; mudanças no layout de posto de trabalho ou através da
alocação de ferramentas e materiais com alcances adequados; modificações no design de
ferramentas; modificações nos materiais e embalagens, etc (COHEN ET AL, 1997; OSHA,
1997; MACIEL, 2000).
Outro tipo de medida de controle são aquelas consideradas pelos autores
estritamente administrativas que envolvem mudanças nas práticas ou normas de trabalho
que podem incluir: sistema de pausas, rodízio de trabalhadores, alteração em normas ou
processos de produção, redução da jornada de trabalho, diminuição de horas extras,
variação das tarefas, flexibilização, e ajuste do ritmo de trabalho (OSHA, 1997; MACIEL,
2000).
As medidas de controle administrativas, segundo Cohen et al (1997), incluem
mudanças nas regras e procedimentos de trabalho como programação de pausas para
42
descanso; redução de horas extras e do tempo de jornada; rodízio de trabalhadores nas
atividades com diferentes solicitações físicas; ajuste do ritmo de trabalho para minimizar
os riscos do trabalho repetitivo e dar maior controle do processo ao trabalhador; e
treinamento dos trabalhadores para reconhecer fatores de risco ergonômicos e para o
aprendizado de técnicas para reduzir o estresse e força aplicada durante a realização do
trabalho.
Já para Stinson e Fraser (1999), as medidas administrativas são procedimentos
implementados para reduzirem a duração, freqüência ou severidade de exposição ao
perigo. Esses controles também incluem pequenas pausas durante o dia de trabalho para
promoverem a recuperação dos efeitos do estresse físico, inclusive para a realização de
alongamentos; rodízio de tarefas entre atividades com diferentes demandas físicas;
treinamento para educação de trabalhadores sobre práticas de trabalho seguro e sobre a
realização de tarefas, evitando-se posturas inadequadas e outros estresses físicos; e
manutenção regular dos equipamentos e ferramentas para garantir o seu funcionamento
adequado evitando esforços excessivos.
Para Cohen et al (1997) entre as medidas de engenharia e administrativas, as
primeiras são preferíveis, porém as medidas administrativas podem ser muito importantes
como medidas temporárias até que as medidas de engenharia possam ser implementadas ou
no caso de medidas de engenharia não viáveis tecnicamente.
Cabe ressaltar, que muitas vezes as medidas administrativas podem ser as únicas
determinantes para melhorar a situação de trabalho não cabendo nenhuma medida de
engenharia.
Das medidas de controle, uma das questões mais controversa é sobre a eficácia do
uso de equipamentos de proteção individual pelos trabalhadores para a prevenção de
LER/DORT, como: apoios de punho, cintas lombares, luvas de redução de vibração, etc.
Cohen et al (1997) consideram que esses recursos podem, em algumas situações,
reduzir a duração, freqüência, ou intensidade da exposição ao risco, porém evidências
sobre sua eficácia são inconclusivas.
43
Stinson e Fraser (1999) consideram equipamentos de proteção individual para
LER/DORT a utilização de luvas, apoios para punho, sapatos de proteção, palmilhas
antifadiga, cintas lombares e joelheiras. Tais medidas, segundo os autores, são os últimos
recursos e devem ser implementadas somente na inexistência de qualquer outra medida de
controle de engenharia ou administrativa.
Uma revisão bibliográfica realizada pelo NIOSH - National Institute for
Occupational Safety and Health - concluída em 1994, mostrou evidências insuficientes
comprovando a eficácia do uso das cintas lombares na prevenção de problemas de coluna
relacionados ao transporte manual de carga. Em contrapartida um estudo epidemiológico
mais recente relacionou ao uso das cintas lombares uma redução substancial na taxa de
problemas de coluna. O Instituto considera que esse estudo demonstra que as cintas
lombares podem ser eficazes em algumas situações, porém ainda considera os resultados
inconclusivos (COHEN ET AL, 1997).
Menos controvertido é o uso de luvas para atenuar a vibração e o uso de apoio de
joelhos para instaladores de piso. Mas mesmo nesses casos há algumas considerações,
como por exemplo, o design e formato das luvas que podem tornar mais difícil a pega das
ferramentas.
Stinson e Fraser (1999) citam que apesar da divisão em três categorias na maioria
dos casos é a combinação dos três tipos de medidas de controle que será eficaz para
controlar os perigos ergonômicos no ambiente de trabalho.
O NIOSH (1997) fez uma seleção de estudos que mostram diversas medidas de
controle utilizadas por organizações para reduzirem desconfortos e lesões osteomusculares.
Dentre as medidas de controle implementadas que resultaram em significativa
melhora nos índices de lesões estão: redução da jornada de trabalho; aumento no número
de pausas; alteração no design de máquinas, ferramentas e postos de trabalho;
implementação de postos de trabalho reguláveis; rodízio de funções; treinamentos em
ergonomia e introdução de programas de intervenção; compra de equipamentos para o
transporte e manuseio de cargas; maior flexibilidade na rotina e horários de trabalho;
formação de comitê de ergonomia; aumento do número de trabalhadores; redução do ritmo
44
de trabalho e adoção de novas formas de remuneração; e a introdução de programa de
exercícios e escola de postura no horário de trabalho.
O processo de definição e implantação das medidas de controle deve receber
contribuições dos trabalhadores, sendo a aceitação deles essencial para o sucesso da
medida implantada. Os próprios funcionários podem ser designados como responsáveis
pelas medidas de controle com a realização de um cronograma para implantação, validação
e aumento da abrangência da medida (MACIEL, 2000).
O processo participativo durante a implantação das medidas de controle é
importante inclusive para a identificação de pequenas mudanças que possam causar novos
problemas, devendo nesse caso a medida ser modificada e nova validação ser realizada
para posterior implantação da medida em larga escala. (MACIEL, 2000).
Após a implantação das medidas de controle, faz-se necessário garantir que elas
tenham sido eficazes. Em geral, após um período de 2 a 6 semanas conforme a freqüência
que a tarefa é realizada, faz-se necessário avaliar novamente a atividade para se saber o
quanto as modificações atenderam às necessidades dos trabalhadores (STINSON e
FRASER, 1999).
O gerenciamento médico no ambiente de trabalho também deve fazer parte do
programa de ergonomia, dirigindo seus esforços para a redução dos casos de doenças
músculo-esqueléticas, prevenção de novos casos, assim como a identificação precoce dos
casos e promoção de adequada avaliação e tratamento dos casos diagnosticados (OSHA,
1997).
O relato precoce de sintomas deve ser encorajado, os trabalhadores devem ser
prontamente avaliados pelo serviço médico e a equipe do ambulatório deve estar
familiarizada com os postos de trabalho.
A prevenção do agravamento dos casos entre trabalhadores já afetados também
deve fazer parte do gerenciamento médico, em que um programa de prevenção eficaz deve
possibilitar que trabalhadores com limitações funcionais possam ser acomodados em
outros postos de trabalho. (MACIEL, 2000).
45
Um sistema efetivo de comunicação deve mostrar a importância da detecção e
tratamento precoce das afecções para evitar o desenvolvimento de quadros crônicos e a
incapacidade para o trabalho. Cabe também ao gerenciamento médico a orientação aos
trabalhadores a não ultrapassarem seus limites psicofisiológicos e aos supervisores a não
exigirem produtividade além do limite saudável (MACIEL, 2000).
Maciel (2000) comenta que é comum se encontrar em organizações ações de
tratamento e diagnóstico de doenças sendo abordadas como ações preventivas.
Essas ações são importantes para garantir a saúde dos trabalhadores através do
tratamento adequado e precoce dos casos, mas não são sinônimos de prevenção. As
empresas podem ter um bom programa médico de acompanhamento de afetados por
LER/DORT, mas não ter um programa de prevenção eficiente.
Maciel (2000) ainda aponta a abordagem proativa como outro elemento importante
para o desenvolvimento de um bom programa de prevenção de LER/DORT, que se
constitui com base em diretrizes as quais devem ser aplicadas no planejamento de novas
funções, postos de trabalho, procedimentos ou compra de novos equipamentos.
Em uma abordagem proativa eficiente, a direção da empresa estabelece que
nenhum posto de trabalho, partes, materiais, ambientes ou equipamentos possam ser
modificados ou comprados sem a devida análise dos impactos que sua utilização possa ter
para o desenvolvimento de LER/DORT. Os princípios de ergonomia devem ser
incorporados aos novos processos de trabalho, ambientes e equipamentos (MACIEL,
2000).
Dessa forma, a ergonomia torna-se gradativamente um principio dentro da cultura
da organização e se estabelece de forma contínua em todos os níveis hierárquicos e
processos o que auxilia na consolidação e manutenção do programa de ergonomia.
46
2.6 Dificuldades e fatores para o sucesso dos programas de ergonomia
Para Alexander e Gary (1999), muitos são os programas de ergonomia que falham.
Uma pesquisa feita pela Auburn Engineers, Alabama, concluiu que de todos os programas
implantados somente 25% têm sucesso.
Duarte et al (1999) salientam que as principais dificuldades para prosseguir com os
objetivos do programa ergonômico são: comprometimento da alta gerência; entendimento
do conceito de ergonomia por parte da empresa; restrições orçamentárias e
disponibilização das pessoas para a atuação.
Pode-se acrescentar ainda que talvez a ergonomia não venha sendo corretamente
implantada como um programa das empresas e, portanto, não tenha como se sustentar para
gerar os benefícios esperados para o trabalhador e a empresa como um todo (TOMASINI,
2001).
Segundo Santos (2003), algumas condições são fundamentais para o sucesso de um
programa de ergonomia, conforme tamm citam Alexander e Gary (1999) e o National
Institute for Occupational Safety and Health (NIOSH), sendo que para que isso ocorra faz-
se necessário:
dar ênfase nos objetivos do negócio - para que um programa de ergonomia possa
sustentar-se e continuar existindo, ele deve assegurar que seus resultados irão
melhorar os objetivos da organização. Inicialmente, as melhorias ergonômicas
devem objetivar a eliminação ou a redução das maiores fontes causadoras de danos;
evitar soluções de custos extremamente elevados - muitos ergonomistas têm
desenvolvido habilidades para identificar e analisar os problemas de ergonomia,
mas não têm desenvolvido habilidades para soluções eficientes destes problemas. É
necessário cuidado ao utilizar a palavra ergonomia, pois freqüentemente é vista
como sinônimo de custo, e quando os custos são relativamente altos para o retorno
previsto, os trabalhos em ergonomia são descontinuados ou até interrompidos,
47
devem ser enfatizados os impactos à saúde das pessoas e a melhoria do ambiente de
trabalho;
identificar e superar barreiras - a direção dada para as barreiras irá garantir o
sucesso ou o fracasso do programa, uma vez que as barreiras são identificadas,
ações devem ser planejadas e implantadas a fim de impedir que elas inviabilizem o
programa de ergonomia (QUADRO 1).
BARREIRAS MÉTODO PARA SUPERAR AS BARREIRAS
Falta de tempo
Determinar os principais problemas da área.
Evitar paradas não programadas para análise da
situação.
Dispor de outras pessoas e envolvê-las.
Autorizar horas extras.
Falta de verba
Utilizar soluções de baixo custo.
Evitar justificar custo x benefício.
Agrupar os projetos por semelhança.
Desenvolver internamente.
Falta de habilidades
Providenciar capacitação específica.
Pesquisar soluções já existentes.
Utilizar equipes internas para soluções simples e
especialistas para problemas complexos.
Pouco interesse gerencial
Propor um plano específico.
Desenvolver uma cultura ergonômica.
Compreender as mudanças gerenciais.
Quadro 1: Barreiras de um programa de ergonomia e método de superá-las
Fonte: Alexander e Gary (1999).
criar um forte propósito - definir claramente os propósitos do programa de
ergonomia. Um programa de ergonomia de sucesso tem objetivos claros, definidos,
de acordo com os compromissos e com a missão da organização;
planejar os estágios para a mudança da cultura ergonômica - a maturidade
dos programas de ergonomia segue estágios distintos que buscam desenvolver a
consciência de que a mudança é necessária. Os funcionários devem aceitar a
ergonomia como uma ferramenta que pode auxiliar; exemplos de ergonomia
aplicados dentro do trabalho devem ser utilizados para a difusão das práticas; o uso
48
da ergonomia deve ser regular porque faz parte do trabalho; procedimentos escritos
devem ser gerados para incluir a ergonomia; uma cultura voltada para o uso da
ergonomia associada à melhoria contínua deve ser desenvolvida;
criar um plano estratégico - um plano estratégico é necessário para guiar o
programa de ergonomia. O planejamento estratégico define o que o programa de
ergonomia pretende fazer ao longo do tempo, ou quais devem ser os resultados
esperados nos indicadores de qualidade de vida no trabalho;
garantir a manutenção do programa - o entendimento das diferenças entre um
programa de ergonomia e de práticas em ergonomia se faz necessário para garantir
a manutenção do mesmo. Diferente do que envolve apenas as práticas da
ergonomia, na implantação de um programa são essenciais: o gerenciamento, o
planejamento dos recursos, a coordenação e avaliação, além do suporte financeiro;
manter uma política de suporte ao programa - alguns elementos básicos são
necessários para a manutenção eficaz de um programa de ergonomia nas
organizações, como estabelecer a ergonomia como função do negócio, estabelecer
um retorno do investimento para as melhorias implantadas, estabelecer objetivos e
medidas de performance e considerar a ergonomia como uma ciência e uma
tecnologia. Além disso, os programas de capacitação em ergonomia devem atender
às necessidades e serem constantemente atualizados e revistos.
Além dessas condições, para a implementação eficaz e sucesso de um programa de
ergonomia nas organizações, faz-se necessário a formalização de um sistema de avaliação
através do estabelecimento de indicadores compatíveis com as metas estratégicas. O
sistema de avaliação deve possibilitar a obtenção de indicadores diretos e indiretos sobre a
execução das atividades desenvolvidas pelo programa (PEGORARO, 1999).
Ao implantar um programa de ergonomia, a avaliação das soluções e modificações
realizadas se faz necessária para assegurar que as medidas de controle realmente
eliminaram ou diminuíram os fatores de risco, e que novos fatores não foram introduzidos
a partir das mudanças. Esse tipo de avaliação pode ter seus resultados através de
indicadores de desempenho (COHEN ET AL, 1997; MACIEL, 2000).
49
Cohen et al (1997) consideram que a avaliação deve utilizar a mesma metodologia
utilizada para identificar o risco, de forma que se o perigo não foi substancialmente
reduzido ou eliminado o processo de solução de problema não foi finalizado. A
metodologia de análise do trabalho e o uso de pesquisas de sintomas são metodologias de
avaliação de curto prazo, e os indicadores de desempenho também podem ser utilizados,
porém em longo prazo.
Segundo Vidal (2002), os benefícios dos programas de ergonomia ficam mais
evidenciados quando observados indicadores como: afastamentos; quantidade de
equipamentos em condições adequadas em relação aos inadequados; indicadores
antropotecnológicos, como número de treinamentos e número de funcionários treinados;
indicadores cognitivos que representam a satisfação dos empregados em relação ao seu
trabalho, assim como o conhecimento necessário, sobrecarga física e psicológica, interação
com grupo e participação.
Para Maciel (2000), a avaliação da eficácia dos programas de ergonomia deve
incluir uma investigação comparativa com o antes e depois das ações implantadas dos
sintomas e queixas. A autora considera a redução na incidência de LER/DORT, redução na
severidade das doenças, redução na freqüência de queixas gerais e a redução na
rotatividade ou absenteísmo indicadores de longo prazo mais eficientes para a avaliação
real dos resultados obtidos.
Porém a autora também considera que outros indicadores podem ser úteis para a
avaliação dos caminhos/diretrizes adotadas no desenvolvimento do programa como
número de trabalhadores treinados, número de postos de trabalho analisados e número de
medidas implantadas para solucionar os problemas (MACIEL, 2000).
As metodologias de avaliação do desempenho dos programas implantados podem
utilizar dados qualitativos como entrevistas e opiniões dos grupos com informações
quantitativas, observações diretas, pesquisas, dados de queixas, etc. (PEGORARO, 1999;
VREDENBURGH, 2001; SANTOS, 2003).
Para Adalbó (2001), um sistema de controle e avaliação deve focalizar os objetivos
do programa com o propósito de assegurar que a sua missão seja alcançada. Os controles
50
devem objetivar essa resposta para através dela permitir ações corretivas, avaliar o
desempenho do programa, a satisfação dos envolvidos no programa e a garantia de reais
impactos na qualidade de vida e saúde dos trabalhadores.
Ao se deparar com a existência de perigos ergonômicos em sua atividade que
podem predispor ao desenvolvimento de LER/DORT as organizações têm a
responsabilidade de atuar sobre esses perigos, visando eliminar os impactos a saúde dos
trabalhadores.
Nas organizações que possuem um sistema de gestão da segurança e saúde no
trabalho implantado, espera-se que haja um comprometimento maior com tais questões e a
forma de atuar, especificamente, sobre os perigos ergonômicos não só pode como deve ser
integrada à sistemática do sistema de gestão, porém precisa ter suas especificidades
garantidas para o adequado controle desses distúrbios.
51
2.7 A problemáticas das LER/DORT
As transformações em curso no mundo do trabalho, decorrentes da introdução de
novos modelos organizacionais e de gestão, geraram repercussões sobre a saúde dos
trabalhadores dentre as quais se destacam as LER/DORT (Lesões por Esforços
Repetitivos/Distúrbio Osteomuscular Relacionado ao Trabalho).
De acordo com a definição do MINISTÉRIO DA SAÚDE (2000), as LER/DORT
abrangem quadros clínicos do sistema músculo-esquelético, adquiridos pelo trabalhador
submetido a determinadas condições de trabalho como resultado da superutilização ou
utilização inadequada das estruturas anatômicas, e da falta de tempo de recuperação.
Este grupo de transtornos apresenta como características comuns, o aparecimento e
evolução de caráter insidioso e uma origem multifatorial complexa na qual se entrelaçam
inúmeros fatores causais.
Dentre os fatores causais destacam-se as exigências mecânicas repetidas por
períodos de tempo prolongados, a utilização de ferramentas vibratórias e posições
forçadas. Além disso, fatores da organização do trabalho como, por exemplo, as exigências
de produtividade, competitividade, controle excessivo dos trabalhadores e programas de
incentivo à produção e de qualidade que utilizam estratégias de intensificação do trabalho e
por fim as características individuais do trabalhador, traços de personalidade e sua história
de vida (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001).
Baseado nesses fatores, o manual de procedimentos para os serviços de saúde
publicado em 2001 pelo Ministério da Saúde considera as LER/DORT resultado do
entrelaçamento de três conjuntos de fatores: os biomecânicos presentes na atividade; os
psicossociais relacionados à organização do trabalho; os fatores ligados à psicodinâmica do
trabalho ou aos desequilíbrios psíquicos gerados em certas situações especiais de trabalho
como sendo a gênese do processo de adoecimento.
Przysiezny (2000) destaca como fatores contributivos para o desenvolvimento de
LER/DORT a mecanização do trabalho, a organização do trabalho, a fragmentação das
52
tarefas, a maior especialização e a maior repetição. Além de fatores psicosociais como o
trabalho monótono, trabalho pesado e inconsciente, pressão temporal, baixo suporte social
e fatores psicológicos individuais.
Miranda e Dias (2001) consideram que apesar de existir em todo o mundo inúmeras
abordagens das causas de LER/DORT, pode-se afirmar que alguns fatores causais são hoje
consenso em três classes principais. Os autores classificam como fatores de natureza
ergonômica: força excessiva, alta repetitividade de um mesmo padrão de movimento,
posturas incorretas e compressão das estruturas dos membros superiores, frio, vibração,
postura estática, entre outros.
Os fatores classificados como de natureza organizacional são a concentração de
movimentos numa mesma pessoa, horas extras, dobras de turno, ritmo apertado de
trabalho, ausência das pausas necessárias, etc; e os fatores de natureza psicossocial como
pressão excessiva para os resultados, ambiente excessivamente tenso, problemas de
relacionamento interpessoal, rigidez excessiva no sistema de trabalho, dentre outros
(Miranda e Dias, 2001).
O adoecimento do trabalhador irá se consolidar quando a carga de trabalho superar
a capacidade do trabalhador e ele não conseguir modificá-la, com isso fatalmente haverá
aumento do absenteísmo por fadiga ou adoecimento, assim como aumento do número de
acidentes (MANUAL DE APLICAÇÃO DA NORMA REGULAMENTADORA Nº 17,
2002).
A dor será dentre outros sinais o alerta indicativo de que a capacidade de
recuperação do trabalhador está sendo superada. A dor atinge diretamente o estado de
saúde o trabalhador que apresentará menor rendimento profissional em função da limitação
de alguns movimentos, reduzindo sua eficiência, o humor, além da produtividade, a
qualidade do trabalho, e a satisfação na realização de determinadas tarefas diárias.
Segundo Queiroga (1999), nos Estados Unidos mais de dois terços dos
trabalhadores (80 milhões de pessoas) padecem de dor episódica ou crônica, sendo que
quinze por cento destes indivíduos (18 milhões) têm o trabalho relacionado com a origem
da sua dor.
53
De acordo com o Ministério da Saúde, estudos realizados nos Estados Unidos
apontam que cerca de 65% de todas as patologias registradas como ocupacionais são
LER/DORT evidenciando o aumento drástico da incidência ao longo das últimas décadas
em todo mundo.
No Brasil, o aumento na incidência de LER/DORT pode ser observado nas
estatísticas do INSS de concessão de benefícios por doenças profissionais. Segundo os
dados disponíveis, respondem por mais de 80% dos diagnósticos que resultaram em
concessão de auxílio acidente e aposentadoria por invalidez pela Previdência Social em
1998 (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001).
A coordenadoria do Programa Nacional de Prevenção às LER/DORT em 1999
compilou dados do INSS (Instituto Nacional da Seguridade Social) dos 5 anos anteriores e
concluiu que 532 mil trabalhadores se afastaram do trabalho por algum período devido às
LER/DORT (COLUCCI e BIANCARELLI, 2001).
Em média, cada afastamento acaba custando, no primeiro ano R$ 89 mil ao
empresário e, apesar desse custo e da gravidade da doença, poucas empresas têm um
programa de prevenção (COLUCCI e BIANCARELLI, 2001).
Dados mais recentes de um estudo realizado por Gadelha (2006) mostraram que o
custo dos benefícios por doenças osteomusculares em sete ramos de atividade no Brasil em
2002 foi de aproximadamente R$ 191.000.000,00 (cento e noventa e um milhões de reais).
Com relação às formas clínicas das doenças, os benefícios que demandaram maior custo
foram dor na coluna cerca de R$ 46.200.000,00 (quarenta e seis milhões e duzentos mil
reais) o equivalente a 24,2% do custo total de doenças osteomusculares, seguido pelas
sinovites e tenossinovites R$ 44.400.000,00 (quarenta e quatro milhões e quatrocentos mil
reais) cerca de 23,3% do custo total e por outros transtornos de discos intervertebrais
aproximadamente R$ 31.300.000,00 (trinta e um milhões e trezentos mil reais) o
equivalente a 16,4% do custo total de doenças osteomusculares.
O Anuário Estatístico da Previdência Social de 2004 mostra aumento no número de
acidentes registrados por doença ocupacional num comparativo entre os anos de 2002,
54
2003 e 2004, na tabela 1 na página 54. A cidade de São Paulo apresenta essa mesma
tendência no comparativo desses anos na tabela 2, página 54.
QUANTIDADE DE ACIDENTES DO TRABALHO REGISTRADOS
Motivo
Típico Trajeto Doença do Trabalho
2002 393.071 323.879 46.881 22.311
TOTAL...................
2003 399.077 325.577 49.642 23.858
2004 458.956 371.482 59.887 27.587
MESES Anos
Total
Tabela 1: Quantidade mensal de acidentes do trabalho registrados, por motivo, no
Brasil - 2002/2004.
Fonte: Anuário Estatístico da Previdência Social, 2004.
QUANTIDADE DE ACIDENTES DO TRABALHO REGISTRADOS
Motivo
Típico Trajeto Doença do Trabalho
2002 154.767 126.636 18.595 9.536
São Paulo.....................
2003 151.121 122.141 19.298 9.682
2004 170.036 136.753 22.381 10.902
GRANDES REGIÕES
E
UNIDADES DA FEDERAÇÃO
Total
Anos
Tabela 2: Quantidade de acidentes do trabalho registrados, por motivo, na cidade de
São Paulo - 2002/2004.
Fonte: Anuário Estatístico da Previdência Social, 2004.
Ainda segundo os dados do Anuário Estatístico da Previdência Social, os setores da
indústria e comércio foram responsáveis pelos maiores índices de doenças ocupacionais
com aumento progressivo de 2002 a 2004.
Dados do CEREST - Centro de Referência em Saúde do Trabalhador - de Santo
Amaro – São Paulo apontam que durante o período de 01/05/04 a 31/07/04 do total de 496
pacientes atendidos, 350 o equivalente a 70,6% tinham diagnóstico de LER/DORT. Ainda
de acordo com dados dessa mesma instituição, os ramos de atividade que apresentaram
maior número de pacientes com diagnóstico de LER/DORT foram da indústria
metalúrgica, de alimentos, transporte e construção civil respectivamente, figura 4 na página
55.
55
14%
12%
10%
10%
9%
7%
5%
5%
4%
4%
3%
3%
2%
2%
2%
2%
2%
2%
1%
2%
Metalurgica
Alimentos
Transportes
Construção Cívil
Serviços
Limpeza
Quimic./Farmacet
Comércio
Plásticos
Saúde
Confecção
Educação
Supermercados
Cosmética
Gráfico
Administrativo
Eletrico
Hotelaria
Informática
Outros
Figura 4: Pacientes com diagnóstico de LER/DORT por ramo de atividade
no 1º semestre de 2004
Fonte: Banco de Dados Grupo LER/DORT - CEREST Santo Amaro
Segundo Gadelha (2006), alguns ramos de atividade apresentam fatores de risco
específicos que podem representar dentro de um contexto organizacional fator de risco
para o desenvolvimento de doenças osteomusculares. A autora realizou um estudo e
evidenciou elevada prevalência de benefícios por doenças osteomusculares em
trabalhadores do ramo dos transportes e da metalurgia, o que provavelmente decorre do
fato dessas atividades apresentarem importantes fatores de risco para essas doenças.
No setor da metalurgia, foi identificada uma alta prevalência de dores na coluna
decorrente principalmente de flexão, rotação de tronco, agachamentos e insatisfação com o
trabalho existente em trabalhadores desse ramo (GADELHA, 2006).
Em contrapartida, nesse mesmo estudo Gadelha (2006) observou que no que diz
respeito à prevalência de benefícios em relação à espécie ou tipo, há uma baixa prevalência
de benefício do tipo acidentário em detrimento da alta prevalência de benefício do tipo
previdenciário, o que mostra uma provável falta de caracterização de relação com o
56
trabalho uma vez que já se sabe que esse ramo de atividade apresenta fatores de risco
ocupacionais.
O aumento no número de casos de LER/DORT vem acarretando fortes impactos no
sistema da previdência e, por conseguinte, na distribuição do ônus para o conjunto da
sociedade (SALIM, 2003).
Em estudo realizado por Salim (2003), sobre as tendências e situações das
condições de segurança e saúde no trabalho na região metropolitana de Belo Horizonte
mostrou-se que até 1996 as estatísticas indicavam uma queda no número de acidentes de
trabalho e uma elevação importante nos índices de doenças ocupacionais (GRAF 1).
Figura 5: Evolução dos acidentes típicos e doenças do trabalho
Minas Gerais 1990-1996
Fonte: SALIM, 2003
Segundo o mesmo autor, esse quadro se manteve inalterado até 1998, quando houve
uma brusca queda nos registros de doenças do trabalho em relação aos acidentes do
trabalho registrados nas publicações da Previdência Social.
A justificativa na alteração desse perfil não ocorreu em função de ações preventivas
para o desenvolvimento das doenças, mas pela imposição de novas condições para o
diagnóstico clínico das doenças (SALIM, 2003).
Os acidentes e doenças ocupacionais impõem grandes custos financeiros aos
indivíduos, empregadores e à sociedade em geral, porém, além do custo financeiro, há
também o fator humano. As estatísticas oficiais de acidentes e doenças relacionadas com o
57
trabalho não apresentam a extensão plena da dor e sofrimento que cada evento traz para as
vítimas e suas famílias (BSI, 2004).
A preocupação com a imagem da empresa no mercado também é um fator
significativo, uma vez que temos uma grande massa de trabalhadores acometidos por
doenças que limitam sua capacidade ocupacional, que geram sofrimento e causam
prejuízos físicos, psíquicos e sociais.
Em função dos elevados custos gerados pelas doenças ocupacionais e dos impactos
causados na sociedade, com uma grande massa de trabalhadores inaptos para o trabalho e
aposentados precocemente, a previdência social vem buscando alternativas para aumentar
os encargos das organizações que mais adoecem trabalhadores e oneram essa instituição
previdenciária. Todos esses fatores justificam a implantação por parte das organizações de
programas específicos para tratar da problemática das LER/DORT.
58
3 METODOLOGIA
3.1 Método da pesquisa
Esse trabalho é uma pesquisa exploratória descritiva na qual se procurou evidenciar
características de uma situação e ao mesmo tempo estabelecer conexões entre uma base
teórica conceitual e o programa de ergonomia para prevenção de LER/DORT existente em
uma indústria metalúrgica que possui sistema de gestão da SST.
A seleção da empresa para esse estudo deu-se a partir da revisão bibliográfica que
evidenciou aumento no diagnóstico e custo com doenças ocupacionais na cidade de São
Paulo no ramo da indústria metalúrgica, o que sugere uma ineficácia das organizações para
prevenir essas doenças.
Com uma abordagem qualitativa de caráter descritivo consistiu-se na realização de
uma entrevista estruturada com o responsável pelo programa de ergonomia da organização
estudada.
Segundo Minayo (2004), a entrevista é um instrumento que orienta uma “conversa
com finalidade” cujo roteiro é essencial, funciona como um guia e deve apreender o ponto
de vista dos atores sociais previstos nos objetivos da pesquisa. Funciona como um
facilitador de abertura, de ampliação e de aprofundamento da comunicação.
A estrutura da pesquisa foi realizada em duas fases. A primeira foi realizada por
meio da revisão bibliográfica para aprofundamento no tema e definição dos critérios que
serviram de parâmetro para avaliar a consistência do programa de ergonomia implantando
na organização estudada. A revisão bibliográfica foi realizada a partir de levantamento de
informações em artigos de revistas especializadas, dissertações, livros, internet e anais de
congressos.
59
Na segunda fase, foi realizada a entrevista na empresa onde se objetivou obter
informações para a análise da consistência do programa de ergonomia implantado.
O roteiro de entrevista proposto continha 23 questões que buscavam identificar se o
programa de ergonomia implantado na organização atendia aos seguintes critérios
conforme embasado na revisão bibliográfica:
a) Existência de um plano estratégico estabelecido;
b) Existência de uma atuação proativa ou reativa;
c) Abordagem e identificação de riscos que englobam as questões do ambiente e
também da organização do trabalho e aspectos psicosociais;
d) Se existia comprometimento da alta gestão e se esse comprometimento trata as
questões de segurança e saúde no trabalho sob os mesmos critérios que as
questões de produtividade e financeiras;
e) Se existia participação dos trabalhadores no programa implantado;
f) Se pessoas envolvidas no programa são treinadas e capacitadas em ergonomia;
g) Se existia um especialista em ergonomia participando do programa;
h) Se a estrutura do programa caracterizava-se por uma abordagem
multidisciplinar;
i) Se a sistemática de identificação dos problemas estabelecia uma priorização dos
riscos e um plano de ação para tratá-los;
j) Se as medidas de controle implantadas englobavam questões do ambiente,
equipamentos e ferramentas e também da organização do trabalho;
k) E se existia um gerenciamento médico que garante a identificação precoce dos
casos e uma adequada avaliação e tratamento dos quadros de LER/DORT
visando evitar quadros crônicos;
l) Se existe um processo de análise crítica e de avaliação do programa.
60
3.2 Procedimentos de coleta de dados
Foi elaborado um roteiro de entrevista amplo, contemplando os critérios
determinados com base na revisão bibliográfica. Em seguida foi realizada uma entrevista
piloto em uma outra organização para validar o instrumento da pesquisa.
Após as ajustes necessários e a validação, os dados foram coletados por meio de
entrevista na empresa selecionada.
O roteiro de entrevista que se encontra na página 85 do apêndice, foi estruturado de
forma abrangente com perguntas abertas que pudessem dar conta de todos os critérios de
investigação foco de análise da presente pesquisa.
61
3.3 Análise dos dados
Os dados coletados foram inicialmente analisados através da transcrição da
entrevista, e posteriormente discutidos conforme os critérios estabelecidos e descritos no
método da pesquisa.
62
4 ANÁLISE DOS RESULTADOS
A presente pesquisa teve como objetivo identificar a consistência e compreender
como é a estrutura do programa para prevenção de LER/DORT implantado em uma
indústria metal-mecânica que possui sistema de gestão da segurança e saúde no trabalho
tendo com modelo a OSHAS 18001.
Para perseguir os objetivos propostos foi elaborado um roteiro de entrevista com 23
(vinte e três) questões abertas que se encontra no apêndice A, na página 85.
A consistência do programa foi julgada de acordo com os critérios propostos no
capítulo 3.1, na página 59, que tratou da metodologia e estabeleceu com base na revisão da
literatura que a estrutura ideal para esse tipo de programa deve contemplar pelo menos:
a. Estabelecimento de um plano estratégico;
b. Atuação proativa e reativa;
c. Abordagem ergonômica que englobe questões do ambiente, da organização do
trabalho e aspectos psicosociais;
d. Comprometimento da alta gestão que inclusive trate as questões de segurança e
saúde no trabalho sob os mesmos critérios que as questões de produtividade e
financeiras;
e. Participação dos trabalhadores;
f. Treinamento e capacitação das pessoas envolvidas no programa;
g. Participação de um especialista;
h. Abordagem multidisciplinar;
i. Sistemática de identificação dos problemas, priorização dos riscos e um plano de
ação para tratá-los;
j. Medidas de controle que englobem questões do ambiente, equipamentos,
ferramentas e também da organização do trabalho;
k. Um gerenciamento médico que garanta a identificação precoce dos casos e uma
adequada avaliação e tratamento dos quadros de LER/DORT visando evitar
quadros crônicos;
l. Processo de análise crítica e sistemática de avaliação do programa.
63
A entrevista originalmente foi concebida para ser realizada com o gestor do sistema
de gestão da SST, mas em razão da indisponibilidade dessa pessoa na ocasião, a entrevista
foi realizada com o responsável pelo programa de ergonomia.
A empresa selecionada é uma indústria multinacional do segmento metalúrgico que
produz motores diesel para os segmentos veicular, agrícola, industrial e marítimo. Possui
seu centro de tecnologia e de negócios localizado em São Paulo e três plantas fabris
localizadas na América Latina. No total são 2,3 mil colaboradores nas três plantas.
Com elevado nível de automação, modernos equipamentos e programas de gestão
de qualidade e preservação ambiental a organização possui as certificações ISO 9001, QS
9000, ISO/TS 16949 e ISO 14001, e OHSAS 18001.
A entrevista ocorreu nas instalações da empresa, no dia 27 de novembro de 2006, e
teve a duração de uma hora e dez minutos.
Após a transcrição das respostas e análise inicial dos dados, foi necessário retornar
a empresa a fim de esclarecer algumas dúvidas que surgiram, visando melhor
embasamento e esclarecimentos sobre a realidade da empresa na busca de atender aos
objetivos da pesquisa.
A transcrição da entrevista encontra-se no apêndice B, na página 87 desta
dissertação.
O roteiro de entrevista inicialmente solicitava que o entrevistado falasse um pouco
sobre o programa de ergonomia existente na organização. Ao que o entrevistado falou “...
atualmente as atividades do programa de ergonomia consistem em identificar
inadequações ergonômicas em postos de trabalho e auxiliar na promoção de modificações
no ambiente, visando um contínuo aprimoramento na identificação e controle de riscos
ergonômicos para a prevenção de doenças e eliminação de problemas ergonômicos. Em
todas as situações em que houver referência de sinais e sintomas osteomusculares ou
incidência de afastamentos por causa osteomuscular, realizamos a análise ergonômica do
posto de trabalho, cuja solicitação poderá vir da equipe de fisioterapeutas que atendem no
ambulatório, dos médicos do trabalho, de colaboradores com queixas ou membros da
64
CIPA – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes -. De acordo com a análise, caso
haja algum tipo de perigo ergonômico os responsáveis pela área são acionados, é
realizada uma reunião onde os perigos e os riscos são apresentados, são discutidas as
possíveis soluções e um plano de ação é estabelecido. Além disso, no caso de aquisição de
novos equipamentos e máquinas atuamos de forma proativa, orientando com relação aos
aspectos ergonômicos, visando desde a concepção garantir que os postos de trabalho
estejam ergonomicamente adequados”. (SIC)
A partir dessa descrição, podemos inferir que de forma geral o programa
implantado na organização possui atuação proativa, procurando adequar os postos de
trabalho desde a concepção, atuando também de forma reativa quando investiga os postos
de trabalho de colaboradores que apresentam sintomas osteomusculares.
Segundo Vidal (2002), a opção pelo tipo de alcance do programa de ergonomia irá
variar de acordo com o porte e objetivos da organização.
Um dos principais objetivos na implantação de um sistema de gestão da segurança
e saúde no trabalho é eliminar ou minimizar os riscos aos quais os trabalhadores estão
expostos e, visando atingir esse objetivo, atuar na concepção dos postos de trabalho
adaptando o trabalho ao homem é o mais indicado, o que evidencia um ponto forte do
programa implantado na organização estudada.
Na busca de identificar se o programa de ergonomia implantado na organização
atendia outro dos critérios estabelecidos, o entrevistado foi questionado sobre a existência
de um plano estratégico estabelecido, e especialmente de que forma ele estava alinhado
com a política da empresa. A resposta do entrevistado abordou aspectos da missão e
valores da empresa ao falar “... devemos proporcionar oportunidades para o seu
desenvolvimento (no caso dos funcionários) e um ambiente de trabalho saudável onde se
favoreça a criatividade, o espírito de equipe e a qualidade de vida”. (SIC) Nesse caso o
entrevistado procurou demonstrar que existe por parte da empresa uma preocupação com
os aspectos da segurança e saúde no trabalho.
No entanto, no decorrer da entrevista em diversas situações, o entrevistado
evidenciou dificuldades para a concretização das melhorias necessárias especialmente ao
65
responder a questão 21 sobre o comprometimento da alta direção com o programa de
ergonomia afirmando que “temos o apoio da gerência da área para esse processo, porém
ainda não atingimos o ponto de se dar a mesma prioridade as questões de ergonomia que
são dadas às de produção, isso pode ser constatado com as dificuldades para liberação de
verba e através da falta de comprometimento de algumas áreas, porque se elas fossem
cobradas por isso com certeza teríamos mais resultados”. (SIC)
Autores como Alexander e Gary (1999) e Santos (2003) consideram a criação de
um plano estratégico essencial para o sucesso de um programa de ergonomia. O
planejamento estratégico define o que o programa de ergonomia pretende fazer ao longo
do tempo e quais devem ser os resultados esperados. Pode-se dizer que ele é o norteador
para que a equipe possa saber o que fazer e por onde iniciar suas ações.
Além disso, a implantação de um sistema de gestão da segurança e saúde no
trabalho sugere uma atitude proativa da organização na busca de identificar os riscos
existentes em suas atividades, e na adoção de ações para eliminar esses riscos e não apenas
o simples atendimento das Normas Regulamentadoras do Ministério do Trabalho.
O guia da BSI (2004) cita claramente que ao implantar um sistema de gestão as
organizações devem dispensar a mesma importância à obtenção de altos padrões de
gerenciamento em segurança e saúde como fazem com os demais aspectos chaves de suas
atividades.
Esses dois aspectos demonstram uma fraqueza do programa de ergonomia
implantado uma vez que de acordo com os critérios estabelecidos, a organização apresenta
duas inadequações: não há plano estratégico e os aspectos para a prevenção de LER/DORT
não são tão relevantes quanto os aspectos da produção e os financeiros.
Com relação à participação dos trabalhadores no programa de ergonomia o
entrevistado demonstra que a mesma é parcial ao verbalizar “... Eles (os trabalhadores) são
envolvidos no processo de identificação e avaliação dos riscos, sendo questionados sobre
o impacto e percepção sobre a atividade de trabalho em sua saúde, procuram o
ergonomista para apontar perigos e riscos e, no processo de melhorias são os
66
responsáveis pela aprovação. Nem sempre conseguimos envolvê-los nos processos desde o
princípio, por falta de disponibilidade de pessoas e tempo em função da produção”. (SIC)
Maciel (2000) ressalta que se deve ter cuidado para que as soluções não sejam
impostas de cima para baixo, pois é comum os trabalhadores participarem apenas
avalizando decisões já tomadas por níveis hierárquicos maiores.
Essa fala sugere que isso ocorra na organização estudada, e mostra outro aspecto
que contradiz o que autores como Campos (1998) e Malchaire (2006) fortemente
recomendam que é a importância da participação dos trabalhadores na concepção,
implementação e manutenção dos programas de ergonomia.
Malchaire (2006) cita ainda que os trabalhadores devem ser o centro da ação da
prevenção, não apenas para dar opiniões ou responder questões, mas para discutir os
detalhes práticos permitindo a realização do trabalho em condições ideais para eles e para a
empresa.
O relatório da OSHA (1997) citado no referencial teórico menciona que uma forma
de envolver os trabalhadores é por meio da adoção pela empresa de uma política para
encorajar os funcionários a relatarem e apontarem sinais e sintomas de doenças músculo
esqueléticas de forma que a causa desses sintomas possam ser identificadas e tratadas,
promover campanhas e realizar pesquisas periódicas para que os funcionários relatem os
problemas ergonômicos, falem sobre as situações de trabalho e dêem sugestões para
promover melhorias nas condições de trabalho.
Durante a realização da entrevista em nenhum momento foi possível perceber que
de alguma forma a participação dos trabalhadores se dá de forma sistematizada na
organização.
Outra pergunta do questionário era sobre como se dá o processo de capacitação dos
trabalhadores a fim de que os mesmos possam participar do programa de ergonomia. A
resposta do entrevistado foi que “esse tipo de treinamento e capacitação não é realizado,
mas uma vez que são eles que estão trabalhando no posto, em geral são os responsáveis
pelas soluções, inclusive através do banco de idéias que temos, muitas das idéias são de
67
ergonomia! Quando eles dão uma idéia nessa área ela é avaliada e discutida com eles e,
se for considerado o risco ela pode ser implantada”. (SIC)
O envolvimento, treinamento e educação dos trabalhadores é requisito essencial
para garantir que os riscos ergonômicos sejam identificados e controlados.
Atualmente a tendência é que as ações de prevenção sejam viabilizadas pelos
trabalhadores que são os profundos conhecedores da realidade de trabalho, eles é que
devem ser os participantes ativos do processo de prevenção e os profissionais técnicos
devem dar apenas o suporte e facilitar para que o processo ocorra, sendo, portanto nesse
caso essencial que haja um processo de educação de treinamento.
Ainda de acordo com a literatura, conforme descrito na página 36, os treinamentos
e orientações aos trabalhadores são elementos fundamentais do programa de ergonomia,
pois podem garantir que todos os funcionários possam identificar problemas ergonômicos;
aprendam procedimentos para identificar e relatar sintomas de doenças músculo
esqueléticas; que supervisores e gerentes reconheçam precocemente os sinais e sintomas de
doenças; os engenheiros aprendam como prevenir e corrigir riscos ergonômicos durante o
design, compra e manutenção de equipamentos.
Por não haver mecanismos para assegurar o envolvimento dos trabalhadores no
programa de ergonomia, pode-se inferir como decorrência dessa não participação que
exista uma fragilidade no programa e que talvez exista um pressuposto equivocado por
parte da alta direção com relação à importância da participação dos trabalhadores nesse
processo.
A identificação dos perigos e classificação dos riscos ergonômicos é realizada pelo
especialista em ergonomia que permanece uma carga horária semanal da organização,
período esse em que identifica os problemas e articula a viabilização de soluções junto aos
gestores das áreas.
O entrevistado relata que “Os perigos são classificados por meio de uma
correlação entre a probabilidade de ocorrência de uma lesão e o tempo de exposição ao
perigo, sendo os postos dessa forma classificados como de risco baixo, moderado, alto e
68
de extremo risco. Os postos classificados como de risco alto e extremo são o foco de
atuação nas áreas...”. (SIC)
Conforme o entrevistado informou, caso perigos ergonômicos como
postura/biomecânica inadequada, carga excessiva, manuseio de peso, repetitividade, força,
vibração, aspectos do ambiente, aspectos cognitivos e organizacionais sejam identificados
na atividade de trabalho a probabilidade de ocorrência de lesões osteomusculares é
estimada de raro a quase certo.
Ele descreve a forma de classificação da probabilidade de ocorrência de lesões “...
No caso quase certo (A), espera-se que ocorra na maioria das vezes; no caso B (provável),
provavelmente ocorrerá na maioria das vezes; já no C a probabilidade de ocorrência de
sintomas osteomusculares é possível, deverá ocorrer alguma vez; é considerado
improvável (D) quando estima-se que poderá ocorrer alguma vez e, por fim classifica-se
como E (raro) quando considera-se poder ocorrer apenas em circunstâncias excepcionais.
Tal probabilidade é correlacionada com o tempo de exposição ao perigo durante
cada ciclo ou durante a jornada de trabalho onde a freqüência de exposição é considerada
4 quando ela ocorrer durante 76 a 100% da jornada ou ciclo; 3 quando durante 51 a 75%
da jornada ou ciclo; caso o tempo de exposição seja de 26 a 50% da jornada ou ciclo é
classificada como 2 e, como 1 quando a exposição ocorre entre 0 a 25% da jornada ou
ciclo.
A partir dessa correlação os postos são classificados como de risco E (risco
extremo) sendo necessárias ações imediatas; A (risco alto) onde são necessárias ações em
curto prazo; risco moderado (M), necessária atuação em médio prazo e; risco baixo (B),
Necessárias ações de contenção e monitoramento”. (SIC)
Nesse contexto o especialista em ergonomia “... através de uma correlação
qualitativa, a probabilidade de ocorrência de uma lesão, e quantitativa o tempo de
exposição ao perigo...” faz a classificação dos posto de trabalho e, “... quanto maior a
gravidade essa será a prioridade, por exemplo, um fator que torna ainda maior a
prioridade é no caso de doença ocupacional onde uma vez estabelecido o nexo é aberta no
sistema de gestão uma solicitação de ação corretiva - SAC, que aciona diretamente o
gestor e todos os responsáveis da área sobre a existência de uma grave inadequação em
69
seus processos causador de doença ocupacional e que deve ser alterado, isso implica em
inadequações de qualidade na área”. (SIC)
Com base nas informações obtidas observa-se que existe na organização uma
sistemática para a identificação dos problemas e classificação riscos, onde a partir dela são
estabelecidas as prioridades.
Uma limitação da pesquisa foi a impossibilidade de realizar a entrevista com o
responsável pelo sistema de gestão na busca de responder alguns questionamentos como de
que forma a organização consegue garantir que apenas esse profissional consegue dar
conta de todas as necessidades da empresa; se apenas a percepção desse profissional é
suficiente para garantir a adequada condução do processo de avaliação dos riscos; quais
critérios foram considerados para a contratação do profissional e como se avalia se o
trabalho realizado é eficiente e eficaz.
Diante do questionamento de quais outras pessoas participavam do programa de
ergonomia o entrevistado informou que “... O supervisor, o técnico de processos, o
responsável pelo serviço de manutenção e em geral um líder participam discutindo com o
ergonomista os problemas identificados e as soluções viáveis para o problema”. (SIC) O
entrevistado também comentou que nenhuma dessas pessoas possui formação ou
treinamento em ergonomia.
Diante de tais evidências conclui-se que de alguma forma o programa possui uma
abordagem multidisciplinar com diferentes profissionais envolvidos no processo, porém
apenas um profissional da equipe possui conhecimentos em ergonomia.
Questiona-se de que forma um profissional contratado pela empresa pode sozinho
dar conta da análise, classificação e priorização dos riscos ergonômicos existentes na
empresa.
De acordo com o exposto durante a entrevista conclui-se que o programa de
ergonomia tem sido conduzido apenas por esse profissional e, que o SESMT – Serviço
Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho - pouco participa
desse processo. “... O SESMT atua apenas nos casos de doenças ocupacionais e apesar de
70
termos no PCMSO uma meta para redução de doenças ocupacionais as estratégias não
estão alinhadas, esse trabalho acaba sendo realizado separadamente das ações e
infelizmente em função de diversas mudanças a equipe ainda não conseguiu se alinhar
com as ações do programa de ergonomia”. (SIC)
Analisando a resposta acima que foi dada frente à pergunta de como o PCMSO –
Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional - auxilia as pessoas que participam
no processo de concepção, implementação e no estabelecimento de prioridades para o
programa de ergonomia é possível considerar que o gerenciamento médico não tem sido
eficaz para garantir a prevenção de novos casos de LER/DORT ao entrevistado citar “...
Tivemos só no último ano três médicos coordenadores do SESMT e, em função disso a
estrutura de trabalho não teve uma adequada continuidade...”. (SIC)
O gerenciamento médico dentro de um programa de ergonomia é importante para
garantir não apenas o tratamento e diagnóstico de doenças, mas essencialmente para
garantir a redução de doenças, prevenção de novos casos, assim como a identificação
precoce dos casos, conforme cita o relatório da OSHA (1997).
De acordo a resposta do entrevistado à segunda questão que procurava
compreender em que contexto da organização o programa de ergonomia estava inserido ao
que entrevistado comentou “... Aqui no ambulatório temos além de dois consultórios
médicos, um ambulatório de fisioterapia onde é realizado de segunda a sexta-feira durante
12 horas atendimento aos funcionários (o que evita que eles saiam da empresa para
realizar tratamento), e o atendimento médico é de 18 horas diárias de segunda a sexta-
feira” (SIC), fica clara a ênfase no suporte assistencial existente na organização.
Nota-se, portanto que o suporte médico ao programa é focado principalmente no
diagnóstico e tratamento de doenças não havendo na organização a participação do médico
dentro do programa de ergonomia para a prevenção de LER/DORT, o que mostra um outro
ponto fraco do programa que não atende a mais um dos critérios estabelecidos.
Outro critério considerado essencial em um programa de ergonomia é a abordagem
dos aspectos físicos, mas também organizacionais e psicosociais da atividade de trabalho.
71
É possível evidenciar, a partir das respostas obtidas através da entrevista, que o
programa de ergonomia existente na empresa atua essencialmente sobre os aspectos físicos
do ambiente de trabalho e que os aspectos relativos à organização do trabalho, bem como
os aspectos psicossociais não são adequadamente abordados dentro do programa existente.
Isso pode ser corroborado a partir do discurso do entrevistado ao dizer “... tudo que
se refere à organização do trabalho é muito mais complicado. Temos uma linha de
produção fordista e, apesar de todos os seus impactos (na saúde dos trabalhadores) ainda
não conseguimos mostrar isso a alta gestão que nem sequer discute esse tipo de problema,
podem até disponibilizar uma grande verba para a compra de um equipamento, porém
mexer em questões organizacionais é muito complicado...”. (SIC)
Por outro lado o entrevistado comenta que para julgar a dimensão dos riscos
ergonômicos todos os aspectos são identificados “... os perigos investigados são:
postura/biomecânica, carga/manuseio de peso, repetitividade, força, vibração, ambiente,
aspectos cognitivos e organizacionais...”. (SIC)
Isso sugere que especialista em ergonomia identifica não apenas os aspectos físicos,
mas também os aspectos organizacionais e psicosociais da atividade de trabalho. Porém,
ele não consegue demonstrar aos gestores a relevância de todos os perigos ergonômicos
identificados e a empresa não demonstra maturidade para tratar tais aspectos da ergonomia.
Da mesma forma, as medidas de controle implantadas na organização estudada
também são restritas a esse tipo de abordagem. Ao ser questionado sobre os tipos de
medidas de controle implementadas pelo programa de ergonomia o entrevistado relata “...
tipo EPI - Equipamento de Proteção Individual -, não, não costumamos adotar esse tipo de
medida, em geral é mais cara e de difícil aceitação, tentamos uma vez um banquinho que
não deu certo... Estamos há meses trabalhando com 2 horas extras diárias na linha de
montagem após uma demissão em massa e, apesar de tentarmos sinalizar diversas vezes a
gerencia que a carga de trabalho excessiva tem impactos negativos na saúde dos
trabalhadores, isso não é ponto de discussão, ficando apenas no nível de supervisão que
compreendem o problema, porém não conseguem passá-lo adiante; o rodízio que é um
pouco mais fácil também é complicado por aqui em função da falta de tempo para o
treinamento da equipe, isso implica em tempo e às vezes até mesmo em perda de produção
o que complica sua efetivação. De forma geral as ações são mais de engenharia como
72
você falou melhorias no posto, manuseio de carga, implantação de dispositivos
pneumáticos, formas para minimizar a força, mecanização, etc...”. (SIC)
Isso mostra uma importante fragilidade do programa, pois com o tipo de atuação
ergonômica existente na empresa é provável que o programa implantado não dê conta de
atender todas as necessidades dos trabalhadores uma vez que conforme descrito por
diversos autores como Montmoullin (1990), Santos e Fialho (1997), Vidal (2002) e Iida
(2005), a ergonomia é multifatorial e todos os determinantes da atividade de trabalho
devem ser considerados e analisados em conjunto uma vez que o processo saúde-doença
do trabalhador não pode ser compreendido apenas com base em aspectos físicos.
O que se percebe é que as medidas de controle administrativas e individuais não são
adotadas por fatores distintos. As medidas administrativas não são incorporadas como
práticas importantes pela organização para minimizar doenças no ambiente de trabalho e os
equipamentos de proteção individuais também não são utilizados em função das
dificuldades de aceitação pelos trabalhadores e custo.
O entrevistado relata que as medidas de controle implantadas são discutidas nas
reuniões periódicas com a equipe e que eventualmente a sugestão de algum trabalhador
pode ser incorporada a essas discussões caso o mesmo se disponha a procurar um deles e
propor uma solução, porém como citado anteriormente não há nenhum tipo de incentivo na
empresa para esse tipo de postura dos trabalhadores.
O entrevistado também foi questionado sobre como se dá a atribuição das
responsabilidades e da prestação de contas para o acompanhamento e implementação das
medidas de controle dentro do programa implantado. O entrevistado respondeu que “... a
grande dificuldade está na implementação das medidas uma vez que em geral
“esbarramos” em dificuldades de verba para a realização das melhorias, em algumas
situações esbarramos até mesmo na falta de pessoal para a realização das melhorias....
Como por exemplo, no caso da equipe de manutenção, em geral muito envolvida nesses
processos, eles até começam a fazer as coisas, porém sempre que existe uma demanda da
produção o processo é interrompido uma vez que a produção acaba sendo prioridade. Em
função disso temos grande dificuldade para o cumprimento dos prazos”. (SIC)
73
Esse foi o ponto em que o entrevistado mostrou a maior fragilidade do programa,
pois ficou claro que os prazos não são cumpridos e que as melhorias demoram a ser
viabilizadas ratificando que as ações do programa de ergonomia para prevenção de
LER/DORT não são tratadas como prioridade dentro da organização e que os planos de
ação apesar de estabelecidos não são cumpridos.
Mais uma vez fica clara a falta de comprometimento da organização com o
programa implantado e diversos fatores apontados na página 47 da revisão bibliográfica
que contribuem para o insucesso do programa de ergonomia podem ser identificados
como: falta de tempo, falta de verba, falta de habilidades e pouco interesse gerencial.
Outra falha identificada no programa de ergonomia implantado e que se choca
inclusive com as especificações de um sistema de gestão da segurança em saúde no
trabalho é a ausência de uma sistemática de avaliação do programa e de análise crítica que
é confrontada com indicadores de desempenho.
Tal conclusão é obtida a partir da resposta frente ao questionamento sobre de que
forma as medidas implantadas são avaliadas criticamente para medir sua eficácia ao qual o
entrevistado respondeu que “... Como esse processo ainda não está alinhado
adequadamente com todo o SESMT esse processo fica a desejar, as medidas são avaliadas
in loco onde obtemos a opinião dos funcionários que trabalham no posto sobre a melhoria
e documentamos e, apesar de acompanharmos os indicadores de doenças e queixas
ocupacionais quase não conseguimos correlacionar com as ações implementadas em
função das dificuldades que lhe passei, verba, equipe, e pra ser sincero até mesmo o
envolvimento das próprias áreas”. (SIC)
Observa-se que a estrutura do programa de ergonomia é simples baseada apenas na
identificação de problemas e busca de soluções para um problema específico, o plano de
ação é estabelecido a partir de uma análise pontual e não através de uma forma
sistematizada de análise crítica, conforme cita o entrevistado “... Não realizamos esse
processo de analise crítica... Como assim? Ah tá... Mas não há nada sistematizado que é
implantado nesse sentido, precisamos apenas implantar o que é proposto e avaliar essa é
a forma que trabalhamos por aqui...”. (SIC)
74
O entrevistado inclusive relata que os indicadores utilizados são apenas reativos
não correlacionados com as medidas implantadas pelo programa “... Na verdade eles (os
indicadores) são mais reativos, número de dias perdidos por doenças ocupacionais, locais
de acometimento e correlação por área, indicadores proativos temos apenas o número de
tryouts realizados que são processos de concepção de máquinas e equipamentos
desenvolvidos pela engenharia que em geral solicita a presença do ergonomista para
acompanhar o processo...”. (SIC)
Conforme citado no referencial teórico pelos autores Cohen et al (1997) e Maciel
(2000) a avaliação das soluções e modificações realizadas se faz necessária para assegurar
que as medidas de controle realmente eliminaram ou diminuíram os fatores de risco e que
novos fatores não foram introduzidos a partir das mudanças.
A metodologia do sistema de gestão da segurança e saúde no trabalho determina
que devem ser estabelecidos e mantidos procedimentos para a avaliação do desempenho,
sendo a análise crítica essencial para realizar ajustes e promover o aprendizado e a
melhoria contínua do sistema.
Por fim, o entrevistado foi questionado sobre quais critérios ele julgava importantes
para definir um programa de ergonomia eficaz. Nesse momento o entrevistado faz uma
reflexão e diz “... Se não temos a alta gestão envolvida a coisa não anda! Eles precisavam
cobrar e se envolver mais nesses processos e ações, acho eu que não o fazem por que não
analisam diretamente os custos, apenas os estimam é como se os supervisores e gerentes
não passassem o real da coisa pra eles... por que se passassem acredito que seria
diferente”. (SIC)
É importante ressaltar que o entrevistado, responsável pelo programa de ergonomia,
evidenciou grandes dificuldades para a adequada condução do programa. Muitas delas
esbarram na falta de comprometimento da organização com o programa, o que não permite
a viabilização de transformações na situação de trabalho.
A implantação de um sistema de gestão da segurança e saúde no trabalho pode
demonstrar por um lado o comprometimento e preocupação da organização em eliminar e
reduzir os riscos à integridade dos seus colaboradores, entretanto pode ser incorporado
75
dentro da realizada da organização apenas para a obtenção de uma certificação a fim de
atender a uma demanda de cliente.
Ao implementar um sistema de gestão da segurança e saúde no trabalho espera-se
que a organização realmente se comprometa em prevenir acidentes e doenças dentro de
uma sistemática global devendo diante da importância do tema LER/DORT e dos impactos
sociais e financeiros dessas doenças, manter uma estrutura adequada para a condução dessa
problemática.
Apenas demonstrar para a sociedade que possui um sistema de gestão em geral está
longe de promover mudanças na realidade do trabalho e impactos significativos na
segurança e saúde dos trabalhadores.
76
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo geral desse estudo foi verificar a consistência do programa de ergonomia
para prevenção de LER/DORT implantado em uma indústria metalúrgica que possui
sistema de gestão da segurança e saúde no trabalho tendo com modelo a OSHAS 18001.
Após a análise dos dados obtidos por meio da entrevista realizada na organização, a
presente pesquisa sugere que o fato de possuir um sistema de gestão da segurança e saúde
no trabalho não significa que a empresa atua adequadamente para a prevenção de
LER/DORT e nem tão pouco que as questões ergonômicas estejam incorporadas no
sistema de gestão.
Foi possível constatar que dentre os onze critérios definidos como necessários para
garantir a eficácia de um programa de ergonomia, a organização estudada atendeu a apenas
cinco critérios.
Embora a empresa atenda parcialmente a alguns dos critérios estabelecidos para a
análise realizada, isso não é suficiente para assegurar que suas iniciativas sejam suficientes
para garantirem que o programa de ergonomia possa modificar a realidade do trabalho e a
prevenção de casos de LER/DORT.
O que se verificou é que o fato de não possuir um plano estratégico, e não tratar
todos os riscos ergonômicos identificados mostra que a organização não compreende
adequadamente a importância da ergonomia para a prevenção de LER/DORT e
especialmente que ela não consegue incorporar a ergonomia dentro de do sistema de
gestão.
Ao lado disso, por não haver treinamento e capacitação em ergonomia dos
envolvidos no programa e nem tão pouco participação ativa dos trabalhadores no programa
implantado, demonstra-se de certa forma uma falta de comprometimento da organização
com seu público interno, pois dificilmente pode-se adaptar o trabalho ao homem sem o
envolvimento de quem executa o trabalho.
77
Por fim, o papel dos tomadores de decisão na estrutura do programa de ergonomia é
quem mais evidencia a inconsistência do programa de ergonomia implantado objetivo
principal desse estudo.
O fato da empresa não se comprometer com o programa e de não avaliá-lo dentro
dos mesmos parâmetros que os demais aspectos de segurança, de produtividade e
financeiros sugere que dificilmente sejam concretizadas reais modificações na realidade do
trabalho e, mais do que isso que esse programa consiga prevenir o aparecimento de novos
casos de doenças ocupacionais.
Uma sugestão seria rever toda a estrutura do programa de ergonomia junto com os
gestores responsáveis pelo sistema de gestão, evidenciando os problemas enfrentados pela
organização em função dos perigos ergonômicos e confrontá-los com o que vem sendo
realizado atualmente para tratá-los; e através de uma análise crítica os planos de ação
fossem reestruturados dentro dos critérios sugeridos nesse estudo.
Como limitação dessa pesquisa é importante citar que não foi possível visitar a
empresa para conhecer e descrever o seu processo produtivo o que tornaria mais rica a
análise dos resultados obtidos a partir da entrevista.
É importante considerar inclusive, que os critérios escolhidos não foram objetivos,
de forma que pudessem de alguma forma contribuir para que a organização não se
enquadrasse dentro dos mesmos, especialmente em função das diversas formas possíveis
de se atuar em ergonomia, e ao estabelecer critérios isso restringe a possibilidade de
qualquer outra forma de abordagem.
Vale salientar que esse trabalho é um estudo exploratório de uma realidade
específica que não pode ser generalizado para todas as organizações que possuem sistema
de gestão da segurança e saúde no trabalho. Seria interessante a aplicação dos critérios
selecionados em um grupo de empresas para um levantamento mais abrangente sobre a
atuação das organizações para prevenção de LER/DORT.
Também como sugestão para aprofundamento do tema a partir de novas pesquisas é
importante considerar de que forma tem sido o papel dos especialistas em ergonomia nas
78
organizações, pois em geral se tem conhecimento de uma atuação apenas para o
apontamento de problemas através da realização da análise ergonômica do trabalho e no
processo de treinamento e capacitação dos trabalhadores. No caso da organização estudada
esse papel se dá de uma forma peculiar, pois através da entrevista ficou evidenciado que
boa parte da condução do programa é realizada por esse profissional.
A adequada condução das questões ergonômicas é tão relevante quanto o
gerenciamento dos demais aspectos de segurança e saúde, pois as organizações competem
com base na sua habilidade de utilizar o elemento humano para o seu crescimento e
reconhecimento, e os trabalhadores são as grandes vítimas das LER/DORT.
Com base nisso, faz-se necessário o desenvolvimento de estratégias para garantir
que as organizações tratem adequadamente dos aspectos de ergonomia dentro do sistema
de gestão da segurança e saúde no trabalho.
79
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85
APÊNDICE A – Instrumento de Pesquisa Qualitativa
Roteiro de Entrevista
1. Fale-me um pouco a respeito do programa de ergonomia existente na empresa em que
você atua.
2. E dentro de que contexto o programa de ergonomia está inserido na organização?
3. De que formas as ações da gestão da segurança no trabalho estão alinhadas às
estratégias da organização?
4. Como é feita a identificação dos perigos e a avaliação dos riscos ergonômicos (físicos,
organizacionais e psicosociais) na etapa de planejamento do sistema de gestão?
5. Quem realiza esse processo de identificação dos perigos e avaliação dos riscos
ergonômicos?
6. De que forma se dá a participação dessas pessoas nesse processo?
7. De que forma se dá a participação específica dos trabalhadores nesse processo?
8. Como é feito o processo de treinamento e capacitação dos trabalhadores a fim de que
os mesmos possam participar efetivamente desse processo?
9. Quais critérios são empregados para julgar a dimensão (BAIXO, MÉDIO, ALTO)
desses riscos?
10. Quais critérios são empregados para o estabelecimento das prioridades para a
implementação das medidas de controle para cada um dos riscos encontrados?
11. Como o PCMSO auxilia as pessoas que participam no processo de concepção,
implementação e no estabelecimento dessas prioridades?
12. A empresa emprega especialistas em ergonomia para auxiliar no processo de
identificação dos perigos e avaliação dos riscos ergonômicos?
13. Como se da a participação desse(s) especialista(s)?
14. Como se dá a atribuição das responsabilidades e de prestação de contas para o
acompanhamento e implementação das medidas de controle dentro dos planos de ação
definidos?
15. Quais são os critérios que definem quais as medidas de controle serão implementadas
para as diferentes situações de perigos e riscos ergonômicos existentes?
16. Quais os tipos de medidas de controle implementadas: de engenharia, administrativas
ou individuais?
17. Como essas medidas são avaliadas criticamente a fim de julgar sua eficácia?
18. Quais sãos critérios que são empregados para essa avaliação?
86
19. De que maneira e qual é a periodicidade com que os planos de ação são analisados
criticamente?
20. Quais os indicadores (proativo e reativos) empregados para se avaliar a eficácia do
programa de ergonomia para prevenção de LER/DORT?
21. De que maneira se dá o processo de melhoria continua dentro dos planos de ação para
os programas específicos de ergonomia para prevenção de LER/DORT?
22. Como a alta direção demonstra seu comprometimento com o sistema de gestão e com
programas de ergonomia para prevenção de LER/DORT?
23. Quais os critérios que você julga importantes para definir um programa de ergonomia
LER/DOT que eficaz?
87
APÊNDICE B – Transcrição da entrevista realizada
1. Fale-me um pouco a respeito do programa de ergonomia existente na empresa em
que você atua.
Há aproximadamente três anos atrás, a empresa optou por comprar uma análise
ergonômica do trabalho de toda a empresa, esse documento virou aproximadamente
uns 20 relatórios enormes que foram entregues nas mãos no médico do trabalho que
simplesmente não sabia o que fazer com eles!
Foi quando ele optou em ter um especialista em ergonomia dentro da empresa para
analisar cada uma das recomendações indicadas e estabelecer um plano de ação para
tratá-las. Esse profissional após alguns meses saiu da empresa, sendo substituído por
mim que dei continuidade ao trabalho conforme estabelecido pelo médico do trabalho.
Após algumas análises consideramos que a análise ergonômica realizada apresentava
diversas inadequações e situações que não condiziam com nossa realidade, de forma
que a mesma foi abandonada, e nova estrutura de trabalho foi concebida.
Atualmente as atividades do programa de ergonomia consistem em identificar
inadequações ergonômicas em postos de trabalho e auxiliar na promoção de
modificações no ambiente, visando um contínuo aprimoramento na identificação e
controle de riscos ergonômicos para a prevenção de doenças e eliminação de
problemas ergonômicos. Em todas as situações em que houver referência de sinais e
sintomas osteomusculares ou incidência de afastamentos por causa osteomuscular,
realizamos a análise ergonômica do posto de trabalho, cuja solicitação poderá vir da
equipe de fisioterapeutas que atendem no ambulatório, dos médicos do trabalho, de
colaboradores com queixas ou membros da CIPA. De acordo com a análise, caso haja
algum tipo de perigo ergonômico os responsáveis pela área são acionados, é realizada
uma reunião onde os perigos e os riscos são apresentados, são discutidas as possíveis
soluções e um plano de ação é estabelecido. Além disso, no caso de aquisição de novos
equipamentos e máquinas atuamos de forma proativa, orientando com relação aos
aspectos ergonômicos, visando desde a concepção garantir que os postos de trabalho
estejam ergonomicamente adequados”. (SIC)
2. E dentro de que contexto o programa de ergonomia está inserido na organização?
“Bem, o programa de ergonomia faz parte da gerência de segurança e saúde no
trabalho e eu respondo diretamente ao gerente e ao médico do trabalho, a engenharia
88
de segurança trabalha em paralelo a esse programa, porém não diretamente. Aqui no
ambulatório temos além de dois consultórios médicos, um ambulatório de fisioterapia
onde é realizado de segunda à sexta-feira, durante 12 horas atendimento aos
funcionários (o que evita que eles saiam da empresa para realizar tratamento), e o
atendimento médico é de 18 horas diárias de segunda à sexta-feira. Em função disso,
o programa de ergonomia está muito inserido dentro do contexto e rotina diária do
ambulatório médico e de fisioterapia”. (SIC)
3. De que formas as ações da gestão da segurança no trabalho estão alinhadas às
estratégias da organização?
“Dentro da filosofia e missão da empresa está proporcionar o melhor lugar para se
trabalhar e o respeito às pessoas... Os funcionários são o recurso fundamental para a
consolidação dessa missão, devemos proporcionar oportunidades para o seu
desenvolvimento e um ambiente de trabalho saudável onde se favoreça a criatividade,
o espírito de equipe e a qualidade de vida”. (SIC)
4. Como é feita a identificação dos perigos e a avaliação dos riscos ergonômicos
(físicos, organizacionais e psicosociais) na etapa de planejamento do sistema de
gestão?
“Os riscos ergonômicos são avaliados por um profissional contratado pela
organização que presta serviços de consultoria em ergonomia, é ele quem determina
como tais perigos e riscos serão avaliados dentro das melhores práticas existentes na
área conforme determinado pela nossa política de atividade ergonômica”. (SIC)
5 Quem realiza esse processo de identificação dos perigos e avaliação dos riscos
ergonômicos?
“Como lhe falei o profissional contratado que permanece uma carga horária semanal
de 20 horas na empresa prestando tal serviço”. (SIC)
6 De que forma se dá a participação dessas pessoas nesse processo?
“Quais pessoas? O Ergonomista? Ele é o responsável pela identificação dos riscos,
análise e avaliação assim como tem o papel de interceder junto as áreas na busca de
solução para tais riscos”. (SIC)
89
7 De que forma se dá a participação específica dos trabalhadores nesse processo?
“Eles são envolvidos no processo de identificação e avaliação dos riscos, sendo
questionados sobre o impacto e percepção sobre a atividade de trabalho em sua
saúde, procuram o ergonomista para apontar perigos e riscos, e no processo de
melhorias são os responsáveis pela aprovação. Nem sempre conseguimos envolvê-los
nos processos desde o princípio, por falta de disponibilidade de pessoas e tempo em
função da produção”. (SIC)
8 Como é feito o processo de treinamento e capacitação dos trabalhadores a fim de que
os mesmos possam participar efetivamente desse processo?
“Esse tipo de treinamento e capacitação não é realizado, mas uma vez que são eles
que estão trabalhando no posto, em geral são os responsáveis pelas soluções,
inclusive através do banco de idéias que temos muitas das idéias são de ergonomia!
Quando eles dão uma idéia nessa área ela é avaliada e discutida com eles e, se for
considerado o risco ela pode ser implantada”. (SIC)
9 Quais critérios são empregados para julgar a dimensão (BAIXO, MÉDIO, ALTO)
desses riscos?
“Os perigos são classificados através de uma correlação entre a probabilidade de
ocorrência de uma lesão e o tempo de exposição ao perigo, sendo os postos dessa
forma classificados como de risco baixo, moderado, alto e extremo risco. Os postos
classificados como de risco alto e extremo são o foco de atuação nas áreas.
Os perigos investigados são: postura/biomecânica, carga/manuseio de peso,
repetitividade, força, vibração, ambiente, aspectos cognitivos e organizacionais.
Caso esses perigos sejam identificados na atividade de trabalho a probabilidade de
ocorrência de lesões osteomusculares é estimada de raro (E) a quase certo (A).
No caso quase certo (A), espera-se que ocorra na maioria das vezes; no caso B
(provável), provavelmente ocorrerá na maioria das vezes; já no C a probabilidade de
ocorrência de sintomas osteomusculares é possível, deverá ocorrer alguma vez; é
considerado improvável (D) quando estima-se que poderá ocorrer alguma vez e, por
fim classifica-se como E (raro) quando considera-se poder ocorrer apenas em
circunstâncias excepcionais.
Tal probabilidade é correlacionada com o tempo de exposição ao perigo durante cada
ciclo ou durante a jornada de trabalho, onde a freqüência de exposição é considerada
90
4 quando ela ocorrer durante 76 a 100% da jornada ou ciclo; 3 quando durante 51 a
75% da jornada ou ciclo; caso o tempo de exposição seja de 26 a 50% da jornada ou
ciclo é classificada como 2 e, como 1 quando a exposição ocorre entre 0 a 25% da
jornada ou ciclo.
A partir dessa correlação os postos são classificados como de risco E (risco extremo)
sendo necessárias ações imediatas; A (risco alto) onde são necessárias ações em
curto prazo; risco moderado (M), necessária atuação em médio prazo e; risco baixo
(B), Necessárias ações de contenção e monitoramento”. (SIC)
10 Quais critérios são empregados para o estabelecimento das prioridades para a
implementação das medidas de controle para cada um dos riscos encontrados?
“Como lhe falei através de uma correlação qualitativa, a probabilidade de ocorrência
de uma lesão, e quantitativa o tempo de exposição ao perigo. Quanto maior a
gravidade essa será a prioridade, por exemplo, um fator que torna ainda maior a
prioridade é no caso de doença ocupacional onde uma vez estabelecido o nexo é
aberta no sistema de gestão uma SAC que é a nossa solicitação de ação corretiva, que
aciona diretamente o gestor e todos os responsáveis da área sobre a existência de
uma grave inadequação em seus processos causador de doença ocupacional e que
deve ser alterado, isso implica em inadequações de qualidade na área”. (SIC)
11 Como o PCMSO auxilia as pessoas que participam no processo de concepção,
implementação e no estabelecimento dessas prioridades?
“Tivemos só no último ano três médicos coordenadores do SESMT e, em função disso
a estrutura de trabalho não teve uma adequada continuidade. O SESMT atua apenas
nos casos de doenças ocupacionais e apesar de termos no PCMSO uma meta para
redução de doenças ocupacionais as estratégias não estão alinhadas, esse trabalho
acaba sendo realizado separadamente das ações e infelizmente em função de diversas
mudanças a equipe ainda não conseguiu se alinhar com as ações do programa de
ergonomia”. (SIC)
12 A empresa emprega especialistas em ergonomia para auxiliar no processo de
identificação dos perigos e avaliação dos riscos ergonômicos?
“Sim, já falamos sobre isso anteriormente...”. (SIC)
91
13 Como se da a participação desse(s) especialista(s)? O especialista identifica, avalia e
classifica os riscos quem mais participa desse processo?Essas pessoas possuem
treinamento ou formação em ergonomia?
“O supervisor, o técnico de processos, o responsável pelo serviço de manutenção e em
geral um líder participam discutindo com o ergonomista os problemas identificados e
as soluções viáveis para o problema. E nenhuma delas possui formação em
ergonomia, fizeram um treinamento há aproximadamente 3 anos atrás, e pelo o que
percebi como não faz parte do dia a dia, pouco foi realmente aprendido”. (SIC)
14 Como se dá a atribuição das responsabilidades e de prestação de contas para o
acompanhamento e implementação das medidas de controle dentro dos planos de ação
definidos?
“No caso de abertura de uma SAC há um prazo determinado por quem realizou a
abertura para a sua conclusão, que pode ser prorrogado.... Ou então durante as
reuniões realizadas com os participantes são determinados os prazos para a conclusão
das melhorias, porém a grande dificuldade está na implementação das medidas uma
vez que em geral “esbarramos” em dificuldades de verba para a realização das
melhorias, em algumas situações esbarramos até mesmo na falta de pessoal para a
realização das melhorias.... Como por exemplo, no caso da equipe de manutenção, em
geral muito envolvida nesses processos, eles até começam a fazer as coisas, porém
sempre que existe uma demanda da produção o processo é interrompido uma vez que a
produção acaba sendo prioridade. Em função disso temos grande dificuldade para o
cumprimento dos prazos”. (SIC)
15 Quais são os critérios que definem quais as medidas de controle serão implementadas
para as diferentes situações de perigos e riscos ergonômicos existentes?
“Foi como eu lhe disse, isso é determinado nas reuniões realizadas, em geral o
pessoal de processos é que trazem as soluções isso quando elas não surgem dos
próprios funcionários”. (SIC)
16 Quais os tipos de medidas de controle implementadas: de engenharia, administrativas
ou individuais?
“Ah! Isso depende... Quando você fala em individuais é no caso de rodízio? Ah! Tipo
EPI, não, não costumamos adotar esse tipo de medida, em geral é mais cara e de
92
difícil aceitação, tentamos uma vez um banquinho que não deu certo... Tudo que se
refere à organização do trabalho é muito mais complicado, temos uma linha de
produção fordista e apesar de todos os seus impactos ainda não conseguimos mostrar
isso a alta gestão que nem sequer discute esse tipo de problema, podem até
disponibilizar uma grande verba para a compra de um equipamento porém mexer em
questões organizacionais é muito complicado. Estamos há meses trabalhando com 2
horas extras diárias na linha de montagem após uma demissão em massa, e apesar de
tentarmos sinalizar diversas vezes à gerencia que a carga de trabalho excessiva tem
impactos negativos na saúde dos trabalhadores, isso não é ponto de discussão, ficando
apenas no nível de supervisão que compreendem o problema, porém não conseguem
passá-lo adiante; o rodízio que é um pouco mais fácil também é complicado por aqui
em função da falta de tempo para o treinamento da equipe, isso implica em tempo e as
vezes até mesmo em perda de produção o que complica sua efetivação. De forma geral
as ações são mais de engenharia como você falou melhorias no posto, manuseio de
carga, implantação de dispositivos pneumáticos, formas para minimizar a força,
mecanização, etc”. (SIC)
17 Como essas medidas são avaliadas criticamente a fim de julgar sua eficácia?
“Como esse processo ainda não está alinhado adequadamente com todo o SESMT
esse processo fica a desejar, as medidas são avaliadas in loco onde obtemos a opinião
dos funcionários que trabalham no posto sobre a melhoria e documentamos e, apesar
de acompanharmos os indicadores de doenças e queixas ocupacionais quase não
conseguimos correlacionar com as ações implementadas em função das dificuldades
que lhe passei, verba, equipe, e pra ser sincero até mesmo o envolvimento das
próprias áreas”. (SIC)
18 Quais sãos critérios que são empregados para essa avaliação?
“Acho que essa questão não se aplica para a nossa realidade”. (SIC)
19 De que maneira e qual é a periodicidade com que os planos de ação são analisados
criticamente?
“Não realizamos esse processo de analise crítica... Como assim? Ah tá...Mas não há
nada sistematizado que é implantado nesse sentido, precisamos apenas implantar o
que é proposto e avaliar essa é a forma que trabalhamos por aqui....” (SIC)
93
20 Quais os indicadores (proativo e reativos) empregados para se avaliar a eficácia do
programa de ergonomia para prevenção de LER/DORT?
“Na verdade eles são mais reativos, número de dias perdidos por doenças
ocupacionais, locais de acomentimento e correlação por área, indicadores proativos
temos apenas o número de tryouts realizados que são processos de concepção de
máquinas e equipamentos desenvolvidos pela engenharia que em geral solicita a
presença do ergonomista para acompanhar o processo”. (SIC)
21 De que maneira se dá o processo de melhoria continua dentro dos planos de ação para
os programas específicos de ergonomia para prevenção de LER/DORT?
“Os planos de ação envolvem a implementação da melhoria proposta, a melhoria
contínua se dá através da progressiva implantação de melhorias nas áreas”. (SIC)
22 Como a alta direção demonstra seu comprometimento com o sistema de gestão e com
programas de ergonomia para prevenção de LER/DORT?
“Temos o apoio da gerência da área para esse processo, porém ainda não atingimos
o ponto de se dar a mesma prioridade às questões de ergonomia que são dadas as de
produção, isso pode ser constatado com as dificuldades para liberação de verba e
através da falta de comprometimento de algumas áreas, porque se elas fossem
cobradas por isso, com certeza teríamos mais resultados”. (SIC)
23 Quais os critérios que você julga importantes para definir um programa de ergonomia
eficaz?
“A grande questão é essa... Se não temos a alta gestão envolvida a coisa não anda!
Eles precisavam cobrar e se envolver mais nesses processos e ações, acho eu que não
o fazem por que não analisam diretamente os custos, apenas os estimam é como se os
supervisores e gerentes não passassem o real da coisa pra eles... por que se
passassem acredito que seria diferente”. (SIC)
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