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É possível evidenciar, a partir das respostas obtidas através da entrevista, que o
programa de ergonomia existente na empresa atua essencialmente sobre os aspectos físicos
do ambiente de trabalho e que os aspectos relativos à organização do trabalho, bem como
os aspectos psicossociais não são adequadamente abordados dentro do programa existente.
Isso pode ser corroborado a partir do discurso do entrevistado ao dizer “... tudo que
se refere à organização do trabalho é muito mais complicado. Temos uma linha de
produção fordista e, apesar de todos os seus impactos (na saúde dos trabalhadores) ainda
não conseguimos mostrar isso a alta gestão que nem sequer discute esse tipo de problema,
podem até disponibilizar uma grande verba para a compra de um equipamento, porém
mexer em questões organizacionais é muito complicado...”. (SIC)
Por outro lado o entrevistado comenta que para julgar a dimensão dos riscos
ergonômicos todos os aspectos são identificados “... os perigos investigados são:
postura/biomecânica, carga/manuseio de peso, repetitividade, força, vibração, ambiente,
aspectos cognitivos e organizacionais...”. (SIC)
Isso sugere que especialista em ergonomia identifica não apenas os aspectos físicos,
mas também os aspectos organizacionais e psicosociais da atividade de trabalho. Porém,
ele não consegue demonstrar aos gestores a relevância de todos os perigos ergonômicos
identificados e a empresa não demonstra maturidade para tratar tais aspectos da ergonomia.
Da mesma forma, as medidas de controle implantadas na organização estudada
também são restritas a esse tipo de abordagem. Ao ser questionado sobre os tipos de
medidas de controle implementadas pelo programa de ergonomia o entrevistado relata “...
tipo EPI - Equipamento de Proteção Individual -, não, não costumamos adotar esse tipo de
medida, em geral é mais cara e de difícil aceitação, tentamos uma vez um banquinho que
não deu certo... Estamos há meses trabalhando com 2 horas extras diárias na linha de
montagem após uma demissão em massa e, apesar de tentarmos sinalizar diversas vezes a
gerencia que a carga de trabalho excessiva tem impactos negativos na saúde dos
trabalhadores, isso não é ponto de discussão, ficando apenas no nível de supervisão que
compreendem o problema, porém não conseguem passá-lo adiante; o rodízio que é um
pouco mais fácil também é complicado por aqui em função da falta de tempo para o
treinamento da equipe, isso implica em tempo e às vezes até mesmo em perda de produção
o que complica sua efetivação. De forma geral as ações são mais de engenharia como