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CENTRO UNIVERSITÁRIO SENAC
Fábio Rubens Soares
A Educação Ambiental na Indústria Química e Petroquímica:
uma reflexão em busca da excelência
São Paulo
2006
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FÁBIO RUBENS SOARES
A Educação Ambiental na Indústria Química e Petroquímica:
uma reflexão em busca da excelência
Dissertação de mestrado apresentada
ao Centro Universitário Senac,
em cumprimento às exigências para obtenção
do título de Mestre em Sistema Integrado de
Gestão.
Orientador Prof. Dr. Jacques Demajorovic
São Paulo
2006
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Catalogação na Fonte
Soares, Fábio Rubens
S676e A Educação Ambiental na Indústria Química e Petroquímica: uma
reflexão em busca da excelência / Fábio Rubens Soares. -- São Paulo, 2006.
157 f. : il. color. ; 28 cm
Orientador: Prof. Dr. Jacques Demajorovic
Dissertação de Mestrado – Centro Universitário Senac, Campus Santo
Amaro, São Paulo, 2006.
Aluno: Fábio Rubens Soares
Título: A Educação Ambiental na Indústria Química e Petroquímica: uma
reflexão em busca da excelência
A banca examinadora da dissertação de mestrado, em sessão
pública realizada no dia ___ / ___ / ___, considerou o
candidato:
( ) aprovado ( )
reprovado
1) Examinador(a): ________________________________________________
2) Examinador(a): ________________________________________________
3) Presidente: ___________________________________________________
Ao Deus do meu coração, que me deu forças a
cada dia neste estudo.
AGRADECIMENTOS
Este estudo contribuiu significativamente para que eu mudasse vários
paradigmas de minha vida pessoal e profissional. Foi um período de real
aprendizado em que passei a valorizar muito mais o senso crítico, devido às
exigências que este estudo demandou. Foi um período que realmente mudará
em todos os aspectos minha vida.
Quero aqui agradecer ao professor e meu orientador Prof. Dr. Jacques
Demajorovic, pelas diretrizes e por ter me ajudado a crer que seria possível
concretizar este trabalho.
A todos os meus professores que contribuíram para que eu pudesse ter
chegado até este estudo.
A Inghra que entre seus afazeres com as crianças e sua bela casa entre
as montanhas, dedicou seu precioso tempo para rever e comentar este
trabalho.
A Maria Lúcia que dedicou uma parte de seu precioso tempo para
revisar este trabalho.
A meus colegas de turma pelo companheirismo e espírito de cooperação
que me auxiliaram no processo de aprendizado.
A minha querida esposa Lúcia Helena, pois sem o seu apoio eu não
teria concretizado este sonho.
Aos meus amados filhos Veridiana e Fabio, que sempre foram fontes de
minhas forças para lutar e incentivar a continuação de minha jornada.
Aos meus saudosos tios Antonio e Leni, e aos primos Jorge e Cleidy que
me abriram as portas para que eu pudesse seguir minha vida.
Aos meus queridos pais Joaquim e Eunice, e as minhas irmãs Vera e
Ana, que por meio dos fortes laços de família sempre me incentivaram a
prosseguir meus estudos.
Quero ressaltar que todas as imperfeições que os leitores
eventualmente identificarem ao longo deste estudo são de minha inteira
responsabilidade.
O que devemos ser?
Esta é a questão essencial, pois só o
espírito é capaz de fertilizar a inteligência. É o
espírito que impregna a inteligência com a
obra em gestação. E a inteligência levará a
bom termo.
Antoine de Saint-Exupéry
RESUMO
O objetivo principal desta dissertação é avaliar como a educação
ambiental nas organizações químicas e petroquímicas, vista como disciplina
integrante dos seus sistemas de gestão, contribui para a melhora efetiva do
desempenho ambiental destas organizações.
Este estudo faz uma reflexão sobre a situação e o tratamento da
educação ambiental na indústria química e petroquímica nos dias de hoje.
Inicialmente, é feita uma colocação da representatividade desse ramo de
atividade no âmbito mundial e nacional, considerando a sua importância nos
aspectos econômicos e sociais, assim como os potenciais impactos ambientais
que esse setor pode originar. O estudo segue com uma sinopse dos conceitos
de educação ambiental e as necessidades básicas da sua aplicação nas
indústrias químicas e petroquímicas, mostrando como evoluíram essas
organizações em relação ao comportamento, postura e responsabilidades com
a causa ambiental. Apresenta alguns dos problemas ambientais mais
importantes gerados pela poluição industrial, sua relação com a indústria
química e de que forma os diversos níveis da estrutura dessas organizações
entendem esses impactos e seu papel na sua solução e controle. Na
seqüência, traz uma abordagem do Responsible Care, e do Programa Atuação
Responsável e a Norma ISO 14001 e questiona a efetividade desses sistemas
como gestores de uma conscientização plena das pessoas envolvidas com
relação à importância e o respeito ao meio ambiente; discute de que modo está
sendo tratada e inserida a educação ambiental nesses sistemas de gestão e
como podem se beneficiar essas organizações, conduzindo eficientemente um
programa de educação ambiental de modo a potencializar a gestão ambiental
existente.
Finalmente, salienta-se que o setor industrial do ramo químico e
petroquímico, em geral potencial poluidor, é um dos setores que necessitam
prioritariamente enfatizar suas políticas de educação ambiental, incluindo-as de
modo eficaz nos sistemas de gestão aplicados hoje em dia pelo setor. Verifica-
se, no final, que pouca atenção tem sido dada à educação ambiental efetiva, o
que colabora para a manutenção do paradigma que coloca as questões
econômicas à frente das causas sociais e ambientais.
Palavras-chave: Educação Ambiental, Indústria Química, Gestão.
ABSTRACT
The main objective of this study is to evaluate how the environmental
education in the chemical and petrochemical organizations, as an integrated
discipline of their management systems, contribute to the effective
environmental performance of this organizations.
This study considers the status and treatment of the environmental
education in the Chemical and Petrochemical Industries nowadays. Firstly, the
representativeness of this activity is considered in the world and national
scopes, including its importance in the economic, social and environmental
aspects, as well as the environmental impacts this sector might originate. The
study follows a synopsis of the concepts of environmental education and the
basic needs of its application on the chemical and petrochemical industries,
showing the evolution of these organizations in respect to the behavior, attitude
and responsibility before the environmental cause, presenting some of the most
important environmental problems generated by the industrial pollution, their
relation to the chemical industry and how the several levels of structure of these
organizations understand these impacts and their role in the solution and
control. Next, the study approaches the Responsible Care and the Norm ISO
14001 and questions the effectiveness of these systems as managers of a full
consciousness of the internal population as to the importance and respect to the
environment; discusses the way the environmental education is being dealt with
and inserted in these management systems and how these organizations can
benefit, efficiently conducting a program of environmental education so as to
strengthen the existing environmental management.
Finally, it points out that the chemical and petrochemical industrial sector
- a prospective polluter, in general - is one of the sectors that need to
emphasize their policies of environmental education, efficiently including them
in the management systems applied by the sector nowadays, since very little
attention has been paid to the effective environmental education, which fact
collaborates to the existence of the strong paradigm that places the economic
issues ahead of the social and environmental causes.
Key words: environmental education, chemical industry, management.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
GRÁFICO 1: Produção Química Mundial (ACC) ........................................................ 37
GRÁFICO 2: Participação da Indústria Química no PIB Total Brasileiro .................... 45
GRÁFICO 3: Importações e Exportações Brasileiras de Produtos Químicos
(Sistema Alice) ............................................................................................................
46
GRÁFICO 4: Investimentos na Indústria Química ...................................................... 48
GRÁFICO 5: Indicadores de Atuação Responsável ................................................... 75
LISTA DE TABELAS
TABELA 1: Faturamento da Indústria Química Mundial .................……….. 31
TABELA 2: Exportações da Indústria Química Mundial .............................. 33
TABELA 3: Importações da Indústria Química Mundial .............................. 34
TABELA 4: Número de empregados na Indústria Química Mundial ........... 36
TABELA 5: Faturamento Líquido da Indústria Química Mundial ................. 43
TABELA 6: Indicadores Ambientais de Atuação Responsável por
Empresa……................................................................................................
127
TABELA 7: Percentagem de concordância com a eficiência dos
programas de acordo com as áreas de pesquisa ......................…………...
157
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 13
Metodologia ..………....................................................................................... 19
Referencial Teórico ........................................................................................ 19
Estudos de Caso ............................................................................................ 20
Análise dos estudos de caso ........................................................................ 22
1. A HISTÓRIA DA INDÚSTRIA QUÍMICA E SUA SITUAÇÃO NO MUNDO ........... 24
1.1 A indústria química no Brasil .................................................................... 38
2. A INDÚSTRIA QUÍMICA E SEUS IMPACTOS AMBIENTAIS .............................. 50
2.1. A indústria química e os grandes acidentes industriais ....................... 51
2.2. A indústria química e os processos de contaminação ambiental ........ 56
2.3. Desdobramento com o impacto ambiental na indústria química ......... 60
3. INCORPORANDO A GESTÃO AMBIENTAL NA INDÚSTRIA QUÍMICA E
PETROQUÍMICA: O ATUAÇÃO RESPONSÁVEL.................................................…
63
3.1. Antecedentes do Atuação Responsável .................……………………... 64
3.2. O programa Responsible Care e seus resultados ………...................... 67
3.3. O Atuação Responsável® no Brasil …………………...…………….......... 71
3.4. Análise crítica do Atuação Responsável ……………………................... 77
3.5. Verificação do programa Atuação Responsável …………….................. 84
3.6. A nova visão do programa Atuação Responsável: Revisar e
Adicionar…..............................................................................................................85
4. EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS EMPRESAS: CONCEITUAÇÃO E
ABRANGÊNCIA ………………………………………………………………..................
89
4.1. Educação ambiental segundo a Agenda 21 e a Lei 9795/1999 ............. 90
4.2. A visão da educação ambiental a partir da Norma ISO 14001 ..........… 94
4.3. A educação ambiental em algumas empresas …...…………………....... 100
5. POTENCIALIZANDO A GESTÃO AMBIENTAL POR MEIO DA EDUCAÇÃO
AMBIENTAL NAS INDÚSTRIAS QUÍMICAS – BARREIRAS E PROPOSTAS ........
103
6. ESTUDOS DE CASO ............................................................................................. 113
6.1. Empresa A .................................................................................................. 113
6.2. Empresa B .................................................................................................. 117
6.3. Empresa C .................................................................................................. 120
6.4. Considerações sobre os estudos de caso ............................................. 123
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 130
REFERÊNCIAS ........................................................................………………………. 135
APÊNDICE A: Questionário para os estudos de caso (Gerência) ....................... 140
APÊNDICE B: Questionário para os estudos de caso (Funcionários) ................ 150
APÊNDICE C: Percentagem de concordância com a eficiência dos programas
de acordo com as áreas de pesquisa .....…...……………………………..................
157
13
INTRODUÇÃO
Este trabalho tem como objetivo fazer uma reflexão sobre a situação, a
importância e o tratamento da educação ambiental na Indústria Química e
Petroquímica atual.
A indústria química e petroquímica é parte da vida do ser humano, pois
a química faz parte de, praticamente, todos os produtos de consumo. E o
desenvolvimento da indústria química e o conseqüente avanço na sua
produção têm permitido o aumento da expectativa de vida da humanidade que
dispõe, a cada dia, de produtos de tecnologia mais avançada, tais como
medicamentos, produtos de higiene, alimentos, graças à ação de fertilizantes e
defensivos agrícolas de baixa toxicidade, vestimentas com fibras que
apresentam maior conforto e proteção, entre outras utilidades.
Nesse contexto, é notório o fato de que o setor químico e petroquímico é
um importante gerador de divisas e recursos ao país e, portanto, com grande
poder econômico para investir na educação ambiental e na formação de líderes
na sociedade, capazes de intensificar a preocupação com o tema e a
consciência da responsabilidade social, seja nos indivíduos ou nos diversos
setores da sociedade.
No entanto, ao mesmo tempo em que participa significativamente do
potencial econômico do país, o setor químico e petroquímico é fonte de
impacto ambiental em potencial, pelos riscos decorrentes dos seus processos,
seja de efeito imediato ou de médio e longo prazo. Portanto, é extremamente
importante o setor empresarial desse ramo de negócios preocuparem-se com
essa temática e definitivamente desenvolver ações efetivas voltadas à
conscientização ambiental e ao incentivo da educação ambiental em seu meio.
14
Ainda assim, não se pode negar que este setor tem adotado estratégias
que o diferencia dos demais setores industriais pelo seu avanço tecnológico e
que tenha feito investimentos em pesquisa e desenvolvimento. Além disso,
desde a década de 1980, a deterioração da imagem das indústrias químicas se
traduziu em uma série de iniciativas. Entre as mais importantes, destaca-se o
Atuação Responsável.
O Programa Atuação Responsável é a versão brasileira do Responsible
Care, que teve a sua origem no Canadá há 21 anos. A partir daí, essa
importante iniciativa tornou-se uma das mais importantes de um setor
empresarial em nível mundial, no campo de ações voluntárias na área
socioambiental. Atualmente, a iniciativa já atinge 48 países, abrangendo cerca
de 93% da produção química mundial, incluindo o Brasil.
Depois de passados mais de 20 anos do início do programa no Canadá,
é oportuno questionar o quanto o Responsible Care, o Programa Atuação
Responsável e a Norma ISO 14001 mostraram efetividade na conscientização
ambiental na indústria química e petroquímica. Os poucos estudos feitos nesta
área indicam que a educação ambiental ainda não é uma ferramenta integrante
desses sistemas de gestão.
Os principais objetivos da Educação ambiental – que foram definidos na
Carta de Belgrado e devem ser observados pela indústria química e
petroquímica – são: a conscientização; o conhecimento; o comportamento; a
competência; a capacidade de avaliação e a participação de seus indivíduos e
grupos. Neste sentido, este ramo industrial deve levar ao seu público interno a
uma cultura ambiental que garanta a responsabilidade operacional dos seus
negócios e estenda essa postura a toda a comunidade externa das relações da
organização (REIGOTA, 2001).
Educando seus recursos humanos internos, as empresas criarão um
estímulo para que esses recursos expandam seus conhecimentos e envolvam
outros setores da sociedade para que possam atuar na causa ambiental, além
de criar internamente uma oportunidade para que seus colaboradores ajam de
forma consciente e responsável com o meio ambiente. Assim, a educação
15
ambiental deve gerar mudanças na qualidade de vida e maior consciência na
conduta pessoal, assim como harmonia entre os seres humanos e destes com
outras formas de vida (DONAIRE, 1999).
Certamente Donaire (1999) não se referia especificamente às empresas
químicas e petroquímicas, no entanto, pode-se concluir que sua afirmação é
perfeitamente aplicável a esse ramo de atividade também.
A proposta de implementação da educação ambiental na indústria
química parte de algumas questões importantes relativas a esse ramo de
atividade, como as indicadas abaixo:
Se existe necessidade de um melhor conhecimento nessa área
pelo setor;
Se existe ou não consciência adequada nas empresas;
Se existem, atualmente, diretrizes sobre educação ambiental
voltadas para a indústria química com níveis de eficiência e abrangência
suficientes;
Se as indústrias químicas em geral possuem ou não programas
focados na Educação Ambiental;
Se os programas, em geral, têm como enfoque primário as
pessoas, ressaltando a preservação da natureza e da espécie humana.
Implantando um programa de educação ambiental bem estruturado, a
indústria química e petroquímica poderá se beneficiar, por meio do
aperfeiçoamento profissional de todos os níveis da organização, da ação pró-
ativa e ecoeficiente do seu público interno, da melhora da sua imagem vista
pela sociedade em geral e, não menos importante, da redução de custos por
meio do uso de alternativas mais econômicas, reuso de materiais, processos e
decisões mais eficientes, entre outros (SOARES; SANTOS, 2004).
Dentre os benefícios a serem contemplados na inclusão de um
programa de educação ambiental na gestão da indústria química e
petroquímica, segundo alguns autores que exploram o tema como Donaire
16
(1999), Reigota (2001), Freire Dias (2003) e Barbieri (2004), podem ser
destacados os seguintes:
Aperfeiçoar os sistemas de controle sobre a produção, uso,
manuseio, importação, exportação, transporte, armazenagem e destino final de
substâncias químicas, especialmente com relação àquelas de maior
preocupação;
Eliminar ou minimizar a exposição da população a substâncias
químicas perigosas, incluindo a de trabalhadores;
Conduzir e controlar os processos produtivos através dos conceitos
de Produção + Limpa, assegurando a prevenção da poluição do ar, das águas
e do solo;
Prevenir acidentes e aumentar a capacidade de resposta a
emergências;
Incentivar a inovação tecnológica, com o desenvolvimento de
alternativas mais seguras e ambientalmente sustentáveis, contribuindo,
também, para a promoção da competitividade da indústria química;
Promover o desenvolvimento do conhecimento sobre os impactos
efetivos e potenciais de substâncias químicas sobre a saúde humana e o meio
ambiente;
Promover a articulação e a cooperação nacional e internacional na
gestão de substâncias químicas;
Redução de riscos.
Nesse contexto, o objetivo principal deste estudo é avaliar se a
educação ambiental está integrada na gestão do Programa Atuação
Responsável® e Norma ISO 14001 das organizações químicas e
petroquímicas e, neste caso, como contribui para a melhora efetiva do
desempenho ambiental destas organizações respondendo algumas questões
fundamentais como:
Qual a importância dada a Educação Ambiental pelas organizações
pesquisadas no contexto do Programa Atuação Responsável® e a Norma ISO
14001?
17
Quais os sistemas de gestão que estão em prática nessas
empresas?
Como tem sido incorporada a Educação Ambiental nos sistemas de
gestão em prática nessas organizações?
O que tem sido feito para melhorar a Educação Ambiental das
comunidades interna e externa dessas organizações?
Para tanto, o trabalho foi estruturado em cinco partes principais que
estão descritas a seguir.
No Capítulo 1 organizou-se um histórico da indústria química no mundo
e no Brasil, considerando sua importância socioeconômica.
No Capítulo 2 trata da indústria química e seus impactos ambientais,
levando em consideração tanto os acidentes ambientais localizados de efeito
imediato, quanto os impactos ambientais de médio e longo prazo relativos à
poluição do ar, solo e águas, que tem efeito gradativo na degradação do meio
ambiente.
No Capítulo 3, foi feita uma introdução à gestão ambiental na indústria
química e petroquímica, suas iniciativas e estágios evolutivos, a partir de uma
análise do Programa Atuação Responsável® no Brasil e sua relação com a
norma ISO 14001, considerando seus indicadores e avaliando sua importância
para a exposição de uma análise crítica dos seus pontos positivos e de suas
falhas.
No Capítulo 4, apresenta-se uma conceituação de educação ambiental,
uma análise de sua importância segundo a legislação e normas usuais e
vigentes. Aqui aparece também a aplicação dessas normas na indústria e uma
discussão de como a educação ambiental pode ser explorada como um agente
de otimização nos processos industriais químicos e petroquímicos, pela
conscientização das pessoas, e o seu papel na melhoria do sistema de gestão.
No Capítulo 5, faz-se uma proposta de como pode ser potencializada a
gestão ambiental através da educação ambiental nas indústrias químicas e
petroquímicas e as barreiras que se apresentam, assim como as propostas
sugeridas para sua implementação.
No Capítulo 6, são apresentados os estudos de caso realizados em três
empresas químicas e petroquímicas, mostrando os principais aspectos de seus
sistemas de gestão ambiental e evidenciando como a educação ambiental vem
18
sendo inserida nos sistemas de gestão ambiental dessas empresas,
procurando avaliar as hipóteses e as sugestões mencionadas neste trabalho.
No Capítulo 7, são apresentadas as considerações finais sobre o estudo
em questão.
19
1.1. Metodologia
O roteiro que foi utilizado como metodologia para desenvolver este
trabalho foi dividido em três componentes fundamentais: em primeiro lugar, a
elaboração do referencial teórico, para que fosse possível um melhor
entendimento das etapas subseqüentes; em segundo lugar, a construção dos
estudos de caso; e, em terceiro lugar, a análise do material efetivamente
coletado e ordenado.
A realização de estudos de caso foi a ferramenta escolhida para
completar este trabalho porque as questões colocadas referem-se a um desafio
atual nas organizações que somente podem ser respondidos a partir da
aplicação de entrevistas e da observação direta dentro das próprias empresas.
Outra razão que justifica esta metodologia é o caráter exploratório do
trabalho. Devido ao numero reduzido de pesquisas na área escolhida, apenas
estudos realizados nas próprias organizações permitem buscar respostas que
possam confirmar ou negar as hipóteses escolhidas.
1.2. Referencial Teórico
O referencial teórico foi elaborado a partir da pesquisa em literatura nas
principais bibliotecas do Estado de São Paulo especializadas na área, pesquisa
em instituições de ensino públicas e privadas, consultas à internet (que possui
material importante relacionado ao setor e ao tema pesquisado) e entrevistas
com profissionais, especialistas e consultores com notáveis experiências na
área. Visitas a empresas e entidades de classe também foram objeto de
pesquisa e foram utilizadas.
20
Esta primeira fase foi de extrema importância, porque fundamentou e
fortaleceu as bases para as pesquisas nas indústrias que foram parte dos
estudos de caso.
A pesquisa também sugeriu a continuidade dos estudos e foi o alicerce
para a construção dos questionários utilizados nas fases subseqüentes deste
trabalho.
Os dados obtidos na pesquisa foram em sua maioria compostos de
dados secundários, ou seja, aqueles que já estão coletados e disponíveis para
análise e interpretação, exceto aqueles mencionados nos estudos de caso.
O material pesquisado concentrou os esforços e induziu o foco para as
fases seguintes da metodologia, que teve a intenção de demonstrar como a
educação ambiental vem sendo inserida nos sistemas de gestão ambiental do
ramo industrial químico e petroquímico e qual a sua real efetividade nas
organizações.
1.3. Estudos de caso
Na seqüência, a segunda etapa da metodologia adotada foi
predominantemente a elaboração dos estudos de caso e para o
desenvolvimento dos quais foram elaborados questionários, posteriormente
empregados em três importantes empresas químicas e petroquímicas do Pólo
Petroquímico de Capuava no ABC Paulista.
Essa seleção amostral caracterizou-se, por ser do tipo não
probabilística, por conveniência, e teve foco localizado nas empresas químicas
localizadas no Pólo Petroquímico de Capuava, em Mauá-SP, que conta
atualmente com onze empresas do setor químico e petroquímico.
Ainda que o número de estudos de caso pesquisados seja pequeno em
relação ao universo das empresas químicas no país, entende-se que as
21
informações levantadas nos estudo de caso permite perceber características
do setor como um todo, uma vez que este setor é considerado um dos mais
alinhados e homogêneos no país em termos de programas de desenvolvimento
sustentável, coordenados por meio do seu órgão representativo classista a
Associação Brasileira das Industrias Químicas – Abiquim.
Quanto às variáveis que foram pesquisadas, representam tanto aquelas
classificadas como qualitativas, como aquelas classificadas como quantitativas,
para que as conclusões fossem sólidas e consistentes.
Os questionários aplicados foram enviados aos responsáveis pela área
de Sistema Integrado de Gestão, entre os meses de Fevereiro e Junho de
2006.
Outras importantes fontes de informação utilizadas foram as entrevistas
com pessoal operativo, supervisores e gerentes. As entrevistas foram feitas
seguindo uma linha consistente de investigação obedecendo dois critérios
básicos (conforme recomenda Yin (1989)): usando uma linha própria de
investigação, como reflexo do protocolo dos estudos de caso.
Foram feitas também visitas de campo nas três empresas estudadas, de
modo a permitir a observação para comprovar as informações obtidas nos
questionários e entrevistas. Segundo Yin (1989), partindo-se do princípio de
que os fenômenos de interesse não são puramente de caráter histórico,
encontrar-se-ão disponíveis para observação alguns comportamentos ou
condições ambientais relevantes. Essas observações servem como outra fonte
de evidências para os estudos de caso. Esta metodologia enriquece o
conteúdo das pesquisas e melhora a confiabilidade das informações obtidas,
pela verificação das ações correspondentes as respostas obtidas nas
entrevistas.
Ressalta-se ainda que, em razão dos poucos estudos disponíveis
relativos à educação ambiental, como ferramenta de gestão, o estudo de caso
é o instrumento metodológico mais adequado, pois são bastante eficientes
quando se tratam de determinar questionamentos do tipo “como ou por que”,
22
relativos a um tema contemporâneo e sobre o qual o pesquisador tem pouco
ou nenhum controle sobre as variáveis (YIN, 1989).
Foram escolhidas indústrias químicas e petroquímicas para falar da
temática ambiental e especificamente a respeito da educação, porque se trata
de um dos setores que, inegavelmente, causa mais impactos em termos
socioambientais. Essas organizações promovem riscos aos recursos naturais
de impacto a médio e longo prazo e, também, risco a seus trabalhadores e
comunidades vizinhas devido aos níveis críticos e periculosidade de suas
operações.
Um outro fator que estimulou o estudo na indústria química e
petroquímica foi a sua importância e liderança na aplicação de sistemas de
gestão ambiental e responsabilidade social, como a Programa Atuação
Responsável.
Sabe-se que quanto maior o número de organizações pesquisadas,
tanto maior a confiabilidade das conclusões realizadas nos estudos de caso,
porém, realizar estudos de caso em um número elevado de organizações traz
alguns inconvenientes em termos de recursos, tempo e dificuldades com a
qualificação e disponibilidade das organizações. Por essa razão, foram
escolhidas para este estudo três companhias que se acredita terem boa
representatividade pelas seguintes razões: todas pertencem ao setor químico e
petroquímico; todas são organizações de grande porte; estão localizadas no
mesmo pólo petroquímico; e todas são associadas do Programa Atuação
Responsável.
1.4. Análise dos estudos de caso
Na terceira etapa, fazemos uma análise dos estudos de caso a partir das
informações fornecidas pelo material da pesquisa. A análise foi feita com base
em informações obtidas dos diversos níveis da organização, incluindo desde
23
gerentes de várias áreas da empresa até pessoal da operação propriamente
dita, quando todos tiveram a chance de comentar seus pontos de vista e
revelar sua percepção com relação ao tema estudado.
Os questionários foram dirigidos a pessoal operativo, supervisores e
gerentes, e estudados cuidadosamente quanto às respostas e sugestões
propostas (Apêndices A e B).
É importante relatar que com as análises e conclusões verificadas nos
estudos de caso, a intenção foi buscar a comprovação das hipóteses
desenvolvidas ao longo deste trabalho.
A análise conjunta das informações obtidas nas três organizações
possibilita uma reflexão sobre as semelhanças ou diferenças no tratamento da
Educação Ambiental nos sistemas de gestão ambiental dessas organizações,
levando a uma reflexão da importância e da influência que o Programa Atuação
Responsável vem alcançando nessas empresas e pode indicar como vem se
posicionando a indústria química e petroquímica nesta área.
Os resultados da análise podem também apontar e indicar alternativas
de programas de educação ambiental que, eventualmente poderiam ser
testados em outras organizações, que não do ramo químico e petroquímico,
como uma contribuição a outros ramos de atividade.
24
1. A HISTÓRIA DA INDÚSTRIA QUÍMICA E SUA SITUAÇÃO NO MUNDO
De uma maneira geral, a química está presente em todas as atividades
da vida do homem, desde as suas origens até a atualidade.
Desde o primitivo homem das cavernas ao homem atual, em seu sentido
mais amplo a química está presente em todas as facetas da vida do homem.
Com o passar dos tempos, a química veio se desenvolvendo
lentamente, até que a partir do século XIX, a indústria química começou
realmente a ser considerada como uma atividade industrial.
Notoriamente, os dois componentes que corroboraram para o avanço da
química foram a pesquisa em laboratório, que originou a descoberta de novos
produtos, e a transferência dessas descobertas para a produção em escala
industrial.
Analisando a historia da indústria química no mundo, nota-se que seu
desenvolvimento está ligado a dois países: a Alemanha e os Estados Unidos
(LANDAU, 1991). A indústria química alemã predominou no século XIX, a partir
da química derivada do carvão. Já a norte-americana, predominou a partir do
século XX, a partir da química derivada do petróleo.
Além destes, temos também a Inglaterra como um dos principais
participantes do desenvolvimento da indústria química moderna.
Na metade do século XIX, então, surgia na Europa um significante
parque industrial de corantes sintéticos. Esse setor cresceu rapidamente na
Alemanha e surgiram grandes empresas nessa área como a Bayer, a Hoechst,
a Basf e a Agfa (FENICHELL, 1996).
25
Sem dúvida a Alemanha tinha potencial produtivo muito maior que os
outros países produtores devido, principalmente, a sua capacitação tecnológica
decorrente dos seus investimentos em pesquisa e desenvolvimento, pois
dispunha de um corpo de técnicos e cientistas de altíssimo nível, o que
possibilitava a constante descoberta de novos produtos e a freqüente inovação.
Um exemplo foi a descoberta da estrutura química do benzeno
1
por Friedrich
Kekulé em 1865 (LANDAU; ROSEMBERG, 1998).
A Alemanha seguiu como líder nas pesquisas e no desenvolvimento de
novos produtos, um dos acontecimentos mais notáveis (ocorrido em 1913) foi a
obtenção da síntese da amônia por Fritz Haber e por Carl Bosh da Basf. Esses
químicos alemães desenvolveram a partir de então o processo de produção do
ácido nítrico a partir da amônia (LANDAU, 1991). A Primeira Guerra Mundial
viria mudar este cenário, pois ao seu final a Alemanha foi tremendamente
atingida pelo Tratado de Versalhes, e foi obrigada a abrir mão de toda sua
tecnologia de seus processos aos países aliados, incluindo processos de
produção da amônia pelo processo Haber-Bosh e outros.
A partir de então, surgem os Estados Unidos também como atores,
fortes na produção de produtos inorgânicos entre ácidos, álcalis e fertilizantes.
Desenvolveram, também, um trabalho notável na produção de etanol,
isopropanol e acetona
2
a partir de gases residuais de refinaria.
O Período Pós 1900
No entanto, no período entre 1918 e 1939 houveram grandes
transformações na indústria química mundial.
A Alemanha fundiu as empresas de corantes numa só a IG Farben e a
Inglaterra respondeu com a criação da ICI – Imperial Chemical Industries, o
1 Produto químico.
2 Produtos químicos.
26
que estimulou uma concorrência respeitável entre as duas gigantes indústrias
químicas (FENICHELL, 1996).
Na Inglaterra a ICI fez grandes conquistas devido a suas pesquisas
como, por exemplo, o desenvolvimento de um processo para a produção de
metanol e também da gasolina sintética a partir de carvão. Outra descoberta
relevante da ICI foi o polietileno de baixa densidade.
Nos Estados Unidos, um outro fato importante que marcou esse período,
foi o desenvolvimento dos estudos para a transição de processos em batelada
para processos contínuos, pelo MIT – Massachusetts Institute of Technology,
um marco importante para a indústria de petróleo e petroquímica, ajudando o
desenvolvimento de empresas norte-americanas como, por exemplo, Du Pont,
Union Carbide, Dow, entre outras (LANDAU; ROSEMBERG, 1998).
Na década de 1920, a Du Pont lança tintas inovadoras na indústria
automobilística, mudando o conceito da época em pintura com secagem rápida
e descobre o cloropreno, o primeiro elastômero sintético com propriedades
aceitáveis. Depois veio o náilon, um dos produtos de maior sucesso comercial
no mundo.
A partir de experiências inovadoras, a Union Carbide desenvolveu o
acetileno a partir do gasóleo. Outras pesquisas importantes foram: a produção
de eteno, a cloridrina, o etilenoglicol, o oxido de eteno, a acetona, o etanol, o
isopropanol, o butanol e éteres glicólicos
3
.
A Dow, outra empresa americana de porte que surgiu nessa época,
iniciou a produção de soda cáustica e cloro; depois vieram: o cloreto de cálcio,
o fenol, o cloreto de vinilideno e a etilcelulose
4
.
3 Produtos químicos.
4 Produtos químicos.
27
O Período Pós Segunda Grande Guerra
O período da Segunda Grande Guerra foi marcado por um grande
avanço no desenvolvimento da indústria química mundial, motivado na
Alemanha pelo número avantajado de técnicos e engenheiros e entre os
americanos, como reflexo do desenvolvimento da engenharia química pelo MIT
em Boston, Massachusetts.
Dos processos e produtos desenvolvidos pelos americanos devem ser
salientados a gasolina de aviação e a borracha sintética e o craqueamento
catalítico
5
. A partir de 1950, os Estados Unidos já lideravam a indústria química
no mundo e avançavam em velocidade acelerada com o desenvolvimento de
novas tecnologias de produção de diversos produtos químicos.
Entre esses polímeros termofixos, podemos citar as resinas uréia-
formaldeido ou melamina-formaldeido, que dão origem ao material conhecido
como Fórmica, produzido na época pela Cyanamid.
Foi também desenvolvido o termoplástico PVC, a partir do cloreto de
vinila e o poliestireno
6
, outro termoplástico extremamente importante.
Após 1955, houve mais um grande desenvolvimento da indústria
química americana, graças ao apoio das forças aliadas do pós-querra na
investigação e divulgação das tecnologias alemãs, exploradas intensivamente;
e a indústria química alemã conseguiu se reorganizar, devido à reorganização
da economia do país, à sua tenacidade e trabalho. Outro marco importante
dessa época foi o deslanchar da indústria petroquímica, gerado pela
descoberta de importantes jazidas de petróleo no Oriente Médio.
Durante o pós-guerra, outras nações entraram para o mundo da
indústria química. O Japão, com seu parque industrial químico bastante
destruído com a derrota na Segunda Guerra Mundial, começa a se reerguer até
5 Esse processo de craqueamento catalítico em leito fluidizado foi um sucesso nas refinarias
de todo o mundo e é usado até os dias de hoje (SPITZ; SWANSON, 1997).
6
Materiais plásticos.
28
constituir, no final do século passado, como segundo maior produtor de
produtos químicos do mundo, perdendo somente para os Estados Unidos. A
indústria química japonesa destaca-se por sua eficiência operacional, pela
grande diversidade de produtos, pelo atendimento ao cliente, e por priorizar os
baixos custos da produção, oferecendo grande competitividade. Além disso,
formação de grandes grupos investidores deu força à indústria química
japonesa, alguns exemplos: Mitsubushi, Mitsui, Sumitomo, Tokuyama, entre
outros. (REUBEN; BURSTALL, 1978).
Nesse período de grande progresso econômico, os países em
desenvolvimento entenderam que, para melhorar o nível de qualidade de vida
da população e gerar empregos e riqueza, teriam que desenvolver a indústria
química, que se mostrava como uma fonte direta e indireta de empregos e
riqueza.
A Era Moderna
O crescimento da indústria química e petroquímica originou no mundo
uma crescente diversidade de produtos e materiais químicos, utilizados na vida
moderna para criar conforto e comodidade a toda a humanidade. A sua
capacidade de inovar mais rápido que outros setores que permitiu um
crescimento notável à indústria química e petroquímica, atuando diretamente
na qualidade de vida das pessoas, adaptando-se às suas necessidades
rapidamente. Isso faz com que Wongtschowski (2002), afirme: “A indústria
química nasceu da necessidade de complementação das atividades básicas
ligadas à preservação da vida humana”.
29
A tecnologia, a pesquisa e a ciência juntas buscando produtividade
encontraram no setor químico o lugar ideal para o seu desenvolvimento. Não é
por acaso que este setor é conhecido como “indústria baseada em ciência”,
cuja principal característica é a contínua inovação tecnológica propiciada pelas
atividades de pesquisa e desenvolvimento (DEMAJOROVIC, 2003).
Contudo, essa capacidade de inovar e de criar soluções às demandas
contemporâneas, tem um custo. Uma das principais características do setor
petroquímico é seu alto custo de produção devido aos vultosos investimentos
necessários em equipamentos e em sua operação, fazendo com que sejam
viáveis apenas os empreendimentos significativos, beneficiados pelas
vantagens competitivas propiciadas pelos ganhos de escala.
Outra particularidade deste setor é a ênfase no desenvolvimento de
inovações nos processos tecnológicos e não no produto. Dada a relativa
estabilidade dos produtos gerados, os custos elevados com a matriz
energética, somados aos altos custos de operação, a única alternativa para
ganhar competitividade é introduzir inovações nos processos de modo a reduzir
os custos de produção e aumentar a produtividade.
O setor petroquímico é um dos que mais investe em tecnologia,
pesquisa e desenvolvimento. E essa foi a razão do desenvolvimento
exponencial do setor químico no mundo. Nada parecia ameaçar o crescimento
promissor das indústrias químicas. Sempre inovando, transformando idéias em
tecnologia, criando novas necessidades de consumo e aumentando
substancialmente os lucros (DEMAJOROVIC, 2003).
Esta busca por produtos novos faz com que, segundo Wongtschowski
(2002), a indústria química produza, atualmente no mundo, aproximadamente
70.000 produtos químicos diferentes. Buscando minimizar a complexidade e
divergências, esses produtos foram classificados pela ONU e pelo IBGE no
Brasil em segmentos que são:
Produtos químicos inorgânicos;
Produtos químicos orgânicos;
Resinas e elastômeros;
Fibras, fios, cabos, filamentos contínuos artificiais e sintéticos;
30
Produtos farmacêuticos;
Defensivos agrícolas;
Sabões, detergentes, produtos de limpeza e perfumaria;
Tintas, vernizes, esmaltes, laca e produtos afins;
Preparados químicos diversos.
Esse universo de produtos contribuiu efetivamente para a evolução da
indústria química mundial, conforme podemos ver nas tabelas a seguir.
Para se ter uma idéia de faturamento, a indústria química mundial
cresceu de US$ 1283 bilhões em 1990 a US$ 1943 bilhões em 2003, conforme
pode ser observado em detalhes na Tabela 1 por países, considerando a
evolução histórica desde 1990 até 2003 (dados disponibilizados até o momento
pela Abiquim).
31
TABELA 1: Faturamento da Indústria Química Mundial (Abiquim).
(Dados consolidados: em US$ bilhões)
PAÍSES/ ANOS 1990 1994 1998 2002 2003
Total mundial estimado
1283.9 1396.6 1543.3 1693.0 1943.5
EUA
305.0 350.5 416.6 420.5 458.1
Japão
170.5 224.3 177.1 182.2 201.3
Alemanha
133.6 131.6 130.1 125.3 154.4
China
34.2 42.8 67.7 96.8 117.9
França
69.4 72.1 78.5 80.1 99.0
Itália
63.4 56.5 62.2 81.4 74.4
Coréia
22.0 34.7 44.7 60.0 n.d.
Reino Unido
46.8 50.9 51.0 50.4 54.8
Bélgica
27.0 29.0 33.0 42.0 50.0
Brasil
31.8 35.6 43.8 37.3 45.3
Espanha
24.0 28.0 33.0 35.0 44.6
Irlanda
4.7 8.0 16.5 35.0 42.6
Índia
18.9 21.7 29.5 37.6 41.7
Taiwan
18.0 24.0 28.0 33.0 n.d.
Suíça
16.0 21.0 25.0 33.0 40.0
Holanda
26.0 23.0 30.0 31.0 38.4
Rússia
62.3 25.5 23.8 30.3 33.4
Canadá
21.5 20.6
21.1
25.8
30.3
n.d. = não disponível
Fontes: Abiquim; demais países: American Chemistry Council e Cefic.
32
O montante das exportações e importações da indústria química mundial
cresceu de US$ 318 em 1990 a US$ 792 bilhões em 2003, como pode ser
observado em sua evolução por países nas Tabelas 2 e 3 , desde 1990 até
2003.
33
TABELA 2: Exportações da Indústria Química Mundial (Abiquim).
(Dados consolidados: em US$ bilhões)
PAÍSES/ ANOS 1990 1994 1998 2002 2003
Total mundial estimado 318.2 396.4 529.1 671.8 792.5
EUA
39.0 51.6 68.0 81.1 91.4
Alemanha
57.6 58.8 71.1 77.0 99.0
Bélgica
22.0 28.0 41.0 63.0 76.5
França
28.0 33.0 43.1 49.1 58.7
Reino Unido
24.6 29.3 36.8 42.6 51.1
Holanda
23.0 24.0 32.0 36.0 43.7
Irlanda
4.0 7.0 20.0 38.0 41.3
Japão
15.8 23.6 27.2 33.3 38.9
Suíça
14.0 17.0 22.0 29.0 33.5
Itália
12.9 14.7 19.9 25.4 29.1
China
3.7 6.2 10.3 15.3 18.9
Coréia
3.0 6.0 10.0 14.0 n.d.
Espanha
5.0 6.0 9.0 13.0 17.0
Canadá
6.7 9.0 10.4 12.9 14.5
Suécia
5.0 6.0 7.0 9.0 11.6
Taiwan
3.0 5.0 6.0 8.0 n.d.
Rússia
3.5 4.0 5.4 7.3 9.1
Índia 1.3 2.2
3.1 5.9 6.6
México
2.1 2.8 4.4 5.6 6.3
Brasil 2.1 2.8 3.6 3.8 4.8
n.d. = não disponível
Fontes: Abiquim; demais países: American Chemistry Council e Cefic.
34
TABELA 3: Importações da Indústria Química Mundial (Abiquim).
(Dados consolidados: em US$ bilhões)
PAÍSES/ ANOS 1990 1994 1998 2002 2003
Total mundial estimado
318.2 396.4 529.1 671.8 792.
5
EUA
22.5 33.9 54.6 86.1 101.
1
Alemanha
36.1 35.3 46.8 54.8 68.5
Bélgica
18.0 21.0 33.0 53.0 61.7
China
6.7 12.1 20.2 39.0 51.0
França
24.7 26.1 35.0 39.5 47.2
Reino Unido
20.2 22.7 30.0 37.2 43.8
Itália
23.2 23.5 29.6 33.4 39.8
Japão
15.2 19.8 20.6 25.5 29.9
Holanda
14.0 16.0 22.0 24.0 27.8
Espanha
10.0 11.0 16.0 20.0 25.9
Canadá
8.2 11.8 16.7 20.9 23.7
Taiwan
7.0 11.0 12.0 14.0 n.d.
Suíça
8.0 9.0 12.0 18.0 20.3
Coréia
7.0 10.0 9.0 14.0 n.d.
México
3.7 7.2 11.5 16.5 14.9
Brasil
3.3 5.7 10.1 10.1 11.0
Suécia
5.0 6.0 7.0 7.0 8.7
Índia
3.1 4.2 5.3 5.7 7.0
Rússia
4.4 2.8 4.3 5.5 6.8
35
Por outro lado, como pode ser visto na Tabela 4 em detalhes, o número
de empregados foi reduzido em cerca de 3.500.000 em 1990 a 3.200.000 em
2003, devido ao avanço da automatização dos processos, motivado pelo
esforço na redução de custos operacionais que sempre impulsionaram a
indústria química em geral.
36
TABELA 4: Número de empregados na Indústria Química Mundial (Abiquim).
(em milhares)
PAÍSES/ ANOS 1990 1994 1998 2002 2003
EUA
1036 1005 993 928 908
Alemanha
n.d. 570 485 462 464
Japão
401 400 385 364 354
Brasil
445 347 315 310 315
França
266 250 237 241 238
Reino Unido
306 246 258 231 224
Itália
237 225 209 206 204
Espanha
134 132 127 133 130
Bélgica
98 94 95 99 97
Canadá
101 90 93 85 83
Holanda
94 82 79 75 73
México
92 80 70 72 63
Suíça
73 67 58 62 62
Suécia
42 32 39 39 40
Irlanda 14 17 23 22 22
n.d. = não disponível
Fontes: Brasil: estimativa Abiquim; demais países: American Chemistry Council e
Cefic. Adaptado pelo autor.
O Gráfico 1 (a seguir) ilustra a produção química mundial por região
para possibilitar uma visão da capacidade produtiva global de produtos
químicos. Pode-se notar que EUA e Europa lideram com vantagem a produção
mundial de produtos químicos e reservam a liderança mundial do setor.
37
GRÁFICO 1: Produção Química Mundial (ACC).
Fontes: Abiquim; demais países: American Chemistry Council e Cefic, 2004.
Adaptado pelo autor.
Tais números evidenciam a importância deste setor na economia atual.
O Brasil, por sua vez, ocupa uma posição de destaque, tendo uma participação
importante no mercado global do setor químico, tão importante quanto vários
outros países considerados de primeiro mundo.
China
10%
India
2%
Brasil
3%
Japão
13%
Ásia
6%
América Latina
3%
Outros
6%
Europa Ocidental
27%
uropa Central e Oriental
3%
EUA
27%
38
1.1. A indústria química no Brasil
Entre os países em desenvolvimento, o Brasil tem uma contribuição
significativa para a indústria química mundial.
Segundo Carrara Jr. e Meirelles (1996), os primeiros passos da indústria
química no Brasil foram dados com a fabricação de açúcar, com a criação do
primeiro engenho em 1520. Em seguida vieram a produção de sabão, óxido e
hidróxido de cálcio e os corantes vegetais que já eram exportados desde 1500.
Outros produtos importantes que foram produzidos desde 1600 foram: o sal, o
salitre e a pólvora. Depois, vieram a aguardente, medicamentos e a barrilha.
Em 1800 foi fundada a empresa F. Matarazzo, que se tornou uma das
maiores empresas nacionais operando no ramo alimentício e, depois, ampliou
sua atuação para outras atividades no ramo químico. Em seguida, vieram as
fábricas de ácido sulfúrico em São Paulo (Cia. de Gás e Óleos Minerais), outra
na Bahia e a terceira no Rio de Janeiro, denominada Fábrica de Ácido Sulfúrico
Concentrado. Já na ultima década de 1800, fundava-se a Dierberger Óleos
Essenciais S.A. em São Paulo, que opera até os dias de hoje.
Um ano mais tarde, fundava-se a Queiroz, Moura e Cia. de ácidos e
produtos químicos, que atualmente é conhecida como Elekeiroz S.A. E, no final
da década, foi fundada a primeira fábrica de cimento do Estado de São Paulo
(SANTA ROSA, 1958).
No período entre guerras, houve um considerável crescimento na
indústria química brasileira, condizendo com outras atividades que também
cresceram significativamente naquela época. No entanto, o grande
desenvolvimento da indústria química brasileira se desencadeou apenas na
década de 1970, com a criação dos três primeiros pólos petroquímicos
brasileiros.
39
O Período dos Anos 1970
Souza Antunes (1987) comenta que o primeiro pólo petroquímico foi
criado em Mauá em 1972, no bairro de Capuava em São Paulo, pela iniciativa
de um grupo nacional privado (família Soares Sampaio), que já havia investido
na Refinaria União e decidiu, então, empreender em conjunto com investidores
internos e externos (como, por exemplo, os grupos Gulf Oil Corporation, Phillips
Petroleum – norte-americanos – e, também, os grupos Moreira Salles e Ultra –
nacionais).
Com o início das operações do pólo petroquímico em São Paulo e com o
desenvolvimento crescente da indústria química brasileira, tornou-se
necessário o incremento da produção de produtos petroquímicos e outros
centros petroquímicos de escala foram instalados.
Sendo assim, com os incentivos criados pelo governo para o
desenvolvimento do Nordeste brasileiro e as facilidades criadas em âmbito
federal, estadual e municipal, em 1978, iniciou-se a produção no segundo pólo
petroquímico brasileiro em Camaçari na Bahia.
Já em 1975, enquanto o pólo petroquímico de São Paulo encontrava-se
em franca atividade e o de Camaçari estava em construção, o Governo Federal
estimava que em 1981/1982 já poderia haver escassez de produtos
petroquímicos no Brasil devido à alta demanda e crescimento industrial, pelos
quais o país vinha se destacando. Decidiu-se, então, a criação do terceiro pólo
petroquímico brasileiro, desta vez na Região Sul do país, mais especificamente
em Triunfo, no Rio Grande do Sul, na região aos arredores da Refinaria Alberto
Pasqualini, que forneceria a nafta necessária ao pólo (SOUZA ANTUNES,
1987). Criou-se a Copesul – Petroquímica do Sul, com funções similares a
Copene, no pólo do Nordeste.
Outro ramo da indústria química, a indústria de fertilizantes, graças ao
crescente desenvolvimento industrial e agrícola no Brasil, desenvolveu-se na
40
mesma época devido ao interesse nacional na substituição de produtos
importados, usados até então sem concorrência.
O primeiro grande complexo industrial de fertilizantes no Brasil foi
decorrente de investimentos dos grupos Ultra e Phillips Petroleum. Iniciou a
sua linha de produção com fertilizantes a base de amônia e NPK
7
.
O crescimento médio da indústria de fertilizantes no Brasil, em termos
de produção no período de 1960 a 1999, foi de 7,4% ao ano
(WONGTSCHOWSKI, 2002).
A indústria de química fina no Brasil teve sua força em termos de
produção e faturamento representada por empresas multinacionais. As
principais correspondem a de produção de fármacos. Além destas, podem ser
citadas, entre outras, a indústria de defensivos agrícolas, corantes, pigmentos,
catalisadores, aromatizantes e aditivos.
A indústria alcoolquímica antecedeu a petroquímica por várias décadas.
Uma das primeiras empresas a produzir estes químicos foi a Rhodia, com o
cloreto de etila (usado no lança-perfume), o éter dietílico e o ácido acético a
partir do etanol
8
. Outras empresas como a Rhodia, produziam alcoolquímicos,
entre as mais importantes a Hoechst, Union Carbide, Coperbo, Elekeiroz e
Solvay.
Com a crise do petróleo em 1973, o Brasil passou a se interessar pela
pesquisa das fontes alternativas de energia, que reduzissem a dependência do
petróleo externo e, então, foi criado o Proálcool – Programa Nacional do Álcool.
O Programa foi muito bem sucedido, sendo que, desde a sua criação, a
produção aumentou em escala vertical e, em 1985, a produção nacional havia
ultrapassado a marca de 11 milhões de litros no ano.
7 Nitrogênio, Fósforo e Potássio.
8 Produtos químicos.
41
Os Anos Pós 1990
Após 1990, com o governo Collor, o Brasil sofreu alterações
significativas na sua economia, que provocaram impactos determinantes para a
indústria química nacional. Os principais impactos causados pela integração do
país à economia internacional foram: a redução da proteção aduaneira pela
remoção das tarifas de importações e a reintegração do Brasil no mercado
internacional.
Esse cenário criou uma série de dificuldades para o setor que teve sua
participação no mercado interno reduzida. No entanto, as dificuldades geraram
oportunidades de melhora de desempenho, o que incentivou as indústrias
químicas a responderem às dificuldades pela redução de custos
(principalmente, aqueles oriundos da redução de mão-de-obra), aumento das
exportações, remoção de linhas de produção não-competitivas e criação de
empresas de maior porte para melhorar o potencial econômico.
Segundo Carrara e Meirelles (1996), o ramo industrial químico brasileiro
após 1990, passou então a ter os mesmos problemas mundiais e a enfrentar os
mesmos desafios para se manter em um mercado oscilante. Até então, a
indústria química vivia isolada dos problemas exteriores, porém a partir da
integração com o mercado mundial, passou a ter de conviver com a
sazonalidade da indústria química mundial e, obviamente, com todos os
problemas da economia brasileira.
Nessa época, a assistência do Estado à indústria, de uma maneira geral,
foi reduzida, para não dizer banida, e não foi diferente com a indústria química.
O poder do Estado foi minado pelas circunstâncias e seu potencial em
subsidiar atividades industriais foi fortemente prejudicado, afetando o parque
industrial químico brasileiro.
A indústria petroquímica nacional foi uma das que mais sofreu nesta
época com a abertura das fronteiras do país para o mercado externo.
42
Empresas que anteriormente possuíam controle compartilhado passaram a ter
somente um sócio controlador.
É bom lembrar que as petroquímicas nacionais nessa época já
possuíam capacidades de produção em escala de competição internacional,
tais como: a Copene 1200mil t/ano; a Copesul 1135mil t/ano; e a PQU 500mil
t/ano (OLIVEIRA, 1994).
Atualmente
Além do setor petroquímico, o setor farmacêutico também tem
representação significativa desde os anos após 1990 até os nossos dias, sendo
o segundo maior setor de vendas do ramo químico. As empresas
multinacionais dominam esse mercado no Brasil e as mais importantes do
ramo farmacêutico são representadas por empresas alemãs e norte-
americanas (CARRARA; MEIRELLES, 1996).
Uma característica marcante desse segmento é o aparecimento dos
genéricos que, devido ao seu preço altamente competitivo e atraente no
mercado, fizeram com que laboratórios menores e menos conhecidos
tomassem vulto. Para se ter uma idéia do crescimento da venda dos genéricos
no Brasil, entre 2000 e 2001, passou de 25 para 127 milhões de dólares
(ABIQUIM, 2004).
Portanto, para que se perceba a importância econômica da indústria
química brasileira, basta ter em conta as tendências mencionadas na
seqüência. A indústria química no Brasil faturou, em 2003, US$ 45 bilhões,
apresentando um crescimento considerável se comparado ao de 1990, quando
faturava US$ 31 bilhões. Isso pode ser visto na Tabela 5, que mostra a
evolução do faturamento liquido da indústria química brasileira por segmento
desde 1990 até 2003.
43
TABELA 5: Faturamento Líquido da Indústria Química Brasileira (Abiquim).
(em US$ bilhões
)
SEGMENTOS 1990 1994 1998 2002 2003
Produtos químicos de uso industrial
19.0 19.2 18.5 18.7 24.1
Produtos farmacêuticos 2.7 5.0 8.7 5.2 5.6
Higiene pessoal, perfumes e cosméticos 1.6 2.4 4.3 2.8 3.1
Adubos e fertilizantes 2.3 2.2 2.9 3.3 4.3
Sabões e detergentes (1) 2.0 2.0 3.1 2.1 2.2
Defensivos agrícolas
1.1 1.4 2.6 1.9 3.1
Tintas, esmaltes e vernizes
1.7 1.8 2 1.1 1.3
Outros
1.4 1.6 1.7 1.5 1.6
INDÚSTRIA QUÍMICA
Faturamento líquido 31.8 35.6 43.8 36.6 45.3
Faturamento bruto 39.8 44.5 54.8 45.8 56.7
Fontes: Abiquim e associações dos segmentos.
O setor de produtos químicos de uso industrial, composto por produtos
químicos inorgânicos, orgânicos, resinas, elastômeros e outros, lidera o
faturamento da indústria química nacional com 51%, sendo seguido pela
indústria farmacêutica, em segundo lugar, representando 15% do total.
Somente para que se tenha uma idéia do parque industrial brasileiro,
das principais empresas químicas instaladas no país, 39 são de capital
nacional e 58 são de capital estrangeiro. Em termos de faturamento, significa
que 33% vem de empresas nacionais e 67% de empresas estrangeiras.
A indústria química brasileira atualmente constitui o setor de base da
economia. Dela dependem, direta ou indiretamente, todos os demais setores,
44
para os quais fornece uma diversificada gama de insumos e produtos. Trata-se
de um setor dinâmico e complexo, caracterizado por ser intensivo em capital,
matérias primas e tecnologia.
Segundo dados divulgados pelo IBGE (2003/2004), a fabricação de
produtos químicos é responsável por 12,5% do total da receita da indústria de
transformação brasileira, ocupando a segunda posição, logo atrás da
fabricação de produtos alimentícios e bebidas.
A indústria química brasileira ocupa também participação importante no
PIB com mais de 3,7 % 9. Esta participação no PIB brasileiro vem aumentando
gradualmente e em 2003 apresentou o maior valor histórico desde 1990,
superando a marca daquele ano que foi de 3,1%.
O Gráfico 2, a seguir, mostra a evolução da participação da indústria
química no PIB no Brasil.
9 Para comparar, nos Estados Unidos a participação da indústria química no PIB é de 2%.
45
GRÁFICO 2: Participação da Indústria Química no PIB Total Brasileiro (Abiquim).
O Brasil ocupa posição de destaque entre os dez maiores no ranking
mundial, liderado pelos Estados Unidos, com um faturamento de US$ 458
bilhões.
Um estudo recente, feito pela Abiquim (2003, 2004), mostra que no país
é visível um aumento das importações e uma diminuição das exportações, o
que causa um decréscimo da produção nacional em relação ao consumo.
Em 2003, a indústria química brasileira exportou US$ 4,8 bilhões, tendo
sido importados no mesmo período US$ 11 bilhões. As exportações vêm
crescendo em média 6,5% a.a. nos últimos 13 anos, mas as importações vêm
crescendo no mesmo período 9,7% a.a., dados que podem ser observados no
Gráfico 3.
3.1
2.6
2.7
2.6
2.6
2.3
2.2
2.3
2.2
2.7
2.9
3
3.2
3.7
90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 2000 2001 2002 2003
em %
46
GRÁFICO 3: Importações e Exportações Brasileiras de Produtos Químicos (Sistema
Alice).
US$ bilhões FOB
O déficit da balança comercial brasileira de produtos químicos é
explicado pelo baixo nível de investimentos no setor que, embora tenham sido
investidos US$ 1 bilhão no segmento de produtos químicos de uso industrial
em 2004, está muito abaixo do necessário para evitar aumentos significativos
no volume de importações. Outro fator que explica o déficit é o aumento
substancial de consumo de produtos químicos que foi de 85,41% entre 1990 e
2004, comparado ao aumento da produção que foi de 51,78% no mesmo
período.
O terceiro fator que tem afetado bastante o resultado da balança
comercial brasileira de produtos químicos é a majoração dos preços dos
produtos químicos no mercado internacional, decorrente do crescimento da
3.3
3.6
3.6
4.5
5.7
8.0
8.9
9.7
10.1 9.8
10.7
10.8
10.1
11.0
2.1 2.1
2.3
2.5
2.8
3.4
3.5
3.8
3.6
3.4
4.0
3.5
3.8
4.8
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003
Exportações Importações
47
demanda mundial sem a correspondente ampliação da oferta (ABIQUIM,
2004).
O faturamento da indústria química brasileira cresceu de US$ 30 bilhões
em 1990 a US$ 45 bilhões em 2003; por outro lado, o número de empregados
reduziu, acompanhando a tendência mundial de 445.000 em 1990 a 315.000
em 2003 (ABIQUIM, 2003; 2004).
O futuro da indústria química brasileira, segundo Wongtschowski (2002),
em cada segmento industrial depende da sua competitividade e vulnerabilidade
em relação à concorrência externa e está diretamente ligado à capacidade do
país de manter o parque industrial instalado e atrair novos investimentos.
Para manter as indústrias no país e atrair investimentos, o país deve
estabelecer uma política que seja sustentada por quatro pilares básicos:
estabelecer condições básicas para disponibilizar mão-de-obra e infra-
estrutura; estabelecer condições de consumo adequadas por meio de uma
política econômica sustentável; estabelecer condições para infra-estrutura de
abastecimento e fornecedores de insumos e negócios secundários; estabelecer
condições para a formação de profissionais capacitados à organização; e
administração do parque industrial formado (ERBER; VERMULM, 1993).
Kanter (1996) afirma que para a indústria química brasileira evoluir no
contexto internacional certamente são necessários investimentos em diversas
áreas que devem ser mencionadas, tais como: otimização dos custos
alfandegários e aduaneiros; otimização dos custos de produção pela redução
dos custos de transporte e cargas tributárias; incentivos à ciência e tecnologia,
saúde, segurança, meio ambiente, qualidade e logística.
Apesar de um futuro incerto, o setor tem demonstrado ter uma
participação fundamental na Economia. No entanto, independentemente de sua
importância no país ou em outros países, existe a necessidade de
investimentos e de esforço continuado e intensivo.
Os investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento têm demonstrado
uma redução significativa e o enfoque tecnológico tem passado da busca de
48
novos materiais para busca de novos usos para materiais já conhecidos. Esta
necessidade causada pela determinante econômica dos dias atuais, traduzida
em por uma nova visão do processo industrial, em alguns casos torna-se uma
questão de sobrevivência no mercado.
A projeção de redução de investimentos na indústria química, segundo
dados fornecidos pela Abiquim, pode ser observada no Gráfico 4.
GRÁFICO 4: Investimentos na Indústria Química (fonte Abiquim).
Em US$ bilhões
Os baixos índices de investimentos projetados e planejados em
tecnologia e na área de pesquisa e desenvolvimento na indústria química
nacional proporcionam uma expectativa de que seus processos se tornem
relativamente obsoletos e ultrapassados em curto prazo, causando ao setor
uma perda de competitividade no mercado internacional, além de tornar as
plantas nacionais com maior potencial de riscos ambientais.
Conseqüentemente, as unidades produtivas de empresas nacionais
tornam-se, em termos tecnológicos, mais velhas, menos rentáveis e com
menor produtividade se comparadas com o parque internacional.
1.40
1.22
0.90
0.48
0.24
0.20
2005 2006 2007 2008 2009 sem definição
49
Isso certamente coopera para uma redução da carteira de produtos
químicos produzidos nacionalmente, causando déficit na balança comercial
brasileira de produtos químicos, ou seja, uma necessidade cada vez maior de
importações comparando às exportações, tendo-se em conta que a demanda
interna é sempre crescente.
Pode-se concluir, então, que é indispensável à indústria química
brasileira definir uma estratégia tecnológica que permita enfrentar a
concorrência crescente, tanto no mercado interno quanto no mercado externo.
Sobretudo, nossas empresas químicas devem investir nas áreas de engenharia
e tecnologia, visando incrementar a pesquisa e inovação, essenciais para o
progresso e avanço da competitividade internacional.
Não é tarefa simples comparar os indicadores econômicos referentes às
indústrias químicas de diferentes países com o Brasil.
Independentemente destas dificuldades de comparação de indicadores,
um fator é cada vez mais evidente em relação aos desafios que este setor
enfrentará em países desenvolvidos e em desenvolvimento como o Brasil. Há
um consenso em que o setor químico vem sendo um dos principais
responsáveis também pelo agravamento da situação socioambiental. O
crescimento das atividades químicas foi acompanhado por uma série de
mazelas socioambientais, incluindo acidentes localizados e contaminações de
áreas, sejam de água, solo ou atmosfera.
Esses importantes impactos socioambientais, originados pelo setor, são
uma preocupação constante da sociedade e do próprio ramo de atividade, que
busca soluções imediatas de mitigação e controle para o problema.
50
2. A INDÚSTRIA QUÍMICA E SEUS IMPACTOS AMBIENTAIS
Apesar de ser um setor tão importante economicamente, o ramo químico
e petroquímico, pelo seu crescimento, trouxe consigo uma série de problemas
ambientais e preocupações para a sociedade em geral, seja na forma dos
acidentes ampliados – dos quais podemos citar os mais conhecidos, como os
de Seveso, Bophal, Exxon Valdez, Chernobyl, entre outros –, seja pelo impacto
ambiental causado pelas contaminações e poluição.
Demajorovic (2003) ressalta que o crescimento desenfreado das forças
produtivas no século passado, principalmente no ramo químico, teve como uma
das maiores conseqüências, o crescimento dos problemas socioambientais
globalmente e o avanço tecnológico e industrial iniciou uma ameaça à flora e a
fauna, pondo em risco o ser humano.
O potencial de impacto ambiental deste setor, portanto, deve ser
analisado a partir de duas vertentes: a dos acidentes ambientais e a da
poluição ambiental.
A análise ou avaliação ambiental do setor químico e petroquímico deve
ser feito também através do estudo da cadeia produtiva de modo a quantificar o
impacto ambiental de bens e serviços.
Essa avaliação inclui a cadeia produtiva completa do produto, processo
ou atividade, ou seja, a extração e o processamento de matérias primas, a
fabricação, o transporte e a distribuição; o uso, o reemprego, a manutenção; a
reciclagem, a reutilização e a disposição final.
Dessa forma é possível uma análise dos danos ambientais de cada
estágio da cadeia produtiva, e dessa forma considera-se dano ambiental
qualquer tipo de impacto causado no ambiente pela existência do produto.
51
Isso inclui a extração de diferentes matérias primas, emissão de
substâncias tóxicas, utilização da terra, geração de energia para fabricação e
uso do produto, sendo que o termo produto é usado para bens e serviços.
2.1. A indústria química e os grandes acidentes industriais
Freire Dias (2004) salienta que um dos grandes problemas em potencial
que agridem o meio ambiente é originado pelos acidentes ambientais, que
sempre ofereceram risco eminente oriundos das operações da indústria
química e petroquímica.
No final do século XIX, a falta de conhecimento sobre os riscos do
negócio, aliada à ausência de punição para os atos que resultavam os
acidentes, contribuíam para perpetuar as condições de risco nos locais de
trabalho e nas instalações da época. Os avanços tecnológicos alcançados, no
entanto, potencializaram os riscos na indústria química. Os combustíveis
líquidos produzidos a partir do petróleo criaram novas variáveis como, por
exemplo, volatilidade, fluidez, inflamabilidade mais intensa que no carvão, que
aumentam os riscos de acidentes e facilitam as contaminações por infiltração
no solo e dispersão nas águas (VALLE; LAGE, 2003).
Ainda segundo Valle e Lage (2003), a evolução tecnológica trouxe
também novos materiais produzidos pela síntese química, como ácidos,
anilinas, álcalis, bem como surgiram aplicações para novos elementos
químicos como o cloro, bromo, flúor, cádmio, cujos efeitos à saúde humana e
ao meio ambiente eram pouco conhecidos. O quadro para os grandes
acidentes industriais estava completo:
Novas substâncias, ainda pouco conhecidas;
Grandezas físicas (pressões, temperaturas), utilizadas no limite de
resistência dos materiais de construção;
Processos químicos resultando resíduos perigosos.
52
E complementando o quadro, o paradigma do valor econômico:
produtividade e competitividade à frente dos riscos ambientais.
A conscientização de empresários e empregados para os riscos
ambientais ainda era extremamente precária no inicio do século XX. As leis de
proteção eram poucas e o seu cumprimento estava sempre em segundo plano
(LUNDGREN, 1994).
O avanço acelerado do desenvolvimento tecnológico, com a introdução
de novos processos produtivos e o ingresso contínuo de novos materiais no
mercado consumidor, ampliou o impacto ambiental criado pelos processos e
produtos da indústria química. O diclorodifeniltricloroetano (DDT) e as bifenilas-
policloradas (PCBs) são exemplos de substâncias químicas criadas e
produzidas pelo homem que se tornaram famosas pelos impactos
socioambientais que causaram.
Ao longo dos anos, a indústria química passou a incorporar, em seus
projetos e operações, as lições resultantes dos acidentes e impactos que
provocavam. Alguns desses ensinamentos se tornaram leis, normas,
regulamentos e sistemas próprios de gestão.
Porém, de acordo com Valle e Lage (2003), somente a conscientização
de todas as partes intervenientes na atividade industrial química é capaz de
transformar esse aprendizado em soluções efetivas para os problemas
causadores dos impactos ambientais.
Os lançamentos acidentais de efluentes, que causaram grandes
contaminações, tornaram mais rigorosos os critérios de avaliação das formas
de tratamento e de armazenamento dos materiais contaminantes. Na baía de
Minamata, no Japão, desde 1932, uma indústria lançava ao mar efluentes
contaminados com mercúrio. Foram necessários vinte anos para que a
empresa causadora desse grande acidente ambiental reconhecesse a relação
de causa e efeito que tinha como resultado um número crescente de seres
humanos e animais domésticos afetados, tanto física como mentalmente,
devido à contaminação por metil-mercúrio, de toda a cadeia alimentar da
53
região. Como aprendizado desse desastre, ficou a percepção de que a demora
em informar os habitantes locais e a contemporização por vinte anos de sua
efetiva solução, ampliou desnecessariamente a extensão da tragédia. O direito
de saber, atualmente basilar na legislação ambiental de muitos países, constitui
outro aprendizado desse acidente (VALLE; LAGE, 2003).
Em 1976, outra tragédia que se tornou uma lição ocorreu na Itália: o
acidente de Seveso em uma planta química que produzia pesticidas. Uma
emissão acidental de tetraclorodibenzoparadiozina (TCDD), subproduto
venenoso e cancerígeno de uma reação química não controlada, obrigou a
evacuação dos moradores das redondezas da planta e o sacrifício de milhares
animais domésticos considerados contaminados. Esse acidente motivou a
emissão da Diretiva de Seveso, documento com força de lei aplicável, em toda
comunidade européia, que trata de riscos de grandes acidentes em certas
atividades industriais (KLETZ, 1994).
Os acidentes provocados ou agravados pelo fogo contribuíram também
para o impacto ambiental da indústria química. O grande acidente ocorrido em
1984, numa refinaria do México, foi causado por explosões sucessivas e
provocou a morte de cerca de quinhentas pessoas e ferimentos em mais de 4
mil. Esse acidente ensejou a elaboração de sistemas de segurança e controle
mais rigorosos para esse tipo de atividade (KLETZ, 1999).
Entretanto, foram as falhas humanas que causaram os mais sérios
acidentes registrados em indústrias químicas. O acidente de Bophal, na Índia,
ocorrido em 1984, deixou um saldo de mortos até hoje em dia não consolidado.
A cifra oscila entre 3400 e 8000 mortos, com um total de mais de 200 mil
pessoas com a saúde afetada. As causas desse acidente são o resultado de
basicamente três falhas: falha de procedimentos internos de segurança; falha
nos sistemas de alarme; e falta de preparo da comunidade vizinha para
emergências. Uma explosão a noite gerou uma nuvem de gás altamente tóxico,
o isocianato de metila, que se espalhou sobre a comunidade vizinha. Esse é
considerado o maior acidente ambiental de origem industrial gerado pelo
homem (KLETZ, 1999).
54
Além do acidente de Bophal, houve mais dois acidentes sucessivos na
Basiléia, Suíça, em 1986, com a contaminação do rio Reno por pesticidas e
mercúrio. Esse trio de acidentes mudou o critério de segurança, projeto,
operação, gerenciamento e treinamento nas indústrias químicas em todo o
mundo.
Em reação a esses acidentes, a Diretiva de Seveso foi posteriormente
modificada e passou a incorporar também o controle de acidentes, sob o nome
de Seveso II, desde 1989. Seu escopo é a prevenção de acidentes e a
limitação das conseqüências dos acidentes que venham a ocorrer, cobrindo
não apenas as atividades industriais, como também o armazenamento de
produtos químicos perigosos (KLETZ, 1994).
Outro acidente importante fora do âmbito europeu, ocorrido numa
indústria que produzia perclorato de amônia, instalada no deserto de Nevada,
nos EUA, ao explodir em 1988, provocou um extraordinário impacto em toda a
região, por sorte pouco habitada. A localização de instalações de alto risco
distanciada de grandes aglomerados urbanos é, também, um aprendizado
valioso decorrente desse tipo de acidentes (KLETZ, 1994).
Outros acidentes, também causados por efluentes tóxicos, podem ser
citados, como o da Espanha, em 1998, em que uma barragem de contenção
dos rejeitos de uma mina se rompeu, liberando 5 milhões de metros cúbicos de
lama contendo enxofre, chumbo, cobre, zinco e cádmio. Isso contaminou, de
forma irreparável, um rio, um santuário de pássaros, uma reserva natural e a
agricultura de toda a região. Em 2000, outra barragem contaminou com cianeto
parte da bacia do rio Danúbio, na Romênia, afetando também a Hungria. O
aprendizado, com esses dois acidentes, recomenda como solução projetar e
manter, com maior rigor, as barragens de contenção que compõem os
complexos minero-industriais (KLETZ, 1999).
Segundo Lundgren (1994), as empresas multinacionais aprenderam que
qualquer que seja a localização de sua planta, seja no país de origem ou não,
os danos causados à imagem da empresa são os mesmos e os efeitos sobre
os seus negócios são desastrosos. Esse aprendizado afetou positivamente o
55
comportamento ambiental desses grandes grupos, que hoje lideram os setores
industriais na adoção de práticas de auditorias e certificação ambiental. A
preocupação com o planejamento urbano no entorno dos pólos industriais
também aumentou depois do acidente de Bophal.
Planos de contingência e de evacuação de áreas de risco passaram a
ser previstos nessas regiões. A legislação que obriga a transparência das
informações fornecidas pelas empresas aos seus vizinhos, o direito de
conhecimento, também teve grande impulso desde então.
Esta é uma importante evolução que vem ocorrendo no segmento das
atividades industriais: substituir as abordagens corretivas pelas preventivas.
Prevenir um acidente será sempre mais barato e seguro que remediar seus
efeitos. Essa mudança de postura, observada ao longo das duas últimas
décadas, já permite constatar uma sensível redução no número de acidentes
industriais noticiados e, em especial, dos grandes acidentes, bem mais
freqüentes até a década de 1980.
Além dos acidentes ambientais, a indústria química e petroquímica
sempre contribuiu para os principais problemas ambientais crônicos, os quais
são abordados na seqüência, e ainda não existe uma completa consciência do
impacto das operações desse ramo de atividade na mitigação desses
impactos.
Um dos mais significativos é o número de fatalidades entre os
trabalhadores da indústria química ao redor do mundo. Infelizmente, em 2000,
foram registrados 56 acidentes fatais pela International Chemical Companies
Association (ICCA) entre 34 países dos 46 signatários naquele ano. Em 2001,
o número registrado foi 51, incluindo as vítimas da explosão ocorrida em
Toulouse (França). Em 2002, houveram 42 fatalidades reportadas por 37
países. Em 2003, 48 fatalidades foram reportadas de 35 países ao redor do
globo. No Brasil, 4 fatalidades foram registradas em 2003 (ICCA, 2005).
Embora, se comparado a outros setores produtivos o índice de
fatalidade da indústria química seja considerado baixo, uma fatalidade é muito
56
e a meta deveria ser mantida em zero. Há que se reconhecer que ainda há
muito a ser feito em gerenciamento de segurança para que essa meta seja
alcançada na indústria química.
2.2. A indústria química e os processos de contaminação ambiental
Os problemas de contaminação e poluição se acentuaram a partir da
Revolução Industrial, época em que foram observadas mais claramente as
primeiras ocorrências de contaminação do ar, do solo e das águas provocadas
pela dispersão de poluentes nas regiões industrializadas, onde se
concentravam indústrias químicas que utilizavam carvão como meio de energia
(VALLE E LAGE, 2003).
O desconhecimento dos efeitos resultantes do uso do carvão deu origem
às primeiras ocorrências de doenças profissionais. Também a acidificação dos
solos, emissão de particulados, degradação das condições de vida nas
populações foram os primeiros efeitos da industrialização química, que
desordenada, envolvia riscos para a saúde do homem e o meio ambiente. A
contaminação do meio ambiente já se dava em um ritmo intenso, mas os
efeitos de longo prazo – que até hoje em dia requerem controle nas regiões
que sofreram essa industrialização descontrolada – não eram considerados
principalmente pela falta de conhecimento dos seus impactos e descaso pela
causa ambiental.
A questão da alteração do clima terrestre, por exemplo, causado pelo
efeito estufa, é considerada um dos maiores problemas ambientais atuais.
Esse fenômeno se dá pelo acúmulo de gases na atmosfera, os quais retêm o
calor emanado pelo planeta, impedindo que o calor se dissipe pelo espaço e é
considerado, pelos especialistas, o mais sério entre os problemas ambientais.
Este é um dos problemas no qual as indústrias químicas e petroquímicas têm
grande participação, pela emissão de gases de suas fontes de combustão.
57
Essa retenção de calor faz com que aumente a temperatura média da
atmosfera terrestre, causando efeitos climáticos indesejáveis e expressivos.
Os principais gases que causam o efeito estufa são: o gás carbônico, o
gás metano, o ozônio formado a partir de óxidos de nitrogênio, e os
clorofluorcarbonetos (CFC) – todos muito peculiares nas operações das
indústrias químicas. Estudos recentes ampliam a lista de gases causadores do
efeito estufa (PENNA, 1999).
Outro impacto poluidor significativo causado por emissões atmosféricas
é a chuva ácida, que se dá pela formação de ácidos sulfúrico e nítrico a partir
das emissões de poluentes como óxidos de enxofre e nitrogênio.
Segundo Brena (2002), a queima de combustíveis fósseis é a maior
responsável pela contaminação do ar por esses óxidos, que são os mais
importantes ingredientes da chuva ácida. Nos Estados Unidos, os óxidos de
enxofre e nitrogênio são cerca de um terço dos poluentes atmosféricos gerados
pelas indústrias.
As indústrias químicas e petroquímicas, juntamente com as refinarias de
petróleo e termoelétricas, são as grandes produtoras de dióxido de enxofre
(BRENA, 2002). Segundo Baines (1993), eram lançadas por ano cerca de 24
milhões de toneladas de dióxido de enxofre na América do Norte e 44 milhões
de toneladas na Europa devido ao predomínio do uso de carvão com alto teor
de enxofre, comparado aos Estados Unidos que utiliza petróleo como fonte
energética. Estima-se que atualmente são lançadas cerca de 18 milhões de
toneladas na América do Norte e 22 milhões de toneladas na Europa, uma
redução significativa na Europa devido a substituição do carvão sulfuroso por
outras fontes de energia (LOMBORG,2002).
No Brasil, são lançados à atmosfera pela indústria química 30.000t/ano
de dióxido de enxofre (ICCA, 2005).
O impacto à camada de ozônio é outro efeito negativo ao meio ambiente
que tem os poluentes originados pela indústria química como precursor. O
ozônio, um poluente poderoso no nível do solo, forma na atmosfera, um escudo
58
protetor contra os raios ultravioleta do Sol, sem o qual a vida não seria possível
na Terra. Essa camada absorve eficientemente a nociva radiação ultravioleta
(UV) que, não apenas danificam o DNA, como provoca o câncer de pele.
O principal vilão da destruição da camada de ozônio é o
clorofluorcarboneto (CFC), fabricado sob variadas formas. Inventado em 1928,
mostrou-se muito útil à civilização industrial. Inicialmente usado em frigoríficos
(geladeiras), tornou-se o gás de aparelhos de ar condicionado e, desde 1950,
passou a ser usado como gás propelente em aerossóis.
Embora na grande maioria dos países o uso dos CFC já esteja banido, o
extraordinário estrago causado, o “buraco”, segue e seguirá sendo uma
preocupação para a humanidade e, de acordo com Penna (1999), a camada
somente estará refeita se todas as nações cumprirem a risca o protocolo de
Montreal, entre os anos 2040 e 2050.
Além dos problemas causados pela contaminação atmosférica, outros
tipos de problemas são potenciais efeitos das operações nas indústrias
químicas, como a poluição das águas, o que torna cada vez mais difícil e cara
a disponibilidade da água potável. De acordo com Braga et al. (2002), os
principais poluentes da água causados por contaminação em processos
químicos são poluentes orgânicos refratários (aqueles que não são
biodegradáveis), como defensivos agrícolas, detergentes sintéticos, petróleo,
metais, excesso de nutrientes, organismos patogênicos, sólidos em suspensão,
calor e radioatividade.
A água, segundo Freire Dias (2002), é um fator limitante vital para as
espécies que vivem na Terra. A ínfima parcela de água doce disponível na
Terra, dada a sua importância para a sobrevivência dos seres humanos,
deveria receber todos os cuidados possíveis. No entanto, não é isso que se
observa, como é sabido, pois sofre todo tipo de agressões.
Dos dados disponíveis no ICCA (2005), pode-se notar que a indústria
química no Brasil é uma das que possui maior potencial poluidor das águas
59
(DQO 33.240 tonO2/ano em 2003) e uma das maiores consumidoras de água
com 698 milhões de m
3
/ano.
A contaminação causada pela disposição de produtos químicos nocivos
nos aterros sanitários e outros destinos, também é um impacto importante para
o qual as indústrias químicas contribuem, causando a poluição do solo e das
águas subterrâneas e, conseqüentemente, originando problemas sanitários de
natureza complexa.
Os contaminantes mais importantes do solo causados por operações
químicas são produtos químicos agrícolas (inseticidas, herbicidas, etc.),
fertilizantes, resíduos industriais perigosos os mais diversos, tais como:
resíduos patogênicos, resíduos de pesticidas (embalagens), lodos contendo
metais pesados, solventes, lodos contendo mercúrio, lodos de petróleo, entre
outros (BRAGA et al., 2002).
Todo este cenário, segundo Valle (2003), deixou marcas e despertou a
conscientização da sociedade para as questões ambientais e isto foi causado
pela ocorrência dos vários desastres ecológicos, alguns citados neste estudo,
muitos deles ainda visíveis e até permanentes, em ecossistemas em todo o
mundo.
Dentre as duas vertentes de impacto ambiental geradas pela indústria
química e petroquímica – a dos acidentes ampliados e a das contaminações e
poluição ambiental – a primeira foi a mais importante por provocar a reação da
sociedade como um todo e permitir a criação das legislações e normas
regulamentadoras, que despertaram ações do setor para minimizar os riscos
inerentes desse ramo de atividade. Essa mobilização do setor gerou ações e
programas voluntários que serão discutidos na seqüência neste estudo.
60
2.3. Desdobramento do impacto ambiental na indústria química
Os acidentes ambientais e os impactos ambientais relevantes, criados
pela indústria química e petroquímica, além de causar vítimas diretas,
trouxeram outras conseqüências, tais como: perdas financeiras para as
empresas, estímulo para grupo de ambientalistas reagirem contra produtos
químicos, modificação na legislação e até mudança no discurso dos principais
representantes do setor químico (DEMAJOROVIC, 2003).
As ações das empresas causadoras de acidentes ambientais, como a
Union Carbide em Bophal, caíram violentamente. E, ainda, acidentes como
este provocam outras questões: como colocar em prática medidas preventivas
para evitar acidentes de mesmas proporções nos países desenvolvidos, como
aqueles ocorridos nos países em desenvolvimento?
A mobilização iniciou-se mundialmente, a exemplo da Europa com o
acidente de Seveso que desencadeou legislações mais rigorosas voltadas à
causa ambiental. Esse acidente motivou a emissão, em 1982, da Diretiva de
Seveso, documento com força de lei aplicável em todos os estados membros
da União Européia, que trata de “riscos de grandes acidentes de certas
atividades industriais”.
Esse documento foi posteriormente modificado e passou a incorporar
também critérios para o controle de acidentes, sob o nome de Seveso II, com
força legal desde 1999. Seu escopo é a prevenção dos acidentes e a limitação
das conseqüências dos acidentes que venham a ocorrer, cobrindo não apenas
as atividades industriais, como também o armazenamento de produtos
químicos perigosos. A Diretiva de Seveso talvez seja o primeiro modelo de um
PGR – Programa de Gerenciamento de Riscos (VALLE; LAGE, 2003).
Em decorrência de uma maior exposição na mídia dos acidentes
químicos nas décadas de 1970 e 1980, devido às manifestações de grupos
organizados, originaram-se medidas para tornar mais transparentes as ações
61
das empresas químicas e propiciar um controle mais efetivo de suas operações
nos países industrializados (DEMAJOROVIC, 2003).
Surgiram então regulamentações como, por exemplo, nos Estados
Unidos o Toxic Substances Control Act (TSCA) para um melhor controle na
produção de produtos químicos; surge também por meio de ambientalistas a
campanha Right to Know (Direito de Saber) que exigia, das autoridades e das
indústrias, informações sobre tudo que oferecia riscos a comunidade. Surge e
cresce também o movimento NIMBY – Not in my backyard (Não no meu
quintal), no qual grupos organizados recusavam a instalação de empresas
poluentes ou de risco em suas comunidades.
Surge também após Bophal, nos Estados Unidos, a legislação Sara Title
II, referente ao controle das práticas de gerenciamento em unidades industriais
químicas.
Em 1986, o EPCRA (Emergency Planning and Community Right to
Know Act), também chamado de Sara III, passou a exigir das empresas
químicas, com dez ou mais empregados, que estimassem o volume das
emissões gasosas, líquidas e sólidas.
No caso europeu, a Diretiva de Seveso de 1982 passou a exigir que
todos os países signatários notifiquem seus acidentes para serem registrados
no Major Accident Reporting System (MARS). Em 1988, essa diretiva foi
ampliada, passando a exigir das empresas também a disponibilizar
informações para a comunidade e a desenvolver estudos mais rigorosos para a
preservação ambiental (DEMAJOROVIC, 2003).
A indústria química não teve como evitar as regulamentações que as
tornariam mais transparentes e abertas para a sociedade.
62
Havia uma grande preocupação dos dirigentes da indústria química com
a sua imagem perante a sociedade, preocupação que se mostrou acertada
pelas pesquisas feitas em 1988 de modo aleatório por todo território norte-
americano, pela CMA – Chemical Manufactures Association, mostrando que a
indústria química tinha realmente uma péssima imagem perante a opinião
publica.
Segundo SMART (1992 apud Demajorovic, 2003), destacam-se os
seguintes resultados para o período de 1980 a 1990:
As opiniões desfavoráveis aumentaram de 40% para 58%;
As opiniões favoráveis decresceram de 30% para 14%;
As pessoas que acreditavam que as empresas do setor químico não
eram suficientemente regulamentadas aumentaram de 57% para
74%; e
Aqueles que consideravam a indústria como essencial diminuíram de
49% para 38%.
A imagem negativa da indústria química não se restringiu aos países
desenvolvidos. Apesar da fragilidade social e institucional dos países em
desenvolvimento, surge nesses países também a necessidade de mudanças
estratégicas para o setor, em resposta às pressões da sociedade,
comunidades, governo e organizações não-governamentais.
Esse novo posicionamento traz a variável socioambiental não mais
como uma opção, mas como parte integrante da estratégia dos negócios,
garantia de lucratividade e participação de mercado, e isso a nível mundial.
Deu-se inicio então a uma campanha integrada com o objetivo de modificar
práticas gerenciais na área sociombiental e reverter a imagem negativa do
setor perante a sociedade, através do Programa Atuação Responsável, tema
que será abordado na seqüência (DEMAJOROVIC, 2003).
63
3. INCORPORANDO A GESTÃO AMBIENTAL NA INDÚSTRIA QUÍMICA E
PETROQUÍMICA: O ATUAÇÃO RESPONSÁVEL
O Responsible Care é uma iniciativa da indústria química mundial,
segundo a qual as empresas, através de suas associações nacionais,
comprometem-se a trabalharem juntas para continuamente melhorar o
desempenho ambiental de seus produtos e processos e, então, contribuir para
o desenvolvimento sustentável das comunidades locais e da sociedade como
um todo. O Programa iniciou-se em 1985 no Canadá e, hoje em dia, abrange
48 países onde mais de 85% dos produtos químicos são industrializados no
mundo. O Responsible Care é gerenciado pela indústria e enfoca a melhoria de
desempenho, comunicação e responsabilidade. Ele não é somente mais uma
iniciativa voluntária, mas também a ética industrial e o principal valor da
indústria química (ICCA, 2005).
O Programa Atuação Responsável é a versão brasileira do Responsible
Care. Foi adotado oficialmente pela Abiquim em abril de 1992. As empresas
associadas naquele ano foram convidadas a aderir ao Programa, de forma
voluntária. A partir de 1998, a adesão ao Atuação Responsável tornou-se
obrigatória para todas as associadas da Abiquim, o que demonstra a
importância do Programa para o setor (ABIQUIM, 2004).
O Programa Atuação Responsável, da Abiquim, veio para trazer um
avanço importante na questão da conscientização ambiental na indústria
química brasileira, devido ao seu enfoque na área de Meio Ambiente. Tem
colaborado na postura e comportamento das indústrias químicas em relação ao
seu público interno, bem como com a sociedade como um todo.
64
3.1. Antecedentes do Atuação Responsável®
É impossível dissociar o desenvolvimento do programa Responsible
Care® (Atuação Responsável®) do evento ocorrido em 1984 na Unidade da
Union Carbide em Bhopal. Essa empresa transformou-se em um símbolo da
potencialidade dos riscos socioambientais para trabalhadores, comunidades e
meio ambiente e dos riscos para a sustentabilidade dos negócios para
empresas não comprometidas com a variável socioambiental.
Em 1984, a organização registrava um faturamento de US$ 12,5 bilhões
por ano com 1.200 unidades industriais espalhadas pelo mundo. Nessa época,
segundo Piasecki (1995, p. 22), uma pesquisa do Massachussets Institute of
Technology - MIT apontava a empresa, entre diversas multinacionais
estudadas, como exemplo de práticas corporativas e cidadania: “(...) uma
distinção baseada em seus programas ambientais, em sua responsabilidade
social e em sua adequação e sensibilidade aos países estrangeiros em que
operava”. No entanto, nenhuma destas características da empresa resistiu aos
números da tragédia ocorrida em Bhopal.
As estatísticas oficiais indicam que o acidente causou 2.352 mortes e
feriu mais de 200 mil pessoas, sendo 20 mil com disfunções pulmonares
permanentes. As estimativas extra-oficiais, no entanto, apontam para um
número total de mortes que varia de 1.800 a 20.000 pessoas (JOHNSON,
1998). Para Demajorovic (2003), além das vítimas diretas, o acidente gerou
outras conseqüências que serviram de alerta para o setor empresarial. As
perdas financeiras para a empresa, o estímulo dos grupos ambientalistas para
incrementar suas ações contra os produtos e processos químicos, o avanço da
legislação ambiental, interferindo nos processo de tomada de decisão das
empresas, alertou os representantes de diferentes setores empresariais sobre
a necessidade de transformação de seu discurso e prática quanto à variável
socioambiental.
No entanto, poucos setores empresariais entenderam estas importantes
mudanças da sociedade como o setor químico. Ainda mais importante é a
forma como esta percepção se traduziu em ação concreta. A ação do setor
65
químico foi um movimento absolutamente singular em relação à retórica da
responsabilidade socioambiental de outros setores industriais: o novo discurso
não surgiu a partir de colocações individuais dos representantes empresariais,
mas sim a partir de uma campanha integrada em nível mundial. Para os atores-
chaves do setor químico e petroquímico mundial, tornava-se evidente que
apenas evitando acidentes e a péssima publicidade decorrente seria possível
interromper o avanço da legislação e a maior intervenção dos órgãos
ambientais no setor.
Por meio do programa Atuação Responsável® foi dado início a uma
campanha integrada com o objetivo de modificar práticas gerenciais no campo
socioambiental e reverter a imagem negativa do setor junto à opinião pública.
Este programa deve ser entendido como um instrumento de
gerenciamento ambiental, incluindo a segurança das instalações, processos e
produtos, bem como a preservação da saúde dos trabalhadores e a proteção
do meio ambiente. Concebido a partir da visão de diálogo e melhoria contínua,
o Programa fornece mecanismos que permitem o desenvolvimento de sistemas
e metodologias adequadas para cada etapa do gerenciamento ambiental que o
setor persegue. O modelo criado é flexível, o que possibilita atender as
necessidades de cada empresa sem que, no entanto, se perca a característica
de um Programa de toda uma indústria.
Vale a pena apresentar como está estruturado o Programa Atuação
Responsável da Abiquim, o qual tem sua marca registrada para utilização pela
indústria química e petroquímica nacional. Esse programa vem sendo adotado
por todas as empresas associadas da Abiquim e esta atitude é vista como uma
demonstração de inovação e busca da excelência nos seus processos,
produtos e serviços, assim como base para o direcionamento para o
desenvolvimento sustentável.
66
A Abiquim conta atualmente com cerca de 170 empresas químicas e
petroquímicas de grande porte associadas, além de outras empresas de médio
e pequeno porte. A sua missão é representar a categoria, seja nas
negociações ou nos acordos internacionais, envolvendo a indústria química e
petroquímica e é membro integrante do Conselho da Indústria Química do
Mercosul – Ciquim e também do International Council of Chemical Association
– ICCA, órgão internacional que lidera e coordena o Responsible Care
mundialmente (ABIQUIM, 2000b). A Associação participa também na
coordenação de outros programas que envolvem a indústria química em
setores específicos que são o Plastivida e Pró-Química.
A implementação do Programa Atuação Responsável, assim como a sua
manutenção, é feita por meio de comissões de lideranças representadas pelas
empresas associadas. Este programa, pelo seu Manual de Introdução – cujo
título é Conhecendo o Atuação Responsável –, traz uma retrospectiva de
como evoluíram as indústrias química e petroquímica no contexto mundial e
demonstra que esta evolução foi mais pronunciada após a Segunda Guerra
Mundial, período em que ocorreu a formação e consolidação dos grandes
grupos de empresas do setor e que foi impulsionado pelo desenvolvimento
industrial ocorrido na época (ABIQUIM,1995a).
O manual ainda destaca que nessa etapa os aspectos relacionados à
degradação ambiental não eram considerados, sendo que as questões
ambientais não faziam parte da estratégia dos negócios.
Evidentemente a preocupação com a degradação ao meio ambiente
surgiu varias décadas depois, após vários eventos expressivos que alarmaram
toda a sociedade, como apresentado neste trabalho, e depois que
ambientalistas tomaram a liderança e passaram a pressionar os governos,
levando em conta a preocupação com as gerações futuras.
Com o passar dos tempos, as áreas de meio ambiente, saúde e
segurança, passaram a ser vistas com maior interesse e atenção pelo
empresariado e pelos governos, além das organizações não-governamentais
(ONG) e organismos internacionais. Essas mudanças trouxeram novos
comportamentos, que denotam uma maior preocupação com a qualidade de
vida e sua relação com a meio ambiente (ABIQUIM, 2000a).
67
De acordo com o Congresso de Atuação Responsável, em 2001, o
Programa Atuação Responsável busca promover a excelência da indústria
química brasileira, de modo a garantir a sustentabilidade da sociedade da qual
faz parte, garantindo a segurança dos seus trabalhadores e dos seus
processos, zelando pela proteção ambiental e relacionando-se efetivamente
com as comunidades.
Segundo Schmidheiny (1992 apud Roos, 1999), o comprometimento da
indústria química com o meio ambiente segundo o Atuação Responsável é
expresso por intermédio das seguintes características:
Comprometimento formal de cada empresa signatária;
Implantação do programa, subsidiado por guias de práticas
gerenciais;
Gerenciamento do programa, por meio do desenvolvimento de
indicadores de desempenho;
Comunicação com diversas partes interessadas, especialmente as
externas;
Estabelecimento de fóruns específicos com o intuito de trocar
experiências entre as empresas signatárias, encorajando-as de
forma a participarem ativamente do programa.
Com as características apresentadas, o Projeto, no mundo e no Brasil,
tem alcançado alguns resultados importantes. Entretanto, existem algumas
controvérsias sobre sua total efetividade, principalmente no que diz respeito à
baixa participação da pequena e média empresa e, principalmente, na inserção
da educação ambiental nas suas práticas gerenciais, assunto a ser analisado a
seguir.
68
3.2. O Programa Responsible Care ® e seus resultados
Para muitos representantes do setor químico, os inúmeros acidentes
industriais registrados na década de 1980 tornaram evidente que era preciso
mostrar que o conjunto das empresas químicas estava comprometido com uma
nova postura de responsabilidade socioambiental, incluindo diminuição de
riscos para seus trabalhadores e para as comunidades e gerando produtos
ambientalmente seguros. Era preciso incentivar a adoção de uma ação
articulada voluntária, integrando países desenvolvidos e países em
desenvolvimento.
Para Mazurek (1998), particularmente no caso norte-americano, a visão
dos principais executivos do setor era de que se uma ação de impacto não
fosse realizada para melhorar a opinião pública em relação ao setor o resultado
seria maior regulação refletindo em maiores custos para operação e controle
de poluição nas unidades industriais. A resposta aos desafios colocados seria
desenvolver um programa mundial para o setor químico no campo
socioambiental.
Para atingir os objetivos, foram criados seis códigos de conduta que
contemplam: mecanismos de repasse das informações para a comunidade,
incluindo planos de emergência com a participação dos residentes próximos às
unidades; estratégias para implantar a prevenção da poluição; medidas para
garantir a segurança de processos e produtos; redução de riscos nas
atividades de armazenamento e transporte de produtos químicos;
procedimentos de segurança e saúde nas unidades industriais e
gerenciamento socioambiental do produto do início do processo produtivo à
disposição final (MAZUREK, 1998).
O Programa Atuação Responsável® apresenta-se como uma nova
forma das indústrias químicas conduzirem seus negócios, baseada em
compromissos éticos das empresas com a sociedade. Como afirmam seus
representantes, não se trata propriamente de um programa, mas sim de uma
mudança cultural na forma como a indústria química realiza seus negócios. Na
prática, busca melhorar a percepção do público em relação às formas de
gerenciamento das unidades químicas.
69
Para os representantes do setor, a iniciativa tem resultado em melhoria
significativa do desempenho socioambiental das unidades químicas. Destaca-
se a redução das emissões no ar, solo e água em 56% entre 1987 e 1993 nos
Estados Unidos; a redução em mais de 90% das emissões de dioxina,
mercúrio, chumbo e zinco em corpos d’água entre 1985 e 1996 na Noruega e
uma redução em 50 % nas taxas de acidentes em locais de trabalho entre 1980
e 1996 na França. Mesmo assim, é importante frisar que não há certeza se o
melhor desempenho ambiental está efetivamente conectado ao programa
Atuação Responsável® ou a outros fatores como o aumento do rigor na
legislação e a maior mobilização das comunidades (MAZUREK, 1998).
Já Johnson (1998) relata que a cooperação entre a indústria química e o
órgão ambiental nunca foi tão grande e que o programa Atuação
Responsável® está favorecendo uma mudança cultural, incrementado a
responsabilidade nas empresas. Também Mazurek (1998), reforça como ponto
bastante positivo do programa a comunicação com as comunidades próximas
às unidades industriais. Segundo o autor, este parece ser efetivamente o maior
êxito do programa até o presente momento. Pesquisas conduzidas com os
associados do programa Atuação Responsável® nos Estados Unidos
revelaram que 61% das indústrias acreditam que a iniciativa foi fundamental
para a aproximação e melhoria do diálogo com a comunidade. A exigência da
montagem de comitês formados por representantes das indústrias e das
comunidades locais tem propiciado uma modificação da percepção do risco,
uma vez que se estabelecem canais de comunicação diretos com os
representantes empresariais, possibilitando uma melhor compreensão do
processo industrial.
Pesquisas realizadas em localidades em que já funcionam estes comitês
também mostraram uma imagem melhor das empresas junto à população local
do que nas comunidades em que o programa não é conhecido. A opinião
favorável destas comunidades sobre as empresas vizinhas teria crescido de
44% em 1989 para 80% em 1994. Ainda assim, a melhoria da relação entre
empresas e comunidades não foi suficiente para reverter a péssima imagem
das empresas junto à totalidade da opinião pública, uma vez que os comitês
reúnem uma fração reduzida da população norte-americana. Além disso, é
70
importante ressaltar que a iniciativa dos comitês também é alvo de críticas por
parte dos grupos ambientalistas. Para eles, a falta de conhecimento técnico
dos representantes comunitários impede uma efetiva avaliação das
informações fornecidas pelas empresas, evitando dessa forma o
desenvolvimento de controvérsias e servindo como uma nova estratégia para
assegurar os interesses destas (MAZUREK, 1998).
Por fim, outro fator considerado importante pelos representantes do
programa Atuação Responsável® é que a iniciativa tem propiciado uma maior
troca de informações entre as empresas, permitindo melhor disseminação do
aprendizado entre seus associados e favorecendo um maior entendimento das
empresas da relação entre sua ação e seus reflexos sobre o meio ambiente. O
desenvolvimento do programa Atuação Responsável® também estaria gerando
como subproduto a melhor capacitação das empresas para a eventual adoção
de processos de certificação, como a ISO 14001, em função dos pontos
comuns existentes entre as duas iniciativas. A sistematização de dados para a
implementação dos códigos do programa contempla uma série de informações
necessárias para o processo de certificação da ISO, o que contribuiria para a
redução de custos e tempo associados a esta atividade para as empresas
(DEMAJOROVIC, 2003).
Apesar dos resultados positivos observados nos países desenvolvidos,
as grandes empresas do setor, convencidas de que a maior mobilização
ambientalista poderia afetar a indústria química como um todo, passaram a
exportar a ideologia de prevenção da poluição para suas subsidiárias em
diversos países. Johnson (1998) afirma que, embora o programa Atuação
71
Responsável® nos EUA não exija que o mesmo seja implementado nas
subsidiárias, empresas como Dow Chemical, Dupont, Monsanto e Union
Carbide relatam que os padrões determinados nas matrizes foram integrados
pelas subsidiárias a partir da década de 1990.
Por trás dessa nova política não está apenas a preocupação em
melhorar o desempenho ambiental das subsidiárias e reduzir as possibilidades
de acidentes. Johnson (1998) afirma que no discurso de segurança e ética
ambiental e da necessidade de padronização de procedimentos, há
importantes fatores comerciais envolvidos. O crescimento do setor químico dos
países em desenvolvimento, que não precisava respeitar padrões ambientais
tão rígidos, poderia se tornar uma grande desvantagem econômica para as
empresas nos países centrais. Nesse contexto, argumenta Johnson (1998), as
multinacionais querem estabelecer as mesmas regras do jogo para todos os
jogadores visando assegurar suas vantagens competitivas. Para tanto, é
necessário estabelecer uma harmonização de padrões ambientais em
diferentes países o que, além de garantir vantagens competitivas, cria
mercados para outros serviços.
3.3. O Atuação Responsável® e seus resultados no Brasil
Ainda que o problema de imagem das indústrias químicas e o aumento
da legislação ambiental fossem uma realidade no Brasil, a adoção do programa
teve de vencer uma série de resistências no país. Para diversos representantes
de empresas químicas, a questão da imagem pública do setor limitava-se às
corporações multinacionais, especialmente em seus países de origem.
Empresários nacionais também argumentavam que a iniciativa poderia atrair
ainda mais a atenção dos órgãos ambientais para o setor culminando em uma
legislação ambiental mais restritiva ou reduzir o grau de soberania das
empresas associadas na medida em que preconizava um programa uniforme a
ser implantado indistintamente por todos os associados. Nesse cenário, a ação
de empresas multinacionais que atuavam no Brasil foram fundamentais para
que o Atuação Responsável fosse colocado em prática.
72
A principal motivação para os gestores destas organizações era o medo
do avanço das regulamentações governamentais, como observado nos outros
países. No Brasil, o movimento ambiental estava crescendo e os líderes das
multinacionais estavam bem conscientes das suas potenciais conseqüências:
má reputação, aumento da intervenção governamental e dificuldades em
conseguir locais para novas instalações.
Em 1986, uma pesquisa conduzida pela Abiquim em várias cidades
brasileiras demonstrou que a maior parte dos entrevistados não confiava na
indústria química e pensava que o governo deveria exercer um controle muito
mais restritivo e com uma legislação muito mais rigorosa (JOHNSON, 2000).
Na expectativa de que as crescentes pressões públicas, em termos de
legislação vistas em outras partes do mundo, viessem para o Brasil mais rápido
e mais efetivamente, as multinacionais defendiam que o Atuação
Responsável® permitiria às empresas do setor ir além das regulamentações,
antecipando futuras demandas de órgãos públicos e da sociedade.
Em maio de 1992, o Atuação Responsável® foi oficialmente
estabelecido no Brasil com a participação de 50% dos associados da Abiquim.
Em 1993, a Abiquim tinha desenvolvido seis códigos de práticas (com guias e
checklists) para o Atuação Responsável®: Segurança de Processos;
Segurança e Saúde do Trabalhador; Transporte e Distribuição; Proteção
Ambiental; Resposta a Emergências e Diálogo com a Comunidade; e
Gerenciamento de Produto. Os códigos estavam disponíveis para
implementação em janeiro de 1994. Em março de 1996, guias dos códigos
foram publicados. A Abiquim decidiu por não reproduzir os códigos e as guias
de implantação do Responsible Care® e colocou ênfase em liderança,
participação do empregado e sistema de gestão.
Na época, os membros da Abiquim não eram obrigados a assinar o
compromisso com o Atuação Responsável® como no caso dos Estados Unidos
e Canadá e as pequenas e médias empresas eram as mais relutantes em
aderir à iniciativa. Embora as pesquisas mostrassem que muitas dessas
empresas concordavam que o programa tinha seu valor agregado, elas não
tinham recursos tecnológicos ou pessoal para operacionalizar o programa. Até
1998, o programa não foi obrigatório para os membros da Abiquim.
73
De 156 membros da Abiquim, 118, ou 75% assinaram o compromisso
com o Atuação Responsável®, em março de 1996. Esses 118 participantes
representavam mais de 90% das companhias líderes de mercado. Em 1997,
104 de 138 companhias químicas assinaram ou renovaram seu compromisso
com o Atuação Responsável® (JOHNSON,2000).
Segundo Roberts (1998), de 219 empresas químicas selecionadas em
uma pesquisa, somente 42 estavam realmente comprometidas com o Atuação
Responsável®. As empresas mais envolvidas com a iniciativa no Brasil eram
estrangeiras e gerenciadas muito profissionalmente. Normalmente eram
empresas de grande porte, com mais de 200 funcionários, com exportações no
nível de US$ 3 milhões por ano. Roberts descobriu que os não participantes
tendiam a ser empresas menores e nacionais. No entanto, nem um nem outro
tipo de empresas pareciam estar respondendo às fortes pressões dos
ambientalistas locais ou agências reguladoras.
Para Johnson (2000), o sucesso da implementação do Atuação
Responsável® no Brasil é difícil de avaliar. Uma das metas do programa é a
auto avaliação, não somente como meio de fazer um benchmarking ou verificar
sua posição para determinar onde se quer chegar, mas para dar evidência às
comunidades e governo de avanços progressivos. Os esforços da Abiquim em
trazer a tona essas avaliações como parte mandatória para os assinantes do
programa, não foi tão bem quanto era esperado. Enquanto em 1995, somente
74 de 103 companhias submeteram-se a avaliação, em outro processo de
avaliação, somente 19 companhias forneceram as informações solicitadas.
Em 1998, no entanto, a Abiquim informava que 70% dos seus 133
membros já haviam adotado o programa. Desse total, em 1999, 75% tinham
implementado o código segurança de processo, 50% o de prevenção à
poluição e transporte e distribuição, e 30% o de resposta às emergências e
gerenciamento de produto. As multinacionais americanas eram as mais
avançadas na implementação do programa.
Apesar da diferença do grau de comprometimento das empresas
nacionais e estrangeiras, diversos representantes empresariais do setor
mencionavam que o programa aumentava a comunicação e cooperação dentro
da indústria e mesmo com companhias fora da indústria. A troca de
74
informações entre as companhias era obrigatória para os membros do Atuação
Responsável®. As companhias buscavam informações que as auxiliariam a
sobreviver na transição para um mercado aberto, com uma competição mais
acirrada e mais altos padrões. Nesse contexto, percebia-se que ganhavam
mais trabalhando juntas e compartilhando informações do que competindo
intensamente.
Muitos executivos que participavam do programa acreditavam que as
práticas de gerenciamento ambiental poderiam contribuir para uma sólida
imagem pública, fazendo com que renovassem seus compromissos. De
qualquer modo, a participação no Atuação Responsável® não era mantida
especificamente para preservar o meio ambiente, nem para ganhar vantagem
competitiva. Embora houvesse exemplos de companhias lucrando com a
implementação de programas de reciclagem e redução de resíduos sólidos e
companhias quantitativamente demonstrando uma considerável redução de
custos com esses programas, menos de 50% das 104 companhias
participantes do Atuação Responsável® viam o tema ambiental como parte do
negócio.
A falta de credibilidade em que a prevenção à poluição se paga, fazia
com que o interesse pelo meio ambiente fosse limitado. Isso explica, em parte,
porque o Atuação Responsável® foi implementado tão lentamente no Brasil.
Apesar destas dificuldades, um dos principais resultados do programa tem sido
a construção de uma série histórica de diversos indicadores socioambientais
das empresas envolvidas na iniciativa. Na Figura 5 seguem alguns indicadores
divulgados pela Abiquim.
75
Gráfico 5: Indicadores do Atuação Responsável
Fonte: Abiquim 2006
76
As empresas químicas e petroquímicas consolidam e divulgam anualmente
esses indicadores. Semelhantes aos usados internacionalmente pela indústria
química ou por outros setores, visam facilitar o entendimento pelo público do
trabalho desenvolvido pela indústria química (ABIQUIM, 2005).
Para a Abiquim (2005), os indicadores revelam que, na maioria dos
casos, houve uma significativa melhoria no desempenho das empresas
associadas nas áreas de saúde, segurança e meio ambiente. Além disso,
indicam o crescimento de importância da consciência por parte do setor de se
reduzir as perdas provocadas por acidentes e pelo desperdício de recursos
naturais, utilizados como fontes de matérias-primas e de energia.
É importante mencionar que o Programa Atuação Responsável® passa
por um processo de revisão, que deverá ser concluído neste início de ano.
Alterações importantes estão sendo introduzidas, visando melhorar ainda mais
o desempenho em saúde, segurança e meio ambiente da cadeia produtiva da
Química. Além disso, estão sendo incorporadas, como parte do programa, a
gestão social e da qualidade, buscando a integração de outros aspectos que,
sem dúvida, contribuem para que as empresas tenham uma atuação
responsável alinhada ao princípio do desenvolvimento sustentável, o grande
desafio para toda a sociedade.
As razões principais para a revisão do Atuação Responsável® são as
seguintes :
Aprimorar o modelo e o conteúdo – o modelo atual tem se
mostrado muito complexo e burocrático. O desafio é melhorar a
gestão do produto de maneira mais efetiva;
A legislação brasileira e os acordos internacionais ligados às
atividades químicas cobrem práticas anteriormente voluntárias –
quando o Programa foi lançado apenas algumas práticas
gerenciais eram obrigatórias por lei, atualmente o numero
aproxima-se de 65%;
Diversas empresas já implantaram as práticas atuais – empresas
que já implantaram 100% das práticas estão buscando
alternativas para novas demandas internas e externas;
77
Revisão internacional do Responsible Care® – outras
associações, além do ICCA, já estão trabalhando o tema;
Aumentar o valor agregado do Atuação Responsável® para as
empresas associadas e sua integração com o negócio – o
Programa deve dar mais ênfase à quantificação de aspectos que
evidenciem valor para os negócios das empresas associadas.
Considerando o que foi apresentado, observa-se que a conjunção de
uma série de forças endógenas e exógenas está contribuindo para a
incorporação de preocupação socioambiental nas empresas químicas que
atuam no Brasil. Nenhum outro setor industrial no país apresenta uma ação
voluntária tão abrangente e integrada como a proposta do Atuação
Responsável. No entanto, apesar de bons resultados, no país e no mundo, a
iniciativa ainda é vista com ressalvas por um grande número de stakeholders.
3.4. Análise crítica do Atuação Responsável®
É certo que, depois de 30 anos de confronto, a política atual das
empresas do setor químico, pelo menos no discurso, pouco lembra o início dos
anos 1960. Para aumentar os lucros ou sobreviver, as próprias empresas
começaram a adotar um “socioambientalismo empresarial”. Esta nova posição
é caracterizada por pregar medidas voluntárias como a adoção do programa
Atuação Responsável®, priorizando a prevenção da poluição e a segurança
dos processos industriais. Não se pode esperar, no entanto, que este programa
provoque uma verdadeira revolução nas indústrias químicas, uma vez que, na
prática o setor parece disposto a fazer pequenas modificações na produção,
mantendo sua capacidade de gerar maiores quantidades de produtos e lucros.
Paralelamente, o foco é reverter sua imagem perante os stakeholders
principais como afirmou Brian Wastle, representante da CCPA, quando
questionado sobre se o programa canadense estaria revertendo a imagem
negativa do setor:
78
“(...) o programa contribuiu muito pouco para reverter a imagem
das empresas químicas canadenses junto à opinião pública (...)
mas não estamos muito preocupados com este fato, a ênfase é
melhorar a imagem junto ao público alvo: comunidade e
governo.” (3° CONGRESSO DE ATUAÇÃO RESPONSÁVEL®,
São Paulo, 1999, apud DEMAJOROVIC et al., 2006, p.108).
Para alcançar os objetivos propostos pelo programa, no entanto, a iniciativa
depende de que as práticas nas áreas de meio ambiente, saúde e segurança
se tornem uniformes ou semelhantes nos diversos países produtores, incluindo
os países em desenvolvimento. Concretamente, o programa Atuação
Responsável® constitui uma campanha de relações públicas integrada, uma
vez que favoreceu aproximação e cooperação entre competidores. Mas, acima
de tudo, o programa é a defesa de uma ideologia que procura eliminar as
contradições inerentes ao desenvolvimento do setor. Ressaltando a
importância da responsabilidade empresarial, divulga a idéia de que apenas as
empresas que incorporarem a abordagem de prevenção à poluição calcada na
preocupação com a qualidade ambiental, com a saúde ocupacional e com a
segurança industrial conseguirão sobreviver no novo contexto. O ponto
nevrálgico desta ideologia, porém, concebe como contexto ideal para as
empresas uma política voluntária das organizações para prevenção da poluição
aliada a uma menor intervenção estatal, como pode ser observado em relatório
produzido pelo ICCA em 1999:
“Talvez a conquista recente mais notável da indústria química
japonesa englobe um dos principais objetivos do programa
Atuação Responsável® - melhoria voluntária do desempenho
das operações químicas nas áreas de saúde, segurança e
meio ambiente. Em abril de 1997, a lei japonesa de controle de
poluição foi revista, estipulando que as emissões de 12
substâncias químicas estarão sujeitas aos esforços de redução
voluntária das próprias empresas nos próximos três anos. Os
resultados apurados até o momento indicam que a emissão
das 12 substâncias foi reduzida
quando comparada ao ano
base de 1995 e que, no final de 1998, estas já haviam
superado as metas propostas: aldeído acético (redução de
47% contra a meta de 30%); 1,2 dicloroetano (redução de
43,8% contra a meta de 30%); diclorometano (redução de
22,1% contra a meta de 20%); e formaldeído (redução de 63%
contra uma meta de 30%).” (ICCA, 1999: 03 apud
DEMAJOROVIC et al., 2006, p.105).
79
Talvez o maior problema do programa ou sua fragilidade perante a
opinião pública esteja na forma escolhida para sua avaliação. Como se trata de
um programa voluntário, o Atuação Responsável® não impõe objetivos
quantitativos para a redução da poluição ou prazos para que determinados
tipos de emissão cessem ou diminuam. Seu critério de desempenho é a
verificação da implementação dos códigos referentes aos sistemas de gestão
por parte dos associados nos diferentes países.
No 3° Congresso Internacional de Atuação Responsável®, realizado no
mês de setembro de 1999 em São Paulo, Kin Loughran, editor da Tomorrow
Magazine, fez uma análise crítica do programa apontando sua baixa
credibilidade.
Segundo Loughran, a grande flexibilidade do programa – em muitos
países os integrantes das associações químicas não são obrigados a participar
da iniciativa –, e a excessiva benevolência das associações e empresas
químicas em relação à ação dos “bad guys” do setor impedem que o programa
ganhe maior visibilidade e respeito fora do mundo químico.
A resistência de algumas empresas associadas à iniciativa em admitir
erros cometidos como a Solvay Indupa do Brasil, no caso da cal contaminada
por dioxinas, ou a Rhône-Poulenc, grupo controlador da Rhodia, que negou ter
contaminado águas subterrâneas na Suíça, ou ainda a Monsanto, envolvida na
polêmica dos transgênicos, foram alguns dos exemplos citados que dificultam a
reversão da imagem do setor. Como afirma Loughran, “(...) é impossível vender
o Atuação Responsável® como um programa em que todos podem ser
vencedores”.
Os críticos também apontam a ausência de transparência do trabalho
realizado pelo programa Atuação Responsável®. Nos Estados Unidos, os
códigos de conduta são apresentados a um conselho composto por um
representante do Corpo de Bombeiros, um fazendeiro, um médico e um
morador que residam na proximidade de uma unidade produtiva. Entretanto,
grupos ambientalistas, sindicatos e representantes de órgãos públicos estão
ausentes. A exclusão destes grupos no desenvolvimento dos códigos é
justificada pelo CMA como uma necessidade de preservar a autonomia do
programa e mantê-lo atrativo para seus associados (MAZUREK, 1998).
80
Para críticos mais contundentes como os grupos ambientalistas
influentes Greenpeace e Friends of Earth, a iniciativa pode ser comparada a
uma tentativa de colocar a “raposa para cuidar do galinheiro”. Quem coordena
o programa em nível mundial e local são instituições criadas pelas indústrias
químicas, alinhadas com suas posições (MAZUREK, 1998).
Cientes dos problemas de credibilidade do programa, algumas
associações, como a norte-americana, a canadense e a australiana (países
onde a descrença na iniciativa é maior), estão desenvolvendo um sistema
alternativo de verificação por terceiros. Estas estratégias procuram ir além da
opção recomendada pelo programa que se restringe à montagem de um
sistema de indicadores de desempenho a partir de respostas voluntárias das
empresas para os questionários elaborados pelas próprias associações.
No Canadá, por exemplo, a verificação por terceiros é obrigatória para
toda empresa que afirma ter implementado o programa Atuação Responsável®
em sua totalidade. A auditoria é realizada por um grupo formado por dois
especialistas industriais, um membro do Comitê Nacional da CCPA e um
residente da localidade onde está instalada a unidade produtiva. O grupo
entrevista gerentes, trabalhadores, vizinhos, clientes e distribuidores com o
objetivo de verificar se todos os códigos foram efetivamente implementados
(ICCA, 1999 apud DEMAJOROVIC et al., 2006).
Segundo relatório publicado pelo ICCA, a maioria das empresas
canadenses associadas ao programa Atuação Responsável® realizou esta
atividade, sendo que, dos 1.500 dados coletados pelos diferentes grupos, cerca
da metade atesta o excelente desempenho das empresas nos sistemas de
gerenciamento, especialmente no que concerne à prevenção da poluição. A
metade das informações levantadas corresponde a sugestões para melhoria da
conscientização dos trabalhadores e da comunicação com a comunidade,
particularmente no que se refere às medidas preventivas no caso de acidentes
químicos ampliados. É importante notar que, também neste caso, a auditoria se
limita a avaliar a implementação dos códigos e não os dados quantitativos de
poluição ou substituição de produtos considerados perigosos.
Já nos Estados Unidos, com um sistema de verificação por terceiros
semelhante ao canadense, a iniciativa enfrenta maior resistência por parte das
empresas. Muitos associados temem que os indicadores disponibilizados para
81
o público possam ser utilizados pelos órgãos ambientais ou organizações não
governamentais como instrumentos para aumentar ainda mais a legislação.
Assim, a auditoria externa não é obrigatória para seus membros, sendo que as
informações são tratadas como propriedade das indústrias, que têm poder de
decisão sobre sua disponibilização. Ou seja, esta ferramenta, que teria como
objetivo inicial permitir a verificação do desempenho ambiental das
organizações e disseminar estas informações, transformou-se apenas em
instrumento de aprendizado e disseminação do conhecimento restrito aos
próprios associados. Interessante notar que, mesmo com a garantia de sigilo
das informações, somente 50 empresas das 193 associadas ao CMA
realizaram esta auditoria externa (ICCA, 1999 apud DEMAJOROVIC et al.,
2006).
Outra medida tomada por representantes do programa Atuação
Responsável® para aumentar sua credibilidade foi a maior integração com
outros atores sociais. Em diversos países, as associações estão
incrementando seus contatos com organizações sindicais e governamentais.
Em que pese estas iniciativas, o grande desafio, ressaltado em vários
discursos durante a realização do evento no Brasil, continua sendo a ampliação
da credibilidade do programa junto aos grupos organizados e tradicionalmente
céticos frente ao novo discurso socioambiental das indústrias químicas, como
reconhece o próprio ICCA:
“O baixo nível de confiança da população em relação ao setor
químico, apesar dos esforços feitos para aumentar o
desempenho e melhorar o conhecimento e a confiança do
público em relação à indústria, continua a ser a principal
preocupação.” (ICCA, 1999:04 apud DEMAJOROVIC et al.,
2006, p.100).
A mais recente pesquisa feita em nível mundial sobre a percepção dos
stakeholders em relação ao Responsible Care
®
confirma este diagnóstico. Em
2004, a organização não-governamental Sustainability realizou 40 entrevistas,
com múltiplos stakeholders da indústria química, incluindo acadêmicos,
82
gestores públicos, grupos comunitários, organizações multilaterais e
consumidores, localizados nos Estados Unidos, Europa, Ásia, África e América
Latina.
Entre os principais resultados da pesquisa destaca-se a distância entre o
que o setor entende que avançou nas áreas de meio ambiente e segurança e a
percepção dos stakeholders externos sobre a iniciativa.
“O Atuação Responsável® contribuiu significativamente para
melhorar o desempenho ambiental e social da indústria
química desde sua implementação há duas décadas. No
entanto, do grande esforço por parte da indústria para
publicizar o sucesso da iniciativa, o Atuação Responsável®
permanece praticamente desconhecida da opinião pública e
freqüentemente é criticado por aqueles que o conhecem”
(SUSTAINABILITY, 2004:07, p.07).
Para a maior parte dos entrevistados a comunicação feita pela indústria
química é sempre reativa, associada a situações de emergência e entendida
muito como uma campanha de relações públicas e de marketing. Há uma
percepção geral que a indústria sabe muito mais do que está disposta a
compartilhar com a opinião pública e que os testes feitos em produtos são
muito menos rigorosos do que deveriam ser, pelo próprio temor das empresas
de ter de lidar com os resultados destes testes.
Um ponto importante da pesquisa é que há um consenso em relação à
importância da combinação da regulamentação e de iniciativas voluntárias por
parte da empresas para a melhoria socioambiental das empresas. No entanto,
face ao histórico da atuação do setor, a legislação é vista ainda como um
instrumento mais relevante. Para a maior parte dos entrevistados, a eficiência
das ações voluntárias como no caso do Atuação Responsável® dependeria
diretamente da disposição do setor em aumentar a transparência, implementar
a verificação por terceiros e estabelecer indicadores para o setor como um
todo, objetivos e prazos para a melhoria do desempenho.
Se, efetivamente, não é possível perceber qualquer alteração positiva da
opinião pública ou identificar a real contribuição do programa para a melhoria
do desempenho socioambiental, alguns aspectos positivos decorrem
claramente da implantação desta iniciativa.
Nos Estados Unidos, por exemplo, onde os grupos ambientalistas se
mostram céticos em relação ao programa, afirmando que mudanças mais
83
significativas seriam necessárias para reverter os problemas referentes aos
resíduos tóxicos, a iniciativa tem favorecido a relação entre as empresas e o
órgão regulador e, especialmente, as comunidades locais.
No Brasil, alguns resultados do programa, segundo Johnson (2000), são
bastante significativos. O Atuação Responsável® ajudou a melhorar as
relações entre Abiquim e o governo. As agências ambientais reconhecem o
comprometimento das empresas participantes em implementar efetivamente as
atividades inerentes ao programa. O programa tem demonstrado ser eficaz no
que diz respeito ao gerenciamento ambiental, sob amplo espectro, incluindo
segurança nas instalações, processos e produtos, saúde ocupacional de seus
trabalhadores e proteção ambiental, internamente e ao longo da cadeia
produtiva.
Como se apóia na melhoria do desempenho, o diálogo com a
comunidade e com a sociedade tem se tornado muito mais transparentes,
contribuindo para as relações entre empresa e comunidade. Esse esforço
reforça o conceito de credibilidade da indústria química em geral.
No entanto, é importante mencionar que há uma grande resistência por
parte dos associados, principalmente, pequenas e médias empresas, em
realizar investimentos na área ambiental, diálogo com a comunidade e
disponibilizar seus dados. Quanto a esse aspecto, somente as grandes
empresas mantém atividades formando os CCC – Conselhos Comunitários
Consultivos, nas comunidades onde atuam, principalmente pólos
petroquímicos.
Além disso, os próprios indicadores disponibilizados pela Abiquim
evidenciam os resultados e limites da iniciativa. Os indicadores apresentados
neste trabalho mostram claramente um avanço no que se refere ao
desempenho nas áreas de segurança do trabalho e ecoeficiência. Nesse
sentido destacam-se a redução da freqüência de acidentes e redução da taxa
de mortalidade observada nas empresas associadas. Além disso, a redução do
consumo de gás natural, da utilização de água e do volume de efluentes
lançados, indicam que as empresas participantes da iniciativa têm conseguido
racionalizar o uso de recursos naturais por unidade produzida. Ainda assim, os
84
indicadores mostram como ainda são tímidas as iniciativas nas áreas de reuso
de água e emprego de energia renovável. Trata-se de duas áreas de
importância vital na busca da sustentabilidade das organizações empresariais.
Para alcançar isto, contudo, há que se buscar ir além de mudanças
incrementais de melhorias nos processos que resultem em indicadores de
ecoeficiência mais positivos. O compromisso da sustentabilidade depende de
inovação e em tecnologias alternativas que evidenciem que as empresas
químicas alcancem um novo patamar no que se refere à busca pela
sustentabilidade.
Por fim, ressalva-se que programas voluntários como o Atuação
Responsável®, embora representem um grande avanço do setor e benefícios
tangíveis para a sociedade, ainda possuem pontos que deixam a desejar, como
a transparência de dados e resultados das empresas. São questões que
desafiam tais iniciativas a se legitimar perante a opinião pública de forma que a
sociedade reconheça que efetivamente as empresas encontram-se em um
novo patamar em relação à sua responsabilidade socioambiental.
Em função destas constatações, o programa vem sendo reestruturado,
para que sejam feitas verificações por publico externo, além das auto-
avaliações. Esperamos que a nova revisão do programa que foi elaborada e
está sendo implementada pela Abiquim contemple estas lacunas, no sentido de
aperfeiçoar o desempenho e os resultados esperados para os indicadores
estabelecidos para o setor.
3.5. Verificação do Programa Atuação Responsavel®
Nos últimos anos, as empresas signatárias do Programa Atuação
Responsável passaram a se comprometer formalmente a cumprir as metas
anuais de implantação do programa, por meio de assinatura de um termo de
adesão, por um representante da alta gestão da empresa associada.
As empresas signatárias vêm promovendo a evolução de melhoria
contínua de seus respectivos sistemas de gerenciamento de meio ambiente e a
avaliação dos resultados, mediante a adoção de indicadores de desempenho.
85
Durante os 10 anos de existência do Programa Atuação Responsável, as
empresas signatárias têm a cada ano encaminhado à Abiquim a consolidação
desses indicadores, atestando a evolução do programa, bem como o
cumprimento das metas estabelecidas.
Recentemente, surgiu o processo “Verificar”. Trata-se de um processo
de avaliação do Programa Atuação Responsável, coordenado pela Abiquim, e
abrange as empresas signatárias, que decidem voluntariamente abrir suas
portas para verificadores de terceira parte. O termo profissional verificador foi
adotado pela Abiquim, no intuito de salientar, para as empresas associadas,
que este processo se restringe apenas à verificação da implantação dos
códigos, não possui cunho de um trabalho de auditoria formal. Segundo
critérios estabelecidos pela Abiquim, integram a equipe de verificadores
representantes oriundos dos seguintes segmentos: empresas associadas,
conselhos comunitários consultivos e órgão certificador independente.
3.6. A nova visão do Programa Atuação Responsavel: Revisar e
Adicionar
A revisão do Programa Atuação Responsável foi recentemente
concluída e começa a ser implementada por todos os seus signatários, no
sentido de adequar suas práticas gerenciais com as necessidades da realidade
atual. Nas reuniões das comissões técnicas da Abiquim, foram discutidos os
conceitos e diretrizes contempladas nos princípios diretivos do programa que
estavam sendo considerados defasados em relação aos modelos atualmente
praticados pelas empresas associadas. Gradualmente começaram a aparecer
dúvidas e receios não mais ligados às operações e processos de fabricação,
mas também aos próprios produtos químicos, mais especificamente ao seus
ciclos de vida.
Na primeira década do Programa, a Abiquim juntamente com as
empresas signatárias desenvolveram o Programa Atuação Responsável com o
foco voltado para as atividades industriais e para os processos internos
86
voltados à saúde, segurança e meio ambiente, sem perder de vista os cuidados
com os produtos.
As empresas associadas passaram a adotar novas dimensões
sinérgicas com as áreas de saúde, segurança e meio ambiente, não cobertas
pelo Programa Atuação Responsável. Pode-se destacar, a titulo de exemplo, a
gestão da qualidade como parte integrante dos principais processos das
grandes organizações, interagindo plenamente com as áreas de segurança,
saúde e meio ambiente.
Diferente da estratégia adotada na década de 1990, na ocasião de
lançamento do programa, a Abiquim iniciou sua revisão, com intensa
participação das associadas e de outras partes interessadas, conforme
enfatizado no VII Congresso do Atuação Responsável (CONGRESSO DE
ATUAÇÃO RESPONSAVEL, 2003).
Como destaque, cita-se o envolvimento dos sindicatos de classe, como
formadores de opinião, para a busca da excelência na revisão do programa.
A revisão do Programa Atuação Responsável estabelece a visão do
programa voltada a gestão sustentável dos seus negócios. A missão do
programa, por sua vez, está voltada a sustentabilidade econômica, ambiental e
social da indústria química brasileira e de sua cadeia de valor, bem como a
permanente melhoria da qualidade de vida da sociedade. Esta visão privilegia a
responsabilidade social, cujos valores abrangem o respeito aos indivíduos e à
sociedade, a transparência, a cooperação, o aprendizado e a inovação.
Nos Estados Unidos, a instituição denominada American Chemistry
Council (ACC) elaborou a revisão estratégica do programa, visando atender as
três prioridades (KOS, 2003):
Aumentar o valor agregado e a integração do negócio;
Melhorar o desempenho;
Estender a abrangência da iniciativa, com foco voltado a gestão
global de produtos químicos e ao próprio desenvolvimento
sustentável.
Quanto à visão do futuro, pode-se dizer que haverá no programa uma
mudança de foco, que antes era voltada para as operações tornar-se-á dirigido
principalmente para os produtos. Ainda será melhorada a sua estrutura,
considerada pelos usuários segmentada e repetitiva, para torná-la mais
87
integrada e direta. As práticas que atualmente estão dispostas em códigos
“verticais”, divididos por temas, passarão a estar dispostas horizontalmente,
divididas por processo. Se o programa tem sido considerado de difícil
visualização e integração com outros sistemas de gestão, passará a ter um
modelo alinhado e fácil de integrar-se com os modelos de gestão já existentes
e implantados.
A Abiquim tem ressaltado nessa revisão a inclusão de temas atuais e
que agregam valor a gestão do negócio, ligados à qualidade, responsabilidade
social e proteção corporativa são a tônica da revisão.
O ICCA cita que dentre as características do Responsible Care:
“Através do Responsible Care, as indústrias químicas estão
comprometidas com todos os aspectos de segurança, saúde
ocupacional e meio ambiente, a buscar a melhoria contínua de
desempenho, a educar todo o seu efetivo e a trabalhar com
seus fornecedores e comunidades no que se relacione com o
uso de seus produtos(...)” (ICCA, 1992, p.02).
Apesar de ser citado, nos Códigos de Práticas Gerenciais não há
menção específica sobre um programa de educação ambiental estruturado de
modo a possibilitar a formação de seu efetivo no seu meio ambiente. Os
objetivos relativos aos Códigos de Práticas do Atuação Responsável não
deixam evidências de que podem ser suficientes para uma conscientização e
educação ambiental consistentes, visto que são voltados especificamente ao
controle das operações internas da organização e seus impactos.
Apesar de alguns aspectos positivos do Programa Atuação
Responsável, há que se considerar que as informações coletadas para
informação geral e conscientização dos funcionários e comunidades não
representam a maioria do setor e, segundo dados da própria Abiquim (2003),
apenas 65 empresas fizeram a divulgação dos questionários enviados pelo
órgão. Além disso, como não existem séries históricas, não é possível
estabelecer uma tendência do comportamento das empresas quanto às suas
88
emissões e consumo energético. Finalmente, as informações são geralmente
apresentadas de forma global, impedindo que os funcionários e a sociedade
consigam perceber a contribuição dos impactos ambientais de suas empresas
e de outras do setor – como é usual nos países desenvolvidos.
Essa falta de divulgação, de conhecimento e de uma discussão mais
aprofundada sobre Educação Ambiental não se limita ao Atuação Responsável.
Isto pode ser também observado no sistema de gestão ISO 14001.
A partir dos dados e informações apresentadas, verifica-se que o
programa apresenta uma série de resultados positivos, mas também
limitações.
Nesse contexto, é importante que o programa não deixe a questão do
papel da Educação Ambiental para segundo plano devido a sua importância
econômica e socioambiental.
Certamente, uma iniciativa como esta poderia se beneficiar a partir da
incorporação à uma visão estratégica em relação a questão da Educação
Ambiental. No entanto, é necessário discutir quais seriam as principais
características desse processo de educação.
O máximo que o programa enfatiza atualmente é o treinamento para o
entendimento e aplicação de suas práticas gerencias inseridas nos Códigos do
Atuação Responsável, e isto não é suficiente para um modelo sustentável.
89
4. EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS EMPRESAS: CONCEITUAÇÃO E
ABRANGÊNCIA
Souza Vieira (2004) afirma que a educação ambiental que tem como
área de abrangência a escola é denominada educação ambiental formal. Trata-
se de um processo educativo institucionalizado, que envolve o ensino do
fundamental ao superior.
Mas a educação ambiental pode ocorrer fora do âmbito da estrutura
formal de ensino. Por educação ambiental não formal entendem-se aquelas
atividades que não tem comprometimento com a escolarização, desvinculadas
ou não do poder oficial de ensino e, segundo Seara Filho (1987), que têm
flexibilidade de métodos e conteúdos programáticos.
São abundantes os locais para o exercício da educação ambiental não
formal: comunidades, fazendas, bairros, escolas, fabricas, indústrias, etc. A
educação ambiental não formal geralmente tem os adultos como público-alvo.
“Daí ela ser chamada normalmente de educação permanente, desde que não
se trate daquela educação de adultos que acontece na escola” (SEARA FILHO,
1987).
Deve-se considerar que muitos desses destinatários podem ser
analfabetos ou semi-analfabetos e que fazem parte da força produtiva desse
país: conforme detalhado por
“O trabalho de educação de adultos é, a meu critério, o mais
decisivo. Primeiro, porque esse setor – que está fora dos
canais da educação normal – se manterá como o que toma as
decisões durante os próximos 15 ou 20 anos e será,
precisamente neste lapso de tempo, quando tais decisões
deverão tornar-se as mais críticas e perturbadoras. (…) Não
podemos nos dar ao luxo de nos ocuparmos unicamente de
jovens e desejar que as gerações mais maduras desapareçam,
antes de virar o rumo. Se o tempo permitir, seria talvez essa a
maneira mais eficaz de se transformar as coisas, pois custa
mais se atingir aos mais velhos que, por natureza, são
resistentes a aceitar mudanças em seu estilo de vida”
(EMMELIN, 1977, p.201-216).
90
Castro Neto (1991 apud MATOS E SCHALCH, 1997) comenta a
importância da educação ambiental no ambiente de trabalho e fora dele:
“Informação e treinamento fornecem as bases para a colaboração e para a
difusão deste conceito no campo ambiental”.
Colaborando para um melhor entendimento deste conceito, a Agenda 21
e a norma ISO 14001 detalham um pouco mais o papel da educação para uma
gestão ambiental mais responsável.
4.1. Educação ambiental segundo a Agenda 21 e a Lei 9795/1999
Continuando com Souza Vieira (2004) outro documento importante que
fornece subsídio teórico para a educação ambiental de trabalhadores é a
Agenda 21. Esse documento foi assinado durante a Segunda Conferência das
Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, ECO-
92, realizada no Rio de Janeiro em 1992.
Oliveira et al. (s.d.) salientam:
“Cumpre destacar a assinatura da Agenda 21, que é um
instrumento de interferência nas políticas, mediante
planejamento estratégico, com o envolvimento da sociedade
civil, das instituições públicas e privadas e das organizações
não governamentais.” (p.07).
Nesse documento, o capítulo 36, intitulado “Promovendo a educação, a
conscientização publica e o treinamento”, descreve três áreas programa: a área
Programa A é denominada “Reorientando a educação para o desenvolvimento
sustentável”; a área B intitula-se “Fortalecendo a conscientização ambiental”; e
a área C é denominada “Promovendo o treinamento”.
91
Essas três áreas devem estar intensamente presentes em um programa
de educação ambiental empresarial, porém, alguns itens na área C merecem
destaque especial. Como no caso do item 36.12, em que se menciona:
“O treinamento é um dos instrumentos mais importantes para
desenvolver recursos humanos e facilitar a transição para um
mundo mais sustentável. Deve haver um foco em uma
profissão específica, dirigido para suprir a falta de
conhecimento e despertar uma habilidade que ajude indivíduos
a acharem um emprego a serem envolvidos em trabalho de
meio ambiente e desenvolvimento. Ao mesmo tempo,
programas de treinamento devem promover uma maior
conscientização sobre assuntos de meio ambiente e
desenvolvimento como um processo de mão dupla.”
Dentro dessa mesma área programa, o item 36.17, também merece
destaque:
“Os países devem incentivar todos os setores da sociedade
(tais como indústria, universidades, oficiais de governo e
empregados, organizações não governamentais e
organizações comunitárias) a incluir um componente de
gerenciamento ambiental em todas as atividades relevantes de
treinamento, com ênfase no atendimento aos requisitos
imediatos de habilidade através de treinamento formal de curta
duração, treinamento vocacional e gerencial na indústria. A
capacidade de treinamento em gerenciamento ambiental deve
ser reforçada e programas especializados de treinamento de
instrutores devem ser estabelecidos, para dar suporte ao
treinamento nos níveis nacional e empresarial. Novas
abordagens de treinamento, para as práticas ambientalmente
corretas já existentes, devem ser desenvolvidas. Essas novas
abordagens é que irão criar oportunidades de emprego e
maximizar o uso de métodos com base nos recursos locais”.
Ainda nessa área, está escrito no item 36.26:
“O sistema das Nações Unidas, convenientemente, deverá
estender seus programas de treinamento, particularmente seu
treinamento ambiental e atividades de apoio aos empregados e
trabalhadores de organizações”.
92
Para completar o assunto, a Agenda 21 dá a seguinte definição de
educação ambiental:
“Educação, incluindo educação formal, conscientização pública
e treinamento deveriam ser reconhecidos como um processo,
através do qual os seres humanos e sociedades podem
alcançar seu potencial máximo. Educação é crucial para
promover o desenvolvimento sustentável e melhorar a
capacidade das pessoas em lidar com as questões de meio
ambiente e desenvolvimento, enquanto a educação básica
fornece o suporte para qualquer educação ambiental, que
necessita ser incorporada como parte essencial da
aprendizagem. Ambas, a educação formal e não formal, são
indispensáveis para mudar as atitudes das pessoas, que se
tornam capazes de acessar e direcionar questões sobre
desenvolvimento sustentável. É também crucial, para se atingir
a conscientização ética e ambiental, valores e atitudes,
habilidades e comportamento coerente com o desenvolvimento
sustentável e para a participação pública no processo de
tomada de decisão. Para ser efetiva, para o desenvolvimento, a
educação ambiental deveria lidar com as dinâmicas físicas e
biológicas e do meio socioeconômico e do desenvolvimento
humano (que pode incluir o espiritual). Integrada a todas as
disciplinas, deveria empregar métodos formais e não formais e
meios de comunicação efetivos”. (Agenda XXI, Capítulo 36).
A Lei 9795, de 27 de abril de 1999, dispõe sobre a educação ambiental,
institui a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA) e dá outras
providências. Regulamentada apenas pelo Decreto 4281, de 25 de junho de
2002, essa Lei em seu artigo 3°, inciso V, estabelece que o objetivo da
educação ambiental em empresas é “promover programas destinados à
capacitação dos trabalhadores, visando à melhoria e ao controle efetivo sobre
o ambiente de trabalho, bem como sobre as repercussões do processo
produtivo.”
O Ministério do Meio Ambiente – MMA, por meio de sua Diretoria de
Educação Ambiental, vem empreendendo relevante esforço para incentivar o
cumprimento da lei supracitada.
Dados pesquisados pelo Ministério do Meio Ambiente em 1997, cujos
resultados foram compilados no Relatório Nacional de Projetos de Educação
Ambiental, informam que os projetos de educação ambiental tem tido como
93
principais parceiros prefeituras municipais, com um índice de 28,2%. Informa
ainda que as universidades, públicas ou privadas, apresentam um percentual
de parceria de 13%, enquanto os parceiros governamentais em nível federal e
estadual têm uma participação de 13,7%. Mas, no caso específico de
empresas, o percentual de parcerias em projetos de educação ambiental é de
apenas 3,6%. A participação das empresas, ainda que relativamente pequena,
mostra uma tendência interessante que reforça o envolvimento da sociedade
nas preocupações ambientais.
Uma das principais dificuldades encontradas na elaboração e execução
de projetos de educação ambiental, além de causa prioritária da interrupção de
projetos na área, seja a falta de recursos financeiros (Relatório Nacional de
Projetos de Educação Ambiental – MMA/1997). Entretanto, no caso das
empresas, principalmente as do setor químico e petroquímico, a falta de
recursos financeiros não é o principal obstáculo.
Segundo Souza Vieira (2004), são poucos os projetos na área de meio
ambiente que trabalham o tema da educação ambiental e raríssimos são,
embora extremamente necessários, os projetos de pesquisa em educação
ambiental aplicada a Engenharia Ambiental. Destacam-se alguns poucos
projetos de educação ambiental aplicados à gestão dos resíduos sólidos
urbanos com ênfase na educação ambiental pró-reciclagem.
A referida publicação do MMA (1997: 10) relata que 58,3% das
atividades de educação ambiental constituem o eixo principal dos projetos
pesquisados. No restante, 41,7%, o eixo principal das atividades pesquisadas
não é a educação ambiental, mas atividades de desenvolvimento sustentável
que contemplam preservação de ecossistemas, problemas da realidade local e
questões referentes aos resíduos sólidos e sua reciclagem.
No que se refere mais especificamente as empresas, a ISO 14001 no
seu item 4.4.2 é o que tem mais contribuído para a discussão em torno da
educação ambiental no ambiente de trabalho.
94
4.2. A visão da educação ambiental a partir da Norma ISO 14001
De acordo com Souza Vieira (2004), existem vários conceitos para o
entendimento da educação ambiental. A mais difundida entre elas é a que
integra o texto da lei federal que dispõe sobre a educação ambiental, a qual
institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências, a
saber:
“Entende-se por educação ambiental os processos por meio
dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores
sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências
voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso
comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua
sustentabilidade.” (
Lei 9795/1999).
A atuação ambiental tem um amplo espectro de atuação. Em Medina
(2000), o conceito de educação ambiental é enriquecido e detalhado com muita
clareza. Segundo essa educadora, “(...) não se trata somente de ensinar a
natureza, e sim de educar “para” e “com” a natureza, para compreender e agir
corretamente diante dos grandes problemas das relações humanas com o
ambiente”.
A educação ambiental tem uma vasta gama de atuação, mas, no âmbito
industrial, tem-se restringido ao treinamento ambiental aplicado ao atendimento
das normas verdes.
O treinamento para o meio ambiente aborda temas diretamente
vinculados à execução das tarefas dos empregados. Trabalha-se o conteúdo
da Ecologia Industrial numa perspectiva aplicada à missão individual dos
operadores.
Pode-se dizer que a conscientização ambiental chegou efetivamente às
empresas pela Norma BS 7750, publicada pela primeira vez em Junho de 1992
95
e revisada em 1994. Essa norma, que foi cancelada a partir de 1997, era
utilizada na especificação de sistemas de gerenciamento ambiental. A Norma
ISO 14001 é oriunda da citada norma britânica BS 7750.
McCallum e Fredericks (1995) comentam que a ISO 14001 é menos
restritiva que a BS 7750 em relação às melhorias contínuas, requisitos de
auditoria e outros itens relacionados direta ou indiretamente à performance
ambiental. Em 1995, foi apresentado o esboço da Norma ISO/DIS 14001 e, no
ano seguinte, foram publicados os cinco primeiros padrões da série ISO 14001.
Este trabalho também encontra respaldo, de maneira mais prática, ou seja,
conforme as leis de mercado, nas ditas “normas verdes” de gerenciamento
ambiental, as Normas ISO 14001 e ISO 14004, de implantação de sistema de
gerenciamento ambiental em empresas (SGA).
Nunes e Baasch (1998) comentam a importância da educação ambiental
quando da implantação de um sistema de gerenciamento ambiental (SGA) com
base na Norma ISO 14001. As autoras esclarecem que a citada norma
recomenda que a educação ambiental em empresa assuma o aspecto de
educação permanente. Explicam que os programas de educação ambiental nas
empresas, constituídos de palestras, seminários e cursos de treinamento, cujo
objetivo é criar consciência, conhecimento tecnológico e econômico, no
entanto, a metodologia é um componente fundamental para o êxito dos
programas de conscientização ambiental em empresas. As autoras enfatizam
que devem ser adotadas metodologias pró-ativas e não apenas de assimilação
de conhecimento e distanciamento do mundo real. Propõem as modalidades
didáticas: solução de problemas, discussão em grupos, discussão de textos,
jogos e simulações. Salientam que a participação é um comportamento chave
para a educação ambiental.
A ISO 14001 direciona grande importância para os clientes externos e
em seu requisito 4.4.2, trata do treinamento, conscientização e competência:
“A organização deve identificar as necessidades de
treinamento. Ela deve determinar que todo o pessoal, cujas
tarefas possam criar um impacto significativo sobre o meio
ambiente, receba treinamento apropriado.
96
A organização deve estabelecer e manter procedimentos que
façam com que seus empregados ou membros, em cada nível
e função pertinente, estejam conscientes:
a) Da importância da conformidade com a política
ambiental, procedimentos e requisitos dos sistemas de gestão
da qualidade;
b) Dos impactos ambientais significativos, reais ou
potenciais, de suas atividades e dos benefícios ap meio
ambiente resultantes da melhoria do seu desempenho pessoal;
c) De suas funções e responsabilidades em atingir a
conformidade com a política ambiental, procedimentos e
requisitos do sistema de gestão ambiental, inclusive os
requisitos de preparação e atendimento a emergências;
d) Das potenciais conseqüências da inobservância de
procedimentos operacionais especificados.
O pessoal que executa tarefas que possam causar impactos
ambientais significativos deve ser competente, com base em
educação, treinamento e/ou experiência apropriados“ (p.15).
Dessa forma, a norma estabelece claramente que, além de treinadas, as
pessoas que trabalham para uma organização devem ser conscientizadas, ou
seja, devem agir não apenas para cumprir padrões estabelecidos, mas devem
ter as questões ambientais como objetivo de vida, buscando sempre a melhoria
contínua.
As necessidades de treinamento, que embasarão a formação dessa
conscientização ambiental, são estabelecidas pelo levantamento de aspectos e
impactos ambientais da atividade em questão. Ou seja, o treinamento deve ser
visto como uma atividade de prevenção à ocorrência de determinado risco
identificado. Entretanto, a disponibilidade, apenas de treinamento e de
informação, não é capaz de criar uma consciência ambiental numa
organização. Para isto é necessário que se invista nos seguintes itens:
A liderança da organização deve estar altamente comprometida com
as questões ambientais, caso contrário, qualquer iniciativa será
efêmera;
A liderança deve demonstrar seu comprometimento a todos os níveis
hierárquicos da organização;
97
A liderança deve verificar continuamente o comprometimento das
diversas áreas da organização com as questões ambientais, pelo uso
de auditorias internas e externas. Nesse caso, pode-se estender para
verificações de como os funcionários desempenham suas atividades
e qual o nível de conhecimento com relação aos fatores ambientais
que influenciam na atividade (GOMES; TAVEIRA, 2005).
Outra norma, a ISO 14004, apesar de mais abrangente que a ISO
14001, não é empregada para certificação ambiental de empresas, mas para
atender aos clientes internos na implementação do SGA.
Por ser mais abrangente, a Norma ISO 14004, contempla a Norma ISO
14001 e a extrapola. Essa extrapolação da Norma ISO 14004 em relação à
Norma ISO 14001 acontece em todos os seus itens, em função de um maior
detalhamento de suas recomendações. A Norma ISO 14001, por ser uma
norma de certificação, não tem o mesmo nível de detalhamento da ISO 14004,
simplesmente cita os requisitos que devem ser atingidos.
Este trabalho se aproxima mais da Norma ISO 14004, no seu requisito
4.3.2.4, que trata de conscientização ambiental e motivação, e no seu requisito
4.3.2.5, que se refere a conhecimento, habilidades e treinamento. Diz o
requisito 4.3.2.4 da norma supracitada:
“A alta administração tem um papel chave a desempenhar na
conscientização e motivação dos empregados, explicando os
valores ambientais da organização e comunicando seu próprio
comprometimento com a política ambiental.
É o comprometimento individual das pessoas, no contexto dos
valores ambientais compartilhados, que faz com que o sistema
de gestão ambiental saia do papel e se transforme em um
processo eficaz.
É recomendado que todos os membros da organização
correspondam e sejam estimulados a aceitar a importância do
cumprimento dos objetivos e metas ambientais, pelos quais
são responsáveis. É recomendado que eles, por sua vez,
encorajem, quando necessário, os outros membros de sua
organização a responderem de maneira semelhante.
A motivação para a melhoria continua pode ser reforçada
quando os empregados são reconhecidos pelo cumprimento
98
dos objetivos e metas ambientais e encorajados a apresentar
sugestões que conduzam a um melhor desempenho ambiental”
(p.16).
Outro requisito da Norma 14004 está contido na cláusula 4.3.2.5, que se
refere a conhecimento, habilidades e treinamento, fornecendo a seguintes
diretrizes:
“É recomendado que os conhecimentos e habilidades
necessários para atingir os objetivos ambientais sejam
identificados e considerados na seleção, recrutamento,
treinamento, desenvolvimento de habilidades e educação
contínua do pessoal. É recomendado prover, a todo o pessoal
da organização treinamento apropriado, relativo à política e ao
cumprimento dos objetivos e metas ambientais. É
recomendado que os empregados possuam uma base
adequada de conhecimentos, que inclua treinamento nos
métodos e habilidades necessários à execução de suas tarefas
com eficiência e competência, tendo conhecimento do impacto
que suas atividades podem causar ao meio ambiente, caso as
executem de forma incorreta.
É recomendado, também, que a organização se assegure de
que os prestadores de serviços que trabalham no local
ofereçam evidências de que têm os conhecimentos e
habilidades necessárias para operarem de forma
ambientalmente responsável.
Educação e treinamento são necessários para assegurar que
os empregados tenham conhecimentos apropriados e
atualizados dos requisitos legais, normas internas e políticas e
objetivos da organização. O nível e o detalhamento do
treinamento podem variar de acordo com a tarefa” (p.17).
Apesar das recomendações das normas em relação à importância do
papel da educação na incorporação da variável ambiental nas empresas, na
maioria dos casos as iniciativas optam por desenvolver atividades de educação
ambiental voltadas principalmente para o público extramuros. Em Souza Vieira
(2004, p.18), foi comentado esse assunto:
“No entanto, pela vivência profissional, tem-se conhecimento,
fora dos canais formais citados acima de acesso às
informações, de projetos de educação ambiental em
desenvolvimento em algumas empresas. São projetos de
99
educação ambiental informal que ocorrem principalmente
extramuros das empresas em Estações Ecológicas, Centros de
Educação Ambiental e Áreas de Proteção Ambiental (APA).
Algumas produzem material didático como cartilhas, cartazes e
folders que são distribuídos nas escolas da vizinhança ou
quando da realização de palestras.”
A postura de se adotar ações isoladas de conscientização ambiental,
como programas e projetos de educação ambiental descontínuos, implica
desperdício de tempo e de recursos financeiros.
Observa-se que a educação ambiental teoricamente em empresas
ganhou muito mais expressão com o processo de certificação ambiental de
empresas pela implantação do Sistema de Gerenciamento Ambiental (SGA),
Norma ISO 14001, porém, na prática, nota-se que esta não é a realidade.
Verifica-se uma ênfase na educação ambiental bem mais limitada nas
organizações empresariais que, na maior parte das vezes, procuram
implementar alguns projetos tímidos de educação ambiental intramuros com o
objetivo de obter a certificação ambiental.
Apesar destas limitações apontadas, de acordo com Souza Vieira
(2004), em 1995, começaram a ser desenvolvidas ações para se trabalhar a
educação ambiental não formal de adultos voltada para os trabalhadores na
indústria. O treinamento ambiental, voltado para o público interno de empresas,
é muito importante, embora ainda incipiente. Em geral, as pessoas ligadas às
várias unidades de produção de uma fábrica trabalham numa rotina de muita
responsabilidade, em que não existe muito tempo para participar de
treinamento. Mesmo a montagem de uma escala na tentativa de treinamentos
internos não é tarefa muito simples, por causa do ritmo acelerado da produção.
A fim de concretizar uma metodologia de educação para o
desenvolvimento sustentável em indústrias, vários fatores têm sido levados em
consideração. Cada caso é uma situação - problema diferente.
Em Souza Vieira (2004) destaca-se que para se alcançar o objetivo da
convivência harmoniosa entre o homem e o meio ambiente, pode-se lançar
100
mão de outras metodologias, precursoras e facilitadoras do processo de ensino
e aprendizagem.
Essa situação específica conduziu gradativamente os educandos a uma
mudança de comportamento mais ambientalmente correta, ao que se
denominou de alfabetização ambiental dos operadores dos fornos de alumínio
primário:
“Outro fator gratificante no processo de conscientização
ambiental em indústria é a manifestação entusiástica e
espontânea dos operários, protagonistas dessa indústria-
escola-itinerante. Durante a realização de uma das atividades
de educação ambiental em uma indústria de alumínio primário,
um dos operadores de um dos fornos de alumínio, que
trabalhava diariamente exposto a uma temperatura em torno
dos 960C, comentou com a instrutora na sala de treinamento:
Gosto muito de estar aqui porque nunca pude ir à escola e hoje
ela veio a mim” (SOUZA VIEIRA, 2004: p.21).
Alguns outros exemplos mostram algumas das principais características
de programas de educação ambiental em algumas empresas.
4.3. A educação ambiental em algumas empresas
Lima et al. (1996) comentam o Programa Interagir de Educação
Ambiental da Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST) que é estruturado em
um conjunto de ações interligadas. O programa começou na CST a partir de
1996, dirigido aos empregados. Segundo os autores, o Interagir busca fazer de
cada empregado um gestor ambiental da sua atividade e do seu posto de
trabalho. O programa é constituído de oito etapas: estruturação do programa;
plano de ação; objetivos e metas; módulo despertar, módulo agir, interagindo
com gerentes; implementação e operacionalização; manual do programa;
monitoramento e avaliação; e análise crítica.
101
O módulo Agir, do Programa Interagir, constitui-se de um curso de
educação ambiental que visa a propiciar aos empregados uma leitura
detalhada do fluxo de produção, enfocando os principais aspectos e impactos
ambientais do processo produtivo e a maneira como a CST controla e gerencia
esses aspectos, com destaque para as ações de controle ambiental (recursos e
equipamentos de controle ambiental, análise de risco ambiental, ações
preventivas e corretivas, etc.).
Segundo Marcante (2000), desde 1987 a Ripasa desenvolve o programa
de educação ambiental “Conhecer para Preservar”, trabalhando com os
funcionários e utilizando como material didático a Trilha Interpretativa da
Natureza e o Núcleo Faunístico Abrahão Zarzur, incorporado ao programa em
1994. Esse ambiente proporciona uma aula de campo para os visitantes, que
passam quatro horas e meia na fazenda, em meio à fauna e flora locais. Outros
programas de educação ambiental oferecidos pela empresa são: o Programa
de Visitas com Terceira Idade, o Programa com funcionários e colaboradores e
Jornadas ambientais/workshops com os professores.
Camargo et al. (2000) descrevem o programa de educação ambiental da
Votorantim Celulose e Papel, que possui cinco atividades principais: o
Jornaleco, informativo mensal com tiragem de 21.500 exemplares;
interpretação ambiental na área da empresa; visitas monitoradas as fazendas
de produção; núcleo de educação ambiental (sede principal do programa de
educação ambiental da VCP); eventos de educação ambiental; e atividades e
projetos internos.
Essas empresas têm obtido excelentes resultados com estes
programas, conseguindo alcançar êxito nos indicadores ambientais,
comprometimento de seu pessoal com o meio ambiente, conhecimento e
controle eficiente do impacto ambiental criado por suas operações e uma
postura pró-ativa diante das questões ambientais.
No entanto, a prática tem demonstrado que poucas empresas
desenvolvem esses programas específicos de educação ambiental de forma
abrangente. Quando existem são, na maioria dos casos, núcleos de educação
102
ambiental abertos a visitação pública. Como já foi comentado, projetos de
educação ambiental específicos para os operários ligados aos processos de
produção mais limpa são muito raros. Além disso, os projetos de educação
ambiental nas empresas são caracterizados por uma visão que privilegia muito
mais o treinamento do que o educar. A cláusula 4.4.2 tem um enfoque
normativo direcionando o pessoal ao comportamento em conformidade com
padrões, procedimentos e requisitos dos sistemas de gestão. Pode-se concluir
do exposto pela ISO 14001 que a norma tem uma conotação normativa e muito
mais voltada ao “treinar” do que ao “educar”.
103
5. POTENCIALIZANDO A GESTÃO AMBIENTAL POR MEIO DA
EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS INDÚSTRIAS QUÍMICAS – BARREIRAS E
PROPOSTAS
Vistos o Programa Atuação Responsável e a Norma ISO14001, que
estão sendo implementadas em geral pela indústria química e petroquímica, é
necessária uma reflexão para o entendimento de como está sendo inserida a
educação ambiental nesse contexto e quais práticas estão sendo evidenciadas
para dar consistência às intenções propostas nesses programas.
Embora sistemas de gestão tenham sido amplamente implantados na
indústria química e petroquímica, como a Atuação Responsável e a série ISO
14000, pouca atenção tem sido dada à educação ambiental como matéria
inserida e integrada nos sistemas de gestão.
Muita ênfase tem sido dada às normas e guias, porém a educação como
base para a conscientização ambiental e social tem ficado restrita a programas
isolados e sem consistência nas gestões das empresas químicas e
petroquímicas.
Usando a abordagem de Reigota (2001), pouco tem sido feito em termos
de:
Conscientização – levar os indivíduos e os grupos associados a
tomarem consciência do meio ambiente global e de problemas
conexos e de se mostrarem sensíveis aos mesmos;
Conhecimento – levar os indivíduos e os grupos a adquirir uma
compreensão essencial do meio ambiente global, dos problemas que
estão a ele interligados e o papel e lugar da responsabilidade crítica
do ser humano;
104
Comportamento – levar os indivíduos e os grupos a adquirir sentido
dos valores sociais, um sentimento profundo de interesse pelo meio
ambiente e a vontade de contribuir para sua proteção e qualidade;
Competência – levar os indivíduos e os grupos a adquirir o savoir-
faire necessário à solução dos problemas;
Capacidade de avaliação – levar os indivíduos e os grupos a avaliar
medidas e programas relacionados ao meio ambiente em função de
fatores de ordem ecológica, política, econômica e social;
Participação – levar os indivíduos e grupos a perceber suas
responsabilidades e necessidades de ação imediata para a solução
dos problemas ambientais.
Dados quantitativos nesse assunto não estão disponibilizados
facilmente, porém alguns deles podem ser encontrados para ilustrar a
discussão. Vejamos alguns deles.
Segundo pesquisa feita pelo BNDES de Gestão Ambiental na Indústria
Brasileira em 1998, somente 28% das empresas químicas adotavam algum tipo
de procedimento de gestão ambiental relativa a oferecer cursos à sua mão-de-
obra. Procedimentos como a reciclagem, o reaproveitamento e a disposição de
resíduos estavam presentes entre 42% e 46% respectivamente, mostrando
uma clara tendência das empresas interessadas pelo valor econômico.
Podemos notar também que a postura reativa era forte na questão das
razões para a adoção de práticas de gestão ambiental, sendo que 77% das
empresas químicas adotavam essas práticas para atender as exigências para
licenciamento, 44% adotavam para reduzir custos e somente 23% adotavam
práticas de gestão ambiental para melhorar a imagem perante a sociedade.
Essa postura era mais evidente nas empresas nacionais.
Para se ter uma idéia dos investimentos na área ambiental, cerca de
40% das empresas químicas investiram menos de 3% dos investimentos totais,
sendo que cerca de 30% não investiu em meio ambiente. Somente 5% das
empresas químicas investiram mais de 20%.
105
Com relação a etapas futuras da gestão ambiental, podemos verificar
que 75% das empresas químicas tinham planos de aperfeiçoar procedimentos
de acompanhamento e monitoria da gestão ambiental; 50% tinham planos de
expansão do programa de controle ambiental, porém nada se notava em
relação à educação. E, mesmo assim, esses planos eram muito mais evidentes
nas empresas internacionais. Pode-se verificar claramente que somente 20%
das empresas químicas indicavam que pretendiam realizar investimentos
ambientais nos próximos anos relativos a cursos destinados a sua mão-de-
obra.
Desde 1998, novas pesquisas não foram elaboradas, no entanto conclui-
se pelos dados demonstrados anteriormente que existia uma enorme
oportunidade a ser explorada. Contudo, além do fato da educação ser uma
prática pouco utilizada pela maior parcela das indústrias químicas é importante
ressaltar que existem outras barreiras para a difusão deste instrumento no
setor.
As principais barreiras encontradas nas organizações, para um processo
efetivo de implementação de educação ambiental, são principalmente às
apresentadas por Senge e Morse.
Segundo Peter Senge (1998 apud DEMAJOROVIC, 2003), um dos
problemas das organizações está no fato de estas pensarem que o processo
de aprendizado se restringe aos programas de treinamento, quando ele afirma
que vai além. É necessária a prática do dia-a-dia e o aprendizado ocorre ao
longo do tempo, durante o decorrer do trabalho com supervisão adequada.
Outra questão importante é a de entender se as organizações químicas
acreditam que um processo de educação ambiental uma vez implementado
será capaz de efetuar a cultura e valores dessas organizações e em quanto
tempo.
Segundo afirma Suzanne Morse (1984 apud DEMAJOROVIC, 2003), as
organizações buscam objetivos de curto prazo e isto é um obstáculo ao
desenvolvimento de programas de educação ambiental mais efetivos. Morse
106
(1984) defende que a implementação de um processo de educação ambiental
normalmente é um desenvolvimento de longo prazo, que envolve mudanças
culturais e de paradigmas, muitas vezes muito fortes, que estão
fundamentados em plataformas sólidas e difíceis de quebrar.
Uma das características da indústria química e petroquímica é a baixa
rotatividade, devido à sua necessidade de mão-de-obra especializada, o que,
conseqüentemente, demanda longos períodos de treinamento e experiência do
seu pessoal nas suas operações. Essa característica, por outro lado, faz com
que as culturas construídas nessas organizações sejam fortes e sólidas. No
entanto, as mudanças culturais são mais difíceis e trabalhosas, demandando
longos períodos para execução, em linha com a tese de Morse.
Outro aspecto que precisa ser entendido é o de como verificar e
comprovar os resultados de um programa de educação ambiental nas
organizações químicas. Entender a educação ambiental como sendo um
programa ou um projeto é, também, de vital importância, isto é, se os
resultados finais esperados são atingidos em um determinado intervalo de
tempo ou se consiste em uma atividade permanente.
É extremamente relevante, também, o modo como as organizações
químicas devem orientar o processo de educação ambiental para tratar de toda
e qualquer clientela, ou seja, de grande, médio e pequeno portes, de operários
a executivos. Por outro ângulo, é fundamental entender quais são os limites da
educação ambiental, ou seja, até onde ela deve e pode ser utilizada em
organizações químicas, questionando se qualquer profissional pode participar
como agente neste processo.
E, finalmente, do ponto de vista organizacional, a quem devem reportar-
se os gestores de programas de educação ambiental (SANTOS; SOARES,
2004).
Segundo Philippi Junior e Pelicioni (2002), do ponto de vista
organizacional e de sustentabilidade do setor químico e petroquímico, os
107
aspectos fundamentais que justificam um programa de educação ambiental
envolvendo toda a população das empresas são vários:
1) Fazer com que a comunidade interna e externa tenha um contato
direto com a realidade ambiental da área onde vivem e atuam é fator
preponderante para garantir a preservação e conservação ecológica,
entendendo a importância do ecossistema que os envolve;
2) Um outro fator é fazer com que se discuta a importância do ambiente
para a saúde e o bem-estar de cada indivíduo e da sociedade com a qual
convivem a interagem. Fazer com que se desenvolva o sentido ético e social
diante dos problemas ambientais é, também, um desafio que precisa ser
perseguido e alcançado;
3) Outra justificativa para o programa de educação ambiental na
empresa é a de que, para garantir a eficácia de um plano ambientalmente
sustentável, é necessário explicar às populações industriais as integrações
existentes entre o homem e o meio em que vive, fazendo com que percebam a
dependência disso para a sobrevivência;
4) A comparação do desenvolvimento econômico com o custo da
degradação ambiental com o qual a sociedade tem que arcar também tem
importância essencial para que se justifiquem investimentos na educação
ambiental empresarial;
5) Não se poderia deixar de incluir nesta lista a importância em fortalecer
a discussão e a tomada de decisão de buscar um desenvolvimento sustentável,
que satisfaça as necessidades da humanidade e preserve o planeta, tema
indispensável nos dias de hoje para que seja matéria integrante de todo e
qualquer planejamento estratégico de uma empresa sustentável.
A gestão ambiental pró-ativa proporciona às empresas bons frutos,
resultantes de uma maior consciência da necessidade do desenvolvimento de
projetos na área ambiental, entre eles, a educação ambiental.
O comportamento pró-ativo é tido como um instrumento de influência,
pois envolve o sentido dos valores morais e éticos das organizações ou seus
trabalhadores, de modo que interrompa um comportamento que degrade o
meio ambiente.
Na visão moderna, os aspectos sociais e políticos devem ser tão
valorizados quanto o aspecto econômico, para que a empresa possa ser vista
108
como uma instituição sociopolítica. A lucratividade e a rentabilidade da
empresa passam a ser influenciadas pela sua capacidade de antecipar e reagir
frente às mudanças sociais e políticas que ocorrem em seu ambiente. Ignorar
esses aspectos tem custado a muitas empresas grande comprometimento
financeiro e impacto em sua imagem institucional (DONAIRE, 1999).
Segundo Maimon (1999), a realidade socioambiental está impondo às
empresas uma mudança de postura e, gradativamente, o comportamento
reativo vai sendo descartado e a responsabilidade ambiental passa a ser
encarada como uma questão de sobrevivência.
Fatores como a maior consciência da opinião pública, o incremento do
movimento ambientalista e a crescente disponibilidade e difusão tecnológicas
que reduzem ou eliminam a poluição ambiental têm contribuído para essa
mudança comportamental.
Surge então o conceito de excelência ambiental que avalia a
organização não somente por seu desempenho econômico, mas também por
seu desempenho ambiental (ALMEIDA, 2001).
Vários são os motivos que podem incentivar as organizações a
adotarem um Sistema de Gestão Ambiental, tais como: imagem, lucro,
qualidade de vida, pressão de mercado, etc.. Todavia, existe um consenso de
que o sucesso de políticas ambientais depende de sua implementação com
outros instrumentos. A educação ambiental e o comportamento pró-ativo das
empresas mostram uma boa parceria que pode conduzir a um processo de
sucesso, tendo a racionalidade ambiental como base.
A educação ambiental na indústria química e petroquímica proposta
neste estudo tem como princípio fundamental a eliminação do risco e baseia-se
em: identificar as possíveis causas de acidentes; fixar padrões de
desempenho; fixar responsabilidades; medir o desempenho x padrões; avaliar
os desvios e controlar; corrigir e elogiar.
Os objetivos principais a serem atingidos são:
Eliminar todos os riscos de acidentes ambientais;
Implantar uma cultura preventiva e adotar atitudes pró-ativas em
todas as atividades da organização em relação ao meio ambiente;
Conscientizar e treinar constantemente, em busca do conhecimento
contínuo;
109
Garantir o uso correto dos padrões internos de meio ambiente em
todas as atividades;
Garantir atendimento às legislações de meio ambiente;
Buscar a excelência contínua no controle e eliminação de poluição
ambiental.
Algumas atividades podem ser sugeridas para um Programa de
Educação Ambiental estruturado, em parceria com Recursos Humanos,
garantindo assim, o nível de qualificação e conscientização ideal, entre elas:
Minuto do meio ambiente – com temas de reflexão e debate em
todas as áreas da empresa, com periodicidade semanal (durante 30
minutos);
Minuto técnico – com 4 horas de duração por mês, que tem o
objetivo de garantir o desenvolvimento continuado da equipe;
Semana do meio ambiente – com várias atividades direcionadas à
educação ambiental como palestras, concursos e dinâmicas de
grupo voltadas para a introspecção de conceitos de ações
ambientais;
Treinamentos diversos – que são ministrados em toda a fábrica,
incluindo contratados e terceiros;
Realização de dinâmicas e vivencias – que geram mudanças de
comportamento e de paradigmas na área ambiental;
Participação de forma integrada com a comunidade e órgãos
ambientais – para a efetivação das práticas ambientais;
Cursos de atualização e aperfeiçoamento – na área de Meio
Ambiente para agentes formadores de opinião na área ambiental;
Minuto excelência – que aborda discussão de temas específicos
ambientais por área na empresa;
Exibição de filmes educativos – como temas referentes ao meio
ambiente periodicamente;
Realização de mutirão educativo;
Sistema de sugestões – implantado com urnas instaladas em
diversos pontos das empresas;
110
Gerenciando Andando na Área – implantação deste programa que
tem o objetivo de realizar uma verificação interna, com ênfase
ambiental nas áreas da empresa, com periodicidade semanal,
realizada pelo gerente e supervisores;
Clipping impresso – distribuição aos funcionários e contratados que
traz matérias sobre meio ambiente;
Palestra mensal pelo gerente da fábrica – que fale sobre um tema
ambiental, estimulando todos os funcionários a participar das
atividades;
Jogos e competições – atividades entre as áreas da empresa, tendo
como base temas ambientais;
Biblioteca – um acervo na temática ambiental;
Quadros Informativos – situados em locais estratégicos da empresa
enfatizando a política e as estatísticas (ARRUDA; SILVA et al.,
2005).
Assim é necessária uma urgente reversão de valores no setor industrial,
principalmente naqueles potencialmente poluidores como a indústria química e
petroquímica, para que atuem responsavelmente nos seus negócios e
participem ativamente nos programas sociais próprios ou de terceiros, visando
ao aperfeiçoamento do conhecimento ambiental nas diversas classes da
sociedade, para que, coletivamente, os esforços para a redução das agressões
ao meio ambiente comecem a apresentar resultados e a garantir a
continuidade das espécies vivas e, particularmente, do homem.
O setor industrial do ramo químico, em geral potencial poluidor, é um
dos setores que necessita prioritariamente enfatizar suas políticas de educação
ambiental, visto que nesse ramo de atividade, em sua grande maioria, continua
apresentando oportunidades de melhora de desempenho quanto às suas
políticas de educação ambiental. Devido a sua posição economicamente
confortável, o setor químico não tem restrições econômicas para incluir no seu
planejamento estratégico investimentos na Educação Ambiental.
111
A questão nesse aspecto é de prioridade, entendimento e visão de
sustentabilidade. Atualmente, ainda existe um paradigma muito forte que
coloca as questões econômicas à frente das causas sociais e ambientais, e
não é diferente no setor químico.
No entanto, com a crescente movimentação da sociedade como um
todo, nas áreas sociais e ambientais, começam a aumentar as pressões para a
mudança de comportamento e de atitude das organizações em geral, em
especial dos seus líderes e dirigentes, para um posicionamento responsável
perante essas causas. Esse movimento tem se mostrado como sendo o início
de uma nova era, em que, cada vez mais, toma forma e importância nos
planejamentos estratégicos das organizações, o que tem sido denominado de
Responsabilidade Social Corporativa (RSC).
A RSC é parte integrante do sistema integrado de gestão empresarial e
do vetor continuidade nos negócios e sustentabilidade organizacional que, nos
dias de hoje, toma uma importância ímpar na sociedade empresarial como um
todo.
E, por assim encontrar-se atualmente o setor químico, torna-se evidente
as bases do alicerce de uma organização sustentável, como sendo os pilares
econômico, social e ambiental nos seus negócios.
Dessa forma, a educação ambiental é fator indispensável e decisivo
para que um plano de sustentabilidade seja viável e eficaz, já que provocam
abalos diretamente em um dos pilares que sustentam um posicionamento
organizacional responsável, consistente e contínuo.
É necessário e vital para a qualidade de vida no planeta que esse
segmento do setor produtivo – as indústrias químicas e petroquímicas –, por
meio de seus dirigentes e líderes, adquira uma maior conscientização, de modo
que estimulem e incrementem os investimentos na educação ambiental voltada
para as suas comunidades interna e externa, para incentivar a sociedade como
um todo, pelo seu exemplo e iniciativa, a preservar os recursos naturais, a
112
fauna e a flora, fortalecendo as esperanças da continuidade da conservação
ambiental.
Nesse contexto apresenta-se a seguir três estudos de caso de forma a
avaliar a contribuição da educação ambiental para melhoria de seus processos
de gestão a partir da avaliação de gerentes e funcionários de empresas do
setor químico.
113
6. ESTUDOS DE CASO
Este capítulo discute por meio da realização dos estudos de caso como
a indústria química e petroquímica está abordando o tema da educação
ambiental dentro do Programa Atuação Responsável e da série ISO 14000,
como parte do seu sistema integrado de gestão e agente de conscientização e
responsabilidade ambiental com relação às suas operações, de forma a
evidenciar ações, atividades e práticas que, segundo Harrington e Knight
(2001), fortalecem a responsabilidade social dessas empresas.
6.1. Empresa A
A empresa A é uma organização multinacional de origem norte-
americana e iniciou suas atividades no Brasil em 1976 na região do ABC, mais
especificamente no Pólo Petroquímico de Capuava. A instalação no local
deveu-se a proximidade de seu maior fornecedor de matéria prima e de seus
principais clientes que atuam, por sua vez, como fornecedores principalmente
da industria automobilística instalada no ABC paulista.
A empresa atua hoje em dia com duas unidades de produção e um
projeto para uma nova unidade, para uma capacidade total de 140000t/ano de
seu produto, um produto químico inorgânico básico. A empresa reporta uma
receita operacional liquida de R$ 220 milhões anuais.
O Programa de Gestão Ambiental na empresa teve início enfaticamente
na década de 1980, desde quando iniciaram as expansões nas suas áreas
industriais e os impactos começaram a se tornar mais significativos.
Os investimentos na área ambiental são estimados da ordem de 15
milhões de dólares até os dias de hoje, em controle de poluição incluindo filtros
114
de primeira geração, reuso de água, reprocessamento de produto, tratamento
de resíduos entre outros.
A empresa A intensificou seu programa ambiental a partir de 1992,
quando a ABIQUIM lançou no Brasil o Programa Atuação Responsável e esta
empresa esteve sempre engajada nesse processo como associada. Nessa
época, a empresa incorporou a sua estrutura, grupos de trabalho para cada
Código do Atuação Responsável e iniciou sua implementação, de modo a
atender as práticas gerenciais recomendadas no Programa e continuou,
permanentemente, os planos de melhoria contínua, previstas no plano de
implantação do projeto.
Em 1998, a empresa certificou-se na norma ISO 14001, sendo uma das
primeiras 100 empresas a serem certificadas no Brasil. Desde então, a
empresa vem perfazendo seus investimentos e melhoramentos na área
ambiental, por meio da melhoria dos equipamentos e controle de poluentes.
Os investimentos feitos realmente originaram melhorias em vários
indicadores de desempenho ambiental da empresa, o que dá uma boa imagem
à organização, demonstrando sua responsabilidade para com a causa
ambiental.
Mais recentemente, houve um investimento adicional da ordem de US$
100.000, na construção de uma estação de efluentes domésticos, para
substituir a estação anterior, otimizando principalmente os níveis de DBO
encontrados anteriormente, pois estação é de ultima geração, incluindo
também a reutilização da água tratada no processo produtivo e gerando o
mínimo de resíduo sólido possível.
A empresa tem adotado boas práticas energéticas, sendo que
recentemente fez a substituição de combustível líquido derivado de petróleo
por gás natural, este menos poluidor apesar dos incrementos em custos que
esta mudança causa. A mudança certamente foi motivada por fatores
ambientais.
A empresa possui um grupo de meio ambiente, que tem como Missão:
“Estabelecer uma cultura de meio ambiente na empresa
através da Educação Ambiental em todos os níveis incluindo
funcionários e contratados de modo a melhorar a
conscientização sobre a importância da preservação ambiental,
adequar o conhecimento sobre o impacto que as operações da
115
organização causam ao meio ambiente e estimular a
participação individual e coletiva com idéias e propostas
visando a melhoria continua da causa ambiental.”
Programas de redução de energia também foram geridos na planta, com
campanhas de orientação, comunicação e procedimentos que foram adotados,
causando uma redução significativa de 25% nos últimos 5 anos.
A empresa, como parte de seu Sistema de Gestão Ambiental ISO
14001, lançou um Programa de Coleta Seletiva e Reciclagem de Materiais,
gerando uma nova mentalidade de reutilização de recursos materiais e redução
de insumos. Outro programa lançado pela empresa denominado
Housekeeping”, que se relaciona com Ordem e Limpeza, também obteve
sucesso durante os últimos anos, porque atinge as áreas de Meio Ambiente,
Saúde e Segurança, e cria e mantém uma mentalidade de disciplina importante
na evolução da conscientização ambiental da comunidade interna da planta.
Além desses programas, a empresa tem obtido avanços nos indicadores
de acidentes com afastamento, passando de uma média de 4 acidentes em
1999 a 1 acidente registrado em 2005. Dentro dos planos da empresa está o
Zero Acidente para o ano de 2006.
Junto ao Programa Atuação Responsável, a empresa gerencia, participa
e promove o CCC – Conselho Comunitário Consultivo – que é o grupo
representante da comunidade na qual a empresa atua. O Conselho promove
reuniões de esclarecimento à comunidade sobre as operações da empresa e
seus impactos ao meio ambiente, comunica as ações tomadas para a proteção
ambiental e da comunidade, e promove a interação entre a empresa e a
comunidade, formando uma parceria sólida e consistente para que juntos
atuem, a melhorando a qualidade de vida.
Dentro dessa perspectiva, há o Plano de Responsabilidade Social da
empresa que, dentre outras atividades, mantém uma Escola de primeiro grau
na região em que atua, mantém uma Escola de alfabetização de pessoas
adultas e uma Escola de informática para pessoal carente.
A empresa também promove um Programa de Saúde e Bem Estar, que
inclui o incentivo dos funcionários à prática de exercícios físicos, programas de
relaxamento semanal e exames médicos periódicos, entre outros benefícios.
116
Analisando o resultado da pesquisa feita pelos questionários, pode-se
notar uma unânime opinião em concordância tanto no ponto de vista gerencial
quanto do ponto de vista dos funcionários que a empresa possui em sistema de
gestão ambiental e uma política de meio ambiente sólidos e bem
implementados.
A opinião é também muito uniforme entre gerentes e funcionários quanto
a concordância em que a empresa possui indicadores ambientais e a alta
gerência está comprometida com a melhoria contínua e o desempenho
ambiental da organização e investimentos são feitos na melhoria do meio
ambiente na empresa.
A concordância segue sendo unânime quando perguntamos se há um
programa ou um projeto de educação ambiental na empresa, porém tanto
gerentes (100%) quanto funcionários (60%) discordam que todos conhecem
sua estrutura e operação.
Quando perguntamos aos funcionários se conhecem todo o ciclo de vida
do produto produzido pela empresa cerca de 30% dizem que não. Já quando
perguntamos se podem descrever todos os poluentes dos processos de
produção da empresa este número sobe para 40%, e ainda quase 54% dos
funcionários dizem que não são capazes de descrever o impacto ambiental de
cada poluente oriundo do processo produtivo.
Apesar de 85% da gerencia concordar que a educação ambiental traz
benefícios ambientais, econômicos e sociais para a empresa, 80% dos
funcionários discordam com a afirmação de que a realização de cursos e
treinamentos na área ambiental é considerada importante para a ascensão
profissional na empresa.
Quando perguntamos aos gerentes se os funcionários são avaliados
quanto a sua educação ambiental, 30% disse que não. Talvez se este quesito
for avaliado, poderá ser um estímulo aos funcionários para que freqüentem
assiduamente as palestras de educação ambiental. Outro ponto que pode ser
usado a favor da freqüência maior é o fato de que 75% dos funcionários
afirmaram que não é difícil por em prática o que aprendem nas palestras de
educação ambiental.
Mais um indicador interessante é que 40% dos funcionários discordam
que a participação deles nos eventos de educação ambiental é considerada
117
essencial pela gerência e 53%, portanto mais da metade, acha que o programa
de educação ambiental não contempla a orientação e entendimento de todos
os níveis da organização, quanto aos impactos ambientais causados pela
empresa em relação à natureza e à sociedade em geral.
Ainda na pesquisa que entre gerentes e funcionários, devemos notar,
cerca de 40% concorda que ainda as questões econômicas estão a frente da
causa ambiental.
No entanto, como pontos positivos, podemos citar que é unânime a
concordância entre gerentes e funcionários (mais de 85%), que a autogestão
da empresa vem se empenhando em prol da melhoria da educação ambiental
e que o programa de educação ambiental é importante e necessita de
melhorias, mais de 60% concordam com esta afirmação.
6.2. Empresa B
A empresa B é uma organização de composição acionária nacional, que
produz produtos químicos básicos com uma capacidade atual de 120000 t/ano
(com planos de expansão para 320000 t/ano para 2007), com investimentos
que somam US$ 160 milhões. A empresa reporta uma receita operacional
liquida de R$ 384 milhões anuais.
Em 2004, dentro do sistema de gestão integrado da empresa, foram
desenvolvidas pequenas ações de controle ambiental nas unidades produtivas,
com investimento da ordem de R$ 100 mil.
A empresa é certificada na norma ISO 14001 e também é signatária do
Programa Atuação Responsável da Abiquim.
Possui um programa de gestão ambiental sólido, incluindo um programa
de reciclagem iniciado há alguns anos e que incentiva os funcionários a
fazerem a coleta seletiva e a depositarem os resíduos gerados nos coletores
espalhados pela fábrica.
118
Participa do Grupo de Comunicação do Pólo Petroquímico do Grande
ABC, que tem como objetivo difundir a imagem positiva e a importância do Pólo
e suas empresas para a região dirigido para os diferentes públicos,
especialmente para a comunidade do entorno.
Promove também a Campanha “Não Solte Balões” que tem como
objetivo conscientizar a população dos perigos que um balão pode causar tanto
para a indústria como para a comunidade e educar as crianças para não
fabricar ou soltar balões.
Patrocina a Semana do Meio Ambiente com o objetivo de comemorar o
Dia Internacional do Meio Ambiente, na qual são desenvolvidas diversas
atividades, como peças teatrais sobre educação ambiental para as escolas da
comunidade e seminário sobre o tema para formadores de opinião da região.
Participa do Jornal do Pólo, desenvolvido com o objetivo de informar a
comunidade sobre as ações realizadas pelas empresas na área de
desenvolvimento de produto, tecnológico e, principalmente, na área ambiental
e de responsabilidade social.
Participa do programa Pólo dá Vida, ação que surgiu em função das
necessidades detectadas pelas empresas do Pólo em uma pesquisa realizada
com a população da região e por integrantes do CCC – Conselho Comunitário
Consultivo. Nela muitas pessoas foram beneficiadas, gratuitamente com
serviços gerais que incluem serviços médicos, odontológicos e de higiene
pessoal.
Quanto à pesquisa e questionário aplicados, pode-se notar que existe
uma forte concordância entre gerentes e funcionários sobre a existência de um
sistema de gestão ambiental implementado e uma política ambiental que é de
conhecimento geral e bem aplicada por todos na organização. Mais de 90%
dos entrevistados tem essa opinião. No entanto, na opinião de 43% dos
funcionários entrevistados o programa de gestão implantado e a adesão ao
Programa Atuação Responsável e certificação pela ISO 14001 não são
suficientes para a excelência no desempenho ambiental.
119
A opinião é muito uniforme tanto do ponto de vista dos gerentes como
dos funcionários que a empresa estabelece indicadores e metas ambientais e
procura atender suas expectativas. Essa é a opinião de mais de 95% dos
entrevistados.
Porém, 20% dos funcionários desconhecem o ciclo de vida do produto
que sua empresa produz. Quando são perguntados se podem descrever os
poluentes oriundos do processo de produção da sua empresa 43% dizem que
não, e 35% reporta que não é capaz de descrever o impacto ambiental dos
poluentes oriundos do processo de produção de sua empresa. Curiosamente,
cerca de 37% diz que desconhece os resíduos sólidos gerados na empresa.
Dentre os gerentes entrevistados, 100%, diz que investimentos são
feitos na área ambiental e que conhecem os valores investidos; no entanto
cerca de 30% dos funcionários reportam que a realização de cursos e
treinamentos na área ambiental não é considerado importante para ascensão
profissional na empresa.
Interessante notar que 80% dos gerentes entrevistados responderam
que a norma ISO 14001 e o Atuação Responsável são suficientes para a
excelência ambiental, sendo que um programa de educação ambiental é
desnecessário.
Apesar disso, todos entre gerentes e funcionários responderam que
existe um programa de educação ambiental na empresa, que é de
conhecimento geral, e os funcionários responderam que participam ativamente
do programa e freqüentam assiduamente as palestras. Essa é a opinião de
mais de 95% dos entrevistados. 85% dos funcionários entrevistados reportam
que essa participação ativa é considerada essencial pela gerência, apesar de
40% dos gerentes reportarem que os funcionários não são avaliados quanto a
sua educação ambiental.
Cerca de 65% dos funcionários dizem que não é difícil aplicar na prática
o que aprendem nas palestras de educação ambiental.
30% dos funcionários entrevistados têm a opinião de que o programa de
educação ambiental na empresa não contempla a orientação e entendimento
de todos os níveis da organização quanto aos impactos ambientais que a
empresa causa.
120
Na opinião de 20% dos gerentes ainda a questão econômica está a
frente da causa ambiental.
Entretanto, é unânime a opinião entre os gerentes, 100%, de que a
educação ambiental traz benefícios ambientais, econômicos e sociais para a
empresa e em confirmação com essa afirmação, 92% dos funcionários
responderam que a autogestão da empresa vem se empenhando em prol da
melhoria da educação ambiental na organização, e um ponto que devemos
mencionar é que 65% dos entrevistados opinam que o programa de educação
ambiental na empresa não é totalmente eficaz e existe a necessidade de
melhorias.
6.3. Empresa C
A empresa C é uma organização de composição acionária internacional,
que produz produtos químicos básicos, com capacidade para produzir
553600t/ano de seu principal produto e reporta uma receita operacional liquida
de R$ 1,6 bilhões.
A empresa possui implementado um sistema de gestão ambiental sólido
e consistente, é certificada na norma ISO14001 desde 2000 e signatária do
programa Atuação Responsável desde 1993.
A empresa tem assumido o compromisso de adequar seu desempenho
ambiental aos padrões definidos pelo Banco Mundial, que são mais restritivos
do que a legislação brasileira, e está implantando projetos de melhorias nas
suas fábricas para atingir esses padrões. Os principais projetos que estão
sendo desenvolvidos pelo sistema de gestão ambiental da empresa são
referentes ao tratamento de efluentes líquidos e a melhoria nas estações de
tratamento existentes.
Além disso, estão sendo implantados projetos de controle de ruído na
planta de Mauá e realizados estudos de otimização de uma caldeira em
121
Camaçari, implantada com a finalidade de reduzir a emissão de compostos
orgânicos voláteis para a atmosfera.
Entre as principais ações de responsabilidade social reportadas pela
empresa estão: os programas de educação ambiental e reciclagem, dedicados
a mobilização e sensibilização das pessoas quanto a importância da coleta
seletiva de material reciclável; o impacto de atitudes individuais e empresariais
para motivar a geração de emprego e renda para moradores de rua; a busca
pela solução de problemas ambientais urbanos.
A empresa tem um programa de parceria com a AACD, o qual fornece
fundos e doações para produção de órteses, próteses, coletes e todo tipo de
acessórios para reabilitação de deficientes físicos. Difunde a prática de
esportes e cultura na comunidade por meio de investimentos nessa área.
A empresa possui uma parceria com outras empresas em um projeto de
Biblioteca Comunitária Ler é Preciso, que incentiva a leitura e a escrita a partir
de ações efetivas que colocam o livro no cotidiano de crianças, contribuindo
para a redução do analfabetismo.
Participa e promove a campanha do “Balão é Fogo”, buscando a
conscientização da população sobre os riscos de soltar balão.
Outros programas já citados na empresa B, também são parte da
empresa C, visto que esta faz parte do mesmo Pólo e pratica as mesmas
ações comunitárias e de responsabilidade social.
A empresa investe na coexistência harmônica entre a indústria química,
as comunidades que a cercam e a natureza. Executa a politica de
responsabilidade social em programas de desenvolvimento e adaptação de
equipamentos para minimizar o impacto ambiental, assim como em educação,
ecologia e saúde. A maioria desses projetos conta com a participação
voluntária dos colaboradores e o apoio institucional da empresa.
No que diz respeito à pesquisa, há uma concordância geral entre
gerentes e funcionários de que a empresa tem uma política de meio ambiente e
122
um sistema de gestão ambiental e de que existem metas e indicadores
estabelecidos claramente e de conhecimento de todos – mais de 95% dos
entrevistados têm essa opinião.
A unanimidade da gerência reporta que investimentos são feitos da área
ambiental e estes conhecem as cifras investidas. Reportam ainda
unanimemente que a avaliação de desempenho dos gerentes e líderes inclui
requisitos de qualidade ambiental, porém 45% dos gerentes discordam que os
funcionários sejam avaliados quanto a sua educação ambiental.
Em termos de educação ambiental existe uma posição pró ativa da
empresa pois 68% da gerência e 30% dos funcionários opinam que a norma
ISO 14001 e o Atuação Responsável não são suficientes para obter a
excelência ambiental, sendo que um programa de educação ambiental é
necessário e fundamental.
Apesar de 78% dos gerentes concordarem que há um projeto de
educação ambiental na empresa e apesar de quase 90% dizer que todos
conhecem sua estrutura e operação, 54% dos funcionários afirmam que a
empresa não possui um programa intensivo de educação ambiental, ainda
assim unanimemente acreditam que ela tem se empenhado na melhoria
ambiental.
Dentre os funcionários, 85% opinaram que conhecem o ciclo de vida do
produto
10 que a empresa produz, no entanto 30% destes dizem desconhecer
os poluentes gerados no processo de produção e não podem descrever o
impacto ambiental causado por eles. Além disso, 20% dos funcionários
entrevistados diz desconhecer os resíduos sólidos gerados na operação da
empresa.
Interessante notar que 54% dos funcionários opinam que a sua
participação nos eventos de educação ambiental não é considerada essencial
pela gerência, ponto em concordância com outra questão na qual 78% dos
funcionários opinou que os cursos e treinamentos na área ambiental não são
10 O ciclo de vida referido inicia-se com o recebimento da matéria prima na empresa até o
descarte final do resíduo ou embalagem gerado pelo produto no cliente.
123
considerados importantes para a ascensão profissional na empresa. Talvez
essa seja a razão para que 54% dos funcionários terem opinado que não são
freqüentadores assíduos das palestras de educação ambiental e 40% dizem
não participar ativamente do programa de educação ambiental da empresa,
embora cerca de 65% dos entrevistados opinem não ser difícil aplicar na
prática o que aprendem nas palestras de educação ambiental.
Um ponto interessante é a divergência de opiniões na questão da causa
econômica a frente da causa ambiental. Embora 100% dos gerentes reportem
que a educação ambiental é prioridade a frente de questões econômicas, os
funcionários não têm a mesma opinião, 46% têm opinião contrária.
Entretanto, entre os gerentes mais de 90% opinou que o programa de
educação ambiental contribui significativamente para a melhoria ambiental e
traz benefícios econômicos e sociais para a empresa em consonância com a
opinião dos funcionários que afirmam que a autogestão da empresa vem se
empenhando para a melhoria da educação ambiental. Mesmo assim, 78% dos
funcionários afirmaram que o programa de educação ambiental na empresa
não é totalmente eficaz e necessita de melhoria contínua.
6.4. Considerações sobre os estudos de caso
Os questionários aplicados nas pesquisas foram separados em quatro áreas
relacionadas a um sistema de gerenciamento ambiental com a intenção de, ao
compará-las, demonstrar os pontos fortes e fracos e os procedimentos
adotados nas empresas amostradas. Essas áreas foram as seguintes:
Percepção do risco;
Gestão;
Comunicação;
Educação.
124
Os resultados das pesquisas feitas nas empresas A, B e C considerando
os dois níveis na estrutura da organização – gerentes e funcionários –
demonstram igualmente nas três empresas uma visão no nível gerencial mais
otimista, comparada com a visão do nível operativo, unanimemente nas quatro
áreas da pesquisa.
O maior percentual de concordância considerando a opinião dos níveis
gerencial e operativo demonstra que dentre as quatro áreas pesquisadas as de
Comunicação e Gestão são as mais fortalecidas, nessa ordem, seguindo a
área de Percepção do risco.
No entanto, é interessante notar que a pesquisa revela que a área da
Educação Ambiental é a que obteve menor percentual de concordância com as
afirmações feitas no questionário, tanto na opinião do nível Gerencial quanto no
nível Operativo, nas três empresas pesquisadas. Portanto é a área mais
debilitada na opinião dos entrevistados.
Essa era uma das afirmações que se queria confirmar com o estudo.
Pode-se concluir com as pesquisas que há uma concordância geral em
que as empresas possuem programas de Educação Ambiental e que estes
trazem benefícios ambientais, econômicos e sociais para a empresa, como era
de se esperar.
Há concordância geral também sobre o fato de que as empresas
investem continuamente em programas de treinamento e no processo de
conscientização e ambiental de seu pessoal.
Porém, entre 30 e 40% do total dos entrevistados operativos consideram
que esses programas não são totalmente eficazes no que diz respeito a fazê-
los entender os impactos ambientais gerados pelas empresas, sobre qual a
função do órgão ambiental público e a ter realmente consciência das práticas
gerenciais relativas ao Atuação Responsável® e a Norma ISO 14001.
Já na empresa A, diferentemente das empresas B e C,
aproximadamente 30% dos entrevistados revelam que os treinamentos em
125
emergências ambientais e em prevenção de acidentes com repercussão
ambiental não existem.
Com exceção da empresa B, a participação e a assiduidade no
programa de Educação Ambiental são debilitadas, na opinião geral dos
entrevistados, pois entre 20 e 40% dizem não participar ativamente e entre 35
e 55% não freqüentam assiduamente as palestras de educação ambiental
oferecidas; ainda que 70% destes afirmem não encontrar dificuldades em
aplicar na prática o aprendizado nas palestras de educação ambiental.
Quase 40% dos entrevistados responderam que o programa de
educação ambiental não garante o entendimento de todos os níveis da
organização quanto aos impactos causados por ela e, com a exceção da
empresa C, cerca de 40% dos entrevistados opinam que a educação ambiental
nas empresas se dá basicamente por treinamento teórico.
Nas empresas A e C, entre 40 e 54% dos entrevistados disse que sua
participação nos eventos de educação ambiental não é considerada essencial
pela Gerência.
Na opinião gerencial das empresas A e B, entre 20 e 30% dos
entrevistados afirmam que as questões econômicas ainda estão à frente da
causa ambiental. No entanto, essa opinião aumenta para 15 a 47% quando
ouvimos a opinião do nível Operativo.
O que é muito interessante – e coerente com a hipótese em estudo a ser
demonstrada – é que entre 20 e 55% dos entrevistados acham que o conteúdo
das palestras de educação ambiental não contribui para o desempenho de
suas funções.
Mais interessante ainda é que 30 a 45% dos gerentes dizem que seus
funcionários não são avaliados quanto a sua Educação Ambiental, mas são
unânimes em confirmar a opinião dos funcionários, dizendo que a autogestão
da empresa vem se empenhando em prol da melhoria da Educação Ambiental
(entre 80 e 92% pensa assim).
126
O que é muito positivo é que entre 40 e 78% dos funcionários
reconhecem que o programa de Educação Ambiental não é totalmente eficaz e
há necessidade de melhorias.
Visto que a área de Educação Ambiental é a área mais debilitada dentre
as quatro verificadas nas três empresas pesquisadas, pode-se notar que ao se
comparar as empresas, não se nota diferenças substanciais entre as três,
embora a empresa A apresente um percentual de concordância com a
eficiência do programa ligeiramente mais baixo do que a empresa B, que por
sua vez apresenta um valor mais baixo que a empresa C.
Nessa ordem, poderia concluir-se que o programa de educação
ambiental da empresa C é ligeiramente mais avançado que as outras duas
empresas. Apesar disso, verificando os indicadores do Atuação Responsável®
para as três empresas pesquisadas para os anos de 2004 e 2005, não se nota
diferenças substanciais entre os indicadores destas empresas de modo a
justificar diferentes eficiências de programas de educação ambiental, conforme
a Tabela 6:
127
TABELA 6: Indicadores Ambientais do Atuação Responsável® por Empresa
Empresa A Empresa B Empresa C
Acidentes de Processo 2004 0 0 0
2005 0 0 0
Acidentes com pessoal 2004 0 7 0
próprio ou contratado 2005 1 4 0
Taxa de
freqüência
2004 0 15,8 0
de acidentes 2005 0 0 0
Gastos em
Safety
2004 60 96 65
R$ M 2005 134 267 106
Reclamações
da
2004 0 1 0
Comunidade 2005 0 6 1
Geração de
Resíduos
2004 2 2 6
Per e Não Per (t/t prod.) 2005 2 3 9
Acidentes de
Transp
2004 0 0,24 0
sem danos 2005 0 0 0
Acidentes de
Transp
2004 0 0 0
com vaz 2005 0,34 0,42 0
Efluentes lançados(m3) 2004 0 14000 72000
2005 0 53000 82000
Reciclados
(m
3
)
2004 350 0 0
2005 350 0 0
Investimentos em MA 2004 301 384 444
R$ M 2005 371 194 198
# de
simulados
2004 0 4 2
2005 2 2 16
# de ações de
interação
2004 21 29 33
com a
comunidade
2005 25 37 50
Fonte: Abiquim, 2004, 2005.
Para alguns destes indicadores pode-se fazer inferências sobre o papel
da educação ambiental e o desempenho registrado. Por exemplo, pode-se
notar que a empresa C foi a única que não reportou acidente com pessoal
próprio ou contratado nos dois anos verificados, o que indica uma vantagem
128
em relação às outras duas empresas. Outra vantagem é que esta é a única que
não reporta acidentes de transporte. Em termos de meio ambiente é a que
mais tem ações de interação com a comunidade e, em termos de investimento
em meio ambiente, equaliza-se com a empresa A. Esses indicadores podem
indicar um reforço ao verificado quanto à leve diferenciação do programa de
educação ambiental na empresa C. No entanto é a que gera mais resíduos
sólidos, talvez devido às características de seu processo.
Por outro lado, a empresa A foi a única que não relatou reclamações da
comunidade nos dois anos verificados e também é a única que não descarta
efluentes externamente e faz reuso de parte destes. Isso pode ser devido às
facilidades inerentes do processo da empresa.
Embora a empresa B apresente os piores indicadores de uma maneira
geral, estes não validam uma afirmação de que seu programa de educação
ambiental seja mais debilitado do que as outras empresas, no entanto deixa
indícios para isto e sugerem uma melhor investigação, pode-se apenas afirmar
que é a que menos investe em meio ambiente, o que pode ter alguma
correlação com os indicadores.
O que se pode concluir é que se existem diferenças entre os programas
de educação ambiental nas três empresas, como verificado nas pesquisas, são
pouco significativas, confirmando que os programas nas três empresas
pesquisadas são similares, e as diferenças, apesar de existirem, são pouco
substanciais.
É muito interessante demonstrar nas pesquisas que as hipóteses
levantadas foram comprovadas pelas análises e conclusões baseadas nas
respostas dos entrevistados, pelas comparações dos resultados entre as
empresas e pela correlação com os indicadores do Atuação Responsável®.
No entanto, entende-se que o universo apesar de representar três
empresas pertencentes ao mesmo Pólo Petroquímico, com as mesmas
características e com sistemas de gerenciamento similares, é um universo
129
restrito para generalização de conclusões e deve ser realizado estudo
complementar para consolidar as afirmações feitas neste trabalho.
No entanto, com o resultado das pesquisas elaboradas pode-se
demonstrar que há fortes indícios e indicadores de que as hipóteses propostas
foram verificadas e confirmadas nas três empresas pesquisadas.
130
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho apresenta uma abordagem atual da indústria química e
petroquímica, fazendo uma referência a sua inegável importância econômica
para o desenvolvimento do país e sua inclusão no mercado globalizado que
caracteriza a era moderna.
Desde ao início de seu desenvolvimento, a indústria química e
petroquímica apesar dessa importância socioeconômica, da sua posição de
destaque no mundo, traz em seus processos industriais os riscos inerentes às
suas operações e um impacto ambiental representativo para a sociedade,
fazendo com que as preocupações, tanto por parte da sociedade como por
parte dos governos, fossem direcionadas a esse setor.
A mobilização da sociedade e as pressões das organizações não
governamentais, reagindo ao descaso pelas questões ambientais por parte das
indústrias químicas e petroquímicas, provocaram a atualização das
regulamentações e das legislações de controle ambiental e obrigaram o setor a
reagir de modo responsável, criando alternativas de ações para a continuidade
sustentável desse setor produtivo como, por exemplo, o programa Responsible
Care ou Atuação Responsável® no Brasil.
A análise desta iniciativa indica que no mundo e no Brasil o setor tem
alcançado indubitavelmente progressos na condução e crescimento dos seus
negócios. Esta mudança de postura e de atitude perante os anseios da
sociedade trouxe mais confiabilidade aos processos químicos e petroquímicos,
modificando a maneira de gerenciar suas operações, criando uma maior
credibilidade para o setor e recuperando a imagem negativa gerada no
passado. Entre os principais pontos positivos destacam-se a redução dos
acidentes de processo e com funcionários, a redução do volume de efluentes
lançados, redução do consumo de óleo combustível e carvão e redução no
consumo de água em processos e produtos entre outros.
131
Por outro lado, a análise mostra também que alguns desafios
permanecem tais como aqueles que dependem de iniciativas que dependam
não apenas de investimento em tecnologia mas também de uma mudança
cultural, valorizando soluções proativas, como por exemplo, o incremento do
consumo de combustíveis de fontes renováveis, a redução do consumo de
energia elétrica ou uso de fontes energéticas alternativas e ainda a tímida taxa
de reutilização de águas pelo setor.
Além disso, ainda existe uma resistência no engajamento ao programa
pela pequena e média empresa quanto a investimentos na área ambiental e a
disponibilização de dados estatísticos para que se possa avaliar o desempenho
real deste segmento no contexto atual. Somente as grandes empresas mantêm
atividades constantes relacionadas ao meio ambiente e no campo social por
meio dos CCC – Conselhos Comunitários Consultivos, nas comunidades onde
atuam (principalmente nos pólos petroquímicos).
Neste cenário, o trabalho foi proposto de modo a mostrar que iniciativas
como o Atuação Responsável® poderia alcançar maior grau de efetividade
caso a educação ambiental fosse incorporada como um instrumento de
potencialização do programa.
No entanto, a educação ambiental no setor encontra-se ainda num
modelo normativo em função da série ISO 14000 e mesmo do Programa
Atuação Responsável®. Como resultado, verifica-se que a educação ambiental
é utilizada de forma restrita, limitando seus benefícios para a melhoria da
gestão ambiental. Entre as características que limitam o alcance destas
iniciativas destaca-se o fato das organizações pensarem que o processo de
aprendizado se restringe aos programas de treinamento, quando o processo
deve ir mais além, e o modo com que as organizações buscam objetivos de
curto prazo sendo isto um obstáculo ao desenvolvimento de programas de
educação ambiental mais efetivos.
Os estudos de caso e pesquisas realizados como parte deste trabalho indicam
que, embora a educação ambiental tenha uma considerável importância para o
setor químico e petroquímico, a aplicação desta ferramenta é feita de forma
132
parcial, comprometendo sua contribuição para a maior efetividade das
iniciativas de gestão ambiental. Destaca-se na pesquisa realizada alguns
reflexos desta postura podem ser citados, como o fato de que quase metade do
total dos entrevistados da área operacional considerar que os programas de
educação ambiental não são totalmente eficazes no que diz respeito a fazê-los
entender os impactos ambientais gerados pelas empresas; compreender qual é
a função que o órgão ambiental público deve exercer; e, principalmente, no que
tange à consciência das práticas gerenciais relativas ao Atuação
Responsável® e a ISO 14001.
Outro ponto a ser reformulado é o que diz respeito à participação efetiva
dos funcionários nos programas de educação ambiental. Diante da
percentagem alta (40%) que afirma não participar ativamente das atividades
geradas pelos programas de educação ambiental e a de 50% que não
freqüenta assiduamente as palestras de educação ambiental oferecidas, os
programas até então utilizados devem, necessariamente, serem reestruturados
de modo a se tornar mais próximos dos seus funcionários. A distância entre os
programas e os funcionários ainda pode ser constatada em outro momento,
quando quase 40% dos entrevistados responderam que o programa de
educação ambiental não garante o entendimento de todos os níveis da
organização quanto aos impactos ambientais causados por ela.
E, por fim, a educação ambiental poderia ser mais um diferencial para os
funcionários, se o tema entrasse na avaliação de seu desempenho.
Isso quer dizer que ainda existem oportunidades a serem exploradas e
corrigidas com vistas à melhoria contínua da gestão ambiental da indústria
química e petroquímica, incluindo-se programas de educação ambiental
consistentes com a realidade e particularidades do setor, por meio da formação
de seus trabalhadores e líderes.
Essas oportunidades precisam ser identificadas e trabalhadas, para que
essas organizações possam avançar no processo de desenvolvimento
sustentável e elevem seu status socioambiental. Para isso, é preciso estimular
e fortalecer a sensibilidade dos líderes dessas organizações, de forma que
133
possam oferecer o suporte e estímulo necessários uma educação ambiental
que ultrapasse as fronteiras das escolas e penetre no mundo industrial.
Uma educação ambiental que seja específica para as indústrias
químicas, que contemple a orientação e possa garantir o entendimento de
todos os níveis na organização quanto aos impactos ambientais que seus
empreendimentos possam causar, os seus efeitos à natureza e à sociedade
em geral, e os meios de controle e prevenção aplicáveis aos seus processos
visando o respeito ao meio ambiente.
Uma educação ambiental que oriente e direcione ao que é preciso fazer
a curto e médio prazos para enfrentar os desafios de modo a reverter as
tendências negativas do setor que impacta a sociedade moderna.
É necessário reduzir a complexidade dos sistemas de gestão existentes,
permitindo que todos os níveis da organização entendam, clara e
perfeitamente, o que é requerido deles como ações, para que possam aplicá-
las. Normalmente, a diversidade de procedimentos e normas implementados
gera uma complexidade que dificulta o entendimento, fazendo com que a
execução seja deficiente.
O objetivo da educação ambiental abordada no trabalho é desenvolver
uma organização consciente e preocupada com o meio ambiente, para atuar
individual e coletivamente na busca de soluções para os problemas do setor e
para a prevenção de novos problemas. Suas metas principais são as
seguintes:
Tornar os indivíduos e grupos conscientes e sensíveis em relação ao
meio ambiente e aos problemas ambientais;
Proporcionar conhecimentos sobre o meio ambiente, principalmente
quanto às influências das suas atividades;
Promover valores e sentimentos que motivem os trabalhadores e os
grupos a se tornarem participantes ativos na defesa do meio
ambiente e na busca de soluções para os problemas ambientais;
Proporcionar as habilidades que uma participação ativa requer;
134
Proporcionar condições para avaliar as medidas tomadas em relação
ao meio ambiente e aos programas de educação ambiental;
Promover o senso de responsabilidade e de urgência com respeito
às questões ambientais que estimule as ações voltadas para resolvê-
las.
A educação ambiental deve estimular os trabalhadores a serem
portadores de soluções e não apenas de denúncias, embora estas devam ser
as primeiras atitudes diante dos desmandos socioambientais. Deve também
produzir mudanças nas suas próprias condutas, modificando, por exemplo,
seus hábitos de atuação.
O trabalho e os estudos de caso realizados procuraram mostrar os
pontos positivos e as fragilidades das organizações químicas e petroquímicas.
Procurou apresentar sugestões para mobilizar o setor no sentido de direcionar
os esforços para fortalecer ainda mais sua credibilidade, por meio da educação
ambiental, apesar de todo o avanço que tem sido realizado neste setor pioneiro
e de larga importância para a sociedade e o mundo moderno.
135
REFÊRENCIAS
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Manual de implementação do Atuação Responsável. São Paulo, 1992.
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140
APÊNDICE A
Questionário para os estudos de caso (Gerência)
“A Educação Ambiental na Empresa”
Perguntas à Gerência
O objetivo deste questionário é avaliar a sua percepção com respeito à
Educação Ambiental como parte do SGA da empresa. Responda as afirmativas
abaixo de acordo com seu ponto de vista.
1) Razão Social da Empresa no Brasil:
2) Nome Corporativo:
3) Matriz da organização:
4) Produto(s) fabricado(s):
5) Faturamento Anual:
6) Lucro Líquido Anual:
7) Número de funcionários:
8) Número de Supervisores:
9) Número de Gerentes:
10) Número de Diretores:
11) Possui um departamento de Meio Ambiente?
12) Qual a estrutura do departamento?
13) A quem se reporta o responsável de Meio Ambiente?
14) A empresa é certificada ISO 14001?
15) Há quanto tempo?
16) A empresa é signatária do AR?
17) Desde quando?
141
18) A empresa tem uma Política de Meio Ambiente?
( ) Concordo totalmente ( ) Concordo parte ( ) Discordo
totalmente
( ) Discordo parte
19) Essa Política, na sua visão, expressa o comprometimento da alta
gerencia com a melhoria contínua e o desempenho ambiental da
organização, e está claramente definida, documentada e divulgada para
todos os empregados.
( ) Concordo totalmente ( ) Concordo parte ( ) Discordo
totalmente
( ) Discordo parte
20) A organização já identificou suas atividades, produtos e serviços,
considerados críticos por poderem causar impactos ambientais adversos
ao meio ambiente.
( ) Concordo totalmente ( ) Concordo parte ( ) Discordo
totalmente
( ) Discordo parte
21) A regulamentação ambiental vigente está documentada e é
periodicamente atualizada e divulgada em toda a organização.
( ) Concordo totalmente ( ) Concordo parte ( ) Discordo
totalmente
( ) Discordo parte
22) A organização tem estabelecido seus objetivos e metas ambientais.
( ) Concordo totalmente ( ) Concordo parte ( ) Discordo
totalmente
( ) Discordo parte
142
23) A organização implementou um programa de gestão de qualidade do ar,
agua e resíduos sólidos com instrumentos de monitoramento na sua
área de influencia.
( ) Concordo totalmente ( ) Concordo parte ( ) Discordo
totalmente
( ) Discordo parte
24) A organização realiza monitoramento de ar e água e os resultados são
sempre compatíveis com os padrões legais
( ) Concordo totalmente ( ) Concordo parte ( ) Discordo
totalmente
( ) Discordo parte
25) A organização tem um plano de racionalização de água e energia
( ) Concordo totalmente ( ) Concordo parte ( ) Discordo
totalmente
( ) Discordo parte
26) A organização mantém um inventário atualizado de todos os seus
resíduos e reduz continuamente a sua geração, ou procura reutiliza-los
e/ou recicla-los sempre que possível.
( ) Concordo totalmente ( ) Concordo parte ( ) Discordo
totalmente
( ) Discordo parte
27) O inventário de produtos perigosos é periodicamente atualizado e seu
manuseio, armazenamento e transporte ocorrem em conformidade com
os requisitos legais específicos.
143
( ) Concordo totalmente ( ) Concordo parte ( ) Discordo
totalmente
( ) Discordo parte
28) Existe treinamento dos empregados para isso
( ) Concordo totalmente ( ) Concordo parte ( ) Discordo
totalmente
( ) Discordo parte
29) A organização vem alocando, periodicamente, recursos financeiros e/ou
físicos, ou humanos para investir na melhoria do meio ambiente.
( ) Concordo totalmente ( ) Concordo parte ( ) Discordo
totalmente
( ) Discordo parte
30) A Gerência sabe quanto se investe em Meio Ambiente anualmente.
( ) Concordo totalmente ( ) Concordo parte ( ) Discordo
totalmente
( ) Discordo parte
31) A organização atribui responsabilidades ambientais aos seus
empregados.
( ) Concordo totalmente ( ) Concordo parte ( ) Discordo
totalmente
( ) Discordo parte
32) A avaliação de desempenho de seus gerentes e líderes inclui requisitos
da qualidade ambiental.
144
( ) Concordo totalmente ( ) Concordo parte ( ) Discordo
totalmente
( ) Discordo parte
33) A organização investe continuamente em programas de treinamento e
no processo de conscientização ambiental de seus empregados.
( ) Concordo totalmente ( ) Concordo parte ( ) Discordo
totalmente
( ) Discordo parte
34) A organização tem um sistema de comunicação interna de meio
ambiente de modo que os objetivos e metas ambientais e os planos da
organização são conhecidos por todos os empregados.
( ) Concordo totalmente ( ) Concordo parte ( ) Discordo
totalmente
( ) Discordo parte
35) Existe um procedimento especifico que regulamenta o processo de
comunicação da organização com a comunidade, clientes, fornecedores
e órgãos do governo, no que se refere aos assuntos de meio ambiente.
( ) Concordo totalmente ( ) Concordo parte ( ) Discordo
totalmente
( ) Discordo parte
36) A organização mantém um sistema de informações atualizado e um
manual de SGA em cada setor da empresa.
( ) Concordo totalmente ( ) Concordo parte ( ) Discordo
totalmente
( ) Discordo parte
145
37) Existem procedimentos e instruções de trabalhos específicos para todos
os processos, atividades e tarefas caracterizadas como ambientalmente
criticas para a organização.
( ) Concordo totalmente ( ) Concordo parte ( ) Discordo
totalmente
( ) Discordo parte
38) O plano de ação de emergência abrange ações para prevenir e
minimizar os impactos ambientais adversos.
( ) Concordo totalmente ( ) Concordo parte ( ) Discordo
totalmente
( ) Discordo parte
39) Existe treinamento periódico para todos os empregados em
emergências ambientais.
( ) Concordo totalmente ( ) Concordo parte ( ) Discordo
totalmente
( ) Discordo parte
40) A organização realiza medições e monitoramento periódicos do seu
desempenho ambiental para implementar ações corretivas e preventivas
que se façam necessárias para melhorar continuamente seus
resultados.
( ) Concordo totalmente ( ) Concordo parte ( ) Discordo
totalmente
( ) Discordo parte
146
41) A organização realiza avaliações e auditorias periódicas do seu
desempenho ambiental.
( ) Concordo totalmente ( ) Concordo parte ( ) Discordo
totalmente
( ) Discordo parte
42) A organização revisa periodicamente sua política, objetivos e metas
ambientais, a partir dos resultados das medições, monitoramentos e das
avaliações ambientais.
( ) Concordo totalmente ( ) Concordo parte ( ) Discordo
totalmente
( ) Discordo parte
43) Existe treinamento para todos os empregados para prevenção de
acidentes com repercussões ambientais.
( ) Concordo totalmente ( ) Concordo parte ( ) Discordo
totalmente
( ) Discordo parte
44) A empresa já sofreu multas ambientais.
( ) Concordo totalmente ( ) Concordo parte ( ) Discordo
totalmente
( ) Discordo parte
45) A empresa tem uma boa imagem pela comunidade local.
( ) Concordo totalmente ( ) Concordo parte ( ) Discordo
totalmente
147
( ) Discordo parte
46) Existe um projeto de Educação Ambiental na empresa.
( ) Concordo totalmente ( ) Concordo parte ( ) Discordo
totalmente
( ) Discordo parte
47) Todos os funcionários conhecem a sua estrutura e operação.
( ) Concordo totalmente ( ) Concordo parte ( ) Discordo
totalmente
( ) Discordo parte
48) O treinamento em Educação Ambiental é abrangente e aborda varias
disciplinas.
( ) Concordo totalmente ( ) Concordo parte ( ) Discordo
totalmente
( ) Discordo parte
49) Educação Ambiental é prioridade na empresa na empresa a frente de
questões econômicas.
( ) Concordo totalmente ( ) Concordo parte ( ) Discordo
totalmente
( ) Discordo parte
50) O Programa de Educação Ambiental está isolado da ISO 14001.
( ) Concordo totalmente ( ) Concordo parte ( ) Discordo
totalmente
( ) Discordo parte
148
51) O Programa de Educação Ambiental não faz parte do Atuação
Responsável.
( ) Concordo totalmente ( ) Concordo parte ( ) Discordo
totalmente
( ) Discordo parte
52) O Programa de Educação Ambiental na empresa contribui
significativamente para a melhoria ambiental.
( ) Concordo totalmente ( ) Concordo parte ( ) Discordo
totalmente
( ) Discordo parte
53) Os funcionários são avaliados quanto a sua Educação Ambiental.
( ) Concordo totalmente ( ) Concordo parte ( ) Discordo
totalmente
( ) Discordo parte
54) Existem ações específicas que decorrem propriamente da educação
ambiental na empresa.
( ) Concordo totalmente ( ) Concordo parte ( ) Discordo
totalmente
( ) Discordo parte
55) A Educação Ambiental traz benefícios ambientais, econômicos e sociais
para a empresa.
149
( ) Concordo totalmente ( ) Concordo parte ( ) Discordo
totalmente
( ) Discordo parte
56) A ISO 14000 e o Atuação Responsável são suficientes para a excelência
ambiental, sendo que um Programa de Educação Ambiental é
desnecessário.
( ) Concordo totalmente ( ) Concordo parte ( ) Discordo
totalmente
( ) Discordo parte
150
APÊNDICE B
Questionário para os estudos de caso (funcionários)
“A Educação Ambiental na Empresa”
Perguntas aos Funcionários
Responda as afirmativas abaixo de acordo com seu ponto de vista. O
objetivo deste questionário é avaliar a sua percepção com respeito à Educação
Ambiental como parte do SGA da empresa.
1) Tenho conhecimento do processo produtivo da minha empresa e das
empresas vizinhas, bem como dos produtos produzidos pelas mesmas.
( X ) Discordo totalmente. ( X ) Discordo pouco. ( X ) Concordo totalmente.
( X ) Concordo pouco.
2) As empresas do setor químico são responsáveis por uma parcela
significativa dos acidentes industriais e de processos de contaminação
ambiental.
( X ) Discordo totalmente. ( X ) Discordo pouco. ( X ) Concordo totalmente.
( X ) Concordo pouco.
3) O programa de gestão ambiental implantado pela empresa e a adesão ao
Programa Atuação Responsável e certificação por meio da NBR ISO 14.001
são suficientes para a excelência no desempenho ambiental.
( X ) Discordo totalmente. ( X ) Discordo pouco. ( X ) Concordo totalmente.
( X ) Concordo pouco.
4) Tenho acesso às informações sobre o desempenho ambiental da empresa
em que trabalho.
( X ) Discordo totalmente. ( X ) Discordo pouco. ( X ) Concordo totalmente.
( X ) Concordo pouco.
151
5) Sou regularmente informado dos projetos voltados à melhoria ambiental da
empresa em que trabalho.
( X ) Discordo totalmente. ( X ) Discordo pouco. ( X ) Concordo totalmente.
( X ) Concordo pouco.
6) A empresa tem se empenhado na melhoria ambiental da região.
( X ) Discordo totalmente. ( X ) Discordo pouco. ( X ) Concordo totalmente.
( X ) Concordo pouco.
7) A empresa na qual trabalho vem gerenciando adequadamente os aspectos
ambientais provenientes de seu processo produtivo e das demais operações de
apoio.
( X ) Discordo totalmente. ( X ) Discordo pouco. ( X ) Concordo totalmente.
( X ) Concordo pouco.
8) A terceirização de serviços do setor químico e petroquímico compromete os
programas ambientais das empresas.
( X ) Discordo totalmente. ( X ) Discordo pouco. ( X ) Concordo totalmente.
( X ) Concordo pouco.
9) A empresa na qual trabalho possui programa intensivo de educação
ambiental.
( X ) Discordo totalmente. ( X ) Discordo pouco. ( X ) Concordo totalmente.
( X ) Concordo pouco.
10) Eu participo ativamente do programa de educação ambiental da empresa.
( X ) Discordo totalmente. ( X ) Discordo pouco. ( X ) Concordo totalmente.
( X ) Concordo pouco.
11) O programa de educação ambiental da empresa é excelente e eficaz e me
faz entender todos os impactos ambientais da empresa.
( X ) Discordo totalmente. ( X ) Discordo pouco. ( X ) Concordo totalmente.
( X ) Concordo pouco.
152
12) O programa de educação ambiental da empresa é excelente e eficaz e me
faz entender os impactos ambientais externos a ela no meio em que vivo.
( X ) Discordo totalmente. ( X ) Discordo pouco. ( X ) Concordo totalmente.
( X ) Concordo pouco.
13) Os acidentes ambientais são amplamente divulgados a título de
aprendizado na minha empresa como parte do programa de educação
ambiental.
( X ) Discordo totalmente. ( X ) Discordo pouco. ( X ) Concordo totalmente.
( X ) Concordo pouco.
14) A empresa em que trabalho tem preocupação em me fazer entender os
requisitos legais quanto aos seus efluentes e emissões para a atmosfera em
conformidade com a lei.
( X ) Discordo totalmente. ( X ) Discordo pouco. ( X ) Concordo totalmente.
( X ) Concordo pouco.
15) A empresa vem realizando programas voltados à reciclagem de seus
resíduos, incentivando seus funcionários na prática desses programas como
parte da educação ambiental.
( X ) Discordo totalmente. ( X ) Discordo pouco. ( X ) Concordo totalmente.
( X ) Concordo pouco.
16) A empresa utiliza canais de comunicação adequados para divulgação dos
projetos e informações sobre o seu desempenho ambiental (jornais internos, e-
mails, home page,etc.) como parte do programa de educação ambiental.
( X ) Discordo totalmente. ( X ) Discordo pouco. ( X ) Concordo totalmente.
( X ) Concordo pouco.
17) O programa de educação ambiental me dá consciência das práticas do
programa atuação responsável.
( X ) Discordo totalmente. ( X ) Discordo pouco. ( X ) Concordo totalmente.
( X ) Concordo pouco.
153
18) O programa de educação ambiental me dá consciência das práticas da
norma ISO 14001.
( X ) Discordo totalmente. ( X ) Discordo pouco. ( X ) Concordo totalmente.
( X ) Concordo pouco.
19) O programa de educação ambiental nos explica o que é e o que faz a
Cetesb.
( X ) Discordo Totalmente. ( X ) Discordo pouco. ( X ) Concordo totalmente.
( X ) Concordo pouco.
20) Eu freqüento assiduamente as palestras de educação ambiental.
( X ) Discordo totalmente. ( X ) Discordo pouco. ( X ) Concordo totalmente.
( X ) Concordo pouco.
21) É muito difícil aplicar na pratica o que aprendo nas palestras de educação
ambiental.
( X ) Discordo totalmente. ( X ) Discordo pouco. ( X ) Concordo totalmente.
( X ) Concordo pouco.
22) A Diretoria da empresa em que trabalho vem se empenhando em prol da
melhoria da educação ambiental.
( X ) Discordo totalmente. ( X ) Discordo pouco. ( X ) Concordo totalmente.
( X ) Concordo pouco.
23) Há pressão da comunidade local para melhoria do desempenho ambiental
na minha empresa.
( X ) Discordo totalmente. ( X ) Discordo pouco. ( X ) Concordo totalmente.
( X ) Concordo pouco.
24) Conheço todo o ciclo de vida do produto produzido pela minha empresa.
( X ) Discordo totalmente. ( X ) Discordo pouco. ( X ) Concordo totalmente.
( X ) Concordo pouco.
154
25) Posso descrever todos os poluentes oriundos do processo de produção da
minha empresa.
( X ) Discordo totalmente. ( X ) Discordo pouco. ( X ) Concordo totalmente.
( X ) Concordo pouco.
26) Posso descrever o impacto ambiental de cada poluente oriundo do
processo de produção de minha empresa.
( X ) Discordo totalmente. ( X ) Discordo pouco. ( X ) Concordo totalmente.
( X ) Concordo pouco.
27) Posso descrever todos os resíduos sólidos gerados na operação da minha
empresa.
( X ) Discordo totalmente. ( X ) Discordo pouco. ( X ) Concordo totalmente.
( X ) Concordo pouco.
28) Conheço a destinação final dos resíduos gerados no setor o qual faço
parte.
( X ) Discordo totalmente. ( X ) Discordo pouco. ( X ) Concordo totalmente.
( X ) Concordo pouco.
29) Posso descrever o impacto ambiental da minha empresa na comunidade
onde ela está localizada.
( X ) Discordo totalmente. ( X ) Discordo pouco. ( X ) Concordo totalmente.
( X ) Concordo pouco.
30) O programa de educação ambiental na minha empresa é totalmente eficaz
e não há necessidade de melhorias.
( X ) Discordo totalmente. ( X ) Discordo pouco. ( X ) Concordo totalmente.
( X ) Concordo pouco.
155
31) O programa de educação ambiental na minha empresa contempla a
orientação e garante o entendimento de todos os níveis da organização quanto
aos impactos ambientais que a empresa causa, os seus efeitos à natureza e a
sociedade em geral.
( X ) Discordo totalmente. ( X ) Discordo pouco. ( X ) Concordo totalmente.
( X ) Concordo pouco.
32) E educação ambiental na minha empresa reduz a complexidade das
práticas ambientais incluídas nos sistemas de gestão existentes, permitindo
que os níveis operativos das unidades de produção entendam claramente e
perfeitamente o que é requerido deles como ações:
( X ) Discordo totalmente. ( X ) Discordo pouco. ( X ) Concordo totalmente.
( X ) Concordo pouco.
33) A educação ambiental na minha empresa utiliza praticas no dia-a-dia, e o
aprendizado ocorre através do tempo, durante o decorrer do trabalho com
supervisão adequada ao invés de somente treinamento teórico:
( X ) Discordo totalmente. ( X ) Discordo pouco. ( X ) Concordo totalmente.
( X ) Concordo pouco.
34) O programa de educação ambiental na minha empresa tem como enfoque
principal às pessoas, sendo secundário os ganhos pela empresa:
( X ) Discordo totalmente. ( X ) Discordo pouco. ( X ) Concordo totalmente.
( X ) Concordo pouco.
35) O programa de educação ambiental na minha empresa me prepara
adequadamente para atuar responsavelmente no meu trabalho respeitando e
conservando o meio ambiente:
( X ) Discordo totalmente. ( X ) Discordo pouco. ( X ) Concordo totalmente.
( X ) Concordo pouco.
156
36) O programa de educação ambiental da minha empresa me permite
entender os conceitos ambientais básicos e levar estes à comunidade onde
vivo:
( X ) Discordo totalmente. ( X ) Discordo pouco. ( X ) Concordo totalmente.
( X ) Concordo pouco.
37) Considero o conteúdo das palestras de excelente qualidade e essenciais
para o desempenho das minhas funções:
( X ) Discordo totalmente. ( X ) Discordo pouco. ( X ) Concordo totalmente.
( X ) Concordo pouco.
38) A sua participação nos eventos de educação ambiental é considerado
essencial pela Gerência:
( X ) Discordo Totalmente. ( X ) Discordo pouco. ( X ) Concordo totalmente.
( X ) Concordo pouco.
39) A realização de cursos e treinamentos na área ambiental é considerada
importante para ascensão profissional na empresa:
( X ) Discordo totalmente. ( X ) Discordo pouco. ( X ) Concordo totalmente.
( X ) Concordo pouco.
40) A empresa tem uma Política de Meio Ambiente:
( X ) Discordo totalmente. ( X ) Discordo pouco. ( X ) Concordo totalmente.
( X ) Concordo pouco.
41) Eu a conheço completamente:
( X ) Discordo totalmente. ( X ) Discordo pouco. ( X ) Concordo totalmente.
157
APÊNDICE C
Percentagem de concordância com a eficiência dos programas de acordo
com as áreas de pesquisa
TABELA 7: Percentagem de concordância com a eficiência dos programas de acordo
com as áreas de pesquisa.
Percepção do
Risco
Comunicação Gestão Ambiental Educação
Ambiental
Empresa A Gerentes 85 89 87 70
Funcionários 75 85 72 66
Empresa B Gerentes 100 100 100 86
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