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lendário Grêmio Recreativo de Arte Negra Escola de Samba Quilombo, em
Coelho Neto, cujo estatuto estabelecia a missão de combater as “escolas de
samba s.a” — leia-se a competição no carnaval carioca e a comercialização
dos tradicionais desfiles. É interessante observar que, neste momento da
História do Samba, a iniciativa de Darcy foi novamente de vanguarda, como na
fundação do Império Serrano, mas desta vez na contra-mão do próprio Império
quando a linguagem dos desfiles já havia atingido sua saturação. Nesta mesma
época, atraída por toda essa atmosfera de efervescência cultural, Clara Nunes
chegou à Serrinha. Cantora já famosa, ela desejava conhecer melhor o jongo e
os “encantos“ daquele morro. A mineira não só aprofundou sua pesquisa
musical como virou filha-de-santo do já famoso terreiro de umbanda de Vovó
Maria Joanna na Balaiada.
A Clara conheceu a Serrinha porque ela freqüentava o bar “Cabelo branco”
com o Adelson Alves, o primeiro marido dela. O bar era um ponto de
encontro na Edgard Romero para conversar, beber, cantar. Lá ela
conheceu meu tio Darcy que falou muito da minha avó e ela quis conhecer.
Veio aqui em casa e adorou, e em pouco tempo era como se fosse da
família. Nessa época ela já era famosa, mas depois ficou mais ainda. Eu
tinha 12 anos. Ela parava o carro na esquina da Balaiada e, no começo,
todo mundo vinha em cima pedir autógrafo, foto, essas coisas. Depois
foram se acostumando. Clara vivia aqui em casa de pés descalços, era
59 Wilson Moreira (1936) nasceu no Rio de Janeiro e foi criado no bairro de Realengo. Foi um
dos primeiros integrantes da bateria da ala dos compositores da escola de samba
Mocidade Independente de Padre Miguel, mas em 1968 transferiu-se para a Portela.
Começou a compor nos anos 50, sendo "Antes Assim" sua primeira música gravada, pela
cantora Leny Andrade. Filho de jongueiros, compôs diversas músicas e gravou vários LPs.
60 Hildemar Diniz (1933), o Monarco, nasceu no Rio de Janeiro e desde criança teve contato
com os sambistas da Portela, integrando blocos e compondo sambas ainda na infância. Em
1950 passou a ser integrante da ala dos compositores da escola, e se apresenta
atualmente com a Velha Guarda. Também é diretor de harmonia da escola.
61 Paulo César de Farias (1942), o Paulinho da Viola, nasceu no Rio de Janeiro e é filho do
violonista e chorão César Faria, do conjunto Época de Ouro. Cresceu no Rio de Janeiro
ouvindo em casa canjas de músicos, como Pixinguinha e Jacob do Bandolim, e logo
aprendeu a tocar violão e cavaquinho. Participou de festivais e em 1968 lançou o primeiro
disco solo, "Paulinho da Viola". No ano seguinte, sua música "Sinal Fechado",
harmonicamente elaborada e mais distante das raízes do samba, venceu o V Festival da
MPB, mostrando outro lado de seu talento como compositor. É um dos mais requintados
compositores de samba em atividade, letrista e instrumentista aclamado.
62 Nei Lopes (1942) nasceu no Rio de Janeiro. Militante do movimento negro, é cantor,
compositor, escritor, advogado e historiador e iniciou sua carreira musical na década de 70,
cantando no LP "Tem Gente Bamba na Roda de Samba". É autor de vários discos, dentre
eles, em parceria com Wilson Moreira, "A Arte Negra de Wilson Moreira e Nei Lopes" e "O
Partido Muito Alto de Wilson Moreira e Nei Lopes".