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exemplo, dificilmente contaríamos uma parábola, mas um causo ou fábula, pois, certamente,
atenderia a esse propósito.
A questão do tipo textual, por sua vez, tem trazido uma certa confusão terminológica
e conceitual, provocando uma divergência entre os autores, sem contar que são, por vezes,
confundidos com gêneros. Este é, também, um ponto relevante para a caracterização do
corpus aqui em análise, portanto, faz-se pertinente expor as idéias dos autores e a posição
por mim assumida sobre o tipo textual.
A preocupação dos teóricos está em “precisar a que realidades do domínio da
linguagem a noção de gênero discursivo se refere, e, ao fazê-lo, acabam, por extensão,
fornecendo elementos que possam delimitar a noção de tipo textual (SILVA, 1999:92).
Noção essa que assume vários e diferentes valores, “conforme o corpus utilizado na análise
e os princípios tipológicos propostos pelas tipologias, bem como as teorias da linguagem
das quais essas derivam” (SILVA, 1999:88).
Há tipologias, como as elaboradas por Fávero & Koch (1987) e Van Dijk (1983), as
quais, guardadas as diferenças e propósitos, apontam cinco tipos textuais nomeados
tradicionalmente por narração, dissertação (expositivo), argumentação, descrição e
injunção; por Marcuschi (2002), a narração, argumentação, exposição, descrição e injunção;
por Bronckart (2003), a narração, descrição, argumentação, exposição e diálogo; e por Silva
(1999), a narração, descrição, dissertação/argumentação (em um mesmo bloco) e injunção.
Essas tipologias compõem a organização do texto, ou, nas palavras de Bakhtin (apud
SILVA, 1999:101), constituem a estrutura composicional do texto segundo os padrões do
gênero”.
No causo, por exemplo, podem aparecer em sua estrutura composicional vários
tipos textuais, tais como: a narração, para relatar os acontecimentos, os fatos e a
progressão das ações dos personagens; a descrição, para caracterizar ou dizer
como são os personagens, as ações praticadas por elas e o cenário em que as
ações estão se realizando (essas tipologias serão vistas no cap.3).
Para avançar um pouco mais nessa discussão, em concordância com Silva
(1999:101), acredito ser pertinente tratar os tipos textuais como modo enunciativo de
organização do discurso no texto; modo este que assume “uma função específica e
variável na constituição do texto, em razão da finalidade comunicativa que este
engloba”. Nesse sentido, nas seqüências narrativas do causo, por exemplo, a
ordenação cronológica dos episódios tende a ser mais dominante que em textos
jornalísticos; na descrição o fluxo da narrativa é suspenso para focalizar, em
detalhes, os personagens, suas ações, o cenário, etc., diferentemente de uma bula,
em que a descrição é modalizada, dentre outras, para enumerar de modo objetivo os
elementos ou aspectos que compõem o objeto descrito (Cf. SILVA, 1999:102).