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“A análise do discurso tem por objetivo analisar a linguagem em
ação, os efeitos produzidos por meio de seu uso, o sentido social
construído(...). Assim, ela contribui para mostrar como se estrutura
discursivamente o social, como o discurso é, ao mesmo tempo,
portador de normas que sobredeterminam o indivíduo vivendo em
coletividade e as possíveis estratégias que lhe permitem singularizar-
se”(Charauderau, 1996:3)
Esse segmento social que entra na composição da linguagem significa, em outras
palavras, que “o discurso se realiza nos textos. Os textos realizam discursos em
situações institucionais, históricas sociais e ideológicas” (Marcuschi, 2002:24).
Nessa perspectiva, fazendo-se um retrospecto, pode-se dizer que foi com Pêcheux,
em Análise automática do discurso (1997), que o texto se tornou novamente
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objeto em discussões lingüísticas. O autor introduziu uma proposta mostrando que o
texto pressupõe condições de produção discursivas ligadas, basicamente, à
situação, aos interlocutores envolvidos, ao tema do discurso e às imagens
psicossociais de todos esses elementos. Com isso, há um deslocamento do objeto
língua (lingüística saussuriana), para o objeto discurso (na visão de Pêcheux). Esse
deslocamento se coloca em relação às análises textuais dos comparativistas-
históricos. Pêcheux toma o texto não como produto, mas como processo discursivo.
Então, os sujeitos discursivos, os produtores e receptores textuais, são
articuladores, configuradores (Geraldi, 1995) de mundos discursivos variados
(Bronckart, 1999). Nesses mundos discursivos cujas coordenadas se encontram no
mundo real estão envolvidos uma complexa rede de fatores de textualidade,
relacionados, basicamente, à situação, ao jogo de imagens recíprocas que são,
grosso modo, as representações sociais, culturais, ideológicas; as convicções, as
atitudes dos interagentes, e os conhecimentos partilhados, dentre outros.
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Com o advento da lingüística moderna, a partir de Ferdinand de Saussure e de sua obra, Curso de
Lingüística Geral a relação entre “língua(gem)” e “texto” é deslocada, em relação à perspectiva
anterior, histórico-comparativista, em que o texto se sobrepunha à língua. Nesta obra, a definição da
langue como objeto da lingüística – e não o texto, que estaria no campo da parole (lugar de
idiossincrasias, de heterogeneidade, de supostas irregularidades) – opõe uma Lingüística da Língua,
que interessa a Saussure (1977), a uma Lingüística da Fala, que não o interessa, dada uma certa
obscuridade teórica de seus objetos (no caso, a parole). Desse modo, o texto ficou relegado dentro
da disciplina devido à definição saussureana do objeto da lingüística.