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Drummond, Ávila e Osvaldo, por exemplo. A tradição colonial mineira é constantemente
cantada para que seja possível, mesmo que de forma imaginária, a recriação da “terra natal”.
Veja-se neste poema de Drummond – “Prece de Mineiro no Rio” (A Vida Passada A Limpo –
1958) – que o Espírito de Minas é invocado para que, seja possível instalar-se a ordem e a
lucidez:
Espírito de Minas, me visita,
e sobre a confusão desta cidade,
onde voz e buzina se confundem,
lança teu claro raio ordenador.
Conserva em mim ao menos a metade
do que fui de nascença e a vida esgarça
não quero ser um móvel num imóvel,
quero firme e discreto o meu amor,
meu gesto seja sempre natural,
mesmo brusco ou pesado, e só me punja
a saudade da pátria imaginária.
Essa mesma, não muito. Balançando
entre o real e o irreal, quero viver
como é de luta essência e nos segredas,
capaz de dedicar-me em corpo e alma,
sem apego servil ainda o mais brando.
Por vezes, emudeces. Não te sinto
a soprar da azulada serrania
onde galopam sombras e memórias
de gente que, de humilde, era orgulhosa
e fazia da crosta mineral
um solo humano em seu despojamento.
Outras vezes te invocam, mas negando-te,
como se colhe e se espezinha a rosa.
Os que zombam de ti não te conhecem
na força com que, esquivo, te retrais
e mais límpido quedas, como ausentes,
quanto mais te penetra a realidade.
Desprendido de imagens que se rompem
a um capricho dos deuses, tu regressas
ao que, fora do tempo, é tempo infindo,
no secreto semblante da verdade.
Espírito Mineiro, circunspecto,
talvez, mas encerrando uma partícula
de fogo embriagador, que lavra súbito,
e, se cabe, a ser doidos nos inclinas:
não me fujas no Rio de Janeiro,
como a nuvem se afasta e a ave se alonga,
mas abre um portulano ante meus olhos
que a teu profundo mar conduza, Minas,
Minas além do som, Minas Gerais. (DRUMMOND, 2002, p. 432-433)
O poema retrata a existência de um território que possui, além de sua face material,
“espírito”. Mineiro de corpo e alma, Drummond, mesmo distante da sua terra-natal deseja ser
visitado por ela. E o “Espírito de Minas” confirma a sua existência nas letras de todos os