19
trabalhador e a dos outros, como também a do coletivo. O trabalhador, considerando
as variabilidades que acontecem diariamente na atividade, exerce importante papel
de regulação, de gestão dessas variabilidades, para que ele consiga executar seu
trabalho. Ao trabalhador também cabe gerir os contraintes que lhe são colocados,
como as variáveis de tempo e produtividade, que restringem sua ação.
Já a noção de normas antecedentes, utilizada na Ergologia, tem a mesma
natureza do conceito de trabalho prescrito, para a Ergonomia. Remete também ao
que é dado, exigido e apresentado ao trabalhador, antes da atividade. Não se pode
considerar as normas antecedentes com sendo unicamente o objeto de uma
imposição por uma hierarquia. Elas também representam uma construção histórica e
“dizem respeito a um patrimônio conceitual, científico e cultural” (ALVAREZ e
TELLES, 2004). Apreendem um saber-fazer historicamente constituído, suas
singularidades, linguagem e comunicação, enfim, tudo o que foi construído ao longo
da formação de um ofício. Uma outra dimensão presente na noção de normas
antecedentes refere-se aos valores, que não são os de ordem econômica, mas que
dizem respeito ao bem comum. Estes valores estão presentes nas tomadas de
decisão, nos conflitos, nos debates, e perpassam as situações de trabalho.
As renormatizações das normas antecedentes acompanham essa dinâmica
de construção histórica, elas representam o processo de retrabalho das normas
antecedentes que acontecem em todas as situações de trabalho.
Esse entendimento se baseia no fato de que o meio de trabalho é infiel,
porque ele jamais se repete exatamente de um dia para o outro, ou de uma situação
de trabalho a outra. As normas e procedimentos não conseguem dar conta de
tamanha variabilidade, e por isso, o trabalho não é uma execução de normas, ele é
uma atividade de gestão. Considerando, ainda, a singularidade de cada sujeito no
trabalho, pode-se dizer que há uma maneira pessoal para lidar com essa deficiência
de normas, fazendo com que essa pessoa contribua ainda mais a singularizar o
meio, a dar uma fonte de variabilidade suplementar. O meio é, portanto, duplamente
infiel.
Para lidar com essa infidelidade e tornar a vida “vivível”, é preciso fazer o "uso
de si", ou seja, fazer uso de suas próprias capacidades, de seus próprios recursos e