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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI
ELISABETE LAURINDO
O ESPORTE-PARTICIPAÇÃO COMO POLÍTICA PÚBLICA:
um estudo de caso em Itajaí (SC)
ITAJAÍ
2007
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ELISABETE LAURINDO
O ESPORTE-PARTICIPAÇÃO COMO POLÍTICA PÚBLICA:
um estudo de caso em Itajaí (SC)
Dissertação apresentada à banca examinadora
no Mestrado Profissionalizante em Gestão de
Políticas Públicas, da Universidade do Vale do
Itajaí – UNIVALI, como exigência parcial para
obtenção do tulo de mestre em Gestão de
Políticas Públicas.
Orientadora: profª. Drª. Maria José Reis,
ITAJAÍ
2007
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Dedico esta dissertação a todos os meus familiares, aos meus amigos
e as pessoas que contribuíram para sua execução, especialmente ao
meu amado Edegilson que sempre me incentivou e esteve ao meu
lado. Dedico também a minha querida mãe Marlene, ao meu amado
filho Luan, a minha irmã Márcia e a minha pequena Princesa,
companheira fiel e inseparável.
Agradeço a colaboração do acadêmico Kelynton Córdova da Silva,
companheiro de todas as horas neste desafio, o qual hoje posso
chamar de amigo. Agradeço especialmente a Professora Maria José
Reis pelas sábias orientações que nortearam este trabalho e aos
demais professores que contribuíram para o enriquecimento do
conhecimento adquirido. Destaco o companheirismo dos colegas
mestrandos que deixaram sua marca de amizade, colaboração e
alegria.
“Precisamos de um movimento concentrado para dinamizar processos de interação social que
resultem numa dimensão ampliada da convivência humana, resgatando nosso potencial para
viver juntos e realizar objetivos comuns”
(
Frase inscrita em camisetas durante a ECO 92, realizada no Rio de Janeiro)
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 -
Obras sobre Educação Física e Esportes no Período Imperial...........
46
Quadro 2 -
Evolução Institucional do Esporte no Brasil.....................................
53
Quadro 3 -
Censo Demográfico de Itajaí referente ao período de 1960 a 2000.........
64
Quadro 4 -
População de Itajaí por Bairros........................................................
65
Quadro 5 -
Os Clubes de Itajaí...........................................................................
73
Quadro 6 -
Os Clubes de Remo de Santa Catarina..............................................
80
Quadro 7 -
As Ligas do Passado.........................................................................
84
Quadro 8 -
Eventos de Esporte de rendimento no primeiro trimestre de 2005....
95
Quadro 9 -
Distribuição dos Espaços Esportivos por Bairros.............................
112
Quadro 10 -
Modalidades Esportivas praticadas pelos cidadãos/usuários do
Esporte.............................................................................................
123
Quadro 11 -
Você gostaria de praticar algum tipo de esporte? Qual?...................
125
Quadro 12 -
Quais as necessidades do seu bairro relativas aos espaços públicos
esportivos?.......................................................................................
126
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 -
Organograma do Ministério do Esporte...........................................
51
Figura 2 -
Organograma da Fundação Catarinense de Desportos...............................
57
Figura 3 -
Mapa dos Espaços Públicos Esportivos Municipais.........................
67
Figura 4 -
Fluxograma do Plano Diretor de Itajaí.............................................
69
Figura 5 -
Gestão Pública do Esporte, Cultura e Lazer do Munipio de Itajaí
na Década de 1970..........................................................................
87
Figura 6 -
Organograma da estrutura da Fundação Municipal de Esportes de
Itaj em 2006.................................................................................
91
Figura 7 -
Mapa da Evolução Urbana de Itajaí (SC).........................................
120
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 -
Distribuição representativa dos bairros pesquisados..................................
99
Tabela 2 -
Distribuição etária dos cidadãos/usuários do esporte.................................
107
Tabela 3 -
Distribuição etária dos gestores das associações........................................
108
Tabela 4 -
Perfil econômico dos cidadãos/usuários do esporte....................................
108
Tabela 5 -
Perfil econômico dos gestores das associações..........................................
109
Tabela 6 -
Perfil educacional dos cidadãos/usuários do esporte..................................
109
Tabela 7 -
Perfil educacional dos gestores das associações do esporte.......................
110
LISTA DE FOTOS
Foto 1 -
Sociedade Guarani......................................................................................
75
Foto 2 -
Vista Panorâmica do Porto de Itajaí – Década de 60..................................
76
Foto 3 -
Remo em 1929............................................................................................
76
Foto 4 -
Tenistas da década de 40.............................................................................
76
Foto 5 -
Time do Marcílio Dias no começo dos anos 60..........................................
77
Foto 6 -
Jogo Marcílio X Barroso.............................................................................
77
Foto 7 -
Primeira Equipe do C. N. Marcílio Dias.....................................................
78
Foto 8 -
Lauro Muller F.C. – 1930………………………………………...………
79
Foto 9 -
Clube Náutico Almirante Barroso…………………..................................
79
Foto 10 -
Equipes de Voleibol Feminino....................................................................
83
Foto 11 -
Bairro Vila Operária...................................................................................
84
Foto 12 -
Vista Aérea do Itamirim Clube de Campo..................................................
86
Foto 13 -
Salão de Festas............................................................................................
86
Foto 14 -
Jogos Abertos de Santa Catarina, 1972.......................................................
88
Foto 15 -
Obras do Ginásio Gabriel João Collares, 1981...........................................
89
Foto 16 -
Vista Frontal da AMJAPROCOR – Bairro de Cordeiros...........................
100
Foto 17 -
Campo de Futebol de Areia da Associação de Moradores do Núcleo
Abdon FóesBairros Cordeiros.................................................................
101
Foto 18 -
Vista frontal da A.M.C. Bairros Cordeiros.................................................
101
Foto 19 -
Vista frontal da Associação Comunitária Nilson Lourenço dos Santos
Bairro São Vicente......................................................................................
102
Foto 20 -
Atividades de Remo da A.N.I. Bairro Fazenda..........................................
103
Foto 21 -
Sede da A.D.V.I.R. – Bairro Fazenda.........................................................
104
Foto 22 -
Associação escola de Surf e Amigos da Atalaia – Bairro Cabeçudas........
105
Foto 23 -
Equipe de Handebol Adaptado...................................................................
124
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 -
Distribuição dos cidadãos/ usuários por sexo.............................................
107
Gráfico 2 -
Importância da prática esportiva para os cidadãos/usuários.............
125
Gráfico 3 -
Como você avalia as ações do governo municipal em relação às políticas
setoriais de esporte......................................................................................
127
Gráfico 4 -
Evolução Orçamentária para a FME de Itajaí (SC)....................................
134
LISTA DE ABREVIATURAS
PIB – Produto Interno Bruto
INDESP Instituto Nacional de Desenvolvimento do Desporto
MEC Ministério de Educação e Cultura
MEE – Ministério Extraordinário do Esporte
CNE Conselho Nacional de Esportes
COB Comitê Olímpico Brasileiro
CPB Comitê Paraolímpico Brasileiro
CNA Comissão Nacional de Atletas
CONFEF Conselho Federal de Educão sica
CBCE Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte
CDMB Comissão Desportiva Militar Brasileira
ONED Organização Nacional de Entidades Nacionais Dirigentes de Desporto
CBF Confederação Brasileira de Futebol
FESPORTE – Fundação Catarinense de Desportos
CED – Conselho Estadual de Desportos
JASC – Jogos Abertos de Santa Catarina
OLESC – Olimpíada Estudantil Catarinense
PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
AMFRI – Associação dos Municípios da Foz do Rio Itajaí
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
DEPLAN Departamento de Planejamento e Geoprocessamento
SPDU – Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Urbano
TFC Tiradentes Futebol Clube
PNED – Plano Nacional de Educação Física e Desportos
LID – Liga Itajaiense de Desportos
FGML – Fundação Genésio Miranda Lins
FME – Fundação Municipal de Esportes de Itajaí
OLEI – Olimpíada Estudantil de Itajaí
JASC – Jogos Abertos de Santa Catarina
JEP – Jogos Estudantis da Primavera de Itajaí
JESC – Jogos Escolares de Santa Catarina
JEI – Jogos Escolares de Itajaí
PAEE – Pólo de Atendimento Esportivo Educacional
AABB – Associação Atlética do Banco do Brasil
IFES – Instituto Fayal de Ensino Superior
ACFAI – Associação dos Clubes de Futebol Amador de Itajaí
APDEFI – Associação dos Portadores de Deficiência do Vale do Itajaí e Região
UNIVALI – Universidade do Vale do Itajaí
SESI – Serviço Social da Indústria
AMJAPROCOR – Associação de Moradores dos Jardins Progresso de Cordeiros
AMC – Associação de Moradores de Cordeiros
ANI – Associação Náutica de Itajaí
OMS – Organização Mundial de Saúde
COMBEMI – Comissão Municipal de Bem Estar do Menor de Itajaí
ASPPI – Associação dos Servidores Públicos do Porto de Itajaí
RESUMO
O esporte é um fenômeno social em expansão no mundo contemporâneo. Após reestruturação
conceitual, tomou dimensões que buscam atender não somente a performance, mas a
educação e a participação de todos como preconiza a Constituição Federal de 1988, no artigo
217, afirmando-o como direito de todo cidadão e como tal deve ser pensado como prioridade
e disseminado. Esta dissertação tem como propósito fundamentar e justificar a importância do
esporte-participação para o avanço do processo democrático e desenvolvimento da sociedade,
bem como diagnosticar as políticas públicas voltadas ao esporte, sobretudo o esporte-
participação, no município de Itajaí (SC). Face à relevância do tema abordado utilizou-se, em
primeiro lugar, a pesquisa bibliográfica, visando o aprofundamento da fundamentação teórica.
Em segundo lugar, foi realizada pesquisa documental em fontes primárias e secundárias e, por
fim, foi realizada pesquisa de campo, sendo o ambiente social a fonte para coleta de dados
empíricos por meio de observação direta, fotografias e entrevistas, em quatro bairros com
características diferentes. Tais características dizem respeito ao número de habitantes, nível
sócio-econômico e disponibilidade de espaços públicos para a prática de esporte, sendo eles:
Cordeiros, São Vicente, Fazenda e Cabeçudas. O estudo buscou proceder a um levantamento
das demandas sócio-espaciais esportivas dos diversos atores locais, distribuídos em três
categorias de análise: os cidadãos/usuários do esporte; os gestores das associações locais e os
gestores públicos envolvidos com o esporte. Como diretriz metodológica procurou-se
categorizar os usuários efetivos, bem como os usuários potenciais utilizando-se o termo
cidadãos/usuários no sentido de considerá-los o somente como meros consumidores, mas,
sobretudo quanto à sua dimensão de cidadania que envolve o conceito de justiça,
representação, participação e igualdade de oportunidades. Para a análise e interpretação dos
dados, foram utilizados como fundamentação teórica os pressupostos de autores dedicados à
temática do esporte na cidade. Especificamente sobre o objeto de estudo, procurou-se suporte
teórico-conceitual no referencial do professor Manoel José Gomes Tubino, cuja concepção
acerca do esporte nas três dimensões sociais, considera o esporte-participação como princípio
do prazer lúdico e bem-estar social dos seus praticantes. As considerações sobre a análise dos
resultados empíricos indicaram que o ponto nevrálgico da política pública do esporte-
participação se constitui na falta de espaços com equipamentos esportivos na cidade de Itajaí,
especialmente nos bairros mais populosos. Aliado a isto, a insuficiência de profissionais
capacitados para gerir o esporte local e, por fim, constatou-se que a participação da
comunidade nas decisões políticas é insuficiente para gerar a cidadania esperada.
Palavras-chave: Políticas públicas de esporte. Esporte-participação. Dimensão sócio-
espacial.
ABSTRACT
Sport is a growing social phenomenon in the contemporary world. After conceptual
restructuring, it takes on dimensions that serve not only performance, but also education and
the participation of all, as stated in the 1988 Federal Constitution, article 217, where sport is
affirmed as the right of every citizen, and as such, it should be considered a priority, and
widely disseminated. The basic proposal of this dissertation is to justify the importance of
participation in sports, for advancing the process of democracy and the development of
society, and to diagnosis the public politicies related to sport, in particular, participation in
sport in the town of Itajaí, in the State of Santa Catarina. Due to importance of this subject, a
bibliographic review was carried out, to understand the theoretical principals in greater depth.
Documentary research was then carried out, using primary and secondary sources, followed
by a field study, using the social environment as a source for the collection of empirical data,
by means of direct observation, photographs, and interviews in four neighborhoods with
different characteristics. These characteristics relate to the number of citizens, social-
economic level and availability of public spaces for the practice of sports, namely: Cordeiros,
São Vicente, Fazenda, and Cabeçudas. A survey was carried out of the social and space
requirements of sports of the various local actors, distributed in three categories of analysis:
the citizens/users of sport; managers of local associations, and public managers involved with
sports. As a methodological guideline, it sought to categorize the effective and potential users,
using the term citizen/user not only as a mere consumer, but in the broader dimension of
citizenship, which involves the concepts of justice, representation, participation, and equality
of opportunities. For the analyses and interpretation of data, the theories of authors on the
theme of sports were used. Specifically on the object of study, theoretical and conceptual
support was drawn from the work of Manoel José Gomes Tubino, whose concept of sport in
three social dimensions considers participation in sport as a principle of playful pleasure and
social well-being of the practitioners. The conclusions on the analyses of the empirical results
indicate that the critical points of public policies on participation in sport are: the lack of
sports facilities in the town of Itajaí, particularly in more densely populated districts; there is a
lack of professionals trained to manage local sports; and the participation of the local
community in political decisions is insufficient to generate the hoped-for citizenship.
Key words: Participation in sports. Public policies. Social-spatial dimension.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.............................................................................................................
16
2 GESTÃO E AVALIAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS: FUNDAMENTAÇÃO
TEÓRICA E CONSTATAÇÕES EMPÍRICAS............................................................
23
2.1 Considerações teórico-metodológicas sobre gestão e avaliação de políticas
públicas...............................................................................................................................
23
2.2 Análise das dimensões público/privado na organização sócio-espacial
brasileira.............................................................................................................................
29
2.2.1 Fatores determinantes da configuração das atuais políticas públicas
urbanas................................................................................................................................
31
2.3 Considerações teóricas sobre políticas públicas de esporte.........................................
38
2.4 Retrospectiva histórica sobre a institucionalização estatal do esporte no Brasil..........
45
2.4.1 A institucionalização esportiva pública em Santa Catarina......................................
56
3 ASPECTOS HISTÓRICOS DA FORMAÇÃO SÓCIO-ESPACIAL DE
ITAJAÍ...............................................................................................................................
59
4 A ORGANIZAÇÃO DO ESPORTE EM ITAJAÍ: PASSADO E
PRESENTE.......................................................................................................................
72
4.1 Políticas públicas setoriais de esporte no contexto atual de
Itajaí...................................................................................................................................
86
5 O ESPORTE ITAJAIENSE NA PERSPECTIVA DO ESPORTE-
PARTICIPAÇÃO..............................................................................................................
98
5.1 Resultado da pesquisa sócio-espacial do esporte nos bairros.......................................
110
5.2 Representações sociais do esporte................................................................................
121
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................
136
REFERÊNCIAS................................................................................................................
138
APÊNDICES.....................................................................................................................
145
16
1 INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas, novas demandas sociais têm sido evidenciadas, motivando a
possibilidade de serem contempladas e estrategicamente utilizadas pelo Estado, no momento
de criar e implementar políticas públicas, dentre elas, as do esporte.
No que diz respeito ao esporte, os governos passaram a utilizar e incentivar as políticas
setoriais como meios de atingir a eqüidade social, asseguradas pela Constituição Federal
(1988, p. 42), em seu artigo 217, na seção do desporto, que estabelece: “É dever do Estado
fomentar práticas desportivas formais e não formais, como direito de cada um”. A lei prevê na
sua essência a autonomia de gestão das instituições ligadas ao esporte; a priorização de
recursos públicos ao desporto educacional; a distinção quanto à natureza profissional e não
profissional e a proteção e incentivo às manifestações desportivas de criação nacional.
A importância do esporte na sociedade pode ser evidenciada pela sua capacidade de produzir
satisfação e prazer, além do seu caráter político-participativo e transformador. Como
fenômeno social relevante tem despertado o interesse dos governos em tornar o esporte
obrigatório. A dedicação por parte da imprensa diária, em todo o mundo, e a acirrada disputa
entre os países para sediar eventos esportivos de alcance internacional, além do esforço de
muitos países em disseminar novas modalidades esportivas, são apenas alguns dos exemplos
do poder mobilizador do esporte. No âmbito social, o esporte tem função pedagógica no
processo de formação do indivíduo proporcionando a compreensão de valores como respeito,
solidariedade, espírito de equipe, participação, entre outros fatores que contribuem para o
desenvolvimento humano.
Segundo Tubino (1992), na atualidade, fica evidenciado o alcance universal do esporte como
fenômeno social, permitindo encontrar significados mais efetivos quando deixou de
perspectivar-se apenas no rendimento, e conseguiu também incorporar os sentidos educativos
e o do bem-estar social”. (TUBINO, 1992, p. 7). Este mesmo autor, na sua obra “Dimensões
Sociais do Esporte”, tece considerações sobre o esporte como instituição social, tendo como
princípio básico o direito de todos os cidadãos à prática esportiva, compreendido sob três
dimensões sociais: o esporte-educação, o esporte-performance ou de rendimento e o esporte-
participação ou popular.
17
Sinteticamente, pode-se considerar que o esporte-educação está vinculado a três questões
pedagógicas importantes: a integração social; o desenvolvimento psicomotor e as atividades
físicas educativas. Quanto ao esporte performance ou de rendimento, considera-se que os seus
praticantes são talentos esportivos e dedicam parte de sua vida à conquista de resultados
positivos, além de projetar a imagem do país no cenário nacional e internacional. Neste
sentido, não está comprometido com os preceitos democráticos. Propicia espetáculos
esportivos e é basicamente de responsabilidade da iniciativa privada, estando vinculado a
negociações financeiras. o esporte-participação ou popular é o mais democrático e nasceu
efetivamente nos grupos e nas comunidades. Favorece o prazer, a descontração, a diversão e o
bem-estar de todos os praticantes. De acordo com Tubino (1992, p. 34-35), este tipo de
esporte,
É a dimensão social do esporte referenciado como o princípio do prazer
lúdico e que tem como finalidade o bem-estar social dos seus praticantes.
(...) tem relações íntimas com o lazer e o tempo livre. Esta manifestação,
que ocorre em espaços não comprometidos com o tempo e fora das
obrigações da vida diária, de um modo geral, tem como propósitos a
descontração, a diversão, o desenvolvimento pessoal e as relações entre as
pessoas. Também oferece oportunidades de liberdade a cada praticante, a
qual se inicia na própria participação voluntária.
Além das condições hedosticas
1
que envolvem o objeto da presente pesquisa, destaca-
se seu cater democrático de participação que, conforme Tubino (1992, p. 36), (...)
favorece o prazer a todos que dele desejarem tomar parte”, sejam crianças, adolescentes,
jovens, adultos, idosos, bem como pessoas com necessidades especiais.
Este tipo de esporte demanda, assim, além de espaços blicos (praças esportivas, sedes
sociais, quadras poliesportivas) programas de atividades destinados, de modo especial, à
população que não possui condições de freqüentar clubes e associões que exigem o
pagamento de taxas e mensalidades para os seus associados.
A prática esportiva voltada para a perspectiva do “esporte para todos” foi concebida na
Noruega em 1967, pelo Conselho da Europa
2
, através de uma campanha nacional denominada
1
“Doutrina que considera que o prazer individual e imediato é o único bem possível, princípio e fim da vida
moral”. (Ferreira, 1988, p. 336).
2
A Noruega foi um dos dez membros fundadores do Conselho da Europa, que foi criado a 5 de Maio
de 1949. O Conselho da Europa é a mais antiga de todas as organizações de cooperação na Europa. O
18
TRIMM, com o intuito de estimular os sedentários à prática da atividade física. Tal
movimento despertou o interesse de outros países como Alemanha, Suécia e Bélgica,
mobilizando-os para a realização do primeiro encontro internacional para troca de
experiências com a Noruega, em Ruit, na Alemanha Ocidental. A partir deste encontro, o
movimento atingiu, também, o Canadá e os Estados Unidos e posteriormente outros países,
como o Brasil. (CAVALCANTI, 1984).
No Brasil, tiveram início, em 1973, uma série de iniciativas voltadas para a adesão à referida
perspectiva, resultando na elaboração do Documento Básico da Campanha Esporte para
Todos. (BRASIL, MEC, 1977). Neste documento foram estabelecidos dez objetivos,
denominados em seu conjunto como “decálogo, representados basicamente pelas
palavras: lazer, saúde, desenvolvimento comunitário, integrão social, civismo,
humanizão das cidades, valorização da natureza, adesão à prática esportiva, adeo ao
esporte organizado e valorização do serviço à comunidade.
Passadas duas décadas, no preâmbulo da “Política Nacional do Esporte - 2005” é enfatizada a
importância do aspecto sócio-educativo do esporte como direito social e de promoção do
bem-estar, na sua perspectiva emancipatória, defendendo-se um conceito de cidadania que
inclui, necessariamente, o direito às práticas do esporte e do lazer e exige o protagonismo do
poder público na garantia de sua efetivação. Neste documento, é destacada a missão do
Ministério do Esporte, que é “formular e implementar políticas públicas inclusivas e de
afirmação do esporte e do lazer como direitos sociais dos cidadãos, colaborando para o
desenvolvimento nacional e humano”. (BRASIL, 2005, p. 6).
Por outro lado, a análise empírica prévia da realidade em termos de políticas públicas
efetivadas pela atual gestão do governo local, em Itajaí, voltadas ao esporte indicava um
distanciamento institucional quanto à implementação de uma política social efetiva e
impactante, democraticamente universalizada e que atendesse, de forma adequada, à
população itajaiense.
objetivo era conseguir uma maior unidade entre os seus membros, facilitar o progresso social e
econômico, e promover a adesão aos princípios fundamentais da democracia, ao primado do direito e
aos direitos humanos. (Ministério dos Negócios Estrangeiros da Noruega. Sociedade & política.
Disponível em: <http://www.noruega.org.br/policy/europe/council/council.htm> Acesso em: 19 set.
2007.)
19
Um dos aspectos mais problemáticos no município de Itajaí evidenciado no planejamento
urbano da cidade é a desproporcionalidade entre o número e as características sociais da
população, em relação à disponibilidade de espaços públicos com áreas reservadas às
atividades de esporte, principalmente nos bairros mais populosos.
A falta de uma tradição de participação comunitária na formulação da agenda social do
município é outro fator a ser destacado como problemático. As políticas públicas foram
historicamente construídas a partir das decisões unilaterais dos atores políticos, seguindo uma
proposta tecnocrática de tomada de decisão. Tal fator pode ser considerado como causador da
pouca participação política dos atores sociais no contexto do município de Itajaí, registrada
empiricamente, ainda nos dias atuais, como aspecto limitante ao avanço do processo
democrático local.
O esporte, como política social, pode ampliar o grau de participação política dos atores sociais
envolvidos e a distância entre os atores sociais locais, contribuindo assim para o avanço do
processo democrático e o desenvolvimento das comunidades, representando um ponto de
equilíbrio entre o “ter” e o “ser”, levando o esporte ao alcance de todos, sem permitir
discriminação de qualquer natureza.
A escolha do tema baseou-se na motivação e valores da autora, licenciada e professora de
Educação Física, para estudar e aprofundar essa temática, com o propósito de fundamentar e
justificar a importância do esporte-participação para o avanço do processo democrático e
desenvolvimento da sociedade, bem como diagnosticar a realidade do esporte local.
Esta dissertação, em seu conjunto, além de apresentar uma discussão teórica e uma
caracterização empírica sobre diferentes aspectos relacionados a políticas públicas de esporte,
analisa, de modo especial, como o poder público municipal tem gerenciado as políticas
públicas setoriais de esporte no município, bem como uma pesquisa histórica relacionada às
instituições associativas locais, representadas por clubes e associações esportivas e
recreativas.
Com base nestes pressupostos, realizou-se a presente dissertação, tendo como objetivo geral,
analisar a atuação do poder público municipal em relação às políticas públicas setoriais de
20
esporte no município de Itajaí (SC), na gestão atual, e realizar uma retrospectiva histórica
sobre as instituições esportivas locais, representadas por clubes e associações.
Como objetivos específicos buscou-se
Reconstituir, em linhas gerais, a história da institucionalização governamental do
esporte no Brasil;
Contextualizar a organização sócio-espacial do município, bem como a dinâmica do
esporte e lazer socialmente construída neste contexto;
Investigar a disponibilidade dos espaços públicos de esporte no contexto sócio-
espacial do município de Itajaí.
Identificar as formas de organizações sociais locais, sua representatividade e
participação na geração de políticas públicas de esporte direcionado às comunidades;
Realizar levantamento das políticas setoriais de esporte implementadas pelo poder
público municipal de Itajaí na atual gestão.
No que diz respeito às estratégias de pesquisa, foram encaminhados procedimentos
metodológicos específicos. De modo geral a presente pesquisa foi a de estudo de caso, tendo
como base conceitual os pressupostos teórico-metodológicos de Yin (2001, p. 24). Este autor
afirma que: “em geral, os estudos de caso representam a estratégia preferida quando se
colocam questões do tipo ‘como’ e ‘por que’, quando o pesquisador tem pouco controle
sobre os eventos e quando o foco se encontra em fenômenos contemporâneos inseridos em
algum contexto da vida real”.
Considerando-se que a problematização inicial parte do questionamento do tipo “como”, não
exigindo controle sobre eventos comportamentais e focalizando acontecimentos
contemporâneos, é que se definiu a estratégia a ser adotada.
Face à relevância do tema abordado utilizou-se, em primeiro lugar, a pesquisa bibliográfica,
visando o aprofundamento da fundamentação teórica que deu suporte à investigação, bem
como para a obtenção de análises de material empírico, já realizadas por diferentes autores.
Em segundo lugar, foi realizada pesquisa documental em fontes primárias e secundárias que
contêm os elementos necessários, de modo especial para a referida reconstituição histórica, e
para o acesso a documentos sobre políticas públicas do esporte nas três esferas
21
governamentais. Foram realizadas, para a reconstituição histórica, pesquisas documentais no
Arquivo Público de Itajaí, em jornais, revistas, informativos, atas, boletins, correspondências,
acervo iconográfico, e na Fundação Municipal de Esportes, com vistas ao levantamento de
eventos realizados no período em análise, bem como outras ações públicas implementadas.
Em terceiro lugar, foi realizada pesquisa de campo, sendo o ambiente social a fonte para
coleta de dados empíricos por meio de observação direta, fotografias e entrevistas
3
, em quatro
bairros com características diferentes. Tais características dizem respeito ao número de
habitantes, nível sócio-econômico e disponibilidade de espaços públicos para a prática de
esporte, sendo eles: Cordeiros, São Vicente, Fazenda e Cabeçudas. Como parte da pesquisa de
campo, além da observação direta em relação aos espaços e equipamentos destinados ao
esporte-participação, foram entrevistados 10 moradores de cada bairro
4
, cidadãos/usuários dos
espaços públicos de esporte (praças de lazer, praças desportivas, parque ecológico, parques
náuticos, praias, campos etc.). Foram, ainda, entrevistados presidentes e diretores de
associações e gestores públicos (superintendente da Fundação Municipal de Esportes;
coordenadores regionais de atendimento ao cidadão, da Fazenda e São Vicente; administrador
do Estádio Municipal; articulador do Programa Escola Aberta e coordenador do Esporte
Adaptado). A pesquisa buscou fazer um levantamento da faixa etária a qual pertencem, o
perfil econômico e educacional, bem como as representações sociais quanto ao esporte-
participação. Para esta análise foram estabelecidas escalas de valores de 1 a 10 avaliando três
itens em especial: 1) a participação das pessoas na seleção de projetos esportivos; 2) a
disponibilidade de pessoal qualificado para o atendimento da demanda do esporte-
participação e 3) a disponibilidade de recursos financeiros para a implementação do esporte-
participação.
A forma de abordagem e análise dos dados coletados foi de caráter qualitativo e quantitativo,
uma vez que a pesquisa qualitativa procura ir além do dado concreto que podemos observar,
porém a quantitativa é o concreto. Minayo (1994, p. 22) coloca que:
3
Os roteiros e questionários utilizados estão anexados no final da dissertação.
4
A pesquisa foi realizada no período de 13 de fevereiro a 25 de maio de 2007. Os dias escolhidos foram
ensolarados e variando de segunda a domingo, nos período matutino e vespertino, com a intenção de abranger
cidadãos/usuários efetivos e potenciais sempre próximos dos locais públicos com possibilidades às práticas
esportivas.
22
A diferença entre qualitativo-quantitativo é de natureza. Enquanto cientistas
sociais que trabalham com estatísticas apreendem dos fenômenos apenas a
região [visível, ecológica, morfológica e concreta], a abordagem qualitativa
aprofunda-se no mundo dos significados das ações e relações humanas, um
lado não perceptível e não captável em equações médias e estatísticas.
Entende-se, portanto, de acordo com a afirmação de Minayo (1994, p. 22), que “O conjunto
de dados quantitativos e qualitativos (...) não se opõem. Ao contrário, se complementam, pois
a realidade abrangida por eles interage dinamicamente, excluindo qualquer dicotomia”.
A pesquisa qualitativa considera que uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito,
isto é, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito.
Com a pesquisa quantitativa, que para Bauer e Gaskell (2004, p.22) “lida com números, usa
modelos estatísticos para explicar os dados, e é considerada pesquisa hard (...)”, buscou-se
efetuar o levantamento e a análise de dados referentes aos aspectos demográficos, espaciais e
de equipamentos, considerando a relação público/privado, bem como as demandas efetivas e
potenciais dos cidadãos/usuários.
A presente dissertação está estruturada em quatro capítulos, contendo ainda, além desta
introdução, a apresentação de considerações finais. No primeiro capítulo são apresentadas a
fundamentação teórica e as constatações empíricas que dão suporte a perspectiva analítica
assumida. O segundo capítulo é destinado à caracterização sócio-espacial do município de
Itajaí, sendo apresentados dados históricos sobre a sua ocupação territorial, dados
demográficos e sociais, bem como a ocupação urbana municipal. No terceiro capítulo são
apresentados os dados resultantes da análise documental sobre as instituições associativas
(associações de bairros, clubes e sociedades esportivas e recreativas), bem como são descritas
as políticas públicas setoriais de esporte no contexto atual de Itajaí. O quarto e último
capítulo, é dedicado à apresentação do perfil social dos entrevistados (cidadãos/usuários e
gestores de associações) e à análise dos resultados obtidos nas entrevistas com os gestores
públicos, bem como os diferentes atores sociais, vinculados de algum modo, às atividades
esportivas e, sobretudo, à modalidade do esporte-participação em Itajaí.
23
2 GESTÃO E AVALIAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS:
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E CONSTATAÇÕES EMPÍRICAS
Neste capítulo serão abordadas questões conceituais metodológicas de gestão e avaliação de
políticas públicas, a partir de literatura especializada. Faz-se primeiramente referência ao
processo de planejamento, enfatizando a importância que tal instrumento tem frente à geração
de programas e políticas públicas, representando ações e decisões dos formuladores de
políticas, bem como sua implementação. Um segundo ponto abordado é sobre as tendências
da avaliação fazendo as devidas distinções entre avaliação política, análise de políticas
públicas e avaliação de políticas públicas, apresentando suas especificidades, bem como, a
relevância do fortalecimento do processo democrático no contexto da gestão pública. Outro
aspecto enfocado é o planejamento do espaço urbano e considerações teóricas sobre o esporte.
Por último, em termos de realidade empírica, apresenta-se uma breve contextualização
histórica da gestão de políticas setoriais de esporte, embasadas em fontes primárias e
secundárias, em âmbito nacional e estadual.
2.1 Considerações teórico-metodológicas sobre a gestão e avaliação de
políticas públicas
Uma contradição fundamental que enfrenta uma sociedade democrática de
desenvolvimento médio é como compatibilizar a limitação dos recursos do
Estado com a demanda crescente dos eleitores por maior quantidade e
melhor qualidade dos serviços públicos. (BRESSER PEREIRA, 2006, p.8).
Na concepção de Bresser Pereira (2006), de todas as respostas prováveis à contradição
evidenciada, destaca-se aquela que a maioria dos países desenvolvidos vem defendendo a
propósito da necessidade da reforma da gestão pública. A análise comparativa entre a
primeira grande reforma da organização do Estado, a reforma burocrática ocorrida no século
XIX e a reforma da gestão pública atual permite inferir que, enquanto a primeira visava criar
uma administração profissional e eletiva, a segunda visa melhorar a qualidade e reduzir o
custo dos serviços públicos, isto é, tornar o Estado mais eficiente.
24
A atual abordagem gerencial reconhece que além do que os contratualistas propunham para o
funcionamento do Estado moderno, sobretudo como instrumento para garantia da propriedade
e dos contratos, uma corrente teórica contemporânea defensora da reforma do Estado, cujo
objetivo principal é torná-lo mais eficiente. No Brasil Bresser Pereira, ex-ministro da
Fazenda, da Reforma do Estado, e da Ciência e Tecnologia, é reconhecidamente um dos
maiores difusores deste pensamento gerencial público. A reforma do Estado proposta por este
autor se sustenta na adversidade empírica da ineficiência do aparato estatal movido por
interesses clientelistas
5
no interior das instituições públicas. Atualmente, se têm a devida
consciência que é impossível gerir a máquina pública sem um mínimo de conhecimento
técnico-científico fundamentado nos princípios administrativos de organização, planejamento,
direção e controle.
Sem entrar num debate ideológico de posicionamento neoliberal de Estado mínimo o que se
propõe atualmente é a visão do Estado necessário, que cumpra suas funções sociais,
econômicas e políticas com eficiência, isto é, não perdendo as características reguladoras,
porém, motivado pela profissionalização da gestão de pessoas e racionalização dos recursos
públicos. Principalmente num país de democracia não consolidada e de instituições políticas
deterioradas, a exemplo do Brasil. Para Bresser Pereira (2006), não se trata, porém, da simples
importação de modelos idealizados do mundo empresarial, e sim do reconhecimento de que as
novas funções do Estado em um mundo globalizado exigem novas competências, novas
estratégias administrativas e novas instituições.
Na prática, ainda prevalece à troca, a negociação, a barganha, o dissenso e a contradição
quanto aos objetivos dos planejamentos. O quadro apresentado é de ambigüidade de
objetivos, problemas de coordenação intergovernamental, recursos limitados, informação
escassa e o ambiente onde se operacionalizam o planejamento é carregado de incertezas.
(CARVALHO, 1997)
Na concepção de Rebeca Scherer (1993, p.57) “um dos componentes da crise do
planejamento que vem sendo percebida em toda a América Latina é a crise de sua elaboração
5
Indica um tipo de relação entre atores políticos que envolve concessão de benefícios públicos, na forma de
empregos, benefícios fiscais, isenções, em troca de apoio político, sobretudo na forma de voto. Seria um atributo
variável de sistemas políticos macro e podem conter maior ou menor dose de clientelismo nas relações entre
atores políticos. (CARVALHO, 1997)
25
teórica”, enfatizando ainda a importância de se trabalhar com projetos e não com modelos.
para Silva e Melo (2000) quatro questões importantes referentes ao processo de planejamento
e gestão pública devem ser destacadas: 1) os formuladores de políticas enfrentam grandes
limitações cognitivas sobre os fenômenos que intervêm; 2) os formuladores de política não
controlam nem prevêem as contingências futuras; 3) os planos e programas são documentos
que apresentam um conjunto limitado de cursos de ação e decisões que os agentes devem
seguir ou tomar e 4) os formuladores expressam suas preferências individuais ou coletivas
através de programas e políticas que podem ser divergentes da coletividade.
A concretização de determinada política pública acontece na etapa de implementação, que diz
respeito às ações necessárias para a materialização das propostas formuladas na fase inicial do
planejamento em conformidade com a agenda pública. Para Rua (1998, p. 252) a
implementação “pode ser compreendida como um conjunto de ações realizadas por grupos ou
indivíduos de natureza pública ou privada, com vistas à obtenção de objetivos estabelecidos
antes ou durante a execução de políticas”.
Na visão clássica da ação governamental a implementação corresponde à execução de
atividades/ações com vistas à obtenção de metas definidas no processo de formulação de
políticas públicas. Essa visão não considera os aspectos relativos à implementação e seus
efeitos retroalimentadores sobre a formulação de políticas públicas como um processo. “A
implementação é entendida fundamentalmente, como um jogo de uma rodada onde a ação
governamental, expressa em programas ou projetos de intervenção, é implementada de cima
para baixo (top down).” (SILVA e MELO, 2000, p. 5).
Por outro lado, outras visões mais modernas têm revelado a importância dos mecanismos
interinstitucionais para a implementação de políticas públicas, realizadas em ambientes
democráticos, descentralizados e com forte diferenciação de agentes implementadores. Este
cenário passa a compor o pano de fundo que retrata a governança entendida como a interação
de diferentes atores, criando mecanismos de participação e controle social. Tal participação
legitima e maior sustentação à cooperação, à coordenação, à negociação e abre caminhos
para reflexões acerca de aspectos centrais à intervenção estatal no Brasil.
26
Contribuições recentes têm enfatizado a importância de se incorporar ao processo de
formulação, implementação e avaliação de políticas públicas os stakeholders
6
, os
formuladores, os implementadores e os beneficiários, por ter se revelado como um
mecanismo capaz de dar sustentação e legitimidade à determinada política. Contudo, é na
avaliação de políticas públicas que se potencializa a legitimação da ação política.
O posicionamento de Arretche (2001) sobre as tendências do estudo de avaliação de políticas
públicas e programas sociais leva em consideração o seu caráter metodológico, que se
apresenta multifacetado do ponto de vista conceitual, pois empiricamente são imputados
valores que não se materializam na realidade. Esta mesma autora propõe de início, que se
tenha a devida compreensão do que deva ser a avaliação de políticas públicas, tendo em vista
a existência de outras duas modalidades que formam o escopo da gestão pública: a avaliação
política e a análise de políticas públicas.
O objeto da avaliação política compreende a análise criterial básica da política, ou seja, os
parâmetros subjetivos que embasam o processo decisório de determinada política. O que leva
os atores políticos a escolherem uma política em detrimento de outra? Que valores estão em
jogo no momento da decisão final? Os pressupostos políticos envolvidos predominam sobre a
operacionalidade objetiva do programa ou política pública implementada. Nesta perspectiva o
processo decisório demanda vontade política, ensejando uma série de fatores culturais, sociais
e pessoais que influenciam o ato decisivo. Esse modo de agir político pode ser analisado a
partir da teoria neo-institucionalista
7
, que aborda a influência institucional no comportamento
dos indivíduos e justifica tais posicionamentos na arena política.
Quanto ao conceito de análise de políticas públicas, que compreende outra modalidade de
políticas sociais, apresenta um diferencial marcante daquele inscrito na avaliação política pelo
fato de objetivar “o exame da engenharia institucional e dos traços constitutivos dos
programas”. (ARRETCHE, 2001, p. 30). Isso significa que o escopo da análise de políticas
6
Grupos envolvidos pelas políticas e nelas interessados. (SILVA E MELO, 2000 p. 13).
7
Esta visão reinou na década de 1980 até meados de 1990, não se constituindo numa corrente unificada,
caracterizando-se por três variantes: o institucionalismo histórico; o de escolha racional e o sociológico,
desenvolvendo-se como reação contrária às perspectivas behavioristas. Para Hall e Taylor (2003) o neo-
institucionalismo aborda a relevância das instituições para o entendimento dos diferentes processos sociais.
Porém, suas concepções teóricas são de caráter dinâmico, de acordo com o contexto em transformação no âmbito
do Estado e da sociedade.
27
públicas visa compreender as diversas características institucionais envolvidas nas etapas do
ciclo da gestão de políticas públicas. Arretche considera que a ação política é envolvida de
ambigüidades, incoerências e incertezas em todo processo, em virtude dos agentes políticos
decisores não dimensionarem quais os aspectos motivadores da formulação e quais os
resultados a serem obtidos, além das alterações sofridas no processo.
Vários aspectos são considerados na análise de políticas públicas, entre estes o processo
decisório, envolvendo redes de decisão e de não-decisão
8
. Alguns autores afirmam que o
estudo de não-decisões assumiu, nos últimos anos, grande importância. Rua (1998, p. 239),
por exemplo, afirma que “(...) no caso de uma forte não-decisão, mesmo que o tema seja
incluído na agenda governamental, não chega a ter uma solução devido à obstrução decisória.
Ou que, caso chegue a uma decisão, não é implementada”.
Em países com democracia representativa movida por interesses, como é o caso do Brasil,
esse mecanismo é comumente utilizado. Os eleitos não correspondem aos anseios dos seus
eleitores e quando isso acontece, na maioria das vezes, é de forma clientelista. Neste caso as
políticas sociais assumem um caráter de moeda de troca em que os beneficiários ficam reféns
de programas assistencialistas de cunho eleitoreiro.
A análise de políticas públicas de forma sistematizada, com aprofundamento teórico-
metodológico é bem recente. Apenas nas últimas duas décadas é que os estudos sobre as
relações entre os atores políticos estatais e privados tomam corpo. Mesmo assim, as
dificuldades no processo aparecem e demandam soluções imediatas, desafiando os
pesquisadores a encontrar as respostas epistemológicas convincentes proporcionalmente ao
fluxo de questionamentos e demandas.
A afirmação de Pfeiffer (2000, p. 5) reforça que “a qualidade de uma administração municipal
está sendo avaliada, pelos habitantes, mais por sua capacidade de manter ou melhorar a
qualidade de vida, e menos por critérios políticos”. O atual contexto político-administrativo
8
“A não-decisão não se refere à ausência sobre uma questão que foi incluída na agenda política. Isso seria, mais
propriamente, resultado do emperramento do processo decisório. Não-decisão significa que determinadas
temáticas que ameaçam fortes interesses, o que contrariam os códigos de valores de uma sociedade e, da
mesma forma, ameaçam interesses – encontram obstáculos diversos e de variada intensidade à sua transformação
de estado de coisas em problema político e, portanto, à sua inclusão na agenda governamental. Trata-se,
portanto, de algo como uma demanda reprimida”. (RUA, 1998, p. 239).
28
requer a elaboração do planejamento estratégico municipal. Porém, este mesmo autor pontua
que a forma desordenada como são geralmente construídos os planos estratégicos,
sobrecarregados com temas muitas vezes não estratégicos e inviáveis, seguindo apenas
descrições gerais, redunda no não atendimento às reais demandas políticas, inviabilizando a
implementação das políticas públicas. Isso se deve ao fato da centralização do poder político
do executivo, que em última instância determina as prioridades. Para que o planejamento
estratégico cumpra seus objetivos com êxito, é imperativo atentar-se para quatro condições
básicas: liderança, sensibilidade, recursos e sentido comum.
Não obstante toda a problemática de ordem política já destacada na gestão de políticas
públicas, Arretche (2001, p. 31) afirma que “somente a avaliação desta política poderá atribuir
uma relação de causalidade entre um programa x e um resultado y”. Segundo essa autora a
avaliação de políticas blicas é concebida sob o princípio da causalidade, isto é, a partir de
métodos e técnicas de pesquisa é possível se estabelecer uma relação de causa e efeito. Assim,
enquanto o potencial de análise atribui a uma determinada política pública apenas resultados
prováveis, a avaliação poderá confirmar com relativa margem de segurança a partir dos
resultados obtidos as variáveis independentes, ou seja, o fato gerador. Portanto, o instrumental
avaliativo assume um grau de importância superior às demais modalidades por abarcar todo o
processo da gestão de políticas públicas, inclusive os fatores determinantes ao sucesso ou
fracasso da ação política a partir da comparação entre os objetivos propostos e os resultados
concretamente atingidos, considerando-se a situação social prévia à implementação.
A avaliação de políticas públicas se distingue pela efetividade, eficácia e eficiência como
recursos analíticos. A avaliação de efetividade é o exame da relação entre a implementação de
um determinado programa e seus impactos e/ou resultados, ou seja, as mudanças ocorridas na
vida das populações beneficiárias dos programas e políticas sociais. (ARRETCHE, 2001). A
principal dificuldade metodológica da avaliação de efetividade consiste em demonstrar se os
resultados encontrados estão causalmente relacionados aos produtos oferecidos pela política
pública em estudo.
Já o conceito de eficácia é o mais utilizado na avaliação de políticas públicas por compreender
menor custo com maior aplicabilidade. A maior dificuldade encontrada nessa categoria de
avaliação diz respeito à confiabilidade e veracidade das informações obtidas. Figueiredo e
Figueiredo (1986) consideram a eficácia como sendo a relação entre os objetivos e
29
instrumentos de um programa e seus resultados efetivos como, por exemplo, as metas
propostas e as alcançadas de um dado programa ou política social.
Por fim, a avaliação de eficiência é a relação entre o esforço empregado na implementação de
uma política pública e os resultados alcançados. Para Arretche (2001) existem alguns fatores
que a tornam necessária e urgente no Brasil. O primeiro fator se pela escassez de recursos
públicos o que exige maior racionalização dos gastos, paralelamente às enormes demandas
sociais que devem ser atendidas pelos programas e políticas sociais. Por último, o dinheiro
aplicado é do contribuinte e, portanto, são recursos públicos. Neste caso, o desperdício, a
corrupção e a incapacidade governamental são entraves para a efetivação de finalidades
públicas, principalmente de forma democrática e equânime, que os recursos são
publicamente apropriados.
Apesar da reconhecida relevância da avaliação para a gestão de políticas públicas,
paradoxalmente observa-se a utilização deste instrumento gerencial e até mesmo a
resistência dos gestores políticos na sua aplicação. Por outro lado, o fortalecimento da
sociedade civil organizada tende a impor maior controle sobre as ações do Estado. Neste
sentido, a produção mais rigorosa de avaliações, tecnicamente bem elaboradas, constitui-se
num excelente fator de aprimoramento do processo democrático através do controle do uso
adequado dos recursos públicos.
2.2 Análise das dimensões público/privado na organização sócio-espacial
brasileira
O fenômeno urbano mundial é decorrente da sociedade moderna industrial surgida em
meados do século XVIII, consolidando-se no século XIX. No Brasil, foi a partir do século XX
que se intensifica o processo de urbanização com a política nacional-desenvolvimentista
iniciada no governo de Getúlio Vargas na década de 1930, sendo seguida pelos governos
sucessores. A transição de uma sociedade agrária para a sociedade industrial urbana
contrastou com os problemas sociais decorrentes da falta de políticas urbanas consistentes.
Este processo não foi acompanhado de investimentos em infra-estrutura nas cidades e também
não foi capaz de absorver toda a população residente nos núcleos urbanos. Assim, face ao
crescimento desordenado, temos na década de 1970 a ampliação das áreas periféricas e
30
favelizadas, emergindo uma série de problemas urbanos. Nesta perspectiva, o processo de
urbanização brasileira nas últimas décadas adquire uma característica de expansão que altera
o modelo altamente concentrador nas metrópoles para expandir em mero e tamanho as
cidades. Neste sentido, Oleias (1999, p. 72) confirma que:
a nossa sociedade, em particular, registra uma incidência marcante de
desumanização, proveniente do desenvolvimento capitalista desequilibrado
e do seu respectivo crescimento industrial e econômico recente. Tal
processo foi desencadeado, principalmente, pela aceleração crescente da
urbanização nas cidades brasileiras, o que concentrou uma imensa
população nas áreas centrais, afastando para as áreas periféricas as classes
economicamente carentes.
Dentre os problemas causados pelo crescimento desordenado das cidades e pela falta de
políticas agrárias de incentivos aos pequenos e médios proprietários, explodiram os problemas
sociais nos grandes centros urbanos com o aumento das desigualdades, da violência, das
invasões dos espaços inadequados causadoras de impactos ambientais etc.
A partir da década de 1990 o Brasil experimenta um novo modelo político-econômico com
inspiração neoliberal, que restringiu substancialmente os espaços públicos urbanos. A
produção sócio-espacial seguiu uma diretriz privatista dos espaços territoriais, cuja
conseqüência pôde ser observada nos cinturões de pobreza das metrópoles brasileiras. Para
acompanhar o intenso processo de mercantilização dos espaços foram instituídos instrumentos
legais de exclusão das camadas populares das áreas centrais, com o aumento dos impostos
prediais e territoriais urbanos.
A tendência foi o aumento do setor privado e os espaços onde se praticavam atividades
esportivas e de lazer foram gradativamente sendo reduzidos. “Outrora, era comum ‘bater uma
bolinha’ no terreno baldio do vizinho. Nesse sentido, expandem-se organizações comerciais
como as academias, bingos, clubes fechados, associações e complexos de lazer”. (OLEIAS,
1999, P. 72).
O debate atual sobre o problema urbano brasileiro leva em consideração a importância dos
espaços públicos como meios de sociabilidade, de identidade da cidade e de democracia. Uma
forma de controle e regulação estatal sobre as questões sócio-espaciais essendo debatida e
encontra-se em construção num documento institucional que visa ordenar o uso e ocupação do
31
solo. Trata-se do Estatuto das Cidades, cujo objetivo é nortear a elaboração democrática dos
planos diretores locais. O Estatuto da Cidade, Lei nº. 10.257, de 10 de julho de 2001 e que
entrou em vigor no dia 10 de outubro de 2001 para regulamentar os artigos 182 e 183 da
Constituição Federal de 1988, que tratam especificamente da política urbana.
As cidades, representadas pelas prefeituras devem iniciar o processo da política de
desenvolvimento urbano através da elaboração do plano diretor como instrumento básico da
política urbana com ênfase na gestão democrática. Todos os municípios que possuem
população superior a 20 mil habitantes, os municípios integrantes de regiões metropolitanas e
aglomerações urbanas, às áreas de interesse turístico e as áreas de influência de
empreendimentos ou atividades com significativo impacto ambiental de âmbito regional ou
nacional, devem elaborar seus planos diretores visando à utilização e edificação adequada do
solo urbano de propriedade privada, colocando em pauta a questão do planejamento urbano.
2.2.1 Fatores determinantes da configuração das atuais políticas públicas
urbanas
Nas quatro décadas posteriores à Segunda Guerra Mundial configurou-se a construção de
grandes obras de apropriação do espaço, do meio ambiente material e da construção de
parques industriais abalando o ecossistema e criando conflitos sócio-ambientais. Entre os anos
de 1930 e 1970, no decurso de um processo de urbanização decorrente da política nacional-
desenvolvimentista
9
que demandou investimentos pesados na infra-estrutura com a construção
de estradas de ferro, plantas industriais, grandes equipamentos e bairros operários; mais tarde
rodovias e vias expressas em contraste com o processo de favelização dos grandes centros
urbanos localizadas em áreas inadequadas, agravando o ordenamento do uso e ocupação do
solo numa espiral ascendente da exclusão social. (NUNES, 2005).
9
A interpretação nacional-desenvolvimentista era essencialmente nacionalista e moderadamente
favorável à intervenção estatal, pois via a proteção à industria nacional como essencial ao crescimento.
Ela também via o Brasil como um país subdesenvolvido, em transição do capitalismo mercantilista
para o capitalismo industrial. (...) O modelo de industrialização, via substituição de importações, se
impôs naturalmente. A resignação a uma vocação agrária seria um suicídio, da troca desigual entre os
produtores de produtos primários e os de produtos industrializados” (BRESSER PEREIRA, 1996, p.
36).
32
Do ponto de vista econômico, o fator preponderante para o agravamento do processo de
urbanização decorreu do modelo de financiamento imobiliário que não alavancou a
democratização do acesso a terra às parcelas da população de baixa renda, gerando uma
demanda reprimida que buscou alternativas de moradia nas cidades. Portanto, constata-se aí, a
interferência política com fins interesseiros, que desviou o foco dos investimentos somente às
classes médias e altas da sociedade. (NUNES, 2005).
A situação atual é resultado imediato das políticas urbanas das últimas três décadas. No final
da década de 1970, a cidade de São Paulo, por exemplo, passava por um processo de transição
de uma grande cidade a um centro de aglomeração urbana de primeira grandeza, constituindo-
se na maior metrópole brasileira, cuja população de 7 milhões ultrapassava as grandes
cidades como Paris e Londres, que continuava crescendo a uma taxa superior a 5% ao ano.
Passava também por uma crise de crescimento: suas estruturas físicas tinham a capacidade
esgotada e estavam à beira do colapso. (DEÁK, 1990).
Importante essa contextualização histórica para se ter uma noção do processo de planejamento
sócio-espacial brasileiro. A chamada “revolução demográfica dos anos 50” culminou com o
processo de urbanização, alcançando novo patamar qualitativo e quantitativo. Em 1991 o
Recenseamento contabilizou uma taxa de urbanização de 75%, elevando-se no Censo de
2000, para aproximadamente 80%. Somente a região Sudeste representava 91% desse índice.
Neste período destaca-se o epicentro da desigualdade social, quando a taxa demográfica
superou a do Produto Interno Bruto - PIB, ou seja, o PIB per capita foi negativo em 1980. Os
impactos sociais e ambientais foram extremamente danosos, aprofundando o fosso da
desigualdade social. Originou-se aí o fenômeno da violência urbana e o termo marginalização
começa a ocupar um lugar de destaque nas discussões acadêmicas em mídia. (DE SOUZA,
2006).
O modelo econômico de mercantilização dos espaços nas zonas rurais aumentou
significativamente o cinturão de pobreza das metrópoles e, atualmente já se percebe um
grande número de pessoas se estabelecendo em cidades de pequeno e médio porte. Afora os
conflitos ideológicos e muitas vezes interesseiros da mobilização social dos grupos rurais
destituídos do direito a terra, observa-se que o problema sócio-espacial brasileiro está se
tornando insustentável, o que agravará a questão ambiental a médio prazo. A especulação
imobiliária associada à falta de políticas de distribuição democrática de espaços urbanos pode
33
ser considerada como fatores que reforçam o aprofundamento da desigualdade social que,
espera-se, possam ser reduzidos com ações mitigadoras a partir da consolidação do Estatuto
das Cidades, através do estabelecimento dos planos diretores em construção. Por outro lado,
que se ter a devida prudência quanto à efetividade dos impactos sociais dessa política
urbana em se tratando dos interesses envolvidos dos atores sociais e dos gestores públicos nas
rodadas de debates para elaboração e aprovação desse instrumento legal de planejamento
urbano.
Nos anos 80 e 90 duas questões muito importantes constituíram as agendas urbanísticas das
cidades: os centros urbanos e os espaços públicos. Estes temas aparecem com o intuito de
reverter o quadro de deformações ambientais deixados pelos investimentos imobiliários e pela
privatização dos espaços públicos e redes públicas gerados pela globalização e pelo
neoliberalismo em prol de empresas prestadoras de serviços. (SANTOS FILHO, 2004)
Aparece também, com forte discussão na mídia, o debate sobre o espaço público e privado
que faz emergir discussões em torno da problemática sócio-ambiental. A realização da Eco-92
marca a participação popular e a noção de sustentabilidade surge no interior da vertente do
campo ambientalista. Já no campo das transformações territoriais urbanas essa época foi
marcada pelas privatizações seguindo a cartilha do modelo neoliberal.
Nesse período começam a tomar corpo às críticas ao modelo de produção sócio-espacial
brasileiro, baseado nos pressupostos neoliberais de redução da intervenção do Estado, cuja
materialidade expressa o aumento da desigualdade social e da proliferação dos espaços
privados em detrimento dos públicos, gerando uma conformação da individualização
sistemática.
Para Segre (2005, p. 1), os centros urbanos e os espaços públicos são assumidos como o
âmbito da sociabilidade, da expressão política e cultural e como um lugar de condensação da
identidade da cidade”, portanto, a cidade é um bem cultural e os espaços públicos constituem-
se em locais de sociabilidade democrática, de convívio e de intercâmbio social.
para Santos Filho (2004), o espaço público é definido como espaço coletivo tendo uma
relação direta com a vida pública e para que opere uma atividade pública é necessário que se
34
estabeleça uma co-presença de indivíduos capazes de instituir debates, estabelecendo
consensos de opiniões públicas que funciona como mecanismo de ajuste democrático.
A cidade real se caracteriza como o meio ambiente construído, caracterizado pelo físico, pelo
concreto e por outro lado, é onde se apresenta a importância dada à natureza primitiva na
preservação de espaços públicos adequados para a valorização da qualidade de vida dos
cidadãos que compõe sua fisionomia e a sua identidade.
O futuro é formado pelo conjunto de possibilidades e vontades, mas estes,
no plano social, dependem do quadro geográfico que facilita ou restringe,
autoriza ou proíbe a ação humana. Alcançar intelectualmente o futuro não é
questão estatística, nem simples arranjo de dados empíricos, mas questão de
método. (SANTOS, 2005, p. 130).
Nessa citação o autor reflete as tendências atuais de reorganização territorial brasileira
instrumentalizada pelos métodos técnico-científicos que começam a tornarem-se
indispensáveis no que atualmente se reconhece como Brasil emergente. Se em outras épocas
os conhecimentos técnico-científicos não eram merecedores de atenção por parte dos gestores
públicos, o que se percebe na atualidade é que além da vontade é necessário a informação e o
conhecimento para a geração de políticas públicas consistentes e adequadas à realidade
urbana brasileira.
Além do aspecto técnico-científico abordado por Milton Santos que caracteriza o espaço
urbano na atualidade, outro aspecto há de ser considerado para a convivência social na cidade.
Trata-se do potencial sócio-espacial público que compõe o território da cidade. A partir dessa
idéia a intervenção política dos gestores públicos ganha força e importância no planejamento
urbano, sendo que “a qualidade urbana de uma cidade é avaliada a partir do significado e da
riqueza dos lugares públicos que a compõem” (SEGRE, 2005, p. 2). Com esta afirmação,
configura-se o espaço público como sendo a dimensão política da vida social, caracterizado
como território de mediação entre sociedade e Estado, onde as expressões políticas da
cidadania se transformam em expressões públicas, favorecendo o relacionamento social e a
vida democrática da população.
35
Atualmente existe no interior dos grandes centros urbanos, uma negação do espaço público e
um esvaziamento e deterioração do espaço social. Para o autor existem alguns fatores que
incidiram decisivamente na perda do valor atual do espaço público:
a) tendência à fratura urbana; b) intervenções “super-modernas” na cidade;
c) a urbanização como fuga do centro ou modernização disfarçada; d) a
presença do carro e das vias de circulação rápida; e) consolidação do
“bairro mundo” ou “casa mundo”, definidos pela concepção classista e
individualista do mundo; f) esvaziamento, abandono e deterioração das
infraestruturas e dos espaços públicos tradicionais; g) o surgimento de
“meta-espaços” públicos que substituem as atividades tradicionais dos
espaços públicos reais (supermercados, templos religiosos, shoppings, etc.).
(SEGRE, 2005, p.2).
O estudo histórico do espaço público se faz necessário para a compreensão das mudanças
ocorridas e suas significações, funções e usos no passar do tempo, para preservação do que
existe, não no Brasil bem como, na América Latina que em grande parte, ainda não foram
completamente atingidas pelas tendências desagregadoras da vida urbana.
Um exemplo bem sucedido neste contexto, citado por Segre (2005) é a experiência da cidade
de Barcelona que elaborou um sistema urbano apoiado no resgate das praças e parques e na
transformação dos espaços intersticiais e residuais, em áreas multifuncionais apropriadas ao
uso coletivo da população. A cidade ficou conhecida, não somente pelo seu caráter social e
comunitário do sistema de espaços públicos, mas também pelos inúmeros turistas atraídos
pelas possibilidades de convívio social oferecido pelo sistema de novos setores urbanos
dedicados à cultura e ao lazer.
No campo político, o planejamento urbano deve ser objeto de uma proposta social que vise à
transformação da sociedade, garantindo o bem-estar dos cidadãos. Portanto, é grande a
responsabilidade administrativa em gerenciar os conflitos que demandam da dinâmica social.
O direito à terra urbana, à valorização diferenciada que contribuem para a segregação e a
exclusão urbana, à construção de obras públicas que não atendem às necessidades da
população são alguns dos fatores que tem compreendido conflitos entre os cidadãos ou grupos
que detém a maior parcela da riqueza social e as camadas populares da sociedade.
Historicamente a maior parte da população brasileira é excluída do processo de produção e
apropriação da riqueza social. Trata-se da parcela da população que habita em favelas ou
36
cortiços, em periferias urbanas com grandes limitações ao acesso a serviços e equipamentos
coletivos.
A discussão acerca do estudo do significado e da importância da cidade e do espaço urbano
visa postular uma produção sócio-espacial equânime e não apenas uma organização do
mesmo. A produção do espaço enquanto categoria que ajuda a analisar a sua concretude está
permeada pelas categorias da contradição e da exclusão no nível social e da segregação,
fragmentação e segmentação no nível espacial.
Conforme Trindade Júnior (2001, p. 127), o pensar a cidade e o urbano no Brasil e no mundo
de hoje significa enfrentar desafios que se colocam tanto no campo metodológico, quanto no
campo da ação prática e, em especial na formulação de políticas, que não tenham a
perspectiva ratificadora dos esquemas que tendem a reproduzir modelos de exclusão sócio-
espacial.
A atuação estatal é obrigatória contra a pobreza e a exclusão, no crescimento com
desenvolvimento e redistribuição de renda e na universalização das políticas sociais. De
acordo com Oliveira (2001 apud Nunes, 2005 p. 48), a sociedade urbana tornou-se mais
complexa e diversificada e passou a exigir do poder público, atuação mais intensa e este se
defrontou com problemas e dilemas novos, muitas vezes de difícil solução. O crescimento das
cidades não foi acompanhado pelo crescimento e melhoria das infra-estruturas que
contribuem decisivamente para a qualidade de vida. Os desafios atuais da gestão de políticas
públicas urbanas deverão levar em consideração a reestruturação e a criação de instrumentos
efetivos que viabilizem o atendimento das necessidades humanas de moradia, saneamento
básico, segurança, esporte e lazer, a partir de indicadores de desenvolvimento sócio-espacial.
Sendo a exclusão social um fator limitante ao acesso a bens e serviços essenciais para a
satisfação das necessidades básicas, como também a falta de acesso à segurança, justiça,
cidadania e representação política, é sensato considerar que o aprofundamento deste processo
provoca o agravamento dos problemas urbanos. Assim, a pobreza urbana tem ampliado o
contraste e a diversidade de carências e necessidades. Porém, cria e recria redes de
solidariedade e de interação social no interior dos espaços de convívio subumano. Por outro
lado, em muitos casos, o poder público se utiliza de discursos assistencialistas para tirar
proveito político eleitoreiro que não resolvem definitivamente os problemas sociais, quando
37
se sabe que as políticas públicas comprometidas com o desenvolvimento social seriam o viés
transformador dessas realidades.
No entender de Cunha (2002 apud Nunes, 2005 p. 12), as políticas públicas têm sido criadas
como resposta do Estado às demandas que emergem da sociedade e do seu próprio interior,
sendo expressão do compromisso público de atuação numa determinada área a longo prazo.
A efetividade das ações demanda dos órgãos gestores o aumento da capacidade técnica e do
aperfeiçoamento da gestão de políticas públicas. Porém, as teorias atuais enfatizam os
desenhos institucionais de participação popular na formulação da agenda social. Negar a
participação da sociedade civil organizada nas decisões em nada contribuiu e contribuirá para
o fortalecimento do processo democrático. Políticas do tipo top down (de cima para baixo),
se demonstraram ineficazes ao longo da história brasileira, entre ou motivos, pelo fracassado
modelo democrático de representação política, que muito pouco apresenta resultados efetivos
de atendimento aos reais anseios sociais. Portanto, considerar o potencial de efetividade de
um modelo dialógico de políticas gerativas talvez seja uma alternativa sensata aos gestores
públicos comprometidos com o bem comum.
A esse respeito os teóricos da democracia participativa questionam a privação de
oportunidades e responsabilidades dos cidadãos no processo de formação da vontade coletiva,
assim como a restrição da agenda e do espaço de discussão pública, vistos como legados
negativos do individualismo liberal, que, em última análise comprometem as estruturas de
legitimidade e equilíbrio do sistema político (NUNES, 2005).
Acima de tudo, a participação possibilita a tomada de decisões que é mutuamente respeitável
entre os membros da comunidade, que a necessidade de exposição aberta de argumentos e
razões favorece o eventual reconhecimento do mérito de opiniões contrárias, e por vezes
justificadas. A justificação pública das decisões autoriza a permanente verificação da
razoabilidade e da proporcionalidade dos atos praticados pelos governantes, atestando e
legitimando a adequação do exercício do poder político.
Atualmente o espaço público está no centro do funcionamento democrático. “Habermas nos
anos 70 o definiu como o lugar do discurso político, como a esfera intermédia que se constitui
38
historicamente, nos séculos XVIII e XIX entre a sociedade civil e o Estado.” (SANTOS
FILHO, 2004, p. 3). Como um dos teóricos da democracia deliberativa este autor define o
espaço público urbano como o lugar de acesso a todos os cidadãos para se reunirem em torno
de uma opinião pública. Por outro lado, os críticos dessa vertente teórica, sinalizam para uma
definição mais ampla do espaço público como local onde os problemas se apresentam, tomam
forma, ganham uma dimensão pública e são resolvidos.
Portanto, é no espaço urbano, e mais precisamente na esfera pública que emergem as
demandas político-econômicas e sócio-ambientais que na maioria das vezes não encontram as
soluções desejáveis por razões diversas.
Neste novo século se configura uma preocupação maior buscando-se reflexões acerca do
tema “espaços públicos” salientando que existem ações possíveis capazes de incluir os “seres
humanos” no meio ambiente, humanizando os serviços públicos, fortalecendo a sociedade
civil, combatendo as desigualdades e promovendo a participação popular crítica e consciente,
deixando de lado as divergências ideológicas e principalmente o modelo neoliberal de
convívio social.
Deste modo, a discussão sobre a ocupação do espaço urbano torna-se relevante em virtude de
seu rápido crescimento populacional e econômico que aliado a políticas públicas ineficazes e
excludentes, bem como, os planos urbanísticos, que além de acentuar a exclusão social
refletem a falta de infra-estrutura urbana básica. Entretanto, tais fatos se dão em função da
dimensão que tomou os processos e problemas de ordem social, econômica e ambiental nos
núcleos urbanos, em princípio nas metrópoles e posteriormente nas cidades.
2.3 Considerações teóricas sobre políticas públicas de esporte
A desigualdade social e econômica nas sociedades contemporâneas aliadas a um processo
crescente de organização do espaço urbano e rural suscitam diagnósticos empíricos das ações
do Estado, bem como estudos teórico-metodológicos da expertise sobre os rumos da
sociedade frente aos desafios do novo século.
39
Nesse contexto, cabe ao Estado, nas três esferas (federal, estadual e municipal) estimular às
práticas desportivas, por meio da definição de políticas públicas efetivas que ofereçam as
condições adequadas de espaço, de profissionais qualificados e de equipamentos.
Diferentes projeto de governo, na esfera federal, têm apontado diretrizes para a
implementação das atividades esportivas. Dentre estas diretrizes foi proposta a necessidade de
um projeto político integrado incluindo a cultura, o esporte e o lazer, evidenciando o
propósito de tratá-los como sendo ambos considerados bens culturais, indissociáveis de
qualquer esforço de melhoria da qualidade de vida da população.
Confirmando CASTELLANI FILHO (apud MARCELINO, 1996, P. 17) diz que “o esporte,
mais especificamente, era considerado como uma das práticas sociais mais significativas das
sociedades contemporâneas, integrante do patrimônio cultural da humanidade e componente
do quadro da cultura corporal do homem e da mulher brasileiros”. Por outro lado, outra
proposta destacava a intenção de fomento das atividades esportivas para que atingissem todas
as camadas da população, especialmente as mais carentes, propiciando a participação e
integração de minorias comumente marginalizadas, como os idosos e os deficientes,
utilizando a educação física e o esporte como importantes e eficazes instrumentos de
promoção social da criança carente. (CASTELLANI FILHO apud MARCELINO, 1996, P.
17).
Faz-se necessário, porém, destacar que esta promoção social pretendida necessita ser
efetivada de forma planejada, com objetivos bem definidos e que, acima de tudo, seja da
vontade dos beneficiários.
Como toda política social, a política de esporte deve se prestar a diminuir as desigualdades
sociais e auxiliar na garantia do pleno exercício da cidadania. Segundo Vianna (2002, p. 1),
“Política social é um conceito que a literatura especializada não define precisamente. De um
ângulo bem geral, no âmbito das Ciências Sociais, a política social é entendida como
modalidade de política pública e, pois, como ação de governo com objetivos específicos”.
No entanto, considera-se que a política social, como modalidade de política pública, deve ser
entendida em sua dimensão política e histórica. E é contemplando estas dimensões, sempre
40
articuladas, que se pode avançar um pouco mais na definição de políticas sociais e na
identificação de seu objeto.
Porém, em muitos casos, ocorre uma utilização indevida pelo Estado no que concerne a sua
gestão e projeto político. Muitas vezes a efetivação de políticas de esporte está ligada a outros
interesses, como simplesmente garantir ações clientelistas e assistencialistas
10
. Nesse sentido,
os programas ou as políticas desenvolvidas são favores prestados pelo Estado às
comunidades. (MALHEIROS, 2001).
Cabe ressaltar que o viés funcionalista do fenômeno esportivo tem contribuído para o milenar
processo de ocidentalização do mundo, desde a sua origem até a globalização, percorrendo
basicamente o mesmo processo de expansão da modernidade, tendo surgido em meio à
dinâmica das revoluções industrial, científica e política. Neste sentido, “o esporte reflete os
valores funcionais à manutenção do status quo”. (GEPESE, 2002, p. 1). Suas representações
sociais seguem o modelo de afirmação da hegemonia das potências econômicas e políticas
mundiais, reproduzindo valores de competitividade e superioridade.
Do ponto de vista das relações sociais, o fenômeno esportivo perpassa, no seu interior, pela
reprodução da divisão social do trabalho refletido na especialização de papéis cujo resultado
restringe-se a alguns modelos de performance de desempenho hegemônicos, regulados em
alta escala por formas específicas de controle social, exercidas de cima para baixo pelas
instituições gestoras do esporte, como também na sua base, por influência dos clubes, famílias
e afins, fomentando a busca constante de resultados máximos e limitando as potencialidades
humanas.
Analogamente a esta visão funcionalista do esporte o pensamento Durkheimiano pressupõe
que “(...) É na determinação da função social que as instituições cumprem, que a metodologia
10
Ao praticar a atenção às populações desfavorecidas, o assistencialismo oferece a própria atenção como uma
"ajuda", vale dizer: insinua, em uma relação pública, os parâmetros de retribuição de favor que caracterizam as
relações na esfera privada. É pelo valor da "gratidão" que os assistidos se vinculam ao titular das ações de caráter
assistencialista. O que se perde aqui é a noção elementar de que tais populações possuem o direito ao amparo e
que, portanto, toda iniciativa pública, voltada ao tema da assistência caracteriza dever do Estado. O que se
vislumbra, pelo assistencialismo, é a possibilidade dos assistidos "retribuírem" eleitoralmente a atenção recebida;
por isso, os assistidos devem ser submissos e dependentes, não devem se organizar de forma autônoma e, muito
menos, expressar demandas políticas como se sujeitos fossem. O assistencialismo é, por isso mesmo, uma prática
de dominação. Se vitorioso, ele produz objetos dóceis e manipuláveis. (ROLIM, 2006).
41
funcionalista procura explicar sua existência, bem como as nossas formas de agir, ou, como
diria Durkheim, dos fatos sociais”. (SELL, 2002, p. 69).
Brohm ao analisar a funcionalidade do esporte reitera como pano de fundo a reprodução do
sistema social, evidenciando a ruptura histórica com o surgimento do esporte moderno em
relação ao antigo, sobretudo pelas representações sócio-culturais dos respectivos contextos
históricos. O conceito moderno de esporte é concebido no útero da sociedade industrial e,
portanto, “as funções do esporte lhe são ditadas objetivamente pelo lugar da instituição
esportiva no edifício social como totalidade orgânica”. (BROHM, 1982 apud PRONI, 2002,
p. 45). Esta visão leva em consideração a dinâmica sócio-cultural, econômica e política da
sociedade capitalista, o que sugere características funcionais multifacetadas a exemplo da
“mercantilização” cujo objetivo é o lucro; a “politização” refletida no poder entre nações; e o
papel “positivista” da institucionalização do esporte como viés legitimador da ordem
estabelecida.
Como foi dito anteriormente, a importância do esporte na sociedade pode ser evidenciada pela
sua capacidade de produzir satisfação e prazer, além do seu caráter político-participativo e
transformador. Vargas (2001, p. 23) reitera esta afirmativa dizendo que “em um mundo em
que todas as fronteiras foram desbravadas pela comunicação, o desporto, a despeito de se
configurar por vezes como aparelho ideológico, emerge como fenômeno lingüístico,
assumindo a incomensurável importância de ser materializado como linguagem universal”.
Como afirma este autor,
“Assim, o esporte cresceu no mundo contemporâneo, popularizou-se, e hoje
é reconhecido, (...) como um dos mais importantes fenômenos sociológicos
desta segunda metade do século. O futebol, em especial, apresenta fatores
de excepcional relevância no mundo em vias de globalização, mobilizando
multidões, recursos financeiros e veículos de comunicação social, sem
precedentes”. (VARGAS, 2001, p.64).
A importância econômica viabilizada pelo futebol e valorizada não somente pelo Brasil, mas
por todo o mundo globalizado, ganha maiores espaços na mídia, conquistando o mercado
através de marcas de clubes e ídolos e mobilizando multidões aos espetáculos esportivos
gerando uma grande competição não esportiva, mas um canal inevitável de marketing
comercial.
42
no âmbito social, o esporte tem função pedagógica, no processo de formação do indivíduo,
proporcionando a compreensão de valores como respeito, solidariedade, espírito de equipe,
participação, entre outros fatores que contribuem para o desenvolvimento humano.
Por outro lado, vale retomar, para fins de detalhamento, a classificação dos esportes em três
modalidades, elaborada por Tubino (1992) (...), qual seja a do esporte-educação, o esporte-
performance e o esporte-participação.
Em relação ao esporte-educação, considera-se essencial a prática da atividade física e o jogo
lúdico na fase de desenvolvimento da criança, mas foram criadas ao longo do tempo tantas
funções para as crianças que a atividade física ficou para segundo plano. Pode-se destacar,
também, que em virtude da violência e da diminuição dos espaços para a prática esportiva, o
movimento ficou reduzido, acarretando consequentemente no sedentarismo precoce.
Essa progressiva diminuição de estimulação ocasional das crianças do
nosso tempo coloca um desafio enorme quanto à valorização da educação
física como disciplina curricular e às condições de jogo livre nos recreios
das escolas. Não interessa apenas discutir quais as melhores estratégias de
ensino, as melhores opções curriculares, formação de educadores ou
especialistas de educação física: a questão principal reside também em
compreender o significado das atividades motoras e lúdicas no
desenvolvimento da criança, as oportunidades de prática e encorajamento
que lhe são dadas em função das suas necessidades e a complexidade dos
estilos de vida a que estão sujeitas no dia-a-dia. (VARGAS, 2001, p.121).
A escola é um local privilegiado para se desenvolver a cultura do corpo e o gosto por um
estilo de vida ativo, cabendo aos professores, pais e demais responsáveis, definir as melhores
estratégias de intervenção para os grupos visando à participação de todos. No dizer de Vargas,
De fato, o desenvolvimento motor da criança é influenciado por uma
multiplicidade de contextos com especial relevo para as atividades
informais na rua, no recreio escolar, com os pais, em atividades
institucionalizadas de tempos livres, privadas ou de iniciativa municipal. Os
dados disponíveis sobre as rotinas de vida cotidiana das crianças dão-nos a
indicação preocupante sobre as restrições existentes quanto às atividades
lúdicas e desportivas das crianças dos nossos dias. A importância de que se
reveste a escola quanto à possibilidade de dar oportunidade de experiências
motoras e de jogos a todas as crianças e jovens independentemente do seu
nível de habilidade é um objetivo que deve mobilizar todos os interessados.
No entanto, para que tal objetivo seja possível de alcançar, são necessárias
políticas de harmonização entre a escola, a família e a comunidade. O
43
estatuto de desenvolvimento motor das crianças jovens e a criação de
atitudes para estilos de vida saudável implicam iniciativas de conjunto e
decisões realistas sobre a diversidade de grupos etários, étnicos e sociais.
(VARGAS, 2001, p.128, 129).
Independentemente da modalidade esportiva que a criança venha a praticar, estará relacionada
a valores em que esta prática está inserida. Sendo assim, a criança depende diretamente das
políticas públicas que regem o conjunto de ações dos quais o esporte faz parte, e de maneira
genérica contribui para o desenvolvimento humano, tão necessário num mundo globalizado,
interdependente e repleto de incertezas.
Quanto ao esporte-performance ou de rendimento, considera-se que ele é pautado pelas regras
e códigos específicos de cada modalidade esportiva, institucionalizado, com organizações
internacionais que regulamentam a prática competitiva através das federações e
confederações. Esta dimensão do esporte é protagonizada pelo atleta profissional, ou ainda, a
um tipo de atividade esportiva que não é necessariamente remunerada, mas que exige do
praticante dedicação e rendimento que superam uma prática de tempo livre ou amadora.
Na busca desse objetivo estão implicados valores próprios da sociedade
atual como o trabalho alienante onde o corpo é usado e manipulado pelo
próprio atleta e pela comissão técnica para alcançar o rendimento máximo,
em um curto espaço de tempo, atendendo aos interesses que gravitam no
entorno do espetáculo como a venda de produtos ou a imagem do
patrocinador. (RUBIO, 2004)
O espaço físico passa a se tornar mercadoria e investimento. A especulação imobiliária
contribui para o desequilíbrio espacial gerado em vários setores. Nesse contexto, a situação é
bastante grave quando se trata de espaços e equipamentos de esporte, porque ainda não é
considerado como essencial. “Quem não pode pagar pelo estádio, pela piscina, pela montanha
e o ar puro, pela água, fica excluído desses bens que deveriam ser públicos, porque são
essenciais.” (SANTOS, 1987, p.48 apud MARCELINO, 1996, P. 33).
Como foi visto anteriormente, a perspectiva do “esporte para todos”, que sustentação ao
esporte-popular, foi assumida na Noruega em 1967 e divulgada para outros países, inclusive
para o Brasil. Conforme Castellani (1988), em termos do Brasil,
44
Foi também no início dos anos 70, que começou a ganhar corpo, o depois
conhecido como Movimento Esporte para Todos”, o EPT... O EPT, assim,
seria a comprovação de que, ao desenvolvimento econômico alcançado no
início da década de 70, correspondia o desenvolvimento social da sociedade
brasileira, expresso, dentre outras formas, no acesso às atividades físicas de
lazer pela camada da população, até então dela alijada... (CASTELLANI,
1988, p.116).
De fato, foi com a participação dos professores Lamartine Pereira da Costa e Otávio Teixeira
nas Jornadas Internacionales de Estúdio sobre el Deporte, em Buenos Aires, em 1973, que
se começou a pensar a “democratização” do esporte no Brasil.
Em 1975, quando da elaboração do Plano Nacional de Educação Física e Desportos - PNED,
incluía-se uma terceira área na Educação Física brasileira, o “Desporto de Massa”, compondo
o tripé: Educação Física e desporto estudantil; Desporto de alto rendimento e Desporto de
massa, fato regulamentado pela Lei nº. 6.251/75, tendo com principais objetivos o
aprimoramento da aptidão física da população, a elaboração do nível dos esportes em todas as
áreas, a implantação e intensificação da prática dos desportos de massa, a elevação do nível
técnico-desportivo das representações nacionais e a difusão dos desportos como forma de
utilização do tempo de lazer. (BRASIL, MEC, 1976).
O Ministério da Educação e Cultura realizou uma campanha de esclarecimento e difusão da
prática das atividades físicas e esportivas, iniciando os trabalhos em 1977, sob a coordenação
de Lamartine Pereira da Costa. Foi realizado um Seminário denominado “Esporte para
Todos” contando com a participação de Jürgem Palm, da Alemanha Ocidental apresentando a
concepção da TRIMM. Discutiu-se metodologia de atividades, instalações, equipamentos,
capacitação de pessoal, além das experiências que aconteciam em São Paulo e Rio de
Janeiro. (CAVALCANTI, 1984).
Elaborou-se, então, o “Documento sico da Campanha Esporte para Todos. (BRASIL,
MEC, 1977), estabelecendo os dez objetivos, denominados de decálogo”, que o, de
um modo ou de outro, nortear as políticas públicas sobre o esporte no país, sobretudo as
de esporte-participação na busca de democratizar a sua prática.
45
2.4 Retrospectiva histórica sobre a institucionalização estatal do esporte no
Brasil
Desde o Brasil-Colônia (1500 a 1822) já se pôde perceber algumas práticas voltadas para a
atividade física e para o esporte, mas estas práticas tinham um caráter utilitário, resultantes da
própria condição de sobrevivência dos índios e posteriormente dos colonizadores. Estas
atividades foram arco e flecha, natação, canoagem, corridas, equitação
11
, mas de forma que
eram utilizadas para fugas, perseguições, caça, pesca e como meios de locomoção. (PENA
MARINHO, 1979). Nenhum dispositivo legal foi traçado neste período, somente algumas
publicações a respeito da Educação Física foram lançadas em Portugal as quais chegaram ao
Brasil mais tarde.
Já durante o Brasil-Império (1822 a 1889) sob influência da Europa inicia-se um movimento a
favor da Educação e da Educação Física onde José Mariano de Albuquerque Cavalcanti
propõe um prêmio a quem apresentasse um plano de Educação Física, moral e intelectual.
Mais tarde, o Deputado Antônio Ferreira França da Bahia, conseguiu a criação da “Escola
Primária Superior”, no Rio de Janeiro, incluindo o ensino da Ginástica, defesa do corpo,
natação, equitação e dança. (TUBINO, 1996, p. 16).
Toledo (1983 apud TUBINO, 1996, p.16-17) relacionou os instrumentos legais desse período:
Lei nº. 630 de 17/09/1851 - inclui a ginástica no currículo das escolas
primárias;
1852, Regulamento para instrução pública no Amazonas,
compreendendo a Educação Física, moral e intelectual;
1855, Regulamento da Instrução Primária e secundária no Município da
Corte que estende os exercícios ginásticos ao Colégio Pedro II;
Decreto nº. 2005 de 24/10/1857 Reforma Marquês de Olinda.
Determina que o Colégio Pedro II para terreno espaçoso para que
melhore a prática de exercícios e ginástica, banhos e natação, além do
recreio;
Decreto nº. 2.882, de 01/02/1862 – “Reforma Souza Ramos”. Mantém a
ginástica no Colégio Pedro II e acrescenta dança no seu currículo;
Decreto nº. 3.705, de 22/09/1866 Determina a prática da Ginástica,
natação e esgrima nos Cursos Preparatórios à Escola Militar;
Decreto . 4.720, de 22/04/1871 Baixa o Regulamento da Escola da
marinha, conservando a obrigatoriedade da prática de esgrima, da Ginástica
e da natação em seus cursos;
11
Equitação: Arte ou exercício de andar a cavalo. (FERREIRA 1988, p. 258)
46
Decreto nº. 6.370, de 30/09/1876 Introduz exercícios graduados de
ginástica e princípios gerais de Educação Física nos cursos das duas Escolas
Normais criadas no Município da Corte;
Decreto nº. 7.684, de 06/03/1880 Regulamenta o ensino normal no
Município da Corte, conservando, na série, os princípios gerais da
Educação Física, e os exercícios ginásticos, nas demais séries;
Decreto nº. 8.025, de 16/03/1881, de 16/03/1881 Prescreve a
obrigatoriedade da ginástica nas duas seções em que ficou dividido o curso
normal, com a nova regulamentação.
Decreto nº. 9.251 de 16/06/1884 – Inclui a ginástica, a natação, a
equitação e a esgrima nos currículos da Escola Militar do Rio Grande do
Sul.
Decreto . 10.202 de 09/03/1889 Cria o Imperial Colégio Militar, no
princípio da Corte, fazendo constar também dos programas a natação, a
ginástica, o tiro ao alvo, e a esgrima.
Segundo o mesmo autor a capoeira era uma atividade muito praticada durante o período de
escravidão, fortemente ligada à própria identidade cultural brasileira. “O esporte mais
praticado no período imperial foi o remo, o qual teve importantes regatas disputadas, como
cópia das disputas européias principalmente na Inglaterra”. (TUBINO, 1996, p.18). Surgiram
nesta época o Clube de Regatas Flamengo (1895), o Clube de Regatas Vasco da Gama (1898)
dentre outros que mais tarde tiveram o futebol como atividade principal.
Outro fato interessante foi às várias obras escritas sobre Educação Física e sobre os Esportes
no período do Brasil-Império, como os apresentados por Tubino (1996) e organizados no
quadro 1:
Quadro 1 – Obras sobre Educação Física e esportes no período imperial
OBRA AUTOR ANO
Tratado de Educação Física-Moral dos Meninos Jerônimo Serpa 1828
Algumas considerações sobre a Educação Física Tese da Faculdade de Medicina 1845
Generosidade acerca da Educação Física dos meninos Joaquim Pedro Melo 1846
Influência da Educação Física do Homem Tese de doutorado de Antônio
Francisco Gomes
1852
Influência da Educação Física Antônio Nunes de Golveia Portugal 1847
Reflexões sobre a Educação Física Moral da Infância Ignácio Firme Xavier 1854
Opúsculo sobre a Educação Física dos Meninos Casimiro José de Morais 1885
Estudos Higiênicos sobre a Educação Física Intelectual do
soldado
Eduardo Augusto de Abreu 1867
Novo Guia para o Ensino da Ginástica Ministro do Império 1870
Da Educação Física, Intelectual e Moral da Mocidade do Rio
de Janeiro e sua influência sobre a Saúde
Amaro Ferreira das Neves 1870
Manual Teórico-Prático de Ginástica Escolar Pedro Manuel Borges 1888
Fonte: Elaborado a partir de dados de Manoel Gomes Tubino, 1996, p 18 e 19.
47
O esporte moderno como é concebido na atualidade é fruto da sociedade industrial européia
do final do século XIX. Sua institucionalização está diretamente ligada ao fenômeno da
urbanização provocada pelo processo de industrialização que arrebanhava um enorme
contingente populacional de trabalhadores para as cidades. O Estado assumiu um caráter mais
significativo na institucionalização do esporte, embora os movimentos sociais que
reivindicavam melhores condições de vida e mesmo aqueles que se apoiavam no pensamento
marxista de emancipação social, tivessem importante participação no processo de
institucionalização do fenômeno do esporte.
No Brasil, foi na primeira metade do século XX que se iniciou um processo de
institucionalização do esporte. O Estado assumiu um papel de incentivador de uma política
desportiva de caráter militarista para atender uma demanda de recrutamento para a Guerra. No
entanto, essa política foi marcada pelo seu caráter antidemocrático, cujo objetivo central era a
formação e o preparo para o combate.
A hisria institucional do esporte no Brasil teve início em 1937 quando por intermédio
da Lei n°. 378 de 13/03/37 foi criada a Divisão de Educação Física do Ministério da
Educação e Cultura sob o comando do Major João Barbosa Leite, Coronel Caio rio de
Noronha Miranda, Professor Alfredo Colombo, General Antônio Pires de Castro Filho,
Coronel Genival de Freitas e Coronel Arthur Orlando da Costa Ferreira. (BRASIL,
2003).
Foi nesse contexto turbulento entre guerras, com forte apelo militarista que a Educão
sica brasileira começou a se estruturar no âmbito das instituições do Estado com o
objetivo de formar uma juventude capaz de suportar o combate, a luta e a guerra. O
método francês de ginástica, que havia sido adotado pelo exército brasileiro na década de
1920, foi também adotado nas escolas a fim de estabelecer padrões de comportamento
próprios do regime militar ao segmento jovem da sociedade.
Segundo a Educação Física militarista, as possibilidades de educação
popular o limitadas. Assim, a Educação Física funciona mais como
selecionadora de elites condutoras”, capaz de distribuir melhor os
homens e as mulheres nas atividades sociais e profissionais. O papel da
Educaçãosica é de “colaboração no processo de seleção natural,
eliminando os fracos e premiando os fortes, no sentido da depuração
da raça”. (GHIRALDELLI JUNIOR, 1989, p. 18).
48
A afirmação deste autor remete aos conceitos darwinistas de seleção natural do século XIX,
em que prevalece o caráter essencial da aptidão física e de adaptação a condições extremas.
Outro ponto fundamental na discussão dessa vertente militarista da atividade física que se
institucionalizou no Brasil a partir da cada de 1930, foi o seu caráter ordenador na
“formação do cidadão-soldado, capaz de obedecer cegamente e de servir de exemplo para o
restante da juventude pela sua bravura e coragem”. (GHIRALDELLI JUNIOR, 1989, p. 18).
Em 30 de outubro de 1941, no Palácio Tiradentes foi proferida a palestra “Filosofia e
Educação Física” pelo professor Carlos Sanches de Queirós, diretor da Escola Nacional de
Educação Física da Universidade do Brasil, criada pelo decreto-lei 1212 de 17 de abril de
1939. O tema discutia a importância da Educação Física e a preocupação com forma “nada
educativa” que vinha sendo contemplada. “Graças a este grupo de pioneiros, o conceito da
Educação Física cresceu e se esclareceu na alma do povo que nela passou a ver não uma
simples aplicação de grosseiros métodos empíricos ao alcance de todos, mas uma verdadeira e
dedicada arte cujo exercício demanda conhecimentos científicos bem especializados.”
(CASTELLANI FILHO, 1988, p.36).
Tendo suas origens marcadas pela influência das instituições militares, contaminadas pelos
princípios positivistas se estabelece a manutenção da ordem social, quesito básico à obtenção
do almejado Progresso a Educação Física no Brasil, desde o século XIX, era entendida como
um elemento de extrema importância para o forjar daquele indivíduo “forte”, “saudável”,
indispensável à implementação do processo de desenvolvimento do país que, saindo de sua
condição de colônia portuguesa, no início da segunda década daquele século, buscava
construir seu próprio modo de vida. Contudo, esse entendimento, que levou por associar a
Educação Física à saúde corporal, não se deve exclusivamente e nem tampouco
prioritariamente, aos militares.
Tomando-se como refencia o peodo inicial de institucionalização do esporte no
Brasil, é adequado considerar que na sua fase inicial o Estado assume uma postura
estrategicamente definida para a maximização dos resultados, o que implica numa
concepção racional de escolha por objetivos ajustados à ordem estabelecida. Assim o
esporte condicionou-se ao apelo militar que o contexto político, social e econômico
demandava cujo viés institucional se conformava à conceão funcionalista das políticas
49
blicas de Estado para o esporte. O interesse institucional do Estado em preparar
homens para o enfrentamento bélico era o fio condutor da política desportiva desta época.
Após um cuo de quarenta anos, em 1970, a instituição das atividades sicas coma a
se desenvolver de forma mais ampla, passando de divisão a Departamento de Educação
sica e Desportos, ainda vinculada ao Ministério da Educão e Cultura, sob o comando
dos coronéis Eric Tinoco Marques e Osny Vasconcellos, mantendo seu caráter militarista
no pós 1964. O esporte nesse período já estava expandido por todo o país. A Educação
sica estava a servo da hierarquizão e da elitização social, voltada para o culto do
atleta herói, buscando a especialização dos alunos num esporte específico, cujo objetivo
era a conquista de medalhas olímpicas para o país. Na seqüência, em 1978, este
departamento foi transformado em Secretaria de Educação Física e Desporto, ainda
ligado ao Ministério da Educação, e assim permaneceu até 1989. (BRASIL, 2003).
Os efeitos desse marco perdurou até os anos 90, quando se inicia uma nova formatação
institucional do esporte brasileiro, embora ainda num plano secundário. Foi apenas no início
do século XXI com a criação do Ministério do Esporte, que se estabeleceu uma organização
institucional de gestão das políticas públicas, verificando-se também o papel das instituições
governamentais para a elaboração de políticas públicas de esporte, considerado como um
direito social.
Em meio século de institucionalizão do esporte no Brasil, fica evidente seu caráter
antidemocrático, motivado inicialmente pelas estratégias do interesse na força e na
ordem, sendo posteriormente condicionado ao alto rendimento, perpassando pela
dimensão tecnicista, cuja finalidade era o esporte de resultado. Não havia uma política de
Estado voltada à popularizão do esporte no Brasil, o que desencadeou a pulverização
de instituões desportivas de caráter privado, engendradas pelo movimento operário que
impulsionou o esporte popular. (GHIRALDELLI JÚNIOR, 1989). Porém, ainda distante
da dimensão social do esporte voltada à participão democrática. Em 1990, o então
presidente Fernando Collor de Melo, extinguiu a Secretaria ligada ao Ministério da
Educação e criou a Secretaria de Desportos da Presidência da República, cujos
secretários foram os ex-atletas Arthur Antunes Coimbra - Zico e Bernard Rajzman. Após
empeachment do presidente Collor, o esporte voltou a ser vinculado ao Ministério da
Educação, com a Secretaria de Desportos.
50
A partir de 1995, o esporte comou a ser mais priorizado. O presidente Fernando
Henrique Cardoso criou o Ministério de Estado Extraordinário do Esporte, nomeando o
ex-jogador de futebol Edson Arantes do Nascimento - Pelé, cabendo à Secretaria de
Desportos do Ministério da Educação prestar o apoio técnico e administrativo. Para
Oleias (1999, p. 71)
A própria crião do Ministério Extraordinário dos Esportes em 1994,
logo após a posse de FHC, representou muito mais uma jogada de
marketing para dar credibilidade ao governo, além, é claro, de dar o
posto de ministro a Pelé, do que um tratamento especial ao esporte. A
condução do Ministério mereceu críticas pelo privilégio excessivo ao
esporte de rendimento.
Em março do mesmo ano, esta secretaria é transformada no Instituto Nacional de
Desenvolvimento do Desporto - INDESP, desvinculado do Ministério de Educação e
Cultura - MEC e subordinado ao Ministério Extraordinário do Esporte - MEE.
“Surpreendentemente, no início de 1998, após a aprovação da nova lei, o MEE foi
simplesmente extinto, comprovando a ausência de uma política capaz de dinamizar o
esporte em escala social”. (OLEIAS, 1999, p. 71-72).
No dia 31 de dezembro de 1998 foi editada a Medida Provisória n°. 1.794-8 pelo
presidente Fernando Henrique Cardoso, em seu segundo mandato, que criava o
Ministério do Esporte e Turismo, e o INDESP passa a ser vinculado a este órgão. Em
outubro de 2000, o INDESP é extinto e substituído pela Secretaria Nacional de Esporte.
O primeiro secretário foi José Otávio Germano, e na seqüência foi nomeado Lars
Schmidt Grael. (BRASIL, 1998).
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em janeiro de 2003, separou as duas pastas, ficando o
esporte como um ministério próprio. O Deputado Federal, Agnelo Queiroz, assumiu então o
recém-formado Ministério do Esporte, responsável por construir uma Política Nacional de
Esporte. Além de desenvolver o esporte de alto rendimento, sua missão é estudar ações de
inclusão social por meio do esporte buscando garantir à população brasileira o acesso gratuito
à prática esportiva, qualidade de vida e desenvolvimento humano. (BRASIL, 2003).
Após 70 anos de institucionalização do esporte no Brasil, o Estado assume uma postura
de reconhecimento da relevância do esporte como forma de promão social,
51
preconizado na Constituição Federal de 1988. Em 2003, o governo federal criou o
“Ministério do Esporte como instituição responsável pelo desenvolvimento das três
dimensões sociais do esporte voltadas à educação, ao rendimento e a participação
popular.
Na estrutura organizacional do Ministério do Esporte, apresentada na figura 1, está o ministro,
indicado pelo presidente da República. Subordinados a ele estão os órgãos de assistência
direta e imediata e os órgãos específicos singulares que divide o esporte em três dimensões: o
esporte educacional, o esporte popular e o esporte de rendimento. O Conselho Nacional de
Esporte - CNE é o órgão colegiado de deliberação, normatização e assessoramento.
Figura 1 - Organograma do Minisrio do Esporte
Fonte: Ministério do Esporte, 2003.
52
O CNE está diretamente vinculado ao Ministro de Estado do Esporte e é parte
integrante do Sistema Brasileiro de Desporto. Tem por objetivo buscar o
desenvolvimento de programas que promovam a massificação planejada da atividade
física para toda a população, bem como a melhoria do padrão de organização, gestão,
qualidade e transparência do desporto nacional, estabelecido a partir do decreto nº.
4.201, de 18 de abril de 2002. (BRASIL, 2002).
Os membros que integram este conselho são: o Ministro de Estado do Esporte, como
presidente, o Secretário-Executivo do Ministério do Esporte, o Secretário Nacional de
Esporte de Alto Rendimento, o Secretário Nacional de Esporte Educacional, o Secretário
Nacional de Desenvolvimento de Esporte e de Lazer, representante do Comitê Olímpico
Brasileiro - COB, representante do Comitê Paraompico Brasileiro - CPB, representante
da Comissão Nacional de Atletas - CNA, representante do Fórum Nacional de Secretários
e Gestores Estaduais de Esporte e Lazer, representante dos Secretários e Gestores
Municipais de Esporte e Lazer, representante dos Clubes Sociais, representante do
Conselho Federal de Educação sica - CONFEF, representante do Colégio Brasileiro de
Ciências do Esporte - CBCE, representante da Comissão Desportiva Militar Brasileira -
CDMB, representante da Organização Nacional de Entidades Nacionais Dirigentes de
Desporto - ONED, representante da Confederação Brasileira de Futebol - CBF e seis
representantes do esporte nacional, a serem indicados pelo Ministro de Estado do
Esporte.
Até a década de 1990, o esporte se configurou como apêndice institucional na estrutura
organizacional das políticas sociais na gestão pública brasileira, a qualidade dos serviços
prestados foi colocada em debate e a reforma do Estado foi ganhando consistência,
buscando uma reconfiguração do espo público brasileiro. A década de 1990
representou um fortalecimento institucional do esporte no cenário brasileiro em que a
perceão de teóricos dedicados ao tema justifica esta afirmação.
Agora, passados 10 anos, o esporte já consolidado na sua conceituação
renovada a partir da Carta Internacional da UNESCO, sem
desconsiderar a reconstrução teórica ocorrida, se reapresenta com
alguns novos compromissos sociais e também com características
acrescidas. (TUBINO, 2001, p.6).
53
No âmbito da reconfigurão institucional do esporte no Brasil a partir da década de
1990, pode-se considerar que as políticas neoliberais ampliaram o alcance esportivo,
alavancando a participão do setor privado na implementão das políticas de
desenvolvimento do esporte. Para tanto, o poder público federal criou instituições
deliberativas e de desenvolvimento do esporte no Brasil. Com o fortalecimento das
parcerias público-privadas o esporte brasileiro ampliou sua abrangência nas três
dimensões sociais: de educação, de rendimento e de participação. O quadro 2 demonstra
a conformação institucional do esporte no Brasil que, como se pode observar, inicia um
processo de valorização da gestão das políticas públicas de esporte a partir da década de
1990, consolidando-se em 2003 com a crião do Ministério do Esporte, agora uma
instituição autônoma com poderes independentes.
Quadro 2 Evolução institucional do esporte no Brasil
ANO ÓRGÃO PÚBLICO
1937 Divisão de Educação Física no Ministério de Educação e Cultura
1970 Departamento de Educação física e Desportos no Ministério de Educação e Cultura
1990 Secretaria de Desportos da Presidência da República
1992 Com a saída de Collor volta a vincular-se ao Minisrio da Educação
Ministério Extraordirio do esporte permanecendo com o apoio técnico do
Ministério de Educação
1995
Criado o INDESP- Instituto Nacional de Desenvolvimento do Desporto subordinado
ainda ao Minisrio Extraordinário do Esporte
Ministério do Esporte e Turismo. O INDESP fica vinculado a este ministério
1998
Criação do Conselho Federal de Educão sica CONFEF
2000 O INDESP é substituído pela Secretaria Nacional de Esporte
2003 Criação do Ministério do Esporte.
Fonte: Ministério do Esporte, 2006.
Entretanto, somente a partir de 2004 é que o esporte conquistou espaços mais significativos
através das conferências municipais, estaduais e nacionais, onde foram sinalizados os anseios
da comunidade descritos no documento “Política Nacional do Esporte e Lazer”, criado a partir
deste trabalho com eixos em políticas nacionais de gestão participativa e controle social, de
recursos humanos e de financiamento.
Percebe-se que no âmbito do financiamento foram criadas as leis de incentivo ao esporte e a
lei que cria o programa bolsa-atleta, que salvaguarda ainda a visão elitista da prática do
esporte de rendimento. Nos recursos humanos, ficou previsto que todas as atividades
esportivas e de lazer seriam orientadas e realizadas por trabalhadores qualificados em caráter
54
multiprofissional e multidisciplinar. No que tange ao controle social, foi se configurando um
quadro de democracia participativa caracterizado pelas discussões regionais e nacionais.
Registra-se, a partir daí, o início de uma grande discussão acerca do papel do Estado e da
sociedade na formulação e implementação de políticas públicas sociais, em que o esporte
configura-se como alternativa viável ao avanço do processo democrático.
Anteriormente à criação do Ministério do Esporte, fazendo uma análise institucionalista do
esporte a partir de autores como Hall e Taylor (2003) concebia-se uma visão neo-institucional
de escolha racional, em que os atores políticos obtinham resultados máximos com a
implementação de políticas públicas de esporte, a exemplo do Presidente Collor de Mello, que
se utilizava da figura do desportista ativo para demonstrar energia e ação nas decisões. Neste
período, as instituições desportivas públicas assumiam um papel de coadjuvantes no cenário
das instituições governamentais cuja prioridade era o atendimento ao esporte de alto nível, o
que limitava seu caráter democrático. As decisões dos atores políticos objetivavam a
maximização dos resultados estrategicamente pré-definidos na manutenção do poder político.
O esporte para ser considerado uma instituição social, deverá estar
organizado socialmente, representar uma forma de atividade social,
promover identificações sociais, e, ao mesmo tempo, ao constituir-se num
problema social e num problema humano, deve promover valores. (MC
PHERSON, CURTIS e LOY apud TUBINO, 2001, p. 18-19).
Com a criação do Ministério do Esporte, pela Medida Provisória 103, de de janeiro de
2003, tendo como missão “formular e implementar políticas públicas inclusivas e de
afirmação do esporte e do lazer como direitos sociais dos cidadãos, colaborando para o
desenvolvimento nacional e humano”. (BRASIL, 2003. p. 4), parte-se para uma nova
abordagem institucional, orientada para a participação popular. A partir deste enfoque as
discussões sobre as políticas públicas de esporte no Brasil começam a ser analisadas sob a
perspectiva neo-institucionalista na sua versão sociológica.
O neo-institucionalismo sociológico, por sua vez, enfatiza que as
organizações, ao contrário de uma racionalidade objetivada, adotam novas
práticas institucionais principalmente em busca de legitimidade social e não
apenas tomando como base aspectos voltados à eficácia ou visando
unicamente resultados operacionais. (RAMOS, 2005, p. 21).
55
O Estado amplia sua área de abrangência discutindo o desenvolvimento do esporte nacional
nas suas três dimensões: esporte educacional; esporte participação ou popular e esporte
performance ou de rendimento, incentivando ações democráticas com a participação dos
atores sociais e políticos nas decisões da agenda pública para o setor. Neste caso em particular
o comportamento dos indivíduos são influenciados pelas instituições no seio do órgão maior
do esporte brasileiro, pelos papéis específicos sociais que serão desempenhados.
A descentralização das políticas públicas e ações das instituições, que priorizam demandas
locais e estabelecem parcerias com várias outras instituições a fim de atender as expectativas
e necessidades da sociedade globalizada e mais consciente de seus direitos, compõem o pano
de fundo das discussões acerca do institucionalismo sociológico
12
.
Este novo papel da sociedade forma um redesenho do Estado em que à elaboração de políticas
públicas envolve atores sociais e políticos quando um maior número de conselhos consultivos
atua em níveis locais participando das agendas de políticas públicas. O Estado, bem como a
sociedade, passam por reestruturações e transformações.
A interação de práticas institucionais coordenadas a partir de um processo de discussão
interativa entre diversos atores com objetivos comuns, pode ser aduzida na composição do
novo modelo desportivo brasileiro, sendo legitimado pelas ações e proposições
descentralizadas com a participação social no contexto democrático brasileiro.
A partir da análise sobre a conformação institucional do esporte no Brasil é sensato considerar
que, sob o ponto de vista institucionalista, as políticas de esporte foram por muito tempo
associadas ao ideal competitivo, tendo como pano de fundo o seu caráter militarista e de
obediência á ordem estabelecida, sendo reconhecidamente movido por pressupostos
antidemocráticos. As instituições relacionadas ao esporte surgiram e se desenvolveram
condicionadas ao um plano secundário como apêndice das políticas sociais governamentais.
12
O institucionalismo sociológico surge ao final da década de 1970, em contestação à distinção tradicional feita
entre a esfera do mundo social e as esferas influenciadas por um conjunto variado de práticas associadas à
cultura. Segundo os teóricos desta perspectiva, as formas e os procedimentos deveriam ser considerados como
práticas culturais e incorporadas às organizações. (HALL E TAYLOR, 2003)
56
Com a criação do Ministério do Esporte, em 2003, é possível analisar o comportamento dos
atores políticos e sociais numa nova interpretação institucional, considerando-se os
pressupostos teórico-metodológicos das versões neo-institucionalistas da escolha racional e
sociológica, em que se observaram dois momentos distintos da dinâmica institucional
desportiva no Brasil
.
Antecedendo à criação do Ministério do Esporte, evidenciava-se uma
abordagem neo-institucional de escolha racional
13
, em que as políticas públicas de esporte
assumiam um papel social secundário e antidemocrático no cenário das instituições
governamentais, cuja prioridade era o esporte de rendimento ou performance num jogo
político onde as decisões objetivavam a maximização dos resultados pessoais em detrimento
da participação social.
A partir da criação do Ministério do Esporte pôde-se perceber uma nova visão institucional
baseada nos princípios democráticos de participação popular, embora se tenha um longo
caminho a percorrer para efetivar o que está escrito na Política Nacional de Esportes. Porém, é
perceptível o avanço nas discussões da nova proposta para o esporte brasileiro. Essa nova
visão institucional do esporte democratiza a participação dos atores sociais em torno das
necessidades e expectativas da sociedade, formando um novo desenho institucional em que o
Estado, o mercado e a sociedade civil organizada assumem papéis preponderantes nas
decisões políticas.
Embora a reflexão crítico-analítica permita perceber que as políticas públicas setoriais de
esporte no Brasil ainda apresentem resultados focais em relação à grande demanda social,
pode-se considerar que o novo modelo institucional desportivo representa um avanço
substancial para o setor, apontando para novas formas democráticas de participação política.
2.4.1 A institucionalização esportiva pública em Santa Catarina
A instituição que representa o esporte em Santa Catarina é a Fundação Catarinense de
Desportos - FESPORTE, demonstrada na figura 2, criada em 6 de julho de 1993, por meio da
13
O institucionalismo de escolha racional surgiu no interior do Congresso dos Estados Unidos, na década de
1970, para explicar como era possível a notável estabilidade na votação das leis, diante de múltiplas escalas de
preferências dos legisladores. “Muitos teóricos do institucionalismo da escolha racional explicam o
desenvolvimento de uma instituição referindo-se à eficácia com a qual ela serve às finalidades materiais daqueles
que a aceitam”. (HALL e TAYLOR, 2003, p. 211). Andrews (2005, p. 278), corrobora com a concepção de Hall
e Taylor, ao afirmar que “O institucionalismo da escolha racional tem como pressupostos as preferências fixas e
a maximização da função-utilidade pelos atores sociais”.
57
Lei 9.131, para dar suporte ao desenvolvimento do esporte amador em Santa Catarina com
tratamento diferenciado para o desporto profissional e não profissional, bem como a proteção
às manifestações esportivas de cunho educacional.
Entre os programas de cunho social estão o “Pintando a Liberdade”, desenvolvido na
Penitenciária de Florianópolis e São Pedro de Alcântara, que visa à recuperação dos detentos
e o seu futuro reingresso na sociedade. O “Projeto Navegar”, implantado na Escola de
Aprendizes Marinheiros, que atende a crianças de rede pública escolar, ensinando vela,
canoagem e remo. Também com a parceria do Ministério do Esporte, o “Segundo Tempo”,
envolve cerca de 17 mil crianças distribuídas em 85 núcleos pelo Estado.
Para atender toda a demanda esportiva catarinense, a FESPORTE conta, além de uma equipe
administrativa, com uma equipe técnica ligada à Diretoria de Desporto, dividindo-se em três
áreas gerenciais, a exemplo do Ministério do Esporte, enfocando o desporto de rendimento, o
desporto de participação e o desporto educacional. É responsável ainda, pela organização e
acompanhamento de delegações catarinenses em competições estaduais, nacionais e
internacionais.
Figura 2 – Organograma da Fundação Catarinense de Desportos – FESPORTE
Fonte: Fundão Catarinense de Desportos, 1993.
58
Como órgão consultivo e deliberativo foi criado o Conselho Estadual de Desportos - CED,
através da Lei nº. 8.646 de 04 de junho de 1992, na cidade de Joinville. Tem por objetivos
principais manifestar-se sobre toda matéria relacionada com o desporto; interpretar a
legislação desportiva nacional e estadual; elaborar instruções normativas sobre a sua aplicação
e zelar pelo seu cumprimento; homologar o calendário estadual de atividades desportivas;
acompanhar e fiscalizar a aplicação dos recursos materiais e financeiros do Estado destinados
a atividades desportivas e desenvolver outras atividades relacionadas com o desporto.
O CED compõe-se de 21 Conselheiros, sendo: diretor geral da Fundação Catarinense de
Desportos, como membro nato. São nomeados pelo governador seis representantes de notória
e reconhecida capacidade e experiência em assuntos desportivos; dois indicados pela
Associação das Federações Desportivas de Santa Catarina; quatro representantes das regiões
desportivas indicadas pelos municípios; um representante da Associação dos Profissionais de
Educação Física de Santa Catarina; um da Associação dos Cronistas Esportivos de Santa
Catarina; um das Escolas Superiores de Educação Física de Santa Catarina; um de associação
de clubes filiados às federações desportivas de SC; um de associação de atletas que estejam
registrados na FESPORTE; um de associação de árbitros; um de associação de treinadores
desportivos e um de associação de empresas patrocinadoras de atividades desportivas.
Os Conselheiros têm mandato de dois anos, permitida uma recondução, e suas funções são
consideradas de relevante serviço público, não recebendo para tanto, nenhuma espécie de
remuneração.
A instituição governamental do esporte em Santa Catarina segue os moldes nacionais,
desenvolvendo em grande parte, programas e projetos sugeridos e financiados pelo Ministério
do Esporte. As demais ações giram em torno dos Jogos Abertos de Santa Catarina - JASC,
Olimpíada Escolar Catarinense - OLESC; “Moleque Bom de Bola” e participação em eventos
envolvendo o esporte de rendimento. No esporte-participação realizam eventos: o “Festival de
Dança Mário de Andrade” e o “Prêmio Recriar” o primeiro se refere a vários estilos de dança
e o segundo incentiva a utilização de materiais inservíveis para a construção de brinquedos.
59
3 ASPECTOS HISTÓRICOS DA FORMAÇÃO SÓCIO-ESPACIAL DE
ITAJAÍ
A compreensão acerca da formação sócio-espacial do Brasil suscita o estudo histórico
contextualizado das motivações que engendraram o uso e ocupação do solo habitado por um
mosaico sócio-cultural que construiu esta imensa nação de proporções continentais.
(...) Tudo o que existe articula o presente e o passado, pelo fato de sua própria
existência. Por essa mesma razão, articula igualmente o presente e o futuro. Desse
modo, um enfoque espacial isolado ou um enfoque temporal isolado são ambos
insuficientes. Para compreender qualquer situação necessitamos de um enfoque
espaço-temporal. (SANTOS, 1980, p. 205).
O período colonial brasileiro foi marcado por uma grande desigualdade social. Vale destacar
que as mazelas da vergonhosa exclusão social na atualidade brasileira têm sua origem desde os
primórdios do povoamento branco em solo tupiniquim. O gargalo desta problemática social é
evidenciada no relatório 2005 do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento -
PNUD, que apresenta o Brasil como oitavo país com maior desigualdade social do planeta,
onde os 10% mais ricos se apropriam de 46,9% da renda nacional. O Brasil perde para o
Chile (47%), República Centro-Africana (47,7%), Guatemala e Lesoto (48,3%), Suazilândia
(50,2%), Botsuana (56,6%) e Namíbia (64,5%). A pobreza brasileira ainda guarda as marcas
coloniais da desigualdade social, cujo fosso entre os ricos e pobres permanece inalterado.
(PNUD, 2005).
A rica cultura nativa do sul do Brasil foi violentamente alterada pelos invasores peninsulares.
Portugueses e espanhóis destruíram coercitivamente toda forma de organização tribal “através
do aprisionamento para a escravidão, de seu confinamento em missões jesuíticas e do simples
extermínio fizeram rapidamente desaparecer uma população de milhares de indivíduos a partir
do século XVI”. (FARIAS, 2001, p. 143).
A imigração proeminentemente ítalo-germânica do século XIX, a pretexto da exploração
espacial, continuou o genocídio sistemático dos indígenas até o século XX com a perseguição
e extermínio dos nativos pelos mercenários “bugreiros”. Afora a implacável brutalidade com
que se processou a produção sócio-espacial catarinense, o autor destaca o legado cultural
deixado pelos povos indígenas desde as expressões lingüísticas ao trato da terra,
60
demonstrando que os conhecimentos “primitivos” também tinham sua importância na medida
da necessidade de apropriação pelos invasores das coisas exóticas que o Brasil Meridional
apresentava. A história da segregação étnico-social indígena afirmou-se nas raízes da
brutalidade imposta pelos invasores do solo catarinense, atingindo fortemente o contingente
nativo (tupis-guaranis, chamados de carijós do litoral e o grupo Jê, os Xokleng e os Kaigang
no interior) (FARIAS, 2001).
Na transição do culo XIX para o século XX, Santa Catarina foi povoada mais intensamente
pela colonização européia continental, provinda da Alemanha, Itália, Polônia, Ucrânia entre
outras. Nesta época, o Brasil se tornara independente de Portugal. Os alemães povoaram
Joinville e o Vale do Itajaí, os italianos povoaram as regiões mais ao sul como Tubarão e
Urussanga.
No período da colonização por imigrantes europeus, o Vale do Itajaí recebeu incentivo à
imigração alemã e italiana através da implementação de diversas leis, entre elas a de
05/05/1835, permitindo o estabelecimento de novas colônias, a de 15/07/1936, introduzindo a
colonização por empresa, a de 02/05/1837, dispondo sobre a imigração e a Lei nº. 142, de
29/04/1840
14
, designando distritos de colônias nas margens dos rios que descem a Serra
Geral. Diversamente dos outros núcleos populacionais, a presença da imigração européia no
espaço catarinense oportunizou a fomentação econômica e transformação do espaço através
do trabalho artesanal e assalariado fomentado pelo progressivo processo de industrialização.
O catarinense é produto formado da complexidade geográfica deste Estado:
tenha ele a resistência física e espiritual do açoriano; a altiveza e a
engenhosidade do germânico, a catadura e a criatividade do ítalo; a
sensibilidade artística do austríaco; a tenacidade e a religiosidade do
polonês; o romantismo e imaginação do belga e do francês; a tolerância
gigantesca do africano ou (...) a acuidade do índio. (JAMUNDÁ, 1974, p.
54)
O processo de ocupação e uso do solo catarinense nos quatro séculos de história do Estado
levanta vários aspectos a serem considerados no seu contexto. A miscigenação étnica reflete o
complexo modelo de produção sócio-espacial que se configurou, principalmente a partir de
meados do século XIX, com a intensificação da imigração européia não lusitana. A partir de
então, se verificou um efetivo processo desenvolvimentista do território catarinense,
14
Ver em: <www.radarsul.com.br/itajai/historia>.
61
impulsionado pelos ideais da Revolução Industrial do Velho Mundo. Os imigrantes trazem
consigo o pensamento liberal europeu que influenciou significativamente o modelo de
produção sócio-político e econômico catarinense.
Por outro lado, verificou-se uma ocupação violenta do solo transformando-se num verdadeiro
genocídio das populações indígenas, reduzindo substancialmente as tribos autóctones. Do
mesmo modo, embora em pequeno número, se relacionada com outras regiões da Colônia, a
mão-de-obra escrava utilizada em Santa Catarina deixou suas marcas de exclusão étnico-
social.
No contexto da organização sócio-espacial de Santa Catarina o município de Itajaí,
certamente pela sua localização estratégica, teve posição de destaque iniciando sua exploração
ainda no século XVII. A colonização açoriana inicialmente e depois a germânica,
preponderantemente, deixaram seu legado cultural, político e econômico, balizando a
estrutura sócio-espacial local.
Os primeiros registros históricos da produção sócio-espacial de Itajaí datam de 1658, quando
João Dias de Arzão se estabeleceu em frente à foz do rio Itajaí-Mirim, numa porção de terra
(sesmaria)
15
doada pelo capitão-mor da Vila de São Francisco, que correspondia a uma área
com 2.200 metros de frente, por 440 metros de largura, localizada na confluência do Itajaí-
Mirim, na atual Fábrica de Papel. Porém, Arzão não teve meios para criar uma póvoa.
A partir de 1777 a região começou a ser ocupada por agricultores açorianos, vindos de
Florianópolis, que na época havia sido invadida por uma esquadra espanhola e muitos foram
os requerentes de sesmarias na região de Itajaí, sendo que alguns se estabeleceram na região,
com moradias e lavouras, aproveitando a piscosidade do rio. Em seguida, chegaram colonos
da região de São Francisco do Sul, Paranaguá, Armação de Itapocoroy, Porto Belo e Desterro.
A obra de Farias (2001) levanta alguns números importantes para a compreensão da formação
sócio-espacial itajaiense. Foram doados, no período de 1811 a 1823, doze lotes de terras, por
ato do governador da capitania. Segundo o autor, “No início do século XIX foram
15
S.f. Terreno inculto ou abandonado que era concedido pelos reis de Portugal a sesmeiros. (AMORA, 1998. p.
654-655).
62
distribuídas várias sesmarias em Itajaí, junto as suas praias e margens do rio, completando a
ocupação das melhores terras da região”. (FARIAS, 2001, p. 448).
Em 05 de fevereiro de 1820, Antonio Menezes de Vasconcelos Drumond recebeu ordens do
ministro do Rei Dom João VI, Tomás Antônio de Villanova, de Portugal para estabelecer uma
colônia em terras da região. Nos dois anos em que viveu em Itajaí, Drummond construiu um
engenho de serrar madeira e um barco, a sumaca
16
de São Domingos Lourenço,
provavelmente próximo ao ribeirão Schneider, na Fazenda. O potencial exportador de Itajaí
teve início com a primeira embarcação construída em solo itajaiense levando para o Rio de
Janeiro uma carga de milho, feijão e taboado
17
. Em 26 de fevereiro de 1821, Drummond
recebeu ordem para suspender as obras e voltar para a Corte, sendo substituído pelo coronel
Agostinho Alves Ramos que ao final de 1823 fixou-se no município, organizando
administrativamente o povoado e estabelecendo o curato
18
com a construção da capela do
Santíssimo Sacramento em 1824, data que alguns autores defendem como o marco da
fundação de Itajaí. Providenciou, também, a vinda do religioso Frei Antônio de Agote para
dirigir o curato. A visão administrativa de Alves Ramos engendrou a transformação do
pequeno povoado em freguesia. Em 1835 investiu na criação da Cadeira das Primeiras Letras.
O distrito de Itajaí foi criado em 1833, à margem direita do rio, junto à sua foz com a
Paróquia do Santíssimo Sacramento, que no ano anterior passava da jurisdição de São
Francisco do Sul para a de Porto Belo. A definição do nome do município foi inspirada no rio
Itajaí-Açu, na linguagem nativa tupi-guarani, porém, o seu significado sugere duas
interpretações: rio das Pedras ou rio dos Taiás, apresentando diversas grafias como: Táa-hy;
Tajay e Tajhaug, evoluindo para Itajahy e, finalmente, Itajaí. (D´ÁVILA, 1982, p. 14).
O município de Itajaí foi criado pela Lei nº. 164, de 04 de abril de 1859, mas a sua instalação
somente se deu em 15 de Junho de 1860, data em que aconteceu a emancipação política. A
16
s.f. Bras. Antigo navio a vela muito usado na costa do Brasil semelhante ao patacho, porém menor, de
mastreação constituída de gurupés e dois mastros inteiriços. (FERREIRA, 1988, p. 614).
17
“Taboa. S.f. Planta que cresce em águas paradas e rasas, e de cujas folhas se fazem esteiras e cestos”.
(AMORA, 1998, p. 683).
18
“(...) pequena comunidade assistida por um capelão e com aprovação da autoridade religiosa” (D’ÁVILA,
1982, p. 28).
63
comarca de Itajaí foi criada pela Lei nº. 603, de 13 de abril de 1968. Em 1º de maio de 1876
19
,
a Vila do Santíssimo Sacramento de Itajaí foi transformada oficialmente em Cidade.
A organização sócio-espacial de Itajaí reflete o modelo de colonização do litoral catarinense,
baseado na pequena propriedade com povoamento açoriano. Na primeira metade do século
XIX o povoamento ainda acontecia de forma relativamente lenta. Segundo Farias (2001), em
1840, Itajaí apresentava um contingente populacional de 338 famílias, somando 1.551
pessoas: 1.417 livres e 134 escravos (homens 783 e mulheres 768) com média de 4,4
indivíduos por família. Embora em pequeno número o autor destaca a presença de mão-de-
obra escrava em Itajaí.
Dados do Relatório
20
de 1867 atestam à elevação da população escrava de Itajaí, que em 1866
atingia 784 escravos, perfazendo 6,2% de uma população total de 12.514 habitantes. Outro
aspecto importante a ser destacado é a presença de tribos indígenas na região de Itajaí,
segundo comentários de Amorim (2002), referindo-se aos conflitos gerados pela ocupação
branca em terras indígenas neste período pela Companhia de Pedestres, responsável pela
captura e extermínio dos silvícolas, destaca: “Documentos como este o testemunhos dos
últimos momentos do grupo indígena, fracionado e confuso pela impossibilidade de defesa do
seu território”. (AMORIM, 2002, p. 20).
No período do desmembramento, em 1920, de Camboriú, Blumenau, Brusque, Ilhota,
Navegantes, Penha e Luiz Alves, o município de Itajaí totalizava 21.450 habitantes, porém
com maior contingente populacional distribuído na zona rural, segundo dados do “Annuario
de Itatahy para 1924”, publicado por Vieira e Linhares (1924). O recenseamento da época
revela uma população urbana de 5.094 habitantes, para uma população rural de 14.543
habitantes. Esses mesmos autores descrevem as condições climáticas favoráveis e o solo fértil
e plano como fatores motivadores da concentração rural, cujo plantio da cana-de-açúcar era
abundante e a mais importante cultura agrícola da região. também registros de outros
cultivos: milho, arroz, mandioca, banana e café.
19
Dados pesquisados no Arquivo Histórico de Itajaí, nos livros atas e documentos arquivados, 2005.
20
Relatório apresentado à Assembléia Provincial de Santa Catarina na sua sessão ordinária pelo presidente
Adolpho de Barros Cavalcanti de Albuquerque Lacerda no ano de 1867. Rio de Janeiro, Typ. Nacional.
64
A partir da segunda metade do século XX, o município de Itajaí passa por uma substancial
transformação de sua configuração sócio-espacial. Percebe-se a partir de então uma inversão
no uso e ocupação do solo itajaiense, intensificando-se o processo de urbanização que será
preponderante até os dias atuais, conforme demonstrado no quadro 3.
Quadro 3 – Censo demográfico de Itajaí referente ao período de 1960 a 2000
Ano
População
Rural
População
Urbana
População
Total
% População
Rural
% População
Urbana
1960 16.626 38.889 55.515 29,95 70,05
1970 9.085 54.796 63.881 14,22 85,78
1980 7.681 78.779 86.460 8,88 91,12
1991 5.076 114.555 119.631 4,24 95,76
2000 5.554 141.950 147.504 3,77 96,23
Fonte: IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 1960 a 2000.
Entre os percentuais apresentados da população urbana temos uma média de 89,21% de
concentração populacional ocupando os espaços urbanos da cidade, caracterizando assim, a
inversão sócio-espacial de Itajaí, decorrente do desenvolvimento impulsionado pelo seu
potencial industrial e comercial exportador. O principal negócio girava em torno da madeira,
que era transportada para o Rio de Janeiro, via trapiches, embora de forma rústica, mostrava o
potencial portuário de Itajaí.
O desenho sócio-espacial de Itajaí começa a se transformar com a chegada dos imigrantes
germânicos e italianos no Vale do Itajaí. Vieira e Linhares (1924) descrevem um número de
oito principais fábricas instaladas no município que eram de proprietários de origem
germânica e localizavam-se no perímetro urbano. Além destas, havia uma grande diversidade
de pequenas fábricas como: engenhos, fábrica de cerveja, fábrica de cigarros, entre outras.
O processo de urbanização local reproduziu o modelo de desenvolvimento capitalista. No
centro erguiam-se hotéis, estabelecimentos comerciais e as casas da elite social.
Concomitantemente ao desenvolvimento econômico crescia de forma significativa a
segregação étnico-social, como fora abordado, herança de um sistema colonial
escravocrata, agora sob a influência liberal elitista.
65
Atualmente o município de Itajaí faz parte da Associação dos Municípios da Foz do Rio Itajaí
AMFRI. A sede do município fica à margem direita do rio Itajaí, junto à foz, local onde se
estabeleceu o porto de comércio, de onde se expandiu à ocupação de toda região, e para onde
convergiu, ao longo de mais de um século, a produção destinada ao comércio como Desterro e
outras comunidades litorâneas.
A área territorial de Itajaí é de 303,6 km
2
, tendo como limites: ao norte
Navegantes; ao sul Camboriú, Balneário Camboriú e Brusque; ao leste
oceano Atlântico e ao oeste Ilhota, Gaspar e Brusque. A população em
2000 era de 147.463 habitantes, com uma densidade demográfica de 485,7
hab/km
2
. (FARIAS, 2001, p. 448).
Segundo os dados do IBGE (2000) demonstrados no quadro 4, podemos citar os 10 bairros
mais populosos de Itajaí, destacando-se o bairro Cordeiros como o mais populoso, somando
28.737 habitantes, seguido pelo bairro São Vicente com uma população de 25.401 habitantes.
A estatística revela ainda que a relação população/espaços esportivos é deficitária, conforme
mostra a figura 3 sobre os espaços públicos municipais esportivos.
Quadro 4 - População de Itajaí por bairros
BAIRRO TOTAL %
01 Centro 10.558 7,16
02 Fazenda 13.718 9,30
03 Cabeçudas 985 0,67
04 Praia Brava 2.737 1,86
05 Ressacada 3.697 2,51
06 Cidade Nova 14.592 9,89
07 São Vicente 25.401 17,22
08 Dom Bosco 5.735 3,89
09 Vila Operária 8.037 5,45
10 São João 12.510 8,48
11 Barra do Rio/Imaruí 5.402 3,66
12 Cordeiros 28.737 19,48
13 Salseiros 1.525 1,03
14 Espinheiros 3.731 2,53
15 Itaipava 4.027 2,73
16 Canhanduba 558 0,38
Total Perímetro Urbano 141.950 96,24
Total Zona Rural 5.544 3,76
Total do Município 147.494 ---
Fonte: IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Censo 2000.
66
O levantamento junto ao Departamento de Planejamento e Geoprocessamento - DEPLAN, da
Prefeitura Municipal de Itajaí, sobre os espaços públicos de esporte revela uma insuficiência
quantitativa para atender a demanda dos bairros. São 12 equipamentos de esportes,
concentrados em apenas 6 dos 16 bairros da zona urbana. São 45.246 habitantes sem acesso a
espaços públicos, nos seus respectivos bairros, destinados às práticas esportivas.
Cabe ressaltar, ainda, que, do total de espaços blicos, 3 são ginásios de esportes utilizados
basicamente pelas equipes de competição da cidade; 1 pista olímpica de atletismo utilizada
apenas para provas de competição e treinamento; quatro campos de futebol, sendo 3
pertencentes às associações de moradores, aqui considerados como públicos; uma pista de
skate utilizada por um público específico; quatro praças esportivas, assim consideradas pela
prefeitura, mas são também associações de moradores.
Outros espaços públicos não mapeados pelos órgãos oficiais são as quatro praias utilizadas
para prática de surf; os dois morros para prática de vôo livre; a Avenida Ministro Victor
Konder (Beira Rio), que é utilizada para caminhadas, corridas, ciclismo. No píer flutuante do
Saco da Fazenda são praticados os esportes náuticos de vela e remo.
67
Figura 3 – Mapa dos espaços públicos esportivos municipais
Fonte: Adaptado do Mapa de Equipamentos Sociais, DEPLAN (2004), Prefeitura Municipal de Itajaí, 2004.
Analisando-se a formação do município de Itajaí no contexto sócio-político e econômico do
Brasil até os dias atuais, é possível considerar que do ponto de vista sócio-político o
município apresentou alguns avanços, principalmente após a chegada dos imigrantes não
lusitanos no século XIX. Os ideais liberais trazidos da Europa Central vão impulsionar o
processo de urbanização da cidade, que paulatinamente foi se estruturando e se amoldando ao
modelo capitalista de produção sócio-espacial.
EQUIPAMENTOS ESPORTIVOS MUNICIPAIS
1 Campo de futebol de areia (Gisio Ivo Silveira)
2 – Campo de futebol de areia (Promorar III)
3 Campo de futebol (Centro Social o Vicente)
4 – Centro Desportivo Eduardo Mario Tavares
5 – Centro Poliesportivo João Américo Watsco
6 – Ginásio de Esportes Gabriel João Colares
7 – Ginásio de Esportes Governador Ivo Silveria
8 – Pista Olímpica Municipal de Atletismo
9 – Pista de Skate (Praça Genésio Miranda Lins)
10 – Praça Desportiva (Loteamento Abdon Fóes)
11 – Praça Desportiva (Centro Social Bambuzal)
12
Praça Desportiva (Promorar II)
68
A transição econômica de uma base agrária para uma economia voltada ao comércio e a
indústria, motivada pela consolidação da política nacional-desenvolvimentista iniciada na era
Vargas, foi o fio condutor da inversão sócio-espacial que transformou Itajaí numa cidade
urbanizada.
Diante deste contexto histórico, a discussão sobre a ocupação do espaço urbano torna-se
relevante em virtude do rápido crescimento populacional e econômico que aliado a políticas
públicas ineficazes e excludentes, bem como, a planos urbanísticos, que além de acentuar a
exclusão social demonstram a falta de infra-estrutura urbana básica. Tais fatos refletem a
dimensão que tomou os processos e problemas de ordem social, econômica e ambiental na
zona urbana, muito especialmente em Itajaí, devido ao modelo capitalista de ocupação
espacial que restringiu significativamente os espaços públicos. Na visão de alguns críticos
desse processo restritivo dos espaços públicos convém destacar a importância da função
social que tais espaços proporcionam para a convivência humana.
A questão urbana itajaiense passou a ser discutida com profundidade pela primeira vez em
1971, quando foi elaborado o primeiro Plano Diretor da cidade, o qual fora revisado em 1980.
Porém, na década de 1990 foram editadas diversas leis de regulação do uso e ocupação do
solo, constituindo-se numa verdadeira colcha de retalhos. Atualmente se encontra em
processo de estudos o novo Pano Diretor, atendendo ao que estabelece o Estatuto da Cidade,
conforme a Lei Nº. 10.257, de 10 de julho de 2001, definindo as políticas de planejamento
urbano dos municípios brasileiros. (DE SOUZA, LAURINDO, SCHMIDT, 2006).
Em Itajaí a metodologia utilizada para a elaboração do Plano Diretor esta
sustentada por dois
momentos: a Leitura Comunitária está realizando análise dos dados levantados e
questionamentos que surgiram durante as 33 reuniões dos orçamentos participativos, bem
como nas reuniões da conferência da cidade, da Agenda 21, da participação das escolas e da
integração intra-institucional. A leitura Técnica trata da elaboração de um diagnóstico da
cidade, de uma leitura do seu funcionamento, seus potencias e suas precariedades. Essa etapa
foi desenvolvida através de mapeamentos temáticos e levantamento das diversas legislações
urbanas e demais dados necessários para a compreensão global do município de Itajaí.
69
(SPDU, 2006)
21
.
A figura 4 demonstra o fluxograma do plano diretor de Itajaí, que se encontra em fase de
elaboração.
Figura 4 – Fluxograma do Plano Diretor de Itajaí
Fonte: SPDU, 2006.
É neste contexto, diante de tantos desafios a enfrentar, que as organizações da própria
comunidade juntamente com as novas iniciativas sociais, devem buscar consolidar e fortalecer
a democracia, tentando conquistar o acesso ao debate político, a negociação entre os diversos
atores sociais e políticos e acima de tudo, a participação popular na definição e na tomada de
decisão formando redes de cidadania e solidariedade e principalmente desenvolvendo valores
como sociabilidade, diálogo, cooperação, mobilização, disciplina e a conscientização de que é
preciso ter a apropriação crítica e reflexiva em relação ao contexto social em que vivem para
mudarem a realidade.
21
Dados da SPDU (Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Urbano) da Prefeitura Municipal de Itajaí.
70
O projeto de lei do plano diretor datado de 27 de setembro de 2006, nas suas diretrizes gerais
da política de gestão territorial apresenta no seu artigo 11:
A política de gestão territorial do Município de Itajaí observará as seguintes
diretrizes:
III - implementação de estratégias de ordenamento da estrutura espacial da
cidade, valorizando os elementos naturais em toda sua diversidade,
assegurando a toda população o acesso à infra-estrutura, equipamentos e
políticas sociais e promovendo o equilíbrio ambiental e cultural;
V - ordenação e controle do uso e ocupação do solo com vistas a respeitar
as condições ambientais e infra-estruturais e valorizar a diversidade espacial
e cultural da cidade com as suas diferentes paisagens formadas pelo
patrimônio natural e cultural, elementos da identidade de Itajaí;
VI - proibição da utilização inadequada e da retenção especulativa de
imóveis urbanos públicos ou privados, bem como o parcelamento do solo, o
adensamento populacional e o uso das edificações de forma incompatível
com a infra-estrutura urbana disponível e com o crescimento planejado da
cidade;
VII - garantia da efetiva participação da sociedade civil no processo de
formulação, implementação, controle e revisão do Plano Diretor de Itajaí,
assim como dos planos setoriais e leis específicas necessárias à sua
aplicação;
X - ordenação e controle do uso e ocupação do solo com vistas a respeitar e
valorizar a permeabilidade do solo e o uso adequado dos espaços públicos;
Em nível municipal, incluído no Plano Diretor (2006), na seção VI, o artigo 12, prevê que a
Política Municipal de Esportes, Lazer e Recreação observará as seguintes diretrizes:
I - consolidação do esporte, do lazer e da recreação como direito dos
cidadãos e dever do Estado;
II - garantia do acesso universal e integral às práticas e equipamentos
esportivas, promovendo o bem-estar e a melhoria da qualidade de vida dos
cidadãos;
III - integração da Política Municipal de Esportes, Lazer e Recreação com
as demais políticas setoriais;
IV - implantação de programas estruturantes de esporte e lazer voltados ao
fortalecimento da noção de cidadania;
V - implementação da prática de esportes nas escolas de ensino
fundamental e médio;
VI - identificação das áreas que necessitam de equipamentos de esporte e
lazer, mediante elaboração de diagnósticos e metas de atendimento;
VII - garantia de atendimento de equipamentos de esporte e lazer para, no
mínimo, 10% (dez por cento) da população de Itajaí, conforme a exigência
da UNESCO, de forma descentralizada por micro região;
VIII - prioridade na implantação e manutenção de unidades esportivas em
áreas com população de baixa renda.
71
Neste sentido, cabe aos gestores públicos elaborarem e implementarem políticas que
viabilizem o que foi sugerido no Plano Diretor, diminuindo assim o distanciamento existente
entre o Estado e a demanda social, no sentido de melhor definir ações que possam dinamizar
as práticas esportivas e o lazer em nível popular na nossa sociedade.
72
4 A ORGANIZAÇÃO DO ESPORTE EM ITAJAÍ: PASSADO E
PRESENTE
Os primeiros colonizadores a ocuparem as terras de Itajaí vieram em busca de ouro em
meados do século XVII. João Dias de Arzão foi o primeiro desbravador que requereu uma
sesmaria às margens do Rio Itajaí-Açú, construindo ali uma moradia. Porém, seu objetivo
maior era encontrar ouro e outros metais preciosos. Desistiu, sem êxito de sua empreitada.
Estas terras eram ocupadas por índios Xokleng e Tupi-Guarani, que aos poucos foram
sendo extirpados, restando apenas a lembrança que permanece no próprio nome da cidade:
Itajaí que significa “Rio que corre sobre as Pedras ou Rio dos Taiás” e ainda em alguns nomes
de bairros com Itaipava, Canhanduba, Imaruí, entre outros. (D’ ÁVILA, 2001).
Antônio de Menezes Vasconcelos Drummond, com interesse pela exploração da madeira,
solicitou em 1820, junto ao Rei Dom João VI duas sesmarias para estabelecer uma colônia,
denominada “São Thomás da Villanova” junto ao Rio Itajaí-Mirim, atual Itaipava. Em 1821,
retornara ao Rio de Janeiro, pois o Rei, de partida a Portugal dera por acabada sua missão.
(DIÁRIO CATARINENSE, 2001).
em 1823, o comerciante Agostinho Alves Ramos, visualizando o futuro povoado, pelas
características positivas para o comércio, comprou um lote de terra e estabeleceu moradia
com sua esposa Ana Maria Rita. Encabeçou “um requerimento ao bispo do Rio de Janeiro
para a criação de um Curato, afinal criado a 31 de março de 1824”. (D’ ÁVILA, 2001, p. 9).
Neste mesmo ano iniciou-se um processo de imigração de alemães no sul do país que a partir
de 1850 chegam ao Vale do Itajaí, estabelecendo-se especialmente em Blumenau (que fazia
parte de Itajaí até 1880), onde ficava o centro administrativo de todo o vale, entrada dos
imigrantes que chegavam à Província.
Apesar de ser considerada apenas uma vila de passagem, muitos resolveram fixar residência
em Itajaí. Com a chegada de imigrantes alemães em 1829 aproximadamente, intensificando-se
em 1850 com a colônia de Blumenau, veio também à cultura do tiro que deu início às
organizações sociais da época.
O quadro 5 apresenta cronologicamente a formação dos clubes e demais organizações
esportivas de Itajaí, especificando a data de fundação e as principais atividades desenvolvidas.
73
Na seqüência apresenta-se um breve histórico de cada uma delas evidenciando-se
especialmente as atividades esportivas.
Quadro 5: Os clubes de Itajaí
CLUBE DATA DE
FUNDAÇÃO
ATIVIDADES DESENVOLVIDAS
1.
Clube de Ca e Tiro “Vasconcelos Drumond” 28/04/1895 Tiro e bolão
2.
Sociedade “Guarany” 1897 Carnaval, teatro e patinação (1909)
3.
Sociedade “Estrela do Oriente 1897 Carnaval, teatro e patinação (1909)
4.
Itajahyense Foot Ball Club 1911 Futebol
5.
Clube Náutico “Marcílio Dias” 28/03/1919 Remo e futebol (1919), water-polo,
natação, voleibol, basquetebol, xadrez e
tênis de campo (1921), ciclismo e
atletismo.
6.
Clube Náutico “Almirante Barrozo” 19/03/1919 Remo e Futebol
7.
Clube Náutico “Cruz e Souza” 13/06/1919 Remo
8.
Humaitá Futebol Clube 1919/1919 Futebol
9.
Sociedade Cultural e Assistencial
“Tiradentes”
21/04/1920 Futebol (1948-1968)
Bailes (1958)
10.
Clube dos XX 02/08/1929 Bailes, excursões, peças teatrais e
conferências sobre assuntos sociais,
econômicos, financeiros e literários.
11.
“Lauro Muller” Futebol Clube 24/03/1929 Futebol
12.
CIP Futebol Clube 27/10/1936 Futebol, Corrida
13.
Sociedade Recreativa e Cultural da “Vila” 29/01/1938 Encontros de entretenimento e lazer,
bailes
14.
Liga Itajaiense de Desportos - LID 27/05/1951 Organização de Campeonatos
15.
Sociedade Cultural e Beneficente
“Sebastião Lucas”
Maio de 1952 Encontros de entretenimento e lazer,
bailes
16.
Sociedade Recreativa e Cultural da
“Fazenda”
01/08/1956 Futebol (1956) Bailes (1971)
17.
Iate Clube “Cabeçudas” 1958 Atividades náuticas, jantares, bailes de
carnaval e entretenimento
18.
“Itamirim” Clube de Campo 28/03/1972 Tênis, Torneios de dominó, canastra e
xadrez.
Fonte: Elaborado a partir de registros historiográficos do Arquivo Público de Itajaí, 2007.
Os amantes do tiro faziam reuniões sociais em diferentes residências a cada semana e era
realizada uma prova de tiro na ocasião. Mas, com dificuldade de acesso às residências, pela
distância, resolveram criar a Schuetzen Verein (Sociedade dos Atiradores), oficialmente
instalada em 28 de abril de 1895 pelos fundadores: Júlio Galles, Pedro Bauer, Gabriel Heil,
Guilherme Muller, Júlio Germ, Mathias Bauer, Alfredo Eicke, Júlio Willerding, Otto
Moldenhauer, Emílio Palumbo, Joaquim Espíndola, João Rodrigues Pereira, Jacob Heusi,
José Berti e Joaquim Correa, que também contribuíram na estruturação da própria cidade. Em
pouco tempo a sociedade foi ganhando novos adeptos e os primeiros campeões começam a
74
despontar no Estado. (CENTENÁRIO, 1995, p. 3). Outro esporte popular alemão, o bolão,
também passou a fazer parte das atividades do clube, que adquiriu um terreno na Rua dos
Atiradores, quando em 07 de julho de 1948, comprou o terreno vizinho, contando hoje com
uma estrutura física ampla e bem organizada. (O CENTENÁRIO, 1995 p. 5).
Com a segunda grande guerra mundial e o Brasil declarando-se contra a Alemanha, os
germânicos que aqui viviam também sofreram perseguições sociais, sendo proibidos de
escutar rádio e falar em alemão. Em Itajaí instalou-se um destacamento do exército para
proteger a cidade. Em virtude de ser um porto estratégico, durante dois anos ocuparam a sede
da Sociedade dos Atiradores o Shuetzen Verein. Somente em 1945, quando a Alemanha
rendeu-se aos aliados, o exército deixou a sede, levando consigo todos os documentos, troféus
e registros, deixando-a completamente destruída, recuperando suas atividades somente seis
anos após, reinaugurando-a com um grandioso baile.
Com o intuito de apagar aquelas imagens do período da guerra, o nome do Clube foi
modificado para Vasconcelos Drumond, na época tido como fundador da cidade. (O
CENTENÁRIO, 1995 p. 5). Com o passar do tempo, as atividades foram sendo
redimensionadas em virtude dos próprios interesses da comunidade. O tiro e o bolão foram
mantidos como principais atrativos desportivos, incorporando outras atividades sociais e de
lazer como a natação, o futebol, o snoocker, jogos de mesa, entre outros, permanecendo a
característica de entidade familiar. (O CENTENÁRIO, 1995 p. 6).
Ainda no final deste século XIX, criaram-se mais dois clubes privados, a Sociedade Guarani
e a Sociedade Estrela do Oriente, ambas com atividades carnavalescas e mais tarde
atividades teatrais. Sob observação de Linhares (1997, p.68) “Era uma porta que se abria para
a fuga do ramerrão
22
cotidiano, insípido e melancólico, que cobria os momentos de lazer com
a sua monotonia intolerável”. Segundo o historiador Edegilson de Souza (2006, p.54) “Esses
espaços privados de lazer contribuíram decisivamente para consolidar a hierarquização social
de Itajaí”. A sociedade Estrela do Oriente não existe mais, a sociedade Guarani
desenvolveu posteriormente atividades esportivas como o tênis, a dança e a patinação e hoje
mantém a belíssima sede para shows, bailes e outros eventos.
22
Ramerrão: Segundo Ferreira (1988, p. 550) é repetição monótona, enfadonha; rotina.
75
Foto 1 - Sociedade Guarani - Acervo FGML
Foi por volta de 1909 que a patinação se consolidou como esporte na cidade. Na época
pouquíssimas atividades esportivas eram desenvolvidas e esta conquistou rapidamente a
preferência popular, inclusive com competições organizadas na cidade culminando com
domingueiras dançantes ao qual participavam os filhos de famílias mais abastadas. (DE
SOUZA, 2006, p. 56).
Com forte característica elitista e privada dos clubes, entre os poucos espaços públicos que
restavam estava uma praia” onde hoje é o mercado público. as crianças tomavam
refrescantes banhos no verão e acontecia também a prática da natação. (D’ÁVILA e
D’ÁVILA, 2001). Nos finais de semana aconteciam corridas de cavalo e de bicicleta, rinhas
de galo, regatas de lanchas e botes de pesca e passeios de carros de mola, mas realizados por
uma minoria, pois os trabalhadores não tinham folga nos finais de semana. (DE SOUZA,
p.57).
Em 1911, o jovem Bráulio Eugênio Muller, ao passar as férias em Itajaí, traz o futebol,
criando o Itajahyense Foot Ball Club. Diz Costa em “Itajaí e outras Histórias” (2002, p.188)
que “embora as partidas fossem muito divulgadas, inclusive com entrada franca, poucos se
interessavam em assistir suas partidas, pois a questão de serem as regras extremamente
complexas e confusas (eram de língua inglesa) tirava o interesse pelas partidas”. As cores do
clube eram para os casados o azul e para os solteiros o vermelho. Foi também o primeiro time
de futebol do estado de Santa Catarina.
76
Foto 2 - Vista Panorâmica do Porto de Itajaí – Década de 60
Diante da beleza do rio e do mar que banham a cidade de Itajaí, três jovens: Gabriel João
Colares, Victor Emanuel Miranda e Alyrio Gandra, tiveram a idéia de fundar um clube
náutico. No dia 17 de março de 1919, no salão da sociedade “Guarani” foi constituído o
Clube Náutico “Marcílio Dias”, em assembléia geral decidindo-se pelo nome de Marcílio
Dias em homenagem ao bravo marinheiro gaúcho morto na Guerra do Paraguai. Nascia,
então, o sonhado clube náutico. As cores azul e vermelho foram escolhidas para prestar uma
homenagem aos primeiros clubes náuticos fundados em Santa Catarina, o Riachuelo e o
Martineli. (R. Bosco. In: Revista Rubro azul, 1962, p.8).
Foto 3 - Remo em 1929 Foto 4 - Tenistas da década de 40
A modalidade inicial foi o remo, tendo a primeira guarnição montada em 1919. No mesmo
ano a equipe de futebol é formada, fazendo sua partida intermunicipal contra o Brusque no dia
5 de outubro. A viagem era feita em carro de mola, na véspera do jogo. Mais tarde foram
desenvolvidas outras modalidades como: pólo-aquático, natação, voleibol, ciclismo,
atletismo.
77
Em 1921, o basquetebol teve sua quadra inaugurada com uma partida entre equipes femininas.
O tênis de campo iniciou com equipes de ambos os naipes no mesmo ano, além disso, foi
também o primeiro clube do Brasil a realizar um jogo de xadrez com figuras vivas, quando da
inauguração do Estádio “Dr. Hercílio Luz”. (RUBRO AZUL. 1962, p.19).
Em volta do Estádio “Dr. Hercílio Luz” foram plantados 44 eucaliptos com os nomes das
primeiras diretorias e de seus três fundadores e mais tarde durante a festa da primavera, foram
plantados mais 23 por “senhoritas”. Hoje não existem mais, pois foram derrubados para a
construção da arquibancada. (RUBRO AZUL. 1962, p.19).
O primeiro campeonato sul brasileiro de futebol ocorreu em 1962, em Itajaí entre os
campeões dos Estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, ficando como campeão
a equipe do Grêmio F. B. Porto-alegrense, em 2º lugar o Esporte Clube Internacional, também
de Porto Alegre, empatado com o Clube Náutico Marcílio Dias, e em Lugar, o Coritiba
Futebol Clube.
Foto 5 - Time do Marcílio no começo dos anos 60 Foto 6 - Jogo Marcílio X Barroso
O clube também desenvolvia atividades Infantis, sendo que em 1929 participou de um torneio
sagrando-se campeão. Os times participantes eram: Tiradentes da Barra do Rio, Escoteiros de
Itajaí, Escoteiros de Gaspar, Escoteiros de Brusque e Escoteiros de Florianópolis. Dentre
tantas atividades desenvolvidas pelo clube realizavam ainda jogos de futebol entre casados e
solteiros, faziam piqueniques familiares em fazendas de senhores da cidade, faziam amistosos
com times do nosso estado e de outros também como o time “Império” do Rio de Janeiro.
78
Foto 7 – Primeira equipe do C.N. Marcílio Dias – Acervo FGML
Alguns dissidentes do Clube Náutico “Marcílio Dias”, a partir de um desentendimento
causado pela escolha da madrinha de uma de suas ióles
23
, precisamente em 2 de maio de
1919, resolveram criar uma nova entidade esportiva no município, o Clube Náutico
“Almirante Barroso”. Segundo cópia da ata de fundação, foi aos 11 dias do mês de maio que
reuniu-se um grande número de moços, perto de 40, num dos salões do Grande Hotel para
darem início as atividades do segundo clube náutico. As atividades eram voltadas
especialmente e com destaque ao remo, que obteve expressivas conquistas em campeonatos
estaduais de 1920, 1921, 1927 e 1928. As atividades futebolísticas iniciaram somente em
1950. Mais tarde, em épocas de crise, aconteceu uma fusão entre o Clube Náutico Almirante
Barroso e o Clube Náutico Lauro Muller, mas a união durou pouco tempo, em virtude de
discordâncias por parte de diretores e associados de ambos os lados. (BOLETIM
INFORMATIVO, 1977, p.3).
23
Iole: Canoa estreita, leve e rápida. (Ferreira, 1977, p.276)
79
Foto 8 – Lauro Muller F. C. - 1930 Foto 9 – Clube Náutico Almirante Barroso
Outro Clube Náutico, o “Cruz e Souza”, foi fundado em 13 de junho de 1919, por homens
negros, que buscavam também conquistar seus espaços sociais. Durante o ato de sua
fundação, estiveram presentes representantes do Clube Náutico “Marcílio Dias”, do Clube
Náutico “Almirante Barroso” e representantes do Jornal “União”. (RUBRO AZUL. 1962,
p.22). A sua primeira Yole tinha o nome de “Guarací”. Pela primeira vez na história de Santa
Catarina, a 21 de abril de 1920, aparecia na raia, nas cores azul e amarelo, uma guarnição
composta por todos os remadores negros e que venceram a taça denominada “Para Todos”.
(RUBRO AZUL. 1962, p.69). Para De Souza (2006, p. 59)
A segregação social serviu de mote para que os trabalhadores portuários,
estivadores de origem negra, buscassem conquistar seus espaços de esporte e
lazer com a fundação dos Clubes de Regatas Cruz e Souza e Humaitá Futebol
Clube, em 1919. Esta era a forma de resistência étnico-cultural, uma vez que
os clubes Náuticos Marcílio Dias e Almirante Barroso, ambos fundados neste
mesmo ano, tinham características elitistas além de forte motivação racista.
Neste contexto, percebe-se que a segregação étnico-social fazia-se presente na sociedade
itajaiense e que cada grupo se organizava no sentido de auto-afirmação do próprio grupo ao
qual pertenciam. Neste clube, o Regatas Cruz e Souza, toda a diretoria era composta por
mulheres, conquistando um espaço significativo na sociedade.
O quadro 6 apresenta os clubes de remo que participavam de competições representando o
Estado de Santa Catarina.
80
Quadro 6 – Os clubes de remo de Santa Catarina
CLUBE FUNDAÇÃO CIDADE
1 Clube Náutico Riachuelo 11/06/1915 Florianópolis
2 Clube de Regatas Francisco Martinelli 31/07/1915 Florianópolis
3 Clube de Regatas Aldo Luz 27/12/1918 Florianópolis
4 Clube Náutico Marcílio Dias 19/03/1919 Itaj
5 Clube Náutico Almirante Barroso 11/05/1919 Itajaí
6 Clube Náutico Cruz e Souza 13/06/1919 Itajaí
7 Clube Náutico Cruzeiro do Sul 20/05/1920 São Francisco
8 Clube de Regatas Almirante Lamego 02/05/1921 Laguna
9 Clube Náutico Lauro Carneiro 23/01/1921 Laguna
10
Clube Náutico América -- Blumenau
11
Clube Náutico Ipiranga 1923 Blumenau
12
Clube de Regatas de Joinville -- Joinville
13
Clube Náutico Cachoeira -- --
14
Clube Náutico Atlântico -- --
Fonte: Organização da autora a partir de dados da Revista Rubro Azul, 1962 e investigação na internet
Além do remo, a modalidade de futebol foi se popularizando e em 21 de abril de 1920 foi
criado o Tiradentes Futebol Clube. Um grupo de jovens se reuniu para formar além do time
um clube recreativo. Procuraram o senhor Gabriel João Colares, hoje nome do maior Ginásio
Municipal de Esportes de Itajaí, para receberem orientação legal sobre a formação do clube.
Em nota no jornal “Tiradentes” (1996, p.3) um informativo do clube diz que:
Para realizar os seus jogos e, posteriormente, construir sua sede social, o
TFC utilizava-se de um campo construído em propriedade do senhor
Cristóvão Gottendorfer, nas proximidades da ponte “Marcos Konder”. Anos
depois, o clube adquiriu seu próprio terreno, na rua José Pereira Liberato,
onde localiza-se até hoje.
O Tiradentes Futebol Clube, em 1939 contava com 2.200 associados e uma excelente
estrutura física. (DIÁRIO DO LITORAL, p. 6 e 7, 1993). Mas, passaram-se 28 anos para a
diretoria organizar o primeiro quadro associativo e, em reunião no dia 09 de junho de 1948,
definiram por uma mensalidade de 5 cruzeiros. Foi apresentado também o distintivo oficial do
Tiradentes Futebol Clube TFC, onde também receberam como doação do senhor Orestes
Silva um jogo de uniformes nas cores azul e branco.
81
Muitas foram às crises do clube no passar dos anos, uma vez que a maioria dos diretores
abandonavam o cargo e o compromisso assumido com a agremiação. Em 1952, o TFC filia-se
a Liga Itajaiense de Desportos, conquistando a vitória em 1954.
Em 1956 iniciam a construção da sede social, concluída em 1958 quando se iniciam grandes
promoções de bailes que continuam até hoje. Em 1968 foi extinto o TFC e elaborado um novo
estatuto com o intuito de modificar o nome que passaria a se chamar “Sociedade Recreativa e
Desportiva Tiradentes”, que no mesmo ano, em outubro, mudaria novamente a denominação
para o que é atualmente: “Sociedade Cultural e Assistencial Tiradentes”.
Em 1973, em convênio assinado com o Ministério de Educação e Cultura, inicia-se a
construção das quadras de esportes e das canchas de Bocha da Sociedade Cultural e
Assistencial Tiradentes. Vale salientar que em 1971 foi elaborado um Diagnóstico Nacional
de Educação Física e Desportos no Brasil, realizado pelo antigo Ministério do Planejamento e
pelo Ministério de Educação e Cultura, dando base mais tarde ao Plano Nacional de Educação
Física e Desportos - PNED. “O referido documento revelou que o índice de participação
relativa da população brasileira em atividades esportivas era de 0,6%, considerado naquela
ocasião um dos mais baixos do mundo” (CAVALCANTI, 1984, p. 28), admitindo-se então
que as necessidades do país eram grandes e precisavam de maior apoio. Para reforçar ainda
mais a questão do apoio dado ao clube, chega ao Brasil no mesmo ano, em 1973, o
movimento “Esporte para Todos”, como foi referido, e que estava se disseminando por
vários países. Com o movimento aparece a preocupação com a filosofia de “democratização”
da prática de atividades físicas e desportivas e a necessidade de implementar políticas
públicas para estimular a construção e instalação de facilidades para a prática do desporto de
Massa, como havia sido chamado no Brasil. (CAVALCANTI, 1984).
Posteriormente, o clube, “Sociedade Cultural e Assistencial Tiradentes” construiu um
restaurante de dois pavimentos, com amplas instalações, um campo de futebol suíço e também
foi montada uma biblioteca para acesso da comunidade.
Como forma de afirmação de superioridade social por parte das elites locais, em 2 de agosto
de 1929, foi fundado o “Bloco dos XX”, um grupo de vinte rapazes solteiros pertencentes a
“Classe A”, com o intuito de promover bailes, excursões, peças teatrais, conferencias sobre
assuntos sociais, econômicos, financeiros e literários. O quadro de associados poderia ser
82
composto por rapazes das classes A e B, tendo número ilimitado de sócios, sem distinção de
nacionalidade, política e religião. Para integrar a Classe A, os rapazes precisavam ser
associados à Classe B, solteiro, maior de 18 anos e concorrer como candidato inscrito à
possível vaga existente. A filiação de “sócios femininos” seria permitida se fossem maiores
de 18 anos, tivessem idoneidade moral, e fossem indicadas por um sócio, comprovando ainda
a filiação, idade, estado civil, profissão e residência, tendo a proposta posteriormente
apreciada e despachada pela diretoria e conselho fiscal. Os eventos obrigatórios
regulamentados pelo clube eram: Sábado de Carnaval, Páscoa, aniversário do Clube em dois
de agosto com um baile de Gala, com escolha da “Miss Bloco dos XX”, e 25 de dezembro. A
primeira Diretoria foi composta por: Presidente: Alberto Bernardes; Vice-presidente: Lucindo
Pereira; Secretário: Reclamo Fischer; Tesoureiro: Osni Cesário Pereira; Orador: Jorge
Fischer; Diretor Social: Gilson Omar Amaral. (ESTATUTO DO BLOCO DOS XX, 1929).
Segundo o historiador Edegilson de Souza “(...) um ‘clube elitista’ para o lazer exclusivo e a
manutenção da distinção social daquela parcela ’privilegiada’ da sociedade itajaiense com os
enlaces matrimoniais restritos ao círculo social semelhante. Uma eficiente estratégia de
manutenção do status quo,” (DE SOUZA, 2006, p. 61).
No campo, especificamente o de futebol, surgiu também no cenário itajaiense, quando já
existiam duas forças estabelecidas, o Marcílio e o Barroso, o Lauro Muller Futebol Clube,
fundado no dia 24 de março de 1929 que participou no Campeonato Estadual, sendo
campeão dois anos após. Primeiramente teve sede na Vila operária e posteriormente na Rua
Uruguai. Foi um clube que com o tempo perdera sua expressão incorporando-se ao Barroso
em 1949, time da preferência dos jogadores e da torcida, que eram rivais implacáveis do
Marcílio Dias. (DIÁRIO CATARINENSE, 2000)
Como todo processo de socialização está sujeita a conflitos, em 27 de outubro de 1936, era
fundado, por nove jogadores dissidentes do Marcílio Dias, o CIP Futebol Clube, time que
representava a Companhia Itajaiense de Phósphoros. “a equipe rubro-negra jogava no campo
da Rua Blumenau, junto à fábrica, que tinha capacidade para cerca de mil pessoas” (DIÁRIO
CATARINENSE, 2000, p. 46). Em 1938, o time foi campeão catarinense e em 1944 acabou
extinto.
Durante sua trajetória marcante, os jogadores desfilavam pelas ruas da cidade e organizavam
a “Corrida da Fogueira” para homens, num percurso de 6.000 metros. Na segunda edição,
83
além da corrida para homens ocorreu também, pela primeira vez, uma corrida para as
“senhorinhas” como eram gentilmente chamadas, com saída da Praça Vidal Ramos,
percorrendo as Ruas: Hercílio Luz, Tijucas, Blumenau e chegando ao Campo do CIP.
Participaram os clubes: Voley Club Itajahyense, Voley Colégio São José e Feminino Athético
Club. Ao final do evento esportivo inicia-se a Festa Antonina”, na praça de esportes, com
dança ao ar livre, na cancha de Bascket-ball, fogueira e distribuição de melado, cará, taiá,
aipim, batata, cana e laranja. (CONVITE DA ÉPOCA, 1939-1940).
Foto 10 – Equipes de voleibol Feminino – Acervo Arquivo Público
Com características mais modernas, em 29 de janeiro de 1938, foi fundada a Sociedade
Recreativa e Cultural da Vila, com o intuito de oferecer aos seus associados encontros de
entretenimento e lazer. A mais importante e recente reforma e ampliação da sede se deu em
1990, sob a direção do Presidente Lourival Hélio Petter, recebendo apoio de outros clubes
como “Tiradentes” e “Barroso” na realização de eventos como baile de debutantes e outros,
num exemplo de solidariedade ao clube co-irmão. (INFORMATIVO DA SOCIEDADE
RECREATIVA E CULTURAL DA VILA, 1994, P. 9).
Anos mais tarde, foi fundada em 27 de maio de 1951, a Liga Itajaiense de Desportos - LID
composta pelos clubes: Clube Náutico Marcílio Dias; Clube Náutico Almirante Barroso,
Sociedade Estivadores Esporte Clube e Tiradentes Futebol Clube da cidade de Tijucas.
(RUBRO AZUL, 1962, p. 22). Como o futebol tomava conta no Hall de atividades da época,
os clubes se reuniam e montavam as ligas que faziam a organização desportiva da época
demonstrada no quadro 7:
84
Quadro 7 - As ligas do passado
LIGA FUNDAÇÃO CIDADE CLUBES FILIADOS
1
Liga Desportiva do Norte
do Estado – L.D.N.E.
1921 Blumenau
Marcílio Dias, Esporte Clube Brusquense,
Esporte Clube Payssandu, Brasil Futebol Clube
de Tijucas, Brasil Futebol Clube de Blumenau
e Tiradentes Futebol Clube da Barra do Rio.
2
Liga Catarinense de
Desportos – L.C.D.
1922 Itajaí
Marcílio Dias, Esporte Clube Brusquense,
Esporte Clube Payssandu, Brasil Futebol Clube
de Tijucas, Aldo Luz de Ilhota, Humaytá
Futebol Clube, Navegantes Futebol Clube,
Tiradentes Futebol Clube da Barra do Rio,
Ipiranga Futebol Clube da Fazenda.
3
Associação Sportiva Vale
do Itajaí – A.S.V.I.
1937 Itajaí
Marcílio Dias, Lauro Muller, CIP Futebol
Clube, Brusquense, Payssandu, Amazonas,
Brasil e Blumenauense.
4
Liga Esportiva do Vale do
Itajaí – L.E.V.I.
1944 Itajaí
Marcílio Dias, Lauro Muller, General Sampaio,
Cobrasil Futebol Clube, Carlos Renaux e
Payssandu.
5
Liga Itajaiense de
Desportos – L.I.D.
1951 Itajaí
Marcílio Dias, Barroso, Estiva, Lauro Muller,
Usati de São João Batista, Tiradentes de
Tijucas, Flamengo e 3 de Maio.
Fonte: Elaborado pela pesquisadora a partir de dados da Revista Rubro Azul, 1962.
Nas primeiras décadas do século XX, a segregação racial era forte em Itajaí e os negros que
moravam no bairro Vila Operária e região eram proibidos de freqüentar o clube local,
Sociedade Recreativa e Cultural da Vila. Então em 1952 fundaram seu próprio clube, a
sociedade “Sebastião Lucas”, para a sociabilidade dos afro-decendentes. (Memórias do
Bairro, Fundação Genésio Miranda Lins - FGML, 2007)
24
Foto 11 – Bairro Vila Operária – Acervo FGML
24
Ver em: <http://fgml.itajai.sc.gov.br/fotos_lst.php?secao=0&iniciolimit=3&pos_atual=3#f143>
85
Cada bairro escrevia a sua história no passar dos anos. O bairro da Fazenda, um dos mais
antigos, teve seu clube fundado somente em de agosto de 1956, denominado “Fazenda
Futebol Clube” sob a responsabilidade dos esportistas: João Célio Mendonça, Heitor Silva,
José Alves Gonçalves, Gilberto Werner, José Pereira, Alcebíades Vieira, Aluízio Mendonça,
Gildo F. Pereira e Antônio Miguel de Souza. (RUBRO AZUL, 1962, p. 73). Mais tarde,
acabou o time de futebol sendo criada a Sociedade Recreativa e Cultural da Fazenda que
promovia bailes para toda a comunidade itajaiense.
Em 1958 foi inaugurado o Iate Clube Cabeçudas
25
, “fundado em 1957 graças ao idealismo
dos senhores Ourival Cesário Pereira, Carlos Renaux, Eduardo Danto Lins, Wilson Melro,
Ingo Renaux e Érico Bückmann”. Um clube dedicado a elite itajaiense, com ancoradouro para
barcos, restaurante, sala de jogos e belos bailes de carnaval a fantasia. Desenvolvia também
atividades de remo, caiaque e competições de jetski. Hoje aloja somente 5 lanchas e o
restaurante está em funcionamento aberto ao público. Da sua estrutura inicial mantém-se
ainda a piscina, sala de jogos e TV para poucos associados.
Mais tarde, de uma dissidência do Clube “Sociedade Guarani”, por idealismos e pontos de
vistas divergentes, reuniram-se em 28 de março de 1972 para fundar um novo clube,
advogados, engenheiros, odontólogos, industriais, altos comerciantes, contabilistas,
fazendeiros, entre outros homens importantes da cidade. Surgia então, o Itamirim Clube de
Campo, as margens do rio Itajaí-mirim, numa área de 100 mil m
2
, no bairro Carvalho.
Ficou decidido que seriam 100 sócios e pagariam 3.000,00 cruzeiros cada um, estes se
tornaram cios fundadores, tendo posteriormente, o número de associados aumentado para
800, após a devida alteração do estatuto. Aconteciam atividades para os associados, como
torneios de dominó, canastra e xadrez para casais e duplas, organizadas pelos coordenadores.
(ITAMIRIM INFORMATIVO, 1979, P.4-5)
25
Ver em: <http://fgml.itajai.sc.gov.br/calendario_mes.php?mes=02>
86
Foto 12 – Vista aérea do Itamirim Clube de Campo Foto 13 – Salão de festas
Hoje, o Itamirim Clube de Campo é o maior da cidade, com infra-estrutura planejada, dispõe
de campo de futebol, ginásio de esportes, sauna, restaurante, pista para caminhada, salão de
festas e várias quadras de tênis, configurando-se como referência nacional nesta modalidade.
Dos dezoito clubes historiografados neste capítulo, existem nos dias atuais apenas dez, sendo
eles: Clube de Caça e Tiro “Vasconcelos Drumond”, Sociedade Guarany, Clube Náutico
“Marcílio Dias”, Clube Náutico “Almirante Barroso”, Sociedade Assistencial e Cultural
“Tiradentes”, Sociedade Recreativa e Cultural da Vila, Liga Itajaiense de desportos,
Sociedade Recreativa e Cultural da Fazenda, Iate Clube Cabeçudas e Itamirim Clube de
Campo.
4.1 Políticas públicas setoriais de esporte no contexto atual de Itajaí
No contexto local, se percebe o reflexo da Política Nacional do Esporte pela instituição da
Lei 4.223, de 16 de dezembro de 2004, que adequou a estrutura organizacional da
Fundação Municipal de Esportes de Itajaí - FME à nova proposta nacional, com um quadro
profissional técnico específico às três áreas do esporte, além do administrativo e jurídico.
Portanto, cabe ressaltar, segundo De Souza, Laurindo e Schmidt (2006), que foi na década de
1970 que o poder público local iniciou um processo dinâmico na geração de políticas públicas
de esporte e lazer com planejamento de metas. Os espaços públicos de lazer em forma de
praças, jardins, passeios e áreas verdes somavam 38 até o ano de 1972, acrescentando-se a
esse número mais 32 espaços públicos construídos entre 1973 e 2001, segundo dados do
87
Políticas
Setoriais
Esporte, Lazer,
Cultura
Corpo
Técnico
Gestão de Políticas
Públicas
Programas de
Eventos
Espaços
Públicos
Plano de Metas
Bienais
Prioridades
Universalização
Infra-estrutura
Departamento de Planejamento, Estatísticas e Geoprocessamento da Secretaria de
Planejamento e Desenvolvimento Urbano, da Prefeitura Municipal de Itajaí
26
.
Figura 5 – Gestão pública de esporte, cultura e lazer
do município de Itajaí na década de 1970
Fonte: fluxograma desenvolvido por De Souza e Laurindo (2006), para apresentação no 5º. Fórum Internacional
do Esporte, baseado nas Metas Prioritárias para 77/78. Prefeitura Municipal de Itajaí Secretaria de Educação,
Cultura e Esporte. Acervos do Arquivo Histórico de Itajaí.
Nesse período, definiram-se políticas públicas com o estabelecimento de metas setoriais de
cultura, esporte e lazer. No final da década de 1970, o poder público priorizou algumas ações
sociais com estratégias voltadas às áreas de educação, cultura e esporte
27
, estabelecendo metas
bienais, visando ampliar o atendimento popular com projetos, tais como: “Esporte para
Todos”
28
, o qual redefinia a Educação Física Escolar; apoio às iniciativas culturais da cidade;
preservação dos bens histórico-culturais; apoio ao esporte amador; programação cultural
26
DEPLAN/AM/junho de 2003. Prefeitura Municipal de Itajaí.
27
Caixa: Cultura e Esporte. Metas Prioritárias para 77/78. Prefeitura Municipal de Itaj Secretaria de
Educação, Cultura e Esporte. Acervos do Arquivo Histórico de Itajaí.
28
Esta prática foi preconizada na Noruega em 1967, pelo Conselho da Europa, através de uma campanha
nacional denominada TRIMM, com o intuito de estimular os sedentários à prática da atividade física. Tal
movimento despertou o interesse de outros países como Alemanha, Suécia e Bélgica mobilizando-os à
realização do primeiro encontro internacional para troca de experiências com a Noruega, em Ruit, na
Alemanha Ocidental. A partir deste encontro, o movimento atingiu também o Canadá e os Estados Unidos. No
Brasil, com a participação dos professores Lamartine Pereira da Costa e Otávio Teixeira nas Jornadas
Internacionales de Estúdio sobre el Deporte, em Buenos Aires, em 1973 é que se pensa a “democratização”
do esporte para todos. (CAVALCANTI, 1984).
88
periódica e ampliada à população. Outras ações foram executadas neste período em
comemorações oficiais como as “Ruas de lazer” e “Passeios culturais”
29
, além de atividades
desportivas como a Olimpíada Estudantil de Itajaí - OLEI. Outras atividades eram os torneios
femininos de atletismo
30
.
Em 1972, Itajaí sediou pela primeira vez a maior competição esportiva do estado, os Jogos
Abertos de Santa Catarina - JASC, que demandou investimentos para melhoria da precária
infra-estrutura desportiva do município. Neste ano foi inaugurada a primeira praça pública
esportiva de Itajaí, o Ginásio de Esportes Ivo Silveira.
Foto 14 – Jogos Abertos de Santa Catarina, 1972 – Acervo do Arquivo Público
Dez anos após, em 1982, a cidade estaria sediando mais uma edição dos JASC, evento que
transformou a infra-estrutura desportiva de Itajaí. Foram construídas duas novas praças de
esportes públicas, o Ginásio de Esportes Gabriel João Collares e o Mário Tavares, além de
mais três privadas, o Ginásio de Esportes do Colégio Cenecista Pedro Antonio Fayal, do
Colégio Salesiano e do Colégio São José.
29
Caixa: Cultura e Lazer. Programa Convite Semana do Município”. Prefeitura Municipal de Itajaí. Junho de
1980. Acervos do Arquivo Histórico de Itajaí.
30
Caixa: Cultura e Esporte. Programa Convite “Semana do Município”. Prefeitura Municipal de Itajaí. Junho
de 1982. Acervos do Arquivo Histórico de Itajaí.
89
Foto 15 – Obras do Ginásio Gabriel João Collares, 1981 – Acervo do Arquivo Público
A Secretaria de Cultura, Esporte e Turismo do Estado de Santa Catarina, juntamente com a
Prefeitura Municipal e tendo como colaboradora a 13ª UCRE e professores de Educação
Física das escolas particulares, promoveram na cidade de Itajaí o JEPI Jogos Estudantis
da Primavera de Itajaí, de 1 a 9 de setembro de 1979, para todas as escolas de e graus
que quisessem participar, tendo a “finalidade de difundir e desenvolver a prática do esporte no
meio escolar, favorecer o intercâmbio social e desportivo entre os estudantes, exaltar a prática
desportiva como instrumento imprescindível para a superação do indivíduo e a formação da
personalidade, fazendo surgir novos valores no panorama esportivo da nossa cidade
(BOLETIM 1, JEPI, 1979). A Abertura se deu no dia de setembro em frente a Igreja
matriz com desfile pela rua Hercílio Luz. As inscrições eram de 15,00 cruzeiros por atleta,
podendo participar em três modalidades, com apresentação da carteira de identificação
fornecida pela comissão organizadora. As modalidades foram: Atletismo, Basquetebol,
Ciclismo, Futebol de Salão, Voleibol, Xadrez, Tênis de mesa, Tênis de Campo, Handebol,
Ginástica Olímpica, Ginástica Rítmica e Natação.
Foi promovido também pela Secretaria de Cultura e Esporte através da Fundação Municipal
de Esportes de Itajaí e Fundação Catarinense de Desportos FESPORTE aconteceu os Jogos
Escolares de Santa Catarina - JESC em Itajaí no período de 15 a 19 de junho de 1994, um
evento esportivo que envolve muitos atletas de duas regiões leste e norte do estado, nas
90
modalidades de atletismo, basquetebol, futsal, handebol, tênis de mesa, voleibol e xadrez.
(BOLETIM DE PROGRAMAÇÃO JESC, 1994).
Em dezembro de 1989 o poder público municipal inaugurava o Parque Náutico Odílio Garcia,
no Bairro Cordeiros, realizando-se a Regata Interestadual “Cidade de Itajaí”
31
, que apesar
do potencial aquático que o rio Itajaí-Açu oferecia caiu logo no esquecimento, não sendo
realizada qualquer atividade náutica até os JASC de 2001, quando foram disputadas neste
local as provas de remo. Este evento desportivo estadual, em sua 41ª edição, demandou
investimentos públicos em reformas na infra-estrutura desportiva, constituindo-se no grande
ganho social do município que pôde até contar com uma pista sintética de atletismo. Foram
revitalizadas as praças desportivas e o parque náutico; reformadas escolas municipais e
estaduais. Por outro lado, é oportuno considerar que a população itajaiense não pode ficar
condicionada à realização de eventos deste porte para que tenha acesso a equipamentos de
esporte e lazer adequados. Tais políticas públicas necessitam ser mantidas independentemente
de eventos externos ao cotidiano da cidade. (DE SOUZA, LAURINDO E SCHMIDT, 2006).
Atualmente, a FME constitui-se como órgão gestor do esporte e lazer municipal vinculado à
Prefeitura de Itajaí, instituído no dia 07 de março de 1989, pela Lei n°. 2.438. De acordo com
a legislação vigente, cabe a FME implementar políticas públicas de desenvolvimento do
esporte na cidade. A lei de criação estabelece que FME possui, entre outras, as funções de
orientar o esporte como estratégia de cunho educacional, objetivando o desenvolvimento das
pessoas e da comunidade; privilegiar a execução de políticas de recreação, lazer e iniciação
esportiva em favor das crianças e dos adolescentes, sobretudo de comunidades carentes,
visando seu desenvolvimento psicomotor e sua integração social.
31
Caixa: Cultura e Esporte. Programação Regata Interestadual “Cidade de Itajaí”. 09 de abril de 1989.
Acervos do Arquivo Histórico de Itajaí.
91
Figura 6 – Organograma da estrutura da Fundação Municipal
de esportes de Itajaí em 2006.
Fonte: Organograma criado pela autora a partir das informações coletadas junto a Fundação Municipal de
Esportes, 2006.
A partir de 2005, a FME adotou uma nova estrutura organizacional
32
fixada em lei, visando
reformar a anterior, conforme demonstrado na figura 6, em que se procurou priorizar a
especificidade das três dimensões do esporte, anteriormente abordadas.
Não obstante a visão reformista da atual gestão municipal no gerenciamento das políticas
públicas de esporte e lazer demonstrar certa sintonia com as teorias da reforma do Estado,
constata-se que alguns os cargos, como o da superintendência e as assessorias, considerados
de decisão estratégica ainda são ocupados por agentes sem o conhecimento técnico-científico
específico exigido para o cargo, o que pode prejudicar significativamente os resultados das
políticas para o setor.
32
No decorrer da pesquisa constatou-se uma nova reestruturação do quadro de pessoal da FME, permanecendo
somente a superintendência, as assessorias e apenas um diretor técnico que será responsável pelas três dimensões
do esporte, estabelecida através da Lei Nº.
4608, de 14 de julho de 2006.
Superintendência
Coordenadoria
de Projetos
Assessoria
de Imprensa
Diretoria
Esporte
Comunitário
Diretoria
Administrativa
Diretoria
Esporte de
Rendimento
Diretoria
Esporte Escolar
Assessoria
Esporte
Escolar
Assessoria
Esporte de
Rendimento
Assesso
ria
Esporte
Comunitário
Assessoria
Administrativa
92
Na gestão do esporte e lazer locais, observam-se, segundo dados coletados, que as três
dimensões sociais são desenvolvidas de forma assimétrica do ponto de vista da priorização
das ações e investimentos. No caso do esporte educacional, realiza-se em conjunto com a
Secretaria Municipal de Educação, nas aulas de Educação Física bem como nas escolinhas de
treinamento que acontecem em 15 unidades escolares. Como culminância deste trabalho é
realizado os Jogos Escolares de Itajaí - JEI, que no ano de 2005 envolveu mais de dois mil
alunos, de 38 escolas, entre públicas e privadas.
Quanto ao Esporte comunitário, identificou-se que o objetivo é despertar a prática esportiva
em todos os bairros de Itajaí. Para isso, a partir de março de 2005 foi desenvolvido o
programa Pólo de Atendimento Esportivo Educacional - PAEE. No total, mais de três mil
crianças praticam esporte gratuitamente, nas mais diversas modalidades. São aulas de artes
marciais, capoeira, futebol de campo e de areia, bike street, atletismo, futsal, basquete,
handebol, remo, etc., totalizando 18 modalidades oferecidas à população. O Projeto Despertar
intitulado: “A inclusão social como caminho para a autonomia”, atende cerca de 240 crianças
no contra-turno escolar com atividades esportivas, educacionais e alimentação. As aulas
acontecem em dois espaços: Associação Atlética Banco do Brasil - AABB e Instituto Fayal de
Ensino Superior - IFES. Além disso, organiza eventos nos bairros, como o campeonato de
futebol de praia (masculino e feminino), torneio de malha, campeonato citadino de futsal e
corrida rústica. (FME, 2006). Cabe ressaltar, que a grande maioria dos programas descritos
vinham sendo executados por governos anteriores, porém, sofreram apenas mudanças na
denominação e, em alguns casos, pequenas ampliações do público beneficiário.
Por último, o esporte de rendimento a exemplo do que acontece de forma global, canaliza
maiores esforços da gestão do esporte local demonstrada no quadro 8, em detrimento das
outras duas dimensões sociais já abordadas. Entretanto, é perceptível que os investimentos
ainda são insuficientes para a demanda técnico-científica necessária quanto às novas
tecnologias desportivas, bem como a manutenção de profissionais qualificados e de atletas de
excelente performance. Para esta manutenção seria preciso um investimento maior em
salários para que os profissionais e os atletas pudessem permanecer na cidade, bem como na
construção de um laboratório de fisiologia e treinamento específico que acompanhasse o
desenvolvimento tecnológico na área esportiva. No entanto, segue um ritual de planejamento,
coordenação e desenvolvimento das equipes organizadas para representar a cidade nas
93
competições estaduais, nacionais e internacionais, seguindo a formatação adotada pelo esporte
nacional.
Atualmente a FME Itajaí mantém 85 equipes inscritas nas competições da FESPORTE, sendo
35 equipes nos JASC, 26 equipes nos Joguinhos Abertos de Santa Catarina e 24 equipes na
OLESC. Compete também à diretoria coordenar tecnicamente e assistir financeiramente às
modalidades que participam das competições oficiais, reconhecidas pelas federações e
confederações. (FME, 2006).
Através do levantamento a documentos cedidos pela FME, de-se constatar em
documentos escritos, que o principal objetivo da instituição é a Incluo social pelo
esporte”. (FME, 2005). Em reunião de planejamento estratégico para o seguimento
realizada no dia 13/01/2005, foram definidas as ações anuais: a) realização do Fórum
Municipal de Esportes; b) crião do Conselho Municipal de Esportes como óro
consultor e fiscalizador; c) elaboração de um calendário esportivo para a cidade com
todas as datas de eventos previstos para 2005; d) elaborão de projetos esportivos que
atendam as necessidades das comunidades.
A diretoria do esporte de rendimento levantou como principais metas para 2005: 1)
Incluir 3.500 crianças nas escolinhas de 19 modalidades esportivas; 2) Proporcionar
formação continuada para os cnicos e auxiliares; 3) acompanhar os treinamentos e 4)
sediar a OLESC. (FME, 2005). A diretoria do esporte comunirio apresentou como
principal meta organizar assembléias em todos os bairros da cidade para discutir
prioridades locais. Já a diretoria de esporte escolar estabeleceu como principal meta
agregar estudantes acima de 17 anos em competição municipal. Nestas ações se tem a
dimensão exata da assimetria na definição de políticas espeficas, onde o esporte de
rendimento sobrepõem-se às demais áreas.
No primeiro trimestre de 2005 pôde-se constatar através do documento que reúne 63 releases
e 255 publicações, elaborado pela assessoria de imprensa (FME, 2005) as ações que foram
realizadas seguem em análise.
Com relação ao esporte comunitário, constatou-se a realização de algumas ações pontuais de
forma centralizada para um público específico, restringindo a democratização das práticas
94
esportivas e de lazer nos bairros, balizada pela ludicidade sem necessariamente priorizar o
caráter competitivo. Dentre as ações destacaram-se o Campeonato de Futebol de Praia
Masculino já na 27ª edição, entre os meses de janeiro e março, na Praia do Molhe, que contou
com a participação de 16 equipes e aproximadamente 200 atletas. No mesmo período
aconteceu o Campeonato Feminino de Futebol que contou com a participação de 6 equipes,
sendo realizado na Praça Genésio Miranda Lins. Por último, a realização da Copa Primavera
de Futebol Amador em parceria com a Associação dos Clubes de Futebol Amador de Itajaí -
ACFAI, envolvendo 16 equipes, com a participação de aproximadamente 200 atletas nos
campos de futebol dos próprios clubes espalhados pela cidade. Este evento também envolve
uma grande quantidade de familiares dos atletas que assistem aos jogos na torcida e ainda no
baile de abertura com a escolha da rainha.
Fica evidenciado nas ações do governo municipal em relação à geração de políticas públicas
de esporte e lazer o reflexo da “monocultura do futebol” em todo território brasileiro, que
ainda mantém fortes bases nas representações sócio-culturais locais, concentrando uma
pequena parcela da população ativa, enquanto a maioria é privada do direito de acesso ao
esporte e lazer diversificado. Isto é um indicador de que não um diálogo dos gestores do
esporte municipal com as comunidades, o que reflete negativamente na formulação de
políticas públicas setoriais de esporte e lazer quanto à universalização de programas e
políticas sociais.
Numa análise comparada é possível observar a assimetria das dimensões sociais do esporte
em Itajaí em que a fatia de participação do esporte de rendimento, demonstrado no quadro 8,
absorve maior volume de esforços do poder público local, contabilizando 32 eventos somente
no primeiro trimestre de 2005, onde atletas de Itajaí participaram representando a cidade em
busca de classificações e medalhas. O lema para o esporte de rendimento é “Despertar, incluir
e desenvolver o esporte na cidade de Itajaí”.
95
Quadro 8 – Eventos de esporte de rendimento no primeiro trimestre de 2005
EVENTO DATA LOCAL
1 1ª Copa Brasil de Marcha Atlética 29 e 30 de janeiro Campos do
Jordão/SP
2 Jogos Mundiais de Verão – Fast Triatlo
Masculino
30 de janeiro São Paulo/SP
3 1ª Etapa do Campeonato Catarinense de Triatlo 12 e 13 de fevereiro Meia Praia/SC
4 VI Itajaí Handball Cup – Bech e Indoor 20 a 26 de janeiro Itajaí/SC
5 Ranking Catarinense de Ciclismo 19 e 20 de fevereiro Brusque/SC
6 Triathon Internacional de Caiobá 20 de fevereiro Caiobá/PR
7 6ª Corrida Rústica Estadual – 11 km. 02 de abril Itajaí/SC
8 7ª Corrida Rústica Estadual – 18 km. 26 e 27 de fevereiro Itaj
9 10º Jogos Paradesportivos – Região Sul –
ABRADECAR E ANDE
30 de março a 02 de
abril
Itajaí
10 Seletiva de Futebol de Campo – 15 a 19 anos 08, 10 e 12 de março Itajaí
11 Circuito Boa Vista de ciclismo Março Joinville
12 Intercontinental de Triatlo 07 de março Argentina e Chile
13 1ª Etapa do Circuito Catarinense de Xadrez 14 de abril Bal. Camboriú
14 1ª Etapa do Circuito de Duathlon Aquático 13 de março Bal. Camboriú
15 Meia Maratona de Joinville 13 de março Joinville
16 Copa Santa Catarina de marcha Atlética 20 de março Timbó
17 1ª Etapa do Campeonato Brasileiro de Padel 19 e 20 de março Rio Grande do Sul/
RS
18 1ª Etapa do Campeonato Estadual de Kara 17 a 21 de março Pomerode
19 Troféu Brasil de Triathon 20 de março Santos/SP
20 Triatlo Intermediário 20 de março Guaropaba
21 1ª Copa Bruem de Ciclismo 19 e 20 de março Brusque, Gaspar,
Ilhota e Itaj
22 2ª Etapa Catarinense de Down Hill 20 de março Ibirama
23 Seletiva Sul de Handebol de Praia 22 de março Itajaí/SC
24 2ª Seletiva Nacional Sênior Adulto 29 de março Itajaí/SC
25 Campeonato Catarinense de Futsal Março e abril Estado de SC
26 Campeonato Estadual sub 23 de Atletismo 2 e 3 de abril Itajaí/SC
27 Marcha Atlética 2 e 3 de abril Porto Belo
28 8º Open Cidade Maravilhosa 26 e 27 de abril Rio de Janeiro
29 4º Handebol Adaptado da Terceira Idade 20 a 26 de janeiro Itajaí
30 7ª Edição Corrida Interpraias 27 de fevereiro Bal. Camboriú
31 1ª Etapa do Campeonato Estadual de Kara 19 de março Pomerode
32 III Copa Santa Catarina de Futsal Março e abril Estado de SC
Fonte: Prefeitura de Itajaí, Fundação Municipal de Esportes, Clipagem, jan a mar de 2005.
Os dados do quadro 8 revelam que, em grande parte, foram eventos realizados em outras
cidades, contando com a participação dos melhores atletas de Itajaí cujo objetivo era a
conquista de medalhas e classificações para etapas posteriores, bem como índices para
campeonatos brasileiros, sul americano e pan-americano. Os investimentos com viagens,
alimentação e hospedagem são bastante expressivos, mas necessários obviamente.
96
A maioria dos técnicos das diversas modalidades também desenvolvem escolinhas
(treinamentos desportivos) para alunos/atletas com o objetivo de selecionar os melhores para
comporem as equipes oficiais de competição. As modalidades desenvolvidas no trimestre
foram: Handebol, Basquetebol, Triatlo, Taekwendo, Judô, Ginástica Olímpica, Futebol e como
inovação o Surf e, ainda, em parceria com a Associação dos Portadores de Deficiência Física
do vale do Itajaí e Região - APDEFI e a Academia Oliveira organizaram um grupo para
treinamento de Taekwondo. Vale salientar que a maioria das escolinhas são desenvolvidas em
parceria público/privado/associações.
No que se refere à capacitação, foi realizado apenas um curso para árbitros de futebol de
campo em parceria entre FME e ACFAI.
Os indicadores econômicos apontam para um aumento significativo do orçamento municipal
em esporte e lazer em 2006 que é da ordem R$ 4.586.195,00 em relação a 2005, que foi
orçado em R$ 3.458.000,00. (JORNAL DO MUNICÍPIO, 2005, p. 9). Equivale registrar que o
um aumento relativo é 32,62%. Segundo relatório de investimentos da FME (2006) está
previsto além de muitos eventos a construção de uma piscina pública aquecida e um ginásio de
esportes junto a pista de atletismo oficial no bairro Carvalho, 3 quadras de concreto
polivalentes iluminadas e cercadas, nos bairros Rio Bonito, Imaruí e Promorar II, bem como
um campo de futebol de areia no bairro Rio Bonito, totalizando um investimento de
R$1.770.000,00. Estão previstos 17 eventos esportivos para 2006 com custo total estimado em
R$ 303.691,00. Como inovação para 2006, apresentou-se o “Projeto Agita” com o objetivo de
promover a saúde, composto por atividades de alongamento, tai shi shuan e caminhada em
parceria com a Secretaria da Saúde, Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI, Serviço
Social da Indústria - SESI e Secretaria Municipal de Educação tendo iniciado em março.
Realizado ainda, pela professora Rosane Flores o projeto “Graça e Ritmo em sua vida”, na
modalidade de Ginástica Rítmica, um esporte olímpico e exclusivamente feminino, tem suas
atividades desenvolvidas no Ginásio de Esportes Ivo Silveira, no bairro da Fazenda. As aulas
são gratuitas e acontecem segundas, quartas e sextas-feiras, no período vespertino. (FLORES,
2007).
O esporte considerado nas suas três dimensões sociais apresenta possibilidades diferenciadas
de papéis para os atores. Dentre estes papéis, destaca-se a prática do esporte sem fim
97
competitivo ou profissional que pode ser praticado em tempo livre, como forma de lazer, não
exigindo vínculo ou compromisso do praticante com a atividade, mas se apresentando como
espaço de sociabilidade, de construção de identidades, de descontração, e até mesmo de
mobilidade e promoção social.
Faz-se necessário destacar que esta promoção social pretendida necessita ser efetivada de
forma planejada, com objetivos bem definidos e que, acima de tudo, sejam da vontade dos
beneficiários. Porém, percebe-se que as ações dos gestores públicos ainda não alcançaram
maturação quanto à visão da completude do ciclo da gestão de políticas públicas: formulação,
implementação, avaliação e retroalimentação.
Nesse contexto, cabe ao Estado, nas três esferas (federal, estadual e municipal) estimular às
práticas desportivas, por meio da definição de políticas públicas efetivas que ofereçam as
condições adequadas de espaço, de profissionais qualificados e de equipamentos.
A análise empírica da ação do governo local, no caso específico de Itajaí, no que se refere à
gestão de políticas públicas setoriais de esporte e lazer demonstra um distanciamento
institucional quanto à implementação de políticas efetivas e democraticamente
universalizadas, que atendam de forma adequada à população itajaiense central e periférica.
Por outro lado, percebe-se, também, uma priorização ao desenvolvimento do esporte de
rendimento, ainda que incipiente, em detrimento do esporte-participação, sendo que o esporte
educacional está a cargo da Secretaria Municipal de Educação.
Na esteira da teoria da reforma do Estado vale reforçar a visão gerencial que o aparato estatal
deve encampar, porém sem perder de vista a importância da participação efetiva da sociedade
civil organizada na formulação de políticas públicas ajustadas às demandas reais da
municipalidade.
Em síntese, diante do desenho da formação sócio-espacial que a cidade de Itajaí herdou do
seu processo de desenvolvimento elitista e capitalista, existe a real necessidade de se pensar
em oportunidades iguais para todos os cidadãos.
98
5 O ESPORTE ITAJAIENSE NA PERSPECTIVA DO ESPORTE-
PARTICIPAÇÃO
O universo do esporte compreende espetáculo, profissão, ciência, arte,
política, lazer (ativo e passivo), prática, técnica, educação e investigação.
(FEIO, 1978 apud MOLINA NETO, 1996, p. 11).
Este capítulo se constitui na análise dos dados empíricos coletados a partir da pesquisa de
campo realizada no período de fevereiro a maio de 2007 através de questionários semi-
estruturados aplicados aleatoriamente aos cidadãos
33
/usuários
34
do esporte, aos gestores de
diversas categoriais de associações: de moradores, esportivas e de classe, bem como
entrevistas com gestores públicos do esporte na cidade de Itajaí.
Nesta pesquisa optou-se por se referir aos usuários efetivos, bem como aos usuários
potenciais utilizando-se o termo cidadãos/usuários como forma de considerá-los não somente
como meros consumidores, mas, sobretudo quanto à sua dimensão de cidadania que envolve o
conceito de justiça, representação, participação e igualdade de oportunidades.
Para a análise e interpretação dos dados, cujo pressuposto teórico-conceitual fundamenta-se
na prática esportiva como direito de todos, optou-se por utilizar como referencial teórico o
autor Manoel José Gomes Tubino (2001), que na sua interpretação do esporte nas três
dimensões sociais, considera o esporte-participação como princípio do prazer lúdico e como
finalidade do bem-estar social dos seus praticantes. “Esta manifestação, que ocorre em
espaços não comprometidos com o tempo e fora das obrigações da vida diária, de um modo
geral, tem como propósitos a descontração, a diversão, o desenvolvimento pessoal e as
relações entre as pessoas”. (TUBINO, 2001, p. 38).
33
O termo “cidadão” foi criado a partir de civitas, que designa a cidade, esta por sua vez originada de civis, que
significa cidadão, aquele que habita a cidade. O termo cidadania surge nas sociedades abertas no cerne das quais
um espaço público pode ser desenvolvido. Ferramenta essencial para a ampliação da democracia, a expressão
cidadã é aquela, individual ou coletiva, que fala das relações com os outros, da vida na cidade e na sociedade.
(BRIAND, 2006).
34
Esse termo, segundo Milton Santos é ideologicamente ajustado às determinantes capitalistas, cujo significado
é associado ao consumo, quando o tratamento adequado deveria estar condicionado ao senso de cidadania. “Em
lugar do cidadão formou-se um consumidor, que aceita ser chamado de usuário”. (SANTOS, 1998, p. 13).
99
Nesta perspectiva, buscou-se verificar como o município de Itajaí (SC) tem gerenciado o
esporte e como as políticas públicas setoriais acontecem no âmbito das comunidades, já que o
esporte-participação tem o seu valor evidenciado na participação efetiva e nas parcerias entre
os idealizadores e os agentes organizadores das práticas criadas. Além de verificar in loco a
opinião dos cidadãos/usuários do esporte em relação a essas políticas.
A tabela 1 mostra a distribuição representativa do recorte amostral dos entrevistados. Os
bairros selecionados foram São Vicente com 25.401 habitantes e Cordeiros com 28.737
habitantes por serem os bairros mais populosos do município de Itajaí (SC). O bairro da
Fazenda com 13.718 habitantes e o de Cabeçudas com 985 habitantes foram escolhidos por
serem bairros com maior poder aquisitivo e maior número de espaços públicos à prática
esportiva.
Tabela 1 - Distribuição representativa dos bairros pesquisados
Nº. BAIRRO HABITANTES %* CIDADÃOS/USRIOS ASSOCIAÇÕES
1 Cordeiros 28.737 19,48 10 3
2 São Vicente 25.401 17,22 10 4
3 Fazenda 13.718 9,30 10 2
4 Cabeçudas 985 0,67 10 1
TOTAL 40 10
* Percentual relativo ao número total de habitantes do município de Itajaí, segundo CENSO, 2000.
Fonte: IBGE – adaptação da pesquisadora.
O instrumento de pesquisa dos cidadãos/usuários foi elaborado em três partes. A primeira
apresenta o perfil sócio-econômico e cultural dos entrevistados; na segunda é considerada a
importância dada ao esporte e sua representação social e; por fim, é avaliada a gestão de
políticas públicas de esporte em relação ao governo municipal, onde cada entrevistado atribui
um valor numérico de acordo com as respectivas escalas no intervalo de 1 a 10. (apêndice 2)
A pesquisa de campo com os gestores das associações seguiu os mesmos parâmetros
metodológicos aplicados aos cidadãos/usuários, distinguindo-se apenas na forma de
investigação do aspecto instituicional. (apêndice 3)
100
No bairro de Cordeiros
35
foram entrevistados: o Presidente da Associação de Moradores dos
Jardins Progresso de Cordeiros AMJAPROCOR, fundada em 15 de março de 1989,
motivados pela formação de um time de futebol; um membro da diretoria da Associação de
Moradores do Núcleo Abdon Fóes, fundada 1986 pela própria organização comunitária e; o
presidente da Associação de Moradores de Cordeiros AMC, também articulador do
programa “Escola Aberta”.
O bairro de Cordeiros compreende as localidades de Murta; Esperança; Progresso; Bertold;
Costa Cavalcanti e Votorantin. Tem seus limites determinados a partir do “Canal de
Retificação do Rio Itajaí-Mirim, BR-101, Rua Dr. Reinaldo Schmithausen, Avenida
Presidente Castelo Branco, Ribeirão da Murta, Rua Envino Carlos Truppel, Rio Itajaí-Açu,
Rio Itajaí-Mirim, até o ponto inicial”. (LEITURA TÉCNICA DO PLANO DIRETOR DE
ITAJAÍ, 2006, p. 126).
Foto 16 – Vista frontal da AMJAPROCOR – Bairro Cordeiros.
Fonte: Kelynton Córdova da Silva, 2007.
35
Apesar de ser um dos maiores bairros de Itajaí, sua história sistematizada, ainda está por ser escrita, mas
riquezas de depoimentos sobre o bairro. Boa parte das lembranças mostra que o nome é em referência à família
de Francisco Vieira Cordeiro, de origem portuguesa. Entre as lembranças, o incêndio com o navio gaseiro
Petrobras Norte, na década de sessenta, é o mais marcante. Vale dizer que o bairro, durante muito tempo, era um
entreposto de gás e combustível. no bairro, uma área vulnerável às marés e cheias, denominada oficialmente
de Jardim Esperança, mas conhecida pelos moradores como “Brejo”. Nas grandes enchentes da década de
oitenta, foram as principais vítimas; isso a memória guardou com certa melancolia, afinal, “fica aquilo que
significa”. (LEITURA TÉCNICA DO PLANO DIRETOR DE ITAJAÍ, 2006, p. 30).
101
Foto 17 – Campo de futebol de areia da Associação de Moradores do Núcleo Abdon Fóes
Bairro Cordeiros.
Fonte: Kelynton Córdova da Silva, 2007.
Foto 18 – Vista frontal da A.M.C. – Bairro Cordeiros.
Fonte: Kelynton Córdova da Silva, 2007.
No bairro São Vicente
36
foram entrevistados: O presidente da Associção dos Clubes de
Futebol Amador de Itajaí ACFAI, que não possui sede própria, fundada em 02 de janeiro de
36
O bairro São Vicente é, ainda hoje, conhecido pelos antigos moradores de Vassourão, em decorrência de uma
vegetação abundante na localidade e que era utilizada na fabricação de vassouras. As narrativas mostram que
havia preconceito para com os primeiros moradores, por estarem numa região considerada inóspita, ‘lugar de
marginais’, por viverem às margens. O acesso ao bairro São João era feito por pontes de madeiras, conhecidas
como pinguelas ou por pequenas embarcações, chamadas de bateras. O depoimento de um antigo morador é
emblemático: “A Rua São Vicente era a principal rua, pois era a única que existia, onde muitas pessoas também
o chamavam de caminho do Vassourão ou caminho do o Vicente”. Outro depoimento sobre o bairro, revela
que: “o rio Itajaí - Mirim era farto, pescavam-se nele de tudo, eu adorava quando o meu tio trazia pra casa
aqueles camarões enormes... lembro-me que para atravessar o rio tínhamos que ir até a batera de ‘seu’ Miguel,
102
2003, com o intuito de organizar torneios de futebol; a presidenta da Associação de
Moradores do Rio Bonito, também sem sede própria, fundada em 29 de abril de 1986, tendo
como organização inicial as 500 casas da COHAB ali construídas; o secretário da Associação
Comunitária Nilson Lourenço dos Santos, fundada em 17 de abril de 1983 motivados a partir
da construção do próprio prédio e; o vice-presidente da Associação Social São Vicente,
fundada em 1989, com sede provisória na Paróquia São Vicente de Paula.
O bairro São Vicente compreende as localidades de Bambuzal; Rio Bonito e Nilo Bittencourt
têm limites determinados pelo “Rio Itajaí-Mirim, seguindo pela Avenida Adolfo Konder, BR-
101, Canal de Retificação do Rio Itajaí-Mirim, até o ponto inicial” (LEITURA TÉCNICA DO
PLANO DIRETOR DE ITAJAÍ, 2006, p. 126).
Foto 19 – Vista frontal da Associação Comunitária Nilson Lourenço dos Santos - Bairro São Vicente.
Fonte: Kelynton Córdova da Silva, 2007.
No bairro da Fazenda
37
foram entrevistados: o membro da diretoria da Associação Naútica de
Itajaí – ANI, fundada em 29 de julho de 2002, logo após a chegada do veleiro denominado “O
ele é que atravessava as pessoas de um lado para o outro” No final da década de setenta, o bairro teve um
crescimento acelerado, em conseqüência à construção da ponte sobre o Itaj- Mirim, à altura da Rua Heitor
Liberato, e com a abertura da Avenida Adolfo Konder. No início dos anos oitenta, outros fatores ajudaram para o
crescimento do bairro: a construção da ponte João da Silva, ligando o São Vicente como com o Bairro São João
e o Canal de retificação no Rio Itajaí - Mirim marginando também o Bairro Cordeiros, construído na cada de
sessenta. São Vicente foi dos bairros mais atingidos pelas enchentes da década de oitenta, por ser entrecortado
pelo Itaj- Mirim que segundo as memórias, foi um rio piscoso e próprio para os banhos nos quentes dias de
verão. (LEITURA TÉCNICA DO PLANO DIRETOR DE ITAJAÍ, 2006, p. 28).
37
O próprio nome indica a história de um dos mais antigos bairros de Itajaí. O bairro que foi uma fazenda
como nos mostram alguns documentos e depoimentos de antigos moradores –, hoje faz divisa com a região
central da cidade. Os registros e depoimentos contam da existência de engenhos de farinha e de úcar, de
103
jornal”, embarcação da categroria Samoa de 29 pés, que fez a volta ao mundo e; o presidente
da Associação dos Deficientes Visuais de Itajaí e Região – ADVIR, fundada em 2001.
Os limites do Bairro da fazenda são determinados pelo “Rio Itajaí-Açu, Ribeirão Schneider,
via Dep. Francisco E. Canziani, Rua Santa Beatriz, divisor de águas com Cabeçudas, Praia
Brava, Ressacada, até encontrar o ponto mais alto do Morro da Cruz, deste ponto em linha
reta até o Campus Universitário da UNIVALI, inclusive, seguindo pelo limite do Centro até o
Rio Itajaí-Açu.” (LEITURA TÉCNICA DO PLANO DIRETOR DE ITAJAÍ, 2006,
p. 126).
Foto 20 – Atividades de remo da A.N.I. – Bairro Fazenda.
Fonte: Kelynton Córdova da Silva, 2007.
cafezais, de laranjeiras, e de outras árvores frutíferas. São também feitas referências a alicerces da antiga casa-
grande e da senzala pertencente à viúva Felícia Alexandrina. Em 1930, o cemitério municipal foi instalado no
bairro, passando a ser uma referência para toda a cidade, o que modificou sensivelmente o panorama do bairro,
como lembram os mais idosos. Outra referência foi à construção da estação ferroviária, na década de quarenta.
Até a década de oitenta, era comum nos finais de tarde observar o intenso movimento ao redor do campo de
futebol, onde hoje está o terminal urbano de Itajaí, e era conhecido como Campo da Esplanada. Com a
reurbanização da região em torno do atual terminal urbano e com a construção da avenida “Contorno Sul” o
bairro sofreu mudanças consideráveis, com aumento da especulação imobiliária, o que impulsionou antigos
moradores a mudar para bairros mais periféricos. (LEITURA TÉCNICA DO PLANO DIRETOR DE ITAJAÍ,
2006, p. 28)
104
Foto 21 – Sede da A.D.V.I.R. – Bairro Fazenda.
Fonte: Elisabete Laurindo, 2007.
Por fim, no bairro de Cabeçudas
38
, que é determinado pelos limites com o “Rio Itajaí-açu no
Oceano Atlântico, por este até a ponta do Farol, segue pela Rua Samuel Heusi Júnior até seu
ponto mais alto, deste ponto pelo divisor de águas de Cabeçudas com a Praia Brava, até
encontrar o limite com a Fazenda, por este até o ponto inicial”. (LEITURA TÉCNICA DO
PLANO DIRETOR DE ITAJAÍ, 2006, p. 126).
Foi entrevistado o presidente da Associação Escola de Surf e Amigos da Atalaia, fundada em
maio de 2005, bem como pessoas que participam das atividades desenvolvidas aos domingos
pela manhã sob a coordenação de um grupo de surfistas voluntários integrantes desta
associação. Foram entrevistados também participantes cegos das aulas de Surf, que são
realizadas após o término das atividades consideradas “normais” no sentido de ampliar a
atenção dispensada aos mesmos.
38
Segundo Christoffoli (2003, p. 107-116), muitas são as hipóteses sobre a origem do bairro de cabeçudas. A
primeira propõe que sua origem se deve a construção dos molhes da barra para contenção do mar e canal de
entrada e saída de embarcações para o porto em 1902. A segunda hipótese indica que a necessidade de extração
de pedras para construção dos molhes abriu caminho para Cabeçudas. Uma terceira hipótese se refere a
construção de uma casa no local pelo empresário João Bauer , nos idos de 1905. Outra hipótese conta de que
Cabeçudas inicia um processo de transformação com a instalação do Hotel Herbst por Paul Herbst e Maria Ritter
em 1911.
105
Foto 22 – Associação Escola de Surf e Amigos da Atalaia - Bairro Cabeçudas.
Fonte: Márcia Eliane Cavalheiro, 2007.
As imagens apresentadas nas fotos 16 a 22 mostram os espaços físicos e algumas das
atividades desenvolvidas pelas associações no que se refere ao esporte-participação. Porém,
cabe ressaltar que em alguns casos o funcionamento e a estrutura física são extremamente
precárias em decorrência dos altos custos de manutenção e funcionamento de suas sedes,
enquanto que em outros a falta de sede própria representa um problema para gestão dessas
instituições.
Pôde-se perceber que o apoio financeiro do poder público municipal não tem o alcance
desejável, chegando ao extremo de algumas associações, como por exemplo as comunitárias,
não obterem nenhum recurso público, enquanto outras, como a Associação Naútica de Itajaí
perceber valores de até cem mil reais por ano, demonstrando, por um lado, o desequilíbrio
injustificável sem critérios adequados e, por outro, a desorganização na gestão instituicional e
a falta de capacidade técnica na elaboração de projetos de captação de recursos, represetando
um problema de ordem burocrática como entrave para o funcionamento adequado destas
instituições, conforme declaração de alguns gestores.
Situação curiosa se percebeu com relação as associações que recebem recursos financeiros
públicos, porém, apontam como problema a falta de sede própria, enquanto outras que têm
sede se queixam da insuficiência de recursos para mantê-las. Como ficou demonstrado na
afirmação de um gestor do bairro Cordeiros: “Quando se tem sede, se mata a ‘associação’ em
virtude de mantê-la. A luta passa a ser outra”. Esta situação sugere que não basta possuir
106
estrutura física sem o apoio do poder público ou até mesmo do setor privado para manutenção
e funcionamento organizacional, quando se constata uma grande necessidade de pessoal
capacitado com conhecimentos gerenciais para administrar as associações, sobretudo por se
tratar de serviço social voluntário em que não estão previstas qualquer espécie de
remuneração.
Por outro lado, é possível inferir que não uma tradição de participação social desejável no
município de Itajaí, quando se têm a dimensão de que o fortalecimento associativo pode
construir bases de co-gestão entre a sociedade civil organizada, o Estado e/ou a iniciativa
privada, num arranjo institucional comprometido com a democratização dos espaços de
convívio social e de promoção da cidadania.
A esse respeito Penna Rodrigues (2001, p. 165), considera que “na co-gestão, o principal
objetivo é conscientizar e estimular as pessoas para assumirem a responsabilidade de
construção, manutenção e qualificação dos espaços públicos e das atividades ali
desenvolvidas, democratizando-os pela participação”. Segundo esta autora, quando
equilíbrio de responsabilidades anula-se privilégios ou inimizades, demandando, por outro
lado, confiança, disponibilidade de tempo e respeito mútuo entre as partes.
A experiência de Porto Alegre é rica em exemplos de participação comunitária na organização
associativa em parceria com o poder público local, conforme relato de Penna Rodrigues na
obra “Lazer e Esporte”, organizada por Nelson Carvalho Marcelino (2001). A autora, que a
época era Secretária Municipal de Esportes e Lazer de Porto Alegre, relata que o processo de
co-gestão entre Estado e sociedade é norteada a partir de dois aspectos básicos: o primeiro é o
adminsitrativo, que inicia-se com a estruturação organizacional interna, adequando-se à
distribiução de responsabilidades e definição de funções claras entre os agentes públicos; o
segundo é o pedagógico cujo objetivo é a capacitação de profissionais de Educação Física
para atuarem junto às comunidades. Além do fator administrativo e pedagógico que são
atribuições do Estado, a co-gestão pressupõe a contrapartida comunitária que abrange desde o
compromisso com a preservação do patrimônio até a educação ambiental com a
sistematização de ações para manter e atualizar os recursos físicos e materiais de que dispõe.
casos em que o poder público auxilia com recursos materiais as instituições com maiores
dificuldades, no sentido de incentivar a criação de organizações locais.
107
65%
35%
Mulheres
Homens
Gráfico 1 – Distribuição dos cidadãos/usuários por sexo.
Fonte: Pesquisa de campo realizada no período de fevereiro a mao de 2007.
O resultado da entrevista com os cidadãos/usuários do esporte nos quatro bairros pesquisados
demonstra um posicionamento semelhante ao constatado na investigação realizada com os
gestores, no que se refere a precariedade da atual situação do esporte-participação no
município. Iniciando-se com o perfil sócio-cultural e econômico dos entrevistados, o gráfico 1
demonstra uma superioridade significativa do gênero masculino (26 homens) sobre o
feminino (14 mulheres), totalizando 40 atores, que se manifestou de forma aleatória.
Tabela 2 – Distribuição etária dos cidadãos/usuários do esporte
Classificação Cordeiros São Vicente Fazenda Cabeçudas
Total %
Adolescente (13 a 18 anos) 0 0 2 1 3
7,5
Jovem (19 a 29 anos) 2 1 1 1 5
12,5
Adulto (30 a 59 anos) 7 9 6 5 27
67,5
Idoso (a partir de 60 anos) 1 0 1 3 5
12,5
Total 10 10 10 10 40 100
Fonte: Pesquisa de campo realizada no peodo de fevereiro a março de 2007.
Para a classificação etária dos entrevistados demonstrados na tabela 2, utilizou-se bibliografia
específica e a legislação vigente. Na categoria adolescente o intervalo entre 13 e 18 anos está
respaldado no Estatuto da Criança e do Adolescente (1990), cuja faixa etária compreende o
intervalo entre doze anos completos e dezoito anos de idade. Na categoria jovem e adulto
utilizou-se a obra de Simões (1994), que se baseia na classificação da Organização Mundial
de Saúde OMS, classificando a idade adulta a partir do intervalo que compreende 20 e 45
anos, e meia idade o intervalo compreendido entre 45 e 59 anos de idade. Como se observa na
classificação da OMS não há uma divisão entre jovens e adultos. No entendimento da
pesquisadora houve a necessidade de subdividir-se a idade adulta e meia idade em duas
108
categorias:
jovem com intervalo de 19 a 29 anos, e adulto com intervalo de 30 a 59 anos de
idade, demonstrado na tabela 2. na categoria idoso baseou-se no artigo do Estatuto do
Idoso (2003) “destinado a regular os direitos assegurados às pessoas com idade igual ou
superior a 60 (sessenta) anos”. O recorte populacional dos atores entrevistados distribuídos
nas suas faixas etárias perfaz respectivamente um total de 3 adolescentes, 5 jovens, 27 adultos
e 5 idosos, dentre estes 3 (7,5%) são deficientes visuais.
Tabela 3 – Distribuição etária dos gestores das associações
Classificação Cordeiros São Vicente Fazenda Cabeçudas Total %
Jovem (19 a 29 anos) 2 0 0 1 3
30
Adulto (30 a 59 anos) 1 4 2 0 7
70
Idoso (a partir de 60 anos) 0 0 0 0 0
0
Total 3 4 2 1 10 100
Fonte: Pesquisa de campo realizada no peodo de fevereiro a mao de 2007.
A mesma metodologia aplicada para classificar a faixa etária dos cidadãos/usuários, foi
utilizada na classificação dos gestores das associações, que estão distribuídos num intervalo
etário total entre 19 e 59 anos de idade. Portanto, como pode ser observado na tabela 3, o
recorte populacional de adultos chegou a 70% dos entrevistados, enquanto o de jovens atingiu
a casa dos 30%, representando em números absolutos 7 adultos e 3 jovens, respectivamente.
Não se constatou a participação de nenhum idoso na gestão das instituições pesquisadas. Vale
lembrar que estes gestores prestam serviço voluntário, dividindo seu tempo com os afazeres
profissionais e pessoais.
Tabela 4 – Perfil econômico dos cidadãos/usuários do esporte
Faixa de rendimento Cordeiros São Vicente Fazenda Cabeçudas Total %
Até 1 salário mínimo 2 1 0 0 3
7,5
De 1 a 3 salários mínimos 6 5 4 2 17
42,5
De 3 a 5 salários mínimos 2 1 3 4 10
25,0
De 5 a 10 salários mínimos 0 2 0 2 4
10,0
Acima de 10 salários mínimos 0 0 0 0 0
0,0
Não trabalha 0 1 3 2 6
15,0
Total 10 10 10 10 40 100
Fonte: Pesquisa de campo realizada no peodo de fevereiro a março de 2007.
O perfil econômico dos cidadãos/usuários apresentado na tabela 4 revela um rendimento per
capita relativamente baixo em que 50% dos entrevistados percebem até 3 salários mínimos,
enquanto os outros 50% estão assim distribuídos: de 3 a 5 salários mínimos o índice chega a
109
25% e apenas 10% percebem até 10 salários mínimos. Um dado importante a ser destacado é
o alto índice percentual de pessoas que se declararam estar fora do mercado de trabalho e sem
rendimentos.
Tabela 5 – Perfil econômico dos gestores das associações
Faixa de rendimento Cordeiros São Vicente Fazenda Cabeçudas Total %
Até 1 salário mínimo 0 0 0 0 0
0
De 1 a 3 salários 3 3 0 0 6
60
De 3 a 5 salários 0 1 1 0 2
20
De 5 a 10 salários 0 0 0 0 0
0
Acima de 10 salários 0 0 0 0 0
0
Não Informou 0 0 1 1 2
20
TOTAL 3 4 2 1 10 100
Fonte: Pesquisa de campo realizada no peodo de fevereiro a março de 2007.
Situação semelhante à observada na tabela 4 pode ser constatada no perfil econômico dos
gestores das associações demonstrado na tabela 5, que apresenta uma concentração de 60% no
rendimento de 1 a 3 salários nimos, enquanto que apenas 20% têm rendimento salarial
entre 3 e 5 salários mínimos.
Tabela 6 – Perfil educacional dos cidadãos/usuários do esporte
Grau de Instrução Cordeiros São Vicente Fazenda Cabeçudas Total %
Fundamental Incompleto 7 2 5 2 16
40,0
Fundamental completo 2 3 1 1 7
17,5
Médio incompleto 1 2 1 2 6
15,0
Médio Completo 0 2 2 2 6
15,0
Superior Incompleto 0 1 1 1 3
7,5
Superior Completo 0 0 0 2 2
5,0
TOTAL 10 10 10 10 40 100
Fonte: Pesquisa de campo realizada no peodo de fevereiro a março de 2007.
Os dados demonstrados na tabela 6 indicam que 40% dos entrevistados não concluíram o
ensino fundamental, a séries, o que representa um altíssimo índice de baixa escolaridade
entre os cidadãos/usuários do esporte. Outros 17,5% declararam ter concluído o ensino
fundamental. Quanto ao ensino médio, ao anos, pôde-se observar que 15% declararam
não ter concluído seus estudos e outros 15% afirmaram ter concluído este vel de ensino. No
nível superior, 7,5% não completaram os estudos e apenas 5% possuem diploma neste nível
de ensino. Analisando-se comparativamente o perfil educacional dos cidadãos/usuários com a
faixa etária demonstrada na tabela 2, pode-se inferir que a maioria abandonou os estudos antes
110
da conclusão dos seus níveis de ensino, como é o caso, por exemplo, do percentual
apresentado no ensino fundamental que é de 40% não havendo proporcionalidade na
idade/série para estar cursando.
Tabela 7 – Perfil educacional dos gestores das associações do esporte
Grau de Instrução Cordeiros o Vicente Fazenda Cabeçudas Total %
Fundamental Incompleto 1 1 0 0 2
20
Fundamental completo 0 3 0 0 3
30
Médio incompleto 1 0 0 0 1
10
Médio Completo 1 0 0 1 0
20
Superior Incompleto 0 0 0 0 0
0
Superior Completo 0 0 0 0 0
0
Especialização 0 0 1 0 1
10
Mestrado 0 0 1 0 1
10
TOTAL 3 4 2 1 10 100
Fonte: Pesquisa de campo realizada no peodo de fevereiro a março de 2007.
Apesar dos “avanços” obtidos na educação nos últimos anos, o quadro acima mostra que 30%
dos gestores das associações se enquadram no percentual dos que completaram apenas o
ensino fundamental, enquanto que 20% não concluíram seus estudos fundamentais. No ensino
médio 10% dos entrevistados declararam não ter concluído este nível de ensino e 20%
obtiveram seus diplomas de conclusão de curso. Por tratar-se de gestores a tabela 7 mostra
que apenas 20% concluíram o ensino superior, avançando para a pós-graduação em nível de
especialização e de mestrado.
5.1 Resultado da Pesquisa Sócio-Espacial do Esporte nos Bairros
Nesta parte do trabalho serão apresentados os resultados da pesquisa de campo referente a
situação sócio-espacial do esporte nos quatro bairros já mencionados anteriormente. Para
tanto, utilizou-se o método da observação da estrutura física dos equipamentos esportivos,
inclusive com o registro fotográfico, e entrevista com os cidadãos/usuários e gestores das
associações locais. O recorte populacional da pesquisa quanti-qualitativa abrangeu um total de
56 atores sociais, distribuídos em 40 cidadãos/usuários; 10 gestores de associações e; 6
gestores públicos, entre estes, o Superintendente da Fundação Municipal de Esportes de Itajaí
FME; a Coordenadora Regional de Atendimento ao Cidadão do Bairro São Vicente; o
Coordenador Regional de Atendimento ao Cidadão do Bairro Fazenda; o Coordenador do
111
Projeto Esporte Adaptado da Idade; o Administrador do Estádio Municipal Dulcídio Costa;
o Articular do Programa Escola Aberta
39
.
O quadro 9, que mostra a distribuição dos espaços para a prática de esportes nos bairros
pesquisados, foi organizado de modo a proceder ao levantamento da localização, a
denominação e a tipologia dos espaços utilizados para práticas esportivas, bem como seu
respectivo estado de conservação, além de sua natureza pública ou privada registradas em
fotos atuais apresentadas no apêndice 1.
Portanto, as discussões discorridas neste trabalho levam em consideração o espaço destas
instituições como extensão da esfera pública, que por sua vez demandam suporte do poder
público para a gestão democrática do fazer social que é sua finalidade.
39
O Roteiro das Entrevistas está apresentado no apêndice 4.
112
Quadro 9 – Distribuição dos espaços esportivos por bairro
Bairro de Cordeiros
Espaços Conservação Público
Privado
1
AMJAPROCOR- Associação dos Moradores dos Jardins
Progresso e Esperança de Cordeiros
Péssimo -- --
2
A.M.N.A.F. – Associação de Moradores do Núcleo Abdon Fóes Péssimo -- --
3
Centro de Lazer Oldemar José de Oliveira Ótimo X
4
Praça Marechal Rondon Bom X
5
Praça Expedicionário Pedro Manoel Rescaroli Reforma X
6
Praça Santos Dumont Boa X
7
Parque Náutico Odílio Garcia Regular X
8
AMC – Associação de Moradores de Cordeiros Bom -- --
9
Campo de Futebol Society Bola no Pé Ótimo X
10
Programa Escola Aberta – E. B. Melvin Jones Ótimo X
11
Arena Society Futebol Bom X
12
Itajaí Sport Society Ótimo X
13
Campo de Futebol Rio do Ouro – Murta Bom X
Bairro de São Vicente
Espaços Conservação Público Privado
1
Campo Dulcídio do Amaral - Rio Bonito Ótimo X
2
Centro Social do São Vicente/IX de Junho Esporte Clube Bom -- --
3
Beira Rio Society Bom X
4
Campo de Futebol - Associação Ação Social São Vicente Péssimo -- --
5
Praça Dona Flor – Jaiaçú Regular X
6
Praça Tancredo Neves Péssimo X
7
Programa Escola Aberta – E. B. Mal. Olympio Falconieri da Cunha Ótimo X
8
Associação Comunitária Nilson Lourenço dos Santos – Bambuzal Péssimo -- --
Bairro da Fazenda
Espaços Conservação Público Privado
1
Clube de Caça e Tiro Vasconcelos Drumond Ótimo X
2
Praça Genésio Miranda Lins – Beira Rio Ótimo X
3
Praça do Skate Bom X
4
ANI – Associação Náutica de Itajaí Bom* X
5
Praça/Caminho de Sodegaura Bom X
6
Praça da Pipa Regular X
7
Ginásio de Esportes Ivo Silveira Bom X
8
Campo de Futebol de areia, fundos do Ginásio Esportes Ivo Silveira Bom X
9
UNIVALI – Universidade do Vale do Itajaí Ótimo X
10
Praça do Coletivo Bom X
11
Praça Mário Tavares Regular X
12
Praça do Expedicionário Ótima X
13
AABB – Associação Atlética Banco do Brasil Bom X
14
Valley Soccer Futebol Society Ótimo X
15
Programa Escola Aberta – E. B. Gaspar da Costa Moraes Bom X
Bairro de Cabeçudas
Espaços Conservação Público Privado
1
Praça do Mima Péssimo X
2
Iate Clube Cabeçudas Ótimo X
3
Associação dos Servidores Públicos do Porto de Itajaí - ASPPI Ótimo X
4
Praça da Praia de Cabeçudas Regular X
5
Associação Escola de Surf e Amigos da Atalaia Ótimo* X
6
Campo de Futebol da Praia da Atalaia Ótimo X
7
Campo de Futebol da Praia do Molhe Ótimo X
8
Molhe da Praia Ótimo X
* Associações sem sede própria para guardar os equipamentos.
Fonte: Elaborado pela pesquisadora a partir dos dados coletados nos meses de fevereiro a março de 2007.
113
Os espaços relacionados no quadro 9 foram destacados pela sua utilização efetiva à prática do
esporte, bem como pelo seu potencial de opção alternativa para as políticas públicas de
esporte dos gestores políticos ou mesmo pelas organizações sociais dos bairros onde estão
localizados, como é o caso das praças públicas.
Como pode ser observado, o bairro Cordeiros, o maior e mais populoso de Itajaí, dispõe de
pouquíssimos espaços esportivos. Existem apenas 4 espaços públicos: 3 praças e 1 parque
náutico que não estão sendo utilizados efetivamente como espaços para a prática de
modalidades esportivas pela comunidade local. A exceção é o Programa Escola Aberta
40
que
é realizado no espaço da Escola Básica Melvin Jones com atividades de esporte, cultura e
lazer.
As praças, apesar de seu bom estado de conservação, não dispõem de nenhuma espécie de
equipamentos esportivos, o que se caracteriza como “desperdício” sócio-espacial para o maior
bairro do município que carece de equipamentos de esporte e lazer para o atendimento da
demanda local. O parque náutico Odílio Garcia, utilizado para as competições de remo
durante os Jogos Abertos de 2001, hoje é utilizado apenas como área de lazer para a pesca e
para a prática da caminhada que, aliás, apresenta um problema pontual cuja maior reclamação
dos cidadãos/usuários se refere ao perigo para os pedestres decorrente do excesso do fluxo de
veículos leves e pesados que transitam diariamente exalando, inclusive, grande quantidade de
dióxido de carbono, o que de certa forma limita a utilização daquele espaço por um maior
contingente de pessoas.
Importante ressaltar que o impasse público-privado para a classificação das associações de
moradores no contexto deste trabalho segue os pressupostos conceituais definidos por Cruz
(1995, p. 2), que considera não pertencerem “nem à esfera do público, nem à esfera do
privado; mas ocupa o vácuo criado pela não atuação, ou pela atuação deficiente dos agentes
tradicionais”. Ainda nesta perspectiva Amaral (2003, p. 35), acrescenta que
embora as relações entre o terceiro setor e o Estado sejam interpretadas por
alguns críticos como mercantilização de direitos, ou ainda a desistência de
gerar uma macropolítica estrutural para inscrever as ações sociais na
40
Trata-se de uma política pública cujo objetivo é utilizar os espaços físicos das escolas municipais aos sábados,
em período integral, oferecendo atividades esportivas, artísticas e sócio-culturais à comunidade. O Escola Aberta
acontece regularmente em nove escolas da rede municipal de ensino de Itajaí (SC).
114
caridade privada, essa aproximação pode, por outro lado, ser interpretada à
luz de um paradigma colaborativo entre as formas de o Estado atuar.
Na esfera privada pôde-se observar o ótimo estado de conservação da estrutura física, bem
como a organização e a utilização dos cinco espaços particulares pesquisados no bairro
Cordeiros. Percebeu-se, porém, que a demanda intensa permite que se façam investimentos de
manutenção e funcionamento, através da cobrança de taxas aos cidadãos/usuários para a
utilização por um determinado período de tempo, que geralmente é de uma hora. Por outro
lado, constatou-se que esses espaços são prioritariamente ocupados por equipes masculinas,
dedicados exclusivamente ao futebol.
Situação semelhante é encontrada no bairro São Vicente. Constatou-se a existência de quatro
associações comunitárias sobrevivendo em precárias condições de conservação e
funcionamento, a ponto da prefeitura utilizar-se de uma parte do prédio de uma das
associações locais para a instalação de um centro de educação infantil, limitando ainda mais o
espaço destinado ao público de maneira geral. Vale destacar que este espaço denominado
Centro Social Urbano de São Vicente já fora palco de grandes eventos comunitários.
Quanto à outra associação percebeu-se que a situação em que se encontra é de extrema
precariedade desde contas a pagar até a intervenção de vigilância sanitária. Uma situação
interessante pôde ser observada na localidade do Rio Bonito cuja associação, construída pela
comunidade, é utilizada pela Comissão Municipal de Bem Estar do Menor de Itajaí
COMBEMI, além de outro espaço desta associação ser doado à Polícia Militar para instalação
de uma sede, construída também pela própria comunidade. Ainda se constatou que o campo
de futebol, sede da referida associação, ampliado pelo governo anterior, fora municipalizado
pelo atual governo e transformado no Estádio de Futebol Dulcídio Amaral, que atualmente é
gerido pela FME. A promessa de contrapartida do poder público municipal seria a construção
de uma nova sede social para a instalação de uma cozinha comunitária e uma sala de eventos
no espaço restante que, no entanto, ainda não foi concretizada. Segundo a presidente da
Associação dos Moradores do Rio Bonito “agora estamos sem espaço para reunião e para o
casamento dos mais pobres”.
Este caso, em particular, sugere refletir sobre a condição de dependência em que se encontram
a maioria das associações de moradores do município, a ponto de a única alternativa viável se
115
constituir na “troca da autonomia” pela sua sobrevivência. É possível sentir nas pessoas que
participaram da fundação dessas instituições a tristeza estampada no rosto quando relatam os
bons momentos de convívio social, hoje contrastados com a perda do sentimento de pertença
em decorrência da perda do seu espaço. Entretanto, os serviços prestados pelas instituições
que ocupam os espaços da referida associação têm seu valor social reconhecido, embora
atendam somente umblico restrito. Como é o caso da COMBEMI cujo público atendido se
restringe às crianças e adolescentes, a exemplo do Estádio de Futebol Dulcídio Costa, que
também atende crianças e adolescentes, exclusivamente do sexo masculino em quatro
categorias de base, caracterizando-se como esporte educacional. No caso da Polícia Militar, a
situação é ainda mais específica, pois não oferece nenhuma opção de participação efetiva da
comunidade local.
Ainda na esfera pública constatou-se a existência de duas praças e um campo de futebol,
desativado, pertencente à Associação Ação Social São Vicente cujas reuniões são realizadas
num espaço improvisado junto a Paróquia São Vicente de Paula. Todos esses espaços se
encontram em péssimo estado de conservação. Por outro lado, é importante ser destacado o
quão a referida associação carece de pessoal com conhecimentos técnico-administrativos para
a elaboração de projetos de captação de recursos, conforme declaração da própria vice-
presidente:
“Nós não vamos atrás. Ficamos esperando que a prefeitura venha. Nem eu
não corro atrás dos meus próprios direitos. Falta iniciativa de nós mesmos.
Tudo o que pedimos ganhamos, mas como não pedimos, não ganhamos.
(...) Não recebemos verba porque temos que ter projetos”.
O que pressupõe a prática do esporte-participação como direito do cidadão é a disponibilidade
de espaço com equipamentos e profissionais mobilizadores que promovam à participação de
forma co-responsável, com vistas à convivência harmoniosa aliada a preservação do
patrimônio público.
Ainda na esfera pública pode-se afirmar que neste bairro o maior evento que abrange entre
outras atividades, o esporte-participação, é o Programa Escola Aberta, realizado na Escola
Básica Marechal Olympio Falconieri da Cunha, na localidade do Rio Bonito.
116
Na esfera privada, percebeu-se a existência de um campo de futebol society
41
em bom estado
de conservação, conseqüência da sistemática organizacional adotada e da disponibilidade de
recursos já abordada relativamente aos espaços privados do bairro Cordeiros.
Quanto aos dados do quadro 1 referente ao bairro Fazenda, foi possível verificar que,
quantitativa e qualitativamente, apresenta a melhor estrutura em equipamentos esportivos de
Itajaí nas esferas pública e privada. São nove espaços públicos entre: praça esportiva, ginásio
de esportes, praças de lazer, pista de Skate, pista para caminhada e campo de futebol de areia.
A Praça Genésio Miranda Lins concentra a maior quantidade de equipamentos esportivos do
município. Porém, é importante destacar que o município ainda carece de uma política de
gestão do esporte-participação, principalmente no que se refere à contratação de pessoal
qualificado para atuar nos espaços públicos esportivos dinamizando e incentivando a
participação comunitária, criando uma cultura de convivência social harmoniosa aliada a
preservação do patrimônio público.
A experiência relatada por Penna Rodrigues, em Porto Alegre, é oportuna para refletir-se
sobre a questão da disponibilização, por parte do poder público local, de profissionais de
Educação Física para atuarem como mobilizadores do esporte-participação. “Em cada unidade
recreativa, projeto ou programa, dependendo do grau de abrangência, a prefeitura, através da
Secretaria Municipal de Esportes, Recreação e Lazer, designa o número de recursos humanos:
professores, funcionários e/ou estagiários, e recursos materiais” (2001, p. 165).
Como acontece nos dois bairros anteriores, o Programa Escola Aberta é desenvolvido também
no bairro da Fazenda, na Escola Básica Gaspar da Costa Moraes que, aliás, possui um amplo
espaço para as atividades esportivas. Entretanto, uma participante entrevistada observa de
forma crítica que “na Escola Aberta, fica todo mundo solto. Não é organizado. Ficam
brincando”. Por outro lado, ela mesma afirma que o bairro dispõe de outras atividades bem
41
O movimento do Futebol Society em São Paulo, capital, deu-se por volta de 1985, com o fim dos campos de
várzea devido à grande expansão demográfica. Então foram criados os de grama natural em mansões do
Morumbi, onde executivos encontravam-se para bater sua bola e terminar com o famoso churrasco. (...) O
Futebol Sete Society vem buscando um espaço cada vez maior no mundo esportivo. Sendo este um esporte de
regras originalmente nacionais, e gerenciado pela Confederação Brasileira de Futebol Sete Society, a mesma
vem buscando hoje o seu reconhecimento mundial e olímpico. (Confederação Brasileira de Futebol Sete Society,
1996)
117
mais organizadas, a exemplo do remo na beira-rio, a ginástica rítmica e a ginástica para idosos
no Ginásio Ivo Silveira.
Na esfera privada são cinco espaços em boas condições de conservação e funcionamento. A
Universidade do Vale do Itajaí UNIVALI atua nos projetos esportivos de rendimento, bem
como os de extensão que atendem a comunidade. Entre os espaços privados pesquisados a
UNIVALI destaca-se pela excelência. A Associação Atlética do Banco do Brasil – AABB, em
parceria com o governo municipal, desenvolve o Projeto Despertar a partir do programa
AABB Comunidade da Fundação do Banco do Brasil, atendendo 106 crianças de 6 a 12 anos.
(FME, 2007). A Associação dos Deficientes Visuais de Itajaí e Região ADVIR, atende
exclusivamente usuários/cidadãos cegos e de baixa visão. Dentre as atividades esportivas
destacam-se a equoterapia
42
, atletismo, ciclismo, natação, remo, bocha, futsal, xadrez, surf,
vôo livre, trilha, além de ainda praticarem atividades na academia, acompanhados por
profissional de Educação Física, conforme relato do presidente da instituição. A Associação
Náutica de Itajaí ANI atende semestralmente 224 alunos da rede municipal de ensino de
Itajaí, além de alunos do Lar Padre Jacó, do Centro de Atenção Psicossocial e da ADVIR.
Após as 17h30min. acontecem aulas particulares para adultos. A maior queixa dos
entrevistados desta associação refere-se à falta de um galpão para guardar as embarcações.
Outras duas instituições privadas localizadas no bairro da Fazenda são o Clube de Caça e Tiro
Vasconcelos Drumond e o Valley Soccer Futebol Society, ambos em bom estado de
conservação. Vale ressaltar que o primeiro é o mais antigo clube de Itajaí, fundado no ano de
1895 por um grupo de imigrantes alemães. Atualmente oferece apenas atividades de futebol e
tiro somente para associados. O segundo é aberto ao público para a prática do futebol society
com a cobrança de taxas de utilização.
Por último a análise sócio-espacial esportiva no bairro de Cabeçudas revela que a atividade
que melhor representa a dimensão social do esporte-participação entre todas as instituições
pesquisadas é realizada pela Associação Escola de Surf e Amigos da Atalaia em parceria com
a FME de Itajaí, cujo objetivo é o desenvolvimento do potencial humano, tendo o surf como
atrativo. O projeto é desenvolvido aos domingos pela manhã, na Praia da Atalaia, aberto a
42
É um método terapêutico e educacional que utiliza o cavalo dentro de uma abordagem interdisciplinar, nas
áreas de saúde, educação e equitação, buscando o desenvolvimento biopsicossocial de pessoas portadoras de
deficiência e/ou com necessidades especiais. Disponível em: <http://www.equoterapia.org.br/equoterapia.php>.
118
comunidade itajaiense e região, dispondo de um contingente de 12 voluntários. Os
cidadãos/usuários doam espontaneamente um quilo de alimento não perecível, que são
distribuídos às entidades beneficentes de Itajaí. Um ponto relevante a ser enfatizado refere-se
ao atendimento prestado aos deficientes visuais que, em domingos alternados, participam das
aulas de surf. Há pelo menos conhecimento de mais duas experiências semelhantes a essa
realizada no Brasil. Uma desenvolvida pelo Instituto de Cegos da Bahia e outra pela Escola de
Surf Aragua em parceria com a Associação Catarinense para Integração dos Cegos de
Florianópolis, representando o pioneirismo desta modalidade adaptada no Brasil. O
depoimento de um participante cego retrata a importância deste projeto como forma de
romper barreiras: “o esporte é algo que integra as pessoas. Jamais pensei que seria capaz”.
Ainda na esfera privada Cabeçudas dispõe de mais dois espaços: a Associação dos Servidores
Públicos do Porto de Itajaí ASPPI e o Iate Clube Cabeçudas que dispõe de alguns
equipamentos como piscina, sala de jogos, etc.
O bairro de Cabeçudas ainda dispõe de duas pequenas praças públicas, sendo que uma delas é
equipada com aparelhos de ginástica e a outra se encontra em péssimo estado de conservação.
Cabe ressaltar que este bairro está localizado na orla marítima de Itajaí, que dispõe de quatro
praias para as mais diversas formas de esportes coletivos e individuais, sendo desta forma,
juntamente com a beira-rio os maiores espaços disponíveis à prática do esporte-participação.
Os motivos que levam a justificar a disponibilidade sócio-espacial do esporte nos bairros
Fazenda e Cabeçudas, dois dos mais antigos bairros de Itajaí, podem ser explicados a partir de
algumas considerações: Cabeçudas dispõe de estrutura natural, com praias que propiciam a
prática de rias modalidades esportivas, entre elas a natação, surf, pesca, futebol, corrida,
caminhada etc.; o bairro Fazenda teve seu espaço melhorado a partir do final da década de
1970, quando da construção da Avenida Ministro Victor Konder e da Praça Genésio Miranda
Lins em 1978, cujo espaço fora decorrente do aterro de grande área do Saco da Fazenda.
Portanto, é um espaço planejado, configurando-se como o maior espaço público para o
esporte no âmbito municipal, mais conhecida como Beira-Rio.
os bairros de Cordeiros e São Vicente apresentam outras características, tais como: o
primeiro iniciou seu processo de urbanização a partir de 1955 como está demonstrado na
119
figura 7, que mostra o mapa de evolução urbana de Itajaí. Outros dois motivos decorrem do
rápido aumento populacional em virtude da sua localização, por muito tempo a única porta de
entrada ao município de Itajaí via BR 101, aliado a falta de planejamento urbano. Quanto ao
bairro São Vicente, cuja urbanização inicia-se a partir dos anos de 1970, é sensato considerar
que o desenvolvimento vertiginoso sem uma política adequada de ocupação do solo gerou
uma retração significativa dos espaços públicos, principalmente àqueles destinados ao
esporte. Do mesmo modo este bairro possui via de acesso a BR 101, contribuindo
substancialmente para o assentamento de famílias vindas de outras regiões do país.
Percebe-se que o gargalo sócio-espacial do esporte é agravado ainda mais nos dias atuais pelo
uso intenso das vias de acesso ao Porto de Itajaí, cortando esses dois bairros com caminhões
de contêineres o que se constitui num fator de risco constante às respectivas comunidades.
O desenvolvimento vertiginoso da cidade nos últimos dez anos, período em que o município
de Itajaí passou por um acelerado processo de transformação sócio-espacial, impulsionado
pela política econômica de exportação em decorrência da grande movimentação de
contêineres sem o devido planejamento da malha viária urbana. Tal fato acarretou enormes
problemas infra-estruturais de trânsito na cidade. Os terrenos ociosos foram rapidamente
incorporados por empresas de movimentação de carga conteinerizadas. Se por um lado esse
rápido processo de desenvolvimento contribuiu para o aquecimento da economia local, por
outro, agravou sobremaneira o ordenamento do espaço urbano, causando sérios impactos
sócio-espaciais relacionados especialmente aos deslocamentos intra-urbanos.
“Essa miopia no processo de planejamento urbano associado ao modelo de produção espacial
vigente fortalece a exclusão social por lazer, esporte e cultura na cidade. Arrumar essa grande
distorção é um problema de enormes proporções”. (DE SOUZA, 2006, p. 91).
120
Figura 7 – Mapa da Evolução Urbana de Itajaí (SC)
Fonte: Leitura técnica do plano diretor de Itajaí, 2006, p. 24.
121
Fazendo-se uma análise comparada com outras experiências brasileiras relativas à questão
sócio-espacial do esporte, principalmente aquele dedicado à participação comunitária, é
possível dimensionar a falta de visão dos gestores públicos ao longo da história do município,
referente à geração de políticas setoriais que favorecessem a prática esportiva como forma de
promoção social efetiva. Em Itajaí é possível perceber que a política urbana não contemplou o
esporte, sobretudo aquele destinado à participação comunitária de maneira adequada nos
últimos 36 anos, considerando-se que o primeiro Plano Diretor de Itajaí foi elaborado e
aprovado somente em 1971 e não se tinha esta preocupação com a reserva de terrenos para a
construção de espaços públicos.
Já na capital do estado do Paraná
essa visão, aliás, estava de certa maneira contemplada no Plano Diretor de
Curitiba da década de 60, que define a plena equipamentação da cidade. O
que equivale dizer que cada bairro passa a contar com serviços essenciais
para a população, incluindo espaços e utensílios para a prática do esporte e
do lazer (PREFEITURA MUNICIPAL DE CURITIBA, 2004, p. 113)
Os dados do documento sobre os espaços locais de esporte e lazer de Curitiba dão conta de
que o município dispõe de uma área total de 22,3 milhões de m
2
de áreas verdes em que na
sua maioria estão instalados equipamentos para a prática esportiva. São 16 parques, 13
bosques, 429 praças, 346 jardinetes, 52 largos, 11 núcleos ambientais, 14 eixos de animação,
2 centros esportivos, 6 jardins ambientais, 28 centros de esporte e lazer.
Resguardadas as devidas proporções, a comparação com a cidade de Curitiba serve de
parâmetro para se dimensionar o quanto é preciso ser feito em matéria de planejamento
urbano para se avançar nas discussões com a sociedade, visando à formulação de políticas
públicas eficazes para o desenvolvimento do esporte-participação local.
5.2 Representações Sociais do Esporte
Nesta parte da pesquisa serão analisadas as representações sociais a partir do ponto de vista
dos atores sociais e políticos envolvidos com o objeto de pesquisa. Segundo Minayo (1994, p.
158) estas representações "nas Ciências Sociais o definidas como categorias de pensamento
122
de ação e de sentimento que expressam a realidade, explicam-na, justificando-a ou
questionando-a". Nessa perspectiva esta autora considera que as representações constituem-se
num instrumento para análise dos aspectos sociais ao retratarem a realidade. Portanto,
configuram-se como uma forma de compreender a relação da sociedade com seu meio através
da valorização da participação do indivíduo na interpretação de significados para os
fenômenos vivenciados.
Para Arruda (2002, p. 138), a definição mais consensual entre os pesquisadores do campo é a
de Denise Jodelet (2002), para quem “as representações sociais são uma forma de
conhecimento socialmente elaborado e compartilhado, com um objetivo prático, e que
contribui para a construção de uma realidade comum a um conjunto social”.
Nessa concepção fica evidenciado que a representação social favorece a compreensão acerca
da relação do sujeito com o mundo, a forma como constrói e atribui significados às suas
ações, experiências e projetos pessoais. Porém, as representações per si são incapazes de
explicar os fenômenos sociais, pois necessitam de outros elementos que auxiliem na busca de
respostas a estas questões.
Importante ressaltar que para análise e interpretação dos dados, acerca das representações
sociais sobre o esporte local optou-se por realizar questionários semi-estruturados e
entrevistas abertas, em virtude do objetivo de aprofundar as discussões sobre a dimensão
social do esporte-participação no âmbito do município de Itajaí.
Antes de se proceder a uma análise do quadro 2 que aborda as preferências esportivas dos
atores, cabe refletir sobre o que pressupõe o Professor Elenor Kunz, 1994 (apud OLEIAS,
1999, p.75) acerca do conceito de esporte: “será que, andar de bicicleta, caminhar, fazer
ginástica, dançar, as brincadeiras e jogos infantis, etc... não podem, também, serem entendidas
como esporte? Caso afirmativo, temos um conceito ‘amplo’ do esporte”. Partindo desta
amplitude do esporte, buscou-se elencar as modalidades esportivas mais praticadas pelos
cidadãos/usuários identificando os locais onde praticam.
Esta concepção ampla do esporte, especialmente o esporte-participação, reporta ao conceito
de Dumazedier acerca do lazer como
123
[...] um conjunto de ocupações às quais o indivíduo pode entregar-se de livre
vontade, seja para repousar, seja para divertir-se, recrear-se e entreter-se ou, ainda
para desenvolver sua informação ou formação desinteressada, sua participação
social voluntária ou sua livre capacidade criadora após livrar-se ou desembaraçar-se
das obrigações profissionais, familiares e sociais.” (DUMAZEDIER, 1984, p. 34).
Quadro 10 - Modalidades esportivas praticadas pelos cidadãos/usuários do esporte
Modalidade Freqüência Onde pratica
Futebol 10 Clubes Society, Centro Comunitário, Marcílio Dias, Barroso
Caminhada 8 Nas ruas e na Beira Rio
BMX 1 Beira Rio
Remo 1 ANI – Associação Náutica de Itajaí - Beira Rio
Surf 3 Atalaia
Natação 2 Praia
Handebol Adaptado 1 Ginásio Gabriel Collares
Hidroginástica 1 Academia
Corrida 1 Orla de Cabeçudas
Pesca 1 Praia
Xadrez 1 ADVIR – Associação dos Deficientes Visuais de Itaj
Dominó 1 Bar
Sinuca 1 Bar
Fonte: Pesquisa de campo realizada no peodo de fevereiro a março de 2007.
Um dos objetivos da pesquisa foi levantar a opção esportiva dos cidadãos/usuários nos quatro
bairros investigados. O resultado do referido levantamento conta de que a imensa maioria
dos entrevistados prefere a modalidade de futebol, conforme é demonstrado no quadro 10. É
importante destacar que utilizou-se como método para a coleta dos referidos dados o
questionário aberto, de modo a não influenciar nas respostas. Os entrevistados puderam optar
por mais de uma modalidade, indicando o local onde as praticam. Neste sentido, verifica-se
que alguns atores precisam se deslocar para o espaço da prática esportiva.
Embora essa preferência pelo futebol seja reflexo de uma “paixão nacional” arraigada no
perfil sócio-cultural do brasileiro, pode-se inferir, por outro lado, que, sendo a maioria dos
espaços destinados ao esporte composta de campos de futebol, restam poucas alternativas à
prática de outras modalidades, o que, em última análise, acaba impondo naturalmente uma
pré-disposição à prática do futebol.
Para se dimensionar o fenômeno social representado pelo futebol nos 4 quatro bairros
pesquisados em Itajaí, é interessante que se analise quantitativamente o resultado do
levantamento dos espaços esportivos, o qual revelou uma superioridade significativa dos
124
equipamentos destinados a esta modalidade. Dos 44 espaços mapeados, 26 são destinados à
prática de alguma variação do futebol (futsal, futebol de areia, futcampo e futebol society),
representando 59% dos equipamentos esportivos locais. Dos 18 espaços restantes, 8 (18%)
não possuem nenhum tipo de equipamento esportivo, enquanto que os outros 10 (23%) são
destinados a outras modalidades esportivas, entres elas o skate, surf, remo etc.
A segunda modalidade preferida pelos cidadãos/usuários é a prática da caminhada, como pode
ser observado no quadro 10. Este índice representativo de praticantes decorre na maioria das
vezes da necessidade de se manter a saúde, segundo relatos dos próprios entrevistados.
Durante as entrevistas, uma senhora narrou que praticava handebol adaptado e gostava muito
daquela atividade. Porém, mais marcante foi seu depoimento que constava o seguinte: “sabe
moça, eu comecei a viver realmente quando entrei no grupo da terceira idade e comecei a
praticar esportes. Não tenho mais pressão alta, nem colesterol. Agora sou muito feliz!”. Tal
fato pôde ser constatado quando se procedeu à entrevista com o coordenador dos Esportes
Adaptados da Secretaria do Bem Estar Social. São atendidos na modalidade de handebol
adaptado 20 homens e 50 mulheres; na modalidade de voleibol adaptado, 1 homem e 13
mulheres e no basquetebol adaptado, 1 homem e 10 mulheres. No total são atendidos 95
idosos, todos com mais de 50 anos. A maior reivindicação do grupo foi a construção de um
Centro Esportivo e de Lazer para Idosos.
Foto 23 – Equipe de Handebol Adaptado
Fonte: Prof. Maikon Guérios - 2007
125
Quadro 11 - Você gostaria de praticar algum tipo de esporte? Qual?
Modalidade Cordeiros São Vicente Fazenda Cabeçudas Total
Futebol 3 6 3 2 14
Voleibol 2 -- -- -- 2
Dominó 1 -- -- -- 1
Canastra 1 -- -- -- 1
Ginástica 4 -- -- -- 4
Caminhada 3 -- -- -- 3
Basquetebol 1 1 -- -- 2
Skate -- -- 1 1 2
Natação -- 1 -- 1 2
Ciclismo -- -- -- 1 1
Surf -- -- -- 1 1
Mergulho -- -- -- 1 1
Total 15 8 4 7 34
Fonte: Pesquisa de campo realizada no peodo de fevereiro a março de 2007.
O quadro 11 revela uma concentração maior de cidadãos/usuários no bairro de Cordeiros que
gostariam de praticar alguma modalidade de esporte, seguido do bairro São Vicente. Esses
dados se justificam pela pouca quantidade de espaços esportivos nessas duas localidades
pesquisadas, conforme abordado no quadro 1. Por outro lado, no bairro Fazenda se verifica
que a boa quantidade disponível de espaços esportivos equipados é determinante na resposta
dos atores, que a grande maioria pratica alguma modalidade de esporte, pois as opções o
maiores.
24
12
5
5
3
2
2
1
1
0 5 10 15 20 25
Saúde
Para as crianças
Lazer
Integração
Primordial para a vida
Para ocupar o tempo
Personalidade
Responsabilidade
Desenvolvimentosico
Gráfico 2 - Importância da prática esportiva para os cidadãos/usuários
Fonte: Pesquisa de campo realizada nenhum fevereiro de de de período um março de 2007.
126
Tal importância se percebe no discurso da população que apresenta vários motivos para
justificar a importância do esporte à sociedade. O gráfico 2 que apresenta o somatório dos
dados coletados nos bairros, demonstra que a saúde representa o maior fator de importância
relacionado às atividades físico-esportivas. Por outro lado, especialmente nos bairros de
Cordeiros e São Vicente, existe uma grande preocupação com o tempo ocioso das crianças
que não possuem atividades regulares, sobretudo no período de férias, ficando “soltas” nas
ruas e vulneráveis a demandas não desejadas, como por exemplo, ao uso de drogas. Frases
como “O que será de nossa sociedade com essas crianças na rua?”, retratam a ausência de
políticas públicas que proporcionem às crianças atividades regulares, bem como a
preocupação da sociedade frente a esta realidade.
No entanto, o esporte, o lazer e a cultura se opõem a violência e a criminalidade e se
apresentam como parceiros da educação, além de “ocupar o tempo vago das crianças”
(PERES et al, 2004), que têm o futuro cheio de incertezas e riscos, cujo antídoto está, em
grande parte, constituído de atividades e projetos que envolvam cooperação, diálogo,
confiança mútua, enfim, valores ligados ao fortalecimento da cidadania.
Quadro 12 - Quais as necessidades do seu bairro relativas aos espaços públicos
esportivos?
Motivos Cordeiros São Vicente Fazenda
Cabeçudas
Total
Parque de diversão 2 0 0 0 2
Aparelhos de Ginástica 2 1 0 0 3
Mesas para Xadrez 1 0 1 0 2
Quadra poliesportiva 3 1 0 0 4
Praças 2 3 0 1 6
Campo de Futebol 1 1 0 0 2
Quadra de Futsal 0 1 0 0 1
Quadra de voleibol 0 1 0 0 1
Quadra de Basquetebol 0 1 0 0 1
Pista de Skate 0 0 0 1 1
Ampliação e ocupão dos espaços existentes 0 0 1 3 4
Total 11 9 2 5 27
Fonte: Pesquisa de campo realizada no peodo de fevereiro a março de 2007.
A demanda sócio-espacial reprimida por esporte-participação configura-se como um dos
fatores motivadores da exclusão que se impõe às comunidades. Neste sentido, o papel dos
gestores públicos do esporte é de estar atentos a esta questão.
127
É necessário rediscutirmos os espaços públicos, que permitam o desenvolvimento
das atividades de interesse popular. Também é imprescindível uma redefinição das
“políticas públicas” que proporcionem o acesso das camadas populares através da
prática de atividades esportivas e de lazer, podendo dinamizar a luta democrática
pela manutenção e ampliação dos nossos direitos sociais. (OLEIAS, 1999, p. 69)
Na visão deste autor é necessário que a agenda social do município contemple as reais
demandas da sociedade como forma democrática de participação. Portanto, são as políticas
públicas o fio condutor de concretização dos anseios populares.
16
9
27
9
24
0
19
1
0 5 10 15 20 25 30
Eficaz
Ineficaz
Eficiente
Ineficiente
Presença
Ausência
Existe
Não existe
Gráfico 3 Como você avalia as ações do governo municipal em relação às políticas
setoriais de esporte?
Fonte: Pesquisa de campo realizada no peodo de fevereiro a março de 2007.
Os dados do gráfico 3 revelam um distanciamento entre a sociedade e o Estado. Como pode
ser constado, uma insatisfação muito significativa com a gestão de políticas públicas de
esporte local. Para evidenciar a opinião dos entrevistados optou-se por uma pergunta fechada
com a intenção de analisar itens distintos. A primeira demanda referiu-se a eficácia e
eficiência do governo municipal quanto às políticas de esporte de forma geral, com uma
superioridade flagrante das variáveis ineficácia e ineficiência. A segunda demanda, que avalia
a presença ou ausência do poder público local no cumprimento do seu papel de agente
promotor do bem comum por meio do esporte revelou sobremaneira a ausência de ações
direcionadas ao esporte-participação. Por fim, com a intenção de avaliar o grau de satisfação
dos cidadãos/usuários quanto à existência/inexistência satisfatória de espaços equipados para
a finalidade esportiva, ficando evidenciado que os bairros de Cordeiros e de São Vicente não
128
dispõem de espaços públicos e/ou privados suficientes para o atendimento das demandas
locais. Corroborando com os dados apresentados, o superintendente da FME afirma que
realmente não existem espaços para a execução do esporte-participação a
contento, mas existem esforços do poder público nesta direção. Para o
esporte comunitário acontecer precisamos investir fortemente na construção
de espaços adequados para tal. Neste sentido, alguns mecanismos estão
sendo implantados a favor do esporte a exemplo da lei de incentivo ao
esporte.
Diante do exposto vale ressaltar que a Lei de Incentivo ao esporte, nº. 4.513, promulgada em
22 de dezembro de 2005 e regulamentada em nossa cidade pelo decreto nº. 7.817, de 06 de
março de 2006, estabelece no seu artigo 4º, inciso 2, os percentuais para aplicação nos
projetos esportivos ficando discriminado em: a) formação esportiva de base 10%; b)
manutenção de selecionados 40%; c) manutenção de atletas 10%; d) realização de eventos
esportivos 30%; e) outras atividades 10%.
De acordo com os percentuais distribuídos nos itens especificados pela lei, 60% são
destinados exclusivamente ao esporte de rendimento, restando 40% para ser dividido entre as
outras dimensões do esporte (escolar e comunitário). Deste percentual restante, o rendimento
ainda pode se beneficiar, permanecendo o fosso entre o esporte de rendimento em detrimento
do esporte escolar, bem como o esporte-participação.
A aplicação dedicada ao esporte comunitário, captada através da Lei de Incentivo ao esporte
está reduzida a dois artigos:
d) realização de eventos esportivos: promover eventos esportivos que incentivem a
prática esportiva nos seguimentos do esporte escolar, esporte de rendimento e
esporte comunitário (grifo meu), na forma de torneios, campeonatos, amistosos,
desafios ou apresentação pública de determinada modalidade reconhecida pelo
Ministério dos Esportes, CNE, COB e CPO do país;
e) outras atividades: aquisição de material esportivo, implementos paradesportivos
e cadeiras de rodas paradesportivas: criação, construção, revitalização, restauração,
manutenção, ampliação e conclusão de infra-estrutura necessária à Educação Física
e ao esporte escolar, comunitário (grifo meu) e de rendimento. Assegurar
transporte para alunos/atletas aos locais de iniciação esportiva; implementação de
centro de formação, treinamento, pesquisa e/ou excelência esportiva; garantir o
investimento em cursos de capacitação profissional e eventos científicos
(seminários, fóruns, conferências e congressos), programa de rádio, televisão ou
outra mídia eletrônica com foco ao esporte amador; publicação literária, coluna,
jornal, boletim ou revista com foco ao esporte amador. (DECRETO nº. 7.817,
2006).
129
Neste sentido, fica claro que esta lei não atenderá diretamente o esporte-participação. Será
preciso capacitar os gestores das rias associações para a elaboração de projetos capazes de
atender a exigência burocrática para a captação de recursos, tanto para a construção e
reformas dos espaços destinados à prática esportiva, quanto à sua implementação.
A pesquisa ainda abordou três fatores considerados relevantes para a efetivação de políticas
públicas que promovam o esporte-participação, segundo as representações sociais dos
cidadãos/usuários e dos gestores das associações nos quatro bairros pesquisados. Para tanto,
definiu-se como prioridades: 1) participação em projetos esportivos; 2) pessoal qualificado
para atendimento da demanda do esporte-participação e; 3) disponibilidade de recursos
financeiros.
Foram estabelecidas escalas de valores de 1 a 10 para avaliar a realidade situacional relativas
aos três itens abordados.
Com relação à participação em projetos esportivos, o resultado da pesquisa aponta que há um
índice de participação deficitária dos atores sociais na discussão e formulação de projetos
esportivos destinados a comunidade. Com 38 pessoas atribuindo notas 1 a 5, representando
95% dos 40 cidadãos/usuários entrevistados. Na categoria gestores de associações à situação é
ainda mais crítica. Dos 10 atores entrevistados todos atribuíram notas variando de 1 a 3.
Fica claro nestes dados que o nível de participação ainda é extremamente frágil para se
considerar que o esporte local é tratado de forma democrática, contradizendo a proposta da
própria FME prevista na Lei nº. 4.508/2005, cuja missão é
promover, contribuir, auxiliar financeiramente, incentivar e patrocinar
ações no campo do desporto educacional, de participação de modo
voluntário e de rendimento, (...) devendo para tanto conjugar esforços do
poder público e da comunidade para o desenvolvimento do esporte, (...)
bem como promover a articulação entre as entidades públicas e
organizações da comunidade, para a formulação e execução da política
pública de esportes.
Diante da reduzida valorização das políticas sociais no âmbito das ações governamentais em
relação ao esporte, pôde-se verificar uma diminuição dos cargos de direção da FME, que
anteriormente possuía estrutura organizacional semelhante a do Ministério do Esporte, com
130
pessoal técnico nas três dimensões do esporte (rendimento, comunitário e escolar). Em 2006
houve uma reforma administrativa extinguindo-se os respectivos cargos, permanecendo
apenas os de assessoria ocupados por pessoal não habilitado em Educação Física. (Lei Nº.
4.608, de 14 de julho de 2006). Pode-se inferir que tais mudanças de ordem profissional
afetam diretamente a qualidade técnica dos serviços prestados à população. Para tanto,
necessita-se de pessoal qualificado para discutir de forma clara a inserção da maioria das
pessoas nas ações voltadas ao esporte, através de uma “proposta inovadora que aponte para a
ampliação desses direitos e o aumento cada vez mais efetivo da participação popular em
termos de esporte” (OLEIAS, 1999, p.68).
No segundo item que aborda a questão do pessoal qualificado para atendimento da demanda
do esporte-participação
os números obtidos apresentaram equilíbrio de opiniões nos bairros
Fazenda e Cabeçudas justificados pela disponibilidade de espaços para o esporte com pessoal
qualificado para atendimento às demandas a exemplo do remo, surf, BMX
43
e ginástica
rítmica desportiva, todas numa parceria entre as associações das próprias modalidades e a
Prefeitura Municipal de Itajaí, através da FME. Por outro lado, nos bairros Cordeiros e São
Vicente constataram-se uma situação desfavorável em que à maioria absoluta dos
cidadãos/usuários declarou a inexistência de profissionais qualificados para atendimento às
demandas locais.
Do ponto de vista dos gestores das associações, percebeu-se uma carência em relação à
disponibilidade de pessoal qualificado com notas variando de 1 a 2 nos bairros Cordeiros, São
Vicente e Fazenda, excetuando-se o bairro Cabeçudas cuja variação ficou entre 3 e 6.
A percepção das pessoas que estão à frente das associações em relação aos gestores públicos,
bem como aos professores reflete o descontentamento nas atuações profissionais no âmbito
das comunidades. Algumas expressões sintetizam tal insatisfação: “Não entendem e querem
43
A palavra BMX é uma sigla que significa Bicycle Moto Cross. O BMX existe desde o final da década de 60 e
foi inventado nos Estados Unidos. As crianças imitavam seus ídolos do motocross com suas bicicletas,
construíam pistas e faziam corridas informais. Assim nascia um novo desporto. Algum tempo depois, as crianças
começaram a criar manobras com suas bicicletas que não precisavam das pistas de terra, eram feitas nas ruas.
Eram manobras somente com a bicicleta, ou ainda em pistas de skate, febre da época. Surgia o Estilo Livre, ou
Freestyle. As primeiras manobras foram inventadas por pilotos mundialmente famosos como Bob Haro, R. L.
Osbourn e outros. O BMX chegou com toda a sua força no Brasil em 1978, sendo chamado de bicicross.
(Wikipédia, a enciclopédia livre, 2007).
131
mandar”; “os gestores não tem competência” e outras “afirmam que não tem pessoas
suficientes para atuar nesta área” e que “tem espaço para muito mais profissionais”.
Esta dificuldade retratada nas categorias: cidadãos/usuários e gestores das associações foram
também pontuadas pelos gestores públicos quando questionados sobre a contratação de
pessoal. Do ponto de vista destes atores políticos as ponderações se referiram à ausência de
profissionais qualificados para a demanda local, expressas nas seguintes declarações: Não
temos autonomia para contratação; faltam profissionais habilitados na área; o processo de
qualificação profissional é ineficaz e; não temos mão de obra qualificada”.
Por outro lado, é importante ponderar que a questão político-partidária é um dos entraves na
disponibilização de profissionais competentes para atuarem junto a FME, pois, segundo
depoimentos dos próprios gestores, os cargos ficam a disposição para indicação dos
vereadores e demais políticos. Os poucos profissionais que atuam no esporte em Itajaí ficam
muitas vezes sem atividades em decorrência de pertencerem a outras siglas partidárias. Outro
agravante é o ciclo político de quatro anos que maximiza ainda mais o problema. A cada
ciclo, todos são substituídos em virtude da FME não conter cargos efetivos próprios, tendo
que solicitá-los junto à Secretaria Municipal de Educação.
Concomitantemente a questão política, outro fator pode justificar a falta de pessoal
qualificado, o atraso na inclusão do curso de Educação Física na universidade local,
implantado somente a partir do segundo semestre de 2004. Portanto, a expectativa de um
aquecimento na oferta de profissionais habilitados é um objetivo a médio prazo cuja previsão
é para julho de 2008, com a formatura da primeira turma na licenciatura em Educação Física.
Salienta-se, porém, que a modalidade de licenciatura habilita profissionais para atuarem
exclusivamente na educação básica, abrangendo a dimensão social do esporte escolar.
Portanto a demanda de profissionais qualificados para a cobertura da dimensão social do
esporte-participação ainda não será contemplada por essa plêiade de profissionais, sendo que
a modalidade de bacharelado em Educação Física que atende está demanda ainda não foi
disponibilizada pelas instituições de ensino superior locais.
A esse respeito Marcellino (2001, p. 22-23) afirma que “é freqüente a queixa dos responsáveis
pelos executivos, nos vários âmbitos, da falta de pessoal qualificado para desenvolvimento
das ações, na área”. Na sua concepção a colocação desse pessoal na máquina pública é
132
cercada de complexidade pelo fato de não existirem denominações específicas para esses
cargos, os quais são ocupados por professores ou outros funcionários que os assumem,
desencadeando um processo de disputas internas entre funcionários de carreira e os
“apadrinhados” geralmente vindos “de fora”.
Se referindo ao lazer, cujo conceito abrange o esporte-participação, o próprio Marcellino
considera:
Enfim, se quisermos entender o lazer como questão contemporânea, em
toda a grandeza dessa problemática, já está na hora, ou melhor, já passou há
muito tempo da hora, dos Executivos municipais deixarem de contar com o
trabalho muitas vezes gracioso e solícito de profissionais mal remunerados
e mal formados, repetindo pacotes de atividades de duvidoso gosto, e ainda
assim, de forma bastante esporádica, uma vez ou outra, em bairros da
cidade. Ou de formarem equipes, cuja principal característica é o sorriso
forçado nos lábios, promotoras de atividades que não são mais do que
pacotes de “festinhas” para passar o tempo ou entreter o povo antes das
autoridades chegarem para inaugurações de obras. (2001, p. 25)
Fazendo-se uma análise de causa e efeito, pode-se inferir que, se a falta de profissionais
habilitados é uma razão para a não efetivação das políticas públicas voltadas ao esporte-
participação, pode também indicar os motivos da falta de participação comunitária na
elaboração de projetos sociais, a partir do momento que não existam propostas políticas que
proporcionem a inserção da sociedade em suas decisões. Isto é, se não existirem profissionais
no quadro da FME, com a intenção de mobilizar esta dimensão do esporte, o da participação
comunitária, muito pouco acontecerá efetivamente. É preciso, que alguém assuma esta
posição, que por sinal, foi extinta do quadro da FME, pela Lei Nº. 4.608/2006.
Diante da reduzida valorização das políticas sociais no âmbito das políticas de governo em
relação ao esporte pôde-se verificar uma diminuição das funções de direção após a
reestruturação da FME ocorrida no mês de dezembro, pela lei supracitada, ficando
predominantemente os cargos de assessorias em detrimento das diretorias que eram ocupadas
por profissionais da área de Educação Física. A FME tinha a organização aos moldes do
Ministério do Esporte, com 3 diretores e os assessores respectivos, cada qual dando ênfase a
uma dimensão do esporte (rendimento, comunitário e escolar) permanecendo agora, somente
uma Diretoria Técnica de Esporte e Lazer para atender todas as demandas.
133
Tais mudanças na legislação geraram conflitos político-sociais que afetaram diretamente a
população. Neste ano de 2007, houve uma demora de quatro meses para a contratação dos
profissionais que atuam nos projetos nas comunidades atrasando ainda mais o início das
atividades que estava por iniciar no mês de maio.
O último item que trata da disponibilidade de recursos financeiros apresenta pequenas
variações na atribuição de notas pelos cidadãos/usuários. No bairro de Cordeiros 90% dos
entrevistados atribuíram nota 1 e apenas 10% nota 5; situação parecida foi constatada no
bairro São Vicente com 90% dos entrevistados atribuindo nota 1 e 10% nota 9.
Os dados referentes à disponibilidade de recursos financeiros para a promoção de atividades
esportivas revelam que nos dois maiores bairros de Itajaí o recorte populacional entende, na
sua grande maioria, que não há investimentos no esporte-participação.
Nos bairros Fazenda e Cabeçudas houve variação de 1 a 5 nas notas atribuídas, representando
50% dos entrevistados. Constatou-se, ainda, a atribuição de duas notas 10 no bairro
Cabeçudas que representa 10% do público entrevistado nestes dois bairros, nos quais ainda,
verificou-se que 40% dos cidadãos/usuários não souberam responder.
Algumas hipóteses podem explicar esses resultados apresentados nos bairros Fazenda e
Cabeçudas. No primeiro caso, a disponibilidade de espaços públicos por si é um fator de
satisfação, não implicando necessariamente em maiores demandas de recursos financeiros,
além da Beira Rio concentrar a maioria dos eventos esportivos e de lazer da cidade. No
segundo caso, além da promoção de eventos esportivos, a boa condição social dos
entrevistados favorece a participação em clubes privados o que de certa forma satisfaz esses
atores sociais justificando o desconhecimento acerca dos investimentos no esporte-
participação.
Pode-se inferir que a aplicação de investimentos no esporte-participação de modo geral é
insuficiente em relação ao aplicado no esporte de rendimento. Segundo o superintendente da
FME, no ano de 2006 foram aplicados 390 mil reais exclusivamente no esporte de rendimento
e 845 mil reais destinados ao esporte de rendimento associado às escolinhas esportivas de
134
base
44
, que no entendimento do superintendente abrange o conceito de esporte-participação. O
investimento total chegou à cifra de um pouco mais de 1,2 milhões de reais.
Ainda no ano de 2006 as verbas públicas destinadas ao esporte-participação foram de 442 mil
reais aplicados mais especificamente em reformas de instalações, pagamentos de faturas de
energia elétrica e água, bem como o pagamento de profissionais que trabalham junto a
algumas associações.
3,4 milhões
4,5 miles
3,8 miles
1
1,5
2
2,5
3
3,5
4
4,5
5
2005 2006 2007
Gráfico 4 – Evolução Orçamentária para a FME de Itajaí (SC)
Fonte: Pesquisa de campo realizada no peodo de fevereiro a março de 2007.
Os valores apresentados no gráfico 4 apontaram um aumento significativo do orçamento
municipal em esporte do ano de 2005 para 2006, segundo fonte do Jornal do Município
(2005, p. 9), aumentando em 1,1 milhões de reais o orçamento. Equivale registrar que o
aumento relativo foi de 32,62%. Já em 2007, registrou-se uma queda considerável de 700 mil
reais, conforme a Lei nº. 4.710, de 22 de dezembro de 2006 que estima a receita e fixa a
despesa do orçamento do município de Itajaí para o exercício financeiro de 2007.
Como se percebe a política orçamentária do município de Itajaí para o exercício 2007 não
priorizou o esporte como forma de promoção social, visto que o corte nos investimentos seria
44
Vale destacar que as escolinhas de base têm como objetivo preparar e selecionar futuros atletas, distanciando-
se sobremaneira do conceito de esporte-participação cujo foco é o lazer e o convívio social.
135
suficiente para a manutenção e funcionamento das políticas públicas setoriais do esporte-
participação pelo período de um ano.
Também não saiu do papel o projeto de construção de uma piscina pública aquecida e um
ginásio de esportes junto à pista de atletismo municipal, no bairro Carvalho, cujo objetivo era
a transformação daquele local num complexo esportivo, mesmo com o aumento considerável
no orçamento para 2006 conforme pode ser observado no gráfico 4.
Em síntese, de acordo com os dados e apreciações dos entrevistados sobre o esporte-
participação em Itajaí apresentados neste capítulo, é possível afirmar, em linhas gerais, que:
em primeiro lugar, relacionado à presença de equipamentos públicos de esporte, a maior
concentração está no bairro da Fazenda e Cabeçudas. Se considerarmos a população total de
cada bairro teríamos em Cordeiros 2.210 pessoas para cada um dos 13 espaços, entre públicos
e privados. No bairro São Vicente a situação é ainda mais grave, ficando 3.175 pessoas para
os 8 espaços existentes. na Fazenda ficariam 914 pessoas para os 15 espaços mapeados e
em Cabeçudas apenas 123 pessoas para ocuparem os 8 espaços pesquisados.
Em segundo lugar, constatou-se que há priorização do esporte de rendimento, no que se refere
à aplicação de recursos, bem como a utilização dos 6 locais que a FME de Itajaí tem sob sua
administração constituídos por: 3 ginásios de Esportes: Gabriel João Colares; Ivo Silveira e
Mário Tavares, a pista de Atletismo, a pista de Skate e o Estádio Municipal Dulcídeo Costa.
Este reduzido número de espaços para a prática de esportes administrados pela FME,
especialmente os ginásios, são em grande parte, de utilização das equipes de rendimento.
Em terceiro lugar, a falta de participação da população na geração de políticas públicas e por
fim o precário quadro de profissionais habilitados para desempenharem suas funções com
qualidade.
136
6 CONSIDERÕES FINAIS
O esporte, tema de grande relevância social, institucionalizado em três dimensões quais
sejam, o esporte-performance ou de rendimento, o esporte-escolar ou educacional e o esporte-
participação ou popular está considerado como direito social de todo o cidadão. Sendo assim,
o dever do Estado de fomentar as possibilidades às práticas esportivas é evidenciado com
êxito do propósito aqui estabelecido.
Neste estudo, buscou-se evidenciar a magnitude dos elementos que compõem especificamente
o esporte-participação estabelecido como o espaço democrático, gerador de integração, lazer e
cidadania, contribuindo para o desenvolvimento humano.
O resultado obtido a partir da análise empírica referente à gestão de políticas públicas sócio-
espaciais no contexto do esporte-participação no âmbito do município de Itajaí (SC) sugere
um distanciamento institucional quanto à implementação de uma política social efetiva e
impactante, que seja democraticamente universalizada e que atenda de forma adequada à
população itajaiense. Por outro lado, percebe-se também, uma priorização do esporte de
rendimento, ainda que incipiente, em detrimento do esporte comunitário.
O maior problema apontado pelo estudo se refere à desproporcionalidade sócio-espacial dos
equipamentos esportivos na zona urbana de Itajaí, sobretudo nos bairros mais populosos.
A falta de uma tradição de participação comunitária na formulação da agenda social do
município é outro fator a ser destacado como problemático. As políticas públicas foram
historicamente construídas a partir das decisões unilaterais dos atores políticos seguindo uma
proposta tecnocrática de tomada de decisão. Tal fator pôde ser considerado como um dos
principais motivos da retração participativa dos atores sociais no cenário itajaiense, observado
ainda nos dias atuais como aspecto limitante ao avanço do processo de democratização sócio-
espacial do esporte local.
O reconhecimento do esporte-participação como uma das prioridades sociais perpassa pelo
desenvolvimento de uma cultura política de participação dos atores envolvidos, considerando-
137
se o trinômio ter, ser e conviver, como forma de fortalecimento da cidadania onde o esporte
deve estar ao alcance de todos, sem discriminação de qualquer natureza.
O grande ponto a ser refletido se refere especialmente à efetividade da gestão de políticas
públicas que, coordenadas com a participação ampla dos atores políticos e sociais envolvidos,
fortaleceriam os mecanismos democráticos necessários para que os direitos dos cidadãos se
inscrevam na realidade da vida social.
Este panorama sinaliza para a desconstrução de posturas cristalizadas no seio da sociedade
emergindo novas atitudes e procedimentos sócio-políticos numa reinvenção da relação entre
Estado e sociedade de forma equilibrada, visando equacionar o problema da desigualdade
social que coloca o Brasil nas piores posições do cenário mundial. Na medida em que se
desconstróem estereótipos e falsas dicotomias será possível caminhar em direção à eqüidade
de oportunidades e de participação, condições indispensáveis para quem vislumbra uma
sociedade democrática, igualitária e cidadã.
Enfoca-se como primícia para o êxito da consolidação do esporte-participação, a
profissionalização dos gestores e executores envolvidos neste processo.
Outro item relevante para que se possibilite o esporte a todos os cidadãos/usuários é atendê-
los de forma ampla, sem particularidades politiqueiras possibilitando mudanças de atitudes
promovidas a partir da prática esportiva, envolvendo-os também nos conselhos, nas
associações e em momentos específicos junto aos órgãos políticos para participarem nas
tomadas de decisões.
Por fim, qualquer sistema que pretenda incorporar a participação dos usuários nos serviços
públicos deve encará-los como cidadãos, portadores de direitos, entre eles o direito aos
serviços públicos e à participação em sua gestão. Os serviços públicos devem ser avaliados
não somente tendo como referência o atendimento às demandas individuais dos usuários, mas
também pelo seu impacto na cidadania, na implementação de políticas públicas inclusivas e
na promoção dos seus direitos. Os detentores do fazer são os responsáveis por ajudar-nos a ser
parte da consagração da real qualidade do viver e do bem estar, isentos da política egoísta que
deixa de atender à primazia da necessidade humana.
138
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145
APÊNDICE 1
FOTOS DOS ESPAÇOS VISITADOS DURANTE A PESQUISA DE CAMPO
146
AMJAPROCOR – CORDEIROS
ASSOCIAÇÃO DE MORADORES DO NÚCLEO ABDON FÓES – CORDEIROS
CENTRO DE LAZER “OLDEMAR JOSÉ DE OLIVEIRA”- CORDEIROS
147
PRAÇA “MARECHAL RONDON”
PRAÇA EXPEDICIONÁRIO PEDRO MANOEL RESCAROLI CORDEIROS
PRAÇA “SANTOS DUMONT” – CORDEIROS
148
PARQUE NÁUTICO ODÍLIO GARCIA – CORDEIROS
ASSOCIAÇÃO DOS MORADORES DE CORDEIROS – A.M.C.- CORDEIROS
CAMPO FUTEBOL SOCIETY “BOLA NO PÉ”
149
PROGRAMA ESCOLA ABERTA – ESCOLA BÁSICA MELVIN JONES
ARENA FUTEBOL SOCIETY ITAJAÍ SPORT SOCITY
CAMPO DE FUTEBOL RIO DO OURO – MURTA
150
ESTÁDIO MUNICIPAL “DULCÍDIO COSTA” – SÃO VICENTE
CENTRO SOCIAL SÃO VICENTE – IX DE JULHO ESPORTE CLUBE
BEIRA RIO SOCIETY – SÃO VICENTE
151
CAMPO DE FUTEBOL DA ASSOCIAÇÃO AÇÃO SOCIAL SÃO VICENTE
PRAÇA DE LAZER “DONA FLOR” – SÃO VICENTE
PRAÇA TRANCREDO NEVES” – SÃO VICENTE
152
PROGRAMA ESCOLA ABERTA – ESCOLA BÁSICA MARECHAL OLYMPIO
FALCONIERI DA CUNHA – SÃO VICENTE
Foto de João de Souza, 2006.
ASSOCIAÇÃO COMUNITÁRIA “NILSON LOURENÇO DOS SANTOS” - BAMBUZAL
SÃO VICENTE
CLUBE DE CAÇA E TIRO VASCONCELOS DRUMOND – FAZENDA
153
PRAÇA “GENÉSIO MIRANDA LINS” – FAZENDA
154
PISTA DE SKATE – FAZENDA
ASSOCIAÇÃO NÁUTICA DE ITAJAÍ – ANI – FAZENDA
PRAÇA/CAMINHO DE SODEGAURA
155
PRAÇA “DA PIPA” – FAZENDA
GINÁSIO DE ESPORTES “IVO SILVEIRA” – FAZENDA
CAMPO DE FUTEBOL DE AREIA FUNDOS DO GINÁSIO IVO SILVEIRA –
FAZENDA
156
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI – FAZENDA
PRAÇA DO COLETIVO
PRAÇA “MÁRIO TAVARES” – FAZENDA
157
PRAÇA DO EXPEDICIONÁRIO – FAZENDA
ASSOCIAÇÃO ATLÉTICA BANCO DO BRASIL – AABB – FAZENDA
VALLEY SOCCER FUTEBOL SOCIETY - FAZENDA
158
PROGRAMA ESCOLA ABERTA – ESCOLA BÁSICA GASPAR DA COSTA MORAES
PRAÇA VILMAR DO BORBA “MIMA” – CABEÇUDAS
IATE CLUBE CABEÇUDAS – CABEÇUDAS
159
ASSOCIAÇÃO DOS SERVIDORES PÚBLICOS DO PORTO DE ITAJAÍ – ASPPI
CABEÇUDAS
PRAÇA DA PRAIA DE CABEÇUDAS
160
ASSOCIAÇÃO ESCOLA DE SURF E AMIGOS DA ATALAIA
CAMPO DE AREIA PRAIA DA ATALAIA - CABEÇUDAS
CAMPO DE AREIA DA PRAIA DA ATALAIA – CANTO DO MOLHE – CABEÇUDAS
161
MOLHE DE CABEÇUDAS
162
APÊNDICE 2
QUESTIONÁRIOS APLICADOS AOS CIDADÃOS/USUÁRIOS DO
ESPORTE EM ITAJAÍ (SC)
163
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI
MESTRADO EM GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS
PESQUISADORA: ELISABETE LAURINDO
BOLSISTA: KELYNTON CÓRDOVA DA SILVA
OPINIÃO DOS USUÁRIOS DO ESPORTE EM ITAJAÍ
Data: ........../........./ 2007.
1. Bairro:...............................................................................................................................
2. Idade:
Criança
(0 a 12 anos)
Adolescente (13 a 18 anos)
Jovem (19 a 29 anos)
Adulto (30 a 59 anos)
Idoso ( a partir de 60 anos)
Portador de deficiência
3. Sexo: ( ) masculino ( ) feminino
4. Qual sua faixa de rendimentos em salários mínimos?
( ) até 1 salário
( ) De 1 a 3 salários
( ) de 3 a 5 salários
( ) de 5 a 10 salários
( ) acima de 10 salários
( ) não trabalha
5. Grau de instrução
( ) Fundamental incompleto ( ) Pós-graduação Incompleta
( ) Fundamental completo ( ) Pós-graduação Completa ( ) Especialização
( ) Médio incompleto ( ) Mestrado
( ) Médio Completo ( ) Doutorado
( ) Superior Incompleto ( ) Pós- doutorado
( ) Superior Completo
6. Existe aqui em seu bairro algum espaço para a prática de esporte?
Nome Ponto de
referência
Estado de
conservação
O que
oferece?
Público Privado
7. Você pratica algum tipo de esporte? ( ) sim ( ) não
Qual?.......................Onde?.........................................................................................................................
8. Você gostaria de praticar algum tipo de esporte? Qual?......................................................................
9. Você considera a prática esportiva importante? Por quê?....................................................................
10. Você acha que existe a necessidade de ter mais espaços próprios para a prática esportiva em seu
bairro? Quais?.............................................................................................................................................
164
AVALIAÇÃO DA GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS DE ESPORTE DO GOVERNO
MUNICIPAL CONFORME AS RESPECTIVAS ESCALAS DE VALORES
1. Disponibilidade de pessoal qualificado com conhecimento técnico-científico na elaboração de
projetos de Esporte.
Obs:.............................................................................................................................................................
2. Elaboração de projetos de Esporte com a participação comunitária.
Obs:.............................................................................................................................................................
3. Disponibilidade de recursos financeiros para a implementação das políticas setoriais de Esporte.
Obs:.............................................................................................................................................................
4. Disponibilidade de espaços públicos para Esporte na política urbana.
Obs:.............................................................................................................................................................
5. Como você avalia as ações do Governo Municipal em relação às políticas setoriais de esporte?
( ) Eficaz ( ) Ineficaz
( ) Eficiente ( ) Ineficiente
( ) Ausência de políticas públicas de esporte
( ) A prefeitura incentiva a prática esportiva
( ) Existem espaços públicos de Esporte
( ) Não existem espaços públicos de Esporte
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
165
APÊNDICE 3
QUESTIONÁRIOS AOS GESTORES DAS ASSOCIAÇÕES DE
BAIRROS – TEMA: O ESPORTE EM ITAJAÍ (SC)
166
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI
MESTRADO EM GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS
PESQUISADORA: ELISABETE LAURINDO
BOLSISTA: KELYNTON CÓRDOVA DA SILVA
ENTREVISTA AOS GESTORES DAS ASSOCIAÇÕES DE BAIRROS DE ITAJAÍ
TENDO COMO TEMA O ESPORTE
Data: ........../........./ 2007.
_____________DADOS PESSOAIS____________________________________________________
1. Cargo do entrevistado:...................................................................................................................
2. Idade: ( ) 16 a 24 ( ) 25 a 34 ( ) 35 a 49 ( ) 50 e mais
3. Sexo: ( ) masculino ( ) feminino
4. Qual sua faixa de rendimentos em salários mínimos?
( ) até 1 salário ( ) de 5 a 10 salários
( ) De 1 a 3 salários ( ) acima de 10 salários
( ) de 3 a 5 salários
5. Grau de instrução
( ) Fundamental incompleto ( ) Pós-graduação Incompleta
( ) Fundamental completo ( ) Pós-graduação Completa ( ) Especialização
( ) Médio incompleto ( ) Mestrado
( ) Médio Completo ( ) Doutorado
( ) Superior Incompleto ( ) Pós- doutorado
( ) Superior Completo
_____________DADOS DA ASSOCIAÇÃO_____________________________________________
6. Nome da Associação:....................................................................................................................
7. Bairro:............................................................................................................................................
8. Data de fundação da Associação:..................................................................................................
9. Telefone:...........................E mail:.................................................................................................
10. A quem pertence o terreno da Associação?...................................................................................
11. Que tipo de organização deu início a esta instituição?..................................................................
12. Número total de associados: .........................................................................................................
167
13. Números específicos de associados:
ASSÓCIADOS MASCULINO FEMININO
1 CRIANÇAS (0 a 12 anos)
2 ADOLESCENTES (13 a 18 anos)
3 JOVENS (19 a 29 anos)
4 ADULTOS (30 A 59 anos)
5 IDOSOS (a partir de 60 anos)
6 PORTADORES DE DEFICIÊNCIA
14. Quais as atividades desenvolvidas?..............................................................................................
15. Que equipamentos de esporte a associação possui?
( ) Cancha de bolão ( ) Quadra de tênis ( ) Cancha de bocha
( ) Sala de jogos de mesa ( ) Pista de skate ( ) Ciclovia
( ) Pista para caminhada/cooper ( ) Quadra de volei de areia ( ) Equipam. de ginástica
( ) Campo de futebol ( ) Sala de Dança ( ) Espirobol
( ) Piscina ( ) Ginásio de esportes ( ) Campo de futebol suíço
Outros:....................................................................................................................................................
16. Para você qual é a função social do esporte? Para que serve o esporte?
....................................................................................................................................................................
17. Qual a principal atividade de esporte implementada pela associação que você dirige?
....................................................................................................................................................................
18. Quantas pessoas praticam esportes promovidos pela associação.
Modalidade Masculino Faixa etária Feminino Faixa etária
19. Quais projetos esportivos futuros serão implantados nesta associação?.......................................
20. Quantos profissionais habilitados ou provisionados em Educação Física trabalham nesta
associação?
Habilitados ( ) Provisionados ( )
21. Esta associação recebe algum apoio financeiro da Prefeitura Municipal de Itajaí? Quanto:
..............................................................................................................................................................
22. Você acha que existe a necessidade de ter mais espaços próprios para a prática esportiva em
nossa cidade? Por quê?
23. Como você avalia as ações do Governo Municipal em relação às políticas setoriais de esporte?
O que está bom? O que o que poderia ser feito para melhorar as condições atuais?...........................
168
AVALIAÇÃO DA GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS DE ESPORTE DO GOVERNO
MUNICIPAL CONFORME AS RESPECTIVAS ESCALAS DE VALORES
24. Disponibilidade de pessoal qualificado com conhecimento técnico-científico na elaboração de
projetos de Esporte.
Obs:.............................................................................................................................................................
25. Elaboração de projetos de Esporte com a participação comunitária.
Obs:.............................................................................................................................................................
26. Disponibilidade de recursos financeiros para a implementação das políticas setoriais de Esporte.
Obs:.............................................................................................................................................................
27. Disponibilidade de espaços públicos para Esporte na política urbana.
Obs:.............................................................................................................................................................
28. Como você avalia as ações do Governo Municipal em relação às políticas setoriais de esporte?
( ) Eficaz ( ) Ineficaz
( ) Eficiente ( ) Ineficiente
( ) Ausência de políticas públicas de esporte
( ) A prefeitura incentiva a prática esportiva
( ) Existem espaços públicos de Esporte
( ) Não existem espaços públicos de Esporte
DADOS PESSOAIS SOBRE O ESPORTE
29. Você pratica algum tipo de esporte? ( ) sim ( ) não
Qual?.......................Onde?.............................................................................................................
30. Você gostaria de praticar algum tipo de esporte? Qual?................................................................
31. Você considera a prática esportiva importante? Por quê?.............................................................
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
169
APÊNDICE 4
ROTEIRO DE ENTREVISTA AOS GESTORES PÚBLICOS DO
ESPORTE EM ITAJAÍ (SC)
170
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI
MESTRADO EM GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS
PESQUISADORA: ELISABETE LAURINDO
BOLSISTA: KELYNTON CÓRDOVA DA SILVA
ENTREVISTA AOS GESTORES PÚBLICOS
SECRETARIAS E FUNDAÇÕES MUNICIPAIS DE ITAJAÍ
Data: ........../........./ 2007.
_____________________DADOS PESSOAIS____________________________________________
1. Cargo do (a) entrevistado (a):........................................................................................................
2. Idade: ( ) 16 a 24 ( ) 25 a 34 ( ) 35 a 49 ( ) 50 e mais
3. Sexo: ( ) masculino ( ) feminino
4. Qual sua faixa de rendimentos em salários mínimos?
( ) até 1 salário ( ) de 5 a 10 salários
( ) De 1 a 3 salários ( ) acima de 10 salários
( ) de 3 a 5 salários
5. Grau de instrução
( ) Fundamental incompleto ( ) Pós-graduação Incompleta
( ) Fundamental completo ( ) Pós-graduação Completa ( ) Especialização
( ) Médio incompleto ( ) Mestrado
( ) Médio Completo ( ) Doutorado
( ) Superior Incompleto ( ) Pós- doutorado
( ) Superior Completo
________________DADOS DO ÓRGÃO PÚBLICO______________________________________
6. Quanto de recursos financeiros é aplicado no esporte?
Comunitário:................................................................................................
Escolar:.........................................................................................................
Rendimento:.................................................................................................
7. Quantos espaços para a prática de esportes são administrados por esta
secretaria/fundação?............................Quais são estes espaços?
8. Quais e quantas pessoas praticam esportes promovidos pela sua administração.
Modalidade Masculino
Faixa etária Feminino Faixa etária
171
9. Quais projetos esportivos são implementados por esta secretaria?........................................................
10. Existe interface com outras secretarias na área do esporte? ( ) sim ( ) não (se a resposta for não,
porque?) Quais?..........................................................................................................................................
___________ AVALIAÇÃO DA GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS DE ESPORTE DO
GOVERNO MUNICIPAL _____________________________________________________
11. Existem profissionais com conhecimento técnico-científico na elaboração de projetos de Esporte?
Quantos? Quais funções?............................................................................................................................
12. Existe disponibilidade de Pessoal qualificado para trabalhar com o Esporte?.....................................
13. Na elaboração de projetos de Esporte, existe a participação comunitária............................................
....................................................................................................................................................................
14. Qual é a disponibilidade de recursos financeiros para a implementação das políticas setoriais de
Esporte?......................................................................................................................................................
15. Existe disponibilidade de espaços públicos para Esporte na política urbana?.....................................
16. Você acha que existe a necessidade de ter mais espaços próprios para a prática esportiva em nossa
cidade?........................................................................................................................................................
__________________DADOS PESSOAIS SOBRE O ESPORTE________________________
16. Você pratica algum tipo de esporte? ( ) sim ( ) não
Qual?.......................Onde?.........................................................................................................................
17. Você gostaria de praticar algum tipo de esporte?..........Qual?.............................................................
18. Você considera a prática esportiva importante? Por quê?....................................................................
19. Como você avalia as ações do Governo Municipal em relação às políticas setoriais de esporte?
( ) Eficaz ( ) Ineficaz
( ) Eficiente ( ) Ineficiente
( ) Ausência de políticas públicas de esporte
( ) A prefeitura incentiva a prática esportiva
( ) Existem espaços públicos de Esporte
( ) Não existem espaços públicos de Esporte
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