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provada e refuta todos os desmentidos do real. [...] Uma doutrina é, em princípio, inexpugnável”
(MORIN, 1986, p. 74).
O próprio autor trata, também, de distinguir teoria, ideologia e doutrina:
Uma teoria permite ao teórico reconhecer, fora da teoria, a realidade que ela não
pode conceber. Uma doutrina impede o doutrinado de ver a realidade que ela oculta.
Entretanto, a evidência de um fato que aceitamos, mas que não podemos inserir em
nossa ideologia, perde rapidamente sua força. Sua própria existência acaba se
dissolvendo depois de certo tempo por falta de apoio ideológico. Assim, tudo o que
a ideologia não pode conceber ou racionalizar, fenece, esfacela-se, vai para o lixo...
É por isso que a ideologia nos torna tão insensíveis, cegos, surdos, esquecidos,
imbecis (MORIN, 1986, p. 103).
Do ponto de vista informacional, a ideologia é um sistema de idéias feito para
controlar, acolher, rejeitar a informação, ou seja, se a ideologia é teoria, ela é, em princípio,
aberta à informação que não é conforme a ela, que a pode questionar. “Se, é doutrina, ela é,
em princípio, fechada a toda informação não-conforme” (MORIN, 1986, p. 45).
Assim, acreditamos que a adequação destes três conceitos (teoria, método e
paradigma) é que permitirá novos processos de conhecimento teóricos complexos, e que a
adoção do paradigma da complexidade é o que melhor se adapta para compreender o novo
modelo de gestão urbano-ambiental sugerido pelo Estatuto da Cidade. Isto porque a noção de
planejamento urbano e as noções associadas nesse documento, de gestão participativa e de
sustentabilidade, indicam a necessidade de um enfoque integrador das políticas públicas
(aberto, dinâmico, dialógico) e transdisciplinar, que busque esclarecer a problemática em
questão e as possíveis alternativas.
Enquanto o primeiro paradigma separa sujeito e objeto, além das formas de
conhecimento, desde a revolução da ciência no século XVII, gerando um divórcio entre as
culturas científica e humanista, o segundo associa sem fundir, distinguindo sem separar
sujeito e objeto, formas de conhecimento e as culturas científica e humanista.
Nesse sentido, Morin destaca que:
[...] Um grande paradigma de disjunção, opondo ciência e filosofia, materialismo e
idealismo/espiritualismo, fato e valor, tem reinado desde o século XVIII, e seu
domínio somente agora começa a declinar.
E dentro das ciências, o paradigma dominante provocou a redução do complexo ao
simples, do global ao elementar, da organização à ordem, da qualidade à quantidade,
do multidimensional ao formal, destacando fenômenos como objetos isolados de seu
contexto e separados do sujeito que os percebe/concebe (MORIN, 1986, p. 77).