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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA
José Paulo Guedes Pinto
A contabilidade social na perspectiva clássica (capital produtivo e não-produtivo:
traçando um mapa do Sistema de Contas Nacionais brasileiro).
Porto Alegre
2007
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José Paulo Guedes Pinto
A contabilidade social na perspectiva clássica (capital produtivo e não-produtivo:
traçando um mapa do Sistema de Contas Nacionais brasileiro).
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Economia da Faculdade de Ciências
Econômicas da UFRGS, como quesito parcial para
obtenção do título de Mestre em Economia.
Orientador: Prof. Dr. Eduardo Maldonado Filho
Porto Alegre
2007
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DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)
Responsável: Biblioteca Gládis W. do Amaral, Faculdade de Ciências Econômicas da UFRGS
P659c Pinto, José Paulo Guedes
A contabilidade social na perspectiva clássica (capital produtivo e não-
produtivo: traçando um mapa do Sistema de Contas Nacionais brasileiro) /
José Paulo Guedes Pinto. – Porto Alegre, 2007.
82 f.
Orientador: Prof. Eduardo Maldonado Filho.
Dissertação (Mestrado em Economia) - Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, Faculdade de Ciências Econômicas, Programa de Pós-
Graduação em Economia, Porto Alegre, 2007.
1. Contabilidade nacional : Brasil. 2. Contas nacionais : Brasil. 3.
Contabilidade social. 4. Teoria econômica marxista. 5. Capitalismo. 6.
Mais-valia. I. Maldonado Filho, Eduardo. II. Universidade Federal do Rio
Grande do Sul. Faculdade de Ciências Econômicas. Programa de Pós-
Graduação em Economia. III. Título.
CDU 330.534
José Paulo Guedes Pinto
A contabilidade social na perspectiva clássica (capital produtivo e não-produtivo:
traçando um mapa do Sistema de Contas Nacionais brasileiro).
Dissertação apresentada ao Programa
de Pós-Graduação em Economia da
Faculdade de Ciências Econômicas da
Universidade Federal do Rio Grande do
Sul como quesito parcial para a obtenção
do título de Mestre em Economia.
Aprovada em: Porto Alegre, _____de _______de 2007.
Profa. Dra. Leda Maria Paulani
USP
Prof. Dr. Eleutério Fernando da Silva Prado
USP
Prof. Dr. Luiz Augusto Estrella Faria
UFRGS
Dedico essa dissertação à construção
do socialismo no século XXI
AGRADECIMENTOS
À minha família (Ana, Odilon, Pedro e Luciana, e agora a Isabela) por tudo.
Principalmente por terem suportado o “mau humor” típico que assola os estudantes de
mestrado quando estão para encerrar a dissertação, mas principalmente, por todo o
apoio que deram a mim nos momentos mais difíceis da vida no sul.
Muito também à família Brentano, dos vizinhos aqui de sampa ao pessoal de
Porto Alegre (Mauro, Bete, Tita e Maurício) pelo acolhimento, pelo apoio nos momentos
difíceis, pela participação nos momentos felizes, enfim, por tudo que fizeram por mim
durante este período. Muito obrigado!
Ao meu orientador, prof. Dr. Eduardo Maldonado Filho, primeiro pelas aulas
“salvadoras” e brilhantes de economia política, segundo por ter me apresentado o tema
que viria a se tornar o centro deste trabalho e em terceiro pela paciência, boa vontade e
dedicação.
Aos professores da FEA-USP, Eleutério Prado, Paulo de Tarso, Gilberto Lima e
Jorge Soromenho, grandes mestres, intelectuais e pesquisadores (e responsáveis por
mais de um quarto do meu curso de graduação).
À turma da graduação, ao Informação Assimétrica, à ITCP-USP, ao NESOL-
USP, pela amizade e por terem mantido a chama da crítica acesa nos anos de
marasmo social no país.
À minha querida namorada Renata Bindo pelo seu amor e pelo apoio emocional
durante todo esse período.
Ao CNPq, pela bolsa de mestrado concedida, fundamental para realizar a
pesquisa, e ao Estado Brasileiro que me financiou por meio do CNPq e da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul.
Às queridas sete gurias e à turma do PPGE, sem vocês a pós-graduação teria
sido difícil.
A todos aqueles que contribuíram direta ou indiretamente para a realização desta
dissertação.
The less you eat, drink and buy books; the less
you go to the theatre, the dance hall, the public
house; the less you think, love, theorise, sing,
paint, fence, etc., the more you save – the greater
becomes your treasure which neither moths nor
rust will devour your capital. The less you are,
the less you express your own life, the more you
have, i.e., the greater is your alienated life, the
greater is the store of your estranged being.
Quanto menos você comer, beber, comprar
livros, for ao teatro, aos bailes, às boates, quanto
menos você pensar, amar, teorizar, cantar, pintar,
tanto mais você será capaz de economizar e
tanto maior será o seu tesouro. Quanto menos
você for, tanto mais você terá... (MARX, 2000).
RESUMO
O objetivo dessa dissertação é apresentar um exercício empírico, qual seja,
transformar a contabilidade nacional oficial em categorias analíticas da economia
clássica/marxiana. Esse processo é baseado na metodologia desenvolvida por Shaikh e
Tonak (1994). No primeiro capítulo nós apresentamos de forma sucinta os principais
aspectos teóricos da distinção entre o trabalho produtivo e o trabalho não-produtivo do
ponto de vista do capital. No segundo capítulo apresentamos tanto a análise crítica do
sistema de contas nacionais quanto a metodologia para realizar o mapeamento da
contabilidade nacional convencional para categorias clássicas/marxianas. No terceiro
capítulo aplicamos esse mapeamento nas contas nacionais brasileiras. Assim,
baseando-nos nos recentes desenvolvimentos da pesquisa empírica marxista, estamos
aptos a calcular a taxa de mais-valia, a composição valor e material do capital e a taxa
geral de lucro marxiana para os períodos entre 1990-1994, 1995-1999 e 2000-2004.
Palavras-chave: Contabilidade Social. Teoria econômica marxiana. Mais-Valia.
ABSTRACT
The aim of this dissertation is to present an empirical exercise of
transforming the official accounts into the classical/marxian analytical framework. Our
transformation procedure is based on the methodology developed by Shaikh and Tonak
(1994). Initialy we briefly present the mains theoretical aspects of the distinction between
productive and unproductive labour. In the second chapter, it is presented both the
critical analysis of the system of national accounts and the methodology for mapping
conventional national accounts into the classical/marxian categories. In the third chapter
we apply this mapping methodology to the Brazilian national accounts. Therefore, based
on recent developments in Marxian empirical research, we were able to calculate the
rate of surplus value, the value and materialized composition of capital and the general
Marxian rate of profit for the 1990-1994, 1995-1999 and 2000-2004 periods.
Keywords: National Accounts. Marxian Theory. Surplus Value.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ................................................................................ 2
2. CAPITAL PRODUTIVO E NÃO PRODUTIVO ................................. 5
2.1 A distinção entre atividades produtivas e não produtivas. ...........................................5
2.1.1 Concepções errôneas dessa distinção ...................................................................5
2.1.2 Produção, distribuição e manutenção social ........................................................8
2.2 Trabalho produtivo no capitalismo.............................................................................13
2.3 Mais-valia e lucro .......................................................................................................17
3. CATEGORIAS MARXIANAS E O SISTEMA DE CONTAS NACIONAIS.
...........................................................................................................19
3.1 Categorias Marxianas e o Sistema de Contas Nacionais: o fluxo monetário do valor19
3.2 Fluxos primários: Produção e Comércio ....................................................................19
3.1.1 A Contabilidade Social apenas com o Setor Produtivo ...................................... 20
3.1.2 Contabilidade Social com os Setores Produtivo e Comercial............................. 23
3.1.3 Outros tipos de atividades comerciais ................................................................ 27
3.2 Fluxos Secundários..................................................................................................... 27
3.2.1 Implicações gerais dos pagamentos de royalties. ............................................... 28
3.2.2 Os pagamentos de Juros......................................................................................30
3.2.3 Fluxos Secundários: Atividades Gerais do Governo .......................................... 31
3.3 Comentários finais do capítulo...................................................................................33
4. TERCEIRO CAPÍTULO ..................................................................35
4.1 As estimativas empíricas das categorias marxianas.........................................35
4.1 Os passos para o mapeamento marxiano do SNC ........................................... 37
4.2 Variáveis primárias..................................................................................................38
4.3 Emprego, salários, e o capital variável................................................................43
4.3.1 Trabalho total e trabalho produtivo.................................................................... 44
4.3.2 Salários totais e o capital variável......................................................................47
4.4 A taxa de mais-valia e a razão lucro-salário....................................................... 49
4.5 A composição valor e material do capital e a taxa geral de lucro...................52
5. CONCLUSÃO.................................................................................57
REFERÊNCIAS..................................................................................59
APÊNDICE A - Produtos Intermediários e o Cuidado com a Dupla
Contagem...........................................................................................62
APÊNDICE B - Trabalho produtivo e não-produtivo ...........................65
APÊNDICE C - Salários e o capital variável .......................................70
1.
INTRODUÇÃO
O Brasil, através do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) adota,
desde 1998, a nova versão do Sistema de Contas Nacionais (SNC) divulgado pela
Organização das Nações Unidas (ONU) em 1993 (UNITED NATIONS, 1993); este
sistema é a base para a produção das Contas Nacionais.
Contudo, como tentaremos demonstrar ao longo desse trabalho, os dados
econômicos não “falam por si”, mas dependem do quadro teórico em que se inserem.
Nesse sentido, os Sistemas de Contas Nacionais, da forma como são elaborados
atualmente, apresentam uma realidade viesada no que tange aos níveis e tendências
do produto nacional, do produto excedente, da produtividade, entre outras variáveis que
geralmente são utilizadas com base nesses sistemas.
No âmbito da economia política, por exemplo, questiona-se as evidências
estatísticas oficiais de desemprego, pobreza, subnutrição, etc., não apenas porque as
agências do status quo político social muitas vezes distorcem e distinguem a verdadeira
extensão dessas evidências, mas também porque as categorias sob as quais essas
evidências estão assentadas fazem parte da teoria ortodoxa e de seu sistema de
conceitos.
A Contabilidade Social, foco do nosso trabalho, não foge à regra. Como um
sistema de contas nos fornece um retrato parcial da realidade econômica e social dos
países ao dar forma empírica sistemática à estrutura e ao desenvolvimento de uma
economia ao longo do tempo. Em outras palavras, provê base objetiva para julgar o
nível e o progresso da riqueza das nações e para identificar as causas do sucesso ou
do fracasso da economia (SHAIKH; TONAK, 1994).
Este trabalho tem o objetivo de apresentar uma forma alternativa de estruturar a
contabilidade social de um país. Essa forma alternativa de apresentar a contabilidade
social, diferente da contabilidade social ortodoxa tradicional, se baseia nas teorias
econômicas clássicas de Smith, Ricardo e Marx, e, conseqüentemente, em seu
conjunto de conceitos.
Para tanto, iremos apresentar o SNC brasileiro de acordo com o modelo
desenvolvido por Anwar M. Shaikh e E. Ahmet Tonak em seu livro Measuring the wealth
of nations (the political economy of national accounts) de 1994.
Um dos aspectos centrais dessa abordagem teórica consiste na classificação
das diferentes atividades de uma economia capitalista como atividades produtivas e
não produtivas. O segundo capítulo irá resgatar o debate teórico que permeia estes
conceitos.
A partir da teoria econômica de Marx, especialmente dos conceitos de trabalho
produtivo e não-produtivo do ponto de vista do capital, faremos, no terceiro capítulo,
uma análise crítica do sistema de contas nacionais que é baseado no arcabouço
ortodoxo/keynesiano e apresentaremos principalmente através de um exemplo
desenvolvido por Shaikh (1978), um modelo abstrato para realizar a mensuração que
objetivamos aqui.
No quarto capítulo, à partir de uma adaptação da metodologia desenvolvida por
Shaikh e Tonak apresentada no livro Measuring the wealth of nations” (1994),
desenvolveremos um mapa conceitual entre as categorias oficiais da contabilidade
social e as categorias econômicas clássicas/marxianas, as estimativas empíricas das
categorias econômicas clássicas/marxianas serão obtidas dos dados provenientes do
SCN brasileiro.
No capítulo final apresentaremos as principais conclusões dessa dissertação, os
anexos com os pormenores do novo mapa contábil estão inclusos no final da
dissertação.
É importante ressaltar que a relevância do tema abordado aqui não se restringe
apenas ao desenvolvimento desse método alternativo de mensuração dos agregados
macroeconômicos para a economia brasileira, mas ao fato de que através da
contabilidade social clássica/marxiana tornar-se-á possível a realização de testes
empíricos sobre a validade de diversas proposições da teoria de Marx sobre as
tendências do modo de produção capitalista.
A lei da tendência declinante da taxa de geral de lucro do sistema capitalista é
um exemplo clássico. Marx, ao escrever sobre essa lei deu importância ao efeito do
aumento da composição orgânica do capital (isto é, o aumento progressivo do capital
constante em relação ao variável), porém trabalhos recentes (MOSELEY, 1997, 1989)
procuraram adicionar à explicação a distinção de Marx entre trabalho produtivo e não-
produtivo. O tema é parte, portanto, do atual arcabouço da teoria do valor.
A linha de pesquisa que iremos seguir vem estimulando também trabalhos
acadêmicos recentes em diversos países como os trabalhos de Cronin (2001), Sato
(2000), Mohum (2000) e Dumenil e Levy (2006). Além de receber crescente adesão da
comunidade acadêmica especializada; como exemplo, citamos os encontros do
International Working Group on Value Theory, realizados anualmente desde 1997 e
dedicados, sobretudo, ao estudo da relação entre o arcabouço teórico e metodológico
de Marx e as recentes interpretações da teoria do valor-trabalho. Nesse e em outros
fóruns de debate, tem-se apresentado uma literatura já relativamente abundante que
servirá de subsídio a este trabalho.
2. CAPITAL PRODUTIVO E NÃO PRODUTIVO
2.1 A distinção entre atividades produtivas e não produtivas.
A contabilidade nacional clássica/marxiana depende crucialmente da distinção
entre o trabalho que é considerado produtivo e o que não é considerado produtivo do
ponto de vista do capital. Shaikh e Tonak (1994) argumentam que essa distinção é
geralmente apresentada pela literatura de uma forma confusa e às vezes contraditória.
Neste capítulo iremos apresentar os principais aspectos dessa discussão com
base em alguns autores que vêm trabalhando recentemente com essa distinção com a
finalidade de elaborar pesquisas empíricas. Além disso, faremos uma breve análise do
artigo de Paul Singer (1981), um dos primeiros que trouxe luz à essa discussão no
Brasil. Para facilitar a exposição das diferentes abordagens, iremos seguir o esquema
dos autores supracitados e iniciar a discussão desenvolvendo distinções mais
concretas entre as duas categorias de trabalho. Pretende-se com isso chegar a uma
definição mais próxima à de Marx, que é o marco teórico deste trabalho.
2.1.1 Concepções errôneas dessa distinção
Seguindo o esquema de apresentação de Shaikh e Tonak (1994), é importante
definir sobre o que
não
se trata essa distinção.
Em primeiro lugar
, não é uma distinção
entre atividades necessárias e não necessárias.
Segundo Ian Gough (1972), a tentativa mais explícita de reinterpretar o conceito
de trabalho produtivo em termos de necessidade ou de utilidade social foi feita por Paul
Baran em seu trabalho The political economy of growth de 1957
1
. Segundo Baran, o
trabalho não-produtivo consiste em todo o trabalho resultante da produção de bens e
1
Segundo diversos autores estudados, outro trabalho clássico que adota posição semelhante à de Baran
é o trabalho de P. Sweezy de 1942 intitulado The Theory of Capitalist Development.
serviços cuja demanda seja atribuída a relações e condições específicas do sistema
capitalista e que estariam ausentes numa sociedade racionalmente organizada
(socialista). Porém, segundo Marx, as necessidades são socialmente determinadas,
portanto são moldadas, em nosso tempo, pelo modo de produção capitalista. (MARX,
2001).
Sungur e Tonak (1999) pensam de forma semelhante, para eles não é porque o
capitalismo (com sua pletora de atividades comerciais, bancárias, e de especulação
financeira) é irracional em relação ao conceito de sociedade comunista que essas
atividades sob o capitalismo são taxadas de não produtivas. Ao contrário, é por essas
atividades não serem produtivas que o capitalismo é considerado irracional.
Um dos poucos trabalhos em português sobre o tema, o artigo de Paul Singer
intitulado Trabalho produtivo e excedente, de 1981, também assume a mesma
perspectiva de Baran. Para este autor, a conceituação de trabalho produtivo deve levar
em consideração a sua determinação histórica. Ou seja, embora Singer (1981)
reconheça que “determinado trabalho só é produtivo quando realizado dentro de um
modo de produção” (e, no caso da conceituação de Marx, sua classificação é voltada
para o capitalismo), para Singer, ao contrário, todo o trabalho que satisfaz as
necessidades humanas (num sentido amplo) é trabalho produtivo; trabalhos que, ao
contrário, não satisfaçam as necessidades do homem são trabalhos considerados
improdutivos.
Sendo assim, para este autor a condição de trabalho necessário é suficiente para
se classificá-lo como produtivo. Singer (1981) admite um meio termo na classificação do
trabalho entre os dois conceitos, segundo ele:
Examinando-se o modo como evoluiu a divisão do trabalho, sobretudo nas
economias mais avançadas, parece claro que várias espécies de trabalho que não
são nem improdutivas, nem produtivas, podendo se aproximar de um ou outro pólo, em
maior ou menor grau. Isso vai depender como se conceituam as ‘necessidades
humanas’ e principalmente como se as distinguem das necessidades do sistema’
considerando-se que estas últimas dão lugar a ‘faux frais’ da produção, a falsos custos’
que, em tese, poderiam ser eliminados se a produção pudesse ser organizada em
termos inteiramente racionais. (Singer, 1981, p. 103).
O corte que Singer (1981) faz é em relação às necessidades humanas
universais, que valeriam para um sistema em que “[…] a produção pudesse ser
organizada em termos inteiramente racionais […]” (Singer, 1981, p. 103) Mas assim
como a já antes mencionada crítica à posição de Baran, como julgar o que é necessário
à vida do homem? E por que isso deve ser um parâmetro de julgamento de qual
trabalho é socialmente produtivo para o capitalismo? Talvez para uma discussão teórica
sobre o conteúdo do socialismo este marco seja importante.
Porém, para o presente trabalho, é de certa forma difícil utilizar como critério de
classificação suposições de trabalhos que poderão vir a ser não-produtivos. Tomemos
um exemplo, o caso de um caixa de supermercado. Segundo o critério de Singer,
podemos inferir que numa sociedade organizada de forma racional, como o trabalho do
caixa será menos necessário, então este trabalho é considerado não-produtivo no
presente. Porém como saber se tal atividade será desnecessária (inclusive no
socialismo) se outro sistema, de fato, não existe?
O próprio Singer admite essa confusão:
Estas questões se complicam inevitavelmente quando se introduz no raciocino o
efeito do trabalho improdutivo sobre a produtividade do trabalho produtivo. Este efeito
assume diversas formas, bastando referir nesta introdução uma das mais óbvias: a da
coerção. Por menos que nos agrade, não há como negar que o chicote do feitor aumenta
a produtividade do escravo ou, para dar um exemplo mais próximo da realidade
hodierna, tudo indica que o sistema de incentivos e punições administrado pelo
especialista em relações humanas influi na produtividade do trabalhador fabril. (SINGER,
1981, pág. 106).
Sendo assim, preferimos continuar com o marco teórico adotado por Shaikh e
Tonak (1994).
Em segundo lugar, esta distinção entre trabalho produtivo e não-produtivo não
diferencia entre atividades “boas” e “ruins”. Não se deve utilizar neste caso
demarcações de cunho moral. Por exemplo, a produção de armas nucleares, apesar de
ser considerada destrutiva e ruim, é uma atividade produtiva (SHAIKH; TONAK, 1994).
Em terceiro lugar, para fins de classificação, não será feita uma distinção
política, visto que o trabalho produtivo não é uma atribuição exclusiva da classe
trabalhadora, ou que o trabalho não-produtivo seja uma atribuição da pequena
burguesia. Embora se sustente que os conceitos de trabalho produtivo e não-produtivo
possam ter implicações políticas ao influenciarem a nossa interpretação da estrutura de
classe dos dias de hoje (GOUGH, 1972)
2
.
Finalmente
, cabe salientar que essa distinção entre trabalho produtivo e não-
produtivo não implica em igualar atividades produtivas a “bens físicos” nem atividades
não produtivas a “serviços”. Essa confusão tem origem nos economistas clássicos.
Smith estava preocupado com a questão da acumulação, e isso envolve um viés
materialista, porque apenas mercadorias materiais podem estocar trabalho (GOUGH,
1972). Marx rejeita essa associação no nível teórico e explicitamente critica Adam Smith
por confundir a “materialização do trabalho” num valor de uso com a sua incorporação
num bem físico.
2.1.2 Produção, distribuição e manutenção social
Ao analisarem o processo global de reprodução social (em qualquer sistema),
para efeito de classificação, quase todos os autores que trabalham com pesquisas
empíricas (SHAIKH; TONAK, 1994; TONAK; SUNGUR, 1999; GOUGH, 1972; CRONIN,
2001) distinguem as atividades sociais em tipos.
Por uma questão de coerência com o método a ser adotado por este trabalho,
ficaremos com a classificação de Shaikh e Tonak (1994). Para eles as atividades
podem ser divididas entre: a produção, na qual vários objetos de utilidade social
(valores de uso) o utilizados no processo de criação de novos valores de uso; o
comércio, na qual vários objetos de utilidade social são utilizados no sentido de
transferir os novos valores de uso dos seus possuidores imediatos àqueles que
pretendem utili-los; a
manutenção social e a reprodução da sociedade
, na qual
valores de uso são utilizados na administração pública e privada, na manutenção e
2
Sob essa ótica política, Ian Gough (1972) levanta duas importantes questões sobre o assunto: Primeira
questão, “Os trabalhadores produtivos serão o único grupo potencialmente revolucionário na sociedade
capitalista dada a sua situação objetiva no processo de produção, mesmo que haja outros grupos que
tenham suas características de trabalhadores assalariados?”. Segunda questão, “[…] não diferenças
potenciais nas atitudes políticas entre os trabalhadores não-produtivos: entre, por exemplo, aqueles cujas
funções são inerentes à sociedade capitalista e aqueles cujas atividades seriam mais necessárias num
modo de produção socialista?” (GOUGH, 1972 p. 71, tradução livre).
reprodução da ordem social pelo governo, no sistema judiciário, militar, na segurança
privada, etc.; o consumo pessoal, no qual os objetos de utilidade social são
consumidos diretamente pelos consumidores individuais.
De todas essas atividades, apenas as três primeiras são qualificadas como
trabalho (já que o consumo pessoal não é trabalho)
3
. Mas como apenas a primeira
atividade é que constitui produção, pode-se dizer que o trabalho não é necessariamente
sinônimo de produção.
Do ponto de vista mais geral, o processo de produção envolve a criação e a
transformação de objetos de utilidade social (de valores de uso) por meio da atividade
humana (MARX, 1970). Um objeto de uso (utilidade) social é definido como um efeito
ou coisa material, cujas propriedades satisfazem as necessidades sociais (human
wants as expressões concretas de necessidades sociais o, de modo amplo,
socialmente determinadas). o faz diferença se essas necessidades humanas “[…]
provenham do estômago ou da fantasia.” (MARX, 1970, p. 41), ou se são satisfeitas
diretamente pelo consumo desse objeto, ou indiretamente através do seu uso na
reprodução social (exemplo, distribuição ou manutenção da ordem social)
4
.
O que chamamos de objeto de utilidade social é o que Marx chama de valor de
uso: uma coisa material ou efeito, cujas propriedades objetivas (isto é, objetivadas no
espaço-tempo) tornam esse objeto algo que tenha utilidade social. Como tal essas
propriedades materiais são bem diferentes da satisfação que poderemos ter ou não
com o uso de tal objeto
5
.
3
Para Sungur e Tonak (1999) o consumo e a distribuição do produto não envolvem trabalho que a
distribuição é intimamente ligada à produção dos produtos.
4
Utilidade social é diferente de utilidade pessoal: um exemplo advindo do livro de Shaikh e Tonak (1994,
pág 28) torna isso claro. […] por exemplo, a produção de Robson Crusoé (esquecendo a presença do
Sexta-feira) não criava objetos de utilidade social. Da mesma forma, a produção feita realizada pela
agricultura familiar e consumida no âmbito dessa família, não cria qualquer objeto de utilidade social, mas
a produção levada ao mercado sim.
5
Considere, por exemplo, o caso dos serviços, um cantor que projeta o som de sua voz no ar produz um
objeto de consumo tão material que ele pode ser capturado num CD e reproduzido eletronicamente.
Nesse caso, as propriedades materiais úteis desse som soam bem diferentes da satisfação que alguém
pode derivar dele. Outro exemplo é o transporte. Se você transportar, por exemplo, laranjas do seu ponto
de produção até o seu ponto de consumo, você está transformando uma propriedade objetiva que se
refere à utilidade social da laranja, que é crucial para ela ser consumida. Uma laranja, para ser
consumida, deve estar em seu lugar de consumo, e não em qualquer lugar.
É importante entender que nem todo o transporte constitui uma atividade produtiva. Se você
utilizar o transporte, por exemplo, para deslocar pessoas que trabalham com vendas ou com negócios
Não importa o uso que as pessoas fazem de um valor de uso, o que importa é
que o trabalho que originalmente produziu esse valor de uso é um trabalho produtivo.
Um segundo ponto importante pode ser deduzido dessa discussão feita
anteriormente. Toda a teoria econômica faz distinção entre produção e consumo, e
reconhece que apenas a produção é que cria novos valores de uso ou a riqueza das
nações (em termos clássicos). Mesmo a economia neoclássica faz distinção entre a
produção que cria objetos que tenham utilidade (os argumentos da função utilidade) e o
consumo pessoal que realiza a utilidade potencial desses objetos. O que distingue a
tradição clássica/marxiana da neoclássica/keynesiana é a localização da linha divisória.
A primeira coloca as atividades de distribuição e manutenção da sociedade na esfera
das atividades não produtivas e as últimas na esfera da produção (SHAIKH; TONAK,
1994, p. 25).
Devemos examinar agora o uso de valores de uso na manutenção da ordem
social e no comércio. Para evitar qualquer tipo de confusão, devemos salientar que
Shaikh e Tonak (1994) utilizam o termo “distribuição”, e não o termo “comércio”, pois
querem caracterizar apenas aquelas atividades (não necessariamente firmas, pois
podem acontecer dentro de uma firma que realiza atividades produtivas também) que
transferem os valores de uso, os títulos, ou a moeda de uma gama de indivíduos para
outra. Porém para a língua portuguesa este termo está fortemente associado ao
marketing ou à logística, por isso utilizaremos o termo comércio.
Embora as atividades de comércio transformem os valores de uso que elas
colocam em circulação, essas transformações são relacionadas apenas às suas
propriedades como objetos de posse e apropriação, e não às propriedades que os
definem (os valores de uso) como objetos de utilidade social. O exemplo apresentado
por Shaikh e Tonak (1994) ajuda a esclarecer essa questão: caixa que vende entradas
num show está realizando uma atividade bem diferente de um cantor que canta uma
música. A atividade do cantor resulta na criação de um valor de uso, enquanto que a
atividade do caixa circula títulos que dão direito aos seus proprietários a assistir o show
de música.
financeiros, esse transporte seria classificado como um transporte de passageiros que operam no setor
comercial. (SHAIKH; TONAK, 1994).
Seguindo os exemplos de Shaikh e Tonak (1994), atividades de propaganda e de
vendas possuem as mesmas características, porque seus objetivos não são os valores
de uso em si, mas sim, dar o conhecimento de e o desejo por eles e permitir a
transferência da propriedade no caso do comércio. Claro que isso não impede uma
companhia de propaganda levar a cabo atividades produtivas como, por exemplo,
produzir um comercial. De forma similar, como o dinheiro é um meio de circulação,
todas as atividades que lidam com ele caem na categoria de trabalho “distributivo”
(SHAIKH; TONAK, 1994, pág 27).
Finalmente, temos todas aquelas atividades que são realizadas em torno da
manutenção e da reprodução da ordem social. Polícia, bombeiros, tribunais e prisões
envolvem a proteção de pessoas, de propriedades, e as relações sociais que lhe
circundam. Defesa nacional e relações internacionais fazem a mesma coisa, mas em
escala mundial. Atividades públicas em geral (administração pública, assistência social,
pensões, seguridade social, etc.) caem na mesma categoria. Mas nem todas as
atividades são da esfera pública. Segurança privada, por exemplo, utiliza valores de
uso como insumos materiais para realizar atividades destinadas a proteger, manter,
administrar e reproduzir a ordem social, portanto, são atividades bem diferentes dos
trabalhos produtivos. O fato das atividades relacionadas acima muitas vezes serem
realizadas através do estado não significa que todas as atividades estatais possuem
aquelas características. Você pode ter, por exemplo, empresas estatais de energia,
como a Petrobrás, que realizam atividades produtivas, ou empresas de distribuição e
armazenamento, como a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) que
realizam atividades de comércio.
Da mesma maneira, pessoas ou firmas podem realizar mais de um tipo de
atividade (produtiva ou não). Por exemplo, o funcionário do McDonald’s enquanto frita
um hambúrguer está realizando uma atividade produtiva e enquanto está no caixa
realiza uma atividade comercial. Podemos ver que a fronteira entre a produção e o
comércio está sendo atravessada pela mesma pessoa nesse caso. Entretanto a
fronteira continua muito real, se uma loja do MacDonald’s expandir suas atividades
numa escala considerável, os caixas e os cozinheiros irão realizar atividades sempre
diferentes, porém, simultâneas.
Das três atividades não produtivas mencionadas acima (comércio, manutenção
da ordem social e consumo individual), as duas primeiras (distribuição e manutenção da
ordem) envolvem o desempenho de trabalho, enquanto que a terceira (consumo
individual) não. Entretanto, elas possuem em comum a propriedade de que todas
utilizam valores de uso em suas atividades, porém sem, em contrapartida, resultarem
na criação de uma nova riqueza. Como tais, elas devem se apoiar na riqueza física ou
não física existente. Elas são, em outras palavras, similares ao consumo pessoal, pois
seu resultado líquido é consumir uma porção do produto social: trabalho não-produtivo
é uma forma de consumo social. “Isso é precisamente o motivo pelo qual os
economistas clássicos insistiram em distinguir entre o trabalho de produção (produtivo)
e o de não produção (não-produtivo)” (SHAIKH; TONAK, 1994, p. 32).
O ponto de partida da discussão foi, portanto, definir o conceito de trabalho
produtivo aplicável a todos os modos de produção, definir o trabalho produtivo em geral
(SUNGUR; TONAK, 1999; GOUGH, 1972; MARX, 1980).
Agora iremos considerar as atividades relacionadas acima em relação às
relações sociais específicas sob as quais elas devem ser conduzidas. De forma ampla,
o trabalho pode ser conduzido para uso direto, para vender pela troca de algum outro
produto, e para vender para auferir lucro. Cada tipo representa uma relação social
distinta sob a qual o processo de trabalho é organizado e desenvolvido. Apenas a
última delas representa o trabalho organizado de forma capitalista, na qual os
capitalistas adiantam capital na forma de salários para comprar e utilizar a força de
trabalho por um determinado período.
2.2 Trabalho produtivo no capitalismo
O trabalho organizado de forma capitalista não é apenas o trabalho assalariado,
a venda da força de trabalho não é uma condição suficiente para a existência de
trabalho produtivo sob o capitalismo, por isso devemos fazer uma distinção, por um
lado, entre o trabalho comprado com a renda (que não produz mais-valia, trabalho de
empregada doméstica, por exemplo) e, por outro, o trabalho comprado com capital
(SUNGUR; TONAK, 1999). Porém, ainda assim, isso cobre não apenas os trabalhos
produtivos, mas também os trabalhos de manutenção da ordem social e do comércio,
visto que todos são organizados de forma capitalista.
Agora considere cada uma dessas atividades. Todos os tipos de produção
produzem valores de uso. Na medida em que a produção é organizada para o uso
direto, como em famílias ou em produções comunais, ela produz apenas valores de
uso. Na medida em que for organizada para ser vendida por renda, como numa
produção simples de mercadorias, produz valores de uso que são simultaneamente
valores (materializações do tempo de trabalho abstrato). Finalmente, na medida em que
a produção é para vender para se obter lucro, ela representa a produção de
mercadorias capitalista que produz não apenas valores de uso, mas também mais-valia
(TAUILE, 2001).
Marx considera trabalho produtivo do ponto de vista do capital apenas o trabalho
que cria mais-valia, que reproduz diretamente o capital (SHAIKH; TONAK, 1994;
TONAK; SUNGUR, 1999; GOUGH 1972; CRONIN, 2001). Todos os outros tipos de
trabalho são considerados não-produtivos do ponto de vista do capital não porque
produzam valores de uso diretamente ou mercadorias, e sim porque não reproduzem o
capital (SHAIKH; TONAK, 1994).
O fato de que todo o trabalho outro que não o empregado de forma capitalista
ser não-produtivo do ponto de vista do capital não nega de maneira nenhuma as
especificidades individuais desse trabalho. A produção simples de mercadorias e os
trabalhos familiares possuem efeitos diferentes na reprodução capitalista, mesmo que
ambos produzam valores de uso. Por exemplo, suponha que num particular estágio
do desenvolvimento econômico metade do padrão de vida da classe trabalhadora é
garantido pelo trabalho doméstico (não pago), e a outra metade por mercadorias
compradas pelo salário. Se, com o passar do tempo, os valores de uso diretamente
produzidos no âmbito familiar forem trocados por produtos advindos da produção
simples de mercadorias, então, para manter o mesmo padrão de vida o poder de
compra da classe trabalhadora deve aumentar para o dobro do seu nível inicial, tudo o
mais constante.
Portanto, um dado padrão de vida pode corresponder a diferentes valores da
força de trabalho, e também, de taxas de mais-valia, dependendo da proporção na qual
os produtos dos dois tipos de trabalho não-produtivos entram no padrão de vida. A taxa
de mais-valia apenas depende do período do dia de trabalho e do valor unitário da força
de trabalho em cada caso, tudo o mais constante. Porém esse valor unitário da força de
trabalho não é independente das condições sob as quais os trabalhos que levam a
cabo produções não capitalistas existem. Essas considerações são especialmente
importantes no contexto do Terceiro Mundo (SHAIKH; TONAK, 1994).
De uma forma similar, mesmo que as pessoas do comércio ou os militares, por
exemplo, sejam em primeiro lugar trabalhadores, eles não possuem o mesmo impacto
na reprodução do capital, visto que seus trabalhos não são vinculados diretamente à
reprodução da classe trabalhadora.
É importante notar que todo o trabalho empregado de forma capitalista é
explorado pelo capital, sendo ele produtivo ou não. A taxa de exploração de cada é a
sua respectiva taxa de tempo de trabalho excedente sobre o tempo de trabalho
necessário. O tempo de trabalho necessário é simplesmente o valor da força de
trabalho envolvida, ou seja, o valor trabalho do consumo anual médio dos trabalhadores
nas atividades em questão. Tempo de trabalho excedente é o excesso do tempo de
trabalho sobre o tempo de trabalho nec’essário. No caso dos trabalhadores produtivos,
sua taxa de exploração é também a taxa de mais-valia, dado que seu tempo de
trabalho excedente é a mais-valia. (SHAIKH; TONAK, 1994).
Os exemplos que foram colocados serviram para enfatizar que a distinção entre
trabalho produtivo e não-produtivo é necessária, porém não suficiente para a análise da
reprodução. É necessário também saber a composição do trabalho não-produtivo e a
sua interação com os circuitos do capital e das rendas. Por isso que Shaikh e Tonak
(1994) iniciam sua análise com uma distinção geral entre a produção, a distribuição e a
manutenção social, e as atividades de consumo pessoal, ao invés de meramente iniciar
com a definição marxiana de trabalho produtivo.
Tanto a economia clássica quanto a economia marxiana enxergam a distribuição
e as atividades de manutenção social como formas de consumo social - elas são partes
do consumo social em oposição ao consumo pessoal. A economia ortodoxa toma o
caminho exatamente oposto.
Para ilustrar essa afirmação, citamos uma famosa passagem de Marx em seu
Teorias da Mais-valia (1951), na qual ele coloca que:
Only bourgeois narrow-mindedness, which regards the capitalist forms of
production as absolute forms—hence as eternal, natural forms of production—
can confuse the question of what is productive labour from the standpoint of
capital with the question of what labour is productive in general, or what is
productive labour in general; and consequently fancy itself very wise in giving the
answer that all labour which produces anything at all, which has any kind of
result, is by that very fact productive labour. (MARX, 1951, p. 105)
A economia ortodoxa argumenta que a distribuição e a manutenção social são
formas de produção. Para ela o comércio é tão necessário quanto a produção, e essa
necessidade é manifestada no fato de que o comércio “transforma” uma mercadoria
numa mercadoria diferente quando as pessoas estão desejando pagar para obterem
essa transformação.
Como vimos, o comércio transforma de fato uma mercadoria alterando sua
propriedade. É uma transformação completa do ponto de vista do vendedor, porém as
características que definem seu valor de uso permanecem as mesmas (SHAIKH;
TONAK, 1994). Você pode obter a propriedade de uma mercadoria não apenas através
do comércio, você pode rou-la, ganhá-la, etc.
O trabalho do comércio, por exemplo, produz serviços ou seja, efeitos úteis
pelos quais alguém está disposto a pagar. Desse ponto de vista a atividade comercial é
a mesma que a de produção, já que ambas são necessárias. Dessa forma a definição
ampliada de produção passa a incluir todos os serviços que possam se tornar
mercantis.
Conforme argumentam Shaikh e Tonak (1994), para o economista prático, que
reúne os dados e tornam essas definições algo concreto, isso leva aos seguintes
critérios operacionais: se algo é vendido, ou poderia ser vendido, então é definido como
produção (muitos componentes da contabilidade social atual dependem em alto grau de
um valor monetário imputado a eles). Portanto dentro da contabilidade ortodoxa
comerciantes de mercadorias, guardas privados, e mesmo exércitos privados são todos
considerados produtores do produto social, porque alguém está pagando pelos seus
serviços. São produtores também todos os empregados do governo e os militares,
nesse caso porque seus empregos pelo estado geralmente significam que a sociedade
os como necessários. Para os economistas ortodoxos, todo o trabalho é produtivo, e
a distinção entre produção e consumo se torna sinônimo da distinção entre trabalho e
lazer.
Num nível mais abstrato, o argumento ortodoxo depende da noção de que tornar
algo mercantil é sinônimo de produzir. Mas num nível mais concreto, mercantilizar é
apenas uma medida da habilidade de atrair moeda, mas é evidente que fluxos
monetários não são sinônimos de contra fluxos de nova riqueza.
Qualquer formação social capitalista é uma mistura de relações de produção
capitalistas e não capitalistas, nas quais o primeiro tipo domina. Porém a dominância do
capital não deve obscurecer o fato de que todas as esferas participam na reprodução
da formação social, e que a esfera capitalista não é independente das outras (SHAIKH;
TONAK, 1994). Isso gera uma série de novas considerações principalmente para nós,
economias do dito Terceiro Mundo.
A primeira questão é sobre a diferença entre a riqueza produzida de forma
capitalista e a nova riqueza total. falamos que todos os tipos de trabalho produtivos
criam nova riqueza. Porém, o trabalho produtivo doméstico ou de produção simples
criam valores de uso que são suportes de valor que objetivam uma renda e não o lucro.
Segundo Shaikh e Tonak (1994), o trabalho produtivo capitalista cria valores de
uso que são tanto suporte de valor e de mais-valia, como possuem o objetivo de fazer
lucro; tal trabalho cria o capital na forma mercadoria. A riqueza das nações capitalistas
de forma geral engloba todas as três formas, em proporções que variam ao longo do
tempo, espaço, e estágio de desenvolvimento capitalista. Mas nem todas são
capturadas nas contabilidades convencionais.
A produção de mercadorias e a produção capitalista de mercadorias são bem
cobertas porque o produto é vendido por moeda, e muitos dos produtos não
mercantilizados (tais como a produção agrícola consumida diretamente, reparos
próprios nas residências, etc.) são capturados imputando-lhes um valor monetário.
Mas a contabilidade nacional oficial ainda deixa de fora o valor imputado da
produção doméstica. Mas, visto que a nossa preocupação é uma alternativa à
contabilidade oficial para atividades mercantis, nós não iremos lidar com atividades
ilegais ou não mercantis no nosso trabalho. Tais questões, porém, são importantes em
qualquer desenvolvimento ulterior.
2.3 Mais-valia e lucro
A próxima questão é sobre as relações entre o lucro e a mais-valia. É bem
conhecido que, ao nível abstrato da teoria marxista, o volume dos lucros é
simplesmente a expressão monetária do volume total de mais-valia. Porém o lucro
monetário pode surgir também de transferências entre o circuito do capital e outras
esferas da vida social.
Segundo Shaikh e Tonak (1994), Marx chamou essa última forma de lucro de
lucro advindo da alienação, o qual diferente do lucro que advém da mais-valia é
fundamentalmente dependente de algum tipo de troca desigual. Sua existência (desse
lucro-alienação) nos permite resolver o famoso problema da diferença entre a soma dos
lucros e a soma das mais-valias, que surge quando se transformam valores em preços
de produção. Mais importante até, nos permite explicar por que no capitalismo pode
surgir um lucro de esferas não capitalistas sem nenhuma criação de mais-valia.
Considere, por exemplo, uma permuta entre uma tribo não capitalista e um
mercador capitalista. O mercador compra armas no mercado londrino por $100,
permuta por peles advindas da tribo, e vende as peles por $250 em Londres. O
mercador ganha $150, que cobre tanto os custos do mercador quanto seus lucros. Não
nenhum aumento correspondente na mais-valia. Nenhuma perda na tribo que
compense o ganho do mercador, desde que eles tenham trocado uma gama de
produtos por outra gama desejável de produtos. O lucro parece surgir do nada, do ar.
Como isso é possível?
A resposta está no fato de que diferentes medidas de ganho foram aplicadas
através dos dois pólos da transação. A tribo opera no circuito de troca direta de
mercadorias, M
1
- M
2
. A comparação que se tem nesse circuito é em termos da
utilidade social. No outro pólo, os mercadores operam dentro do circuito do capital
comercial D M
1
M
2
D’. Porque apenas um dos pólos é avaliado em termos
monetários, qualquer ganho monetário registrado lá não tem uma contrapartida no outro
pólo, sendo assim, um ganho monetário líquido aparece para o sistema como um todo.
Se ambos os pólos fossem tratados da mesma maneira, seria óbvio que o ganho
monetário de um lado deveria aparecer necessariamente como uma perda monetária
do outro lado.
Resultados similares podem ser derivados para transferências entre a esfera
capitalista e a esfera da pequena produção (artesãos que cobram por seus produtos
muito menos do que valem no mercado capitalista), ou mesmo internamente ao setor
capitalista (roubos de objetos sem seguro, por exemplo).
Quer se deixar claro que mesmo num nível abstrato, o lucro total engloba tanto o
lucro advindo da mais-valia como o lucro advindo da alienação. Num nível mais
concreto, devemos admitir algum lucro advindo da alienação derivado de transferências
entre os capitais nacionais e outros capitais estrangeiros e não capitais. A questão aqui
não é a de fluxos monetários de lucros, dividendos, e juros, mas ao invés, da diferença
entre a soma de tais fluxos e a mais-valia que os dá sustentação no capitalismo
moderno. Principalmente em países em desenvolvimento, é necessário separar
explicitamente lucro advindo de mais-valia do advindo de alienação (SHAIKH; TONAK,
1994), porém esta questão não terá tratamento neste trabalho.
Veremos mais detidamente no próximo capítulo, através de exemplos, por onde
caminham os fluxos monetários.
3. CATEGORIAS MARXIANAS E O SISTEMA DE CONTAS NACIONAIS.
3.1 Categorias Marxianas e o Sistema de Contas Nacionais: o fluxo monetário do valor
Neste capítulo utilizamos como base um exemplo desenvolvido por Shaikh
(1978), para apresentar de forma abstrata um mapeamento das categorias marxianas a
partir das categorias convencionais da contabilidade social. Apenas no próximo capítulo
será realizada a aplicação prática do modelo desenvolvido por Shaikh e Tonak (1994)
para o Sistema de Contas Nacionais (SCN) do Brasil.
Nossa análise empírica da economia brasileira é em grande parte baseada no
tratamento exaustivo que Shaikh e Tonak (1994) dão às categorias da contabilidade
nacional e das matrizes de insumo-produto disponíveis para a economia americana.
Dessas categorias eles construíram todas as principais variáveis marxianas, são elas: o
valor total da produção (VT), o valor adicionado (VA), o capital constante (C), o capital
variável (V) e a mais-valia (S).
Seguindo os desenvolvimentos analíticos apresentados por Shaikh eTonak
(1994), os setores (tais como a produção e o comércio) que estão diretamente
envolvidos na produção e na realização (venda) doméstica das mercadorias advindas
da produção total serão chamados de setores primários. Os outros setores
(instituições financeiras, aluguel de imóveis e a administração pública) envolvidos na
subseqüente corrente que circula novamente os valores originalmente produzidos nos
setores primários serão chamados de setores secundários.
Tal distinção está enraizada na abordagem marxiana da reprodução capitalista, e
sua racionalidade se tornará evidente assim que prosseguirmos com o capítulo.
Começaremos com as análises dos setores primários e depois seguiremos com os
vários componentes dos setores secundários.
3.2 Fluxos primários: Produção e Comércio
Esta seção irá lidar apenas com os fluxos primários. Iniciaremos considerando
somente as atividades consideradas produtivas (que pertencem ao setor produtivo), e
depois iremos analisar o setor produtivo e o setor comercial juntos.
Retomando o capítulo anterior, de forma sucinta, quando nos referimos à
produção, queremos nos referir àquelas atividades que criam ou transformam objetos
materiais de uso social (valores de uso). Como foi dito no capítulo anterior, essa
definição cobre não apenas bens materiais, mas também os ditos serviços tais como o
transporte, o entretenimento, serviços de hotelaria, restaurantes, serviços públicos de
eletricidade, serviços públicos de saneamento básico, etc.
A definição de comércio, por outro lado, abrange além do comércio em geral, os
aluguéis de máquinas, equipamentos e prédios (os aluguéis representam um pedaço da
vida útil do valor de uso do produto) e qualquer transporte que envolva algum comércio.
3.1.1 A Contabilidade Social apenas com o Setor Produtivo
Comecemos com o circuito simples do capital industrial (D M...P...M’ D’),
apresentado por Marx. Nesse circuito, dinheiro (D) paga pelo aluguel da força de
trabalho (F
t
, em horas) e matérias-primas ou materiais necessários à produção (M
p
tal
que M
p
+ F
t
= M). Na seqüência se leva à cabo a produção (...P...) de uma nova
mercadoria (M’), se adicionando valor ao final do processo de produção (M’ – M > 0).
Todas as mercadorias são vendidas por seus preços diretos, e para simplificar
vamos supor que $ 1 = 1 hora de tempo de trabalho abstrato socialmente necessário.
Embora isto seja um recurso para facilitar a notação, essa suposição simplifica a nossa
exposição permitindo que uma magnitude do valor (com unidades diferentes)
represente o valor trabalho total e também sua expressão monetária.
Uma vez introduzidas as atividades comerciais, nós necessitaremos distinguir
entre o preço dos produtores (o preço pelo qual o produto é vendido pelo produtor ao
comerciante) e o preço final de venda cobrado pelo comerciante (o qual inclui seu
markup). Sempre que o markup for positivo, haverá uma transferência de valor do setor
produtivo para o setor comercial.
Nenhum dos resultados que iremos apresentar dependesignificativamente se
os preços dos produtores ou os preços que chegam aos consumidores dos produtos
desviam ou não dos seus correspondentes valores. Apesar desses desvios, a soma
total dos preços dos produtores individuais são uma proxy para o valor do produto total.
Seguindo o exemplo de Shaikh (1978), vamos supor que o processo de
produção de um ano consuma materiais que equivalem a 30 milhões de horas de
trabalho morto (ou seja, trabalho materializado num período anterior), 60 milhões de
horas de trabalho vivo, mais a adição de instrumentos de produção que equivalem a
100 milhões de horas e que duram 10 anos em média. O capital constante transferido
ao produto final é, portanto, equivalente a 40 milhões de horas (30 dos materiais
consumidos mais 10 da depreciação do capital constante fixo), e o valor adicionado
pelo trabalho em um ano equivale a 60 milhões de horas. O processo de produção leva
exatamente um ano e pode-se representá-lo assim:
40c + 60v = 100vt (milhões de horas), onde:
C = capital constante transferido (Milhões de horas)
V = valor adicionado pelo trabalho vivo (Milhões de horas)
VT = valor total do produto (Milhões de horas)
Se o valor da força de trabalho envolvida no processo é de 20 milhões de horas,
a mais-valia será de 40 milhões de horas.
Desde que todos os preços são preços diretos, e desde que a forma monetária
do dinheiro é uma hora por unidade monetária ($), toda a forma monetária será
proporcional ao valor trabalho. Seja:
C* = forma monetária do capital constante (Milhões de $)
V* = forma monetária do capital variável (Milhões de $)
S* = forma monetária da mais-valia (Milhões de $)
Do ponto de vista da teoria neoclássica/keynesiana, o circuito do capital
produtivo descrito acima será caracterizado em termos de custos intermediários,
salários e lucros. Seja:
m = custo monetário dos produtos intermediários da produção ($ Mi)
w = custo monetário dos salários (Milhões de $)
π
= lucros monetários (Milhões de $)
Neste nível de abstração, os elementos correspondentes das duas teorias terão
as mesmas magnitudes (embora, claro, diferentes explicações). Dessa forma, podemos
representar a contabilidade ortodoxa e a marxiana como na Figura 3.1.1. O que tem um
p
na frente representa o setor produtivo, que é o único setor que nós estamos
considerando até agora.
Figura 3.1.1
Nota-se que o “valor adicionadona contabilidade marxiana é o capital variável
somado com a mais-valia, enquanto o “valor adicionado(Produto Nacional Líquido) na
contabilidade ortodoxa é a soma dos salários e lucros. No diagrama acima e em todos
os outros que serão utilizados neste capítulo, as porções relativas à mais-valia em cada
tipo de contabilidade serão representadas por hachuras.
3.1.2 Contabilidade Social com os Setores Produtivo e Comercial.
Iremos ampliar a apresentação do modelo para incluir o setor comercial. A
estrutura relativa ao setor produtivo será a mesma do caso anterior, porém, agora, a
produção e o seu valor são mediados pelas atividades de comércio.
Agora, a realização do produto mercantil é concretizada em duas etapas em vez
de uma: primeiro, o setor produtivo vende o produto ao setor comercial por $ 65
milhões, depois o setor comercial vende o produto ao consumidor final pelo seu preço
direto (i.e. pelo preço proporcional ao seu valor) de $ 100 milhões.
A diferença entre o preço recebido pelo produtor (preço do produtor) e o preço de
venda (preço do comprador) é a “margem de comércio” do setor comercial, $ 35
milhões. É o fundo com o qual o setor comercial paga seus custos de circulação, e
também recebe seus lucros. Seguindo o exemplo de Shaikh (1978), vamos supor que
esses custos são de $ 20 milhões para os materiais e instrumentos e utilizados no
comércio, e $ 10 milhões para os salários dos trabalhadores do setor. Isso deixa
apenas $ 5 milhões como parte da margem bruta do setor de comércio a qual toma
forma de lucro comercial.
Do ponto de vista marxiano, isso apenas divide a mais-valia em lucros e custos
de circulação. A mais-valia total, ou seja, o trabalho excedente total, representado pelas
40 milhões de horas, agora toma a forma de $ 5 milhões em lucro para o setor
produtivo, $ 30 milhões para os custos da circulação, e $ 5 milhões para os lucros do
setor distributivo.
Estas questões, entretanto, aparecem de forma bem diferente na abordagem da
teoria neoclássica/keynesiana. Nesta, a introdução do setor comercial é tratada como a
introdução de um novo setor de produção a produção de “serviços” de comércio, de
distribuição. Além de que, quando o setor comercial é visto como um setor separado,
seus “custos intermediários” irão incluir não apenas os $ 30 milhões dos custos atuais
de circulação, mas também $ 65 milhões os quais os capitalistas do comércio devem
desembolsar para comprar mercadorias do setor produtivo (por isso que a análise
ortodoxa é tão enfática quanto à dupla-contagem)¹
6
.
As duas concepções são comparadas na Figura 3.1.2 a seguir. O subscrito
d
é
agora introduzido para denotar o setor comercial (d, do inglês, distributive). A área
indicada por linhas hachuradas representa a forma monetária da mais-valia. Na
contabilidade marxiana ela aparece numa área única; na contabilidade social essa
mesma área aparece dividida entre indústrias, assim como entre várias categorias.
Figura 3.1.2
1
O apêndice A fará uma breve discussão sobre a questão da dupla contagem.
Podemos fazer várias observações importantes nos baseando nas comparações
feitas acima. Como ilustrado na Figura 3.1.1, a divisão da mais-valia de forma nenhuma
muda a sua magnitude. A única diferença é que anteriormente a mais-valia aparecia na
forma de lucro sozinha, agora ela toma a forma de lucro do setor produtivo (π
p
) mais a
margem bruta do comércio (m
d
+w
d
+
π
d
). Como anteriormente, o capital variável (v*) é
igual aos salários dos trabalhadores do setor produtivo (w
p
). As expressões corretas
para o valor adicionado (s*+v*) e para a taxa de mais-valia (s*/v*) são as listadas na
Figura 3.1.2.
Dentro da contabilidade ortodoxa, entretanto, o Produto Nacional Líquido (PNL) é
agora menor que antes e sua divisão proporcional entre salários e lucros está agora
alterada. Anteriormente, os salários totais w
p
equivaliam a v* e o os lucros totais (
π
p
)
equivaliam a s*, portanto o PNL era igual ao valor adicionado em termos marxianos.
Com a introdução do setor comercial, o PNL do setor produtivo é diminuído pela
margem de lucro bruta do comércio (m
d
+w
d
+
π
d
). Esse último montante se mostra
como a renda total do setor de comércio (ou distributivo). Mas, desse total, apenas (w
d
+
π
d
) aparece como o PNL do setor comercial, o restante (m
d
) é classificado como parte
dos “custos intermediários” deste setor. O PNL agregado é, portanto, reduzido por
aquela parte da mais-valia que toma a forma de custos materiais do comércio (m
d
); é
agora menor que o valor adicionado (v* + s*) exatamente por esse montante (m
d
).
Da mesma forma, a divisão do PNL agregado entre salários e lucros é também
alterada. Aquela parte da mais-valia que toma a forma de salários dos trabalhadores do
setor de produção está junta com os salários dos trabalhadores do setor comercial, sob
a rubrica geral de “salários”, portanto w = w
p
+ w
d
> v*, pois v* = w
p
. Ao mesmo tempo,
apenas aquela parte da mais-valia que toma a forma de lucro aparece sob a categoria
“lucros”, assim, π = π
p
+ π
d
< s*, pois s* = π
p
+ π
d
+ m
d
+w
d
.
Segue, portanto, que a razão lucro-salário é duplamente rebaixada relativamente
à taxa de mais-valia, pois seu numerador é menor que s* e seu denominador é maior
que v*.
Em resumo, a exisncia de um setor de comércio implica que o PNL irá
subestimar o valor agregado em termos marxianos (v* + s*), e a razão lucro-salário
(
π
/w) irá subestimar duplamente a taxa de mais-valia (s*/v*) e conseqüentemente a taxa
de exploração.
Em relação à Figura 3.1.2,
PNL = 40 < v* + s* = 60
π
/w = 33,33% < s*/v* = 200%.
Finalmente, deve-se notar que, ao longo do tempo, se uma maior porção de
mais-valia tendesse a ser absorvida pelos custos de circulação (m
d
+w
d
), o viés para
baixo do PNL e da razão lucro-salário (
π
/w) vis-à-vis o valor adicionado (v* + s*) e a
taxa de mais-valia (s*/v*), respectivamente, cresceria ao longo do tempo.
Dado, portanto, que a produção e o comércio são os setores através dos quais o
produto na forma de mercadorias é produzido e realizado (enquanto realização do
valor), as receitas totais obtidas pelos dois setores representam o preço total do produto
(VT*). Nas Tabelas de Recursos e Usos do Sistema de Contabilidade Nacional, essa
receita total conjunta iaparecer como os produtos totais dos setores produtivos GO
p
(do inglês gross output) e comercial GO
d
. Não serão incluídas as receitas (ou os
produtos totais) de nenhum setor secundário porque tais receitas são originadas nas
transferências de porções dos fluxos de valor dos setores primários, sendo assim, as
receitas dos setores secundários já forma contabilizadas nos setores de origem.
Shaikh (1978) mostrou que sempre é possível encontrar as seguintes
igualdades: o valor total VT* = GO
p
+GO
d
, capital constante C* = m
p
, capital variável V =
w
p
, e o número de empregados produtivos igual ao número de trabalhadores ligados
diretamente à produção (L
p
). Por isso, de forma geral, cada uma dessas categorias
marxianas serão sempre menores que seus contrapontos ortodoxos Produto Total
(GO), Consumo Intermediário (M), Salários em geral (W) e emprego (L, do inglês
Labour), precisamente porque essas medidas contam o comércio, a renda da terra,
finanças, e uma gama de outras atividades não produtivas como sendo tamm formas
de produção.
3.1.3 Outros tipos de atividades comerciais
As atividades comerciais abrangem não o comércio em si, mas também as
atividades de transporte / distribuição e o aluguel de prédios e equipamentos. Como é
difícil estimar a porção da atividade de transportar que é produtiva da que não é,
assumimos, em nossas estimativas empíricas (ver próximo capítulo), que toda a
atividade de transporte é produtiva.
A atividade de aluguel de prédios e equipamentos também deve ter um
tratamento especial. Na Contabilidade Nacional este serviço é separado em três
componentes. O primeiro é um componente fantasioso conhecido como “Serviços de
incorporação, compra e venda de imóveis por conta própria.” (IBGE, 2007), esse item
surge do fato de que a Pesquisa Anual de Serviços (IBGE, 2005b) e a o Sistema de
Contas Nacionais (SCN) tratam as pessoas que possuem uma casa própria como
locadores das próprias casas. Essa atividade deve ser descartada por inteira. O
segundo componente é a Administração, corretagem e aluguel de imóveis de
terceiros”, essa atividade será removida para o setor secundário já que essas atividades
circulam novamente as rendas que foram produzidas no setor primário. A terceira
atividade, de “Aluguel de veículos, máquinas e objetos pessoais e domésticos”, se
aproxima mais do que queremos chamar de venda e aluguel de imóveis e
equipamentos, que envolve a venda direta ou de um pedaço de uma mercadoria
produzida e deve, portanto ser atrelada ao setor de comércio em geral.
3.2 Fluxos Secundários
As atividades de produção e de comércio obtêm suas rendas diretamente da
venda de mercadorias. Esses fluxos primários por sua vez dão vazão a uma série de
fluxos secundários, tais como o pagamento da renda da terra (aqui me refiro ao
pagamento ao aluguel da terra, de minas, etc.), cobranças do setor financeiro, de
royalties, de taxas e impostos.
Setores secundários são definidos dessa forma pelo fato de que eles derivam
suas rendas da recirculação dos fluxos monetários gerados pelos setores primários, ou
da circulação de títulos socialmente validados sobre porções desses fluxos primários,
ou ambos. Assim, a renda da terra (em sua forma “pura”, em oposição à renda obtida
de aluguéis de equipamentos ou de prédios, que foi analisada) é um royalty pago
pelo acesso a terra, juros são um royalty pago pelo acesso ao dinheiro e ao crédito, e
uma patente ou outro tipo de taxa um royalty pago pelo acesso uma processo particular
de algum tipo. A venda da terra, de instrumentos financeiros, ou de alguma patente
somente faz circular esses títulos. Uma conclusão similar se aplica aos impostos, os
quais são quase literalmente pagamentos de royaltys às autoridades sociais.
A partir dessas definições podemos perceber que o produto total é produzido e
realizado no setor primário, não podemos, portanto contar as renda recebidas pelos
setores secundários como medidas de alguma produção adicional que emana desses
setores. Não podemos, portanto, contar essas rendas na medida do produto total. Os
fluxos secundários são partes das transações totais, mas não do valor total (VT) ou do
produto total.
3.2.1 Implicações gerais dos pagamentos de royalties.
Iremos apresentar agora os efeitos dos fluxos secundários na produção, no
produto total, no valor adicionado e no produto líquido, assim como no cálculo do lucro.
Consideremos, por exemplo, a renda da terra, que é o tributo pelo qual uma “[...]
parte da sociedade paga para ter a permissão de habitar a terra.” (SHAIKH; TONAK,
1994). Como tal, não deve ser confundida com o aluguel de uma casa, pois este
representa os juros e a amortização do capital investido na construção da casa. O
aluguel é simplesmente uma maneira de vender o valor de uso de uma mercadoria (tal
como uma casa). Claro que a renda de um condomínio simultaneamente incorpora a
renda do terreno sob o qual está construído, e geralmente os pagamentos de renda
levam isso em consideração. Mas os dois elementos são bem diferentes teoricamente.
Continuando com o exemplo que estamos apresentando neste capítulo, vamos
supor agora que uma parte dos lucros de cada setor (produtivo e distributivo) paga a
renda da terra digamos $3000 de cada setor. A renda total do recém criado setor
rentista (definido pelo subscrito
r
”) soma, portanto, $6000, dos quais, digamos, $1000
são custos intermediários m
r
(custos de transação), $2000 são custos de salários w
r
(pessoal de vendas, contadores, etc.) e $3000 é o lucro do setor rentista
π
r
.
Dentro da contabilidade marxiana, essa divisão a mais do lucro entre renda da
terra e o (agora reduzido) lucro é apenas uma melhor (re)divisão da mais-valia. A
massa de mais-valia continua a mesma pela sua operação: assim o valor adicionado v*
+ s*, e a taxa de mais-valia (s*/v*) permanecem as mesmas.
Do ponto de vista da contabilidade ortodoxa, as coisas aparecem muito
diferentes. Em primeiro lugar, a esfera da produção está agora sendo expandida pela
produção de “serviços do setor de rendas” geralmente os serviços “executados” pela
Terra. Em segundo lugar, para os capitalistas dos setores produtivo e comercial, a
renda (RY
p
+ RY
d
) aparece como um custo, e, portanto, é tratada como tal na
contabilidade social e aparece como consumo intermediário, ao mesmo tempo, as
receitas desses pagamentos aparecem como as receitas totais do setor rentista (GO
r
=
R
p
+ R
d
).
Assim os lucros desses setores são reduzidos pela soma dos pagamentos das
rendas ($6000) o que implica numa redução de mesmo montante no PNL total. Esses
$6000 em pagamentos de renda em conseqüência aparecem como a renda total do
setor rentista, mas apenas $5000 aparece como o PNL desse setor (visto que $1000 é
absorvido pelos custos intermediários desse setor), e disso, apenas $3000 aparece
como lucro do setor (já que $2000 vai para o pagamento de salários).
Em resumo, dos $6000 de redução nos lucros dos setores produtivo e comercial,
apenas $3000 aparece como lucro do setor rentista, enquanto $2000 toma a forma de
salários desse setor.
Os lucros totais dos ts setores sofrem uma redução de $3000 e os salários
totais uma redução líquida de $2000, assim o PNL total sofre uma redução líquida de
$1000. O PNL agora está num patamar de $39 milhões ao contrário do valor adicionado
marxiano de $100 milhões, e a razão lucro-salário (
π
/w) é agora 22%, bem menor que a
taxa de mais-valia (s*/v*) de 200%. A figura 3.3.1 traça estas mudanças.
Figura 2.3.1
3.2.2 Os pagamentos de Juros
Um cenário muito parecido pode ser feito com a adição dos juros. Da mesma
forma como foi desenvolvido para a renda da terra, os juros pagos pelos três diferentes
setores (produtivo, comercial e rentista) aparecerá para eles como um aumento nos
seus custos e uma redução nos seus respectivos lucros, enquanto isso, os juros
aparecerão simultaneamente como renda do setor financeiro.
Apenas parte dessa renda irá reaparecer como lucros do setor financeiro, o resto
indo para salários e custos intermediários. Mais uma vez, portanto, os lucros totais
serão reduzidos, os salários totais serão expandidos, e o PNL total diminuirá.
3.2.3 Fluxos Secundários: Atividades Gerais do Governo
Em relação a tributação, o modelo de Shaikh e Tonak, distingue os impostos
pessoais (impostos de renda, impostos sob os salários, etc.) dos impostos sobre os
negócios (contribuição sobre o lucro líquido, etc.).
A tributação que incide sobre os negócios é dividida entre dois tipos básicos.
Primeiro existem os impostos sobre os negócios diretos, tais como os impostos sobre a
renda líquida (renda bruta, menos deduções) das empresas. Em geral, essa taxação
equivale à divisão dos lucros entre o estado e o capital. E como tal, os impostos diretos
que incidem sobre negócios não apresentam dificuldades conceituais, e para o
propósito desta dissertação, é suficiente se trabalhar com a noção de que esses
impostos que incidem sob o lucro são um componente direto da mais-valia.
A segunda principal forma de tributação que incide nos negócios são os impostos
indiretos sobre os negócios, tais como o ICMS. Para os capitalistas esses tributos
aparecem como custos e são tratados dessa forma na contabilidade ortodoxa. Como
todos os custos adicionais, este tributo reduz o lucro mensurado. Mas na contabilidade
ortodoxa, tributos indiretos e outras taxas são retidos como parte do PNL sob a insígnia
separada “Impostos líquidos de subsídios sobre a produção e a importação”. Assim, a
introdução de impostos (ou tributos) indiretos sob os negócios não alteram os salários
totais, reduz o lucro total, mas deixa o PNL inalterado. Em termos marxianos, por outro
lado, o capital variável permanece inalterado, porém agora a mais-valia adquire uma
nova forma, a de tributos indiretos sobre os negócios.
3.2.3.1 O Capital Variável e o Estado
Olhemos agora para o imposto de renda sobre pessoa física. Esses impostos se
referem aos impostos deduzidos das rendas dos trabalhadores e da renda pessoal dos
capitalistas (o que é oposto da “renda líquida”, ou seja, dos lucros, dos empresários).
Mas tanto os trabalhadores quanto os capitalistas também recebem transferências e
subsídios (de consumo, por exemplo) do Estado, numa variedade de formas. Eis que
surge, portanto, a seguinte questão: como e em que medida nós contabilizamos esses
fluxos provenientes do estado?
A renda pessoal do capitalista é ela mesma uma derivação da mais-valia,
originando-se da parte da mais-valia que toma forma de dividendos, salários dos
executivos, etc. Assim, ao medir a massa de mais-valia nós não temos que nos
preocupar com o quanto dessa renda é retida pelos capitalistas e quanto é retirada pelo
estado. Essa divisão, mais para frente, i, certamente, modificar as últimas formas da
mais-valia, mas não irá mudar sua massa.
No caso da renda dos salários, dependerá totalmente se o trabalho assalariado
em questão é trabalho produtivo ou não. Os salários dos trabalhadores não-produtivos
são tanto um componente direto da mais-valia, como no caso dos trabalhadores do
setor distributivo (ou de trocas), ou são derivações dos componentes diretos da mais-
valia, como no caso dos trabalhadores empregados pelo estado em atividades não
produtivas e mantidos pelas receitas de impostos derivadas direta ou indiretamente da
mais-valia.
Em cada caso, para os nossos, a divisão da renda nominal dos trabalhadores
não-produtivos em salários efetivos e em impostos líquidos (impostos menos
transferências e subsídios) não irá mudar a taxa de mais-valia.
os salários dos trabalhadores produtivos são uma questão bem diferente,
visto que é o nível destes salários que determina quanto de um dado tempo de trabalho
é tempo de trabalho necessário e portanto quanto desse tempo se constitui em tempo
de trabalho excedente.
Em outras palavras, os salários dos trabalhadores produtivos, tudo o mais
constante, determinam a massa de mais-valia. E sendo assim, é de importância crucial
medir o impacto dos tributos líquidos sob esses salários. Por exemplo, se os salários
dos trabalhadores produtivos são reduzidos porque a tributação quida é positiva, e
sendo assim, o salário efetivo dos trabalhadores produtivos o menores que seus
salários nominais, o capital variável é reduzido e a mais-valia expandida. O fato dessa
mais-valia expandida não necessariamente ir para os capitalistas, mas ao invés, ir para
as mãos do estado ou mesmo para os trabalhadores não-produtivos ou
desempregados, não muda a questão em nenhum ponto.
De nenhuma forma a mais-valia é confinada à renda líquida disponível para o
capital; nós já vimos que ela pode ser absorvida em parte como custos materiais e
salários do setor comercial, em impostos indiretos, em rendas, e por vai, nenhuma
das quais constituindo a “renda líquida” do capital.
3.3 Comentários finais do capítulo
A discussão dos tributos e dos gastos nos uma oportunidade de enfatizar
certos aspectos críticos dos conceitos marxianos e de mostrar como estes aspectos
influem nessa discussão. Em primeiro lugar, como já foi dito, a distinção marxiana entre
trabalho produtivo e não-produtivo não implica de maneira nenhuma que um tipo de
trabalho é mais necessário que o outro. Ao contrário, seria um absurdo conceber a
reprodução capitalista sem atividades de troca, seria como concebê-la sem a atividade
de produção. Ambas são absolutamente necessárias.
Exatamente da mesma forma, a concepção marxiana da reprodução capitalista
implica que o Estado é absolutamente necessário. A reprodução capitalista necessita
de um estado capitalista, e nesse sentido a produção de mais-valia é
indissociavelmente conectada com o estado e suas atividades, assim como com a
esfera da circulação e suas atividades complementares.
O fato da produção e da circulação (comércio) serem ambas necessárias para a
reprodução social não altera o fato de que elas são bem diferentes uma da outra. É na
produção que a mais-valia é criada e na circulação que é compartilhada como lucros,
custos do comércio, tributos sobre as empresas, etc. Desse ponto de vista, nós
devemos formular dois tipos de perguntas sobre o impacto econômico do estado.
Primeiro, como o estado participa diretamente no processo de produção e distribuição?
E segundo, qual seria o efeito provável de alguma mudança na política ou na atividade
do estado?
Nesse trabalho nós estamos apenas preocupados com as questões do tipo. A
participação direta do estado na produção é mensurada pela produção estatal em si. No
caso dos departamentos de águas, estações elétricas, correios, etc., o estado emprega
trabalho assalariado cuja mais-valia é realizada através das vendas de seu produto. A
contabilidade social trata isto como parte do setor de negócios; a categoria de “serviços
industriais de utilidades públicas” (IBGE, 2007), por exemplo, cobre ambas as utilidades
privadas e públicas. Em nosso mapeamento, também trataremos isso como empresas
capitalistas.
A participação direta do estado na distribuição, por outro lado, existe através das
taxas, transferências e a oferta de bens e serviços de consumo subsidiados. Aqui,
como discutido no começo da seção 3.2.3, o que é crítico é o impacto líquido do estado
nos salários dos trabalhadores produtivos.
Como foi utilizado acima, o termo “impacto líquido” se refere à tributação líquida
que é resultado das atividades atuais do estado. A base para essa discussão é a conta
salarial monetária presente dos trabalhadores produtivos, para a qual são adicionados
os impostos pagos por eles menos as transferências e a oferta de bens e serviços de
consumo dos trabalhadores que é subsidiada através do gasto estatal.
Levantando a diferença entre o salário nominal e o efetivo, nós estamos apenas
corrigindo o salário aparente para o impacto dos impostos e transferências. Em si
mesmo, isso não requer julgamento sobre a necessidade ou a não necessidade desses
impostos e transferências, nem sobre o que pode ocorrer se alguma delas ou todas
fossem reduzidas ou expandidas. Nós estamos, em outras palavras, respondendo o
primeiro tipo de questões através desse capítulo, embora, claro, nós devemos utilizar
bem o conhecimento do que ocorre na verdade.
4. TERCEIRO CAPÍTULO
Neste capítulo faremos, a partir dos modelos de Shaikh e Tonak (1994) e Shaikh
(1978) apresentados no capítulo anterior, o mapeamento dos dados da contabilidade
social brasileira para as categorias analíticas clássicas/marxianas. O objetivo específico
deste capítulo é construir as mensurações empíricas das seguintes categorias
analíticas: (i) capital constante, (ii) capital variável, (iii) taxa de mais-valia, (iv) razão
lucro/salário, (v) composição valor do capital e (vi) composição material do capital.
Utilizaremos, principalmente, o Sistema de Contas Nacionais (SCN), inclusive a
nova série do SCN, referência 2000, construída e divulgada pela Coordenação de
Contas Nacionais (CONAC) do IBGE em março de 2007 (IBGE, 2007).
4.1 As estimativas empíricas das categorias marxianas
O cálculo empírico das categorias analíticas marxianas que realizamos para a
economia brasileira é embasado pelas discussões teóricas desenvolvidas nos capítulos
anteriores. As estimativas e as ries foram construídas a partir da base de dados
disponível para o Brasil, porém algumas diferenças entre o método de Shaikh e
Tonak (1994) e aplicação prática desse método em nossa análise.
Apesar de termos como base metodológica o livro de Shaikh e Tonak (1994), o
mapa que foi desenvolvido nesse trabalho não segue à risca o mapa desenhado pelos
dois autores em relação ao sistema de contabilidade nacional dos Estados Unidos. Isso
se deve, fundamentalmente, pelas diferenças existentes nos sistemas de contabilidade
social nacionais. Ou seja, o sistema de contabilidade social de um determinado país
leva em consideração as especificidades das suas estruturas econômica e social, a
disponibilidade dos dados, os métodos de pesquisa, a tipologia censitária, etc.
Nas palavras de Paulani e Braga, (2003, p. 26) “De fato, várias podem ser as
maneiras de se apresentarem as informações do sistema de contas nacionais sem que
sejam desrespeitados os conceitos básicos que lhes dão origem. Em função disso, o
formato concreto do sistema pode variar, e de fato varia, de país para país.”
Shaikh e Tonak (1994) iniciam suas estimativas empíricas utilizando as seis
matrizes de insumo produto dos EUA (1947, 1958, 1963, 1967, 1972, 1977) disponíveis
até a época da publicação de seu livro (1994) para conseguir dados de referência, que
são convertidos em séries anuais através da utilização de dados do Sistema de
Contabilidade Nacional daquele país²
7
.
No caso do Brasil, a primeira matriz insumo-produto completa foi construída
apenas em 1985 pela Fundação IBGE e a sua segunda sistematização data de 1990. A
matriz insumo-produto é fundamental para a elaboração do mapeamento das
categorias analíticas entre esses dois sistemas de contabilidade social; ela fornece, por
exemplo, os dados para se estimar o consumo intermediário (o capital constante “C” em
termos marxistas) das diversas atividades da economia.
O IBGE adota, desde 1998, uma nova forma de apresentar o SCN, o qual se
baseia no System of National Accounts (SNA) elaborado pela Organização das Nações
Unidas (ONU) em 1993. A série histórica apresentada pelo IBGE cobre o período de
1990 a 2004.
O novo SCN é mais complexo e rico em informações do que o sistema que
vigorava antes. Dentre os instrumentos adicionais que foram acrescentados à esse
novo sistema, o que mais se destaca e foi utilizado em nosso trabalho por sua riqueza
em informações é a tabela de recursos e usos de bens e serviços (TRU).
A TRU apresenta de uma vez a oferta, a produção, a importação, o consumo
intermediário, a demanda final e o valor adicionado de cada setor da economia
brasileira, sendo que o valor adicionado aparece decomposto, fornecendo informações
preciosas para a nossa análise, como por exemplo, a remuneração dos trabalhadores
de cada setor, os impostos que incidem sobre as remunerações, o rendimento dos
trabalhadores autônomos, o número de pessoas ocupadas por setor, etc.
Devemos salientar que em março deste ano (2007) o IBGE divulgou uma nova
série do sistema de contas nacionais SCN. A nova série das contas nacionais tem
como referência inicial o ano 2000 (ao contrário da série anterior que tinha como ano
2
E da utilização de métodos de interpolação e extrapolação de dados, dos quais não lançamos mão
nesse trabalho.
base 1985), um maior detalhamento de atividades econômicas e produtos para as
Tabelas de Recursos e Usos ampliando o número de setores da matriz insumo-produto.
Para o período anterior a 2000 realizou-se a retropolação³
8
dos dados até 1995,
dentro das disponibilidades de informações para o período, estimando-se uma nova
série de Tabelas de Recursos e Usos de 1995 a 1999, porém considerando a estrutura
antiga da TRU; os dados, entretanto, estão encadeados com a nova série no ano 2000
(IBGE, 2007).
Isso terá impactos profundos nas nossas estimativas, pois não há uma referência
única. Apesar dos dados que interessam serem todos relativos
4
9
(taxa de mais-valia,
taxa de lucro, relação do trabalho produtivo sobre o trabalho total, etc.), o fato da
metodologia de cálculo ter mudado, dando maior importância, por exemplo, ao setor de
serviços, dá um impacto significativo nos valores que iremos calcular.
As tendências devem ser consideradas, portanto, por períodos, de 1990 a 1994
(antigo sistema de contas nacionais), de 1995 a 1999 (antigo sistema, porém com os
dados atualizados pela base 2000) e de 2000 a 2004 (novo sistema de contas
nacionais).
4.1 Os passos para o mapeamento marxiano do SNC
O primeiro passo para iniciar a construção do nosso mapa das categorias
marxianas e para se estimar as categorias marxianas é diferenciar quais setores das
atividades econômicas descritos nas Tabelas de Recursos e Usos são setores
produtivos do ponto de vista do capital e quais não são. Classificamos os diferentes
setores do SCN brasileiro da forma que aparece na Tabela 4.1.
Os setores são construídos “[...] à partir da agregação de empresas com
estruturas relativamente homogêneas de consumo e produção.” (IBGE, 2007). As
empresas são classificadas pelo IBGE em função da sua produção principal. A nova
série do SCN compõe as atividades econômicas (por exemplo, minério de ferro,
³ Retropolação é uma espécie de extrapolação dos dados às avessas, é a inferência de dados passados
à partir de dados referência.
4
E terem como referência os valores correntes, ou seja, não foram utilizados deflatores, o que não é
problema, pois como já foi dito, são as variáveis relativas que interessam.
álcool, cimento, educação mercantil, intermediação financeira e seguros, etc.) a partir
da agregação de empresas ou unidades locais classificadas nas pesquisas estruturais
do IBGE ou nos registros administrativos, segundo a Classificação Nacional das
Atividades Econômicas – CNAE.
Tabela 3.1
Tabela 3.1
O PRODUÇÃO
COMÉRCIO
FINANÇAS PRIVADAS
GOVERNO
DUMMY
01. Agropecria 09. Serviços não produtivos 09. Corcio 10. Instituições Financeiras 12. Administração Pública 13. Dummy Financeiro
02. Ind. Extrativa 11. Aluguéis
03 Ind. da Transformação
04. Serv. Ind. de Util. Pública
05. Construção Civil
06. Transportes
07. Comunicações
08. Serviços produtivos
Contas Nacionais e o Mapa Marxiano
4.2 Variáveis primárias
Consideremos inicialmente o valor total da produção em termos monetários
(VT*). Por definição nós podemos escrever que o VT* é igual à soma da produção bruta
do setor produtivo (GO
p
) e do setor comercial (GO
d
),
VT* = GO
p
+ GO
d
,
as quais por sua vez são compostas pelos insumos (M*), os royalties pagos (RY*) e o
valor adicionado bruto marxiano (GVA*). Ou seja,
GO
p
= M
p
´+ RY
p
+ {GVA
p
} e
GO
d
= M’
d
+ RY
d
+ {GVA
d
}
Obteremos uma estimativa do capital constante em termos monetários igualando
o consumo intermediário dos setores produtivos C* = M
p
. O valor adicionado marxiano
em termos monetários é obtido através da subtração do valor total pelo consumo
intermediário, VA* = VT* - C*.
Os autores do modelo referência (SHAIKH; TONAK, 1994) consideram as
transferências ao setor de royalties parte do valor total; nas Tabelas de Recursos e
Usos (TRU) do Brasil, as transferências do setor comercial (RY
d
) e do setor produtivo
(RY
p
) ao setor de royalties aparecem como consumo intermediário (insumo) das
atividades comerciais e produtivas.
As Tabelas 4.2 apresentam as categorias marxianas primárias. Adicionamos à
essas tabelas, para efeito de comparação, duas categorias do Sistema de
Contabilidade Nacional, a saber, o Valor Total da Produção (VTP) e o Produto Interno
Bruto (PIB), ou seja, as contrapartidas oficiais, respectivamente, ao Valor Total (VT*) e
ao Valor Adicionado (VA*) em termos marxianos. Pelo fato de não termos considerado
todos os setores da economia como setores produtivos do ponto de vista do capital, os
valores oficiais serão maiores que os valores marxianos
5
10
. Ao final das tabelas podemos
encontrar comparações entre os dois tipos de medidas.
5
O IBGE, através das Tabelas de Recursos e Usos, considera que o setor da Administração Pública, por
exemplo, adiciona valor à economia. A contabilidade social considera que este setor participa da
produção total. Nossa abordagem, todavia, não computou as atividades produtivas da administração
pública, pois não dados disponíveis. Assim consideramos essa atividade como parte do consumo
social e não como produtora de valor e, portanto, de mais-valia.
Tabelas 4.2
Fontes
Variáveis
1990
1991
1992
1993
1994
TRU (tab2) VT* = Valor da Produção (dado direto da Tabela) 45.234.700 221.101.263 2.450.922.495 55.319.199 481.589.955
TRU (tab2)
VT* = GO
p
+ GO
tt
+S.D. (Valor da Produção)
45.234.700 221.101.263 2.450.922.495 55.319.199 481.589.955
TRU (tab2)
GO
p
= M'
p
+RY'
p
+GVA
p
40472734 198.576.554 2.208.230.719 49.564.027 433.946.439
TRU (tab2)
M'
p
= C* (Consumo Intermediário Setor Produtivo)
24388814 117395869 1.292.781.880 28.035.912 243263038
TRU (tab2)
GVA
p
= (Valor Adicionado)
p
16083920 81180685 915.448.839 21.528.115 190683401
TRU (tab2)
GO
tt
= M'
tt
+RY'
tt
+GVA
tt
4761966 22524709 242691776 5755172 47643516
TRU (tab2)
M'
tt
1780213 8282767 99.087.634 2.532.901 18.382.139
TRU (tab2)
GVA
tt
2981753 14241942 143.604.142 3.222.271 29.261.377
VA* = TV* - C*(=M
p
) (Valor Adicionado Marxiano)
20.845.886 103.705.394 1.158.140.615 27.283.287 238.326.917
TRU (tab2) Valor Total da Produção 61.350.949 306.408.318 3.497.670.523 80.593.732 653.189.671
TRU (tab2) VAB (Valor adicionado bruto = PIB) 31.759.185 165.786.498 1.762.636.611 38.767.062 349.204.682
Comparações
VT*/VTP 0,74 0,72 0,70 0,69 0,74
VA*/VAB
0,66
0,63
0,66
0,70
0,68
Medidas Marxianas Primárias (valores correntes)
Tabela 3.2
Sistema de Contabilidade Nacional Brasileiro
Fontes
Variáveis
1995
1996
1997
1998
1999
TRU (tab2) VT* = Valor da Produção (dado direto da Tabela) 780.987 914.303 1.013.548 1.041.587 1.168.388
TRU (tab2)
VT* = GO
p
+ GO
tt
+S.D. (Valor da Produção)
780.987 914.303 1.013.548 1.041.587 1.168.388
TRU (tab2)
GO
p
= M'
p
+RY'
p
+GVA
p
684.341 806.908 894.538 920.557 1.036.658
TRU (tab2)
M'
p
= C* (Consumo Intermediário Setor Produtivo)
397.329 470.077 518.916 535.834 608.795
TRU (tab2)
GVA
p
= (Valor Adicionado)
p
287.012 336.831 375.623 384.724 427.863
TRU (tab2)
GO
tt
= M'
tt
+RY'
tt
+GVA
tt
96645,94397 107395,2652 119010,2327 121029,025 131730,0324
TRU (tab2)
M'
tt
24.515 29.949 33.847 35.664 39.039
TRU (tab2)
GVA
tt
72.131 77.446 85.164 85.365 92.691
VA* = TV* - C*(=M
p
) (Valor Adicionado Marxiano)
383.658 444.226 494.633 505.753 559.593
TRU (tab2) Valor Total da Produção 1.155.223 1.372.658 1.530.772 1.600.813 1.749.704
TRU (tab2) VAB (Valor adicionado bruto = PIB) 705.641 843.966 939.147 979.276 1.065.000
Comparações
VT*/VTP 0,68 0,67 0,66 0,65 0,67
VA*/VAB
0,54
0,53
0,53
0,52
0,53
Medidas Marxianas Primárias (valores correntes)
Sistema de Contabilidade Nacional Brasileiro
Fontes
Variáveis
2000
2001
2002
2003
2004
TRU (tab2) VT* = Valor da Produção (dado direto da Tabela) 1.389.393 1.539.252 1.761.457 2.139.364 2.497.860
TRU (tab2)
VT* = GO
p
+ GO
tt
+S.D. (Valor da Produção)
1.389.393 1.539.252 1.761.457 2.139.364 2.497.860
TRU (tab2)
GO
p
= M'
p
+RY'
p
+GVA
p
1.234.933 1.371.066 1.576.553 1.914.479 2.237.277
TRU (tab2)
M'
p
= C* (Consumo Intermediário Setor Produtivo)
740.370 835.413 961.632 1.190.216 1.387.236
TRU (tab2)
GVA
p
= (Valor Adicionado)
p
494.563 535.653 614.921 724.263 850.041
TRU (tab2)
GO
tt
= M'
tt
+RY'
tt
+GVA
tt
154460 168186 184904 224885 260.583
TRU (tab2)
M'
tt
46.185 48.642 55.513 69.125 76.819
TRU (tab2)
GVA
tt
108.275 119.544 129.391 155.760 183.764
VA* = TV* - C*(=M
p
) (Valor Adicionado Marxiano)
649.023 703.839 799.825 949.148 1.110.624
TRU (tab2) Valor Total da Produção 2.003.571 2.213.156 2.538.937 2.992.739 3.432.735
TRU (tab2) VAB (Valor adicionado bruto = PIB) 1.179.482 1.302.136 1.477.822 1.699.948 1.941.498
Comparações
VT*/VTP 0,69 0,70 0,69 0,71 0,73
VA*/VAB
0,55
0,54
0,54
0,56
0,57
Medidas Marxianas Primárias (valores correntes)
Sistema de Contabilidade Nacional Brasileiro
O Gráfico 4.2 apresenta a tendência das categorias que constituem o valor total
(VT = C* + V* +S*). Como mencionado anteriormente, dadas as diferentes
metodologias utilizadas pelo IBGE para calcular as TRUs, ao analisar os gráficos deste
trabalho, devemos considerar cada um dos três intervalos de tempo de forma isolada
(1990 a 1994, 1995 a 1999 e 2000 a 2004).
Percebe-se que nos três períodos a massa do capital variável em relação ao
valor total (V*/VT*) decresce de forma acentuada. No primeiro período, por exemplo,
uma queda de 13,8%; a participação da mais-valia no valor total (S*/VT*) aumenta
expressivamente no primeiro período (1990 a 1994), cerca de 14,4%, e fica mais ou
menos estável dentro dos períodos subseqüentes, porém sua participação no valor total
decresce. O capital constante permanece mais ou menos estável nos três períodos,
percebe-se, portanto, que o trade off mais significante se entre a massa de mais-
valia e o capital variável.
Componentes do Valor Total
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
V*/TV S*/TV C*/TV
Gráfico 3.2
O Gráfico 4.2a mostra uma relação estável entre a participação da
produção bruta do setor produtivo (GO
p
) e do setor comercial (GO
d
) na composição do
valor total.
Produção e Distribuição
0
1
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004
GOd
GOp
Gráfico 4.2a
4.3 Emprego, salários, e o capital variável.
Nossa base de dados primária para estimar o emprego e os salários é o SCN.
Para diferenciar o emprego total, L, do emprego produtivo nós utilizamos o conceito de
“trabalhadores ligados à produção”
6
11
, conceito utilizado nas pesquisas setoriais do
IBGE. Para os salários nós utilizamos o conceito de remuneração (EC, do inglês,
economic compensation), o qual inclui os salários dos empregados mais as
contribuições dos empregadores ao sistema de seguridade social. A remuneração e
não o salário é a medida correta para o capital variável, pois ela representa o custo total
da força de trabalho para o capitalista.
Os dados do SCN não fazem distinção entre os trabalhadores produtivos e não-
produtivos. Para tal distinção nós utilizamos os dados presentes nas pesquisas setoriais
6
Este conceito será melhor explicitado no apêndice B, transcrevemos a definição para cada setor da
economia, e explicamos como estimamos os trabalhadores produtivos nos setores que não possuem
pesquisa adequada.
do IBGE. Quase todos os setores da economia possuem uma pesquisa específica;
delas o SCN extrai, por exemplo, os índices de produção dos 110 produtos que
aparecem na atual matriz insumo-produto do país. Além disso, algumas dessas
pesquisas trazem uma diferenciação do emprego “ligado à produçãodo emprego total,
assim como diferencia o volume dos salários dos trabalhadores “ligados à produção” do
volume total de salários.
Este é o caso da Pesquisa Industrial Anual Empresa (PIA) que fornece dados
sobre os setores da indústria extrativa e da transformação, da Pesquisa Anual da
Indústria da Construção (PAIC) que fornece dados sobre o setor de construção e da
Pesquisa Anual dos Serviços (PAS) que fornece dados sobre os setores de serviços
produtivos ou não. Há setores que são também considerados produtivos por nós,
porém eles não possuem esse nível de diferenciação dos dados nas pesquisas: são
eles os setores da ligados à agropecuária e os serviços de utilidade pública (água, gás
e eletricidade), sendo que este último setor não possui pesquisa anual. O tratamento
que demos à essa lacuna consta nos apêndices B e C.
A partir dos dados dessas pesquisas calculamos as taxas de trabalho produtivo
para cada setor da economia. Essas taxas são depois aplicadas aos dados do SCN que
consideram o emprego total e, dessa forma, conseguimos separar os dados em
componentes diferentes. Essa combinação entre as pesquisas e o SCN também é
utilizada para estimarmos o volume de salários produtivos (EC
p
), que é a nossa
estimativa do capital variável (V*). O volume de salários dos trabalhadores não-
produtivos é derivado da diferença entre a massa total de salários da economia e o
volume dos salários dos trabalhadores não-produtivos (EC
u
= EC - EC
p
).
4.3.1 Trabalho total e trabalho produtivo
Para fins dos cálculos realizados, definiu-se que o trabalho produtivo é aquele
trabalho de produção realizado em setores de produção capitalista, a saber:
agropecuária, indústria extrativa, construção civil, utilidades públicas, indústria da
transformação e serviços produtivos (transporte, armazenagem e correio, serviços de
informação, serviços de manutenção e reparação, serviços de alojamento e
alimentação, educação mercantil, saúde mercantil, entre outros serviços).
Essa definição exclui, portanto, o trabalho não-produtivo (atividades de compra e
venda, serviços não-produtivos, etc.) realizado nos setores produtivos; também exclui
todo o trabalho empregado nos setores não-produtivos tais como o comércio e o setor
financeiro. Sendo assim uma forma para se estimar o trabalho produtivo total é calcular
a soma dos trabalhadores produtivos de cada setor produtivo. O trabalho não-produtivo
é a soma dos trabalhadores não-produtivos em cada setor produtivo e de todos os
trabalhadores dos outros setores
7
12
. Listando os setores produtivos como j = 1,...,k e os
setores não-produtivos como j = k+1, ..., n, nós calculamos,
Lj = emprego total no jésimo setor = emprego total + empregados autônomos
(origem SCN);
Lpj = emprego total do “pessoal ligado á produção” (origem PAI, PAIC, PAS);
L =
Σ
Lj = emprego total;
(Lp/L)’j = taxa do trabalho produtivo/emprego total no jésimo setor produtivo, j =
1,...,k ;
(Lp) =
Σ
(Lp)j = total do trabalho produtivo;
Lu = L – Lp = total do trabalho não-produtivo.
Tabelas 4.3.1
Tabela 3.3
Variáveis
1990
1991
1992
1993
1994
L
54.464.700 54.427.300 54.594.400 54.765.500 54.669.100
L
p
33.035.371 32.707.328 32.522.436 32.302.795 32.054.238
L
21.429.329 21.719.972 22.071.964 22.462.705 22.614.862
1,542 1,506 1,473 1,438 1,417
L
p
/L
0,607 0,601 0,596 0,590 0,586
Variáveis
1995
1996
1997
1998
1999
L
62.790.755 61.147.701 61.967.776 61.629.222 65.019.081
L
p
37.947.672 36.457.931 36.921.845 36.384.341 38.827.687
L
24.843.083 24.689.771 25.045.931 25.244.881 26.191.394
1,527 1,477 1,474 1,441 1,482
L
p
/L
0,604 0,596 0,596 0,590 0,597
7
Deveríamos separar também os trabalhadores produtivos dos não-produtivos nos setores não-
produtivos, assim como fazemos para os setores produtivos, porém não há dados suficientes.
Variáveis
2000
2001
2002
2003
2004
L
78.972.347 79.544.414 82.633.249 84.034.981 88.244.954
L
p
48.058.965 42.051.804 42.546.972 42.826.560 45.294.161
L
30.913.382 37.492.610 40.086.277 41.208.421 42.950.793
1,555 1,122 1,061 1,039 1,055
L
p
/L
0,609 0,529 0,515 0,510 0,513
Podemos perceber através do Gráfico 4.3.1 que, enquanto o trabalho total cresce
ao longo do tempo, o trabalho considerado produtivo não acompanha essa mesma taxa
de crescimento do trabalho total; a razão trabalho produtivo sobre trabalho total (L
p
/L)
decresce ao longo de todo o histórico de dados (1990 a 2004) 15,3%, enquanto que a
razão trabalho não-produtivo sobre trabalho produtivo (L
u
/L
p
) aumenta 46% no mesmo
período. No período entre 2000 e 2004 esse fenômeno é mais visível. O apêndice B
mais detalhes sobre os cálculos.
Trabalho Total e Produtivo
0
20.000.000
40.000.000
60.000.000
80.000.000
100.000.000
1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
L Lp
Gráfico 4.3.1
4.3.2 Salários totais e o capital variável.
Como foi dito, nossa medida básica dos salários deve incluir além dos salários
propriamente ditos, as contribuições sociais efetivas e os rendimentos de autônomos,
os quais são chamados nas TRUs de rendimento misto bruto”, que estes
complementos são partes do custo total da força de trabalho. Assim como foi feito para
calcular o trabalho total, nós dividimos as remunerações totais em remunerações dos
trabalhadores produtivos e não-produtivos.
ECj = remuneração total no jésimo setor = salário total + contribuição social
efetiva + rendimento misto bruto (origem SCN);
Wpj = remuneração total do “pessoal ligado á produção” no jésimo setor (origem
PAI, PAIC, PAS);
W = Σ ECj = remuneração total;
(Wp/EC)’j = taxa da remuneração produtiva/ remuneração total no jésimo setor
produtivo, j = 1,...,k ;
(Wp)j = Σ (ECp)j = V* = total das remunerações do trabalho produtivo = capital
variável total;
(Wu) = EC – V* = remunerações totais dos trabalhadores não-produtivos;
Alguns setores tais como o setor agropecuário e o de utilidades públicas não
possuem em suas pesquisas (sendo que o último não possui nem pesquisa)
diferenciação em relação aos trabalhadores ligados à produção. O setor de serviços
mostra apenas o montante dos salários para cada tipo de ocupação (serviços prestados
à famílias; serviços de informação; serviços prestados à empresas; transportes,
serviços auxiliares ao transporte e correios; atividades imobiliárias e de alguel de bens e
imóveis; serviços de manutenção e reparação e outras atividades de serviços) e, por
conta disso, não conseguimos extrair da Pesquisa Anual do Serviço (PAS, IBGE) uma
boa proxy para definir o volume dos trabalhos ligados à produção. A solução adotada
consta no apêndice B e C.
Tabela 4.3.2
Tabela 3.3.2
Variáveis
1990
1991
1992
1993
1994
EC = W
16.295.968 79.005.220 858.749.462 19.503.469 156.440.508
(EC
5.147.901 25.447.046 268.308.056 5.895.684 47.196.887
(EC
11.148.067 53.558.174 590.441.406 13.607.785 109.243.621
V*/W
0,32 0,32 0,31 0,30 0,30
L
0,65 0,66 0,68 0,70 0,71
L
p
/L
0,61 0,60 0,60 0,59 0,58
Variáveis
1995
1996
1997
1998
1999
EC = W
378.647 449.603 483.979 508.491 542.070
(EC
137.934 166.256 179.270 184.944 199.806
(EC
240.713 283.347 304.709 323.547 342.263
V*/W
0,36 0,37 0,37 0,36 0,37
L
0,94 0,97 0,98 1,00 0,97
L
p
/L
0,52 0,51 0,50 0,50 0,51
Variáveis
2000
2001
2002
2003
2004
EC = W
613.332 672.428 752.004 853.935 954.440
(EC
278.773 308.381 339.100 408.109 457.041
(EC
334.559 364.047 412.904 445.826 497.399
V*/W
0,45 0,46 0,45 0,48 0,48
L
0,64 0,89 0,94 0,96 0,95
L
p
/L
0,61 0,53 0,51 0,51 0,51
Podemos ver nas tabelas e no Gráfico 4.3.2 que uma tendência de queda
tanto na razão trabalho produtivo/trabalho total, como na relação remuneração dos
trabalhadores produtivos/remunerações totais, essa queda é muito parecida no primeiro
período (1990 a 1994), respectivamente 3,6% e 4,5%, no período seguinte uma leve
queda na razão L
p
/L de 1,8% enquanto que a razão V*/W* cresce 1,2%. No terceiro
período as duas razões repetem o movimento do período anterior, a primeira decresce
15,7% e a segunda sobre 5,3%.
O Gráfico 4.3.2 mostra que a razão dos salários V*/W* muda menos que a razão
entre o nível de emprego L
p
/L. Pode-se concluir disso que o motivo do declínio relativo
da razão dos salários é em parte explicado pelo declínio na relação entre os trabalhos.
Salário e Trabalho Produtivo
0,250
0,350
0,450
0,550
0,650
1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Lp/L V*/W
Gráfico 4.3.2
4.4 A taxa de mais-valia e a razão lucro-salário
A estimativa do capital variável na seção anterior nos permite calcular a mais-
valia. Por definição,
S* = VA* - V* = mais-valia (na forma monetária);
S*/V* = taxa de mais-valia;
É interessante, e de praxe, comparar essas medidas marxianas com as suas
contrapartidas ortodoxas. Seja,
(P
+
) = PNL – EC – IP = lucro líquido de impostos sobre a produção.
onde:
EC = salário total + contribuição social efetiva + rendimento misto bruto;
PNL = Produto Nacional Líquido (Demanda Final) ou Valor Adicionado
8
13
;
IP = impostos líquidos de subsídios sobre a produção e a importação;
(P
+
)/EC = razão lucro-salário;
As Tabelas 4.3 apresentam as variáveis que apresentamos.
Tabelas 4.4
Fontes
Variáveis
1990
1991
1992
1993
1994
Tabs Variável Setor Primário. 2 (NSCN)
S* = VA* - V* mais valia (em sua forma monetária) 15.697.985 78.258.348 889.832.559 21.387.603 191.130.030
Tabs Variável Setor Primário. 2 (NSCN)
VA* (valor adicionado) 20.845.886 103.705.394 1.158.140.615 27.283.287 238.326.917
Tabs Variável Setor Primário. 2 (NSCN)
V* (capital variável) 5.147.901 25.447.046 268.308.056 5.895.684 47.196.887
S*/V* (taxa de mais valia) 3,05 3,08 3,32 3,63 4,05
Tabs. 2 (NSCN) base 2000
P
+
=
VA - EC (lucro)
10.704.363 64.965.146 676.948.788 14.806.874 149.189.613
Tabs. 2 (NSCN) base 2001
VA = FD = NNP (Produto Nacional Líquido ou Demanda Final) 27.313.524 145.634.488 1.554.620.685 34.749.499 309.206.657
Tabs. 2 (NSCN) base 2002
EC salários totais 16.609.161 80.669.342 877.671.897 19.942.625 160.017.044
P
+
/EC (razão lucro-salário)
0,64 0,81 0,77 0,74 0,93
Tabela 3.3
Medidas Marxianas Primárias (Valores correntes)
Fontes
Variáveis
1995
1996
1997
1998
1999
Tabs Variável Setor Primário. 2 (NSCN)
S* = VA* - V* mais valia (em sua forma monetária) 245.724 277.970 315.363 320.809 359.787
Tabs Variável Setor Primário. 2 (NSCN)
VA* (valor adicionado) 383.658 444.226 494.633 505.753 559.593
Tabs Variável Setor Primário. 2 (NSCN)
V* (capital variável) 137.934 166.256 179.270 184.944 199.806
S*/V* (taxa de mais valia) 1,78 1,67 1,76 1,73 1,80
Tabs. 2 (NSCN) base 2000
P
+
=
VA - EC (lucro)
225.310 278.813 330.129 340.954 366.968
Tabs. 2 (NSCN) base 2001
VA = FD = NNP (Produto Nacional Líquido ou Demanda Final) 616.071 742.861 830.628 865.996 927.838
Tabs. 2 (NSCN) base 2002
EC salários totais 390.760 464.048 500.500 525.041 560.870
P
+
/EC (razão lucro-salário)
0,58 0,60 0,66 0,65 0,65
Medidas Marxianas Primárias (Valores correntes)
Fontes
Variáveis
2000
2001
2002
2003
2004
Tabs Variável Setor Primário. 2 (NSCN)
S* = VA* - V* mais valia (em sua forma monetária) 370.250 395.458 460.725 541.039 653.583
Tabs Variável Setor Primário. 2 (NSCN)
VA* (valor adicionado) 649.023 703.839 799.825 949.148 1.110.624
Tabs Variável Setor Primário. 2 (NSCN)
V* (capital variável) 278.773 308.381 339.100 408.109 457.041
S*/V* (taxa de mais valia) 1,33 1,28 1,36 1,33 1,43
Tabs. 2 (NSCN) base 2000
P
+
=
VA - EC (lucro)
410.316 448.186 523.127 618.682 713.822
Tabs. 2 (NSCN) base 2001
VA = FD = NNP (Produto Nacional Líquido ou Demanda Final) 1.021.648 1.118.613 1.273.129 1.470.614 1.666.258
Tabs. 2 (NSCN) base 2002
EC salários totais 611.332 670.427 750.002 851.932 952.436
P
+
/EC (razão lucro-salário)
0,67 0,67 0,70 0,73 0,75
Medidas Marxianas Primárias
(Valores correntes)
O Gráfico 4.3 existe fundamental para fazermos a comparação entre a taxa de
mais-valia (S*/V*) e a sua contrapartida ortodoxa, a razão lucro-salário (P
+
/EC). Como
se esperava (do ponto de vista teórico), a taxa de mais-valia, é muito maior que a razão
8
Novamente podemos observar que o montante do valor adicionado marxiano é menor que o seu
correspondente ortodoxo, o PNL, pois fizemos a hipótese de que setores como aluguéis e administração
pública, por exemplo, não adicionam valor.
lucro-salário durante o primeiro período, porém essa diferença diminui ao longo dos
períodos considerados.
Taxa de mais valia vs. Razão lucro/salário
0,00
0,50
1,00
1,50
2,00
2,50
3,00
3,50
4,00
4,50
1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
S*/V* (taxa de mais valia) P+/EC (razão lucro-salário)
Gráfico 4.4
Um fato um pouco discrepante da teoria é a variação das duas taxas
caminharem sempre na mesma direção. No primeiro período a taxa de mais-valia
aumenta 32,8%, enquanto a razão lucro-salário aumenta 44,7%, os dois valores sofrem
grande influência dos resultados do último ano do período (1994) que “puxapara cima
as duas taxas. Desconsiderando esse ano os resultados ainda seriam,
respectivamente, aumentos de 19% e 15,2%. Para o período seguinte, um aumento
significativo da taxa de lucro 135% e um pequeno aumento da taxa de mais-valia de
1,1%. No último período considerado a taxa de mais-valia aumenta 7,7% e a taxa de
lucro 11,7%.
Apesar de termos mencionado nos itens 3.2.2 e 3.3.1 deste trabalho que a razão
lucro/salário não seria uma boa proxy para a taxa de mais-valia, se olharmos para os
dados obtidos, não podemos tirar conclusões definitivas em relação às suas
tendências, porém em relação ao nível das duas taxas o descolamento fica claro.
Certamente a pouca quantidade de dados (5 anos) em cada período considerado
contribui para este resultado, porém cremos que uma necessidade de se realizar no
futuro uma revisão crítica da nova série do SCN com o objetivo de esclarecer se os
resultados empíricos obtidos refletem a realidade ou são conseqüências dessa nova
forma de mensuração.
Deve ser feita a ressalva de que o fato da razão lucro-salário não ser declinante
não prejudica a teoria de Marx que ele considerava que esta era uma tendência de
longo prazo. A taxa de mais-valia crescente de modo significativo no primeiro período
mostra que devemos investigar a hipótese de ter existido de fato essa taxa de
exploração acentuada para a economia brasileira.
4.5 A composição valor e material do capital e a taxa geral de lucro.
Os dados que foram produzidos sobre a massa de mais-valia e a sobre o lucro
nos permitem também estimar a taxa geral de lucro marxiana, definida como a massa
de mais-valia em termos monetários (S*) sobre o total do capital em termos monetários
(C*+V*).
r* = (S*/(C*+V*)) = taxa geral de lucro marxiana = razão da mais-valia sobre o
custo do capital (C*+V*);
Também iremos estimar a composição valor do capital, bem como a composição
material do capital,
C*/V* = composição valor do capital e
C*/(V*+C*) = composição material do capital
Tabelas 4.5
Fontes
Variáveis
1990
1991
1992
1993
1994
Tab 3.2 S* = VA* - V* mais valia (em sua forma monetária) 15.697.985 78.258.348 889.832.559 21.387.603 191.130.030
Tab 3.2 V* (capital variável) 5.147.901 25.447.046 268.308.056 5.895.684 47.196.887
Tab 3.2 C* (capital contante) 0 0 0 0 0
Tab 3.2
P
+
=
VA - EC (lucro)
10.704.363 64.965.146 676.948.788 14.806.874 149.189.613
C*/V* (composição valor do capital) 4,74 4,61 4,82 4,76 5,15
C*/(V*+S*) (composição material do capital) 1,17 1,13 1,12 1,03 1,02
S*/(V*+C*) (taxa geral de lucro marxiana)
0,53
0,55
0,57
0,63
0,66
Tabela 3.5
Medidas Marxianas Primárias (Valores correntes)
Fontes
Variáveis
1995
1996
1997
1998
1999
Tab 3.2 S* = VA* - V* mais valia (em sua forma monetária) 245.724 277.970 315.363 320.809 359.787
Tab 3.2 V* (capital variável) 137.934 166.256 179.270 184.944 199.806
Tab 3.2 C* (capital contante) 0 0 0 0 0
Tab 3.2
P
+
=
VA - EC (lucro)
225.310 278.813 330.129 340.954 366.968
C*/V* (composição valor do capital) 2,88 2,83 2,89 2,90 3,05
C*/(V*+S*) (composição material do capital) 1,04 1,06 1,05 1,06 1,09
S*/(V*+C*) (taxa geral de lucro marxiana)
0,46
0,44
0,45
0,45
0,44
Medidas Marxianas Primárias
(Valores correntes)
Fontes
Variáveis
2000
2001
2002
2003
2004
Tab 3.2 S* = VA* - V* mais valia (em sua forma monetária) 370.250 395.458 460.725 541.039 653.583
Tab 3.2 V* (capital variável) 278.773 308.381 339.100 408.109 457.041
Tab 3.2 C* (capital contante) 0 0 0 0 0
Tab 3.2
P
+
=
VA - EC (lucro)
410.316 448.186 523.127 618.682 713.822
C*/V* (composição valor do capital) 2,66 2,71 2,84 2,92 3,04
C*/(V*+S*) (composição material do capital) 1,14 1,19 1,20 1,25 1,25
S*/(V*+C*) (taxa geral de lucro marxiana)
0,36
0,35
0,35
0,34
0,35
Medidas Marxianas Primárias
(Valores correntes)
O Gráfico 4.2, o qual apresentamos anteriormente (pág. 49), nos permite fazer
uma análise das categorias centrais do valor ao dividir o valor total entre seus principais
componentes: VT = C* + V* + S*. De longe, o maior componente é o capital constante,
o qual é sempre maior que 50% do valor total.
Composição valor e razão Consumo Intermediário/Salários
0,00
1,00
2,00
3,00
4,00
5,00
6,00
1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
C*/V* (composição valor do capital)
M/EC
Gráfico 4.3a
O Gráfico 4.3a compara a composição valor do capital (C*/V*) com a sua
contrapartida ortodoxa, a razão insumos/salário (M/EC). Podemos ver que a medida
ortodoxa é sempre menor que a medida marxiana. Um ponto importante é o fato das
medidas se aproximarem muito no segundo período. O que se espera em teoria é certa
distância entre os níveis das medidas. Recomendamos uma investigação futura desse
fenômeno.
Taxa de mais valia e composição do capital
0,50
1,50
2,50
3,50
4,50
5,50
6,50
1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
S*/V* (taxa de mais valia)
C*/V* (composição valor do capital)
C*/(V*+S*) (composição material do capital)
Gráfico 4.3b
O Gráfico 4.3b compara a composição material do capital (C*/(V*+S*)), com a
composição valor do capital e com a taxa de mais-valia. Podemos perceber que embora
a taxa de mais-valia e a composição valor do capital possuam uma tendência parecida,
a composição material do capital é mais estável, porém possui uma tendência
claramente declinante no 1º período.
Finalmente, o Gráfico 4.3c apresenta a taxa geral de lucro que calculamos para a
economia brasileira entre 1990 e 2004; observamos um aumento de 23,8% no primeiro
período, e declínios de 3,1% e 2,5% nos períodos seguintes. Apesar do aumento
significativo dessa taxa no primeiro período, a taxa de lucro tende a diminuir ao longo
de todo o período considerado (1990 a 2004), passa de 0,53 para 0,35; ou seja, um
declínio de quase 44%. Esse resultado corrobora a lei de tendência da queda da taxa
de lucro derivada por Marx no volume III d’O capital (1991), porém, como já
mencionamos, dada a pouca quantidade de dados para a economia brasileira, o
podemos tirar conclusões definitivas.
Nossas conclusões serão apresentadas em seguida.
Taxas de lucro marxiana
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
S*/(V*+C*) (taxa geral de lucro marxiana)
Gráfico 3.3c
5.
CONCLUSÃO
A contabilidade social vista da perspectiva clássica é um instrumento importante
para o projeto científico da economia marxiana, pois através dela podemos (i) verificar a
validade da teoria do valor de Marx e, não menos relevante, (ii) propiciar um esquema
analítico que permita uma melhor compreensão do desempenho econômico.
Tendo isso como norte, nos dedicamos a apresentar nesse trabalho, da forma
mais clara que nos foi possível, o modelo desenvolvido por Shaikh e Tonak (1994) de
mapeamento das categorias clássicas/marxianas para o SCN brasileiro.
No segundo capítulo apresentamos a base teórica desse modelo que é a
classificação das diferentes atividades econômicas em atividades produtivas ou o
produtivas do ponto de vista do capital, vimos que essa distinção é geralmente
apresentada pela literatura de uma forma confusa e às vezes contraditória. Ao final
consideramos termos chegado a uma definição mais próxima à de Marx, a qual
considera o trabalho produtivo como todo o trabalho que cria mais-valia, como trabalho
que reproduz diretamente o capital.
No terceiro capítulo utilizamos, para facilitar a nossa apresentação do modelo,
um exemplo desenvolvido por Shaikh através de um manuscrito não publicado
intitulado National income accounts and Marxian categories(1978), para descrever o
comportamento das categorias marxianas à luz das contas nacionais. Separamos a
economia em setores primários (produção e comércio) e setores secundários
(instituições financeiras, aluguel de imóveis e a administração pública) e,
consequentemente, separamos também quais atividades produzem riqueza econômica
e quais não. A análise que foi feita permitiu mostrar a importância analítica da
contabilidade clássica/marxiana.
No quarto capítulo aplicamos a metodologia de Shaikh e Tonak (1994) para os
dados do Sistema de Contas Nacionais brasileiro. Apesar das dificuldades encontradas
para efetivar esse mapeamento foi possível realizar uma primeira mensuração das
variáveis das categorias clássicas/marxianas, tais como o valor total, o capital
constante, o capital variável e a mais-valia. Manipulando essas variáveis obtivemos as
principais categorias marxianas, tais com a taxa de mais-valia, a razão lucro salário, a
taxa geral de lucro, além das composições orgânica e material do capital.
Dos resultados encontrados, talvez o que chame mais a atenção é o fato da
razão lucro/salário acompanhar de perto a variação, sempre ascendente, da taxa de
mais-valia, esta, inclusive, superando a taxa de variação daquela.
Os resultados obtidos certamente estão relacionados com a nova série do
sistema de contas nacionais SCN divulgada em março deste ano (2007) pelo IBGE
que trouxe um maior detalhamento das atividades econômicas e produtos para as
Tabelas de Recursos e Usos e com a falta de um histórico de dados mais amplo para a
economia brasileira, o que não nos permitiu fazer uma analise de longo prazo para a
nossa economia.
Não menos importante, deve-se salientar que as mensurações da produção e
de seus componentes realizada segundo o arcabouço teórico clássico/marxiano
apresentam uma visão do desempenho econômico bastante distinto do que aquele
mostrado pela contabilidade social convencional.
Finalmente, não é demais ressaltar que os resultados obtidos, ainda que do
nosso ponto de vista sejam muito importantes, devam ser vistos como uma primeira
tentativa de realizar esse mapeamento. Esperamos que este trabalho contribua e
estimule a produção de novas pesquisas empíricas.
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APÊNDICE A - Produtos Intermediários e o Cuidado com a Dupla Contagem
O objetivo dessa seção é o de apresentar os argumentos de Shaikh (1978) sobre
a mensuração dos insumos e a questão da dupla contagem.
O processo considerado na seção 3.1 tinha um período de produção de
exatamente um ano. Vejamos agora as implicações da redução do período sobre a
contabilização do valor total (VT) e das variáveis que o compõe (C, V e S).
Seguindo o exemplo apresentado por Shaikh (1978), suponha agora que esse
mesmo processo seja dividido em dois estágios (por exemplo, uma montadora que se
separa em duas fábricas), e que cada estágio dura a metade do ano. Cada estágio
agora constitui uma indústria separada. O primeiro estágio começa com os materiais
consumidos representando 30 milhões de horas e o capital constante fixo
representando 100 milhões de horas. Requer-se 40 milhões de horas de tempo de
trabalho vivo para consumir 35 milhões de horas de capital constante (30 milhões em
materiais que serão consumidos mais meio ano de depreciação dos 100 milhões de
horas do capital fixo).
O segundo estágio toma o produto do primeiro estágio com seu próprio insumo,
e, com a ajuda de 20 milhões de horas de trabalho vivo e dos instrumentos de trabalhos
existentes (os quais, portanto, contribuem com 5 milhões de horas em depreciação),
esse estágio produz o produto final. Durante um ano o ciclo se apresenta assim:
Figura A
80 + 20 100
c2 v1 vt2
35 + 40 75
c1 v1 vt1
É claro que o valor adicionado pelo trabalho vivo durante os dois estágios é 60
milhões de horas, o mesmo que era antes de se dividir o processo em dois estágios e
daí em duas indústrias.
Mas e sobre o capital constante utilizado? Se nós adicionássemos o capital
constante utilizado em cada indústria, nos teríamos 35
c1
para a indústria do estágio I, e
80
c2
para a indústria do estágio II, para um total de 115
c
. Desse ponto de vista poderia
parecer que o produto total do ano tivesse uma valor de 175 (115
c
+60
v
) o que de fato
é a soma dos valores dos produtos de cada indústria (75
vt1
+ 100
vt2
). Poderia parecer,
portanto, que a mera divisão do processo em duas indústrias, isto é, a mera
mercantilização dos insumos intermediários, poderia por ela mesma aumentar o valor
do produto e o valor do capital constante utilizado.
Mas como Shaikh (1978) demonstrou, essa aparência é falsa. O ano começa
com 30 milhões de horas de matérias-primas, que representam a materialização (a
forma de uso) do tempo de trabalho dos anos anteriores. Portanto, para este ano, estas
30 milhões de horas representam um tempo de trabalho já materializado (trabalho
morto), e como as matérias-primas são utilizadas, esse tempo de trabalho é transferido
para o valor do produto final. De forma semelhante, o ano inicia com instrumentos
representando 100 milhões de horas, das quais 10 milhões são transferidas para o
produto anual. Assim, um total de 40 miles de horas do tempo de trabalho dos anos
anteriores é materializado no produto desse ano.
Durante esse ano, por outro lado, 60 miles de horas do tempo de trabalho vivo
estão sendo utilizadas pelo trabalho produtivo. Assim, o valor adicionado pelo trabalho
vivo nesse ano é de 60 milhões de horas, e o valor total do produto final é 100 milhões
de horas, igual era antes da “mercantilização” dos estágios separados.
Shaikh (1978) argumenta que a chave para essa questão é a distinção entre o
tempo de trabalho vivo e o “morto” (materializado). O primeiro é tempo de trabalho
“trabalhado” durante o período que estamos observando, e o último é tempo de trabalho
“trabalhado” durante os períodos anteriores ao que estamos observando. Quanto maior
o período de observação, maior a porção do tempo de trabalho total materializada na
mercadoria que aparece como tempo de trabalho “trabalhado” durante o período de
observação, portanto, como tempo de trabalho vivo durante este período. Isso é fácil
perceber na Figura A acima, onde o valor total de 100
vt2
se transforma em 80
c2
+ 20
l2
quando o período em observação são os últimos seis meses. O tempo de trabalho vivo
40
l1
dos primeiros seis meses aparecem nos segundos seis meses como tempo de
trabalho materializado, como parte dos 80c2. Quando olhamos para o ano todo,
entretanto, o mesmo valor total se determina como 40c + 60v, como na figura 1.
Dois pontos surgem disso. Primeiro, é dupla contagem simplesmente adicionar
as transações intermediárias” de cada indústria. Por outro lado, não é dupla contagem
incluir como parte do valor total do produto os materiais e os instrumentos que estavam
disponíveis no início do ano e que foram utilizados durante o mesmo ano. A teoria
ortodoxa geralmente enfatiza apenas o primeiro aspecto e quase sempre esquece o
segundo.
Com as definições acima na cabeça, nós podemos voltar às Figuras 3.1.1 e 3.1.2
apresentadas anteriormente, e observar que, quando falamos sobre o capital constante
que é utilizado (sobre os custos intermediários), nos referimos è este capital somente
após a sua consolidação no processo produtivo.
APÊNDICE B - Trabalho produtivo e não-produtivo
Nossa base de dados primária é o SCN. Para achar o emprego total L nós
utilizamos os dados referentes ao “pessoal ocupado”, dados extraídos das TRU, pois
este termo inclui ambas as pessoas empregadas e os autônomos.
Como já mencionamos, os dados do SCN não fazem distinção entre os
trabalhadores produtivos e não-produtivos. Porém algumas pesquisas setoriais do IBGE
diferenciam os trabalhadores ligados à produção dos trabalhadores não ligados à
produção mas que estão ocupados no setor.
É o caso, por exemplo, da Pesquisa Industrial Anual – Empresa (PIA) que
fornece dados sobre os setores da indústria extrativa e da de transformação. Nessa
pesquisa, o “pessoal ocupado assalariado ligado à produção industrial” (IBGE, 2005a) é
definido pelo “número de pessoas remuneradas diretamente pela empresa,
efetivamente ocupadas nas atividades de produção de bens e serviços industriais; de
manutenção e reparação de equipamentos industriais; de utilidades (água tratada, ar
comprimido, vapor e frio para fins industriais); de apoio direto à produção industrial
(controle de qualidade, projetos industriais e tratamentos de poluentes)”. (IBGE, 2005a).
o “pessoal ocupado assalariado não-ligado à produção industrial” é definido como o
“número de pessoas remuneradas diretamente pela empresa, ocupadas nas atividades
de apoio indireto à produção industrial, ou seja, nas atividades administrativas, de
segurança, de limpeza, contábil, de controle gerencial, e, ainda, comerciais, de serviços
não-industriais, de transporte, de construção, agropastoril, etc., mesmo quando tratadas
como custo pela empresa.” (IBGE, 2005a)
A PIA fornece estes dados desde 197
14
; não houve, portanto, problemas para se
estimar a razão trabalho produtivo/trabalho total (Lp/L) para este setor em particular.
A Pesquisa Anual da Indústria da Construção (PAIC), que fornece dados sobre o
setor de construção, é muito semelhante à PIA, definindo o “Pessoal ocupado
assalariado ligado à construção.” como o “Número de assalariados contratados
diretamente pela empresa, efetivamente ocupados nas atividades de obras e/ou
serviços da construção.” e o “Pessoal ocupado assalariado não-ligado à construção.”
1
Para o ano de 1991 não há dados fornecidos pela PIA, os quais foram estimados a partir das médias da
série histórica.
como o “Número de assalariados contratados diretamente pela empresa, ocupados nas
atividades administrativas, de segurança, de limpeza, contábil, de controle gerencial, e,
ainda, comerciais, de serviços diversos da construção de transporte, agropastoril, etc.,
mesmo quando tratadas como custo pela empresa. “(IBGEb, 2005). A PAIC também
possui dados que cobrem todo o período considerado nesta nossa pesquisa (1990 a
2004).
a Pesquisa Anual dos Serviços (PAS), não fornece dados sobre trabalhadores
ligados à produção. Para estimar o número de trabalhadores produtivos nós separamos
os trabalhadores das atividades do setor de serviços consideradas produtivas das
atividades não produtivas.
Por exemplo, o setor de serviços denominado “Atividades imobiliárias e de
aluguel de bens móveis e imóveis” é composto pelas seguintes atividades:
“Incorporação, compra e venda de imóveis por conta própria”, ”Administração,
corretagem e aluguel de imóveis de terceiros” e “Aluguel de veículos, máquinas e
objetos pessoais e domésticos”. As duas primeiras atividades foram consideradas não
produtivas, já a terceira atividade foi considerada produtiva do ponto de vista do capital,
sendo assim o total dos trabalhadores da atividade foi considerado na soma dos
trabalhadores produtivos do setor de serviços. Apesar de não ser uma solução
satisfatória foi aquela que nos pareceu a mais adequada para fazer frente à falta de
dados para a economia brasileira. Essa não é, evidentemente, uma aproximação
satisfatória.
Outro agravante é a falta de dados do setor para o período anterior a 1998; para
dar uma solução à este problema, nós utilizamos como proxy os dados encontrados por
Shaikh e Tonak para os EUA. Estes dois problemas tornam esse componente dos
dados derivados do setor de serviços a parte mais frágil da coleta de dados desta
dissertação.
Também dissemos anteriormente que setores que são considerados
produtivos, mas que não possuem diferenciação nenhuma nas suas respectivas
pesquisas: são eles os setores da ligados à agropecuária e os serviços de utilidade
pública (água, gás e eletricidade), sendo que este último setor não possui pesquisa
elaborada pelo IBGE. Para estes dois setores utilizamos com proxy a relação Lp/L dos
EUA para os últimos 15 anos da pesquisa elaborada por Shaikh e Tonak (1994).
Obviamente essa consideração é muito frágil, porém dado o pequeno peso desses dois
setores na composição do número total de trabalhadores, cremos que não
alterações significativas nos números encontrados por conta disso.
As Tabelas B resumem o trabalho produtivo e não-produtivo para os anos de
1990 a 2004.
Tabelas B
Fontes
Setor
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997
PRODUÇÃO L
p
Extrativa
Tab 2 RecUsos
L
881.000 818.300 772.600 766.700 739.500 744.537 703.924 719.708
7.23CX
(L'
p
)
57 640 66 703 59 277 53 558 49 452 44 878
77 853 74 577
7.23BX
L'
77 526 87 539 74 804 72 426 66 337 58 689
99 041 93 579
(L
p
/L)'
0,743492506 0,761980219 0,792430886 0,73948582 0,7454663 0,7646748 0,7860684 0,7969416
(L
p
)
655.017 623.528 612.232 566.964 551.272 569.329 553.333 573.565
(L
u
)
extr
= L
extr
- (L
p
)
extr 225.983 194.772 160.368 199.736 188.228 175.208 150.592 146.143
Transformação
Tab 2 RecUsos
L
8543800 8129900 7768900 7794400 7.863.800 9.051.355 8.732.556 8.479.965
7.23CX
(L'
p
)
tran
3040202 72 2680992 2612264 2583088 2304524 3712412 3658620
7.23BX
L'
4241334 100 3685265 3576187 3495950 3153873 5046423 4914074
(L
p
/L)'
0,716803251 0,72 0,727489611 0,730460683 0,7388801 0,7306965 0,7356522 0,7445187
(L
p
)
6.124.224 5.853.528 5.651.794 5.693.503 5.810.406 6.613.794 6.424.124 6.313.492
(L
u
)
tran
= L
tran
- (L
p
)
tran
2.419.576 2.276.372 2.117.106 2.100.897 2.053.394 2.437.562 2.308.432 2.166.472
Construção Civil
Tab 2 RecUsos
L
con 3.936.000 3.681.800 3.451.200 3.550.300 3.484.100 4.379.595 4.527.757 4.769.467
7.71X
(L'
p
)
con
476023 434259 412357 369091 314822 268926 397317 428825
Tab 2588
L'
550608 502928 478448 436093 374429 323550 470776 499605
(L
p
/L)'
0,864540653 0,863461569 0,861863776 0,84635846 0,8408056 0,8311729 0,8439619 0,8583281
(L
p
)
3.402.832 3.179.093 2.974.464 3.004.826 2.929.451 3.640.200 3.821.254 4.093.768
(L
u
)
con
= L
con
- (L
p
)
con 533.168 502.707 476.736 545.474 554.649 739.394 706.503 675.700
Utilidades Públicas
Tab 2 RecUsos
L
up
324.000 306.900 290.700 315.100 283.500 362.181 328.212 339.228
Tab 01 (Cadastro Central Empresas
(L'
p
)
up
95 94,3 93,6 92,9 92,1 91,4 90,7 90,0
L'
100 100 100 100 100 100 100 100
(L
p
/L)'
up
0,95 0,94 0,94 0,93 0,92 0,91 0,91 0,90
(L
p
)
307.800 289.363 272.012 292.593 261.225 331.137 297.736 305.305
(L
u
)
up
= L
up
- (L
p
)
up
16.200 17.537 18.688 22.507 22.275 31.044 30.477 33.923
Serviços
Tab 2 RecUsos
L
serv
9.743.800 9.778.300 9.837.700 9.781.600 10.425.700 11.096.634 11.146.449 11.488.243
Tab 2588
(L'
p
)
serv 86 85 84 83 82 81 80 79
Tab 2588
L'
100 100 100 100 100 100 100 100
(L
p
/L)'
serv 0,86 0,85 0,84 0,83 0,82 0,81 0,8 0,79
(L
p
)
8.379.668 8.311.555 8.263.668 8.118.728 8.549.074 8.988.273 8.917.160 9.075.712
(L
u
)
serv
= L
serv
- (L
p
)
serv
1.364.132 1.466.745 1.574.032 1.662.872 1.876.626 2.108.360 2.229.290 2.412.531
Agropecuária
L
agr 14.911.400 15.268.200 15.642.100 15.571.600 14.911.400 19.101.084 17.709.273 17.902.705
(L'
p
)
agr
95 94,64285714 94,28571429 93,92857143 93,571429 93,214286 92,857143 92,5
L'
100 100 100 100 100 100 100 100
(L
p
/L)'
agr
0,95 0,946428571 0,942857143 0,939285714 0,9357143 0,9321429 0,9285714 0,925
(L
p
)
14.165.830 14.450.261 14.748.266 14.626.181 13.952.810 17.804.939 16.444.325 16.560.002
(L
u
)
agr
= L
agr
- (L
p
)
agr 745.570 817.939 893.834 945.419 958.590 1.296.145 1.264.948 1.342.703
Administração Pública L
admp
5.713.800 5.990.100 6.279.800 5.965.500 5.633.500 7.047.017 7.216.674 7.214.434
Comércio L
com
7.619.200 7.675.800 7.748.500 8.242.300 8.549.600 11.008.352 10.782.855 11.054.025
FIRE (Inst Financeiras, Aluguéis e Bens Imóveis) L
fire
2.791.700 2.778.000 2.802.900 2.804.000 2.948.200 10.754.466 10.837.944 11.160.460
Variáveis
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
L
54.464.700 54.427.300 54.594.400 54.791.500 54.839.300 73.545.222 71.985.645 73.128.236
L
p
33.035.371 32.707.328 32.522.436 32.302.795 32.054.238 37.947.672 36.457.931 36.921.845
L
21.429.329 21.719.972 22.071.964 22.488.705 22.785.062 35.597.549 35.527.715 36.206.391
1,542 1,506 1,473 1,436 1,407 1,066 1,026 1,020
L
p
/L
0,607 0,601 0,596 0,590 0,585 0,516 0,506 0,505
Tabela B
Trabalho produtivo e não produtivo
Fontes
Setor
1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004
PRODUÇÃO L
p
Extrativa
Tab 2 RecUsos
L
700.266 686.485 235884 234885 252584 252584 274130
7.23CX
(L'
p
)
65 199 69 021
71105 71627 75329 79110 85212
7.23BX
L'
87 123 91 008
92971 94565 98582 104693 114197
(L
p
/L)'
0,74835577 0,75840585 0,7648084 0,757436684 0,764125297 0,7556379 0,7461842
(L
p
)
524.048 520.634 180.406 177.911 193.006 190.862 204.551
(L
u
)
extr
= L
extr
- (L
p
)
extr
176.218 165.851 55.478 56.974 59.578 61.722 69.579
Transformação
Tab 2 RecUsos
L
7.976.404 8.499.215 9.493.708 9.352.258 9.650.550 9.984.712 10.802.303
7.23CX
(L'
p
)
tran
3572329 3677381 4004670 4102382 4290674 4485376 4879464
7.23BX
L'
4799573 4912634 5222438 5358895 5581529 5826494 6271993
(L
p
/L)'
0,74430142 0,74855587 0,76682 0,765527595 0,768727351 0,7698242 0,7779766
(L
p
)
5.936.849 6.362.137 7.279.965 7.159.412 7.418.642 7.686.473 8.403.939
(L
u
)
tran
= L
tran
- (L
p
)
tran
2.039.555 2.137.078 2.213.743 2.192.846 2.231.908 2.298.239 2.398.364
Construção Civil
Tab 2 RecUsos
L
con
5.084.856 5.255.630 5329906 5358225 5608717 5409302 5613659
7.71X
(L'
p
)
con
453831 495630 490652 591958 1.177.953 1.201.129 1296701,9
Tab 2588
L'
518731 561357 555164 673843 1.474.802 1.486.274 1579021,5
(L
p
/L)'
0,87488698 0,88291408 0,8837965 0,878480596 0,798719497 0,8081478 0,821206
(L
p
)
4.448.674 4.640.270 4.710.552 4.707.097 4479791,622 4371515,3 4609970,3
(L
u
)
con
= L
con
- (L
p
)
con
636.182 615.360 619.354 651.128 1 128 925 1 037 787 1 003 689
Utilidades Públicas
Tab 2 RecUsos
L
up
377.477 347.234 342.196 357.267 342.419 355.649 369.777
Tab 01 (Cadastro Central Empresas
(L'
p
)
up
89,3 88,6 87,9 87,1 86,4 85,7 85,0
L'
100 100 100 100 100 100 100
(L
p
/L)'
up
0,89 0,89 0,88 0,87 0,86 0,86 0,85
(L
p
)
337.033 307.550 300.644 311.333 295.948 304.842 314.310
(L
u
)
up
= L
up
- (L
p
)
up
40.444 39.684 41.552 45.934 46.471 50.807 55.467
Serviços
Tab 2 RecUsos
L
serv
11.655.796 12.457.007 24.667.127 25.355.288 26.410.395 26.711.375 28.079.229
Tab 2588
(L'
p
)
serv
2719221 2812487 3061681 3515766 3742661 3472081 3732271
Tab 2588
L'
3443643 3525789 3875757 6232615 6855969 6478666 7093005
(L
p
/L)'
serv
0,78963499 0,79769011 0,7899569 0,564091637 0,54589818 0,5359253 0,5261904
(L
p
)
9.203.825 9.936.831 19.485.967 14.302.706 14.417.387 14.315.302 14.775.020
(L
u
)
serv
= L
serv
- (L
p
)
serv
2.451.972 2.520.176 5.181.160 11.052.582 11.993.008 12.396.073 13.304.209
Agropecuária
L
agr
17.292.618 18.587.058 17610940 16902498 17353605 17660548 18873744
(L'
p
)
agr
92,1428571 91,7857143 91,428571 91,07142857 90,71428571 90,357143 90
L'
100 100 100 100 100 100 100
(L
p
/L)'
agr
0,92142857 0,91785714 0,9142857 0,910714286 0,907142857 0,9035714 0,9
(L
p
)
15.933.913 17.060.264 16.101.431 15.393.346 15.742.199 15.957.567 16.986.370
(L
u
)
agr
= L
agr
- (L
p
)
agr
1.358.706 1.526.794 1.509.509 1.509.152 1.611.406 1.702.981 1.887.374
Administração Pública L
admp
7.370.297 7.633.692 8015851 8360970 8582955 8797137 9136123
Comércio L
com
11.171.508 11.552.759 12435525 12766045 13545847 13944252 14189080
FIRE (Inst Financeiras, Aluguéis e Bens Imóveis) L
fire
11.115.638 11.621.927 841210 856978 886177 919422 906.909
Variáveis
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
L
72.744.861 76.641.008 78.972.347 79.544.414 82.633.249 84.034.981 88.244.954
L
p
36.384.341 38.827.687 48.058.965 42.051.804 42.546.972 42.826.560 45.294.161
L
36.360.519 37.813.321 30.913.382 37.492.610 40.086.277 41.208.421 42.950.793
1,001 1,027 1,555 1,122 1,061 1,039 1,055
L
p
/L
0,500 0,507 0,609 0,529 0,515 0,510 0,513
Tabela B
Trabalho produtivo e não produtivo
APÊNDICE C - Salários e o capital variável
O mesmo procedimento que utilizamos para encontrar os dados do apêndice B
se aplica aos dados de salários. Para acharmos o salário total W nós utilizamos os
dados referentes à “remuneração” e somamos com os valores referentes aos
“rendimentos de autônomos” (o qual, à partir da TRU de 1995, passou e se chamar
“rendimento misto bruto”), pois eles incluem os salários das pessoas empregadas e os
trabalhadores autônomos de cada setor.
Os dados do SCN não fazem distinção entre a massa salarial dos trabalhadores
produtivos e a massa salarial dos trabalhadores não-produtivos, ele apresenta apenas
os salários totais.
As mesmas pesquisas setoriais do IBGE mencionadas anteriormente (PIA e
PAC) diferenciam entre os salários do “pessoal ocupado assalariado ligado à produção”
e não ligado á produção”. A PAS, da mesma forma que mencionamos no apêndice
anterior, não fornece os dados com esse nível de diferenciação. A mesma saída para
este problema foi utilizada para o caso da massa de salários.
Utilizamos como
proxy
para os setores ligados à agropecuária e os serviços de
utilidade pública (água, gás e eletricidade), para achar a razão salário produtivo/ salário
total (ECp/W), a relação L/Lp dos EUA para os últimos 15 anos da pesquisa elaborada
por Shaikh e Tonak (1994).
Esses procedimentos tornam a nossa estimativa do capital variável um pouco
frágil, a qual fica ancorada principalmente nos setores da indústria e da construção civil.
Isso pode ter impactos na tendência e nível das taxas de mais-valia e composição valor
e material do capital.
As Tabelas C apresentam a massa de salários dos trabalhadores considerados
produtivos do ponto de vista do capital e dos trabalhadores considerados não-
produtivos para os anos de 1990 a 2004.
Tabelas C
Fontes
Setores
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
PRODUÇÃO L
p
Extrativa
Tab Recursos e Usos
EC 233.613 1.137.491 11.421.215 229.642 1.818.353 4.573 5.517 6.037
7.18
EC'
61.541.560 100 3.608.592 85.755 722.020 1.114.075 1.204.086 1.134.294
7.19
40.384.754
70
2.615.618
55.104
474.874
713.345
929.366
844.365
21.156.806 992.974 30.651 247.146 400.730 274.720 289.929
0,52 0,38 0,56 0,52 0,56 0,30 0,34
Ecp/EC'
0,66 0,70 0,72 0,64 0,66 0,64 0,77 0,74
Ecp'*EC
153.301 796.244 8.278.446 147.562 1.195.934 2.928 4.258 4.494
Utilidades Públicas
EC 392.391 1.963.975 25.592.117 681.747 5.261.831 7.624 9.239 11.248
EC
100 100 100 100 100 100 100 100
85 84 84 83 82 81 81 80
Ecp/EC'
0,85 0,84 0,84 0,83 0,82 0,81 0,81 0,80
Ecp'*EC
333.532 1.655.350 21.387.698 564.876 4.322.218 6.208 7.457 8.998
Transformação
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997
EC 2.707.301 13.278.630 131.454.126 2.832.882 22.932.383 57.570 69.040 74.377
7.18
EC
2.089.212.207 100 118.004.350 2.664.328 20.096.147 32.084.086 47.200.270 49.930.270
7.19
(Ec
1.176.339.912 57 67.980.594 1.547.798 11.689.980 18.699.886 28.739.645 30.560.919
(Ec
912.872.295 50.023.756 1.116.530 8.406.167 13.384.200 18.460.625 19.369.351
(Ec
0,78 0,74 0,72 0,72 0,72 0,64 0,63
Ec
p
'/EC
tran
'
0,56
0,57
0,58
0,58
0,58
0,58
0,61
0,61
(Ecp)tran = Ecp'*EC
1.524.357 7.568.819 75.728.815 1.645.717 13.339.826 33.554 42.037 45.524
Construção Civil
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997
EC 805.115 3.801.721 37.465.055 794.742 6.103.071 20.450 23.361 24.605
7.71X
EC
197.795 879.011 9.504.371 196.899 1.543.393 2.096.543 3.670.959 4.012.136
144.757
633.064
7.023.604
144.447
1.131.873
1.469.798
2.658.648
2.987.856
53.038 245.947 2.480.767 52.452 411.520 626.745 1.012.310 1.024.280
0,37 0,39 0,35 0,36 0,36 0,43 0,38 0,34
Ecp/EC'
0,73 0,72 0,74 0,73 0,73 0,70 0,72 0,74
Ecp'*EC
589.226 2.738.001 27.686.178 583.030 4.475.789 14.336 16.919 18.324
Serviços Produtivos
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997
EC 2.527.719 12.778.430 136.573.423 2.963.417 24.358.318 66.735 80.479 87.023
EC
100
100
100
100
100
100
100
100
86 85 84 83 82 81 80 79
Ecp/EC'
0,86 0,85 0,84 0,83 0,82 0,81 0,80 0,79
Ecp'*EC
2.173.838 10.861.666 114.721.675 2.459.636 19.973.821 54.055 64.383 68.748
Agropecuária
EC 415.161 2.038.051 22.965.873 556.472 4.391.144 30.439 35.513 37.922
EC
100 100 100 100 100 100 100 100
90 90 89 89 89 88 88 88
Ecp/EC'
0,90 0,90 0,89 0,89 0,89 0,88 0,88 0,88
Ecp'*EC
373.645 1.826.967 20.505.244 494.863 3.889.299 26.852 31.201 33.182
Administração Pública
5.036.530 22.051.966 222.130.258 4.951.685 46.339.999 84.226 100.060 107.628
Comércio
1.847.906 9.472.659 98.871.392 2.178.943 17.692.681 45.824 54.552 59.849
FIRE (Inst Financeiras, Aluguéis e Bens Imóveis)
2.328.242 12.480.306 172.274.011 4.311.946 27.540.734 59.212 69.845 73.292
EC = W
16.293.978 79.003.229 858.747.470 19.501.476 156.438.514 376.652 447.607 481.982
(EC
5.147.901 25.447.046 268.308.056 5.895.684 47.196.887 137.934 166.256 179.270
(EC
11.146.077 53.556.183 590.439.414 13.605.792 109.241.627 238.718 281.351 302.712
V*/W
0,32 0,32 0,31 0,30 0,30 0,37 0,37 0,37
L
1,32 1,30 1,28 1,32 1,34 1,27 1,33 1,34
L
p
/L
0,43 0,43 0,44 0,43 0,43 0,44 0,43 0,43
Tabela C
Total dos Salários e uma proxy para o Capital Variável
Fontes
Setores
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
PRODUÇÃO L
p
Extrativa
Tab Recursos e Usos
EC 6.326 7.102 4.167 4.937 5.676 7.208 8.687
7.18
EC'
1.061.501 1.020.182 1.110.645 1.271.328 1.643.455 1.910.138 2.151.228
7.19 637.977 606.278 758.548 864.191 1.146.018 1.288.063 1.386.252
423.524 413.904 352.097 407.137 497.437 622.075 764.976
0,66 0,68 0,46 0,47 0,43 0,48 0,55
Ecp/EC'
0,60 0,59 0,68 0,68 0,70 0,67 0,64
Ecp'*EC
3.802 4.221 2.846 3.356 3.958 4.861 5.598
Utilidades Públicas
EC 11.328 10.099 10.684 11.736 11.643 11.767 13.115
EC
100 100 100 100 100 100 100
79 79 78 77 76 76 75
Ecp/EC'
0,79 0,79 0,78 0,77 0,76 0,76 0,75
Ecp'*EC
8.981 7.935 8.318 9.053 8.899 8.909 9.836
Transformação
1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004
EC 76.713 78.134 97.575 103.742 113.104 133.430 158.358
7.18
EC
49.969.570 50.534.632 56.155.575 62.638.198 68.633.751 80.789.936 93.351.258
7.19
(Ec
30.641.833 30.542.487 34.715.413 39.050.179 43.177.720 51.083.083 60.190.176
(Ec
19.327.737 19.992.145 21.440.162 23.588.019 25.456.031 29.706.853 33.161.082
(Ec
0,63 0,65 0,62 0,60 0,59 0,58 0,55
Ec
p
'/EC
tran
'
0,61 0,60 0,62 0,62 0,63 0,63 0,64
(Ecp)tran = Ecp'*EC
47.041 47.223 60.321 64.675 71.154 84.367 102.105
Construção Civil
1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004
EC 25.172 25.686 29.587 32.393 37.820 38.840 43.514
7.71X
EC
4.646.510 4.760.082 4.852.307 6.168.104 11.987.162 13.506.587 15.264.732
3.538.938 3.713.703 3.738.004 4.849.490 9.110.186 10.213.940 12.067.294
1.107.572 1.046.379 1.114.303 1.318.614 2.876.975 3.292.647 3.197.438
0,31 0,28 0,30 0,27 0,32 0,32 0,26
Ecp/EC'
0,76 0,78 0,77 0,79 0,76 0,76 0,79
Ecp'*EC
19.172 20.039 22.793 25.468 28.743 29.372 34.399
Serviços Produtivos
1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004
EC 92.648 108.156 178.051 191.142 209.258 240.766 261.522
EC
34.126.720 35.796.229 39.962.782 38.674.468 41.896.830 50.809.490 58.756.511
26.399.103 27.683.908 32.098.375 32.105.268 34.154.541 44.224.516 50.821.866
7.727.617 8.112.321 7.864.407 6.569.200 7.742.289 6.584.974 7.934.645
0,29 0,29 0,25 0,20 0,23 0,15 0,16
Ecp/EC'
0,77 0,77 0,80 0,83 0,82 0,87 0,86
Ecp'*EC
71.669 83.645 143.012 158.675 170.588 209.562 226.205
Agropecuária
EC 39.336 42.337 47.997 54.784 65.051 83.225 92.821
EC
100 100 100 100 100 100 100
87 87 86 86 86 85 85
Ecp/EC'
0,87 0,87 0,86 0,86 0,86 0,85 0,85
Ecp'*EC
34.279 36.743 41.483 47.153 55.758 71.038 78.898
Administração Pública
115.080 123.929 132.867 151.971 173.918 194.349 213.424
Comércio
61.527 63.452 74.219 80.951 93.303 99.386 114.335
FIRE (Inst Financeiras, Aluguéis e Bens Imóveis)
78.363 81.175 36.185 38.771 40.229 42.961 46.660
EC = W
506.493 540.071 611.332 670.427 750.002 851.932 952.436
(EC
184.944 199.806 278.773 308.381 339.100 408.109 457.041
(EC
321.549 340.264 332.559 362.046 410.902 443.823 495.395
V*/W
0,37 0,37 0,46 0,46 0,45 0,48 0,48
L
1,37 1,34 0,64 0,89 0,94 0,96 0,95
L
p
/L
0,42 0,43 0,61 0,53 0,51 0,51 0,51
Tabela C
Total dos Salários e uma proxy para o Capital Variável
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