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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO, CONTABILIDADE E
ATUÁRIA
MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO
ESTRATÉGIAS E ESTRUTURAS DE TRADE MARKETING NA INDÚSTRIA DE
BENS DE CONSUMO NÃO-DURÁVEIS COMO RESPOSTA ÀS
TRANSFORMAÇÕES OCORRIDAS NO VAREJO ALIMENTÍCIO DO BRASIL
Rodrigo Guimarães Motta
São Paulo
2007
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO, CONTABILIDADE E
ATUÁRIA
MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO
ESTRATÉGIAS E ESTRUTURAS DE TRADE MARKETING NA INDÚSTRIA DE
BENS DE CONSUMO NÃO-DURÁVEIS COMO RESPOSTA ÀS
TRANSFORMAÇÕES OCORRIDAS NO VAREJO ALIMENTÍCIO DO BRASIL
Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial
para obtenção do título de MESTRE em Administração, sob
orientação da Professora Doutora Neusa Maria Bastos
Fernandes dos Santos.
Rodrigo Guimarães Motta
São Paulo
2007
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DEDICATÓRIA
Aos meus amigos e familiares queridos, sem os quais não
existiria alegria, energia e motivação em minha vida.
iv
FOLHA DE APROVAÇÃO
Banca Examinadora
________________________________________
________________________________________
________________________________________
v
EPÍGRAFE
Não existe produção, construção de um mundo novo, sem que
esta esteja relacionada com uma palavra de amor e com uma
herança que se pode recolher com alegria e, ao mesmo tempo,
trair”.
Enriquez
vi
AGRADECIMENTOS
Em nenhum outro momento de minha vida tive que estudar com tanto afinco quanto
nesse período em que cursei o mestrado na PUC-SP. Não foi aquele tipo de esforço que
é feito no vestibular, ou mesmo na graduação e nas pós-graduações e MBAs, onde há
fórmulas prontas para ajudar-nos a atingir os nossos objetivos. No curso de mestrado, o
importante é conhecer os alicerces teóricos da área de interesse, pensar de forma crítica
e ousada e desenvolver o projeto com o rigor do método científico. Uma experiência
estimulante e muito divertida. Não é possível concluir o curso sem agradecer as pessoas
que foram imprescindíveis para a conclusão dessa trajetória.
Sendo assim, é necessário destacar as amizades que fiz ao longo de dezoito anos de
experiência profissional na área de marketing, trade marketing e vendas e que foram
decisivas para a conclusão da pesquisa de campo: Alexandre Thibes Ruiz, André Vivan
Clarizia, Andréa Tobias de Aguiar, Antônio Vitorino da Silva, Daniel Reis, Débora
Micchi, Elaine Teixeira Rossi, Fábio Caprio, Fernando Peixoto Rosa, Francisco César
Coutinho, Gisele Paiva, Guilherme Graf, José Vicente Marino, Luis Antônio Fernandes
Bernardino, Márcio Campos, Marinaldo Rocha, Mônica Calvo, Paulo Padula, Reynaldo
César de Moraes, Ricardo Baena, Roberta Morelli, Robson Strafacci, Stefan Kozak e
Victor Guisard.
Dentro do âmbito profissional, lembro também o apoio e os recursos que foram
disponibilizados por parte da empresa onde trabalhei durante toda a realização do
mestrado, a Coca-Cola Femsa. Esse agradecimento deve ser feito aos diretores das áreas
onde atuei e ao de recursos humanos, os quais são mencionados a seguir: Luiz Henrique
Lissoni, Diego Galdón, Antônio Ramadori, Maurício Favoretto e Riccardo Morici. As
equipes que liderei no período (desenvolvimento de canais, desenvolvimento de
vii
mercado e vendas) também merecem serem lembradas, pois quando não pude estar mais
presente, compensaram isso com seu esforço e dedicação e sempre entregaram
excelentes resultados.
Penso também que em qualquer campo do conhecimento, uma pessoa só se esforça e
busca genuinamente o seu auto-desenvolvimento quando possui mestres apaixonados,
inspiradores e competentes. Pessoas assim conheci nos escritórios, piscinas, tatames e
nas salas de aula que freqüentei antes de entrar no mestrado, e faço questão de
reconhecê-las nesse momento: Armando Luis Lechner (in memoriam), Chiaki Ishii,
Erwin L. Gilmore, Francisco de Carvalho Filho, João Alexandre Meyer Pflug, José
Fernandes Lechner (in memoriam), Júlio César Zangari (in memoriam), Laura Lacombe
de Góes, Paulo Sérgio Rezende, Milton César Maximiano Trombini, Rodrigo Rocha
Loures e Rioiti Uchida. Na PUC-SP, outros professores excelentes se juntaram aos já
mencionados: Alexandre Luzzi Las Casas, Antônio Vico Manas, Carlos Osmar Bertero,
Francisco Antônio Serralvo, Luciano Antônio Prates Junqueira, Onésimo de Oliveira
Cardoso e Sérgio Gozzi. Relacionada também com a PUC-SP, a secretária do mestrado
em administração Rita de Cássia, que esteve sempre presente para tirar dúvidas e
resolver os trâmites necessários.
Entre tantos mestres, uma menção muito especial à minha professora e orientadora,
Neusa Maria Bastos Fernandes dos Santos. Só quem teve o privilégio de conseguir tê-la
como orientadora e assim estudar e trabalhar sob sua orientação e supervisão, sabe o
quanto sua competência, comprometimento, dedicação e foco fazem à diferença.
Minha família também teve um papel nessa trajetória. Pessoas cultas e preparadas, que
sempre buscaram o conhecimento não apenas como instrumento para ser utilizado em
suas atividades cotidianas, mas principalmente como fonte de prazer e satisfação
pessoal. Meu muito obrigado a meu avô Aldo Samarão Guimarães (in memoriam), meu
irmão Alfredo Guimarães Motta, minha avó, Edith Martins Motta (in memoriam),
viii
minha bisavó Erothides de Carvalho Monteiro (in memoriam), meu avô José Alves
Motta (in memoriam), minha avó Lais de Barros Monteiro Samarão Guimarães, minha
mãe Maria Alice Barros Monteiro Samarão Guimarães e minha irmã Maria Alice
Guimarães Motta. Dois familiares eu agradeço não só pelo exemplo, mas também pelo
apoio durante a realização do curso: meu pai Ivan Martins Motta e minha esposa, Sintya
de Paula Jorge Motta.
E finalmente, um reconhecimento a Deus, que é o Grande Arquiteto do Universo e fonte
de toda a energia e vontade que reside dentro de cada um de nós, e que nos permite
seguir em frente e exercer todo o nosso potencial como seres humanos.
ix
RESUMO
O principal canal de distribuição de bens de consumo não-duráveis é o varejo
alimentício, que é composto basicamente por bares, mercearias, padarias, lojas de
conveniência, supermercados e hipermercados. Para atender a esses clientes, as
indústrias possuíam uma estrutura de marketing, composta por gerentes de produtos e
de vendas, com responsáveis por áreas e contas-chave. Com baixo poder de barganha,
os varejistas eram obrigados a aceitar as condições de negociação apresentadas pelas
indústrias detentoras de marcas fortes. Essa dissertação, através de um estudo
exploratório-descritivo efetuado com vinte empresas de bens de consumo, com
faturamento superior a R$ 100 milhões de reais por ano, levantou as principais
mudanças ocorridas no varejo alimentício brasileiro, que são a globalização das redes
supermercadistas, o aumento da consolidação dos supermercados, o surgimento de
novos formatos varejistas, o fortalecimento das marcas próprias, a competição entre
varejistas de formatos distintos e a expansão do varejo on line. Esse novo cenário fez
com que as indústrias passassem a ser muito pressionadas pelos seus clientes, que hoje
demandam maiores descontos e melhores serviços e consequentemente perdessem sua
rentabilidade. O trabalho verificou que uma alternativa para recuperar os negócios dos
fabricantes é a implementação do departamento de trade marketing, que tem por
objetivo adequar a estratégia, a estrutura e a operação da companhia à dinâmica dos
canais de distribuição, com o objetivo de atender melhor e mais rentavelmente seus
clientes e através destes, os consumidores. Finalmente, o estudo é concluído com as
estratégias, estruturas e perspectivas de trade marketing.
PALAVRAS-CHAVE: Marketing; trade marketing; varejo.
x
ABSTRACT
The main distribution channel for non-durable consumer goods is the food retail, which
is composed of bars, mini markets, bakeries, convenience stores, supermarkets and
hypermarkets. In order to sell to these customers, the industries had a marketing
department formed by product managers and a sales department that had regional and
key account managers. Without bargain power, the retailers had to accept the
negotiation terms presented by the industries that possessed strong brands. Through an
exploratory-descriptive study made with twenty industries with an income over R$ 100
million per year, this dissertation has found changes that have occurred with the
brazilian retailers, namely the globalization of the supermarket chains, the consolidation
of the supermarkets, the arrival of new retail models, the strengthening of private labels,
the competition of retailers of different formats and the expansion of the on line retail.
In this new scenario, the retailers demand better discounts and more services from the
industries that ended up loosing profitability. To overcome such losses the industries are
now implementing the so called trade marketing department, that aims at adequating the
strategy, the structure and the operation to the distribution channel dynamics in such a
way customers and consumers are satisfied, in a profitable way to the industry. This
paper ends with trade marketing strategies, structures and perspectives in Brazil.
KEY WORDS: Marketing, retail, trade marketing.
xi
ILUSTRAÇÕES
PÁGINA
GRÁFICOS
2.1 Margem operacional das indústrias de bens de consumo
Não-duráveis 1
FIGURAS
2.1 Estrutura ortodoxa de marketing e vendas 37
2.2 Estrutura de trade marketing – trade marketing consolidado 38
2.3 Estrutura de trade marketing – foco no desenvolvimento
de canais 39
2.4 Estrutura de trade marketing – foco na proteção de marcas 38
QUADROS
2.1 Varejo alimentício – formato de lojas 10
2.2 Motivos de empurrar e puxar para a globalização dos
varejistas 15
2.3 Perguntas-chave do marketing mix 20
2.4 Funções tradicionais de marketing e vendas 21
2.5 Embalagens de produtos Coca-Cola 24
2.6 Embalagens de xampu por canal 24
2.7 Política de preços para xampus 28
2.8 Composição dos investimentos de trade marketing 31
2.9 Trade marketing mix: Estratégia de ponto de venda 32
xii
2.10 Trade marketing mix 35
3.1 Indústrias pesquisadas 46
3.2 Divisão de perguntas por temas 47
4.1 Participantes do estudo 50
4.2 O reflexo das mudanças ocorridas no varejo no resultado
Das indústrias 63
4.3 Tempo de existência da estrutura de trade marketing 64
4.4 Canais-foco para a indústria 67
4.5 Papéis dos canais no trade marketing mix 69
4.6 Responsabilidade pelo desenvolvimento de promoções
No ponto de venda 72
4.7 Indicadores do plano de trade marketing 81
4.8 Divisão da equipe de trade marketing 86
4.9 Principais funções de trade marketing 89
4.10 Departamentos onde o profissional de trade marketing
Deve ter experiência 91
4.11 Habilidades gerenciais do profissional de trade marketing 92
4.12 Percepção dos clientes sobre trade marketing 97
TABELAS
2.1 Estrutura do varejo alimentício 12
2.2 Números do auto-serviço alimentar 13
2.3 Vendas internacionais das principais empresas varejistas 16
4.1 Tendências varejistas 51
xiii
SUMÁRIO
PÁGINA
1. INTRODUÇÃO 1
1.1 Contextualização 1
1.2 Problema da pesquisa 4
1.3 Objetivos 6
1.4 Justificativa 7
1.5 Metodologia 7
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 9
2.1 Varejo alimentar, suas mudanças e impactos nas indústrias 9
2.2 Marketing e vendas 18
2.3 Trade marketing 21
2.3.1. Produto 23
2.3.2. Preço 25
2.3.3. Promoção 29
2.3.4. Ponto de venda 31
2.4 A organização de trade marketing 36
3. AÇÕES METODOLÓGICAS 44
3.1 Tipo do estudo 44
3.2 Amostra do estudo 45
3.3 Coleta de dados: instrumento e procedimento 47
xiv
4. ANÁLISE DOS DADOS 49
4.1 Participantes do estudo 49
4.2 Mudanças no varejo e impacto na indústria 50
4.2.1. Globalização das grandes redes supermercadistas 51
4.2.2. Consolidação das redes supermercadistas 53
4.2.3. Marcas próprias 55
4.2.4. Novos formatos 57
4.2.5. A reação dos pequenos supermercados: Centrais
De Negócios 58
4.2.6. Concorrência entre varejistas de configurações
distintas 60
4.2.7. Varejo on line 62
4.3 Estratégias de trade marketing 63
4.3.1. Ponto de venda 65
4.3.2. Promoção 71
4.3.3. Preço 73
4.3.4. Produto 76
4.4 Estruturas de trade marketing 81
4.4.1. Formatos do departamento de trade marketing 81
4.4.2. Funções de trade marketing 86
4.4.3. O profissional de trade marketing 90
4.4.4. Mudanças nas estruturas de outros departamentos 93
4.4.5. Conflitos com outros departamentos 94
4.4.6. Vantagens, desvantagens e o futuro de
trade marketing 96
xv
5. CONCLUSÕES 99
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 101
7. APÊNDICE 105
8. ANEXOS 116
1
1. Introdução
1.1 Contextualização
O filósofo da ciência Thomas S. Kuhn, em seu livro, “A estrutura das revoluções científicas”,
se opõe ao raciocínio segundo o qual a ciência é feita incrementalmente, desenvolvendo novas
teorias a partir dos conhecimentos adquiridos no passado pelos estudiosos de uma
determinada área. Segundo o autor (2005, p.21), a ciência “talvez não se desenvolva pela
acumulação de descobertas e invenções individuais”. A ciência é desenvolvida a partir de
conceitos-chave, que são a ciência normal, paradigmas, as anomalias, a crise e a revolução
científica.
A ciência normal é o conjunto de pesquisas, fundamentada em realizações científicas e
ancoradas em paradigmas, que são como recupera Blaug (1993, p. 68) “todo o conjunto de
crenças, valores, técnicas e assim por diante, que são compartilhados pelos membros de uma
dada comunidade”. Quando o objeto de estudo do campo científico em questão enfrenta
anomalias, ou fatores que não são explicados pelos paradigmas vigentes e que modificam a
situação existente, a ciência normal enfrenta uma crise, pois não consegue explicar e resolver
os novos desafios que surgem a sua frente. Esse é o momento onde uma revolução científica
acontece, que é a procura e a descoberta de novos paradigmas, que permitem a uma nova
ciência normal solucionar as dúvidas e dificuldades que surgiram na crise. Os conceitos
abordados por Kuhn serão aplicados a partir de agora aos desafios enfrentados pelo marketing
de bens de consumo.
Segundo o paradigma que norteou profissionais de marketing do meio acadêmico e
empresarial durante a maior parte do século XX, as empresas de bens de consumo não-
duráveis deveriam possuir departamentos de marketing, que seriam os responsáveis por
2
desenvolver estratégias para alavancar vendas e rentabilidade através do gerenciamento de
quatro variáveis, consideradas controláveis pela empresa: produto, preço, promoção e ponto
de venda. Ao analisar cada uma dessas variáveis, é lógico concordar com o fato delas serem
controláveis: a empresa em uma economia de livre mercado tem liberdade para desenvolver
os produtos que julgar mais convenientes com suas capacidades e com as oportunidades que o
mercado oferece, pode comercializar esses produtos a um preço que seja atraente aos
consumidores, competitivo versus os rivais e que garanta uma rentabilidade, tem condições de
desenvolver ações promocionais para incrementar suas vendas a curto e longo prazo e
finalmente, selecionar os pontos de venda que julgar mais adequados para comercializar seus
produtos.
No caso da indústria de bens de consumo não-duráveis, para abastecer os consumidores dos
bens de consumo necessários em seu dia a dia, existem intermediários conhecidos como
varejistas alimentícios. Dentre os diversos tipos possíveis de varejos, um deles se destaca em
especial como abastecedor por excelência de bens de consumo não-duráveis: os
supermercados.
Segundo Kumar (2004), até a década de 80, os varejistas foram considerados elos
secundários da cadeia de abastecimento ao consumidor e as grandes indústrias de bens de
consumo, que foram pioneiras no processo de internacionalização, tinham poder de barganha
suficiente para selecionar quais os varejistas que iriam comercializar seus produtos e de que
forma isso deveria ser feito. O departamento de vendas era o responsável por efetuar as
negociações com os varejistas. Gerentes de vendas e vendedores atendiam a esses clientes, de
forma muitas vezes considerada arrogante e inflexível.
Kumar, no mesmo texto mencionado acima, explica que nas duas últimas décadas os
varejistas passaram por intensas modificações, ou anomalias, se forem ser utilizados os
conceitos elaborados por Kuhn, entre as quais se destacam a globalização e consolidação das
3
redes supermercadistas. Hoje, muitas das maiores empresas do mundo, são varejistas
alimentícios, como Wal Mart, Carrefour e Casino.
Fortalecidos, os varejistas passaram a exigir mais rentabilidade e serviços das empresas, que
não possuíam a cultura, as estratégias e as estruturas adequadas para atender a essa demanda.
Indústrias antes líderes de mercado, foram excluídas das gôndolas de grandes varejistas e
substituídas por marcas próprias (que são comercializadas exclusivamente por um varejista e
por isso recebem destaque na comercialização) ou por pequenas empresas de atuação local
mais dispostas e com estrutura de custos mais adequada a oferecer preços e serviços
demandados pelas potências do varejo.
Essa inversão de forças gerou uma crise de proporções inesperadas nos negócios dessas
indústrias, que não sabiam como atender a demanda dos varejistas, em conjunto com as
demandas dos consumidores e preservar a lucratividade do seu negócio. Os profissionais de
marketing foram colocados sob intensa pressão, mas todos os esforços feitos a partir dos
conceitos tradicionais de marketing para enfrentar as mudanças previamente descritas, que
ocorreram com os varejistas, fracassaram. A equipe de vendas, que executava as estratégias
desenhadas por marketing, também pouco podia oferecer para resolver esse dilema.
Céspedes (1996, p.24) obteve um depoimento de um gerente de uma empresa que relatou:
O marketing, na maioria das empresas, é gerenciado da forma como deveria ter sido
gerenciado há cinco ou dez anos. Porque essa foi a última vez em que os executivos
responsáveis pelas decisões de marketing realmente importantes das empresas
realizaram atividades externas regularmente. Em conseqüência disso, as decisões são
tomadas hoje com base em visões obsoletas dos fatos referentes à interface da
empresa com seus clientes.
O mesmo autor ressalta a nova necessidade de integrar planos de marketing voltados para os
consumidores com planos voltados para os varejistas, visto que com a deflagração da crise,
apenas novos paradigmas permitiriam aos fabricantes recuperar os seus negócios.
O principal resultado de uma crise na ciência, segundo Kuhn (2005, p. 105), “consiste
exatamente no fato de que indicam que é chegada a ocasião para renovar os instrumentos”.
4
Um novo paradigma para as indústrias levarem em consideração para atender a crise é o trade
marketing. Conceito que possui escassa literatura disponível, o trade marketing propõe que os
planos de negócios da empresa levem em consideração os consumidores e também os
varejistas. Enquanto o departamento de marketing desenvolve estratégias para satisfazer os
consumidores e vendas faz as negociações do dia a dia com os varejistas, trade marketing
analisa, cria e implementa estratégias para os principais clientes e canais de distribuição
atendidos pela empresa. Ao oferecer uma destacada relevância aos varejistas, com pessoas
dedicadas a entendê-los e satisfazê-los, novas oportunidades e formas de atuação se
apresentam para as indústrias de bens de consumo. Grandes empresas e institutos, como IBC
(International Business Communications), ABA (Associação Brasileira de Anunciantes) e
ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing), entre outros, organizaram nos últimos
anos encontros sobre o tema. Grandes universidades, como a própria PUC-SP, possuem
disciplinas sobre trade marketing em seus currículos dos cursos de administração de
empresas. É oportuno e necessário enriquecer esse campo do conhecimento com uma
dissertação que apresente a profissionais e acadêmicos como é desenvolvido o trade
marketing no Brasil
1.2 Problema da pesquisa
Como será visto com mais detalhe na fundamentação teórica dessa dissertação, a indústria de
bens de consumo não-duráveis no Brasil e no mundo, até o início da década de 90, possuía
um departamento de marketing e um departamento de vendas, ambos com papéis bem
definidos. Segundo Randall (1994), o departamento de marketing tinha um foco no
consumidor, desenvolvendo planos de negócios que impactassem os consumidores
considerando as variáveis do marketing mix (produto, preço, promoção e ponto de venda).
5
Enquanto isso, o departamento de vendas conduzia as negociações do portfolio de produtos e
atividades com os clientes, varejistas atendidos direta ou indiretamente. Dentro desse
panorama, o ponto de venda era considerado uma variável controlável pela empresa. No que
tange às grandes empresas de bens de consumo, isso era verdade, pois os clientes, em sua
maior parte, com atuação regional no Brasil, não podiam deixar de ter as principais marcas em
suas prateleiras.
Para problematizar a pesquisa, é pertinente entender o que pode ser considerado um problema
de pesquisa relevante. Segundo Lakatos e Marconi (2005, p. 161), o problema “é uma
dificuldade teórica ou prática, no conhecimento de alguma coisa de real importância, a qual
deve se encontrar uma solução”. Como as indústrias perderam poder de barganha para os
varejistas que passaram por um processo acelerado nos vinte últimos anos de globalização e
desenvolvimento de marcas próprias, com isso essas empresas enfrentam uma queda na
rentabilidade em suas operações, o que se constitui em uma séria ameaça para a evolução dos
seus negócios. Uma alternativa que foi implementada pelas indústrias, para reverter essa
situação foi a constituição do departamento de trade marketing, que propõe que os clientes
(varejistas) passem a ser tratados como consumidores, isto é com estratégias desenhadas para
atendê-los com excelência, sem reduzir ou se possível recuperando os lucros dos
fornecedores. O problema que se enfrenta nessa dissertação é saber se essa movimentação
aconteceu no Brasil e em caso afirmativo, quais mudanças ocorreram no varejo brasileiro,
qual o seu impacto nas indústrias e quais as estratégias e estruturas de trade marketing
desenvolvidas para atender a esse cenário?
6
1.3 Objetivos
Castilho e Derna (2005, p. 31) explicam que os objetivos “mostram onde se pretende chegar
com o trabalho de pesquisa. Apontam os resultados teóricos e práticos a serem atingidos”. A
partir da definição mencionada acima, pode-se estabelecer como objetivo geral desse trabalho
conhecer quais as estratégias e estruturas de trade marketing desenvolvidas pelas indústrias de
bens de consumo não-duráveis para responder as transformações que passaram os varejistas
alimentícios no Brasil. De forma complementar, há cinco objetivos específicos da dissertação,
que devem possibilitar a justa compreensão do tema abordado e que estão destacados a seguir.
a) Detectar quais foram as principais mudanças ocorridas no varejo alimentício no Brasil e
qual a relevância e o impacto dessas mudanças nos resultados de negócios das indústrias
de bens de consumo não-duráveis que produzem esses produtos;
b) Verificar se as indústrias brasileiras constituíram departamentos de trade marketing como
resposta a essas mudanças sofridas pelo varejo;
c) Conhecer as estratégias de trade marketing utilizadas no mercado brasileiro, como essas
interagem com as estratégias ortodoxas de marketing e como são implementadas no
mercado;
d) Determinar como as indústrias de bens de consumo organizam suas estruturas de trade
marketing no Brasil: qual a segmentação utilizada, qual o número de pessoas que trabalha
no departamento, qual o perfil do profissional, para quem a área responde dentro da
organização e qual o nível hierárquico dos executivos;
e) Verificar quais as perspectivas do departamento de trade marketing nas indústrias e quais
as dificuldades e conflitos que essa área enfrenta dentro da organização para atingir os
seus objetivos.
7
1.4 Justificativa
A configuração da área comercial da indústria tem que considerar uma nova forma de
atendimento a um varejo que passa por muitas mudanças. Cespedes (1996), diz que muitas
decisões mercadológicas hoje são tomadas por gerentes de marketing obsoletos, que não
possuem a perspectiva correta de como é a interface da empresa com seus clientes varejistas.
Randall (1994) salienta que a resposta mais eficiente a este cenário cambiante que a indústria
pode fornecer é utilizar os conceitos tradicionais de marketing junto aos clientes. O trade
marketing é o departamento que na empresa moderna vai suprir esta necessidade.
Há hoje necessidade no Brasil de serem produzidos estudos para a formação e
aperfeiçoamento dos departamentos de trade marketing e dos profissionais que atuam na área,
que se somem aos seminários que já existem e que abordam o tema e ao conhecimento já
adquirido pelas indústrias que têm alguma experiência em trade marketing. Esta dissertação
busca contribuir para suprir essa lacuna, através de estudo a ser realizado junto às indústrias
de bens de consumo não-duráveis. A partir de trabalhos acadêmicos sérios, podem-se
conhecer as melhores práticas de trade marketing e também quais as estruturas mais
adequadas para empreender esse trabalho. Por ter selecionado um segmento dos produtos
industrializados em específico, essa dissertação pode ser complementada com outras
pesquisas que compreendam diferentes segmentos.
1.5 Metodologia
Para posicionar a situação atual da indústria brasileira no que se refere à trade marketing, foi
realizado um estudo exploratório-descritivo combinado, com vinte e cinco executivos de
empresas de bens de consumo de grande porte, que atuam na área de marketing, vendas ou
8
trade marketing, e que responderam a um questionário semi-estruturado com roteiro pré-
estabelecido e testado. Foram escolhidas essas indústrias de maior porte, por serem maiores e
possuírem recursos humanos e financeiros enfrentar as mudanças ocorridas com os varejistas,
além de poderem prospectar as melhores práticas existentes em filiais situadas em outros países
(se o executivo entrevistado for de uma empresa multinacional) ou através de visitas técnicas de
seus executivos a outros mercados (no caso de empresas nacionais). Após o estudo e análise dos
questionários respondidos, um grupo de respondentes foi convidado a participar de uma
entrevista individual para aprofundar algumas das respostas dadas. Como a pesquisa foi
conduzida será visto com mais detalhes no capítulo destinado as ações metodológicas.
Para abordar o tema proposto, essa dissertação está dividida nos seguintes capítulos: a
introdução, que contextualiza o tema e fornece uma visão abrangente do projeto de pesquisa.
No capítulo seguinte é feita a fundamentação teórica, que contextualiza o varejo de bens de
consumo não duráveis no Brasil, as mudanças por que passaram os varejistas no mundo e o
impacto dessas mudanças nos resultados das indústrias. Em seguida, é apresentada a definição
de marketing, as funções e estruturas de marketing e vendas e o novo conceito de trade
marketing. O próximo capítulo destina-se a explicar com mais detalhes as ações
metodológicas empreendidas na dissertação. Em seguida são apresentados os resultados da
pesquisa: quais são as transformações que ocorreram no varejo alimentício brasileiro e como
essas se refletiram nos negócios das empresas de bens de consumo não-duráveis. Em seguida,
são apresentadas as estratégias e estruturas de trade marketing utilizadas no mercado
brasileiro. O próximo passo é colocar as conclusões e recomendações feitas a partir dos
resultados apresentados. A bibliografia utilizada e os anexos concluem a dissertação.
9
2. Fundamentação teórica
2.1 Varejo alimentar, suas mudanças e impactos nas indústrias
O século XX presenciou o surgimento e o desenvolvimento das grandes indústrias de bens de
consumo não-duráveis. Aacker (1998) destaca que o sucesso dessas empresas se deve em
grande parte a força que suas marcas têm aos olhos dos consumidores, que buscam adquiri-
las. Essa força foi conquistada através de esforços de marketing realizados durante décadas,
notadamente desde o início do século passado. Procter & Gamble, Unilever, Colgate, Johnson
& Johnson, Kraft Foods, Coca-Cola, todas se consolidaram em diversos países do mundo,
marcando presença na mente (e no lar) dos consumidores com estratégias de marketing
agressivas. É importante destacar que no texto a seguir os consumidores são aquelas pessoas
que adquirem e utilizam os produtos fabricados pelas indústrias, enquanto os clientes são os
intermediários que adquirem os produtos dos fabricantes e os revendem aos consumidores.
Las Casas (2004) explica que na história das trocas, no início, cada núcleo familiar produzia o
que era necessário para sua sobrevivência. Com o tempo, grupos que eram mais competentes
em produzir determinado produto se formaram para fabricar o que sabiam fazer melhor e o
que era produzido além da necessidade desse grupo era trocado por produtos diferentes que
eram procurados pelo primeiro grupo e que eram feitos por outros mais competentes na
fabricação desses. Nesse momento surgiram a moeda, que era utilizada como ferramenta de
troca e intermediários, que auxiliavam a realização dessas trocas, pois com sua presença era
possível reduzir o número de transações necessárias para abastecer fabricantes que
necessitavam de matérias primas para produzir os seus produtos e os consumidores com
produtos necessários para sua sobrevivência. Esses intermediários, quando atendem ao
consumidor final, são chamados de varejos.
10
Há muitas indústrias de bens de consumo que comercializam seus produtos diretamente para
os consumidores, como a Avon e a Natura, porém o principal meio de distribuição de bens de
consumo é o varejo alimentício. Há algumas diferenças na configuração desse segmento
varejista nos países e continentes, porém cada vez mais os supermercados, cuja configuração
no Brasil será explicada a seguir, têm predominância em relação a outros formatos.
Segundo Parente (2000) esse tipo de varejo, que possui uma ampla variedade de modelos
atende a significativa parcela das necessidades da população, que o freqüenta para se
abastecer de produtos como alimentos, bebidas e de higiene e limpeza para suas necessidades
diárias. O quadro 2.1 apresenta alguns dos principais formatos desse segmento varejista no
Brasil.
Quadro 2.1 Varejo alimentício – formato de lojas
Formato Área de Vendas
(m2)
Número médio
itens
Seções
Bares 20-50 300 Mercearia, lanches e bebidas
Mercearias 20-50 500 Mercearia, frios, laticínios e bazar
Padarias 50-100 1.000 Padaria, mercearia, frios, laticínios,
lanches
Minimercados 50-100 1.000 Mercearia, frios, laticínios e bazar
Lojas de
conveniência
50-250 1.000 Mercearia, frios, laticínios, bazar,
lanches
Supermercado 300-5.000 9.000 Mercearia, hortifruti, carnes, aves,
frios, laticínios, peixaria, padaria,
bazar, têxtil, eletrônicos
Hipermercado 5.000-16.000 45.000 Mercearia, hortifruti, carnes, aves,
frios, laticínios, peixaria, padaria,
bazar, têxtil, eletrônicos
Fonte: Adaptado de Brito (1998 apud Parente, 2000, p. 30)
Os bares são pontos de vendas pequenos, que oferecem um sortimento de produtos destinado
ao consumo imediato e são freqüentados por consumidores que buscam consumir no local
bebidas alcoólicas e não-alcoólicas e lanches rápidos. Para consumo futuro dos produtos, há
os clientes chamados de tradicionais (tem esse nome porque essa configuração varejista
11
surgiu antes dos auto-serviços), que são aqueles locais onde a maior parte dos produtos
desejados devem ser solicitados, pois os mesmos encontram-se atrás de um balcão, onde os
consumidores são atendidos pelos funcionários do varejo. Esses clientes tradicionais podem
ser mercearias ou padarias. As mercearias oferecem uma linha básica de produtos para serem
consumidos no lar, e hoje existem em regiões de baixo poder aquisitivo, onde não há
potencial para existir um supermercado ou hipermercado. A padaria, que surgiu para vender
pães e bolos, tem ampliado sua gama de produtos e serviços e hoje compete com bares, por
oferecer lanches rápidos e também com mercearias e supermercados, por ter uma seção de
auto-serviço bem sortida. A realidade hoje é que cada vez mais padarias e mercearias têm se
modificado para melhorar o seu mix e oferecer produtos de maneira semelhante aos auto-
serviços, que serão explicados a seguir. As diferenças entre os canais ficam cada vez menos
nítidas e os diferenciais competitivos deixam de ser a forma de atendimento e passam a ser
outros fatores, como preço, facilidade de acesso e sortimento de produtos oferecidos.
Os auto-serviços, assim chamados por serem aqueles estabelecimentos onde os consumidores
pegam os produtos que desejam nas gôndolas, são popularmente conhecidos como
supermercados. Para os estudiosos do setor, são classificados de acordo com o seu tamanho e
sortimento de produtos: minimercados, supermercados e hipermercados. Uma loja de
conveniência pode ser considerada um auto-serviço, pela suas características físicas e forma
de atendimento. Uma outra forma utilizada para analisar esse canal é a divisão através do
número de caixas registradoras ou checkouts. Hoje, no Brasil, assim como ocorrido nos
Estados Unidos e na Europa, a maior parte das vendas para consumo futuro do varejo
alimentício está concentrada em auto-serviços, como pode ser visto na tabela 2.1.
A liderança dos auto-serviços dentro do varejo alimentar e o esforço que outros formatos
como padarias e mercearias tem feito para se parecer cada vez mais com uma loja de auto-
serviço demonstra o sucesso desse formato, que pode ser atribuído ao amadurecimento dos
12
consumidores, que têm uma vida cada vez mais atribulada, cercados pela complexidade das
grandes metrópoles, como Londres, Nova York, São Paulo e Tóquio. Como coloca Guimarães
(2005, p. 22): “Hoje, São Paulo é um vastíssimo conglomerado urbano repleto de contrastes
espantosos, abissais mesmo: terrenos baldios, barrocas esparsas, altos prédios, favelas junto a
arranha-céus e ricas mansões emolduradas por áreas verdes, onde se destacam piscinas azuis,
quadradas, retangulares, ovais...”. Nesse contexto, os consumidores buscam a conveniência de
encontrar todos os produtos para seu lar em um só local, se possível próximo do seu local de
moradia ou de trabalho, a um preço adequado e com um tempo de compra reduzido.
Os auto-serviços também aumentaram sua competitividade. Enquanto no passado abasteciam
os consumidores com os produtos essenciais para a manutenção de sua residência,
notadamente os itens de mercearia, hoje os auto-serviços expandiram o seu mix de produtos e
vendem produtos que eram comercializados por outros formatos varejistas, como pães e até
mesmo eletrodomésticos. Hoje há cada vez menos canais especializados e surgiu uma
concorrência entre formatos que no passado eram complementares.
Tabela 2.1 Estrutura do varejo alimentício
Tipo de Varejo Número de lojas % Vendas
Total Varejo 399.410 100
AS (auto-serviço) 70.286 80,8
AS 50 ou mais checkouts 135 10,6
AS 20 a 49 checkouts 587 17,0
AS 10 a 19 checkouts 1.602 15,1
AS 5 a 9 checkouts 3.923 13,0
AS 1 a 4 checkouts 64.039 25,1
Tradicionais (padarias e
mercearias)
329.124 9,2
Fonte: Censo 2004/2005 – Estrutura do Varejo Brasileiro – AC Nielsen.
Essa força dos auto-serviços como canal de distribuição fez com que os mesmos sejam um
dos segmentos da economia com maior representatividade. Segundo o ranking da ABRAS
13
(Associação Brasileira de Supermercados), o número de lojas, faturamento, número de
empregados, área de vendas e quantidade de checkouts tem aumentado ano a ano, enquanto a
participação do setor no produto interno bruto (PIB) brasileiro tem sido constantemente
superior a 5%. A tabela 2.2 apresenta maiores detalhes desse estudo.
Tabela 2.2 Números do auto-serviço alimentar
1997 2001 2004
Número lojas 47.787 63.396 71.951
Faturamento anual (R$
Bilhões atualizados)
51,6 74,2 97,7
Participação % PIB 5,9 6,2 5,5
Número de empregados 655.000 710.743 788.268
Área de vendas (milhões
de metros quadrados)
12 15,3 18,1
Checkouts
123.170 156.022 166.503
Fonte: SuperHiper, ano 31, número 353, Maio 2005: Ranking Abras 2005
Segundo Kumar (2004), esses varejistas, até a década de 80, eram caracterizados pela sua
atuação local e fragmentada, em apenas um país ou em uma região do país de origem. No
Brasil, até a entrada do Carrefour, na década de 70, todos os maiores auto-serviços eram
empresas nacionais, a maior parte delas com atuação em uma determinada região do país.
Além disso, eram negócios familiares, gerenciados pelos proprietários, sem a utilização das
melhores ferramentas de gestão e profissionais especializados. Era um setor da economia que
possuía a imagem de um negócio simples, que para ser gerenciado não necessitava de mão-
de-obra qualificada.
As indústrias, nesse contexto, muitas delas grandes indústrias multinacionais, utilizavam seu
poder superior de barganha para coagir os varejistas quando necessário, de forma a atingir
14
seus objetivos. Os varejistas eram obrigados pelos consumidores a ter os produtos líderes em
suas prateleiras, caso contrário os mesmos seriam adquiridos nos concorrentes. Lançamentos
de produtos eram colocados em linha pelos varejistas para que pudessem continuar a ter os
produtos líderes em suas prateleiras. Aumentos de preços não eram negociados, sendo
impostos aos varejistas sem maiores explicações. Por outro lado, os varejistas não conseguiam
ter uma negociação com a indústria que oferecesse uma melhor lucratividade no seu negócio e
dessa forma que permitisse maiores investimentos para sua expansão e profissionalização.
Era um ambiente de negócios tenso e conflituoso e Kumar (2004), levanta três motivos pelos
quais a exploração dos canais de distribuição pode gerar resultados a curto prazo, porém está
fadada ao insucesso no longo prazo:
a) Obter vantagens excessivas de concessões que não são justas gera uma indisposição que
pode voltar-se contra o causador das mesmas, se a balança de forças se reverter;
b) Seguindo os princípios da física, a força que os fabricantes exerciam para explorar os
varejistas em algum momento dá origem a uma força igual e de intensidade contrária;
c) Esse não é o modelo de relação que permita o desenvolvimento de parcerias de longo
prazo, onde seja entregue o maior valor possível aos clientes e através dos mesmos, aos
consumidores.
Os executivos das indústrias de bens de consumo se houvessem nesse momento analisado o
cenário de negócios para desenvolver estratégias de longo prazo para atender os canais de
distribuição de seus produtos, veriam a situação perigosa que seus negócios estavam se
colocando. Por um lado, a globalização era uma realidade em diversos setores de economia e
poderia acontecer também com o varejo alimentar e nesse caso, uma maior força dos
varejistas poderia modificar ou até inverter a relação de poder entre os canais. Além disso,
anos de relações desgastantes, conflituosas e onde apenas um lado era beneficiado, poderia
gerar ressentimentos por parte dos varejistas, o que prejudicaria ainda mais os negócios entre
15
as empresas. Mudanças na configuração dos varejistas, em especial a globalização e
consolidação das redes do setor supermercadista, que efetivamente ocorreram em primeiro
lugar nos mercados mais maduros, como Estados Unidos e Europa, fez com que as grandes
redes, muito maiores, passassem a ter um grande poder de negociar descontos e serviços com
as indústrias, que é confirmado pela afirmação de Randall (1994, p.3), “(...) a balança de
poder parece ter se movido em direção aos varejistas”. Esse movimento impulsionou redes
que antes possuíam atuação regional passam a se expandir em outros países, com lojas
próprias ou com a aquisição de redes locais. Randall e Seth (2005) colocam que há fatores que
empurram os varejistas para a globalização, que são os fatores que reduzem a atração em
permanecer em seus mercados originais, que em geral são maduros, como os Estados Unidos
e a Europa. Há também os fatores que puxam os varejistas para a globalização, que são as
oportunidades oferecidas com uma expansão internacional. Os principais fatores de empurrar
e puxar estão colocados no quadro 2.2.
Quadro 2.2 Motivos de empurrar e puxar para a globalização dos varejistas
Empurrar Puxar
Mercados maduros, poucas oportunidades População em expansão no país-hóspede
Intensa pressão competitiva e participação de
mercado em declínio
Crescimento da população e crescimento do
consumo em grupos-chave
Saturação ou eminente saturação de terrenos
disponíveis para abertura de lojas
Presença de mercado de nicho e desejo de
exportar a fórmula que funciona na região-
sede
Pequeno crescimento da economia Remoção das barreiras de entrada
Pequeno crescimento populacional e
mudanças demográficas
Força dos produtos com a marca do varejista
Legislação que restringe a abertura de lojas,
especialmente de grande porte
Habilidades e fortalezas do varejista
Legislação que impede o crescimento através
de aquisições
Filosofia da companhia orienta o crescimento
internacional
Altos custos operacionais Oportunidade de aprender sobre o mercado
internacional e preparar bases para futura
expansão
Fonte: Randall e Seth (2005) apud Oxford Institute of Retail Management
16
Esse conjunto de fatores tornou a globalização dos varejos uma realidade consolidada para os
principais varejos alimentícios do mundo, como Wal Mart, Carrefour, Tesco, Ahold e Costco
que hoje tem participação significativa de seu faturamento feita em outros países que não o
seu país-sede. A tabela 2.3 apresenta o grau de internacionalização desses varejistas. Para
acelerar a entrada em novos países, a estratégia é composta pela abertura de lojas para
concorrer com os varejistas locais ou então a própria aquisição desses varejistas, o que acaba
gerando uma consolidação das vendas totais nos varejistas globais que são bem-sucedidos em
seu processo de internacionalização.
Tabela 2.3 Vendas internacionais das principais empresas varejistas
Ranking Empresa País Faturamento
(U$ milhões)
Participação % vendas
internacionais no total
Medida de
globalização *
1 Wal Mart Estados
Unidos
241.973 16 1,2
2 Carrefour França 38.794 51 2,2
3 Testo Inglaterra 26.350 15 0,4
5 Ahold Holanda 19.281 92 5,2
6 Costco Estados
Unidos
17.717 18 0,2
Fonte: Randall e Seth (2005) apud Oxford Institute of Retail Management
* A medida de globalização é composta de um percentual das vendas no exterior, número de
regiões e concentração relativa.
Os varejistas regionais remanescentes buscam crescer seus negócios para poder competir
com os gigantes mundiais. Esses varejistas, muito maiores e mais fortes, demandam mais
descontos dos produtos comercializados, para serem mais competitivos e conseguirem
recursos adicionais para oferecer serviços que os diferenciem da concorrência. O nível de
stress entre as indústrias, que não estavam preparadas para essa situação, chegou a tal ponto
que Randall (1994, p. 2) destacou o seguinte depoimento, publicado no jornal The
Independent:
17
Os compradores profissionais contratados de grandes varejistas são sádicos que se
divertem humilhando seus fornecedores, quebrando suas promessas e usando um
arsenal devastador de truques e armadilhas para uma negociação. Essa é a visão de
95% dos executivos de vendas recentemente questionados...Varejistas de bens de
consumo não-duráveis foram identificados como sendo particularmente difíceis de
tratar. Vendedores que atendem a esses varejistas demonstraram índices anormais de
stress... (traduzido pelo autor).
Corstjens e Corstjens (1995), explicam que esses varejistas competem acirradamente entre si
por participação nas vendas de bens de consumo. Para garantir sua própria rentabilidade em
um mercado tão competitivo, os varejistas têm três opções: a primeira é localizar os pontos de
venda em pontos privilegiados, que ofereçam uma acessibilidade superior aos consumidores e
dessa forma seja preferido para a realização das compras. Outra alternativa é operar com
custos baixos e parte dos ganhos obtidos com possíveis reduções para os preços dos produtos,
sendo assim uma alternativa mais econômica ao consumidor. Finalmente, existe a
possibilidade de construir uma marca de valor através da oferta de produtos com marca
própria (que são comercializados exclusivamente pelo varejista que detém a marca) que sejam
comercializados com preços competitivos quando comparados com as marcas líderes e
também tenham uma qualidade razoável ou boa comparados aos líderes.
Cada vez mais varejistas optam por também investir no segmento de marcas próprias e
colocam esses produtos de forma impactante em suas prateleiras e ofertas. O resultado é que
as indústrias precisam enfrentar novos concorrentes, que tem bons preços e qualidade, além
de contar com todo o suporte das grandes redes supermercadistas. Ao ganhar participação de
mercado, as marcas próprias incentivam as indústrias a reduzir os seus preços para conter a
perda de consumidores e consequentemente, acabam por afetar a rentabilidade dos
fabricantes.
A conseqüência imediata da globalização, consolidação e do surgimento das marcas próprias
é a obtenção de resultados melhores por parte dos varejistas e a queda de rentabilidade das
indústrias, que são cada vez mais pressionadas para oferecer preços mais competitivos e
serviços adicionais aos varejistas. Há indícios que isso está acontecendo no Brasil também.
18
Em uma reportagem de capa publicada na revista Exame
1
em 2002, denominada “A Ditadura
do Varejo” são apresentados os resultados de uma pesquisa feita pela Booz-Allen & Hamilton
que aponta a queda do resultado operacional das empresas de bens de consumo de 6,3% em
1997 para 3,2% em 2000 (gráfico 2.1), enquanto o resultado de todas as principais redes
varejistas apresentou incrementos em valores absolutos e percentuais.
Gráfico 2.1 Margem operacional das indústrias de bens de consumo não duráveis
0
1
2
3
4
5
6
7
1997 1998 1999 2000
Margem
operacional
Fonte: Revista Exame, São Paulo: Editora Abril, 2002.
2.2 Marketing e vendas
Antes dessas grandes mudanças ocorridas no varejo, a área comercial das empresas de bens de
consumo não-duráveis desenvolveu um modelo de estrutura, que apesar das características de
cada segmento e até mesmo de cada indústria em particular, tem semelhanças entre si, com
destaque para a existência dos departamentos de marketing e vendas. Sobre marketing,
Corstjens e Corstjens (1995, p.1), colocam que as indústrias de bens de consumo foram as
líderes no desenvolvimento da prática do marketing:
Elas (indústrias) nos deram o conceito de marcas como nós conhecemos hoje,
inventaram a comunicação baseada na imagem e foram os pioneiros na utilização de
1
BLECHER, Nelson. A ditadura do varejo. Exame, São Paulo, edição 768, p. 44-52, Junho
2002.
4,6
3,6
3,2
6,3
19
pesquisas de mercado para conhecer os desejos e as percepções dos consumidores.
Essas inovações foram utilizadas em toda a nossa sociedade, por governos,
organizações de caridade, grupos de consumidores e toda a sorte de comércio, de
serviços financeiros a produtos farmacêuticos. Além do orgulho por toda essa
imitação, os inventores das marcas foram ricamente recompensados em termos de
rentabilidade. (traduzido pelo autor
).
Para aprofundar toda a extensão do trabalho desenvolvido por marketing, Groonros (2001,
p.54) recupera a definição feita pela American Marketing Association: “Marketing é o
processo de planejar e executar a concepção (do produto), precificação, promoção e
distribuição de idéias, bens e serviços para criar trocas e satisfazer objetivos individuais e
organizacionais” (traduzido pelo autor). Essa definição apresenta o estudante ou profissional
de marketing ao composto de marketing, ou marketing mix, que são (ou deveriam ser) as
variáveis controláveis que o executivo da área deve gerenciar de forma a atingir os objetivos
de negócios da empresa, conhecidas como os quatro Ps: produto, preço, promoção e ponto de
venda. Amplamente reconhecida pelos gerentes de marketing, essas foram durante décadas as
principais responsabilidades que um executivo de marketing deveria atender.
Randall (1994) aponta que até os anos 80, o gerente de produto era a função mais importante
dentro das indústrias de bens de consumo não-duráveis. Responsável pelas estratégias de
marketing e o marketing mix do produto que gerenciava, o gerente desenvolvia planos de
marketing de forma a atender as expectativas dos consumidores. Algumas das perguntas-
chave que um gerente de produto deveria responder no seu dia a dia de trabalho estão no
quadro 2.3.
20
Quadro 2.3 Perguntas-chave do marketing mix
Marketing Mix Perguntas-Chave
Produto - Qual o produto a ser lançado que possui o maior
potencial de vendas junto aos consumidores?
- Este produto possui sinergia com os produtos
comercializados hoje pela empresa?
- Qual será a marca do produto?
- Qual o posicionamento do produto na mente dos
consumidores?
- Qual será a embalagem do produto?
- Qual a quantidade mais adequada de unidades por
embalagem, de forma a atender a necessidade dos
consumidores?
Preço - Qual o preço praticado pelos produtos concorrentes e
substitutos?
- Quanto os consumidores estão dispostos a pagar pelo
produto?
- Qual o impacto nas vendas que uma alteração para
cima ou para baixo do preço do meu produto ou do
concorrente pode ocasionar?
- Qual o incremento de vendas em promoções de
preço?
Promoção - Qual os veículos de comunicação mais adequados
para divulgar o produto?
- Como balancear os esforços de comunicação entre os
diferentes veículos?
- Qual a linha de desenvolvimento das peças
publicitárias que comunica de forma mais efetiva o
posicionamento do produto?
- Qual o calendário de veiculação das atividades
promocionais, de forma a causar o maior impacto nos
consumidores?
Praça/Ponto de venda - O produto deverá ser lançado antes em um mercado-
teste?
- Quais as regiões e canais onde o produto será
comercializado?
- Qual a intensidade da distribuição em cada região e
canal de distribuição?
Fonte: Desenvolvido pelo autor.
É interessante destacar que o ponto de venda era considerado uma variável controlável pelas
indústrias (e pelos próprios acadêmicos de marketing), que investiam toda a energia de seus
departamentos de marketing com o objetivo de aumentar e fidelizar os consumidores finais
dos seus produtos.
Já os departamentos de vendas, cujo principal objetivo é abastecer os varejistas atendidos
pelas indústrias, tinham como rotina de trabalho visitar os clientes varejistas da empresa,
vender os produtos da indústria para os mesmos, abastecer as prateleiras de cada ponto de
21
venda para que os produtos estivessem bem-expostos para impactar o consumidor e também
prospectar novos clientes. No quadro 2.4, estão as principais funções de cada departamento.
Quadro 2.4 Funções tradicionais de marketing e vendas
Marketing Vendas
- Pesquisar as oportunidades de mercado para
os produtos existentes ou novos produtos;
- Gerenciar campanhas de comunicação;
- Planejar e desenvolver promoções;
- Recomendar preços;
- Suporte no desenho e formulação de
produtos;
- Desenvolver embalagens;
- Desenvolvimento e teste de novos produtos;
- Interface com produção e vendas;
- Análise de competidores e desenvolvimento
da estratégia competitiva;
- Coordenação do planejamento da empresa.
- Construir e manter relação com os clientes;
- Negociar vendas;
- pedidos e negociar entregas;
- Preparar apresentações para os clientes;
- Interface com marketing no
desenvolvimento de promoções, lançamentos,
etc.;
- Gerenciar a estrutura de preços entre os
canais;
- Informar a empresa sobre movimentações de
clientes e competidores.
Fonte: Trade Marketing Strategies/Geoffrey Randall – London: BH 1994
Nesse estágio da indústria de bens de consumo, a busca pelo entendimento dos canais de
distribuição era muito limitada, em função da pouca força dos varejistas, considerados como
já foi dito uma variável “controlável” dos negócios. Esse trabalho, quando era feito, ficava
sob responsabilidade do departamento de vendas, que tinha como principal responsabilidade
entregar resultados de curto prazo em negociações diárias com os clientes.
2.3 Trade marketing
Para responder ao novo cenário de negócios, era necessário entender e interagir com os canais
de distribuição de forma diferente ao que era feito anteriormente. Os departamentos de
marketing e vendas e os planos e operações sob sua responsabilidade não eram capazes de
entregar mais os níveis de resultados esperados pelas indústrias de bens de consumo. O ponto
22
de venda não poderia mais ser entendido como uma variável controlável e sim deveria
merecer um tratamento personalizado, tão bom, ou melhor, àquele que era oferecido aos
consumidores de bens de consumo. Essa tarefa, que requer foco e dedicação, é
responsabilidade de um novo departamento, o trade marketing. Corstjens e Corstjens (1995,
p. 222), destacam que o trade marketing é um marketing industrial ou B2B (business to
business – de empresa para empresa) e que possui três grandes desafios, que são destacados a
seguir.
Primeiro, maximizar o valor oferecido aos varejistas. Esses compram os produtos
com o objetivo de revendê-los e ter lucro com isso. A decisão de compra é tomada a
partir de critérios econômicos (...). Em segundo lugar, garantir que a equação de
valor oferecida e todas as atividades para desenvolver o negócio de cada cliente
sejam feitas de forma rentável para a indústria (...). Finalmente, como a base de
clientes é muito mais concentrada em mercados industriais, o perigo da dependência
é muito mais dramático (...) o fornecedor deve dividir e dominar, ou não dividir e ser
dominado. (traduzido pelo autor).
Segundo Randall (1994), Os primeiros departamentos de trade marketing foram organizados
na Europa (os varejistas europeus, na década de 80 e 90, passaram por muitas transformações
que depois se espalharam pelo mundo, como a consolidação das grandes redes). A partir da
pouca literatura disponível, com destaque para o livro de Randall, o livro de Corstjens e
Corstjens e a dissertação de Alvarez, chegou-se a um conceito genérico de trade maketing,
que oferece a seguinte definição: trade marketing opera no sentido de adequar a estratégia, a
estrutura e a operação da companhia à dinâmica dos canais de distribuição, com o objetivo de
atender melhor e mais rentavelmente seus clientes e através destes, os consumidores.
O primeiro desafio desse novo departamento é desenhar a estratégia de canais de distribuição
da indústria. A estratégia de canal, conforme Rosenbloom (2002), para ser efetiva necessita
ser coerente com os objetivos e estratégias de marketing, de forma a que os produtos sejam
disponibilizados de forma efetiva aos consumidores alvo. Essa estratégia deve estar preparada
para customizar o composto de marketing ou marketing mix (produto, preço, promoção e
ponto de venda) às necessidades de cada canal de distribuição, com o objetivo de atender de
forma satisfatória os clientes e consumidores da indústria. Esse composto customizado que
23
constitui o trade marketing mix, emprega maior e mais acurado foco nos canais de
distribuição. A seguir esse novo composto e suas possíveis aplicações e benefícios serão
explicados com mais detalhes.
2.3.1 Produto
Antes das mudanças ocorridas no varejo, as empresas desenvolviam os produtos mais
adequados às necessidades dos consumidores e era possível ter o mesmo produto vendido em
todos os canais de distribuição. Para atender as demandas dos grandes varejistas por produtos
exclusivos e para alavancar o negócio de canais mais rentáveis (aqueles que exercem menos
pressão por preços e serviços), as indústrias desenvolveram produtos e embalagens
específicas para a necessidade de cada canal, assim como passaram a trabalhar com
embalagens promocionais em ocasiões especiais. Com produtos distintos sendo
comercializados, os varejistas, em especial os supermercadistas, não necessitam vender mais
barato do que o desejado esses produtos, já que não há guerra de preços entre redes e canais e
assim exercem menos pressão por descontos sobre os fabricantes. Nesse contexto, deve-se
determinar qual a embalagem ideal para abastecer cada canal. Como os canais em geral
atendem consumidores distintos, a embalagem primária pode ter diferenças. A embalagem
secundária, que acondiciona os produtos no momento de sua distribuição, também deve ser
ajustada de acordo com os canais envolvidos. Ao estudar as embalagens comercializadas pela
Coca-Cola, podem-se observar as variações de embalagens possíveis para um mesmo produto
(quadro 2.5).
24
Quadro 2.5 Embalagens de produtos de Coca-Cola
Canal Embalagem de CocaCola
Bares Embalagem vidro com 290 ml
Fast foods Post mix em copos de tamanhos diversos
Padarias PET 1,5 litros
Minimercados 1 litro retornável
Supermercados PET 2,0 litros
Fonte: Desenvolvido pelo autor.
Um exemplo hipotético dentro da categoria de xampus (quadro 2.6) reforça o exemplo
anterior e demonstra como as oportunidades oferecidas por um determinado canal de
distribuição podem ser capturadas por uma indústria onde os conceitos de trade marketing
estejam consolidados, pois para a determinação da embalagem em cada canal de distribuição
são levados em consideração o perfil do consumidor e do varejista.
Quadro 2.6 Embalagens de xampu por canal
Canal Características do Canal Embalagem
Primária
Embalagem
Secundária
Mini-mercados Venda com baixo ticket médio,
para atender emergências da
população de classe C/D. Não
possui recursos investir em
estoque.
Unidade com 150
ml (menor custo de
aquisição, para
atender o
consumidor C/D).
Caixa com 6 unidades
(menor custo de
aquisição para o
cliente).
Hipermercados Venda de abastecimento das
necessidades mensais, para todos
os tipos de consumidores.
Controle rígido para evitar
desabastecimento.
Unidade com 150
ml (consumidores
C/D) e com 350 ml
(consumidores
A/B).
Caixa com 24
unidades (ideal para
composição de
pallets, onde os
xampus são entregues
aos hipermercados).
Atacados Venda para mini-mercados muito
pequenos, que não possuem força
para comprar direto da indústria.
Unidade com 150
ml.
Packs com 3 unidades
(custo ainda menor
por transação),
acondicionadas em
caixas de 8 packs.
Fonte: Desenvolvido pelo autor.
25
Os canais também passaram a oferecer oportunidades de comercialização que antes não
existiam. As grandes cadeias de supermercados e as centrais de compra, cada vez trabalham
mais com marcas próprias. Caso a empresa possua capacidade ociosa de fabricação, produzir
marcas próprias pode ser uma alternativa para aumentar as vendas e também para melhorar o
relacionamento com os clientes (esse exemplo, segundo Randall (1994), deve ser
cuidadosamente avaliado, pois marcas próprias têm preços muito mais competitivos do que
marcas líderes. Ao produzir marcas próprias, o líder de um segmento pode gerar
questionamentos sobre os motivos dos produtos com sus marcas não serem vendidos ao
mesmo preço que as marcas própria são comercializadas, além do que os produtos com marca
própria podem canibalizar os produtos comercializados com as marcas da indústria).
2.3.2 Preço
Outro componente do composto de marketing que foi muito afetado pelas mudanças ocorridas
no varejo foi a política de preços. Segundo Rosembloom (2002), para elaborar uma política de
preços, a indústria deve considerar custos, seus consumidores, os competidores e o canal de
distribuição, sendo que é nessa última variável que trade marketing deve concentrar esforços
para que os produtos cheguem com o preço correto ao consumidor final de forma rentável
para o fabricante. Para isso, devem ser considerados uma série de fatores, entre os quais:
a) Estrutura de custos de cada canal, pois diferentes canais de distribuição têm composições
de custos distintas. O conhecimento dessas composições permite que os fabricantes
aproveitem oportunidades para rentabilizar o negócio ao mesmo tempo em que garantem a
coerência de preços para o consumidor final. Por exemplo, uma rede de auto-serviços que
recebe os produtos em um depósito central e dispõe de uma logística própria para abastecer as
26
lojas da rede, pode receber um desconto adicional para sustentar essa operação e ainda assim
ser um cliente mais rentável para a indústria do que uma rede que é abastecida loja a loja;
b) Condições comerciais negociadas com cada canal. As redes de supermercados oferecem os
melhores espaços em suas prateleiras e suas promoções por um determinado preço aos
fabricantes. A indústria deve saber até quando é interessante investir nesses espaços e mídias
e mensurar continuamente o retorno do investimento. Profissionais de marketing e trade
marketing juntos devem comparar também os investimentos feitos nos varejistas com outros
investimentos possíveis da verba total de marketing;
c) Mark ups praticados em cada canal. De acordo com a estrutura de custos e os serviços
oferecidos, cada canal praticará um mark up próprio sobre os produtos adquiridos. É
necessário conhecer quais são aos mark ups que cada canal pratica e ajustar os preços de
forma a que o preço final ao consumidor seja o mais adequado em relação ao seu potencial de
compra e a concorrência. Há diversas situações associadas ao mark up do varejista. Por
exemplo, pode ser que a indústria tenha que negociar com os varejistas a redução do mark up
de determinados clientes, quando os mesmos estiverem cobrando mais do que o consumidor
está disposto a pagar. Uma outra situação é quando a indústria oferece um preço mais
acessível de seus produtos e mantém o preço ao consumidor final, para oferecer ao varejista
um mark up melhor dos seus produtos em contrapartida a algum benefício a ser negociado;
d) Quanto o consumidor está disposto a pagar pelo produto de acordo com a ocasião de
compra e consumo. Cada canal atende a diferentes ocasiões de compra. Por exemplo, o
consumidor pode comprar um item da cesta básica em uma compra para todo o mês. Para
realizar essa compra, de maior porte, o consumidor irá pesquisar preços entre os canais e
clientes que vendem esse produto. Caso durante o mês, esse produto acabe na casa do
consumidor e ele necessite do mesmo para preparar uma refeição para um grupo de amigos
que está fazendo uma visita inesperada em sua residência, ele poderá ir ao varejista mais
27
próximo de sua casa e comprar o mesmo item sem realizar pesquisa nenhuma de preço.
Ocasiões de consumo também influenciam o preço de comercialização. Um consumidor pode
comprar uma bebida em um bar sofisticado para consumir na hora com sua família e amigos.
Nessa situação, o consumidor estará predisposto a pagar um valor maior do que se for
comprar a mesma bebida em um auto-serviço para consumir em casa. Conhecer as ocasiões
de compra e consumo oferecem oportunidades para as indústrias posicionarem seus preços de
forma distinta em canais de distribuição e clientes com o objetivo de rentabilizar a sua
operação;
e) Dinâmica das negociações de cada canal. A cultura de cada país e de cada setor da
economia podem se refletir na condução das negociações. Um exemplo são clientes que
buscam descontos em uma negociação e não fecham a mesma se não os obtiverem. Indústrias
que posicionam suas tabelas de preços em valores superiores e oferecem descontos maiores,
chegando ao mesmo preço no final, podem ter mais flexibilidade aparente para os varejistas e
serem privilegiadas por isso. Outra situação que pode ocorrer no Brasil é quando varejistas
que, por ainda possuírem memória da época da inflação, aguardam os últimos dias do mês
para fechar os negócios e abastecerem os seus estabelecimentos. Nesse caso, para evitar faltas
de produtos, pode ser necessário treinar a equipe de vendas com um discurso apropriado ou
oferecer descontos para compras no início do mês.
f) Garantir a coerência entre os preços de cada canal, para evitar cross channel (situação onde
um dos canais atendidos pela indústria revende os produtos dessa indústria para outros dos
canais atendidos direto pela indústria. A repetição dessa situação pode gerar um mercado
paralelo ou um leilão entre revendedores dos produtos e a própria indústria. Nessa situação, o
foco passa a ser integralmente os preços oferecidos e não a excelência no atendimento, com
serviços adicionais oferecidos pela indústria e a construção de uma relação a longo prazo
entre fabricante e varejista);
28
g) Promoções de preços. Hoje os varejistas, em especial as grandes redes de auto-serviço,
possuem um calendário promocional próprio, com tablóides entregues aos consumidores,
mídias na televisão e nas rádios, promoções para consumidores freqüentes e rebaixas de preço
em loja. A indústria deve conhecer o calendário promocional de cada canal de distribuição e
de cada cliente e negociar sua inserção levando em consideração o consumidor, o concorrente
e o retorno dessa promoção conjunta com o varejista.
Para ilustrar esse ponto, sem pretender esgotar o tema, encontra-se uma possível política de
preços para uma linha de xampus (quadro 2.7) que vem a seguir e que demonstra o desafio
que é a formação do preço levando em consideração não só o consumidor, mas também o
varejista.
Quadro 2.7 Política de preços para xampus
Variável de Preço Mini-mercados Hipermercados Atacados
Preço de Tabela 100 100 100
- Acordos comerciais 100 (não há acordos) 97 (3% de acordo) 97% (3% de acordo)
- Descontos por
negociação
100 (não há
descontos)
95 (2% de desconto
médio)
92 (5% de desconto
médio)
+ Mark Up por canal 130 (30% de mark up) 114 (20% de mark up) 101 (10% de mark up)
Fonte: Desenvolvido pelo autor.
Com a estrutura do quadro anterior, não há cross channel entre os canais, porém o exercício
deve ser completado com estudos financeiros que avaliem se é interessante para a indústria
comercializar seus produtos a estes preços nos distintos canais. A política de preços também
requer disciplina em sua execução, visto que pressões por resultados podem incentivar a
indústria a oferecer descontos extraordinários em determinados momentos, o que pode
colocar em risco a coerência entre os canais.
A maior parte dos canais de distribuição, em especial as grandes redes supermercadistas,
possui agressivas promoções de preços, para se diferenciar dos concorrentes. A participação
29
nessas promoções, se por um lado é necessária, para garantir a presença destacada dos
produtos nas prateleiras e por gerar ganhos de curto prazo, por outro lado deve ser avaliada
também sob a perspectiva de gerar uma percepção de preço inferior dos produtos
comercializados, tanto para clientes quanto para consumidores e também por eventualmente
comprometer a política de preços entre os canais.
2.3.3 Promoção
Os planos promocionais, como Rosenbloom (1996, p. 300) descreve, podem ser elaborados
de duas formas distintas. A primeira delas é a “estratégia de puxar”, na qual, “ao construir
forte demanda do consumidor para um produto, o fabricante forçará os membros do canal a
promovê-lo, automaticamente, porque é do seu próprio interesse fazer isso”. Antes das
transformações pelas quais o varejo passou, as indústrias tinham como característica a
“estratégia de puxar”, onde os incentivos aos consumidores (ex. mídia televisiva e impressa,
degustações) faziam com que os mesmos pressionassem os canais de distribuição de tal
forma, que estes acabavam por comercializar os produtos solicitados pelos consumidores.
A realidade atual é distinta e demanda adaptações dos fabricantes. A outra estratégia que é
apresentada por Rosenbloom no mesmo livro é a “estratégia de empurrar”, onde “o fabricante
não empurra os membros do canal para promover seu produto, mas, ao contrário, busca sua
participação e cooperação para fornecer estratégias de comunicação eficazes que serão
mutuamente benéficas a ele e seus membros do canal”. O poder dos grandes e novos formatos
varejistas exige uma atuação mais intensa junto aos mesmos para garantir a eficiência do
plano promocional das empresas, caracterizada pela “estratégia de empurrar”, que é
implementada através de atividades no ponto de venda, ou atividades de trade marketing. O
investimento em ações de trade marketing pode ser dividido em três grupos principais, que
30
são: ações táticas no ponto de venda, merchandising e ações cooperadas com os varejistas
(quadro 2.8). Ações táticas no ponto de venda são degustações, abordagens, sorteio de
prêmios e concursos culturais. Investimentos em merchandising, que engloba a confecção de
mais e melhores materiais promocionais para que o produto ganhe destaque nas gôndolas
varejistas e serão vistos com mais detalhe posteriormente. Finalmente ações cooperadas com
os varejistas podem ser tablóides, anúncios de televisão e promoções ao consumidor que são
feitas pelo varejista e que contam com o apoio da indústria.
Quadro 2.8 Composição dos investimentos em trade marketing
Grupos de atividades de trade
marketing
Atividades que compõe o
grupo
Ações táticas Degustações, abordagens,
sorteio de prêmios, concursos
culturais
Merchandising
Materiais para expor os
produtos no ponto de venda
Ações cooperadas Mídias desenvolvidas pelos
varejistas (tablóides,
televisão, promoções)
Fonte: Desenvolvido pelo autor.
Esses esforços demonstram, por um lado, a busca das empresas por aumentar suas vendas,
sem ter que reduzir necessariamente os seus preços e também a importância crescente do
ponto de venda como local onde o consumidor decide o que irá comprar.
2.3.4 Ponto de venda
Entre os quatro Ps do marketing mix, o ponto de venda é àquele onde trade marketing oferece
a maior contribuição através do trade marketing mix. E essa contribuição é necessária, pois
como ressaltou Kinouchi e Pizzinato (2005, p.65), “o assunto da distribuição é sem dúvida um
31
dos tópicos mais complexos dentro do composto de marketing e, por outro lado, um dos
temas mais esquecidos pelos profissionais da área. Talvez porque o objeto de estudo não
apresenta o charme da comunicação ou os desafios criativos da gerência de produto”. O trade
marketing mix não considera os pontos de venda que serão atendidos como uma variável
controlável do marketing. Os varejistas são clientes da indústria, que deve atender a esses da
melhor forma possível, para garantir a distribuição de seus produtos e assim a disponibilidade
desses ao consumidor final. Segundo Cravens e Piercy (2005) a elaboração de uma estratégia
para os canais de distribuição (ou de trade marketing) deve ser feita em etapas distintas. Em
primeiro lugar, essa deve estabelecer quais os canais que a empresa pretende atuar e qual o
papel de cada canal. Por exemplo, uma multinacional líder de mercado que entra no Brasil,
pode estabelecer que os hipermercados e supermercados pertencentes as maiores cadeias
varejistas devem ter o seu produto nas prateleiras, para garantir volume de vendas e
visibilidade dos mesmos em um momento de conquista de mercado. Já uma empresa nacional
de médio porte, que não tenha os recursos para pagar os valores que os grandes varejistas
cobram de contrato e outras despesas, tem a opção de concentrar sua distribuição em
pequenas redes supermercadistas regionais, que podem ter um papel de geradores de receita e
rentabilidade, pelos preços mais elevados que os produtos são comercializados aos mesmos,
em função de seu menor poder de barganha. Ambas as indústrias acima podem vender seus
produtos em atacados, que por sua vez terão o papel de abastecer os clientes do canal
tradicional.
Em função do número de pontos de venda existentes no Brasil, a presença dos produtos de
uma indústria em todos os pontos de seus canais-foco é algo reservado apenas a poucas
empresas de grande porte. Deve-se estabelecer qual a distribuição desejada em cada canal,
isto é, quantos pontos de venda de um determinado canal serão atendidos.
32
Finalmente, no caso dos grandes varejistas, pode-se também optar por atender a todos ou
apenas aqueles onde a indústria conseguir operar de forma mais efetiva, tanto para o seu
negócio quanto para o do varejista.
A essas etapas, deve ser acrescentado qual o nível de serviço que se pretende oferecer a cada
canal (ou cliente, no caso dos principais varejistas). Para atender de forma adequada ao
cliente, a indústria deve elaborar, segundo Rosenbloom (2002), qual a forma mais eficiente de
disponibilizar seus produtos aos varejistas. Para tanto, é necessário estabelecer para cada
canal os tipos mais adequados de padrões de serviço logístico, de forma a que não existam
faltas de produtos nas lojas. Para atender grandes varejistas é necessário a integração de
sistemas para implementar programas como o Efficient Consumer Response (ECR), que visa
melhorar a logística de distribuição e sistemas de gerenciamento de espaços, que orientam os
varejistas sobre quais produtos devem ser estocados, quanto deve ser destinado de espaço na
gôndola para cada um e como esses produtos devem ser dispostos na loja. O quadro 2.9
integra as etapas propostas por Cravens e Piercy com as elaboradas por Rosebloom e as
coloca na ordem descrita anteriormente.
Quadro 2.9 Trade marketing mix: Estratégia de ponto de venda
Etapas Descrição
1 Definição de quais os canais serão atendidos pela indústria.
2 Estabelecimento do papel de cada canal nos negócios do fornecedor.
3 Determinação de metas de distribuição por canal selecionado.
4 No caso dos grandes varejistas, estabelecer quais serão atendidos pela indústria.
5 Estipulação dos padrões de serviços ofertados aos varejistas.
Fonte: Desenvolvido pelo autor.
Os varejistas mais fortes devido às mudanças pelo qual passou o varejo em anos recentes,
possuem estabelecimentos atraentes e tem recursos para investir em marketing, o que os torna
capazes de atrair os consumidores para suas lojas e orientar as vendas para os produtos que
33
mais os interessem. Nesse contexto, uma estratégia de ponto de venda efetiva e que atenda
aos padrões de serviços esperados pelos varejistas, deve ser complementada por uma
exposição correta dos produtos em cada loja atendida pela indústria, através de um
merchandising eficiente para potencializar (ou minimizar, se as relações forem conflitantes ou
pouco rentáveis) a exposição de suas marcas nas lojas. Bessa (2005, p.1) define
merchandising como “qualquer técnica, ação ou material promocional usado no ponto de
venda que proporcione informação e melhor visibilidade a produtos, marcas ou serviços, com
o propósito de motivar e influenciar as decisões de compras dos consumidores”. Segundo a
mesma autora, ter o produto presente, promovido e exposto de maneira efetiva nos varejistas é
fundamental, já que segundo pesquisa do POPAI, 85% das compras são decididas dentro do
ponto de venda, o que aumenta ainda mais a relevância do varejo para o negócio de bens de
consumo.
É importante esclarecer que, como Kunz (2005) explica, se por um lado a realização das
atividades de merchandising é uma tarefa dos varejistas, cada vez mais as indústrias estão
interessadas em garantir a melhor exposição possível dos seus produtos nos pontos de venda
onde o consumidor efetua suas compras. Em pequenos varejistas tradicionais, cabe a equipe
de vendas do fabricante informar e capacitar os empregados de forma a que os seus produtos
estejam bem expostos, de acordo com padrões de merchandising pré-definidos que exponham
da melhor forma possível o produto. Já nas lojas dos principais auto-serviços, a
responsabilidade da realização do merchandising é ainda mais compartilhada, visto que as
grandes indústrias possuem promotores de vendas, que são funcionários responsáveis pelo
abastecimento dos produtos do fabricante que os contrata nas gôndolas dos supermercados.
Os varejistas, em especial os de maior porte que possuem grande número de lojas, têm um
padrão definido que deve ser executado em todas as lojas, então muitas vezes os executivos
das indústrias têm que negociar com as centrais dos clientes e obter um alinhamento sobre os
34
padrões de merchandising a serem seguidos. Na maior parte das vezes, o varejista irá cobrar
pela execução do padrão solicitado pela indústria. Isso significa que, apesar de deter a marca
líder, uma indústria só irá garantir que o seu produto esteja exposto de forma privilegiada nos
grandes auto-serviços se investir um percentual do seu faturamento para tanto.
A importância crescente da exposição adequada dos produtos no ponto de venda, através das
técnicas de merchandising, desafia as indústrias a adquirir mais informações sobre o
consumidor: como se comporta o consumidor durante as suas compras e como impactá-lo
nesse momento da forma mais eficaz para que ele adquira os produtos da indústria. Esse
consumidor, quando está no ponto de venda comprando produtos é denominado shopper e a
compreensão de seus hábitos e necessidades de compra é um desafio do profissional de trade
marketing, que dentro da empresa é o especialista no canal de distribuição e em como
potencializar as vendas dentro de cada canal e cada cliente. Corstjens e Corstjens (1995, p.
277), exploram o desafio de compreender o shopper:
A competitividade entre fabricantes e entre esses e s canais de distribuição muitas
vezes implica na compreensão do comportamento de compra. É necessário entender
os fatores determinantes na escolha de uma loja, freqüência de compras e
comportamento dentro do ponto de venda. Podem haver segmentos de shoppers que
visitam uma grande variedade de lojas, então deve-se entender o que o faz realizar
toda a compra em uma só loja e o que o estimula a visitar muitos estabelecimentos.
Ao decidir quais categorias de produtos e marcas vão comprar, quais os fatores que
os shoppers levam em consideração? Como esses escolhem os produtos na frente
das prateleiras, qual o valor de diferentes colocações nas gôndolas e das posições
dentro de uma loja? Quem são os shoppers? Como os diferentes shoppers (jovens,
velhos, ricos, pobres) se assemelham e se diferem durantes as compras? (traduzido
pelo autor).
Para sintetizar os principais pontos do novo marketing mix, adaptado as necessidades dos
varejistas, o quadro 2.10 procura colocar todas as principais questões do trade marketing mix
que o profissional responsável deve responder para desenvolver um plano efetivo, que atenda
as principais demandas dos canais de distribuição.
35
Quadro 2.10 Trade marketing mix
Produto Preço Promoção Ponto de venda
Embalagem primária
e secundária adequada
ao perfil dos
consumidores
atendidos pelo canal
de distribuição
Política de preços por
canal de distribuição,
que assegure a
coerência entre os
canais e os preços
mais competitivos ao
consumidor
Ações táticas;
Merchandising;
Ações cooperadas
Quais canais serão
atendidos;
Papel dos canais;
Metas de distribuição
por canal;
Quais grandes clientes
serão atendidos;
Nível de serviço
prestado por canal.
Fonte: Desenvolvido pelo autor.
É importante destacar que trade marketing não substituiu o marketing ortodoxo desenvolvido
pelas indústrias de bens de consumo e sim complementa a estratégia e a operacionalização
dos planos, tornando-os mais efetivos por levar em consideração não só os consumidores
como também os clientes. Segundo Randall (1994), marcas fortes são imprescindíveis para
garantir que consumidores desejem e comprem determinado produto. Investimentos em trade
marketing, ainda que hoje sejam uma necessidade, devem ser equilibrados com investimentos
em marketing que posicionem a marca de forma consistente dentro das mentes dos
consumidores. Reportagem publicada na Revista Exame (Junho 2002, p. 51)
2
reforça a
existência de risco caso isso não aconteça:
“Com tudo isso, as indústrias estão se tornando vulneráveis em aspectos
fundamentais de seu negócio. Um estudo recente feito pela PriceWaterhouseCoopers
(PWC) alerta que os fabricantes de bens de consumo estão correndo o risco de se
tornar “comoditizados” em poucos anos. Ou seja, suas marcas empalidecerão aos
olhos dos consumidores (...) de acordo com a publicação americana Advertising
Age, os anúncios de bens de consumo representavam 45% dos investimentos em
mídia dos anos 80. Hoje, menos de 20%. Não é de estranhar que, das 74 marcas
presentes nas listas das 100 maiores do mundo nos últimos dois anos, segundo
avaliação da consultoria britânica Interbrands, 41% perderam em média, 5% do seu
valor”.
Rosenbloom (1999) reforça a importância de desenhar estratégias de puxar (mais
relacionadas com as atividades ortodoxas de marketing voltadas aos consumidores) com as
2
BLECHER, Nelson. A ditadura do varejo. Exame, São Paulo, edição 768, p. 44-52, Junho
2002.
36
estratégias de empurrar (desenhadas com e para os membros do canal de distribuição e mais
alinhadas com os novos conceitos de trade marketing).
Dessa forma, os indicadores de performance do negócio e de marketing são complementados
com indicadores para mensurar a efetividade das estratégias de trade marketing. A empresa
estabelece quais os objetivos pretendidos ao atender determinado canal. Possíveis objetivos
podem ser relacionados à disponibilidade de produtos, qual a distribuição que a empresa
pretende obter com seus produtos e qual o posicionamento em gôndola que esses produtos
devem atingir. Outros objetivos envolvem o atendimento ao cliente, ou seja, qual o nível de
serviço necessário para atender o canal e qual o custo deste atendimento. Rosenbloom (2002,
p. 345) destaca a necessidade da existência e monitoramento dos indicadores por canal de
distribuição, já que “nenhuma empresa bem gerenciada poderia operar com êxito a longo
prazo sem avaliar periodicamente o desempenho de seus empregados. O mesmo vale para os
membros do canal, pois o sucesso da empresa em alcançar seus objetivos depende muito da
qualidade dos membros independentes”.
2.4 A organização de trade marketing
Segundo Randall (1994), antes das mudanças no cenário competitivo e do surgimento dos
departamentos de trade marketing, os departamentos de marketing estavam organizados com
gerentes de produtos ou marcas, enquanto os departamentos de vendas eram compostos por
gerentes de contas-chave e/ou região geográfica (figura 2.1). Os gerentes de produtos se
dedicavam ao desenvolvimento de todo o composto de marketing do produto sob sua
responsabilidade, de forma a satisfazer os consumidores e através desses os objetivos de
vendas e rentabilidade da empresa. O dia a dia com os varejistas era feito pela equipe de
vendas. Os principais clientes tinham profissionais de vendas dedicados a atendê-los,
37
enquanto os clientes de menor porte eram atendidos por uma equipe segmentada por área
geográfica. O desenvolvimento dos canais de distribuição era relegado a um segundo plano e
quando era feito, ficava sob a responsabilidade do departamento de vendas, que desenvolvia
ações pontuais e de curto prazo.
Figura 2.1 Estrutura ortodoxa de marketing e vendas
Fonte: Trade Marketing Strategies/Geoffrey Randall – London: BH 1994
O foco em conhecer as necessidades dos varejistas, inseri-las no marketing mix e dessa forma
implementar de forma mais efetiva as estratégias das empresas, é feito por uma estrutura que
vem ganhando força cada vez maior nos últimos anos e que é o objeto de estudo desse
trabalho, o trade marketing. As indústrias que optam pela estrutura com a diretoria de trade
marketing, são aquelas onde o conceito é reconhecido como imprescindível. Esse
reconhecimento pode acontecer através do benchmark com outras filiais, em especial àquelas
onde o departamento de trade marketing foi desenhado pela primeira vez, como os países
europeus, ou pela própria consolidação do trade marketing na filial local, através de casos de
sucesso construídos ao longo do tempo. Essa estrutura, que responde direto ao vice-presidente
Vice-presidente
Comercial
Diretor de Marketing Diretor de Vendas
Gerente Produto 1 Gerente Produto2 Gerente Contas-Chave Gerente Área 1 Gerente Área 2
38
comercial ou ao presidente da empresa, de acordo com a estrutura vigente na indústria, e pela
própria força do seu principal executivo, presta maior atenção ao desenvolvimento dos canais
de distribuição e possui orçamento próprio, que é uma parte do orçamento original de
marketing. Pela força de trade marketing nesse modelo de estrutura, o risco de existir mais
atrito com os outros departamentos é uma possibilidade que deve ser levada em consideração.
Figura 2.2 Estrutura de trade marketingtrade marketing consolidado
Fonte: Trade Marketing Strategies/Geoffrey Randall – London: BH 1994
Onde os canais de distribuição necessitam de mais atenção e o departamento de trade
marketing ainda não está consolidado, a gerência de trade marketing é alocada na diretoria de
vendas e a ênfase dada é na elaboração de planos operacionais adequados a cada canal de
distribuição e para tanto a maior interação é feita com os gerentes de vendas e com os
próprios clientes (figura 2.3). Corstjens e Corstjens (1995) destacam que a maior parte dos
departamentos de trade marketing surgiu dentro das áreas de vendas, mais especificamente
das gerências das contas-chave, que como foi visto anteriormente foram os clientes que
passaram primeiro e com maior intensidade por mudanças que afetaram os negócios das
indústrias de bens de consumo. Um possível problema nessa configuração é o foco dado ao
atingimento das metas de curto prazo, característica do departamento de vendas e menor
Vice-Presidente
Comercial
Diretor de Marketing
Diretor de Trade
Marketing
Diretor de Vendas
39
atenção ser dedicada a construção das estratégias de longo prazo para cada canal de
distribuição.
Figura 2.3 Estrutura de trade marketing – foco no desenvolvimento dos canais
Fonte: Trade Marketing Strategies/Geoffrey Randall – London: BH 1994
Naquelas indústrias onde existe um investimento especial em fortalecer suas marcas e
produtos, ou onde estas estejam sendo atacadas por marcas próprias ou marcas de preço, uma
opção é alocar a gerência de trade marketing dentro da diretoria de marketing (figura 2.4).
Essa é uma alternativa que também pode ser escolhida por empresas onde o departamento de
marketing é mais resistente a divisão do orçamento com outras diretorias e possui também
mais força política junto a alta direção. A interação com os gerentes de produto neste caso
será priorizada e a elaboração de planos de trade marketing para proteger marcas e produtos
será a pauta principal da agenda de trade marketing. Há um risco nessa estrutura dos planos
para desenvolver os canais de distribuição ser relegado a um segundo plano dentro da agenda
de trabalho da área.
Vice-presidente
Comercial
Diretor de Marketing Diretor de Vendas
Gerente Produto 1 Gerente Produto2 Gerente Contas-Chave Gerente Área 1 Gerente Área 2
Gerente de Trade
Marketing
40
Figura 2.4 Estrutura de trade marketing – foco na proteção de marcas
Fonte: Desenvolvido pelo autor.
Qualquer que seja a estrutura escolhida, no caso de fabricantes e varejistas globais, esta
atividade ganha uma complexidade maior, pois a estrutura deve ser desenhada levando em
consideração o negócio em diferentes regiões e países. A contrapartida desse esforço é que
um acordo sólido entre ambas as partes, oferece uma possibilidade de reduzir os conflitos e
desenvolver os negócios em uma escala muito maior. Esse é o motivo pelo qual as indústrias
com atuação global têm desenvolvido times mundiais para atender os varejistas com atuação
internacional. Kumar (2004) destaca a estrutura da equipe de desenvolvimento de negócios
com os clientes da Procter & Gamble, por exemplo, que é composta de um líder, responsável
por gerentes de tecnologia da informação, gerenciamento de espaços, finanças, vendas,
suprimentos, trade marketing e pesquisa de mercado. Essa equipe negocia as diretrizes
estratégicas do negócio e monitora a sua efetiva implementação pelas equipes locais que
atendem as contas-chave. Outra responsabilidade dessas equipes é elevar o nível de serviço
prestado aos varejistas e através destes, ao consumidor final.
Vice-presidente
Comercial
Diretor de Marketing Diretor de Vendas
Gerente Produto 1 Gerente Produto2 Gerente Contas-Chave Gerente Área 1 Gerente Área 2
Gerente de Trade
Marketing
41
Outro ponto relevante que acontece com a formação do departamento de trade marketing e
que vale ser mais explorado é o conflito com marketing e vendas. O departamento, segundo
Alvarez (1998), tem uma área de conflito com o gerente de produto, pois ambas as funções
envolvem a coordenação entre marketing e vendas. Randall (1994) coloca que no passado
essa tarefa não foi atendida de forma correta e que trade marketing vem suprir a sua
necessidade. Além dessa disputa pela primazia na condução da relação com o departamento
de vendas, Corstjens e Corstjens (1995) ressaltam potenciais áreas de atrito entre marketing e
trade marketing, cinco das quais são apresentadas a seguir:
a) Competição por recursos
A divisão do orçamento de marketing entre o marketing voltado ao consumidor e o trade
marketing é uma realidade que é questionada pelos executivos de marketing, pois os recursos
para o desenvolvimento de marcas nas mentes dos consumidores são reduzidos
percentualmente. Além disso, o tempo e a energia que a indústria no passado alocava para as
atividades de marketing passam a ter que ser repartidos com as novas e cada vez mais
relevantes atividades de trade marketing.
b) Produção de marcas próprias
Os executivos de marketing encaram a produção de marcas próprias de forma muito negativa.
Se essas marcas tiverem boa qualidade e forem incentivadas pela indústria, assim como é feito
pelos varejistas, existe a ameaça da queda nas vendas dos produtos próprios das indústrias, ou
então da perda de rentabilidade existente, já que mais recursos são utilizados para promover
esses produtos de forma a mantê-los competitivos versus as marcas próprias. Já os executivos
de trade marketing entendem que essa é uma possibilidade que agrega valor na relação com
os varejistas e pode ser oferecida em troca de uma série de contrapartidas, além de aumentar
as vendas e a rentabilidade de cada cliente é atendido pelas marcas próprias.
c) Precificação
42
Nas negociações de calendários promocionais com os canais de distribuição, em especial com
as contas-chave, os executivos de trade marketing podem taticamente optar por reduções de
preços que geram benefícios de curto prazo. Os executivos de marketing se opõem (muitas
vezes sem sucesso), ao aumento e ao incentivo dessas práticas por poderem colocar em risco
o posicionamento de preços de suas marcas na mente dos consumidores, que é na sua visão a
principal fonte geradora de rentabilidade em longo prazo.
d) Novos produtos e gerenciamento de categorias
Enquanto os profissionais de marketing buscam lançar produtos que capturem novos nichos
de mercado, quem trabalha em trade marketing enxerga outras possibilidades, como o
desenvolvimento de produtos dentro do mesmo segmento dos produtos principais da
indústria, com boa qualidade e com outras marcas. Esses produtos podem ser uma barreira de
contenção para o crescimento de competidores dentro das prateleiras dos varejistas, que
ameaçam as marcas principais na empresa. Apesar das alternativas serem complementares,
como a capacidade de lançamento de uma indústria é finita, a definição de qual dos projetos
priorizar é uma disputa entre os dois lados, marketing e trade marketing.
e) Embalagens
Os executivos de marketing procuram desenvolver embalagens que agradem a seus
consumidores. Essas inovações, porém podem ser questionadas por trade marketing caso não
estejam dentro das especificações adequadas para a comercialização por parte dos varejistas.
Embalagens de vidro, por exemplo, podem correr o risco de quebrar ao serem manuseadas nas
prateleiras dos pontos de venda. Outro exemplo são embalagens que apesar de possuírem a
quantidade adequada de produto e serem preferidas por consumidores, não cabem nas
disputadas prateleiras, ou cujo tamanho dificulta o manuseio e o abastecimento das gôndolas.
O gerente de vendas também pode entrar em atrito com o departamento de trade marketing,
pois antes da existência desse o departamento de vendas tinha uma interface direta com
43
marketing para a solicitação de recursos e era considerada a área que detinha todo o
conhecimento sobre os canais de distribuição. O fato de ter que negociar recursos com um
novo departamento e ter que enfrentar o fato de ter uma outra área que conhece em
profundidade os clientes da empresa, pode ser interpretado no princípio por uma perda de
poder por parte da equipe de vendas, que para evitar que isso aconteça não fornece o apoio
necessário para que o trade marketing se consolide, insistindo em negociar recursos direto
com marketing e se opondo aos pontos de vistas apresentados internamente pelo novo
departamento.
Por toda a tensão envolvida em sua formação e no dia a dia com outras áreas, é de se esperar
que a implementação efetiva do departamento de trade marketing dependa do apoio da alta
gerência da empresa, que teria no início, até a consolidação do novo departamento, o
importante papel de mediar os conflitos, alocar os recursos apropriados entre as diferentes
áreas, em especial marketing e trade marketing e acompanhar o cumprimento dos novos
processos de trabalho, de forma que marketing ou vendas não boicotem ou ignorem a
existência de trade marketing.
Apesar da importância de trade marketing para as indústrias hoje, Randall (1994), acredita
que a efetividade desse conceito poderá permear toda a organização de tal forma que, no
futuro, o departamento de trade marketing não será mais necessário e o foco no cliente irá
estar presente em todas as áreas da organização, mas isso, em função da demanda de trabalho
atual e das dificuldades existentes, como as mencionadas anteriormente, é uma questão para
um futuro distante.
44
3. Ações metodológicas
3.1 Tipo do estudo
A pesquisa social, segundo Kidder (2004), é aquela que busca compreender quais as causas e
significados das ações individuais e coletivas realizadas por um grupo de pessoas e como esse
se organiza para empreender uma determinada atividade. Nessa dissertação, o grupo em
questão são as indústrias de bens de consumo não-duráveis e mais especificamente os seus
departamentos de trade marketing. Como o trabalho se propõe a conhecer quais os impactos
das mudanças no varejo alimentício na referida indústria e se essa desenvolveu departamentos
de trade marketing como resposta as transformações ocorridas com os varejistas, o
delineamento de pesquisa a ser utilizado é àquele da pesquisa de levantamento, que busca
obter não só as causas de determinadas mudanças que ocorrem nos grupos, como também as
descrições sobre o que ocorre com o grupo estudado.
Para definir qual o método de pesquisa a ser utilizado dentro do delineamento estabelecido,
buscou-se os três grupos de pesquisas de campo lembrados por Marconi e Lakatos (2005), os
quantitativo-descritivos, os exploratórios e os experimentais. Por ser um conceito que ganhou
relevância há pouco tempo nas organizações, não há ampla bibliografia nacional ou
estrangeira. Nesses casos, Mattar (1996, p.18), recomenda a utilização da pesquisa
exploratória, que segundo o autor “... visa prover o pesquisador de maior conhecimento sobre
o tema ou problema de pesquisa em perspectiva. Por isso, é apropriada para os primeiros
estágios da investigação quando a familiaridade, o conhecimento e a compreensão do
fenômeno por parte do pesquisador são, geralmente, pouco ou inexistentes”. Como essa
45
dissertação não só vai explorar de forma superficial o objeto do estudo, como também
descrever as mudanças ocorridas no varejo alimentício e quais são as estratégias e estruturas
dos departamentos de trade marketing pesquisados, esse estudo poderia ser considerado um
estudo exploratório-descritivo combinado, que segundo Marconi e Lakatos (2005, p. 190),
“são estudos exploratórios que têm por objetivo descrever completamente determinado
fenômeno (...) podem ser encontradas tanto descrições quantitativas e/ou qualitativas quanto
acumulação de informações detalhadas (...) dá-se precedência ao caráter representativo
sistemático e em conseqüência, os procedimentos de amostragem são flexíveis”.
Mattar, em seu livro de 2005, coloca que há diversos métodos de se conduzir uma pesquisa
exploratória. O que foi escolhido para a elaboração desse trabalho é o levantamento de
experiências, que pode ser utilizado naquelas situações onde parte relevante dos
conhecimentos e experiências adquiridos não foi ainda documentado.
3.2 Amostra do estudo
Em função da possível dificuldade em obter as informações desejadas por parte dos
informantes, visto que muitas das mesmas versavam sobre informações potencialmente
confidenciais (como a estratégia, orçamento e estrutura da empresa), para responder ao
questionário foram selecionados vinte e cinco executivos de trade marketing, de marketing e
vendas também (pois esses dois departamentos são aqueles com a maior interação com o
departamento de trade marketing) e foram aceitos como respondentes analistas,
coordenadores, gerentes e diretores, desde que tivesse pelo menos cinco anos de experiência
em um dos três departamentos mencionados e nesse período houvessem tido contato com
estratégias e estruturas de trade marketing. Todos os informantes deveriam trabalhar em
empresas de bens de consumo com faturamento mínimo de R$ 100 milhões de reais por ano,
46
pois empresas de pequeno porte, ainda que possam desenvolver estratégias e planos de trade
marketing, têm menos recursos disponíveis para implementar uma estrutura de trade
marketing e esse era um dos temas de interesse da pesquisa.
Em função da atribulada agenda dos executivos das empresas selecionadas, que são
mencionadas no quadro 3.1, decidiu-se enviar os questionários pelo correio eletrônico e
solicitar que os mesmos fossem preenchidos e devolvidos da mesma maneira. Conforme
sugestão de Martins e Lintz (2000), junto com cada questionário foi enviada uma carta
explicando qual o objetivo do mesmo e assegurando confidencialidade nas respostas
individuais feitas, se o entrevistado achasse isso necessário.
Quadro 3.1 Indústrias Pesquisadas
Indústria Departamento onde
trabalha o entrevistado
Produtos Fabricados e
comercializados
Arcor
Trade marketing
Alimentos
Bauducco Vendas Alimentos
Bimbo Marketing Alimentos
Bombril
Trade marketing
Higiene e limpeza
Brasfrigo
Trade marketing
Alimentos
Cadbury Vendas Alimentos
Coca-Cola Marketing Bebidas
Coca-Cola Femsa
Trade marketing
Bebidas
Colgate
Trade marketing
Higiene e beleza
DelValle Marketing Bebidas
Diageo
Trade marketing
Bebidas (destilados)
Faber Castell Vendas Materiais para escritório
Femsa Cerveja Brasil
Trade marketing
Bebidas (cervejas)
Fleischman Royal
Trade marketing
Alimentos
Hypermarcas
Trade marketing
Higiene, beleza e alimentos
Johnson & Johnson Vendas Higiene e beleza
Nestlé Vendas Alimentos e bebidas
Nutrimental Marketing Alimentos (cereias e farinhas)
Pepsico
Trade marketing
Alimentos e bebidas
Procter & Gamble Marketing Higiene, beleza e alimentos
Red Bull Vendas Bebidas (energéticos)
Sadia Marketing Alimentos
Spaipa
Trade marketing
Bebidas
União Vendas Alimentod
Unilever
Trade marketing
Higiene, beleza e alimentos
47
Fonte: Desenvolvido pelo autor.
3.3 Coleta de dados: instrumento e procedimento
Para desenvolver o questionário de pesquisa, foi seguida a metodologia sugerida por Marconi
e Lakatos (2005). O assunto a ser pesquisado foi dividido em três temas: mudanças no varejo
alimentício e seu impacto nos resultados dos negócios das indústrias de bens de consumo não-
duráveis, estratégias de trade marketing e estruturas de trade marketing. O quadro 3.2
apresenta quais perguntas elaboradas atendem a cada um dos temas anteriormente
mencionados. Uma vez com os temas definidos, as perguntas foram elaboradas, alternando
perguntas fechadas (aquelas onde o informante escolhe entre duas opções), perguntas de
múltipla escolha (são perguntas fechadas com várias escolhas possíveis) e perguntas abertas,
que permitem ao informante responder de forma mais abrangente e emitir opiniões, de acordo
com a complexidade do tema a ser investigado (quanto mais complexo o tema, mas
abrangente foi o tipo de pergunta elaborada).
Quadro 3.2 Divisão de perguntas por tema
Tema Perguntas
Mudanças no varejo e impacto na indústria 2, 3, 4
Estratégias de trade marketing 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20, 21, 22,
23, 24, 25, 26, 27, 28, 29, 30, 31, 32, 33, 34,
35
Estruturas de trade marketing 1, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 36, 37, 38, 39, 40, 41, 42,
43, 44, 45, 46, 47, 48, 49, 50, 51, 52, 53
Fonte: Desenvolvido pelo autor.
Para obter as respostas necessárias, o questionário foi elaborado com perguntas elaboradas
levando em consideração a classificação apresentada por Marconi e Lakatos (2005). Foram
utilizadas diversas formas de perguntas, entre as quais perguntas abertas (permitem que o
respondente aborde de forma livre a pergunta), dicotômicas (àquelas com alternativas fixas
48
para a resposta, como por exemplo “sim e não), de estimação (onde é emitida uma avaliação a
partir de uma escala com intensidades variadas), de fato (relacionadas a questões concretas,
como profissão e empresa onde trabalha), de múltipla escolha (nesse pergunta a várias
respostas possíveis de serem emitidas e de opinião (onde o informante oferece sua opinião
sobre determinado assunto).
Com o questionário elaborado e as indústrias a serem pesquisadas selecionadas, foi realizado
um pré-teste e o questionário foi enviado para quatro respondentes e foi solicitado que os
mesmos respondessem o mais rápido possível. Após receber os questionários preenchidos, foi
constatada uma série de oportunidades de melhoria no mesmo que foram implementadas em
seguida, tanto na quantidade de perguntas (que foram reduzidas de oitenta e duas para as
cinqüenta e três que foram enviadas para o total da amostra selecionada), como no conteúdo
(o texto de sete perguntas foi reescrito de acordo com sugestão dos entrevistados no pré-teste).
Finalmente, após a conclusão do pré-teste, o questionário foi enviado aos executivos
selecionados. Ao iniciar a tabulação das respostas, foi constatado que doze informantes
responderam de forma muito superficial as perguntas abertas e foi agendada uma entrevista
pessoal com cada um dos mesmos para esclarecer as dúvidas existentes. As entrevistas foram
realizadas após três meses do recebimento do último questionário respondido e muitas
dúvidas foram esclarecidas. É interessante destacar que duas das empresas que ao responder o
questionário, haviam declarado não possuir uma estrutura de trade marketing, nesse intervalo
de tempo implementaram os departamentos e enriqueceram o material com a perspectiva de
empresas que iniciam o trabalho na área que foi objeto de estudo dessa dissertação. De acordo
com Eco (1988), algumas vezes o pensamento original, obtido através de fontes primárias
(nesse caso os questionários preenchidos e enriquecidos por entrevistas quando necessário),
não atende a todos os pontos de interesse do pesquisador. Seguindo essa linha de raciocínio,
quando necessário, em especial quando são apresentadas as mudanças pelas quais passou o
49
varejo brasileiro, as informações obtidas através dos informantes são reforçadas com dados de
mercado obtidos em literatura especializada.
4. Análise dos dados
4.1 Participantes do estudo
Estava-se ciente das limitações do método de levantamento de dados selecionado, que
conforme ressalta Luna (2004) pode ter um reduzido retorno, porém em função dos contatos
desenvolvidos através da experiência profissional adquirida em empresas de bens de
consumo, foi necessário enviar 25 questionários para conseguir que 20 fossem devolvidos
respondidos (segundo Baptistella Filho, Mazzon e Guagliardi (1980), por exemplo, o retorno
pelo correio deveria ser no máximo de 30%). Esse processo aconteceu da seguinte forma:
Após a conclusão do pré-teste, o questionário foi enviado para vinte empresas. Dezesseis
responderam em até um mês da data de envio e quatro não se manifestaram. Uma das
empresas que respondeu o questionário solicitou posteriormente que fosse excluída da
amostra, pois o informante havia feito uma consulta para a diretoria e a mesma não permitiu
que os dados referentes àquela empresa fossem utilizados em um estudo acadêmico. Foram
selecionadas outras cinco empresas, que após um mês enviaram os questionários preenchidos.
Esse processo pode ser observado no quadro 4.1
50
Quadro 4.1 Participantes do estudo
Questionários Quantidade
Enviados 25
Respondidos 21
Eliminados 1
Participantes do estudo 20
Fonte: Desenvolvido pelo autor.
4.2 Mudanças no varejo e impacto na indústria
Nos últimos vinte anos, cada vez mais autores tem abordado a questão da competitividade
entre as empresas. Segundo Porter (1989), que é um dos autores de destaque da área, a
competitividade é uma questão central para empresas de diferentes setores. Como foi dito
anteriormente, os varejistas, com atuação regional e sem poder de barganha, eram
pressionados pelas indústrias e pelos consumidores para ter as marcas líderes em suas
prateleiras. A pesquisa indicou sete mudanças ocorridas no varejo, que foram destacadas por
todos os entrevistados: globalização das grandes redes supermercadistas, consolidação das
redes de supermercados, surgimento de novos formatos varejistas, aparecimento de marcas
próprias (e também proliferação das marcas em geral), constituição de centrais de negócios
por parte de pequenos varejistas, concorrência entre varejistas de configurações distintas e
implementação do varejo on line. Cada um desses itens recebeu por parte do entrevistado uma
pontuação para avaliar o seu grau de importância para as indústrias (de 1, pouco importante a
5, muito importante) e o impacto nos negócios (de 1, muito positivo, a 5, muito negativo).
Finalmente foi perguntado se essa tendência vai se intensificar nos próximos anos. Os
resultados, que estão mencionados na tabela 4.1, serão detalhados a seguir.
Houve respostas, em especial àquelas referentes as mudanças ocorridas no varejo alimentício,
que necessitaram ser corroboradas por dados sobre o varejo em questão que ilustrassem as
afirmações feitas durante a resposta das questões feita pelo correio eletrônico e nas
51
entrevistas. Nesse caso, conforme destaca Eco (1988) onde o pensamento original não
responde a todas as dúvidas do pesquisador, as referências bibliográficas podem ser
novamente úteis, como já haviam sido na etapa anterior dessa dissertação que foi a
fundamentação teórica do trabalho. Dessa forma, foram consultadas obras e pesquisas que
reforçassem os pontos levantados pelos entrevistados e enriquecessem o trabalho.
Tabela 4.1 Tendências Varejistas
Tendência Grau de
Importância
Impacto nos
negócios
Vai se
intensificar nos
próximos anos
Globalização das redes
supermercadistas
4,2 3,8 90%
Consolidação das redes de
supermercados
4,3 3,6 80%
Marcas próprias 3,9 4,0 70%
Novos formatos varejistas 3,5 3,1 90%
Centrais de Negócios 3,7 2,7 80%
Concorrência entre varejistas de
configurações distintas
3,1 3,2 90%
Varejo on line 2,4 3,1 100%
Fonte: Desenvolvido pelo autor.
4.2.1 Globalização das grandes redes supermercadistas
Assim como outros segmentos dos negócios, a globalização do varejo tem se acelerado de
forma constante ao longo dos últimos anos. Kumar (2004) destaca que estudo realizado em
2002 levantou que os cinco principais varejos globais representavam 21% das vendas de bens
de consumos em todo o mundo, percentual que subiu para 32% em 2004 e poderia chegar a
45% ao final de 2005. Segundo Randall (1994), as principais razões para essa globalização
são: a necessidade de negociar melhores condições com grandes fabricantes de bens de
consumo que iniciaram seu processo de globalização há mais tempo e a saturação de
mercados mais maduros como o mercado americano e o europeu. Seguindo essa tendência,
52
grandes redes multinacionais, atraídas pelo tamanho do mercado brasileiro, iniciaram suas
operações aqui no Brasil e já tem uma representação significativa no mercado. O Carrefour
(França) entrou na década de 70 e o Wal Mart (EUA) veio para o Brasil nos anos 90. A
própria Companhia Brasileira de Distribuição, detentora das bandeiras Extra, Pão de Açúcar e
Compre Bem, tem participação acionária do grupo francês Casino, desde 1999. Segundo
Gouvêa de Souza (2004), essas empresas multinacionais exercem pressão cada vez maior nos
fabricantes por um atendimento melhor e principalmente por preços mais competitivos. Sua
participação em 2002 chegou a 50,4% entre os 20 maiores supermercados do Brasil (detalhes
no anexo 1).
Essa tendência, que de acordo com 90% dos entrevistados vai continuar ocorrendo nos
próximos anos, recebeu uma pontuação elevada tanto no grau de importância (4,2) quanto no
impacto negativo que pode causar nos negócios das grandes indústrias (3,8). As indústrias
entrevistadas, apesar de buscarem alternativas para trabalhar de forma alinhada com esses
varejistas mundiais, acreditam que o impacto no seu negócio que os competidores globais
podem ocasionar é muito negativo, pois além de dificuldades de coordenação de planos
internacionais, que vem sendo supridas com a constituição de times mundiais para atender os
clientes, as empresas recebem uma demanda por melhores condições comerciais que são
atendidas em sua totalidade ou parcialmente e reduzem sua rentabilidade. Um dos
respondentes inclusive destacou que “se houvesse outra alternativa, continuaríamos a atendê-
los como fazíamos há 20 anos atrás, porém temos que aceitar que os varejistas mundiais são
uma realidade. O mais difícil é que a chegada cada vez mais forte desses varejistas no Brasil é
uma situação que sabemos que vai acontecer, porém não estamos preparados para enfrentá-
la”.
53
4.2.2 Consolidação das redes de supermercados
O processo de globalização, segundo Parente (2000), acelerou a consolidação dos
supermercados brasileiros. Isso foi confirmado pelos entrevistados, que trataram da questão
da consolidação muitas vezes em conjunto com a globalização dos varejistas. As redes
presentes no Brasil, tanto multinacionais quanto nacionais, iniciaram em anos recentes um
esforço significativo para aumentar sua força nas negociações com os fornecedores e também
reduzir seus custos fixos. O caminho para atender a essa necessidade foi a aquisição de redes
pequenas ou em dificuldades pelos concorrentes mais agressivos. Las Casas (2004) levantou
as aquisições feitas pelas grandes redes varejistas nos últimos anos. O CBD adquiriu
importantes redes regionais, como o Peralta, o Barateiro e o Sé, enquanto o Carrefour
comprou o Eldorado e mais recentemente as lojas do SONAE em São Paulo. O Wal Mart
também buscou se fortalecer e adquiriu a rede Bom Preço, líder em vendas no nordeste do
Brasil e as lojas do SONAE no sul do país. Um levantamento detalhado publicado na revista
Supervarejo (2006, p. 26)
confirma o cenário descrito anteriormente e permite que seja
observado com detalhes como essa tendência vem se intensificando nos últimos anos (anexo
2).
O grupo Pão de Açúcar, que está em processo de transferência do controle acionário e
gerencial para a rede francesa Casino, durante muitos anos foi a principal empresa brasileira a
buscar um crescimento que permitisse a oposição ao avanço das redes multinacionais. Para os
entrevistados, porém, a dureza nas negociações e a demanda por condições comerciais que
uma grande rede tem independem da origem do seu capital. Como um dos entrevistados
colocou, “a rede mais difícil e intransigente para negociar hoje em dia é o Pão de Açúcar,
NIGRO, Soraia e PAULA, Lana de. Um história de muitas conquistas. Supervarejo, São
Paulo, edição 76, p. 22-28. Novembro 2006.
54
mais até do que o Carrefour. Todas estão muito mais profissionais e há executivos que
trabalharam em uma delas por muitos anos e depois vão trabalhar no concorrente, transferindo
sua experiência e algumas vezes levando toda a sua equipe com ele”.
Essa consolidação do varejo resultou em uma concentração cada vez maior do faturamento
das redes varejistas, dessa forma aumentando o poder de barganha nas mãos dos poucos
gigantes que dominam o mercado (todos os respondentes colocam como principal benefício
buscado pelas redes a busca por maior força junto aos fornecedores e em segundo lugar a
busca por redução dos custos fixos). Gouvêa de Souza (2004) realizou estudo em conjunto
com a Abras que apresenta significativo aumento da participação das 20 principais redes
supermercadistas no mercado brasileiro (anexo 3), que em 1994 representavam 56% das
vendas do setor e em 2002 já possuíam 78,2%.
Esse ponto é confirmado pela análise de dados mais recentes, como o ranking da SuperHiper
de 2005, no qual 40% das vendas totais dos supermercados já são realizadas pelas cinco
principais redes (anexo 4). É importante observar que entre esses gigantes do varejo, apenas a
quinta maior rede, a gaúcha Zaffari, é um empreendimento com capital 100% nacional,
enquanto as demais são empresas multinacionais ou com forte presença de capital estrangeiro
em sua composição acionária.
Ainda segundo o estudo de Gouvêa de Souza, esse crescimento, ainda que significativo, ainda
é inferior ao visto em outros países (anexo 5), o que pode indicar que a consolidação no Brasil
ainda possui espaço para acontecer nos próximos anos. Uma resposta que ressalta essa
possibilidade foi fornecida por um executivo da área de vendas, que colocou que “os boatos
no mercado sempre existem e esperamos outras aquisições nos próximos anos por parte das
grandes redes”.
RANKING ABRAS DOS SUPERMERCADOS 2005. SuperHiper, edição 353, Maio 2005.
55
Essa movimentação também é percebida como importante (4,3) e causadora de impacto
negativo (3,6) pelos executivos que participaram da pesquisa, assim como deve continuar a
acontecer (80%). Pela importância dos auto-serviços para a venda dos produtos de bens de
consumo e também pelo tempo dedicado a resposta dessa questão e da anterior, a globalização
das grandes redes e a consolidação dos varejistas no Brasil são aquelas que mais preocupam
os executivos das indústrias. Apesar dessas indústrias, em especial as multinacionais, terem
enfrentado situações semelhantes na Europa e nos Estados Unidos, como foi descrito
anteriormente, há muitas dúvidas sobre como atuar nesse contexto. “Temos que enfrentar os
fatos: o mercado nunca mais será o mesmo e não conseguiremos obter os mesmos resultados
do passado”, declarou um dos profissionais pesquisados. 5
4.2.3 Marcas próprias
Marcas próprias são aquelas desenvolvidas e comercializadas exclusivamente por um
determinado varejista. Segundo Randall (1994), os varejistas conceberam e incentivaram o
crescimento de marcas próprias para fidelizar seus consumidores e assim escapar de guerras
de preços com concorrentes, que ofertavam o mesmo produto a preços mais baixos. A única
forma de se concorrer contra isso era reduzir os preços do produto, o que fazia com que o
concorrente abaixasse ainda mais o seu preço e o ciclo continuava de forma a que o varejista
tivesse um lucro cada vez menor. Por serem produtos de boa qualidade comercializados por
um preço um pouco inferior ao das marcas líderes, representam uma ameaça às marcas
comercializadas pelas indústrias, à medida que os consumidores passem a optar por esses
produtos, mesmo quando tenham recursos para adquirir concorrentes com marcas mais
tradicionais. Parente (2000) aponta que, apesar de representarem apenas 6% das vendas no
Brasil, enquanto que na Inglaterra respondem por 29,7%, os varejistas vem dedicando cada
56
vez mais atenção ao seu desenvolvimento e hoje todas as grandes redes de supermercado e
algumas redes médias já possuem marcas próprias em seus estabelecimentos.
O crescimento dessas marcas deve continuar sua marcha segundo 70% dos entrevistados, que
atribuíram notas elevadas para a tendência, tanto no grau de importância (3,9), quanto no
impacto negativo que as marcas próprias causam ao seu negócio (4,0). Muitos dos
respondentes explicaram que as marcas próprias ocupam espaços nas prateleiras e nas
promoções dos varejistas que antes eram ocupados por suas marcas. Para alguns dos
entrevistados, esse trabalho dos varejistas já fez com que muitos consumidores conheçam e
consumam marcas próprias. Por serem mais baratas do que as marcas líderes, a reação dos
fabricantes para reduzir a perda nas vendas é realizar promoções de preços, oferecendo
maiores descontos para os varejistas, o que resulta em perda de rentabilidade. Um dos
entrevistados colocou que poderia ser uma oportunidade fabricar marcas próprias para os
varejistas, porém isso não era considerado como uma alternativa interessante para os
executivos de marketing da indústria em que ele trabalhava, pois poderia levar os varejistas a
terem uma percepção maior dos custos de fabricação e dessa forma pressionar por maiores
descontos dos produtos da indústria, além do que seria fortalecer um setor (marcas próprias)
que é concorrente em potencial dos produtos principais do sortimento do fabricante.
Nesse ponto, uma parte significativa dos entrevistados colocou que existe hoje em dia uma
proliferação de pequenas indústrias de atuação regional, que com menores custos de
marketing e de administração, além de operar muitas vezes na informalidade, oferecem
produtos que concorrem com os líderes de mercado. Assim como as marcas próprias, esses
produtos têm o preço final mais baixo e são comercializados para àqueles consumidores mais
sensíveis a preço. São mais produtos que dividem não só a preferência de clientes e
consumidores, mas também as prateleiras cada vez mais concorridas dos supermercados.
57
4.2.4 Novos formatos
As multinacionais do varejo também trouxeram para o Brasil novos formatos varejistas. Os
hard discounts, por exemplo, são lojas de auto-serviço compactas, com baixos custos fixos e
sortimento limitado, e onde cada loja atende regiões geográficas limitadas, como um bairro ou
grupo de quarteirões. Reportagem da revista Exame (Abril 2005)
, aponta que esse formato já
responde por 35% das vendas totais do setor supermercadista na Alemanha e que
multinacionais já entraram com suas bandeiras no Brasil, com destaque para o DIA%
(Carrefour), que já conta com 220 lojas. Os hard discounts, são especialmente perigosos para
as indústrias, pois por um lado possuem o poder de barganha de uma grande organização para
obter preços competitivos e também eliminam concorrentes menos agressivos, como
mercearias e supermercados independentes, que não conseguem concorrer com seus preços e
onde os fabricantes comercializam seus produtos com margens mais altas. Outros formatos já
surgiram, como por exemplo, o clube de descontos (ponto de venda exclusivamente
freqüentado pelos associados, que pagam uma anuidade para poderem comprar mercadorias
no clube. Frequentemente os produtos são comercializados a preços competitivos e o perfil
dos associados são principalmente pequenos varejistas, apesar de muitos serem
consumidores), que chegou ao Brasil através do Wal Mart, com sua bandeira Sam´s Club.
Em parte por ser uma tendência que surgiu no Brasil em anos recentes e por não ter a mesma
força no Brasil, quando comparada a outros países, os executivos das indústrias de bens de
consumo que participaram da pesquisa atribuíram um grau de importância (3,5) e um impacto
negativo nos negócios (3,1), menor do que os atribuídos para a globalização dos
supermercados, consolidação do varejo e marcas próprias, apesar de 90% reconhecerem que
PADUAN, Roberta. Mais de uma loja por semana. Exame, São Paulo, edição 840, p. 60-61,
Abril 2005.
58
os novos formatos devem proliferar cada vez mais. Um dos entrevistados colocou que “por
um lado, é necessário desenvolver produtos e promoções adequados a esses novos formatos,
porém como a maior parte desses varejistas está associada a uma grande rede, a demanda por
descontos acaba por ser até maior, pois os principais intermediários acabam por ficar ainda
maiores e mais fortes”.
4.2.5 A reação dos pequenos supermercados: Centrais de Negócios
Pressionados pelas grandes redes de supermercados, muitos negócios de menor porte
fecharam suas portas ou foram vendidos para os grandes concorrentes. Para àqueles
empresários que decidiram continuar seu negócio no varejo, um grande questionamento se
fez: como se manter competitivo?
Uma resposta difícil de ser formulada, visto que as grandes redes de supermercados, através
dos processos de globalização e consolidação vistos anteriormente, possuem uma série de
vantagens competitivas, entre as quais três se destacam e serão explorados a seguir.
a) Poder de barganha: Com um número representativo de lojas no Brasil e em outros países,
as grandes redes podem negociar preços mais competitivos com os fornecedores e repassar
uma parte desse ganho ao consumidor final. Desta forma, seus preços tendem a ser melhores
do que os oferecidos pelos pequenos supermercados independentes.
b) Marketing: Com verbas de marketing cada vez maiores, em função do aumento do
faturamento, as redes podem desenvolver anúncios na TV e em outros veículos de mídia,
tablóides com ofertas promocionais e todas as demais ferramentas de marketing que o varejo
pode dispor. Esse esforço também não pode ser acompanhado pelo pequeno supermercado,
que fica com menor exposição aos consumidores do que seus concorrentes de maior porte.
59
c) Logística e Administração: Os grandes varejistas, com amplos recursos disponíveis, podem
cada vez mais contratar profissionais qualificados, consultorias especializadas e adquirir
ferramentas para uma gestão mais efetiva do seu negócio Já os pequenos supermercados, sem
os mesmos recursos, mantém suas estruturas reduzidas, formadas em geral pela família do
proprietário.
Os pequenos supermercados que ainda não foram adquiridos têm se agrupado em
cooperativas ou centrais de negócios (também chamadas centrais de compras) para tentar
recuperar o seu apelo junto aos consumidores. Las Casas (2004) ressalta que esse movimento
busca aumentar a competitividade em relação aos concorrentes de grande porte. No início, o
objetivo destas cooperativas era juntar esforços para ter uma negociação mais vantajosa com
as indústrias. Com o tempo, além das negociações centralizadas, as cooperativas passaram a
desenvolver uma série de outras iniciativas em conjunto, como, por exemplo, campanhas de
marketing, treinamento, desenvolvimento de sistemas de gestão. Segundo pesquisa realizada
pela consultoria GMS&D e publicada na revista Exame (novembro de 2004)
as centrais de
compra em 2004 já participam com 10% do faturamento do varejo e a previsão é que até 2008
passem a representar 20%. Em 1994 eram 5 centrais, hoje já são 188 e até 2008 a previsão é
que existam no Brasil mais de 400 cooperativas. Outro estudo, realizado pela SuperHiper
em
2005 (anexo 6), confirma que as Centrais de Negócios dentro do varejo alimentício vem
crescendo ano após ano. O faturamento que foi de R$ 2 bilhões de reais em 2.000, em 2.004
chegou a mais de 12 bilhões de reais. O número de Centrais acompanhou o avanço das
vendas, e passaram de 60, que atendiam a 1.500 lojas, para 150, que atendem a 2.807 lojas em
todo o Brasil.
NUNES, Letícia. Os pequenos tentam ser grandes. Exame, São Paulo, edição 831, p. 81,
Novembro 2004.
60
O fenômeno das Centrais de Negócios, que deve se intensificar para 80% dos entrevistados, e
tem um grau de importância de 3,7, recebeu uma avaliação intermediária sobre o impacto que
vai causar nos negócios das indústrias: 2,7. Isso ocorreu porque há visões distintas sobre a
organização dos pequenos varejistas em centrais. Enquanto alguns executivos temem que
essas, com mais força, passem a exercer a mesma pressão nas indústrias que hoje é feita pelas
grandes redes, outros acreditam que o aumento de vendas das centrais pode oferecer uma
oportunidade para reduzir a força dos grandes varejistas, como declarou um gerente de
marketing em sua entrevista: “Uma de nossas esperanças é o aumento das Centrais de
Negócios, que juntas podem fazer frente, ou melhor, amenizar os danos causados pelo
aumento de concentração das redes, que possuem um grande poder de barganha, apesar da
concentração varejista ser baixa quando comparada a outros países”.
4.2.6 Concorrência entre varejistas de configurações distintas
Segundo Parente (2000), outro resultado do acirramento da concorrência faz com que
varejistas de formatos distintos entre si sejam concorrentes em diversas categorias de produto,
como foi dito em um capítulo anterior. Padarias, que no passado comercializavam quase que
exclusivamente pães, revisaram sua estratégia de forma a recuperar sua clientela, que passou a
comprar pães em supermercados. Hoje, as padarias mais modernas concorrem em diversas
categorias que não eram seu foco de atuação: além do setor destinado para a venda de pães,
pode se encontrar um bar-restaurante e uma loja de conveniência.
RANKING ABRAS DAS REDES E ASSOCIAÇÕES DE NEGÓCIOS 2005. SuperHiper,
edição 357, Setembro 2005.
61
Os atacados de auto-serviço também são outro exemplo de varejistas que ampliaram seus
negócios e hoje competem não só com seus tradicionais concorrentes atacadistas. Com o
objetivo de aumentar suas vendas, passaram a atender também aos consumidores finais, em
uma mistura de atacado e varejo, ou “atacarejo”, no jargão popular.
Os varejistas de menor porte, como bares, mercearias, padarias e pequenos supermercados são
os canais, pelo seu menor poder de barganha, onde as indústrias conseguem negociar com
preços mais elevados. Dessa forma, qualquer mudança na forma de operar desses negócios
deve ser acompanhada com toda a atenção, pois uma eventual perda de força dos mesmos
pode transferir o seu volume de vendas para as grandes redes, com prejuízo para a
rentabilidade dos fabricantes (o inverso pode acontecer também).
A concorrência entre varejistas de configurações distintas deve aumentar sua força para 90%
dos entrevistados, possui um grau de importância de 3,1 e um impacto negativo de 3,2 para os
fabricantes. Há fabricantes pesquisados que receiam, conforme descrito anteriormente, que as
lojas dos formatos tradicionais do pequeno varejo não consigam competir com as grandes
redes de auto-serviços e fechem os seus negócios. Com isso, os consumidores iriam se
abastecer de produtos que antes eram adquiridos nos pequenos varejistas nos auto-serviços,
que ficariam ainda mais fortes. Por outro lado, a capacidade de adaptação dos empresários
proprietários do pequeno varejo vem resistindo a esse avanço e muitos dos entrevistados
acreditam ser uma oportunidade focar esses clientes e buscar formas de aumentar sua
participação dentro do mercado. Com essa iniciativa, uma parte maior do faturamento do
fabricante seria oriunda de canais que adquirem os produtos por um preço maior, o que
poderia melhorar a lucratividade da indústria. Um entrevistado destacou “hoje temos um time
dedicado a desenvolver os negócios junto a padarias, mercearias e bares, canais de
distribuição que até há pouco tempo atrás eram considerados secundários para os nossos
negócios”.
62
4.2.7 Varejo on line
Las Casas (2004) lembra que o varejo on line é um dos formatos de varejo com as taxas de
crescimento mais significativas. Isso é confirmado pelos entrevistados, já que 100% acreditam
que as vendas através da internet devem aumentar nos próximos anos, como resultado do
aumento de usuários da internet e também da vida atribulada do cidadão de grandes centros
urbanos, que buscam maior conveniência e praticidade (o anexo 7 demonstra o crescimento
do comércio eletrônico no Brasil nos últimos anos, apresentado em reportagem publicada na
revista Exame em setembro 2005
).
Apesar de países com economias mais maduras, como os Estados Unidos já terem grandes
empresas varejistas que vendem seus produtos com exclusividade ou principalmente pela
internet, como a Amazon.com e o Brasil já ter empreendimentos focados no setor, como o
Submarino, para a indústria de bens de consumo não-duráveis é a tendência com o menor
grau de importância hoje (2,4) e também pode ser algo que gere um impacto negativo nos
negócios (3,1), principalmente se os grandes varejistas focarem seus esforços em vender pela
internet, o que aumentaria seu volume de vendas e dessa forma seu poder de barganha.
As mudanças detectadas, em especial a globalização das redes, a consolidação do setor
supermercadista e o surgimento de marcas próprias, confirmam a afirmação de Randall (1994,
p.3), “uma vez que nos mercados de hoje, onde obter uma distribuição adequada é uma
condição necessária para o sucesso, a balança de poder parece ter se movido em direção aos
varejistas”. Isso pode ser confirmado no levantamento de experiências, já que para 70% dos
GOMES, João Paulo. À Espera da Amazon. Exame, São Paulo, edição 851, p. 42-44,
Setembro 2005.
63
entrevistados, os resultados das indústrias pioraram devido às mudanças ocorridas no varejo,
enquanto 10% disseram que seus resultados permaneceram os mesmos e apenas 20%
declararam que os resultados apresentaram melhoras (quadro 4.2).
Quadro 4.2 O reflexo das mudanças ocorridas no varejo no resultado das indústrias
Melhorou Permaneceu o mesmo Piorou
20% 10% 70%
Fonte: Desenvolvido pelo autor.
Todos os entrevistados concordaram que não é possível ter os mesmos resultados que eram
obtidos pelas indústrias de bens de consumo no passado com as mesmas estratégias. Uma
parte dessa nova estratégia de negócios e que foi apresentada na fundamentação teórica é o
trade marketing mix. A seguir será explorado quais são as estratégias de trade marketing
desenvolvidas no mercado brasileiro pelas indústrias de bens de consumo, quais as estruturas
necessárias para implementar essas estratégias, quais são as vantagens que esse novo formato
de trabalho traz na visão da empresa e de seus clientes e quais as perspectivas do
departamento de trade marketing.
4.3 Estratégias de trade marketing
A pesquisa aponta que hoje o departamento de trade marketing está presente nas indústrias de
bens de consumo brasileiras, visto que 100% dos entrevistados declararam que existe um
departamento de trade marketing nas empresas onde trabalham. Apesar disso, o estágio em
que cada departamento se encontra é muito diferente. Existem aquelas empresas, em especial
as empresas multinacionais, que já passaram em outros mercados por mudanças semelhantes
64
àquelas que hoje ocorrem no varejo brasileiro, que possuem uma estrutura de trade marketing
há mais tempo, entre cinco e dez anos. Já as empresas nacionais (e algumas multinacionais)
constituíram seus departamentos entre um e cinco anos. Destaca-se por um lado a Unilever,
única empresa pesquisada que possui uma equipe de trade marketing há mais de dez anos,
provavelmente porque sua sede encontra-se na Europa, em especial na Inglaterra (e na
Holanda) onde, conforme foi visto anteriormente, surgiram os primeiros departamentos de
trade marketing. Por outro lado, uma pequena parte das empresas que foram objeto dessa
pesquisa constituiu suas estruturas de trade marketing há menos de um ano. O quadro 4.3
apresenta esse ponto em mais detalhes. Como será possível observar a seguir, essa diferença
de período de implementação faz com que os departamentos de trade marketing das empresas
estudadas se encontrem em diferentes níveis de maturidade e muitas ferramentas e métodos de
trabalho que estão presentes nas empresas que têm esse departamento há mais tempo, ainda
não existem naquelas onde o departamento de trade marketing foi constituído há pouco
tempo. Mesmo assim, os entrevistados dessas empresas que estão iniciando o trabalho de
trade marketing, fizeram questões de ressaltar em diversas situações nas entrevistas que sua
empresa “ainda” não possuía uma determinada ferramenta ou fazia um determinado trabalho
aassociado a trade marketing, mas que em breve isso iria mudar.
Quadro 4.3 Tempo de existência da estrutura de trade marketing
Quando se constituiu %
Mais de 10 anos 5
Entre 5e 10 anos 35
Entre 1 e 5 anos 50
Menos de 1 ano 10
Não existe 0
Fonte: Desenvolvido pelo autor.
65
Independente do momento em que foram constituídos, os departamentos de trade marketing
tem pela frente o desafio de elaborar estratégias capazes de aumentar a rentabilidade de seus
negócios frente às mudanças pelas quais o varejo alimentício passou no Brasil. Além dos
planos de negócios por produto que historicamente são desenvolvidos pelos departamentos de
marketing, as estratégias de trade marketing são desenvolvidas e formalizadas através da
elaboração e da aprovação de um plano anual de negócios por canal de distribuição, que já é
feito em 95% das empresas entrevistadas.
Para se aprofundar no conteúdo desses planos de negócio por canal, a pesquisa efetuada
investigou quais são os possíveis compostos de trade marketing (trade marketing mix), que
compõe a parte principal da adaptação das estratégias de marketing aos canais de distribuição.
Como esse mix, desenvolvido a partir do marketing mix, é composto pelos quatro Ps, que são
ponto de venda, promoção, preço e produto, cada um desses pontos foi investigado.
4.3.1 Ponto de venda
Quanto ao ponto de venda, os principais canais-foco são os hipermercados (90%) e
supermercados (85%), por alguns motivos, entre os quais: são os canais que mais vendem
bens de consumo, passaram por grandes mudanças, em especial a globalização e a
consolidação das redes supermercadistas que tem gerado um impacto negativo nos resultados
das indústrias de bens de consumo não-duráveis e, portanto demandam muita atenção nesse
momento, de forma a que seja possível reverter o quadro de lucros decrescentes.
Muitas empresas que tem uma equipe de vendas enxuta, comercializam seus produtos aos
varejistas utilizando intermediários, que podem ser distribuidores (vendem exclusivamente os
produtos de uma empresa ou vendem os produtos de um fornecedor em cada segmento, como
alimentos, bebidas, higiene) ou atacados (vendem os produtos de diversas empresas em cada
66
segmento). Mesmo que não vendam exclusivamente seus produtos através de atacados ou
distribuidores, todas as empresas pesquisadas utilizam esses canais pelo menos como
ferramenta para complementar suas vendas, para àqueles pontos de venda que não são
atendidos diretamente, seja pelo seu pequeno potencial de vendas, pela dificuldade de acesso
geográfico ou por outra razão. Dessa forma, desenvolver esses canais também é um desafio
importante que pode ser comprovado pelo fato de 90% dos pesquisados considerar os
distribuidores como um canal-foco e 60% declarar que os atacados são canais-foco de
atuação.
Os demais canais de distribuição, como minimercados, padarias, mercearias e bares são
considerados canais-foco por uma parcela menor dos pesquisados do que os canais citados
anteriormente. Porém, segundo os executivos das indústrias, a importância desses canais na
elaboração das estratégias de trade marketing deve aumentar cada vez mais, de forma a
aumentar as vendas para esses canais e assim reduzir a dependência dos hipermercados e
supermercados. Vale mencionar que de acordo com as características do portfolio de produtos
da empresa, um desses canais pode ser mais importante do que outro. Por exemplo, os
pesquisados que trabalham com bebidas deram grande ênfase a importância dos bares,
enquanto àqueles que trabalham com pães destacaram a relevância das padarias para os seus
negócios. Essas características específicas de cada portfolio fez também com que alguns
canais que não fazem parte do varejo alimentício fossem lembrados como canais-foco. Por
exemplo, os fabricantes de produtos de higiene e beleza pesquisados consideram as drogarias
e farmácias como um canal-foco e a Faber Castell, fabricante de material de escritório e
artigos de papelaria considera as papelarias e livrarias como canais-foco. O quadro 4.4
apresenta os canais de distribuição dentro do varejo alimentício e quantas empresas
consideraram cada um deles como canal-foco de sua atuação.
67
Quadro 4.4 Canais-foco para a indústria
Canal de dstribuição %
Hipermercados 90
Supermercados 85
Minimercados 55
Atacados 60
Distribuidores 90
Padarias 35
Mercearias 40
Bares 35
Fonte: Desenvolvido pelo autor.
A responsabilidade por definir os canais-foco é principalmente do departamento de trade
marketing para 60% dos entrevistados. Há empresas, notadamente aquelas onde trade
marketing ainda é uma estrutura recente, onde essa responsabilidade é da área de vendas (50%
das empresas) ou marketing (35%). É interessante destacar que em 35% das empresas a
responsabilidade por definir os canais-foco é compartilhada por pelo menos dois
departamentos. Essa responsabilidade compartilhada pode ter diferentes motivos, alguns dos
quais foram mencionados pelos entrevistados: falta de maturidade e experiência da equipe de
trade marketing, orientação para processos em algumas empresas que gerenciam os canais de
distribuição com equipes multifuncionais, e dificuldade em delegar responsabilidades
consideradas estratégicas por parte dos executivos de marketing e vendas para uma nova
equipe de trade marketing.
Dentro da seqüência de elaboração das estratégias de ponto de venda dentro do trade
marketing mix, uma vez estabelecido quais são os canais-foco, deve ser definido qual o papel
de cada canal. Isso é feito em 95% das empresas pesquisadas (a única exceção é uma empresa
que constituiu seu departamento de trade marketing há menos de um ano). O papel do canal
determina quais os benefícios que a indústria aspira ao atender um determinado canal de
68
distribuição. Com isso estabelecido, pode então ser definida a estratégia de atuação nesse
canal.
O papel de gerador de volume é aquele mais presente no desenho das estratégias de ponto de
venda do trade marketing mix. 85% dos entrevistados declararam que utilizam esse papel na
construção de sua estratégia de canal. Isso está associado ao foco que foi visto anteriormente e
que ainda existe naqueles canais com a maior representatividade nas vendas, os
hipermercados e supermercados. Além disso, como lembraram alguns dos entrevistados, as
metas de vendas de muitas empresas são estabelecidas em volume de vendas (que pode ser
definido em caixas físicas, toneladas ou qualquer outro critério para mensurar volume), então
é lógico definir quais são os canais que contribuem mais significativamente para o
atingimento do objetivo. O segundo papel com a maior incidência no trade marketing mix é
aquele de gerador de rentabilidade, com 75% dos entrevistados utilizando-o em suas
estratégias. O principal motivo declarado é a necessidade que foi vista anteriormente que as
indústrias de bens de consumo não-duráveis têm em recuperar a rentabilidade que foi afetada
pelas mudanças ocorridas no varejo. Devido a isso, essas empresas cada vez mais têm voltado
seus esforços para canais potencialmente mais rentáveis, como as padarias, mercearias e
bares, onde é possível comercializar seus produtos sem oferecer tantos descontos e serviços
quanto é necessário nas grandes redes multinacionais e nacionais de supermercados. O
terceiro papel mais utilizado na elaboração da estratégia é o de gerador de imagem, com 70%
de presença. Segundo os entrevistados, há duas possíveis situações onde o canal recebe esse
papel. Uma delas é quando a empresa desenvolve um canal com baixo volume de vendas, mas
que pela localização privilegiada dos estabelecimentos, gera visibilidade de seus produtos aos
consumidores do produto. Um exemplo mencionado é o caso de lojas de bebê para as
indústrias fabricantes de fraldas e artigos de higiene infantil. Uma outra possibilidade para um
canal ser um gerador de visibilidade é no caso das indústrias, em especial aqueles de médio
69
porte, que não tem poder de barganha e acabam sendo tão exigidas nas negociações com as
grandes redes de auto-serviço que não têm mais lucro ou têm prejuízo com as transações para
esses clientes, porém não deixam de vender os seus produtos para esse canal de distribuição,
pois se utilizam das gôndolas desses supermercados como forma de comunicar os seus
produtos aos potenciais consumidores que se abastecem nessas lojas. O que essas indústrias
buscam é vender o mínimo possível para esses clientes, para não comprometerem o seu
resultado e focam os seus esforços em comercializar o máximo possível naqueles canais
geradores de rentabilidade.
Finalmente os outros dois possíveis papéis que os canais de distribuição podem receber são os
de gerador de receita e o de gerador de distribuição. Esses papéis, apesar de não serem os
mais utilizados existem com freqüência (ver quadro 4.5) no trade marketing mix. O papel de
gerador de receita é semelhante ao papel de gerador de volume, enquanto o papel de gerador
de distribuição serve tanto para aqueles canais que complementam a distribuição direta de
uma empresa, como os atacados e distribuidores, como para os canais que são formados por
pequenos pontos de venda, que apesar de individualmente representarem pouco sobre as
vendas totais, em sua somatória, quando o produto é distribuído para um grande número
desses pontos de venda, passam a ser representativos para as empresas. Um exemplo de um
canal gerador de distribuição nessa última situação são os bares para as indústrias de bebida.
Quadro 4.5 Papéis dos canais no trade marketing mix
Papel %
Gerador de volume 85
Gerador de imagem 70
Gerador de receita 60
Gerador de rentabilidade 75
Gerador de Distribuição 60
Fonte: Desenvolvido pelo autor.
70
Uma vez definido quais são os canais-foco de atuação e o papel de cada canal, é necessário
definir qual a distribuição esperada em cada um dos canais a serem atendidos, uma vez que
dificilmente será possível para uma empresa atender diretamente a todos os clientes potenciais
de um determinado canal, com exceção talvez dos hipermercados e supermercados, que se
constituem em canais de distribuição com um número absoluto de lojas menor do que os
demais canais. 90% dos entrevistados faz essa definição, que não é feita apenas pelas
empresas que constituíram os seus departamentos de trade marketing há menos de um ano.
Completa a parte correspondente ao ponto de venda dentro do trade marketing mix a
existência ou não de serviços diferenciados para assegurar o abastecimento dos canais de
distribuição, de acordo com sua importância e suas características. 75% das empresas
pesquisadas oferecem algum tipo de serviço com esse objetivo, porém é interessante destacar
que na amostra estudada essa é uma atribuição principalmente do departamento de logística,
de acordo com demandas feitas através da equipe de vendas. Por um lado isso faz sentido,
pois a equipe de vendas deve estar preocupada em garantir a máxima eficiência no
atendimento dos clientes e o departamento de logística existe para assegurar a disponibilidade
do produto, porém, como declarou um entrevistado, se o departamento de trade marketing for
percebido em toda sua plenitude e partir desse departamento o desenho das estratégias para
cada canal de distribuição, é necessário que o mesmo seja envolvido na elaboração do pacote
logístico, para assegurar que o mesmo atenda as necessidades e as oportunidades desenhadas
no plano anual de negócios de cada canal.
Os serviços logísticos mencionados pelos entrevistados podem ser divididos em dois tipos:
aqueles destinados aos canais de distribuição geradores de volume (hipermercados,
supermercados e atacados) e serviços voltados aos demais clientes. Para o primeiro grupo, os
serviços mencionados são entregas diárias, entregas agendadas, prioridade nas entregas, EDI,
entrega FOB (onde os clientes vão retirar o produto na fábrica e recebem um incentivo por
71
isso, visto que a indústria não tem o custo da entrega), controle de rupturas (onde os pedidos
são acionados sempre que há risco de desabastecimento) e descontos por pedidos otimizados
(como cargas fechadas). Já para o segundo grupo, as indústrias buscam, no caso de clientes
atendidos diretamente, ter uma sistemática de visitas da equipe de vendas e de entregas que
evitem que o cliente fique desabastecido e no caso de clientes atendidos por distribuidores, o
desafio das empresas é assegurar que essa sistemática de trabalho de vendas e distribuição
seja feita pelo distribuidor que abastece os clientes de menor porte.
4.3.2 Promoção
O próximo P que compõe o trade marketing mix é aquele que aborda as promoções destinadas
a alavancar as vendas em um determinado canal de distribuição. Esse P é, segundo os
entrevistados, o primeiro a ser delegado ao departamento de trade marketing quando o mesmo
é constituído em uma empresa. Um dos motivos disso é porque as grandes empresas de bens
de consumo sempre dedicaram a maior parte dos seus esforços e investimentos em
desenvolver ações de marketing voltadas ao consumidor final utilizando-se dos grandes
veículos de comunicação. Quando passou a ser necessário promover o seu produto nos pontos
de venda de forma a assegurar as metas das empresas, os departamentos de marketing não
estavam preparados da forma adequada e não possuíam pessoas habilitadas a desenvolver
essas promoções, além de ser uma atividade que, mesmo quando é bem-feita e traz resultados
positivos, não é valorizada pelos profissionais da área. Segundo um entrevistado, “... é muito
mais interessante para um profissional com formação de marketing de primeira linha
desenvolver grandes campanhas de comunicação do que promoções no ponto de venda, que
trazem muito menos visibilidade para a carreira e demandam muito esforço. Não vale a pena”.
Dessa forma, tão logo o departamento de trade marketing foi constituído, essa
72
responsabilidade foi delegada para o mesmo. Hoje, 90% dos entrevistados declararam que as
promoções são desenvolvidas pelo departamento de trade marketing, enquanto uma pequena
parcela das empresas pesquisada desenvolve promoções em seus departamentos de marketing
ou vendas e 30% compartilham essa atribuição em dois ou mais departamentos (ver quadro
4.6). Apesar da rapidez com que essa responsabilidade foi delegada para trade marketing, os
departamentos de marketing foram muito mais cautelosos em transferir o orçamento destinado
a essas atividades, por medo de perder força e poder dentro da organização. Dessa forma, o
orçamento para atividades promocionais está alocado no departamento de trade marketing em
80% dos empresas, enquanto o mesmo está alocado em marketing em 35% dos casos (15%
dos entrevistados declarou que os orçamentos são compartilhados pelos dois departamentos).
Quadro 4.6 Responsabilidade pelo desenvolvimento de promoções no ponto de venda
Departamento %
Marketing 20
Trade marketing 90
Vendas 40
Fonte: Desenvolvido pelo autor.
Para 85% dos entrevistados, essas promoções são estruturadas de acordo com as
características de cada canal de distribuição, isto é, cada canal tem uma promoção distinta ou
uma mesma promoção é adaptada para cada canal onde a mesma será efetuada, de acordo
com as características do mesmo. Um exemplo disso é uma promoção feita por uma indústria
de alimentos pesquisada, que oferecia um jogo de talheres como brinde para os consumidores
que comprassem uma determinada quantidade de produto em um hipermercado. Essa mesma
promoção foi realizada em minimercados, porém como os consumidores que adquirem os
produtos em minimercados não dispõem da mesma disponibilidade de recursos para compras
(seja por levarem consigo menos dinheiro para uma compra de conveniência, seja porque os
73
minimercados atendem com freqüência consumidores de nível sócio-econômico inferior), a
promoção nesse canal oferecia um jogo de talheres mais modesto, mediante a compra de uma
quantidade menor de produto. No caso de grandes redes supermercadistas, que muitas vezes
demandam promoções exclusivas ou ao menos que sejam diferentes daquelas realizadas nas
outras grandes redes, 90% dos entrevistados destacaram que possuem um calendário
promocional para cada conta-chave.
O próximo item que complementa o P de promoções do trade marketing mix é composto
pelos materiais promocionais que divulgam o produto para os shoppers. A mesma dinâmica
que foi descrita para as promoções no ponto de venda se aplica para o desenvolvimento de
materiais promocionais. Enquanto 100% dos entrevistados declararam que as empresas onde
trabalham desenvolvem materiais promocionais e essa atribuição é do departamento de trade
marketing em 90% dos casos, o orçamento para a confecção dos materiais está alocado em
trade marketing em apenas 65% das empresas, enquanto em 45% esse orçamento está em
marketing e 10% declarou que o orçamento está parte em trade marketing e parte em
marketing.
4.3.3 Preço
Os próximos Ps do trade marketing mix são o preço e o produto. Por um lado, essas duas
variáveis são, como as outras, componentes importantes do negócio e que necessitam levar
em consideração o canal de distribuição para serem mais efetivas nesse novo cenário de
negócios. Apesar disso, como são variáveis que envolvem definições que sempre foram
tomadas pelos departamentos de marketing e vendas e são consideradas as vitais ao sucesso
do negócio (no sentido em que o produto e a marca a ser comercializado é na visão de
marketing o principal ativo da empresa e os preços, definidos às vezes por marketing, às vezes
74
por vendas e em algumas situações em conjunto, é a variável com maior elasticidade de
vendas no curto prazo e que pode ou não garantir o atingimento das metas de uma empresa), é
onde há a maior resistência para compartilhar ou mesmo delegar uma parte desses desafios ao
departamento de trade marketing. Como isso acontece muitas vezes, o trade marketing mix
aborda preço e produto de uma forma superficial e aquém do necessário, se a empresa espera
capturar todas as oportunidades que a implementação do conceito de trade marketing se
propõe a fazer. Quando forem descritas as estruturas de trade marketing, o texto irá explorar
com mais detalhes esses conflitos de trade marketing com marketing (e com vendas também).
Quando se trata da questão de preços, duas abordagens podem ser utilizadas pelo profissional
de trade marketing. A primeira é definir os preços que a indústria irá comercializar os seus
produtos para cada varejista que compõe os distintos canais de distribuição que são atendidos
pela empresa. 95% dos entrevistados colocaram que as características dos canais e da
dinâmica entre eles são levadas em consideração para a definição dos preços e que em função
disso existem preços distintos para cada um dos canais de distribuição (novamente, aquele
entrevistado que declarou que isso não é feito trabalha em uma empresa onde o departamento
de trade marketing existe há menos de um ano). O estabelecimento dos preços por canal é
uma das atividades que foram objeto dessa pesquisa que é mais compartilhada entre as
diferentes áreas, o que mostra a importância do tema para o resultado da empresa, em alguns
casos o ênfase no trabalho em times multifuncionais e em outros o problema da dificuldade
em delegar atribuições que envolvem poder dentro da organização, mesmo quando isso é
benéfico para o negócio. Dessa forma, 50% dos entrevistados declarou que o preço entre os
canais é definido por trade marketing, 50% respondeu afirmando que marketing é que tem
essa responsabilidade e 50% colocou que essa atribuição é do departamento de vendas (35%
das empresas pesquisadas disseram que a responsabilidade é compartilhada por pelo menos
duas áreas).
75
Outra questão que envolve o P do preço na composição do trade marketing mix é a definição
de preços ao consumidor em cada um dos canais de distribuição. Apesar da maior parte dos
produtos de bens de consumo não sofrerem nenhuma restrição legal que exija que os mesmos
sejam comercializados a um determinado preço ao consumidor, as empresas que os fabricam
têm o interesse em definir qual o preço que esse produto será ofertado ao shopper em cada um
dos canais de distribuição. 70% das empresas pesquisadas afirmaram que há um target para o
preço do produto comercializado ao consumidor final para cada canal de distribuição atendido
pela empresa (as demais empresas vendem os seus produtos aos pontos de venda e aceitam
que cada um coloque o mark up que julgar mais adequado). A abordagem que delega ao
varejo a decisão de estabelecer o preço do produto ao consumidor final, apareceu não só nas
empresas onde trade marketing existe há menos tempo, mas também naquelas empresas que
são líderes de mercado em segmentos menos concorridos. Como disse um dos entrevistados,
“... o consumidor busca o meu produto e a empresa não se opõe se alguns varejistas vendam a
um preço superior ao da média do mercado, isso é até um incentivo para ele dar ainda mais
foco ao produto, pois ele ganha muito com suas vendas”.
Dentre as empresas pesquisadas que procuram gerenciar o preço ao consumidor, diversas
realizaram nos últimos doze meses estudos junto aos consumidores para definir quais os
preços que eles estariam dispostos a pagar pelos seus produtos em cada um dos canais,
levando em consideração diversas variáveis, entre as quais o posicionamento de preços da
concorrência no canal, a ocasião de compra que o consumidor estará vivenciando durante a
visita a um determinado canal (por exemplo, em hipermercados o consumidor estará fazendo
uma compra abastecedora e será mais cuidadoso ao comparar preços, então o preço deve ser
mais atraente do que em um minimercado, onde o consumidor estará adquirindo alguns
produtos que estão faltando em sua residência para consumo no próprio dia).
76
Essa é uma atribuição principalmente do departamento de marketing, para 75% dos
entrevistados, enquanto para 30% das empresas quem define o preço por canal é o
departamento de trade marketing e em 25% das empresas essa responsabilidade cabe a vendas
(30% das empresas colocaram que essa atribuição é compartilhada por pelo menos duas das
áreas citadas).
Uma vez definido qual o target de preço, as empresas se utilizam de diversas ferramentas,
inclusive dos outros Ps do trade marketing mix para incentivar os varejistas a praticar os
preços. A equipe de vendas é treinada para demonstrar ao varejista que se oferecer o produto
ao preço proposto ele irá vender mais o mesmo e assim ter mais ganho em seu negócio,
materiais promocionais com os preços target pré-impressos são confeccionados e em alguns
casos, o preço já vem na própria embalagem do produto (essa é uma medida muito polêmica e
que segundo alguns entrevistados, que a utilizaram e depois abandonaram, foi questionada
juridicamente por varejistas e organizações de defesa ao consumidor). Algumas empresas
oferecem descontos em seus produtos para os varejistas que praticam os preços sugeridos,
outras que possuem programas de fidelidade aos varejistas que atendem, fornecem pontos no
programa pelo respeito dos preços. Os exemplos citados demonstram que há um esforço
realizado com a utilização de diversas ferramentas para gerenciar o preço ao consumidor, o
que não só mostra a importância disso para aumentar a competitividade das empresas de bens
de consumo, mas também a dificuldade em obter a concordância do varejista em relação a
essa questão. Como um entrevistado colocou, “... nem sempre os objetivos de nossos clientes
são os mesmos que os nossos (...) mesmo que ele venda mais dos nossos produtos ao preço
sugerido, com o preço que ele pratica ele tem maior rentabilidade em seu negócio”.
4.3.4 Produto
77
O último P, que corresponde aos produtos (e marcas) comercializados pela empresa, é aquele
onde as atribuições são mais centralizadas no departamento de marketing. Essa é uma
atribuição que desde o princípio foi considerada como uma das atividades mais relevantes que
um profissional de marketing deve desenvolver, ou segundo disse um entrevistado, “o
desenvolvimento de produtos é o coração da área de marketing”. A primazia do profissional
de marketing na administração dos produtos da empresa, se por um lado faz com que os
produtos sejam desenvolvidos de forma a atender as preferências dos consumidores, por outro
lado faz com que nem sempre as características dos canais de distribuição e as diferentes
ocasiões de compra atendidas por cada canal sejam levadas em consideração. Isso pode ser
verificado pelas respostas dadas pelos entrevistados. Enquanto que para 55% das empresas as
características dos canais são sempre levadas em consideração para o desenvolvimento de
produtos, 40% dos entrevistados afirmaram que apenas às vezes essas características são
levadas em consideração e 5% afirmou que elas não são levadas em consideração nunca. Esse
número aponta que perto de metade das indústrias pesquisadas (45%) podem não levar em
consideração as características do canal de distribuição. Essa linha de trabalho para a
construção de um portfolio de produtos faz com que 65% das indústrias possuam produtos
específicos para cada canal de distribuição atendido, enquanto 35% vendem os mesmos
produtos para todos os canais, sem fazer nenhuma distinção entre um bar e um auto-serviço,
por exemplo.
Testemunhos dados também reforçam a oportunidade que é entender melhor como os
lançamentos de produtos podem ser mais bem-sucedidos se forem desenvolvidos de forma a
atender o consumidor e os clientes. Um dos respondentes declarou que “o produto teve que
ser relançado, pois a embalagem original em latas, não cabia na prateleira dos
supermercados”. Situação semelhante passou uma empresa fabricante de bebidas, que
desenvolveu um produto para ser vendido gelado cuja embalagem não cabia na geladeira dos
78
clientes. Além desses exemplos mais ilustrativos, essa falta de preocupação com o canal no
desenvolvimento de produtos pode impedir que as indústrias capturem oportunidades que os
mesmos oferecem, como por exemplo, a fabricação de produtos de marcas próprias, como
alternativa para gerar volume incremental e estreitar os laços de parceria entre as empresas.
Para aproveitar essas oportunidades e evitar erros como os que foram descritos anteriormente,
uma boa alternativa é envolver os departamentos de trade marketing na elaboração dos
produtos, cabendo aos profissionais da área opinar sobre quais as características do canal
devem ser levadas em consideração para o sucesso do produto. A maioria das empresas já
busca trabalhar dessa forma: em 75% das empresas entrevistadas a equipe de trade marketing
é envolvida na elaboração do produto, enquanto que em apenas 25% das empresas o
departamento de marketing desenvolve o produto sem consultar os departamentos de trade
marketing.
Finalmente, após a elaboração das estratégias de trade marketing que serão empregadas, é
necessário estabelecer indicadores de desempenho para a execução do plano, de forma a ser
possível mensurar sua efetividade. Kotler (1999) coloca que os planos de marketing (e o
mesmo raciocínio pode ser estendido aos planos de trade marketing) devem ter expectativas
em relação ao desempenho em um período definido, de forma a ser possível a tomada de
medidas corretivas caso as mesmas sejam necessárias para atingir os objetivos da empresa.
Bossidy e Charam (2004, p. 230), concordam com o raciocínio anteriormente exposto e
destacam a necessidade de estabelecer medidas de acompanhamento em um plano, “para ter
certeza que as pessoas cumprirão seus compromissos ou para elaborar medidas corretivas
caso isso não ocorra”.
Kotler (1997) destaca as principais ferramentas para mensurar os resultados de um plano de
marketing, algumas das quais podem ser úteis para mensurar o resultado do plano de trade
marketing:
79
A primeira delas é a análise de vendas, que compara o resultado real de vendas com o
estimado. Essa mensuração pode ser feita através do volume de vendas ou da receita de
vendas, que não necessariamente vão apontar resultados iguais, visto que é possível vender
um determinado volume de produto com um percentual de descontos variável, que pode ser
traduzido em maiores ou menores receitas para a empresa. Os executivos entrevistados
destacam a importância do volume de vendas para avaliar os planos de trade marketing, já
que essa variável é utilizada em 85% das empresas pesquisadas. Já a receita de vendas é
mensurada em 55% das empresas, um percentual menor do que o volume.
Outro grupo de indicadores de um plano de marketing é a análise de participação de mercado,
pois através desses indicadores é possível avaliar se os planos de marketing ou trade
marketing contribuem para a empresa capturar vendas da concorrência. O share ou
participação de volume é um indicador dos planos de trade marketing em 65% dos
entrevistados, enquanto o share de receita é utilizado em 55% das empresas, mesmo
percentual das empresas que consideram a receita de vendas como um indicador de trade
marketing em seus negócios.
Indicadores relevantes também são aqueles que compõe a análise financeira, que demonstra se
as ações efetuadas e que compõe o plano de trade marketing estão melhorando ou não a
rentabilidade do negócio. É importante mensurar a rentabilidade dos canais de distribuição
atendidos pelas empresas, de forma a também permitir o maior foco nas ações naqueles canais
que proporcionam o melhor retorno a empresa e isso é feito em 65% das empresas
entrevistadas. Já as contas-chave, que são principalmente as grandes redes de hipermercados e
supermercados atendidas pela indústria, também necessitam que seja feita uma mensuração
dos resultados em cada uma, em função de sua elevada participação nas vendas de bens de
consumo e também por ser o canal onde os lucros das indústrias de bens de consumo mais
80
caíram em função das mudanças ocorridas no varejo, como foi visto anteriormente. Esse
indicador é utilizado para avaliar os planos de trade marketing para 65% dos entrevistados.
Um ponto relevante para avaliar a efetividade do plano de trade marketing é mensurar a
eficiência na distribuição, pois um plano pode ter como meta ampliar a distribuição dos
produtos em um ou mais canais de distribuição, além do que as demais atividades que compõe
o trade marketing mix, para serem efetivas, necessitam que o produto esteja distribuído nos
pontos de vendas do canal de distribuição ao qual se destina o plano. 75% dos entrevistados
utilizam como indicador do plano de trade marketing a distribuição numérica (quantidade de
clientes que comercializam o produto dentro do universo de clientes que compõe o canal de
distribuição) e 70% mensuram a distribuição ponderada (considera quanto os clientes que
comercializam os produtos da empresa representam no total de vendas daquela categoria de
produto dentro do canal de distribuição).
Outro fator relevante para a efetividade do plano de trade marketing implica em não
acompanhar apenas se o produto está presente ou não no ponto de venda, mas com que
qualidade ele está presente, o que pode ser feito através da mensuração do espaço e
localização da exposição dos produtos ao consumidor final dentro dos clientes que compõe os
canais de distribuição. Esse ponto é considerado um indicador de trade marketing de acordo
com 75% dos entrevistados.
Para avaliar se as estratégias de preço do trade marketing mix estão sendo efetivas, é
necessário acompanhar os preços praticados ao consumidor pelos clientes de um determinado
canal de distribuição. Isso é feito em 65% das empresas entrevistadas.
Todo o trade marketing mix aplicado junto aos varejistas atendidos pela empresa vai gerar um
grau de satisfação maior ou menor com o plano oferecido aos mesmos pela indústria. Isso
pode ser mensurado através de uma avaliação do nível de satisfação dos varejistas, o que é
feito em apenas 30% das empresas pesquisadas, o que aponta que se os Ps que compõe o
81
trade marketing mix são mensurados separadamente, uma avaliação global do plano de trade
marketing não é feita na mesma intensidade. O quadro 4.7 apresenta os principais indicadores
do plano de trade marketing.
Quadro 4.7 Indicadores do plano de trade marketing
Indicador %
Volume 85
Volume share 65
Receita 55
Value share 55
Rentabilidade por canal 65
Rentabilidade por conta-chave 65
Distribuição numérica 75
Distribuição ponderada 70
Preços ao consumidor 65
Exposição de produtos ao consumidor 75
Nível de satisfação dos varejistas 30
Fonte: Desenvolvido pelo autor.
Vale destacar que esses objetivos podem variar de acordo com as prioridades estabelecidas
para cada um dos canais de distribuição. Um dos entrevistados, por exemplo, colocou que
“para as grandes redes de hipermercado e supermercados, nossos objetivos estão orientados
para o aumento das vendas totais, tanto em volume quanto em receita, enquanto para os
demais canais, a prioridade é o aumento da rentabilidade para o negócio”.
4.4 Estruturas de trade marketing
4.4.1 Formatos do departamento de trade marketing
Ao analisar as estruturas de trade marketing das empresas observadas, é possível encontrar
uma variedade de possibilidades, ao contrário do que acontece com os departamentos de
82
marketing, que tem a figura do gerente de produto presente em todas as empresas da amostra.
Isso é possível de ser determinado desde a alocação do departamento de trade marketing:
enquanto 65% das empresas têm o departamento dentro da estrutura de vendas (como visto na
fundamentação teórica o foco nesse tipo de estrutura é o desenvolvimento dos canais de
distribuição), em 25% o departamento está dentro da estrutura de marketing (esse é o modelo
onde a ênfase está na proteção das marcas) e em 10% das mesmas, justamente àquelas que o
departamento de trade marketing existe há mais tempo, existe uma diretoria de trade
marketing independente, que é a estrutura onde trade marketing possui mais força e
autonomia para desenvolver o seu trabalho e o conceito está consolidado dentro da
organização.
Já o principal executivo responsável pelos planos de trade marketing dentro das empresas
pode ocupar diferentes cargos, de acordo com o foco e a maturidade da estrutura de trade
marketing. Para 75% dos entrevistados, o cargo de gerente de trade marketing, é o principal
posto dessa estrutura. Em 15% dos casos, a principal posição é ocupada por um diretor (em
uma das empresas, o diretor de trade marketing responde ao diretor de vendas), o que fornece
mais autonomia e capacidade de negociação para o departamento. Existe também, nas
empresas onde o departamento de trade marketing existe há menos tempo, um coordenador
(5% dos entrevistados) ou um analista (também 5% dos entrevistados) responsável pelo
departamento. Nesses casos, a idéia é colocar alguém com experiência em marketing ou
vendas para iniciar o trabalho e com o tempo, reforçar a estrutura. Como disse um dos
entrevistados, “selecionamos um ótimo coordenador de vendas, com boa formação
acadêmica, para começar a desenvolver a área de trade marketing. Se tudo der certo, no
próximo ano vamos aumentar a estrutura”. Apesar desse raciocínio possuir coerência, há um
risco em iniciar um departamento de trade marketing sem uma pessoa com experiência na
função e sem os recursos e a estrutura necessária para desenvolver um trabalho de acordo com
83
as necessidades e expectativas da empresa. Diversos entrevistados lembraram que foram
necessárias diversas tentativas até o departamento de trade marketing conseguir produzir
resultados significativos. Nesse processo, houve muito desgaste entre as pessoas envolvidas
na tarefa, pela falta de conhecimento sobre como deve funcionar um departamento de trade
marketing. Isso muitas vezes terminou com a eventual saída dos executivos responsáveis por
trade marketing e sua substituição por outras pessoas que podiam não estar melhor preparadas
para a função, porém tinham mais apoio e recursos por parte da organização e conseguiram
deslanchar o departamento. Esse processo de concepção do departamento de trade marketing
em algumas empresas desgastou a própria denominação de trade marketing, que foi
substituída por outra que não tivesse rejeição por parte dos demais departamentos da
organização, em especial marketing e vendas, que possuem as interfaces com trade marketing
e que sofreram os maiores desgastes com as dificuldades na implementação do conceito.
Apesar do departamento continuar tendo essencialmente as responsabilidades de trade
marketing, foram encontrados departamentos com diferentes nomes, como “channel
marketing”, “customer marketing”, desenvolvimento de canais, desenvolvimento de mercado,
marketing operacional, entre outros.
O tamanho da estrutura de trade marketing de que a empresa dispõe varia de acordo com o
tamanho da empresa, e da maturidade do departamento de trade marketing dentro da
organização. 45% dos entrevistados declararam que o departamento possui até dez
funcionários, 15% declarou que trade marketing possui entre onze e vinte e 40% afirmou que
há mais de vinte pessoas que trabalham com trade marketing dentro da indústria em que
trabalham.
Uma vez definido para quem o departamento de trade marketing responde qual é a força do
seu principal executivo (determinada pelo cargo que ocupa, para efeito desse trabalho) e qual
o tamanho da estrutura de que a empresa necessita, é necessário conhecer qual o tamanho do
84
orçamento disponível para desenvolver os trabalhos de trade marketing. A participação do
orçamento de trade marketing dentro do orçamento total de marketing foi uma informação
que apenas 60% dos entrevistados forneceram, os demais declararam ser essa uma informação
confidencial. É possível observar mais uma vez a força do departamento de trade marketing,
pois os respondentes gerenciam em média 43% do orçamento total de marketing para
desenvolver os planos de trade marketing, enquanto 57% do orçamento total de marketing é
alocado para os executivos de marketing desenvolverem planos voltados ao consumidor final
do produto. De acordo com os respondentes, a participação do orçamento de trade marketing
dentro do orçamento total tem crescido ano após ano, desde a implementação do
departamento de trade marketing. Há riscos envolvidos nessa decisão, como a perda de
relevância das marcas fabricadas pelas indústrias para o consumidor e a falta de recursos para
promover o desenvolvimento e o lançamento de novos produtos, porém a pressão que as
indústrias estão sofrendo pelas mudanças ocorridas no varejo alimentício e os bons resultados
que os departamentos de trade marketing proporcionam para enfrentar essa situação indicam
segundo os entrevistados que essa participação no orçamento tende a continuar crescendo.
Esse é um outro ponto onde é possível observar o atrito e as dificuldades da implementação
do conceito de trade marketing dentro das empresas pesquisadas, visto que apesar do
crescimento ano após ano do orçamento destinado a desenvolver os planos de trade
marketing, em 20% das empresas o orçamento de trade marketing é gerenciado pelo
departamento de marketing, que demanda ações para o departamento de trade marketing ou
recebe solicitações do departamento de trade marketing de ações que devem ser
desenvolvidas e se reserva a tarefa de aprovar ou não as ações voltadas a desenvolver os
canais de distribuição. Isso reflete a resistência que existe por parte das estruturas de
marketing e vendas (nesse caso marketing) em trabalhar em uma organização onde é
necessário compartilhar poder, orçamento e responsabilidades com um novo departamento,
85
trade marketing, que surgiu para atender a uma série de necessidades que marketing e vendas
não foram capazes de resolver.
A segmentação da equipe de trade marketing também pode ser feita de diversas formas, de
acordo com as necessidades da empresa (isso também demonstra a não-existência em trade
marketing de uma estrutura e segmentação que é reconhecida por todo o mercado como sendo
a mais eficiente). 65% dos entrevistados declararam que o departamento de trade marketing é
dividido por canal, tendo uma equipe para desenvolver os negócios em cada um dos canais de
distribuição em que a empresa atua. 20% dos entrevistados disseram que o departamento é
segmentado por área geográfica, tendo uma equipe responsável por desenvolver os planos
para todos os canais em cada região em que a empresa atua. Já em 15% das empresas, há uma
equipe que atende cada uma das contas-chave, que são principalmente as grandes redes
supermercadistas e também, dependendo da empresa, os atacadistas e distribuidores. 15% dos
entrevistados declararam que há uma equipe para cada marca da empresa, responsável por
desenvolver os planos por canal de distribuição para cada uma das marcas que faz parte do
portfolio da indústria (essa situação acontece principalmente naquelas empresas onde o
departamento de trade marketing está inserido dentro da estrutura de marketing). Uma das
empresas entrevistadas, onde trade marketing surgiu há menos de um ano, declarou que a
estrutura é dividida por atividades, e existe uma pessoa responsável por desenvolver materiais
promocionais, outra por elaborar a arquitetura de preços e assim por diante. Nesse caso a
estratégia dos canais é relegada a um segundo plano, visto que não há um responsável por
integrar as atividades do trade marketing mix. Vale ressaltar que nenhum dos possíveis
modelos invalida o outro e em todos os negócios há oportunidades em desenvolver os canais
de distribuição, contas-chave, áreas geográficas e marcas de empresa, e em 25% das empresas
onde o trade marketing existe há mais tempo, a estrutura de trade marketing está dividida em
86
mais de uma das formas descritas anteriormente. O quadro 4.8 apresenta as diferentes
organizações existentes do departamento de trade marketing.
Quadro 4.8 - Divisão da equipe de trade marketing
Modelo de divisão %
Canal 65
Área geográfica 20
Conta-chave 15
Marca 15
Atividades 5
Mais de uma forma 25
Fonte: Desenvolvido pelo autor.
4.4.2 Funções de trade marketing
Em seguida, foi investigado quais as principais funções que o departamento de trade
marketing desenvolve dentro das organizações. 95% dos respondentes declararam que esse
departamento é responsável por realizar a comunicação entre os departamentos de marketing
e vendas, informando a equipe de vendas dos planos de marketing e levando ao departamento
de marketing as oportunidades existentes nos canais de distribuição, os movimentos feitos
pela concorrência e qualquer outro fator relevante. Essa responsabilidade aumenta a eficiência
da comunicação, como disse um dos entrevistados, que trabalha na área de vendas, “ao invés
de todas as semanas me ligarem cinco gerentes de produto, eu informo ao gerente de trade
marketing o que está acontecendo e o mesmo não só informa o departamento de marketing,
como também tem a responsabilidade de viabilizar um plano de ação”.
90% das empresas pesquisadas destacaram que trade marketing deve detectar oportunidades
de negócios em cada canal de distribuição atendido pela empresa. Isso é feito não só através
87
da comunicação com a equipe de vendas, mas também em reuniões com clientes e pesquisas
de mercado, que avaliam a evolução dos negócios em cada canal e também o comportamento
do consumidor (shopper) nas diferentes ocasiões de compra dos produtos da empresa.
Uma vez detectadas as oportunidades de negócios, cabe ao departamento de trade marketing
elaborar campanhas de trade marketing por canal de distribuição e essa é uma função do
departamento, de acordo com 90% dos entrevistados. A elaboração da campanha pressupõe o
gerenciamento de todo trade marketing mix, e o gestor da área deve estar preparado para
utilizar as ferramentas de produto, preço, promoção e propaganda de acordo com o cenário
que se apresenta a empresa.
Como as contas-chave são muito relevantes para os negócios dos fabricantes de bens de
consumo esses merecem uma atenção especial e 85% dos respondentes afirmou que o
departamento de trade marketing deve elaborar planos de negócios para cada uma dessa
contas e apresentar os mesmos, junto com a equipe de vendas responsável pelas vendas ao
cliente.
O investimento em cada canal de distribuição e em cada conta-chave deve ser feito tendo em
conta a importância de cada um desses para o negócio da empresa e também onde estão as
principais oportunidades. Por exemplo, uma empresa que busca reduzir sua dependência das
contas-chave deve investir ao longo do tempo um percentual maior do seu faturamento para
outros canais, como bares e padarias. É necessário também evitar que sejam realizadas
campanhas conflitantes entre os diferentes canais, como uma campanha de preços de um
determinado produto para consumidores que se abastecem em hipermercados em conjunto
com uma campanha de preços do mesmo produto em supermercados, onde um dos canais
esteja com um preço tão mais baixo que o outro que migre as compras de um canal para o
outro sem que o fabricante tenha consciência e deseje essa migração. Essa coordenação dos
88
investimentos e dos calendários promocionais entre os canais de distribuição é uma função do
departamento de trade marketing para 80% dos entrevistados.
80% dos respondentes afirmaram que cabe também ao departamento de trade marketing
coordenar a implementação dos planos de marketing por canal de distribuição. Isso implica
em comunicar as campanhas de marketing e o lançamento de novos produtos para a equipe de
vendas e para os clientes e informar como essas campanhas devem ser executadas em cada
ponto de venda atendido pela empresa: quais os materiais promocionais colocar em cada canal
de distribuição, quais promoções associar a campanha para assegurar o máximo de sua
efetividade e assim por diante. Além disso, enquanto o departamento de marketing avalia o
impacto dos planos de marketing e lançamento de produtos junto ao consumidor final, cabe a
trade marketing fazer essa avaliação junto aos canais de distribuição e também junto aos
shoppers, propondo melhorias se as mesmas forem necessárias.
A avaliação dos resultados dos canais de distribuição, dos planos de marketing e também dos
planos de trade marketing em cada um dos canais e contas-chave atendidos pela empresa,
feita através do estabelecimento e acompanhamento dos indicadores de desempenho, é uma
função do departamento de trade marketing segundo 65% dos respondentes.
60% dos entrevistados declararam que cabe a equipe de trade marketing desenvolver novas
ferramentas de gestão junto aos clientes, que permitam que as vendas e a rentabilidade das
indústrias e dos varejistas aumentem. Entre essas ferramentas, foram citados o gerenciamento
por categorias, as reuniões periódicas para acompanhar os negócios entre as empresas, o
cartão de metas conjunto com objetivos comuns entre indústrias e varejistas e a mensuração
da execução dos produtos e promoções nos pontos de venda do canal de distribuição ou nas
lojas das contas-chave.
O departamento de trade marketing principalmente quando inicia os seus trabalhos, tem
responsabilidade sobre a implementação dos planos de trade marketing, porém a formulação
89
estratégica que é feita e que define quais os canais vão ser atendidos e qual o papel de cada
canal, muitas vezes fica sob responsabilidade do departamento de vendas. Isso é percebido
pois em apenas 55% dos entrevistados o departamento de trade marketing tem como função
estabelecer os papéis de cada canal de distribuição nos negócios da companhia e em 40% das
empresas pesquisadas trade marketing estabelece os canais-foco de atuação. Como disse um
entrevistado que trabalha que atua em trade marketing, “a empresa já vendia os seus produtos
antes da existência do departamento de trade marketing. O diretor de vendas era e é o
responsável pelo atingimento dos resultados e sempre coube a ele definir para quem
deveríamos vender os produtos. Com o tempo e habilidade política, trade marketing vem
sendo envolvido nessa definição estratégica”.
A dificuldade do departamento de trade marketing em desenvolver dois Ps do trade
marketing mix, preços e produtos, pode ser observada também através das respostas dos
entrevistados. 45% declararam ser o desenvolvimento de uma política de preços entre os
canais de distribuição uma função do departamento de trade marketing e apenas 10%
afirmaram que cabe a trade marketing desenvolver produtos para cada canal de distribuição.
O quadro 4.9 apresenta as principais funções de trade marketing.
Quadro 4.9 Principais funções de trade marketing
Função %
Comunicação entre marketing e vendas 95
Detectar oportunidades de negócios em cada canal de distribuição 90
Elaborar campanhas de trade marketing por canal 90
Coordenar a implementação de planos de marketing por canal de
distribuição
80
Coordenar a implementação de planos de marketing por canal de
distribuição
80
Coordenar os investimentos nos calendário promocionais dos
diferentes canais
80
Desenvolver e apresentar planos para os clientes 85
Estabelecer métricas para avaliar a performance de cada canal 65
Desenvolver novas ferramentas de gestão junto aos clientes 60
Estabelecer papéis para cada canal 55
90
Desenvolver políticas de preços entre os canais 45
Definir canais-foco de atuação 40
Desenvolver produtos específicos por canal 10
Fonte: Desenvolvido pelo autor.
4.4.3 O profissional de trade marketing
Os entrevistados também responderam qual o perfil do profissional de trade marketing em
suas empresas. Para 25% dos respondentes, o executivo da área deve ter o curso superior
completo, 35% afirmou que para trabalhar em trade marketing é necessário ter pós-graduação
completa em uma área afim, como marketing e 40% afirmou que é necessário um diploma de
MBA (master in business administration) para trabalhar em um departamento de trade
marketing. Além da experiência acadêmica, foi verificado se é relevante para esses
profissionais terem experiência em outros departamentos da empresa. Para 100% dos
entrevistados, é relevante que os executivos de trade marketing trabalhem previamente no
departamento de vendas. 90% dos respondentes afirmaram que é necessário que esses
executivos tenham experiência também na área de marketing. Como destacou um dos
entrevistados:
“as duas áreas que mais se relacionam com trade marketing são marketing e
vendas. Se pudermos contratar executivos com experiência em ambas as áreas, os
processos serão muito agilizados, pois a equipe de trade marketing conhecerá todas
as faces relevantes do negócio para desempenhar a contento o seu trabalho e saberá
como negociar os recursos e atividades de forma mais efetiva com marketing e
vendas”.
Outros departamentos, como finanças, logística e recursos humanos também foram citados,
sem um percentual significativo, todavia. O quadro 4.10 apresenta os departamentos onde o
profissional de trade marketing deve ter experiência na visão das empresas pesquisadas.
91
Quadro 4.10 Departamentos onde o profissional de trade marketing deve ter experiência
Departamento %
Vendas 100
Marketing 90
Finanças 15
Logística 15
Recursos humanos 5
Fonte: Desenvolvido pelo autor.
Foi questionado aos entrevistados quais as habilidades gerenciais que o profissional de trade
marketing deve possuir. Nessa pergunta, cada entrevistado podia classificar as habilidades
mencionadas com uma nota de 1 (pouco importante) a 5 (muito importante). Além disso, caso
houvesse alguma outra habilidade relevante, seria possível incluí-la na relação.
A principal habilidade para o profissional de trade marketing segundo os respondentes é o
foco nos canais de distribuição e nos shoppers com uma nota média de 4,3. Compreender
como funciona a dinâmica dos canais de distribuição, as ameaças e oportunidades que cada
canal apresenta e como se comporta o shopper durante as diferentes ocasiões de compra são
os fundamentos para o trabalho do departamento de trade marketing de acordo com a amostra
pesquisada.
Em seguida, uma habilidade considerada como muito relevante com a nota de 3,9 é a
capacidade de planejamento. Isso significa saber trabalhar todas as informações levantadas e
92
elaborar um plano de trade marketing que contemple todo o trade marketing mix de forma a
capturar as oportunidades que o novo cenário formado a partir das transformações ocorridas
no varejo alimentício apresenta as empresas de bens de consumo.
Como trade marketing é uma área nova, que deve interagir intensamente com marketing e
vendas, as duas habilidades que vem a seguir abordam essa dinâmica. Trabalho em equipe
recebeu a nota de 3,5 e capacidade de coordenação entre as áreas recebeu a nota média de 3,2.
Um dos entrevistados apresentou essa questão da seguinte forma:
“Se trade marketing não for capaz de negociar os recursos com marketing e vender
a importância dos planos de trade marketing para a força de vendas, o departamento
não atingirá a efetividade necessária para a empresa e está condenado a ocupar uma
posição secundária na organização, o que será prejudicial para o negócio e nos fará
perder competitividade”.
Uma outra habilidade gerencial relevante para o executivo que trabalha em trade marketing,
com uma nota média de 3,1 é liderança, pois as empresas de bens de consumo já existiam
antes das mudanças ocorridas no varejo e do surgimento da área de trade marketing. Os
profissionais de trade marketing devem ser capazes de explicar para os diferentes
departamentos da organização qual é o novo cenário de negócios, qual o impacto dessa nova
realidade na organização e qual a relevância de alocar recursos e revisar processos de trabalho
de forma a atender de forma diferente os canais de distribuição da empresa.
Outras habilidades gerenciais que o profissional de trade marketing deve possuir e que foram
mencionadas pelos entrevistados são: comunicação (oral e escrita), foco em atingimento de
metas e negociação (com clientes e outros departamentos). O quadro 4.11 apresenta as
principais habilidades gerenciais do profissional de trade marketing.
Quadro 4.11 Habilidades gerenciais do profissional de trade marketing
Habilidade Nota
Foco no cliente e consumidor 4,3
Capacidade de planejamento 3,9
Trabalho em equipe 3,5
Capacidade de coordenação entre áreas 3,2
93
Liderança 3,1
Fonte: Desenvolvido pelo autor.
4.4.4 Mudanças nas estruturas de outros departamentos
As estruturas de marketing e vendas também passaram por mudanças para responder ao novo
cenário de negócios resultante das mudanças ocorridas no varejo alimentício. Ao analisar o
departamento de marketing, pode-se perceber que diferentes alternativas foram desenvolvidas.
Enquanto a figura do gerente de produto continua a existir como elemento essencial para os
departamentos de marketing desenvolverem suas estratégias e planos para atrair os
consumidores, a dimensão mais adequada dessa estrutura tem sido questionado pelas
organizações. 40% das empresas pesquisadas aumentaram sua estrutura de marketing, com o
objetivo de compreender as mudanças nos hábitos dos consumidores e nas diferentes formas
de estimulá-los a adquirir os seus produtos. Já 40% reduziram seu tamanho, em função do
surgimento do novo departamento de trade marketing. Como disse um dos entrevistados,
“não faz mais sentido ter um departamento de marketing tão robusto, quando uma parte
significativa do seu trabalho agora é desenvolvida pelo departamento de trade marketing”.
Apenas 20% mantiveram sua estrutura de marketing sem alterações.
Já a estrutura de vendas, ao contrário, foi reforçada para atender à complexidade da nova
formatação varejista em 60% das empresas, enquanto 30% a mantiveram do mesmo tamanho
94
e apenas 10% reduziram o número de profissionais de vendas. Essa tendência pode ser
exemplificada em reportagem da revista Exame (2002, p.52 )
:
“A Unilever (...) que depois absorveu a Bestfoods, decidiu apostar no atendimento
direto em 8.000 pontos de venda. Cerca de 600 vendedores equipados com palmtop
serão responsáveis pela tarefa. Isso possibilitará melhor distribuição das vendas e,
no médio prazo, a redução pela metade da dependência do grande varejo, que
responde atualmente por 20% de suas vendas. A exemplo da Unilever, a Nest
também aposta na ampliação de seus canais de venda. Em apenas um ano, o grupo
suíço reforçou em 30% sua força de vendas e ampliou de 5.500 para 8.000 o número
de pontos atendidos diretamente”.
O departamento de vendas, que era organizado principalmente com gerentes responsáveis por
áreas geográficas pré-estabelecidas, também passou por alterações: 60% constituíram uma
equipe segmentada por canal de distribuição e 30% formaram uma equipe dedicada com
exclusividade a cada conta-chave (CBD, Carrefour, Wal Mart).
Essas equipes, em conjunto com o departamento de trade marketing, devem elevar o nível de
serviço prestado aos varejistas e através destes, ao consumidor final. As novas equipes de
vendas, que no passado eram avaliadas pelo atingimento de volume de vendas, passam assim
a ter novos indicadores de desempenho, como aqueles que foram vistos anteriormente e que
devem ser atingidos pelos esforços coordenados da equipe de trade marketing e vendas.
4.4.5 Conflitos com outros departamentos
Como a estrutura de trade marketing, foi implementada recentemente nas empresas
pesquisadas e as estruturas de marketing e vendas vem se modificando dentro das empresas
para serem mais efetivas em relação ao novo cenário de negócios, essa é uma situação
complexa, onde as mudanças geram insegurança nas pessoas, uma pressão maior por
resultados e a necessidade de todos trabalharem de uma nova maneira. Como pode ser
observada em alguns tópicos previamente explorados, a estrutura de trade marketing, por
BLECHER, Nelson. A ditadura do varejo. Exame, São Paulo, edição 768, p. 44-52, Junho
2002.
95
demandar um aporte de investimentos para o desenvolvimento do trade marketing mix e
também por necessitar de uma revisão dos processos anteriormente vigentes de forma a que o
departamento de trade marketing possa executar as funções sob sua responsabilidade, pode ter
conflitos com os departamentos de marketing e vendas, que vivem um momento de
instabilidade. Segundo 80% dos entrevistados, existem conflitos entre trade marketing e
vendas. Os executivos de vendas, sempre foram considerados os especialistas nos clientes e
quando o departamento de trade marketing agrega uma nova visão dos canais de distribuição,
dos clientes atendidos pela empresa e dos shoppers, a equipe de vendas sente que perdeu
poder, que está sendo monitorada e termina por confrontar os executivos de trade marketing,
gerando desgaste entre ambas as partes e dificuldades adicionais a implementação dos planos
de desenvolvimento dos canais de distribuição elaborados pelo departamento de trade
marketing. Um dos entrevistados explicou essa situação da seguinte forma: “existe uma
preocupação por parte de vendas pelo controle das atividades e dos recursos investidos na
área de seu domínio. Sentem-se vigiados e nem sempre dão atenção e apoio necessário para as
atividades”.
Já para 65% dos respondentes, marketing e trade marketing têm uma relação conflituosa.
Esses conflitos são gerados pela não-definição clara das responsabilidades de cada
departamento e pela não adequação dos processos da empresa a sua nova configuração
contemplando o departamento de trade marketing, o que eventualmente faz com a mesma
tarefa seja feita em duplicidade por marketing e trade marketing ou não seja feita por
ninguém. Como ressaltou um dos entrevistados, “o principal conflito entre marketing e trade
marketing é a indefinição do papel de cada área na empresa e isso ocorre porque não há uma
definição clara das responsabilidades de cada área, com o direcionamento específico dos
recursos disponíveis”. Muitos executivos de marketing, de acordo com os entrevistados, têm
96
medo de perder poder dentro da organização e dessa forma resistem à alocação de recursos
em trade marketing e não envolvem o departamento de trade marketing da forma adequada
no planejamento de negócios da empresa.
Nas empresas onde trade marketing existe há mais tempo e já está consolidado, os problemas
descritos acima com vendas e marketing aparecem com muito menor freqüência, o que pode
demonstrar que essas dificuldades são resultantes principalmente do fato de esse ser um
departamento novo e que com o tempo deve se acomodar dentro da estrutura total de empresa,
principalmente quando os papéis e processos forem revistos e os benefícios de sua existência
começarem a aparecer.
4.4.6 Vantagens, desvantagens e o futuro de trade marketing
Foi questionado aos executivos que participaram da amostra quais as vantagens da empresa
possuir um departamento de trade marketing. Foi destacado o foco no cliente e nos shoppers.
Ambos não eram vistos como fatores decisivos para o sucesso do negócio e hoje o são,
recebendo a atenção necessária através do departamento de trade marketing. Esse foco gera
maior velocidade em capturar oportunidades oferecidas nos diferentes canais de distribuição
atendidos pela empresa e também para responder a mudanças dos cenários de negócios, como
as que foram anteriormente descritas. A única desvantagem que existe nas empresas que
implementaram o conceito e que foi mencionada pelos entrevistados são as dificuldades com
marketing e vendas que acontecem durante o processo de implementação do departamento de
trade marketing. Um risco potencial é que os investimentos para desenvolver os canais de
distribuição cresçam continuamente e retirem recursos que hoje são disponibilizados para
desenvolver atividades com os consumidores e novos produtos e para fortalecer as marcas da
empresa.
97
Para compreender melhor essas vantagens e desvantagens oferecidas por trade marketing, foi
questionado qual a percepção dos clientes sobre as estratégias de trade marketing. Segundo os
respondentes, os clientes têm uma visão favorável sobre trade marketing: 30% declararam
que os clientes acreditam que trade marketing é excelente para os negócios e para 60% os
clientes consideram trade marketing muito bom para os negócios. Já aqueles respondentes
para os quais trade marketing não tem uma avaliação boa dos clientes são um grupo muito
menor dentro da amostra: 10% afirmaram que as estratégias de trade marketing tanto fazem
para os negócios na visão dos clientes e nenhum pesquisado colocou que trade marketing é
prejudicial ou muito prejudicial na visão dos clientes das indústrias de bens de consumo. O
quadro 4.12 apresenta a percepção dos clientes sobre trade marketing.
Quadro 4.12 Percepção dos clientes sobre trade marketing
Percepção %
Excelente para os negócios 30
Muito bom para os negócios 60
Tanto faz para os negócios 10
Prejudicial para os negócios 0
Muito prejudicial para os negócios 0
Fonte: Desenvolvido pelo autor.
Segundo os entrevistados, os clientes enxergam as estratégias e planos de trade marketing
como positivo para os seus negócios por diferentes razões, entre as quais se destacam três em
especial. Em primeiro lugar, está a mudança do foco do diálogo entre a indústria e o varejo,
que antes era focado em descontos e promoções de preços para um diálogo integrado, que
contemple promoções de trade marketing. Dessa forma, os resultados podem ser feitos com
uma receita e uma rentabilidade melhores, obtidas através do aumento do preço médio de
venda dos produtos comercializados pelo varejo, que acontece quando são necessárias menos
reduções de preços para se atingir os objetivos de negócios. Outro ponto muito importante é a
98
disponibilização para os varejistas de pesquisas feitas pelas indústrias sobre o comportamento
do consumidor e dos varejistas e o desenvolvimento de ferramentas de gestão em conjunto
pela indústria e pelo varejista, como por exemplo, o gerenciamento de categorias, que foi
anteriormente citado. Essas informações e ferramentas permitem ao varejista ter um domínio
mais efetivo sobre o seu negócio e apontam onde estão as oportunidades de melhorar os
resultados de ambas as empresas. O terceiro ponto que os entrevistados destacaram que os
clientes consideram como sendo muito útil dentro do escopo das funções de trade marketing é
o desenvolvimento de calendários integrados, que contemple todo o trade marketing mix e
que alinhe esse com as ações de marketing voltadas aos consumidores. Dessa forma, os
clientes conseguem desenvolver um planejamento mais estruturado, por exemplo, não
realizando com um determinado produto promoções de preço e ações de trade marketing no
mesmo período, o que seria uma duplicidade de investimentos que talvez pudessem ser
utilizados em outra ocasião. Com um melhor planejamento é possível também capturar as
oportunidades de vendas que os fabricantes estimulam através dos seus investimentos.
Exemplo disso é um produto que for ser impactado com uma ação de comunicação massiva
na televisão ou que for ter uma atividade de trade marketing. Para maximizar as vendas desse
item, é possível que o mesmo receba um destaque nas mídias e nos espaços de gôndola das
lojas do varejista, potencializando ainda mais os resultados da ação.
Finalmente, após entender as estratégias e estruturas de trade marketing nas indústrias de bens
de consumo, foi questionado aos entrevistados quais as perspectivas desse departamento nos
próximos cinco anos. Para 90% dos entrevistados, o departamento vai crescer, enquanto 5%
afirmou que irá permanecer igual e 5% acredita que o departamento vai diminuir. O motivo
para essa perspectiva otimista são as experiências de sucesso em países da América do Norte
e da Europa, onde trade marketing existe há mais tempo e os bons resultados que o
departamento de trade marketing trouxe até o momento no Brasil, em especial naquelas
99
indústrias onde o departamento foi implementado há mais tempo. Um dos entrevistados
descreveu as perspectivas de trade marketing da seguinte forma:
Trade marketing irá crescer muito em função das inúmeras frentes de negócios que
serão geradas a partir da descoberta das oportunidades nos pontos de venda e na
compreensão da forma de atuação dos canais de distribuição. Os formatos atuais de
distribuição e comunicação no ponto de venda começam a abrir espaço para novas
idéias e principalmente novos caminhos para atender o consumidor no momento de
decisão de compra. Uma comunicação eficiente e inovadora nos pontos de venda das
grandes redes, criatividade no atendimento aos canais tradicionais de distribuição e a
busca por novos clientes e canais serão imprescindíveis para o sucesso daqui para a
frente”.
5. Conclusões
O varejo alimentício nos mercados mais maduros, como os Estados Unidos e a Europa,
passou nos últimos vinte anos por um processo de globalização das grandes redes de
supermercados, seguido por uma consolidação dessas redes. Mais profissionais e com maior
poder de barganha, essas passaram a demandar melhores condições comerciais das indústrias
de bens de consumo, que em função disso perderam parte de sua rentabilidade. Um dos
componentes da estratégia que essas empresas adotaram para reverter esse cenário foi a
constituição do departamento de trade marketing, que adapta as estratégias de marketing as
necessidades não só dos consumidores, mas também dos clientes intermediários.
Para compreender se a situação descrita anteriormente está acontecendo no Brasil e de que
maneira, vinte executivos que trabalham em indústrias de bens de consumo não-duráveis
responderam a um questionário e alguns complementaram esse questionário com uma
entrevista pessoal.
Essa dissertação verificou que no Brasil, na visão dos executivos que trabalham nas indústrias
de bens de consumo, nos últimos dez anos os supermercados também passaram por um
processo de globalização e consolidação e, além disso, outras tendências estão acontecendo
no varejo, como o crescimento das marcas próprias, surgimento de novos formatos varejistas,
100
a reação dos pequenos supermercadistas através da sua consolidação em centrais de negócios,
a concorrência entre varejistas de configurações distintas e a expansão do varejo on line.
Todas essas mudanças, na visão dos entrevistados, têm um impacto negativo para os seus
negócios e devem continuar a existir com cada vez mais força nos próximos anos.
Assim como aconteceu em mercados mais maduros, no Brasil também o departamento de
trade marketing surgiu como uma das respostas a esse cenário desfavorável. Para responder
as mudanças ocorridas no varejo, cada um dos Ps do composto de marketing (produto, preço,
promoção e ponto de venda) são trabalhados olhando não só o consumidor (atribuição do
departamento de marketing) como também o varejista e ao levá-lo também em consideração,
a empresa desenvolve o composto de trade marketing ou trade marketing mix.
O estudo verificou que não há uma única estrutura possível para o departamento de trade
marketing e seu tamanho e abrangência de área de atuação variam de acordo com a
maturidade do departamento, tamanho da indústria e foco que a diretoria decide dedicar ao
tema. O profissional de trade marketing, que deve não só possuir uma sólida formação
acadêmica, como também experiência em marketing e vendas, enfrenta uma série de
dificuldades no relacionamento com as áreas de marketing e vendas, em função da resistência
em perder poder por parte dessas áreas, além da alteração dos processos que deve ser efetuada
quando da implementação de trade marketing. Apesar dessas dificuldades, executivos e
varejistas acreditam que o novo departamento têm se demonstrado útil ao negócio, pois
desenvolve estratégias e ferramentas que aproximam o fabricante do varejista e busca
aumentar a receita de ambos de outras maneiras, além de reduções de preço. Em função dos
bons resultados obtidos, esses entrevistados acreditam que o departamento deve continuar
crescendo nos próximos cinco anos.
Esse trabalho pode ser complementado por outros estudos, que não só aprofundem o
conhecimento das mudanças pelas quais o varejo alimentício vem passando e o impacto dessa
101
nos resultados das indústrias de bens de consumo, como também que verifiquem a aplicação
dos conceitos de trade marketing e quais as estruturas existentes em um universo maior de
fabricantes de bens de consumo.
Além disso, com o objetivo de expandir práticas de sucesso de um segmento para outro, é
interessante compreender como outros segmentos varejistas vêm se modificando ao longo do
tempo e se as indústrias que abastecem esses outros segmentos adotaram o trade marketing
para trabalhar no novo cenário e de que forma.
Referências bibliográficas
AACKER, David. A. Marcas: Brand Equity, gerenciando o valor da marca. São Paulo:
Negócio Editora, 1998.
ALVAREZ, Francisco Sebastian Mendizabal. A aplicação dos conceitos de trade
marketing nas empresas produtoras de produtos alimentícios de consumo. São Paulo,
1998. Dissertação (Mestrado em Administração) – Departamento de Administração da
Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo.
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dados pelo correio: um estudo exploratório. Revista de Administração, edição 15, p. 35-43,
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BLESSA, Regina. Merchandising no ponto-de-venda. São Paulo: Atlas, 2005.
102
BOSSIDY, Larry e CHARAN, Ram. Execução. São Paulo: Campus 2004.
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fazer? Um guia para sua elaboração. São Paulo: Olho d`Água, 2005
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2005.
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103
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história. São Paulo: Scortecci, 2005.
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SOUZA, Marcos Gouvêa de. Centrais de Negócios. São Paulo: Edições Inteligentes, 2004.
105
APÊNDICE
QUESTIONÁRIO DE PESQUISA
1. Qual sua função atual na empresa?
2. Para melhor entender o impacto do aumento da competição no varejo alimentício na
indústria de bens de consumo não-duráveis nos últimos 10 anos, por favor, preencha o quadro
abaixo com sua opinião.
Mudanças Ocorreu
(Sim/Não)
Grau de Importância (De
1 pouco importante até 5,
muito importante)
Impacto nos
negócios (De 1
muito positivo até
5, muito negativo)
Vai se intensificar nos
próximos anos (S/N)
Globalização das grandes redes
supermercadistas
Consolidação das redes de
supermercados
Surgimento de novos formatos (ex.
hard discounts)
Surgimento de marcas próprias
Constituição de centrais de negócios
Concorrência entre varejistas de
106
configurações distintas
Varejo on line
Outras (especificar)
Outras (especificar)
Outras (especificar)
Outras (especificar)
3. Qual o impacto dessas mudanças na rentabilidade do seu negócio?
( ) Melhorou ( ) Permaneceu igual ( ) Piorou
4. Comente outros impactos das mudanças acima sobre o negócio da indústria onde trabalha.
5. Foi necessário alterar sua estrutura de marketing e vendas para atender a essas mudanças?
( ) sim ( ) não
6. O que aconteceu com sua estrutura de marketing?
( ) aumentou ( ) permaneceu igual ( ) diminuiu
7. O que aconteceu com sua estrutura de vendas?
( ) aumentou ( ) permaneceu igual ( ) diminuiu
8. Quais foram às mudanças que aconteceram em sua estrutura?
( ) Constituição de uma equipe por canal de distribuição;
107
( ) Constituição de uma equipe por conta-chave;
( ) Constituição de uma equipe de trade marketing;
( ) Outras. Especificar:
9. Existe uma estrutura de trade marketing na empresa?
( ) sim ( ) não
10. Em caso afirmativo, há quanto tempo existe essa estrutura?
( ) mais de 10 anos
( ) entre 5 e 10 anos
( ) entre 1 e 5 anos
( ) menos de 1 ano
( ) não existe
11. Quais os canais-foco para as vendas de sua empresa?
( ) Hipermercados
( ) Supermercados
( ) Minimercados
( ) Atacados
( ) Distribuidores
( ) Padarias
( ) Mercearias
( ) Bares
( ) Outros (especificar)
108
12. Existe um target de cobertura para cada um dos canais-foco?
( ) sim ( ) não
13. Cada canal tem o seu papel definido dentro da companhia?
( ) sim ( ) não
14. Em caso afirmativo, quais são os possíveis papéis (assinalar quantos necessários)
( ) Gerador de volume
( ) Gerador de imagem
( ) Gerador de receita
( ) Gerador de rentabilidade
( ) Gerador de distribuição
( ) Outros. Especificar.
15. Quem define os canais-foco, papéis do canal e targets de cobertura é:
( ) Marketing
( ) Trade marketing
( ) Vendas
16. Há um plano anual de negócios por canal de distribuição?
( ) sim ( ) não
17. Existem produtos específicos para cada canal de distribuição?
109
( ) sim ( ) não
18. As características de cada canal de distribuição são levadas em consideração para o
desenvolvimento de novos produtos?
( ) sempre ( ) às vezes ( ) nunca
19. Trade marketing participa desse desenvolvimento de produtos?
( ) sim ( ) não
20. Existem preços distintos para cada canal de distribuição?
( ) sim ( ) não
21. Existem targets de preços ao consumidor por canal de distribuição?
( ) sim ( ) não
22. Quem define os preços por canal é:
( ) Marketing
( ) Trade marketing
( ) Vendas
23. Quem define os preços ao consumidor é:
( ) Marketing
( ) Trade marketing
( ) Vendas
24. Qual o tipo de promoções realizadas em cada canal de distribuição?
110
( ) Push (empurrar) volume ( ) Pull (puxar) volume
25. Há um calendário de atividades promocionais para cada canal de distribuição?
( ) sim ( ) não
26. Há um calendário de atividades promocionais para cada conta-chave?
( ) sim ( ) não
27. Qual departamento é o responsável por desenvolver essas promoções?
( ) Marketing
( ) Trade marketing
( ) Vendas
28. Onde está o orçamento para as atividades promocionais?
( ) marketing ( ) trade marketing
29. Qual a participação na verba total de marketing da verba de atividades promocionais?
30. A empresa oferece serviços de logística diferenciados para cada canal de distribuição e
ou para cada conta-chave?
( ) sim ( ) não
31. Quais?
32. A empresa desenvolve materiais de merchandising?
111
( ) sim ( ) não
33. Onde está o orçamento para materiais de merchandising?
34. Trade Marketing mensura os resultados de negócios por canal?
( ) sim ( ) não
35. Em caso afirmativo, quais indicadores são mensurados?
( ) Volume
( ) Volume share
( ) Receita
( ) Value share
( ) Rentabilidade por canal
( ) Rentabilidade por conta-chave
( ) Distribuição numérica
( ) Distribuição ponderada
( ) Preços ao consumidor
( ) Exposição de produtos ao consumidor
( ) Nível de satisfação dos varejistas
( ) Outros. Quais?
36. Quais as principais funções que trade marketing desempenha em sua empresa (assinalar
quantas forem necessárias)?
112
( ) Coordenar a implementação de planos de marketing de acordo com a necessidade de cada
canal de distribuição
( ) Detectar oportunidades de negócios em cada canal de distribuição
( ) Coordenar os investimentos nos calendários promocionais dos diferentes canais
( ) Desenvolver produtos específicos de acordo com cada canal de distribuição
( ) Desenvolver políticas de preços entre os canais de distribuição
( ) Elaborar campanhas de trade marketing por canal de distribuição
( ) Definir canais-foco de atuação da empresa
( ) Estabelecer papéis para cada canal
( ) Estabelecer métricas para avaliar a performance de cada canal
( ) Desenvolver novas ferramentas de gestão junto aos clientes (ex. gerenciamento de
categorias). Em caso afirmativo, quais?
( ) Comunicação entre marketing e vendas
( ) Desenvolvimento e apresentação de planos para os clientes
( ) Outras. Em caso afirmativo, quais?
37. Existe um orçamento específico para trade marketing?
( ) sim ( ) não
38. Qual a participação do orçamento de trade marketing no orçamento de marketing (%)?
Marketing: Trade Marketing:
39. Para quem se reporta trade marketing?
( ) marketing ( ) vendas ( ) diretoria de trade marketing
113
40. Qual o cargo mais alto de um executivo de trade marketing?
( ) diretor ( ) gerente ( ) coordenador ( ) outro. Especificar:
41. Quantas pessoas existem na estrutura de trade marketing?
42. Como a equipe de trade marketing está dividida?
( ) canal ( ) conta-chave ( ) marca ( ) área geográfica ( ) outro. Qual?
43. Qual a formação acadêmica do executivo de trade marketing?
( ) segundo grau completo
( ) superior completo
( ) pós-graduação completa
( ) MBA
44. Em quais áreas deve ter trabalhado o profissional de trade marketing?
( ) Vendas
( ) Marketing
( ) Finanças
( ) Logística
( ) Recursos Humanos
( ) Outra. Especificar.
114
45. Quais as habilidades gerenciais que o profissional de trade marketing deve possuir
(classifique as habilidades abaixo, de 1 a 5, de acordo com a relevância, sendo 1 pouco
relevante e 5, muito relevante)?
( ) Liderança
( ) Habilidade de trabalhar em equipe
( ) Foco no cliente e consumidor
( ) Capacidade de planejamento
( ) Capacidade de coordenação entre áreas
( ) Outras (especificar).
46. Quais são as vantagens e desvantagens da empresa utilizar os conceitos de trade
marketing?
Vantagens:
Desvantagens:
47. Quais são as maiores dificuldades de trade marketing em sua empresa?
48. Trade marketing tem conflitos com marketing?
( ) sim ( ) não
49. Em caso afirmativo, porque?
50. Trade marketing tem conflitos com vendas?
( ) sim ( ) não
115
51. Em caso afirmativo, porque?
52. Como os clientes varejistas percebem o departamento de trade marketing e sua
atuação?
( ) excelente para os negócios
( ) muito bom para os negócios
( ) tanto faz para os negócios
( ) prejudicial aos negócios
( ) muito prejudicial aos negócios
53. Como você vê a área de trade marketing nos próximos 5 anos?
( ) Vai crescer
( ) Vai permanecer igual
( ) Vai diminuir
Explore a resposta acima.
116
ANEXOS
Anexo 1 % Presença Internacional nos 20 maiores supermercados
0
10
20
30
40
50
60
1994 2002
% Presença
Internacional
Fonte: Centrais de Negócios/Marcos Gouvêa de Souza – São Paulo: EI 2004.
16%
50,4%
117
Anexo 2 O vai e vem do mercado
1972 A Cia de Cigarros Souza Cruz compra as 38 lojas do Peg-Pag.
1975 Chega ao Brasil a rede francesa Carrefour
1976 O grupo Pão de Açúcar incorpora as 50 lojas da rede Eletroradiobraz.
1978 O grupo Pão de Açúcar adquire a rede Peg-Pag.
1986 A rede Morita vende suas 28 lojas a rede Peralta.
1989 O grupo português Sonae adquire a Companhia Real de Distribuição (RS).
1992 A rede Futurama compra as lojas paulistas da Casa da Banha .
1994 A rede Mambo compra 5 lojas da rede Gigante e 2 anos depois, 6 lojas do Bazar 13.
1995 O Wal Mart instala sua primeira loja no Brasil.
1997 O grupo português Jerônimo Martins adquire a rede Sé.
1997 O Carrefour adquire 50% das 8 lojas da rede Eldorado.
1998 O grupo Sonae compra a rede paranaense Mercadorama.
1998 O Carrefour adquire a rede Planaltão.
1998 O grupo Pão de Açúcar adquire as 32 lojas da rede Barateiro.
1998 O grupo Sonae adquire 15% da rede Cândia.
1999 O grupo Pão de Açúcar se associa ao grupo francês Casino.
118
1999 O grupo Pão de Açúcar compra a rede Peralta.
1999 O Carrefour adquire a rede mineira Mineirão.
2000 O grupo Pão de Açúcar compra as lojas do Reimberg, Nagumo e G. Pires.
2000 O grupo holandês Royal Ahold compra a rede Bompreço
2002 O grupo Pão de Açúcar compra a red Sé Supermercados.
2004 O Wal Mart compra a rede Bompreço
2005 O Wal Mart compra parte do grupo Sonae.
2005 O Carrefour compra a operação paulista do Sonae.
Fonte: Supervarejo, número 76, Novembro 2006.
Anexo 3 % nas vendas totais das 20 principais redes supermercadistas
0
20
40
60
80
1994 2002
% Participação
das 20 principais
redes
Fonte: Centrais de Negócios/Marcos Gouvêa de Souza – São Paulo: EI 2004.
Anexo 4 Ranking dos supermercados
Empresa Sede Faturamento
(R$)
Número lojas % Vendas totais
CBD SP 15.435.358.000 551 16
Carrefour SP 12.119.216.143 390 12
Wal Mart SP 6.105.948.358 149 6
56%
78,2%
119
Sonae RS 4.335.653.079 148 4
Zaffari RS 1.268.284.959 26 1
Total 5 maiores 39.264.460.539 1.264 40
Total 10 maiores 44.409.456.746 1.442 45
Total 20 maiores 49.954.176.215 2.021 51
Total 50 maiores 55.554.413.420 3.537 57
Fonte: SuperHiper, ano 31, número 353, Maio 2005: Ranking Abras 2005.
Anexo 5 Participação dos 5 principais supermercados nas vendas totais
País Participação % 5 principais redes
Brasil 39,7
Itália 43
Espanha 44
Chile 54
Alemanha 60
França 62
Argentina 68
Reino Unido 69
Colômbia 70
México 85
Fonte: Centrais de Negócios/Marcos Gouvêa de Souza – São Paulo: EI 2004.
Anexo 6 Evolução das Centrais de Negócios
2.000 2.001 2.002 2.003 2.004
Faturamento
(R$ Bi)
2,0 3,0 8,2 10,15 12,02
Número
Centrais
60 80 130 150 150
120
Número lojas 1.500 1.800 2.200 2.500 2.807
Número
checkouts
5.000 5.500 10.000 11.800 12.344
Área de
vendas (mil
m2)
600 830 1.100 1.160 1.373
Fonte: SuperHiper, Ano 31, número 357, Setembro 2005: Ranking Centrais de Negócios.
Anexo 7 Crescimento das vendas e dos consumidores do varejo on line
0
2
4
6
8
10
2003 2005
Vendas
(bilhões reais)
Consumidores
(milhões)
Fonte: Revista Exame, São Paulo: Editora Abril, 2005.
5,1
2,4
4,2
9,8
1
ANEXOS
Anexo 1 % Presença Internacional nos 20 maiores supermercados
0
10
20
30
40
50
60
1994 2002
% Presença
Internacional
Fonte: Centrais de Negócios/Marcos Gouvêa de Souza – São Paulo: EI 2004.
16%
50,4%
2
Anexo 2 O vai e vem do mercado
1972 A Cia de Cigarros Souza Cruz compra as 38 lojas do Peg-Pag.
1975 Chega ao Brasil a rede francesa Carrefour
1976 O grupo Pão de Açúcar incorpora as 50 lojas da rede Eletroradiobraz.
1978 O grupo Pão de Açúcar adquire a rede Peg-Pag.
1986 A rede Morita vende suas 28 lojas a rede Peralta.
1989 O grupo português Sonae adquire a Companhia Real de Distribuição (RS).
1992 A rede Futurama compra as lojas paulistas da Casa da Banha .
1994 A rede Mambo compra 5 lojas da rede Gigante e 2 anos depois, 6 lojas do Bazar 13.
1995 O Wal Mart instala sua primeira loja no Brasil.
1997 O grupo português Jerônimo Martins adquire a rede Sé.
1997 O Carrefour adquire 50% das 8 lojas da rede Eldorado.
1998 O grupo Sonae compra a rede paranaense Mercadorama.
1998 O Carrefour adquire a rede Planaltão.
1998 O grupo Pão de Açúcar adquire as 32 lojas da rede Barateiro.
1998 O grupo Sonae adquire 15% da rede Cândia.
1999 O grupo Pão de Açúcar se associa ao grupo francês Casino.
1999 O grupo Pão de Açúcar compra a rede Peralta.
1999 O Carrefour adquire a rede mineira Mineirão.
2000 O grupo Pão de Açúcar compra as lojas do Reimberg, Nagumo e G. Pires.
2000 O grupo holandês Royal Ahold compra a rede Bompreço
2002 O grupo Pão de Açúcar compra a red Sé Supermercados.
2004 O Wal Mart compra a rede Bompreço
2005 O Wal Mart compra parte do grupo Sonae.
2005 O Carrefour compra a operação paulista do Sonae.
Fonte: Supervarejo, número 76, Novembro 2006.
3
Anexo 3 % nas vendas totais das 20 principais redes supermercadistas
0
20
40
60
80
1994 2002
% Participação
das 20 principais
redes
Fonte: Centrais de Negócios/Marcos Gouvêa de Souza – São Paulo: EI 2004.
Anexo 4 Ranking dos supermercados
Empresa Sede Faturamento
(R$)
Número lojas % Vendas totais
CBD SP 15.435.358.000 551 16
Carrefour SP 12.119.216.143 390 12
Wal Mart SP 6.105.948.358 149 6
Sonae RS 4.335.653.079 148 4
Zaffari RS 1.268.284.959 26 1
Total 5 maiores 39.264.460.539 1.264 40
Total 10 maiores 44.409.456.746 1.442 45
Total 20 maiores 49.954.176.215 2.021 51
Total 50 maiores 55.554.413.420 3.537 57
Fonte: SuperHiper, ano 31, número 353, Maio 2005: Ranking Abras 2005.
56%
78,2%
4
Anexo 5 Participação dos 5 principais supermercados nas vendas totais
País Participação % 5 principais redes
Brasil 39,7
Itália 43
Espanha 44
Chile 54
Alemanha 60
França 62
Argentina 68
Reino Unido 69
Colômbia 70
México 85
Fonte: Centrais de Negócios/Marcos Gouvêa de Souza – São Paulo: EI 2004.
Anexo 6 Evolução das Centrais de Negócios
2.000 2.001 2.002 2.003 2.004
Faturamento
(R$ Bi)
2,0 3,0 8,2 10,15 12,02
Número
Centrais
60 80 130 150 150
Número lojas 1.500 1.800 2.200 2.500 2.807
Número
checkouts
5.000 5.500 10.000 11.800 12.344
Área de
vendas (mil
m2)
600 830 1.100 1.160 1.373
Fonte: SuperHiper, Ano 31, número 357, Setembro 2005: Ranking Centrais de Negócios.
5
Anexo 7 Crescimento das vendas e dos consumidores do varejo on line
0
2
4
6
8
10
2003 2005
Vendas
(bilhões reais)
Consumidores
(milhões)
Fonte: Revista Exame, São Paulo: Editora Abril, 2005.
5,1
2,4
4,2
9,8
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