52
De acordo com Moisés (1987:245), o vocábulo crônica designava, no início da
era cristã, uma lista ou relação de acontecimentos ordenados segundo a marcha do tempo,
isto é, em seqüência cronológica. Situada entre os anais e a História, limitava-se a registrar
eventos sem aprofundar-lhes as causas ou tentar interpretá-los. Em tal acepção, a crônica
atingiu o ápice depois do século XII. A partir da Renascença, o termo crônica cedeu a vez a
História, finalizando, por conseguinte, o seu milenar sincretismo. Porém, o vocábulo ainda
continuou a ser utilizado, no sentido histórico, ao longo do século XVI.
Sob a perspectiva moderna, a partir do século XIX, o vocábulo crônica, liberto
de sua conotação historicista, começou a revestir-se de sentido estritamente literário.
Beneficiando-se da ampla difusão da imprensa, nessa época, a crônica adere ao jornal. Ela
surge em 1799 nos “feuilletons” escrita por Julien-Louis Geoffroy no Journal de Débats,
que se publicava em Paris. Fazendo uma crítica diária da atividade dramática, esse
professor de Retórica cultivava uma forma ainda embrionária de crônica, evidente no fato
de reunir os seus artigos em seis volumes, sob o título de Cours de Littérature Dramatique
(1819 – 1820).
No Brasil, encontrou numerosos imitadores, surgidos após 1836 que, a priori,
traduziam o termo francês por “folhetim” e que, a partir da metade do século, passaram a
utilizar o vocábulo crônica. Nomes como os de José de Alencar, Joaquim Manuel de
Macedo, Raul Pompéia, Júlia Lopes de Almeida, João do Rio, Lima Barreto, entre outros,
figuram na lista daqueles escritores que passaram a desenvolver o exercício da crônica,
cada vez mais preocupados em alcançar uma dimensão poética quanto ao registro
jornalístico dos fatos que marcaram sua época.
No entanto, a essa fase sucedeu a de esplendor na produção de crônicas,
iniciada por João do Rio (entre 1900 e 1920). A nova etapa alcança difusão e aceitação com
Rubem Braga, nos anos de 1930, e depois com escritores como Raquel de Queirós,
Fernando Sabino, Carlos Drummond de Andrade, Henrique Pongetti, Paulo Mendes
Campos e outros.
Embora originada na França, a crônica assumiu um caráter sui generis no
Brasil. Hoje, para nós, a crônica é, na maioria dos casos, prosa poemática, humor lírico,