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Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Centro Biomédico
Faculdade de Enfermagem
Programa de Pós-Graduação em Enfermagem
Gláucia Alexandre Formozo
As representações sociais do cuidado de enfermagem prestado à
pessoa que vive com HIV/AIDS na perspectiva da equipe de
enfermagem
Rio de Janeiro
2007
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Gláucia Alexandre Formozo
As representações sociais do cuidado de enfermagem prestado à
pessoa que vive com HIV/AIDS na perspectiva da equipe de
enfermagem
Dissertação apresentada, como requisito final
para obtenção do título de Mestre em
Enfermagem, ao Programa de Pós-Graduação
em Enfermagem, da Faculdade de
Enfermagem da Universidade do Estado do Rio
de Janeiro. Linha de Pesquisa: Políticas e
Práticas em Saúde Coletiva e Enfermagem.
Orientadora: Profª Titular Denize Cristina de Oliveira
Rio de Janeiro
2007
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CATALOGAÇÃO NA FONTE
UERJ/REDE SIRIUS/CBB
Autorizo, apenas para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial
desta dissertação.
_________________________________ _________________________
Assinatura Data
F726 Formozo, Gláucia Alexandre.
As representações sociais do cuidado de enfermagem prestado à pessoa
que vive com HIV/AIDS na perspectiva da equipe de enfermagem / Gláucia
Alexandre Formozo. - 2007.
211 f.
Orientadora: Denize Cristina de Oliveira.
Dissertação (mestrado) Universidade do Estado do Rio de
Janeiro, Faculdade de Enfermagem.
1. Cuidados em Enfermagem. 2. AIDS (Doença). 3. Subjetividade. 4.
Representações sociais. 5. Análise de conteúdo (Comunicação). I. Oliveira,
Denize Cristina de. II. Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Faculdade de Enfermagem. III. Título.
CDU
614.253.5
Gláucia Alexandre Formozo
As representações sociais do cuidado de enfermagem prestado à
pessoa que vive com HIV/AIDS na perspectiva da equipe de
enfermagem
Dissertação apresentada, como requisito final
para obtenção do título de Mestre em
Enfermagem, ao Programa de Pós-Graduação
em Enfermagem, da Faculdade de
Enfermagem da Universidade do Estado do Rio
de Janeiro. Linha de Pesquisa: Políticas e
Práticas em Saúde Coletiva e Enfermagem.
Aprovado em: ______________________________________________
Banca Examinadora:
_____________________________________________
Profª. Titular Denize Cristina de Oliveira (Presidente)
Faculdade de Enfermagem / UERJ
_____________________________________________
Profª. Drª. Josete Luzia Leite (1º Examinador)
Escola de Enfermagem Anna Nery / UFRJ
_____________________________________________
Prof. Dr. Antonio Marcos Tosoli Gomes (2º Examinador)
Faculdade de Enfermagem / UERJ
Rio de Janeiro
2007
DEDICATÓRIA
Aos meus pais, Zélia e Aldo, pelo apoio, dedicação e ensinamentos compartilhados
em todos os momentos, incondicionalmente.
Aos meus irmãos, Patrícia e André, pela compreensão por todos os instantes nos
quais precisei me ausentar.
A Tadeu, meu namorado, companheiro e incentivador durante todos os momentos,
bons e difíceis, de nossa caminhada desde a graduação.
Às pessoas que vivem com HIV/AIDS e aos profissionais de enfermagem que delas
cuidam, pela inspiração para a efetivação deste trabalho.
AGRADECIMENTOS
A Deus, que me acompanha e guia por todos os caminhos e sem o qual,
certamente, não chegaria até aqui.
À Profª Denize Cristina de Oliveira, que, mais do que orientadora, foi
incentivadora, compreensiva e muito me ensinou, sempre com ternura e dedicação.
Às Prof
as
Josete Luzia Leite, Márcia de Assunção Ferreira e Sonia Acioli de
Oliveira e ao Prof. Antônio Marcos Tosoli Gomes, pelas preciosas contribuições
durante a banca de qualificação.
Ao amigo rgio Corrêa Marques, pelo constante incentivo durante a
caminhada no mestrado.
Às amigas Raquel de Souza Ramos, Ariádina Heringer e Susana Reis e Silva,
pelas conversas e trocas de vivências durante estes dois anos de mestrado.
À amiga Noraísa Alves Pereira, pelos momentos de reflexões que pude
vivenciar durante o primeira ano do curso de Mestrado.
Aos bolsistas Luiz Phillipi Porto Salgado, Weena Costa Rocha dos Santos e
Larissa Freire Furtado da Silva, pela dedicação atribuída à transcrição atenta das
entrevistas realizadas.
Aos amigos do grupo de pesquisa “A Promoção da Saúde de Grupos
Populacionais”, os quais contribuíram significativamente com as palavras de
estímulo e reflexões.
A todos os integrantes do projeto de pesquisa “Representações e Memória
Profissional da Aids entre Enfermeiras no Brasil: um estudo bi-cêntrico Rio de
Janeiro/Florianópolis”, pela oportunidade única de crescimento através das
discussões travadas.
A Neiva, Luiz, Vinícius e Rafael que compreenderam com muito carinho os
momentos nos quais não pude estar presente.
À Profª Ana Lucia Jezuino da Costa, que em um momento difícil soube me
acolher e mostrar que tudo se soluciona com o tempo.
À Profª Kaneji Shiratori, que me ajudou a dar os primeiros passos na vida
acadêmica, durante a graduação.
A todos os amigos, que compreenderam os momentos de afastamento e
ocasiões nas quais estive ausente.
Aos secretários do PPGEnf da FENF/UERJ, Marcelo, Fabíola e Renan, que
sempre mostraram-se dispostos e empenhados a ajudar-me.
Aos colegas de trabalho enfermeiros, auxiliares de enfermagem e chefia de
enfermagem da Clínica Médica do Hospital dos Servidores do Estado, que sempre
se mostraram dispostos a ajudar quando necessário.
Às equipes de enfermagem que, em meio à atarefada rotina de serviço, se
dispuseram a ajudar em minha pesquisa disponibilizando alguns minutos para a
realização das entrevistas.
RESUMO
FORMOZO, Gláucia Alexandre. As representações sociais do cuidado de
enfermagem prestado à pessoa que vive com HIV/AIDS na perspectiva da equipe de
enfermagem. 2007. 211 f. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) Escola de
Enfermagem, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2007.
Orientadora: Denize Cristina de Oliveira.
Este estudo objetiva analisar e comparar as representações sociais acerca do
cuidado de enfermagem prestado à pessoa que vive com HIV/AIDS em duas
categorias da equipe de enfermagem que atuam em instituição hospitalar. Consiste
em um estudo exploratório-descritivo, pautado na abordagem qualitativa, orientado
pela Teoria das Representações Sociais, em sua abordagem processual. Os sujeitos
do estudo foram 20 enfermeiros e 20 auxiliares de enfermagem que atuam em um
hospital público universitário da cidade do Rio de Janeiro. A coleta de dados deu-se
por meio de entrevista semi-estruturada e os mesmos foram submetidos à técnica de
análise lexical realizada pelo software ALCESTE 4.7. Na análise do conjunto dos
sujeitos emergiram seis categorias de análise, sendo encontradas no primeiro grupo
as classes As práticas de cuidado hospitalar e medicamentoso”, A influência dos
serviços de saúde no cuidado prestado à pessoa com HIV/AIDS e “O cuidado como
relacionamento interpessoal, referindo-se às dimensões objetiva e subjetiva do
cuidado de enfermagem. O segundo grupo engloba as classes O cotidiano do
cuidado à pessoa com HIV/AIDS e Os sujeitos sociais do cuidado”, voltadas ao
cotidiano e aos sujeitos sociais do cuidado. Já no último grupo observa-se O
cuidado como auto-proteção profissional”, relativa ao cuidado dos profissionais com
sua auto-proteção. Da análise cruzada entre as duas categorias de profissionais em
confronto surgiram duas classes, uma correspondente aos enfermeiros,
expressando o cuidado de enfermagem ideal a ser prestado ao paciente soropositivo
ao HIV, voltado a sua qualidade de vida, caracterizando um discurso reificado sobre
a prática profissional; e a outra aos auxiliares de enfermagem, apresentando
conteúdos sobre o cotidiano do cuidado de enfermagem prestado ao paciente, num
discurso com características práticas. Observou-se que o cuidado é representado
como a execução de técnicas espeficas e o estabelecimento de relacionamento
com o paciente e com seus familiares. Os membros da equipe de enfermagem,
apesar de afirmarem ser o cuidado prestado às pessoas que vivem com o HIV/AIDS
igual ao prestado a qualquer outro cliente, enfatizam a necessidade de maior cautela
devido ao risco de contágio para o profissional de saúde, caracterizando um
discurso marcado pela contradição. Ainda, foi possível observar diferentes e sutis
formas assumidas pelo preconceito no campo profissional, expresso na
culpabilização do sujeito em função do seu grau de responsabilidade definido pelo
modo através do qual ele se contaminou. Conclui-se que as práticas de cuidado são
caracterizadas por elementos objetivos, e fortemente pela subjetividade grupal,
podendo se modelar a ela, desde o preconceito e a culpabilização impostos aos
sujeitos, a a percepção das mudanças do perfil dos pacientes determinando
deferentes graus de identificação da equipe de enfermagem ao cliente.
Palavras-chave: cuidado de enfermagem; HIV/AIDS; subjetividade coletiva;
representação social; ALCESTE.
ABSTRACT
NURSING STAFF’S SOCIAL REPRESENTATIONS ABOUT NURSING CARE FOR
PEOPLE LIVING WITH HIV/AIDS.
This study examines and compares social representations about nursing care
provided to people with HIV/AIDS among two categories of a hospital‟s nursing staff.
It is an exploratory descriptive study, on a qualitative approach, oriented by the
theory of social representations as processual approach. The subjects of the study
were 20 nurses and 20 nursing auxiliaries working in a public university hospital in
Rio de Janeiro City. Data was collected by means of semi-structured interviews and
subjected to lexical analysis using Alceste 4.7 software. From overall analysis of the
set of participants, six analytical categories emerged, the first group comprising the
classes “Hospital care and drug care practices”, “The influence of health services on
care provided to people with HIV/AIDS” and “Care as interpersonal relationship,
relating to the objective and subjective dimensions of nursing care. The second
group comprised the classes “Day-to-day care for people with HIV/AIDS” and “The
social subjects of care”, directed to the day-to-day and social subjects of care. The
final group consisted of “Care as professional self-protection, relating to the care that
health workers take to protect themselves. Contrastive cross-analysis of the two
categories of health workers brought out two classes. One, corresponding to the
nurses, expressed the ideal nursing care to be given to the HIV-positive patient,
directed to quality of life, characterizing a reified discourse on professional practice.
The other, from the nursing auxiliaries, presented content on day-to-day nursing care
given to patients, in a discourse with practical characteristics. Care was noted to be
represented as performing specific techniques and establishing a relationship with
patients and their relatives. Despite declaring that the same care is provided to
people living with HIV/AIDS as to any other client, the members of the nursing staff
stressed the need for greater caution due to the risk of contagion for the health
practitioner, characterizing a discourse marked by contradiction. It was also possible
to observe various subtle forms of prejudice in professional attitudes, expressed in
blaming the patients for a degree of responsibility, which depended on how they were
contaminated. It was concluded that care practices are characterized by objective
elements and strongly by group subjectivity, to which they may be molded, with
results ranging from prejudice and blame towards patients, through to perception of
changes in patient profile leading to nursing staff‟s identifying with clients to differing
degrees.
Keywords: nursing care; HIV/AIDS; collective subjectivity; social representations;
ALCESTE.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Tabela 1
-
Distribuição dos sujeitos estudados de acordo com o sexo .......
Tabela 2
-
Distribuição dos sujeitos estudados de acordo com a idade ......
Tabela 3
-
Distribuição dos sujeitos estudados de acordo com o estado
marital .........................................................................................
Tabela 4
-
Distribuição dos sujeitos estudados de acordo com o número
de filhos ......................................................................................
Tabela 5
-
Distribuição dos sujeitos estudados de acordo com a renda
pessoal mensal ...........................................................................
Tabela 6
-
Distribuição dos sujeitos estudados de acordo com o setor
onde trabalham ...........................................................................
Tabela 7
-
Distribuição dos sujeitos estudados de acordo com o tempo de
atuação na função exercida .......................................................
Tabela 8
-
Distribuição dos sujeitos estudados de acordo com a formação
profissional .................................................................................
Tabela 9
-
Distribuição dos sujeitos estudados de acordo com as
principais fontes de informação sobre HIV/AIDS utilizadas .......
Tabela 10
-
Distribuição dos sujeitos estudados de acordo com a
participação em curso de capacitação/especialização ...............
Quadro 1
-
Distribuição dos sujeitos estudados de acordo com as
temáticas abordadas nos cursos de
capacitação/especialização freqüentados ..................................
Tabela 11
-
Distribuição dos sujeitos estudados de acordo com o tempo
decorrido desde a participação em curso de
capacitação/especialização ........................................................
Tabela 12
-
Distribuição dos sujeitos estudados de acordo com o tempo de
atuação no hospital estudado .....................................................
Tabela 13
-
Distribuição dos sujeitos estudados de acordo com o tempo de
atuação no setor de trabalho ......................................................
Tabela 14
-
Distribuição dos sujeitos estudados de acordo com o tempo de
atuação em enfermagem ............................................................
Tabela 15
-
Distribuição dos sujeitos estudados de acordo com a pergunta
“Trabalha em outro local em atividade de enfermagem?” ..........
Tabela 16
-
Distribuição dos sujeitos estudados de acordo com a
quantidade de locais onde trabalha ............................................
Tabela 17
-
Distribuição dos sujeitos estudados de acordo com o tempo de
atuação com pacientes soropositivos ao HIV .............................
Tabela 18
-
Distribuição quantitativa das U.C.E. nas classes Alceste
Análise standard .........................................................................
Quadro 2
-
Denominação das classes Alceste Análise standard ..............
Figura 1
-
Comparação entre as duas C.D.H. ............................................
Figura 2
-
Projeção Fatorial das classes de análise ...................................
Figura 3
-
Dendrograma de distribuição das seis classes Alceste .............
Quadro 3
-
Relações existentes entre as classes da análise Alceste
standard ......................................................................................
Tabela 19
-
Distribuição quantitativa das U.C.E. nas classes Alceste
análise cruzada da variável categoria profissional .....................
Quadro 4
-
Denominação das classes Alceste análise cruzada da
variável categoria profissional ....................................................
Quadro 5
-
Valores de relativos às variáveis de análise com associação
estatística à classe 1 ..................................................................
Quadro 6
-
Distribuição das formas reduzidas, com maiores valores de x²,
e seus contextos semânticos da classe 1 ..................................
Figura 4
-
Classificação Ascendente Hierárquica da Classe 1 ...................
Figura 5
-
Apresentação esquemática das categorias e sub-categorias
presentes na classe 1 .................................................................
Quadro 7
-
Valores de relativos às variáveis de análise com associação
estatística à classe 2 ..................................................................
Quadro 8
-
Distribuição das formas reduzidas, com maiores valores de x²,
e seus contextos semânticos da classe 2 ..................................
Figura 6
-
Classificação Ascendente Hierárquica da Classe 2 ...................
Figura 7
-
Apresentação esquemática das categorias e sub-categorias
presentes na classe 2 .................................................................
Quadro 9
-
Valores de relativos às variáveis de análise com associação
estatística à classe 3 ..................................................................
Quadro 10
-
Distribuição das formas reduzidas, com maiores valores de x²,
e seus contextos semânticos da classe 3 ..................................
Figura 8
-
Classificação Ascendente Hierárquica da Classe 3 ...................
Figura 9
-
Apresentação esquemática das categorias e sub-categorias
presentes na classe 3 .................................................................
Quadro 11
-
Valores de relativos às variáveis de análise com associação
estatística à classe 4 ..................................................................
Quadro 12
-
Distribuição das formas reduzidas, com maiores valores de x²,
e seus contextos semânticos da classe 4 ..................................
Figura 10
-
Classificação Ascendente Hierárquica da Classe 4 ...................
Figura 11
-
Apresentação esquemática das categorias e sub-categorias
presentes na classe 4 .................................................................
Quadro 13
-
Valores de relativos às variáveis de análise com associação
estatística à classe 5 ..................................................................
Quadro 14
-
Distribuição das formas reduzidas, com maiores valores de x²,
e seus contextos semânticos da classe 5 ..................................
Figura 12
-
Classificação Ascendente Hierárquica da Classe 5 ...................
Figura 13
-
Apresentação esquemática das categorias e sub-categorias
presentes na classe 5 .................................................................
Quadro 15
-
Valores de relativos às variáveis de análise com associação
estatística à classe 6 ..................................................................
Quadro 16
-
Distribuição das formas reduzidas, com maiores valores de x²,
e seus contextos semânticos da classe 6 ..................................
Figura 14
-
Classificação Ascendente Hierárquica da Classe 6 ...................
Figura 15
-
Apresentação esquemática das categorias e sub-categorias
presentes na classe 6 .................................................................
Quadro 17
-
Valores de relativos às variáveis de análise com associação
estatística à classe categoria auxiliar de enfermagem ...............
Quadro 18
-
Distribuição das formas reduzidas, com maiores valores de x²,
e seus contextos semânticos da classe categoria auxiliar de
enfermagem ...............................................................................
Figura 16
-
Classificação Ascendente Hierárquica da Classe Categoria
Auxiliar de Enfermagem .............................................................
Figura 17
-
Apresentação esquemática das categorias e sub-categorias
presentes na classe categoria auxiliar de enfermagem .............
Quadro 19
-
Valores de relativos às variáveis de análise com associação
estatística à classe categoria enfermeiro ...................................
Quadro 20
-
Distribuição das formas reduzidas, com maiores valores de x²,
e seus contextos semânticos da classe categoria enfermeiro ...
Figura 18
-
Classificação Ascendente Hierárquica da Classe categoria
enfermeiro ..................................................................................
Figura 19
-
Apresentação esquemática das categorias e sub-categorias
presentes na classe categoria enfermeiro ..................................
Figura 20
-
Esquema figurativo dos elementos constituintes da
representação social do cuidado de enfermagem prestado ao
paciente com HIV/AIDS para profissionais de enfermagem ......
Figura 21
-
Esquema das diferenças entre as representações sociais de
auxiliares de enfermagem e enfermeiros acerca do cuidado de
enfermagem prestado ao paciente com HIV/AIDS .....................
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .......................................................................................................
14
I. O CUIDADO DE ENFERMAGEM AO PACIENTE HIV/AIDS E AS
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS .............................................................................
20
I.1- A Teoria das Representações Sociais como base teórico-conceitual
para a análise do cuidado de enfermagem .....................................................
20
I.2- O Cuidado de Enfermagem como objeto reificado e de representação
social ...................................................................................................................
24
I.3- O HIV/AIDS como objeto reificado e de representação social ................
33
II. TRAJETÓRIA METODOLÓGICA ......................................................................
41
II.1- Tipo de estudo ............................................................................................
41
II.2- O cenário .....................................................................................................
41
II.3- Os sujeitos ..................................................................................................
42
II. 4- Aspectos éticos da pesquisa ...................................................................
42
II.5- Coleta de dados ..........................................................................................
43
II.6- Análise dos dados ......................................................................................
44
II.6.1- A Construção do Corpus Alceste .........................................................
46
II.6.2- A Análise Alceste .................................................................................
46
III. REVELANDO A REPRESENTAÇÃO SOCIAL CONSTRUÍDA .......................
51
III.1- Caracterização dos sujeitos estudados ..................................................
51
III.2- Os conteúdos semânticos das representações sociais do cuidado e
suas ancoragens sociais ..................................................................................
62
III.2.1- Análise do grupo geral da equipe de enfermagem (standard) ............
62
III.2.2- Análise de triagem cruzada (tri-croisé) da variável categoria
profissional .....................................................................................................
69
III.3- Os significados das representações sociais do cuidado ......................
70
III.3.1- Os significados das representações sociais do cuidado para a
equipe de enfermagem ..................................................................................
70
III.3.1.1- As práticas de cuidado hospitalar e medicamentoso (classe 1) ...
71
III.3.1.2- A influência dos serviços de saúde no cuidado prestado à
pessoa com HIV/AIDS (classe 2) ...............................................................
91
III.3.1.3- O cuidado como relacionamento interpessoal (classe 3) .............
103
III.3.1.4- O cotidiano do cuidado à pessoa com HIV/AIDS (classe 4) .........
118
III.3.1.5- Os sujeitos sociais do cuidado (classe 5) .....................................
130
III.3.1.6- O cuidado como auto-proteção profissional (classe 6) .................
146
III.3.2- Os significados das representações sociais do cuidado para os
grupos de auxiliares de enfermagem e de enfermeiros .................................
165
III.3.2.1- Cotidiano do cuidado de enfermagem prestado ao paciente com
HIV/AIDS pelo auxiliar de enfermagem ......................................................
165
III.3.2.2- O cuidado de enfermagem prestado ao paciente com HIV/AIDS
voltado a sua qualidade de vida pelos enfermeiros ...................................
175
IV. CONCLUSÕES .................................................................................................
184
REFERÊNCIAS ......................................................................................................
191
APÊNDICES ...........................................................................................................
205
APÊNDICE A Termo de Consentimento Livre e Esclarecido .............................
205
APÊNDICE B Questionário de caracterização do sujeito ...................................
206
APÊNDICE C Roteiro de entrevista ....................................................................
207
APÊNDICE D Dicionário de padronização para o corpus Alceste ......................
208
APÊNDICE E Quadro de variáveis utilizadas na análise Alceste .......................
211
14
INTRODUÇÃO
Esta dissertação é integrante da pesquisa “Representações e memória
profissional da AIDS entre enfermeiras no Brasil: estudo bi-cêntrico Rio de
Janeiro/Florianópolis”, desenvolvida através de intercâmbio internacional Brasil-
França, entre a Faculdade de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro (FE/UERJ), o Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de
Santa Catarina (UFSC) e o Institut National de la Santé et de la Recherche Médicale
(INSERM).
Insere-se, portanto, no Grupo de Pesquisa “A Promoção da Saúde de Grupos
Populacionais” e na Linha de Pesquisa “Saberes e Práticas em Saúde Coletiva e
Enfermagem”, do Programa de Pós-graduação em Enfermagem da UERJ.
Em consonância com o grupo e com a linha de pesquisa, o interesse deste
estudo foi lançado sobre as relações estabelecidas entre as práticas de cuidado de
enfermagem e o surgimento da epidemia do HIV/AIDS, e a constituição de novos
sujeitos de cuidado.
Decorridas quase três décadas da descoberta do Vírus da Imunodeficiência
Humana (HIV) e da síndrome ocasionada por este agente, qual seja, a Síndrome da
Imunodeficiência Adquirida (AIDS), ainda são percebidas muitas influências das
concepções vigentes em seus primórdios.
Inicialmente, a infecção atingia, em seu maior quantitativo, grupos
marginalizados na sociedade, como era o caso dos homossexuais masculinos,
profissionais do sexo e usuários de drogas injetáveis, por exemplo. Acreditando que
somente estes grupos estivessem vulneráveis à infecção, considerada devastadora,
diversas representações e estereótipos foram construídos, tornando esses grupos
ainda mais discriminados. Essas representações eram permeadas por diversos
elementos negativos, relacionados à morte e ao castigo de Deus, para citar alguns
(NASCIMENTO, 2005; PARKER; GALVÃO; PEDROSA, 1993).
Com o desenrolar da epidemia, outros grupos foram se integrando a este
cenário, sendo notável a inserção de homens heterossexuais, mulheres, crianças e
idosos nos dias de hoje. Desta forma, a compreensão de que a enfermidade
restringia-se aos considerados “grupos de risco” deixou de ter aderência à realidade,
15
uma vez que todos os indivíduos, por hipótese, passaram a estar vulneráveis a ela
(GALVÃO, 2000; MARQUES, 2003).
Todo esse processo de mudanças observadas no perfil epidemiológico
funcionou como “motor” para que as representações sofressem transformações,
sendo mantidas, porém, algumas daquelas presentes no início da epidemia. Assim,
o imaginário da sociedade classificava as pessoas atingidas pelo HIV como vítimas
ou culpadas, estando no primeiro grupo, pessoas monogâmicas que foram
contaminadas por seus parceiros e crianças contaminadas através da transmissão
vertical. Enquanto que no segundo grupo encontram-se homossexuais, profissionais
do sexo, usuário de drogas injetáveis e pessoas contaminadas por relações
extraconjugais (BASTOS, 2006).
Cabe salientar que mudanças representacionais vêm sendo percebidas,
ainda com maior intensidade, após a implantação, em 1996, da política brasileira de
distribuição gratuita e universal de anti-retrovirais. Esta política, disposta na Lei
9.313, de 13 de novembro de 1996, prevê que todos os portadores do HIV e doentes
de AIDS receberão, gratuitamente, do Sistema Único de Saúde (SUS), toda a
medicação necessária a seu tratamento. Desta forma, as despesas decorrentes com
estas medicações serão financiadas com recursos do orçamento da Seguridade
Social da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios (BRASIL, 1996).
No que diz respeito à política brasileira de atenção à saúde das pessoas
vivendo com HIV/AIDS, faz-se mister destacar que se trata de um exemplo a ser
seguido por outros países, pois além da distribuição gratuita de medicações, prevê
ações voltadas à prevenção da infecção pelo HIV e acompanhamento integral à
saúde.
Frente a estes investimentos, observa-se uma forte aderência à terapia anti-
retroviral, o que acarreta uma drástica redução da letalidade da doença, fazendo
com que os indivíduos soropositivos ao HIV ou com AIDS convivam com a doença
por um período mais longo, resultando, desta forma, na cronificação da doença. Em
paralelo a esta cronicidade, encontram-se doenças secundárias, como as doenças
arteriais coronarianas, as lipodistrofias, dentre outras, que passaram a atingir esses
indivíduos (MALAVAZI et al., 2004).
Acompanhando todas as fases da epidemia de HIV/AIDS, encontra-se a
profissão de enfermagem, visto esta prestar cuidados a todos os indivíduos, desde o
16
estado de saúde em equilíbrio, até aquele no qual a doença encontra-se instalada,
e, dentre estes indivíduos, os pacientes soropositivos ao HIV.
O interesse do campo de conhecimentos da enfermagem pela epidemia do
HIV/AIDS, especialmente pelos seus aspectos simbólicos, pode ser constatado em
pesquisa realizada por Oliveira et al. (2007), na qual foi observado que 26,5% dos
estudos publicados entre 1980 e 2006 sobre a temática do HIV/AIDS, utilizando a
TRS, foi realizada na área de Enfermagem. Este dado vai ao encontro do apontado
por e Arruda (2000) quando concluem que a TRS tem sido foco de muitos
pesquisadores da área da saúde.
Enquanto isto, no que concerne à área de Enfermagem em específico,
Oliveira et al. (2006) e Acioli et al. (2006) constataram que a TRS é uma das teorias
mais utilizadas como referencial teórico de estudos que abarcam, no período de
1980 a 2005, a temática HIV/AIDS. Isto por esta teoria possibilitar o acesso ao
conhecimento social que orienta as práticas de um dado grupo social quanto aos
problemas de saúde.
No entanto, não se pode esquecer das peculiaridades que o tema HIV/AIDS
carrega por abranger, dentre outras coisas, os preconceitos e a discriminação que
fazem parte das representações sobre a doença e da sua construção social. E, além
disso, que a equipe de enfermagem é, antes de qualquer coisa, composta por
sujeitos que fazem parte da sociedade e, como tal, também trazem consigo muitas
destas representações.
Desta forma, no que diz respeito aos sujeitos que compõem a equipe de
enfermagem, é preciso lembrar das particularidades da problemática que os cercam,
seja como pessoas privadas ou como profissionais. Estas particularidades vão do
maior risco de contágio, em função da predisposição a acidentes com materiais
pérfuro-cortantes, ao convívio com as conseqüências da doença, dentre elas a
degeneração física, o isolamento social e a morte, resultando em um tipo de
representação, ainda hoje presente, na qual a AIDS encontra-se fortemente
associada à morte, ao preconceito, e à exclusão.
Por outro lado, a vivência desses sujeitos em dois universos de pensamento,
aquele do universo consensual, enquanto sujeitos sociais construtores do senso
comum, e o universo reificado, enquanto profissionais, provavelmente determina a
construção de representações nesse grupo mescladas de elementos dos dois
universos citados. Os sujeitos que compõem a equipe de enfermagem,
17
provavelmente, constroem suas representações a partir de referenciais híbridos
senso comum e universo científico com implicações importantes para as práticas
profissionais, ou seja, os posicionamentos positivos ou negativos presentes na vida
privada podem influenciar as práticas profissionais. Isto porque, conforme sugere
Abric (2001), as representações sociais guiam os comportamentos e as práticas e,
desta forma, justificam as tomadas de posição e os comportamentos.
Sontag (2007) afirma que todas as epidemias de rápida difusão, como é o
caso da AIDS, originam práticas de exclusão e distanciamento. Desta forma, deve
ser considerado que as representações construídas pelos profissionais de
enfermagem influenciam no cuidado prestado, podendo expressar-se nas relações
com os pacientes soropositivos ao HIV, sob a forma de distanciamento físico e
relacional, imerso em desprezo, preconceitos e julgamentos pessoais.
Considerando que o processo de trabalho de enfermagem implica em ações
de cuidado tanto físicos quanto relacionais, o ato de enfermagem pode limitar-se à
simples realização de procedimentos técnicos, buscando o ximo distanciamento
do ser cuidado e, desta forma, ser considerado como descuidar. Isto por concordar
com Waldow (1999), ao afirmar que o cuidado não pode ser reduzido ao simples ato
de executar um procedimento, mas deve englobar, também, o sentido de ser, pois
se trata de uma relação entre seres, sendo primordial na prática profissional da
enfermagem, devendo orientá-la em todos os momentos.
Entendido como um ato singular que objetiva o bem-estar dos seres
envolvidos, o cuidado de enfermagem necessita, para a sua efetivação, que o ser
cuidado e o ser cuidador encontrem-se em intensa interação. Para que esta
interação seja possível, os sujeitos envolvidos no processo devem doar-se, visando
o envolvimento necessário para a concretização de um verdadeiro ato de cuidar.
No que diz respeito à relação de cuidado estabelecida entre profissional de
enfermagem e paciente soropositivo ao HIV, é necessário mencionar que a
historicidade da epidemia da AIDS também deixou aí suas marcas. Ou seja, a
entrada do sujeito soropositivo ao HIV no cenário de cuidado se deu, muitas das
vezes, sem a devida preparação e capacitação do profissional de enfermagem,
especialmente nas décadas de 80 e início de 90, quando o próprio conhecimento
científico se colocava como pouco preciso. Desta forma, o profissional de
enfermagem deparou-se com a inserção do paciente soropositivo ao HIV em sua
18
prática profissional, sem que conhecesse e compreendesse suas peculiaridades, o
que se coloca como primordial para a efetivação do cuidado singular.
Desta forma, sem conhecer as especificidades da doença, do vírus e do
próprio paciente soropositivo ao HIV, o profissional de enfermagem (da mesma
forma que outras categorias profissionais) o recebe imerso em representações,
muitas vezes marcadas pelo preconceito e pelo medo do desconhecido, assim como
pelo receio de contaminar-se. Esse emaranhado de sentimentos contraditórios,
imagens, julgamentos e conceitos científicos resulta em um cuidar cnico e
impessoal (GALVÃO et al., 2006).
No que concerne à formação de representações, atenta-se que um grupo
pode dispor de opiniões, informações e imagens relativamente desconexas sobre
um objeto, o que não supõe a existência de uma representação social sobre tal
objeto, como disposto por Ibañez (1988).
O processo de formação de uma representação social sobre determinado
objeto para um grupo pressupõe três condições, apontadas por Moscovici desde o
início da teoria, quais sejam: dispersão da informação, focalização e pressão à
inferência. A dispersão da informação consiste na circulação, dentro do grupo, das
informações necessárias para a compreensão de um problema ou de um objeto,
esta acontecendo de diferentes formas, dependendo das características do grupo. A
focalização refere-se aos interesses do grupo por dado objeto e em determinado
momento histórico, o que justifica a pertinência da elaboração de uma
representação, sendo, portanto, marcada por questões como: moralidade, interesses
profissionais e posicionamento ideológico. por pressão à inferência entende-se a
necessidade de explicação de determinado objeto social, exigindo o posicionamento
de um indivíduo ou grupo frente a esse objeto (SÁ, 1998; VALA, 1993).
Assim, entendendo que o surgimento da AIDS permitiu a formação de
representações hegemônicas, pode-se supor que outras representações não
autônomas foram se constituindo ao longo da epidemia da AIDS, dentre elas uma
representação social do cuidado de enfermagem à pessoa que vive com o HIV/AIDS
pelos profissionais de enfermagem, visto as três condições necessárias para tal
estarem presentes. Em outras palavras, os profissionais de enfermagem possuem
informações necessárias para a compreensão do cuidado de enfermagem à pessoa
que vive com o HIV/AIDS (dispersão da informação), visto manterem contato direto
com esta; devem possuir interesse (focalização), no mínimo profissional, por tal
19
cuidado, que se trata do seu principal objeto de trabalho e; necessitam explicar e
posicionar-se (pressão à inferência) frente a este cuidado, pois ele integra o seu
cotidiano de trabalho.
Por outro lado, reconhece-se que essa representação encontra-se
estreitamente vinculada à representação da AIDS e à representação do cuidado de
enfermagem, bem como a prática profissional. Em outros termos, trata-se do que
Flament (2001a, 2001b) denomina de representação não-autônoma, ou seja, aquela
representação que para a sua subsistência depende da existência de
representações sociais correlatas, no caso deste trabalho, as representações da
AIDS e do cuidado de enfermagem.
Este estudo justifica-se por perceber-se que o cuidado de enfermagem
envolve, dentre outras coisas, o ambiente, os valores e a formação de determinado
espaço de simbolização. E, ainda, por entender que é através da representação
social que se torna possível captar a realidade simbólica existente, que, diversas
vezes, nos passa despercebida, e, no entanto, possui forte poder de mobilizar e
explicar a realidade, guiando os comportamentos e as atitudes.
Assim, vislumbra-se que a representação social da equipe de enfermagem
sobre o cuidado prestado ao paciente soropositivo ao HIV permita compreender a
atuação da representação na motivação destes profissionais ao realizar o cuidado.
E, conseqüentemente, permita compreender melhor a prática efetivada e seus
determinantes para que se possa, desta forma, melhorá-la a fim de prestar um
atendimento mais digno à pessoa que vive com o HIV/AIDS. Para tal, apresenta-se
como objeto de pesquisa o cuidado de enfermagem à pessoa que vive com o
HIV/AIDS, sob a ótica da equipe de enfermagem.
Neste sentido, tem-se por objetivo geral analisar e comparar as
representações sociais acerca do cuidado de enfermagem à pessoa que vive com o
HIV/AIDS, em duas categorias da equipe de enfermagem que atuam em instituição
hospitalar. Os objetivos específicos foram definidos como: caracterizar as
representações sociais da equipe de enfermagem acerca do cuidado à pessoa que
vive com o HIV/AIDS; comparar as representações sociais de enfermeiros e
auxiliares de enfermagem sobre o cuidado à pessoa que vive com o HIV/AIDS e;
discutir as práticas de cuidado de enfermagem à pessoa que vive com o HIV/AIDS, a
partir das representações sociais caracterizadas.
20
I. O CUIDADO DE ENFERMAGEM AO PACIENTE HIV/AIDS E AS
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS
Este capítulo trata de algumas temáticas que se fazem necessárias para a
base argumentativa do presente estudo. Considerando as proposições de Moscovici
na definição dos universos de pensamento, enquanto universos reificados e
consensuais, portanto derivados dos campos científicos e do senso comum, este
capítulo será orientado por essa dupla distinção, abordando o cuidado ao paciente
HIV/AIDS sob a dupla ótica: objeto de representação e objeto reificado.
Desta forma, inicialmente aborda-se alguns elementos conceituais da Teoria
das Representações Sociais, abarcando seus antecessores, sua gênese, suas
características principais e suas abordagens complementares.
Prosseguindo, aborda-se o cuidado de enfermagem na sua dupla expressão:
reificada, através dos conceitos e teorizações surgidas no campo científico; e
consensual, através dos estudos que se debruçaram sobre o estudo das
representações sociais do cuidado de enfermagem.
Finalmente, disserta-se sobre o HIV/AIDS, enquanto objeto reificado e
também enquanto objeto de representação social, abrangendo alguns dados
epidemiológicos, o desenvolvimento da epidemia, bem como as representações
sociais daí emergidas.
I.1 A Teoria das Representações Sociais como base teórico-conceitual para a
análise do cuidado de enfermagem
Para dissertar sobre a Teoria das Representações Sociais (TRS), faz-se
mister, primeiramente, tecer algumas considerações no que tange aos seus
antecessores. Assim, não podemos deixar de mencionar Émile Durkheim, Lucien
Lévy-Bruhl e Jean Piaget.
Durkheim contribuiu com a TRS ao descrever o conceito de “representações
coletivas”, diferenciando-as das “representações individuais”. Desta forma, definiu
que as primeiras têm como substrato a sociedade em sua totalidade, enquanto que
as últimas, a consciência de cada um, sendo, desta forma, variáveis. As
representações coletivas não são o denominador comum das representações
individuais, mas sua origem, sendo homogêneas e vividas por todos os membros de
21
um grupo, perdurando por gerações e tendo por função “preservar o vínculo entre
eles, prepará-los para pensar e agir de modo uniforme” (MOSCOVICI, 2001, p. 47).
Lévy-Bruhl estudou as relações entre as sociedades e suas representações,
procurando elaborar uma ciência dos costumes. Para tal, distinguiu dois tipos
principais de sociedades: as primitivas e as civilizadas, marcadas por modos de
pensar opostos, denominados, respectivamente, de mentalidade primitiva e de
mentalidade civilizada, que se diferiam tanto no plano qualitativo, quanto em sua
amplitude. Para o estudioso, a mentalidade civilizada se orienta pela busca lógica
das informações relativas a um fenômeno e as causas que servem para explicá-lo,
enquanto que a mentalidade primitiva não está submetida aos princípios de
contradição e causalidade, mas voltada para o sobrenatural e, desta maneira, os
vínculos que estabelece entre os fenômenos são de natureza mística (MOSCOVICI,
2001, 2005).
Piaget, influenciou a TRS ao realizar estudos sobre os pensamentos
infantil e adulto. Estes estudos mostraram, dentre outras coisas, que: o pensamento
baseado em imagens apresenta-se como um dos modos de pensamento social; a
partir de fragmentos de conhecimento as pessoas constroem seu universo e dão
sentido à realidade; os julgamentos morais são próprios da idade; com o
crescimento, o egocentrismo se atenua, as pessoas compreendem melhor o ponto
de vista dos outros e interiorizam as regras sociais, surgindo o respeito mútuo e a
cooperação (MOSCOVICI, 2001).
A partir das distinções de Lévy-Bruhl e Piaget, Moscovici propõe a
coexistência, nas sociedades contemporâneas, de dois tipos de universos de
pensamento: os universos reificados e os universos consensuais. Os primeiros são
compreendidos como mundos restritos, caracterizados por objetividade e rigor lógico
e metodológico, onde se produzem e circulam as ciências e as teorizações
abstratas. nos últimos, que são as teorias do senso comum, encontram-se as
práticas interativas do dia-a-dia, onde o produzidas e circulam as representações
sociais, sem limites especializados, menos sensíveis à objetividade e mais a
sentimentos compartilhados de plausibilidade. No universo reificado, a sociedade é
vista como um sistema de diferentes papéis e classes, cujos membros são
desiguais, enquanto que no universo consensual, ela é percebida como um grupo de
pessoas iguais e livres, cada uma com possibilidade de falar em nome do grupo
(MOSCOVICI, 2005).
22
Cabe mencionar que os fenômenos de representação social são construídos
nos universos consensuais de pensamento, enquanto os objetos de pesquisa são
elaborados no universo reificado da ciência (SÁ, 2002).
Foi com este pano de fundo que a TRS nasceu, em 1961, na Europa, com a
publicação, por Serge Moscovici, do estudo La Psychanalyse: son image et son
public (FARR, 2003; MOSCOVICI, 2001; , 2002).
De acordo com Moscovici (2001), a noção original de Durkheim atribuída às
representações coletivas cedeu lugar às representações sociais, devido a
importância de considerar uma diversidade de origem, tanto nos indivíduos quanto
nos grupos. Além disso, fazia-se necessário deslocar a ênfase sobre a comunicação
que permite aos sentimentos e aos indivíduos convergirem, de modo que algo
individual pudesse tornar-se social e vice-versa.
Assim, Moscovici (1981, p. 181), define representações sociais como:
um conjunto de conceitos, proposições e explicações originado na vida cotidiana no
curso de comunicações interpessoais. Elas são o equivalente, em nossa sociedade,
dos mitos e sistemas de crenças das sociedades tradicionais; podem também ser
vistas como a versão contemporânea do senso comum.
Enquanto Jodelet (2001, p. 22) as define como uma forma de conhecimento,
socialmente elaborada e partilhada, que tem um objetivo prático e concorre para a
construção de uma realidade comum a um conjunto social.
O objetivo central da formação de representações, portanto, é a
transformação do não-familiar em familiar, através de processos mentais cognitivos,
que permite ao sujeito e aos grupos sociais incorporarem o novo e transformarem o
conhecido. Esse processo de incorporação permite que as representações sociais
sejam geradas por dois processos: ancoragem e objetivação. Por ancoragem, tem-
se o processo que transforma um objeto estranho em algo familiar, utilizando, para
isso, um pensamento pré-existente. a objetivação, é o processo de materializar
um conceito e tornar concreto o que é abstrato (MOSCOVICI, 2005; SÁ, 1998, 2002;
VALA, 2000).
Uma das principais vantagens da TRS, segundo Oliveira e Werba (1998), é a
sua capacidade de mostrar uma realidade que existe, da qual muitas vezes não nos
damos conta, mas que possui grande poder mobilizador e explicativo. E, por isso,
faz-se necessário estudá-la para compreender e identificar como essa realidade
atua na motivação das pessoas e nas suas práticas.
23
A fim de uma melhor compreensão, (2002), citando Moscovici, delimita
três tipos de representações sociais: as hegemônicas, largamente partilhadas pelos
membros de um grupo, sem que tenham sido produzidas por eles, não sendo
discutíveis e constituindo os pilares de uma sociedade; as emancipadas, produzidas
nas relações intergrupais, permitem diferenciar os grupos divergentes são
elaboradas por um grupo, podendo adquirir autonomia e serem apropriadas por
outros grupos ; e as polêmicas, elaboradas por dois grupos em conflito, mas não
são compartilhadas pela sociedade como um todo, correspondendo a visões
divergentes entre grupos com interesses opostos e posicionamentos diferentes face
ao objeto da representação.
Ainda, Flament (1987) classifica as representações em autônomas e não-
autônomas. As primeiras são aquelas cujo princípio organizador é interno, ou seja, é
o núcleo central. as últimas, são aquelas que dependem de vários temas
independentes, não havendo um núcleo central.
Para a existência de uma representação fazem-se necessários um sujeito e
um objeto, ou seja, alguém (um grupo, uma população, um conjunto social),
responsável pela gênese da representação, e algo (um ambiente social, material,
ideal/abstrato) a ser representado, interpretado, simbolizado. Frente a isto, Jodelet
(2001) define representação social como uma forma de saber prático, que liga um
sujeito a um objeto.
No que se refere a sua constituição, as representações sociais configuram-se
a partir de três dimensões principais: informação, que se “refere à organização dos
conhecimentos que um grupo possui a respeito de um objeto social”; campo de
representação, remetendo “à idéia de imagem, de modelo social, ao conteúdo
concreto e limitado das proposições acerca de um aspecto preciso do objeto da
representação” e; atitude, que “termina por focalizar a orientação global em relação
ao objeto da representação social” (SÁ, 2002, p. 31).
Desta forma, de acordo com Abric (1998), as representações sociais possuem
quatro funções, quais sejam: função de saber, as representações sociais permitem
compreender e explicar a realidade; função identitária, as representações sociais
definem a identidade e protegem a especificidade dos grupos; função de orientação,
as representações sociais guiam os comportamentos e as práticas sociais; função
justificatória, as representações sociais permitem, a posteriori, justificar as tomadas
de posição e os comportamentos.
24
Assim, não se pode deixar de relacionar as representações sociais com as
práticas sociais, entendendo que estas se influenciam reciprocamente. Em outras
palavras, baseado em Rouquette (1998, p. 39), “o que pensamos depende daquilo
que fizemos [...] e aquilo que fizemos em um dado momento, depende daquilo que
pensamos então, ou daquilo que pensamos anteriormente”. Nessa perspectiva,
recomenda o autor, que convêm percebermos as representações como uma
condição das práticas e estas como um agente transformador daquelas.
A grande teoria das representações sociais, conforme (1998, 2002)
denomina as proposições originais de Moscovici, desdobra-se em três correntes
teóricas complementares: a processual; a estrutural e; a relacional. A abordagem
processual, desenvolvida por Denise Jodelet, possui estreita proximidade com a
proposta original de Moscovici e enfatiza o processo de constituição das
representações, centrando-se no aspecto constituinte das representações. A
abordagem estrutural, desenvolvida por Jean-Claude Abric, enfatiza a estrutura atual
dos conteúdos cognitivos das representações, centrando-se no aspecto constituído
das representações. a abordagem relacional, desenvolvida por Willem Doise,
enfatiza as relações sociais que originam as representações, centrando-se no
aspecto sócio-contextual das representações (SÁ, 1998, 2002).
A abordagem processual considera que o acesso ao conhecimento das
representações sociais parte do entendimento do ser humano como produtor de
sentidos, focalizando-se na análise das produções simbólicas, dos significados e da
linguagem, através dos quais o sujeito constrói o mundo em que vive (BANCHS,
2004).
Assim, entende-se que este enfoque é o que mais se adequa ao objeto do
presente estudo e, desta forma, delineia este trabalho.
I.2 O Cuidado de Enfermagem como objeto reificado e de representação social
O verbo cuidar origina-se do latim cogitare, significando pensar, conceber,
imaginar, cogitar, atentar. o substantivo cuidado, tem sua gênese do latim
cogitatum e significa pensamento, projeto, atenção (LAROUSSE, 1998). O cuidado é
fundamental para ações que visam a promoção, a manutenção e a recuperação da
saúde. Sendo a enfermagem uma das profissões que mais efetivam atividades desta
25
natureza, o cuidado é considerado fundamental para a prática desta profissão
(LEITÃO; LINARD; RODRIGUES, 2000; WALDOW, 1997).
A Enfermagem caracteriza-se como uma ciência humana, de pessoas e
experiências, com um campo de conhecimentos, fundamentações e práticas, cuja
abrangência vai do estado de saúde ao estado de doença, sendo mediada por
transações profissionais, pessoais, científicas, estéticas, éticas e políticas do cuidar
de seres humanos (LIMA, 1993). Assim, preocupa-se com a promoção da saúde,
com a prevenção da doença, com o cuidado aos doentes e com a restauração da
saúde, em colaboração com outros profissionais (HORTA, 1979; LIMA, 1993).
Enquanto prática profissional, a equipe de enfermagem assiste o ser humano
(indivíduo, família) no atendimento de suas necessidades básicas, tornando-o
independente desta assistência, quando possível, pelo ensino do auto-cuidado
(HORTA, 1979).
Oliveira (2001) assevera que a Enfermagem, compreendida como campo de
saberes e práticas sociais, se apóia em princípios éticos e ideológicos para guiar sua
prática, sendo estes princípios explicitados pelas teóricas de enfermagem, no âmbito
das suas contribuições ao campo de saber. Assim, as teorias de enfermagem,
conforme pontuado por Alligood e Tomey (2003), guiam a análise do cuidado de
enfermagem mediante a descrição, explicação e controle dos fenômenos. E, desta
forma, sistematizam as ações de enfermagem com o objetivo de dar cientificidade à
profissão e fornecer referência ao cuidado (GOTARDO, 2002; LEOPARDI, 1999a).
A história das teorias de enfermagem, ou seja, da sistematização do cuidado
de enfermagem, teve sua gênese na metade do século XIX, com a teórica italiana
Florence Nightingale. As convicções religiosas e a experiência como enfermeira do
exército, durante a Guerra da Criméia, influenciaram, sobremaneira, na crença de
Florence acerca do cuidado prestado aos doentes (TORRES, 1993).
As bases da proposição teórica de Nightingale, publicada em 1859, centra-se
no aspecto físico, em detrimento dos aspectos psicológico e social, tendo como foco
central o cuidado de enfermagem direcionado ao ser humano em sua interação com
o meio ambiente. Assim, as proposições da autora foram desenvolvidas a partir do
conceito de ambiente, pois Nightingale acreditava que as condições externas
influenciavam a vida e o desenvolvimento do organismo, sendo capaz de prevenir,
suprimir ou contribuir para o processo de doença. Desta maneira, os trabalhos
escritos por esta teórica de enfermagem enfatizam, de certa forma, a necessidade
26
de uma ampla ação sanitária e, para isto, abarcam aspectos do ambiente como
ventilação, limpeza, odores, calor, iluminação e sonoridade (CARRARO;
MADUREIRA; RADÜNZ, 1999; PFETTSCHER, 2003; SILVA, 1997; STAMM, 2002;
TORRES, 1993).
No que se refere aos atributos profissionais, Florence defendia a idéia de que
os profissionais de enfermagem, além do conhecimento técnico e científico, devem
ter criatividade e intuição, ressaltando-se, ainda, a importância do cuidado amoroso
e honesto por parte destes profissionais (STAMM, 2002).
Posteriormente a Florence, outras enfermeiras teorizaram sobre os diversos
aspectos do cuidado de enfermagem, desde aqueles relacionados à comunicação
entre profissional e paciente até os relacionados à cultura. Neste texto, apontar-se-á
somente algumas das teorias que se fizeram mais conhecidas no Brasil e suas inter-
relações com o cuidado de enfermagem.
Hildegard Peplau, em 1952, desenvolveu a Teoria Interpessoal, na qual
define a enfermagem como um processo interpessoal, significativo e terapêutico.
Desta forma, conclui que os profissionais de enfermagem devem prestar cuidado ao
paciente reconhecendo a necessidade de ajuda e agindo sobre esta (BELCHER;
FISH, 1993; HOWK 2003).
Em 1960, Josephine E. Paterson e Loretta T. Zderad apresentaram a Teoria
da Enfermagem Humanística. Nesta teoria, a enfermagem é encarada, no contexto
humano, como responsável pelo cuidado ao paciente em um período de
necessidade. Assim, os profissionais de enfermagem objetivam o desenvolvimento
do bem-estar e o estar melhor, a partir do aumento das possibilidades de escolhas
responsáveis no processo de vir-a-ser do paciente. Para tal, a enfermagem focaliza
o ser humano como um todo e o percebe além da categorização das partes, pois
entende que quando uma pessoa encontra-se doente, seu corpo manifesta
mudanças que influenciam seu mundo e sua experiência de estar no mundo
(LEOPARDI, 1999e; PRAEGER; HOGARTH, 1993).
Em 1961, Ida Jean Orlando publicou o livro The Dynamic Nurse-Patient
Relationship: Function, Process and Principles, no qual apresenta suas proposições
para uma Teoria do Processo de Enfermagem. Nesta teoria, Orlando disserta sobre
a relação entre profissional de enfermagem e paciente, destacando que esta deve
ser individualizada, pois cada paciente é um indivíduo e, desta forma, os
profissionais de enfermagem não podem prestar cuidado automaticamente, com
27
base apenas em princípios, experiências anteriores ou ordens médicas (LEONARD;
CRANE, 1993). Para tal, a autora define que um indivíduo torna-se um paciente que
necessita de cuidados de enfermagem no momento em que não consegue satisfazer
uma necessidade de forma independente (SCHMIEDING, 2003).
A teórica Sister Callista Roy apresentou, em 1964, a Teoria da Adaptação.
Roy define que a meta dos profissionais de enfermagem é facilitar a promoção de
respostas adaptativas pelos pacientes, as quais afetam positivamente a saúde.
Ainda, propõe que esta se efetiva por meio dos quatro modelos adaptativos: função
fisiológica; autoconceito; função do papel e interdependência (GALBREATH, 1993;
LEOPARDI, 1999d; PHILLIPS, 2003).
Com base nas teorias de Orlando e de Peplau, Joyce Travelbee desenvolveu,
em 1966, a Teoria da Relação Interpessoal. Travelbee defende que a relação
enfermeiro-paciente é a essência do cuidado de enfermagem. Além disso, pontua
que os profissionais de enfermagem devem proporcionar meios para que o paciente
enfrente a situação da doença, aprenda com a experiência e encontre o seu
significado (LEOPARDI, 1999c; TOMEY, 2003).
Também em 1966, Myra Estrin Levine publicou a Teoria dos Quatro Princípios
de Conservação, na qual propõe que a enfermagem é um processo dinâmico e
intencional que possui como essência a interação humana. Levine identifica quatro
princípios de conservação que acredita serem o fundamento para todos os cuidados
de enfermagem: conservação da energia; conservação da integridade pessoal;
conservação da integridade estrutural; e conservação da integridade social. A teórica
acredita que através destes princípios é possível manter ou recuperar o paciente
para um estado de saúde (LEONARD, 1993; SCHAEFER, 2003).
Wanda de Aguiar Horta tornou pública, em 1970, sua Teoria das
Necessidades Humanas sicas, a qual traz em seus princípios que a enfermagem
implementa estados de equilíbrio dinâmico, previne desequilíbrios e transforma
desequilíbrios em equilíbrio, através do atendimento das necessidades humanas
básicas dos pacientes. Desta forma, defende que todo cuidado de enfermagem é
preventivo, curativo ou de reabilitação, a fim de alcançar o completo estado de bem-
estar do paciente (HORTA, 1979; LEOPARDI, 1999b).
Em 1959, Dorothea Orem publicou, pela primeira vez, a Teoria do
Autocuidado, baseada no conceito de enfermagem como provimento de
autocuidado, por entendê-lo como uma necessidade humana. Orem defende a idéia
28
de que a enfermagem é um serviço de saúde humano e especializado, que possui
como preocupação principal a necessidade das pessoas por ações de autocuidado.
Isto por acreditar que a partir do oferecimento e controle do autocuidado é possível
alcançar uma base para sustentar a vida e a saúde, bem como se recuperar de
agravos à saúde (ALLIGOOD; CHOI, 1995; FOSTER; JANSSENS, 1993; LEITÃO;
LINARD; RODRIGUES, 2000; LEOPARDI; WOSNY; MARTINS, 1999; TAYLOR,
2003).
A Teoria da Diversidade e Universalidade Cultural de Cuidado foi publicada,
em 1978, pela teórica de enfermagem Madeleine Leininger. Esta teoria é, sem
dúvida, uma das que mais explicitamente definem o cuidado de enfermagem,
considerando-o sob o ponto de vista comportamental (WALDOW, 1992). Leininger
(1991, p.46) define que cuidar “refere-se às ações e atividades com vistas a assistir,
apoiar ou capacitar indivíduos ou grupos com necessidades evidentes ou
antecipadas, a fim de melhorar a condição ou modo de vida humana ou para se
defrontar com a morte”.
o cuidado, para esta autora, é o “fenômeno abstrato e concreto,
relacionado aos atos de assistência, de apoio ou de capacitação para ou por outros
com necessidades evidentes ou antecipadas, a fim de melhorar a condição ou modo
de vida humana ou para se defrontar com a morte” (LEININGER, 1991, p.46).
A autora salienta que diferentes culturas possuem diferentes percepções e
formas de praticar o cuidado, apesar de alguns elementos comuns existirem em
todas as culturas. Neste sentido, enfatiza que a enfermagem transcultural deve
prover um cuidado que tenha origem nas necessidades do indivíduo, sua família e
grupos culturais (GEORGE, 1993; MONTICELLI; ALONSO; LEOPARDI, 1999;
MOURA; CHAMILCO; SILVA, 2005; SOUZA, 1999; WELCH, 2003).
Em sua teoria, Leininger afirma que cuidado sem cura, no entanto, jamais,
existe cura sem cuidado. Ainda, enfatiza que o cuidado torna-se essencial para o
total desenvolvimento e manutenção da saúde e sobrevivência de todos os seres
humanos, sendo o foco central da enfermagem (GEORGE, 1993; MONTICELLI;
ALONSO; LEOPARDI, 1999; WELCH, 2003).
Em 1979, com a publicação do livro Nursing: the philosophy and science of
caring, Jean Watson apresentou os fundamentos da Teoria Transpessoal do
Cuidado Humano. Watson afirma que a enfermagem preocupa-se com a promoção
da saúde, a prevenção da doença, o cuidado aos doentes e a restauração da saúde.
29
Desta forma, sua teoria estrutura-se em meio a sete pressupostos acerca da ciência
do cuidado e dez fatores básicos de cuidado (NEIL, 2003; TALENTO, 1993).
Os pressupostos do cuidado, defendidos por Watson, são: (1) o cuidado pode
ser demonstrado e praticado de forma interpessoal somente; (2) o cuidado é
constituído por elementos que satisfazem determinadas necessidades humanas; (3)
o cuidado efetivo promove saúde e crescimento individual ou familiar; (4) as
respostas do cuidado aceitam o indivíduo como é e por aquilo que ele pode vir a ser;
(5) o ambiente de cuidado proporciona o desenvolvimento de atitudes, pois permite
à pessoa eleger a melhor opção para si em determinado momento; (6) o cuidado
promove mais saúde do que cura; (7) a prática do cuidado é a essência e o ideal
moral da enfermagem (NEIL, 2003; TALENTO, 1993).
Na perspectiva da Teoria Transpessoal do Cuidado os elementos essenciais
para o cuidado são: (1) formação de um sistema de valores humanista-altruísta; (2)
introdução de fé e esperança; (3) cultivo a sensibilidade em si mesmo e nas demais
pessoas; (4) desenvolvimento de relação de ajuda e confiança; (5) promoção e
aceitação da expressão de sentimentos positivos e negativos; (6) utilização
sistemática do método de resolução de problemas para a tomada de decisões; (7)
promoção do ensino-aprendizagem interpessoal; (8) provisão de um ambiente de
apoio, proteção e/ou de neutralização mental, física, sócio-cultural e espiritual; (9)
assistência com satisfação das necessidades humanas; (10) tolerância de forças
fenomenológicas (NEIL, 2003; TALENTO, 1993).
Watson (apud TALENTO, 1993) afirma que o cuidado é o atributo mais
valioso que a enfermagem tem a oferecer à humanidade, porém, ainda assim, com o
passar do tempo, este recebeu menor ênfase do que outros aspectos da prática da
enfermagem. Desta forma, a teórica acredita que ele encontra-se ameaçado pelo
desenvolvimento da tecnologia médica, pelas restrições burocráticas e
administrativas das instituições. Para a teórica, é através do compromisso com os
ideais de cuidado humano na teoria, na prática e na pesquisa que a enfermagem
contribui social, moral e cientificamente com a humanidade e a sociedade.
Conforme pôde ser observado anteriormente, não são todas as teorias de
enfermagem que trazem em seu desenvolvimento teórico os conceitos de cuidar e
cuidado de enfermagem claramente delimitados. Por vezes, estes se encontram
inseridos em outros conceitos e funções dos enfermeiros. Cabe salientar que os
30
pensamentos contemporâneos sobre o cuidar/cuidado encontram-se imersos em
muitas discussões e definições destas teorias.
É consenso nas teorias de enfermagem a importância de que o cuidado de
enfermagem o se restrinja simplesmente ao ato técnico, mas contenha o
envolvimento e preocupação dos sujeitos envolvidos, ou seja, do cuidador e do ser
cuidado. Neste sentido, Waldow (2001) expõe que ao efetuar uma atividade técnica,
estando presente somente de corpo e não de mente e espírito, o profissional de
enfermagem não realiza o cuidado de enfermagem, mas somente concretiza um
procedimento.
Ainda neste sentido, Neves (2002) menciona que cuidar em enfermagem
inclui a realização de procedimentos técnicos aliados à expressão de atitudes
condizentes com princípios humanísticos, dentre os quais a manutenção do respeito,
da dignidade e da responsabilidade entre os seres envolvidos na relação de
cuidado, sem os quais tais ações poderiam ser entendidas como descuidar.
Corroborando este pensamento, Boff (1999) pontua que o cuidado representa
uma atitude de preocupação, de responsabilização, de zelo e de envolvimento
afetivo com o outro. Para tanto, faz-se necessário considerar o meio e as pessoas
nele inseridas, o que implica em considerar a intersubjetividade que se estabelece
na relação interpessoal. A consideração do outro, as suas particularidades, a
individualidade e, ainda, o caráter expressivo manifesto na emoção, imprime a
qualidade do humano ao cuidado (FERREIRA et al., 2002).
Desta forma, ao cuidar, a equipe de enfermagem estabelece uma relação
permeada, tanto por valores morais, éticos e sociais, quanto pela interferência do
meio. Sendo, portanto, o processo de cuidar diretamente influenciado pela formação
pessoal e personalidade do cuidador, adquiridos através de suas experiências,
crenças e cultura (MENDES; CASTRO; FERREIRA, 2003).
Faz-se mister que a interação entre o cuidador e o ser cuidado, no processo
de cuidar, seja caracterizada pelo desenvolvimento de ações, atitudes e
comportamentos guiados por embasamento científico, experiência, intuição e
pensamento crítico. Este processo é realizado para e com o paciente, visando
promover, manter e/ou recuperar sua dignidade e totalidade humanas (WALDOW,
1995, 1997, 1998, 1999). No entanto, o processo de cuidar, enquanto ação humana,
não traz benefícios somente para o ser cuidado, mas também para o cuidador. O
primeiro experiencia a melhoria de auto-estima a partir do conhecimento de si e de
31
suas potencialidades, o alívio da dor e o conforto, dentre outros. o segundo,
alcança a satisfação, a realização, o aumento da auto-estima e a sensação de dever
cumprido (WALDOW, 1999).
Assim, por caracterizar-se como uma interação interpessoal, Waldow (1999)
afirma que, para surtir o efeito desejado, o cuidado deve agregar elementos
primordiais como o respeito, a consideração, a compaixão e o afeto. Ainda, este ato
necessita contar com o tato, a audição e a postura corporal, pois é a partir destes
que são demonstrados sentimentos como a satisfação e a aprovação ou reprovação
da ação.
O primeiro passo a ser dado em direção ao cuidado humano de qualidade é o
autoconhecimento por parte de todos os profissionais que prestam cuidado ao outro.
Isto para que conheçam suas fraquezas e forças, pois somente desta maneira serão
capazes de, efetivamente, prestar cuidado (JESUS et al., 2001).
Waldow (1999) e Jesus et al. (2001), preocupados com a inserção do
HIV/AIDS no campo da enfermagem, afirmam que os profissionais de enfermagem
lidam com muitas situações de angústia, frustrações e conflitos, e vivenciam
ocasiões muito estressantes no ambiente de trabalho, dependendo da situação, da
responsabilidade e do envolvimento. A primeira autora complementa que as
situações tornam-se ainda mais estressantes ao se prestar cuidado a pacientes
terminais e portadores de HIV/AIDS, por exemplo.
No que diz respeito ao cuidado prestado aos clientes com HIV/AIDS, Miquelin
et al. (2004), em estudo realizado sobre o estresse de profissionais de enfermagem
que atuam com portadores de HIV/AIDS, mencionam que o trabalho com esta
clientela leva o profissional a defrontar-se com aspectos específicos como, por
exemplo, o medo da exposição-transmissão da infecção e de que familiares e
amigos saibam que o mesmo lida com a AIDS. Além disso, pontuam que a doença
também age como agente causador de estresse, resultando muitas vezes em
sensação de fracasso por não obter êxito em sua ação psicoterapêutica.
Boemer et al. (1987) defende a idéia de que, atualmente, observa-se a
fragmentação do objeto do cuidado de enfermagem (sujeito-paciente) em
decorrência da evolução tecnológica e da preocupação vigente de aumentar, cada
vez mais, a produtividade do trabalho. Desta forma, os autores assinalam que o
cuidado de enfermagem não se estrutura, atualmente, com o paciente de maneira
holística, acarretando o não atendimento de suas expectativas, o que torna o
32
cuidado inadequado, visto não efetivar o principal objetivo de um cuidado com
qualidade. No entanto, Silva (1997), partindo da percepção dos próprios
enfermeiros, evidencia, a partir da análise de estudos exploratórios norte-
americanos realizados na década de 80 e na primeira metade da década de 90, que
os profissionais de enfermagem consideram mais importantes os comportamentos
expressivos/afetivos (relações de conforto e confiança), do que as competências
técnicas durante o processo de cuidar.
Conforme destacado anteriormente, as formas de pensamento social que se
pretende identificar neste estudo caracterizam-se como de representações não
autônomas. Isto porque a atribuição de significados ao cuidado dirigido aos
portadores do HIV/AIDS, pressupõe dois outros processos simbólicos: as
representações da doença e do vírus HIV/AIDS; e as representações da própria
ação de cuidar profissional. Desta forma, serão brevemente retomados neste
capítulo os perfis das representações sociais do cuidado de enfermagem,
observados em estudos diversos.
No campo das abordagens psicossociais, dentre elas a Teoria das
Representações Sociais, alguns estudos foram realizados tendo por objeto a
representação social de diferentes grupos sobre o cuidado de enfermagem. Em
pesquisa realizada com 52 enfermeiros pertencentes a quatro grupos desde
aposentados até com 5 anos de formados sobre a representação social do cuidar,
Vieira (1999) encontrou que a representação do cuidado ao paciente pode ser
expressa por “estar perto”, afirmando que esta característica diferencia a
Enfermagem das demais profissões que desenvolvem ações de cuidado. Ainda,
relacionam, de forma unânime, o atributo humanismo ao cuidado do paciente.
Outras representações do cuidado apontadas neste estudo encontram-se
interligadas a: conhecimento científico; compromisso com o paciente; cuidado
integral/holístico; e resolutividade do cuidado.
Em 2000, estudo realizado com clientes hospitalizados constatou que o
cuidado de enfermagem é percebido como participante do tratamento recebido
durante a hospitalização e encontra-se envolvido por representações sociais
positivas e negativas por parte desses sujeitos. As representações positivas
pautadas, principalmente, na solidariedade humana, levam ao reconhecimento da
importância da atuação dos profissionais de enfermagem. Já as representações
negativas, resultam na busca de estratégias de enfrentamento da hospitalização e
33
estão interligadas à conformação, submissão, aceitação e impotência. Além disso, o
cuidado de enfermagem é tido como baseado na inter-relação entre cuidador e ser
cuidado, importante e indispensável (JACQUES, 2000).
Cursino et al. (2002) constataram, em estudo com mestrandos enfermeiros,
que as representações sociais do cuidar agrupam-se em quatro categorias: afetiva;
interativa; profissional; cultural. Nestas categorias encontram-se diversos atributos,
dentre eles, respectivamente: carinho e respeito; interação e troca;
profissionalização e responsabilidade; conhecer e entender a cultura.
Em pesquisa realizada em instituições psiquiátricas, Silva A. V. (2003)
constatou que o cuidar, nas representações sociais de enfermeiros assistenciais,
encontra-se ancorado no acolhimento afetivo, na escuta compreensiva e no trabalho
em equipe. A partir destes resultados, o autor concluiu que o cuidado prestado é
interpessoal, sensível, criativo, compartilhado e tecnológico.
Chagas Filho (2003), em estudo realizado com profissionais de enfermagem
sobre a representação social do cuidado de enfermagem prestado à criança
hospitalizada, evidencia que esta representação encontra-se fortemente relacionada
à aproximação com a mãe acompanhante. Concluiu, ainda, que o processo de
cuidar se expressa de maneiras diferentes em decorrência da clientela à qual se
destina, pois busca atender suas necessidades e peculiaridades determinadas pelas
características biológicas, sociais e psicológicas, dentre outras.
Pode-se concluir este capítulo com Collière (1999, p. 235), quando define
cuidar como “primeiro que tudo, um ato de vida, no sentido de que representa uma
variedade infinita de atividades que visam manter, sustentar a vida e permitir-lhe
continuar e reproduzir-se”.
I.3 O HIV/AIDS como objeto reificado e de representação social
A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) traz no seu bojo científico a
definição de um agente etiológico, o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), mais
especificamente o HIV-1 e HIV-2, sendo o primeiro a causa mais comum da AIDS no
mundo. Estes vírus invadem os linfócitos T CD4+ e estabelecem uma infecção
permanente (BRAUNWALD et al., 2002; SMELTZER; BARE, 2002).
A infecção pelo HIV é caracterizada por conseqüências clínicas que
englobam um largo espectro, desde a síndrome aguda associada à infecção
primária e ao estado assintomático até a AIDS avançada. Os sinais clínicos vão
34
desde febre, linfadenopatia, artralgia e perda ponderal até pneumonia por
Pneumocystis carinii, candidíase oral e sarcoma de Kaposi, estas três últimas
manifestações caracterizando o desenvolvimento da AIDS (BRAUNWALD et al.,
2002; SMELTZER; BARE, 2002).
O HIV é transmitido por contato sexual, sangue e hemoderivados e pelas
mães infectadas pelo HIV aos seus bebês nos períodos perinatal e intraparto ou
através da amamentação (BRAUNWALD et al., 2002; SMELTZER; BARE, 2002).
A construção social da AIDS teve início com o primeiro texto oficial publicado
em 05 de junho de 1981, no Morbidity and Mortality Weekly Report (MMWR). O
artigo relatava o caso de cinco jovens homossexuais masculinos, moradores de Los
Angeles, que apresentavam uma infecção pulmonar por Pneumocystis carinii,
microorganismo conhecido por produzir infecção diante da baixa imunidade
(NASCIMENTO, 2005).
O Center for Disease Control and Prevention (CDC), órgão governamental
americano, chamava a atenção para o fato destes pacientes serem homossexuais, o
que sugeria uma associação entre o estilo de vida homossexual, a doença e a
pneumonia por Pneumocystis carinii. Frente a isto, a sociedade criou diversas
denominações para a doença, dentre elas: síndrome da ira de Deus (Wrath of God
Syndrome (Wogs)); pneumonia gay; câncer gay; síndrome gay; e Gay Related
Immune Deficiency (Grid) (MARQUES, 2003; NASCIMENTO, 2005).
No Brasil, os primeiros casos confirmados ocorreram, em 1982, no estado de
São Paulo (SANTOS; SANTOS, 1999). Até a primeira metade da década de 80, a
epidemia manteve-se restrita a São Paulo e ao Rio de Janeiro, no entanto, a partir
daí, disseminou-se para outras regiões do país (BRASIL, 2000; CASTILHO;
CHEQUER, 1997; GALVÃO, 2000; PINEL; INGLESI, 1996).
Inicialmente, a síndrome foi associada, de forma estigmatizadora, a "grupos
de risco", tais como homossexuais, prostitutas, dependentes químicos e hemofílicos.
Por certo período, chegou a ser chamada de “doença dos quatro H”, pois
mundialmente atingia, em maior número, homossexuais, hemofílicos, haitianos e
heroinômanos (BARBARÁ; SACHETTI; CREPALDI, 2005; SANTOS; SANTOS,
1999).
A associação da doença a "grupos de risco" disseminou a falsa noção de que
as pessoas não pertencentes a estes grupos estariam a salvo da ameaça,
35
reforçando preconceitos e estigmas vigentes contra algumas minorias, dentre elas
os homossexuais.
Com a disseminação do HIV, o perfil epidemiológico modificou-se,
acarretando, no Brasil, sua feminização, heterossexualizão, envelhecimento e
pauperização, aproximando-o cada vez mais do perfil sócio-econômico brasileiro
médio (BRASIL, 2005; TEIXEIRA, 2002).
Desta forma, o conceito de “grupos de risco” cedeu lugar ao de
“comportamentos de risco”, ou seja, entendia-se não mais que grupos restritos eram
susceptíveis à infecção pelo HIV, mas que os comportamentos adotados levam o
indivíduo a um menor ou maior grau de exposição ao HIV. Tais comportamentos
consistiam, por exemplo, na atividade sexual sem preservativo e no
compartilhamento de agulhas ou seringas (BARBARÁ; SACHETTI; CREPALDI,
2005; SANTOS; SANTOS, 1999).
Atualmente, tem-se a vulnerabilidade como referencial teórico explicativo da
exposição ao HIV. A vulnerabilidade consiste em um conjunto de aspectos
individuais e coletivos, relacionado à maior exposição de indivíduos e populações à
infecção e ao adoecimento pelo HIV e, de modo inseparável, à maior ou menor
disponibilidade de recursos de todas as ordens para se protegerem de ambos
(AYRES, 2003; BARBARÁ; SACHETTI; CREPALDI, 2005; PARKER, 2000).
De acordo com o Boletim Epidemiológico Aids e DST, de 2006, a atual
incidência de AIDS, no Brasil, distribui-se (por 100.000 habitantes) conforme as
seguintes taxas: Região Sul (23,8); Região Sudeste (21,9); Região Centro-Oeste
(16,6); Região Norte (12,9); e Região Nordeste (10,8) (BRASIL, 2006a).
No que diz respeito à razão entre homens e mulheres contaminados, é
observada uma queda gradativa no decorrer dos anos. Ainda de acordo com o
referido Boletim Epidemiológico Aids e DST, em 1993, encontrava-se a razão de 3,5
homens para cada mulher (3,5:1), decaindo para 1,5:1 em 2003 e alcançando a
razão de 1,4:1 em 2005 (BRASIL, 2006a).
Uma das conseqüências diretas da feminização da epidemia é o progressivo
crescimento da transmissão vertical do vírus, ou seja, da mãe soropositiva ao HIV
para o bebê. Cabe ressaltar que a primeira ocorrência de transmissão perinatal
registrada no Brasil foi em 1985, com crescimento a partir daí (BRASIL, 2000).
Além das tendências já apontadas, nota-se o crescente aumento do tempo de
sobrevida dos portadores do HIV e pacientes com AIDS devido à adoção da terapia
36
com anti-retrovirais e à política de distribuição gratuita desses medicamentos
adotada pelo Ministério da Saúde do Brasil, desde a publicação da Lei 9.313, de
13 de novembro de 1996 (BRASIL, 2000; GALVÃO, 2002).
Desta maneira, destaca-se que, assim como aponta Galvão (2000), o
surgimento da AIDS não resultou em mudanças somente no campo da saúde. A
AIDS foi responsável por importantes alterações em diversos âmbitos, dentre eles o
social, principalmente por relacionar o comportamento sexual à doença.
No entanto, não se pode deixar de considerar que os fenômenos biomédico e
social da AIDS interferem no rumo das relações humanas, no estilo de vida, na
organização das famílias e no livre-arbítrio em relação aos papéis sexuais, o que
influencia, sobremaneira, na qualidade de vida dos sujeitos atingidos (SANTOS;
SANTOS, 1999).
Enquanto objeto social novo, o vírus e a doença, então desconhecidos,
constituíram os elementos essenciais para a formação de representações, de forma
a tornar o desconhecido (vírus e doença) em algo conhecido (HIV/AIDS), possível de
ser pensado e sobre o qual se poderia agir. No decorrer de três décadas da
epidemia do HIV/AIDS emergiram diversas representações da doença e de seus
portadores. Estas representações sofreram alterações no decorrer dos anos,
influenciadas, muitas vezes, pelas mudanças epidemiológicas, pela organização
social e pelo desenvolvimento científico no campo.
Nesse percurso, surgiram representações sociais de culpados e vítimas da
doença. Os primeiros eram representados por usuários de drogas injetáveis,
homossexuais masculinos e prostitutas. os segundos, consistiam em crianças,
cuja forma predominante de transmissão é a vertical, pessoas infectadas em
hemotransfusões e aquelas que contraíram o vírus através de seus cônjuges
(BARBARÁ; SACHETTI; CREPALDI, 2005).
Estas representações elaboradas pelos grupos sociais acerca da doença e de
seus atingidos influenciaram e, ainda, influenciam as atitudes diante dos últimos,
freqüentemente marcadas pela discriminação, bem como na construção de
respostas do Estado frente à epidemia. Isto porque uma das funções das
representações é a de orientar e justificar as ações.
Sobretudo a partir da década de 90, tiveram impulso pesquisas sobre
questões psicossociais relacionadas ao HIV/AIDS (BASTOS; HACKER, 2006), no
37
âmbito das quais emergiram estudos desenvolvidos à luz da TRS, trazendo
importantes elementos para as investigações desta temática.
De acordo com Tura (1998), estudos no campo das representações sociais se
fazem importantes, pois possibilitam a apreensão dos processos através dos quais
são construídos os sentidos atribuídos ao objeto de estudo pelos sujeitos em suas
relações cotidianas. E, no caso do HIV/AIDS, encontram-se envolvidos fatores como
a sexualidade, a necessidade de afirmação do indivíduo, o afeto, demandas e
desejos, em conjunção com normas, valores, informações, dentre outros, o que
explica a complexidade da temática.
Diversas pesquisas com diferentes grupos de sujeitos mostram que a
representação social da AIDS encontra-se, ainda, relacionada aos dados
epidemiológicos do início da epidemia. Desta forma, esta representação apresenta
grande associação à morte, ao sexo, à ausência de cura, ao sofrimento e ao
preconceito (BRASILEIRO, 2004; BRASILEIRO; FREITAS, 2006; SILVEIRA, 2004;
FERNANDES; OLIVEIRA; PAREDES, 2003; JORGE, 2003; PAGAN, 2004; PAIVA;
SOUSA, 2003; PALUMBO; LIMA, 2003; RIBEIRO; COUTINHO; SALDANHA, 2004;
VIEIRA, 2001).
Em 2002, Marques, Oliveira e Francisco (2003) estudaram, utilizando a
técnica de evocações livres, as representações sociais da AIDS entre servidores
técnico-administrativos e profissionais de enfermagem de um hospital universitário. A
partir deste estudo, os autores concluíram que ambos os grupos apresentam o
núcleo central da representação social composto por morte, preconceito e
sofrimento. Por outro lado, os grupos possuem elementos periféricos bem distintos,
tendo em comum somente amor. Ainda, os profissionais de enfermagem
apresentam no núcleo central, adicionalmente, medo, prevenção e sexo, sendo que
este último encontra-se, no grupo de servidores técnico-administrativos, como
elemento periférico.
No que concerne à representação social de enfermeiras sobre a AIDS, Silva e
Abrantes (2004) constataram que esta, muitas vezes, é ambígua, pois ao mesmo
tempo em que mantém o rótulo da doença como culpa/castigo, devido à falta de
proteção em situações de risco, desperta o reconhecimento de que é uma doença
que pode acometer qualquer pessoa. Nesse estudo, as enfermeiras ainda falam do
sentimento de impotência diante do paciente e do sofrimento que vivenciam, como
38
pavor, desespero, revolta e desalento que a doença traz, muitas vezes por
insuficiente informação sobre o assunto ou como devem se comportar.
Tura (2004), em pesquisa com jovens estudantes do Rio de Janeiro,
constatou que morte, sexo, camisinha e doença compõem o núcleo central das
representações sociais da AIDS nesse grupo, enquanto que o sistema periférico é
formado por grupo de risco, contaminação, descuido, solidão, cuidado, desespero,
solidariedade, cura, enfraquecimento e hospital.
Outros estudos abordam, igualmente, as representações sociais da AIDS
entre diversos grupos sociais. Desta forma, pudemos observar que a noção de
“culpados” e “vítimas”, presente desde o início da epidemia, permanece ainda hoje,
mesmo entre profissionais de saúde.
Em estudo realizado, por Domingues (2001), com o objetivo de conhecer a
representação social de médicos acerca da AIDS, foi constatado que esta se
encontra fortemente relacionada ao preconceito e à doença crônica difícil, que gera
dor e sofrimento. Ainda, foi constatado que os médicos percebem o preservativo
como o método mais eficaz de prevenção da infecção pelo HIV e relacionam o
tratamento à esperança e à utilização de medicamentos.
Domingues (2001), Ribeiro, Coutinho e Saldanha (2004) e outros autores
trazem à tona, nos resultados de suas pesquisas, a crescente preocupação quanto à
prevenção da infecção pelo HIV por diferentes atores sociais.
Em pesquisa realizada, Thiengo, Oliveira e Rodrigues (2002) constataram
que para os adolescentes a representação social da AIDS apresenta como núcleo
central a prevenção e em sua primeira periferia a expressão doença que mata.
Vieira (2001), em pesquisa com jovens estudantes, aponta que estes sujeitos
encaram o uso de preservativo como condição imprescindível para o relacionamento
sexual, compreendendo a necessidade de cuidar de si e do outro. Ainda, constatou
que estes jovens entendem que a AIDS pode ser evitada por medidas preventivas,
ainda que para isso seja imposto o afastamento do prazer e do desejo. E,
conseqüentemente, o advento da AIDS proporcionou a perda de confiança entre os
parceiros.
Neste mesmo estudo, Vieira (2001) encontrou a desconstrução do conceito
de grupo de risco que, atualmente, ocorre como conseqüência da mudança dos
dados epidemiológicos da epidemia.
39
A partir dos resultados de alguns estudos como o de Domingues (2001) e o
de Castanha et al. (2005), por exemplo pode-se observar que um indício de
mudança da representação social da AIDS. Esta mudança traz a perspectiva da
AIDS como doença crônica, o que se com a inserção da terapia anti-retroviral.
Desta forma, a AIDS ancora-se em patologias crônicas, como a hipertensão e a
diabetes.
Entretanto, não se pode perder de vista, conforme afirmado por Avi (2000),
que a mudança das representações sociais da AIDS, desenvolvida a partir da
socialização da informação, se apresenta como processo lento. Considerando os
elementos constitutivos das representações sociais, observa-se que o conhecimento
ou a informação representam apenas um desses elementos, fazendo com que o
acesso à informação não modifique, de imediato, a representação social de um
sujeito ou grupo acerca de determinado objeto.
Estudos que apresentam como sujeitos pessoas soropositivas ao HIV, como
o realizado por Silva G. A. (2003), apontam que estes atores sociais trazem uma
nova representação sobre a AIDS, na qual a emergência da morte não é observada,
o que os coloca diante da possibilidade de buscar o cuidado para a doença. No
entanto, a existência do HIV/AIDS ainda causa desarranjos na vida cotidiana, pois
emergem sentimentos como preconceito, discriminação e exclusão, o que torna o
medo da solidão presente no cotidiano destas pessoas.
Vários estudos como o de Vermelho, Barbosa e Nogueira (1999), por
exemplo apresentam a manutenção da representação da AIDS como uma doença
que afeta somente os outros, encontrando-se como algo distante da realidade dos
sujeitos das pesquisas e de seus familiares e amigos.
Neste sentido, Joffe (1995, 1998) afirma que a AIDS, assim como acontece
normalmente com as doenças epidêmicas, tem sido pensada como uma doença
distante. E, desta forma, sua origem e disseminação é associada à responsabilidade
e culpabilidade de grupos marginais, como os homossexuais e prostitutas,
reforçando o preconceito e a discriminação.
Confirmando essa proposição, em pesquisa que objetivou a identificação da
representação social de mulheres profissionais do sexo a respeito da AIDS,
Oltramari e Camargo (2004) encontraram como elementos desta representação
doença do outro, doença que ameaça todos que não utilizam preservativo e a
ligação da AIDS com pessoas “suspeitas” e com o uso de drogas.
40
Freitas (2004) constatou, em sua dissertação de mestrado, que pessoas
soropositivas ao HIV também representam a AIDS como uma doença do outro.
os profissionais de saúde a representam como uma doença perigosa que atinge as
pessoas que não se previnem.
As pessoas soropositivas ao HIV entendem que a infecção pelo HIV favorece
a exclusão social. Frente a isto, elas desejam permanecer no anonimato e ter
suporte familiar e religioso como mecanismos de ajuda (FREITAS, 2004).
Castanha et al. (2005) concluíram que as representações sociais das pessoas
soropositivas ao HIV influenciam e orientam suas condutas, seja em relação à
adesão, ao isolamento, à manutenção das relações interpessoais, ao funcionamento
sexual e, até mesmo, em relação ao suicídio.
41
II. TRAJETÓRIA METODOLÓGICA
II.1 Tipo de estudo
Com o propósito de alcançar os objetivos almejados, realizou-se um estudo
exploratório-descritivo, pautado na abordagem qualitativa. O enquadramento em tal
abordagem justifica-se por entender que esta
responde a questões muito particulares [...] Ou seja, ela trabalha com o universo de
significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a
um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que o
podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis (MINAYO, 2003, p. 21-2).
No que diz respeito à Teoria das Representações Sociais, optou-se pela
abordagem processual complementar, visto esta enfatizar o processo de
constituição das representações, embora também afirme a importância de seu
produto, qual seja, os conteúdos (SÁ, 1998).
II.2 O cenário
O cenário do estudo consistiu em um hospital público universitário, localizado
na cidade do Rio de Janeiro, que atende pacientes soropositivos ao HIV.
A escolha pelo referido hospital deu-se por ser este, de acordo com a
classificação do Ministério da Saúde, um Serviço de Assistência Especializada
(SAE) em HIV/AIDS. Os SAE são serviços de saúde que realizam ações de
assistência, prevenção e tratamento às pessoas que vivem com HIV ou AIDS e seus
familiares e têm o objetivo de prestar atendimento integral e de qualidade aos
usuários, através de uma equipe de saúde multiprofissional (BRASIL, 2007).
Ainda, por entender que a proximidade com o objeto é um elemento de
contexto que aumenta a possibilidade da existência de sua representação social,
devido à maior dispersão da informação, focalização e pressão à inferência, o que
gera uma maior relevância social em determinado grupo, buscou-se profissionais de
enfermagem que possuíssem maior proximidade com os pacientes soropositivos ao
HIV. Para isto, foram escolhidos os setores de internação nos quais havia um maior
quantitativo de admissões de pacientes soropositivos ao HIV, quais sejam: Doenças
Infecto-Parasitárias (DIP), Clínica Médica, Pneumologia e CTI Geral.
42
II.3 Os sujeitos
Os sujeitos da pesquisa foram 40 profissionais de enfermagem 20 auxiliares
de enfermagem e 20 enfermeiros que cuidam ou que já cuidaram de pacientes que
vivem com o HIV/AIDS, atuam no cenário da pesquisa e aceitaram participar da
mesma. Cabe ressaltar que consideramos como sendo atividades de cuidado direto
aquelas caracterizadas pelo contato físico direto, na execução de técnicas de
cuidado de enfermagem, com o paciente soropositivo ao HIV.
A hipótese subjacente à escolha dos sujeitos, e particularmente a inclusão
dos auxiliares de enfermagem no estudo, é a da existência de diferentes perfis de
cuidar e, portanto, de diferentes concepções associadas a esse cuidar. Essas
diferenças, inclusive, serão objeto de análise neste estudo.
O quantitativo de enfermeiros restringiu-se a 20, pois no período de coleta
dos dados 03 encontravam-se de férias, 01 estava de licença médica e 02
recusaram participar da entrevista. Já o quantitativo de auxiliares de enfermagem, foi
delimitado de modo a equiparar-se com o de enfermeiros a fim de facilitar a
comparação das representações sociais entre as duas categorias profissionais.
Desta forma, a abordagem dos auxiliares de enfermagem deu-se, aleatoriamente, de
acordo com sua disponibilidade para participar da entrevista.
Foram entrevistados profissionais de enfermagem dos turnos diurno e
noturno, sendo as entrevistas realizadas nas dependências do próprio hospital.
II.4 Aspectos éticos da pesquisa
No decorrer desta pesquisa foram respeitadas as normas e diretrizes para a
realização de pesquisas envolvendo seres humanos contidas na Resolução 196,
de 10 de outubro de 1996, do Conselho Nacional de Saúde (CNS). Dentre estas
normas encontra-se a aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) e o
consentimento livre e esclarecido dos sujeitos da pesquisa.
O termo de consentimento livre e esclarecido (Apêndice A) foi elaborado em
duas vias, sendo uma retida pelo sujeito da pesquisa e uma arquivada pela
pesquisadora, ambas contendo suas assinaturas. Este documento foi formulado em
linguagem acessível e dispunha: a justificativa, os objetivos e os procedimentos
utilizados na pesquisa; a garantia de esclarecimentos, antes e durante o curso da
pesquisa, sobre a metodologia utilizada; a liberdade do sujeito se recusar a
participar ou retirar seu consentimento, em qualquer fase da pesquisa, sem
43
penalização alguma e sem prejuízo a sua pessoa; a garantia do sigilo que assegure
a privacidade do sujeito quanto aos dados confidenciais envolvidos na pesquisa; o
nome dos responsáveis pela pesquisa, bem como os meios de contato com estes.
II.5 Coleta de dados
De acordo com Oliveira (2001), a metodologia de coleta e de análise dos
dados deve ser escolhida conforme a natureza do objeto estudado, o tipo de
população, os limites da pesquisa e o referencial teórico utilizado. A autora, ainda,
pontua que no caso da teoria das representações sociais, particularmente, os
instrumentos de coleta de dados utilizados determinam a qualidade dos estudos,
pois a pertinência da informação coletada influencia sobremaneira nos resultados
obtidos e na análise realizada.
Desta forma, para a coleta de dados foram utilizados dois instrumentos, quais
sejam: um questionário de caracterização dos sujeitos (Apêndice B) e um roteiro
semi-estruturado de entrevista (Apêndice C).
O primeiro instrumento continha questões acerca dos dados sócio-
econômico-profissionais por compreender que estes podem influenciar na
construção da representação social. Estas questões eram referentes a: sexo; idade;
estado marital; renda pessoal mensal; número de filhos; função exercida; tempo de
atuação na função exercida; formação profissional; tempo de formação profissional;
principais fontes de informação sobre HIV/AIDS; participação em cursos de
capacitação/especialização; setor no qual trabalha; tempo de atuação no setor;
tempo de atuação em enfermagem; quantidade de locais nos quais trabalha na área
de enfermagem; função exercida nestes locais; e tempo de atuação profissional com
pessoas soropositivas ao HIV. A escolha destas variáveis deu-se conforme o
entendimento de que estas poderiam influenciar, de alguma maneira, na
representação social construída acerca do objeto de estudo.
Por se tratar da abordagem processual da teoria das representações sociais,
optou-se pela realização da técnica de entrevista, utilizando para tal, um roteiro
semi-estruturado (Apêndice C). Esta técnica é entendida como:
Aquela que parte de certos questionamentos básicos, apoiados em teorias e
hipóteses, que interessam à pesquisa, e que, em seguida, oferecem amplo campo
de interrogativas, fruto de novas hipóteses que vão surgindo à medida que se
recebem as respostas do informante. Desta maneira, o informante, seguindo
espontaneamente a linha de seu pensamento e de suas experiências dentro do
foco principal colocado pelo investigador, começa a participar na elaboração do
conteúdo da pesquisa (TRIVIÑOS, 1987, p. 146).
44
Para a efetivação das entrevistas, a pesquisadora e o profissional de
enfermagem dirigiam-se a um local tranqüilo, no qual pudessem ficar sozinhos, a fim
de que o entrevistado se sentisse à vontade para expressar suas idéias.
Em seguida, a pesquisadora explicava o estudo e os critérios éticos
respeitados e fornecia o termo de consentimento livre e esclarecido para que o
entrevistado lesse, colocando-se a disposição para eventuais dúvidas.
Uma vez que o profissional de enfermagem aceitasse participar da pesquisa,
o termo de consentimento livre e esclarecido era assinado por este e pela
pesquisadora.
Dava-se início, então, ao preenchimento, pela entrevistadora, do questionário
de caracterização do sujeito e posterior gravação da entrevista em fita de áudio.
Optou-se pela gravação das entrevistas em fitas de áudio por esta estratégia permitir
a captação de todas as falas do entrevistado, fato não alcançado por outras
estratégias.
Para a efetivação da entrevista, a entrevistadora solicitava que o entrevistado
falasse, livremente, sobre o cuidado de enfermagem prestado ao paciente
soropositivo ao HIV. No transcorrer da entrevista, de acordo com a ausência de falas
acerca de alguns temas contidos no roteiro de entrevista, a entrevistadora pontuava-
os e solicitava que o entrevistado dissertasse sobre estes.
As entrevistas tiveram duração média de 30 minutos cada e foram realizadas
no decorrer de um mês, em 2007.
II.6 Análise dos dados
A escolha da técnica de análise de dados a ser utilizada consiste em
importante decisão do pesquisador, pois o uso da técnica inadequada pode implicar
em resultados equivocados ou imprecisos. A principal técnica utilizada para a
análise de materiais produzidos por entrevistas semi-estruturadas ou livres na
atualidade é a análise de conteúdo, nas suas diversas modalidades. Esta consiste
em um conjunto de técnicas de análise das comunicações que procura obter
indicadores que permitam inferir conhecimentos relativos às condições de produção
e à recepção das mensagens através de procedimentos objetivos e sistemáticos de
descrição do conteúdo das mesmas (BARDIN, 2000).
Bardin (2000) aponta que para a efetivação da análise de conteúdo podem
ser utilizadas cnicas de: análise categorial; análise de avaliação; análise da
45
enunciação; análise da expressão; análise das relações ou associações; e análise
de discurso. Oliveira (2005) pontua uma segunda classificação das técnicas de
análise de conteúdo: temática/categorial; léxica ou sintática; transversal ou
longitudinal; do geral para o particular ou do particular para o geral; segundo o tipo
de relação mantida com o objeto estudado; dimensional; e dupla categorização em
quadro de dupla entrada.
A cnica de análise dos dados utilizada no presente estudo foi a análise
lexical, por meio do software ALCESTE 4.7. Este software realiza a identificação dos
conteúdos presentes em um conjunto de textos a partir de técnicas de estatística
textual.
O ALCESTE (Análise Lexical por Contexto de um Conjunto de Segmentos de
Texto) é um software desenvolvido no Centro de Cálculo de Toulouse (CICT), na
França, em 1979, por Max Reinert. Este software tem a finalidade de realizar,
automaticamente, a análise lexical de conteúdo por meio de técnicas quantitativas
de tratamento de dados textuais, sem necessitar de leitura humana prévia
(OLIVEIRA, GOMES; MARQUES, 2005).
A metodologia de análise Alceste diferencia-se de outras técnicas de análise
textual, pois, além de descrever as leis de distribuição do vocabulário, permite o
estudo dos tipos de representação presentes no texto (OLIVEIRA, GOMES;
MARQUES, 2005). Além disso, afasta-se dos modelos clássicos de distribuição de
palavras por utilizar a abordagem estatística dos contextos-tipo (regularidade na
distribuição do vocábulo nas unidades de contexto).
A análise lexical realizada pelo programa classifica os enunciados, por meio
da comparação dos perfis lexicais, de acordo com a “distância lexical”. Desta forma,
a maior proximidade dos enunciados dar-se-á quanto mais estes contiverem raízes
lexicais idênticas (JENNY, 1999).
Uma das condições para alcançar uma boa análise utilizando o software
ALCESTE 4.7 é que o corpus seja volumoso, pois o corpus mínimo tolerado pelo
programa é de, aproximadamente, 50.000 caracteres. Este quesito foi contemplado
neste trabalho levando-se em consideração que cada uma das 40 entrevistas
realizadas possui, em média, 11.300 caracteres.
Para uma melhor compreensão do processo utilizado neste estudo para a
análise dos dados, este sub-capítulo será apresentado em dois sub-tópicos, quais
sejam: a construção do corpus Alceste e a análise Alceste.
46
II.6.1 A Construção do Corpus Alceste
O corpus representa o produto de todo o material que se deseja analisar
através do software ALCESTE. Desta forma, uma boa análise utilizando este
programa tem início com um adequado preparo do seu corpus. Para isto, ele deve
apresentar coerência temática e dinâmica e deve expressar o objeto de interesse do
pesquisador.
Com a finalidade de preparar o corpus, inicialmente foi realizada a transcrição
de todas as entrevistas, sua revisão e as necessárias correções ortográficas e/ou de
digitação. Em seguida, foram padronizados alguns termos considerados importantes
para a análise e que deveriam ter grafia única, de forma que o software pudesse lê-
los como palavras iguais, com os quais foi construído um dicionário no decorrer de
diversas leituras das entrevistas (Apêndice D). Também neste momento, procedeu-
se à formatação das entrevistas de acordo com algumas regras definidas para o uso
do software como, por exemplo, a substituição de traço/hífen (“-”) por traço subscrito
(“_”), a utilização de palavras escritas em letras maiúsculas somente para falas do
entrevistador e retirados excessos de espaçamentos ou de parágrafos.
Concluída esta etapa, todas as entrevistas foram reunidas em um único arquivo
de editor de texto e este salvo no tipo “texto sem formatação”. As entrevistas foram
separadas umas das outras pela inserção de uma linha de comando ou “linha com
asterisco”. Nesta linha foram digitadas algumas variáveis de interesse, captadas
através do questionário de caracterização dos sujeitos. As variáveis utilizadas como
identificadoras dos sujeitos foram: sexo; idade; categoria profissional; renda pessoal
mensal; tempo de atuação profissional na área de enfermagem e tempo de atuação
profissional com pessoas que vivem com HIV (Apêndice E). Esta linha de comando
delimita o início de cada unidade a ser analisada que é denominada de unidade de
contexto inicial (U.C.I.). É a partir da U.C.I. que o programa identifica o local onde se
inicia cada entrevista.
Construído o corpus com as 40 entrevistas realizadas (40 U.C.I.), com um total
de 114 páginas, este foi submetido à análise pelo software ALCESTE 4.7.
II.6.2 A Análise Alceste
Após a identificação das U.C.I., o software ALCESTE procede à segmentação
do corpus de acordo com o seu funcionamento standard.
47
Segmentar o corpus em unidades de contexto elementares (U.C.E.) de tamanhos
equivalentes, retendo como lexemas apenas as palavras ditas plenas, que ele
lematiza, e constrói um Quadro Lexical Inteiro (T.L.E.), cruzando os seus
enunciados (U.C.E.) e os seus significados (palavras), para calcular uma partição
disjunta de classes de U.C.E., de forma que a variância inter-classes seja
maximizada em detrimento da variância intra-classe, no que se refere aos lexemas
que essas U.C.E. contêm (JENNY, 1999, p. 77).
O resultado desse processo é a identificação de polaridades no uso das
palavras. Estas polaridades podem ser utilizadas pelo pesquisador como dados
brutos a partir dos quais apoiará sua interpretação (OLIVEIRA, GOMES; MARQUES,
2005).
Cabe salientar que as U.C.E. possuem tamanhos variados, dimensionados
pelo software de acordo com o tamanho total do corpus e respeitando a pontuação e
aparição no texto. Este último recurso, no entanto, nem sempre apresenta
funcionamento perfeito na versão em português.
Ao basear sua análise no nível semântico do texto, o pesquisador deve
considerar somente as “palavras plenas” (substantivos, verbos, adjetivos e
advérbios) e desconsiderar as “palavras ferramentas” (artigos, preposições, verbos
auxiliares, pronomes, conjunções e desinências gramaticais), os sufixos e os
marcadores de sintaxe e de desinências de conjugação.
Na composição e na análise das unidades de contexto o consideradas
somente as “palavras plenas” em suas formas reduzidas (sem as desinências
gramaticais ou sufixos), por serem estas as portadoras de sentido e,
conseqüentemente, as que caracterizam as unidades de contexto, pois revelam o
mundo semântico que o pesquisador busca explorar (REINERT, 1990).
O software ALCESTE 4.7 desenvolve três tipos diferentes de análise: padrão
ou standard, parametrada, e cruzada (tri-croisé).
A primeira análise standard é aquela realizada sem a utilização de
parâmetros específicos determinados pelo pesquisador, ela é processada a partir de
um conjunto de regras definidas a priori pela programação do próprio software. A
segunda parametrada é utilizada quando o pesquisador necessita definir alguns
parâmetros de análise, a fim de interferir em cada etapa ou sub-etapa de análise do
Alceste, como, por exemplo, o tamanho das U.C.E. ou o número de classes. a
terceira cruzada ou tri-croisé , consiste em cruzar uma forma reduzida ou variável
de interesse. No último tipo de análise são geradas duas classes, uma cujas U.C.E.
contêm a forma reduzida de interesse e outra contendo o restante do corpus. No
48
caso da triagem ser realizada por variável de interesse, serão geradas tantas
classes quantas modalidades desta variável existirem. Este tipo de análise é
particularmente recomendado quando se pretende identificar o perfil discursivo de
um grupo em particular ou de um tema, como é o caso do presente estudo.
As cinco etapas principais de análise realizadas pelo ALCESTE são condição
prévia para o desenvolvimento de todos os tipos de análise, quais sejam:
1. Identificação das unidades de contexto
2. Pesquisa das formas reduzidas analisadas
3. Definição dos quadros de dados associados
4. Pesquisa das classes de unidades de contexto
5. Descrição e interpretação das classes
Estas etapas se organizam em quatro conjuntos de operações, reguladas por
parâmetros previamente definidos na versão de análise standard: A - leitura do texto
e cálculo dos dicionários; B - cálculo das matrizes de dados e classificação das
U.C.E.; C - descrição das classes de U.C.E. escolhidas; e D - cálculos
complementares. Igualmente, estas operações subdividem-se em diferentes sub-
operações, reguladas por parâmetros previamente estipulados na versão de análise
standard.
Completadas estas etapas, tem-se acesso ao resultado da Classificação
Descendente Hierárquica (C.D.H.), a qual permite visualizar a divisão do corpus de
análise em grupos de U.C.E. que revelam significados específicos. Estes
agrupamentos de U.C.E. são convencionalmente denominados de classes.
A formação das classes ocorre por divisão binária, de forma que se inicia com
uma classe, que contém todas as U.C.E., e finaliza quando o número de interações
solicitadas se esgota. Conforme anteriormente pontuado, as classes são definidas
de maneira que cada uma apresente o máximo de homogeneidade intra-classe e de
oposição inter-classes. Essa ordem de sucessivas divisões é expressa por um
dendrograma constituído a partir das divisões mais significativas do corpus.
Cada classe apresenta como resultado uma Classificação Ascendente
Hierárquica (C.A.H.), derivada do mesmo tipo de técnica da C.D.H., que se constitui
pela determinação do valor de associação entre as formas reduzidas, acompanhada
de representações arborescentes destas relações. A C.A.H. representa o grau
máximo de decomposição que o texto pode apresentar.
49
No que concerne às relações estabelecidas entre classes e representações
sociais, Camargo (1998) pontua que as classes podem indicar diferentes
representações sociais, campos de imagens sobre um determinado objeto ou
somente diferentes aspectos de uma mesma representação. Este autor afirma,
ainda, que serão os conteúdos e a relação destes com os fatores ligados a cada
pesquisa que definirá o seu significado.
Frente a isto, Oliveira, Gomes e Marques (2005) assinalam que os processos
de constituição da representação social podem participar da interpretação das
classes e da identificação das representações através da busca de elementos que
indiquem a ancoragem e a objetivação nas classes resultantes da análise Alceste.
Desta maneira, a apreensão do contexto é imprescindível para a compreensão da
metodologia de análise Alceste.
Tendo estes apontamentos como orientadores, e na perspectiva de responder
aos objetivos deste estudo, foram realizadas a análise standard e a análise cruzada
com a variável categoria profissional.
Para uma maior compreensão das classes definidas pela análise Alceste, foi
efetuada a análise e descrição dos resultados obtidos na C.D.H., na C.A.H., no
quadro de formas reduzidas e nas U.C.E. associadas a cada classe.
A C.D.H. foi analisada tendo como critério as divisões binárias efetuadas, bem
como a proximidade e o distanciamento de conteúdos entre as classes. Isto por
entender que classes construídas a partir da mesma origem possuem significados
distintos, no entanto, também possuem semelhanças que permitem identificar os
conteúdos específicos de cada classe e também aqueles que determinaram a sua
divisão, de forma a gerar uma visualização global dos conteúdos do material
analisado (GOMES, 2002).
Foi realizada a análise da C.A.H. de todas as classes, tendo por base as
formas reduzidas com valor de prevalente e a proximidade entre elas (clusters ou
agrupamentos). Esta leitura foi efetivada formando-se, primeiramente, pequenos
grupos de formas reduzidas, de acordo com a interrelação observada nas
representações arborescentes, aos quais foram atribuídos significados.
Consecutivamente, estes significados foram reunidos, a fim de desvendar o
conteúdo principal presente na classe.
Para cada classe o ALCESTE calcula um valor de associação (x²) para todas
as formas reduzidas selecionadas para análise, identificando aquelas que são
50
significativamente associadas à classe, dado refletido diretamente por um valor de
x². Este é calculado sobre o quadro de contingência, cruzando a presença ou
ausência da palavra numa U.C.E. e a vinculação desta à classe analisada
(THIENGO, 2000). Por entender que estes dados permitem identificar o perfil de
cada classe, foi realizada a compreensão das classes também tendo estes dados
como base. O mesmo processo analítico é realizado para as variáveis
caracterizadoras dos sujeitos que produziram as falas (U.C.E.), finalizando com a
identificação do conjunto de variáveis associadas a cada classe, o que revela o perfil
do grupo principal de sujeitos que determinou a formação da classe.
Por último, foi realizada a leitura de todas as U.C.E. associadas a cada
classe, a fim de confirmar se o tema definido a partir da leitura da C.D.H., C.A.H. e
quadro de formas reduzidas possuía pertinência e sustentação empírica.
A partir deste mapeamento temático, expresso por categorias e sub-
categorias, foi possível dissertar sobre a representação social construída por
profissionais de enfermagem acerca do cuidado de enfermagem prestado à pessoa
que vive com o HIV, conforme poderá ser observado nos resultados este trabalho.
51
III. REVELANDO A REPRESENTAÇÃO SOCIAL CONSTRUÍDA
No capítulo que inicia apresentar-se-ão os resultados alcançados nas
análises realizadas. Primeiramente, serão trazidos os dados de caracterização dos
sujeitos da equipe de enfermagem entrevistados, obtidos a partir do questionário de
dados sócio-econômico-profissionais (Apêndice B). Posteriormente, será realizada a
descrição geral das duas análises Alceste realizadas: análise standard e análise tri-
croisé da variável categoria profissional. E, por fim, serão descritas e discutidas as
classes emergidas destas análises.
III.1 Caracterização dos sujeitos estudados
Participaram do estudo 40 sujeitos da equipe de enfermagem,
compreendendo 20 auxiliares de enfermagem e 20 enfermeiros, todos atuantes na
mesma instituição, em diferentes setores.
Dos sujeitos entrevistados, conforme pode ser visualizado na Tabela 1,
encontra-se a prevalência de indivíduos do sexo feminino, representando 77,5% do
quantitativo total, enquanto apenas 22,5% são do sexo masculino. Na categoria
profissional auxiliares de enfermagem, 80,0% dos participantes corresponde ao sexo
feminino e 20,0% ao sexo masculino. na categoria enfermeiro, esta distribuição
mostra-se com 75,0% e 25,0%, respectivamente, não se observando, portanto,
variação importante desses quantitativos por categoria profissional.
Estes dados confirmam uma característica fortemente vinculada ao cuidado
no decorrer da história: o destaque dado à mulher neste processo. Waldow (1999)
afirma que, desde os primórdios, foi a mulher quem primeiro prestou ações de
cuidado.
52
Tabela 1 Distribuição dos sujeitos estudados de acordo com o sexo. Rio de Janeiro, 2007.
Sexo
Auxiliares de
Enfermagem
Enfermeiros
Total
f
%
f
%
f
%
Feminino
16
80,0
15
75,0
31
77,5
Masculino
4
20,0
5
25,0
9
22,5
Total
20
100
20
100
40
100
Na análise da variável idade, considerando o quantitativo total de sujeitos
estudados, observa-se que a predominância encontra-se na faixa etária de 35 a 44
anos, com 47,5%, seguida por 42,5% maiores de 45 anos, 7,5% entre 25 a 34 anos
e 2,5% menores de 25 anos (Tabela 2). Foi observado que 50,0% dos auxiliares de
enfermagem encontram-se na faixa etária de 35 a 44 anos, 40,0% com mais de 45
anos, 10,0% de 25 a 34 anos e nenhum sujeito com idade inferior a 25 anos. Na
categoria enfermeiro esta distribuição apresentou forte correspondência com os
auxiliares de enfermagem, em todas as faixas etárias, mostrando os valores de
45,0%, 45,0%, 5,0% e 5,0%, respectivamente, mostrando que o grupo estudado é
caracterizado por pessoas adultas, a partir de 35 anos, provavelmente com
experiência profissional acumulada.
Tabela 2 Distribuição dos sujeitos estudados de acordo com a idade. Rio de Janeiro, 2007.
Idade
Auxiliares de
Enfermagem
Enfermeiros
Total
f
%
f
%
f
%
< 25 anos
0
0
1
5,0
1
2,5
25 a 34 anos
2
10,0
1
5,0
3
7,5
35 a 44 anos
10
50,0
9
45,0
19
47,5
≥ 45 anos
8
40,0
9
45,0
17
42,5
Total
20
100
20
100
40
100
Quando questionados sobre o viver com companheiro(a), o maior quantitativo
(57,5%) dos membros da equipe entrevistados respondeu afirmativamente. Entre os
auxiliares de enfermagem, constata-se uma distribuição eqüitativa, pois 50,0%
relatam viver com companheiro(a), enquanto os outros 50,0% apontam para o
oposto. entre os enfermeiros, prevalece aqueles que afirmam viver com
companheiro(a), com a percentagem de 65,0%, contra 35,0% que não vivem com
companheiro(a), revelando que as relações estáveis são mais freqüentes entre os
enfermeiros (Tabela 3).
53
Assim, do total de entrevistados, 57,5% vivem com companheiro(a) e 42,5%
não vivem com companheiro(a).
Tabela 3 Distribuição dos sujeitos estudados de acordo com o estado marital. Rio de Janeiro, 2007.
Estado Marital
Auxiliares de
Enfermagem
Enfermeiros
Total
f
%
f
%
f
%
Vive com companheiro(a)
10
50,0
13
65,0
23
57,5
Não vive com companheiro(a)
10
50,0
7
35,0
17
42,5
Total
20
100
20
100
40
100
Na variável número de filhos, os entrevistados distribuíram-se entre aqueles
que não os possui e aqueles que possuem até 3 filhos. Nenhum profissional afirmou
possuir 4 ou mais filhos. Desta forma, a Tabela 4 destaca que, do quantitativo total
de sujeitos abordados, 47,5% possuem 2 ou mais filhos, 30,0% possuem 1 filho e
22,5 não possuem filho.
Dos 20 auxiliares de enfermagem, 10 (50,0%) possuem 2 ou mais filhos, 8
(40,0%) possuem 1 filho e 2 (10,0%) não possuem filho. entre os enfermeiros, 9
(45,0%) possuem 2 ou mais filhos, 7 (35,0%) não possuem filho e 4 (20,0%)
possuem 1 filho, demonstrando que, apesar das relações estáveis serem mais
freqüentes entre os enfermeiros, esse dado não se confirma no número de filhos,
revelando que o percentual de sujeitos sem filhos entre os enfermeiros é 2,5 vezes
maior do que entre os auxiliares.
Tabela 4 Distribuição dos sujeitos estudados de acordo com o número de filhos. Rio de Janeiro,
2007.
Nº de Filhos
Auxiliares de
Enfermagem
Enfermeiros
Total
f
%
f
%
f
%
nenhum
2
10,0
7
35,0
9
22,5
1
8
40,0
4
20,0
12
30,0
≥ 2
10
50,0
9
45,0
19
47,5
Total
20
100
20
100
40
100
No que diz respeito à renda pessoal mensal, constatou-se que 75,0% dos
auxiliares de enfermagem recebem menos do que R$3.000,00 mensais,
encontrando-se os demais (25,0%) com renda entre R$3.000,00 e R$ 6.000,00.
Enquanto isso, os enfermeiros distribuem-se na seguinte proporção: 14 (70,0%)
54
recebem de R$ 3.000,00 a R$ 6.000,00 mensais; 3 (15,0%) recebem menos do que
R$ 3.000,00; e 3 (15,0%) recebem mais do que R$ 6.000,00 mensais.
Associando estes dados, conclui-se, conforme disposto na Tabela 5, que
47,5% dos sujeitos entrevistados possuem renda pessoal mensal entre R$ 3.000,00
e R$ 6.000,00, 45,0% adquirem valor inferior a R$ 3.000,00 e somente 7,5%
recebem mensalmente um valor superior a R$ 6.000,00. Esses resultados são
condizentes com a hierarquia profissional existente entre as duas categorias
membros da equipe, revelando-se também na hierarquia salarial.
Tabela 5 Distribuição dos sujeitos estudados de acordo com a renda pessoal mensal. Rio de
Janeiro, 2007.
Renda Pessoal Mensal
Auxiliares de
Enfermagem
Enfermeiros
Total
f
%
f
%
f
%
< R$ 3.000,00
15
75,0
3
15,0
18
45,0
R$ 3.000,00 a R$ 6.000,00
5
25,0
14
70,0
19
47,5
> R$ 6.000,00
0
0,0
3
15,0
3
7,5
Total
20
100
20
100
40
100
Dentre os enfermeiros entrevistados, 9 (45,0%) trabalham no setor de CTI, 7
(35,0%) na DIP, 3 (15,0%) na Clínica Médica e 1 (5,0%) na Pneumologia. Na
categoria auxiliar de enfermagem, 10 (50,0%) membros da equipe trabalham no
setor de Clínica Médica, 5 (25,0%) na DIP, 4 (20,0%) no CTI e 1 (5,0%) na
Pneumologia (Tabela 6).
Assim, no total, tem-se 13 (32,5%) indivíduos entrevistados atuando no setor
de Clínica Médica, 13 (32,5%) no CTI, 12 (30,0%) na DIP e 2 (5,0%) na
Pneumologia, mostrando que os setores com maior quantitativo de enfermeiros são
aqueles que exigem tecnologia especializada e com maior número de auxiliares são
aqueles com menor grau de especialização, mostrando, de certo modo, a lógica de
aproveitamento dos recursos humanos hospitalares.
55
Tabela 6 Distribuição dos sujeitos estudados de acordo com o setor onde trabalham. Rio de
Janeiro, 2007.
Setor
Auxiliares de
Enfermagem
Enfermeiros
Total
f
%
f
%
f
%
Clínica Médica
10
50,0
3
15,0
13
32,5
CTI
4
20,0
9
45,0
13
32,5
DIP
5
25,0
7
35,0
12
30,0
Pneumologia
1
5,0
1
5,0
2
5,0
Total
20
100
20
100
40
100
Através da variável tempo de atuação na função exercida, nota-se que
predominam auxiliares de enfermagem e enfermeiros que trabalham um período
de 10 a 20 anos na atividade desempenhada na ocasião da entrevista. Na primeira
categoria profissional, o quantitativo encontrado foi de 13 indivíduos,
correspondendo a 65,0%, enquanto na segunda categoria profissional encontram-se
10 (50,0%) indivíduos. Tais dados são vislumbrados na Tabela 7.
Desta forma, foram entrevistados 23 (57,5%) sujeitos que trabalham na
mesma função por um período de 10 a 20 anos. Os demais se distribuindo entre um
período inferior ou igual a 10 anos (12,5%) e superior a 20 anos (30,0%). Esse
resultado é compatível com a distribuição de idade, revelando que o grupo estudado
é característico de membros da equipe com inserção no campo profissional mais
10 anos, portanto experientes nas suas respectivas áreas.
Tabela 7 Distribuição dos sujeitos estudados de acordo com o tempo de atuação na função
exercida. Rio de Janeiro, 2007.
Tempo de Atuação na
Função Exercida
Auxiliares de
Enfermagem
Enfermeiros
Total
f
%
f
%
f
%
≤ 10 anos
4
20,0
1
5,0
5
12,5
10 a 20 anos
13
65,0
10
50,0
23
57,5
> 20 anos
3
15,0
9
45,0
12
30,0
Total
20
100
20
100
40
100
Dos membros da equipe entrevistados, 17 (42,5%) formaram-se em cursos de
pós-graduação lato sensu, correspondendo a 15 membros da equipe que exercem a
atividade de enfermeiros e 2 que exercem a função de auxiliares de enfermagem.
Ainda, cabe mencionar que 6 (15,0%) dos 40 sujeitos do estudo possuem a
graduação como nível mais elevado de formação profissional, dos quais metade
56
atua no cenário da pesquisa como auxiliar de enfermagem e a outra metade como
enfermeiro. Estas informações encontram-se dispostas na Tabela 8. Observa-se
nesses resultados o alto grau de especialização dos enfermeiros, e também que a
formação dos auxiliares é superior ao exigido para o exercício da função, inclusive
com membros da equipe pós-graduados.
Tabela 8 Distribuição dos sujeitos estudados de acordo com a formação profissional. Rio de
Janeiro, 2007.
Formação Profissional
Auxiliares de
Enfermagem
Enfermeiros
Total
f
%
f
%
f
%
Auxiliar
6
30,0
0
0,0
6
15,0
Técnico
9
45,0
0
0,0
9
22,5
Graduação
3
15,0
3
15,0
6
15,0
Pós-Graduação Lato Sensu
2
10,0
15
75,0
17
42,5
Pós-Graduação Stricto Sensu
0
0,0
2
10,0
2
5,0
Total
20
100
20
100
40
100
A partir dos dados disponíveis na Tabela 9 compreende-se que, para os
sujeitos estudados, a principal fonte de informações sobre a temática HIV/AIDS é o
exercício profissional, através do qual estes sujeitos obtêm a maior parte do
conhecimento que possuem sobre o tema, visto esta ser a resposta de 35,0% dos
entrevistados. Em segundo lugar, aparecem os livros e artigos científicos para
25,0% dos entrevistados, seguido pela internet, com 12,5%. Os resultados apontam
para o predomínio da fonte empírica de conhecimento (exercício profissional; rádio,
televisão e jornal; e revistas e livros em geral) entre os auxiliares, e para as fontes
científicas entre os enfermeiros (livros e artigos científicos; sites oficiais; e
campanhas de educação à saúde), o que poderá se expressar na construção de
diferentes tipos de representação.
O percentual abarcado pelas demais fontes de informação podem ser
observados na Tabela 9.
57
Tabela 9 Distribuição dos sujeitos estudados de acordo com as principais fontes de informação
sobre HIV/AIDS utilizadas. Rio de Janeiro, 2007.
Principal Fonte de Informação
sobre HIV/AIDS
Auxiliares de
Enfermagem
Enfermeiros
Total
f
%
f
%
f
%
Exercício Profissional
8
40,0
6
30,0
14
35,0
Livros e Artigos Científicos
4
20,0
6
30,0
10
25,0
Internet (sites diversos e oficiais)
1
5,0
4
20,0
5
12,5
Rádio, Televisão e Jornal
4
20,0
0
0,0
4
10,0
Revista e Livro em geral
3
15,0
1
5,0
4
10,0
Folders / Manuais / Campanhas
Publicitárias
0
0,0
3
15,0
3
7,5
Total
20
100,0
20
100,0
40
100,0
No que concerne à busca por cursos de capacitação/especialização,
auxiliares de enfermagem e enfermeiros apresentam quantitativos semelhantes,
onde se observa 60,0% no primeiro grupo e 65,0% no segundo, perfazendo a média
de 62,5% (Tabela 10). Este é considerado um quantitativo importante, no entanto,
pode e deve ser incentivado com vistas ao seu crescimento, especialmente por se
tratar de um hospital universitário.
Tabela 10 Distribuição dos sujeitos estudados de acordo com a participação em curso de
capacitação/especialização. Rio de Janeiro, 2007.
Participação em Cursos de
Capacitação / Especialização
Auxiliares de
Enfermagem
Enfermeiros
Total
f
%
f
%
f
%
Sim
12
60,0
13
65,0
25
62,5
Não
8
40,0
7
35,0
15
37,5
Total
20
100
20
100
40
100
Dos cursos de capacitação/especialização freqüentados, o Quadro 1 mostra
que o interesse maior por parte dos indivíduos questionados encontra-se no curso
de terapia intensiva, seguido por o de DST/HIV/AIDS/DIP/Infecção Hospitalar e os
de técnicas de enfermagem, mostrando que o interesse se direciona para as áreas
técnicas e de alta complexidade. Ainda, esse interesse não é igual entre as
categorias membros da equipe, pois os enfermeiros apresentam interesse nos
cursos destinados à alta complexidade e atualidade e os auxiliares se voltam mais
para as temáticas técnicas que fazem parte do cotidiano profissional.
58
Quadro 1 Distribuição dos sujeitos estudados de acordo com as temáticas abordadas nos cursos de
capacitação/especialização freqüentados Rio de Janeiro, 2007.
Temáticas dos Cursos de Capacitação
/ Especialização
Auxiliares de
Enfermagem
Enfermeiros
Total*
f
%
f
%
f
%
Terapia Intensiva
3
27,0
6
66,6
9
100
DST / HIV / AIDS / DIP / Infecção
Hospitalar
4
44,4
5
55,5
9
100
Técnicas de Enfermagem: Medicações,
Curativos, Nutrição Parenteral, Primeiros
Socorros, Radioproteção
7
77,7
2
22,2
9
100
Suporte Básico de Vida (BTLS) e
Ventilação Mecânica
4
80,0
1
20,0
5
100
Outras Especialidades: Paciente Renal,
Cardiologia, Dermatologia, Saúde da
Mulher
5
100
0
0,0
5
100
Capacitação Pedagógica e Docência
Ensino Superior
0
0,0
4
100
4
100
Hematologia, Hemoterapia e Oncologia
3
75,0
1
25,0
4
100
Saúde Pública, Atendimento Domiciliar e
Enfermagem do Trabalho
0
0,0
3
100
3
100
* Os valores correspondem ao número de respostas, e não ao quantitativo de sujeitos.
Quanto ao tempo decorrido desde a participação nos cursos de
capacitação/especialização, encontra-se, na Tabela 11, que dos 25 membros da
equipe que os realizaram, 14 (56,0%) o fizeram há, aproximadamente, 1 a 5 anos e
9 (36,0%) menos de 1 ano. Estes dados apontam para o atual interesse dos
sujeitos estudados na melhoria e/ou manutenção da sua atualização profissional, e
esse interesse é igualmente observado entre enfermeiros e auxiliares.
Tabela 11 Distribuição dos sujeitos estudados de acordo com o tempo decorrido desde a
participação em curso de capacitação/especialização. Rio de Janeiro, 2007.
Tempo de Participação em
Curso de Capacitação /
Especialização
Auxiliares de
Enfermagem
Enfermeiros
Total
f
%
f
%
f
%
< 1 ano
6
50,0
3
23,1
9
36,0
1 a 5 anos
6
50,0
8
61,5
14
56,0
6 anos
0
0,0
2
15,4
2
8,0
Total
12
100
13
100
25
100
De acordo com a Tabela 12, a permanência de enfermeiros e auxiliares de
enfermagem no hospital que consistiu no cenário desta pesquisa apresenta uma
diferença importante. No intervalo correspondente ao período igual ou inferior a 10
anos, encontra-se 12 (60,0%) auxiliares de enfermagem e 6 (30,0%) enfermeiros.
Enquanto isso, no intervalo de 11 a 20 anos de permanência a relação é invertida,
59
pois são encontrados 12 (60,0%) enfermeiros e 6 (30,0%) auxiliares de enfermagem.
no intervalo correspondente a 21 anos ou mais, em ambas as categorias
profissionais obtêm-se 2 (10,0%) membros da equipe.
Desta forma, conclui-se que, neste hospital, os enfermeiros possuem uma
média de permanência, em anos, maior do que os auxiliares de enfermagem,
mostrando maior rotatividade do quadro de auxiliares.
Tabela 12 Distribuição dos sujeitos estudados de acordo com o tempo de atuação no hospital
estudado. Rio de Janeiro, 2007.
Tempo de Atuação no
Hospital Estudado
Auxiliares de
Enfermagem
Enfermeiros
Total
f
%
f
%
f
%
≤ 10 anos
12
60,0
6
30,0
18
45,0
11 a 20 anos
6
30,0
12
60,0
18
45,0
≥ 21 anos
2
10,0
2
10,0
4
10,0
Total
20
100
20
100
40
100
Enquanto isso, a Tabela 13 aponta para o tempo de permanência profissional
no atual setor de trabalho. Desta forma, constata-se que 27 (67,5%) membros da
equipe atuam período igual ou inferior a 10 anos no atual setor, 12 (30,0%) entre
11 e 20 anos e somente 1 (2,5%) há 21 anos ou mais.
Realizando o cruzamento destes dados com os disponíveis na Tabela 12,
conclui-se que uma considerável re-lotação de enfermeiros, pois 60,0% destes
trabalham no cenário da pesquisa em período compreendido entre 11 e 20 anos e,
no entanto, metade mudou de setor, pois somente 30,0% permanecem no mesmo
setor por igual período. Ao contrário, nota-se uma baixa re-lotação de auxiliares de
enfermagem, visto o percentual (30,0%) destes membros da equipe que atuam no
hospital de 11 a 20 anos permanecer o mesmo no que diz respeito ao setor de
trabalho.
Tabela 13 Distribuição dos sujeitos estudados de acordo com o tempo de atuação no setor de
trabalho. Rio de Janeiro, 2007.
Tempo de Atuação no
Setor
Auxiliares de
Enfermagem
Enfermeiros
Total
f
%
f
%
f
%
≤ 10 anos
13
65,0
14
70,0
27
67,5
11 a 20 anos
6
30,0
6
30,0
12
30,0
≥ 21 anos
1
5,0
0
0
1
2,5
Total
20
100
20
100
40
100
60
Entre os 20 enfermeiros que participaram da pesquisa, 11 (55,0%) trabalham
em enfermagem mais de 20 anos, 8 (40,0%) entre 10 e 20 anos e 1 (5,0%)
período igual ou inferior a 10 anos. na categoria auxiliar de enfermagem, dos 20
entrevistados, 12 (60,0%) atuam entre 10 e 20 anos, 5 (25,0%) tempo igual ou
inferior a 10 anos e 3 (15,0%) há mais de 20 anos.
Assim, a Tabela 14 salienta que os entrevistados trabalham um longo
período na área de enfermagem, pois 85,0% relatam atuar em atividades desta área
mais de 10 anos, sendo que destes 35,0% trabalha mais de 20 anos e 50,0%
entre 10 e 20 anos, resultado esse coincidente com as variáveis idade e tempo de
atuação na função atual.
Tabela 14 Distribuição dos sujeitos estudados de acordo com o tempo de atuação em enfermagem.
Rio de Janeiro, 2007.
Tempo de Atuação em
Enfermagem
Auxiliares de
Enfermagem
Enfermeiros
Total
f
%
f
%
f
%
≤ 10 anos
5
25,0
1
5,0
6
15,0
10 a 20 anos
12
60,0
8
40,0
20
50,0
> 20 anos
3
15,0
11
55,0
14
35,0
Total
20
100
20
100
40
100
Quando questionados se trabalham em outro local, exercendo atividades de
enfermagem, 57,5% dos entrevistados responderam afirmativamente. No entanto, é
na categoria de enfermeiros que se observa diferença percentual entre os que
trabalham e os que o trabalham em outro local exercendo atividades de
enfermagem, concentrando 70,0% no primeiro grupo e 30,0% no segundo. a
categoria auxiliar de enfermagem o percentual é eqüitativo, com 45,0% de membros
da equipe que trabalham e 55,0% que não trabalham em outro local, conforme se
visualiza na Tabela 15. Esse resultado reafirma a tendência observada, no Rio de
Janeiro, sobre a ocupação dos enfermeiros, que chegam a atuar em até 4 ou 5
instituições diferentes, reproduzindo a lógica existente na área médica.
61
Tabela 15 - Distribuição dos sujeitos estudados de acordo com a pergunta “Trabalha em outro local
em atividade de enfermagem?”. Rio de Janeiro, 2007.
Trabalho em mais de um local
em atividade de enfermagem
Auxiliares de
Enfermagem
Enfermeiros
Total
f
%
f
%
f
%
Sim
9
45,0
14
70,0
23
57,5
Não
11
55,0
6
30,0
17
42,5
Total
20
100
20
100
40
100
A Tabela 16 mostra que dos 23 (57,5%) sujeitos que responderam exercer
atividades na área de enfermagem em outro local, 20 (50,0%) trabalham, ao todo,
em 2 locais e 3 (7,5%) trabalham em 3 ou mais locais. Cabe enfatizar que os 3
membros da equipe que alegam trabalhar em 3 ou mais locais exercem a função de
enfermeiros.
Tabela 16 - Distribuição dos sujeitos estudados de acordo com a quantidade de locais onde trabalha.
Rio de Janeiro, 2007.
Número de locais de
trabalho
Auxiliares de
Enfermagem
Enfermeiros
Total
f
%
f
%
f
%
1
11
55,0
6
30,0
17
42,5
2
9
45,0
11
55,0
20
50,0
3 ou mais
0
0,0
3
15,0
3
7,5
Total
20
100
20
100
40
100
No que concerne ao tempo de atuação profissional com pacientes
soropositivos ao HIV, ressalta-se, na Tabela 17, que os membros da equipe
distribuem-se eqüitativamente nas duas categorias. Entre os auxiliares de
enfermagem, encontra-se 50,0% que trabalha menos de 15 anos e 50,0% que
trabalha 15 anos ou mais. E, na categoria enfermeiro, os percentuais
encontrados são de 45,0% e 55,0%, respectivamente. Desta forma, do total de
sujeitos estudados, 52,5% trabalham 15 anos ou mais e 47,5% menos de 15
anos com pacientes soropositivos ao HIV.
Desta forma, esses dados mostram que os grupos estudados tiveram a sua
inserção no campo do cuidado ao paciente com HIV/AIDS, eqüitativamente antes e
depois da inserção dos medicamentos ARV, que resultou na maior sobrevida desses
pacientes. Essa característica grupal poderá imprimir particularidades às
representações que serão analisadas.
62
Tabela 17 - Distribuição dos sujeitos estudados de acordo com o tempo de atuação com pacientes
soropositivos ao HIV. Rio de Janeiro, 2007.
Tempo de Atuação com
Pacientes Soropositivos ao
HIV
Auxiliares de
Enfermagem
Enfermeiros
Total
f
%
f
%
f
%
< 15 anos
10
50,0
9
45,0
19
47,5
≥ 15 anos
10
50,0
11
55,0
21
52,5
Total
20
100
20
100
40
100
III.2 Os conteúdos semânticos das representações sociais do cuidado e suas
ancoragens sociais
III.2.1 Análise do grupo geral da equipe de enfermagem (standard)
Na análise Alceste foram identificadas 40 linhas estreladas, ou seja, 40 U.C.I.,
as quais correspondem ao quantitativo de entrevistas e de sujeitos do estudo. De
acordo com o resultado da análise, o corpus é composto por 5.210 formas reduzidas
diferentes, com o total de 61.300 ocorrências. No entanto, para a análise standard,
foram selecionadas as palavras que contêm x² mínimo de 4,67, resultando em 1.206
palavras analisadas.
O corpus foi dividido, pelo software, em 1.887 U.C.E. Destas U.C.E., 1.402
foram selecionadas para a análise, representando 74,30% de aproveitamento do
material exposto para análise. O tamanho da U.C.E. foi determinado pelo número de
formas reduzidas contidas em cada uma. Cada U.C.E. concentrou 18,74 ocorrências
de formas reduzidas.
Utilizando como universo de análise as 1.402 U.C.E. selecionadas, o software
gerou seis classes. Na Tabela 18 observa-se a distribuição das U.C.E. nestas
classes.
A partir da Tabela 18, constata-se que o predomínio textual encontra-se na
classe 6, com 33,52% das U.C.E. classificadas, seguida pela classe 3, com 24,18%.
Enquanto isso, visualiza-se que as classes 1, 2, 4 e 5 apresentam distribuições
semelhantes entre si, com 10,77%, 10,56%, 12,91% e 8,06%, respectivamente, do
quantitativo total de U.C.E. classificadas.
63
Tabela 18 Distribuição quantitativa das U.C.E. nas classes Alceste Análise standard. Rio de
Janeiro, 2007.
CLASSE
NÚMERO DE U.C.E. CLASSIFICADAS
%*
Classe 1
151
10,77
Classe 2
148
10,56
Classe 3
339
24,18
Classe 4
181
12,91
Classe 5
113
8,06
Classe 6
470
33,52
Total
1.402
100,0
* Esta percentagem equivale somente ao quantitativo de U.C.E. classificadas para a análise.
Visando uma melhor compreensão da distribuição das U.C.E. nas classes,
procedeu-se à nomeação das últimas. Os instrumentos utilizados para este fim
foram as formas reduzidas e as U.C.E. representativas de cada classe. Desta
maneira, chegou-se à nomenclatura exposta no Quadro 2.
Quadro 2 Denominação das classes Alceste Análise standard. Rio de Janeiro, 2007.
CLASSE
NOME DA CLASSE
Classe 1
As práticas de cuidado hospitalar e medicamentoso
Classe 2
A influência dos serviços de saúde no cuidado prestado à pessoa com HIV/AIDS
Classe 3
O cuidado como relacionamento interpessoal
Classe 4
O cotidiano do cuidado à pessoa com HIV/AIDS
Classe 5
Os sujeitos sociais do cuidado
Classe 6
O cuidado como auto-proteção profissional
A fim de constatar se estabilidade nas classificações obtidas, o Alceste
realiza duas C.D.H. (Figura 1), diferenciadas pelo tamanho das U.C.E., e as
compara. O resultado de estabilidade é indicado pela semelhança nas divisões
binárias das duas classificações. Conforme se observa na Figura 1, o corpus
analisado neste estudo possui estabilidade, visto as divisões binárias apresentarem
semelhança nas duas C.D.H.
64
Figura 1 Comparação entre as duas C.D.H. Rio de Janeiro, 2007.
O software apresenta, ainda, através da Projeção Fatorial, a distribuição
espacial das diversas variáveis (formas reduzidas, variáveis sociais etc) relacionadas
à análise Alceste. Esta distribuição se com base, sempre, em dois eixos fatoriais,
os quais podem ser nomeados pelo pesquisador. Destaca-se que cada eixo fatorial
Primeira Classificação Descendente Hierárquica realizada com o corpus de entrevistas
Segunda Classificação Descendente Hierárquica realizada com o corpus de entrevistas
65
corresponde a um fator responsável pela divisão de duas classes, desta maneira,
neste estudo contou-se com cinco eixos fatoriais, visto a existência de seis classes.
Na Figura 2 dispõem-se as classes da análise standard Alceste através da
projeção fatorial, tendo por base os fatores 1 (horizontal) e 2 (vertical). A partir desta
distribuição é possível observar a relação existente entre as seis classes formadas
através de sua proximidade ou distanciamento dos eixos fatoriais.
19 | F2 |
18 | | |
17 | | |
16 | | |
15 | | |
14 | | |
13 | | |
12 | | |
11 | | Classe 05 |
10 | | |
9 |Classe 06 | |
8 | | |
7 | | |
6 | | |
5 | | Classe 04 |
4 | | |
3 | | |
2 | | |
1 | | |
0 +-----------------------------------+----------------------------------F1
1 | | |
2 | | |
3 | | |
4 | | |
5 | | |
6 | | |
7 | | |
8 | Classe 02 Classe 01 |
9 | | |
10 | | |
11 | | |
12 | | |
13 | | |
14 | Classe 03 |
Figura 2 Projeção Fatorial das classes de análise. Rio de Janeiro, 2007.
Na projeção fatorial acima (Figura 2) observa-se que, em relação ao fator 1
(F1) as classes 1,2,3,4,5 se opõem a classe 6; e em relação ao fator 2 (F2), as
classes 4,5,6 estabelecem uma relação de oposição com relação as classes 1,2,3.
Assim, a partir do dendrograma da C.D.H. (Figura 3) buscou-se compreender
a relação entre as classes de análise, esta sendo confirmada através da leitura da
projeção fatorial (Figura 2). Desta forma, foram atribuídos significados e nomes à
interseção entre as classes.
66
Figura 3 Dendrograma de distribuição das seis classes Alceste. Rio de Janeiro, 2007.
Auto e Hetero-Cuidado de Enfermagem Associado ao HIV
O cuidado dirigido ao paciente com
HIV/AIDS
O cuidado como
auto-proteção
profissional
As práticas de
cuidado
hospitalar e
medicamentoso
A influência dos
serviços de saúde no
cuidado prestado ao
paciente com
HIV/AIDS
O cuidado como
relacionamento
interpessoal
O cotidiano do
cuidado ao
paciente com
HIV/AIDS
Os sujeitos
sociais do
cuidado
As dimensões objetiva e subjetiva do
cuidado de enfermagem
O cotidiano e os sujeitos sociais
do cuidado
O cuidado no contexto das práticas de
saúde voltadas ao paciente com HIV/AIDS
67
Conforme o dendrograma mostrado na Figura 3, o corpus de análise (composto
por 1.402 U.C.E.) contém elementos que abordam o tema “Auto e hetero-cuidado de
enfermagem associado ao HIV”, os quais foram progressivamente subdivididos e
formaram as classes de acordo com a proximidade de seus conteúdos e da
oposição aos conteúdos das outras classes.
Inicialmente, o corpus foi dividido em dois sub-conjuntos de U.C.E.,
denominados de “O cuidado dirigido ao paciente com HIV/AIDS” e “O cuidado como
proteção profissional”. Este último manteve-se intacto até o final da análise Alceste e
constituiu a classe 6.
o sub-tema “O cuidado dirigido ao paciente com HIV/AIDS” sofreu uma
divisão binária e originou os sub-temas “As dimensões objetiva e subjetiva do
cuidado de enfermagem” e “O cotidiano e os sujeitos sociais do cuidado”. O último
sub-tema, por sua vez, sofreu divisão binária formando as classes 4 e 5,
respectivamente: “O cotidiano do cuidado ao paciente com HIV/AIDS” e “Os sujeitos
sociais do cuidado”.
o sub-tema “As dimensões objetiva e subjetiva do cuidado de enfermagem”
sofreu divisão binária resultando no sub-tema “O cuidado no contexto das práticas
de saúde voltadas ao paciente soropositivo ao HIV” e, na classe 3 denominada “O
cuidado como relacionamento interpessoal”.
Por sua vez, o sub-tema “O cuidado no contexto das práticas de saúde voltadas
ao paciente soropositivo ao HIV” foi dividido binariamente e formou as classes “As
práticas de cuidado hospitalar e medicamentoso” (classe 1) e “A influência dos
serviços de saúde no cuidado prestado ao paciente com HIV/AIDS” (classe 2).
Com o exposto, é possível destacar que relações de semelhança entre as
classes são representadas a partir das divisões binárias efetuadas, ou seja, quanto
antes estas divisões surgem, maior o grau de dessemelhança entre os conteúdos e,
desta forma, maior oposição entre as classes construídas. Assim, com ênfase nas
figuras 2 e 3, são estabelecidas relações de semelhança e divergência entre as
classes Alceste, as quais são expostas no Quadro 3.
68
Quadro 3 Relações existentes entre as classes da análise Alceste standard. Rio de Janeiro, 2007.
CLASSE
RELAÇÃO EXISTENTE
Classe 1
e
Classe 2
Semelhança: Apresentam conteúdos sobre as práticas de saúde
voltadas aos pacientes soropositivos ao HIV.
Classe 1
e
Classe 3
Semelhança: Apresentam conteúdos sobre as dimensões objetiva e
subjetiva do cuidado de enfermagem.
(Divergência: Classe 3 não traz elementos relativos às práticas de
saúde voltadas ao paciente soropositivo ao HIV).
Classe 2
e
Classe 3
Semelhança: Apresentam conteúdos sobre as dimensões objetiva e
subjetiva do cuidado de enfermagem.
(Divergência: Classe 3 não traz elementos relativos às práticas de
saúde voltadas ao paciente soropositivo ao HIV).
Classe 4
e
Classe 5
Semelhança: Apresentam conteúdos sobre o cotidiano e os sujeitos
sociais do cuidado.
Classes 4 e 5
e
Classes 1, 2 e 3
Semelhança: Apresentam conteúdos sobre o cuidado dirigido ao
paciente com HIV/AIDS.
(Divergência: opõem as dimensões objetiva e subjetiva do cuidado de
enfermagem ao cotidiano e os sujeitos sociais do cuidado).
Classe 6
e
Demais Classes
Divergência: Classe 6 apresenta elementos sobre o cuidado como
auto-proteção profissional, enquanto as demais classes dissertam
sobre o cuidado dirigido ao paciente com HIV/AIDS.
Entre as classes 1 e 2 é percebida relação de semelhança visto estas
resultarem de uma das últimas divisões binárias ocorridas (Figura 3) e ambas
encontrarem-se, praticamente, no mesmo valor do eixo do Fator 2 (Figura 2). Os
dados mostram que a semelhança existe por ambas comportarem conteúdos
referentes às práticas de saúde voltadas ao paciente soropositivo ao HIV.
Relação de semelhança também é constatada entre os pares de classes 1 -
3, e 2 - 3 na projeção fatorial. As classes 1 - 3 encontram correspondência, pois
ambas possuem valores negativos no Fator 2. Enquanto isso, aponta-se relação de
conformidade no par 2 - 3, pois ambas as classes possuem valor próximo a 0 no
Fator 1. Ainda, esta proximidade é confirmada através do dendrograma de C.D.H.
(Figura 3) quando se percebe que todas possuem origem na mesma divisão binária.
Assim, observando os dados que compõem estas classes, conclui-se que as três
dissertam aspectos acerca das dimensões objetiva e subjetiva do cuidado de
enfermagem.
Outras duas classes que possuem elevado grau de associação são a 4 e a 5,
esta sendo observada na projeção fatorial quando se constatam valores muito
próximos quanto ao Fator 1. Este dado é comprovado ao analisar o dendrograma de
formação das classes, onde se observa que estas classes tiveram origem no mesmo
local e ao mesmo tempo. Analisando os componentes destas classes, chama a
69
atenção que ambas são constituídas por elementos sobre o cotidiano e os sujeitos
sociais do cuidado.
Entre as classes 1, 2 e 3 e as classes 4 e 5 observa-se nue semelhança no
que diz respeito ao Fator 1, pois ambas não possuem valores negativos (Figura 2).
Isto se deve por ambas apresentarem conteúdos sobre o cuidado dirigido ao
paciente com HIV/AIDS. No entanto, mostram-se divergentes quanto ao fator 2, pois
as classes 1, 2 e 3 possuem valores negativos, enquanto as classes 4 e 5 possuem
valores positivos. Este fato deve-se por oporem as dimensões objetiva e subjetiva do
cuidado de enfermagem ao cotidiano e os sujeito sociais do cuidado.
Por outro lado, é percebida relação de divergência entre a classe 6 e todas as
demais classes. Os indícios desta divergência encontram-se no dendrograma de
C.D.H. (Figura 3) e nos valores associados aos Fatores 1 e 2 da projeção fatorial
(Figura 2). A Figura 2 aponta que a Classe 6 conta com valor negativo referente ao
Fator 1 e valor positivo no Fator 2, enquanto todas as demais classes possuem
valores contrários no concernente aos dois fatores. a Figura 3 ressalta que a
classe em questão separa-se, prontamente, de todas as outras na primeira divisão
binária realizada.
Na figura 3 podem-se observar, também, as relações de dessemelhança
temática que justificaram as divisões das classes.
III.2.2 Análise de triagem cruzada (tri-croisé) da variável categoria profissional
Com vistas ao objetivo de comparar as representações sociais das categorias
auxiliar de enfermagem e enfermeiro, posteriormente à análise standard
apresentada no sub-tópico anterior, realizou-se a análise cruzada com a variável
categoria profissional.
Nesta análise, o programa ALCESTE identificou 1.321 formas reduzidas
diferentes no corpus de análise. No entanto, utilizou para fins de análise 1.206
palavras, tendo como critério de inclusão apresentar x² mínimo de 2,70.
Desta forma, o corpus foi subdividido em 1.887 U.C.E. Destas, 991
encontram-se na classe definida pela categoria profissional auxiliar de enfermagem,
e 896 U.C.E. na classe específica da categoria profissional enfermeiros. A
distribuição das U.C.E. nas duas classes pode ser constatada na Tabela 19.
70
Tabela 19 Distribuição quantitativa das U.C.E. nas classes Alceste análise cruzada da variável
categoria profissional. Rio de Janeiro, 2007.
CLASSE
NÚMERO DE U.C.E. CLASSIFICADAS
%
Classe 1 (Auxiliar de Enfermagem)
991
52,52
Classe 2 (Enfermeiro)
896
47,48
Total
1.887
100,0
Pode-se observar que a distribuição das U.C.E. nas classes da análise cruzada
em questão se de forma eqüitativa, com cada classe abarcando,
aproximadamente, 50% do quantitativo total de U.C.E. Esta equidade aponta para a
constituição também semelhante de conteúdos textuais nas entrevistas das duas
categorias.
Quadro 4 Denominação das classes Alceste análise cruzada da variável categoria profissional.
Rio de Janeiro, 2007.
CLASSE
NOME DA CLASSE
Classe 1
Cotidiano do cuidado de enfermagem prestado ao paciente com HIV/AIDS
Classe 2
Especificidade do cuidado de enfermagem prestado ao paciente com HIV/AIDS
voltado a sua qualidade de vida
Tendo por base as U.C.E. e as formas reduzidas das classes emergidas da
análise cruzada da variável categoria profissional, constatou-se que a classe
referente à categoria auxiliar de enfermagem abarca conteúdos condizentes com o
cotidiano do cuidado de enfermagem prestado ao paciente com HIV/AIDS. Enquanto
isso, a classe correspondente à categoria enfermeiros dispõe de conteúdo sobre a
especificidade do cuidado de enfermagem prestado ao paciente com HIV/AIDS
voltado a sua qualidade de vida.
III.3 Os significados das representações sociais do cuidado
III.3.1- Os significados das representações sociais do cuidado para a equipe de
enfermagem
A fim de conhecer a representação construída pelos sujeitos do estudo a
respeito do objeto em tela, neste tópico serão discutidos os conteúdos abarcados
pelas classes emergidas da análise standard desenvolvida pelo software ALCESTE
4.7. Para tal, serão trazidos alguns elementos, que ajudem a compreender o
conteúdo destas classes, quais sejam: variáveis de análise que apresentam
associação estatística; formas reduzidas com maiores valores de e seus
71
respectivos contextos semânticos; dendrograma da Classificação Ascendente
Hierárquica (C.A.H.); e algumas de suas U.C.E.
Desta forma, será realizada a discussão dos dados utilizando alguns autores
que se fizerem pertinentes.
III.3.1.1- As práticas de cuidado hospitalar e medicamentoso (classe 1)
A classe que será discutida apresenta associação estatística com
enfermeiros, com idades entre 35 e 44 anos ou menor que 25 anos, que possuem
renda pessoal mensal entre R$ 3.000,00 e R$ 6.000,00, atuam na área de
enfermagem mais de 20 anos e com pacientes soropositivos ao HIV um
período inferior a 15 anos. Cabe salientar que esta classe não possui associação
estatística com a variável sexo. No Quadro 5 são apresentadas estas variáveis de
análise, com seus respectivos valores de x².
Quadro 5 Valores de relativos às variáveis de análise com associação estatística à classe 1. Rio
de Janeiro, 2007.
Variável de Análise
Categoria Associada à Classe 1
Categoria Profissional
Enfermeiro
49,17
Renda Pessoal Mensal
R$ 3.000,00 a R$ 6.000,00
20,87
Tempo de Atuação Profissional com
Pessoas que Vivem com HIV
< 15 anos
15,46
Idade
35 a 44 anos
7,55
< 25 anos
7,46
Tempo de Atuação Profissional na Área
de Enfermagem
> 20 anos
4,60
Cabe aqui salientar que as variáveis apresentam diferentes intensidades de
associação com as classes, destacando-se aquelas com maior valor de x². Nesta
classe as variáveis principais foram: tempo inferior a 15 anos de atuação profissional
com pessoas que vivem com HIV; categoria profissional de enfermeiro; e renda
pessoal mensal entre R$ 3.000,00 e R$ 6.000,00. Ainda, cabe salientar que a
variável tempo de atuação profissional com pessoas que vivem com HIV inferior a 15
anos mostra-se exclusiva desta classe.
A classe “As práticas de cuidado hospitalar e medicamentoso” abarca o total
de 151 das 1.402 U.C.E. analisadas e, desta forma, 10,77% do corpus de análise.
72
No quantitativo de U.C.E. da classe, foram selecionadas 50 formas reduzidas que
possuem associação estatística com a classe (x² 5,49), as quais compõem sua
C.A.H. (Figura 4). De acordo com o relatório Alceste, as U.C.E. que compõem esta
classe apresentam, em média, 18,74 palavras analisadas.
As formas reduzidas, com maiores valores de x², e seus respectivos contextos
semânticos são apresentados no Quadro 6. Enfatiza-se que estas informações
possibilitam uma compreensão preliminar do conteúdo da classe.
Quadro 6 - Distribuição das formas reduzidas, com maiores valores de , e seus contextos
semânticos da classe 1. Rio de Janeiro, 2007.
Forma Reduzida
Contexto Semântico
anti_retrovirais
anti_retrovirais
168,5
travesti
travesti
58,28
efeito_colateral
efeito_colateral
49,92
tratamento
tratamento
46,89
sabem
Sabem
34,83
orientacao
orientação
29,45
conversam
conversam
26,93
dificeis
Difíceis
25,02
sobrevida
sobrevida
24,91
hiv_aids
hiv_aids
21,06
Assim, conforme pode ser constatado no Quadro 6, as formas reduzidas que
apresentam maiores valores de x² são: anti_retrovirais; travesti; efeito_colateral;
tratamento; sabem; orientacao; conversam; dificeis; sobrevida; hiv_aids. Todas estas
formas reduzidas possuem contexto semântico que se encerram em si mesmas.
Os contextos semânticos apresentados por determinada classe permitem
uma compreensão do conteúdo geral expresso por esta. No Quadro 6 constata-se
que as formas reduzidas, e seus contextos semânticos, da classe 1 apontam que
esta abrange conteúdos voltados aos anti-retrovirais, bem como para orientações
relacionadas a sua utilização.
Desta forma, os conteúdos expressos nesta classe dissertam sobre o cuidado
de enfermagem prestado aos pacientes soropositivos ao HIV no contexto do
tratamento hospitalar e medicamentoso.
No processo de análise, observa-se que a delimitação dos conteúdos da
classe 1 é identificada, de maneira mais detalhada, a partir de sua C.A.H., a qual
73
resulta de divisões binárias sucessivas das formas reduzidas do corpus (U.C.E.) da
classe, agrupando palavras que dão sentido a esses conteúdos, constituindo a
totalidade da classe. O dendrograma da Figura 4 é uma representação gráfica do
resultado da C.A.H. da classe aqui apresentada.
Através da C.A.H., as formas reduzidas foram agrupadas em diferentes cores
na Figura 4 a fim de obter significados mais precisos dos elementos que compõem a
classe As práticas de cuidado hospitalar e medicamentoso”. Isto por compreender,
de acordo com Marques (2006), que os grupos presentes na demonstração das
formas reduzidas associadas reúnem uma idéia ou um sentido que caracteriza uma
temática da classe, a qual pode receber uma denominação que melhor a defina, e
que contribuirá para a especificação dos conteúdos da classe.
A partir da análise dos sentidos elaborados pelos grupamentos de palavras
presentes na C.A.H., construiu-se o esquema (Figura 5) de categorias e sub-
categorias a partir do qual a classe será descrita e discutida.
A classe 1 encontra-se dividida nas categorias O cuidado no contexto
hospitalar” e “O cuidado orientado pelos anti-retrovirais”. A primeira disserta acerca
do conhecimento sobre o HIV/AIDS e aspectos do cuidado de enfermagem prestado
ao paciente soropositivo ao HIV, durante o processo de hospitalização, e se divide
nas sub-categorias “Relação entre o conhecimento sobre HIV/AIDS” e
“Peculiaridades da prática de cuidado em tempos de AIDS”.
a segunda categoria contém discursos acerca da terapia anti-retroviral e
dos cuidados de enfermagem voltados à adesão deste tratamento, dividindo-se nas
sub-categorias “Particularidades da terapia anti-retroviral e o cotidiano da pessoa no
convívio com HIV/AIDS” e “Estratégias para a adesão aos anti-retrovirais”.
Assim, constata-se que a representação do cuidado de enfermagem prestado
ao paciente soropositivo ao HIV apresentada nesta classe refere-se a sua
importância durante o período de hospitalização e de tratamento com anti-retrovirais.
74
Figura 4- Classificação Ascendente Hierárquica da Classe 1. Rio de Janeiro, 2007.
75
Figura 5 - Apresentação esquemática das categorias e sub-categorias presentes na classe 1. Rio de
Janeiro, 2007.
O CUIDADO NO CONTEXTO HOSPITALAR
Relação entre o conhecimento sobre HIV/AIDS e o enfrentamento da síndrome
Os entrevistados abordam a importância de que a equipe de enfermagem
busque, constantemente, capacitações com o objetivo de informar-se a respeito das
diferentes vertentes que envolvem o processo de cuidar dos pacientes soropositivos
ao HIV. Vertentes estas que englobam desde novas medicações e aspectos
biológicos até aspectos psicológicos e relacionais.
Acreditam que, desta forma, prestarão um cuidado de enfermagem mais
qualificado, visto adquirirem subsídios acerca de formas propícias de aproximação
ao paciente soropositivo ao HIV, respeitando suas particularidades, o que se torna
primordial para uma relação serena entre os seres envolvidos no cuidado. E, ainda,
possuir conhecimentos necessários sobre os efeitos esperados e os adversos das
medicações utilizadas, possíveis infecções oportunistas e avanços tecnológicos a
fim de orientar os pacientes adequadamente e, quando possível, minimizar ou
compreender as sensações indesejadas resultantes da doença e do tratamento.
Esta sub-categoria pode ser exemplificada com a U.C.E. abaixo:
As práticas de cuidado
hospitalar e
medicamentoso
O cuidado no contexto
hospitalar
O cuidado orientado
pelos anti-retrovirais
Relação entre o
conhecimento sobre
HIV/AIDS e o
enfrentamento da síndrome
Peculiaridades da prática
de cuidado em tempos de
AIDS
Particularidades da terapia
anti-retroviral e o cotidiano
da pessoa no convívio com
HIV/AIDS
Estratégias para a adesão
aos anti-retrovirais
76
“No início, é mais complicado realmente. Demanda muito esforço do profissional. Além de
esforço demanda muita dedicação. Tem a questão da empatia. Demanda também
conhecimento. Os profissionais de enfermagem têm que estar sempre capacitados sobre
a questão do hiv/aids, do novo tratamento, mas também da maneira de abordagem e da
dificuldade dessa abordagem.” (*ent_09 *cat_enf *sex_m *id_4 *ren_2 *atenf_3 *athiv_2)
x² = 33
No que se refere à capacitação profissional, deve-se destacar que a temática
HIV/AIDS foi a segunda mencionada pelos entrevistados na busca de capacitação, o
que aponta para a coerência entre representações e práticas.
Além da importância dos conhecimentos adquiridos pelos membros da equipe
de enfermagem, os entrevistados falam sobre as informações possuídas pelos
pacientes soropositivos ao HIV.
Assim, reconhecem que os pacientes mais esclarecidos relativamente ao
HIV/AIDS, por terem maior noção de suas conseqüências, cuidam-se mais. Um dos
reflexos deste autocuidado consiste na maior adesão ao tratamento anti-retroviral e,
conseqüentemente, uma sobrevida maior com o HIV sob controle. Como resultado
disso, possuem uma melhor qualidade de vida, mantendo-se equilibrados com o
acompanhamento ambulatorial, e da qual a internação hospitalar não faz parte.
“São pacientes soropositivo ao hiv que ficam anos com o hiv/aids muito bem controlada.
Esses não conhecemos. Na grande maioria das vezes, são pessoas com melhor poder
aquisitivo, mais esclarecidas, que tem melhor noção do hiv/aids.” (*ent_15 *cat_enf *sex_f
*id_3 *ren_2 *atenf_2 *athiv_1) = 31
“Percebo que o paciente soropositivo ao hiv tem conhecimento sobre o hiv/aids a partir do
modo de transmissão como contraiu o hiv/aids, se cuida-se mais, toma os anti-retrovirais
e tem uma vida mais saudável.” (*ent_27 *cat_enf *sex_f *id_4 *ren_2 *atenf_1 *athiv_1)
x² = 15
No entanto, no outro extremo, apontam a presença de pacientes soropositivos
ao HIV que não têm conhecimento das reais complicações às quais se encontram
expostos. Estes desconhecem as infecções oportunistas e demais danos
decorrentes da infecção pelo HIV, não havendo, neste caso, uma grande
preocupação quanto ao desenvolvimento da doença. Os sujeitos estudados, ao
saberem do diagnóstico de soropositividade deste tipo de paciente, pensam de
imediato na morte anunciada deste sujeito.
“Percebo muito isso no paciente soropositivo ao hiv. O impacto maior, até mesmo para
mim, é o diagnóstico. Inicialmente, pensamos em uma data marcada. Os profissionais de
saúde sabem quais são as infecções oportunistas. O paciente soropositivo ao hiv não
tem conhecimento das complicações e, inicialmente, não tem essa preocupação porque
desconhece as infecções oportunistas que pode ter.” (*ent_37 *cat_enf *sex_f *id_3
*ren_3 *atenf_2 *athiv_2) x² = 25
77
Frente ao grande desconhecimento dos pacientes soropositivos ao HIV sobre
as conseqüências e necessidades que a infecção pelo HIV lhes impõem, faz-se
mister a efetiva educação em saúde voltada a estes sujeitos. Desta forma,
considerando que os membros da equipe de enfermagem são os integrantes da
equipe de saúde que por maior período permanecem na assistência a estes
pacientes durante o processo de internação hospitalar, representam importante
papel na educação em saúde. Como tal, devem aproveitar os momentos de
proximidade com este paciente para efetivar a troca de saberes, aprendendo e
ensinando.
Porém, para que esta relação educativa logre bons resultados, deve-se partir
dos conhecimentos pré-existentes dos sujeitos, e não considerá-los “folhas em
branco” nas quais os conteúdos necessários serão inseridos. Cabe reconhecer que
estes conhecimentos pré-existentes, se não bem trabalhados, podem funcionar
como uma barreira para que as informações novas sejam analisadas e incorporadas
às representações existentes.
Segundo os sujeitos que participaram deste estudo, devem ser transmitidas,
aos pacientes informações a respeito das formas de transmissão e prevenção da
infecção pelo HIV visando sua conscientização sobre o seu papel no processo de
transmissão do vírus. Procura-se, desta forma, o não aumento do número de
infecções e co-infecções pelo HIV, através da adoção de práticas preventivas.
Além disso, pontuam a necessidade de informações a respeito da importância
da adesão à terapia anti-retroviral e da realização de reavaliações médicas e
exames periódicos, como elementos fundamentais para a convivência com
HIV/AIDS. No que diz respeito aos anti-retrovirais, também se torna necessário o
reconhecimento de seus efeitos colaterais e possíveis atenuantes a fim de prover
uma melhor qualidade de vida a estes pacientes.
“Primeiro, questionar se ele sabe o modo de transmissão do hiv/aids, como adquiriu o
hiv/aids e como poderia transmitir às outras pessoas, as complicações que o hiv/aids
poderia causar, principalmente, como baixa de resistência imunológica, a importância de
não interromper o tratamento, os anti-retrovirais ministrados e o efeito colateral que esses
anti-retrovirais podem causar.” (*ent_18 *cat_enf *sex_m *id_4 *ren_3 *atenf_3 *athiv_1)
x² = 33
"Orientação sobre o uso dos anti-retrovirais, como tomar, incentivar tomar corretamente,
o uso de preservativo, porque vários têm o parceiro sexual ou a parceira sexual.”
(*ent_13 *cat_enf *sex_f *id_4 *ren_2 *atenf_3 *athiv_1) x² = 17
“São várias coisas que precisamos orientar. Primeiro, temos que conhecê-lo. Como,
normalmente, eles estão internados, antes de abordar o hiv/aids, propriamente dita, eu
observo o paciente.” (*ent_13 *cat_enf *sex_f *id_4 *ren_2 *atenf_3 *athiv_1) x² = 16
78
“Verificar seu esclarecimento sobre a importância do uso contínuo e os efeitos colaterais
dos anti-retrovirais, explicar a importância de manter o contato com os profissionais de
saúde para reavaliações, fazer os exames periodicamente.” (*ent_26 *cat_enf *sex_m
*id_3 *ren_2 *atenf_2 *athiv_1) = 5
Com base nas falas dispostas anteriormente, compreende-se a importância
do conhecimento científico adquirido pelos membros da equipe de enfermagem, no
que diz respeito à concretização da qualidade do cuidado prestado, não somente
aos pacientes soropositivos ao HIV, mas a qualquer paciente sob seus cuidados.
Isto, por concordar com Vieira (1999) quando esta expõe que é através deste
conhecimento que se alcança a segurança nas ações desenvolvidas, o poder de
argumentação, o desenvolvimento do cuidado holístico e a implementação de ações
voltadas ao benefício do paciente.
No que concerne ao conhecimento adquirido e ao nível de escolaridade dos
pacientes, nota-se, em diversas pesquisas realizadas acerca de diferentes
patologias, que a adesão à terapêutica medicamentosa sofre influência direta destes
dois fatores. Isto por considerar que a taxa de abandono ao tratamento diminui na
proporção que os pacientes compreendem a importância das medicações para o
seu tratamento (BERGEL; GOUVEIA, 2005; GUERRA, 2003; LIGNANI JÚNIOR;
GRECO; CARNEIRO, 2001; SANTOS et al., 1992)
No sentido das ações voltadas à qualidade de vida do paciente soropositivo
ao HIV encontra-se a educação em saúde, com o objetivo de esclarecê-lo acerca de
sua doença, bem como sobre os avanços e possibilidades para seu tratamento.
Para tal, o profissional de enfermagem deve estar capacitado para fornecer toda
informação adequada a respeito das incertezas do paciente, pois se acredita que
somente ao sentir-se informado adequadamente este alcançará a conscientização
necessária para que se torne responsável por seu tratamento e, desta forma, exerça
sua autonomia (ALVES; PADILHA; MANCIA, 2004; LEITE et al., 2006; OLIVEIRA et
al., 2005; SHIRATORI et al., 2004; SILVA, 2004).
Estes momentos de diálogo devem acontecer desde a revelação do
diagnóstico e servem para o paciente compreender o processo vivido e seu papel
para a sua saúde e qualidade de vida (ALVES; PADILHA; MANCIA, 2004). Assim, a
educação em saúde deve conter momentos individuais e diferenciados para cada
paciente, pois as influências culturais, o estilo e as condições de vida diferem a cada
79
pessoa e o paciente precisa sentir-se à vontade para expressar suas dúvidas,
angústias e sentimentos (ALVES; PADILHA; MANCIA, 2004; LEITE et al., 2006).
Ainda neste sentido, Fernandes (1994) dispõe que a veiculação de
informações a respeito, especificamente, do HIV/AIDS deve considerar os
conhecimentos, as percepções e as atitudes das pessoas às quais a educação em
saúde sevoltada. O primeiro aspecto permitirá o enfrentamento de resistências
que, por ventura, existam tornando as pessoas mais acessíveis às mensagens.
Enquanto isso, a percepção sobre o HIV/AIDS influencia sobremaneira a quantidade
e a qualidade de informações assimiladas, bem como reflete nas atitudes
assumidas. as atitudes revelam o processo de mudanças de comportamentos
assumidos pelas pessoas e, desta forma, a informação veiculada pode ser mais ou
menos adequada ao avanço deste processo (BARBARÁ; SACHETTI; CREPALDI,
2005; FERNANDES, 1994).
Neste sentido, cabe mencionar que os entrevistados restringem suas ações à
transmissão de informações e, desta maneira, não se efetiva a educação em saúde,
pois para esta ser concretizada, torna-se necessária a capacitação de indivíduos e
grupos para a transformação da realidade, e não somente o processo de persuasão
ou de transferência de informação, conforme pontua Rocha (1989). Desta forma, vai
ao encontro do disposto, em 1989, pela Divisão Nacional de Educação em Saúde,
do Ministério da Saúde, quando define a educação em saúde como:
uma prática social, é um processo que contribui para a formação e
desenvolvimento da consciência crítica das pessoas, a respeito de seus
problemas de saúde, e estimula a busca de soluções e a organização para
a ação coletiva (MS/DNES, 1989).
Peculiaridades da prática de cuidado em tempos de AIDS
Os sujeitos entrevistados afirmam que, devido à ampla distribuição gratuita da
terapia anti-retroviral no Brasil, encontra-se, atualmente, a cronicidade da epidemia.
Em decorrência disto, os pacientes soropositivos ao HIV possuem uma sobrevida
maior e são atingidos por outros agravos à saúde, como as cardiopatias, por
exemplo. Desta forma, o que antes era vivenciado somente por equipes que
trabalhavam em setores específicos, hoje é vivenciado por todos os membros da
equipe de saúde, pois por diversas vezes encontram-se pacientes soropositivos ao
HIV internados em setores não-específicos para seu tratamento, como é o caso da
80
cardiologia, da cirurgia plástica, da nefrologia, dentre outros.
Assim, mesmo que não trabalhem em setores específicos de atendimento de
pacientes soropositivos ao HIV, devido à cronicidade e ao rápido crescimento da
epidemia, se observa que os membros da equipe enfermagem convivem com
estes em seu cotidiano de trabalho.
“A maioria dos membros da equipe de enfermagem trabalha em outro lugar. Por ser
endêmico, tem muitos pacientes soropositivos ao hiv internados com complicações não
relacionadas ao hiv/aids. Às vezes, o paciente soropositivo ao hiv está internado, toma os
anti-retrovirais e internou devido à complicação de vesícula ou cardiopatia.” (*ent_26
*cat_enf *sex_m *id_3 *ren_2 *atenf_2 *athiv_1) x² = 14
Dentre estes pacientes atendidos, os membros da equipe enfatizam a
presença dos homossexuais. Afirmam que, apesar da mudança no perfil
epidemiológico brasileiro, estes ainda representam grande parte dos pacientes com
HIV/AIDS atendidos nos serviços de saúde. Ainda, reconhecem o intenso
preconceito da sociedade sofrido por este grupo, o qual é refletido no ambiente
hospitalar, pela discriminação por parte dos demais pacientes com HIV/AIDS
internados. Frente a isto, muitas vezes, o paciente homossexual mostra-se revoltado
e isola-se, por não se sentir à vontade na presença de outros homens. Desta forma,
os sujeitos estudados acreditam ser necessário um local específico destinado à
assistência deste grupo em especial, onde eles possam ser reconhecidos e não
discriminados, se sintam mais à vontade e receptivos ao cuidado de enfermagem.
“Teria que ser as necessidades que ele tem naquele momento, e essa é muita diversa. A
maioria, ainda, predomina o homossexual. Porque o hiv/aids não é mais aquela coisa
toda, mas, ao menos o nosso paciente, é. Tem o aceitar, o se entrosar, de quando o
profissional de saúde uma orientação para os familiares e para o parceiro.(*ent_13
*cat_enf *sex_f *id_4 *ren_2 *atenf_3 *athiv_1) = 13
“A nossa maior dificuldade é prestar cuidado de enfermagem ao paciente soropositivo ao
hiv travesti. Ele não se sente à vontade na masculina, na feminina ele não tem como ir,
na própria enfermaria específica deles, ele tem essa dificuldade.” (*ent_11 *cat_enf
*sex_f *id_3 *ren_2 *atenf_2 *athiv_1) x² = 10
“O paciente soropositivo ao hiv chega muito revoltado com o hiv/aids e com o
preconceito. Não tem somente homossexual, também tem mulher e outros. Mas, o
homossexual, realmente, é o que mais interna aqui. Eles têm uma história de vida difícil,
que as pessoas têm preconceito por a opção deles.” (*ent_17 *cat_aux *sex_f *id_3
*ren_1 *atenf_2 *athiv_2) x² = 9
“Nós temos alguns pacientes travestis, que não têm lugar específico, eles ficam na
enfermaria, ou aqui que não é hiv/aids, mas como não tem vaga lá, eles procuram lidar
com isso da melhor maneira possível, colocando todos no seu lugar.” (*ent_11 *cat_enf
*sex_f *id_3 *ren_2 *atenf_2 *athiv_1) x² = 8
"Ele o fica no seu lugar, é muito difícil inserir o paciente soropositivo ao hiv travesti no
contexto do hospital e da enfermaria. Mesmo assim, os membros da equipe de saúde
conseguem.” (*ent_11 *cat_enf *sex_f *id_3 *ren_2 *atenf_2 *athiv_1) x² = 5
81
Em seus discursos, os membros da equipe entrevistados apontam que
sentem facilidade para prestar cuidado de enfermagem aos pacientes soropositivos
ao HIV. Segundo eles, o longo período em que trabalham na assistência destes
pacientes proporciona a facilidade encontrada, pois a experiência gera a
normalidade atribuída ao cuidado.
Outro fator apontado como influência para a facilidade sentida por eles é a
intensa re-internação dos pacientes soropositivos ao HIV, ocasionada pelas
infecções oportunistas. Devido estas re-internações, os pacientes habituam-se aos
procedimentos realizados e, desta forma, há uma maior facilidade de interação entre
o profissional de enfermagem e o paciente soropositivo ao HIV. Pode-se salientar
que o ato de se habituar aos procedimentos realizados representa uma maior
submissão dos pacientes ao cuidado recebido e, conseqüentemente, um menor
questionamento por parte destes.
“Da minha equipe, particularmente, são três auxiliares de enfermagem. Todos lidam
muito bem com essa questão porque são pessoas que trabalham alguns anos
também. Trabalham menos tempo que eu com paciente soropositivo ao hiv, mas têm
um volume de conhecimento, de tempo de trabalho grande.” (*ent_09 *cat_enf *sex_m
*id_4 *ren_2 *atenf_3 *athiv_2) = 23
“Eles chegam e conversam com o paciente soropositivo ao hiv. Trabalham igual. Não tem
preconceito dos profissionais de enfermagem. Tem muito tempo que trabalhamos com
paciente soropositivo ao hiv. Dá para ficar mais à vontade, inclusive, conosco. A maioria
dos pacientes é conhecido nosso.” (*ent_16 *cat_aux *sex_m *id_3 *ren_1 *atenf_2
*athiv_1) x² = 12
“É um relaxamento bom, as pessoas não ficam receosas, porque é paciente aidético.”
(*ent_11 *cat_enf *sex_f *id_3 *ren_2 *atenf_2 *athiv_1) x² = 5
“Nosso paciente é reinternação, trata aqui anos. Eles têm uma grande confiança em
nós profissionais de enfermagem porque eles sabem que aqui é um porto seguro. Eles
sabem que aqui terão atenção, não tem preconceito, os profissionais de saúde são mais
abertos.” (*ent_11 *cat_enf *sex_f *id_3 *ren_2 *atenf_2 *athiv_1) x² = 5
No entanto, também reconhecem dificuldades no que consiste à execução do
cuidado de enfermagem prestado a esta clientela específica. Porém, declaram que
os elementos que determinam essas dificuldades são externos a equipe de
enfermagem, sendo percebidos tanto nos pacientes soropositivos ao HIV, quanto no
ambiente de trabalho.
No que diz respeito aos pacientes com HIV/AIDS, citam-se como fatores
dificultadores do cuidado a inflexibilidade e a escolaridade do paciente. O primeiro
fator é observado pelos membros da equipe quando os pacientes não aceitam o
cuidado de enfermagem a ser prestado ou recusam as medicações, por exemplo.
82
Quanto ao último fator, os membros da equipe afirmam que o grau de escolaridade é
diretamente proporcional à dificuldade sentida na assistência, pois quanto maior a
escolaridade dos pacientes, mais estes questionam e interferem na prática
profissional da enfermagem, dificultando a realização do cuidado. Estas dificuldades
encontradas podem ser resultantes do despreparo sentido pelos membros da equipe
para efetivar a plena educação em saúde.
Por outro lado, no que se refere ao ambiente de trabalho, mencionam que as
condições encontradas nos serviços públicos de saúde brasileiros, como a falta de
material, de instrumental e de pessoal, dificultam a prestação de um cuidado de
enfermagem de qualidade. Neste interim, falam da dificuldade de trabalhar quando
a necessidade de improvisar, devido à ausência de materiais e aparelhos
imprescindíveis para a assistência a ser prestada.
evidente que em alguns momentos eu tenho mais ou menos dificuldade, dependendo
do tipo de pessoa que eu presto cuidado de enfermagem. Tem pessoas que são mais
maleáveis. Pessoas que vêm de uma classe social mais privilegiada, têm mais anos de
estudo, essas talvez sejam mais difíceis ao ser abordadas.” (*ent_09 *cat_enf *sex_m
*id_4 *ren_2 *atenf_3 *athiv_2) = 18
“Agora, o respeito é saber como chegar e respeitar os pacientes soropositivos ao hiv que
estão aqui. Tem pessoas que são difíceis. Às vezes, os profissionais de enfermagem
explodem porque ninguém é de ferro, mas saber respeitar. Estão aqui sofrendo e não
sabem se ficarão muito tempo ou não.” (*ent_14 *cat_aux *sex_m *id_3 *ren_1 *atenf_2
*athiv_2) x² = 16
“Porque fazemos de tudo para termos uma qualidade muito boa, mas as condições do
setor não dão essa condição porque não temos as aparelhagens adequadas e os nossos
aparelhos estão defasados, tem muita coisa melhor.” (*ent_22 *cat_enf *sex_m *id_4
*ren_2 *atenf_3 *athiv_2) x² = 13
Através dos conteúdos expressos por esta sub-categoria, considera-se que a
cronicidade da AIDS é um fator indiscutivelmente importante para a compreensão de
algumas mudanças ocorridas na sociedade. De acordo com Schaurich, Coelho e
Motta (2006), a cronicidade da AIDS, conduzida pela inserção da terapia anti-
retroviral no tratamento dos pacientes soropositivos ao HIV, traz para a sociedade a
necessidade de mudanças de conhecimento, valores, atitudes e comportamentos
individuais e coletivos. Desta forma, propicia-se a transformação da representação
na qual estar com AIDS significa proximidade com a morte, ser marginalizado e
desacreditado, para uma representação na qual se conjectura a AIDS como uma
doença crônica, sendo comparada com a hipertensão arterial sistêmica e a diabete
mellitus, a qual impõe incentivos pessoais, coletivos e governamentais no sentido de
redirecionar o viver com HIV (SCHAURICH; COELHO; MOTTA, 2006).
83
Frente a esta cronicidade, são sentidos impactos nos serviços de saúde,
onde se encontra, cada vez mais, pacientes soropositivos ao HIV internados não
mais por infecções oportunistas, mas por patologias secundárias, como é o caso das
doenças arteriais coronarianas (MALAVAZI et al., 2004), tornando a AIDS uma
presença constante nas práticas de saúde.
Com base no discurso dos entrevistados, percebe-se que apesar das
mudanças ocorridas no perfil epidemiológico da AIDS e no entendimento de que
todas as pessoas se encontram vulneráveis a serem infectadas pelo HIV, a maior
discriminação de determinados grupos sociais atingidos pela epidemia ainda é uma
realidade. Dentre estes grupos, encontram-se os homossexuais, os quais sofrem
discriminação mesmo no ambiente hospitalar quando em contato com outros
pacientes com HIV/AIDS. Apesar de velada, a discriminação também pode ser
inferida das expressões verbalizadas pelos próprios membros da equipe, uma vez
que suas representações não se diferem sobremaneira das representações sociais
circulantes na sociedade. Diante disto, cabe aos membros da equipe de
enfermagem buscarem estratégias para um cuidado que respeite os
comportamentos e valores específicos de cada grupo, de maneira que se sintam
acolhidos (MOURA; CHAMILCO; SILVA, 2005; WALDOW, 2001), mas, também,
cabe uma reflexão sobre os próprios valores e juízos.
Ainda, são sentidas pelos membros da equipe de enfermagem facilidades e
dificuldades no processo de cuidar do paciente com HIV/AIDS. Processo esse
compreendido desde os procedimentos puramente técnicos até a interação
interpessoal com o paciente e seus familiares.
No que diz respeito às facilidades sentidas, é percebido que estas aumentam
no decorrer do convívio com esta clientela específica, pois são adquiridas
experiências técnicas, cognitivas e psicoafetivas que auxiliam no enfrentamento de
situações que emergem deste cuidado. E, conseqüentemente, conforme apontam
Miquelim et al. (2004) em pesquisa sobre o estresse nos membros da equipe de
enfermagem que atuam em unidades de pacientes soropositivos ao HIV, com o
decorrer do tempo, o estresse sentido no relacionar-se com estes pacientes também
diminui, pois os membros da equipe passam a se sentir mais seguros e preparados
para o cuidar.
Quanto às dificuldades, estas podem ser distribuídas em cinco categorias:
medo do contágio; persistência do preconceito; barreiras ao relacionamento;
84
inaceitabilidade de discriminação; e envolvimento e empatia. Na primeira categoria,
encontram-se sentimentos relacionados ao medo de contaminar-se pelo HIV durante
o cuidado prestado ao paciente soropositivo ao HIV. Na segunda, está a intolerância
sentida pelo profissional ao perceber os pacientes como pertencentes a grupos de
risco, apesar de reconhecerem que, atualmente, todas as pessoa se encontram
vulneráveis à contaminação. A terceira engloba os efeitos dos sentimentos relatados
nas duas primeiras categorias. a quarta compreende práticas que afirmam o
respeito e aceitação do paciente soropositivo ao HIV. Enquanto isso, a quinta abarca
atitudes que estabelecem a comunicação efetiva como essencial para a efetivação
do cuidado de enfermagem (SADALA; MARQUES, 2006).
Apesar de não referidas diretamente, as dificuldades também estão
associadas com as relações de poder estabelecidas entre profissional e cliente. Este
aspecto torna-se evidente na referência ao nível de escolaridade mais elevado como
dificultador do cuidado, uma vez que nessa situação o paciente deixa o lugar de
subordinação ao saber técnico e passa a ter instrumentos intelectuais de
contextação.
O CUIDADO ORIENTADO PELOS ANTI-RETROVIRAIS
Particularidades da terapia anti-retroviral e o cotidiano da pessoa no convívio
com HIV/AIDS
O grande avanço realizado no campo de produção de medicamentos voltados
ao tratamento de pacientes com infecção pelo HIV, os quais possibilitam uma maior
sobrevida para estes pacientes, é destacado pelos membros da equipe de
enfermagem. Enfatizam, igualmente, que a inserção da terapia anti-retroviral
ocasionou uma mudança no estereótipo das pessoas atingidas pelo HIV, onde não é
possível, muitas das vezes, diferenciá-las de pessoas soronegativas ao HIV, pois
não apresentam mais os sinais antes característicos da síndrome, como o baixo
peso.
Ainda, situam o Brasil no contexto da utilização da terapia anti-retroviral,
considerando-o um exemplo a ser seguido por outros países, visto a sua distribuição
gratuita.
"Atualmente, os anti-retrovirais são um avanço muito grande em relação ao hiv/aids.
Muitas pessoas são paciente soropositivo ao hiv e não se imagina que são paciente
soropositivo ao hiv porque está bem controlado.” (*ent_29 *cat_aux *sex_f *id_4 *ren_1
*atenf_2 *athiv_2) x² = 22
85
"Agora existem tratamentos muito bons e anti-retrovirais que proporcionam sobrevida
para o paciente soropositivo ao hiv. Então, podem continuar a viver quando sair. Ele pode
viver com as limitações. O paciente soropositivo ao hiv homossexual, ter somente um
parceiro, tem que compreender isso.” (*ent_23 *cat_aux *sex_m *id_3 *ren_2 *atenf_2
*athiv_2) x² = 17
"Acho que nenhum país faz tanta divulgação. Somente no Brasil os anti-retrovirais são
gratuitos. O Brasil é referência no tratamento e o lula viaja por o mundo divulgando.”
(*ent_33 *cat_enf *sex_f *id_3 *ren_2 *atenf_2 *athiv_2) x² = 9
Contudo, apontam que o uso da terapia anti-retroviral deve ser realizado por
longo período, sendo comparado com o de doenças crônicas, como a hipertensão
arterial sistêmica. Desta forma, entendem que diversas limitações são impostas à
vida do paciente soropositivo ao HIV devido ao grande quantitativo de medicações e
interposição de horários.
Além disso, mencionam que a existência de vários efeitos colaterais destas
medicações impossibilita o dia-a-dia normal do paciente, pois o restringe de
atividades diárias até o momento em que se adapta às medicações e estes efeitos
são minimizados. Aliado às limitações impostas pelos efeitos colaterais, é
mencionada a necessidade de cautela para a prevenção das infecções oportunistas
que podem se instalar devido à baixa imunidade deste paciente.
"O tratamento com anti-retrovirais por muito tempo tem vários efeitos colaterais. Fica
sujeito às infecções oportunistas quando não certo. Sabemos que é um tratamento em
longo prazo e doloroso.” (*ent_28 *cat_enf *sex_f *id_2 *ren_2 *atenf_2 *athiv_1) x² = 14
"Os anti-retrovirais têm efeito colateral, realmente, no início. No início, por mais que se
explique que isso daqui a pouco vai passar, é muito relativo. O daqui a pouco para uns
são quinze ou vinte dias, para outros são dois meses.” (*ent_15 *cat_enf *sex_f *id_3
*ren_2 *atenf_2 *athiv_1) x² = 11
"Quando conhece o hiv/aids, sabe que o futuro é de dor e de prevenção todo o tempo. Os
pacientes soropositivos ao hiv precisam ter cautela para não adquirirem infecções, não
terem recaída e precisam conviver com o efeito colateral dos anti-retrovirais que
restringem e dificultam o dia-a-dia.” (*ent_33 *cat_enf *sex_f *id_3 *ren_2 *atenf_2
*athiv_2) x² = 5
Os entrevistados certificam que a aderência ao tratamento confere uma maior
sobrevida aos pacientes, a qual é comprovada pela sua não internação. Segundo
relato, pacientes que aderem ao tratamento realizam somente o acompanhamento
ambulatorial e, por não se aproximarem do estereótipo, não é possível diferenciá-los
de uma pessoa soronegativa ao HIV, conforme apontado anteriormente.
"Aqueles que, realmente, aderem ao tratamento, esses não conhecemos. Eles vêm no
ambulatório do médico de três em três meses pegar a receita.” (*ent_15 *cat_enf *sex_f
*id_3 *ren_2 *atenf_2 *athiv_1) = 12
86
"Quando o paciente soropositivo ao hiv se dedica ao tratamento, curado eu não acredito
que fique, mas fica melhor. A aparência modifica. Os pacientes soropositivos ao hiv que
internam não são os que vejo fora.” (*ent_08 *cat_aux *sex_f *id_4 *ren_2 *atenf_2
*athiv_2) x² = 4
Do lado oposto, encontra-se a busca de explicações de diversos tipos para o
abandono do tratamento com a terapia anti-retroviral. Um dos motivos percebidos
pelos membros da equipe para o abandono do tratamento encontra-se relacionado à
melhora clínica do paciente. No momento em que o paciente com HIV/AIDS se
percebe livre de sinais e sintomas clínicos, pensa não ser mais necessário o uso das
medicações e cessa o tratamento sem que haja a indicação médica. Outra razão
detectada é por consistir em um tratamento crônico, ou seja, o qual deverá ser
seguido por longo período e que impõe determinadas regras a serem respeitadas,
como, por exemplo, horários determinados para a sua ingestão.
Além dessas duas razões para o abandono do tratamento, encontra-se uma
terceira que é a presença de diversos efeitos colaterais que persistem por um
período que varia de acordo com a pessoa. Muitos pacientes não dão continuidade à
utilização das medicações frente aos desconfortos gerados pelos efeitos colaterais,
estes representados por enjôos, vômitos e mal-estar, somente para citar alguns.
Observam-se, também, os efeitos a longo prazo, ainda pouco conhecidos, como a
lipodistrofia.
Não se deve deixar de referir a associação entre não aderência e as
condições sociais dos pacientes que, muitas vezes, impedem a continuidade da
medicação. Condições sociais estas que podem variar da impossibilidade de ingerir
a medicação junto com alimentos apropriados, pois estes pacientes, muitas vezes,
não possuem meios de alimentar-se adequadamente, até a impossibilidade de
deslocar-se ao serviço de saúde para adquirir as medicações devido morar distante
deste e não ter dinheiro para pagar meio de transporte.
“Têm alguns anti-retrovirais que são muito difíceis do paciente soropositivo ao hiv se
adaptar a ele. É muito difícil, isso é um lado. Outro lado, acha que não precisa, começa a
tomar os anti-retrovirais e melhora, estou bom, não preciso, é a segunda razão.” (*ent_15
*cat_enf *sex_f *id_3 *ren_2 *atenf_2 *athiv_1) = 28
"A terceira razão, alguns anti-retrovirais têm que ser tomados com alimento, de estômago
cheio, e muitos pacientes soropositivos ao HIV não têm condições de tomar esses anti-
retrovirais com alimento, com alimento rico em gordura ou outro tipo de alimento.”
(*ent_15 *cat_enf *sex_f *id_3 *ren_2 *atenf_2 *athiv_1) x² = 18
"Imagina para a vida toda. Então, o paciente soropositivo ao hiv tem dificuldade de aderir,
tem uns que têm aquela consciência, tenho que insistir, mas outros não têm, param e não
querem saber.” (*ent_15 *cat_enf *sex_f *id_3 *ren_2 *atenf_2 *athiv_1) x² = 9
87
"O paciente soropositivo ao hiv que não tem consciência não toma os anti-retrovirais
corretamente e cessa o tratamento na metade. Às vezes, o paciente soropositivo ao hiv
não tem condições de manter um padrão de vida e trabalha fazendo muito esforço físico
porque precisa manter a família.” (*ent_27 *cat_enf *sex_f *id_4 *ren_2 *atenf_1 *athiv_1)
x² = 9
No final de década de 80 surgiu o AZT, primeira droga anti-HIV
comercializada. A partir daí, seguiram-se diversas outras descobertas de drogas
inibidoras de transcriptase reversa e de protease (ACURCIO; GUIMARÃES, 1999). A
cada dia, passos importantes são dados em sentido à descoberta da cura da AIDS e
de novos medicamentos para seu controle. No Brasil, um grande passo no sentido
da melhoria da qualidade de vida dos pacientes soropositivos ao HIV, e,
conseqüentemente, de toda a sociedade, foi dado em 1996 com a determinação da
efetivação da distribuição gratuita de anti-retrovirais a todos os pacientes
soropositivos ao HIV.
No entanto, muitas dificuldades são encontradas pelos pacientes na
efetivação da adesão ao tratamento, sejam aquelas referentes à distância geográfica
do serviço de saúde e conseqüentes dificuldades de acesso às consultas ou aquelas
relacionadas diretamente à utilização dos anti-retrovirais (GIR; VAICHULONIS;
OLIVEIRA, 2005).
Segundo estudos realizados acerca da adesão terapêutica de indivíduos
soropositivos ao HIV, alguns fatores foram identificados para esta não adesão,
sejam eles: as características dos comprimidos (tamanho, sabor e quantidade); os
intensos efeitos colaterais; os fatores psicológicos relacionados à terapêutica; as
exigências para a sua ingestão (diferentes horários de medicamentos, necessidade
de jejum, abstinência alcoólica, necessidade de ingestão hídrica aumentada); a
grande quantidade de comprimidos a serem ingeridos (FIGUEIREDO et al., 2001;
GIR, VAICHULONIS E OLIVEIRA, 2005)
No que diz respeito aos efeitos colaterais, os que mais determinam a não
aderência à terapia, de acordo com o relato de pacientes, o os efeitos
gastrointestinais, como vômitos, náuseas, diarréias e dores abdominais, e os efeitos
neurológicos, como cefaléias e insônias (GIR; VAICHULONIS; OLIVEIRA, 2005;
LIGNANI JÚNIOR; GRECO; CARNEIRO, 2001).
Outras causas para o abandonado do tratamento devem ser mencionadas,
como a melhora clínica e o medo que os outros saibam de seu diagnóstico devido
ao grande preconceito existente. Na primeira, o indivíduo experimenta a melhora dos
88
sinais e sintomas da doença e acredita não precisar mais dos medicamentos, pois
não compreende que se trata de um tratamento crônico, o qual não deve ser
interrompido sem a orientação médica (ACURCIO; GUIMARÃES, 1999;
TAKAHASHI; SHIMA, 2004). o segundo fator consiste no desejo que a
terapêutica utilizada não seja de conhecimento de nenhum ente próximo e, desta
forma, retira os rótulos das medicações e não as ingere enquanto na presença de
outra pessoa, o que ocasiona a perda de doses e, desta forma, a quebra do
esquema terapêutico (ACURCIO; GUIMARÃES, 1999).
Cabe destacar que as taxas de adesão ao tratamento de doenças crônicas,
com terapias prolongadas, são comprovadamente baixas e, quando associado à
cronicidade e a baixa expectativa de vida, estas taxas apresentam-se ainda mais
reduzidas (FIGUEIREDO et al., 2001).
No entanto, o bom prognóstico, observado através do aumento da contagem
de CD4+ e manutenção da carga viral indetectável, é um fator que proporciona a
boa adesão ao tratamento anti-retroviral. Outros fatores comprovadamente
relacionados à adesão a esta terapia são a escolaridade e o tempo de tratamento,
pois se constata que indivíduos que possuem maior escolaridade e maior tempo de
tratamento aderem com mais veemência ao tratamento (FIGUEIRDEO et al., 2001;
LIGNANI JÚNIOR; GRECO; CARNEIRO, 2001), provavelmente por melhor
compreenderem os mecanismos de ação dos remédios e, também, por terem
comprovado os seus efeitos em longo prazo.
Cardoso e Arruda (2004), em pesquisa acerca do processo de construção das
representações sociais em pacientes com HIV/AIDS que aderem e não aderem à
terapia anti-retroviral, concluíram que, para os pacientes aderentes, a
soropositividade aparece associada à normatividade de tomar remédio e os anti-
retrovirais são objetivados como destruidores do vírus, existindo ancoragem no
saber cientifico. Enquanto isso, para os pacientes o aderentes, a soropositividade
é uma vivência ameaçadora e os anti-retrovirais tornam-se a objetivação da doença.
Estratégias para a adesão aos anti-retrovirais
A atuação da equipe de enfermagem mostra-se bastante relevante no que diz
respeito às orientações fornecidas quanto às formas de amenizar os efeitos
colaterais ocasionados pelos anti-retrovirais, o que contribui sobremaneira para a
adesão dos pacientes à terapia. As estratégias referidas anteriormente acabam por
89
se consubstanciar em uma modalidade de cuidado que aproxima enfermeiro e
paciente, transformando aquele em cúmplice deste.
Além dos efeitos colaterais, encontra-se a dificuldade de ingestão das
medicações ocasionada pelas características dos comprimidos (tamanho e sabor).
De acordo com os entrevistados, o fato dos comprimidos serem grandes e amargos
dificulta sua aceitação por parte de grande parte dos pacientes. Desta forma, a
equipe de enfermagem planeja estratégias junto aos pacientes a fim de viabilizar a
ingestão destas drogas como, por exemplo, sua ingestão juntamente com os
alimentos.
“Eles recusam muito devido ao vômito e à diarréia. Tem pessoas que não conseguem
ingerir os anti-retrovirais. Então, procurar meios de dar antes, junto ou depois da
refeição.” (*ent_30 *cat_enf *sex_f *id_4 *ren_2 *atenf_2 *athiv_2) x² = 36
"A maioria são paciente soropositivo ao hiv porque os anti-retrovirais são muito grandes e
se dissolver ficam amargos. Então, o profissional de enfermagem fala para comer junto
com alimento ou beber água depois.” (*ent_40 *cat_aux *sex_f *id_4 *ren_1 *atenf_2
*athiv_2) x² = 18
Tendo em vista as dificuldades encontradas por grande parte dos pacientes
que fazem uso da terapia anti-retroviral, seja devido à grande quantidade de
medicações a serem ingeridas ou pelos efeitos colaterais que desencadeiam,
algumas estratégias são estabelecidas pelos membros da equipe ou desenvolvidas
pelos pacientes com o objetivo de aumentar a aderência ao tratamento. Estas
estratégias são as mais diversas, podendo ser utilizada a identificação dos anti-
retrovirais pelo tamanho, formato e coloração e realizada a sua ingesta no momento
de alguma atividade diária, por exemplo, ao deitar-se.
No entanto, as estratégias também objetivam a não revelação do diagnóstico,
como a retirada dos rótulos dos frascos, devido à exclusão social sofrida por estes
sujeitos. Desta forma, temendo o distanciamento de familiares e amigos, os
pacientes com HIV/AIDS utilizam estratégias para ocultar sua doença.
"Então, tem que conhecer os anti-retrovirais por a cor e eles são ensinados a conhecer os
anti-retrovirais por a cor e por o tamanho.” (*ent_15 *cat_enf *sex_f *id_3 *ren_2 *atenf_2
*athiv_1) x² = 21
"Vários chegam tomando os anti-retrovirais errados. Eles arrancam o rótulo para a
família não saber e ficam conhecendo os anti-retrovirais por a cor, que é um indicativo de
ensinar o paciente, porque vários não sabem ler e escrever.” (*ent_15 *cat_enf *sex_f
*id_3 *ren_2 *atenf_2 *athiv_1) = 13
Estudos mostram a possibilidade de que incentivos e estratégias dos
membros da equipe de enfermagem alterem comportamentos e resultem em uma
90
maior aderência à terapia anti-retroviral. No entanto, para que isto se efetive, faz-se
necessária a educação em saúde com a efetiva participação dos pacientes
soropositivos ao HIV na idealização das estratégias e a individualização da
abordagem para que estes pacientes sintam-se seguros para expor incertezas e
sentimentos (FIGUEIREDO et al., 2001; GIR; VAICHULONIS; OLIVEIRA, 2005;
SCHAURICH; COELHO; MOTTA, 2006). Figueiredo et al. (2001) apontam que a
confiança é o elemento essencial para que a educação em saúde resultados, e
para que isso ocorra é necessário o estabelecimento de empatia, respeito à
privacidade e confiança nas informações e nos comportamentos do paciente.
Visto uma das problemáticas para a adesão à terapêutica consistir na não
distinção entre as medicações, seja por não saber ler ou pela necessidade de
esconder a doença retirando os rótulos destas, uma das estratégias mais acordadas
entre membros da equipe e pacientes consiste na identificação dos comprimidos por
tamanho, formato e coloração (FIGUEIREDO et al., 2001; GIR; VAICHULONIS;
OLIVEIRA, 2005).
Além disso, com vistas às dificuldades mencionadas no tópico anterior, outras
estratégias podem ser estabelecidas como, por exemplo, horários iguais para a
ingestão dos comprimidos, adequação desta ingestão aos hábitos ou rotinas diárias
e implementação de métodos que minimizem ou eliminem os efeitos colaterais (GIR;
VAICHULONIS; OLIVEIRA, 2005).
Figueiredo et al. (2001) afirmam que as enfermeiras são as membros da
equipe mais apropriadas para executar a educação em saúde na busca da adesão
terapêutica dos pacientes soropositivos ao HIV, visto possuírem experiência na
abordagem de pacientes com outras doenças crônicas, como a hipertensão arterial
sistêmica e a diabetes mellitus, por exemplo.
No entanto, em que pese a importância da educação em saúde, o seu
desenvolvimento e a obtenção de resultados positivos é muito mais complexa do
que os autores vem tratando na atualidade. A compreensão dos mecanismos de
fuga, de isolamento social e de exclusão vivenciadas pelos sujeitos com HIV/AIDS
são o ponto de partida para as ações educativas.
O estabelecimento do acolhimento do outro e de uma escuta compreensiva
coloca-se como elemento fundamental para que a confiança se estabeleça e um
campo de trocas possa se abrir, o que não vem se observando nas práticas
educativas cotidianamente desenvolvidas.
91
Com base nos conteúdos da presente classe, pode-se concluir que
enfermeiros que atuam profissionalmente com pacientes com HIV/AIDS período
inferior a 15 anos possuem uma representação social do cuidado prestado a estes
pacientes com ênfase nas práticas de cuidado hospitalar e medicamentoso. Desta
forma, esta representação social é construída tendo em vista a transmissão de
informações a respeito da doença e a terapia anti-retroviral em seus avanços,
dificuldades e estratégias para sua adesão.
III.3.1.2- A influência dos serviços de saúde no cuidado prestado à pessoa com
HIV/AIDS (classe 2)
A presente classe apresenta associação estatística com enfermeiros, do sexo
masculino, que atuam profissionalmente na área de enfermagem período maior
do que 20 anos, com idades maior ou igual a 45 anos e menor do que 25 anos e que
possuem renda pessoal mensal maior do que R$ 6.000,00. Ao mesmo tempo, não
possui associação estatística com a variável tempo de atuação profissional com
pessoas que vivem com HIV, conforme mostra o Quadro 7.
Quadro 7 Valores de relativos às variáveis de análise com associação estatística à classe 2. Rio
de Janeiro, 2007.
Variável de Análise
Categoria Associada à Classe 2
Tempo de Atuação Profissional na Área de
Enfermagem
> 20 anos
71,70
Sexo
Masculino
29,62
Categoria Profissional
Enfermeiro
21,97
Renda Pessoal Mensal
> R$ 6.000,00
3,12
Idade
≥ 45 anos
2,88
< 25 anos
2,60
As variáveis principais desta classe são: tempo de atuação profissional na
área de enfermagem maior do que 20 anos, sexo masculino e categoria enfermeiro,
por apresentarem os maiores valores de x².
Esta classe abrange 148 das 1.402 U.C.E. utilizadas na análise, o que
representa 10,56% do corpus. No que diz respeito às U.C.E. que compõem esta
classe, cada uma apresenta, em média, 18,07 palavras analisadas. Destas palavras,
foram selecionadas 55 formas reduzidas que possuem associação estatística (x²
4,87) com a classe em questão e, desta forma, participam da C.A.H. (Figura 6).
92
As formas reduzidas, e seus contextos semânticos, com maiores valores de x²
são observadas no Quadro 8.
Quadro 8 - Distribuição das formas reduzidas, com maiores valores de x², e seus contextos
semânticos da classe 2. Rio de Janeiro, 2007.
Forma Reduzida
Contexto Semântico
publico
público
67,32
graca+
graça, graças
58,87
hospit+
hospital
44,32
atendimento
atendimento
42,52
formacao
formação
42,52
acompanhamento
acompanhamento
42,09
estrutur+
estrutura, estruturas
42,09
clinica+
clínica, clínicas
37,69
boa+
boa
36,11
dificult+
dificulta, dificulte
33,80
De acordo com o Quadro 8, as formas reduzidas da classe 2 que possuem
maiores valores de são: publico; graca+; hospit+; atendimento; formacao;
acompanhamento; estrutur+; clinica+; boa+; dificult+. Destas, alguns contextos
semânticos se encerram em si, como público e atendimento, enquanto outras
possuem contextos semânticos que as especificam, por exemplo, graca+ que possui
os contextos semânticos graça e graças.
A partir das formas reduzidas e de seus contextos semânticos, disponíveis no
Quadro 8, é possível reconhecer que o conteúdo geral da classe 2 perpassa pela
influência dos serviços de saúde para a assistência prestada ao paciente
soropositivo ao HIV. E, desta maneira, encontram-se nesta classe significados
relativos à qualidade e à estrutura destes serviços de saúde.
93
Figura 6- Classificação Ascendente Hierárquica da Classe 2. Rio de Janeiro, 2007.
94
Através do dendrograma da C.A.H. da classe 2 (Figura 6), agrupou-se as
formas reduzidas com a finalidade de alcançar resultados mais delimitados acerca
dos significados da classe A influência dos serviços de saúde no cuidado prestado
à pessoa com HIV/AIDS.
Desta forma, constatou-se que a classe 2 é composta por duas categorias:
“Dinâmica e estrutura dos serviços públicos de atendimento à pessoa com
HIV/AIDS” e “Dimensões político-institucionais do cuidado”. A primeira engloba
conteúdos sobre a estrutura dos serviços de Doenças Infecto-Parasitárias (DIP)
brasileiros, enfatizando a diferenciação existente no tratamento disponibilizado aos
pacientes soropositivos ao HIV. Enquanto isso, a última abarca o cuidado de
enfermagem prestado a estes pacientes e o apoio social e institucional voltado aos
mesmos.
Frente a isto, conclui-se que nesta classe o cuidado de enfermagem é
representado como resultante da estrutura dos serviços de saúde e da assistência
oferecida nestes.
Figura 7 - Apresentação esquemática das categorias e sub-categorias presentes na classe 2. Rio de
Janeiro, 2007.
A influência dos serviços
de saúde no cuidado
prestado à pessoa com
HIV/AIDS
Dinâmica e estrutura
dos serviços públicos de
atendimento à pessoa
com HIV/AIDS
Dimensões político-
institucionais do cuidado
Os serviços de DIP e o
cuidado: o medo e o
preconceito
A rede hospitalar e o
cuidado
Apoio social e institucional
Dimensões do cuidado de
enfermagem prestado
95
DINÂMICA E ESTRUTURA DOS SERVIÇOS PÚBLICOS DE ATENDIMENTO À
PESSOA COM HIV/AIDS
Os serviços de DIP e o cuidado: o medo e o preconceito
A assistência prestada nos serviços blicos de saúde brasileiros é
mencionada pelos entrevistados afirmando ser esta de fundamental importância
para o atendimento de grande parcela da população. Os sujeitos pesquisados
enfatizam que, apesar de consistir em um serviço público, o paciente paga por ele
através de todos os impostos que lhe são cobrados, comparando-o, desta forma, a
um plano de saúde público. Nesta mesma linha de reflexão, afirmam que todo
paciente, independente de ser soropositivo ao HIV ou não, merece respeito ao ser
atendido em qualquer serviço de saúde, seja público ou privado, pois é um direito
que lhe cabe.
como se fosse um plano de saúde público. Eu acho que isso é o fundamental.
Respeito ao usuário, seja ele hiv/aids ou não, qualquer um. (*ent_09 *cat_enf *sex_m
*id_4 *ren_2 *atenf_3 *athiv_2) x² = 52
"O hospital universitário está com redução de leitos porque não tem dinheiro, não está
recebendo verba adequada. Isso dificulta o seu trabalho. Muita gente que poderia estar
internada aqui recebendo atendimento o está porque tem leitos vazios e outros que
estão, muitas vezes, não recebem o atendimento adequado porque o hospital não tem
uma infra-estrutura boa.(*ent_09 *cat_enf *sex_m *id_4 *ren_2 *atenf_3 *athiv_2) =
14
"E eu tenho que fazer porque eu também tenho que esperar de mim o melhor. Agora, nós
sabemos que, muitas vezes, o profissional de enfermagem se frustra por querer fazer
determinadas coisas e, muitas vezes, não conseguir, por a própria estrutura da saúde no
brasil que é muito ruim.(*ent_09 *cat_enf *sex_m *id_4 *ren_2 *atenf_3 *athiv_2) x² = 7
No que se refere à estrutura dos serviços de saúde, os membros da equipe
reconhecem que estes sofreram importantes mudanças após o surgimento do HIV,
principalmente nos setores de DIP. Expõem que, antigamente, nos setores de DIP
eram encontrados pacientes com diferentes diagnósticos, como leishimaniose,
tétano e leptospirose. Atualmente, estes setores restringem-se basicamente ao
tratamento de pacientes soropositivos ao HIV. Como conseqüência desta
exclusividade, pensam haver um empobrecimento do conhecimento, pois sem o
contato com o paciente, há uma grande perda para o aprendizado profissional.
Sendo este fato agravado por se tratar de um hospital universitário, local onde os
membros da equipe deveriam encontrar diversas patologias para que, desta forma,
melhor se especializassem.
96
"Mas, por exemplo, no hospital noventa e nove por cento das nossas internações o
paciente soropositivo ao hiv. Então, praticamente, a dip se transformou em paciente
soropositivo ao hiv. Enfermaria de paciente soropositivo ao hiv. Eu acho que isso dificulta
a formação dos estudantes porque eles praticamente somente em paciente
soropositivo ao hiv.(*ent_09 *cat_enf *sex_m *id_4 *ren_2 *atenf_3 *athiv_2) x² = 36
"Eu não vejo essa dificuldade. Eu vejo até uma reclamação. Por exemplo, aqui no
hospital universitário, como ele é universitário e tem formação além da graduação, eu
vejo muitas reclamações dos professores e dos alunos dizendo que somente tem
paciente soropositivo ao hiv.(*ent_09 *cat_enf *sex_m *id_4 *ren_2 *atenf_3 *athiv_2)
x² = 17
"(...) um paciente com leptospirose é raro. tano não tem mais de cinco anos. O que
mais aparece aqui, fora o hiv/aids, é a endocardite infecciosa, estafilococcias, infecções
de pele e leishimaniose, porque como aqui é um hospital universitário (...)” (*ent_09
*cat_enf *sex_m *id_4 *ren_2 *atenf_3 *athiv_2) x² = 17
Ainda, apontam em suas falas que o medo da contaminação pelas doenças
infecto-parasitárias permanece presente nos membros da equipe de saúde, sendo
refletida no receio destes em trabalharem e, a mesmo, entrarem no setor
destinado à assistência destas patologias. Reconhecem que tal sentimento é
influenciado, em grande parte, pelos estigmas socialmente impostos, uma vez que
este setor de trabalho e a especialidade exigida para o desenvolvimento do trabalho
são verdadeiros desconhecidos para muitos membros da equipe de enfermagem.
Desta forma, destacam a forte carga emocional a qual o profissional de enfermagem
encontra-se exposto durante o cuidar do paciente soropositivo ao HIV, mas
acreditam que conseguem superá-la e prestar um cuidado com qualidade, sem
preconceito ou censura ao cliente em questão.
"Isso acontece muito comigo. Se pudesse ir embora, eu ia, mas eu fico. Vários
profissionais de enfermagem sentem isso. A dip pesada. Temos muita morte aqui. Tem
período que vemos quatro ou cinco óbitos. Isso não é fácil. Tem que ter uma estrutura
boa. Tem período que, em um mês, morrem quatro ou cinco paciente e tem período que
não morre ninguém.” (*ent_14 *cat_aux *sex_m *id_3 *ren_1 *atenf_2 *athiv_2) x² = 19
"Eu vejo muito preconceito no hospital universitário e profissional de saúde que não
conhece a dip. Entrar na dip é um desafio para os profissionais de saúde.” (*ent_25
*cat_aux *sex_f *id_3 *ren_1 *atenf_2 *athiv_1) x² = 14
"Eu respeito. O nome dip medo porque sabe que é doença infecciosa. Então, todos
têm medo de lidar com a doença que tem aqui.” (*ent_14 *cat_aux *sex_m *id_3 *ren_1
*atenf_2 *athiv_2) x²= 12
O reconhecimento da AIDS como problema de saúde pública, no Brasil, e a
importância da atenção à saúde das pessoas que convivem com o HIV, foram
efetivamente declarados pelo governo brasileiro, no ano de 1985, quando
estabeleceu, através da Portaria 236, as diretrizes para o Programa de Controle
97
da AIDS no âmbito do território nacional. Desta forma, em 1986, consolidou-se o
Programa Nacional de AIDS (PARKER, 1997; SADALA; MARQUES, 2006).
A partir daí, inúmeras estratégias foram idealizadas e implantadas visando a
qualidade da assistência ao paciente soropositivo ao HIV, no âmbito do serviço
público de saúde, inclusive com a regulamentação do seu tratamento nos níveis
público e privado.
Diversas publicações apontam para a qualidade da assistência prestada nos
serviços públicos de saúde brasileiros direcionados aos pacientes soropositivos ao
HIV. Aponta-se que a política pública de DST/AIDS mostra vantagens significativas
obtidas através do investimento de recursos públicos tanto em estratégias de
prevenção quanto de tratamento da doença, tendo se tornado um exemplo a ser
seguido por vários países (COUTO, 2002).
Além disso, Nemes et al. (1999) enfatizam que os serviços públicos de saúde
brasileiros direcionados ao atendimento de pessoas atingidas pelo HIV, possuem
várias qualidades, dentre elas: quantidade e capacidade técnica da equipe de
saúde; suprimento de medicamentos; acesso a exames espeficos; desempenho da
equipe de saúde; e satisfação do usuário. No entanto, não se pode esquecer que a
complexidade do cuidado de enfermagem prestado ao paciente soropositivo ao HIV
acarreta enorme desgaste psicológico ao profissional de enfermagem envolvido no
processo (RIBEIRO; COUTINHO; SALDANHA, 2004).
no que se refere à identificação, pelos sujeitos deste estudo, da
prevalência de casos de AIDS nos serviços de DIP brasileiros, esta pode ser
justificada pelo gradativo aumento do número de pessoas infectadas pelo HIV, de
acordo com o Boletim Epidemiológico Aids e DST, de 2006, e também a redução
de outras doenças transmissíveis decorrente do amplo e bem sucedido Programa
Nacional de Imunização desenvolvido no Brasil.
A rede hospitalar e o cuidado
Os membros da equipe de enfermagem abordados relatam perceberem os
pacientes soropositivos ao HIV como pacientes iguais a qualquer outro e que
necessitam de cuidados voltados às suas necessidades. Além disso, os reconhecem
como portadores de uma patologia infecciosa e crônica, sobre a qual não relatam
estranheza.
98
“Um paciente que merece atendimento por a doença que ele tem, mas que é uma doença
infecciosa como outra qualquer. o me causa nenhuma estranheza.(*ent_09 *cat_enf
*sex_m *id_4 *ren_2 *atenf_3 *athiv_2) x² = 21
"Para mim é um paciente comum. É como se fosse um paciente diabético, com câncer,
com úlcera, com doença péptica, com um problema dermatológico qualquer. (*ent_09
*cat_enf *sex_m *id_4 *ren_2 *atenf_3 *athiv_2) x² = 18
Contudo, admitem que as pessoas atingidas pelo HIV carregam consigo
inúmeros estigmas socialmente impostos e, em conseqüência disto, têm muitas
dificuldades de aceitação pela sociedade e, por vezes, pelos profissionais de saúde.
Além disso, comparam alguns comportamentos de membros da equipe de saúde
observados no início da epidemia com os atualmente vigentes, concluindo que hoje
não se faz presente o preconceito, pelo menos não na intensidade que este rondava
a assistência ao paciente soropositivo ao HIV em seus primórdios.
Cabe salientar que ao relatar sua percepção acerca do paciente com
HIV/AIDS, os membros da equipe de enfermagem entrevistados afirmam que não há
diferenciação e estes são tidos como qualquer outro paciente. No entanto, ao
mencionar a percepção de membros da equipe de enfermagem de modo geral, é
sinalizada a existência de estigmas sociais que podem influenciar no cuidado
prestado. Desta forma, estes dados podem dizer respeito a uma possível zona muda
existente nesta representação social, pois, por tratar-se de elementos contra-
normativos, os entrevistados os mencionam somente ao relatar as atividades de
outros membros da equipe, mas, jamais, suas próprias atitudes.
"Cuidado de enfermagem é, na minha visão profissional, partir do respeito à pessoa
humana. E, sendo um paciente soropositivo ao hiv, vem cheio de rótulos e de barreiras
criadas por uma sociedade desinformada. (*ent_18 *cat_enf *sex_m *id_4 *ren_3
*atenf_3 *athiv_1) x² = 18
"Ele passa por várias dificuldades, aceitação da sociedade e dos profissionais de saúde.
É muito sofrimento. Por mais dificuldade que estou passando, dou gras a deus que
seja somente isso porque tem muita coisa. (*ent_30 *cat_enf *sex_f *id_4 *ren_2
*atenf_2 *athiv_2) x² = 16
"Essa coisa mística que, antigamente, tinha com hiv/aids, eu acho que, atualmente, o
tem tanto. Ao menos dentro da unidade de saúde.(*ent_39 *cat_enf *sex_f *id_1 *ren_1
*atenf_1 *athiv_1) x² = 10
"No hospital universitário eu acho que tem um acompanhamento. Mas, eu trabalhei no
hospital, foi onde eu senti mais rejeição ao paciente soropositivo ao hiv. Ele fica isolado, é
dado como um paciente de isolamento. Ele fica sozinho em um quarto. s profissionais
de saúde sabemos.(*ent_34 *cat_aux *sex_f *id_4 *ren_1 *atenf_2 *athiv_1) x² = 7
Indo ao encontro do exposto nas falas dos entrevistados, estudos comprovam
que com o tempo de atuação na assistência de pacientes acometidos pela infecção
99
do HIV, os profissionais de saúde adquirem experiência e destrezas que somadas
levam a uma naturalização deste cuidado de enfermagem (MIQUELIM et al., 2004).
Por outro lado, nota-se que o preconceito existente por parte de alguns membros da
equipe de enfermagem pode resultar do despreparo sentido para lidar com a
diversidade de pessoas. E, ainda, Sadala e Marques (2006) enfatizam que a maioria
destes sentimentos discriminatórios encontra-se presente em membros da equipe
para os quais o cuidar de pessoas atingidas pelo HIV não representa algo rotineiro.
Assim, muitos membros da equipe de enfermagem relutam em prestar
cuidado às pessoas atingidas pelo vírus devido, por um lado, ao receio sentido
frente ao risco de infecção para si ou entes próximos (FOX; AIKEN; MESSIKOMER,
1990) e, por outro, ao medo do desconhecido e do sentimento ambivalente frente a
questões moralmente mobilizantes, como aquelas envolvidas com o aparecimento
da AIDS.
Frente a isto, faz-se mister mencionar que a AIDS, assim como toda doença
infecciosa, traz consigo inúmeros preconceitos sociais devido a suas formas de
contágio. No entanto, esta enfermidade carrega um estigma ainda maior, pois
engloba inúmeras características tidas como tabus pela sociedade, como a
transmissão sexual e sangüínea, o homossexualismo, a traição, a prostituição e o
uso de drogas injetáveis (NASCIMENTO, 2005; RIBEIRO et al., 2005).
DIMENSÕES POLÍTICO-INSTITUCIONAIS DO CUIDADO
Apoio social e institucional
A importância de apoio social e institucional às pessoas que vivem com o HIV
é enfatizada pelos entrevistados uma vez que compreendem sua necessidade com
vistas ao oferecimento de suporte a esta clientela.
No entanto, reconhecem o déficit de apoio institucional visto não existir apoio
deste tipo com a finalidade de amparar os pacientes com HIV/AIDS nos momentos
em que não se encontram internados. Segundo os entrevistados, diante disto, os
pacientes com HIV/AIDS sentem falta da efetiva orientação e apoio por parte dos
profissionais de saúde nos momentos de não hospitalização. Ainda, esta ausência
de apoio institucional é representada, pelos entrevistados, pela falta de grupos
destinados a atender esta clientela específica. Grupos estes que consistiriam em
momentos de orientações e esclarecimento de dúvidas que, por ventura, existissem.
100
"Nós temos um grupo que é formado por paciente artrítico. Eu achava que paciente
soropositivo ao hiv, também, deveria de ter. Eu sei que tem, mas o é expandido nos
hospitais. O paciente soropositivo ao hiv fica aqui, trata da doença e vai embora.
(*ent_34 *cat_aux *sex_f *id_4 *ren_1 *atenf_2 *athiv_1) x² = 23
"Tem que explicar na linguagem do paciente soropositivo ao hiv. Eu acho que o paciente
soropositivo ao hiv sente muita falta do médico informar bem. Por não ter um grupo
voltado ao paciente soropositivo ao hiv aqui no hospital universitário o paciente
soropositivo ao hiv estará sempre em dúvida. (*ent_35 *cat_aux *sex_f *id_4 *ren_1
*atenf_1 *athiv_1) x² = 10
Por outro lado, os membros da equipe de enfermagem afirmam que o apoio e
a mobilização social existem, tendo sido, em grande parte, devido a estes que os
pacientes com HIV/AIDS alcançaram os benefícios a eles concedidos. Ainda,
pontuam que estas conquistas foram concretizadas em políticas públicas somente
após reivindicações dos pacientes, profissionais de saúde e demais pessoas que se
uniram em torno desta causa, pois, do contrário, acreditam que nada teria sido
oferecido pelo governo. Os entrevistados reconhecem algumas conquistas
alcançadas por estes sujeitos, das quais a mais marcante é a distribuição gratuita de
anti-retrovirais, mas também se pode citar a melhoria das condições dos serviços
voltados a estes indivíduos, o direito à cesta básica de alimentação e ao passe-livre
em meios de transporte.
"Tanto profissional, principalmente, paciente soropositivo ao hiv que lutaram muito para
essas conquistas. Ter medicações de graça, distribuição dos anti-retrovirais de graça,
serviço mais aparelhado, profissional de saúde mais capacitado, respeito e diversas
coisas.(*ent_09 *cat_enf *sex_m *id_4 *ren_2 *atenf_3 *athiv_2) x² = 10
"Não foi o governo que deu isso de graça não. Graças aos próprios pacientes
soropositivo ao hiv, ao homossexual que surgiram e brigaram.(*ent_09 *cat_enf *sex_m
*id_4 *ren_2 *atenf_3 *athiv_2) x² = 7
"Eles têm uma vida completamente diferente do que imaginamos. Eles têm uma
qualidade de vida muito ruim, eles vivem muito mal. O hiv/aids melhorou a vida deles.
Com o hiv/aids eles conseguiram ter acesso à cesta básica, a andar de ônibus de graça,
às medicações, coisa que eles não tinham, começaram a ter esclarecimento de vários
direitos que eles têm.(*ent_15 *cat_enf *sex_f *id_3 *ren_2 *atenf_2 *athiv_1) x² = 6
A importância do apoio institucional através de espaços que acolham os
pacientes com HIV/AIDS e os propiciem momentos de esclarecimentos e trocas de
experiências, a fim de efetivar uma boa assistência a estes sujeitos, tem sido
amplamente discutida pelas diferentes instâncias da sociedade. É notável o papel do
apoio institucional no encorajamento das pessoas que vivem com o HIV, decorrente,
provavelmente, do redimensionamento de suas dificuldades, ao compartilhar
101
dúvidas, medos, incertezas, conhecimento etc. (BRASIL, 1999; RASERA; JAPUR,
2003).
No que diz respeito ao apoio e à mobilização social, cabe ressaltar que,
desde seu início, a epidemia de AIDS foi marcada pela atuação articulada de grupos
comunitários, igrejas e Organizações Não-Governamentais (ONGs). Através destas
ações, foram alcançadas a geração e a implementação de políticas públicas como,
por exemplo, em 1986, a aprovação da lei que tornava obrigatória a triagem
sorológica para o HIV em todo o sangue a ser hemotransfundido no Estado de São
Paulo, após intensa pressão da opinião blica, da ONG paulista Grupo de Apoio à
Prevenção à AIDS (GAPA) e de instituições privadas de saúde (TEIXEIRA, 1997).
Outra conquista que pode ser menciona é a aprovação, em 1988, da Lei
7.670, que estende às pessoas que vivem com AIDS os benefícios previstos para os
portadores de doenças incapacitantes ou terminais, quais sejam: auxílio-doença;
aposentadoria; pensão; e levantamento do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço
(FGTS). Cabe destacar que a aprovação da referida lei deu-se em resposta às
pressões exercidas por ONGs e por profissionais de serviço social (TEIXEIRA,
1997).
A partir dos exemplos mencionados, pode-se perceber o importante papel
desenvolvido pela sociedade civil quando se trata da conquista de políticas públicas
voltadas à luta contra a AIDS. Esta sociedade civil é representada por ONGs/AIDS
de ações locais e nacionais, grupos religiosos, grupos de pessoas com HIV/AIDS,
organizações comunitárias, casas de apoio e mídia que trazem à tona, muitas vezes,
realidades que ficam esquecidas pelo poder público.
Dimensões do cuidado de enfermagem prestado
Os entrevistados salientam ser importante prestar um cuidado de
enfermagem com qualidade ao paciente soropositivo ao HIV, entendendo que para
este ser efetivado é primordial a existência de respeito ao cliente. Diante disto,
afirmam que os membros da equipe de enfermagem que atuam com estes pacientes
possuem formação profissional necessária para proporcionar qualidade neste
cuidado.
indiferente. Acho que o fundamental é o respeito por o usuário. Eu acho que qualquer
um tem que receber assistência melhor que o profissional de saúde puder prestar.
(*ent_09 *cat_enf *sex_m *id_4 *ren_2 *atenf_3 *athiv_2) x² = 29
102
"E a outra é assistente social, além de ser auxiliar de enfermagem. o pessoas
capacitadas que têm uma formação boa. E os profissionais de enfermagem não m
problema nenhum.(*ent_09 *cat_enf *sex_m *id_4 *ren_2 *atenf_3 *athiv_2) x² = 16
Destacam, em paralelo, que os pacientes reconhecem ser bem tratados e,
por isso, sentem-se à vontade durante a hospitalização. Mencionam que este
sentimento deve-se ao fato de se perceberem como alvos de um cuidado igual ao
prestado a qualquer paciente, sem a existência de preconceito em decorrência da
doença que possui.
"Então, o profissional de enfermagem tem que trabalhar isso. Embora o profissional de
enfermagem o seja psicólogo, pode trabalhar o emocional. É interessante que, com o
decorrer do tempo, o paciente soropositivo ao hiv se sente bem no hospital e na
enfermaria porque ele acha que é tratado normalmente, sem preconceito.(*ent_31
*cat_enf *sex_f *id_4 *ren_2 *atenf_2 *athiv_2) x² = 7
"O profissional de enfermagem pode ter alguma dificuldade de aproximação, de
abordagem, uma questão de empatia. Mas aqui eu não vejo nada grave, que cause
desconforto, que cause problema, que dificulte o tratamento, preconceito, censura.
(*ent_09 *cat_enf *sex_m *id_4 *ren_2 *atenf_3 *athiv_2) x² = 4
As falas apresentadas acima corroboram com Dessunti (1989) quando, em
seu estudo sobre a percepção de discentes e da equipe de enfermagem em relação
ao paciente soropositivo ao HIV, aponta que o cuidado de enfermagem prestado a
este paciente deve ser permeado por respeito. Waldow (1998), ainda neste sentido,
pontua que o cuidador necessita dispor de interesse, respeito, paciência,
solidariedade, além de conhecimento, competência, comprometimento e
responsabilidade com o ser cuidado.
Reflexo do cuidado de enfermagem prestado é o sentimento dos pacientes
com HIV/AIDS, pois estes se sentem, muitas vezes, excluídos e alvos de
preconceito da sociedade e, neste contexto, também, dos profissionais de saúde.
Estes sentimentos emergem em decorrência da concepção moral criada em torno da
AIDS, que a torna, ainda hoje, um estigma social que pode ocasionar a exclusão e
rejeição por muitos associarem a aquisição da doença às condições de
comportamento e costumes considerados socialmente desviantes (SILVA, 2004).
Frente às exposições abarcadas pelas quatro sub-categorias que compõem a
presente classe, é possível concluir que enfermeiros do sexo masculino e que
possuem experiência profissional na área de enfermagem há mais de 20 anos
possuem uma representação social do cuidado de enfermagem prestado ao
paciente com HIV/AIDS composta por questões referentes à influência dos serviços
de saúde no cuidado prestado à pessoa com HIV/AIDS. Questões estas que
103
abarcam desde aspectos estruturais dos serviços de saúde voltados a essa clientela
até dimensões políticas e institucionais deste cuidado. Neste interim, o discutidos,
dentre outros aspectos, mudanças nos serviços de DIP brasileiros advindas da
inserção destes sujeitos no contexto do cuidado e o apoio social e institucional
voltado a estes pacientes.
III.3.1.3- O cuidado como relacionamento interpessoal (classe 3)
A classe que aqui será apresentada possui associação estatística com
auxiliares de enfermagem do sexo feminino, com idade igual ou superior a 45 anos,
que adquirem renda pessoal mensal inferior a R$ 3.000,00 e trabalham na área de
enfermagem há um período igual ou inferior a 10 anos. De acordo com as
informações contidas no Quadro 9, esta classe o possui associação estatística
com a variável tempo de atuação profissional com pessoas que vivem com HIV.
No que consiste às variáveis mais fortemente associadas à classe 3,
encontram-se: sexo feminino, renda pessoal mensal inferior a R$ 3.000,00 e tempo
de atuação profissional na área de enfermagem igual ou inferior a 10 anos.
A classe O cuidado como relacionamento interpessoalengloba 339 U.C.E.
das 1.402 totais analisadas. Desta forma, esta classe corresponde a 24,18% do
corpus de análise, a segunda maior classe da análise. Neste quantitativo de U.C.E.
foram selecionadas 92 formas reduzidas que possuíam associação estatísticas (x²
4,91) com a classe e, a partir destas, formou-se sua C.A.H. (Figura 8). Cada U.C.E.
presente na classe 3 apresenta, em média, 17,35 palavras analisadas.
Quadro 9 Valores de relativos às variáveis de análise com associação estatística à classe 3 Rio
de Janeiro, 2007.
Variável de Análise
Categoria Associada à Classe 3
Sexo
Feminino
23,79
Renda Pessoal Mensal
< R$ 3.000,00
20,02
Tempo de Atuação Profissional na Área de
Enfermagem
≤ 10 anos
16,12
Idade
≥ 45 anos
7,14
Categoria Profissional
Auxiliar de Enfermagem
6,68
O Quadro 10 apresenta as formas reduzidas, e seus respectivos contextos
semânticos, com maiores valores de x², ou seja, com maior associação estatística no
104
que diz respeito à classe em questão. Assim, constata-se que estas formas
reduzidas são: conversar+; melhorar+; carinho; gosto; fala; pena; sentimento+;
entend+; cura; e família+. Dentre elas, percebe-se, por exemplo, que carinho e gosto
resumem em si o contexto semântico. Enquanto que conversar+ possui conversar e
conversará como contextos semânticos e melhorar+ possui melhorar e melhorará.
Quadro 10 - Distribuição das formas reduzidas, com maiores valores de x², e seus contextos
semânticos da classe 3 Rio de Janeiro, 2007.
Forma Reduzida
Contexto Semântico
conversar+
conversar, conversará
78,94
melhorar+
melhorar, melhorará
44,34
carinho
carinho
40,27
gosto
gosto
34,37
fala
fala
29,29
pena
pena
28,57
sentimento+
sentimento, sentimentos
24,53
entend+
entenda, entender, entenderá,
entendesse
23,80
cura
cura
23,10
familia+
família, famílias
21,48
Através dos contextos semânticos, percebe-se que a classe 3 agrega
conteúdos a respeito da relação interpessoal e dos sentimentos emergentes desta
relação. Assim, os discursos nela contidos apontam no sentido do relacionamento
interpessoal do paciente soropositivo ao HIV, seja com os membros da equipe de
enfermagem ou com seus familiares e amigos.
A C.A.H. da classe 3, com os seus respectivos grupamentos de formas
reduzidas, destacados em cores, pode ser observada na Figura 8.
105
Figura 8- Classificação Ascendente Hierárquica da Classe 3. Rio de Janeiro, 2007.
106
Com base na C.A.H. (Figura 8) da classe, as formas reduzidas foram
organizadas em pequenos agrupamentos com vistas a adquirir significações que
obtenham maior precisão, a partir das quais construiu-se o esquema de categorias e
sub-categorias disposto na Figura 9.
Observa-se que a classe “O cuidado como relacionamento interpessoal”
divide-se em duas categorias: Apoio familiar e profissional à pessoa com HIV/AIDS
e Sentimentos da pessoa com HIV/AIDS e estratégias de cuidado”. Estas
categorias subdividem-se, cada uma, em duas sub-categorias, respectivamente:
Relacionamento entre equipe de enfermagem e paciente com HIV/AIDS” e “O
envolvimento da família no cuidado” e; “Sentimentos vivenciados pela pessoa com
HIV/AIDS no hospital” e “Estratégias de cuidado diante do sofrimento da pessoa com
HIV/AIDS”.
A primeira categoria discorre sobre a importância dos relacionamentos
estabelecidos entre pacientes soropositivos ao HIV e profissionais de saúde,
familiares e amigos. A segunda apresenta conteúdos sobre sentimentos
relacionados à soropositividade ao HIV e estratégias de cuidado de enfermagem.
Com isto, conclui-se que a representação social do cuidado de enfermagem
prestado ao paciente soropositivo ao HIV apresenta-se, na classe 3, interligada a
elementos relacionais presentes no cotidiano deste paciente e que influenciam em
sua qualidade de vida.
Figura 9 - Apresentação esquemática das categorias e sub-categorias presentes na classe 3. Rio de
Janeiro, 2007.
O cuidado como
relacionamento
interpessoal
Apoio familiar e
profissional à pessoa
com HIV/AIDS
Sentimentos da pessoa
com HIV/AIDS e
estratégias de cuidado
Relacionamento entre
equipe de enfermagem e
paciente com HIV/AIDS
O envolvimento da família
no cuidado
Sentimentos vivenciados
pela pessoa com
HIV/AIDS no hospital
Estratégias de cuidado
diante do sofrimento da
pessoa com HIV/AIDS
107
APOIO FAMILIAR E PROFISSIONAL À PESSOA COM HIV/AIDS
Relacionamento entre equipe de enfermagem e paciente com HIV/AIDS
A maior parte dos entrevistados acredita que, para o cuidado de enfermagem
se concretizar, não basta a execução adequada de procedimentos técnicos, mas
estes precisam aliar-se ao estabelecimento de uma boa interação entre profissional
de enfermagem e paciente. Esta interação deve acontecer a cada procedimento e
aproximação destes dois sujeitos envolvidos no processo de cuidar, de forma a
permitir a construção de vínculos e o estabelecimento de confiança mútua.
Mencionam que a facilidade sentida para prestar o cuidado de enfermagem
deve-se, muitas vezes, à habilidade para se comunicar e estar disponível para esta
interação. Desta forma, o principal instrumento a ser utilizado na interação é o
diálogo.
"Não basta administrar as medicações e dar banho, mas o profissional de enfermagem
precisa interagir com o paciente. Quando o profissional de enfermagem vai ao leito do
paciente, deve se comunicar e falar o que está fazendo apesar de, muitas vezes,
perceber que o paciente não interage. (*ent_27 *cat_enf *sex_f *id_4 *ren_2 *atenf_1
*athiv_1) x² = 25
"Não são pacientes do ambulatório que interagem e falam de seus sentimentos com o
profissional de enfermagem. A interação do paciente soropositivo ao hiv é quando o
profissional de enfermagem vai ao leito e fala o que fará, percebe a reação do paciente
soropositivo ao hiv, se está ou não com dor.” (*ent_27 *cat_enf *sex_f *id_4 *ren_2
*atenf_1 *athiv_1) x² = 19
"A facilidade que tenho para prestar cuidado de enfermagem ao paciente soropositivo ao
hiv é porque sou muito comunicativa. Eu me apresento e falo para o paciente que pode
me chamar para o que precisar. Eu sou comunicativa com o paciente,
independentemente de sua doença, e tenho facilidade de interação, conversar e
observar.(*ent_25 *cat_aux *sex_f *id_3 *ren_1 *atenf_2 *athiv_1) x² = 18
"O profissional de enfermagem manipula o paciente, no mínimo, três horas consecutivas
e é impossível não conversar e não interagir com o paciente. Às vezes, o paciente está
sedado e o profissional de enfermagem conversa sozinho porque sabe que o paciente
tem sensibilidade e percebe.(*ent_33 *cat_enf *sex_f *id_3 *ren_2 *atenf_2 *athiv_2)
= 14
Igualmente, lembram que, por diversas vezes, os pacientes soropositivos ao
HIV mostram-se deprimidos durante a internação hospitalar e, nesses casos, o
cuidador deve aproximar-se, conversar e buscar estratégias para melhorar a sua
auto-estima e buscar mudar a perspectiva que o paciente adota sobre a doença e a
hospitalização. Estas estratégias são variadas e devem emergir de acordo com a
situação encontrada, podendo corresponder ao estímulo para a realização de
alguma atividade, a busca de aproximação com entes queridos, ou mesmo a
verbalização sobre os seus sentimentos.
108
No entanto, alguns requisitos o exigidos para o estabelecimento de
vínculos entre profissional de enfermagem e cliente: ser paciente, não desejar
rápidos resultados, ser perseverante e não desistir ao primeiro sinal de dificuldade.
Além disso, mostra-se muito importante que o profissional não demonstre fraqueza
ou desesperança, mas sempre mostre ao paciente que este melhorará e terá um
futuro a ser construído.
"Nós tentamos fazer algo para melhorar. Tentamos estimular, conversar com ele e
solicitar ajuda à psicologia. Ligamos a televisão e o chamamos para assistir,
conversamos, perguntamos se quer que telefonemos para alguém e demos algum
recado.(*ent_36 *cat_enf *sex_f *id_3 *ren_1 *atenf_2 *athiv_2) x² = 22
"Ele ficou com depressão e a conversa ajuda muito o paciente. O profissional de
enfermagem apoio e conversa porque, às vezes, o paciente soropositivo ao hiv não
consegue conversar com o familiar, tem vergonha de falar com um amigo e conversa
com o profissional de enfermagem.(*ent_29 *cat_aux *sex_f *id_4 *ren_1 *atenf_2
*athiv_2) x² = 15
"Jogam água no chão e urinam na cama. Tem profissional de enfermagem que lida bem
com o paciente soropositivo ao hiv, mas tem profissional de enfermagem que não tem
paciência porque vem extressado de casa ou porque vai para outro emprego.” (*ent_40
*cat_aux *sex_f *id_4 *ren_1 *atenf_2 *athiv_2) x² = 13
"Não podemos chorar na frente do paciente se queremos que ele saia da depressão, que
fique feliz, que pense que sairá, lutará, tomará os anti-retrovirais, será feliz e ficará tudo
bem.(*ent_29 *cat_aux *sex_f *id_4 *ren_1 *atenf_2 *athiv_2) x² = 10
Reafirmando a importância do cuidado relacional, outra parcela dos
entrevistados admite que efetiva o cuidado de enfermagem através da aproximação
com os pacientes soropositivos ao HIV, entendendo ser esta primordial para um bom
acolhimento deste sujeito. Reconhecem que os membros da equipe de enfermagem,
durante a hospitalização, representarão a família do paciente devido ao grande
período no qual permanecem em contato com eles e, muitas vezes, à ausência de
seus familiares.
Além disso, afirmam que o cuidado de enfermagem prestado a esta clientela
não deve restringir-se ao simples trabalho técnico, mas deve abranger elementos
afetivos, como o carinho que necessita ser redobrado visto as especificidades deste
paciente. Com vistas à efetivação do cuidado de enfermagem que contenha estes
elementos considerados importantes, os membros da equipe de enfermagem
procuram dialogar com os pacientes a respeito dos sentimentos destes frente à
hospitalização e sobre aspectos de sua vida social pré-hospitalização, buscando
conhecer a família e o modo de vida do cliente, pois reconhecem ser este tipo de
cuidado específico da equipe de enfermagem.
109
"Eu gosto de saber como o paciente se sente, saber de sua família, se tem filho, se tem
família, se tem quem cuide, se mora sozinho, prestar solidariedade porque quando o
profissional de enfermagem conversa com o paciente.” (*ent_06 *cat_aux *sex_f *id_3
*ren_1 *atenf_1 *athiv_1) x² = 14
"Eu vejo que os profissionais de enfermagem são a família do paciente soropositivo ao
hiv mais próxima. O paciente soropositivo ao hiv precisa confiar nos profissional de
enfermagem. Na família dele ele pode até confiar, mas, aqui dentro, os profissionais de
enfermagem são os mais próximos. Então, se os profissionais de enfermagem passarem
confiança e segurança para ele, ele levanta.(*ent_02 *cat_aux *sex_f *id_3 *ren_1
*atenf_1 *athiv_1) x² = 12
"Se um profissional de enfermagem for remanejado para dip fica ansioso. Eu trabalho
sabendo que são paciente soropositivo ao hiv, dou mais atenção e carinho porque o
paciente soropositivo ao hiv precisa de carinho redobrado.(*ent_24 *cat_enf *sex_f *id_4
*ren_1 *atenf_3 *athiv_1) x² = 11
"Mas o paciente soropositivo ao hiv trazia álbum e o profissional de enfermagem
procurava aquela solidariedade, conversar, orientar e entrar na vida do paciente
soropositivo ao hiv. Prestar cuidado de enfermagem, porque no que o profissional de
enfermagem presta cuidado de enfermagem, que está ali, não é somente pegar as
medicações e entregar, o profissional de enfermagem conversa.(*ent_30 *cat_enf *sex_f
*id_4 *ren_2 *atenf_2 *athiv_2) x² = 10
Entretanto, alguns membros da equipe apontam que o realizam o cuidado
relacional devido à falta de tempo encontrada na assistência. Admitem que, em
razão da grande quantidade de atividades técnicas que lhes são atribuídas, acabam
por colocar em segundo plano a interação com os pacientes.
Porém, afirmam que existem membros da equipe de enfermagem que mesmo
com o intenso ritmo de atividades encontram tempo para conversar e manter
determinada interação relacional com os pacientes. Desta forma, a falta de tempo
em decorrência do intenso ritmo de trabalho pode ser utilizada como justificativa por
estes membros da equipe, pois reconhecem a importância desta interação e não
fazem por outros motivos diversos, a mesmo por não se sentirem aptos e
preparados psicologicamente para tal.
"Convida-o para assistir televisão e desliga as luzes para manter o ambiente tranqüilo. Eu
não tenho a interação que gostaria com o paciente soropositivo ao hiv porque não dá
tempo porque ele está na fase crítica do hiv/aids.(*ent_27 *cat_enf *sex_f *id_4 *ren_2
*atenf_1 *athiv_1) x² = 15
"Tem profissional de enfermagem que consegue chegar e perguntar, mas não é o normal.
Até porque não temos tempo para isso, para sentar e conversar. (*ent_35 *cat_aux
*sex_f *id_4 *ren_1 *atenf_1 *athiv_1) x² = 14
Por outro lado, membros da equipe que afirmam buscar o distanciamento
do paciente soropositivo ao HIV como forma de auto-proteção, pois esta interação
provoca sofrimento e intenso desgaste psicológico ao profissional, originado das
110
diversas dificuldades enfrentadas pelo paciente e do sofrimento ocasionado pela sua
morte iminente.
Além desses fatores, mencionam que foram ensinados, durante a formação
profissional, que não devem estabelecer laços estreitos com os pacientes, devendo
ter por estes não mais do que empatia ou tão somente tratar bem.
Observa-se, portanto, que as razões alegadas para a necessidade de
distanciamento são de diferentes ordens: evitar o sofrimento, não envolver a vida
pessoal com a profissional, preservar familiares e amigos, sensação de
incompetência para um relacionamento profissional humano, e até o reconhecimento
de que o estabelecimento de vínculo não faz parte do trabalho de enfermagem.
Frente a estes apontamentos, observa-se um despreparo profissional da
equipe de enfermagem para se relacionar com pacientes, ainda mais quando se
trata de pacientes com patologias estigmatizantes e que trazem a iminência da
morte.
Neste sentido, cabe ressaltar que a empatia mencionada pelos entrevistados
difere-se da existência de vínculos afetivos com os pacientes, pois pressupõe
apenas a compreensão dos sentimentos e do comportamento de outra pessoa,
incluindo o ato de se importar com o bem-estar do outro.
"Eu fico com muita pena, choro na frente do paciente, me descompenso e quem precisa
do psicólogo sou eu. Então, eu procuro me afastar, mas, às vezes, o paciente te chamar
e quer você.(*ent_36 *cat_enf *sex_f *id_3 *ren_1 *atenf_2 *athiv_2) x² = 14
"Não tenho o que falar com relação a sentimento com paciente soropositivo ao hiv.
Chegar e trabalhar. Eu presto cuidado de enfermagem e acabou. Trato bem.” (*ent_14
*cat_aux *sex_m *id_3 *ren_1 *atenf_2 *athiv_2) x² = 12
"Porque se desgasta muito, se consome muito, e não é para ser assim. Não é de deixar
de fazer o que deve ser feito, mas não tem que colocar um envolvimento maior nas
situações que te apresentam porque, senão, se envolve e acaba levando aquilo para o
seu dia-a-dia, para sua casa, para sua vida e não e para ser assim.(*ent_15 *cat_enf
*sex_f *id_3 *ren_2 *atenf_2 *athiv_1) x² = 12
"Não devemos nos envolver porque aprendemos no curso de enfermagem que podemos
ter uma empatia por o paciente, mas não podemos ter um envolvimento muito profundo
ou transmitir para ele o que es sentindo. (*ent_29 *cat_aux *sex_f *id_4 *ren_1
*atenf_2 *athiv_2) x² = 11
"Tem paciente soropositivo ao hiv que vive anos, mas depois interna e morre e o
profissional de enfermagem sofre. O profissional de enfermagem se envolve porque é ser
humano, mas tenta não se envolver muito porque senão sofrerá.(*ent_07 *cat_aux
*sex_f *id_4 *ren_2 *atenf_3 *athiv_1) x² = 8
Quando questionados a respeito dos seus sentimentos ao prestar o cuidado
de enfermagem aos pacientes soropositivos ao HIV, os membros da equipe de
111
enfermagem entrevistados afirmaram sentirem uma forte ansiedade aliada ao desejo
e à expectativa de melhora do quadro clínico deste paciente. Ainda, relatam a
existência de sentimento de pena em função da inevitável morte anunciada destes
sujeitos.
"Porque isso é importante. Quando o paciente soropositivo ao hiv está internado meu
sentimento é de tensão que ele melhore.(*ent_29 *cat_aux *sex_f *id_4 *ren_1 *atenf_2
*athiv_2) x² = 7
"Meu sentimento ao prestar cuidado de enfermagem ao paciente soropositivo ao hiv é de
muita pena porque o paciente soropositivo ao hiv não pode se defender.(*ent_40
*cat_aux *sex_f *id_4 *ren_1 *atenf_2 *athiv_2) x² = 7
"Eu acho que é de pena mesmo de olhar a pessoa morrer e não poder fazer nada. O
nosso sentimento é muito forte para essas coisas.(*ent_22 *cat_enf *sex_m *id_4
*ren_2 *atenf_3 *athiv_2) x² = 5
Indo ao encontro das posições assumidas pelos membros da equipe de
enfermagem abordados nesta pesquisa sobre o cuidado relacional, diversos autores
afirmam que, para o cuidado de enfermagem acontecer em sua plenitude, deve aliar
o conhecimento científico e as habilidades técnicas com as interações afetivas e a
expressão da sensibilidade (ALVES; PADILHA; MANCIA, 2004; FERREIRA et al.,
2002; KOHLRAUSCH et al., 2000; WALDOW; LOPES; MEYER, 1995; WALDOW,
1997). Silva e Abrantes (2004) afirmam que o ponto central a ser enfatizado no
cuidado de enfermagem prestado não é o biológico, mas sim aquele que envolve a
afetividade e a comunicação entre o ser cuidado e o cuidador.
Observa-se, portanto, um consenso entre os teóricos do campo sobre a
premissa de que para a concretização do cuidado de enfermagem, fazem-se
necessários o acolhimento afetivo e a escuta sensível das necessidades do ser
humano que se encontra sob este cuidado. E, ainda, que para o alcance destes
propósitos é primordial a proximidade entre cuidador e ser cuidado, a qual requer
solicitude, dedicação e compromisso de um ser para com o outro (GOTARDO, 2002;
SANTOS; PADILHA, 2002; SILVA, A.V., 2003; VIEIRA, 1999).
Assim, é atribuída importância vital ao diálogo entre o ser cuidado e o
cuidador, pois é através deste que os relacionamentos são estabelecidos. Para tal, o
cuidador necessita dispor de empatia, respeito e autenticidade, visando a maior
adaptação do paciente ao tratamento (GALVÃO et al., 2006; LEITE et al., 2006).
Barcelos e Alvim (2003) enfatizam a importância da comunicação durante o
período de internação hospitalar, pois acreditam ser através desta que o paciente
expressa suas solicitações e reivindicações no processo dialógico com a equipe de
112
enfermagem. E, desta forma, torna-se possível sua compreensão acerca da
importância de que aceite o cuidado de enfermagem a ele dispensado. Neste
interim, o diálogo é entendido como um cuidado expressivo da enfermagem.
Galvão et al. (2006), em estudo a respeito da comunicação entre membros da
equipe de enfermagem e portadores de HIV/AIDS, concluíram que a disponibilidades
destes membros da equipe é percebida mediante a demonstração de atenção
durante a assistência ou no estabelecimento de diálogo sobre assuntos não
referentes à assistência.
Durante o convívio estabelecido entre o profissional de enfermagem e o
paciente soropositivo ao HIV, diversos sentimentos manifestam-se, dentre eles a
compaixão, a angústia, a impotência, o apego, a satisfação, a dor pela
estigmatização, o medo, a revolta, a ansiedade e o próprio preconceito. Estes
sentimentos o multideterminados por representações sociais, crenças, valores e
grau de informação dos membros da equipe. O enfrentamento de questões como
morte, sexualidade e drogas exige que os membros da equipe de enfermagem se
sintam preparados para tal, o que nem sempre se observa. (ALVES; PADILHA;
MANCIA, 2004; RIBEIRO; COUTINHO; SALDANHA, 2004; SADALA, 2000;
SADALA; MARQUES, 2006; SANTOS; PADILHA, 2002).
Uma reflexão importante a ser feita sobre a necessidade e a efetivação do
cuidado relacional, refere-se à capacitação profissional para o seu desenvolvimento.
Considerando que os limites entre o relacionamento profissional de ajuda e o
relacionamento pessoal afetivo são tênues, observa-se entre os entrevistados uma
indistinção dessas duas modalidades, o que revela a inexistência de capacitação
profissional para o desenvolvimento da primeira modalidade.
Ao se considerar que o cuidado tem como atributo essencial o
estabelecimento de vínculos com o paciente, é necessário refletir sobre os atributos
desse vínculo e a capacitação profissional necessária para a sua efetivação.
As dificuldades verbalizadas pelos membros da equipe entrevistados para o
estabelecimento do cuidado relacional apontam para três processos psicológicos:
um no qual o profissional estabelece uma relação pessoal-afetiva com o paciente; o
segundo onde o profissional busca manter o distanciamento necessário para a sua
auto-preservação sem, no entanto, se afastar do paciente; e uma última expressão
de distanciamento e negação dos processos de interação que se efetivam durante a
113
ão de cuidado. Esta última modalidade pode ser assumida de forma tácita ou
simplesmente escamoteada pela falta de tempo e pelo excesso de atividades.
Um último aspecto a destacar é que, apesar do cuidado relacional ser
amplamente defendido pelos teóricos de enfermagem, e mais recentemente de
outras áreas de conhecimento, o mesmo não é, ainda, compreendido e assumido
pelas instituições hospitalares (e talvez pelos próprios membros da equipe de
enfermagem) como atribuição própria da equipe de enfermagem, para a qual é
preciso planejamento, capacitação e tempo disponível para a sua execução.
Quanto à empatia, compreendendo-a como o ato de se colocar no lugar do
outro para, desta forma, melhor compreender seus sentimentos e necessidades
(ROGERS, 1994), tem-se como ingrediente essencial para o cuidado de
enfermagem. Isto por concordar com Stefanelli (2005) quando pontua que a empatia
é fundamental para que o profissional de enfermagem entenda o mundo do outro e,
assim, ofereça uma assistência individualizada.
O envolvimento da família no cuidado
Os entrevistados reconhecem a importância da presença de familiares e
amigos durante a hospitalização da pessoa soropositiva ao HIV, pois entendem que
a proximidade destes é um fator que aumenta a segurança e a auto-estima do
paciente, encorajando-o a prosseguir no tratamento. Desta forma, enfatizam que o
cuidado de enfermagem ideal a ser prestado seria propiciar a proximidade do
paciente à família.
"O cuidado de enfermagem ideal seria a família participar do processo.(*ent_33 *cat_enf
*sex_f *id_3 *ren_2 *atenf_2 *athiv_2) x² = 16
"Gostaria de oferecer mais apoio emocional e algumas coisas materiais. Eu não tenho
muita interação com a família, o que peco porque o profissional de enfermagem precisa
ter interação com a família e chamá-la para ficar próximo ao paciente soropositivo ao hiv.
(*ent_27 *cat_enf *sex_f *id_4 *ren_2 *atenf_1 *athiv_1) x² = 15
"Para ele se sentir forte, amado, importante e que precisa fazer sua parte. O meu ideal de
cti seria que fosse aberto à família, fosse planejado e que o paciente com doença crônica
não ficasse sozinho.(*ent_33 *cat_enf *sex_f *id_3 *ren_2 *atenf_2 *athiv_2) x² = 15
"O cuidado de enfermagem ideal ao paciente soropositivo ao hiv seria um ambiente mais
confortável e a família presente porque, na maioria das vezes, a família não es
presente e é triste o paciente ficar no hospital sem ter apoio da família.(*ent_27 *cat_enf
*sex_f *id_4 *ren_2 *atenf_1 *athiv_1) x² = 11
"O cuidado de enfermagem ideal a ser prestado ao paciente soropositivo ao hiv seria
mantê-lo sempre em companhia de um familiar, pois é muito importante para todo
paciente, e para o que esacamado. (*ent_05 *cat_aux *sex_f *id_4 *ren_1 *atenf_2
*athiv_1) x² = 6
114
“Na admissão, o paciente soropositivo ao hiv tem que ter um acompanhante. Ainda mais
com o perfil cada vez mais de jovem, o paciente soropositivo ao hiv não pode estar
sozinho, pois é criança e precisa estar com alguém de sua confiança porque é muita
perda devido ao hiv/aids.(*ent_33 *cat_enf *sex_f *id_3 *ren_2 *atenf_2 *athiv_2) x² = 6
Além da presença da família, os entrevistados destacam a importância do
apoio espiritual para o paciente soropositivo ao HIV.
"Alguém da confiança e que transmita segurança ao paciente soropositivo ao hiv, mesmo
que ele esteja sedado e pensem que não está ouvindo. O mais importante seria o social
e o espiritual do paciente soropositivo ao hiv. O apoio espiritual porque o paciente
soropositivo ao hiv tem uma doença crônica grave, necessita de cti e pensa que es
morrendo.(*ent_33 *cat_enf *sex_f *id_3 *ren_2 *atenf_2 *athiv_2) x² = 11
"Para isso, o paciente precisa estar emocionalmente forte e precisa da família, ser
respeitado e se sentir seguro, precisa ter seu pastor ou padre, se tiver religião. É cultivar
isso, que tenha à disposição mais esse recurso para ajudá-lo.” (*ent_33 *cat_enf *sex_f
*id_3 *ren_2 *atenf_2 *athiv_2) x² = 6
Porém, existem limitações para a aproximação dos familiares/amigos sobre
as quais a equipe de enfermagem não consegue agir diretamente. Entre estas
limitações, encontra-se a falta de suporte econômico, social ou psicológico da família
para lidar com o paciente soropositivo ao HIV.
"Morrer todos irão, mas viver com qualidade até a morte. Viver acamado e dependente,
muitas vezes, a família não tem suporte e o paciente soropositivo ao hiv fica no hospital.
(*ent_27 *cat_enf *sex_f *id_4 *ren_2 *atenf_1 *athiv_1) x² = 18
“Somente que ele mudou a vida dele. E continuamos amando, dando atenção. É um
dentista. Mas isso porque ele sentiu segurança na própria família, de ajudar, de passar
carinho para ele, confiança, ajudar a levar ele para médico. (*ent_02 *cat_aux *sex_f
*id_3 *ren_1 *atenf_1 *athiv_1) x² = 15
s vezes, o profissional de enfermagem oferece espaço para a família permanecer por
mais tempo, mas a família não chega, talvez, por medo. Se o paciente soropositivo ao hiv
estiver lúcido, o profissional de enfermagem deve realizar educação em saúde, saber o
que o paciente soropositivo ao hiv sabe sobre o hiv/aids e como se cuida visando a
melhora e a não aquisição de infecções.(*ent_27 * at_enf *sex_f *id_4 *ren_2 *atenf_1
*athiv_1) x² = 6
A família é compreendida como peça fundamental para um bom desenrolar
do tratamento do paciente soropositivo ao HIV, pois este precisa sentir-se aceito por
seus próximos para que mantenha a sua auto-estima elevada e encontre sentido em
prosseguir o tratamento e cuidar-se. Neste sentido, ela é reconhecida como fonte de
ajuda para o paciente e de contribuição para o seu equilíbrio físico e mental
(SOUSA; KANTORSKI; BIELEMANN, 2004).
Entretanto, os significados atribuídos pela sociedade ao HIV e ao paciente
com HIV/AIDS são também compartilhados pela família, determinando os seus
115
comportamentos. Assim, resulta, muitas vezes, na discriminação e conseqüente
exclusão familiar deste paciente (SOUSA; KANTORSKI; BIELEMANN, 2004).
Para que os familiares tornem-se capazes de apoiar o paciente soropositivo
ao HIV, precisam sentir-se aptos para este convívio e conscientes dos seus
sentimentos frente à doença. Desta forma, a equipe de enfermagem deve se mostrar
disponível a ajudá-los nas dificuldades que se fizerem presentes interagindo com os
familiares com a finalidade de encontrarem a melhor maneira de cuidar dos sujeitos
que vivem com o HIV (SILVEIRA; CARVALHO, 2002; SOUSA; KANTORSKI;
BIELEMANN, 2004). No entanto, a partir dos depoimentos analisados, essa parece
ser, ainda, uma proposição distante do cotidiano profissional de enfermagem.
SENTIMENTOS DA PESSOA COM HIV/AIDS E ESTRATÉGIAS DE CUIDADO
Sentimentos vivenciados pela pessoa com HIV/AIDS no hospital
Durante o convívio travado na internação hospitalar, são observados pelos
membros da equipe de enfermagem alguns sentimentos dos pacientes soropositivos
ao HIV no que se refere ao viver com o agravo. Estes sentimentos revezam-se entre
a depressão, a tristeza, a revolta e a solidão e, muitas vezes, o decorrentes da
morte social vivenciada, da percepção da morte física iminente e das alterações
corporais sofridas.
Estes sentimentos, na maioria das vezes, influenciam diretamente no cuidado
prestado e podem ser constatados, por exemplo, quando o paciente recusa a
administração das medicações ou age rispidamente com os membros da equipe de
saúde, recusando a assistência prestada.
“Às vezes, se o profissional de enfermagem perguntar algo o paciente soropositivo ao hiv
não responde, não quer tomar as medicações, quer ficar sozinho e é mal-humorado.
(*ent_04 *cat_aux *sex_f *id_2 *ren_1 *atenf_1 *athiv_1) x² = 19
s vezes, o profissional de enfermagem não sabe o que fará nessa situação. Às vezes,
o profissional de enfermagem precisa não forçar ao falar porque o paciente soropositivo
ao hiv fica agressivo e fala que somente quer saber que é paciente aidético, que hiv/aids
mata e que morrerá.(*ent_25 *cat_aux *sex_f *id_3 *ren_1 *atenf_2 *athiv_1) x² = 12
A única dificuldade que tenho é quando eles estão revoltados e recusam as medicações.
O paciente soropositivo ao hiv quando fica chateado, revoltado, depressivo, e não quer
tomar banho e trocar de roupa, tudo bem, mas, se recusar as medicações, tem que
conversar.(*ent_35 *cat_aux *sex_f *id_4 *ren_1 *atenf_1 *athiv_1) x² = 12
À medida que surgem desfigurações corporais, decorrentes da AIDS, dos
efeitos colaterais da terapia anti-retroviral e das infecções oportunistas, aumentam
116
as dificuldades de manter o diagnóstico de HIV/AIDS em sigilo. Assim, as pessoas
que vivem com o HIV/AIDS percebem-se cada vez mais próximas de serem
reconhecidas pela sociedade e, desta forma, estigmatizadas (GUIMARÃES;
FERRAZ, 2002).
Diante da possibilidade de serem reconhecidos, os indivíduos soropositivos
ao HIV percebem-se cada vez mais vulneráveis às ações discriminantes por parte
da sociedade. Frente a isto, surgem sentimentos negativos como os de
desesperança, culpa, raiva e depressão, os quais acarretam o decréscimo gradativo
da auto-estima, podendo levar ao suicídio, se não adequadamente acolhidos.
Os sentimentos vivenciados diante de uma doença como a AIDS são
complexos e bastante particulares. Do mesmo modo que no enfrentamento da morte
iminente, o paciente vivencia um processo emocional que pode ir da depressão à
euforia extrema, podendo terminar em uma aceitação mais consciente de seu
estado real.
A equipe que cuida desses pacientes necessita ter clareza do momento em
que cada paciente se encontra para que possa compreender os sentimentos
vivenciados pelos pacientes e melhor lidar com eles. No entanto, nem sempre essa
clareza é possível, uma vez que o acompanhamento psicológico não é uma
atividade desenvolvida para todos os pacientes.
Desta forma, a equipe de enfermagem, enquanto cuidadora nas 24 horas,
acaba por buscar formas de enfrentamento desses estados psicológicos alterados a
partir de uma percepção empírica da ocorrência dos mesmos sem a capacitação
profissional necessária para tal.
Estratégias de cuidado diante do sofrimento da pessoa com HIV/AIDS
No decorrer da hospitalização dos pacientes com HIV/AIDS, os membros da
equipe de enfermagem se deparam com inúmeras situações de dúvidas, incertezas
e outros fatores que ocasionam o sofrimento desta clientela. Diante disto, estes
membros da equipe necessitam executar estratégias de cuidado voltadas a eliminar
ou minimizar este sofrimento.
Os membros da equipe de enfermagem percebem que os pacientes com
HIV/AIDS possuem inúmeras incertezas e concepções equivocadas quanto ao
desenvolvimento do HIV, seu tratamento e suas formas de prevenção, o que pode
resultar na não adesão ao tratamento ou não prevenção de co-infecções. Assim, os
117
entrevistados reconhecem o fundamental papel da equipe de enfermagem no que
consiste à orientação e ao esclarecimento destes pacientes, lembrando que devem
permitir que estes indivíduos exponham suas dúvidas, incertezas e necessidades.
Acreditam, ainda, que através das orientações e esclarecimentos atingirão a
melhora psicológica dos paciente e, conseqüentemente, elevarão a sua auto-estima,
fator considerado imprescindível para um bom prognóstico.
“O profissional de enfermagem precisa explicar que se o paciente veio para o cti é porque
melhorará. Conversando e mostrando para o paciente o lado positivo o ajudará a se
recuperar psicologicamente e da doença porque quando o paciente se sente bem
fisicamente tudo melhora.(*ent_29 *cat_aux *sex_f *id_4 *ren_1 *atenf_2 *athiv_2) =
18
O paciente soropositivo ao hiv precisa melhorar sua auto-estima e acreditar que pode
morrer amanhã atravessando a rua e não devido ao hiv/aids. Que tem tratamento e tem
paciente soropositivo ao hiv que quinze anos está vivo e inteiro. (*ent_31 *cat_enf
*sex_f *id_4 *ren_2 *atenf_2 *athiv_2) x² = 10
Além disso, enfatizam a necessidade dos membros da equipe de
enfermagem reconhecerem as situações nas quais o se encontram aptos para
atuar e necessitam solicitar a ajuda de outro profissional de saúde. Mencionam que
a ajuda do psicólogo se faz necessária, principalmente, no momento em que o
paciente recebe o diagnóstico da soropositividade ao HIV para que converse e
avalie a aceitação e compreensão da doença.
O paciente soropositivo ao hiv que descobre aqui, temos maior preocupação na fase
inicial. Geralmente, solicitamos o psicólogo para conversar com o paciente soropositivo
ao hiv, tentar perceber como está a receptividade dele em relação ao diagnóstico e
orientações práticas em relação à cautela com relação sexual e contato sangüíneo.
(*ent_26 *cat_enf *sex_m *id_3 *ren_2 *atenf_2 *athiv_1) x² = 2
Os membros da equipe de enfermagem entrevistados afirmam que os
pacientes com HIV/AIDS, às vezes, possuem sentimentos negativos e desenvolvem
pensamentos suicidas como solução para as dificuldades encontradas. Por isto, na
iminência destes sentimentos, a equipe de enfermagem e de saúde atua
preventivamente e prepara o ambiente, a fim de evitar este acontecimento.
“O setor fica preparado quando um paciente soropositivo ao hiv quer se matar. Janelas
fechadas e conversa e vem psicólogo. Tem paciente soropositivo ao hiv que vem e fala
que não está com hiv/aids. Morrendo de hiv/aids e fala que não está com hiv/aids.“
(*ent_16 *cat_aux *sex_m *id_3 *ren_1 *atenf_2 *athiv_1) x² = 16
Frente aos discursos apresentados, observa-se que a equipe de enfermagem
possui importante função no que concerne à identificação do sofrimento dos
pacientes hospitalizados e às estratégias para atenuá-los. Isto porque se trata da
118
única equipe de saúde que permanece por período integral em contato com a
clientela durante a hospitalização. Desta forma, mesmo que o estejam aptos a
planejar e executar estratégias, são capazes de reconhecer a necessidade e solicitar
a atuação de outros profissionais de saúde como, por exemplo, o psicólogo.
Faz-se mister considerar que, para identificar este sofrimento, o profissional
de enfermagem precisa estar sensível a ouvir as vidas, incertezas e experiências,
bem como atentar-se para atitudes e expressões do paciente sobre seu cuidado.
De acordo com o conteúdo expresso na classe aqui discutida, pode-se
apontar que membros da equipe de enfermagem do sexo feminino com renda
pessoal mensal inferior a R$ 3.000,00 e tempo de atuação profissional na área de
enfermagem igual ou inferior a 10 anos representam socialmente o cuidado prestado
ao paciente com HIV/AIDS a partir de elementos referentes ao relacionamento
interpessoal. Assim, fazem parte desta representação o relacionamento do referido
paciente com membros da equipe de enfermagem e familiares, os sentimentos deste
paciente frente o diagnóstico da soropositividade, bem como as estratégias voltadas
a seu enfrentamento.
III.3.1.4- O cotidiano do cuidado à pessoa com HIV/AIDS (classe 4)
Conforme se apresenta no Quadro 11, a classe 4 possui associação
estatística com auxiliares de enfermagem com idade entre 35 e 44 anos, que
adquirem renda pessoal mensal inferior a R$ 3.000,00, exercem atuação profissional
na área de enfermagem entre 10 e 20 anos e no que se refere à assistência da
pessoa que vivem com HIV, possuem experiência por período igual ou superior a 15
anos. Enquanto isso, a variável sexo não possui associação estatística com a
referida classe.
119
Quadro 11 Valores de x² relativos às variáveis de análise com associação estatística à classe 4 Rio
de Janeiro, 2007.
Variável de Análise
Categoria Associada à Classe 4
Categoria Profissional
Auxiliar de Enfermagem
23,01
Renda Pessoal Mensal
< R$ 3.000,00
22,59
Tempo de Atuação Profissional com
Pessoas que Vivem com HIV
≥ 15 anos
16,78
Tempo de Atuação Profissional na Área de
Enfermagem
entre 10 e 20 anos
12,05
Idade
entre 35 e 44 anos
7,18
Esta classe possui como variáveis principais: categoria profissional auxiliar de
enfermagem; renda pessoal mensal inferior a R$ 3.000,00; tempo de atuação
profissional com pessoas que vivem com HIV igual ou superior a 15 anos; tempo de
atuação profissional na área de enfermagem entre 10 e 20 anos. E, tem como
variável específica o tempo de atuação profissional com pessoas que vivem com
HIV igual ou superior a 15 anos.
Das 1.402 U.C.E. analisadas, 181 pertencem à presente classe,
correspondendo, desta forma, a 12,91% do corpus de análise. Cada U.C.E. inserida
nesta classe contêm, aproximadamente, 17,94 palavras analisadas. A partir destas
palavras, foram selecionadas 56 formas reduzidas que têm associação estatística (x²
4,69) com a classe para comporem sua C.A.H. (Figura 10).
No Quadro 12 visualiza-se as formas reduzidas associadas à classe 4 que
possuem os maiores valores de x², quais sejam: falei; falou; queria; brincava;
chegou; vim; homem; bonito+; cheguei; e olhei. Dentre estas, somente bonito+ não
se encerra em si, pois possui os contextos semânticos bonito e bonitos.
120
Quadro 12 - Distribuição das formas reduzidas, com maiores valores de x², e seus contextos
semânticos da classe 4 Rio de Janeiro, 2007.
Forma Reduzida
Contexto Semântico
falei
falei
90,82
falou
falou
85,29
queria
queria
62,47
brincava
brincava
40,65
chegou
chegou
37,02
vim
vim
37,02
homem
homem
36,97
bonito+
bonito, bonitos
33,85
cheguei
cheguei
33,85
olhei
olhei
33,85
A partir das formas reduzidas e dos contextos semânticos expostos no
Quadro 12, compreende-se que a classe 4 aborda, como conteúdo geral, o cotidiano
do profissional de enfermagem no lidar com o paciente soropositivo ao HIV.
No entanto, agrupando as formas reduzidas presentes na C.A.H. (Figura 10) e
analisando-as com ênfase nas relações existentes entre elas, construiu-se o
esquema de categorias e sub-categorias da classe exposto na Figura 11, através do
qual chegou-se a conteúdos mais específicos da classe 4.
121
Figura 10 - Classificação Ascendente Hierárquica da Classe 4 Rio de Janeiro, 2007.
122
Desta forma, conclui-se que a classe O cotidiano do cuidado à pessoa com
HIV/AIDS” divide-se em duas categorias: “Relação dos membros da equipe de
enfermagem com diferentes grupos sociais atingidos pelo HIV” e “Vivências dos
membros da equipe e das pessoas com HIV/AIDS no cotidiano da hospitalização”. A
primeira é composta pelas sub-categorias “Diálogo entre membros da equipe de
enfermagem e diferentes grupos de pessoas com HIV/AIDS” e “Novas faces da
AIDS e o seu enfrentamento pelos membros da equipe de enfermagem”. Já a
segunda engloba as sub-categorias “Vínculos estabelecidos no cotidiano da
hospitalização” e “Distanciamento dos membros da equipe de enfermagem”.
Figura 11 - Apresentação esquemática das categorias e sub-categorias presentes na classe 4 Rio de
Janeiro, 2007.
Assim, conclui-se que a classe 4 abarca a representação do cuidado de
enfermagem, em seus aspectos do cotidiano profissional, voltado a diferentes
grupos sociais atingidos pelo HIV.
O cotidiano do cuidado à
pessoa com HIV/AIDS
Relação dos membros da
equipe de enfermagem
com diferentes grupos
sociais atingidos pelo HIV
Vivências dos membros
da equipe e das
pessoas com HIV/AIDS
no cotidiano da
hospitalização
Diálogo entre membros da
equipe de enfermagem e
diferentes grupos de
pessoas com HIV/AIDS
Novas faces da AIDS e o
seu enfrentamento pelos
membros da equipe de
enfermagem
Vínculos estabelecidos no
cotidiano da hospitalização
Distanciamento dos
membros da equipe de
enfermagem
123
RELAÇÃO DOS MEMBROS DA EQUIPE DE ENFERMAGEM COM DIFERENTES
GRUPOS SOCIAIS ATINGIDOS PELO HIV
Diálogo entre membros da equipe de enfermagem e diferentes grupos de
pessoas com HIV/AIDS
Os membros da equipe de enfermagem reconhecem a importância da
existência de diálogo com o paciente soropositivo ao HIV, pois acreditam que
através deste torna-se possível obter uma relativa melhora da condição do paciente.
Apontam que, ao iniciar o diálogo, devem estar dispostos a permanecer por tempo
indeterminado e a ouvir e ajudar o paciente no que este julgar necessário.
Contudo, enfatizam que, às vezes, as necessidades podem não ser
apontadas pelo cliente, mas o profissional precisa estar sensível para percebê-las e,
desta forma, agir sobre elas. Salientam que o diálogo, se realizado de forma
cuidadosa, pode influenciar positivamente no tratamento do paciente, assim como a
escuta negligente pode provocar piora deste.
Frente a isto, mencionam experiências de diálogos vividos com pacientes aos
quais já prestaram cuidados, inclusive àqueles que se encontravam sedados.
“De repente, olhei a feição de uma senhora, cheguei perto dela e comecei a conversar.
Gastei uma hora com ela, mas ela falou tudo o que queria falar.(*ent_30 *cat_enf *sex_f
*id_4 *ren_2 *atenf_2 *athiv_2) x² = 32
“Eu tive experiência com uma paciente que ficou sedada durante muito tempo e quando
acordou reconheceu a minha voz porque, como ela não tinha família e não recebia visita,
eu sempre no horário da visita, nos dias que estava de plantão (...)” (*ent_33 *cat_enf
*sex_f *id_3 *ren_2 *atenf_2 *athiv_2) x² = 31
A e dele o acompanhava. Os profissionais de enfermagem brincavam comigo porque
ele somente ficava melhor no dia em que eu estava. Eu o sei explicar o porquê. Eu
perdia tempo com aquele paciente. Cheia de coisas para fazer, mas ficava, conversava
tanto com ele.(*ent_17 *cat_aux *sex_f *id_3 *ren_1 *atenf_2 *athiv_2) x² = 25
“Depois das conversas esta paciente está melhor da hiperglicemia e não necessita mais
de hemodiálise. O que me marcou foi a paciente soropositiva ao hiv que tinha vinte anos,
uma filha de sete anos e um casamento maravilhoso. (*ent_29 *cat_aux *sex_f *id_4
*ren_1 *atenf_2 *athiv_2) x² = 9
O diálogo é primordial para a efetivação de um cuidado de enfermagem de
qualidade, pois é através dele que se faz possível conhecer o cliente, suas dúvidas,
receios e inquietações, estabelecendo uma relação empática com ele. A
comunicação terapêutica deve ser realizada de forma individual, a fim de que o
cliente sinta-se seguro para expor suas idéias, visto cada um carregar consigo uma
bagagem cultural, um estilo de vida pessoal e condições de vida diferentes (LEITE et
al., 2006). Além disso, o profissional deve mostrar-se receptivo, compreensivo, estar
124
disponível às necessidades do ser cuidado e deve estabelecer-se a horizontalidade
do diálogo.
Barcelos e Alvim (2003) reforçam o caráter relacional do cuidado de
enfermagem, entendendo que o paciente encontra-se em posição de expressar suas
solicitações e dúvidas no processo dialógico. Desta forma, compreendem que o
diálogo consiste em um cuidado integrador da enfermagem hospitalar.
O diálogo é capaz de efetivar a aproximação das pessoas e favorecer o laço
de confiança, os quais tornam-se indispensáveis para romper a rede de estigmas e
tabus presente em doenças que envolvem temas tão polêmicos como o sexo e as
drogas, como é o caso da AIDS.
Novas faces da AIDS e o seu enfrentamento pelos membros da equipe de
enfermagem
Os entrevistados enfatizam que, no início da epidemia da AIDS, as pessoas
acometidas possuíam muitas características que as tornavam facilmente
identificáveis, como o emagrecimento, a diarréia intensa e a presença do sarcoma
de Kaposi. No entanto, pontuam que, atualmente, estes pacientes apresentam
características muito semelhantes aos de pessoas sadias, o que, sobremaneira,
dificulta a sua diferenciação. Desta forma, pontuam que os pacientes soropositivos
têm se apresentado fortes, bonitos e bem cuidados e com prognóstico melhor do
que anos atrás, o que produz no profissional de enfermagem o sentimento de
esperança.
“Quando olhei o homem, sem querer falei: é paciente aidético. Eu falei porque perguntava
o que ele tinha e ninguém sabia. Estava muito magro e com diarréia. Para que eu falei?
Minha tia seguiu o homem o tempo todo, o queria que ele encostasse em nada e
quando ele foi embora queria jogar tudo no lixo porque pensava que contaminaria a
todos.(*ent_03 *cat_aux *sex_f *id_4 *ren_2 *atenf_3 *athiv_2) x² = 30
“Existem aqueles paciente soropositivo ao hiv que mesmo tomando os anti-retrovirais não
se adaptam e sempre são admitidos. Estava lembrando do p. O homem era lindo,
maravilhoso e internou com desorientação, porque não fazia tratamento e acabou
morrendo.(*ent_30 *cat_enf *sex_f *id_4 *ren_2 *atenf_2 *athiv_2) x² = 15
“Eu pensei: esse homem deve ser muito lindo. Ela era uma negra que tinha um cabelo
que não estava tratado e era bem puxado. (*ent_30 *cat_enf *sex_f *id_4 *ren_2
*atenf_2 *athiv_2) x² = 15
“Os paciente soropositivo ao hiv tinham sarcoma de kaposi. Atualmente, s não vemos
mais essas infecções. A maioria tinha sarcoma de kaposi, emagrecimento, diarréia e
morriam. Eles ficavam internados mais para morrer. Era horrível. Atualmente, está
totalmente diferente. s internamos e vemos que tem esperança. (*ent_28 *cat_enf
*sex_f *id_2 *ren_2 *atenf_2 *athiv_1) x² = 12
125
“Eu recebi uma notícia dessa com um paciente soropositivo ao hiv que internou no
isolamento. Um homem forte, bonito, trinta e seis anos, chegou lúcido, agitado, com
medo de vir para o cti, discrásico, sangrando por a boca e nariz e urinando sangue.
(*ent_29 *cat_aux *sex_f *id_4 *ren_1 *atenf_2 *athiv_2) x² = 8
Juntamente com as mudanças ocorridas no que se refere ao perfil físico e
social dos pacientes, os entrevistados apontam para a inserção de novos grupos
sociais no contexto da soropositividade ao HIV. Dentre estes grupos, encontram-se
pessoas casadas e mulheres na faixa etária de 40 anos. No entanto, enfatizam que
a clientela predominante ainda é a de homossexuais masculinos.
“Eu falei: por que você retirou os rótulos? Porque a família não podia saber. Uma mulher
de quarenta e oito anos. Somente quem sabia era a filha.(*ent_35 *cat_aux *sex_f *id_4
*ren_1 *atenf_1 *athiv_1) x² = 27
“Ela deixou de tomar, muitas vezes, os anti-retrovirais para os filhos não saberem. Os
filhos tinham vinte e poucos anos. Porque os filhos não sabiam, e ela queria que eles
continuassem a não saber, quando chegava a hora de tomar os anti-retrovirais, se eles
estivessem por perto, ela deixava de tomar os anti-retrovirais para eles não saberem.”
(*ent_15 *cat_enf *sex_f *id_3 *ren_2 *atenf_2 *athiv_1) x² = 11
“Interna mulher e homem, mas, a maioria, é homossexual. Eles têm um comportamento
diferente. Com o tempo, eu aprendi a prestar cuidado de enfermagem e a conviver com
eles, porque eu não tinha essa convivência.(*ent_17 *cat_aux *sex_f *id_3 *ren_1
*atenf_2 *athiv_2) x² = 10
Ainda, devido aos avanços tecnológicos desenvolvidos, a cada dia drogas
mais avançadas são destinadas ao tratamento do HIV, o que apresenta como
conseqüência o aumento de sobrevida deste pacientes e a redução dos sinais e
sintomas que caracterizaram o perfil do paciente com AIDS desde os primórdios da
epidemia. É interessante observar que a expressão física da doença que matava
evoluiu juntamente com o seu prognóstico de sobrevivência, fazendo com que os
sinais clássicos de emagrecimento e queda abrupta do estado geral fossem
substituídos pela beleza e vivacidade, destacadas pelos entrevistados.
Esses discursos vão ao encontro da mudança de perfil da epidemia de
HIV/AIDS no Brasil que, com o decorrer dos anos, vem apresentando elevação do
número de mulheres e homens heterossexuais e declínio do percentual de
homossexuais infectados pelo vírus (BARBARÁ; SACHETTI; CREPALDI, 2005;
BASTOS, 2006; BRASIL, 2006a; GALVÃO, 2000).
Gruner e Silva (2005), em estudo acerca do perfil epidemiológico de
pacientes com HIV/AIDS em um hospital de referência, evidenciam o aumento
gradativo do número de mulheres infectadas e a redução da internação de pacientes
com determinadas infecções oportunistas. Desta forma, destacam que há uma
126
redução significativa da morbimortalidade relacionada à AIDS após a introdução da
terapia anti-retroviral.
VIVÊNCIAS DOS MEMBROS DA EQUIPE E DAS PESSOAS COM HIV/AIDS NO
COTIDIANO DA HOSPITALIZAÇÃO
Vínculos estabelecidos no cotidiano da hospitalização
São relatados, pelos membros da equipe entrevistados, diversos
relacionamentos travados com os pacientes soropositivos ao HIV que se encontram
internados e sob seus cuidados. Dentre estes relacionamentos, citam-se aqueles
relativos a laços de afetividade que correspondem a diálogos, tratamento com
carinho e descontração durante a assistência, os quais resultam no bem-estar do
paciente, facilitando a aceitação do tratamento e o relacionamento interpessoal com
os profissionais de saúde. Frente a isto, os membros da equipe de enfermagem
mencionam que são efetivadas relações de amizade com estes clientes, o que se
reflete na felicidade sentida pelos últimos ao saberem o dia no qual tais membros da
equipe prestarão cuidados a eles e no forte sentimento de tristeza dos membros da
equipe ao serem informados do falecimento de algum paciente que estava sob os
seus cuidados.
Esse tipo de aproximação pessoal se estabelece a partir de diferentes pontos
de afinidade descobertos pelo profissional e pelo paciente, dentre os quais se
destacam: adesão a um mesmo grupo religioso; preferências culinárias; proximidade
de moradia; ou, simplesmente, laços de solidariedade.
O paciente queria comer mocotó, a dieta dele era livre, perguntei ao médico se ele podia
comer e ele falou que podia. Comprei e minha tia fez.(*ent_32 *cat_aux *sex_f *id_3
*ren_1 *atenf_2 *athiv_2) x² = 43
“Eu falei: somente saio daqui depois que a senhora sorrir. ela ria: a senhora foi um
anjo que apareceu. Sei que eu cheguei na hora que era preciso chegar e agradeço a
deus por isso.(*ent_30 *cat_enf *sex_f *id_4 *ren_2 *atenf_2 *athiv_2) x² = 41
“Eu brincava muito com ela tentando andar igual a ela para o ficarmos andando errado
e batendo uma na outra. E foi decaindo e sempre que eu chegava falava uma frase que
falei desde o dia que a conheci.(*ent_35 *cat_aux *sex_f *id_4 *ren_1 *atenf_1 *athiv_1)
x² = 41
“Eu comecei a cantar para ele e ele falou que nasceu e foi criado na igreja batista e os
treze filhos dele tamm foram criados na igreja batista.(*ent_05 *cat_aux *sex_f *id_4
*ren_1 *atenf_2 *athiv_1) x² = 32
“Desenvolvemos uma amizade muito grande. Ele morava perto de onde eu moro.
Depois que eu descobri. E ele, toda noite, passava muito mal.(*ent_17 *cat_aux *sex_f
*id_3 *ren_1 *atenf_2 *athiv_2) x² = 15
127
Apontam, também, para relações solidárias estabelecidas entre membros da
equipe de enfermagem e paciente soropositivo ao HIV, no que diz respeito ao
diagnóstico da soropositividade e a sua divulgação para familiares e amigos. São
relatadas situações nas quais os pacientes não desejam que familiares e amigos
tomem conhecimento de sua soropositividade ao HIV e, desta forma, a equipe de
enfermagem precisa criar estratégias para prestar sua assistência mantendo o sigilo
quanto ao diagnóstico. Dentre estas estratégias, encontra-se a adequação do
horário das medicações ao momento no qual o paciente encontra-se sozinho, a fim
de que seus familiares e amigos não questionem sobre elas. Além disso, pode ser
necessário modificar a rotina do serviço de forma que não sejam de fácil acesso
informações a respeito do diagnóstico dos pacientes como, por exemplo, em
quadros de anotações para a equipe.
Ainda, as relações solidárias se estabelecem no posicionamento do paciente
soropositivo ao HIV nos casos em que o profissional de enfermagem sofre acidente
de trabalho com seu material biológico. Afirmam que estes pacientes se mostram
culpados e preocupados quanto à possibilidade de contaminar o profissional de
enfermagem.
“Como ele recebia visita que não era somente a família, ele o queria que vissem que
ele tinha hiv/aids. Ele pediu para retirar e o diagnóstico foi retirado.(*ent_01 *cat_aux
*sex_f *id_3 *ren_1 *atenf_1 *athiv_1) x² = 26
“A paciente chorava e dizia que o queria me contaminar. Falei: você não me
contaminou. Fui à saúde do trabalhador e tomei durante um mês os anti-retrovirais.
(*ent_24 *cat_enf *sex_f *id_4 *ren_1 *atenf_3 *athiv_1) x² = 16
O cuidado de enfermagem consiste em um relacionamento que implica em
troca e, para tal, necessita que dois ou mais seres encontrem-se em interrelação
(KOHLRAUSCH et al., 2000). Neste sentido, o cuidado deve ser efetivado pelo
cuidador com o ser cuidado, e não simplesmente para e no ser cuidado, sem a
relação necessária entre estes seres.
Para sua concretização, o cuidado necessita contemplar laços de
solidariedade entre o ser cuidado e o seu cuidador. O contato estabelecido vai muito
além do simples contato físico e de palavras, ele é expresso, também, pela
comunicação não verbal dos corpos, pelos gestos e movimentos e assume
significado na subjetividade dos seres envolvidos no processo de cuidar em
enfermagem (KOHLRAUSCH et al., 2000).
128
Os cuidados de enfermagem pertencem a duas esferas distintas: uma
objetiva, que se refere à realização de procedimentos e técnicas, e uma subjetiva,
que se constitui através da sensibilidade e intuição para cuidar. Desta maneira, a
solidariedade, o fazer com, o jeito de cuidar, a espontaneidade, o envolvimento, o
vínculo compartilhado, a interação, a disponibilidade, a presença, o respeito mútuo,
a valorização de potencialidades, a receptividade e o calor humano, são elementos
essenciais e diferenciais do cuidado humano (ALVES; PADILHA; MANCIA, 2004).
Distanciamento dos membros da equipe de enfermagem
Os entrevistados apontaram para diversos aspectos que dificultam o
relacionamento entre a equipe de enfermagem e os pacientes soropositivos ao HIV
durante o processo de hospitalização. Um desses aspectos são as situações de
violência sofridas pelos membros da equipe de enfermagem durante o
desenvolvimento das ações de cuidado de enfermagem prestado a estes pacientes.
Esta violência, muitas vezes, encontra-se relacionada à revolta sentida pelos
pacientes diante do diagnóstico da soropositividade para o HIV, e vai desde a
violência física até a violência verbal.
“Tiveram casos de paciente soropositivo ao hiv agredir o profissional de enfermagem.
Aconteceu comigo quando vim para dip. Tinha um paciente soropositivo ao hiv revoltado
que teimou que queria me bater. Ele era assim com todos, não era somente comigo.
(*ent_17 *cat_aux *sex_f *id_3 *ren_1 *atenf_2 *athiv_2) x² = 30
“Conforme aconteceu comigo duas vezes. O paciente soropositivo ao hiv, ex-presidiário,
que me jurou de morte aqui. Uma interna de enfermagem me deu o recado, muito
tempo atrás.(*ent_14 *cat_aux *sex_m *id_3 *ren_1 *atenf_2 *athiv_2) x² = 19
Frente a esta violência sofrida, muitos membros da equipe de enfermagem
distanciam-se e recusam-se a prestar atendimento a estes pacientes, pois é a
maneira encontrada por eles para se protegerem das agressões físicas e verbais.
Desta forma, as situações de violência aliadas ao medo do contágio e ao
preconceito originado das representações sociais existentes a respeito da doença e
de seus atingidos, faz com que diversos membros da equipe de enfermagem se
recusem a trabalhar diretamente em contato com pacientes soropositivos ao HIV.
Isto é refletido na grande dificuldade de encontrar membros da equipe que aceitem
trabalhar nos setores de DIP, segundo o relato dos entrevistados.
“Eu chamei minha chefe e falei que não prestaria mais cuidado de enfermagem àquele
paciente soropositivo ao hiv, que ele podia internar e ter parada cardio-respiratória que eu
não prestava cuidado de enfermagem a ele. (*ent_14 *cat_aux *sex_m *id_3 *ren_1
*atenf_2 *athiv_2) x² = 32
129
“Eu era de outro plantão e surgiu uma vaga. Eu cobria férias e licença, não tinha plantão
fixo. Surgiu uma vaga na dip, essa vaga existia um bom tempo e ninguém queria vir
para cá.(*ent_17 *cat_aux *sex_f *id_3 *ren_1 *atenf_2 *athiv_2) x² = 32
“Atualmente, todos, ainda, têm medo. Não fui diferente quando vim para . Ninguém
queria vir para a dip. Eu perguntei ao psicólogo porque me lotaram aqui e ele me falou
que, por meu perfil do psicotécnico, eu tinha condições de trabalhar na dip. (*ent_14
*cat_aux *sex_m *id_3 *ren_1 *atenf_2 *athiv_2) x² = 14
Outro aspecto apontado pelos entrevistados como empecilho para um bom
relacionamento durante o desenvolvimento do processo de cuidar em enfermagem é
a o aceitação da assistência e do tratamento por parte dos pacientes
soropositivos ao HIV. Frente a isto, os membros da equipe de enfermagem devem
portar-se no sentido de esclarecê-los a respeito da doença e de seu tratamento a fim
de que possuam autonomia suficiente para decidir conscientemente sobre a adesão
ou não ao tratamento.
“Não olhava, eu perguntava e ela o respondia, olhava de cara feia. Fui deixando. O dia
que ela falou que não queria tomar as medicações, eu sentei e tentei fazer com que ela
tomasse.(*ent_35 *cat_aux *sex_f *id_4 *ren_1 *atenf_1 *athiv_1) x² = 26
Ainda, encontra-se o preconceito por parte do profissional de enfermagem
como aspecto impeditivo para o relacionamento afetuoso entre o cuidador e o ser
cuidado. Este preconceito ocasiona o afastamento entre tais atores e, desta forma,
não possibilita a concretização do efetivo cuidado humano.
“Desfazia dos pacientes soropositivos ao hiv a ponto deles ouvirem. Eu sei que as
pessoas não gostavam dele. Quando chegava perto, ele brincava, mas eu acho que os
pacientes soropositivos ao hiv percebiam.(*ent_30 *cat_enf *sex_f *id_4 *ren_2 *atenf_2
*athiv_2) x² = 19
Alves, Padilha e Mancia (2004) pontuam, em seu trabalho sobre o cuidado de
enfermagem voltado às pessoas que vivem com HIV/AIDS, que a hospitalização
representa para este cliente um momento crítico, no qual se torna visível a evolução
da doença, o que o impossibilita de negar o diagnóstico da soropositividade ao HIV.
Diante disto, este paciente pode mostrar-se revoltado e refletir, de forma violenta, os
seus sentimentos no profissional que se encontra responsável pela sua assistência.
Assim, a atenção da equipe de enfermagem pode corresponder em
instrumento vital para o encorajamento do cliente para enfrentar a hospitalização e
amenizar ou superar as dificuldades encontradas no processo de adoecimento. Para
tal, os membros da equipe de enfermagem precisam encontrar-se dispostos a
130
estabelecer uma relação de ajuda com esta clientela, o que pode ser dificultado pelo
preconceito e medo de contágio, sentidos durante a assistência.
Fox, Aiken e Messikomer (1990) afirmam que grande número de profissionais
de saúde sente medo de cuidar de pacientes soropositivos ao HIV devido ao medo
de infecção para si e para seus familiares, sua desaprovação da homossexualidade,
seu desconforto em se relacionar com os homossexuais, sentimentos negativos
relacionados às drogas endovenosas e a seus usuários.
Com base na presente classe, aponta-se que auxiliares de enfermagem que
possuem renda pessoal mensal inferior a R$3.000,00, atuam na área de
enfermagem entre 10 e 20 anos e com pacientes soropositivos ao HIV período
igual ou superior a 15 anos constroem a representação social acerca do cuidado de
enfermagem prestado ao paciente com HIV/AIDS com base em conteúdos
referentes ao cotidiano deste cuidado. Para tal, utilizam-se de elementos da relação
existente entre os atores envolvidos neste cuidado e de suas vivências durante a
hospitalização. Ainda, pontuam as novas faces da epidemia que se mostram no
ambiente do cuidado.
Pode-se perceber que esta representação construída fortemente relacionada
ao cotidiano do cuidado deve-se ao fato destes sujeitos encontrarem-se
efetivamente em contato direto com os pacientes soropositivos ao HIV e à
expressiva experiência profissional, representada pelo tempo de atuação com estes
sujeitos.
IV.3.1.5- Os sujeitos sociais do cuidado (classe 5)
A classe aqui disposta apresenta associação estatística com auxiliares de
enfermagem do sexo feminino, com idade igual ou superior a 45 anos, renda
pessoal mensal entre R$ 3.000,00 e R$ 6.000,00 e que atuam na área de
enfermagem a período igual ou inferior a 10 anos.
A classe 5, conforme constata-se no Quadro 13, apresenta como variáveis
principais idade igual ou superior a 45 anos e categoria profissional auxiliar de
enfermagem.
131
Quadro 13 Valores de x² relativos às variáveis de análise com associação estatística à classe 5 Rio
de Janeiro, 2007.
Variável de Análise
Categoria Associada à Classe 5
Idade
≥ 45 anos
11,34
Categoria Profissional
Auxiliar de Enfermagem
8,23
Sexo
Feminino
6,94
Tempo de Atuação Profissional na Área de
Enfermagem
≤ 10 anos
5,95
Renda Pessoal Mensal
Entre R$ 3.000,00 e R$ 6.000,00
4,86
O quantitativo de 113 U.C.E., das 1.402 totais analisadas, compõem a classe
5, o que a faz corresponder a 18,63% do corpus da análise Alceste. Nestas U.C.E.,
foram selecionadas 45 formas reduzidas que possuem associação estatística (x²
5,46) com a classe e, a partir destas, construiu-se a C.A.H. (Figura 12). Cabe
salientar que em cada U.C.E. da classe 5 foram analisadas, em média, 18,63
palavras.
Dentre as formas reduzidas que compõem a presente classe, o Quadro 14
expõe aquelas que possuem os maiores valores de x², o elas: esposa; relação
sexual; esposo; mulher; adolescente+; exame+; soube+; hemotransfusao;
contaminou; e prestei. Destas, adolescente+ possui os contextos semânticos
adolescente e adolescentes, exame+ possui exame e exames, e soube+ possui
soube e soubesse, enquanto as demais se encerram em si mesmas.
Quadro 14 - Distribuição das formas reduzidas, com maiores valores de x², e seus contextos
semânticos da classe 5. Rio de Janeiro, 2007.
Forma Reduzida
Contexto Semântico
esposa
esposa
209,52
relação sexual
relação_sexual
162,08
esposo
esposo
129,85
mulher
mulher
117,44
adolescente+
adolescente, adolescentes
102,70
exame+
exame, exames
102,16
soube+
soube, soubesse
92,55
hemotransfusao
hemotransfusão
79,86
contaminou
contaminou
73,19
prestei
prestei
68,74
132
Com base nas formas reduzidas e nos contextos semânticos da classe,
constata-se que esta abrange, como conteúdo geral, os grupos atingidos, as formas
de transmissão e de diagnóstico do HIV.
A C.A.H. pode ser observada na Figura 12, com os seus grupamentos de
formas reduzidas.
Contanto, através do esquema de categorias e sub-categorias (Figura 13)
construído a partir da C.A.H. (Figura 12), nota-se que a classe “Os sujeitos sociais
do cuidado” é composta pelas categorias Modos de transmissão e o novo
preconceito” e “Processos de diagnóstico e vivências das pessoas com HIV/AIDS”.
Na primeira, encontram-se questões a respeito dos diferentes modos de transmissão
do HIV e a relação com os diferentes grupos sociais, com as sub-categorias
“‟Vítimas‟ e „culpados‟ pela epidemia da AIDS” e “Modelação do cuidado em função
das „vítimas‟ e „culpados‟ pela epidemia”. a segunda categoria engloba os
métodos de diagnóstico e o momento da descoberta do diagnóstico da
soropositividade ao HIV, com as sub-categorias “Vivências e sentimentos frente ao
diagnóstico da AIDS” e “Vivências e sentimentos frente ao diagnóstico da AIDS
durante a hospitalização”.
Frente a isto, conclui-se que, na classe 5, a representação social do cuidado
de enfermagem prestado ao paciente soropositivo ao HIV encontra-se intimamente
relacionada às formas de diagnóstico e de transmissão do HIV segundo sua relação
com os diferentes grupos sociais atingidos.
133
Figura 12 - Classificação Ascendente Hierárquica da Classe 5. Rio de Janeiro, 2007.
134
Figura 13 - Apresentação esquemática das categorias e sub-categorias presentes na classe 5. Rio de
Janeiro, 2007.
MODOS DE TRANSMISSÃO E O NOVO PRECONCEITO
“Vítimas” e “culpados” pela epidemia da AIDS
Os membros da equipe de enfermagem entrevistados demonstram em seus
discursos possuir conhecimento acerca dos modos de transmissão do HIV,
mencionando a transmissão sexual, a transmissão sangüínea e a transmissão
vertical. Pode-se observar que eles salientam algumas particularidades dentre estes
modos de transmissão: na primeira, abrangem o contágio homossexual e o
heterossexual; na segunda reconhecem o contágio através da hemotransfusão e do
uso de drogas injetáveis; enquanto que a terceira pode acontecer durante a
gestação, no parto ou através do aleitamento materno.
No que se refere ao contágio sexual, enfatizam o expressivo quantitativo de
contaminações heterossexuais, através do relacionamento extraconjugal, com a
posterior contaminação do(a) parceiro(a) sexual fixo. Mencionam que, por vezes,
mesmo tendo conhecimento do diagnóstico da soropositividade ao HIV, a pessoa
não utiliza métodos preventivos com a finalidade de proteger seu(sua) parceiro(a)
sexual e, desta forma, acaba por contaminá-lo(a).
Quanto à contaminação através do aleitamento materno, enfatizam que,
mesmo sendo orientadas e sabendo do grande risco de contaminação existente na
Os sujeitos sociais do
cuidado
Modos de transmissão
e o novo preconceito
Processos de diagnóstico
e vivências das pessoas
com HIV/AIDS
“Vítimas” e “culpados” pela
epidemia da AIDS
Modelação do cuidado em
função das “vítimas” e
“culpados” pela epidemia
Vivências e sentimentos
frente ao diagnóstico da
AIDS
Vivências e sentimentos
frente ao diagnóstico da
AIDS durante a
hospitalização
135
amamentação da criança, as mães soropositivas ao HIV insistem, por vezes, em
fazê-lo.
"Tudo isso é possível ocorrer com o paciente. Às vezes, a pessoa se acidenta na rua e
precisa receber hemotransfusão e se contamina, usuário de drogas ou é contaminada por
o parceiro sexual que pensava ser uma pessoa que tinha uma vida normal com ela,
casada.(*ent_23 *cat_aux *sex_m *id_3 *ren_2 *atenf_2 *athiv_2) x² = 22
"O paciente soropositivo ao hiv se preocupa com sua satisfação, contamina a esposa, a
esposa engravida e nasce uma criança com hiv/aids. É muita tragédia social envolvendo
o hiv/aids que ficamos preocupados e lembramos que o hiv/aids está cada vez mais perto
de nós.(*ent_26 *cat_enf *sex_m *id_3 *ren_2 *atenf_2 *athiv_1) x² = 21
"As mães querem amamentar, sem poder, antes de saber se a criança é paciente
soropositivo ao hiv ou não. Porque, quando nasce, tem que fazer o exame para saber se
a criança é paciente soropositivo ao hiv, e as mães querem fazer as coisas que o médico
prescreve que não pode fazer. (u.c.i. : 34 *34 *ent_34 *cat_aux *sex_f *id_4 *ren_1
*atenf_2 *athiv_1) x² = 14
No que diz respeito, especificamente, aos profissionais de saúde, a
possibilidade de sua contaminação ocupacional e a conseqüente tensão que
envolve este processo são referidas. Desta forma, aborda-se a tensão psicológica
vivenciada pelo profissional de enfermagem frente à ocorrência de acidente com
material biológico.
"Eu fiquei desesperado, peguei cloro, água oxigenada, ordenhei meu dedo, li o prontuário
do paciente e todos os exames para saber que não era paciente soropositivo ao hiv.
(*ent_38 *cat_aux *sex_m *id_3 *ren_1 *atenf_2 *athiv_2) x² = 4
O julgamento entre timas e culpados pela contaminação, ainda se faz
claramente presente nos discursos dos sujeitos, caracterizando uma nova forma de
expressão do preconceito. No primeiro grupo, encontram-se as pessoas
monogâmicas que foram contaminadas por seu(sua) parceiro(a) sexual que contraiu
o HIV em relação sexual extraconjugal e aquelas que receberam através de
hemotransfusão, sangue ou hemoderivados contaminados, numa clara referência à
falta de controle sobre as fontes de contágio. Enquanto isso, o segundo grupo
abarca indivíduos que, segundo os entrevistados, “estão procurando o HIV”, pois
possuem comportamentos socialmente desviantes, como o uso de drogas injetáveis
e/ou o relacionamento sexual extraconjugal.
"Acontece muito da mulher ou do homem adquirir de seu esposo ou esposa e não saber.
No caso da hemotransfusão a pessoa também não tem culpa.(*ent_24 *cat_enf *sex_f
*id_4 *ren_1 *atenf_3 *athiv_1) x² = 12
sentimento de amor porque é um ser humano e todos devem amar todos. O usuário
de drogas e o esposo ou a esposa que tem relação sexual extraconjugal estão
procurando o hiv/aids.(*ent_24 *cat_enf *sex_f *id_4 *ren_1 *atenf_3 *athiv_1) x² = 12
136
Frente a isto, relata-se a presença de atitudes discriminatórias desenvolvidas
por membros da equipe de saúde e pelos próprios pacientes soropositivos ao HIV,
de acordo com a forma de contágio estabelecida. Ou seja, quanto mais o modo de
contágio se aproxima daquele nos quais o paciente é tido como vítima, menores são
as atitudes discriminatórias dirigidas a eles. Ressaltam, neste sentido, que os
próprios pacientes soropositivos ao HIV sentem a necessidade de comunicar seu
modo de contágio, a fim de livrarem-se destas pressões.
"Teve um paciente soropositivo ao hiv internado que os profissionais de enfermagem o
criticavam porque pensaram que tivesse se contaminado através de relação sexual
extraconjugal e havia contaminado a esposa, porque ela o queria fazer o exame.”
(*ent_06 *cat_aux *sex_f *id_3 *ren_1 *atenf_1 *athiv_1) x² = 34
"Teve um caso de uma senhora que era idosa, ela fez questão de nos informar que
pegou em hemotransfusão. Somente sobre o modo de transmissão, porque, às vezes, eu
acho que diferencia deles para os profissionais de enfermagem.(*ent_01 *cat_aux
*sex_f *id_3 *ren_1 *atenf_1 *athiv_1) x² = 8
Esse perfil discursivo acerca dos modos de transmissão do HIV vão ao
encontro das informações disponíveis nas literaturas científicas. Braunwald et al.
(2002) e Smeltzer e Bare (2002) reconhecem três formas de transmissão do vírus:
sexual; sangue e hemoderivados; materno-fetal/infantil. Na primeira encontram-se os
contágios por relações sexuais, sejam através de contato anal, vaginal ou oral,
homossexual ou heterossexual com pessoas infectadas pelo HIV. A segunda
engloba as transfusões sangüíneas e transplantes de tecido contaminado pelo HIV,
encontrando-se neste grupo, os usuários de drogas injetáveis. Já a terceira forma de
transmissão compreende a infecção transmitida pela mãe infectada ao feto durante
a gestação ou para o recém-nascido durante o parto ou por meio da amamentação.
Estes autores dão ênfase especial à transmissão ocupacional por
profissionais de saúde, entendendo esta como o contágio acidental durante a
realização de atividades membros da equipe, podendo acontecer através de
exposições percutâneas ou cutâneo-mucosas (BRAUNWALD et al., 2001;
SMELTZER; BARE, 2002).
É reconhecido que a AIDS ainda encontra-se fortemente carregada de
conteúdos representacionais gerados nos seus primórdios e, desta forma, continua
discriminando os sujeitos cujas formas de transmissão implica em suposta
intencionalidade como homossexuais, múltiplos parceiros sexuais, usuário de
drogas como culpados pela epidemia. De outro lado, mantém o rótulo de timas
para os hemofílicos, os hemotransfundidos, crianças, mulheres e homens infectados
137
por seu(sua) parceiro(a) contaminado(a) em relações extraconjugais. Assim,
observou-se a elaboração ou uma nova modalidade de discriminação, aquela
operada pela divisão das pessoas infectadas pelo HIV em culpados e vítimas e,
conseqüentemente, a carga de preconceito atribuída às últimas é bastante
amenizada, visto serem vistas como timas da irresponsabilidade alheia (BASTOS,
2006; MADEIRA, 1998; SILVA; ABRANTES, 2004).
Modelação do cuidado em função das “vítimas” e “culpados” pela epidemia
Frente às diversas formas de transmissão identificadas, os entrevistados
reconhecem determinados grupos sociais que se apresentam em seu dia-a-dia de
prática profissional e aos quais prestam cuidado de enfermagem. Dentre estes
grupos, encontram-se mulheres, homens, jovens, idosos, pessoas com relações
conjugais estáveis, homossexuais, usuário de drogas e profissionais do sexo.
Neste contexto, relatam que grande parte dos pacientes soropositivo ao HIV,
aos quais prestam cuidado de enfermagem no âmbito hospitalar, continuam sendo
os homossexuais, porém, reconhecem o crescente quantitativo de heterossexuais
infectados que têm sido inseridos neste cenário.
Ainda no que consiste à inserção de novos atores sociais no cenário de
atendimento às pessoas soropositivas ao HIV, apontam que algumas características
da mudança de perfil da epidemia são observadas no interior das unidades de
internação hospitalar, como a feminização e o envelhecimento.
Salientam o crescente quantitativo de internações de mulheres contaminadas
pelo HIV, as quais, muitas vezes, são pessoas casadas que foram infectadas por
seus parceiros sexuais fixos, após a contaminação destes em relações
extraconjugais. No entanto, quanto à contaminação de pessoas que possuem
relacionamento fixo, constatam que seu quantitativo é distribuído equiparadamente
entre mulheres e homens.
Igualmente, assinalam o considerável aumento de internações de pessoas
idosas infectadas pelo HIV e afirmam que, em sua maioria, são encontrados homens
nesta faixa etária. Desta forma, atribuem o crescimento da infecção neste grupo às
inovações farmacológicas que conferem aos homens idosos a extensão da vida
sexual ativa, através da qual ocorre grande parte das transmissões do vírus neste
grupo etário.
138
Também, dissertam sobre uma das conseqüências do aumento da incidência
do HIV entre as mulheres, na sua maioria em idade fértil, qual seja, a transmissão
vertical. Apontam que algumas mulheres possuem a consciência sobre a
necessidade de prevenção da infecção do HIV para a criança e realizam a profilaxia
adequadamente durante todo o pré-natal. Porém, outras não se conscientizam e
assumem atitudes de risco até mesmo após o nascimento da criança, como é o caso
do aleitamento materno desenvolvido mesmo após orientação quanto aos seus
riscos.
"Tem mulher que é paciente soropositivo ao hiv. Às vezes, pode ter vários parceiro sexual
ou somente um parceiro sexual estável que o esposo tem relação sexual extraconjugal, a
esposa não sabe, adquire o hiv/aids e somente sabe quando o esposo morre e ela fica
doente.(*ent_04 *cat_aux *sex_f *id_2 *ren_1 *atenf_1 *athiv_1) x² = 44
"Foi o caso de um paciente soropositivo ao hiv de setenta anos que prestei cuidado de
enfermagem. Ele saiu bem, paciente soropositivo ao hiv e arrependido de ter tido relação
sexual extraconjugal.(*ent_29 *cat_aux *sex_f *id_4 *ren_1 *atenf_2 *athiv_2) x² = 39
uma esposa que o esposo, ou um esposo que a esposa, teve relação sexual
extraconjugal. Um filho usuário de drogas que os pais não sabiam e eu fico com pena da
mãe e do pai que descobriram que o filho é paciente soropositivo ao hiv e querem ajudá-
lo.(*ent_24 *cat_enf *sex_f *id_4 *ren_1 *atenf_3 *athiv_1) x² = 39
"Ela não sabia que era paciente soropositivo ao hiv, mas disse que o tinha relação
sexual com preservativo, mesmo sendo prostituta. No início, devido à toxoplasmose, a
paciente soropositivo ao hiv estava desorientada, não reconhecia pai, mãe ou filho e
ficava contida ao leito.(*ent_03 *cat_aux *sex_f *id_4 *ren_2 *atenf_3 *athiv_2) x² = 33
"Na dip o profissional de enfermagem ainda presta cuidado de enfermagem a muito
paciente soropositivo ao hiv homossexual que se sente culpado por ter contraído o
hiv/aids. Às vezes, são mulher que seu esposo as contaminou e elas descobriram
somente porque o esposo morreu. (*ent_25 *cat_aux *sex_f *id_3 *ren_1 *atenf_2
*athiv_1) x² = 17
Os membros da equipe de enfermagem entrevistados sinalizam que uma
notável mudança no perfil dos pacientes soropositivos ao HIV que têm procurado a
internação hospitalar. Salientam que, em anos anteriores, no setor de internação
eram encontrados, em sua maioria, pacientes do sexo masculino, realidade invertida
devido ao intenso quantitativo de mulheres soropositivas ao HIV que necessitam do
serviço, conforme pontuado anteriormente.
"Antigamente, paciente soropositivo ao hiv era homem. Atualmente, tem muita mulher
jovem. Mas não tem cuidado de enfermagem diferenciado, todo paciente recebe o
mesmo cuidado de enfermagem. (*ent_33 *cat_enf *sex_f *id_3 *ren_2 *atenf_2
*athiv_2) x² = 8
" seis anos não havia muita paciente soropositiva ao hiv mulher internada, mas,
atualmente, o profissional de enfermagem presta cuidado de enfermagem a muitas
paciente soropositiva ao hiv mulher internada. Algumas paciente soropositivo ao hiv
mulher são prostitutas. Recentemente, os profissionais de enfermagem da dip prestaram
139
cuidado de enfermagem a uma paciente soropositiva ao hiv mulher que internou e ficou
abandonada por a família.(*ent_25 *cat_aux *sex_f *id_3 *ren_1 *atenf_2 *athiv_1) =
11
Encontra-se correspondência entre o perfil observado pelos entrevistados nos
setores de internação hospitalar nos quais trabalham e a taxa de incidência de casos
de AIDS no território brasileiro, conforme dados disponíveis no Boletim
Epidemiológico DST-AIDS de 2006, os quais confirmam a feminização e o
envelhecimento da epidemia. Segundo o documento oficial, em 2000, foram
diagnosticados 718 casos de AIDS entre pessoas com 60 anos ou mais, enquanto
que, em 2005, diagnosticaram-se 1.011 novos casos nesta mesma faixa etária.
no que concerne à razão entre homens/mulheres infectados, em 2000, constata-se o
valor de 1,7, este decaindo, em 2005, para 1,5 (BRASIL, 2006a).
De acordo com os discursos dos entrevistados, o maior quantitativo de
mulheres soropositivas ao HIV que se encontram internadas consistem naquelas
que são casadas. Estas observações podem ser compreendidas a partir do
cruzamento das informações encontradas nas pesquisas de Takahashi, Shima e
Souza (1998), Souza Filho (2000) e Oltramari e Camargo (2004).
A primeira pesquisa compreende o estudo do perfil de uma população
feminina infectada pelo HIV e aponta que a principal forma de exposição ao HIV nas
mulheres é a sexual. Ao passo que as duas últimas pesquisas, ambas sobre as
práticas sexuais, comprovam que as mulheres casadas, quando comparadas com
as solteiras, apresentam menor freqüência de utilização do preservativo como forma
de prevenção da infecção pelo HIV. Isto se deve ao fato de acreditarem ser
desnecessária a sua utilização por possuírem somente um parceiro sexual. Desta
forma, acreditam ser suficiente para a prevenção do HIV a unicidade de parceiro
sexual e a fidelidade (OLTRAMARI; CAMARGO, 2004; SOUZA FILHO, 2000).
É preciso atentar-se que a infecção pelo HIV nas mulheres apresenta como
uma de suas conseqüências, talvez a mais perniciosa delas, conforme salientam
Takahashi, Shima e Souza (1998), a transmissão vertical, a qual apresenta elevadas
taxas de incidência, com tendência ao crescimento. Além disso, precisa-se
considerar que conforme a infecção pelo HIV nestas mulheres for evoluindo e
progredindo para sua letalidade, aumentar-se-á o número de órfãos da AIDS, sejam
estes soropositivos ao HIV ou não (ORTIGÃO, 1995).
140
PROCESSOS DE DIAGNÓSTICO E VIVÊNCIAS DAS PESSOAS COM HIV/AIDS
Vivências e sentimentos frente ao diagnóstico da AIDS
Os membros da equipe de enfermagem entrevistados apresentam discursos
acerca das formas disponíveis para o diagnóstico do HIV e explicitam o
conhecimento da existência dos testes sorológicos laboratoriais como única forma
de diagnosticar o HIV. Ainda no que consiste aos testes diagnósticos, demonstram
compreender o protocolo a ser seguido antes de ser confirmado o diagnóstico de
positividade.
"Foi necessário fazer três exames para confirmar. Mas a paciente soropositivo ao hiv
estava muito bem quando recebeu alta hospitalar. Somente solicitamos que o esposo da
paciente soropositiva ao hiv se precavesse e fizessem um exame na filha que tinha sete
anos.(*ent_29 *cat_aux *sex_f *id_4 *ren_1 *atenf_2 *athiv_2) x² = 23
“Há três anos convocaram na televisão pessoas que realizaram hemotransfusão no
mesmo ano do acidente dela para procurar um hospital e fazer exame de sangue.
(*ent_06 *cat_aux *sex_f *id_3 *ren_1 *atenf_1 *athiv_1) x² = 5
“Sempre utilizar preservativo, evitar trocar seringa, avisar quando estiver acidentado. Foi
uma vez no hospital que nós fizemos o teste rápido e vimos que o paciente era paciente
soropositivo ao hiv, nós não podíamos falar para ele porque temos que esperar a
confirmação do elisa, que demora muito tempo para sair o resultado.(*ent_28 *cat_enf
*sex_f *id_2 *ren_2 *atenf_2 *athiv_1) x² = 4
Além disso, entendem que por determinado tempo decorrido após o contato
com o agente contaminante, o é possível detectar o anticorpos anti-HIV na
corrente sangüínea através dos exames laboratoriais, sendo este período
denominado de janela imunológica. E, desta forma, uma pessoa infectada que esteja
no período de janela imunológica não terá os anticorpos anti-HIV detectados no
exame, ou seja, obterá um resultado falso negativo.
“Teve um caso no hospital de uma paciente que realizou transplante de medula óssea e o
doador era o irmão dela. Ninguém sabia que o irmão era paciente soropositivo ao hiv
porque ele estava na janela imunológica e o exame o detectou. (*ent_23 *cat_aux
*sex_m *id_3 *ren_2 *atenf_2 *athiv_2) x² = 12
Igualmente, possuem conhecimento acerca da necessidade de periodicidade
na realização de exames laboratoriais a fim de detectar a possível contaminação
após a ocorrência de exposição à fonte de risco.
O resultado foi negativo. Aliviou-me, mas eu sabia que eu não era paciente
soropositivo ao hiv porque eu sempre faço esse exame. Eu não relaxo com isso. No
entanto, eu sofri um acidente de trabalho com material biológico de uma paciente
soropositiva ao hiv e utilizei os anti-retrovirais durante três meses e por dois anos, a cada
três meses, fiz o exame de sangue. (*ent_40 *cat_aux *sex_f *id_4 *ren_1 *atenf_2
*athiv_2) x² = 11
141
Ainda, possuem informações acerca das instituições às quais a pessoa deve
se dirigir, no caso de atendimentos ambulatoriais, para a realização de teste
sorológico gratuito para detecção da soropositividade ao HIV.
Dissertam, também, acerca das vivências por eles percebidas de pessoas
que receberam o diagnóstico da soropositividade ao HIV e viram-se sem saber a
forma como se comportar perante sua nova realidade.
O amigo não era paciente soropositivo ao hiv e essa mulher era paciente soropositiva ao
hiv. Ela era noiva e saiu sem saber como explicar ao noivo. Esse fato me marcou porque
era uma mulher jovem, descobriu na testagem anônima que era paciente soropositiva ao
hiv e não tinha sintoma.(*ent_08 *cat_aux *sex_f *id_4 *ren_2 *atenf_2 *athiv_2) x² = 35
Diante do pontuado nos discursos anteriores, pode-se afirmar que os
membros da equipe de enfermagem possuem informações adequadas no que diz
respeito à disponibilidade e aos exames de diagnósticos para o HIV mais comuns,
pois estes consistem em testes sorológicos.
De acordo com a Coordenação Nacional da DST e Aids, visando maximizar o
grau de confiabilidade dos resultados dos testes para detecção de anticorpos anti-
HIV, exige-se a operacionalização deste em três etapas, quais sejam: I) triagem
sorológica; II) confirmação sorológica pelo teste de imunofluorescência indireta para
HIV-1 (IFI/HIV-1); III) confirmação sorológica pelo teste para HIV-1 (WB/HIV-1)
(BRASIL, 1999).
Assim, na etapa I devem ser realizados dois testes (1 e 2) consecutivos e
distintos (princípios metodológicos e/ou antígenos distintos) para todas as amostras
de sangue, devendo ao menos um deles ser capaz de detectar anticorpos anti-HIV-1
e anti-HIV-2. As amostras com resultados discordantes ou indeterminados nos
testes 1 e 2 devem ser retestadas pela etapa I e, caso apresentem-se não-
reagentes, devem ser definidas como “Amostra Negativa para HIV”. No entanto, no
caso de apresentarem-se reagentes, com resultados discordantes ou
indeterminados, devem seguir processo igual àquelas reagentes no primeiro teste 1
e 2 (BRASIL, 1999).
As amostras reagentes nos testes 1 e 2 devem ser submetidas ao teste
confirmatório de acordo com a etapa II ou III. Aquelas que mostrarem-se reagentes
no teste II terão o resultado definido como “Amostra Positiva para HIV-1”, sendo
obrigatória nova coleta de material e repetição da etapa I. Enquanto que aquelas
142
com resultado indeterminado ou negativo deverão ser submetidas ao teste III
(BRASIL, 1999).
As amostras submetidas à etapa III que mostrarem-se reagente receberão o
resultado de “Amostra Positiva para HIV-1”, sendo obrigatória a coleta de nova
amostra e a repetição da etapa I para a confirmação da positividade da primeira
amostra. as amostras que mostrarem-se indeterminadas terão o resultado de
“Amostra Indeterminada para HIV-1”, devendo ser submetida à investigação de
anticorpos anti-HIV-2 e realizada a coleta de nova amostra de material, após 30
dias, para a repetição do teste visando a detecção de possível soroconversão
recente. As amostras negativas no teste III receberão a definição de “Amostra
Negativa para HIV-1” e devem ser submetidas à investigação de anticorpos anti-HIV-
2 e nova amostragem, após 30 dias, para a repetição do teste e descartar a
soroconversão recente (BRASIL, 1999).
Cabe destacar a importância de que sempre sejam realizados os
aconselhamentos pré e pós-teste, não referidos nas entrevistas realizadas. No
aconselhamento pré-teste o profissional deve: reafirmar o caráter voluntário e
confidencial da testagem; explicar o motivo para a realização do teste; orientar
quanto à possibilidade da janela imunológica e os possíveis resultados do teste; e
pesquisar a existência de redes sociais de apoio (familiares, companheiros, amigos
etc) (BRASIL, 1999).
Enquanto isso, no aconselhamento pós-teste, diante do resultado negativo, o
profissional deve lembrar que o resultado negativo não significa imunidade ou
ausência de infecção (pode corresponder ao período de janela imunológica). na
presença de resultado positivo, o profissional precisará: desmistificar sentimentos
que associam o HIV/AIDS com representações como morte e punição; explicar que
existem tratamentos disponíveis gratuitamente para o HIV/AIDS; reforçar a
necessidade do acompanhamento médico e da adesão ao tratamento; enfatizar a
necessidade da adoção de medidas preventivas a fim de evitar a reinfecção pelo
HIV ou outras DST e a transmissão para outras pessoas; e orientar quanto à
necessidade de comunicar o resultado ao(à) parceiro(a) sexual. E, diante do
resultado indeterminado ou inconclusivo, o profissional deve explicar que o resultado
pode ser indeterminado ou inconclusivo porque o paciente encontra-se em janela
imunológica ou por limitações técnicas inerente à pesquisa de anticorpos e orientar
nova coleta para retestagem (BRASIL, 1999).
143
Em todos os casos, seja pré ou pós-teste, o profissional deve oferecer o apoio
emocional necessário, colocar-se à disposição para elucidar eventuais dúvidas e
reforçar a adoção de práticas seguras para a redução de riscos de
infecção/reinfecção pelo HIV e outras DST.
Quanto à realização de teste sorológico para detecção de HIV após a
exposição a material biológico supostamente contaminado, o Ministério da Saúde
recomenda que este seja realizado no momento da exposição, entre a e a
semanas e após 3, 6 e 12 meses (BRASIL, 2004).
As recomendações relativas ao aconselhamento, parecem não ser de
conhecimento e domínio dos membros da equipe estudados, uma vez que não os
referiram.
Vivências e sentimentos frente ao diagnóstico da AIDS durante a
hospitalização
Aponta-se que, grande parte das vezes, o paciente soropositivo ao HIV
desconhece seu diagnóstico e é internado em decorrência da agudização da
infecção. E, a partir dos sinais e sintomas clínicos apresentados, os médicos
suspeitam da infecção pelo HIV, realizam o teste sorológico e o diagnóstico é
confirmado durante a internação hospitalar.
"Foram duas mulheres jovens. Uma descobriu quando internou e coletamos o sangue.
Depois, tivemos que contar para o esposo porque é importante que o parceiro sexual se
cuide também. (*ent_29 *cat_aux *sex_f *id_4 *ren_1 *atenf_2 *athiv_2) x² = 40
s vezes, somente descobre quando interna e realiza o exame de sangue. O médico
estuda a doença do paciente, o paciente emagreceu vinte quilos, tem pneumonia e
descobre-se pneumocystis carinii, é óbvio que o paciente pode ser paciente soropositivo
ao hiv e coleta-se sangue.(*ent_29 *cat_aux *sex_f *id_4 *ren_1 *atenf_2 *athiv_2) x² =
18
"Ele não soube que tinha hiv/aids. Ele era pastor e devia estar com hiv/aids e não tinha
manifestado. Isso me deixou curiosa porque ele ficou todo esse período estacionado e
somente descobriu quando piorou e veio para o cti foi feito o teste e soube que ele era
paciente soropositivo ao hiv.(*ent_21 *cat_aux *sex_f *id_4 *ren_2 *atenf_2 *athiv_2)
= 15
Os entrevistados afirmam que ao receberem o diagnóstico da
soropositividade para o HIV, os pacientes apresentam variadas atitudes, sendo a
maioria delas atitudes de revolta, agressividade e negação da realidade. Diante
desta difícil fase, os membros da equipe reconhecem que a atuação da equipe de
enfermagem torna-se primordial nos períodos que sucedem à descoberta do
144
diagnóstico, devendo levar confiança para os pacientes a fim de que eles alcancem
força para aderir ao tratamento e buscar a continuidade da vida com qualidade.
"Quando ela soube do resultado do exame e que era paciente soropositivo ao hiv, ela
ficou desesperada e falou que não queria que a família soubesse, mas tinham muitos
interessados em saber de seu diagnóstico. (*ent_08 *cat_aux *sex_f *id_4 *ren_2
*atenf_2 *athiv_2) x² = 31
"Fez o teste porque um amigo apresentava os sintomas e o médico não diagnosticou o
que ele tinha. Prestei cuidado de enfermagem a uma paciente soropositiva ao hiv casada
que estava internada e quando soube que era paciente soropositiva ao hiv se comportou
como se estivesse com gripe e que no dia seguinte estaria curada.(*ent_08 *cat_aux
*sex_f *id_4 *ren_2 *atenf_2 *athiv_2) x² = 25
Desta forma, por muitos desconhecerem o diagnóstico da soropositividade ao
HIV, são admitidos em estágio bastante avançado da doença e com diversos
acometimentos, o que resulta em um prognóstico ruim. Assim, os entrevistados
afirmam que grande parte destes pacientes que são admitidos em estágio avançado
da doença, como, por exemplo, com pneumonia avançada ou com
neurotoxoplasmose, falecem em curto espaço de tempo.
"Teve um paciente soropositivo ao hiv que era garçom e morreu rápido. Quando soube
que estava com hiv/aids, internou, estava mal, ficou com hiv/aids e várias infecções
oportunistas e eu não soube sobre a família. (*ent_27 *cat_enf *sex_f *id_4 *ren_2
*atenf_1 *athiv_1) x² = 27
"Outro foi um paciente soropositivo ao hiv muito jovem que não sabia do diagnóstico e a
família não sabia. Internou aqui e morreu muito rápido.(*ent_39 *cat_enf *sex_f *id_1
*ren_1 *atenf_1 *athiv_1) x² =26
"O paciente soropositivo ao hiv vem com pneumonia adiantada, entubado e com bk. A
paciente soropositiva ao hiv do leito quatro está com neurotoxoplasmose. Acho que ela
contraiu hiv/aids do parceiro sexual. (*ent_23 *cat_aux *sex_m *id_3 *ren_2 *atenf_2
*athiv_2) x² = 17
A descoberta do diagnóstico de soropositividade ao HIV é sempre um
momento difícil para o paciente. Até mesmo nos casos em que o indivíduo se
percebe vulnerável ao contágio, o resultado positivo no teste sorológico mostra-se
surpreendente, o que explicita a representação de que o HIV é algo atribuído ao
outro e nunca a si mesmo (ALVES; PADILHA; MANCIA, 2004; FREITAS; GIR;
FUREGATO, 2002; SILVA, 2004; VERMELHO; BARBOSA; NOGUEIRA, 1999).
Frente ao diagnóstico, os pacientes soropositivos ao HIV sempre reagem
negativamente, no sentido da não aceitação, da fuga da realidade e do
inconformismo. Desta forma, expressam os mais diversos sentimentos, tais como:
tristeza; depressão; medo da morte; tentativa de suicídio; apatia; insegurança;
ansiedade; prostração; e, sobretudo, medo das conseqüências que a doença pode
145
trazer, como a modificação da aparência, a solidão e o preconceito (FREITAS; GIR;
FUREGATO, 2002; GUIMARÃES; FERRAZ, 2002; LOPES; FRAGA, 1998; SILVA,
2004; VERMELHO; BARBOSA; NOGUEIRA, 1999).
Diante destes sentimentos, Moura e Jacquemin (1991) comparam as reações
frente à descoberta da soropositividade ao HIV com aquelas que Kluber-Ross definiu
para os pacientes terminais. Estas reações são: a negação, quando o paciente não
aceita seu diagnóstico; a revolta ou raiva, quando o paciente reconheceu seu
diagnóstico, mas questiona-se o porquê de ter acontecido com ele; a barganha,
quando tenta superar o mal através de promessas de mudanças; interiorização,
quando compreendeu completamente seu diagnóstico, mas não está preparado
para aceitar a morte; e a aceitação, momento no qual o paciente faz o planejamento
realístico de sua morte ou, no caso da AIDS, das suas possibilidades de
sobrevivência.
No entanto, os autores expõem que estas fases e a ordem na qual aparecem
não são tão bem delimitadas bem como a duração de cada uma é variável,
dependendo de cada paciente (MOURA; JACQUEMIN, 1991).
Dentre as incertezas que rondam este momento, encontra-se a dúvida quanto
ao relato do diagnóstico para os familiares e parceiro sexual, uma vez que os
pacientes temem as alterações e interrupções bruscas da sua rede de
relacionamentos, representadas pelo distanciamento e abandono por estes. Desta
forma, o receio de perder a proximidade dos entes queridos representa um
importante agente estressor para os pacientes soropositivos ao HIV (FERRAZ;
STEFANELLI, 2001; LOPES; FRAGA, 1998).
Além das dúvidas quanto às atitudes dos familiares e amigos, Ferraz e
Stefanelli (2001) apontam que o ocultamento do diagnóstico para entes próximos
deve-se ao desejo de protegê-los do sofrimento causado pelo impacto do
diagnóstico, bem como da possível estigmatização que podem sofrer por parte da
sociedade.
Lopes e Fraga (1998) constatam, em pesquisa sobre as pessoas que vivem
com o HIV, que o relacionamento com os familiares, após a revelação do
diagnóstico da soropositividade, varia desde atitudes passivas com implicações
restritivas até o auto-isolamento, a fuga de problemas e o medo de contaminar os
outros.
146
Porém, chega um momento no qual se torna impossível esconder o
diagnóstico, seja pela ansiedade e necessidades sentidas pelo paciente em
compartilhar seus sentimentos com alguém de confiança, ou pelas manifestações
orgânicas surgidas que denunciam o diagnóstico da soropositividade (FERRAZ;
STEFANELLI, 2001). Frente a isto, os membros da equipe de enfermagem devem
criar, juntamente com os pacientes soropositivos ao HIV, estratégias que tornem
este momento menos estressante possível. Para isto, se faz necessária a escuta
sensível, deixando o paciente expor seus sentimentos e angústias, oferecendo-lhes
apoio, sem expressar reprovação de suas atitudes.
A partir dos conteúdos expressos pela classe em questão, pode-se afirmar
que a representação social construída por auxiliares de enfermagem com idade igual
ou superior a 45 anos acerca do cuidado de enfermagem prestado aos pacientes
com HIV/AIDS molda-se a partir dos diferentes sujeitos sociais do cuidado. Assim,
abarca estes sujeitos frente aos modos de transmissão e de diagnóstico do HIV.
Para tal, pontua, dentre outras coisas, o preconceito existente de acordo com o
modo de transmissão através do qual se contaminou e as vivências destes sujeitos
frente ao diagnóstico da soropositividade ao HIV.
III.3.1.6 - O cuidado como auto-proteção profissional (classe 6)
Esta classe apresenta associação estatística com indivíduos do sexo
masculino, com idade entre 35 e 44 anos, que possuem renda pessoal mensal maior
do que R$ 6.000,00 e trabalham na área de enfermagem por um período entre 10 e
20 anos. No entanto, as variáveis de análise categoria profissional e tempo de
atuação profissional não possuem associação estatística com a classe em questão,
conforme salientado no Quadro 15.
147
Quadro 15 Valores de x² relativos às variáveis de análise com associação estatística à classe 6. Rio
de Janeiro, 2007.
Variável de Análise
Categoria Associada à Classe 6
Renda Pessoal Mensal
> R$ 6.000,00
15,54
Idade
35 a 44 anos
5,53
Sexo
Masculino
5,40
Tempo de Atuação Profissional na Área de
Enfermagem
10 a 20 anos
4,05
Cabe ressaltar que a variável mais fortemente associada à classe é renda
pessoal mensal superior a R$ 6.000,00. E, ainda, que a variável idade entre 35 e 44
anos consiste em variável específica da classe.
A classe em questão comporta 470 das 1.402 U.C.E. analisadas, o que
corresponde a 33,52% do corpus de análise, sendo, portanto, a maior classe da
presente análise. Nesta classe, cada U.C.E. tem, em média, 17,57 palavras
analisadas. Ainda, nas 470 U.C.E. foram selecionadas 99 formas reduzidas que
apresentaram associação estatística com a classe (x
2
4,77), compondo a C.A.H
desta classe.
As formas reduzidas, e seus respectivos contextos semânticos, com maiores
valores de x² e que apontam para os significados presentes na classe, encontram-se
dispostas no Quadro 16.
Quadro 16 - Distribuição das formas reduzidas, com maiores valores de x², e seus contextos
semânticos da classe 6. Rio de Janeiro, 2007.
Forma Reduzida
Contexto Semântico
cautela
cautela
264,94
luva+
luva, luvas
228,58
mascara
máscara
92,93
utilizar+
utilizar, utilizará
87,93
rotina+
rotina, rotinas
82,38
procedimento+
procedimento
77,72
cuidado_de_enfermag
cuidado_de_enfermagem
65,26
presenca
presença
65,07
alteracao
alteração
56,91
sangue
sangue
51,67
148
Como pode ser observado no Quadro 16, as formas reduzidas com maior
associação estatística (x
2
) à classe são: cautela, luva+, mascara, utilizar+, rotina+,
procedimento+, cuidado_de_enfermag+, presença, alteração e sangue. Destaca-se
que algumas formas reduzidas envolvem uma variedade de palavras, como, por
exemplo, luva+, que se refere à luva e luvas. No entanto, outras formas reduzidas
encerram em si mesmas o seu contexto semântico, como a forma cautela.
Verifica-se no Quadro 16 que o contexto semântico das formas reduzidas
expressam, com maior clareza, um panorama geral da classe em relação aos
conteúdos que nela se encerram. A composição semântica destas formas reduzidas
também torna evidente a presença de conteúdos na classe relacionados a conceitos
e conhecimentos construídos pelo grupo acerca da auto-proteção adotada durante
as ações de cuidado ao paciente soropositivo ao HIV e sobre as suas finalidades.
Assim, os conteúdos desta classe versam sobre a cautela adotada pelos
membros da equipe de enfermagem na presença do paciente soropositivo ao HIV,
no contexto do cuidado de enfermagem.
Uma maior delimitação dos conteúdos contidos na classe 6 é observada no
dendrograma de sua C.A.H. (Figura 14) visto nesta as formas reduzidas
apresentarem-se agrupadas de acordo com a relação existente entre elas.
A fim de uma melhor compreensão da classe 6, sua C.A.H. é apresentada
com os pequenos grupos de formas reduzidas, aos quais foram conferidos
significados. Consecutivamente, foi construído um esquema composto pelas
categorias e sub-categorias desta classe (Figura 15).
Esta classe encontra-se dividida em duas categorias, conforme Figura 15:
“Adoção de precaução padrão e “Exposição Ocupacional”. A primeira categoria
engloba as sub-categorias “Utilização de equipamentos de proteção individual e o
cuidado à pessoa com HIV/AIDS” e “Manipulação e descarte de materiais pérfuro-
cortantes no contexto do cuidado”.
a segunda categoria abarca as sub-categorias “Exposição profissional no
cuidado prestado” e “Formas de precaução”.
Observa-se, portanto, que a representação de cuidado explicitada por esta
classe se refere, sobretudo, ao auto-cuidado e não ao cuidado com o outro,
deixando antever que a noção de cuidado perpassa uma dimensão individual (eu) e
outra dimensão coletiva (eles).
149
Figura 14 - Classificação Ascendente Hierárquica da Classe 6. Rio de Janeiro, 2007.
150
Figura 15 - Apresentação esquemática das categorias e sub-categorias presentes na classe 6. Rio de
Janeiro, 2007.
ADOÇÃO DE PRECAUÇÃO PADRÃO
Utilização de equipamentos de proteção individual e o cuidado à pessoa com
HIV/AIDS
Os membros da equipe entrevistados reconhecem que, ao manipularem
fluidos corpóreos durante o cuidado de enfermagem, faz-se necessária a precaução
devido ao grande risco de contaminação existente. Enfatizam que a precaução
padrão deve ser utilizada para todos os pacientes, independente de sua patologia.
Isto se deve, principalmente, pelo fato da não mudança de estereótipo dos pacientes
com HIV/AIDS devido ao advento da terapia anti-retroviral, o que ocasiona a grande
impossibilidade de identificar o paciente soropositivo ao HIV entre os demais
pacientes.
Em grande parte, a precaução mencionada restringe-se à utilização de luvas
durante os procedimentos técnicos com o paciente. No entanto, alguns membros da
equipe lembram da importância de também utilizarem outros equipamentos de
proteção individual (E.P.I.), como por exemplo, os óculos de proteção e as
máscaras.
Apesar da característica cnica desta sub-categoria, também são
O cuidado como
auto-proteção
profissional
Adoção de precaução
padrão
Exposição
Ocupacional
Utilização de equipamentos de
proteção individual e o
cuidado à pessoa com
HIV/AIDS
Manipulação e descarte de
materiais pérfuro-cortantes no
contexto do cuidado
Exposição profissional no
cuidado prestado
Formas de precaução
151
observadas menções ao preconceito que, por vezes, assumem a faceta de auto-
proteção.
”Deixou de ser importante porque nenhum profissional de enfermagem se aproximava do
paciente sem utilizar luvas e máscara. Nenhum profissional de enfermagem punciona,
realiza procedimento invasivo, curativo, administra medicações, desconecta circuitos ou
qualquer procedimento em paciente sem utilizar luvas e máscara.” (*ent_33 *cat_enf
*sex_f *id_3 *ren_2 *atenf_2 *athiv_2) x² = 32
“O profissional de enfermagem precisa ter muita cautela ao puncionar ou realizar
qualquer procedimento que terá contato com fluidos corpóreos contaminante.” (*ent_25
*cat_aux *sex_f *id_3 *ren_1 *atenf_2 *athiv_1) = 14
“Temos a precaução padrão que é o profissional de enfermagem se equipar para
puncionar ou realizar procedimento invasivo. Às vezes, estamos uma semana
prestando cuidado de enfermagem ao paciente quando sabemos que é paciente
soropositivo ao hiv.” (*ent_33 *cat_enf *sex_f *id_3 *ren_2 *atenf_2 *athiv_2) x² = 13
“Não somente luvas, mas eu acho que os profissionais de saúde deveriam ter óculos
quando manipulam fluidos corpóreos. Fora isso, não necessita da cautela para pegar na
mão do paciente soropositivo ao hiv.” (*ent_01 *cat_aux *sex_f *id_3 *ren_1 *atenf_1
*athiv_1) x² = 6
“O profissional de enfermagem ao lidar com fluidos corpóreos do paciente precisa estar
bem paramentado. O preconceito existe do profissional de enfermagem que não tem
conhecimento sobre o hiv/aids.” (*ent_08 *cat_aux *sex_f *id_4 *ren_2 *atenf_2 *athiv_2)
x² = 2
No que diz respeito à cautela ao desprezar materiais biológicos, os membros
da equipe de enfermagem entrevistados mencionam a utilização de luvas e óculos
de proteção durante a realização deste procedimento. No entanto, destacam que a
precaução ao se tratar de paciente sabidamente soropositivo ao HIV é redobrada,
utilizando-se, às vezes, E.P.I. não utilizado no caso de materiais de paciente
supostamente soronegativo ao HIV, como seria o caso dos óculos de proteção.
“Para desprezar diurese sempre tenho cautela que, às vezes, não tenho com outro
paciente. No paciente soropositivo ao hiv me cobro a utilizar óculos para realizar
aspiração traqueal.” (*ent_39 *cat_enf *sex_f *id_1 *ren_1 *atenf_1 *athiv_1) x² = 17
“Não tem diferenca nenhuma. Um pouco mais de cautela para alguns procedimentos que
envolvam maior risco. Por exemplo, para desprezar diurese nós temos que estar mais
atentos para não respingar e com pérfuro-cortante.” (*ent_39 *cat_enf *sex_f *id_1 *ren_1
*atenf_1 *athiv_1) x² = 10
O entendimento de que as precauções padrão são essenciais no lidar com
qualquer paciente é apresentado pelos entrevistados, seja este sabidamente
soropositivo ao HIV ou o. Desta forma, chegam a afirmar que devem prestar o
cuidado de enfermagem pensando serem todos os pacientes potencialmente
soropositivos ao HIV, protegendo-se para tal.
152
“A cautela é para todo paciente. Quando nós fazemos um procedimento invasivo, por
exemplo, coleta de sangue ou aspiração traqueal em um paciente, a cautela é utilizar
máscara, óculos, luvas e capote.” (*ent_23 *cat_aux *sex_m *id_3 *ren_2 *atenf_2
*athiv_2) x² = 29
“Então, o profissional de enfermagem tem que ter cautela com sangue e fluidos corpóreos
igual com todo paciente. O profissional de enfermagem tem que prestar cuidado de
enfermagem como se todo paciente fosse paciente soropositivo ao hiv.” (*ent_37 *cat_enf
*sex_f *id_3 *ren_3 *atenf_2 *athiv_2) x² = 15
“Quando realizar aspiração traqueal, utilizar óculos e máscara, ter cautela. Eu acho que é
a melhor maneira de ter cautela. É uma rotina. Todos seriam paciente soropositivo ao hiv.
Eu procuro vivenciar isso.” (*ent_23 *cat_aux *sex_m *id_3 *ren_2 *atenf_2 *athiv_2) =
6
No entanto, mencionam que o diagnóstico da soropositividade ao HIV altera o
cuidado de enfermagem prestado ao paciente, uma vez que os membros da equipe
demonstram, neste caso, uma maior preocupação no que se refere à exposição
ocupacional. Assim, durante a assistência prestada aos pacientes sabidamente
soropositivos ao HIV, uma maior cautela voltada à prevenção de contaminação
profissional, por parte dos profissionais de saúde, do que naquela prestada aos
pacientes supostamente soronegativos ao HIV. Desta forma, muitas vezes utilizam
E.P.I. que não são utilizados em pacientes supostamente soronegativos.
Desta forma, entendem que a diferença existente no cuidado de enfermagem
prestado ao paciente soropositivo ao HIV consiste na cautela maior quanto à
exposição ocupacional.
“A diferença é somente a do enluvamento duplo, do contrário, nada diferente. Para
aspirar utilizará a máscara e óculos para todo paciente, independente de ser paciente
soropositivo ao hiv ou não.” (*ent_10 *cat_enf *sex_f *id_3 *ren_3 *atenf_2 *athiv_2) =
19
“Ao realizar coleta de sangue utilizar luvas e manipular os fluidos corpóreos com cautela.
A cautela deveria ser para qualquer paciente, mas com o diagnóstico de que é paciente
soropositivo ao hiv, notamos que o profissional de saúde tem mais cautela devido ao
medo da contaminação.” (*ent_26 *cat_enf *sex_m *id_3 *ren_2 *atenf_2 *athiv_1) =
18
“Tem alteração na cautela ao manipular o paciente soropositivo ao hiv. Não é utilizar
luvas para encostar no paciente soropositivo ao hiv, mas cautela ao utilizar agulha e
manipular fluidos corpóreos.” (*ent_05 *cat_aux *sex_f *id_4 *ren_1 *atenf_2 *athiv_1)
= 15
“O cuidado de enfermagem com paciente soropositivo ao hiv tem diferença no que diz
respeito à cautela com profissional de enfermagem. Se o paciente estiver secretivo, com
todo paciente o profissional de enfermagem precisa ter cautela com secreção e excretas,
mas com o paciente soropositivo ao hiv, o profissional de enfermagem precisa ter mais
cautela.” (*ent_27 *cat_enf *sex_f *id_4 *ren_2 *atenf_1 *athiv_1) x² = 13
“Mas, quando fala hiv/aids, parece que essa sigla deixa o profissional de saúde mais
atento em relação ao profissional de enfermagem se proteger mais. Quando o paciente,
teoricamente, esaqui por outra rao, punciona, mas não vai com tanta cautela. Às
153
vezes, até sem luva porque o profissional de enfermagem acha que está isento.” (*ent_31
*cat_enf *sex_f *id_4 *ren_2 *atenf_2 *athiv_2) = 2
Ainda no concernente ao uso dos E.P.I., muitos membros da equipe afirmam
a sua não utilização, justificando-a por uma de três razões. A primeira razão consiste
em acreditarem não ser necessário ou, ainda, dificuldades técnicas no seu uso,
afirmando que o cuidado no desenvolvimento do procedimento cnico é suficiente
para ficarem protegidos de qualquer contaminação ocupacional. A segunda refere-
se ao esquecimento, devido à necessidade de realizar rapidamente um
procedimento. E, a terceira, deve-se à indisponibilidade destes equipamentos no
local de trabalho.
“Infelizmente, para puncionar acesso venoso quase nunca o profissional de enfermagem
usa luva. Somente ter cautela para não ter contato com o sangue do paciente porque
pode estar com corte na mão e com secreção quando realizar aspiração traqueal.”
(*ent_04 *cat_aux *sex_f *id_2 *ren_1 *atenf_1 *athiv_1) x² = 15
“Quando o profissional de enfermagem puncionar acesso venoso, as luvas atrapalham
porque utilizamos esparadrapo. Eu somente tenho a cautela para não me sujar com
fluidos corpóreos porque não é sempre que o profissional de enfermagem usa luva.”
(*ent_04 *cat_aux *sex_f *id_2 *ren_1 *atenf_1 *athiv_1) x² = 11
“Pode acontecer um incidente de o profissional de enfermagem precisar realizar
aspiração traqueal em um paciente, às pressas, parar o que está fazendo e socorrer o
paciente sem se paramentar devidamente.” (*ent_38 *cat_aux *sex_m *id_3 *ren_1
*atenf_2 *athiv_2) x² = 4
“O hospital universitário tem essa dificuldade. Porque o correto seria que todo profissional
de saúde recebesse o seu equipamento de proteção individual e prestasse assistência
com ele. Gera estresse porque tentamos isolamento respiratório para o paciente, mas
não temos máscara e o médico cobra do auxiliar de enfermagem quando é algo que o
médico deveria ter.” (*ent_25 *cat_aux *sex_f *id_3 *ren_1 *atenf_2 *athiv_1) x² = 3
Cabe destacar que as normas de proteção têm sido constantemente
reavaliadas e modificadas de acordo com as necessidades identificadas por estudos
epidemiológicos e pelos adventos tecnológicos. Deste modo, também ocorreram
alterações nas denominações das precauções a serem seguidas.
Em 1987, os Centers for Disease Control and Prevention (CDC), dos Estados
Unidos da América, publicaram o “Guia para Prevenção da transmissão do HIV e
vírus da hepatite B nos profissionais de saúde”. Neste documento, preconizava-se a
utilização de precauções para todos os pacientes, independente da patologia, em
todos os procedimentos que envolvessem fluidos corpóreos que possuem sangue.
Estas precauções foram denominadas de precauções universais (GIR et al., 2000).
em 1996, foi mantida a essência de se considerar o risco universal, no
154
entanto, recomendando-se estender as medidas de precaução a todos os fluidos
corpóreos, com exceção do suor, e não somente aqueles que contivessem sangue,
conforme o preconizado anteriormente. Assim, a denominação sofreu alteração,
sendo convencionada a expressão “precaução padrão” (GIR et al., 2000).
A partir do descrito percebe-se que, muitas vezes, os relatos dos
entrevistados se aproximam do preconizado a respeito dos E.P.I. que devem ser
utilizados pelos profissionais de saúde durante a assistência prestada. Demonstram
entender que estes equipamentos devem ser utilizados para todos os pacientes em
cuidados que envolvam manipulação de sangue, secreções, e contato com mucosas
e pele não-íntegra a fim de reduzir a exposição dos profissionais de saúde ao
sangue e fluidos corpóreos. De acordo com o Ministério da Saúde, os equipamentos
de proteção individual preconizados, respeitadas suas indicações, são: luvas;
máscaras; gorros; óculos de proteção; capotes (aventais); e botas (BRASIL, 2006b).
Observa-se que parte dos membros da equipe entrevistados tentam afirmar a
igualdade do cuidado de enfermagem prestado ao paciente soropositivo ao HIV e
aos demais pacientes que possuem qualquer outra patologia. Porém, ao mesmo
tempo, apontam as diferenças através do reconhecimento da necessidade de uma
maior proteção ao manipular os primeiros sujeitos.
Encontra-se, portanto, contradição nos discursos, pois ao mesmo tempo em
que reconhecem a importância da utilização dos E.P.I. ao lidar com todos os
pacientes, independente do diagnóstico, afirmam terem mais cautela ao prestar
cuidado de enfermagem aos pacientes soropositivos ao HIV. Esta contradição pode
relacionar-se fortemente à representação social da AIDS, visto esta encontrar-se,
ainda, fortemente permeada por elementos negativos, como a morte e a ausência de
cura, os quais podem guiar as ações de cuidado devido ao medo do contágio
sentido pelos profissionais (SILVA, 2004).
Desta forma, corrobora-se com Sadala (2000) quando aponta que o cuidar de
paciente soropositivo ao HIV é dito igual ao cuidar de qualquer outro paciente, no
entanto, diferenciado pela necessidade de proteger-se do contágio. Isto por tratar-se
de um paciente igual, porém diferente por sua doença ser transmissível e fatal.
Assim, paralelamente às preocupações existentes quanto às precauções
padrões preconizadas, alguns membros da equipe de enfermagem demonstram
medo do contato com o paciente soropositivo ao HIV, por percebê-lo como fonte
potencial de contágio. Desta forma, estes membros da equipe estabelecem,
155
particularmente e sem respaldo científico, ações extras de precaução. Um exemplo
que pode ser mencionado é a utilização de duas luvas durante o cuidado prestado
ao paciente soropositivo ao HIV.
De outro lado, encontram-se membros da equipe de enfermagem que
afirmam não possuir temor do contato com o paciente soropositivo ao HIV e, em
decorrência, efetivam o cuidado de enfermagem sem a utilização de luvas ou
qualquer outro E.P.I. Estes dados vão ao encontro dos resultados trazidos por
Brevidelli, Assayag e Turcato Júnior (1995) em pesquisa desenvolvida sobre a
adesão às precauções universais por membros da equipe de enfermagem, quando
constataram que existe resistência destes sujeitos em adotar medidas de proteção.
Observa-se, neste grupo de membros da equipe, a certeza da imunidade
pessoal, ou seja, a sensação de onipotência que lhes a certeza de que com eles
nunca acontecerá a contaminação, mesmo nas situações de risco real.
Frente a isto, faz-se mister o desenvolvimento de estratégias de educação
permanente com estes membros da equipe a fim de que sejam compreendidas as
necessidades de utilização destes E.P.I. Isto por acreditar que somente com a
conscientização será possível modificar as práticas adotadas, sem que estas
reforcem o afastamento e o preconceito frente ao paciente.
Em estudo sobre o impacto da AIDS na prática de enfermagem, Gir et al.
(2000) e Gir et al. (2005) detectaram, respectivamente, que 76% dos enfermeiros e
82% dos auxiliares de enfermagem entrevistados referiram alguma alteração na
prática profissional após o surgimento da AIDS. Ainda, concluíram que quanto maior
o tempo de atuação profissional, mais os membros da equipe referem alterações na
prática com o advento da AIDS. Isto se deve, em parte, pelo fato de os membros da
equipe que atuam há menos tempo terem se inserido no mercado de trabalho já com
o advento da AIDS, o que significa que desde o início convivem com a problemática
da AIDS enquanto risco ocupacional.
Manipulação e descarte de materiais pérfuro-cortantes no contexto do cuidado
Assim como na utilização de E.P.I., os membros da equipe de enfermagem
reconhecem a importância de atenção ao manipular e desprezar materiais pérfuro-
cortantes. Os conhecimentos pontuados pelos entrevistados, igualmente ao item
anterior, vão ao encontro do disponibilizado pelo Ministério da Saúde.
156
No que diz respeito à manipulação de materiais pérfuro-cortantes, é
inquestionavelmente reconhecida a necessidade de cautela. Além disso, é
salientada pelos membros da equipe de enfermagem entrevistados a indispensável
disponibilidade de recipientes apropriados para o descarte desses materiais. Ainda,
dissertam que estes recipientes devem ser posicionados, de preferência, próximo ao
leito do paciente para que não haja uma movimentação por longo percurso com
estes materiais, durante a qual podem ocorrer acidentes de trabalho.
Afirma-se que não basta a existência de recipientes adequados, mas é
preciso sua correta utilização para que estes não se transformem em potenciais
focos de acidentes. Um exemplo, neste sentido, é dado no que concerne ao limite
estipulado para o armazenamento de pérfuro-cortantes, o qual deve ser respeitado,
pois, do contrário, também podem acontecer acidentes com os membros da equipe
de saúde.
Não obstante, os entrevistados falam da importância de não reencapar
agulhas e de certificar-se da retirada dos materiais rfuro-cortantes da cama dos
pacientes para que não aconteçam acidentes com pacientes ou membros da equipe
de saúde.
“Agora, trabalhando em outro setor, nós não sabemos. É preciso ter a cautela de rotina,
utilizar luvas ao puncionar, não reencapar agulha e ter um lugar correto para desprezar.”
(*ent_24 *cat_enf *sex_f *id_4 *ren_1 *atenf_3 *athiv_1) x² = 24
“Eu me previno usando máscara, óculos, luvas e tendo cautela. Para o pérfuro-cortante,
sempre utilizamos um descarpack perto do leito para não circular com agulha fora do
leito. Tem que ter cautela com as secreções do paciente soropositivo ao hiv e na
manipulação do paciente soropositivo ao hiv.” (*ent_21 *cat_aux *sex_f *id_4 *ren_2
*atenf_2 *athiv_2) x² = 18
“O profissional de enfermagem precisa ter cautela com pérfuro-cortante, ter um lugar
próprio para desprezar e prestar atenção para não deixar agulha na cama do paciente
após o procedimento.” (*ent_07 *cat_aux *sex_f *id_4 *ren_2 *atenf_3 *athiv_1) x² = 9
“Porque se o descarpack ficar cheio, quando colocar outra agulha, a que estiver embaixo
subirá e o profissional de enfermagem se acidentará. (*ent_25 *cat_aux *sex_f *id_3
*ren_1 *atenf_2 *athiv_1) x² = 3
Ainda, é mencionada a não utilização destes recipientes por todos os
membros da equipe de enfermagem, seja devido ao esquecimento ou à não
importância dada ao mesmo. Frente a isto, os entrevistados acreditam que o
incentivo dos demais membros da equipe pode desenvolver a preocupação pela
adequada destinação dos materiais pérfuro-cortantes.
157
“O profissional de enfermagem tem cautela de retirar as agulhas e material pérfuro-
cortante e desprezar no descarpack. Não o todos os profissionais de enfermagem que
fazem uso, mas eu penso que depende, também, do profissional de enfermagem
comentar sobre o procedimento.” (*ent_25 *cat_aux *sex_f *id_3 *ren_1 *atenf_2
*athiv_1) x² = 11
Em seus relatos os sujeitos entrevistados salientam a preocupação com as
recomendações específicas que devem ser seguidas durante a realização de
procedimentos que envolvem a manipulação de materiais pérfufo-cortantes.
Lembram que a adoção de medidas preventivas ao manipular e desprezar estes
materiais devem se tornar rotinas na assistência prestada.
Dentre estas recomendações encontram-se: não reencapar agulhas, entortá-
las, quebrá-las ou retirá-las com as os; desprezar todo material pérfuro-cortante
em recipientes resistentes à perfuração; não ultrapassar o limite de 2/3 da
capacidade total dos recipientes destinados ao descarte de materiais; posicionar
estes recipientes sempre próximo ao local de realização do procedimento (BRASIL,
2006b).
Quanto à manipulação de materiais pérfuro-cortantes, menciona-se a
necessidade da máxima atenção durante a realização de procedimentos a fim de
prevenir possíveis acidentes, seja com pacientes, profissionais de saúde ou outros
membros da equipe, dentre eles os da limpeza. Estes cuidados vão desde o preparo
de materiais para a realização do procedimento, até o descarte dos materiais.
Atenção especial deve ser dada no sentido do não esquecimento de pérfuro-
cortantes em locais indequados como, por exemplo, a cama dos pacientes.
Em estudo realizado acerca de acidentes pérfuro-cortantes entre membros da
equipe de enfermagem, Canini et al. (2002) observam que grande parte dos
acidentes de trabalho com pérfuro-cortantes ocorrem como conseqüência destes
materiais encontrarem-se em locais inadequados. Dentre estes locais, são
apontados pelos autores a cama do paciente, a mesa de cabeceira, a bandeja de
medicações, o chão e o lixo comum.
Outro ponto a ser considerado é a declaração de não atendimento às normas
de proteção, como o descarte de materiais rfuro-cortantes em recipientes
inadequados por parte dos profissionais de saúde. Neste sentido, se faz necessária
a observação e orientação por parte de todos os membros da equipe para que estas
sejam respeitadas por toda a equipe multiprofissional, atendidas suas
recomendações.
158
Rodrigues, Magalhães e Sales (1995) concluem que, apesar dos membros da
equipe de enfermagem conhecerem as medidas de biossegurança, não as
empregam corretamente, o que resulta em potenciais riscos de acidentes com
materiais biológicos.
Neste sentido, Brevidelli e Cianciarullo (2002) apontam que o descarte de
materiais pérfuro-cortantes em locais inadequados representa a principal fonte de
risco para perfurações. Enfatizam, assim como Canini et al. (2002), que o descarte
inadequado de pérfuro-cortantes constitui importante fonte de risco para acidentes
ocupacionais não somente com membros da equipe diretamente envolvidos na
assistência, mas também com aqueles indiretamente envolvidos, como é o caso dos
membros da equipe de limpeza.
Frente a isto, orientações devem ser fornecidas a todos os membros da
equipe que, por qualquer motivo, desrespeitem as normas de segurança existentes.
Isto por compreender que o desrespeito destas normas por um dos membros da
equipe torna todos os demais vulneráveis a acidentes de trabalho. Segundo Gir,
Costa e Silva (1998), orientações específicas devem ser disponibilizadas através de
educação continuada sobre o assunto, visto a não utilização adequadas das
precauções básicas.
No que diz respeito à não disponibilização dos E.P.I. pelas instituições de
saúde, a reivindicação junto às instâncias competentes deve ser efetivada na busca
de soluções. É inaceitável que os membros da equipe sejam obrigados a prestar
assistência sem que a estes sejam fornecidas adequadas condições de proteção.
EXPOSIÇÃO OCUPACIONAL
Exposição profissional no cuidado prestado
Os membros da equipe entrevistados apontam diversos procedimentos nos
quais se percebem sob exposição ocupacional. Dentre estes procedimentos,
encontram-se a realização de curativos, a punção venosa, o contato com lesões de
pele, a administração de medicações endovenosas e a aspiração traqueal.
Ainda, expõem que, em muitas ocasiões, os diagnósticos de doenças
transmissíveis, como a tuberculose e a meningite, demoram a ser efetivados. Por
este motivo, até que sejam informados destes diagnósticos, os membros da equipe
se expõem ao contato com pacientes sem que a devida utilização dos E.P.I.
necessários seja realizada.
159
“Eu procuro prestar o melhor cuidado de enfermagem ao paciente soropositivo ao hiv.
Não tem um cuidado de enfermagem específico. Por exemplo, realizo curativo com
cautela para não contaminar o paciente soropositivo ao hiv e piorar e não me
contaminar.” (*ent_40 *cat_aux *sex_f *id_4 *ren_1 *atenf_2 *athiv_2) x² = 6
“Paciente com tuberculose, por exemplo, o profissional de enfermagem sabe muito tempo
depois do paciente ser admitido, depois que puncionou e conversou. Tem paciente
soropositivo ao hiv que tem lesão mais aparente e outros têm a pele íntegra e se
aproximam do profissional de enfermagem.” (*ent_04 *cat_aux *sex_f *id_2 *ren_1
*atenf_1 *athiv_1) x² = 5
A manipulação que usamos muito é administrar medicações endovenosas, fazer curativo
e aspiração porque a maioria dos pacientes do cti está traqueostomizada ou entubada.”
(*ent_21 *cat_aux *sex_f *id_4 *ren_2 *atenf_2 *athiv_2) x² = 2
Neste sentido, é mencionada pelos sujeitos entrevistados a preocupação
quanto à exposição ocupacional não somente ao HIV, mas por outras doenças
transmissíveis, como é o caso das hepatites B e C. Salientam uma maior
preocupação quanto à contaminação pelas hepatites do que pelo HIV visto o maior
grau de infectividade das primeiras quando comparadas ao último. Além disso, por
acreditarem ser possível identificar o paciente soropositivo ao HIV através do
aspecto físico e dos sinais clínicos apresentados.
“É uma forma de cautela. Atualmente, têm várias doenças transmissíveis, hepatite C que
não tem cura, e as pessoas não têm cautela. Temos que ter cautela com qualquer fluido
corpóreo.” (*ent_37 *cat_enf *sex_f *id_3 *ren_3 *atenf_2 *athiv_2) x² = 3
“E, o paciente soropositivo ao hiv morreu. Eu tenho facilidade para prestar cuidado de
enfermagem ao paciente soropositivo ao hiv. Diferente de bk e hepatite. Uma vez, eu
estava na enfermaria e parecia uma trincheira, tinham vários pacientes bk e paciente
soropositivo ao hiv.” (*ent_38 *cat_aux *sex_m *id_3 *ren_1 *atenf_2 *athiv_2) = 2
“Eu fico receoso com paciente com hepatite. Não com paciente soropositivo ao hiv. É um
paciente comum, se estiver estabilizado. Não tem problema. O problema está em eu me
paramentar para trabalhar com o paciente soropositivo ao hiv. Mas, com relação a
preconceito, não tem nenhuma relação. É o mesmo trabalho com esse paciente.”
(*ent_38 *cat_aux *sex_m *id_3 *ren_1 *atenf_2 *athiv_2) x² = 2
“O paciente soropositivo ao hiv nós percebemos a fisionomia, os lábios, a cor
acinzentada, a magreza, a diarréia consecutiva. Nós ficamos atentos. O paciente
soropositivo ao hiv apresenta determinados sinais que o paciente com hepatite não
apresenta.” (*ent_38 *cat_aux *sex_m *id_3 *ren_1 *atenf_2 *athiv_2) x² = 1
No que diz respeito, especificamente, ao paciente soropositivo ao HIV,
observa-se a preocupação dos membros da equipe de enfermagem em informar aos
colegas de trabalho quanto à presença deste paciente no setor enquanto percepção
da situação de risco. Preocupação esta que não existe no caso de pacientes com
outros diagnósticos como, por exemplo, o de hepatite.
160
“Porém, tem que: é paciente soropositivo ao hiv. Somente isso do: é paciente
soropositivo ao hiv, você percebe que tem a preocupação a mais, que não tem com o
paciente que deveria ter que é cirrótico ou hepatite.” (*ent_31 *cat_enf *sex_f *id_4
*ren_2 *atenf_2 *athiv_2) x² = 0
Os entrevistados reconhecem que muitos acidentes de trabalho ocorrem com
membros da equipe de enfermagem e demais profissionais de saúde. Justificam
estes acidentes pela grande carga horária e intenso ritmo de trabalho assumido por
eles, pela falta de habilidade técnica, pelo descuido ao manipular e desprezar
pérfuro-cortantes e pelo não uso de E.P.I.
“Apesar desta proteção, existe acidente de trabalho e contaminação porque são
executadas rotinas extensas durante as doze horas de trabalho. Têm vários pacientes
com controle de glicemia horário e o profissional de enfermagem se acidenta com agulha
na confusão porque tem somente um glicosímetro para todos pacientes.” (*ent_33
*cat_enf *sex_f *id_3 *ren_2 *atenf_2 *athiv_2) = 7
“O médico tem se acidentado muito ao puncionar o paciente porque falta habilidade no
manuseio do material e eles não querem utilizar o óculos de proteção.” (*ent_33 *cat_enf
*sex_f *id_3 *ren_2 *atenf_2 *athiv_2) x² = 6
“Infelizmente, ainda, tem muito acidente de trabalho com pérfuro-cortante. Sabendo que é
um paciente soropositivo ao hiv, para redobrar a cautela em relação a isso e em
relação ao paciente soropositivo ao hiv também.” (*ent_28 *cat_enf *sex_f *id_2 *ren_2
*atenf_2 *athiv_1) x² = 1
No concernente aos acidentes de trabalho, os membros da equipe de
enfermagem entrevistados demonstram conhecimento a respeito da rotina a ser
realizada e falam da existência de protocolos a serem seguidos no caso destes
acontecimentos. Segundo eles, isto se deve, em parte, ao elevado quantitativo de
acidentes que ocorre em determinados setores do hospital. Ainda, comentam que ao
acontecer um acidente de trabalho, rapidamente todos os membros da equipe de
enfermagem do setor tomam conhecimento do evento.
“Aqui é muito raro ter acidente de trabalho porque quando tem acidente de trabalho nós
sabemos e comentamos. Tem a rotina de ir ao plantão geral e coletar uma amostra de
sangue.” (*ent_23 *cat_aux *sex_m *id_3 *ren_2 *atenf_2 *athiv_2) x² = 5
“Como no cti tem acidente de trabalho com freqüência, os profissionais de enfermagem
conhecem bem a rotina. Durante a semana, se for até dezessete horas, o profissional de
saúde é encaminhado à saúde do trabalhador, onde recebe as orientações.” (*ent_33
*cat_enf *sex_f *id_3 *ren_2 *atenf_2 *athiv_2) x² = 5
“Se for final-de-semana, feriado ou após dezessete horas, coletamos sangue do
profissional de saude que se acidentou e do paciente quando este não tem diagnóstico
para hepatite e hiv/aids.” (*ent_33 *cat_enf *sex_f *id_3 *ren_2 *atenf_2 *athiv_2) x² = 4
Frente ao apresentado, percebe-se a compreensão do elevado grau de
exposição ocupacional ao qual os membros da equipe de enfermagem encontram-
161
se expostos por trabalhar em setores de internação. Dentre estas exposições,
encontram ênfase os acidentes ocupacionais e, destes, aqueles ocasionados por
materiais pérfuro-cortantes, representando o maior quantitativo (CANINI et al.,
2002).
Adicionalmente, necessita ser considerado que são os membros da equipe de
enfermagem que, por maior período, permanecem em contato direto com os
pacientes, seja ao realizar ou ao auxiliar em procedimentos. E, desta forma,
apresentam uma maior probabilidade de eventos indesejáveis durante a realização
do cuidado.
Machado et al. (1992) apontavam que a maior prevalência de acidentes
com material contaminado pelo vírus HIV encontrava-se entre os membros da
equipe de enfermagem e, destes, os auxiliares de enfermagem ocupavam a primeira
posição. Em 2002, dois trabalhos publicados sinalizam neste mesmo sentido, pois
concluem que a categoria de enfermagem continua sendo a mais exposta aos
acidentes com pérfuro-cortantes (BREVIDELLI; CIANCIARULLO, 2002; CANINI et
al., 2002). Assim, observa-se que mesmo passados 10 anos entre as publicações,
as tendências de acidentes com pérfuro-cortantes foram mantidas.
No intuito de prevenir e minimizar a ocorrência de acidentes com materiais
pérfuro-cortantes, defende-se a realização de educação permanente com os
profissionais de saúde, visando à aplicação das precauções universais, já discutidas
anteriormente. Neste sentido, Canini et al. (2002) dissertam sobre a necessidade de
realizar capacitações, sobretudo com os membros da equipe de enfermagem, em
relação aos riscos de acidentes de trabalho com materiais pérfuro-cortantes, além
de buscar alternativas que permitam maior segurança nos procedimentos realizados.
Tendo como base os depoimentos dos entrevistados sobre os comentários
veiculados no ambiente de trabalho quando acontecem acidentes envolvendo os
membros da equipe de enfermagem, pensa-se que a difusão destes eventos pode
favorecer a tomada de consciência e a redução da sensação de onipotência. E,
conseqüentemente, propiciar uma maior cautela ao realizar procedimentos. Isto por
acreditar que a partir do momento em que os membros da equipe reconhecem que
os riscos de acidentes ocupacionais se encontram no ambiente de trabalho, buscam
estratégias de se prevenirem destes eventos.
162
Formas de precaução
Os membros da equipe de enfermagem pontuam que, ao prestarem cuidados
de enfermagem a pacientes portadores de diferentes patologias, idealizam e
procuram efetuar diferentes precauções de acordo com a necessidade do paciente e
o modo de transmissão de seu agravo. As precauções realizadas são de três tipos:
contato; respiratória; e reversa, cada qual preconizando a utilização de determinados
E.P.I.
“Aquele paciente tem hiv/aids, aquele tem hepatite b, aquele tem tuberculose, o outro tem
leishimaniose, o outro tem meningite meningocócica. O profissional de enfermagem
traçará o planejamento do setor, e a prevenção individual e a prevenção coletiva de
acordo com o modo de transmissão.” (*ent_09 *cat_enf *sex_m *id_4 *ren_2 *atenf_3
*athiv_2) x² = 11
Os entrevistados afirmam realizarem precaução de contato no caso de
pacientes admitidos com septicemia, por exemplo. Neste tipo de precaução, relatam
a utilização de E.P.I. que não são utilizados rotineiramente, como o capote, as luvas,
a máscara e o óculos de proteção.
“Quase todo paciente ao ser admitido no cti com suspeita de septicemia é mantido em
isolamento de contato e os profissionais de saúde utilizam capote, máscara e, ao realizar
aspiração traqueal ou punção, óculos de proteção.” (*ent_33 *cat_enf *sex_f *id_3 *ren_2
*atenf_2 *athiv_2) x² = 47
“Se o paciente soropositivo ao hiv estiver com isolamento de contato deve-se utilizar
luvas e capote. O cuidado de enfermagem prestado ao paciente soropositivo ao hiv é
igual ao prestado a qualquer paciente, somente com cautela para não acontecer acidente
de trabalho.” (*ent_07 *cat_aux *sex_f *id_4 *ren_2 *atenf_3 *athiv_1) x² = 27
No que diz respeito à precaução respiratória, os entrevistados sinalizam sua
importância durante a assistência prestada a pacientes que possuem patologias
transmissíveis através das vias aéreas. Dentre estas patologias, é enfatizada a
tuberculose, percebida como a patologia que mais requer este tipo de precaução no
cotidiano hospitalar. Quanto aos E.P.I. a serem utilizados nestes casos, é
mencionada, sobremaneira, a máscara N95.
Ressaltam, ainda, que grande parte dos pacientes soropositivos ao HIV
internados é mantida em precaução respiratória, visto apresentar co-infecção com a
tuberculose.
“A maioria dos pacientes soropositivos ao hiv admitidos chegam bacilíferos e os
profissionais de enfermagem utilizam isolamento respiratório e isolamento de contato
sem alterações. A manipulação das medicações é igual, com cautela, usando luvas e
máscara para não contaminar as medicações e protegendo o paciente soropositivo ao hiv
porque está com imunodepressão.” (*ent_29 *cat_aux *sex_f *id_4 *ren_1 *atenf_2
*athiv_2) x² = 18
163
“Trabalhar aqui é normal. É somente ter a cautela que tem que ter, principalmente, o
isolamento respiratório. Atualmente, os profissionais de enfermagem cuidam muito do
paciente com tuberculose.” (*ent_14 *cat_aux *sex_m *id_3 *ren_1 *atenf_2 *athiv_2)
= 2
no que diz respeito à precaução reversa, segundo os entrevistados, esta é
estabelecida em grande parte dos pacientes soropositivos ao HIV que apresentam
quadro clínico avançado, encontrando-se com a AIDS e, desta forma,
imunocomprometidos. Assim, os membros da equipe de enfermagem percebem a
importância de utilizarem E.P.I., como as luvas, máscara e capote, com vistas à
proteção destes pacientes, uma vez que possuem o sistema imunológico deprimido
e, portanto, mais susceptíveis às infecções oportunistas.
“O cuidado de enfermagem não modifica muito em relação a outro paciente, desde que
tenha cautela. Normalmente, usa-se a cautela. Usa-se luvas, para se proteger e proteger
o paciente soropositivo ao hiv, capote, máscara, porque o paciente soropositivo ao hiv
está com imunodepressao.(*ent_20 *cat_enf *sex_f *id_4 *ren_2 *atenf_3 *athiv_2) =
16
“Desde que o paciente tenha um isolamento, no caso do paciente soropositivo ao hiv já
fazemos por conta da proteção dele estar com imunodepressão.” (*ent_20 *cat_enf
*sex_f *id_4 *ren_2 *atenf_3 *athiv_2) x² = 4
Alguns membros da equipe entrevistados admitem que o estabelecimento das
precauções altera o cuidado de enfermagem prestado, uma vez que estas exigem o
distanciamento físico na relação entre profissional de enfermagem e paciente. Cabe
ressaltar que este distanciamento é justificado, pelos entrevistados, como uma forma
de cautela.
"Não é o paciente soropositivo ao hiv, o que modifica a nossa assistência é o isolamento
de contato, de colocar capote, de ter uma cautela redobrada com relação a isso.”
(*ent_10 *cat_enf *sex_f *id_3 *ren_3 *atenf_2 *athiv_2) x² = 7
“Então, o profissional de enfermagem não fala sobre o assunto e mantém cautela, mas
presta cuidado de enfermagem normalmente. Às vezes, não diferença no cuidado de
enfermagem prestado ao paciente soropositivo ao hiv. Quando o paciente tem
tuberculose ou isolamento de contato o profissional de enfermagem tem mais cautela e
se distancia.” (*ent_04 *cat_aux *sex_f *id_2 *ren_1 *atenf_1 *athiv_1) x² = 1
A partir dos discursos dos membros da equipe entrevistados, é possível
constatar que os conhecimentos relacionados às precauções encontram-se, na sua
maior parte, de acordo com o estabelecido pela litertura científica, diferenciando-se
do simples uso de E.P.I.
ANVISA (2000) e Chiaratto, Balsamo e Silveira (2005), em manuais
destinados à prevenção de infecções hospitalares, asseveram que as precauções de
164
contato devem ser realizadas no caso de suspeita ou confirmação de doença ou
colonização por microorganismos transmitidos através do contato. Dentre estas
afecções, citam: diarréias ocasionadas por vírus/bactérias entéricos ou por
Clostridium difficile; varicela; zoster disseminado; bactéria multi-resistente;
Staphylococcus/Streptococcus.
Enquanto isso, a precaução respiratória é preconizada no caso de infecções
de transmissão respiratória, por gotículas ou aerossóis. Exemplos destas infecções
são varicela, zoster disseminado, rubéola, sarampo, tuberculose, coqueluche e
doença meningocócica (ANVISA, 2000; CHIARATO; BALSAMO; SILVEIRA, 2005).
no que concerne à precaução reversa, entende-se que esta objetiva
prevenir pacientes altamente susceptíveis a infecções, como os imunodeprimidos e
grande queimados, da aquisição de microorganismos (ANVISA, 2000).
Assim, no caso do primeiro tipo de precaução mencionado, é recomendado o
quarto privativo, a utilização de luvas e avental e a exclusividade, por paciente, dos
artigos e equipamentos, inclusive materiais hospitalares como termômetro e
estetocópio. No segundo tipo de precaução, recomenda-se o quarto privativo e o uso
de máscara cirúrgica, no caso de transmissões por gotículas, ou máscara N95, no
caso de microorganismos transmitidos por aerossóis (M. tuberculosis, vírus do
sarampo e vírus varicela-zoster). Para a terceira precaução, preconiza-se o uso de
máscara cirúrgica e luvas.
Observa-se, igualmente, nas falas dos sujeitos, a percepção destes a respeito
da internação de muitos pacientes soropositivos ao HIV com co-infecção pelo M.
tuberculosis. Isto se deve à imunodepressão encontrada nos pacientes que
desenvolveram a AIDS e, em decorrência, apresentam intensa predisposição a
desenvolver infecções oportunistas, ou seja, infecções desenvolvidas em pessoas
que estão com o sistema de defesa enfraquecido.
O grande quantitativo de internações de pacientes soropositivos ao HIV com
co-infecção pela tuberculose é abordado em muitos estudos. Dentre eles, pode-se
mencionar o de Gabriel, Barbosa e Viana (2005), sobre o perfil epidemiológico dos
clientes com HIV/AIDS atendidos em unidade ambulatorial, e os de CARVALHO et
al. (2006), MUNIZ et al. (2006) e SILVEIRA et al. (2006) que abordam,
especificamente, a co-infecção HIV-tuberculose.
Cabe salientar que as precauções existem com a finalidade de proteger não
somente o paciente e os profissionais de saúde envolvidos em sua assistência, mas,
165
também, outros pacientes que, por ventura, se encontrem internados próximos.
Frente aos conteúdos apresentados nesta última classe, pode-se concluir que
membros da equipe de enfermagem que possuem renda pessoal mensal superior a
R$6.000,00 representam socialmente o cuidado de enfermagem prestado ao
paciente soropositivo ao HIV com base em elementos que dizem respeito à auto-
proteção profissional. Para tal, abarcam conteúdos a respeito da precaução padrão
e das formas de exposição às quais se encontram expostos durante a execução do
referido cuidado. Neste ínterim, enfatizam que o cuidado preconizado é aquele sem
distinção ao prestado a qualquer paciente, no entanto, afirmam que, na prática,
observa-se a execução do cuidado com maior cautela quando se diz respeito a
pacientes com HIV/AIDS.
III.3.2- Os significados das representações sociais do cuidado para os grupos
de auxiliares de enfermagem e de enfermeiros
Neste tópico serão dissertados os conteúdos correspondentes às duas
classes emergidas da análise tri-croisé da variável categoria profissional, quais
sejam: auxiliar de enfermagem e enfermeiro.
Para tal, igualmente ao tópico anterior, será utilizado para a compreensão das
classes: as variáveis de análise que apresentam associação estastica; as formas
reduzidas com maiores valores de e seus respectivos contextos semânticos; o
dendrograma da C.A.H., e algumas de suas U.C.E.
Tendo em vista que os conteúdos das classes resultantes desta análise
foram, de certa forma, apresentados na análise standard, neste tópico serão
destacados os elementos característicos de cada categoria profissional, buscando
explicitar as diferenças existentes entre as representações sociais construídas pelas
categorias membros da equipe em análise.
III.3.2.1- Cotidiano do cuidado de enfermagem prestado ao paciente com HIV/AIDS
pelo auxiliar de enfermagem (categoria auxiliar de enfermagem)
A presente classe possui associação estatística com auxiliares de
enfermagem que possuem renda pessoal mensal inferior a R$3.000,00, com faixa
etária de 35 a 44 anos, que atuam na área de enfermagem por período entre 10 e 20
anos ou igual ou inferior a 10 anos e com pacientes soropositivos ao HIV período
166
igual ou superior a 15 anos. Conforme pode ser observado no Quadro 17, que
dispõe as referidas categorias de análise com seus respectivos x², as duas últimas
categorias mencionadas são as que possuem menor grau de associação à classe de
auxiliares de enfermagem.
Quadro 17 Valores de relativos às variáveis de análise com associação estatística à classe
categoria auxiliar de enfermagem. Rio de Janeiro, 2007.
Variável de Análise
Categoria Associada à Classe 6
Categoria Profissional
Auxiliar de Enfermagem
1.887,0
Renda Pessoal Mensal
< R$ 3.000,00
917,0
Tempo de Atuação Profissional na Área de
Enfermagem
10 a 20 anos
39,68
≤ 10 anos
14,86
Idade
35 a 44 anos
33,09
Atuação Profissional com pacientes
soropositivos ao HIV
≥ 15 anos
4,19
Esta classe abrange 991 das 1.887 U.C.E. utilizadas na análise tri-croisé, o
que representa 52,52% do corpus de análise. No que concerne às U.C.E. que
compõem esta classe, cada uma apresenta, em média, 17,67 palavras analisadas.
Destas palavras, 97 formas reduzidas que possuem associação estatística com a
classe (x² ≥ 3,86) foram selecionadas para compor sua C.A.H. (Figura 16).
As formas reduzidas com maiores valores de x², juntamente com seus
respectivos contextos semânticos são observadas no Quadro 18.
Quadro 18 - Distribuição das formas reduzidas, com maiores valores de x², e seus contextos
semânticos da classe categoria auxiliar de enfermagem. Rio de Janeiro, 2007.
Forma Reduzida
Contexto Semântico
profissional_de_enf
profissional_de_enfermagem
71,03
luva+
luva, luvas
21,18
estava
estava
20,31
trabalhar
trabalhar
17,12
falei
falei
16,45
mulher
mulher
12,64
convers+
conversa, conversas, conversasse
12,35
comigo
comigo
10,51
sangue
sangue
10,36
De acordo com o Quadro 18, as formas reduzidas da classe categoria auxiliar
de enfermagem que possuem maiores valores de x² e, conseqüentemente, possuem
167
maior associação estatística com a referida classe, são: profissional_de_enf; luva+;
estava; trabalhar; falei; mulher; convers+; comigo; sangue. Destas, somente luva+ e
convers+ não se encerram em si e possuem contextos semânticos, quais sejam,
respectivamente: luva e luvas; conversa, conversas e conversasse.
Com vistas nestas formas reduzidas e contextos semânticos, é possível
observar que o conteúdo geral desta classe engloba o cotidiano do cuidado de
enfermagem prestado ao paciente soropositivo ao HIV. Desta forma, são
encontrados conteúdos relativos ao convívio e ao relacionamento interpessoal entre
o paciente com HIV/AIDS e os membros da equipe de enfermagem.
Através do dendrograma da C.A.H. desta classe (Figura 16), agrupou-se as
formas reduzidas com o objetivo de alcançar conteúdos mais definidos a respeito da
classe “Cotidiano do cuidado de enfermagem prestado ao paciente com HIV/AIDS”.
Assim, foi possível compreender que a classe “Interações entre membros da
equipe de enfermagem e paciente com HIV/AIDS durante a hospitalização” é
composta por duas categorias: “Convívio entre paciente soropositivo ao HIV e
profissional de enfermagem durante a hospitalização” e “Relacionamento
interpessoal entre paciente soropositivo ao HIV e profissional de enfermagem”. A
primeira categoria agrega duas sub-categorias: “Violência sofrida pelo profissional
de enfermagem” e “Cautela durante a realização de procedimentos”. Enquanto isso,
a segunda agrega as sub-categorias: “Diálogo entre paciente soropositivo ao HIV e
profissional de enfermagem” e “Sentimentos do paciente com HIV/AIDS”.
168
Figura 16 - Classificação Ascendente Hierárquica da Classe Categoria Auxiliar de Enfermagem. Rio
de Janeiro, 2007.
169
Figura 17 - Apresentação esquemática das categorias e sub-categorias presentes na classe categoria
auxiliar de enfermagem. Rio de Janeiro, 2007.
CONVÍVIO ENTRE PACIENTE SOROPOSITIVO AO HIV E EQUIPE DE
ENFERMAGEM DURANTE A HOSPITALIZAÇÃO
Violência sofrida pelo profissional de enfermagem
Os auxiliares de enfermagem entrevistados pontuam que durante a
assistência que prestam aos pacientes com HIV/AIDS vêem-se diante de diversas
situações de violência cometidas pelos sujeitos alvo de seus cuidados. Neste
sentido, enfatizam que tal violência varia da verbal à física e, muitas das vezes, se
dá em função da revolta sentida por estes pacientes devido ao diagnóstico da
soropositividade ao HIV.
“Tiveram casos de paciente soropositivo ao hiv agredir o profissional de enfermagem.
Aconteceu comigo quando vim para dip. Tinha um paciente soropositivo ao hiv revoltado
que teimou que queria me bater. Ele era assim com todos, não era somente comigo.”
(*ent_17 *cat_aux *sex_f *id_3 *ren_1 *atenf_2 *athiv_2) x² = 29
Conforme anteriormente pontuado na classe O cotidiano do cuidado à
pessoa com HIV/AIDS da análise standard, frente a esta violência sofrida, os
auxiliares de enfermagem afirmam que acabam por buscar o distanciamento destes
clientes como forma de se protegerem da violência sofrida.
Cotidiano do cuidado
de enfermagem
prestado ao paciente
com HIV/AIDS pelo
auxiliar de enfermagem
Convívio entre paciente
soropositivo ao HIV e
profissional de
enfermagem durante a
hospitalização
Relacionamento
interpessoal entre
paciente soropositivo
ao HIV e profissional de
enfermagem durante a
hospitalização
Violência sofrida pelo
profissional de enfermagem
Diálogo entre paciente
soropositivo ao HIV e
profissional de enfermagem
Sentimentos do paciente com
HIV/AIDS
Cautela durante a realização
de procedimentos
170
“Não chegou a me agredir, mas eu não ia esperar. Paciente assim, deixa no canto dele.
Quer ficar sozinho, fica sozinho pensando.” (*ent_17 *cat_aux *sex_f *id_3 *ren_1
*atenf_2 *athiv_2) x² = 9
Desta forma, o cuidado de enfermagem pode tornar-se marcado pelo
afastamento, tornando-se isento de relacionamento interpessoal entre os sujeitos
envolvidos.
Cautela durante a realização de procedimentos
Os auxiliares de enfermagem defendem a idéia de que a cautela a ser
utilizada durante a prestação do cuidado de enfermagem deve ser igual com todos
os pacientes, independente de sua patologia. Afirmam que os E.P.I. devem ser
utilizados de acordo com o cuidado a ser efetivado, e não em função do paciente
que seassistido, uma vez que as precauções devem ser tomadas com todas as
pessoas.
O cuidado de enfermagem é idealizado no momento, mas o profissional de enfermagem
tem a mesma cautela. O profissional de enfermagem utilizará luvas para dar banho e
fazer curativo em todo paciente, independente de ser paciente soropositivo ao hiv ou
o.(*ent_08 *cat_aux *sex_f *id_4 *ren_2 *atenf_2 *athiv_2) x²= 9
Porém, admitem que, apesar de reconhecerem que a cautela deve ser
tomada com todos os pacientes, quando sabem que o paciente é sabidamente
soropositivo ao HIV, a atenção é redobrada ao lidar com este.
Ainda, mencionam que ao saberem do diagnóstico do paciente, os membros
da equipe de enfermagem transmitem esta informação uns aos outros nas
passagens de plantão a fim de que todos tenham uma cautela a mais e evitem
acidentes de trabalho com materiais biológicos destes pacientes.
“Nós somos informados: é paciente soropositivo ao hiv. Mas, independente, o
procedimento é igual: utilizar luvas e máscara. Eu não vejo diferença. É óbvio que
quando o profissional de enfermagem te alerta, na passagem de plantão, o profissional
de enfermagem fica mais atento. (*ent_38 *cat_aux *sex_m *id_3 *ren_1 *atenf_2
*athiv_2) x² = 11
“Os profissionais de enfermagem tentam prestar um bom cuidado de enfermagem
quando sabem que o paciente soropositivo ao hiv tem outra doença que não é visível.
Mas o correto é utilizar luva. A máscara somente quando é necessário, mas as luvas o
profissional de enfermagem usa constantemente.(*ent_40 *cat_aux *sex_f *id_4 *ren_1
*atenf_2 *athiv_2) x² = 8
Assim, os auxiliares de enfermagem admitem que se paramentam com todos
os E.P.I. disponíveis no local de trabalho para se aproximarem dos pacientes com
HIV/AIDS, pois temem que estes pacientes, devido à revolta que, por vezes, sentem,
171
arremessem algo em cima do profissional de enfermagem que está prestando
assistência a ele.
“Então, o profissional de enfermagem tem que se aproximar do paciente soropositivo ao
hiv prevenido. O profissional de enfermagem precisa utilizar capote, luvas e máscara
para se aproximar do paciente soropositivo ao hiv porque o paciente soropositivo ao hiv
pode jogar algo em cima do profissional de enfermagem.” (*ent_40 *cat_aux *sex_f *id_4
*ren_1 *atenf_2 *athiv_2) x² = 10
Deste modo, a cautela a ser utilizada pelos membros da equipe de
enfermagem, quando empregada em excesso ou mal empregada, pode ser
transformada em uma barreira para o relacionamento entre o cuidador e o ser
cuidado. Contudo, se utilizada adequadamente e sem exageros, os E.P.I. facilitam o
cuidado prestado uma vez que possibilitam a proximidade entre os sujeitos do
cuidado sem que isto represente risco de contaminação para qualquer uma das
partes.
RELACIONAMENTO INTERPESSOAL ENTRE PACIENTE SOROPOSITIVO AO
HIV E EQUIPE DE ENFERMAGEM
Diálogo entre paciente soropositivo ao HIV e profissional de enfermagem
É apontado pelos auxiliares de enfermagem entrevistados que, por diversas
vezes, os pacientes com HIV/AIDS solicitam a estes membros da equipe de
enfermagem orientações a respeito de seu tratamento e diagnóstico visto os
médicos não os esclarecerem adequadamente.
Além disso, afirmam que, por vezes, os médicos revelam o diagnóstico a
familiares do paciente, mas não ao próprio paciente e, frente a isto, o último se
diante de diversas dúvidas e incertezas e, pelo fato dos auxiliares de enfermagem
serem os integrantes da equipe de saúde que mais efetivamente permanecem junto
aos pacientes durante sua hospitalização, é a estes membros da equipe de
enfermagem que os pacientes recorrem no caso da necessidade de informações e
acolhimento.
“Às vezes, o médico fala para o familiar e o paciente soropositivo ao hiv não fica
sabendo. Somente desconfia. Mas não admite. Neste caso, o paciente soropositivo ao hiv
fica desconfiado e pergunta sobre as medicações que o profissional de enfermagem
administra.(*ent_40 *cat_aux *sex_f *id_4 *ren_1 *atenf_2 *athiv_2) x² = 19
O paciente soropositivo ao hiv chama o profissional de enfermagem para conversar
quando o médico fala para o paciente soropositivo ao hiv porque, às vezes, o paciente
soropositivo ao hiv é sozinho e o médico fala para o paciente soropositivo ao hiv.
(*ent_40 *cat_aux *sex_f *id_4 *ren_1 *atenf_2 *athiv_2) x² = 13
172
Ainda, os auxiliares de enfermagem mencionam que, em diversos momentos,
faz-se necessária a orientação a estes pacientes visto seus sentimentos afetarem
diretamente no tratamento terapêutico a ser desenvolvido. Sentimentos estes, como
a depressão, que dificultam, por exemplo, a aceitação das medicações e a ingestão
de alimentos.
“Não olhava, eu perguntava e ela não respondia, olhava de cara feia. Fui deixando. O dia
que ela falou que não queria tomar as medicações, eu sentei e tentei fazer com que ela
tomasse.(*ent_35 *cat_aux *sex_f *id_4 *ren_1 *atenf_1 *athiv_1) x² = 11
“Sangraria e demoraria quase um ano. Ele se assustou e comeu. Falou que pensava que
demoraria somente três dias. Falei que ninguém morre se ficar três dias sem comer. Por
exemplo, mendigo fica duas ou mais semanas sem comer. (*ent_40 *cat_aux *sex_f
*id_4 *ren_1 *atenf_2 *athiv_2) x² = 11
Igualmente, reconhecem a importância do diálogo com estes pacientes
hospitalizados a fim de encorajá-los a lutar e dar continuidade a seu tratamento
visando a melhora de sua qualidade de vida e a conseqüente alta hospitalar. Neste
interim, afirmam que nos momentos nos quais os pacientes o se mostram
receptivos, o melhor a ser feito é deixá-los sozinhos.
“Quando o paciente soropositivo ao hiv está bem, o profissional de enfermagem
conversa. Quando não está bem o profissional de enfermagem não conversa muito, mas
sempre fala para o paciente soropositivo ao hiv tentar melhorar para receber alta
hospitalar.(*ent_04 *cat_aux *sex_f *id_2 *ren_1 *atenf_1 *athiv_1) x² = 9
“Mês passado tiveram duas mulheres pacientes soropositivas ao hiv internadas e eu
conversei muito com elas e falei que não pode desanimar e se entregar porque deus
modifica o diagnóstico médico.(*ent_05 *cat_aux *sex_f *id_4 *ren_1 *atenf_2 *athiv_1)
x² = 8
No entanto, dizem que em determinadas ocasiões os pacientes buscam
diálogo com os auxiliares de enfermagem, porém, devido ao intenso ritmo de
trabalho no qual se encontram, estes membros da equipe precisam abdicar deste
diálogo ou o fazem com tempo programado para seu término devido às tarefas que
precisam executar. Mas, conforme pontuado na classe O cuidado como
relacionamento interpessoal” da análise standard, esta falta de tempo alegada pelos
membros da equipe como a causa do não diálogo pode ser uma justificativa para
camuflar o seu verdadeiro motivo. Isto porque reconhecem a importância desta
interação e não a praticam por outros motivos diversos, até mesmo por o se
sentirem aptos e preparados psicologicamente para tal.
“Teve um paciente soropositivo ao hiv internado que morreu e os profissionais de
enfermagem gostavam muito dele. Esse paciente soropositivo ao hiv ficou com
depressão e se entregava muito. Quando o profissional de enfermagem se aproximava, o
paciente soropositivo ao hiv queria conversar e, às vezes, o profissional de enfermagem
173
não tem tempo para conversar, mas e conversa um pouco, comenta sobre o jornal,
futebol, artista, moda, tempo. (*ent_08 *cat_aux *sex_f *id_4 *ren_2 *atenf_2 *athiv_2)
x² = 9
Por outro lado, encontra-se o diálogo que aproxima paciente e profissional por
determinada semelhança que possuam, seja devido ao grupo religioso, ao time de
futebol, à idade, ao sexo, dentre outros.
“Ele falava muito pouco e quando eu fui fazer as medicações dele, ele me chamou e
perguntou se eu era batista. Eu falei que sou e ele falou que o hino era muito bonito.
(*ent_05 *cat_aux *sex_f *id_4 *ren_1 *atenf_2 *athiv_1) x² = 10
Cabe destacar que, em ambos os casos mencionados, o diálogo torna-se
terapêutico na medida em que proporciona subsídios para que o paciente entenda
melhor a sua atual situação e, desta forma, encontre meios para aliviar seus
sentimentos, muitas vezes, negativos frente à doença.
Sentimentos do paciente com HIV/AIDS
Os auxiliares de enfermagem destacam que os pacientes com HIV/AIDS
hospitalizados são muito tristes com a situação na qual se encontram. Frente a isto,
estes membros da equipe buscam maneiras de descontraí-los e manter diálogos
com eles, porém não são correspondidos pelos pacientes que evitam o diálogo e
buscam o distanciamento.
E o paciente soropositivo ao hiv internado é mais triste. O profissional de enfermagem
tenta conversar e brincar de alguma maneira para o paciente soropositivo ao hiv se
distrair, mas o paciente soropositivo ao hiv é muito triste.(*ent_08 *cat_aux *sex_f *id_4
*ren_2 *atenf_2 *athiv_2) x² = 7
Além da tristeza mencionada, os auxiliares de enfermagem observam que
grande parte dos pacientes soropositivos ao HIV hospitalizados encontra-se em
momento de revolta e de depressão frente ao diagnóstico a eles imposto. Assim,
muitos recusam as medicações e a assistência oferecidas, negam a soropositividade
e, por vezes, tratam mal os profissionais de saúde.
A única dificuldade que tenho é quando eles estão revoltados e recusam as medicações.
O paciente soropositivo ao hiv quando fica chateado, revoltado, depressivo e não quer
tomar banho e trocar de roupa, tudo bem, mas se recusar as medicações, tem que
conversar.(*ent_35 *cat_aux *sex_f *id_4 *ren_1 *atenf_1 *athiv_1) x² = 10
“Mas, fora isso, o. Somente se ele estiver revoltado. Está revoltado, não aceita que
está doente, descobriu agora. Claro que os profissionais de enfermagem falam: é
paciente soropositivo ao hiv, soube agora, está revoltado.(*ent_01 *cat_aux *sex_f *id_3
*ren_1 *atenf_1 *athiv_1) x² = 9
174
“Porque, normalmente, quando o paciente soropositivo ao hiv está revoltado, ele quer te
tratar mal. Eu acho que se tem educação para tratar com a pessoa, ela vai ficar
constrangida de tanto te tratar mal.(*ent_01 *cat_aux *sex_f *id_3 *ren_1 *atenf_1
*athiv_1) x² = 7
“São poucos pacientes soropositivos ao hiv que o revoltados, mas o paciente
soropositivo ao hiv revoltado suja tudo para humilhar o profissional de enfermagem ou
para humilhar a si próprio.(*ent_40 *cat_aux *sex_f *id_4 *ren_1 *atenf_2 *athiv_2) x²= 7
Com base nos resultados emergidos na classe “Interações entre membros da
equipe de enfermagem e paciente com HIV/AIDS durante a hospitalização” conclui-
se que os auxiliares de enfermagem possuem maior associação estatística com as
categorias renda pessoal mensal inferior a R$3.000,00, tempo de atuação em
enfermagem entre 10 e 20 anos e faixa etária de 35 a 44 anos.
Ainda, observa-se que estes membros da equipe possuem uma
representação social do cuidado de enfermagem prestado ao paciente soropositivo
ao HIV composta por elementos do dia-a-dia no lidar com o paciente soropositivo ao
HIV no contexto hospitalar, o que pode justificar-se pelo amplo contato profissional
travado com estes sujeitos.
Desta forma, esta representação abarca conteúdos a respeito da violência
sofrida pelos membros da equipe de enfermagem, da cautela necessária para
assistir os pacientes com HIV/AIDS, do diálogo existente na relação paciente com
HIV/AIDS auxiliar de enfermagem e dos sentimentos do paciente frente ao
diagnóstico da soropositividade ao HIV.
Estes dados são comprovados através do cruzamento das análises tri-croisé
e standard, pois estes conteúdos vão ao encontro dos elementos presentes nas
classes da análise standard às quais a variável categoria profissional auxiliar de
enfermagem apresenta associação estatística. As referidas classes são: “O cuidado
como relacionamento interpessoal”; “O cotidiano do cuidado à pessoa com
HIV/AIDS”; e “Os sujeitos sociais do cuidado”. Além disso, também apresenta
conteúdos abarcados pela classe “O cuidado como auto-proteção profissional”, a
qual não possui associação estatística com nenhuma categoria profissional
específica.
175
III.3.2.2- O cuidado de enfermagem prestado ao paciente com HIV/AIDS voltado a
sua qualidade de vida pelos enfermeiros (categoria enfermeiro)
A classe que será disposta neste sub-tópico apresenta associação estatística,
conforme mostra o Quadro 19, com enfermeiros que possuem renda pessoal mensal
entre R$ 3.000,00 e R$ 6.000,00 ou superior a R$ 6.000,00, possuem idade inferior
a 25 anos ou igual ou superior a 45 anos, atuam na área de enfermagem há período
superior a 20 anos e com pacientes soropositivos ao HIV período inferior a 15
anos.
Quadro 19 Valores de relativos às variáveis de análise com associação estatística à classe
categoria enfermeiro. Rio de Janeiro, 2007.
Variável de Análise
Categoria Associada à Classe 6
Categoria Profissional
Enfermeiro
1.887,0
Renda Pessoal Mensal
entre R$ 3.000,00 e R$ 6.000,00
666,5
> R$ 6.000,00
105,75
Tempo de Atuação Profissional na Área de
Enfermagem
> 20 anos
143,97
Idade
< 25 anos
45,2
≥ 45 anos
16,68
Atuação Profissional com pacientes
soropositivos ao HIV
< 15 anos
4,19
Diante do exposto no Quadro 19, pode-se afirmar que esta classe possui
como categorias principais: enfermeiro; renda pessoal mensal entre R$3.000,00 e
R$6.000,00 e superior a R$6.000,00 e tempo de atuação na área de enfermagem
superior a 20 anos.
Das 1.887 U.C.E. totais utilizadas na análise tri-croisé, 896 compõem a
presente classe, o que equivale a 47,48% do corpus de análise. Destas U.C.E.,
foram selecionadas 91 formas reduzidas que possuem associação estatística (x²
3,91) com a classe para comporem sua C.A.H. (Figura 18). Cada U.C.E. desta
classe possui, em média, 17,80 palavras analisadas.
Dentre as formas reduzidas que compõem esta classe, as que possuem
maiores valores de e, desta forma, maior associação estatística com a classe
encontram-se dispostas, com seus respectivos contextos semânticos, no Quadro 20.
São elas: infeccoes; infeccoes_oportunis; qualquer; maior+; necessidade+;
anti_retrovirais; sedado+; cti; condicoes; esposa; sentimento+; especifico. Desta,
176
maior+ possui os contextos semânticos maior e maiores, sedado+ possui sedado e
sedados e sentimento+ possui sentimento e sentimentos. Enquanto isso, todas as
demais formas reduzidas encerram-se em si mesmas.
Quadro 20 - Distribuição das formas reduzidas, com maiores valores de x², e seus contextos
semânticos da classe categoria enfermeiro. Rio de Janeiro, 2007.
Forma Reduzida
Contexto Semântico
infeccoes
infecções
23,47
infeccoes_oportunis
infecções_oportunistas
23,06
qualquer
qualquer
20,32
maior+
maior, maiores
20,13
necessidade+
necessidade, necessidades
19,85
anti_retrovirais
anti_retrovirais
18,92
sedado+
sedado, sedados
14,48
cti
cti
14,03
condicoes
condições
13,49
esposa
esposa
12,93
sentimento+
sentimento, sentimentos
12,8
especifico
específico
12,45
A partir das formas reduzidas e dos seus contextos semânticos apresentados,
é possível inferir que esta classe abrange, como conteúdo geral, a influência dos
serviços de saúde para o cuidado de enfermagem ideal aos pacientes com
HIV/AIDS.
A C.A.H. desta classe pode ser observada na Figura 18, através da qual é
possível observar os agrupamentos de suas formas reduzidas de acordo com o
esquema de cores.
177
Figura 18 - Classificação Ascendente Hierárquica da Classe categoria enfermeiro. Rio de Janeiro,
2007.
178
Assim, baseado neste agrupamento das formas reduzidas, construiu-se o
esquema de categorias e sub-categorias (Figura 19). Através deste esquema,
tornou-se possível compreender que a classe “A influência dos serviços de saúde
para o cuidado ideal aos pacientes com HIV/AIDS” é composta por duas categorias:
“Particularidades dos serviços de saúde no contexto do HIV/AIDS” e “O cuidado
percebido como ideal pelos membros da equipe de enfermagem”.
A primeira abarca conteúdos acerca dos cuidados voltados ao uso dos anti-
retrovirais e da cronicidade da doença, além da inserção do HIV nos serviços de
saúde, através das sub-categorias “Os cuidados voltados ao uso de anti-retrovirais e
à cronicidade da AIDS” e “A inserção do HIV nos serviços de saúde”. Enquanto isso,
a segunda disserta sobre as infecções oportunistas e as complicações, além das
necessidades identificadas pelos membros da equipe de enfermagem, através das
sub-categorias: “O cuidado voltado às infecções oportunistas” e “Necessidades dos
pacientes com HIV/AIDS identificadas pelos membros da equipe de enfermagem”.
Figura 19 - Apresentação esquemática das categorias e sub-categorias presentes na classe categoria
enfermeiro. Rio de Janeiro, 2007.
O cuidado de
enfermagem prestado
ao paciente com
HIV/AIDS voltado a sua
qualidade de vida pelos
enfermeiros
Particularidades dos
serviços de saúde no
contexto do HIV/AIDS
O cuidado percebido
como ideal pelos
membros da equipe
de enfermagem
Os cuidados voltados ao uso
de anti-retrovirais e à
cronicidade da AIDS
A inserção do HIV nos
serviços de saúde
O cuidado voltado às
infecções oportunistas
Necessidades dos pacientes
com HIV/AIDS identificadas
pelos membros da equipe de
enfermagem
179
PARTICULARIDADES DOS SERVIÇOS DE SAÚDE NO CONTEXTO DO HIV/AIDS
Os cuidados voltados ao uso de anti-retrovirais e à cronicidade da AIDS
Os enfermeiros entrevistados mencionam a importância de cuidados de
enfermagem voltados à utilização dos anti-retrovirais. Para eles, os membros da
equipe de enfermagem devem atentar-se para a efetiva compreensão dos pacientes
soropositivos ao HIV a respeito da terapia anti-retroviral, uma vez que acreditam
esta ser primordial para a sua adequada adesão ao tratamento.
Neste sentido, afirmam que se deve conhecer as condições que os pacientes
possuem para dar continuidade ao tratamento, pois acreditam que não adianta
disponibilizar as medicações anti-retrovirais aos pacientes se estes não possuírem
condições, sejam psicológicas, sociais ou financeiras para prosseguir o tratamento.
Assim, acreditam que o cuidado de enfermagem prestado a esta clientela
diferencia-se dos demais somente pelas especificidades da terapia anti-retroviral.
"O paciente soropositivo ao hiv o es conseguindo com aquele anti-retroviral, tem
alternativa para modificar os anti-retrovirais e eles não sabem disso. E isso do paciente
soropositivo ao hiv, o tratamento, vai muito do médico que acompanha esse paciente no
ambulatório. Dependendo do médico que acompanha o paciente, esse médico consegue
modificar.(*ent_15 *cat_enf *sex_f *id_3 *ren_2 *atenf_2 *athiv_1) x² = 10
"O cuidado de enfermagem específico do paciente soropositivo ao hiv é diferenciado por
os anti-retrovirais. Acho que a família, se tem, o parceiro sexual e o prognóstico, isso vem
à minha mente.(*ent_19 *cat_enf *sex_f *id_3 *ren_2 *atenf_3 *athiv_2) x² = 7
"O único cuidado de enfermagem específico é saber o meio no qual o paciente
soropositivo ao hiv se insere e se terá condições de manter o uso dos anti-retrovirais.”
(*ent_26 *cat_enf *sex_m *id_3 *ren_2 *atenf_2 *athiv_1) x² = 7
Ainda, enfatizam o status de doença crônica que a AIDS adquiriu com o
advento da terapia anti-retroviral. Pontuam que, atualmente, a AIDS é tida como
uma doença crônica como a diabetes e a hipertensão e, como tal, seu tratamento
deve ser contínuo, não devendo ser interrompido em nenhuma ocasião.
“Então, lembrar aos profissionais de saúde que o tratamento é crônico, como de
hipertensão, e deve continuar. Uma das assistências que o profissional de enfermagem
deve ter é a cobrança do tratamento apropriado e procurar sinais de complicações que o
paciente soropositivo ao hiv tem da imunossupressão, mucosites ou infecções
oportunistas.” (*ent_39 *cat_enf *sex_f *id_1 *ren_1 *atenf_1 *athiv_1) x² = 15
A inserção do HIV nos serviços de saúde
Quanto à inserção dos pacientes soropositivos ao HIV no contexto dos
serviços de saúde brasileiros, os enfermeiros afirmam que, atualmente, estes
pacientes são encontrados em diversas clínicas, não se restringindo ao setor de
doenças infecto-parasitárias. Este fato pode ser explicado por vários motivos, dentre
180
eles pela cronicidade da AIDS e pelo rápido crescimento da epidemia.
No entanto, pontuam que ainda permanece na representação de muitos
membros da equipe de enfermagem que o contato com tal clientela é travado
somente no setor supracitado e, deste modo, recusam-se a adentrar no mesmo com
receio de contaminar-se.
Ainda no que se refere aos serviços de saúde, mencionam que os setores de
doenças infecto-parasitárias, com o decorrer do tempo, foram organizados com
ênfase na admissão de pacientes com HIV/AIDS e, assim, são observados espaços
destinados especificamente à admissão de pacientes com esta patologia.
"Isso é uma besteira tão grande porque se estiver em qualquer enfermaria, seja qual for,
terá paciente soropositivo ao hiv. É porque é dip: doença infecto-parasitária. Eles acham
que passou da porta pegará doença. E tem paciente no corredor da pneumologia com bk
positivo, está junto e eles o sabem. (*ent_30 *cat_enf *sex_f *id_4 *ren_2 *atenf_2
*athiv_2) x² = 17
"Existe assim: essa aqui, que está vazia no momento, é uma enfermaria o hiv/aids
homem, é uma enfermaria feminina mista, que interna qualquer doença feminina, e
aquela é específica de hiv/aids. (*ent_11 *cat_enf *sex_f *id_3 *ren_2 *atenf_2
*athiv_1) x² = 14
Frente a isto, afirmam que não há alteração no relacionamento entre os
membros da equipe de enfermagem devido à presença de pacientes com HIV/AIDS
no setor ou diferenciação no cuidado prestado a este paciente, pois se cuida como a
qualquer outro paciente que se encontra hospitalizado, independente da patologia
que possua. E, assim, terá suas necessidades atendidas como qualquer outro
paciente.
No entanto, sinalizam que, em setores nos quais não o atendidos muitos
pacientes com HIV/AIDS, algumas dificuldades podem ser encontradas pelos
profissionais de saúde.
"Não tem alteração no relacionamento entre os profissionais de saúde devido à presença
do paciente soropositivo ao hiv no setor. O paciente soropositivo ao hiv é visto como um
paciente normal. É igual ao paciente com hepatite que é uma doença grave e de
contaminação maior do que o hiv/aids. (*ent_33 *cat_enf *sex_f *id_3 *ren_2 *atenf_2
*athiv_2) x² = 12
"Em setores que o são de dip, por exemplo, clínica médica, emergência, talvez o
profissional de saúde tenha uma dificuldade maior. Eu não sei porque eu não sou
profissional de saúde desses setores. Eu não teria condições de te falar como funciona,
como seria isso lá.(*ent_09 *cat_enf *sex_m *id_4 *ren_2 *atenf_3 *athiv_2) x² = 11
"Em unidade clínica o paciente soropositivo ao hiv é um paciente com necessidades
como qualquer paciente. O cuidado de enfermagem será igual a qualquer paciente,
independente da doença. Somente o hiv/aids não determinará nada diferente no cuidado
de enfermagem.” (*ent_26 *cat_enf *sex_m *id_3 *ren_2 *atenf_2 *athiv_1) x² = 9
181
Neste interim, dissertam sobre a posição de destaque da política brasileira de
distribuição gratuita de medicamentos anti-retrovirais. Política pública esta que
disponibiliza, gratuitamente, a todos os portadores de HIV e doentes de AIDS os
medicamentos necessários ao tratamento integral contra o HIV.
"Acho que nenhum país faz tanta divulgação. Somente no brasil os anti-retrovirais são
gratuitos. O brasil é referência no tratamento e o lula viaja por o mundo divulgando.”
(*ent_33 *cat_enf *sex_f *id_3 *ren_2 *atenf_2 *athiv_2) x² = 13
O CUIDADO PERCEBIDO COMO IDEAL PELOS MEMBROS DA EQUIPE DE
ENFERMAGEM
O cuidado voltado às infecções oportunistas
Os enfermeiros entrevistados admitem que ao cuidar de um paciente
sabidamente soropositivo ao HIV, uma das primeiras preocupações que surgem é
quanto à prevenção de infecções oportunistas. Isto por compreenderem que os
pacientes imunodeprimidos ficam predispostos a estas, as quais apresentam grande
percentual de fatalidade. Desta forma, muitos dos cuidados prestados encontram-se
direcionados por estas.
"Percebo muito isso no paciente soropositivo ao hiv. O impacto maior, até mesmo para
mim, é o diagnóstico. Inicialmente, pensamos em uma data marcada. Os profissionais de
saúde sabem quais são as infecções oportunistas. O paciente soropositivo ao hiv não
tem conhecimento das complicações e, inicialmente, não tem essa preocupação porque
desconhece as infecções oportunistas que pode ter.(*ent_37 *cat_enf *sex_f *id_3
*ren_3 *atenf_2 *athiv_2) x² = 14
Assim, relatam que precisam atentar-se quando à presença de
imunodepressão nos pacientes para que, visando a não aquisição de infecções
oportunistas, seja realizada a adequada disposição dos pacientes no espaço físico
do setor.
"Se ele estivesse com muita imunodepressão, ele poderia ficar longe do paciente com
graves infecções. Porque no cti tem muitas infecções. s tentaríamos um isolamento
protetor para ele. Mas nunca foi o caso de nós sabermos que o paciente soropositivo ao
hiv está com muita imunodepressão. (*ent_28 *cat_enf *sex_f *id_2 *ren_2 *atenf_2
*athiv_1) x² = 5
Frente a estes discursos, pode-se observar a influência exercida pelas
infecções oportunistas no cuidado de enfermagem prestado aos pacientes com
HIV/AIDS, segundo os enfermeiros entrevistados.
182
Necessidades dos pacientes com HIV/AIDS identificadas pelos membros da
equipe de enfermagem
Ainda, os enfermeiros mencionam que as necessidades dos pacientes com
HIV/AIDS devem ser detectadas da mesma forma como fazem com os demais
clientes. Neste contexto, essas necessidades são direcionadas pela presença ou
não de infecções oportunistas, dentre outras coisas.
Enfatizam que não percebem diferenças entre o cuidado de enfermagem
ideal ao paciente soropositivo ao HIV daquele ideal a ser prestado a qualquer outro
paciente, pois o que define um cuidado como sendo o ideal é a capacidade do
profissional de detectar e resolver as necessidades. Cabe lembrar que em alguns
casos as necessidades detectadas fogem da capacidade do profissional em
questão, devendo este, para prestar um cuidado ideal, buscar solucionar o problema
encaminhando o paciente a outro profissional.
"Nós buscamos identificar as necessidades afetadas e implementamos cuidado de
enfermagem, independente da doença. o as necessidades de qualquer paciente.”
(*ent_26 *cat_enf *sex_m *id_3 *ren_2 *atenf_2 *athiv_1) x² = 17
"Encaminhar, se necessário, para um profissional de saúde especializado. O cuidado de
enfermagem ideal é aquele ideal para qualquer paciente. O cuidado de enfermagem será
ideal se o profissional de enfermagem souber identificar as necessidades do paciente
soropositivo ao hiv.(*ent_26 *cat_enf *sex_m *id_3 *ren_2 *atenf_2 *athiv_1) x² = 13
"Toda doença é grave, se pensarmos. E todas criam um grau de dependência. O cuidado
de enfermagem ideal é o que prestamos a todo paciente.(*ent_19 *cat_enf *sex_f *id_3
*ren_2 *atenf_3 *athiv_2) x² = 12
"Atender às necessidades básicas desse paciente, como qualquer paciente com outra
doença. É higiene, hidratação, conforto, ajuda, tudo o que está sendo necessário para
aquela pessoa.(*ent_15 *cat_enf *sex_f *id_3 *ren_2 *atenf_2 *athiv_1) x² = 10
"Nós avaliamos todo paciente diariamente e identificamos as necessidades,
independente da doença. O paciente soropositivo ao hiv pode apresentar infecções
respiratória e ter dificuldade para respirar que implementaremos o cuidado de
enfermagem como implementaríamos para o paciente dpoc. (*ent_26 *cat_enf *sex_m
*id_3 *ren_2 *atenf_2 *athiv_1) x² = 7
Frente aos conteúdos apresentados na classe Influências dos serviços de
saúde para o cuidado ideal aos pacientes com HIV/AIDS, observa-se que
enfermeiros possuem maior associação estatística com renda pessoal mensal entre
R$3.000,00 e R$6.000,00 ou superior a R$6.000,00 e tempo de atuação na área de
enfermagem superior a 20 anos.
Ainda, conclui-se que estes compõem a representação social acerca do
cuidado de enfermagem voltado aos pacientes soropositivos ao HIV, a partir de
183
conteúdos reificados sobre a prática profissional, o que pode justificar-se pelo aporte
científico que estes membros da equipe possuem acerca da temática. Assim, esta
representação social é constituída por conteúdos sobre os cuidados voltados à
utilização da anti-retrovirais e a cronicidade da AIDS no contexto hospitalar, a
inserção do HIV no âmbito dos serviços de saúde, os cuidados destinados à
prevenção das infecções oportunistas nos pacientes com HIV/AIDS e as
necessidades destes pacientes que são identificadas pelos membros da equipe de
enfermagem.
Desta forma, observa-se que estes conteúdos vão ao encontro do pontuado
nas duas classes da análise standard que possuem associação estatística com a
categoria profissional enfermeiros. Estas classes são: “As práticas de cuidado
hospitalar e medicamentoso” e “A influência dos serviços de saúde no cuidado
prestado à pessoa com HIV/AIDS”.
184
IV. CONCLUSÕES
Neste trabalho foi possível identificar os diferentes conteúdos constituintes da
representação social do cuidado de enfermagem prestado a pacientes soropositivos
ao HIV, entre equipes de enfermagem que atuam diretamente com esta clientela, em
ambiente hospitalar. Para isto, foi utilizada a abordagem processual da Teoria das
Representações Sociais, a qual se mostrou pertinente visto enfatizar o processo de
construção desta representação social e os seus conteúdos.
Constatou-se que a representação social do cuidado de enfermagem
prestado a pacientes soropositivos ao HIV foi construída tendo como elemento
nuclear o paciente com HIV/AIDS, uma vez que este determina todas as
características do cuidado. Associado a este elemento, emergem questões da
dinâmica e estrutura institucional, do tratamento medicamentoso, do relacionamento
interpessoal, da auto-proteção profissional, do apoio social e institucional e do
tratamento e diagnóstico do HIV. Esse esquema figurativo da representação social
do cuidado pode ser visualizado abaixo (Figura 20).
Figura 20 Esquema figurativo dos elementos constituintes da representação social do cuidado de
enfermagem prestado ao paciente com HIV/AIDS para profissionais de enfermagem. Rio de Janeiro,
2007.
A importância do conhecimento e do acesso à informação para o
enfrentamento da síndrome, tanto para a equipe de enfermagem quanto para os
pacientes, é um elemento destacado na representação analisada. A importância do
acesso ao conhecimento científico produzido a respeito do HIV/AIDS pelos
sujeito com HIV/AIDS
dinâmica e
estrutura
institucional
tratamento
medicamentoso
relação
interpessoal
auto-proteção
profissional
diagnóstico do
HIV
transmissão
do HIV
apoio social e
institucional
185
pacientes (e também pela equipe profissional) é um aspecto reconhecido, podendo
se repercutir, inclusive, na maior adesão à terapia anti-retroviral.
No entanto, as dificuldades encontradas pela equipe de enfermagem para
efetivar o cuidado àqueles pacientes com maior grau de escolaridade e, portanto,
maior esclarecimento e crítica sobre o cuidado prestado, é um elemento a ser
considerado, pois estas características possibilitam o empoderamento dos sujeitos.
Esse empoderamento resulta no maior questionamento acerca dos procedimentos
realizados, dificultando a atuação dos profissionais que, muitas vezes, não se
sentem preparados para lidar com este tipo de clientela. O que se observou nas
representações analisadas foram duas modalidades de relação educativa
estabelecida entre cliente-equipe de enfermagem: uma majoritária marcada pela
transmissão de conhecimento e de prescrições sobre como agir frente ao rus e a
doença; e outra de perplexidade e de impotência diante da curiosidade e da
necessidade de discutir o assunto, demonstrada por alguns pacientes.
Por outro lado, é reconhecido como elemento facilitador da prestação do
cuidado de enfermagem a atuação em setores que admitem grande quantitativo de
pacientes com HIV/AIDS, pois, desta forma, os profissionais se habituam com as
peculiaridades deste convívio e dos pacientes. Aliado a isto, encontra-se a freqüente
re-internação dos pacientes, o que os torna habituados ao contexto hospitalar e mais
receptivos aos cuidados prestados pelos profissionais de saúde e,
conseqüentemente, menos questionadores.
No que diz respeito à terapia anti-retroviral, observou-se a sua incorporação
às representações das práticas de cuidado, reconhecendo a importância do avanço
da política brasileira de distribuição gratuita e universal de medicamentos
necessários ao tratamento das pessoas infectadas pelo HIV ou com AIDS e o seu
impacto na qualidade de vida dos pacientes. Neste contexto, o processo de
cronificação da AIDS determinado pela maior sobrevida dos seus portadores
também faz parte da representação analisada, implicando na necessidade de novos
posicionamentos e formas de cuidar dessa clientela.
Apesar da maior sobrevida atribuída aos pacientes soropositivos ao HIV que
aderem à terapia anti-retroviral, grande parte dos pacientes não adere plenamente
em decorrência dos intensos efeitos colaterais que estes desencadeiam, como
vômitos, náuseas, cefaléia e insônia. A maioria dos pacientes soropositivos ao HIV
186
que necessita de internação é identificada como aquela que não adere à terapia
anti-retroviral, sendo, por vezes, taxada de revoltada.
Um segundo elemento associado à terapia anti-retroviral traz para o cenário
do cuidado pacientes soropositivos ao HIV que não apresentam o estereótipo
delimitado por sinais como o emagrecimento, o sarcoma de Kaposi, a diarréia e a
palidez, conforme no início da epidemia, impedindo a sua identificação. Além disso,
atualmente, estes pacientes encontram-se distribuídos por diversos setores do
hospital, devido a patologias associadas que os acometem, como as cardiopatias,
por exemplo, aumentando ainda mais a sua invisibilidade.
Essa invisibilidade determina a necessidade de adoção de práticas de
cuidado de precaução padrão, uma vez que o cuidado prestado deve ser igual para
todos os pacientes, independente do diagnóstico apresentado. No entanto, o medo
do contágio ainda se faz presente na constatação de que durante o cuidado com
pacientes sabidamente soropositivos ao HIV, os profissionais redobram as ações de
auto-proteção como, por exemplo, a utilização de dois pares de luvas, o que é
denominado por eles de enluvamento duplo, ou ainda com a indicação dos
pacientes soropositivos na passagem de plantão.
As cautelas adicionais determinam as práticas de cuidados destinados aos
pacientes soropositivos ao HIV, mostrando que apesar do reconhecimento da
cronificação da doença e invisibilidade dos doentes, a doença (e o vírus) ainda não é
representada como comum. Desta forma, pode-se reconhecer uma contradição
nessa representação, uma vez que o cuidado prestado é afirmado como igual a
todos os pacientes, porém a cautela deve ser maior nos casos de pacientes com
HIV/AIDS.
Quanto ao relacionamento interpessoal estabelecido pela equipe de
enfermagem com os pacientes soropositivos ao HIV, este é reconhecido como
primordial para o bom prognóstico da doença e também como co-participante das
práticas de cuidado. Através do relacionamento estabelecido entre equipe de
enfermagem e doente é possível amenizar sentimentos como a tristeza, a revolta, a
depressão do paciente frente ao diagnóstico da soropositividade ao HIV, assim
como reduzir as tentativas de negação do diagnóstico. A adesão ao tratamento
também é associada com o diálogo e a busca de estratégias pactuadas para
amenizar os efeitos colaterais e as barreiras psicossociais para a continuidade do
187
tratamento, como a exclusão social, a falta de apoio de familiares e a ausência de
uma rede psicossocial de apoio.
O relacionamento interpessoal estabelecido, no entanto, também sofre a
influência e é dificultado por diversos elementos, sejam institucionais,
comportamentais ou psicossociais. Dentre os motivos institucionais, destaca-se o
intenso ritmo de trabalho imposto aos profissionais de enfermagem, associado à
priorização da execução das ações técnicas de cuidado, o que impossibilita destinar
um período para concretizar estas relações. Frente a isto, faz-se mister salientar que
a falta de tempo pode ser utilizada como pretexto para o afastamento deste
relacionamento, pois alguns profissionais afirmam conseguir estabelecer um contato
mais próximo com o paciente, apesar do mesmo ritmo de trabalho a eles imposto.
Este pretexto pode ser utilizado, até mesmo, por se sentirem despreparados
para tal e, com isto, buscarem o distanciamento. Além disso, cabe enfatizar que o
que determina o relacionamento interpessoal, mais do que o tempo a ele destinado,
é a intensidade com a qual este se dá, o que pode ser alcançado no momento de
proximidade ao paciente para a efetivação de qualquer procedimento técnico.
Dentre os motivos comportamentais que dificultam a concretização do
relacionamento interpessoal, encontra-se a violência física e moral percebida e/ou
praticada pelos pacientes com HIV/AIDS contra os profissionais de enfermagem.
Exemplo desta violência refere-se à efetivação ou ameaça de agressões físicas e,
até, à vida. Frente a isto, os profissionais buscam o distanciamento como forma de
se protegerem.
Por outro lado, observam-se fatores que facilitam o relacionamento
interpessoal, como a empatia, a identificação de características identitárias comuns
aos sujeitos da equipe de enfermagem e aos pacientes, como religião, time de
futebol, idade e sexo.
A mudança do perfil dos pacientes soropositivos ao HIV atendidos nos
setores de internação hospitalar é apontada como elemento percebido na
atualidade, consistindo no gradativo aumento de pacientes pertencentes aos grupos
de idosos, pessoas casadas e mulheres entre os pacientes soropositivos. Relaciona-
se a esta mudança de perfil da epidemia, a utilização de medicamentos que
proporcionam a manutenção da vida sexual ativa de homens idosos e a não
utilização de preservativos nas relações sexuais entre pessoas que possuem
188
parceiro sexual fixo, por se observar a crença de que a unicidade e a fidelidade
bastam para a prevenção de DST/HIV.
Diante disto, diversos sentimentos são vividos pelos profissionais de
enfermagem, no que se refere aos pacientes soropositivos ao HIV, indo da
compaixão e pena à raiva e medo. Compaixão e pena devido à situação na qual se
encontram, muitas vezes, abandonados pela família e entes queridos; raiva por
considerá-los responsáveis pela disseminação do vírus e da doença; e medo do
contágio devido à exposição ocupacional a qual se encontram vulneráveis, em razão
da prática profissional, determinando uma intensa carga emocional.
Cabe salientar que, apesar de decorridas quase três décadas do início da
epidemia, ainda são observadas, nas representações dos profissionais, atitudes
ambivalentes diante das pessoas soropositivas, de um lado, considerando-as como
vítimas e, do outro, como culpadas. No primeiro grupo são identificadas as crianças,
hemofílicos, pessoas contaminadas através de hemotransfusão e as(os) cônjuges
contaminadas(os) pelos(a) parceiros(a) que tiveram relação sexual extraconjugal.
o segundo grupo é composto pelos homossexuais, usuários de drogas injetáveis e
cônjuges que se contaminaram em relações extraconjugais. Assim, observa-se o
reconhecimento de que o cuidado de enfermagem, muitas vezes, é modulado por
estes julgamentos.
Desta forma, observa-se a presença de preconceitos frente aos pacientes
soropositivos ao HIV na equipe de enfermagem, o que gera a evitação em cuidar
destes pacientes. Quando a prestação de assistência é imposta pelo contexto
institucional, o cuidado é prestado de maneira rude, impessoal e quase desumana,
estabelecendo uma barreira entre profissional e paciente, e tornando o cuidado
meramente técnico e desprovido de ações empáticas.
Paradoxalmente, a afirmativa de não existência de preconceitos em relação
aos pacientes com HIV/AIDS e da prestação de cuidados como a qualquer outro
paciente é predominante no grupo estudado. Desta forma, as atitudes de
preconceito são referidas apenas na menção de comportamentos de outros
membros da equipe de enfermagem, o que pode sugerir a existência de uma zona
muda na representação social estudada, uma vez que consiste em elemento contra-
normativo e socialmente não aceito, devendo ser atribuído somente ao outro.
Observou-se, ainda, diferenças nas representações sociais de auxiliares de
enfermagem e enfermeiros acerca do cuidado de enfermagem prestado ao paciente
189
com HIV/AIDS. Constatou-se que a representação do grupo de auxiliares de
enfermagem é baseada essencialmente em elementos práticos, ou seja, derivados
da prática profissional, como o relacionamento interpessoal, a violência cotidiana
sofrida pelos profissionais e as modalidade de cautela adotadas na assistência e
suas relações com as práticas de cuidado.
A representação do grupo de enfermeiros é constituída com base no
conhecimento reificado, cujos conteúdos são associados às infecções oportunistas,
à cronicidade da AIDS e aos aspectos institucionais implicados no cuidar.
Desta forma, a representação social do grupo de auxiliares de enfermagem
aproxima-se do cuidado de enfermagem representado como real, ao passo que a
dos enfermeiros aproxima-se do cuidado de enfermagem representado como
idealizado. Destaca-se, nessa comparação a ausência ou pequena presença dos
aspectos relacionais do cuidado na representação dos enfermeiros, enquanto no
grupo de auxiliares de enfermagem a dimensão prática do relacionamento
interpessoal apresenta-se como base do cuidado, revelando a o incorporação
dessa importante dimensão psicossocial como estratégia científica de atenção ao
paciente HIV.
Abaixo, é apresentada a esquematização das divergências entre estas
representações objetivando uma mais fácil apreensão (Figura 21).
Figura 21 . Esquema das diferenças entre as representações sociais de auxiliares de enfermagem e
enfermeiros acerca do cuidado de enfermagem prestado ao paciente com HIV/AIDS. Rio de Janeiro,
2007.
AUXILIAR DE
ENFERMAGEM
ENFERMEIRO
prática profissional
conhecimento
reificado
institucional
cronicidade
da AIDS
infecções
oportunistas
violência
contra
profissional
cautela
na
assistência
relacionamento
interpessoal
cuidado de
enfermagem
prestado ao
paciente com
HIV/AIDS
190
Frente aos resultados encontrados, percebe-se a necessidade de constante
capacitação da equipe de enfermagem envolvida no processo de cuidar de
pacientes soropositivos ao HIV, com vistas a um cuidado de enfermagem humano e
de qualidade, pois este somente será possível a partir do momento em que estes
profissionais enfrentarem seus valores, sentimentos e preconceitos. Este
enfrentamento é condição para que os membros da equipe se sintam capacitados a
esclarecer e ajudar os pacientes soropositivos ao HIV e seus familiares a romperem
barreiras e medos que envolvem o ainda sombrio diagnóstico da soropositividade ao
HIV, no momento atual.
Além disso, nota-se a importância do fortalecimento do apoio institucional aos
pacientes em questão para que estes encontrem espaço para expor e dividir dúvidas
e incertezas com profissionais de saúde e melhores condições para dar continuidade
ao tratamento e controle da doença. Entende-se que o contato dos pacientes com
profissionais de saúde torna-se enriquecedor, pois possibilita o conhecimento
técnico e científico acerca do diagnóstico, das implicações da doença, dos avanços
no tratamento e de estratégias a serem adotadas para um viver com mais qualidade,
além de espaço rico de troca e de negociação. No entanto, nas representações
analisadas, a equipe de enfermagem não se percebe implicada nesse tipo de ação,
colocando-a como algo externo ao cuidado de enfermagem.
Diante do exposto, cabe mencionar que esta pesquisa permitiu o
entendimento de um fator primordial para a compreensão do desenvolvimento do
cuidado de enfermagem prestado ao paciente soropositivo ao HIV, qual seja, as
diferentes formas como esse cuidado é representado pelos grupos sociais que o
executam. Isto por entender que as representações sociais guiam as práticas e,
desta forma, as modificam.
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enfermería. Madrid: Elsevier Science, 2003. cap. 28, p. 501-27.
205
APÊNDICES
Apêndice A Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Eu, ________________________________________________________________,
RG nº _________________, ciente das informações prestadas pelos pesquisadores,
concordo em participar da pesquisa intitulada “O cuidado de enfermagem à pessoa
que vive com o HIV/AIDS sob a ótica da equipe de enfermagem”, que tem o objetivo
de analisar e comparar a representação social acerca do cuidado de enfermagem à
pessoa que vive com o HIV/AIDS em dois grupos de profissionais de enfermagem
atuando em instituição hospitalar. Estou esclarecido(a) de que esta pesquisa
justifica-se por vislumbrar que este estudo contribua para a melhoria da qualidade da
assistência prestada ao paciente que vive com HIV/AIDS. Fui comunicado(a),
igualmente, que esta pesquisa encontra-se sob a responsabilidade da Profª Titular
Denize Cristina de Oliveira, lotada no Departamento de Fundamentos de
Enfermagem da Faculdade de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro (FENF/UERJ) e da mestranda Gláucia Alexandre Formozo
*
, regularmente
matriculada na mesma instituição. Declaro estar de acordo em participar da
entrevista e que este momento seja gravado em fita cassete para posterior
transcrição e análise pelos pesquisadores. Fui informado(a) que em nenhum
momento serei exposto(a) a riscos, devido à participação, e que poderei, em
qualquer fase da pesquisa, solicitar esclarecimentos, bem como recusar a continuar,
sem nenhum prejuízo para a minha pessoa. Reconheço, também, que as respostas
obtidas, serão usadas apenas para fins científicos e utilizadas em trabalhos e
eventos acadêmico-científicos, sem qualquer identificação que possa comprometer-
me. Informo estar esclarecido(a) que não terei nenhum tipo de despesa ou
gratificação pela participação nesta pesquisa, e que terei acesso aos resultados
publicados em periódicos científicos.
Conforme o exposto, concordo voluntariamente em participar da referida pesquisa.
Rio de Janeiro, _____ de ___________________ de 2007.
__________________________ __________________________
Pesquisador Sujeito da Pesquisa
*
Telefones para contato com a pesquisadora: (21) 9968-6387 / (21) 3371-3640 / (21) 3346-4493.
206
Apêndice B Questionário de caracterização do sujeito
Nº: _________
Pseudônimo: ______________________ Sexo: ( )masc. ( )fem. Idade: _____
Estado marital: ( ) vive com companheiro ( ) não vive com companheiro
Renda pessoal mensal: ________________________________________________
Nº de filhos: ( ) 1 ( ) 2-3 ( ) ≥ 4 ( ) não tem
Função: ( ) auxiliar de enfermagem ( ) enfermeiro
Tempo na função exercida: ___anos ___meses
Formação profissional: ( )auxiliar ( )técnico ( )graduação ( )especialização
( )mestrado/doutorado ( )outros Qual? ______________
Tempo de formação profissional: ___anos ___meses
Principais fontes de acesso à informação sobre HIV/AIDS:
( ) televisão ( ) rádio ( ) artigos científicos
( ) jornal ( ) livros em geral ( ) livros científicos
( ) revistas ( ) outra ______________________________________
( ) internet _______________________________________________________
Participação em cursos de capacitação/especialização: ( )não ( )sim
Curso
Ano
Setor onde trabalha: ___________________________________________________
Tempo de atuação: No setor: ___anos ___meses No HUPE: ___anos
___meses
Tempo de atuação em enfermagem: ___anos ___meses
Trabalha em enfermagem em mais algum local? ( ) sim ( ) não
Quantos? ( ) 1 ( ) 2 ou mais
Função exercida: ( ) auxiliar ( ) técnico ( ) enfermeiro
Tempo de atuação profissional com pessoas que vivem com HIV/AIDS:
___anos ___meses
207
Apêndice C Roteiro de entrevista
Aspectos a serem abordados:
Entendimento de cuidado de enfermagem identificar conceitos e diferentes
concepções sobre o cuidado.
Entendimento de HIV/AIDS explorar conceitos, sentimentos, imagens e
valores associados ao HIV/AIDS.
O HIV/AIDS inserido na prática profissional identificar a influência do HIV/AIDS
no desenvolvimento de técnicas de enfermagem, no relacionamento com pacientes,
no relacionamento com profissionais de enfermagem e demais profissionais de
saúde, na organização do processo de trabalho e nos sentimentos em relação ao
seu trabalho.
Percepção sobre as pessoas que vivem com o HIV/AIDS explorar conceitos,
sentimentos, imagens e valores associados às pessoas que vivem com o HIV/AIDS;
identificar relações entre os diferentes grupos atingidos e a epidemia HIV/AIDS.
Entendimento do cuidado de enfermagem dirigido às pessoas que vivem com o
HIV/AIDS identificar as práticas desenvolvidas, as facilidades e os entraves
encontrados para a efetivação deste cuidado, a percepção sobre as práticas
desenvolvidas por outros profissionais e as percepções sobre o cuidado ideal.
208
Apêndice D Dicionário de padronização para o corpus Alceste
DICIONÁRIO ALCESTE
Sinônimos
acidente
acidente, acidentes
alta_hospitalar
alta, alta hospitalar
anti_retrovirais
anti-retroviral, anti-retrovirais, medicação,
medicações
assistência
assistência, assistências, cuidado, cuidados
assistente_social
assistente social, assistentes sociais
atualmente
hoje, hoje em dia
auxiliar_de_enfermagem
auxiliar de enfermagem, auxiliares de
enfermagem
carga_viral
carga viral
cautela
cuidado, cuidados, precaução, precauções,
atenção
centro_de_testagem_anônima
centro de testagem anônima, CTA
clínica_cirúrgica
clínica cirúrgica
clínica_médica
clínica médica
coleta
coletar, coleta, colheita, colheta
comportamento_de_risco
comportamento de risco, atitudes de risco
consulta_de_enfermagem
consulta de enfermagem, consultas de
enfermagem
conturbado
conturbado, cabeça a mil, abatido, abalado
criança
criança, crianças, neném, bebê
cti
CTI, terapia intensiva, unidade de terapia
intensiva
cuidado_de_enfermagem
cuidado de enfermagem, cuidados de
enfermagem, assistência de enfermagem
cura
cura, curável
descarpack
descarpack, descartex
desorientação
desorientação, desorientado, surto
desprezar
desprezar, jogar fora
desvincular
desvincular, desligar
diagnóstico
informação, diagnóstico, diagnósticos
doença
doença, doenças, patologia
doenças_oportunistas
infecção oportunista, infecções oportunistas,
doença oportunista, doenças oportunistas
doenças_transmissíveis
doenças transmissíveis, doença
transmissível, doença contagiosa, doenças
contagiosas
educação_em_saúde
educação para saúde, educação em saúde
efeito_colateral
efeitos colaterais, efeito colateral, reação
adversa
época
época,período
esposa
esposa, mulher
esposo
esposo, marido
209
fluidos_corpóreos
fluido corpóreo, fluidos corpóreos, excretas,
fluído orgânico, fluídos orgânicos
grupo_de_risco
grupo de risco, grupos de risco
haemoglicoteste
haemoglicoteste, haemoglucoteste
hemotransfusão
hemotransfusão, transfusão de sangue,
transfusão sangüínea, transfusão,
hemotransfundido, hemotransfundida
herpes_zoster
herpes, herpes zoster
homossexual
homossexual, homossexuais
humanizada
humanizada, humana
imunodepressão
imunodepressão, imunodeprimido
início
início, começo, princípio
isolamento
isolamento, isolamentos, precaução (ex.:
precaução de contato), precauções
ianela_imunológica
janela imunológica
lesão
lesão, ferida
local
lugar, local, pouso
longe
longe, distante
maneira
maneira, forma
medicações
medicação, medicações, remédio, remédios
médico
médico, médicos, profissional médico
meia_idade
meia-idade
modificar
modificar, mudar
modo_de_transmissão
modo de transmissão, modos de
transmissão, forma de transmissão, formas
de transmissão
morrer
morrer, falecer, obitar
n_noventa_e_cinco
N95
necessidades
necessidades, necessidade
paciente
paciente, pacientes
paciente_aidético
paciente aidético, paciente com aids
paciente_oncológico
paciente oncológico, paciente com câncer,
paciente da oncologia
paciente_soropositivo_ao_hiv
paciente soropositivo ao HIV, paciente com
HIV, paciente HIV positivo
parada_cárdio_respiratória
parada cárdio-respiratória
parceiro_sexual
marido, esposo, companheiro, parceiro,
esposa, mulher, companheira, parceira
pérfuro_cortante
pérfuro-cortante, pérfuro-cortantes
plano_de_saúde
plano de saúde
posto_de_saúde
posto de saúde, postos de saúde
precaução
precaução, precauções, prevenção,
prevenções
preconceito
preconceito, preconceitos, discriminação
preocupação
preocupação, cuidado, atenção
preservativo
preservativo, preservativos, camisinha
procedimento
procedimento, procedimentos, método
profissional_de_enfermagem
profissional de enfermagem, profissionais de
enfermagem, equipe de enfermagem
210
profissional_de_saúde
profissional de saúde, profissionais de
saúde, equipe de saúde
protegido
coberto, protegido
psicólogo
psicólogo, psicóloga, psicologia
qualidade_de_vida
qualidade de vida
raio_x
raio-X
relação_sexual
relação sexual, relacionamento sexual, sexo,
vida sexual
rua
via pública, rua
saúde_do_trabalhador
saúde do trabalhador
ser_humano
ser humano, seres humanos, homem
sinais_vitais
sinais vitais
sistema_imunológico
sistema imunológico, sistema imune
somente
só, somente
soronegativo_ao_hiv
soronegativo ao HIV
soropositividade_ao_hiv
soropositividade para o HIV
técnico_de_enfermagem
técnico de enfermagem, técnicos de
enfermagem
transmitir
transmitir, passar, levar
tratamento
tratamento, tratamentos, assistência
úlcera_de_decúbito
úlcera de decúbito, úlceras de decúbito,
escaras
usuário_de_drogas
usuário de drogas, viciado em drogas
vários
diversos, vários, diverso
ver
ver, enxergar
211
Apêndice E Quadro de variáveis utilizadas na análise Alceste
Variável
Abreviação
Categoria profissional auxiliar de enfermagem
cat_aux
Categoria profissional enfermeiro
cat_enf
Sexo feminino
sex_f
Sexo masculino
sex_m
Idade inferior a 25 anos
id_1
Idade entre 25 e 34 anos
id_2
Idade entre 35 e 44 anos
id_3
Idade igual ou superior a 45 anos
id_4
Renda pessoal mensal inferior a R$ 3.000,00
ren_1
Renda pessoal mensal entre R$ 3.000,00 e R$
6.000,00
ren_2
Renda pessoal mensal superior a R$ 6.000,00
ren_3
Tempo de atuação em enfermagem igual ou inferior a
10 anos
atenf_1
Tempo de atuação em enfermagem entre 10 e 20
anos
atenf_2
Tempo de atuação em enfermagem superior a 20
anos
atenf_3
Tempo de atuação com pacientes soropositivos ao
HIV inferior a 15 anos
athiv_1
Tempo de atuação com pacientes soropositivos ao
HIV igual ou superior a 15 anos
athiv_2
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
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