Segundo Morais, fazer colagem é uma obra em dois tempos - o
da tesoura e o da cola:
“Do lado da tesoura, temos a realidade, que é
descontínua, fragmentária, dispersa. Quando se toma um
material que vem inteiro, contínuo e ordenado, a tesoura corta,
recorta, divide, separa, isola, fragmenta, embaralha e cria a
dispersão. Depois vem a cola, que busca uma nova
continuidade, outra síntese, outra ordem ou, o que para Morais
é igualmente válido, a exacerbação das características iniciais.
A cola multiplica, junta, reaproxima, reúne, totaliza. A
tesoura des-monta, des-constrói o construído, desarticula o
articulado; a cola re-monta, re-constrói, re-articula. E assim, ao
recriar, reativar, o artista da colagem acrescenta à imagem
recortada o seu inteligível e o seu imaginário ... [ as imagens]
arrancadas do seu contexto original, postas em confronto ou
colisão com outras imagens provocam ...o desabrochar de novos
processos imaginativos, revelando [outros] sentidos da imagem
...” (Morais, apud Hellmeister, Collage, pp 10 e 11)
Tentar fazer uma colagem a partir de obras já existentes, recortar
algumas das certitudes que irão compor uma outra figura, tentar colar
as pequenas familiaridades que se adquirem ao longo do tempo que se
passou estudando e tentando aprender. Jung dizia que tudo que
acontece em um determinado tempo, adquire as características desse
tempo. A isto ele chamou de sincronicidade. Ou, nos dizeres de
Marques, do Instituto Bricoleur,
“o meu tecido difere do teu quadro, porque nele gastei o meu
tempo, que não foi o teu tempo. Mas, com o meu tempo
também saberei fazer o meu quadro. E o teu quadro e o meu
quadro provarão que somos tão diferentes quanto foram nossos
tempos”. (apud Hellmeister, Design Gráfico. P 16)