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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
ESCOLA DE SERVIÇO SOCIAL
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL
FAMÍLIA, POBREZA E VELHICE: UMA ANÁLISE DOS IMPACTOS DA
POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL – BENEFÍCIO DA PRESTAÇÃO
CONTINUADA – DESTINADA AO SEGMENTO IDOSO NO MUNICÍPIO DO RIO
DE JANEIRO
GIULIANA PIANTINO GIONGO
Rio de Janeiro
2007
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FAMÍLIA, POBREZA E VELHICE: UMA ANÁLISE DOS IMPACTOS DA
POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL – BENEFÍCIO DA PRESTAÇÃO
CONTINUADA – DESTINADA AO SEGMENTO IDOSO NO MUNICÍPIO DO RIO
DE JANEIRO
GIULIANA PIANTINO GIONGO
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa
de Pós-graduação em Serviço Social, da Escola de
Serviço Social, da Universidade Federal do Rio de
Janeiro, como parte dos requisitos necessários à
obtenção do título de Mestre em Serviço Social.
Orientadora: Professora Doutora Andréa Moraes
Alves
Rio de Janeiro
Abril, 2007
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FAMÍLIA, POBREZA E VELHICE: UMA ANÁLISE DOS IMPACTOS DA POLÍTICA DE
ASSISTÊNCIA SOCIAL – BENEFÍCIO DA PRESTAÇÃO CONTINUADA –
DESTINADA AO SEGMENTO IDOSO NO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO
Giuliana Piantino Giongo
Orientadora: Andréa Moraes Alves
Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-graduação em Serviço Social,
da Escola de Serviço Social, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos
requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Serviço Social.
Aprovada por:
_________________________________
Presidente
Profª. Drª. Andréa Moraes Alves (Orientadora)
Universidade Federal do Rio de Janeiro
___________________________________
Profª. Drª. Marilena Jamur
Universidade Federal do Rio de Janeiro
___________________________________
Profª. Drª. Myriam Moraes Lins de Barros
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Rio de Janeiro
Abril, 2007
4
À Deus, fonte da vida.
Ao Caio, pelo companheirismo e incentivo constante.
Às minhas avós, Jacy e Gercina, pelo apoio e carinho.
Aos meus pais, Arnaldo e Beth, pelo amor incondicional.
Aos meus irmãos, Bruno, Lucca e Giuseppe, pela partilha
e cumplicidade.
5
AGRADECIMENTOS
Primeiramente, gostaria de agradecer a todos os amigos e familiares que partilharam
comigo da realização dessa conquista pessoal e profissional.
À minha orientadora Andréa Moraes por seu acompanhamento ao longo do mestrado,
demonstrando sempre responsabilidade e comprometimento em seu papel de orientadora.
Às titulares da banca examinadora, Prof.ª Myriam Lins de Barros e Prof.ª Marilena
Jamur por aceitarem participar da qualificação do projeto e da defesa da dissertação.
Às professoras Maria Helena Rauta, Alejandra Pastorini e Sara Nigri pelo apoio no
momento da seleção e ingresso no mestrado em Serviço Social.
À todas as amigas que trilharam comigo o caminho acadêmico: Artemis, Danielle,
Graziela, Javier, Mariela, Marina, Tatiana, Renata, Sheila, e em especial, Luciana e Selma,
por lerem com carinho meus trabalhos e por compartilharem comigo a temática do estudo
sobre a velhice. Muito obrigada pelo incentivo ao longo desse caminho.
Aos meus pais, Arnaldo e Elizabeth, irmãos, Bruno, Lucca e Giuseppe, e avós, Jacy e
Gercina, que compreenderam a minha ausência e sempre me apoiaram desde a seleção até a
conclusão deste mestrado. Sei que a saudade foi grande, mas acredito que esse esforço tenha
valido à pena.
Ao Caio, por seu amor, apoio e cumplicidade, os quais foram essenciais para a
realização deste mestrado.
Aos meus sogros, Alice e Tadahiro, cunhados, Ilka, Tim, Ciro, Akane e Karen, e
sobrinhos, Matteo e Sofia, que demonstraram sempre muito interesse e carinho por este
mestrado.
Aos nossos amigos em comum, Flávia, Maurício e Jorge; Bira, Fernanda e Manuela;
Verrah e Eduardo; e Juliana pela torcida de sempre.
Aos idosos que se disponibilizaram a dar entrevistas tão ricas para este estudo, as
quais me possibilitaram um crescimento pessoal e profissional.
Às assistentes sociais dos CEMASIs e CRAS que promoveram meus encontros com os
idosos em seus locais de trabalho.
6
RESUMO
FAMÍLIA, POBREZA E VELHICE: UMA ANÁLISE DOS IMPACTOS DA POLÍTICA DE
ASSISTÊNCIA SOCIAL – BENEFÍCIO DA PRESTAÇÃO CONTINUADA –
DESTINADA AO SEGMENTO IDOSO NO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO
Giuliana Piantino Giongo
Orientadora: Andréa Moraes Alves
Resumo da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-graduação em
Serviço Social, da Escola de Serviço Social, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como
parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Serviço Social.
Trata-se de uma pesquisa que tem como objetivo principal investigar as categorias família,
pobreza e velhice por meio dos impactos da política de assistência social destinada ao segmento idoso
no município do Rio de Janeiro. Pretende-se abordar as mudanças de ordem qualitativa ocorridas no
cotidiano dos idosos que recebem recursos públicos, sobretudo os beneficiários do BPC (Benefício da
Prestação Continuada), e suas famílias, em comparação com os idosos não beneficiários e suas
famílias, com o intuito de analisar as modificações do papel do idoso no interior do grupo familiar.
Participaram desta pesquisa 18 idosos, sendo 9 idosos beneficiários e 9 idosos não beneficiários, entre
61 e 82 anos, e todos pertencentes às camadas pobres do município do Rio de Janeiro. Os idosos foram
acessados nos grupos de convivência dos CEMASIs (Centro Municipal de Assistência Social
Integrado) ou no momento da revisão de seu benefício. Utilizou-se no trabalho de campo entrevistas
semi-estruturadas, elaboradas previamente por meio de um roteiro de entrevista, realizadas
individualmente com os idosos e a observação participante nos seus grupos de convivência. A partir
das entrevistas foram traçados os perfis social, familiar, econômico e associativo dos idosos
entrevistados. Primeiramente, estabeleceu-se o perfil sócio-familiar dos idosos entrevistados,
fundamentado no debate sobre família contemporânea (Szymanski, 2002; Singly, 2000; Duarte, 1995;
e Sarti, 1995). Em seguida, estudou-se o perfil econômico dos entrevistados, apontando seu gasto
individual; sua importância econômica para a casa e a família; além de suas reflexões sobre seus
gastos reais, almejados e investimentos realizados, conforme o debate sobre família e velhice
desenvolvido por Barros, Mendonça e Santos (1999); Sabóia (2004); Saad (1999); Camarano, Kanso,
Mello e Pasinato (2004). Por último, traçou-se o perfil associativo, englobando a maneira como os
idosos beneficiários souberam que tinham direito a um benefício público; se os idosos não
beneficiários conheciam o BPC; a caracterização de sua participação comunitária e a utilização de seu
tempo livre, a partir da temática sobre pobreza e assistência social (Sposati, 1995; Yasbek, 2003).
Palavras-chave: Família. Pobreza. Velhice. Assistência Social. (BPC) Benefício da Prestação
Continuada.
Rio de Janeiro
Abril, 2007
7
ABSTRACT
FAMILY, POVERTY AND OLD AGE: AN ANALYSIS OF THE IMPACTS OF SOCIAL
SECURITY POLICIES – CONTINUED AID BENEFIT- FOR THE ELDERLY IN THE
CITY OF RIO DE JANEIRO
Giuliana Piantino Giongo
Orientadora: Andréa Moraes Alves
Abstract da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-graduação em
Serviço Social, da Escola de Serviço Social, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como
parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Serviço Social.
The aim of this study is to investigate the family, poverty, and old age issues through the
impacts of social security policies, for the elderly in the city of Rio de Janeiro, Brazil. The intention is
to approach the qualitative changes that took place in the everyday life of the elderly who receive
public monetary resources, especially beneficiaries of the BPC (Benefício da Prestação Continuada /
Continued Aid Benefit) and their families, compared to non- beneficiaries and their families, with the
purpose of analyzing the modifications to the role of the elderly in their families. The research group
consisted of 18 elderly persons, which 9 were beneficiaries and 9 were non-beneficiaries, aged from
61 and 82 years old, all members of the lower class of Rio de Janeiro. The elderly were contacted
through senior citizens centers CEMASIs (Centro Municipal de Assistência Social Integrado /
Integrated Social Assistance Municipal Center), or during benefit review. The data were acquired
through semi-structured interviews, which were previously scripted and individually conducted. The
participant observation of these elderly in their senior citizens centers was also fundamental for this
study. From the interviews, the social, family, economic, and community profiles of interviewees were
outlined. Initially, the socio-familiar profile of each interviewee was established, based on
contemporary family debate (Szymanski, 2002; Singly, 2000; Duarte, 1995; e Sarti, 1995). The
economic profile highlighting individual expenses, economic relevance of the elderly for their home
and family, in addition to personal thoughts about actual expenses, goals, and current investments
made, are subsequently analyzed in accordance to the debate of family and old age, developed by
Barros, Mendonça e Santos (1999); Sabóia (2004); Saad (1999); Camarano, Kanso, Mello e Pasinato
(2004). Finally, the community profile of the interviewees is outlined along the themes of poverty and
social security (Sposati, 1995; Yasbek, 2003), and an analysis is made comprising how beneficiaries
came to know about the BPC, whether non-beneficiaries know about the BPC, the nature of their
communitary participation, and the use of their free time.
Key words: Family. Poverty. Old age. Social Security. (BPC) Continued Aid Benefit.
Rio de Janeiro
Abril, 2007
8
SUMÁRIO
LISTA DE QUADROS................................................................................................X
LISTA DE SIGLAS....................................................................................................XI
INTRODUÇÃO...........................................................................................................12
CAPÍTULO 1...............................................................................................................39
PERFIL SOCIAL E FAMILIAR DOS IDOSOS ENTREVISTADOS
CAPÍTULO 2...............................................................................................................67
PERFIL ECONÔMICO DOS IDOSOS ENTREVISTADOS
2.1 Gasto do dinheiro....................................................................................................68
2.2 Reflexão sobre os gastos.........................................................................................75
2.3 Como gostaria de gastar..........................................................................................81
2.4 Divisão das despesas...............................................................................................88
2.5 Investimento após o recebimento do benefício.......................................................94
2.6 Poupar parte do dinheiro.........................................................................................95
CAPÍTULO 3.............................................................................................................101
PERFIL ASSOCIATIVO DOS IDOSOS ENTREVISTADOS
3.1 Como souberam que tinham direito ao benefício..................................................101
3.2 Conhecimento do BPC..........................................................................................104
3.3 Participação na comunidade..................................................................................106
3.4 Uso do tempo livre................................................................................................113
CAPÍTULO 4.............................................................................................................124
CONSIDERAÇÕES FINAIS
4.1 Trabalho de campo................................................................................................124
4.2 Perfil social e familiar...........................................................................................125
9
4.3 Perfil econômico...................................................................................................126
4.4 Perfil associativo...................................................................................................127
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA............................................................................132
APÊNDICE A.............................................................................................................134
Tabela - Perfil social e familiar dos idosos beneficiários............................................135
Tabela - Perfil social e familiar das idosas não beneficiárias.....................................136
APÊNDICE B.............................................................................................................137
Roteiro de Entrevista...................................................................................................138
10
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Local de Residência dos idosos beneficiários............................................................42
Quadro 2 – Local de Residência das idosas não beneficiárias.....................................................43
Quadro 3 – Idade dos idosos beneficiários.....................................................................................44
Quadro 4 – Idade das idosas não beneficiárias..............................................................................45
Quadro 5 – Naturalidade dos idosos beneficiários........................................................................46
Quadro 6 – Naturalidade das idosas não beneficiárias..................................................................46
Quadro 7 – Religião dos idosos beneficiários................................................................................46
Quadro 8 - Religião das idosas não beneficiárias..........................................................................47
Quadro 9 – Cor/raça dos idosos beneficiários...............................................................................47
Quadro 10 – Cor/raça das idosas não beneficiárias.......................................................................47
Quadro 11 – Estado civil dos idosos beneficiários........................................................................48
Quadro 12 – Estado civil das idosas não beneficiárias.................................................................48
Quadro 13 – Filhos e netos dos idosos beneficiários....................................................................49
Quadro 14 – Filhos e netos das idosas não beneficiárias..............................................................49
Quadro 15 – Escolaridade dos idosos beneficiários......................................................................50
Quadro 16 – Escolaridade dos idosos não beneficiários...............................................................50
Quadro 17 – Composição domiciliar dos idosos beneficiários....................................................51
Quadro 18 – Composição domiciliar das idosas não beneficiárias..............................................51
Quadro 19 – Responsável pelo domicílio dos idosos beneficiários.............................................53
Quadro 20 – Responsável pelo domicílio das idosas não beneficiárias......................................54
Quadro 21 – Recebimento de outro benefício público dos idosos beneficiários........................55
Quadro 22 – Recebimento de outro benefício público das idosas não beneficiárias .........................55
Quadro 23 – Profissão dos idosos beneficiários............................................................................56
Quadro 24 – Ocupação atual dos idosos beneficiários..................................................................56
Quadro 25 – Profissão das idosas não beneficiárias......................................................................57
Quadro 26 – Ocupação atual das idosas não beneficiárias...........................................................57
Quadro 27 – Renda individual dos idosos beneficiários...............................................................58
Quadro 28 – Renda familiar dos idosos beneficiários...................................................................58
Quadro 29 – Renda individual das idosas não beneficiárias........................................................59
Quadro 30 – Renda familiar das idosas não beneficiárias............................................................60
Quadro 31 – Composição domiciliar antes do recebimento do benefício..................................60
Quadro 32 – Tempo de recebimento do benefício........................................................................63
11
LISTA DE SIGLAS
BPC - Benefício da Prestação Continuada
CEMASI – Centro Municipal de Assistência Social Integrada
CIPI – Cuidado Integral à Pessoa Idosa
CRAS – Coordenadoria Regional de Assistência Social
FNAS – Fundo Nacional de Assistência Social
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
IPTU – Imposto Territorial e Predial Urbano
INPS – Instituto Nacional de Previdência Social
INSS – Instituto Nacional do Seguro Social
LOAS – Lei Orgânica de Assistência Social
MDS – Ministério do Desenvolvimento Social
PETI – Programa de Erradicação do Trabalho Infantil
PNAD – Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílio
RMV – Renda Mensal Vitalícia
SETI – Secretária Especial da Terceira Idade
UERJ – Universidade Estadual do Rio de Janeiro
UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro
UnATI – Universidade Aberta da Terceira Idade
12
INTRODUÇÃO
Neste estudo, as categorias família, pobreza e velhice serão estudadas por meio da
análise dos impactos da política de assistência social destinada ao segmento idoso no
município do Rio de Janeiro. Nesse contexto, enfoco as mudanças de ordem qualitativa
ocorridas no cotidiano dos idosos que recebem um recurso público, sobretudo, os
beneficiários do Benefício da Prestação Continuada (BPC) e suas famílias, em comparação
com os idosos e suas famílias não beneficiárias, a fim de analisar as modificações no papel do
idoso no interior do grupo familiar.
O BPC é um amparo assistencial que atende idosos com idade acima de 65 anos e
pessoas portadoras de deficiência, incapacitados para a vida independente e ao trabalho e
impossibilitados de prover sua manutenção ou tê-la provida por sua família. Como pré-
requisitos, a renda familiar per capita deve ser inferior a ¼ do salário mínimo (que atualmente
corresponde a R$75,00), não devem estar recebendo nenhum outro benefício previdenciário e
não é necessário que tenham contribuído para previdência social anteriormente. Esse
benefício tem por aparato jurídico-social a Constituição Federal de 1988 (concepção), a
LOAS (Lei Orgânica de Assistência Social) de 1993 (regulamentação) e o Estatuto do Idoso
de 2004 (modificações nos critérios da concessão).
A concepção do BPC encontra-se na Constituição Federal de 1988, em seu artigo 203,
inciso 5 que estabelece: “a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa
portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover a própria
manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei”.
A LOAS (Lei n° 8.742) de 1993 regulamentou os artigos 203 e 204 da Constituição
Federal de 1988 que tratam da Assistência Social, enquanto direito social, componente da
seguridade social e objeto de responsabilidade pública. A regulamentação do BPC está
contida na LOAS em seus artigos 20 e 21 que asseguram: “a garantia de 1 (um) salário
13
mínimo mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso com 70 (setenta) anos ou mais e
que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção e nem de tê-la provida por
sua família,” estando nos parágrafos de 1 a 7 do artigo 20 estabelecidos os seus critérios
1
.
O BPC, apesar de a sua concepção estar contida na Constituição Federal de 1988 e da
sua regulamentação na LOAS de 1993, entrou em vigor apenas em 1996, a partir do Decreto
n° 1.744/95. Seguindo os critérios elencados na LOAS até 1998, quando a Lei n° 9720/98
2
alterou os parágrafos 1, 6 e 7, acrescentou o parágrafo 8 ao artigo 20 da LOAS e modificou o
artigo 38 que se refere à idade do beneficiário idoso. A família para efeitos de concessão do
BPC para o idoso engloba: o requerente, o marido, a esposa, filhos menores de 21 anos ou
inválidos que vivam sob o mesmo teto, e os equiparados a essas condições.
No que compete à Assistência Social, o Estatuto do Idoso de 2004 (Lei 10.741)
modificou um dos critérios para a concessão do BPC, pois em seu artigo 34 diz: “aos idosos, a
partir de 65 (sessenta e cinco anos), que não possuam meios de prover a sua própria
subsistência, nem de tê-la provida por sua família, é assegurado o benefício mensal de 1 (um)
salário mínimo, no termos da Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS)”. Em seu parágrafo
único determina que “o benefício já concedido a qualquer membro da família nos termos do
1
Artigo n° 20 § 1° Para os efeitos do disposto no caput, entende-se por família a unidade mononuclear, vivendo sob o mesmo teto, cuja
economia é mantida pela contribuição de seus integrantes.
§ 2° Para efeito de concessão deste benefício, a pessoa portadora de deficiência é aquela incapacitada para a vida independente e para o
trabalho.
§ 3° considera-se incapaz de prover a manutenção da pessoa portadora de deficiência ou idosa a família cuja renda mensal per capita seja
inferior a ¼ (um quarto) do salário mínimo.
§ 4° O benefício de que trata este artigo não pode ser acumulado pelo beneficiário com qualquer outro no âmbito da seguridade social, ou de
outro regime, salvo o da assistência médica.
§ 5° A situação de internado não prejudica o direito do idoso ou do portador de deficiência ao benefício.
§ 6° a deficiência será comprovada através de avaliação e laudo expedido por serviço que conte com equipe multiprofissional do Sistema
Único de saúde (SUS) ou do Instituto Nacional de Seguro Social (INSS), credenciados para esse fim pelo Conselho Municipal de Assistência
Social.
§7° Na hipótese de não existirem serviços credenciados no Município da residência do beneficiário, fica assegurado o seu encaminhamento
ao Município mais próximo que contar com tal estrutura.
2
Artigo n°20 §1° Para os efeitos do disposto no caput, entende-se como família o conjunto de pessoas elencadas no artigo 16 da Lei n° 8213,
de 24 de julho de 1991, desde que vivam sob o mesmo teto.
§ 6° A concessão do benefício ficará sujeita a exame médico pericial e laudo realizados pelos serviços de perícia médica do Instituto
Nacional do Seguro Social –INSS.
§7° Na hipótese de não existirem serviços no município de residência do beneficiário, fica assegurado, na forma prevista do regulamento, o
seu encaminhamento ao município mais próximo que contar com tal estrutura.
§8° A renda familiar mensal a que se refere o §3° deverá ser declarada pelo requerente ou seu representante legal, sujeitando-se aos demais
procedimentos previstos no regulamento para o deferimento do pedido.
Artigo n° 38 a idade prevista no artigo 20 desta Lei reduzir-se-á, respectivamente, para 67 (sessenta e sete) e 65 (sessenta e cinco) anos após
24 (vinte e quatro) e 48 (quarenta e oito) meses do início da concessão.
14
caput não será computado para fins de cálculo da renda familiar per capita a que se refere a
LOAS”.
Os critérios foram ampliados para aumentar a meta de atendimento, sendo que o
primeiro referente à idade, passou de 67 para 65 anos; e o segundo que diz respeito à renda de ¼
de salário mínimo per capita, havendo um outro membro idoso da família recebendo benefício,
este não entra no cálculo da renda familiar, contrariando o que previa a LOAS.
O BPC foi implementado em 1°/01/1996, a partir do Decreto n° 1.744/95. A gestão, o
acompanhamento e a avaliação são feitos pelo Ministério do Desenvolvimento Social (MDS)
que repassa recursos ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) por meio de convênio, o
qual através de suas agências operacionaliza o BPC. Os recursos para o custeio do BPC provêm
do Fundo Nacional de Assistência Social (FNAS). Além disso, o MDS e o INSS juntamente
com as Secretárias de Assistência Social revisam o benefício a cada dois anos, avaliando se os
idosos e as pessoas portadoras de deficiência ainda continuarão a receber o mesmo
3
.
Antes de sua implementação, existia desde 1974 a Renda Mensal Vitalícia (RMV)
voltada para pessoas com idade igual ou superior a setenta anos ou inválidas, sem atividades
remuneradas, sem rendimentos, que não eram mantidas por suas famílias. Entretanto, para
terem direito a essa renda, as pessoas tinham que contribuir para a Previdência Social por um
período mínimo de doze meses. A RMV foi extinta a partir da implementação do BPC, mas
ainda continua atendendo os beneficiários que foram contemplados com essa renda até aquele
momento
4
.
3
Artigo 21° O benefício de prestação continuada deve ser revisto a cada 2 dois anos para avaliação da continuidade das condições que lhe
deram origem.
§ 1° O pagamento do benefício cessa no momento em que forem superadas as condições referidas no caput, ou em caso de morte do
beneficiário.
§ 2° O benefício será cancelado quando se constatar irregularidade na sua concessão ou utilização.
4
Lei n° 6179 Art. 1º Os maiores de 70 (setenta) anos de idade e os inválidos, definitivamente incapacitados para o trabalho, que, num ou
noutro caso, não exerçam atividade remunerada, não aufiram rendimento, sob qualquer forma, superior ao valor da renda mensal fixada no
artigo 2º, não sejam mantidos por pessoa de quem dependam obrigatoriamente e não tenham outro meio de prover ao próprio sustento,
passam a ser amparados pela Previdência Social, urbana ou rural, conforme o caso, desde que:
I - tenham sido filiados ao regime do INPS, em qualquer época, no mínimo por 12(doze) meses, consecutivos ou não, vindo a perder a
qualidade de segurado; ou
II - tenham exercido atividade remunerada atualmente Incluída no regime do INPS ou do FUNRURAL, mesmo sem filiação à Previdência
Social, no o mínimo por 5 (cinco) anos, consecutivos ou não, ou ainda:
III - tenham ingressado no regime do INPS, após complementar 60 (sessenta) anos de idade sem direito aos benefícios regulamentares.
15
Observa-se no Brasil o fenômeno do envelhecimento populacional, a diminuição da
fecundidade das mulheres e a elevação da expectativa média de vida. Existem no Brasil
10.538.988 idosos acima de 60 anos, enquanto que a população total é de 169.872.856
conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2000. No Rio de
Janeiro, há 1.541.719 idosos na faixa etária acima, em uma população total de 14.392.106.
No que diz respeito ao BPC, conforme dados do MDS de 2005, tem-se que em janeiro
de 2005 os beneficiários do BPC no Brasil eram de 2.076.789, sendo 943.162 de idosos. No
Rio de Janeiro, nesse mesmo período, os beneficiários do BPC eram de 112.790 e tendo
72.059 de idosos,
Em janeiro de 2004, havia no Brasil 1.710.521 beneficiários
5
do BPC, sendo que
1.039.044 eram pessoas portadoras de deficiência e 671.477 eram idosos. Em janeiro de 2005,
o número de beneficiários aumentou 21%, passando para 2.076.789, tendo 1.133.627 pessoas
portadoras de deficiência e 943.162 idosos. Houve um crescimento, nesse intervalo de um
ano, de 9% de beneficiários para as pessoas portadoras de deficiência e de 40% para os
idosos.
Em relação ao Estado do Rio de Janeiro, nota-se que em janeiro de 2004 havia 86.042
beneficiários, sendo 35.579 pessoas portadoras de deficiência e 50.463 idosos. Em janeiro de
2005, o número de beneficiários passou para 112.790, tendo 40.763 pessoas portadoras de
deficiência e 72.059 idosos. Ocorreu um crescimento, durante esse período, de 31% dos
beneficiários, de 14% de pessoas portadoras de deficiência e de 42% de idosos. Pode-se dizer
que a mudança dos dois critérios (idade e renda familiar per capita) estabelecidos pelo
Estatuto do Idoso possibilitou um aumento de beneficiários em 2005, tanto no Brasil como no
Rio de Janeiro. Outro ponto a ser destacado é que, de acordo com os pré-requisitos, o BPC
5
Dados provenientes do MDS (Ministério do Desenvolvimento Social) de 2005.
16
beneficia o idoso individualmente, porém atinge a família a partir do critério de renda
familiar.
Na atual conjuntura, ocorre um aumento do número de idosos incorporados pelos
benefícios sociais contributivos e não contributivos (caso do BPC), elevando a renda familiar
e ao mesmo tempo reduzindo o nível de pobreza dessas famílias. Apesar da constatação dessa
mudança estrutural, a velhice parece ainda ser estigmatizada socialmente. Nesse sentido, esta
pesquisa visa estudar o impacto da mudança na imagem do idoso em família de camada pobre
e se esse estigma se confirma mesmo quando o idoso é responsável pelo sustento da família.
Nesse sentido, o objetivo geral é pesquisar a relação entre as categorias família,
pobreza e velhice através do impacto da política de assistência social destinada ao segmento
idoso no município do Rio de Janeiro. Com enfoque nas mudanças no cotidiano dos idosos
beneficiários de recursos públicos, principalmente do BPC, em comparação com os idosos
não beneficiários e suas respectivas famílias. Para esse propósito, foram analisados os
impactos da renda do idoso no que concerne a modificação ou não do seu papel
desempenhado no grupo familiar.
Os objetivos específicos são: analisar comparativamente os idosos em situação de
pobreza que recebem um recurso público, principalmente o BPC, com os idosos em condições
sócio-econômicas semelhantes que não recebam esse benefício; verificar o impacto da renda
sobre os idosos beneficiários e suas famílias; estudar a modificação ou não do papel do idoso
dentro do grupo familiar; e contribuir para o estudo do BPC, enquanto expressão da política
de assistência social como forma de entender a relação entre as categorias família, pobreza e
velhice.
O trabalho de campo foi feito com a realização de dezoito entrevistas semi-
estruturadas individualmente com idosos, orientando-se pelos seguintes critérios: ambos os
sexos, acima de 60 anos, beneficiários de um recurso público, sobretudo do BPC, e não
17
beneficiários com perfil sócio-econômico e familiar semelhantes aos beneficiários. Para
acessar esses idosos pensou-se em instituições governamentais que realizam atendimento
direto a esse segmento tais como: Instituto de Geriatria e Gerontologia Miguel Pedro,
Universidade Aberta da Terceira Idade (UnATI) e Abrigo Cristo Redentor.
Both (1976), em seu estudo empírico sobre a família, ressaltou que para conhecer essa
família deve-se buscá-la em sua casa e não de forma direta, mas sim por meio de instituições
que lhes prestam serviços.
Deve-se levar em conta que devido às complexidades (e ao nível de detalhamento) do
estudo, a pesquisa é de natureza qualitativa e não quantitativa, e dada ao tamanho da amostra
não se pode fazer generalizações para as demais famílias.
Both (1976), em seu estudo, também dado o tamanho da amostra não pretendeu fazer
generalizações para as demais famílias. Ocorreram problemas para acessá-las, tentou-se em
maternidade e clínica de bem estar infantil, médicos clínicos gerais e igreja anglicana e só
conseguiu por meio de agências de contato, sendo que nessas agências, os familiares faziam
parte como indivíduos isolados e não membros da família. Os contatos realizados por Both
com êxito ocorreram por meio de amigos da família e de funcionários, com os quais os
entrevistados se relacionavam. Constatou-se que a familiaridade entre a pessoa que fazia o
contato e a família contatada era fundamental para tal êxito.
Primeiramente, fui ao Serviço Social do Instituto Miguel Pedro. A assistente social me
esclareceu sobre o trabalho do Serviço Social desenvolvido junto à enfermaria, ambulatório e
abrigo e eu expliquei o perfil dos idosos, conforme o exposto anteriormente, que estava
procurando. Foi disponibilizado o acesso aos prontuários dos pacientes da enfermaria e do
ambulatório a fim de buscar idosos com perfil desejado. Fui informada que no abrigo havia
dois idosos beneficiários do BPC, mas só um deles estava lúcido e também havia três idosas
não beneficiárias do BPC por falta de documentação, porém somente duas delas estavam
18
lúcidas. Além da ausência de lucidez, que é um dos sintomas que pode ser acarretado pela
idade avançada, existia outro empecilho, que era a ausência do convívio do idoso junto a sua
família.
Em seguida, estive na UnATI, onde a assistente social possibilitou-me o acesso ao
banco de dados que engloba informações referentes ao período de um ano. Verificou-se que o
perfil dos idosos é, em sua maioria, de aposentados e pensionistas, tendo no banco de dados
apenas uma idosa beneficiária do BPC. A assistente social sugeriu que procurasse a assistente
social do Cuidado Integral à Pessoa Idosa (CIPI) da Policlínica Piquet Carneiro, pois nessa
instituição teriam idosos no perfil sócio-econômico desejado, porém lembrou-se que havia um
grande número de idosos com demência nessa instituição, o que dificultaria a realização da
pesquisa.
No Instituto Miguel Pedro, o elemento dificultador para a realização das entrevistas foi
a falta de lucidez e de referência familiar dos idosos. Na CIPI, também havia a falta de lucidez
dos idosos. Já na UnATI era nível sócio-econômico, mais elevado, que não correspondia ao
perfil desejado. Por meio de contato telefônico com o Serviço Social do Abrigo Cristo
Redentor, verifiquei que existiam os mesmos problemas encontrados nas instituições da área
de saúde, por isso não cheguei a ir pessoalmente à instituição. Salem (1976), ao relatar o
percurso realizado no trabalho de campo, escreve que também teve como dificuldade o acesso
às famílias com perfil desejado e que se dispusessem a colaborar com a pesquisa.
Na qualificação do projeto, em março de 2006, foi sugerido pela banca que entrasse em
contato com a assistente social que trabalha no Centro Municipal de Assistência Social
Integrada (CEMASI
)
6
Professor Darcy Ribeiro na Ilha do Governador. Telefonei no CEMASI e
agendei uma primeira visita à instituição com o intuito de dar início ao meu trabalho de campo.
6
Conforme o divulgado pelo site da prefeitura, o CEMASI (Centro Municipal de Assistência Social Integrada) é a porta de entrada para os
programas sociais da Prefeitura do Rio de Janeiro. Os centros atuam como núcleo de articulação da rede social, e atualmente sua principal
função é atender a política de Vigilância da Exclusão Social. Estão distribuídos pelas 10 Coordenadorias Regionais de Assistência Social
(CRAS), intervindo na realidade social dos cidadãos.
19
O trabalho de campo, em seu primeiro momento, consistiu-se na observação
participante dos grupos de convivência dos CEMASIs e entrevistas com os idosos desses
grupos que se encaixavam no perfil desejado. Esses CEMASIs estão localizados nos bairros
da Ilha do Governador (bairro da zona norte do Rio de Janeiro), do Morro Azul (comunidade
situada no bairro do Flamengo, na zona sul do Rio de Janeiro) e do Morro dos Cabritos
(comunidade situada no bairro de Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro).
Na primeira ida ao CEMASI da Ilha do Governador, expliquei para a assistente social
o perfil dos idosos e pesquisamos as fichas para a seleção dos mesmos. Após essa seleção, a
assistente social solicitou que a agente comunitária que acompanha o grupo “Rio experiente
7
fizesse contato com os idosos para que eles viessem na semana seguinte conversar comigo. A
agente comunitária informou aos idosos que tinha uma assistente social da Universidade que
“queria ter com elas uma palavrinha”.
Na semana seguinte, à medida que as idosas chegavam, eu conversava com elas
individualmente, explicando em linhas gerais o que era a pesquisa e perguntava a
disponibilidade das mesmas de participarem das entrevistas e já agendava com as
interessadas. Percebi que havia muitas idosas aposentadas e pensionistas e um número mais
reduzido de pessoas sem nenhum benefício, assim como de pessoas ainda não idosas que
eram consideradas ouvintes.
A agente comunitária relatou que o casal de idosos, ambos beneficiários do BPC, não
se disponibilizou a vir à instituição para conversar comigo, me aconselhando a não insistir.
Também foi relatado que a Sra. G., outra idosa beneficiária do BPC, após a concessão do
mesmo, parou de freqüentar o CEMASI e não cumprimenta os funcionários da instituição
quando os encontra na rua. A assistente social fez contato telefônico com a Sra. M.,
7
Conforme o divulgado pelo site da SETI (Secretária Especial da Terceira Idade), os grupos de convivência desenvolvem atividades que
propiciem autonomia, integração e a socialização dos idosos e contribui para o resgate da cidadania e auto-estima. Atualmente existem 60
grupos próprios e 10 grupos conveniados, que oferecem oficinas e atividades livres de uma a três vezes por semana.
20
beneficiária do BPC, convidando a idosa a vir ao CEMASI para conversar comigo, porém a
mesma não veio.
Nesse mesmo dia, fiz uma entrevista breve na sala da assistente social com a Sra.
Jurema
8
, 67 anos e não beneficiária. A idosa se mostrou bastante disponível em dar a
entrevista e foi bastante carinhosa comigo, porém parecia ter algum tipo de comprometimento
mental. A idosa pediu que eu “visse” para ela o BPC, expliquei o que era o benefício, seus
critérios e o órgão que concedia e deixei claro que eu não tinha como interferir nesse
processo. Zaluar (2000) aborda que em certas situações era posta como mediadora, em que
havia uma demanda por assistência social, em que o pesquisado esperava que o pesquisador
pudesse lhe dar algo em troca. Nessa primeira entrevista, percebi que tinham dois empecilhos
para a realização das entrevistas na instituição: o barulho dentro e fora da instituição e a
circulação de funcionários no local da entrevista.
A Sra. L., 68 anos, a única beneficiária do BPC que freqüenta o grupo atualmente,
estava bastante resistente no momento da entrevista, por isso essa foi suspensa e pedi que a
idosa refletisse se gostaria de continuar a entrevista posteriormente. Parecia que estava com
medo, talvez porque fizesse pouco tempo que estava recebendo o benefício e estava com
receio de perdê-lo. Após algumas semanas, encontrei com a Sra. L. no caminho para a
instituição, ela explicou não estar indo à “escola”, pois seus filhos estavam hospitalizados, um
por atropelamento e outro por um problema de cirrose. Para esse último, o CEMASI tinha
conseguido um encaminhamento para tratamento do alcoolismo, mas ele fugiu da instituição.
Em relação a isso, Fonseca (2004) relata sobre o pesquisador estabelecer o
distanciamento com o objeto de estudo por meio do conceito de alteridade, entendido como o
contraste de comunicação, onde o pesquisador busca estipular a distância que se deve ter do
seu pesquisado, pois sem respeitar a diferença entre ambos, impossibilita-se a comunicação. O
contrário também é perigoso, pois caso a distância entre ambos seja muito grande, a
8
Com intuito de manter o sigilo dos idosos entrevistados foram utilizados nomes fictícios.
21
comunicação também é prejudicada. Entre a falta e o excesso de comunicação, entre o
próximo e o distante, é que se constrói a alteridade, não devendo o pesquisador impor sua
cultura sobre o pesquisado e vice-versa.
A partir do segundo encontro, as entrevistas passaram a ser feitas no 2° andar do
CEMASI na sala do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI), o que melhorou
quanto ao problema da livre circulação de funcionários, mas não quanto ao barulho. Na minha
terceira ida à instituição, entrevistei a Sra. Berenice, 77 anos, aposentada, que já tinha
freqüentado o CEMASI por 5 anos, mas fazia um ano que estava afastada por estar se
sentindo muito cansada e só foi ao CEMASI para a entrevista.
Também entrevistei a Sra. Luzia, 61 anos e não beneficiária. A idosa freqüenta o
CEMASI há 5 anos, ficou bem à vontade durante a entrevista, inclusive estava fazendo um
trabalho manual de fuxico e após a entrevista me presenteou com uma flor de fuxico e me
perguntou sobre a sua inscrição na bolsa-família e eu a orientei a esclarecer suas dúvidas com
a assistente social do CEMASI.
Zaluar, em seu trabalho de campo, também aponta que os moradores tinham uma
visão ambígua em relação a ela, vendo-a tanto como pessoa com intenção de falar mal do
local ou com expectativa de receber algo do governo. Analisa que:
se, por um lado, isso era uma indicação segura da imagem paternalista forte do Estado
que ainda impera entre muitos pobres, por outro lado, a bem da pesquisa, era uma
impressão que deveria ser superada. E essa impressão eu só conseguia desmantelar
quando os desenganava nessa expectativa: eu não lhes traria nenhuma comida, nem o
governo iria enviá-los posteriormente. Com isso apareceu novo tom nas entrevistas,
que não se limitavam mais a monotonia das queixas e que começaram a falar da
valorização positiva do seu modo de vida (Zaluar, 2000:14).
Sendo assim, a autora não tinha a intenção de ser taxada como pessoa importante, ou
mediadora, ou candidata, e isso colaborou para conquistar a simpatia dos moradores do local
para com ela. Em meu trabalho, também busquei ser vista apenas como pesquisadora.
22
Na quarta ida à instituição, entrevistei a Sra. Arminda, 79 anos, pensionista, que não
freqüenta mais o CEMASI por estar com problemas na visão, mas se disponibilizou a vir para
me dar a entrevista. Observei que a entrevista da idosa foi permeada pela temática de sua
viagem ao norte quando foi visitar seus parentes.
Falei com as agentes sociais que acompanham o grupo que iria para a comemoração
do Dia das Mães, mas que estaria ausente nas semanas seguintes, pois estaria fazendo
entrevistas com idosos acompanhados pelo CEMASI Dr. Luiz Lima, no Morro Azul.
Na quinta ida à instituição, teve a comemoração do Dia das Mães. A sala estava
enfeitada com balões, a mesa estava com o bolo e as lembranças para as idosas e estavam
sendo servidos sanduíche e refrigerante. Foram tiradas fotos com as idosas, fui solicitada tanto
a tirar as fotos como a aparecer nas mesmas. Em seguida, a agente comunitária fez algumas
brincadeiras com as idosas que estavam se divertindo bastante. Depois ela abriu espaço para
que as mesmas pudessem se manifestar, teve idosa que orou, outra discursou, cantou música e
eu aproveitei para parabenizá-las pelo dia das mães e agradecer a acolhida por parte delas.
Nesse dia, entre as pessoas que eu entrevistei estava apenas a Sra. Luzia. Após isso, cantamos
parabéns e ajudei a servir mais refrigerante e o bolo.
No mesmo dia, tive a oportunidade de conversar com as agentes comunitárias que me
explicaram sobre o funcionamento do Grupo “Rio Experiente”. As idosas desse grupo fazem
os tapetes que são vendidos no bazar juntamente com o trabalho artesanal que uma das
agentes comunitárias faz com o intuito de angariar fundos para aquisição de materiais para os
demais trabalhos manuais que as idosas realizam. A festa em comemoração à Páscoa e ao Dia
das Mães também só foram possíveis através desse dinheiro. As agentes comunitárias
ressaltaram que o grupo existe desde 1998 e atualmente conta com a participação de dezesseis
idosas. Notei que estavam presentes nessa comemoração algumas idosas que já tinham
23
freqüentado o grupo, porém não o faziam mais, pois mudaram de local de residência, mas
dada à amizade com as participantes do grupo estavam ali.
Em relação ao CEMASI da Ilha do Governador, senti uma excelente recepção por
parte de seus funcionários e dos idosos, o que facilitou meu trabalho. Foi ótimo para testar o
roteiro de entrevista e para me sentir mais segura nessa nova etapa. Porém, acredito ter errado
quando decidi entrevistar duas idosas no primeiro contato com elas, deveria ter apenas
explicado do que se tratava a pesquisa e agendado as entrevistas posteriormente. Talvez a
ansiedade de iniciar logo o trabalho de campo por meio dessas entrevistas tenha me
atrapalhado. Salem (1978) descreve que percebia em si mesma certa ansiedade antes da
entrevista, que ia diminuindo ao longo da mesma. Essa sensação tamm se fazia presente em
minhas entrevistas.
Através de uma colega mestranda da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
consegui o contato com uma ex-estagiária do CEMASI Dr. Luiz Lima, no Morro Azul, a qual me
disponibilizou o contato da assistente social que trabalha na instituição. Liguei para ela, me
apresentei e expliquei do que se tratava a pesquisa. Ela me convidou a comparecer no grupo
“Conversando que a gente se entende”, que se realiza às quartas-feiras no período da tarde no
Coordenadoria Regional de Assistência Social (CRAS )
9
Maria Lina Castro Lima, em Laranjeiras.
No primeiro encontro, fui apresentada às idosas e expliquei em linhas gerais o perfil
dos idosos desejados para a pesquisa. Nesse primeiro momento, apenas a Sra. Ondina, 67
anos e não beneficiária, se encaixava no perfil. Conversei com a mesma e foi agendada sua
entrevista para a próxima reunião. Nessa reunião, havia uma idosa aposentada e as outras
participantes ainda não eram idosas.
9
Conforme o divulgado pelo site da prefeitura, as Coordenadorias Regionais de Assistência Social (CRAS) atuam como portas de entrada
dos cidadãos no atendimento prestado pela Secretaria Municipal de Assistência Social. Nas CRAS é possível fazer o cadastramento da
população de baixa renda, que é encaminhada para a rede de assistência social da Prefeitura. É da competência de cada Coordenadoria
Regional participar do planejamento de programas e projetos a serem realizados na sua área de abrangência; implementar a política regional
de assistência; realizar pesquisas, coordenar, supervisionar e avaliar a execução de todas as ações de desenvolvimento social.
24
Segui nesse primeiro encontro a mesma abordagem utilizada por Salem (1978) em seu
primeiro encontro com as famílias, em que ela fazia uma apresentação concisa sobre si mesma
e sua pesquisa, esclarecia que as entrevistas seriam gravadas e assegurava o sigilo do
conteúdo das mesmas. Respondia algum questionamento que porventura surgisse tanto de sua
vida profissional como pessoal. Esse primeiro encontro possibilitava que pesquisado e
pesquisador se apresentassem antes da entrevista propriamente dita.
No segundo encontro, a entrevista da Sra. Ondina foi feita antes da reunião na sala
onde se realiza a atividade do grupo. A idosa se mostrou muito receptiva durante a entrevista
e nas reuniões posteriores fazia sempre questão de me cumprimentar, perguntava como estava
e na hora do lanche me oferecia e insistia para que eu comesse mais. Nesse mesmo dia, falei
com as Sra. Magali e Sra. Nair, agendei suas entrevistas para a reunião seguinte.
No terceiro encontro, a Sra. Magali, 65 anos, e a Sra. Nair, 66 anos, ambas não
beneficiárias, também foram entrevistadas. As idosas são amigas e vizinhas de muitos anos,
por isso perguntaram se poderiam ficar ambas na sala enquanto eu entrevistava uma de cada
vez. Dessa vez, como não foi possível utilizar a sala onde se realiza a reunião do grupo, pois
estava tendo outra atividade no local, utilizamos a sala do curso pré-vestibular. A Sra. Magali,
no início, se mostrou um pouco constrangida pelo fato da entrevista estar sendo gravada, mas
depois se sentiu à vontade. A Sra. Nair se mostrou bem disponível no decorrer da entrevista, e
nas reuniões seguintes, demonstrava para as outras participantes sentir orgulho por ter me
dado a entrevista.
No quarto encontro, a assistente social não pôde coordenar o grupo, pois estaria em
outra reunião. Esclareceu-me que a partir da semana seguinte teria outra profissional na
coordenação do grupo, dado ao excesso de atribuições exercidas por ela e disse que naquele
dia as idosas estavam sob minha coordenação. Aproveitei para agradecer a acolhida do grupo
e foi perguntado sobre o andamento da pesquisa, o qual eu relatei. Ficamos ao redor da mesa
25
lanchando, a Sra. Magali disse que a Sra. Nair não pôde ir ao grupo, porque ela estava
cuidando dos netos, pois a filha havia saído. As outras participantes manifestaram a sua
opinião sobre o fato, considerando um absurdo tal situação. A partir daí, passaram a falar
como se dava sua relação com os seus filhos e netos, a qual é muito próxima devido à co-
residência com os mesmos, sendo que essas avós ora ajudam continuamente na criação de
seus netos, ora os criam. Esclareci que ainda faltavam entrevistas a serem feitas e que eu não
teria tempo disponível para continuar com o grupo. Percebi que com a minha ausência e da
assistente social, as participantes se sentiram um pouco desamparadas.
Em relação ao CEMASI do Morro Azul, percebi também que tive uma ótima recepção
por parte da assistente social e das participantes do grupo, o que auxiliou na realização da
minha pesquisa. Após entrevistar as Sra. Magali, Sra. Nair e Sra. Ondina não havia outras
participantes do grupo que tivessem o perfil desejado e por sugestão da assistente social do
“Conversando que a gente se entende”, procurei a assistente social que coordena os cursos da
terceira idade no CRAS Maria Lina.
No primeiro dia em que fui procurá-la, não a encontrei, mas conversei com a
professora do grupo Corpo e Mente, a qual me apresentou aos seus alunos e explicou em
linhas gerais o que eu estava pretendendo. Uma das idosas disse: “aqui nós não somos
carentes”.
É possível inferir que esse comentário tenha sido feito com o intuito de diferenciar o
grupo de idosos que freqüenta os cursos da terceira idade do CRAS Maria Lina com o grupo
de idosos inseridos na política de Assistência Social. Na visão do primeiro grupo constituído
em sua maioria por aposentados ou pensionistas, estando, pois inseridos na Previdência
Social, o segundo grupo, formado por idosos com perfil desejado para esta pesquisa,
corresponde a um grupo carente.
26
Havia apenas a Sra. Célia, beneficiária do BPC, que se mostrou disponível em
conceder entrevista, me fornecendo seu endereço residencial e telefone para eu
posteriormente agendar sua entrevista.
A entrevista da Sra. Célia, 69 anos, ocorreu em seu apartamento, localizado no bairro
de Laranjeiras, onde fui muito bem recebida. A entrevista se deu na sala, observei que o
apartamento estava muito bem arrumado e possuía poucos móveis. Senti que fazer a
entrevista na casa do idoso o deixa mais à vontade para falar. A idosa me informou sobre os
cursos da CRAS Maria Lina, Corpo e Mente, Expressão Corporal, Coral e Pintura em tecido,
sendo que ela participa do Corpo e Mente e do Coral. Após a entrevista, me presenteou com
um bombom e um pão de mel feitos por ela e me mostrou seus trabalhos artesanais.
A Sra. Célia também está fazendo parte do projeto Agente Experiente
10
, que faz a
mediação entre os serviços CEMASIs, CRASs e a população. A idosa contou um fato de seu
trabalho como agente experiente muito interessante, pois ressalta a sua observação sobre a
desigualdade social presente em nossa sociedade. Ela e uma colega presenciaram um grupo
com uma criança envolvido com drogas na praça. “Por que caiu um pacote de leite em pó,
vento jogou e a mulher caiu e catou, botou tudo dentro da taça, àquela água ali e dá para a
criança. Que tristeza, como as desigualdades, injustiças sociais, preconceitos existem”.
O projeto Agente Experiente está sendo coordenado pela assistente social, que estaria
no CRAS Maria Lina em uma reunião. A Sra. Célia sugeriu que eu fosse lá para conversar
com ela, visto que perguntei à idosa se ela conhecia outros idosos com o perfil que eu estava
procurando.
Fui ao CRAS Maria Lina como foi sugerido e estava esperando a assistente social
chegar quando encontrei com a Sra. Célia e ficamos conversando. Em seguida, a assistente
10
Conforme divulgado pelo site da SETI, o projeto agente experiente visa transformar o idoso em canal de informação para as pessoas que
circulam nas praças e corredores viários da cidade, em especial os moradores de rua. Oferece a possibilidade de acesso ou complementação
de sua renda através de uma bolsa mensal. Participam deste projeto, 110 idosos.
27
social chegou e a idosa nos apresentou. Ela me explicou que o público freqüentador dos
cursos do CRAS é em sua maioria de aposentados e pensionistas. Disse-me que “o público-
alvo da assistência social que deveria freqüentar esses cursos não estava lá”, sendo que ela
estava desenvolvendo ações para inseri-los nos cursos da CRAS. Apresentou-me ao grupo do
curso de pintura em tecido, mas também não havia nenhum idoso que se encaixasse no perfil
desejado. Orientou-me a procurar a assistente social que trabalha no CEMASI Maria Vitória,
no Morro dos Cabritos em Copacabana, dizendo que lá encontraria os idosos com o perfil
desejado.
Por meio de contato telefônico com a assistente social do CEMASI Maria Vitória, ela
me informou que a maioria dos participantes do grupo é composta de aposentados e
pensionistas, tendo apenas uma idosa beneficiária do BPC, mas que não seria possível
entrevistá-la, pois a mesma possui certo comprometimento mental. Também tinham duas
idosas não beneficiárias, as quais ela veria a possibilidade para eu poder entrevistá-las. Em
seguida, me convidou para participar nas reuniões do grupo às terças-feiras e sextas-feiras no
período da manhã.
Na primeira ida à instituição, enquanto aguardava a assistente social, fiquei sentada
numa mesa com as idosas que estavam aproveitando o tempo para “colocar a fofoca em dia”.
À medida que o tempo passava, as idosas chegavam aos poucos e começaram a ficar na
dúvida se a assistente social viria mesmo. Acabei me precipitando e perguntei para as idosas
se eu poderia falar sobre o motivo de estar ali, mas elas preferiram que eu esperasse que a
assistente social chegasse.
Após a sua chegada, fomos para a sala. A assistente social me apresentou a esse grupo
de idosos, denominado de Grupo de Convivência Padre Ítalo Coelho, explicando em linhas
gerais a minha pesquisa. Uma das idosas disse que a idosa que eu poderia entrevistar (Sra.
Pilar) não tinha ido, pois estava cuidando da neta. E a outra, a Sra. R., me informou que tinha
28
que ir embora logo, pois teria que “arrumar o neto para ir à escola”, mas se disponibilizou a
dar entrevista na semana seguinte.
Na segunda ida à instituição, uma das idosas me informou que a Sra. Pilar, 64 anos e
não beneficiária, pediu que eu fosse até sua casa, pois ela estava cuidando da neta novamente.
Porque as aulas na creche estavam suspensas devido à falta d’água no morro, e também me
levou a casa da idosa para eu poder entrevistá-la. A entrevista foi dificultada pela presença da
neta, tendo várias interrupções durante a sua realização. A casa é composta de sala, cozinha,
banheiro e quarto e a Sra. Pilar pediu desculpas pela bagunça, pois ainda não tinha dado
tempo de arrumar a casa devido à presença da neta.
No momento da entrevista, o Sr. N., Agente Experiente e participante do grupo, esteve
na casa da idosa, talvez devido à curiosidade, pois durante a reunião do grupo ele fez
perguntas sobre a minha pesquisa. A outra idosa, a Sra. R., não foi nessa reunião, pois seu
marido se encontrava doente.
Na terceira ida à instituição, estava presente a voluntária que realiza atividades lúdicas
com o grupo uma vez por semana. Nesse dia, a Sra. R. novamente havia faltado, pois seu
marido ainda estava doente. Aproveitei para agradecer a assistente social e ao grupo por terem
colaborado para a realização da pesquisa.
A assistente social me informou que o Grupo de Convivência, nome escolhido pelas
próprias idosas em homenagem ao Padre Ítalo Coelho, existe há 11 anos, funcionando sempre
sob a sua coordenação. No momento, há 25 idosos matriculados nesse grupo de convivência,
mas nem todos freqüentam de maneira assídua. Ela está ciente do motivo de suas ausências
eventuais, tais como cuidar dos netos, tratar de seus problemas de saúde ou de seus familiares,
entre outros.
29
Em relação ao CEMASI do Morro dos Cabritos, a minha pesquisa também teve uma
boa receptividade por parte tanto da assistente social como das idosas, o que possibilitou a
observação do grupo e a realização da entrevista com a Sra. Pilar.
Como foram realizadas entrevistas com os idosos tanto em suas casas como nos
CEMASIs, fez-se necessário o uso do diário de campo para anotar as observações importantes
que surgiram na relação entre pesquisador e pesquisado desde o contato até a entrevista
visando contribuir na análise das mesmas. Zaluar (2000), ao abordar a relação entre família e
pobreza na cidade de Deus/RJ, fez dos relatos descritos sobre sua observação cotidiana da
pesquisa em seu diário de campo, um importante instrumento para seu estudo.
Devido à dificuldade de encontrar idosos beneficiários que freqüentem esses grupos de
convivência vinculados ao CEMASIs, foi sugerido pela assistente social do CRAS Maria Lina
que entrasse em contato com a Secretária Especial da Terceira Idade (SETI). Conversei com a
responsável pela coordenação da revisão do BPC no município do RJ. Ela me forneceu os
relatórios e o contato da assistente social, que estava fazendo a revisão do BPC na zona sul
11
do município. Liguei-lhe informando sobre o perfil dos idosos e esta ficou de selecionar esses
idosos e avisá-los que eu entraria em contato com eles para verificar a possibilidade da
participação na minha pesquisa de mestrado.
O trabalho de campo, em seu segundo momento, consistiu em entrevistas com idosos
beneficiários do BPC no período da revisão do seu benefício e idosos não-beneficiários, sendo
que as entrevistas foram realizadas nas residências das idosas no bairro de Copacabana e no
Centro de Cidadania Rinaldo de Lamare, localizado no bairro de São Conrado, na zona sul.
Foi agendada por telefone a entrevista com a Sra. Elsa, 78 anos e a sua irmã Sra.
Fátima, 80 anos, ambas beneficiárias do BPC e residentes em Copacabana. Antes da
entrevista, a Sra. Elsa me perguntou da diferença entre BPC e LOAS, e eu a esclareci.
11
A zona sul engloba os seguintes bairros: Botafogo, Catete, Copacabana, Cosme Velho, Flamengo, Gávea, Glória, Humaitá, Ipanema,
Jardim Botânico, Lagoa, Laranjeiras, Leblon, Leme, Rocinha, São Conrado, Urca e Vidigal.
30
Também me informou que tentou obter um empréstimo e foi informada que pessoas que
recebem esse benefício não podem fazê-lo, só quando são aposentadas ou pensionistas.
A entrevista ocorreu no apartamento das idosas, composto por sala e quarto sem
divisão, tendo apenas separado a cozinha e o banheiro. Achei o espaço muito pequeno, mas
muito bem arrumado. Fui bem recebida, a Sra. Fátima preferiu que a irmã começasse, mas
durante a entrevista dela fez algumas intervenções, o que atrapalhou um pouco o andamento
da mesma. No decorrer da entrevista da idosa, ela respondeu várias vezes: “igual ao dela” ou
“a mesma história”. Percebi que enquanto eu realizava a entrevista com uma das idosas, a
outra ficava reparando nas minhas reações, o que me deixou um pouco constrangida. Durante
a entrevista, notei que ambas possuem um nível sócio-cultural excelente, pois tem acesso a
bons livros, filmes, e visitam museus e exposições. Ao me acompanharem até o elevador, a
Sra. Elsa disse: “nós já tivemos melhor, já moramos na Rua Rainha Elizabeth”.
Também agendei por telefone a entrevista com a Sra. Dora, 73 anos, beneficiária do
BPC e moradora de Copacabana. Ao chegar a seu apartamento, ela tinha acabado de fazer
café e me ofereceu. Seu apartamento é composto de cozinha, sala, quarto e banheiro, muito
bem mobiliado, decorado e arrumado. A entrevista transcorreu bem. Durante a entrevista, a
idosa fez perguntas sobre a minha vida pessoal, por exemplo: o que faço, em que sou
formada, se meu setor é difícil para conseguir emprego, o que pretendo fazer depois do
mestrado, se pretendo ficar no Rio de Janeiro ou voltar para Brasília e se estava gravando
tudo. Assim como, questionou se sou católica e se acreditava na história passada pelo livro
Código da Vinci e eu respondi a todas as suas perguntas de forma concisa, evitando, ao
máximo, interferir no resultado da entrevista.
Utilizei o mesmo procedimento com a Sra. Glória, 82 anos, beneficiária do BPC e
também moradora de Copacabana. A entrevista foi realizada na sala muito ampla e também
bem mobiliada, decorada e arrumada. Percebi que por ter sido indicada pela assistente social
31
responsável pela revisão de seu benefício, a idosa quis me mostrar seus documentos e
perguntou se teria de assinar algum papel. Tentei explicar-lhe que se tratava de uma pesquisa
da universidade e não precisava ter o mesmo procedimento da revisão. Após a entrevista, a
idosa foi muito gentil, me ofereceu um copo de água e perguntou se eu iria a algum lugar
depois da entrevista e comentou que gostou muito da assistente social que fez a revisão de seu
benefício.
Salem descreve sobre a invasão emocional por que passou em seu trabalho de campo,
afirmando que “se funcionei como elemento mobilizador para os entrevistados, quero frisar
que isso foi recíproco: o trabalho de campo foi, para mim, altamente mobilizante” (1978:62).
Assim como aborda sobre a imparcialidade enquanto pesquisadora “mesmo durante as
entrevistas propriamente ditas percebi, em determinadas situações, perdia o contorno entre
meu papel enquanto entrevistadora e enquanto pessoa” (1978:62). Ocorria, por exemplo, dos
pesquisados observarem suas expressões faciais que por vezes fugiam ao seu controle. A
autora conclui que ultrapassou as regras relativas à neutralidade do pesquisador na pesquisa
de campo, “em alguns casos esse procedimento não parece ter afetado o comportamento dos
informantes enquanto que em outros revelou ser inconveniente” (1978:63). Entretanto,
observa que uma aproximação não tão formal pode ser benéfica, porque possibilita um
ambiente mais descontraído tanto para o pesquisado como para o pesquisador.
Acredito que também tenha me excedido em alguns momentos, mas penso que uma
relação menos hierarquizada entre pesquisador e pesquisado, deixa esse último mais receptivo
durante a entrevista.
Após a realização dessas quatro entrevistas junto a beneficiárias do BPC residentes em
Copacabana, fiquei preocupada com o fato dessas idosas ou morarem sozinhas ou com irmãs,
pois o outro grupo de idosas não beneficiárias tinha outro tipo de referência domiciliar,
residindo, em geral, com marido, filhos e netos. Liguei para a assistente social, responsável
32
pela revisão do BPC na zona sul e ela me convidou para ir ao Centro de Cidadania Rinaldo de
Lamare, aonde os idosos tanto da Rocinha quanto do Vidigal, beneficiários do BPC, iriam
para o recadastramento de seus benefícios. Também me esclareceu que a grande maioria dos
idosos beneficiários do BPC, com os quais realizou o recadastramento, vive com o
companheiro ou sozinhos ou moram cada um na sua casa no mesmo terreno.
Dirigimo-nos ao Centro localizado em São Conrado de frente para a Rocinha. Nesse
dia foram para o recadastramento do BPC, quatro idosos provenientes do Vidigal. O Sr.
Hélio, 72 anos, foi o primeiro a chegar e, após o seu recadastramento, ele se disponibilizou
em responder as minhas perguntas, sendo bastante resumido em suas respostas, parecendo que
poderia ter dado maiores esclarecimentos em suas respostas. Salem (1978) alerta para o fato
de o pesquisador ficar atento aos limites e potencialidades de seu pesquisado, assim como a
necessidade de respeitar as respostas fornecidas por ele e isso só pode ser percebido ao longo
do trabalho de campo.
Em seguida, com a Sra. Isaura, 77 anos, também ocorreu a mesma abordagem
realizada com o Sr. Hélio. A vizinha, a qual acompanhava a idosa durante a entrevista, fez
alguns comentários complementando algumas respostas, porém não atrapalhou o andamento
da entrevista. As outras duas idosas que compareceram ao recadastramento não puderam me
dar entrevista, pois uma delas estava acompanhada pela vizinha, que tinha seus afazeres
domésticos por fazer, e a outra idosa tinha ficado muito tempo internada no Miguel Couto
com problema de bronquite e parecia estar com a saúde debilitada.
A assistente social me informou que esteve no dia anterior, nesse mesmo Centro, onde
compareceram seis idosos do Vidigal e seis da Rocinha para o recadastramento do benefício,
e que ficaram faltando três idosos do Vidigal e vinte e nove da Rocinha. Sugeriu que
conversasse com a funcionária do Centro, para verificar a possibilidade de entrevistar idosos
não beneficiários que freqüentam os cursos oferecidos pela instituição. Falei com a
33
funcionária e a mesma me apresentou à Sra. Regina, moradora da Rocinha, que disse não
poder conceder a entrevista naquele dia, pois iria para casa almoçar e me passou seu telefone
para agendarmos sua entrevista.
Após o agendamento da entrevista, cheguei à instituição para entrevistar a Sra. Regina.
Enquanto aguardava a sua aula terminar, a funcionária do Centro encontrou com a Sra. Silvia
no corredor e sugeriu que eu a entrevistasse, pois ela se enquadrava no perfil desejado. Fui
para a sala onde se realiza o lanche e fiz a entrevista com a Sra. Silvia, 62 anos e não
beneficiária, que estava preocupada com o horário do término da entrevista, pois tinha que
levar o neto para a escola.
Assim que terminei a entrevista da Sra. Silvia, a Sra. Tânia, 63 anos, me procurou e
disse não receber nada. Esclareci que não tinha nenhuma vinculação com nenhum órgão,
inclusive o INSS. Percebi que talvez ela quisesse algum tipo de encaminhamento, tentei
deixar claro que se tratava de uma pesquisa acadêmica. No decorrer de sua entrevista, outras
idosas entraram na sala para o lanche, fazendo muito barulho. Um funcionário do Centro me
ofereceu sua sala para a realização das entrevistas. Mudamos de sala. Percebi que a Sra. Tânia
estava um pouco confusa em suas respostas.
A Sra. Regina, 69 anos e não beneficiária, foi muito simpática e a entrevista
transcorreu bem. Aproveitei para me desculpar por tê-la feito esperar. Em seguida, a Sra. T.
me procurou, explicando sua situação em que seu BPC havia sido concedido e depois
suspenso. Eu a ouvi e disse que estava fazendo uma pesquisa da universidade, mas que
perguntaria para a assistente social da SETI o que ela deveria fazer. Foi o que fiz, falei com a
assistente social e liguei para a Sra. T.
Em relação ao Centro de Cidadania Rinaldo de Lamare, notei que havia uma boa
acolhida por parte dos funcionários tanto para a concessão do espaço para a realização do
recadastramento do BPC, como para a minha pesquisa. Também considerei que a circulação
34
de pessoas (funcionários e idosos) no local da entrevista e o barulho foram elementos que
dificultaram a realização das entrevistas. Outros foram, o fato de algumas idosas estarem com
pressa em retornar para casa a fim de realizar suas tarefas domésticas e bem como
considerarem que eu poderia facilitar seu acesso por meio de algum tipo de encaminhamento.
Esclareci sobre a finalidade da minha pesquisa, desvinculando-a do objetivo do
recadastramento.
Ficou claro que em instituições vinculadas à área de saúde como Instituto Miguel
Pedro, UnATI e Abrigo Cristo Redentor havia dificuldades em encontrar idosos que se
enquadrassem no perfil desejado para a pesquisa, tais como: a falta de lucidez, a ausência de
referência familiar e o não preenchimento do perfil sócio-econômico.
Por conta disso, o trabalho de campo transcorreu por meio da indicação de uma
assistente social para outra entre os diferentes CEMASIs, o que se caracterizou por ser uma
rede institucional de profissionais, fato esse que facilitou o acesso para a realização da
pesquisa de campo junto a essas instituições.
No que diz respeito à rede social, tanto Heilborn (2004) como Both (1976) trabalham
seu conceito e a forma de sua utilização em suas pesquisas de campo. Conforme Heilborn
(2004), o conceito de rede social “é utilizado basicamente para descrever uma unidade
sociológica que se diferencia de um grupo por não possuir demarcações nítidas nem objetivos
explícitos que se articula” (2004:75). Em sua pesquisa sobre conjugalidade, ao escolher seus
entrevistados, optou pelas redes sociais em que esses estão inseridos. Heilborn chamou de
“mediadores de contato” (2004:73) seus amigos e conhecidos, que fizeram à apresentação
entre pesquisado e pesquisador, considerando essa estratégia como forma de entrada na
pesquisa de campo.
Both (1976), que também se utiliza do conceito de rede social em sua pesquisa sobre
família, observou que as famílias em suas relações sociais externas pareciam uma rede, ao
35
invés de um grupo organizado, pois apenas certos indivíduos tinham relações entre si e não
com todos. Essa rede possui dois tipos de conexidade, a primeira é a malha estreita, onde há
inúmeras relações entre os membros dessa rede enquanto que a segunda é a malha frouxa
quando há raras relações desse tipo.
A maioria dos idosos entrevistados eram vinculados aos Grupos de Convivência dos
CEMASIs, porém também tive dificuldades para encontrar pessoas com o perfil desejado
dentro desses grupos. Em conseqüência da presença de idosos com certo comprometimento
mental, ao número maior de idosos aposentados e pensionistas em relação a idosos não
beneficiários e beneficiários do BPC e da não disponibilidade dos beneficiários do BPC em
participar da pesquisa. Esse último dado pode ser entendido pelo fato de um dos critérios
utilizados para a concessão e revisão do BPC ser a entrevista, o que deixou os idosos
relutantes em conceder entrevista, mesmo após expor claramente os objetivos da pesquisa e
esclarecer que não haveria dano ou prejuízo para eles.
Foram realizadas dezoito
12
entrevistas, sendo que doze nas instituições e seis nas
residências. Percebi que existe uma diferença em fazer entrevistas nas instituições e nas
residências. Nas instituições, pode ser considerada como ponto negativo, a falta de maior
privacidade, caracterizada pela interrupção causada pelos funcionários e outros idosos durante
as entrevistas, o que inibiu tanto o pesquisador como o pesquisado, dificultando o melhor
aproveitamento. Como ponto positivo, cito a possibilidade de acompanhar os idosos enquanto
participantes dos grupos de convivência, não ficando apenas as observações restritas à
entrevista. O fato da assistente social que coordena o grupo ser a mediadora na apresentação
dos idosos, pode também ser considerado um elemento facilitador na relação entre pesquisado
e pesquisador.
12
No trabalho de campo estava previsto a realização de vinte entrevistas, porém esse número foi reduzido em decorrência do número de
idosos possuidores do perfil traçado pela pesquisadora e que foram possíveis de serem entrevistados.
36
Nas residências, o fato dos idosos se encontrarem em suas casas, os deixa mais à
vontade no momento das entrevistas, assim como a ausência de pessoas “estranhas” tamm
pode ser considerada como um fator positivo. Além disso, as entrevistas nas residências foram
importantes para melhor observar as condições sócio-econômicas dos idosos e suas famílias.
Como fator negativo, tem-se a presença de parentes e pessoas próximas que se sentiam com
liberdade de interferir nas respostas dadas pelos entrevistados.
Em cada CEMASI e em cada residência, notei que havia variações na relação entre
pesquisado e pesquisador, ocasionadas pelas diferentes formas de entrada na pesquisa de
campo. Foote-White (2005) trabalha a forma de abordar o objeto de estudo como um dado
importante da pesquisa, isto é, a maneira em que se entra no trabalho de campo interfere
diretamente no andamento da pesquisa.
Notei que as residentes em Copacabana possuem maior nível de instrução, acesso à
informação e noção de seus direitos o que facilitou a reivindicação e a concessão de seu
benefício, portanto não sendo apenas o fato das idosas estarem dentro dos critérios do BPC
que garante a efetivação de seu direito, mas a socialização da informação é de fundamental
importância. Essas idosas já haviam tido melhores condições de vida do que as atuais,
indicando que o BPC também contempla as pessoas que já pertenceram a uma camada média,
que passaram por um processo de declínio em sua característica sócio-econômica na velhice.
Observei que algumas das idosas faltavam as atividades do grupo de convivência dos
CEMASIs, porque tinham seus afazeres domésticos, ou estavam cuidando de seus netos
enquanto as mães trabalhavam ou saíam, ou davam atenção à saúde de seus familiares. Nesse
sentido, essas idosas entrevistadas nos CEMASIs se aproximam mais do modelo de família
pobre descrito por Sarti (2005) em que essa família se caracteriza por ser uma rede, ao invés
de um núcleo, englobando uma rede de parentes e também as pessoas com quem se
37
estabelecem laços de confiança, que se vinculam por obrigações morais, sendo que ao mesmo
tempo, inviabiliza a individualidade e possibilita a sobrevivência da família.
Enquanto que as idosas pesquisadas em Copacabana possuem tanto alguns elementos
das camadas pobres citados acima como também têm algumas características do contexto das
camadas médias abordados por Velho (2002) e Heilborn (2004), tais como os valores
individualistas e hierarquizados. Mas, sobretudo, porque se encontram na fronteira entre a
camada pobre e a camada média, residem em um bairro do Rio de Janeiro não pertencente a
uma área precariezada do município e possuem acesso à informação; sendo essas
características é que as colocam nessa fronteira entre uma camada e a outra.
Portanto, o trabalho de campo possui dois momentos distintos, o primeiro se
caracterizou por uma observação das idosas em seus grupos de convivência e a posterior
realização das entrevistas. Tanto a participação nos grupos como as entrevistas com os idosos
possibilitaram uma riqueza maior de informações a respeito dos entrevistados. O segundo
momento se especificou pela realização das entrevistas nas residências dos idosos e após a
revisão de seu benefício na instituição, sendo que o fato das entrevistas terem se dado na
residência proporcionou uma melhor visualização do ambiente sócio-econômico em que os
mesmos vivem. Tanto no primeiro como no segundo momento do trabalho de campo a
presença da assistente social como mediadora do contato entre pesquisado e pesquisador foi
primordial e se constituiu um aspecto facilitador para a realização desse trabalho de campo.
A dissertação está dividida em quatro capítulos. O capítulo 1 – perfil social e familiar
dos idosos entrevistados - abordará por meio de uma análise comparativa entre os idosos que
recebem um recurso público, sobretudo os beneficiários do BPC, e os não beneficiários o
perfil sócio-familiar dos mesmos a partir dos dados referentes: ao local de residência, idade,
sexo, naturalidade, religião, cor/raça, estado civil, quantidade de filhos e netos, grau de
escolaridade, composição domiciliar, responsável pelo domicílio, recebimento de outro
38
benefício público, profissão, ocupação atual, renda individual, renda familiar, composição
domiciliar antes do recebimento do benefício e tempo de recebimento do benefício.
O capítulo 2 – perfil econômico dos idosos entrevistados – tratará da caracterização de
como cada idoso gasta seu dinheiro, a sua importância econômica em relação a sua família e
seu domicílio, além das reflexões sobre os seus gastos reais, almejados e investimentos
realizados.
O capítulo 3 – perfil associativo dos idosos entrevistados analisará a maneira como
os idosos beneficiários tomaram conhecimento que tinham direito a um benefício público e se
os idosos não beneficiários conhecem o BPC. Assim como, a caracterização da participação
comunitária e da utilização do tempo livre dos idosos entrevistados.
Por último, o capítulo 4 – considerações finais – contemplará as observações mais
relevantes para este estudo no que se refere ao trabalho de campo realizado, bem como sobre
o perfil social, familiar, econômico e associativo traçado a partir dos relatos dos idosos
entrevistados.
39
CAPÍTULO 1
PERFIL SOCIAL E FAMILIAR DOS IDOSOS ENTREVISTADOS
Este capítulo busca, por meio de uma análise comparativa entre os idosos que recebem
um recurso público, sobretudo, os beneficiários do BPC (Benefício da Prestação Continuada)
e não beneficiários, estabelecer o perfil sócio-familiar dos mesmos através dos seguintes
dados: local de residência, idade, sexo, naturalidade, religião, cor/raça, estado civil,
quantidade de filhos e netos, grau de escolaridade, composição domiciliar, responsável pelo
domicílio, recebimento de outro benefício público, profissão, ocupação atual, renda
individual, renda familiar, composição domiciliar antes do recebimento do benefício e tempo
de recebimento do benefício (ver em Apêndice A).
Neste capítulo, utilizaremos o debate sobre a temática da família contemporânea, onde
se tem presente as transformações sociais que afetam a família, os novos arranjos familiares
formados no mundo contemporâneo, o enfoque sobre a questão da individualidade, as
mudanças na relação homem e mulher, também na relação entre pais e filhos, e uma
diferenciação entre os modelos de família em Szymanski (2002), Singly (2000), Duarte
(1995), e Sarti (1995).
Szymanski (2002:9) define a família como uma organização de pessoas que optam pelo
convívio por motivos afetivos e têm o comprometimento “de cuidado mútuo”. Tal visão ultrapassa a
da família nuclear, tendo que se considerar as novas relações entre os membros do grupo familiar
com a comunidade e a sociedade. Sendo assim, a família está submetida:
à questão dos modos dos membros familiares serem uns com os outros em um mundo de
transformação. Isto é, da maneira como cuidam da relação entre si. Nesse processo, cada
membro se constitui como pessoa, torna presente a subjetividade nas experiências vividas no
dia-a-dia. (Szymanski, 2002:10/11).
40
Szymanski (2002) também ressalta que as transformações que acontecem no mundo causam
modificações para a família de modo geral e, mais especificamente, para cada família de acordo
com a sua composição, histórico e classe social. Aponta que o compartilhamento de afeto na família
gera resultados para a toda a vida, determinando a forma de ser e agir com os demais. Essa forma de
ser junto aos demais, assimilado na família, fica por um longo período de tempo e geralmente serve
de exemplo às famílias a serem constituídas.
Singly (2000:14) aponta para a diferença entre as pessoas pertencentes à sociedade
contemporânea e às das sociedades anteriores no que diz respeito à emergência do indivíduo
original e autônomo. O local da circulação dos afetos é onde se forma a identidade pessoal dos
indivíduos. Nas sociedades consideradas individualistas, compete à família a consolidação da
“permanência do eu dos adultos e das crianças. Inversamente, ao que o termo individualismo pode
levar a crer, o indivíduo precisa assim, para tornar-se ele mesmo, do olhar das pessoas a que ele
atribui importância e sentido”. Essa família é conhecida por ser individualista e, ao mesmo tempo,
relacional.
Singly (2000) nomeia de família moderna 1 a movida, sobretudo, pelo amor e que girava em
função das crianças, em que o homem tinha sua função de pai e trabalhador e à mulher, cabia o
papel de cuidar da casa, da criança e do marido. Na família moderna 2, a que de um lado tem as
demandas individuais e de outro a necessidade de convivência com os outros. A família moderna 1
se transformou na moderna 2 a partir de um maior grau de individuação, ou seja, o foco da família
passou a ser o indivíduo e a família tornou-se o local que se trabalha em prol desse indivíduo.
Duarte (1995:34) afirma que há uma classificação dos modelos de famílias pertencentes às:
elites, camadas médias e classes populares. O primeiro modelo se assemelha ao das camadas médias
no âmbito externo, porém centra-se na formação dos indivíduos e na permanência do grupo
familiar. Quanto ao segundo modelo, é hegemônico por se constituir o modelo de família nuclear e
por ser o precursor da individualização, ocultando assim os demais modelos de família
41
contemponea, os quais são mais percebidos em pesquisas de cater sociológico. Por último, a
classe popular, que é bastante distinta dos modelos anteriores, pois tem as seguintes
características: cultura individualista pouco presente, uma visão hierárquica e relacional do
mundo e uma alta valoração de seu modelo de família, onde essa família engloba a
individualidade e se torna um valor. A família da classe popular une a importância do
parentesco com a funcionalidade da família em busca de sua reprodução e, por isso, se
aproxima ao modelo da família camponesa.
Sarti (1995) trata a família como expressão dos marcos elementares da vida tais como
nascer, casar e morrer. Essa definição se aproxima do parentesco, mas diferencia-se deste, pois o
parentesco engloba a consangüinidade entre irmãos, a descendência entre pais e filhos e a afinidade
por meio do casamento, sendo que a família é o local privilegiado onde se dá a vivência de tais
relações.
Nesse mundo contemporâneo, as transformações da família ocorrem na forma de perda da
tradição referentes à autoridade patriarcal e à divisão de papéis no seio familiar. O conflito familiar
está em manter, ao mesmo tempo, a reciprocidade familiar e a individualidade.
No contexto capitalista, a família passou de unidade de produção para a unidade de
consumo, transformando-se na esfera privada da vida social. Para as classes pobres, a família
é constituída para garantir a sobrevivência de seus membros.
Seus projetos são formulados de acordo com a tradição, caracterizada pela pré-
existência de hábitos e padrões que moldam os comportamentos e, conseqüentemente,
pela procedência do todo sobre as partes. Não têm, portanto, as condições para
participar da possibilidade de emancipação moderna, traduzida no desenvolvimento da
dimensão individual (Sarti, 1995:47).
O sistema cultural dos pobres não fornece os recursos simbólicos para a composição
da individualidade, o qual necessitaria de novas concepções de educação e valores sociais que
não estão presentes em seu universo cultural.
42
Esta pesquisa tem como tema central a relação entre família, pobreza e velhice. Seu
objetivo é analisar as mudanças no cotidiano dos idosos e suas famílias beneficiárias em
comparação com os idosos e suas famílias não beneficiárias, no que diz respeito ao impacto
da renda sobre a modificação ou não do papel desempenhado pelo idoso no grupo familiar.
Em minha pesquisa de campo, tive como estratégia acessar os idosos beneficiários do
BPC, em sua maioria, no momento da revisão de seu benefício, tendo como mediadora do
contato a assistente social responsável por essa revisão. Quanto aos idosos não beneficiários,
foram acessados nos grupos de convivência dos CEMASIs (Centro Municipal de Assistência
Social Integrada), sendo a assistente social responsável pelo grupo a mediadora do contato.
Uma peculiaridade desse grupo de não beneficiários é que esse se compõe exclusivamente por
mulheres. Por isso, daqui por diante vou me referir a esse grupo utilizando o feminino, as
idosas não beneficiárias.
A pesquisa realizada com os idosos é de ordem qualitativa, sendo que as entrevistas
foram feitas nas instituições ou na casa dos idosos a partir de um roteiro de entrevista
previamente elaborado (ver em Apêndice B). As mesmas foram gravadas e posteriormente
transcritas. São ao todo nove beneficiários e nove não beneficiárias.
Quadro 1
Local de Residência dos idosos beneficiários
Local de residência Homens Mulheres
Copacabana 0 4
Vidigal 1 1
Ilha do Governador 0 2
Laranjeiras 0 1
Total 1 8
Em relação à localidade de residência dos idosos beneficiários, observa-se que quatro
entrevistados são moradores de Copacabana (zona sul), dois são do Vidigal (comunidade da
zona sul), dois são da Ilha do Governador (zona norte) e um de Laranjeiras (zona sul). Entre
os idosos beneficiários, duas idosas entrevistadas na Ilha do Governador são, respectivamente,
43
pensionista e aposentada, recebendo 1 salário mínimo mensal, uma renda equivalente ao idoso
beneficiário do BPC. Essas duas entrevistas foram as primeiras a serem realizadas e se
tornaram importantes para testar o roteiro de entrevista e melhor situar a pesquisadora no
trabalho de campo. Os demais entrevistados são todos beneficiários do BPC.
Cabe lembrar que a idosa residente em Laranjeiras juntamente com as idosas
moradoras da Ilha do Governador freqüentam os grupos de convivência do CRAS
(Coordenadoria Regional de Assistência Social) Maria Lina Castro Lima e do CEMASI Prof.
Darcy Ribeiro, respectivamente. Os demais idosos foram acessados no momento da revisão
do BPC, por intermédio da assistente social responsável pela revisão desse benefício,
conforme relatado anteriormente.
Quadro 2
Local de Residência das idosas não beneficiárias
Local de residência Mulheres
Catete 3
Rocinha 3
Ilha do Governador 2
Morro dos Cabritos 1
Total 9
As idosas não beneficiárias residem no bairro do Catete (zona sul) (3), Rocinha
(comunidade da zona sul) (3), Ilha do Governador (zona norte) (2) e Morro dos Cabritos
(comunidade de Copacabana situada na zona sul) (1). Essas idosas freqüentam os grupos de
convivência dos CEMASIs Dr. Luiz Lima, Centro de Cidadania Rinaldo de Lamare, Prof.
Darcy Ribeiro, e Maria Vitória, respectivamente.
Os idosos beneficiários possuem pouca participação nos grupos de convivência
enquanto que as idosas não beneficiárias participam desses grupos promovidos pelos
CEMASIs. O que observei em minha pesquisa e que será descrito com mais detalhes no
capítulo 3 é que os idosos beneficiários possuem poucos espaços públicos de socialização.
44
Sant’Anna (1997) realizou a caracterização do perfil dos usuários da Universidade
Aberta da Terceira Idade (UnATI) da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e
constatou que mais de 80% dos seus usuários são mulheres, notando que há uma maior
participação das idosas em programas e projetos destinados à população idosa. Essa situação é
explicada por Sant’Anna como resultante do maior entusiasmo das mulheres na realização
desse tipo de atividade, ao contrário dos homens que apresentam uma postura mais reservada
e indiferente. As mulheres, por terem um tempo livre maior, dada a sua condição muitas vezes
de donas de casa, aposentadas ou pensionistas, e também pelo fato de se ter um número
considerável de idosas residindo sozinhas, aumentam a possibilidade de pertencerem a esses
programas e projetos. Por sua vez, os homens aposentam-se tardiamente e se tem um número
menor de homens residindo sozinhos. Apesar dessa explicação, Sant’Anna (1997:81) tem a
seguinte hipótese: “as mulheres vivenciam intensamente a terceira idade como uma nova
etapa da vida, o que não ocorreria com os homens”. Na observação participante feita nos
CEMASIs era muito expressiva a presença de mulheres nos grupos.
Quadro 3
Idade dos idosos beneficiários
Idade Homens Mulheres
60 a 64 anos 0 0
65 a 69 anos 0 1
70 a 74 anos 1 1
Acima de 75 anos 0 6
Total 1 8
No que diz respeito à idade dos idosos beneficiários, nota-se que a maioria (6) está na
faixa etária acima de 75 anos. Esse dado corrobora com a pesquisa do IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística) de 2000. No intervalo entre 1991 e 2000, os idosos
acima de 75 anos foram os que mais cresceram relativamente (49,3%), modificando assim a
composição interna da população idosa. Em seguida, têm-se 35,6% de crescimento relativo na
45
faixa etária de 60 a 64 anos, 26,5% entre 65 a 69 anos, e 45,1% na faixa etária de 70 a 74
anos. A esperança de vida, em 2003, foi estimada em 71,3 anos e a quantidade de mulheres
idosas aumenta em relação aos homens idosos na medida em que se avança nos grupos etários
da população idosa.
Quadro 4
Idade das idosas não beneficiárias
Idade Mulheres
60 a 64 anos 4
65 a 69 anos 5
70 a 74 anos 0
Acima de 75 anos 0
Total 9
As idosas não beneficiárias estão na faixa etária abaixo de 70 anos. Cabe lembrar que
na elaboração do perfil dos idosos a serem entrevistados, a pretensão inicial era de que os não
beneficiários tivessem idade acima de 65 anos, assim como os beneficiários. Contudo, a partir
da observação feita nos grupos de convivência dos CEMASIs, verificou-se que a faixa etária
dos idosos participantes desses grupos variava entre 60 e 65 anos. Apesar dessa diferença na
idade, os idosos não beneficiários, por possuírem perfil social, econômico e familiar
semelhantes aos beneficiários, foram selecionados para essa pesquisa.
No que se refere ao sexo dos idosos beneficiários e não beneficiários, observa-se que a
maioria é do sexo feminino, tendo apenas um idoso beneficiário do BPC do sexo masculino.
Conforme dados do IBGE (2000), em 1991, as mulheres representavam 54% da população de
idosos e, em 2000, passaram para 55,1%. Isto é, em 1991, em cada grupo de 100 mulheres
idosas, existiam 85,2 homens idosos e, em 2000, tinha-se 81,6 de idosos para 100 idosas,
sendo que as mulheres vivem em média 8 anos a mais que os homens.
46
Quadro 5
Naturalidade dos idosos beneficiários
Naturalidade Homens Mulheres
Região Sudeste 1 5
Região Nordeste 0 3
Total 1 8
No que tange à naturalidade dos idosos beneficiários, quatro são provenientes do
Estado do Rio de Janeiro, dois idosos são de Minas Gerais, em seguida, tem-se um de
Pernambuco, um de Sergipe e um do Rio Grande do Norte.
Quadro 6
Naturalidade das idosas não beneficiárias
Naturalidade Mulheres
Região Sudeste 4
Região Nordeste 4
Região Norte 1
Total 9
Por outro lado, as idosas não beneficiárias têm como Estado de origem: Rio de
Janeiro (2), Minas Gerais (2), Paraíba (2), Manaus (1), Ceará (1), e Bahia (1). Nota-se que o
perfil das idosas não beneficiárias do BPC se caracteriza por ter uma quantidade elevada de
idosas migrantes (7) em relação aos idosos beneficiários.
Quadro 7
Religião dos idosos beneficiários
Religião Homens Mulheres
Católicos 1 6
Espírita 0 1
Pentecostais 0 1
Total 1 8
Em relação à religião, pode-se dividir os idosos em dois grupos, os católicos e os
pentecostais. Os idosos beneficiários se definem, em sua maioria (7) como católico, tendo
apenas um evangélico (pentecostal) e um kardecista (espírita).
47
Quadro 8
Religião das idosas não beneficiárias
Religião Mulheres
Católicos 5
Pentecostais 4
Total 9
Em relação às idosas não beneficiárias, cinco delas se declaram católicas e quatro são
pentecostais, que se definiram como evangélica (2), crente (1) e Assembléia de Deus (1).
Quadro 9
Cor/raça dos idosos beneficiários
Cor Homens Mulheres
Brancos 1 4
Não Brancos 0 4
Total 1 8
No que diz respeito à cor/raça, pode-se classificar os idosos em brancos e não brancos.
Cinco idosos beneficiários se definem como brancos enquanto quatro como não brancos se
declaram morenos. Dois idosos demonstraram dificuldades em definir sua cor.
A Sra. Elsa, ao responder como definiria sua cor, disse: “na minha carteira de
identidade é branca, mas eu sou mestiça né? Agora, não sei se mestiça é cor? É considerado
cor? Sou parda, não sou branca”.
Quadro 10
Cor/raça das idosas não beneficiárias
Cor Mulheres
Brancos 3
Não Brancos 6
Total 9
Três idosas não beneficiárias definem sua cor como branca, sendo que uma delas se
declara clara e as seis idosas não brancas se definem como negra (3) ou morena (3). As Sra.
Jurema e Sra. Silvia também demonstraram dificuldade em definir sua cor. A Sra. Jurema, ao
48
dar sua resposta, perguntou: “eu não sei, o que você acha?” e a Sra. Silvia disse: “não sei, não.
Eles botam branco, né?”.
Quadro 11
Estado civil dos idosos beneficiários
Estado civil Homens Mulheres
Solteiro 0 2
Casado 0 1
Divorciado/Separado 0 2
Viúvo 1 3
Total 0 8
No que diz respeito ao estado civil, têm-se que quatro idosos beneficiários são viúvos,
dois são divorciados, dois são solteiros e um é casado. A Sra. Berenice considera seu estado
civil casada, mas não reside com o marido há mais de 20 anos. A viuvez pode ser explicada
pela diferença de idade entre esses dois grupos pesquisados (os beneficiários são mais velhos
que os não beneficiários), pois quanto mais velha a idosa, mais aumenta a probabilidade dela
se tornar viúva. Presume-se que devido a maior longevidade das idosas e a ocorrência de
casamento dos idosos com mulheres mais novas, a idosa, em geral, encontra dificuldades em
encontrar um novo parceiro.
Quadro 12
Estado civil das idosas não beneficiárias
Estado civil Mulheres
Solteiro 3
Casado 4
Divorciado/Separado 2
Viúvo 0
Total 9
As idosas não beneficiárias são casadas (4), solteiras (3) e separadas (2). Entre elas,
uma está separada do marido há 16 anos, mas se declara casada. Duas idosas que se
consideram solteiras, embora morem com seus companheiros e possuam uma relação estável
com os mesmos, não havendo apenas uma formalização legal de sua união, relatam assim a
49
Sra. Jurema disse que: “moro há 27 anos com companheiro” e a Sra. Silvia disse que: “moro
com um senhor, meu companheiro, mas não somos casados, não”.
Quadro 13
Filhos e netos dos idosos beneficiários
Filhos e netos Homens Mulheres
Sim 1 3
Não 0 5
Total 1 8
No que tange ao número de filhos, há cinco idosos beneficiários que não têm filhos e
os quatro idosos restantes possuem entre 1 e 4 filhos. Essa caracterização se repete em relação
ao número de netos, em que somente três idosos beneficiários possuem netos. A quantidade
de netos varia entre 6 e 38, a Sra. Arminda acha que tem 38, pois como explica: “eu não conto
não, minha filha, eu faço as contas, erro, vai falando, que eu vou contando, parece que foi
38”. A Sra. Célia se queixa de ainda não ter tido um neto, dizendo que: “ doida para ter
neto. Eu faço tricô, faço trabalhos com a comunidade, faço sapatinho, touca. Preciso fazer pro
meu netinho, mas desse mato não sai coelho. com 69 anos, não vou ter o prazer de segurar
um neto, porque nem namorado não tem”.
Quadro 14
Filhos e Netos das idosas não beneficiárias
Filhos e netos Mulheres
Sim 9
Não 0
Total 9
Em contraste, todas as idosas não beneficiárias têm filhos e sua quantidade varia entre
1 e 10 filhos, bem como todas as idosas não beneficiárias possuem netos também e cuja
quantidade varia entre 1 e 16.
50
Quadro 15
Escolaridade dos idosos beneficiários
Escolaridade Homens Mulheres
Não alfabetizado 0 1
Alfabetizado 0 2
1° grau incompleto 1 4
1° grau completo 0 1
Total 1 8
Em relação ao grau de escolaridade, a maioria dos idosos beneficiários tem 1° grau
incompleto (5) e os demais declararam: 1° grau completo (1), alfabetizado (2), e não
alfabetizado (1). A Sra. Arminda alega não ter estudado porque: “meu pai não deixava a gente
estudar para não ficar muito na rua, namorando. Aquela bobeira, aquela coisa”. Já a Sra.
Berenice diz que em sua cidade não tinha escola e por isso só aprendeu a ler e escrever.
Quadro 16
Escolaridade das idosas não beneficiárias
Escolaridade Mulheres
Alfabetizado 1
1° grau incompleto 7
2° grau incompleto 1
Total 9
As idosas não beneficiárias têm, em sua maioria, o 1° grau incompleto (7), os demais
têm o 2° grau incompleto (1) e uma é alfabetizada. A Sra. Regina relata que: “ah, bem dizer,
eu não estudei, não tive mais possibilidade de estudar, tive que trabalhar. Sou alfabetizada”.
Conforme dados do IBGE (2000), o número de idosos alfabetizados passou de 55,8%
em 1991 para 64,8% em 2000, significando o crescimento de 16,1% no período. Mesmo com
esse crescimento, a quantidade de idosos analfabetos é de aproximadamente 5,1 milhões de
pessoas. Observa-se que o grau de alfabetização é diferente entre idosos e idosas, pois os
homens apresentam uma alfabetização maior (67,7%) do que as mulheres (62,6%). Tal
situação pode ser entendida a partir do fato de que até a década de 60, os homens possuíam
um melhor acesso à escola do que as mulheres e essas, por sua vez, tinham como função
51
serem mães e donas de casa. Essa função foi criada pelos papéis sociais construídos e
atribuídos para o que competia à mulher em nossa sociedade.
Quadro 17
Composição Domiciliar dos idosos beneficiários
Composição domiciliar Homens Mulheres
Morava sozinho 1 2
Cônjuge, filhos e/ ou netos 0 0
Filhos e/ou netos 0 2
Filhos, genro (nora) e/ou netos 0 1
Outros Parentes 0 3
Total 1 8
No que diz respeito aos membros da família que residem com o idoso beneficiário,
nota-se que esses idosos moram sozinhos (3), com a irmã (3), com filhos (2), com filha, genro
e netos (1), sendo que a Sra. Berenice cria os netos da filha falecida, relatando: “o pai mora
vizinho da minha casa, mas eles não ficaram com o pai não, ficaram comigo”. E a Sra.
Arminda disse que: “eu mesma criei até um neto, ela (a filha) veio para aqui, deixo comigo
por um mês, quando tava com 11 anos e ela mandou buscar, eu mandei, já com parece 20
anos, criei desde moleque”.
Quadro 18
Composição domiciliar das idosas não beneficiárias
Composição domiciliar Mulheres
Morava sozinho 1
Cônjuge, filhos e/ ou netos 4
Filhos e/ou netos 4
Filhos, genro (nora) e/ou netos 0
Outros Parentes 0
Total 9
As idosas não beneficiárias vivem em companhia de companheiro ou marido, filhos e
netos (4), filhos e netos (3), netos e bisnetos (1) e uma idosa reside sozinha. Observou-se
como se dá a relação das idosas com seus netos, a qual está descrita a seguir. A Sra. Jurema
cria a neta alegando que a filha a deixou e nunca foi buscar, pois como relata: “a A., sou mãe
52
mesma e avó, sou mãe e avó, por causa da mãe, porque eu fiquei com pena que ela era
pequena e não cabia na casinha dela, era muito pequena mesmo, ela mora num lugar horrível,
onde ela mora. Aí, ela fica lá em casa, porque é muito pequena a casa dela, fica escorando
todo o dia, com medo de desabar lá. Se você vê o barraquinho dela, ora por Deus ajudar”.
A Sra. Luzia relatou: “ela (a neta) já com 13 anos, eu criei ela desde pequininha, só
que teve um tempo que ela foi morar com a mãe dela, mas o padrasto dela não se dá com ela
(...) Aí, ela foi lá para casa e eu não deixei mais ela voltar, eu fiquei com ela em casa porque
eu não ia deixar”.
A Sra. Magali considera que os netos praticamente moram em sua casa, pois: “olha,
para falar a verdade, pode dizer que mora, que toma até café da manhã, tem dia que é tudo na
minha casa”, pois os pais estão desempregados.
A Sra. Ondina esclareceu que: “minha neta fica comigo desde novinha, quando ela (a
filha) trabalhava e ia embora, a menina ficava comigo. A menina se acostumou a ficar
comigo”.
A Sra. Tânia disse que: “meu outro neto que vive lá em casa, ele tem a casa da mãe
dele, mas só vive lá, e o outro neto que também mora comigo, ele não sai de lá, a mãe vem,
mas ele não volta”.
A respeito dessa temática, Fonseca (2006) trata sobre o conceito de circulação de
crianças, entendido como as crianças que permanecem um tempo de suas vidas em lares que
não são os de seus pais biológicos. Nesse sentido, a responsabilidade materna é a de assegurar
que a criança tenha bons cuidados, mesmo que esses sejam oferecidos por pessoas que não
sejam seus pais biológicos. Ou seja, ter a mãe biológica ausente ou presente pouco interfere
no bem estar e no futuro dessa criança, sendo a lealdade filial mantida, porque os laços de
sangue são priorizados.
53
Notei também a presença dos puxadinhos nos terrenos das idosas. A Sra. Pilar relata
que o ex-marido mora no mesmo terreno, só que a entrada é separada. A Sra. Regina que
reside sozinha afirma que: “moro, bem dizer na minha casa sozinha, minha filha mora no
quintal, na casa dela”.
O Censo do IBGE (2000) aponta para um aumento dos domicílios unipessoais por
mulheres idosas, sendo 67% em 2000. Só que isso não quer dizer que as mesmas encontram-
se necessariamente abandonadas, mas que a saída dos filhos de casa e a morte do marido
podem ser consideradas como um tipo de liberdade dos afazeres domésticos, dispondo assim
de maior tempo para outras atividades. Esse, entretanto, não parece ser o caso dos
entrevistados (beneficiários ou não). Dos dezoito entrevistados somente quatro moram
sozinhos.
Quadro 19
Responsável pelo domicílio dos idosos beneficiários
Responsável pelo domicílio Homens Mulheres
O próprio idoso 1 3
Cônjuge 0 1
Filhos e/ou netos 0 1
Irmã e/ou amigos 0 3
Total 1 8
Quanto à pessoa responsável pelo domicílio, entre os idosos beneficiários, têm-se
quatro idosos que são eles próprios os responsáveis pelo domicílio, em seguida, há filha (1),
amigo (2), irmã (1) e marido (1).
Notei que mesmo sendo beneficiários e tendo uma renda individual, cinco idosos
apontaram outras pessoas como responsáveis pelo domicílio, como se seguem os exemplos
abaixo. A Sra. Berenice aponta o marido como responsável, pois: “ele que me dá as compras,
a comida, todo mês traz compras... embora estejamos separados”. A Sra. Célia aponta que a
filha é a responsável pelo domicílio, porque: “o apartamento passei para o nome dela, tudo é
ela, entendeu?”. A Sra. Elsa aponta o amigo como responsável pelo domicílio, argumentando
54
que: “é um amigo nosso que paga o aluguel. Eu tenho uma declaração dele, não tem nada,
nada. Não é o imóvel dele, ele paga nosso aluguel. Nós passamos por uma situação horrível e
ele foi nosso socorro, graças a Deus”.
Quadro 20
Responsável pelo domicílio das idosas não beneficiárias
Responsável pelo domicílio Mulheres
O próprio idoso 4
Cônjuge 4
Filhos e/ou netos 1
Irmã e/ou amigos 0
Total 9
Entre as idosas não beneficiárias, quatro delas são as próprias responsáveis, quatro são
maridos ou companheiros e um é o filho. Duas idosas apontam o marido como responsável,
pois o local em que moram encontra-se no nome do mesmo. A Sra. Jurema aponta o
companheiro como responsável pelo domicílio, afirmando que: “é ele o responsável pela casa,
a gente mora junto, eu e ele, a casa é minha e dele”. A Sra. Ondina afirma que o responsável
pelo domicílio é o marido, pois a casa está no nome dele.
A Sra. Pilar afirma que: “a casa aqui é própria, moça, a gente não paga aluguel, eu não
pago mesmo”. A Sra. Nair diz que seu marido é o responsável pelo domicílio, relatando que:
“só mesmo meu marido, só. Ele tira 2 salários mínimos, mas são treze pessoas, é muita gente,
já penso, todo dia comida, almoço, janta, lá em casa é um quilo de feijão por dia (frisa), gás é
vinte dias, é muita coisa, né?”.
O Censo 2000 mostrou que 62,4% dos idosos são responsáveis pelos domicílios
brasileiros, apresentando um crescimento em relação a 1991, em que os idosos responsáveis
eram 60,4%. Os cônjuges correspondiam a 22% dos responsáveis pelo domicílio, sendo que
os idosos, tanto os responsáveis como os cônjuges, representam 84,4% dos responsáveis pelo
domicílio que se encontram em uma função de destaque na família.
55
Quadro 21
Recebimento de outro benefício público dos idosos beneficiários
Recebimento de outro benefício público Homens Mulheres
Sim 0 3
Não 1 5
Total 1 8
No que se refere ao recebimento de outro benefício público, a família de três dos
idosos beneficiários recebem. A Sra. Berenice relata que: “a minha filha recebe o bolsa
família, por causa da escola, pelas crianças, só”. As Sra. Elsa e Sra. Fátima moram na mesma
residência e recebem ambas o BPC. A Sra. Glória mora na residência da irmã que é
pensionista.
Segundo a estatística das informações sociais complementares contidas na 5ª etapa da
revisão do BPC realizada no município do Rio de Janeiro em 2006, percebeu-se que poucos
idosos beneficiários recebem outro benefício público ou estão inseridos em algum programa
social, tais como cesta básica, programa do leite ou similar ou programas para crianças,
jovens ou famílias carentes
13
.
Quadro 22
Recebimento de outro benefício público das idosas não beneficiárias
Recebimento de outro benefício público Mulheres
Sim 4
Não 5
Total 9
As famílias de quatro idosas não beneficiárias recebem outro benefício público,
estando entre eles a aposentadoria do marido ou companheiro (3), como é o caso das Sra.
Jurema, Sra. Magali e Sra. Nair e a filha da Sra. Pilar que recebe a bolsa família (1).
13
Dados provenientes da SETI (Secretária Especial da Terceira Idade) de 2006.
56
Quadro 23
Profissão dos idosos beneficiários
Profissão Homens Mulheres
Do lar/dona de casa 0 4
Doméstica 0 1
Corretora 0 1
Secretária 0 2
Vendedor ambulante 1 0
Total 1 8
Em relação à profissão dos idosos beneficiários, quatro são donas de casa ou do lar,
duas secretárias, uma corretora, uma doméstica e um vendedor ambulante. Percebe-se assim
que, em sua maioria, são profissões de caráter autônomo e com pouca inserção no mercado
formal de trabalho.
Quadro 24
Ocupação atual dos idosos beneficiários
Ocupação atual Homens Mulheres
Não trabalha fora 0 7
Trabalha fora 1 1
Total 1 8
Já quanto à ocupação atual,
há cinco donas de casa ou do lar, uma corretora e um
vendedor ambulante. A Sra. Elsa, quando perguntada da ocupação atual, responde: “não tem
nenhuma, minha ocupação é ler, ir ao cinema” e a Sra. Fátima, primeiramente assobiou e fez
o gesto de pernas para o ar, em seguida relatou que: “eu faço um trabalho voluntário, hein?...
Ajudo ela (a amiga) em casa com o trabalho doméstico”.
57
Quadro 25
Profissão das idosas não beneficiárias
Profissão Mulheres
Do lar/dona de casa 2
Doméstica 2
Acompanhante 1
Lavadeira/passadeira 3
Costureira 1
Total 9
As idosas não beneficiárias definem sua profissão por lavadeira e passadeira (3), dona de
casa ou do lar (3), doméstica (2), acompanhante (1) e costureira (1). Nota-se também aqui a pouca
inserção no mercado de trabalho formal e a presença de profissões tipicamente femininas.
Quadro 26
Ocupação atual das idosas não beneficiárias
Ocupação atual Mulheres
Não trabalha fora 5
Trabalha fora 4
Total 9
A ocupação atual das idosas não beneficiárias é assim declarada: do lar ou dona de
casa (4), não trabalha por não encontrar serviço (1), acompanhante (1), costureira e vendedora
de Avon e de Millus (1), e passadeira (2).
A Sra. Nair que trabalhou na roça desde criança, só considera como profissão ter sido
do lar, “trabalhei na roça mais do que burro (risos), sou do interior, trabalhei desde a idade de
7 anos, sempre trabalhei, trabalhei mais de 40 anos na roça”. A Sra. Ondina afirmou que:
“desde o ano passado para cá, é que eu peguei um casal idoso em Santa Teresa para tomar
conta, pelo menos eu ganho um pouco. Agora fiquei um pouco doente, me afastei um pouco,
né? Para não ficar sem ganhar nada, mas fiquei em casa fazendo bijuteria, fazendo costura,
58
fazendo bordado, tudo isso para, ganhando alguma coisa, né?”. A Sra. Silvia diz que: “passo
só uma roupinha em uma casa aí, mas só para ganhar um trocado, para comprar os remédios”.
Quadro 27
Renda individual dos idosos beneficiários
Renda Individual Homens Mulheres
Até 1 Salário Mínimo 0 0
1 Salário Mínimo 1 8
Total 1 8
No que tange à renda individual, todos os idosos beneficiários recebem 1 salário
mínimo. A Sra. Arminda, ao relatar que sua renda individual é de 1 salário mínimo,
complementou com o seguinte ditado popular: “Pouco com Deus é muito e muito com Deus é
nada. A gente não pode receber muito, não tem essa coisa não”.
Quadro 28
Renda familiar dos idosos beneficiários
Renda Familiar Homens Mulheres
Igual a individual 0 2
Superior a individual 1 6
Total 1 8
Quanto à renda familiar, dois idosos têm o mesmo valor da renda individual, três
beneficiárias complementam essa renda, como por exemplo, a Sra. Berenice que tem a filha
beneficiária da bolsa família, as Sra. Elsa e a Sra. Fátima moram juntas e ambas recebem
BPC, a Sra. Glória tem a irmã que é pensionista.
Os demais têm como complemento as seguintes fontes de renda: a Sra. Dora ganha
com a comissão de vendas de imóveis; a Sra. Célia recebe encomendas de doces e salgados
feitos pela mesma e sua filha; e o Sr. Hélio relata que: “às vezes faço um biscatizinho, mas
muito pouco”.
59
Quadro 29
Renda individual das idosas não beneficiárias
Renda Individual Mulheres
Sem renda 5
Até 1 Salário Mínimo 3
1 Salário Mínimo 1
Total 9
Entre as idosas não beneficiárias, quatro delas não possuem renda individual. A Sra.
Ondina recebe R$ 150, 00, passagens e compras com seu trabalho de acompanhante, a Sra.
Pilar ganha aproximadamente 1 salário mínimo com suas costuras e venda de cosméticos, a
Sra. Regina recebe R$ 40,00 por dia como passadeira, a Sra. Silvia ganha R$ 70,00 por
semana, também exercendo a função de passadeira.
A Sra. Jurema informou que quando a aposentadoria do companheiro falta, a mesma
recebe cesta básica na igreja “quando as coisas piorando, não dá, eu vou para as igrejas,
elas me ajudam, para me dar uma bolsa, é assim, né?”. Assim como a Sra. Pilar, que também
recebe cesta básica, relata: “a Igreja Batista dá para mim uma cesta básica por mês. Arroz,
feijão, essas coisas compro não, só compro mesmo uma carne, frango. A cesta é boa até
sobra”. A Sra. Regina disse que às vezes ajuda as filhas, afirmando que: “às vezes sobra até
do meu um pouquinho para elas”.
Duas idosas informaram que a renda recebida é responsável pela sua sobrevivência e
de sua família. A Sra. Magali falou que: “ele (o marido) é aposentado, ganha um salário, a
aposentadoria dele é pouca, muito pouca. Mas, o pouco com Deus é muito, é um salário só.
Graças a Deus, dá para comer”. A Sra. Nair também disse: “o dinheiro tudo é só para comprar
comida, não dá não. Graças a Deus, tem esse pouco para não passar fome, só tem essa renda”.
Conforme os dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) de 2004, nas
famílias de idosos (quando o idoso é chefe ou cônjuge) os idosos sem renda são, sobretudo, os
60
cônjuges. As mulheres são 84,2% das idosas sem renda, podendo-se inferir daí que são
custeadas por seus maridos, como é o caso de parte das idosas não beneficiárias entrevistadas.
Quadro 30
Renda familiar das idosas não beneficiárias
Renda Familiar Mulheres
Igual a individual 2
Superior a individual 6
Total 8
A renda familiar para duas idosas equivale à renda individual, o restante varia entre 1 e
2 salários mínimos, tendo apenas a Sra. Silvia que não soube informar sua renda familiar. A
Sra. Pilar que é separada oficialmente informou que o ex-marido não lhe paga pensão, apesar
de sua advogada a orientar a pedir-lhe uma pensão, mas o mesmo ajuda a comprar o gás
quando ela precisa.
Conforme os dados da Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílio (PNAD) de
2002, a população brasileira com idade acima de 60 anos apresenta diferenciação entre os
sexos, com maior quantidade de idosos aposentados (77,7%) em relação às idosas (45,9%),
pois, as mulheres tiveram menor inserção no mercado de trabalho em relação aos homens,
comprometendo seu direito à aposentadoria na velhice. Por sua vez, a quantidade de idosas
pensionistas é de 20,7%, indicando a maior ocorrência de viuvez às mulheres, ou ainda,
confirmando sua longevidade em relação aos homens.
Outro aspecto importante, ainda de acordo coma PNAD (2002), refere-se ao número
de idosos que não recebem aposentadoria ou pensão, entre esses, 20,4% são homens e 24,6%
são mulheres. Uma parcela dessa população continua no mercado de trabalho, ou possui
algum outro rendimento, ou vive na total dependência de outras pessoas.
61
Quadro 31
Composição domiciliar antes do recebimento do benefício
Com quem morava antes de receber o benefício Homens Mulheres
Morava sozinha 0 1
Filhos 1 3
Irmã 0 1
Amiga 0 3
Total 1 8
Em relação aos idosos beneficiários, esses moravam com filhos (4), amiga (3), irmã
(1) e sozinha (1) antes de passarem a receber o benefício.
Os idosos que moram ou moravam com seus filhos relataram:
“Era o mais novo, o filho caçula. Agora, arrumou uma mulher, têm dois filhos já”
(Sra. Arminda);
“Morava com ela mesma, com minha filha mesmo” (Sra. Berenice);
“A K. sempre morou comigo” (Sra. Célia);
“Morava com o filho, ele parou de morar comigo, ele casou e foi morar fora. A minha
filha ficou morando perto, mora em cima da casa, é casada e tem um garotinho que vai
inteirar 15 anos e outro vai inteirar 12” (Sr. Hélio);
As idosas que moravam com suas amigas, responderam à pergunta da seguinte forma:
“Nenhum. A única mudança que teve, foi que eu fiquei sozinha, foi a única vantagem
que eu tive, que eu fiquei sozinha, podia até ter continuado com ela (a amiga), ela me dava
uma ajudinha melhor. Mas, depois de velha, a gente ficar dormindo na sala, você tendo
horário de limite, de não poder fala alto, não poder receber visita, não receber visita,
incomoda, às vezes, a pessoa pagando, tem direito. Você se aborrece, fala uma coisa com
você, você se ofende. Às vezes, a pessoa vai na cozinha, a cozinha é desse tamonhozinho, faz
alguma coisa, não posso proibir de fazer alguma coisa, frita um ovo, deixa tudo sujo, tinha
que ir lá limpar, no fim você vira empregada da inquilina. Fiquei bastante tempo, até consegui
o benefício, mesmo depois de receber o benefício, não podia botar ela na rua, né? “Você
62
arranja um lugar para você ficar, porque não dá, agora quero ficar sozinha”. Minha sobrinha
queria dormir, não podia, as duas no sofá, o sofá horroroso, quer dizer aí não dava. Eu, muitas
vezes, boto o travesseiro, vendo TV, durmo no sofá, mas de repente, canso vou para cama, sei
que a cama ali que eu posso dormir” (Sra. Dora);
“Morava com uma amiga nossa, aqui na Sá Ferreira. Eu recorri, telefonei para esse
amigo e a mulher dele, pedi socorro e eles concordaram em ajudar, né? Nós ficamos muito
tempo morando com uma amiga, agora depois de um certo tempo tem que sair, né? Não pode
ficar encostado a uma pessoa assim, infelizmente não tinha nenhum parente essa coisa assim
que pudesse nos ajudar né?” (Sra. Elsa e Sra. Fátima);
A idosa que morava com a irmã deu a seguinte resposta:
“Sempre morei com minha irmã. Toda a vida desde que divorciei. No tempo, não tinha
condição de morar sozinha. Ela também ficou viúva, fiquei morando com ela” (Sra. Glória);
A idosa que morava sozinha disse:
“Morava sozinha, sempre morei sozinha” (Sra. Isaura).
Percebe-se que a mudança na composição do domicílio se deu efetivamente no caso
de três idosas residentes em Copacabana, pois a Sra. Dora alugava um quarto em seu
apartamento para uma amiga, depois que passou a receber o benefício a mesma se mudou. E
as Sra. Elsa e Sra. Fátima que residiam na casa de uma amiga, saíram da casa dela e passaram
a residir apenas as duas. Portanto, existem dois casos em que o BPC influenciou na mudança
da composição domiciliar. No caso das idosas beneficiárias, as mesmas moravam com amigas
e passaram a morar sozinhas. Entre as idosas não beneficiarias foi encontrado apenas um caso
de mudança na composição domiciliar, em que a filha e os três netos passaram a morar na
residência da idosa, após a separação conjugal da mesma e atualmente a filha encontra-se
desempregada e sem receber pensão alimentícia, não tendo assim condições financeiras de
residir sozinha com seus filhos.
63
Conforme o perfil dos responsáveis pelo domicílio do IBGE (2000), o arranjo familiar
mais freqüente é o caracterizado por casal com filhos e/ ou outros parentes (36%). Os
domicílios em que residem casais com ou sem filhos e/ ou outros parentes representam a
metade dos domicílios sob a responsabilidade dos idosos, 81,4% quando o idoso é do sexo
masculino. Por outro lado, nos domicílios onde a idosa é a responsável, é habitual o arranjo
familiar sem cônjuge (93,3%), o que pode se supor que residam idosas viúvas.
Quadro 32
Tempo de recebimento do benefício
Tempo de recebimento do benefício Homens Mulheres
1 ano 0 1
2 a 3 anos 0 5
4 anos 1 1
Acima de 4 anos 0 1
Total 1 8
Em relação ao tempo de recebimento do benefício, têm-se um ano (1), 2 a 3 anos (5), 4
anos (2) e 23 anos (1), esse último se refere à Sra. Arminda que é pensionista.
Dentre esses dados, observa-se que:
os idosos beneficiários possuem uma freqüência baixa nos grupos de convivência
oferecidos pelos CEMASIs, tendo uma idosa participante e duas que já participaram e os
demais beneficiários nunca participaram enquanto que todas as idosas não beneficiárias o
fazem;
os idosos beneficiários são mais velhos que as idosas não beneficiárias, visto que um dos
critérios de elegibilidade para a concessão do BPC é a idade mínima de 65 anos;
os idosos beneficiários apresentam um número considerável de viúvos enquanto que as
idosas não beneficiárias têm um percentual representativo de casadas;
os idosos beneficiários residem sozinhos, com irmãs, ou com filhos enquanto que as
idosas não beneficiárias moram, em sua maioria, com companheiros ou maridos, filhos e
64
netos. De acordo com a SETI
14
, os idosos beneficiários do BPC convivem com o grupo
familiar (aproximadamente 60%); vivem sozinhos ou com pessoas que não fazem parte do
grupo familiar (cerca de 40%); e menos de 1% vive internado em instituições, abrigos,
asilos ou sob responsabilidade de terceiros;
os idosos beneficiários, assim como as idosas não beneficiárias, possuem um baixo grau
de escolaridade, sendo que a maioria está entre o 1° grau incompleto e o 1° grau completo,
tendo apenas uma idosa não alfabetizada. Tal situação confirma os dados do IBGE, que
demonstram que o número de idosos alfabetizados aumentou e também das dificuldades
que as mulheres enfrentaram para freqüentar à escola. Conforme a SETI, os idosos
beneficiários do BPC, em sua maioria, são não alfabetizados (aproximadamente 26%) ou
têm o 1° grau incompleto (cerca de 60%);
alguns dos idosos beneficiários tiveram uma mudança na composição domiciliar após o
recebimento do BPC, como é o caso de três idosas moradoras de Copacabana. Duas delas
residiam de favor na casa de uma amiga e passaram a morar sozinhas. Outra idosa que
alugava um quarto em seu apartamento para uma amiga, passou a morar sozinha assim
que sua amiga providenciou outro lugar para morar;
os idosos, em geral, possuem um papel fundamental para o sustento da casa e da família,
mesmo no caso das idosas não beneficiárias que são sustentadas pelos seus maridos,
coadunando com os dados do IBGE, os quais apontam que mais de 80% dos idosos são
responsáveis pelos domicílios brasileiros. Segundo a SETI, os beneficiários do BPC
elencaram como mudanças verificadas após o recebimento do benefício, principalmente, a
contribuição para o sustento da família e a melhoria da qualidade de vida e auto-estima.
14
A SETI formulou uma estatística das informações sociais complementares contidas na 5 ª etapa da revisão do BPC realizada no município
do Rio de Janeiro, sendo dessa etapa da revisão grande parte dos idosos beneficiários entrevistados neste estudo.
65
Portanto, o perfil social e familiar dos idosos beneficiários e das idosas não
beneficiárias entrevistados se aproxima em relação ao local de residência, pois ambos residem
em sua maioria em uma área desvalorizada dos bairros localizados na zona sul do Rio de
Janeiro; no que diz respeito à religião, os idosos, em geral, são católicos, sendo que as idosas
não beneficiárias contam com um número representativo de pentecostais; no que se refere ao
grau de escolaridade, ambos têm uma parcela representativa de idosos com o 1° grau
incompleto; em relação ao responsável pelo domicílio, os idosos, em geral, apontaram outros
membros da família como filho, cônjuge, irmã e amigo, no caso dos idosos beneficiários; e as
idosas não beneficiárias apontaram os cônjuges. No entanto, é a renda desses idosos que
contribui sobremaneira para a manutenção do lar e da família. Os idosos, em geral, recebem
outro benefício previdenciário e bolsa família. E, por último, sobre a profissão e a ocupação,
os idosos, em geral, tiveram profissões pertencentes ao universo feminino como donas de
casa, domésticas, lavadeiras e passadeiras, e, atualmente, apenas parte deles trabalha fora.
O perfil social e familiar entre os idosos beneficiários e as não beneficiárias se
diferencia no que se refere à idade, porque os idosos beneficiários são mais velhos que as
idosas não beneficiárias, o que é explicável pelo corte etário para aquisição dos benefícios
previdenciários, sobretudo do BPC; no tocante à naturalidade dos idosos beneficiários, a
maioria é proveniente da região sudeste e das não beneficiárias, há um número representativo
de idosas provenientes das regiões norte e nordeste; no que diz respeito à raça/cor, os idosos
beneficiários se definem como brancos e as idosas não beneficiárias como não brancas; em
relação ao estado civil, há um número considerável de viúvos nos idosos beneficiários e há
um número significativo de casados nas idosas não beneficiárias; no que tange ao número de
filhos e netos, a maioria dos idosos não beneficiários não os tem, ao contrário das idosas não
beneficiárias em que todas têm filhos e netos; sobre a composição domiciliar, os idosos
beneficiários residem sozinhos ou com irmã e as idosas não beneficiárias residem com
66
maridos ou companheiros, filhos e netos. E, finalmente, os idosos beneficiários têm a renda
individual no valor de um salário mínimo e há um número considerável de idosas não
beneficiárias que não tem renda própria, apesar de ambos possuírem uma renda familiar
superior que a individual.
67
CAPÍTULO 2
PERFIL ECONÔMICO DOS IDOSOS ENTREVISTADOS
Este capítulo busca estabelecer os perfis econômicos dos idosos beneficiários e dos
não beneficiários por meio de uma análise comparativa dos dados coletados nas entrevistas
que tiveram como base as seguintes perguntas:
- Como que o (a) Sr.(a) gasta seu dinheiro?
- O que o (a) Sr.(a) acha dos gastos da sua casa? Se gasta muito? Pouco? Quem gasta
mais? Com o que?
- Com o que o Sr.(a) gostaria de gastar?
- Na sua casa, como são divididas as despesas? O (a) Sr.(a) participa dessa divisão?
Como?
- Na sua opinião, qual foi o investimento mais importante que o (a) Sr. (a) fez com o
dinheiro do benefício?
- O (a) Sr.(a) consegue poupar uma parte do seu dinheiro? O (a) que o Sr.(a) faz com
isso? Como guarda?
Essas perguntas tiveram como objetivo principal caracterizar individualmente a forma
que o idoso gasta o seu dinheiro, a sua importância econômica em relação ao domicílio, além
de reflexões sobre os seus gastos reais, almejados e investimentos realizados.
Neste capítulo, utilizaremos, sobretudo, a bibliografia sobre a família e velhice, que
trata do grau de pobreza entre idosos e não-idosos, o papel da família na relação entre público
e privado, a diferenciação nas transferências de apoio entre os co-residentes e não co-
residentes, e o papel dos benefícios não contributivos na redução da pobreza desenvolvidos
por Barros, Mendonça e Santos (1999), Sabóia (2004), Saad (1999), Camarano, Kanso, Mello
e Pasinato (2004).
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No que diz respeito ao perfil econômico, Barros, Mendonça e Santos (1999) afirmam
que a estrutura da pobreza para idosos e não-idosos é diferenciada, pois os idosos
experimentam menos as conseqüências da pobreza que os não-idosos, sendo que 23% dos
idosos são pobres enquanto 30% dos não-idosos o são.
Se o idoso não tem renda, ele contribui na geração de pobreza para os não-idosos,
elevando o tamanho do grupo familiar e diminuindo a renda per capita. Mas, se o idoso
representa uma renda extra, ele aumenta a renda per capita e, acarreta, na redução da pobreza.
Em termos numéricos, tem-se que 39% dos não-idosos são pobres contando com a presença e
renda dos idosos sendo que, caso essa renda fosse retirada, essa porcentagem subiria para 41%.
Barros, Mendonça e Santos (1999), ao estudarem a trajetória dos rendimentos da
população no decorrer da vida, notaram que a renda domiciliar aumenta proporcionalmente
com a idade até 60 anos e a partir daí passa a declinar lentamente. Ocorre assim uma
modificação na renda domiciliar ocasionada pela idade avançada, quando os idosos contam
com a aposentadoria como fonte principal de sua renda. Essa renda é primordial para os
idosos pobres, sendo aproximadamente 60% de sua renda domiciliar.
Ao diferenciarem os pobres idosos e os não-idosos, têm-se as seguintes
especificidades: as mulheres são a maioria em ambos os casos; os pardos são a maioria em
ambos os casos; se os idosos e os não idosos pobres aumentarem o nível de escolaridade,
reduzem o seu grau de pobreza; os pobres idosos representam 65% dos chefes e os pobres
não-idosos são 48,6%; em ambos os grupos, a pobreza se concentra mais nas áreas rurais do
que urbanas; e os idosos inativos são a maioria dos pobres e os não-idosos estão ocupados.
2.1 GASTO DO DINHEIRO
As respostas dadas em relação à forma como os idosos beneficiários gastam o seu
dinheiro demonstram que grande parte gasta com alimentação e pagamento de contas (luz,
69
telefone, gás e condomínio), gastam também com medicamentos, roupas e entretenimento.
Esses gastos podem ser exemplificados pelos relatos dos idosos
15
a seguir:
-Sra. Arminda: “comida, quando quero compro uma roupa, um chinelo, pouca coisa.
Eu fico com R$100,00 para comprar comida, verdura. Às vezes, quando dá, tiro um
pedacinho, boto no cantinho, porque quando eu preciso... Eu fui para o Norte, com o dinheiro
que eu tinha juntado, mais os netos, os filhos, me deram à passagem de avião... Pago a luz”;
-Sra. Berenice: “gasto com remédio, gasto com o filho que eu tenho FININVEST,
pago coisa para ele, tiro empréstimo, pago coisas para ele...”;
-Sra. Célia: “contas para pagar, luz, telefone, gás, condomínio, imposto, o IPTU
(Imposto Predial e Territorial Urbano) né?... Compras assim, vai nas ofertas porque o resto
não dá... Assim mesmo para pagar as contas fica pendurado”;
-Sra. Dora: “estritamente necessário. Eu pago meu condomínio, pago minha luz, pago
meu telefone. Compro coisas para comer. Eu tenho que comer né? Aliás, eu como muito
pouco. Legumes, uma coisa assim. Faço um dia dá para dois. Só não dispenso meu café. Café
e mate, uma coisa que eu não dispenso (frisa)”;
-Sra. Elsa: “Olha, eu gasto assim, com essas coisas que eu falei para você,
alimentação. Graças a Deus, não dependo assim de remédio, essa coisa, eu, às vezes, compro
um remédio para relaxar, ajuda né? Não tem mais nada. Roupas, minhas amigas me dão.
Cinema que eu adoro e assim vai”;
-Sra. Fátima responde de forma parecida com a sua irmã, a Sra. Elsa: “tudo igual,
alimentação, vou menos ao cinema” e também lembrou que a irmã gasta com livros usados;
-Sra. Glória: “só com remédio, médico. Não dá para muita coisa (risos). Mês que vem
já vou para o médico, R$ 220,00 a consulta. Minha irmã me ajuda, senão não podia. Os
médicos agora estão cobrando um absurdo, né? Eu operei a vista, operei essa, enxerguei bem.
15
Para melhor entendimento e fluência das entrevistas, algumas palavras foram corrigidas ortograficamente, sem gerar modificações no seu
conteúdo.
70
Um mês depois, fiquei ceguinha (frisa), fiquei uns seis meses cega, aí fiz os exames tudo
outra vez. Operei essa vista, consegui só 40% da visão de um olho, enxergo um pouquinho.
Não dá para mim discar o telefone, não dá, não escrevo. Tudo que faço agora, virei analfabeta,
é tudo com o dedo. Ainda com ponto na vista, vou tirar mês que vem. Essa aqui nada
(frisa), daqui para cá eu enxergo, daqui para cá é tudo escuro. Não ando sozinha, não saio. Só
saio assim com minha irmã, com essa moça que fica aqui em casa, que é muito boa. Sozinha
não saio, não enxergo”;
-Sr. Hélio: “gasta comprando alguma coisa, só mesmo para a feira de casa né?
Comida, é roupa, é algum remédio que gasta. Às vezes, tem dia tem que ir no médico, tem
que pegar algum remédio, porque eu sofro de... Então, eu tenho sempre tenho que comprar
algum remédio... Só pago luz, água tem ainda lá de graça, não tão cobrando não, antes eles
cobravam, mas depois parou. O telefone pago é até do meu filho, mas sou eu que pago. O
telefone é pouco, R$50,00 e pouco”;
-Sra. Isaura: “eu gasto com coisa de casa mesmo, né, filhinha? Com mantimento, coisa
para limpeza, compro umas roupas para mim, sapato, é com isso que eu gasto, pagar conta de
luz, eu pago luz, né? Isso aí. Às vezes, pequenas prestações de leve assim na porta mesmo...
Pago o cabo... Pagava água, mas agora me atrasei, tenho até uma continha da água aqui,
atrasada com a água”.
Cabe lembrar que a Sra. Arminda disse gastar basicamente com alimentação, mas
conseguiu com seus parentes angariar fundos para sua viagem ao Norte com o intuito de
visitar sua família, fato esse que pode ser considerado como um grande evento em sua vida,
pois toda a entrevista está permeada por esse acontecimento.
Nota-se que a Sra. Berenice pode contar com as compras que o ex-marido leva todo o
mês, portanto a mesma gasta individualmente com a aquisição de remédios e pagamento de
71
empréstimo, que foi feito no intuito de ajudar seu filho. Nesse caso, pode-se perceber um
fluxo de ajuda financeira de mãe para filho.
Percebe-se que as Sra. Célia e Sra. Dora dão uma importância maior ao pagamento das
contas do que à aquisição de alimentação enquanto que o Sr. Hélio e a Sra. Isaura colocam um
peso maior na aquisição da alimentação do que no pagamento das contas. Isso sugere a
importância que dão, em seus orçamentos domésticos, na relação entre a compra de alimentos
e o pagamento das contas, ou seja, do que consideram como essenciais para a manutenção de
suas vidas.
Observa-se que as Sra. Elsa e Sra. Fátima, residentes em Copacabana, possuem uma
vida cultural mais ativa, dando assim importância ao entretenimento em sua vida cotidiana
tais como: idas ao cinema e compras de livros.
Por último, pode ser percebido que a Sra. Glória tem seu gasto exclusivamente para a
compra de medicamentos e idas ao médico. Notei também que todas as suas respostas estão
relacionadas a acontecimentos ocorridos antes e depois da idosa ter ficado cega. Também está
presente em algumas falas do Sr. Hélio e das Sra. Berenice e Sra. Elsa aquisição de
medicamentos visto como bens essenciais a sua sobrevivência.
Canclini (1996) afirma que ao escolher e adquirir bens, a pessoa mostra de forma
pública o que considera como valioso, bem como a maneira de sua integração ou distinção
dentro da sociedade, de modo geral. Por exemplo, no orçamento das Sra. Elsa e Sra. Fátima
estão presentes o entretenimento. Por sua vez, as Sra. Célia, Sra. Dora, Sra. Isaura e o Sr.
Hélio tem em seu orçamento, sobretudo, a aquisição de alimentos e o pagamento de contas.
As respostas proferidas pelas idosas não beneficiárias no que se refere à maneira como
gastam o dinheiro expressam que a maioria também gasta com a alimentação e o pagamento
de contas, além da compra de medicamentos e aquisição de roupas, conforme relatado pelas
idosas, a seguir:
72
-Sra. Jurema: “quando falta alguma coisa para dentro de casa, arroz, aí eu vou
comprar, às vezes, eu compro café. Às vezes, eu vou no cabeleireiro, faço meu cabelo, porque
a unha eu não gosto de fazer porque sou da Igreja né? Vai lá compra isso, compra aquilo, eu
vou lá e compro também. Vestido, roupa, saia, blusa, eu vou lá comprar, chinelo para mim e
para a minha neta, vai lá e compra”;
-Sra. Luzia: “gasta fazendo compras... Nem a luz, eu pagando, porque não dá para
pagar, tem tempo que não pago nem luz. Água, eu nãopagando, nunca paguei, onde a
gente mora, não paga água... Só uns “negocinhos” de compra mesmo... Alguma roupa,
quando dá para comprar”;
-Sra. Magali: “com compras mesmo também, comida, gás, luz, compra remédio. Esses
dois remédios, tinha outro também que eu nem comprei ainda, uma vitamina que a doutora
passou para mim, nunca comprei, foi semana passada que fui no médico. Vou no cardiologista
lá da Lagoa e a clínica médica é aqui no posto. Eu tenho três, ganho no posto, né? Esses dois,
o médico que passa tem que comprar, não ganho, nunca que acho no posto, não posso ficar
sem ele, não dá”;
-Sra. Nair: “se vê, treze pessoas, eu gasto um quilo de feijão por dia, oh! Chego a
gastar quarenta quilos de arroz, com esse dinheiro, tem que fazer tudo com esse dinheiro. A
gente paga luz e gás né? A água não paga não, a água é assim, a gente mora no morro e a água
foi o prefeito que botou água para gente, pelo menos isso a gente tem de graça. A roupa, a
gente compra de ano em ano, é quando chega final de ano, ele (o marido) recebe o 13° né? A
gente compra uma roupa e pronto, a renda é essa”;
-Sra. Ondina: “ah, eu compro as coisas para casa, eu pago conta de luz também, a
conta de luz está no nome do meu marido, mas ele não me dá dinheiro, gasto meu dinheiro
assim. Compro as coisas para casa, quando estou com minha neta compro fruta, carne,
alimentação, arroz, feijão, macarrão, aquilo que a gente gosta para ter em casa, eu gasto meu
73
dinheiro assim. Mais com alimentação. E também pagando o INPS (Instituto Nacional de
Previdência Social) atrasado, né? Primeiro, eu tiro do INPS atrasado, e resto que fica vou
deixando para comprar fruta, nossa alimentação, agora estou aguardando a cartinha do auxílio
doença, “não demora não, é rapidinho”, ela (a assistente social) falou para mim.”;
-Sra. Pilar: “pagamento das continhas é luz, telefone, é TV a cabo, esse negócio de
tecnologia. Não tenho despesa com nada não. Se quer alguma coisa diferente, compra mesmo
grossa é da Igreja né? Se quiser alguma fruta, uma coisa, tem que ter dinheiro. A gente ganha
pouco. Depende do que vende, tem campanha (da Avon e de Millus) que não vendo nada, têm
outras que vende”;
-Sra. Regina: “com alimentação só em casa, pago luz, às vezes, que é pouquinho
também, o telefone é elas (as filhas) que ajudam a pagar porque a linha no meu nome. Pego
remédio no Estado, mas tem certo tipo de remédio que tenho que comprar. Roupas, mais que
eu ganho”;
-Sra. Silvia: “remédio, pago o INPS. Tiro meu INPS e compro remédios, colírio,
remédio”;
-Sra. Tânia: “a filha paga a luz e o telefone. A água por enquanto a gente não paga.
Cada um ajuda nas compras. Só uma paga o telefone e a luz (risos). Só que agente fez um
plano para não gastar muito impulso, quando fica 105 impulsos aí a gente só recebe, aí eu
pago só R$50,00. Comprando as coisas, as coisas que faltam”.
Percebe-se que as Sra. Jurema, Sra. Magali, Sra. Nair e Sra. Silvia têm seus maridos
e/ou companheiros como provedores econômicos de seu domicílio, sendo que as Sra. Jurema
e Sra. Silvia elencaram seus gastos individuais enquanto que as Sra. Magali e Sra. Nair
relataram os gastos da família tais como a aquisição da alimentação e pagamento das contas.
Nota-se que as Sra. Ondina, Sra. Pilar e Sra. Regina têm por ocupação atual,
acompanhante, costureira e passadeira, respectivamente. Responderam a essa pergunta
74
relatando seus gastos individuais com a compra de alimentos e pagamento das contas. Sendo
que a Sra. Pilar recebe mensalmente uma cesta básica da Igreja, fazendo pequenas compras
para complementá-la.
Observa-se que as Sra. Luzia e Sra. Tânia têm seus filhos ou filhas como provedores
de seu domicílio, e em decorrência disso as mesmas relatam seus gastos que equivalem aos
gastos da família.
Conforme o explicitado, principalmente pelas Sra. Nair e Sra. Ondina, Zaluar (2000)
aponta que a pobreza também é medida pela restrição ao consumo e, esse, por sua vez, volta-
se, em primeiro lugar, para a alimentação, em seguida, têm-se o gás, a luz e a casa. A
expressão “comida dentro de casa” refere-se, sobretudo, a aquisição de quilos de feijão, arroz
e macarrão. Segue-se por farinha, óleo, sal e material de limpeza (em menor quantidade).
Percebe-se que os idosos em geral, beneficiários e não beneficiários, têm em comum
os gastos com alimentação, compra de roupas, pagamento de contas e aquisição de
medicamentos. Esses podem ser considerados gastos essenciais, os quais comprometem a
maior parte do orçamento desses idosos. Pode-se observar que o gasto com vestuário é
reduzido, uma vez que boa parte dos idosos o ganha de familiares ou conhecidos. Também
nota-se a existência de poucas contas atrasadas (uma de água e outra de luz). E a linha de
telefone, bem como a sua despesa, em geral, são compartilhadas com os filhos.
Nota-se que as diferenças entre os dois perfis em estudo se dão no fato de que os
beneficiários possuem três gastos principais: alimentação, contas e remédios enquanto que os
não beneficiários têm alimentação e contas como os gastos mais importantes.
A quantidade de dependentes na família dos beneficiários é menor, visto que boa parte
mora sozinha ou com irmã, do que a dos não beneficiários, em que grande parte reside com
companheiro ou marido, filhos ou netos. Decorrente disso, os beneficiários possuem um apoio
familiar mais reduzido, usando o benefício para si próprio. Enquanto que os não beneficiários
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prestam esse apoio maior a seus filhos, netos e demais parentes, contribuindo assim no
orçamento da família.
Em relação aos gastos da família dos idosos em geral, percebe-se que esses se
concentram em alimentação e pagamento das contas. Nessa mesma ótica Sabóia (2004) trata
da relação dos benefícios não contributivos e combate à pobreza. Ressalta que esses
benefícios são de fundamental importância na garantia da renda dos domicílios apenas por
idosos, sem excluir o idoso que vive só. Visto que se esse benefício fosse retirado, a renda per
capita do domicílio se reduziria, o que corrobora para a sua importância na contribuição para
a diminuição da pobreza da população idosa no Brasil.
A pesquisa de Sabóia (2004) aponta para a importância de benefícios contributivos e
não contributivos na obtenção de renda da população idosa brasileira. Apesar de o primeiro
está em maior número que o segundo, é o segundo que possui a função primordial na redução
da pobreza.
Os benefícios não-contributivos urbanos para idosos pobres (BPC e RMV) são bem
menos comuns. Em primeiro lugar, porque a população urbana tem muito mais acesso
aos mecanismos contributivos oficiais do que os rurais. Em segundo lugar, devido às
exigências de níveis máximos de renda familiar per capita muito baixos (1/4 do salário
mínimo) e idades mínimas muito elevadas. A recente redução da idade mínima de
acesso ao BPC de 67 para 65 anos e a mudança no cálculo da renda do idoso para o
recebimento do benefício irão ampliar um pouco a sua cobertura para os trabalhadores
urbanos ou do setor informal da economia (Sabóia: 2004:409).
2.2 REFLEXÃO SOBRE OS GASTOS
As respostas dos idosos beneficiários relativa à reflexão sobre os gastos de sua casa
apontam que a grande parte dos idosos beneficiários tem um bom controle quanto aos seus
gastos, como pode ser visto nos relatos a seguir:
-Sra. Arminda: “faço economia, não dá para exagerar não. Compra remédio... Aí ela (a
filha) descobriu esse remédio, sete comprimidos, dá R$70,00 e quem ganha pouco? Fiquei
limpinha, sem dinheiro, o dinheiro que sobrou para mim foi R$10,00. Eu quero a minha
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saúde, não quero me vê doente. A gente doente não tem gosto nenhum, nem gosto da
comida”;
-Sra. Berenice: “sei lá, lá na minha casa eu acho que as pessoas estragam tudo. Estraga
feijão, estraga arroz, estraga... Estraga tudo. Sei lá não come pão, bota no lixo, não sei... Me
dá uma raiva. Genro, neto, filho... Tudo estragado! Coisa de paulista! Joga até arroz dentro do
lixo, e feijão... Que raiva! Estraga tudo!... Me dá uma raiva!”
Exemplificou tal atitude da seguinte forma: “foi hoje, minha filha inventou um gnochi.
Aí ela pegou as batatas e fez aquele monte de gnochi. Aí sobrou e ela guardou na geladeira.
Quando foi hoje, eu vi aquele pacote no lixo. Mas me deu uma raiva! Podia guardar ou podia
fazer né? Hoje eu fui ajeitar o lixo e me deu uma raiva.”
Em seguida, afirmou “eu não gosto de estragar nada, mas eles estragam tudo. Faz um
arroz, aí sobra um pouquinho de arroz, amanhã eles não querem comer aquele arroz, querem
fazer outro. Povo pobre não pode estragar, mas estraga. Me dá uma raiva”;
-Sra. Célia: “ dentro da faixa né? Porque não é assim, a gente aqui é econômico, sem
ser avarento, entendendo? É o conforto, entendendo? Não aquela coisa exagerada. Ou
então, você quer isso, você deseja mais, ou se você tem, você quer mais, não. ótimo assim,
tudo bem, tudo bem ? Tudo bem. Têm três anos que estamos morando aqui (em
Laranjeiras), muito bom, muito satisfeita. Há males... Saí do... Vendemos o outro, vivi 26
anos no Leblon. Quando ainda estava casada fomos morar em Friburgo, foi a primeira obra
dele (o ex-marido), depois voltamos para o Rio de Janeiro, fomos para São Paulo, foi lá que
começou tudo, fiquei quatro anos e meio emo Paulo. Aí, depois eu vim, já separado de
corpo, sempre com a K.(a filha) sozinha. Também nem sei dele, ele não dá notícia, não
sabemos se está vivo ou morto, sabe? Pois é, mas morei 26 anos, mas tive que vender por
causa dele, do meu ex-marido. Porque ele ficou de assumir as despesas, de imposto,
condomínio e não assumiu. As despesas foram aumentando e tive que vender para pagar as
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dívidas porque ia perder o apartamento e comprar esse aqui. Então, aí no primeiro aplicou, o
que ficou foi o mínimo, um ano depois acabou mas também não fizemos nada, não fizemos
uma viagem, não compramos, foi só para deixar a vida mais em ordem”;
-Sra. Dora: “eu gasto o estritamente necessário, só compro o que é preciso, não
esbanjo”;
-Sra. Elsa: “nós somos muito controladas, aliás, nem tem como ser perdulária. Eu só
faço aquilo que eu posso, controlado né? Eu acho que sou eu, talvez seja eu, essas coisas de ir
ao cinema. Pago meia, não pago condução, que é uma coisa ótima (frisa)”;
-A Sra. Fátima complementou a irmã dizendo que “nós somos boas donas de casa”;
-Sra. Glória: “gasta mais ou menos, é tudo controlado. Minha irmã gasta mais, o gasto
é mais dela. Eu não tenho muito para gastar, eu gasto mais com remédio como te falei”.
-Sr. Hélio: “a gente gasta devagar, não pode gastar demais. Têm pessoas, às vezes
gasta demais, quando vê acabou né? Tem que gastar devagar. Como é ela (a filha) que
cozinha para mim mesmo, aí eu compro alguma coisa para ela... Quando ela precisa de algum
dinheiro, dou para ela comprar. Limpeza, ela que ajuda a fazer as coisas lá em casa... Aí eu
compro algumas coisas para ela”;
-Sra. Isaura: “mais ou menos. Nem pouco nem muito. As coisas que eu preciso
compro ali e pronto, só isso, entendeu?”.
Nota-se que os idosos beneficiários, ao refletirem sobre os seus gastos, ressaltam que
gastam de forma controlada, econômica e suficiente, exceto a Sra. Berenice que relatou como
ocorre desperdício de comida em sua casa e que tal situação a aborrece bastante. Também a
Sra. Arminda enfatizou a importância da compra de remédios para assegurar uma boa saúde.
As idosas não beneficiárias, em sua maioria, também consideram que gastam pouco,
mas tendo um gasto mais elevado devido ao número maior de pessoas residentes em sua casa
(como filhos e netos):
78
-Sra. Jurema: “gasta pouco. Compro cinco quilos de arroz, dá para quase um mês. Eu
faço pouco, faço montoeira, aquela misturada... boto na geladeira, boto um pouco para comer,
para o almoço, boto um bocado para o jantar. Lá em casa nós não gostamos de comer coisa à
toa, acho horrível, bota na geladeira. Eu boto um pouquinho para mim, para ele (o
companheiro) e minha neta. Se for compra isso, aquilo, não há dinheiro que chegue, qual é o
marido que vai agüentar isso? Sei que a mulher tem que ter cabeça”;
-Sra. Luzia: “ah, eu não acho que a gente gasta muito não, porque o dinheiro é pouco
né? Aí sobra mesmo pra comprar alguma coisa de mantimento para casa e comprar um gás
quando às vezes falta... É só para isso mesmo”;
-Sra. Magali: “gasta assim, gasta muito mais não. Gasto muito mais lá com meus
netos, porque tem um neto lá, mora perto da minha casa, tem três, tudo pequeno né? Ele vai
cedo lá para casa tomar café. A mãe não trabalhando, o pai não trabalhando. Tem que
ajudar o dinheiro dando para essas coisas, a gente vai vê um neto, uma criança pedir uma
coisa, a gente tem, tem que , tem que jeito. Meu marido compra as coisas para pagar
depois por conta deles. Esses filhos, a gente hoje, que filho pensa uma coisa é outra, depois
eles passam a ajudar é um engano. Cada um tem sua casa, tem seus filhos, tem tudo, não pode
também não, também até reconheço, tem seus filhos, um bocado desempregado. Não dá
para ajudar, têm a família deles”;
-Sra. Nair: “Ah, gasta, gasta muito, porque têm as crianças que tomam leite né? Tem
que comprar leite e tudo. Tem o pequeno de dois anos, tem que comprar leite, tem que
comprar tudo, criança sabe como é né? Quando é adulto come qualquer coisa. Mas, quando é
criança tem que comprar as coisas. É meu marido, que é o único dinheiro que tem é ele, é o
dinheiro dele que rola para tudo, o dinheiro tem que espichar, porque eu assim aproveito as
promoções. Quando na promoção, vejo promoção e aí aproveito. Quando chega final que
ele recebe, os mercados botam, a gente vai lá e aproveita”.
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-Sra. Ondina: “não acho que gasta muito não, acho que gasta normal, não acho nem
muito, nem pouco. Lá em casa, todas as duas, tanto eu como ela (a neta), a gente gasta com
fruta, a gente não gasta à toa, é fruta, é comida, tem que ter carne na geladeira (frisa), para
fazer todo o dia uma carninha, um macarrãozinho com carne, um feijão, uma carninha assada,
uma carninha moída, suquinho, fruta. A gente usa muita fruta, suco, a gente gosta”;
-Sra. Pilar: “não gasto muito porque com essa cesta básica ajuda muito né? Por que se
eu fosse comprar mesmo tudo, eu não ia ficar com mais nada né? Viver só de feijão e arroz
também não dá, tem que comprar uma carne, uma verdura. Às vezes, a minha doutora lá no
posto: “Ah, você tem que fazer dieta! Doutora tem dia que não tem nada de legumes, o que
vou fazer? Tenho que comer feijão e arroz. Quando dá, tudo bem”. Sou diabética e hipertensa.
Pego no posto Naldecon. Compro assim quando é remédio para dor de cabeça, resfriado,
xarope. Olha com quem gasta mais só com a B. (a neta), a mãe dela né? Com quem gasta
mais é com a B., porque a B., tadinha dela, não pode faltar nada para ela. Ela toma leite
Ninho. Às vezes, ele na promoção, às vezes não”;
-Sra. Regina: “é pouco né? Porque sou só eu. Gasta mais com alimentação”;
-Sra. Silvia: “gasta normal... ah, claro, o companheiro gasta mais com alimentação”;
-Sra. Tânia: “gasta com a despesa das crianças. Criança sabe que gasta muito né? Com
banana, fruta, uma coisa, mas dá para manter... Adulto não gasta muito, eu não gasto muito,
mas dá para manter. Tem dia que um quer comer alguma coisa, tem que fazer alguma coisa
para agradar”.
Observa-se que as Sra. Magali, Sra. Nair e Sra. Tânia alegaram gastar mais com a
alimentação dada à presença, sobretudo, dos netos em sua residência. Fica bem clara a
preocupação dessas idosas em assegurar uma alimentação suficiente para atender as
necessidades de seus netos. As Sra. Jurema, Sra. Luzia, Sra. Ondina, Sra. Regina e Sra. Silvia
demonstram que gastam pouco, pois seu gasto se restringe basicamente a alimentação. A Sra.
80
Pilar ressalta a importância de receber a cesta básica, reduzindo assim seu gasto com
alimentação.
A Sra. Magali enfoca um aspecto importante da troca de apoio, ao afirmar que
acreditava que quando seus filhos ficassem adultos, os mesmos passariam a ajudá-la. Mas, ela
percebe o contrário e argumenta que tal situação ocorre, pois seus filhos têm suas próprias
casas e famílias para sustentarem.
Boa parte dos idosos beneficiários, tem em comum com parcela das idosas não
beneficiárias, a consideração de que gastam pouco, o que os diferencia é que as idosas não
beneficiárias possuem um gasto maior dada a co-residência com seus filhos e netos, ou seja,
por terem uma família mais numerosa do que a dos idosos beneficiários.
Sobre esse mesmo tema, Saad (1999) aponta para uma direção de apoio dos pais
idosos para os filhos, demonstrando que os filhos, mesmo adultos, continuam sendo ajudados
por seus pais. Outro aspecto é que a co-residência dos idosos, filhos e netos possibilitam uma
troca de apoio, ajuda e favores entre esses.
Os co-residentes são responsáveis pelos cuidados funcionais (atividades funcionais da
vida diária) e instrumentais (atividades instrumentais da vida diária) da rotina do dia a dia
(como é caso do Sr. Hélio) e os filhos e netos não co-residentes contribuem materialmente
(dinheiro ou artigos de necessidade). Nota-se que essas trocas de apoio são mais usuais entre
mães e filhas do que entre pais e filhos. O autor observa que na sociedade brasileira, para se
estudar as transferências de apoio familiar, é necessário usar a “teoria do intercâmbio social”,
baseada na troca, ou seja, a uma relação de ajuda mútua entre os idosos e seus familiares.
“Segundo esta teoria, seria do interesse dos indivíduos, ao longo de sua existência, assumir
tanto o papel de provedor quanto o de receptor de apoio, como parte de seu processo de
interação social” (Saad: 1999,255). Isso porque a troca de apoio entre o idoso e seus
familiares prolonga-se no decorrer da vida, como se houvesse um acordo implícito entre as
81
gerações estabelecendo as funções dos membros da família em cada fase da vida, como pode
ser percebido nas falas das Sra. Magali, Sra. Nair, Sra. Ondina, Sra. Pilar e Sra. Tânia.
2.3 COMO GOSTARIA DE GASTAR
Em relação à forma que gostaria de gastar seu dinheiro, boa parte dos idosos
beneficiários optariam por gastos com viagens, com moradia, com beleza, de acordo com as
respostas que se seguem:
-Sra. Arminda: “Menina, acredita que eu já não tenho mais animação para a minha
vida. Tanta coisa boa né? Eu não sei quando eu vou morrer, só quem sabe é Deus. Quando
pensa que em pé, já morto”;
-Sra. Berenice: “ajeitar minha casa... Meu banheiro quase caindo, tem uma coluna
que estragada e faltando um reboco, um pedaço de pau, alguma coisa, o banheiro
precisando de reparo e eu não posso. Meu banheiro”;
-Sra. Célia: “eu gostaria muito, precisando, devendo muito, era viajar, ver minha
irmã, sabe? Têm sessenta e um anos que não a vejo, ela mora em Governador Valadares,
muita vontade (frisa)... Mas essa irmã de Governador Valadares faz sessenta e um anos, então
meu dinheiro, meu sonho, se Deus quiser, fazer essa viagem... O dia que eu tiver, ah meu
Deus, a primeira viagem é Governador Valadares, ver minha irmã”;
-Sra. Dora: “viajar, só sair do Rio de Janeiro já está bom”;
-Sra. Elsa: “viajando... Brasil e exterior queria viajar muito”.
-Sra. Fátima respondeu da mesma forma que a irmã e complementou “minha mãe veio
de Portugal para cá”;
-Sra. Glória: “vaidade, se eu pudesse né? Gostaria, mas não posso. Ah, gostaria de
estar sempre em cabeleireiro, manicure, em comprar roupa, mas nada disso eu posso. A
acompanhante que faz minha unha do pé, ela não cobra nada. Lá uma vez ou outra, vou numa
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senhora que corta cabelo, cobra R$ 10,00 só. Vaidade é essa, né, minha filha? O dinheiro não
dá, não dá mesmo, não dá para nada”;
-Sr. Hélio: “a gente se acostumou a gastar pouco mesmo né?... Alguma viagem se
pudesse fazer, a gente fazia... Não dá para fazer... Mas também, pra viajar cansa muito”;
-Sra. Isaura: “Não. Com o tempo que a gente vê né?”.
Nota-se que apenas a Sra. Berenice que apontou que gostaria de gastar para melhorar
sua moradia, enquanto que boa parte preferiria viajar por motivos diversos, caso pudesse. A
Sra. Célia informou que gostaria de viajar para visitar sua família, já as Sra. Dora, Sra. Elsa,
Sra. Fátima e o Sr. Hélio gostariam de viajar para descanso e entretenimento. Por sua vez, as
Sra. Arminda e Sra. Isaura não possuem planos para gastos extras. E, por último, a Sra. Glória
que se distingue das demais ao optar por gastos com sua beleza.
No que diz respeito à maneira que gostaria de gastar seu dinheiro, as idosas não
beneficiárias, em geral, gastariam com a moradia, a alimentação e o vestuário de seus
familiares, ou economizariam, conforme os relatos abaixo:
-Sra. Jurema: “se eu tivesse dinheiro, ia arrumar a minha casa, né? Comprar assim
cama, fora da cama eu não tenho que eu e o companheiro ia fica devendo os outros aí.
Comprar um sofá para mim... Botava uma tábua aqui, botava aqui, tinha ali feito um sofá, que
eu comprava aquele chitão, aí cobria assim de chitão, que eu sei fazer na mão, quem via assim
parecia que era, não era sofá, era tábua (risos). Uma mesinha de centro que eu ganhei, me deu,
quebrada. Tem um “carré”, de botar em cima, botar a louça em cima, tipo uma estante...
Eu tenho em casa, um som, uma TV, um sofá, só. Às vezes, minha filha, minha neta dorme
também na tábua, nós também não temos cama, ela dum lado, a minha do outro lado, a gente
bota a cortina no meio da noite. Na minha casa, não tem cama. Aí eu botei um sofá para ela,
um pequeninho que ela ganhou. Aí boto as duas tábuas, boto o colchão, forro com lençol,
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colcha. vivendo assim, a outra cama minha era de ferro, ficou tanto tempo que vai indo, dá
ferrugem, né? Acaba com tudo (risos)”;
-Sra. Luzia: “Ah, eu gostaria de gastar é... eu tenho vontade é de ir embora... Pegar o
dinheiro e ir embora pra minha cidade natal que lá é bem melhor que aqui... Quando eu vim
do Norte, eu não vim pra cá para o Rio, eu fui para o Goiás, e lá a situação era bem melhor. A
gente trabalhava na roça, mas pelo menos tinha de tudo lá, não precisa comprar negócio de
arroz, feijão essas coisas... Nós não comprava... Nós lidava na roça... Era melhor que aqui. De
Goiás, eu vim para cá, me desentendi com meu marido e vim para cá. Cheguei aqui... Faz
dezoito anos que eu vim. Ainda criei meus filhos, bem dizer sozinha... O mais velho me
ajudando, é claro. Já tenho filho com trinta e oito anos. O mais velho e eles me ajudaram a
criar os mais novos, né? Mas, já sofri muito, trabalhei muito assim em casa de família, mas
nunca tive a chance de trabalhar de carteira assinada. E lá onde eu trabalhava na roça, eu,
meus filhos, meu marido, e as coisas eram mais fáceis mesmo. Aqui a dificuldade é maior
porque se a pessoa não tiver dinheiro, não tem nada. E lá a gente trabalha e colhe na roça e
tem, mas aqui se a gente não tiver dinheiro na mão, não tem como comprar... trabalhei muito,
trabalhei muito e sofri muito pra criar eles dez, três morreu novinho... E o outro morreu, tem
três meses que mataram ele... Já sofri muito, mas...”;
-Sra. Magali: “Ah, eu gostaria de ajudar a comprar umas coisinhas para eles também,
os netos. Gostaria muito de ajudar uma filha minha tamm, que tem lá, eu já ajudo né? Mas,
ela é tão doente, ela não pode trabalhar, tem febre reumática, ela ficou seis meses internada lá
na Lagoa. Ela mora perto da minha casa, esses netos que moram perto da minha casa, dou
café para eles todo o dia, dou comida, ajudo lá. Ela tem essa doença, ela não pode quase
trabalhar, se pudesse ajudava mais ainda. Ela é casada, mas tem problema, doente. Depois que
os médicos descobriram, os médicos tavam pensando outras coisas, mas era febre reumática.
Ela de vez em quando passando mal, os meninos dela não tem não, graças a Deus, não.
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Passear um pouquinho, às vezes, não saio também, falta de dinheiro, ir lá na minha terra de
vez em quando, fui lá quando minha mãe morreu, faz tempo”;
-Sra. Nair: “se eu tivesse... eu queria comprar umas coisas assim para os meus netos,
né? Assim alimento, fruta, por exemplo. Não posso nem comprar fruta para eles, umas coisas
assim, porque o dinheiro não dá. Assim o leite que eu compro, não dá nem para o mês todo.
Aí, tem que ficar comprando assim lingüiça, né? Se eu tivesse comprava mais roupa, né? Tem
um no colégio, com esse frio, não tendo roupa de frio. Se eu tivesse dinheiro, gostaria de
comprar coisas para eles”;
-Sra. Ondina: “Ah, eu gostaria de gastar arrumando minha casa, se tivesse dinheiro,
arrumava a minha casa, fazia uma reforma na minha casa. Para consertar, minha casa é velha,
muito velha, desde que me casei, tenho ela lá. Ela era barraco, ela continua barraco, sabe?
Para mudar, por exemplo, fazer, arrumar direito o chão, o banheiro, a parede, fazer o teto
direitinho, é tudo aquela telha de antigamente, chega cai aquele pó em cima, mas enquanto
não pode eu vou levando. Eu fiz o pedido na prefeitura, no ano passado, não tem aquela
máquina de overlock que a gente costura e faz aqueles trabalhos? Ah, eu gostava tanto, mas
não veio ainda. A assistente social de lá disse que tava parado o fundo carioca, um negócio
assim. Ela disse que quando abrisse de novo, ela iria ver, eu tinha pedido para trabalhar de
bijuteria, sabe? Ela deu uma idéia: “você pede a máquina e o material de bijuteria, aí você
trabalha com a máquina e faz a bijuteria para você ganhar”. Aí, eu fiz o pedido, mas não veio
ainda, ela pediu para aguardar, tomara que venha se vim, vai ser uma beleza”;
-Sra. Pilar: “Não sou muito de gastar não. Se eu tivesse dinheiro mesmo, eu fazia uma
poupança para mais tarde eu ter, né? Tô falando, se minha aposentadoria sair ano que vem,
vou dividir, botar sempre metade no banco para ter um dia, para morrer, ter pelo menos
alguma coisa”;
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- Sra. Regina: “arrumar minha casa, assim coisa de obras... Queria fazer, mas não
posso”;
-Sra. Silvia: “ah, eu queria ter um dinheirinho para guardar. Porque às vezes, a gente
precisa de alguma coisa, tem um dinheirinho. Tenho minha mãe que mora na Paraíba, têm
noventa anos. Em janeiro, eu fui lá vê-la. É minha filha que toma conta dela. Porque eu tenho
quatro filhos, é um filho e três filhas. Uma mora comigo, a outra mora aí, ela, o marido e a
filha, e essa mora com minha mãe. Minha mãe é aposentada, ganha dois salários. Sempre de
vez em quando, precisa de alguma coisinha. Gente de idade tem sempre uma coisa. Às vezes,
está bem, ela liga. Às vezes: “ah, mãe, aconteceu isso”. Tenho que comprar uns remédios
extras e tal. Essa minha filha não trabalha, porque tem que cuidar dela, ela não anda sozinha.
Ajuda, é... Nada que eu gaste à toa (frisa), sempre alguma coisa que precisasse.”;
-Sra. Tânia: “Compra tudo que desse vontade (frisa). Muito doce, que eu não como
doce. Mas, com pequenas coisas, sei lá, uma toalha de mesa, uma coisa. Que eu comprasse, é
meu, oba com meu dinheiro. Esmalte, essas coisas assim que eu gosto de usar”.
Nota-se que as Sra. Jurema, Sra. Ondina e Sra. Regina gostariam de gastar
promovendo melhorias em suas casas, enquanto que as Sra. Magali e Sra. Nair optariam por
contribuir com a alimentação, vestuário, entre outros para seus filhos e netos. As Sra. Pilar e
Sra. Silvia prefeririam guardar um pouco do dinheiro com vistas a atender eventualidades
futuras. Duas respostas destoaram das demais: a Sra. Luzia gostaria de voltar para sua cidade
natal e a Sra. Tânia atenderia seus desejos individuais de consumo.
A respeito da centralidade da casa para as camadas pobres, Guedes e Lima (2006), ao
estudarem as categorias casa, família nuclear, redes sociais de parentesco e vizinhança nos
bairros de trabalhadores, destacam que esses trabalhadores possuem baixo poder aquisitivo e
pouca inserção no mercado de trabalho. Ao acessarem sua casa, significa também estarem
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inseridos em uma família. Tal situação estabelece o limite tênue entre continuar pertencente à
classe trabalhadora ou se tornar população de rua.
Nesse estudo, a casa e a família são expressas pelo modelo de família nuclear
conjugal, ou seja, a inserção em uma família é limitada, sobretudo, pelas relações conjugais e
de filiações. A casa é local específico da família “espaço social inerente à família, espaço
social de privacidade, não disponível a olhares externos” (Guedes e Lima: 2006, 136).
Também a respeito dessa temática, Sarti (2005) aponta que o casamento representa a
constituição de um núcleo à parte, pois essa nova família necessita de sua própria casa, isto é,
a casa é um pré-requisito para se tornar viável uma família. Portanto, a casa é o local da
realização do projeto de se ter uma família, onde o homem e a mulher passam a desenvolver
seus papéis. A casa caracteriza-se pela sensação de liberdade, ao contrário da rua, que se
caracteriza pelo cerceamento da mesma.
Em relação a casa e a mulher, e a família e o homem, Sarti teoriza da seguinte
maneira:
o fato de o homem ser identificado com a figura da autoridade, no entanto, não
significa que a mulher seja privada de autoridade. Existe uma divisão complementar
de autoridades entre o homem e a mulher na família que corresponde à diferenciação
entre casa e família. A casa é identificada com a mulher e a família com o homem.
Casa e família, como mulher e homem, constituem um par complementar, mas
hierárquico. A família compreende a casa; a casa está, portanto, contida na família
(Sarti, 2005:63).
Os idosos beneficiários, em geral, apontaram a realização de viagens ou não possuem
planos para gastos futuros enquanto que as idosas não beneficiárias promoveriam melhorias
em sua casa, contribuiriam com a complementação da alimentação, ou guardariam dinheiro.
Pode se inferir que pelo fato desses idosos beneficiários apontarem, por exemplo, viagens
como opção de um gasto extra, porque não tendo compromissos financeiros com filhos e
netos como as não beneficiárias, podem imaginar gastos individuais, sendo assim os idosos
beneficiários têm uma maior autonomia frente às obrigações familiares. Por sua vez, as idosas
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não beneficiárias destinariam seus gastos em melhorias para a casa e a família, principalmente
os netos.
No que se refere à temática da relação entre avós e netos, Lins de Barros (1995)
destaca as seguintes características dos avós das camadas médias, as quais são:
o apoio financeiro e o auxílio têm como direção dos avós para seus filhos e
netos, pois possuem um espaço em sua moradia destinado a receber os filhos
em situações de nascimento dos netos, mudanças de casa e separações;
há uma preocupação dos avós acerca do futuro dos netos, sobretudo, à
educação;
os avós visam à transmissão de algum conhecimento para seus filhos e,
sobretudo, para os netos. No caso dos filhos, esse conhecimento inclui o que é
ser pai e mãe, são transmitidos pelos avós, pois os mesmos são mais velhos e
experientes;
os netos determinam um novo tipo de relacionamento, onde os filhos viram
pais e os pais viram avós, marcando assim as mudanças dos papéis sociais
dentro da família;
os avós das camadas médias ampliam seu tempo para os seus netos, mesmo
que esse imponha uma diminuição em seu lazer, atividades pessoais e
conjugais, passa a ter um ajuste de suas atividades com as relativas a seus
netos;
esses avós ficaram com o papel de babá após a entrada da mulher no mercado
de trabalho e as separações;
os filhos buscam evitar a interferência dos avós em suas famílias e as avós
exercem uma pressão sob as mesmas;
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os avós e netos possuem uma relação que mantém a autoridade dos pais e
constrói uma amizade mais aberta com os netos.
Dentro do universo pesquisado, percebe-se também que os avós acolhem seus filhos e
netos em situações que esses necessitam. Essas idosas têm uma convivência diária com seus
filhos e netos, acarretada também pela condição socioeconômica por quais seus filhos estão
passando, o que os impossibilita de residirem sós, como também reorganizam o seu tempo
para conciliar suas atividades com as destinadas aos seus netos. As avós têm a função de
babás de seus netos quando seus filhos encontram-se desempregados ou doentes, e há uma
interferência direta dessas avós na educação dos netos.
A diferença baseia-se no fato desses avós se considerarem tão responsáveis na
educação e nos cuidados dessas crianças, às vezes até mais do que os pais. As idosas têm um
laço afetivo forte, expressos através do carinho e do cuidado com seus netos, como
demonstrado em alguns relatos que abordam a preocupação, sobretudo, com a garantia da
alimentação e vestuário adequados, para seus netos. Em alguns casos, as idosas são as
responsáveis pela criação de seus netos, e tal situação, às vezes, as impede de realizar
atividades voltadas somente para si.
2.4 DIVISÃO DAS DESPESAS
Em relação à forma como é feita a divisão das despesas pela família, os idosos
beneficiários responderam que as dividem com filhos ou irmãs, segundo as respostas abaixo:
-Sra. Arminda: “quando eles tão trabalhando, eles me ajudam. Eles me dão dinheiro e
eu compro. Quando não dá...”;
-Sra. Berenice: “ah, bota tudo no fogo e a gente come junto (risos). Ela (a filha) paga a
luz, se falta alguma coisa que meu marido não comprou, ela compra, só... Alguma coisa, se o
dinheiro sobrar eu compro, assim, uma lata de óleo, alguma coisa, eu compro... Essas coisas”;
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-Sra. Célia: “eu pego o dinheiro e toma se vira, entendendo? Passei tudo para ela (a
filha), ela que administra o dinheiro da casa, entendeu?”;
-Sra. Dora: “primeiro, as contas. No meu caso, é pagar as contas. Paguei todas as
contas, aí, sobrou. Se não sobrou, às vezes fica um buraco, aí aquele buraco, vou cobrir no
mês seguinte. Às vezes, sobra, faço uma venda, sobra um dinheiro, boto na poupança, a
poupança não dá nada, a poupança é para a gente não gastar. Se faltar vou lá pego esse
dinheiro e cubro. Sobro, vou aproveito, compro uma coisa gostosa. Roupa, minha filha, acho
que não compro, já nem lembro mais há quanto tempo, ganho muito, meu irmão me dá, minha
sobrinha me dá, minha cunhada me dá. A gente se dá muito bem, ela compra uma blusa para
ela, aí ela vai compra outra para mim. Mas, às vezes, diz que não gostou, mas sei que é
porque comprou para mim. Outro dia, me deu três blusas, que bom agora não preciso comprar
mais blusa”;
-Sra. Elsa e Sra. Fátima: “a gente divide assim, eu faço uma compra maior e quando é
uma compra maior divide meio a meio. Agora tem muita amiga que eu chamo de “cesta
básica”, entende? Tem uma grande amiga nossa aqui na Barata Ribeiro que eu vou lá
semanalmente e pego umas coisas para nossa alimentação, legumes, frutas, sabe essas coisas.
Gás não, luz e telefone, tem essa despesa também, a gente divide também”;
-Sra. Glória: “não, é tudo ela (a irmã). Se eu precisar alguma coisa ela me dá, me ajuda
né? Tudo por conta dela. Tenho esse dinheiro que recebo né? Vaidade, não tenho né? Tenho
muita roupa que eu não saio, sapato, essas coisas, nada disso eu compro, tenho muito. Minha
prima enjoa do sapato, dá para mim. Eu não compro, eu não saio quase. Só saio de carro, meu
sobrinho tem carro. Se vou na casa dele, ele vem me apanhar”;
-Sr. Hélio: “vai pagando né? Vai comprando né?”;
-Sra. Isaura: “primeiro, paga as contas; depois faz as compras. Só eu e Deus, ninguém
me ajuda em nada, não”.
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Percebe-se que as Sra. Arminda e Sra. Berenice, na medida do possível, dividem suas
despesas com os filhos. A Sra. Célia deixa a cargo da filha a administração do dinheiro,
incluindo o seu próprio benefício. As Sra. Dora, Sra. Isaura e o Sr. Hélio ressaltaram a
importância do pagamento das contas virem antes da realização das compras. As Sra. Elsa e
Sra. Fátima dividem o pagamento das contas e das compras entre si, contando com uma amiga
que lhes auxilia com a alimentação. A Sra. Glória explicou que sua irmã é quem arca com as
despesas da casa.
No que se refere à divisão das despesas, as idosas não beneficiárias as dividem com
companheiros e/ou maridos ou filhos, como pode ser constatado a seguir:
-Sra. Jurema: “nós dois compra, quando faltando mais alguma coisa, ele (o
companheiro) vai lá compra porque faltando. Ele vai lá, traz carne, arroz. Quando
faltando alguma coisa, J. faltando arroz, aí ele vai lá. O dia que ele me dá, também eu
compro, compro para mim, eu compro roupa para mim, para a minha neta. Às vezes, eu
compro uma calça para ele, um short, uma bermuda, não é igual, entendeu? É tudo
misturado”;
-Sra. Luzia: “meu filho recebe um tanto de dinheiro, para comprar as coisas, compro
um gás. Aí quando dá uma sobrinha de dinheiro, a gente compra uma roupinha. Quando não
dá, não compra, é assim”;
-Sra. Magali: “gasta dinheiro com comida, eu faço economia para dar, porque esse
dinheiro é pouco, dá muito não. Quando ele (o marido) recebe, ele vai comprar. Depois vai
comprar mais, não gasta tudo de uma vez, não. Só gasta mesmo com comida, ele também
fuma, ele não consegue largar aquele cigarro. Fuma faz tempo, não consegue deixar. Bebia
muito, mas parou, graças a Deus. Já foi nos médicos lá do posto, é um dinheiro que gasta, eu
falo para ele, não dá não depender do dinheiro”;
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-Sra. Nair: “ele (o marido) mesmo faz as compras. Ele recebe o salário, vai lá faz as
compras. Eu vou junto com ele né? Sempre mulher sabe olhar as coisas né? O homem compra
tudo, se ele for sozinho não vai nem comprar, vai comprar tudo do mais caro, eu tenho que
ficar pesquisando né? Vou com ele no mercado, faz compra de mês, é o que tem. Só para o
outro mês”;
-Sra. Ondina: “é só eu mesmo, não tem com quem dividir. Minha filha continua
ajudando a pagar o telefone, quando ela pode, ela ajuda, quando não pode, não ajuda”;
-Sra. Pilar: “divido com ela (a filha) né? Quer dizer, dividindo assim em termos do
telefone né? Ela não pode ajudar... O leite essas coisas da filha dela ela compra, ela arranja
dinheiro, compra leite, engrossante de mingau, roupinha. Ela ganha também muita coisa. Ela
tem uma tia nos EUA de vez em quando manda roupa para ela”;
-Sra. Regina: “eu tenho cartão, faço as compras no cartão. Para mim, facilita até mais.
Quando vem a fatura, eu pago. Por exemplo, faço uma compra no cartão de R$100,00 é
divido para mim parcelar em três vezes”;
-Sra. Silvia: “ela (a filha) cuida das coisas do filho, eu compro meus remédios, ele (o
companheiro) compra a comida. Cada um tem sua despesa”;
-Sra. Tânia: “minha neta, ela faz as compras. De vez em quando, quando está faltando
alguma coisa ela me dá. A gente compra, depois paga no armazém lá perto de casa. A gente
vai lá e compra e com o dinheiro que ela pega, ela vai lá e paga”.
Observa-se que as Sra. Luzia, Sra. Magali e Sra. Nair relataram na medida em que
seus filhos ou maridos e/ou companheiros recebem são feitas às compras para a casa, ao
contrário da Sra. Tânia que faz as compras no armazém próximo a sua residência e depois
paga. A Sra. Ondina conta com a ajuda da filha que não reside com ela para o pagamento do
telefone, assim como a Sra. Pilar que divide a despesa do telefone com sua filha, mas a
mesma arca com as despesas de sua própria filha. A Sra. Regina optou pelo parcelamento no
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cartão de crédito para gerenciar melhor suas despesas. E a Sra. Silvia explicou que em sua
casa cada um tem sua despesa própria.
Observa-se que os idosos beneficiários, quanto à divisão das despesas, contam com os
filhos ou as irmãs ou optam, quando residem sozinhos, por pagarem as contas em primeiro
lugar e por fazerem compras em segundo lugar. As idosas não beneficiárias dividem suas
despesas com maridos e/ou companheiro ou filhos, caso residam só, preferem também pagar
as contas e depois fazer as compras.
Em relação a diferença entre homem e mulher (percebida nos relatos das Sra. Jurema,
Sra. Magali e Sra. Nair), Zaluar (2000) aborda a função do pai como provedor que o submete
a uma ampla jornada de trabalho, pois ele tem a obrigação de garantir a alimentação da
família. A mãe, por sua vez, é responsável pelo trabalho doméstico, pela administração da
casa, garantindo que a alimentação seja assegurada durante o mês, e pela socialização das
crianças. Existem diferentes maneiras que a família faz uso para ter seu padrão de vida
mantido, dividindo a responsabilidade em obter renda com seus componentes e ajudando seus
parentes e inserindo-os a sua família quando esses necessitam.
Se, porventura, o provedor não consegue exercer sua função, há uma alternância com
o filho para garantir a manutenção da renda familiar. Enquanto o filho jovem vê o provedor
como um “otário” e opta, em número considerável, pela vida de bandido.
“Mas o resultado final desse quadro de ganhos insuficientes e falta de assistência
estatal, é criar, em termos de padrões culturais de relacionamento, uma
solidariedade ao nível do grupo doméstico ou mesmo da família extensa que talvez
seja desconhecida em outras classes, tanto no que se refere à intensidade, quanto às
formas específicas de manifestação. O adjetivo individualista pouco caberia nesse
padrão, quando sabemos que as necessidades de sobrevivência inclusive a obtenção
de moradia, obriga a cooperação não só de todos os membros da família conjugal,
mas também de outros parentes e agregados a ela incorporados” (Zaluar, 2000:99).
A respeito desse mesmo tema, Sarti (2005:61), ao analisar o modelo de família pobre
faz a distinção entre homem e mulher: “A dimensão da pobreza no contexto familiar aparece
93
mais explicitamente no discurso masculino, já que os homens se sentem responsáveis pelos
rendimentos familiares”. Também o homem é considerado o chefe da família, representando a
autoridade moral que garante o respeito ao seu grupo familiar, na relação da família com a
sociedade. Enquanto a mulher, ao exercer sua função de dona de casa, administrando o
dinheiro ganho por parte dos membros trabalhadores da família, torna-se a chefe da casa a
qual compete a união do grupo familiar.
Uma exemplificação dessa situação é a forma como se sentam à mesa: as mulheres e
as filhas não o fazem, servem aos homens, crianças pequenas e visitas que se encontram
sentados à mesa. Nota-se assim, a hierarquia presente na família, que distingue o masculino e
o feminino, e possibilita ao homem garantir sua autoridade na família, que ele não tem fora da
mesma. Isso porque nessa família, a oferta da comida é uma ação valorizada, visto que no
orçamento doméstico a alimentação apresenta-se prioritária.
Nesse contexto, o modelo de família pobre se caracteriza por ser uma rede, ao invés de
um núcleo, englobando uma rede de parentes e tamm as pessoas com quem se estabelecem
laços de confiança, que se vinculam por obrigações morais, sendo que ao mesmo tempo,
inviabiliza a individualidade e possibilita a sobrevivência da família.
Fonseca (2000) também em seu estudo aponta a honra como essencial por regular o
comportamento e definir a identidade de cada um. Portanto, a honra é vista como a forma de
regulação difundida por todo o grupo, independente de seus papéis. O homem tem sua honra
medida pela responsabilidade do sustento material de sua família e a mulher tem sua honra
baseada na boa execução de suas tarefas domésticas e da sua função de mãe.
Já o prestígio social depende de pré-requisitos como idade, sexo, status econômico e
civil. Nesse sentido, a reputação é que estabelece a divisão de quem faz parte da troca de
ajuda e proteção. A reputação é importante para o homem, mas para a mulher é essencial,
porque a insere ou não nessa troca e na resolução de suas brigas conjugais.
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A força do homem serve tanto para proteger a casa e a família como para exercer sua
autoridade. A fofoca da mulher também serve para fazer valer a sua vontade como para evitar
os maus-tratos físicos praticados pelo homem.
2.5 INVESTIMENTO APÓS O RECEBIMENTO DO BENEFÍCIO
No que diz respeito ao investimento mais importante para os idosos beneficiários, os
que conseguiram, o fizeram em suas residências, conforme os relatos abaixo:
-Sra. Célia: “exatamente essas contas né? Onde você pode investir? É só mesmo para
pagar as compras não tem como, entendendo? Você não pode fazer uma viagem, ir ao
teatro, porque tudo, como você vai desviar né? Não tenho plano de saúde, como na minha
idade, então? Agora? Já tava difícil antes, agora então, porque é muito mais caro, não é? Não
tem como. Com R$ 350,00, mesmo você tendo sua casa própria, luz, gás, telefone,
alimentação. Você não pode fazer nada. O dinheiro é certinho, certinho. A roupa, a gente aqui
ganha, sabe? Minha cunhada que dá roupa. Só mesmo quando tem às vezes uma encomenda
maior e tal, entendendo? Tudo bem, mas fora isso não, não tem nada, nada, nada... O
dinheiro aqui é as contas e vê o que sobra para comer. A gente vai. Primeiro, as contas, o
principal é as contas. Aí pagou as contas, o resto que ficar seja o que Deus quiser, vamos
tentar arranjar, aí aparece uma encomenda, parece outra, aí você vai se arrumar. Não dá.
Não”;
-Sra. Elsa e Sra. Fátima: “esse armário que atrás de você e a cômoda, o resto é tudo
dado. Comprei em prestação nas casas Bahia. Não é mole. Esse que você está sentada, a
amiga da cesta básica nos deu. É tudo doação”.
-Sra. Glória: “não, nada, nada. Investimento é só remédio e médico, todo mês é isso
(frisa), o que vai se fazer? Tem que se cuidar. Eu pintava o cabelo, depois que eu operei não
podia mais pintar, não ia deixar, porque a tinta está caríssima né? Não vou gastar dinheiro,
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vou deixar o cabelo branco. velha, para que pintar cabelo? Não vou casar mais, não é? Não
pintei mais não, vaidade boba gasta dinheiro à toa. Quando a gente é mais moça, tivesse
intenção de casar, eu não tenho mais não. Agora é só esperar São Pedro chamar (risos)”;
-Sra. Isaura: “foi é arrumar a minha casinha. Embolsar, pintar, que não era embolsada,
foi isso. Comprar um joguinho de mesa, essas coisas que eu não tinha. Com isso aí. Um
fogãzinho, a geladeirinha... Foi aos poucos (frisa)... Cada vez comprava alguma coisinha.
arrumadinha, pintado por fora, toda pintadinha, toda bonitinha”.
Percebe-se que as Sra. Elsa, Sra. Fátima e Sra. Isaura investiram em promover
melhorias em suas residências comprando móveis ou realizando pequenos reparos. A Sra.
Célia afirma que o gasto com a alimentação e o pagamento das contas não permite ter um
gasto extra. O mesmo acontece com a Sra. Glória, cujo benefício destina-se exclusivamente
para cuidados com sua saúde, não permitindo assim outros gastos.
2.6 POUPAR PARTE DO DINHEIRO
Em relação a poupar parte do seu dinheiro, os idosos beneficiários relataram sobre a
dificuldade em conseguir tal feito, segundo as respostas que se seguem:
-Sra. Arminda: “às vezes, eu tiro uma besteira e guardo porque de uma hora para outra
a gente precisa, já sabe aonde vai pegar. Agora na minha saída, eu tirei o resto que tinha,
outro me deu R$100,00, outro me deu R$50,00. A pessoa também está num lugar sem
dinheiro não presta. Às vezes, vê quer comprar alguma coisa. A gente vê quer comprar, cadê?
O bom é a gente juntar primeiro”;
-Sra. Dora: “não. Geralmente, esse benefício, eu tenho que ter uma reserva para cobrir
o resto. Às vezes, não dá nem para comprar nada, às vezes, quero comprar vou no mercado,
quero comprar uma coisa mais gostosa, digo não. Recebo o benefício, vou comprar isso, na
promoção, vou comprar, não, se sobrar, eu compro. A prioridade é pagar as contas né? Paga
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tudo o que tenho que pagar, aí o que sobra, eu boto lá. Quando eu faço uma venda sim, aí eu
ganhei aquele dinheiro, também separo, este paga isso, aquilo, tudo separado. Sobra um
pouco, vou no mercado, comprar umas coisas. O que sobra, eu compro. Se souber dividir a
vida fica mais fácil. Isso que é importante, se você souber dividir (frisa)”;
-Sra. Fátima: “não, pode falar palavrão? (risos) Quem consegue poupar, mentindo.
Não vale mentir né?”;
Observa-se que a Sra. Arminda consegue guardar uma parte de seu dinheiro em sua
própria casa para caso ocorra alguma eventualidade futura ou emergência. A Sra. Dora
explica que consegue poupar apenas com o que recebe da venda de imóveis, sendo o dinheiro
do benefício voltado basicamente para o pagamento das contas e compras, em geral.
No que diz respeito a poupar parte do dinheiro, as idosas não beneficiárias relataram
suas dificuldades em poupar, conforme as respostas abaixo:
-Sra. Jurema: “o dinheiro dele (do companheiro)? O que ele me dá, eu gasto. Não
guardo, eu gasto tudo. Não dá para guardar, porque às vezes é assim compro uma coisinha
para eu ir pagando, uma roupinha. Eu tenho uma pessoa ali, ele paga todo mundo, eu também
a mesma coisa. Ele já pagou todo mundo, eu também a mesma coisa, já paguei todo mundo.
Tem que ter cabeça para poder comprar. Se eu fico devendo um real, eu já fico com vergonha.
A gente paga IPTU. A pessoa que tem vergonha tem caráter, tem vergonha na cara (risos)”;
Nota-se que a Sra. Jurema ressalta a importância de se pagar suas dívidas e,
conseqüentemente, não ficar devendo a ninguém. Percebe-se que parte dos idosos
beneficiários conseguem guardar do salário recebido no mês para emergências surgidas até o
recebimento do próximo pagamento, sendo que apenas uma possui poupança, os demais não
conseguem poupar de forma sistemática. As idosas não beneficiárias, em sua maioria, não
conseguem poupar e quando o fazem esse dinheiro destina-se a gastos eventuais seus e de
seus familiares.
97
Finalizando, o perfil econômico dos idosos beneficiários e não beneficiários possui as
seguintes características: ambos gastam seu dinheiro, sobretudo, com a alimentação, o
pagamento de contas e a compra de medicamento; ao refletirem sobre os seus gastos, as
idosas não beneficiárias têm um gasto maior que os idosos beneficiários devido à presença em
sua residência de seus filhos e netos. De acordo a SETI, o dinheiro do BPC é usado
principalmente com alimentação, medicamento, tratamento, vestuário, despesas como
moradia e atividades de geração de renda, respectivamente
16
.
Os idosos beneficiários elencaram que gostariam de gastar, caso tivessem mais
dinheiro, viajando enquanto que as idosas não beneficiárias gastariam com suas casas,
alimentação ou poupariam. Pode-se considerar que as viagens representam um projeto
individual dos idosos beneficiários, visto que possuem menos laços familiares, o que
corrobora com sua individualização.
Douglas aponta que os bens são fundamentais para a garantia da sobrevivência e, ao
mesmo tempo, para se diferenciar perante aos outros dentro da sociedade. Além disso, são
expressões da cultura, trazendo consigo um significado. Isto é, “todos concordam a respeito
dessa abordagem dos bens, que sublinha o duplo papel de provedores da subsistência e de
marcadores das linhas das relações sociais” (2004: 106). Sendo assim, o idoso utiliza seu
consumo a fim de afirmar algo a seu respeito, de sua família, de seu local de residência frente
aos outros que o cercam.
As despesas são divididas com filhos e irmãs no caso dos idosos beneficiários e com
maridos e/ou companheiros e filhos das idosas não beneficiárias, sendo que ambos, quando
residem sozinhos, preferem pagar as contas, em primeiro lugar, para depois realizarem as
compras.
16
A SETI formulou uma estatística das informações sociais complementares contidas na 5 ª etapa da revisão do BPC realizado no município
do Rio de Janeiro.
98
Os idosos beneficiários que conseguiram realizar um investimento com o recurso
proveniente do benefício, o fizeram promovendo melhorias em suas residências e, por último,
alguns idosos beneficiários conseguem poupar parte do seu dinheiro. Por sua vez, as idosas
não beneficiárias não o fazem. Observa-se a preocupação com a casa, que representa o bem
mais importante a ser preservado, onde o dinheiro que sobra é destinado, assim como a
predominância da alimentação no orçamento doméstico.
Os idosos beneficiários têm uma composição domiciliar que engloba irmãs ou filhos e
as idosas não beneficiárias, por sua vez, possuem uma composição domiciliar que inclui
maridos e/ou companheiros, filhos e netos. Nesse sentido, nota-se que há um apoio, não só de
ordem financeira, das idosas não beneficiárias e seus cônjuges aos seus filhos e netos. Por
exemplo, uma idosa ressalta que achava que seus filhos adultos a ajudariam, quando na
realidade ocorre o contrário, mas também, compreende ausência dessa ajuda, argumentando
que o mesmo também tem seus próprios filhos e sua casa para sustentar.
Nesse contexto, Camarano, Kanso, Mello e Pasinato (2004) analisam a forma como a
família brasileira está se preparando para o envelhecimento da população e seus efeitos tais
como a diminuição da capacidade funcional e financeira dos idosos, o aumento da
dependência econômica da população jovem e a redução do papel do Estado. Para tal,
classificou-se em famílias de idosos (quando o idoso é o chefe ou cônjuge) e em famílias
com idosos (quando ele é o parente do chefe).
No primeiro grupo, há idosos autônomos enquanto que no segundo existem idosos
vulneráveis. Na família de idosos, a direção do apoio se dá dos idosos para os demais
familiares e nas famílias com idosos é, ao contrário, dos familiares para os idosos. Notou-se
uma diminuição no número de indivíduos que trabalham em ambos os grupos e um aumento
do número de beneficiários da seguridade social mais nas famílias de idosos do que das com
idosos.
99
Por exemplo, na década de 80, as famílias brasileiras de idosos encontravam-se em
condições econômicas piores do que as com idosos. Tal panorama modificou-se nesta década,
quando os idosos se tornaram menos pobres e tiveram uma renda média domiciliar per capita
um pouco maior.
O aumento da contribuição da renda do idoso no orçamento domiciliar está associado
ao crescimento da participação do benefício social na sua renda (...) A expressiva
redução da pobreza ocorrida nos dois tipos de família deve estar associada, também,
ao aumento de proporção de idosos beneficiários da seguridade social (Camarano,
Kanso, Mello e Pasinato, 2004:152).
Observaram que com a redução da participação do Estado, as famílias são demandadas
para realizar o cuidado das pessoas em vulnerabilidade social como é o caso os idosos. Nesse
sentido, as trocas de apoio traduzidas em forma de co-residência, transferências materiais,
suporte emocional e cuidado pessoal são uma, entre outras, das maneiras de garantir a
sobrevivência desses idosos.
A direção da troca de apoio dos filhos para os idosos é geralmente aumentada a partir
dos 75 anos, mas até essa idade, a direção tende a ser dos idosos para os seus filhos, em
decorrência de, entre outros fatores, da saída tardia dos filhos de suas residências. No primeiro
caso, o idoso acima de 75 anos passa a pertencer a uma família com idosos e isso é decorrente
de sua vulnerabilidade física ou financeira.
A co-residência pode beneficiar tanto as gerações mais novas quanto as mais velhas.
No entanto, não se sabe, por exemplo, se do ponto de vista dos idosos os arranjos
familiares predominantes estão refletindo as suas preferências ou se são resultados de
uma solidariedade imposta. Como se viu, essa pode ser resultado de pressões
econômicas, sociais e/ou de saúde, seja de sua parte, seja da parte de seus filhos
(Camarano, Kanso, Mello e Pasinato, 2004:145).
Portanto, pode-se inferir que, quanto à transferência de apoio, em geral, as idosas não
beneficiárias prestam auxílio aos seus filhos e netos. Por outro lado, os idosos beneficiários
participam pouco dessa transferência. Com base nisso, pode-se pensar que o BPC se insere,
no momento em que o laço conjugal se ausenta. Ou seja, para aquelas que têm marido, filhos
e netos, há outras fontes de renda como aposentadoria do cônjuge, ou a própria ocupação das
100
idosas e um gasto também maior porque seus filhos encontram-se fora do mercado de
trabalho. Para aquelas que não tem, há a possibilidade de acesso ao recurso público oferecido
pelo Estado (BPC).
Segundo a SETI, nota-se que entre as principais situações encontradas envolvendo os
integrantes do núcleo familiar do beneficiário do BPC, tem-se um número considerável de
pessoas com mais de 18 anos e desempregados e/ ou procurando trabalho ou com necessidade
de qualificação profissional dos que procuram trabalho.
101
CAPÍTULO 3
PERFIL ASSOCIATIVO DOS IDOSOS ENTREVISTADOS
Este capítulo busca estabelecer o grau de participação associativa dos idosos
beneficiários e dos não beneficiários, por meio de uma análise comparativa dos dados
coletados nas entrevistas que tiveram como base as seguintes perguntas:
- Como o (a) Sr.(a) soube que tinha direito ao benefício?
- O (a) Sr.(a) conhece o BPC?
- Participa ou pertence a algum grupo, associação ou organização dentro da sua
comunidade? Igreja?
- O (a) Sr.(a) faz alguma coisa com seu tempo livre?
Essas perguntas visam caracterizar a maneira como os idosos beneficiários ficaram
sabendo que tinham direito a um benefício público e se os idosos não beneficiários conhecem
o BPC. Assim como, a caracterização da participação comunitária e da utilização do tempo
livre dos idosos beneficiários e dos não beneficiários.
Neste capítulo, usaremos a bibliografia sobre assistência social e pobreza, a partir dos
estudos de Sposati (1995) e Yazbek (2003), que verificam a relevância dos benefícios não
contributivos no acesso das pessoas pobres aos direitos sociais.
3.1 COMO SOUBERAM QUE TINHAM DIREITO AO BENEFÍCIO
Em relação à forma que os idosos beneficiários souberam que tinham direito ao
benefício, nota-se que esses idosos tomaram conhecimento que tinham direito a um benefício
público por meio de pessoas próximas tais como: ex-marido, dentista, amigos, acompanhante
e vizinha. Uma idosa já sabia de seu direito e não precisou que ninguém a orientasse e a outra
102
idosa soube depois que passou a participar das atividades promovidas pela prefeitura, de
acordo com os relatos abaixo:
-Sra. Arminda: “Foi por mim. Ele (o marido) morreu na terça, na quarta eu enterrei e
na quinta eu fui lá (INSS). Dona R.? Tira o nome do A. e bota o meu, porque ele morreu antes
de ontem. “A Sra. tem identidade?” “Não tenho, não.” Aí, tirei a identidade. Com 3 meses
(saiu a pensão), melhor do que nada. ”;
-Sra. Berenice: “É, por ele (o ex-marido), foi. Aí, ele correu atrás da minha
aposentadoria, aí me aposentei. Quando ele me deixou, eu não era aposentada ainda não. Foi
ele que deu entrada na minha aposentadoria, foi ele. Aí, me aposentei. Aí quando foi um
tempo, aí meu marido escutou um número de vezes que quem trabalhou até um ano de pensão
que eu tenho, tinha direito de se aposentar. Aí, ele cuidou da aposentadoria né? Botou um
advogado, cuidou aí me aposentei”;
-Sra. Célia: “Pela participação na prefeitura, a J. que me falou, ela foi fazer minha
ficha para... tinha que cadastrar. Dentro do Rio Experiente
17
, a gente tinha que participar de
uma atividade lá na prefeitura, entendeu?”;
-Sra. Dora: “Foi o meu dentista que me falou, porque eu fazia tratamento de dente. Por
sinal, ele é muito bom dentista e muito meu amigo, conheço ele há mais de 30 anos, foi
dentista da família toda. Tava para fazer um trabalho ele me disse: “Tem que endireitar seus
dentes, muito ruim não encaixa direito, você tem que trocar o aparelho”. Virei para ele: “só
se eu fizer uma venda boa”, ainda brinquei assim com ele. Separo aquele dinheiro, vou tratar
dos dentes, por que enquanto não dando, o que ganhando é para pagar minhas despesas.
Porque não tenho dinheiro por mês, quem tem uma pensão, uma aposentadoria, qualquer
coisa, sabe que conta com aquele dinheiro, então a vida gira em torno daquele dinheiro, ou
gasta mais ou gasta menos, mas sabe que conta com aquele dinheiro. (...) Aí meu dentista,
17
Conforme divulgado pelo site da SETI, o projeto agente experiente visa transformar o idoso em canal de informação para as pessoas que
circulam nas praças e corredores viários da cidade, em especial os moradores de rua. Oferece a possibilidade de acesso ou complementação
de sua renda através de uma bolsa mensal. Participam deste projeto, 110 idosos.
103
olha, meu irmão não pode me ajudar mais, eu não posso fazer, difícil para mim, às vezes,
eu faço uma venda, aquela venda, guardo o dinheiro para o ano inteiro, às vezes não faço
outra venda. muito difícil venda de imóvel, já há muitos anos, há muito tempo assim, aí
ele foi me disse: “por que você não pede auxílio à terceira idade, você tem direito, você não
tem pensão, não tem aposentadoria, você já velha”. Ainda brinquei com ele: “Não me
chama de velha”. “Você já tem idade, você faz o pedido”. Eu não sabia como era, ele me
ensinou, fui no INPS, fiz a inscrição e esperei bem uns 2 anos para conseguir receber. Aí,
quando eu recebi, bom agora vou tratar dos dentes, foi aí tratei dos dentes.Tirava um dinheiro
por mês, ele me facilita muito, eu pago por mês, de graça ele não vai fazer também porque ele
gasta, gasta o protético tudo, não pode, ele me ajuda muito.”;
-Sra. Elsa: “Eu soube por uma amiga minha, sempre tem os amigos né? Ela realmente
foi fabulosa, a gente encontrou com ela por acaso: “Não precisa ficar aflita”. Conhecia
também essa outra moça que nós estávamos na casa dela, ela nunca nos fez nada, nunca falou
nada, ela é maravilhosa. Ela foi conosco, uma a mulher pode se dizer rica né? Ela nos
orientou bem e nós conseguimos (A Sra. Elsa e a Sra. Fátima encontraram com uma amiga, a
qual sabia da situação delas, e as orientou sobre o BPC)”;
-Sra. Fátima: “A mesma história. Ela deve a mim que encontrei a G.(a amiga). Oh! E
como! Diariamente, somos amigas há muitos anos. Essa G., por exemplo, eu conheci a
primeira vez que eu vi, ela estava dando de mamar para o filho dela, quase com 50 anos, a
um bocado de tempo, ele tem 48, 49 anos. Quando eu conheci, ela estava amamentando o H..
A amizade é muito antiga, não tem nada a ver com dinheiro (frisa)”.
-Sra. Glória: “Por que a L. (a acompanhante) sabe, ela é muito inteligente, ela escuta
muito em noticiário essas coisas. Aí, ela me falou: “por que você não tenta?”. Ah, eu não sei
nada disso. Ela me alertou né? Aí, uma colega minha que entende também muito disso, ih, ela
por dentro dessas coisas, ela foi comigo e fez, eu recebo aqui no Banco Real.”;
104
-Sr. Hélio: “Tinha uma garota, fazia esse negócio de entrega, sempre ela faz, que
trabalhava com a gente lá (na praia). Aí, ela me falou: “Já arrumei o negócio do INPS”, aí
arrumou para mim. É uma amiga. Eu já tinha falado para ela que eu tava com 65 anos, mas
com 65 não dava, mas aí eu completei 67, aí peguei e recebi. Agora baixou para 65 né?”;
-Sra. Isaura: “Foi uma vizinha minha de muito tempo porque ela me falou e arrumou
para mim. Ela foi até comigo também, para,, né?”.
A Sra. Arminda se destaca das demais, pois já tinha conhecimento de seu direito antes
de acessá-lo. A Sra. Berenice contou com o ex-marido para providenciar sua aposentadoria. A
Sra. Célia foi informada pela assistente social que trabalha no CRAS, onde a idosa realiza
atividades promovidas pela prefeitura destinada à terceira idade. As Sra. Dora, Sra. Elsa e Sra.
Fátima souberam que tinham direito ao benefício por meio de amigos e as Sra. Glória, Sra.
Isaura e o Sr. Hélio ficaram sabendo por meio da acompanhante, vizinha e colega de trabalho.
3.2 CONHECIMENTO DO BPC
Ao responder sobre o conhecimento ou não do BPC, percebe-se que as idosas não
beneficiárias, em sua maioria, não conhecem esse benefício. Das duas que o conhecem, uma
delas já tentou acessar, mas seu pedido foi indeferido e a outra aguarda completar a idade
necessária, de acordo com as respostas a seguir:
-Sra. Jurema: “Não conheço não, para quê que é? Onde é que tem? Eu não tenho nada,
isso que eu queria descobrindo, isso que eu queria falar porque precisando de ajuda. Se a
Sra. puder arrumar para mim? Tem um outro aí negócio de... Que tão descobrindo agora, tão
ganhando, para quem não recebe nada (?) ganha R$ 50,00 por mês. Para aqueles que não têm
nada, então não recebeu nada ainda, tem de pagar aquele, tem mês que não recebe (?).”;
105
-Sra. Luzia: “Não conheço nada! Às vezes, o pessoal fala assim: “Por que a Sra. não
vai para Goiás?”. Eu digo: “Se Alguém me encaminhar e me levar, eu vou, porque eu não
entendo nada dessas coisas.”;
-Sra. Regina: “Eu não fiz! Eu tenho uma comadre que mora em Caxias, como ela
conseguiu fácil, falou assim: “Vem aqui que eu vou arrumar para você”. Sendo que tinha que
dar metade para tal de advogado que arrumou para ela. Aí eu levei meus documentos, ele lá
deu entrada, aí esperei nove meses, quase nove meses, ela falou que deu problema, disse que
foi erro dos funcionários de lá, porque eu tinha renda familiar. Fiquei aborrecida e panhei
meus documentos e fui dar entrada aqui. Aí dei entrada na Barra, aí deu também tenho... Que
tenho renda familiar, eu não trabalho, eu trabalhei só 6 anos de carteira assinada. O problema
lá de Caxias veio para cá. Ele perguntou inclusive, aqui quando deu entrada aqui, perguntaram
por um endereço que eu não conhecia primeiramente: “A Sra. morou na em tal rua? A Sra. já
trabalhou em tal rua?”. Falei assim não, eu nem sabia né? Porque aqui a Sra. deu entrada em
Caxias, dando que a Sra. trabalhou em tal rua. Não, que eu tinha dado entrada lá, não
menti. Minha comadre em 3 meses, ela resolveu o problema dela. Acho que vou ter que ir lá
em Caxias de novo para ver o que eles vão poder resolver lá. Eu vou volta lá em Caxias. Aí eu
fui lá de novo aqui, foi até mês retrasado, nem adianta a Sra.(?).”;
-Sra. Tânia: “Fiz um encaminhamento quando fui, agora pouco, ele falou que eu só
podia fazer depois que completasse 65 anos. Eu fui lá no INSS, eu pedi o papel e ele não, só
quando você completar 65 anos. Tive lá no INPS, ali da Barra, porque eu tinha uma parte do
INSS paga com carnê, eu tinha uns 4 carnês pago, tava pagando, mas quando minha mãe
ficou doente, aí foi o problema, a doença, tudo aí eu parei. Mas, eu tive lá falei com eles, vou
dá o encaminhamento agora janeiro do ano que vem, já começo aí lá para ver como que é, ano
que vem já completo os 65 anos para ver.”
106
A Sra. Jurema não conhecia o BPC e solicitou que eu providenciasse tal beneficio para
ela. A Sra. Luzia também não conhecia o BPC e deu a entender que caso voltasse para o
Goiás talvez conseguisse de maneira mais fácil ser contemplada com algum benefício. As Sra.
Magali, Sra. Nair, Sra. Ondina, Sra. Pilar e Sra. Silvia responderam não conhecer o BPC.
Entretanto, as Sra. Magali e Sra. Nair, após a entrevista, relataram já terem ido ao
INSS em busca de algum benefício (aposentadoria rural ou BPC), mas não conseguiram
porque não têm como comprovar seu trabalho no campo ou pelo fato de seus maridos já
serem aposentados, respectivamente. Relatei tal situação para a assistente social que as
acompanha e a mesma verificaria junto às idosas o pré-requisito da renda per capita familiar
para assim analisar a possibilidade de reencaminhá-las ao INSS com vistas ao BPC. Essa
questão encontra-se mais aprofundada na introdução.
A Sra. Regina relatou sua tentativa de conseguir o BPC em Caxias com a ajuda de um
advogado, mas tal tentativa foi frustrada e a idosa teria que corrigir seus dados para assim
poder acessar seu benefício. Quanto às Sra. Pilar e Sra. Tânia, estão aguardando completar a
idade mínima necessária para requerer o BPC. No caso da Sra. Pilar, apesar de ter relatado
que não conhece o BPC, a assistente social que a acompanha irá orientá-la quando a mesma
completar 65 anos.
3.3 PARTICIPAÇÃO NA COMUNIDADE
No que diz respeito à participação dos idosos beneficiários na comunidade, observa-se
que a participação deles é diferenciada: enquanto alguns freqüentam a Igreja, outros já
participaram do CEMASI
18
, tendo apenas uma que continua a fazer as atividades promovidas
18
Conforme o divulgado pelo site da prefeitura, CEMASI (Centro Municipal de Assistência Social Integrada) é a porta de entrada para os
programas sociais da Prefeitura do Rio de Janeiro. Os centros atuam como núcleo de articulação da rede social, e atualmente sua principal
função é atender a política de Vigilância da Exclusão Social. Estão distribuídos pelas 10 Coordenadorias Regionais de Assistência Social
(CRAS), intervindo na realidade social dos cidadãos.
107
pela instituição. Duas relataram que preferem freqüentar a casa de amigos e já fizeram parte
da Banda de Ipanema, conforme os relatos abaixo:
-Sra. Arminda: “Não, eu tava era aí no CEMASI. Mais depois fiquei ruim desse olho,
não vendo nada. Vim aqui muitos anos, mais eu vou operar da visão.”;
-Sra. Berenice: “Não, participo não. Vai fazer bem uns 5 anos, assim! Eu fui uma das
primeiras aqui do CEMASI. Não sei, já vai para um ano, não sei...” (não tem ido ao
CEMASI);
-Sra. Célia: “E eu já participava, então eu tava fazendo as aulas do R., ele dava era
expressão corporal, mais tipo questionários de vez em quando, perguntas, falar sobre as
coisas, arco íris, as coisas assim sabe? Já participava. Fiquei sabendo do coral, entrei no coral.
Depois fiquei sabendo da aula da V., corpo e mente, que nem a V., era T., uma israelense,
mas como a filha teve neném, ela precisa de uma pessoa e passou então para V. Já tenho 2
anos que estou nessas atividades. Tinha cursos aí, mas eles acabaram com os cursos, teve
inglês, espanhol, teve curso de artesanato, sabe? Tinham diversos cursos. A pintura, não
posso, justamente por causa do dia da reunião. Antes as aulas do seu H. eram mais cedo, aí
não dava. Como já tenho a aula da V. e do coral, falei: “tudo bem”. Aí ficava na praça de 8:00
às 12:00, por exemplo, dia da V., a gente ficava de 9:00 às 10:00, então saía ficava até às
14:00 para compensar o tempo que a gente teve a aula. Eu participo ainda do coral e das aulas
da V..”;
-Sra. Dora: “Eu não pertenço, mas freqüento muito, essa aqui São Paulo Apóstolo,
aqui pertinho. A Igreja, sim, eu gosto muito. Tem uma campanha que a gente fazendo lá
para não ver o filme “Código da Vinci”, uma campanha para não ver, falando mal de Jesus
Cristo. Eu acho isso um absurdo. Eu tenho impressão que eles inventaram isso para ganhar
dinheiro. Geralmente, aos domingos, depois da missa faz um lanche lá mesmo fica
conversando. Às vezes tem quermesse, agora mês que vem em junho, sempre época de São
108
João, aí leva as coisas fica na barraquinha, é sorteada, às vezes não fica, é para fazer bolo,
fazer alguma coisa..”;
-Sra. Elsa: “Eu não freqüento não, sabe? Eu prefiro ir para a casa das amigas, essas
coisas, sei lá, de festa, reuniões que tem de idosos na prefeitura, eles formaram umas coisas
assim. A M. vai muito, mas eu não. Não faz meu gênero. Aliás, hoje eu iria para Santa Teresa.
Não indo mais, deu um negócio na Rua do Lavrado.”;
-Sra. Fátima: “Não, é uma das fundadoras da banda de Ipanema, todas as duas. É uma
batucada danada, nunca mais, eles reclamam para voltar. muito feia a banda. Não é aquela
coisa, deixou de ser a banda, não é mais.”;
-Sra. Glória: “Não, nada, nada. Nunca participei.”;
-Sr. Hélio: “Não, a Igreja, eu vou à missa, mas não participo não.”;
-Sra. Isaura: “Não, filhinha. Uma vez ou outra na Igreja, mas sem compromisso. Se
inscrevi no Posto de Saúde do Vidigal, mas nunca fui. Não sei filhinha... Mas, também me dói
as pernas quando eu ando muito.”
As Sra. Arminda e Sra. Berenice já participaram do grupo de convivência do
CEMASI, mas, no momento, não estão freqüentando por motivos de saúde. A Sra. Célia
participa de três atividades promovidas pelo CRAS
19
, as quais são: coral, corpo e mente e Rio
Experiente. As Sra. Dora, Sra. Isaura e o Sr. Hélio não participam desses grupos, porém
freqüentam a Igreja, sendo que a Sra. Dora se destaca por ter uma participação mais ativa. As
Sra. Elsa e Sra. Fátima foram fundadoras da Banda de Ipanema, a Sra. Elsa esclareceu que
prefere estar na casa de amigos a participar dos grupos de convivência promovidos pela
prefeitura. Por último, tem-se a Sra. Glória que nunca participou das atividades descritas
acima.
19
Conforme o divulgado pelo site da prefeitura, as Coordenadorias Regionais de Assistência Social (CRAS) atuam como portas de entrada
dos cidadãos no atendimento prestado pela Secretária Municipal de Assistência Social. No CRAS é possível fazer o cadastramento da
população de baixa renda, que é encaminhada para a rede de assistência social da Prefeitura. É da competência de cada Coordenadoria Geral
participar do planejamento de programas e projetos a serem realizados na sua área de abrangência; implementar a política regional de
assistência; realizar pesquisas, coordenar, supervisionar e avaliar a execução de todas as ações de desenvolvimento social.
109
Em relação à participação na comunidade, percebe-se que as idosas não beneficiárias
possuem uma boa participação comunitária tanto nos CEMASIs como nas Igrejas, sendo que
três delas ajudam efetivamente em uma Capela próxima a sua residência e a outra ajuda na
execução do trabalho da presidente da comunidade, de acordo com as respostas dadas a
seguir:
-Sra. Jurema: “Eu vou à Igreja, Assembléia de Deus, lá que eu recebo a bolsa (a cesta
básica), eles cortaram o cheque cidadão e a gente ganhou a ajuda da bolsa. O CEMASI, eu
tenho 11 anos (frisa), até hoje, uma hora boa que a gente passa, eu gosto.”;
-Sra. Luzia: “Não... Nem na Igreja, não participo de nenhum grupo assim... Eu vou à
Igreja, mas não... Não tenho grupo de senhoras, essas coisas, não participo de nada... Já
participei há muito tempo, quando eu era mais nova. Ah, porque agora eu mais sem saúde,
cansada... às vezes, eu vou só assim, mas não participo não... Só venho aqui no CEMASI, têm
5 anos que eu aqui no CEMASI desde que começou... eu sempre, faço tudo daqui, no
CEMASI (frisa). Ah, faço crochê, faço ponto de cruz, bordo, faço fuxico... E outras coisas
mais, se me ensinar, eu faço. Às vezes, quando eu assim de folga em casa, eu gosto de
mexer com um fuxiquinho, assim, fazer um tapetinho. Às vezes, eu faço e dou pro meus
filhos, às vezes fica para mim mesmo. Não, têm vezes que eu vendo... Quando as pessoas
querem comprar, eu vou e vendo... Mas, baratinho R$ 10,00. Gosto de fazer fuxico e crochê, a
linha cara e de repente... Não dá para comprar, dá vontade de fazer, mas não tem
condições.”;
-Sra. Magali: “Não, a gente passou a participar aqui (atividades do CEMASI) né? Uma
vez, eu vim aqui, aí a J., uma moça, que assistente social me convidou: “Você quer vir
conhecer aqui, negócio da terceira idade?”. Eu saia de jeito nenhum, quase nada de casa,
ficava só trabalhando. Que sabe de uma coisa eu vou ir. Toda quarta feira, aí eu vim, fiquei
mais de um ano. Gostei muito. Vou muito à missa e todo dia assisto o terço na TV à noite e de
110
manhã. Mas, agora voltei atrás, participo sim. Tem uma capelinha de trás da minha casa, nós
ajuda lá, a arrumar lá, varrer essas coisas, dá uma limpezinha, de vez em quando também,
quando tem tempo (frisa), só fim de semana né?”;
-Sra. Nair: “Tem uma Igrejinha lá na minha comunidade, a gente arruma a Igreja, vai à
missa. Todo sábado tem a missa lá na minha comunidade que é a Igreja Sagrado Coração de
Jesus, aí tem um padre que vai rezar a missa lá para gente. Até eu tinha vontade, você também
me perguntando, tivesse dinheiro nem que fosse um pouco, nossa Igreja precisando, em
obra, mas não tem como arrumar que a outra Igreja também em obra. A do Sagrado
Coração de Jesus, aí o padre que pertence a Igreja do Sagrado Coração de Jesus é o mesmo de
lá, mas ele arrumando ela de baixo, e a nossa ficando sem arrumar, a gente que tinha que
dá o dinheiro, mas não tem como dar. Fez um ano que a gente começou aqui, em abril né?
Mais de um ano, a gente ficou com a R. A gente adorou, a R. é uma pessoa muito especial,
gostei muito. A gente nunca tinha participado de nada (frisa), aí ela veio aqui e me convidou.
Eu vim, gostei e fiquei vindo mais ela, só que faltava muito por causa dos netos, tinha que
ficar tomando conta. Mas, o tempo que fiquei, gostei.”;
-Sra. Ondina: “Não, a única coisa que eu participo é ajudar a presidente da
comunidade, eu ajudo ela na comunidade, quando ela precisa: “olha vem um oculista para cá
gratuito, você pode esperar ele para abrir a porta”, eu participo assim. Aqui no CEMASI,
venho no CEMASI. Eu ia naquela obra social em Laranjeiras, sabe? Aprender bijuteria, pegar
bem a prática, mas eu observei que eu tinha bastante prática, aí não foi necessário ficar, não
fiquei, peguei umas aulas, eu observei que eu já sabia aquilo tudo, então não ia tomar meu
tempo. Aí, eu fiquei quarta feira aqui e quando eu posso ajudo a presidente, quando eu lá,
às vezes tem um evento, uma coisa que ela precisa de alguém para ajudar, eu fico, quando não
posso, falo que não posso só isso. Desde que começo, freqüento quarta feira. Antes de
começar aqui, eu freqüentava na cidade, na prefeitura de lá, eu fazia parte da terceira idade,
111
quando tinha aquele grupo que eu ia para a Praia de Copacabana, botava aqueles artesanatos,
eu ia participar. Sempre gostei de participar, tinha tanta aula, aprendi muita coisa desde 95,
96, aprendi muita coisa, muita coisa já sabia e o que não sabia aprendi. Aí, eu passei para cá,
tem coisas que eu não sei, aqui a palestra de quarta feira eu não sei.”;
A Sra. Ondina também relata a participação comunitária da neta: “Minha neta estuda
em colégio particular, mas ela estuda lá desde novinha, desde 4 anos. Aquela família no
passado, eu trabalhei muito para eles também, então quando ganhei minha neta agora, a minha
filha também estudou na mesma escola, terminou o 2° grau lá. Mas, assim uma mão lava a
outra, eu não pagava, ele diziam: “bota a menina na escola que ela estuda aí”. A mesma coisa
foi a minha neta agora, “olha a gente não vai cobrar”. O meu ex-patrão antigamente: “deixa a
menina estudar”. Ela fez prova, já estava na 8° série, ela fez prova, passou e ganhou a bolsa,
ela continua lá, ela é estudiosa, graças a Deus. E nas horas vagas, ela me ajuda na casa do
casal. Da escola ela vai para casa, ela me ajuda em tudo, pega a vassoura, pega a louça, faz
isso, faz aquilo para me ajudar. Vem da escola e vai para casa almoçar e vai para o curso de
novo, ela faz informática em Ipanema gratuito segunda e quarta. E terça e quinta, ela faz
Francês também gratuito. Graças a Deus, gosto dela porque ela gosta de estudar, por isso, eu
ajudo. “Mãe, faz isso assim, assim para mim, faço sim, minha filha”. Ela me chama de mãe,
desde novinha comigo, é assim, lá em casa é assim”.
-Sra. Pilar: “Grupo da terceira idade né? Freqüento terças e sextas, têm uns 10 anos,
porque não era aqui, era na capela, depois que fizeram o CEMASI... Só reunião de Avon, de
Millus... É e na Igreja, mas não tem tempo agora com a mãe (de sua neta) trabalhando (a idosa
necessita de dispor de um maior tempo para cuidar de sua neta, pois sua filha, no momento,
está trabalhando).”;
-Sra. Regina: “Não, só aqui. Só venho segunda e terça aqui fazer aula de ginástica.”;
112
-Sra. Silvia: “Não, só vindo aqui. Não tem muito tempo não. Só faço ginástica
mesmo... Não, só vou ao culto né?”;
-Sra. Tânia: “Não, só aqui. Aqui eu faço ginástica, shiatsu, tai chi, faço aula de dança,
faço aula de artesanato, porque ficava em casa parada, agora. Só vou assim na missa, mas não
eu participo da Igreja, a filha participa.”
A Sra. Jurema freqüenta de forma sistemática a igreja, onde recebe cesta básica e o
CEMASI há 11 anos. Assim como a Sra. Luzia que vai à Igreja e freqüenta o CEMASI há 5
anos. As Sra. Magali e Sra. Nair freqüentam o CEMASI há 1 ano e colaboram para a
manutenção e funcionamento da Capela localizada próxima a sua residência. Sendo que a Sra.
Nair queixou-se de não poder participar de maneira mais assídua, pois, às vezes, precisa
cuidar de seus netos. A Sra. Ondina contou sua trajetória de participação desde o grupo da
terceira idade de Copacabana, da Obra Social de Laranjeiras, CEMASI e em sua comunidade.
Relatou ainda as atividades da neta tais como: obtenção de bolsa para os seus estudos, curso
de informática e Francês gratuitos. A Sra. Pilar freqüenta o CEMASI há 10 anos e não tem ido
tanto à Igreja, pois caso ocorra alguma eventualidade é necessário cuidar de sua neta. As Sra.
Regina, Sra. Silvia e Sra. Tânia participam das aulas, sobretudo, as de ginástica promovidas
pelo CEMASI, sendo que as Sra. Silvia e Sra. Tânia também vão à Igreja.
Os idosos beneficiários e as idosas não beneficiárias se diferenciam no que se refere à
participação comunitária, pois apenas uma idosa beneficiária participa dos grupos de
convivência promovidos pelo CRAS, sendo que duas já participaram e parte delas freqüenta a
Igreja. O restante não participa das atividades descritas acima, mas vão a outros espaços para
encontrar com seus amigos. Por outro lado, as idosas não beneficiárias têm uma participação
sistemática nos grupos de convivência e na Igreja, sendo que algumas idosas quando é
necessário, cuidam de seus netos e precisam faltar a essas atividades e parecem se ressentir
disso.
113
Cabe lembrar que os idosos, em geral, são em sua maioria católicos, sendo que as
idosas não beneficiárias têm um número representativo de pentecostais. Verifica-se em ambos
uma importância do papel da Igreja em sua vida cotidiana, como por exemplo, o caso de duas
idosas não beneficiárias que cuidam da limpeza e conservação da capela próxima a sua
residência. No caso de uma idosa beneficiária, freqüenta a Igreja todos os domingos, além de
participar de lanches, quermesses e campanhas.
3.4 USO DO TEMPO LIVRE
Em relação ao tempo livre, percebe-se que três idosas beneficiárias gostam de realizar
trabalhos manuais, mas duas não o fazem, pois estão com problemas relacionados à visão.
Três idosos apontaram passeios tais como: idas a praia e visitas a museus e exposições. Duas
disseram assistir às novelas, sendo que uma delas tamm conserta suas roupas e cuida das
plantas. E, por último, uma idosa relatou que tem pouco tempo livre, porque têm muitas
atividades, conforme as respostas abaixo:
-Sra. Arminda: “Fiz tanto tapete, fuxico, agora não, por causa da vista. Faço lã porque
é mais fácil, só pegar o ponto. Só porque eu não gosto de ficar quieta parada. vivendo a
vida até o dia em que Deus me chamar.”;
-Sra. Berenice: “Faço nada não... Só comer e dormir. Gosto de ver novelas, nem todas.
Muitas novelas não vejo, não.”;
-Sra. Célia: “Ih, minha filha, se você visse, eu leio, quando não lendo, se você
quiser posso até te mostrar. Faço encarte, tricô, sapatinhos, mantinhas, fiz mini toquinhas para
lembrança de maternidade, depois comprar tule e botar aí dentro. sempre, às vezes eu
deito, me dá uma idéia, gosto de mexer com decoração, às vezes tem uma festa, uma
encomenda, sempre procurando fazer com que eu tenho em casa, uma peneira, passo um
114
fitilho, uma cesta. Escrever sobre a vida, parei para não mexer nas feridas. Não agüento ficar
parada, gosto de estar mexendo.”;
-Sra. Dora: “Realmente, é muito difícil ter um tempo livre, viu? Quando acordo, faço
café, tomo café, já vou para o telefone, ligo para um para outro para saber se tenho alguma
coisa para fazer, às vezes tem agendado visita, ou vou para fazer laudo. (...) Às vezes, eu não
posso porque não bem, sofro de labirintite, por isso tenho que fazer tudo por aqui, não
gosto de pegar condução, não. (...) Faço uma costura, às vezes, uma bainha, faço uma comida,
faço comida para comer aquele dia e deixo para o dia seguinte para não ter que ficar fazendo.
Fora isso, eu vou para casa do meu irmão, visitar ele todo o dia (frisa), ele mora na Bolívar.
Porque dá uma força para minha cunhada, ajuda, sempre tem uma ajudazinha. Fico lá
conversando com ele para ela poder adiantar uma comida, adiantar alguma coisa. Não dá para
botar enfermeira, elas cobram muito.(...) E se precisar vou para lá, acaba o dia, não tenho
tempo de ver TV, eu vejo TV lá.”;
-Sra. Elsa: “Eu gosto muito também de ver museu, exposição, artes plásticas. Vou
muito, aliás, vou muito sozinha, a minha irmã não muito animada para sair. Eu chamo para
ir ao cinema, ela não vai. Tenho paixão pela Cokie, é uma coker, que mora no Catete com
uma amiga, ela é minha afilhada.”;
-Sra. Fátima: “Adoro gato. Tem outro lá na Rainha Elizabeth, uma gata linda,
maravilhosa. Gosto muito do Jardim do Catete, lá tem um gato lindo, eu falo sempre com
ele.”;
-Sra. Glória: “Agora não faço nada, não enxergo. Antigamente fazia muito tricô,
crochê. Fazia casaquinho, sapatinho, cada casaquinho lindo que eu fazia! Agora, não enxergo,
nem para cortar a unha não enxergo, a L. que corta minha unha, faz meu pé. Tudo, tudo...
Quando tenho que sair ela me prepara, eu não enxergo. Dá para viver assim, andar dentro de
casa, que já conheço. Lugar que eu não conheço, tenho que andar com muito cuidado. Mas,
115
ainda dou Graças a Deus, sei o que é ficar cega, sei que é horrível, ficar na escuridão é
horrível. Já têm tempo que estou sem enxergar, 2 ou 3 anos. Têm meus sobrinho e sobrinha
que moram em Copacabana que me visitam com freqüência. A minha vida é essa.”;
-Sr. Hélio: “Sempre que der mole, eu vou à praia, pra rever os colegas, os amigos...
Fico só fazendo alguma coisa em casa.”;
-Sra. Isaura: “Fico mais em casa, faço uma, nada para fora... Só assim, conserto
minhas roupas. Cuidar das plantas, tenho umas plantinhas ali na porta, adoro as plantas. Ver
TV, ver novela, adoro assistir novela.”
As Sra. Arminda e Sra. Glória já fizeram variados trabalhos manuais, porém, no
momento não o fazem por problemas na visão. No caso da Sra. Arminda, ela ainda faz lã e no
caso da Sra. Glória, por estar cega, fica aborrecida de não poder realizar esses trabalhos
manuais. As Sra. Berenice e Sra. Isaura gostam de assistir à televisão, sendo que a Sra. Isaura
também aprecia o cuidado com sua casa. A Sra. Célia realiza muitos trabalhos manuais e
também gosta bastante de ler e escrever. A Sra. Dora conta com pouco tempo livre devido ao
seu trabalho e a atenção dispensada à família de seu irmão. As Sra. Elsa, Sra. Fátima e Sr.
Hélio relataram a realização de passeios em seu tempo livre, as primeiras também apreciam
cachorro e gato, respectivamente, e o idoso gosta de ir à praia para rever os colegas.
No que se refere à questão da saúde e do lazer, os idosos beneficiários ficam mais
tempo em casa e poucos freqüentam o espaço público como lazer, exceto três idosos que vão
à praia, ou passeiam em museus, exposições, e cinema. Esses, por sua vez, apresentam um
bom nível de saúde, o que possibilita essas saídas. Uma das explicações que pode ser dada
para parte dos idosos ficarem um tempo considerável em suas casas é que esses se encontram,
em alguns casos, com problemas de saúde.
Essa caracterização também é percebida nas idosas não beneficiárias, as quais ficam
um tempo bastante significativo em suas casas, ora realizando tarefas domésticas, ora
116
cuidando de seus maridos e/ou companheiros, filhos, e, sobretudo, netos. A velhice pobre
pode ser vista como mais reclusa, embora também se auto-refiram como Terceira Idade,
embora que esse conceito, que é amplamente difundido liga-se mais a uma velhice dinâmica e
não reclusa, ao contrário do que pode ser percebido. Observa-se tanto nos idosos beneficiários
como nas idosas não beneficiárias o predomínio das atividades manuais que remetem a uma
visão mais tradicional do envelhecimento feminino.
Ao serem perguntadas sobre o que fazem em seu tempo livre, observa-se que boa parte
das idosas não beneficiárias gosta de utilizar seu tempo livre com trabalhos manuais, sendo
que duas gostariam de aprendê-los. Também duas apontam assistir à televisão em seu tempo
livre, e uma delas aponta o CEMASI e a Igreja, conforme os relatos abaixo:
-Sra. Jurema: “Vou mais à Igreja. Eu não gosto de ficar andando em bar, diversão
nenhuma, forró nada disso. Nem de jogo, eu não gosto. Gosto de TV, novelas, Globo
Repórter, CEMASI.”;
-Sra. Luzia: “Ah, no tempo livre que tem, fora do trabalho de casa, eu gosto de fazer
fuxico, crochê, quando tem linha, às vezes fazer coberta de retalho, gosto de fazer essas
coisas.”;
-Sra. Magali: “Eu tava querendo aprender crochê. Aqui não tem, até falei: “Aqui não
tem ninguém para ensinar?”. Não sei fazer quase nada não. Quando era jovem, a gente na roça
ficava trabalhando. Fui criada na roça. Meus pais não tinha nem como poder botar a gente
para aprender alguma coisa né? Só trabalhando na roça. Fazia tudo, colhia café, plantava,
capinava e fazia tanta coisa. Já trabalhei muito e continuo trabalhando. Na minha casa, faço as
coisas em casa, tem dia que assim tão desanimada: “Meu Deus, me dá forças para eu me
levantar”. Depois que levanto, lavo a louça, já vou despertando, começa trabalhar e aí
melhora. Tem dia que penso que não vou agüentar trabalhar.”;
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-Sra. Nair: “Não faço nada porque não tenho tempo livre, não dá. Até que eu gosto (de
trabalho manual), mas o tempo não dá, porque é muita coisa, você já pensou, 13 pessoas. Eu
levanto já de manhã, a primeira coisa que eu faço um monte de louça, suja a noite toda, lavar
tudo, depois corro lavar roupa, depois faço comida, vou na rua, comprar alguma coisa com
um trocadinho. Venho compro, é assim, é corrido o dia passa, não vejo. Não tem tempo para
mais nada. Quando ela (a filha) não tava lá em casa com os netos, eu, às vezes, ainda tirava
um cochilo. Agora não dá nem para tirar um cochilo, não dá tempo. Gosto de ver assim jornal,
quando é de noite, mas as outras coisas não vejo não. Você vai ver o jornal, até um jornal que
antigamente era uma coisa boa, só coisa que não presta, só notícia ruim, só tragédia.”;
-Sra. Ondina: “Quando eu tenho um tempo livre (frisa), gosto de fazer artesanato,
gosto de fazer vaso de areia colorido, gosto de fazer ponto de cruz, eu gosto de fazer boneca
de papel, eu gosto de fazer cartão, cartão de aniversário. Quando tenho tempinho, puxo as
minhas coisas e fazendo. Minha neta também gosta pedraria, blusa, bordão. Faço o desenho
e marco para ela bordar, pega agulhinhas e faz tudinho, pedraria. Eu gosto, tão lindo! Falta
tempo, é muita coisa, às vezes cansada que não me agüento agora eu também me canso à
toa. Desde o ano passado para cá, fiquei com o problema de ombro, não sei o que foi que
aconteceu comigo de à toa, não sei o que arrebentou o tendão, o médico me encaminhou para
fazer fisioterapia, fazendo, mas o médico disse que vou acabar na cirurgia porque muito
difícil, então tem que aguardar. Aí, fui ficando mais cansada, faço as coisas, mas não com
muita vontade, não. Faço porque tem que fazer as coisas né? Imagina só, faltava isso! Mas, eu
vou ficar boa, Deus é pai, começa tudo com coragem. Eu costurava, quando trabalhava fora
antigamente. Eu aprendi o corte e costura quando era jovem, quando trabalhava fora e o
dinheiro era pouco, eu ficava em casa, uma mesa grande assim, fazia costura para minhas
colegas naquela época, fazia blusa, calça comprida, saia, fazia tudo para ganhar dinheiro e
ganhava mesmo.”;
118
-Sra. Pilar: “Costurando, fazendo comida...”;
-Sra. Regina: “Assistir televisão, eu não tenho muito tempo para ... Trabalho quase o
dia inteiro. Fico com meus netos uma vez a cada 15 dias, a maioria ela se arruma, também não
trabalha todo o dia.”;
-Sra. Silvia: “Costuro alguma coisa a mão porque não tenho máquina de costura, não.
Costura uma blusa, uma coisa, até pensando em vim fazer esse curso de tricô, aprender a
fazer tricô, comprar linha e agulha para aprender. Cuido do neto que a minha filha trabalha, só
quando ele não na escola. Lavando, passando uma roupa, cuidando da casa. Eu fico sozinha
e para não ficar parada né? Eu fico fazendo uma coisa, faz outra, para não ficar parada né?”;
-Sra. Tânia: “Fico em casa... (gosto de fazer) colcha de retalhos, eu gosto de costura,
faço tricô. Daqui a pouco, enjôo, volto para lá, vou fazer tricô, depois enjôo vou fazer alguma
coisa, desmancho uma roupa, reformo, faço de outro jeito...”.
A Sra. Jurema aprecia ir à Igreja, ver televisão e ir ao CEMASI em seu tempo livre. As
Sra. Luzia, Sra. Ondina e Sra.Tânia gostam de fazer trabalhos manuais, sendo que a Sra.
Ondina o faz junto com a sua neta. A Sra. Magali gostaria de aprender a fazer crochê, relatou
não ter aprendido, pois desde muito nova trabalhava na roça. E, atualmente, possui muitas
tarefas domésticas o que a impossibilita de ter mais tempo livre. A Sra. Nair gosta de
trabalhos manuais, mas também têm seus afazeres domésticos que consomem muito do seu
tempo livre, sendo que esses afazeres aumentaram com a presença da filha e dos netos em sua
casa. As Sra. Pilar e Sra. Silvia fazem costura e realizam as tarefas domésticas em seu tempo
livre e a Sra. Regina diz que quando não está trabalhando gosta de assistir à televisão.
Os idosos beneficiários e as idosas não beneficiárias também se diferenciam no que
diz respeito à forma do uso do tempo livre. Nota-se que os idosos beneficiários apontaram a
realização de trabalhos manuais, assistirem à televisão e passear em seu tempo livre. Por sua
vez, as idosas não beneficiárias, em seu tempo livre, apreciam trabalhos manuais e assistir à
119
televisão, porém não tendo um tempo maior disponível para tais atividades, pois têm suas
tarefas domésticas, incluindo aí o cuidado com seus netos, para serem realizadas e que
demandam um tempo considerável.
Portanto, a importância da informação acerca dos critérios de elegibilidade para a
concessão do benefício público é o que torna possível a passagem do fato do usuário ter
direito e o efetivo acesso a esse direito. Por exemplo, a Sra. Célia soube que tinha direito ao
BPC após o início de sua participação nas atividades destinadas à terceira idade promovida
pelo CRAS. As Sra. Dora, Sra. Elsa, Sra. Fátima e Sra. Glória residentes em Copacabana
puderam acessar o BPC depois que pessoas próximas a elas informaram sobre o que era o
benefício e como consegui-lo. Assim como o Sr. Hélio e a Sra. Isaura que também puderam
solicitar o BPC quando pessoas próximas lhes explicaram sobre o benefício.
Ao contrário disso, boa parte das idosas não beneficiárias que não tinha conhecimento
do BPC. As Sra. Magali e Sra. Nair me relataram já terem ido ao INSS, mas não obtiveram
êxito. A partir daí, conversei com a assistente social que as acompanha a fim de reavaliar suas
situações. A Sra. Pilar será informada pela assistente social sobre seu direito ao BPC. Um
exemplo que se destaca é o da Sra. Regina, que teve como mediador um advogado, que por
sua vez, ao invés de colaborar para que a idosa pudesse acessar ao seu direito, acabou por
atrapalhá-la, segundo a história dela. O oposto disso é o caso da Sra. Tânia que já sabe todos
os critérios e espera atingir a idade mínima necessária. Nesse sentido, parece que os idosos se
vêm mais como consumidores do que como usuários da assistência social enquanto um direito
social.
No que se refere a essa tamática, Sposati (1995) aborda que a política de assistência
social liga-se tanto ao capital quanto ao trabalho, pois se destina à manutenção da classe
trabalhadora, e, ao mesmo tempo, assegura uma renda mínima a essa classe, isto é, a garantia
às condições necessárias a sua sobrevivência.
120
A assistência social enquanto garantidora da reprodução social da classe trabalhadora
brasileira se mostra com um caráter seletivo, seu papel está entre a inclusão e a exclusão das
camadas pobres aos benefícios, bens e serviços feitos pelo Estado visando uma melhor
qualidade de vida dos mesmos.
Na relação entre assistência social e cidadania, Sposati (1995) observa que nos países
desenvolvidos os direitos sociais, inseridos na economia de livre mercado, possibilitaram o
surgimento do Estado de Bem Estar Social e da cidadania plena. Seu cidadão teria os direitos
civis, sociais e políticos, só que ocorreu a substituição do cidadão detentor do direito político
pelo usuário consumidor dos bens, benefícios e serviços fornecidos pelo Estado. Já, no Brasil,
a falta desses acessos a maior parte da população, determina a redução da cidadania e sua
hierarquização entre a população.
Nesse sentido, a assistência social no Brasil passa a lidar com os ditos “menos
cidadãos” ou por terem sidos expulsos ou por não terem sido incluídos nos direitos acima
citados. Nesse meio, entre inclusão e exclusão, a assistência social se encontra, colocando
critérios para o acesso aos bens, serviços e benefícios do Estado.
Sendo assim, a assistência social atua na linha tênue entre a universalidade e a
seletividade do acesso aos direitos sociais. Assim sendo, tem por competência incluir e excluir
as classes populares nos serviços e benefícios oferecidos pelo Estado e destinados à melhoria
de sua qualidade de vida, ou seja, “para as classes subalternizadas, as políticas sociais se
constituem em espaço que possibilita o acesso a benefícios e serviços que, de outra forma,
lhes são negados. Espaço de luta, confronto e expansão de direitos” (Sposati,1995:25).
Nessa relação contraditória, observa-se que:
é o mecanismo assistencial que configura a exclusão enquanto mantém o trabalhador
na condição de assistido, beneficiário ou favorecido pelo Estado, e não usuário,
consumidor e possível gestor de um serviço a que tem direito. Mas,
contraditoriamente, ao excluir, inclui enquanto forma de atendimento das suas
necessidades sociais na sociedade capitalista (Sposati, 1995:26).
121
Outro aspecto importante ressaltado por Sposati (1995) é que a Constituição Federal
de 1988 determinou a assistência social enquanto constituinte do tripé da Seguridade Social,
tornando-a assim complementar à Previdência Social. Nesse sentido, a assistência social
ocupa o lugar da previdência social com as pessoas sem renda, sem trabalho e os segmentos
em vulnerabilidade social como crianças, idosos e pessoas com deficiência, como é o caso do
público-alvo do BPC.
Yazbec (2003) também aponta que a assistência social destinada a reduzir os efeitos
do capitalismo para parte considerável da população brasileira, não está conseguindo garantir
a sua reprodução social. O que se percebe é que a assistência social não tem conseguido
diminuir a pobreza que assola a população brasileira, embora a população esteja cada vez
mais demandando por suas ações. Têm-se assim, o desemprego, uma distribuição de renda
desigual e uma insuficiente intervenção social o que se configura em um quadro de certa
forma negativo para a assistência social.
A ação da assistência social necessita de uma maior eficácia e intervenção, pois, do
modo vigente, diminui as tensões sociais, mas não enfrenta à pobreza. Essa característica da
assistência social não facilita a emancipação do subalternizado, e a garantia dessa
emancipação deveria ser uma de suas funções.
A assistência social promovida pelo Estado em seu papel regulador, e a percepção dos
assistidos a respeito de sua condição e da assistência recebida são as duas faces dessa política.
A ênfase na segunda percepção se torna um desafio para pensar na relação entre a assistência
social e seus usuários, dando maior importância à visão do usuário, levando também em
consideração a realidade social o que cerca.
Nesse sentido, Yasbek (2003) conceitua assistência social como ações diretas e
indiretas do Estado destinados às classes subalternas no intuito de compensá-las por sua
exclusão. Na visão do Estado, essa política é a forma de equilibrar as relações sociais.
122
Enquanto que para a classe subalterna é a maneira de assegurar seu acesso a serviços e
benefícios, e o local de reconhecimento de seus direitos sociais. Isto é,
a assistência, enquanto uma estratégia reguladora das condições de reprodução social
dos subalternos, é campo concreto de acesso a bens e serviços e expressa por seu
caráter contraditório interesses divergentes, podendo constituir-se em espaço de
reiteração da subalternidade de seus usuários ou avanços na construção de sua
cidadania social (Yasbek, 2003:165).
O fato dos idosos beneficiários terem seu acesso garantido a um direito social não
significa que esses idosos entendam mais sobre seus direitos, pois eles expressam muito mais
uma linguagem relacionada com o favor, porque dependeram de um conhecido ou de um
assistente social ou outro profissional que esteja com ele para ter acesso ao seu benefício.
Sendo assim, o acesso não amplia sua percepção acerca da cidadania, parece entrar na
centralidade do consumo de baixo nível, ou seja, complementando o que Yazbek aponta sobre
a assistência social enquanto o espaço de reiteração da subalternidade, essa mantém esses
indivíduos no mercado de consumo dos bens básicos, não implicando assim no avanço na
construção da cidadania.
Ainda tratando a respeito dessa temática, Serge Paugam (2003) realizou uma pesquisa
na França, classificando a população a partir de sua relação com o Serviço Social e Mercado
de trabalho. Para tal, utilizou a definição de desqualificação social, a qual possibilitou
entender o indivíduo em situação de vulnerabilidade social, recebendo, por isso, atendimento
do Serviço Social. O autor classificou esse grupo em: fragilizados (os indivíduos que
vivenciam a problemática da inserção profissional, tentando manter, ainda, um afastamento
do Serviço Social); assistidos (em que o Serviço Social assume a responsabilidade pelas
problemáticas desses indivíduos, os quais ainda têm a esperança de conseguir um emprego
novamente); e marginalizados (indivíduos que tiveram uma ruptura com os vínculos sociais,
a ponto de não apresentar uma perspectiva de reintegração no mercado de trabalho).
123
Portanto, os espaços de participação comunitária estabelecem a diferenciação do perfil
associativo entre os idosos beneficiários e as idosas não beneficiárias, porque os primeiros
possuem somente uma idosa participante assídua das atividades promovidas pelo CRAS,
enquanto os demais freqüentam a Igreja ou encontram com seus amigos em suas casas ou na
praia. Por sua vez, todas as idosas não beneficiárias participam das diferentes atividades
realizadas pelos CEMASIs e também freqüentam à missa ou culto de sua Igreja, assim como
das outras atividades fora o ato religioso, sendo que parte delas, quando precisam faltar, sentem
por isso.
Nesse sentido, a pesquisa realizada pôde vislumbrar que a política de Assistência Social
atende de forma diferenciada os idosos entrevistados: os idosos beneficiários são atendidos por
meio do repasse de recurso público enquanto que as idosas não beneficiárias são atendidas
através da participação nos grupos de convivência e cursos promovidos pelos CEMASIs.
As atividades realizadas no tempo livre também possibilitam uma distinção dos idosos
beneficiários e das idosas não beneficiárias. Enquanto os idosos beneficiários realizam trabalhos
manuais, assistem à televisão, ou passeiam, as idosas não beneficiárias embora também façam
trabalhos manuais e assistem à televisão, as tarefas domésticas a serem executadas ocupam um
tempo significativo em suas vidas cotidianas, inviabilizando assim a realização de passeios.
Pode-se concluir que o perfil associativo dos dois grupos de idosos entrevistados é
diferenciado, uma vez que, enquanto os idosos beneficiários têm um maior acesso à informação
sobre a concessão do benefício, as idosas não beneficiárias conhecem pouco sobre o BPC. Além
disso, as idosas não beneficiárias possuem uma maior participação comunitária e os idosos
beneficiários têm um tempo livre maior. Percebe-se ainda, que o acesso à informação sobre o
BPC se realizava, tanto através da participação do idoso nos grupos de convivência e cursos da
terceira idade promovidos pelos CEMASIs como pela rede social em que esse idoso está
inserido.
124
CAPÍTULO 4
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho teve como objetivo principal estudar as categorias família, pobreza e
velhice por meio da análise dos impactos da política de assistência social destinada ao
segmento idoso no município do Rio de Janeiro. Este estudo procurou focar-se nas mudanças
qualitativas ocorridas no cotidiano dos idosos beneficiários, sobretudo do BPC, em
comparação com os idosos não beneficiários, com o intuito de analisar as modificações no
papel do idoso no interior do grupo familiar.
4.1 TRABALHO DE CAMPO
No trabalho de campo, o perfil dos idosos desejados para a seleção caracterizou-se por
serem de ambos os sexos, acima de 60 anos, beneficiários de um recurso público, sobretudo
do BPC e não beneficiários com perfil sócio-econômico e familiar semelhantes.
Durante o trabalho de campo, verificou-se que os perfis dos idosos nas instituições
vinculadas à área de saúde se mostraram pouco adequados, uma vez que grande parte desses
idosos apresentavam falta de lucidez, ausência de referência familiar, além de não
preencherem o perfil sócio-econômico desejado. Já os idosos freqüentadores dos CEMASIs
apresentaram perfis mais compatíveis com os requeridos para a presente pesquisa. Porém, a
presença majoritária de mulheres nos grupos de convivência pesquisados, impossibilitou a
maior participação de homens no universo pesquisado.
Os idosos foram observados nos grupos de convivência dos CEMASIs e em seguida,
aqueles que se encaixavam no perfil desejado foram entrevistados na própria instituição,
sendo que grande parte desses se enquadravam na categoria de não beneficiários. Após esse
primeiro momento, os idosos beneficiários do BPC foram entrevistados no período da revisão
125
do seu benefício e as entrevistas foram feitas algumas nas suas residências e outras na
instituição. As assistentes sociais responsáveis pelos grupos de convivências e pelo processo
de revisão atuaram como mediadoras dos contatos com os idosos entrevistados.
Percebeu-se que há diferenças entre realizar as entrevistas nas instituições e nas casas
dos idosos. Nas instituições, existe a falta de privacidade de um lado, o que inibe o
entrevistado, e de outro, há a observação participante em seus grupos de convivência. Nas
casas, os idosos ficam mais à vontade e pode-se observar melhor as suas condições sociais,
econômicas e familiares, mas em contrapartida tem-se a presença de familiares interferindo na
entrevista.
Quanto ao uso de entrevistas como instrumento de coleta dos dados para o presente
estudo, dois aspectos merecem destaque, o primeiro refere-se aos idosos beneficiários, que
podem vê-la com receio de se exporem e, de porventura, perderem seu benefício, o que pode
ser relacionado à utilização de entrevistas no processo de revisão do benefício. O segundo diz
respeito aos idosos não beneficiários que se mostram mais receptivos, pois podem considerar
a entrevista como meio de auxiliá-los na concessão de algum benefício.
Entre os métodos de trabalho de campo, a utilização conjunta de observação
participante dos idosos em seus grupos de convivência e de realização das entrevistas semi-
estruturadas, permitiu relacionar as informações obtidas por meio de relatos com o ambiente
sócio-econômico em que vivem, resultando em melhores informações a respeito dos
entrevistados.
4.2 PERFIL SOCIAL E FAMILIAR
Os idosos entrevistados, em sua maioria, têm em comum o fato de residirem em
comunidades ou em arredores dos bairros da zona sul do Rio de Janeiro; serem católicos;
terem o 1° grau incompleto; apontarem outros membros do grupo familiar como responsável
126
pelo domicílio, apesar de contribuírem com a maior parte da renda familiar, e sendo essa
renda essencial para a sobrevivência de sua família e; possuírem profissões e ocupações atuais
tipicamente femininas, tais como donas de casa, domésticas, lavadeiras e passadeiras.
Em geral, os idosos beneficiários se diferenciam dos não beneficiários quanto à idade,
pois os beneficiários são mais velhos que os não beneficiários; os idosos beneficiários são
provenientes da região sudeste, enquanto os não beneficiários são provenientes da região
norte e nordeste; os idosos beneficiários se definem como brancos e os não beneficiários
como não brancos; os idosos beneficiários são viúvos ou solteiros, enquanto os não
beneficiários são casados; alguns idosos beneficiários não têm filhos e netos e todos os não
beneficiários os têm; os idosos beneficiários residem sozinhos ou com irmãs enquanto os não
beneficiários residem com cônjuges, filhos e netos e; os idosos beneficiários possuem uma
renda individual superior a dos não beneficiários.
4.3 PERFIL ECONÔMICO
Quanto ao perfil econômico, os idosos entrevistados têm em comum o fato de
gastarem seu dinheiro, principalmente, com alimentação, pagamento de contas e compra de
medicamentos. Esses são os gastos essenciais que comprometem a maior parte de seus
orçamentos. O gasto com vestuário é pouco e boa parte dos idosos recebe doações de roupas
de seus familiares ou conhecidos. A diferença aparece somente no fato de os beneficiários
possuírem três gastos principais: alimentação, contas e remédios enquanto que os não
beneficiários têm alimentação e contas como os gastos mais importantes.
Os idosos beneficiários se diferenciam dos não beneficiários, pois os não beneficiários
possuem um gasto maior que os beneficiários devido à presença de seus filhos e netos em sua
casa; caso tivessem mais dinheiro, os beneficiários gastariam com viagens enquanto os não
beneficiários gastariam com suas casas, alimentação ou poupariam; os idosos beneficiários
127
dividem suas despesas com os filhos e irmãs, enquanto os idosos não beneficiários dividem
com seus cônjuges e filhos; quando moram só, optam por primeiro pagar as contas e depois
fazerem as compras; os idosos beneficiários, que conseguiram investir, realizaram melhorias
em suas casas; e os idosos beneficiários conseguem poupar parte de seu dinheiro e os idosos
não beneficiários não o conseguem.
Pelo exposto, conclui-se que a quantidade de dependentes presentes na residência dos
idosos não beneficiários faz com que os mesmos prestem um apoio maior a esses familiares e
consideram ter um gasto elevado. Nesse sentido, os idosos não beneficiários têm um
comprometimento maior com a família e isso se reflete na forma como gastariam seu
dinheiro, principalmente em melhorias para a sua moradia e família. Já os idosos beneficiários
possuem uma família menor, e em geral, apontam que gastariam sua renda extra com viagens,
o que indica uma maior autonomia, inclusive financeira, com seus familiares.
4.4 PERFIL ASSOCIATIVO
Por meio dos relatos, observou-se que os idosos, em sua maioria, permanecem tempo
considerável em suas casas, ora realizando tarefas domésticas, ora cuidando de seus
familiares, ora realizando trabalhos manuais. Essas ações estão ligadas a uma visão vinculada
ao universo feminino e se caracterizam assim com uma velhice mais reclusa, essa também
pode ser acarretada pela ocorrência de problemas em sua saúde.
Em linhas gerais, os idosos beneficiários souberam que tinham direito ao BPC por
meio de pessoas próximas; grande parte dos não beneficiários não possuía conhecimento
acerca do BPC e os idosos não beneficiários freqüentam mais os grupos de convivência e
Igreja do que os idosos beneficiários, mesmo que ambos freqüentem poucos espaços de
socialização pública.
128
Dessa forma, verifica-se que não apenas o fato de se enquadrarem nos critérios do
BPC que garantem sua efetivação, a socialização da informação mostrou-se essencial para a
reivindicação dos seus benefícios.
Apesar de terem acessado um direito social não significa que esses idosos entendam
mais sobre seus direitos, pois expressam uma linguagem relacionada com o favor, porque
dependeram de pessoas próximas para terem acesso ao seu benefício.
Cabe lembrar que as idosas residentes em Copacabana possuem um bom nível de
instrução, acesso à informação e noção de seus direitos, o que facilitou a reivindicação e a
concessão de seus benefícios. O fato dessas idosas já terem vivenciado melhores condições de
vida do que as atuais, indica que o BPC também contempla as pessoas que já pertenceram a
uma camada média, que passaram por um processo de declínio em sua característica sócio-
econômica em sua velhice. Percebe-se, portanto, que os beneficiários do BPC formam um
grupo de idosos, que se caracteriza de forma heterogênea em decorrência das suas várias
origens de classe.
Quanto à transferência de apoio familiar, em geral, os idosos não beneficiários prestam
auxílio aos seus filhos e netos. Dessa forma, para aqueles que têm cônjuges, filhos e netos
existem outras fontes de renda como aposentadoria do cônjuge, ou o complemento de renda
pelos seus familiares. Por outro lado, verificou-se que os idosos beneficiários participam
pouco dessa transferência, conseqüentemente limitando o número de membros que
contribuem para a sua renda familiar. A partir disso, pode-se pensar que o BPC seria uma
alternativa para aqueles idosos que perdem a fonte de renda no momento em que o laço
familiar se ausenta.
Em suma, pode-se concluir com estudo dos idosos entrevistados que:
os idosos beneficiários são mais velhos e têm um número representativo de viúvos
enquanto que as idosas não beneficiárias são mais novas e casadas;
129
ambos possuem um baixo grau de escolaridade;
os idosos beneficiários freqüentam pouco o grupo de convivência oferecido pelos
CEMASIs, ao passo que todas as idosas não beneficiárias o fazem;
os idosos beneficiários moram sozinhos, com irmãs ou filhos e as idosas não beneficiárias
residem com companheiros e/ou maridos, filhos e netos;
ambos têm um papel essencial para o sustento da casa e da família por meio de suas
rendas e/ou de seus cônjuges;
os gastos dos idosos se voltam, principalmente, para alimentação, pagamento de contas e
compra de medicamentos;
as idosas não beneficiárias têm um gasto mais elevado em relação aos idosos beneficiários
dada à co-residência com seus filhos e netos;
os idosos beneficiários gostariam de gastar seu dinheiro, se o tivessem, com viagens e as
idosas não beneficiárias gastariam com suas casas e com a alimentação;
os idosos beneficiários dividem suas despesas com filhos e irmãs enquanto que as idosas
não beneficiárias dividem com maridos e/ou companheiros;
os idosos beneficiários que realizaram algum investimento o fizeram promovendo
melhorias em suas casas;
alguns idosos beneficiários conseguem poupar algum dinheiro e as idosas não
beneficiárias não conseguem;
os idosos beneficiários têm um maior acesso a informação sobre o benefício graças à
interferência de uma pessoa próxima;
a maioria das idosas não beneficiárias não possuía conhecimento sobre o BPC;
ambos, em seu tempo livre, permanecem em suas casas e freqüentam poucos espaços
públicos.
130
Por meio das entrevistas com os beneficiários verificou-se que o acesso ao BPC gerou
modificações de ordem qualitativa, visto que esses idosos tiveram a possibilidade de prover
sozinho seu próprio sustento e de sua casa. Mesmo porque o valor do benefício é a sua renda
principal, necessária para a sobrevivência do mesmo e não se configura como uma renda
extra.
Vale ressaltar que a LOAS, nos seus Artigos 2º, inciso V, 20 e 21, regulamenta o
benefício assistencial contido na Constituição Federal de 1988 (artigo 203), garantindo 1 (um)
salário mínimo de benefício mensal à pessoa com deficiência e ao idoso que comprovem não
possuir meios de prover a própria manutenção ou tê-la provida por sua família e o identifica
como o BPC.
Dessa forma, pelo universo estudado, verificou-se que os beneficiários atendidos pelo
BPC se enquadram nesse perfil, utilizando a renda para o próprio provimento e da família, em
alguns casos. Pode ser acrescentado que grande parte desses idosos apresenta um vínculo
familiar menos estreito, e menos fonte de renda, quando comparados com o perfil dos não
beneficiários, os quais apresentam uma relação mais estreita com a família.
Verificou-se que grande parte do recurso recebido por meio do BPC é utilizado para
suprir as necessidades básicas, tais como pagamentos de contas e alimentação. Em parte dos
casos, necessita-se de obter renda complementar por meio de amigos ou familiares, ou até
mesmo do trabalho do próprio idoso.
Notou-se que a maioria dos idosos não beneficiários não possuía conhecimento sobre
o BPC, e grande parte dos beneficiários tomaram conhecimento por meio de pessoas
próximas. Isso acena para a necessidade de uma maior publicidade para que esse benefício
seja mais abrangente, incorporando parte da população com pouco acesso à informação.
Portanto, trata-se de uma temática relevante para a pesquisa das categorias família,
pobreza e velhice e, por isso deve ser continuamente estudado e apreendido, até porque há
131
dificuldades de se encontrar estudos que possibilitem uma escuta atenta às falas dos idosos
das camadas pobres. No entanto, faz-se necessário um estudo com um número maior de
idosos em situação de pobreza que recebam ou não um recurso público para que se possa
melhor caracterizar os perfis pesquisados e corroborar ou não com as conclusões citadas.
Sendo assim, pode-se considerar que os métodos utilizados pelo presente estudo se
mostrou satisfatório para a comparação qualitativa das diferenças e semelhanças entre os
grupos de idosos beneficiários e não beneficiários. Para a caracterização desses grupos de
forma mais ampla, um universo maior teria que ser abrangido envolvendo diversos outros
aspectos, inclusive, aumentando a abrangência temporal e espacial.
132
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
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natureza da pobreza entre os idosos no Brasil. In CAMARANO, Ana Amélia
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UFRJ, 2003;
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Antropologia do Consumo. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2004;
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Gerações. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006;
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igualitário. Rio de Janeiro: Editora Garamond, 2004;
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133
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YASBEK, Maria Carmelita. Classes subalternas e assistência social. 4ª edição, São
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Consultas à Internet:
Disponível em: http://www.desenvolvimentosocial.gov.br Acesso em 10/01/2007;
Disponível em: http://www.ibge.gov.br Acesso em 10/01/2007;
Disponível em http://www.rio.rj.gov.br Acesso em 10/01/2007.
Publicações Oficiais:
BRASIL, Constituição Federal. (1988);
_______, Lei Orgânica de Assistência Social. (1993);
_______, Estatuto do Idoso. (2004).
134
APÊNDICE A
TABELA - PERFIL SOCIAL E FAMILIAR DOS IDOSOS BENEFICIÁRIOS
TABELA - PERFIL SOCIAL E FAMILIAR DAS IDOSAS NÃO BENEFICIÁRIAS
135
Perfil social e familiar dos idosos beneficiários
Entrevistado Arminda Berenice Célia Dora Elsa Fátima Glória Hélio Isaura
Localidade
Ilha do
Governador
Ilha do
Governador
Laranjeiras Copacabana Copacabana Copacabana Copacabana Vidigal Vidigal
Idade
79 77 69 73 78 80 82 72 77
Sexo
Feminino Feminino Feminino Feminino Feminino Feminino Feminino Masculino Feminino
Naturalidade
Sergipe
Rio Grande do
Norte
Minas Gerais Rio de Janeiro Rio de Janeiro Rio de Janeiro Rio de Janeiro Minas Gerais Pernambuco
Religião
Evangélica Católica Kardecista Católica Católica Católica Católica Católica Católica
Cor
Morena Morena Morena Branca Branca Branca Branca Branca Morena
Estado Civil
Viúva Casada Divorciada Solteira Viúva Solteira Divorciada Viúvo Viúva
Filhos
10 3 1 - - - - 4 -
Netos
38 10 - - - - - 6 -
Escolaridade
Não alfabetizada Alfabetizada 1° grau incompleto 1° grau completo 1° grau incompleto 1° grau incompleto 1° grau incompleto grau incompleto Alfabetizada
Com quem mora
2 filhos
Filha, Genro e 5
netos
Filha Sozinha Irmã Irmã Irmã Sozinho Sozinha
Responsável pelo
domicílio
A mesma Marido Filha A mesma Amigo Amigo Irmã O mesmo A mesma
Outro benefício
público
Não Bolsa família Não Não BPC Sim Pensão Não Não
Profissão
Do lar Do lar Do lar Corretora Secretária Secretária Dona de casa Ambulante Doméstica
Ocupação Atual
Do lar Do lar Do lar Corretora - - Dona de casa Faz biscate Dona de casa
Renda Individual
1 SM 1 SM 1 SM 1 SM 1 SM 1 SM 1 SM 1 SM 1 SM
Renda Familiar
Igual a individual
1 SM +bolsa
família
1SM + encomendas de
doces e salgados
1 SM + comissão
da venda de
imóveis
2 SM 2 SM
1 SM + não soube
informar o valor da
pensão da irmã
1 SM + biscate Igual a individual
Quem morava
antes de receber o
Benefício
Filho Filha Filha Amiga Amiga Amiga Irmã Filho Sozinha
Tempo que recebe
o benefício
23 anos 1 ano 2 anos 3 anos 2 a 3 anos 2 a 3 anos 2 a 3 anos 4 anos 4 anos
136
Perfil social e familiar das idosas não beneficiárias
Entrevistado Jurema Luzia Magali Nair Ondina Pilar Regina Silvia Tânia
Localidade
Ilha do Governador Ilha do Governador Catete Catete Catete Morro dos Cabritos Rocinha Rocinha Rocinha
Idade
67 61 65 66 67 64 69 62 63
Sexo
Feminino Feminino Feminino Feminino Feminino Feminino Feminino Feminino Feminino
Naturalidade
Rio de Janeiro Paraíba Minas Gerais Minas Gerais Manaus Ceará Rio de Janeiro Paraíba Bahia
Religião
Crente Evangélica Católica Católica Católica
Assembléia de
Deus
Católica Evangélica Católica
Cor
Negra Morena Clara Morena Morena Branca Negra Branca Negra
Estado Civil
Solteira Casada Casada Casada Casada Separada Solteira Solteira Separada
Filhos
4 9 7 10 1 1 2 4 5
Netos
15 11 16 3 1 1 2 2 7
Escolaridade
1° grau incompleto 1° grau incompleto 1° grau incompleto 1° grau incompleto 1° grau incompleto 2° grau incompleto Alfabetizada 1° grau incompleto
1° grau
incompleto
Com quem
mora
Companheiro e neta 2 filhos e 2 netas
Marido, filha e (5
netos)
Marido, 8 filhos e 3
netos
Neta Filha e neta Sozinha
Companheiro, filha
e neto
Neta, 2 netos e 1
bisneto
Responsável
pelo domicílio
Companheiro Filho Marido Marido A mesma A mesma A mesma Companheiro A mesma
Outro
benefício
público
Aposentadoria Não Aposentadoria Aposentadoria Não Bolsa família Não Não Não
Profissão
Lavagem e passagem
de roupa
Do lar Doméstica Do lar Acompanhante Costureira Passadeira
Dona de casa e
Passadeira
Doméstica
Ocupação
Atual
Não trabalha por não
encontrar serviço
Do lar Dona de casa Do lar Acompanhante
Costureira +
vendedora de Avon
e de Millus
Passadeira
Dona de casa e
Passadeira
Dona de casa
Renda
Individual
- - - -
R$ 150,00 (salário)
+ passagem +
compras
1 SM R$ 40,00 por dia
R$70,00 por
semana
Não soube
informar quanto
as filhas lhe dão
em dinheiro
Renda
Familiar
1 SM + trabalho de
segurança do
companheiro (não
soube informar o
valor)
R$ 500,00 (salário
do filho)
1 SM 2 SM Igual a individual
1 SM + bolsa
família+ não soube
informar quanto a
filha ganha
Igual a individual
Não soube
informar quanto o
companheiro e a
filha ganham
R$250,00 (salário
da neta + não
soube informar
quanto as filhas
lhe dão)
137
APÊNDICE B
ROTEIRO DE ENTREVISTA
138
ROTEIRO DE ENTREVISTA
Nome:
Endereço:
Telefone:
Data de Nascimento: anos:
Sexo: ( )Masculino ( )Feminino
Naturalidade:
Religião que pratica:
Como o(a) sr(a) definiria a sua cor?
Estado Civil: ( ) solteiro ( ) casado ( )separado ( ) viúvo ( ) outros
Têm filhos e netos? Quantos?
Escolaridade: ( )1°grau incomp.
Com quem mora?
Quem é o responsável pelo domicílio?
(Só p/ quem recebe) Quem morava antes do Sr(a) receber o benefício?
(Só p/ quem recebe) Há quanto tempo recebe o benefício?
Profissão:
Ocupação atual:
Renda individual:
Renda domiciliar:
O(a) Sr(a) ou alguém da sua casa tem acesso a algum (outro) benefício público? Aposentado?
Pensionista?
Como que o(a) Sr(a) gasta seu dinheiro?
Na sua casa, como são divididas as despesas? O(a) Sr(a) participa dessa divisão? Como?
O(a) Sr(a) consegue poupar uma parte do seu dinheiro? O que o(a) Sr(a) faz com isso? Como
guarda?
(Só p/ quem recebe) Na sua opinião, qual foi o investimento mais importante que o (a) Sr (a) fez
com o dinheiro do benefício?
O que o(a) Sr (a) acha dos gastos da sua casa? Se gasta muito? Pouco? Quem gasta mais? Com que?
Com que o(a) Sr(a) gostaria de gastar?
(Só p/ quem recebe) Como o (a) Sr (a) soube que tinha direito ao benefício?
(Só p/ quem não recebe) O(a) Sr(a) conhece o BPC?
Participa ou pertence a algum grupo, associação ou organização dentro da sua comunidade?
Igreja?
O (a) Sr.(a) faz alguma coisa com seu tempo livre?
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