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Após o fim da ditadura militar, as práticas de tortura no Brasil
passaram a ser, em grande parte, direcionadas a pessoas de baixa-renda,
moradoras de regiões menos favorecidas, de origem afro-brasileira
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ou
indígena
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.
Segundo a fala de Afanasio Jazadji, um dos radialistas mais
e o terror’.
‘Sou aquele combatente, que tem o rosto mascarado; uma tarja negra e amarela, que
ostento em meus braços me faz ser incomum: um mensageiro da morte. Posso provar que
sou forte, isso se você viver. Eu sou (...) herói da nação’
‘Alegria, alegria, sinto no meu coração, pos já raiou um novo dia, já vou cumprir minha
missão. Vou me infiltrar na favela com meu fuzil na mão, vou combater o inimigo, provocar
destruição’
Se perguntas de onde venho e qual é minha missão: trago a morte e o desespero. E a total
destruição’
‘Sangue frio em minhas veias, congelou meu coração, nós não temos sentimentos, nem
tampouco compaixão, nós amamos os cursados e odiamos pés-de-cão’. Cursados são os
próprios membros do BOPE; pés-de-cão são os policiais militares comuns.
‘Comandos, comandos e o que mais vocês são? Somos apenas malditos cães de guerra, somos
apenas selvagens cães de guerra’”. SOARES, Luiz Eduardo; BATISTA, André; PIMENTEL,
Rodrigo. Elite da Tropa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2006.
As “canções” acima demonstram a barbárie que reina na Polícia Militar. Sem ética nenhuma
e sem uma política pública de segurança efetiva, ficamos entregues a esses sujeitos que, na
imensidão de sua ignorância e de seu próprio abandono, carregam sua “filosofia” de guerra:
é matar ou morrer.
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“Conforme levantamento da população carcerária realizado em São Paulo, cujo
documento foi fornecido pela FUNAP (Fundação de Amparo ao Preso) – órgão vinculado à
Secretaria de Administração Penitenciária do Estado de São Paulo -, a maior parte da
população carcerária é constituída por não-brancos. Desta pesquisa, baseada no censo do
IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de 2000, destaca-se que a população
do Estado de São Paulo é 70% constituída por brancos e na proporção de 30%, não-brancos.
Ainda que a grande maioria da população do estado seja composta por brancos,
aproximadamente 47% dos homens e mulheres presos são brancos, enquanto que
aproximadamente 53% dos homens e mulheres presos são não-brancos.
Tendo em vista que as torturas são praticadas no país, via de regra, na população sob
custódia do Estado, pode-se destacar que esta prática teria principal incidência sobre a
população negra ou parda” (TORTURA NO BRASIL, 2004).
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Relatório elaborado por entidades de defesa dos direitos humanos - iniciativa do
dhInternacional, parceria do MNDH - Movimento Nacional de Direitos Humanos - com o
GAJOP – Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares, 2001. O Programa
dhINTERNACIONAL é uma iniciativa do MNDH e do GAJOP, com o intuito de proporcionar
o acesso às entidades de direitos humanos do Nordeste brasileiro aos sistemas global e
interamericano de proteção dos direitos humanos. Disponível em:
www.gajop.org.br
. Acesso
em: 01 dez. 2006.