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interpretação válida, por exemplo, para o recente episódio de expansão do crédito
consignado em folha de pagamento no Brasil. É importante, portanto, no
momento de testar empiricamente flutuações da potência da política monetária,
procurar diferenciar choques de demanda de fatores que afetem propriamente o
efeito da política monetária sobre o produto.
Teoricamente, os efeitos da política monetária sobre a oferta de crédito se
dariam por dois canais principais (Kashyap e Stein, 1994; Bernanke e Blinder,
1995): por características inerentes ao mercado de crédito e através do “acelerador
financeiro”. Partindo de um aumento da taxa básica de juros, considerações
relativas ao risco dos tomadores, conforme descrito em Stiglitz e Weiss (1981),
levariam à diminuição da oferta pelo mecanismo dos empréstimos (“lending
mechanism”). Já a exigência de garantias como resposta à questão da assimetria
informacional entre tomadores e emprestadores levaria à redução da oferta de
crédito pelo mecanismo do acelerador financeiro: este funcionaria pela erosão,
após o aperto monetário, do valor do colateral que as firmas podem dar em
garantia aos empréstimos tomados, tanto pela redução esperada do valor de ativos
financeiros após o aumento dos juros quanto pela redução esperada de fluxo de
caixa pela diminuição esperada do nível de atividade. Com isso, as firmas teriam
acesso a um menor volume de crédito, reduzindo, na margem, o investimento
agregado da economia e amplificando o efeito contracionista do aumento da taxa
de juros. Carneiro, Salles e Wu (2006) apresentam evidência empírica de atuação
do mecanismo do acelerador financeiro na economia brasileira.
Bernanke e Gertler (1986) desenvolvem um modelo em que surge uma
variável, chamada “eficiência financeira do processo físico de investimento”, que
é maior quanto menor for a diferença entre os recursos destinados a investimentos
(isto é, a poupança da economia) e os efetivamente adicionados ao estoque de
capital, diferença que viria de perdas relacionadas à falência de algumas firmas
que obtiveram empréstimo. Assim, quanto maior a capacidade das firmas de
prover colateral, maior seria a eficiência financeira do processo físico de
investimento, já que maiores garantias diminuem as perdas esperadas dos bancos
para uma dada quantidade de crédito. À medida em que o aumento da demanda
agregada levasse ao aumento do colateral disponível nas firmas e aumentasse a
eficiência financeira do processo físico de investimento, as firmas veriam
reduções em seus custos de endividamento. O resultado desta dinâmica é que o
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