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MÁRCIA CRISTINA DE OLIVEIRA MELLO
A ALFABETIZAÇÃO NA IMPRENSA PERIÓDICA EDUCACIONAL
PAULISTA (1927-1943)
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
CAMPUS DE MARÍLIA
FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: POLÍTICAS PÚBLICAS E ADMINISTRAÇÃO DA
EDUCAÇÃO BRASILEIRA
MARÍLIA, NOVEMBRO DE 2007
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1
MÁRCIA CRISTINA DE OLIVEIRA MELLO
A ALFABETIZAÇÃO NA IMPRENSA PERIÓDICA EDUCACIONAL
PAULISTA (1927-1943)
Tese apresentada à Comissão Examinadora do
Programa de Pós-Graduação em Educação da
UNESP, campus de Marília, como exigência parcial
para a obtenção do título de Doutor em Educação.
Área de concentração: Políticas públicas e
administração da educação brasileira.
Linha de pesquisa: História e Filosofia da Educação
no Brasil.
Orientador: Prof. Dr. Carlos Monarcha
Marília/2007
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2
MÁRCIA CRISTINA DE OLIVEIRA MELLO
A ALFABETIZAÇÃO NA IMPRENSA PERIÓDICA EDUACIONAL
PAULISTA (1927-1943)
COMISSÃO JULGADORA
TESE PARA OBTENÇÃO DE GRAU DE DOUTOR
Presidente e Orientador: Prof. Dr. Carlos Monarcha (UNESP/Araraquara)
2º Examinador: Profª Drª Vera Teresa Valdemarin (UNESP/Araraquara)
3º Examinador: Profª Drª Maria Helena Camara Bastos (PUC/RS)
4º Examinador: Drª Isabel Cristina Alves da Silva Frade (UFMG)
5º Examinador: Drª Maria Rita de Almeida Toledo (PUC/SP)
Resultado:..............................................................................................................
Marília, 30 de novembro de 2007
3
Aos meus familiares e amigos, pela
colaboração e apoio.
4
AGRADECIMENTOS
Agradeço
ao professor Doutor Carlos Monarcha, meu orientador, a quem devo o incentivo
e sugestões que me ajudaram a produzir esta Tese;
ao professor Doutor Rogério Fernandes por ter extrapolado suas funções
formais como professor co-orientador do estágio na Faculdade de Psicologia e de
Ciências da Educação da Universidade de Lisboa, por ter me acolhido, atendendo
minhas solicitações, pelas valiosas informações, e por ter colaborado para minha
formação enquanto pesquisadora;
à professora Carlota Boto pelo incentivo, pela oportunidade de um instigante
momento de discussão, em Lisboa;
à professora Vera Teresa Valdemarin, pelas dicas e pelas excelentes
sugestões, que me apresentou durante o Exame Geral de Qualificação,
especialmente quanto ao “Deixar as fontes falarem”;
aos membros do Grupo de Pesquisa “História da Educão no Brasil” pelas
contribuições e auxílios oferecidos à minha pesquisa;
à CAPES, pela concessão de bolsa para a realização do Doutorado, assim
como pela concessão de bolsa para a realização do estágio de doutorando no país
com estágio no exterior (PDEE); e
a todos que de alguma forma contribuíram para a conclusão da pesquisa de
que resultou esta Tese.
5
MELLO, Márcia Cristina de Oliveira. A alfabetização na imprensa periódica
educacional paulista (1927-1943). 2007. 239 f. Tese (Doutorado em Educação) –
Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista, Marília, 2007.
Resumo
Apresentam-se, nesta Tese, os resultados de pesquisa de fundo histórico sobre a
abordagem da alfabetização na imprensa periódica educacional paulista (1927-
1943). A pesquisa tem por objetivos: contribuir para a ampliação dos estudos
históricos em Educação; contribuir para a compreensão de um passado recente da
história da alfabetização no Brasil; identificar, analisar e compreender as idéias
escolanovistas sobre alfabetização veiculadas nas revistas oficiais do ensino público
paulista; e, compreender qual a importância das revistas na divulgação dessas
idéias. Mediante pesquisa documental e bibliográfica, desenvolvida por meio de
procedimentos de localização, reunião, seleção e ordenação de artigos sobre
alfabetização publicados em Educação (1927-1930), Escola Nova (1930-1931),
Educação (1931-1932) e Revista de Educação (1933-1943), assim como da
bibliografia especializada sobre alfabetização e imprensa periódica educacional, foi
possível constatar que essas revistas contribuíram para a difusão de concepções e
idéias sintonizadas com os princípios escolanovistas tendo em vista transmitir aos
professores saberes necessários para alfabetizar crianças.
Palavras-chave: alfabetização; imprensa periódica educacional; métodos de
alfabetização; escolanovismo.
6
MELLO, Márcia Cristina de Oliveira. Literacy in the educational periodical magazine
(São Paulo: 1927-1943). 2007. 239. f. Thesis (Education Doctorate) – Faculdade de
Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista, Marília. Brazil, 2007.
Abstract
This thesis, presents the results of historical based research, taken from educational
periodicals, published on the subject of literacy education, by the State of São Paulo
Government, Brazil; from the years 1927 to 1943 . The objectives of this research
are to: contribute to the enlargement of historical studies on Brazilian education;
contribute to a better understanding of literacy education in the recent past; identify,
analyze, and understand the “escolanovismo” methodology and concepts published
in official São Paulo State educational publications, so as to understand just how
important, were these publications in spreading these novel literacy education
concepts. Of all the source material collected, publications, literature, meetings were
held to organize, analyze, discuss and choose the more relevant contents related to
the thesis, and that included articles from the following periodicals Educação (1927-
1930), Escola Nova (1930-1931), Educação (1931-1932), Revista de Educação
(1933-1943). As well as other specialized printed matter dealing with literacy. To
conclude, it was possible to affirm that these periodicals did contribute to the
spread of concepts and ideas that are part of the “escolanovismo” methodology
and concepts, that aims at helping teachers in their task of child literacy.
Key words: literacy; educational periodicals; child literacy methodology;
“escolanovismo”.
7
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1: Crescimento da criação de Grupos escolares, Escolas isoladas e
Unidades escolares, entre 1920 e 1936, no Estado de São Paulo
57
QUADRO 2: Crescimento da matrícula inicial entre 1920 e 1935, no Estado de
São Paulo
58
QUADRO 3:
Programa da Escola Normal de São Paulo, entre os anos de 1846
e 1847
65
QUADRO 4:
Programa inicial da Escola Normal de São Paulo, no ano de 1875
66
QUADRO 5: Programa da Escola Normal de São Paulo, em 1880
66
QUADRO 6: Programa das escolas normais primárias, entre 1911 e 1913
68
QUADRO 7: Programa das escolas normais secundárias, a partir de 1911
69
QUADRO 8: Programa das escolas normais, a partir de 1920
70
QUADRO 9: Programa das escolas normais, a partir de 1925
70
QUADRO 10: Sessões extraordinárias da Sociedadede de Educação de São
Paulo, entre março e maio de 1924
78
QUADRO 11:
Artigos sobre alfabetização publicados na Revista da Sociedade de
Educação de São Paulo, em 1924
79
QUADRO 12:
Comissão de Redação da revista Educação, por período de
permancia e posição sócio-ocupacional
88
QUADRO 13:
Temas pertinentes à alfabetização veiculados na revista Educação
(1927-1930)
93
QUADRO 14:
Autores que escreveram sobre alfabetização na revista Educão
(1927-1930), com respectiva freqüência de colaboração
95
QUADRO 15:
Cronologia do debate “A Escola Paulista”, na revista Educação
116
QUADRO 16:
Temas pertinentes à alfabetização veiculados na revista Escola
Nova (1930-1931)
129
QUADRO 17:
A produção de Lourenço Filho nas revistas Educação, Escola Nova
e Revista de Educação, entre os anos de 1927 a 1943
131
QUADRO 18: Diretores do Ensino do Estado de São Paulo, de 1930 a 1932
141
QUADRO 19:
Temas pertinentes à alfabetização veiculados na revista Educação
(1931-1932)
147
QUADRO 20: Diretores do Ensino do Estado de São Paulo, de 1932 a 1935
154
QUADRO 21:
Período de permanência de Antonio de Almeida Junior no cargo de
Diretor do Ensino do Estado de São Paulo
154
QUADRO 22: Diretores do Ensino do Estado de São Paulo, de 1938 a 1943
155
QUADRO 23:
Temas pertinentes à alfabetização veiculados na Revista de
Educação (1933-1943)
163
QUADRO 24:
Autores que escreveram sobre alfabetização na Revista de
Educação (1933-1943), com respectiva freqüência de colaboração
165
8
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1: Página de artigo publicado na revista Educação, em 1930
104
FIGURA 2: Página de artigo publicado na revista Educação, em 1929
106
FIGURAS 3 e 4: Páginas da Revista de Educação (1939)
170
FIGURAS 4 e 5: Páginas da Revista de Educação (1939)
171
9
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
11
PARTE I – DELIMITANDO O OBJETO DE ESTUDO
20
CAPÍTULO 1 – EM FOCO: ESTUDOS SOBRE IMPRENSA PERIÓDICA EDUCACIONAL E
SOBRE ALFABETIZAÇÃO E SUA HISTÓRIA NO BRASIL
21
1. Estudos sobre imprensa periódica educacional 22
1.1 Estudos pioneiros 22
1.2 Estudos atuais produzidos em âmbito nacional 24
1.2.1 Livros 24
1.2.2 Capítulos de livros 26
1.2.3 Artigo em periódicos 28
1.2.4 Teses 28
1.2.5 Dissertações 30
1.2.6 Resultados de pesquisa 31
2. Abordagem histórica sobre alfabetização 32
2. 1 Estudos produzidos no âmbito do Grupo de Pesquisa “História do ensino de língua e
literatura no Brasil” (HELLB) e do Projeto Integrado de Pesquisa "Ensino de língua e
literatura no Brasil: repertório documental republicano” (PIPELLB)
33
2.1.1 Livros 34
2.1.2 Capítulo de livro 35
2.1.3 Artigos em periódicos 36
2.1.4 Tese 37
2.1.5 Monografia e trabalhos de conclusão de curso 37
2.2 Outros estudos e pesquisas 38
CAPÍTULO 2 – PRESSUPOSTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS
42
1. Explicitando aspectos teórico-metodológicos e procedimentos da pesquisa 43
PARTE II - CONTEXTO DE CIRCULAÇÃO DAS REVISTAS
55
CAPÍTULO 1 - CONTEXTO EDUCACIONAL 56
1. Aspectos da escola paulista das primeiras décadas do século XX: escolarização e
alfabetização
57
1.1 Escola renovada 58
CAPÍTULO 2 - A FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA O MAGISTÉRIO PRIMÁRIO
64
1. Aspectos da formação do professor para o magistério primário 65
1.1 Escola normal em São Paulo: primeiras experiências 65
1.2 As escolas complementares, as escolas normais primárias e as escolas normais
secundárias
67
PARTE III – A ALFABETIZAÇÃO NA IMPRENSA PERIÓDICA EDUCACIONAL PAULISTA
74
CAPÍTULO 1 - ANTECEDENTES
75
1. Os discursos que antecedem 76
1.1 A contribuição da Revista da Sociedade de Educação (1923-1924), na constituição de
discursos sobre alfabetização
77
PARTE IV - A REVISTA EDUCAÇÃO (1927-1930) E A ABORDAGEM SOBRE
ALFABETIZÃO
82
CAPÍTULO 1 - A REVISTA EDUCAÇÃO (1927-1930): TRAJETÓRIA EDITORIAL
83
1. Características gerais da revista Educação (1927-1930) 84
1.1 Apresentação gráfica 85
1.2 A comissão de redação 87
1.3 As seções especializadas 89
1.4 Autores colaboradores 90
1.5 Leitores previstos 90
CAPÍTULO 2 - A ALFABETIZAÇÃO NA REVISTA EDUCAÇÃO (1927-1930)
92
1. A produção sobre alfabetização na revista Educação 93
2. Os métodos de alfabetização 96
3. O método analítico no Estado de São Paulo 99
4. Orientações recebidas pelos professores 102
CAPÍTULO 3 - CONSIDERAÇÕES SOBRE O DEBATE “A ESCOLA PAULISTA
110
1. O debate entre Sud Mennucci e Renato Jardim 111
10
1.1 Método analítico: momentos de polêmica 112
1.2 “A Escola Paulista”, na revista Educação 116
PARTE V - A REVISTA ESCOLA NOVA (1930-1931) E A ABORDAGEM SOBRE
ALFABETIZÃO
121
CAPÍTULO 1 - A REVISTA ESCOLA NOVA (1930-1931): TRAJETÓRIA EDITORIAL
122
1. Características gerais da revista Escola Nova (1930-1931) 123
1.1 Apresentação gráfica 123
1.2 A comissão de redação 125
1.3 As seções especializadas 125
1.4 Autores colaboradores 126
1.5 Leitores previstos 126
CAPÍTULO 2 - A ALFABETIZAÇÃO NA REVISTA ESCOLA NOVA (1930-1931)
128
1. O “novo” discurso sobre alfabetização 129
1.1 Lourenço Filho: aspectos da vida, atuação profissional e produção intelectual 129
1.2 “Os testes”, por Lourenço Filho 132
1.3 “A escola renovada e a organização das classes”, experiência bem sucedida 135
PARTE VI - A REVISTA EDUCAÇÃO (1931-1932) E A ABORDAGEM SOBRE
ALFABETIZÃO
139
CAPÍTULO 1 - A REVISTA EDUCAÇÃO (1931-1932): TRAJETÓRIA EDITORIAL
140
1. Características gerais da revista Educação (1931-1932) 141
1.1 Apresentação gráfica 142
1.2 As seções especializadas 144
1.3 Autores colaboradores e leitores previstos 145
CAPÍTULO 2 - A ALFABETIZAÇÃO NA REVISTA EDUCAÇÃO (1931-1932)
146
1. A produção sobre alfabetização na revista Educação (1931-1932) 147
1.1 A abordagem de Damasco Penna acerca dos testes ABC 148
1.2 Princípios psicológicos da aprendizagem da leitura e da escrita 149
PARTE VII - A REVISTA DE EDUCAÇÃO (1933-1943) E A ABORDAGEM SOBRE
ALFABETIZÃO
152
CAPÍTULO 1 - A REVISTA DE EDUCÃO (1933-1943): TRAJETÓRIA EDITORIAL
153
1. Características gerais da Revista de Educação (1933-1943) 154
1.1 Apresentação gráfica 157
1.2 As seções especializadas 158
1.3 Autores colaboradores 159
1.4 Leitores previstos 160
CAPÍTULO 2 - A ALFABETIZAÇÃO NA REVISTA DE EDUCAÇÃO (1933-1943)
162
1. A produção sobre alfabetização na Revista de Educação (1933-1943) 163
1.1 O discurso hegemônico acerca dos testes ABC 164
1.2 A necessidade de se alargarem os conceitos de leitura e escrita 172
1.3 O Método analítico em declínio 173
CONSIDERAÇÕES FINAIS
175
REFERÊNCIAS 179
OBRAS DE REFERÊNCIA 187
ACERVOS, INSTITUIÇÕES E SITES CONSULTADOS
188
APÊNDICE A – Temas pertinentes á alfabetização veiculados na imprensa periódica
educacional paulista, entre os anos de 1927 e 1943: um instrumento de pesquisa
189
APÊNDICE B – Resumos descritivos dos artigos que versam sobre alfabetização veiculados na
revista Educação (1927-1930)
200
APÊNDICE C - Resumos descritivos dos artigos que versam sobre alfabetização veiculados na
revista Escola Nova (1930-1931)
215
APÊNDICE D - Resumos descritivos dos artigos que versam sobre alfabetização veiculados na
revista Educação (1931-1932)
217
APÊNDICE E - Resumos descritivos dos artigos que versam sobre alfabetização veiculados na
Revista de Educação (1933-1943)
220
ANEXOS: Capas das revistas 235
11
INTRODUÇÃO
12
O interesse pelo estudo sobre a alfabetização na imprensa periódica
educacional surgiu após o término da pesquisa desenvolvida em nível de mestrado
em Educação
1
. Por meio dos estudos realizados até então, pude perceber
mudanças paradigmáticas na constituição da alfabetização como prática escolar e
objeto de estudo em nosso país. Passei a considerar o momento anterior ao já
analisado (a partir da década de 1980 e até os dias de hoje), buscando recuperar o
período que se estende do final dos anos de 1920 ao início dos anos de 1940, por
se tratar de uma época em que, no âmbito da alfabetização, ocorreu a divulgação
das idéias escolanovistas para o ensino e aprendizado da leitura e da escrita.
Matriculada em 2004, como aluna regular do Programa de Pós-
Graduação em Educação, nível de doutorado, da Universidade Estadual Paulista,
campus de Marília, sob a orientação do Professor Carlos Monarcha, vinculei-me ao
Grupo de Pesquisa “História da Educação no Brasil” (GPHEB) e ao Projeto
Integrado de Pesquisa “Revistas de educação e ensino – São Paulo: 1892-1940”
(PIPREE)
2
, ambos coordenados pelo professor Carlos Monarcha. Logo no início da
pesquisa, foi-me concedida bolsa CAPES.
O projeto inicial de pesquisa propunha a analisar a abordagem da
alfabetização na Revista de Educação, “Órgão do Departamento de Educação do
Estado de São Paulo” ou, “Órgão da Diretoria Geral do Ensino do Estado de São
Paulo” (a denominação varia em função das reformas administrativas), publicada
entre 1933 e 1943.
Durante o ano de 2004, cursei três disciplinas; duas no Programa de
Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Filosofia e Ciências, da UNESP,
campus de Marília – “Filosofia da Educação no Brasil”, ministrada pelo professor Dr.
Pedro Ângelo Pagni e “História da profissão docente no Brasil: um campo de
reflexão”, ministrada pela professora Ana Clara Bortoleto Nery –; e uma no
Programa de Pós-Graduação em História da Faculdade de Ciências e Letras, da
UNESP, campus de Assis – “História e cultura”, sob a responsabilidade da
professora Drª Zélia Lopes da Silva.
1
Refiro-me a Márcia Cristina de Oliveira Mello. Um estudo sobre o pensamento construtivista de Emilia
Ferreiro sobre alfabetização. 2003. Trata-se de resultado de pesquisa de fundo histórico em que analisei o
pensamento sobre alfabetização da referida pesquisadora argentina.
2
Esse projeto tem apoio CNPq, processo número 520648/95; auxílio à pesquisa CNPq, processo número
472003/2003-8; e auxílio à pesquisa FAPESP, processo número 02/13091-0.
13
Nesse período, também, organizei um instrumento de pesquisa
contendo as referências dos artigos sobre alfabetização constantes na Revista de
Educação (1933-1943). Para organização deste instrumento de pesquisa, orientei-
me pelos resultados de estudos e pesquisas desenvolvidos no âmbito do GPHEB e
do PIPREE.
O referido Projeto Integrado de Pesquisa, coordenado pelo professor
Dr. Carlos Monarcha, tem como objetivo geral contribuir para o alargamento da
pesquisa histórica em Educação mediante expansão e divulgação de conhecimentos
relativos às séries de revistas de educação e ensino
3
.
Dessa forma, têm-se produzido “Levantamentos” que oferecem banco
de dados, global e sistematizado sobre as 14 séries representativas das revistas de
educação e ensino paulistas. Coordenados por Monarcha (2003) são intitulados
Levantamentos das revistas: Revista da Sociedade de Educação (1923-1924);
Educação (1927-1930); Escola Nova (1930-1931); Educação (1931-1932); Revista
de Educação (1933-1935); Revista de Educação (1935-1937); e Revista de
Educação (1938-1943)
4
.
Os “Levantamentos” contêm as características principais das revistas,
constando de apresentação, explicitando o objetivo geral de sistematizar um
conjunto de dados referentes as revistas; características da série da revista em
estudo; seções especializadas; autores e freqüência de colaboração; posição sócio-
educacional dos autores; e assuntos abordados com a respectiva freqüência. Além
desses dados, os levantamentos contêm apêndices, que se constituem de índice,
fichas de referência técnica e fichas de resumos descritivos dos artigos publicados
na revista. Por vezes, e de acordo com a especificidade de cada módulo, contêm
títulos dos números temáticos; comissão de redação e posição sócio-ocupacional;
seções assinadas; e editorial.
3
São quatorze as séries de revistas destacadas no âmbito do Grupo de Pesquisa História da Educação no Brasil e
do Projeto Integrado de Pesquisa “Revistas de educação e ensino. São Paulo: 1892-1944”, como representativas
de revistas de educação e ensino publicadas no Estado de São Paulo consideradas fontes importantes para a
pesquisa histórica em Educação, a saber: Revista Moderna (1892-1893), A Eschola Publica (1893-1897), Revista
do Jardim da Infancia (1896-1897), Educação (1902-1903) Revista de Ensino (1902-1919), Revista da Escola
Normal de São Carlos (1916-1922), Revista de Educação (1921-1922), Revista da Sociedade de Educação
(1923-1924), Educação (1927-1930), Escola Nova (1930-1931), Educação (1931-1932), Revista de Educação
(1933-1943) e Educação (1944-1961).
4
Para elaborão dos “Levantamentos” colaboraram os membros da equipe executora do PIPREE, nesta etapa:
Andréia Santos Perez, Aldine Nogueira da Silva e Fernanda Oscar Dourado.
14
Ainda no âmbito do GPHEB e do PIPREE auxiliaram-me os estudos de
Andréia Santos Perez (2003), Enéias Borges Dias (2004) e Aldine Nogueira da Silva
(2005). A fim de retomar e ampliar os dados e reflexões contidos nos
“Levantamentos” (2003), esses pesquisadores desenvolvem estudos sobre
determinados aspectos das referidas publicações periódicas.
Andréia Santos Perez (2003), desenvolve um estudo sobre a Revista
da Sociedade de Educação, órgão da Sociedade de Educação de São Paulo,
publicada mensalmente entre os anos de 1923 e 1924, analisando os sete números
da revista, especialmente quanto à localização de fontes documentais que
contribuem para a compreensão do seu “ciclo de vida”. A pesquisadora oferece um
rol de informações detalhadas sobre as características da revista e contexto de
publicação.
Com a intenção de discutir as relações entre educação e tecnicismo na
reforma paulista realizada por Lourenço Filho, Enéias Borges Dias (2004),
desenvolve um estudo sobre a revista Escola Nova, destacando a atuação dos
“técnicos” em educação na Diretoria de Ensino do Estado de São Paulo, assim como
a assistência didático-pedagógica oferecida por esses agentes ao professorado
paulista à época. Conclui que a técnica e a figura do “técnico em educação” foram
questões centrais nas abordagens dos artigos publicados em Escola Nova.
Aldine Nogueira da Silva (2005), se detém na análise da revista
Educação (1927-1930), destacando os artigos que se relacionam diretamente com a
renovação educacional almejada à época, escritos especialmente por Lorenzo
Luzuriaga, Lourenço Filho, Antonio Leão Velloso e Paulo Maranhão. Ressalta que
Educação buscou orientar o professorado paulista, conforme os pressupostos da
inovação educacional direcionada ao ensino ativo e dinâmico do aluno.
O instrumento de pesquisa que organizei, então, propiciou a reflexão
inicial de alguns aspectos dos discursos sobre alfabetização veiculados na imprensa
periódica educacional paulista, cujos resultados parciais foram divulgados em
sessões de comunicação de eventos científicos, e publicados no formato de
resumos e/ou textos completos
5
.
5
o eles: Márcia Cristina de Oliveira Mello. Abordagem sobre alfabetização na Revista de Educação (São
Paulo: 1933-1943). 2004, p. 12-19. Idem. Temas pertinentes à alfabetização na Revista de Educação (São Paulo:
1933-1943). 2004, p. 271. Idem. Ibidem. 2004. Idem. A questão da alfabetização na Revista de Educação (São
Paulo: 1933-1943). 2005. Idem. Os discursos sobre alfabetização na Revista de Educação (São Paulo: 1933-
1943). 2005. Idem. Discursos sobre alfabetização na Revista de Educação (São Paulo: 1933-1943). 2006, p. 242.
15
Em maio de 2005, participei do Exame Geral de Qualificação, um
momento significativo para minha pesquisa, pois, os membros da Banca
Examinadora, o Professor Carlos Monarcha, a Professora Carlota Boto e a
Professora Vera Teresa Valdemarin trouxeram à tona problemas como os impasses
relativos à delimitação do período para análise, relativos à descrição dos aspectos
teóricos-metodológicos, entre outros. A partir daquela problematização, foi possível
ampliar o período delimitado para análise, que passou a ser considerado entre 1927
e 1943. Desta forma, reformulei o instrumento de pesquisa, elaborado na fase
exploratória da pesquisa, e que se encontra no Apêndice A desta Tese.
Tendo em vista ampliar o diálogo com outros pesquisadores da área,
realizei um estágio de doutorado no exterior, no período de novembro de 2005 a
fevereiro de 2006, sob a co-orientação do Dr. Rogério Fernandes, Professor
Catedrático Jubilado pela Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da
Universidade de Lisboa.
Como parte integrante das atividades desenvolvidas no exterior, e em
conformidade com uma das sugestões do professor co-orientador, iniciei uma
análise dos discursos sobre alfabetização veiculados no boletim Escola Portuguesa,
periódico do Ensino Primário Oficial, cuja série completa consta do acervo da
Biblioteca Nacional de Lisboa, com a intenção de verificar como as questões
relacionadas à alfabetização foram tratadas em Portugal, no âmbito da imprensa
periódica educacional, no momento correspondente ao analisado no Brasil (1933-
1943)
6
.
As atividades acadêmicas deste estágio centraram-se, numa primeira
etapa, em visitas constantes ao acervo da Biblioteca Nacional de Lisboa para
localização, seleção e classificação de artigos que versassem sobre alfabetização e
que foram publicados no referido boletim. Nessa etapa foram consultados cerca de
480 números do periódico e localizados 213 artigos que versaram sobre o tema. Em
uma segunda etapa de investigação, realizei leituras dos artigos mais significativos,
Idem. Discursos sobre alfabetização na Revista de Educação (São Paulo: 1933-1943). 2006, p. 3397-3407.Idem.
A temática da alfabetização na Revista de Educação (São Paulo: 1933-1943). 2006, p. 141-142. Idem.
Escolanovismo e alfabetização na Revista de Educação (São Paulo: 1933-1943). 2006, p. 346-347. Idem.
ibidem. 2006. Idem. A alfabetização na imprensa periódica educacional: o caso da revista Educação (São
Paulo). 2007, p. 193. Idem. A Revista de Educação e a abordagem sobre alfabetização. 2007.
6
Como a Escola Portuguesa foi publicada a partir de outubro de 1934, os dados foram coletados por mim a
partir desse marco inicial e se estendeu até o ano de 1943. Como se sabe, a publicação do boletim foi
interrompida em outubro de 1974.
16
assim como da bibliografia especializada em alfabetização, sugerida pelos
pesquisadores envolvidos na pesquisa.
Durante a realização do estágio, participei, ainda, de sete eventos
científicos
7
, sendo que no Seminário Imprensa de educação e ensino e formação o
campo pedagógico em Portugal na 1ª metade do século XX, organizado pelo Centro
de Investigação em Educação da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa
e coordenado pelo professor Dr. Joaquim Pintassilgo, apresentei meu Projeto inicial
de Pesquisa intitulado Abordagem sobre alfabetização na Revista de Educação: São
Paulo (1933-1943), que foi debatido pelos professores Luiz Carlos Barreira, da
Universidade de Sorocaba/SP; António Candeias, da Universidade Nova de Lisboa;
Ana Clara Nery, da Universidade Estadual Paulista, campus de Marília; e pelo co-
orientador, o professor Dr. Rogério Fernandes.
Sobre os resultados parciais do estágio realizado na Universidade de
Lisboa, elaborei e enviei à CAPES um relatório final de estágio intitulado “Discursos
sobre alfabetização veiculados no boletim Escola Portuguesa – Lisboa (1934-
1943)”
8
, que depois de avaliado foi aprovado pelos pareceristas da Coordenação
Geral de Programas com o Exterior.
O contato com eminentes pesquisadores, em Portugal, dentre eles o
Professor Dr. Rogério Fernandes e o Professor Justino Magalhães contribuiu para
ampliar meu “olhar” de pesquisadora acadêmica, especialmente quanto aos
“cuidados” que a pesquisa histórica em relação à recuperação de como se concebia
o processo de alfabetização, no passado recente, merece ter. Isto me fez encontrar
pistas que me orientaram e continuam me orientando na busca dessa recuperação.
De volta ao Brasil, em fevereiro de 2006, dei prosseguimento ao
desenvolvimento do tema sobre a alfabetização, porém ampliando a abordagem à
imprensa periódica educacional paulista, dedicando-me à análise dos artigos que
versam sobre o tema, publicados entre 1927 e 1943, os quais elegi como corpus
7
Por ordem cronológica de participação são eles: Seminário O funcionamento dos Estágios Pedagógicos na
Licenciatura; Seminário Internacional de museologia da infância e da educação: Entre o passado e a
globalização, que presente para a museologia da infância e da educação?”; Seminário Imprensa de educação e
ensino e formação o campo pedagógico em Portugal na 1ª metade do século XX; Seminário acerca dos temas: O
filantropismo e a educação em Portugal e no Brasil e Histórias das edições e coleções educativas; Mesa-
redonda Os CDI e as práticas de leitura; Seminário fis de lecture pour les jeunes-adultes; e Seminário
História do livro, da edição e das colecções educativas.
8
As reflexões sobre o tema, apresentadas até o momento, estão contidas em: Márcia Cristina de Oliveira Mello.
Discursos sobre alfabetização no boletim Escola Portuguesa – Lisboa (1934-1943). 2006, p. 347-348. Idem.
ibidem. 2006.
17
para análise, tendo em vista as “[...] diversas configurações dos discursos sobre
educação e dos saberes pedagógicos [...]”. (SOUZA; CATANI, 1994, p. 183).
A escolha dos artigos e a delimitação do período para análise se
justificam mediante o fato de que as idéias escolanovistas sobre alfabetização foram
consideradas “novas” e/ou “originais” à época e foram amplamente divulgadas nas
revistas, sobretudo no final dos anos de 1920, durante os anos de 1930 e início dos
anos de 1940.
Como problema de investigação, formulei o seguinte: se existia, à
época, a necessidade de se divulgarem as idéias escolanovistas sobre
alfabetização, e se difundir novas concepções pedagógicas entre os professores,
principalmente aquelas centradas nos aspectos psicológicos da aprendizagem da
leitura e da escrita e nas condições individuais de aprendizagem do aluno, qual a
importância dos discursos veiculados nas revistas sobre alfabetização, nessa
divulgação?
Para auxiliar na análise proposta, formulei algumas questões que
orientaram a investigação:
Quais as características das revistas?
Quais os conceitos de alfabetização contidos nos artigos publicados
nas revistas?
Quem são os sujeitos que escreveram/discutiram questões pertinentes
à alfabetização na imprensa periódica educacional (1937-1943)? De que “lugares
falavam, no âmbito do ensino público paulista?
Quais orientações pedagógicas recebia o professorado (primário)
público paulista quanto à maneira de conduzir o ensino e aprendizagem da leitura e
da escrita, por meio da leitura dos artigos?
Quais idéias escolanovistas foram divulgadas para o ensino e o
aprendizado da leitura e da escrita entre o professorado público (primário) paulista?
Dado que os professores eram os possíveis leitores das revistas, quais
são os aspectos da formação desses professores? (Em que “condições” recebiam
as revistas? E quem dominava esses discursos?).
Defini, também, os seguintes objetivos:
- contribuir para a ampliação dos estudos históricos em Educação, mediante
abordagem da alfabetização na imprensa periódica educacional (1927-1943);
18
- contribuir para a compreensão de um passado recente da história da alfabetização
no Brasil;
- identificar, analisar e compreender as idéias escolanovistas sobre alfabetização
veiculadas nos periódicos oficiais do ensino público paulista; e,
- compreender qual a importância das revistas na divulgação das idéias
escolanovistas sobre alfabetização.
Por sua vez, a hipótese de investigação formulada foi que os discursos
sobre alfabetização, veiculados na imprensa periódica educacional (1927-1943),
foram utilizados como meio para se divulgarem as idéias escolanovistas para o
ensino e aprendizagem da leitura e da escrita, entre o professorado público
(primário) paulista.
***
Para a redação desta Tese, optei por conservar a ortografia de época
9
,
sempre que possível, de todos os documentos referenciados e citados, para garantir
o aspecto histórico e documental.
Após esta introdução, a Tese está organizada em sete partes.
A Parte I está dividida em dois capítulos que apresentam a abordagem
sobre a delimitação do objeto de estudo. No capítulo 1, apresento os estudos sobre
a imprensa periódica educacional e sobre alfabetização e sua história no Brasil, que
se relacionam diretamente com o tema da pesquisa. No capítulo 2, explicito os
aspectos teórico-metodológicos e os procedimentos da pesquisa.
A Parte II está organizada de modo a apresentar um esboço histórico
sobre os aspectos que considerei importantes à compreensão do contexto
educacional de circulação das revistas, assim como aspectos da formação do
professor para o ensino primário.
9
Vale lembrar que o Decreto-Lei n. 292 de 23 de fevereiro de (1938) regula o uso da ortografia nacional. De
acordo com o artigo 1º desse documento “É obrigatório o uso da ortografia resultante do acôrdo, a que se refere
o decreto n. 20.108, de 15 de junho de 1931, entre a Academia Brasileira de Letras e a Academia das Ciências de
Lisbôa, no expediente das repartições públicas, e nas publicações oficiais de todo o país, bem como em todos os
estabelecimentos de ensino, mantidos pelos poderes públicos ou por êles fiscalizados”. E, ainda, de acordo com
o artigo 3º, A partir de 1º de junho de 1939, não serão admitidos, nos estabelecimentos de ensino oficiais ou
reconhecidos oficialmente, livros didáticos escritos em ortografia deferente da referida no artigo 1º dêste
decreto-lei. Portanto, a ortografia utilizada não terá uma única normatização.
19
Na Parte III, apresento alguns aspectos dos temas sobre alfabetização,
abordados nas revistas que antecedem as aqui analisadas, especialmente a
contribuição da Revista da Sociedade de Educação na constituição de discursos
sobre alfabetização em nosso país.
As Partes IV, V, VI e VII abordam cada qual as características das
revistas analisadas, com o objetivo de apresentar dados que permitam uma
aproximação ao objeto físico de pesquisa, suporte material de concretização dos
discursos aqui analisados. Após apresentar de forma descritiva os aspectos internos
de organização e apresentação das revistas, abordo a produção sobre alfabetização
incluída em cada uma delas.
Por fim, seguem-se: considerações finais; referências; relações de
instituições e acervos consultados; seis apêndices, sendo o primeiro constituído pelo
instrumento de pesquisa contendo a relação dos artigos sobre alfabetização que
circularam nas revistas, entre 1927 e 1943, ordenados e organizados de acordo com
as Normas da ABNT; os próximos contêm os resumos dos artigos localizados; e o
último Apêndice contém o relatório final de estágio no exterior. Após esses tópicos
têm-se os anexos.
20
PARTE I
DELIMITANDO O OBJETO DE ESTUDO
21
CAPÍTULO 1
EM FOCO: ESTUDOS SOBRE IMPRENSA PERIÓDICA EDUCACIONAL E SOBRE
ALFABETIZÃO E SUA HISTÓRIA NO BRASIL
22
1. Estudos sobre imprensa periódica educacional
No Brasil, no âmbito acadêmico, tivemos nas últimas décadas um
aumento considerável pelo interesse de pesquisadores que privilegiam como fonte a
imprensa periódica educacional (MONARCHA, 2002). O autor destaca que no
Estado de São Paulo esse tipo de imprensa se tornou um gênero editorial em virtude
de um considerável parque gráfico e também “[...] pela presença atuante de
professores primários formados nas escolas normais, os quais despontaram como
teorizadores de modelos de educação e métodos de ensino e autores de obras
didáticas de larga repercussão.” (p. 08).
1.1 Estudos pioneiros
Entre os pesquisadores que investigam as revistas de cultura
10
, e
aqueles que contribuem para se recuperar a trajetória do ciclo de vida das revistas,
especificamente no caso paulista, destacam-se Carlos da Silveira, José de Freitas
Nobre e Antonio Barreto do Amaral, cujos resultados de pesquisa foram publicados
respectivamente nos anos de 1929, 1950 e 1968. A partir dos estudos pioneiros
desses autores, é possível observar o surgimento das revistas pedagógicas
11
.
O artigo de Carlos da Silveira traz informações sobre as primeiras
revistas pedagógicas paulistas, oferecendo um ponto de partida para se estabelecer
a história da produção e divulgação de conhecimentos sobre Educão.
As revistas citadas por Carlos da Silveira são as seguintes: A Eschola
Publica, Revista do Jardim da Infancia, Revista de Ensino, Revista Escolar,
Educação, Revista de Educação, Revista dos Educadores, O Estudo, Revista da
Escola Normal de São Carlos, Revista de Educação (da Escola Normal de
Piracicaba) e Revista da Sociedade de Educação. Silveira relata, ainda, sua própria
experiência como redator chefe da Revista Educação e seu plano elaborado para
organizar a revista, para que ela fosse aparelhada com meios necessários para
10
Essa expressão é utilizada por Antonio Barreto do Amaral. Nossas revistas de cultura: ensaio histórico-
literário. 1968, para se referir às revistas que se dedicavam às múltiplas especializações: Literatura, Arte,
Filosofia, Hisria, Música, Teatro, Filatelia, Cinema, Geografia, Numismática, Genealogia e Heráldica.
11
Na literatura especializada em publicações periódicas encontramos ora a expressão “revistas pedagógicas”, ora
a expressão revistas educacionais. No âmbito do GPHEB e do PIPREE elas são nomeadas como revistas de
educação e ensino”.
23
aumentar o número de assinantes e se tornar uma publicação útil ao professorado
paulista, além da pretensão de fazer “[...] da Revista um órgão de cultura geral e
especializado do professorado paulista e um expoente do progresso do estado.” (p.
328).
José de Freitas Nobre (1950) oferece um estudo panorâmico sobre a
imprensa periódica, retrocedendo até 1873 para indicar o surgimento de periódicos
que se dedicam à educação. Com o objetivo de traçar um espectro amplo sobre as
revistas, o autor descreve suas características principais.
Antonio Barreto do Amaral (1968), focaliza o período de vida das
revistas de cultura publicadas no Estado de São Paulo de 1833 (ano de publicação
da primeira revista de cultura – Revista da Sociedade Filomática) a 1950 (ano de
publicação da revista Anhembi – editada até aquele momento). Amaral aponta que a
partir da última década do século XIX e início do século XX, houve uma euforia
quanto à publicação de revistas de cultura, porém a maioria delas não conseguiu
sobreviver por mais de alguns meses, pelo motivo de não encontrarem público
suficientemente preparado para compreendê-las. Para Amaral, a melhor revista da
época foi publicada em 1902 – Revista do Ensino –. No ano de 1927, o autor
registra o surgimento de quatro revistas de cultura, entre elas Educação. Amaral cita
o programa proposto pela revista e lista os nomes dos membros da comissão de
redação e seus colaboradores. O autor conclui que as revistas de cultura tiveram
pouca receptividade perante a população, e circularam dentro de um pequeno
círculo que tinha origem nas escolas de nível secundário e superior. Dessa forma,
de acordo com Antonio Barreto do Amaral, poucas são as revistas que sobreviveram
naquele período, entre elas aquelas editadas por órgãos universitários, por
organizações particulares ou pelo poder público.
Pelas informações contidas nos levantamentos de Carlos da Silveira,
José Freitas da Nobre e Barreto do Amaral, podemos considerar seus estudos
referências para todos aqueles que se dedicam ao estudo da imprensa periódica
educacional e “[...] abordam questões inerentes ao movimento de estruturação,
expansão e institucionalização da imprensa periódica paulista [...]” (MONARCHA,
2002, p. 2).
24
1.2 Estudos atuais produzidos em âmbito nacional
Mediante levantamento da produção brasileira de estudos recentes
sobre as revistas de educação e ensino, localizei várias referências bibliográficas,
em livros; capítulos de livros; artigo em periódico; teses; dissertações; e resultados
de pesquisa. Dentre essa produção acadêmica, intensificada nos últimos anos,
selecionei as pesquisas representativas das diferentes discussões acerca das
revistas.
1.2.1 Livros
Denice Barbara Catani e Maria Helena Camara Bastos (1997) no livro
Educação em revista: a imprensa periódica e a História da Educação, reúnem textos
que contribuem para divulgação de pesquisas nacionais e internacionais
relacionadas ao tema da imprensa periódica educacional. As organizadoras
destacam que, nos últimos tempos, a imprensa periódica educacional vem atraindo
o interesse de vários pesquisadores de diversos países, e esse tipo de fonte de
pesquisa contém e oferece dados básicos para a compreensão da história da
educação e do ensino. O livro consta de oito artigos, dois deles assinados por
autores estrangeiros: António Nóvoa, que analisa a concepção e a organização do
repertório analítico das publicações periódicas portuguesas – séculos XIX e XX, e
Pierre e Penélope Gaspard, que analisam a imprensa periódica educacional
francesa entre os anos de 1815 e 1930, visando a contribuir para a história da
formação docente na França; três artigos versam sobre os periódicos educacionais
publicados no Estado do Rio Grande do Sul; outros três artigos destacam as revistas
paulistas; e, por fim, tem-se um apêndice em que constam informações sobre a
imprensa periódica educacional brasileira entre os anos de 1808 e 1944.
Resultante das atividades do Projeto de Pesquisa desenvolvido entre
os anos de 1994 e 1999, na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo
(USP), intitulado Imprensa periódica educacional paulista (1890 – 1996), Denice
Barbara Catani e Cynthia Pereira de Souza (1999) organizaram um livro com caráter
de catálogo, que reúne informações sobre as revistas de ensino editadas na cidade
e no Estado de São Paulo, entre os anos de 1890 a 1996, sob a luz do repertório
documental português de António Nóvoa. Com o objetivo de facilitar o trabalho de
25
pesquisadores da área da história da educação e contribuir para a superação de
possíveis limitações de acesso aos dados sobre essas publicações pedagógicas
existentes em São Paulo, as organizadoras fornecem dados sobre essas revistas,
de acordo com os seguintes índices: geográfico, cronológico e tipologia de
publicação. No catálogo, encontra-se disponível a relação de 456 periódicos
especializados em Educação, publicados em São Paulo no período delimitado pelas
pesquisadoras.
A fim de recuperar a história das revistas de lazer e cultura paulistas,
Ana Luiza Martins (2001)
12
desenvolveu um estudo sistemático sobre as séries
representativas que circularam na cidade de São Paulo, entre os anos de 1890 e
1922, “[...] procurando dimensionar seu significado no quadro mais amplo do
impresso no Brasil, especialmente no que diz respeito à ampliação do público leitor,
à conformação de imaginários e à recuperação de parte do universo mental do
período.” (p. 17). A pesquisadora aponta a trajetória de algumas revistas
privilegiando o conteúdo, a temática, e as circunstâncias de produção e circulação,
destacando no quinto capítulo, as revistas pedagógicas. Para Martins, as revistas
funcionavam “[...] como instância de representação e legitimação de indivíduos,
grupos e idéias, espaço celebrativo de aspirações e projetos de gerações, suporte
quase exclusivo para colocação do autor em letra impressa.” (p. 557).
Denise Bárbara Catani (2003)
13
desenvolve um estudo pioneiro acerca
da Revista de Ensino, publicada entre os anos de 1902 e 1918 pela Associação
Beneficente do Professorado Público de São Paulo, focando as produções que se
importavam com as principais discussões do período: o problema da organização
dos serviços de ensino e os problemas da formação e do trabalho docente, tendo
em vista explicar os significados das ações assumidas pela Associação Beneficente
do Professorado Público de São Paulo, nos primeiros anos do século XX, momento
em que se estava estabelecendo a prática dos debates sobre questões educacionais
no Estado de São Paulo. Catani conclui que nas diferentes fases da revista, a
orientação e direção dos debates assumiram rumos diferentes, conforme maior ou
menor intervenção do Estado; assim, num primeiro momento, a revista serviu de
porta-voz da Associação Beneficente do Professorado Público de São Paulo, que
12
Trata-se de publicação, em formato de livro, da tese de doutorado da pesquisadora defendida em (1997).
13
Trata-se de publicação, em formato de livro, da tese de doutorado defendida em (1989).
26
reivindicava melhores condições de trabalho aos docentes. Posteriormente, a revista
restringiu o espaço destinado às reivindicações dos professores.
No livro A Revista do Ensino do Rio Grande do Sul (1939-1942): o
novo e o nacional em revista, Maria Helena Camara Bastos (2005)
14
investiga a
produção discursiva da Revista do Ensino, editada entre os anos de 1939 e 1942,
com patrocínio da Secretaria de Educação e Saúde Pública do Estado do Rio
Grande do Sul, visando a identificar as temáticas educacionais e suas articulações
com as estratégias de “reconstrução nacional do Estado Novo” e da proposta
político-pedagógica de “renovação educacional” no Estado do Rio Grande do Sul. A
pesquisadora destaca o papel da revista na “modelização” das práticas pedagógicas
dos professores. Bastos conclui que, no caso do Rio Grande do Sul, a imprensa
periódica pedagógica serviu de “orientação e direção-intelectual e moral” para os
professores à época, oferecendo um discurso de moralização e “modelização”, que
“[...] intentava levar o professor-leitor a assumir deveres – pessoais, morais e
profissionais – frente à função pedagógica e social na ação nacionalizadora.” (p.
295).
1.2.2 Capítulos de livros
Em “A Escola Nova e o impresso: um estudo sobre estratégias
editoriais de difusão do escolanovismo no Brasil”, Marta Maria Chagas de Carvalho
(1997) relata, a disputa entre “os católicos” e “os pioneiros” pela normatização e
regulação do discurso e da prática pedagógica dos professores paulistas, por meio
do impresso, para divulgar as apropriações que se fizeram da pedagogia
escolanovista. Segundo a autora, a intenção desses grupos era promover uma
“mudança de mentalidade” entre o professorado paulista. Enquanto os “católicos
utilizaram a censura para selecionar o tipo de material a ser impresso e garantir um
discurso escolanovista católico que convencesse o professorado, os “pioneiros”
optaram por selecionar um material que evidenciasse as novas pedagogias e
subsidiasse a transformação da prática pedagógica do professor em sala de aula.
Com isso, os “católicos” estabeleceram um corpus bibliográfico de referência que era
constituído de leituras autorizadas e “saturado de sentido religioso” objetivando guiar
a prática docente. Para Carvalho, as diferenças entre as estratégias editoriais
14
Trata-se de publicação, em formato de livro, da tese de doutorado defendida em (1994).
27
desses dois grupos se devem, tamm, as condições de produção, circulação e
recepção do material impresso. No caso dos “pioneiros”, eles se encontravam “[...]
na situação de profissionais e políticos encarregados da gestão [...] dos sistemas
públicos de ensino [...]” (p. 74). Carvalho conclui que os chamados “impressos-
ferramentas”, juntamente com a revista Escola Nova, podem ser considerados
exemplos de publicações que trouxeram para o “[...] primeiro plano a questão da
intervenção ativa do professor no processo de leitura-aprendizagem.” (p. 85).
Carlos Monarcha (2001a) faz uma análise da Revista Jardim da
Infancia
15
, vinculada à criação do jardim da infância anexo à Escola Normal de São
Paulo, no conjunto de seus dois volumes publicados em 1896 e 1897, pela
“Typographia a Vapor Espindola, Siqueira & Comp.”
16
. Essa revista, segundo o
pesquisador, inaugurou, no Estado de São Paulo, a discussão sobre a educação da
infância, ao organizar e divulgar concepções e práticas pedagógicas baseadas nos
pressupostos de Froebel. Contribuiu para trazer para “um primeiro plano” as
questões relacionadas com à educação da infância brasileira. O repertório de textos
originais ou traduzidos de autores estrangeiros de inspiração froebeliana, publicado
pela revista, objetivou a fundamentar institucionalmente e didaticamente o jardim-da-
infância, procurando atender à demanda por conhecimentos específicos e
demonstrar a viabilidade de educação da infância. Quanto à receptividade da
revista, Monarcha ressalta que a publicação de seu primeiro volume provocou
reações contrárias e tensas; mesmo assim a revista teve êxito e duradoura
receptividade, chegando a influenciar as concepções sobre o ensino da infância nas
décadas seguintes. Monarcha conclui que, mesmo tendo essa revista um “ciclo de
vida” curto, desempenhou um papel exemplar no cenário cultural e educacional do
final do século XIX e início do século XX, contribuindo para o alargamento da
publicação de revistas especializadas em questões pedagógicas e escolares da
época.
15
Estudo desenvolvido no âmbito do GPHEB e do Projeto Integrado de Pesquisa “Cultura escolar urbana. São
Paulo: 1840-1940. Repertório de fontes documentais”.
16
À época esse estabelecimento se especializou na edição de publicações oficiais. A esse respeito ver,
especialmente, Carlos Monarcha. Revista do Jardim da Infancia: uma publicação exemplar. 2001a.
28
1.2.3 Artigo em periódicos
Marta Maria Chagas de Carvalho e Maria Rita de Almeida Toledo
(2000) analisam a revista Escola Nova e o Boletim de Educação Pública, com o
objetivo de compreenderem o papel desses impressos nas iniciativas de reformas
educacionais nos anos de 1920 e 1930. Para tanto, destacam quais foram as regras
de regulação, produção, circulação e uso desses impressos no momento da
intervenção remodeladora das práticas escolares, decorrentes das reformas de
Fernando de Azevedo, no Rio de Janeiro, em 1927; de Lourenço Filho, em São
Paulo, no ano de 1930; e de Anísio Teixeira, no Rio de Janeiro, em 1931. As autoras
concluem que esses periódicos reforçaram a política de implementação de uma
cultura pedagógica considerada à época, “moderna”, que fosse capaz de
transformar a prática pedagógica dos professores por meio do “esclarecimento” e
“conscientização” por meio “[...] dos livros, do assessoramento e apoio técnico e da
síntese ordenada de prática e teoria [contidos] nas páginas das revistas
pedagógicas.” (p. 91).
1.2.4 Teses
Com a finalidade de analisar os conflitos existentes na disputa entre
membros da Sociedade de Educação de São Paulo e integrantes do magistério
público paulista, pelo monopólio da orientação das revistas pedagógicas, no período
correspondente entre os anos de 1922 e 1931, Ana Clara Bortoleto Nery (1999)
utiliza como fontes principais para pesquisa os seguintes periódicos: Revista da
Sociedade de Educação (1923-1924), Revista Escolar (1925-1927), Educação
(1927-1930) e Escola Nova (1930-1931). A pesquisadora se propôs a verificar quais
as principais questões discutidas na Sociedade de Educação, quais eram os seus
membros e analisar quais os vestígios que nas quatro revistas pedagógicas indicam
os objetos de disputas travadas entre diferentes grupos do magistério público
paulista. Ao destacar aspectos importantes da estruturação do campo educacional
paulista, no período estudado, a pesquisadora destaca que foi possível fazer uma
reconstrução da vida da Sociedade de Educação de São Paulo, por onde passaram
as principais discussões do período, tendo destacado as realizações da entidade, a
atuação dos membros, os eventos educacionais e seus conflitos, as conferências,
29
debates e discussões sobre as modificações do ensino realizados no âmbito da
Sociedade de Educação.
Com o objetivo de compreender como foi sendo estruturado o sistema
de ensino brasileiro, Marize Carvalho Vilela (2000) escolheu como corpus para
análise a revista Educação, em suas diferentes fases, entre os anos de 1927 e 1961,
publicada inicialmente pela Diretoria Geral do Ensino. Segundo a pesquisadora, a
revista teve 2.245 artigos publicados. Dentre esses, Vilela escolheu os artigos
representativos, por serem escritos por autores que tiveram projeção no cenário
político-educacional e que tiveram relativa freqüência e/ou permanência de
colaboração na revista. Ao analisar esses discursos, a pesquisadora procurou
entender “[...] como vão se constituindo determinadas ‘instaurações discursivas’ que
comporão um painel sobre algumas questões substantivas da cultura e da política
educacional brasileira.” (p. 46). Vilela conclui que nos 34 anos de existência da
revista, ela modifica seu escopo ao longo desse período; ora pretendia auxiliar o
professor em seu trabalho pedagógico, ora promover debates educacionais e ora
configura-se como porta-voz oficial e órgão de propaganda do governo.
Lílian Rose Margotto (2000) analisa o modo como os autores que
escreviam sobre psicologia nos periódicos educacionais paulistas se apropriaram do
discurso dessa ciência durante a Primeira República, para explicar os problemas
enfrentados pela escola pública paulista naquele momento. A pesquisadora
delimitou o período correspondente entre os anos de 1890 e 1930, destacando que,
nesse período, o discurso veiculado nas revistas está marcado pelo poder
legitimador da ciência que inspirou uma série de reformas educacionais: “A
influência do cientificismo fez-se presente nas elaborações que foram forjadas para
entender o que faltava e explicar como deveria ser o sistema de ensino.” (p. 228).
Assim, destaca a autora, foram importadas teorias dos pensadores europeus e
americanos, a fim de se entender a realidade educacional brasileira. Para Margotto,
por meio de sua análise, foi possível revelar “[...] uma progressiva naturalização das
mazelas que a escola enfrentava, proporcionada pela incorporação de um
vocabulário cientificista que foi utilizado para explicar o que estava errado no ensino,
bem como para apontar possíveis soluções.” (p. 235).
Maurilane de Souza Biccas (2001) analisa a Revista do Ensino, editada
entre os anos de 1925 e 1940, no Estado de Minas Gerais, considerada como
estratégica para a formação de professores, e tamm um “[...] dispositivo de
30
normatização pedagógica e de ampliação da cultura dos professores.” (p. 272). A
pesquisadora descreve e analisa aspectos da origem, interrupções, reativações,
circulação e propostas editoriais contidas na revista e avalia como a revista foi
utilizada para ampliar a cultura educacional dos professores e orientar a prática
docente. Conclui que a revista foi o principal instrumento para informar e formar
rapidamente os professores mineiros naquele momento e que, ao mesmo tempo em
que a revista foi produzida, também foi se constituindo o campo educacional mineiro.
1.2.5 Dissertações
Com o objetivo de compreender o papel da Revista Escolar no
movimento de renovação educacional no Estado de São Paulo, relacionado à
disseminação do ideário escolanovista, Ana Clara Bortoleto Nery (1993) analisa os
artigos desse periódico, editado mensalmente entre os anos de 1925 e 1927 pela
então Diretoria Geral da Instrução Pública do Estado de São Paulo. Tendo como
tema central a abordagem sobre a Escola Nova; a pesquisadora faz um balanço dos
acontecimentos ocorridos no panorama geral do país e no setor educacional dos
anos de 1920, momento em que foi publicada a Revista Escolar. Ao analisar os
ideais educacionais da Revista Escolar, Nery destaca qual o modelo ideal de
orientação do trabalho pedagógico pretendido pela revista e quais os meios
propostos pela publicação para atingir esses ideais, concluindo que a Revista
Escolar, contribuiu, ainda que de forma bastante discreta, para o movimento de
renovação educacional em São Paulo.
Vera Lucia Abrão Borges (1993) analisa os discursos dos “intelectuais
burocratas” e dos políticos mineiros, contidos na Revista do Ensino, editada entre os
anos de 1925 e 1929, pela então Diretoria da Instrução de Minas Gerais. Com o
objetivo de compreender o significado, a estruturação e a difusão de ideologias da
constituição do caráter nacional da educação no Estado de Minas Gerais, a
pesquisadora justifica o interesse pelo estudo “[...] por se tratar de uma ideologia
marcante nas décadas iniciais deste século; e, ainda, por se inserir no movimento de
modernização [...] que tem, na industrialização e na democratização da educação,
saídas para o desenvolvimento do país [...]” (p. 5). Ao analisar o discurso veiculado
na revista, Borges caracteriza a predominância do pensamento elitista e autoritário
31
dos intelectuais e dos políticos mineiros sobre a democratização do ensino naquele
momento.
Adriana Aparecida Pinto (2001) desenvolveu um estudo sobre a revista
A Eschola Publica
17
, no conjunto de seus 20 números publicados em duas fases
1893 a 1894 – e – 1896 a 1897. De acordo com a pesquisadora, a revista tinha um
conselho de editores formado por membros de projeção intelectual no contexto
educacional paulista. Esses membros eram ex-alunos da Escola Normal de São
Paulo e, posteriormente, vieram a ocupar cargos administrativos no âmbito da
Diretoria Geral de Instrução Pública do Estado de São Paulo. Pinto ressalta que a
revista tinha a pretensão de contribuir para a inovação educacional e, devido a sua
originalidade e representatividade, esta auxiliou a formação de uma cultura escolar
urbana no Estado de São Paulo. Seus editores tiveram uma possível intenção de
constituir A Eschola Publica como um material didático para a formação dos
professores para o novo sistema de governo que se instaurava. Quanto à temática,
destacam-se questões relativas aos métodos de ensino, com destaque para o
debate a respeito do melhor e mais adequado método para ensinar os cidadãos da
República a ler e escrever, assim como o melhor modo para sua aplicação.
1.2.6 Resultados de pesquisa
Visando a analisar a Revista de Ensino publicada no Estado de São
Paulo entre os anos de 1902 e 1918, Glauco Valério Belini de Souza (2000)
18
desenvolve sua pesquisa utilizando como procedimento de análise a técnica do
recenseamento. O pesquisador faz um inventário sistemático do discurso nela
veiculado. Para Souza, esse discurso pode ser considerado representativo do
pensamento cultural e educacional das primeiras décadas do século XX, no Estado
de São Paulo. Entre seus colaboradores, essa importante publicação pedagógica
contou com a participação de professores normalistas de projeção intelectual e
política que abordavam temas relacionados à educação como: metodologias de
ensino, poesia e hinos escolares, programas de ensino, planos de aulas, entre
outros temas. Como resultados dessa investigação, produziu-se um instrumento de
17
Tal pesquisa também foi desenvolvida no âmbito do GPHEB e do Projeto Integrado de Pesquisa “Cultura
escolar urbana. São Paulo: 1840-1940. Reperrio de fontes documentais”.
18
Glauco Valério Belini de Souza também desenvolveu sua pesquisa no âmbito do GPHEB e do Projeto
Integrado de Pesquisa “Cultura escolar urbana. São Paulo: 1840-1940. Repertório de fontes documentais”.
32
pesquisa contendo um inventário sistemático das características estruturais e de
organização desse periódico o que facilita a consulta por parte de outros
pesquisadores interessados em abordar o tema “cultura escolar urbana”.
* * *
As leituras desses textos me propiciaram constatar, dentre outros
aspectos, que os primeiros estudos apresentam as circunstâncias do surgimento das
revistas de educação e ensino, em nosso país, assim como sua trajetória de vida,
com destaque aos contextos de produção e circulação.
As pesquisas recentes também auxiliam na compreensão dos
contextos de circulação e produção das revistas, pois muitos são os pontos de
confluência entre as investigações. Apresentam temas que apontam para a
variedade e complexidade de fatos históricos ocorridos no período ao qual as
pesquisas se delimitam, como, por exemplo, a política de implementação de uma
“cultura pedagógica” considerada “moderna” à época, a psicologia e as reformas
educacionais, a transformação da prática pedagógica por meio do esclarecimento
dos professores e o impresso como suporte que coloca o autor entre sujeitos que
aspiram a “projetos de educação”.
Como se pode observar pelo exposto até aqui, esses estudos
contribuem para o alargamento do conhecimento histórico em Educação, e tamm
auxiliam, por meio da sistematização dos bancos de dados, a superação de
dificuldades encontradas na realização de pesquisas afins, já que há escassez de
informações sobre as revistas e escassez do próprio objeto físico de investigação.
2. Abordagem histórica sobre alfabetização
Desde 2002, quando iniciei meus estudos e pesquisas sobre
alfabetização, pude constatar que existe um elevado número de pesquisas acerca
do tema, já que a alfabetização vem ganhando espaço no cenário educacional
brasileiro, especialmente a partir dos anos de 1970, devido ao acentuado aumento
das taxas de repetência e evasão escolar nas primeiras séries do então ensino de 1º
grau. Apesar do elevado número de estudos sobre alfabetização, desenvolvidos nos
33
últimos anos no Brasil
19
, ainda são poucos os pesquisadores que se dedicam a
abordagem histórica desse tema.
Nos inventários de pesquisas desenvolvidas sobre alfabetização no
Brasil, Magda Soares (1989) e Magda Soares e Francisca Maciel (2000),
20
apontam
que entre 1961 e 1989 esse tipo de pesquisa não foi muito explorada, já que
verificam a existência de apenas uma pesquisa desse tipo, a de Mary Julia Martins
Dietzsch (1979).
Analisando o repertório de Mortatti (2003), os inventários de Soares
(1989) e Soares e Maciel (2000), e algumas bases de dados
21
, pude constatar que,
nos últimos anos, houve certa intensificação de pesquisas com esse tipo de
abordagem, especialmente depois de meados dos anos de 1990, embora o número
de pesquisa ainda seja restrito, se comparado à multiplicidade de perspectivas de
enfoques possíveis, quando se trata de compreender o complexo fenômeno da
alfabetização.
2. 1 Estudos produzidos no âmbito do Grupo de Pesquisa “História do ensino
de língua e literatura no Brasil” (HELLB) e do Projeto Integrado de Pesquisa
"Ensino de língua e literatura no Brasil: repertório documental republicano”
(PIPELLB)
Dentre os estudos de abordagem histórica em alfabetização, destaco
os que interessam mais diretamente ao tema desta tese, especialmente os
resultados de projetos de pesquisas e planos de atividades produzidos e
desenvolvidos no âmbito HELLB e do PIPELLB, defendidos/e ou publicados em
formato de livros; capítulo de livro; artigo em periódico; tese; dissertação;
monografia e trabalhos de conclusão de curso (TCC’s), conforme seguem.
19
Em consulta ao documento de autoria de Maria do Rosário Longo Mortatti. Ensino de língua e literatura no
Brasil: repertório documental republicano. 2003, pude observar a relação de 560 referências de estudos sobre
alfabetização. Do total dessas referências 103 são de livros; 25 de capítulos de livros; 167 de artigos em
periódicos; 7 de números especiais de periódicos; 138 de dissertações e teses; 34 de publicações institucionais;
78 de cartilhas; e 8 de obras de referência.
20
Trata-se de duas veres de um relatório que contém inventário e análise da produção acadêmica e científica
teses, dissertações e artigos – sobre alfabetização no Brasil, entre 1961 e 1989. A primeira vero é organizada
por Magda Becker Soares. Alfabetização no Brasil: o estado do conhecimento. 1989. A segunda organizada por
Magda Becker Soares e Francisca Maciel. Alfabetização. 2000. Nessa segunda versão, as autoras atualizam o
“estado do conhecimento” sobre alfabetização, após dez anos de publicação do primeiro, incorporando novos
dados relativos ao período já analisado e incluindo dados relativos aos três últimos anos da década de 1980, mas
excluindo os artigos.
21
Entre as bases de dados consultadas destaco: banco de dados bibliográficos da USP DEDALUS, base de
dados do Sistema de Bibliotecas da UNICAMP (SBU) e banco de teses e dissertações CAPES.
34
2.1.1 Livros
A pesquisa pioneira de Maria do Rosário Longo Magnani (1997a)/Maria
do Rosário Longo Mortatti (2000a)
22
trata da história da alfabetização no Brasil com
ênfase nas questões relativas aos métodos de ensino da leitura e escrita, na fase
inicial de escolarização de crianças, no Estado de São Paulo, entre os anos de 1876
a 1994, apontando os “sentidos” que foram atribuídos à alfabetização nesse período
e elegendo quatro momentos cruciais
23
nesse movimento histórico.
Segundo Mortatti, no primeiro momento (1876 a 1890), o ensino da
leitura
24
envolvia a disputa entre os defensores dos métodos sintéticos – soletração
e silabação – e o então novo e revolucionário “método João de Deus” – baseado na
palavração – que passou a ser divulgado no Brasil a partir dos anos de 1880, pelo
professor Antonio da Silva Jardim. No segundo momento (1890 a meados da
década de 1920), a disputa ocorreu entre os partidários dos tradicionais métodos
sintéticos – especialmente a silabação – e o então novo e revolucionário método
analítico. No terceiro momento (início dos anos de 1920 a meados dos anos de
1970), a disputa inicial ocorreu entre os defensores do método misto (analítico-
sintético ou sintético-analítico) e os defensores do tradicional método analítico. A
partir de 1934, com a publicação de Testes ABC: para a verificação da maturidade
necessária a aprendizagem da leitura e da escrita, de Lourenço Filho, as práticas de
medida de nível de maturidade necessária para a aprendizagem da leitura e escrita
ganharam importância, fundando-se uma nova tradição: “alfabetização sob medida”.
No quarto momento crucial, a partir do final dos anos de 1970 até 1994 (data de
encerramento da pesquisa documental), tem-se a disputa entre os partidários da
“revolução conceitual” proposta por Emilia Ferreiro e sua perspectiva construtivista e
os defensores “[...] dos tradicionais métodos (sobretudo o misto) de alfabetização,
das tradicionais cartilhas e dos tradicionais diagnósticos do nível de maturidade com
fins de classificação dos alfabetizandos.” (MORTATTI, 2000a, p. 27).
22
A partir daqui, passo a citar apenas os resultados de pesquisa de Maria do Rosário sob a forma de livro,
utilizando no texto, portanto, somente Mortatti (2000a).
23
A autora utiliza o conceito operativo “momentos cruciaisrelacionado com dois sentidos possíveis; o
primeiro, “cruciforme”, representando o entrecruzamento de sentidos históricos, o segundo, “decisivo”,
indicando o movimento dialético entre continuidade e descontinuidade. Maria do Rosário Longo Mortatti. Os
sentidos da alfabetização. 2000a, p. 37-38.
24
A expressão “ensino da leitura” foi utilizada predominantemente até o final dos anos de 1910, quando passou a
ser utilizado também o termo “alfabetização” . Idem. Ibidem. 2000a.
35
Mortatti conclui que, em cada um desses momentos, ocorre a fundação
de uma nova tradição em alfabetização; mesmo não sendo absolutas, as rupturas
desejadas pelos defensores do “novo” e do “moderno” geraram constante tensão
entre semelhanças e diferenças nos sentidos atribuídos à alfabetização no curso de
sua história em nosso país (MORTATTI, 2000a).
Complementando as idéias iniciais de Mortatti, Estela Bertolleti
(2006)
25
realizou um estudo sobre as cartilhas de alfabetização produzidas pelo
educador brasileiro Manoel Bergström Lourenço Filho: Cartilha do Povo: para
ensinar a ler rapidamente, de 1928, e Upa, cavalinho!, de 1957. Por meio da análise
e interpretação da configuração textual das cartilhas, a pesquisadora procura
compreender e explicar o projeto de alfabetização de Lourenço Filho nelas contido e
conclui que, na primeira delas, encontram-se as bases iniciais desse projeto e, na
segunda, uma síntese desse projeto, com os fundamentos da teoria científica
sistematizada e proposta por Lourenço Filho.
Márcia Mello (2008)
26
, analisa aspectos do pensamento da
pesquisadora Emilia Ferreiro (1937 – ) sobre alfabetização, com ênfase em suas
concepções a respeito do processo de construção do conhecimento da língua
escrita, por parte de crianças, que resultam de sua pesquisa sobre a psicogênese da
língua escrita fundamentada na Epistemologia Genética de Jean Piaget e na
Psicolingüística de Noam Chomsky e que tiveram significativa repercussão em
nosso país, a partir de meados dos anos de 1980. A pesquisa propicia tanto uma
avaliação mais precisa da importância e do significado do pensamento dessa
pesquisadora quanto à constatação de que a matriz invariante de seu pensamento
encontra-se no livro Psicogênese da língua escrita.
2.1.2 Capítulo de livro
Maria do Rosário Magnani (1997b) analisa o livro Testes ABC: para a
verificação da maturidade necessária à aprendizagem da leitura e escrita, de
Lourenço Filho, publicado em 1934, destacando que, no livro, encontramos “[...]
uma espécie de síntese do pensamento inovador e catalisador do autor, a respeito
do ensino da leitura e da escrita, assim como, e simultaneamente, das aspirações
25
Trata-se de publicação, em formato de livro, da dissertação de mestrado da pesquisadora defendida em (1997).
26
Trata-se de publicação, em formato de livro, da dissertação de mestrado da pesquisadora defendida em (2003).
36
educacionais características do [ ] 3º momento [da constituição da alfabetização
como objeto de estudo]” (p. 60). A pesquisadora considera que ao admitir a
existência de um nível de maturidade necessária para a aprendizagem simultânea
da leitura e da escrita, que é passível de medida, Lourenço Filho funda um discurso
que é rigorosamente fundamentado, o que lhe confere o caráter de cientificidade e
pioneirismo, já que essa mentalidade é diferente de tudo que a precedeu. Isso
confere a Lourenço Filho o mérito de fundador uma “nova tradição” para o momento,
relacionada à alfabetização.
2.1.3 Artigos em periódicos
Maria do Rosário Longo Mortatti (1999), enfoca a hegemonia do
método analítico relativo ao ensino inicial da leitura, no Estado de São Paulo, entre
1890 e 1920, destacando a produção de cartilhas analíticas pelos professores Luiz
Cardoso Franco; Arnaldo de Oliveira Barreto; Ramon Roca Dordal; Theodoro
Jeronymo de Moraes; Carlos Alberto Gomes Cardim e Francisco Mendes Vianna.
Para a pesquisadora essa geração de normalistas, formados pela Escola Normal de
São Paulo, assume direta ou indiretamente posições de liderança na instrução
pública paulista e contribuiu para a profissionalização dos escritores didáticos em
nosso país.
Tamm enfocando as cartilhas de alfabetização, Mortatti (2000b),
analisa o movimento histórico das “tematizações”, “normatizações” e
“concretizações”
27
sobre a questão dos métodos de alfabetização, desde o início do
século XX até os dias de hoje, apontando as alterações sofridas em vários aspectos
constitutivos das cartilhas, entre eles o próprio método, o suporte material e temas
abordados nas lições. Mortatti destaca, ainda, certas concepções de alfabetização,
leitura e escrita, texto e linguagem/língua contidas nas cartilhas, concluindo que
sofreram poucas alterações ”[...] prevalecendo certos aspectos constantes tidos
como universais e constitutivos de uma cultura escolar, para cujo engendramento,
27
Esses termos são utilizados por Maria do Rosário Longo Mortatti. Os sentidos da alfabetização: São Paulo-
1876/1994. 2000a, p. 29, para classificação de material documental em relação ao conteúdo, finalidade e forma
de veiculação.
37
transmissão e perpetuação, tem-se, aliada ao conservadorismo cultural da escola e
do professor [...]” (p. 50).
2.1.4 Tese
Lázara Amâncio (2000) aborda aspectos do discurso institucional sobre
o ensino inicial de leitura no Estado de Mato Grosso, com o objetivo de contribuir
para a produção de uma história da alfabetização no Brasil. Analisa a configuração
textual de dois documentos escolhidos como corpus Relatório da Escola Normal
do Estado de Mato Grosso e Modelo-Anexa-1911 e a Ata do Conselho Superior de
Instrução Pública –, o que possibilitou a compreensão de alguns aspectos
importantes relativos a mudanças ocorridas no ensino inicial de leitura de crianças
no início do século XX, no Estado de Mato Grosso, relacionados com a reforma do
ensino realizada nesse Estado por professores paulistas, em 1910.
2.1.5 Monografia e trabalhos de concluo de curso
Com o objetivo de contribuir para a compreensão da história da
alfabetização no Brasil, Roberta Zocolaro (2000) trata do “método casinha feliz”,
buscando compreender sua função no processo de alfabetização de crianças.
Mediante a análise da configuração textual da cartilha A casinha feliz e do
correspondente Livro do professor, publicados pela primeira vez em 1963, por
Iracema e Eloísa Meireles, a autora conclui que o “método casinha feliz” é
considerado, pelos professores que o utilizam, rápido e eficiente, e, devido as suas
características, facilita o processo de ensino-aprendizagem da leitura e da escrita na
fase inicial de escolarização de crianças.
Tamm com o objetivo de contribuir para a compreensão de um
momento, ainda pouco explorado na história da alfabetização no Brasil, Neucinéia
Ribeiro (2001) aborda aspectos da atuação profissional do educador João Köpke
(1852-1926), a concepção de ensino de leitura e escrita contida em publicações
desse educador, assim como a repercussão de suas idéias entre os educadores de
sua época e de épocas posteriores, e analisa a configuração textual da conferência
A leitura analytica, proferida por João Köpke, em São Paulo, em 1896. Destaca que
38
o pensamento de Köpke foi inovador para sua época, uma vez que esse educador
defendeu determinados princípios relativos ao modo de se processar o método
analítico, considerando o discurso como unidade de sentido no processo inicial
ensino da leitura e escrita.
Em Um estudo sobre Cartilha analytica, de Arnaldo de Oliveira Barreto
(1869-1925), Vanessa Bernardes (2003), organiza e analisa fontes documentais
relativas à produção de e sobre o professor paulista Arnaldo de Oliveira Barreto que
defendia a utilização do método analítico para o ensino da leitura. A fim de
compreender o pensamento desse professor, destaca os conceitos e princípios
teóricos por ele utilizados no modo de desenvolver o método analítico. A
pesquisadora constata a influência significativa que Barreto exerceu sobre os
educadores paulistas de sua época.
Bárbara Pereira (2006) desenvolve um estudo sobre Meu livro de
Theodoro de Moraes. Por meio da análise da configuração textual da referida
cartilha, publicada em 1909, por este professor paulista, a pesquisadora constata
que se trata de uma das primeiras concretizações da proposta de aplicação prática
do método analítico para o ensino inicial da leitura e da escrita, quando da
oficialização do método analítico para as escolas públicas do Estado de São Paulo.
Ao fornecer informações sobre a formação e atuação profissional de Theodoro de
Moraes, bem como dados sobre a produção escrita de e sobre o autor, Pereira
evidencia a importância e influência desse professor que teve publicados livros e
cartilhas para o ensino inicial da leitura e da escrita para crianças, cujos títulos
tiveram sucessivas edições e elevado número de tiragem dos exemplares ao longo
de um determinado tempo.
2.2 Outros estudos e pesquisas
Além dos títulos mencionados, destaco, ainda, os estudos e pesquisas
de Mary Dietzsch (1979); Marisa Silva (1998); Diana Gançalves Vidal (1998);
Francisca Maciel (2001); Francisca Maciel (2002); Amâncio (2005); e Isabel Frade;
Francisca Maciel (2006).
Analisando os discursos veiculados em cartilhas de alfabetização, Mary
Dietzsch (1979) fez um levantamento das cartilhas utilizadas na cidade de São
Paulo, no período entre 1930 e 1970, e escolheu como corpus oito delas, a saber:
39
Cartilha da Infância, de Thomaz Galhardo; Nova Cartilha Analítico-Sintético, de
Mariano de Oliveira; Cartilha Ensino Rápido da Leitura, também de Mariano Oliveira;
Cartilha do Povo: para ensinar a ler rapidamente, de Manuel Bergström Lourenço
Filho; Cartilha Sodré, de Benedicta Stahl Sodré; Caminho Suave, de Branca Alves
de Lima; Onde está o Patinho?, de Cecília Bueno dos Reis; e No Reino da Alegria,
de Doracy de Paula Falleiros de Almeida. Para a pesquisadora as cartilhas
analisadas apresentam discursos técnicos sobre alfabetização, estereotipados e
nada interessante para os alfabetizandos, já que em nada se assemelham à
realidade vivida pela maioria das crianças, à época.
Mariza Silva (1998) trata do tema da alfabetização em sua dimensão
histórica e discursiva, visando a compreender a história da alfabetização no Brasil,
“[...] no que diz respeito à constituição de sentidos e do sujeito da escolaridade [...]”
(SILVA, 1998, p. 12). Sob a perspectiva da Análise do Discurso, problematiza o
discurso religioso dos séculos XVI e XVII (relatos de viajantes e missionários,
especialmente o discurso religioso dos jesuítas) e o discurso científico dos séculos
XIX e XX (livros e artigos de autores representativos de diferentes áreas do
conhecimento, tais como: Clarice Nunes, Anísio Teixeira, Nelson Werneck Sodré,
Emilia Ferreiro, entre outros). A autora conclui que, no discurso religioso, há
vestígios de “[...] acontecimentos fundadores de uma posição de sujeito - a de
letrado/não-letrado - que marca nossa identidade de brasileiro [...]” (SILVA, 1998, p.
6) e que a alise possibilitou “[...] a construção de um arquivo em que filiações
discursivas específicas vão adquirindo visibilidade, bem como uma análise
discursiva da escrita alfabética enquanto instrumento histórico e simbólico.” (SILVA,
1998, p. 6).
Diana Gonçalves Vidal (1998), trata da caligrafia muscular, técnica de
escrever desenvolvida nas Escolas Primária e de Professores do Instituto de
Educação do Distrito Federal, nos anos de 1930, período em que se normatizavam
as práticas de escrita, por meio, também, da indicação da caligrafia vertical, tida
como um “novo” modelo caligráfico, apresentado como “moderno e civilizador”, pois
adequado ao trabalho escolar e único capaz de preparar o aluno para o exercício
eficiente da escrita, necessário, no comércio e na indústria. Vidal destaca que, por
meio dessa prática, pretendia-se constituir uma didática racional da escrita, que
ofereceria uma técnica econômica, eficiente e rápida de escrever, condizente com
as novas características solicitadas pela sociedade à época.
40
Com o objetivo de recuperar e compreender um importante momento
da história da alfabetização em Minas Gerais, Francisca Maciel (2001) reconstrói a
história profissional da professora Lúcia Casasanta (1908-1989), que introduziu o
método global de contos para a aprendizagem inicial da leitura e da escrita naquele
Estado e que teve divulgação e implantação entre o final dos anos de 1920 e os
anos de 1970, nas escolas mineiras. Por meio da perspectiva biográfica, a autora
utiliza como fonte de pesquisa o arquivo pessoal da professora Lúcia Casasanta, a
Revista do Ensino, de Minas Gerais e os programas de ensino desse Estado.
Analisando esses documentos, conclui que a professora Lúcia Casasanta, por meio
de sua atuação como professora de várias gerações de professores alfabetizadores
e como autora da coleção didática As mais belas histórias, propagou o método
global de alfabetização em Minas Gerais por mais de meio século.
Ainda Francisca Maciel (2002) assinala o levantamento de 147 títulos
de cartilhas produzidas no Brasil no período de 1870-1960, selecionando cinco
títulos representativos para análise: Methodo Pinheiro Ba-ca-da-fa ou Methodo de
leitura abreviada, de Antonio Pinheiro Aguiar; O primeiro livro de leitura, de
Felisberto de Carvalho; O livro de Lili, de Anita Fonseca; Upa, cavalinho!, de
Lourenço Filho; e Caminho Suave, de Branca Alves de Lima. Por meio da análise, a
pesquisadora conclui que as cartilhas, “material didático”, cujo destinatário
privilegiado é o professor, revelam concepções de ensino, aprendizagem, professor,
aluno, métodos, pressupostos teórico-metodológicos, entre outros, que ilustram as
diversidades. Tais diversidades nem sempre apresentam coerência entre os
pressupostos teórico-metodológicos adotados pelos autores e sua efetivação
prática, ilustrada nos exercícios apresentados nas lições das cartilhas.
Lázara Amâncio (2005), ampliando seus estudos sobre a história da
alfabetização em Mato Grosso, aborda os métodos, as cartilhas e as condições de
ensino da leitura e da escrita na escola mato-grossense, desde as primeiras
tentativas de criação de aulas régias no Estado, até os dias de hoje. Aponta
problemas como a falta de preocupação relativamente à organização do ensino das
primeiras letras, no contexto dos séculos XVIII e XIX, devido às precárias condições
de organização da instrução pública à época, e, posteriormente a ausência de
produção de cartilhas e livros nesse Estado.
No livro História da alfabetização: produção, difusão e circulação de
livros (MG/RS/MT – Séc. XIX e XX) organizado por Isabel Frade e Francisca Maciel
41
(2006), encontram-se resultados de pesquisas desenvolvidas no âmbito do Projeto
interinstitucional intitulado Cartilhas escolares – ideários, práticas pedagógicas e
editoriais: construção de repertórios analíticos e de conhecimento sobre a história da
alfabetização e das cartilhas (MG/RS/MT, 1834-1996), que tem por objetivo
organizar um repertório analítico de cartilhas nacionais que circularam nos três
Estados entre 1834 e 1996, repertório que contribui para um “Estado do
conhecimento” sobre a produção de cartilhas no Brasil. O livro é dividido em quatro
partes, sendo as três primeiras referentes às pesquisas realizadas em cada Estado,
e uma última parte constituída por um repertório geral de cartilhas, com sua
localização nos acervos correspondentes.
* * *
Acompanhando esse movimento de recentes investigações que
privilegiam a constituição da história da alfabetização no Brasil, observa-se que a
utilização da cartilha de alfabetização, vem ganhando ênfase para a constituição de
aspectos da história da alfabetização, sobretudo pela permanência desse objeto de
transmissão de certa cultura escolar em nosso país.
Além das cartilhas, os livros de leitura, os regulamentos e os
programas de ensino, entre outras fontes são privilegiadas pelo caráter
representativo de projetos e práticas de alfabetização implementados e/ ou utilizados
no percurso histórico.
A pesquisa sobre alfabetização, de que resultou esta Tese, vem
contribuir para a amplião de certos aspectos da constituição desta história,
mediante abordagem, pela imprensa periódica educacional, sobre a discussão que
havia acerca do ensino da leitura e da escrita, discussão que por sua vez
perpassava sobre o tema da escola primária. O estudo sistemático dos artigos sobre
o tema da alfabetização pode auxiliar na compreensão da mentalidade e das
estratégias de divulgação das idéias escolanovistas para o ensino e aprendizado da
leitura e da escrita, o que possibilitará encontrar elementos de constituição do
discurso sobre a alfabetização, permitindo uma avaliação das propostas de
alfabetização veiculadas no referido periódico.
42
CAPÍTULO 2
PRESSUPOSTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS
43
1. Explicitando aspectos teórico-metodológicos e procedimentos da pesquisa
Para melhor compreensão dos aspectos enfocados nesta tese, passo a
explicitar alguns conceitos operativos, que norteiam a investigação.
No Brasil, diferentes concepções foram sendo produzidas, desde o
Brasil- Colônia até os dias atuais, sobre o que seja alfabetização. Essas mudanças
se relacionam tanto com as necessidades de desenvolvimento social, cultural,
econômico e político de nosso país, quanto ao processo de organização do sistema
público de ensino brasileiro e da constituição de um modelo de escolarização
(MORTATTI, 2004).
Das diferentes acepções para o termo alfabetização
28
destaco o sentido
proposto por Antonio Viñao Frago (1993), que a considera uma prática social e
cultural. No caso da sociedade brasileira, essa prática se refere ao processo de
ensino-aprendizagem da língua escrita e deve ocorrer, normalmente, na fase inicial
de escolarização de crianças
29
.
Vale ressaltar, ainda, que embora não se enquadre nos objetivos de
minha pesquisa, a partir dos anos de 1980, no Brasil, vem ganhando visibilidade a
discussão sobre as relações entre alfabetização e letramento. Com isso há uma
tendência de ampliação do significado de saber ler e escrever, em que se postula a
idéia de que é necessário um “algo mais”, ou seja, saber utilizar a leitura e a escrita
de acordo com as exigências sociais
30
.
28
Para Magda Becker Soares. As muitas facetas da alfabetização. 1985, p. 20-21, o conceito de alfabetização
deve ir além dos pressupostos que tratam-na como “[...] processo de aquisição do código escrito, das habilidades
de leitura e de escrita.”, ou como “[...] um processo de compreensão/expressão de significados, ‘um processo de
representação que envolve substituições gradativas [...]’”. Esses conceitos, para a pesquisadora, apresentam
pontos de vistas equivocados, já que entre outros aspectos, consideram-na como um processo individual, quando
deveriam considerar o seu aspecto social. Assim, “Em seu sentido pleno, pois, o processo de alfabetização deve
levar à aprendizagem não de uma mera tradução do oral para o escrito, e deste para aquele, mas à aprendizagem
de uma peculiar e muitas vezes idiossincrática relação fonemas-grafemas, de um outro código, que tem, em
relação ao código oral, especificidade morfológica e sintica, autonomia de recursos de articulação do texto e
estratégias próprias de expressão/compreeno”.
29
Antonio Vao Frago. Leer y escribir: historia de dos prácticas culturales. 1999, considera, ainda, a
alfabetização um fenômeno complexo e interdisciplinar, cuja prática em algumas sociedades não implica
necessariamente escolarização.
30
Dentre os principais pesquisadores que tratam do assunto, destaco: Mary Kato. No mundo da escrita: uma
perspectiva psicolingüística. 1986; Ângela B. Kleiman (Org.). Os significados do letramento: uma nova
perspectiva sobre a prática social da escrita. 1995; Leda Verdiani Tfouni. Letramento e alfabetização. 1995;
Magda Becker Soares. Letramento: um tema em ts gêneros. 1998; Vera Masagão Ribeiro (Org.). Letramento
no Brasil. 2003; e Maria do Rosário Longo Mortatti. Educação e letramento. 2004.
44
Com relação ao duplo movimento histórico - o de constituição de um
modelo específico de escolarização das práticas culturais da leitura e da escrita, e
da alfabetização como objeto de estudo - no Brasil, recorro aos “quatro momentos
cruciais” dessa constituição, considerados por Mortatti (2000a), os quais já
mencionei no capítulo anterior desta tese.
Tendo em vista esses “momentos cruciais”, insiro minha pesquisa no
âmbito do “terceiro momento”, em que, as a disputa inicial entre os defensores
dos “tradicionais” métodos tem-se a fundação de uma nova tradição: “alfabetização
sob medida” proposta por Lourenço Filho. Naquele momento, em virtude da
influência da psicologia experimental, as questões relativas à “aprendizagem
simultânea da leitura e da escrita ganham prioridade.
Desta forma, sobretudo a partir dos anos de 1930, um dos conceitos de
alfabetização passou a “[...] designar explicitamente um processo escolarizado e
cientificamente fundamentado, entendido como meio e instrumento de aquisição
individual de cultura e envolvendo ensino e aprendizagem escolares simultâneos da
leitura e da escrita [...]. (MORTATTI, 2004, p. 67).
Lendo e analisando os artigos publicados nas revistas, que versam
sobre o tema, no período que delimitei para análise, observei que os autores
utilizam-se de variações terminológicas, para se referirem à alfabetização. Assim,
além do termo “alfabetização”, empregam-se tamm a expressão “ensino da
leitura”, além de “ensino da linguagem”, e principalmente Lourenço Filho utiliza, ora
a expressão “ensino simultâneo da leitura e da escrita”, ora “alfabetização”
31
.
Para explicitar as propostas, idéias e conceitos de alfabetização
produzidos à época, é relevante considerar o espaço e o tempo escolares, na
perspectiva do conceito de cultura escolar, tal como proposto por Viñao Frago. Para
este pesquisador “[...] a cultura escolar pode ser definida como um conjunto de
idéias, princípios, critérios, normas e práticas sedimentadas ao longo do tempo das
instituições educativas.” (VIÑHAO FRAGO, 2000, p. 100, apud GONÇALVES; FARIA
FILHO, 2005, p. 37). Nessa perspectivas, os sujeitos que tomam parte da vida
cotidiana da escola, ao longo do tempo, determinarão as práticas e os modelos de
pensar e fazer escolares.
31
Para ser fiel à denominação utilizada à época, pelos autores dos artigos, utilizarei, então, ora ensino da
leitura”, ora “ensino da leitura e da escrita”, ora “ensino da linguagem” e ora “alfabetização”, para me referir ao
fenômeno referente ao processo de ensino-aprendizagem da leitura e da escrita na fase inicial de escolarização de
crianças.
45
Um tempo conflituoso, que precisa ser entendido nas dimensões do
tempo pensado, ou teórico, proposto pelos pedagogos, inspetores e
mestres, do tempo legal, normatizado e prescrito nas leis e
regulamentos e do tempo escolar, o tempo que se revela no interior
dos acontecimentos da escola. Tempo e espaços que não são
neutros, mas constituídos e determinantes de uma cultura escolar.
(GONÇALVES; FARIA FILHO, 2005, p. 37-38)
Quanto à compreensão da constituição dos discursos sobre
alfabetização, na revista, recorro ao sentido de “discurso” proposto por Roger
Chartier, “[...] representações inscritas nos textos [...]” (1990, p. 179). Tais
representações, para este pesquisador francês, que por sua vez se apropria da
teoria do signo do pensamento clássico de Port-Royal, envolvem uma “relação
decifrável arbitrária”
[...] postulada entre o signo visível e o referente significado – o que
não quer dizer, é claro, que é necessariamente decifrado tal qual
deveria ser. A relação de representão – entendida como relação
entre uma imagem presente e um objeto ausente, uma valendo pelo
outro porque lhe é homóloga [...] são essas modalidades variáveis
que permitem discriminar diferentes categorias de signos (certos ou
prováveis, naturais ou instituídos, aderentes a ou separados daquilo
que é representado, etc.) e caracterizar o símbolo por sua diferença
com outros signos. Por outro lado, ao identificar as duas condições
necessárias para que uma tal relação seja intelivel (ou seja, o
conhecimento do signo como signo, no seu desvio em relação à
coisa significada, e a existência de conveões regulando a relão
do signo com a coisa, a Lógica de Port-Royal propõe os termos de
uma questão fundamental: a das possíveis incompreensões da
representação, seja por falta de ‘preparo’ do leitor (o que remete às
formas e aos modos de inculcação das convenções), seja pelo fato
da ‘extravagância’ de uma relação arbitrária entre o signo e o
significado (o que levanta a questão das próprias condições de
produção das equivalências admitidas e partilhadas. (CHARTIER,
1990, p. 184-185)
Neste sentido, os discursos aqui eleitos como corpus para alise
constituem-se de fontes documentais primárias para o estudo da alfabetização,
materializados discursivamente, em textos produzidos por sujeitos que ocupavam
cargos administrativos em instituições oficiais de ensino paulistas, por professores
primários paulistas e “especialistas” no assunto (brasileiros e estrangeiros), os quais
registravam suas versões dos acontecimentos. Portanto, essas fontes documentais
são representativas de certas concepções de alfabetização (e tamm de
46
sociedade, educação, ensino e aprendizagem) determinantes na cultura escolar da
escola pública paulista.
Dessa maneira, os sujeitos das práticas culturais, são importantes
personagens para análise, na medida em que podemos trabalhar com as
“representações” que fazem de si mesmos e de suas práticas, desvendando fatos
que, até então, estiveram ocultos para a história da educação (e da alfabetização).
Os atores envolvidos nesta análise pertencem ao círculo dos chamados “intelectuais
da educação”. Aqui, refiro-me aos autores que se destacaram tanto pela freqüência
de colaboração, quanto pela representatividade de idéias, conceitos e propostas
acerca da alfabetização. Entre eles, Lourenço Filho, Sud Mennucci e Renato Jardim.
Para Louis Boudin (1971) o intelectual é um homem público que “nada
é sem aqueles que o escutam”; assim, quando escreve e publica seus textos
assegura ao seu pensamento uma difusão mais complexa e duradoura.
A assinatura que o escritor apõe ao cimo das suas obras aponta-o
como o autor autêntico e aumenta as suas responsabilidades: o
conteúdo e a forma da obra requerem um cuidado mais atento. O
intelectual concentra-se antes de se entregar ao público que não
conhece e cujas reacções não pode observar. A preocupação da
adaptação ao leitor leva muitas vezes o escritor a só exprimir a
cultura da sociedade em que ambos vivem. Todavia, em todas as
épocas é possível circunscrever focos de contestação, pois, tal
como o professor, o escritor não é absolutamente conformista.
(BOUDIN, 1971, p. 54)
Por sua vez Sirinelli (1996), destaca a forma de organização desses
intelectuais, que vivem num meio rico e variado, meio este que oferece ao
pesquisador elementos chaves para a análise.
Todo grupo de intelectuais organiza-se também em torno de uma
sensibilidade ideológica ou cultural comum e de afinidades mais
difusas, mas igualmente determinantes, que fundam uma vontade e
um gosto de conviver. o estruturas de sociabilidade difíceis de
apreender, mas que o historiador não pode ignorar ou subestimar.
(SIRINELLI, 1996, p. 248)
Em sua análise Gomes (1999), destaca que intelectuais são todos
aqueles produtores de bens simbólicos que constroem e divulgam suas propostas
em “redes organizacionais”, desenvolvendo certos tipos de sensibilidade e
47
procurando ”[...] demarcar fronteiras capazes de lhes assegurar identidades
individuais e coletivas.” (p. 11).
Tendo em vista essas considerações, destaco, então a contribuição
desses intelectuais que escreveram sobre alfabetização nas revistas e que,
juntamente com outros intelectuais daquela geração, estiveram muito ligados à
direção do sistema escolar público paulista, e as próprias revistas, durante o período
analisado.
Utilizo o conceito de “geração” tal como concebido por Sirinelli (1998),
não relacionado ao sentido “biológico” do termo, mas sim ao sentimento de
“pertencer” a um grupo que compartilha das mesmas crenças e idéias. Esse
conceito se distancia da iia de que a noção de geração está relacionada ao
elemento de “periodização”. Assim existem algumas gerações “curtas”, outras
“longas”, não existindo, portanto, qualquer regularidade temporal entre elas.
A partir da delimitação dessas opções teóricas, optei pela abordagem
de fundo histórico em alfabetização, pela imprensa periódica de educação e ensino.
Antonio Viñao Frago (1999) faz esboço histórico sobre as
transformações que passaram os estudos sobre a história da alfabetização no
ocidente. De acordo com sua análise, numa primeira fase os estudos partiam de
uma observação simples, sobre o analfabetismo e as conseqüências da falta de um
processo de alfabetização. Esses estudos consideravam apenas um modo de
alfabetização, “[…] el que tiene lugar a través del sistema escolar formal tal y como
hoy lo conocemos.” (p. 28). Para Frago, esses estudos, em sua maioria, mantinham
uma interpretação simples e linear, ligada à teoria da modernização
32
, já que os
enfoques correlacionavam alfabetização com processos de industrialização,
urbanização e modernidade. Frago aponta, ainda, que esses estudos não são
suficientes, porque oferecem explicações parciais de um fenômeno complexo e inter
relacionado, como é o processo de alfabetização.
Continuando sua análise, Frago destaca que após a década de 70 do
século XX, há uma inversão do objeto de análise, e as questões passaram da
referência ao problema do analfabetismo, para o processo de alfabetização, seus
agentes e modelos de atuação. Esse tipo de análise supõe a utilização de novas
32
Para Antonio Viñao Frago. Leer y escribir: historia de dos prácticas culturales. 1999, p. 27-69, não existe
entre alfabetização e desenvolvimento cultural qualquer relação causal.
48
fontes. Decorrentes dessa confluência, nasceu uma nova perspectiva, em que as
análises sobre a história da alfabetização se tornam mais complexas e profundas.
Nessa terceira fase, “Los supuestos que sustentam esta historia de la
alfabetización como historia de la mente son simples pero cruciales.” (VIÑAO
FRAGO, 1999, p. 238).
Si existe, en el ámbito historiográfico, un campo de investigación
abierto, en expansión e interdisciplinar, ése es la historia de la
alfabetização. En especial, en lo que se refiere a la alfabetización en
sus contextos de uso y aprendizagem, la lectura y la escritura como
prácticas socioculturales y los cambios cognitivos y mentales
producidos por las distintas mentalidades históricas del proceso de
alfabetización, es decir, del tránsito e interacción entre o oral y lo
escrito. (VIÑAO FRAGO, 1999, p. 237)
Essas concepções afetam o modo de historiar o tema
[…] la teoría e historia de la alfabetización se ha constituido hoy en
un sector de conocimiento pluri e interdisciplinarario en el que
confluyen enfoques tan diversos como los procedentes de la teoría
de la comunicación, la antropoloa, la filosofía y la ciencia de la
cultura, la historia social, la psicología cognitiva y otras disciplinas.
(ESCOLANO, 1992, p. 19)
Augustín Escolano (1992) considera que a alfabetização vem se
emancipando e se tornando um setor de conhecimento no âmbito da história da
escola, e que o tema da alfabetização deve ser analisado em suas relações com a
oralidade e com as diversas perspectivas de alfabetização, admitindo, assim várias
formas de se historiar o tema.
Nessa perspectiva de análise destacam-se, além de Antonio Viñao
Frago e Augustín Escolano, os estudos de Graff e Goody, entre outros. Esses
autores apresentam análises mais completas e menos lineares que afetam não só a
forma de conceber a alfabetização, como o modo de interpretar o passado.
Ao introduzem uma maior complexidade no discurso contemporâneo
sobre alfabetização, esses pesquisadores contemplam a possibilidade de
alfabetizações plurais, ou seja, não só a alfabetização formal, mas as ocorridas nas
diversas agências não formais como a família, os círculos culturais, os sindicatos, a
Igreja, entre outros. Destacam os modos e os métodos de aprendizagem da leitura e
49
da escrita, os materiais utilizados na alfabetização de crianças e de adultos, dos
contextos de uso dos códigos da cultura letrada, das relações entre a oralidade, a
escrita e as outras alfabetizações e das implicações de todos estes fenômenos com
a dinâmica de modernização a que vem passando a sociedade. (ESCOLANO,
1992).
De acordo com Justino Magalhães, em decorrência da problemática
entre alfabetização e escolarização, os estudos sobre a alfabetização em Portugal
vêm se dividindo em duas frentes de estudos, de um lado, os de “[…] abordagens
fragmentárias, intensivas, tomando de forma aprofundada uma ou várias dimensões
do fenómeno […]” (p. 209) e, de outro os de “[…] abordagens comparadas por
regiões, distintos ou segmentos sócio-culturais, no todo nacional e no plano
exterior.” (p. 209).
Todas estas análises integram por consequência uma historiografia
que procura compreender e caracterizar o fenómeno da
alfabetização, avaliando-o e explicando-o a partir de critérios
significativos, através do cruzamento de variáveis fundamentais ao
desenvolvimento histórico, seja no plano nacional, seja no contexto
do Mundo Ocidental, designadamente da Modernidade europeia.
(MAGALHÃES, 2005, p. 209-210)
Para Magalhães, a inovação historiográfica foi beneficiada, além da
abertura interdisciplinar, como aponta Escolano, tamm por “[…] uma integração
de referências e de investigações onde a alfabetização não havia constituído o
principal objecto de conhecimento.” (MAGALHÃES, 2005, p. 211). Nesse sentido,
têm-se as contribuições de Rogério Fernandes, Jaime Reis, Rui Ramos e António
Candeias
33
.
33
Rogério Fernandes analisa a relação entre alfabetização e condição social, “[…] periodiza desse modo os
‘Marcos do processo histórico da alfabetização de adultos em Portugal: o movimento da educação de adultos até
a Regeneração; os fogos fátuos dos anos 60; a educação de adultos e a luta ideológica nos anos 70; a euforia dos
anos 80; dos anos 90 ao dealbar da República; a acção e a crítica da oposição republicana; a educação de adultos
na 1ª República; a alfabetização no período contemponeo”. Justino Magalhães. Historiografia da alfabetização
em Portugal. 2005, p. 211. Jaime Reis aborda a temática da alfabetização e do analfabetismo, em conecção com
a história social, analisando as razões para a longa duração das taxas de analfabetismo em Portugal, e, a relação
entre educação e desenvolvimento econômico, além de “[…] uma análise comparativa sobre a acentuação do
atraso de Portugal, entre 1850 e 1914, face aos restantes países da Europa de Sul […]”. Idem. Ibidem. p. 213.
Rui Ramos, analisa a problemática da alfabetização aproximando-se dos pressupostos da história cultural e
pedagógicos, revelando a correlão entre as culturas e as pedagogias de alfabetização. António Candeias
50
Essa ampliação do universo temático e a abertura interdisciplinar
representa a constituição de “novos territórios “, por meio da “anexão do território
dos outros”. Nesse sentido são válidas, para minha pesquisa, as contribuições
advindas da história cultural.
Para Roger Chartier (1990) a ampliação do universo temático e o
deslocamento de territórios exigem novas perguntas, novos dispositivos de análise e
novos conceitos. Para formular suas proposições, o pesquisador utiliza, como é
sabido, o conceito de representação. Para o autor, as representações do mundo real
são sempre determinadas por grupos que as forjam. Chartier vai denominar de lutas
de representação às estratégias e práticas de um grupo inserido num campo – tal
como concebido por Bourdieu “[...] o lugar, o espaço, de jogo de uma luta
concorrencial. O que está em jogo, especificamente nessa luta, é o monopólio da
autoridade científica, definida, de maneira inseparável, como capacidade técnica e
poder social [...]” (BOURDIEU, 1988, p. 122, grifo do autor).
Desta forma, pode pensar-se uma história cultural do social que
tome por objecto a compreensão das formas e dos motivos – ou, por
outras palavras, das representações do mundo social – que, à
revelia dos actores sociais, traduzem as suas posições e interesses
objectivamente confrontados e que, paralelamente, descrevem a
sociedade tal como pensam que ela é, ou como gostariam que
fosse. (CHARTIER, 1990, p. 19)
Dessa forma, a pesquisa de abordagem histórica, que privilegia como
fontes documentais a imprensa pedagógica de educação e ensino, possibilita ao
pesquisador estudar o pensamento pedagógico de determinada sociedade, por meio
da análise do discurso veiculado, [...] construindo e elaborando representações do
social, a imprensa pedagógica afigura-se como fonte privilegiada de estudo [...]”
(BASTOS, 1997, p. 173).
Em António Nóvoa, encontramos a proposição de que a imprensa
periódica educacional “[...] o melhor meio para apreender a multiplicidade do campo
educativo.” (p. 6). Para Nóvoa (1993) a imprensa de educação e ensino “[…] é um dos
melhores lugares para imaginar outros possíveis em História da Educação.” (NÓVOA,
1993, p. XXXIV, grifos do autor). Esses outros caminhos possíveis, favorecem uma
renovação conceitual e metodológica em História da Educação, o ressurgimento de
dedica-se à temática da escolarização e da sociedade portuguesa, acentuando a diferenciação entre alfabetização
e escolarização. Idem.Ibidem.
51
uma “história intelectual” adepta de um pensamento cultural crítico, influenciada pela
“história social” e pela “história cultural”, em que os pressupostos se baseiam na idéia
de que não basta apenas reconstrutir o pensamento dos atores do passado, “[…] mas
antes de as interrogar a partir de um diálogo com o presente e de compreender as
funções que desempenharam como linguagens de poder.” (NÓVOA, 1993, p. XXXIV).
Assim, podemos interrogar a imprensa a partir de múltiplas
perspectivas, entre elas:
[…] o significado que assume na difusão das ideias ao longo dos
séculos XIX e XX; a diversidade de objectivos que se cruzam nas
suas páginas (informativos, doutrinários, ideológicos, profissionais,
etc.); o modo como foi utilizada pelos actores educativos, a título
individual ou coletivo (instituições oficiais, associações profissionais,
sociedades ientíficas, correntes de opinião, etc.); o papel que
desempenhou na ligação entre o devir social e as mudanças no
campo educativo, num e noutro sentido. Eis algumas das questões
que podem ajudar a pensar a imprensa e a repensar a agenda da
investigação histórica em educação. Para tal, é preciso sistematizar
um conjunto de problemas e definir planos teóricos de abordagem
que permitam a sua explicação e interpretação; trata-se de
compreender as dimensões sociais da educação, ultrapassando
uma mera descrição das ideias, das reformas, dos programas e das
práticas educativas. (NÓVOA, 1993, p. XXXIV, grifo do autor)
Assim, António Nóvoa destaca diversas razões pelas quais a
abordagem pela imprensa de educação e ensino é adequada
A imprensa constitui, sem dúvida, uma das melhores ilustrões da
extraordinária diversidade que atravessa o campo educativo […] a
natureza da informação fornecida pela imprensa, que lhe concede
um carácter único e insubstituível. Estamos, na maior parte das
vezes, perante reflexões muito próximas do acontecimento, que
permitem construir uma ligação entre as orientações emanadas do
Estado e as práticas efectivas na sala de aula. […] A imprensa é,
talvez, o melhor meio para compreender as dificuldades de
articulação entre a teoria e a prática: o senso comum que perpassa
as páginas dos jornais e das revistas ilustra uma das qualidades
principais de um discurso educativo que se constrói a partir dos
diversos actores em presença (professores, alunos, pais,
associações, instituições, etc.). […] a imprensa é o lugar de uma
afirmação em grupo e de uma permanente regulação colectiva, na
medida em que “cada criador está sempre a ser julgado, seja pelo
público, seja por outras revistas, seja pelos seus próprios
companheiros de geração”. (NÓVOA, 1993, p. XXXII)
52
Catani e Bastos (1997) consideram que a imprensa periódica
educacional “[...] feita por professores para professores, feita para alunos por seus
pares ou professores, feita pelo Estado ou outras instituições (sindicatos, partidos
políticos, associações e Igreja [...]” (p. 5), constitui um corpus privilegiado para se
compreender os modos de funcionamento do campo educacional, pois nessas
publicações circulam informações sobre o trabalho e práticas docentes, a
organização do sistema de ensino, reivindicações dos professores entre outros
temas. Esses periódicos, segundo as pesquisadoras, contêm e oferecem dados
importantes para a compreensão da história da educação e do ensino.
Ao se preocuparem com uma definição do que seja imprensa periódica
ou imprensa de ensino, Catani e Bastos (1997) recorrem as idéias de Pierre Ognier,
Buisson e António Nóvoa, destacando que Pierre Ognier a define como:
[...] um corpus documental de vastas dimensões pois constitui-se em
testemunho vivo dos métodos e concepções pedagicas de uma
época e da ideologia moral, política e social de um grupo
profissional. Desse modo, é um excelente observatório, uma
fotografia da ideologia que preside. Nessa perspectiva, torna-se um
guia prático do cotidiano educacional e escolar, permitindo ao
pesquisador estudar o pensamento pedagógico de um determinado
setor ou de um grupo social a partir da análise do discurso veiculado
e da ressonância dos temas debatidos, dentro e fora do universo
escolar. (CATANI; BASTOS, 1997, p. 5)
Buisson considera:
[...] “o conjunto de revistas que, destinadas aos professores, visam
principalmente guiar a prática cotidiana de seu ofício, oferecendo-lhes
informões sobre o conteúdo e o espírito dos programas oficiais, a
condução da classe e a didática da disciplina. Essa imprensa constitui
um elo indispensável no conhecimento do que tem sido durante quase
dois séculos (no caso francês) o sistema de ensino, já que ela
representa o espaço onde se desloca e o ponto no qual se concentra
todo um conjunto de teorias e práticas educativas de origem tanto
oficial quanto privada”. (CATANI; BASTOS, 1997, p. 6)
Considerando as observações de Pierre Ognier, Buisson e António
Nóvoa, as autoras concluem que
De fato, as revistas especializadas em educação constituem uma
insncia privilegiada para a apreensão dos modos de
funcionamento do campo educacional, pois fazem circular
53
informões sobre o trabalho pedagógico, o aperfeiçoamento das
práticas docentes, o ensino específico das disciplinas, a organização
dos sistemas, as reivindicações da categoria do magistério e outros
temas que emergem do campo profissional. Além disso,
acompanhar o aparecimento e o ciclo de vida da imprensa periódica
educacional permite conhecer as lutas por legitimidade que se
travam dentro do campo e também analisar a participação dos
agentes produtores do periódico na organização do sistema de
ensino e na elaborão dos discursos que visam a instaurar as
práticas exemplares. É nesse sentido que se pode afirmar a dupla
alternativa que as revistas de ensino oferecem aos estudos
históricos-educacionais ao serem tomadas simultaneamente como
fontes ou núcleos informativos para a compreensão de discursos,
relações e práticas que as ultrapassam e as modelam ou ao serem
investigadas, de um ponto de vista mais interno, se assim se pode
dizer, quando então configuram-se aos analistas como objetos que
explicitam em si modalidades de funcionamento do campo
educacional. (CATANI; BASTOS, 1997, p. 7)
Para desenvolvimento da pesquisa de caráter documental e
bibliográfico utilizo, então procedimentos de localização, reunião, ordenação e
análise de fontes documentais primárias, da bibliografia sobre a imprensa periódica
educacional e da bibliografia especializada em alfabetização e sua história.
Eleita como corpus para análise, os textos sobre alfabetização
veiculados na imprensa periódica educacional (São Paulo: 1927-1943) serão
tratados como fonte documental privilegiada
34
. Os demais textos que compõem a
bibliografia especializada sobre a imprensa periódica educacional e a bibliografia
especializada sobre alfabetização e sua história no Brasil serão tratados como
auxiliares na análise proposta.
Fonte preferencial para pesquisas de teor vário, a revista é gênero
de impresso valorizado, sobretudo por “documentar” o passado
através de registro múltiplo: do textual ao iconográfico, do
extratextual – reclame ou propaganda – à segmentação, do perfil de
seus proprietários àquele de seus consumidores. [...] O gênero é
privilegiado notadamente pelo historiador que, ao simples folhear
dessas publicações de época, sente-se envolvido pelo tempo
pretérito que busca reconstruir. Imagem, texto, reclames e seções
ali contidas, em princípio, independente de análise mais profunda,
evocam em seu conjunto, de imediato, o quadro histórico em que se
pretende transitar. Contudo, a fonte requer cuidados. Na verdade, os
apelos que transportam e induzem o pesquisador a configuração
quase pictórica do passado, tal como um espelho disforme, refletem
34
Para seleção dos artigos que versam sobre alfabetização, desconsiderei aqueles referentes ao analfabetismo.
54
imagens falsas, imagens de superfície, que requerem investigação e
decodificação. (MARTINS, 2001, p. 21)
De fato, como aponta Martins (2001), a análise superficial do conteúdo
das fontes documentais não é suficiente para pontuar as tendências, as
permanências e as rupturas, o que exige do pesquisador problematizar essas fontes.
A pertinência desse gênero de impresso como testemunho do
período é válida, se levarmos em consideração as condições de sua
produção, de sua negociação, de seu mecenato propiciador, das
revoluções técnicas a que se assistia e, sobretudo, da natureza dos
capitais nele envolvidos. (MARTINS, 2001, p. 21)
Para Vieira, Peixoto e Khoury (2002), o documento não fala por si,
precisa de perguntas adequadas para desvendar o lugar social em que determinada
linguagem foi produzida e por q as coisas estão representadas de certa forma e
não apenas o quê está representado. Ao formular as perguntas, o pesquisador muda
o ponto de partida do documento para o problema, e é necessário “[...] observar
quem produz uma dada linguagem, para quem produz, como a produz e quem a
domina.” (p. 20). Se a investigação não der conta desses aspectos, para as autoras,
será superficial ou inadequada.
Com a finalidade de obter as informações necessárias para
desenvolver a pesquisa, consultei os seguintes acervos e instituições: Biblioteca da
Faculdade de Filosofia e Ciências da Universidade Estadual Paulista – Campus de
Marília/SP; Biblioteca da Faculdade de Ciências e Letras da Universidade Estadual
Paulista – Campus de Araraquara/SP; Biblioteca da Faculdade de Ciências e Letras
da Universidade Estadual Paulista – Campus de Assis/SP; Biblioteca da
Universidade Estadual Paulista – Campus de Ourinhos/SP; Biblioteca da Faculdade
de Educação da Universidade de São Paulo (USP); Biblioteca da Faculdade de
Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Lisboa - Portugal;
Biblioteca da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa – Portugal;
Biblioteca Nacional de Lisboa - Portugal; Biblioteca da E. E. Leônidas do Amaral
Vieira – Santa Cruz do Rio Pardo/SP; e Centro de Referência para Pesquisa
Histórica em Educação (CRPHE) – UNESP – Campus de Araraquara/SP.
55
PARTE II
CONTEXTO DE CIRCULAÇÃO DAS REVISTAS
56
CAPÍTULO 1
CONTEXTO EDUCACIONAL
57
1. Aspectos da escola paulista das primeiras décadas do século XX:
escolarização e alfabetização
Maria Luiza Marcílio (2005) estima que “[...] no Brasil em 1920, 80%
[da população], ou seja, 24 milhões, não sabiam ler e escrever. Mesmo no ‘afamado
Estado de São Paulo apenas cerca de 20% das crianças em idade escolar se
achavam efetivamente matriculadas nas escolas”’ (p. 161).
Diante desse quadro vexatório no que se relaciona à alfabetização, a
escola paulista [e brasileira], das primeiras décadas do século passado, procura
expandir a escolarização para reduzir as taxas de analfabetismo “[...] o Brasil
aparecia nas estatísticas internacionais de analfabetismo com a marca de um dos
piores países, com 85,2% de analfabetos.” (MARCÍLIO, 2005, p. 161).
Após os anos de 1920, intensifica-se um movimento de mudanças no
aparelho escolar paulista, especialmente pela proposta de renovação pedagógica.
Tal renovação representa uma reação de crítica aos padrões culturais e
educacionais vigentes até então em nossa sociedade. Buscam-se analisar a
finalidade da instituição escolar, para articulá-la a um processo de reconstrução
social por meio da reforma da educação.
Nesse período, tem-se um crescimento da demanda social de
educação, conforme pode ser visualizado no Quadro abaixo.
QUADRO 1 – Crescimento da criação de Grupos escolares, Escolas isoladas e
Unidades escolares, entre 1920 e 1936, no Estado de São Paulo
Instituão 1920 1930 1936
Grupos escolares 245 514 605
Escolas isoladas 1.117 2.218 3.774
Unidades escolares 4.637 8.219 10.836
Fonte: ANNUARIO do Ensino do Estado de São Paulo (1935-1936), 1936, p. 108.
Pode-se perceber que de 1920 a 1936 tem-se um ritmo acelerado de
criação de instituições escolares no Estado de São Paulo; conseqüentemente, um
aumento crescente de matrícula no ensino primário, conforme se verifica no Quadro
a seguir.
58
QUADRO 2 – Crescimento da matrícula inicial entre 1920 e 1935, no Estado de
São Paulo
Esfera de ensino 1920 1925 1930 1935
Ensino municipal
15.090 12.638 16.413 21.083
Ensino particular
52.900 69.212 80.921 67.881
Ensino estadual
194.772 338.655 356.292 452.068
Total 262.762 420.505 453.626 541.032
Fonte: ANNUARIO do Ensino do Estado de São Paulo (1935-1936), 1936, p. 110.
A expansão do sistema escolar paulista, que oferece um curso primário
com duração de quatro anos nos Grupos escolares, e, de três anos nas Escolas
isoladas, não acompanha o ritmo acelerado da taxa de crescimento da população.
“O recenseamento escolar de 1934 verificou a existencia de 1.137.091 crianças de 7
a 13 annos, para uma população geral de 6.433.327. A proporção, pois, de 17,50%.”
(ANNUARIO do Ensino do Estado de São Paulo, 1936, p. 105).
Considerando que era necessário “tirar o cidadão comum do
analfabetismo”, a expansão da escola paulista é acompanhada por um gradativo
aperfeiçoamento dos processos de ensino, de um reajustamento do aparelho de
direção, além de um controle dos serviços do ensino, enfim, “[...] busca-se um ideal
civilizador para transformar a situação do “atraso” do sistema de ensino.”
(MARCÍLIO, 2005, p. 160).
1.1 Escola renovada e a alfabetização
A escola cresce quantitativamente em meio a descontinuidade política
e aos embates ideológicos, com base em novas idéias sobre educação. Uma das
marcas dessa expansão é a preparação do quadro de especialistas em educação
para introdução de métodos de ensino adequados para superar os problemas
enfrentados (MARCÍLIO, 2005).
O discurso civilizatório gasto gera um vazio de proposições e
atitudes, possibilitando o aparecimento de um novo discurso ruidoso
e impetuoso, cujos temas arrebatadores indicam a presença de uma
vanguarda que se representa como grupo novo nascido fora da
tradição [...]. (MONARCHA, 1999, p. 297)
Esse “novo grupo”, acompanhando as modificações de ordem
econômica e social, baliza a “[...] expansão de uma nova literatura educacional, com
59
a presença dos ‘educadores profissionais’ e com os debates sobre educação e
pedagogia [...]” (MORTATTI, 2004, p. 61).
Assim, esses educadores conhecidos como “educadores pioneiros”
35
ou “reformadores liberais”
36
formularam propostas para a área educacional.
Destacam-se naquele momento, entre outros intelectuais, Lourenço Filho, Fernando
de Azevedo e Anísio Teixeira, que
[...] tinham suas idéias veiculadas pela imprensa paulista [...]
Fernando de Azevedo, além de acompanhar e apoiar as iniciativas
da ABE e de um de seus grupos, circulava desde os anos vinte em
torno do chamado “grupo do Estado”. Foi no interior desse jornal e
pela encomenda desse grupo liderado por Júlio de Mesquita Filho
que Fernando de Azevedo desenvolveu um Inquérito sobre a
situação da instrução pública no Estado de São Paulo ou,
simplesmente, Inquérito de 1926, como ficou conhecido. (PAGNI,
2000, p. 50-51)
Vale ressaltar que a Associação Brasileira de Educação (ABE) foi
criada em 1924, no Rio de Janeiro, por um grupo de intelecutais, do qual faziam
parte, Heitor Lira, José Augusto, Antônio Carneiro Leão, Venancio Filho, Everardo
Backeuser, Edgar Süssekind de Mendonça e Delgado de Carvalho, e tinha como
objetivo sensibilizar o poder público e os educadores brasileiros para os problemas
enfrentados pela escola pública, indicando a necessidade urgente de se tomarem
medidas para tentar solucionar tais problemas. Essas medidas estavam
relacionadas com a implantação de uma “nova” maneira de conduzir a educação.
Na campanha cívica pela “causa educacionalque se desencadeia
no Brasil, nos anos vinte, sob os auspícios da Associação Brasileira
de Educão (ABE), o escolanovismo ganha, cada dia, mais
adeptos. A sedução que exercia era grande, pois seus métodos
centrados na atividade do aluno eram vistos como mais eficientes
[...]. (CARVALHO, 1997, p. 68-69, grifos da autora)
Os “renovadores” criticavam o ensino “formalista”, vinculado à
transmissão da cultura clássica.
35
Expressão utilizada Helena Maria Bousquet Bomeny. Os intelectuais da educação. 2001.
36
Expressão utilizada por Pedro Angelo Pagni. Do manifesto de 1932 à construção de um saber pedagógico:
ensaiando um diálogo entre Fernando de Azevedo a Anísio Teixeira. 2000.
60
A vertente da pedagogia contemporânea conhecida como Escola
Nova representou, em sentido amplo e conforme as palavras dos
próprios protagonistas, um novo tratamento dos problemas da
educação, elaborando um conjunto de princípios com o objetivo de
rever as chamadas formas tradicionais de ensino, em patticular a
pedagogia de cunho herbartiano. [...] A Escola Nova, que, de icio,
nos coloca perante um projeto de reformulação pedagógica, aos
poucos se revela como a emerncia de uma nova pedagogia
social, uma teoria de amplo alcance programático cujo abjetivo era a
construção do Homem Novo e da Boa Sociedade [...].
(MONARCHA, 1989, p. 11-17)
Em decorrência dessa revisão crítica, são apontadas novas
concepções sobre sociedade, homem, infância, e conseqüentemente, sobre o
ensino e sobre a aprendizagem.
A nova concepção de infância tinha em vista promover o
desenvolvimento “natural” do educando, possibilitando a sua “formação da
personalidade”, o que alterou todo o aspecto interno da escola primária.
Decorrente dessa concepção de infância, o novo conceito de
aprendizagem baseia-se nos interesses e necessidades da criança, em que o
importante não é aprender coisas, mas aprender a observar, a pesquisar, a pensar,
enfim “aprender a aprender”.
A revista Educação colaborou com a difusão sistemática dos ideais
escolanovistas desde o início de sua publicação. Consta do editorial do volume 4,
números 2 e 3, de agosto/setembro de 1928 a seguinte informação: “Educação
pretende contribuir de maneira pratica e efficaz, tanto quanto lhe seja possivel, para
o progresso scientifico do ensino, animando a renovação de seus processos e
obstando a rotina”.
São significativos os artigos publicados em torno da temática “Escola
Nova” ou “Escola ativa” assinados por Lourenço Filho, Paulo Maranhão, Raimundo
Pastor, Adalívia de Toledo, Lorenzo Luzuriaga, Antonio Leão Velloso, Renato Jardim
e Sud Mennucci, entre outros.
No artigo “Pratica da escola activa”, publicado em 1928, Paulo
Maranhão refere-se as “modernas diretrizes do nosso ensino”, apresentando aos
professores os fundamentos do método decrolyano, destacando seu tríplice aspecto:
1º - Observação (acquisição pessoal e directa do conhecimento). 2º
- Associação (acquisição indirecta, baseada nas noções do primeiro
grupo). 3º - Expressão (concreta e abstracta, compreendendo:
61
desenho, modelagem, leitura, composição e calculo). (MARANHÃO,
1928, p. 46)
Na opinião de Paulo Maranhão, o professor conhecendo esses
fundamentos deveria ajustá-los à realidade educacional brasileira. Assim, a “Escola
ativa” poderia ser realizada dentro do sistema de organização do ensino primário, o
que não exigiria mudança radical na disposição das classes, nem dos programas,
porém, a mudança deveria ser na forma dos professores organizarem os exercícios,
de acordo com os centros de interesse. Para tanto deveria o professor utilizar-se da
atividade do aluno, “[...] o professor não se limita a ensinar, guia o alumno e
disciplina seu trabalho para que elle não se torne dispersivo.” (MARANHÃO, 1928, p.
47),
Já nos anos de 1930, após as mudanças políticas, quando Getúlio
Vargas assume o governo federal “[...] através do movimento que parte da
historiografia denominou ‘Revolução de 30’” (MATE, 2002, p. 84).
Os espaços políticos instituídos a partir do governo Vargas abrem-
se para os renovadores, cuja produção e experncia vinham
compondo um corpus teórico traduzido em regulamentações e
normas elaboradas através das reformas de 20. (MATE, 2002, p. 94,
grifo da autora)
Representativo desse movimento, como se sabe, é o Manifesto dos
Pioneiros da Educação Nova. A revista Educação publicou o texto “A reconstrução
educacional no Brasil: ao povo e ao governo”, no volume 6, números 1-2-3, de
1932, cujos escritos contêm os princípios, as bases e as diretrizes necessárias à
reforma do sistema educacional.
De acordo com Fernando de Azevedo, relator do documento, uma das
medidas a serem tomadas, para a renovação educacional necessária, era uma
mudança na formação dos professores. Para Azevedo, o professor necessitava de
uma cultura múltipla, que lhe possibilitasse acesso ao conhecimento dos homens e
da sociedade, para perceber o papel da escola e sua função, função esta que,
deveria servir aos interesses do indivíduo e não de classes sociais. Assim o
professor “[...] poderá ver o problema educacional em conjuncto, de um ponto de
vista mais largo, para subordinar o problema pedagogico ou dos methodos ao
problema philosophico ou dos fins da educação.” (AZEVEDO, 1932, p. 35).
62
Nessa época de instabilidade política, “[...] a geração de técnicos de
ensino formada na década anterior assenhora-se da Diretoria Geral da Instrução
Pública [...]” (MONARCHA, 1999, p. 327). Lourenço Filho assume o cargo de Diretor
da Instrução Pública de São Paulo, de 27 de outubro de 1930 a 23 de novembro de
1931), promove uma remodelação técnica e administrativa, reorganiza a Diretoria
Geral da Instrução Pública, mudando-lhe inclusive a sua denominação para Diretoria
Geral do Ensino. Reorganiza tamm, o ensino normal, como veremos na próximo
capítulo.
Dentre o programa de organização técnica, foi criado, em 1930, o
Serviço de Assistência Técnica. No que se refere à alfabetização, para o reformador
do ensino, era necessário um novo projeto conectado as novas finalidades da
educação.
Para um Brasil novo, uma escola nova. Nova, antes de tudo, pela
reforma de sua finalidade. A escola publica o pode continuar a ser
um apparelho formal de alphabetisação, ou simples machina que
prepare alumnos para certificados de exames e de conclusão de
curso, segundo programmas elaborados em abstracto, para uma
criança ideal, que não existe, programmas que têm sido os mesmos,
para a praia e para o sertão, para o planalto do café, e as barrancas
do Paraná. Tem que ser um organismo vivo, capaz de reflectir o
meio, nas suas qualidades, e de cooperar para a melhoria dos
costumes. Tem que ser oro de adaptação e de coordenação. De
adaptação, pelo interesse em affeiçoar a intelligencia infantil aos
problemas de seu ambiente proprio [...]. (LOURENÇO FILHO,
1930b, p. 3)
Para auxiliar a concretização do novo projeto de alfabetização
empreendido pelo Diretor Geral do Ensino, criou-se dentre as assistências técnicas
o Serviço de Psicologia Aplicada, dirigido por Noemy Silveira. À Assistente de
Psicologia Aplicada cabia, especialmente, a tarefa de organização e aplicação dos
testes ABC para a composição das classes seletivas de alfabetização. Para tanto
foram promovidos cursos “[...] de preparação dos proprios auxiliares do serviço, de
palestras de orientação sobre a organização a aplicação de testes mentaes e
pedagogicos”. (ANNUARIO do Ensino da Estado de São Paulo, 1936, p. 300), já que
quase todo o professorado desconhecia os testes ABC.
O trabalho de apresentação e divulgação dos testes no ano de 1931 foi
intenso. O Serviço de Psicologia Aplicada realizou, em cooperação com os diretores
dos grupos escolares da capital, a organização de 476 classes seletivas.
63
Lourenço Filho apresenta, posteriormente, resultados da organização
de classes seletivas de alfabetização efetuadas durante sua gestão, que resultam
em aumento do rendimento escolar relacionado à alfabetização, cujos índices saltam
de 63,16%, em 1929, para 81, 97%, em 1931
37
.
Como se sabe, a partir 24 de maio de 1932, Lourenço Filho Lourenço
Filho é substituído por Sud Mennucci, que subdivide o Serviço de Psicologia
Aplicada composto de três seções: medidas, orientação profissional e estatística;
“[...] em 1933, durante a gestão de Fernando de Azevedo, esse serviço é anexado à
Escola de Professores do Instituto de Educação sob a denominação de Psicologia
Aplicada à Educação.” (MONARCHA, 1999, p. 329); todas essas modificações em
torno da Assistência de Psicologia aplicada tinham em vista alargar os propósitos da
racionalização administrativa que pretendia “[...] impor uma orientação psicológica,
biológica, sociológica e estatística de trabalho escolar.” (Idem, p. 328).
Entre 1932 e 1933, o que se observa tamm é a sucessão de
diferentes sujeitos à frente da Diretoria Geral do Ensino, constituindo passagens
efêmeras que se caracterizam por “projetos de educação”, por vezes diferenciados
entre si. Dessa forma, após a administração de Lourenço Filho, seguida de Sud
Mennucci têm-se as passagens de João Toledo, Fernando de Azevedo, Sud
Mennucci (retoma), Francisco Azzi, Luis Motta Mercier, Almeida Júnior, Joaquim
Álvares Cruz, Aluízo Lopes de Oliveira, Dário Dias de Moura, Israel Alves dos
Santos e Sud Mennucci, novamente.
37
Conforme ANNUARIO do Ensino da Estado de São Paulo. 1936, p. 301.
64
CAPÍTULO 2
A FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA O MAGISTÉRIO PRIMÁRIO
65
1. Aspectos da formação do professor para o magistério primário
Tendo em vista que a história da formão do professor para o
magistério primário, também professor alfabetizador – já que de acordo com a
legislação todo professor primário deveria saber alfabetizar -, está relacionada
diretamente com a história da alfabetização no Brasil (MORTATTI, 2005, p. 2), é
importante retomar alguns aspectos da formação profissional desses professores,
prováveis leitores das séries das revistas em estudo, para tentar compreender em
que condições seus interlocutores recebiam os artigos
38
.
Durante o período analisado, as instituições responsáveis pela
formação dos professores primários paulistas deveriam ser as Escolas Normais e o
Instituto Pedagógico, posteriormente Instituto de Educação “Caetano de Campos”.
1.1 Escola normal em São Paulo: primeiras experiências
A primeira e tradicional escola normal de São Paulo foi fundada em
1846 e fechada em 1867 (MONARCHA, 1999, p. 13). Nesse breve período de
existência ofereceu um curso de dois anos e as aulas eram ministradas apenas por
um professor, o Dr. José Manoel Chaves, catedrático de “Philosophia e Moral” do
Curso Anexo da Faculdade de Direito de São Paulo.
De acordo com Reynaldo K. Busch (1935) “A escola era de instrucção
primaria e para formar professores primarios, apenas do sexo masculino. Durante 20
annos de existência formou 40 professores”. (p. 41-42). Do programa do curso
constavam as seguintes matérias, conforme Quadro a seguir:
QUADRO 3 – Programa da Escola Normal de São Paulo, entre os anos de 1846
e 1847
Gramática e Língua Nacional
Aritmética, Religião e Geometria
Caligrafia, Lógica e Métodos
Processos de ensino
Fonte: BUSCH, 1935, p. 41.
38
De acordo com Maria do Rosário Longo Mortatti. Notas para uma História da formação do alfabetizador no
Brasil. 2005, a expressão “formação do alfabetizadoré de uso recente em nossa história, mais recente do que o
próprio termo “alfabetização” que se expande no Brasil, aproximadamente, nos anos de 1910.
66
Já a segunda escola normal foi criada em 1874 e instalada em 1875 na
administração do Dr. Francisco Aurélio na Inspeção Geral da Instrução. No primeiro
ano de funcionamento contou com 33 alunos; no segundo ano, houve o acréscimo
da secção feminina e o número de alunos subiu para 149. Por problemas de falta de
instalação, material didático e freqüência de alunos, fechou-se em 1878. (BUSCH,
1935).
O curso tinha a duração, tamm, de dois anos e o seu programa foi
ampliado, conforme observamos no Quadro abaixo:
QUADRO 4 – Programa inicial da Escola Normal de São Paulo, no ano de 1875
Gramática e Língua Nacional
Aritmética, Religião e Geometria
Caligrafia, Lógica e Métodos
Processos de ensino
Cosmografia e Geografia
História Sagrada, Universal e do Brasil
Metódica e Pedagogia
Fonte: BUSCH, 1935, p. 42.
Em 1880, a escola normal é reaberta com 61 alunos de ambos os
sexos. O curso elevou-se para três anos e oferecia as seguintes matérias, conforme
se observa a seguir:
QUADRO 5 – Programa da Escola Normal de São Paulo, em 1880
Gramática e Língua Nacional
Aritmética e Geometria
História e Geografia
Pedagogia e Metodologia
Francês, Física e Química
Fonte: BUSCH, 1935, p. 43.
A organização curricular da escola normal paulista, até então, é
criticada à época, porque seu programa fornecia uma ampla cultura geral e
propedêutica e negava uma fundamentação técnico-pedagógica, necessária à
formação do professor primário.
Para auxiliar na instrumentalização técnico-pedagógica dos normalistas
do final do século XIX, a revista Eschola Publica publicava artigos que ofereciam
67
conhecimentos sobre métodos de ensino a serem adotados em sala de aula, de
acordo com o ideal de educação republicana, já que de acordo essa publicação
[...] a República encontrou um povo de analphabetos e na pequena
porcentagem de alphabetados reina a maxima inscipiencia de leis
civicas e moraes, o mais negro desconhecimento e desrespeito a
tudo quanto é para engrandecimento intellectual do povo [...]
associar, pois o governo, povo e professores na grande obra da
solidificão da República pela educação popular – tal é o grande
serviço que os inspectores de districto poderão prestar a nosso
Estado [...]. (Editorial n. 5 de 1893, apud PINTO, 2001, p. 109)
Após a proclamação da República, com a nomeação de Caetano de
Campos, a Escola Normal passou por sucessivas reorganizações. Criaram-se as
escolas-modelo anexas à Escola Normal “[...] que ficaram, sob a regencia de duas
notáveis professoras – Dna. Maria Guilhermina Loureiro de Andrade, que havia
estado 4 annos nos Estados Unidos estudando systemas de ensino, e Miss Marcia
Browne, educadora norte-americana [...].” (BUSCH, 1935, p. 44). As escolas-modelo
eram destinadas a experimentação de novas técnicas, observação e prática de
ensino tendo em vista adequar a formação dos professores dentro da perspectiva de
remodelação de ensino público paulista.
1.2 As escolas complementares, as escolas normais primárias e as escolas
normais secundárias
Quando Oscar Thompson (1909-1911) assume a Diretoria Geral da
Instrução Pública, o ensino normal passa por um “[...] processo de expansão
geográfica e de massificação, com modificações no chamado núcleo de estudos
pedagógicos, aprofundando-se a especialização das matérias do currículo.”
(MONARCHA, 1999, p. 238).
As escolas complementares compreendiam aos cursos secundários,
com duração de quatro anos. “Os diplomas destes cursos, devido à exiguidade
existente de professores diplomados pela Escola Normal, conferiam o direito de
leccionar em escolas publicas preliminares aos que fizessem pratica de ensino [...]”
(BUSCH, 1935, p. 45). Em 1911, as quatro escolas complementares foram
convertidas em escolas normais primárias, com duração de quatro anos e em seu
68
programa constavam as seguintes matérias, como pode ser visualizado no Quadro
6:
QUADRO 6 – Programa das escolas normais primárias, entre 1911 e 1913
Grupo 1 Grupo 2
Português, Francês, Aritmética e Geometria Música, Caligrafia e Desenho
Geografia Geral e do Brasil, História da
civilização e do Brasil
Ginástica, Trabalhos manuais e economia
doméstica (apenas para a são feminina)
Noções de Física, de Química e História
natural com aplicação à agricultura e à
zootecnia
Psicologia, Pedagogia e Metodologia,
(apenas a partir de 1912).
Pedagogia e Educação cívica
Fonte: BUSCH, 1935, p. 45.
Com a ampliação e especialização das matérias do programa têm-se a
integração da Psicologia à Pedagogia. Assim, a Psicologia experimental ganha
espaço privilegiado e faz parte de um esforço de Oscar Thompson para criar um
“centro de alta cultura pedagógica”, para o professor tendo em vista, tamm,
organizar, uniformizar e sincronizar os programas escolares com apoio no método
analítico. Buscam-se preparar o professor especializado e fundamentado no que
havia de mais moderno na Pedagogia à época. Destacam-se, dentre tantas outras
iniciativas, instruções e orientações pedagógicas veiculadas em documentos oficiais.
Vale destacar que dentre os saberes necessários para o professor
atuar no ensino primário, especialmente no que se relaciona à alfabetização de
crianças, enfatizavam-se os fundamentos e aplicação do método analítico para o
ensino da leitura e da escrita, articulado ao método intuitivo para aplicação nas
demais matérias escolares (MORTATTI, 2005, p. 4).
Ainda em 1911, a Escola Normal de São Paulo passou a chamar-se
Escola Normal Secundária de São Paulo. “Sobrecarregada de alunos e funcionando
em três turnos, a Escola Normal da Praça é convertida em Escola Normal
Secundária [...]” (MONARCHA, 1999, p. 238).
A duração do curso era também de quatro anos, e a composição do
Programa de ensino pode ser visualizada no Quadro 7.
69
QUADRO 7 – Programa das escolas normais secundárias, a partir de 1911
Português, História da Língua e Latim
Francês
Inglês
Aritmética, Álgebra, Geometria e Trigonometria
Mecânica, Física e Química
História natural, Anatomia, Fisiologia e Noções
de Higiene
Geografia e Astronomia
História
Pedagogia e Educação cívica
Música
Escrituração Mercantil
Caligrafia, Desenho
Ginástica e Trabalhos Manuais
Fonte: BUSCH, 1935, p. 46.
A Revista do Ensino, em 1916, passa a ser distribuída gratuitamente
aos professores e alunos do quarto ano da Escola Normal com “[...] feição
orientadora de processos e métodos. Ela precisa acentuar ainda mais a parte prática
no ensino de cada disciplina do programa, para ser cada vez mais útil e necessária
ao professor que inicia o seu exercício [...]”. (REVISTA DO ENSINO, n. 3, p. 3-5,
apud CATANI, 2003, p. 184).
Após 1920, as sucessivas reformas acompanham o curso da escola
normal tendo em vista uma formação de caráter profissionalizante que preparasse o
professor para utilizar as técnicas pedagógicas necessárias ao bom desempenho no
seu trabalho docente.
Pela reforma do ensino paulista de Sampaio Dória, de 1920, que
havia se esforçado em criar uma Faculdade de Educação (art.21),
existia a intenção de trazer profissionais estrangeiros e nacionais de
excepcional competência, com a finalidade de preparar pessoal de
alto nível para as tarefas de educação. A inspiração vinha da Escola
Normal Superior da França, do psicólogo francês George Dumas
que então visitava São Paulo. (MARCÍLIO, 2005, p. 291).
Sampaio Dória equiparou as escolas normais primárias e secundárias.
As escolas equiparadas tinham um curso de quatro anos, contando com as
seguintes matérias em seus programas:
70
QUADRO 8 – Programa das escolas normais, a partir de 1920
Português, Latim e Literatura
Francês
Matemática, sica e Química
Anatomia e Fisiologia humana
Biologia vegetal e animal, Higiene
Cosmografia, Geografia geral, Corografia do
Brasil
História do Brasil e geral
Psicologia, Pedagogia e Metodologia didática
(Prática pedagógica)
Música
Desenho
Ginástica
Fonte: BUSCH, 1935, p. 47.
A partir daí, tem-se, o aumento de duração do curso complementar
para três anos, a criação da Metodologia/Prática de ensino.
Em 1925, por meio do Decreto nº 3858, as escolas normais do Estado
passaram a ter um curso com duração de cinco anos e o curso complementar
reduziu-se a dois anos, composto pelo seguinte Programa:
QUADRO 9 – Programa das escolas normais, a partir de 1925
Português, Latim, Literatura, Caligrafia e
História da Língua
Francês
Matemática, sica e Química
Anatomia e Fisiologia humana, Noções de
Geologia e Puriecultura
Biologia vegetal e animal, Higiene
Cosmografia, Geografia geral, Corografia do
Brasil
História do Brasil e geral, Noções de Direito
usual
Psicologia, Pedagogia e Metodologia didática
(Prática pedagógica)
Música
Desenho
Ginástica
Trabalhos manuais
Fonte: BUSCH, 1935, p. 48.
71
Em 1926, com a crise de falta de professores, o curso normal foi
reduzido para três anos, nas nove escolas estaduais, sendo que a Escola Normal da
Praça da República continuou com o seu curso anterior de cinco anos.
A partir de 1927 com o início de circulação da revista Educação, os
professores recebem informações e orientações sobre as finalidades da educação e
o papel da escola, segundo os princípios escolanovistas, multiplicam-se os artigos
sobre a Escola Nova e os métodos ativos.
Lourenço Filho, quando de sua administração à frente da Diretoria
Geral do Ensino, empreendendo a racionalização do serviço público escolar,
sintonizado com os princípios escolanovistas, reorganizou as modalidades de
ensino, especialmente o profissional e normal, já que reconhecia a necessidade de
maior preparo do professorado.
Em 1931, Lourenço Filho transforma a Escola Normal da Praça em
Instituto Pedagógico “[...] onde se deram os primeiros cursos em nível superior no
País.” (MONARCHA; LOURENÇO FILHO, 2001, p. 33) e institui pelo Decreto 4.888,
de 12 de fevereiro o Curso de Aperfeiçoamento destinado ao preparo de técnicos de
inspetores, delegados de ensino, diretores e professores. O curso tinha a duração
de dois anos e dentre as disciplinas mantidas estavam Pedagogia Geral, História da
Educação, Fisiologia aplicada e Psicologia Educacional. “Seus formandos tinham
preferências nas nomeações para o magistério. “ (MARCÍLIO, 2005, p. 292).
Uma das marcas desse administrador da educação foi a modificação
da publicação da revista Educação para Escola Nova. A revista Educação, de
orientação pedagógica passa a ter, coerente com a orientação técnica proposta por
Lourenço Filho, uma feição de estudo especializado sobre determinado assunto,
entre eles os testes e medidas psicológicas.
Durante a breve gestão de Fernando de Azevedo (11 de janeiro a 27
de julho de 1933) no Departamento de Educação do Estado de São Paulo, houve a
promulgação de decretos estaduais que possibilitaram mudanças no ensino paulista,
entre eles o Decreto Estadual nº 5846, de 21 de fevereiro de 1933, que regulou a
formação profissional de professores primários e secundários e administradores
escolares; o Decreto nº 6019, de 10 de agosto de 1933, que transformou a Escola
Normal da Praça da República no primeiro Instituto de Educação; e o Código de
Educação do Estado de São Paulo, Decreto Estadual nº 5884, de 21 de abril de
1933.
72
Conforme previsto no “Código”, o Instituto de Educação “Caetano de
Campos” era formado pelas escolas e anexos denominados de Escola de
Professores, Escola Secundária, Escola Primária, Jardim da Infância e Biblioteca.
Havia, ainda, nesse Instituto de Educação a existência do serviço de Psicologia
Aplicada da Escola de Professores (MORTATTI, 2005). Segundo essa
pesquisadora,
A Escola de Professores objetivava ministrar formação pedagógica
de grau superior àquela existente até então e deveria formar:
professores para o ensino primário e para o ensino secundário; e
deveria, ainda, oferecer cursos de aperfeiçoamento cultural e
profissional para os professores e cursos “post-graduados” para a
formação de diretores, inspetores escolares e, posteriormente, para
especialização em alfabetização. (p. 5)
39
De acordo com o artigo 783, do Decreto nº 5884, que criou o “Código
de Educação”, as escolas normais do Estado compreendiam:
a) um curso de formação profissional do professor, de dois annos; b)
um curso secundário fundamental, de cinco annos; c) um curso
primario, de quatro annos. Art. 784 – O Curso de Formação do
Professor destina-se á preparação de professores primários, e seu
programma distribui-se pelas seguintes secções:
1ª Secção: Educação
2ª Secção: Biologia Applicada á Educação;
3ª Secção: Sociologia
Par. 1º A 1ª Secção comprehende:
1) Psychologia;
2) Pedagogia;
3) Pratica de Ensino;
4) Historia da Educação.
Par. 2º A 2ª Secção comprehende:
1) Physiologia e Hygiene da Creança;
2) Estudo do Crescimento da Creança;
3) Hygiene da Escola.
Par. 3º A 3ª Secção comprehende:
1) Fundamentos da Sociologia;
2) Sociologia Educacional;
3) Investigações Sociais em Nosso Meio.
39
As matérias específicas para o ensino da leitura e da escrita foram integradas aos cursos de “especialização”
(post-graduados) posteriormente. A esse respeito ver especialmente: Maria do Rosário Longo Mortatti. Notas
para uma história da formação do alfabetizador no Brasil. 2005.
73
Com esta nova organização, a escola normal sofre transformações na
organização conservada, em suas grandes linhas, até então. Visando tamm a “[...]
concretizar os objetivos do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, por meio de
uma nova organização para a formação do magistério primário [...]” (MORTATTI,
2005, p. 6).
Essa nova organização, articulada aos princípios da Escola Nova,
deveria, am de oferecer uma cultura geral e múltipla aos professorandos,
proporcionar uma reflexão acerca dos fins, dos meios e da maneira de se realizarem
uma educação única, laica, gratuita e centrada no aluno como sujeito ativo do
processo ensino-aprendizagem.
Enfatizando os fundamentos sociológicos e psicológicos,
especialmente vinculados a didática da Escola Nova, as novas matérias supriam a
necessidade de se conhecer, compreender e aplicar os então “novos métodos
ativos” de ensino, centrados em novas concepções de aprendizagem, de infância de
aquisição de conhecimento.
74
PARTE III
A ALFABETIZÃO NA IMPRENSA PERDICA EDUCACIONAL PAULISTA
75
CAPÍTULO 1
ANTECEDENTES
76
1. Os discursos que antecedem
Ao longo dos anos de 1927 a 1943, as séries de revistas tiveram
publicados 89 artigos relacionados à alfabetização. Essa produção inicia-se com o
primeiro volume da revista Educação, porém, como se sabe, a referida revista não
inaugura, no âmbito da imprensa periódica educacional, os discursos sobre
alfabetização.
Quando a revista Educação inicia suas publicações, em 1927, suas
antecessoras, a Eschola Publica (1893-1897), a Revista do Jardim da Infancia (1896
a 1897), a Revista de Ensino (1902-1918), a Revista da Sociedade de Educação
(1923-1924) e a Revista Escolar (1925-1927), já tinham, juntas, acumulado um
amplo repertório de artigos sobre o tema da alfabetização e correlatos.
A Revista do Jardim da Infancia escrita para educadores que atendiam
a “educação da infância” (destinada às crianças entre três e sete anos de idade)
publicou diversos artigos relacionados ao tema desenvolvimento da linguagem (oral
e escrita)
40
. Observando o quadro de horários
41
do curso de três anos do Jardim da
Infância, anexo à Escola Normal da Capital, encontramos, nas atividades previstas
para o 2º período, quinze minutos diários para exercícios de linguagem, e para o 3º
período do Jardim da Infância, meia hora diária para exercícios de “formação de
palavras com letras impressas” e, ainda, aos sábados “exercícios geraes de
linguagem”.
40
Dos artigos relativos aos “exercícios de linguagem”, têm-se publicados, conforme Carlos Monarcha. Revista
do Jardim da Infancia: uma publicação exemplar. 2001b: ROLIM, Zalina. Família e lar (Lição de linguagem).
Revista do Jardim da Infancia. São Paulo, v. 1, p. 14-16, 1896; VARELLA, Maria Ernestina. Programa –
exercicios de linguagem. Revista do Jardim da Infancia. São Paulo, v. 1, p. 20-25, 1896; ROLIM, Zalina (Trad.).
O Dedinho Vaidoso – Para ser narrado às creanças nas lições de linguagem. Revista do Jardim da Infancia. São
Paulo, v. 1, p. 29-31, 1896; ______. Fructas – uma lição de linguagem. Revista do Jardim da Infancia. São
Paulo, v. 1, p. 44-46, 1896; ______. Trechos (Pequeninos trechos para serem reproduzidos em lições de
linguagem com accentuação propria, primeiro como simples meio de dar as creanças o necessário desembaraço
no fallar e em seguida para a formação de dlogos. Revista do Jardim da Infancia. São Paulo, v. 1, p. 242-244,
1896; ______. Gymnastica dos dedos (Os exercicios são acompanhados pelos respectivos movimentos dos
dedos). Revista do Jardim da Infancia. São Paulo, v. 1, p. 252, 1896; ______. Versos para exercicios de dicção.
Revista do Jardim da Infancia. São Paulo, v. 1, p. 255-256, 1896; ______. A boneca (Cantinho para ser narrado
pela professora e produzido pelas creanças nas aulas de linguagem. Revista do Jardim da Infancia. São Paulo, v.
1, p. 285, 1896; e ______. Trechos (Pequeninos trechos para serem reproduzidos em lições de linguagem com
accentuação propria, primeiro como simples meio de dar as creanças o necessário desembaraço no fallar. Revista
do Jardim da Infancia. São Paulo, v. 2, p. 83-85, 1897.
41
Carlos Monarcha. Revista do Jardim da Infancia: uma publicação exemplar. 2001b, reproduz, em anexos, os
quadros de horários, ora publicados na revista, no volume 1 de 1896, à p. 292.
77
Dessa forma, a Revista do Jardim da Infancia, por meio de seus
artigos, amparava didática e teoricamente os professores, tamm, em relação ao
desenvolvimentos das atividades relativas a linguagem oral e escrita “[...] mediante
produção de textos originais e tradução e adaptação de autores e obras estrangeiras
de inspiração fröebeliana e de natureza didática e teórica.” (MONARCHA, 2001b, p.
95-96).
A Revista de Ensino destacou “[...] como espaço privilegiado de
divulgação o método analítico para o ensino da leitura [...]” (MORTATTI, 2000a, p.
180)
42
.
A Revista Escolar nas seções “Lições praticas” e “Methodologia”
apresentava modelos de lições “[...] estruturadas com base em perguntas e
respostas, muitos deles versando sobre ensino de linguagem oral e escrita e
enfatizando lições de composição, a partir de reproduções, descrições, cartas, entre
outros.” (MORTATTI, 2000a, p.180).
Também a Revista da Sociedade de Educação privilegiou os temas
educacionais e didático-pedagógicos, “[...] sobretudo ligados ao ensino da leitura
[...].” (MORTATTI, 2000a, p. 181).
1.1 A contribuição da Revista da Sociedade de Educação (1923-1924), na
constituição de discursos sobre alfabetização
Idealizada por professores e demais intelectuais envolvidos em
questões de ensino e educação, a Revista da Sociedade de Educação, órgão da
Sociedade de Educação de São Paulo, veiculou entre 1923 e 1924, impressa por
Monteiro Lobato & Cia. Editores. A publicação representa um veículo de divulgação
dos trabalhos desenvolvidos no âmbito da Sociedade de Educação de São Paulo.
A Sociedade de Educação de São Paulo foi fundada em 1922, “[...]
com a finalidade de congregar membros do magistério em seus vários níveis, dos
setores públicos e privados, com idéias e interesses comuns, teve uma intensa
atuação no cenário educacional brasileiro.” (NERY, 1999, p. 21). A primeira diretoria
42
Dentre os artigos publicados na revista tem-se: KÖPKE, J. Ensino da leitura. Revista de Ensino, São Paulo, n.
4, p. 772-793, out. 1902; BARRETO, A. O. O ensino da leitura. Revista de Ensino, São Paulo, n. 5, p. 961-966,
dez. 1902; MORAES, T. J. A. A leitura analytica. Revista de Ensino, São Paulo, n. 1, p. 17-20, mar. 1909;
TOLOSA. B. M. O ensino da leitura. Revista de Ensino, São Paulo, n. 2, p. 67-70, set. 1911; ______.______.
Revista de Ensino, São Paulo, n. 1, p. 86-100, mar. 1912; ______.______. Revista de Ensino, São Paulo, n. 1, p.
75-82, jun. 1912; e DIRECTORIA GERAL DA INSTRUCÇÃO PUBLICA. Instruções praticas para o ensino da
leitura pelo methodo analytico – modelos de lições. Revista de Ensino, São Paulo, n. 4, p. 11-22, mar. 1914.
78
eleita era composta pelos seguintes membros: Oscar Freire de Carvalho, Renato
Jardim, Antonio de Sampaio Dória, Alexandre de Albuquerque, José Rizzo e Djalma
Forjaz.
Dentre as finalidades da revista, publicada pela entidade, estavam
informar o professorado paulista sobre o “movimento mundial” de renovação da
educação; promover discussões sistemáticas sobre os rumos da educação nacional
e sobre a reforma do ensino paulista; e despertar no professorado o estímulo à
pesquisa, ao debate, reforçando, assim, a renovação do ensino e o seu progresso.
No que se referem às discussões acerca do ensino da leitura e da
escrita, ocorridas na Sociedade de Educação de São Paulo, os debates se
intensificaram, no ano de 1924, especialmente com a participação de Renato
Jardim, conforme podemos observar no Quadro abaixo.
QUADRO 10 - Sessões extraordinárias da Sociedadede de Educação de São
Paulo, entre março e maio de 1924
Sessões Data Assuntos
Sessão extraordinária 31-03-1924 Discussão do trabalho do professor Renato
Jardim sobre métodos para o ensino da leitura
Sessão extraordinária 14-04-1924 Continuação da discussão sobre o método
analítico
Sessão extraordinária 23-04-1924 Discussão sobre o método analítico
Sessão extraordinária 06-05-1924 Discussão sobre métodos de ensino da leitura
Sessão extraordinária 12-05-1924 Resposta de Renato Jardim às críticas sobre o
seu ponto de vista a respeito do método
analítico
Fonte: Revista da Sociedade de Educação, v. 2, n. 5, fev./jun. 1924; v.2, n. 6, jun. 1924,
apud Perez, 2003, p. 38-39.
Sendo a discussão sobre a utilização do método analítico um dos
assuntos de relevância no período, conseqüentemente, são veiculados na revista,
artigos resultantes das exposições e debates travados na Sociedade de Educação,
conforme se observa no Quadro 10.
79
QUADRO 11 - Artigos sobre alfabetização publicados na Revista da Sociedade
de Educação de São Paulo, em 1924
Título Autor v./ n. Páginas
O chamado “methodo analytico” no
ensino da leitura
Renato Jardim v. 2, n. 5 115-153
O chamado “methodo analytico” no
ensino da leitura
Renato Jardim v.2, n. 6 279-339
O methodo analytico Arnaldo Oliveira Barreto v.2, n. 6 237-245
O ensino da leitura Sampaio Dória v.2, n.6 248-278
O ensino da leitura Sampaio Dória v. 3, n.7 14-54
Fonte: Revista de Sociedade de Educação, apud Mortatti (2000a).
O texto exposto por Renato Jardim e intitulado “O chamado ‘methodo
analytico’ no ensino da leitura”, durante sessão da Sociedade de Educação, em
meados de 1924, deu origem a uma polêmica discussão entre Renato Jardim e Sud
Mennucci, que se estendeu em sucessivas discussões em sessões da entidade
43
,
e que originou o debate “A Escola Paulista”
44
.
Dialogaram com Renato Jardim, no âmbito da Sociedade de Educação
de São Paulo, no primeiro momento desse debate, eminentes membros do
magistério paulista, como Sampaio Dória
45
, Roldão de Barros
46
, Arnaldo Barreto
47
, e
Benedicto Tolosa
48
, que ostentavam a utilização do método analítico para o ensino
da leitura e da escrita, contrariando as idéias de Renato Jardim.
43
Vale ressaltar, no entanto, que antes dos anos de 1920, Renato Jardim já se pronunciava sobre o assunto e
publicava textos relativos ao tema, como informa o autor “Por volta de 1915, na revista do Centro de Ciências e
Letras, de Campinas, publicamos alguma coisa sobre as denominações ‘método sintético’ e ‘método analítico’, e
aí, por evitar confusões, alvitramos (aliás inspirado em Everett Lord), em relação a método geraldo que
tratamos, mas em hipótese semelhante, essa forma: ‘analítico-sintético’”. Renato Jardim. Educão, vol. 11, n. 1,
abril de 1930d, p. 101.
44
Volto a tratar do tema, mais adiante.
45
Conforme Jardim “Quem talvez o pretenda é o nosso prezado contendor Dr. Sampaio Dória, que reivindica
para esse processo a honra de recair sob a denominação de ‘Intuição Anatica’”. Renato Jardim. Educação,
1924b, p. 326.
46
“Em complemento da exposição do Dr. Sampaio Dória, conforme o declarou, tomou neste debate a palavra
outro prezado consorcio e outro conceituado professor de pedagogia, o Dr. Rolo de Barros [...]”. Renato
Jardim. Educação, 1924b, p. 322.
47
“Na demonstração aqui feita pelo ilustrado professor Arnaldo Barreto, vimos todos como na aula que simulou
para ilustrar a sua dissertação, a processuação usada era conducente à associação da grafia à respectiva
palavras.” . Renato Jardim. Educação, 1924b, p. 321.
48
“Seja-nos permitido a esta altura dizer, sem quebra do muito respeito que nos merecem os demais professores
que tomartam parte neste debate, que de entre eles, a respeito de erros na interpretação dos fatos, um trouxe
maior contribuição para aclarar o assunto aqui tratado, assunto em sua natureza claro, mas obscurecido por uma
teoria fumarenta, como as brancas paredes de aposento que se ilumina a querosene. Esse é o professor Benedicto
Tolosa.” . Renato Jardim. Educação, 1924b, p. 330.
80
Respondendo às refutações de cada um destes contraditores, Renato
Jardim, apresenta réplica, posteriormente publicada no artigo, com o mesmo título,
conforme se observa no Quadro 10.
Neste artigo, o autor aponta o erro de se manter o emprego obrigatório
do método analítico em São Paulo, e expõe sua posição favorável à autonomia
didática, que julga indispensável para o acúmulo de “idéias próprias” entre os
professores para desenvolver-lhes o espírito crítico, que favoreceria a tomada de
decisões diante de uma “errônea teoria pedagógica”, para que se preciso fosse,
rejeitar seus erros.
“Methodo analytico” – pois que o dissemos e contestado não
fomos – significa entre nós, na methodologia didactica, methodo
inductivo. Se ha quem lhe descubra mais, que o aponte. É pois, a
ordem inductiva no ensino – e como um fragmento ou adaptação do
methodo das sciencias – o que sob a palavra-fetich se preconiza.
Sem assim é, concedei-nos a qualidade, honrosa e apadrinhadora,
de irmão na mesma crença. (RENATO JARDIM, 1924b, 280, grifos
do autor)
Adverte, ainda, que “[...] Só nos pode caber em circunstancias taes,
honrar-nos em refutar refutações, nellas reaffirmando as duvidas não desfeitas e
com que, de inicio, no assunpto nos achamos... “ (JARDIM, 1924b, p. 339). Jardim
encerra, portanto, esta primeira parte do debate enfatizando que as dúvidas
suscitadas por ele desde o início, tendo como objetivo realizar um estudo sobre o
tema, não foram esclarecidas.
***
Pelo exposto até aqui, observa-se que, no momento de circulação
dessas revistas o interesse sobre o ensino da leitura cresceu consideravelmente, por
sua vez, a produção de artigos sobre o tema é intenso
[...] devido, sobretudo, ao papel desempenhado pela Revista de
Ensino (1902-1918). Esse fenômeno tem suas origens no final do
século XIX, quando começaram a circular entre o professorado
paulista, ainda que de maneira restrita, traduções brasileiras de
livros e manuais estrangeiros que, tematizando educação e ensino
em geral, contêm catulos sobre o ensino da leitura e escrita. Além
dessas traduções, circulam também alguns poucos livros e manuais
81
produzidos por paulistas ou fluminenses, nos quais se aborda o
ensino da leitura e escrita. (MORTATTI, 2000a, p. 195-196)
Dessa forma, no âmbito da imprensa periódica educacional, as
discussões acerca da alfabetização giram em torno do melhor método de ensino da
leitura, discussão que, por sua vez, segue a direção de ideais renovadoras visando a
desenvolver e aperfeiçoar os métodos educativos e à própria organização escolar
paulista.
[...] o debate entre os métodos de ensino da leitura e escrita
desenvolve-se alimentado pela idéia de que a Reblica, para
constituir-se de fato, necessita de cidadãos leitores, porque pelo
ensino da leitura e escrita é possível viabilizar a formação de uma
certa mentalidade, uma certa moralidade, de um certo corpo de
condutas compaveis com a vida republicana. Nesse sentido, é
preciso, então, identificar qual o melhor método de ensino que possa
melhor formar o cidadão republicano. E a Diretoria Geral da
Instrução Publica opta pelo método analítico, tornando-o oficial.
(CARVALHO, 1998, p. 52)
No entanto, verifica-se que, após os anos de 1930, as questões
relacionadas aos métodos de alfabetização vão sendo definidas de uma outra forma,
como veremos nos próximos capítulos.
82
PARTE IV
A REVISTA EDUCAÇÃO (1927-1930) E A ABORDAGEM SOBRE
ALFABETIZAÇÃO
83
CAPÍTULO 1
A REVISTA EDUCAÇÃO (1927-1930): TRAJETÓRIA EDITORIAL
84
1. Características gerais da revista Educação (1927-1930)
49
A revista de Educação foi editada no Estado de São Paulo, entre 1927
e 1930. O primeiro número do periódico foi publicado em outubro de 1927 e o último
em setembro de 1930. Com periodicidade mensal foram publicados trinta e três
números em doze volumes com três números
50
.
O periódico era vendido aos interessados pelos valores de 2$000 o
exemplar avulso e 20$000 pela assinatura anual. Na capa de dentro da revista,
havia a seguinte informação para os leitores
Os pedidos de assignaturas devem ser dirigidos á “Educação”, trav.
Da beneficiencia Portuguesa, 1 – S. Paulo. A correspondencia
relativa á redacção deve ser dirigida á rua Dr. Villa Nova, 20 – S.
Paulo. (EDUCAÇÃO, v. 3, n. 1, 1928, capa)
Educação substituiu à Revista Escolar
51
, que surgiu em janeiro de
1925 por iniciativa da Diretoria Geral da Instrução Pública e circulou até setembro de
1927.
Amadeu Mendes, Diretor Geral da Instrução Pública à época, ofereceu
no primeiro número informações sobre os ideais da revista:
Assim, pois a nova Revista, que ora surge com este primeiro
numero, é bem a resultante de duas aspirações nascidas na mesma
ambiencia, incidindo na mesma finalidade. O agasalhado das suas
paginas abrigará, de boa vontade, não somente o resultado das
locubrações do professorado militante ou não, senão tambem o
trabalho de todo aquelle cujo espirito se aprasa voltar as questões
attinentes à educação, afim de, se não resolvermos, ao menos
estudarmos com crescente interesse, um problema, que é sem
dúvida de natureza civica e nacional. (EDUCAÇÃO, 1927, p. 4)
49
Para elaboração deste tópico considerei, especialmente, as informações contidas em Carlos Monarcha.
Levantamentos das revistas. 2003.
50
De acordo com Carlos Monarcha. Ibidem. 2003, o volume quatro contém apenas um número e o volume cinco
dois números, portanto, constituem exceção.
51
De acordo com Denice Barbara Catani. Educadores à meia-luz: um estudo sobre a Revista de Ensino da
Associação Beneficente do Professorado Público de São Paulo (1902-1918). 2003, p. 251, “Sem dúvida, a
Revista Escolar, muito mais intensamente do que a sua antecessora (Revista de Ensino), manteve-se fiel à idéia
de orientar a prática dos professores oferecendo-lhes modelos e veiculando um tipo de ‘receituário pedagógico a
ser obedecido.”.
85
1.1 Apresentação gráfica
A revista foi impressa pela Tipografia Irmãos Ferraz, na cidade de São
Paulo, editada em formato brochura, nas dimensões 23 cm X 16 cm. Na capa
(Anexo 1), há sobre um fundo verde, o título escrito em letras maiúsculas e negrito.
Acima do título, há indicação do volume, mês e ano de publicação e do número de
edição. Abaixo do título aparece o registro “ÓRGÃO DA DIRECTORIA GERAL DA
INSTRUÇÃO PUBLICA E DA SOCIEDADE DE EDUCAÇÃO, DE SÃO PAULO”. No
meio, tem-se o sumário, que ocupa a maior parte da capa, e, por fim, a referência ao
endereço “TRAV. DA BENEFICIENCIA PORTUGUESA, 1 SÃO PAULO”
52
. Não há
menção ao nome da tipografia.
Posteriormente, passa a publicar, na capa, o nome da tipografia e novo
endereço “IRMÃOS FERRAZ – RUA BRIG. TOBIAS, 28 S.PAULO”.
O verso da capa, encontra-se em branco nos primeiros números . A
partir do volume 2, número 3 de março de 1928, o texto transcrito abaixo passa a ser
impresso neste espaço:
“Educação” é um orgão destinado á livre exposição e critica de
assunptos educativos, sejam os de pura doutrina, sejam os de
applicação directa e immediata. Nessas condições, franqueia suas
paginas a todos quanto, professores de officio ou estudiosos dos
varios aspectos do problema educativo, desejam collaborar a serio
numa obra de coordenação da nascente cultura pedagogica
nacional. A simples condição de apresentar-se a um tempo, como
orgam autorizado da Directoria do ensino official, em S. Paulo, e da
Sociedade de Educação, define-lhe os propositos constructores e a
acção renovadora de que deseja incumbir-se. Publicando a
orientação official do ensino e os debates de maior importancia
travados na Sociedade de Educação, como as communicações que
forem sendo apresentadas a esse gremio, alem de artigos de
collaborão dos mais adeantados pedagogistas do paiz,
“EDUCAÇÃO” pretende contribuir de maneira pratica e efficaz, tanto
quanto lhe seja possivel, para o progresso scientifico do ensino,
animando a renovação de seus processos e obstando a rotina.
“EDUCAÇÃO” não terá noticiario, nem publicara homenagens, ou
artigos literários de pura fórma. Sua secção bibliographica organizar-
se-á de molde a construir-se um repositorio de informação
retropesctiva e contemporanea da cultura pedagogica mundial,
52
Conforme Carlos da Silveira. Apontamentos para uma história do ensino público em São Paulo: revistas de
ensino. 1929, p. 327, “Por motivos de exigencia da Inspecção Medica Escolar, tambem installada no predio do
Largo do Arouche, transferiu-se a Revista para dependencias do predio da Directoria do Ensino, na Travessa da
Beneficiencia nº 1, onde ainda se acha.
86
facilitando aos professores a organização e orientação de suas
leituras.” (EDUCAÇÃO, v. 2, n. 3, mar. 1928)
Abaixo do texto anterior, têm-se os valores da assinatura anual e do
número avulso, o endereço para pedidos de assinaturas e endereço para
correspondência à redação e, por fim, os nomes dos membros da comissão de
redação.
Na contracapa, tem-se somente o logotipo da tipografia ao centro. Na
lombada aparecem, na seqüência, a indicação do volume, o título do periódico em
letras maiúsculas e negrito e a indicação de número.
A partir do volume 3, número 1, de abril de 1929, foi acrescentada uma
folha de rosto contendo o título no alto da folha em maiúsculas e negrito, os nomes
das instituições responsáveis, logo abaixo; ao centro da folha a indicação: “VOLUME
III ABRIL – JUNHO – 1928, acompanhada do logotipo da tipografia. No canto inferior
da folha, tem-se transcrito: “1928 – IRMÃOS FERRAZ –RUA BRIGADEIRO TOBIAS,
28 – SÃO PAULO”. No verso da folha de rosto, repete-se a informação referente à
comissão de redação.
Os textos eram escritos a uma coluna, com exceção de algumas
seções especializadas, como, por exemplo, “Atravez de revistas” que apresentava
textos a duas colunas. A revista publicava assuntos variados referentes às
metodologias das diferentes disciplinas, como elaborar planos de aulas para essas
diferentes disciplinas, informações sobre o quadro geral da educação no Brasil e no
exterior, questões relativas aos problemas cotidianos que envolviam a moral, o
civismo, a higiene e a saúde, enfim, tinha características informativas e didático-
metodológicas.
Os textos, as ilustrações e os gráficos eram impressos em preto e
branco.
Quanto ao número de páginas, a revista apresentou, por volume, o
seguinte formato – um: 398; dois 320; três 351; quatro: 104; cinco: 326; seis: 362;
sete: 366; oito: 400; nove: 446; dez: 340; onze: 408; e doze: 490 páginas.
A revista adotava a seguinte seqüência gráfica: apresentação de cinco
a quinze artigos assinados, seguidos das seções especializadas. Ao final de cada
volume, apresentava o índice geral correspondente.
87
1.2 A comissão de redação
Inicialmente, a responsabilidade sobre a publicação foi dividida entre a
Diretoria Geral da Instrução Pública e a Sociedade de Educação de São Paulo,
como já explicitei. A comissão de redação, mista, era composta
[...] de tres membros da Directoria Geral e dois da Sociedade de
Educação
53
, e mantinha o mesmo pessoal da phase anterior, isto é,
um redactor-chefe e dois auxiliares de redacção e mais um
remessita. Este pessoal, de accordo com a lei nº 2.182C de 29 de
Dezde 1926, era interino, excepto o ultimo, o único nomeado.
(EDUCAÇÃO, v. 4, 1928, página de rosto)
Em novembro de 1928, Carlos da Silveira passou a ocupar a vaga
deixada pelo professor Pinto e Silva. Posteriormente, a Comissão foi novamente
modificada passando a ter a seguinte composição: Amadeu Mendes, João Toledo e
Carlos da Silveira, representando a “Diretoria Geral” e Antonio Sampaio Dória e
Mario de Souza Lima, representando a Sociedade de Educação. Assim, a Comissão
de Redação foi constituída por representantes, em sua maioria, composta por
professores e ex-professores de Escolas Normais, da Faculdade de Direito e de
Diretores e ex-Diretores da Instrução Pública do Estado de São Paulo, conforme
Quadro abaixo:
53
São eles: pela Diretoria Geral da Instrução Pública participavam Amadeu Mendes, João Toledo e Pinto e
Silva; pela Sociedade de Educação participavam Roldão de Barros e Lourenço Filho.
88
QUADRO 12 - Comissão de Redação da revista Educação, por período de
permanência e posição sócio-ocupacional
Nome Ano Posição sócio-ocupacional
Amadeu Mendes 1927-1930 Diretor Geral da Instrução Pública
João Toledo 1927-1930 Inspetor Geral do Ensino
Pinto e Silva 1927-1928 Professor
Rolo de Barros 1927-1929 Professor
Lourenço Filho 1927-1929 Professor de Psicologia e Pedagogia na Escola
Normal da Capital
Carlos da Silveira 1928-1930 Professor de Psicologia e Pedagogia na Escola
Normal de Campinas
Antonio de Sampaio Dória 1929-1930 Lente da Faculdade de Direito de São Paulo,
ex-Diretor Geral da Instrução Pública da Estado
e ex-lente da Escola Normal da Capital
Mario de Souza Lima 1929-1930 Nada consta
Fonte: Monarcha (2003).
Carlos da Silveira, na condição de redator-chefe da revista aponta
alguns problemas enfrentados inicialmente pelo periódico.
A fusão operada determinou a victoria do grupo dos modernistas
extremados, que transformaram a Revista em um órgão de cultura
bastante elevado, o que desagradou o professorado primario. Com a
brusca mudança de programma, os partidarios da maneira
tradicional passaram a guerrear a “Educação”, acoimando-a de
órgão philosofhico e, portanto, impróprio para o ensino primário. Isto
determinou forte movimento contra a Revista, que teve diminuido o
numero de assignantes, pois ao passo que os adversarios
devolviam os seus numeros e combatiam tambem por palavras, os
amigos limitavam-se ao simples papel de leitores, sem cogitar de
propaganda, esquecendo-se que, desta, nem os diarios de grande
tiragem descuram. A Revista chegou, por estas causas, a uma
expedição minima de cerca de 3.300 exemplares. Como o primeiro
numero saiu em outubro de 1927, a collecção de 1927, a colecção
consta já de quasi sete volumes, pois cada volume abrange tres
numeros. (SILVEIRA, 1929, p. 327)
Para superar esses problemas, Carlos da Silveira, propôs uma série de
providências, entre elas:
[...] – regularizar a saída da Revista, remettendo-a cuidadosamente,
de maneira que todos os assignantes possam recebê-la
pontualmente; – tornar a escripturação da Revista bastante simples
e clara e de perfeito accordo com os assentamentos do Thesouro
(onde se fazem os descontos mensaes de 1$500 dos assignantes
de folha de pagamento; – tornar a Revista uma publicação util aos
professores todos do Estado, de todos os graus de ensino,
89
sobretudo primarios e secundarios; – passar dos quatro mil
assignantes actuaes a um numero bem superior, com uma
propaganda baseada nos proprios meritos da Revista, – procurar
fazer convergir para a Revista a atteão dos professores, de modo
a poder ella estimular o trabalho mental applicado ao campo
vastissimo da pegagogia, – enfim, fazer da Revista um orgão geral e
especializado do professorado paulista e um expoente do progresso
do Estado. (SILVEIRA, 1929, p. 328)
1.3 As seções especializadas
A revista possui as seguintes seções especializadas: “Directoria Geral
da Instrucção Publica”; “Planos de lição”; “Sociedade de Educação”; “Atravez de
livros”; “Atravez de revistas e jornaes”; “Secção Official”; “Planos de aula”; “Ensino
primario (planos de lições primarias)“; “Bibliografhia pedagogica”; “Informações:
respostas a consultas”; e “Planos de lição”.
Algumas dessas seções eram organizadas e assinadas por
professores normalistas, como, por exemplo, “Planos de lições” e “Secção Official” ”,
por João Toledo, “Planos de aula”, por José Escobar” e “Bibliografhia pedagógica”,
por Alduino Estrada.
De acordo com Monarcha (2003, p. 7):
As seções “Atravez de livros” e “Atravez de revistas e jornaes” foram
publicadas regularmente e veicularam resenhas de livros e
indicação de artigos de perdicos nacionais e internacionais. Nas
seções “Directoria da Instrucção Publica”, “Secção Official” e
“Informões” encontram-se publicações de circulares, despachos,
decretos e resoluções oficiais da Diretoria Geral da Instrução. A
seção “Sociedade de Educação” veiculava resumos das seses
ordinárias e extraordinárias realizadas pela Sociedade de Educação
de São Paulo. Há também um número significativo de seções
relacionadas diretamente ao ensino, como por exemplo, “Planos de
lições”, “Planos de aula” e “Ensino primario”. [...] A maioria das
seções assinadas também é destinada ao “como fazer” e ao “como
lecionar” no ensino primário. Destaque deve ser dado à seção
“Bibliographia pedagogica”, organizada por Alduino Estrada,
encarregado da Seção de Publicidade da Diretoria Geral da
Instrução Pública, e destinada à divulgação de “autores e os
precursores do movimento escolar brasileiro e os educacionistas
estrangeiros que maior inflncia tiveram e tem tido na evolução do
ensino entre nós”.
90
1.4 Autores colaboradores
No período de 1927 a 1930, a revista contou com 178 autores
colaboradores, desse total 148 eram homens e 30 mulheres. Dentre esse número
significativo, alguns colaboraram com certa regularidade, como é o caso de Maria
Antonieta de Castro, Sud Mennucci, Antonio Firmino da Proença, João Toledo,
Lourenço Filho, Sampaio Dória, João Lourenço Rodrigues, Luiz Gonzaga Fleury,
Amadeu Mendes, Francisco Eusebio de Aquino Leite, Noemy Silveira e Renato
Jardim, entre outros.
Ainda referente aos autores, dezoito eram estrangeiros, “[...] cujos
textos foram traduzidos para o português [entre eles] constam os nomes de
intelectuais identificados com a inovação educacional em âmbito internacional:
Pierre Bovet, Edouard Claparède, Paul Fauconnet e William Heard Kilpatrick”.
(MONARCHA, 2003, p. 12).
1.5 Leitores previstos
A revista era destinada preferencialmente aos professores paulistas,
sobretudo primários e secundários
54
. De acordo com Carlos da Silveira, a revista era
uma publicação útil para esses professores por ser um órgão de cultura geral e
especializado em Educação, portanto um expoente do progresso do Estado.
Para os responsáveis pela publicação, ela contribuía de maneira
prática e eficaz para o progresso científico e animava a “renovação” pedagógica,
porque organizava, em suas seções, um repertório de informações sobre a cultura
pedagógica mundial, cujo acesso era facilitado por meio das páginas da revista. As
leituras realizadas pelos professores eram necessárias à desejada ação renovadora.
Quanto à receptividade da revista, ainda de acordo, com o depoimento
de Carlos da Silveira, no momento inicial da fusão da revista, em que o “grupo dos
modernistas extremados” transformaram a Revista em um órgão de cultura bastante
elevado, os professores se sentiram desagradados e “[...] os partidarios da maneira
tradicional passaram a guerrear a “Educação”, acoimando-a de órgão philosophico
54
Conforme Carlos da Silveira. Ibidem. 1929.
91
e, portanto, improprio para o ensino primario.” (p.327), por esses motivos a revista
chegou a expedição mínima de 3.300 exemplares mensais.
Como já informei, uma das metas apresentadas por Carlos da Silveira
(1929), em seu plano para “tornar a revista um órgão digno do professorado”, foi “[...]
passar dos quatro mil assignantes actuais a um numero bem superior, com uma
propaganda baseada nos proprios meritos da Revista”. (p. 328).
Passadas as tensões iniciais, a revista supera tais problemas e se
configura como uma das publicações mais duradouras e significativas no âmbito da
imprensa periódica educacional do país, como veremos nos tópicos posteriores.
Educação, publicada na administração de Amadeu Mendes, tem um
projeto editorial, diferente do periódico publicado anteriormente, a Revista Escolar,
que divulgava os acontecimentos e debates ocorridos no âmbito da Sociedade de
Educação de São Paulo. A revista passou a divulgar, então, de acordo com os
preceitos do Diretor Geral da Instrução Pública, balanços da situação do ensino
paulista, com o intuito de apontar e superar os problemas enfrentados, como, por
exemplo, o número insuficiente de escolas, que colaborava para a expansão do
analfabetismo; a necessidade de melhor organização das escolas; a difusão do
ensino rural; a questão dos professores leigos; e a necessidade de renovação dos
métodos educativos. Tamm no âmbito da alfabetização, os artigos publicados na
revista vão retratar este projeto editorial.
92
CAPÍTULO 2
A ALFABETIZÃO NA REVISTA EDUCAÇÃO (1927-1930)
93
1. A produção sobre alfabetização na revista Educação (1927-1930)
Tendo como objetivo contribuir para o progresso científico do ensino, a
revista se propunha a apresentar aos professores, como já informei, um repertório
de informações condizente com a “contemporânea” cultura pedagógica mundial. No
que se refere ao ensino e aprendizagem da leitura e da escrita, destina espaço
significativo ao tema.
Para se ter uma visão de conjunto do discurso sobre alfabetização
veiculado na revista, entre os anos de 1927 e 1930, apresento no Quadro abaixo, os
dados organizados por ano, volume, número, paginação, título do artigo e respectivo
autor.
QUADRO 13 – Temas pertinentes à alfabetização veiculados na revista
Educação (1927-1930)
55
Ano Vol. N. ginas Título Autor
1927 1 1 54-? Preparo da linguagem escrita Noemi Silveira
1927 1 ? 174-? Como corrigir trabalhos escritos Noemi Silveira
1928 1 ? 107-110 Existe uma psicologia da escrita? Georges Dumas
1928 2 3 209-226 As denominações “methodo
analytico” e “methodo syntetico”, em
Pedagogia
Renato Jardim
1928 3 3 302-310 As denominações “methodo
analytico” e “methodo syntetico”, em
Pedagogia
Luiz Gonzaga Fleury
1928 3 1 51-54 A alphabetização em São Paulo Lourenço Granato
1928 5 1 78-81 Valor practico do saber ler Victor Viana
1929 6 1/2 143-146 Inquerito: Como ensinar a lêr? Celina Padilha
1929 6 3 248-258 O ensino da leitura (Em defesa do
“methodo analytico”
Francisco Eusébio de
Aquino Leite
1929 7 1/2 15-44 Formação da linguagem Antonio de Sampaio
Dória
1929 7 1/2 141-144 Apontamentos para uma aula de
calligraphia
José Amaral Wagner
1929 7 1/2 183-186 O methodo Decroly (notas do livro
de L. Dalhem)
Luiz Galhanone
1929 7 3 231-261 O ensino da calligraphia Alfredo A. Anderson
1929 7 3 272-274 Principais reformas no ensino da
leitura
William S. Gray
1929 7 3 274-276 A leitura no primeiro grau Gertrudes Shirpley
1929 7 3 276-282 A leitura de livros no primeiro grau Marjorie Hardy
55
Apresento, no Apêndice B, os resumos descritivos dos referidos artigos. Não foi posvel localizar, até o
momento, alguns artigos, são eles: SILVEIRA, Noemi. Preparo da linguagem escrita. Educação, São Paulo, v. 1,
n. 1, p. 54-?, out. 1927a; ______. Como corrigir trabalhos escritos. Educação, São Paulo, v. 1, p. 174-?, ?.
1927b; e, DUMAS, Georges. Existe uma psicologia da escrita? Educação, São Paulo, v. 1, n. ?, p. 107-110, ?.
1928.
94
1929 7 3 282-286 O ensino da leitura no segundo grau Eva E. Gerstmeyer
1929 7 3 286-292 A leitura nos graus intermediários Mary A. Adams
1929 8 3 381-382 O methodo Decroly Luiz Galhanone
1929 9 1 107-135 O ensino do vernaculo nas escolas
primarias
Sud Mennucci
1929 9 2 270-271 A Escola Paulista (transcripção) Sud Mennucci
1929 9 3 389-393 A alfhabetização das crianças
anormaes (transcripção)
Osorio Cesar
1930 10 1 29-38 Um novo processo de ensinar a
leitura
Renato Jardim
1930 10 1 52-55 O ensino da linguagem Juvenal Paiva Pereira
1930 10 2 209-211 A Escola Paulista Renato Jardim
1930 10 2 211-212 A escola Paulista Sud Mennucci
1930 10 3 278-284 Sobre o ensino da leitura Luiz Gonzaga Fleury
1930 10 3 320-323 A Escola Paulista II Renato Jardim
1930 10 3 323-325 A Escola Paulista II Sud Mennucci
1930 11 1 31-44 O ensino da leitura - methodos Francisco Eusébio de
Aquino
1930 11 1 99-102 A Escola Paulista III Renato Jardim
1930 11 1 103-105 A Escola Paulista III Sud Mennucci
1930 11 2 238-242 A Escola Paulista IV Renato Jardim
1930 11 2 242-245 A Escola Paulista IV Sud Mennucci
1930 11 3 288-316 Como ensinar a ler? M. B. Tolosa
1930 11 3 325-336 O ensino da leitura: o “methodo
analytico” e a “analyse espontanea”
Francisco Eusébio de
Aquino Leite
1930 11 3 359-361 Ensino primário (caligraphia
muscular)
Alberto Vollet Sachs
1930 11 3 384-387 A Escola Paulista V Renato Jardim
1930 11 3 387-390 A Escola Paulista V Sud Mennucci
1930 12 1 137-140 A Escola Paulista VI Renato Jardim
1930 12 1 140-143 A Escola Paulista VI Sud Mennucci
1930 12 2 182-? O ensino da leitura: o methodo
analytico e os methodos americanos
Francisco Eusébio de
Aquino Leite
1930 12 2 295-298 A Escola Paulista VII Sud Mennucci
1930 12 2 299-301 A Escola Paulista (conclusão) Sud Mennucci
1930 12 3 357-367 Ensino da linguagem escripta Francisco Alves Mourão
1930 12 3 479-481 O ensino da lingua Romão de Campos
Fonte: Revista Educação (1927-1930).
Como se pode observar, no Quadro 13, são 46 artigos publicados
nesses quase três anos. Durante esse período, tem-se um aumento gradativo de
artigos publicados. Dessa forma, têm-se dois artigos no ano de 1927, cinco artigos
em 1928, 16, em 1929, e, por fim, 23, em 1930. Portanto, 50% do total dessa
produção situa-se no ano de 1930.
Esses artigos são escritos por 25 autores, autoridades da
administração do ensino público paulista, pesquisadores internacionais da área da
95
leitura e, sobretudo professores primários. Apresento no Quadro 14 os autores, por
ordem alfabética.
QUADRO 14 - Autores que escreveram sobre alfabetização na revista
Educação (1927-1930), com respectiva freqüência de colaboração
Autor
Freqüência de
colaboração
Alberto Vollet Sachs 1
Alfredo A. Anderson 1
Antonio de Sampaio Dória 1
Celina Padilha 1
Eva E. Gerstmeyer 1
Fernando Magalhães 1
Francisco Alves Mourão 1
Francisco Eusébio de Aquino Leite 3
George Dumas 1
Gertrudez Shirpley 1
José Amaral Wagner 1
Juvenal Paiva Pereira 1
Lourenço Granato 1
Luiz Galhanone 2
Luiz Gonzaga Fleury 2
M. B. Tolosa 1
Marjorie Hardy 1
Mary A. Adams 1
Noemi Silveira 2
Osorio Cesar 1
Renato Jardim 8
Romão de Campos 1
Sud Mennucci 10
Victor Viana 1
William S. Gray 1
TOTAL 46
Fonte: Revista Educação (1927-1930).
Esses autores abordam questões relativas à psicologia da escrita, aos
problemas enfrentados quanto ao ensino da leitura e da escrita em nosso país, a
caligrafia muscular, as reformas no ensino da leitura, e, sobretudo, referentes à
discussão em torno dos métodos de alfabetização.
96
2. Os métodos de alfabetização
Classificar os métodos de alfabetização nem sempre foi tarefa fácil
para especialistas e professores. Rafael Grisi
56
(1944) no artigo “O ensino da leitura:
o método e a cartilha” faz uma análise das concepções e da classificação dos
métodos de alfabetização utilizados à época. Esse professor entendia por método o
“caminho para um fim”, ou seja, “[...] um plano de ação ou, mais explicitamente, um
conjunto racional de normas ou meios de conduta com vistas à excelência e
economia na consecução de um objetivo.” (GRISI, 1944, p. 57). Grisi escreve que
tornou-se clássico classificá-los de acordo com duas posições metodológicas
diferentes; o método sintético e o método analítico.
Método sintético - considerado historicamente como o primeiro – é
o que consiste no ensino ou aprendizado da leitura e da escrita
segundo a ordem de complexidade crescente do material gráfico, a
partir dos “elementos” alfabéticos. O processo de alfabetização se
efetua por “fases” e estas são: 1ª. Fase de soletração: conhecimento
dos elementos alfaticos: as letras. 2ª. Fase da silabação:
conhecimento de suas combinações simples: as sílabas. 3ª. Fase de
palavração: conhecimento de suas combinações complexas: as
palavras. 4ª. Fase de sentenciação: leitura de frases ou pequenos
textos. (GRISI, 1944, p. 36)
Tendo como ponto de partida as letras e como ponto de chegada as
frases ou textos
57
, a criança era considerada alfabetizada quando fazia a leitura com
compreensão do texto.
Com relação ao método analítico, Rafael Grisi o conceitua da seguinte
forma:
É o que consiste no ensino ou aprendizado da leitura e da escrita
segundo a ordem de decomposição progressiva do material, a partir
portanto de “todos” gráficos, isto é, sentenças ou palavras. As
mesmas “fases” ou “passos” do processo devem percorrer-se em
sentido contrário: 1º. Passo de sentenciação: domínio de frases
completas, apreendidas e reconhecidas no seu conjunto gráfico; 2º.
Passo de palavração: decomposição das senteas em palavras; 3º.
Passo de silabação: decomposição das palavras em sílabas; .
Passo de soletração: decomposição das sílabas em letras. (GRISI,
1944, p. 36)
56
Professor-chefe da 1ª São (Educação), da Escola Normal Livre, anexa ao Colégio Santa Inês, em o Paulo.
57
Á época a expressão texto também era sinônimo de historieta.
97
Mais recentemente Berta P. de Braslavsky (1971)
58
, por exemplo,
estudiosa dos métodos de alfabetização, ancorada nas idéias de Theodore Simon
aponta que existem variações quando tratamos de tais métodos, e uma grande
confusão de nomenclaturas quando temos que classificá-los, porém, podemos reuni-
los em duas categorias: os métodos de “marcha sintética” e os métodos de “marcha
analítica”.
Apesar das aparências, não existem verdadeiramente mais que dois
métodos de leitura. Ambos tratam de fazer compreender à criança
que existe certa correspondência entre os sinais da língua escrita e
os sons da língua falada; mas, para isso, um dêsses métodos
coma pelo estudo dos sinais ou pelo dos sons elementares; e o
outro, pelo contrário, busca obter o mesmo resultado, colocando de
repente a criança em face da linguagem escrita. O primeiro é
geralmente conhecido com o nome de “método sintético”, em razão
do trabalho psicológico que demanda da criança para o ato de ler.
Desde que tenha aprendido a ler cada sinal, a criança deve, com
efeito, condensar essas diferentes leituras em uma leitura única que,
geralmente, para cada agrupamento particular dêsses sinais, é
diferente de sua leitura isolada... Trata-se, pois, de uma operação de
ntese. O outro método parte dos agrupamentos mesmos [...].
Chamar-se-á analítico, quando se deseje recordar o trabalho
psicológico que se exige do menino ao aprender, segundo êsses
agrupamentos, as denominações de suas partes ou as sonoridades
de suas sílabas. A mesma maneira de proceder se designará sob o
nome de método global, se se deseja recordar ùnicamente a sua
origem: pôr a criança em presença de frases, ou de palavras, tais
como as lemos. (SIMON apud BRASLAVSKY, 1971, p. 43-44)
Essas análises permitem considerar que os métodos de “marcha
analítica”, podem partir de diferentes unidade de linguagem - historieta/ou conto,
frase ou palavra - e chegar ao reconhecimento de seus elementos mínimos: a
palavra, a sílaba e a letra. Dependendo da abordagem, são chamados de “método
analítico”, “método global”
59
, “ideovisual”
60
, “método das sentenças”
61
ou “método
das palavras”
62
.
58
Embora não seja brasileira, essa pesquisadora contribui para o desenvolvimento de pesquisas na área da
alfabetização em nosso país porque aponta importantes aspectos sobre a evolução histórica desses métodos.
59
“O método global, muito popular em países da Europa e da Arica Latina, tem muitos paralelos com as
abordagens de experiências lingüísticas e de linguagem total”. Theodore L. Harris; Richard E. Hodges (Org.).
Dicionário de alfabetização: vocabulário de leitura e escrita. 1999, p. 184.
60
Á época o método ideovisual era processado da seguinte forma: No primeiro passo, deve-se iniciar com
pequenas frases faceis que correspondam às ordens que as crianças deverão executar, frases essas oriundas da
conversação do professor com os alunos, escritas depois no quadro à vista destes, lidas pelo professor e depois
alunos que irão executando as ordens que leram. Exemplos:
Pegue a bola.
Ponha a bola na mesa.
98
Os métodos de “marcha sintética”, por sua vez, tamm podem partir
de elementos gráficos ou partes da palavra, tais como letras, sons ou sílabas.
Conforme a ênfase dada às partes ou elementos da palavra são designados como
“método sintético”, “método alfabético”
63
, “método de soletração
64
, “método fonético
ou fônico”
65
e “método silábico”
66
.
Entre esses extremos temos, o que Rafael Grisi (1944), denomina de
“solução intermediária” – o método analítico-sintético ou método misto. Este método
pode ser processado seguindo o ensino prévio de letras ou sílabas, seguido
imediatamente por suas combinações em palavras ou sentenças, ou, com a
apresentação de frases e vocábulos que são imediatamente decompostos em
sílabas e letras.
Todas essas variações geram a reinante confusão na forma de
classificar os métodos de alfabetização, e, essa confusão é constantemente
destacada pelos autores dos artigos, conforme veremos mais adiante.
Para compreender o discurso sobre os métodos veiculado na revista e
estabelecer relações entre esse discurso e as idéias escolanovistas, apresento
alguns aspectos da introdução do método analítico no Estado de São Paulo.
-me a bola.
Ponha a bola no chão.
Chute a bola, etc. Adauto de Oliveira Serra. Método ideo-visual para o ensino da leitura, segundo Decroly. 1943,
p. 105.
61
“Método de ensino da leitura em que ‘a sentença sendo apresentada primeiramente como um todo, descobrem-
se as palavras e, depois disso, as letras que compõem a palavra’”. Theodore L. Harris; Richard E. Hodges (Org.)
Dicionário de alfabetização: vocabulário de leitura e escrita. 1999, p.183.
62
“Maneira de ensinar leitura que começa com palavras inteiras mas imediatamente submete-se à análise da
palavra ou introduz um programa paralelo de fônica.” . Idem. Ibidem. 1999, p. 182-183.
63
“A técnica de nomear as letras de uma palavra em seqüência e só então pronunciar a palavra para o aluno.
[Conhecido] também como método ABC.” . Idem. Ibidem. 1999, p. 182.
64
“Qualquer uma das várias abordagens que ensina os alunos a soletrar.” Idem. Ibidem. 1999, p. 183.
65
[...] ensino da leitura que tome como ponto de partida o som para ensinar logo o sinal e, por último, o nome
da letra, aplicando na leitura dêste último mente o som.”. BRASLAVSKY, Berta P. de Braslavsky. Problemas
e métodos no ensino da leitura. 1971, p. 52.
66
Nos métodos silábicos se empregam como unidades-chave as sílabas que depois se combinam em palavras e
frases. [...] Comumente se ensinam em primeiro lugar as vogais com a ajuda de ilustrações e palavras. Por
exemplo, se se ensina a vogal ‘a, toma-se a palavra asa, a que se junta uma gravura; ‘u’, tomando-se a palavra
uva, etc. Depois fazem-se exercícios para junção de cada vogal com as diversas consoantes, por procedimento
alogo ao interior. Assim se pode combinar, por exemplo ca, de cama, com ‘sa', de sapo, para formar ‘casa’;
‘a’ de asa, ‘ma’ de mala, ‘do’ de doce, para formar ‘amado’. As ilustrações são suprimidas quando as palavras
delas se desprendem como material de leitura. Idem. Ibidem. 1971, p. 55.
99
3. O método analítico no Estado de São Paulo
No Estado de São Paulo, o método analítico foi oficializado por Oscar
Thompson, durante sua primeira gestão na Diretoria Geral da Instrução Pública
(1909-1910). Inicialmente utilizado na Escola-Modelo anexa à Escola Normal da
Capital, passa a ser empregado em grupos escolares da capital e do interior do
Estado para uniformizar o ensino da leitura e da escrita (MORTATTI, 2000a).
Aos poucos, foi ganhando adeptos por ser considerado o melhor e
mais científico método de alfabetização, já que continha todos os anseios do “ensino
moderno”, e ser adaptável às condições biopsicológicas da criança.
Foi, assim, ganhando adeptos o método analítico para o ensino da
leitura – do “todo” para as “partes” -, baseado especialmente em
moldes norte-americanos e utilizado na Escola-Modelo. Inicialmente
sem grandes disputas intestinas, os grupos de normalistas que se
foram formando em torno dos propugnadores da “nova bússola”
passaram, no entanto, a produzir apropriações diferenciadas,
gerando-se as disputas em torno do melhor modo de se processar o
método analítico. (MORTATTI, 1999, p. 126)
À época são promovidos congressos, debates e conferências sobre o
método analítico e, dentre as iniciativas oficiais para a propagação do método, tem-
se as Instrucções Practicas para o ensino da leitura pelo methodo analytico fixadas
pela Diretoria Geral da Instrução Pública, em [1911], contendo “modelos de licções”
para o ensino da leitura pelo método analítico, segundo a premissa de que o “bom
professor” é aquele que ensina por meio desse método.
Dessa forma, a maneira de se iniciar o ensino da leitura e da escrita
pelo método analítico, começava com “unidades complexas de linguagem
67
,
denominada de “todo”, que, por sua vez, poderia ser a historieta ou conto, a
sentença ou a palavra.
Para garantir a prática desse ensino, as cartilhas brasileiras
produzidas, sobretudo por professores paulistas, desde o “[...] início do século XX,
passaram a se basear programaticamente no método de marcha analítica
(processos de palavração e sentenciação), a partir das contribuições da pedagogia
norte-americana. (MORTATTI, 2000a, p. 43).
67
Expressão utilizada por Theodore L. Harris; Richard E. Hodges (Org.). Dicionário de alfabetização:
vocabulário de leitura e escrita. 1999, para definir a maneira de introdução à leitura, pelo método analítico.
100
Essa orientação oficial durou até ao término da administração de Oscar
Thompson, em 1920, quando foi implantada a Reforma Sampaio Dória que garantia
a autonomia didática aos docentes, pela Lei n. 1.750 de dezembro de 1920.
No entanto, partir de então, os professores não tinham total liberdade
para escolher o método de ensino e a cartilha de alfabetização, pois deveriam
explicar perante autoridades do ensino os motivos de suas escolhas. “A adopção de
outro methodo, que não seja o analytico-synthetico, depende de prévia autorização
da Directoria do Ensino, mediante expressão escripta do professor, justificando os
motivos de sua preferencia. (ANNUARIO do Ensino do Estado de São Paulo, 1936,
p. 114).
No debate sobre a utilização do método analítico, alguns professores
apontam a questão de sua difícil processuação
68
, como se observa no discurso de
BenedictoTolosa, que enfatiza que “extra-oficialmente” os professores
alfabetizadores se dividem
[...] em dois grupos: um muito numeroso, incluindo até professores
recem-formados, que pende francamente para a syllabação; outro
menor, que acceita e applica o methodo analytico no ensino da
leitura. [...] Cada um ensina como quer e como póde, usando e
abusando da liberdade didactica e que se julga com direito.
(TOLOSA, 1930, p. 304)
O professor alfabetizador e Inspetor Geral do Ensino, Benedicto Tolosa
(1930), ressalta que o método analítico poderia ser processado:
[...] a) com palavras (cartilha, do prof. Ramon Roca Dordal); b) com
sentenças (Cartilha, do prof. Th. de Moraes); c) com pequenos
episodios da vida diaria, contos ou historietas, como preconizava o
saudoso mestre Dr. João Kopke e a CARTILHA DE
ALPHABETIZAÇÃO, da nossa autoria). (TOLOSA, 1930, p. 292)
69
68
Enquanto os professores consideravam o método de dicil processuação, as autoridades do ensino, como
Sampaio Dória, por exemplo, apontavam que o insucesso do método estava relacionado, entre outros aspectos, a
má formação dos professores. A esse respeito ver, especialmente, Maria do Rosário Longo Mortatti. Os sentidos
da alfabetização. 2000a, p. 131.
69
Conforme Bárbara Cortella Pereira. Um estudo sobre Meu livro (1909), de Theodoro de Moraes. 2006, p. 57-
58, Meu livro, de Theodoro de Moraes, publicado em 1909, se apresenta como uma das primeiras
“concretizações” de proposta de “aplicação em sala de aula” do método analítico, a partir do “todo” (a
historieta). “Em 1907, Theodoro de Moraes já utilizava o método analítico em suas aulas no curso primário,
tendo sido um dos brasileiros pioneiros na produção de cartilha nos moldes desse método. Após a publicação da
primeira edição de Meu livro, em 1909, suas aulas na Escola Modelo Isolada do largo do Arouche passaram a ser
visitadas por outros professores com a finalidade de compreenderem a processuação do método analítico
proposto por ele.”.
101
A Cartilha de alphabetização, de autoria do professor Tolosa e Meu
livro, de Theodoro de Moraes, entre outras, estavam no rol das cartilhas indicadas
pela Diretoria Geral da Instrução Pública, para serem utilizadas no 1º ano escolar, de
1929, conforme sugestão do Diretor Geral, conforme segue.
Para conhecimento dos interessados, abaixo se publica a relação
dos livros seriados, para uso nas escolas publicas do Estado no
corrente anno. Tendo sido impossivel proceder a uma revisão
completa e cuidadosa dos livros que foram apresentados á seriação,
resolveu a Directoria Geral manter, para o corrente anno, a mesma
seriação de 1928, com exclusão, apenas, das obras cuja adaptação
não foi agora solicitada a accrescimo das que foram approvadas
durante a anno findo. Na relação abaixo estão os livros dispostos na
ordem alphabetica dos respectivos titulos, em combinação, tanto
quanto possivel, com os nomes dos autores, não significando,
portanto, preferencia de um sobre outro, o lugar por elles occupado.
Directoria Geral da Instrucção Publica, S. Paulo, 16 de Janeiro de
1929. (a.) AMADEU MENDES.
1º anno
CARTILHAS
Cartilha – Altina R. de A Freitas.
Cartilha de Alphabetizão – B. M. Tolosa.
Cartilha Analytica – Arnaldo Barreto.
Cartilha Infantil – Gomes Cardim.
Cartilha do Lar – J. Pinto e Silva.
Cartilha (Leituras Infantis) – F. Vianna
Cartilha do Operario – (Para cursos nocturnos) – Theodoro de
Moraes.
Cartilha dos Pequeninos – J. Scaramelli.
Cartilha do Povo (De uso permittido exclusivamente nas escolas
providas por professores leigos) – Ed. da Comp. Melhoramentos de
São Paulo.
Cartilha Proença – A. F. Proença
Meu Livro (Primeiras Leituras) – Theodoro de Moraes.
Minha Cartilha – Olga Borelli.
Minha Cartilha – Rachel Amazonas Sampaio.
Minhas lições – J. Oliveira Orlandi.
Nova Cartilha Analytico-Synthetica – M. de Oliveira. (AMADEU
MENDES, 1929. In: DIRECTORIA GERAL DA INSTRUCÇÃO
PUBLICA, p. 298-299).
A cartilha
70
é um instrumento privilegiado no ensino inicial da leitura e
da escrita, à época, “[...] na qual se encontram o método a ser seguido e a matéria a
ser ensinada, de acordo com certo programa oficial estabelecido previamente.”
70
“[...] um tipo particular de livro didático [...]”. Maria do Rosário Longo Mortatti. Os sentidos da alfabetização.
2000a, p. 42.
102
(MORTATTI, 2000b, p. 42). Dado o lugar de destaque ocupado pela cartilha,
observa-se, a partir das primeiras décadas do século XX,
[...] apoio de editores e especialização de editoras na publicação
desse tipo de livro didático; surgimento de um tipo específico de
escritor didático profissional – o professor; e processo de
institucionalização da cartilha, mediante sua aprovação, adoção,
compra e distribuição às escolas públicas, por parte de órgãos dos
governos estaduais. (MORTATTI, 2000b, p. 42, grifo da autora)
Dessa forma, tem-se nesse período uma homogeneização da
pluralidade de práticas relativas ao ensino da leitura e da escrita. De acordo com
Francisco Eusebio de Aquino Leite (1930b), a existência dessa pluralidade de
teorias, métodos e processos que orientam a prática da alfabetização, à época, é
decorrente da própria ineficácia do método analítico, pois, para este professor, o
método analítico é falho, anti-pedagógico, não acessível à inteligência da maioria
das crianças.
Continuando suas denúncias, Aquino Leite aponta que o método
analítico é fruto
[...] de imitões descabidas, e de estar servindo de “campo de
experimentação” para tudo quanto é theoria, methodo, processo,
“experimento de gabinete” e innovação, de origem européa ou
americana, arriscando-nos a soffrer as consequencias de
“desastres” como esse do famigerado methodo analytico com a sua
“analyse espontanea”. (LEITE, 1930b, p. 336)
O referido professor conclui sua exposição escrevendo que, quando o
professor utiliza o método analítico e obtém resultados negativos, especialmente no
que se refere à baixa porcentagem de alunos alfabetizados, lança mão de quantas
teorias, quantos recursos, quantos métodos e processos existam para corrigir-lhe as
deficiências.
4. Orientações recebidas pelos professores
As orientações práticas de como conduzir a alfabetização das crianças
caracterizam-se principalmente pela pluralidade de teorias e de métodos ou
103
processos, que são relatados nos artigos, especialmente, aqueles que apresentam
experiências bem sucedidas na alfabetização de crianças do então 1º ano escolar.
Tais experiências podem ser identificadas nos relatos de Benedicto Tolosa (1930) e
Luiz Galhanone (1929b).
O professor Benedicto Tolosa apresenta um processo que toma como
ponto de partida a sentença, que deve ser analisada, por meio da decomposição em
palavras. Dessas palavras se destacam a primeira sílaba, cujo valor sonoro da letra
inicial deve ser, tamm, destacado.
104
Figura 1- Página de artigo publicado na revista Educação, em 1930
105
Ao apresentar seu processo de alfabetizar, o professor Tolosa o
considera de simples processuação, pois bastava que o professor acertasse a
técnica da primeira lição, para estar apto a “[...] levar seus alumnos a adquirir a arte
da leitura com um esforço minimo e com resultado maximo – o qual se concretiza
em leitura expressiva, linguagem oral e escripta variada [...].” (TOLOSA, 1930, p.
316, grifos do autor).
O conceito de linguagem escrita, de acordo com o discurso do ilustre
professor, estava relacionado ao “[...] corollario da linguagem oral, ficando o seu
desenvolvimento dependendo apenas do ensino de calligraphia.” (TOLOSA, 1930, p.
313).
Dada a importância da caligrafia para o aprendizado da escrita, o aluno
que tivesse boa letra estaria em vantagem no aprendizado da escrita. Dessa forma,
publicam-se artigos de orientação sobre o movimento muscular
71
, especialmente,
José Amaral Wagner, Alfredo A.Anderson e Alberto Vollet Sanchs.
Calligraphia é um utensilio com que trabalhamos; um utensilio que
nos é util desde o primeiro dia em que o empregamos. Ora, um
utensilio é um instrumento usado para facilitar qualquer operão.
Calligraphia é um instrumento que facilita: 1º a acquisição de
conhecimentos, pois que a criança entrega ao professor exercicios
que devem ser corrigidos, e toma nota do que deseja lembrar; 2º a
coordenação do pensamento. Não ha para isso melhor meio do que
“preto sobre branco”. Estudai uma queso, pensai sobre ella,
escrevei-a, e tereis uma idéa nitida do que quereis dizer; 3º a
recordação e transmiso dos nossos pensamentos, bem como a
faculdade de registrar os factos. É tudo, - e é muito. (ANDERSON,
1929, p. 232 (sic))
Já as sugestões do professor Luiz Galhanone (1929b) são decorrentes
da adaptação dos pressupostos decrolyanos ao ensino da leitura e da escrita,
baseado nos “centros de interesses” e tendo como ponto de partida, no caso
paulista, a sentença. As características desses pressupostos: a observação, a
associação de idéias e a expressão são identificadas nas atividades apresentadas
pelo professor.
71
“Movimento muscular é um methodo de escrever que emprega o musculo do ante-braço, deixando a mão livre
para escorregar sobre o papel.” (ANDERSON, 1929, p. 238).
106
Figura 2 – Página de artigo publicado na revista Educação, em 1929
107
Para Decroly, são os centros de interesse, bem como as atividades
propostas por eles que irão possibilitar o desenvolvimento do
processo de aprendizagem. Ainda que essas etapas tenham sido
usadas às vezes de outro modo, e com outros nomes, pelos demais
pesquisadores escolanovistas, elas o os princípios subjacentes às
novas metodologias. A observação seria a primeira operação
intelectual; nela a criaa se tornaria curiosa para conhecer,
aprender, ou seja, surgiria a interesse para estudar e compreender o
fato ou objeto observado. Segundo Decroly, exercícios, tais como os
passeios, as excursões, teriam como objetivo desenvolver nos
alunos o “espírito de observação” [...]. Os exercios de observação
possibilitam desenvolver o vocabulário, a percepção visual,
elementos fundamentais na aprendizagem da leitura e da escrita. Na
associação de idéias, a criança generalizaria, para outros fatos
análogos, a noção/conhecimento que percebeu/aprendeu,
estendendo o conhecimento ao meio em que vive. [...] Finalmente, a
terceira operação intelectual seria a expressão, momento em que a
criança fixaria/expressaria no papel o conhecimento
adquirido/formado em seu cérebro. A criança não deveria apenas
reproduzir, mas também interpretar o fato/lição. A expressão seria a
manifestação do pensamento de forma acesvel aos demais,
representada através da palavra, do desenho, de qualquer forma de
linguagem. (MACIEL, 2001, p. 96-98, grifos da autora)
De acordo com os pressupostos decrolyanos, o professor deveria
começar a aula com um passeio pela escola para que a curiosidade dos alunos
fosse despertada. Em seguida, o professor deveria apresentar para as crianças
desenhos que representassem as sentenças a serem estudadas durante a aula. Em
seguida, far-se-ia a escrita das sentenças na lousa. No próximo passo, o professor,
se encarregaria de distribuir sentenças escritas em fichas de papel para as crianças
procederem à correspondência desenho/escrita. Após essas atividades, o professor
deveria propor um jogo” em que os desenhos e as tiras de papel, contendo as
sentenças escritas, seriam misturadas e os alunos teriam que ordená-las
corretamente. Por fim, o aluno faria a cópia de uma das sentenças.
Luiz Galhanone considera que a contribuição das pesquisas de
Decroly, porque científicas e de acordo com a “nova” pedagogia, é importante para a
introdução de “novos” métodos, especialmente, pelos princípios psicológicos que
regem o método drecolyano. Dessa forma, o sucesso da alfabetização das crianças
estava relacionado ao fato de o professor conseguir motivar o aluno para despertar-
lhe o interesse em ler as sentenças que ele (professor) escrevia na lousa, ancorado
à idéia de que quando as crianças reconhecem pelas imagens visuais, o que já
conhece pelos ouvidos, o ensino se torna racional.
108
Articuladamente, a utilização do referencial teórico europeu relativo aos
“novos” métodos, “novos” programas e “nova” pedagogia, são traduzidos e
publicados na revista artigos de autores norte-americanos que se preocupavam com
as “Principais reformas modernas no ensino da leitura”
72
. Por esse motivo, têm seus
artigos publicados: William S. Gray, Gerthudes T. Shipley, Marjorie Hardy, Eva E.
Gerstmeyer e Mary A. Adams, em 1929.
William S. Gray ressalta que as pesquisas experimentais realizadas por
seu grupo de pesquisa, no âmbito da leitura e da psicologia aplicada, nos últimos
anos, têm mudado o intuito do ensino da leitura. Se antes, o objetivo primeiro de seu
ensino era a aquisição de uma técnica, agora, já não mais. “Hoje em dia pensamos
a leitura como um meio de ampliar as experiencias dos meninos e das meninas, de
estimular os seus poderes mentaes [...]” (GRAY, 1929, p. 272).
Tamm, os pesquisadores americanos propõem mudanças na
maneira de conduzir o ensino da leitura, considerando que os “métodos tradicionais”
não mais satisfaziam tal ensino. Assim, oferecem aos professores um amplo
programa de ensino da leitura, que se inicia no “primeiro grau” e culmina no “grau
intermediário”, correspondentes, ao que no Brasil, à época, denominavam-se 1º e 2º
anos escolares. As proposições desse programa podem ser minimamente
sintetizadas, da seguinte maneira:
- as primeiras atividades de leitura devem basear-se nas experiências
das crianças; dessa forma, a professora tem apenas que acrescentar o símbolo
visual ao símbolo oral, que é significativo para a criança;
- os assuntos escolhidos para as atividades de leitura devem ser
variados, e, podem ser derivados de experiências comuns, como, por exemplo,
passeios, jogos, excursões, dramatizações, entre outros;
- o material para o ensino de leitura, deve ser histórias breves,
contadas de maneira simples e natural;
- qualquer tentativa de leitura oral deve ser precedida de leitura
silenciosa; e
- encaminhar o aluno na aquisição de interesse e gosto pela leitura.
72
Título da artigo de William S. Gray (1885-1960), professor de Educação da Universidade de Chicago,
especialista nos assuntos relacionados à Psicologia aplicada à leitura.
109
Esses preceitos enfatizam os aspectos lingüísticos e pedagógicos que
contribuem para a validade do método analítico, pois, tamm são considerados
“novos” e “modernos”, porque consideram a nova concepção de criança, de caráter
psicológico e prioriza suas habilidades visuais, auditivas e motoras.
110
CAPÍTULO 3
CONSIDERAÇÕES SOBRE O DEBATE “A ESCOLA PAULISTA
111
1. O debate entre Sud Mennucci e Renato Jardim
É representativo dos discursos sobre alfabetização veiculados em
Educação, o debate em torno da utilização do método analítico para o ensino da
leitura e da escrita, enfeixados sob a denominação “A Escola Paulista” – a série de
artigos escritos por Sud Mennucci e Renato Jardim.
Renato Jardim e Sud Mennucci se destacaram nos anos de 1920 e
1930 “[...] mediante ocupação de cargos na administração escolar, tendo sido,
ambos depoentes no Inquérito de 1926, organizado por F. De Azevedo.”
(MORTATTI, 2000a, p. 183).
Renato Jardim (1868-1951), diplomado pela Escola Normal de
Piracicaba, em 1908, foi membro da Sociedade de Educação de São Paulo; exerceu
o cargo de Diretor da Escola Normal da Praça, de 1922 a 1924, e o cargo de Diretor
Geral da Instrução Pública do Distrito Federal. Colaborador das séries de revistas
aqui analisadas, entre 1928 e 1934, escreveu um total de dez artigos nesse período.
Desse total, oito são relacionados ao tema da alfabetização, sendo seis deles
referentes ao debate “A Escola Paulista”.
Sud Mennucci (1892-1948) iniciou a carreira do magistério em 1910 e
em 1920 colaborou na Reforma Sampaio Dória. Ocupou o cargo de Diretor Geral do
Ensino do Ensino de São Paulo/Diretor do Ensino de São Paulo/Diretor Geral do
Departamento de Educação, por três vezes: de 27/10/1931 a 26/05/1932 , de
07/08/1933 a 23/08/1933, voltando ao cargo em 1943 . Colaborador das revistas
aqui destacadas, entre 1928 e 1945, escreveu trinta e quatro artigos, de cujo total
onze são relacionados ao tema da alfabetização, sendo nove deles referentes ao
debate “A Escola Paulista”.
“A Escola Paulista” contêm a versão final do debate, “[...]
correspondente a uma sucessão de réplicas e tréplicas, em que os contendores, em
defesa de seus pontos de vista, expandem as argumentações dos artigos anteriores
e aprofundam suas versões sobre a introdução do método [analítico] em São Paulo
[...]” (MORTATTI, 2000a, p. 193).
O eixo das discussões girou em torno da problemática: “Seria o método
analítico ativo ou não?” E a partir da afirmação ou negação desse problema,
enquadram o tipo de classificação que julgam pertencer à escola pública paulista:
112
“escola dinâmica”, ou “escola renovada”, ou “escola nova”, ou “escola mista”, ou,
ainda, “escola conservadora” ou “clássica”.
Ao expor seus pontos-de-vista, fazem comparações, tecem
explicações, críticas e defesas, “[...] abusando tanto da experiência vivida quanto
das citações de especialistas como discursos de autoridade [...]”, (MORTATTI,
2000a, p. 193) e vão disputar a
[...] hegemonia de interpretação do passado recente, de que os dois
contendores, por terem participado – cada um a sua maneira -,
julgam-se herdeiros letimos e com direito tanto a sua recuperação
quanto à explicação e versão autorizadas das teorias e práticas
hegemônicas nesse passado [...]. (MORTATTI, 2000a, p. 193)
1.1 Método analítico: momentos de polêmica
Como já explicitei, Renato Jardim se ocupa desde a metade da década
de 1910 com questões relativas à utilização da método analítico e quando,
especialmente, em 1924, dispunha de prestígio político junto às autoridades do
ensino e intelectuais no âmbito da Sociedade de Educação de São Paulo, empolga-
se com a revisão das formas de introdução, implantação e aplicação do método
analítico no Estado de São Paulo.
Vejamos, comtudo, o que esses poucos numeros estatisticos
constantes do Annuario do Ensino – parecem affirmar. No anno de
1918, de 36.954 alumnos analphabetos matriculados nos grupos
escolares, apenas 19.685 se alphabetizaram; 16.969, cerca de 47%,
não o conseguiram. No anno imediato, de 43.380 alumnos, 22.587
não lograram alphabetização, isto é 51%. (E não interveio a
epidemia de grippe). Em 1921, tomados os dados referentes a todas
as escolas, constata-se que dos analphabetos matriculados, apenas
39% conseguiram alphabetizar-se, o que vale dizer que 61% não o
conseguiram. (JARDIM, 1924a, p. 150)
Por sua vez, Sud Mennucci tamm publica artigos sobre o tema,
desde o final dos anos de 1910, na grande imprensa, conforme informa o próprio
autor “Pareceu-me, portanto, não destituído de interesse fazer reimprimir estes dois
trabalhos (seis artigos publicados, em setembro-outubro de 1919, n’O Estado de
113
São Paulo” e parte de um Memorial apresentado ao Conselho de Educação, reunido
nesta Capital, em Julho de 1921”. (p. 107).
A reedição destas paginas esquecidas inspirou-se numa idea de
cooperação. Ha justamente dez annos que me venho batendo pela
modificação do methodo de ensino de português nas escolas
primarias, convencido de que andamos a seviciar o cerebro das
crianças confiadas á nossa guarda nessa materia. A idéa ficou no ar
durante todo esse tempo... mas não morreu. Pelo contrario, sinto
que vai vencer dentro de pouco e que sua victoria virá juntamente
com outra por mim preconizada: a extensão do methodo analytico
ás demais disciplinas do programma escolar que não apenas á
leitura. Affirmo isso em virtude da actividade invulgar que anda nos
arraiaes dos professores. Depois de uma campanha contra elle, o
professorado ganhou afinal a convicção de Sampaio Doria, de que a
intuição analytica é o unico e o verdadeiro caminho educativo.
(MENNUCCI, 1929a, p. 107)
Renato Jardim e Sud Mennucci defendem suas idéias no âmbito da
Sociedade de Educação de São Paulo, em 1924, como já informei. Essa discussão
silencia-se até 1927, quanto então, entre outubro daquele ano e meados do ano de
1928, os debates voltaram a ocorrer, agora, nesse segundo momento, no âmbito da
Associação Brasileira de Educação, quando Renato Jardim, ex-diretor da Escola
Normal da Praça, proferiu uma palestra acerca do método analítico, na referida
entidade. O texto de que resultou a palestra lida perante a Associação Brasileira de
Educação foi intitulado “As denominações ‘método analítico’ e ‘método sintético’, em
pedagogia”.
No referido artigo, Renato Jardim trata da “reinante” confusão acerca
das denominações método analítico e método sintético, quando empregadas na
denominação de métodos gerais de ensino. Para tanto, baseia-se na diversidade de
significação das palavras análise e síntese presentes nos manuais pedagógicos, nos
livros especializados e no Diccionario de Educação, de Compagne. Analisando esta
bibliografia especializada, Jardim encontra uma diversidade de abordagem, que para
ele, deixa o assunto ainda mais confuso, portanto, desafia novos estudos.
Essa confusão provem não somente do empregar-se a mesma
denominação para designar cousas differentes, - do que resulta
chamarem uns pedagogistas “methodo synthetico” exactamente
áquilo a que outros chamam “methodo analytico”, e vice-versa, -
senão tambem do facto que ás vezes um mesmo autor ao
interpretar e explicar classificações, incluem na definição de
114
determinado methodo, attributos que adeante, illogicamente,
consigna ao methodo contrario. (JARDIM, 1928, p. 210)
O texto é publicado, então, na revista Educação, em março de 1928
(vol.2, n.3)
73
. A esta altura a Revista da Sociedade de Educação havia findado suas
edições.
Em junho de 1928, o Professor Luiz Gonzaga Fleury, então Inspetor
Escolar do 40º Distrito, tem publicado na revista Educação artigo com o mesmo
título. Fleury faz uma análise das expressões método indutivo e método analítico, na
linguagem pedagógica, para explicar o critério para as denominações “método
analítico”, método sintético” e “método analítico-sintético”, concluindo que
O ‘methodo inductivo’ baseia-se na analyse de idéas particulares e
conduz a idéas geraes (syntheses); e o ‘methodo deductivo’ baseia-
se em idéas geraes (syntheses) e conduz a idéas particulares.
Donde se conclue que: Dado um methodo, verifica-se,
preliminarmente, si é inductivo ou deductivo; e, então: a) – Si fôr
inductivo e chamado analytico (ou analytico-synthetico) – o criterio
da denominação ou é sómente a analyse do ponto de partida ou,
além della, tambem a synthese do ponto de chegada. b) – Si fôr
inductivo e chamado synthetico – o criterio da denominação é a
synthese do ponto de chegada. c) – Si fôr deductivo e chamado
synthetico (ou synthetico-analytico) – o criterio da denominação ou é
sómente a synthese do ponto da partida ou, alem desta, a analyse
do ponto de chegada. d) – Si fôr deductivo e chamado analytico – o
criterio da denominação é a analyse a que conduz no ponto de
chegada. (FLEURY, 1928, p. 310, grifos do autor)
Após profundas considerações Fleury escreve que, no fundo, estas
regras são as mesmas consideradas por Renato Jardim, em seu estudo, para
explicar as categorias “método analítico” e “método sintético”, elogiando, assim os
resultados dos estudos de Renato Jardim, apresentados na palestra e no artigo “As
denominações ‘método analítico’ e ‘método sintético’, em pedagogia”.
[...] com a extinção da revista [Revista da Sociedade de Educação)
esse debate extrapola o âmbito mais restrito da Sociedade
centraliza-se na polêmica entre os professores Renato Jardim e Sud
Mennucci, passando a ocupar, em 1929, as páginas dos jornais O
Estado de S. Paulo e O Diário de S. Paulo. (MORTATTI, 2000a, p.
183)
73
Embora a publicação do artigo referente a palestra seja publicada na revista em março de 1928, o autor data
outubro de 1927, ao final do texto.
115
Já em um terceiro momento do debate, em 02 de outubro de 1929 Sud
Mennucci escreve o artigo A Escola Paulista, publicado no jornal O Estado de S.
Paulo. Como se sabe, Sud Mennucci escreve esse artigo após a III Conferência
Nacional de Educação, que foi realizada em setembro de 1929.
Com grande animão e enthusiasmo esteve reunida, de 7 a 15 do
corrente, no salão nobre do Club Commercial, a III Conferencia
Nacional de Educação. (EDUCAÇÃO, 1929, v.6, n. 3, p. 289)
Uma das teses apresentadas à III Conferência Nacional de Educação
foi a “Nacionalização da escola ativa: adaptação dos métodos estrangeiros às
escolas brasileiras”, apresentada por Teresa de Figueiredo Santos, à época
professora em Belo Horizonte. Aproveitando essa temática Sud Mennucci
compartilha a idéia de que é possível a realização da “Escola ativa” no Brasil, ou
seja, que é possível “nacionalizar” a “Escola ativa”, desde que se tomem os devidos
cuidados em “adaptá-la” ao nosso meio, considerando as necessidades psicológicas
das crianças.
Entre 11 e 18 de outubro de 1929
74
, Renato Jardim profere a palestra
intitulada “A escola paulista e sua classificação como categoria pedagógica”, em
sessão da Sociedade de Educação de São Paulo. O texto foi publicado nos dias 26
e 27de outubro de 1929, no jornal Diário de S. Paulo. Renato Jardim apresenta,
novamente, repulsa à idéia de que em São Paulo exista alguma renovação
pedagógica, como afirma Sud Mennucci, especialmente quanto à correspondência
direta entre a “Escola ativa” e o método analítico.
A partir daí, tem-se publicado no jornal O Estado de S. Paulo, de
outubro a dezembro de 1929, o conjunto de artigos “A Escola Paulista” transcritos
regularmente na revista, oito meses depois da publicação original, entre novembro
de 1929 e agosto de 1930.
74
Conforme informação contida em Ana Clara Bortoleto Nery. A Sociedade de Educação de São Paulo: embates
no campo educacional (1922-1931). 1999.
116
1.2 “A Escola Paulista”, na revista Educação
O conjunto denominado “A Escola Paulista” é composto por quinze
artigos. São transcritos na revista Educação, na seção Através de revistas e
jornais”, com exceção do primeiro artigo. Cada artigo é escrito a duas colunas e
ocupa de duas páginas e meia a quatro páginas, com exceção desse primeiro artigo
escrito, então, a uma coluna.
O conjunto de artigos totaliza cinqüenta e seis páginas. Os três
primeiros artigos são intitulados “A Escola Paulista” e assinados respectivamente por
Prof. Sud Mennncci (sic), Renato Jardim e novamente Sud Mennucci. A partir do
quarto artigo, passam a ter os subtítulos II, III, IV, V, VI, VII e conclusão.
De A Escola Paulista IIa A Escola Paulista VI, os artigos com os
títulos reproduzidos são assinados respectivamente por Renato Jardim e Sud
Mennucci. Os artigos intitulados “A Escola Paulista VII” e “A Escola Paulista:
conclusão” são assinados por Sud Mennucci, conforme visualizamos no Quadro 15,
que traz a cronologia do debate, na revista.
QUADRO 15 – Cronologia do debate “A Escola Paulista”, na revista Educação
Título Autor Vol. m. Data Páginas
A Escola Paulista
(transcripção)
Sud Mennucci 9 2 Novembro de 1929 270-273
A Escola Paulista Renato Jardim 10 2 Fevereiro de 1930 209-211
A Escola Paulista Sud Mennucci 10 2 Fevereiro de 1930 211-213
A Escola Paulista II Renato Jardim 10 3 Março de 1930 320-323
A Escola Paulista II Sud Mennucci 10 3 Março de 1930 323-325
A Escola Paulista III Renato Jardim 11 1 Abril de 1930 99-102
A Escola Paulista III Sud Mennucci 11 1 Abril de 1930 103-105
A Escola Paulista IV Renato Jardim 11 2 Maio de 1930 238-242
A Escola Paulista IV Sud Mennucci 11 2 Maio de 1930 242-245
A Escola Paulista V Renato Jardim 11 3 Junho de 1930 384-387
A Escola Paulista V Sud Mennucci 11 3 Junho de 1930 387-390
A Escola Paulista VI Renato Jardim 12 1 Julho de 1930 137-140
A Escola Paulista VI Sud Mennucci 12 1 Julho de 1930 140-143
A Escola Paulista VII Sud Mennucci 12 2 Agosto de 1930 295-298
A Escola Paulista
(conclusão)
Sud Mennucci 12 2 Agosto de 1930 299-301
Fonte: Revista Educação.
117
Como se observa no Quadro anterior, do primeiro ao décimo segundo
artigo tem-se uma sucessão de réplicas e tréplicas entre os eminentes professores,
seguidas da publicação dos três últimos artigos, de autoria de Sud Mennucci.
Os discursos contidos nos artigos são de certa continuidade em
relação as idéias expressas pelos autores em momentos anteriores, os quais já
abordei. Agora, porém, tendem a ampliar suas primeiras interpretações.
Em “A Escola Paulista (transcripção)”, Sud, sintetiza a idéia de defesa
da escola pública paulista, classificando-a como uma escola do tipo “mista”, ou seja,
em São Paulo há e não há “Escola ativa”. Há porque “[...] o methodo analytico, em
uso nas escolas paulistas, é das melhores innovações que aqui se fizeram [...]”
(MENNUCCI, 1930d, p. 242) e não há porque a escola ainda precisa de reformas, e
o motivo pela qual as reformas não são empreendidas é a falta de recursos
financeiros.
De acordo com a versão do ilustre professor, as condições favoráveis
para a renovação da escola paulista se relacionam com a adaptação do método
analítico às necessidades das escolas. Para Sud Mennucci foi a “obra da
inteligência” dos professores que operou o milagre de tornar as lições mais
atraentes, por meio da utilização do método analítico, por isso, existe “escola nova”
em São Paulo.
Contrário as idéias de Sud Mennucci, Renato Jardim, ancora o
discurso dos seis artigos, na idéia de que o método analítico não é ativo, nem a
escola paulista “dinâmica”, “ativa”, mas sim “conservadora”, por isso necessita de
inovação.
O ensino da leitura na “escola activa”, na “escola nova”, não é o
“bicho de sete cabeças, nem preoccupação principal, como na
“escola classica”, em que remanesce, nesse particular, muito da
velha concepção de escola, escola não educadora, não formadora
da mentalidade, mas “instructora” das artes de ler e escrever. A
finalidade da escola activa e os meios de que busca esta servir-se
para a attingir, não comportam a processuação do “methodo
analytico” como discutido pelo provecto educador durante dez
annos. Mas não são esses os motivos que inspiram o nosso voto, e
sim no-lo inspirou a convião – que se ha de generalizar – de que
ensinar a leitura em lingua portugueza desprezando o phoneticismo
desta é, na expressão pouco elegante, “aproveitar o farelo e deitar o
milho fóra”, é – aqui sim – “copiar”, sem exame, sem criterio, sem
motivo, “figurino alheio”. (JARDIM, 1930d, p. 102)
118
Renato Jardim indica que a baixa porcentagem de alfabetização das
crianças, está entre os piores problemas da escola primária paulista. Esse problema,
por sua vez, deriva de dois motivos principais. O primeiro, se relaciona à
processuação do método analítico imposta aos professores.
Segundo Renato Jardim, o método exige condições especiais de
aplicação, o que não condiz com a realidade das classes das escolas paulistas, e
isso acarreta prejuízo de ensino. Dessa forma o que se impõe aos professores não é
o “método em seu gênero”, mas uma “modalidade dele”.
[...] com estes preceitos: “directa associão do pensamento á
escripta”; “appreender a grafhia da sentença de um só golpe de
vista” (absurdo physiologico); “a sylaba no ensino da leitura não é
fim nem meio”; “entender para ler, ler por haver entendido”; “no
methodo logico parte-se do simples para o complexo, da parte para
o todo”; no psychologico, do todo para a parte, do complexo para o
simples, etc. [...] (JARDIM, 1930f, p. 387, grifos do autor)
Essa discordância está diretamente ligada ao fato de Jardim não
admitir uma “adaptação da escola ativa” em São Paulo, como admite Sud Mennucci.
Dessa forma, e, sintetizando o pensamento de Jardim, ainda que o método de
alfabetização estivesse dentro das preceitos da Escola Nova, não bastaria para que
a escola primária paulista fosse classificada como ativa. A mudança, deveria ser não
só na forma de processuação de um método para determinada disciplina, no caso, a
leitura e escrita, mas na forma da escola entender a criança.
Ao apontar as desvantagens da aplicação do método analítico para os
professores e para os alunos, assinala o decréscimo de porcentagem de
alfabetização comparativamente ao alargamento da obrigatoriedade do método
analítico no Estado de São Paulo.
O segundo motivo, a que se refere Jardim ao apontar a baixa
porcentagem de alfabetização das crianças paulistas, se refere à ausência “[...] de
um criterio pedagogico na organização das classes que as torne psychologicamente
mais homogeneas.” (JARDIM, 1930f, p. 387).
A organização de classes homogêneas, um princípio da Escola Nova,
é apenas citado por Renato Jardim. Quem vai se encarregar de fazer as pesquisas,
as aferições e verificações, é Lourenço Filho, como veremos mais adiante.
119
Percebe-se que o que impulsiona os discursos contidos nos artigos
são os ataques relativos a posições divergentes entre os dois professores,
sobretudo quanto à situação da escola paulista à época, incluindo a utilização do
método analítico para o ensino da leitura e da escrita. Dessa forma, concentram-se
em certos conceitos e concepções, entre eles, os conceitos de “Escola ativa” e de
método analítico, para defenderem seus pontos de vista e divulgar os “melhores”
conhecimentos acerca desses temas, ancorados na “moderna” literatura
pedagógica, representada por Decroly e Ferrière, entre outros.
Os artigos resultantes da polêmica e escritos por Sud Mennucci foram,
ainda, publicados em formato de um opúsculo com o título A Escola Paulista:
polêmica com o Sr. Renato Jardim, pela editora Copag, São Paulo, em 1930, por
iniciativa de um grupo de professores do magistério público que homenageou o
eminente professor.
De acordo com Nery (1999) os artigos foram transcritos na revista, em
uma ordem inversa em que foram publicados no jornal “Dessa maneira, Renato
Jardim parece sempre ter razão nas várias discussões ocorridas.” (p. 205), porém, o
que se observa, de fato, é que Sud Mennucci tem um número de artigos publicados
na revista bem superior em quantidade e permanência, do que Renato Jardim, fato
que não deixa de se relacionar com permanência de Sud em cargos da
administração do sistema escolar público paulista, ao longo dos anos, mesmo
ocorrendo, como é sabido, o desentendimento com Lourenço Filho e Fernando de
Azevedo.
***
Pelo exposto até aqui, é possível considerar que, juntamente com os
debates educacionais de maior importância à época e a expansão de uma nova
literatura educacional, o discurso sobre alfabetização, constituído, especialmente por
uma geração de normalistas paulistas, considerados “os mais adiantados
pedagogistas” do país, “expoentes do progresso”, e integrantes da “nascente cultura
pedagógica nacional”, ganha espaço na revista Educação, tanto em relação as
reflexões teóricas e práticas quanto à evidência dos problemas enfrentados como,
por exemplo, as limitações do sistema de instrução pública do Estado de São Paulo
e o alto índice de repetência nas classes de alfabetização.
120
Para se superarem tais problemas, torna-se necessária a divulgação,
por meio dos artigos da revista, de idéias “renovadoras” relacionadas à
alfabetização, enfatizando as necessidades psicológicas das crianças, a sua
atividade pessoal, seus interesses e necessidades, ou seja, uma orientação
metodológica centrada na criança.
Nos discursos veiculados, ganham evidência os estudos realizados por
Decroly, que põem à vista a cientificidade do método analítico e sua argumentação
de ordem psicológica, e não lógica para o desenvolvimento do ensino da leitura e da
escrita. Dessa forma, a motivação para a aprendizagem da leitura e da escrita,
torna-se um tipo de estratégia para o sucesso desse ensino.
Os professores são orientados a adaptarem os programas e métodos,
implantando atividades lúdicas como os jogos, os passeios, e tantas quantas
medidas capazes de despertar o interesse infantil pela aprendizagem.
O professor alfabetizador, então, além de conhecer a bibliografia
atualizada sobre “leitura e escrita”, deveria conhecer as “novas” metodologias, os
“novos” processos para melhor alfabetizar seus alunos e contribuir para a solução de
um dos piores problemas enfrentados pela escola paulista, a baixa taxa de
alfabetização das crianças.
A revista se torna um importante veículo de divulgação das práticas e
das teorias relacionadas, especialmente as idéias escolanovistas sobre
alfabetização, publicando os debates, nem sempre de consensos sobre a temática.
“Embora o método analítico continue a ser considerado o ‘melhor’ e ‘mais científico’,
sua defesa apaixonada e ostensiva vai-se diluindo [...]”. (MORTATTI, 2000a, p. 145).
O debate “Escola Paulista” pode ser considerado o último estertor da
“querela dos métodos”
75
, pois tal debate teria declinado, a partir de então. No
entanto, a discussão sobre os métodos não deixa de existir na revista, como
veremos nos próximos capítulos, e, de fato, como sabemos, o método de
alfabetização é discutido por especialistas e utilizado por professores em salas de
aulas até os dias de hoje, porém entram em cena, após os anos de 1930 outros
aspectos que abafam a “querela dos métodos”.
75
Expressão utilizada por Berta P. de Braslavsky. Problemas e métodos no ensino da leitura. 1971, para se
referir a discussão sobre os aspectos em discrepâncias entre os métodos analítico e sintético e o problema da
alfabetização de crianças.
121
PARTE V
A REVISTA ESCOLA NOVA (1930-1931) E A ABORDAGEM SOBRE
ALFABETIZAÇÃO
122
CAPÍTULO 1
A REVISTA ESCOLA NOVA (1930-1931): TRAJETÓRIA EDITORIAL
123
1. Características gerais da revista Escola Nova (1930-1931)
76
Em 1930, Educação tem seu título modificado e passa a ser
designada Escola Nova. Foi, então, publicada no Estado de São Paulo, entre
outubro de 1930 e julho de 1931, organizada e dirigida por Lourenço Filho, quando
da sua gestão na Diretoria Geral da Instrução Pública. Com periodicidade bimestral,
com exceção do primeiro e do último números, foram publicados três volumes, em
seis números, sendo cinco deles temáticos. Os números temáticos são, a saber: “A
questão dos programmas”; “Primeiro, a saude”; “Os testes”; “Orientação
Profissional”; e “O cinema e a escola”.
Além desses números temáticos, tem-se um sexto número intitulado
“Pais e mestres”, publicado em agosto/setembro de 1931, no volume 4, números
um e dois, na gestão de Sud Mennucci, quando a revista retoma ao título Educação.
Os valores para assinaturas anual e números avulsos continuaram os
mesmos da fase anterior, 20$000 e 2$000 respectivamente. Na capa de dentro da
revista, havia a seguinte informação sobre pedidos e envio de artigos “Os pedidos
de assignaturas devem ser dirigidos a ‘ESCOLA NOVA’ Trav. da Beneficiencia
Portugueza, 1 – São Paulo. A correspondencia relativa á Redacção deve ser dirigida
ao Director Geral da Instrução Publica.”.
1.1 Apresentação gráfica
Escola Nova continuou a ser impressa pela tipografia Irmãos Ferraz,
com sede na cidade de São Paulo. Também foi editada no formato brochura, nas
dimensões 23 cm x 16 cm. Na capa (Anexo 2), há, sobre um fundo amarelo, o título
escrito em letras maiúsculas, em negrito e na cor vermelha. Acima do título há
indicação do volume, mês e ano de publicação e número de edição. Abaixo do título,
tem-se o registro “(SEGUNDA PHASE DA REVISTA ‘EDUCAÇÃO’) ÓRGÃO DA
DIRECTORIA GERAL DO ENSINO DE SÃO PAULO”.
No meio da capa, tem-se o sumário com indicação dos autores com
respectivas ocupações e os títulos dos artigos, assim como o nome das seções
76
Para a elaboração deste tópico baseei-me, especialmente, nas informações de Carlos Monarcha.
Levantamentos das revistas. 2003.
124
especializadas. No canto inferior da capa e centralizado, tem-se o endereço “TRAV.
DA BENEFICIENCIA PORTUGUEZA, 1 SÃO PAULO”.
Na folha de rosto, na parte superior, tem-se o nome da revista, escrito
em letras maiúsculas e de tamanho maior que as outras informações da página,
seguidas do nome do órgão responsável. Ao centro da folha, tem-se a informação
“VOLUME I OUTUBRO-DEZEMBRO 1930, acompanhada do logotipo da tipografia.
Na parte inferior, abaixo de um traço contínuo, a inscrição “1930 – IRMÃOS
FERRAZ – RUA BRIGADEIRO TOBIAS, 28 – S. PAULO”.
Como se percebe, os endereços diferentes correspondem aos destinos
dos pedidos de assinatura (dirigidos à Escola Nova) e ao destino dos textos
encaminhados para apreciação (Diretor Geral da Instrução).
No verso da capa, tem-se o seguinte texto:
“Escola Nova” é um órgão destinado á livre exposição e critica de
assumptos educativos, sejam os de pura doutrina, sejam os de
applicação directa e immediata. Nessas condições, franqueia suas
paginas a todos quantos, professores de officio ou estudiosos dos
varios aspectos do problema educativo, desejem collaborar a serio
numa obra de coordenação da nascente cultura pedagogica
nacional. “Escola Nova” não terá, noticiario, nem publicará
homenagens, ou artigos literarios de pura fórma. Sua secção
bibliographica organizar-se-á de molde a constituir-se um repositorio
de informação retrospectiva e contemporanea da cultura pedagogica
mundial, facilitando aos professores a organizão e orientação de
suas leituras.
Trata-se de uma adaptação do texto transcrito no verso da capa da
revista Educação desde março de 1928, em que se utilizam do primeiro e do último
parágrafos, e substituem-se o nome da revista. Abaixo do referido texto, aparece o
valor da assinatura anual e do número avulso, além da remissão ao endereço para
correspondências.
Os textos publicados na revista eram escritos a uma coluna, com
exceção de algumas seções compostas a duas ou três colunas. Utilizavam-se
recursos iconográficos, como, por exemplo, reproduções fotográficas, gráficos e
tabelas em preto e branco.
Os assuntos abordados relacionavam-se aos temas gerais de cada
número temático e tinham características teóricas, informativas e didático-
metodológicas.
125
Quanto ao número de páginas, a revista apresentou, por volume, o
seguinte formato: volume um, 306; o volume dois, 402; e o volume três, 234 páginas.
Em seu primeiro número Escola Nova seguiu a seguinte seqüência de
apresentação: cinco artigos seguidos das seções especializadas. A partir do número
dois, então, tem-se início os temáticos. Em “Programmas escolares”, dezesseis
artigos, mais duas seções especializadas. Em “A educação e a saude”, três artigos e
uma seção especializada. No número destinado à “Iniciação ao estudo dos testes”,
quatro artigos, seguidos de uma bibliografia sugerida “sobre testes”, e duas seções
especializadas. Em “O problema da orientação profissional”, cinco artigos, seguidos
das seções especializadas. E, por fim, em “Cinema educativo”, cinco artigos,
seguidos de uma bibliografia sugerida “sobre cinema e cinema-educativo”, além da
seção especializada.
1.2 A comissão de redação
Conforme consulta aos exemplares, não há informações sobre os
nomes da equipe que compunha a comissão de redação. O mesmo foi observado
nos volumes procedentes, até ao final do período considerado para análise, “[...] fato
que permite supor que a redação da revista estava sob a responsabilidade direta
dos ocupantes do cargo de Diretor Geral do Ensino”. (MONARCHA, 2003, p. 3).
1.3 As seções especializadas
A revista contou com três seções especializadas apresentadas logo
após o rol de artigos assinados, são elas: “Atravez dos livros”, “Atravez das revistas
e jornaes”, ambas publicadas em 1930 e 1931, e “Informações” publicada somente
no ano de 1930.
Sobre essas seções Monarcha (2003) informa que
As seções “Atravez dos livros” e “Atravez das revistas e jornaes”
foram regularmente publicadas e continham resenhas de livros e
transcrições de artigos de periódicos nacionais e internacionais de
acordo com o título temático do exemplar. A seção “Atravez dos
livros” não foi publicada nos números 1 e 2 do volume 2, e número 3
do volume 3. Na seção “Informações” são publicadas transcrições
126
de documentos oficiais, como por exemplo, circulares da Diretoria
Geral do Ensino. (MONARCHA, 2003, p. 3)
1.4 Autores colaboradores
Escola Nova contou com a colaboração de 29 autores, sendo 25 do
sexo masculino e 4 autoras colaboradoras – Luella Cole Pressey, Noemia do Amaral
Barreto, Noemy Silveira e Virginia de Sá Franco. Lourenço Filho, Diretor Geral do
Ensino, colaborou seis vezes, assinando o texto de abertura dos diferentes números
temáticos. Anisio Spinola Teixeira colaborou duas vezes; os demais autores, apenas
uma vez, entre eles, Fernando de Azevedo e Oscar Thompson.
Certa representatividade alcançaram os autores estrangeiros, cujos
textos foram traduzidos para a língua portuguesa naquele momento. Todos “[...]
identificados com a inovação educacional em âmbito internacional: Edouard
Claparède, Harry D. Kitson, John Dewey, Lorenzo Luzuriaga, Luella Cole Pressey,
Sydney L. Pressey, Theodor Simon e Thomaz D. Wood.” (MONARCHA, 2003, p. 4).
1.5 Leitores previstos
Lourenço Filho pressupunha que a revista se destinava a “[...] todo e
qualquer professor paulista [...]” (LOURENÇO FILHO, 1930b, p. 4), já que poderia
incentivar “[...] o estudo scientifico da criança, para o conhecimento da nova
psychologia e de suas surprehendentes applicações.” (p. 4). Para o então Diretor
Geral do Ensino, esse era o principal motivo porque os professores deveriam ler a
revista.
No texto de apresentação da revista intitulado “A ‘Escola nova’”,
Lourenço Filho destaca que o professorado paulista vivia uma escravidão mental,
em um cativeiro político, portanto, necessitava de liberdade, “Liberdade esclarecida
pelo conhecimento, não embrutecida pela superstição e pela rotina. Liberdade para
criar num sentido positivo, dominada por um ideal social superior.” (p. 6).
* * *
127
Lourenço Filho, Diretor Geral da Instrução Pública, adota a estratégia
de edificar um “novo” ensino. Apontando como um dos principais problemas
enfrentados pela escola primária paulista, o baixo rendimento das crianças ao final
do ano escolar, especialmente nas classes de alfabetização, ele coloca a causa do
problema na heterogeneidade das classes, além do despreparo dos professores.
Dessa forma, com o intuito de preparar a adesão ao movimento da
Escola Nova, o Diretor Geral faz circular na revista Escola Nova, os princípios do
ideário escolanovista, com ênfase no conceito da medida do trabalho escolar e na
técnica de emprego dos testes, da autonomia didática do professor, tendo em vista
despertar no professorado o interesse pelo “novo” e viabilizar sua aplicação prática
nas escolas.
Tamm, no âmbito do ensino da leitura e da escrita, os discursos
publicados em Escola Nova registram o surgimento, na imprensa periódica
educacional, do “novo” discurso escolanovista, de Lourenço Filho, sobre
alfabetização, objetivando aplicar a teoria psicológica para a solução dos problemas
enfrentados na alfabetização das crianças.
128
CAPÍTULO 2
A ALFABETIZÃO NA REVISTA ESCOLA NOVA (1930-1931)
129
1. O “novo” discurso sobre alfabetização
A revista Escola Nova (1930-1931) inaugura um “novo” discurso sobre
alfabetização, diferente dos publicados no âmbito da imprensa periódica
anteriormente, que envolviam, especialmente, a discussão em torno do melhor
método para se alfabetizarem as crianças matriculadas no primeiro ano escolar das
escolas paulistas.
Responsável pelo “novo” discurso escolanovista sobre alfabetização,
Lourenço Filho, desloca a maneira de pensar a alfabetização do “como” fazer
(escolha do melhor método) para os “pré-requisitos” necessários para esta
aprendizagem.
Embora, sejam apenas dois artigos sobre a temática publicados na
revista Escola Nova, eles são representativos pelo caráter inovador apresentado na
imprensa periódica educacional. Apresento os artigos no Quadro 16.
QUADRO 16 - Temas pertinentes à alfabetização veiculados na revista Escola
Nova (1930-1931)
77
Ano Vol. N. ginas Título Autor
1931 2 3-4 253-259 Os testes Lourenço Filho
1931 2 3-4 392-394 A escola renovada e a organização
das classes
Iracema de Castro
Amarante
Fonte: Revista Escola Nova (1930-1931).
1.1 Lourenço Filho: aspectos da vida, atuação profissional e produção
intelectual
Lourenço Filho (1887-1970) natural de Vila de Porto Ferreira, Estado
de São Paulo, diplomou-se pela Escola Normal Primária de Pirassununga/SP, em
1914, e pela Escola Normal da Praça, em 1917. Dedicado aos estudos de Psicologia
aplicada à educação, em 1920, começou a ensinar Psicologia na Escola Normal de
Piracicaba. Em 1921 foi nomeado professor da cadeira de Psicologia e Pedagogia,
da Escola Normal de Piracicaba, para ministrar aulas de Prática Pedagógica;
naquele momento fundou a Revista de Educação (de Piracicaba) e publicou seu
primeiro trabalho de psicologia experimental.
77
Apresento, no Apêndice C, os resumos descritivos dos referidos artigos.
130
Em 1922, ocupou o cargo de Diretor Geral da Instrução Pública do
Ceará. Em 1924, de volta, reassume a cadeira na Escola Normal de Piracicaba,
desenvolvendo atividades de pesquisa em Psicologia. De 1925 a 1930, exerce o
cargo de professor de Psicologia e Pedagogia da Escola Normal de São Paulo. No
ano de 1925, Lourenço Filho reativou o Laboratório de Psicologia da Escola Normal,
“[...] abandonado desde o final do decênio anterior, e passou a acumular fatos e
técnicas operativas fundamentadores da explicação psicológica dos fatos sociais e
individuais.” (MONARCHA, 2001a, p. 12).
Em 1926, “Em entendimento com a Companhia Melhoramentos de São
Paulo organiza a primeira coleção de textos de divulgação pedagógica criada no
País, a Biblioteca de Educação [...] (MONARCHA; LOURENÇO FILHO, 2001, p. 31). Em
1927, publica, entre outros textos, “Um inquérito sobre o que os moços lêem”, na
revista Educação.
De 27 de outubro de 1930 a 23 de novembro de 1931, ocupou o cargo
de Diretor Geral do Ensino de São Paulo, período em que
Reorganiza a Diretoria Geral da Instrão Pública, mudando-lhe a
denominação para Diretoria Geral do Ensino, e fazendo-a
compreender: Serviços de Assistência Técnica e Inspeção Escolar,
dez Delegacias Regionais, Biblioteca Pedagógica Central, Museu da
Criança, Inspeção Médico-Escolar, Almoxarifado e novos serviços
de Secretaria. Reorganiza o ensino normal e o profissional de São
Paulo; cria o serviço de Psicologia Aplicada; transforma a Escola
Normal da Praça em Instituto Pedagógico (onde se deram os
primeiros cursos de educação em nível superior no País), remodela
a revista Educação, que passou a denominar-se Escola Nova.
(MONARCHA; LOURENÇO FILHO, 2001, p. 33)
Em 1932, organizou e dirigiu o Instituto de Educação do Distrito
Federal, a convite de Anísio Teixeira; também neste ano subscreve, em conjunto
com outros vinte e dois signatários, o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova.
Em 1934, publica Testes ABC: para a verificação da maturidade necessária à
aprendizagem da leitura e da escrita. Em 1938, o então Ministro da Educação e
Saúde, Gustavo Capanema, nomeou Lourenço Filho para o cargo de Diretor do
Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (INEP), cargo que ocupou até 1946. Em
1944, fundou a Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos. Até o final da carreira do
magistério e da administração escolar ocupou, ainda, o cargo Diretor do
Departamento Nacional da Educação, em 1947; foi eleito presidente do Instituto
131
Brasileiro de Educação, Ciências e Cultura (IBECC), em 1952. Morreu aos 73 anos,
no Rio de Janeiro, em 3 de agosto de 1970
78
.
Colaborador das revistas aqui analisadas, Lourenço Filho escreveu 21
artigos, entre 1927 e 1943. Para se ter uma idéia do conjunto da produção de
Lourenço Filho, apresento, a seguir, no Quadro 17, essa produção, por ordem
cronológica de publicação.
QUADRO 17 - A produção de Lourenço Filho nas revistas Educação, Escola
Nova e Revista de Educação, entre os anos de 1927 a 1943
Título
Ano de
publicação
Designação da
revista
Vol.
Num. Pág.
Um inquérito sobre o que os moços
lêem
1927
Educação
1 1 30-39
A moral no teatro, principalmente no
cinematógrapho
1928
Educação
5 2/3 219-234
Há uma vocação para o magistério? 1928
Educação
5 2/3 219-234
A uniformização do ensino primário no
Brasil
1928
Educação
2 1 9-18
A Escola Nova 1929
Educação
7 3 293-301
Paes e mestres 1929
Educação
8 2 261-262
A segunda Conferência Nacional de
Educação
1929
Educação
6 1/2 3-13
A Escola Nova 1930
Escola Nova
1 1 3-7
Circular da Directoria Geral da
Instrução
1930
Escola Nova
1 2/3 303-304
A questão dos programas 1930
Escola Nova
1 2/3 81-85
A reforma da Diretoctoria do Ensino 1930
Escola Nova
1 2/3 278-282
Em torno da “Autonomia Didactica” 1930
Escola Nova
1 2/3 300-301
Primeiro, a saúde 1931
Escola Nova
2 1/2 3-6
Os testes 1931
Escola Nova
2 3/4 253-259
Orientação profissional 1931
Escola Nova
3 1/2 3-7
O cinema na escola 1931
Escola Nova
3 3 141-144
Pais e mestres 1931
Educação
4 1/2 12-14
O problema da maturidade para a
leitura e a escrita
1933
Revista de
Educação
3 3 91-101
A discussão nos trabalhos de
seminário: organizada para uso dos
alunos da Escola de Professores, pelo
Prof. Lourenço Filho
1935
Revista de
Educação
9 9 207-215
A pedagogia norte-americana 1939
Revista de
Educação
27 27/28 10-20
O Paraguai é o mais “americano dos
países da América”
1943
Revista de
Educação
29 30/39 108-109
Fontes: Revista Educação, Escola Nova e Revista de Educação.
78
Para elaboração deste tópico baseei-me, especialmente, em Carlos Monarcha; Ruy Lourenço Filho (Org.). Por
Lourenço Filho: uma biobibliografia. 2001; Carlos Monarcha. Lourenço Filho e a organização da psicologia
aplicada à educação. 2001a; e Carlos Monarcha. Escola Normal da Praça: o lado noturno das luzes. 1999.
132
Como se pôde constatar no Quadro 17, Lourenço Filho contribuiu
significativamente para a produção dos artigos das revistas. Essa produção é
caracterizada por uma multiplicidade de assuntos, assim como a totalidade de sua
produção intelectual, e os artigos são publicados em conjunturas sócio-educacionais
diferenciadas; mesmo asssim, seu discurso é composto por uma pauta “[...] unificada
por um plano próprio, isto é, autoral, e representativo das correntes de idéias em
ascensão, [...]” (MONARCHA; LOURENÇO FILHO, 2001, p. 12). Dentre as idéias em
ascensão, desta-se a questão do nível de maturidade necessária para a
aprendizagem da leitura e da escrita.
Carlos Monarcha (1989) destaca, ainda, que Lourenço Filho além de
definir o papel da Psicologia experimental no âmbito da Pedagogia, atualizou a
literatura pedagógica e a própria concepção dos programas escolares.
1.2 “Os testes”, por Lourenço Filho
Em março de 1931, Lourenço Filho escreve “Os testes”, artigo
publicado no volume 2, números 3 e 4 da revista Escola Nova. Este volume da
revista é todo dedicado à iniciação ao estudo dos testes (por parte dos professores
primários) e destinado, principalmente, para esses professores
[...] não tem outro intuito sinão o de facilitar meios para mais rapido
conhecimento do problema, aos srs. professores primarios. Os
trabalhos aqui inseridos desbravam o caminho. Demonstram os
principios capitaes do systema de provas aferidas, e assignalam
suas vantagens, ade ordem moral, para o professorado, em
relação ao julgamento do trabalho docente pela administrão
publica. (LOURENÇO FILHO, 1931, p. 258, grifos do autor)
Trata-se de fazer circular, entre os professores primários, por meio da
revista, versões sintetizadas dos primeiros resultados obtidos com a organização do
“Serviço de Psychologia Applicada”. Entre esses resultados estão os relacionados
aos testes ABC, contendo uma nova maneira de se classificarem as crianças
ingressantes no 1º ano escolar, por meio de medida do nível de maturidade
necessária à aprendizagem da leitura e da escrita.
133
Os testes ABC são compostos de oito provas envolvendo memória,
atenção e raciocínio, por meio das quais é possível classificar os alfabetizandos, a
fim de se obterem classes seletivas, homogêneas, fato que para Lourenço Filho
possibilita economia de tempo e esforço para os alunos e professores
alfabetizadores; em conseqüência, melhoria no aprendizado e maior eficiência do
ensino.
Como se sabe, os testes ABC foram aplicados no Brasil por mais de 30
anos, além de outros países da América Latina e na Europa. (MORTATTI, 2000a).
Dessa forma, Lourenço Filho apresenta na revista, antes mesmo da
publicação de Testes ABC: para a verificação da maturidade necessária à
aprendizagem da leitura e da escrita
79
, os resultados obtidos, até então, da “[...]
maior tentativa de organisação psychologica, já realisada na América do Sul,
submettendo aos testes A. B. C. para mais de vinte mil creanças, (o que permittiu a
organisação de 468 classes differenciaes).” (LOURENÇO FILHO, 1931, p. 258), nos
grupos escolares, da capital de São Paulo.
Em “Os testes”, Lourenço Filho ressalta que o sucesso dessa
organização de classes seletivas, resultado da aferição de 1931
80
, em São Paulo, se
deve ao fato de que os testes ABC foram aplicados com base em um trabalho de
vários anos de estudos sobre os testes e sua influência nos estudos da psicologia da
leitura.
De acordo com Monarcha (2001), o “movimento dos testes” e a
freqüente presença no Brasil, à época, de psicologistas internacionais de renome,
como Piéron, impulsionaram a atividade experimental de Lourenço Filho.
O “movimento dos testes”, a presença ativa de pscilologistas de
renome, as experiências realizadas em laboratório levam a
psicologia objetiva ao encontro da opinião pública e das autoridades
administrativas, tornando-se um dos principais temas do discurso
oficial. (MONARCHA, 2001a, p. 25)
79
Este livro se tornou o um importante veículo de divulgação e difusão dos testes ABC, no Brasil e no exterior,
e, um “manual” de ensino utilizado nas escolas normais e nos Institutos de Educação, as sua publicação e nas
décadas sucessivas. No entanto, para aqueles que ainda não tivessem acesso ao livro, os artigos da revista se
tornaram o possível contato entre os professores primários e os fundamentos teóricos-metodológicos dos testes.
80
Vale ressaltar que as pesquisas pioneiras sobre o nível de maturidade necessário ao aprendizado da leitura e da
escrita foram realizadas, por Lourenço Filho, a partir de 1925, na Escola Normal de Piracicaba, depois retomadas
na Escola Normal de São Paulo, e que os testes ABC foram aplicados pela primeira vez, em 1928, no Rio de
Janeiro, em uma escola dirigida por Celina Padilha, futuramente colaboradora da revista. Sobre a aferição dos
testes no Rio de Janeiro, ver: Lourenço Filho. Introdução ao estudo da escola nova: bases, sistemas e diretrizes
da pedagogia contemporânea. 1930a.
134
Ainda, de acordo com Monarcha (2001a), esse “clima intelectual”
estimulou Lourenço Filho e colaboradores, a desenvolverem estudos experimentais,
cujos resultados foram amplamente divulgados entre autoridades administrativas,
entre os professores e a opinião pública, conforme artigos publicados na “grande
imprensa” “[...] sobre as vantagens da aplicação da psicologia objetiva na
problemática escolar, explicitando a presença do “espírito científico” na educação.”
(MONARCHA, 2001a, p. 28).
Assim, os colaboradores de Lourenço Filho, como J. B. Damasco
Penna
81
, Noemy Silveira, Celina Padilha
82
, entre outros, vão ganhando prestígio
como especialistas no emprego de métodos experimentais para a solução dos
problemas da educação. Esses intelectuais, integrantes da geração de técnicos de
ensino formados na Escola Normal da Praça da República, que tendo em vista a
racionalização do serviço público escolar “[...] destacam a esfera técnico-pedagógica
da administrativa [...]” (MONARCHA, 1999, p. 327), e
[...] elegem a técnica como a face pública da autoridade
administrativa despertada para a centralização, cálculo racional,
controle e planificação. Suas realizações constituem o ponto de
condensação, no âmbito da instrão pública, das múltiplas
experiências racionalizadoras ocorridas na década de 1920, ao
mesmo tempo que estabelecem a orientação geral que irá
prevalecer no decênio posterior à Revolução de 1930. Essa
racionalização administrativa com destaque dos serviços técnicos –
compreendidos como órgãos de propaganda a serviço do Estado -,
pretende produzir uma vontade única para o aparelho escolar e
impor ao magistério uma orientação psicológica, biológica,
sociológica e estatística de trabalho escolar. (Idem, p. 327-328)
Essa inovação técnica contribui para reerguer o edifício do aparelho
escolar paulista e se constituir uma outra “renascença pedagógica” (MONARCHA,
1999).
Ladeada por especializações que assumem o estatuto de
conhecimento científico – eugenismo, higienismo, saúde pública,
81
Quanto à grafia do sobrenome de J. B. Damasco Penna, não se tem uma uniformidade nas meões feitas nas
revistas, encontramos por vezes o registro Pena”, como na autoria do artigo publicado no v. 11, n. 12, de 1932,
em Educão.
82
Colaboradora de Lourenço Filho no Rio de Janeiro, a professora Celina Padilha aplicou os testes ABC pela
primeira vez, fora da Escola Modelo anexa a Escola Normal da Capital, em 1928, em alunos repetentes do então
primeiro ano escolar da Escola Manuel Cícero.
135
fisiologia do trabalho, higiene mental – a psicotécnica torna-se uma
das estratégias de enfrentamento técnico da vida urbana e um dos
principais temas ideológicos do discurso oficial. [...] psicotécnica
significa para a época, a aplicação da teoria psicológica para a
solão dos problemas práticos de todas as esferas de atividade
humana, particularmente da criança que estuda e do homem que
trabalha. Clichê de época, esse domínio científico é representado
como lanterna que ilumina o mundo das sombras, semelhantemente
à lua elétrica de Marinetti. (Idem, p. 317)
No Instituto Pedagógico os professores e os Assistentes de Psicologia
e Pedagogia entram em contato com a bibliografia sobre os testes para,
posteriormente, organizar as “instruções” a respeito da aplicação dos testes nas
escolas. Nesse “meio caminho”, Lourenço Filho sugere aos professores primários,
contato com essa bibliografia, recomendando a leitura e “meditação” de vários textos
sobre o assunto, como se observa nas páginas dos artigos publicados, no volume 2,
de 1931, entre os autores e títulos sugeridos estão:
MEDEIROS E ALBUQUERQUE, Tests, Alves, Rio, 1924.
MARANHÃO, Paulo, Testes pedagogicos, Rio, 1926.
BINET E SIMON, Testes para a medida do nivel do desenvolvimento
da intelligencia (trad. De Lourenço Filho), Melhoramentos, S. Paulo, 1929.
CLAPARÉDE, Ed., Como diagnosticar as aptdões dos escolares, (trad.
Portuguesa da Livr. Educação Nacional, Porto. (a sahir).
AGUAYO, A. M., Pedagogia cientifica, Cultura, habana, 1930.
DECROLY E BUYSE, Les applications americaines de la psychologie,
Lamertin, bruxelas, 1923.
1.3 “A escola renovada e a organização das classes”, experiência bem
sucedida
Após a publicação do primeiro artigo de Lourenço Filho, que trata da
divulgação das medidas objetivas, entre elas os testes ABC, segue, no mesmo
volume e número publicado em 1931, na sessão “Atravez das Revistas e Jornaes”, o
artigo de Iracema de Castro Amarante “A escola renovada e a organização das
classes”, contendo um relato de experiência bem sucedida de aplicação dos testes
ABC, no Grupo Escolar da cidade de Bauru, interior da Estado de São Paulo.
136
Ancorada nas idéias de Decroly e Claparède, a autora, enfatiza que a
seleção de classes homogêneas é uma “Lei”, portanto, um critério pedagógico
fundamental para a renovação do ensino. “Esse critério é o único, como se vê, que
permitte o desenvolvimento duma classe segundo seu rythmo; o unico que nos
poderá proporcionar a “escola sob medida” tão sonhada por Claparède.”
(AMARANTE, 1931, p. 393).
Ao informar que no Grupo Escolar de Bauru procederam à seleção de
classes, aponta as vantagens dos resultados que essa organização trouxe à escola,
para os professores e para os alunos, entre elas, a melhor adaptação do programa
do professor à “mentalidade geral da classe”; composição de classe de alunos
“retardados” em número reduzido; melhor definição das responsabilidades dos
professores; e facilidade para as autoridades competentes procederem “juizo”
acerca dos méritos dos professores.
Assim, as idéias escolanovistas de Lourenço Filho sobre alfabetização,
contidas nos discursos publicados na revista Escola Nova, são versões
condensadas dos primeiros resultados de aplicação e aferição dos testes ABC, fruto
da visão técnico-científica, e, coincidem com alguns dos “trinta pontos” dos
princípios gerais da Escola Nova
83
. São eles:
1. A escola nova é um Laboratório de Pedagogia prática.
2. A escola nova é um internato.
3. A escola nova é situada no campo.
4. A escola nova agrupa os alunos em casas separadas.
5. A escola nova pratica o mais que pode a coeducação dos sexos.
6. A escola nova organiza trabalhos manuais.
7. A escola nova atribui importância especial: à marcenaria, à cultura
do solo, à criação.
8. A escola nova provoca nas crianças trabalhos livres.
9. A escola nova assegura a cultura do corpo pela ginástica natural.
10. A escola nova cultiva as viagens a ou de bicicleta, com
acampamento em barracas e cozinha ao ar livre.
11. A escola nova entende por cultura geral a cultura do juízo e da
razão.
12. A escola nova junta à cultura geral uma especialização.
13. A escola nova baseia seu ensino em fatos e em experiências.
14. A escola nova recorre à atividade pessoal da criança.
83
Trata-se de uma escala de trinta pontos que definem os princípios gerais da Escola Nova, quanto à organização
geral das escolas e à formação intelectual e moral dos alunos. Esses trinta pontos foram aprovados em 1921,
quando da realização de uma reunião, realizada em Calais, e organizada pelo Bureau Internacional des Écoles
Nouvelles, com sede em Genebra, conforme: Paul Foulquié. As escolas novas. 1952, p. 86.
137
15. A escola nova estabelece seu programa sôbre os interêsses
espontâneos da criança.
16. A escola nova recorre ao trabalho individual dos alunos.
17. A escola nova recorre ao trabalho coletivo dos alunos.
18. Na escola nova o ensino pròpriamente dito é limitado à manhã.
19. Na escola nova estudam-se poucas matérias por dia.
20. Na escola nova estudam-se poucas matérias por mês ou por
semestre.
21. A escola nova forma em certos casos uma república escolar.
22. Na escola nova procede-se à eleição dos chefes.
23. A escola nova reparte entre os alunos os encargos sociais.
24. A escola nova age por meio de recompensas ou sanções
positivas.
25. A escola nova age por punião ou sanções negativas.
26. A escola nova emprega a emulação.
27. A escola nova deve ser um ambiente de beleza.
28. A escola nova cultiva a música coletiva.
29. A escola nova promove a educação da consciência moral.
30. A escola nova promove a educação da razão prática.
(FERRIÈRE, 1925, apud FOULQUIÉ, 1952, p. 87-96)
As idéias escolanovistas de Lourenço Filho sobre alfabetização,
publicadas e divulgadas na imprensa periódica educacional, desde 1930, podem ser
sintetizadas da seguinte forma:
- nova maneira de se propor o problema do fracasso na alfabetização,
mediante classificação das crianças ingressantes no primeiro ano escolar, aos sete
anos de idade, em classes homogêneas, mediante provas objetivas, a fim de se
conseguir maior rendimento e eficiência;
- existência de um nível de maturidade necessária para a
aprendizagem simultânea da leitura e da escrita, que é passível de medida por meio
dos testes ABC;
- necessidade de despertar na criança o desejo de aprender a ler e a
escrever, que requer um ambiente facilitador dessa aprendizagem, que pode ser
criado por meio de atividades interessantes, jogos e materiais atraentes, entre eles
as cartilhas de alfabetização;
- alfabetização é entendida como um meio de aquisição de cultura, um
instrumento de educação popular; e
- em alfabetização, o que importa, são as bases psicológicas, relativos
ao interesse da criança e à maturidade biofisiológica, em detrimento das bases
pedagógicas, como escolha do melhor método, por exemplo.
138
Tal discurso necessitava ser divulgado entre os professores e a revista
cumpriu o papel de, não só de divulgar e comunicar oficialmente essas idéias, a
partir de 1930, como tamm de inculcar na cabeça dos professores, por meio de
relatos de experiências bem sucedidas e amostras de acréscimos nas taxas de
alfabetização, a iia de que essa “nova” maneira de se pensar a alfabetização era a
correta, eficaz e eficiente porque científica, justamente o que confere a esse
discurso o monopólio da “autoridade científica” de Lourenço Filho e do grupo de
intelectuais que compartilhava com ele das mesmas idéias. Tem-se assim, nesse
período, um consenso entre os intelectuais que pensam a alfabetização, que abafa
os debates anteriores sobre os métodos de alfabetização e as disputas entre os
defensores dos diferentes métodos.
139
PARTE VI
A REVISTA EDUCAÇÃO (1931-1932) E A ABORDAGEM SOBRE
ALFABETIZÃO
140
CAPÍTULO 1
A REVISTA EDUCAÇÃO (1931-1932): TRAJETÓRIA EDITORIAL
141
1. Características gerais da revista Educação (1931-1932)
84
A revista Educação retoma seu título anterior em agosto/setembro de
1931, com periodicidade bimestral, com exceção dos volumes cinco e seis, que
foram publicados trimestralmente. Teve seu último número publicado em dezembro
de 1932; ao todo a revista totaliza dezessete números, publicados em oito volumes.
Assim como nas fases anteriores, era vendida aos interessados em
números avulsos ou assinaturas anuais nos valores de 2$000 e 20$000,
respectivamente. Na capa de dentro da revista, havia a seguinte informação aos
destinatários:
Para melhor attender aos seus fins, a Redacção receberá consultas
sobre questões referentes ao ensino, bibliographia pedagogica,
revistas congeneres do paiz e do extrangeiro, fornecendo aos srs.
assignantes as informações que solicitarem neste sentido. Taes
consultas serão absolutamente gratuitas.
A reorganização da revista se dá entre o final da administração de
Lourenço Filho na Diretoria do Ensino e a entrada de Sud Mennucci, que teve uma
breve administração, naquele momento, procedida por João Toledo, conforme
podemos observar no Quadro abaixo.
QUADRO 18 - Diretores do Ensino do Estado de São Paulo, de 1930 a 1932
Diretor Período
Lourenço Filho
27/10/1930 à 12/11/1931
Sud Mennucci
24/11/1931 à 26/05/1932
João Toledo
27/05/1932 à 03/10/1932
Fonte: ANNUARIO do Ensino do Estado de São Paulo (1935-1936),
1936, p. 2.
Pelo que se observa nos primeiros editoriais da revista, que também
teve nesta fase um ciclo de vida curto, Lourenço Filho e Sud Mennucci não se
manifestam sobre sua reorganização; quem o faz é João Toledo, quando assume a
Diretoria Geral, em 1932.
84
As informações deste tópico foram reunidas, especialmente, considerando os dados de Carlos Monarcha.
Levantamentos das revistas. 2003.
142
Sr. professor. Reorganizados os serviços da revista do ensino
“Educação”, está empenhada esta directoria em torna-la cada vez
mais um óro de cultura profissional e uma fonte de suggestões
didacticas, franqueando, para esse duplo proposito, as suas
columnas ao livre debate e critica de methodos e processos de
ensino, e á divulgação de tudo quanto de bom fôr praticando o
nosso adiantado e operoso magisterio no trabalho diario das
classes. (EDUCAÇÃO, v. 8, n. 6/7, jun/jul. 1932).
1.1 Apresentação gráfica
Apenas o primeiro volume de Educação foi impresso pela Livraria
Liberdade; os demais, pela Typographia Siqueira, ambas com sede na cidade de
São Paulo. O formato 23 cm x 16 cm, foi mantido.
Na capa (Anexo 3), há, sobre um fundo amarelo, o título escrito em
maiúsculas e negrito na cor vermelha; na parte superior, acima, apenas as
indicações de volume, data e número. Abaixo do título, aparece o nome da
instituição idealizadora “ORGÃO DA DIRECTORIA GERAL DO ENSINO DE SÃO
PAULO”. Separando essas informações do sumário, tem-se um pequeno traço
centralizado. O sumário ocupa a maior parte da página, consta de nomes dos
autores, título dos artigos e paginação, além da indicação das seções
especializadas. Por fim, tem-se, na parte inferior e próxima ao sumário, a indicação
de local “S. PAULO – BRASIL”.
No verso da capa, tem-se solicitada a atualização de endereços, por
parte dos assinantes, e convite para envio de artigos para apreciação.
É obsequio não demorar as reclamações. Para facilitar o trabalho de
remessa, seria de grande vantagem que o srs. assignantes
communicassem, sempre, suas novas residencias á Redacção,
evitando desta fórma, o desvio da correspondencia que lhes é
remettida. Enviar endereços claros. Procurando cumprir o seu
programma, Educação espera merecer o apoio efficaz de todos os
professores. É facultato aos mesmos collaborar na Revista, desde
que submettam os seus trabalhos ao juizo da Comissão de
Redação.
Além do texto, tem-se, nesta página, o valor da assinatura, indicação
do local de envio dos artigos “Enviar toda a correspondencia para: Redacção da
143
Revista Escolar EDUCAÇÃO. Directoria Geral do Ensino. SÃO PAULO Praça João
Mendes”.
Na folha de rosto, há, no canto superior centralizado, o nome da
revista, seguido do nome do órgão responsável. Ao meio da folha, a indicação de
volume e data. Após o volume cinco, números três/quatro/cinco de
outubro/novembro/dezembro de 1931, tem-se, no canto inferior, abaixo de um traço
contínuo, as seguintes informações: “1932 – TYPOGRAPHIA SIQUEIRA – RUA
LIBERO BADARO’ 14-C – S. PAULO”.
Na contracapa, tem-se o logotipo da tipografia ao centro, com as
seguinte inscrição: “TYPOGRAPHIA SIQUEIRA – SALLES OLIVEIRA – ROCHA
CIA”. Na lombada, aparecem, como nos volumes das fases anteriores, indicações
de volume, título e número.
Internamente, os textos eram escritos a uma coluna, com exceção de
algumas seções especializadas, como, por exemplo, “Através de revistas e jornaes”,
em que aparecem a duas colunas.
Relativo à temática, o periódico publicou artigos de diferentes
assuntos, como, alfabetização, bibliotecas, ensino e escolas rurais, cooperativismo,
psicologia, programas e métodos de ensino, matemática, civismo, legislação escolar,
artes, esportes e higiene, entre outros.
Quanto aos componentes tipográficos, podem ser observados certos
avanços, em relação às fases anteriores, com o incremento de recursos
iconográficos, como, fotografias, partituras e figuras coloridas. Têm-se, também,
tabelas, mapas e plantas.
Quanto ao número de páginas, a revista apresentou, por volume, o
seguinte formato –quatro: 144; cinco: 148; seis: 306; sete: 198; oito: 221; nove: 247;
dez: 250; e onze: 195 páginas.
O primeiro volume desta fase foi destinado à publicação do número
temático “Pais e mestres”, organizado por Lourenço Filho. Neste número, estão
contidos oito artigos seguidos de quatro seções especializadas.
Os demais números contêm de quatro a dezessete artigos, seguidos
das seções especializadas. Destaca-se o volume seis, números um/dois/três de
janeiro/fevereiro/março de 1932, em que se encontra publicado o texto “A
reconstrução educacional no Brasil: ao povo e ao governo” conhecido como o
“Manifesto dos pioneiros”.
144
1.2 As seções especializadas
Nesta fase a revista possuía as seguintes seções especializadas: “Guia
administrativo” (1931); “Em classe” (1931/1932); “Legislação escolar” (1931/1932);
“Através de revistas e jornaes” (1931/1932); “Communicados” (1932); “Bibliographia”
(1932); “Noticias diversas” (1932); e “Legislação estadual” (1932).
Em “Guia administrativo” há instruções para os professores, como, por
exemplo, “O que é preciso saber” para solicitar e validar licenças junto ao Secretário
da Educação e da Saúde Pública
85
.
De acordo com Monarcha (2003, p. 3-4)
Nas seções “Legislação escolar” e “Legislação estadual” há uma
grande quantidade de transcrições de documentos oficiais
expedidos pela Diretoria Geral do Ensino de São Paulo: despachos,
decretos e resoluções. A seção “Através de revistas e jornaes” foi
publicada regularmente em todos os volumes e contém indicação de
artigos de perdicos nacionais e internacionais e comentários de
fatos sobre educação. As seções “Em classe” e “Legislação escolar
destinavam-se a prática de ensino de diversas matérias, e a
veiculação de documentos oficiais, respectivamente.
Além dessas seções, destaca-se “Bibliographia”, assinada por J. B.
Damasco Penna, publicada regularmente, a partir do segundo semestre de 1932.
Damasco Penna apresenta as seguintes informações sobre as finalidades da seção:
Dando cumprimento a uma parte de seu programma, Bibliographia
inicia neste numero, que é o segundo em que vem a lume, a
publicação de informões bibliographicas. Alem de extractos de
catálogos de livrarias e bibliotecas especializadas (educação e
assumptos connexos), Bibliographia pretende manter
correspondencia com os professores que desejem informar-se a
respeito de livros. Como é fácil de compreender, nem sempre lhe
será possível responder prompta e seguramente, tratando-se de
matéria vasta como são os livros com todas as suas caracteristicas
(feitura graphica, preço, logar de edição, conteúdo e, o que é mais,
valor intrinseco). O que podemos assegurar e desde logo o fazemos
é que esta secção de informação bibliographica terá por escopo ser
util ao professor. (PENNA, 1932, p. 225, grifos do autor)
85
Conforme Educação, v. 5, n. 3/4/5, 1931, p. 116 e117.
145
1.3 Autores colaboradores e leitores previstos
Durante o período de publicação Educação contou com a colaboração
de 82 autores, desse total 74 homens e oito mulheres. Dentre esses autores,
destacam-se J. B. Damasco Penna e Luiz Gonzaga Fleury que eram encarregados
de traduzir os textos de autores estrangeiros como Edouard Claparède, Henri
Piéron, John Dewey, Ovidio Decroly, Adolpho Ferrière, Charles Richet, Fritjof
Dettow, Mary A. Adams, R. Duthil, Sarah Byrd Askew e Alfred Binet.
Destacam-se, ainda, pela freqüência de colaboração, José Ribeiro
Escobar, Luiz Galhanone, Noemy Silveira, Lourenço Filho, entre outros.
Como nas fases anteriores destinada a “todos os professores”, de
acordo com o editorial assinado por João Toledo
86
, estava empenhada a tornar-se
um órgão de cultura profissional, além de uma fonte de sugestões didáticas.
* * *
Em Educação (1931-1932) não há um projeto editorial pensado por um
único grupo de intelectuais, pelo motivo das mudanças e trocas ocorridas na
administração da Diretoria Geral do Ensino, envolvendo Lourenço Filho, Sud
Mennucci e João Toledo.
86
Conforme verso da capa de Educação, v. 8, n. 6/7, jun./jul. 1932.
146
CAPÍTULO 2
A ALFABETIZÃO NA REVISTA EDUCAÇÃO (1931-1932)
147
1. A produção sobre alfabetização na revista Educação (1931-1932)
Durante o período de publicação da revista (apenas um ano e três
meses), foram sete, os artigos publicados referentes à alfabetização, sendo dois
deles assinados por autores estrangeiros, a saber: Decroly e Mary A. Adams.
Apresento, no Quadro 19, os dados relativos a essa produção, de
acordo com a ordem cronológica de publicação, volume,número, paginação, título e
autor.
QUADRO 19 - Temas pertinentes à alfabetização veiculados na revista
Educação (1931-1932)
87
Ano Vol. N. ginas Título Autor
1931 4 1/2 60 A verdadeira funcção da leitura
na escola primária
Mary A. Adams
1932 6 1/2/3 135-? Iniciação na leitura e na escrita Ovídio Decroly
1932 8 6/7 33-39 Alphabetização rapida Abel de Faria Sodré
1932 10 10/11 131-140 Os primeiros ensinamentos de
leitura e linguagem
Alvares Soares
1932 10 10/11 167-171 Os methodos de leitura Dias Agudo
1932 11 12 28-38 O ensino da leitura Francisco Eusébio de
Aquino Leite
1932 11 12 75-80 Contribuição ao estudo dos
testes ABC: os perfis de classe e
sua construção
J. B. Damasco Pena
Fonte: Revista Educação (1931-1932).
Os artigos escritos pelos professores Abel de Faria Sodré, Alvares
Soares, Dias Agudo e J. B. Damasco Penna, além dos autores estrangeiros já
citados, visam a fornecer aos professores informações e orientação sobre aplicação
dos testes ABC; utilização de métodos e processos de alfabetização, com ênfase
nos aspectos psicológicos da aprendizagem da leitura e da escrita; compreensão
dos conceitos de leitura e, destacam, também, a questão da adequação do material
de alfabetização (a cartilha) para as crianças matriculadas em escolas rurais.
87
Apresento, no Apêndice D, os resumos descritivos dos referidos artigos. o foi possível localizar, até o
momento, o artigo de ADAMS, Mary A. A verdadeira função da leitura na escola primária. Educação, São
Paulo, v. 4, n. 1-2, p. 60-?, ago./set. 1931.
148
1.1 A abordagem de Damasco Penna acerca dos testes ABC
J. B. Damasco Penna inicia seu artigo com a seguinte epígrafe,
dedicada a Lourenço Filho:
A LOURENÇO FILHO
Autor dos testes A.B.C.
O modesto trabalho a que ora damos publicidade, redigido no
Serviço de Psicologia Aplicada, pretende apresentar uma
contribuição de ordem teorico-pratica á representação grafico-
estatística dos resultados dos testes A.B.C. Seguimos em sua
composição as indicações que ha tempos nos deu NOEMY
SILVEIRA, a quem de publico agradecemos. O perfil de classe, de
cuja construção aqui se trata, foi feito por muitos professores o ano
passado, em que se fez em larga escala a aplicação dos testes
A.B.C. Mas, mesmo no relatorio que NOEMY SILVEIRA escreveu
sobre essa grande experiencia de psicologia, a construção do perfil
não foi explicada, o que se compreende facilmente quando se
considera as explicões orais, gerais e particulares, foram muitas e
repetidas. Parece-nos que estas indicações praticas terão alguma
utilidade a quantos de futuro desejem aplicar os testes A.B.C.
(PENNA, 1932, p. 75).
O autor do texto, confere primeiramente a Lourenço Filho, certo
prestígio pelas formulações pioneiras acerca dos testes ABC; em seguida, menciona
que as experiências acerca da aplicação dos testes já se estenderam entre os
professores, reiterando propaganda acerca da aplicação dos testes. Também,
Damasco Penna investe na formação de opinião em torno das vantagens da
multiplicação dos testes, incitando aqueles que ainda não utilizaram a fazê-lo.
O discurso de Damasco Penna representa um discurso acadêmico-
institucional, próprio dos “educadores profissionais”, que apresentam soluções
técnicas para os problemas enfrentados pelo ensino. Neste caso, Penna apresenta o
conceito de “perfil da classe”. “O perfil da classe é um histograma em que se
representa o valor do grupo em cada uma das funções mentaes examinadas pelos
testes. Dá ao professor uma visão geral do valor da classe.” (PENNA, 1932, p. 75).
Em seguida, indica aos leitores a maneira de se representarem no
quadro de freqüência os valores obtidos pelos aluno em cada um dos oito testes
aplicados, respeitando-se a maturidade individual de cada criança; verificada no
149
quadro de freqüência, os rendimentos da aprendizagem da leitura e da escrita
seriam melhores.
Posteriormente, Damasco Penna continua a apresentar informações
sobre os estudos da medida da inteligência, como, por exemplo, as contidas em
“Iniciação ao estudo da medida da inteligência”. Neste artigo, o autor descreve, de
forma sintética, os temas abordados no “Curso de iniciação ao estudo da medida da
inteligência”, proferido pela professora Noemy Silveira, entre outubro e novembro de
1933, junto ao Serviço de Psicologia Aplicada da Escola de Professores do Instituto
de Educação. O autor pretende divulgar entre os professores “menos informados”,
saberes referentes à utilização dos testes. Na descrição das “lições” do referido
curso, destaca as “Noções gerais sobre o comportamento e suas grandes fórmas”;
“Que se entende por inteligência”; “Evolução da inteligência: as operações da
inteligência os atributos da inteligência”; “Princípios gerais da medida da
inteligência”; “Que se póde medir na inteligência”; e “Questões gerais técnicas de
aplicação de testes”.
1.2 Princípios psicológicos da aprendizagem da leitura e da escrita
Tendo visibilidade em nosso país, o médico belga Ovidio Decroly tem
traduzido no Brasil e publicado na revista, em 1932, o artigo “Iniciação na leitura e
na escrita”, em que apresenta o método global ou “ideo-visual” como um importante
processo para que o ensino da leitura e da escrita se tornasse mais eficiente, com
menor dispêndio de trabalho para o professor e para o aluno, obtendo, então,
melhores resultados.
As idéias do Dr. Decroly relacionadas à utilização do método global no
ensino da leitura e da escrita, já haviam sido divulgadas por Luiz Galhanone, na
revista Educação, em 1929, como já informei. Agora, voltam a ser destacadas
especialmente pelos princípios psicológicos que as regem, e, a que em suas linhas
gerais aspiram:
1º. – Estabelecer a escola em um quadro natural, onde possa a
criança assistir diariamente aos phenomenos da natureza, ás
manifestações da vida dos seres animados em geral, e dos homens
em particular, nos seus esforços por se adaptarem ás condições de
existencia que lhes são impostas; 2º. – Coeducação das crianças; 3º
- Organização interna de classes de modo a facilitar o trabalho em
150
commum e a actividade dos alumnos: classe-officina e não mais
classe-auditorio; 4º. – Homogeneidade das classes e limitações do
numero de alumnos a 25; 5º. – Collaboração com as familias; 6º. –
Regimen de disciplina educativa; 7º. – Treino do trabalho collectivo
pela collaboração dos alumnos, treino pessoal pela actividade
individual. (O METHODO DECROLY, 1931, p. 86)
Dentre os princípios decrolianos, encontramos a organização de
classes homogêneas, como aspecto necessário para que o ensino tenha êxito,
juntamente com a utilização do método global para o ensino da leitura e da escrita.
Assim, no artigo “Iniciação na leitura e na escrita”, Decroly defende a superioridade
da utilização do método global para o ensino da leitura, porque é o que melhor
corresponde à psicologia infantil.
Ao tratar do método global, Dias Agudo (1932), acrescenta que, por
meio da utilização do método global, é possível dar uma orientação científica para o
ensino da leitura, porque “[...] assenta sôbre o principio da compreensão da leitura,
da significação dos simbolos [...]” (AGUDO, 1932, p. 169). Dessa forma
[...] a aprendizagem da leitura deverá basear-se nas experncias
efetuadas já sôbre a fisiologia da leitura, e que nos dizem que, não
lendo o ôlho por silabas nem por letras, mas sim por frases e por
palavras, é tambem pela justaposição de unidades do pensamento
que iremos dar á leitura compreendida. Temos que partir, portanto,
logo do comêço, pela aquisição das unidades do pensamento que
estão encerradas nas frases e nas palavras, e não pela
aprendizagem dos elementos das palavras. Os fenómenos visuais
que se dão durante a ação de ler não nos dizem outra coisa. De
fato, demonstrou-se já que o ôlho avança mais rapidamente na
percepção das frases ou das palavras, que a bôca em exprimir
fonéticamente os elementos que as constituem. (Idem, p. 170, grifos
do autor)
De acordo com essa orientação científica, a visão desempenha papel
importante na aprendizagem da leitura. Os movimentos dos olhos, durante a leitura,
são descontínuos, assim o olho procede por saltos e por pausas ao longo das linhas,
e a leitura só ocorre durante as pausas de fixação do olho. Essas pausas são
irregulares, não depende somente do indivíduo e do texto, mas da finalidade da
leitura. Depois de ler algumas linhas, todo leitor tende a estabelecer um ritmo de
movimento dos olhos, procedendo a uma leitura com compreensão.
Assim, de acordo com a fisiologia da leitura, a aprendizagem da leitura
não deve ter como ponto de partida as sílabas, nem letras, pois o olho não lê por
151
sílabas e letras, mas sim por frases e por palavras, ou seja, pela justaposição
dessas unidades de pensamento.
Neste momento, como analisa Magnani (1997b, p. 74), “Em relação à
alfabetização, as discussões vão gradativamente normalizando e rotinizando os
aspectos psicológicos – em detrimento dos lingüísticos e pedagógicos [...]”.
152
PARTE VII
A REVISTA DE EDUCAÇÃO (1933-1943) E A ABORDAGEM SOBRE
ALFABETIZÃO
153
CAPÍTULO 1
A REVISTA DE EDUCAÇÃO (1933-1943): TRAJETÓRIA EDITORIAL
154
1. Características gerais da Revista de Educação (1933-1943)
88
A Revista de Educação foi editada no Estado de São Paulo, entre
março de 1933 e o ano de 1943. Trata-se de um período que se caracteriza por
mudanças constantes ocorridas no âmbito da cúpula administrativa da Diretoria
Geral do Ensino de São Paulo
89
, assim como “[...] mudanças constantes no âmbito
político/social e acontecimentos marcantes no cenário mundial [...]” (MONARCHA,
2003, p. 1)
90
.
Por esses motivos, os membros do GPHEB e do PIPREE optaram por
organizar o conjunto de dados referentes à Revista de Educação, em três subfases,
a saber: 1933 a 1935, 1935 a 1937 e 1938 a 1943, correspondentes à permanência
de certos administradores no cargo de Diretor do Ensino do Estado de São Paulo,
conforme os dados que apresento nos Quadros a seguir.
QUADRO 20 - Diretores do Ensino do Estado de São Paulo, de 1932 a 1935
Diretor Período
Fernando de Azevedo
28/12/1932 à 25/07/1933
Sud Mennucci
07/08/1933 à 23/08/1933
Francisco Azzi
24/08/1933 à 14/08/1934
Luiz da Motta Mercier
15/09/1934 à 25/09/1935
Fonte: ANNUARIO do Ensino do Estado de São Paulo (1935-1936), 1936, p. 2.
QUADRO 21 - Período de permanência de Antonio de Almeida Junior no cargo
de Diretor do Ensino do Estado de São Paulo
Diretor Período
Antonio de Almeida Junior
26/09/1935 à 1937
Fonte: ANNUARIO do Ensino do Estado de São Paulo (1935-1936), 1936.
88
Para elaboração deste tópico, baseei-me, especialmente, nas informações de Carlos Monarcha. Levantamentos
das revistas. 2003.
89
Conforme ANNUARIO do Ensino do Estado de São Paulo (1935-1936). 1936, p. 27, “O Codigo de Educação,
de 21 de abril de 1933, ampliando as attibuições da Directoria Geral do Ensino, aentão existente, mudou-lhe o
nome para Departamento de Educação. Pouco durou o novo titulo. Trez mezes depois, pelo decreto nº 6.019, de
10 de agosto, voltou a repartição a chamar-se Directoria Geral do Ensino. Sete mezes mais tarde, o decreto nº
6.425, de 9 de maio de 1934, acompanhando as sucessivas restricções impostas ao departamento, tirou-lhe o
adjectivo “geral”, para dar-lhe simplesmente o nome de Directoria do Ensino”. (grifos do autor).
90
Darei maior ênfase sobre os principais aspectos desse período no tópico seguinte.
155
QUADRO 22 - Diretores do Ensino do Estado de São Paulo, de 1938 a 1943
A. Meirelles Reis Filho
?/01/1938 à ?/?/1938
Joaquim Álvares Cruz
10/05/1938 à ?
Aluizio Lopes de Oliveira
?/06/1938 a ?
Dario Dias de Moura
10/04/1939 a ?/04/1939
Aluizio Lopes de Oliveira
?/04/1939 a ?/06/1942
O. Barros
?/12/1942 a ?
Aluizio Lopes de Oliveira
?/?/1943 a ?
Israel Alves dos Santos
?/?/1943 a ?/11/1943
Sud Mennucci
?/12/1943 a ?
Fonte: Monarcha (2003).
Como se percebe, de 1932 a 1935, Fernando de Azevedo permanece
sete meses na Diretoria do Ensino; Sud Mennucci dezesseis dias; e Francisco Azzi e
Luiz da Mota Mecier, um ano cada.
Já Antonio de Almeida Júnior, no segundo subperíodo aqui delimitado,
tem uma administração mais duradoura, totalizando dois anos.
Por fim, de 1938 a 1943, as passagens são efêmeras. Apenas no ano
de 1938 assumiram a administração A. Meirelles Reis Filho, Joaquim Álvares Cruz e
Aluizio Lopes de Oliveira. Em 1939, Dario Dias de Moura ocupa o cargo por alguns
dias, depois tem-se a volta de Aluizio Lopes de Oliveira que ocupa a vaga por dois
anos, e depois é sucedido por O. Barros. Em 1943, toma posse, Aluizio Lopes de
Oliveira pela terceira vez, e, ainda entram em cena Israel Alves dos Santos e Sud
Mennucci.
Por essas constantes trocas, a revista tamm não mantém um projeto
editorial, abordando os mais variados temas, escritos por sujeitos que constituem
discursos, que por vezes, disputam programas políticos-pedagógicos concorrentes
visando ao controle do Estado e à direção do sistema educacional (VILELA, 2000).
Como sintetiza Maria Luiza Marcílio,
156
Cada novo administrador público tem sua fórmula de salvação e
quer implantá-la, inconformado com a realidade dura que encontra.
Muitas vezes desmonta o que vem atrás, sem mesmo ter havido
tempo de provar seus acertos e erros, em nome de mudanças
desnecessárias, e começa-se tudo de novo, com grande prejuízo
para o objetivo maior e único que é a criança ou o adolescente.
(MARCÍLIO, 2005, p. 291).
A revista foi editada com periodicidade trimestral até 1937. Entre 1933
e 1935 totalizou dez números, em dez volumes. De 1935 a 1937, totalizou dez
volumes, em cinco exemplares. De 1938 a 1943, ainda que sua periodicidade fosse
prevista para ser semestral, deixou de circular durante um longo período, tendo
assim, publicados cinco volumes.
Sobre os problemas enfrentados na publicação e na distribuição da
Revista de Educação, encontramos o seguinte texto escrito quando da
administração de Israel Alves dos Santos:
Ao assumir a direção do departamento, múltiplos e complexos foram
os problemas encontrados pelo sr. Dr. Israel Alves dos Santos, entre
os quais o da “Revista de Educação” porisso que, devendo, por
decreto, ser a mesma distribda gratuitamente ao professorado e
não existindo verbas para sua edição normal, dessa situação
resultara, há tempos, sua paralização. A esse, bem como a todos os
problemas encontrados ou criados por novas situações, como o da
execução, em S. Paulo, da reforma federal do ensino, o atual Diretor
Geral com decisão e método, vem procurando soluções. A principal
dificuldade para a publicação normal da “Revista de Educação” foi
resolvida, gras a boa vontade do ilustre professor Sud Mennucci,
esclarecido educador e diretor da Imprensa Oficial, o qual facilitou
para o bom e urgente cumprimento do despacho de Sua Excelência
o Sr. Dr. Fernando Costa, D. D. Interventor Federal, que, a pedido
deste Departamento, autorizou sejam as edições da “Revista de
Educação” impressa por conta do Estado. (REVISTA DE
EDUCAÇÃO, v. 29, n. 30-39, mar.1941 a jun. 1943)
Dessa forma, a partir do volume 29, publicação de março de 1941 a
junho de 1943, passou a ser publicada com recursos do Estado, e “Todos os
institutos oficiais de ensino receberão um exemplar de cada número da ‘Revista de
Educação’, que deverá ser conservado na biblioteca, como prioridade do
estabelecimento”. (REVISTA DE EDUCAÇÃO, v. 29, n. 30-39, mar./1941 a
jun./1943).
157
1.1 Apresentação gráfica
A revista foi impressa pela Typographia Garraux, da cidade de São
Paulo, até 1935, quando passou a ser impressa por Salles Oliveira e Cia Ltda, da
Typographia Siqueira, já citada anteriormente. Após 1938, foi impressa pela
Imprensa Oficial do Estado.
Manteve o formato inicial, com as mesmas dimensões no formato
brochura. Com uma capa remodelada (Anexo 4), o título da publicação aparece
centralizado, na cor vermelha e em negrito. Acima do título, o nome da instituição
responsável “Directoria do Ensino do Estado de São Paulo”, e abaixo do título, tem-
se o local de publicação e data ao centro; do lado esquerdo, a indicação do volume
e do lado direito, a indicação do número. A contracapa apresenta-se em branco. A
novidade, consiste no acréscimo das orelhas contendo, sumário (junto à capa); e
junto a contracapa o seguinte texto:
“REVISTA DE EDUCAÇÃO”
ORGAM DA DIRECTORIA DO ENSINO
_________
Esta Revista, manteve-se acima de divergencias doutrinarias,
acolhe com imparcialidade a collaboração de todos quantos queiram
assim distinguil-a.
*
Publica-se em março, junho, setembro e dezembro.
ASSIGNATURA ANNUAL .............................. 15$000
NUMERO AVULSO ....................................... 5$000
É gratuita a distribuição aos professores publicos do Estado.
*
Os snrs. Assinantes, no caso de mudança, devem mencionar com
clareza, no communicado que transmitam, o antigo e o novo
endereço.
*
Toda correspondencia deve ser dirigida á Redacção da REVISTA
DE EDUCAÇÃO.
Directoria do Ensino
Rua Libero Badaró, 10 (1º andar)
São Paulo - BRASIL
Após o volume 11-12 de 1935, passam a informar o novo endereço da
Diretoria do Ensino – Rua Florencio de Abreu, 130 – São Paulo – Brasil, e, a partir
do volume 29, números 30-39 de março de 1941 a junho de 1943, a seguinte
158
informação quanto à correspondência: “Para boa ordem dos serviços redatoriais e
de direção, toda correspondência deve, até nova resolução ser endereçada ao
professor José Clozel, Assistente Técnico do Departamento de Educação – Rua
Marconi, 71 – 8º andar – S. Paulo.”
Nesse período, a revista passou a ser reproduzida como “ÓRGÃO DO
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO” do Estado de São Paulo.
Os textos aparecem escritos a uma coluna, com exceção de algumas
seções especializadas. Os assuntos envolviam temáticas variadas, como,
alfabetização, linguagem, ensino primário, ensino profissional, psicologia, ensino
rural, ginástica, literatura infantil, higiene mental e escolar, saúde e civilização,
cinema educativo, psicanálise, ensino religioso, arquitetura escolar, educação de
“anormais”, ciências, sugestões de aulas, entre tantos outros.
Observa-se a utilização de recursos tipográficos como reproduções
fotográficas, mapas, gráficos, gráficos estatísticos e tabelas.
A revista adota a seqüência gráfica padronizada nas fases anteriores,
ou seja, artigos seguidos de seções especializadas, porém, nesta fase aumenta
consideravelmente o número de artigos publicados. No volume 1, número 1, por
exemplo, apresenta 19 artigos que antecedem às quatro seções especializadas. O
volume 8, publicado em dezembro de 1934, chega a apresenta 26 artigos, além das
seções especializadas.
1.2 As seções especializadas
De 1933 a 1943, a revista teve publicadas as seguintes seções
especializadas: “Factos e iniciativas/Fatos e iniciativas”; “Através de revistas;
“Legislação escolar”; “Bibliographia/Bibliografia”; “Estatistica escolar”
91
;
“Publicações”; “Directoria do ensino - Circulares / Departamento de Educação –
Circulares”; “Metodologia”; “Centro do Professorado Paulista”; “História da Educação
no Brasil”; entre outras.
[...] “Fatos e iniciativase “Através de revistas” foram publicadas
regularmente e nelas eram publicadas resenhas de livros, notícias
de eventos educacionais e indicações de artigos de perdicos
91
Conforme Revista de Educação v. 8, n. 8, dez. de 1934, p. 420, consta Quadro do Ensino Primário (Público e
particular) no Brasil e no Estado de São Paulo, em 1932, quanto ao número de matrícula geral.
159
nacionais e internacionais. Na seção “Legislação escolar
encontram-se circulares, despachos, decretos e resoluções oficiais
emanadas da Diretoria Geral do Ensino do Estado de São Paulo.
(MONARCHA, 2003 , p. 6)
As seções “Através de revistas”, “Bibliographia/Bibliografia”; e “Factos
e iniciativas/Fatos e iniciativas” foram publicadas durante todo o período (1933-
1943). “Na seção “Publicações”, eram agradecidos e publicados os recebimentos de
livros e periódicos pela revista.” (MONARCHA, 2003, p. 5).
A seção “Metodologia” foi publicada entre 1941 e 1943. Diretamente
relacionada ao ensino e à prática docente, destinou especial atenção ao ensino da
leitura e da escrita, fornecendo aos professores planos de lições para o “ensino da
linguagem no curso primário”.
O “Centro do Professorado Paulista” aparece, pela primeira vez, em
1943 (volume 29, números 30-39, de março de 1941 a junho de 1943), com as
devidas explicações:
O Centro do Professorado Paulista, reconhecido como instituição de
utilidade pública por decreto governamental, é uma associação de
classe que congrega cerca de seis mil membros do magistério e, por
isso, julgou o Departamento oportuno e justo destinar-lhe no seu
orgão oficial uma secção que será dirigida pelo respectivo
presidente, sr. Professor Sud Mennucci. (REVISTA DE EDUCAÇÃO,
V. 29, n. 30-39, mar./ 1941 a jun./ 1943, editorial)
E, por fim, em “História da Educação no Brasil” eram publicadas
informações biográficas sobre educadores brasileiros, como, por exemplo, as de
João Kopke
92
, e informes sobre instituições de ensino.
1.3 Autores colaboradores
No período de 1933 a 1943, a revista contou com a colaboração de
193 autores. Desse total 50 autoras colaboradoras e 143 homens. Alguns autores
colaboradores compareceram com certa regularidade, como, Sud Mennucci, José
Ribeiro Escolbar, Luiz Gonzaga Fleury, Benedicto Candido de Moraes, Renato
Sêneca Fleury, J. B. Damasco Penna, Leontina Silva Busch, Maximo de Moura
Santos, entre outros. Em sua maioria, eram Professores de Escolas Normais;
92
As informações sobre a vida e obra de João Kopke encontram-se no volume 30, jul./dez. de 1943, p. 161-163.
160
Professores-Adjuntos em Grupos Escolares; Lentes do Instituto de Educação;
Diretores do Ensino; Delegados Regionais de Ensino; e Inspetores de Ensino.
Entre os autores estrangeiros, cujos textos foram traduzidos no Brasil,
destacam-se Jean Piaget e William S. Gray.
1.4 Leitores previstos
No volume 9-10, n. 9-10, de marco/junho de 1935, observa-se a
informação na segunda orelha de capa
“REVISTA DE EDUCAÇÃO”
ORGAM DA DIRECTORIA DO ENSINO
________
Esta Revista, mantendo-se acima de divergencias doutrinarias,
acolhe com imparcialidade a collaboração de todos quantos queiram
assim distinguil-a.
*
Publica-se em março, junho, setembro e dezembro.
ASSIGNATURA ANNUAL .. 15$000
NUMERO AULSO .............. 5$000
É gratuita a distribuição aos professores publicos do Estado.
*
Os snrs. Assignantes, no caso de mudança, devem mencionar com
clareza, no communicado que transmittam, o antigo e o novo
endereço.
*
Toda a correspondencia deve ser dirigida á Redacção da REVISTA
DE EDUCAÇÃO.
Directoria de Ensino
Rua Florencio de Abreu, 130
São Paulo - BRASil
Sendo distribuída gratuitamente para os professores do ensino público
paulista, supõe-se que o número de leitores tema aumentado significativamente. Já,
em 1943 (volume 30, números 40 e 41), acrescenta-se à segunda orelha da revista
a seguinte informação “Todos os institutos oficiais de ensino receberão um exemplar
de cada número da “Revista de Educação”, que deverá ter na biblioteca, como
propriedade do estabelecimento.”
Resultante dessa iniciativa temos nos dias de hoje, em algumas
Escolas Estaduais, que anteriormente foram transformadas em Institutos de
161
Educação, parte da coleção da revista disponível para pesquisa. È o caso, por
exemplo, do acervo da Biblioteca da Escola Estadual Leônidas do Amaral Vieira,
localizado na cidade de Santa Cruz do Rio Pardo/SP.
* * *
Mesmo não tendo um projeto editorial unificado, entre 1933 e 1943, os
responsáveis pela Revista de Educação se preocuparam em dar a ela uma feição
prática, publicando artigos menos densos teoricamente e mais direcionados à
prática docente.
162
CAPÍTULO 2
A ALFABETIZÃO NA REVISTA DE EDUCAÇÃO (1933-1943)
163
1. A produção sobre alfabetização na Revista de Educação (1933-1943)
Durante esses dez anos, a revista publicou 35 artigos sobre
alfabetização e temas correlatos. O pico dessa produção se deu no ano de 1933,
quando oito artigos foram escritos. Seqüencialmente, tem-se entre dois e três artigos
publicados por ano até 1939, quando observamos um ligeiro aumento de artigos;
sendo cinco, em 1939 e seis, em 1943. Apresento a produção total no Quadro 23.
QUADRO 23 - Temas pertinentes à alfabetização veiculados na Revista de
Educação (1933-1943)
93
Ano
Vol. N. ginas Título Autor
1933 1 1 185-194 Os testes ABC como meio de
selão de classe
Onofre Penteado
1933 2 - 3-14 O ensino da leitura Francisco Eusébio de
Aquino Leite
1933 3 - 12-25 Leitura Antenor Erveu
Bettarello e Lázaro
Ferraz de Camargo
1933 4 - 35-41 Linguagem e pensamento Renato Sêneca Fleury
1933 4 - 42-44 Principais reformas modernas no
ensino da leitura
William S. Gray
1933 4 - 45-46 A leitura no primeiro grau Gertrudes T. Shirpley
1933 4 - 62-71 A associação no ensino da
leitura
José Ribeiro de
Meneses Filho
1933 4 - 91-101 O problema da maturidade para
a leitura e a escrita
Lourenço Filho
1934 5 5 101-106 Alphatização rapida Abel de Faria Sodré
1934 6 - 70-87 Linguagem, leitura e escrita Francisco Eusébio de
Aquino Leite
1934 7 7 48-54 Suggestões e planos para o
ensino de leitura
Leontina Silva Busch
1934 7 7 147-148 Bibliographia J. B. Damasco Penna
1934 8 8 80-87 Suggestões e planos para o
ensino da leitura
Leontina Silva Busch
1935 9/10 9/10 84-92 As classes seletivas do 1º grau e
os testes A.B.C.
Bruno Vollet
1935 11/12 11/12 03-18 Alphabetização rapida Francisco Eusébio de
Aquino Leite
1935 11/12 11/12 58-66 O ensino da linguagem escripta Leontina Silva Busch
93
Apresento, no Apêndice E, os resumos descritivos dos referidos artigos. Não foi possível localizar, até o
momento, apenas os artigos de: FLEURY, Renato Sêneca. Linguagem e pensamento. Revista de Educação, São
Paulo, v. 4, p. 35-41, dez. 1933; e SALGADO, Benedito José. A caligrafia na Escola Primária. São Paulo, v. 28,
n. 29-32, p. 56-58, mar./jun. - set./dez. 1939.
164
– planos e suggestões
1936 15/16 15/16 17-31 A escripta na escola primária Henrique Richelli
1936 15/16 15/16 52-55 Organizão de classes
seleccionadas e aplicão dos
testes ABC
Anna Nogueira Ferraz
e Olga Bolliger
1937 17/18 17/18 03-07 O ensino no primeiro anno
escolar
Fernando Rios
1937 17/18 17/18 51-56 Calligraphia muscular Jurema Braga
1938 21/22 21/22 03-07 O ensino da linguagem nos dois
primeiros anos da escola
primária
Vicente Peixoto
1938 21/22 21/22 60-62 Seleção de classes Renato de Arruda
Penteado
1938 21/22 21/22 63-75 O ensino da caligrafia Beatriz de Freitas
1939 23/26 23/26 14-17 O método analítico Máximo de Moura
Santos
1939 23/26 23/26 51-56 O ensino da leitura e o método
analítico
Francisco Eusébio de
Aquino Leite
1939 27 28-63 Testes Comissão de estudos
do S.I.A.E.
1939 27 203-206 Método analítico Sud Mennucci
1939 28 29/32 56-58 A caligrafia na Escola Primária Benedito José Salgado
1943 29 30/39 55-59 O ensino da leitura nas classes
adiantadas
Maria de Lourdes
Vieira
1943 29 30/39 206-208 Aprendendo a ler em trinta lições A NOITE
1943 30 40/41 03-05 Ler em seis horas Sud Mennucci
1943 30 40/41 20-23 Ensinar a ler Máximo Moura Santos
1943 30 40/41 81-84 A leitura para a aquisição de
vocabulário
H. J. Sachs
1943 30 40/41 105-111 Método ideo-visual para o ensino
de leitura, segundo Decroly
Adauto de Oliveira
Serra
1943 30 40/41 122-134 O ensino da linguagem no curso
primário
Maria Helena Prestes
Barra
Fonte: Revista de Educação (1933-1943).
Os 35 artigos relacionados acima foram escritos, como se observa, por
professores primários, técnicos em educação e autoridades da administração do
ensino público paulista, além de autores estrangeiros que abordavam as então
recentes pesquisas relativas ao ensino e aprendizagem da leitura e da escrita.
Esses autores tratavam de temas como os testes ABC, conceitos de
leitura e linguagem e suas relações, reformas do ensino da leitura e da escrita,
caligrafia muscular, métodos de ensino, além de fornecer orientações práticas sobre
como conduzir as aulas de alfabetização.
Apresento, no Quadro 24, os autores, com a respectiva freqüência de
colaboração.
165
QUADRO 24 - Autores que escreveram sobre alfabetização na Revista de
Educação (1933-1943), com respectiva freqüência de colaboração
Autor Freqüência
de colaboração
Abel de Faria Sodré 1
Adauto de Oliveira Serra 1
Anna Nogueira Ferraz (co-autoria) 1
Atenor Erveu Bettarello (co-autoria) 1
Beatriz de Freitas 1
Benedito José Salgado 1
Bruno Vollet 1
Comissão de Estudos do S.I.A.E. 1
Fernando Rios 1
Francisco Eusébio de Aquino Leite 4
Gertrudes T. Shirpley 1
Henrique Richetti 1
H. J. Sachs 1
J. B. Damasco Penna 1
José Ribeiro de Meneses Filho 1
Jurema Braga 1
Lázaro Ferraz de Camargo (co-
autoria)
1
Leontina Silva Busch 3
Lourenço Filho 1
Maria de Lourdes Vieira 1
Maria Helena Prestes Barra 1
Máximo de Moura Santos 2
Olga Bolliger (co-autoria) 1
Onofre Penteado 1
Renato de Arruda Penteado 1
Renato Sêneca Fleury 1
Sud Mennucci 2
Vicente Peixoto 1
William S. Gray 1
De A Noite
1
TOTAL 35
Fonte: Revista de Educação (1933-1943).
Pela freqüência de colaboração, percebe-se que quase a totalidade
dos autores colabora, publicando apenas um artigo, com exceção de Máximo de
Moura Santos e Sud Mennucci, que tiveram publicados, cada qual, dois artigos;
Francisco Eusébio de Aquino Leite, quatro e Leontina Silva Busch, três.
166
1.1 O discurso hegemônico acerca dos testes ABC
Em março de 1933, Onofre Penteado aponta, no artigo “Os testes ABC
como meio de seleção de classes”, que os professores ainda não sabem como
utilizar os testes ABC, e que, no entanto, muitos deles estão procedendo, de
maneira errônea, à aplicação dos oito testes para a seleção das classes compostas
respectivamente por alunos fracos, médios e fortes.
Na tentativa de se divulgar amplamente entre os professores primários
os fundamentos teóricos dos testes ABC e apresentar as explicações necessárias e
os motivos para a aplicação dos testes ABC, Lourenço Filho tem publicado, então, o
artigo “O problema da maturidade para a leitura e escrita”, em dezembro de 1933.
Agora, do lugar de diretor do Instituto de Educação da Capital Federal,
demonstrando insatisfação quanto à “política de alfabetização” no Brasil, propõe
uma forma diferente de tratar os problemas da educação, inclusive da alfabetização.
Ao escrever sobre o que está entendendo por educação, cultura e
alfabetização e as possíveis relações estabelecidas entre esses conceitos, sustenta
que “Alfabeto e cultura não são sinônimos e, muito menos, alfabeto e educação.”,
dessa forma a educação deve ultrapassar “[...] o caráter do ensino simples das
primeiras letras.” (LOURENÇO FILHO, 1933, p. 91). Para tanto a escola necessita
de ajustamentos, especialmente, quanto a maneira de conduzir a alfabetização.
Ajustamento, enfim, num sentido dinâmico, às possibilidades e
necessidades de cada região, com respeito aos quadros morais de
nosso tempo. O aprendizado da leitura e da escrita por certo que aí
entra, em tal conjunto de técnicas de adaptação, mas como
processo elementar, mero instrumento, nunca finalidade que a si
mesma possa salientar.” (Idem, p. 91)
Após expor essas questões, o autor observa que o que está propondo,
na essência, não é um debate sobre a cultura, mas sim um debate sobre um
problema que considera de natureza difícil e fundamental, a aprendizagem da leitura
e da escrita, pois, de acordo com a nova mentalidade educacional à época, era
necessário aumentar a matrícula no primeiro ano escolar, organizar e expandir o
aparelho escolar.
167
[...] a cultura não é a escola de primeiras letras extensas; mas, onde
quer que uma escola popular esteja aberta, tradicional ou renovada,
o problema da leitura e da escrita, é o problema que, ao mesmo
tempo se apresenta como fundamental. (LOURENÇO FILHO, 1933,
p. 92)
Nesse sentido, o reformador do ensino, pensa a educação como um
conjunto de técnicas que necessita de adaptação, e, alfabetização como um
instrumento de aquisição individual de cultura. Assim, a aprendizagem deve atender
às diferenças individuais,
[...] que permita, de um lado, a apreciação rápida, simples e
eficiente da capacidade de aprender o simbolismo da leitura e
escrita, em cada aluno; de outro, a organização de classes seletivas
para desigual velocidade no ensino, com o que tenderão a maior
economia de tempo e energia de mestres, e conseqüente aumento
da produção útil total da máquina escolar. (Idem, p. 95)
Para a organização de classes seletivas, então, o critério científico é o
emprego dos testes ABC e “[...] condição elementar para a eficiência das classes
que tenham que dar êsse aprendizado.” (LOURENÇO FILHO, 1933, p. 92). A
organização de classes é necessária, porque a maturidade apresenta variações
individuais e, na fase inicial da leitura e da escrita, exige-se um mínimo de
maturidade da coordenação vísio-motora e auditivo-motora da palavra. Assim,
destaca que a maturidade é de ordem mais fisiológica que propriamente psicológica,
pois independe da idade mental ou cronológica do aluno.
A criança, com suas diversidades individuais, deve, por sua vez, ser
considerada e estudada pelo professor para que este possa realizar o ajustamento
da personalidade dos alunos, em face as novas possibilidades e necessidades da
educação. A escola teria assim, função socializadora, capaz de adaptar o aluno ao
tempo e ao meio, “[...] estudemos a matéria prima, antes do ajustamento das
máquinas que devem trabalhar.” (LOURENÇO FILHO, 1933, p. 94).
Ao discorrer sobre o estudo da criança, Lourenço Filho considera que é
mais importante o professor conhecer as características individuais das crianças, do
que a escolha do melhor método para ensinar a ler e a escrever, relativando assim
o método de alfabetização.
Nessa investida, a partir de 1935, começam a ser publicados artigos
referentes a relatos de experiências bem sucedidas relacionados à aplicação dos
168
testes ABC, em escolas da capital e do interior do Estado, como os revelam os
discursos de Bruno Vollet, Anna Nogueira Ferraz e Olga Bolliger, Renato de Arruda
Penteado.
Esses discursos destacam, objetivando adesão dos professores, os
aspectos positivos de se procederem à aplicação dos testes para classificar as
crianças ingressantes nas classes de alfabetização, apresentando dados estatísticos
que comprovam o aumento da taxa de aprovação ao final do primeiro ano escolar,
antes e depois da aplicação dos testes.
Ainda nos textos, a figura de Lourenço Filho, é citada como quem tem
“autoridade [científica] no assunto”. Assim, encontramos nos escritos de Henrique
Ricchetti (1936) “Como apresenta Lourenço Filho”; nos de Anna Nogueira Ferraz e
Olga Bolligar (1936) “De acordo com as indicações do professor Lourenço Filho”; e
nas citações de Bruno Vollet (1934) “Esse pressuposto pode ser confirmado ao se
consultar o livro de Lourenço Filho.”.
A série de artigos envolvendo a temática dos testes culmina com o
texto organizado pela Comissão de estudos do S.I.A.E (Chefia das Instituições
Auxiliares da Escola), em 1939 e intitulado “Testes” e tem como objetivo divulgar os
trabalhos realizados pelo Laboratório de Psicologia, anexo à Faculdade de Filosofia,
Ciências e Letras da Universidade de São Paulo.
A esta altura, a “Comissão de estudos” faz uma avaliação de como a
divulgação dos testes ABC vinha sendo encaminhada:
[...] a obra de divulgação, referente aos testes, já tão bem
encaminhada pelo Laboratório de Psicologia ora anexo à Faculdade
de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, e
pelos esforços isolados de colaboradores desta Revista, de diretores
e professores, que isoladamente, têm colhido resultados
satisfatórios neste campo educacional. (COMISSÃO DE ESTUDOS,
1939, p. 28)
Além de destacar o importante papel da Revista de Educação na
divulgação dos testes ABC, a Comissão, aproveita para informar que “Nenhum
professor começa anualmente o seu trabalho, sem procurar conhecer seus alunos.
Um dos seus primeiros cuidados é dar à classe provas fáceis, para distinguir quais
os alunos mais fortes, os médios e os mais fracos”. (p. 29), e, que “Os testes ABC
169
apresentam uma técnica de aplicação definida e inequívoca, em suas oito provas,
que indagam aspectos diversos da estrutura da Leitura e Escrita.” (p. 33).
170
Figuras 3 e 4 – Páginas da Revista de Educação (1939)
171
Figuras 5 e 6 – Páginas da Revista de Educação (1939)
172
1.2 A necessidade de se alargarem os conceitos de leitura e escrita
Naquele momento, em virtude da influência da psicologia experimental, a
escrita não era mais entendida como uma questão exclusiva de caligrafia, “[...] mas
como meio de comunicação e instrumento de linguagem”. (MORTATTI, 2004, p. 64).
Assim, o professor
No ensino da escripta, cumpre approveitar os interesses naturaes do
aprendiz, procurando, pela motivação, fazel-o desejar aprender a
escrever. Os resultados dessa aprendizagem serão verificados e
registrados pelos proprios alumnos, o que lhes será causa de
estimulo, não só pela emulação, mas, tambem, pelo desejo proprio
de melhorar sua graphia, em virtude de um senso artistico, que
coma a desabrochar no seu intimo. [...] De inicio, o alumno se
limitará á simples copia, porém, logo que a motivação tenha
conseguido interessar a creança, o professor poderá cuidar da
actividade muscular da mesma, afim de conseguir que se
estabeleça o rythmo, necessario para a obtenção de uma graphia
harmoniosa e rapida. (RICCHETTI, 1936, p. 19, grifos do autor)
Tal ensino deveria, então, ser orientado adequadamente, a fim de
despertar o interesse da criança e proporcionar um aprendizado eficiente e
funcional, que garantisse clareza, legibilidade e rapidez à escrita, tanto para o
professor quanto para o aluno.
A leitura, “[...] por sua vez, passou a ser entendida, não mais como
‘processo ou habilidade de interpretar o pensamento de outrem’, mas como meio de
ampliar as experiências, estimular poderes mentais.” (MORTATTI, 2004, p. 65).
Para tanto, foram sendo defendidas e introduzidas nas escolas novas
práticas de leitura, que objetivavam ensinar a criança a ler com compreensão,
desembaraço e rapidez, respeitando as condições individuais dos alfabetizandos.
Tais práticas de leitura envolviam, dentre outras iniciativas, incentivo e
utilização intensiva da leitura silenciosa, da argüição e “comentário animado”.
Após a leitura silenciosa, é evidente que o professor precisa verificar
até onde foi a compreensão das criaas dentro do assunto da lição.
Para essa verificão e para suscitar na intelligencia dos escolares
maior poder de penetração do sentido das phrases, cabe ao
professor arguir habilmente a classe. [...] Durante a arguição e
mesmo depois, quando os alumnos estiverem procedendo á leitura
por trechos, com reprodução dos mesmos, deve o mestre fazer
commentario vivo e interessante afim de pôr a descoberto os pontos
173
mais importantes de cada periodo, apreciando com a collaborão
da crianças attitudes das personagens, a forma por que o autor
exprimiu sentimentos desta ou daquella, emfim, o estylo em que
está calcada a linguagem. (BUSCH, 1934b, p. 83)
Todas essas considerações assinalam para a importância enfatizada
por Lourenço Filho no papel da criança na relação ensino-aprendizagem e os
aspectos internos da aprendizagem da leitura e da escrita. Assim o bom
desempenho escolar nesta etapa da escolarização, dependia da maturidade
biofisiológica do aluno,
[...] opondo-se às discuses travadas em torno do melhor método
para se alfabetizar e pretendendo superá-las [...] refutando as
propostas e soluções do passado, o novo proposto por esse
educador nem sempre consegue romper definitivamente com a
“tradição herdada” [...]. (BERTOLETTI, 1997, p. 35)
No entanto, o discurso de Lourenço Filho contribui para alargar o
conceito de alfabetização, entendido como um processo escolarizado e
cientificamente fundamentado, meio e instrumento de aquisição individual de cultura.
1.3 O Método analítico em declínio
Como aponta Estela Bertoletti (1997; 2006), o “novo” discurso sobre
alfabetização, proposto por Lourenço Filho, nem sempre consegue romper com a
“tradição herdada”. Nos artigos publicados na revista, tamm se observa que a
discussão em torno do método analítico não deixa de existir, porém, a
representatividade desse tipo de discurso é menos expressiva, se comparada ao
discurso veiculado até os anos de 1930.
Os autores que ainda abordam questões relativas ao uso do método
analítico, entre os quais Máximo de Moura Santos, Francisco Eusébio de Aquino
Leite, José Ribeiro de Meneses Filho e Sud Mennucci, em sua defesa ou não, tratam
apenas de fazer reeditar as idéias e conceitos já apresentados anteriormente,
especialmente, quanto a sua adequação ou não à “escola ativa”.
No âmbito desse “terceiro momento” da constituição da história da
alfabetização no Brasil, entra em declínio o método analítico e ganha repercussão o
174
método misto ou eclético (analítico-sintético ou sintético-analítico), cujos defensores,
como Lourenço Filho, acreditam que apresenta superioridade sobre os outros, na
medida de suas probabilidades de se adequarem ao nível de maturidade necessário
ao aprendizado da leitura e da escrita.
Dessa forma, o sucesso da alfabetização não dependia
exclusivamente da escolha do método, mas dos fundamentos psicológicos que o
regem. De acordo com os princípios escolanovistas, o professor deveria fazer com
que o pensamento dos alunos trabalhasse ativamente, portanto, na escolha do
método e da cartilha de alfabetização, o professor deveria levar em conta os
assuntos ou motivos das lições, os quais deveriam estar intimamente relacionados
com as atividades do meio de vivência dos alunos.
175
CONSIDERAÇÕES FINAIS
176
Foi com o objetivo de contribuir para a ampliação dos estudos
históricos em Educação e compreender um importante momento da história recente
da alfabetização no Brasil que desenvolvi a pesquisa documental e bibliográfica que
resultou nesta Tese, em que investigei aspectos dos discursos sobre alfabetização
veiculados na imprensa periódica educacional paulista.
Após organizar e referenciar os documentos localizados e reunidos, foi
necessário selecioná-los para análise. Para tal seleção, levei em consideração as
características internas das revistas e o próprio movimento de constituição da
alfabetização como objeto de estudo.
As revistas representam a expressão de idéias, concepções e
aspirações defendidas pelos intelectuais responsáveis pelas publicações; dessa
forma, os discursos sobre alfabetização acompanham os modos de fazer e de
pensar a alfabetização de uma determinada época, por determinados sujeitos. Como
registra António Nóvoa, por meio da análise desses discursos, se não é possível
escrever os fatos “tal como aconteceram”; “Estamos, na maior parte das vezes,
perante reflexões muito próximas do acontecimento, que permitem construir uma
ligação entre as orientações emanadas do Estado e as práticas efectivas na sala de
aula” (1993, p. XXXII).
A imprensa periódica educacional permite, também, no caso da história
da alfabetização, apreender aspectos da complexidade da prática da alfabetização
em nossa sociedade, por meio da riqueza dos debates, dos inquéritos, das tensões
e das denúncias que permitem constatar, o sempre e persistente problema, que é a
dificuldade de se alfabetizarem crianças em nosso país. Dificuldade, portanto,
histórica. O conhecimento desses discursos pode contribuir para uma melhor
compreensão do que herdamos do passado.
Embora com características diversas entre si, as revistas aqui
destacadas contribuíram para a difusão de concepções e idéias sintonizadas com os
princípios escolanovistas, tendo em vista transmitir aos professores saberes
necessários para alfabetizar crianças. Portanto, os discursos sobre alfabetização
contidos nas revistas subsidiaram, informaram, atualizaram e incentivaram a
participação dos professores no “projeto de reformulação da escola paulista”, que
por sua vez envolvia “projetos de alfabetização”.
Dessa forma, em Educação (1927-1930) os discursos sobre
alfabetização seguem a idéia de que para o progresso da Nação, os cidadãos
177
precisavam se tornar leitores. Alfabetizar o povo, então, era viabilizar uma certa
mentalidade compatível com a vida republicana, o que impulsionou a expansão do
sistema escolar paulista que, por sua vez, foi acompanhada pelo gradativo
aperfeiçoamento dos processos e métodos de ensino, sintonizados com os ideais
escolanovistas. Assim, os professores recebiam orientações, por meio dos artigos da
revista, visando a tornar o ensino ativo e dinâmico, ideais estes que, no âmbito da
alfabetização, estavam ancorados no estudo científico da criança e na escolha do
melhor método de alfabetização, assim como na percepção das características que
permitiam adaptá-los as “novas” práticas necessárias à renovação educacional.
Em Escola Nova (1930-1931) tem-se a idéia, postulada por Lourenço
Filho, de que a escola deveria deixar de ser um aparelho formal de alfabetização
para estimular a adaptação da inteligência infantil aos problemas do seu próprio
meio, favorecendo a aquisição e a democratização da cultura. Sob a influência da
Psicologia experimental, Lourenço Filho inaugura, na revista, um discurso
escolanovista sobre alfabetização, centrado nos testes para medida da maturidade
para o aprendizado da leitura e da escrita. Os primeiros artigos sobre o tema são de
ordem teórica, objetivando informar os professores sobre as razões, funções e
benefícios da aplicação dos testes ABC.
Em Educação (1931-1932) foram sendo ampliadas as idéias voltadas
para a função adaptadora da alfabetização, no âmbito da educação popular, de
maneira que esta fosse realizada de maneira rápida, econômica e eficiente.
Por fim, a Revista de Educação (1933-1943), acompanhando as idéias
pedagógicas em ascensão e as realizações do movimento escolanovista, dispõe de
discursos sobre alfabetização que enfatizam o papel da criança na relação ensino-
aprendizagem, relativizam os métodos de alfabetização, assim como todos os
aspectos externos dessa aprendizagem. Esses discursos fazem parte de uma
estratégia de “renovação” orientada e sistematizada.
Durante o desenvolvimento da pesquisa de que resultou esta Tese,
deparei com algumas inevitáveis dificuldades, entre elas a de recuperação de
informações e documentos, a seleção e interpretação das fontes documentais e,
especialmente, o trato com a grande variedade e quantidade de artigos localizados.
Considero, porém, que alguns avanços foram possíveis, em relação à
produção já existente sobre aspectos correlatos ao tema da alfabetização. Esses
avanços referem-se, especialmente, a utilização de fontes pouco exploradas.
178
Reconheço, também, que outras possibilidades poderiam ser escolhidas e outros
aspectos poderiam ser destacados, entre eles, as questões específicas sobre as
cartilhas de alfabetização utilizadas à época, o analfabetismo e o contraponto aos
discursos sobre alfabetização, a atuação profissional e a produção intelectual dos
autores dos artigos que não foram aqui destacados, são alguns exemplos. Porém a
delimitação do tema, do problema de investigação e dos objetivos da pesquisa
levaram-me a optar pelo caminho apresentado nesta Tese, ficando o material
excedente para futuros estudos.
179
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188
ACERVOS, INSTITUIÇÕES E SITES CONSULTADOS
Biblioteca da Faculdade de Filosofia e Ciências da Universidade Estadual Paulista –
Campus de Marília/SP
Biblioteca da Faculdade de Ciências e Letras da Universidade Estadual Paulista – Campus
de Araraquara/SP
Biblioteca da Faculdade de Ciências e Letras da Universidade Estadual Paulista – Campus
de Assis/SP
Biblioteca da Universidade Estadual Paulista – Campus de Ourinhos/SP
Biblioteca da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP)
Biblioteca da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Lisboa –
Portugal
Biblioteca da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa – Portugal
Biblioteca Nacional de Lisboa - Portugal
Biblioteca da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio “Leônidas do Amaral Vieira –
Santa Cruz do Rio Pardo/SP
Centro de Referência para Pesquisa Histórica em Educação (CRPHE) – UNESP –
Faculdade de Ciências e Letras da Universidade Estadual Paulista - Campus de
Araraquara/SP.
http://www.dedalus.usp.br
http://www.sbu. unicamp.br
http://www.capes.gpv.br/servicos/resumo
189
APÊNDICE A
TEMAS PERTINENTES À ALFABETIZAÇÃO VEICULADOS NA IMPRENSA
PERIÓDICA EDUCACIONAL PAULISTA, ENTRE OS ANOS DE 1927 E 1943: UM
INSTRUMENTO DE PESQUISA
190
SUMÁRIO
Apresentação 191
1. Seção 1: Artigos sobre alfabetização veiculados na revista
Educação (1927-1930) 193
2. Seção 2: Artigos sobre alfabetização veiculados na revista Escola
Nova (1930-1931) 196
3. Seção 3: Artigos sobre alfabetização veiculados na revista
Educação (1931-1932) 196
4. Seção 4: Artigos sobre alfabetização veiculados na Revista de
Educação (1933-1943) 196
REVISTAS 199
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 199
INSTITUIÇÕES E ACERVOS CONSULTADOS 199
191
Apresentação
Este instrumento de pesquisa é resultado de pesquisa documental
desenvolvida mediante procedimentos de localização, recuperação, reunião, seleção
e ordenação de artigos sobre alfabetização veiculados na imprensa periódica
educacional paulista. Inicialmente, havia sido delimitado o período entre os anos de
1933 e 1943 para análise, mas, no transcorrer da pesquisa e principalmente após a
realização do Exame Geral de Qualificação, momento em que a Banca Examinadora
sugeriu a ampliação do período considerado para análise, retrocedi ao ano de 1927.
O período para análise passou a ser considerado, então, 1927- 1943.
Com o objetivo de organizar a produção escrita sobre alfabetização
veiculada na imprensa periódica educacional paulista, utilizei, primeiramente, os
dados existentes nos resultados de estudos e pesquisas organizados por Monarcha
(2003).
Subsidiada nos “Levantamentos” produzidos no âmbito do GPHEB e
do PIPREE que contêm dados globais e sistematizados referentes às revistas,
ordenadas na subunidade temática “Revistas de educação e ensino”, selecionei os
módulos das revistas divididas em fases e subfases, a saber: Educação (1927-
1930); Escola Nova (1930-1931); Educação (1931-1932); e Revista de Educação,
ordenadas nas subfases 1933-1935, 1935-1937, e 1938-1943.
Tal ordenação utilizada pelos membros do GPHEB e do PIPREE,
justifica-se pelo fato das constantes mudanças ocorridas na cúpula administrativa da
Diretoria do Ensino de São Paulo, conseqüência de “[...] conjunturas históricas
intelectualmente efervescentes e socialmente instáveis, articuladamente à presença
ativa de vanguardas intelectuais dotadas de consciência social e de ruptura, as
quais buscam a experimentação e o novo [...]” (MONARCHA, 2002, p. 5).
Após consultas aos “Levantamentos”, os documentos foram
localizados mediante acesso ao acervo do Centro de Referência em Pesquisa
Histórica em Educação, inicialmente instalado nas dependências da Faculdade de
Filosofia e Ciências da Universidade Estadual Paulista, campus de Marília, e
posteriormente localizado na Faculdade de Ciências e Letras da Universidade
Estadual Paulista, campus de Araraquara. Além do referido acervo consultei,
tamm, o acervo da Biblioteca da Escola Estadual Leônidas do Amaral Vieira, da
192
cidade de Santa Cruz do Rio Pardo/SP, que contém alguns números das revistas
escolhidas para análise.
Após a localização dos artigos, elaborei resumos descritivos dos
respectivos artigos, e selecionei aqueles pertinentes ao tema da pesquisa.
Este instrumento de pesquisa está organizado em quatro seções, de
acordo com as normas da ABNT-2003 (NBR 6023). A seguir, relaciono as seções
com a correspondente quantidade de documentos:
- Seção 1: Artigos sobre alfabetização veiculados na revista Educação
(1927-1930) – 46 artigos.
- Seção 2: Artigos sobre alfabetização veiculados na revista Escola
Nova (1930-1931) – 02 artigos.
- Seção 3: Artigos sobre alfabetização veiculados na revista Educação
(1931-1932) – 07 artigos.
- Seção 4: Artigos sobre alfabetização veiculados na Revista de
Educação (1933-1943) – 35 artigos.
Como se pode observar, em cada uma das seções, ordenei as
referências em ordem cronológica de acordo com a data de publicação dos artigos,
desde o primeiro número da revista Educação, até o número volume 30 da Revista
de Educação, publicado em 1943, ano delimitado para encerramento da pesquisa
documental; utilizei-me, ainda, dos dados descritivos apresentados nos documentos
e mantive a ortografia de época.
193
SEÇÃO 1
1. SILVEIRA, Noemi. Preparo da linguagem escrita. Educação, São Paulo, v. 1, n. 1,
p. 54-?, out. 1927a.
2. SILVEIRA, Noemi. Como corrigir trabalhos escritos. Educação, São Paulo, v. 1, n.
?, p. 174-?, out. 1927b.
3. DUMAS, Georges. Existe uma psicologia da escrita? Educação, São Paulo, v. 1,
n. ?, p. 107-110, ?. 1928.
4. JARDIM, Renato. As denominações “Methodo analytico” e “Methodo syntetico” em
Pedagogia. Educação, São Paulo, v. 2, n. 3, p. 209-226, mar. 1928.
5. FLEURY, Luiz Gonzaga. As denominações “Methodo analytico” e “Methodo
syntetico” em Pedagogia. Educação, São Paulo, v. 3, n. 3, p. 302-310, jun. 1928.
6. GRANATO, Lourenço. A alphabetização em São Paulo. Educação, São Paulo, v.
3, n. 1, p. 51-54, out. 1928.
7. VIANA, Victor. Valor practico do saber ler. Educação, São Paulo, v. 5, n. 1, p. 78-
81, out. 1928.
8. PADILHA, Celina. Inquerito:Como ensinar a lêr? Educação, São Paulo, v. 6, n.
1/2, p. 143-146, jan./fev. 1929.
9. LEITE, Francisco Eusébio de Aquino. O ensino da leitura (Em defesa do methodo
analytico). Educação, São Paulo, v. 6, n. 3, p. 248-258, mar. 1929.
10. DÓRIA, Antonio de Sampaio. Formação da linguagem. Educação, São Paulo, v.
7, n. 1/2, p. 15-44, abr./maio. 1929.
11. WAGNER, José Amaral. Apontamentos para uma aula de calligraphia.
Educação, São Paulo, v. 7, n. 1/2, p. 141-144, abr./maio. 1929.
12. GALHANONE, Luiz. O methodo Decroly (notas do livro de L. Dalhem).
Educação, São Paulo, v. 7, n. 1/2, p. 183-186, abr./maio. 1929a.
13.ANDERSON, Alfredo A. O ensino da calligrafhia. Educação, São Paulo, v. 7, n. 3,
p. 231-261, jun. 1929.
14. GRAY, William S. Principais reformas modernas no ensino da leitura
94
.
Educação, São Paulo, v. 7, n. 3, p. 272-274, jun. 1929.
15. SHIRPLEY, Gertrudes T. A leitura no primeiro grau. Educação, São Paulo, v. 7,
n. 3, p. 274-276, jun. 1929.
94
Este é o primeiro subtítulo de um conjunto de artigos intitulado O ensino da leitura”. Os quatro artigos
procedentes são constituintes desse conjunto.
194
16. HARDY, Marjorie. A leitura de livros no primeiro grau. Educação, São Paulo.
Educação, São Paulo, v. 7, n. 3, p. 276-282, jun. 1929.
17. GERSTMEYER, Eva E. O ensino da leitura no segundo grau. Educação, São
Paulo, v. 7, n. 3, p. 282-286, jun. 1929.
18. ADAMS, Mary A. A leitura nos graus intermediarios. Educação, São Paulo, v. 7,
n. 3, p. 286-292, jun. 1929.
19. GALHANONE, Luiz. O methodo Decroly. Educação, São Paulo, v. 8, n. 3, p. 381-
382, set. 1929b.
20. MENNUCCI, Sud. O ensino do vernaculo nas escolas primarias. Educação, São
Paulo, v. 9, n. 1, p. 107-135, out. 1929a.
21. MENNUCCI, Sud. A Escola Paulista (transcripção). Educação, São Paulo, v. 9,
n. 2, p. 270-273, nov. 1929b.
22. CESAR, Osorio. A alphabetização das crianças anormaes (transcripção).
Educação, São Paulo, v. 9, n. 3, p. 389-393, dez. 1929.
23. JARDIM, Renato. Um novo processo de ensinar a leitura. Educação, São Paulo,
v. 10, n. 1, p. 29-38, jan. 1930a.
24. PEREIRA, Juvenal Paiva. O ensino da linguagem. Educação, São Paulo, v. 10,
n. 1, p. 52-55, jan. 1930.
25. JARDIM, Renato. A Escola Paulista. Educação, São Paulo, v. 10, n. 2, p. 209-
211, fev. 1930b.
26. MENNUCCI, Sud. A Escola Paulista. Educação, São Paulo, v. 10, n. 2, p. 211-
213, fev. 1930a.
27. FLEURY, Luiz Gonzaga. Sobre o ensino da leitura. Educação, São Paulo, v. 10,
n. 3, p. 278-284, mar. 1930.
28. JARDIM, Renato. A Escola Paulista II. Educação, São Paulo, v. 10, n. 3, p. 320-
323, mar. 1930c.
29. MENNUCCI, Sud. A Escola Paulista II. Educação, São Paulo, v. 10, n. 3, p. 323-
325, mar. 1930b.
30. LEITE, Francisco Eusébio de Aquino. O ensino da leitura – methodos. Educação,
São Paulo, v. 11, n. 1, p. 31-44 , abril 1930a.
31. JARDIM, Renato. A escola Paulista III. Educação, São Paulo, v. 11, n. 1, p. 99-
102, abril, 1930d.
32. MENNUCCI, Sud. A escola Paulista III. Educação, São Paulo, v. 11, n. 1, p. 103-
105, abril, 1930c.
195
33. JARDIM, Renato. A escola Paulista IV. Educação, São Paulo, v. 11, n. 2, p. 238-
242, maio 1930e.
34. MENNUCCI, Sud. A escola Paulista IV. Educação, São Paulo, v. 11, n. 2, p. 242-
245, maio 1930d.
35. TOLOSA, M.B. Como ensinar a ler? Educação, São Paulo, v. 11, n. 3, p. 288-
316, jun. 1930.
36. LEITE, Francisco Eusebio de Aquino. O ensino da leitura: o “methodo analytico”
e a “analyse espontanea”. Educação, São Paulo, v. 11, n. 3, p. 325-336, jun. 1930b.
37. SANCHS, Alberto Vollet. Ensino primario (calligraphia muscular). Educação, São
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38. JARDIM, Renato. A escola Paulista V. Educação, São Paulo, v. 11, n. 3, p. 384-
387, junho 1930f.
39. MENNUCCI, Sud. A escola Paulista V. Educação, São Paulo, v. 11, n. 3, p. 387-
390, junho, 1930e.
40. JARDIM, Renato. A escola Paulista VI. Educação, São Paulo, v. 12, n. 1, p. 137-
140, julho 1930g.
41. MENNUCCI, Sud. A escola Paulista VI. Educação, São Paulo, v. 12, n. 1, p. 140-
143, julho 1930f.
42. LEITE, Francisco Eusebio de Aquino. O ensino da leitura: o methodo analytico e
os methodos americanos. Educação, São Paulo, v. 12, n. 2, p. 182-?, 1930c.
43. MENNUCCI, Sud. A escola Paulista VII. Educação, São Paulo, v. 12, n. 2, p.
295-298, ago. 1930g.
44. MENNUCCI, Sud. A escola Paulista (conclusão). Educação, São Paulo, v. 12, n.
2, p. 299-301, ago. 1930h.
45. MOURÃO, Francisco Alves. Ensino da linguagem escripta. Educação, São
Paulo, v. 12, n. 3, p. 357-367,set. 1930.
46. CAMPOS, Romão de. O ensino da lingua. Educação, São Paulo, v. 12, n. 3, p.
479-481,set. 1930.
196
SEÇÃO 2
1. LOURENÇO FILHO. Os testes. Escola Nova, São Paulo, v. 2, n. 2-4, p. 253-259,
mar./abr. 1931.
2. AMARANTE, Iracema de Castro. A escola renovada e a organização das classes.
Escola Nova, São Paulo, v. 2, n. 2-4, p. 392-394, mar./abr. 1931.
SEÇÃO 3
1. ADAMS, Mary A. A verdadeira função da leitura na escola primária. Educação,
São Paulo, v. 4, n. 1-2, p. 60-?, ago./set. 1931.
2. DECROLY, Ovidio. Iniciação na leitura e na escrita. Educação, São Paulo, v. 6, n.
1-2-3, p. 135-?, jan./fev./mar. 1932.
3. SODRÉ, Abel de Faria. Alphtização rápida. Educação, São Paulo, v. 8, n. 6-7, p.
33-39, jun./jul. 1932.
4. SOARES, Alvares. Os primeiros ensinamentos de leitura e linguagem. Educação,
São Paulo, v. 10, n. 10-11, p. 131-140, out./nov. 1932.
5. AGUDO, Dias. Os methodos de leitura. Educação, São Paulo, v. 10, n. 10-11, p.
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Educação, São Paulo, v. 11-12, 11-12, p. 3-18, set./dez. 1935.
16. BUSCH, Leontina Silva. O ensino da linguagem escripta planos e suggestões.
Revista de Educação, São Paulo, v. 11-12, n.11-12, p. 58-66, set./dez. 1935.
17. RICCHETTI, Henrique. A escripta na escola primária: síntese do livro da
professora Orminda I. Marques. Revista de Educação, São Paulo, v. 15-16, n. 15-16,
p. 17-31, set./dez. 1936.
18. FERRAZ, Anna Nogueira; BOLLIGER, Olga. Organização de classes
seleccionadas e applicação dos testes ABC. Revista de Educação, São Paulo, v. 15-
16, n.15-16, p. 52-55, set./dez. 1936.
19. RIOS, Fernando. O ensino no primeiro anno escolar. Revista de Educação, São
Paulo, v. 17-18, n.17-18, p. 17-18, mar./jun. 1937.
20. BRAGA, Jurema. Calligraphia muscular. Revista de Educação, São Paulo, v. 17-
18, n.17-18, p. 51-56, mar./jun. 1937.
21. PEIXOTO, Vicente. O ensino da linguagem nos dois primeiros anos da escola
primária. Revista de Educação, São Paulo, v. 19-20, n. 19-20, p. 03-07, mar./jun.
1938.
198
22. PENTEADO, Renato de Arruda. Seleção de classes. Revista de Educação, São
Paulo, v. 21-22, n. 21-22, p. 60-62, mar./jun. 1938.
23. FREITAS, Beatriz de. O ensino da caligrafia. Revista de Educação, São Paulo, v.
21-22, n. 21-22, p. 63-75, mar./jun. 1938.
24. SANTOS, Maximo de Moura. O método analítico. Revista de Educação, São
Paulo, v. 23-26, n. 23-26, p. 14-17, set./dez. - mar./jun
95
. 1939.
25. LEITE, Francisco E. de Aquino. O ensino da leitura e o método analítico. Revista
de Educação, São Paulo, v. 23-26, p. 51-56, set./dez. - mar./jun. 1939.
26. COMISSÃO DE ESTUDOS DO S.I.A.E. Testes. Revista de Educação, São
Paulo, v. 27, p. 28-63, set./dez. 1939.
27. MENNUCCI, Sud. Método analítico. Revista de Educação, São Paulo, v. 27, p.
203-206, set./dez. 1939.
28. SALGADO, Benedito José. A caligrafia na Escola Primária. Revista de
Educação, São Paulo, v. 28, n. 29-32, p. 56-58, mar./jun. - set./dez. 1939.
29. VIEIRA, Maria de Lourdes. O ensino da leitura nas classes adiantadas. Revista
de Educação, São Paulo, v. 29, n. 30-39, p. 55-59, mar. 1941 a jun. 1943.
30. A NOITE. Aprendendo a ler em trinta lições. Revista de Educação, São Paulo, v.
29, n. 30-39, p. 206-208, mar. 1941 a jun. 1943.
31. SUD MENNUCCI. Ler em seis horas. Revista de Educação, São Paulo, v. 30,
40-41, p. 3-5, jul./dez. 1943.
32. SANTOS, Maximo de Moura. Ensinar a ler. Revista de Educação, São Paulo, v.
30, 40-41, p. 20-23, jul./dez. 1943.
33. SACHS, H. J. A leitura para a aquisição do vocabulário. Revista de Educação,
São Paulo, v. 30, 40-41, p. 81-84, jul./dez. 1943.
34. SERRA, Adauto de Oliveira. Método ideo-visual para o ensino da leitura,
segundo Derloly (sic). Revista de Educação, São Paulo, v. 30, n. 40-41, p. 105-111,
jul./dez. 1943.
35. BARRA, Maria Helena Prestes. O ensino da linguagem no curso primário.
Revista de Educação, São Paulo, v. 30, 40-41, p. 122-134, jul./dez. 1943.
95
Assim consta na capa da revista.
199
REVISTAS
EDUCAÇÃO. São Paulo: Orgão da Directoria Geral da Instrucção Publica e da Sociedade
de Educação de São Paulo/ Orgão da Directoria Geral do Ensino de São Paulo, 1927-1930.
ESCOLA NOVA. São Paulo: Orgão da Directoria Geral da Instrucção Publica de São Paulo,
1930-1931.
EDUCAÇÃO. São Paulo: Orgão da Directoria Geral do Ensino de São Paulo, 1931-1932.
REVISTA DE EDUCAÇÃO. São Paulo: Orgão da Directoria do Ensino/Orgão do
Departamento de Educação, 1933-1943.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
MONARCHA, Carlos. Revistas de educação e ensino: São Paulo 1892-1940. Marília:
Universidade Estadual Paulista, 2002. Originalmente apresentado como projeto integrado de
pesquisa ao Conselho Nacional de desenvolvimento Cienfico e Tecnológico (CNPq) e à
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).
MONARCHA, Carlos (Org.). Levantamentos das revistas: Revista da Sociedade de
Educação (1923-1924); Educação (1927-1930); Escola Nova (1930-1931); Educação (1931-
1932); Revista de Educação (1933-1935); Revista de Educão (1935-1937); e Revista de
Educação (1938-1943). 2003. Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual
Paulista , Marília, 2003.
SILVA, Aldine Nogueira da. Estudo sobre a Revista Educação (1927-1930). 2005. 52f.
Trabalho de Conclusão de Curso (Pedagogia) – Faculdade de Filosofia e Ciências,
Universidade Estadual Paulista , Marília, 2005.
PEREZ, Andréia Santos. Um estudo sobre a Revista da Sociedade de Educação (1923-
1924). 2003. 68f. Trabalho de Conclusão de Curso (Pedagogia) – Faculdade de Filosofia e
Ciências, Universidade Estadual Paulista , Marília, 2003.
INSTITUIÇÕES E ACERVOS CONSULTADOS
Biblioteca da Faculdade de Filosofia e Ciências da Universidade Estadual Paulista –
Campus de Marília/SP.
Biblioteca da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio “Leônidas do Amaral Vieira –
Santa Cruz do Rio Pardo/SP.
Centro de Referência para Pesquisa Histórica em Educação (CRPHE) – UNESP –
Faculdade de Ciências e Letras da Universidade Estadual Paulista - Campus de
Araraquara/SP.
200
APÊNDICE B
RESUMOS DESCRITIVOS DOS ARTIGOS QUE VERSAM SOBRE
ALFABETIZÃO VEICULADOS NA REVISTA EDUCAÇÃO (1927-1930)
201
JARDIM, Renato. As denominações “Methodo analytico” e “Methodo syntetico” em
Pedagogia. Educação, São Paulo, v. 2, n. 3, p. 209-226, mar. 1928.
Trata-se da transcrição da palestra proferida por Renato Jardim perante a
Associação Brasileira de Educação, em outubro de 1927. Jardim sugere um debate
sobre os significados dos conceitos “método analítico” e “método sintético”, quando
relacionados aos métodos gerais de ensino. Apresenta, em forma de ensaio de
interpretação, quatro hipóteses para explicar a origem e o significado dos termos,
apontando a confusão existente entre esses conceitos, quando se empregam a
mesma denominação para designar coisas diferentes já que, para o autor, alguns
pedagogistas chamam de método analítico aquilo que outros chamam de método
sintético, e vice-versa. Quanto da utilização das expressões no ensino da leitura,
Jardim aponta o mesmo problema, ou seja, a confusão, por parte de autoridades do
ensino de São Paulo, quando empregam erroneamente a denominação “método
analítico” para instruírem o professorado quanto a certos processos de ensinar a
leitura, preconizando o “método analítico” com proposições equivocadas.
FLEURY, Luiz Gonzaga. As denominações “Methodo analytico” e “Methodo
syntetico” em Pedagogia. Educação, São Paulo, v. 3, n. 3, p. 302-310, jun. 1928.
Dialogando com Renato Jardim, Fleury faz uma análise dos critérios utilizados para
a escolha do uso das expressões “método indutivo” e “método dedutivo”, e seus
desdobramentos na linguagem pedagógica, em método analítico”, método sintético”
e “método analítico-sintético. O autor argumenta que o “método indutivo” baseia-se
na análise de idéias particulares e conduz a idéias gerais (sínteses), e, por sua vez,
o “método dedutivo” baseia-se em idéias gerais (sínteses) e conduz a idéias
particulares. Assim, o sentido das denominações “analítico-sintético” e “sintético
analítico” variam de acordo com o ponto de vista de quem os empregam. Se for
indutivo e chamado analítico (ou analítico-sintético) o critério de denominação é a
análise do ponto de partida e a síntese o ponto de chegada; se for indutivo e
chamado sintético, o critério de denominação é a síntese do ponto de chegada. E,
pelo contrário, se for dedutivo e chamado sintético (ou sintético-analítico) o critério é
a síntese do ponto de partida ou a análise do ponto de chegada, e por fim, se for
dedutivo e chamado analítico, o critério é a análise a que conduz o ponto de
chegada.
GRANATO, Lourenço. A alphabetização em São Paulo. Educação, São Paulo, v. 3,
n. 1, p. 51-54, out. 1928.
O autor aborda a questão da criação das Escolas Rurais no Estado de São Paulo.
Acredita que a criação dessas escolas ajudaria a resolver o problema da
alfabetização das crianças do campo o que seria, na sua opinião, uma iniciativa
patriótica. Destaca que os bons resultados dessas escolas que, aos poucos vêm
sendo criadas, depende da introdução, nos programa de ensino escolar, de algo que
aperfeiçoe a criança à terra e que a conscientize de que dela não deve se
desvincular. Assim, é necessário incutir no espírito dos alunos a compreensão de
que o solo “é a pátria” e que “cultivá-lo é engrandecê-lo”. Observa que, se esses
cuidados não forem tomados, há o perigo de que ocorra êxodo dos campos, o que
ocasionaria certa decadência econômica de nossas finanças. Julga que não é
possível falar em alfabetização no campo, sem falar em agricultura. Como membro
do Conselho Superior do Ensino de Agricultura do Estado, informa que há tempos
vem apresentando tentativas de iniciar cursos relacionados à agricultura nos grupos
202
escolares, sem, no entanto, obter sucesso. Informa, ainda, que o governo de Júlio
Prestes vem se preocupando com a questão. Por fim faz um apelo ao Diretor Geral
da Instrução Pública, o senhor Amadeu Mendes, para que patrocine a iniciativa de
elevar o Ensino Agrícola na Escola Primária, para isso oferece-lhe assistência e
apoio.
VIANA, Victor. Valor practico do saber ler. Educação, São Paulo, v. 5, n. 1, p. 78-81,
out. 1928.
Viana aponta que no Brasil as pessoas lêem pouco e que este é o maior mal do
brasileiro. Defende a idéia de que não basta o jovem saber ler; além de saber ler e
escrever tem que saber pensar e agir. Assim, são muitos os benefícios de se praticar
a leitura, entre elas, progresso na carreira e superação da exploração política. Para
Viana, o Brasil necessita de um movimento político preocupado com a instrução
inicial da população, que concentre os recursos públicos estadual e municipal, sob a
direção da União e garanta ao povo não só a alfabetização, como também acesso
aos livros. Para tanto, faz-se necessário a fundação de bibliotecas, seja pela
iniciativa pública ou privada, que se tornariam lugares de recursos para aqueles que
não têm condições de comprar seus livros.
PADILHA, Celina. Inquerito:Como ensinar a lêr? Educação, São Paulo, v. 6, n. 1/2,
p. 143-146, jan./fev. 1929.
Trata-se de um inquérito apresentado pela seção de Ensino Primário da Associação
Brasileira de Educação, presidida pela Professora Celina Padilha. O inquérito consta
de 25 questões destinadas às professoras alfabetizadoras em atuação. Do total de
questões, 16 estão relacionadas ao emprego do método analítico. Pretende-se,
portanto, verificar se as professoras empregam ou não o método analítico; qual a
opinião das professoras sobre a eficácia do método; quais as vantagens de seu uso;
se com o emprego desse método é vedado ao aluno o conhecimento do valor
fonético da representação gráfica da sílaba; se as condições da classe influem no
bom êxito de sua aplicação; se é de fácil manejo; e se todos os alunos aprendem
com facilidade por meio desse método. Além desses aspectos, procura-se verificar
a possibilidade de emprego de outros métodos de alfabetização por parte das
professoras; quantos anos vêm aplicando tal método; e se a leitura e a escrita
devem ser ensinadas simultaneamente. Ao final do inquérito, há espaço no
formulário para que a professora se identifique e registre o número de anos de
experiência docente.
LEITE, Francisco Eusébio de Aquino. O ensino da leitura (Em defesa do methodo
analytico). Educação, São Paulo, v. 6, n. 3, p. 248-258, mar. 1929.
O autor apresenta críticas às idéias de Renato Jardim, contidas em artigo publicado
no jornal Estado de São Paulo, em fevereiro de 1929, em que o autor se ocupa da
análise do uso do método analítico para o ensino da leitura no Estado de São Paulo.
Leite aponta que o método analítico, importado dos Estados Unidos e introduzido
por Miss Brown, há mais de trinta anos no Estado de São Paulo, ainda é um
problema pelo motivo do insucesso de processuação do método e a maneira
confusa com que se distinguem “palavração” e “sentenciação”. Considera, ainda,
que o método analítico é anticientífico, porque contrário à psicologia da criança, por
isso, monótono e “passivo”. Conclui que, no ensino da leitura, seja qual for o método
adotado, o professor deve visar ao ensino da palavra, frase ou sentença, sílaba e
203
letra, alterando a ordem, sempre que necessário e de acordo com a necessidade da
classe.
DÓRIA, Antonio de Sampaio. Formação da linguagem. Educação, São Paulo, v. 7,
n. 1/2, p. 15-44, abr./maio. 1929.
Neste artigo, o autor apresenta considerações sobre a que visa a linguagem, qual o
seu fim e quais seus elementos constitutivos, além de citar e explicar alguns tipos de
exercícios utilizados na formação da linguagem, os quais classificou em três seções,
a saber: exercícios alfabetizantes, exercícios de assimilação e exercícios de
aplicação. Quanto aos exercícios alfabetizantes, Sampaio Dória considera que
esses exercícios constituem o aprendizado da leitura e da escrita e esse
aprendizado deve ser simultâneo. O autor apresenta sua posição sobre o ensino da
escrita e da leitura, na qual ensinar a ler não é ensinar a articular sons, mas ensinar
a perceber realidades mediantes palavras escritas, e ensinar escrever é ensinar a
representar, em palavras grafadas, realidades ausentes, se diferencia, portanto, do
simples rabisco. Nessa concepção, a palavra ou a frase curta é a forma de sentido,
ou seja, não se deve iniciar o ensino da leitura por meio de letras ou sílabas, porque
elas não indicam nenhuma realidade, nenhum sentido. O autor adverte que pensar
na seqüência letras, sílabas, palavras e sentenças é errôneo, pois a linguagem não
admite a consciência dos sons ou formas, se não forem associadas às idéias.
WAGNER, José Amaral. Apontamentos para uma aula de calligraphia. Educação,
São Paulo, v. 7, n. 1/2, p. 141-144, abr./maio. 1929.
O autor destina os apontamentos do artigo para os normalistas, futuros mestres, que
têm a missão de ensinar a leitura e a “arte de dizer” para a população escolar.
Considera que o Brasil, sendo imenso de território, rico em belezas naturais, atrai os
estrangeiros que aqui buscam realizar seus sonhos. Conseqüentemente, essa
aglomeração de raças resulta numa variedade de línguas que se mesclam, se
chocam, viciam-se, deturpam-se no falar quotidiano da população que, em geral, é
“ignorante das boas normas de dizer”. Aponta que se existem os defeitos prosódicos
e fonéticos na fala da população, cabe ao professor dar oportunidades para as
crianças aprenderem a se expressar melhor, no sentido de persuadir e alcançar uma
influência imediata naqueles que ouvem, caso contrário quem fala nunca conseguirá
a atenção do ouvinte. Conclui que é indispensável saber falar bem, conhecer a arte
de dizer, para interpretar os pensamentos com clareza, verdade e beleza.
GALHANONE, Luiz. O methodo Decroly (notas do livro de L. Dalhem). Educação,
São Paulo, v. 7, n. 1/2, p. 183-186, abr./maio. 1929a.
O autor oferece informações sobre o programa de ensino nas escolas belgas, onde
se aplica o método Decroly, e sobre os cinco centros de interesses em torno dos
quais o método é aplicado, a saber: o menino e a escola; a alimentação; o vestuário;
a rua; e a casa paterna. Informa, ainda, que esses centros de interesses são
subdivididos a outros tantos assuntos, como, por exemplo, a alimentação em, os
legumes, os frutos e os animais. Na segunda parte do texto, o autor oferece modelos
de lições para o primeiro ano escolar, cujos exercícios devem girar em torno do
centro de interesse “o menino e a escola”. Esses exercícios consistem em atividades
de observação do ambiente escolar; expressão por meio de linguagem gráfica;
leitura de sentenças sugeridas pelo professor; jogo envolvendo os desenhos e
sentenças correspondentes; escrita, por parte do professor no quadro negro, e por
parte dos alunos em papel sem pauta, imitando o professor; cópia das palavras
204
menino e escola, por várias vezes; e realização de modelagem em argila de uma
das idéias expressas nas sentenças.
ANDERSON, Alfredo A. O ensino da calligrafhia. Educação, São Paulo, v. 7, n. 3, p.
231-261, jun. 1929.
Apresentam-se considerações sobre a crescente importância da caligrafia e
aspectos de sua evolução histórica. A caligrafia é entendida como um instrumento
utilizado para facilitar qualquer operação, um utensílio mecânico, cuja aquisição está
ao alcance de todos, assim, a escrita deve ser útil, por isso, legível, fácil e rápida. A
boa letra é sempre uma vantagem e a má letra, um empecilho. Torna-se dever da
escola habilitar o aluno a registrar seus pensamentos da melhor forma possível; para
tanto, o professor deve ensinar ao aluno a forma mais simples e os mais eficientes
movimentos. Anderson aponta que o movimento muscular é o método que oferece
melhores resultados para esse ensino. Descreve a processuação do método de
escrever, que emprega o músculo do ante-braço, deixando a mão livre para
escorregar sobre o papel, na qual o corpo fica em uma posição cômoda e natural.
Informa que esse método foi adotado, com sucesso, na Escola Americana, em São
Paulo, a cerca de dez anos, a fim de elevar o padrão da escrita. O ponto pedagógico
forte desse método está no fato de que o aluno aprende um sistema
cuidadosamente elaborado que depois poderá levar consigo e fazer uso quando lhe
convier; assim, o ensino da caligrafia não deve estar divorciado do restante do
trabalho escolar, e pode ser ensinado em grupo ou individualmente.
GRAY, William S. Principais reformas modernas no ensino da leitura
96
. Educação,
São Paulo, v. 7, n. 3, p. 272-274, jun. 1929.
Apresenta a necessidade da “reforma dos métodos de ensino da leitura”,
destacando as influências dos estudos recentes sobre a leitura e seu ensino.
Observa que no âmbito desse ensino, o que se admitia, há vinte anos atrás era o
domínio pela busca de três objetivos, a saber: a posse mecânica da leitura, a
formação de hábitos de boa leitura oral e o cultivo da apreciação da literatura.
Atualmente, a leitura é pensada como um meio para ampliar as experiências dos
alunos e estimular seus poderes mentais. Com a ampliação desses objetivos
necessitamos de outros métodos que não sejam os “tradicionais”, que visem a um
programa moderno de leitura, nos quais as atividades sejam estimulantes,
produtivas e criadoras, condizentes com o “novo” e principal objetivo da leitura, que
consiste na interpretação inteligente do escrito.
SHIRPLEY, Gertrudes T. A leitura no primeiro grau. Educação, São Paulo, v. 7, n. 3,
p. 274-276, jun. 1929.
Sobre o ensino inicial da leitura, considera que as atividades que antecedem o
primeiro livro de leitura devem ser propostas pelos professores tendo em vista
incentivar o “desejo de ler”. As primeiras atividades devem basear-se nas
experiências comuns entre as crianças, como passeios, jogos, excursões,
dramatizações entre outras. Sugere que as professoras, tamm, utilizem o
vocabulário oral das crianças (símbolo oral) para acrescentar a estes o símbolo
visual. Além disso, propõe para as professoras que utilizem sentenças escritas que
tenham “real motivo” para que as crianças leiam, como, por exemplo, avisos nos
murais da classe. Acredita que, quanto mais variado o número de exercícios que
96
Este é o primeiro subtítulo de um conjunto de artigos intitulado O ensino da leitura”. Os quatro artigos
procedentes são constituintes desse conjunto.
205
estimulem o interesse inicial pela leitura, menor a necessidade de o professor
sugerir “exercícios que constituem trabalho penoso”.
HARDY, Marjorie. A leitura de livros no primeiro grau. Educação, São Paulo.
Educação, São Paulo, v. 7, n. 3, p. 276-282, jun. 1929.
A autora destaca a questão da prontidão para a leitura, entendida como o “tempo
que antecipa a leitura no livro de leitura”. Apresenta sete habilidades necessárias
para facilitar a aprendizagem da leitura por parte das crianças, entre elas,
oportunidade de manusear livros, oportunidade de narrar experiências, capacidade
de concentrar e escutar as histórias lidas pelo professor, capacidade de contar uma
história e pensar o material escrito como uma “história acerca das coisas ou como
contando alguma ciosa”. Tomando como lema o fato de que o aluno “aprende a ler
lendo”, o processo indicado para o ensino da leitura é o que tem a história como
ponto de partida. Tal história deve ser breve, contada de maneira simples e natural,
baseada em experiências comuns das crianças e que os personagens tenham
continuidade de experiências no correr do livro, fato que desperta o interesse do
aluno pela continuidade da leitura.
GERSTMEYER, Eva E. O ensino da leitura no segundo grau. Educação, São Paulo,
v. 7, n. 3, p. 282-286, jun. 1929.
Para Gerstmeyer a criança que entra para o segundo grau já deve estar em
condições de ler as cartilhas e os primeiros livros de leitura de forma independente
do professor, am de entender que as palavras escritas têm uma significação para o
leitor. Sendo assim, oferece às professoras, desse nível de ensino da leitura, dicas
para aperfeiçoar a leitura por parte dos alunos, como “ampliar o interesse e o amor
pela leitura”; “desenvolver ainda mais as fases mecânicas do processo da leitura”;
“desenvolver os hábitos e as associações que formam a base para ler oralmente
com facilidade”; e “desenvolver os hábitos e as associações essenciais na leitura
para obter o significado”. Cita os objetivos gerais do ensino da leitura no segundo
grau, que são, a saber: compreensão, correção e independência, e velocidade e
desembaraço. Oferece, ainda, dicas de exercícios e meios auxiliares para se
alcançarem cada um desses objetivos, como a manutenção de uma biblioteca na
sala de aula, dramatização, estudo de palavras novas, entre outras.
ADAMS, Mary A. A leitura nos graus intermediarios. Educação, São Paulo, v. 7, n. 3,
p. 286-292, jun. 1929.
Destaca que o papel desempenhado pela professora de leitura, nesta etapa de
ensino, não é menos importante que o da professora das etapas anteriores. Aponta
que no grau intermediário, o aluno já deve possuir algumas atitudes e aptidões, tais
como derivar sentido dos símbolos escritos, saber utilizar as diferentes partes do
livro, e possuir certas atitudes mentais, como, por exemplo, interesse pela leitura. A
professora deverá certificar-se se os “alunos podem ler”; para tanto, deverá o
professor realizar um estudo científico para conhecimento das habilidades que os
alunos já possuem e possíveis dificuldades, para propor um programa de ensino que
satisfaça essas necessidades. Cabe ao professor, tamm, oferecer “tipos
diferentes de material de leitura” para que eles possam “desenvolver a faculdade de
ler por meio de uma ampla e variada provisão de experiências de leitura”.
206
GALHANONE, Luiz. O methodo Decroly. Educação, São Paulo, v. 8, n. 3, p. 381-
382, set. 1929b.
Trata-se de continuidade das considerações contidas no artigo publicado no volume
7, número 1/2, de 1929, em que expôs os princípios psicológicos que regem o
método Decroly. Reafirma que, em linhas gerais, o método se baseia nas quatro
necessidades básicas do indivíduo, a saber: a alimentação, luta contra as
intempéries, defesa e trabalho. Explica que foi baseado nessas necessidades que o
médico belga, Dr. Decroly, resolveu implantar um novo método em educação, com o
objetivo de elevar o nível social de um grande números de crianças necessitadas e
por isso fundou, em 1901, em Bruxelas o Instituto de Ensino Especial para
“retardatários” e “anormais”, porém, o método Decroly foi implantado oficialmente,
nas escolas belgas, a partir da década de 1920 e teve repercussão mundial. No
Brasil, foi introduzido recentemente e teve seus primeiros ensaios no Distrito
Federal, em Minas Gerais e em São Paulo. Conclui que, nas escolas paulistas, os
princípios psicológicos que norteiam o método Decroly já eram utilizados nos
programas de ensino, antes mesmo de sua divulgação em nosso país.
MENNUCCI, Sud. O ensino do vernaculo nas escolas primarias. Educação, São
Paulo, v. 9, n. 1, p. 107-135, out. 1929a.
O autor reúne a transcrição de seis artigos, de sua autoria, publicados entre
setembro e outubro de 1919 no jornal O Estado de São Paulo, e parte de um
Memorial apresentado ao Conselho de Educação da Capital, em julho de 1921. A
temática dos artigos relaciona-se com o debate acerca da modificação do método de
ensino da língua nas escolas primárias, em que o autor fundamenta seu discurso em
prol do método analítico. Mennucci informa que já faz dez anos que vem se
preocupando com a temática e que, agora, está mais perto do que nunca o
momento de o método analítico ser estendido as demais disciplinas do programa
escolar. Para tanto apresenta logo após os artigos o Memorial, reproduzido em
parte, contendo um programa para o ensino da língua na escola primária. Esse
programa contém orientação para o professor conduzir os exercícios de ensino da
linguagem, desde o 1º até o 7º grau de ensino.
MENNUCCI, Sud. A Escola Paulista (transcripção). Educação, São Paulo, v. 9, n. 2,
p. 270-273, nov. 1929b.
Trata-se do primeiro de uma série de artigos transcritos do jornal O Estado de São
Paulo. Neste texto, Sud Mennucci relata os resultados obtidos na III Conferência
Nacional de Educação destacando certa hegenomia dos educadores paulistas,
frente ao movimento pedagógico nacional. Ao se referir ao movimento da Escola
Nova no Brasil, classifica a escola paulista como uma escola do “tipo mista”, ou seja,
uma escola que, na aparência, se assemelha à escola clássica, mas que em sua
essência, respeita o desenvolvimento gradual e harmônico da criança. Considera,
ainda que, graças ao mérito do professorado, São Paulo sempre “fez” “Escola ativa”,
antes mesmo de conhecer seus métodos. Acredita que a introdução do método
analítico para o ensino da leitura, por Oscar Thompson, em 1911, colaborou para
que os professores tivessem um admirável instrumento de guia, no sentido de
melhorar a qualidade do ensino nas escolas paulistas.
207
CESAR, Osorio. A alphabetização das crianças anormaes (transcripção). Educação,
São Paulo, v. 9, n. 3, p. 389-393, dez. 1929.
O doutor Osorio Cesar revela a experiência da criação da “Escola Pacheco e Silva”,
anexa ao Hospital de Juquery, em São Paulo, inaururada em 29 de maio de 1929,
sob a direção do pediatra Dr. Vicente Batista, destinada ao atendimento de crianças
anormais. Informa que o ensino oferecido é intuitivo e processado pelo método
individual, ou seja, uma metodologia especializada, criada para as crianças
anormais. O programa da escola, organizado pelo professor Norberto de Souza
Pinto, contemplava educação dos sentidos, educação das atenções, exercícios de
linguagem escrita, trabalhos manuais, lições de coisas, exercícios de desenho,
canto, ginástica e exercício de cálculo instrutivo. A escola é equipada com um
laboratório de psicologia experimental e de antropologia pedagógica, aparelhado
para verificação dos exames de psicologia patológica. O autor considera que os
resultados obtidos quanto à alfabetização são brilhantes, porque demonstram, por
meio de registros, que as crianças anormais finalizaram o ano alfabetizadas. Conclui
que o problema da alfabetização das crianças anormais está sendo resolvido,
sobretudo no Estado de São Paulo com os esforços bem orientados do Governo e
acrescenta que, além da caso paulista, no Distrito Federal e em Belo Horizonte
existem escolas para crianças anormais.
JARDIM, Renato. Um novo processo de ensinar a leitura. Educação, São Paulo, v.
10, n. 1, p. 29-38, jan. 1930a.
Trata-se de transcrição de palestra proferida na Sociedade de Educação de São
Paulo. Renato Jardim pretende divulgar o método criado pelo professor Madureira e
Souza para o ensino da leitura. O autor indica que, como já apontado tantas vezes
por ele, o método analítico causa danos ao ensino paulista, principalmente porque
não são verdadeiros os princípios que o fundamenta. Considera, então, que a
adoção de outros processos que não seja o analítico, é uma necessidade urgente.
Trata, assim, de explicar o processo do professor Madureira e Souza, que consiste
em um jogo, em que se usam cento e dez cartões, cada um com o desenho de um
objeto conhecido pela criança, contendo a respectiva representação gráfica. Na
aplicação do processo divide-se a coleção de cartões em séries que são distribuídas
em cada lição, organizam-se vários jogos, e “com prazer” as crianças aprendem a ler
palavras e sentenças. Esses exercícios recreativos duram de 20 a 30 minutos por
dia, e em dois ou três meses, a maioria das crianças aprende a ler e escrever sem
esforços. Propõe que o ensino da leitura não seja uniformizado, que sejam adotados
outros processos, que o ensino vença o preconceito, segundo o qual, é bom
professor aquele que ensina pelo método analítico e que se vençam os interesses
comerciais que as cartilhas analíticas representam.
PEREIRA, Juvenal Paiva. O ensino da linguagem. Educação, São Paulo, v. 10, n. 1,
p. 52-55, jan. 1930.
O autor aponta que o ensino da linguagem tem regredido, tanto nas escolas
primárias, quanto nas secundárias. Julga que a causa principal, no caso da escola
primária, seja a vigência do método intuitivo na alfabetização, que conforme seus
princípios exige a sentença como base que induza naturalmente à análise. Acredita
que o ensino natural da leitura não prescinde da sentença completa, pois, na etapa
inicial de alfabetização a sentença é “arrancada violentamente” do aluno, tomando
lugar da resposta natural. Essa prática traz péssimos resultados, porque cerca a
linguagem na sua espontaneidade e impossibilita a criança de aprender a
208
propriedade dos termos, já que se uniformizam respostas sem levar em conta os
vários sentidos das perguntas. O que se observa, ressalta o autor, é que, em
classes mais adiantadas, a linguagem é incompatível com a idade dos alunos e das
idéias que realmente possuem; apresentam um amontoado de sentenças completas,
porém desconexas. Sugere que, para que o problema seja amenizado, os
professores não se prendam a fórmulas e tentem ampliar as faculdades expressivas
dos alunos, por meio do enriquecimento do vocabulário.
JARDIM, Renato. A Escola Paulista. Educação, São Paulo, v. 10, n. 2, p. 209-211,
fev. 1930b.
Em réplica ao discurso de Sud, contido, também, em “A Escola Paulista”, Renato
Jardim faz objeções quanto à dificuldade de entender o pensamento do autor sobre
os significados das expressões “escola dinâmica”, “escola clássica” e “Escola ativa”,
por ele utilizadas para classificar a escola paulista. Jardim as julga incoerentes e
considera que as “autoridades técnicas” insistem no “conservantismo”, em perpetuar
“clichês” pedagógicos, mesmo com a tendência pedagógica atual em evolução.
Defende a idéia de que a escola primária paulista necessita de inovação e que, por
orientação oficial, os professores não têm incentivo para o aperfeiçoamento
necessário. Tal aperfeiçoamento deveria ser cientificamente fundamentado.
MENNUCCI, Sud. A Escola Paulista. Educação, São Paulo, v. 10, n. 2, p. 211-213,
fev. 1930a.
Sud Mennucci faz menção ao contraditor Renato Jardim, que em palestra proferida
na Sociedade de Educação de São Paulo (sinteticamente publicada no jornal em 20
de outubro de 1929), faz objeções e restrições ao seu artigo publicado
anteriormente, especialmente ao fato de classificar, quanto ao tipo, a escola
existente em São Paulo, ora ativa, ora não. Em sua defesa Mennucci coloca-se
partidário da Escola Nova, mas com restrições; interessa-lhe a “Escola ativa” que os
brasileiros devem criar (adaptada), não aquela fruto de “artigos importados”. Para
exemplificar suas restrições, classifica os professores paulistas em quatro grupos, a
saber: no primeiro grupo, teoricamente, estão os adeptos da “Escola ativa”, mas que
na prática não utilizam seus métodos e princípios; no segundo, estão os
simpatizantes que necessitam de preparo e informações; no terceiro grupo, estão os
partidários da escola do “tipo mista” que concilie o passado com o futuro; e no quarto
grupo, os conservadores, que optam por manter o tipo atual. Finaliza, apontando ao
seu contraditor, que se sente partidário do terceiro grupo.
FLEURY, Luiz Gonzaga. Sobre o ensino da leitura. Educação, São Paulo, v. 10, n. 3,
p. 278-284, mar. 1930.
Do lugar de Inspetor Distrital Escolar, em São Carlos, relata que, por meio de sua
experiência de 19 anos como professor, diretor de grupo escolar e inspetor, o que
tem observado em relação à alfabetização de crianças. Acredita que o método
analítico é o melhor, porque eminentemente ativo e conforme a realidade psicológica
das crianças. Considera, porém, que, na prática da alfabetização, não existem
métodos analíticos puros, e nem métodos sintéticos puros, pois todos são mais ou
menos analíticos, ou mais ou menos sintéticos. No entanto, o sucesso na prática da
alfabetização se torna possível se respeitando as leis da análise, pois a mente, tanto
mais quando se trata de crianças, não funciona exclusivamente por “processos
sincréticos”; daí a necessidade de o professor conduzir seus alunos a análises
209
espontâneas, condição essencial para que haja aproveitamento possível em
alfabetização.
JARDIM, Renato. A Escola Paulista II. Educação, São Paulo, v. 10, n. 3, p. 320-323,
mar. 1930c.
Neste artigo, Renato Jardim relata que não compartilha com Sud Mennucci o que
este entende por “Escola ativa”. Concentra suas explicações sobre as diferenças
entre a escola clássica e a “Escola ativa”, destacando que, quando Sud Mennucci
classifica a escola paulista como ativa, contraria os fundamentos dessa escola.
Considera que a “máxima aristotélica” (“Nada existe no intelecto que não haja
estado antes nos sentidos), na qual se apóia Sud, não é princípio fundamental da
“Escola ativa”, como acredita Sud, quando invoca, com freqüência, que o método
intuitivo ou a intuição analítica devem ser mantidos nas escolas paulistas.
MENNUCCI, Sud. A Escola Paulista II. Educação, São Paulo, v. 10, n. 3, p. 323-325,
mar. 1930b.
Sud oferece explicações sobre a segunda contradição apontada por Renato Jardim,
a respeito de suas considerações quando da classificação da escola pública
paulista, em que aponta que em São Paulo há e não há “Escola ativa”. Concentra-se
na suposição de que a diferença entre “Escola ativa” e a escola paulista é
“simplesmente de processos”, pois nas escolas de São Paulo existe, há tempos, o
lema “learning by doing” ou o lema de Comenius “só se aprende a fazer, fazendo”,
que em sua percepção, inspiram a “Escola ativa”, portanto, considera a contradição
apontada por Renato Jardim, apenas aparente.
LEITE, Francisco Eusébio de Aquino. O ensino da leitura – methodos. Educação,
São Paulo, v. 11, n. 1, p. 31-44 , abril 1930a.
Critica o método analítico, que toma a sentença como ponto de partida em
alfabetização. Julga que o método analítico deve ser abolido das escolas e
substituído pelo método “sintético-analítico”. Para Aquino Leite o ensino da leitura
deve ser graduado, partindo de palavras estudadas, escritas no quadro negro, com
as sílabas destacadas a duas cores. A partir das palavras estudadas, então, o
ensino das sílabas e letras deve ser auxiliado com a escrita e leitura dos “silabários
fundamentais”. A fim de processar essa metodologia, informa que realizou um
estudo completo dos silabários e sílabas usadas na Língua Portuguesa, tendo
constatado o número de 528 silabários e 2.640 sílabas, cujos resultados foram
escritos na cartilha Guia do ensino da leitura, que aguarda a possibilidade de ser
publicada. Considera que partindo das palavras, o ensino se torna mais ativo e
apresenta maior rendimento, já que a palavra é o ponto de partida, porque exprime
idéia.
JARDIM, Renato. A escola Paulista III. Educação, São Paulo, v. 11, n. 1, p. 99-102,
abril, 1930d.
Neste artigo Renato Jardim considera o método analítico fora dos planos da “Escola
ativa”. Toma como referência o fato de que não há correspondência entre os
princípios que fundamentam a “Escola ativa” e o método analítico. Faz críticas a Sud
que utiliza erroneamente a designação “método analítico-sintético”, já que em nosso
país, o método sempre foi designado “método analítico” ou “leitura analítica”. Informa
que esta designação é utilizada por Theodoro de Moraes, que escreveu a primeira
cartilha brasileira, de acordo com o método, assim como por outros autores de
210
cartilhas, como, João Koopke, Gomes Gardim, Mariano de Oliveira, Francisco
Vianna, Arnaldo de Oliveira, Benedicto Tolosa, entre outros, que tamm utilizam a
designação correta - “método analítico” e não método “analítico-sintético” como
queria Sud.
MENNUCCI, Sud. A escola Paulista III. Educação, São Paulo, v. 11, n. 1, p. 103-
105, abril, 1930c.
Sud oferece explicações acerca da expressão “método analítico-sintético”, utilizada
por ele e criticada por Jardim. Com a intenção de defender as idéias que
fundamentam a utilização do método apresenta um esboço histórico sobre a origem
do método analítico, citando experiências como as de Olivier, Jacotot, Vogel,
Decroly, Degand, entre outros, destacando a contribuição de Decroly que emprega
um “processo interessantíssimo” para o ensino da leitura (derivado do método
analítico). Fazendo relações entre essas experiências, tenta demonstrar que o
método é ativo, porque está baseado na psicologia da criança e porque considera a
idéia como ponto de partida. Reafirma que, no caso paulista, os professores
adaptaram-no às suas necessidades.
JARDIM, Renato. A escola Paulista IV. Educação, São Paulo, v. 11, n. 2, p. 238-242,
maio 1930e.
O autor reafirma que o método analítico não é um método da Escola Nova. Critica a
idéia de Sud quando este afirma que a utilização de um método particular de ensino
da leitura, por exemplo, faz “Escola ativa”. Para Jardim o que caracteriza a “Escola
ativa” é o aluno, a criança que aprende pela sua própria atividade. Assim, devemos
buscar meios idôneos para aproveitar o desenvolvimento natural da criança, que
respeitem as etapas biogenéticas, que se caracterizam por uma força interior que
leva a criança a interessar-se pelas coisas. Utiliza o preceito de Claparède, segundo
o qual a criança é um ser ativo por excelência, e que educar é promover o
desenvolvimento do organismo. Assim, o educador deve intervir eficazmente nesse
desenvolvimento procurando os meios adequados para que o aluno instrua-se. Entre
esses meios, cita, a idéia de organizar o programa escolar por “centro de
interesses”, proposto por Decroly, ou, por meio do “método de projetos” proposto por
Dewey.
MENNUCCI, Sud. A escola Paulista IV. Educação, São Paulo, v. 11, n. 2, p. 242-
245, maio 1930d.
O autor aponta que o fato de ter informado que o método analítico não é originário
da América do Norte mas sim da Europa, e que ele é ostensivamente adotado por
Decroly, que deu ao método as bases científicas, causou surpresa entre os
professores, por isso continuará oferecendo informações que comprovem que o
método analítico é uma das melhores inovações que se fizeram na escola primária
paulista. Aponta que Decroly recomenda a leitura global e que, em uma das
reformas do ensino no Brasil, a do Estado de Minas Gerais foi adotado o método
Decroly que traz para a leitura o processo “ideo-visual “outro nome dado ao método
analítico.
TOLOSA, M.B. Como ensinar a ler? Educação, São Paulo, v. 11, n. 3, p. 288-316,
jun. 1930.
Trata-se da resposta do professor Tolosa ao inquérito promovido pela Seção de
Ensino Primário da Associação Brasileira de Educação (publicado na revista em
211
fevereiro de 1929). Ao responder às 25 questões, tenta demonstrar que suas
respostas não são frutos de um “trabalho de gabinete”, mas sim de experiência e de
longa observação do trabalho de professores durante a aplicação do método
analítico. Comenta que, quando iniciou suas atividades de Inspetor Distrital do
Ensino, o método analítico não era muito conhecido e somente após algum tempo,
conseguiu “penetrar no espírito do método”. Considera o método de fácil manejo,
destacando, porém, que o problema dos resultados negativos está na maneira de
seu emprego. Acredita que se o método analítico fosse convenientemente aplicado,
os resultados seriam melhores do que o uso de qualquer outro método, porque
desenvolve todas as “faculdades” dos alunos. Julga que com o princípio da
autonomia didática, os professores se dividiram em dois grupos, de um lado,
aqueles que aderem à silabação, de outro os que aplicam o método analítico; esses
são minoria. O método analítico teria perdido terreno devido à imposição oficial.
Concluídas as considerações relativas ao inquérito, Tolosa passa a expor seu
processo de alfabetização contido na Cartilha de alfabetização, citando vários
exemplos de exercícios e apontando algumas vantagens da adoção desse processo.
LEITE, Francisco Eusébio de Aquino. O ensino da leitura: o “methodo analytico” e a
“analyse espontanea”. Educação, São Paulo, v. 11, n. 3, p. 325-336, jun. 1930b.
Leite considera que é surpreendente que o método analítico com sua “análise
espontânea”, ainda seja utilizado nas escolas paulistas, mesmo depois de 30 anos
de conseqüências desastrosas. Registra alguns dos danos causados por sua
aplicação, como o emprego da “análise espontânea”, que, segundo seus
pressupostos, em vez de guiar a criança desperdiça tempo, pois, espera-se que a
criança realiza o “milagre” de descobrir por si só as sílabas e letras, fato que não
acontece, gerando desânimo, apatias, repetências por uma, duas, três ou mais
vezes no 1º ano escolar; e rendimento insatisfatório, com a assombrosa média de
40% dos alunos alfabetizados. Aponta que professores que utilizam outros métodos
conseguem alfabetizar até 95% dos alunos. Sugere que esses professores
exponham para os demais, no início ou no final do ano letivo, os processos ou
métodos individuais utilizados, em forma de uma aula-modelo, na qual fosse
reproduzido o trabalho realizado. Acredita que, com essa prática, haveria maior
aperfeiçoamento e rendimento do ensino primário e que o método analítico não
resistiria a esse “teste”, e, dessa maneira, ficaríamos livres das “cópias servis”, de
imitações descabidas, e de estar servindo a “campo de experimentação” advindas
de “gabinete” e inovações de origem européia ou americana, arriscando a sorte.
SANCHS, Alberto Vollet. Ensino primario (calligraphia muscular). Educação, São
Paulo, v. 11, n. 3, p. 359-361, jun. 1930.
Trata-se de um plano de aula de caligrafia muscular apresentada na reunião
pedagógica dos diretores das escolas primárias de Piracicaba, realizada em 29 de
março de 1930. O plano foi elaborado para ser aplicado na primeira aula de uma
classe adiantada (a partir do 2º ano escolar). Contém os passos para execução da
aula de caligrafia, desde o momento de abrir o caderno de caligrafia, a posição
correta de seu uso, até observações para ensinar a posição do corpo, dos pés, da
cabeça, dos dedos, além de mencionar a maneira como o professor deve proceder
para escrever o “modelo na lousa” (preenchimento correto das letras entre as
linhas). O autor adverte que no primeiro ano deve-se usar a caligrafia vertical, em
virtude da semelhança com a letra de forma. A partir do segundo ano, então,
introduz-se a caligrafia regular, inclinada, que tem por fim aproveitar a tendência de
212
todas as crianças de deitar a letra para melhorar o resultado. Conclui que o ensino
da caligrafia deve partir de sentenças e de palavras; assim, o professor deve dar à
classe durante três meses, diariamente, cópias de sentenças seriadas; a partir daí,
os alunos serão capazes de reproduzir um ditado, por exemplo. Com isso, têm-se
economia de tempo, clareza e aproveitamento das vantagens da “lei do hábito”.
JARDIM, Renato. A escola Paulista V. Educação, São Paulo, v. 11, n. 3, p. 384-387,
junho 1930f.
O autor se coloca contrário ao postulado de Sud sobre a origem da capacidade de
conhecer, segundo o qual é necessário o contato da inteligência cognoscente com
as coisas a conhecer. Jardim aponta que para conhecer é necessário muito mais
que o contato da inteligência com as coisas. Assim, quando se utiliza na
processuação do ensino da leitura “direta associação do pensamento à escrita” e o
aluno tem que aprender a grafia num só golpe de vista, comete-se um absurdo
psicológico. Outro erro apontado por Jardim é a ausência, nas escolas paulistas, de
um critério pedagógico na organização das classes “que as torne psicológicamente
mais homogêneas”. Por esses e outros aspectos, conclui que a escola paulista não
pode ser classificada como dinâmica.
MENNUCCI, Sud. A escola Paulista V. Educação, São Paulo, v. 11, n. 3, p. 387-390,
junho, 1930e.
Sud relata que a aplicação da “intuição analítica” ao ensino da leitura respeita sim as
leis psicológicas, assim como já havia preconizada Sampaio Dória, quando concluiu
que “a origem primária de toda capacidade de conhecer é o contato da inteligência
com as coisas a conhecer”. Esse fato, então, criou nos professores paulistas a
necessidade de generalização do método analítico para as demais disciplinas de
ensino (Música, Desenho, História, Geografia, Aritmética). Quanto aos bons
resultados dessa generalização, considera que ainda não são os mesmos que o já
alcançado pelo ensino da leitura, porém, acredita possível que os professores
consigam o milagre de tornar suas lições atraentes. Acusa Jardim de desconhecer o
fato. Explicita, ainda, que não devemos imitar as fórmulas e receitas estrangeiras,
pois o nosso problema só nós podemos resolver.
JARDIM, Renato. A escola Paulista VI. Educação, São Paulo, v. 12, n. 1, p. 137-140,
julho 1930g.
Neste texto, Renato Jardim finaliza a série de réplicas sobre a classificação da
escola paulista. Elege como último contraponto às idéias de Sud, a alusão de que a
reforma de Fernando de Azevedo no Distrito Federal está no papel. Aponta que não
pode deixar silenciar o fato de que tal reforma é completa e que serve de modelo
para outros estados do país, fruto da obra pessoal de Fernando de Azevedo. Faz
referência, ainda, à passagem de Léon Walther (do Instituto Jean Jacques
Rousseau) pelo Brasil, e a sua observação ao reconhecimento da contribuição de
Fernando de Azevedo à obra educacional brasileira. Relata, também que, quando
Léon Walther se encontrou com Lourenço Filho, pode verificar que este professor
realizava, no Lyceu Nacional Rio Branco, “Escola ativa”, já que em suas aulas
explicitava as últimas conquistas da psicologia e as novas idéias pedagógicas
baseadas nos princípios da Escola Nova. Considera esses fatos importantes para o
movimento inovador que “vai pelo país”, os quais Sud não deve ignorar quando
classifica a escola paulista.
213
MENNUCCI, Sud. A escola Paulista VI. Educação, São Paulo, v. 12, n. 1, p. 140-
143, julho 1930f.
Sud retoma as explicações sobre a classificação definida à escola paulista, quando
afirmou que em São Paulo há e não há “Escola ativa”. Reafirma que há “Escola
ativa”, porque os nossos métodos têm muitos contatos com os da escola renovada,
e que, por outro lado, não há porque nem todas as atividades didáticas são
desenvolvidas nas escolas segundo os métodos dinâmicos que trazem o impulso da
vontade de aprender ao educando, como acontece no ensino da leitura, escrita e
cálculo. Retoma, também, aspectos da implantação do método analítico em São
Paulo, apontando que Jardim se equivoca quando afirma que Miss Brown, por volta
de 1893 ou 1894, implantou a então chamada palavração, pois é duvidoso que
tenha sido Miss Brown a primeira a cuidar do ensino da leitura tendo como ponto de
partida a palavra, já que em 1890, a professora Maria Guilhermina Loureiro de
Andrade o usava na Escola Modelo da Capital.
LEITE, Francisco Eusebio de Aquino. O ensino da leitura: o methodo analytico e os
methodos americanos. Educação, São Paulo, v. 12, n. 2, p. 182-?, 1930c.
Em continuação às idéias do artigo anterior (abril de 1930) se declara contrário ao
uso do método analítico e ao ensino simultâneo da leitura e da escrita. Aponta que
Oscar Thompson se equivocou, quando visitou os Estados Unidos e trouxe de lá o
método analítico. Considera precário o rendimento dos alunos brasileiros no 1º ano
escolar, com taxa de 40% de alfabetização, e atribui tal precariedade ao uso do
método analítico. Acredita que o melhor método de alfabetização é o que parte da
leitura de palavras que formam uma sentença, com exercícios de “pesquisa” dessas
palavras, na própria sentença. Assim, esse método é melhor, porque trata de um
ensino “ativo, racional e intuitivo”, com um mínimo de trabalho e em pouco tempo.
Apresenta, ainda, um estudo sobre a análise de algumas cartilhas americanas,
considerando que em nenhuma das cartilhas analisadas se verificou o emprego da
expressão “método analítico”, esse fato, segundo ao autor, se deve porque nos
Estados Unidos, já em 1911, os autores das cartilhas eram práticos e
experimentavam, fazendo o método evoluir, assim os métodos de palavração e de
sentenciação tinham evoluído para “palavra e sentença” e “fônico”, ao passo que no
Brasil, “contrariando as leis do progresso” e a falta de iniciativa dos professores,
estabilizamos no emprego do método analítico.
MENNUCCI, Sud. A escola Paulista VII. Educação, São Paulo, v. 12, n. 2, p. 295-
298, ago. 1930g.
O autor aponta os principais pontos que originaram a polêmica em torno do debate
estabelecido com Renato Jardim, entre eles, o histórico da introdução do método
analítico em São Paulo; a reforma do ensino no Distrito Federal e a escolha do
método para o ensino da leitura; a incompatibilidade do método analítico com o
princípio de associão de Decroly, assim como o ensino por centro de interesses; a
baixa porcentagem de alfabetização das crianças em São Paulo associada à
utilização do método analítico; e a extensão da utilização do método analítico nas
diferentes disciplinas escolares. Conclui que, ao discorrer sobre esses temas, Jardim
se revelou exímio em alongar os seus apontamentos em questões incidentes como
a reforma escolar da Áustria, por exemplo, silenciando questões relevantes ao
debate, como o aprofundamento da discussão entre a existência do método analítico
nas escolas ativas.
214
MENNUCCI, Sud. A escola Paulista (conclusão). Educação, São Paulo, v. 12, n. 2,
p. 299-301, ago. 1930h.
Neste último artigo da série, Sud tece considerações sobre dois pontos de seu
discurso criticado por Jardim, a nacionalização da “Escola ativa” e o Reforma do
Distrito Federal. Quanto à nacionalização da “Escola ativa”, em São Paulo, informa
que este foi um tema de tese da III Conferência Nacional de Educação, e apesar de
não ser o inventor da expressão como acredita Jardim, julga seu significado
perfeitamente aceitável, já que tem o objetivo de verificar quais devem ser os meios
utilizados para que os princípios da “Escola ativa” sejam aplicáveis e adaptáveis à
nossa realidade. Sobre a Reforma do Distrito Federal, reafirma que esta está em
fase preparatória de execução, ou seja, em seu modo de ver, está para ser iniciada
no princípio do ano letivo de 1930. Para finalizar explica que deixou para o fecho do
debate o caso do lema da “máxima aristotélica”, segundo a qual “Nada existe no
entendimento que não proviesse primeiro da sensação”. Apoiado nas considerações
de Augusto Comte, reafirma esta sua proposição inicial.
MOURÃO, Francisco Alves. Ensino da linguagem escripta. Educação, São Paulo, v.
12, n. 3, p. 357-367,set. 1930.
Do lugar de Inspetor Escolar do 43º Distrito, com sede em Limeira, Alves Mourão
relata ao Diretor Geral, Amadeu Mendes, a maneira como vem orientando o ensino
da linguagem escrita. Expõe os problemas enfrentados nas escolas primárias, como
o pouco tempo dedicado ao ensino da linguagem escrita, já que em algumas delas
tal ensino era ministrado apenas duas vezes por semanas, em aulas de 15 minutos.
Propõe um horário de distribuição das matérias que contemple aulas de linguagem
escrita diárias. Outro problema apontado é o despreparo dos professores que atuam
no 1º ano escolar quanto à organização das atividades de ensino da escrita. Propõe
que tal ensino seja aplicado em três fases, a preparação, a execução e a correção
de exercícios de escrita. Oferece, então, um modelo contendo um plano com aulas
de linguagem escrita, de acordo com as três fases sugeridas.
CAMPOS, Romão de. O ensino da lingua. Educação, São Paulo, v. 12, n. 3, p. 479-
481,set. 1930.
Aponta que muitas pessoas têm dificuldade de se expressarem, não sabem emitir
suas idéias e seus pensamentos e ficam a gaguejar, obscurecendo a nossa
linguagem. Diante desse problema, sugere que o professor deve, desde o início do
ensino da língua, no primeiro ano escolar, estar atento e falar corretamente,
impecavelmente bem, impondo aos alunos a obrigação de “seguir seus passos”
tanto dentro quanto fora da classe, mesmo considerando o problema da “ignorância”
dos pais. O professor deve persistir, pois, se assim processar o ensino, como
resultado final, o aluno terá seu vocabulário bastante melhorado, argumentado e
enriquecido com a aquisição de palavras e expressões novas, corretas, que o
professor se encarregou de ensinar. O aluno estará, assim, apto a se exprimir com
desembaraço, sem rodeios, contribuindo para a pureza, harmonia, graça e pujança
da nossa língua, que é o de que ela precisa para se impor, definitivamente.
215
APÊNDICE C
RESUMOS DESCRITIVOS DOS ARTIGOS QUE VERSAM SOBRE
ALFABETIZÃO VEICULADOS NA REVISTA ESCOLA NOVA (1930-1931)
216
LOURENÇO FILHO, Os testes. Escola Nova, São Paulo, v. 2, n. 2-4, p. 253-259,
mar./abr. 1931.
Lourenço Filho informa que a atual administração do ensino público paulista iniciou o
“trabalho com os testes” e criou o Serviço de Psicologia Aplicada com o objetivo de
realizar experiências e organizar escalas de provas que serão utilizadas pelas
escolas para verificar o nível de inteligência e aptidões especiais dos alunos. Sugere
que os professores fiquem atentos, a partir desse momento, para os modelos e
instruções a respeito da padronização dos testes. Recomenda aos professores a
leitura da bibliografia sobre os testes contida na seção bibliografia para, a partir dos
conhecimentos adquiridos com essa primeira aproximação ao assunto, ir
“experimentando” a aplicação dos testes em suas escolas. Cita o exemplo bem
sucedido da aplicação dos testes ABC em 468 classes da capital de São Paulo, por
meio dos quais foi possível a organização de classes seletivas.
AMARANTE, Iracema de Castro. A escola renovada e a organização das classes.
Escola Nova, São Paulo, v. 2, n. 2-4, p. 392-394, mar./abr. 1931.
A autora destaca que as escolas renovadas podem diferenciar-se quanto à
organização por certos e determinados detalhes, porém todas são unânimes em um
mesmo ponto: considerar o ritmo do aluno, segundo suas diferenças individuais.
Portanto, o principal critério para a renovão do ensino que se almeja na escola
paulista é o de seleção das classes escolares. Aponta que esse critério é o único,
que permite o desenvolvimento do aluno segundo seu ritmo; o único que poderá
proporcionar a “escola sob medida” postulada por Claparède. Informa que em Bauru,
no primeiro Grupo Escolar, os alunos foram selecionados e classificados pela
aplicação da Escala Binet-Simon, porque ainda não se conheciam os testes ABC
organizados por Lourenço Filho e aplicados em São Paulo para a verificação da
maturidade necessária à aprendizagem da leitura e da escrita.
217
APÊNDICE D
RESUMOS DESCRITIVOS DOS ARTIGOS QUE VERSAM SOBRE
ALFABETIZÃO VEICULADOS NA REVISTA EDUCAÇÃO (1931-1932)
218
DECROLY, Ovidio. Iniciação na leitura e na escrita. Educação, São Paulo, v. 6, n. 1-
2-3, p. 135-?, jan./fev./mar. 1932.
Ao considerar a aprendizagem da leitura e da escrita um problema pedagógico e
econômico, Decroly apresenta um cálculo de custos financeiros referentes a um ano
de ensino da leitura para 250.000 crianças belgas. Dando ênfase à importância do
processo para que esse ensino se torne mais eficiente, com maior dispêndio de
trabalho para o professor e para o aluno, considera que é possível conseguir
melhores resultados utilizando “um processo mais psicológico”. Assim, o
pesquisador belga considera que o método global ou sincrético ou “ideo-visual”
apresenta vantagens incontestáveis quanto à economia e eficiência, por ser o que
melhor corresponde à psicologia infantil. Cita algumas experiências em que a
utilização do método global trouxe bons resultados ao final do ano escolar. Elenca,
alguns pontos que julga importantes para o bom emprego do método global, como a
utilização da caligrafia inclinada, por exemplo.
SODRÉ, Abel de Faria. Alphabetização rápida. Educação, São Paulo, v. 8, n. 6-7, p.
33-39, jun./jul. 1932.
Na primeira parte do artigo, o autor discute o problema da alfabetização no Estado
de São Paulo, destacando que, se não existe a possibilidade de oferecer o curso
primário completo para toda a população em idade escolar, o ideal seria fornecer a
possibilidade para que no mínimo a população pudesse aprender a ler um jornal,
escrever uma carta e fazer uma “conta”, não excluindo a população rural, pois não
devemos temer que essa população alfabetizada abandone a roça pela cidade, já
que existem outros motivos para esse abandono. Se o número de escolas não é
suficiente, devemos aumentar a eficiência das já existentes. Sugere que os
professores tragam a público novos métodos ou processos de alfabetização rápida,
resultantes de experiências bem sucedidas. Em uma segunda parte, Abel de Faria
Sodré descreve o método utilizado por ele e pela professora Benedicta S. Sodré,
denominado por ele de “nosso método”, que aplicaram com sucesso em escolas de
São Carlos, durante três anos consecutivos, em que alfabetizaram toda a classe
antes do término da 1º semestre letivo. O método é exposto em seis partes, tendo
como ponto de partida as sentenças.
SOARES, Alvares. Os primeiros ensinamentos de leitura e linguagem. Educação,
São Paulo, v. 10, n. 10-11, p. 131-140, out./nov. 1932.
O autor considera o método analítico excelente para o ensino inicial da leitura e da
linguagem; aponta, porém, alguns erros quanto ao seu emprego no meio rural,
mostrando a necessidade de se diversificarem os processos de alfabetização, que
são únicos para o meio rural e urbano. Em defesa do método analítico, julga que
aqueles que o criticam, o fazem porque o conhecem superficialmente; considera,
que o método analítico traz resultados ótimos e positivos para o ensino simultânea
da leitura e da linguagem, e que se existem problemas, eles não se relacionam
propriamente ao método, mas sim à sua aplicação. Informa que realizou uma
pesquisa para verificar a causa do fracasso da alfabetização no meio rural. Conclui
que o erro está na linguagem erudita utilizada nas cartilhas e livros de leitura, que
não são familiares para o meio rural, causando aversão ao aluno. Assim, se no meio
urbano a linguagem das cartilhas analíticas e dos livros de leitura ajudam a obter
bons resultados, no meio rural, dificultam. Aponta que, a solução seria, então,
219
ensinar a leitura, no meio rural, sem livros e quando das primeiras leituras
obrigatórias utilizar um livro de fácil compreensão.
AGUDO, Dias. Os methodos de leitura. Educação, São Paulo, v. 10, n. 10-11, p.
161-171, out./nov. 1932.
Dias Agudo toca na questão da importância de se considerar os avanços dos
estudos sobre a leitura e a contribuição da psicologia para o ensino inicial da leitura.
Destaca que a psicologia e figuras ilustres como Ovidio João Decroly dão a
pedagogia valiosa contribuição, sobretudo, no que se refere ao método chamado
global ou “ideo-visual” natural. Aponta que esse método tem a orientação científica
necessária para nortear o ensino da leitura, porque está de acordo com o novo
critério a se considerar na leitura – a visão – desempenhando o principal papel
nesse ensino e, por conseguinte, o desenho da palavra ou frase, e não a sílaba e a
letra. Acrescenta que experiências efetuadas sobre a fisiologia da leitura, informam
que não lê o olho por sílabas, nem por letras, mas sim por frases ou palavras.
Contemplando esses aspectos, o método “ideo-visual” se fundamenta sobre o
princípio da compreensão da leitura, da significação dos símbolos.
LEITE, Francisco Eusébio de Aquino. O ensino da leitura. Educação, São Paulo, v.
11, n. 12, p. 28-38, dez. 1932.
O autor aponta as desvantagens do emprego dos processos analíticos para o ensino
simultâneo da leitura e da escrita. Ao citar as idéias de Ovidio João Decroly contidas
no artigo “Iniciação na leitura e na escrita”, publicado anteriormente na revista, em
que o autor apresenta a superioridade do ensino global da leitura, Leite se mostra
contrário às concepções do médico Belga. Para Leite, o professor deve ensinar a
escrita das palavras decompostas em seus elementos distintos (sílabas e letras) e,
considera que a escolha de um método deve apresentar vantagens quanto à
simplicidade, eficiência, rapidez e conseqüente economia de tempo, características
que, em sua concepção, o método global não apresenta. A partir dessas
considerações, expõe seu processo de ensino da leitura e da escrita, que consiste
na subdivisão das palavras em seus elementos, informando que esse processo é
adotado na cartilha e no Guia do Ensino da Leitura por ele organizado. Destaca que
seu método tem sido aplicado por outras professoras com sucesso. Considera que
as vantagens de seu método estão no processo simples, racional, de acordo com a
fonética, prosódia e ortografia de nossa língua.
PENNA, J. B. Damasco . Contribuição ao estudo dos testes A.B.C.: os perfis de
classe e sua construção. Educação, São Paulo, v. 11, n. 12, p. 75-80, dez. 1932.
Neste artigo dedicado a Lourenço Filho, o autor pretende oferecer explicações e
instruções práticas para aqueles que desejam aplicar os testes ABC para
organização de classes seletivas, principalmente no que tange à representação
gráfico-estatística do perfil da classe. Penna apresenta o conceito de histograma,
considerando que esse instrumento oferece ao professor uma visão geral do valor
da classe. Utiliza, para exemplificar, dados obtidos no então 1º grau D masculino, da
Escola de Aplicação anexa ao Instituto Pedagógico, no ano de 1931. Explica que,
para a construção do histograma, o primeiro passo deve ser o levantamento do
quadro de registro de freqüência dos resultados obtidos por todos os alunos da
classe, nos oito testes aplicados. Observada a freqüência, encontra-se o valor médio
por sujeito, em cada teste. Assim, o perfil da classe deve ser construído em escala
centesimal, colocando-se na ordenada a escala de valores e na abcissa os testes.
220
ANDICE E
RESUMOS DESCRITIVOS DOS ARTIGOS QUE VERSAM SOBRE
ALFABETIZAÇÃO VEICULADOS NA REVISTA DE EDUCAÇÃO (1933-1943)
221
PENTEADO, Onofre. Os testes ABC como meio de seleção de classe. Revista de
Educação, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 185-194, mar. 1933.
Neste artigo, o autor se propõe a divulgar algumas considerações acerca da
aplicação dos testes ABC, embora se considere não adepto ao extremo dos testes
ABC, julga sua aplicação ser uma necessidade devido à situação em que se
encontram as escolas públicas brasileiras. Penteado toma como ponto de partida o
relato dos resultados que obteve em suas visitas a vários grupos do interior do
Estado de São Paulo, nos anos de 1931 e 1932, em que verificou a maneira errônea
como os testes vinham sendo aplicados. Essa maneira errônea de utilizar os testes,
para o autor, está ligada ao fato de os professores não saberem como utilizá-lo;
assim, explica como é composto cada um dos oito testes, e, demonstra, por meio de
exemplos, que a sua aplicação é fácil. Para se obterem bons resultados na
organização de classes seletivas, compostas respectivamente de alunos fracos,
médios e fortes, no início do ano escolar, é necessário primeiramente conhecer o
“valor psicológico” de cada aluno e organizar as fichas individuais dos alunos, nas
quais se apontam os resultados de cada um dos testes para posteriormente
proceder na construção do gráfico que dará o perfil da classe, tamm chamado de
histograma.
LEITE, Francisco Eusébio de Aquino. O ensino da leitura. Revista de Educação, São
Paulo, v. 2, p. 3-14, jun. 1933.
O autor contesta o uso do método analítico para o ensino da leitura. Para Leite,
depois de mais de vinte anos da obrigatoriedade da aplicação desse método,
imposta por Oscar Thompson, em 1911, o que se observa é que o ensino da leitura
vem sendo prejudicado, considerando o elevado número de repetências no primeiro
ano escolar. Para o autor, muitas são as características desse método que
contribuem para o fracasso do ensino da leitura: insiste na memorização de
sentenças que não têm sentido para os alunos, que acabam apenas decorando; é
um método urbano e não rural; a leitura e reprodução das sentenças é feita
mecanicamente, de maneira decorada. Para superar esses problemas, o autor
defende a idéia de que o ensino da leitura deve se dar por meio da análise das
palavras em seus elementos silábicos, que pode conduzir à “alfabetização integral”,
que proporciona facilidade, economia, rapidez e eficiência. Destaca ainda que a
alfabetização precisa ser generalizada para toda a população, para se elevar o nível
moral e intelectual e libertá-la da ignorância que impedem o progresso e o
aperfeiçoamento.
BETTARELLO, Antenor Erveu; CAMARGO, Lázaro Ferraz de. Leitura. Revista de
Educação, São Paulo, v. 3, p. 12-25, set. 1933.
Ao apontar a ineficácia do método analítico para o ensino da leitura, os autores
sugerem o método analítico-sintético para conduzir esse ensino. Informam que o
método analítico-sintético foi adotado por eles no Grupo Escolar de Descalvado e
Santo Antônio do Pari, na capital paulista, com bons resultados. Justificam tal
escolha, pelo fato de que, pelo método analítico-sintético a criança aprende a ler por
meio da análise. Explicam que o método analítico-sintético possui duas faces: a
análise e a síntese, e que, embora o ponto de partida seja a análise, a síntese vem
naturalmente e uma completa a outra. Para Bettarello e Camargo existe um
“caminho natural”, uma “marcha” para o aprendizado da leitura e essa “marcha”
passa por seis passos seqüenciais, e, para cada um desses passos existem “lições
particulares” a serem aplicadas metodicamente aos alunos. Os autores descrevem
222
cada um dos passos e oferecem exemplos de atividades a serem desenvolvidas em
cada um deles. Explicam ainda, que, esse método está relacionado ao método de
Decroly e que até o quinto passo, as lições antecedem a cartilha a ser adotada pelo
professor. Os autores sugerem que seja a Nova Cartilha de Mariano de Oliveira.
GRAY, William S. Principais reformas modernas no ensino da leitura. Revista de
Educação, São Paulo, v. 4, p. 42-44, dez. 1933.
O autor alerta para a necessidade de se alargar o conceito de leitura recorrente nas
últimas vinte décadas, em que a bibliografia sobre o tema da leitura estava
dominada pela busca de três objetivos: “a posse completa da dinâmica da leitura, a
formação de hábitos de boa leitura oral e o cultivo da apreciação da literatura”.
Diferentemente dessa concepção, Gray considera que a leitura deve servir como
meio para ampliar as experiências das crianças e estimular seus “poderes mentais”.
Assim as pessoas lêem para obter conhecimentos, para conseguir auxílio para
resolver seus problemas, para satisfazer o interesse e a curiosidade, para ter prazer
nas horas vagas, ou seja, para dar uma “interpretação inteligente” aos símbolos
impressos, pois a leitura “é um processo de raciocínio”. Tendo em vista essas
considerações, o autor julga que é necessário o emprego de outros métodos, que
não sejam os “tradicionais”, para conduzir o ensino da leitura. Para o autor, um bom
professor está sempre procurando um método que auxilie na execução econômica e
que traga resultados eficazes. Aponta, ainda, que a professora deve integrar a
leitura a todas as atividades escolares, não a deixando isolada no currículo, além da
necessidade de se dar atenção à leitura silenciosa.
SHIPLEY, Gertrudes T. A leitura no primeiro grau. Revista de Educação, São Paulo,
v. 4, p. 45-46, dez. 1933.
A autora enfatiza que é preciso dar atenção, na fase inicial do ensino da leitura, ao
período que antecede a entrega do “primeiro livro de leitura”, pois julga que são nas
primeiras semanas da vida escolar que se fixa a atitude da criança para com a
leitura. Assim, considera que o desejo pela leitura pode ser desenvolvido ou
destruído em curto espaço de tempo, e o objetivo último do ensino da leitura deve
ser a aquisição do hábito de leitura e o professor deve assegurar essa capacidade
de aquisição. Para tanto, acrescenta a autora, deve o professor, nas primeiras
atividades de leitura, basear-se nas experiências das crianças, acrescentando
apenas o símbolo visual ao símbolo oral. Para Shipley o problema está no como o
professor deve “ligar” o símbolo oral ao símbolo visual. Sugere, para isso, que a
professora escreva no quadro negro a sentença e marque de forma mais
permanente as palavras que mais interessam as crianças para proceder ao ensino
da leitura. Todas as atividades que precedem o “primeiro livro de leitura” devem ser
interessantes e variadas como: utilização da “caixinha de segredos”, passeios,
partidas, excursões, utilização de objetos, gravuras, sinais de tráfego, e outros
escritos que encontramos na vida cotidiana, sempre atendendo às necessidades da
classe. Além disso, a professora deve sondar o vocabulário utilizado no “primeiro
livro de leitura” para antecipadamente trabalhá-lo de forma natural.
MENESES FILHO, José Ribeiro de. A associação no ensino de leitura. Revista de
Educação, São Paulo, v. 4, p. 62-71, dez. 1933.
Neste artigo, o autor relata bons resultados de sua prática com alfabetização de
crianças, em que utilizou o processo de associação para esse ensino. Meneses
223
Filho informa que, em grande parte das escolas, somente 50% dos alunos estão
alfabetizados no final do primeiro ano escolar, e esses são aqueles que obtiveram
maiores resultados nos testes de medida do “nível de inteligência”, e, para esses
alunos qualquer método dá resultado; para os outros alunos, o método analítico é
insuficiente. Ao refutar o método analítico, o autor oferece argumentos que explicam
as vantagens da opção pela associação como um processo de ensino da leitura. O
autor considera que, pelo método analítico, a criança é quase que inteiramente
abandonada a si e tem que fazer difíceis esforços de memorização, que nem
sempre funcionam. Pela associação, ao contrário, a palavra junto com o desenho
tem significação para a criança, assim, parte do pressuposto de que os
conhecimentos associados são agrupados e superpostos à idéia que ficou como
ponto de referência. Utiliza, então, como ponto de partida, palavras de referência.
Descreve e explica seu plano geral para o ensino da leitura pela associação, em
que, parte-se da palavra “representação da idéia”, e, a partir dela, segue para o
aprendizado e reconhecimento das sílabas de cada consoante.
LOURENÇO FILHO. O problema da maturidade para a leitura e a escrita. Revista de
Educação, São Paulo, v. 4, p. 91-101, dez. 1933.
Num primeiro momento, Lourenço Filho trata da relação entre alfabeto e educação,
e, entre cultura e analfabetismo, ressaltando que, em nosso país, é difícil se falar em
cultura porque 70% de nossa população é analfabeta. Para o autor, a educação
popular exerce uma função errônea, porque tem o caráter do ensino simples das
primeiras letras, quando deveria ter a função socializadora, que possibilitasse a
adaptação da criança ao tempo e ao meio, assim como a melhoria das instituições
sociais. Nessa problemática, a alfabetização é um ponto fundamental a ser
considerado. Lourenço Filho acrescenta que a “leitura analítica” tem contribuído para
complicar esse problema, porque despreza uma das características de nossa língua,
qual seja, a “escrita quase que inteiramente silábica”. Num segundo momento, o
autor trata do que considera uma condição elementar para que a alfabetização tenha
ênfase: a organização de classes seletivas. Considera que os professores se
ocupam em procurar o melhor método para se ensinar a ler e a escrever e se
esquecem da criança e suas diversidades individuais, aspecto importante que deve
ser considerado no início da alfabetização, assim, relaciona o aluno à “matéria
prima” e à escola, e o método ao “maquinário”, destacando que devemos primeiro
estudar a “matéria-prima” antes do ajustamento das “máquinas”, que, para Lourenço
Filho, é um postulado da Escola Nova. Critica o modo empírico de como as escolas
têm tratado a “matéria prima”, considerando a maturidade fisiológica e não a
maturidade psicológica das crianças. Sugere, então, que se substitua o critério
empirista pelo critério científico da organização de classes seletivas, para desigual
velocidade do ensino, o que proporcionará maior economia de tempo e aumento da
“produção útil total da máquina escolar”.
SODRÉ, Abel de Faria. Alphabetização rápida. Revista de Educação, São Paulo, v.
5, n. 5, p. 101-106, mar. 1934.
Sodré tamm relata resultados favoráveis que obteve como professor adjunto-
auxiliar do Grupo Escolar “Paulino Carlos”, em São Carlos, utilizando o método
fônico para o ensino da leitura e da escrita. O autor critica o método analítico,
considerando-o moroso e, muitas vezes, prejudicial ao conhecimento das sílabas, e
aponta o problema do alto índice de repetência no primeiro ano escolar. Destaca
que com a autonomia didática, os professores podem utilizar outros métodos mais
224
rápidos e eficientes, a fim de poupar tempo e evitar reprovações. Afirma que o
método fônico para o ensino da leitura e da escrita é econômico e rápido, e por meio
dele foi possível ensinar as crianças a escrever e a ler, em três meses. Por meio
desse método o aluno aprende a representar graficamente os sons que ouviu,
assim, de início, ensinam-se os nomes das letras do “silabário” depois vão-se
acrescentando as vogais, tem-se, assim, o “ba, ca, da ...” e numa única aula
ensinam-se diversas consoantes e os alunos são capazes de ler rapidamente
palavras formadas por sílabas simples. Conclui que evita-se a decoração por parte
dos alunos que aprendem fazendo, lêem porque sabem escrever; o aprendizado é
rápido e consciente.
LEITE, Francisco Eusébio de Aquino. Linguagem, leitura e escrita. Revista de
Educação, São Paulo, v. 6, p. 70-87, jun. 1934.
Dando continuidade às idéias contidas no artigo publicado anteriormente (junho de
1933), Leite aponta que a discussão em torno da ineficácia do método analítico é
antiga, mas pretende, agora, apontar novos argumentos que comprovem sua
inutilidade e prejuízos para a alfabetização. Para o autor, a idéia de que o ponto de
partida para a alfabetização é a sentença completa está equivocada, porque a
criança nada entende e o professor fica numa situação ridícula e humilhante, quando
faz perguntas e os alunos nada sabem. Critica, nesse ponto, a utilização dos passos
seqüenciais sugeridos pelos professores Bettarelo e Camargo, considerando que os
passos e atividades sugeridas por esses professores dificultam, embaraçam e
retardam a aprendizagem da leitura. Diferentemente dessa concepção, o autor
considera que a aprendizagem da leitura deve-se basear no processo “ideo-visual”
(olhe e diga) e na associação, pois na aquisição da linguagem oral a criança faz
“associação de idéias” por meio das palavras que vai dominando com o tempo,
quando chega à idade escolar já possui vocabulário de que precisa para expor suas
idéias, assim, para aprender a ler, recebe impressões visuais das formas das
palavras escritas que ela tem que traduzir em linguagem oral. Por isso, explica o
autor, a aprendizagem da leitura é facilitada com a apresentação de palavras usuais,
conhecidas pelas crianças, por meio das quais podem usar “idéias associadas”, a
começar pelo uso do nome próprio da criança. As palavras devem ser escritas com
as sílabas e os elementos silábicos destacados a duas cores, afixados em um lugar
de referência para possíveis “pesquisas” para formação de novas palavras.
BUSCH, Leontina Silva. Suggestões e planos para o ensino da leitura. Revista de
Educação, São Paulo, v. 7, n. 7, p. 48-54, set. 1934a.
Busch apresenta, neste artigo, planos gerais de aulas de leitura, para professores
menos experientes, destacando que o objetivo do ensino da leitura é o de dotar a
criança de capacidade para ler compreendendo, com desembaraço e com relativa
rapidez, além disso fazer com que a criança adquira hábitos de leitura, despertando-
lhe o gosto e o interesse pela nossa literatura. No primeiro ano escolar, adverte a
autora, deve o professor cultivar a simpatia das crianças e preparar o ambiente da
classe, de modo inteligente para que a criança se sinta “convidada” a ler. A autora
destaca que o aluno deve efetivar o que aprendeu lendo; assim deve-se encaminhar
as crianças à prática de pesquisas em dicionários e bibliotecas. Ao tratar da escolha
da cartilha a ser utilizada para o ensino da leitura, Busch sugere que o professor
escolha a que melhor condiz com as atividades do meio urbano ou rural; já o
método, deve ser utilizado o que parte das sentenças para a discriminação de
palavras, depois de sílabas e letras, não importando sua denominação: da
225
sentenciação, analítico, analítico-sintético ou ideo-visual. De início, o professor deve
escrever algumas sentenças no quadro negro, vagarosamente, de modo que os
alunos percebam os movimentos de sua mão. A fim de se dar um sentido global,
faz- se necessário que as sentenças se coordenem entre si, de tal modo que forme
uma historieta. O motivo das lições deve atender aos interesses das crianças,
fazendo com que o pensamento dos alunos trabalhe ativamente.
PENNA, J. B. Damasco. Bibliographia. Revista de Educação, São Paulo, v. 7, p.
147-148, set. 1934.
Neste texto da seção “Bibliographia”, o autor sugere aos professores do primeiro ano
escolar a leitura do livro El aprendizage de la lectura por el método global, de Robert
Dottrens e Emilia Margairaz. Informa que se trata da tradução de L’aprentissage de
la lecture par la méthodo globale, publicado em 1930. Penna fornece dados sobre a
atividade intelectual dos autores e apresenta breve comentário sobre o livro,
destacando que o livro é composto de duas partes, uma teórica e outra prática, além
de conter uma introdução histórica sobre o método global e a exposição de suas
bases psicológicas. Explica que na parte prática são descritos os processos
utilizados na aplicação didática do método global, e, na parte teórica existe a crítica
da maneira errônea de se compreender o ensino da leitura, apontando que a leitura
em voz alta retarda o desenvolvimento dos bons hábitos de leitura, sinalizando,
portanto, as vantagens da leitura silenciosa . Desse modo, o autor explica que, o
livro é recomendado aos professores do primeiro ano escolar, porque a eles cabe a
difícil tarefa de ensinar a ler; assim sendo, precisam conhecer os fundamentos dos
processos utilizados no método global, método este que, na opinião do autor, está
de acordo com a psicologia da criança.
BUSCH, Leontina Silva. Suggestões e planos para o ensino da leitura. Revista de
Educação, São Paulo, v. 8, n. 8, p. 80-87, dez. 1934b.
Neste artigo, a autora dá continuidade às sugestões de planos de aulas para o
ensino da leitura, baseados em sua experiência como professora alfabetizadora.
Pretende dar a conhecer como compreende e como orienta o ensino da leitura.
Focaliza os objetivos do ensino da leitura nos primeiros anos de escolaridade, dando
ênfase aos objetivos relativos aos terceiros e quartos anos. Destaca que todos os
professores envolvidos no ensino da leitura devem levar os alunos a compreender,
da forma mais completa possível, aquilo que se lê. Deve-se colocar o aluno em
condições de pensar o conteúdo do que lê, nesse sentido, a leitura silenciosa é mais
vantajosa porque é um meio de se exercitar a capacidade de compreensão, e, se o
aluno tem maior concentração, conseqüentemente, apreende melhor o que lê. Após
as considerações preliminares, a autora procede às sugestões de como conduzir as
aulas de ensino da leitura nos terceiros e quartos anos. Busch finaliza apontando os
objetivos últimos do ensino da leitura: aperfeiçoar a compreensão e expressão;
ampliar o campo de leitura dos escolares, proporcionando livros variados; fortalecer
o hábito de leitura; e incrementar o gosto pela nossa literatura.
VOLLET, Bruno. As classes selectivas do 1º grau e os testes A.B.C. Revista de
Educação, São Paulo, v. 9, n. 9-10, p. 84-92, set./dez. 1935.
Neste artigo, o autor relata sua experiência, na condição de diretor do Grupo Escolar
de Ariranha, quando da aplicação de dois testes mentais, o “coletivo de Otis” e o de
“desenho de Goodenough”. Aponta que em março de 1932, a aplicação de caráter
experimental desses testes não levou a resultados favoráveis para a formação de
226
classes seletivas para o primeiro grau, pois, depois da realização dos exames,
observou a discordância entre os valores de quociente de inteligência (Q.I.) obtidos,
e as posteriores notas dos exames dos alunos. Informa que após essa experiência,
concluiu que existem outros fatores que intervêm no aprendizado, não só a
inteligência. Explica que esse pressuposto pode ser confirmado ao se consultar o
livro de Lourenço Filho “Os testes ABC”. Depois disso, abandonou a aplicação dos
testes aplicados anteriormente, e passou a utilizar os testes ABC. Informa que, para
acelerar a aplicação dos testes e obter melhores resultados, adquiriu os testes
impressos pela “Cia Melhoramentos, São Paulo”. Relata que, somente após a
aplicação dos testes ABC, é que foi possível apresentar bons resultados de seleção
de classes. Ao expor essas vantagens, Vollet acreditava que os resultados
oferecidos podem ser úteis a outros professores e diretores, pois com as novas
matrículas, em todos os anos letivos, haverá sempre a necessidade de organização
racional das classes.
LEITE, Francisco Eusébio de Aquino. Alphabetização rapida. Revista de Educação,
São Paulo, v. 11-12, n. 11-12, p. 3-18, set./dez. 1935.
O autor relata que as cartas recebidas, em decorrência de artigos publicados
anteriormente, levaram-no a esclarecer, mais uma vez, aspectos do ensino da
leitura. Destaca que, nos últimos tempos, a evolução por que tem passado o ensino
da leitura tem proporcionado a utilização de métodos e processos adaptados,
visando sempre aos objetivos de eficiência e rapidez na alfabetização. Procura
elucidar os processos que julga mais práticos e proveitosos para o ensino da leitura.
Ao fazer uma análise do processo “ba, ca, da ...” utilizado pelo professor Abel de
Faria Sodré, destaca que esse processo apressa a alfabetização, mas não é o mais
aconselhável, pois dentre os vários processos devemos preferir os “mais racionais”,
de acordo com os princípios que orientam o ensino moderno. Para Leite, o professor
Sodré não considera esse fato, porque sua preocupação está no ensino de sílabas e
letras, quando deveria ser desenvolvido por meio das palavras lidas. O autor
destaca que, como apresenta em sua cartilha e no “Guia do Ensino da Leitura”, que
ainda não havia conseguido publicar, as sílabas e letras devem ser empregadas
para sistematizar o ensino da leitura e não como ponto de partida. A orientação das
lições que sugere diverge do método analítico e segue o processo ideo-visual.
Acrescenta, ainda, que o professor deve ter conhecimento das leis da fonética para
compreender a natureza das vogais e consoantes e organizar o ensino.
BUSCH, Leontina Silva. O ensino da linguagem escripta planos e suggestões.
Revista de Educação, São Paulo, v. 11-12, n.11-12, p. 58-66, set./dez. 1935.
Para a autora o objetivo do ensino da escrita às crianças é capaci-las a escrever
com clareza, correção, facilidade, rapidez e legitimidade aquilo que for necessário.
Destaca que o ensino por meio de cópias não é legítimo, porque quando copia a
criança não escreve o seu pensamento. Busch considera que ensinar a criança a
pensar com a escrita, exige do professor certas atitudes que levem a criança a
coordenar a linguagem interior à habilidade de grafar, e esse representa um trabalho
difícil. Assim, deve o professor aplicar exercícios escritos cujos conteúdos variem de
aluno para aluno, considerando a individualidade de cada um. Julga que o ponto de
partida da aprendizagem está na observação interessada; assim a mente do aluno
associa, por seus elementos ou integralmente, a outra coisa anteriormente
conhecida. É necessário integrar a linguagem escrita com outras atividades que os
alunos realizam no cotidiano escolar, de modo que a linguagem escrita seja
227
atividade integrada ao aprendizado global. Depois de apresentar alguns requisitos
essenciais relativos à linguagem modelar do professor, fornece um plano de aula
para o primeiro ano, contendo exercícios escritos, apresentando o passo a passo
dos exercícios.
RICCHETTI, Henrique. A escripta na escola primária: síntese do livro da professora
Orminda I. Marques. Revista de Educação, São Paulo, v. 15-16, n. 15-16, p. 17-31,
set./dez. 1936.
Apresenta-se, neste artigo, a síntese do livro A escripta na Escola Primaria,
publicado pela Companhia Melhoramentos de São Paulo, em 1936, escrito pela
professora carioca Orminda I. Marques. Na síntese, são expostas as idéias da
autora sobre a concepção de ensino da escrita, segunda a qual deve ser encarada
pelo professor como “meio modificador do comportamento”. Destaca que, sendo a
escrita uma habilidade, sua grafia se dá dentro de um conjunto que opera com
fatores motrizes e sensoriais ou emocionais, e esse fato não deve ser despercebido
no ensino da escrita. É ressaltado o papel da motivação e o fato de se aproveitar os
interesses naturais dos alunos. A escrita é vista, ainda, como um processo “físico-
psicológico”. Desde os três anos de idade, a criança procurar representar coisas por
meio de garatujas, é esse comportamento que o professor deverá modificar, e isso
acontece quando a criança atinge o nível de maturidade que depende de seu
desenvolvimento psicológico, como apresenta Lourenço Filho. Então, é necessário
levar-se em conta as dificuldades individuais relativas ao desenvolvimento social dos
alunos. Quanto aos tipos de escrita são apresentados dois modos: a escrita cursiva
vertical ou inclinada e a tipográfica, sendo que a indicada para a aprendizagem é a
escrita cursiva vertical inclinada para a direita. Ricchetti aponta que a autora do livro
divide os processos de ensino da escrita em quatro grupos, entre eles os de
processos de aplicação dos princípios gerais baseados na moderna psicologia, que
é o que autora considera o mais racional e foi o utilizado por ela no Instituto de
Educação do Distrito Federal. São apresentados, também, modelos de planos de
aulas contendo exercícios para conduzir o ensino da escrita, desde a “fase
preparatória” até a escrita de uma sentença.
FERRAZ, Anna Nogueira; BOLLIGER, Olga. Organização de classes seleccionadas
e applicação dos testes ABC. Revista de Educação, São Paulo, v. 15-16, n.15-16, p.
52-55, set./dez. 1936.
As autoras apresentam um relatório sobre a organização de classes selecionadas,
realizada nos anos letivos de 1933, 1934, 1935, e 1936, no Grupo Escolar de
Rebouças. Explicam que em 1933 começaram a utilizar os testes ABC para
organização de classes seletivas, somente para os alunos novos, os repetentes
eram classificados pelo critério de adiantamento, o que ocasionou falhas. Em 1934,
todos os alunos, inclusive os repetentes, foram submetidos aos testes. Em 1935,
com um trabalho seletivo mais aperfeiçoado, era de se esperar resultados melhores,
não fossem as substituições de professoras durante o ano letivo. Tendo em vista
superar as falhas dos anos anteriores, as professoras procederam à aplicação dos
testes ABC, de acordo com as indicações do professor Lourenço Filho, depois de
três dias de aula. Explicam que examinaram 15 alunos por dia, utilizando uma média
de 12 minutos por aluno. Os testes de números dois, quatro, cinco e seis, de
expressão verbal, foram julgados no mesmo dia, os demais, executados em papel,
só foram examinados no outro dia por três professoras do primeiro ano. Apontam os
resultados obtidos e a maneira como as classes ficaram organizadas: de 21 a 16
228
pontos, classe forte; de 15 a 12 pontos, classe média; e de 12 a 3 pontos, classe
fraca. Ao apresentarem o relatório da experiência desses quatro anos consecutivos,
as autoras se consideram adeptas dos testes ABC, apesar das dificuldades
encontradas e das dúvidas surgidas.
RIOS, Fernando. O ensino no primeiro anno escolar. Revista de Educação, São
Paulo, v. 17-18, n.?, p. 03-07, mar./jun. 1937.
Ao se preocupar com a questão do fracasso da alfabetização dos alunos no primeiro
ano escolar, o autor questiona a estagnação dos alunos reprovados nos exames
finais, assim como o fato de o Estado reclamar do alto custo financeiro dispensado
com cada aluno que é reprovado nos exames. Assim, considera que mesmo não
tendo o aluno obtido progresso considerável para ser aprovado ao final do ano, não
podemos apenas apontar os aspectos negativos dessa carência, como perda de
tempo e de dinheiro, pois, de fato, o aluno não permanece estagnado porque
mesmo obtendo nos exames finais resultados aparentemente nulos, realiza
progresso considerável quanto a formação da personalidade, aquisição de hábitos
de higiene, além de morais e sociais.
BRAGA, Jurema. Calligraphia muscular. Revista de Educação, São Paulo, v. 17-18,
n.?, p. 51-56, mar./jun. 1937.
A autora relata resultados de um curso oferecido para professores alfabetizadores,
no Laboratório de Psicologia do Instituto de Educação, relacionado à “nova
orientação do ensino da caligrafia. Ao destacar o papel social, profissional e escolar
da boa letra, considera que o professor deve oferecer aos alunos um método de
grande vantagem que possibilite a habilidade de escrever fácil, legível e
rapidamente. Esse método é denominado de caligrafia muscular e não é apenas um
tipo de letra. Valoriza a simplicidade da forma, a posição correta das partes do corpo
e a eficiência do movimento.
PEIXOTO, Vicente. O ensino da linguagem nos dois primeiros anos da escola
primária. Revista de Educação, São Paulo, v. 21-22, n. 21-22, p. 03-07, mar./jun.
1938.
Peixoto relata que o ensino da linguagem tanto oral quanto escrita, por ser o mais
difícil trabalho do professor, deve ter cuidado especial. Julga que nos dois primeiros
anos escolares, deve o professor desenvolver, corrigindo o vocabulário com a
classe, formando com os alunos variadas sentenças, solicitando que descrevam
objetos, exercitem a escrita por meio de cópias, ditados, redações de sentenças
simples, por meio das quais as crianças irão facilmente compreendendo que as
palavras agrupadas exprimem os nossos sentimentos. Destaca que outra
preocupação que deve ter o professor é a de corrigir as crianças sempre que
cometem erros de linguagem quanto ao uso dos pronomes, flexões verbais, entre
outros, assim sendo, em pouco tempo estarão falando corretamente e sem
acanhamento. Esse trabalho visa ao desenvolvimento e ao enriquecimento do
vocabulário infantil e à correção do modo de as crianças expressarem seus
pensamentos. Cita os fins do ensino da linguagem: “a facilidade na expressão do
próprio saber” e a “habilidade no uso das formas escritas”. Para atingir esses fins,
julga que o professor deve utilizar certos exercícios que auxiliem no ensino da
língua, oferecendo dicas de como devem ser encaminhados os mesmos.
229
PENTEADO, Renato de Arruda. Seleção de classes. Revista de Educação, São
Paulo, v. 21-22, n. 21-22, p. 60-62, mar./jun. 1938.
Apresenta resultados da aplicação dos testes ABC no Grupo Escolar Dr. Almeida
Vergueiro, localizado em Espírito Santo do Pinhal. Ressalta que os alunos do
primeiro ano escolar, no início do ano, não podem ser classificados por critério
empírico e subjetivo que, por vezes é falho. Para superar tal falha, torna-se
necessário classificar todos os alunos por um critério único, invariável e objetivo,
qual seja, os testes ABC. Apontando os aspectos positivos da aplicação dos testes
informa que dos alunos selecionados por meio dos testes, de 60% a 71,42% dos
alunos foram alfabetizados até ao final do 1º anos escolar, enquanto que a classe
que não se submeteu aos testes obteve apenas 47,22% de aprovação.
FREITAS, Beatriz de. O ensino da caligrafia. Revista de Educação, São Paulo, v. 21-
22, n. 21-22, p. 63-75, mar./jun. 1938.
A autora divulga, também, resultados do curso “de aperfeiçoamento” sobre caligrafia
muscular, ministrado por Jurema Braga aos professores alfabetizadores no
Laboratório de Psicologia. Aponta que é necessário que os professores conheçam a
didática do “novo” método e passem a exercitá-lo, pois há a necessidade se
modificarem a metodologia do ensino da escrita, já que a caligrafia vertical utilizada
nas escolas tornou-se inadequada. Ancorada na bibliografia norte-americana,
especialmente nas experiências de Palmer e Lister, apresenta as características do
método que enfatiza a rapidez da execução dos movimentos dos músculos.
SANTOS, Maximo de Moura. O método analítico. Revista de Educação, São Paulo,
v. 23-26, n. 23-26, p. 14-17, set./dez. - mar./jun. 1939.
Santos destaca que o método tornou-se questão primordial do problema do ensino
da leitura, após a introdução do método analítico. Considera que o método analítico
não é, de fato, um método, pois método é o meio, um caminho para se chegar a um
fim. O método de silabação é o único método de leitura existente, porque segue um
caminho em que a criança aprende as sílabas e, por meio das sílabas conhecidas,
chegará a ler palavras desconhecidas. Explica que o que varia são os processos, e
processo é a maneira de aplicar o método. Destaca que não importa a designação,
analítico ou analítico-sintético, porque, em ambos, o caminho é um: aprender as
sílabas e por estas as palavras. No parecer do autor, trata-se de simples variação de
trabalho de cada professora e de diferenças individuais dos alunos. Sendo assim,
considera que por silabação qualquer criança aprende a ler; já a sentenciação serve
somente para os mais inteligentes. Ressalta que a principal responsável pela
decadência do ensino é a má processuação do ensino das primeiras letras. Sugere
que os professores rompam com a hipocrisia e deixem de utilizar o processo da
silabação às escondidas, pois o mau emprego do processo analítico causa prejuízos
às crianças dos grupos escolares, principalmente da capital.
LEITE, Francisco E. de Aquino. O ensino da leitura e o método analítico. Revista de
Educação, São Paulo, v. 23-26, p. 51-56, set./dez. - mar./jun. 1939.
Destaca que o problema do ensino da leitura no Estado de São Paulo é que as
crianças não sabem ler corretamente. Culpa, mais uma vez, o método analítico
pelos prejuízos e aponta que deve ser ele banido das escolas, e os professores
devem substitui-lo. Informa que o método analítico foi introduzido no país há cerca
de cinqüenta anos, primeiramente na Bahia, depois em São Paulo onde foi
oficializado e tornado obrigatório; depois disso, se irradiou por todo o país, sem que
230
se aprofundassem nos exames de seus processos, sem uma cautelosa aplicação e
adaptação à nossa língua. Aponta que o professor está sendo acusado injustamente
de responsável pela ineficácia do método, porque o professor foi privado de
autonomia e obrigado a empregá-lo. Considera que, dadas as evidências da ação
prejudicial do ensino da leitura pelo método analítico, cabe às autoridades escolares
providências no sentido de bani-lo definitivamente das escolas e substituí-lo por
outro método que apresente processos baseados em princípios racionais e
científicos. Assim, as cartilhas analíticas também devem ser substituídas. Considera
ainda que, para que a “Cruzada Nacional de Educação” tenha êxito, temos que,
primeiramente, aperfeiçoar os métodos de ensino da leitura que conduzam à
alfabetização rápida e eficiente.
COMISSÃO DE ESTUDOS DO S.I.A.E. Testes. Revista de Educação, São Paulo, v.
27, p. 28-63, set./dez. 1939.
Neste artigo, apresentam-se as funções dos testes e examinam-se a aplicação dos
testes ABC, com o objetivo de dar continuidade à divulgação dos testes,
encaminhada pelo Laboratório de Psicologia anexo à Faculdade de Filosofia,
Ciências e Letras, da Universidade de São Paulo. Advertem que o teste psicológico
é utilizado em educação principalmente com função seletiva, sendo assim, nenhum
professor do primeiro ano deve começar o seu trabalho anual sem dar à classe
provas fáceis, para distingüir os alunos mais fortes, os médios e os mais fracos, para
separá-los em classes diferentes, para terem os alunos um tratamento mais
adequado às várias capacidades. Explicam que os testes funcionam como baterias,
ou seja, constituem um conjunto de provas em que cada uma verifica a maturidade
da atividade motora, da memória visual, da auditiva, ou, qualquer outra função que
entre em jogo na aprendizagem da leitura e da escrita. Entre os testes psicológicos,
destacam os testes ABC, de Lourenço Filho, porque medem em especial o nível de
maturidade necessária para a aprendizagem da leitura e da escrita, enquanto que
outros, como o de Binet-Simon, por exemplo, examinam a capacidade geral dos
alunos. Apresentam os testes ABC, explicando a destinação de cada uma de suas
oito provas, assim como a técnica de sua aplicação. Seguem explicando
detalhadamente a aplicação dos testes ABC e a forma de avaliação, assim como a
maneira de se organizarem as classes selecionadas, considerando os resultados
obtidos.
MENNUCCI, Sud. Método analítico. Revista de Educação, São Paulo, v. 27, n. ?, p.
203-206, set./dez. 1939.
Trata-se de um trecho de um artigo publicado no Folhetim do Estado de São Paulo,
em 1927, pelo ex-diretor do Ensino de São Paulo, Sud Mennucci, contendo um
esboço da história da introdução do método analítico em São Paulo. O autor informa
que, quando o método analítico chegou a São Paulo, seus princípios orientadores já
tinham vinte anos, pois dois psicólogos franceses Henry e Binet, em 1894, já tinham
realizado pesquisas sobre o poder da memória infantil e haviam concluído que a
“memória verbal da frase é vinte e cinco vezes superior às palavras isoladas”.
Mennucci insiste que a mudança na orientação do sistema de palavração para o do
método analítico não se deu por capricho da administração escolar à época, mas
sim, por conseqüência dos resultados de importantes investigações psicológicas,
que respeitavam as leis fundamentais do desenvolvimento da psicologia infantil.
Com isso, foi necessário rever os métodos de ensino utilizados e propor-lhes
modificações, considerando-se a “evolução do espírito”. O método analítico, então,
231
com base experimental, não pode deixar de ser utilizado, valorizou-se antes nos
Estados Unidos e foi institucionalizado, no Estado de São Paulo, por iniciativa de
Oscar Thompson. Mennucci considera que o método analítico encontrou dois
obstáculos principais: a resistência dos professores e a forma de processar o novo
método. Para o autor, a determinação da obrigatoriedade do método sem se
despertar o interesse dos professores é que foi um erro.
VIEIRA, Maria de Lourdes. O ensino da leitura nas classes adiantadas. Revista de
Educação, São Paulo, v. 29, n. 30-39, p. 55-59, mar. 1941 a jun. 1943.
Neste artigo, são apresentadas orientações para conduzir o ensino da leitura nas
classes adiantadas. São recomendadas as orientações das professoras americanas
Mary E. Pennell e Alice M. Cusack, contidas no livro Como se ensina a leitura. De
acordo com o processo sugerido no livro, a autora apresenta o plano de uma aula
para o ensino da leitura. No plano, a aula foi dividida em quatro momentos:
preparação, leitura silenciosa, comentário e aplicação. Destaca que, na preparação,
deve o professor despertar a curiosidade do aluno acerca do assunto da leitura a ser
realizada, intimamente relacionada com a motivação. Em seguida, entrega-se o
material e os alunos efetuam a leitura silenciosa, seguida do comentário em que o
professor faz perguntas que envolvam as idéias gerais do assunto. Por fim, a
aplicação, explicando que este passo pode ser constituído de uma dramatização.
Aponta a importância da leitura silenciosa, julgando que a leitura oral implica no
decréscimo da compreensão, enquanto que a leitura silenciosa auxilia à
compreensão, oportuniza a liberdade de escolha e respeita a individualidade, pois
cada um apresenta uma velocidade de leitura. Além disso, destaca que, por meio do
processo apresentado no livro, o professor pode tamm reunir os alunos em
equipes para desenvolverem as atividades propostas. Esboçado o plano, a autora se
mostra favorável à sua aplicação; no entanto, aponta algumas objeções de sua
adaptação à nossa realidade: falta de aulas de trabalho livre, falta de material
adequado à criação de um ambiente propício para as aulas de leitura e falta de
liberdade de horário.
A NOITE. Aprendendo a ler em trinta lições. Revista de Educação, São Paulo, v. 29,
n. 30-39, p. 206-208, mar. 1941 a jun. 1943.
Trata-se da cobertura da demonstração do processo de alfabetização rápida
proposta pelo professor Vicente Peixoto, do Grupo Escolar São Paulo, pelo qual é
possível alfabetizar crianças em trinta dias. Para o professor Peixoto, trinta aulas é o
suficiente para que qualquer criança normal seja alfabetizada, utilizando-se a cartilha
Coração Infantil, organizada por ele. Pelo método do professor Peixoto, as aulas de
ensino da leitura devem ser iniciadas com conversas com os alunos. São oferecidos,
então, quadros que auxiliam a memória dos alunos, para possíveis consultas; são os
“quadros mnemônicos”. Nesses quadros, são desenhados objetos e animais e
escritas as sílabas correspondentes à primeira letra da palavra. Assim, ao final da
décima lição, as crianças já são capazes de ler sentenças diferentes. Além desses
quadros, segue-se a ordem alfabética para apresentação das combinações
silábicas. Acrescenta o autor que essa é a instrução da Diretoria Geral do Ensino.
Obtendo o método do professor Peixoto bons resultados, chamou a atenção de
autoridades que estiveram presentes nessa divulgação, entre eles, o representante
do diretor geral do Departamento de Educação, o assistente técnico do ensino
232
primário, a inspetora escolar do Distrito e professoras da escola Caetano de
Campos.
SUD MENNUCCI. Ler em seis horas. Revista de Educação, São Paulo, v. 30, n. 40-
41, p. 3-5, jul./dez. 1943.
Mennucci informa que uma notícia tem atraído a atenção dos jornais há alguns dias.
Explica que tal notícia informa que existe um processo em que os analfabetos
podem aprender a ler em seis horas. Para evitar dúvidas, esclarece que são doze
lições diárias, de meia hora cada uma. Considera que não é de se estranhar a
curiosidade dos leitores, porque o recenseamento de 1920 acusou que 75,5% da
população brasileira não sabia ler, então, aprender a ler em seis horas seria a
salvação, o que para o autor é pura ingenuidade. Ao tratar dos motivos dessa
ingenuidade, considera que a aprendizagem da leitura é um processo demorado,
pois, para aprender a ler, devem ser fixadas imagens e símbolos convencionais que
representam os sons que a fala humana emite em um determinado idioma, no caso
do português são vinte e três símbolos, somados aos sinais complementares. Com
isso, a fixação das representações é demorada, porque o trabalho mental precisa
automatizar essa fixação, transformando-a de consciente em inconsciente. Há ainda
um trabalho de transformação interior que demanda tempo, e esse tempo varia de
indivíduo para indivíduo. Sendo assim, conclui que não é possível que a
aprendizagem da leitura se dê em apenas seis horas. Mesmo que fosse em dois
meses, não seria possível. No parecer de Mennucci, os homens aprendem
verdadeiramente as coisas, quando precisam delas e continuam exercitando, caso
contrário, acabam por esquecê-las. Conclui que, para que a leitura persista e
permaneça, é preciso um processo de integração cultural e não mera receita
“curativa” contra o analfabetismo como “ler em seis horas”.
SANTOS, Maximo de Moura. Ensinar a ler. Revista de Educação, São Paulo, v. 30,
n. 40-41, p. 20-23, jul./dez. 1943.
Neste artigo, Santos destaca que ensinar a ler é a razão principal da escola primária.
Em linhas gerais, descreve e analisa alguns processos que podem ser utilizados
para esse ensino. Informa que, durante muitos séculos, o ensino da leitura se
processou pela soletração, ou seja, o ensino de uma consoante e suas combinações
com as vogais. Considera que esse método não era eficiente. Tal processo foi
sucedido pela silabação, em que se ensinam as sílabas, palavras e sentenças. Julga
que o processo da silabação, embora seja o principal utilizado na luta contra o
analfabetismo, apresenta alguns defeitos, entre eles a leitura mecânica e a falta de
interesse por parte dos alunos. Quanto ao método da palavração, acredita que
quando bem utilizado produz bons resultados. Destaca que Oscar Thompson trouxe
dos Estados Unidos o processo denominado método analítico, que, na prática foi
pouco utilizado pelos professores que já estavam acostumados com o processo de
silabação. Critica as Escolas Normais que deixam para segundo plano os assuntos
relativos ao ensino da leitura e assim, conclui que o professor recém-formado não
sabe ensinar a ler.
SACHS, H. J. A leitura para a aquisição do vocabulário. Revista de Educação, São
Paulo, v. 30, n. 40-41, p. 81-84, jul./dez. 1943.
No artigo traduzido por Matilde Brasiliense, são apontados aspectos relativos ao
enriquecimento do vocabulário infantil por meio da leitura. Do significado de palavras
desconhecidas pelos alunos durante a leitura, Sachs ressalta que as crianças lêem
233
pelo interesse no enredo da história e não pelo sentido das palavras isoladas;
portanto, as crianças no ato da leitura, não fazem pausas para verificar o seu
significado. O conteúdo auxilia o aluno na compreensão do significado das palavras,
principalmente quando a sentença é curta. Aponta a necessidade de uso metódico
do dicionário para se complementarem as atividades de leitura, que implicam o
enriquecimento do vocabulário infantil.
SERRA, Adauto de Oliveira. Método ideo-visual para o ensino da leitura, segundo
Derloly (sic). Revista de Educação, São Paulo, v. 30, n. 40-41, p. 105-111, jul./dez.
1943.
Julgando oportunos os processos do método ideo-visual para o ensino da leitura,
Serra pretende propagá-lo entre os professores que se empenham na tarefa de
alfabetizar crianças. O autor parte do pressuposto de que todo o ensino, para ser
interessante deve ser motivado, daí sua aderência a técnica utilizada nas escolas
decrolyanas para o ensino da leitura. Explica que por meio dessa técnica o professor
deve motivar o aprendizado dos alunos e oferecer estímulos que provocam as
atividades dos alunos. Além disso, deve o professor conhecer as bases dos
processos de ensino da leitura para variar os exercícios para que estes sejam
interessantes e atraentes. Sugere que, no primeiro passo, o professor utilize frases
fáceis que sejam resultado da conversação entre ele e o aluno, escritas no quadro
negro para que todos vejam e leiam e, em seguida, executem as ordem que leram,
como por exemplo, “Pegue a bola.” Portanto, por meio do método ideo-visual, os
alunos vêem, idealizam o símbolo que as palavras representam e chegam a
compreender o significado das frases lidas. Num segundo passo, o professor deve
confeccionar cartões com palavras conhecidas pelas crianças, que farão a coleção
em uma caixinha. Destaca que, pelo método ideo-visual, o professor pode favorecer
os desejos e inclinações infantis. Prossegue expondo uma séries de “jogos” e
exemplos de exercícios a serem utilizados no ensino da leitura nas classes de
primeiro grau.
BARRA, Maria Helena Prestes. O ensino da linguagem no curso primário. Revista de
Educação, São Paulo, v. 30, n. 40-41, p. 122-134, jul./dez. 1943.
A autora define, em linhas gerais, a linguagem como a “arte da expressão dos
sentimentos, desejos e pensamentos”. Preocupa-se em explicar a influência da
leitura sobre o desenvolvimento mental e a importância do professor incentivar o
hábito da boa leitura. Ao se referir ao objetivo da escola primária, explica que a
criança, quando chega à escola possui uma linguagem que, em geral, é defeituosa,
pobre e cheia de arestas, que precisa ser trabalhada e polida. Sendo o objetivo da
linguagem na escola primária, desenvolver e aperfeiçoar a linguagem da criança,
tanto a linguagem oral, quanto a escrita, a autora, baseada em Claparède,
acrescenta que um dos fatores que exerce grande influência na aquisição da
linguagem oral e escrita é a motivação, sem a qual, em sua opinião, nada se
consegue. Sendo assim, é preciso despertar nos alunos o interesse pela leitura. Ao
discorrer sobre a linguagem oral no primeiro ano escolar, explica que a professora
receberá crianças de dois grupos: aquelas que freqüentaram o Jardim de Infância e
aquelas que não o fizeram; assim, as atividades devem ser desenvolvidas, tendo em
vista essas características. Explica que o ensino da linguagem escrita exige
exercícios constantes e que o professor deve aplicar meios apropriados à sua
execução, como por exemplo, a redação, o vocabulário, a pontuação e o dicionário.
Manifesta-se contrária à utilização de cópias, na aquisição da linguagem escrita,
234
pois, se a finalidade do ensino da linguagem é desenvolver a expressão do
pensamento, o plágio não colabora para isso.
235
ANEXOS
236
Anexo 1 - Capa da revista Educação (1928)
237
Anexo 2 - Capa da revista Escola Nova (1931)
238
Anexo 3 - Capa da revista Educação (1932)
239
Anexo 4 - Capa da Revista de Educação (1936)
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