“Quanto à escolarização
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dos adolescentes e jovens brasileiros a
realidade apresenta dados significativos. Muito embora 92% da
população de 12 a 17 anos estejam matriculadas, 5,4% ainda são
analfabetos. Entre a faixa etária de 15 a 17 anos, 80% dos
adolescentes freqüentam a escola, mas 40% estão no nível
adequado para sua faixa etária e somente 11% dos adolescentes de
14 e 15 anos concluíram o ensino fundamental. Entre 15 e 19 anos,
diferentemente da faixa etária dos 7 a 14 anos
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, a escolarização
diminui à medida que aumenta a idade. Segundo Waiselfisz (2004), a
escolarização bruta de jovens de 15 a 17 anos é de 81,1% caindo
significativamente para 51,4% quando a faixa etária de referência é
de 18 a 19 anos” (SINASE, 2006, p. 14).
Constatamos também, que as histórias de vida desses adolescentes foram
construídas na violência em sua multidimensão, ou seja, no abandono e na rejeição
de um dos pais ou de ambos, no uso abusivo de álcool, em alguns casos (embora
não constatado em nossa pesquisa mas revelado em nossa experiência), no uso de
tóxicos pela mãe, inclusive durante a gestação, na agressividade doméstica, na
pobreza, no desemprego, no abandono, na subalimentação e desnutrição e no
esquecimento da sociedade, da família e do Estado. Muitas das histórias já foram
vividas anteriormente pelos pais, reproduzindo-se no sentimento de autodestruição,
contribuindo para a perpetuação da violência, mantendo um ciclo viciante que se
repete nos próprios descendentes.
Reportando-se a Freud, SCHUTZENBERGER (1997), ao tecer considerações
sobre a importância da transmissão transgeracional, afirma que
:
“Se os processos psíquicos de uma geração não se transmitissem
para outra geração, não continuassem na outra, cada qual se
obrigaria a recomeçar seu aprendizado da vida, o que excluiria todo
progresso e todo desenvolvimento (...)”
(p. 187).
Cada ser humano, contudo, é singular, é diferente, é único em suas
características; respeitá-lo, qualificá-lo, acolhê-lo, não é uma concessão, mas, sim
um direito; esse direito é social, é político, é de cidadania e de humanização. A
utilização de rótulos negativos “marca” e desqualifica uma pessoa. Essa marca é o
que se denomina de estigma. As pessoas estigmatizadas passam a ser
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“Para WAISELFISZ (2004), escolarização está relacionada à freqüência escolar. Sendo assim, quando se fala
em escolarização está-se referindo à freqüência em alguma instituição de ensino formal” (SINASE, 2006, p. 14).
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“A expansão da matrícula no ensino fundamental é fato comprovado em vastas estatísticas, com destaque para
a faixa etária de 7 a 14 anos de idade no ensino fundamental que atingiu no País praticamente sua
universalização, ou seja, 96,5% estavam freqüentando, em 2002, as escolas independentes do domicílio e da
renda familiar per capita. Do ponto de vista quantitativo, representou um importante avanço em relação à
questão do acesso à escola. Contudo, cerca de 14,4% dos estudantes de sete anos de idade já entraram na escola
defasados no ensino fundamental, seguindo uma tendência de aumento progressivo das taxas de defasagem
conforme o aumento das idades, chegando a 65,7% na idade de 14 anos (IBGE, 2004)” (SINASE, 2006, 14).
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