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A personagem, antes nomeada persona, modificou-se e migrou da arte teatral
para a literatura e assumiu características muito mais complexas que as do herói
clássico (épico e anti-herói épico), do trágico, do baixo (cômico, tragicômico, satírico e
picaresco), do alto (nacionais e históricos) e do moderno (herói da decadência, do
avesso, proletário, burguês).
Em sintonia com as máscaras, o romance foi dividido em categorias, de acordo
com o herói e o tipo do enredo: romance clássico, de viagem, de cavalaria, de
aventura, picaresco, de época, autobiográfico, de fluxo de consciência, de memória,
de cunho psicológico moderno.
Observamos, aqui, um fator importante: a vida da personagem atrelada aos
fatos do enredo depende do contexto social em que está inserta em complexidade
de natureza artística e literária.
Segundo BAKHTIN (1993), foi na Idade Média que surgiu a figura do homem
que tomou para si formas folclóricas e semifolclóricas como representantes das
figuras populares no teatro. Essas personagens ou máscaras surgiram em um
ambiente não literário e representavam os heróis baixos, desclassificados,
desonrados, discriminados pela elite nobre. Por esse motivo, as personagens foram
idealizadas e concebidas nos teatros ao ar livre, nas praças destinadas ao povo.
Também se mantiveram vivas e ativas na história literária e artística. Conforme
BAKHTIN (1993, p. 276):
(...) a própria existência dessas personagens tem um significado
que não é literal, mas figurado: a própria aparência delas, tudo o
que fazem, e dizem não tem sentido direto e imediato, mas sim
figurado e, às vezes, invertido. Não se pode entendê-las
literalmente, elas não são o que parecem ser; finalmente, em
último lugar – que também provém do anterior –, a existência
delas é o reflexo de alguma outra existência, reflexo direto por
sinal. Elas são os saltimbancos da vida, sua existência, coincide
com o seu papel; aliás, fora desse papel, elas não existiriam.
Literalmente, elas não apresentam sentido de imediato porque sua existência
depende da existência de outros, ou seja, no universo ficcional, elas são os outros. E
suas representações no teatro da vida real só admitem funcionalidade por causa do