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1.(...) Estou num canal, não gosto - zap, mudo para outro. Não gosto de novo – zap, mudo de
novo. Eu gostaria de ganhar em dólar num mês o número de vezes que você troca de canal
em uma hora, diz minha mãe. Trata-se de uma pretensão fantasiosa, mas pelo menos indica
disposição para o humor, admirável nessa mulher. (1º§, p.369)
2.(...) Da tela, uma moça sorridente pergunta se o caro telespectador já conhece certo novo
sabão em pó. Não conheço nem quero conhecer, de modo que – zap – mudo de canal. “Não
me abandone, Mariana, não me abandone!” Abandono, sim. Não tenho o menor remorso,
em se tratando de novelas: zap, e agora é um desenho, que eu já vi duzentas vezes, e – zap –
um homem falando. (2º§, p.369)
3. É sobre mim que fala. Você tem um filho, não tem?, pergunta a apresentadora, e ele, meio
constrangido – situação pouco admissível para um roqueiro de verdade –, diz que sim, que
tem um filho, só que não o vê há muito tempo. Hesita um pouco e acrescenta: você sabe, eu
tinha de fazer uma opção, era a família ou o rock. A entrevistadora, porém, insiste (é chata,
ela): mas o seu filho gosta de rock? Que você saiba, seu filho gosta de rock? (1º§, p. 370)
4. ...mas na realidade é a mim que ele olha, sabe que em algum lugar, diante de uma tevê,
estou a fitar seu rosto atormentado, as lágrimas me correndo pelo rosto; e no meu olhar ele
procura a resposta à pergunta da apresentadora: você gosta de rock? Você gosta de mim?
Você me perdoa? – mas aí comete um erro, um engano mortal: insensivelmente,
automaticamente, seus dedos começam a dedilhar as cordas da guitarra,... (2º§, p.370)
Percebemos, no exemplo 1, que cabe ao leitor identificar quem fala, na
seqüência da leitura do parágrafo, porquanto não há o emprego do travessão (na outra
linha), usado na forma convencional do discurso direto. Verificamos que se trata de
discurso direto, pois o narrador introduz no final da frase o verbo de elocução dizer,
separando-o com um sinal de vírgula em
Eu gostaria de ganhar em dólar num mês o
número de vezes que você troca de canal em uma hora, diz minha mãe, revelando
que a fala pertence à personagem secundária – na história – mãe do adolescente.
No exemplo 2 há outra alteração no uso do discurso direto, comparando-o a
Harakashy e as Escolas de Java e ao exemplo 1, variação essa no registro da fala de
uma personagem de telenovela em uma das programações da televisão. Vemos que,
novamente, o leitor terá que identificar as palavras da personagem da telenovela em
meio ao parágrafo, sendo o discurso direto, agora, marcado somente pelo uso de aspas
em “Não me abandone, Mariana, não me abandone!”.
Já no exemplo 3 de ZAP, temos a presença do discurso indireto em que o
narrador personagem (o adolescente) faz a intermediação entre o momento da fala da