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(...)
Tonho - Ninguém quer te enganar.
Paco - E mesmo que quisesse, não ia conseguir, bichona. Você é
malandro lá pros teus machos, mas comigo, não!
(...)
Paco - Que diz, bichona? Queria me levar no bico, mas não deu, né?
(TONHO FICA SENTADO NA CAMA OLHANDO PARA O CHÃO.)
(...)
Paco - Estou falando com você, bichona. Falei que você pode arrumar
um coronel velhusco e ele te dá um sapatinho de salto alto. (RI.) Não vai
arrumar? Você vai ficar uma boneca de salto alto e brinco na orelha.
Poxa, Maria Tonha Bichona Louca, você não agradece?
(TONHO ESTÁ CONTIDO, MAS BEM NERVOSO.)
Tonho - Pelo amor de Deus, Paco, me deixa em paz! Me deixa em paz!
Paco - Ai, Ai, como a bicha é nervosa!
Tonho (NERVOSO.) - Estou te pedindo, Paco. Pelo amor de Deus, me
deixa em paz. (CHORANDO.) Minha vida é uma merda, eu já não
agüento mais. Me esquece. Não quer trocar o sapato, não troca. Mas cala
essa boca. Será que você não compreende? Eu estudei, posso ser alguma
coisa na puta da vida. Estou cansado de tudo isso. De comer mal, de
dormir nessa joça, de trabalhar no mercado, de te aturar. Estou farto! Me
deixa em paz! É só o que te peço. Pelo amor de Deus me deixa em paz!
(ESCONDE A CABEÇA ENTRE AS MÃOS E CHORA
NERVOSAMENTE.) (93-94)
Diante da situação, ofendido e ridicularizado por Paco (“... bichona”... “... boneca de
salto alto e brinco na orelha.” “... Maria Tonha Bichona Louca...”), vendo sua face positiva
ameaçada pelo colega, Tonho desiste e entrega a face chorando (“Pelo amor de Deus, Paco,
me deixa em paz! Me deixa em paz!”).
A esse ponto, a situação de conflito torna-se insustentável. Tonho vê-se sem saída e
toma uma atitude: assassinar Paco.
Ao perceber a gravidade da situação, Paco reformula suas estratégias, deixa de
provocar Tonho e passa a humilhar-se diante do colega, colocando em risco sua face: