A Dimensão Educativa no Trabalho do Agente Comunitário de Saúde do Programa de Saúde da Família
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“Tem uma meta de VDs (Visitas Domiciliares) estipulada por eles (gerência da UBS)
que é de 170 VDs por mês, que dá para fazer tranqüilamente, você faz entre 7 e 10
visitas por dia, tudo você vai se adequando, na primeira visita você pode demorar
um bom tempo, levantar o histórico... em geral a gente prepara os formulários e fica
bem fácil, perguntas básicas como pressão alta, se é criança, o que é que está
comendo, se é aleitamento exclusivo, misto, então agente prepara uma planilha. Na
primeira visita do RN, por exemplo, a gente vai demorar, mas na próxima não, já
está tudo montado, é só repetir se está se não está... ou alguma intercorrência, se
passou no Pronto Socorro (por exemplo), então fica rápido. Nós temos cerca de 200
famílias por ACS”. (entrevista 6)
O mesmo ACS que dizia anteriormente que 170 visitas domiciliárias são
possíveis de serem realizadas “tranqüilamente”, em outro momento de reflexão
questiona as metas a serem atingidas em um período de tempo que impacta a
qualidade das orientações realizadas à população, ou seja, acredita que se tivessem
mais tempo, as visitas realizadas teriam mais qualidade.
“Se a gente tivesse mais tempo para estar com o cliente, com o paciente, porque com
essa meta que eles colocam de 170 VD ao mês, a gente tem que fazer uma coisa,
lógico que é meio corrido, agora se tivesse mais tempo para estar orientando... eu sei
que é difícil até para o cliente estar aceitando a gente mais tempo na casa dele, mas
se agente tivesse mais tempo para estar ali orientando... e mais incentivo também
para chamar as pessoas para participar, para chamar, porque agente consegue muito
ir, mas eles virem é mais complicado...”. (entrevista 6)
Falar sobre o tempo nos possibilitaria um novo trabalho a ser desenvolvido
devido ao grande volume de conceitos e assuntos relacionados e possibilidades de
teorização. Porém, nesse momento cabe a reflexão acerca do tempo feita por
Pessini na apresentação do livro de Silva (2004) em que ele diz que mesmo
correndo o risco de ser taxado como romântico ou idealista no contexto em que as
forças do mercado globalizado repetem de forma insistente que ‘tempo é dinheiro’,
ainda assim afirma que existem duas formas de se viver: como cronos ou kairós.
Cronos refere-se ao ‘tempo das batidas do relógio’, com o sentido de temporalidade