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Marcos Viana Bomfim
O PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM DA
ACÚSTICA E PSICOACÚSTICA EM DOIS CURSOS DE
FONOAUDIOLOGIA DA CIDADE DE SALVADOR
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
Mestrado em Fonoaudiologia
São Paulo
2007
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Marcos Viana Bomfim
O PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM DA
ACÚSTICA E PSCOACÚSTICA EM DOIS CURSOS DE
FONOAUDIOLOGIA DA CIDADE DE SALVADOR
Mestrado em Fonoaudiologia
São Paulo
2007
Dissertação apresentada à Banca
Examinadora da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, como exigência
parcial para obtenção do título de
MESTRE em FONOAUDIOLOGIA, sob a
orientação da Prof
a.
Dr
a.
Iêda Chaves
Pacheco Russo.
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Marcos Viana Bomfim
O PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM DA ACÚSTICA E
PSCOACÚSTICA EM DOIS CURSOS DE FONOAUDIOLOGIA DA CIDADE
DE SALVADOR
Presidente da Banca Examinadora:
Profª Drª _____________________________________________________
Banca Examinadora:
Profª Drª ______________________________________________________
Profª Drª ______________________________________________________
Profª Drª ______________________________________________________
Aprovada em : _____/_____/_____
Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total
ou parcial desta dissertação por dispositivos de fotocopiadoras ou eletrônicos.
Assinatura: ___________________________________________________
São Paulo, _____/_____/_____
Direitos Imprescritíveis do Aprendiz:
1. O direito de não estar constantemente atento;
2. O direito ao seu foro íntimo;
3. O direito de só aprender o que tem sentido;
4. O direito de não obedecer seis a oito horas por dia;
5. O direito de se movimentar;
6. O direito de não manter todas as promessas;
7. O direito de não gostar da escola e de dizê-lo;
8. O direito de escolher com quem quer trabalhar;
9. O direito de não cooperar para o seu próprio sucesso;
10. O direito de existir como pessoa.
Traduzido do livro de Philippe Perrenoud (1994) Formation continue et
développement de competénces professionelles. Éducateur, n.11,
p.23-29,e inspirado na obra de Pennac (1991): “Os direitos
imprescritíveis do leitor”.
DEDICATÓRIA
A minha esposa Kátia pelo
carinho, compreensão e por
sempre me apoiar.
Aos meus amados filhos Breno e
Daniel.
Aos meus queridos pais Arivaldo
Bomfim (in memoriam) e Izabel
Viana Bomfim por me inspirarem
como verdadeiros educadores.
vi
AGRADECIMENTOS
- A Deus, por a cada dia dar sentido à minha existência.
- À minha orientadora Prof. Dra. Iêda Chaves Pacheco Russo pela admiração e inspiração no
excelente exemplo de educadora, profissional e pessoa humana;
- À Universidade do Estado da Bahia e à União Metropolitana de Educação e Cultura pelas
contribuições de ordem financeira;
- Aos amigos William Evangelista e Damares Martins, sempre presentes, disponíveis e solícitos
nos momentos mais importantes da minha vida.
- Aos gestores e colegas da Vigilância Sanitária do Município de Salvador, pela compreensão
diuturna;
- Aos professores e colegas do Curso de Pós-graduação da PUC-SP, pelo acolhimento e
oportunidade em partilhar conhecimentos da ciência fonoaudiológica;
- Às professoras Dra. Beatriz Mendes, Dra. Christiane Couto, Dra. Ana Claudia Fiorini e Dra.
Silvia Friedman pelos incentivos e contribuições metodológicas;
- A todos os profissionais, que sou e serei eternamente grato, pela presteza, por elevarem o meu
conhecimento ou pela contribuição no tirocínio geral e específico da Biofísica, em especial:
Prof. Edgard de Aquino Viegas (in memoriam), Profa. Dra. Regina Wanderley, Prof. MSc.
Luiz Cláudio Madureira, Profa. Dra. Carla Afonso Padovani, Prof. Dr. João Cândido, Prof. Dr.
Luiz Fernando Pita Gondim, Prof. MSc. Aliomar Paraguassu, Profa. Dra. Aline Alvarenga e o
Prof. MSc. Márcio Silva.
- À pedagoga Profa. Mylene Maturino pelas discussões produtivas recorrentes e inestimável
contribuição indireta no delineamento deste trabalho;
- Aos meus alunos dos cursos de Graduação em Fonoaudiologia da Universidade do Estado da
Bahia e da União Metropolitana de Educação e Cultura, por acreditarem no exercício da
transformação e pelos estímulos diários.
- Aos professores e alunos participantes dessa pesquisa, pela contribuições imprescindíveis à
causa da educação.
A todas as pessoas que direta ou indiretamente contribuíram para a realização desta pesquisa.
vii
LISTA DE FIGURAS
Figura nº 1 – Curvas de Fletcher-Munson...................................................... 145
Figura nº 2 – Curvas timpanométricas............................................................ 146
Figura nº 3 – Tonotopismo coclear................................................................. 147
Figura nº 4 – Acústica do trato vocal.............................................................. 148
Figura nº 5 – Vibração das pregas vocais...................................................... 149
Figura nº 6 – Espectrogramas da voz humana.............................................. 150
viii
LISTA DE ABREVIATURAS
E01A – Entrevistado nº 01 do grupo A (professor)
E02A – Entrevistado nº 02 do grupo A (professor)
E03A – Entrevistado nº 03 do grupo A (professor)
E04A – Entrevistado nº 04 do grupo A (professor)
E01B – Entrevistado nº 01 do grupo B (aluno)
E02B – Entrevistado nº 02 do grupo B (aluno)
E03B – Entrevistado nº 03 do grupo B (aluno)
E04B – Entrevistado nº 04 do grupo B (aluno)
E05B – Entrevistado nº 05 do grupo B (aluno)
E06B – Entrevistado nº 06 do grupo B (aluno)
E07B – Entrevistado nº 07 do grupo B (aluno)
E08B – Entrevistado nº 08 do grupo B (aluno)
IES – Instituição de Ensino Superior
MEC – Ministério da Educação
UNICEF – Fundo das Nações Unidas para a Infância
ix
RESUMO
Viana Bomfim, M. O Processo de Ensino-Aprendizagem da Acústica e Psicoacústica em dois
cursos de Fonoaudiologia da Cidade de Salvador. 2007, 172f. Dissertação [Mestrado em
Distúrbios da Comunicação Humana] – Programa de Estudos Pós-graduados de
Fonoaudiologia. PUC-SP, São Paulo.
Introdução e Objetivos - A inserção de novas estratégias e ações pedagógicas na área de
Acústica e Psicoacústica aplicada a Fonoaudiologia constituem o novo desafio para a
construção de um ensino diferencial e de qualidade. A relação entre os conhecimentos
acústicos e os fenômenos biofísicos da audição e fonação, aliada a inserção de tópicos em
instrumentação laboratorial para os acadêmicos de Fonoaudiologia propicia um momento
estratégico para a aquisição de informações e conhecimentos específicos, essenciais à
formação discente e à atualização do profissional fonoaudiólogo. A escassez de estudos sobre
o processo de ensino aprendizagem da Acústica e Psicoacústica aplicada a Fonoaudiologia no
Brasil, e em especial, os professores universitários e estudantes de Fonoaudiologia na cidade
de Salvador-Bahia, bem como as suas percepções e implicações na formação acadêmica
caracterizam uma realidade pouco conhecida e de difícil projeção atual na formação
fonoaudiológica. Método - Este estudo qualitativo, do tipo descritivo, analítico e exploratório foi
realizado em duas instituições de ensino superior público e privado da cidade de Salvador entre
novembro de 2006 e fevereiro de 2007, através das aplicações dos instrumentos de entrevista
semidirigida e a técnica de Tempestade Cerebral - Braimstorm (Bordenave e Pereira, 1977)
utilizando seis figuras relacionadas à Acústica aplicada à audição e fonação. Estudou-se a
concepção de quatro professores e oito alunos que cursaram a aludida disciplina nessas
instituições. A condição principal de inclusão para os alunos selecionados, foi ter cursado as
disciplinas relacionadas à Acústica e Psicoacústica aplicada, bem como as disciplinas
profissionalizantes de Audiologia e Voz. O método analítico utilizado foi a Análise do Conteúdo
(Bardin, 2004). Por se tratar de pesquisa qualitativa descritiva, optou-se por não estabelecer
análise estatística. Resultados e Discussão - Á partir dos discursos relatados pelos
professores e alunos, foram selecionadas e sistematizadas seis categorias: formação
profissional, conteúdo conceitual e interdisciplinaridade, concepção de prática, fatores
inferenciais no processo de ensino-aprendizagem, concepção de formação integral e aspectos
cognitivos. A análise dos discursos advindos das entrevistas e os relatos descritivos das figuras
permitiram avaliar as concepções ideológicas e cognitivas acerca da relação ensino-
aprendizagem e tópicos de Acústica e Psicoacústica aplicada. Foram analisadas as
experiências acadêmicas e profissionais pregressas, metodologias e propostas pedagógicas
para a disciplina, planejamento e execução de atividades disciplinares, conteúdo programático,
aprendizagens de conhecimentos e habilidades considerados significativos, condições de
ensino estabelecidas como facilitadoras ou dificultadoras da aprendizagem, dentre outros
aspectos pontuais. Considerações Finais - Os novos desafios para alcançar um ensino de
excelência na Acústica aplicada para a Fonoaudiologia, independente do tipo de formação
pregressa do docente, estão pautados na valorização do educador profissional pelas
instituições de ensino, no desenvolvimento cognitivo docente acerca das bases teórico-
filosóficas da educação, no desencadeamento da formação de atitudes e comportamentos de
professores e alunos, na necessidade premente de conscientização sobre os reflexos sociais
do uso destas ciências, bem como na atualização e redimensionamento das propostas
curriculares nas disciplinas relacionadas, no intuito de atender um novo perfil profissional
integral.
Palavras-chaves: Acústica, Psicoacústica, Biofísica, Ensino, Aprendizagem.
x
ABSTRACT
Viana Bomfim, M. The Process of Teaching-learning of Acoustics and Psycoacoustics in two
courses of Phonoaudiology in Salvador City. 2007, 172f. Dissertation [Master's degree in
Disturbances of Human Communication] - Program of Postgraduate Studies of
Phonoaudiology. PUC-SP, São Paulo.
Introduction and Objectives - The insert of new strategies and pedagogic actions in the field
of Acoustics and Psycoacoustics applied to Phonoaudiology constitutes the new challenge for
the elaboration of a quality and differentiated teaching. The relationship between acoustic
knowledge and the biophysical phenomena of the audition and phonation, added to the insert of
topics in laboratorial instrumentation for the Phonoaudiology students, favors a strategic
moment for the acquisition of specific information and knowledge, which are essential for the
students and for the update of the professionals in Phonoaudiology. The lack of studies about
the process of teaching and learning of acoustics and Psycoacoustics applied to
Phonoaudiology in Brazil, specially those towards university professors and students of
Phonoaudiology in the city of Salvador-Bahia, as well as their perceptions and implications in
academic formation, characterize a poorly known reality of difficult actual projection in the
phonoaudiologic formation. Methods - This qualitative study, of descriptive, analytic and
exploratory type, was accomplished in two universities, a public and a private one, between
November 2006 and February 2007 in Salvador, by means of interviews and the Brainstorm
technique (Bordenave and Pereira, 1977) using six figures related to acoustics applied to
audition and phonation. The conception of all four professors and eight students that
accomplished the mentioned course was studied. The major condition for inclusion of the
selected students was to have done the subjects related to applied acoustics and
psychoacoustics, as well as the courses of Audiology and Voice. The Content Analysis (Bardin,
2004) was the method used in the study. Since it was a descriptive qualitative research, statistic
analysis has not been performed. Results and Discussion - On the basis of the speeches of
students and professors, six categories were selected and systematized: professional
formation, conceptual content and interdisciplinarity, conception of practical, inferential factors in
the process of teaching-learning, conception of integral formation, and cognitive aspects. The
analysis of the speeches from the interviews and the descriptive reports of the figures allowed
the evaluation of ideologic and cognitive conceptions regarding the teaching-learning
relationship and topics of applied Acoustics and Psycoacoustics. The following topics were
analyzed: the previous academic and professional experiences, methodologies and pedagogic
proposals for the subject, planning and execution of course activities, content, learning of
significant knowledge and abilities, teaching conditions established as learning promoters or
inhibitors, besides other punctual aspects. Final Considerations -The new challenges targeting
an excellence teaching in Applied Acoustics for Phonoaudiology, independent of the professor’s
background, are focused on the valorization of the professional educator by the teaching
institutions, in the professor’s cognitive development about the theoretic-philosophical of
education triggering the formation of behavior and attitudes of professors and students, the
necessity of perception regarding the social reflexes with the use of these sciences, as well as
on the updating and re-dimensioning of the curricular proposals in the related subjects,
attempting to attend a new integral and professional profile.
Keywords: Acoustics, Psycoacoustics, Biophysics, Teaching, Learning.
xi
SUMÁRIO
DEDICATÓRIA ....................................................................................................... vi
AGRADECIMENTOS ............................................................................................ vii
LISTA DE FIGURAS ............................................................................................. viii
LISTAS DE ABREVIATURAS ................................................................................ ix
RESUMO ................................................................................................................ x
ABSTRACT ............................................................................................................ xi
1. INTRODUÇÃO .....................................................................................................1
1.1 Objetivo geral .................................................................................................... 4
1.2 Objetivos específicos .................................................................................... 4
2. REVISÃO DE LITERATURA .............................................................................. 5
2.1 Panorama geral da Educação .......................................................................... 6
2.2 Educação em Acústica aplicada à Fonoaudiologia .........................................14
3. MÉTODO .......................................................................................................... 18
3.1 Considerações éticas .................................................................................19
3.2 Caracterização dos sujeitos .......................................................................19
3.3 Procedimentos .......................................................................................... 21
3.4 Critérios para análise dos resultados ........................................................ 23
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................ 25
4.1 Categoria: Formação Profissional ............................................................. 26
4.2 Categoria: Conteúdo Conceitual e Interdisciplinaridade ........................... 32
4.3 Categoria: Concepção de Prática ............................................................. 43
4.4 Categoria: Fatores Inferenciais no Processo de Ensino-Aprendizagem ... 50
4.5 Categoria: Concepção de Formação Integral ........................................... 78
4.6 Categoria: Aspectos Cognitivos ................................................................ 86
4.6.1 Figura: Curvas de Fletcher-Munson ................................................. 87
4.6.2 Figura: Curvas timpanométricas ....................................................... 94
4.6.3 Figura: Tonotopismo coclear ...........................................................101
4.6.4 Figura: Acústica do trato vocal ........................................................108
4.6.5 Figura: Vibração das pregas vocais ................................................113
4.6.6 Figura: Espectrogramas da voz humana .........................................121
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................133
6. ANEXOS .........................................................................................................138
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...............................................................151
1
1. INTRODUÇÃO
2
A inserção de novas estratégias e ações pedagógicas na área de
Acústica e Psicoacústica aplicadas a Fonoaudiologia constituem o novo desafio
para a construção de um ensino diferencial e de qualidade.
A escassez de trabalhos publicados abordando os aspectos
pedagógicos do ensino da Acústica e Psicoacústica para a formação do
fonoaudiólogo é constatada no atual cenário científico. Nos últimos anos,
observamos um contingente satisfatório de pesquisas acadêmicas, com a
intensificação do interesse técnico nas áreas afins a Fonoaudiologia.
Entretanto, a área de educação na Fonoaudiologia, incluindo as disciplinas
relacionadas à Acústica aplicada, pode não estar acoplada de maneira
destacada no que concerne à junção do binômio educação-fonoaudiologia. Em
âmbito geral, as agências formadoras podem estar encontrando dificuldades
em preparar o discente de forma adequada para lidar com a aprendizagem na
praxe profissional.
Na atuação pedagógica tradicional, o ensino acadêmico está norteado
por atividades teórico-práticas direcionadas pelo professor, o qual detém o
saber, transmitindo-o ao aluno. Ulteriormente, esse mesmo aluno torna-se
sujeito da avaliação, portanto objeto deste avaliar, minimizando assim as
oportunidades de criação, experimentação e empreendedorismo, qualidades
fundamentais para a formação profissional.
Faz-se necessário uma incorporação de processos de ensino-
aprendizagem e avaliações disciplinares que resultem não apenas em
incrementos cognitivos, mas também no desenvolvimento de atitudes e
habilidades que visem à participação ativa de alunos fora da sala de aula, em
momentos e situações cotidianas.
Por intermédio da Física Acústica e Psicoacústica, a ciência
3
fonoaudiológica utiliza uma gama de conceitos fundamentais abordados no
campo das ciências exatas. Os fenômenos acústicos, incluindo aqueles
presentes nos sistemas biológicos auditivo, fonatório e respiratório são
considerados de difícil entendimento pelos estudantes universitários, em face
da inexistência ou deficiência na abordagem desse tema no ensino médio. A
utilização de uma linguagem teórica física e matemática é pouco familiar aos
acadêmicos dos cursos da área de saúde, em particular da Fonoaudiologia.
Se os alunos apresentam dificuldades em entender e associar os
conteúdos básicos da disciplina em questão pelos métodos tradicionais, então
poderiam utilizar conteúdos aplicados por meio de metodologias alternativas
em um modelo de ensino-aprendizagem otimizado, compondo uma estrutura
organizativa e participativa, com compreensão e desenvolvimento de conceitos
desde os mais abrangentes até os menos inclusivos.
Baseado no contexto pedagógico atual, a pesquisa faz-se necessária,
bem como o redimensionamento e a incorporação de metodologias eficazes,
que otimizem a aprendizagem das disciplinas básicas, com inserção ativa do
acadêmico egresso, estimulando-o a ser o empreendedor do seu saber.
As dificuldades associadas ao exercício docente evocam uma reflexão
sistemática sobre os possíveis fatores causais, suscitando a proposição de
possíveis alternativas que conduzam a melhor adequação de conteúdos no
currículo desta disciplina ofertada ao curso de Fonoaudiologia.
A aplicação de uma metodologia eficaz para consolidação de saberes
indispensáveis em nível acadêmico, concomitante a oportunidade ofertada aos
discentes em solucionar problemas específicos e cotidianos, poderá fomentar
alternativas na promoção de um elo interdisciplinar mais consistente para o
processo de ensino-aprendizagem da Acústica e Psicoacústica perante a
4
Fonoaudiologia.
Espera-se que os resultados desta pesquisa possam enriquecer e
elucidar modelos prático-pedagógicos eficazes para o ensino de Acústica e
Psicoacústica, otimizando o andamento das disciplinas derivadas, por meio da
ampliação de conceitos fundamentais para posterior compreensão dos diversos
testes, métodos, técnicas, procedimentos e resultados necessários à prática
fonoaudiológica.
1.1. Objetivo Geral
Este estudo visa investigar de forma exploratória e analítico-descritiva
o processo de ensino-aprendizagem das disciplinas Física Acústica,
Psicoacústica, Biofísica do ciclo básico acadêmico em Fonoaudiologia, em
duas instituições de ensino superior (IES) da cidade de Salvador-Bahia.
1.2 Objetivos Específicos
Delinear o perfil profissional e pedagógico dos docentes das
disciplinas Acústica/Psicoacústica e Biofísica dos cursos de graduação em
Fonoaudiologia da cidade de Salvador-Bahia.
Analisar a aquisição e construção de conceitos e saberes
científicos significativos no campo específico de conhecimento pelos
estudantes que cursam ou já cursaram a referida disciplina.
5
2. REVISÃO DE LITERATURA
6
A escassez de estudos sobre o processo de ensino-aprendizagem,
conteúdos programáticos e modelos pedagógicos, relacionados à Acústica e
Psicoacústica aplicada a Fonoaudiologia pelos professores de Instituições de
Ensino Superior (IES) do Brasil, em especial na cidade de Salvador, bem como
as suas implicações e percepções na formação acadêmica e do profissional
fonoaudiólogo caracterizam uma realidade pouco conhecida e de difícil
projeção na formação do profissional fonoaudiólogo.
2.1 Panorama Geral da Educação
Fischer (1982) ressaltou que, é partindo da realidade que a
aprendizagem se consolida de forma adequada, e que se motiva o aluno a
desenvolver sua criatividade. Com isso ele aprende através de suas próprias
ações sobre o mundo, construindo categorias de pensamento. Ele elabora os
conceitos de acordo com suas necessidades, auxiliando no seu
desenvolvimento.
De acordo com Mizukami (1986), a educação assume um significado
amplo por tratar-se da educação do homem, não ficando centrada apenas na
pessoa em situação escolar, numa instituição de ensino. A autora destaca
também que essa educação, num contexto amplo, tem como finalidade
precípua a criação de condições que facilitem a aprendizagem do aluno,
objetivando assim liberar a auto-gestão do estudo, possibilitando o seu
desenvolvimento intelectual e emocional.
Segundo D’Ambrosio (1986), a implementação de estratégias de
ensino mais dinâmicas, mais realistas e menos formais, mesmo no esquema de
disciplinas tradicionais, permitirão atingir objetivos mais adequados à nossa
7
realidade.
Medeiros (1987) alertou que é preciso resgatar, na prática de sala de
aula, a dialética que existe entre forma e conteúdo, pois estes perdem o sentido
quando separados.
Piaget (1988) afirmou que o objetivo da educação intelectual não é
saber repetir ou conservar verdades acabadas e sim, aprender por si próprio a
conquista do verdadeiro, correndo o risco de despender tempo nisso e de
passar por todos os rodeios que uma atividade real pressupõe.
Freire (1988) afirmou que a memorização mecânica da descrição do
objeto não constitui em conhecimento do objeto. Para Piaget (1988), uma
verdade que é reproduzida não passa de uma semi-verdade. Becker (1997)
afirmou que só apreendendo a significação profunda do objeto, o que só
acontece pela atividade do sujeito, o aluno será capaz de verdadeira
memorização.
Para Piaget (1988), compreender é inventar, ou reconstruir através da
reinvenção, e será preciso curvar-se ante tais necessidades se o que se
pretende, para o futuro, é moldar indiduos capazes de produzir ou de criar, e
não apenas repetir.
Tezolin (1995) destacou que educar é ajudar a despertar. É facilitar
carinhosamente o caminho para o ser em desenvolvimento, possibilitando o
florescimento do seu potencial.
Silva (1996a) destacou que a busca de subsídios orientam a escolha
de objetivos e de condições de ensino, permitindo a reformulação de ensino
disciplinar, definindo assim as atividades, materiais e procedimentos de
avaliação.
De acordo com Demo (1996), o professor acredita que sua habilidade é
8
apenas a de repassar conhecimentos e procedimentos, mantendo em si e no
aluno o fosso medieval do alinhamento impositivo.
Barreiro (1996) reiterou que subsídios para educação continuada de
professores de Física e de áreas correlatas no ensino superior enfatizam uma
prática reflexiva e tomada de consciência direcionada ao processo de ensino-
aprendizagem.
Adib (1997) afirmou que a evolução conceitual do sujeito que
apresenta inicialmente concepções de ensino-aprendizagem vinculadas a
mecanismos de transmissão-recepção de conhecimentos, passa por fases
intermediárias, centralizando problemas de aprendizagem relativos à Física,
com modificação gradual das suas concepções.
Conforme as concepções de Pardo (1997), toda ação educativa passa
pela interação professor-aluno e atualmente, faz-se necessário uma reflexão
sobre o seu significado a fim de que ambos, professor e aluno, possam tirar
melhor proveito deste contato diário. A autora ainda reitera que o educando
deve ser estimulado a tomar decisões, engendrar iniciativas e buscar o
conhecimento que lhe parecer necessário, diante de situações-problema que
lhe sejam colocadas. Os exemplos de atuação que o acadêmico observa em
sala de aula fornecem diretrizes que podem ser encaradas como algo que
merece ser seguido ou não, influindo assim no seu modo de atuar.
Pardo (1997) ressaltou que a função de planejar por meio da
comunicação adequada dos objetivos que se pretende atingir, aplicar os
objetivos em consonância com o que se pretende atingir, bem como avaliar de
acordo com os critérios previamente planejados, exige para isso empenho de
tempo e atenção. Esta atuação diretiva somente será possível se o professor
proceder a reflexões diuturnamente sobre seu trabalho, inclusive ao final de
9
determinadas etapas do processo, por exemplo, quando se encerra o semestre
letivo.
Moraes (1997) afirmou que, apesar do Brasil ter uma razoável
produção teórica em educação, além de educadores internacional
reconhecidos, capazes de fundamentar um projeto pedagógico inovador, a
concretização de um novo projeto educacional tem encontrado sérias
dificuldades para se estabelecer. Dentre essas dificuldades, destaca-se a
dificuldade em transpor para a área social os princípios do novo paradigma
científico, com poucas ações efetivas no intuito de encontrar uma prática
educacional coerente com o modelo científico da atualidade.
Zabala (1998) descreveu que a distribuição da importância relativa dos
conteúdos pedagógicos conceituais, procedimentais e atitudinais não é a
mesma nos diferentes períodos da formação educacional. De acordo com o
autor, há uma maior distribuição equilibrada dos diversos conteúdos nos cursos
iniciais, dando-se ênfase aos procedimentais e atitudinais acima dos
conceituais. À proporção que se avançam os níveis de escolarização,
incrementa-se o peso dos conteúdos conceituais em detrimento dos
procedimentais e atitudinais.
Conforme relato de Weiss e Cruz (1998), a escola não poderá lidar
apenas com informações prontas, acabadas, mas deverá preocupar-se mais,
com a capacidade do aluno aprender.
Conforme os Parâmetros Curriculares Nacionais (Brasil, 1998), a
educação na escola deve constituir-se em uma ajuda intencional, sistemática,
planejada e continuada para crianças, adolescentes e jovens durante um
período contínuo e extensivo de tempo, diferindo de processos educativos que
ocorrem em outras instâncias, como na família, no trabalho, na mídia, no lazer
10
e nos demais espaços de construção de conhecimentos e valores para o
convívio social.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Brasil, 1996),
promulgada em 20 de dezembro de 1996, no seu artigo 2º, estabelece como
finalidade da educação “o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo
para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. E no artigo
35, como finalidades do Ensino Médio, “a consolidação e o aprofundamento
dos conhecimentos”; “a preparação básica para o trabalho e a cidadania”; “o
aprimoramento como pessoa humana, incluindo a formação ética e o
desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico”; e “a
compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos dos processos
produtivos”.
No que se refere à relevância dos recursos bibliográficos para um
processo de ensino-aprendizagem de excelência, Pimentel (1997) considerou
importante a sua utilização, pois para o aluno constitui-se numa valiosa fonte
de estudo e pesquisa, e para o professor é o principal roteiro empregado na
programação e desenvolvimento das atividades em sala de aula ou extra-
classe.
Marandino (1999) afirmou que as condições atuais do ensino
fundamental, especialmente das escolas públicas, onde faltam muitas vezes
professores de determinadas disciplinas, onde os índices de reprovação ainda
são muito grandes, onde faltam condições mínimas de material, determina
também as possíveis falhas nas formações dos jovens.
Segundo Freire (1999), quem ensina aprende ao ensinar e quem
aprende, ensina ao aprender. Isso significa que ensinar e aprender envolvem
as duas partes: educador e educando, trocando experiências e compartilhando
11
resultados, num processo que se baseia na confiança mútua, no estímulo a
curiosidade e gosto pela aventura.
Novoa (1999) considerou a pobreza das práticas pedagógicas,
enclausurada numa concepção curricular rígida pautada pelo ritmo de livros e
materiais escolares concebidos por grandes empresas, como a outra face do
excesso do discurso científico-educacional, tal como ele se produz nas
comunidades acadêmicas e nas instituições de ensino superior.
Segundo a UNICEF (1999), as teorias de aprendizagem deverão ser
direcionadas para a vida capacitando o educando para adaptar-se e modificar-
se, como acontece nas circunstâncias da vida. Professores e alunos devem
estabelecer um relacionamento, de modo que a experiência de sala de aula
torne-se uma preparação para a vida. Ir à escola e sair despreparado para a
vida constitui um terrível desperdício.
Segundo Zimmermann (2000), os problemas salariais que os
professores enfrentam, exercem influência marcante sobre os seus modelos de
pedagogia.
Demo (2004) ressaltou que o problema de desvalorização e
desqualificação docente por conta das políticas educacionais, acarreta uma
série de prejuízos ao sistema de ensino brasileiro, materializados pelos salários
extremamente achatados e com provimento precário das escolas.
D’Ambrósio (2000) relatou que o rendimento está cada vez mais baixo,
em todos os níveis, e que os alunos não podem agüentar coisas obsoletas e
inúteis, além de desinteressantes para muitos. Grande parte dos alunos chega
às séries finais de ensino fundamental e ao ensino médio, tendo grande
dificuldade para usar conceitos estudados em séries anteriores, verificando-se
que não houve aprendizagem e sim uma memorização ou uma automação para
12
tirar nota em provas e logo após a prova praticamente tudo o que não tem
interesse para a vida fica esquecido.
Para Moysés (2000) uma das exigências para alcançar um elevado
nível de qualidade na educação é aprimorar o conhecimento sobre esse
processo de forma a torná-lo mais capaz de responder às exigências deste
novo tempo.
Perrenoud (2000) estabeleceu dez competências que devem permear
uma relação consensual visando uma boa formação profissional do professor,
dentre as quais: organizar e dirigir situações de aprendizagem, administrar a
progressão de aprendizagens, conceber e fazer evoluir os diapositivos de
diferenciação, envolver os alunos em suas aprendizagens e em seu trabalho,
trabalhar em equipe, participar da administração da escola, utilizar novas
tecnologias, enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão e administrar
sua própria formação contínua.
Moysés (2000) destacou que uma das possíveis exigências para se
alcançar um elevado nível de qualidade na educação é aprimorar o
conhecimento sobre esse processo de forma a torná-lo mais capaz de
responder às exigências deste novo tempo.
Silva (2001) aventou a possibilidade de tornar as aulas de Ciências
mais participativas e mais significativas para a vida das pessoas. O autor
ressaltou que os caminhos de construção coletiva de conceitos e saberes,
envolvendo todos os agentes desse processo, busca a socialização desses
saberes de maneira que todos possam internalizar conhecimentos, visando à
melhoria da qualidade de vida.
Santo (2001) preconizou que o aprendizado é conseqüência natural
da capacidade de errar. O aluno é introduzido na aprendizagem se for acolhido
13
no seu erro, se for recebido pelo professor como alguém que é candidato a
aprender por não ter medo de errar. O autor afirma ainda que ninguém nasce
sabendo e ninguém aprende de repente, com data marcada, portanto errar
significa andar, e isso não é motivo para punição. Aprende-se para sobreviver
a falar, a andar, a comer, a respirar. Aprende-se na vida tentando, refletindo e
testando hipóteses. Luckesi (2001) reiterou ainda, que o erro, especialmente no
caso da aprendizagem, não deve ser fonte de castigo, pois é suporte para a
autocompreensão, seja pela busca individual, seja pela busca participativa.
Bejarano (2001) ressaltou que o modo como os professores lidam com
seus conflitos e preocupações, derivam em grande parte de suas crenças pré-
existentes e sua disposição para mudá-las, influenciando dentre as diversas
variáveis, dados biográficos, forma de opção pela carreira e contextos
escolares onde começaram a trabalhar.
Damasceno, Machado e Souza (2006) alertaram para a necessidade
cada vez maior em humanizar o conhecimento e o saber, possibilitando assim
acesso igualitário à educação. Os autores destacaram, ainda, que os saberes
que hoje são produzidos, são técnicos e teóricos, em função da concepção de
que o homem é depositário de informações a serem digeridas.
Moreira (2006) definiu, em termos pedagógicos, que a diferenciação
progressiva é o princípio pelo qual o assunto deve ser programado, de forma que
as idéias mais gerais e inclusivas da matéria de ensino sejam apresentadas no
início da instrução e progressivamente diferenciadas ao longo da atividade;
enquanto a reconciliação integrativa é o princípio segundo o qual a instrução
deve também explorar relações entre idéias, apontar similaridades e diferenças
importantes e reconciliar discrepâncias reais ou aparentes.
Gykovate (2007) ressaltou que a adesão dos alunos ao modelo
14
proposto pela instituição e pelos professores dependerá da capacidade destes
de se fazerem atraentes e de fazerem atraentes os temas que ensinam. O
autor destacou ainda ser privilégio dos jovens a condição de
irresponsabilidade, condição necessária para o exercício da criatividade. Eles
devem ser preservados nesse papel.
De acordo com Chaves (2007), o professor deve agir menos como
especialista em conteúdo e mais como pessoa de apoio, não importando quais
sejam os interesses dos alunos, sabendo relacionar esses interesses com o
desenvolvimento de competências e habilidades, sempre que necessário
fazendo referência aos conteúdos que possam ajudar no desenvolvimento do
projeto.
Demo (2007) considerou que o educador está formando a pessoa e em
função disso é necessário que essa pessoa tenha a informação e a formação.
A aprendizagemo acontece sem se informar do que já está disponível. A
educação não é somente isso, pois a informação está disponível nas bibliotecas
e está ao alcance pelos meios eletrônicos.
Pozo (2007) destacou que vivemos em uma sociedade da
aprendizagem, na qual aprender constitui uma exigência social crescente que
conduz a um paradoxo: cada vez se aprende mais e cada vez se fracassa mais
na tentativa de aprender.
2.2 Educação em Acústica Aplicada no contexto da Fonoaudiologia
Speaks (1992) destacou que estudantes da área de voz e linguagem
devem ter boa compreensão e domínio sobre os conceitos de Acústica antes
de prosseguirem nos estudos avançados do ciclo profissionalizante, em
15
particular nas disciplinas relacionadas aos distúrbios da comunicação humana.
O autor relata ainda que os estudantes da universidade de Minnesota, nos
Estados Unidos, antes de cursarem as disciplinas de voz, audição,
instrumentação em Audiologia e distúrbios da voz e da fala, devem cursar
como pré-requisito cinco créditos na disciplina Acústica.
De acordo com Nepomuceno (1994), os fenômenos biológicos da fala
e da audição podem ser interpretados à luz dos conhecimentos da Acústica,
entretanto a autora destacou que a escassez de material bibliográfico na língua
portuguesa constituiu sempre uma preocupação evidente.
Borden, Harris e Raphael (1994) relataram sobre a relevância em
compreender a produção acústica e percepção da fala, destacando que, nos
Estados Unidos, a partir de 1960, a disciplina Acústica passou a integrar o
currículo dos cursos universitários na área de voz, onde a ênfase era
anteriormente dada apenas na Anatomia e Fisiologia.
Garcia (1997) considerou a fala e o canto os meios de comunicação
mais evoluídos de que dispõem o homem, expressas através de idéias,
informações e sensações expressas. Afirmou ainda que, a compreensão dos
mecanismos de produção dos sons, pode auxiliar o diagnóstico e o
acompanhamento de pacientes. O autor destacou também a audição como o
sentido que permite a captação e o reconhecimento do conteúdo da
informação.
Bess e Humes (1998) destacaram que, nos Estados Unidos, a carreira
de Audiologia deve iniciar nos cursos de graduação, destacando a disciplina
Física, sendo novamente trabalhados os temas pertinentes à Acústica Física e
Psicoacústica na pós-graduação, fornecendo assim subsídios para o pleno
exercício profissional.
16
Humes (1999) considerou um dos objetivos da Audiologia clínica,
compreender e conhecer os fundamentos psicoacústicos. O autor afirmou,
ainda, que muitos testes psicométricos da atualidade evoluíram a partir das
considerações criteriosas feitas sobre essa área de conhecimento.
Russo (1999) afirmou que a compreensão sobre Acústica básica para
um fonoaudiólogo atuante na área de Audiologia está diretamente relacionada
à mecânica do som no órgão auditivo periférico, bem como os eventos de
transdução do sinal mecânico em hidráulico e, então, em sinal eletroquímico. A
autora considerou ainda que, os parâmetros acústicos como conteúdos
específicos imprescindíveis para a formação fonoaudiológica e a relação entre
os conhecimentos acústicos e os fenômenos biofísicos da audição e fonação,
bem como a inserção de tópicos em instrumentação laboratorial para os
acadêmicos de Fonoaudiologia, propiciaria um momento estratégico para a
aquisição de informações e conhecimentos específicos, essenciais à formação
discente e à atualização do profissional fonoaudiólogo.
Munhoz et al. (2000) endossaram que a recorrência às ciências
naturais, por intermédio do estudo do som e seus elementos da Física e
Psicoacústica, é uma condição imprescindível para uma boa formação em
Audiologia.
Arruda e Antuña (2001) consideraram que o ensino tradicional da
Física prioriza uma dicotomia entre o ensino da parte teórica e o experimental,
inviabilizando a aprendizagem significativa.
A Resolução nº 5 do Conselho Nacional de Educação (Brasil, 2002),
instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em
Fonoaudiologia, rezando no seu artigo 5º que a formação do fonoaudiólogo em
instituições de ensino, deve ter como um dos objetivos, dotar esses futuros
17
profissionais com conhecimentos, competências e habilidades no que se
referem aos sistemas teóricos e conceituais envolvidos no campo
fonoaudiológico.
De acordo com Pietrocolla (2005), o conhecimento promovido pelas
aulas tradicionais de Física, por estabelecer poucas relações com o mundo real
e vincular-se quase que exclusivamente com o mundo escolar, é em geral visto
como desnecessário. Isto termina por estabelecer vínculos profissionais por
contrato didático com os profissionais de sala de aula, retaliando-se a
possibilidade de estabelecer vínculos afetivos que garantiria vida pós-escolar.
Menezes, Neto e Motta (2005) consideraram uma necessidade a
existência de literatura especializada, atualizada e detalhada que aborde as
bases físicas aplicadas à audição, partindo dos conceitos físicos elementares,
visando uma aprendizagem sedimentada.
Araújo e Araújo (2006) explicitaram a relevância dos conhecimentos
em Física Acústica, Psicoacústica e Acústica de ambientes para uma melhor
compreensão do impacto relacionado aos problemas de linguagem adquiridos
em sala de aula pelos alunos, no âmbito da Fonoaudiologia Escolar.
18
3. MÉTODO
19
Este estudo qualitativo, do tipo descritivo, analítico e exploratório está
inserido na linha de pesquisa Procedimentos e Implicações Psicossociais nos
Distúrbios da Comunicação, do programa de Mestrado Interinstitucional firmado
entre a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e União Metropolitana de
Educação e Cultura, Lauro de Freitas-BA.
3.1 Considerações Éticas
Este trabalho foi enviado ao Comitê de Ética da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo para análise e aprovado sob protocolo n°
037/2006, mediante a emissão do Parecer do Comitê de Ética em Pesquisa da
PUC-SP (Anexo 1). Foram elaborados e assinados os Termo de Compromisso
do Pesquisador (Anexo 2), Termo de Consentimento Institucional (Anexo 3) e o
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo 4), sendo este último
assinado individualmente por cada sujeito da pesquisa.
Os professores e alunos selecionados foram convidados a
participarem do presente projeto, em locais previamente agendados sem
quaisquer prejuízos às atividades profissionais, pedagógicas e acadêmicas.
3.2 Caracterização dos Sujeitos
Nesta pesquisa foram selecionados quatro docentes responsáveis por
ministrar a disciplina Acústica, Psicoacústica ou Biofísica, bem como um total
de oito alunos de Fonoaudiologia das duas Instituições de Ensino Superior
(IES) selecionadas, sendo uma pública e a outra privada.
O estudo foi dividido em dois grupos:
20
Grupo A – Professores de duas IES da cidade de Salvador-Bahia, que
lecionam as disciplinas Física Acústica e Psicoacústica ou Biofísica para os
cursos de graduação em Fonoaudiologia. Foram entrevistados um total de
quatro docentes.
Grupo B – Alunos das duas IES que já cursaram as disciplinas
Biofísica, Física Acústica e Psicoacústica, atualmente cursando ou mesmo
tendo cursado as disciplinas profissionalizantes nas áreas de Audiologia e Voz.
Foram selecionados randomicamente quatro alunos de cada instituição,
perfazendo um total de oito alunos.
A pesquisa foi realizada entre os meses de novembro de 2006 e
fevereiro de 2007.
O critério de inclusão dos quatro docentes baseou-se na
representatividade e no pequeno contingente de Instituições de Ensino
Superior (IES) que oferecem o curso de Fonoaudiologia na cidade de Salvador-
Bahia em fase do ciclo profissionalizante.
De um total de cinco IES existentes na região Metropolitana de
Salvador, três foram excluídas de modo arbitrário, duas privadas e uma
pública, em função do exercício profissional pedagógico do pesquisador
responsável pela execução do presente trabalho e em função da última estar
em processo de implantação do curso.
O critério de inclusão para os oito alunos selecionados voluntariamente
foi condicionado aos mesmos terem cursado ou estarem cursando as
disciplinas Audiologia e Voz em instituições que alcançaram o ciclo
profissionalizante. Isto foi feito com base na possibilidade efetiva de avaliação
da qualidade e quantidade de conhecimentos adquiridos aplicados na disciplina
básica (Acústica e Psicoacústica) bem como aqueles aplicados em disciplinas
21
profissionalizantes (Audiologia e Voz).
3.3 Procedimentos
A ocorrência da diversificação em abordagens nas entrevistas
realizadas foi propositalmente implementada a partir da realização de uma
entrevista piloto com um profissional da área de Pedagogia, culminando com a
elaboração prévia de um roteiro, porém aberto à investigação mais direcionada
a partir das demandas, favorecendo aos entrevistados a reflexão sobre o
conteúdo abordado. Portanto, a priori, foram selecionadas cinco categorias
quanto às entrevistas realizadas e uma categoria a posteriori no instrumento de
tempestade cerebral.
Inicialmente foram realizadas entrevistas semidirigidas com registro de
gravação digital junto aos docentes e discentes que, respectivamente,
ministram e cursam as disciplinas: Acústica, Psicoacústica ou Biofísica, visando
investigar a formação desses docentes e discentes, ambiente de trabalho, os
conteúdos e métodos utilizados, recursos pedagógicos, avaliação e sugestões
de propostas.
Os alunos selecionados foram entrevistados e investigados com auxílio
de roteiro e dispositivos pedagógicos (Anexos 5 e 6) que objetivaram coletar
informações no universo da Acústica e Psicoacústica aplicada, dentre outros
parâmetros como a interrupção temporária durante ou posterior ao ensino
médio, participação e assiduidade nos trabalhos desenvolvidos nas disciplinas,
e descrição perceptiva de figuras relacionadas às disciplinas em questão.
Posteriormente, foi aplicado aos docentes e discentes um instrumento
pedagógico investigativo do tipo tempestade cerebral - braimstorm (Bordenave
22
e Pereira, 1977) com auto-relato analítico de um total de seis figuras relativas à
acústica aplicada à fonação e audição, todos com duração média de uma hora.
De acordo com os autores supracitados, esta técnica visa captar idéias em
estado nascente por meio da imaginação, evitando o controle de critérios de
coerência interna das idéias elaboradas, bem como daquelas relacionadas a
critérios exteriores à atividade presente. Os autores delimitam uma faixa
temporal estimada entre dez minutos e uma hora, acrescentando que os
participantes não devem se rodear de garantias e verificação de hipóteses
antes de emitir suas idéias.
Objetivando-se levantar os conhecimentos sedimentados mediante
relato crítico-perceptivo de cada participante, foram selecionadas e aplicadas
seis figuras constantes em livros textos e internet que abordam temas de Física
Acústica e Psicoacústica aplicada, evocando assim a oportunidade de
materializar conceitos e fenômenos de interesse à Fonoaudiologia, em especial
nas áreas de Audiologia e Voz.
Dentre as diversas competências que norteiam os docentes no
exercício pedagógico para o curso de Fonoaudiologia, foram investigadas
informações acerca do planejamento e execução das atividades, metodologias
e propostas pedagógicas, a escolha do conteúdo programático e temas
relevantes, experiências docentes anteriores, dimensão pessoal/profissional e
dados de avaliação disciplinar.
Foram utilizados para efeito de registro, os seguintes recursos
materiais:
Um gravador digital de marca Gamapower (32 Megabytes de memória)
para registro de áudio das entrevistas a serem aplicadas visando o
registro otimizado das informações.
23
Um microfone omnidirecional de lapela acoplado ao gravador digital.
Ficha de registro para condução de entrevista semi-dirigida (Anexo 5).
Ficha de registro para técnica Tempestade Cerebral - Braimstorm
(Anexo 6).
Seis pranchas contendo três figuras relacionadas às áreas de
Acústica/Psicoacoacústica/Biofísica e Audiologia e três figuras
associadas às áreas de Acústica/Psicoacoacústica/Biofísica e Voz
(Anexos 7, 8, 9, 10, 11 e 12).
3.4 Critérios para Análise dos Resultados
Após a realização das transcrições e análises das entrevistas, foi
operacionalizado o agrupamento dos dados apresentados por intermédio dos
relatos e respostas obtidos nos instrumentos de coleta. Tais dados colhidos
acerca da práxis pedagógica, concepção analítica dos modelos e diagramas
apresentados, bem como as possíveis concepções relatadas pelos discentes e
docentes, foram inicialmente sistematizadas em seis categorias por meio do
método analítico qualitativo de Análise do Conteúdo (Bardin, 2004), optando-se
ainda pela não realização de análise estatística, por se tratar de um estudo
descritivo.
A análise e categorização de respostas, advindas das entrevistas
semidirigidas e descrição analítica dos modelos e diagramas obtidos, sofreram
posteriormente correção gramatical e edição textual sem modificação das
idéias centrais, processo denominado de transcriação (Meihy, 2005, p.262),
permitindo assim avaliar as concepções associadas à metodologia, cognição,
aprendizagem das habilidades pretendidas como eficazes, conteúdos
24
disciplinares, condições de ensino estabelecidas como dificultadoras ou
facilitadoras e as necessidades de sua reformulação.
25
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
26
A partir das doze entrevistas realizadas, sendo as quatro primeiras com
docentes (E01A, E02A, E03A e E04A) e as oito últimas com discentes (E01B,
E02B, E03B, E04B, E05B, E06B, E07B e E08B), foram selecionadas as cinco
primeiras categorias com temáticas de ordens pedagógicas mais recorrentes:
Formação profissional;
Conteúdo conceitual e interdisciplinaridade;
Concepção de prática;
Fatores inferenciais ao processo de ensino-aprendizagem;
Concepção de formação integral.
No instrumento de tempestade cerebral – braimstorm (Bordenave e
Pereira, 1977), após análise dos relatos perceptivos dos entrevistados acerca
das seis figuras apresentadas, foi selecionada a sexta e última categoria:
Aspectos cognitivos.
4.1 Categoria: Formação Profissional
A categoria formação profissional agrega todo o arcabouço de
informações sobre titulações e cursos profissionais, relacionados ou não à área
de educação, realizados pelos docentes e discentes. Integra também o tempo
de exercício na área específica de Biofísica aplicada a Fonoaudiologia.
Analisada essa categoria, de acordo com os relatos da formação
profissional dos docentes das disciplinas Física Acústica, Psicoacústica e
Biofísica, foram apresentadas diversas qualificações heterogêneas, tanto na
27
formação acadêmica em graduação como em pós-graduação, de acordo com
os trechos dos discursos a seguir:
E01A:
“Eu sou biólogo (...) Especialista em Metodologia do Ensino Superior, com
Mestrado em Engenharia Biomédica (...) Cursei algumas disciplinas relacionadas
e que constam no curso de especialização em Audiologia (...) Participei como
aluno”.
E02A:
“(...) Sou bacharel em Física, tenho doutorado na área de Física (...) Fiz pós-
doutorado nos Estados Unidos (...) Estudei Física e Matemática (...) A formação
do físico proporciona a ele essa visão ampla das coisas (...) Propõem-me
coisas que realmente, às vezes não é da minha carreira, não é da minha formação
básica, mas eu sou uma pessoa que com persistência e uma bibliografia razoável,
eu consigo ministrar a disciplina (...) Na graduação eu fiz alguns cursos
específicos para licenciatura, apesar de que eu estava pautando a minha
formação pra ser pesquisador (...) Eu fiz bacharelado, eu não fiz licenciatura”.
“(...) Fiz cursos específicos como, na época, isso nos, dos idos de setenta e seis,
setenta e sete, houve um projeto aqui em Salvador chamado Projeto de Ensino
de Física, ministrado por professores da Universidade de São Paulo (...) Fiz
os módulos de mecânica e de eletricidade (...) Tanto que a proposta era que
você tivesse essa formação de professor de uma forma muito mais experimental
do que propriamente aquela tradicional cuspe e giz, dedução de fórmula, essas
coisas”.
“(...) Porque calhou de eu começar a ensinar essa... ou melhor, dar uma ênfase
maior a essa disciplina agora que eu já tava com vinte e seis anos de ensino?
E com toda a experiência em ser pesquisador e de ter trabalhado em várias
áreas, não é uma coisa muito complicada pra mim como autodidata e a minha
experiência como professor (...) Nos Estados Unidos me colocaram pra ensinar
Física para pessoas que eram da área de Ciências Humanas. (...) Você tem
que fazer uma disciplina que seja totalmente fora da sua pretensão (...) Quando eu
cheguei lá eles disseram: você vai ensinar Física conceitual. Aí é um desespero
pra você explicar os conceitos da Física você tem que ter muita bagagem
(...)”.
E03A:
“(...) Eu tenho toda minha formação em Audiologia (...) Eu nunca tinha dado antes
de vir para essa IES uma disciplina como essa (...) Naquela época não era dado
ênfase, tanto é que eu não tive essa disciplina Física Acústica (...) Eu fiz um
módulo num curso de especialização em Audiologia em dois mil e cinco, Então,
quando eu vi essa disciplina, achei superinteressante por poder direcionar o
perfil para a parte acadêmica (...) Para que eu pudesse dar um curso, eu
precisaria ter um embasamento muito maior. Só pela Audiologia em si já não
(...) a parte de Física mesmo é feito por um físico. (...) Eu me detenho mais
para a parte de Audiologia (...) como é o aparelho auditivo, como é que a onda
sonora entra (...)”.
E04A:
“(...) Sou fonoaudióloga (...) sou especialista na área de Voz (...) Sou mestre em
Bioengenharia na área de Fonoengenharia (...) Na verdade eu sempre estive
muito envolvida com pesquisa, projeto de extensão (...) Desde a graduação,
sempre tive essa inclinação para trabalhar com a população, com as pessoas,
dando cursos, palestras. Então desde a graduação eu trabalhava já com
28
professores, dava aula para professores sobre voz. E aí desde a graduação,
meus professores sempre me incentivaram a estar fazendo a pós (...) Eu
acredito que não se separa o ensino, a pesquisa e a extensão (...) você
ensinar é uma troca (...) Desde a graduação eu sempre pensei em lecionar assim,
fazer pós para estar dando aula (...) Também trabalhei com Metodologia da
Pesquisa por eu ser muito envolvida com pesquisa (...) No Mestrado eu tive
uma disciplina de apresentação. Como você se apresentar, como você dar uma
aula. Então eu acho que isso me ajudou bastante. De uma disciplina com técnicas
específicas. Como você deve se portar numa sala de aula”.
Embora tenham sido constatadas heterogeneidades na formação
acadêmica dos profissionais docentes entrevistados, observa-se uma
convergência curricular na trajetória em pós-graduação. Dentre os quatro
professores entrevistados, apenas um preocupou-se em realizar curso de
especialização em metodologia do ensino, ancorado em experenciar
conhecimentos de instrumentos pedagógicos, psicologia e filosofia da
educação, além do interesse em conhecer especificidades da acústica aplicada
à Audiologia.
A preponderância da formação original em bacharelado é tácita, de
acordo com os relatos de todos os docentes, e materializado explicitamente por
E02A: “eu fiz bacharelado, eu não fiz licenciatura”. Em três dos quatro docentes
entrevistados foram identificadas, efetivamente, participações em cursos
direcionados para a formação docente, conforme relato de E04A: “Como você
se apresentar, como você dar uma aula (...) como você deve se portar numa
sala de aula. Então eu tive no Mestrado”.
Vale acrescentar que o exercício da formação cognitiva como
autodidata também é importante, porém não encontra alicerce significativo nos
conhecimentos e métodos pedagógicos para facilitação do processo de ensino
e aprendizagem. Tais achados estão em consonância com as afirmações de
Pardo (1997), o qual ressalta na formação do docente o domínio de certos
conhecimentos e de certas maneiras de agir, habilitando assim o aluno a
29
adquirir e utilizar novos conhecimentos e habilidades cada vez mais
complexas. Tais premissas confluem com as concepções de Demo (1993), o
qual considerou que o centro de pesquisa é a arte de questionar de modo
crítico e criativo, para, assim melhor intervir na realidade. Por isso, é princípio
educativo também, constituindo-se mola mestra do aprender a aprender.
Bejarano (2001) afirmou que a forma como o professor relaciona seus conflitos
e preocupações, são originados de suas crenças pré-existentes e sua
disposição para mudá-las, influenciando dentre as diversas variáveis, dados
biográficos, forma de opção pela carreira e contextos escolares onde
começaram a trabalhar.
Quando questionados sobre o tempo de exercício da docência em IES,
alguns docentes apresentaram os seguintes relatos:
E01A:
(...) Alguma coisa em torno de cinco anos”.
E02A:
“(...) Pra Fonoaudiologia, desde o segundo semestre de 2003 (...) Três anos (...) eu
ensino Física pra graduação, não só pra Engenharia como pra o curso
profissionalizante de Física também (...) ensino a disciplina de Estatística,
Informática, as Matemáticas, cálculos aplicados à Economia e à
Administração (...) Também já ensinei Biofísica pro curso de Fisioterapia”.
E04A
“(...) Mais de, mais de um ano... um ano e meio”.
O tempo de ensino específico para a disciplina Biofísica no curso de
Fonoaudiologia variou entre um ano e meio e cinco anos, caracterizando assim
um período tênue em que se estabelecem dinamicamente as estratégias para
consolidação de um ensino estruturado.
Destacou-se em alguns dos discursos a sobrecarga de atividades
pedagógicas em cursos de área distintas, tal como relatado por E02A,
30
integrando-se como um problema na disponibilidade temporal para investir na
educação continuada para os profissionais em educação. Garcia, Hipólito e
Vieira (2005) afirmaram que as identidades docentes não se reduzem ao que
os discursos oficiais dizem, sendo mais que meros formadores de cidadãos
como querem as políticas curriculares oficiais. Negociam suas identidades em
meio a um conjunto de variáveis como a história familiar e pessoal, as
condições de trabalho e ocupacionais, os discursos que de algum modo falam,
do que são e de suas funções.
Questionados os discentes acerca de participações em palestras,
cursos, congressos ou encontros em que houvesse os mesmos assistidos
temas relacionados à Acústica, Psicoacústica ou Biofísica Aplicada, obtiveram-
se algumas considerações a seguir:
E01B:
“Eu participei de um congresso de atualização em cirurgia de cabeça e pescoço
que tinha abordagem fonoaudiológica e foi trabalhada a questão da acústica da
voz após laringectomia. (...) Foi uma atualização, foi um ciclo de palestras, não
foi um curso de formação, mas a exposição pro tempo foi suficiente”.
E02B:
“(...) Assim, de vez em quando surgem oportunidades, mas são sempre em São
Paulo, em outros estados. Eu não tenho como ir, infelizmente (...) Aqui eu não
lembro de ter ocorrido, e eu ter acesso (...) Se aconteceu, eu não recebi e-mail,
não vi cartazes”.
E03B:
Não fiz por não ser assim dentro da Fonoaudiologia a área que mais me
interessa em trabalhar, com a área de Audiologia (...) Não que não tenha havido
necessidade, mas por conseguir levar o curso com conhecimento que eu já
tinha e direcionar meus conhecimentos específicos para as outras áreas (...)
Trabalhar nessa área não. Por isso eu direcionei meus aperfeiçoamentos para
outras áreas (...) Não que todo conhecimento que eu tenha tido dentro da
universidade tenha sido suficiente, porque eu acho que não foi, tanto que hoje eu
ainda tenho certa dificuldade de compreender algumas coisas (...) Mas eu
direcionei meus estudos específicos para outras áreas. Audiologia”.
E04B:
“(...) Não por falta de interesse. Eu não encontro na verdade. Inclusive eu tenho
muito interesse, mas vejo muito pouco curso direcionado pra Biofísica (...)”.
31
E05B:
“Nenhum. Na realidade o que a gente vê é que nos seminários que as pessoas
fazem, que as instituições promovem (...) Não tem uma oferta. Fala muito sobre
Audiologia, mas a Psicoacústica mesmo ela não é enfocada (...) Eu acho que
pode ser um meio a meio. Porque se os profissionais da área promoverem essas
palestras, com certeza teria muita gente porque como a Psicoacústica ela caminha
junto com a Audiologia (...) Em relação às outras palestras que a gente já tem
tomado com professores daqui da Bahia, a gente tem visto boa qualidade ,
(...) O conteúdo é muito bom, dentro da nossa realidade, então eu acho que
isso não seria empecilho não”.
E06B:
“Eu fiz o curso de Magistério, em mil novecentos e oitenta e sete (...) A minha
primeira experiência foi exatamente aqui nesse curso (...) A gente viu a parte
de Física com o professor (...) Mais a questão de aparelhagem, como o
ambiente deve ser tratado pra realização dos exames audiológicos e vimos
essa parte com a fonoaudióloga (...) Inicialmente a gente não tem noção da
importância que isso pode vir a ter pra gente, principalmente quem for fazer
Audiologia (...) Eu acho que seriam mais as áreas de Voz e de Audiologia (...) a
gente precisa estar bem informado sobre isso. Principalmente sobre os
equipamentos, calibração, esse tipo de coisa”.
E07B:
“Não, eu não fiz porque não me interessei (...) Talvez agora no quarto semestre, eu
acho que um seminário para que a gente possa estar relembrando algumas coisas,
seria interessante. (...) Às vezes você não dá tanta importância a algumas
coisas achando que mais à frente você não vai utilizar (...)”.
E08B:
“(...) A gente não vê muitos cursos de Acústica, Psicoacústica direcionados a
profissionais, a estudante de Fonoaudiologia (...) Eu já fiz participações em
congressos de Linguagem, até Audio mesmo (...) Eu faço parte da iniciação
científica, que é uma parceria daqui da IES com uma instituição conveniada, onde
a nossa professora inscreveu três artigos que a gente estaria produzindo pra
apresentar num congresso (...) Um deles era um tema sobre Audio, que era
saúde auditiva em crianças inseridas numa creche (...) A Acústica e a
Psicoacústica me lembra muito de Física no segundo grau e eu nunca me
identifiquei por Física (...) Apesar de não gostar muito de Física, eu acho que a
gente tem que ter conhecimento da Acústica e da Psicoacústica dentro da
área da Fonoaudiologia para saber todo o processo de onda sonora e tal”.
Compreende-se que algumas abordagens de temas em contraponto à
vincia do aluno ou mesmo a inexistência de atividades extra-muros, poderiam
compor um dos motivos pelo qual se evidencia a não compreensão e
contextualização da maior parte dos conteúdos trabalhados. Outros fatores
estariam também associados, como o reconhecimento acerca da relevância da
disciplina e a produção inicial ou exacerbação de estigma à área de estudo.
32
Essas condições podem ser constatadas em alguns trechos dos discursos de
E07B e E08B. Neste sentido D’Ambrósio (2000), concorda na mesma
concepção, que o que interessa mais a criança, jovem e ao aprendiz em geral
é aquilo que tem apelo às suas percepções materiais e intelectuais mais
imediatas. Demo (1996) afirma que o professor, acostumado à proposta
instrucionista, baseada no ensino, na instrução, no treinamento, fica
estritamente se atendo a essa função.
4.2 Categoria: Conteúdo Conceitual e Interdisciplinaridade
Nesta categoria, abordar-se-ão os relatos dos conceitos mais citados
pelos entrevistados, dentre os quais conteúdos conceituais mais lembrados,
conteúdos e atividades tidas como significativas, relação percentual distributiva
entre temas de Acústica e Psicoacústica na disciplina, concepções sobre
abordagens interdisciplinares, suas vantagens e desvantagens, bem como
conteúdos aplicados no ciclo profissionalizante.
Dentre os conteúdos conceituais abordados nas disciplinas, todos
docentes destacaram alguns temas documentados nos discursos a seguir:
E01A:
“(...) A Biofísica, ela envolve os conceitos físicos relacionados ao funcionamento do
aparelho auditivo, grandezas físicas de um modo geral, primárias e derivadas,
conhecimentos básicos de matemática envolvendo inclusive uso de logaritmos,
conceitos relacionados à Acústica e Psicoacústica (...) Alguns significativos como
conceito de som, processos envolvendo a condutibilidade sonora associada aí
ao aparelho auditivo, acústica de diversos ambientes envolvendo uso de
cabines audiométricas e procedimentos relacionados até à própria
Psicoacústica”.
E02A:
“(...) Na Física Acústica eu começo falando de conceitos básicos da Física,
mostrando pra eles as grandezas que nós vamos usar ao longo do curso.
Conceitos como velocidade, força, aceleração, conceito de massa,
comprimento, tempo, unidades de medida (...) Depois eu entro falando sobre o
33
que é uma oscilação, da forma mais simples possível, usando um sistema
massa-mola (...) mostro o que é a amplitude, o que é a freqüência (...) Depois
passo pra parte de ondas (...) Eu gostaria de me alongar mais, infelizmente o
tempo não dá (...) Eu prefiro que o aluno aprenda poucas coisas bem sabidas
do que muita coisa sem saber nada. (...) Eu bato e rebato, insisto e reinsisto em
determinados tipos de conceitos (...) O que é o som, como é que se forma, como
é que se propaga, transferência de energia, todas essas coisas”.
E03A:
“(...) Minha parte de Audiologia, eu mostro pra eles a visão rápida anatômica,
apesar de que eles já começam o semestre com noções de anatomia, mas eu já
dou ênfase. A anatomia que ele vai ver é uma geral, mas eu dou uma
especifica, em função da parte de Audiologia, do órgão da audição, então eu
vou bem mais (...) Eu dou a parte teórica, anatômica mesmo, mostrando os
órgãos, como é que é, “bababababa” e tento mostrar como o som, o que é que
ocorre, a parte física, como é que o som entra, como é que o som chega, como é
que a pessoa percebe, quais são os órgãos que são utilizados para que aquele
som chegue até que se decodifique, entenda, compreenda. Eu mostro na
estrutura o que é que isso (...) Agora mesmo chegou a orelhinha pra gente ver. Eu
tenho filme mostrando o caminho que o som passa, quais são as etapas (...)
Sabem que tem o órgão e ouve, mas não sabe o porquê (...) A parte
anatômica eu acho fundamental, o conhecimento de quais são os órgãos que
estão envolvidos (...) Quando isso falha e quais são as conseqüências disso,
aonde tem os erros, aonde não tem, o que é que está errado e o que foi que
ocorreu (...) A estrutura física do fenômeno, entendeu? A parte estrutural
mesmo de sonoridade, da qualidade de som, as partes de freqüência,
trabalhando essa parte, mostrando pra eles o que é um som de um violão, o
que é um som de uma guitarra (...) Noções de timbre, harmonia, o que é um
ruído pra ele ter, saber, digamos assim, discernir, saber qualificar, também
reconhecer ou até uma coisa natural confortável para o ser humano e ver aquilo
que é desconfortável. A parte estrutural propriamente dita do que você precisa
ter conhecimento pra acumular com física, anatomia, fenômenos que o
organismo consiga funcionar, tanto na parte estrutural de voz, quanto na
auditiva”.
E04A:
“(...) Toda a questão física do som (...) Então, por exemplo, ondas, como que
ocorrem as freqüências (...) Sobre equipamentos da Fonoaudiologia, as bases
físicas da audição, as bases físicas da voz e como isso se correlaciona (...)
Levamos os alunos ao laboratório de Voz. Mostramos algumas vozes, tipos de
vozes, programas de análise acústica, a importância deles hoje na
Fonoaudiologia, mostro os parâmetros (...) A respiração, a ressonância, a
projeção, a articulação”.
Numa análise primordial, observa-se nos discursos de alguns dos
docentes entrevistados, a fragmentação dos saberes a serem trabalhados com
os alunos, onde subjaz a condição da formação bastante convergente do
especialista em áreas temáticas da Física e da Fonoaudiologia, como Acústica,
Audiologia ou Voz.
34
O que não se pode relegar é a ponte que deve ser erigida entre o
saber acústico, o saber audiológico, o saber em voz, conjugando-se com a
aplicabilidade e conhecimento didático-pedagógico para aduzir e transformar
os egressos do curso de Fonoaudiologia pela educação. Tais observações
confluem com as concepções de Perrenoud (2000), afirmando que
determinadas atividades são inspiradas pela tradição, pela imitação, pelos
recursos de ensino e nem sempre são pensadas em uma perspectiva
estratégica, sendo limitadas por tempo, espaço, contrato didático, expectativas
de um e de outros, cooperação moderada dos alunos e competências do
professor.
Nos discursos discentes, acerca das atividades e conteúdos
significativos abordados na disciplina, destacaram-se algumas considerações
abaixo:
E01B:
“(...) Existem algumas freqüências que as ondas são estacionárias pela
formação constitutiva do meato. Então a gente sabe que na freqüência de
4.000 Hertz pode ser um problema de adaptação do fone dentro da cabine,
tendo muitas vezes que mudar, para ter um resultado diferente. A gente vê que na
colocação de um AASI no período de amplificação, nas freqüências de 8.000
Hertz, a pesquisa nessa onda não é válida”.
E02B:
“Eu acho que são conhecimentos básicos que você tem que ter (...) Quando você
chega no estágio você atende o paciente, o que é que isso está interferindo na
voz do paciente? A ressonância? Vai funcionar? (...) Esse paciente mesmo que
tem paralisia cerebral, tem disartrefonia, então tenho que pensar em produção de
voz, quantidade de ar que ele tem, que ele vai conseguir colocar esse ar pra fora.
Como se a musculatura dele tem espasticidade?, então fica mais difícil, a
ressonância dele é muito laringo-faríngea, então tem que trabalhar (...) E em
áudio é a mesma coisa (...)"
“Eu não sei a nomenclatura correta, mas, assim, comprimento de onda, amplitude
(...) Na parte do BERA também, que observa amplitude da onda (...) Na parte de
acústica, na parte de loudness, intensidade, freqüência. A relação com
anatomia, onde é que estão as freqüências graves na cóclea, onde é que estão
as freqüências agudas... Como é que a onda sonora é transmitida, refração (...)
O que é que acontece do meio aéreo para o meio líquido (...) A onda não está
sendo transmitida corretamente porque tem um problema de massa (...) Eu acho
importante você ter esse conhecimento pra você poder dar o diagnostico do
paciente, o diagnostico audiológico. E em Voz, essa parte respiratória, capacidade
respiratória: quando a gente inspira pra onde o ar vai, qual a importância da
gente inspirar pelo diafragma, porque vai ter uma quantidade de ar, uma reserva
35
de ar, ressonância, como funcionam os órgãos ressonadores, a vibração das
pregas vocais (...) Eu lembro da aula, a professora falando, relacionando o
movimento das costelas, lembro do desenho até hoje, mostrou como seria o
movimento da alça de balde (...) Não tenho certeza se o vídeo que eu vi foi nessa
matéria ou foi em outra matéria, porque esses vídeos são batidos (...) Mostrava a
transição da onda sonora até a cóclea (...)”.
E03B:
“(...) Teve uma monografia... achei uma coisa assim extremamente interessante
porque a gente era apenas segundo semestre (...) Acho que na tentativa de fazer
esse link com a Fonoaudiologia, a gente teria que pesquisar a respeito de algum
tema, era uma monografia de revisão basicamente (...) A gente teria que pesquisar
um tema da Fonoaudiologia que fosse relevante a aplicabilidade dos conceitos de
Acústica e Psicoacústica. (...) Tanto que na época eu lembro que eu desenvolvi um
trabalho falando sobre alterações vocais de mulheres na menopausa por conta do
aumento da massa das pregas vocais (...) Achei esse trabalho superinteressante
porque a gente conseguiu ir pesquisar conceitos de Acústica e Psicoacústica
e a gente não dominava bem pra aplicar isso na Fonoaudiologia e entender
porque muitas alterações se davam por conta desses fatores (...) Eu lembro
que a gente estudou muita coisa relacionada ao mecanismo da amplificação
sonora, ressonância, a diferença de área e pressão, conseguir entender porque
que eles influenciavam na amplificação sonora (...) O mecanismo de produção da
voz (...) A diferença de massa influenciando no pitch e no loudness da voz (...)
O efeito Bernoulli é uma coisa que eu lembro (...) A pressão subglótica que faz
com que o ar passe e vibre as pregas vocais para produzir a fonação (...) Eu julgo
que a compreensão desses conceitos é fundamental (...) Às vezes, por não
compreendê-los tão bem é que eu sinto um pouco de dificuldade atualmente”.
E05B:
“A formação da onda (...) Eu acho que é muito interessante como a onda é captada
pela orelha, como ela chega até a cóclea (...) Eu acho que a gente sempre vai
lembrar a vida toda do som, da captação, onde leva a fala, certos tipos de perda
(...) Eu acredito que tenha sido o mais marcante (...) Foi interessante, a gente
também estudou sobre calibração dos equipamentos”.
E06B:
“Eu acho que foi a questão da gente conhecer, diferenciar intensidade (...) Porque a
gente geralmente costumava falar assim: tal pessoa fala alto ou baixo (...) e aí a
gente começou a ver desde então que isso era uma terminologia usada
erroneamente. Deveria ser usado forte ou fraco. (...) Foi nesse início que a gente
começou a ter contato com isso, com deciBels, com Hertz na freqüência (...)”.
E07B:
“(...) Eu lembro bem no começo, ela falando de Anatomia da orelha. Eu lembro do
professor falando de intensidade, freqüência”.
E08B:
“(...) Freqüência fundamental, produção, vibração de prega vocal (...) Ele falava
muito da propagação da onda (...) A gente via as mudanças de fase de cada
onda (...) Me remete mais a Audiologia e a Voz (...) Onda sonora na orelha até
chegar à cóclea, células ciliadas e tal”.
36
Analisados os relatos discentes, depreendem-se dois universos
distintos: aquele representado pela relação estreita entre aprendizagem de
conceitos e efetivação procedimental, havendo consolidação da aprendizagem
pelo aluno; e o universo da compartimentalização entre os conceitos acústicos,
anatômicos ou processuais e os fenômenos ou demandas dos eventos que
permeiam a realidade do exercício profissional. Portanto a aprendizagem
significativa seria, de forma completa, formada pelas experiências
sedimentadas, por intermédio de conceitos, procedimentos, habilidades e
afetividade vivenciados pelos educandos. Moreira (2006) endossa que na
aprendizagem significativa, a produção do conhecimento é resultado da
integração construtiva de pensar, sentir e fazer (agir e atuar) em um contexto.
Segundo Ausubel, Novak e Hanesian (1980), a essência do processo de
aprendizagem significativa está baseada na possibilidade em relacionar idéias
simbolicamente expressas, de maneira substantiva (não literal) e não arbitrária,
ao que o aprendiz já sabe.
Sobre a distribuição percentual da Acústica e Psicoacústica abordada
na disciplina, foi obtido o discurso de um dos docentes entrevistados:
E01A:
“Acredito que a proporção deva estar hoje em 75% para Acústica e 25% para
Psicoacústica. (...) Não..., pode ser melhorado, claro que pode (...) Talvez
aumentando um pouquinho mais a contribuição da Psicoacústica nesse
processo”.
Verifica-se no discurso docente uma necessidade em redimensionar
de modo estratégico o tempo de abordagem de temas aplicados à área de
conhecimento fonoaudiológico. Pardo (1997) afirma que a lista de conteúdos a
serem tratados é o ponto de partida para a seleção dos temas mais relevantes,
a partir dos quais os alunos desenvolverão seus estudos.
37
Quantos às abordagens interdisciplinares, foram relacionados trechos
em que alguns dos entrevistados abordaram suas experiências:
E01A:
“Ultimamente nós temos nos procurado. Mais precisamente ontem a professora de
Fisiologia que vai assumir a cadeira nos procurou pra estabelecer essa
relação para que as disciplinas possam ser complementares, mas não é uma
prática, infelizmente não é uma prática diária. Deveria ser (...) Não ocorreu
porque não há interesse dos profissionais docentes da instituição em manter
essa inter-relação. É o que a gente percebe. Os professores estão voltados
para as suas próprias disciplinas e isso restringe o professor ao universo da
disciplina dele”.
E02A:
“(...) Existe sim as reuniões de coordenação onde cada um aborda o seu tema
(...) Até aconteceu isso aqui chamado de trabalho interdisciplinar (...) Eu acho
que talvez ajudasse mais pra gente saber o que é que um vai fazer, o que é que
o outro vai fazer (...) Mas, nós três, eu e as duas fonoaudiólogas, isso sim,
nós interagimos bastante”.
E03A:
“Eu acho que as trocas, as necessidades dos próprios professores. Por exemplo, eu
estou sentindo uma necessidade porque eu estou acompanhando eles, eu
vou entrar em estágio (...) O que a gente achou que não foi bom ou que deveria
ser mais bem trabalhado (...) A carência de material e de equipamento deixa a
gente assim (...) Cada profissional tem a sua criatividade e como dar sua disciplina
(...) Eu acho que deveria ter uma integração maior. Deveria se reunir mais pra
que a gente pudesse vivenciar um pouco mais isso".
E04A:
“(...) Eu tenho tentado. A gente tem tentado fazer. Por exemplo, a gente participa de
algumas aulas de Física, a gente assiste. Assim como ele também participa
das nossas aulas (...) A gente está o tempo todo lembrando os alunos que aquilo
ali é base pra outras disciplinas. Mesmo porque eu e a outra professora, nós
damos as disciplinas específicas mais à frente. Então a gente consegue
correlacionar porque ele vai ter um pouco a mais, mais à frente (...) Existem as
reuniões e a gente marca, se reúne e conversa (...) A própria coordenação
incentiva os professores estarem em comunicação com os outros, pra que tenha
um consenso, uma linguagem comum. E é importante isso. Então vários momentos
estão os três professores na sala de aula. Os três têm o mesmo pensamento:
fornecer um maior conhecimento pros alunos. Essa interação, a gente está
sempre lembrando que isso é importante mais pra frente”.
E01B:
“(...) A disciplina que a gente teve trouxe uma carga de Fisiologia (...) Com certeza
é fundamental, é importante. Mas eu acho que fugiu um pouquinho (...) Essa
parte fisiológica dada foi importante (...) Não sei se isso é objetivo da disciplina (...)
Você perguntou o que eu aprendi e agora eu uso na prática (...) Essa parte da
Fisiologia eu trouxe da Biofísica, até porque foram disciplinas no mesmo
semestre, então quando a gente estava tendo Fisiologia, a gente estava vendo
Biofísica, entendeu?”.
38
E03B:
“(...) Os conceitos que foram importantes talvez estejam sendo rebatidos em outras
disciplinas futuras, principalmente na Fisiologia. Acho que muita coisa aprendi
na própria Fisiologia. Quando a gente estudava fisiologia da audição,
fisiologia da fonação é que a gente acabava revendo esses conceitos e
questionando (...)”.
E04B:
“(...) Algumas coisas a gente acabou revendo na Fisiologia e eu atribuo até mais a
compreensão delas à Fisiologia do que à Biofísica (...) também porque na
própria Biofísica ela colocava assim os fenômenos e na Fisiologia eu conseguia
entender a aplicabilidade desses fenômenos (...) A falta de um grande
conhecimento na Biofísica me fez estudar mais”.
E05B:
“(...) Eu acho que a Psicoacústica está muito relacionada realmente com
Audiologia (...) Então quando a gente foi pra Audio I a gente na verdade já
estava levando esse conhecimento sobre diferenças entre freqüência,
intensidade, o que cada um queria dizer, como cada um era utilizado.
Principalmente quando a gente começou a ver no uso de audiometria”.
Poucos docentes estabeleceram relação interativa com disciplinas
atreladas às áreas básica e profissionalizante. Alguns correlacionaram com
disciplinas do ciclo profissionalizante, em especial das áreas de Audiologia e
Voz, predominando a interlocução entre docentes que atuam na mesma
disciplina. Entretanto, no discurso discente nota-se uma relação íntima da
sedimentação do aprendizado em disciplinas do ciclo básico como Fisiologia,
bem como disciplinas do ciclo profissionalizante, como Audiologia. Ressalta-se
em alguns discursos a evocação discente para um maior intercâmbio entre
docentes das diversas áreas, favorecendo assim, de modo sinérgico, a
pluralidade de abordagens cognitivas nas atividades educacionais. De acordo
com Pardo (1997), uma das dimensões que permearia a atuação profissional
seria a formação dinâmica como membro de equipe de trabalho a qual, muitas
vezes, é interdisciplinar, não podendo ser limitada ao preparo individual,
necessitando assim de intercâmbio pessoal.
39
Uma vez questionados sobre as vantagens e desvantagens em
compartilhar a experiência docente com profissionais de diferentes formações e
especialidades, foram relatados por alguns docentes entrevistados os
seguintes discursos:
E02A:
“(...) O positivo que eu vejo é que depois de o aluno aprender esses conceitos
básicos de Acústica, entra a parte específica de como é o sistema auditivo do ser
humano. Eu poderia, de orelhada, autodidatismo, até ensinar. Poderia, mas vou
apenas repetir o que tá no livro. Eu não tenho uma formação específica na área
de saúde. Idem pra parte de fonação. Acho que a presença dessas pessoas
que têm a formação específica nessa área é muito produtiva porque elas
consegue agora fazer essa conexão entre o que foi estudado de Física básica
com essa coisa que está sendo aplicada e como é que acontece os
processos de voz e fala (...) Então eu acho muito produtivo”.
E03A:
“(...) Positivo. Tem seus benefícios em função de que você está colocando
profissionais específicos. (...) Talvez o físico, ele não tivesse dado ênfase na área
fonoaudiológica que eu dou como fonoaudióloga em Audiologia, e a outra fono, na
parte de Voz. Eu como fonoaudióloga não teria todo embasamento que o físico tem
(...) Mas, tem a desvantagem disso: você fica muito assim na sua, muito pouco
se interage (...) Talvez se ocorresse uma interação maior (...) Você não consegue
fechar tanto, porque cada um dá o seu”.
E04A:
“(...) Eu só vejo ponto positivo (...) É importante todo profissional se correlacionar
com as outras áreas (...) A gente sabe que ninguém é auto-suficiente. A
Fonoaudiologia precisa de muitas outras áreas. Da Psicologia, da Medicina, da
Física. Então quando você tem a oportunidade de trabalhar com outro profissional,
da área de Física, por exemplo, formado em Física, Matemática, eu acho que só
vem somar pra gente. Você abre caminho, você amplia os horizontes. Então eu
acho que é uma discussão, uma troca de conhecimentos (...) A Fonoaudiologia
só tem a ganhar (...) Todo profissional quando ele se abre a conhecer novas
áreas, ele só ganha. (...) Então, por exemplo, o professor de Física, muitas coisas
de Fonoaudiologia ele não conhecia. Assim como a gente também não conhece de
Física. Então a gente discute, a gente troca, e tenta adotar isso com uma
prática fonoaudiológica, que é o que o aluno vai ter quando se formar (...) A
gente precisa de outros profissionais nos assessorando, o físico, o
matemático, o pedagogo, o filósofo (...) Nós não somos detentores do saber
(...)”.
Uma das características peculiares das disciplinas do ciclo básico,
dentre as quais a Biofísica e disciplinas correlatas, está pautada nas múltiplas
interfaces com as diversas áreas do conhecimento, além da existência de
inúmeros profissionais com formações ecléticas. Verificou-se nos discursos
40
docentes o interesse equânime em interagir de forma intradisciplinar,
transdisciplinar e multidisciplinar com os diversos professores que
compartilham uma mesma disciplina. Nesse diapasão, Perrenoud (2000)
afirmou,sobre a ótica crítica da cooperação profissional, que modismos, sob a
influência de sonhadores, dirão aqueles que só se sentem bem quando
sozinhos no comando.
Ainda sobre interdisciplinaridade, alguns relatos discentes foram
colhidos:
E03B:
Se eles tivessem tido a oportunidade de trabalhar em conjunto, eu acho que
isso poderia ter sido um fator muito importante (...) Conseguiria trazer assim a
prática que ele já tinha na questão da Biofísica geral, da própria
compreensão, pra fazer a relação com a Fonoaudiologia (...) A gente às vezes
sente uma falta dessa conexão com a disciplina básica e o curso que você vai
preferir depois (...) Eu acho que é fundamental que seja suprido por um
fonoaudiólogo ou um profissional que pelo menos tenha um conhecimento
maior a respeito disso (...) Não necessariamente sendo aplicada por um
fonoaudiólogo, mas pelo menos com a conexão direta entre a Fonoaudiologia
e a disciplina”.
E05B:
Eu acredito que positivo (...) O profissional, o fonoaudiólogo, o médico, ou
qualquer outro profissional ele precisa sempre de um outro (...) Uma
interdisciplinaridade (...) Então eu acho que foi muito bom serem colocados os
dois professores juntos (...) Eu acredito que isso ajudou bastante os alunos”.
E06B:
“(...) Eu vejo como aspecto positivo, porque ele na verdade só entrou a primeira
parte falando da parte Física (...) Embora só conceitual, mas só da parte física. E
ela entrou depois falando da parte de psicoacústica, ou seja, de como é que a
Audiologia entraria nisso (...) Como aquele conceito de onda, de vibração, de
amplitude que a gente aprendeu, como seria útil pra gente quando a gente
estivesse vendo os exames audiológicos”.
E07B:
“(...) Não sei se é tão legal dividir essa disciplina, ter dois professores (...) Eu
acho que cada professor tem uma forma de passar o assunto (...) Às vezes
pode trazer uma certa dificuldade pro entendimento do aluno (...) Os dois
professores sendo fonoaudiólogos mesmo, eu acho que traz mais a nossa
realidade (...) Na época que eu fiz essa disciplina eu lembro que o professor ele é
formado em Física. (...) Às vezes parecia pra gente que ele não estava antenado
com nosso curso (...) Tinha uma certa dificuldade até do professor fazer esse
link pra gente (...) Acho que o professor deveria ser fono (...) Eu acho que dessa
forma ele talvez julgasse o que fosse melhor pra ser passado, o que seria
realmente necessário pra ser aplicado”.
41
E08B:
“(...) A gente vê diferentes visões (...) Áreas que a gente pode estar conhecendo
melhor... dentro da própria Fonoaudiologia a gente tem áreas diferentes (...) Ter
outros profissionais que não sejam fonoaudiólogos como professores, eu
acho que é muito válido porque a gente está vendo uma outra visão (...) Uma
outra abordagem (...)”.
Verificou-se um contingente significativo de alunos favoráveis à
atuação de profissionais de outras áreas de formação acadêmica, porém,
capacitados a contextualizarem os seus conhecimentos com a realidade e
exigências dos objetivos pedagógicos do curso de Fonoaudiologia. De acordo
com Perrenoud (1997), a divisão do trabalho pedagógico aumenta com a
emergência de papéis específicos, suscitando assim novas formas de
correlação, repartição igualitária de tarefas, a partilha de informação ou mesmo
a delegação a um especialista de um problema que afasta o titular, quando
houver indicação para facilitar o trabalho. Vale acrescentar às concepções de
Perrenoud (1997), que em disciplinas básicas, o universo específico de um só
docente ou mesmo de vários docentes dividindo uma mesma disciplina,
demandarão maiores habilidades e conhecimentos aplicados de um só
docente, ou obrigatoriamente a necessidade de interação processual entre
docentes de formações diversificadas.
Uma vez questionado sobre os conteúdos abordados aplicados no
ciclo profissionalizante, destacaram-se os seguintes pontos de vista de alguns
alunos:
E01B:
“(...) A aplicação prática em Audiologia fica complicada porque a gente ainda não viu
Audiologia. Então a gente pega Biofísica sem nunca ter visto Audiologia
dentro da faculdade (...) Mesmo que o professor tenha conhecimento de Audio
suficiente, mesmo que ele não seja fonoaudiólogo, se ele jogar isso pra gente, a
gente não vai ter como assimilar (...) Porque não é um conhecimento que a gente
já traz (...) Ondas são estacionárias pela formação constitutiva do meato.
Então a gente sabe que na freqüência de 4.000 Hertz, por exemplo, pode ser um
problema de adaptação do fone dentro da cabine, tendo muitas vezes que mudar,
42
para ter um resultado diferente. A gente vê que na colocação de um AASI no
período de amplificação (...)”.
E04B:
“(...) Que esse olhar para a Física e Biofísica estivesse sempre presente nas
outras matérias. Eu percebo que nas aulas de Audio I e Audio II, essa Biofísica
não é citada (...)”.
E06B:
“(...) Então, dois semestres depois, quando a gente viu Áudio, aí é que a gente viu
realmente a importância disso que ela falava (...) Propagação das ondas, todo o
mecanismo da audição (...) O estudante, principalmente do primeiro semestre,
ele ainda está muito verde, sem saber exatamente pra que isso vai servir
futuramente. Então mais tarde é que muitas vezes a gente vê: “ah, aquilo que a
gente viu serviu como pré-requisito pra ver a disciplina de agora” que a gente
começa a fazer links”.
Na maioria dos discursos anteriores, nota-se o resgate posterior
discente, pelas extrapolações positivas e materialização de conceitos
consolidados nas disciplinas básicas. Essas relações são exemplificadas
fenomenologicamente através da correlação entre ondas estacionárias e
adaptação de fones auriculares e aparelhos de amplificação sonora,
ressonância e classificação do padrão vocal, amplitude de onda e o exame de
audiometria do tronco encefálico, biomecânica respiratória e reabilitação
fonoaudiológica com respiração diafragmática, mapeamento tonotópico e
perdas auditivas em freqüências específicas, dentre outros.
De forma paradoxal, o entrevistado E01B atribui os conhecimentos em
Audiologia como pré-requisito para uma aprendizagem satisfatória dos
conteúdos de Biofísica, o que expressa uma tentativa açodada em resgatar
contextualmente os conhecimentos adquiridos no ciclo básico. Esse viés pode
existir também nas atividades das disciplinas profissionalizantes, onde os
procedimentos clínicos e instrumentais aplicados diuturnamente poderiam de
alguma forma rechaçar conceitos e entendimentos revelados à luz de
disciplinas básicas como a Biofísica, conforme relato de E04B.
43
Moreira (2006) relata coerentemente, numa outra concepção, que a
dificuldade em hierarquizar os conceitos é, por si, uma razão para que se tente
fazer isso. O autor afirma que se tal exercício é difícil para o professor, para o
aluno torna-se mais complicado. É preciso que se defina uma hierarquia
específica para cada conteúdo, elaborando-se assim uma organização conceitual
que faça sentido, mostre relações entre conceitos e facilite a reconciliação
integrativa.
4.3 Categoria: Concepção de Prática
Nesta categoria foram alocadas as concepções dos entrevistados
docentes e discentes acerca do que é a prática no âmbito acadêmico, as
relações com a contextualização dos conteúdos, juízos discentes sobre
atividades práticas concebidas com significativas, contingente de alunos real e
ideal por atividade pedagógica, bem como alguns entraves associados à sua
organização e execução pelos docentes.
Dentre as concepções de prática, foram colhidos alguns discursos
docentes que explicitam a preocupação em contextualizar os temas
ministrados, conforme trechos abaixo:
E01A:
“Todas as atividades que reforçariam dentro do contexto prático profissional os
subsídios teóricos (...) A idéia de termos imitanciômetros, diapasão, e
decibelímetros (...) Infelizmente não temos (...) A preocupação aí é
contextualização. Se isso não é conseguido, o ensino torna-se maçante, até
desestimulante (...) Quando o aluno vê que aquilo que ele está aprendendo
tem uma aplicabilidade prática profissional, obviamente isso motiva, isso
estimula, isso torna o processo de aprendizagem mais interessante (...)”.
E02A:
“(...) Prática pra mim é o aluno chegar e fazer as coisas (...) Eu tento minimizar
ao máximo o uso de equações, muita conta e essa coisa toda. Tento mostrar
44
pra eles só os conceitos da Física (...) Nós temos aqui uma série de kits: sistema
massa-mola, cordas vibrantes, interferência de onda (...) Eu gosto muito de insistir
em construção de gráfico (...) A aula conceitual é mais uma aula cognitivo-
filosófica (...) Todos os alunos não entendem o conceito que você está colocando
no quadro da mesma forma (...) Eu coloco: uma onda é uma oscilação que se
propaga. Cada pessoa que está me ouvindo traduz isso de uma forma diferente
(...) Cada pessoa absorve de uma forma diferente. (...) Na aula prática é
diferente. Todo mundo vê a mesma coisa. (...) Então a aula experimental eu
acho que é a aula que realmente dá formação ao aluno. (...) Se nós tivéssemos
maior interação com computadores, com softwares (...) O pegar e fazer é quando
você realmente aprende (...) Você sai daquela sua condição passiva (...)”.
E03A:
“Prática é você levar aquilo da sua teoria, que você viu didaticamente, em termos
teóricos, e fazer funcionar, você mostrar o efeito (...) Materialização da teoria, de
uma idéia (...) Fazer com que fixe melhor para o aluno (...) Não é uma coisa
abstrata (...) Quando você mostra, materializa, você unifica isso. Você
padroniza pra o aluno ter idéia real, que tipo de evento ou fenômeno está
ocorrendo (...) Junta a teoria ao efeito e daí você tira proveito, onde você pode
aplicar isso, onde vai transformar, aonde você vai levar (...)”.
E04A:
“(...) É você sair daquele universo de sala... professor falando (...) Analisar um
equipamento, fazer uma experiência (...) Que o aluno possa levar aquele
conhecimento que teve aqui na aula teórica usando um instrumento ou atender
uma pessoa (...) A prática é a vivência (...) Tem certas coisas que se você só falar
(...) Não ficariam bem explicadas. Você tem que mostrar, você tem que pegar,
você tem que sentir (...)”.
“(...) Nós tivemos atividades práticas com professores de uma creche (...) Eu levei
os alunos e mostrei isso na prática, o que é a voz, como que era a respiração... ia
fazendo esse link (...) Questão da freqüência fundamental da voz de um
professor (...)”.
Verificam-se nos discursos docentes uma diversidade de aspectos
gerais e específicos, desde a concepção da prática como operacionalização da
teoria, até à sua relação com atividades experimentais mais específicas,
contextualização, territorialização e uniformização das percepções.
De acordo com Perrenoud (1997), negligenciar a utilização de novas
tecnologias a serviço da educação, torna-se indefensável. O autor afirma ainda
que, aqueles professores capazes de explicitarem e analisarem suas práticas a
partir de uma autotransformação poderão tirar melhor partido das novas
modalidades de formação contínua. De acordo com Zabala (1998), a
aprendizagem pela prática educativa, materializa-se pelo conteúdo
45
procedimental, caracterizado pelo conjunto de ações ordenadas (regras,
técnicas, métodos, destreza ou habilidades) direcionadas para realização de
um objetivo, podendo ser motor/cognitivo, gradação ou mesmo de natureza
heurística. São exemplificados pelos atos de ler, desenhar, calcular, observar,
classificar, traduzir, recortar, saltar, inferir, dentre outros.
Nas concepções discentes sobre prática, prevaleceram os seguintes
discursos:
E01B:
Estar no campo de atuação, entrar em contato com um fonoaudiólogo, ver o
atendimento de um paciente, aplicação. (...) Foi a gente ir a campo buscar essa
relação entre Fono e Biofísica e apresentar um artigo no final da disciplina
(...) Fazendo esse link entre Física e Fono, não. A gente teve várias
experiências, prática de espirometria. A gente analisou radiografia de tórax (...)
várias coisas relacionadas da saúde vocal (...)”.
E02B:
“(...) São coisas além do giz, da voz do professor, do quadro (...) Vídeos ou então
você fazer no outro (...) Eu acho que a gente teve um vídeo, mas não me
recordo se foi nessa matéria (...) Criamos um artigo, um projeto de pesquisa
que teve relação entre a Biofísica e a fonoaudiologia... eu fiz sobre otite e
audição (...) É uma lembrança que eu tenho dessa disciplina (...) Foi quando a
gente começou a fazer, introduzir artigos científicos (...)”.
E03B:
“(...) Onde a gente consiga ver (...) Onde o próprio estudante possa estudar,
através da experiência, buscar a internalização dos conceitos (...) É muito mais
interessante a questão do buscar, da experiência, do aluno descobrir a
aplicabilidade daquele conceito (...)”.
E04B:
“(...) Realizar exercícios que traga conhecimento no cotidiano profissional. Mas
aqui eu acho difícil se fazer aula prática”.
E05B:
Ir pra laboratório, mexer nos equipamentos, manusear, ver minuciosamente
(...)”.
E06B:
“(...) Eu acho que é a gente reproduzir o que a gente aprendeu de forma objetiva.
É tipo assim: trazer pro concreto aquilo que até então era muito abstrato (...) Eu
acho que na verdade faltou a parte prática (...)”.
46
E07B:
“(...) Ir num laboratório (...) Ele levava a gente no laboratório, ele fazia algumas
experiências pra que a gente pudesse estar olhando (...) O real, o concreto do
que foi passado em sala de aula e não ficar só naquele teórico”.
Nas análises discentes foram destacadas a inserção territorial no
campo de atuação, as atividades que estimulam outras fronteiras sensoriais e
participativas como a exibição de vídeos, a elaboração de projetos acadêmicos,
bem como a constante inserção e realização de exercícios que aduzam o
educando às atividades acadêmicas. Tais observações coadunam com as
concepções de Novoa (1999), o qual afirmou que o reforço de práticas
pedagógicas inovadoras construídas pelos professores a partir de uma reflexão
sobre a experiência, parece ser a única saída possível. Zabala (1998)
considera fundamental a introdução a cada momento de ações que se adaptem
às novas necessidades formativas, fugindo assim dos estereótipos e do
apriorismos. Portanto, o autor afirma que não se pode buscar uma fórmula
magistral, mas a melhora da prática.
Do ponto de vista discente, foram levantados alguns entraves
relacionados à atuação docente na disciplina e na organização e execução das
atividades práticas:
E01B:
Seria ótimo se fosse na prática, mas como é uma disciplina de base, eles não
têm uma experiência ainda em Audiologia e em Voz, acho que fica meio
complicado trazer para a prática fonoaudiológica, já que a gente não tem essa
carga. Então, infelizmente, a única forma que se tem de ter essa relação de
ensino-aprendizagem é a teoria, é em livro, é simplificado”.
E02B:
“(...) Tiveram poucas práticas. Eu não lembro direito, e eu não consigo imaginar
como poderia ser essa prática. Eu acredito realmente que deva existir (...) Dar
um enfoque mais pra Física mesmo, Biofísica. Tanto na parte de Áudio quanto de
Voz. Coisas visíveis, em movimento, como um filme, um gráfico que você
possa analisar”.
47
E03B:
“(...) Durante a nossa formação as nossas aulas foram extremamente teóricas...
Assim, quadro e giz mesmo e um monte de cálculo que muitas vezes a gente
não entendia direito para que serviriam (...) Eu lembro que eu fiquei apavorada
quando eu vi os logaritmos (...) Aquilo que a gente tinha acabado de estudar na
teoria não percebia essa aplicação direta... cálculos, logaritmos (...) Há
necessidade de aulas práticas onde a gente possa construir o próprio aprendizado,
possa através da experimentação descobrir a aplicabilidade desses conceitos, é
fundamental, uma coisa que também a gente não teve (...) Nem sei te colocar
como deveria ser a aula prática porque a gente não teve (...) Acho que ela é
composta de elementos audiovisuais (...) Em outras disciplinas a gente tem
experiências onde a gente conseguia constatar”.
E04B:
“(...) Quando a gente viu Biofísica, pelo menos aqui, viu de uma forma muito solta.
Não viu relacionado, por exemplo, ao audiograma, pra sessão fonatória (...) A
gente não consegue fazer esse link, essa relação (...) Pra começar, não tivemos
nada prático, foi essencialmente teórico (...) O curso é muito superficial (...) Por
isso não dá pra ter uma sustentação boa para realizar um exame e ter um
raciocínio clínico, acho que a Biofísica é muito boa para desenvolver esse
raciocínio clínico (...) Eu acho que a Biofísica deveria ser dada pra gente com
exames, como por exemplo, Audiologia, os tipos de perda auditiva, otosclerose,
que é decorrente de um componente de resistência na orelha média (...) Até que o
professor que acompanhou a gente é um professor excelente, mas acho que
esses professores devem se especializar mais, tentar relacionar essa
Biofísica com a área da Fonoaudiologia (...) Eu tenho a sorte de ter um marido
físico que me ajuda muito nos momentos de dúvidas. Mas acho que o
conhecimento nessa matéria foi muito pouco pra sustentar minhas atividades
(...)”.
E05B:
“(...) O professor dava o conteúdo pra gente e nós estudávamos (...) Depois era
dividido entre prova e seminário (...) A teórica a gente via toda aquela coisa do
cálculo, e na prática a gente via a formação da onda, a gente via o manuseio
dos aparelhos, e via a parte de audição (...) Eu acho que a gente teve mais a
parte teórica do que a parte prática”.
E06B:
“(...) Deveria ser bastante diferente do que foi (...) Poderia ter tido muito mais
visitas ao laboratório (...) Aqueles conceitos a gente poderia estar aplicando na
nossa prática profissional (...) Eram muitas aulas de uma vez só. A gente tinha
tipo seis aulas por semana e o que é que acontecia? Era muita informação
dada de uma vez só e que eu acho que não tinha tempo hábil da gente
absorver (...) As avaliações eram de quinze em quinze dias praticamente (...) Nós
não tivemos prática. Nós fizemos duas visitas ao laboratório pra ver os
equipamentos lá já no finalzinho da disciplina (...) A gente via como a
propagação das ondas sonoras... não lembro muito não (...) A gente queria ver
aplicabilidade (...)”.
E07B:
“Eu não sei se a carga horária deveria ser maior, eu acho que ela poderia ser
dividida melhor (...) Poderia ter talvez mais aulas práticas pra que a gente
possa fazer mais esses links (...) Eu acho que poderia trazer pra gente tipo
alguns casos clínicos”.
48
E08B:
“(...) Como nós somos da primeira turma, o laboratório não tinha toda a estrutura
montada (...) Acho que a gente teve muito mais teórica do que prática”.
Nos discursos discentes, é tácita a alusão à falta de atividades
práticas. Porém outras queixas recaem sobre a formação cognitiva docente no
campo da Biofísica ou Acústica aplicada à fonação e audição, bem como
conhecimentos básicos sobre instrumentação em Audiologia e Voz. Tais
premissas são exemplificadas no discurso do entrevistado E05B, o qual relata
que “via o manuseio”, “via a formação da onda”, e “via a parte da audição”.
Restou ao entrevistado, recorrer aos livros textos, caracterizando uma forma de
aprendizagem limitada. Outra inferência importante citada pelos entrevistados
E04B e E07B, seria a possibilidade da realização de interfaces entre os
conhecimentos biofísicos e a prática clínica fonoaudiológica. Pardo (1997)
destaca que as abordagens teóricas nos diferentes campos de conhecimento
servem de base para o estabelecimento de pontos comuns, a partir dos quais
professores de diferentes disciplinas trabalhem a formação do profissional.
Esse trabalho integrado fomentaria mudança comportamental e aquisição de
habilidades pelos alunos. Portanto, de acordo com a autora, o conteúdo não
deveria ser tratado como um fim em si, mas como um meio através do qual o
discente aprenda a desvendar o fenômeno estudado, utilizando procedimentos
de intervenção a seu favor.
Foram relatados por alguns discentes exemplos de atividades práticas
onde a aprendizagem foi considerada significativa:
E01B:
“Foi um curso com aulas expositivas mesmo (...) Um fator positivo da disciplina
dada aqui foi criar um projeto de se apresentar um artigo no final que tenha a
ver com Biofísica. Então, individualmente ou em grupo, ele tinha que sair da
universidade e buscar esse conteúdo relacionado à Biofísica e Fonoaudiologia
49
utilizando os conhecimentos que foram estudados. No meu caso a gente trabalhou
com laringectomia e a Psicoacústica da voz esofágica (...) Essa foi a parte
assim mais prática que foi cobrada da gente (...)”.
E03B:
“Da amplificação, da diferença de massa... essas foram as aulas que foram mais
interessantes, as outras também eu não recordo (...) Teve a monografia que a
gente construiu que foi um processo assim que eu posso dizer bem construído,
porque a gente teve primeiro que decidir como fazer uma monografia... trazer
assim algum tema relacionado a Fonoaudiologia e que pudesse ter
aplicabilidade para Biofísica (...) Lembro que a gente construiu um trabalho
sobre alterações vocais em mulheres na menopausa, que sofriam alterações
devido a aumento da massa (...) Até o próprio estímulo, incentivo que ele trazia
pra gente pesquisar determinado tema (...) Essa foi a coisa mais marcante da
disciplina como um todo”.
E04B:
“(...) Trouxe só o diapasão, e relacionou o exame com a audição e a Biofísica.
Foi o único momento que me recordo em que a matéria fez uma relação bem
próxima com o fazer da Fonoaudiologia”.
E05B:
As aulas de laboratório (...) Eu acho que foram poucas, mas foram marcantes
(...) Quando você vai pra prática aí você vai vendo que aquilo que você leu está
lá na prática (...)”.
E06B:
“(...) Até que a gente viu que não seriam cálculos, inicialmente não estariam
envolvidos, seria mais o raciocínio da gente ver como é, como acontece a
propagação, da gente ver lá na prática, no laboratório”.
E08B:
“(...) Era visível a gente ver a mudança (...) Um fio ligado e aí a gente ia vendo a
mudança que aquele fio ia tomando, as formas que ele iam tomando e isso
era a propagação, digamos assim, do som (...) Essa me marcou muito, assim
dentro da Acústica e da Psicoacústica (...) Desse fio estar mudando o formato, a
gente via a onda crescer (...) Eu fiquei encantada como era o sistema auditivo
(...)”.
Nos discursos discentes sobre experiências julgadas como
significativas, destacam-se aquelas em que o mesmo foi incluído como sujeito
da própria aprendizagem, através da participação e elaboração de projetos
acadêmico-disciplinares, transitando entre os conhecimentos básicos e
profissionalizantes. Outra concepção importante foi a ênfase fenomenológica
dada à Física e Biofísica conceitual, contrapondo a uma abordagem arcaica
estritamente matematizada.
50
As evocações discentes acerca de experiências práticas realizadas no
recinto laboratorial, dentre as quais testes com diapasão, práticas com cordas
vibrantes e analogias entre amplificação e diferenças de massa justificam a
importância das abordagens no cumprimento dos objetivos e inclusão
mnemônica no aprendizado do educando.
De nada vale a teoria sem a prática. Não se estuda somente em certos
momentos ou exclusivamente quando se está em atividades de classe, como
um programa de rádio ou uma estação de televisão que se sintoniza para as
disciplinas e se desliga ao final da atividade, mas se estuda a toda hora e
durante toda a vida. Por isso, Freire (1999) afirmou que, aprender para nós é
construir, reconstruir, constatar para mudar, o que não se faz sem abertura ao
risco e à aventura do espírito.
Fischer (1992) afirmou que é partindo da realidade que o aluno
conhece, aprende e aplica a aprendizagem adequada e que se motiva o aluno a
desenvolver a sua criatividade. Com isso ele aprende através de suas próprias
ações sobre o mundo, construindo categorias de pensamento. Ele elabora os
conceitos de acordo com suas necessidades e estes o ajudam no seu
desenvolvimento. Medeiros (1987) endossou ainda que é preciso resgatar, na
prática de sala de aula, a dialética que existe entre forma e conteúdo, pois estes
perdem o sentido quando separados.
4.4 Categoria: Fatores Inferenciais no Processo de Ensino-
Aprendizagem
Nesta categoria foram incluídos os relatos mais recorrentes dos
entrevistados docentes e discentes que influenciaram no planejamento e
51
execução das atividades acadêmicas, dentre os quais a remuneração docente,
o perfil do egresso na disciplina, a carga horária disciplinar, o contingente de
alunos por atividade pedagógica, o acesso à literatura específica, a
disponibilização de materiais e equipamentos didático-pedagógicos, as
avaliações disciplinares, a eficiência do trabalho docente, a realização ou
participação dos entrevistados em atividades extra-muros, a estruturação
curricular e a relevância da disciplina.
Dentre os diversos fatores que influenciariam na viabilização de
atividades pedagógicas e no pleno exercício docente na disciplina, com
excelência no aprendizado, foi citada explicitamente por apenas um dos
docentes entrevistados a questão da remuneração:
E01A:
“Talvez a falta de incentivos de um modo geral, dentre os quais incentivos
financeiros. Os professores têm atribuições que cumprem e que são restritas ao
exercício da docência e a partir do momento que há a necessidade de uma inter-
relação envolvendo outras disciplinas, isso envolveria obviamente um gasto de
tempo para o qual ele não estaria sendo remunerado. Isso deve contribuir
certamente. Hoje, sabe-se que o professor precisa muitas vezes lecionar em
várias instituições para que tenha um ganho mínimo necessário e condizente
com o sustento da própria família”.
E02A:
“(...) Eu acredito que sim (...) Limita eu poder assumir tudo sozinho (...) Eu teria
que dedicar parte do tempo que eu dedico à faculdade, a outras disciplinas, pra
fazer só isso”.
No discurso seguinte o docente E01A justifica as condições que
subjazem à sub-remuneração e os possíveis desdobramentos que surgem:
E01A:
“(...) A própria cultura. Já é assim há muitos anos. Isso se perpetua
automaticamente. É preciso que isso seja quebrado em algum momento, talvez
por determinações de instâncias superiores ou da própria filosofia da
instituição. Eu não entendo que o professor possa sozinho, isoladamente, mudar
esse “status quo”, nessa situação que hoje existe de compartimentalização das
disciplinas de um modo geral”.
52
Apenas dois dos quatro docentes entrevistados fizeram inferência à
questão salarial, um deles apontando de forma direta o sistema político-
educacional e institucional e o outro relacionando indiretamente aos relatos de
limitação de carga horária e consequentemente por vinculação a outras fontes
de rendimento alternativas.
Alguns dos discursos registrados revelam de modo sucinto a
conjugação de fatores que levariam a subremuneração, dentre os quais os
baixos proventos para professores com dedicação exclusiva, além dos
professores de instituições privadas com regime predominantemente horista,
tendo que exercer concomitantemente mais de um vínculo trabalhista para
manter a sua subsistência. As baixas remunerações no âmbito educacional são
relatadas por Zimmermann (2000).
De acordo com Novoa (1999), a pobreza das práticas muitas vezes é
atribuída, de modo injusto, somente aos professores. O autor destaca que os
especialistas internacionais dão mais ênfase à formação inicial e continuada
dos professores, e que a solução estaria pautada na acreditação (no caso da
formação inicial) e nas lógicas de avaliação (no caso da formação continuada),
arrastando uma concepção escolarizada na formação desses profissionais.
Tais soluções seriam resumidas a um mercado de formação, perdendo-se
então o sentido da reflexão experencial e da partilha de saberes profissionais.
Demo (2006) considerou pouca a diferença de renda entre professores
de nível superior com ou sem formação pedagógica, denotando valorização
deficiente da formação pedagógica. O autor preconiza que, na relação dialética
com o gestor público ou financeiro, o professor precisa saber pressionar, não
para se atrelar, mas para comandá-lo.
53
Demo (2006) afirmou ainda que uma coisa é a crítica ao sistema do
professor compromissado e competente, com preparo e dedicação, e outra
coisa seria a crítica ao mau professor, que usa o sistema como manobra para
encobrir também as suas mazelas. O autor pondera as injustas considerações
de culpabilidade absoluta à figura do professor no recinto acadêmico, porém
forja-se o espaço de impunidade do professor, que facilmente se apresenta
como referência incólume de um sistema do qual aparentemente já não faria
parte. Argumenta ainda que o professor por ser tão mal pago, sua aula será
igualmente tão ruim, esquecendo-se de que essa aula, quem dá, não é o
sistema político-educacional, mas o próprio professor.
Nos discursos docentes acerca do perfil do egresso na disciplina,
foram explicitadas diferentes concepções:
E01A:
“(...) Em princípio acho que sim. Não venho percebendo nenhuma restrição não.
Nenhuma limitação não”.
E02A:
“(...) Que eles tivessem um pouco mais de maturidade, estivessem mais
sedimentados no curso superior (...) Vêm do curso secundário e chegam aqui,
muitos deles trazem ainda conceitos e práticas do segundo grau (...) Eles querem
que o professor se comporte da forma como o professor de cursinho. Ontem
a, ontem mesmo a menina estava me falando por que eu não inventava uma
música pra ela entender uma fórmula que eu estava colocando no quadro (...) Eles
têm uma retração muito grande a ler (...) Se a disciplina é conceitual, você só
aprende o conceito lendo (...) Para eles é complicado, porque é uma forma
diferente de ver Física (...) No segundo grau decorou, fez a conta, não sabe
nem o que estão fazendo. Agora é diferente, agora eles têm que ler (...) Uma
sala extremamente heterogênea. Eu tenho aluno que sabe muito do que eu estou
falando e tenho aluno que não faz nem idéia do que é que eu estou falando. Que é
que eu vou fazer? Eu vou ficar enchendo o quadro de conta? De jeito nenhum (...)
É contraditório pra minha proposta (...) Eu contextualizo e fico
intermitentemente a perguntar se eles estão entendendo o que é que eu
estou falando. Quando eu coloco uma equação no quadro e explico um fenômeno
físico qualquer, eu tento mostrar pra eles o significado daquilo e não como é que
usa. Não adianta você usar se você não sabe o que significa (...) Eu acredito
que é muito complicado fazer com que eles tenham interesse pela disciplina,
primeiro por ser a disciplina que é, porque a primeira reação que eu ouço,
primeiro dia de aula é: “eu detesto Física” (...)”.
54
E03A:
“(...) Aqui nós temos duas realidades: ou você tem meninos jovens demais ou você
tem pessoas que são mais adiantadas, mais velhas (...) O mais jovem é mais
difícil porque ele ainda não tem a maturidade, embasamento (...) A pessoa que
está mais velha, ela tem a dificuldade de aprendizado (...) Pelo fato de que
deve entrar sem tanto interesse, o que eu, você, der, ele vai absorver. Ele não
vai contestar (...) Se você disser pro aluno que a caneta é azul, ele vai dizer que a
caneta é azul, mesmo que ela seja roxa, porque você está dizendo como
professor. Não é que ele vá contestar, é porque ele não tem embasamento pra
dizer: Não, essa cor... se você mudar de posição... a questão de foco de luz... lilás
(...) Na minha observação, eu acho que ele passa a ter este critério quando está
um pouco mais avançado na faculdade, no curso em si, porque ele passa a
ter o conhecimento de discussão (...) Ele não tem ainda o ouvir, raciocinar a
coisa e montar a estrutura (...) Então o que vier pra ele, ele está recebendo (...)
Quando ele está no segundo semestre, no terceiro semestre, já tem uma outra
visão. Por isso que eu digo: talvez falte a prática, um pouco da ênfase em Física,
na parte de Audiologia, que quando chega pra mim, em Audiologia, ele já está com
outro perfil, muito mais direcionado. Ele está muito mais interessado (...) Querer
aprender, querer fazer, querer ver, porque eles questionam isso (...)”.
E04A:
“(...) A palavrinha Física assusta o aluno (...) O aluno fala: “nossa, eu vou ter
Física, ai meu Deus”, já entra naquele desespero (...) O aluno chega aqui às vezes
já com o pé atrás (...) Porque quando fala Ciências Biológicas a pessoa pensa que
ela não vai ter nada de Matemática, Física, exatas (...) Eu acredito que o
profissional consciente é aquele que está aberto a diversas áreas (...)”.
Embora o docente E01A não tenha referenciado dificuldades em lidar
com os egressos da disciplina, os demais docentes relataram diversos
empecilhos na adaptação desses alunos na disciplina em voga. Dentre as
dificuldades mais comuns, destacam-se a falta de maturidade, interesse e
autonomia, certamente atribuidas aos reflexos da transição escolar e
existencial da adolescência para a idade adulta, bem com às
heterogeneidades na evolução cognitivo-educacional dos diferentes
acdêmicos. Outro ponto relevante levantado por esses educadores, foi o hábito
reduzido da leitura e as suas consequências relacionadas a dificuldade crítico-
reflexiva nas diversas áreas do conhecimento, incluindo a Biofísica e disciplinas
correlatas. Esse conjunto de fatores, aliados à um sistema político-educacional
deficitário tende a contribuir para que o educando crie um estigma frente às
disciplinas com interface entre as ciências exatas, naturais e biológicas.
55
Destacaram-se também nos discursos discentes a defasagem nos
temas das ciências exatas e a efetividade na conjunção e contextualização
desses conhecimentos:
E01B:
“A gente é considerado área II, área de saúde (...) Em provas específicas, pega
Biologia, a Química e a Física. Eu vejo a Biofísica como uma relação direta entre
Biologia, Física e Matemática e geralmente a Biologia e Matemática estão bem
separadas. Só que a gente não traz isso nem no que a gente estuda pra passar
no vestibular (...) Matemática de cálculo, análise de gráficos (...) Quando eu
digo base de Matemática, entende, não significa ter cálculo I, cálculo II não, mas
dentro da própria Biofísica, às vezes uma recuperação disso. O professor ele nos
passou algumas coisas de fórmulas, de cálculos e tal, mas pra gente, até por ser
uma disciplina no início do curso, a gente sabe bem pouco, tipo: a gente vai usar
isso como? (...) mesmo que ele trouxesse exemplos de Audiologia e de Voz, pra
ele não saberia como saber”.
E05B:
“(...) Quando a gente sai de uma faculdade a gente não sai lembrando de tudo. A
gente sai lembrando de partes e principalmente aquelas que mais lhe marcaram
(...)”.
E08B:
“(...) Não gostava muito assim, mas quando eu comecei a ver a parte
fonoaudiológica da Física (...) A aplicabilidade da Acústica e da Psicoacústica
na Fonoaudiologia melhorou (...)”.
Marandino (1999) reiterou, em consonância com os achados da
pesquisa, que o aluno ao chegar ao ensino médio, traz na maioria das vezes
concepções errôneas sobre conceitos básicos científicos. Partindo então do
pressuposto que tais conceitos já deveriam ter sido aprendidos, não caberiam a
muitos dos professores das disciplinas de Biologia, Química e Física resgatarem
tais conceitos, devido ao tempo escasso para trabalhar os novos conteúdos
extensos.
A carga horária disciplinar reduzida, resultando num tempo insuficiente
de interlocução entre o aluno e o professor, foi citada em alguns discursos:
E01A:
“(...) Nós sabemos que a Biofísica precisa de uma carga-horária de sessenta horas,
56
portanto ela é disciplina única e os conteúdos envolvendo Acústica e
Psicoacústica demandariam uma carga horária pelo menos duas vezes
maior, ou seja, duas disciplinas”.
E02A:
“(...) Esse estudante deveria ter sim um conhecimento de Acústica de uma maneira
mais detalhada. Na minha concepção a carga horária que ele tem pra aprender
os conteúdos de Acústica, pra chegar a ser um fonoaudiólogo é muito pequena
(...)”.
E03A:
“(...) A carga horária é boa, ela supre bem direitinho (...) Eu acho que o
contingente numa disciplina como essa é muito grande”.
E04A:
“(...) Acredito que setenta e duas horas é um bom começo. Se nós tivéssemos um
pouquinho mais pra frente mais trinta e seis horas... (...)”.
E04B:
O tempo é tão pouco (...) A gente só vê aqueles conceitos básicos, não
conseguimos fazer esse link com a Fonoaudiologia (...) Essa matéria deveria ser
dada em dois momentos: um inicial e um posterior, onde o aluno já tivesse
conhecimento com Audio e atividades práticas (...) Sairia mais maduro, com
conhecimento (...)”.
E06B:
“(...) Poderia ser até com uma carga horária maior, só que mais diluída. Talvez
de repente até em dois semestres. Psicoacústica I e II (...) O aproveitamento
acaba sendo muito reduzido”.
Não houve unanimidade nos discursos acerca da carga horária,
porém, destaca-se de modo prevalente a necessidade de aumento de tempo a
ser despendido para a execução de atividades aplicadas, principalmente no
interstício do curso, momento no qual o educando já admitiu uma certa
autonomia e maturidade para desfrutar de modo produtivo os conhecimentos
científico-disciplinares aplicados à Fonoaudiologia. De acordo com Pardo
(1997) a dinâmica do processo educacional remonta o conjunto de decisões e
ações que possibilitam o funcionamento de um curso. À administração
institucional caberia estabelecer regras específicas que norteiam o
funcionamento de determinado curso, dentre as quais a carga horária. Em
57
certas situações a administração apóia e incentiva o trabalho sério e consciente
do professor, enquanto em outras administrações, predomina a omissão,
interferindo negativamente no trabalho docente. Vale destacar a relevância
crítica que a figura do aluno representa. Essas percepções discentes
subsidiarão indicadores para avaliar pontos positivos e negativos no processo
de formação acadêmica.
Os tipos de avaliações disciplinares aplicados na disciplina foram
descritos por alguns docentes entrevistados, conforme trechos a seguir:
E01A:
Avaliações dissertativas. Em alguns poucos momentos avaliações práticas,
apresentação de artigos e seminários (...) Processualmente, há intervalos
regulares através de avaliações tipo teste-prova, estudos dirigidos (...) Às
vezes a gente pede que alunos se voluntariem para resolver algumas
questões de quadro e pontos extras são atribuídos a essas resoluções”.
E02A:
“(...) Provas, trabalhos feitos em grupo e os trabalhos de laboratório (...) Ao final
do curso eles fazem uma apresentação, tipo seminário, em equipe sobre
conteúdos que são sorteados (...) Eles mostram a aplicação (...) Os professores
ditam os temas e eles exploram (...) Eu faço trabalho porque, como eu te
coloquei no começo, a aula é muito... a sala é muito heterogênea. Então, no
momento em que eu coloco uma lista de exercícios pra ser resolvida em grupo,
eu estou fazendo com que aquele aluno que sabem mais, venham a interagir
com aqueles que sabem menos (...) Eu digo a eles que vale ponto porque eles
não fazem nada sem ser valendo ponto (...) É uma forma de pressionar para
que levem a coisa a sério (...)”.
E03A:
“(...) Faço uma prova pra testar o conhecimento, pra ele me dizer, relatar...
dissertativa (...) Múltiplas escolhas, eu tenho pegadinha, também, de
atividades que foi assuntos temas na sala que eu conversei (...) Pequenas
perguntas orais (...) É feita vista de prova”.
E04A:
“(...) Quando se fala de avaliação é uma coisa muito complicada (...) O que é avaliar?
É muito difícil (...) Existem as avaliações, digamos, tradicionais (...) Provas
tradicionais, existe trabalho, existe seminário (...) Discussões em sala de aula
sobre aquilo que ele pesquisou. Então a avaliação ela é contínua, não é só um
dia a avaliação (...) O aluno que faz esse seminário primeiro teve que fazer um
levantamento bibliográfico (...) Aprendendo mesmo como fazer uma pesquisa
(...) Ele tem que aprender a falar em público, aprender a fazer um recurso
visual, defender aquilo e explicar, expor (...) Em termos pedagógicos ele vai
desenvolver mais autonomia”.
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A partir dos relatos docentes acerca dos instrumentos de avaliação
utilizados nas suas disciplinas, destacou-se a avaliação tradicional
implementada pontualmente através de provas, trabalhos e correção de
exercícios. Foram preconizadas aos alunos a elaboração e apresentação de
seminários. Nesta última modalidade processual, em nenhum momento houve
referência por qualquer um dos entrevistados à utilização de instrumentos
formais de registros avaliativos durante todas as fases de construção da
atividade. Vale ressaltar que apenas o entrevistado E03A fez alusão à
discussão das avaliações após as correções. O processo avaliativo por
excelência pode ser dividido em três segmentos: pré-avaliação, onde são
sondadas as deficiências do aluno, a trans-avaliação, onde se aplica o
instrumento adequado aos objetivos e conteúdo disciplinares, e a pós-
avaliação, onde o aluno terá oportunidade de retificar, aprender e transformar
conceitos previamente adquiridos.
Nas concepções discentes acerca dos tipos de avaliações disciplinares
aplicados na disciplina, tiveram destaques os seguintes trechos:
E02B:
“(...) Prova formal (...) Foram questões muito subjetivas e outras questões
fechadas, e o trabalho (...) A gente ficou só na parte do projeto, como se fosse um
projeto de pesquisa (...) E cada um escolheu o tema que queria (...) Tinha que ser
relacionado com a Biofísica e a Fonoaudiologia”.
E03B:
“Lembro que eu fiz duas avaliações teóricas, inclusive objetivas, avaliações
pontuais (...) Depois de um bloco de assuntos, a gente fazia uma prova objetiva,
inclusive coisa que eu não suporto até hoje (...) Eu acho que prova objetiva
não consegue avaliar. Impede o estudante de buscar, de raciocinar, de
construir a sua própria resposta, a sua própria linha de raciocínio (...) Muitas
vezes pegadinha, que só serve pra confundir. Nunca gostei de fazer prova de
marcar (...) Eu lembro que a primeira avaliação teve relação com o que foi
abordado, mas talvez por se basear em conceitos muito fundamentais, muitos
cálculos e por ser uma prova fechada, foi considerada pela turma uma prova
difícil. Isso é uma coisa que eu me lembro bem. Que grande parte da turma teve
59
um rendimento ruim (...) Foi dado assim num grau de simplificação talvez
muito maior do que o que foi pedido na avaliação”.
E04B:
“(...) Duas provas e uma apresentação de seminário cujo tema era escolhido
pelo aluno (...) Tentar fazer relação desse tema com Biofísica (...) A maioria
das questões era fechada (...) Todo mundo teve um bom rendimento, ficou todo
mundo na média”.
E05B:
“(...) Foram duas provas (...) Nós tivemos um seminário dentro da matéria que
foi a terceira nota onde nós tínhamos que falar sobre a calibração dos
equipamentos, qual a importância dela dentro do curso, da prática, da matéria (...)
o professor pontuou também nas aulas práticas. Quem foi pras práticas de
laboratório tinha esse um ponto... presença e participação (...) Ele dava um
questionário onde teria participação dos alunos (...) Tinham questões
dissertativas e tinham questões objetivas (...) Eu gosto mais dissertativa”.
E06B:
“(...) Foi feita uma prova com a primeira parte do conteúdo (...) Ela foi mista. Foi
subjetiva e teve alguma objetiva (...) Depois teve uma segunda prova que foi
com a segunda parte do conteúdo, aí foi toda subjetiva (...) E por último teve um
seminário que foi uma pesquisa sobre os equipamentos que podem ser calibrados
(...) A prova de Física eu me lembro que uma semana antes ele deu um
questionário pra que a gente fizesse. Eu me lembro que foram minhas
maiores notas no primeiro semestre. E talvez seja o que eu menos lembre (...)
Psicoacústica eu me lembro que eu tirei dez, dez e nove e meio no seminário (...)
Me lembro pouquíssima coisa (...)”.
E07B:
“(...) Eu acho que o professor passou a matéria muito bem, ele trouxe muita prática
(...) Eu tive duas avaliações subjetivas, dissertativas, um trabalho de
complementação de pontos (...) A participação em aula prática era pontuada
por freqüência (...) Ele dava uma folha com algumas perguntas pra equipe (...) Ele
cobrava exatamente o que ele ensinava (...) É a sua obrigação de aluno ir a
livros, pesquisar, estudar (...)”.
E08B:
“(...) Fez uma avaliação escrita, dissertativa (...) Alguns trabalhos que a gente
fazia na aula prática que era valendo nota (...) A nossa turma é uma turma muito
boa. Os professores sempre falaram isso pra gente (...) Não ficou nenhum déficit
com relação à avaliação (...) Acesso, por exemplo, a provas que a gente tinha
feito que o professor fez idêntica, a mesma coisa, as mesmas perguntas. Teve
alguns problemas quanto a isso, eu acho (...)”.
De um modo geral, vários fatos eclodiram a partir da lembrança dos
discentes entrevistados acerca das modalidades de avaliação. Em termos
positivos, destacaram-se as implementações de seminários disciplinares
relacionados à área de atuação fonoaudiológica, a aplicação processual de
60
avaliações disciplinares atreladas à participação e presença nas atividades
laboratoriais e a concepção sobre a necessidade premente dos alunos
assumirem o compromisso no gerenciamento dos seus estudos para obterem o
êxito em avaliações. Em termos negativos, um dos discentes explicitou repúdio
às provas objetivas, em função das mesmas dificultarem o raciocínio para a
obtenção da solução. A discrepância entre os temas abordados e os conteúdos
avaliados foi outra queixa discente. Um dos entrevistados relatou que, apesar
do bom conceito obtido na disciplina, não lembrou de forma produtiva os
conteúdos disciplinares abordados. Outro destaque foi a citação sobre a
reaplicação de avaliações idênticas no decorrer do semestre, ocasionando
problemas na condução disciplinar.
O aluno quando estuda somente para as provas, ou procura tirar
conceito pela memorização, normalmente logo após a prova esquece o que não
interessa mais, por não está relacionado com a sua vida. Por isso os resultados
obtidos numa etapa nem sempre tem relação com o desempenho nas etapas
seguintes.
Uma vez questionados sobre os possíveis fatores fictícios que
poderiam levar a um provável insucesso nos resultados das avaliações
disciplinares, alguns dos entrevistados emitiram os seguintes pontos de vista,
acrescendo algumas considerações das suas experiências em classe:
E02A:
“(...) A resposta imediata é essa: é o professor que não é bom, é o professor que
é complicado, (...) Tratando-se de comportamento humano, não existe fórmula
pronta (...) Turmas em que eu tive oitenta, noventa por cento de reprovação, eu
dei ao aluno, na minha concepção, todas as possibilidades possíveis dele absorver
o conteúdo, tipo lista de exercício pra fazer em casa, trabalho em grupo (...) Foram
programadas três provas, mas teve uma deficiência muito grande em uma delas,
eu faço uma substitutiva (...) Ao aluno que perdeu a prova, eu faço novamente
(...) O aluno que perde comigo é porque, ou ele não tem conhecimento pra
acompanhar o nível do curso, ou ele, por alguma razão, não se esforça o
suficiente, não se aplica, porque chances eu dou intermitentemente (...) Eles
são extremamente dispersos (...) Que coisa interessante: Quando ele perde a
61
disciplina e vai pra dependência, via de regra, dependência são turmas curtas
(...) Essa sala de aula fica no máximo com dez, quinze, vinte alunos. Eles
começam a entender o assunto e diz “poxa, mas é tão fácil”. Então eu digo pra
ele, o mais difícil não é o assunto, o difícil é você se concentrar e prestar
atenção (...) Regime do medo, usar a prova como instrumento de punição e
coisas dessa natureza, não é o meu perfil (...) Inclusive eu digo a eles que a
prova é uma conseqüência (...)”.
E03A:
Eu ficaria bem triste. Das duas, uma: ou eu estava sendo não competente
suficiente para cumprir o objetivo ou teria uma turma que não tinha interesse
nenhum, que de certa maneira, eu teria sido culpada do mesmo jeito, porque eu
não dei interesse pra eles (...) Compreensão do conteúdo: eu falei pra eles que o
músculo da respiração era o diafragma. Mostrei o filminho, “bababá”. Quando eu
cheguei na prova e fui perguntar qual é o músculo da respiração, vieram me
dizer: músculo cardíaco (...) Já reprovei 7 a 8% porque realmente eu vi que não
tinham condição nenhuma (...) Não atingiu mesmo quase nível nenhum por não
querer, ou por não achar que era importante (...) Iria rever, de certa maneira, os
meus equipamentos, a minha base, o que estava falhando”.
E04A:
“(...) Eu acho que se isso acontecesse hipoteticamente, é hora de se revisar (...) Os
professores se reunirem pra ver se nós estamos falhando. Porque a gente
sabe que o professor ele falha, ele tem dificuldade. Professor ele não sabe tudo.
Ele tem que aprender, e reaprender, estar em constante formação, aprender a
expor aquele conteúdo (...) Todo final de semestre a gente faz uma avaliação
discente (...) Nós perguntamos pro aluno o que foi bom, o que foi ruim, o conteúdo
tava adequado? O que você achou da metodologia do professor? Quais são suas
sugestões? O que poderia ter sido melhor? (...)”.
E01B:
“(...) Se tiver adequação do que é dado nesse tempo, por mais reduzido que ele
possa ser ao que é cobrado, não vai haver uma reprovação em massa (...)”.
E02B:
“(...) Normalmente eu acredito que quando a turma toda é reprovada, existe um
problema da relação com aquela turma e aquele professor (...) Dialógico (...)
Forma de avaliação (...) Cobrando os assuntos de forma adequada o que ele
deu na sala de aula, está cobrando nas provas? (...) Dificuldade de encontrar
material para estudar (...)”.
E03B:
“Acho que primeiramente assim uma ineficiência total da disciplina (...) A relação
professor aluno, se o professor conseguiu de fato passar essa disciplina como ele
deveria (...) Os próprios estudantes se sentirem motivados a cursar a disciplina,
a estudar, a buscar, a fazer a relação da disciplina com o que eles iriam
desenvolver posteriormente (...) Não centrada nos alunos que não buscaram o
suficiente, mas eu digo que por conta da própria motivação que não existiu e da
forma como os conceitos foram passados (...) Reformulação total na disciplina,
da ementa, no local onde ela está dentro da grade, inclusive a substituição do
professor (...)”.
E04B:
“(...) Eu tentaria conversar com a turma e com o professor pra ver o que foi que
aconteceu (...) Tentaria ver, tentaria encontrar, sugerir que ele encontrasse junto
62
com a gente onde foi o erro”.
E05B:
“(...) Às vezes a didática que ele usou não foi uma didática boa e fez com que
isso acontecesse (...) Às vezes o professor tem o conhecimento, mas eu acho
que a didática é que vai atrapalhar (...) Dos alunos... dificuldade com a
matéria, digamos que ao conhecimento diante daquilo que foi dado (...)
Desinteresse dos alunos (...)”.
E06B:
“Eu acho que pode ter havido uma grande falha na metodologia utilizada pelo
professor (...) Ás vezes você percebe que tem assim excelentes profissionais
naquilo que ele faz, são assim profissionais brilhantes (...) Mas que quando
chegam à sala de aula, a metodologia que eles usam não consegue chegar à
grande maioria, exatamente por eles não terem tido talvez aquelas disciplinas
de licenciatura que a gente vê: didática, metodologia (...) Você às vezes vê o
mau planejamento da aula, como se todo mundo que tivesse ali já soubesse aquilo
(...) Podia ser uma turma totalmente despreparada (...) O professor deveria
rever a maneira como ele estava dando esse conteúdo (...) Inicialmente se
setenta por cento foram reprovados, eu acho que iam ficar setenta por cento
reprovados (...) Eu acho que nem a coordenadora poderia passar por cima do
professor (...)”.
E07B:
“(...) Eu iria pensar que seria um problema do professor, que ele não tem tanta
dinâmica em sala de aula (...) Toda aula ele vinha, colocava slide e pronto,
acabou (...) O interesse da turma (...) Para coordenação? Eu sugiro que eles
estejam observando mais o professor em sala de aula. Não só o currículo do
professor, mas a postura dele em sala de aula. Acho que deveria estar dando
uma olhada no tipo de aula que é passada, se ele tenta dinamizar essa aula,
se ele tenta envolver os alunos (...)”.
E08B:
“(...) O problema não é só dos alunos, você tem que ser reavaliado (...) Eu acho
que tem que haver um questionamento do professor (...) O aluno tem que se
questionar se ele está realmente comprometido com a disciplina (...) O
professor também deve fazer uma auto-avaliação (...) Os dois lados (...)”.
Os sistemas de avaliação pedagógica de alunos e de professores vêm
assumindo cada vez mais discursos verticais, de cima para baixo, mas insistindo
em se apresentar como democráticos. A questão que se coloca a nós enquanto
professores e alunos, críticos e amantes da liberdade, não é, naturalmente, ficar
contra a avaliação de resto necessária, mas resistir aos métodos silenciadores
com que ela vem sendo às vezes realizada.
A partir dos relatos discentes, observa-se uma forte tendência em
afirmar que os prováveis insucessos nas avaliações, devam-se à falha docente
63
e no máximo, relacionada de forma passiva, ao desinteresse do aluno. Apenas
um entrevistado discente sinalizou sobre a necessidade reflexiva do aluno em
assumir os compromissos educacionais. Dentre os diversos fatores que
poderiam influenciar no processo avaliativo disciplinar, foram citados: a relação
professor-aluno; a falta de interesse, motivação, esforço e concentração por
parte do aluno; insuficiência de auto-reflexão docente sobre o fazer
pedagógico; contextualização com os procedimentos a serem aplicados no
ciclo profissionalizante; inadequação entre quantidade de conteúdos
ministrados e formas de avaliação; relação implícita entre rendimento avaliativo
e contingente de alunos em sala; dificuldade de acesso à literatura
preconizada; e a predominância das avaliações dentro do domínio cognitivo.
Freire (1999) critica a avaliação da forma como é realizada porque o discurso
diz uma coisa e o sistema oferece outra. Moreira (2006) considera que, nos
diversos campos disciplinares, seja pela simples memorização de fórmulas, leis
e conceitos aprendidos de forma célere, seja em véspera de prova (e que
somente servirá para a prova), ou mesmo pela argumentação do aluno que
afirma ter estudado tudo, mas que na hora da prova não consegue usar e
transferir esse conhecimento, podem ser tomados como exemplos típicos de
aprendizagens mecânicas.
Algumas sugestões, no mínimo curiosas, foram apresentadas pelos
discentes quando do provável insucesso fictício em avaliações grupais, dentre
as quais substituir o professor e não submeter-se como professor, às
inferências do coordenador do curso, mantendo a decisão da reprovação.
Outras práticas exercidas e sugestões gerais foram explicitadas pelos
entrevistados em relação à avaliações, tais como o repúdio docente à égide do
medo, a oferta docente à nova oportunidade da realização de avaliação em
64
casos de insucesso, necessidade do exercício de conciliação entre aluno e
professor, necessidade de discussão interdisciplinar sobre falhas e protocolos
de avaliação, formação continuada em domínio de técnicas de avaliação e o
registro formal de avaliação discente sobre a disciplina. Para D’Ambrosio
(2000), o modo como as avaliações vêm sendo conduzidas, utilizando exames
e testes, tanto de indivíduos como de sistemas, pouca resposta tem dado à
deplorável situação dos nossos sistemas escolares.
É imperativo avaliar a maioria das nossas atividades informais,
inclusive no âmbito formal educacional. Não há dúvidas sobre a necessidade
de sua aplicação, e sua existência se justifica pela necessidade em se
conhecer melhor os problemas no âmbito pedagógico, encontrando assim os
instrumentos e condutas para o alcance de soluções. Entretanto, para Santo
(2001), quando se considera o ser humano em sua integralidade, percebe-se
que, ao avaliar apenas o certo e o errado do conteúdo, despreza-se sua
personalidade integral. Perrenoud (1999) considerou que a avaliação tem a
finalidade de proporcionar informações sobre o desenvolvimento do processo
de aprendizagem, para que o professor possa ajustá-lo às características das
pessoas a quem se dirige.
De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (Brasil, 1998), a
avaliação subsidia elementos para que o docente reflita continuamente sobre a
sua prática, sobre a criação de novos instrumentos de trabalho e a retomada
de aspectos que devem ser revistos, ajustados ou reconhecidos como
adequados para o processo de aprendizagem individual ou de todo grupo.
Conforme McClintock (1992) a forma como avaliação vem sendo
implementada nos dias atuais, inibe o bom diagnóstico educacional em face de
testes relativamente previsíveis, os estudantes evitam correr riscos e trabalham
65
sistematicamente para encobrir as suas deficiências. Perrenoud (1999) propôs
que se passe a executar novas formas de avaliação indo em direção a uma
avaliação mais formativa, objetivando assim transformar consideravelmente as
regras do jogo dentro da sala de aula. Este autor reiterou ainda que a
avaliação formativa sistematiza esse funcionamento, levando o professor a
observar mais metodicamente os alunos, a compreender melhor seus
funcionamentos, de modo a ajustar de maneira mais sistemática e
individualizada suas intervenções pedagógicas e as situações didáticas que
propõe, tudo isso na expectativa de otimizar as aprendizagens.
O processo avaliativo deve ser instrumento para reconhecer os
caminhos já percorridos e identificar os caminhos a serem percorridos.
Conforme Luckesi (2001), para não ser autoritária e conservadora, a avaliação
terá de ser diagnóstica, ou seja, deverá ser o instrumento dialético do avanço,
sendo instrumento da identificação de novos rumos. Para Freire (1999), o ideal
é que cedo ou tarde, se invente numa forma pelo quais os educandos possam
participar da avaliação.
Conforme D’Ambrosio (2000), nenhuma pesquisa é convincente para
dizer o quanto as avaliações, da maneira como são atualmente conduzidas, são
indicadores de rendimento escolar. O autor ainda relatou que importantes
pesquisas têm mostrado que os resultados obtidos numa série têm pouca
relação com o desempenho em séries posteriores, contrariando expectativas.
Em um dos discursos ficou implícita a expectativa docente quanto à
necessidade de devolutivas processuais perceptivas pelos alunos no que se
refere ao trabalho pedagógico desempenhado:
66
E03A:
“(...) Vai depender muito também do que eu encontro de resposta do aluno (...)
Às vezes eu tenho programado para dar uma aula, por exemplo, trinta slides. Eu
não consigo dar cinco, porque às vezes eu me detenho tanto... houve troca,
permutas (...) Como o outro lado está recebendo, porque pra mim é importante
(...)”.
Fica explícita, no binômio professor-aluno, a necessidade interativa
bilateral, ajustando assim as condutas pedagógicas planejadas anteriormente.
Também há uma preocupação e valorização docente quanto às dificuldades de
aprendizagem do aluno, expressando assim as angústias profissionais no que
concerne aos objetivos educacionais preconizados. Tal preocupação docente
está intrinsecamente associada às concepções de Moraes (1997) que
considera a prática reflexiva concebendo o conhecimento como processo
seqüencial, o que difere do modelo de racionalidade técnica que está mais
atento ao resultado obtido do que a forma de estruturar o problema por
intermédio de um raciocínio desenvolvido.
O contingente de alunos presentes em atividades disciplinares
expositivas e os desdobramentos na sua execução foram considerados
entraves associados à execução dos objetivos pedagógicos, de acordo com
alguns entrevistados:
E01A:
“Influencia bastante. No nosso caso menos porque a gente tem o contingente
hoje de trinta alunos”.
E02A:
(...) A turma prática só tem quinze alunos (...)”.
E03A:
“(...) Média de cinqüenta alunos por turma teórica. Nem todos participam (...) É
difícil você controlar vinte e cinco pessoas numa pratica, a turma é muito
grande. Eu tive dificuldade nisso, de concentrar os alunos pra ver a realidade
(...) Eu pedi silêncio, eu pedi concentre (...) Eles não estão nem aí (...) Eu mostrei
como se faz o exame de audiometria. Trouxe o audiômetro, mostrei (...) Um grupo
se interessou, outro ficou sentado no canto (...) Mais da organização e
67
distribuição dos grupos do que o defeito prático, da carência prática. É uma
espécie de contingente que deveria ser de no máximo de oito a dez, você tem
vinte e cinco (...) Isso foi sinalizado, mas em função da própria demanda de
aluno não podia ser modificado. E das limitações dos professores?
Disponibilidade de horário, estrutura física (...) Tanto é que a clínica-escola só
permite no máximo dez alunos, você não pode ter um número maior que isso (...)
Talvez se eu tivesse um grupo menor, como acontece em outra faculdade, que
eu tenho um grupo muito menor de trabalho, é muito mais fácil (...)”.
E04A:
“(...) Teórica depende da turma. Tem turma de quarenta, trinta e seis (...) Em
torno de quarenta (...) Nas práticas são bem menos (...) Às vezes dez, às vezes
menos. Dez. No máximo quinze. Mas eu não lembro de nunca ter tido quinze (...)
Menos. Sempre menos de quinze alunos (...)”.
E04B:
“(...) Na sala de vinte e quatro a vinte e sete alunos (...) Geralmente as atividades
no laboratório, pra ver um CD, para ver as ondas... aquela questão mais
dinâmica. Ficávamos dois por computador”.
E05B:
“Se eu não me engano eram quarenta e sete (...) Na aula prática era dividido (...)
Às vezes a turma é grande. Então trinta, quarenta pessoas dentro de um
mesmo laboratório com o tempo curto de aula eu acho que isso atrapalha um
pouco (...) Nem todo mundo às vezes presta atenção na aula, então fica aquela
conversa, tira um pouco de atenção”.
E06B:
“(...) Eu acho que não tínhamos nem quarenta alunos”.
Quanto ao contingente de alunos por atividade prática, foram colhidas
as seguintes considerações por alguns dos docentes e discentes entrevistados
no que se referem ao número real e o ideal para as atividades:
E01A:
Quinze, que é um número que eu considero alto, mas é o padrão hoje”.
E02A:
“(...) A prática só tem quinze alunos (...)”.
E03A:
No máximo dez (...) Se a turma pudesse ter menos, melhor (...)”.
E04A:
“(...) Eu acho que quarenta alunos numa sala, tudo bem, trinta e cinco alunos. E
depois nas práticas dez, oito alunos. Porque esse é o número ideal, oito alunos
68
por prática (...)”.
E03B:
“(...) Acho que para as atividades teóricas o número era suficiente (...) Era bom
(...) tinham mais pessoas com quem a gente podia discutir. Mas para as aulas
práticas, se elas tivessem ocorrido de fato... o número era muito grande (...)”.
E05B:
“(...) Hoje tem em média trinta alunos, mas eram mais (...) Só que aí muitos
desistiram (...) Eu acho que quanto menos alunos, o professor tem mais
tempo, tem como estar ali monitorando aluno por aluno, porque quanto maior
a quantidade, é mais dificultoso pra ele”.
De acordo com alguns entrevistados, o contingente demasiado de
alunos em atividades expositivas interfere na percepção e concentração dos
alunos, fazendo-se inferência até no risco efetivo de evasão escolar. Destaca-
se nos relatos de alguns entrevistados, a existência de dicotomização de
grupos de alunos durante as aulas, acarretando uma heterogeneidade de
comportamentos discentes, dificultando assim o alcance dos objetivos
pedagógicos nos campos cognitivo, valorativo e atitudinal.
Houve ênfase também em alguns discursos sobre contingente elevado
de alunos em atividades práticas, bem como a produção de efeitos negativos
na qualidade da atividade pedagógica, bem como na redução do tempo de aula
aparente ministrada pelo professor. De acordo com Demo (2006), o número de
alunos em atividade pedagógica varia de acordo com o nível de ensino. Pardo
(1997) afirmou que o atendimento a pequenos grupos, cria a oportunidade dos
professores conhecerem o aluno mais de perto, adequando as orientações às
necessidades de aprendizagem neles percebidas.
Sobre o acesso, tipo de literatura preconizada para o alunado,
disponibilidade e o uso desses tipos de materiais bibliográficos, bem como de
recursos audiovisuais, os docentes e discentes entrevistados relataram as
seguintes concepções:
69
E01A:
O acesso é difícil e restrito em relação aos livros da biblioteca (...) Filas, às
vezes, muito grandes precisam ser enfrentadas para que se tenha acesso aos
livros e uma vez na biblioteca com o contato com funcionários, os livros não
estão disponíveis. A quantidade de livros é restrita (...) Acesso na internet
alguns artigos, vez por outra, mas com pouca freqüência por conta das
limitações de recursos. Então copiar, fotocopiar esse material é tarefa difícil,
é algo que precisa ser muitas vezes feito através de recurso do próprio docente,
que já tem recursos limitados, então complica um pouquinho (...)”.
“(...) Tem haver com a limitação que a gente tem de recursos, mas dentro da
Acústica a gente consegue improvisar uma série de práticas (...) São esses
equipamentos que a gente não dispõe (...) O aluno precisa enxergar a
aplicabilidade da disciplina, dos conteúdos”.
E02A:
“(...) Eu sou um amante de livros (...) Não existe no mercado livros
específicos pra Acústica e Psicoacústica. E os que existem, guardada aí as
suas ressalvas na minha crítica, são muito mal confeccionados. A área, a parte
de Física Acústica, a parte de som e essas coisas todas, mesmo nos livros de
Biofísica, com professores altamente capacitados que eu vejo lá a biografia dos
professores, são doutores, pós-doutores e essa coisa toda. Mas, eu acho que são
pessoas da área de saúde que também não tiveram uma boa formação na
Física pela questão do que eu já coloquei no começo (...) Se arvoram a escrever
esse tipo de conteúdo. Então os conteúdos ficam desconexos (...) Eu acho que
deveria ser uma estrutura conceitual melhor pra que você pudesse encadear os
conceitos de uma forma lógica, pra que o aluno venha a entender porque que eu
estou fazendo isso. Onde é que eu como fonoaudiólogo, vou usar um conceito, por
exemplo, de impedância acústica? É um conceito que se você pegar os textos que
existem na prática, ele cai lá de pára-quedas (...)”.
“(...) Falta de recurso, só tem um equipamento daquele (...) Se ele for um aluno
especulativo, aquela aula não serve pra ele (...) Recursos audiovisuais, data
show, essas coisas eu não gosto (...) Na minha concepção, acredito que esses
recursos são bons para turmas pequenas onde você pode manter o controle
da sala (...) Eu uso muito a interação “tète à tète” (...)”.
E03A:
“(...) A biblioteca tem livros aqui, apesar de que esse assunto não é tão amplo,
mas os três ou quatro que a gente tem dão conta (...) Todo material de aula eu
dou pra eles, mas eu dou no final, porque, por experiência, logo no primeiro
semestre, eu dei antecipado, mas eu vi que eles se limitaram só a responder
coisas dos slides. Quer dizer, não abriram pra estudar (...) Eu tenho livros, eu
tenho internet, que me facilita alguma coisa; tenho recursos audiovisuais, que me
favorecem (...) É o que me faz mostrar pra eles (...) Até vídeos mesmo. Aquele
conceito que eu gostaria de ter dado na pratica, e eu não tenho como (...) Eu
gostaria que ele fizesse, ele próprio preparasse o material, ele próprio visse o efeito
(...)”.
“Eu acho que tem que ter equipamentos. Os laboratórios têm que ser mais bem
preparados, a gente trabalha muito de improviso, dando um jeitinho aqui, dando
um jeitinho ali, porque os equipamentos são caros (...) Tem muita carência desses
materiais (...) Nós temos um laboratório que dá parâmetros vocais (...) Então
você ouve uma voz, você grava uma voz de um paciente, de uma pessoa e vai
levar o aluno na frente do computador pra mostrar e explicar esses parâmetros
(...)”.
70
E04A:
“(...) Tem um ótimo acervo, uma boa biblioteca (...) A literatura nessa área, os
livros, tem muito pouco ainda (...) Poucos estão se dedicando a isso, mas agora
está aparecendo mais (...) Os fonoaudiólogos estão saindo daquele reduto de só
fazer distúrbios da comunicação (...) Existem alguns livros, os mais tradicionais,
mas ainda é muito pouco (...) A gente usa esses livros, mas a gente manda os
alunos pesquisarem outros, específicos em Fonoaudiologia (...) A gente não tem
tanto tempo pra trabalhar com os artigos da forma que seria melhor (...)”.
E01B:
“Não, até por que tem um livro que é o de Iêda Russo (...) Um título, só tem um
título (...) Com certeza, tem vários exemplares (...)”.
E03B:
A gente não consegue ver a ligação prática. E quando vai estudar em um livro
de Audiologia, esse livro remete a conceitos de Psicoacústica que a gente
passa direto (...) Acho que a falta também de materiais de estudo na
Fonoaudiologia que remontem a Acústica e Psicoacústica (...) Eu lembro que
a gente procurava os livros de Biofísica básica, o Ibrahim, que era o mais
indicado na época (...) As questões de Acústica e Psicoacústica não eram bem
destrinchadas, no máximo duas, três páginas (...) A gente tinha uma restrição
grande no referencial que acabava ficando centrado na Acústica e Psicoacústica
para Fonoaudiologia de Iêda Russo (...) A gente acabou estudando durante todo o
semestre apenas por esse livro”.
Não sei se existem equipamentos que poderiam ser utilizados dentro da IES
pra propiciar isso, se existem equipamentos que pudessem dar essa percepção
de Acústica e Psicoacústica (...)”.
E04B:
“(...) Eu até tento buscar isso numa literatura, no livro, mas vejo muito pouco
(...)”.
E05B:
“(...) Acredito que ainda falte muito pra gente (...) A gente já esteve visitando outras
faculdades, onde necessitamos de material (...) Eu acho nossa IES boa,
qualificada e que tinha condições de nos dar um acervo melhor (...) Eu acho
que em relação à Física foi pouquíssimo (...) Houve realmente dificuldade em
relação ao acervo bibliográfico”.
E06B:
“(...) No início eu me lembro que eram poucos que tinham, que falavam sobre o
assunto e era aquele corre-corre (...) O acervo tem aumentado sempre (...)”.
E08B:
“(...) Acho que falta referência bibliográfica pra gente (...) Específico pra essa
disciplina. A gente só tinha conhecimento de um livro aqui (...) Em geral, não
era só pra fono (...)”.
“(...) Muita coisa no laboratório que precisava ter pra gente ter aula e não tinha
ainda (...) Ele falava inclusive que a gente tinha que ver mais na prática, mas
que não via porque não tinha ainda o material necessário (...) Hoje já é maior”.
71
Em muitos relatos, constatou-se a deficiência no acervo de
equipamentos e instrumentais a serem utilizados nas atividades acadêmicas,
induzindo inevitavelmente o professor a improvisar atividades que poderiam
interferir na qualidade da aprendizagem discente. A recusa ao uso de
equipamento multimídia por um dos docentes entrevistados reitera essa
necessidade de improvisação estratégica no modelo de aula discursiva, face ao
contingente excessivo de alunos em sala. Tal condição compensatória
decorreria da divisão de atenção de grande parte dos alunos entre os efeitos
audiovisuais e a atuação do docente.
Na maioria das concepções dos alunos e professores entrevistados, o
número de títulos associados às temáticas disciplinares em voga, bem como a
qualidade dos mesmos, seriam entraves para a consolidação dos objetivos
educacionais da aludida disciplina. Conforme um dos docentes entrevistados,
essas dificuldades estariam associadas também ao processo de trabalho e à
qualidade do atendimento na biblioteca institucional. Um dos docentes também
questionou as abordagens dos autores nos títulos específicos da Acústica
aplicada, o que estenderia também ao arsenal bibliográfico o cumprimento dos
objetivos educacionais em contextualizar os conteúdos, em face dos usuários
não identificarem conexão entre os conceitos básicos e as suas aplicações no
campo profissional. Entretanto, Pimentel (1998) afirmou que todo livro didático
deve ser encarado com um importante instrumental de apoio ao professor e
aos alunos, não devendo ser utilizado como uma fonte de verdade absoluta,
pois as narrações dos conteúdos podem apresentar incorreções e imprecisões.
De acordo com os relatos de um docente e um discente, foram
pontuadas algumas observações acerca da falta de oferta de cursos extra-
72
muros relacionados à Acústica Aplicada, bem como queixas associadas à
insuficiência dos conteúdos abordados:
E03A:
“(...) Eu acho que deveriam ter profissionais mais qualificados, terem cursos talvez
menores (...) Tem uma certa dificuldade de informação, cursos paralelos que
vão trabalhar e melhorar essa própria aplicabilidade (...) Se a gente tivesse mais
cursos relacionados, a gente poderia trabalhar realmente melhor”.
E01B:
“Sim, principalmente porque eu acho que o que é dado na faculdade é muito
pouco, muito restringido (...) Não pela disciplina em si, mas por ser uma
disciplina só. Porque a gente chega assim aqui, meio cru, entra em Biofísica e
Psicoacústica e a gente tem que dar tudo, tipo a base e depois aplicado à
Fonoaudiologia num semestre só. Acho que isso não é suficiente”.
A limitação dos temas abordados no âmbito acadêmico, bem como a
falta de oportunidade na participação em cursos de atualização ou palestras
com abordagem de temas em Acústica e Psicoacústica revelaria, de certo
modo, a postura de isolamento na construção do conhecimento científico,
materializada na tentativa de compensação por assunção de uma postura
autodidata.
Foi comentada, por alguns dos discentes entrevistados, a eficácia do
exercício da docência por professores com ou sem formação em
Fonoaudiologia, de onde foram extraídos os seguintes trechos:
E01B:
“Com certeza desde que o fonoaudiólogo em sua formação tivesse uma
Biofísica boa.(...) Quando você vai pra prática, você inevitavelmente tem que
recorrer a teoria totalmente. Então mesmo que você tenha perdido algum tempo
atrás essa disciplina, você tem total condição de recuperar e se tornar capaz de
ensinar bem a disciplina que você perdeu. (...) E até aproveitando que eu
estava falando em ter um professor fonoaudiólogo, todos os grupos apresentaram
a relação entre Fonoaudiologia e Biofísica, na prática. Tinha, no meu caso, tinha
laringectomia, tinha pessoas com perda auditiva induzida por ruído, ototoxicidade,
bastantes casos. Só que quem tava avaliando a gente era o professor e uma
monitora dele, que eu não lembro sinceramente se era fono (...) eu fico assim
pensando, tipo: o que é que foi avaliado no trabalho? Apesar de todo mundo
ter tido uma boa nota e tal... Mas assim, não existia o conhecimento de quem
estava avaliando sobre a prática fonoaudiológica. Talvez, o aluno que estava
lá apresentando tinha mais conhecimento (...) Pela própria colocação do
professor e durante o curso, revendo a formação dele e qual o contato que ele
tinha com Fonoaudiologia (...) Se o professor quisesse ter um maior
73
conhecimento da área de Fonoaudiologia, se fosse até um fonoaudiólogo,
poderia ser melhor”.
E03B:
“(...) A gente tinha um professor, que eu não sei agora qual é a formação dele (...)
Dentro desse semestre o professor teve um processo, acho que de doença, que
ele se afastou. Depois uma outra professora que tinha sido há dois semestres
anteriores aluna do curso de Fonoaudiologia substituiu ele (...) Então a gente teve
uma certa perda nesse processo (...) A gente ficou um tempo sem aula (...)
Teve que ter o semestre assim meio corrido e eu acho que por conta assim
da própria experiência dela que ainda não era grande na docência, conseguia
trazer a realidade da Fonoaudiologia, mas não tinha metodologia suficiente pra
aplicar na disciplina (...)”.
E04B:
“(...) Também me recordo que, apesar do esforço de todos os alunos de tentar
relacionar a Biofísica com o assunto, por exemplo as emissões otoacústicas, pra
que serve, mas não consegui fazer essa relação desse exame, o teste da
orelhinha, com a Biofísica (...)”.
E05B:
“(...) O professor de Física dava um assunto e tinha aula prática e tinha teórica. E
depois a outra professora entrava com assunto de audição. Ele entrou mais
nesse assunto da onda. Ensinou a gente a mexer em alguns equipamentos,
mostrou como fazia a vibração das ondas. Então a matéria era praticamente
dividida.”
E06B:
Não deve ter ficado muita coisa mesmo (...) Eu acho que foi uma disciplina que
deixou muito a desejar na época (...) A professora, embora ela seja já
fonoaudióloga há muito tempo, no início ela deixou muito claro que essa
disciplina era completamente nova pra ela (...) Até mesmo porque ela é formada
há muito tempo e o curso dela foi completamente diferente da atualidade”.
E08B:
“(...) Primeiro você vê a Física e depois você a parte de Fono (...)”.
De acordo com Arruda e Antuña (2001), é possível elevar o nível de
desenvolvimento do raciocínio lógico na Física a partir de um modelo didático
baseado na descoberta do conhecimento, passando por uma organização do
conteúdo abordado.
Para Demo (2004), são características de uma boa aula: estar
comprometida com a aprendizagem em quem dá aula e com a aprendizagem
em quem escuta a aula; precisa ser elaborada e reconstruída; precisa ser
atraente ou pelo menos suportável; não pode abusar da atenção dos ouvintes;
74
precisa ser envolvente; e precisa ser curta. De acordo com o autor, dentre as
diversas finalidades de uma aula, podemos classificá-las em introdutória,
explicativa, conferência, sistemática, informativa, expositiva, ou mesmo visando
motivação.
No que concerne à estruturação curricular do ensino da Acústica e
Psicoacústica, verificamos alguns trechos relevantes nos discursos docentes e
discentes:
E02A:
“Veja. Aí agora eu já não posso dar muita opinião, muito palpite porque eu não
sou fonoaudiólogo. Eu não sei qual é a seqüência de formação de um
fonoaudiólogo (...) Se a disciplina pudesse ser incluída no segundo, terceiro
semestre (...)”.
E03A:
“Está cedo, está começando agora, porque agora que o curso está avançando. A
gente não tem um curso formado, então, à proporção que cada semestre é
introduzido, a gente tenta ajustar e ver a necessidade nas turmas posteriores,
onde você pode favorecer para melhorar o que ficou falho (...) Onde foi que eu
falhei na Física? Se eu não estou permitindo que meu aluno chegue em
Áudio, no estágio, com mais segurança ou com mais noção do assunto, do
tema, o que ele pode aproveitar? Entendeu? Porque eles fizeram algumas
modificações do próprio curso: colocou metodologia inicial, depois viram que não
deram certo, e mudou a metodologia; a maneira como era distribuída a
disciplina... Então, como é um curso novo ainda está se ajustando (...) Ela é a
base para parte de Audiologia e a Voz também (...) Essa disciplina é dada no
primeiro semestre. Quando aluno entra é aquela história: o aluno no primeiro
semestre, ele está com a mentalidade ainda como se fosse colegial, ele não
está preparado (...) Seria importante talvez dar no segundo semestre (...)”.
E04A:
“(...) Seria importante dar no primeiro ou no segundo semestre e depois
retomar esses conhecimentos nos últimos semestres (...) O professor de
Física poderia estar ali auxiliando (...) Não conheço algum lugar que tenha um
físico na clínica fonoaudiológica (...) Seria interessante (...) Nós vivemos dentro de
um sistema, nós temos um MEC, que coloca a quantidade de carga horária
que um fonoaudiólogo deve ter (...) Então cada curso opta por dar mais ou
menos pra aquela matéria conforme a necessidade (...) Eu não posso olhar só
essa matéria, mas a formação como um todo (...) Será que a gente conseguiria
colocar isso dentro de uma grade curricular de Fonoaudiologia? (...)”.
E01B:
“Se eu fosse mudar a grade dessa universidade? (...) Deixaria como está essa
disciplina, mas adicionaria mais uma. (...) Que fosse literalmente uma
Biofísica aplicada à Fonoaudiologia. O nome da disciplina aqui é essa. Mas
como a gente não tem nenhuma base (...)”.
75
E03B:
“Eu acho que um dos pontos que deixam a gente dessa forma meio que desligado
de como ele deve acontecer é o ensino está todo compartimentalizado. Então
a gente não consegue compreender (...) Ela era ruim porque a gente tinha uma
hora de aula (...) No outro dia a gente tinha mais uma hora de aula (...) As aulas
teóricas, elas eram repartidas em cinqüenta minutos. Quando o raciocínio
da turma tava começando a se desenvolver, a aula acabava. Eram sempre
aulas corridas”.
E04B:
“(...) No segundo semestre, o aluno ainda é muito imaturo pra entender a
importância daquilo. Por isso seria interessante que essa matéria fosse dada
num segundo momento (...) Acho que não deveria ser direcionada só pra
Áudio (...)”.
E05B:
“Foi a primeira turma, então acho devido a isso. Como sempre as primeiras
turmas elas sofrem um pouco acho que em relação a isso (...) Aula de
laboratório a gente teve muito pouca (...) Duas vezes na semana o professor
consegue tirar mais dúvida, tem mais aulas práticas enquanto na nossa
realidade não foi isso (...) Poderia ter dividido a turma em dois grupos e
levar o aluno a manusear diretamente o equipamento (...) Porque se falou da
cabine acústica, só que na realidade nós não conhecemos uma (...)”.
E06B:
“(...) Eu acho que tem que ter um programa elaborado (...)”.
E07B:
“(...) Eu acho que essa disciplina tem que ser dada no primeiro semestre (...)
Você toma logo aquele baque, você tem logo aquela base, e pronto, vamos
acordar, porque tem relação (...) Você vai vendo realmente essa importância
dessa disciplina (...) Não sei se seria necessário que tivesse tipo Física
Acústica e Psicoacústica II”.
E08B:
“(...) A faculdade estava com uma proposta diferenciada que era o ensino
através de blocos. Então a gente pegava disciplinas condensadas em quatro
meses, ou três meses, e depois metade das outras disciplinas em mais quatro
meses. Então ficava muito condensado, muito puxado. A gente tinha três
semanas seguidas de prova (...) Não foi à toa que a faculdade resolveu tirar o
sistema de bloco e voltar ao sistema normal, que é o convencional (...)”.
Conforme D’Ambrosio (1986), devemos ser levados a atacar
diretamente a estrutura de todo o ensino, mudando completamente a ênfase do
conteúdo e da quantidade de conhecimento que o acadêmico adquire para uma
ênfase na metodologia que desenvolva atitude, que desenvolva capacidade de
solucionar situações reais, que desenvolva capacidade de criar teorias
76
adequadas para as situações mais diversas, e na metodologia que permita o
reconhecimento de informações onde ela esteja. Acrescenta-se também a
elaboração de metodologia que permita identificar o tipo de informação
pertinente para determinada situação e condições para que sejam encontrados,
em qualquer nível, os conteúdos e métodos adequados.
A inovão curricular visando desenvolver a capacidade de resolver
problemas pelos alunos auxilia e subsidia a capacidade de resolver problemas,
sem mudar as suas concepções acerca da Física Acústica e Psicoacústica
tradicional. Porém não é suficiente, uma vez que essas concepções não
modificam da noite para o dia, e sim lentamente, ao longo de um período de
experiências.
De acordo com Ausubel, Novak e Hanesian (1980), uma vez que os
conceitos organizadores básicos de uma dada disciplina estão resolvidos, a
atenção pode ser dirigida aos problemas organizacionais programáticos
envolvidos na apresentação e no arranjo seqüencial das unidades componentes.
Foi citada, por alguns discentes entrevistados, uma maior tendência ao
direcionamento do curso para as áreas de Audição e Voz, registrando-se os
seguintes juízos:
E01B:
“Eu vejo a necessidade da gente ter mais uma disciplina que seja, porque a base
principalmente da Audiologia, do meu ponto de vista tem muito a ver com
Psicoacústica em Audio e Voz, mas eu vejo em Audio como mais focado (...)
Mas também isso o é bem muito da disciplina. É meio que a formação da
instituição”.
E03B:
Eu acho que ela é fundamental, justamente pra gente conseguir compreender
melhor as questões assim práticas relacionadas à área de Audiologia, a área
de Voz (...) Por a gente não ter um domínio grande dessa área, acaba ficando
difícil de compreender ou acaba passando despercebido (...) No período de estágio
a gente tem uma grande dificuldade nessa área, principalmente da Audiologia por
conta desses conceitos básicos que a gente não tem bem internalizado (...)”.
77
E05B:
“Acredito que por se tratar de conteúdo envolvendo a audição em si, que é uma
das áreas que a Fonoaudiologia atua, ela é de grande importância (...)”.
E06B:
“(...) Eu lembro que durante o curso, durante a disciplina que a gente tava
cursando, a gente não via realmente a importância dessa disciplina, até que a
gente começou a ver Audiologia... (...)”.
E08B:
Eu acho importante sim constar na grade curricular a Acústica e a
Psicoacústica, porque é onde a gente vê todo aquele processo de onda, como
a onda vai se propagando, principalmente pra quem se identifica mais com a parte
de Áudio, porque eu acho que é por ser mais enfocado (...) Mais focado pra
Audio do que pra Voz”.
As abordagens dos conteúdos em Acústica aplicada ficaram
explicitamente convergidas para os fenômenos biofísicos da audição e em
princípios de instrumentação em Audiologia, em detrimento aos conteúdos
relacionados à Biofísica da fonação. Tal condição poderia residir,
possivelmente, nas tendências atuais de inclusão de um maior contingente de
futuros profissionais fonoaudiólogos na área de Audiologia, mostrando uma
forte regulação das matrizes curriculares dos cursos de graduação pelo
mercado de trabalho, e em particular nos conteúdos disciplinares em Acústica
aplicada.
As concepções docentes e discentes acerca da relevância da
disciplina Acústica e Psicoacústica na grade curricular no curso de
Fonoaudiologia estiveram presentes em pelo menos dois dos discursos:
E02A:
“(...) A Física não é levada tão a sério, é sempre levada como uma disciplina difícil
e que basta a gente aprender o básico que eu vou me dar bem como
profissional na área de saúde (...) Fazendo um paralelo é a mesma coisa que um
engenheiro que não sabe Física (...) Um fonoaudiólogo ele vai aplicar um
conceito da Física que é a Acústica, o que é o som, como é que essa coisa se
produz e como se propaga (...)”.
78
E02B:
Eu acho que são conhecimentos básicos que você tem que ter (...) Quando
você chega ao estágio precisa elaborar exercícios eficazes (...) O que é que isso
está interferindo na voz do paciente, como surge essa onda estacionária, o que é
que ela interfere, isso é tudo de Física, Psicoacústica, Biofísica. Se você não
reconhece isso, não tem como você saber por que ela vai interferir na
audição, por que ela vai dar uma piora nos resultados nas tais freqüências. Eu
acho importante esse conhecimento pra você em Voz porque você está fazendo
cada exercício, você tem que expandir a caixa torácica (...) As técnicas que você
vai utilizar no exame audiométrico (...)” .
E04B:
“(...) Pra mim a Biofísica é indispensável para o raciocínio clínico do aluno (...)”.
São notórias as valorizações docente e discente no que se referem à
existência e inclusão da disciplina Acústica e Psicoacústica no currículo dos
cursos de Fonoaudiologia. O que surpreende são as inferências e associações
às aplicabilidades potenciais e reais dos conhecimentos biofísicos nos planos
clínicos, terapêuticos e diagnósticos, efetivamente realizados pelos alunos!
4.5 Categoria: Concepção de Formação Integral
Nesta categoria, foram inseridas as concepções dos entrevistados
docentes e discentes acerca do que seria a formação integral discente, a
influência do aspecto valorativo e atitudinal na formação, a existência de laço
valorativo entre alunos e professores, bem como o imaginário de um curso
ideal da disciplina Acústica e Psicoacústica,
Na concepção docente, no que concerne à formação integral,
predominou a formação cognitiva:
E01A:
“Formação integral é a integralização de todos os conteúdos de todas as
disciplinas de forma que o aluno possa exercer exatamente na profissão esses
conhecimentos de forma eficaz e eficiente”.
79
E02A:
“(...) Que ele, ao final do curso, tivesse os conceitos, especificamente de Física
Acústica, muito bem sedimentados (...) Saber conceitos principais que você vai
realmente usar no seu dia a dia (...) O que é o som, como é que forma, isso, isso,
o que é interferência (...) Assim digamos um resumo (...) Dez a vinte conceitos
extremamente necessários pra que você domine (...) Aí você poderia entender a
Física que está por trás de um problema de surdez (...) Um problema de voz
(...) Saber fazer uma conta”.
E03A:
“(...) Se ele conseguisse absorver todos os pontos específicos da disciplina (...)”.
E04A:
“(...) Fazer as correlações da Física com a Fonoaudiologia (...) A gente tem
tentado despertar isso no aluno que participa, que pergunta, vem atrás do
professor (...) É o aluno bem formado na disciplina (...) Eu acho que é você
incentivando sempre a estudar, sempre falando da prática, falando da sua
experiência clínica também (...) O profissional bem formado é aquele que tem
conhecimento amplo (...)”.
Na concepção discente, repetiu-se também a ênfase do discurso à
vertente cognitiva como elemento componente na formação integral:
E01B:
“(...) Isso passa por conhecimento, por toda a base teórica que é dada na
disciplina”.
E02B:
“Que ele tenha esses conhecimentos básicos pra que ele possa associar, aos
outros conhecimentos que ele vai adquirindo posteriormente (...) Formação que
não vise assim apenas o depósito de conhecimento (...) Um conhecimento
construído através da experiência, da prática, da troca de informação mútua (...)
Fazer a relação entre tudo que você estuda (...) Necessidade da pesquisa, da
extensão, do sair dos muros da universidade e ir buscar esses conceitos (...)
Formação que preze pelo caráter humano, não apenas a formação
mercadológica, acadêmica, de vai ficar pronto isso e final. Que atenda as
demandas sociais. Acho que isso é uma formação, seria uma formação integral”.
E03B:
“(...) Quais são os fenômenos que vão gerir a fisiologia dos determinados
órgãos que a gente vai precisar estudar (...) Se envolver um pouco com
pesquisa (...)”.
E04B:
“(...) Eu senti uma falta de um estudo mais aprofundado (...) Acho que é uma base
boa para o aluno também querer “buscar para obter outros conhecimentos”.
80
E05B:
“Um aluno que saberia falar da disciplina, ter um conteúdo, uma bagagem, um
conhecimento. Eu acho que esse aluno ele estaria apto na matéria”.
E06B:
Primeiro a gente tem que ter um bom profissional que passe informações que
a gente dê credibilidade (...) Porque muitas vezes você percebe professores que
às vezes você faz uma pergunta que está dentro daquele assunto e você sente
uma certa insegurança nas respostas (...)”.
E07B:
“(...) O conteúdo passado em sala de aula (...) Acho que ela está mais relacionada
ao cognitivo (...) Eu acho que eles tentaram da melhor forma possível”.
E08B:
“Eu acho que ele tem que se identificar com o curso que ele escolheu, ter um
bom professor que você sinta segurança e que tenha um embasamento teórico
muito bom. (...)”.
Em seguida, questionados sobre a influência dos aspectos valorativos
e atitudinais na formação discente, dentre os quais a motivação e o
empreendedorismo, foram apresentadas as seguintes concepções docentes:
E01A:
“(...) Primeiramente com uma boa postura como profissional, como professor, seja
no cumprimento de horários, respeitando o aluno através de aulas muito bem
ministradas, com os objetivos muito bem definidos e, obviamente, com
recursos que permitam a ele professor, de novo estabelecer um vínculo daquilo
que está sendo ministrado com o exercício da prática profissional. O aluno
precisa entender que aquilo que está sendo aprendido, de fato é necessário para a
vida profissional daquele indivíduo (...) A gente estimula indiretamente solicitando
preparação de artigos, monografias, onde o aluno torna-se sujeito do próprio
aprendizado, inclusive apresentando os estudos que fazem pros colegas, de
forma assim bastante interativa”.
E02A:
“(...) Tento manter uma relação de total abertura pra que eles façam perguntas e
dialoguem (...) Quando você interage com um aluno ele perde os seus medos,
suas vergonhas, sua timidez (...) O propósito é que eles interajam e troquem
informações (...) Mantenho uma relação de amizade e principalmente respeito
com os meus alunos. Tento fazer com que a disciplina seja, digamos assim, o
mais palatável possível, que eu sei que eles têm uma grande retração a
aprender conteúdos de Física, eu sei disso (...) Não deixo que o aluno fique
passivo, só assistindo e copiando (...) Os comentários que os alunos fazem é: “o
professor ensina muito bem, mas ele enche muito o nosso saco” (...) É porque
eu fico perguntando e provoco-os (...) Eu tento contextualizar as coisas (...) É
meio complicado, não só pela idade, pela juventude que a gente tem atualmente
(...) Nós vivemos a era da informação (...) A internet lhe dá aí um mundo de
informação que você pode captar e o aluno está o mais desinformado possível
(...) Eles não têm interesse, não têm iniciativa pra fazer as coisas, iniciativa pra
perguntar as coisas (...) Quando eu tinha a idade deles, eu era mais curioso. Eu
81
queria ler mais. Eu queria aprender mais (...) Quando vai chegando lá pro meado
do curso ele começa a tomar pé na situação, começa a perceber que ele não
pode continuar naquela (...) Eu acho que é uma questão muito de maturidade
(...) O que eu poderia fazer hoje pra que o aluno mudasse de perfil, o aluno de
primeiro semestre, seria uma aplicação maciça de trabalhos e mais trabalhos,
coisas dessa natureza (...) Mas eu não sei se isso é viável do ponto de vista
pedagógico, porque aí vão saltar de lá e perguntar: ora, você quer que um
fonoaudiólogo seja físico?”.
E03A:
“(...) Não é só o cognitivo que vai definir (...) O que ele tem de experiência de vida
própria, o querer essa disciplina, o querer essa parte profissionalizante (...) A única
coisa que eu posso dizer é minha experiência (...) Mostrar pra eles que, se eles
aprenderem, se eles se dedicarem (...) Passar segurança (...) A aplicabilidade (...)
Empatia também (...) Eu me uso como exemplo, eu mostro pra eles: estudei em
uma faculdade onde eu não conheci nem o audiômetro. Na faculdade não tinha
nem clinica escola... eu me dediquei (...)”.
E04A:
“(...) Eu acredito que a aprendizagem não se dá só de maneira formal (...) A
atitude, a vontade do aluno e os professores servem como um estímulo (...) Então
essa resposta não é só a cognitiva (...) o professor ele tem uma
responsabilidade muito grande. A nossa postura diante do aluno, a maneira que
a gente fala, a maneira que a gente se comporta (...) Os alunos eles observam
tudo, são sensíveis (...) A maneira como o professor expressa, fala da profissão,
tudo se torna estímulo, tudo é aprendizado (...) É um desafio pra gente (...) Eu
acho que os nossos alunos eles são esforçados, são dedicados, eles não faltam
à aula, são comprometidos (...) A função também de criar uma autonomia, até
intelectual, de você buscar, de você ser autodidata... Ele não fica dependendo do
professor”.
Indagados os discentes sobre a influência dos aspectos valorativos na
formação integral, destacando-se a motivação e o empreendedorismo, foram
apresentadas as seguintes concepções:
E01B:
“(...) Pra você ser um bom profissional você tem que fazer o que gosta (...) O que a
gente pode perceber, falando do meu professor diretamente, foi a vontade que
ele tinha de aprender a Fonoaudiologia, até pra poder aplicar mais. Então
assim... ele olhar pra gente, ir buscar o que a gente tinha... o pouco que a gente
tinha já de Fonoaudiologia (...) A gente sempre é estimulado a pesquisar por
Fonoaudiologia, mesmo quando a gente não está em uma disciplina (...) Não
espere tudo do professor (...) Disposição de procurar outras coisas, autonomia...
(...)”.
E03B:
“(...) Eu acho particularmente que ele não teve grande preocupação com essa
questão, em chegar e cumprir a carga horária (...) Ele teve os problemas dele
que não me cabe julgar, mas que ficava muitas vezes sem explicações (...) Acho
que isso contribui de qualquer forma pra que haja um desinteresse por parte
dos alunos também da própria disciplina (...) A gente já não sabia muito pra que
ela ia servir, já não tinha muita aplicabilidade e ainda por cima o professor não
conseguia dar conta de passar todo o conteúdo (...) A segunda professora, pela
82
própria relação pessoal que começou a existir, talvez isso potencializou um pouco
mais, mas ela também não conseguiu assim despertar na turma “ah, que
vontade de estudar Biofísica” (...)”.
E05B:
“(...) Eles têm muito comprometimento, têm responsabilidade, são professores
assíduos, são comprometidos com os alunos sim. São comprometidos com a
matéria. Estão sempre dispostos a ajudar, tirar dúvida (...) Não adianta estar um
professor ali ensinando só o cognitivo, só a matéria em si e não estar nem aí pro
aluno, pros seus sentimentos ou pra qualquer outra dificuldade que ele venha a
ter. (...) O professor tem que dar o melhor dele (...) Até do afetivo, da troca de
experiências, do ensinamento, de tudo (...) E o aluno também tem que ter
respeito com o professor e tem que também dar o melhor de si (...)”.
E06B:
“(...) Alguns já trazem, outros desenvolvem, adquirem e vão desenvolvendo aqui
responsabilidade, comprometimento (...) Já entra na graduação sabendo “não,
eu não estou mais no ensino médio, eu agora sou uma graduanda e eu vou me
tornar uma profissional e eu tenho que buscar o melhor”. Então eu não tenho só
que esperar aquilo que o professor traz pra gente na sala, mas eu também
tenho que buscar através de leituras, através de exemplos, com colegas, através
dos conselhos que os professores incessantemente dão (...)”.
E07B:
“(...) Lembro das aulas práticas, mas eu não lembro que assunto ele estava
abordando (...) uma falha minha realmente, de não ter dado tanta importância”.
E08B:
“(...) Com a Fono, não com o físico. Ele, inclusive, não era pontual (...) Não é um
exemplo assim que a gente pudesse seguir. Já a outra professora ela era
pontual (...) Ela é uma professora muito exigente (...) Foi a primeira professora que
eu vi falar que não era pra andar com jaleco pendurado (...) Ela brigava muito
com isso: “é a questão da higiene” (...) Pontualidade, ela sempre falou (...) Hoje
em dia já é mais “light" (...) Hoje a gente sabe que ela é muito nossa amiga (...)
esse primeiro tempo com uma professora como ela... logo no primeiro semestre”.
Sobre as citações anteriores, verificou-se também a presença implícita
de valores e atitudes diversificadas dos entrevistados, que estreitam os laços
entre alunos e professores, fomentando de maneiras distintas a consolidação
dos objetivos educacionais, de acordo com os relatos a seguir:
E02A:
“Aí eles fazem inclusive uma imagem do professor de Física como uma pessoa
excepcional, um ser extraterrestre (...) Ao longo do curso eu tento usar os
métodos possíveis: conversar muito, interagir, tocar no aluno (...) O contato
físico quebra um pouco da resistência, quebra o gelo (...) Aí já são técnicas
minhas de interagir com as pessoas, são técnicas gerenciais (...) Se eu chegasse
na sala com a minha postura de eu sou doutor, tal, o mais qualificado, começasse
83
a fazer uma aula com exibição de audiovisual e não interagisse com os
alunos, seria um pandemônio. E o aproveitamento muito abaixo da crítica (...)
Eu acho que além de professor tem que ser muito de psicólogo (...)”.
E02B:
“(...) Não que o professor não soubesse, ele sabe muito também. Mas é mais fácil,
até pela intimidade que a gente já tinha com ela, entendeu? Até da pessoa, da
personalidade mesmo”.
E04B:
Acho que a relação professor aluno ajuda muito a aproximação do aluno e as
discussões em sala”.
E05B:
“(...) Eles deixam sempre o aluno muito aberto a estar ali buscando informação
com eles (...) Às vezes tem deficiência em alguma coisa, de assunto, aí surge
aquela coisa de “será que eu pergunto ou vou pro livro”? (...) Muitas vezes
terminam ficando na dúvida (...) Muitas vezes o aluno espera também demais
pelo professor, então acha que o professor está ali, que vai ensinar cem por
cento. E na realidade até o tempo é curto pra que ele ensine tudo (...) Tem que ter
uma busca do aluno (...) Eu não diria que o erro está no professor, ás vezes é a
base que o aluno teve (...)”.
E07B:
“(...) No primeiro semestre o pessoal entra e não acorda que você está na
faculdade. Que é coisa tão séria (...) Pra mim é extrema responsabilidade. Eu
tenho uma coisa a cumprir aqui dentro (...) No primeiro semestre acho que o
pessoal ainda fica assim um pouco “ah, estou de férias”, “é começo de semestre”,
“ah, eu passo porque eu estou em faculdade particular”. E não é bem assim (...)”.
E08B:
“(...) Eu acho que o professor não me passava muita segurança do que ele tava
falando (...) A gente não teve muita aplicabilidade (...) Quando a gente
questionava alguma coisa ele não sabia dar um outro exemplo pra que
ficasse mais claro (...)”.
Sobre as citações anteriores, verificou-se também a presença implícita
de valores e atitudes diversificadas dos entrevistados, que estreitam os laços
entre alunos e professores, fomentando de maneiras distintas a consolidação
dos objetivos educacionais, de acordo com os relatos a seguir:
E02A:
“Aí eles fazem inclusive uma imagem do professor de Física como uma pessoa
excepcional, um ser extraterrestre (...) Ao longo do curso eu tento usar os
métodos possíveis: conversar muito, interagir, tocar no aluno (...) O contato
físico quebra um pouco da resistência, quebra o gelo (...) Aí já são técnicas
84
minhas de interagir com as pessoas, são técnicas gerenciais (...) Se eu chegasse
na sala com a minha postura de eu sou doutor, tal, o mais qualificado, começasse
a fazer uma aula com exibição de audiovisual e não interagisse com os
alunos, seria um pandemônio. E o aproveitamento muito abaixo da crítica (...)
Eu acho que além de professor tem que ser muito de psicólogo (...)”.
E02B:
“(...) Não que o professor não soubesse, ele sabe muito também. Mas é mais fácil,
até pela intimidade que a gente já tinha com ela, entendeu? Até da pessoa, da
personalidade mesmo”.
E04B:
Acho que a relação professor aluno ajuda muito a aproximação do aluno e as
discussões em sala”.
E05B:
“(...) Eles deixam sempre o aluno muito aberto a estar ali buscando informação
com eles (...) Às vezes tem deficiência em alguma coisa, de assunto, aí surge
aquela coisa de “será que eu pergunto ou vou pro livro”? (...) Muitas vezes
terminam ficando na dúvida (...) Muitas vezes o aluno espera também demais
pelo professor, então acha que o professor está ali, que vai ensinar cem por
cento. E na realidade até o tempo é curto pra que ele ensine tudo (...) Tem que ter
uma busca do aluno (...) Eu não diria que o erro está no professor, ás vezes é a
base que o aluno teve (...)”.
E07B:
“(...) No primeiro semestre o pessoal entra e não acorda que você está na
faculdade. Que é coisa tão séria (...) Pra mim é extrema responsabilidade. Eu
tenho uma coisa a cumprir aqui dentro (...) No primeiro semestre acho que o
pessoal ainda fica assim um pouco “ah, estou de férias”, “é começo de semestre”,
“ah, eu passo porque eu estou em faculdade particular”. E não é bem assim (...)”.
E08B:
“(...) Eu acho que o professor não me passava muita segurança do que ele tava
falando (...) A gente não teve muita aplicabilidade (...) Quando a gente
questionava alguma coisa ele não sabia dar um outro exemplo pra que
ficasse mais claro (...)”.
Para alcançar seus objetivos pedagógicos e o papel de educador o
melhor estímulo que o professor pode ofertar aos seus alunos é o exemplo. Os
alunos percebem claramente quando o professor está desatencioso ou mesmo
quando está com o pensamento voltado para outros assuntos no momento da
aula. É evidente que esse professor não conseguirá estimular o desejo de
aprender por parte do aluno, quando ele mesmo não tem esse desejo. Por outro
lado, o professor que prepara bem a aula e demonstra prazer em ensinar,
85
estimula positivamente a turma, mesmo que sua matéria seja pouco interessante
para alguns alunos ou que ele próprio tenha alguma dificuldade de expressão.
Em concordância com aos achados, Gikovate (2007) afirma que o professor
cativará a turma se for competente para ensinar e se for uma pessoa digna e
admirável.
Ensinar a partir de situações reais, para aumentar o interesse e
motivação do aluno é necessário e urgente. Fischer (1992) reitera que o chavão
que tomou conta do discurso do professor “ensinar a partir da realidade” exige
não apenas coerência entre discurso e ação, mas deve ir mais além: exige que
os professores descubram como é a realidade sob o ângulo do pensamento. Já
para D’Ambrosio (2000), é muito difícil motivar com fatos e situações do mundo
atual uma ciência que foi criada e desenvolvida em outros tempos em virtude
dos problemas de então, de uma realidade, de percepção, necessidades e
urgências que nos são estranhas.
Sobre a perspectiva de oferta de um curso ideal da disciplina
ministrada, alguns entrevistados apresentaram os seguintes pontos de vista:
E01A:
“O curso de Biofísica teria que estar inter-relacionado aquilo que de fato é pré-
requisito para as disciplinas que vão suceder à Biofísica. É interessante que o
professor soubesse das ementas, conhecesse as ementas das disciplinas que
terão a Biofísica como pré-requisito. É importante como já foi falado ter
recursos que pudessem facilitar o aprendizado do aluno, vinculando a teoria
à prática e que o professor pudesse obviamente estar se atualizando, em
intervalos regulares, para estar oferecendo aos alunos aquilo que é mais
interessante dentro daquele contexto em se tratando de atualidade mesmo”.
E02A:
“(...) Para o meu curso ideal, abnegaria da exigência matemática e exigiria mais
ferramental experimental (...) Porque eu acho que a pessoa que vai militar na
área de saúde, vai usar conceitos da Física (...)”.
E03A:
“(...) Que você tenha noção da integração disso com os fenômenos físicos, de
estruturação. Mas eu acho que a gente poderia ter mais prática. A gente não
tem (...) É difícil a compreensão abstrata (...) O que acontece é isso: você tem
86
toda a estrutura, você tem na ementa, mas a coisa não flui com a mesma
naturalidade, com o mesmo conteúdo, com o embasamento real que deveria ser”.
E01B:
“O curso daqui foi bem global, falando do corpo humano, da saúde global do ser
humano, da respiração que é super importante pra fonação dando noção de
pressão, área, tudo... Eu acho que essa disciplina é muito boa, só que ela
sozinha pra Fonoaudiologia, fica a desejar”.
E02B:
“(...) Eu colocaria um pouco mais de prática, não aulas tão expositivas. Trabalhos,
mais trabalhos para os alunos pesquisarem, buscarem outros artigos, outros livros.
Quer dizer, não ficar só em livros, buscarem em artigos (...) Eu acho importante
pesquisa (...) Seria interessante já começar a fazer desde cedo algo (...)”.
E03B:
“(...) A questão da aplicabilidade, da aula prática (...)”.
E05B:
“(...) Deveria ter tido tanto mais parte prática quanto teóricas, juntas (...) Quando
a gente também faz seminário, a gente aprende mais porque a gente vai
buscar mais nos livros, a gente estuda muito mais”.
E08B:
“(...) Que os dois professores estivessem em salas simultaneamente (...) eu
acho que o que faltou pra gente foi um pouco de prática, material de
laboratório, acho que é essencial você ter”.
4.6 Categoria: Aspectos Cognitivos
Nessa categoria foram condensadas algumas concepções docentes e
discentes acerca do conhecimento de seis figuras apresentadas, cujas
inserções são difundidas na maioria das obras literárias e artigos periódicos
relacionados à Acústica aplicada. Tais figuras representam um instrumento
para abordagem pedagógica, onde podem ser aplicados e extraídos diversos
conceitos e fenômenos acústicos e psicoacústicos de interesse da
Fonoaudiologia, em especial nas áreas de audição e voz.
4.6.1 Figura: Curvas de Fletcher-Munson
87
No que se refere ao conhecimento pregresso ou não da figura curvas
de Fletcher-Munson (Anexo 7), foram analisadas as concepções docentes,
sendo registrados os seguintes trechos relevantes:
E01A:
Não (...)”.
E02A:
“Já. Já vi sim (...) Eu vi num livro de Física sobre o som. Um livro específico sobre
som (...) Esqueci o nome do autor agora”.
E03A:
Já, eu tenho uma dela lá no meu material didático”.
E04A:
“(...) Já vi essa figura. Algo parecido, as curvas (...)”.
Numa análise preliminar, podemos verificar que três dos quatro
docentes entrevistados afirmaram ter conhecido anteriormente a aludida figura.
Apenas o docente E01A afirmou categoricamente não conhecê-la.
Quanto ao conhecimento ou não da figura pelos discentes, foram
registrados os seguintes trechos:
E01B:
“(...) Não que eu tenha na memória”.
E02B:
Não lembro. Ele é parecido com alguma coisa que eu já vi (...)”.
E03B:
“(...) Já vi. Na própria disciplina de Biofísica (...) Relacionava pressão sonora, a
freqüência (...) Mas a interpretação desse gráfico eu não sei fazer”.
E04B:
“(...) Acho que vi num livro de Iêda Russo, se não me engano”.
E05B:
88
“(...) (...)”
E06B:
. Algo parecido já (...) Audiologia”.
E07B:
(...) Áudio (...)”.
E08B:
“(silêncio)...”.
Três alunos não lembraram ou expressaram desconhecer a figura,
entretanto, dentre os que relataram terem conhecido previamente, apenas um
discente confirmou ter acesso à figura durante o decurso da disciplina Biofísica.
Os demais alunos relataram ter conhecido a aludida figura na disciplina de
Audiologia ou em literatura especializada.
Requisitados novamente os docentes para acrescentarem informações
ou conhecimentos relacionados às curvas de Fletcher-Munson, independente
dos mesmos terem ou não conhecido a figura anteriormente, foram colhidas as
seguintes respostas:
E01A:
“Nessa figura a gente vê uma análise de intensidade em função da freqüência
descrevendo como essa intensidade é percebida pelo indivíduo (...) Nós temos
aqui diferentes pontos, indicando diferentes níveis de percepções de
intensidade, de loudness”.
E02A:
A forma como é classificado essa parte de som (...) Isso aqui já foi específica
na área de Acústica (...) No cotidiano dele como fonoaudiólogo ele vai se bater
com coisas dessa natureza (...) No caso intensidade sonora com a freqüência, está
certo? E saber ler e ver os vários níveis de percepção da audição, que é o caso
específico desse aqui sobre ruído, loudness (...) Quero que eles aprendam a ler
gráfico (...)”.
E03A:
“(...) Eu tento passar pra eles aqui como o som, as freqüências e as intensidades, a
parte física, o professor dá os sons fortes, toda aquela parte, as modificações
físicas, a potencialidade (...) Isso aqui eu mostro pra eles, a baixa freqüência (...)
89
Mostraria a sensibilidade que a orelha humana é capaz de perceber em nível
de intensidade, os sons mais altos, os sons mais baixos (...) Quando você está a
10 dB da orelha do paciente, como é que esse som chega pra ele, como é que ele
percebe... A cento e vinte, como é que ele percebe esse som, assim... se
incomoda, se não incomoda, se o som é baixinho, se o som é mais alto... Tento
trabalhar com eles pra que eles tenham a noção de saber o tipo: se é grave, se é
agudo, e a intensidade, como a orelha, em si, percebe, você vê a dinâmica do
efeito disso (...) Passando que sensação você tem diferença de sensibilidade
(...) Como isso ocorre, como é que você consegue discernir (...)”.
E04A:
“(...) Mostra aqui freqüência e intensidade em dB (...) A questão de dB, questão da
freqüência, o que é intensidade, como ela varia (...) As freqüências (...) Bem ligado
à área de audição. Vou ser sincera, eu não trabalho com audição, não é? (...)
Não me arrisco a dizer o que eu não conheço (...) Trabalho mais com voz
mesmo, eu sei que é na área de audição (...) Mas é difícil porque em outra área
(...) Pra mim é difícil (...) Se você tivesse com o audiômetro mostrando essas
variações, desenvolvendo e mostrando junto com o aparelho, seria melhor”.
Dentre os quatro docentes entrevistados, apenas E01A e E03A
apresentaram, ainda que de forma sucinta, um bom domínio conceitual da
grandeza psicoacústica loudness, porém não houve alusão em nenhum
momento às diferentes sensibilidades da audição humana para as diferentes
freqüências, representadas graficamente pela não linearidade do traçado.
Em nenhum momento foi feito alusão à limitação psicoacústica
humana em diferenciar sons graves, médios e agudos quando submetidos à
um alto nível de pressão sonora. Vale ressaltar também a ausência à
referência acerca dos mecanismos que justificariam esses diferentes níveis de
percepção de loudness, os quais estariam estreitamente associados às
diferentes respostas de ressonância das estruturas anatômicas periféricas da
audição.
O entrevistado E02A evoca, de modo questionável, a necessidade dos
alunos saberem “ler gráficos”, porém faz-se necessário primordialmente a
sedimentação de conceitos elementares de natureza acústica e psicoacústica,
devidamente contextualizados para que se consolidem os objetivos
educacionais, sendo a ciência matemática apenas ferramenta, e não o fim por
90
si. O professor entrevistado E03A cita diversos termos acústicos, porém não os
contextualiza com os fenômenos psicoacústicos mais relevantes ocorrentes no
trato auditivo periférico. Já E04A, apesar de ensinar a disciplina e interagir
como facilitador da aprendizagem para os diversos temas de interesse da
disciplina, declarou “não trabalhar com audição” e sim trabalhar mais com voz.
Nenhum dos entrevistados fez alusão à realização de práticas que
envolvessem os possíveis conteúdos contemplados na aludida figura.
Cabe salientar que, a compartimentalização de disciplinas por
profissionais deveras especializados, além do conhecimento limitado acerca
dos fenômenos biofísicos contextualizados, pode gerar viés no que diz respeito
aos objetivos educacionais propostos para a aprendizagem discente.
Os discentes foram solicitados, logo em seguida, para que
acrescessem informações ou conhecimentos atrelados à figura das curvas de
Fletcher-Munson, mesmo não tendo conhecido a figura anteriormente.
Obtiveram-se as seguintes respostas:
E01B:
“(...) Conceito que está escrito eu vejo loudness (...) É a sensação acústica que a
gente tem da intensidade de um som (...) A intensidade pode ser medida
diretamente, só que o que o que nos chega não é o que o aparelhinho indica (...)
Loudness a gente relaciona com a intensidade. Só que intensidade é o que é
mensurável e loudness é a sensação que a gente tem dessa intensidade (...)
O loudness... ele não é medido. O loudness é perceptivo (...) Limiares são
medidas de loudness (...) mínimas (...)”.
E02B:
Seriam as freqüências e as intensidades que nós utilizamos para a
audiometria, por exemplo, porque aqui, em 20, a freqüência que a pessoa
consegue ouvir é em 80 dB... não sei, e aqui já está em 10 mil (...) Isso aqui eu
reconheço, é a sensação de intensidade (...) Existem duas medidas, tem uma
medida que é o zero absoluto, dBNPS (...) Aí eu acho que está nos parâmetros
mesmo de audiômetro, tem o nível de audição (...) É a sensação de intensidade
que aquelas pessoa tiveram, mas o zero, em dBNA, não corresponde
necessariamente a um zero absoluto (...) Por exemplo, uma pessoa que ouve
em -10, significa que ela ouça -10. Ninguém ouve aquela sensação (...)”.
E03B:
91
“Eu lembro de uns cálculos que a gente fazia que eram em cima de gráficos que
confluenciavam pressão a freqüência (...) Lembro esse nome, Fletcher, era um
nome, é um nome familiar (...) Em compensação, eu não sei pra que serve esse
gráfico (...) O que é que ele mede. Se eu tivesse que interpretar ele agora eu
não saberia interpretar”.
E04B:
“(...) Intensidade? (...) Eu, particularmente, não consigo ver muita coisa nele não,
viu? Intensidade, freqüência... (...) Tem a ver com Audio (...)”.
E05B:
“(...) Voz (...) Porque fala da intensidade da voz, de produção, A formação da
onda (...) deciBels (...) As freqüências... (...)”.
E06B:
“(...) Essas curvas aqui eu nunca vi (...) A gente aprendeu loudness e pitch (...)
Loudness tem a ver com a intensidade e pitch com a freqüência (...) Não sei
se é a mesma coisa ou se estão diretamente ligados (...) Eu acho que o
loudness é a impressão acústica da intensidade (...)”.
E07B:
“(...) Aqui seria freqüência (...) Parece um audiograma (...) É Loudness, não sei (...)
Nunca consigo falar direito (...) Eu lembro da professora falando disso (...) Tem
um outro termo também (...) É como se fosse intensidade e freqüência (...) Eu
sempre me confundo (...) Eu não lembro de muita coisa (...)”.
E08B:
Esse termo eu vi em Voz (...) Em Voz, primeira vez (...) Aqui tem propagação de
onda, tem o termo loudness (...) dB, as freqüências (...) Loudness, que é
percepção de freqüência ou intensidade... de intensidade (...) A unidade, não
é? Que se usa pra freqüência, o Hertz (...) dB pra intensidade”.
No que tange aos conhecimentos dos discentes acerca das curvas
isofônicas apresentadas na figura, surpreendentemente, as respostas advindas
de E01B e E02B, foram muito aproximadas àquelas colhidas pelo professor
entrevistado E01A. Vale destacar que alguns alunos relataram alguns
conceitos de forma incompleta, descontextualizada ou mesmo errônea, sem
que houvesse uma construção seqüencial lógica e a correlação com os
conhecimentos trabalhados no ciclo profissionalizante.
A partir dos questionamentos direcionados aos docentes e discentes
sobre a pertinência ou não em utilizar tais figuras como recursos pedagógicos
em atividades disciplinares, foram extraídos alguns relatos a seguir:
92
E01A:
“Sim, sim. Claro (...) Teoria e prática (...) Os conceitos teóricos estão envolvidos, mas
há abordagem prática aqui também”.
E02A:
“Aplico (...) Sem dúvida nenhuma (...) Acho que pra um aluno entender isso aqui
ele tem que conhecer equação, tem que saber interpretar a equação, é uma
preocupação minha (...) Essa figura especificamente que você está me mostrando
aqui, nos livros textos que nós temos não tem (...) Essa aqui é uma figura já
um pouco sofisticada (...) Está um pouco mais acima pra poder entender (...) Se
o aluno tivesse o conhecimento matemático pra poder interpretar que isso
aqui é uma escala logarítmica... (...) Eles têm muito pouco conhecimento de
Matemática (...) Fazer conta ele até faz, agora interpretar essa equação,
principalmente num gráfico, já é um processo um pouco mais sofisticado (...)
Não alcançaria no perfil desse aluno”.
E03A:
“(...) Eu acho, faz parte (...) Tem que entender que tipo de sensibilidade você tem
pra perceber, como acontece isso da estruturação, ter noção do que é percebido,
intensidade, a resposta da orelha (...)”.
E04A:
“(...) Depende o que o professor vai falar (...) O professor na área de Áudio, o
que é que ele está explicando (...) Eu acho que também não adianta a gente
complicar muito (...) Você apresentar sim, explicar pra ele que tem variações (...)
Existem níveis, e que esses níveis são importantes. Cada nível deve representar
uma determinada alteração. Acho que é importante apresentar para o aluno
saber que existe. Acho que sim (...)”.
E01B:
Sim (...)”.
E03B:
“(...) Eu sei que a gente utiliza o tempo todo a relação freqüência e intensidade
sonora dentro das avaliações audiológicas (...) Se a gente pudesse relacionar
a isso, teria uma grande aplicabilidade. Agora, assim, como eu não sei pra que
é que o gráfico serve, eu nem sei como é que eu poderia aplicar isso dentro
da Audiologia (...)”.
E04B:
“Ah... sim, deve contribuir”.
E05B:
Eu acho que sim (...) O objetivo era mostrar para o aluno como seria usada
cada freqüência, cada deciBel, mostrar cada tipo de onda. Acho que dessa
forma”.
E06B:
“Eu acho que sim”.
E08B:
93
“Sim. Acho que sim (...)”.
Mesmo desconhecendo tais figuras, todos os participantes
endossaram a pertinência da sua utilização nas atividades pedagógicas,
admitindo a possibilidade real em atingir os objetivos cognitivos nos campos
teórico e prático. Russo (1999) considerou que a diferença de abordagem entre
a Acústica e Psicoacústica não impede o intercâmbio de idéia, pois uma é base
da outra.
Fletcher e Munson (1933) foram os pioneiros no estudo da resposta da
audição humana às diferentes freqüências, determinando qual intensidade,
para cada freqüência testada, produziria uma mesma percepção de
intensidade. Advieram então, as curvas isoaudíveis ou isofônicas de Fletcher-
Munson, criando-se assim a grandeza psicoacústica denominada loudness,
cuja unidade foi designada como o fon.
De acordo com Frota (1998), a unidade fon representa a grandeza
psicoacústica loudness, tendo utilização prática nas áreas de Audiologia e
Engenharia. Russo (1999) considerou que, quanto maior a amplitude de um
som, mais intensamente o ouvimos. Entretanto nossa sensibilidade auditiva é
menos precisa nas mudanças de intensidade sonora do que para mudanças na
freqüência de sons. Munhoz et al. (2000) exemplificaram de forma pragmática,
utilizando as curvas de Fletcher-Munson, que, na freqüência de 1.000 Hz, zero
fon corresponde a zero dB NIS, 10 fon corresponde a 10 dB NIS e 20 fon
corresponderia a 20 dB NIS e assim por diante. Borden, Harris e Raphael
(1994) relataram que, caso a intensidade de um determinado seja elevada, o
som é julgado pelo ouvinte com intenso, porém não seguindo uma relação de
linearidade. Os autores afirmaram também que a linha isofônica mais baixa é
94
importante por se tratar do limar absoluto de audibilidade, onde a intensidade
de cada freqüência é arbitrada a partir de uma média de indivíduos jovens com
boa saúde auditiva.
4.6.2 Figura: Curvas Timpanométricas
Analisados os discursos dos docentes e discentes entrevistados, no que
se refere ao conhecimento prévio acerca da figura curvas timpanométricas
(Anexo 8), foram selecionados os seguintes fragmentos:
E01A:
(...) Nos processos relacionados à imitanciometria”.
E02A:
Não. Não. Nunca vi não”.
E03A:
“Já, todo dia (...)”.
E04A:
(...) Está um pouco confuso pra mim (...) Faz tempo que eu não vejo esses
gráficos (...) Eu já vi, não um gráfico igual esse assim com tanta curva (...)”.
E01B:
(...)”.
E02B:
Já, essa aqui é mais flexível”.
E03B:
Sim. Essa eu tenho maior familiaridade”.
E04B:
“Não, não dessa forma (...)”.
E05B:
“Não esse mesmo, mas já”.
E06B:
95
“Exatamente assim não, mas...”.
E07B:
. Uhum (...) Audio”.
E08B:
“Já. Já vi em Audio (...)”.
Um dos quatro docentes entrevistados afirmou preliminarmente não
conhecer a figura curvas timpanométricas ou mesmo outra similar. Sete dos
oito discentes entrevistados afirmaram conhecê-las, alguns deles relacionando-
a com a área de Audiologia e até mesmo com as técnicas imitanciométricas.
Apenas o professor entrevistado E02A afirmou desconhecer a figura
apresentada.
Novamente solicitado os professores, para que incluíssem mais
informações ou conhecimentos relacionados às curvas timpanométricas,
independente do conhecimento prévio ou não da figura, foram obtidos os
seguintes relatos:
E01A:
“Aqui a gente pode verificar processos relacionados à condutibilidade da onda
sonora no que se refere às estruturas tímpano-ossiculares. A gente verifica a
integridade de membrana timpânica, condutibilidade da energia sonora pela
cadeia ossicular, a presença ou não de secreção em orelha média. Enfim,
ruptura até de membrana timpânica, rigidez. Aí passa pelos conceitos de
reactância, indutância, enfim os conceitos aí relacionados a essas derivadas das
grandezas físicas (...) Como se comporta a membrana timpânica a um determinado
tom que é introduzido no meato acústico, submetido a pressões que variam entre
sub a supra-atmosférica (...) É possível inclusive medir o volume do meato
acústico através dessa injeção de pressão e som. Então o tímpano, ele reflete o
som de acordo com a rigidez que ele está sendo submetido, por conta dessas
diferentes pressões. E assim é possível calcular (...) A gente sabe que existe
reflexão sonora. Na verdade os conceitos passam por reflexão e refração
sonora, associado aí ressonância (...)”.
E02A:
“(...) Eu não conheço o gráfico. Eu estou tentando ver aqui, ele é muito curioso
porque ele tem um zero afastado (...) Eu não sei o que é o eixo vertical nem o
96
eixo horizontal (...) Acho eu que deve ser o quanto um tímpano pode suportar
de intensidade sonora ou coisa dessa natureza (...)”.
E03A:
“(...) Aqui são as curvas que você tem na imitanciometria (...) Existe uma falha na
figura. Essa perna deveria virar pra cá. Você quando está fazendo a avaliação,
você puxa a agulha do manômetro mais para a pressão positiva, e à proporção que
você vai fazendo lá, provocando deflexão, aumentando a capacidade do volume da
orelha, você vai tendo que a curva tenha proporção negativa de uma disfunção que
possa ser da tuba (...) Aqui são os tipos de curvas que você espera: A, B, Ad, e C
(...) Eu vou mostrar pra eles (...) Eu vejo a estrutura anatômica que eu tenho, ver
como anda a função desse órgão, está com flacidez ou não, está rígida ou
não, ressonância, a pressão que você vai exercer ao redor do tímpano, se tem
uma patologia, seja lá qual for, que esteja bloqueando a passagem livre do som,
que acontece quando tem uma otite média, dificuldade em escola, que muitas
vezes é desligado, não está nem aí (...) A complacência estática (...) Quando
você traz a membrana, modifica a pressão interna e vê até onde tem a resistência
daquele órgão, daquela membrana timpânica (...)”.
E04A:
“(...) Eu não reconheço essas curvas todas. Eu sei que existe curva
timpanométrica tipo A, tipo B, tico C, mas essa curva aqui eu nunca vi (...) Eu não
me lembro de ter visto (...)”.
A maioria dos docentes citou termos e expressões referentes a
grandezas, propriedades e fenômenos biofísicos associados à técnica
imitanciométrica, dentre os quais: ressonância, rigidez acústica, complacência,
reactância acústica, resistência acústica, refração sonora, reflexão sonora,
volume da orelha, pressão atmosférica e pressão subatmosférica. Vale
ressaltar que, apenas os entrevistados E01A e E03A citaram um quantitativo
maior de termos e conceitos relevantes à compreensão da aludida técnica de
diagnóstico, embora a relação entre a descrição dinâmica processual dos
eventos físicos de natureza mecânica não tenham sido mencionada e
devidamente relacionada à obtenção do traçado das curvas. Um dos
professores entrevistados associou a técnica, no mínimo de modo equivocado,
à capacidade do tímpano poder suportar a intensidade sonora.
Do mesmo modo, os discentes entrevistados foram estimulados a
incluírem mais informações ou conhecimentos relacionados às curvas
97
timpanométricas, independente do conhecimento prévio ou não da figura,
obtendo-se, portanto, os seguintes relatos:
E01B:
“(...) É uma curva timpanométrica de quem a gente faz imitanciometria ou
timpanometria através de pressão sonora e de ar, que acaba sendo a mesma
coisa... a pressão mecânica. A gente consegue perceber a vibração que o tímpano
tem ao receber essa pressão. (...) As curvas descritas na literatura, que eu tenho
conhecimento estão aqui (...) Relação entre a textura ou a rigidez da
membrana timpânica... vai poder interferir em sua vibração (...) O tímpano que
está perfurado... vai ter uma vibração menor do que se ele tivesse íntegro”.
E02B:
“(...) Isso aqui é pressão e aqui é o que a gente chama de compliância estática
que é... não, compliância estática é o pico; aqui é o volume... não, é o pico
mesmo; aqui está o pico e... espere aí, me deixa pensar um pouco (...) Associando
a patologia, na curva B por um impedimento de massa (...) A imitanciometria
consiste em você colocar pressão na orelha do indivíduo pra observar a
mobilidade da membrana (...) Aqui na curva B, por exemplo, a gente não tem
essa máxima deflexão por conta de um impedimento de massa, que existe líquido
algum outro impedimento, então a curva vai ser sempre assim, nesse formato, não
vai existir um pico. A curva do tipo C, ela está mais deslocada para pressão
negativa, porque existe uma disfunção tubária (...) Ela permite a aeração da orelha
media, e quando a gente não tem essa aeração, a pressão fica negativa
porque as células sugam todo o ar. Isso retrai a membrana, e você capta uma
curva desse tipo (...) Uma curva tipo As indica uma rigidez do sistema, então
ela tem uma compliância, um pico menor do que a curva do tipo A, que é mais
característica de pessoas normais, não necessariamente, que está em zero está
adequada pra pressão (...) A Ad, uma disjunção de cadeia ossicular, você não
consegue achar o pico. Toda pressão que você insere vai passar, então você não
acha o pico, o pico é hipotético. Eu acho que é isso; não sei se relacionei muito
bem com Física”.
E03B:
“(...) Uma curva tipo B é sinal de uma membrana perfurada, uma curva tipo C,
retenção de líquidos na orelha média (...) Curva Ad de disjunção da cadeia
ossicular (...) Área, volume, pressão (...) A curva ela mede a diferença de
pressão entre a orelha média e a orelha externa (...) Através desses gráficos
então a gente sabe como está o funcionamento da orelha média (...) A curva
tipo A representa um equilíbrio da pressão (...) Uma curva, por exemplo, tipo As
indica uma rigidez da cadeia, pode ser uma rigidez da membrana (...) Nessas
curvas timpanométricas é que eu consigo colocar mais claro o que eu falo da
falta de relação que existe entre a Biofísica e a Audiologia (...) Se talvez eles
tivessem sido realmente internalizados eu não teria dificuldade na realização
de um exame (...) Eu demorei muito tempo pra conseguir entender a relação
entre o volume externo, volume interno, da diminuição desse volume pra colocar lá
no gráfico (...)”.
E04B:
“(...) Tipos de curvas (...) Curva de resistência, curva normal, curva de flacidez (...)
Vale ressaltar que o pouco conhecimento que eu tenho não foi da Biofísica, foi
de outro momento da graduação. Essa curva tipo B é uma curva que está entre
0 e 4, pode ser líquido na orelha média. Uma curva tipo As, uma curva de
98
resistência que pode ser decorrente de otosclerose. Uma curva tipo A pode
ser uma curva normal (...)”.
E05B:
“(...) Justamente, é... ondas (...) Agora eu não me lem... realmente não é... É como
eu te disse (...) Porque é colocada uma pressão (...) Aonde ela vai sempre abrir
em mais duzentos, agora eu não me lembro o nome de... (...) Membrana rígida (...)
esses tipos de curva é pra medir a complacência (...) Na curva tipo A estaria
normal (...) Na Ad, a membrana estaria com bastante mobilidade, bem
elástica. A curva tipo C, ela poderia estar com uma disfunção tubária (...) A
curva tipo B ela é mais rígida (...) Esses que vão ver a complacência da membrana
(...) Essa complacência seria essa pressão da orelha (...) Eu não lembro (...)”.
E06B:
“(...) Aqui é pressão, não é isso? (...) Isso aqui, metros cúbicos, não é? (...) Aqui é
o volume da orelha (...) A amplitude, não é? O pico que a gente sabe..., o pico da
curva, que é a amplitude, ela fala muito, não é? (...) A normalidade tem que ser
até zero ponto seis, até um. De zero três até um ponto seis, me parece (...) Tem
essa curva aberta... ela fecha, mas fecha em determinado momento que a
gente não sabe qual, que é Ad, exatamente, é a disjunção ossicular. (...) De
Acústica que a gente traga para isso seria exatamente aquela questão que a
gente aprendeu em amplitude, de amplitude... (...)”.
E07B:
Não sei, não sei (...) Aqui eu lembro (...) você tem que ver a curva, quanto ela
abre, quanto ela fecha... (...) Complacência... (...) Espera aí (...) Às vezes a
gente sabe fazer o... e não sabe... (...) não lembro de ter visto”.
E08B:
Mobilidade. Elasticidade (...) Volume... milímetros, não? (...) Isso aqui é a
eletricidade, não é? (...) A +200. Então é a mobilidade da membrana, até quando
ela está retraída, quando ela está relaxada (...) Pressão, não é? (...) A gente vê
as curvas timpanométricas, não é? (...) Mobilidade de membrana timpânica, tudo
isso (...) Nos tipos de curva, elasticidade... (...)”.
Alguns alunos, dentre os quais E03B, relacionaram de modo
equivocado a relação entre o tipo de curva e a alteração anátomo-funcional.
Em alguns relatos discentes como os obtidos de E05B, E06B e E08B, observa-
se uma correlação razoável entre os tipos de curvas e as alterações
morfofuncionais, porém não fica explícito o uso de expressões e termos que
caracterizem a plena relação e compreensão fenomenológica dos fatores
físicos envolvidos no processo. Nos discursos de E03B e E04B, percebe-se
uma clara alusão às dificuldades de contextualização entre os conhecimentos
biofísicos e os fenômenos existentes na técnica imitanciométrica, demandando
99
do aluno o desenvolvimento de esforço demasiado e superação autonômica
nos estudos pra alcançar uma compreensão e aprendizagem plena e eficaz.
Argüidos os docentes e discentes sobre a possibilidade ou não da
utilização da figura curvas timpanométricas como recurso pedagógico em
atividade disciplinar, foram explicitadas as seguintes respostas:
E01A:
“(...) Como ilustração, sim. Análise, eu acho que caberia às disciplinas que têm a
Biofísica como pré-requisito (...) A gente não tem tempo suficiente pra trabalhar os
conceitos (...)”.
E02A:
“Não. Não (...) Reenfatizo: se ele conhecer a equação, interpretar a equação (...)
Nós estamos vendo aqui tem algumas linhas... algumas curvas que ela mostra...
(...) São equações transcendentes, tende a infinito (...) Primeiro, o aluno tem que
entender o que são pontos de inclinação (...) Eu estou colocando aqui curva
timpanométrica, acredito eu que seja sobre característica do tímpano. Seja ela
resistência, não é? Ou impedância acústica (...) Então do que eu entendo, é isso
(...) Eu acho um gráfico sofisticado pra um aluno de primeiro semestre”.
E03A:
Utilizo, quando eu faço lá relação com eles e o exames, mas isso talvez seja
muito mais forte na disciplina de Áudio (...) Eu vou mostrar pra ele que eu tenho
equipamentos como medir. Eu não vou da ênfase de como atua como faz (...)
Posso mostrar (...) Mas não que eu vá trabalhar essa figura durante essa
disciplina (...)”.
E04A:
“Não sei. Eu não sei, sinceridade (...) Porque como eu te falei também, está mais
pra área de Audio. Eu vou ser sincera pra você que já faz tempo que eu não
trabalho com audição (...) Talvez seja um problema na especialização... que
você fica muito... (...)”.
E01B:
Sim, é possível. Mas assim... seria mais se a gente já tivesse alguma coisa de
Áudio ou se fosse no mesmo semestre (...) Seria interessante que a gente
pudesse fazer a correlação direta entre as duas disciplinas pra que não ficasse...
(...)”.
E02B:
“(...) Seria importante (...) Isso eu aprendi, eu acho que foi em Áudio, porque a
gente vê isso em Áudio (...) O conhecimento que eu adquiri foi depois (...)”.
E03B:
100
“(...) É uma figura da disciplina de Audiologia (...) Poderiam ser exploradas na
disciplina de Biofísica e talvez hoje elas não se tornassem tão decorebas pra
mim pelo menos (...) Eu posso cometer até um engano, mas se foi ou se não foi
abordado, mas eu não lembro (...)”.
E04B:
Eu tenho muita dificuldade pra explicar isso, muita dificuldade”.
E05B:
Em Acústica (...) Eu não me lembro qual foi realmente a aula, mas tinha (...)
com o professor (...) Não seria essa mesma curva, mas seria mais ou menos
esse gráfico (...) Fidedignamente, eu me lembro mais ou menos de um gráfico
assim (...)”.
E06B:
“Acho. Aliás, acho que deveria sim”.
E08B:
Deveria. Mas a gente não viu”.
Dez dos doze entrevistados consideraram, de certo modo, a
possibilidade efetiva do uso da figura com ferramenta estratégica para
otimização do aprendizado, porém com as devidas ponderações na
abordagem, decorrentes do fator tempo, aprofundamento analítico contido para
o campo clínico e a interação entre a disciplina Biofísica e aquelas do ciclo
profissionalizante. No discurso de E04A, é tácita a interferência da
compartimentalização excessiva do conhecimento docente, no campo cognitivo
aplicado à audição, porém não se deve somente à especialização, mas
possivelmente à pouca disposição profissional em ampliar os conhecimentos
em áreas estratégicas no campo biofísico.
De forma pitoresca, o professor entrevistado E02A, condicionou o uso
da figura à assunção, pelo discente, de conhecimento e interpretação de
equação, ora inominada. Tal condição é pertinente e justificada, apenas pela
tentativa em resgatar no aluno as relações matemáticas fundamentais entre
grandezas, tais como proporcionalidade e linearidade. Porém, não é a causa
101
em si, mas a ferramenta para auxiliar na compreensão do fenômeno!
Rossi (1998) considerou a imitância acústica o processo de
transferência de energia acústica independente da forma pela qual é medida,
onde parte da energia é absorvida pelo sistema tímpano-ossicular, e a outra
parte é refletida. A timpanometria é apenas um dos procedimentos que integra
a bateria dos testes imitanciométricos. A autora destacou ainda que quanto
mais flácida estiver a membrana timpânica, mais energia será absorvida, e
quanto mais rígidas se apresentar, maior energia será refletida. Munhoz et al.
(2000) consideraram a timpanometria como a medida da pressão da orelha
média, determinada pela mobilidade da membrana timpânica frente a
incrementos pressóricos positivos e negativos no meato acústico externo.
4.6.3 Figura: Tonotopismo Coclear
Sobre o conhecimento prévio da figura Tonotopismo Coclear (Anexo
9), foram analisados os discursos dos docentes e discentes entrevistados,
sendo selecionados os seguintes trechos:
E01A:
”.
E02A:
Não, também não (...) Nunca vi. Inclusive nos textos que eu tenho consultado,
mesmo o tal de Tratado de Audiologia que tem aqui (...) Eu não vi esse tipo de
figura (...)”.
E03A:
”.
E04A:
“(...) Parecido já, não é?”.
102
E01B:
Essa com certeza eu nunca vi e o nome também não me soa familiar (...)”.
E02B:
“Essa vai ser fácil. Fiz um trabalho sobre isso (...) Essa não vale (...)”.
E03B:
Sim”.
E04B:
“(...) Também, quer dizer... eu acho que eu vi um lá parecido”.
E05B:
Não. Essa daqui não. Ainda não (...) Algo parecido em relação à formação, não
é? Assim, ao modelo da onda”.
E06B:
“(...) Eu acho que eu já vi essa figura em algum lugar sim (...) Em algum slide de
Audio sim (...) É. Mas não me lembro”.
E07B:
Não”.
E08B:
Não (...) Isso eu não vi”.
De acordo com os discursos preliminares apresentados pelos
entrevistados, pode-se constatar que um dos quatro docentes nega ter
conhecimento acerca da figura sobre tonotopismo coclear, enquanto a metade
dos alunos, nas suas reminiscências, expressa resposta predominantemente
negativa.
Uma vez solicitados todos os entrevistados para que expusessem
mais informações ou conhecimentos relacionados ao tonotopismo coclear,
independente do conhecimento prévio ou não da figura, foram obtidos os
seguintes relatos:
E01A:
103
Aqui nós temos uma análise tonotópica do comportamento coclear (...) Como a
cóclea se comporta no que se refere ao processamento das diferentes freqüências
em relação à localização (...) A cóclea, ela identifica as freqüências em
diferentes regiões. Sabe-se que a porção mais próxima da janela oval e
redonda detecta freqüências mais altas, enquanto próximo ao helicotrema, as
freqüências mais baixas (...) O comportamento no que se refere às diferentes
freqüências. Freqüências mais altas fazem com que a porção mais próxima da
janela oval vibre mais facilmente (...)”.
E02A:
“(...) O gráfico A está mostrando uma relação entre freqüência e intensidade. E o
gráfico B, faz agora um recorte como se fosse um rebatimento, não é? Só do que
venha a ser a freqüência em relação à distância, em relação à membrana
timpânica, mostrando os vários níveis de intensidade e acho eu que... É, e aqui
realmente já está escrito aqui, não é? É a distância (...) Acredito que os níveis de
intensidade sonora que o tímpano pode suportar”.
E03A:
“Veja só, é mais ou menos fisicamente, digamos assim, minucioso, do que você
vê na figura anterior (...) Tem uma relação. Eu acho que te mostra uma relação
como você está, digamos assim, variando a estrutura em si, aqui está mais
minucioso (...) Aqui você tem como se fosse a tuba, sinais da cóclea (...) A onda
que passa, como passa, como chega, a ênfase maior, se é grave, se é aguda,
onde ocorre essa propagação, essa disseminação da onda em si. E aqui você
mostra os picos, as variantes, não é? (...) Ao som que chega (...) As vibrações das
estruturas, membrana tectória, a membrana que envolve toda a parte,
principalmente da cóclea (...) Onde o órgão passa a perceber essas vibrações,
aonde você tem os picos pela incidência (...) Pelas células (...) Existem as células
responsáveis por essas captações (...) Determinadas freqüências ao longo de
todo o processo... quando você tem uma lesão que é especifica, a região dos
agudos, que é a base da cóclea, que você sabe de antemão que aquelas células
são responsáveis (...)”.
E04A:
“(...) Ondas é... freqüência (...) Não sei se é bem isso. Não sei dizer. (pausa).
Parece, é, só freqüência, não sei mais (...) Acho muito difícil. Bom, eu, eu não sei
do que se trata, mas parece ser difícil, o visual é difícil, não é? (...) Talvez seja
porque não é o meu universo, não é? Eu tenho dificuldade”.
E01B:
“(...) Eu vejo a Biofísica por retratar as ondas sonoras, pro som, acústica do som
estar relacionada à Biofísica, sempre que tiver algo descrevendo ondas
sonoras e sua freqüência, sua identidade, pode ser feita uma relação”.
E02B:
“(...) Aqui seria a base e o ápice. Então, na base a gente capta mais as
freqüências agudas, que têm comprimento menor, e no ápice, as graves, que
têm o comprimento de onda maior. Aqui está mostrando como isso se dá na
cóclea (...) Membrana timpânica, nos tipos de freqüências, que 8.000 Hz está muito
pouco distante da membrana timpânica, enquanto que 200 Hz está mais por conta
justamente desse tonotopismo (...) Em relação ao diâmetro e a massa dessa
membrana que está aqui que é diferente dessa. Então essa massa que está aqui,
ela tem o diâmetro tal e uma massa tal que permite com que seja que as
freqüências agudas vibrem mais facilmente; enquanto que aqui a massa e o
diâmetro têm uma conformação (...) Não lembro o nome do fenômeno, mas tem
relação com Biofísica. Eu lembro que vi isso lá. Isso eu vi (...)”.
104
E03B:
“(...) As freqüências agudas elas se dissipam mais rápido por conta da variação
da amplitude da onda que é menor. Então elas acabam concentrando na região
inicial (...) As freqüências graves que conseguem ter uma amplitude de onda maior
(...) Ela vai se desenvolvendo mais devagar, ela consegue atingir até o ápice da
cóclea, ela demora mais se dissipar (...) Tem pouco tempo inclusive que eu
aprendi, que é por que uma freqüência mais alta ela consegue atingir, ela
consegue ficar na base da cóclea. E uma freqüência mais grave ela vai ate o
ápice. Por causa do dinamismo da onda (...) Que traz uma variação de amplitude
(...) A freqüência maior traz a variação de amplitude menor e por isso ela se
dissipa mais rápido. Então foi uma coisa que eu aprendi há pouco tempo e
que talvez se eu tivesse aprendido desde essa época, entenderia melhor
tonotopismo coclear. Lembro que durante a disciplina, durante o estágio em
Audiologia, foi que eu fui procurar entender melhor como funcionava (...) A
turma como um todo não entendia bem como funcionava esse mecanismo
(...) Ela solicitou que a gente fizesse uma pesquisa”.
E04B:
Funcionamento coclear? (...) Em qual local da cóclea ou da base da cóclea, ou do
ápice a vibração das ondas não é? Em altas freqüências (...) Não é muito minha
praia, não”.
E05B:
“Aqui são realmente também tipos de ondas (...) Ela quer mostrar que se a onda
estiver dentro das qualificações, freqüência correta, intensidade correta, quer dizer
que a pessoa possa não ter nenhum tipo de perda, porque dentro da Audiologia
existem x decibéis, onde o indivíduo vai ter uma boa audição. Se passar daqueles
decibéis que é o normal, ele vai está tendo um tipo de perda (...) Se todas as
freqüências ele estiver ouvindo bem ele não vai ter nenhum tipo de perda, mas se
em alguma daquelas freqüências tiver alguma alteração ele vai ter alguma
patologia (...) Talvez sejam duas formas de ver a mesma... (...) Dois tipos de
exames utilizados pra ver se confirma uma mesma patologia (...) Em Acústica
a gente via a formação das ondas, via a intensidade da onda, então... ela lembra
sim (...)”.
E06B:
“(...) Está falando sobre a freqüência até oito mil Hertz. Distância da membrana
timpânica em milímetros. A membrana... ah, o quanto ela é capaz (...) Quando a
gente coloca a pressão, o quanto ela é capaz de voltar. De se estender. Não
sei”.
E07B:
Não (...) Não, eu ainda não vi isso (...) Não vi nada desse tipo”.
E08B:
Não me lembro de ter visto”.
Questionado um dos discentes, a partir da exposição de um exemplo
contextualizado no decorrer da entrevista, se uma onda grave teria menos
energia ou o sentido da audição seria menos capaz de perceber essa faixa de
105
freqüência, foi obtida a seguinte resposta:
E04B:
“(...) Boa pergunta, eu não sei responder isso, por exemplo. Acho que numa altura
dessas do campeonato deveria saber te responder”.
A figura mapeamento tonotópico remonta um recurso pedagógico que
possibilita a aplicação de diversos conceitos e fenômenos biofísicos aplicados
nos campos da acústica e psicoacústica. Expressa, portanto, o comportamento
da cóclea no que se refere à localização de transdução do sinal mecano-
hidráulico em sinal eletroquímico para freqüência específica, nas variadas
regiões dos giros cocleares, ancorado fundamentalmente no fenômeno de
ressonância.
O entrevistado E03A citou claramente quase todas as estruturas
histológicas envolvidas no universo da figura, porém relacionou de forma
incoerente o mapeamento tonotópico com as curvas timpanométricas. Atribuiu
ainda às células ciliadas a responsabilidade pela captação das freqüências,
uma vez que o verdadeiro mecanismo que justificaria essa condição reside em
diferentes níveis crescentes de elasticidade da membrana basilar em direção
ao ápice da cóclea, e mais categoricamente no fenômeno de ressonância
acústica.
Nenhum dos docentes, durante a análise da figura, conseguiu
relacionar de modo substancial os fenômenos físicos aplicados que
contribuiriam para a compreensão do mecanismo de transdução coclear para
freqüência específica, em um sítio coclear específico, conforme explicação
lançada no parágrafo anterior.
Apenas o discente E02B descreveu de modo substancial e sucinto os
106
fenômenos físicos que explicam tal mapeamento, apenas não fazendo
referência literal ao termo ressonância por não lembrar no momento da
apresentação desta figura. Acrescentou ainda que viu essas informações no
decorrer da disciplina Biofísica.
Apesar do aluno E03B referenciar os sítios cocleares de maior
especificidade para determinada altura de um som, não foi feita qualquer
citação ao fenômeno de ressonância.
Os discentes E04B, E05B, E06B, E07B e E08B relataram, algumas
expressões verbais que atestaram desinteresse para a área de audição, ora
desconhecimento da figura ou mesmo discursos incoerentes para os conceitos
biofísicos subjacentes.
Argüidos os docentes e discentes sobre a possibilidade ou não da
utilização da figura tonotopismo coclear, como recurso pedagógico em
atividade disciplinar, foram colhidos alguns trechos abaixo:
E01A:
Sim, claro (...) Na verdade ela é aplicada, ela é de certa forma, não exatamente
essa figura, mas o tonotopismo coclear já é abordado sem a especificidade de
explicar as razões pelas quais uma determinada região vibra para
determinadas freqüências diferente de outras. Mas, ela é aplicada (...)”.
E02A:
“(...) Para esse meu aluno de primeiro semestre não (...) Primeiro porque eu
desconheço a figura, não é? Se eu soubesse mais, tivesse mais informações da
figura, eu poderia até fazer uma análise, um juízo que pode, não pode (...) Mas
do que eu conheço, eu acredito que não, porque estou vendo que é um gráfico
muito sofisticado (...) Para você fazer com que o aluno tenha realmente um
entendimento, do que significam essas coisas aqui é meio complicado. Aí é muito
de embasamento matemático (...)”.
E03A:
“É complicado eles entenderem, mas a gente tenta mostrar essa propagação,
mostrando a intensidade que vem (...) A gente observa assim: a gente coloca
uma corda pra vibrar e pra ver os nós naquele trabalho prático (...) cordas
vibrantes (...) Pra eles entenderem aquilo ali e como que acontece, numa
intensidade, numa freqüência tal, quando está mais grave, como vibra com
freqüências agudas... Até eles entenderem, só quando eles visualizam (...) Até hoje
eu não vi eles entenderem com facilidade... (...)”.
107
E04A:
Ah, eu acho difícil, a não ser que o professor estivesse construindo junto,
entendeu? Uma coisa que dá pra se construir”.
E03B:
“(...) Eu lembro, eu sei, assim... Eu conheço isso bastante na disciplina de
Audiologia (...) Até na própria Fisiologia deu... Eu lembro de Fisiologia da
audição, a gente estudou um pouco (...) Se ela foi vista na disciplina de
Biofísica, isso eu não vou recordar (...) Posso cometer até uma injustiça”.
E08B:
“Sim. Sim (...) Pode (...) Mas não me lembro...“.
E01A afirmou que já aplicava de modo rotineiro, durante as atividades
disciplinares, a figura mapeamento tonotópico, embora não relacionasse a
razão pela qual determinada região vibre mais para uma freqüência em
detrimento de outras. E02A também referiu aplicar a figura na sua rotina
docente, porém relata que os alunos têm extrema dificuldade pra entender,
necessitando então de atividades práticas para que atinjam os objetivos.
De modo verdadeiro, o professor entrevistado E02A refere não aplicar
a figura em função do seu desconhecimento acerca da mesma, porém reitera
ainda a não utilização por um fato, no mínimo, curioso: considerou, o que
chama de gráfico, deveras sofisticado! O docente E04A também considerou
difícil o uso da figura, sendo possível apenas, caso o professor estivesse
construindo, junto ao aluno, a atividade.
Um dos discentes relatou já ter realizado atividade com a figura em
algumas disciplinas, dentre as quais, Audiologia e Fisiologia, porém não
recordou ter trabalho com a mesma na disciplina Biofísica.
Békesy (1947) estudou e descreveu de forma pioneira o
comportamento coclear, no que diz respeito às diferentes respostas vibratórias
locais da cóclea frente aos parâmetros de freqüência, amplitude e fase de tons
108
puros. O autor destacou que o padrão de ressonância que aparece na
membrana basilar em nada correspondeu aquele encontrado num sistema
mecano-oscilatório simples, ocorrendo em função das diferentes propriedades
elásticas dos vários tecidos dentro da partição coclear, em especial ao longo da
membrana basilar. Borden, Harris e Raphael (1994), reiteraram que tons puros
de diferentes freqüências acarretam amplitudes de vibração máximas em
diferentes regiões da membrana basilar, desde a base até o ápice da cóclea.
4.6.4 Figura: Acústica do Trato Vocal
Sobre o conhecimento prévio da figura Acústica do Trato Vocal (Anexo
10), foram analisados os discursos dos docentes e discentes entrevistados,
sendo selecionados os seguintes trechos:
E01A:
“O comportamento do som em tubos abertos e fechados”.
E02A:
“Eu achei interessante (...) Eu já vi esse diagrama. Já. Já”.
E03A:
. Estrutura, anatomia de todo o aparelho fonador (...) Não lembro de ter visto em
algum lugar não. Meu Deus, será que é prega vocal? Não tenho a menor idéia. É
o quê? (...)”.
E04A:
”.
E01B:
“(...) Eu não lembro se eu vi essa figura aqui na universidade ou se foi alguma
quando eu estive... (...) Não lembro...“.
E02B:
Essa exatamente não (...)”.
109
E03B:
“Essa figura é familiar (...)”.
E04B:
Essa exatamente, não”.
E05B:
“... Uma figura de face (...) Parecido, já”.
E06B:
“Acústica do trato vocal. Algo parecido antes”.
E07B:
“(...) Já vi. Em Anatomia (...) Olhando aqui pra mim é só voz. É só anatomia da...
(...)”.
E08B:
(...) Essa já”.
Todos os professores referiram conhecer a figura acústica do trato
vocal, enquanto cinco dos oito alunos afirmaram conhecê-la. Um aluno não
lembrou e dois referiram desconhecê-la.
Solicitados os entrevistados para que incluíssem mais informações ou
conhecimentos relacionados à acústica do trato vocal, independente do
conhecimento prévio ou não da figura, foram registrados os trechos a seguir:
E01A:
Como o som se comporta em tubos (...) Conceitos relacionados à Acústica.
Câmaras de ressonância, interferência dos diferentes tecidos na articulação das
palavras (...)”.
E02A:
“(...) Aqui ele está apenas mostrando como é que funciona a cavidade bucal como
uma cavidade ressonante, inclusive mostrando aqui a formação de um modo de
vibração (...) Um tubo acústico onde você tem um lado uma extremidade
fechada e a outra aberta. Isso aqui é muito simples (...) Isso aqui não tem
problema nenhum (...) O V aqui pelo que eu estou entendendo é o ventre que
aponta o lado externo ele usa a pressão atmosférica, não é? Pra criar um
ventre na ponta e a outra extremidade é um nó (...) No terreno da especulação,
acredito que seja como a cavidade nasal influencia na formação da voz ou do tom
de voz da pessoa (...) Formação de onda estacionária (...) Acredito que a língua,
a dentição e todo esse tipo de coisa pode influenciar na formação”.
110
E03A:
A parte de ressonância, da emissão da fala (...) Como a fala se processa, que
órgãos estão envolvidos, o que é que acontece quando alguma falha em alguns
desses setores, algumas dessas etapas, pra que o som da fala não seja
compreendido e para que a comunicação não se faça. Então você vai mostrar
quais são os componentes, como se dá o processo dessa movimentação de
todo trato, dessa área fonoarticulatória”.
E04A:
“(...) Uma figura do trato vocal, mas não está completo, não é? Porque o trato
teria que estar mais... mostra a língua, não é, postura assim de língua, os lábios, a
questão nasal, e... E a gente sabe que a parte... A caixa de ressonância, onde
as freqüências são amplificadas funcionam aqui (...) Produção do som? Abertura?
(Pausa). Não sei (...) Eu acredito que é a questão ressonantal (...) Produção
aqui do som (...) É uma figura que, que trabalha com o trato vocal, mostrando
postura de língua, como o som é produzido (...) Aqui mostra a cartilagem epiglote
na laringe, não é? Palato duro, palato mole (...)”.
E01B:
“(...) Local de ressonância... (...) Após a emissão do som, os processos que se
somam... até ser escutado pelo outro ouvinte. Nesse caso, aqui a gente não
está lidando com o ambiente que vai interferir na ressonância da voz... Vai estar
na estrutura anatomofisiológica do produtor (...) Escape nasal que ocorre, na
maioria das pessoas, durante a fonação, no trabalho da língua, na ressonância, na
glote (...) Pode ocasionar um aumento na intensidade. Tudo em relação de
acústica da voz que está no trato oral...”.
E02B:
“(...) Isso aqui está mostrando o local de ressonância, onde a gente tem os tipos
de ressonância (...) Eu não consigo entender esse gráfico. Não tenho muita
coisa para falar (...)”.
E03B:
“(...) Anatomicamente falando, eu imagino que ela trate das cavidades de
ressonância (...) Seria a modificação que, através da passagem do som
dentro das determinadas estruturas fechadas, ela produz uma reverberação
que faz uma modificação em cima desses sons. Isso seria a ressonância (...)
Não sei. Pensando em ressonância, na fala. É, a gente pode dizer que a
ressonância modifica... (...) Vou tentar lembrar dos princípios... modulação,
intensidade... a percepção”.
E04B:
“(...) O desenho da anatomia do corpo, glote, agora isso aqui não é nada do que eu
já tenha visto antes (...) Não adianta a gente entender terapia sem entender o
que está acontecendo ali realmente, ver o fisicamente, entendeu? (...)”.
E05B:
“(...) No caso mostrar a mobilidade da cavidade oral, onde vai ser a deglutição (...)
qualquer tipo de alimento (...) Existem produção de ondas peristálticas (...) Com a
Voz, produção dos sons através das pregas vocais (...) O ar que vem dos pulmões
(...) É uma figura que realmente eu acho que fala em relação à Voz”.
E06B:
111
“(...) Esse V aqui é de voz? (...) Seria um V de voz? Seria a fala articulada saindo,
não? (...) O que a gente viu assim falando de ressonância, falando das
cavidades de ressonância, ou seja, o ar quando sai (...) Eu acho que é como se
tivesse mostrando o trajeto do ar quem vem dos pulmões, passando pelas
pregas vocais e que vão sofrer modificação aqui nas cavidades de
ressonância pra produzir a voz que é a fala, que é a voz articulada (...)”.
E07B:
“(...) Essa figura... (...) Mas eu sei que a gente pode estar analisando as ondas da
voz... (...)”.
E08B:
“Eu acho que caixas de ressonância (...) Projeção, não é? de voz (...)”.
Nos discursos de todos os docentes, em particular no de E02A,
destacou-se a riqueza de informações, aduzindo os principais tópicos físicos e
biofísicos de interesse para a fonação, dentre os quais o fenômeno de
ressonância acústica, tubo acústico fechado, zonas de ventre e de nó, além da
citação sobre a existência de ondas estacionárias. Porém, não foram citados
nos discursos desses docentes os fenômenos físicos de superposição de
ondas, bem como o comportamento específico destes tubos ocasionando o
efeito do trato vocal como filtro, proporcionando, portanto, ganho acústico na
freqüência fundamental laríngea e nos seus harmônicos múltiplos ímpares, ora
denominados formantes. Pelo menos, quatro dos oito discentes produziram nos
seus discursos, relatos cognitivos insatisfatórios para quem já cursou a
disciplina Biofísica, bem como disciplinas do eixo profissionalizante, como
Audiologia e Voz.
Em alguns discursos discentes, foi citado o fenômeno de ressonância,
porém poucos alunos, como E01B, comentaram sobre o efeito do trato vocal na
elevação da intensidade do sinal laríngeo. Conforme ocorrido nos relatos
docentes, nenhum aluno falou sobre a influência do trato vocal em ofertar
ganho para harmônicos específicos produzidos, quando da vibração das
112
pregas vocais.
Argüidos os docentes e discentes sobre a possibilidade ou não da
utilização da figura Acústica do Trato Vocal como recurso pedagógico em
atividade disciplinar, foram explicitadas as seguintes respostas:
E01A:
Sim, claro, claro”.
E02A:
Essa sim porque essa aqui ele vê na sala, ele vê no curso (...) A formação da
onda estacionária, ele sabe o que é um nó, ele sabe o que é um ventre (...)”.
E03A:
Acho, se ele entender... como eu disse a você, sempre não só trabalhar teoria
mostrar parte prática, não é? Vivência, mostrar aquele fato, a junção que consiga
compreender melhor”.
E04A:
Sim, agora eu não entendi tudo nessa figura, não é? (...) Muito difícil. Muito
estranho (...) Eu tiraria algumas coisas dessa figura, entendeu?”.
E01B:
A gente viu a ressonância da voz em cabeça e pescoço... na disciplina (...)”.
E03B:
Sim. Colocando as cavidades de ressonância, mas... ela é muito mais anatômica
(...) Na Biofísica. Isso aí a gente viu também (...) Como tem muito tempo que eu
cursei a disciplina, assim é muito difícil lembrar (...)”.
E05B:
“(...) Acredito que a Acústica e a Psicoacústica estejam relacionadas sim a essa
pressão desse som, da voz, mas assim eu desconheço...”.
E06B:
“(...) Em Acústica, eu acho que sim (...) De fonação. Falou. Eu acho que sim (...)
Voz, que a gente viu... quer dizer, primeiro em Anatomia quando a gente viu...
(...) Quando vimos a parte anatômica, e vimos agora recentemente em Voz,
quando ela deu uma revisada”.
E07B:
“(...) A professora não falou nada de que eu pudesse fazer um link com o que eu
aprendi em Acústica e Psicoacústica (...) A gente deu mais anatomia disso
(...)”.
E08B:
113
“(...) Em Acústica e Psicoacústica? Não. Não vi (...) Essa eu vi em várias, não é?
Vi em Anatomia, vi em Fisiologia (...)”.
Dentre os docentes entrevistados, caracterizou-se a unanimidade em
utilizar tal figura como recurso pedagógico, onde alguns referiram já terem
utilizado de modo estratégico nas atividades disciplinares ou mesmo, de modo
injustificado, um deles relatou a necessidade de alterá-la. Muitos discentes
referiram, de certa forma, já terem visto a imagem, ou mesmo não lembrarem
de detalhes da figura. Um deles reclamou da ausência de correlação da figura
com a Biofísica, em função de uma abordagem com ênfase em Anatomia.
Titze (2000) relatou que o trato vocal se assemelha de forma
aproximada a um tubo cilíndrico, e que fluxo de ar está relacionado ao produto
da velocidade pela área de secção transversa deste tubo. Afirmou ainda que o
fluxo no trato vocal é constante, mesmo quando ele se contrai ou expande O
autor relacionou o fenômeno de ressonância ao mecanismo de reflexão, que
acarreta no fenômeno de superposições de ondas. Borden, Harris e Raphael
(1994) consideraram os formantes, outrora harmônicos, como o produto da
ressonância no trato vocal, podendo estes formantes, por exemplo, serem
modificados pelo incremento mínimo de abertura de boca. Russo (1999)
acrescentou ainda as influências das mudanças na forma, posição e no grau de
elasticidade das estruturas do trato vocal, possibilitando assim inúmeras
variações nos sons da fala.
4.6.5 Figura: Vibração das Pregas Vocais
Alguns trechos dos discursos dos entrevistados foram selecionados,
relatando ou não a existência de um conhecimento prévio da figura Vibração
114
das Pregas Vocais (Anexo 11):
E01A:
“O comportamento das pregas vocais (...) ”.
E02A:
“Vibração das pregas vocais (...) Não, essa não (...) Como está escrito aqui, eu
nunca tinha visto não. Os nossos livros não têm isso (...)”.
E03A:
“Já, já, já vi, sim”.
E04A:
, mesmo porque você falou que essas fontes aqui estão corretas, não é? Essa eu
conheço de livro (...)”.
E01B:
“(...) Como a outra figura, eu falei...”.
E02B:
“(...) Mas eu não vi nessa matéria. A gente viu em Patologia. O professor
mostrando com a luzinha como é que ela vibra”.
E03B:
“(...) Esse diagrama dessa forma, eu nunca vi não”.
E04B:
Não (...) Nem imagino”.
E05B:
É uma figura de pregas vocais, onde está mostrando como ocorre na realidade a
vibração das pregas vocais pra emissão do som (...)”.
E06B:
“(...) Eu acho que a gente viu isso, quer dizer, pelo menos algo parecido (...)”.
E07B:
“(...) Não exatamente essa figura (...) Mas, pelo título, eu já vi outras figuras.
Diagrama da vibração das pregas vocais”.
E08B:
“Diagrama de vibração das pregas vocais. Esse aqui seria o efeito Bernoulli?”
Conforme relato preliminar, um dos quatro docentes afirmou nunca ter
115
visto antes a figura, nem mesmo nos seus livros de consulta. Ainda
preliminarmente, dentre os alunos entrevistados, pelo menos cinco afirmaram
seguramente já terem visto a figura antes.
Uma vez, requisitado os docentes e discentes para que incluíssem
mais informações ou conhecimentos relacionados à vibração das pregas
vocais, independente do conhecimento prévio ou não da figura, foram obtidos
os seguintes relatos:
E01A:
“Como o som se processa, como o som é gerado pela vibração das pregas
vocais através da passagem do ar e a adução de pregas (...) Aí entra toda a
teoria mioelástica-aerodinâmica, efeito Bernouilli (...) O efeito Bernouilli é
aquele efeito que acontece quando um fluxo qualquer que seja passa por
uma região extremamente estenosada. Então há uma queda de pressão,
nessa região que sofre estenose, fazendo com que uma prega seja sugada
em direção à outra e isso contribui para o processo de adução (...)”.
E02A:
“(...) Interessante (...) Está mostrando a aglutinação do ar por vibração das
cordas vocais (...) Eu já vi o chamado tubo de Kundt (...) É um tubo onde se
coloca um pó e, por vibração ritmada de um êmbolo, mostra como é que acontece
a aglutinação desse pó (...) Zonas de compressão e em zonas de extensão (...)
Aqui ele vai contextualizar o que ele aprendeu na Física, porque na realidade
na Física, no laboratório de Física, na melhor das hipóteses, ele vai ver um tubo de
Kundt”.
E03A:
“O que eu imagino são as posições de vibração que ocorre (...) A depender dos
sons emitidos, do uso do trato fonatório, das colocações que eu dei... Não sei nem
se é isso realmente... uma coisa que nem... da área de Voz... (...) A depender do
fonema que você quiser emitir. Como você queira falar, eles vão dar os pontos, vai
fazer a entonação, a passagem (...)”.
E04A:
“(...) Esse diagrama ele mostra uma prega vocal, não é? Aqui as falsas pregas, as
verdadeiras e mostra o efeito Bernoulli (...) É como é a voz é produzida, é uma
das teorias que explica a produção vocal (...) Então, por exemplo aqui as pregas
vocais estão se unindo, depois elas vão se abrindo, se abrindo, até a passagem do
ar, a pressão é subglótica (...) Como ocorre a vibração das pregas vocais. Depois
começa a fechar e volta, é um ciclo (...) O ar que vem dos pulmões faz uma
pressão subglótica, força a prega vocal (...) Passa rapidamente, faz a prega
vocal vibrar, que produz o som. Esse som vai ser amplificado nas cavidades
superiores. Vai ser amplificado e vai haver a ressonância e a articulação do som
(...) Como eu falei a pressão aérea, pressão subglótica. A questão da vibração de
prega vocal que produz a freqüência fundamental e a gente não pode esquecer
que todos os harmônicos, o professor... Aí a gente vai falar de freqüência
116
fundamental, de harmônicos, são produzidos nas pregas vocais... Então aqui, é,
essa figura... Dá pra se explicar pro aluno”.
E01B:
“(...) Em relação à textura do tecido, a sua rigidez, aqui nas pregas vocais. Aí então
a gente pode perceber que há uma alteração vocal, desde que haja um
enrijecimento de prega vocal, seja ela unilateral ou bilateral. Se tiver um nódulo,
um cisto, algo que modifique a estrutura física, vai alterar a produção do som
por conta de diferença de vibração, do escape de ar que vai acontecer. E já
relacionando com a Biofísica, a pressão sonora, em alguns casos que você
faz a pressão glótica, não vai ser possível em alguns casos de fendas vocais.
Nessa figura dá pra relacionar bastante coisa (...) Está mostrando as pregas
vocais verdadeiras e as pregas vocais falsas ou pregas vestibulares como a gente
chama em literatura. Sugere o movimento mesmo da prega (...) Tem velocidade
de vibração, freqüência, resistência ou não e pressão subglótica (...)”.
E02B:
“Aqui está mostrando a vibração das pregas vocais. Isso tem até um nome, que você
visualiza dessa forma, bem devagarzinho... estroboscopia, acho que é alguma
coisa assim, que é com uma luz especial que você coloca (...) Isso é uma
seqüência de figuras (...) Ela começa a vibrar dessa forma. Tem alguma coisa a
ver com a massa, com a rigidez, mas eu não lembro”.
E03B:
“(...) Eu já vi alguns diagramas de vibração das pregas vocais que trazem a
diferenciação entre uma vibração numa prega vocal normal e numa prega
vocal alterada e tal, mas dessa forma não (...) Lembro como eu falei do efeito
Bernoulli, do diferencial supra e infraglótico, da pressão. Que é o que acho que
essa figura pode contribuir (...)”.
E04B:
“(...) Eu estou vendo “Vibração das Pregas Vocais”, mas não estou conseguindo
visualizar o que é (...)”.
E05B:
“(...) Na realidade ele vem, ele é produzido nos pulmões, o ar. Ele sai dos
pulmões e ele é produzido passando pelas pregas vocais, é que vai ser feita a
produção do som (...) A produção é feita através do ar (...) Não. Quem vai
produzir o som da nossa voz... a vibração da prega vocal”.
E06B:
“(...) Eu me lembro de quando “Voz” falou sobre o efeito de Bernoulli (...) Não
sei explicar (...) É a questão de que as pregas vocais elas não abduzem
totalmente. Então primeiro quando o ar vem, elas estão ainda aduzidas, aí ela
abre um pouquinho, aí vai fechando, vai abrindo. É como... Eu não sei explicar (...)
Vários momentos das pregas vocais (...) Aqui elas somente aduzidas eu acho
(...)”.
E07B:
“(...) Eu lembro da professora falando da teoria aerodinâmica (...) Através da
dinâmica da vibração, não é? (...) Como é esse ciclo da vibração. Das pregas
vocais (...)”.
E08B:
117
“Parece-me mais, é produção de voz. Aqui fala de vibração de prega vocal (...) As
formas que elas vão tomando durante a fonação (...) Mas em Acústica a gente
não viu (...) Bernoulli (...) Do que eu me lembro (...) Pressão que você tem na
prega vocal que vai estar... É... De acordo com cada figura, ela vai ser diminuída
ou aumentada. Com partículas de ar, alguma coisa assim e aí ela vai testar
tomando várias formas durante a fonação e aí ela fica exatamente assim nessa...
(...) A mobilidade da prega vocal durante a fonação (...)”.
O discurso docente mais rico em detalhes da figura vibração das
pregas vocais foi apresentado pelo entrevistado E04A, o qual fez alusão ao
efeito Bernouilli, ciclo glótico, pressão subglótica, freqüência fundamental e
harmônicos. E04A destacou antecipadamente, de forma veemente, a
possibilidade de utilizá-la no seu arsenal de material didático. Vale salientar
que, durante a exposição da figura, nenhum docente fez alusão à propriedade
elástica restauradora, simetria de massa, elasticidade, tampouco à
necessidade da existência de uma resistência glótica ideal para que haja o
desencadeamento dos ciclos góticos.
Ao contrário do que ocorreu nas figuras relacionadas à biofísica da
audição, o entrevistado E03A apresentou algumas dificuldades em produzir
narrativa acerca dos possíveis fenômenos acústicos relacionados à vibração
das pregas vocais. Já o entrevistado E01A manteve certa regularidade no seu
discurso cognitivo-pedagógico, fazendo referência, pelo menos, a alguns
fenômenos relevantes no campo fonatório, dentre os quais a teoria mioelástica
aerodinâmica, a qual aborda os órgãos e fatores físicos causais e orgânicos
relacionados à produção da voz a ao efeito Bernouilli, explicado pelo docente
com maestria.
Embora o professor entrevistado E02A tenha relatado desconhecer a
figura vibração das pregas vocais, ao visualizar a figura com parcimônia,
associou-a ao tubo ressonador de Kundt, equipamento básico presente em
118
laboratórios de Física Acústica experimental, e que propicia a visualização do
fenômeno de ressonância em tubos com explicitação da formação de ventres e
nós ondulatórios, através da vibração de partículas visíveis.
Nos discursos discentes, apenas E05B apresentou limitação cognitiva
significativa para um aluno incluso já ciclo profissionalizante. Os demais
discentes relataram de forma diversificada, conhecimentos diversos acerca da
rigidez relacionada à alteração vocal, bem como a mudança estrutural
relacionada à patologia, como a fenda glótica. Foi feita inferência, por um dos
discentes, quanto ao recurso óptico para visualização dos ciclos de vibração
das pregas vocais, denomina estroboscopia, além da citação ao efeito
Bernouilli.
Cada pessoa é única, tendo assim, a forma de aprendizagem também
única. Baseado nessas heterogeneidades cognitivas encontradas na pesquisa,
D’Ambrosio (1986), concorda também que o ponto que parece de fundamental
importância e que representa o verdadeiro espírito disciplinar é a capacidade de
modelar situações reais, codificá-las adequadamente, de maneira a permitir a
utilização das técnicas e resultados conhecidos em um outro contexto, novo.
Isto é, a transferência de aprendizado resultante de uma determinada situação,
para uma situação nova é um ponto crucial do que se poderia chamar
aprendizado da Biofísica e talvez o objetivo maior do seu ensino.
Perguntado aos docentes e discentes sobre a viabilidade ou não da
utilização da figura vibração das pregas vocais, como material pedagógico,
durante as atividades disciplinares, foram explicitadas as seguintes respostas:
E01A:
119
Claro (...)”.
E02A:
Sem dúvida eu colocaria todas essas pranchas que você me mostrou, essas
suas figuras na aula prática. Por que na aula prática? Porque eu preciso de um
ambiente tranqüilo, poucas pessoas onde eu possa prender a atenção deles e
faze-los refletirem sobre as figuras (...) Na sala de aula com a quantidade de
alunos que eu tenho... (...) Seria muito produtivo”.
E03A:
Não, nunca trabalhei não (...) Vou lhe dizer que por finalidade nunca usei (...) Eu
não sei o efeito que isso traria na época que eu trabalhei (...)”.
E04A:
“(...) Eu aplicaria sim, apesar de que é bem complexo isso (...) Isso daí poderia
ver em disciplina mais específica (...)”.
E02B:
“(silêncio)”.
E03B:
“(...) Vi na Biofísica (...) Lembro que o professor, inclusive, fez uns desenhos no
próprio quadro”.
E05B:
“(...) Poderia devido à formação, não é? À formação das ondas, eu acho que sim”.
E06B:
“Não sei (...) Eu acho que como nessa disciplina a gente vê basicamente mais a
questão de Audiologia, eu acho que isso talvez, realmente tivesse ser mais é
Anatomia e Voz (...) Pelo que eu vi de Psicoacústica não (...)”.
E07B:
“(...) Eu acho que eu ouvi isso com Psicoacústica (...) Acho que sim (...) Me
lembra”.
E08B:
“(...) Com certeza. Deveria. Deveria ter visto (...) Eu me lembro de ter visto algo
parecido agora em Voz, mas em Acústica não, não, nunca vi uma figura assim
(...) A figura que a gente viu com a professora de Voz. Não é exatamente essa.
Mas me lembra um pouco as formas que a prega vocal vão tomando durante
a fonação”.
Nenhum entrevistado se opôs efetivamente à viabilidade da
abordagem da figura vibração das pregas vocais, durante as atividades
pedagógicas. O docente E02A concordou de forma decisiva quanto à utilização
de todas as figuras apresentadas até então, em atividade prática, onde exista
120
um contingente reduzido de alunos, possibilitando assim a reflexão dos
fenômenos biofísicos mais relevantes na produção da voz. O entrevistado
E04A concordou em utilizar a figura como recurso didático, porém com
ressalvas, face à complexidade, recomendando o seu uso preferencialmente
em disciplinas específicas.
Dentre os relatos discentes, destacou-se a heterogeneidade de
concepções quanto ao uso da figura na disciplina. Foram destaques, a omissão
silenciosa de E02B; as experiências pregressas de E03B e E07B na disciplina
Biofísica; a argumentação simplista de E05B relacionando a figura à formação
de ondas; a inexistência de lembrança de E06B acerca de tópicos de voz na
disciplina Biofísica, em função da “antropofagia” tendenciosa do eixo de
audição; culminando com E08B, citando a exploração óbvia da figura na
disciplina profissionalizante de voz.
Russo (1999) considerou os ciclos de abertura e fechamento das
pregas vocais como contínuos, formados a partir de uma corrente pulsátil de ar
que desencadeiam vibrações necessárias para a produção de sons complexos,
constituídos de uma freqüência fundamental e uma série de harmônicos.
Alertou ainda que, para que haja vibração das pregas vocais, esse fluxo de ar
deve encontrar uma resistência relativa dos ligamentos e músculos dessa
estrutura fonatória. A autora destacou ainda que a capacidade restauradora
elástica das pregas vocais, durante os ciclos vibratórios não se deve somente à
resistência glótica, mas também a um fenômeno físico denominado efeito
Bernouilli. Este fenômeno físico é perfeitamente aplicável à fonação, e
decorrente da variação da velocidade de um fluido, como o ar, em um condutor
de diâmetro variável (glote), sendo inversamente proporcional à pressão do ar
nas paredes do tubo; ou seja, quando a velocidade for máxima, a pressão será
121
mínima no posto de maior constrição do tubo, favorecendo assim a restauração
efetiva das pregas vocais na fase de adução.
Borden, Harris e Raphael (1994) consideraram as pregas vocais
semelhantes à duas “prateleiras elásticas móveis”, cujas tensões e
elasticidades variam ao longo da vibração. Os autores fizeram referência à
teoria mioelástica-aerodinâmica, publicada em 1950 por Van den Berg, que de
modo sintético condiciona a produção da voz à existência de três estruturas: a
presença de uma fonte de suprimento de energia (representada usualmente
pelo volume de reserva expiratório pulmonar), a existência de uma estrutura
tenso-elástica vibrátil (representada pelas pregas vocais), e pela existência de
segmentos ressonadores que propiciariam um ganho acústico do sinal
originário da laringe (representado pelo trato vocal).
4.6.6 Figura: Espectrogramas da Voz Humana
Sobre o conhecimento prévio da figura Espectrogramas da Voz Humana
(Anexo 12), foram analisados os discursos dos docentes e discentes
entrevistados, sendo selecionados os seguintes trechos:
E01A:
“É um espectrograma de voz (...) Parecido, mas muito distante disso”.
E02A:
Eu já vi isso (...) (...) A mesminha (...) Existe aqui na faculdade um software
que ele faz a decomposição espectral das freqüências vocais (...)”.
E03A:
“(...) . Espectro, não é? Sobre espectro, existe o gráfico da emissão que se faz,
não é? E como a vibração se faz (...)”.
E04A:
”.
122
E01B:
Que eu lembre, não. Como eu gosto de voz, geralmente se eu tivesse visto eu
lembraria (...)”.
E02B:
Essa daqui que não sei mesmo (risos). Primeiro que eu não gosto muito de Voz
(...) Eu gosto de voz aplicada a... (...)”.
E03B:
Já, vi um espectrograma... já... na disciplina de Voz (...)”.
E04B:
“Espectrograma, não é?”.
E05B:
Não, ainda não (...) Aqui tratam de gravações de voz. Não é? Como... freqüência
(...)”.
E06B:
Não. Não vi não, mas isso deve ser mais ou menos aquilo que sai desses softwares
para análise de voz. Mas eu nunca vi. Já que tem freqüência, tempo, tempo de
fonação, não sei”.
E07B:
“(...) Não”.
E08B:
Não (...)”.
Todos os docentes relataram conhecer as figuras de espectrogramas
da voz humana. Um número expressivo de alunos, pelo menos seis dentre o
total de oito, relatou desconhecer a imagem de um espectrograma.
Solicitados os professores e alunos entrevistados para que
acrescentassem mais dados ou conhecimentos associados aos
espectrogramas da voz humana, independente do conhecimento prévio ou não
da figura, foram obtidos os seguintes relatos:
E01A:
A análise da voz no que se refere à freqüência, no que se refere às
123
especificidades de vozes, quanto à aspereza, enfim, uma análise espectrográfica
(...) Basicamente, presença de harmônicos..., diferentes freqüências (...) Cada
ondazinha dessa aqui é uma freqüência diferente (...) A somatória dessas
freqüências é que dariam o timbre da voz desse indivíduo (...) Eu nunca vi esse
diagrama, então eu imagino que sejam harmônicos (...)”.
E02A:
Aqui você tem um espectro de freqüência, não é? Então ele está mostrando aqui
os espectros de freqüência, a variação dos espectros de freqüência de acordo com
a intensidade vocal (...) Ele fala aqui freqüência em função do tempo. Ele está
mais fazendo uma análise da freqüência (...) Tem essas linhas sinuosas aqui
que mostram como a freqüência varia de pessoa pra pessoa, como ela vai
modulando de acordo com a abertura, fechamento da cavidade bucal (...)”.
E03A:
“(...) São duas formas de apresentação, como a faixa de freqüência que você
teria e como a estrutura gráfica se apresenta em cima (...) Porque você tem picos
próximos, é um efeito gráfico mais prolongado. Esse não é o vivenciado, a emissão
lá é mais bonitinha... Eu imagino que seja isso (...) São duas gravações. Tem
masculino, feminino... não sei te dizer (...) Se foi grave... agudo, eu imagino
que seja alguma coisa mais aguda, e talvez aqui seja mais grave pela
maleabilidade talvez tendo do gráfico. Não sei nem se é isso... (...) Não, foge a
minha área. Eu tenho uma noção, mas nem tanto... (...)”
E04A:
“(...) Espectrografia, espectrograma. É a análise acústica em si, é algo muito novo,
muito recente na Fonoaudiologia. É muito difícil também pro aluno (...) Precisa
de prática pra ler isso aqui (...) Ler um sinal de voz. Precisa o que? Levar pra ele
aprender. Então você pode mostrar pro aluno um espectrograma, mas nem tudo
ele vai saber explicar (...) Um registro do sinal vocal (...) O início aqui é o ataque
(...) Ele pode atacar muito forte (...) Falar numa intensidade muito forte e depois ir
diminuindo (...) O programa acaba analisando a amplitude, a freqüência e como
estão as freqüências, qual é a ressonância, onde elas são mais fortes. Como é
que eu posso explicar isso pra uma pessoa leiga? O trato vocal ele amplifica
algumas e abafa outras. Isso é a própria anatomia, o próprio... então aí você tem
que explicar pro aluno isso, que aqui mostra um sinal de voz, que aqui está um
pouco diferente (...) Essas linhas representam as freqüências do som, os
harmônicos (...) Depende da estabilidade, por exemplo, aqui ele está cortando,
mas se fosse reto mostra se está estável, se está variando (...) Elas não são
totalmente planas (...) Eu acredito assim... isso é importante na Fonoaudiologia.
O perceptivo junto com o instrumental (...) Porque isso aqui pra mim não é
tudo, pra mim eu teria que ouvir a voz do paciente, ter mais informações (...)”.
E01B:
“(...) A freqüência fundamental (...) A gente vê pouco isso na prática, na
disciplina de Voz que a gente já teve, a gente vê apenas em um programa (...)
O que foi pedido na gravação 1 foi diferente do que foi pedido na gravação 2
(...)”.
E02B:
“(...) Programa de voz que faz, que avalia. Não faço a menor idéia de quais são os
parâmetros utilizados, como é que você observa... Isso daqui a gente viu de
forma muito teórica em uma outra matéria. Não foi em Biofísica. Foi, eu não
lembro em que matéria. Foi uma matéria depois. Aí tem varias associações... que
eu nem me lembro, que foi do livro de Mara Behlau. A gente pegou algumas coisas
124
que ela vai explicando sobre essa análise acústica da voz, que no livro não dá
para entender absolutamente nada, porque é teoria pura. Sem pratica... não
dá para entender”.
E03B:
“(...) Tive a oportunidade de fazer o meu espectrograma (...) Não me recordo (...)
E creio que não vi (...) Eu vi uma figura sobre espectrograma na disciplina de
Voz (...) Porque espectrograma ele consegue fazer a análise da voz, observando
quais as freqüências, onde ela está situada, se existem alterações (...) Ela tem uma
freqüência fundamental (...)”.
E04B:
“(...) Se desse isso na disciplina, essa defasagem, ela dificulta muito o aprendizado
do aluno. Por exemplo, como eu vou analisar um exame de voz se eu não tenho
um conhecimento do que está acontecendo ali, da análise daquelas ondas?
Então, assim, isso me inquieta muito, e eu procuro encontrar solução pra isso.
Procuro curso, mas não vejo nada muito direcionado pra essa área, entendeu? Eu
pergunto até pra outras colegas do curso de Fonoaudiologia, não sei se a
deficiência é mais aqui. Eu percebo essa deficiência nos outros cursos, mas
isso me inquieta muito. Eu pergunto muito pra meu esposo, inclusive, mas como
ele também não tem o olhar voltado pra área de saúde, ele não consegue me
ajudar muito. Eu tento encontrar alguma coisa que possa me ajudar nessa
deficiência, mas eu não encontro, isso me deixa triste... eu me sinto limitada,
sabe?”.
E05B:
“(...) A freqüência com que a voz é produzida (...) Se ela é corretamente produzida
(...)”.
E06B:
“(...) Talvez aqui fosse quando tivesse alcançando maior intensidade? Não sei.
Não sei, nunca vi”.
E07B:
Eu vi Voz. Eu vi Voz (...) Mas... não vi esse diagrama (...) Eu posso ter visto em
livros assim quando eu tava estudando (...) Dado na disciplina... não”.
E08B:
Essa figura número seis a gente não viu, aquela outra do efeito Bernoulli a gente
só teve conhecimento agora no quarto semestre que a gente viu (...) Na verdade
eu só vi que era a respeito de voz pelo título”.
O discurso mais detalhado sobre os espectrogramas da voz humana
foi o produzido por E04A, onde o docente citou alguns dos parâmetros vocais
passivos de avaliação, como os possíveis tipos de ataques vocais, a amplitude
do sinal, a freqüência, os harmônicos. Porém, mesmo tratando-se de
espectrogramas de banda estreita, foi feita uma relação equívoca entre essa
125
modalidade de registro com o fenômeno de ressonância, mais comum de ser
evidenciada num registro espectrográfico de banda larga. Uma observação
extremamente positiva e importante foi feita pelo mesmo entrevistado,
chamando a atenção para a partilha equilibrada de juízo diagnóstico entre os
dados perceptivos e instrumentais.
Em nenhum momento, quaisquer dos entrevistados, relacionaram os
registros dos espectrogramas à variação proposital da freqüência fundamental
glótica, por aumento da tensão cervical ou mesmo laríngea, através da
emissão de uma técnica vocal denominada glissando, ora ascendente na
gravação 1, ora descendente na gravação 2.
No discurso de E01A acerca das concepções dos espectrogramas
apresentados, destacaram-se os relatos de identificação dos harmônicos no
espectrograma, além da correlação destes harmônicos na construção do
conceito de timbre vocal, levando-se em consideração que, neste mesmo
discurso, o docente tenha ratificado nunca ter visto anteriormente este tipo de
figura.
No discurso de E02A, foi identificada, de modo pouco claro, a
existência de freqüência, sem que fosse apontada a freqüência fundamental, e
sem que houvesse caracterização do sinal laríngeo como onda complexa
quase periódica. No mesmo discurso, E02A se equivoca ao afirmar que as
linhas sinuosas existentes nos espectrogramas se devem à modulação de
acordo com a abertura, fechamento da cavidade bucal. É válido ressaltar que
os espectrogramas de banda estreita não se prestam para avaliar ou identificar,
de modo fidedigno, modulações do trato vocal, uma vez que registram apenas
o sinal acústico originado nas pregas vocais. Poucas informações consistentes
foram relatadas por E03A, limitando-se a afirmar de modo seguro acerca da
126
existência de freqüências representadas pelas linhas do espectrograma.
Nos discursos discentes de E01B e E03B, foram feitas referências
apenas ao parâmetro freqüência fundamental, onde a justificativa de E01B
residiu na fraca abordagem prática na disciplina de voz, com relato perceptivo
limitado à diferenciação dos espectros nas gravações 1 e 2, sem especificar as
causas dessas diferenciações. E03B relatou ter gravado e analisado o registro
da própria voz na disciplina profissionalizante correlata. Os discursos discentes
de E02B, E04B, E05B, E06B, E07B e E08B demonstraram total ausência de
referência aos parâmetros vocais ou mesmo alusão a quaisquer termos
conceituais de acústica aplicada. Foram constatados nestes últimos discursos
referentes à busca discente ineficaz por cursos extra-muros, visando à
formação cognitiva no aludido tema; relatos de perplexidade e tristeza em
função da limitação cognitiva; relatos simplistas e extremamente sintéticos,
evidenciando formação acadêmica deficitária; relatos discentes desconexos e
vazios com falhas importantes na interpretação de parâmetros elementares
existentes no registro. Vale lembrar que todos os discentes incluídos nesta
pesquisa já cursaram as disciplinas Biofísica, Audiologia e Voz.
Argüidos os docentes e discentes sobre a possibilidade ou não da
utilização da figura espectrogramas da voz humana como recurso pedagógico
em atividade disciplinar, foram explicitadas as seguintes respostas:
E01A:
“É... em Biofísica, como ilustração, sim. Análise, eu acho que caberia às
disciplinas que têm a Biofísica como pré-requisito. Nesse nível, por exemplo de
detalhamento, com a carga horária que a disciplina possui, eu acho que é
completamente incompatível (...) Eu digo isso pela minha prática docente. A
gente não tem tempo suficiente pra trabalhar os conceitos, porque são
sessenta horas de carga horária (...)”.
E02A:
127
“(...) Acredito que sim (...) Sem dúvida nenhuma. Sim. Porque inclusive aqui é
uma hora em que ele vê a aplicação de todos aqueles conceitos que nem a gente
aplicou no começo (...) É a hora em que ele chega e pode ter uma visão melhor (...)
Das várias freqüências que você pode emitir com a cavidade bucal e como é que
isso acontece na mídia, assim: “foi feita análise de voz de um...” (...) Inclusive isso
aqui são padrões (...) Como se fosse uma impressão digital da pessoa, mostra
quem é, quem não é, coisas dessa natureza (...) Eu não participo desta prática
(...) Existem propostas da gente fazer trabalhos conjuntos (...)”.
E03A:
Acho que sim, eu acho, porque mostra pra ele... gráfica, dos sons que ele
percebe, como você visualiza, não é? (...) Em relação ao grave e agudo,
intensidade, timbre (...)”.
E04A:
“(...) É, eu não conheço o programa... Eu não sei... (...) Sim, eu utilizaria,
explicaria... É, mostraria primeiro na prática, como eu estou te falando, eu não
levaria isso aqui pra sala de aula e tentar explicar (...) Eu acho longe, fora da
realidade dele. Agora mostrar uma voz, depois mostrar o sinal, explicar o que é o
sinal, explicar o que é amplitude, explicar a freqüência, a variação, depois explicar
o espectrograma que mostra os harmônicos, aonde são mais fortes, aonde são
mais fracos... (...) Aqui ó, nessa região. Abaixo de dois mil (...) Nos mais escuros.
Não sei aqui no programa. Tem programas que é colorido, mais forte ou mais
fraco. E aí você também, é como eu te falei, você tem que conhecer o programa
(...) Então você tem que ter muito domínio pra mostrar isso pro aluno (...) Só
levando a figura pra mim não. Fica longe da realidade, como eu te falei (...) a parte
perceptiva auditiva associada”.
E01B:
“(...) Na disciplina de Biofísica, não”.
E02B:
“(...) Eu gosto mais de Linguagem também, mas aqui eu nunca tive acesso a esse
tipo de gráfico, a essa visualização, entendeu? Então eu não sei muita coisa”.
E03B:
Sim. Acredito que todas essas figuras que fazem relação das grandezas, de
freqüência, amplitude, pressão sonora, tempo, relação, todas as figuras
podem ser utilizadas lá na disciplina de Biofísica, porque todas elas
dependem desses conceitos elementares que a Biofísica deveria trazer.
Inclusive acho que, olhando pra essas figuras eu consigo descrever melhor a
grande questão da aplicabilidade que sempre eu coloco (...) Elas conseguem
remeter a uma certa aplicabilidade (...) A gente enxergar na prática, por exemplo,
eu hoje ver um espectrograma e falar “tem algumas coisas dele que eu não
compreendo”. Que são conceitos fundamentais. Conceitos básicos que não ficaram
bem definidos”.
E04B:
“Outro problema que, se eu for analisar, fazer um exame de voz, eu não consigo
analisar. Eu vou ter que buscar isso fora da faculdade, entendeu? Porque se
eu pegar um exame, eu não sei analisar nada, nada, justamente nada disso”.
E05B:
128
“(...) Poderia, porque se voz é produção do som, então eu acho que está
relacionado, poderia sim ser usada”.
E06B:
Essa eu acho que seria mais apropriada (...) E eu acho que talvez fosse muito
interessante ela nessa disciplina. Abordar desse jeito aqui (...)”.
E07B:
Eu não sei, eu não conheço”.
Houve unanimidade, dentre os docentes pesquisados, acerca da
possibilidade de utilização contextualizada dos espectrogramas na disciplina
Biofísica, havendo ressalvas apenas no que tange ao nível de detalhamento da
figura e do tempo escasso existente na disciplina. E02A ressaltou o aspecto
aplicativo das figuras, afirmando não participar dessa prática, porém
sinalizando positivamente para uma proposta inclusiva em trabalhos dentro da
mesma disciplina com os demais professores. E04A afirmou ser importante e
necessário conhecer o programa espectrográfico, bem como ter o pleno
domínio cognitivo para uma abordagem pedagógica eficaz.
Nos relatos discentes, observou-se uma heterogeneidade de
concepções acerca do uso ou não da figura nas práticas pedagógicas. Dentre
as concepções relevantes, destacaram-se a inexistência de abordagem ou
acesso da figura na disciplina Biofísica, a importância da sua aplicabilidade e a
ineficiência das atividades formais na capacitação acadêmica. Constatou-se
que a realidade de cada aluno é específica e o ensino deve estar associado a
essa realidade, convergindo com as concepções de Freire (1999), o qual afirma
que a leitura do mundo desperta no educando o interesse, criando condições
propícias para a aprendizagem.
Russo (1999) considerou o espectrograma acústico como
representações tridimensionais de freqüência, intensidade e tempo a partir da
129
aplicação de diversos filtros de banda estreita ou banda larga, os quais
permitem a obtenção de parâmetros acústicos, dentre os quais a freqüência
fundamental, harmônicos, formantes e ruído glótico. Titze (2000) conceitou
espectrograma como o registro visual ou impresso da variedade de freqüências
existentes num sinal de longo termo, sendo de uso fundamental, por exemplo,
para que o profissional vocologista monitore, de modo instantâneo, a eficácia
da terapia e do treinamento vocal.
Pode-se afirmar que as interfaces entre Física Acústica e Psicoacústica
como áreas de atuação em Fonoaudiologia, em especial à Audiologia e Voz,
explicitam uma realidade que pode ser apresentada sob três ângulos ao longo
do processo de ensino-aprendizagem: (a) como ponto de partida para a
formação de novos conceitos ou idéias gerais; (b) como exemplos de aplicação
de conceitos e idéias de domínio da Acústica e Psicoacústica baseado em
problemas concretos; (c) e em situações de modelação, em que se procura
fazer o estudo de uma dada situação recorrendo, se necessário, a ferramentas
Físicas e Biofísicas diversificadas.
Levando as atividades de fora para dentro da sala de aula o aluno terá
condições de relacionar o que já sabe com o saber organizado, testando as
aplicações, em situações que normalmente são encontradas no cotidiano. De
acordo com os prenúncios de D’Ambrosio (1986), essa recriação de modelos
pelo sujeito, pode usar outros modelos que já foram incorporados à sua
realidade. Portanto, esse autor considera que a essência desse processo
criativo deveria constituir o ponto focal dos sistemas educativos.
Segundo Pozo (1998), ensinar os alunos a resolver problemas supõe
dotá-los da capacidade de aprender a aprender, no sentido de habituá-los a
encontrar por si mesmos respostas às perguntas que os inquietam ou que
130
precisam responder, ao invés de esperar uma resposta já elaborada por outros
e transmitida pelo livro-texto ou pelo professor.
Para a resolução de um problema devemos primeiro compreendê-lo e
querer a sua solução para depois traçar um plano de ação e executar esse
plano, e então, finalmente, fazer um retrospecto da solução encontrada. Muitas
vezes o educandoo é estimulado em sua curiosidade, e com isso, não
deseja realmente resolver o problema que se apresenta. Dante (1999)
endossou que é preciso desenvolver no aluno a habilidade de elaborar um
raciocínio lógico e fazer uso inteligente e eficaz dos recursos disponíveis, para
que ele possa propor boas soluções às questões que surgem em seu dia-a-dia,
na escola ou fora dela.
Ensinar a resolver problemas é uma tarefa mais árdua quando
comparado ao ato de ensinar conceitos, habilidades e sistematização de idéias.
Na utilização dos conceitos, técnicas e procedimentos em Acústica e
Psicoacústica, o aluno precisa pensar para elaborar um plano de ação, passar
a situação para o fenômeno embutido na Física e Biofísica conceitual,
sistematizar os dados que integram o problema, simular uma estratégia de
solução e verificar de forma crítica o alcance da solução almejada.
Em muitas das praxes docentes habituais, os problemas são
explicados como algo que se sabe fazer, como algo cuja solução se conhece e
que não gera dúvidas e nem exige tentativas. Mas, para Gardner (1994), a
capacidade de armazenar e manipular dentro da própria mente, durante um
período finito de tempo, todas as variáveis necessárias para progredir em
problemas importantes, é algo que, por um ou outro motivo (supostamente
neurológico), prova ser especialmente vulnerável à idade.
Dante (1999) classificou os diversos tipos de problemas como: (a)
131
exercícios de reconhecimento que têm como objetivo fazer o aluno reconhecer
ou identificar um conceito, definição ou propriedade; (b) exercícios de
algoritmos que têm o objetivo de treinar a habilidade em executar um algoritmo
com isso reforçando conhecimentos anteriores; (c) problemas-padrão simples e
compostos: têm como objetivo recordar e fixar os fatos básicos através dos
algoritmos, reforçando dessa forma o vínculo entre conteúdos trabalhados e o
seu emprego na vida diária; (d) problemas-processo ou heurísticos, tendo como
objetivo aguçar a curiosidade do aluno e permitir que ele desenvolva sua
criatividade, sua iniciativa, seu espírito explorador; (e) problemas de aplicação
os quais objetivam simular uma situação real, sistematizando os dados em
tabelas ou mesmo traçando gráficos, constituindo tipos de problemas que
exigem pesquisa e levantamento de dados, por isso podendo ser apresentados
em forma de projetos a serem desenvolvidos; e (f) Problemas de quebra-
cabeça, que visam desafiar os estudantes, propondo a sua solução a qual
depende, muitas vezes, de um golpe de sorte ou de facilidade em perceber
algum truque, que é a chave da solução.
Conforme Polya (1978), um problema pode ser considerado como uma
situação que pede uma solução e para a qual as pessoas envolvidas não
conhecem meios ou caminhos evidentes para obtê-la. Resolver um problema
consiste em encontrar um caminho não conhecido previamente, encontrar uma
solução para uma situação difícil, perseguir um objetivo que não pode ser
imediatamente alcançado.
Gardner (1994) aconselhou o aluno a propor uma solução possível e a
trabalhar o problema de trás para frente, ou a descrever as características que
uma solução deveria ter, e então, por sua vez, tentar atingir cada uma delas.
Um outro método popular é a prova indireta, onde se supõe o oposto do que se
132
está tentando provar, certificando-se da conseqüência da suposição.
O professor muitas vezes, conhece a situação, não sendo um
problema para ele, e a explica com toda clareza. Mas, para o aluno, a situação
impõe dificuldades às vezes insuperáveis, provocando o abandono.
É possível que uma mesma situação represente um problema para uma
pessoa, enquanto que para outra esse problema não existe, ou por não se
interessar pela situação, ou porque possui mecanismos para resol-la com um
investimento mínimo de recursos cognitivos, reduzindo-a a um simples
exercício. Para o aluno, um problema é uma situação ante a qual está
inicialmente perdido, exigindo um comportamento de autêntico investigador.
Deveria usar para isso alguns passos para mais facilmente chegar à solução,
definidos por Polya (1978) como sendo: (1) Compreender o problema; (2)
Conceber um plano; (3) Executar o plano; e (4) Visão retrospectiva.
133
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
No contexto geral educacional, foi constatada uma grande
134
preocupação dos alunos e professores, voltada para a questão cognitiva no
que se refere ao processo de ensino e aprendizagem.
O que torna significativamente pobre o ato de educar é a quase
inexistência de atividades construtivas. Os alunos fazem muito pouco e, em
geral, lhes são requisitadas repetições desnecessárias. Não se avalia o que os
alunos fazem, mas sua capacidade de imitar os pensamentos dos professores
e do que estão nos livros.
O professor sabe que os alunos são diferentes nas suas necessidades,
interesses, aptidões, capacidades, aprendendo em ritmos e estilos bastante
diferentes. O que torna difícil o exercício pedagógico desse professor e da
instituição em que ele trabalha é a heterogeneidade discente, a existência de
turmas bastante numerosas, um tempo exíguo e um programa curricular
extenso a ser cumprido.
Ensinar somente conceitos e algoritmos que atualmente são
relevantes, não parece o caminho. Um caminho razoável seria preparar o
educando para lidar com situações novas que a ele se apresentam. Capacitá-lo
para que possa intervir e transformar a sua realidade e também resistir aos
obstáculos que surgem.
Os resultados desta pesquisa, de certo modo, propiciaram a reflexão
docente e discente sobre o uso estratégico de modelos prático-pedagógicos
eficazes, materializados pelo uso de figuras. A utilização desse tipo de
recurso, dentre outros, pode viabilizar a ampliação cognitiva de conceitos
fundamentais, e posteriormente na aprendizagem significativa dos diversos
fenômenos, métodos, técnicas, procedimentos e resultados necessários à
prática fonoaudiológica.
Possivelmente, a inserção de práticas processuais metodológicas
135
visando alcançar a resolução de problemas, no ensino da Acústica e
Psicoacústica, possibilitará uma melhoria no desempenho escolar e,
conseqüentemente, desenvolvimento da inteligência lógica e afetiva dos
educandos.
É importante rememorar que as concepções dos participantes dessa
pesquisa advieram de sujeitos com diferentes contextos e formações
profissionais e acadêmicas. Em nenhum momento ficou clara a vantagem de
ter profissionais com formação em área específica ou mesmo com
especialização em domínios cognitivos de ordem técnica. O que foi abstraído
foi a necessidade premente da aquisição de conhecimento de psicologia,
filosofia e técnicas pedagógicas, além de um maior empenho em aprimorar os
conhecimentos transdisciplinares.
É necessário que o professor de Biofísica e disciplinas correlatas,
independente da sua formação acadêmica ou mesmo de titulação, seja um
especialista experiente em educação, tanto quanto carregue consigo uma base
cognitiva ampla e sólida, sendo assim capaz de facilitar, propor, de questionar
alguém que pesquise e contribua para a formação de um aprendiz por
excelência.
É importante levar-se em consideração o conhecimento e o estágio de
desenvolvimento dos alunos, apesar da maioria dos professores da disciplina
estudada, tradicionalmente não terem sido preparados para a pedagogia. Não
desconsiderando a criatividade do professor e do aluno, faz-se necessário um
intercâmbio com práticas pedagógicas bem desenvolvidas, objetivando-se
minimizar a monotonia e o desinteresse discente que se nota, muitas vezes, em
relação a determinados temas.
136
Não é suficiente uma inovação curricular para desenvolver a
capacidade de solucionar problemas pelos alunos. Eles serão capazes de
melhorar a capacidade de resolver esses problemas se mudarem as suas
concepções acerca da disciplina, e essas concepções não modificam da noite
para o dia, e sim lentamente, ao longo de um período de experiências.
Presume-se, a partir do presente estudo, que os novos desafios para
alcançar um ensino de excelência na Acústica aplicada para a Fonoaudiologia
estão pautados na valorização do educador pelas instituições de ensino, no
desencadeamento na formação de atitudes e comportamentos de professores
e alunos, em relação à necessidade premente de conscientização sobre os
reflexos sociais do uso desta ciência, bem como na atualização e
redimensionamento das propostas curriculares nas disciplinas relacionadas, no
intuito de atender um novo perfil profissional integral.
De acordo com a experiência docente pregressa, algumas condutas
estratégicas elementares poderiam ser implementadas em conjunto, em curto
prazo, nas atividades pedagógicas, visando torná-las mais significativas para o
educando. Dentre as quais: Explicitar (ao iniciar a atividade, deixe claro o que
espera deles, em suma, seus objetivos); Dar voz ao aluno (deixe que eles
falem das suas experiências e seus conhecimentos prévios – subsunçores);
Dar aulas expositivas (útil para desenvolver conceitos, regras e fenômenos,
bem como para iniciar e finalizar uma atividade, fazer recapitulações); Propor
atividades práticas (planejar experimentações e implementá-las); Discutir
atividades (conversar e relatar sobre suas concepções e colher as concepções
de outrem); Propor atividades em grupo (desenvolver a socialização dos
saberes); Retomar a temática da aula anterior (integrar os diversos pontos
trabalhados num conjunto, reconsiderando as concepções produzidas); e
137
Finalizar a atividade (organizar as conclusões com os alunos).
Estas reflexões do estudo trazem a abertura para novas pesquisas que
dimensionem outros possíveis fatores e que explicitem as qualidades que
permeiam a formação do educador, a adoção de forma criteriosa de
instrumento que favoreçam a sedimentação do aprendizado em todos os seus
domínios, políticas governamentais e gerenciais no âmbito da remuneração
justa, educação permanente e o estreitamento dos laços afetivos no ambiente
do trabalho pedagógico.
Enfim, resta um questionamento a ser lançado: como deve ser um
programa de educação para professores de Biofísica e disciplinas correlatas
visando desenvolver modelos pedagógicos otimizados entre alunos e
professores?
138
6. ANEXOS
140
ANEXO 2
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
Programa de Pós Graduação em Fonoaudiologia
Faculdade de Fonoaudiologia
Curso de Especialização em Fonoaudiologia
Comitê de Ética
TERMO DE COMPROMISSO DO PESQUISADOR
O pesquisador, abaixo assinado, se compromete a:
Atender os deveres institucionais básicos da honestidade; sinceridade;
competência; da discrição.
Pesquisar adequada e independente, além de buscar aprimorar e
promover o respeito à sua profissão.
Não fazer pesquisas que possam causar riscos não justificados às
pessoas envolvidas;
Não violar as normas do consentimento informado;
Não converter recursos públicos em benefícios pessoais;
Não prejudicar seriamente o meio ambiente ou conter erros previsíveis
ou evitáveis.
Não comunicar ao possível sujeito todas as informações necessárias
para um adequado consentimento informado;
Propiciar ao possível sujeito plena oportunidade e encorajamento para
fazer perguntas;
Excluir a possibilidade de engano injustificado, influência indevida e
intimidação;
Solicitar o consentimento apenas quando o possível sujeito tenha
conhecimento adequado dos fatos relevantes e das conseqüências de
sua participação e tenha tido oportunidade suficiente para considerar
se quer participar;
Obter de cada possível sujeito um documento assinado como
evidência do consentimento informado;
Renovar o consentimento informado de cada sujeito se houver
alterações nas condições ou procedimentos da pesquisa
Salvador, ___ de ____________ de 2006.
Marcos Viana Bomfim
141
ANEXO 3
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
Programa de Pós Graduação em Fonoaudiologia
Faculdade de Fonoaudiologia
Mestrado Interinstitucional em Fonoaudiologia
Comitê de Ética
TERMO DE SOLICITAÇÃO E PERMISSÃO INSTITUCIONAL
A(o) Prof.(a) ________________________________
Coordenador(a) do Curso de Fonoaudiologia
Faculdade ______________________________________
Prezada Prof.(a),
Vimos solicitar autorização desta instituição para realização de
entrevistas com o(s) professor(es) responsável(is) pela disciplina Biofísica, e/ou
Acústica e Psicoacústica ministrada para o curso de Fonoaudiologia, bem
como com 05 (cinco) alunos que cursam ou cursaram recentemente disciplinas
relacionadas às áreas de Voz e Audiologia.
Será requisitado individualmente o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido a cada participante, sendo preenchido e assinado por todos os
professores e alunos envolvidos na obtenção dos dados. Os resultados
possibilitarão a busca de novas ações que otimizem o processo de ensino
aprendizagem nas disciplinas correlatas.
A instituição ficará isenta de qualquer custo com a pesquisa, bem
como os participantes.
Todas as pessoas envolvidas nesta pesquisa, pesquisadores,
orientadores ou colaboradores, comprometem-se em manter a privacidade e a
confidencialidade dos dados utilizados, preservando integralmente o anonimato
dos participantes.
Os dados obtidos serão utilizados na elaboração do Projeto de
Dissertação de Mestrado MINTER PUC/UNIME intitulado: O PROCESSO DE
ENSINO-APRENDIZAGEM DA ACÚSTICA E PSICOACÚSTICA EM DOIS
CURSOS DE FONOAUDIOLOGIA DA CIDADE DE SALVADOR sob orientação
da Profa. Dra. Iêda Chaves Pacheco Russo.
Temos ciência de que todo e qualquer outro uso que venha a ser
planejado deverá ser objeto de novo projeto de pesquisa, que deverá ser
submetido à apreciação da Comissão de Pesquisa e Ética.
Atenciosamente,
Salvador, ____ de ______________ de 2006.
_____________________________________
Marcos Viana Bomfim
Pesquisador responsável
142
ANEXO 4
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
Programa de Pós Graduação em Fonoaudiologia
Mestrado Interinstitucional em Fonoaudiologia
Comitê de Ética
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Nome do participante:________________________________________________Data: __ / __
/ __
Professor ( ) / Aluno ( )
Pesquisador Principal: Marcos Viana Bomfim
Instituição: União Metropolitana de Educação e Cultura
Endereço: Avenida Luiz Tarquínio, s/n, bairro Centro, Lauro de Freitas/BA
1. Título do estudo: “O processo de ensino-aprendizagem da Acústica e
Psicoacústica na Fonoaudiologia em três instituições de ensino superior do Estado da Bahia
2. Propósito do estudo: o propósito deste estudo é investigar o processo de
ensino- aprendizagem das disciplinas Acústica, Psicoacústica, Biofísica ou disciplina básica
correlata.
3. Procedimentos: Serei solicitado a dissertar sobre a minha trajetória profissional,
o papel da Acústica e Psicoacústica na formação do fonoaudiólogo através de entrevista
semidirigida, bem como comentar sobre alguns diagramas, modelos ou figuras. As etapas
durarão aproximadamente 1 hora. Todos os testes serão agendados segundo a minha
conveniência.
4. Riscos e desconfortos: Não existem riscos médicos ou desconfortos
associados com este projeto, embora possa experimentar alguma fadiga e/ou stress durante as
etapas. Receberei tantas interrupções quanto desejar durante as sessões.
5. Benefícios: Compreendo que não existem benefícios diretos para mim como
participante neste estudo. Entretanto os resultados deste estudo podem ajudar os
pesquisadores e docentes a entenderem melhor como aprendemos e evocamos informações
sobre outras pessoas.
6. Direitos do participante: Eu posso me retirar deste estudo a qualquer momento.
7. Compensação financeira: o serei reembolsado pela minha participação na
presente pesquisa.
8. Confidencialidade: De forma a registrar exatamente o que eu disse na
entrevista e demais testes, um registro em gravador digital será usado. O arquivo de áudio será
ouvido somente pelo investigador principal e pelos membros autorizados do grupo de pesquisa
da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Compreendo que os resultados deste estudo
poderão ser publicados em jornais profissionais ou apresentados em congressos profissionais,
mas que, minhas gravações não serão reveladas a menos que a lei o requisite.
9. Se tiver dúvidas posso telefonar para o Prof. Marcos Viana Bomfim no número
(71) 8889-1800 a qualquer momento.
Eu compreendo meus direitos como um sujeito de pesquisa e voluntariamente
consinto em participar deste estudo. Compreendo sobre o que, como e porque este
estudo está sendo feito. Receberei uma cópia assinada deste formulário de
consentimento.
Assinatura do sujeito
Assinatura do pesquisador responsável
_________________________________________
Orientador
143
ANEXO 5
Ficha de Registro para Condução de Entrevista Semidirigida
- A sessão durará o tempo necessário para que o entrevistado exponha seus
pontos de vista;
- Os participantes não devem rodear-se de garantias através da verificação de
hipóteses, antes de emitir suas idéias;
- Cada participante expressará todas as idéias sugeridas pelas questões
propostas, com toda a liberdade e conforme surjam espontaneamente;
- Será estimulada toda atitude crítica que leve a emitir um juízo e seleção de
idéias próprias ou de outros;
- Como práticas de imaginação serão aceitas idéias originais, mesmo que
inspiradas em idéias emitidas por outros.
1- Anúncio do nome, idade, data da entrevista, formação
profissional/qualificação acadêmica;
2- Roteiro da Entrevista
2.1- Há quanto tempo (estudou/leciona) a disciplina
Acústica/Psicoacústica para o curso de Fonoaudiologia?
2.2- Já realizou cursos de aperfeiçoamento ou especialização na área da
disciplina (cursada/ministrada) ao curso de Fonoaudiologia?
2.3- Qual a relevância em (cursar/lecionar) a disciplina
Acústica/Psicoacústica no curso de graduação em Fonoaudiologia?
2.4- Na sua concepção como deve ocorrer o processo de ensino-
aprendizagem da disciplina Acústica/Psicoacústica?
2.5- Fale sobre os conteúdos disciplinares que você poderia realmente
aplicar na prática pedagógica como (aluno/professor) da disciplina ou
mesmo como profissional fonoaudiólogo? Citar e descrever os temas
mais relevantes;
2.6- Como você conceberia um curso ideal no que tange a disciplina
Acústica e Psicoacústica para um estudante de graduação visando a
formação do profissional fonoaudiólogo?
2.7- Fale sobre as atividades teóricas e práticas da disciplina e destaque
duas ou mais experiências que julgue significativas no processo de
ensino-aprendizagem;
2.8- Como você concebe uma formação integral para um aluno que
cursou a aludida disciplina?
2.9- Quais os tipos de avaliações disciplinares utilizados no andamento
da disciplina e quais as dificuldades encontradas quando da obtenção
dos resultados?
2.10- O que você faria caso uma avaliação do conteúdo disciplinar
resultasse numa reprovação de 70% dos alunos?
3. Conclusão da entrevista.
144
ANEXO 6
Ficha para Registro da Técnica Tempestade Cerebral - Braimstorm
Bordenave e Pereira (1977)
- A sessão durará aproximadamente 01 (uma) hora;
- Os participantes não devem rodear-se de garantias através da
verificação de hipóteses, antes de emitir suas idéias;
- Cada participante expressará todas as idéias sugeridas pelas
questões propostas, com toda a liberdade e conforme surjam
espontaneamente;
- Será estimulada toda atitude crítica que leve a emitir um juízo e
seleção de idéias próprias ou de outros;
- Como práticas de imaginação serão aceitas idéias originais, mesmo
que inspiradas em idéias emitidas por outros.
1- Anúncio do nome, idade, data da entrevista, qualificação
acadêmica/profissional;
2- Informes sobre o tempo livre de relato sobre percepções e
relevância das figuras apresentadas com a área de atuação;
3- Apresentação aos participantes das 06 (seis) figuras e gravação
das informações sobre a experiência vivenciada pelos entrevistados;
4- Você já viu esse diagrama antes? Informe onde e em que
contexto;
5- Relate os conceitos básicos que poderiam ser explorados de
forma aplicada para um acadêmico ou profissional de Fonoaudiologia;
6- Você julga necessária a utilização desse diagrama como requisito
indispensável à formação de um fonoaudiólogo? Justifique sua resposta;
7- Conclusão do trabalho.
145
ANEXO 7
Figura nº 1
Curvas de Fletcher-Munson
146
Fonte: Capturado em 22/11/2006 às 10:27 a.m. no site
www.doctorproaudio.com/doctor/temas/fletcher.gif
Fre
q
üência
(
Hz
)
dB NPS
147
ANEXO 8
Figura nº 2
Curvas Timpanométricas
Fonte: Capturado em 22/11/2006 às 02:55 p.m. no site www.wsiat.onça/images/hl_fig2jpg
V (mL)
P
(
daPa
)
148
ANEXO 9
Figura nº 3
Tonotopismo Colear
Fonte: Capturado e adaptado em 22/11/2006 às 10:34 a.m. no site
www.eelab.usyd.edu.au/.../ fig34.jpg
Fre
q
üência
(
Hz
)
Distância da membrana timpânica (milímetros)
149
ANEXO 10
Figura nº 4
Acústica do Trato Vocal
Fonte: BORDEN, G. J.; HARRIS, K. S.; RAPHAEL, L. J. Speech Science Primer:
Physiology, Acoustics and Perception of Speech. 3ª ed., Baltimore/Maryland:
Williams & Wilkins, 319p., 1994.
150
ANEXO 11
Figura nº 5
Vibração das Pregas Vocais
151
Fonte: Borden, GJ, Harris KS, Raphael LJ. Speech Science Primer: Physiology, Acoustics and
Perception of Speech. 3ª ed., Baltimore/Maryland: Williams & Wilkins, 1994.
152
ANEXO 12
Figura nº 6
Espectrogramas da Voz Humana
Gravação 1
153
Gravação 2
Fonte: Gravação realizada no programa Spectrogram Version 14 baixado no site
www.visualizationsoftware.com/gram.html.
154
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Física: ... agora, nós já temos as perguntas.. São Paulo; 1997 [Dissertação de
Doutorado] Universidade de São Paulo.
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Aprendizaje de la Física. Revista Brasileira do Ensino de Física. V. 23, n. 3, p.
155
329-350, 2001.
Ausubel DP, Novak JD, Hanesian H. Psicologia educacional. 2ª ed., Rio de
Janeiro: Interamericana, 1980, 624p.
Araújo AML, Araújo FCRS. A Audição, o Som, o Ruído e a Aprendizagem. In:
Damasceno A, Machado H, Souza O. Fonoaudiologia Escolar – Fonoaudiologia
e Pedagogia: Saberes Necessários para a Ação Docente. Belém: EDUFPA,
2006. p. 39-56.
Bardin L. Análise de Conteúdo. 3ª ed. Lisboa: Edições 70, 2004, 223p.
Barreiro ACM. A Prática Docente do Professor de Física do Terceiro Grau. São
Paulo; 1996 [Dissertação de Doutorado] Universidade de São Paulo.
Becker, F. Da Ação à Operação: O Caminho da Aprendizagem em J. Piaget e
Paulo Freire. 2ª ed. Rio de Janeiro: DP&A, 1997.
Békesy, GV. The Variation of Phase along the Basilar Membrane with
Sinusoidal Vibrations. The Journal of the Acoustical Society of America. n. 3, v.
19, p.452-460, 1947.
Bejarano NRR. Tornando-se Professor de Física: Conflitos e Preocupações na
Formação Inicial. São Paulo; 2001 [Dissertação de Doutorado] Universidade de
São Paulo.
156
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1998, 326p.
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Acoustics and Perception of Speech. 3ª ed., Baltimore: Williams & Wilkins,
1994, 319p.
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do Curso de Graduação em Fonoaudiologia. Ministério da Educação e Cultura.
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<http://www.paideia.com.br/textos>. Acesso em 27/07/2007.
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2006, 147p.
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São Paulo: Summus. 1986.
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Papirus. 2000.
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Demo P. Desafios Modernos da Educação. Petrópolis:Vozes, 1993.
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Demo P. Complexidade e Aprendizagem: a dinâmica não linear do
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Porto Alegre:Mediação, 2004, 158 p.
Demo P. Aposta no Professor: cuidar de viver e de trabalhar com dignidade.
Porto Alegre:Mediação, 2006. 96 p.
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http://www.educacional.com.br/entrevistas/entrevista0035.asp Acesso em
19/06/2007.
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2003, 318p.
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1933.
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Porto Alegre:RS, 8(32): out./dez., 1982
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Garcia, EAC Biofísica. São Paulo: Sarvier, 1997, 387p.
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2005.
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Medeiros CF. Por uma educação matemática como intersubjetividade. In:
Bicudo, Maria Aparecida Viggiani. Educação Matemática. São Paulo:Moraes,
1987, p. 13-44.
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Paulo:Lovise, 2005, 188 p.
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1986, 119 p.
Moraes, MC. O Paradigma Educacional Emergente. 1ª ed., Campinas:Papirus,
160
1997, 239 p.
Moreira, MA. A Teoria da Aprendizagem Significativa e sua Implementação em
Sala de Aula. 1ª ed., Brasília: UNB, 2006.
Moysés, L. Aplicações de Vigotsky à Educação Matemática. 2ª Edição.
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Pobreza das Práticas. Educação e Pesquisa. v.25, n. 1, São Paulo, jan/jun.
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Perrenoud P. 10 Novas Competências para Ensinar. Porto Alegre:Artmed,
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Caderno Catarinense do Ensino de Física. v. 15, n. 3, p. 308-318, 1998.
Pozo JI (Org.). A solução de problemas: aprender a resolver, resolver para
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162
Silva AF. A Formação do Professor de Ciências Interagindo com sua Prática
Curricular: a Química no ensino de Ciências da 5ª série do Ensino
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Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.
Silva AVP. O Ensino de Estática no Curso de Graduação em Arquitetura:
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Weiss AML, Cruz MLRM. Informática e os Problemas Escolares de
Aprendizagem. Rio de Janeiro:DP&A, 1998.
Zabala A. A Prática Educativa – Como Ensinar. Porto Alegre: Artmed, 1998,
163
224p.
Zimmermann E. Modelos de Pedagogia de Professores de Física:
Características e Desenvolvimento. Caderno Catarinense do Ensino de Física.
v.17, n. 2, p.150-173, 2000.
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