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avançar no seu aprendizado. E é notável o fato de que isso foi constatado com um
número considerável de estudantes. O autor ainda destaca, a partir da leitura da
primeira parte do livro L’enseignement de l’Algèbre Linéaire en Question (DORIER et
al., 1997), resultado da tese de doutorado de Dorier, que
as dificuldades dos alunos com o aprendizado de Álgebra Linear
revelam um obstáculo epistemológico
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, pois estas são do mesmo tipo
daquelas enfrentadas por sucessivas gerações de estudiosos no
desenvolvimento dessa estrutura, quais sejam, a criação de uma
forma axiomática e a utilização de uma notação própria para facilitar
a manipulação matemática que ele denominou de obstáculo do
formalismo (OLIVEIRA, 2005, p. 14-15).
Assim, os estudos de Dorier (1997) enfatizam os obstáculos do formalismo e
da abordagem abstrata empregada freqüentemente nesta disciplina, criticando a
formação dos alunos no Ensino Secundário em Vetores e Geometria, considerada
por ele limitada.
Especificamente sobre a noção de base, Oliveira (2005) investigou o papel
dos recursos-meta
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, utilizados por um professor de Álgebra Linear em sala de aula,
que ajudaram alguns de seus alunos na compreensão dessa noção. Esse trabalho
apóia-se na definição de alavanca-meta
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de Dorier (1990) e os três princípios para o
ensino e a aprendizagem de Harel (1990): o princípio da concretização, da
necessidade e da generalização. Particularmente, o primeiro princípio nos interessa
neste estudo e será retomado mais adiante.
Ainda nessa perspectiva, vale destacar a pesquisa de Araujo (2002), a qual
traz interessantes articulações entre questionários aplicados a alunos e professores
de Álgebra Linear e o tratamento de assuntos dessa disciplina pelos livros didáticos.
Esse estudo teve por objetivo encontrar textos metamatemáticos em livros didáticos,
passíveis de se tornarem alavancas-meta para alunos de um primeiro curso de
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A noção de obstáculo epistemológico tem origem na obra de Bachelard (1932) e foi introduzida na
Didática da Matemática por Guy Brousseau: “Um obstáculo é um conhecimento que tem seu
próprio domínio de validade e que fora desse domínio é ineficaz e pode ser fonte de erros e
dificuldades”. (BROUSSEAU, 1983, apud CHEVALLARD, BOSCH e GASCON, 2001, p. 223)
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Oliveira (2005) utiliza o termo “recurso-meta” para se referir ao que, ao longo do tempo, foi
chamado de “metamatemática” ou “metaconhecimento matemático” e, por fim, simplesmente de
“meta”.
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Na perspectiva de Dorier (1990), a metamatemática é constituída de recursos que o professor
utiliza para introduzir um novo conceito matemático aos seus alunos. São informações contidas no
discurso do professor, numa seqüência didática ou até mesmo em livros didáticos, tais como:
apresentar exemplos e contra-exemplos, citar os erros mais freqüentes, mostrar uma aplicação do
conceito estudado e/ou como utilizá-lo. Este discurso pode funcionar como “alavanca-meta” se
proporcionar ao aluno condições de realizar uma análise reflexiva sobre seu conhecimento já
existente, reorganizando-o a fim de utilizá-lo como ferramenta para a compreensão de um novo
conceito. No entanto, o reconhecimento do caráter de “alavanca-meta” depende do receptor.